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“ADEUS A TERRA QUERIDA”


por Joel Miguel de Brito (1913 – 1997)

Deixei a terra nortista


Rumei ao Sul do Paíz,
Fui na viagem feliz,
Em alguns pontos de vista,
Tive uma idéia otimista,
Lá por onde viajei,
Momentos que me entreguei,
A vida do dezengano,
O solo pernambucano,
Eu jamais esquecerei.

Deixei meu velho “Leão”,


Terra de Joaquim Nabuco,
Deixei o meu Pernambuco,
Sentindo recordação.
Saudozo por meu “torrão”,
Com a alma agonizante,
Parti pra terra distante,
Fazendo uma despedida,
Procurando o pão da vida,
Na capital Bandeirante.

Tive aquela idéia rara,


Cativo a falta de pão.
Subir em um caminhão,
Ou por outra em pau-de-arara.
Como um que se debela,
Deixar tudo quanto é seu,
Igual um pobre que deu,
Um passo na terra estranha,
Igual as mágoas tamanhas,
De Cassimiro de Abreu.

Neste humilde caminhão


Vi um povo descontente,
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Sofrendo horrivelmente
Saudades do seu “torrão”.
Evocando proteção,
De Jesus, Maria e José.
Outros reclamando até,
O seu derradeiro pranto
Por não encontrar um canto
Nem pra colocar um pé.

Com grande velocidade,


Este caminhão corria
E na viagem existia
Alguma tranqüilidade.
Sempre era novidade,
Uns chorava, outro sorria,
Alguns sentia alegria,
Outros sentiam tristeza,
Assim seguia essa empreza,
Pêlo pão de cada dia.

Junto a uma filharada,


Com um ar tão descontente,
Eu conduzia uma gente,
Pra uma terra afastada.
Que viagem atormentada,
Pra quem nasceu no norte,
Além de mais o transporte,
Conhecido por pau-de-arara
Onde o pobre mete a cara
Enfrentando a própria morte.

Procurei me ambientar,
Com o povo; E a viagem
Procurando as desvantagens
Da minha idéia afastar.
Já outros a reclamar
A sua situação
E nesta imediação
Todos faziam a viagem
E percorrendo a rodagem
Em cima de um caminhão.

Por fim consegui chegar


Ao meu objetivo
Graças a Deus cheguei vivo
Nas terras do Paraná.
E comecei procurar,
Lugar para uma estadia,
Tanto que eu percorria,
A terra do eldorado,
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E tudo do meu estado,


Eu ali recordaria.

Por tanto me equilibrei


Depois de grande penúria
E a tão grande tortura
Ali me precipitei.
Graças a Deus arranjei
Neste lugar proteção
Depois de mil aflição
Que nesta terra eu sofria
Pode encontrar garantia
Com meu atual Patrão.

E o Francisco Quinaco,
Um gaúcho de ação,
Tem alma tem coração,
Em meu serviço me atraco.
Meter o pé em buraco
Isto eu não faço, não;
Mais digo de coração
Mesmo assim sem bajular
Hoje posso confiar
No meu bondoso patrão.

Assim me sinto feliz,


Lutando de encontro a sorte,
Deixei o meu velho norte
E estou no sul do país.
Assim o destino quiz,
Que eu arranjasse pão
E sinto satisfação
Ao que a sorte pertence
Na terra paranaense
Cumprindo minha missão.

Depois recebi a carta,


Da morte do filho amado.
Retornei a meu estado,
Sofrendo uma dor ingrata,
Uma seta que maltrata
Um coração paternal.
E hoje em meu ideal
Nada da vida protesto
Vou conduzindo o resto
Que tem do meu pessoal.

Ao lado de nove netos


E também minha ex-nóra
Hoje parto sem demóra
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Pra meu lugar predileto.


Assim carrego um projeto,
Sempre de fazer o bem;
Um dever que agente tem,
De acompanhar outra trilha,
Conduzindo minha família,
Para terras muito além.

Aqui farei despedida


Para meus velhos irmãos
Traçando em minhas mãos
Esta linha tão querida
Deixo a “Pátria Extremecida”
O meu querido torrão
Com dor no meu coração
E a alma descontente
Dou adeus a minha gente,
Cheio de recordação.

Adeus meu norte querido


Talvez não te veja mais
As dores sentimentais
Deixa meu peito ferido.
Este é o último gemido
De um filho que abandonou.
Hoje pra distante vou
Com a alma dolorida.
Com a dor de uma ferida
Que muito magoou.

Aqui eu abraçarei
Os grandes e os pequenos.
Estes saudosos terrenos
Aqui abandonarei.
Daqui eu me auzentarei
Tristonho quasi indeciso,
Falar a verdade é preciso
E penso por minha vez,
Que dou meu adeus talvez
Até o dia do Juízo.

Texto de Garagem © 2011


Todos os direitos reservados.

http://textodegaragem.blogspot.com/

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