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C O L E Ç Ã O
Aprender 9 Ensino
o
Fundamental ANO
Identidades
Carolina Amaral de Aguiar • Claudio Bazzoni
Dulce Satiko Onaga • Fábio Madeira
Heloisa Cerri Ramos • José Carlos Fernandes Rodrigues
Maria Amábile Mansutti • Maria Cecilia Guedes Condeixa
Marina Marcos Valadão • Mirella Laruccia Cleto
Roberto Giansanti • Rosane Acedo Vieira
Sueli Aparecida Romaniw
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido Brasil, de amor eterno seja símbolo
De amor e de esperança à terra desce, O lábaro que ostentas estrelado,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, E diga o verde-louro desta flâmula
A imagem do Cruzeiro resplandece. – Paz no futuro e glória no passado.
Dos filhos deste solo és mãe gentil, Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Pátria amada,
Brasil! Brasil!
Direitos Reservados
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E sta obra é destinada a jovens e adultos que iniciam ou retomam seus estudos
no segundo segmento do Ensino Fundamental.
A elaboração da coleção parte do princípio de que a educação, além de um
direito, é uma chave importante para o exercício da cidadania e para a plena par-
ticipação na vida social. Dessa forma, a coleção tem o propósito de oferecer livros
de qualidade, que atendam às necessidades específicas de aprendizagem de jovens
e adultos.
O livro compõe um conjunto de quatro volumes integrados, com propostas
de leitura e escrita, conhecimentos matemáticos e científicos, além de temas rele-
vantes da área de Ciências Humanas, que possibilitam uma melhor compreensão
de aspectos da realidade brasileira e mundial. Como em toda obra didática, não
temos a pretensão de esgotar conteúdos. Realizamos uma seleção de assuntos e
conceitos que consideramos essenciais para jovens e adultos que buscam ampliar
a sua formação acadêmica e prosseguir em seus estudos.
As abordagens das diferentes áreas de conhecimento orientaram-se pelo res-
peito à dignidade humana, à igualdade de direitos, à participação e pela corres-
ponsabilidade pela vida social. Estudar significa aprender em uma multiplicidade
de sentidos: aprendemos conceitos básicos das diversas áreas do conhecimen-
to, desenvolvemos habilidades e podemos nos tornar também mais competentes
para refletir sobre o mundo que nos cerca, em seus muitos aspectos.
Desejamos, assim, que esse material didático seja um meio para que jovens e
adultos consigam maior qualificação escolar. Mas, além disso, criamos um mate-
rial didático com a intenção de proporcionar um conhecimento significativo aos
estudantes, que trazem para a sala de aula muitas vivências pessoais e profissionais.
Os autores
Sumário
BIBLIOGRAFIA 68
UNIDADE 2 – ARTE
BIBLIOGRAFIA 111
BIBLIOGRAFIA 165
UNIDADE 4 – HISTÓRIA
BIBLIOGRAFIA 222
UNIDADE 5 – GEOGRAFIA
CAPÍTULO 3 – Paz e cooperação entre povos e países: uma governança global? 274
BIBLIOGRAFIA 297
UNIDADE 6 – CIÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA 366
UNIDADE 7 – MATEMÁTICA
BIBLIOGRAFIA 431
UNIDADE 1
Língua
Portuguesa
Capítulo 1
PORTUGUÊS Tecendo o texto
RODA DE CONVERSA
Detalhe da obra Soldadinho de brinquedo (série Mônadas). Impressão cromogênica de Vik Muniz, 90 × 72 cm, 2003.
9º ano 9
3. Observe a imagem a seguir. Que figura você vê?
Vik Muniz
Vik Muniz (Vicente José de Oliveira Muniz) nasceu em 1961 na cidade de São Paulo.
É fotógrafo, desenhista, pintor e gravador. Em 1988, começou a investigar a represen-
Juan Guerra/Agência Estado/AE
tação de imagens do mundo das artes por meio de técnicas variadas e inusitadas.
Com chocolate líquido e lixo, por exemplo, ele compõe imagens em uma superfície
e produz uma fotografia. Na Rio+20 ele criou uma imagem da Baía de Guanabara
com o lixo trazido pela população. O documentário Lixo extraordinário, que concor-
reu ao Oscar de melhor documentário em 2011, mostra o aproveitamento de lixo para
a produção de arte e como esse trabalho, que foi realizado no aterro sanitário
Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, transformou a vida dos catadores.
10 Língua Portuguesa
na passagem de uma para outra, o leitor precisa perceber que existe uma relação
entre elas, que elementos específicos de um trecho se ligam ao trecho seguinte.
Mencionamos no início deste capítulo que a unidade do texto deve-se à existên-
cia de determinadas características. Essas características são a coesão e a coerência.
O que significa quando alguém comenta, por exemplo, “Aquela equipe venceu
porque é muito coesa” ou “Essa é uma classe coesa”? Certamente essa pessoa está
fazendo referência à união que existe entre os membros da equipe e da classe.
E, quando alguém diz “Fulano teve uma atitude incoerente” ou “Essa resposta não
tem coerência”, provavelmente a pessoa agiu de um modo que não combina com
sua forma habitual de agir, ou fez algo que contraria o que ela falou anteriormen-
te; enfim, algo em sua atitude destoou. Com uma resposta sem coerência, aconte-
ce coisa semelhante, ou seja, alguma coisa não faz sentido.
E no texto? O que essas duas palavras representam?
COESÃO
Vamos analisar três trechos:
1. Visitei Belém do Pará recentemente. Nessa cidade é possível experimen-
tar alguns pratos com sabor bem diferente.
2. Descasque três batatas médias e cozinhe-as inteiras.
3. Fui ao baile. Não dancei. Meu pé doía.
Você já viu que coesão tem a ver com união. No trecho 1, há duas ideias bem
ligadas. Primeiro, fala-se em Belém; depois, conta-se que em Belém há pratos
com sabor diferente. Em vez de repetir a palavra “Belém”, o autor escolheu uma
expressão substituta (“nessa cidade”), mas que retoma a ideia já citada. O mesmo
acontece no trecho 2: o autor menciona “as batatas” e, em seguida, emprega o
pronome “as” no lugar dessas palavras. Dessa forma, “cidade” e “as” são termos
que contribuem para que, nos dois trechos, as ideias estejam bem relacionadas
ou articuladas.
No trecho 3, não há palavras que sejam responsáveis pela ligação das ideias,
mas o leitor tem uma experiência sobre o conteúdo que está lendo: ele sabe que
nos bailes em geral as pessoas dançam e que é difícil dançar com o pé machucado.
Além disso, a ordem em que os acontecimentos estão escritos ajuda o leitor a ter
uma noção clara do que o autor da fala quer comunicar. Portanto, podemos dizer
que, apesar da ausência de algumas palavras, esse trecho apresenta coesão, isto é,
há uma articulação entre as ideias.
Se o autor do trecho 3 quisesse deixar mais clara para o leitor a relação que
existe entre os três fatos, ele poderia escrever: “Fui ao baile, mas não dancei por-
que meu pé doía”. Dizemos nesse caso que a relação entre as ideias é explícita. O
texto é ainda mais coeso.
9º ano 11
COERÊNCIA
Vamos analisar mais três trechos:
4. Choveu durante o tempo em que estivemos no parque. Voltamos verme-
lhos do sol.
5. Gosto muito de dançar, mas sempre que posso vou aos bailes.
6. O aluno esqueceu o livro. O livro trata do lixo. O lixo é um tema impor-
tante na atualidade.
Os trechos acima provocam um estranhamento em quem os lê porque não
fazem sentido, não têm nexo.
No trecho 4, como entender que as pessoas tomaram sol se choveu? Essa si-
tuação faria sentido se houvesse uma explicação plausível. Por exemplo: “Choveu
durante todo o tempo em que estivemos no parque, mas ficamos vermelhos do sol
porque, durante o trajeto que fizemos a pé, na volta, o sol saiu”.
No trecho 5, o problema de incoerência seria solucionado com a simples tro-
ca da palavra que está articulando as ideias. Verifique: “Gosto muito de dançar,
portanto sempre que posso vou aos bailes”. Nesse caso, o novo termo selecionado
para o encadeamento das ideias (“portanto”) tem coerência. A palavra “mas”, que
é usada para quebrar expectativas, tornava a frase incoerente.
O trecho 6 não permite uma correção simples. Falta unidade de sentido. Em-
bora exista uma relação da primeira oração com a segunda e desta com a terceira,
seu autor falou de aspectos que não conseguem, juntos, comunicar determinada
ideia. A impressão a é de que está tudo “solto”.
RESUMINDO...
A coerência tem a ver com o sentido, a lógica entre as ideias, e a coesão tem a
ver com o modo como as partes do texto estão encadeadas. Na maioria das vezes,
a coesão conta com elementos linguísticos (trechos 1 e 2). Em alguns casos, o ele-
mento linguístico responsável pela coesão pode interferir na coerência (trecho 5).
Quando o texto é coerente e coeso, as informações fluem durante a leitura, e
o texto se mostra como uma unidade dotada de sentido.
O mesmo vale para a escrita. Se seguirmos essas orientações ao escrever, nos-
so texto dará ao leitor todas as possibilidades de ser compreendido.
12 Língua Portuguesa
Os indesejáveis ratos
No início deste século, as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro fizeram uma
campanha de saúde pública em que se ofereciam 100 réis por cada rato levado ao
incinerador público. Nessa época, o lixo vivia espalhado por todo lado e esses ani-
mais proliferavam em abundância, transmitindo doenças à população. A campanha
inicialmente foi um sucesso, mas algumas pessoas mal-intencionadas passaram a
criar ratos para ganhar dinheiro!
Até hoje, a quantidade de roedores dispersos no mundo todo é tão grande que
a proporção chega ao alarmante número de três ratos para cada habitante.
Durante a Idade Média, mais exatamente entre os anos de 1340 a 1360 d.C.,
cerca de um quarto da população europeia morreu em consequência da peste bubônica,
também chamada de peste negra, transmitida pela pulga dos ratos. Naquela época, o
lixo das casas era simplesmente jogado nas ruas, o que favorecia a proliferação de roe-
dores, que circulavam por toda a cidade.
Felizmente essa doença está erradicada, mas na Índia já surgiu um outro tipo
de epidemia chamada peste pneumônica, muito grave, também causada pela pulga do
rato. Provavelmente, a peste apareceu nas favelas de uma cidade chamada Surat, que
disputa o título de ser a mais suja da Índia.
No Brasil, esses animais são ainda responsáveis por diversas moléstias. A
mais comum é a leptospirose, transmitida por bactérias que parasitam esses roedores,
e que são eliminadas pela sua urina, contaminando o ambiente. Em épocas de
enchente, o caminho por onde os ratos circulam é inundado pelas águas das chuvas,
que espalham os germes, inclusive para dentro das casas.
[...]
RODRIGUES, Francisco Luiz; CAVINATTO, Vilma Maria. Lixo: de onde vem? Para onde vai? São Paulo: Moderna, 1997. p. 38.
9º ano 13
ocorrências, mas significa apenas um no texto que estamos lendo. E é o próprio
texto que nos aponta que momento é esse.
Essa operação de estabelecer relações continua. Vamos examinar algumas
passagens.
• “Nessa época, o lixo vivia espalhado por todo lado e esses animais pro-
liferavam em abundância, transmitindo doenças à população.”
Em que época o lixo vivia espalhado? De acordo com o que acabamos
de ler, a época à qual o texto se refere é o início do século XX, e “esses
animais” só pode ser uma alusão aos ratos.
“Rato” e “animal” não são a mesma coisa; o segundo termo abrange
muitas outras espécies, mas é importante perceber que, nesse texto,
“animal” equivale a “rato”. É um termo que estabelece coesão, porque a
expressão “esses animais” retoma uma ideia já citada. Ela evita a repe-
tição desagradável da mesma palavra e obriga o leitor a executar uma
operação: voltar ao que já leu.
Quando tenta, com o auxílio do próprio texto, determinar de que animais
se está falando, o leitor obrigatoriamente vai “tecendo” as partes do texto. Dessa
forma, ele vai acompanhando a progressão das ideias.
• “Até hoje, a quantidade de roedores dispersos no mundo todo é tão
grande [...].”
Entre os roedores, estão as cotias, as capivaras... Mas é desses seres que
o texto trata? Naturalmente o leitor pensa em um roedor específico: o
rato. “Roedores” tem um papel coesivo no texto: liga as ideias e evita a
repetição de palavras.
• “A campanha inicialmente foi um sucesso [...].”
Que campanha?, perguntaria o leitor, se isso já não tivesse sido escla-
recido anteriormente. Empregamos os artigos definidos (o, a, os e as)
justamente para nos referir a ideias já apresentadas. Caso contrário,
empregamos os indefinidos (um, uma, uns e umas). Por exemplo: “Na
minha rua mora um menino... Um dia o menino encontrou...”
Quando o leitor estabelece mentalmente uma relação entre “fizeram
uma campanha de saúde pública” e “a campanha foi um sucesso”, vai
“costurando” as ideias do texto. É a coesão em ação.
• “Felizmente essa doença está erradicada, mas na Índia já surgiu um
outro tipo de epidemia [...].”
Que doença é essa? O leitor sabe: é a peste bubônica, ou peste negra. Ele aca-
bou de ler a informação no parágrafo anterior.
Repare a pista que o texto fornece para o leitor continuar acompanhando a
exposição: a peste negra está erradicada, mas surgiu outro tipo de epidemia. O lei-
14 Língua Portuguesa
tor já se prepara para o que vai ler; a informação que virá pode se referir a muitas
doenças, menos à peste bubônica ou negra. Isso é indicado pela palavra “outro”.
Essa palavra tem a função de excluir do conjunto o termo que já foi citado. Veja
mais um exemplo: “O filho caçula ficou em casa; os outros seguiram junto com os
avós” (fora o caçula, os demais filhos saíram).
No trecho há outra palavra responsável pela coesão textual. É a palavra “epidemia”.
Em vez de escrever “essa doença está erradicada, mas surgiu outro tipo de doença”, o
autor escreve “essa doença está erradicada, mas surgiu outro tipo de epidemia”. Nem
toda doença é uma epidemia; porém, no contexto desse texto, uma palavra substitui
a outra.
• “Naquela época, o lixo das casas era simplesmente jogado nas ruas, o
que favorecia a proliferação de roedores [...].”
9º ano 15
entre duas ideias próximas. Esse segundo aspecto da coesão está associado à coe-
rência entre as ideias, ou seja, ao nexo que existe entre elas.
Vamos examinar em alguns exemplos como isso ocorre.
• “Felizmente essa doença está erradicada, mas na Índia já surgiu um
outro tipo de epidemia [...].”
Existem acima duas ideias: 1) A doença foi erradicada; 2) Surgiu uma epide-
mia. Há uma oposição: o fim da doença versus a existência da doença. A palavra
“mas” foi empregada para articular essas duas ideias porque “avisa” o leitor de que
virá algo contrário ao que foi dito. Quando você lê “Ele chegou no horário, mas...”,
já fica aguardando algo que se opõe a chegar no horário em um compromisso.
Imagina logo que a pessoa não foi atendida, por exemplo.
Examine como ficaria o trecho tirado do texto sem essa palavra: “Felizmente
essa doença está erradicada. Na Índia já surgiu um outro tipo de epidemia”.
Para o leitor, tudo fica mais claro se ele já for “avisado” de que em seguida virá
uma ideia oposta. O que nos dá esse aviso é o conectivo, isto é, a palavra que une
ideias estabelecendo entre elas determinada relação. No exemplo citado, o conec-
tivo é o “mas”, que estabelece a relação de oposição entre ambas as ideias.
Em resumo, existe um nexo entre as duas ideias, mas elas poderiam estar es-
critas sem um termo que tornasse esse nexo evidente. No entanto, o autor preferiu
explicitar que relação havia e deixou o texto mais coeso, mais “amarrado”, já que
as ideias estão bem ligadas por meio do “mas”.
• “[...]algumas pessoas mal-intencionadas passaram a criar ratos para
ganhar dinheiro!”
A relação que existe entre as duas ideias acima é outra. Analise: 1) Algumas
pessoas passaram a criar ratos; 2) Essas pessoas queriam ganhar dinheiro. A se-
gunda ideia (ganhar dinheiro) é a finalidade da criação de ratos. Por isso, o autor
empregou a palavra “para”, que indica a noção de objetivo, finalidade. Essa palavra
deixa explícita uma relação que já existia.
• “[...] surgiu um outro tipo de epidemia chamada peste pneumônica,
muito grave, também causada pela pulga do rato.”
Nesse trecho há ideias semelhantes; são duas as doenças transmitidas pela
pulga do rato: a peste pneumônica e uma outra que já tinha sido mencionada. Por
isso, empregou-se a palavra “também”, que soma, inclui.
• “[...]cerca de um quarto da população europeia morreu em consequên-
cia da peste bubônica [...].”
Ocorreu no trecho uma relação muito comum entre duas ideias: a relação de
causa/consequência. Relembre as duas ideias: 1) Morte de um quarto da popula-
ção europeia; 2) Ocorrência da peste bubônica.
A segunda ideia indica a razão pela qual a primeira ocorreu. Podemos
afirmar também que a primeira ideia é consequência da segunda. A expressão
16 Língua Portuguesa
responsável por deixar claro o vínculo de causa e conquência é “em consequ-
ência de”.
A seguir, estão algumas relações que podem ocorrer entre as ideias de um
texto e exemplos de expressões que podem indicá-las:
Oposição: mas, porém, no entanto, entretanto, contudo, por outro lado, apesar de, embora...
Adição: e, além disso...
Finalidade: para, a fim de que, com o objetivo de...
Causa: porque, pois, já que, devido a, em razão de, graças a, por causa de...
Conclusão: portanto, então, dessa forma...
Tempo: quando, antes que, depois que, assim que, sempre que, primeiramente, depois, em seguida...
APLICAR CONHECIMENTOS
9º ano 17
b) Leia outra versão para esse trecho.
A campanha inicialmente foi um sucesso, mas fracassou. Algumas pessoas
mal-intencionadas passaram a criar ratos para ganhar dinheiro.
Termine de reescrever a reformulação proposta, preenchendo as lacunas com uma expressão
que torne as ideias ainda mais claras para o leitor.
[...] Não se sabe ao certo quando e por quem foram descobertas as primeiras
minas de diamantes no Brasil. Relatos esparsos sobre a existência desse mineral
remontam à segunda metade do século XVI e é certo que, já no início do século XVIII,
os diamantes eram extraídos às margens do Rio Tijuco [...]. Porém, apenas em 1729
sua existência foi oficializada pelo então governador da capitania de Minas Gerais,
dom Lourenço de Almeida, que justificava a demora em noticiar as descobertas pela
suposta incerteza quanto à qualidade e autenticidade das pedras.
Na verdade, tal atraso deveu-se à lucrativa exploração clandestina estabelecida
desde os primeiros achados, atividade que envolveu o próprio governador e ganhou
notoriedade. A partir daí, tamanha foi a profusão dos diamantes que foram suspensas
todas as minerações de ouro nas terras diamantinas. [...]
SILVA, Ana Rosa Cloclet. “O tesouro de Minas”. Revista Carta Fundamental , n.º 36, mar./2012. p. 30.
18 Língua Portuguesa
a) Complete o trecho, preenchendo as lacunas com um conectivo coerente.
É difícil encontrar alguém que ignore que o hábito de fumar faz mal ao sistema
respiratório e vascular, a novidade é que o fumo pode estar
correlacionado ao declínio da atividade cerebral.
b) Os conectivos que você acrescentou tornam mais explícitas as relações entre as ideias. Que
noção eles reforçam?
8. Complete as frases com ideias que sejam coerentes com o que o conectivo “avisa” ao leitor.
a) O rio da nossa cidade deve ser preservado limpo, porque
b) O rio da nossa cidade deve ser preservado limpo, antes que
c) O rio da nossa cidade deve ser preservado limpo, embora
a) Cada expressão sublinhada remete o leitor a algo que foi tratado antes. Escreva que ideias são
retomadas em cada uma delas.
b) Releia o trecho a seguir e responda: Que ideia representa a causa? E que ideia representa a
consequência?
[...] a mudança é tão lenta que não pode ser percebida pelos nossos sentidos.
c) Complete os trechos a seguir com uma palavra ou expressão coerente.
A mudança não pode ser percebida pelos nossos sentidos
é muito lenta.
A mudança não pode ser percebida pelos nossos sentidos em razão de .
9º ano 19
MOMENTO DA ESCRITA
PROPOSTA
Em revistas de divulgação científica, é comum haver uma seção em que as dúvidas dos leitores
são respondidas.
Junto com seus colegas, você vai escrever textos semelhantes e vai publicá-los em um mural
da escola.
PLANEJAMENTO
1. Escolha um tópico sobre o qual você gostaria de ter mais informações. Por exemplo, a partir do
estudo do capítulo sobre saúde e doenças, em Ciências, um aluno pode se interessar em investigar
as vacinas. Nesse caso, ele vai propor uma questão delimitada: como foi inventada/descoberta a
vacina? Por que algumas pessoas desconfiam da vacinação?
2. Todos vão escrever sua questão em um pedaço de papel e, depois, guardá-lo em uma caixa. Em
seguida, cada aluno vai sortear com que pergunta vai ficar. Ele vai agir como a equipe da revista,
ou seja, vai responder à pergunta em forma de texto.
3. O próximo passo é selecionar fontes de informação.
4. Tome nota dos dados relevantes para responder à dúvida pela qual você ficou responsável.
ELABORAÇÃO
Redija a resposta de forma clara, levando em conta o que você estudou sobre o papel da coesão
e da coerência na constituição de um texto.
AVALIAÇÃO
Troque de texto com um colega (que não pode ser aquele que fez a pergunta) e considere os
seguintes aspectos:
REESCRITA
1. Considerando a avaliação que o colega fez do seu texto, reescreva-o, aperfeiçoando o que garante
o aspecto de unidade em um texto.
2. Siga as orientações do professor para passar o texto a limpo e exponha-o em um mural. A turma
pode optar por colocar alguns textos por semana, de modo que o mural tenha sempre novidades.
20 Língua Portuguesa
PLANEJANDO A FALA
Os elementos responsáveis pela coesão e pela coerência de um texto precisam ser alvo de aten-
ção nas situações de comunicação oral.
Suponha que um funcionário, que recebe mensalmente uma cesta básica, encontre um de seus
produtos com o prazo de validade vencido. Ao entrar em contato com o serviço de atendimento
ao consumidor (SAC), ele diz, assim que o atendente responde: “Meu molho de tomate está ven-
cido e eu quero ser recompensado”.
Discuta com seus colegas:
9º ano 21
Capítulo 2
PORTUGUÊS Crônica: histórias do cotidiano
1. Comprove pelas falas das personagens da tirinha que o jornal tem variedade de gêneros textuais.
2. Quais são os gêneros textuais que aparecem nas falas da tirinha?
3. Qual é a fala que emite uma suposição?
4. Por que podemos afirmar que o pensamento do cãozinho Snoopy é o título de uma notícia?
5. O pensamento de Snoopy comprova a suposição do menino Charlie Brown?
6. Você achou graça na tirinha? Por quê?
22 Língua Portuguesa
Charles Monroe Schulz
Douglas Kirkland/Corbis/Latinstock
O cartunista Charles Schulz (1922-2000) nasceu nos Estados Unidos. É o
criador da tira Peanuts, conhecida no Brasil como Minduim. O quadrinho da
turma de Snoopy e Charlie Brown é um dos mais populares do mundo. Apa-
receu pela primeira vez em 1950. Chegou a ser publicado em 2 600 jornais e
alcançou mais de 355 milhões de leitores em 75 países. Foi traduzido para mais
de 21 idiomas. Schulz foi um inovador. Introduziu a vida cotidiana no mundo
dos comics, dominados até então por histórias de ação. Outra característica
marcante de seu trabalho é o fato de nunca aparecerem adultos desenhados. O
mundo de Snoopy e de Charlie Brown pertence somente à infância.
Disponível em: <www.tvsinopse.kinghost.net/art/c/charles-schulz>. Acesso em: 3 out. 2012.
A CRÔNICA E O LEITOR
NOTÍCIA E CRÔNICA
Assim como a notícia, a crônica também se alimenta dos fatos do cotidiano.
Onde, então, está a diferença entre esses dois gêneros? A diferença principal está
na intencionalidade de cada um deles. As notícias são escritas para informar o
leitor dos principais acontecimentos nacionais e internacionais: políticos, espor-
tivos, culturais, científicos, econômicos etc. Já as crônicas são escritas, sobretudo,
para entreter esse mesmo leitor.
LINGUAGEM
A segunda diferença decorre da primeira. É a linguagem. Por um lado, um
texto escrito para informar, como a notícia, não tem a mesma linguagem de um
texto que pretende entreter o leitor. A linguagem de um texto cuja finalidade é
dar informações precisa ser objetiva e fornecer dados reais e precisos. Por outro
lado, o texto que não tem esse mesmo compromisso com a realidade permite ao
escritor usar a linguagem com mais liberdade, como nas crônicas. O escritor, nes-
se caso, tem de usar sua criatividade. Ele deve encontrar novas formas para narrar
coisas corriqueiras. Para isso, precisa dar novos sentidos às palavras, diferentes
dos sentidos conhecidos.
Por meio de suas crônicas, com lirismo, humor, ironia ou sarcasmo, o cronista
reflete sobre a realidade que nos rodeia e a critica de forma explícita ou implícita,
ajudando a ampliar nossa visão de mundo.
9º ano 23
LER CRÔNICA I
1. Você já sentou nesse tipo de banco, no ônibus, no metrô ou no trem? Como se sentiu sentado de
frente para pessoas que não conhece? Ficou à vontade ou se sentiu constrangido? Como você reagiu?
2. O que você pensa que vai ler, sabendo que o título da crônica é “Banco dos bobos”?
Veja como o escritor Fernando Bonassi traduziu numa crônica o que ele pensava sobre esses bancos.
Repare no uso da linguagem informal. O autor faz uso de expressões bastante populares como
“imbecil”, “idiota” e “troço”. Ele inventa uma personagem chamada “Moura”. Por intermédio do
“Moura”, podemos perceber o que o cronista pensa do ser humano.
Agora, leia a crônica de Fernando Bonassi, publicada na coluna Da Rua, no caderno Ilustrada, do
jornal Folha de S.Paulo, em abril de 2000.
Fernando Bonassi
Karime Xavier/Folhapress
24 Língua Portuguesa
CONHECER MAIS
A crônica
Alguns cronistas baseiam-se nos fatos noticiados na tas para colunas que escritores mantêm nos periódicos.
imprensa. Outros vão buscar inspiração nos temas mais Luis Fernando Verissimo, Danuza Leão, Carlos Heitor
simples e comuns da vida de qualquer pessoa. A crônica Cony e Antônio Prata são alguns nomes de cronistas de
é um gênero dirigido a um público específico – o leitor jornais e revistas que circulam no país.
dos jornais ou revistas. As crônicas são, em geral, escri-
Neco Varella/Folhapress
Carlos Heitor Cony (14/3/1926, no Luis Fernando Verissimo (26/9/1936, em Antônio Prata (24/8/1977, em
Rio de Janeiro – RJ). Porto Alegre – RS). São Paulo – SP).
A ORIGEM DA CRÔNICA
Crônica. [Do lat. Chronica.] S.f. 1. Narração histórica, ou registro de fatos comuns, feitos por ordem cronológica. [...] 4. Texto
jornalístico redigido de forma livre e pessoal, e que tem como temas fatos ou ideias da atualidade, de teor artístico, político, esportivo
etc., ou simplesmente relativos à vida cotidiana. 5. Seção ou coluna de revista ou de jornal consagrada a um assunto especializado:
crônica política; crônica teatral...
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
9º ano 25
A PRIMEIRA CRÔNICA BRASILEIRA
A carta que Pero Vaz de Caminha escreveu a d. Manuel, rei de Portugal, rela-
tando o achamento do Brasil, é considerada a primeira crônica brasileira. Na época
de Caminha, século XVI, crônica significava registro de acontecimentos históricos.
É disso que se trata sua carta. No século XVIII, o termo com esse significado foi
substituído pela palavra história. Desde então, história é o registro e a interpreta-
ção de acontecimentos históricos.
Mais adiante você vai ler uma crônica escrita por Moacyr Scliar baseada na notícia a seguir:
“Igrejas são alvos de ladrões em São Paulo”, de Daniela Tófoli, publicada em 2006, no jornal Folha
de S.Paulo.
Antes de ler a notícia, converse com um colega sobre as questões a seguir.
1. Você tem ideia do que ladrões roubam das igrejas?
2. O que eles fazem com o que é roubado? Você conhece algum caso de roubo em igreja?
Agora, confirmem as hipóteses, lendo o texto de Daniela Tófoli.
26 Língua Portuguesa
Bastou a última missa do domingo da semana sabe o que aconteceu com a coroa de Nossa Se-
passada terminar para os religiosos da igreja de nhora Aparecida, furtada há um mês.
São Judas Tadeu, no Jabaquara (zona sul), cons- Histórias de assaltos são comuns entre os
tatarem que, pela terceira vez em dois meses, padres. No ano passado, roubaram o ofertório
tinham sido assaltados. O ladrão furtou o cofre no meio de uma missa na paróquia Imaculada
onde estavam as oferendas do dia. Os padres não Conceição, na Bela Vista (centro). Também
sabem o valor nem têm pistas do ladrão. em 2005, ladrões levaram microfones e pedes-
Três semanas atrás, porém, um dos quatro tais da Nossa Senhora do Rosário, na Pompeia
seguranças que se revezam no local identifica- (zona oeste). No mês passado, assaltantes fur-
ram um assaltante. “A polícia o prendeu e re- taram o cofre do grupo de orações na igreja de
cuperou o dinheiro. Era o mesmo ladrão que Santa Cecília, no centro.
nos roubou há menos de dois meses”, diz o pa-
dre Augusto Pereira, um dos vigários da igreja. Ímã para pegar moedinha
“Ainda não temos câmeras, mas a segurança se Ladrão “pé de chinelo” também não falta,
tornou preocupação nas paróquias.” contam os párocos. Para roubar as moedinhas
Assaltar igreja não é caso raro na capital. dos ofertórios, os assaltantes usam ímãs ou
De 20 paróquias consultadas pela Folha, 13 so- bolinhas de piche e, assim, atraem o dinheiro.
freram algum roubo ou furto neste ano ou no É para evitar esse tipo de furto que a Sagrado
passado. Ou seja, 65% das paróquias foram ví- Coração de Jesus, no Morumbi (zona oeste),
timas de ladrões. De agosto para cá, foram sete assaltada em 2005, decidiu depositar no banco
assaltos. “Não tem ano em que a gente não seja o dinheiro das oferendas logo após as missas.
roubado, mas agora está demais”, diz o padre Segurança maior, porém, está na instalação
João Enes, da paróquia Nossa Senhora Casalu- de câmeras nas igrejas. Das 20 paróquias con-
ce, no Brás, centro. “Em agosto, levaram boti- sultadas, seis já têm o sistema e muitas estudam
jão de gás e 600 refrigerantes e cervejas de uma a instalação.
festa. Não se respeita mais nem a igreja.” “Depois de sofrermos vários roubos, deci-
dimos no começo do ano que era melhor gastar
Furtos de para-raios
dinheiro com as câmeras e colocar o cofre no
Falta juízo aos ladrões, afirma padre Pas- seguro”, conta Eugênio João Mezzomo, pa-
coali Priolo, da São Januário, na Mooca (zona dre da igreja do Calvário, em Pinheiros (zona
leste). “A situação é terrível, não sei mais o que oeste). “Sempre somos assaltados na época da
fazer. Os assaltantes abusam e só a guarda de quermesse; desta vez, só tivemos pequenos fur-
Deus não dá conta de tudo.” tos.” A manutenção do sistema custa cerca de
A igreja de Priolo já foi furtada duas vezes R$ 900 por mês.
neste ano. Em março, os ladrões levaram cá- As paróquias que não podem colocar câme-
lices, depredaram o sacrário e roubaram até o ras contratam seguranças. Das 20 consultadas,
para-raios. “Como era de cobre, levaram para 13 têm vigias. Mas na igreja da Cruz Torta, tam-
vender ao ferro-velho.” Na semana passada, a bém em Pinheiros, o que espanta os ladrões são
igreja da Consolação, no centro, foi mais uma os nove cachorros do padre Ilson Frossard. “São
que teve os fios de seu para-raios furtados. cinco cães policiais e quatro vira-latas, que la-
O ferro-velho foi o destino, ainda, da cruz tem muito. Ninguém se atreve a chegar perto.”
de R$ 3.000 que adornava a igreja Nossa Se- TÓFOLI, Daniela. Igrejas são alvos de ladrões em São Paulo. Folha de S.Paulo, 16
nhora da Paz, no Glicério, centro, dizem os out. 2006. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1610200601.htm>.
Acesso em: 3 out. 2012.
religiosos de lá. Já a Bom Jesus, no Brás, não
9º ano 27
5. Qual é o nome da redatora da notícia?
6. Localize na notícia e reproduza:
a) o título:
b) os subtítulos:
7. Das igrejas consultadas para a reportagem, qual é a porcentagem das que foram roubadas?
8. A rosa dos ventos é uma representação dos pontos cardeais usada para indicar direção e localiza-
ção nos mapas. A figura a seguir é uma rosa dos ventos. As letras N, S, L e O significam, respec-
tivamente, norte, sul, leste e oeste. Escreva na rosa dos ventos o nome de cada bairro citado na
reportagem na direção correspondente.
9. Complete o quadro abaixo com o nome de todas as igrejas ou paróquias citadas na notícia, o bair-
ro onde ficam situadas e os objetos roubados, seguindo o modelo:
28 Língua Portuguesa
10. De que forma os padres estão defendendo suas igrejas?
11. O que os ladrões fazem com os para-raios roubados?
12. Como os ladrões roubam as moedinhas dos ofertórios?
13. As hipóteses que você levantou antes da leitura da notícia se confirmaram?
CONHECER MAIS
A notícia que vocês acabaram de ler faz lembrar uma Expulsão dos vendilhões GLOSSÁRIO
passagem bíblica muito conhecida em que Jesus expulsa do Templo. Os quadros Vendilhão: vendedor ambulante,
os homens que faziam comércio ilícito dentro do tem- podem ser apreciados que pode, ou não, aproveitar-se
indevidamente de uma determinada
plo. Apesar de no Evangelho este ser um curto relato, no site da Galeria Nacio- situação.
a história ganhou destaque no imaginário ocidental, ao nal de Londres: <www. Vendilhões do templo: mercadores
longo dos séculos, simbolizando o conflito entre os va- nationalgallery.org.uk>. que foram expulsos por Jesus Cristo
do Templo em Jerusalém, como
lores espirituais e o interesse material. No capítulo IV Outro exemplo da
é contado nos quatro evangelhos
do Evangelho de São Marcos, o episódio é relatado em influência dessa pas- canônicos do Novo Testamento.
apenas dois versículos, do 15 ao 17: “E ele os ensinava sagem bíblica é o livro
dizendo-lhes ‘Porventura não está escrito: que a minha Os vendilhões do templo, escrito por Moacyr Scliar. Ele
Casa será chamada Casa de Oração entre todas as gen- toma como base esse evento para criar sua narrativa. A
tes? E vós tendes feito dela um covil de ladrões’?”. história é uma parábola sobre as relações entre crença
Artistas como o grego El Greco (1541-1614) e o italiano e poder, interesses e ideais. A narrativa começa assim:
Bernardo Cavallino (1616-1656?) fizeram belíssimas pintu- “Nunca pensei em me tornar vendilhão do Templo,
ras representando esta passagem, que é conhecida como dizia ele, em alto e bom som, aos que quisessem ouvir”.
LER CRÔNICA II
Poucos dias depois de publicar a notícia “Igrejas são alvos de ladrões em São Paulo”, o mesmo
jornal publicou a crônica “Não roubarás”, de Moacyr Scliar. Com base na notícia, Scliar diverte o
leitor, contando o que aconteceu com um ladrão de igreja.
Converse com o colega sobre as questões a seguir:
• Você consegue imaginar o que passa na cabeça de um ladrão, antes de decidir se vai ou não
roubar uma igreja?
• Pense no significado do título “Não roubarás”. É uma ordem? É o desejo de alguém? É um
artigo de um código moral? Confirme sua resposta, depois de ler o texto.
Textos conversam com textos. Quanto mais um leitor conhece outros textos, mais ele entende
o que está lendo. Um exemplo disso é que, para compreender melhor essa crônica, é bom que você
saiba que existe um filme americano chamado O diabo veste Prada. Você já viu esse filme? Você
sabe que Prada é o nome de uma famosa grife italiana especializada em vários produtos de luxo?
Leia, agora, a crônica de Moacyr Scliar.
9º ano 29
Não roubarás
Tinha certeza de que, se entrasse numa igreja para roubar, mais cedo ou mais tarde seria castigado
Moacyr Scliar
Verdade seja dita, ele hesitou muito. Porque, estava começando a chover e, talvez por causa
apesar de já ter assaltado gente em bares, em disso, o lugar estava deserto.
restaurantes, nas ruas, em carros, nunca o fizera Nenhum fiel ali, nem homem, nem mulher,
numa igreja. Um amigo, que em outra época fora ninguém para ser assaltado. E na igreja propria-
seu cúmplice, tentava inutilmente convencê-lo: mente dita, nada que aparentemente valesse a
é mole, cara, o pessoal que vai a igreja não rea- pena carregar; apenas algumas modestas ima-
ge, não é de briga, não precisa nem usar arma. A gens de santos. Foi até o ofertório, sacudiu-o:
ele, aquilo parecia um sacrilégio, uma tentação. nada, estava vazio.
Não era religioso, mas acreditava em Deus e Uma violenta trovoada fez estremecer o
na justiça divina. Tinha certeza de que, se entras- templo, o que lhe deu uma ideia: o para-raios.
se numa igreja para roubar, mais cedo ou mais Sempre podia render alguma coisa, afinal era de
tarde seria castigado. cobre, e ele conhecia um ferro-velho que pagaria
Mas então teve um sonho, um sonho que foi uma boa grana.
decisivo. Sonhou que estava num lugar distan- Sem muito esforço, retirou o para-raios, uma
te, desolado, perdido entre dunas de areia: um haste com o seu fio, e foi embora sob o temporal.
deserto. Sem saber o que fazer, olhava ao redor, Ao atravessar o descampado, aconteceu aquilo
desorientado, quando de repente avistou um ho- que sempre pode ocorrer com quem carrega pa-
mem. Uma figura exótica, sinistra mesmo: ves- ra-raios: foi atingido por uma descarga elétrica
tia uma espécie de fraque, usava cavanhaque e fulminante. A última coisa que viu foi o homem
exibia um sorriso malicioso. Você está indeciso, que aparecera em seu sonho, mostrando os cani-
disse o estranho, você não sabe se assalta uma nos num sorriso irônico. E estava bem abrigado
igreja ou não, mas você está só perdendo tempo: da chuva. Porque, em ocasiões de temporal, o
é a coisa mais fácil do mundo. diabo não veste Prada.
Acordou resolvido: naquele mesmo dia faria O diabo veste uma elegante capa preta. Ótima
o assalto. E, para a estreia, escolheu uma peque- para quem tem de seguir pecadores sob a tormenta.
na e modesta igreja de bairro. O que se revelou SCLIAR, Moacyr. Folha de S.Paulo, 23 out. 2006. Disponível em:
uma verdadeira decepção. Quando lá chegou, <www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2310200603.htm>. Acesso em: 3 out. 2012.
Todo leitor, mesmo diante de um texto que nunca leu antes, reconhece nele algum traço co-
nhecido. São vestígios conhecidos que permitem o entendimento dos textos lidos pela primeira
vez. Quanto mais elementos forem familiares ao leitor, mais fácil será a compreensão de um texto.
Você vai ver que reconhecer o gênero do texto, por exemplo, é importante para a compreen-
são. Saber que o texto é uma crônica já permite antecipar algumas informações. O leitor que leu
outras crônicas sabe que:
• esse gênero é ficcional;
• o autor inventa uma história, ou faz reflexões sobre um acontecimento que ele presenciou no
seu cotidiano, ou que está nos noticiários;
• em geral, é um texto com humor;
• por trás do humor, o autor critica um comportamento de sua época.
30 Língua Portuguesa
A notícia começava assim: “Só a proteção divina não está mais dando conta”. E mais adiante:
“[...] padres e sacristães precisam dar uma ajudinha aos santos”.
Moacyr Scliar se inspirou nessas referências religiosas e criou um texto que mistura tentação,
pecado e castigo. Essa mistura, que já foi tão temida em outras épocas, hoje, para muitas pessoas,
não causa mais nenhum temor. Ladrões de igrejas roubam não só as pessoas que as frequentam
como os bens das próprias igrejas. O mandamento que diz “Não roubarás” parece estar perdido
no tempo. O que aconteceria se esse mandamento ainda fizesse sentido para um assaltante dos
dias de hoje? A crônica cheia de humor de Moacyr Scliar é uma resposta a essa pergunta.
Moacyr Scliar
Tasso Marcelo/Agência Estado/AE
INTERTEXTUALIDADE
Textos conversam entre si. Chama-se intertextualidade a referência explícita
ou implícita que um texto faz a outro(s) texto(s). Na crônica que estamos ana-
9º ano 31
lisando, a intertextualidade está presente em diferentes momentos: o autor faz
referências implícitas à Bíblia; usa como título um dos dez mandamentos do An-
tigo Testamento, “Não roubarás” (Êxodo 20-15); cita a figura do diabo e fala em
castigo, em Deus e na justiça divina.
Além da Bíblia, há outra marca intertextual. O narrador diz que “o diabo não
veste Prada”. Esta é uma referência ao livro O diabo veste Prada, que ganhou uma
versão cinematográfica, dirigida por David Frankel. No filme, a atriz Meryl Streep
faz o papel da exigente executiva de uma importante revista de moda. Ela é o “dia-
bo” que veste Prada − centenária marca italiana que inicialmente fabricava malas
e bolsas de couro e que hoje é uma grife de moda.
32 Língua Portuguesa
Observe que a troca de um pronome por outro, ele por eu, alterou o sentido
da frase. A terceira pessoa “ele” provoca um efeito de distanciamento maior dos
fatos em relação à primeira pessoa “eu” e causa menos impacto no leitor. Já a
narração em primeira pessoa traz a personagem para perto do leitor, provocando
uma emoção maior. É como se a personagem estivesse “cara a cara” com o leitor,
contando para ele sua história.
Vejamos a seguir os demais elementos do texto narrativo.
Enredo estruturado em uma sequência de fatos – O enredo é a própria histó-
ria que se desenrola em fatos numa sequência temporal. Observe a sequência dos
fatos na crônica “Não roubarás”:
1o O narrador explica por que o ladrão ainda não tinha assaltado uma igreja.
2o O ladrão tem um sonho decisivo.
3o O ladrão assalta uma igreja.
4o O assaltante é atingido por uma descarga elétrica.
2. ANÁLISE LINGUÍSTICA
Vamos observar os recursos utilizados por Moacyr Scliar em sua crônica.
A descrição
Quando lemos, formamos na nossa mente uma imagem de como são persona-
gens, objetos e lugares da história lida. São as descrições desses elementos feitas pelo
9º ano 33
escritor que nos ajudam a imaginar as diferentes situações da narrativa. Um dos
recursos para a elaboração de uma descrição é o uso de adjetivos ou de locuções
adjetivas. Assim, na crônica “Não roubarás”, por meio desses elementos ficamos
sabendo como são a igreja, as imagens da igreja, a figura do diabo e seu sorriso.
34 Língua Portuguesa
O passado é o tempo verbal predominante nas narrativas, mas não é o único.
Vamos observar os tempos verbais na crônica “Não roubarás”. O verbo roubar do
título está no futuro. A forma roubarás concorda com a segunda pessoa do singu-
lar, representada pelo pronome tu. Hoje, o uso da segunda pessoa do singular pre-
valece no Sul do país, nos estados do Norte e em estados do Nordeste. Em regiões
do Sul e do Norte, ainda há a variação da concordância com o verbo na segunda
pessoa ou verbo na terceira pessoa: tu vai/tu vais. Na fala carioca também ocorre
o primeiro caso: tu vai. Na maior parte do Brasil, o pronome tu foi substituído
pelo pronome você.
O verbo é a única categoria de palavra
que pode ser flexionada para indicar o tem- amei, bebi, parti – passado
amo, bebo, parto – presente
po. Observe a seguir algumas formas que o amarei, beberei, partirei – futuro
verbo assume para indicar tempo passado,
presente e futuro:
Observe o uso dos tempos verbais no último parágrafo da crônica. Nesse tre-
cho, você encontra verbos no passado e no presente:
“Sem muito esforço, retirou (pretérito) o para-raios, uma haste com o seu
fio, e foi (pretérito) embora sob o temporal. Ao atravessar o descampado, aconteceu
(pretérito) aquilo que sempre pode ocorrer (presente) com quem carrega (presente)
para-raios: foi atingido (pretérito) por uma descarga elétrica fulminante. A última coisa
que viu (pretérito) foi (pretérito) o homem que aparecera (pretérito) em seu sonho,
mostrando os caninos num sorriso irônico. E estava (pretérito) bem abrigado da
chuva. Porque, em ocasiões de temporal, o diabo não veste (presente) Prada. O diabo
veste (presente) uma elegante capa preta. Ótima para quem tem (presente) de seguir
pecadores sob a tormenta.”
APLICAR CONHECIMENTOS I
9º ano 35
b) Para que o ladrão pudesse ter tido algum lucro com o assalto, a igreja e as imagens de santos
precisariam ser diferentes. Nesse caso, que adjetivos você acrescentaria às palavras “igreja” e
“imagens”? Escreva alguns adjetivos relacionados a essas palavras.
2. Sobre o vocabulário usado na crônica, responda:
a) As passagens a seguir dizem respeito às duas vezes em que o narrador se refere à insegurança
do assaltante. Que expressões revelam essa insegurança?
“Verdade seja dita, ele hesitou muito.”
“Você está indeciso, disse o estranho [...]”
b) O homem que aparece no sonho do ladrão é chamado de figura exótica e sinistra. Qual é a
diferença entre exótico e sinistro?
c) Você sabe o que é um fraque? Se souber, explique a um colega que não saiba. Se você não sou-
ber, pergunte a um colega que saiba ou procure no dicionário o significado dessa palavra.
d) Na primeira vez em que o homem de fraque aparece, ele exibe um sorriso malicioso. Na se-
gunda vez, mostra os caninos num sorriso irônico. No texto, qual é a diferença entre o sorriso
malicioso e o sorriso irônico do homem de fraque?
e) Por que o sorriso do homem mudou de malicioso para irônico?
3. Marque um X no espaço correspondente ao tempo em que cada verbo está.
4. Em dupla, cada um em seu caderno, reescreva três vezes o trecho a seguir, passando os verbos
sublinhados primeiro para o pretérito imperfeito, depois para o pretérito perfeito e o pretérito
mais-que-perfeito.
“Porque em ocasiões de temporal, o diabo não veste Prada. O diabo veste uma elegante capa
preta. Ótima para quem tem de seguir pecadores sob a tormenta.”
5. Comente com seu colega a diferença de sentido que a mudança dos tempos verbais provocou e
registre no caderno.
36 Língua Portuguesa
Por que é difícil escrever essa palavra? Porque ela tem o som (fonema) z, que
em português pode ser grafado com as letras s, z ou x. Daí pode surgir uma dúvi-
da sobre que letra usar ao escrever esse verbo.
As letras do alfabeto representam os sons da língua, mas não há uma corres-
pondência perfeita entre letras e sons. Comprove isso, lendo em voz alta as pala-
vras a seguir. Em seguida, também em voz alta, pronuncie as sílabas em destaque.
Preste atenção no som das consoantes x, s, z:
asa casebre azia zebra exército êxito exótico
a – sa ca – se – bre a – zi – a ze – bra e – xér – ci – to ê – xi – to e – xó – ti – co
Leia em voz alta as palavras êxito e hesito. Perceba que os sons são iguais, mas
a escrita é diferente. Outra diferença é a posição da sílaba tônica. Em ê-xi-to, a
sílaba tônica é a antepenúltima. Essa palavra é, então, proparoxítona. Em he-si-to,
a sílaba tônica é a penúltima. É uma palavra paroxítona.
êxito hesito
ê – xi – to he – si – to
proparoxítona paroxítona
APLICAR CONHECIMENTOS II
b) Quando estou fazendo dieta para perder peso, sempre hesito diante de uma barra de chocola-
te: como ou não como?
2. Reescreva as frases abaixo de forma mais sintética, usando dois-pontos no lugar adequado para
substituir uma das palavras. Faça adaptações, se necessário.
Exemplo:
Sonhou que estava num lugar distante, desolado, perdido entre dunas de areia, era um deserto.
Sonhou que estava num lugar distante, desolado, perdido entre dunas de areia: um deserto.
a) O lugar estava quieto e vazio, parecia um cemitério.
9º ano 37
MOMENTO DA ESCRITA
Agora é a sua vez de ser cronista. Um escritor competente é alguém que planeja o que vai escrever
de acordo com seu objetivo e o do leitor a que o texto se destina, sem desconsiderar as características
específicas do gênero. Para seu texto cumprir a finalidade de comunicação, os seguintes elementos de-
vem ser considerados no momento da produção da crônica: o leitor, o local da publicação e a intenção.
Produza uma crônica para ser publicada no mural ou no jornal da escola. Pense no leitor que
lerá sua crônica. Será toda a comunidade da sua escola? Serão apenas os colegas da classe? Con-
sidere que crônica é um gênero textual que tem como intenção entreter. Selecione os recursos
linguísticos mais adequados à finalidade do texto e ao interlocutor a que ele se destina. Faça um
rascunho e, antes de passá-lo a limpo, revise o que escreveu. Peça para um colega ler e propor
melhorias. Só então faça a versão definitiva. Não se esqueça do título.
Escolha uma das propostas a seguir.
1. Selecione uma foto de jornal ou revista e, com base nessa imagem, elabore uma crônica em pri-
meira pessoa (com narrador-personagem). Lembre-se de que o cronista, por meio de uma histó-
ria, transmite ao leitor uma visão pessoal dos acontecimentos que o cercam.
2. Escreva uma crônica em terceira pessoa (com narrador-observador). Escolha um acontecimento
atual que tenha chamado a sua atenção. Para tanto, consulte jornais, revistas e acompanhe notici-
ários no rádio, na TV e na internet, para entrar em contato com os acontecimentos do momento.
É importante que o tema escolhido cause em você alguma sensação: entusiasmo, surpresa, indig-
nação, alegria etc.
O imaginário cotidiano
O volume é composto de crônicas publicadas na seção Cotidiano, do jornal Folha de S.Paulo.
Para escrever seus textos, Scliar tira inspiração dos episódios do cotidiano.
SCLIAR, Moacyr. O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, 2002.
38 Língua Portuguesa
Capítulo 3
PORTUGUÊS A arte de argumentar
RODA DE CONVERSA
Observe a tirinha a seguir e converse com seus colegas sobre as questões propostas.
Quino
Joaquín Salvador Lavado nasceu na Argentina, em 17 de A obra de Quino é apreciada no mundo inteiro pela agude-
julho de 1932. Em 1949, decide tornar-se desenhista de his- za e crítica que faz da vida em sociedade. Mafalda é a sua
tórias em quadrinhos e humor. Em 1957, Quino começa a personagem mais conhecida.
publicar regularmente seus desenhos em jornais e revistas. Disponível em: <www.quino.com.ar/bra-quino-biografia.html>. Acesso em: 17 fev. 2013.
(Texto adaptado.)
1. Você reparou que a palavra “veículo”, na tirinha, aparece com dois sentidos diferentes. Quais são
esses sentidos?
2. Por que, em sua opinião, a personagem Mafalda aconselha a cultura a saltar do veículo e ir a pé?
3. A tirinha está transmitindo um ponto de vista sobre um assunto. Qual é o assunto? Qual é o ponto
de vista?
4. Muita gente acha que a TV é apenas um meio pelo qual os fatos chegam aos indivíduos, ou seja,
ela apenas reflete o que acontece em nossa sociedade. Dê sua opinião sobre o tema. Os veículos de
comunicação apenas refletem a violência que há no mundo, ou podem incentivá-la, por meio de
programas e notícias? Justifique sua resposta.
5. De que maneira, em sua opinião, a TV poderia ser efetivamente um veículo de cultura?
9º ano 39
OPINAR E ARGUMENTAR
O tema da imagem anterior é um dos muitos que circulam no mundo
sobre o qual podemos opinar, dar um parecer, fazer um julgamento. É co-
mum, no trabalho, na escola e no convívio com a família e com os amigos,
declararmos o que pensamos sobre diferentes temas e ideias. Opinamos sobre
as vantagens e desvantagens de seguir uma carreira profissional; sobre o com-
portamento de alguém; sobre uma notícia publicada em um jornal; sobre a
atuação da Seleção Brasileira; sobre as razões da violência, do preconceito, da
fome, dos hábitos alimentares de algumas pessoas, da existência da guerra, do
sentimento de solidão...
Opinar é “achar”, é “conjecturar”. O que é opinável é discutível, ou seja,
admite a possibilidade de que outra pessoa não aceite e, inclusive, apresente
razões contrárias ao que foi manifestado por nós. Não existe opinião unânime
sobre um assunto.
Por isso, tão importante quanto opinar é saber defender sua opinião. Apresen-
tar fatos, ideias, dados, informações e mostrar causas e consequências ajudam a
convencer e persuadir alguém sobre o que é postulado em uma opinião.
Em alguns dos textos que circulam nos meios de comunicação de massa – jor-
nal, revista, rádio, televisão –, as opiniões podem aparecer camufladas; em outros
– nos artigos de opinião, por exemplo –, os autores argumentam claramente em
favor de um ponto de vista.
ARTIGO DE OPINIÃO
Um artigo de opinião é um texto escrito que aborda uma questão controversa
ou polêmica. Esse gênero de texto apresenta uma argumentação bem caracteriza-
da, que busca conduzir o raciocínio do leitor, a fim de que ele reflita e, possivel-
mente, passe a compartilhar da opinião do autor.
Esse gênero de texto é normalmente veiculado em revistas e jornais, impres-
sos ou on-line.
É importante considerar duas coisas, quando temos em mãos um artigo
de opinião:
1. Não é necessário concordar com tudo que está escrito. Você pode reco-
nhecer argumentos sensatos, lógicos, mas também pode perceber que são
tendenciosos, que mostram apenas um dos lados da questão e manipu-
lam os fatos de acordo com os interesses do autor.
2. Uma leitura crítica de diferentes artigos de opinião sobre um mesmo tema
pode fornecer elementos para que você construa o próprio ponto de vista
sobre o que está sendo discutido. Para fazer uma boa análise dos artigos,
convém que você se familiarize com o modo como a argumentação desse
gênero de texto é construída.
40 Língua Portuguesa
Dessa forma, estudar artigos de opinião implica estudar estratégias argumen-
tativas, isto é, a maneira como o autor expõe e organiza ideias, fatos e dados, com
o objetivo de defender um ponto de vista e influenciar o leitor.
Vamos ler alguns artigos de opinião e analisar algumas estratégias argumen-
tativas, para que você possa produzir o próprio artigo.
Médico de família
Drauzio Varella
1 Há pessoas mais velhas que morrem de sau- tudo, porque médico de família era privilégio
dade do médico de família. Contam, com nostal- de poucos.
gia, que ele visitava os doentes em casa, ouvia 4 Nasci durante a Segunda Guerra, no bairro
suas queixas, medicava e fazia as recomendações operário do Brás, a 15 minutos da praça da Sé.
necessárias. Depois, tranquilizava os familiares Quando aparecia um homem com maleta de
na sala, ouvia confidências, dava conselhos. médico na porta de uma das casas coletivas ca-
2 É possível comparar com a velocidade do racterísticas do bairro, a molecada do futebol de
atendimento no serviço público, nos convênios e rua já sabia que alguém estava à beira da morte.
mesmo nas clínicas particulares? Por que os médi- Aos sete anos, acordei com os olhos inchados, e
cos atuais teriam perdido essa delicadeza no trato? meu pai me levou ao pediatra pela primeira vez;
Antes de responder, quero deixar claro que na volta, meus amigos queriam saber se era ver-
não pretendo fazer a defesa corporativa dos profis- dade que os pediatras amarravam as crianças na
sionais que maltratam pacientes humildes, dos ir- cama para aplicar injeções enormes no traseiro.
responsáveis que sequer os ouvem, dos incompe- 5 Se a 15 minutos da praça da Sé não chega-
tentes e desonestos que envergonham a profissão. va assistência médica à classe operária, o que
3 Estabelecida tal premissa, voltemos à ques- aconteceria na zona rural, residência de mais de
tão: esse tipo de médico foi extinto por várias 70% dos brasileiros na época? Os médicos do
razões. Primeiro, porque desapareceram as fa- interior do Ceará assolado pelas secas também
mílias numerosas de antigamente que se reu- sentavam com as famílias na sala de visita?
niam em torno do patriarca para o cafezinho 6 Hoje, num país urbano, apesar do descalabro
na sala com o doutor. Segundo, porque as cida- administrativo em que vive parte significativa das
des pacatas nas quais ele se movimentava não unidades de saúde estatais, do desperdício absur-
existem mais. Terceiro, porque os honorários do de recursos e da praga da corrupção que infesta
recebidos por um médico daquele tempo eram de forma crônica o Ministério e as secretarias de
suficientes para uma vida confortável, sem pre- Saúde, a assistência médica é incomparavelmen-
cisar de três ou quatro empregos. E, acima de te mais democrática. Quase 100% das crianças
9º ano 41
são vacinadas, a maioria das mães faz pré-na- a mesma, caso a população tivesse duplicado
tal, dá à luz em maternidades e encontra postos nos últimos 35 anos.
de Saúde. Esperam horas para ser atendidas, 9 Às custas de perdas salariais e de enfrentar
muitas vezes saem insatisfeitas, é verdade, mas condições precárias de trabalho, não apenas
seus filhos são examinados pelo pediatra, luxo médicos, mas enfermeiras, assistentes sociais
inatingível para as crianças da minha geração. e todos os profissionais que prestam servi-
7 Embora insuficientes, capengas, sempre em ços de saúde foram os heróis anônimos dessa
luta contra a falta de recursos, temos alguns pro- revolução, que poderia ter sido muito mais
gramas de distribuição gratuita de medicamen- abrangente se houvesse menos demagogia
tos que jamais seriam acessíveis sequer à classe política e maior envolvimento da sociedade.
média, hospitais que realizam procedimentos de 10 Quando ouço exaltar as qualidades humani-
alta complexidade pelo SUS e equipes de agen- tárias dos antigos médicos de família, sinto res-
tes de saúde que prestam atendimento em comu- peito por eles. Mas o desprendimento dos pro-
nidades que jamais puderam sonhar com ele. fissionais de saúde que trabalham nas frentes de
8 Por mais incompetente, corrompida e ca- batalha recebendo salários baixos para atender
ótica que seja nossa administração pública, é gente pobre em comunidades distantes, nos am-
preciso reconhecer o esforço realizado pelo bulatórios, pronto-socorros e enfermarias dos
país nos últimos 40 anos para levar assistên- hospitais públicos me comove muito mais.
cia médica à população. Em 1970, éramos 90 11 O desafio atual é como conciliar o trabalho
milhões de habitantes servidos por um siste- duro realizado por eles, com a preservação do
ma de saúde muito mais precário do que o sentimento de solidariedade diante do sofrimento
atual. Perguntem a franceses, ingleses ou ale- humano, sem o qual a medicina não tem sentido.
mães se a saúde pública de seus países seria Disponível em: <http://drauziovarella.com.br/wiki-saude/medico-de-familia>.
Acesso em: 5 dez. 2012.
4. O texto “Médico de família” pode ser considerado um artigo de opinião? Por quê?
5. O texto discute um atendimento específico, dado a determinada pessoa, em local e momento bem
marcados, ou o atendimento médico de maneira geral?
6. A base desse texto é uma comparação. Qual?
7. Que ponto de vista sobre o atendimento médico atual é defendido pelo autor?
8. O autor expõe vários dados estatísticos e ocorrências que comprovam o que ele defende.
a) Como você acha que ele obteve essas informações?
b) Em sua opinião, qual é a função das informações que aparecem ao longo do texto?
9. Releia o que escreveu sobre o atendimento médico atual. O texto “Médico de família” apresentou
dados novos? Os argumentos do texto fizeram que você mudasse de opinião? Justifique sua resposta.
Vamos retomar o texto e verificar como Drauzio Varella expôs sua opinião e
como a defendeu.
Leia novamente os dois primeiros parágrafos. O autor, se quisesse, poderia ter
escrito: “Os médicos de hoje não dão aos pacientes o tratamento compreensivo
42 Língua Portuguesa
que era dado antigamente pelo médico de família”. Entretanto, em vez de apresen-
tar com rapidez essa ideia, ele a apresenta de uma forma que conquista o leitor e o
faz concordar com ele: primeiro descreve como era bom o contato do médico de
antigamente com as famílias, depois pergunta: “Dá para comparar?”. A resposta
que intimamente o leitor dá é “não”. Porém, sem perder tempo, e para não encer-
rar a discussão com um lamento saudosista, o autor provoca: “Por que os médicos
atuais teriam perdido essa delicadeza no trato?”.
Muitas seriam as respostas que você ouviria se lançasse essa questão num
bate-papo. Provavelmente seriam ditas frases como “porque os médicos hoje só
querem saber de dinheiro”; “porque eles são obrigados a atender muitos pacien-
tes”; “porque tudo mudou, a vida antes era mais tranquila” etc.
Mas o que é feito num texto de opinião? Para que o autor defenda um ponto
de vista, ele investiga o tema mais a fundo, procura dados estatísticos para pro-
curar entender o que ocorre de fato, lê o que especialistas pesquisam. Enfim, não
emite apenas uma opinião, mas procura fundamentá-la para defendê-la.
Releia o terceiro parágrafo. O que o autor faz aí se chama contra-argumentar.
Prevendo a alegação que o leitor poderia fazer, ele já se defende, definindo uma
posição. É claro que a atitude desrespeitosa é inaceitável no médico. Isso não será
discutido. O que, então, é válido considerar?
No quarto parágrafo, a frase “Estabelecida tal premissa, voltemos à questão”
funciona como fator de coesão. Como o autor interrompeu o que estava dizendo,
ele retoma formalmente o percurso inicial do texto, para orientar a leitura do
leitor, já enumerando quatro razões. Nesse momento, é importante o auxílio de
termos que ordenam ideias (“primeiro”, “segundo”). Repare no modo como ele
apresenta a última razão. Ele escreve: “E, acima de tudo, porque...”. O que a expres-
são “acima de tudo” revela para o leitor? Das quatro razões apresentadas, qual o
autor considera a mais importante?
Nesse parágrafo, o autor retoma o que disse antes (que aquele médico antigo
não existe mais) e apresenta motivos para isso. Você percebeu que esses motivos
são expostos em uma ordem que revela um valor? O primeiro nada tem a ver
com o profissional (aquele médico de família sumiu porque não há mais aquele
tipo de família). Os dois seguintes já pressupõem circunstâncias ligadas ao mé-
dico: ele não teria a possibilidade de visitar os doentes em razão da vida turbu-
lenta na cidade hoje; além disso, precisa trabalhar mais do que naquela época
para obter um rendimento adequado. Não é à toa que o autor dá tanto destaque
ao último argumento; é nele que toda a discussão restante vai se fundamentar.
O médico de família de antigamente é um modelo, porém, para quantas pessoas
ele estava disponível?
O leitor que examina atentamente o que lhe é apresentado reflete que algo
mais precisa ser analisado nessa situação antes de continuar o saudosismo pelo
9º ano 43
médico de antigamente. O autor já preparou o terreno para expor o ponto de
vista que quer defender. Diante de uma boa argumentação, o leitor aceita ideias
diferentes daquelas que tinha quando começou a ler. É comum que isso aconteça
durante a leitura de um artigo de opinião, mas é preciso ser crítico e não se deixar
convencer por argumentos fracos ou falsos.
Volte ao quinto e ao sexto parágrafo. Você reparou que o autor lançou mão de
um exemplo para justificar a ideia que é a base de sua reflexão? A distância que
uma família como a do autor mantinha de um médico é representativa da distân-
cia de toda uma classe social, que nem era extremamente pobre, do atendimento
médico. E o autor estende o pensamento. Se era desse jeito em um centro urbano
desenvolvido, que pensar de um lugar afastado, no interior do Brasil? Realmente,
a figura do médico de família era muito importante, mas que eficácia ela tinha na
sociedade como um todo? Veja que o leitor participa da discussão que ele acom-
panha no artigo de opinião.
O advérbio “hoje” que aparece no sétimo parágrafo faz muito mais do que
apenas indicar a que tempo o autor se refere. Ele é marcador da comparação que
está na base desse artigo: ontem x hoje. E qual é a situação hoje? “A assistência
médica é incomparavelmente mais democrática”, diz o autor. Isso quer dizer que
mais gente tem acesso a ela. Enfim, nesse ponto do texto, o autor propõe que hou-
ve um ganho; passamos de um atendimento limitado, restrito a poucas pessoas, a
um atendimento mais abrangente. E comprova com dados:
• “quase 100% das crianças são vacinadas, a maioria das mães faz pré-
-natal, dá à luz em maternidades e encontra postos de saúde”;
• “seus filhos são examinados pelo pediatra”;
• “temos alguns programas de distribuição gratuita de medicamentos
que jamais seriam acessíveis sequer à classe média, hospitais que reali-
zam procedimentos de alta complexidade pelo SUS e equipes de agen-
tes de saúde que prestam atendimento em comunidades que jamais
puderam sonhar com ele”.
Enfim, ainda que não tenha a qualidade desejável, o atendimento na área da
saúde pública chega a mais pessoas do que antigamente. O Estado levou assistên-
cia médica à população, mesmo tendo ela duplicado nas últimas décadas. Este é o
ponto de vista que o autor quer provar. Ele levantou uma questão, fez uma compa-
ração e, para concluir, provou que os médicos de hoje merecem respeito, porque
atendem populações pobres em comunidades distantes, nos ambulatórios, pron-
tos-socorros e enfermarias dos hospitais públicos. Mas repare que há uma crítica:
o atendimento poderia ser mais eficiente “se houvesse menos demagogia política
e maior envolvimento da sociedade”. Será que o autor poderia esclarecer de que
forma a sociedade poderia se envolver? Será que poderia entrar em detalhes sobre
a demagogia política e suas implicações?
Claro! Mas de que tamanho ficaria o texto? Seria possível esgotar o assunto?
De forma alguma. Uma ideia puxaria outra, e ele perderia seu principal objetivo,
aquele que o autor propôs discutir. Esta é outra regra para quem escreve um ar-
44 Língua Portuguesa
tigo de opinião. É preciso saber delimitar o assunto. Não é recomendável fazer
uma discussão superficial, mas é preciso ter consciência de que não é possível
abranger tudo. Há limite de espaço e de alcance. Assim, muitas outras questões
ficam fora do texto, porque não é a intenção do autor discuti-las ali.
A conclusão do texto é a necessidade de conciliar o “trabalho duro realizado
por eles, com a preservação do sentimento de solidariedade diante do sofrimento
humano, sem o qual a medicina não tem sentido”. Como isso poderia ser feito?
É assunto para outro texto e requer outra investigação...
Depois da leitura desse artigo de opinião, poderíamos dizer simplesmente
que, no passado, o serviço médico era bom e hoje não é? No mínimo teríamos de
pensar que critérios definem um bom atendimento médico.
Dica
Um bom artigo de opinião não precisa dizer apenas o que interessa e es-
conder dados inconvenientes, justamente porque esses últimos, quando a re-
flexão é benfeita, não destroem a argumentação do autor.
Vale a pena salientar (e imitar) os termos empregados com o objetivo de
admitir o outro lado:
• “apesar do descalabro administrativo, …”
• “muitas vezes saem insatisfeitas, é verdade, mas…”
• “embora insuficientes, …”
MOMENTO DA ESCRITA I
As questões abaixo devem ser respondidas em seu caderno. Elas vão ajudá-lo a refletir sobre a
redação de um artigo de opinião.
1. Muitas estruturas empregadas nesse artigo de opinião podem ser repetidas em textos de tema
diferente. Veja o trecho do texto de Drauzio Varella a seguir.
“[...] esse tipo de médico foi extinto por várias razões. Primeiro, porque
desapareceram as famílias numerosas de antigamente que se reuniam em torno do
patriarca para o cafezinho na sala com o doutor. Segundo, porque as cidades pacatas
nas quais ele se movimentava não existem mais. Terceiro, porque os honorários
recebidos por um médico daquele tempo eram suficientes para uma vida confortável,
sem precisar de três ou quatro empregos. E, acima de tudo, porque médico de família
era privilégio de poucos.”
Segundo, porque
9º ano 45
Terceiro, porque
b) Televisão
A televisão é um dos mais eficazes meios de comunicação criados pelo homem.
Primeiro, porque
Segundo, porque
Terceiro, porque
c) Carreira profissional
Poder escolher uma carreira profissional é muito importante.
Primeiro, porque
Segundo, porque
Terceiro, porque
Tema 1:
Se o que aconteceria ?
Tema 2:
Se o que aconteceria ?
46 Língua Portuguesa
3. Termine as frases a seguir, acrescentando causas no lugar do *. Para introduzir a causa, use conec-
tivos, como: porque, já que, uma vez que, em virtude de, por e como.
a) O atendimento médico, nas grandes cidades, vem se tornando um problema *.
b) Hoje em dia, os cursos de medicina são os mais concorridos *.
c) O tratamento de doenças como o câncer e a aids desenvolveu-se muito nas últimas décadas *.
d) A realização pessoal está muito ligada à escolha de uma profissão *.
e) Vem crescendo o consumo de álcool, sobretudo cerveja, *.
f) A pesquisa e o estudo contam muito na hora de escrever um artigo de opinião *.
4. Examine o contraste de ideias.
9º ano 47
ARGUMENTAÇÃO
Você conhece a fábula “O lobo e o cordeiro”, de La Fontaine? Veja como
ela começa:
Um cordeiro estava bebendo água num riacho. O terreno era inclinado e por
isso havia uma correnteza forte. Quando ele levantou a cabeça, avistou um lobo,
também bebendo água.
Como é que você tem a coragem de sujar a água que eu bebo? – disse o lobo,
que estava alguns dias sem comer e procurava algum animal para matar a fome.
– Senhor – respondeu o cordeiro –, não precisa ficar com raiva porque eu
não estou sujando nada. Bebo aqui, uns vinte passos mais para baixo. É impossível
acontecer o que o senhor está falando.
[...]
LA FONTAINE, Jean de. O lobo e o cordeiro. Porto Alegre: Kuarup, 1994. (Texto adaptado.)
O lobo quer castigar o cordeiro por ter sujado a sua água. Repare na razão
que o cordeiro aponta para não ser castigado. Ele está vinte passos abaixo, ou seja,
está num ponto do rio onde corre uma água que já tinha passado pelo lobo. O que
o cordeiro apresenta é inegável. Ele poderia ter discutido que não estava sujo e,
portanto, não sujava nada, mas nem se preocupou com isso. Afinal, essa questão
dependeria do que o lobo entende por “sujar” e a discussão poderia ser intermi-
nável. Dizemos, então, que o cordeiro apresentou um bom argumento.
Essa fábula exemplifica como os argumentos podem ser usados. Há muitas
estratégias para argumentar. Vamos conhecer algumas.
48 Língua Portuguesa
2. ARGUMENTO DE AUTORIDADE
Às vezes, para atestar a veracidade do que se apresenta como prova, cita-se
uma pessoa ou uma instituição que tem muita credibilidade no assunto que
está sendo discutido. Exemplo:
Do outro lado da equação, a ONU diz que os indivíduos precisam de 5 litros de
água por dia, simplesmente para sobreviver em um clima moderado, e de ao menos
50 litros diários para beber e cozinhar, tomar banho e usar em saneamento. (Juliette
Jowit, Carta na Escola, fevereiro de 2009, edição 33. p. 20.)
Os dados que aparecem são confiáveis, uma vez que são da Organização das Na-
ções Unidas (ONU), cujos objetivos são “manter a paz e a segurança internacionais;
desenvolver relações amistosas entre as nações; e realizar a cooperação internacional
para resolver os problemas mundiais de caráter econômico, social, cultural e huma-
nitário” (ONU-BR. Disponível em: <www.onu.org.br>. Acesso em: 23 out. 2012.)
4. ARGUMENTO DE PRINCÍPIO
É um tipo de argumento bastante empregado. Baseia-se nas ideias de bom
senso, normalmente aceitas e que dispensam maiores justificativas. Exemplo:
País nenhum pode se considerar imune às epidemias alheias. (Drauzio
Varella, Folha de S.Paulo, 14 out. 2006.)
O senso comum é a chamada opinião pública; é aquele saber que adquirimos
espontaneamente, no nosso contato com os outros. É um saber superficial, que
não exige especialização. O contrário seria o senso crítico.
É preciso ter cuidado ao usar opiniões do senso comum, que podem não
se justificar. É o caso de um argumento como “A pena de morte vai fazer di-
minuir a criminalidade”.
9º ano 49
ARTICULADORES
Palavras soltas, sem nenhuma organização, não constituem um texto. É preciso
uni-las com outras palavras que tenham o sentido que desejamos. Uma coisa é es-
crever “Foram para lá, apesar do calor”; outra é escrever “Foram para lá, por causa
do calor”. Esse trabalho de unir ideias de forma coerente é chamado de articulação.
Há articuladores que unem orações e há os que unem parágrafos, e eles são ex-
tremamente importantes para expressar os argumentos usados em um artigo de opi-
nião. Durante a leitura que faremos de alguns textos, repare na importância deles na
expressão dos argumentos.
MAIS POLÊMICA
Encontro do rio São Francisco com o rio Grande em Barra (BA), 2012.
50 Língua Portuguesa
Você já ouviu falar sobre o projeto de transposição das águas do rio São
Francisco?
Esse projeto divide opiniões. A ideia é construir dois canais ligando o rio São
Francisco a bacias hidrográficas menores do Nordeste, bem como aos seus açu-
des. Segundo o governo federal, o intuito dessas obras é melhorar a distribuição
da água para uma população de 12 milhões de nordestinos. O prazo para reali-
zação do projeto é de vinte anos. Até 2009, seu custo total estimado era de R$ 4,5
bilhões. Além da interligação das bacias, há um projeto para recuperar os afluen-
tes do rio São Francisco, pois vários deles sofrem problemas de assoreamento,
decorrentes do desmatamento para a agricultura.
Como toda questão polêmica, há argumentos a favor e contra. Alguns grupos
da sociedade consideram o projeto caro e que, no lugar dele, pequenas obras po-
deriam ser feitas para resolver o problema. Outra questão polêmica diz respeito a
quem vai realmente se beneficiar com a transposição. Entretanto, o governo fede-
ral afirma que o número de empregos que serão criados, direta e indiretamente, e
a solução do problema da seca trariam muitos benefícios para a população.
MOMENTO DA ESCRITA II
Antes de ler dois artigos de opinião, escreva o seu ponto de vista sobre a alteração do curso do
rio São Francisco. O que você acha desse projeto? É a melhor maneira de melhorar a qualidade
de vida de quem vive em regiões castigadas pelas grandes secas? Ou obras assim não resolvem o
problema e colocam em risco a fauna e a flora da região?
Escreva também seus argumentos a favor e/ou contra.
Ponto de vista:
Argumentos:
9º ano 51
ARGUMENTOS A FAVOR DO PROJETO
• Garantir água potável para 12 milhões de habitantes do semiárido é construir o futuro
do Nordeste.
• A disponibilidade hídrica atual de algumas cidades do Nordeste é inferior a 1/3 do reco-
mendado pela Organização Mundial da Saúde.
• “As terras lindeiras dos 620 quilômetros de canais da interligação foram previamente declaradas
de interesse público para fins de desapropriação do futuro. Elas compreendem uma faixa de 2,5
quilômetros de cada lado, que poderá assegurar a arrecadação de mais de 350 mil hectares de
terras férteis, o que produzirá no futuro cerca de 200 mil empregos permanentes.” (José Graziano
da Silva, professor titular de economia agrícola da Unicamp. Folha de S.Paulo, 9 out. 2005.)
• Nos EUA, há 30 anos, as águas do rio Colorado foram canalizadas pelo deserto de Phoenix, no
Arizona, com um desvio de 4 mil quilômetros. A China constrói um canal de mil quilômetros
para levar águas do Yang-tsé, do Sul, ao Norte do país. (José Graziano da Silva, Folha de
S.Paulo, 9 out. 2005.)
• Perda de emprego por causa das desapropriações e no fim da obra, quando trabalhadores
não devem conseguir vagas de trabalho para permanecer na região.
• Poderá haver desaparecimento da biodiversidade nos rios da região. Estima-se que 430
hectares de vegetação serão desmatados.
• A desapropriação das terras pode gerar conflitos, além de romper laços formados no cotidiano.
• Haverá menos espaço para peixes com a mudança de volume nos açudes. Isso pode acarretar
a diminuição de espécies usadas na pesca e no comércio.
52 Língua Portuguesa
Agora escreva um artigo de opinião sobre a transposição do rio São Francisco. Imagine que ele
será publicado em um jornal de grande circulação, cujos leitores não têm necessariamente muitas
informações sobre o tema.
Organize seu texto em parágrafos. No primeiro escreva seu ponto de vista sobre o projeto de
transposição do rio. Nos parágrafos seguintes, escreva seus argumentos (de causa e consequência,
de autoridade, de exemplificação, de princípio). Reserve o último parágrafo exclusivamente para
a conclusão.
Você vai ler agora dois artigos de opinião sobre a transposição do rio São Francisco. Depois de
lê-los com muita atenção, responda às questões.
Demora a transposição
EDITORIAL
28.8.2012
A transposição das águas do Rio São Fran- levância da interligação das águas do Rio São
cisco para as bacias hidrográficas do Nordes- Francisco com as bacias hidrográficas do Nor-
te Oriental vem sofrendo atrasos identificados deste Oriental, beneficiando porções signifi-
pelo Tribunal de Contas da União (TCU), ao cativas do Ceará, Pernambuco, Paraíba, Rio
avaliar o cumprimento de seus organogramas Grande do Norte e Alagoas.
físico e financeiro. Além dos municípios situados no entor-
A conclusão desse projeto ciclópico, ini- no dos grandes reservatórios construídos pelo
cialmente prevista para entre 2010 e 2012, foi Dnocs na região, há também carência de água
reestimada para o período compreendido entre para suprir o abastecimento humano de, pelo
2014 e 2015, portanto, fora da administração menos, três das maiores cidades interioranas:
da presidente Dilma Rousseff. Essa hipótese Campina Grande, na Paraíba; Caruaru, em Per-
representa risco de postergação, diante da má nambuco; e Mossoró, no Rio Grande do Norte,
vontade manifestada de segmentos influentes com fontes hídricas insuficientes.
em relação a esse macroprojeto. O projeto é gigantesco para a região, mas
Ademais, a protelação do prazo de um dos minúsculo em relação a investimentos realiza-
maiores investimentos do governo federal no dos pelo poder público no Centro-Sul, no Su-
Nordeste tem-se refletido no seu valor inicial, deste ou no Centro-Oeste. Quando concluído,
estimado em R$ 4,7 bilhões, mas já alterado ele irá assegurar o suprimento de água potável
para mais de R$ 8 bilhões. Evidentemente, a para 12 milhões de pessoas, distribuídas por
obra com execução programada para médio 1 100 cidades disseminadas pelo semiárido nor-
prazo sofreria reajustes contratuais e, mais ain- destino, sem água no subsolo.
da, por outros ditados pelo encarecimento dos O último relatório setorial do TCU é, de
insumos utilizados nos canteiros. certa forma, desanimador, quando aponta irre-
O quadro de dificuldades provocado pela gularidades na condução das obras. Empresas
escassez de chuvas, neste ano, diz bem da re- contratadas para supervisionar a construção
9º ano 53
encontraram defeitos de responsabilidade das Diante da magnitude do empreendimento, po-
construtoras. De outra parte, alguns lotes pas- deria haver esforço conjunto para a unificação
saram quase um ano sem o acompanhamento dos critérios de execução das obras e de verifi-
das equipes responsáveis pelo controle de qua- cação da procedência das despesas, sem deixar
lidade. Por esse ato falho, o que as empreiteiras dúvidas quanto a seu valor.
faziam não era fiscalizado de forma adequada, As divergências alimentam as correntes
gerando consequências nocivas. Houve, igual- contrárias a essa obra que deveria ser incon-
mente, excessivas mudanças no projeto, for- testável. O governo é o maior empreendedor
çando aditivos contratuais no limite do valor no País, movimentando as obras diversificadas
legal, mas sem que o projeto ficasse pronto. Há, do Programa de Aceleração do Crescimento
até mesmo, segundo o TCU, indícios de obras (PAC). Contudo, suas obras têm sofrido críticas
com pagamento duplicado. em decorrência da má gestão. Enquanto essa
A experiência tem demonstrado ser dife- questão básica não for resolvida, o País estará
rente a realidade dos canteiros de obra das exi- com seu desenvolvimento atolado em obras ví-
gências contidas nas normas de fiscalização e timas de paralisação.
controle dos órgãos incumbidos dessa tarefa. Disponível em: <http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1175068>.
Acesso em: 9 set. 2012.
54 Língua Portuguesa
8. “A experiência tem demonstrado ser diferente a realidade dos canteiros de obra das exigências
contidas nas normas de fiscalização e controle dos órgãos incumbidos dessa tarefa.” Esse argu-
mento deve ser considerado um argumento de autoridade ou de princípio? Justifique a resposta.
9. “O governo é o maior empreendedor no País, movimentando as obras diversificadas do Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC). Contudo, suas obras têm sofrido críticas em decorrência
da má gestão.”
Usando o conectivo que aparece em cada quadro, junte os dois períodos num só. Atente para as
modificações necessárias.
Ainda que
Apesar de
10. “As divergências alimentam as correntes contrárias a essa obra que deveria ser incontestável.”
Que palavra nessa frase mostra claramente que o editorialista é a favor da obra de transposição do rio?
9º ano 55
Trata-se de um argumento completamente gação indispensável em qualquer projeto que
infeliz lançado por alguém que sabe de ante- envolve grandes recursos, sensibilidade social
mão que os brasileiros extranordestinos desco- e honestas aplicações dos métodos disponíveis
nhecem a realidade dos espaços físicos, sociais, para previsão de impactos.
ecológicos e políticos do grande Nordeste do Os “vazanteiros” que fazem horticultura no
país, onde se encontra a região semiárida mais leito dos rios que “cortam” − que perdem fluxo
povoada do mundo. durante o ano − serão os primeiros a ser total-
O Nordeste Seco, delimitado pelo espaço mente prejudicados. Mas os técnicos insensíveis
até onde se estendem as caatingas e os rios in- dirão com enfado: “A cultura de vazante já era”.
termitentes, sazonários e exoreicos (que che- Sem ao menos dar qualquer prioridade para a
gam ao mar), abrange um espaço fisiográfico realocação dos heróis que abastecem as feiras
socioambiental da ordem de 750 000 quilôme- dos sertões. A eles se deve conceder a priori-
tros quadrados, enquanto a área que preten- dade maior em relação aos espaços irrigáveis
samente receberá grandes benefícios abrange que viessem a ser identificados e implantados.
dois projetos lineares que somam apenas al- De imediato, porém, serão os fazendeiros pe-
guns milhares de quilômetros nas bacias do cuaristas da beira alta e colinas sertanejas que
rio Jaguaribe (Ceará) e Piranhas-Açu, no Rio terão água disponível para o gado, nos cinco ou
Grande do Norte. Portanto, dizer que o projeto seis meses que os rios da região não correm. É
de transposição de águas do São Francisco para possível termos água disponível para o gado e
além-Araripe vai resolver problemas do espaço continuarmos com pouca água para o homem
total do semiárido brasileiro não passa de uma habitante do sertão. Nesse sentido, os maiores
distorção falaciosa. beneficiários serão os proprietários de terra, re-
Um problema essencial na discussão das sidentes longe, em apartamentos luxuosos em
questões envolvidas no projeto de transposição grandes centros urbanos.
de águas do São Francisco para os rios do Cea- Sobre a viabilidade ambiental pouca coisa
rá e Rio Grande do Norte diz respeito ao equi- se pode adiantar, a não ser a falta de conheci-
líbrio que deveria ser mantido entre as águas mentos sobre a dinâmica climática e a perio-
que seriam obrigatórias para as importantíssi- dicidade do rio que vai perder água e dos rios
mas hidrelétricas já implantadas no médio/baixo intermitentes-sazonários que vão receber file-
vale do rio − Paulo Afonso, Itaparica, Xingó. tes das águas transpostas.
Devendo ser registrado que as barragens ali im- Um projeto inteligente e viável sobre trans-
plantadas são fatos pontuais, mas a energia ali posição de águas, captação e utilização de águas
produzida, e transmitida para todo o Nordeste, da estação chuvosa e multiplicação de poços ou
constitui um tipo de planejamento da mais alta cisternas tem que envolver obrigatoriamente co-
relevância para o espaço total da região. De for- nhecimento sobre a dinâmica climática regional
ma que o novo projeto não pode, em hipótese do Nordeste. No caso de projetos de transposi-
alguma, prejudicar o mais antigo, que reconheci- ção de águas, há de ter consciência que o perío-
damente é de uma importância areolar. Mas pa- do de maior necessidade será aquele que os rios
rece que ninguém no Brasil se preocupa em saber sertanejos intermitentes perdem correnteza por
nada de planejamentos pontuais, lineares e areo- cinco a sete meses.
lares. Nem tampouco em saber quanto o projeto Trata-se, porém, do mesmo período que o rio
de interesse macrorregional vai interessar para os São Francisco torna-se menos volumoso e mais
projetos lineares em pauta. esquálido. Entretanto, é nesta época do ano que
Segue-se na ordem dos tratamentos exigi- haverá maior necessidade de
GLOSSÁRIO
dos pela ideia de transpor águas do São Francisco reservas do mesmo para hi-
para além-Araripe a questão essencial a ser feita para drelétricas regionais. Trata-se Falaciosa: enganadora,
mentirosa.
políticos, técnicos acoplados e demagogos: a quem de um impasse paradoxal, do
Paradoxal: contraditório.
vai servir a transposição das águas? Uma interro- qual, até agora, não se falou.
56 Língua Portuguesa
Por outro lado, se esta água tiver que ser ele- do passado, que acontecerá a disputa pelos R$ 2
vada ao chegar a região final de seu uso, para bilhões pretendidos para o começo das obras.
desde um ponto mais alto descer e promover al- O risco final é que, atravessando acidentes
guma irrigação por gravidade, o processo todo geográficos consideráveis, como a elevação da
aumentará ainda mais a demanda regional por escarpa sul da chapada do Araripe − com grande
energia. E, ainda noutra direção, como se evitará gasto de energia! −, a transposição acabe por signi-
uma grande evaporação desta água que atraves- ficar apenas um canal tímido de água, de duvidosa
sará o domínio da caatinga, onde o índice de eva- validade econômica e interesse social, de grande
poração é o maior de todos? Eis outro ponto obs- custo, e que acabaria, sobretudo, por movimentar
curo, não tratado pelos arautos da transposição. o mercado especulativo, da terra e da política. No
A afoiteza com que se está pressionando o go- fim, tudo apareceria como o movimento geral de
verno para se conceder grandes verbas para início transformar todo o espaço em mercadoria.
das obras de transposição das águas do São Fran- *Aziz Ab’Sáber, 80, é geógrafo, professor-emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e
cisco terá consequências imediatas para os espe- Ciências Humanas da USP e professor convidado do Instituto de
Estudos Avançados da USP.
culadores de todos os naipes. Existindo dinheiro −
Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/atualidades/rio-sao-francisco-a-quem-
em uma época de escassez generalizada para pro- vai-servir-a-transposicao-das-aguas.jhtm>. Acesso em: 23 out. 2012.
jetos necessários e de valor certo −, todos julgam
que deve ser democrática a oferta de serviços, se GLOSSÁRIO
1. Em sua opinião, o autor Aziz Ab’Sáber domina o assunto sobre o qual escreve? Por quê?
2. Para o autor, a transposição das águas do rio São Francisco resolveria os grandes problemas so-
ciais existentes na região semiárida do Brasil?
3. Em qual parágrafo o autor responde à pergunta feita no título do artigo?
4. Em qual parágrafo o autor expressa seu ponto de vista sobre a transposição das águas?
5. Faça uma tabela com duas colunas (causas e consequências) e escreva os argumentos de causa
e de consequência usados pelo autor para defender seu ponto de vista sobre a transposição das
águas do rio São Francisco.
6. Retire um argumento de princípio dos parágrafos 1, 2, 6 e 10.
7. Observe as expressões destacadas nas frases retiradas do texto:
“Mas parece que ninguém no Brasil se preocupa em saber nada de
planejamentos pontuais, lineares e areolares.”
“É possível termos água disponível para o gado e continuarmos com pouca
água para o homem habitante do sertão. Nesse sentido, os maiores beneficiários serão
os proprietários de terra, residentes longe, em apartamentos luxuosos em grandes
centros urbanos.”
a) As expressões destacadas indicam certeza ou possibilidade em relação aos argumentos apre-
sentados?
b) Em sua opinião, porque expressões assim são comuns em artigos de opinião?
8. Na frase “dizer que o projeto de transposição de águas do São Francisco para além-Araripe vai
resolver problemas do espaço total do semiárido brasileiro não passa de uma distorção falaciosa”,
quais palavras mostram claramente que o autor Aziz Ab’Sáber é contra o projeto de transposição
das águas do rio São Francisco?
9º ano 57
Dica
Os adjetivos, palavras que atribuem características (qualidade, estado, modo de ser, aspecto) ao substantivo,
funcionam como uma das pistas em um artigo de opinião para que possamos distinguir fatos de opiniões. As carac-
terísticas positivas ou negativas apontadas são questionáveis e podem ser refutadas.
Veja alguns exemplos:
a) Há uma lei que proíbe fumar em locais públicos.
Há uma lei correta que proíbe fumar em locais públicos.
b) O projeto de transposição das águas do São Francisco acontece na região semiárida do Brasil.
O equivocado projeto de transposição das águas do São Francisco acontece na região semiárida do Brasil.
O necessário projeto de transposição das águas do São Francisco acontece na região semiárida do Brasil.
Retome o artigo de opinião que você escreveu sobre a transposição do rio São Francisco. Depois
da leitura dos textos “Demora a transposição” e “A quem vai servir a transposição das águas?”, você
vai poder alterar seu artigo, caso julgue necessário.
Lembre-se de levar em consideração seus possíveis leitores, os de um jornal de grande circula-
ção em sua cidade, os quais não estão necessariamente inteirados sobre o tema abordado.
Faça a revisão, observando os itens abaixo:
• Seu texto apresenta um título instigante? Caso não tenha, você deve criar um.
• Você, como autor do artigo, preocupou-se em escrever uma descrição do projeto de trans-
posição do rio para os leitores se inteirarem do assunto que será discutido? Caso não tenha
feito isso, escreva um parágrafo contextualizando a questão.
• Seu ponto de vista está explicitado? Se quiser dar ênfase a um ponto de vista, pode escrever
certamente, sem dúvida, com certeza etc. Se quiser atenuar alguma declaração, convém usar
as palavras provavelmente, talvez, possivelmente etc.
• Você reuniu argumentos consistentes para defender a posição assumida? Verifique se você
utilizou argumentos de diferentes tipos: de causa e consequência, de exemplificação, de
autoridade e de princípio.
• O último parágrafo ficou reservado para a conclusão? Para concluir, você pode fazer uso de
palavras como portanto, enfim, dessa forma etc.
• Você citou opiniões diferentes das suas? Caso queira inserir uma, empregue termos como
embora, ainda que, mesmo, por mais que, por menos que, porém, por outro lado etc.
• Você acha que seu texto está legível e adequado às normas gramaticais?
• Acha que conseguiu atingir seus objetivos de tentar convencer seus leitores?
Pontos de vista
Esse livro faz parte do conjunto de cadernos elaborados para fornecer subsídios para quem quer par-
ticipar da Olimpíada de Língua Portuguesa. O material proporciona um mergulho no gênero artigo
de opinião, inclui textos para serem lidos e analisados, além de atividades que ajudam na produção.
GAGLIARDI, Eliana; AMARAL, Heloísa. Pontos de vista. São Paulo: Cenpec: Fundação Itaú Social; Brasília, DF: MEC, 2008.
58 Língua Portuguesa
Capítulo 4
PORTUGUÊS A opinião (assumida) do jornal
RODA DE CONVERSA
9º ano 59
O EDITORIAL
O editorial é um texto argumentativo, de estrutura semelhante à do artigo
de opinião, mas apresenta algumas especificidades. Curiosamente, apesar de
haver nele um ponto de vista sobre determinado tema, ele é um texto impes-
soal. Como isso se dá?
Naturalmente ele foi redigido por um indivíduo, mas não é a visão desse
indivíduo que se manifesta, e sim a do jornal como instituição, tanto que nin-
guém assina o texto.
Outro fator que contribui para a impessoalidade do editorial é um recurso lin-
guístico: o emprego da terceira pessoa. Não se costumam ver nesse tipo de texto
expressões como “Eu acho...”, “Para mim...”, “A nosso ver...”. Portanto, dizemos que
não há marcas de primeira pessoa (um “eu” que fala).
Alguns editoriais empregam a primeira pessoa do plural para impessoalizar o
texto. Nesses casos, o “nós” representa uma coletividade. Graças a esse recurso, os
pontos de vista assumidos parecem pertencer a uma voz geral, soam como uma
ideia da qual todos parecem compartilhar.
Os editoriais publicados em um jornal costumam ser escritos pelo mesmo
profissional ou pelo mesmo grupo restrito de profissionais. Por representar
a empresa responsável por aquele veículo de comunicação, o ponto de vista
defendido no editorial é sempre algo socialmente aceito, politicamente corre-
to e relevante para a coletividade. Para a comprovação desse ponto de vista, é
fundamental a argumentação. Ela consiste na escolha de ideias que susten-
tem uma opinião (para que ela não pareça uma impressão) e na ordenação
adequada dessas ideias (para que o leitor possa acompanhar o raciocínio rea-
lizado pelo autor).
A variedade linguística empregada no editorial é a formal. Outro traço desse
gênero é que ele tem uma ligação forte com o momento de sua produção. Ele ava-
lia sempre um fato recente, noticiado no próprio jornal, ou então um debate em
curso na sociedade, estimulado por trabalhos de centros universitários, estatísti-
cas dos institutos de pesquisa e relatórios oficiais. Enfim, o editorial usa os gan-
chos fornecidos pelo próprio jornal. O fato de se basear em informações precisas
o ajuda a garantir objetividade.
60 Língua Portuguesa
Além dos jornais, as revistas e telejornais também podem ter editoriais. Ao
contrário do editorial do jornal diário, o das revistas muitas vezes identifica fo-
tograficamente o editor que assina o editorial. Nesse caso, o editorial comenta a
própria edição e apresenta um tom mais subjetivo.
O editorial pretende levar o leitor a refletir e a agir. Isso fica bem marcado nas su-
gestões normalmente feitas no texto, conforme você vai constatar na leitura a seguir.
Além do editorial, existe opinião nas colunas assinadas, que são da responsabilidade
das pessoas que o jornal convida a escrever, e também nas resenhas, isto é, nas críticas
a filmes, livros etc.
LER EDITORIAL
O editorial que você vai ler foi publicado no jornal Zero Hora, de Porto Alegre (RS). Examine
o seu título e reflita sobre as questões a seguir:
Os pais e a educação
Uma mudança no comportamento dos pais, como revelou reporta- GLOSSÁRIO
consolidada nas últimas décadas, vem interfe- gem publicada ontem Consolidada: fixada.
rindo diretamente nos resultados da educação por Zero Hora, é a Ibope: sigla de Instituto Bra-
de crianças e adolescentes. É o enfraquecimen- confusão sempre pre- sileiro de Opinião Pública e
Estatística.
to da figura da mãe também como educadora, o sente entre a educação Omissões: falta de cuidado, de
que acabou sobrecarregando a escola com uma formal e a educação atenção; descuidos, negligência.
responsabilidade historicamente compartilhada. em seu sentido mais Efetivos: que produzem um
efeito real, que atingem seu
O fenômeno, provocado pela participação cada amplo. Mudar esse objetivo; bem-sucedidos.
vez mais intensa das mães no mercado de traba- quadro não significa
lho, não é, no entanto, o único a comprometer cobrar apenas das mães, envolvidas cada vez
a educação como atribuição da escola e da fa- mais em tarefas fora de casa, uma participação
mília. Há um distanciamento generalizado entre ativa na vida escolar dos filhos. Significa cha-
família e escola, determinado por omissões que mar também o pai, os cuidadores, enfim, todas
podem ser medidas de várias formas. Uma pes- as pessoas que têm a obrigação de proteger suas
quisa do Ibope, por exemplo, revela que apenas crianças e seus adolescentes, para que sejam
7% da população brasileira considera que a edu- efetivos no envolvimento com professores e
cação também é uma responsabilidade dos pais. com o ambiente escolar.
O que aparece na pesquisa e em outras ma- A necessidade da aproximação dos pais do
nifestações, de forma nem sempre explícita, processo educacional é o foco da terceira das
9º ano 61
seis interrogações apresentadas pela campanha Não se espere que as respostas a essa tercei-
da RBS A Educação Precisa de Respostas. Por ra pergunta, que vão inspirar outras reportagens
que é importante os pais participarem da vida durante as próximas duas semanas em ZH, sejam
escolar dos seus filhos? Algumas conclusões, originais ou espetaculares. As melhores respos-
como as apresentadas por ZH em sua edição tas são as cotidianas, de quem não se contenta
dominical, podem parecer elementares. Pais em transferir aos governos, às escolas e aos pro-
participativos sabem que seus filhos terão me- fessores todas as culpas pelas insuficiências da
lhor desempenho, desde a escola infantil. O que educação. Pais precisam passar, pelo exemplo,
se apresenta como óbvio, no entanto, não vem a convicção de que suas atitudes são coerentes
sendo traduzido em atitudes, como comprova a com o que pregam, ou não terão autoridade para
realidade do ensino brasileiro. Infelizmente, não exigir um melhor ensino para seus filhos.
são maioria os pais que participam das lições que
os filhos levam para casa, que incentivam a lei- Zero Hora, 1o out. 2012. Disponível em: <http://diariodonordeste.globo.com/
materia.asp?codigo=1175068>. Acesso em: 9 set. 2012.
tura, elogiam seus esforços, apontam e ajudam
a corrigir erros e, o que mais importa, inspiram GLOSSÁRIO
6. No primeiro parágrafo, o editorial apresenta uma mudança na relação entre “os pais e a educação”.
a) Qual é essa mudança?
b) Em que momento o editorial a situa?
c) Por que ocorreu a mudança, segundo o editorial?
d) O que o editorial declara sobre como as coisas se passavam antes?
e) Ele avalia a mudança positiva ou negativamente? Que palavras comprovam sua resposta?
62 Língua Portuguesa
9. Leia a informação a seguir.
Educação formal é a educação planejada, que ocorre por meio de instituições
de ensino e envolve o aprendizado de conteúdos das ciências e das artes, com
profissionais especializados, legislação específica etc. A educação informal ocorre ao
longo da vida e não pressupõe planejamento, é basicamente a que envolve o processo
de socialização do ser humano. Ela se dá pela percepção de comportamentos e
valores em espaços diversos. A educação não formal é intencional, mas não conta
com a fixação de períodos e locais nem de conteúdos rígidos. Está envolvida com a
transformação social e relaciona-se a movimentos sociais, grêmios e associações.
a) Que modalidade de educação se deve entender, no segundo parágrafo do editorial, por “edu-
cação no sentido mais amplo”?
b) Quando o editorial menciona a relação entre pais e educação, ele se refere à participação deles
em que forma de educação?
c) Por que provavelmente há uma confusão entre “a educação formal e a educação em seu senti-
do mais amplo”?
10. No terceiro parágrafo, uma palavra revela o ponto de vista expresso no editorial a respeito da
atuação dos pais. Qual é essa palavra? Justifique sua resposta.
11. Releia este trecho.
Pais participativos sabem que seus filhos terão melhor desempenho, desde a
escola infantil. O que se apresenta como óbvio, no entanto, não vem sendo traduzido
em atitudes, como comprova a realidade do ensino brasileiro.
Assinale o que o editorial apresenta depois dessa declaração.
( ) Uma justificativa para o quadro apresentado.
( ) Uma recomendação aos pais e responsáveis sobre como atuar em benefício da educação de
crianças e adolescentes.
( ) Uma crítica à política do governo para a educação.
12. Escreva em uma frase a tese que o editorial defende.
9º ano 63
explícito, e sim insinuado. E, se a leitura for feita com crítica, o leitor acaba
avaliando também se os argumentos são plausíveis.
Por exemplo, releia este trecho:
As melhores respostas são as cotidianas, de quem não se contenta em transferir
aos governos, às escolas e aos professores todas as culpas pelas insuficiências da
educação.
Nele fica implícito que algumas responsabilidades podem, sim, ser atribuí-
das a outras instâncias que não a família.
O editorial poderia ter optado por discutir brevemente essa questão. Ele não o
fez. Trata-se de algo que um leitor crítico pode considerar. Por exemplo: crianças
e adolescentes de famílias que não têm a preocupação reivindicada pelo editorial
estariam fadadas ao fracasso escolar? Como pode ser equacionada a questão?
Considere este outro trecho:
Pais participativos sabem que seus filhos terão melhor desempenho, desde a
escola infantil. O que se apresenta como óbvio, no entanto, não vem sendo traduzido
em atitudes, como comprova a realidade do ensino brasileiro.
APLICAR CONHECIMENTOS
64 Língua Portuguesa
de modo tal que pela forma como
GLOSSÁRIO
Caltech: sigla em inglês do Instituto de Tecnologia da Califórnia, universidade estadounidense que está entre as principais do mundo
em ciências naturais e engenharia.
Doutrina: conjunto de princípios adotados em determinado ramo do conhecimento.
Embota: enfraquece.
Estado Democrático de Direito: aquele que respeita as liberdades civis, os direitos humanos e as liberdades fundamentais.
Max Planck: designação da Sociedade Max Planck para o Progresso da Ciência, instituição alemã que reúne centros de pesquisa.
MIT: Sigla em inglês de Instituto de Tecnologia de Massachusetts, universidade americana que está entre os líderes mundiais em
ciência e tecnologia e outros campos, como administração, economia, linguística, ciência política e filosofia.
Racionalismo: modo de pensar que privilegia a razão, o pensamento lógico como meio de conhecimento.
9º ano 65
4. O Ocidente rompeu a visão respeitosa em relação aos animais, mas, por outro lado, a restaurou.
a) O que, segundo o editorial, permitiu que ela fosse restaurada?
b) Que conclusão o editorial propõe no quarto parágrafo a respeito da mudança mencionada no
item anterior?
5. O editorial apresenta um fato que pode ser observado: a eventual crueldade de crianças e adoles-
centes contra animais.
a) De acordo com o editorial, em que medida esse fato pode atingir negativamente o próprio ser
humano?
b) A partir da ideia que você mencionou, o que o editorial deixa implícito para o leitor?
6. Pode-se dizer que o editorial faz uma convocação ao leitor, propondo-lhe uma mudança de com-
portamento.
a) Que expressão usada no texto anuncia isso?
b) Em linhas gerais, o que o editorial julga recomendável?
7. Que opinião você tem sobre a perspectiva de eliminar o abate de animais para a alimentação humana?
8. Sem comprometer o ponto de vista que defendeu, que alternativas o editorial poderia apresentar
à eliminação do abate animal?
MOMENTO DA ESCRITA
PROPOSTA
Você vai produzir um editorial para um jornal da escola ou do bairro. O tema será escolhido
por você, com base nos acontecimentos da semana e no que foi divulgado sobre eles.
PLANEJAMENTO
1. Depois de acompanhar o noticiário da semana, determine uma notícia cujo tema seja relevante
para a comunidade.
2. Estabeleça a posição que o jornal que você representa deve assumir diante do fato escolhido.
Lembre-se de que o bem-estar coletivo deve predominar.
3. Defina uma tese específica que o editorial possa defender.
4. Com base nas matérias divulgadas pela imprensa, reúna dados que possam sustentar sua tese.
5. Verifique se a discussão presente no editorial leva o leitor a uma ação, a uma formação de opinião.
ELABORAÇÃO
Redija a primeira versão do editorial.
66 Língua Portuguesa
AVALIAÇÃO
Troque de texto com um colega e verifique:
a) A tese fica clara para o leitor?
b) Os argumentos (dados e exemplos) são coerentes com a tese e são consistentes para sustentá-la?
c) Eles foram apresentados com clareza para o leitor ao longo de alguns parágrafos?
d) Eles se encaminham para a conclusão presente no texto?
e) O editorial convida o leitor à ação ou à reflexão?
f) O ponto de vista defendido é socialmente aceitável?
g) O editorial foi escrito em uma variedade urbana de prestígio?
h) Há elementos que asseguram a coesão do texto?
Escreva suas observações a lápis após o texto ou faça marcas no próprio texto.
REESCRITA
Com base nos comentários do seu colega, revise o que for necessário e reescreva o texto para
entregar ao professor.
9º ano 67
Bibliografia
LÍNGUA PORTUGUESA
CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
CAMARGO, Thaís Nicolete de. Redação linha a linha. São Paulo: Publifolha, 2004.
CANDIDO, Antonio. O estudo analítico do poema. São Paulo: Humanitas, 1996.
CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil. São Paulo: Global, 2004.
CITELLI, A. Aprender e ensinar com textos não escolares. São Paulo: Cortez Edito-
ra, 1997, v. 3. (Aprender e ensinar com textos).
DOLZ, J.; NOVERRAZ, M.; SCHNEUWLY, B. Gêneros orais e escritos na escola.
Campinas: Mercado de Letras, 2004.
FARIA, M. A. O jornal na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2002.
______. Para ler e fazer o jornal na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2002.
ILARI, Rodolfo. Introdução ao estudo do léxico: brincando com as palavras. São
Paulo: Contexto, 2002.
______. Introdução à semântica: brincando com a gramática. São Paulo: Contexto, 2001.
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 2005.
______. A coerência textual. 13. ed. São Paulo: Contexto, 2000.
LAJOLO, Marisa. O romance brasileiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.
MACHADO, Regina. Acordais. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita. São Paulo: Cortez Editora. 2000.
MORAIS, Artur Gomes. Ortografia: ensinar e aprender. São Paulo: Ática, 2000.
MORICONI, Ítalo. A poesia brasileira do século XX. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
PENNAC, Daniel. Com um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.
SÁ, Jorge. A Crônica. São Paulo: Ática, 1997.
VIANA, Antonio Carlos et al (Coord.). Roteiro de redação: lendo e argumentan-
do. São Paulo: Scipione, 1998.
ZORZI, Jaime Luiz. Aprender a escrever: a apropriação do sistema ortográfico. São
Paulo: Artes Médicas, 1998.
68 Língua Portuguesa
UNIDADE 2
Arte
Capítulo 1
ARTE A natureza e suas múltiplas
possibilidades
A natureza tem sido uma importante fonte de inspiração para os artistas, desde
os primórdios da humanidade. Na tentativa de compreendê-la e dominá-la,
os seres humanos imitaram suas manifestações e representaram suas formas. Po-
demos perceber isso em obras cujos temas são animais, plantas e paisagens. Elas
são bastante comuns na história da arte.
Movido pelo desejo de registrar o que vê, percebe e imagina, o ser humano
cria e desenvolve técnicas e recursos de representação que servem tanto à repre-
sentação fiel como à transformação da natureza.
A relação entre a arte e a natureza e seus múltiplos aspectos é o assunto que
desenvolveremos neste capítulo.
RODA DE CONVERSA
Função da Arte/1
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que
descobrisse o mar. Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de
muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar,
e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
– Me ajuda a olhar!
GALEANO, Eduardo. Livro dos abraços. Porto Alegre: L&PM, 2005. p. 15.
9º ano 71
A pequena história escrita por Eduardo Galeano e a obra de Caspar David Friedrich (1774-
-1840) revelam o encantamento do ser humano por formas, cores e mistérios da natureza, ou seja,
da relação entre ambos.
• O que as pessoas representadas na obra de Friedrich estão admirando?
• Em que estarão pensando?
• Por que gostamos de admirar um pôr do sol e apreciar representações desse fenômeno?
• Qual é a função da arte na história contada por Galeano? A que o autor se refere?
Você já deve ter se deslumbrado ao observar um jardim florido, as cores das asas de uma bor-
boleta, a correnteza de um rio, as ondas do mar ou qualquer outro fenômeno da natureza. Procure
se lembrar de uma dessas experiências para representá-la.
O artista japonês Hokusai (1760-1849) observou o movimento das ondas do mar e o oscilar
de suas cores antes de representá-lo. Por meio da xilogravura, produziu muitas imagens em que o
mar é representado ora mais calmo, ora mais bravo.
Coleção particular
Observe bem a obra de Hokusai e descreva as sensações que ela desperta em você.
Compare-a agora com a pintura do brasileiro Aldemir Martins. Observe as linhas e as cores.
Identifique em que aspectos as duas obras se diferenciam e que elementos são comuns a ambas.
72 Arte
Coleção particular
Aldemir Martins. Marinha, 1989. Acrílica sobre tela, 70 × 100 cm.
A xilogravura de Hokusai faz parte da série “As trinta e seis vistas do monte Fuji”, que, como o
próprio nome indica, tem em comum um dos símbolos do Japão: seu monte mais alto.
Katsushika Hokusai
Katsushika Hokusai nasceu em 1760, no Japão, e foi um sa e mantinham-se fiéis aos seus princípios. Com Hokusai
dos grandes mestres da gravura japonesa. Aos catorze anos foi diferente. O artista buscou outras referências, inclusive
foi apresentado ao ofício de gravador e, a partir de então, na arte ocidental. Sua inventividade e apuro técnico produ-
demonstrou, além de grande habilidade, um atento per- ziram gravuras originais, sobretudo representações de aves
feccionismo, qualidade essencial à técnica da gravura. Sua e pássaros e paisagens naturais como a apresentada neste
capacidade criativa foi fruto de sua inquietude e, ainda bem capítulo. Hokusai morreu em 1849. Anos depois, suas gra-
jovem, suas obras começaram a ser publicadas. Outros ar- vuras tornaram-se famosas na França e influenciaram pin-
tistas de sua época estavam presos à forte tradição japone- tores como Claude Monet e Vincent van Gogh.
A obra de Aldemir Martins (1922-2006) é uma das muitas que ele pintou tendo o mar como
tema. De um azul denso e com áreas de cores bem definidas, a pintura representa uma praia brasi-
leira, imortalizada também na composição de Vinicius de Morais e Toquinho: “Tarde em Itapoã”.
É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã
Toquinho. As canções de minha vida. Universal, 2003.
9º ano 73
Aldemir Martins
Aldemir Martins nasceu no Ceará, na cidade de Inga- São Paulo que realizou sua primeira exposição individual.
zeiras, em 1922, e morreu em São Paulo, em 2006. Além Recebeu como prêmio uma viagem ao exterior, do Salão
da pintura, Martins também tem gravuras, ilustrações e Nacional de Arte Moderna, em 1959, e permaneceu por
esculturas em sua extensa lista de obras. Ainda no Cea- dois anos na Itália. Sua produção é majoritariamente figu-
rá, o artista produziu desenhos, xilogravuras, aquarelas e rativa, com uso de cores contrastantes e intensas, na qual
pinturas, além de trabalhar como ilustrador na imprensa são constantes algumas figuras: gatos, flores, frutas, pai-
cearense. Em 1946, estabeleceu residência em São Paulo, sagens do Nordeste brasileiro – como o sertão e o litoral –,
tendo morado um ano antes no Rio de Janeiro. Foi em entre outras.
Que mar teria visto Diego Kovadloff, personagem do autor Eduardo Galeano? Seria mais
parecido com o que Aldemir Martins pintou ou com aquele pintado por Hokusai?
Que mar você pintaria agora? Descreva-o em forma de texto.
Dorival Caymmi, músico baiano, eternizou o mar em suas canções. Leia o refrão da canção
“O mar”, uma de suas grandes composições.
O mar
Quando quebra na praia
É bonito, é bonito...
CHEDIAK, Almir. Dorival Caymi Songbook vol.1.
Rio de Janeiro: Lumiar, 2010.
Na canção “Como uma onda”, escrita por Lulu Santos e Nelson Motta, a vida é comparada
ao mar.
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito [...]
SANTOS, Lulu. O último romântico II. Warner Music, 1991.
Essas são apenas duas canções em que o mar foi elemento inspirador. Tente se lembrar de
outras canções, obras literárias e pinturas e verá como o mar serviu de inspiração para um sem-
-número de obras artísticas.
Em todas as obras mencionadas até este ponto, percebemos que seus autores tinham certa intimi-
dade com o mar. Hokusai, como já vimos, era um observador das ondas do mar do Japão. Caymmi foi
admirador confesso do mar, e os compositores da canção “Como uma onda” foram muito felizes ao
escolher o movimento infinito de suas ondas para falar do movimento da vida. Você não concorda?
74 Arte
PARA CRIAR I
Vamos fazer um exercício de imaginação? Para isso, forme uma dupla com um colega e re-
tome as descrições de paisagens marinhas que fizeram anteriormente, trocando-as entre vocês.
A seguir, cada um deverá desenhar ou pintar o mar que o outro tinha em mente, procurando
ser fiel à descrição que leu. Observem, ao final do trabalho, se as representações correspondem à
ideia de mar que cada um tinha em mente. Discutam sobre os resultados e anotem suas conclusões.
CONHECER MAIS
Observação e imaginação
A observação é muito importante a quem deseja repre- baleia, mas esculpiu esses animais junto aos profetas Jo-
sentar algo. Por isso, na formação de um artista, os exercí- nas e Daniel. Tais obras fazem parte de um conjunto de
cios de observação são um recurso comum. Porém, uma doze esculturas em pedra-sabão produzidas entre 1800
representação pode também ser resultado da imaginação. e 1805 no do santuário de Congonhas do Campo (MG).
Antes da invenção da fotografia, a divulgação de ima- O escultor deve ter se baseado em informações orais
gens era muito escassa. Por isso, representá-las por meio e escritas ou mesmo em outras imagens, o que fica
de figuras que representassem descrições e interpreta- evidente na estilização que empregou aos animais que
ções dessas imagens era prática comum entre os artistas. esculpiu. Embora o leão e a baleia não correspondam
Antônio Francisco Lisboa (1730-1814), mais conhecido em detalhes às características reais desses animais, sua
como Aleijadinho, nunca deve ter visto um leão ou uma presença como símbolo é inegável.
João Prudente/Pulsar Imagens
Escultura Escultura do
do profeta profeta Jonas,
Daniel com esculpida em
o leão a pedra-sabão
seus pés, por Aleijadi-
esculpida nho. Podemos
em pedra- observar a
sabão por baleia aos pés
Aleijadinho. do profeta.
Congonhas Congonhas
(MG). (MG).
LER IMAGENS
Nossa imaginação não nasce do nada. Imaginamos a partir daquilo que vivemos e conhece-
mos. Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, concebeu a baleia e o leão a partir dos animais que
conhecia, acrescentando-lhes as características de animais imaginados.
9º ano 75
Assim também fez Tarsila do Amaral em suas representações da natureza. Porém, ao contrá-
rio de Aleijadinho, ela tinha grande intimidade com os elementos da natureza que pintou. Afinal,
Tarsila nasceu em uma fazenda e, desde pequena, pôde observar e apreciar animais e plantas.
A artista não se contentou em pintar apenas o que via. Ela inventou novas formas de represen-
tação para o que conhecia, permitindo o surgimento de imagens que revelam seu próprio estilo.
Observe atentamente as duas pinturas de Tarsila e responda:
Observe as datas em que ambas foram pintadas. Você vai perceber que, como outros artistas,
Tarsila também passou por fases distintas em sua carreira.
A obra Árvore é uma de suas primeiras pinturas. Já Cartão-postal, pintada sete anos depois,
pertence à fase chamada “antropofágica” (1928 e 1929), quando a artista pintou figuras de seres
humanos, animais e vegetais sem qualquer preocupação com a realidade exterior.
Com o predomínio de linhas curvas e cores fortes, Tarsila representou imagens nascidas de
sua imaginação nessa fase.
Faça uma pesquisa sobre as fases da pintura de Tarsila do Amaral. Observe outras obras da
fase antropofágica e escreva um breve relato sobre o que achou de tais produções.
REPRESENTAÇÃO E ILUSÃO
Vimos que a imaginação é um dos ingredientes da representação e que ela
parte do repertório que já temos. Hoje em dia, temos à nossa disposição inú-
meras formas de representação em todas as manifestações artísticas, e os artis-
tas têm liberdade para ousar e criar outras tantas possibilidades. No entanto,
nem sempre foi assim.
76 Arte
Na história da arte, a busca por uma representação fiel à realidade, ou seja,
a representação de uma pessoa ou uma paisagem como se fosse uma fotografia,
ocupou grande parte dos artistas durante muitos séculos.
No caso das artes visuais, são conhecidas algumas histórias que ilustram bem
o desejo humano de copiar a natureza de maneira fidedigna e de valorizar os ar-
tistas que conseguiram realizar tal feito.
Na Grécia antiga, quando os pintores e escultores buscavam incessantemente
técnicas que lhes possibilitassem a ilusão da realidade, foram instituídas as qua-
drienais gregas. Assim como ocorria nos jogos olímpicos, as quadrienais promo-
viam disputas entre pintores, visando a demonstrações de aperfeiçoamento nas
representações de elementos da natureza.
Em uma delas participaram os pintores Zêuxis e Parrásio. O primeiro já se ga-
bava havia muito tempo de ser o maior de todos os pintores gregos e tratava todos
os seus pares como inferiores. Parrásio, apesar de se autopromover proclamando-
-se “príncipe dos pintores”, era também conhecido por sua cordialidade e humor.
Durante o concurso, as obras ficavam cobertas por cortinas que eram aber-
tas pelos artistas ao apresentá-las à comissão julgadora. Quando Zêuxis afastou
a cortina e apresentou sua pintura de cachos de uvas perfeitos, imediatamente
alguns pássaros se aproximaram tentando bicá-las, comprovando, assim, que se
tratava de uma cópia fiel da realidade.
Os jurados vibraram e, certo de que ganhara o concurso, Zêuxis não espe-
rou que chegasse a vez de Parrásio descortinar sua obra. Ele próprio tomou a
iniciativa de fazê-lo. Surpreso, reconheceu imediatamente a sua derrota: não
havia o que descortinar, pois as cortinas que aparentemente cobriam o quadro
eram a pintura de Parrásio. Se Zêuxis enganara os animais com seus cachos de
uvas, Parrásio foi além e produziu uma pintura ainda mais perfeita, capaz de
enganar o próprio Zêuxis.
Independentemente de ser verdadeira, a história demonstra como a ilusão
já foi muito importante na representação da realidade. Mas é preciso considerar
que, embora os artistas estivessem focados em iludir o espectador, aproximando-
-se ao máximo da realidade, estavam também representando de forma pessoal.
É importante notar que, quando representamos algo, fazemos sempre algum
tipo de seleção. Enfatizamos e excluímos determinados elementos de acordo com
nossa percepção e determinação, realizando o que podemos chamar de recortes.
A ênfase e a exclusão são sempre resultados de nossas escolhas pessoais, do
que achamos que é mais ou menos importante e do que acreditamos que deve ou
não fazer parte de uma composição.
Assim, quando apreciamos uma obra de arte, estamos diante de um “recor-
te” realizado pelo artista. Mesmo ao ver uma obra em que os elementos são re-
presentações muito próximas da realidade, é importante lembrar-se de que ela é
resultado de escolhas pessoais. Isso é aplicado a todas as manifestações artísticas,
inclusive a fotografia.
9º ano 77
CONHECER MAIS
Na busca por representações realistas, durante mui- ticos e de acordo com o espírito cientificista dos séculos
tos séculos os artistas recorreram a recursos como os XIV ao XVII, em um período conhecido como Renasci-
efeitos de luz e sombra e a perspectiva. mento. Trata-se da organização geométrica do espaço
A representação do espaço mais próxima do real que sobre linhas que se encontram em um ponto chamado
conhecemos foi concebida a partir de cálculos matemá- de ponto de fuga.
The National Gallery, Londres
Meindert Hobbema. A alameda de Middelharnis, 1689. Óleo sobre Esquema com a estrutura da perspectiva da obra de Meindert Hobbema.
tela, 103,5 × 141 cm. The National Gallery, Londres.
O esquema à direita mostra a estrutura da perspectiva da pelas proporções das coisas representadas (pessoas,
na obra de Meindert Hobbema. A linha vermelha é chama- objetos, construções etc.). As que estão mais próximas
da de linha do horizonte e o ponto situado no meio dessa do observador são representadas maiores e, à medida
linha, onde as linhas azuis se juntam, é conhecido como que se distanciam desse olhar, diminuem de tamanho.
ponto de fuga. Perceba como toda a composição está su- Existem composições que apresentam dois ou três
jeita à ordem apresentada por essas linhas. pontos de fuga, conferindo à representação efeitos mui-
A perspectiva cria a ilusão de profundidade, reforça- to interessantes. Observe o esquema a seguir:
Ilustração digital: Estúdio Pingado
“A perspectiva é de natureza tal, que faz parecer relevo o que é plano e converte em plano o que é relevo.”
Leonardo da Vinci
78 Arte
REGRAS E CONTRARREGRAS
Foi no Renascimento que os pintores criaram recursos matemáticos para a representação,
aliando a arte à ciência. Assim, aprimoraram as técnicas anteriores e, a partir desse período, a
perspectiva passou a ser uma regra para quem quisesse desenhar e pintar de maneira convincente.
No início do século XX, o movimento modernista quebrou muitas dessas regras, sobretudo
a que se refere à perspectiva. Os artistas modernistas não se preocupavam mais com a “cópia” da
realidade e se sentiam livres para recriá-la.
Tarsila do Amaral. A cuca, 1924. Óleo sobre tela, 73 × 100 cm. Museu de Grenoble, França.
9º ano 79
Esse efeito é bastante explorado por aqueles que desejam que suas pinturas ou desenhos ga-
nhem um aspecto mais realista, porque confere à representação a aparência de volume.
APLICAR CONHECIMENTOS
Pintar paisagens tornou-se uma atividade muito difundida a partir do Renascimento, embora,
muito antes do século XIV, artistas chineses já se dedicassem a esse tema.
Desde então, as paisagens são registradas por pintores e fotógrafos e fazem parte do acervo
cultural da humanidade. Selecione uma dessas imagens e identifique os recursos que o autor da
obra usou ou optou por não usar ao representar uma paisagem.
Apresente sua imagem a seus colegas fazendo comentários. Perceba se fizeram outras obser-
vações além das que você já tinha feito e identifique, nas imagens que eles trouxeram, as opções
dos artistas que as produziram.
A NATUREZA IMÓVEL
Os pintores holandeses do século XVII chamaram de “vida silenciosa” a re-
presentação de alimentos e objetos dispostos sobre uma mesa. Entre nós, esse
gênero de pintura é conhecido como natureza-morta.
Ao pintar uma natureza-morta, os artistas podem escolher os objetos que lhes
agradam e dispô-los sobre uma mesa de forma harmoniosa.
O desafio daqueles pintores holandeses era representá-los de maneira perfei-
ta, a fim de despertar os sentidos do olfato, da gustação e até do tato do especta-
dor, pois era isso que recomendavam os academicistas.
Os recursos para alcançar os efeitos pretendidos eram muitos, e os artistas
realizavam inúmeras experiências nesse sentido. Willen Kalf (1622-1693), por
exemplo, dedicou-se a estudar os reflexos da luz sobre os vidros. Suas naturezas-
-mortas apresentam grande variedade de texturas: frutos, vidros, tapetes e porcelanas.
80 Arte
Academicismo
As academias de arte nasceram na Itália, durante o Re- lizar o ensino das artes por meio de normas e regras, as
nascimento, com o objetivo de formar artistas, garantindo academias também promoviam exposições e concursos
o aprendizado artístico e científico. Na segunda metade com o objetivo de controlar os padrões estéticos da épo-
do século XVIII, espalharam-se por toda a Europa. No ca, determinados por elas próprias. No século XX, as aca-
Brasil, a primeira academia foi fundada com a chegada demias perderam sua força diante das diversas tendên-
da Missão Artística Francesa, formada por um grupo de cias propostas pelo modernismo. Tal movimento pregava
artistas trazidos por dom João VI, em 1816. Além de oficia- a ruptura com todas as convenções acadêmicas.
Gemäldegalerie, Berlim
9º ano 81
Museu d'Orsay, Paris
Museu de Arte de São Paulo - MASP. © Léger, Fernand/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013
Paul Cézanne. Maçãs verdes, 1872-1873. Óleo sobre tela, 26 × 36 cm. Museu Fernand Léger. A compoteira de peras, 1923. Óleo sobre tela, 79 × 98 cm.
D’Orsay, Paris. Masp, São Paulo.
Francisco Brennand.
Bandeja verde, 1959.
Óleo sobre tela. Museu
de Arte Contemporânea,
USP, São Paulo.
82 Arte
enquadrou. Com essa e outras obras que produziu durante sua carreira, fez críti-
cas à arte tradicional, defendendo que arte não é apenas o que vemos, mas o que
pensamos ao observar suas manifestações.
O tema, de origem acadêmica, rompeu as barreiras das convenções e dos esti-
los, possibilitando muitos outros tipos de representações. Hoje, os artistas podem
optar por seguir as convenções criadas ao longo do tempo ou criar sua própria
maneira de representar. Por isso, convivemos com uma grande diversidade de
expressões, de técnicas, de recursos e de materiais.
PARA CRIAR II
É chegada a hora de você construir sua própria natureza-morta! Lembre-se de que não há
limites para a inovação. Pense, consulte outras obras, invente! O importante é que se valha dos
recursos de que dispõe e procure sua própria forma de expressão.
Você poderá, inclusive, fazer uma natureza-morta industrializada com produtos naturais pro-
cessados, como sucos de frutas, doces, flores artificiais etc.
Colete os elementos que considerar interessantes para sua obra, organize-os em um espaço
no qual possa trabalhar de maneira concentrada e registre sua composição por meio de desenho,
pintura, colagem ou fotografia. Se tiver outra ideia para representá-la, também será bem-vinda.
Lembre-se de que fazer arte é também experimentar; por isso, crie diversas composições e com-
pare-as entre si.
Ao concluir seu trabalho, dê-lhe um título e organize uma exposição com os outros trabalhos
da turma.
PARA REFLETIR I
1. Em sua composição, você preferiu manter uma configuração mais tradicional ou preferiu inovar?
O que interferiu em sua decisão?
2. Comparando sua obra com as de seus colegas, pode perceber uma diversidade de soluções para
representar uma natureza-morta? Que aspectos contribuíram para haver ou não resultados di-
versificados?
9º ano 83
3. As referências apresentadas neste capítulo ou as que você tenha buscado em outras fontes auxilia-
ram na concepção de sua obra? De que maneira?
MÚSICA-IMAGEM
Em 1725, o compositor italiano Antonio Lucio Vivaldi (1678-1741) apresen-
tou ao público um conjunto de doze concertos. Quatro deles ficaram conheci-
dos como As quatro estações. Por meio da música, Vivaldi “pintou” verdadeiros
quadros sonoros representando cada uma das estações do ano: primavera, verão,
outono e inverno. Seus “quadros musicais” são inspirados no campo e no trabalho
dos camponeses, e cada peça é acompanhada de um soneto ilustrativo do tema da
estação. Acredita-se que tenha sido o próprio Vivaldi que os escreveu.
A primeira peça refere-se à primavera e é caracterizada por uma alegre melodia
em que os violinos nos dão a sensação de um despertar da natureza. A melodia se
intensifica como se a luminosidade sobre os campos também crescesse. Sons como o
barulho dos pássaros são reproduzidos também pelas cordas dos violinos. O texto do
soneto refere-se a um pastor de cabras que dorme com um cão ao seu lado.
Na representação do verão, o músico intensificou a sonoridade; o movimento
mais lento refere-se ao sol intenso que atinge os camponeses, diminuindo seu
ritmo de trabalho. Pastores e seus rebanhos sonolentos assustam-se com os re-
lâmpagos que anunciam a chuva, que chega em forma de granizo.
O movimento para o outono é o de uma festa rural em que os camponeses dançam
e comemoram a boa colheita que fizeram. As danças e a embriaguez dos camponeses
são representadas pelas escalas que sobem e descem no violino até que a cadência di-
minui, indicando a hora de descansar. Uma caçada finaliza a peça do outono.
Para representar o inverno, o músico inspirou-se no rigoroso frio do norte da
Itália, onde viveu. Dessa vez, o som do violino é utilizado para imitar o vento e o
gélido arrepio causado pela visão de uma paisagem coberta de neve. Essa visão
alterna-se com momentos calmos junto ao fogo.
A música foi composta a partir de cenas que Vivaldi imaginou e essas, por sua
vez, possibilitam a construção de outras cenas na mente de quem ouve a música.
Muitas peças de música erudita foram criadas dessa maneira, ou seja, com
base em imagens e histórias que envolvem a imaginação de cenários naturais re-
velados pela sonoridade.
É considerada erudita a música composta a partir de estudos de teorias musi-
cais, ou seja, fruto da erudição, do conhecimento específico de uma área – no caso,
a da música. O termo é aplicado a determinada variedades de músicas de diferentes
84 Arte
épocas e culturas, distinguindo-as das produções folclóricas e populares. As compo-
sições de música erudita são também conhecidas como música clássica.
O pintor italiano Giuseppe Arcimboldo (1527-1593) sentou as quatro estações. São figuras humanas vis-
ficou famoso por seus retratos fantásticos feitos com tas de perfil. Contra um fundo escuro, destacam-se as
determinados objetos e com frutas, legumes, flores e frutas e outras plantas de cada estação do ano. São
outras espécies vegetais. composições de detalhamento impressionante.
Nesta série, pintada em 1573, Arcimboldo repre-
OUVIR E INTERPRETAR
Por meio de uma gravação em áudio ou uma apresentação em vídeo de uma orquestra, ouça
As quatro estações, de Vivaldi, sozinho ou em companhia de seus colegas. O importante é que se
dedique a apreciá-la e, para isso, precisará de atenção e concentração.
Lembre-se de que a forma como nos relacionamos com uma obra de arte é diferente da rela-
ção cotidiana e utilitária que temos com as coisas corriqueiras. A arte amplia nossos sentidos e
precisamos estar atentos a isso.
9º ano 85
Ao apreciarmos uma música, é necessário que estejamos abertos e prontos para ouvir seus
sons e seus silêncios de maneira atenta e intensa. Lembre-se de que esse é um momento em
que damos outros significados à obra e que as interpretações que podemos fazer podem ser
muito variadas.
Assim, uma mesma música ouvida em um determinado momento poderá não ter o mesmo
significado em outro. Depende muito de como nos sentimos e do que já conhecemos até o mo-
mento em questão.
As interpretações também não são as mesmas entre diferentes pessoas. Isso tudo indica que as
obras compostas há muito tempo podem ter sido interpretadas de muitas formas.
As plateias de três séculos atrás, quando não havia outra forma de audição que não a audição
em teatros e salas de concerto, ou seja, ao vivo, encontraram sentidos distintos dos que encontra-
mos hoje ao ouvir a mesma música gravada em um CD ou em um DVD.
É essa possibilidade de impressionar plateias, de tempos e lugares tão distintos, que levam tais
composições a ganhar o título de “clássicas” ou “eruditas”.
Ao ouvir As quatro estações, procure perceber as nuances da música, ou seja, suas variações.
Tente identificar os sons produzidos pelos diferentes instrumentos. Ouça com tranquilidade, co-
loque-se em cada cena imaginada para cada estação do ano.
Depois da apreciação, relacione as sensações percebidas em cada uma das peças com cores. Pro-
cure se desvencilhar de ideias preconcebidas sobre o que já sabe sobre as estações do ano e tente
direcionar seus pensamentos e emoções para atribuir cores à cada parte da composição de Vivaldi.
Com as cores selecionadas para cada estação, ouça a música novamente enquanto traça sobre
uma folha de papel os movimentos que os ritmos da música lhe sugerem. Você pode usar lápis de
cor, giz de cera ou tinta. Não se preocupe em figurar, em desenhar formas conhecidas, mas deixe
que suas emoções guiem sua mão, produzindo movimentos que vão gerar os traçados. Use uma
folha para cada estação da composição de Vivaldi.
1. Em uma roda de apreciação, compare os seus resultados com os de seus colegas, discutindo o que
puderam observar quanto à experiência realizada e quanto às produções resultantes. Anote suas
conclusões.
86 Arte
3. Houve alguma diferença entre a primeira audição e a segunda? Em caso positivo, explique o que
ocorreu.
ARTE NA PAISAGEM
A “arte da terra” (ou, em inglês, land art) é também conhecida como earth
work. Trata-se de uma tendência contemporânea em que os artistas atuam na
própria paisagem natural. Campos, montanhas, lagos, praias e desertos transfor-
mam-se em suportes para todo tipo de intervenção. A land art é uma reação à arte
das galerias e um chamado de olhares para a natureza.
Por sua vez, as intervenções de land art sofrem desgastes pela ação da própria
natureza. Como obras efêmeras, transformam-se ao longo de sua existência, que
é registrada por meio de fotografias
George Steinmetz/Corbis/Latinstock
9º ano 87
Minas Gerais e no Pará. As fotos foram feitas a centenas de metros de altura para
que os desenhos “tomassem forma” e fossem reconhecidos. Tratores e escavadei-
ras traçaram no chão os desenhos concebidos pelo artista.
PARA REFLETIR II
Por meio de alguns exemplos, vimos que a natureza em toda sua amplitude tem sido tema
constante da arte produzida em todos as épocas.
Além disso, percebemos a arte de ampliar e de sensibilizar olhares que a natureza nos proporcio-
na, como expressou Eduardo Galeano ao relatar a emoção de Diego Kovadloff: “Me ajuda a olhar!”.
É justamente essa uma das funções da arte: ela nos ajuda a perceber. Pense e escreva sobre isso.
PARA CRIAR IV
No início do século XX, o maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959) rompeu com padrões
musicais acadêmicos ao incorporar traços marcantes da música popular brasileira às suas com-
posições de música erudita.
Em suas viagens pelo interior do Brasil, coletou o material musical que o inspirou a produzir
peças de grande arrojo nas manifestações populares das regiões que visitou.
A canção “Trenzinho do Caipira” é uma de suas composições inspiradas na cultura popu-
lar brasileira. De melodia simples e de orquestração impactante, a canção reúne um universo
de sons brasileiros em uma cadência que nos remete à velocidade do trem puxado por uma
locomotiva “maria-fumaça”.
Anos mais tarde, o poeta Ferreira Gullar (1930-) escreveu um poema como letra para a
peça musical.
88 Arte
Trenzinho caipira
[...] lá vai o trem com o menino
lá vai a vida a rodar
lá vai ciranda e destino
cidade e noite a girar
lá vai o trem sem destino
pro dia novo encontrar
correndo vai pela terra
vai pela serra
vai pelo mar
cantando pela serra do luar
correndo entre as estrelas a voar
no ar
piuí piuí piuí
no ar
Gullar, Ferreira. Melhores poemas. Alfredo
Bosi (Sel.). 6. ed. São Paulo: Global, 2000. p. 106-107.
A proposta agora é que você produza, em grupo ou individualmente, painéis musicais, baseando-
-se na canção “Trenzinho do Caipira”, de Heitor Villa-Lobos. Vejamos os passos a seguir para a
realização da oficina proposta.
1o passo: a audição da música
Escute a canção atentamente. É possível encontrar diversas versões na internet. Lembre-se de
que, para uma apreciação, é fundamental que você e os outros integrantes do grupo fiquem em si-
lêncio e ouçam com atenção a canção de Villas-Lobos, concentrando-se no ritmo e no andamento
musical, ou seja, na cadência da música.
2o passo: a imaginação
Imagine-se no trem de Villa-Lobos, percorrendo paisagens brasileiras. Busque em sua memó-
ria as referências que tem sobre uma viagem de trem.
3o passo: a confecção dos desenhos
Procure desenhar o que imaginou. Lembre-se de que você (ou você e seus colegas) é o autor
e a forma de expressão é sua; não há, portanto, necessidade de representar o que imaginou de
maneira estritamente realista. Você poderá imprimir um estilo próprio à sua representação. Faça
ao menos dois desenhos.
4o passo: a seleção dos desenhos
Selecione em seus desenhos os elementos que considerar mais interessantes para a sua com-
posição final.
5o passo: a ampliação dos desenhos
Amplie seus desenhos sobre uma superfície que tenha uma área maior e que seja firme, como
papelão, lona ou madeira.
6o passo: a seleção da técnica
Selecione a técnica que mais se adequar à sua expressão: pintura, colagem, grafite ou outra que
considerar apropriada. Caso ache pertinente, poderá usar mais de uma técnica, combinando, por
exemplo, pintura com colagem. A esse tipo de trabalho damos o nome de técnica mista.
7o passo: a apreciação
Finalizado o trabalho, é chegado o momento da apreciação. Faça-a, primeiro em silêncio, ao
som da música “Trenzinho do Caipira”. Procure, ao observar os trabalhos realizados (seu e de seus
9º ano 89
colegas), fazer novamente a viagem pelas paisagens brasileiras, agora por meio da interpretação
e não da imaginação.
8o passo: a exposição
Organize, com seus colegas e com o professor, uma exposição dos painéis. Durante a mostra,
os visitantes também poderão ouvir a música e viajar no trem proposto por cada um dos grupos.
Boa viagem!
Mesa de artista
O livro faz parte da série “‘Mundo de artista” e apresenta uma introdução ao estilo estudado
neste capítulo: a natureza-morta. Detalha-o desde a representação do cotidiano até o exer-
cício da composição. A autora apresenta o contexto histórico da “mesa posta” e evolui para
os diversos processos de construção da cena na pintura, destacando a natureza-morta como
uma natureza reinventada, controlada pela mão e pelo olhar do homem. O livro ensina ao
leitor a observação detalhada da composição dos objetos e mostra como esse estilo pode ser
construído pelo artista contemporâneo de uma maneira mais “artificial”. Assim, além dos
artistas clássicos no gênero, a autora apresenta também artistas como Andy Warhol, Mira
Schendel e Tunga.
KANTON, Katia. Mesa de artista. São Paulo: Cosac Naif, 2008.
História da Arte
O livro traça um panorama da arte ocidental, desde a pré-história. Os períodos da história
da arte são desenvolvidos, assim como as tendências, os artistas e os materiais. A arte no
Brasil recebe destaque, e a obra apresenta reproduções em cores que apoiam as explicações
do texto.
PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo: Ática, 2010.
A magia na arte
O autor apresenta diversos recursos para a representação visual, destacando o poder de ilu-
são contido nas imagens. A obra é bastante didática e apresenta boas reproduções. Além dis-
so, aborda diferentes períodos da história da arte por meio da análise de obras emblemáticas.
STURGIS, Alexander. A magia na arte. Lisboa: Estampa, 1994.
90 Arte
Capítulo 2
ARTE Existem limites para a arte?
RODA DE CONVERSA
Museu do Louvre, Paris
Leonardo da
Vinci. Mona Lisa
[Gioconda], c.
1503-1506. Óleo sobre
madeira, 77 × 53 cm.
Museu do Louvre,
Paris.
9º ano 91
É bem possível que você já conheça essa CONHECER MAIS
tela de Leonardo da Vinci. A moça retratada
no século XVI não imaginou que seria, mais Você poderá até questionar: O que faz essa tela ser tão
de quinhentos anos depois, uma das mais mencionada por tantas áreas distintas? O que a tornou tão
famosa?
populares figuras usadas na promoção de Para encontrar as respostas, temos de observar a ima-
produtos. Sua imagem virou produto de con- gem de Leonardo da Vinci com muita atenção. Perceba a ex-
pressão da moça retratada. Observe os cantos dos olhos e
sumo, sendo impressa em canecas, roupas,
da boca. Note sua posição, a forma como suas mãos foram
aventais e brinquedos. Hoje, ela aparece em modeladas, seus cabelos, as minúsculas pregas das mangas.
comerciais de xampu, automóveis, perfumes, Em seguida, perceba os detalhes da paisagem ao fundo.
Sem pressa, permita que seu olhar caminhe pela imagem.
maquiagem, sanduíches, amaciantes, entre
Que impressões ela lhe causa?
muitos outros produtos. Ao pintar essa obra, Leonardo utilizou uma técnica que
Em 2009, o Museu Ideale Leonardo da vinha desenvolvendo há anos, chamada sfumato – palavra
italiana que significa fumaça e que podemos traduzir como
Vinci organizou uma exposição de pinturas esfumaçado ou sombreado. Esse efeito, que é obtido com
e desenhos feitos entre os séculos XVI e XX a sobreposição de inúmeras finas camadas de tinta, con-
inspirados na Mona Lisa. O objetivo da mos- siste em não deixar aparentes as linhas de contorno, cau-
sando um efeito de esfumaçado que confere mais realismo
tra, segundo seus organizadores, foi discutir à composição.
o fenômeno da Gioconda – como também é Se você percebeu um ar de mistério na expressão da Gio-
conhecida a Mona Lisa – na arte, na literatu- conda, é por causa dessa técnica, que foi usada nos cantos
da boca e nos olhos. Ela foi tão bem aplicada na obra que
ra, no design, na propaganda e nos produtos ficamos em dúvida quanto ao seu estado de espírito. Estaria
de consumo da sociedade contemporânea. ela triste, cansada ou prestes a abrir um sorriso de satisfação?
A popular Gioconda não é a única obra a Apesar de muito inovador para a época, não foi apenas
esse efeito que tornou o quadro uma obra-prima. Da Vin-
figurar em nosso cotidiano. Você já deve ter ci foi um grande estudioso das proporções humanas e da
se deparado com outros exemplos. Procure perspectiva, embora nem sempre se prendesse rigorosa-
em revistas, na internet ou em sua casa al- mente às regras, acreditando que elas deveriam estar sem-
pre aliadas à observação atenta do artista.
guns exemplos de utilização de obras de arte Na representação de espaços, desenvolveu estudos de
em objetos ou em publicidades. Selecione perspectiva atmosférica que, com o uso da cor e do sfuma-
to, conferiam ao fundo de suas obras uma aparência mais
aqueles que considerar mais interessantes e
realista de profundidade. Quanto mais longe estivessem
compartilhe-os com seus colegas. objetos, plantas ou relevos representados, mais imprecisas
A partir da apreciação das imagens e dos eram as pinceladas que utilizava para defini-los.
Assim, a paisagem ao fundo não é tão importante, apare-
objetos selecionados, discuta com seus cole-
ce apenas com certa delicadeza, encaminhando nosso olhar
gas sobre a atitude de se apropriar de obras para a figura da mulher. A forma como foi representada nos
de arte aplicando-as a objetos do cotidiano e dá a impressão de que a Gioconda está viva diante de nos-
sos olhos. Imagine o impacto causado há mais de 500 anos,
peças publicitárias. quando Leonardo da Vinci apresentou ao público o fruto de
A prática é polêmica: alguns críticos se seus experimentos e estudos para a representação.
manifestam dizendo que, apesar de as ima- Quanto à dama retratada, os historiadores da arte con-
cordam em dizer que se trata de Lisa Gherardini, esposa
gens conferirem um toque de classe e sofisti- de um rico e influente comerciante da época, Francesco di
cação aos produtos, existe o risco da produção Bartolomeo di Zanoli del Giocondo, o que explica a obra ser
em larga escala diluir ou acabar com o sentido também conhecida como La Gioconda ou La Joconde.
É claro que o uso da técnica do sfumato é apenas um
da própria obra de arte. Já outros acreditam dos muitos aspectos que fazem dessa obra uma referência
que essa é uma forma democrática de divulgar em arte.
a arte, apropriando-se de algumas obras e uti-
lizando-as para divulgar produtos populares.
92 Arte
• O que você e seu grupo pensam sobre o uso de obras de arte em artigos de consumo?
• Você valorizaria mais um objeto que fizesse referência a uma obra de arte?
• A que público podem ser dirigidas as propagandas que se utilizam de obras de arte? O que
tem motivado alguns publicitários a utilizá-las?
Não se esqueça de anotar as observações do grupo. Mesmo que não haja consenso, registre
as afirmações que julgar relevantes. Utilize-as na produção de um pequeno texto argumentativo.
PARA REFLETIR
Com frequência, a publicidade tem usado obras de arte em suas mensagens, sejam visuais,
sonoras ou gestuais. Em suma, aquilo que foi criado para outros fins está presente em nosso coti-
diano para nos seduzir a comprar os produtos divulgados.
Procure se lembrar de uma ou mais propagandas – de televisão, de jornal ou revista – associa-
das a manifestações artísticas como a música, a pintura, o teatro e a dança. Colete alguns exem-
plos, compartilhe-os com seus colegas e reflita sobre as seguintes questões:
• O público submetido a essas propagandas pode entrar em contato com a arte?
• Elas são acessíveis àqueles que não conhecem as obras apresentadas?
• É lícito se apropriar de obras que não foram criadas com o propósito de vender mercadorias
em propagandas? Por quê?
• Em uma propaganda, uma obra de arte pode ser apreciada como se estivéssemos um mu-
seu? Ou como se tivéssemos comprado uma reprodução da obra para pendurar na parede
de nossas casas?
Discuta com seus colegas, anote o que considerar mais significativo e produza um texto reflexivo.
9º ano 93
As imagens em repetição nos passam a ideia de que, assim como objetos do
cotidiano, as pessoas famosas têm suas imagens transformadas em artigos de con-
sumo pelos meios de comunicação em massa.
Coleção particular © Andy Warhol Foundation/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013. Foto: Album/AKG-Images/Latinstock
The Metropolitan Museum of Art, Nova York/Andy Warhol Foundation/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013
Andy Warhol. Mona Lisa, 1963. Serigrafia e acrílico sobre Andy Warhol. Campbell’s Soup Can – Beef Noodle, 1962. Serigrafia,
tela, 320 × 208,5 cm. 50,8 × 40,6 cm. The Metropolitan Museum of Art, Nova York.
Outro artista que aderiu ao movimento foi Roy Lichtestein (1923-1997), que apre-
ciava as imagens publicitárias e as incorporava em suas obras. Ficou conhecido por suas
pinturas que aplicam a técnica das imagens impressas nas histórias em quadrinhos.
Museum Ludwig, Colônia. © Lichtenstein, Roy/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2012
94 Arte
Não foi por acaso que o movimento da Pop Art ganhou força nos Estados Uni-
dos, sobretudo em Nova York, importante centro financeiro do mundo, em uma
época em que o consumo crescente empolgava multidões e impulsionava as mídias.
O movimento – do qual fazem parte Warhol, Lichtestein e muitos outros ar-
tistas – foi tão forte e contou com a adesão de tantos artistas que Nova York ultra-
passou Paris como centro de arte contemporânea. A capital francesa era, até então,
referência internacional de estética. No entanto, o movimento não ficou restrito a
esse país: artistas de outras partes do mundo também adotaram sua estética.
No Brasil, Antonio Dias (1944-), Claudio Tozzi (1944-), Rubens Gerchman
(1942-2008), Wesley Duke Lee (1931-2010), entre outros receberam influências
do movimento Pop Art, sobretudo na figuração, na adesão a técnicas como o
silkscreen e na incorporação de materiais industrializados.
Quanto ao conteúdo das obras, uma das principais características notadas é a
irreverência, marca do movimento. Ela está presente em obras de conteúdo polí-
tico e social.
Coleção do artista
Cláudio Tozzi. Bandido da luz vermelha, 1967. Liquitex sobre hardboard, 95 × 95 cm.
9º ano 95
DE LONGE É ARTE, DE PERTO É LIXO
Meio século após o surgimento da Pop Art, o consumo continua a ser tema
para artistas, sobretudo para aqueles que, engajados em causas ambientais, utili-
zam sua arte como forma de alerta e reflexão.
O lixo e os descartes se tornam materiais para as obras do brasileiro Vik Mu-
niz (1961-) e do estadunidense Chris Jordan (1963-). Ambos usam os processos
fotográficos para mostrar seu trabalho de construção de imagens – conhecidas ou
não – a partir de sucatas.
Coleção particular
Jacques-Louis David. A morte de Marat, 1793. Óleo sobre tela, 162 × Vik Muniz. Marat – Sebastião, 2008. Impressão digital. 129,5 × 101,6 cm.
128 cm. Musées Royaux des Beaux-Arts de Belgique, Bruxelas. A obra é uma releitura da obra de David, A morte de Marat (1793).
O lixo é a principal matéria-prima das obras de Vik Muniz. Por isso, o artista
pôde retratar catadores de um aterro do Rio de Janeiro, chamado Jardim Grama-
cho. Sebastião, um desses catadores, foi retratado pelo artista como Marat, perso-
nagem da Revolução Francesa.
O contato com essas pessoas levou o artista a querer registrar em filme seu
cotidiano e seus depoimentos diante da perspectiva de extinção do lixão e de
seu contato com a arte. O resultado foi o documentário Lixo extraordinário, que
revela a dignidade dos catadores em seu trabalho e também o poder transforma-
dor da arte. Com direção de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley, o longa-
-metragem recebeu importantes prêmios nacionais e internacionais.
Na série “Running the Numbers”, Chris Jordan explora as estatísticas tradu-
zindo números em imagens. Refere-se a esse trabalho como “um olhar para a
cultura americana contemporânea através da lente austera de estatísticas”.
96 Arte
Assim, as 106 mil latinhas de alumínio consumidas a cada 30 segundos nos Esta-
dos Unidos são representadas em uma reprodução de uma obra do artista francês Ge-
orges Seurat. As 32 mil cirurgias de aumento dos seios realizadas por mês, em 2006,
nos EUA, são traduzidas na imagem de 32 mil bonecas formando um busto feminino.
São diversas obras impactantes, tanto pelo tema que retratam como pelo nú-
mero de elementos que as constitui. Sua principal motivação é a esperança de que
a tradução dos números em figuras seja capaz de alertar sobre o significado do
modo de vida consumista e seu negativo impacto ao meio ambiente.
Como as de Vik Muniz, as “obras” de Jordan são conjuntos enormes e repetiti-
vos de dejetos dispostos de maneira a formar padrões ou imagens e, a partir dessa
disposição, são então fotografados.
Acervo do artista
Detalhes da
obra de Crhis
Jordan.
9º ano 97
1968). Ele retirava objetos de seu contexto original e os categorizava como
obra de arte.
Já o espanhol Pablo Picasso (1881-1973) figurava a partir de objetos, demons-
trando o potencial dos materiais não convencionais para a construção de uma
obra de arte.
Museu Picasso, Paris.© Succession Pablo Picasso / Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013. foto:
Scala/Glow Images
Pablo Picasso. Cabeça
de touro, 1942. Escultura
confeccionada com um selim e
um guidão de bicicleta. Museu
Picasso, Paris.
98 Arte
Museu Bispo do Rosário. Foto: Fernando Chaves
Arthur Bispo do Rosário. Vinte garrafas: vinte conteúdos (s/d). Museu Bispo Arthur Bispo do Rosário. Planeta paraíso dos homens (s/d). Museu Bispo
do Rosário, Rio de Janeiro. do Rosário, Rio de Janeiro.
PARA CRIAR
9º ano 99
Coleção Gilberto Chateaubriand
Leda Catunda. Camisetas, 1989. Acrílica sobre camisetas, 220 × 190 cm.
A proposta para essa atividade é a produção de uma assemblage. Como já vimos que não há
limites para a criação em arte, realize uma obra a partir do reaproveitamento de sucatas.
Você poderá iniciar o trabalho de duas maneiras:
• coletando materiais e se inspirando em suas formas, como fez Picasso ao criar a escultura
Cabeça de touro; ou
• projetando, mentalmente ou por meio de desenhos, o que vai construir e, então, iniciando
a coleta de materiais que atendam à sua criação.
Procure fotografar a construção de seu trabalho, documentando todo o processo. Não se es-
queça de nomear seu trabalho.
Apresente a seus colegas o resultado final e o processo documentado.
Se sua escola tiver acesso à internet, procure realizar uma exposição virtual dos trabalhos de
toda a turma, postando-os no próprio site da escola ou criando uma página para registrar e divul-
gar o trabalho realizado.
100 Arte
“To be or not to be, that’s the question”, que, em português, podemos traduzir
por “ser ou não ser, eis a questão”, é a frase original da obra do dramaturgo inglês.
A frase é mencionada em discursos das mais variadas tendências com bastante
frequência. Quem a ouve passa adiante, mesmo que não conheça sua origem.
A formação de repertório cultural é muito importante, sobretudo para nos
relacionarmos no mundo contemporâneo, repleto de informações que preci-
samos ler e decodificar. Quanto mais variado for o repertório cultural de uma
pessoa, mais criativas serão suas relações e suas ações transformadoras e, nesse
sentido, as linguagens artísticas permitem ampliar o entendimento de temas di-
versos. Quem tem repertório compreende melhor o que ouve e vê e possui mais
dados para criar e recriar.
Cortesia José
Nesa, Genebra
Jean-Michel Basquiat.
Mona Lisa, 1983. Acrílico
Fernando Botero. Mona e tinta a óleo em barra sobre
Lisa, 1978. Óleo sobre tela, 169,5 × 154,5 cm.
tela, 166 × 183 cm. Museu O artista estadunidense de
Botero, Bogotá. origem caribenha pintou
Botero arredondou e a imagem de Mona Lisa
“engordou” as formas de acrescentando elementos
sua Mona Lisa, assim como presentes em cédulas de
o faz com todas as outras dinheiro.
figuras que retrata.
9º ano 101
Na história da arte ocidental, ins- CONHECER MAIS
pirar-se em uma obra consagrada para
Museu espanhol encontra cópia da Mona Lisa
elaborar outra é uma atividade que re-
monta à Antiguidade. Os romanos, por MADRI – O Museu do Prado encontrou em seus
exemplo, copiaram largamente as es- arquivos uma cópia da Mona Lisa, de Leonardo da Vin-
ci, que parece ter sido pintada ao mesmo tempo que
culturas gregas. Copiar é uma ativida- o retrato original no ateliê do artista italiano, segundo
de bastante comum no aprendizado de uma publicação artística.
A revelação foi feita por uma especialista do museu
técnicas e recursos de representação espanhol em um seminário na Galeria Nacional de Lon-
(como mostramos no quadro apresen- dres há duas semanas e foi divulgada pela primeira vez
tado anteriormente). na revista The Art Newspaper.
[...]
Muitos artistas confessam ter co- Segundo a revista, o quadro teria sido feito por um
piado os grandes mestres em seu apren- pupilo de Leonardo da Vinci ao mesmo tempo em que
dizado. Também os artistas artesãos, no o mestre pintava sua obra mais famosa, entre 1503 e
1506, mas ficou relegada nos depósitos do Prado por
Brasil e no exterior, aprendem seu ofí- se pensar que era mais uma cópia do famoso retrato
cio muitas vezes copiando as obras e as exposto no Museu do Louvre.
Análises de raios X permitiram comprovar que sob
técnicas de outros de sua comunidade, um verniz escuro na obra – praticamente do mesmo
perpetuando, assim, as tradições. tamanho que a Mona Lisa autêntica – havia um fundo
No entanto, se pesquisarmos além paisagístico da Toscana parecido ao do quadro original.
[...]
dos exemplos expostos neste capítulo,
vamos encontrar inúmeros exemplos Disponível em: <www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,museu-espanhol-encontra-copia-
da-mona-lisa,830069,0.htm>. Acesso em: 25 out. 2012. (Texto adaptado.)
de obras criadas a partir de outras, al-
terando-se, porém, o contexto da obra
original. Isso não significa que se trata de uma cópia. Nesse caso, chamamos de
releitura da obra.
Diferente da cópia, que como o próprio nome indica, visa à reprodução idên-
tica de uma determinada obra, em uma releitura espera-se uma reinterpretação.
As alterações podem ocorrer apenas do ponto de vista da técnica ou da estética
ou ainda em relação à própria temática da obra. Nos exemplos citados em relação
à Mona Lisa, podemos perceber diferentes maneiras de se fazer uma releitura.
Observe-as bem.
As releituras foram um recurso bastante explorado pelos artistas do sé-
culo XX, sobretudo quando Pablo Picasso realizou um grande número delas.
De uma só obra – As meninas (1656), do também espanhol Diego Velásquez
(1465-1524) –, Picasso fez mais de 150 esboços, desenhos e pinturas. De outra
famosa obra – Almoço na relva (1863), de Edouard Manet (1832-1883) – ele
fez cerca de 27 quadros. Picasso admirava profundamente essas obras e seus
autores quando decidiu recriá-las.
Considerando-se que, para executar uma releitura, uma pessoa deva ter apre-
ciado determinada obra, estudando-a em seus mais diferentes aspectos (época,
estilo, significados etc.), é possível dizer que esse tipo de trabalho constitui uma
verdadeira homenagem às obras originais.
102 Arte
Foi o desejo de homenagear uma obra brasileira, o Abaporu, pintado em 1928
por Tarsila do Amaral, que motivou um grupo de doze artistas brasileiros das
mais diversas tendências a produzir obras para a exposição “Filhos do Abaporu”,
realizada pela Galeria Arte do Brasil em 1985. Tal homenagem também teve ou-
tro motivo bastante importante: a obra iria deixar o Brasil para compor o acervo
do Malba (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires), na Argentina.
Cada artista imprimiu à releitura do Abaporu as marcas de seu trabalho pessoal.
Romulo Fialdini
Romulo Fialdini
Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina. Foto: Romulo Fialdini
José Roberto Aguilar. A noite da antropofagia. Acrílica Tarsila do Amaral. Abaporu. Óleo sobre tela, Siron Franco. S/ título. Técnica mista sobre tela.
sobre tela. 205 × 212 cm. 73 × 85 cm. Museo de Arte Latinoamericana 80 × 90 cm.
Aguilar inseriu um trecho do Manifesto Antropofágico à obra. (Malba), Buenos Aires. Siron Franco trabalhou a imagem com areia e terra.
9º ano 103
AS ADAPTAÇÕES TEATRAIS
[...] Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor...
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d’água.
O trecho é cantado pela personagem Joana, na peça musical Gota d’água, es-
crita por Chico Buarque (1944-) e Paulo Pontes (1940-1976).
Ao escrever a peça, seus autores desejaram dar voz ao povo que, segundo eles,
estava afastado da vida cultural do país, aparecendo apenas nas estatísticas e nas
notícias de jornais sensacionalistas.
No drama, Joana é uma mulher do povo, moradora do conjunto habita-
cional Vila do Meio-Dia e casada com o sambista Jasão. O casal e seus vizi-
nhos enfrentam problemas para pagar os altos preços dos reajustes e juros das
prestações de suas casas, que são propriedade de Creonte, um explorador da
comunidade da vila.
Na peça, Jasão apaixona-se por Alma, filha de Creonte, traindo não apenas
Joana, mas também seus pares. Impossibilitada de pagar as prestações de sua casa,
Joana é despejada por Creonte. Inconformada, transforma sua dor em ira e jura
vingar-se do marido.
Ela planeja matar Alma e seu pai, oferecendo-lhes um bolo envenenado. Este
é recusado por Creonte, que a vê como uma mulher de feitiços. Quando per-
cebe que seu plano fracassou, oferece o bolo a seus próprios filhos, matando-
-os e suicidando-se em seguida.
Assim, Gota d’água faz uma crítica social aos interesses capitalistas e à falta de
habitação, mas também aborda as relações humanas.
A história, que poderia ter se desenrolado aqui no Brasil, nasceu na Gré-
cia há muito tempo com o mito de Medeia. Ela era uma mulher que, para
se vingar do marido infiel, afrontou as leis humanas e divinas, matando os
próprios filhos.
O dramaturgo grego Eurípedes (480-406 a.C.) apropriou-se da história e es-
creveu a peça Medeia, encenada pela primeira vez em 431 a.C. e reescrita muitos
séculos depois por Chico Buarque e Paulo Pontes.
104 Arte
Na tragédia grega, vivida na cidade de Corinto, Medeia é uma princesa com
dons de feiticeira que se apaixona por Jasão, deixando para trás pátria e família
para seguir ao lado de um grande amor – até descobrir ser traída por ele.
Transtornada pelo ódio, oferece à noiva de Jasão um manto com o poder de
queimá-la, matando também seu pai, o rei Creonte. Em seguida, mata seus fi-
lhos, frutos de seu casamento com Jasão, abrindo mão de sua condição humana.
Transforma-se então em uma feiticeira vitoriosa, saindo de cena no carro de seu
avô, o Sol.
Eugène Delacroix. Medeia, 1838. Óleo sobre tela, 260 × 165 cm. Museu do Louvre, Paris.
Delacroix foi um dos artistas que representaram Medeia, pintando a cena em que ela se prepara para matar
os filhos.
9º ano 105
No relato teatral do mito de Medeia, Eurípedes também faz críticas à sociedade
da época, sobretudo à condição feminina e ao abuso de poder dos soberanos.
Chico Buarque e Paulo Pontes mantiveram tanto o tema como a crítica social e
política da peça, adaptando-os à realidade brasileira da época, referindo-se ao
sofrimento da classe trabalhadora e ao autoritarismo do regime militar. O em-
bate da oprimida Joana, a Medeia brasileira, contra Creonte, símbolo do poder, e
Jasão, que por interesse se rende a ele, conquistou o público e a crítica teatral em
meados dos anos 1970.
A arte alimenta a própria arte; suas releituras e adaptações chegam até nós de
muitas maneiras. É importante estar informado e ser um conhecedor para melhor
apreciá-las.
Aqui, apresentamos alguns exemplos de como as obras clássicas chegam até
nós e, no caso das peças teatrais, apenas um breve resumo. Mas, sempre que
possível, você pode pesquisar para conhecer mais sobre esse e muitos outros
assuntos.
LER IMAGENS
Como já pudemos ver, a arte é um meio para se falar de qualquer assunto. Nas três obras se-
lecionadas para esta atividade, seus autores representaram pessoas. Se pensarmos que cada uma
delas carrega uma história pessoal, poderemos dizer que foram retratadas muitas vidas, não é
mesmo?
Observe bem as três obras. Procure as semelhanças e diferenças entre elas e escolha uma para
fazer uma leitura mais aprofundada.
106 Arte
Coleção particular
Coleção do artista
Mario Tama/Staff/Getty Images
As questões a seguir orientarão sua leitura. Você poderá respondê-las de maneira individual
ou coletivamente.
9º ano 107
O QUE OS OLHOS VEEM
A obra que você lê – pintura ou escultura – representa um grupo de pessoas. Como elas estão
distribuídas no espaço? Horizontal ou verticalmente?
Como estão vestidas?
Em que ambiente se encontram?
Que cores predominam na obra?
As pessoas representadas expressam movimentos?
Além de pessoas, que outros elementos estão representados?
Na pintura, você percebe a utilização dos recursos da perspectiva e de efeitos de luz e sombra
para dar noção de volume?
Se você lê a escultura, de que materiais imagina terem sido feitas as pessoas representadas?
Como é o fundo da cena representada?
108 Arte
a intenção de representar o anonimato imposto pela vida nas grandes cidades. As figuras brancas,
sem cor que as individualizem, reforçam essa ideia. O título da obra é Street Crossing.
Coleção Particular
Coleção do artista
PARA CRIAR
Agora é sua vez de interpretar e recriar as obras que acabou de ler. Escolha uma das imagens
para esse trabalho. A partir do que você viu, sentiu, imaginou e conheceu, selecione uma das cin-
co sugestões apresentadas a seguir para realizar a sua atividade.
poderá escolher entre as seguintes versões: impresso para di- jingle: música composta especial-
mente para propaganda. Assim como
vulgação em periódicos, sonoro para divulgação no rádio ou no os slogans, elas ajudam muito na
fixação da imagem do produto.
formato de filme para divulgação em televisão e cinema. Não se
slogan: frase de efeito que se relacio-
esqueça de criar um slogan. No caso de uma propaganda sonora, na diretamente ao produto.
lembre-se do jingle.
2. Com o auxílio de colegas, crie um quadro vivo.
3. Escreva uma poesia sobre a obra.
4. Escreva uma nota jornalística sobre uma hipotética exposição em que a obra estaria presente.
5. Transforme as pessoas representadas em personagens e crie uma cena teatral envolvendo-os.
Lembre-se de que não é próprio da arte ficar escondida, longe dos olhos dos espectadores.
Portanto, organize, com seus colegas, apresentações de seus trabalhos. Promova um grande even-
to e muito sucesso!
9º ano 109
É inegável que os recursos da tecnologia têm facilitado imensamente o acesso a produções
artísticas realizadas em outros tempos e em lugares distantes, a começar pelos livros e demais
publicações como jornais e revistas.
Desde a invenção da imprensa, muito se avançou nesse campo e hoje podemos encontrar
excelentes reproduções de obras de arte, cujos originais talvez nunca tenhamos a possibilidade
de apreciar. Quanto à internet, são inimagináveis as possibilidades que a cada dia nos apresenta.
Bastam alguns toques no teclado ou no mouse e visitamos virtualmente museus, salas de concer-
to, teatros, espaços e apresentações de todo o mundo.
Filmes, que até certo tempo só podiam ser assistidos nas salas de cinema ou na televisão por
meio de um aparelho de reproduzir DVDs, hoje podem ser apreciados na tela do computador. Po-
demos ainda optar por ouvir música por meio de vários tipos de aparelho, como rádios, tocadores
de CDs ou de arquivos MP3 e MP4, e celulares.
No entanto, nada supera a experiência de se apreciar ao vivo. Sempre que tiver oportunidade,
não deixe de visitar museus, assistir a apresentações teatrais, musicais e de dança. O contato com
a arte lhe apresentará um novo mundo, no qual você tem papel fundamental, seja como ator, seja
como espectador.
110 Arte
Bibliografia
ARTE
BUARQUE, Chico; PONTES, Paulo. Gota d’água: uma tragédia brasileira. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
CARPEAUX, Otto Maria. O livro de ouro da música: da Idade Média ao século
XX. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
COSTA, Cristina. Questões de arte: a natureza do belo, da percepção e do prazer
estético. São Paulo: Moderna, 1999.
EURÍPIDES. Medeia. Trad. Trajano Vieira. São Paulo: Editora 34, 2010.
GOMBRICH, Ernest. A história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
HIDALGO, Luciana. Arthur Bispo do Rosário: o senhor do labirinto. Rio de Janeiro:
Rocco, 1996.
HONNEF, Klaus. Pop Art. Colonia: Tashen/Paisagem, 2004.
MUNIZ, Vick. Vick Muniz: obra completa 1987-2009. Rio de Janeiro: Capivara,
2009.
READ, Herbert. Arte de agora, agora: uma introdução à teoria da pintura e escul-
tura modernas. São Paulo: Perspectiva, 1991.
SASSOON, Donald. Mona Lisa: a história da pintura mais famosa do mundo. São
Paulo: Record, 2004.
VÁRIOS AUTORES. Arte y propaganda: Carteles de la Universitat de Valencia.
Valencia: Universidad Valencia, 2003.
9º Ano 111
UNIDADE 3
Língua
Estrangeira
Moderna
Capítulo 1
LÍNGUA Brazil, Brazilian culture
INGLESA
and people
N este primeiro capítulo vamos refletir um pouco sobre como nosso país é
visto pelos estrangeiros. Analisaremos algumas informações sobre o Brasil
encontradas em um guia turístico conhecido por trazer, além de dados turísticos,
informações históricas, políticas,
Bettmann/Corbis/Latinstock
sociais e culturais. Será uma prá-
tica de leitura crítica e de refle-
xão sobre a imagem que passa-
mos para outros povos. Assim
como nos outros textos que você
já estudou, muitas das informa-
ções apresentadas podem já ser
conhecidas, pois se referem a
assuntos que fazem parte do co-
tidiano do país. Assim, antes de
iniciar a leitura, pense no que
sabe sobre os assuntos — obser-
ve o título do texto e o gênero Pelé e o senador estadunidense Robert F. Kennedy se cumprimentam nos vestiários
do Maracanã após partida da seleção brasileira no Rio de Janeiro (RJ), em 1965. A
(reportagem, lista, artigo etc.) imagem do Brasil no exterior frequentemente foi associada à beleza de suas paisagens
para antecipar o assunto e facili- naturais, ao carnaval e ao futebol. Será que isso mudou? Como o nosso país é visto
atualmente pelos estrangeiros?
tar a sua leitura.
Leia os textos e responda às questões a seguir. Em seguida, compare suas respostas com as de
um colega.
Why is Brazil so special?
Because it is a fantastic place, one of the largest, most populous countries in the
world. Although Brazil is a specially beautiful and interesting place, people in the world know
very little about its rich and diverse culture.
• Brazil is the fifth largest country in size and the eighth in population. Brazil is larger than the
United States, excluding Alaska.
• Brazil is larger than Argentina, Mexico, Venezuela, Colombia and Peru combined.
9º ano 115
• The social, historical and economic development of Brazil is unique. It has a large and
growing economy which presents great opportunities for investment.
• Portuguese is the language spoken in Brazil, and many other people around the
world speak Portuguese as their first language. Portuguese is the sixth most common
language in the world. As Brazil is the biggest country in Latin America, almost half of
the people in Latin America don’t speak Spanish – they speak Portuguese.
Texto elaborado para fins didáticos, 2012.
1. Leia a primeira parte do texto e note que há uma pergunta em seu título. Procure no dicionário,
se precisar, as palavras que você desconhece e tente entender o sentido da frase. Com base na sua
compreensão, faça o que se pede a seguir.
a) Antecipe o que você acha que aquele pequeno parágrafo vai conter sem lê-lo. Lembre-se do
que foi explicado anteriormente sobre antecipação de assuntos para a compreensão do texto.
b) Observe as palavras do texto que você consegue entender e veja se suas previsões foram ou
não confirmadas.
2. No texto, o que se afirma sobre o tamanho do Brasil e que comparação é feita com outro país?
3. O que se fala sobre a língua portuguesa?
Ao apresentar a cultura brasileira, um guia turístico do Brasil divide-se em diferentes seções: estilo
de vida, população, economia, hábitos, crenças. Selecionamos três dessas seções para sua reflexão.
Primeiramente, pense um pouco sobre o que vamos ler. Observe a foto a seguir, converse com
um colega e responda: a imagem tem relação com qual das três partes do texto que será lido, “The
national psyche”, “Lifestyle” ou “Multiculturalism”? Por quê? O que você diria a alguém sobre
esses três assuntos? Fernando Donasci/Folhapress
Carnival in Olinda (PE), 2008: the traditional “bloco dos bonecos gigantes” of Olinda parade through the streets
of the historic centre of the city.
4. Quais fatores econômicos, culturais e sociais são mencionados no texto? Você concorda com a
descrição que é feita do Brasil?
Multiculturalism
The Brazilian identity is the union of many races and nationalities: the
Portuguese, the native Indians, Africans and immigrants from Europe, the Middle East
and Asia. Many indigenous foods and beverages have become popular. Gauchos speak
a Spanish-inflected Portuguese. Baianos, descendents of the first Africans in Brazil,
are famous for being the most extroverted and celebratory of Brazilians. Mineiros are
considered more serious and reserved than the Brazilians who live close to the sea. It
is not uncommon for apparently white Brazilians to have a mix of European, African
and indigenous ancestors.
ST. LOUIS, Regis. Brazil. Hong Kong: Lonely Planet, 2008. p. 54.
5. O que você acha que é verdade nesse trecho? Você acha que o autor tem razão em relação aos
nossos hábitos, considerando seu conhecimento e sua experiência?
6. Há no guia a seguinte informação sobre os negros no Brasil:
O que você acha sobre o trecho, que diz que os negros são mal representados no governo? Há
motivos para concordar e também discordar dessa informação. Procure justificar sua resposta.
Em geral, um bom modo de expressar sua opinião é usar argumentos que você tenha lido no jor-
nal, visto na TV ou ouvido falar.
9º ano 117
Nesta atividade, aproveite e pratique duas habilidades: entender o texto em inglês e escrever co-
mentários em português. Releia sempre suas sentenças, verificando se elas são bastante claras e se
fazem sentido, isto é, se expressam exatamente o que você tem em mente. Ao escrever, é normal haver
muita releitura, muita revisão. Sem essa revisão, dificilmente o texto final sairá do jeito que se espera.
Veja alguns exemplos de prefixos e sufixos nos textos em inglês que você já leu
neste capítulo.
Depending on where the person lives in the country, the Brazilians are very
worried about crime.
(Há um modo oficial de fazer coisas [...] — o sufixo -ing mostrando o infiniti-
vo do verbo “do”: doing = fazer.)
Baianos, descendents of the first Africans in Brazil, are famous for being the
most extroverted and celebratory of Brazilians.
(Os baianos, descendentes dos primeiros africanos no Brasil, são famosos por
ser [...] — o sufixo -ing mostrando um verbo no infinitivo.)
Below the elite are the working class people, and at the bottom of the
socioeconomic ladder are the favelados (slum dwellers).
Você verá a seguir algumas palavras com as terminações -ing e -ed, como located, logo na pri-
meira linha do texto sobre o Rio de Janeiro. Lembre-se sempre de utilizar as estratégias de leitura.
Veja um guia básico para ajudá-lo a lembrar delas.
• Identifique palavras cognatas: palavras grafadas em inglês que se parecem com palavras em
português e que têm significado semelhante.
• Adivinhe o significado de certas palavras que desconhece. Para isso, é preciso atentar para
o contexto em que estão sendo utilizadas.
• Localize palavras-chave, aquelas que fornecem a ideia central e que se repetem num texto.
• Use o dicionário somente quando necessário.
9º ano 119
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro is located in southeastern Brazil, on the Atlantic Ocean. It is
Brazil’s second largest city, and the country’s leading tourist center. It is separated from
the rest of the country by mountains, including the Serra da Mantiqueira.
Rio was the capital and dominant city of Brazil from 1763 to 1960. It is an
important seaport located along the maritime traffic routes that link the coastal cities
of the northeast with the more economically developed areas of southeastern Brazil. Rio
is also a manufacturing and service center. The service sector dominates the economy
and includes banking and other financial functions. Tourism and entertainment are
also important.
Forests, mountains and beaches
Rio’s lush forests, spectacular mountains, and sparkling beaches make it one
of the most beautiful cities of the world. The city occupies a magnificent natural setting
between the mountains and the sea. From its beginnings as a fort and trading outpost,
Rio has spread to fill the space between the beaches and the mountains. Its more
famous landmarks are Sugarloaf Mountain, situated on a peninsula in Guanabara Bay,
and the large statue called Christ the Redeemer, atop Corcovado Mountain.
Celso Ávila/Folhapress
Traduza as frases a seguir e observe os diferentes significados das palavras com -ed e com -ing.
PARA REFLETIR I
Continue sua análise do que acha verdadeiro ou não nas informações retiradas do guia turísti-
co. Lembre-se de que se trata de uma leitura crítica (sua opinião), baseada em sua experiência de
vida e em seus conhecimentos. Desenvolva uma metodologia por meio da qual você possa melhor
organizar esta atividade. Por exemplo, utilize T para true e F para false, indicando o que você acha
que é verdadeiro (true) ou falso (false). Ou algo como I agree ou I don’t agree, para opiniões com
as quais você concorda ou não concorda, respectivamente.
Sports: soccer
Soccer, or football, as it is also called, was introduced in Brazil in the 1890s,
when a young student from São Paulo, Charles Miller, returned from studies in England
with two footballs and a rule book and began to organize the first league. It quickly
became the national passion, and Brazil is the only country to have won five World
Cups. See some information about this fact:
• Most people in the world acknowledge that Brazilians are among the best
footballers.
GLOSSÁRIO
• Brazilians are insane about the sport.
Acknowledge: reconhecer.
• No one goes to work on big international game days.
Just about: quase.
• When Brazil unexpectedly lost to France in the 1998 World Cup
final, millions cried on the street.
• Most of the best players leave Brazil for lucrative contracts with European clubs.
It seems that many gifted kids are waiting to replace the stars. You will see
tiny children playing skilled, rough matches in the streets, on the beaches, in a jungle
clearing − just about everywhere.
ST. LOUIS, Regis. Brazil. Hong Kong: Lonely Planet, 2008. p. 59.
9º ano 121
Alexandre Tokiaka/Pulsar Imagens
Kids play football while they wait for the school bus in Bom Jesus da Serra (BA).
Economy
Brazil was noted by economists, in 2003, as a country with a very big economic
potential. In the Latin American context, it is the biggest economy.
Brazilian economy has been growing in the last years and the growth has been
particularly strong in agribusiness, which employs about 20% of the country’s workforce.
Brazil is now the leader in sugar, coffee, orange juice, soy and beef exportation.
Biofuel has gained more and more attention in the last decades in Brazil. Dur-
ing the oil crisis in the 1970s, Brazil transformed its sugarcane into an alternative fuel:
ethanol. Today, 70% of its cars run on gasoline, ethanol or some combination of the
two, and ethanol provides 40% of the country’s fuel. But environmentalists point out
that Brazil’s growth in agribusiness has led to the continued destruction of GLOSSÁRIO
the rain forest. Big forests have been chainsawed to make way for fields, a Growth: crescimento.
practice with enormously damaging implications for Brazil’s environment. Soy: soja.
ST. LOUIS, Regis. Brazil.. Hong Kong: Lonely Planet, 2008. p. 53.
1. Que combustível é mencionado no texto e produzido em larga escala no Brasil? Qual a sua im-
portância?
2. Quais vantagens e desvantagens são mencionadas no texto a respeito do agronegócio no Brasil?
Explique.
Women in Brazil
In spite of having one of the earliest feminist movements in Latin America,
chauvinist stereotypes persist in Brazil, and women are still underrepresented in
positions of power. See some facts about the women’s situation in Brazil:
• Brazilian women were among the first in Latin America to gain the right to
vote, in 1932.
• There is a growing number of feminist NGOs dedicated to educating women
about their legal rights.
• Only about 9% of all legislators are women.
• Although women represent 44% of the workforce, they tend to be GLOSSÁRIO
concentrated in low paying jobs. Low paying jobs: traba-
lhos que pagam pouco
• A woman usually earns 70% of a man’s salary.
3. Com relação às mulheres no Brasil, há mais aspectos positivos ou negativos no texto? Por que
você acha que isso acontece?
4. O texto menciona a expressão domestic advances. Discuta com um colega ou em grupos qual é o
possível significado da expressão. Após chegarem a uma conclusão, anote alguns exemplos recen-
tes noticiados na TV, internet ou rádio que se relacionem com a sua resposta.
PARA REFLETIR II
Continue sua leitura crítica e reflita sobre as opiniões e recomendações que são dadas aos que
pretendem visitar o Brasil. Para orientar sua leitura, faça anotações que apresentem a sua opinião
sobre as informações apresentadas, considerando os seguintes pontos:
• realidade sobre o contexto brasileiro;
• mitos construídos que não se aplicam mais à nossa realidade.
O PRESENT PERFECT
Esse tempo verbal é um tipo de mistura entre presente e passado. Veja o exem-
plo explicado:
The number of higher education students in Brazil has doubled in ten years.
9º ano 123
bo doubled. Em português não se faz essa diferenciação. Ou seja, has doubled tem
a ver com o presente e doubled, com o passado. No que diz respeito ao sentido da
frase, em português, o verbo “dobrou” é utilizado no passado, mas pode trazer (e
traz, nesse caso) informação sobre o presente.
O exemplo apresentado anteriormente é o da utilização de um verbo regular.
No caso desses verbos, que têm o passado formado pelo sufixo -ed, o particípio
passado é igual à forma usada no passado. Mas, no caso de verbos irregulares,
muitos têm forma diferente. Veja um exemplo com o verbo irregular spend, que
significa “gastar” e tem como passado a forma spent, que é igual ao particípio.
Brazil has spent over US$ 670m promoting tourism.
(O Brasil gastou mais de 670 milhões de dólares promovendo o turismo.)
Nesse caso, o uso da forma has spent implica que “vem gastando até agora”,
“tem gastado”. É importante lembrar que, nesses casos, o verbo have funciona
como verbo auxiliar e, na maioria das vezes, não tem tradução. Esse aspecto ver-
bal muitas vezes pode ser traduzido como o passado simples em português. Ob-
serve alguns exemplos retirados de textos deste capítulo.
Many indigenous foods and beverages have become popular.
APLICAR CONHECIMENTOS II
1. Observe as sentenças a seguir, releia as explicações e tente extrair dos exemplos como a estrutura
do present perfect é formada:
The growth has been particularly strong in agribusiness.
Biofuel has gained more and more attention in the last decades in Brazil.
Brazil’s growth in agribusiness has led to the continued destruction of the rain
forest.
No present perfect, temos:
No presente contínuo, temos: verbo to be + verbo + ing
No tempo futuro, temos: will + verbo
No tempo condicional ou futuro do pretérito, temos: would + verbo
2. Escreva em inglês, usando o present perfect, sobre algumas de suas ações recentes no passado.
Baseie-se nas dicas a seguir:
a) Algo que venha estudando.
b) Algo que comprou esta semana (sem dizer quando).
c) Onde você trabalha.
N este capítulo, você verá informações sobre o Brasil a partir da visão de gran-
des agências internacionais de notícias. O propósito da leitura será mais a
compreensão da informação do que o questionamento dela. Entretanto, apesar
de trabalharmos com fontes relativamente confiáveis (agências de notícias), você
deve ter em mente que todas as notícias merecem um olhar crítico.
Tenha em mente as estratégias de leitura apresentadas nos capítulos anteriores.
N
0 515 1 030 km
O L
9º ano 125
Deforestation in Brazil’s Amazon rain ducing deforestation by 80% from 1990 levels.
forest has dropped to its lowest level in 24 Up to July 2012, deforestation dropped by 76%.
years, the government said on Tuesday. George Pinto, a director of Ibama, Brazil’s
“Satellite imagery showed that 1,798 square environmental protection agency, told repor-
miles of the Amazon were deforested between ters that better enforcement of environmental
August 2011 and July 2012”, environment laws and improved surveillance technology are
minister Izabella Teixeira said, “27% less than behind the drop in deforestation levels.
the 2,478 sq miles deforested a year earlier.” Pinto said that in the 12-month period a
Brazil’s National Institute for Space Rese- total of 2,000 square metres of illegally felled
arch said the deforestation level is the lowest timber were seized by government agents. The
since it started measuring the destruction of the impounded lumber is sold in auctions and the
rain forest in 1988. money obtained is invested in environmental
Sixty-three percent of the rain forest’s 2.4m preservation programmes.
sq miles are in Brazil. The Guardian. Disponivel em: <www.guardian.co.uk/environment/2012/nov/28/
The space institute said that the latest figures amazon-deforestation-record-low>.Acesso em: 26 mar. 2013.
1. Observe a figura que acompanha o texto e responda: quantos quilômetros de floresta foram des-
matados em 2006?
4. Agora, vamos ouvir o texto que estudamos com o livro fechado. Enquanto ouve o texto,
anote em seu caderno todos os números que conseguir compreender. Em seguida, procure
pensar a quais assuntos do texto os números se referem. Converse com os colegas da sala
sobre suas escolhas.
CONHECER MAIS
Unidades de medidas
Você sabia que em alguns países, como os Estados distâncias são medidas em milhas, pés e polegadas. Isso
Unidos, algumas medidas que usamos no Brasil são dife- também acontece com as medidas de massa. Nós usamos
rentes? No Brasil, quando medimos distâncias, utilizamos medidas em quilos enquanto eles usam em libras. Veja a
centímetros, metros e quilômetros. Nos Estados Unidos, as tabela de conversão abaixo com alguns exemplos em inglês:
Portanto, se você percorrer 3 quilômetros no Brasil, 70 milhas = 43,4 quilômetros (70 x 0,62)
nos Estados Unidos você vai percorrer o equivalente a 6,2 pés = 1,86 metros (6,2 x 0,3)
1,24 milhas (2 x 0,62). 12 quilômetros quadrados = 4,68 milhas
Se você tivesse 1,60 m no Brasil, nos Estados Unidos quadradas(12 x 0,39)
diríamos que você mede 5,3 ft (1,60 x 3,28).
Converter as medidas americanas para as brasileiras
não tem segredo, veja os exemplos:
APLICAR CONHECIMENTOS I
MOMENTO DA ESCRITA
A atividade desta seção foi preparada para fazer você aplicar os conhecimentos adquiridos
de língua inglesa e geografia, praticando, ao mesmo tempo, a produção de um texto em portu-
guês. A ideia é levá-lo a uma prática interdisciplinar, isto é, que procura unir diferentes áreas
do conhecimento.
Escreva um parágrafo que resuma as informações apresentadas no textos e no gráfico da ati-
vidade “Ler texto jornalístico I”. Seu texto deve ser articulado de maneira que una as informações
e, ao mesmo tempo, exclua ou resuma algumas.
O BRASIL EM NOTÍCIAS
A seção a seguir foi preparada a partir de diferentes notícias sobre o Brasil
divulgadas por agências de notícias internacionais. Para cada texto há diferentes
atividades, visando não apenas promover a interação entre diferentes disciplinas
(Língua Inglesa, Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Sociais e Política, entre
outras), mas também estimular as habilidades de compreensão e produção textual.
Os textos de algumas notícias foram apresentados apenas parcialmente. Para
ler os textos completos, acesse a fonte indicada no final de cada um deles.
9º ano 127
LER TEXTOS JORNALÍSTICOS II
1. Leia a seguir algumas notícias sobre personalidades brasileiras. Os textos foram reduzidos, de
modo que se apresenta apenas o primeiro parágrafo de cada um. Para isso, foram escolhidos tex-
tos cujo primeiro parágrafo, sozinho, fizesse sentido.
Sua tarefa será escrever um pequeno texto que apresente comentários sobre as duas celebrida-
des brasileiras citadas nos trechos. Seu texto deve ter um título, um breve parágrafo introdutório
(que apresente os dois como personalidades destacadas, mencionando suas respectivas ocupa-
ções), um segundo parágrafo mais explicativo (que mostre por que eles são merecedores de reco-
nhecimento) e um último parágrafo que feche o assunto. Veja alguns exemplos a seguir.
Você deverá escolher uma das duas celebridades para receber mais atenção, de acordo com o
que pensa ou conhece sobre cada uma. Aliás, este pode ser um momento para você pesquisar
um pouco mais sobre elas.
2. Para a leitura do texto a seguir, baseie-se no que você sabe sobre o caso do brasileiro Jean Charles
de Menezes, assassinado em Londres, em 2005. A intenção nesta seção é a prática da leitura com
base em estratégias que vão além de simplesmente entender palavras ou fazer uma leitura linear
(palavra por palavra e linha por linha).
Pretende-se também levantar a discussão sobre esse caso tão polêmico. A polícia londrina é famosa
por não portar armas de fogo e utilizá-las apenas em casos extremos. Nesse caso, no entanto, mata-
ram uma pessoa por engano, julgando que fosse um terrorista. Leia o texto e responda às questões.
a) Faça um mapeamento do texto, com base nos nomes de pessoas, locais e instituições, escritos
com letras iniciais maiúsculas. A que se referem os nomes mencionados no texto?
b) Baseando-se no assunto geral do texto, descubra quais são as principais informações dadas.
c) Busque uma informação específica: que parte do texto traz a informação sobre o assassinato
de Jean Charles?
9º ano 129
terminado tempo (ou aspecto) verbal na manchete e outro no texto. Veja um
exemplo de uma matéria jornalística fictícia em que aparecem essas mudanças
de tempos verbais, seguida de explicações, para ajudá-lo a melhor compreender.
APLICAR CONHECIMENTOS II
Leia os textos sobre Jean Charles e Lula novamente e preencha a tabela a seguir com exemplos
de alguns dos tempos verbais encontrados no texto:
was
Leia a seguir dois textos a respeito de relações internacionais entre Brasil e outros países da
América Latina.
Lula said the “extraordinary” oil accor- garding the production and distribution of
ds with Venezuela will improve national sov- energy and food, Venezuela’s bid to become
ereignty, and Chávez said relations with Brazil a member of the South American free trade
are at an “optimum level”. (El Universal) bloc Mercosur, educational exchange, border
The President of Brazil, Luiz Inácio relations, and the nascent South American
“Lula” da Silva, and Venezuelan President Defense Council.
Hugo Chávez met in Caracas last Friday to Venezuela Analysis. 1 jul. 2008. Disponível em: <www.venezuelanalysis.com/
discuss the progress of bilateral accords re- news/3609>. Acesso em: 5 fev. 2013.
Tendo isso em mente, você sabe que, de maneira geral, a estrutura é essa, mesmo quando mais
de uma frase se sobrepõe a outra.
1. Escolha o texto apresentado que lhe pareça mais interessante. Faça sua escolha baseando-se nas
manchetes que indicam os assuntos tratados. Algumas palavras são parecidas com o português,
portanto serão de fácil compreensão. Lembre-se de que você não precisa conhecer todas as pa-
lavras − algumas podem ser deduzidas. Se essa estratégia não levar à compreensão da manchete,
você pode, ainda, usar o dicionário. Entretanto, procurar palavras em dicionários também requer
certa técnica: algumas podem não ser encontradas e outras podem estar escritas de maneira ligei-
ramente diferente, sem prefixos ou sufixos.
Observe as manchetes das notícias e antecipe o assunto tratado. Naturalmente, alguns assuntos
devem ser mais conhecidos que outros, de acordo com a experiência de vida de cada um.
2. Releia cada um dos textos aplicando as estratégias de leitura para compreendê-los. Siga esses pas-
sos e veja quanto consegue entender.
Observe o formato geral de cada texto − título, subtítulo e fotos − e registre o assunto que você
acha que ele aborda.
9º ano 131
Faça uma lista de palavras que você não conhece, mas cujo significado você pode adivinhar (de-
duzir) sem consultar o dicionário.
Faça uma lista de palavras que você precisa ou deseja procurar no dicionário.
3. Leia novamente o texto de sua escolha e procure entendê-lo mais detalhadamente. Não se pede
aqui que você escreva a tradução do texto, mas que o compreenda.
4. Ainda trabalhando com o texto que você escolheu, separe as sentenças e observe o verbo utiliza-
do em cada uma. Veja que tempo verbal foi empregado (presente ou passado) e se os verbos são
regulares ou irregulares, no caso de verbos utilizados no passado.
O SUFIXO -TION
Agora que já conhecemos um pouco mais sobre a estrutura das frases em in-
glês, vamos aprofundar nosso conhecimento sobre algumas características linguís-
ticas típicas de textos jornalísticos. Os textos jornalísticos costumam trazer um
grande número de substantivos que utilização o sufixo -tion. Para isso, transforma-
-se um verbo ou substantivo em um substantivo com maior abrangência usando a
terminação -tion. Nos textos deste capítulo há alguns exemplos desse recurso.
Venezuelan President Hugo Chávez met in Caracas last Friday to discuss the
progress of bilateral accords regarding the production and distribution of energy and
food […] (Product – production / To distribute – distribution).
distribution distribute
1. Encontre nos textos lidos neste capítulo uma frase com o verbo to cause. Escreva-a e destaque as
palavras de conotação negativa que se referem a esse verbo.
2. Em duplas, façam uma pesquisa com o verbo to improve. Anotem alguns exemplos, conversem
sobre eles e expliquem se esse verbo tem carga positiva ou negativa. Expliquem como chegaram
a essa conclusão.
Site Convertword
Para ver outras medidas e aprender a converter os valores, você pode utilizar esse site.
Disponível em: <www.convertworld.com/pt/>. Acesso em: 5 fev. 2013.
9º ano 133
Capítulo 3
LÍNGUA ¿Cuándo iremos a Cuba?
E S PA N H O L A
Tupungato/Dreamstime.com
¡A HABLAR!
¿Te gustaría pasar unas vacaciones en el Caribe? ¿Qué te parecería elegir esta
isla caribeña para empezar el paseo? ¿Qué referencias tienes sobre Cuba? ¿Pien-
sas que la población cubana tiene alguna semejanza con nosotros, brasileños?
¿En qué aspectos crees que nos parecemos?
Hijo,
Espantado de todo, me refugio en ti. Tengo fe en el mejoramiento humano, en
la vida futura, en la utilidad de la virtud y en ti.
Si alguien te dice que estas páginas se parecen a otras páginas, diles que te
amo demasiado para profanarte así. Tal como aquí te pinto, tal te han visto
mis ojos. Con esos arreos de gala te me has aparecido. Cuando he cesado de GLOSARIO
verte en una forma, he cesado de pintarte. Esos riachuelos han pasado por mi Riachuelos: riachos.
corazón. ¡Lleguen al tuyo!
MARTÍ, José. Ismaelillo: versos libres, versos sencillos. Madrid: Catedra, 2001. p. 65.
1. Por la manera como abre esta introducción al libro, ¿qué estado de ánimo presenta el autor?
2. Discute con tus colegas y anota lo que has comprendido del texto de José Martí.
CONJUGACIÓN DE VERBOS
Observa el siguiente fragmento de un poema de José Martí:
Bosque de rosas
Allí despacio te diré mis cuitas
GLOSARIO
¡Allí en tu boca escribiré mis versos!
Borraré: apagarei.
¡Ven, que la soledad será tu escudo!
Cuitas: aflições, anseios, desejos.
Ven, blanca oveja,
Despacio: devagar.
Oveja: ovelha.
Pero, si acaso lloras, en tus manos
Roto: quebrado. Esconderé mi rostro, y con mis lágrimas
Soledad: solidão. Borraré los extraños versos míos,
¿Sufrir tú, a quien yo amo, y ser yo el casco
Brutal, y tú, mi amada, el lirio roto?
No, mi tímida oveja, yo odio el lobo,
Ven, que la soledad será tu escudo.
¿Notaste que las palabras en negrita son verbos conjugados en el futuro? Observa
el cuadro a continuación y verifica cómo se conjuga este tiempo verbal en español.
9º ano 135
Futuro Simple de Indicativo
Cantar Comer Subir
Hay tres irregularidades en Futuro de Indicativo: -br / -dr / -rr. Los siguien-
tes verbos sufren alteraciones en la raíz, pero usamos la misma terminación de
los verbos regulares para conjugarlos.
-BR → haber = habr / saber = sabr / caber = cabr
-DR → tener = tendr / venir = vendr / poner = pondr / salir = saldr /
valer = valdr / poder = podr
-RR → querer = querr
Siguen las mismas irregularidades
Ejemplo: los derivados de los verbos, como:
Mañana no podremos salir de casa porque intervenir = intervendr / mantener =
habrá una reforma en el piso de arriba y los técnicos mantendr / componer = compondr /
tendrán que ver cómo está el nuestro. reponer = repondr.
APLICAR CONOCIMIENTOS I
1. Completa con el Futuro de Indicativo el correo electrónico que le ha enviado el agente de turismo
a Doña Margarita, un ama de casa que quiere conocer la capital de Cuba:
Nuevo e-mail – ×
Para
Asunto
gente muy alegre y acogedora. Los guías turísticos la (llevar) a los mejo-
(encontrar) en el aeropuerto.
Atentamente,
Javier
Enviar
2. Ordena las frases a continuación, conjugando los verbos destacados, en Futuro Simple de Indica-
tivo, de acuerdo con el sujeto indicado:
a) estudiar / con más concentración / nosotros / en un lugar más silencioso.
h) saber / nosotros / sólo / el día del viaje / cuando lleguen los billetes
9º ano 137
ACTIVIDAD CON AUDIO
1. Escucha los diálogos e identifica en qué lugar del aeropuerto están esas personas:
( ) recogida de equipajes ( ) escaleras mecánicas ( ) aduana
( ) inmigración ( ) ascensor ( ) facturación de equipajes
( ) duty free ( ) puerta de embarque ( ) servicios
2. Cuando estamos de viaje hay que conocer un vocabulario específico. Escucha los diálogos y luego
relaciona las columnas según lo que hay en cada lugar o medio de transporte mencionado. Puede
ser que haya más de una respuesta para cada ítem. ¡Ojo! Ni todos los elementos están menciona-
dos en los diálogos, por eso, es importante que investigues en diccionarios y también en internet.
(1) hotel ( ) ticket
(2) avión ( ) reserva
(3) autobús ( ) habitación
(4) tren ( ) cabina
(5) estación de trenes ( ) llaves
(6) estación de autobuses ( ) desayuno
(7) aeropuerto ( ) andén
( ) individual/doble
( ) taquilla
FALSOS AMIGOS
Hay mucha gente por ahí intentando adivinar el futuro. ¿Crees que sería posi-
ble hacerlo? ¿Y si se cae en manos de falsos videntes que no conocen el español y
menos aún los falsos amigos? Vamos a ver el significado de algunos para que no
nos pase algo así. Observa la ilustración que sigue.
INVESTIGAR
1. Con la ayuda de un diccionario, marca las palabras que corresponden a la traducción de los si-
guientes falsos amigos y luego verifica cómo se encajan en el contexto de las frases a continuación
que vas a traducir:
a) todavía
( ) ainda ( ) todavia ( ) no entanto
b) sucesos
( ) sucessos ( ) acontecimentos ( ) êxitos
c) competencia
( ) habilidade ( ) capacidade ( ) concorrência
d) pronto
( ) pronto ( ) concluído ( ) cedo, logo
9º ano 139
2. Observa las previsiones del Míster Todoloadivina y luego intenta explicarle a otro espantado chi-
co que lo consulta lo que el mago realmente quería decir, traduciendo sus frases con atención
especial a las palabras destacadas:
LEER POEMA
ADJETIVOS POSESIVOS
Cuando aparecen delante del sustantivo concordando con él en género y número.
Esta casa es muy bien iluminada.
PRONOMBRES POSESIVOS
Nunca acompañan un sustantivo, van en su lugar.
Y éstos son los billetes de avión de su viaje a La Habana.
Pronombres demostrativos
singular plural
este estos
masculino ese esos
aquel aquellos
esta estas
femenino esa esas
aquella aquellas
neutros
esto (“isto”)
eso/ello (“isso”)
aquello (“aquilo”)
9º ano 141
APLICAR CONOCIMIENTOS II
La gran diferencia entre los demostrativos en portugués y español está en la formación del
plural. Pasa las siguientes frases al plural, con especial atención al uso de los pronombres demos-
trativos:
a) Este viaje que haré a Cuba va a ser un gran viaje para recordar.
b) ¿Cuánto vale ese puro, por favor?
c) Y esta es la principal atracción turística de La Habana.
d) En aquella calle ustedes encontrarán bellos puntos de interés turístico.
e) ¿De quién es esa canción que estás escuchando?
f) Esta es de Pablo Milanés, pero aquella de ayer era de Silvio Rodríguez.
g) Ya viajé muchas veces a Cuba. Recuerdo aquel tiempo con nostalgia.
Cocina cubana
Reservada la comida típica cubana resulta sorprendente
MARKA/Alamy/Other Images
de yuca en almíbar con anís. La sobremesa se hace bebiendo ron Plátanos chatinos: bananas verdes amassadas
e fritas.
y, después de haber comido hasta la saciedad, se empieza a bailar Postre: sobremesa.
hasta el amanecer. Púa: tipo de espeto.
Disponible en: <www.cultura-cubana.com/spanish/cocina.asp>. Acceso el: 30 ene. 2013. (Texto adaptado.) Yuca con mojo: mandioca com molho.
2. ¿Y el postre típico que se menciona? ¿Dónde, en Brasil, se come algo parecido? ¿Cómo se lla-
ma por aquí?
CONJUGACIÓN DE VERBOS
En la oficina:
En este diálogo los dos chicos están comentando sobre lo que harían si estu-
viesen en otra posición. Para ello están usando un tiempo verbal llamado Con-
dicional Simple de Indicativo. Si observas el cuadro a continuación, verás que su
forma de conjugación e irregularidades son iguales a las del Futuro Simple de
Indicativo, que acabas de aprender en este capítulo.
9º ano 143
Cuando se trata de un verbo regular, basta con usarlo en infinitivo y añadirle
la terminación.
Hay tres irregularidades en Condicional Simple también, y son las mismas del
futuro: -br / -dr / -rr.
Ejemplo:
Si tuviésemos dinero suficiente podríamos comprar unos billetes de avión y
hacer un viaje a Cuba, donde tendríamos deliciosos días de descanso y diversión en el
Caribe. Pero no lo tenemos, entonces, a trabajar.
b) Ya tengo los billetes para el viaje, pero todavía no conseguí cambiar el dinero. (pedir ayuda al
agente de viajes)
d) No sé cómo sobrevivirán mis pobres plantas tanto tiempo sin agua. (dejarlas con un amigo
durante el tiempo del viaje)
e) No me gustan las despedidas y sé que mi sobrino llorará mucho con mi salida. (salir cuando
él estuviese durmiendo)
MOMENTO DE LA ESCRITURA
1. Si investigas sobre los rituales y santerías de Cuba, verás que los cubanos se parecen a los brasi-
leños también en cuanto al misticismo y al sincretismo religioso. Aquí, vamos a explorar este lado
curioso brasileño hacia las previsiones.
Haz de cuenta que eres un(a) poderoso(a) vidente y elabora una lista con previsiones. Puedes
elegir entre los siguientes temas, pero recuerda que debes usar verbos en Futuro de Indicativo y
también los demostrativos, que son los temas gramaticales del capítulo.
Temas:
• La vida amorosa de tu compañero(a) de clase u otro personaje cualquiera.
• El futuro financiero de la empresa donde trabajas.
• La vida financiera y amorosa de una personalidad conocida.
• El futuro de tu ciudad.
• El futuro del planeta Tierra.
9º ano 145
2. Te vamos a proponer tres situaciones para las cuales deberá crear minidiálogos en los que apa-
rezcan los usos del Condicional Simple. Sigue las indicaciones:
Situación 1 – cortesía: Estás en una tienda de souvenires en La Habana y quieres comprar regalos
para tus amigos. Necesitas ayuda y sugerencias.
Situación 2 – consejo: Estás en el aeropuerto de La Habana y a tu lado está una señora cuyas
maletas desaparecieron. Aconséjala a estar tranquila, pedir información y hablar con la central de
equipajes del aeropuerto.
Situación 3 – probabilidad: Sigues en el aeropuerto de La Habana y la misma señora te está lle-
nando de preguntas y dudas sobre el horario de los vuelos que van a llegar, dónde estaría su ma-
leta cuando salió de Brasil, y otras preguntas más.
1. Podré hablar con amigos y conocidos sobre países hispanoamericanos en lo que corresponde a su cultura
y costumbres:
( ) sí ( ) no ( ) no estoy seguro ( ) sólo un poco
2. Seré capaz de leer textos en español y comprenderlos con más facilidad:
( ) sí ( ) no ( ) no estoy seguro ( ) sólo un poco
3. Responderé con tranquilidad a cuestiones sobre los temas gramaticales estudiados:
( ) sí ( ) no ( ) no estoy seguro ( ) sólo algumas
4. Sabré pedir comidas, comprar ropas, preguntar precios, entender y hablar por lo menos lo mínimo necesario
en variadas situaciones como las de comercio y restaurantes, entre otras:
( ) sí ( ) no ( ) no estoy seguro ( ) sólo algumas
Radio cuba
Disponible en: <www.digiradio.ch/radiocuba>. Acceso el: 30 ene. 2013.
Tune in
Si lo que quieres es escuchar la música cubana de ayer y de ahora, puedes entrar en esta página.
Disponible en: <http://tunein.com/radio/Musica-Cubana-s158964/>. Acceso el: 30 ene. 2013.
P ara hablar del pasado en español, hay varias formas. En este capítulo estudia-
remos tres de ellas y las usaremos para conocer también un poco sobre otro
país cercano a nosotros y que tanta historia tiene: el Perú.
¡A HABLAR!
¿Conoces el Perú? ¿Ya has estado alguna vez allí? ¿Algún conocido tuyo ya ha
viajado por este país y te trajo o contó algo interesante?
Como en capítulos anteriores, este también va a empezar con un poema. El
poema se llama “Masa”, de César Vallejo, poeta peruano, que nació en 1892, en
Santiago de Chuco, y se murió en 1938, en París, y cuya historia vamos a conocer
a lo largo del capítulo.
9º ano 147
LEER POEMA
Masa
Al fin de la batalla,
y muerto el combatiente, vino hacia él un hombre
y le dijo: “¡No mueras, te amo tanto!”
Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo.
1. Escucha el siguiente diálogo en el que Mauro habla con Laís sobre su más reciente viaje y complé-
talo con los verbos que son dichos.
– Sí, ¿dígame?
– ¿Laís? Soy Mauro, ¿qué tal?
– Mauro, ¿cuándo ?
– esta mañana y todavía no con nadie.
– Chico, cuéntame, ¿cómo el viaje?
– Ah, no te imaginas. Perú es un país fantástico, por mí me quedaría allí muchos días más.
– ¿Qué lugares ?
– a Cuzco, Machu Picchu y la última semana la en Lima.
– ¿Y cómo el tiempo?
– ¿Sí?
– Hola, soy Ana
¿está Beatriz?
– No, salió hace unos
minutos con su madre.
– ¿Sabes adónde
fueron?
– Sí, salieron a
comprar un regalo a su tía.
– Es que ella estaba
ansiosa por una noticia… La
llamo más tarde, entonces.
9º ano 149
Ilustración digital: Estúdio Pingado
– Beatriz, esta tarde ha llamado Ana.
– ¿Y qué quería?
– No sé, sólo dijo que tú estabas ansiosa por una noticia.
– ¿Será que ya han divulgado los resultados de los exámenes? Voy a llamarla
ahora mismo.
¿Te has dado cuenta de que en los diálogos hay tres formas verbales desta-
cadas? ¿Que hay dos formas que se parecen al portugués y una que no usamos?
Pues, son los tres pretéritos de indicativo: el Perfecto Compuesto, el Indefinido, y
el Imperfecto. Vamos a estudiarlos paso a paso.
CONJUGACIÓN DE VERBOS
Yo he
Tú has
Él/ella/usted ha
cantado, comido, vivido, dicho
Nosotros(as) hemos
Vosotros(as) habéis
Ellos/ellas/ustedes han
EL PARTICIPIO
Como vimos, para formar este pretérito necesitamos el participio, por tanto,
es importante saber cómo se forma.
El participio de los verbos regulares se forma como en portugués:
• Verbos de 1a conjugación (-ar) tienen el participio -ado: cantar =
cantado
• Verbos de 2a y de 3a conjugaciones (-er, -ir), tienen el participio -ido:
comer = comido / subir = subido
Los verbos irregulares pueden tener la forma -cho o -to:
9º ano 151
APLICAR CONOCIMIENTOS I
e)
c)
a)
d)
f) g)
b)
h)
j)
k)
i)
2. Traduce al portugués las siguientes frases que están en el Pretérito Perfecto Compuesto, con mu-
cha atención al sujeto de la frase, que será indicado por el verbo auxiliar haber.
a) Ya te he oído, no grites, el aeropuerto está vacío.
3. Elige la opción que completa adecuadamente las frases a continuación, teniendo en cuenta el
sujeto de cada una de ellas.
a) Ya (he – han – has) llamado tres veces nuestro vuelo. ¡Vamos!
b) Jamás (ha – hemos – han) oído hablar de los Incas. ¡Qué absurdo!
¿Cómo puede ser tan desinformado?
c) ¿ (he – habéis – has) estado alguna vez en Cuzco? Es que tienes unos
objetos típicos de allí.
d) (han – has – hemos) traído muchos regalos de nuestro viaje a Lima,
pero no (hemos – han – has) encontrado la artesanía que querías.
CONJUGACIÓN DE VERBOS
Cuando vivía en Cuzco, Gabriel solía dedicar los fines de semana a visitar a sus
amigos y su familia. En Lima, siquiera tiene tiempo para llamarles por teléfono.
b) Cómo es ahora.
Verbos regulares
Cantar Comer Subir
Yo cantaba comía subía
Tú cantabas comías subías
Él/ella/usted cantaba comía subía
Nosotros(as) cantábamos comíamos subíamos
Vosotros(as) cantabais comíais subíais
Ellos/ellas/ustedes cantaban comían subían
9º ano 153
Y ahora, los irregulares, que son sólo tres, y también bastante parecidos con
el portugués.
Verbos irregulares
Ser Ir Ver
Hay aquí algunos marcadores temporales de frecuencia que piden el uso del
Pretérito Imperfecto:
• Antes, en aquella época, de pequeño(a), de niño(a);
• Normalmente, a menudo, a veces, la mayor parte del tiempo, siempre, casi
siempre, casi nunca;
• Todos los fines de semana, en primavera, en invierno, en Navidad.
APLICAR CONOCIMIENTOS II
Para fijar el tema, ayúdanos a contar esta pequeña historia, completándola con el Pretérito
Imperfecto de Indicativo de los verbos indicados en los paréntesis:
INVESTIGAR I
1. Existen otros estados de ánimo además de los que aparecieron anteriormente. Con tus compañe-
ros, haz una lista en portugués de otros que el grupo conozca. Luego, con la ayuda de un diccio-
nario bilingüe y de internet, busca la traducción para el español y monta una lista.
2. Después, usa la lista formulada por ti y tus compañeros para completar las siguientes frases con
el estado de ánimo que te parezca más adecuado a cada situación. Puede que en tu lista no haya
aparecido algún estado de ánimo necesario para completar las frases, discútelo con tus compañe-
ros para que todos juntos encuentren el adjetivo adecuado:
d) Cuando llegó al aeropuerto, vio que había perdido las maletas. Se puso .
f) Las chicas volvieron súper con las amistades que hicieron en Arequipa.
9º ano 155
CONJUGACIÓN DE VERBOS
Lee los diálogos a continuación.
Diálogo 1
– Ayer vine aquí, hice todo lo que era necesario para dejar la casa en orden y
también traje flores.
– ¡Vaya dedicación!
Diálogo 2
– Ayer vino aquí, hizo todo lo que era necesario para dejar la casa en orden y
también trajo flores.
– ¡Vaya dedicación!
¿Eres capaz de identificar el sujeto que ordenó la casa en cada uno de los
diálogos anteriores? ¿Cuál es yo y cuál es él/ella? A continuación verás que por
la terminación de cada verbo destacado, en la primera frase el sujeto es yo y en la
segunda, él/ella.
Ahora vamos a estudiar una tercera forma verbal en el pasado. Se llama Pre-
térito Indefinido o Pretérito Perfecto Simple y corresponde al pretérito perfeito
simples del portugués. Se usa para hablar de una acción que ocurrió en un tiempo
pasado y acabado.
Estar
Yo estuve
Tú estuviste
Él/ella/usted estuvo
Nosotros(as) estuvimos
Vosotros(as) estuvisteis
Ellos/ellas/ustedes estuvieron
OTRAS IRREGULARIDADES
Ser/Ir Hacer Decir Traer Conducir
9º ano 157
• La letra e se transforma en i y la o se transforma • Antes de e y de o, en la conjugación en pretérito indefi-
en u en 3a persona de singular y 3a persona de plural de nido no se puede usar la i. Entonces en verbos como leer y
verbos de 3a conjugación (-ir). Como medir se conjugan construir, por ejemplo, se usa la y en 3a persona de singular
también los verbos: conseguir, seguir, repetir, derretir, y en 3a persona de plural. Como leer se conjugan también los
teñir, advertir, reír, sonreír, entre otros. Como dormir se verbos: creer y poseer. Como construir se conjugan todos
conjuga el verbo morir. los verbos terminados por -uir: incluir, destruir, concluir etc.
1. Consulta las reglas y completa el cuadro a continuación con el Pretérito Indefinido de los verbos
indicados en 1a (yo) y en 3a (él) persona de singular.
Yo Él
andar
estar
tener
poder
poner
querer
saber
caber
venir
hacer
decir
contraer
traducir
e) A pesar del frío que sentimos en la montaña (contraer) la gripe que nos
preocupaba.
g) ¿Sabes quién (conducir) nuestro coche por los 2 250 kilómetros de la costa
9º ano 159
LEER RELATO DE VIAJE
Un viaje inolvidable
A nadie le quedará en el olvido nuestro viaje.
Ildipapp/Dreamstime.com
Nada dejó de ser observado. Estuvimos en los más
fascinantes sitios y tuvimos la oportunidad de conocer
muchas leyendas sobre el período incaico y nuestros oídos
pudieron disfrutar también de los más bellos sonidos de la
selva que jamás habíamos oído. Nos fascinamos delante
de muñecas típicas de muchos colores y entre ellos el rojo
y, por supuesto, probamos la mazamorra, que se hace con
La mazamorra es um postre común en Perú y en
maíz morado.
otros países latinoamericanos.
Texto elaborado para fines didácticos.
a) nadie
b) quedará
c) olvido
d) nada
e) sitios
f) leyendas
g) oídos
h) oído
i) muñecas
j) rojo
k) por supuesto
l) morado
9º ano 161
INVESTIGAR II
Tras la lectura de estas informaciones sobre los escritores peruanos, te proponemos una investi-
gación para que puedas ampliar tus conocimientos sobre este país. Te daremos algunos caminos
para la investigación, pero también puedes buscar más cosas que te interesen.
a) “Piedra negra sobre una piedra blanca”, “España, aparta de mí este cáliz” y “Masa” son de
autoría de:
c) ¿A qué deporte se dedica Alberto “Chiquito Rossel” y qué título mundial ganó en 2012? ¿A
quién venció?
d) Uno de los platos típicos más conocidos de Perú es el ceviche. Investiga qué ingredientes lleva
y cómo se prepara.
e) Perú también tiene dos bebidas muy típicas, una que es alcohólica y otra que no. ¿Cuáles
son ellas?
MOMENTO DE LA ESCRITURA
Esta vez te proponemos un desafío. Vas a ponerte en la piel de Antonio, un turista que ya co-
noce casi el mundo entero. Vas a contar cómo era su infancia cuando soñaba viajar por el mundo,
los viajes que todavía no ha realizado y relatar cómo fue su último viaje a Perú, los lugares que
conoció, las cosas que compró, lo que comió, bebió, entre otras cosas. Para esta tarea deberás
usar los tres pretéritos aprendidos en esta unidad. Vamos a dividir el trabajo en etapas. Sigue las
instrucciones:
• Haz una lista, con por lo menos cinco ítems, usando el Pretérito Imperfecto de Indicativo
(cantaba) para contar cómo era Antonio de niño y qué sueños tenía para su futuro de viajero.
• Haz una lista de los lugares que Antonio ya haya o no conocido, usando el Pretérito Perfecto
Compuesto (he cantado) y también expresiones de tiempo que permitan su uso: todavía, ya,
algunas veces, nunca, jamás, aún...
De niño, me gustaba leer libros de aventuras en los que los personajes viajaban alrededor del
mundo. Yo siempre…
9º ano 163
Lo que hemos aprendido
¿Vamos a evaluar cuánto aprendiste de español en este curso y cómo te sientes en relación con la lengua?
Para cada ítem, marca la alternativa que corresponde a lo que sabes:
Comprensión de la lectura:
( ) consigo leer y entender textos en español sólo si tengo un diccionario cerca.
( ) consigo leer y entender textos en español orientándome por el contexto, para después investigar alguna
palabra que no haya comprendido.
( ) consigo responder a cuestiones sobre el contenido y el vocabulario de los textos que leo.
( ) no consigo entender bien los textos en español.
Comprensión auditiva:
( ) consigo entender grabaciones didácticas, canciones y también fragmentos de conversaciones reales.
( ) consigo entender bien a un hispanohablante.
( ) sólo consigo entender a un hispanohablante si habla muy despacio.
( ) no consigo entender nada de lo que escucho en español.
Expresión escrita:
( ) consigo escribir pequeños textos y comunicarme en español en situaciones cotidianas.
( ) consigo escribir textos un poco más elaborados en español, dentro de los límites de los conocimientos
hasta ahora adquiridos.
( ) no consigo escribir bien en español, pero me arriesgo.
( ) no consigo escribir en español y no me arriesgo.
Expresión oral:
( ) consigo comunicarme, en situaciones simples y cotidianas como en un restaurante, en una tienda o su-
permercado, en aeropuerto o estación de trenes o autobuses etc.
( ) consigo hablar con amigos y contar cosas sobre mí, sobre mi familia, el lugar donde vivo, lo que hago etc.
( ) no consigo comunicarme en español porque tengo vergüenza de hablar.
( ) no consigo comunicarme en español porque tengo muchas dudas y dificultades.
( ) no me arriesgo a hablar en español porque pienso que sólo podré hacerlo cuando termine un curso
avanzado.
BECHARA, Suely Fernandes; MOURE, Walter Gustavo. ¡OJO! com los falsos ami-
gos: dicionário de falsos cognatos em Espanhol e Português. São Paulo: Editora
Moderna, 1998.
COLLINS English dictionary. Collins Dictionary of the English Language. Lon-
dres: Collins/ London & Glasgow, 1982.
FLAVIAN, Eugênia; FERNANDEZ, Gretel. Minidicionário Espanhol/Português –
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KRASHEN, Stephen. Principles and practice in second language acquisition.
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LIGHTBOWN, Patsy M.; SPADA, Nina. How languages are learned. Hong Kong:
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MARTÍ, José. Ismaelillo: versos libres, versos sencillos. Madri: Cátedra. 2001.
MELLO, Thiago de. Poetas da América de canto castelhano. São Paulo: Global,
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SECO, Manuel. Diccionario de dudas y dificultades de la lengua española. 9. ed.
Madri: Espasa Calpe, 1996.
________. Diccionario de la lengua española. 21. ed. Madri: Real Academia Es-
pañola, 1992.
9º ano 165
UNIDADE 4
História
Capítulo 1
HISTÓRIA Conflitos pelo poder: o mundo
em disputa
O século XX foi marcado por inúmeros conflitos entre as nações, alguns com
o uso de armas, outros não. Em sua maior parte, tratava-se de disputas para
se obter maior poder perante outros países, fosse esse poder político, econômico
ou cultural. Muitas vezes a busca pelo poder levou a grandes guerras, que envol-
veram todo o planeta. Neste capítulo veremos como a tentativa de se impor pe-
rante os demais esteve presente na História após o fim da Segunda Guerra Mun-
dial, fazendo do mundo um palco de batalhas em potencial.
Cena do filme Rocky, o lutador – IV, que estreou em 1985. No filme, o boxeador estadunidense Rocky, interpretado por Sylvester Stallone,
enfrenta um poderoso adversário russo. O cinema frequentemente representa conflitos da História, como o caso da Guerra Fria, entre Estados
Unidos e União Soviética.
DEBATER
O poder faz parte do nosso cotidiano: nas dinâmicas familiares; no ambiente de trabalho; na
nossa comunidade; nos espaços da cidade, do estado e do país. Mas o que é poder? Reúnam-se em
grupos e discutam em que situações podemos identificar a presença do poder nas nossas relações
do dia a dia. Descrevam acontecimentos frequentes em que ele está presente. Após a discussão, os
grupos devem realizar uma síntese das opiniões que apareceram e compartilhar com os demais
colegas da classe.
9º ano 169
LER IMAGENS I
Andreas Solaro/AFP/GettyImages
Encontro de chefes de Estado dos membros do Grupo dos 20 (G20),
formado pelos 19 países com as maiores economias do mundo e a União
Europeia, ocorrido em Cannes (França) em 2011. Na foto, vemos os então
representantes das seguintes nações: Brasil (Dilma Rousseff); Rússia
(Dmitry Medvedev); Argentina (Cristina Kirchner); França (Nicolas Sarkozy);
Alemanha (Angela Merkel); Estados Unidos (Barack Obama), Indonésia Papa Bento XVI, em cerimônia realizada no Vaticano em 2012. No início de
(Susilo Bambang Yudhoyono); entre outros. 2013, ele renunciou ao pontificado.
Moacyr Lopes Junior/Folhapress
1. Em quais imagens o grupo identifica situações de poder? Justifique a resposta para cada uma delas.
2. Façam uma lista das principais palavras que apareceram nas respostas à questão 1, que explica-
vam o porquê de as imagens representarem situações de poder. Para fazerem a lista, reflitam sobre
que termos podem ser usados para definir o que é poder.
3. Criem uma definição para explicar aos demais colegas o que é poder. Usem as imagens para dar
exemplos de situações onde ele está presente.
4. Por fim, debatam com a classe a questão: pode-se dizer que todas as imagens mostram uma mes-
ma forma de poder? Justifiquem.
170 História
GUERRA FRIA
9º ano 171
Divisão da Europa durante a Guerra Fria
172 História
LER IMAGENS II
As duas imagens a seguir são documentos históricos e foram produzidas sob influência da
Guerra Fria. Observe-as atentamente e responda às questões.
Michael Nicholson/Corbis/Latinstock
Propaganda comunista mostra soldado russo reprovando soldado estadunidense que oculta uma bomba com a inscrição: “capitalismo
monopolista”.
9º ano 173
RKO Radio Pictures Inc.
Cartaz do filme Eu casei com um comunista, de 1950. Ao alto, à direita, lê-se: “A beleza dela serviu para a máfia do terror cuja missão é destruir”.
1. Descreva detalhadamente cada uma das imagens, dizendo que aspectos chamaram mais a sua atenção.
2. Qual é a visão da União Soviética presente na primeira imagem? Justifique.
3. Qual é a visão do comunismo no cartaz de filme? Justifique.
4. Pode-se dizer que os dois cartazes, defendem o mesmo lado nesse conflito? Justifique com base
nos elementos das imagens.
174 História
As duas grandes guerras travadas na primeira metade do século XX, porém, en-
fraqueceram as nações europeias, facilitando o desenvolvimento de movimentos que
buscavam a independência política e a reafirmação da cultura local nessas áreas GLOSSÁRIO
dominadas da África e da Ásia. Esses movimentos deram origem ao processo Emancipação:
libertação;
de descolonização, ou de emancipação de diversos países africanos e asiáticos. independência.
Além do enfraquecimento das nações europeias com as duas grandes guer-
ras, muitos outros fatores ajudam a explicar por que as lutas pela emancipação
se espalharam por tantos países a partir dos anos 1950. É necessário dizer que nas
regiões da África e da Ásia esses processos foram diferentes entre si e inspirados por
ideias também distintas. No entanto, há alguns pontos em comum entre eles, como o
fato de parte das elites locais e dos estudantes aderir a movimentos internacionais de
direitos humanos e pela liberdade civil. Os movimentos nacionalistas, que surgiram
em muitos países, também foram responsáveis pelo abalo do poder colonial.
Em 1947, o Reino Unido reconheceu a
Hulton-Deutsch Collection/Corbis/Latinstock
independência da Índia. Porém, esse fato
foi apenas o desfecho de uma luta que vinha
desde o final do século XIX, quando começa-
ram a ser criados partidos e associações que
questionavam a presença britânica no país.
O principal movimento ocorrido nesse pro-
cesso pregava a desobediência civil (um mé-
todo que descumpre as ordens consideradas
injustas do Estado) e foi liderado pelo paci-
fista Mahatma Gandhi. Tendo estudado em
Londres, Gandhi foi um exemplo entre os jo-
vens que voltavam ao seu país de origem com
ideias de emancipação. Apesar de seu método
recusar o uso da violência, ele foi assassinado
em 1948, por um extremista que o responsa-
bilizava pela fraqueza do novo governo. Mahatma Gandhi, líder da campanha de não violência e de desobediência
Outra região que conseguiu a indepen- civil durante o processo de independência da Índia. Foto de 1930.
9º ano 175
acordo previa que elas se unificassem em 1956, o que não ocorreu. Essa foi uma
das causas da Guerra do Vietnã, um dos principais palcos da Guerra Fria.
Na África, havia colônias da França, do Reino Unido, da Espanha, da Bélgica,
da Itália e de Portugal. Cada país teve seu próprio processo de independência,
porém, algumas ideias circularam e estiveram presentes em todo o continente. A
principal delas foi o pan-africanismo, que propunha a união dos diversos povos
africanos para lutar pela emancipação. Essa ideologia considerava que as frontei-
ras africanas haviam sido impostas pelos colonizadores, e que por isso esses povos
deveriam se juntar para combatê-los.
Essas ideias circularam também em outras partes do mundo, como nos Esta-
dos Unidos e na Europa, ganhando força nos anos 1950 e 1960. Na França, por
exemplo, um pensador nascido na Martinica (América Central), Frantz Fanon,
defendia a afirmação das culturas locais e o uso da violência como forma de liber-
tação. Seus livros foram lidos por jovens de todo o mundo, inclusive da América
Latina. Ele acompanhou de perto a luta pela independência da Argélia (1954-
-1962), onde a Frente de Libertação Nacional recorreu à guerrilha para conquis-
tar a emancipação do Estado francês.
No caso das ex-colônias portuguesas, a independência também foi fruto de
muitas guerras. Em Angola, três movimentos de emancipação participaram des-
sas disputas: Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), a União Nacional
para a Independência Total de Angola (Unita) e Movimento Popular de Liberta-
ção de Angola (MPLA). As lutas se intensificaram no país a partir de 1961, mas a
libertação só foi declarada em 1975.
De forma semelhante, Moçambique só obteve a independência frente ao go-
verno português após mais de dez anos de luta. O movimento, liderado pela Fren-
te de Libertação de Moçambique (Frelimo), conquistou a emancipação do país
também em 1975. Na realidade, um episódio ocorrido em Portugal colaborou
para que as então colônias portuguesas conquistassem sua autonomia política. A
chamada Revolução dos Cravos
Patrick Chauvel/Sygma/Corbis/Latinstock
176 História
CONHECER MAIS
estavam espalhados, impedindo esse tipo de evento preconceituo- Exóticos: não originários do país de origem, estrangeiros;
so e intolerante. esquisitos ou estranhos ao olhar.
LER DOCUMENTO
9º ano 177
uma política de repressão, massacres, assassinatos coletivos em uma das regiões do
Império francês. [...]
Juventude africana! Juventude de Madagascar! Juventude das Antilhas!
Nós devemos, todos juntos, cavar o túmulo em que se enterrará definitivamente o
colonialismo!
FANON, Frantz. Frantz Fanon œuvres. Paris: La Découverte, 2011. p. 799-804. (Traduzido do francês pela autora.)
1. Como Fanon define, nesse texto de 1958, a situação do mundo colonial? Destaque uma frase do
texto que exemplifique sua resposta.
2. Na frase “se impõe, com uma violência incomum, a firme decisão dos povos colonizados em de-
sejar para si e para seus irmãos o reconhecimento da sua existência nacional”, a quem o autor se
refere ao usar a palavra “irmãos”? Justifique.
3. Para Fanon, que atitudes das nações colonialistas são indiretamente apoiadas por uma pessoa que não
se junta aos movimentos anticoloniais? Localize um parágrafo do texto que responde a essa pergunta.
4. Você concorda com o autor que nas situações em que não protestamos contra algo que nos desa-
grade estamos sendo coniventes com a situação? Explique seu ponto de vista.
MOBILIZAÇÃO DA JUVENTUDE
Os anos 1950 foram marcados por uma recuperação da economia principal-
mente nos países ocidentais, após a crise da década anterior causada pela Segunda
Guerra. Nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, a indústria viveu um
período de crescimento. Nesse contexto, destacava-se a fabricação de produtos
como eletrodomésticos e automóveis. O avanço da tecnologia possibilitava mer-
cadorias cada vez mais modernas, enquanto as propagandas convenciam a popu-
lação de que as novidades deveriam se tornar sonhos de consumo.
Nesse contexto, onde as inovações eram cada vez mais aceleradas, a juventude
passou a ser um grupo social privilegiado, especialmente a partir do final dos
anos 1950. Os jovens desempenhavam um importante papel como consumido-
res de novidades, mas também como pessoas que buscavam transformar as for-
mas de viver e de pensar. Em vários países, eles começaram a ouvir músicas que
retratavam as preocupações de sua faixa etária; passaram a ser protagonistas de
muitos estilos cinematográficos; lançavam moda em vários setores.
Além de inovar os hábitos culturais e as relações sociais, muitos deles se
organizavam em movimentos políticos e manifestavam ativamente sua opinião,
opondo-se às posturas políticas e sociais que consideravam conservadoras. Di-
versos exemplos dessa mobilização podem ser citados, mas sem dúvida o mais
conhecido entre eles foi o Maio de 1968, em Paris. Nesse mês, alunos das uni-
versidades francesas iniciaram uma onda de protestos que se espalhou pela Eu-
ropa e pelas Américas. Em muitos países, a ação dos estudantes foi seguida por
outros setores da sociedade, como os operários. Na França, além das ocupações
das instituições de ensino, 1968 foi marcado por greves em várias fábricas.
178 História
Wally McNamee/Corbis/Latinstock
Os protestos estudantis ocorridos em Paris em maio de 1968 espalharam-se pelo mundo. Jonathan Blair/Corbis/Latinstock Nos Estados Unidos, as manifestações dos jovens
muitas vezes traziam um pedido de paz, e se opunham
ao governo que participava da Guerra do Vietnã. Nessa
foto, protesto ocorrido na capital, Washington, em 1969.
No Brasil, que vivia desde 1964 uma ditadura militar, ocorreram passeatas
que reivindicavam direitos dos estudantes e a volta da democracia, sendo que a
maior delas reuniu 100 mil pessoas no Rio de Janeiro, em 26 de junho de 1968.
A cultura brasileira da época, antenada com os movimentos internacionais, fez
importantes mudanças na forma de fazer teatro (com as peças dos grupos Oficina
e Arena), cinema (com um movimento conhecido como Cinema Novo) e artes
plásticas. Todo esse cenário de agitação incentivava o desejo pela liberdade polí-
tica, que estava restrita desde o golpe militar.
Em vários países da América Latina, 1968 também foi um ano marcado por
mobilizações estudantis. Isso ocorreu na Argentina, no Uruguai, na Colômbia e
na Venezuela, onde estudantes ocuparam os edifícios das universidades, decreta-
ram greves e organizaram grandes manifestações.
Muitos desses episódios terminaram em conflito com a polícia e o exérci-
to. No Brasil, Edson Luís de Lima Souto, que tinha vindo do Pará estudar no
Rio de Janeiro, foi assassinado pela polícia militar durante uma passeata em março
de 1968, o que gerou grandes protestos por parte dos colegas. No entanto, a pior
tragédia ocorreu no México, onde os confrontos nas universidades resultaram em
38 mortos. Para piorar, como a capital mexicana seria palco dos Jogos Olímpicos,
o governo ordenou uma forte repressão policial, que terminou no assassinato de
quase 300 pessoas que se manifestavam contra o Estado.
9º ano 179
Proceso/AP Photo/Glowimages
Conhecido como Massacre de Tlatelolco, calcula-se que entre 200 a 300 pessoas morreram na
Cidade do México em 2 de outubro de 1968. Na foto, estudantes são revistados por soldados
dentro de um edifício.
Leia o texto abaixo sobre o papel da televisão na cultura brasileira a partir dos anos 1960. Em
seguida, responda às questões.
A massificação da televisão
O ano de 1968 pode ser considerado o momento em que a GLOSSÁRIO
televisão, efetivamente, se tornou um veículo de massa, suplantando a Suplantando: superando,
ultrapassando.
importância do rádio como principal meio de comunicação de massa nas
grandes cidades brasileiras.
Aquele que marcou a crise definitiva de um dos maiores fenômenos de audiência
de todos os tempos: o programa Jovem Guarda, após a saída do seu grande astro, Roberto
Carlos, em janeiro de 1968. Na verdade, o fim do programa assinalou a decadência do
próprio movimento, que já não repetia o sucesso de 1965 e 1966. A juventude brasileira
havia mudado, a ingenuidade e a rebeldia adocicada que se limitavam a acelerar o
carango, ter vários brotos e brigar na rua não davam mais pontos no Ibope. Os jovens
queriam ir além e discutir comportamento, sexualidade, revolução. Ainda que limitados
a uma atitude mais estética do que política, esses temas passaram a ocupar a agenda da
cultura jovem em 1968. Além disso, o setor mais politizado da juventude estava em alta,
ocupando as páginas da imprensa. Nunca os estudantes estiveram com tanto prestígio,
mesmo entre alguns conservadores e, a partir de março de 1968, com a morte do jovem
secundarista Edson Luís pela polícia do Rio de Janeiro, os estudantes passaram a ser os
novos heróis da sociedade brasileira, em sua luta pela democracia. Os festivais acabaram
se tornando palco dos debates estéticos, políticos e culturais.
NAPOLITANO, Marcos. Cultura brasileira: utopia e massificação (1950-1980). São Paulo: Contexto, 2001. p. 73-74.
180 História
1. De acordo com o autor, qual foi o meio de comunicação que mais ganhou importância no final
dos anos 1960?
2. Que temas a juventude passou a valorizar nos programas de televisão, a partir de 1968?
3. Qual foi o papel dos jovens, segundo o autor, no final dos anos 1960? Explique.
9º ano 181
Paraguai e Uruguai – tinha apoio estadunidense e perseguia opositores políticos
das ditaduras nacionais em outros países do continente. Além disso, durante esse
período, militares latino-americanos eram treinados na Escola das Américas,
instituição organizada pelos Estados Unidos no Panamá, para praticarem torturas
durante interrogatórios.
Na Argentina, o país viveu uma ditadura militar entre 1966 e 1973, quando
voltou a ter eleições por um curto período. Em 1976, no entanto, outra ditadura foi
instaurada, dessa vez ainda mais repressiva e violenta que a anterior. Até a abertura
política, em 1983, os argentinos estiveram submetidos a um dos mais sangrentos
governos ditatoriais da América Latina. Calcula-se que cerca de 30 mil civis foram
assassinados durante esse período, entre opositores e integrantes de grupos de es-
querda. Os militares praticaram ainda sequestros de crianças, que eram detidas
durante a prisão de seus pais e doadas a famílias da elite ou dos próprios militares.
Hoje em dia, existem muitos movimentos que lutam pelo julgamento desses cri-
mes e pela localização de corpos e dos filhos levados de seus parentes de origem.
Outro país que sofreu um golpe de Estado brutal foi o Chile. Em 1970 um
candidato socialista foi eleito à presidência da república. Salvador Allende gover-
nou durante três anos, período em que fez mudanças significativas na sociedade
chilena. Seu governo tornou públicas empresas importantes, que estavam, em sua
maioria, nas mãos de corporações estadunidenses. Além disso, começou a fazer
reformas que desagradaram à elite nacional, como a reforma agrária, a instalação
de projetos habitacionais nas cidades e a desapropriação de empresas para deixá-
-las sob responsabilidade dos operários.
Os Estados Unidos, que viam seus interesses ameaçados no país, apoiaram
o exército chileno, que atacou e bombardeou o palácio da presidência em 11 de
setembro de 1973. Na ocasião, Allende morreu, não se sabe ao certo se vítima
dos golpistas ou se em consequência de um suicídio. O fato é que nesse dia uma
ditadura militar foi instaurada no país, iniciando uma série de prisões, desapare-
cimentos e assassinatos. Sob a liderança do general Augusto Pinochet, os militares
permaneceram no poder até 1990.
Luis Orlando Lagos Vázquez/The Dmitri Baltermants Collection/Corbis/Latinstock
O presidente chileno Salvador Allende (no centro, de óculos) em 11 de setembro de 1973, dia em que ocorreu o golpe
militar, em Santiago, Chile.
182 História
CONHECER MAIS
Pascal Deloche/Godong/Corbis/Latinstock
Ásia, muitos novos países foram criados, sendo reco-
nhecidos internacionalmente como nações indepen-
dentes. No entanto, em muitos deles, as populações
locais enfrentavam graves problemas econômicos e so-
ciais, vivendo em uma situação de pobreza e de miséria.
Durante a Guerra Fria, muitos desses países passa-
ram a ser chamados de “terceiro mundo”, em oposição
aos países capitalistas desenvolvidos – que fariam parte
do “primeiro mundo” – e aos países socialistas indus-
trializados – que estariam na categoria de “segundo
mundo”. Dessa forma, o termo “terceiro mundo” pas-
sou a ser usado para definir nações pobres e com gra-
ves problemas sociais, não apenas na África e na Ásia,
mas também na América Latina.
A partir da década de 1970 esse termo passou a ser
cada vez mais questionado, principalmente com base
na Teoria da dependência, sendo os termos “desen-
volvimento” e “subdesenvolvimento” os mais usados.
Essa teoria considera que a existência dos países subde-
senvolvidos está diretamente ligada a dos países desen-
volvidos; ou seja, eles só existem dentro de uma lógica
de exploração econômica que faz com que dependam
das nações mais ricas. Portanto, apenas com o fim des-
sa dependência é que essa situação pode mudar.
Atualmente, o grau de desenvolvimento social dos
países costuma ser medido pelo Índice de Desenvol- Crianças estudando em escola no Congo, África, 2011. O Congo
vimento Humano (IDH). Trata-se de um número que apresenta um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento
considera a expectativa de vida ao nascer, a taxa de alfa- Humano (IDH) entre os países avaliados pela Organização das
betização e o Produto Interno Bruto (PIB) por pessoa. Nações Unidas (ONU).
9º ano 183
Regis Bossu/Sygma/Corbis/Latinstock
Alemães colaboram para derrubar o Muro de Berlim, no final de 1989.
A queda dessa construção que dividia a cidade se tornou o maior símbolo
do fim da ordem bipolar.
LER CANÇÃO
O grupo de rap Calle 13, de Porto Rico, compôs uma canção denominada “Latinoamérica”,
que destaca alguns pontos em comum dos povos da América Latina. Leia alguns trechos dessa
canção e responda às questões seguintes.
184 História
Você não pode comprar o calor [...]
Trabalho duro, mas com orgulho
Aqui se divide, o que é meu é seu
Esse povo não se afoga com marola
E se desmorona eu reconstruo [...]
A Operação Condor invadindo meu ninho
Perdoo, mas nunca esqueço
Ei!
Vamos caminhando
Aqui se respira luta
Vamos caminhando
Eu canto porque se escuta
Vamos caminhando
Aqui estamos de pé
Viva a América!
Não pode comprar minha vida...
Calle 13. Latinoamérica. Disponível em: <www.lacalle13.com/
entrenlosquequieran/index.php?option=com_content&view=article&id=61&Itemid=69>.
Acesso em: 15 ago. 2012. (Tradução da autora.)
1. De que maneira o grupo caracteriza o povo latino-americano? Justifique citando algumas frases
que comprovem sua resposta.
2. A quem você acha que o Calle 13 se refere no refrão ao dizer “Você não pode comprar o vento/
Você não pode comprar o sol/ Você não pode comprar a chuva/ Você não pode comprar o calor”?
Justifique sua resposta.
3. Você considera que existe uma identidade comum aos países da América Latina? Justifique sua
opinião.
Uma noite em 67
Documentário sobre o final do III Festival da Música Popular Brasileira transmitido pela TV Re-
cord, em 1967. O filme mostra um pouco da cultura da juventude brasileira que buscou resistir
à repressão do regime militar.
Direção: Ricardo Calil, Renato Terra. Brasil, 2010. 93 min.
9º ano 185
Capítulo 2
HISTÓRIA Ditadura e democracia no Brasil
186 História
RODA DE CONVERSA
Reúnam-se em grupos de até cinco pessoas. Depois, sigam o roteiro abaixo para definir os
conceitos de democracia e de ditadura.
1. Discuta com o seu grupo o que vocês consideram que seja democracia e ditadura. Para isso, ela-
borem duas listas: na primeira, anotem palavras e frases escolhidas pelo grupo que se relacionem
aos governos democráticos; na segunda, registrem as expressões relativas aos governos ditatoriais.
2. Leiam, em grupo, as definições de democracia e ditadura a seguir. Discutam o que vocês enten-
deram sobre cada uma delas.
Democracia. Forma de governo na qual o poder supremo Ditadura. [...] Com a palavra ditadura, tende-se a designar
está nas mãos do povo e é exercido diretamente ou por toda classe dos regimes não democráticos [...]. São três, a
intermédio de representantes eleitos [...]. Na era moderna, meu parecer, essas características: a concentração do poder;
o conceito significa, em geral, governo da maioria, direitos as condições políticas [...] constituídas [...] pelo princípio da
individuais e minoritários, igualdade de oportunidades, soberania popular; a precariedade das regras de sucessão no
igualdade perante a lei, e direitos e liberdades civis. poder [...].
ROHMANN, Chris. O livro das ideias. Rio de Janeiro: BOBBIO, Norberto (Org.). Dicionário de política.
Campus, 2000. p. 96. Brasília: UnB, 1986. p. 372-373.
3. As definições lidas usam palavras parecidas com as que o grupo havia listado na questão 1?
Quais são as semelhanças e diferenças entre as palavras escolhidas pelo grupo e o que colocam
os dicionários?
9º ano 187
Por fim, vale destacar outras duas estratégias importantes, utilizadas pelas di-
taduras contemporâneas, que também estiveram presentes nos governos ditato-
riais brasileiros: a censura e a repressão. Essas duas medidas visavam combater
e silenciar aqueles que não concordavam com as ideias do grupo que estava no
poder. Como veremos neste capítulo, muitas vezes a tentativa de calar a oposição
levou a prisões, torturas e assassinatos.
DEBATER
Reúnam-se em grupos de até cinco pessoas. Cada integrante deve responder oralmente às
seguintes questões:
188 História
Um dos principais aliados do Estado Novo era o grupo dos indus- GLOSSÁRIO
triais, que acreditava que a segurança e o crescimento econômico do Indústria de base: são
aquelas que produzem
país dependiam da intervenção do Estado na economia, principalmen- matérias-primas ou
máquinas para serem
te por meio de medidas que incentivassem o desenvolvimento da in- usadas em outras
dústria. O governo de Getúlio, agradando a seus apoiadores, passou indústrias.
Siderúrgica: indústria
a substituir as importações por produtos industrializados brasileiros. responsável pela produção
Investiu, sobretudo, na indústria de base, setor no qual se destacou a de ferro e aço.
9º ano 189
BELMONTE, 1932-1940. Coleção Particular
Fonte: LAGO, Pedro Corrêa do. Caricaturistas brasileiros 1836-1999. Rio de Janeiro: Sextante Artes, 1999. p. 106.
Caricatura de Belmonte, feita na década de 1930. No desenho, Getúlio Vargas aparece como alguém que coloca fogo nos recintos para sair
como herói. De maneira semelhante, sua estratégia de governo era a de conceder alguns benefícios aos trabalhadores, mas combatia a
autonomia e as reivindicações deles. Assim, apesar de restringir direitos, o Estado tinha o apoio das massas, pois o governante aparecia para
a opinião pública como alguém que resolvia os problemas da população.
Outro aspecto que caracterizou o Estado Novo como período de ditadura foi
o controle da produção cultural e intelectual do país. Os meios de comunicação
estavam a serviço do Estado e colaboravam para transmitir uma imagem positiva
do governo. Para isso, havia o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP),
que tinha duas funções principais: censurar qualquer manifestação que julgasse
contrária ao governo (fosse na música, no cinema, na literatura ou na imprensa)
e fazer propaganda das iniciativas governamentais. Nessa época, Getúlio utiliza-
va também o espaço da Hora do Brasil (atualmente transmitida com o nome de
A voz do Brasil), um programa de veiculação obrigatória no qual a população
ouvia os discursos do presidente e de seus ministros, além de músicas de artistas
populares. Com isso, ele vinculava a sua imagem a cantores e cantoras de sucesso,
queridos do povo, aumentando sua popularidade.
Por outro lado, com o DIP, muitos artistas, intelectuais e políticos da oposi-
ção foram censurados. Alguns chegaram a ser presos, exilados e até torturados
pelo comando do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), criado
também nessa época. A repressão foi uma marca da ditadura do Estado Novo. O
descontentamento com a censura e as ações repressivas fo- GLOSSÁRIO
ram alguns dos fatores que colaboraram para o enfraqueci- Estado totalitário: tipo de Estado baseado
mento do governo. Mas havia outras contradições que aca- no autoritarismo, que não permite oposição,
utilizando para isso o terror policial. Apesar da
baram levando ao fim esse governo, como o fato de o Brasil repressão, recebe o apoio das massas, que são
ter lutado na Segunda Guerra Mundial contra os fascistas e normalmente convencidas pela propaganda
oficial a apoiar o governo. Em geral, o poder
os nazistas, mas ter características de um Estado totalitário. é exercido por um único partido, por meio da
figura de um governante forte e centralizador.
Enfraquecido, Getúlio foi deposto em 1945, pondo fim a um
período de ditadura.
190 História
LER IMAGEM
1. Verifique o ano em que a charge foi publicada. Após a leitura do texto didático, identifique:
a) Quem era o presidente do Brasil nessa época?
4. Por que você acha que o segundo homem diz que “há muitos zeros no número de eleitores”? Jus-
tifique a sua resposta.
9º ano 191
CONHECER MAIS
Com o fim do Estado Novo, o Brasil voltou a ser uma democracia. No entanto, a
participação do povo nas decisões políticas ainda era muito restrita. O governo do pre-
sidente eleito que substituiu Getúlio Vargas, Eurico Gaspar Dutra, dirigiu o processo
que gerou uma nova Constituição, a de 1946, considerada mais “democrática” do que a
anterior, de 1934. Nela, os três poderes — legislativo, executivo e judiciário — adquiri-
ram forças mais equilibradas. Mas ainda havia alguns pontos autoritários nas novas leis.
Na Constituição de 1946, alguns direitos sociais passaram a ser previstos na
lei. O direito de voto foi ampliado para todas as mulheres, já que na Constituição
anterior apenas as mulheres que exerciam funções públicas podiam votar. Mas
ainda mantinha a regra de que apenas os alfabetizados podiam participar das
eleições, sendo que a população que sabia ler e escrever na época era reduzida.
Para os trabalhadores da cidade e do campo, a Constituição de GLOSSÁRIO
1946 teve dois lados, um bom e um ruim. Em relação às greves, ela Reforma agrária: reorganização das
as permitia, desde que autorizadas por lei. Por outro lado, algumas propriedades rurais, por meio de lei,
visando a maior distribuição de terras.
de suas medidas acabaram possibilitando, pelo menos na teoria, Geralmente, ela desapropria as propriedades
mudanças sociais, como a previsão de desapropriações com fim improdutivas, dando direito aos pequenos
produtores rurais de utilizar essas áreas.
social, o que retomou o debate em torno da reforma agrária.
LER TABELA
Analise a tabela a seguir, sobre as eleições brasileiras em 1934 e 1947, e responda às questões.
192 História
1. O que ocorreu com o número de eleitores entre 1934 e 1947?
2. O que é possível concluir comparando o total de eleitores de 1947 com o total da população bra-
sileira nesse mesmo ano? Justifique a sua resposta.
3. Analisando os dados da tabela, você considera que a participação política da população era ampla
em 1947? Por quê?
9º ano 193
Outro ícone do mandato de JK foi a construção de Brasília. Procurando des-
centralizar o poder político e econômico da região Sudeste e ampliar o desenvol-
vimento do país, Kubitschek solicitou a Oscar Niemeyer e Lúcio Costa um projeto
para a nova cidade, que foi construída em um período de cinco anos com a mais
moderna arquitetura. Muitos nordestinos, retirantes que migravam devido às se-
cas, e também camponeses, sem trabalho no campo, participaram da sua constru-
ção. Esses trabalhadores passaram a ser chamados de “candangos” e foram seus
primeiros moradores, já que muitos continuaram na região após a finalização das
obras. Em 21 de abril de 1960, Brasília foi inaugurada como a nova capital federal,
que deixava de ser o Rio de Janeiro.
No entanto, parte desses trabalhadores que ficaram na região após a inaugura-
ção da capital enfrentou dificuldades para encontrar empregos regulares e pagar os
caros aluguéis cobrados dentro do plano-piloto, que consiste nos limites planejados
por Niemeyer e Lúcio Costa. Muitos deles começaram a se instalar nas chamadas
“cidades-satélites”, que cresciam a partir de ocupações irregulares. Ceilândia, por
exemplo, em 1969, já contava com quase 80 mil pessoas vivendo em favelas. Ainda
hoje, grande parte dos trabalhadores de Brasília mora em seus arredores.
Acervo UH/Folha Imagem
O presidente Juscelino Kubitschek chegando a Brasília, em 2 de fevereiro de 1960. O automóvel e a nova capital federal foram dois símbolos muito associados
à imagem de JK.
Leia a seguir trechos de uma entrevista com Horácio Augusto Figueira, engenheiro de tráfego,
vice-presidente da Associação Brasileira de Pedestres e defensor do uso intensivo de ônibus nas
grandes cidades. Após a leitura, responda às questões.
194 História
“O sonho do automóvel acabou” em São Paulo, diz engenheiro
Como o senhor avalia o custo/benefício do transporte público em São Paulo?
Horácio Augusto Figueira – Em termos de custo/benefício, fora do horário de pico,
dá para você usar como serviço comum. Nos horários de pico, por não ter velocidade
compatível nos corredores, os ônibus andam em baixa velocidade e lotados. Não é
um serviço de boa qualidade. Para reverter essa situação, teria de ser dada prioridade
total para os ônibus no sistema viário e, para isso, você tem de incomodar o usuário
de carro, não tem outro jeito. Não tem como conciliar privilégios ao transporte coletivo
sobre rodas sem tirar uma faixa dos automóveis. [...]
9º ano 195
1. De acordo com o engenheiro Figueira, qual deveria ser a prioridade de investimento do poder
público para melhorar o problema dos congestionamentos nas grandes cidades? Por quê?
2. Por que o engenheiro afirma que “o sonho do automóvel acabou na cidade de São Paulo”? Explique.
3. Você concorda com as opiniões do engenheiro Figueira? Por quê? Na sua opinião, qual seria uma
possível solução para o trânsito em São Paulo?
4. Vimos que uma das áreas que mais receberam investimentos do governo Juscelino Kubitschek nos anos
1960 foi a indústria automobilística, com a finalidade de desenvolver a economia brasileira. Você consi-
dera que hoje em dia essa indústria deveria continuar recebendo investimentos? Justifique sua resposta.
196 História
LER CANÇÃO
Leia a letra de canção a seguir, do compositor maranhense João do Vale, e responda às questões.
Sina de caboclo
Mas plantar pra dividir
Não faço mais isso, não.
Eu sou um pobre caboclo,
Ganho a vida na enxada.
O que eu colho é dividido
Com quem não planta nada.
Se assim continuar
vou deixar o meu sertão,
mesmo os olhos cheios d’água
e com dor no coração.
Vou pró Rio carregar massas
prós pedreiros em construção.
Deus até está ajudando:
está chovendo no sertão!
Mas plantar... [...]
J. B. de Aquino; João do Vale; Zélia Barbosa.
Warner Chappell Edições Musicais Ltda.
9º ano 197
pessoas que apoiavam a deposição de Jango. As forças armadas constituíam outra
significativa oposição. Em 31 de março de 1964, as forças armadas e um grupo
de civis conservadores deflagraram o golpe de Estado que depôs João Goulart
do cargo e iniciou uma ditadura militar no Brasil. No dia 1o de abril, os militares
triunfaram e tomaram o poder, obrigando o presidente a viajar para o Uruguai
para receber asilo político.
198 História
Em 1967, foi criada a Lei de Imprensa, que proibia a publicação de notícias
que se opusessem ao presidente, incitassem a guerra ou a subversão da ordem pú-
blica. Durante a Ditadura Militar, jornais, revistas, rádios e a televisão foram con-
trolados pelo Estado, sofrendo ação direta da censura. Com essa medida, o go-
verno visava anular a voz da oposição nos meios de comunicação. No entanto, os
que não concordavam com a ditadura criavam jornais ou panfletos distribuídos
de mão em mão clandestinamente. Esse tipo de material ficou conhecido como
“imprensa alternativa”. A mesma coisa ocorria com peças teatrais, filmes, obras de
arte ou qualquer manifestação pública de opinião.
Apesar da repressão, os movimentos sociais e a oposição continuavam ati-
vos contra o governo militar. Muitas organizações protestavam contra a ditadura,
como é o caso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Apesar de ter sido posta
na ilegalidade em 1964, estudantes organizaram passeatas. A mais importante foi a
Passeata dos Cem Mil, em junho de 1968, no Rio de Janeiro, que reuniu estudantes,
artistas e lideranças políticas favoráveis à volta da democracia. Os operários tam-
bém se manifestaram contra as políticas governamentais, organizando duas gran-
des greves nesse mesmo ano, uma em Contagem (MG) e outra em Osasco (SP).
Alguns grupos viam a luta armada como a única alternativa para enfrentar a
Ditadura Militar. Eles se inspiravam na Revolução Cubana, considerando que as
armas eram um meio possível de estabelecer o socialismo como forma de gover-
no no Brasil. Entre esses grupos, estavam a Aliança Libertadora Nacional (ALN)
e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). A ALN era liderada por
Carlos Marighella, ex-líder do Partido Comunista Brasileiro que rompeu com o
partido, o qual era contrário à guerrilha.
Para intensificar a repressão aos seus opositores, o governo militar GLOSSÁRIO
Habeas corpus: em latim, essa
decretou o AI-5, em 13 de dezembro de 1968. O ato dava plenos pode- expressão significa “que tenhas
o corpo”. No mundo jurídico, diz
res ao Executivo, permitindo que o presidente suspendesse as garantias respeito ao direito da pessoa de
constitucionais da população quando julgasse necessário. Ele suspendia solicitar sua liberdade quando julga
que ele está sendo desrespeitado.
também o direito ao habeas corpus para os crimes políticos, facilitando Depende, porém, de o juiz aceitar
ou não esse pedido.
as prisões arbitrárias e dificultando a defesa dos cidadãos.
Na prática, o AI-5 intensificou as prisões, as torturas e os assassinatos por parte
do governo. Os líderes da luta armada, por exemplo, foram mortos. Mas não foram
apenas os guerrilheiros que sofreram com a repressão. Qualquer pessoa que fosse con-
siderada uma ameaça à segurança nacional ou “subversiva” poderia ser presa. Após
as prisões, muitos permaneciam dias incomunicáveis, sendo torturados sem direito à
defesa. Um dos casos que mais causaram comoção foi o do diretor de jornalismo da
TV Cultura, Vladimir Herzog, que, ao comparecer para interrogatório, em 1975, foi
morto no DOI-Codi (órgão do governo que cuidava dos casos de ameaça à ordem). A
versão oficial do Exército foi a de que Herzog teria se enforcado na prisão, porém ela
foi facilmente contestada pela oposição ao regime autoritário e, em 2012, seu atestado
de óbito foi modificado com as causas reais de sua morte. Era comum o uso de tor-
tura durante os interrogatórios, o que resultava na morte de muitos presos.
9º ano 199
Ziraldo
Em outubro de 1969,
o general Emílio Gar-
rastazu Médici assumiu
a presidência. Durante a
sua gestão, a repressão e
a censura estiveram ain-
da mais fortes do que no
governo Costa e Silva.
As prisões, a tortura e os
assassinatos enfraquece-
ram os movimentos so-
ciais e a oposição. Médici
usou a propaganda como
meio de mascarar os ex-
cessos da ditadura. Du-
rante a Copa do Mundo
de Futebol de 1970, fo-
ram criados anúncios
como “Pra frente, Brasil”
e “Brasil, ame-o ou dei-
xe-o”, buscando explorar
o nacionalismo como
forma de divulgar a ima-
gem do governo.
Em 1974, Médici foi
sucedido pelo general Er-
nesto Geisel, considerado
um militar mais “mo-
derado”. No seu manda-
to, começou a aparecer
a ideia de um retorno à Fonte: ZIRALDO. A última do brasileiro: quatro anos de história nas páginas do Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: Codecri, 1976.
democracia, porém, por Nessa charge de Ziraldo, o cartunista expressa sua preocupação com o futuro do Brasil após o AI-5.
meio de um processo de
abertura “lento, gradual e seguro”. Entre os fatores que explicam essa abertura polí-
tica, estava a pressão social pelo fim do regime ditatorial.
A partir de 1974, o governo acumulou derrotas nas eleições para senador e
deputado, nas quais o MDB começou a superar os candidatos governistas, que
eram da Arena. Aos poucos, a oposição se organizou em torno do MDB, da UNE,
do movimento operário, de um setor da Igreja católica, entre outros grupos. O
resultado dessas pressões foi o fim do AI-5, em 1978. Com isso, o Estado não
poderia mais prender pessoas e cassar mandatos sem motivo. A pena de morte e
a prisão perpétua também foram abolidas nesse período.
200 História
Começou a ser cada vez mais frequente a mobilização da população nas ruas,
especialmente durante o governo do general João Oliveira Batista Figueiredo. Em
1978, começaram a surgir grandes greves na região do ABC paulista (na Grande
São Paulo), das quais Luiz Inácio Lula da Silva era um dos líderes. Também em
1978, cresceram os comícios a favor da anistia para os presos políticos e das pes-
soas que foram obrigadas a ficar fora do país. A Lei de Anistia foi aprovada em
agosto de 1979: os presos políticos foram libertados e os exilados puderam voltar
ao país, embora alguns permanecessem sem direitos políticos.
Ainda no final de 1979, visando enfraquecer o MDB, o governo acabou com o
bipartidarismo e vários partidos políticos puderam ser criados. Nessa época, surgiu
o Partido Democrático Social (PDS), constituído pela antiga Arena. O MDB trans-
formou-se no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Surgiram
ainda no cenário político o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido Popular
(PP), o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT).
No ano de 1982, os brasileiros puderam eleger os governadores de forma di-
reta. As eleições para presidente, marcadas para 1985, seriam ainda indiretas. Os
grupos que queriam a volta das eleições diretas também para presidente come-
çaram a se organizar em um movimento que ficou conhecido como Diretas já!.
Seus líderes organizaram grandes comícios pelo Brasil, exigindo o direito de votar
para a presidência. O maior deles ocorreu no vale do Anhangabaú, em São Paulo,
em abril de 1984, com a presença de mais de 1 milhão de pessoas. Vários artistas,
políticos e personalidades aderiram à campanha das Diretas já!.
No entanto, essa campanha conseguiu apenas que as eleições diretas fossem mar-
cadas para 1989. As eleições de 1985 ainda ocorreram de maneira indireta. Mas o
candidato vencedor foi
Reinaldo Martins/ Estadão Conteúdo
9º ano 201
LER TEXTO ACADÊMICO
Primeiro de Maio
O dia 1o de maio foi escolhido como Dia do Trabalho como forma de assinalar
e de lembrar as muitas e difíceis lutas que marcaram a história do movimento dos
trabalhadores no mundo. A data é uma homenagem aos trabalhadores da cidade de
Chicago que, nesse dia, em 1886, enfrentaram forte repressão policial por reivindicarem
melhores condições de trabalho e, especialmente, uma jornada de oito horas. [...]
É possível observar que, já no início do século XX, os trabalhadores brasileiros
passaram a assinalar o Primeiro de Maio com manifestações que ganhavam as ruas e
faziam demandas. [...]
De forma inteiramente diversa, outro período marcou a história do Primeiro de
Maio no Brasil. Foi o do Estado Novo, mais especificamente a partir do ano de 1939,
quando o Dia do Trabalho passou a ser comemorado no estádio de futebol do Vasco da
Gama, em São Januário, com a presença de autoridades governamentais, com destaque
para o presidente Getúlio Vargas. Nesse momento, o presidente fazia um discurso e
sempre anunciava uma nova medida de seu governo que visava beneficiá-los. O salário
mínimo, a Justiça do Trabalho e a Consolidação das Leis do Trabalho (a CLT) são três bons
exemplos do porte das iniciativas que então eram ritualmente comunicadas ao público [...].
Dando um salto muito grande, outro período em que o Primeiro de Maio
ganhou relevo para a história do movimento sindical e para o país foi o dos últimos
anos da década de 1970. O Brasil vivia, mais uma vez, sob um regime autoritário, mas
o movimento sindical começava a recuperar sua capacidade de ação e de reivindicação.
Grandes comícios então se realizaram, sobretudo em São Paulo, onde se protestava
contra o “arrocho salarial” imposto aos trabalhadores, e se denunciava o regime militar.
Essa era grande bandeira e projeto do movimento sindical: combater a ditadura militar
e lutar por melhores salários e liberdade de negociação.
E o Primeiro de Maio hoje? Certamente, ao longo de mais de cem anos, é bom
reconhecer que tantas lutas não foram em vão. Os trabalhadores de todo o mundo
conquistaram uma série de direitos e, em alguns países, tais direitos ganharam códigos
de trabalho e também estão sancionados por constituições. Mas os direitos do trabalho,
como quaisquer outros direitos, podem avançar ou recuar com o passar do tempo e com as
pressões de grupos sociais organizados. Assim, nas décadas de 1980 e 1990, os trabalhadores
brasileiros viveram um período em que se discutiu a “flexibilização” desses direitos. [...]
O Primeiro de Maio [...] é uma boa oportunidade para reflexões sobre o rumo
que se deseja dar aos direitos do trabalho, direitos esses que fazem parte de um pacto
social e cuja defesa esteve sempre nas mãos de organizações de trabalhadores. [...]
GOMES, Angela de Castro. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/PrimeiroMaio>. Acesso em: 7 ago. 2012.
1. De que forma a autora descreve o Primeiro de Maio durante o governo de Getúlio Vargas?
2. E em relação aos anos 1970, por que ela afirma que se trata de um período em que o Primeiro de
Maio ganhou destaque para o movimento sindical?
3. Para a autora, qual seria a utilidade dessa data? Explique.
4. Qual é sua opinião sobre o Primeiro de Maio? Você acredita que essa data deve ser festejada ou
servir para manifestações? Justifique.
202 História
PRINCIPAIS CONQUISTAS DO MOVIMENTO NEGRO
No contexto de abertura política que pedia a
9º ano 203
Essa data já é feriado em pelo menos 225 municípios brasileiros, entre os quais
São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto, União dos Palmares (em Alagoas), Cuiabá,
Pelotas, Porto Alegre e Macapá.
Outra importante conquista, fruto da luta dos descendentes de africanos no Bra-
sil, é a Lei Federal no 10 639, de 2003, que torna obrigatório o ensino sobre História e
Cultura Afro-Brasileira no ensino fundamental e médio. A ideia da lei é resgatar “[...]
a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à His-
tória do Brasil”. Com essa conquista, o movimento pretende que os negros sejam mais
valorizados por toda a sociedade, mas que também os próprios afrodescendentes se
reconheçam representados na história brasileira e elevem sua autoestima, percebendo a
importância da luta de seus ancestrais para as conquistas da atual democracia.
APLICAR CONHECIMENTOS
1. Por que o movimento negro optou pela data de 20 de novembro para comemorar o Dia Nacional
da Consciência Negra?
2. Por que o dia 13 de maio é lembrado como o Dia Nacional da Luta contra o Racismo? Explique.
3. De que maneira você acha que estudar as contribuições dos negros na História do Brasil pode
colaborar para diminuir o preconceito? Justifique a sua resposta.
Site CPDOC-FGV
No item “Navegando na História”, há textos didáticos sobre diversos períodos da história repu-
blicana brasileira.
Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/>. Acesso em: 7 ago. 2012.
204 História
Capítulo 3
HISTÓRIA Visões do Brasil contemporâneo:
um olhar sobre a periferia
Q uando nos referimos a uma região usando o termo “periferia”, não estamos fa-
lando apenas do local em que ela se localiza na cidade. A periferia pode estar
nas divisas dos municípios ou no centro. Ela pode abrigar barracos e cortiços, ou ca-
sas em bairros com pouca estrutura. Isso ocorre porque, além do território, outros
fatores importantes ajudam a definir o que é periferia: as redes de convívio entre as
pessoas, as práticas culturais, a maneira como atuam as políticas públicas etc.
As periferias do Brasil – e do mundo – são bastante diferentes entre si. Em
cada comunidade, as pessoas têm necessidades, gostos e hábitos distintos. Cada
vez mais, porém, alguns grupos e cidadãos nascidos nesses espaços começam a
perceber que, apesar das diferenças, todas as periferias se formaram dentro do
mesmo processo histórico de exclusão e expansão da pobreza e miséria. Assim,
podemos dizer que há o reconhecimento de uma identidade periférica.
9º ano 205
RODA DE CONVERSA
Reúna-se em um grupo de cerca de seis pessoas. Cada uma delas deverá escrever uma lista de
cinco palavras que melhor definem o conceito de periferia. Discutam com os colegas as palavras que
apareceram, elaborando uma nova lista com as cinco palavras consideradas pelo grupo as mais sig-
nificativas. Utilizem-nas para escrever um pequeno texto coletivo sobre o que é periferia na opinião
de vocês. Em seguida, os grupos devem ler as definições para a classe e escutar as dos demais alunos.
206 História
LER MAPAS
N
0 2 090 4 180 km
O L
N
0 2 090 4 180 km
O L
Fonte dos mapas: Questions internationales, n. 52. La Documentation française, Paris, nov./dez. 2011.
9º ano 207
1. Comparando os mapas de 1950 e de 2010, o que é possível afirmar sobre o crescimento da popu-
lação urbana no mundo?
2. No mapa de 2010, quais são os continentes ou regiões cuja concentração de população residente
em áreas urbanas mais cresceu?
3. Em que continente é possível encontrar mais países cuja população permaneceu predominante-
mente no campo, com base no mapa de 2010?
URBANIZAÇÃO OU “FAVELIZAÇÃO”?
Nas quatro últimas décadas do século XX,
o processo de urbanização nos países que apre-
sentam um alto índice de pobreza e miséria foi
ainda maior do que nas outras nações. No en-
tanto, ao contrário do que ocorria até os anos
1960, quando a população do campo migrava
para as cidades para trabalhar nas fábricas ou
na construção civil, a partir dos anos 1970 a
oferta de empregos nos centros urbanos co-
meçou a diminuir consideravelmente. Assim,
muitos desses novos habitantes não encontra-
ram oportunidades de trabalho, sendo obriga- Menino anda de bicicleta na periferia de Délhi, Índia, 2009. As
favelas multiplicam-se por todo o mundo, especialmente nos países
dos a ganhar a vida no mercado informal. subdesenvolvidos. Délhi, por exemplo, recebe cerca de 500 mil migrantes
todos os anos. Deles, 400 mil vão morar em favelas ou na periferia.
A maior parte dos governos dos países
208 História
subdesenvolvidos, por sua vez, não realizou todos os investimentos necessários
em infraestrutura e serviços voltados para o bem-estar da população, como habi-
tação, saúde, educação, transporte coletivo etc. A sua prioridade foi abrir oportu-
nidades para as grandes empresas e os bancos multinacionais, seguindo a lógica
do neoliberalismo. Como resultado, a urbanização dos últimos anos trouxe com
ela o aumento da pobreza urbana.
Assim, além da urbanização, muitos dos países subdesenvolvidos passam por
um processo de “favelização”. Mesmo nos países mais ricos, a pobreza nas gran-
des cidades cresce a cada dia. Segundo o historiador estadunidense Mike Davis,
se a sociedade continuar nesse caminho, logo viveremos em um “planeta favela”,
ou seja, o número de habitantes da periferia será maior que o de outros espaços.
Como exemplo, ele cita o que ocorre hoje na região amazônica:
Na Amazônia, uma das fronteiras urbanas que crescem com mais velocidade
em todo o mundo, 80% do crescimento das cidades tem-se dado nas favelas,
privadas, em sua maior parte, de serviços públicos e transporte municipal, tornando-
-se assim sinônimos de “urbanização” e “favelização”.
DAVIS, Mike. Planeta favela. São Paulo: Boitempo, 2006. p. 26.
9º ano 209
BRASIL: DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO × “FAVELIZAÇÃO”
Diante desse cenário, o Brasil vive atualmente uma situação particular. Sua
economia cresceu muito mais do que a dos países desenvolvidos na última década,
estando entre as maiores do mundo. Pesquisas da Fundação Getúlio Vargas (FGV)
indicam que mais de 18 milhões de brasileiros saíram da condição de miséria ex-
trema nos últimos dez anos. Porém, em 2010 cerca de 16,2 milhões ainda estavam
nessa situação, mostrando que a pobreza continua sendo um problema grave.
Dessa forma, pode-se dizer que, apesar do crescimento econômico impressio-
nante, o Brasil ainda é um dos países com maior desigualdade de renda do mun-
do. Se esse crescimento econômico possibilitou que muitos brasileiros saíssem da
condição de miséria extrema, entre os ricos também houve uma ampliação do
poder aquisitivo, que é comprovada pelo aumento do mercado de produtos de
luxo nas grandes metrópoles.
Nesse ambiente, enquanto alguns bairros ganham edifícios de alto padrão, a
periferia segue avançando, principalmente nas áreas mais distantes do centro. Em
1991, por exemplo, 3,1% da população brasileira vivia em favelas ou ocupações
irregulares. Em 2010, esse número já estava em 6%, comprovando que a urba-
nização no Brasil foi acompanhada por um processo de favelização das cidades,
apesar do grande desenvolvimento econômico do país.
210 História
[...] os resultados escolares apontaram que as crianças CONHECER MAIS
moradoras em cortiços possuíam quatro vezes mais chances de
serem reprovadas quando comparadas com outros alunos da mesma O neoliberalismo
e a intensificação da
série. A falta de espaço para dormir adequadamente, a insalubridade
desigualdade social
das moradias sem janelas, a rotatividade habitacional e a porta
Até os anos 1970, havia uma ten-
de entrada sempre aberta atingem diretamente o desempenho dência por parte de vários Estados
escolar das crianças. Ficou evidente que as condições precárias da de controlar a economia e as gran-
moradia eram fatores de limitação para os estudos e geradoras de des empresas, repassando parte do
discriminação e segregação social e, consequentemente, de evasão dinheiro arrecadado com elas para a
escolar. [...] população mais pobre. Esse repasse
ocorria por meio dos altos investi-
Por outro lado, os moradores de cortiços tornaram-
mentos em serviços públicos, como
se importantes atores sociais quando formaram movimentos habitação, saúde, educação, seguro
para reivindicar o direito à moradia digna no centro da cidade social, entre outros.
e, principalmente, quando utilizaram a estratégia de ocupar Após esse período, intensificou-
edifícios vazios. Isso porque denunciam a falta de política de se o processo de globalização, no
habitação de interesse social para as áreas centrais da cidade e qual as multinacionais começaram
a ter facilidade de instalar suas sedes
expõem as contradições do setor imobiliário, que deixa os imóveis
nos países que cobrassem os meno-
abandonados sem função social aguardando valorização. res impostos e onde os trabalhadores
Apesar da luta e mobilização empreendidas nos últimos 20 recebessem salários mais baixos. As-
anos, pode-se afirmar que as inúmeras expressões da precariedade sim, os Estados tornaram-se reféns
das moradias, o comprometimento de grande parcela da renda e das grandes corporações, optando
a segregação social que sofrem seus moradores são fatores que por reduzir os benefícios da popula-
ção para garantir investimentos na
fazem com que os cortiços sejam um fator para reprodução da
economia de seu país. Esse modelo
pobreza e ampliação da desigualdade social. econômico, conhecido como neoli-
KOHARA, Luiz. Carta maior, 5 set. 2012. beralismo, colaborou para que a ren-
Disponível em: <www.cartamaior.com.br/templates/ da se concentrasse ainda mais nas
materiaMostrar.cfm?materia_id=20832>. Acesso em: 18 out. 2012.
mãos de alguns grupos, aumentando
1. Identifique no texto quais são os problemas existentes nos corti- a desigualdade social. Na América
Latina, favoreceu o enriquecimento
ços desde o início do século XX até os dias de hoje.
de alguns setores e o empobrecimen-
2. Por que o autor afirma que, ao contrário das favelas, os cortiços to de muitos cidadãos.
Na história brasileira, o modelo
estão invisíveis na paisagem urbana? Explique.
neoliberal intensificou-se durante
3. De que maneira os moradores dos cortiços se tornam impor- o mandato de Fernando Collor de
tantes atores sociais? De que forma eles atuam para reivindicar Mello (1990-1992), quando a eco-
nomia se abriu para a entrada de in-
o direito à moradia? vestimentos estrangeiros. Durante o
4. Pesquise em meios de comunicação – jornais, revistas e na inter- governo de Fernando Henrique Car-
doso (1994-2002), foram realizadas
net – alguns movimentos sociais que reivindicam melhores con- privatizações, ou seja, vendas de em-
dições de moradia nas cidades. Anote em seu caderno: presas públicas para grupos privados
(a maior parte, multinacionais). No
a) o nome desses movimentos; governo de Luiz Inácio Lula da Silva
b) o que eles reivindicam; (2003-2010), a política econômica
manteve traços neoliberais dos perí-
c) que estratégias utilizam. odos anteriores. Porém, houve a ten-
tativa de realizar investimentos em
Por fim, debata com seus colegas de que forma esses movi- programas de distribuição de renda,
mentos podem ou não colaborar para melhorar as condições como o Bolsa Família e o Prouni. A
maior parte dessas políticas segui-
habitacionais nos grandes centros urbanos. ram ativas após Dilma Rousseff as-
sumir a presidência, em 2011.
9º ano 211
LER CANÇÃO
1. De acordo com a letra da canção, o que a família da autora fez ao chegar nas comunidades citadas?
2. Qual foi o papel de Paulinho, segundo a canção, nesse processo?
3. Por que a letra diz que “acreditamos e entramos com tudo, mente, bolso, pés e mãos”? Explique.
4. O que você acha da atitude da família da compositora, levando em consideração o contexto em
que eles se encontravam? Justifique a sua resposta.
212 História
Essa ausência do poder público nas periferias favoreceu o surgimento de
organizações não governamentais (ONGs), que hoje em dia atuam em comu-
nidades de todo o Brasil. As ONGs podem se valer de recursos públicos, de
instituições internacionais ou privadas para realizar seus projetos. No entanto,
uma das críticas que se faz ao seu modo de funcionamento, quando utilizam
recursos de origem governamental, é que esse dinheiro poderia servir para criar
políticas públicas de grande alcance, já que geralmente essas associações fazem
projetos em locais determinados. Por outro lado, algumas delas conseguiram
trazer grandes benefícios a essas populações.
A ausência do Estado nas periferias contribuiu também para o crescimento
do crime organizado, principalmente o tráfico de drogas. Desde os anos 1990, a
criminalidade e a violência atingiram números alarmantes. O comércio ilegal de
drogas e armas gerou polos de riqueza dentro das periferias, atraindo especial-
mente jovens que veem no crime uma oportunidade para mudar a sua situação
social. Hoje em dia, organizações surgidas dentro das cadeias, como o Comando
Vermelho (CV), no Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), em
São Paulo, constituem “poderes paralelos” em muitas favelas do Brasil.
Os jovens da periferia que se envolvem com o crime organizado costumam ter
vida curta. São assassinados pelos próprios traficantes ou em ações da polícia. A
força policial, em muitas ocasiões, age movida pela ideia de que os jovens da pe-
riferia são, em sua maioria, criminosos em potencial, cometendo abusos e até as-
sassinatos injustificados. Movidos pelo preconceito e pela certeza da impunidade,
alguns policiais cometem crimes alegando o possível envolvimento das vítimas
em ações criminosas.
Rafael Andrade/Folhapress
9º ano 213
Apesar de diminuir o crime em algumas regiões, esse projeto sofreu crí-
ticas. A principal delas foi o fato de grande parte das comunidades “pacifica-
das” se localizarem na zona sul carioca ou próximas de bairros de classe alta.
Nesse sentido, seus críticos denunciam que as UPPs teriam como objetivo
diminuir a criminalidade próxima a essa classe social, e não beneficiar os ha-
bitantes das periferias.
214 História
1. De acordo com o primeiro texto, qual foi o principal fator para que o Brasil fosse o país menos
prejudicado pela crise econômica mundial?
2. O que Sérvio Vaz quer dizer, no segundo texto, com a frase “Os jovens da periferia não estão mais
se inspirando só nos artistas – estão se inspirando nas universidades”?
3. Você reconhece, no seu cotidiano, um maior poder de consumo na chamada classe C? Justifique.
4. Você considera que a chamada classe C tem mais acesso à educação do que alguns anos atrás?
Justifique sua opinião.
Para o escritor Sérgio Vaz, organizador de um sarau poético sema- Sarau: reunião onde ocorrem
apresentações culturais de
nal no bairro da Piraporinha, periferia de São Paulo, os artistas desses literatura, poesia, música,
movimentos colaboram para fortalecer a cidadania na periferia. teatro, dança, entre outras.
9º ano 215
Outro fenômeno cultural que nasceu na periferia foi o funk carioca, um
gênero de música eletrônica geralmente comandado por um DJ. Assim como
o rap, esse estilo foi influenciado pela cultura estadunidense, mas incorporou
elementos nacionais. Ao contrário de outros movimentos nascidos nas peri-
ferias, o funk carioca ganhou a grande mídia e passou a ser escutado também
pelos jovens de elite.
Vale destacar um movimento cultural que hoje é reconhecido como nacional,
mas que também nasceu nas periferias urbanas: o samba. Dentro desse ritmo,
existem diversos grupos e gêneros (como o pagode, o partido alto, entre muitos
outros). As escolas de samba também costumam ser locais de encontro e de atua-
ção política em várias comunidades periféricas, principalmente nos morros do
Rio de Janeiro, onde elas têm muita tradição. O samba está presente em todas as
periferias do país.
Há muitos outros movimentos culturais que ganham espaço nas periferias
brasileiras, como o tecnobrega, predominante em Belém; o forró, dominante no
Norte, Nordeste e nas comunidades de migrantes dessas regiões pelo Brasil; o
lambadão, que cresce no Mato Grosso; entre outros. Com a expansão de igrejas
evangélicas nas comunidades, o gospel, que traz letras religiosas, também pas-
sou a fazer sucesso entre os fiéis. O mesmo aconteceu com algumas vertentes
católicas, conhecidas como “carismáticas”, que compõem canções para animar as
missas e, dessa forma, atrair mais seguidores. Geralmente, todos esses estilos se
difundem por meio de CDs de produção caseira, vendidos por ambulantes nas
ruas das cidades. Dessa maneira, as bandas independem das rádios e das grava-
doras para conquistar um público amplo.
Wado Lao
Samba da Vela, com participação especial de Osvaldinho da Cuíca, São Paulo (SP), 2009.
216 História
LER IMAGENS
Frederic Soltan/Corbis/Latinstock
9º ano 217
1. Qual dessas duas imagens melhor representa a periferia? Por quê? Discutam em grupo essa questão.
2. Elaborem uma tabela com duas colunas. Em uma delas, escrevam os argumentos usados pelos
membros do grupo para defenderem a imagem de Tarsila do Amaral. Na outra, façam uma lista
com os argumentos que apareceram durante a discussão para defender a imagem de Osgemeos
como a mais representativa.
3. Com base na tabela, escrevam um pequeno texto coletivo dizendo que características um traba-
lho artístico deveria ter, na opinião do grupo, para representar a periferia.
4. Cada grupo deve ler seu texto para a classe. Debatam com os demais colegas as diferentes opi-
niões que aparecerem.
LER DOCUMENTO
Em 2007, São Paulo foi palco da Semana de Arte Moderna da Periferia, evento que reuniu
apresentações de artes plásticas, dança, literatura, cinema, teatro e música. Esse momento foi
importante para os artistas da periferia, pois representou a força que eles começaram a ter após o
surgimento de inúmeras iniciativas espalhadas pela cidade. Leia o documento a seguir, de autoria
de Sérgio Vaz, organizador do evento, e responda às questões seguintes.
1. Por que o autor diz que “a Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor”? Explique.
218 História
2. O que o autor defende com a frase “a arte que liberta não pode vir da mão que escraviza”? Justifique.
3. Como será o novo tipo de artista que precisa surgir, de acordo com o autor?
DA CAPOEIRA AO HIP-HOP
No sistema escravista, os africanos trazidos para o Brasil perdiam o domínio
sobre o próprio corpo, visto pelos senhores como instrumento de trabalho. Além
disso, nas sociedades africanas, o corpo era um forte símbolo de identidade do
povo ao qual o indivíduo pertencia, sendo caracterizado por penteados, marcas
na pele, perfurações, entre outros elementos. Ao serem transformados em escra-
vos, esses homens e mulheres tinham suas diferenciações retiradas, junto a sua
cultura, seu passado e seus laços comunitários.
Nesse sentido, na luta contra a escravidão e a exploração, os africanos e seus
descendentes desenvolveram novas linguagens corporais que resgatassem as suas
raízes, além de criarem formas de resistência física contra o opressor. De acordo
com Kabenguele Munanga e Nilma Lino Gomes:
9º ano 219
importante nos quilombos. Com o passar do tempo, transformou-se em caracte-
rística comum nas comunidades afro-brasileiras, sendo praticada escondida do
governo até 1932, quando sua prática foi finalmente legalizada.
Além da capoeira, cada vez mais presente em toda a sociedade brasileira como
prática esportiva e recreativa, outras práticas corporais surgiram recentemente en-
tre os jovens negros e pobres brasileiros. Desde a década de 1970, quando os bailes
de black music estadunidenses passaram a estar presentes nas periferias das cidades
brasileiras, estilos musicais como o funk e o hip-hop ganham adeptos por todo o país.
Como vimos ao longo deste capítulo, esses estilos musicais criaram uma cultura
periférica, já que são produzidos e consumidos por pessoas que habitam esses locais
dos centros urbanos. Apesar de não serem admirados apenas por afrodescendentes,
mas por jovens de todas as origens, pode-se dizer que o funk e o hip-hop expressam
a presença da juventude negra em sua criação. Podemos identificar essa caracterís-
tica principalmente nas letras politizadas do rap (que integra a cultura hip-hop), que
abordam as dificuldades e a luta dos negros que vivem nas periferias urbanas.
Rogério Reis/Pulsar
DEBATER
1. Considerando que uma das estratégias de repressão no sistema escravista era retirar traços de
identidade do corpo dos africanos, qual era a importância de manifestações culturais como a
capoeira? Explique.
220 História
2. Faça uma pesquisa na internet ou em CDs musicais que você conheça de grupos de funk e de hip-
-hop. Encontre uma letra de música que trate da questão do negro na sociedade. Apresente a letra
para a classe chamando atenção para as seguintes questões:
a) Como o negro é retratado na letra?
b) A letra faz referência ao passado de escravidão? De que maneira?
c) Quais são as dificuldades enfrentadas pelo negro na sociedade de hoje que o grupo ou o can-
tor quis ressaltar?
Suburbano convicto
BUZO, Alessandro. Suburbano convicto. Disponível em: <www.buzo10.blogspot.com.br>. Acesso em: 26 set. 2012.
9º ano 221
Bibliografia
HISTÓRIA
222 História
UNIDADE 5
Geografia
Capítulo 1
GEOGRAFIA Globalização, territórios e redes
geográficas
R. Black
em torno da aparente contradi-
ção entre a produção de etanol e
a de alimentos.
Entretanto, o que ocorreu
nos anos seguintes foi uma tur-
bulência financeira sem prece-
dentes nas últimas décadas, um
verdadeiro “terremoto”. Ela se
originou no mercado de crédito
imobiliário dos Estados Unidos
(bancos, seguradoras, empresas
de hipotecas etc.). Depois, tanto
nos Estados Unidos como em
outros países, como alguns da
Europa, bancos faliram, empre-
sas fecharam as portas e começa-
ram a faltar créditos para indiví-
duos, indústrias e outros setores.
Pequenos investidores perderam
dinheiro em bolsas de valores.
Empresas com imagem de soli-
dez, como as montadoras de au-
tomóveis, tiveram de pedir ajuda
econômica ao governo norte-
americano e notícias de desem-
prego passaram a tomar conta
dos jornais. No caso de empresas
norte-americanas e japonesas, Cartaz do movimento Occupy Wall Street, criado nos Estados Unidos, convocando para marchas,
manifestações de protesto e ocupação de praças e outros espaços em novembro de 2011. O
uma constante: demissões em movimento se posiciona contra as políticas econômicas e as instituições financeiras, que para os
suas unidades no mundo todo. seus ativistas seriam os grandes responsáveis pela crise financeira global e naquele país.
9º ano 225
Nos anos de 2011 e 2012, alguns países que integram a União Europeia começa-
ram a despertar dúvidas no mercado internacional quanto à possibilidade de saldar
ou refinanciar suas dívidas, o que gerou novas instabilidades no cenário econômico
mundial. Entre eles, estava principalmente a Grécia, mas também Itália, Espanha,
Irlanda e Portugal. No caso dos gregos, foi necessário aprovar um “pacote” de ajuda,
com recursos e empréstimos de um fundo europeu e também do Fundo Monetário
Internacional (FMI). Os cortes de gastos públicos e os aumentos de impostos, entre
outras medidas, provocaram fortes protestos de cidadãos gregos.
Para muitos estudiosos, essa foi uma crise sistêmica, que atingiu setores de
atividade econômica como um todo. Muitas análises do problema foram feitas e
medidas para resolvê-lo foram tomadas desde então. Algumas análises aponta-
vam para uma crise da globalização ou atribuíam a responsabilidade pela crise à
globalização capitalista – em especial do mercado financeiro, que atua no planeta
inteiro em tempo integral e desconhece fronteiras.
Mas, afinal, o que é globalização? Como se configura essa nova fase do capitalis-
mo? Em que medida ela se associa à crise que se iniciou em 2008? É o que veremos
a seguir, sem a pretensão de apresentar respostas definitivas a essas perguntas.
O ADVENTO DA GLOBALIZAÇÃO
GLOSSÁRIO
O período ou fase do capitalismo mundial conhecido
Economia centralmente planificada:
como globalização surgiu, segundo vários pesquisadores, a o termo refere-se às economias dos países
partir da década de 1980, numa convergência de fatores de do chamado socialismo real. Distingue-se
das economias capitalistas de mercado
diferentes ordens. Entre eles, estão: pelo planejamento centralizado e pela
propriedade estatal dos meios de produção:
• Desmoronamento dos regimes de economia cen- instrumentos de trabalho como máquinas,
tralmente planificada: isso ocorreu na União Sovié- ferramentas, instalações, insumos agrícolas
etc., e objetos de trabalho, elementos sobre
tica e nos países que giravam em sua órbita, no final os quais ocorre o trabalho humano, como
terra, matérias-primas e recursos naturais),
da década de 1980 e início da década seguinte. Tal pertencem ao Estado.
fato permitiu a ampliação dos mercados e das em- Muro de Berlim: no final da Segunda
presas, já que esses países eram uma barreira aos Guerra Mundial (1939-1945), Berlim, capital
da Alemanha, foi dividida em quatro áreas,
interesses capitalistas. A queda do Muro de Berlim, que passaram a ser administradas pelos
vencedores do conflito (União Soviética,
em 1989, que dividia a cidade alemã em duas par- Estados Unidos, França e Inglaterra). Em
tes, foi um símbolo desse processo. 1961, com o acirramento das disputas entre
soviéticos e norte-americanos, a Alemanha
• Desenvolvimento dos meios de transporte, co- Oriental, sob influência soviética, construiu
um muro dividindo Berlim. Assim, impediu-
municações e informações: permitiu transpor -se o trânsito de pessoas entre os lados
mais rapidamente distâncias (pelo menos as que capitalista e socialista. Em 1989, com a
crise do socialismo na região, o muro foi
são medidas em quilômetros), superar isolamen- derrubado. Foi um ato simbólico para o fim
tos geográficos e estabelecer possibilidades de do regime socialista no lado oriental e um
passo para a reunificação alemã.
novas interações sociais. Com isso, foi possível
intensificar a produção e a circulação de bens, pessoas e informações
nas últimas décadas. Começa a se erguer uma nova escala geográfica
de relações humanas, a escala global.
226 Geografia
• Criação e expansão da rede mundial de computadores: com os
avanços recentes da informática e da microeletrônica, surgiu a rede
mundial de computadores, que tornou possível a comunicação si-
multânea e instantânea, em tempo real, entre diferentes grupos, in-
divíduos e lugares de diversas partes do mundo (embora ainda tenha
distribuição e acesso bastante desiguais). Isso favoreceu a agilização
das operações financeiras e as trocas de informações e ordens entre
unidades de empresas do setor produtivo. Surgem grandes empresas
do ramo das tecnologias de informática, especializadas em produzir
novos aparelhos e programas.
• Reestruturação do sistema produtivo e da produção de bens: os
sistemas produtivos passaram a ser mais descentralizados, flexí-
veis e adaptáveis. Cada vez mais, as grandes empresas – em espe-
cial as chamadas transnacionais – procuram criar fábricas meno-
res, mais enxutas e movidas à base de uso intensivo de tecnologias.
Ficou mais fácil para as empresas industriais fecharem unidades e
transferi-las de um país a outro, de acordo com seus interesses. No
caso do sistema financeiro, temos o “dinheiro que nunca dorme”: as
aplicações financeiras são feitas em bolsas de valores e outras insti-
tuições mundiais 24 horas por dia.
Caro/Alamy/Otherimages
9º ano 227
LER MAPA
N
0 2 700 5 400 km
O L
Fonte: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/cartotheque>. Acesso em: 23 ago. 2012.
1. Qual é o tema retratado no mapa? Quais recursos da cartografia foram utilizados em sua elaboração?
2. Qual é o país de origem da empresa retratada? Qual é o principal produto feito por ela?
3. Em quais países e continentes ela possui unidades produtivas e/ou de pesquisa?
4. Responda também: qual região do planeta produz grande parte das peças que compõem seus
produtos? Em que regiões do planeta situam-se seus centros de pesquisa?
5. Cite os nomes das duas regiões que constituem os maiores mercados consumidores dos produtos
da empresa (segundo as vendas). Descubra também o nome da região que recebe o maior volume
de veículos exportados pelo país de origem da empresa retratada.
AS EMPRESAS TRANSNACIONAIS
O que o mapa revela? Ele mostra que as grandes empresas transnacionais pos-
suem uma estratégia espacial que envolve o planeta inteiro. No exemplo, uma em-
presa atua segundo uma divisão do trabalho em escala planetária na produção
e no fluxo das peças para a montagem dos produtos.
Por que essas empresas são chamadas de transnacionais? Aí está uma pista
para compreender a globalização. Antes, as empresas multinacionais, originárias
228 Geografia
de determinados países – Japão, Estados CONHECER MAIS
Unidos, Alemanha etc. –, instalavam suas
Empresas chinesas são as que têm maior
filiais em outros pontos do planeta. Os lu- interesse no país
cros obtidos pelas unidades eram remeti-
dos, em parte, para a matriz situada no país Previsão de alta demanda do mercado brasileiro, filiais
locais lucrativas e generosos subsídios oferecidos por muni-
de origem da empresa. Daí o prefixo multi, cípios e estados atraem as montadoras
que quer dizer “muitos”, no caso de “muitas
nações”. Maior mercado para a Fiat, segundo maior para a
Volkswagen e terceiro para a General Motors, o Brasil
No caso das transnacionais, o prefixo vem batendo recordes de vendas e este ano deve atingir
trans vem de “transcender, superar, ultra- 3,7 milhões de veículos. O Produto Interno Bruto (PIB),
passar”. Assim, são grandes conglomera- que cresceu 7,5% em 2010 e deve desacelerar para cerca
de 4%, ainda assim é atrativo para empresas de merca-
dos econômicos cuja ação ultrapassa as dos estagnados como Europa, Japão e Estados Unidos.
fronteiras nacionais. Aproveitando as atuais Além de modelos compactos mais baratos, o país
possibilidades técnicas de transportes, co- atrai fabricantes de carros de luxo, como a alemã BMW,
que deve anunciar uma fábrica nos próximos meses. A
municações e informações, sua base de japonesa Suzuki já escolheu Goiás para produzir o jeep
operações passa a ser o planeta como um Jimny, importado hoje por R$ 55 mil. A previsão é que o
mercado brasileiro consuma 6 milhões de veículos até
todo. Sendo assim, muitas vezes as peças e
2020.
os componentes de um produto são feitos Outro atrativo para as montadoras é que as subsidiá-
em dois países diferentes e o produto final rias locais costumam ser lucrativas, às vezes mais do
que as próprias matrizes. Também há generosa oferta de
é montado num terceiro país – que, por sua subsídios dos municípios e estados para receber as fá-
vez, exporta os bens produzidos para outros bricas, que, na visão dos governantes, geram empregos
mercados nacionais. e desenvolvimento tecnológico.
As empresas chinesas são as mais interessadas em
Há, assim, um nítido enfraquecimento fincar raízes no país. Além das que já anunciaram inves-
das fronteiras e uma redução do grau de timentos, estão na lista de interessadas Geely, BYD, Si-
comprometimento da empresa com as rea- notruk, Foton, Great Wall e Haima/Changan. Para alguns
analistas, o interesse tem a ver com a semelhança dos
lidades nacionais. A empresa retratada no mercados, com ênfase em carros mais baratos e legisla-
mapa, assim como muitas outras, possui ção menos rígida em questão de segurança.
bases estratégicas no país de origem. Mas Fonte: SILVA, Cleide. O Estado de S. Paulo, 28 set. 2011. Disponível em: <www.estadao.com.
também possui unidades importantes em br/noticias/impresso,empresas-chinesas-sao-as-que-tem-maior-interesse-no-pais,765100,0.
htm>. Acesso em: 24 ago. 2012.
outros países e continentes, como as fábri-
cas, as sedes dedicadas à pesquisa e uma
extensa rede de unidades produtivas e de comercialização dos bens. Assim, cria
um circuito próprio, que já não é mais nacional.
É o que acontece com os automóveis, mas também com televisores, compu-
tadores, motocicletas e outros bens. As fábricas que montam os automóveis hoje
são menores que as do passado: enquanto na década de 1970 algumas monta-
doras chegavam a empregar mais de 10 mil operários, atualmente as unidades
funcionam com cerca de mil a 2 mil funcionários – incluindo os do setor admi-
nistrativo. Sendo assim, estas unidades podem ser fechadas e transferidas rapida-
mente, desvinculando-se do país que as sedia.
É preciso dizer também que muitas empresas, como a que foi apresentada,
contam com o apoio de Estados nacionais para funcionar dessa maneira. Um
9º ano 229
modo de fazer isso é obtendo benefícios fiscais, seja no plano federal, estadual ou
municipal. No Brasil, por exemplo, é muito comum empresas receberem terrenos
e isenções de impostos, como o IPTU e as taxas de importação.
Isso provoca uma verdadeira “guerra entre lugares” (no caso do Brasil, entre
municípios e, até mesmo, entre estados da federação) para sediar novas empresas,
sempre com a promessa de que a iniciativa poderá gerar muitos empregos. Na ver-
dade, como vimos, muitas vezes não passam de algumas centenas de novos postos
de trabalho. Além disso, os recursos públicos gastos na instalação dessas empresas
poderiam ser destinados a áreas sociais como habitação, saúde ou educação.
PESQUISAR
N
0 2 700 5 400 km
O L
Fonte: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/cartotheque>. Acesso em: 23 ago. 2012.
230 Geografia
Planeta finança
Consequência das políticas de liberalização dos anos GLOSSÁRIO
1980 e também dos progressos tecnológicos na informática Liberalização: conjunto de ideias baseadas na
e nas telecomunicações, a finança é um dos campos mais economia de mercado e da livre empresa. Os
integrados no tempo (funciona 24 horas por dia e em tempo que defendem essa perspectiva são contrários à
participação do Estado nas relações econômicas
real sob a forma de redes do mercado financeiro) e no espaço e pregam a redução ou eliminação de regras que
(presença permanente de capitais). possam frear os empreendimentos econômicos.
A desregulamentação financeira favoreceu particular- Países emergentes: refere-se a países em
desenvolvimento que vêm alcançando nos
mente os intercâmbios de valores financeiros entre os países últimos anos expressivos índices de crescimento
ricos, que emitem e recebem a maioria dos fluxos de capitais. econômico. Querem ter mais voz e participação
nas decisões econômicas e políticas em escala
Permitiu também a redução dos custos de financiamento dos mundial. Entre eles, estão Brasil, China, Índia,
países emergentes, os quais, a exemplo da China, souberam Rússia e África do Sul.
beneficiar-se da situação para atrair investimentos estrangeiros Recessão: situação de declínio da atividade eco-
e desenvolver sua economia. nômica marcada pela combinação entre queda da
produção, aumento do desemprego, redução de
lucros, crescimento no número de empresas que
Crash das bolsas em 2008 vão à falência, por exemplo.
Depois de cinco anos de altas ininterruptas, os mer- Fontes: DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas
cados financeiros registraram em 2008 quedas espetaculares, da mundialização: compreender o espaço mundial
contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009; SANDRONI,
de −42% em Paris até −67% para o índice de Moscou. Reflexo Paulo. Dicionário de economia do século XXI. Rio
de Janeiro: Record, 2005.
do valor econômico das empresas (ou seja, a soma atualizada
de benefícios futuros previstos), a cotação das ações diminuiu
drasticamente diante do medo de uma recessão mundial em
2009, relacionada à disseminação dos créditos de risco em todo o planeta. O perfil
similar das curvas de evolução das bolsas de valores reflete a interdependência entre os
diferentes mercados financeiros mundiais.
Fonte: DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 64-65. (Texto adaptado.)
1. Qual é o tema retratado no mapa? Quais recursos da cartografia foram utilizados em sua elaboração?
2. Das instituições financeiras apresentadas no mapa, cite três que operam com grande volume de
capitais.
3. Das praças ou instituições financeiras apresentadas, cite três localizadas em países em desenvol-
vimento. Compare o volume de capitais dessas praças com o de outras situadas em países ricos.
4. De acordo com o texto, o que ocorreu após 2008 nos mercados financeiros de todo o mundo?
5. Examinando o mapa e o texto, responda: como as aplicações financeiras podem ser realizadas
24 horas por dia, todos os dias? Quais são os recursos tecnológicos que permitem às bolsas de
valores operarem o tempo todo? Explique e dê exemplos.
9º ano 231
outras. Os Estados também contam com agências que operam no setor e regulam
a atividade financeira em cada território nacional, como bancos centrais e conse-
lhos monetários nacionais.
Existem instituições e praças financeiras de diferentes portes e volumes de
investimento. Entre as maiores estão as bolsas de valores de Nova York (incluindo
a Nasdaq, que possui ações de empresas de alta tecnologia, as chamadas “ponto-
-com”), Tóquio e Londres. Como mostram o mapa e o texto, a turbulência finan-
ceira ocorrida a partir de 2008 provocou sucessivas perdas nessas instituições e
também no valor das ações de diversas empresas. Investidores perderam dinheiro
e várias empresas deixaram de ter acesso a créditos, o que interferiu diretamente
nas atividades produtivas e nas taxas de emprego.
Por outro lado, os negócios ligados ao setor financeiro vêm se consolidando
também em países emergentes, como Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul,
embora eles tenham sido um pouco afetados pela crise citada.
Vale lembrar que o sistema financeiro é altamente especulativo. Assim, de
acordo com seus interesses, os investidores vendem ações e outros papéis em uma
bolsa e quase que instantaneamente podem transferir recursos e realizar opera-
ções financeiras em outras partes do mundo.
Como já vimos, trata-se de um “dinheiro que nunca dorme”. É um sistema mui-
to integrado: ao raiar de um novo dia no Oriente, investidores que operam na Eu-
ropa, nos Estados Unidos ou no Brasil, por exemplo, já podem realizar operações
nas bolsas de Tóquio ou de Hong Kong, no leste asiático. Assim, forma-se uma rede
mundial em que os recursos financeiros nunca se territorializam – ou seja, não são
aplicados em atividades produtivas permanentes, que exigem recursos disponíveis
no território, como água, matérias-primas e estradas. Tais recursos circulam num
espaço eletrônico, com algumas bases terrestres CONHECER MAIS
de apoio, e têm como suportes os satélites, ca-
O tempo real e as operações financeiras
bos de fibra ótica e computadores, por exemplo.
É assim que um abalo num dado mercado No mundo atual, a noção de tempo real
ganha realidade, trazendo à vida social e po-
é capaz de afetar o sistema econômico como lítica, sobretudo aos negócios, novos pontos
um todo. Como se sabe, diante de turbulên- de apoio. O uso adequado e preciso do tem-
cias, os investidores buscam imediatamente po e do espaço multiplica a eficácia e o poder
das empresas capazes de utilizar essas novas
retirar seus capitais investidos em uma deter- possibilidades.
minada instituição e em certos tipos de aplica- Mas são as atividades financeiras que
melhor se beneficiam desse enquadramento
ção e transferi-los para outras operações mais
rigoroso do tempo. O dinheiro, em suas múl-
seguras, gerando uma espécie de “efeito domi- tiplas formas, pode agora fluir globalmente,
nó” em que diversos operadores e investidores 24 horas sobre 24 horas, ligado por uma vasta
rede interativa de comunicações funcionando
passam a fazer a mesma coisa. E isso passa a sem descanso. Pontos estrategicamente dis-
ocorrer num setor que é uma força conside- postos na superfície da Terra são interligados
rável nos destinos da economia global. Todo mediante computadores, televisões, satélites,
cabos submarinos, fibras óticas […].
dia são movimentados trilhões de dólares em
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção.
operações financeiras. São Paulo: Edusp, 1997. p. 160.
232 Geografia
Embora os efeitos de crises e fugas de capitais sejam nefastos para as economias e
as sociedades, nem todos os problemas decorrem da atuação dos agentes financeiros
globais. Por exemplo: as taxas de desemprego também podem aumentar em função
de políticas econômicas nacionais equivocadas ou por decisões de setores econômicos
ou empresas do setor produtivo. Como vimos, não é raro uma empresa transnacional
ou uma empresa nacional fechar uma fábrica num lugar para em seguida reabri-la em
outro – criando instabilidades para a localidade que antes a sediava.
9º ano 233
tos e lugares destinados a favorecer uma fluidez do espaço cada vez maior: oleo-
dutos, gasodutos, ferrovias, rodovias, portos, aeroportos, sistemas de transmissão
via satélite e muitos outros.
Não estamos falando das redes sociais que se organizam em sites de relacio-
namentos na internet, mas de redes geográficas. E o que são elas? Numa primeira
definição, as redes seriam toda a infraestrutura que permite o transporte de matéria,
energia ou informações. Tal como uma rede de pescador, elas se caracterizam por
pontos, linhas e nós. Embora sejam implantadas nos territórios, a ideia não é que
ocupem uma grande área, mas que ativem seus pontos e linhas – muitas delas atra-
vessam territórios mas não possuem maiores conexões com seu entorno.
No mundo atual, as redes técnicas podem ser materiais, como uma linha de
metrô, uma rede de transmissão de energia elétrica ou uma ferrovia. Mas elas
também podem ser imateriais, ou seja, que não se materializam concretamente
na paisagem, como as redes de transmissão de dados a distância, via satélite ou
via telefonia celular. Nesse caso, como vimos antes, o que há de base concreta
material são apenas os nós ou as junções que asseguram a interconexão da rede.
Essas inovações e o modo como os espaços vêm sendo organizados pelas re-
des trazem grandes repercussões para a vida social, como veremos a seguir.
Dutoviário e aéreo
Aquaviário
13 %
Ferroviário
Rodoviário
25 %
58 %
4%
Fonte: Ministério dos Transportes. Universidade Federal de Santa Maria (RS). Políticas de transportes no Brasil: antecedentes, realidades e perspectivas.
Ministério dos Transportes, abr. 2012.
234 Geografia
Brasil: redes de transporte
Brasil: ferrovias
Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2009, p. 143.
N
0 420 840 km
O L
1. Como está organizada a matriz de transportes no Brasil, de acordo com os dados? O que isso
representa para a fluidez do espaço e para a vida social e econômica do país?
2. Como é a distribuição das redes de transportes no território nacional?
3. Compare os mapas e indique diferenças na distribuição das redes rodoviária e ferroviária no país.
4. Converse com um colega e responda: em sua opinião, o que pode ser feito para melhorar a distri-
buição e as condições das redes de transporte no Brasil?
9º ano 235
REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL: UMA RADIOGRAFIA
O gráfico e os mapas destacam as redes e a matriz de transporte no Brasil,
incluindo tanto o transporte de passageiros como o de cargas.
Os dados mostram uma evidente predominância da rede rodoviária. A partir
da década de 1950, houve uma clara opção no país por esse modelo. Reforçou o
papel das rodovias o fato de muitas montadoras de automóveis terem se instalado
no Brasil a partir das décadas de 1950 e 1960. De forma geral, as rodovias partici-
param do projeto de integração e articulação do território nacional. O transporte
rodoviário (incluindo o uso do automóvel) tem a vantagem de permitir maior
flexibilidade nos deslocamentos, levando mercadorias de ponto a ponto. É ade-
quado para deslocamentos a distâncias mais curtas.
Esse quadro geral evidentemente contribuiu para aumentar as conexões entre
localidades e regiões e dar maior fluidez ao espaço geográfico. Por outro lado, o
sistema traz várias desvantagens e elevados custos sociais e ambientais. As rodo-
vias têm custo mais baixo no momento de sua instalação, mas solicitam manu-
tenção constante ao longo do tempo. Más condições de vias reduzem a velocidade
média e comprometem a eficiência do sistema.
A expansão do modelo rodoviário levou também ao aumento do uso do automó-
vel nas cidades, que acabam sofrendo verdadeiras “cirurgias” para dar passagem aos
carros, como a construção de pistas expressas e avenidas. Em pouco tempo, as novas
vias já estarão tomadas por carros. Assim, congestionamentos, acidentes frequentes
e poluição atmosférica são problemas urbanos a serem resolvidos. Em outros países,
como os da Europa Ocidental, há maior combinação e integração entre as diferentes
modalidades de transporte, o que inclui trens, metrô, ônibus e ciclovias.
As ferrovias, por sua vez, apresentam custo de instalação mais elevado e custo
mais baixo de manutenção ao longo do tempo. Embora tenham menor flexibilida-
de que o transporte rodoviário, uma de suas grandes vantagens é a maior capaci-
dade de transporte de carga, em especial de produtos a granel (grãos, minérios etc.).
As primeiras linhas de trem foram implantadas em nosso país ainda no século
XIX. Enquanto nos países desenvolvidos a ferrovia acompanhou o processo de
industrialização, no Brasil ela esteve a serviço da exportação de bens agrícolas,
notadamente o café. É por essa razão que as ferrovias têm uma orientação litoral-
interior: eram destinadas a ligar as áreas produtoras de bens primários aos portos
exportadores.
Há muitas ferrovias ainda em operação no estado de São Paulo, que foi o principal
núcleo da produção cafeeira no século XIX e início do século XX. Isso mostra também
as diferentes “idades” das redes e os períodos em que elas foram sendo construídas.
Com a consolidação do processo de industrialização brasileira, o sistema ferro-
viário como um todo foi mantido de forma precária, com sucessivas desativações de
linhas, em especial após a década de 1960. Novos investimentos no setor só ocorre-
ram a partir dos anos 1980, com a construção de linhas como a da Estrada de Ferro
236 Geografia
Carajás, ligando as jazidas de ferro do sudeste do Pará ao porto de Ponta da Madei-
ra, no Maranhão. Os novos investimentos também foram voltados à exportação, as-
sim como os projetos atuais para o Norte e o Centro-Oeste, cujo objetivo principal
é facilitar a exportação da produção agrícola dessas regiões. Trata-se, portanto, de
atender a empreendimentos econômicos e setores específicos.
O mapa mostra também o transporte de passageiros, e merece destaque a
expansão do sistema de trens metropolitanos (metrô e trens urbanos), que hoje
atende grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, além de
capitais de estados nordestinos.
Há uma distribuição desigual da rede ferroviária no território nacional. Existe uma
concentração das linhas e estações no Centro-Sul e parte do Nordeste do Brasil. Com
exceção do metrô e do sistema de trens urbanos, as ferrovias atendem preferencial-
mente o transporte de cargas. Assim, faltam opções de ferrovias para o transporte de
passageiros, em especial para viagens de longas distâncias e em ligações inter-regionais.
Essa situação vai na contramão do que acontece em outros países de grande ex-
tensão territorial, como Rússia e China, que têm grande malha ferroviária, ou em nos-
sos vizinhos, como Argentina e Peru, que também se valem desse meio de transporte.
Na Rússia, por exemplo, as ferrovias respondem por 81% da matriz de transporte.
Novas medidas estão sendo adotadas no Brasil com base no Plano Nacional
de Logística de Transporte, lançado em 2006. A ideia central é aumentar a partici-
pação das ferrovias e das hidrovias na matriz nacional de transporte. O programa
prevê também maior participação do sistema dutoviário (que pode transportar
combustíveis a longas distâncias, como é o caso do já existente gasoduto Brasil-
-Bolívia) e a ampliação da infraestrutura portuária e aeroportuária.
9º ano 237
LER GRÁFICOS
Examine os gráficos, com dados sobre a internet no mundo, e responda às questões a seguir:
Ásia 26,2%
África 13,5%
A INTERNET
Os dados apresentados mostram que houve uma extraordinária expansão do
número de usuários de internet no mundo. Em 15 anos, o número de internautas
saltou de apenas 4,4 milhões, em 1991, para quase 1 bilhão de pessoas, em 2005.
Segundo dados coletados pela Internet World Stats, que faz pesquisas sobre o
tema no mundo, em 2011 esse número ultrapassava 2 bilhões de pessoas, ou cerca
de 32% da população mundial, que era de 7 bilhões.
A internet resulta da combinação das inovações nos campos da informática
e da telefonia, constituindo a rede mundial de computadores. Sua principal ca-
racterística é permitir o contato e a comunicação a distância entre usuários das
diferentes regiões do planeta. Trata-se de uma tecnologia de comunicação e infor-
mação que veio para ficar.
238 Geografia
Apesar da sucessiva expansão do acesso à internet em todo o mundo, os países
desenvolvidos são os que possuem maior proporção de usuários em sua popula-
ção. Portanto, como já destacamos, o quadro ainda é de desigualdade, assim como
ocorre em outras redes. Chamam a atenção os casos de países como Noruega,
Austrália, Islândia ou Suécia, em que praticamente todas as pessoas têm esse re-
curso à disposição.
O Brasil segue a corrente, embora ainda esteja distante dessa marca. Em 1996,
apenas 36 mil pessoas acessavam a rede no país; em 2002, já eram 14 milhões,
saltando para 41,5 milhões de brasileiros em 2008. Segundo a pesquisa Ibope
NetRatings, registrou-se a marca de 79,9 milhões de internautas no país em 2011.
Com isso, o Brasil atingiu a posição de quinto maior país do mundo em número
de pessoas conectadas à rede.
É preciso considerar que, desse total, há variações quanto à regularidade do
acesso à rede: alguns acessam diariamente, enquanto outros grupos apresentam
frequência menor. Os dados variam também quando consideramos as diferentes
faixas de renda.
Dados de pesquisa realizada pelo Centro de Estudos em Tecnologias da In-
formação e da Comunicação (Cetic) revelam também que 38% dos domicílios
brasileiros dispunham de acesso à internet em 2011. No Sudeste, no mesmo ano,
esse número chegava a 49% nas áreas urbanas, atingindo a marca de 76% entre
aqueles com renda acima de cinco salários mínimos.
Novamente aparecem aqui as desigualdades de acesso a recursos tecnológicos
como resultantes das desigualdades sociais. O mesmo fato ocorre em vastas regiões
da África, da Ásia e em parte da América Latina, embora esteja havendo crescimen-
to em todas essas regiões.
Edson Sato/Pulsar Imagens
9º ano 239
Tais sistemas estão também cada vez mais integrados com os de telefonia móvel.
Mas não são poucos os estudos que mostram riscos de uma redução das interações
sociais realizadas em contato pessoal, especialmente entre grupos de jovens.
240 Geografia
2011, contra 935 milhões em 2010 e 877 milhões em 2009. Houve também
crescimento das receitas da visitação internacional ao Brasil de 2009 para
2010. O aumento foi de expressivos 37%. Foram quase 8 milhões de desem-
barques internacionais no país, também no ano de 2010.
Alguns destinos mais procurados pelos turistas internacionais são França, Es-
panha, Estados Unidos, Itália e China. Mas seja qual for a motivação para o uso
dos transportes aeroviários – transporte de carga, turismo, negócios etc. –, nova-
mente entra em cena a questão do acesso ao sistema, restrito a quem dispõe dos
meios e recursos para utilizá-lo.
Carol Guedes/Folhapress
Avenida Luís Carlos Berrini, São Paulo (SP), 2008. Nessa região, há grande quantidade de edifícios de escritórios. Uma das principais
características das cidades globais é a concentração de empresas, tecnologias e informações.
9º ano 241
Sabe-se que hoje as unidades industriais deslocam-se do núcleo denso das
grandes cidades para outras cidades menores – o que não significa decadência
econômica dos grandes centros urbanos. Ao contrário, muitos desses núcleos
passam a sediar setores administrativos de grandes empresas e bancos, centros
de pesquisa científica e tecnológica, financeiras, bolsas de valores, grupos de co-
municação (rádio, TV, jornais etc.), órgãos públicos, escritórios de publicidade e
muitos outros.
São serviços especializados que demandam forte qualificação de mão de obra
e disponibilidade de recursos econômicos, tecnológicos e financeiros.
Assim, cidades como Tóquio, São Paulo, Nova York, Londres, Paris e outras de
menor porte, como Frankfurt e Genebra, convertem-se em cidades globais. Elas
passam a centralizar o comando das decisões econômicas que atingem a produ-
ção, a circulação e o consumo de bens e pessoas, além de operações financeiras,
que vão repercutir nas mais diferentes regiões do planeta. Trata-se, portanto, de
um comando a distância, com base nas redes e nas novas tecnologias.
Mesmo com esse novo papel, as grandes metrópoles não deixam de polarizar o
espaço onde se situam. Isso quer dizer que outras regiões e cidades seguem depen-
dendo delas para muitas atividades. Como vimos, as redes técnicas são distribuídas
desigualmente no mundo e também no Brasil. Para o geógrafo francês Roger Brunet,
isso se deve aos diferentes níveis de desenvolvimento econômico, aos modos de vida
e à forma como os espaços foram e são organizados.
Desse modo, as metrópoles também são um retrato das desigualdades sociais
no mundo e em nosso país. No entanto, as novas redes e tecnologias que as cidades
concentram podem representar um salto de qualidade na defesa ou na conquista de
direitos, na denúncia de injustiças sociais e em novas formas de se fazer política.
MOMENTO DA ESCRITA
Leia o texto a seguir. Depois, escreva com suas palavras um comentário sobre as posições do
autor a respeito das relações entre o papel das novas tecnologias, a política e as perspectivas de
futuro para a humanidade.
242 Geografia
APLICAR CONHECIMENTOS
a) globalização
b) rede técnica material e imaterial
c) território
d) rede mundial de computadores
e) fluidez do espaço
f) empresa transnacional
g) sistema financeiro global
h) escala planetária ou global
3. Explique o que significa a afirmação de Marie-Françoise Durand: “Consequência dos [...] pro-
gressos tecnológicos na informática e nas telecomunicações, a finança é um dos campos mais
integrados no tempo”.
9º ano 243
4. Desafio National Geographic Brasil (2011)
Usuários de internet por grupo de 100 habitantes e por regiões – 2010*
70
60
55,0
50 46,0
40
30,0
30
24,9
21,9
20
9,6
10
0
Estados Comunidade dos
Europa Americanos Estados Independentes Mundo Estados árabes Ásia e Pacífico África
(*) Estimativas.
Fonte: International Telecommunication Union/ICT Indicators Database, 2010. Disponível em: <www.viagemdoconhecimento.com.br/canal-do-professor/provas-anteriores.php>. Acesso em: 27 ago. 2012.
244 Geografia
6. Desafio National Geographic Brasil (2011)
9º ano 245
Sites Agência nacional de telecomunicações
Dispõe de notícias, dados e programas relativos ao desenvolvimento do sistema nacional
de telecomunicações.
Agência Nacional de Telecomunicações (anatel). Disponível em: <www.anatel.gov.br/>. Acesso em: 2 out. 2012.
Dados e fatos
Traz resultados de pesquisas periódicas sobre fluxos turísticos no brasil, incluindo a chegada
de turistas internacionais e a participação das chamadas atividades características do turis-
mo (hospedagem, locação de veículos, agências de viagens etc.).
Ministério do Turismo. Dados e fatos: turismo no Brasil e no mundo. Disponível em: <www.dadosefatos.turismo.gov.br/dadosefatos/home.html>. Acesso em:
2 out. 2012.
Le monde diplomatique
Artigos e reportagens sobre temas de interesse da economia e política mundiais.
Jornal Le Monde Diplomatique. Disponível em: <http://diplo.org.br>. Acesso em: 2 out. 2012.
A rede social
Narra a história da criação do site de relacionamentos sociais Facebook.
Direção: David Fincher. Estados Unidos, 2010. 190 min.
Trabalho interno
Premiado documentário sobre os bastidores da crise financeira de 2008 nos Estados Uni-
dos. Expõe a participação e as responsabilidades de representantes da política, da justiça,
das universidades e de empresas do setor financeiro.
Direção: Charles Ferguson. Estados Unidos, 2010. 120 min.
246 Geografia
Capítulo 2
GEOGRAFIA Conflitos e tensões no mundo
atual: uma geografia
Militares das forças de paz da ONU patrulham as ruas de Abidjã, na Costa do Marfim, em meio a confronto entre forças políticas no país africano em 2011.
9º ano 247
Decorridos pouco mais de dez anos do século XXI, por que continuam a ocor-
rer conflitos sociais e confrontos armados em diferentes partes do mundo? Quais
são a natureza e a abrangência espacial deles? Quais são os atores envolvidos?
Quais são as principais dificuldades para se promover a paz e a cooperação entre
os povos? Como avaliar, nesse quadro, a ação dos grupos e organizações ligados
ao terror? Esses são alguns dos temas que serão examinados neste capítulo. Para
começar, realize a atividade a seguir.
LER MAPA
Fonte: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/conflits-arm-s-2009>. Acesso em: 31 ago. 2012.
1. Qual é o tema retratado no mapa? Quais recursos cartográficos foram utilizados na elaboração
desse tipo de representação?
248 Geografia
2. Com base no mapa, prepare uma lista com os principais tipos de conflito existentes no mundo
atual.
9º ano 249
Nesse contexto geral, os confrontos entre Estados nacionais soberanos repre-
sentam apenas uma pequena parte dos conflitos no mundo atual. Alguns ainda
persistem e são motivo de grande preocupação, como as tensões entre Índia e Pa-
quistão (disputam a região da Caxemira, província situada no norte da Índia, mas
de maioria muçulmana – e por isso mesmo reivindicada pelo Paquistão), e entre
Coreia do Norte e Coreia do Sul (que entraram em guerra no início da década de
1950). O Tibete, país independente até a década de 1950, foi invadido pela China
e incorporado ao já extenso território do “Império do Meio”. A China mantém
ainda disputa com Taiwan, considerada uma província “rebelde”.
GUERRA E PAZ
Os dados mostram que há no mundo atual maior diversidade de conflitos,
o que impõe a necessidade de rever os conceitos tradicionais de guerra e paz.
Há uma extensa produção de conhecimentos a respeito do que é a guerra. Tradi-
cionalmente, a guerra foi considerada como a rivalidade entre pelo menos dois
Estados nacionais, implicando o uso da força armada. Ocorre que, como vimos,
houve mudanças na natureza dos conflitos armados, passando a envolver agora
uma gama muito ampla e variada de grupos e organizações não estatais que uti-
lizam as armas e as ações violentas para atingir seus objetivos. Eles proliferam
sobretudo em Estados onde as instituições políticas estão destruídas ou são muito
frágeis e incapazes de resolver os conflitos internos. Ao longo do capítulo, vamos
nos referir em especial a esse segundo tipo de conflito.
250 Geografia
Vale notar que a paz não é simplesmente a ausência de guerra (confrontos
armados entre Estados, guerras civis ou lutas anticoloniais). Segundo o cientista
político italiano Norberto Bobbio, a paz deve permitir que um conflito seja con-
cluído de forma definitiva. Para que a paz seja alcançada, é preciso desenvolver
ações de curto prazo (manter o cessar-fogo e o desarmamento, garantir a oferta
de alimentos e a proteção social, reconstruir estruturas físicas essenciais, como
escolas e hospitais, criar processos eleitorais etc.) e outras de prazo mais longo,
como promover a reconciliação entre os diferentes grupos.
Portanto, assegurar a paz implica a busca pela justiça social e o pleno exercí-
cio de direitos humanos (de ir e vir, de expressar livremente posições políticas,
de votar etc.). Trata-se de um sentido positivo para a paz.
Desse modo, algumas tensões e conflitos potenciais no mundo atual estão
associados também à ausência de democracia e dos mecanismos essenciais do
Estado de direito. A aparente calma em um país como o Zimbábue vincula-se não
a um quadro de paz e estabilidade, mas à ação opressiva do regime comandado
pelo ditador Robert Mugabe, que está no poder desde 1986.
9º ano 251
principais mercados consumidores, localizados sobretudo nos países ricos. Para
garantir a continuidade dos negócios ilícitos, tais organizações se valem de ações
violentas e da desagregação social, recrutando para seus quadros muitos jovens
de baixa renda ou que se encontram sem perspectivas.
252 Geografia
pouco mais de vinte anos, os Estados Uni-
46,9 JAPÃO
um país soberano, o Paquistão, e nele exe- 40,3
39,3 ARÁBIA SAUDITA
cutando ação armada. 36,6 ÍNDIA
17,9
aliado incondicional – ou pressionando o 12,3
14,3 ISRAEL
9,1 IRÃ
governo do Irã, suspeito de desenvolver se-
4,8 PAQUISTÃO
cretamente armas nucleares, não se desvin- 3,4
9º ano 253
A PRIMAVERA ÁRABE
O cenário internacional sofreu profundas transformações políticas e sociais
com as revoltas ocorridas e outras ainda em curso em países do norte da África
e do Oriente Médio. Elas afetaram, entre outros, Tunísia, Líbia, Egito e países da
chamada região do Golfo Pérsico (países da península Arábica – Arábia Saudita,
Iêmen, Emirados Árabes Unidos e outros – mais o Iraque e o Irã). Esses episódios
ficaram conhecidos como a Primavera Árabe.
Como lembra o historiador Osvaldo Coggiola, as lutas dos povos árabes e em
grande parte também dos muçulmanos contra regimes autoritários ou a domina-
ção estrangeira não começaram nos dias de hoje. Muitos deles lutaram contra o
domínio do Império Otomano já desde o século XVI e, no início do século XX,
dos colonizadores europeus.
As revoltas recentes tiveram início em dezembro de 2010 na Tunísia, quando
Mohamed Bouazizi, um jovem que vivia do comércio ambulante, teve suas mer-
cadorias apreendidas pela polícia. Como protesto, ateou fogo ao próprio corpo.
Daí em diante houve uma sucessão de revoltas no país, denominadas “Revolução
de Jasmin”, o que levou à deposição do ditador Zine Al-Abidine Ben Ali, no poder
havia pouco mais de duas décadas.
Episódios dessa natureza adquiriram proporções regionais, atingindo em pri-
meiro lugar o Egito e depois a Líbia e o Iêmen. Todos eram governados por figu-
ras que se encastelaram no poder por longos anos. Alguns, como o ex-líder líbio
Muammar Kadafi, eram considerados “heróis da pátria”.
No Egito, fortes protestos realizados na praça Tahrir, no Cairo, capital do país,
já em janeiro de 2011, provocaram a renúncia de Hosni Mubarak no mês seguin-
te. Sob intensa repressão, com muitos mortos e feridos, a população egípcia pro-
testou contra o desemprego crescente, a pobreza, a corrupção e a falta de perspec-
tivas, sobretudo para os mais jovens. Ainda há uma forte presença dos militares
em diversos setores, inclusive no comando de empresas. Em novembro daquele
ano, realizaram-se eleições livres, iniciando a transição política no país.
O ano de 2011 viu também o desenrolar de uma guerra civil aberta na Líbia para
depor Muammar Kadafi, tendo a cidade de Benghazi, no leste, como principal foco da
revolta. Kadafi assumiu o poder em 1969. Então coronel do exército, liderou um golpe
de Estado que derrubou a monarquia, governando depois o país com mão de ferro
por quatro décadas. O governo se manteve à base das riquezas obtidas com o petróleo
e de pactos para conter divergências entre os grupos tribais do país.
Para vencer o conflito, os revoltosos líbios contaram com auxílio de tropas e
aviões de combate da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Assim
como no caso egípcio, o apoio dos Estados Unidos foi bastante discreto. Para ana-
listas internacionais, esses últimos receavam que o desfecho das revoltas levasse
ao poder nos dois países forças políticas antiocidentais ou marcadamente islâmi-
cas. Da mesma forma, temiam que tais processos viessem a atingir tradicionais
aliados estadunidenses na região, como a Arábia Saudita.
254 Geografia
Pedro Ugarte/AFP/Getty Images
Milhares de pessoas se reuniram na praça Tahrir, no Caito (Egito), para celebrar a queda de Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011.
9º ano 255
LER TEXTO E GRÁFICO
Chamas da mudança
Do norte da África ao Oriente Médio, uma nova geração – armada com
celulares, redes sociais e muita determinação – luta pela posse do seu futuro. [...]
Em dezembro de 2010, na Tunísia, um vendedor de frutas de 26 anos, humilhado
pelos achaques de policiais e por um Estado corrupto e conivente, ateou fogo em
si mesmo. Um vídeo feito com celular mostrando os protestos com ambulantes foi
postado no Facebook. A rede Al Jazeera, do Catar, transmitiu o vídeo. Os protestos na
Tunísia recrudesceram. Em janeiro de 2011, o presidente da Tunísia, no poder havia 23
anos, fugiu. Em um mês, o presidente do Egito desde 1981 também caiu – o estopim
para outras revoltas [como a que derrubou Kadafi, na Líbia].
Elaborado pelo autor
Fontes: Divisão de População da ONU; Organização Internacional do Trabalho; Censo EUA e outras. In: National Geographic Brasil, ano 12, n. 136, jul. 2011, p. 100-102.
1. O que se pode afirmar sobre a distribuição da população segundo as faixas etárias e sua ocupação
profissional nos países citados?
256 Geografia
2. O que os dados do gráfico indicam a respeito das condições políticas, econômicas e sociais nos
países em questão?
3. Com base no que foi visto no capítulo, responda: em sua opinião, há relação direta entre os dados
apresentados e os episódios da chamada Primavera Árabe? Explique sua resposta.
9º ano 257
cional do Estado palestino, com fronteiras anteriores às da Guerra dos Seis Dias.
O discurso, rechaçado por Israel, marcou a intenção de instalar novo quadro de
negociações, agora entre dois Estados soberanos. Vale notar que parte da popula-
ção israelense reivindica o fim dos confrontos e a busca de soluções negociadas.
Ainda sem desfecho definitivo, a região continua à procura de paz.
CONHECER MAIS
IRAQUE E IRÃ
Outras fontes de conflitos situam-se no Iraque e no Irã. O primeiro foi sa-
cudido por duas guerras em pouco mais de dez anos (em 1991 e 2003). Um dos
principais berços da civilização humana, o Iraque já foi parte do Império Otoma-
no e área tutelada pelos britânicos após a Primeira Guerra Mundial. Antes desses
episódios e da ocupação dos Estados Unidos no início do século XXI, o Iraque se
envolveu em longa guerra com o Irã, de 1980 a 1988.
258 Geografia
Em 1991, o país foi atacado pelos Estados Unidos e aliados em represália à in-
vasão iraquiana do Kuwait, um importante fornecedor de petróleo. A invasão foi
ordenada pelo então líder iraquiano, Saddam Hussein. Ele veio a ser deposto com
a nova Guerra do Golfo, em 2003-2004. A alegação na época é que o ditador abri-
gava em seu território armas de destruição em massa, o que não se confirmou.
As tropas estadunidenses retiraram-se do país definitivamente no final de
2011. Mas prosseguem os atentados e embates entre facções sunitas e xiitas.
Bagdá, um tesouro do patrimônio cultural da humanidade, é hoje uma cidade
dividida por muros, com bairros ocupados por sunitas e outros por xiitas –
que não se misturam. O poder político é dividido entre as correntes islâmicas
e os curdos, mas há conflitos entre eles. A população iraquiana ainda luta para
retomar a normalidade.
Com território correspondente ao da antiga Pérsia, o Irã é hoje uma república
islâmica e sobre a qual pairam suspeitas de desenvolvimento de projeto de fabri-
cação de armas nucleares. No século XX, o país foi governado por um monarca
– o xá Reza Pahlevi – por quase 40 anos, de 1941 a 1979. Apesar de ser um tirano,
sob sua gestão o país passou por um processo de modernização econômica e so-
cial e aproximação com o Ocidente. Foram estruturados a produção e o processa-
mento do petróleo, sua maior riqueza.
O país foi totalmente transformado a partir do final da década de 1970, com
a revolução social comandada pelos aiatolás (chefes religiosos xiitas, maioria no
país). Foi instituído um Estado teo-
crático – ou seja, baseado no poder
Carlos Cazalis/Corbis/Latinstock
9º ano 259
CONHECER MAIS
Afeganistão: a luta das mulheres
Há 25 anos, uma garota afegã de olhos verdes cau- Em criança, Sahera enfrentou o pai, um mulá conser-
sou espanto na capa da revista National Geographic. vador, trancando-se em um armário até ele permitir que
Uma jovem refugiada tentando escapar da guerra entre ela fosse à escola. Sahera atravessou a guerra civil em
os comunistas, apoiados pela hoje extinta União Sovié- meio a grupos rivais de mujahedins que arrasaram Cabul
tica, e os mujahedins, guerrilheiros islâmicos sustenta- antes da vitória do Talibã, em 1996. [...]
dos pelos Estados Unidos, ela tornou-se a imagem do Depois da queda do Talibã, em dezembro de 2001,
desespero em seu país. O atual ícone do Afeganistão é Sahera Sharif abriu uma estação de rádio para educar as
de novo uma jovem, Bibi Aisha, que foi ferida com cortes mulheres sobre higiene e noções de saúde. Em atitude
pelo marido como castigo por ter fugido dele e de sua ainda mais radical, ela apresentou-se como voluntária
família. Bibi fizera isso para escapar dos espancamentos para dar aulas na universidade em Khost, tornando-se a
e dos abusos a que era submetida. [...] primeira mulher a fazer isso. Sahera aposentou a burca
Na área chamada “crescente pashtun” a vida era, e – outro pioneirismo – e postou-se diante de alunos ho-
em muito sentidos ainda é, organizada em torno do có- mens para lhes ensinar psicologia. Eles ficaram corados.
digo [...] “à maneira dos pashtuns”. Seu fundamento é a E assim ela começou a educá-los.
honra masculina, avaliada segundo três tipos de posse:
zar (ouro), zamin (terra) e zan (mulheres). [...] GLOSSÁRIO
O Parlamento afegão propôs [...] um projeto de lei vi- Burca: traje tradicional feminino que cobre todo o corpo, utilizado
sando eliminar a violência contra as mulheres. Elas, por por mulheres em países como Afeganistão e Paquistão. No caso
sua vez, começam a rejeitar as velhas práticas. Visitei em das afegãs, o uso da burca foi imposto pelo grupo Talibã, que
Cabul o lar de Sahera Sharif, pashtun e a primeira parla- governou o país na virada do milênio.
mentar feminina da província de Khost. “Ninguém sabia Mulá: significa o líder religioso das mesquitas frequentadas pelos
islâmicos.
que uma mulher podia afixar pôsteres de campanha po-
lítica nos muros” [...], diz ela.
RUBIN, Elisabeth. Rebelião velada. National Geographic Brasil, ano 11, n. 129, dez. 2010, p. 136-137. (texto adaptado.)
PESQUISAR
Com um grupo de colegas, elabore um painel com mapas, fotografias e textos sobre os con-
flitos no norte da África, Oriente Médio e sul da Ásia. O grupo deverá preparar uma base carto-
gráfica com os países em questão, seus nomes e cidades mais importantes e os principais focos
de conflitos. Deverá também criar símbolos para representar e localizar áreas de extração de
petróleo e bases militares estrangeiras. Com os colegas, selecione e organize os dados coletados.
Se precisar, consulte as indicações ao final deste capítulo. Os textos explicativos devem destacar as
revoltas e seu desfecho, analisando seu significado político e socioeconômico para as populações
e as relações em escala regional e mundial. Apresente os resultados e discuta-os com a turma.
A EUROPA ATUAL
Vimos que a Europa foi o palco principal dos dois maiores flagelos da humani-
dade, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Um novo quadro começou a se er-
guer no continente no final do segundo conflito: os europeus precisavam criar me-
canismos de cooperação regional que pudessem evitar novos e sangrentos conflitos.
Nas primeiras décadas do pós-Segunda Guerra, o continente atravessou o período
de reconstrução, baseado no Plano Marshall, projeto de financiamentos patrocinado
pelos Estados Unidos, e na criação da Otan, organização militar e estratégica de defe-
260 Geografia
sa do mundo ocidental (leia-se, países capitalistas da Europa, mais Estados Unidos e,
recentemente, ex-repúblicas soviéticas e da Cortina de Ferro). Além disso, conviveu
com a Guerra Fria, que, embora caracterizada pela ausência de confrontos armados,
foi marcada pela crescente militarização e pelo aumento das tensões Leste-Oeste.
Mesmo afetadas pela guerra, muitas nações europeias (em especial, Reino
Unido, França e Portugal) viram-se envolvidas nas décadas pós-Segunda Guerra
em sangrentos embates para preservar suas colônias na África ocidental francesa
e África central, Indochina, Angola e Moçambique, Argélia e outros.
Com a derrocada do socialismo real no final da década de 1980 e nos anos
seguintes, diversos países do leste europeu iniciaram sua transição ao capitalismo.
Tais processos se deram com turbulências e violência localizada, como é o caso da
Romênia, mas não chegaram a se espalhar pelo continente.
Entretanto, episódios de violência extrema ressurgiram na região dos Bálcãs,
com a implosão da antiga Iugoslávia. O país, uma federação de Estados socia-
listas não alinhada com a União Soviética, manteve-se unificado até a morte de
seu líder supremo, Josip Broz Tito, em 1980. Daí em diante, o que se viu foi uma
sucessão de conflitos entre as repúblicas, caracterizados sobretudo pela atitude
beligerante da Sérvia. Os episódios incluíram a prática do genocídio, destruição
em massa de um grupo étnico e tentativa de eliminação dos seus traços culturais
– num espaço que já vivenciou tal prática na Segunda Guerra Mundial.
O final do conflito deu origem a novas repúblicas independentes: Bósnia-Herze-
govina, Croácia, Eslovênia, Macedônia, Montenegro e Sérvia (veja os mapas a seguir).
A pendência restante refere-se ao Kosovo, que declarou unilateralmente sua indepen-
dência em 2008, reconhecida em seguida pelos Estados Unidos e membros da União
Europeia. A Sérvia, entretanto, ainda não reconheceu a soberania de sua ex-província.
N N
0 260 520 km 0 260 520 km
O L O L
S S
1914 1923
9º ano 261
Ilustrações digitais: Sonia Vaz
N
0 250 500 km
O L
N
0 275 550 km Fonte: Atelier de Cartographie
O L
Sciences Po. Disponível em:
S <http://cartographie.sciences-
po.fr/fr/balc-s-1878-2008>.
Acesso em: 3 set. 2012.
1949 2008
262 Geografia
Tampouco é possível afirmar que tais práticas e sentimentos são compartilha-
dos por todos os membros das sociedades europeias.
Entretanto, no caso da Europa, onde proliferaram e ainda se disseminam
ideias racistas e nazistas, são muito frequentes episódios de intolerância, inclusive
ceifando vidas ou criando obstáculos aos que são estrangeiros ou tidos como “di-
ferentes”. Isso inclui também outros grupos tradicionais que circulam no espaço
europeu, como os ciganos. Tais acontecimentos se dão em esferas como a do tra-
balho e nos espaços da vida cotidiana.
Em diversos países do continente, os imigrantes ocupam tarefas penosas, pre-
cárias, com baixa remuneração e que não exigem maior qualificação profissional.
Muitas dessas tarefas são rejeitadas pelas populações nativas. Mesmo assim, em
momentos de crise econômica, como a que países da União Europeia vivem des-
de 2008, amplia-se a rejeição aos imigrantes e ganha força o discurso de que eles
subtraem postos de trabalho dos nacionais. Em regra, há dificuldades para os
estrangeiros acessarem benefícios e serviços sociais.
Vale notar que há ali grandes contingentes de estrangeiros egressos de ex-colônias
europeias ou de territórios coloniais remanescentes (como os pertencentes à França:
Guadalupe e Martinica, na América Central, e a Guiana Francesa, na América do
Sul). No Reino Unido, existem imigrantes e descendentes originários do subcontinen-
te indiano (Índia, Paquistão, Bangladesh, Sri Lanka). Na Espanha e em Portugal, por
sua vez, há presença de muitas pessoas vindas de países latino-americanos.
Outros países contam com imigrantes de outras partes da Europa (na Alema-
nha, turcos, gregos e oriundos do leste europeu). Vale notar que são recorrentes as
denúncias de tráfico humano, também de pessoas oriundas do Leste Europeu. Tal
prática vitima em especial as mulheres. Mas, de forma geral, quem se subordina
aos agenciadores está sujeito a todo tipo de exploração. Os abusos desse tráfico he-
diondo são variados e frequentes: promessas de empregos transformam-se rapida-
mente em exploração sexual ou em trabalho em condições análogas à escravidão.
A segregação se expressa, portanto, no aviltamento das condições sociais. Isso
é reforçado por situações de segregação espacial. É frequente que imigrantes e
seus descendentes, muitos deles nascidos no país, vivam em conjuntos habitacio-
nais precários e distantes do núcleo mais denso das cidades, onde estão os empre-
gos e os serviços. Como muitos jovens que vivem nesses bolsões não dispõem de
empregos e outras oportunidades, configuram-se áreas de fortes tensões e confli-
tos, como os que sacudiram Paris em 2005 e 2009. Episódios similares ocorreram
em Londres e outras cidades do Reino Unido em 2011.
Esse quadro é reforçado por hostilidades frequentes em espaços públicos e locais de
entretenimento que reúnem grande número de pessoas, como os estádios esportivos.
Da milenar cidade de Marselha, no sul da França, vêm exemplos contrários
e bastante positivos. Porto mediterrâneo, ela é caracterizada pela diversidade
cultural, pela convivência e por interações sociais de grupos e indivíduos das mais
diferentes origens.
9º ano 263
Algumas medidas foram tomadas para conter as práticas antissociais descri-
tas, por exemplo, a assinatura de convenções internacionais e regionais contra o
racismo, a discriminação e a intolerância. Entre os organismos da União Europeia
já existe uma agência central para tratar da questão de como integrar a diversida-
de nos países-membros.
264 Geografia
MOMENTO DA ESCRITA I
9º ano 265
Ilustração digital: Mario Yoshida
“Corredor Chinês”
na República
Democrática
do Congo
N
0 410 820 km
O L
S
Fonte: Le Monde Diplomatique, 2010. Disponível em: <http://mondediplo.com/maps/drcchina>. Acesso em: 6 set. 2012.
SOMÁLIA
A Somália é hoje um país dividido, devastado e sem um governo central que
possa fazer frente à ação de milícias islâmicas que controlam parte do sul do país.
Dados da ONU de 2009 indicam que cerca de 1/4 da população somali é compos-
ta por aqueles que emigraram ou vivem em campos de refugiados. Ao norte, está
a Somalilândia, província livre de conflitos que declarou sua independência em
1991, reforçada por um plebiscito em 2001, mas que ainda não obteve o reconhe-
cimento internacional.
A ausência de um comando político no país permitiu a proliferação de pira-
tas, que saqueiam embarcações no golfo de Aden e no oceano Índico, na costa da
Somália. Em 2010, foram mais de 50 ataques a embarcações e mais de mil passa-
geiros e tripulantes feitos reféns. O golfo de Aden, que dá acesso ao canal de Suez,
ao norte, é uma das principais rotas mercantes do mundo. A ONU já instituiu
sistemas de segurança e vigilância nessas águas oceânicas.
Sobre a complexa situação deste país, que se localiza em uma região conheci-
da como Chifre da África, realize a atividade a seguir:
266 Geografia
MOMENTO DA ESCRITA II
Examine o mapa a seguir. Depois, escreva um texto que descreva e analise a situação da Somá-
lia no contexto atual. Indique os aspectos que configuram uma crise humanitária no país. Con-
verse com colegas e indique o que pode ser feito pela comunidade internacional e dos países da
região para solucionar os graves conflitos e suas repercussões no território somali. Se necessário,
pesquise novos dados com a ajuda do professor.
N
0 165 330 km
O L
Fonte: DRAPPER, Robert. Somália devastada. National Geographic Brasil, ano 10, n. 114, set. 2009, p. 127.
9º ano 267
Vale notar que a divisão ocorreu em meio aos conflitos na região de Darfur,
no oeste do Sudão. Ali, o exército sudanês, apoiado por milícias, travou longa
batalha com grupos rebeldes. Acordos firmados também em 2011 decidiram pela
reorganização política de Darfur, criando dois novos Estados e firmando tréguas
entre o governo central e as várias milícias existentes. Ainda ocorrem situações
localizadas de violência e crise humanitária, com centenas de milhares de pessoas
vivendo em campos de refugiados.
Assim como na RDC, também há presença de capitais, investimentos e técni-
cos chineses operando no país – com objetivos semelhantes, como obter recursos
preciosos como o petróleo.
Com base no gráfico e no texto a seguir, escreva um texto que exponha e discuta a situação
atual do Sudão e do Sudão do Sul. Indique quais são os interesses em jogo, considerando a dispo-
nibilidade de riquezas naturais nos dois países.
Sudão e Sudão do
N
0 280 560 km
O L
A causa das tensões no Sudão é de natureza tão geográfica que poderia ser notada
até mesmo por um observador na Lua. A ampla faixa cor de marfim do Saara no norte da
África contrapõe-se à savana e à selva verdejante no centro do continente. As populações
em geral se distribuem de um lado e de outro desse divisor vegetal. [...] No Sudão, o
contato entre árabes e negros sempre foi problemático. Já no século VII, os conquistadores
muçulmanos descobriram que muitos moradores da terra então conhecida como Núbia
eram cristãos. O confronto entre ambos consolidou-se em um impasse que durou mais de
um milênio. [...]
268 Geografia
[Já no século XX], com a eclosão da segunda guerra civil no país, em 1983, surgiu
um grupo rebelde, intitulado Exército de Libertação do Povo do Sudão, que em um dos
seus primeiros atos espetaculares lançou um ataque contra a sede da construtora de
um canal [que desviaria águas da região úmida do Sudd para o norte, até o árido Egito].
Anos de carnificina se seguiram e somente seriam encerrados em 2005, quando esforços
diplomáticos nos bastidores levaram à assinatura do Acordo de Paz Global. Esse pacto
assegurou ao Sudão do Sul uma autonomia relativa, com Constituição, Exército e moeda
próprios. Em janeiro de 2011, a história sudanesa deu um passo determinante: a população
sulista aprovou em referendo a decisão de separar-se do norte e formar uma nação livre,
por ora chamada de Sudão do Sul.
As lideranças políticas de ambos os lados emitem sinais de que pretendem respeitar
o resultado, temerosas de uma intervenção internacional. Ao mesmo tempo, continuam o
antagonismo e a troca de acusações. [...]
A questão é: por que o norte não aceita a separação do sul? De novo, o motivo é
geográfico: petróleo. A maior parte das reservas fica no Sudão do Sul, mas o governo central
controla as refinarias, assim como a distribuição das receitas.
TEAGUE, Matthew. Sudão do Sul: sonho de paz. National Geographic Brasil, ano 11, n. 132, mar. 2011. p. 106, 108.
9º ano 269
branca (formado por descendentes de colonizadores britânicos e holandeses) e
na separação oficial entre negros e brancos, com forte exploração e opressão dos
primeiros. Aos negros era vedado compartilhar com os brancos até coisas mí-
nimas, como assentos em ônibus e banheiros públicos. Muitos grupos e etnias
foram confinados em territórios (os bantustões) ou bairros precários de grandes
cidades, como Joanesburgo.
Sob a liderança de Nelson Mandela, acompanhado de milhares de ativistas,
os sul-africanos encerraram o regime oficial de segregação em 1993-1994, com a
assinatura de acordo entre Mandela e o presidente branco da época, Frederick de
Klerk. Em 1994, Mandela foi eleito presidente, passando a coordenar a transição
política no país. Embora ainda existam muitas desigualdades entre brancos e ne-
gros, a nação ingressou num ciclo de prosperidade econômica, hoje integrando
grupo dos países chamados emergentes.
Após anos de convulsões internas, que incluíram o uso de meninos-soldados,
países como Serra Leoa e Libéria abandonaram a resolução dos seus conflitos por
meio da ação armada. Retrata esse novo quadro o fato de que, em 2011, a presi-
dente eleita da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, a ativista Leymah Gbowee, também
liberiana, e a jornalista e militante antigoverno Tawakul Karman, do Iêmen, fo-
ram agraciadas com o Prêmio Nobel da Paz.
Os países africanos de língua portuguesa vêm estreitando laços econômicos e
culturais entre si e também com o Brasil. Os brasileiros estão presentes em diversas
obras públicas e cooperam com Angola e Moçambique em diversos campos (entre
eles, o da saúde). Angola tem tido forte ritmo de crescimento econômico, com base
na exploração do petróleo e dos diamantes sob o controle do Estado. Resta ainda que
essa riqueza alcance o conjunto da população; da mesma forma, muitos esperam
alternância no poder político, já que o país é governado há mais de 30 anos por José
Eduardo dos Santos, um líder da luta anticolonial.
APLICAR CONHECIMENTOS
1. Escreva com suas palavras o significado dos termos a seguir, essenciais para a compreensão dos
processos discutidos no capítulo:
a) guerra j) redes e circuitos ilegais
b) paz k) racismo
c) guerra civil l) xenofobia
d) luta anticolonial m) discriminação
e) geopolítica n) segregação social e espacial
f) poder o) crise humanitária
g) potência p) direitos humanos
h) multipolaridade q) Estado democrático de direito
i) rede geográfica
270 Geografia
2. Observe a charge a seguir e responda: a quais povos e países ela está se referindo? O que ela
representa no quadro das relações políticas para a comunidade internacional e para cada país
envolvido?
Tiago Recchia
Fonte: Recchia, Tiago. Jornal Gazeta do Povo (PR), 24 mar. 2011
a) Guerra civil opondo tropas do governo da Líbia e os grupos revoltosos que derrubaram
Muammar Kadafi, havia 40 anos no poder.
b) Lutas entre milícias na Somália, tendo como desfecho a criação da Somalilândia, província
separatista no norte do país.
c) Combates entre as tropas do governo comunista de Angola e a guerrilha pró-ocidental, com a
vitória final das primeiras.
d) Conflitos históricos entre grupos do norte e do sul do Sudão, onde um referendo aprovou a
criação do Sudão do Sul em 2011.
9º ano 271
4. Analise o trecho de entrevista com Wangari Maathai, ativista em defesa do ambiente nascida no
Quênia. Em seguida, escreva um texto comentando suas posições.
Wangari Maathai: Certamente. Quem não quiser enfrentar tribunais, terá de fazer reformas.
Wangari Maathai: Esse é o problema. [...] Quando o povo se queixa, esses líderes
apenas dão respostas que ofendem a população. Que comam bolos se não têm pão.
Os ditadores africanos estão fazendo o mesmo hoje. Os líderes estão surdos e não
escutam a população. Por isso, as revoltas estão ocorrendo.
Wangari Maathai: Não há a necessidade de mais vítimas. Podemos ter as reformas sem
novos banhos de sangue. Mas, para isso, as monarquias que ainda existem na África
precisam acabar. A menos que um rei seja muito bom para seu povo, ele tende a transformar
o Estado em sua propriedade privada. E é isso o que ocorre. Por isso, as revoltas têm sido
tão violentas. São décadas não apenas de ditaduras, mas de pessoas que tomaram conta
do Estado e transformaram a polícia em sua proteção pessoal contra o povo.
A posição do Ocidente em relação à África é criticada pelo cinismo, já que vários ditadores
foram mantidos por muito tempo com recursos americanos e europeus, principalmente
durante a Guerra Fria. Como a sra. avalia isso?
Wangari Maathai: De fato, vimos uma abertura dos regimes na África depois que o Muro
de Berlim caiu. O Ocidente não precisava mais de aliados para frear o comunismo e,
portanto, passou a permitir uma maior abertura. Houve maior liberdade. O número de
rádios e TVs explodiu. Antes, só o governo tinha esse controle sobre a informação. O
espaço político foi ampliado e as Constituições mudaram. Mas o problema é que essa
democratização está ocorrendo muito devagar e o povo não aguenta mais.
Wangari Maathai: A China está na África porque foi convidada. Nos explora porque
nossos líderes permitem isto. O certo é que a China veio fazer negócios. Alguns acham
que estão nos roubando. Mas nossos líderes permitem isso.
O Estado de S. Paulo, 17 abr. 2011. Disponível em: <www.estadao.com.br/noticias/impresso,
ha-muitas-marias-antonietas-na-africa,707327,0.htm>. Acesso em: 2 set. 2012
272 Geografia
PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS
Livros África e brasil africano
O volume traz textos e figuras que discutem a diversidade social, cultural e política da África
pré-colonial, destacando também os efeitos do sistema escravista e do neocolonialismo no
continente africano.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2007.
Um grito de liberdade
Obra clássica sobre a luta de ativistas como Stephen Biko contra o apartheid na África do Sul.
Direção: Richard Attenborough. Reino Unido, 1987. 157 min.
9º ano 273
Capítulo 3
GEOGRAFIA Paz e cooperação entre povos e
países: uma governança global?
Marlene Bergamo/Folhapress
Marcha dos Povos, passeata que reuniu ativistas que participaram da Cúpula dos Povos, em junho de 2012, no Rio de Janeiro (RJ). A Cúpula dos Povos fez parte da conferência
Rio+20 e contou com representantes de movimentos de diversos países. A declaração final da Cúpula posicionou-se contra a militarização dos Estados e contra o poder das grandes
corporações, além de reafirmar a luta pelo fim da violência, da opressão e da pobreza.
274 Geografia
FAZER A PAZ
Como já vimos, a paz não é simplesmente a ausência de guerras. Para assegu-
rá-la, é preciso percorrer etapas que garantam que os acordos firmados ao final de
cada conflito sejam cumpridos. Manter a paz e garantir a segurança internacional
são dois objetivos mencionados no primeiro artigo da Carta da ONU, aprovada
na criação da entidade, em 1945, logo após o final da Segunda Guerra Mundial.
Entretanto, apenas em 1992 foi lançado um documento de referência sobre
a paz no âmbito da ONU, funcionando a partir de então como diretriz para as
ações da entidade e como recomendação para a comunidade de países. Neste
documento, sob a direção do secretário-geral à época, o egípcio Boutros-Ghali,
estabeleceram-se os diferentes tipos de operação de paz.
Para um primeiro exame do tema, realize a atividade a seguir.
N
0 3 150 6 300 km
Operações concluídas por outras organizações O L
Fonte: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/op-rations-de-paix-multilat-rales-1948-2010>. Acesso em: 21 ago. 2012.
9º ano 275
Missões de paz da ONU
A manutenção da paz é uma ação militar sob mandato da ONU e com o
consentimento das partes para um cessar-fogo e fazer com que ele seja respeitado.
O restabelecimento da paz inclui negociação e mediação para reaproximar as
partes. Pode-se decidir por um uso preventivo de forças militares, a fim de levar os
beligerantes à paz.
A imposição da paz é uma ação desenvolvida por forças militares contra um
agressor identificado em casos de ameaça contra a paz, ruptura da paz ou ato de
agressão.
A consolidação da paz prevê o desenvolvimento de infraestruturas políticas,
econômicas e de segurança para resolver de forma durável um conflito. Ela se aproxima, às
vezes, de uma verdadeira reconstrução dos Estados e do estabelecimento de protetorados
pela comunidade internacional. São países que se tornam áreas sob proteção de outros
países por estarem muito fragilizados, sem conseguir cumprir suas funções.
DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 94. (Texto adaptado.)
1. Qual é o tema representado nos mapas? Quais recursos cartográficos foram utilizados em sua
elaboração?
2. De forma geral, quais são as regiões do planeta que receberam operações de paz? Em sua opinião,
o que explica essa distribuição?
3. Quem são os responsáveis pelas diferentes operações de paz no mundo?
4. Para você, é correto afirmar que uma operação de paz é exclusivamente uma ação militar,
desenvolvida para evitar novas guerras e atos violentos em países que já passaram por isso? Ex-
plique sua resposta.
5. Converse com os colegas e responda: o Brasil esteve envolvido em alguma operação de paz nos
últimos anos? Qual ou quais e com que objetivos?
OPERAÇÃO DE PAZ
Os dados apresentados mostram que existem diversos tipos de operação de
paz, desde as que implicam o uso efetivo de forças militares até os trabalhos de
reconstrução do país ou países devastados por guerras. Isso já aconteceu em inú-
meros deles, como Timor Leste, Angola e Iraque. Seguindo determinação firmada
pela ONU nos anos 1990, esses complexos processos envolvem quatro campos
principais, como assinalou o pesquisador Dan Smith no Atlas dos conflitos mun-
diais, publicado em 2007:
• Estrutura política: organizar e acompanhar eleições; criar ou recriar
instituições políticas (assembleias de parlamentares, estruturas de go-
verno); lançar ou aperfeiçoar leis; buscar constituir um governo dito
satisfatório (transparente, que preste contas e realize o combate à cor-
rupção), e outras ações. É preciso também garantir direitos humanos
e elaborar relatos de abusos cometidos durante ou após os conflitos.
276 Geografia
• Segurança: assegurar a paz, controlando o cessar-fogo e evitando no-
vos atos de agressão; promover o desarmamento e a desmobilização de
tropas; dedicar atenção aos casos de crianças-soldados; controlar o co-
mércio e circulação de armas; criar ou reconstruir órgãos de segurança
no país, por exemplo.
• Aspectos socioeconômicos: reconstruir infraestruturas (estradas,
portos, redes de água e energia etc.), escolas, hospitais, órgãos públi-
cos; realizar investimentos na atividade econômica e em empresas de
serviços públicos; organizar retorno dos refugiados que foram vítimas
dos conflitos e reacomodar os ex-combatentes.
• Reconciliação: promover o diálogo entre líderes políticos, ativistas e
entidades; instituir práticas que possibilitem o reconhecimento mútuo
das partes envolvidas nos conflitos, em especial por meio da educa-
ção; impedir manifestações hostis e garantir às mídias o acesso à in-
formação; criar Comissões de Verdade e Reconciliação, que consistem
em assembleias regulares com as populações e as partes envolvidas no
conflito. Nelas, as pessoas relatam ou denunciam fatos e refletem sobre
eles, promovendo a reaproximação entre os ex-beligerantes.
As missões de paz são fundamentalmente um mandato da ONU, com apoio
dos países e de organizações regionais (União Africana, União Europeia, Organi-
zação do Atlântico Norte – Otan e muitas outras). As agências especiais da ONU
também participam dos processos de paz, como a que trata da questão dos refu-
giados. Além delas, outras organizações sociais não governamentais também se
envolvem, como a Anistia Internacional, Médicos Sem Fronteiras e outras.
É importante lembrar que as forças de paz da ONU (que contam com solda-
dos de diversos países) atuam também em situações em que não há confrontos
armados, mas existe potencial para que eles venham a ocorrer. Um exemplo di-
retamente relacionado ao Brasil é o Haiti. Devastado por um forte terremoto em
janeiro de 2010, que destruiu cerca de 70% das instalações de sua capital, Porto
Príncipe, o país recebeu logo em seguida novas forças da Missão de Estabilização
das Nações Unidas no Haiti (Minustah, na sigla em inglês). A missão tem na
chefia militar o Brasil e foi criada já em 2004 para garantir a segurança interna do
país. Os soldados vigiam as ruas, buscam impedir atos violentos e participam de
atividades como a distribuição de alimentos.
Os brasileiros também estiveram presentes no Timor Leste, situado na parte
oriental da ilha de Timor, no sudeste da Ásia. Ex-colônia portuguesa que ficou
sob domínio da Indonésia entre 1975 e 1999, o país passou vários anos sob efei-
to dos combates entre a guerrilha de libertação nacional e as forças do invasor
estrangeiro. Encerrado o conflito, era necessário realizar eleições e reconstruir o
país, tarefas que contaram com ajuda de diplomatas e técnicos brasileiros.
Apesar da relevância do trabalho realizado pelas forças de paz, nem todos os
países colaboram efetivamente para esse fim. Alguns, como os Estados Unidos e o
9º ano 277
Reino Unido, até oferecem recursos financeiros, mas têm reduzida presença nos
efetivos das forças de paz da ONU, cujos membros são conhecidos como “capa-
cetes azuis”.
É importante salientar também que apenas após o final da Guerra Fria a ONU
pôde realizar de forma mais efetiva e mais livre o trabalho com as missões de paz.
Nos anos anteriores, tais iniciativas sofriam restrições dos países-líderes e seus
aliados, tanto do bloco capitalista como do socialista. Nesse quadro, as principais
potências usavam seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU para
impedir ações que poderiam contrariar seus interesses estratégicos. O conselho
tem cinco membros permanentes ‒ Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido
e França ‒, que já exerceram diversas vezes o poder de veto, em especial os esta-
dunidenses e os russos (herdeiros da representação soviética).
Vale notar também que organizações multilaterais como a ONU, a Organiza-
ção dos Estados Americanos (OEA) e outras só passaram a ter efetividade após
a Segunda Guerra Mundial. Antes disso, qualquer tentativa de ingerência nos
assuntos internos de um país era, em regra, interpretada como interferência na
soberania nacional.
278 Geografia
Como veremos a seguir, as organizações CONHECER MAIS
multilaterais (que congregam grupos de paí-
ses em torno de objetivos comuns), os gover- A construção da cultura de paz
A cultura de paz está intrinsecamente relacionada
nos e as demais entidades sociais nacionais
à prevenção e à resolução não violenta dos conflitos.
e mundiais devem acompanhar e atuar em É uma cultura baseada em tolerância e solidariedade,
outras questões que são fontes potenciais de uma cultura que respeita todos os direitos individu-
ais, que assegura e sustenta a liberdade de opinião e
conflitos. Entre elas estão situações de: que se empenha em prevenir conflitos, resolvendo-os
• racismo, preconceito, discriminação, em suas fontes, que englobam novas ameaças não
xenofobia e intolerância religiosa; militares para a paz e para a segurança, como a ex-
clusão, a pobreza extrema e a degradação ambiental.
• secas extremas ou inundações, que po- A cultura de paz procura resolver os problemas por
dem provocar a eventual escassez de meio do diálogo, da negociação e da mediação, de
forma a tornar a guerra e a violência inviáveis.
alimentos, reforçando a pobreza e a de-
Na atualidade, continuamos com inúmeros confli-
sigualdade social; tos armados e lutas civis, que sacrificam vidas huma-
• disputas por recursos naturais como nas em mais de quarenta países. Outras fontes de ten-
são têm sua origem na deterioração do meio ambiente
água ou metais preciosos e conflitos [...], na competição por recursos de água doce, cada vez
pela posse de terras; mais escassos, na desnutrição e na flagrante desigual-
• degradação ambiental, como as ge- dade econômica e social não só entre os países, como
também internamente a estes, devido a modelos de de-
radas por desmatamento, contami- senvolvimento concentradores de renda e excludentes.
nação de rios, tráfico ou matança de NOLETO, Marlova Jovchelovitch. Cultura de paz: da reflexão à ação; balanço da
Década Internacional da Promoção da Cultura de Paz e Não Violência em Benefício
animais e outras. das Crianças do Mundo. Brasília: Unesco; São Paulo: Associação Palas Athena, 2010.
p. 10-11.
9º ano 279
Algumas instituições foram criadas para julgar responsáveis por episódios de
guerra: tribunais militares para julgar os derrotados na Segunda Guerra Mundial
(Alemanha nazista e Japão) e os crimes cometidos na guerra na antiga Iugoslávia
(em 1993) e em Ruanda (1994), entre outros.
Conforme Marie-Françoise Durand e colaboradores, o fim da Guerra Fria
e a crescente participação dos meios de comunicação na divulgação de abusos
cometidos contra as populações criaram as condições políticas para instituir o
Tribunal Penal Internacional (TPI), com a finalidade de julgar chefes de guerra.
Em 1998, cerca de 60 países assinaram o estatuto que rege o tribunal. Já em 2002,
foram abertos processos contra os responsáveis por abusos em conflitos na África
(República Democrática do Congo, Uganda, Sudão e outros) e na Europa, com o
julgamento de Slobodan Milosevic, ex-presidente da Sérvia, que foi interrompido
com a morte do acusado em 2006. Outras participações do TPI e outros órgãos,
como a Corte Internacional de Justiça e tribunais ou juízes nacionais, deram-se no
julgamento de crimes de guerra em países como Serra Leoa, Libéria e Camboja.
Vale notar que, em função de interesses geopolíticos, nem todos os países ra-
tificaram o estatuto de criação do TPI. Entre eles, estão China, Estados Unidos,
Índia, Israel e Rússia. Muitos deles ainda adotam, por exemplo, a pena de morte,
que cada vez mais passa a ser compreendida como uma questão da esfera inter-
nacional e não meramente como assunto interno de cada país. Há fortes pressões
diplomáticas e de entidades de direitos humanos para que os países abandonem
definitivamente essa prática.
280 Geografia
Entre os crimes de competência do TPI estão os de guerra (uso de crianças, qualquer
forma de violência sexual etc.), genocídio (atos praticados com a intenção de destruir, no todo
ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tais), contra a humanidade
(extensa lista que fala em homicídio, extermínio, escravidão, deportação forçada, tortura, agressão
sexual, perseguição de grupos específicos, apartheid e outros.)
Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Disponível em: <www.icrc.org/por/
resources/documents/misc/5yblr2.htm>. Acesso em: 10 set. 2012.
9º ano 281
LER MAPA
Adotado em 1968,
o Tratado de Não
Proliferação Nuclear
(TNP) visa reduzir o
risco de proliferação
de armas nucleares,
que têm alto poder
destrutivo. O tratado
concedeu aos países
dotados de armas
nucleares antes de
1967 (EUA, Rússia,
França, China e
Reino Unido)o
direito de manter
seus arsenais.
Mas exigiu deles o
compromisso de
N não auxiliar outros
0 2 750 5 500 km
O L países a adquirir
S
ou desenvolver
tais armamentos –
tarefa nem sempre
cumprida. As ogivas
são cápsulas de
formato curvo
e pontiagudo
que carregam o
Fonte: DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 92. armamento nuclear.
1. Quais países se destacam quanto à posse de arsenais e ogivas nucleares? Em sua opinião, o que
isso representa para as relações de poder no mundo atual?
2. Quais são os países que não assinaram o Tratado de Não Proliferação Nuclear? O que contribui
para explicar a posição adotada por eles?
3. De acordo com o mapa, qual é a posição do Brasil com relação à produção de armas nucleares?
282 Geografia
A QUESTÃO DOS REFUGIADOS E DESLOCADOS INTERNOS
Outro quesito importante relativo aos contextos de guerras e conflitos é a
questão dos refugiados e deslocados internamente em cada país. Para não sofrer
os efeitos destrutivos da guerra, parte significativa das populações busca refúgio
em outros países (notadamente, os vizinhos) e em outras regiões do próprio país.
Um exemplo recente é o da Síria, em 2012. Diante do embate entre governo e
grupos armados de contestação ao poder, centenas de milhares de cidadãos bus-
caram abrigo na Turquia, no Líbano e na Jordânia.
Ao longo do século XX houve uma tomada de consciência, pela comunidade
internacional, da questão dos refugiados, já que a Revolução Russa e as duas gran-
des guerras mundiais, entre outros conflitos, geraram a fuga ou o deslocamento
de dezenas de milhões de pessoas. Já nas primeiras décadas do século, a antiga
Liga das Nações, depois substituída pela ONU, criou um escritório para cuidar do
tema. Em 1947, a ONU cria nova organização, o Alto Comissariado das Nações
Unidas para os Refugiados (Acnur). A ele cabe oferecer apoio e proteção aos refu-
giados incluindo alimentos e assistência médica, e intermediar negociações com
países para encontrar novos locais de reassentamento das vítimas dos conflitos.
A agência identifica e apoia também os grupos e indivíduos apátridas. São pes-
soas que, por variadas razões, perderam sua nacionalidade. A nacionalidade é o elo
legal entre um indivíduo e um Estado. Por que isso ocorre? Muitas vezes, algumas
pessoas têm sua nacionalidade negada porque as leis do país não as reconhecem
como cidadãos por motivos religiosos, étnicos ou mesmo por suas opiniões e ações
políticas. Um caso conhecido é o dos membros da etnia Tâmil, não reconhecidos
pelo Estado em Sri Lanka. Em outros casos, não há consenso sobre qual Estado
deve conceder nacionalidade a essas pessoas. Desse modo, o apátrida não pode tirar
documentos, votar ou mesmo matricular filhos na escola.
Outro trabalho relevante do Acnur é produzir regularmente relatórios e do-
cumentos sobre a situação dos refugiados, deslocados e apátridas. Isso viabiliza
ações mais concretas em relação a esses grupos. O relatório Tendências Globais
2010 revela que, ao final desse ano, havia 43,7 milhões de pessoas forçadas a se
deslocar em todo o mundo, o maior contingente dos últimos 15 anos. Desse total,
15,4 milhões eram refugiadas, sendo 10,5 milhões sob cuidados do Acnur, e ou-
tros 4,8 milhões a cargo da agência para refugiados palestinos.
O quadro inclui também 837 mil solicitantes de refúgio, 27,5 milhões de pes-
soas deslocadas internamente e 12 milhões de apátridas. Há pelo menos 7 mi-
lhões de pessoas em situação prolongada de refúgio (cinco anos ou mais). O estu-
do contabiliza também pelo menos 2 milhões de pessoas deslocadas em função de
catástrofes naturais. Entre os refugiados e deslocados, há elevados contingentes
de mulheres e crianças desacompanhadas.
Quase a metade dos refugiados sob responsabilidade do Acnur no mundo
vem do Afeganistão e do Iraque. Há, por exemplo, afegãos espalhados por 75 dife-
rentes países. Os iraquianos estão situados em especial nos países vizinhos ao seu.
9º ano 283
Entre os receptores, destacam-se o Paquistão (com 1,9 milhão de refugiados,
muitos deles afegãos), seguido do Irã. A Síria também já abrigou muitos iraquia-
nos, mas hoje são cidadãos sírios que buscam abrigo nos vizinhos, como vimos
antes. Países da África central e oriental como Chade, Quênia, Tanzânia e Zâmbia
também recebem levas de refugiados vindos de vizinhos como Sudão, República
Democrática do Congo (RDC), República Centro-Africana e outros.
Portanto, crises humani-
tárias e ambientais e disputas
284 Geografia
para cada ser humano, é suficiente para garantir o sustento de toda a população
do planeta. Entretanto, estimativas do Fundo das Nações Unidas para Agricultura
e Alimentação (FAO-ONU) indicavam que o problema ainda afetava 925 milhões
de pessoas no planeta em 2011, apesar da redução no número de indivíduos nessa
condição em relação aos resultados de anos anteriores.
Outros dados da entidade indicavam também que 98% das pessoas nessa con-
dição viviam em países em desenvolvimento. Deste percentual, dois terços esta-
vam em apenas sete países: Bangladesh, China, RDC, Etiópia, Índia, Indonésia e
Paquistão. Quanto às regiões, os dados coincidem com os indicadores de pobreza,
afetando em especial Ásia e Pacífico e África subsaariana. Os números também
preocupam em outras regiões, como a América Latina e Caribe, onde se estima
haver 53 milhões de subnutridos.
São muitas as razões para que esse quadro geral se configure. Entre elas estão os
eventos naturais extremos, como secas e inundações, mas a escassez de alimentos
decorre também dos conflitos políticos. Além disso, embora a produção seja ele-
vada, a falta de alimentos deriva de um movimento perverso do mercado agrícola
global: em regra, o objetivo é mais vender do que alimentar, como assinalam Marie-
Françoise Durand e colaboradores. A crise econômica após 2008 agravou a situa-
ção, pois provocou oscilações nos preços. Muitos países deixaram de importar bens
agrícolas em virtude de alta nos preços. Outros, por sua vez, preferiram atender seu
mercado interno, em detrimento das exportações.
Algumas iniciativas de organizações multilaterais, governos e entidades sociais
buscam reverter esse quadro. Há países que criaram programas de complementação
de renda, permitindo aos mais pobres o acesso a alimentos e outros bens. Esse é o
caso do Brasil. O país, que é um grande celeiro agrícola, também possui progra-
mas de doação de alimentos, em especial para países africanos e da América Latina
(como Haiti e Guatemala). Do mesmo modo, mantém projetos de cooperação hu-
manitária para ajuda a populações vulneráveis, também africanas. Envolvem, entre
outros, recuperação de solos, reconstrução de escolas e hospitais e melhorias no uso
da água para irrigação agrícola.
Farjana K. Godhuly/AFP/Getty Images
9º ano 285
volver pequenos empreendimentos (comércio, serviços, pequena produção agríco-
la), o que já ajudou milhares a sair da condição de pobreza. Tais projetos vêm sendo
postos em prática em outros países, inclusive no Brasil, com bancos comunitários
implementados pelas comunidades com apoio de organizações não governamentais.
CONHECER MAIS
286 Geografia
das diferentes visões, prevê conciliar desenvolvimento econômico e preservação
dos recursos naturais, procurando mantê-los para as gerações futuras. Da mesma
forma, indicou-se que os países teriam “responsabilidades comuns, mas diferen-
ciadas”, cabendo sobretudo aos países mais ricos financiar a proteção ambiental.
O evento definiu também os termos da Agenda 21, conjunto de metas para os
países envolvendo desde a proteção de áreas naturais (florestas, mangues, sava-
nas, mares e oceanos etc.) até práticas sustentáveis no âmbito econômico, redução
e revisão dos padrões de consumo, luta contra a pobreza, valorização da parti-
cipação feminina e das populações tradicionais (como os povos indígenas). Os
debates lançaram as bases para o combate e monitoramento do chamado aque-
cimento global e geraram convenções (documentos-base para os países) sobre a
diversidade biológica, indicando a necessidade de conservação da variedade de
ambientes e das espécies de plantas e animais.
Em relação ao aquecimento global, o acompanhamento se deu em torno da agên-
cia Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês),
a partir de 1988. Nos anos seguintes, o órgão buscou reunir dados sobre os prováveis
efeitos das crescentes emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito
estufa, que contribuiriam para elevar as temperaturas médias na atmosfera terres-
tre. Em 1997, a maioria dos países assinou o Protocolo de Quioto. Em seus diversos
anexos e documentos, o protocolo indicava que caberia aos países ricos reduzir suas
emissões em 5,2% em relação ao total expelido na atmosfera no ano de 1990. Trata-se
de um debate – que ainda prossegue – repleto de divergências e resistências, em espe-
cial dos Estados Unidos, grande emissor de CO2, e dos países produtores de petróleo.
Outros fóruns temáticos (sobre clima e aquecimento global e florestas, em
especial) ocorreram nos anos seguintes. A mais recente conferência mundial foi
realizada novamente no Rio de Janeiro, em 2012 – a Rio+20. Um balanço dos re-
sultados globais constatou a insuficiência das ações governamentais em diversos
subsetores, em especial no que se refere ao item aquecimento global/mudanças
climáticas e na contenção dos índices de devastação dos ambientes naturais. Os
documentos da ONU lançaram a ideia de “economia verde” (basicamente, eco-
nomias de baixo carbono), mas a definição do conceito e sua tradução em ações
práticas foram adiadas para novos encontros.
Entrou na pauta também a proposta de criar uma agência mundial para re-
gular as ações referentes ao ambiente, a exemplo do que já é feito no plano das
trocas comerciais pela Organização Mundial do Comércio. Esse seria um passo
importante para criar um novo mecanismo de governança global. Mas a proposta
não teve a adesão de muitos países, incluindo o Brasil, o país-sede. Tudo precisa
ser aprovado por consenso nas conferências.
De forma geral, as organizações ambientalistas e outras que participaram dos
eventos paralelos (chamados de Cúpula dos Povos) entenderam que os resultados
foram tímidos demais diante da escala das questões ambientais a serem enfrenta-
das. Por exemplo: faltou, entre outros pontos, aprofundar e aprovar medidas de
9º ano 287
proteção de mares e oceanos, hoje grandes receptáculos de resíduos humanos e
palcos de exploração intensa. Por outro lado, o evento renovou o vigor e a decisiva
participação das entidades sociais de diferentes países. Um dado importante foi a
introdução do combate à pobreza como uma das metas centrais nos próximos anos.
Ganharam destaque também algumas iniciativas para a busca de alternativas
energéticas limpas e renováveis, como as desenvolvidas na China com energia
eólica, solar e hidrelétrica. Reconheceram-se também esforços de países como o
Brasil no combate ao desmatamento, embora o problema ainda seja muito grave
em nosso país, que está entre os de maior biodiversidade em todo o planeta.
Sobre o papel das organizações não governamentais nas principais questões sociais e ambien-
tais no mundo atual, examine o texto e os mapas a seguir e responda às questões.
ONGS plurais
Entre público e privado, local e global
O fim da Guerra Fria, o desinteresse de certos governos do Sul pelo GLOSSÁRIO
desenvolvimento social, a multiplicação de Estados falidos e a renovação
Estado falido: Estado em colapso, em
dos conflitos contribuíram para o desenvolvimento de organizações não situação de não governo; incapaz de
governamentais (ONGs). O censo das ONGs existentes é uma tarefa prover a segurança de sua população.
complicada, tendo em vista seu aumento, sua quantidade e diversidade. Lobby (singular), lobbies (plural): grupo
de pressão criado que tem como objetivo
As mais antigas atuam frequentemente na escala mundial e em setores influenciar as autoridades políticas a tomar
variados: desenvolvimento, ação humanitária, defesa dos direitos humanos, decisões que lhe interessam. O reconhe-
cimento e a aceitação da atuação desses
proteção do ambiente, desarmamento etc. Múltiplas organizações nacionais
grupos variam de Estado para Estado.
são igualmente ativas no tecido social dos Estados. Organizações não governamentais
A definição clássica de ONG – “toda organização social não (ONGs): associações criadas por
estatal e sem fins lucrativos” – é ao mesmo tempo insuficiente e errônea. particulares para realizar objetivos que
não visam lucros. Em tese, defendem
Algumas assemelham-se a agências governamentais, outras mais parecem ideias e valores, e não interesses. Se
lobbies profissionais ou grupos religiosos. [...] associações similares já existem há
muito tempo (como as antiescravistas no
Uma progressiva profissionalização substituiu o voluntariado,
século XVIII), considera-se que uma das
o engajamento individual e a militância dos primórdios. Especialistas primeiras ONGs contemporâneas é a Cruz
em captação dos recursos, juristas, economistas e outros seguiram os Vermelha, fundada em 1863.
passos antes trilhados por profissionais como médicos, enfermeiras e
agrônomos que foram atuar em ONGs. Essa competência crescente fez dessas organizações
atores significativos na produção do direito internacional, acabando por constituir um setor de
emprego disputado, cujo pessoal assalariado, internacional e muito qualificado, circula entre
diferentes ONGs, organizações internacionais ou mesmo administrações públicas. [...]
De modo geral, as ONGs exercem funções de denúncia, alerta e mobilização. Assim,
sua ação dificulta cada vez mais os segredos de Estado, as formas de repressão e a violação
dos direitos humanos ou a ineficácia das instituições financeiras internacionais. [...] Fazendo
amplo uso da internet, essas organizações, frequentemente agrupadas em redes, dispõem de
repertórios de ações variadas, para sensibilizar e fazer pressão: campanhas de informação,
fóruns, manifestações etc.
DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 68-69. (Texto adaptado.)
288 Geografia
O que é o Fórum Social Mundial?
O FSM é um espaço de debate democrático de ideias, aprofundamento da
reflexão, formulação de propostas, troca de experiências e articulação de movimentos
sociais, redes, ONGs e outras organizações da sociedade civil que se opõem ao
neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo.
Após o primeiro encontro mundial, realizado em 2001, se configurou como um processo
mundial permanente de busca e construção de alternativas às políticas neoliberais.
O FSM se caracteriza também pela pluralidade e pela GLOSSÁRIO
diversidade, tendo um caráter não confessional, não governamental
Neoliberalismo: conjunto de ideias que busca
e não partidário. Ele se propõe a facilitar a articulação, de forma adaptar ao capitalismo moderno os princípios
descentralizada e em rede, de entidades e movimentos engajados em do liberalismo econômico dos séculos XVIII
ações concretas, do nível local ao internacional, pela construção de e XIX. Este se assentava na livre-iniciativa, na
força do mercado e da concorrência e no direito
um outro mundo, mas não pretende ser uma instância representativa à propriedade. Segundo seus defensores,
da sociedade civil mundial. haveria pouco espaço para a ação econômica
do Estado. Os neoliberais também consideram
O fórum é organizado no mundo por um grande conjunto
que a vida econômica e social deve ser regida
de organizações não governamentais, sindicatos e movimentos pelos mecanismos de preços e pela economia
populares das mais diferentes partes do mundo. de mercado, embora achem importante que
essa última seja mais disciplinada, de modo a
Fórum Social Mundial. Disponível em: <www.forumsocialmundial.org.br/ combater excessos da livre-concorrência.
main.php?id_menu=19&cd_language=1>. Acesso em: 17 set. 2012.
Greenpeace
Greenpeace (em
português, Paz Verde):
conhecida entidade
internacional de defesa
do ambiente, foi criada
em 1971 com os objetivos
de combater os testes
nucleares realizados pelas
grandes potências e defender
espécies ameaçadas de
extinção. Tem como marca
ações arrojadas, como
N
bloquear barcos pesqueiros
0 3150 6300 km ou navios de transporte de
O L
S substâncias tóxicas.
9º ano 289
Ilustração digital: Sonia Vaz
WWF
O L
0 3150 6300 km naturais.
S
Anistia Internacional
Anistia Internacional:
criada em 1961, defende
a liberdade de expressão,
estendendo suas
atividades para a defesa
das vítimas de tortura e
de desaparecimento, de
condenados à pena de morte
e outros direitos. Ganhou
o Prêmio Nobel da Paz em
1977. Conta com mais de
2,2 milhões de membros
e simpatizantes ativos em
cerca de 150 países.
N
0 3150 6300 km
O L
1. Quais são as organizações descritas nos mapas e nos textos? Em quais áreas elas atuam?
3. Retome a ideia de governança global apresentada no início do capítulo. Em sua opinião, a atuação
das entidades descritas contribui para desenvolver a governança global? Explique sua resposta.
290 Geografia
UM MUNDO MAIS JUSTO E SOLIDÁRIO
Vimos ao longo do capítulo que as relações internacionais evoluíram de um
sistema de coexistência internacional (ou seja, um mosaico de soberanias nacio-
nais) para outro caracterizado pela cooperação multilateral, em especial após a
Segunda Guerra Mundial. Esta cooperação envolve tanto as organizações regio-
nais e multilaterais como os governos e uma constelação de organizações sociais.
Tendo em vista a busca de justiça social, desenvolvimento econômico e pre-
servação ambiental e atendimento dos direitos humanos, a agenda política e so-
cial do mundo contemporâneo implica ainda uma série de desafios. Um deles é
promover reformas em entidades como a ONU, em especial no seu Conselho de
Segurança, para que ela ganhe mais poder e legitimidade diante da complexidade
dos conflitos e dramas sociais.
É preciso também favorecer contextos que reforcem a multiplicidade e plu-
ralidade de atores estatais e não estatais, públicos e privados, no cenário interna-
cional. A expectativa é de que isso ofereça contrapontos ao poder e aos interesses
das nações hegemônicas e das grandes corporações econômicas transnacionais.
O rumo dos acontecimentos indica também a necessidade de incorporar as va-
riáveis ambiental e social (em especial, o combate à pobreza) nos projetos de
desenvolvimento. Não é por outra razão que os chamados Objetivos de Desen-
volvimento do Milênio deverão conter, tendo o ano de 2015 como referência,
objetivos também de desenvolvimento sustentável.
Para inúmeros especialistas, o caminho para alcançar objetivos de paz, desen-
volvimento pleno e efetiva cooperação internacional só poderá ser pavimentado
com a efetiva participação social.
MOMENTO DA ESCRITA
Com base nas iniciativas discutidas neste capítulo, examine os textos a seguir. A partir disso,
escreva um texto que apresente e discuta as perspectivas para a paz, justiça social e cooperação
internacional. Inclua em sua análise o potencial para superação de guerras e conflitos no mundo
contemporâneo. Apresente os resultados e discuta-os com sua turma.
9º ano 291
Artigo II – Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo,
língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza,
nascimento, ou qualquer outra condição.
Artigo III – Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo IV – Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico
de escravos serão proibidos em todas as suas formas.
ONU, 1948. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso em: 15 set. 2012.
APLICAR CONHECIMENTOS
1. A partir do que você estudou no capítulo, escreva com suas palavras o significado das seguintes
palavras ou expressões:
a) paz
b) guerra
c) missões de paz
d) governança global
e) direito internacional
f) Tribunal Penal Internacional
g) refugiado
h) deslocado
i) apátrida
j) repatriação
k) cooperação humanitária
l) organização não governamental
m) ator não estatal
n) desenvolvimento sustentável
2. Escreva um texto que explique o que significa a seguinte afirmação: “Cada vez mais ganha força
no mundo atual a ideia de governança. O termo, que não deve ser confundido com ‘governo’ tal
como o conhecemos, refere-se a novas formas de regulação coletiva de diversas demandas sociais,
políticas e econômicas”.
292 Geografia
3. Desafio National Geographic Brasil (2011)
N
0 2310 4620 km
O L
9º ano 293
Sobre a MSF, considere as afirmações a seguir:
I – A MSF conta com a participação de profissionais de diferentes países. Entre eles estão os
brasileiros, com atuação em vários países africanos.
II – O trabalho de assistência social e ajuda humanitária no mundo está a cargo da ONU,
ficando vedada a participação de organizações da sociedade civil nesses setores.
III – A MSF atua em dezenas de países, como os da Ásia e da África, dedicando especial
atenção às populações mais necessitadas ou afetadas por conflitos, fome, doenças e
catástrofes naturais.
Está correto o que foi afirmado em:
a) I, II e III. b) III, apenas. c) I e III. d) I, apenas.
4. Desafio National Geographic Brasil (2011)
Os mares do mundo foram invadidos por uma praga quase invisível, o lixo
plástico, em boa parte arrastado das cidades pelo curso dos rios. Os resíduos não
chegam a formar ilhas flutuantes, mas uma fina camada de fragmentos está presente
em todo o percurso da expedição – 3,5 mil quilômetros entre o Rio de Janeiro e a ilha
de Ascensão. [...]
Enquanto viaja, o plástico entra em contato com os poluentes orgânicos
persistentes (POPs), uma categoria de contaminantes de longa duração no ambiente.
[...] “Um fragmento de plástico circulando há alguns anos no mar chega a ter uma
concentração de POPs 1 milhão de vezes maior que a água a seu redor”, diz o cientista
americano Marcus Eriksen.
Isso acontece porque esse lixo e os poluentes têm a mesma origem – o
petróleo – e possuem afinidade química. Assim, os organoclorados dispersos na água
aderem ao plástico “viajante”. Pobre do animal que engolir a mistura indigesta: não
conseguirá metabolizar o plástico e sofrerá os efeitos da contaminação.
[...] “A grande maioria dos resíduos sai de cidades e lixões em terra. São despejados
diretamente nos rios ou carregados pelas enxurradas até terminar no mar”, conta Eriksen.
National Geographic Brasil, ed. 133, abr. 2011, p. 19.
294 Geografia
rurais, no início, tirando o dinheiro do próprio bolso. Assim, surgiu o Grameen Bank.
Nele, a taxa de pagamento dos empréstimos beira os 99%.
O Brasil também participa desse jogo, com instituições governamentais e
privadas. “O microcrédito é diferente do microempréstimo. O dinheiro não vai para o
consumo, mas para investimentos em negócios, no sonho das pessoas”, diz Jerônimo
Ramos, do setor de microcrédito de um banco privado. Um estudo feito com 175
empreendedores de Heliópolis (favela em São Paulo) mostrou que as vendas de quem
recebeu o microcrédito cresceram em até 60%.
CALLEGARI, Jeanne. O poder do microcrédito. Vida Simples, mar. 2011. Disponível em:<http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/
microcredito-banco-comunitario-financiamento-baixa-renda-vidasimples-623607.shtml>. Acesso em: 4 out. 2012. (Texto adaptado.)
6. Com base nos estudos feitos neste capítulo, analise o texto a seguir, que examina perspectivas
futuras para a humanidade.
Por uma outra globalização
Agora que estamos descobrindo o sentido de nossa presença no planeta, pode-
-se dizer que uma história verdadeiramente humana está, finalmente, começando.
A mesma materialidade, atualmente utilizada para construir um mundo confuso e
perverso, pode vir a ser uma condição da construção de um mundo mais humano.
Basta que se completem as duas grandes mutações ora em gestação: a mutação
tecnológica e a mutação filosófica da espécie humana.
A grande mutação tecnológica é dada com a emergência das técnicas da
informação, as quais – ao contrário das técnicas das máquinas – são constitucionalmente
divisíveis, flexíveis e dóceis, adaptáveis a todos os meios e culturas, ainda que seu uso
perverso atual seja subordinado aos interesses dos grandes capitais. Mas, quando sua
utilização for democratizada, essas técnicas estarão ao serviço do homem.
Muito falamos hoje nos progressos e nas promessas da engenharia genética,
que conduziriam a uma mutação do homem biológico. [...] Pouco, no entanto, se fala
das condições, também hoje presentes, que podem assegurar uma mutação filosófica
do homem, capaz de atribuir um novo sentido à existência de cada pessoa e, também,
do planeta.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 174.
9º ano 295
PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS
Atlas Atlas da mundialização
Atlas com cartografia inovadora com temas relevantes do Brasil e do mundo. Consultar ca-
pítulos sobre firmas e atores globais.
DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009.
Geoatlas
Atlas com mapas, gráficos e figuras sobre temas de interesse para a geografia no Brasil e no mundo.
SIMIELLI, Maria E. Geoatlas. São Paulo: Ática, 2010.
296 Geografia
Bibliografia
GEOGRAFIA
BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Hubert. Atlas do mundo global. São Paulo: Esta-
ção Liberdade, 2009.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 8ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
(A era da informação: economia, sociedade e cultura).
COGGIOLA, Osvaldo. A longa caminhada árabe. História Viva. ano VIII, n. 91,
pp. 46-49.
HOBSBAWN, Eric. O novo século: entrevista a Antonio Polito. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2000.
MARTIN, André Roberto. Fronteiras e nações. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1994.
9º ano 297
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Conferência Mundial contra
o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Conexa. Disponível
em: <www.gddc.pt/direitos-humanos/Racismo.pdf>. Acesso em: 1o mar. 2013.
SMITH, Dan. Atlas da situação mundial. São Paulo: Companhia Editora Nacio-
nal, 2007.
_______. Atlas dos conflitos mundiais. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
2007.
SOUZA, Marina de Mello E. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2007.
298 Geografia
UNIDADE 6
Ciências
Capítulo 1
CIÊNCIAS Os materiais e a Química
RODA DE CONVERSA
A diversidade de materiais é uma característica forte da atualidade. Há milhares de materiais
em uso e novos materiais não param de ser pesquisados e desenvolvidos. Para iniciar seus estu-
dos, converse com seus colegas sobre as questões a seguir, levantando hipóteses de resposta.
1. Você sabe de que materiais são feitos os objetos que usa em seu cotidiano? Quais as principais
matérias-primas em uso?
2. Como os materiais se transformam? Você tem ideia de como o conhecimento químico auxilia
nesse processo?
3. Você já ouviu falar dos alquimistas, que estudavam materiais e substâncias nos tempos antigos,
antes do surgimento da Química moderna?
4. Quais características da Química moderna a tornam diferente da alquimia? Quais as assemelham?
9º ano 301
MATERIAIS BRUTOS OU TRANSFORMADOS
Rochas e minerais, madeira, lã, couro e algodão são exemplos de materiais
usados durante séculos pela humanidade. São retirados do ambiente e tratados
de diferentes modos para se tornarem úteis na fabricação de objetos. Muito antes
do surgimento da ciência química, foram criados os procedimentos para tratar
matérias-primas importantes até hoje.
A argila, por exemplo, é um material importante para moldar tijolos, potes e
panelas. O processo básico da preparação desses objetos começa com a coleta da
argila em barrancos ou proximidades de rio, onde se acumula, já que resulta da
fragmentação de certas rochas. Há milhões de anos descobriu-se como produzir
potes de barro cozido (cerâmica), um material de grande utilidade, pois é imper-
meável e bom condutor de calor.
João Prudente/Pulsar Imagens
A argila úmida é usada para modelar os tijolos Os tijolos vão ao sol para secar. Finalmente, os tijolos são cozidos no forno.
em fôrmas.
302 Ciências
propriedades de maleabilidade (facilidade para modelagem e capacidade de for-
mar lâminas), tenacidade (resistência à quebra por impacto) e ductilidade (faci-
lidade para formar fios), servem para produzir incontáveis objetos. Nas constru-
ções modernas, o cobre é usado em fios condutores elétricos e em tubulações para
gás e água quente; o ferro é empregado em vigas que sustentam as construções,
em grades e portões; o alumínio é empregado em portas, janelas, portões. No
passado recente (até a década de 1960 do século passado) praticamente todos os
encanamentos de água fria e quente eram feitos de ferro e os de esgoto eram de
chumbo (metal tóxico para os seres vivos) ligados a manilhas de cerâmica que
desembocavam em fossas ou em redes coletoras. Atualmente, com exceção dos
encanamentos de cobre para água quente e gás, praticamente todos os demais
foram substituídos por plástico (PVC).
O cimento é outro material extremamente importante nas construções, pois
realiza a fixação de pedras e tijolos. Quando se mistura o cimento com água, ocor-
re geração de calor. O aquecimento mostra que houve uma reação química com
liberação de energia. A mistura, adicionada à areia lavada, forma o agregado usa-
do nas construções. Depois de seca, a mistura se torna dura, com boa tenacidade
e impermeável (não permite que a água a atravesse).
de nho
Silos Moi tivo
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de
nho
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de cim
Silos
Para fabricar cimento é necessário levar a fornos especiais certas argilas (ricas no elemento químico silício) e o
calcário (composto pelos elementos químicos cálcio, carbono e oxigênio). O produto do cozimento é chamado
clínquer. Na etapa seguinte, o clínquer moído é misturado ao gesso (composto por enxofre, oxigênio e cálcio).
O resultado é o pó de cimento, um material que contém silício, oxigênio, cálcio e enxofre.
Elaborado pelas autoras, 2012. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)
Por fim, o vidro é outro tipo de material necessário nas construções, por suas
propriedades de transparência e impermeabilidade. Ele é produzido pelo aque-
cimento de areia (constituída principalmente por sílica, que é composta dos ele-
mentos químicos silício e oxigênio) misturada com carbonato de sódio (compos-
to dos elementos sódio, carbono e oxigênio), também conhecido como barrilha.
Outros componentes também são adicionados à mistura, com a finalidade de ob-
ter os diferentes tipos de vidros que conhecemos.
9º ano 303
Diz a lenda que, há 4 mil anos, mercadores fenícios colocaram pedaços de na-
trão para ajeitar uma fogueira feita na areia. O natrão, também chamado trona ou
natro, composto por carbonato de sódio natural, era usado para tingir tecidos e es-
tava sendo transportado pela caravana. A fogueira durou toda a noite e, de manhã,
para surpresa de todos, apareceram pedaços de vidro transparente. O vidro passou
a ser empregado, inicialmente, para fazer enfeites e depois para produzir utensílios.
APLICAR CONHECIMENTOS I
1. Dê exemplos de materiais que continuam sendo usados desde muito tempo até hoje.
2. Usamos panelas feitas de metais (ferro, alumínio, aço) e de argila. Quais são as propriedades co-
muns e quais as diferentes entre esses materiais?
3. Cite exemplos de materiais usados em estado bruto, descrevendo para que eles servem.
4. Sobre o cimento, explique:
a) Quais as matérias-primas utilizadas na primeira etapa de sua produção? E na segunda?
b) Como é o procedimento da primeira etapa? E o da segunda?
5. Complete o quadro com os materiais citados no texto.
Propriedade Materiais
Tenacidade
Ductilidade
Maleabilidade
Impermeabilidade
Transparência
Condução de calor
Silício: Si
Oxigênio: O
Cálcio: Ca
Sódio: Na
Enxofre: S
Em quais dos materiais citados no texto eles estão presentes? Complete o quadro utilizando
os símbolos.
304 Ciências
Nome do material Elementos químicos presentes
Vidro Si, O, Ca
PESQUISAR
Em grupo, localize em sua cidade uma olaria, uma oficina de cerâmica, de cestaria, de produ-
ção de artefatos de couro ou de outro tipo de artesanato. Investigue os conhecimentos tradicionais
para a produção artesanal.
Entreviste os artesãos e descubra:
• quais são os materiais com que trabalham, como eles são obtidos e transformados;
• quais são os objetos produzidos e a sua utilidade;
• quais são os procedimentos e as técnicas do trabalho;
• quais são as máquinas utilizadas;
• quais são os fenômenos físicos e as transformações químicas envolvidos na preparação do produto.
Antes de fazer as entrevistas, registre as perguntas elaboradas por seu grupo. Anote ou grave
suas descobertas. Complete o registro com fotos.
9º ano 305
DEBATER
1. Apesar de não parecerem, o ar e a água do mar são misturas. Você sabe explicar o porquê desse
fato? Converse com seus colegas e levante hipóteses.
2. Complete a segunda coluna da tabela a seguir com as expressões do quadro. Em seguida, preen-
cha a terceira coluna, com base em seus conhecimentos.
• mistura de sólidos;
• mistura de líquidos;
• mistura de líquidos e sólidos;
• mistura de líquido e gás.
Areia da praia
Refrigerante
Café coado
Água do mar
306 Ciências
Em uma salina, a água do mar é represada em tanques rasos, onde facilmente evapora. O sal
depositado no fundo é coletado e passa por processos para que sejam retiradas impurezas. Após a
purificação, é adicionado o iodato de potássio, que contém o elemento químico iodo. Por isso, há
nos pacotes de sal a inscrição “sal iodado”. Essa adição é obrigatória por lei para prevenir doenças
da glândula tireoidea causadas por carência crônica de iodo.
a) Qual fonte de energia é necessária para a separação entre sal marinho e água líquida?
b) Qual o formato do tanque de água salgada? Esse formato é importante no processo e em seu
resultado?
c) Crie um experimento para simular a obtenção do sal a partir da água salgada. Liste os mate-
riais necessários e anote os passos a serem realizados.
EXPERIMENTAR
EXPERIMENTO 1
Materiais
• uma colher de sopa de vinagre
• um copo limpo e seco
• uma colher de chá de bicarbonato de sódio
Procedimento
Coloque o vinagre em um copo limpo e seco. Em seguida, acrescente o bi-
carbonato de sódio.
1. Agora, responda:
a) O que aconteceu?
9º ano 307
EXPERIMENTO 2
Materiais
• 1 colher de sopa de cal virgem (usado em pintura de parede)
• 2 litros de água em uma garrafa pet
• uma jarra
• um canudo para cada aluno
• um copo para cada aluno
Procedimento
Prepare a água de cal misturando a cal virgem com a água. Deixe a mistura
descansar por um dia dentro de um armário ou outro lugar escuro. Colete
na jarra o líquido transparente que se separou do resíduo branco no fundo.
Esse líquido transparente é a água de cal.
Encha meio copo com a água de cal. Com ajuda do canudo, sopre no líqui-
do durante um minuto, devagar para que ele não espirre para fora do copo.
Proteja os olhos com óculos de segurança.
2. Agora, responda:
a) O que acontece após soprar?
308 Ciências
do como sal de cozinha. A água é a substância mais comum da superfície da Terra
e compõe o corpo dos seres vivos; ela tem fórmula química e propriedades defi-
nidas. Sua fórmula é H2O, isso quer dizer que cada molécula de água é formada
por dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio. O cloreto de sódio tem
a fórmula NaCl, sendo Na o símbolo químico do elemento sódio, pois seu nome
latino é natrium. Ou seja, para formar o cloreto de sódio basta um átomo de só-
dio e um de cloro, conforme mostra a sua fórmula. Para representá-la, como o sal
forma cristais, são utilizados vários átomos de cloro e de sódio.
Na
Por sua vez, o ar atmosférico também é uma mistura de gases. A maior porção
corresponde ao gás nitrogênio, substância cujas moléculas possuem dois átomos
do elemento nitrogênio, com fórmula N2. Confira a composição do ar atmosféri-
co na tabela a seguir. Essa composição não considera a água que existe no ar, em
quantidades variadas, conforme o dia e o lugar no planeta.
N2 Nitrogênio 78,1000
O2 Oxigênio 20,9000
Ar Argônio 0,9340
Ne Neônio
He Hélio
Kr Criptônio 0,0346
H2 Hidrogênio
Xe Xenônio
Fonte: Interações e transformações III – Química – Ensino Médio. São Paulo: Edusp, 1998.
9º ano 309
Os diferentes materias vem sendo investigados há muitos séculos. As substân-
cias que os compõem eram conhecidas de forma prática, mesmo que se ignoras-
sem as suas fórmulas. Os antigos alquimistas acumularam saberes sobre substân-
cias pesquisando medicamentos, elixires curativos e todo tipo de transformação
útil para a indústria de metais, couro e tantas outras.
Para que se chegasse à Química moderna, foi muito importante a contribui-
ção do cientista francês Antoine Lavoisier (1745-1794). Suas descobertas vieram
encerrar as disputas entre cientistas europeus que tentavam explicar como ocor-
ria a queima dos materiais. Lavoisier demonstrou que essa queima depende da
união entre o material queimado e o oxigênio, presente no ar atmosférico. Desco-
briu também que a água não é um elemento único, mas uma mistura de oxigênio
e hidrogênio. E foi ele quem determinou uma lei fundamental da química, a Lei
da Conservação de Massas, que pode ser descrita assim: a soma das massas dos
reagentes é igual à soma das massas dos produtos. Veja um exemplo de aplicação
dessa lei, considerando a reação química em que hidrogênio e oxigênio se combi-
nam para formar água. Observe que a soma das massas dos reagentes é idêntica à
massa do produto da reação.
Coleção particular
310 Ciências
SUBSTÂNCIAS SIMPLES E SUBSTÂNCIAS COMPOSTAS
Há substâncias formadas por um só tipo de elemento químico, por exemplo:
gás oxigênio (O2), gás nitrogênio (N2), gás cloro (Cl2); o diamante (carbono orga-
nizado em cristal). Nesses casos, temos substâncias simples, constituídas por um
único elemento químico.
Mas, em outras substâncias, os elementos aparecem combinados, por exemplo:
cloreto de sódio (NaCl); água (H2O); dióxido de carbono (CO2); monóxido de car-
bono (CO); hidróxido de sódio (NaOH − soda cáustica); ácido acético (C2H4O2
− vinagre); etanol (C2H6O – álcool etílico).
O
Cu
O
Cu O
Cu
Cu O
Átomos de
Átomos de oxigênio
cobre
O Cu
Cu O
Ilustração digital: Luis Moura
O O
Cu Cu
9º ano 311
São conhecidos atualmente 112 elementos químicos, cada um deles com qua-
lidades comuns a todos e características próprias. Em comum: os átomos dos ele-
mentos são constituídos por partículas ainda menores. As partículas que formam
o átomo foram descobertas há mais de cem anos e continuam sendo pesquisadas.
Na atualidade, sabe-se que os átomos são formados por dezenas de partículas
diferentes, sendo as três fundamentais: os elétrons, localizados na eletrosfera, os
prótons e os nêutrons, que constituem o núcleo atômico. Os elétrons são partí-
culas minúsculas com carga elétrica negativa, que se mantêm em movimento ao
redor do núcleo atômico, com carga positiva. Os prótons possuem carga elétrica
positiva, e os nêutrons não têm carga elétrica. Quando a carga positiva do átomo
é igual à carga negativa, ou seja, quando o número de prótons é igual ao número
de elétrons, o átomo está eletricamente neutro.
O átomo mais simples é também o mais antigo e mais abundante do Universo:
o hidrogênio. Seu número atômico é 1, o que significa que ele possui um próton
no seu átomo. No estado neutro, ele possui um elétron na eletrosfera. Aqui na
Terra, ele é encontrado na atmosfera na forma de gás hidrogênio com fórmula
H2 (dois átomos reunidos). Já o gás hélio tem sua fórmula idêntica ao nome do
elemento: He. Isso porque ele é constituído por um único átomo. Observe a re-
presentação do átomo de hélio, que possui dois prótons e dois nêutrons no núcleo
atômico, bem como dois elétrons girando na eletrosfera. Ao contrário do hidro-
gênio, o hélio é um elemento estável que dificilmente se combina com outros.
O mesmo acontece com os demais gases atmosféricos chamados nobres, que se
encontram na mesma coluna da Tabela Periódica.
Ilustração digital: Luis Moura
Próton
Neutron
Elétron
312 Ciências
A Tabela Periódica representa uma síntese do que se conhece dos elementos
químicos. Os elementos encontram-se organizados conforme seu número atômico,
que é o número de prótons de cada elemento e que o distingue dos demais.
APLICAR CONHECIMENTOS II
9º ano 313
PESQUISAR II
DEBATER II
Antes do advento do plástico, o vidro e o metal eram mais utilizados na produção de embalagens e outros objetos do nosso cotidiano.
314 Ciências
1. Procure em seu cotidiano outros exemplos de objetos que podem ser feitos de diversos materiais,
mas hoje são principalmente feitos de plástico.
2. Por que os plásticos são tão importantes hoje em dia? Quais são suas propriedades? O que os
torna úteis e quais suas desvantagens em relação aos materiais tradicionais? Converse com seus
colegas sobre essas questões.
Vista aérea de plataforma de petróleo na Baía de Guanabara, Amostra de petróleo bruto extraído das plataformas.
no Rio de Janeiro (RJ), em 2012.
9º ano 315
Muitas das antigas fontes de petróleo já se encontram esgotadas. Hoje em dia, o
petróleo é retirado por meio de poços profundos, pois encontrá-lo se tornou mui-
to mais difícil do que antigamente. O Brasil, por exemplo, desenvolve tecnologias
para retirar o petróleo milhares de metros abaixo do piso do oceano, em uma
região chamada de pré-sal. Para chegar até as reservas, é preciso ultrapassar uma
camada grossa de sal.
Depois de extraído, o petróleo segue para refinarias, onde passa por um pro-
cesso de destilação fracionada. Por meio do aquecimento, seguido de resfriamen-
to, as diversas substâncias presentes no petróleo são separadas. Isso é possível
porque algumas substâncias do petróleo mudam de estado físico apenas em de-
terminadas temperaturas, podendo ser coletadas separadamente.
C5 a C9
Produtos
químicos
Densidade e ponto de 70 °C
ebulição diminuindo C5 a C10 Gasolina para veículo
120 °C
270 °C
Combustíveis para
C20 a C70 navios, fábricas e
aquecimento central
Densidade e ponto de 600 °C
ebulição aumentando
> C70
Betume para estradas e telhas
O esquema mostra a destilação fracionada do petróleo, com a qual se retiram seus subprodutos. O propano é a substância de fórmula C3H8, o butano, C4H10,
a gasolina é uma mistura de substâncias que contém, igualmente, apenas hidrogênio e carbono, com fórmulas de cinco a oito carbonos, como C5H12 ou C8H18.
Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)
316 Ciências
Com substâncias seperadas do petróleo são fabricados diversos produtos,
destacando-se: plásticos, tintas, cosméticos, fertilizantes, detergentes, isopor, fi-
bras para tecidos (náilon, poliéster) e acrílicos. Esses produtos modernos são ob-
tidos com a ajuda de conhecimentos científicos desenvolvidos há pouco mais de
100 anos. Assim, a geração de novos subprodutos do petróleo apoia-se no desen-
volvimento cada vez mais acelerado da ciência e da tecnologia.
1. No campo da transformação da energia e dos materiais, quais usos os egípcios faziam do petróleo?
2. Na atualidade, para encontrar petróleo, é preciso cavar poços profundos. O que aconteceu com
as fontes superficiais?
3. Do ponto de vista químico, o petróleo é uma mistura de hidrocarbonetos (substâncias formadas
apenas por carbono e hidrogênio).
a) Exemplifique as frações que podem ser obtidas a partir do petróleo.
b) Como essa mistura é separada em suas partes constituintes?
c) Esse processo é uma transformação química ou física? Justifique.
4. Na atualidade, o petróleo fornece matéria-prima para plásticos, fertilizantes e muitos outros pro-
dutos. Por que isso se tornou possível apenas há pouco mais de 100 anos?
5. O petróleo é classificado, junto com o carvão mineral, como combustível fóssil. Por quê?
9º ano 317
naturais e mantém médias adequadas para a vida. Esse efeito é gerado pelo va-
por de água e pelos gases de modo geral, pois suas moléculas funcionam como
pequeníssimos espelhos, que refletem o calor de volta para a superfície terrestre.
Desse modo, a atmosfera devolve para a superfície o calor que dela se dissipara,
funcionando como uma estufa. Entre os gases atmosféricos, o dióxido de carbono
tem grande influência no efeito estufa. Maior influência tem o gás metano, o CH4,
que retém ainda mais calor na Terra.
Além da queima de combustíveis fósseis, há outras fontes de emissão de
CO2, como as queimadas. No Brasil, elas são usadas tradicionalmente para a
produção de pastos em áreas desflorestadas, ou depois da coleta de safra. Em
nosso país, o desflorestamento contribui para o aumento do CO2 na atmosfera
e, por isso, deve haver constante vigilância nesse aspecto. O metano, por sua
vez, pode ser gerado naturalmente em vulcões, na decomposição de lixo ou
madeira em área alagada, bem como pelo gado bovino durante a digestão do
alimento.
LER IMAGEM
Ilustração digital: Luciano Tasso
Atmosfera
Calor que escapa
Sol para o espaço
Calor refletido
para a Terra
Radiação solar
recebida
Atmosfera
Radiação solar
emitida sob forma
de calor
1. Identifique na imagem o efeito estufa que ocorre na atmosfera. Sem esse efeito, benéfico para o
planeta, a Terra seria parecida com a Lua, que tem noites muito frias e dias quentíssimos.
2. Como a intensificação do efeito estufa, provocada pelo acúmulo do CO2 na atmosfera terrestre,
poderia ser sinalizada no esquema?
318 Ciências
CONHECER MAIS
Em escala local, é mais fácil reconhecer as mudan- co, pode perder mais de 2 mil das suas 17 mil ilhas
ças causadas pelas atividades humanas no ambiente. Já nos próximos 20 anos. No Brasil, a ilha do Marajó,
as mudanças climáticas em escala global não são nada no estado do Pará, é identificada como um lugar que
simples de serem compreendidas. Depois de quase duas facilmente perderá território com a subida do nível
décadas de estudos, relatórios e conferências, ainda há do mar. As consequências são dramáticas para toda a
discussão sobre as causas e consequências das mudan- vida no planeta. Observam-se, em diferentes regiões,
ças climáticas que ocorrem na atualidade. alterações expressivas no regime de chuvas e na loca-
Essas mudanças são mais perceptíveis nas regiões lização das secas.
geladas, nos polos e no alto das montanhas de cli- Mundialmente, estuda-se e debate-se como pode-
ma frio, onde o degelo de blocos imensos de água mos, em sociedade, diminuir as emissões de carbono,
congelada e de neve no pico de montanhas não re- por um lado, e aumentar o seu “sequestro”, por outro.
presenta apenas uma mudança nas paisagens. Si- Isto é, retirá-lo da atmosfera e armazená-lo na biosfera
multaneamente, a água proveniente desse degelo já ou na hidrosfera. O carbono segue para a biosfera na
está causando a elevação do nível do mar nas costas etapa de crescimento das plantas; assim, manter as flo-
continentais, ameaçando algumas ilhas de sumir do restas em pé e plantar árvores é um remédio importante
mapa. A Indonésia, país na região do oceano Pacífi- contra as mudanças climáticas.
APLICAR CONHECIMENTOS IV
1. Nos materiais da lista a seguir, escreva B se um material bruto está sendo empregado ou Q se o
material foi transformado quimicamente para ser usado.
( ) Petróleo usado pelos egípcios para impermeabilizar cisternas.
( ) O caldo de cana é ambiente rico para o crescimento de população de fungos que fazem
sua fermentação. Como resultado, há a produção de álcool etílico, ou etanol.
( ) Pó vulcânico misturado com água servia como cimento para romanos na Antiguidade.
( ) Pedaços de rocha polida ornamentam o piso de casas.
( ) Cerâmicas e azulejos servem de cobertura de pisos e paredes.
2. É fácil confundir ouro com pirita, um mineral também dourado, mas com comportamento dife-
rente do ouro quando amassado entre duas superfícies metálicas ou sob uma martelada. Apenas
o ouro é amassado, enquanto a pirita se quebra. Isso porque apenas o ouro é um metal com a
propriedade:
a) maleabilidade.
b) brilho.
c) tenacidade.
d) condutividade térmica.
3. A destilação em alambiques ou destilarias permite separar o etanol do caldo de cana fermentado.
a) Por que a destilação do álcool é mais fácil de fazer que a destilação do petróleo?
b) A destilação é um fenômeno físico ou químico? Explique.
4. Examine a transformação química que ocorre na fotossíntese, processo que permite às plantas
9º ano 319
produzir seu próprio alimento, a glicose (cuja fórmula química é C6H12O6):
a) Explique de onde vem e para onde vai o carbono, considerando a atmosfera e a biosfera.
b) Por que essa transformação é importante para diminuir a intensificação do efeito estufa?
5. Escreva a fórmula química do gás metano e as semelhanças e diferenças entre esse gás e o dióxido
de carbono.
6. O degelo atinge os polos e as zonas próximas, especialmente o bioma chamado tundra (a terra das
renas), com vastas áreas cobertas por liquens que habitam o solo gelado. Já se sabe que o degelo da
tundra causa forte emissão de gás metano. O que isso significa para o planeta?
Plunne/Dreamstime
Vegetação de tundra em
Esvalbarda (território noruegues
no Ártico), 2012.
320 Ciências
Capítulo 2
CIÊNCIAS A energia em transformação
RODA DE CONVERSA
Com seus colegas, observem as fotos de diferentes meios de transporte e respondam às ques-
tões a seguir, com base no que já sabem ou criando hipóteses. Depois, confiram as legendas e
busquem mais conhecimentos sobre os conceitos de ciência e tecnologia.
Neste caso, vemos um carro puxado por O trem conhecido pelo nome maria-fumaça é movido O metrô é um meio de transporte de
bois. A energia que move esse veículo vem pelo vapor de água sob pressão. O vapor é produzido em massa, utilizado em grandes cidades.
dos bois, que, por sua vez, a obtiveram por caldeiras, aquecidas com uso de lenha ou carvão. A eletricidade é sua fonte de energia.
meio da sua alimentação.
9º ano 321
RECURSOS NATURAIS E TECNOLOGIA
Muitas pessoas acreditam que a tecnologia seja algo relacionado apenas à
informática e que surgiu a partir da criação dos computadores, da internet, dos
jogos eletrônicos, dos celulares etc. Entretanto, a tecnologia é tão antiga quan-
to a humanidade, sendo o domínio do fogo considerado o marco inicial dessa
longa história.
Por meio dos aparelhos e dispositivos tecnológicos desenvolvidos em cada
época, a humanidade tem sido capaz de transformar os ambientes, obter materiais
das mais diversas origens e utilizar os tipos de energia de modo apropriado em
cada situação. Não se sabe ao certo quando ocorreu o domínio do fogo, mas tal
fato contribuiu para a ocupação do continente europeu, há cerca de 300 mil anos,
pelo Homo sapiens. Esses humanos primitivos provavelmente usavam o fogo para
se aquecer e afugentar os animais que rondavam seus acampamentos durante a
noite. Além disso, o fogo permitiu cozinhar os alimentos, ampliando as opções de
preparação e consumo, tornando-os mais macios e mais fáceis de serem comidos.
Assim, a tecnologia teve papel fundamental na melhoria da qualidade de vida das
populações desde o início da história da humanidade.
O domínio do fogo modificou os hábitos do homem primitivo, permitindo que ele se aquecesse, cozinhasse os
alimentos e afugentasse os outros animais.
Com o passar do tempo, o ser humano inventou muitos meios para obter luz
e calor, duas formas de energia. A lenha, as gorduras de animais e o esterco seco
foram e ainda são fontes de fácil acesso e muito usadas para essas finalidades.
É certo que a humanidade dependeu, durante a maior parte de sua existência,
de materiais e energia obtidos a partir de animais, vegetais, minerais, água, vento,
fogo ou diretamente do sol. Mas tudo mudou com as primeiras máquinas movi-
das a vapor, no início do século XVII, criadas na Inglaterra para elevar e retirar a
322 Ciências
água acumulada nas regiões mais profundas das minas de carvão. Pouco tempo
depois a máquina a vapor passou a ser usada para puxar o minério em carrinhos
sobre trilhos, dando início ao que foi chamado de Primeira Revolução Industrial.
Durante o século XVIII, a máquina a vapor foi a principal impulsionadora de um
rápido crescimento tecnológico e econômico na Inglaterra. A Primeira Revolu-
ção Industrial foi palco da substituição da ferramenta manual e das máquinas
movidas a energia obtida diretamente da natureza pelas máquinas a vapor.
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9º ano 323
chave de fenda. Também usamos frequentemente as formas de energia direta-
mente disponíveis na natureza, como a energia dos ventos e do movimento das
águas e o calor do sol. Contudo, com o emprego da energia térmica do vapor, a
humanidade teve máquinas que proporcionaram certa autonomia em relação ao
trabalho humano e dos animais e mais liberdade quanto à presença de sol e vento.
Toda a energia de que precisamos para viver e construir nossa sociedade pro-
vém da natureza. Entretanto, quando aprendemos a usar a energia térmica em
máquinas para realizar tarefas que antes eram realizadas pelo esforço físico hu-
mano ou animal, conseguimos acelerar o desenvolvimento de nossas sociedades.
Com o domínio da energia elétrica, que atualmente está quase sempre disponível
nas tomadas ou por meio de pilhas e baterias, o desenvolvimento industrial se
acentuou ainda mais. Com a eletricidade foi possível produzir a infinidade de
aparelhos de que dispomos hoje em dia, como geladeira, televisão, computador e
telefone celular.
Mas a que custo a energia está sempre a nosso dispor? Essa é uma discussão
muito importante na área ambiental. Vejamos alguns fatos. Nas construções
de hidrelétricas, por exemplo, as barragens inundam grandes áreas, provocam
perdas de seres vivos e modificam a dinâmica dos ecossistemas. O uso em lar-
ga escala do petróleo tem diversas consequências: o lixo plástico persistente é
uma delas e o aumento de poluentes atmosféricos é outra. De fato, a queima
do petróleo permite a liberação da energia química nele armazenada e produz
gases como o dióxido de carbono, considerado o grande vilão da intensificação
do efeito estufa.
Refletindo sobre a História, percebemos o quanto a tecnologia é importante
para aumentar o conforto das pessoas, melhorando a qualidade de vida. Ao mes-
mo tempo, entretanto, esse mesmo desenvolvimento tecnológico deu origem a
transformações imprevistas no ambiente, além de aprofundar o risco de esgota-
mento de recursos naturais, como a água potável. Portanto, são fundamentais os
debates e as pesquisas desenvolvidas para o uso sustentável de recursos naturais,
afinal, seus estoques são limitados. A meta da sustentabilidade é o desenvolvi-
mento humano de tal forma que o planeta e seus recursos sejam preservados para
as próximas gerações.
APLICAR CONHECIMENTOS I
1. Dizemos que os materiais e as fontes de energia formam dois grandes conjuntos de recursos que
usamos da natureza. Quais fontes de materiais e energia são utilizadas pelas populações humanas,
desde os mais remotos tempos?
2. Por que dizemos que a tecnologia modifica o planeta? Justifique sua resposta com exemplos atuais
e históricos.
3. Para você, o que é tecnologia? Escreva uma explicação usando a palavra transformação.
324 Ciências
4. O texto descreve diferentes situações em que se usa a energia. Complete o quadro com base no
que foi lido e em seus conhecimentos.
Fonte Aplicação
Energia eólica
Energia mecânica
Energia térmica
Energia química
Energia luminosa
5. Complete as frases:
a) Há milhares de anos, o ser humano começou a manejar fontes de energia quando dominou o
b) Na Primeira Revolução Industrial, com ajuda do vapor, pela primeira vez podia-se aproveitar
d) Locomotivas e enormes teares do século XVIII eram movidos pela transformação da energia
9º ano 325
8. (Encceja) Em uma casa, utilizamos vários equipamentos para promover transformações de ener-
gia, com diferentes finalidades.
Ventilador
Chuveiro elétrico
Lâmpada
Liquidificador
PESQUISAR I
326 Ciências
EXPERIMENTAR
ELETRICIDADE E MAGNETISMO
Com alguns materiais fáceis de encontrar, é possível observar fenômenos elétricos ou magné-
ticos ou os dois ao mesmo tempo, pois estão estreitamente relacionados. Eletricidade e magnetis-
mo trabalham em conjunto nas usinas elétricas.
Como fazer
9º ano 327
Exploração de ímãs
Materiais
• Pedaços de ímãs
Como fazer
Aproxime pedaços de ímã. Veja como os pedaços se atraem ou se repelem.
Quais materiais eles podem atrair, dentre vários metais?
Se atraem Se repelem
N S N S N S S N
S N S N S N N S
Obtemos ímãs em sucatas de alto-falantes e discos rígidos de computadores. Os primeiros têm formato cilíndrico, os segundos
são planos, com forma de “V”.
3. Com base nessas observações, explique por que afirmamos que o magnetismo
tem ação à distância.
O EFEITO ELETROMAGNÉTICO
O experimento a seguir permite observar um fenômeno descoberto no co-
meço do século XIX e fundamental na geração de eletricidade nas usinas ou sua
transformação nos motores e outros aparelhos elétricos.
Materiais
• ímã
• agulha fina
• uma rolha ou um plástico duro
• copo
Ilustração digital: Luis Moura
• água
• uma ou duas pilhas
• um pedaço de fio encapado fino
• fita adesiva
328 Ciências
Como fazer
Com uma agulha fina e um ímã, construa uma bússola. Para isso, imante a
agulha, passando o ímã várias vezes nela, sempre no mesmo sentido (da ponta
para o furo ou ao contrário, do furo para a ponta, nunca nos dois sentidos).
Com a rolha ou o plástico duro faça uma cama para a agulha imantada flutuar
livremente na água do copo, que deve estar com água até ¾ de sua capacidade.
Você pode utilizar, em vez de sua “bússola caseira”, uma bússola pequena.
Nesse caso, coloque-a dentro do copo seco e dispense a água.
Como qualquer bússola, a agulha imantada move-se para o sentido norte-
-sul, alinhando-se com o eixo magnético da Terra. Observe essa posição antes
de prosseguir a experiência.
Separadamente, reúna os materiais para montar um circuito simples: pilhas,
pedaço de fio e fita adesiva. Monte-o de acordo com a figura, deixando-o próxi-
mo da base do copo. Feche o circuito e observe sua bússola.
CONHECER MAIS
9º ano 329
Usando seu versorium, aparelho recém-inventado, Gilbert mostrou que
muitas outras substâncias – como laca, berílio, opala, safira etc. – podiam
330 Ciências
Como cargas elétricas de sinais opostos se atraem, podemos concluir que o
pente induziu um acúmulo de carga de sinal oposto nos papéis picados, fazendo
com que os elétrons dos papéis fossem repelidos pelos elétrons do pente. Como o
papel não conduz bem a eletricidade, esses elétrons foram apenas deslocados para
mais longe de onde se aproximava o pente, permanecendo ainda no papel. Isso
é suficiente para produzir esse efeito eletrostático. O mesmo fenômeno ocorre
nas demais experiências de eletricidade realizadas, assim como quando passamos
próximo de uma televisão antiga de tubo e sua tela carregada de elétrons atrai os
pelos de nosso braço.
Os raios são um tipo de descarga elétrica que circula entre a terra e as nuvens,
enquanto os relâmpagos, entre duas nuvens carregadas eletricamente. Com a for-
mação de chuvas fortes, as cargas se acumulam no interior de nuvens muito al-
tas, com cerca de 10 km de altu- 15 km
9º ano 331
Kent Wood/Latinstock
332 Ciências
for aberto (desligar o interruptor), a reação química da pilha ou bateria para de
ocorrer, interrompendo a corrente e desligando o aparelho.
Em um circuito conectado a uma pilha, a dinâmica das cargas é a mesma
que nos fenômenos eletrostáticos: os elétrons removidos de um lugar foram
acumulados em outro, deixando-os com cargas de sinais opostos, provocando
a atração. Assim, nos dois casos, cargas de mesmo sinal se repelem e de sinais
opostos se atraem.
O ELETROMAGNETISMO
Nada mais se acrescentou ao conhecimento sobre o magnetismo, além do que
Gilbert já tinha registrado em sua obra de 1600, chamada De magneto, até que a
eletricidade e o magnetismo fossem investigados conjuntamente, a partir de uma
descoberta que se deu praticamente por acaso. Foi em 1820, quando o dinamar-
quês Hans Christian Øersted verificou que uma agulha imantada movia-se sob
efeito da corrente elétrica que passava por um fio situado a certa distância. Conta-
-se que um ajudante teria esquecido uma bússola perto de um circuito elétrico, o
que tornou possível a observação.
Desde então, estudos sobre o eletromagnetismo ganharam enorme importân-
cia e foram muitas as descobertas feitas com ajuda de equipamentos e de cálculos
matemáticos. Entre os esclarecimentos obtidos, verificou-se que o magnetismo
dos ímãs também decorre de correntes elétricas microscópicas. Um grande nú-
mero de equipamentos usados no cotidiano tem base no eletromagnetismo, como
o telefone e os equipamentos eletrônicos, cada vez mais sofisticados.
APLICAR CONHECIMENTOS II
1. Dê exemplos de formação de cargas elétricas na natureza. Qual delas você já viu pessoalmente?
2. O texto explica a eletrização do pente e de pedaços pequenos de papel. A eletrização da bexiga de
borracha, esfregada em cabelos, é semelhante. Faça um desenho mostrando as cargas do cabelo e
do balão de borracha após ser esfregado.
3. Sobre as realizações de Benjamin Franklin citadas no texto, identifique:
a) a tecnologia por ele criada;
b) a lei científica por ele descoberta.
4. Sobre a pilha de Volta:
a) como está indicada a presença de cargas opostas?
b) a eletricidade gerada tem pequena ou grande intensidade? Por quê?
5. Examine a figura do experimento de Øersted e identifique o circuito elétrico. Quais são seus
componentes?
6. Compare o experimento proposto no capítulo para a verificação da indução eletromagnética com
o equipamento que proporcionou a descoberta do fenômeno por Øersted.
9º ano 333
DÍNAMOS E USINAS ELÉTRICAS
A descoberta de Øersted foi amplamente divulgada e os cientistas passa-
ram a se perguntar se seria possível fazer o contrário: usar magnetismo para
obter a eletricidade. O inglês Michael Faraday (1791-1897) fez muitos testes
até conseguir o que queria. A peça-chave da descoberta de Faraday é o sole-
noide: uma bobina de fio metálico, que dá muitas voltas formando um cilin-
dro. No experimento do inglês, as pontas do fio são ligadas a um galvanôme-
tro, instrumento que indica a passagem de corrente elétrica em um circuito.
O ponteiro do galvanômetro se mexe quando um ímã entra e sai do solenoide,
repetidas vezes.
OS GERADORES ELÉTRICOS
As pilhas são geradores químicos, um equipamento que coloca certa carga
elétrica à disposição de um circuito.
As pilhas comuns possuem uma tensão pequena que varia de 1,5 V até 9 V e
fornecem a energia elétrica necessária para colocar os aparelhos eletrônicos cons-
truídos para funcionarem com esses tipos de fontes de energia. Aparelhos que são
ligados na tomada, em geral, trabalham com tensões mais elevadas, necessitando
de outros tipos de geradores.
Nos geradores por indução eletromagnética, alguma fonte de energia faz com
que ímãs se movam no interior de um solenoide (bobina de fio). Esse é o princípio
da geração de eletricidade usado nas grandes usinas elétricas, ou num pequeno
dínamo de bicicleta.
334 Ciências
No caso das hidrelétricas, o que move a turbina é um fluxo contínuo de água
que desce por uma canaleta e, no caso de uma termelétrica, é a queima de algum
combustível que superaquece o vapor de água que move um gerador. Ao girar o
gerador, seus ímãs se movem nas imediações dos solenoides, induzindo neles o
surgimento de uma corrente elétrica.
1. Retome os experimentos de Faraday e Øersted citados nos textos anteriores. Identifique qual
cientista mostrou que a eletricidade gera magnetismo e qual mostrou o contrário, que magnetis-
mo gera eletricidade.
2. O que é preciso para haver geração elétrica por meio da indução eletromagnética?
3. De acordo com o texto, qual foi a grande invenção de Michael Faraday?
4. Compare a pilha de Volta e a pilha comum, destacando em que são parecidas e em que diferem.
LER IMAGENS
Examinando as figuras a seguir, vamos observar as etapas mais importantes das transforma-
ções da energia.
Talvez você já tenha observado o dínamo acoplado em bicicletas, como mostrado a seguir:
Fernando Favoretto/Criar Imagem
Bobina
Ímã permanente
cilíndrico
1. Examine a figura e explique como ocorre a geração de eletricidade na bicicleta, que é utilizada
para acender um farol do veículo. Lembre-se de indicar: a fonte de energia que move a bobina, as
partes do equipamento que promovem a indução eletromagnética e como a eletricidade é condu-
zida até o seu uso final.
9º ano 335
2. E a usina hidrelétrica, como ela funciona? Observe o esquema a seguir para auxiliá-lo em
sua resposta.
Reservatório Transformador
Gerador
3. Um gerador eólico também tem uma turbina e um gerador. Observe a figura e mostre onde se
situa cada um deles.
PESQUISAR II
Faça uma pesquisa sobre as usinas de eletricidade. Tente responder às seguintes questões:
1. Identifique na internet e em livros figuras que mostram usinas movidas por diferentes fontes de
energia: hidrelétrica, termelétrica movida a petróleo, usina solar ou GLOSSÁRIO
336 Ciências
Na sua pesquisa, identifique quais são as consequências ou os impactos sobre a saúde e o meio
ambiente.
3. Informe-se também sobre os custos financeiros de cada opção.
Antes de iniciar a pesquisa, selecione palavras-chave que orientarão a sua busca. Procure tam-
bém imagens e estatísticas que ajudem a entender como são usadas as fontes de energia no Brasil
e no mundo.
APLICAR CONHECIMENTOS IV
Hidrelétrica
Termelétrica a
petróleo
Solar fotovoltaica
Nuclear
Eólica
Termelétrica a
biomassa ou biodiesel
Ambiente brasil
Revista eletrônica sobre ambiente.
Disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/energia.html>. Acesso em: 22 jan. 2013.
Eletrização
Página mostra fotos e vários experimentos de eletrização.
Disponível em: <www.rc.unesp.br/showdefisica/99_Explor_Eletrizacao/Pagina%20inicial.htm>. Acesso em: 22 jan. 2013.
9º ano 337
Capítulo 3
CIÊNCIAS Saúde e qualidade de vida
RODA DE CONVERSA
O que é saúde? Pense em uma definição para a palavra, registre-a e troque ideias com seus
colegas de turma. O conceito de saúde é o mesmo para todos? Procurem criar uma definição co-
mum, que englobe as ideias de toda a turma. Anotem suas conclusões.
PARA REFLETIR I
Observe as situações representadas nas fotos e converse sobre elas com seus colegas. A partir
de sua definição de saúde, podemos dizer que as pessoas representadas são saudáveis? E a partir
da definição elaborada pela turma?
Mika/Corbis/Latinstock
Lisa F. Young/Dreamstime.com
Viktor Drachev/AFP/Getty Images
338 Ciências
SAÚDE E DOENÇA SÃO TEMAS MUITO ANTIGOS
Os chineses antigos viam a saúde e a doença como manifestações do equilí-
brio ou do desequilíbrio da circulação de energia pelo corpo humano. De acordo
com essa visão, a energia é considerada a essência da vida e as energias positivas
e negativas estão sempre em movimento por caminhos que atravessam todo o
corpo. Esses caminhos são chamados meridianos e têm alguns pontos especiais,
que podem ser estimulados para ajudar a equilibrar a circulação da energia e me-
lhorar a saúde. Desse conhecimento surgiu a acupuntura, uma técnica usada para
estimular esses pontos com agulhas finas ou sementes, que serve para aliviar do-
res, prevenir e curar problemas de saúde. Atualmente, a acupuntura é usada não
apenas na China como em muitos lugares do mundo, inclusive no Brasil.
Yuri_arcurs/Dreamstime.com
CONHECER MAIS
Remédios
[...] O corpo humano é considerado uma máquina que pode ser analisada em
termos de suas peças; a doença é vista como um mau funcionamento dos mecanismos
biológicos... O papel dos médicos é intervir, física ou quimicamente, para consertar o
defeito no funcionamento de um específico mecanismo enguiçado.
Fonte: Fritjof Capra. O ponto de mutação. São Paulo: Círculo do Livro, [s.d.]. p. 116-117.
9º ano 339
Sem dúvida, os avanços da ciência e da tecnologia trouxeram muitos bene-
fícios à saúde. Podemos hoje contar com exames que permitem identificar de-
terminadas doenças antes mesmo de as pessoas perceberem qualquer alteração
no funcionamento do organismo. É o caso dos exames preventivos de câncer de
mama, de colo do útero ou de próstata, que hoje podem e devem ser feitos rotinei-
ramente. Esses exames ajudam a detectar uma neoplasia que está GLOSSÁRIO
tumor gerado pelo crescimento
começando a se formar. Mesmo que o tumor seja maligno (caso Neoplasia:
desordenado de células. Pode ser benigno
em que é chamado de câncer), existe uma grande chance de cura ou maligno e seu nome depende do tipo
de célula ou órgão afetado.
quando o diagnóstico é precoce.
Alamy/Glowimages
PARA REFLETIR II
1. Quais aspectos da vida são desconsiderados quando o corpo humano é tratado como uma
máquina?
2. Apresente três exemplos de doenças que hoje podem ser prevenidas ou controladas graças ao
desenvolvimento da ciência e da tecnologia.
340 Ciências
A MEDICALIZAÇÃO DA VIDA
A evolução dos conhecimentos e práticas de saúde também teve seu lado ne-
gativo. Durante o século XX, tanto o poder da ciência como o da tecnologia não
pararam de crescer. Essa nova cultura levou muitas pessoas a acreditarem que
a saúde é o resultado de tratamentos, do uso de remédios e da obediência a um
conjunto de regras de comportamento definidas pelos médicos. A crença de que o
organismo humano pode funcionar perfeitamente (como uma máquina), se cada
aspecto da vida for regulado pelo saber médico, levou à chamada “medicalização”
da vida.
Como tantas outras coisas, a saúde e as doenças tornaram-se um bom negócio
e ganharam muito espaço no mundo das mercadorias. O valor das pessoas e a sua
qualidade de vida passaram a ser medidos também pela quantidade de consultas,
exames, checkups, tratamentos e medicamentos que conseguem comprar.
Exames e tratamentos caros e agressivos vêm sendo usados com uma fre-
quência cada vez maior, mesmo quando não trazem benefícios. As cesarianas,
por exemplo, passaram a ser feitas quando não há necessidade, gerando ris-
cos desnecessários à saúde da mãe e da criança. As intervenções excessivas e
o abuso de medicamentos causam novos problemas de saúde. O uso excessi-
vo de antibióticos está fazendo com que alguns micro-organismos causadores
de doenças fiquem resistentes, de modo que os antibióticos já não atuam de
forma satisfatória quando são necessários.
9º ano 341
MOMENTO DA ESCRITA
Escreva em seu caderno um parágrafo definindo, com suas palavras, a expressão “medicali-
zação da vida”. Em seguida, explique por que essa forma de encarar a saúde pode ser prejudicial
para a qualidade de vida das pessoas e da sociedade.
DEBATER
342 Ciências
APLICAR CONHECIMENTOS I
Usar camisinha
Aids
Fazer o teste do HIV
9º ano 343
Doenças crônicas e degenerativas Ações de prevenção das doenças ou de suas complicações
Evitar o fumo
Câncer de colo de útero
Doenças geradas por causas externas Ações de prevenção das doenças ou de suas complicações
Acidente de trânsito
Usar cinto de segurança
Compartilhe os resultados com seus colegas, elaborando um grande quadro com as doenças e
recursos de prevenção indicados por todos.
344 Ciências
PESQUISAR
Leve as questões a seguir aos agentes de saúde que visitam sua comunidade ou procure respos-
tas para elas na Unidade Básica de Saúde do seu bairro.
1. Quais são as doenças mais frequentes na população que procura a Unidade Básica de Saúde?
2. Quais medidas preventivas podem ser tomadas para evitar ou controlar essas doenças?
3. Converse com os colegas sobre os resultados e preparem um cartaz para divulgação dos resulta-
dos na escola.
LER GRÁFICO
O gráfico a seguir mostra a evolução das causas de morte no Brasil, no período de 1930 a 2002.
As faixas coloridas permitem ver as mudanças na proporção de cada uma das principais causas de
morte: causas externas, neoplasias, doenças digestórias, respiratórias, cardiovasculares e infecto-
parasitárias. As causas que ocorrem em menor proporção foram todas somadas na categoria “ou-
tras causas”, e o total sempre corresponde a 100% dos óbitos ocorridos durante um ano. Observe
as curvas e as legendas para responder às questões.
Evolução da mortalidade proporcional por grupos de causas. Brasil 1930-2002
100
90
80
70 Outras causas
60 Causas externas
50 Cardiovasculares
40 Respiratórias
30 Digestórias
20 Neoplasias
10 Infectoparasitárias
0
1930
1940
1950
1960
1970
1980
1990
2000
2002
9º ano 345
de clima quente, além da dengue, há diversas doenças trans- GLOSSÁRIO
células do sangue também
mitidas por vetor animal. Podemos citar como exemplos o mal Hemácias:
chamadas de glóbulos vermelhos, que
de Chagas e a esquistossomose, que são transmitidos aos seres dão ao sangue a sua cor típica. A hemo-
globina é o principal componente das he-
humanos por intermédio de um mosquito e um caramujo, res- mácias. Ela é responsável pelo transporte
pectivamente. A malária é outra doença transmissível presente do oxigênio, do pulmão para as células,
e do dióxido de carbono, das células para
no Brasil. Ela é causada por um parasita chamado plasmódio, os pulmões, de onde é eliminado junto
sendo transmitida de uma pessoa a outra por meio da picada com o ar expirado.
de um mosquito infectado. Os plasmódios parasitam as hemá-
cias, onde se reproduzem em grande quantidade, levando à sua destruição, o que
causa febre e calafrios intensos no doente.
Vladvitek/Dreamstime.com
Fábio Colombini
Colônia de bactérias
causadoras da
Carolina Biological/Visuals Unlimited/Corbis/Latinstock
pneumonia. As
bactérias são Foto de uma ameba.
organismo simples, que As amebas são seres
podem ter vida livre unicelulares maiores
ou serem parasitas. e mais complexos
São importantes que as bactérias.
na natureza para a Também podem ter
decomposição da vida livre ou serem
matérias orgânica. parasitas.
346 Ciências
Science Source / Photo Researchers, Inc./Latinstock
Vermes são
organismos
multicelulares.
Na foto vê-se
uma tênia,
parasita do
ser humano
e de outros
mamíferos.
7. Retire a água da bandeja externa da geladeira pelo menos uma vez por
semana. Lave a bandeja com sabão.
9º ano 347
Ministério da Saúde
Cartaz educativo
para a prevenção
de influenza H1N1.
DOENÇAS DA MODERNIDADE
CONHECER MAIS
Ao mesmo tempo que ocorre o aumento progres-
sivo no tempo de vida, uma transformação radical no Infarto: mais uma epidemia?
estilo de vida da maioria das pessoas está se proces-
Um sério problema de saúde asso-
sando em quase todos os cantos da Terra. Mudaram ciado à vida moderna e à hipertensão
as formas de organização da sociedade, os meios de arterial é o infarto do miocárdio, uma
trabalho, os costumes, os hábitos alimentares. das principais causas de morte na maio-
O aumento no tempo de vida, somado a essas ria dos países do mundo. O infarto é
uma doença provocada pela interrupção
transformações no estilo de vida, resultou em grandes da circulação do sangue nas artérias que
mudanças nos padrões de saúde e doença. O ritmo de irrigam o coração. Uma obstrução com-
vida nas cidades, o estresse no trabalho, o isolamento pleta dessas artérias (as coronárias), ou
social e a competição, bem como a falta de atividade de um de seus ramos, faz com que uma
parte do músculo cardíaco deixe de re-
física e a obesidade, fazem com que o organismo das ceber oxigênio, provocando a destruição
pessoas seja um terreno fértil para o desenvolvimento dessa aérea. Esse processo é chamado
de doenças crônicas (hipertensão, diabetes) e dege- infarto agudo do miocárdio. Quando a
nerativas (como os vários tipos de câncer e doenças obstrução da passagem do sangue não
é completada, a área que recebe sangue
cardíacas). Surgiram novos tipos de câncer, que de- desse vaso fica com o funcionamento
correm da exposição a agentes que podem estar no prejudicado, porém não há destruição de
ar, nos alimentos ou nas substâncias presentes no am- células. Esse processo é chamado angi-
biente de trabalho. Um exemplo é o câncer de pulmão, na. A pessoa que tem angina ou infarto
sente dores muito fortes na região do
que aumentou muito mais do que os outros tipos em coração, que podem irradiar-se pelos
razão do uso do cigarro. Aumentou muito, também, o ombros, costas, braços – geralmente o
número de pessoas que morrem em consequência de esquerdo – e mandíbula.
problemas da circulação e do coração.
348 Ciências
O SISTEMA CARDIOVASCULAR
CIRCULAÇÃO
O coração é um órgão muscular muito forte, que funciona como uma bomba
dupla. O lado esquerdo bombeia sangue arterial para diversas partes do corpo
9º ano 349
enquanto o lado direito bombeia sangue
APLICAR CONHECIMENTOS II
1. Consulte o texto e o esquema que representa a circulação do sangue no corpo humano para com-
pletar o parágrafo a seguir.
350 Ciências
5. A tosse e o espirro são doenças? Explique.
6. Qualquer doença dá sinais visíveis? Dê exemplos.
7. A recomendação de lavar muito bem as mãos ao chegar em casa é muito reforçada em tempos de
gripe. Que tipo de contágio é prevenido com essa ação?
O monóxido de carbono
existente na fumaça dos cigarros,
cachimbos e charutos é a
mesma substância que sai dos
escapamentos de automóveis. Ele
se fixa nos glóbulos vermelhos do
sangue, prejudicando a atividade
dessas células, que é transportar
o oxigênio para todas as partes
do corpo.
9º ano 351
indústrias de cigarros. Eles passaram a ser produzidos em escala industrial e foi
feito um investimento maciço em propaganda para associar o fumo à beleza, ao
sucesso e à liberdade.
O uso do tabaco tornou-se um problema de saúde pública, pois causa quase
metade de todas as mortes por câncer e a maioria das mortes por câncer de pulmão.
O consumo de derivados do tabaco (cigarros, charutos, cachimbos) provoca quase
50 doenças diferentes, principalmente as doenças cardiovasculares, como o infarto,
muitos tipos de câncer e doenças respiratórias, como o enfisema pulmonar. Em
muitos países, a propaganda desses produtos na TV e no rádio está sendo severa-
mente restringida ou proibida. Essas medidas são parte do combate internacional à
epidemia do uso do tabaco, que causa cerca de 5 milhões de mortes por ano.
A nicotina é a substância do fumo que gera a dependência física (responsável
pelos sintomas da chamada síndrome de abstinência, quando se deixa de fumar),
dependência psicológica (responsável pela sensação de ter no cigarro um apoio
ou um mecanismo de adaptação para lidar com sentimentos de solidão, frustra-
ção, pressões sociais etc.) e condicionamento (representado por associações ha-
bituais com o ato de fumar, como tomar café, consumir bebidas alcoólicas, fumar
após as refeições). Por isso é tão difícil parar de fumar. É preciso enfrentar esses
três componentes da dependência.
Quanto maior o tempo de consumo do cigarro, maior a dependência. Por
isso, para a indústria do fumo, quanto mais jovem a pessoa começar a fumar,
melhor. Para quem não quer ficar dependente do cigarro, a única alternativa
totalmente confiável é não começar a fumar.
352 Ciências
Maria está tentando abandonar o cigarro. No primeiro dia a dificuldade foi
muito grande. A todo momento tinha vontade de fumar, principalmente quando falava
ao telefone. Ela considerava o cigarro seu companheiro, uma espécie de amigo que a
acompanhava nos momentos de solidão. Mas seu grupo de apoio antitabagismo já
tinha discutido o problema e Maria estava firme na decisão.
LER TABELA I
Uso de drogas psicotrópicas entre estudantes do Ensino Fundamental e Médio, Brasil, 2010
DROGAS PSICOTRÓPICAS USO ALGUMA VEZ NA VIDA (%) USO NO ÚLTIMO MÊS (%)
USO A ABUSO
O abuso de drogas lícitas atualmente não está relacionado apenas às substân-
cias como o álcool e o tabaco, mas também a medicamentos, utilizados muitas
vezes de forma desnecessária ou inadequada, com ou sem prescrição médica. Em
alguns casos, os medicamentos são comercializados sem que tenham sido feitos
os testes necessários para comprovar sua eficácia e para conhecer melhor os pos-
síveis efeitos indesejados.
9º ano 353
Andy Ryan
354 Ciências
OS COMPONENTES DO SISTEMA NERVOSO
Cérebro
Inteligência
espacial
Movimento visual
Memória funcional
espacial
Visão
Controle da escrita
Controle motor fino
Reconhecimento Compreensão de
de objetos palavras
Sentido da audição Cerebelo
Ciclo de somo e
Bulbo vigília/controle
geral da excitação
O encéfalo é constituído principalmente por cérebro, cerebelo e bulbo. Uma teoria afirma que as funções do cérebro são comandadas por neurônios localizados
em zonas específicas, como mostra a figura.
Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)
9º ano 355
Ilustração digital: Luciano Tasso
Cérebro
Tronco cerebral
Nervos cranianos
Nervos torácicos
Nervo radial
Nervos lombares
Nervo mediano
Nervos sacros
Nervo cubital
Nervo femoral
Nervo ciático
356 Ciências
Um neurônio típico apresenta três partes distintas: corpo celular, dendritos e
axônio. No corpo celular, a parte mais volumosa da célula nervosa, localizam-se o
núcleo e a maioria das estruturas citoplasmáticas. O corpo celular se expande nos
dendritos, chamados assim porque são prolongamentos finos e ramificados, com
a função de transportar estímulos até ao corpo celular. Os estímulos chegam do
ambiente ou, mais frequentemente, de um outro neurônio. Outra parte do neu-
rônio é o axônio, que é um prolongamento fino mais longo que os dendritos. Ele
transmite para outras células impulsos nervosos vindos do corpo celular. Assim,
os estímulos são disseminados em uma rede de neurônios.
Nódulo de Ranvier
Terminal do axônio
(terminal de transmissão)
Bainha de Mielina
Sentido de
propagação
Axônio
Corpo
Dentritos
(terminal de recepção)
Representação esquemática de um neurônio. Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)
9º ano 357
APLICAR CONHECIMENTOS IV
1. Quais são as duas principais regiões do sistema nervoso central? Onde se localizam?
2. Nosso sistema nervoso possui trilhões de neurônios. Como as mensagens são transmitidas
entre elas?
358 Ciências
do alcoolismo no futuro. Todas as formas de apoio da família, dos amigos e de
outros grupos são muito importantes para que a pessoa consiga enfrentar as difi-
culdades da abstinência com recursos positivos.
DROGAS E VIOLÊNCIAS
Já sabemos que o uso de drogas psicotrópicas que hoje são livremente comer-
cializadas — como o álcool, o tabaco e certos medicamentos — causa muito mais
danos à saúde dos brasileiros. O abuso do álcool,
em especial, está diretamente associado aos aci-
Tolerância e dependência
dentes e às violências.
Tolerância é a necessidade de aumentar
O comércio de drogas ilegais, por sua vez, progressivamente a dose da droga para con-
causa um número cada vez maior de vítimas. As seguir o mesmo efeito. Isso acontece com as
violências associadas ao tráfico implicam, hoje, anfetaminas, a cocaína, o álcool e os xaropes
que contêm codeína.
insegurança, perda da qualidade de vida e muitas Já a dependência é o impulso que leva a
mortes prematuras. Isso faz com que essas violên- pessoa a usar uma droga de forma contínua ou
periódica. O dependente é a pessoa que não
cias sejam comparadas a uma verdadeira guerra.
consegue controlar o consumo, agindo de for-
ma impulsiva e repetitiva. As duas formas prin-
cipais em que ela se apresenta são a dependên-
AS CONDIÇÕES DE VIDA E A PRODUÇÃO cia química e a dependência psicológica.
DA SAÚDE E DAS DOENÇAS Quando há dependência física e o usuário
para de tomar a droga ou diminui bruscamen-
Hoje sabemos que usar os recursos públicos te seu uso, geralmente acontece uma crise de
abstinência. A pessoa pode sentir mal-estar, fi-
para melhorar as condições de vida da população car irritável, ter insônia, ter sensação de vazio
é o caminho mais eficiente, humanitário e demo- e falta de concentração, sentir dores no corpo,
crático para garantir a saúde. Afinal, é possível entre outros efeitos físicos e psicológicos pelo
efeito da droga. A dependência física não acon-
manter a saúde quando falta trabalho, respira-se tece com todas as drogas psicotrópicas, nem
ar poluído, mora-se em uma casa onde nunca bate mesmo com a maioria delas. Além disso, para
sol ou ingere-se água e alimentos contaminados ajudar a superar a dependência, existem atual-
mente diversas formas de tratamento (com
por pesticidas e esgotos? outras drogas que precisam ser utilizadas de
Numa sociedade em que os jovens são as prin- forma muito cautelosa), que contribuem para
cipais vítimas de mortes violentas, é necessário diminuir as crises de abstinência. O uso ocasio-
nal e moderado do álcool, para fins de recrea-
enfrentar os problemas sociais que geram essas ção, faz parte do lazer da maioria das socieda-
violências, e não apenas preparar os serviços de des. Entretanto, existe hoje em quase todos os
saúde com pessoal e equipamentos especializados países do mundo um grande incentivo ao con-
sumo regular de bebidas alcoólicas, e em altas
para o atendimento das vítimas. doses. Vale dizer que a maior parte das pessoas
Outro ponto importante é o trânsito. Os aciden- que consome bebida alcoólica não se torna al-
coolista (dependente do álcool). Isso também é
tes de trânsito são uma importante causa de morte
válido para as outras drogas: somente algumas
em nosso país. Combinando leis de trânsito ade- pessoas se tornam dependentes. Na maioria
quadas com sinalização, transporte coletivo, edu- dos casos, o que faz as pessoas voltarem a usar
uma droga é a dependência psicológica e a in-
cação para o trânsito e qualidade das vias públicas,
tensa vontade de sentir novamente seu efeito.
é possível diminuir o número de acidentes, dimi- Geralmente, a dependência psicológica é muito
nuindo também a necessidade de prontos-socorros mais prolongada e mais difícil de ser superada.
9º ano 359
e hospitais para tratar as vítimas. É possível, ainda, prevenir pequenos acidentes que
acontecem com os idosos, que frequentemente precisam passar meses se recuperan-
do de fraturas decorrentes de quedas que poderiam ser evitadas. Dessa forma, pro-
mover a saúde também é cuidar da cidade, melhorar as vias públicas, os caminhos e
as calçadas para os pedestres.
Até então as coisas eram diferentes. Quem tinha carteira de trabalho assinada
e pagava a Previdência Social tinha direito ao atendimento nos serviços públicos.
Quem não podia pagar e não “tinha INPS” era considerado indigente ou carente.
Como resultado de muitas lutas, foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS).
O nosso sistema público de saúde atende 75% da população brasileira. So-
mente 25% dos brasileiros usam convênios ou serviços privados. Embora seja
um sistema ainda jovem e esteja apenas começando a ser implantado em boa
parte dos municípios brasileiros, o volume de atendimentos é um dos maiores
do mundo.
360 Ciências
CONHECER MAIS
É o conjunto de ações e serviços de saúde do país. No mês de novembro de 2012, foram realizados no
Esse sistema é responsável pela elaboração e divul- SUS:
gação das informações de saúde da população e pela – 822 414 procedimentos hospitalares;
aplicação das políticas de saúde em todo o país, desen- – 312 060 desses procedimentos hospitalares foram
volvendo para isso uma grande variedade de ações que cirurgias;
afetam a nossa vida de todo dia. Alguns exemplos são: – 5 062 transplantes de órgãos, tecidos e células;
• as ações de vigilância sanitária de locais como por- – 4 540 944 tratamentos odontológicos;
tos, aeroportos, mercados, bares, padarias, farmá- – 11 734 práticas corporais em medicina tradicio-
cias, hospitais e escolas; nal chinesa.
• a proposição e a fiscalização do cumprimento de Fonte: Departamento de Informática do SUS. Disponível em: <www.datasus.gov.br>.
leis que garantam a qualidade de todos os pro- Acesso em: 25 jan. 2013.
dutos que interferem na saúde como alimentos,
medicamentos, vacinas, órgãos para transplante, Nos bancos de dados do SUS você pode escolher
sangue para transfusões, substâncias usadas nos o período, o estado e o município para saber quan-
locais de trabalho; tos reais foram transferidos para o Fundo de Saúde,
• ações de prevenção e tratamento dos problemas bem como quantas consultas, atividades educativas e
de saúde do conjunto da população. internações foram realizadas ou quantos profissionais
A realização desses serviços e de todas as demais de saúde estão contratados. Acompanhar e controlar
ações do SUS é paga pelos cidadãos, por meio da arre- essas informações também é direito — e dever — de
cadação de impostos. todos.
Campanha de vacinação contra influenza H1N1 em Unidade Básica de Saúde em São Paulo (SP), 2010.
9º ano 361
sejam colocadas em prática em todos os cantos do país. Como está caminhando a
implantação do SUS em seu município? Você pode participar do Conselho e das
Conferências de Saúde e da defesa de nossos direitos garantidos na Constituição.
INDICADORES DE SAÚDE
Para avaliar a qualidade de vida e a situação de saúde da população, são
coletadas informações que são utilizadas como indicadores de saúde. A espe-
rança de vida ao nascer ou expectativa de vida é um dos indicadores de saúde
mais importantes. Ela é calculada pela soma da idade de todas as pessoas que
morrem durante um ano, em determinada região (cidade, estado, país etc.),
dividida pelo número total de mortes, no mesmo período e na mesma região.
O resultado é o número médio de anos de vida esperados, naquele momento,
para uma pessoa que nasce naquela região.
LER TABELA II
O quadro a seguir mostra a esperança de vida ao nascer em sete países, no ano de 2009.
Anos
País
Homens Mulheres
Angola 51 43
Índia 63 66
Brasil 70 77
Cuba 76 80
Estados Unidos 76 81
França 78 85
Japão 80 86
362 Ciências
1. Cite os dois países onde a esperança de vida ao
A tendência atual, na maior parte
nascer é a mais elevada. dos países do mundo, é ter menos
2. Indique o país onde a esperança de vida ao nascer filhos e uma vida mais longa. Com
isso, está acontecendo um envelheci-
é menor. mento da população. Estima-se que,
3. Considerando os fatores que influenciam a quali- até 2050, o número de idosos no
mundo excederá o de jovens. No Bra-
dade de vida e a saúde, como você explicaria essas
sil, se for mantida a tendência atual, a
diferenças? população vai começar a diminuir já
neste século.
APLICAR CONHECIMENTOS V
Retome a lista dos problemas de saúde que você elaborou no começo do capítulo. Pense
agora nas medidas que podem ser tomadas pelo conjunto da sociedade ou pelo poder pú-
blico para promover a saúde e prevenir os problemas de saúde que mais afetam a sociedade.
Observe que, para cada problema, podem ser indicadas diversas medidas complementares de
prevenção.
9º ano 363
Doenças crônicas e degenerativas Ações da sociedade e do poder público na prevenção das
doenças ou de suas complicações
Câncer de colo do útero Proibir o fumo em locais fechados para prevenir o fumo
passivo.
Adoecimento por causas externas Ações da sociedade e do poder público na prevenção das
doenças ou de suas complicações
Acidente de trânsito Apoiar pessoas que estão deixando de beber ou de usar
outras drogas.
Sinalizar corretamente as ruas.
364 Ciências
PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS
Sites Centro brasileiro de informações sobre drogas psicotrópicas (cebrid)
Na página do Cebrid na internet você pode obter muitas informações e dicas em uma abordagem
positiva. Clique em Folhetos ou em Perguntas mais frequentes e encontre informações seguras
sobre as drogas psicotrópicas, inclusive álcool e tabaco.
Disponível em: <www.cebrid.epm.br>. Acesso em: 14 fev. 2012.
Portal da saúde
No site, você pode encontrar informações sobre o SUS, sobre a promoção da qualidade de vida
e da saúde, assim como informações específicas sobre as doenças.
Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/area/2/cidadao.html>. Acesso em: 14 fev. 2012.
9º ano 365
Bibliografia
CIÊNCIAS
366 Ciências
_______. Materiais de construção e outras matérias brutas. Campinas: Editora da
Unicamp, 1995. (Os Recursos Físicos da Terra, Bloco II).
TRIGUEIRO, André. Mundo sustentável. São Paulo: Globo, 2005.
VAITSMAN, E. P.; VAITSMAN, D. S. Química e meio ambiente: ensino contex-
tualizado. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2006. (Coleção Interdisciplinar).
VALADARES, Eduardo de Campos. Física mais que divertida: inventos eletrizan-
tes baseados em materiais reciclados e de baixo custo. 2. ed. Belo Horizonte: Edi-
tora UFMG, 2002.
VALADÃO, M. M. Saúde e qualidade de vida. São Paulo: Global/Ação Educativa,
2003.
9º ano 367
UNIDADE 7
Matemática
Capítulo 1
M AT E M ÁT I C A Desde tempos remotos
RODA DE CONVERSA
Você sabe quais conhecimentos matemáticos estão por trás das atividad es de plantio, de caça
e de pesca? E no seu dia a dia, você usa a Matemática para perceber as regularidades na natureza?
Converse com os colegas a respeito da presença desses conceitos no cotidiano.
9o ano 371
UMA RELAÇÃO IMPORTANTE: O TEOREMA DE PITÁGORAS
Você já observou o início da construção de uma casa?
Uma das primeiras etapas consiste em marcar no terreno a localização da
casa, usando linhas e estacas para indicar no solo a posição e as medidas de cada
cômodo.
Em seguida, constrói-se o alicerce, parte da alvenaria que fica enterrada no
solo e vai sustentar as paredes que, por sua vez, sustentarão o telhado.
Em geral, as paredes formam ângulos retos, ou “ficam no esquadro”, como se
costuma dizer.
No Antigo Egito já se usavam ângulos retos para medir, entre outras coisas,
mudanças de direção.
Os ângulos retos eram construídos com pedaços de corda que continham 13
nós, dispostos em intervalos iguais.
A corda era bem esticada e fixada no chão por três estacas: a primeira prendia
tanto o primeiro nó como o décimo terceiro, a segunda estaca prendia o quinto
nó, e a terceira estaca prendia o oitavo nó.
Assim eram traçados triângulos retângulos cujos lados mediam 3, 4 e 5 uni-
dades de comprimento.
Para nos aprofundarmos nessa questão, vamos imaginar que Pedro e Geraldo,
dois pedreiros, precisam construir uma casa cujo alicerce tem forma retangular.
Para que as paredes da casa fiquem no esquadro, eles precisam aplicar um
procedimento comum entre pedreiros que se baseia no Teorema de Pitágoras.
Por volta do século VI antes de Cristo, o filósofo e matemático grego Pitágoras
e seus discípulos descobriram que, em qualquer triângulo que tem um canto reto,
a soma dos quadrados das medidas dos lados que formam esse canto reto é igual
ao quadrado da medida do terceiro lado desse triângulo.
Ou seja, sempre que um triângulo tem um ângulo reto, o quadrado da medida
372 Matemática
A
do lado maior é igual à soma dos quadrados das medidas dos
outros dois lados.
Um triângulo que possui um ângulo reto é denominado triân-
gulo retângulo. hipotenusa cateto
canto 3
6m
10 m
canto 2 canto 1
9o ano 373
Acompanhe os procedimentos canto 3
374 Matemática
13
2,6
1
5 12
2,4
A nova tarefa de Pedro e Geraldo é localizar o canto 4 que vai formar a base
retangular na qual a casa vai ser construída.
Para colocar o canto 4 no esquadro, Pedro amarra uma linha no canto 3, com 10
metros de comprimento, e a estica até onde vai ser o canto 4 em uma direção apro-
ximadamente perpendicular ao segmento de reta nomeado por “canto 2; canto 3”.
Geraldo amarra outra linha, com 6 metros de
comprimento, no canto 1, e a estica até onde vai ser canto 3 canto 4
o canto 4 em uma direção aproximadamente per-
pendicular ao segmento de reta nomeado por “can-
6m
to 1; canto 2”.
O ponto onde essas duas linhas se encontrarem
determinará o canto 4. canto 2 canto 1
Dessa forma, os dois pedreiros marcam a base para 10 m
construir o alicerce da casa com suas medidas reais.
APLICAR CONHECIMENTOS I
9o ano 375
TEOREMA DE PITÁGORAS: APLICAÇÕES
RAIZ QUADRADA
(hipotenusa)2 = 92 + 122
(hipotenusa)2 = 81 + 144 R
(hipotenusa)2 = 225 P
225 = 15
( )
2
225 cm = 52 cm = 15 cm = 15 cm
Como vimos, a raiz quadrada de um número envolve uma potência com ex-
poente 2.
Por exemplo, como 132 é igual a 169, então, 13 é a raiz quadrada de 169, ou seja:
( )
2
2
169 = 169 = 132= 13 = 13
2
169 ou 2 169 chama-se radical.
169 chama-se radicando.
2 é o índice do radical.
13 é a raiz quadrada.
376 Matemática
Para calcular a raiz quadrada de um número em uma calculadora simples, basta digitar
o número e em seguida pressionar a tecla .
Por exemplo, para calcular 169 digitamos:
1 6 9
Mas, de acordo com o que foi mencionado, só 9 é a raiz quadrada de 81, pois
trata-se de um número racional positivo. Logo:
81 = 9
APLICAR CONHECIMENTOS II
c) Calcule 62 + 82 e compare esse resultado com o que você obteve no item anterior.
9o ano 377
OUTROS EXEMPLOS
1o exemplo:
(distância)2 + 42 = 52
(distância)2 + 16 = 25
(distância)2 = 9
Logo:
2o exemplo: C
11
Fixando uma estaca no ponto A e marcando os
pontos B e C de modo que o ângulo C seja reto, 10
A
Antônio verificou que a medida de B a C é igual a
10 metros e de A a C é igual a 11 metros.
B
Qual é a distância de A a B?
O triângulo ABC é retângulo. Se o cateto BC mede 10 cm e o cateto CA mede
11 cm, então a medida da hipotenusa pode ser assim obtida:
378 Matemática
Para obter um valor aproximado de 221 em uma calculadora, podemos di-
gitar as teclas:
2 2 1
d) Lembrando que:
escreva uma relação numérica entre a medida de cada lado desse quadrado e sua área usando
símbolo de raiz quadrada.
e) Representando a medida de cada lado de um quadrado pela letra L e a sua área pela letra A,
escreva uma relação algébrica entre e a medida de cada lado desse quadrado e sua área usando
símbolo de raiz quadrada.
B C
9o ano 379
3. Na figura a seguir, os pontos A, B e C representam as casas de Alice (em A), Berenice (em B) e
Carolina (em C).
B A
NÚMEROS IRRACIONAIS
Mayskyphoto/Shutterstock
1 1
1 1
Reinhard Dirscher/Imageplus
2 3
5
1 2
6 1
1 7
1
8
1 3 10
Exemplos de espirais: náutilus (acima, à esquerda), chifre de carneiro e triângulos retângulos em espiral.
Linhas parecidas com as linhas espirais que aparecem nos náutilus ou nos chi-
fres de um carneiro montanhes podem ser observadas numa sequência de triân-
gulos retângulos, cujas hipotenusas medem 2 , 3 , 4 , 5 , 6 , ..., e que “giram”
ao redor de um ponto.
Desses números, sabemos que 4 é o número inteiro 2, porque 22 = 4.
Porém, as representações decimais dos números 2 , 3 , 5 , 6 não são deci-
mais exatos e nem são dízimas periódicas.
Esses números não são números inteiros, nem números racionais.
380 Matemática
Supõe-se que Pitágoras e seus discípulos tenham sido as primeiras pessoas a
descobrirem a existência de um outro tipo de número, além dos racionais.
O famoso Teorema de Pitágoras foi a primeira constatação da existência desse
1
tipo de número, que foi denominado número irracional.
Acompanhe uma justificativa da representação geométrica
do número 2 que corresponde à hipotenusa do triângulo re-
tângulo ao lado, que é primeiro triângulo retângulo da figura 1
2
do espiral.
Lembrando do Teorema de Pitágoras, temos:
(hipotenusa)2 = 12 + 12 = 1 + 1 = 2
hipotenusa = 2
EC Santos
ples para determinar um valor aproximado
da raiz quadrada de 2, pressionando as te-
clas 2 e , nessa ordem.
Se uma calculadora utilizada exibe, no
máximo, 8 dígitos, então, um valor aproxi-
mado de 2 mostrado por essa calculadora
é 1,4142136 ou 1,4142135.
Em uma máquina cujo visor exibe mais dígitos, podemos observar que 2
possui mais que sete casas decimais após a vírgula.
Na tabela a seguir, pode-se ver valores aproximados para 2 com 7, 8, 9, 10
e 31 casas decimais:
9o ano 381
Usando uma calculadora que exibe 12 dígitos, então 2 é aproximadamente
igual a 1,41421356237, que pode ser representado por 2 1,41421356237.
Nesse caso, pode-se encontrar: 1,414213562372 1,99999999999.
A difícil conclusão a que muitos bons matemáticos chegaram ao longo da
história (há mais de 2 000 anos) é que, por melhor que seja a aproximação de 2 ,
nunca iremos obter:
(aproximação de 2 )2 = 2
Mas nem todo número escrito na forma de radical é um número irracional. Por
exemplo, 9 , 25 e 1, 44 não são números irracionais, porque 9 = 3, 25 = 5 e
1, 44 = 1,2.
APLICAR CONHECIMENTOS IV
1. Qual é a medida da hipotenusa de um triângulo retângulo cujos catetos medem 5 cm e 3 cm? Esse
número é irracional?
10 cm
382 Matemática
15 cm
3. Qual é a medida da diagonal do quadrado ao lado?
Escreva na forma decimal, um valor aproximado para essa medida
com 3 casas decimais após a vírgula decimal. 15 cm
EXERCITANDO MAIS
20 cm
16 cm
5. O tampo de uma mesa é quadrado e tem área de 6,25 m2. Quanto mede cada lado dessa mesa?
b) Obtenha um valor aproximado desse número irracional. Utilize uma calculadora para obter
um valor aproximado com 8 casas decimais após a vírgula.
9o ano 383
Capítulo 2
M AT E M ÁT I C A Conexões matemáticas
Fonte: BOYER, Carl B. História da matemática. São Paulo: Blucher, Edusp, 1974.
384 Matemática
A própria palavra álgebra deriva de Al-jabr we mukabala (o equilíbrio), que é o
título de um tratado sobre equações, escrito pelo matemático árabe Al-Khowarizmi.
Esses conhecimentos são uma valiosa herança cultural deixada por nossos
antepassados para o desenvolvimento das ciências e das tecnologias.
Grupos como os indígenas brasileiros e povos nativos da América, África e
Ásia ainda hoje utilizam distintos modos de se orientar no tempo e no espaço, de
contar, de calcular, de reconhecer e medir as formas do universo. Você sabe algo
sobre esse assunto?
RODA DE CONVERSA
GEOMETRIA E PROPORCIONALIDADE
8 ÷ 3 = 2,66666...
Para resolver esse problema sem usar o cálculo 8 ÷ 3 ou uma régua, pode-se
aplicar um conhecimento matemático desenvolvido por Tales de Mileto, comer-
ciante, filósofo e estudioso de Geometria que viveu na Grécia antiga, por volta do
ano 600 a.C.
Essa importante descoberta ficou conhecida como Teorema de Tales.
Veja o que diz o Teorema de Tales.
9o ano 385
Veja uma figura ilustrativa para o Teorema de Tales.
r t
segmentos determinados
pelas transversais
segmentos determinados
pelas transversais
feixe de
retas paralelas
segmentos determinados
pelas transversais
r t r t
A D D
A
2 cm 3 cm
B E B E
3 cm 4,5 cm
C F C F
3
Considere as razões 2 e obtidas por meio das medidas dos segmentos de
3 4, 5
reta determinados sobre as duas transversais r e t.
Use uma calculadora para obter os quocientes da divisão de 2 por 3 e de 3 por
4,5, ou multiplique 2 por 4,5 e 3 por 3.
2
Com base nos resultados obtidos, é possível concluir que as razões 2 e
3 4 ,5
são iguais.
Como as razões são iguais, ou seja, como as medidas dos segmentos de reta
AB e BC, determinados sobre a transversal r, formam uma proporção com as
medidas dos segmentos de reta DE e EF, determinados sobre a transversal t, então
diz-se que os segmentos AB e BC são proporcionais aos segmentos DE e EF.
386 Matemática
Essa relação de proporcionalidade pode ser observada em outros exemplos,
nos quais retas paralelas são cortadas por retas transversais.
F t
N Q x
1,5 cm 2,5 cm
M P y 4 cm 5 cm
E H s
3 cm 5 cm
2 cm 2,5 cm
L O z D G r
a b x y
1,5 2,5 4 5
= =
3 5 2 2,5
H
2,0 cm
n
G
2,0 cm
m
Se três ou mais retas paralelas cortadas por duas transversais determinarem so-
bre uma das transversais segmentos de reta com medidas iguais, então elas deter-
minam também, sobre a outra transversal, segmentos de reta com medidas iguais.
Aplicando esses conhecimentos, podemos dividir um segmento de reta com 8 cm
em três segmentos com medidas iguais, realizando os seguintes procedimentos:
• trace um segmento de reta AB, com 8 cm;
• partindo da extremidade A, desenhe um segmento de reta auxiliar AC, cuja medida seja
um número divisível por 3, por exemplo, 9 cm;
• divida o segmento AC em três partes iguais;
• nomeie os pontos obtidos em AC por M e N, como se pode ver na figura abaixo;
A B
9o ano 387
• trace o segmento de reta BC e, em A P Q B
• trace uma semirreta com origem no ponto A e que não passe pelo ponto B;
A B
• escolha uma unidade de medida qualquer (1 u) e, com uma régua ou compasso, marque
sobre a semirreta os dez segmentos de reta AM, MN, NO, OP, PQ, QR, RS, ST, TU e UV,
todos com medidas iguais a 1 u, pois 2 + 3 + 5 = 10. Esses segmentos são consecutivos.
A B
M
N
O
P
Q
R
S
T 1u
U
V
C
Dois segmentos de reta são consecutivos quando
têm uma extremidade em comum. A B
Os segmentos de reta AB e BC são consecutivos.
Os segmentos de reta MN e NP são consecutivos.
M N P
388 Matemática
• trace o segmento de reta BV;
A B
M
N
O
P
Q
R
S
T 1u
U
V
CONHECER MAIS
9o ano 389
APLICAR CONHECIMENTOS I
1. Aos domingos, Antônio gostava de ler jornal no jardim de sua casa e admirar o belo pinheiro que
ficava ao lado do portão. O hábito de observar a árvore levou-o a reparar em sua sombra, que,
bem cedo, era sempre muito comprida e ia diminuindo à medida que as horas se aproximavam
do meio-dia. Intrigado, ele pensou que haveria um momento em que o comprimento da sombra
seria exatamente o mesmo do pinheiro. Você acha que é possível comprovar a hipótese de Antô-
nio? Como? Discuta com um colega.
2. Tente resolver as seguintes situações aplicando as relações do Teorema de Tales. Se for convenien-
te, use régua e esquadro.
a) Trace um segmento com 18 cm e divida-o em três partes iguais. Utilizando esse resultado,
divida um segmento com 20 cm em três partes iguais.
b) Divida um segmento com 9 cm em duas partes proporcionais a 3 e 5.
c) Divida um segmento de reta com 20 cm em três partes, cujas medidas serão chamadas a, b e
c, de tal modo que b seja o dobro de a e c seja o triplo de a.
ARITMÉTICA E ÁLGEBRA
390 Matemática
Veja outros exemplos de monômios:
3
2·a·b –5 · x2 ·m·n 0,73 · p · q2 · r3 · s4
7
ADIÇÃO DE MONÔMIOS
As medidas dos lados do triân-
2·a 4·a
gulo representado estão indicadas
em centímetros.
Calcule seu perímetro. 5·a
Para obter o perímetro desse triângulo, calculamos a soma das medidas de seus
lados, representadas pelos monômios semelhantes 2 · a, 4 · a e 5 · a.
Perímetro = 2 · a + 4 · a + 5 · a = (a + a) + (a + a + a + a) + (a + a + a + a + a) = 11 · a
Esse perímetro pode ser calculado colocando o fator comum a em evidência:
Perímetro = 2 · a + 4 · a + 5 · a = (2 + 4 + 5) · a = 11 · a
fator comum
fator comum em evidência
Perímetro = 2 · a + 4 · a + 5 · a = (2 + 4 + 5) · a = 11 · a
9o ano 391
Na adição de monômios, quando estes não são semelhantes o resultado (a
soma) é uma expressão algébrica que denominamos polinômio.
Exemplos: a2 – b e x2 – 62 · a · x + 10 + 3 · b3 são polinômios.
Uma expressão algébrica que é soma de dois monômios não semelhantes é
chamado binômio.
Por exemplo: Os monômios 2 · b e b2 são os termos do binômio 2 · b + b2.
Uma expressão algébrica que é soma de três monômios, dois a dois não seme-
lhantes, é chamado trinômio.
Por exemplo: Os monômios 2 · x, – 0,62 · a · x e y3 são os termos do trinômio:
2 · x – 0,62 · a · x + y3
SUBTRAÇÃO DE MONÔMIOS
A área do retângulo menor da figura ao lado
é 6 · b e a área do retângulo maior é 10 · b. Vamos
determinar a área da região pintada de azul. 10
Uma forma para determinar essa área con- 6
siste em calcular a diferença entre as áreas dos
retângulos, que são dadas pelos monômios se-
b
melhantes 10 · b e 6 · b.
Logo, a área da região pintada de azul é igual a 10 · b – 6 · b.
Para calcular a diferença 10 · b – 6 · b, podemos colocar em evidência o fator
comum b:
10 · b – 6 · b = (10 – 6) · b = 4 · b
1 1 1 6 + 1 7
3 · y – (– · y) = 3 · y + · y = (3 + ) · y = ·y= ·y
2 2 2 2 2
392 Matemática
MULTIPLICAÇÃO DE MONÔMIOS
x
área do retângulo = x ·
2
x 1 1 1 1
x· =1·x· · x = 1 ⋅ 1 · x · x = · x1 · x1 = · x1+1 = · x2
2 2 2 2 2 2
Produto de potências de bases iguais:
mantém-se a base e adicionam-se os expoentes.
1
Observe que foram multiplicados os coeficientes 1 e 2 desses monômios e
foram multiplicadas as partes literais x e x.
Veja outros exemplos, nos quais calculamos os produtos de monômios.
• 3 · t2 · 5 · t2 = (3 · 5) · t2 · t2 = 15 · t2+2 = 15 · t4
Produto de potências de bases iguais:
mantém-se base e adicionam-se os expoentes
• 4 · r 2 · 2 · r 2 · 3 · r 3 = (4 · 2 · 3) · r 2 · r 2 · r 3 = 24 · r 2+2+3 = 24 · r 7
DIVISÃO DE MONÔMIOS
9o ano 393
Em determinado dia, o
número de caixas estoca-
altura da pilha
das no depósito era de 5 · n3 de caixas
caixas. Qual era a altura da
pilha nesse dia?
Podemos identificar a
quantidade de caixas na pi- n de caixas
lha como o volume da pilha, de largura
Portanto:
5 ⋅ n3 5 ⋅ n ⋅ n ⋅ n
altura = = = 5 ⋅ n caixas
n2 n⋅n
O valor da altura da pilha foi obtido pela divisão entre dois monômios 5 · n3 e n2.
O coeficiente do monômio 5 · n, obtido como resultado da divisão dos dois
monômios, é o quociente da divisão dos coeficientes daqueles monômios, e sua
parte literal é o quociente da divisão das partes literais daqueles monômios.
Mas nem sempre a divisão entre dois monômios dá um monômio.
Acompanhe o seguinte exemplo.
A densidade de um líquido pode ser obtida por meio da seguinte fórmula:
massa do liquido
densidade de um líquido = quilogramas por litro (kg/L).
volume ocupado pelo liquido
394 Matemática
Logo:
a a 1 1 1 1
densidade do líquido = = = = ⋅ 2 = 0,5 ⋅ 2 kg/L
2⋅a3
2⋅a⋅a2
2⋅a2
2 a a
1
Como: 2 = a–2, então é possível concluir que a–2 não é um monômio, pois o
a
expoente da variável a é negativo.
APLICAR CONHECIMENTOS II
1. Escreva frases ou textos para explicar o significado de cada um dos termos a seguir. Procure dar
exemplos nas suas explicações.
a) variável d) parte literal de um monômio
b) monômio e) monômios semelhantes
c) coeficiente de um monômio f) polinômio
Apresente suas explicações para um colega e peça a ele que faça a mesma coisa. Analise as expli-
cações dele e identifique os pontos comuns e divergentes.
2. O que é monômio nulo?
3. Identifique os termos dos seguintes polinômios:
y2 2 m2
a) –n2 – 5 · m b) x · 2 c) 5 – 4 · n2 · m +
2
4. Assinale as expressões algébricas que são binômios e trinômios:
a) 3 · a · x2 b) 2 · b · y – 3 · x2 c) 4 · x + 2 · a · y – 2 · a · x2 d) n3 + 2 · m · n2 + m2 · n + m3
5. No exercício anterior há uma expressão algébrica que não é monômio, binômio ou trinômio.
Identifique essa expressão e pesquise o nome que se dá a ela.
9o ano 395
CÁLCULOS ARITMÉTICOS E EXPRESSÕES ALGÉBRICAS
Observe, nas situações a seguir, a utilização de cálculos aritméticos e de ex-
pressões algébricas para determinar perímetros, áreas e volumes.
2 2
2 4 a b
perímetro = (2 + 4) · 2 = 2 · 2 + 4 · 2 perímetro = 2 · (a + b) = 2 · a + 2 · b
3 n
6 m
área = 6 · 3 área = m · n
5 3·a
5 3·a
5 3·a
volume = 5 · 5 · 5 = 53 volume = (3 · a) · (3 · a) · (3 · a) =
(3 · 3 · 3) · (a · a · a) = 27 · a3
x x x 2
396 Matemática
EXERCITANDO MAIS
1. Nesta figura há um feixe de retas paralelas cortadas por duas transversais. Calcule o valor de x.
r s
6 x
9 12
2. Observe, na figura, um feixe de retas paralelas cortadas por duas transversais. Calcule o valor de y.
12 3 y
r A
B
C
s
D E F
m n o
9o ano 397
6. Usando monômios, represente o que é pedido para cada figura. As letras representam a metade
das medidas de cada lado nas figuras.
Figura 1: determine o perímetro do triân-
gulo equilátero.
a
b c
Figura 2: determine a área do hexágono.
b
Figura 1 Figura 2 Figura 3
Figura 3: determine a medida do lado do
quadrado.
3·x
E F
2·x 5·x
H G 6·x
8. Se A = 2 · x , B = x , C = 3 · x e D = 6 · x , então determine:
2 2 2 2
a) A + B e) (A + B) – C
b) A – B f) D – (A – B) + C
c) (A – B) + (C – B) g) C – B
d) A + C h) D – (C + B)
3∙x x2 3
b)
x
c) x 6
398 Matemática
10. Considere uma caixa em forma de bloco retangular com as medidas indicadas abaixo e escreva a
expressão algébrica que traduz o volume desta caixa:
2·x
x
3·x
9o ano 399
Capítulo 3
M AT E M ÁT I C A Matemática nas finanças
400 Matemática
Essa situação contém algumas noções de matemática financeira importan-
tes. Veja:
• o valor R$ 1 000,00 pode ser denominado capital;
• o total a ser pago no dia 1o de agosto, R$ 1 015,00 pode ser denominado
montante;
• o tempo decorrido desde o empréstimo até o pagamento (um mês,
neste caso) pode ser denominado tempo de aplicação;
• o valor R$ 15,00 é o juro pago pelo empréstimo (uma espécie de prê-
mio, preço pelo custo do dinheiro no mercado financeiro).
De uma forma simplificada, capital pode ser entendido como uma determi-
nada quantidade de unidades monetárias (dinheiro) ou de algo que pode ser con-
vertido em dinheiro.
Os juros do capital podem ser entendidos como a quantidade de unidades
monetárias que deve ser paga pelo seu uso temporário.
Os juros são um prêmio em dinheiro que o emprestador recebe, além da parte
integral do capital cedido.
O montante do capital é a quantidade de unidades monetárias obtidas pela
adição do capital aos juros, num certo intervalo de tempo, que é o tempo de apli-
cação.
Se calcularmos a razão (cociente) entre o juro pago e o capital emprestado,
teremos a taxa de juros referente ao período de tempo desse empréstimo.
No caso citado:
15
taxa de juros do empréstimo = = 0,015 = 1,5% ao mês
1000
1 /7/2013
o
1o/8/2013
tempo (mês)
1 000 1 015
capital montante
9o ano 401
R$ 428, 00
razão entre o valor pago e a dívida = = 1,07
R$ 400, 00
ou seja, o valor pago no final de 2 meses é 1,07 – 1,00 = 0,07 = 7% maior que a
dívida da compra feita. Portanto, a taxa de juro do financiamento da família foi
de 7% por dois meses.
APLICAR CONHECIMENTOS I
3. Roberto comprou uma calça que custou R$ 120,00 para ser paga em 2 meses. O juro cobrado pela
loja nesse período de 2 meses foi de R$ 60,00.
Calcule a taxa de juros que foi praticada pela loja nesse período de tempo.
JUROS SIMPLES
José recorre a Carlos quando tem dúvidas sobre como aplicar o seu dinheiro.
Em uma conversa sobre esse tema, Carlos pediu que José imaginasse que ele
queria fazer uma aplicação financeira colocando R$ 100 000,00 em uma conta
bancária que rende 0,5% de juro ao mês.
402 Matemática
Imagine que esse rendimento obedeça às regras a seguir:
• Um mês depois que José fizer o depósito inicial de R$ 100 000,00, o
banco irá depositar na conta dele 0,5% de R$ 100 000,00.
• Com esse depósito, o saldo de José passará a ser:
fator comum fator comum em evidência
saldo (após 1 mês) = 100 000 + 0,5% × 100 000 = 100 000 × (1 + 0,5%) =
= 100 000 × (1 + 0,005) = 100 000 × 1,005 = 100 500 reais
• Passado o segundo mês do depósito inicial do José, o banco deposita-
rá na conta dele, novamente, 0,5% de R$ 100 000,00.
Com esse novo depósito, o saldo do José passará a ser:
saldo (após 2 meses) = saldo (após 1 mês) + 0,5% × 100 000 =
fator comum
9o ano 403
Isso quer dizer que, no final de um ano (12 meses), o banco irá depositar na
conta dele 12 × 500 reais, ou seja 12 × 0,5% × 100 000. Logo:
saldo (após 1 ano) = saldo (após 12 meses) = 100 000 + 12 × 0,5% × 100 000 =
= 100 000 × (1 + 12 × 0,5%) = 100 000 × (1 + 12 × 0,005) = 100 000 × (1 + 0,06) =
= 100 000 × 1,06 = 106 000 reais
Como é possível perceber, essa forma de pensar resolve o desafio de maneira
eficiente.
Como calcular, então, o saldo de José dois anos após o depósito inicial de
R$100 000,00?
saldo (após 2 anos) = saldo (após 24 meses) = 100 000 + 24 × 0,5% × 100 000 =
= 100 000 × (1 + 24 × 0,5%) = 100 000 × (1 + 0,12) = 112 000 reais
As regras que acabaram de ser usadas têm o nome regime de capitalização
sob juros simples, ou simplesmente juros simples.
APLICAR CONHECIMENTOS II
1. Uma instituição financeira paga as aplicações de seus investidores a uma taxa de juros simples de
0,6% ao mês. Qual será o valor final de uma aplicação de R$ 20 000,00 por um semestre?
2. Antônio comprou um fogão que custou R$ 530,00 e que foi financiado em 2 meses. O valor
do juro cobrado pela financeira nesses 2 meses foi de R$ 106,00. Supondo que o financiamen-
to foi feito sob o regime de juros simples, calcule a taxa mensal de juro que foi aplicada pela
financeira.
3. Ricardo resolveu fazer uma aplicação financeira colocando R$ 150 000,00 em uma conta bancária
que rende 0,5% de juros simples ao mês, a partir do dia 2 de janeiro de 2013. Ele pretende deixar
esse dinheiro rendendo durante dois anos até o dia 2 de janeiro de 2015, quando pretende sacar
seu investimento para comprar, com pagamento à vista, um apartamento que custa R$ 170 000,00.
Imaginando que o preço desse apartamento permaneça o mesmo durante o tempo de aplicação,
essa aplicação permitirá que Roberto compre aquele apartamento sem ter que investir nenhuma
quantia a mais?
404 Matemática
Por exemplo, vamos representar o número de meses de aplicação pela letra n.
Assim:
Porém, Carlos explicou para José que essa regra não é comumente usada por
instituições bancárias ou financeiras. Em geral, se você pedir um empréstimo, ou
fizer uma aplicação no sistema financeiro brasileiro, o regime utilizado não é o
de juros simples.
Para empréstimos ou aplicações de dinheiro em cadernetas de poupança, o
regime de capitalização costuma ser o regime de juros compostos, como vere-
mos adiante.
Vejamos antes outro exemplo de aplicação do regime de juros simples.
Janete pediu um empréstimo de R$ 26 000,00 em uma instituição financeira
para comprar um carro.
Esse empréstimo será pago no final de 10 meses em uma única parcela, a uma
taxa de juro simples de 1,5% ao mês.
Vamos calcular o valor final do carro de Janete usando a última generali-
zação feita:
• o valor do capital C a ser financiado é de R$ 26 000,00;
• o período de tempo n do financiamento é de 10 meses;
• a taxa de juro simples i é de 1,5% ao mês.
Logo, utilizando a fórmula obtida na terceira generalização, temos:
9o ano 405
preço final (após 10 meses) = 26 000 × [1 + 10 × 1,5%] = 26 000 × 1,15 = 29 900 reais
No dia 1o de julho, João depositou mais R$ 200,00. Veja como ficaram essas
novas informações na tabela seguinte.
Tempo 0,5% sobre Saldo anterior Depósito (Saldo anterior + juros) Saldo da
Data
(em meses) 200,00 + juros mensal + depósito aplicação
1o/6 0 – – 200 200 200
1 /7
o
1 1,00 200 + 1 200 (200 + 1) + 200 401
406 Matemática
APLICAR CONHECIMENTOS IV
1. Complete a tabela a seguinte com os valores dos diversos saldos mensais da aplicação do João nos
meses que se seguiram (sugere-se usar uma calculadora):
Tempo 0,5% sobre Saldo anterior Depósito (Saldo anterior + juros) Saldo da
Data
(em meses) 200,00 + juros mensal + depósito aplicação
1o/10 4
1o/11 5
1o/12 6
2. Veja a seguir outra formatação de poupança, em que o valor depositado mensalmente é de R$ 250,00,
a taxa mensal de juro simples é de 0,6% e o tempo de formação da poupança é de 8 meses.
Complete essa tabela com os valores referentes aos meses de junho a setembro (sugere-se usar
uma calculadora).
Tempo 0,6% sobre Saldo anterior Depósito (Saldo anterior + juros) Saldo da
Data
(em meses) 250,00 + juros mensal + depósito aplicação
1o/6 4
1o/7 5
1o/8 6
1o/9 7
9o ano 407
JUROS COMPOSTOS
Se você já conhece o funcionamento das cadernetas de poupança, então faça
uma avaliação de seus conhecimentos, acompanhando as propostas seguintes. Se
não conhece, então tente acompanhá-las.
Em primeiro lugar, veja os valores das taxas porcentuais diárias nos dez pri-
meiros dias de rendimento das cadernetas de poupança referentes ao ano de 2011,
de julho a dezembro.
Imagine que uma pessoa tenha aberto uma caderneta de poupança no dia 2 de
julho de 2011 com um depósito de R$ 2 500,00.
No dia 2 de agosto de 2011, a taxa de rendimento das cadernetas de poupança
foi de 0,6373%. (Veja esse índice na coluna “agosto” e linha “2”.)
O saldo dessa pessoa, naquele dia, seria:
saldo (em 2/8/2011) = saldo (em 2/7/2011) + 0,6373% do saldo (em 2/7/2011) =
= 2 500 + 0,6373% de 2 500 = 2 500 + 0,6373% × 2 500 =
= 2 500 × (1 + 0,6373%) = 2 500 × (1 + 0,006373) =
= 2 500 × 1,006373 = 2 515,933 reais.
No dia 2 de setembro de 2011, a taxa de rendimento das cadernetas de pou-
pança foi de 0,6862%. (Veja esse índice na coluna “setembro” e linha “2”.)
408 Matemática
O saldo, naquele dia, seria:
saldo (em 2/9/2011) = saldo (em 2/8/2011) + 0,6862% do saldo (em 2/8/2011) =
= 2 515,933 + 0,6862% de 2 515,933 = 2 515,933 + 0,6862% × 2 515,933 =
= 2 515,933 × (1 + 0,6862%) = 2 515,933 × (1 + 0,006862) =
= 2 515,933 × 1,006862 2 533,197 reais.
Como você pode perceber, o regime de capitalização utilizado nas cadernetas
de poupança não é o regime de capitalização simples. A diferença entre o regime de
capitalização simples e o regime de capitalização utilizado nas cadernetas de pou-
pança é que o rendimento da aplicação nas cadernetas de poupança é calculado
sobre o saldo do dia e não sobre o capital inicial (exceto no final do primeiro mês,
quando os dois regimes coincidem).
Esse regime é chamado regime de capitalização composta, ou simplesmente
juros compostos.
APLICAR CONHECIMENTOS V
1. Complete a tabela seguinte utilizando o regime de capitalização composta (use uma calculadora
e faça um arredondamento com duas casas decimais):
2/11/2011 0,5941
2/12/2011 0,5629
2/1/2012 0,5604
9o ano 409
2. Complete a tabela seguinte utilizando o regime de capitalização simples (use uma calculadora e
faça um arredondamento com duas casas decimais):
2/11/2011 0,5941
2/12/2011 0,5629
2/1/2012 0,5604
3. Compare os valores dos saldos de cada dia sob os dois regimes de capitalização dos exercícios
anteriores. Se você quiser fazer uma aplicação em caderneta de poupança, então qual regime de
capitalização escolheria? Justifique sua resposta.
EXERCITANDO MAIS
1. Rosa tem uma dívida de R$ 1 000,00 que deve ser paga em 3 meses, com taxa de juro de 8% ao
mês, em regime de juros simples. Quanto ela pagará de juros?
2. Pedro aplicou um capital de R$ 5 000,00 à taxa de juro simples de 20% ao ano durante 4 anos. Que
quantia de juro simples ele recebeu referente a esse período?
3. As demissões de trabalhadores podem ser feitas por justa causa (quando o empregado desrespei-
ta alguma lei trabalhista), e sem justa causa (quando ele não desrespeita essas leis). No caso de
demissão sem justa causa, o empregador costuma fazer um tipo de acordo, pagando ao empre-
gado certa quantia como compensação pela demissão.
Imagine que uma trabalhadora tenha sido demitida de uma empresa sem justa causa e, por
isso, tenha recebido a quantia de R$ 2 500,00, firmada no acordo de sua demissão. Para que o
seu dinheiro não perdesse o valor muito rapidamente, ela resolveu aplicá-lo em uma instituição
410 Matemática
financeira que paga a aplicação feita pela trabalhadora a uma taxa de juro de 0,5% ao mês, usando
o regime de capitalização simples (juros simples).
Complete a tabela a seguir com os valores do saldo dessa trabalhadora (sugere-se usar uma
calculadora).
0 – 2 500,00
2 meses 12,50
3 meses 12,50
6 meses 12,50
9 meses 12,50
1 ano 12,50
9o ano 411
Capítulo 4
M AT E M ÁT I C A Uma leitura do mundo por meio
de tabelas e gráficos
Smilla/Dreamstime.com
Podemos nos deparar com gráficos e tabelas em diversas situações do nosso cotidiano, como em uma reunião de trabalho.
412 Matemática
Para ler e interpretar essas informações, é preciso saber como elas são organi-
zadas e apresentadas, o que significam e a que se relacionam.
É importante, por exemplo, identificar o tema ou assunto a que essas informa-
ções se referem e saber como podem ser dispostas num gráfico ou numa tabela.
RODA DE CONVERSA
Qual é o tema ou assunto a que se referem os dois gráficos a seguir? Você saberia dizer de que
tipo são esses gráficos?
Reúna-se com seus colegas e contem uns aos outros sobre suas experiências com gráficos e
tabelas: se já precisaram criar um gráfico ou pesquisar informações em um.
80 353 724
72 412 411
População em 2000
População em 2010
53 078 137
47 741 711
27 384 815
25 107 616
15 865 678
14 050 340
12 900 704
Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul 11 636 728
Região Centro-Oeste
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.
9o ano 413
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS
Como já foi mencionado, gráficos ou tabelas são geralmente usados para ex-
pressar resultados de pesquisas que envolvem a população de um país, de um
determinado grupo social ou, ainda, de partes dessa população ou desse grupo.
Pode-se afirmar que a coleta de dados e a criação de gráficos e tabelas são
atividades que fazem parte de um campo de estudo científico chamado estatística.
Um exemplo é um censo demográfico, utilizado para traçar um perfil de gru-
pos ou populações, ou para mostrar indicadores como as taxas de mortalidade
infantil e de desemprego da população economicamente ativa, entre outros.
Observe a tabela a seguir para analisar como foi o aumento da população bra-
sileira nas décadas de 1980, 1990, 2000 e 2010.
414 Matemática
População total do Brasil: 1980/2010
6,77%
10,85%
Ilustração digital: Planeta Terra Design
Sul
45,25% Sudeste
18,86%
Norte
18,27%
Nordeste
Centro-Oeste
9o ano 415
Esse tipo de gráfico possibilita visualizar partes de um todo sob a forma de
porcentagem, informando a participação de cada uma delas no total.
O círculo inteiro representa a porcentagem total da área do território brasilei-
ro. As diversas regiões em que o círculo foi dividido representam as porcentagens
das áreas das cinco regiões desse território.
A legenda indica a correspondência entre cada setor do gráfico e cada região do
Brasil.
Com base no último gráfico de setores, qual região brasileira possui a maior
área de seu território? E qual possui a menor área?
A figura ao lado é um gráfico Crescimento populacional (1872 a 2010)
APLICAR CONHECIMENTOS I
Indicadores demográficos
Esperança de vida Taxa de natalidade Taxa de mortalidade
Ano
ao nascer (anos) (por mil hab.) (por mil hab.)
1950 51 44 15,4
1960 55,9 42,1 12,5
1970 59,8 33,7 9,9
1980 63,6 30,8 8,3
1990 67,5 22,6 6,8
2000 71,0 20,7 6,4
2010 73,5 17,5 6,5
Fonte: Anuario estadístico de América Latina y el Caribe – 2010. Disponível em: <http://websie.eclac.cl/anuario_estadistico/anuario_2010/docs/Anuario%20Estadistico_2010.pdf>.
Acesso em: 17 set. 2012.
Observações:
Esperança de vida ao nascer ou expectativa de vida: duração provável da vida de uma pessoa
tomando-se por base os índices de mortalidade da época de seu nascimento.
Taxa de natalidade: número de nascimentos em um ano para cada 1 000 habitantes de um lugar.
Taxa de mortalidade: número de mortes em um ano para cada 1 000 habitantes de um lugar.
416 Matemática
a) Qual é a fonte desses dados?
b) Ao observar os valores indicados na coluna “Esperança de vida ao nascer”, qual é a sua con-
clusão em relação à variação desses valores de 1950 a 2010?
c) Analise os dados das outras colunas e escreva o que se pode concluir a respeito das taxas de na-
talidade e de mortalidade no período indicado.
50
2010
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Fonte: IBGE
b) Quais foram as mudanças nas expectativas de vida das mulheres e dos homens no período
que vai de 1980 a 2010?
c) Por que a curva da expectativa de vida de ambos os sexos está entre as curvas da expectativa
de vida das mulhares e dos homens?
d) No período de 1980 a 2010, qual variação de expectativa de vida foi maior: a das mulheres ou
a dos homens? De quanto? Quanto por cento?
9o ano 417
ORGANIZAÇÃO DE DADOS
418 Matemática
Idade No de entrevistados Idade No de entrevistados
30 ||||| | 40 |
32 ||||| 42 |
33 ||| 45 ||
34 || 49 |
37 || 55 ||
39 ||| 58 |
19 7 32 5
21 4 33 3
22 4 34 2
23 6 37 2
24 12 39 3
25 17 40 1
26 10 42 1
27 12 45 2
28 2 49 1
29 8 55 2
30 6 58 1
9o ano 419
Uma vez coletados os dados, eles podem ser organizados numa tabela, num
gráfico, ou em ambos.
Veja a seguir duas distribuições de frequências com base na tabulação feita
pelos estudantes, ambas elaboradas em uma planilha eletrônica:
1. Distribuição por idade dos estudantes
18
12 12
12
10
10
8 8
7
6 6 6
5
4 4
4 3 3
2 2 2 2 2
2
0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1
0
19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58
Idade Fonte: Elaborado pelos autores. Dados fictícios, 2011.
81
80
70
Número de estudantes
60
50
40
30
16
20
7 7
10
0
idade ≤ 20 anos 20 < idade ≤ 30 anos 30 < idade ≤ 40 anos idade > 40 anos
Faixa de idade Fonte: Elaborado pelos autores. Dados fictícios, 2011.
420 Matemática
Os resultados por classes foram apresentados por meio de suas frequências
absolutas.
A frequência absoluta de uma classe de idade consiste no número de entrevis-
tados que têm idades “dentro” daquela faixa.
É possível, também, representar as informações daquela tabela sob a forma
porcentual, ou sob a forma de frequência relativa. Acompanhe:
7
Com idade até 20 anos 7 111
= 6,306306306...%
81
Com mais de 20 até 30 anos 81 111
= 72,972972972...%
16
Com mais de 30 até 40 anos 16 111
= 14,414414414...%
7
Com mais de 40 anos 7 111
= 6,306306306...%
111
Total 111 111
= 1 = 100%
60
50
40
30
14,41
20
6,31 6,31
10
0
idade ≤ 20 anos 20 < idade ≤ 30 anos 30 < idade ≤ 40 anos idade > 40 anos
Faixa de idade Fonte: Elaborado pelos autores. Dados fictícios, 2011.
ARREDONDAMENTO
9o ano 421
Para um valor ser arredondado (por exemplo, 6,306306306...%), observe a
terceira casa decimal após a vírgula.
• Se essa casa é ocupada por um algarismo menor que 5, então se man-
têm exatamente as duas primeiras casas decimais.
• Se a terceira casa decimal é ocupada pelo algarismo 5 ou por um al-
garismo maior que 5, então somamos uma unidade ao algarismo da
segunda casa decimal (casa dos centésimos).
PARA REFLETIR
Como você faria o arredondamento se a segunda casa decimal após a vírgula fosse ocupada
pelo algarismo 9 e a terceira casa fosse ocupada por um algarismo maior que ou igual a 5?
APLICAR CONHECIMENTOS II
1. Em um exame biométrico realizado por um professor de educação física foram anotadas as altu-
ras dos estudantes de uma turma. Essas alturas, em metro, constam da seguinte listagem:
ado ng
Estúdio Pi
o digital:
Ilustraçã
422 Matemática
b) Quais medidas de alturas apareceram o maior número de vezes?
c) Qual é a frequência absoluta das medidas das alturas que você identificou no item b?
ELABORAÇÃO DE GRÁFICOS
GRÁFICO DE BARRAS
Vejamos a elaboração de uma representação gráfica de barras tomando como
base a pesquisa sobre a idade dos entrevistados feita por estudantes do Segundo
Segmento de Educação de Jovens e Adultos, exibida anteriormente.
Para isso, vamos utilizar um plano formado por dois eixos perpendiculares.
No eixo vertical são dispostas as diversas classes (ou faixas) de idades:
• a primeira classe corresponde ao intervalo: idade ≤ 20 anos;
• a segunda classe corresponde ao intervalo: 20 anos < idade ≤ 30 anos;
• a terceira classe corresponde ao intervalo: 30 anos <idade ≤ 40 anos;
• a quarta classe corresponde ao intervalo: idade > 40 anos.
No eixo horizontal são representados os números de entrevistados por classe
de idade.
As barras que dão nome à representação gráfica são representadas por retân-
gulos cujas bases estão “apoiadas” no eixo das classes e cujas alturas representam
os números de entrevistados por classe.
É necessário que as alturas dos retângulos sejam proporcionais aos correspon-
dentes valores das classes.
É importante, também, colocar um título que explique o assunto do gráfico,
nomear os eixos e indicar a fonte na qual se basearam as informações.
Veja a seguir a representação gráfica de barras das frequências relativas (ela-
boradas em uma planilha eletrônica):
9o ano 423
Distribuição por faixa de idade de turma de EJA
idade ≤ 20 anos 7%
GRÁFICO DE SETORES
Para construir um gráfico de setores com informações na forma de valores
absolutos, ou de porcentagens, usamos um círculo que representa a totalidade do
grupo pesquisado, ou seja, 100%.
Dividimos 360º, que correspondem ao círculo, proporcionalmente aos valores
dados em porcentagem, obtendo as correspondentes medidas dos ângulos centrais.
Ângulo central
Ângulo central é um ângulo com
vértice no centro do círculo e cujos
lados passam por dois pontos da sua
circunferência.
1 1 1 1
× 100% = 50% × 100% = 33,33% × 100% = 25% × 100% = 20%
100% 2 3 4 5
Ângulo central: 180º Ângulo central: 120º Ângulo central: 90º Ângulo central: 72º
1 1 1 1
× 100% = 16,66...% × 100% = 12,5% × 100% = 10% × 100% = 6,25%
6 8 10 16
Ângulo central: 60º Ângulo central: 45º Ângulo central: 36º Ângulo central: 22,5º
424 Matemática
População total e proporção da população por grandes grupos de idade em 2010
0 a 14 anos 24,20 24
15 a 29 anos 26,02 26
30 a 64 anos 41,91 42
Esse resultado pode ser obtido em uma calculadora digitando, por exemplo,
as seguintes sequências de teclas:
. 2 4 × 3 6 0 = ou 2 4 × 3 6 0 %
Grupo de 30 a 64 anos:
9o ano 425
Grupo de 65 anos ou mais:
GRÁFICO DE LINHA
Acompanhe a seguir a construção de um gráfico de linha.
Na tabela seguinte, pode-se observar como tem sido o crescimento da popu-
lação brasileira desde o Censo de 1970 até o Censo de 2010.
426 Matemática
Segunda forma:
ao outro eixo;
• a partir do correspondente número de
habitantes daquele ano, traçamos uma 80
reta paralela ao eixo correspondente
aos anos dos censos;
• o ponto comum dessas duas retas per-
pendiculares é o ponto do plano que
corresponde ao par de informações 52
com o qual se está trabalhando; 50
• procedemos da mesma forma para os
demais valores da tabela.
Uma vez determinados todos os pontos, bas-
ta ligá-los, ordenadamente, com segmentos de
reta e teremos um gráfico de linha que represen-
ta, aproximadamente, os dados da tabela.
Também é conveniente colocar um título que
explique do que se trata o gráfico, nomear os ei-
xos e indicar a fonte na qual se basearam as in- 0
1970 1980 1990 2000 2010
formações. Censo
Fonte: IBGE. Censos demográficos, 2012.
9o ano 427
APLICAR CONHECIMENTOS III
1.
a) Faça uma pesquisa sobre o mês Aniversários
de aniversário dos colegas de sua
classe e registre em uma tabela Mês Frequência absoluta Frequência relativa
como a apresentado ao lado:
Janeiro
Fevereiro
428 Matemática
2. A família Silva, no período de
março de 2012 a fevereiro de Consumo de água de março/2012 a fevereiro/2013
junho/2012 9 dezembro/2012 22
julho/2012 9 janeiro/2013 9
agosto/2012 7 fevereiro/2013 17
EXERCITANDO MAIS
1. Elabore um texto sobre seu entendimento a respeito de população e amostra. Depois, comente
por que, em algumas pesquisas, uma amostra é utilizada para representar uma população.
2. O gráfico seguinte mostra o número de matrículas da EJA no Ensino Fundamental no período de
1999 a 2010.
3 516 225
3 315 887
2 846 104
2 112 214
9o ano 429
d) No período total representado
Taxa de analfabetismo das pessoas com 10 anos ou mais, em %
Livro Estatística
IMENES, L. M.; JAKUBO, J.; LELLIS, M. Estatística. São Paulo: Atual, 2001. (Coleção Pra que serve matemática?)
430 Matemática
Bibliografia
MATEMÁTICA
7º Ano 431
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Nor-
mas Pedagógica – CENP. Prática pedagógica: Matemática 1o grau. São Paulo: SE/
CENP, 1993. v. 1-4.
STRUIK, D. J. História concisa das Matemáticas. Trad. João Cosme Santos Guer-
reiro. Lisboa: Gradiva, 1992.
TINOCO, L. A. A. (Coord.). Razões e proporções. Rio de Janeiro: Editora UFRJ,
1996.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Centro de Ciências. Departamento de
Estatísticas e Matemática Aplicada. Noções de estatística no ensino de matemática
do 1o grau. Rio de Janeiro: MEC/SEPS/PREMEN/FENAME, 1981.
432 Matemática