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Viver,

C O L E Ç Ã O

Aprender 9 Ensino
o
Fundamental ANO

Identidades
Carolina Amaral de Aguiar • Claudio Bazzoni
Dulce Satiko Onaga • Fábio Madeira
Heloisa Cerri Ramos • José Carlos Fernandes Rodrigues
Maria Amábile Mansutti • Maria Cecilia Guedes Condeixa
Marina Marcos Valadão • Mirella Laruccia Cleto
Roberto Giansanti • Rosane Acedo Vieira
Sueli Aparecida Romaniw

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

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Hino Nacional
Letra: Joaquim Osório Duque Estrada
Música: Francisco Manuel da Silva

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas Deitado eternamente em berço esplêndido,


De um povo heroico o brado retumbante, Ao som do mar e à luz do céu profundo,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante. Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Se o penhor dessa igualdade Do que a terra mais garrida


Conseguimos conquistar com braço forte, Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
Em teu seio, ó liberdade, “Nossos bosques têm mais vida”,
Desafia o nosso peito a própria morte! “Nossa vida” no teu seio “mais amores”.

Ó Pátria amada, Ó Pátria amada,


Idolatrada, Idolatrada,
Salve! Salve! Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido Brasil, de amor eterno seja símbolo
De amor e de esperança à terra desce, O lábaro que ostentas estrelado,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, E diga o verde-louro desta flâmula
A imagem do Cruzeiro resplandece. – Paz no futuro e glória no passado.

Gigante pela própria natureza, Mas, se ergues da justiça a clava forte,


És belo, és forte, impávido colosso, Verás que um filho teu não foge à luta,
E o teu futuro espelha essa grandeza. Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada, Terra adorada


Entre outras mil, Entre outras mil,
És tu, Brasil, És tu, Brasil,
Ó Pátria amada! Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil, Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Pátria amada,
Brasil! Brasil!

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Carolina Amaral de Aguiar
Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo
Claudio Bazzoni
Licenciado em Letras e professor de Língua Portuguesa para a EJA
Dulce Satiko Onaga
Licenciada em Matemática e autora de livros didáticos para a disciplina
Fábio Fernandes Madeira Lourenço
Pós-doutor em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas
Heloisa Cerri Ramos
Licenciada em Letras e formadora de professores para a disciplina de Língua Portuguesa
José Carlos Fernandes Rodrigues
Licenciado em Matemática e mestre em Educação Matemática
Maria Amábile Mansutti
Licenciada em Pedagogia, autora de currículos e materiais didáticos de Matemática para o Ensino Fundamental
Maria Cecilia Guedes Condeixa
Licenciada em Biologia e consultora para o ensino de Ciências
Marina Marcos Valadão
Enfermeira, doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo
Mirella Laruccia Cleto
Licenciada em Letras e professora de Língua Portuguesa para o Ensino Médio
Roberto Giansanti
Licenciado em Geografia e autor de livros didáticos para a disciplina
Rosane Acedo Vieira
Licenciada em Arte, formadora de professores e autora de materiais didáticos para a disciplina
Sueli Aparecida Romaniw
Licenciada em Letras e professora de Língua Espanhola para Ensino Médio e Ensino Superior

2a edição, São Paulo, 2013


© Ação Educativa, 2013
2a edição, Global Editora, São Paulo 2013

Global Editora Ação Educativa


Diretor editorial Diretoria
Jefferson L. Alves Luciana Guimarães
Gerente editorial Maria Machado Malta Campos
Dulce S. Seabra Orlando Joia

Gerente de produção Coordenação geral


Flávio Samuel Vera Masagão Ribeiro

Coordenadora editorial Coordenação editorial


Sandra Regina Fernandes Roberto Catelli Jr.

Edição e produção editorial Consultoria


Todotipo Editorial Denise Delegá (Língua Inglesa)

Assistente editorial Assistentes editoriais


Rubelita Pinheiro Dylan Frontana
Fernanda Bottallo
Revisão de texto
Cassilda Guerra Estagiária em editoração
Danielle Mendes Sales Camila Cysneiros
Desirée Araujo S. Aguiar Apoio
Enymilia Guimarães EED – Serviço de Igrejas Evangélicas
Hires Héglan na Alemanha para o Desenvolvimento
Luciane Boito
Mag Reim
Marcos Santos
Nair Hitomi Kayo
Roberta Oliveira Stracieri
Tereza Cristina Duarte Silva
Pesquisa iconográfica
Tempo Composto
Ilustrações
Caco Bressane
Luis Moura
Pingado Sociedade Ilustrativa
Planeta Terra Design
Cartografia
Maps World
Mario Yoshida
Sonia Vaz
Capa
Eduardo Okuno
Mauricio Negro
Foto da capa
Fabio Colombini
(Vista aérea da tribo indígena Kalapalo, aldeia Aiha, no Parque Indígena do
Xingu, MT, 2011)
Projeto gráfico e editoração eletrônica
Planeta Terra Design

Direitos Reservados
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
I22
2. ed.
Identidades, 9º ano : ensino fundamental : educação de jovens e adultos/ Carolina
Amaral de Aguiar ... [et al.]. - 2. ed. - São Paulo : Global, 2013.
432 p. : il. (Viver, aprender)
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-260-1874-7
1. Educação - Estudo e ensino (Ensino fundamental) I. Aguiar, Carolina Amaral de.
II. Série.
13-00373 CDD: 370
CDU: 37

Colabore com a produção científica e cultural.


Proibida a reprodução total ou parcial desta obra
sem a autorização do editor.
No de Catálogo: 3495

9o ano INICIAIS.indd 2 5/10/13 6:15 PM


Apresentação

E sta obra é destinada a jovens e adultos que iniciam ou retomam seus estudos
no segundo segmento do Ensino Fundamental.
A elaboração da coleção parte do princípio de que a educação, além de um
direito, é uma chave importante para o exercício da cidadania e para a plena par-
ticipação na vida social. Dessa forma, a coleção tem o propósito de oferecer livros
de qualidade, que atendam às necessidades específicas de aprendizagem de jovens
e adultos.
O livro compõe um conjunto de quatro volumes integrados, com propostas
de leitura e escrita, conhecimentos matemáticos e científicos, além de temas rele-
vantes da área de Ciências Humanas, que possibilitam uma melhor compreensão
de aspectos da realidade brasileira e mundial. Como em toda obra didática, não
temos a pretensão de esgotar conteúdos. Realizamos uma seleção de assuntos e
conceitos que consideramos essenciais para jovens e adultos que buscam ampliar
a sua formação acadêmica e prosseguir em seus estudos.
As abordagens das diferentes áreas de conhecimento orientaram-se pelo res-
peito à dignidade humana, à igualdade de direitos, à participação e pela corres-
ponsabilidade pela vida social. Estudar significa aprender em uma multiplicidade
de sentidos: aprendemos conceitos básicos das diversas áreas do conhecimen-
to, desenvolvemos habilidades e podemos nos tornar também mais competentes
para refletir sobre o mundo que nos cerca, em seus muitos aspectos.
Desejamos, assim, que esse material didático seja um meio para que jovens e
adultos consigam maior qualificação escolar. Mas, além disso, criamos um mate-
rial didático com a intenção de proporcionar um conhecimento significativo aos
estudantes, que trazem para a sala de aula muitas vivências pessoais e profissionais.

Os autores
Sumário

UNIDADE 1 – LÍNGUA PORTUGUESA

CAPÍTULO 1 – Tecendo o texto 9

CAPÍTULO 2 – Crônica: histórias do cotidiano 22

CAPÍTULO 3 – A arte de argumentar 39

CAPÍTULO 4 – A opinião (assumida) do jornal 59

BIBLIOGRAFIA 68

UNIDADE 2 – ARTE

CAPÍTULO 1 – A natureza e suas múltiplas possibilidades 71

CAPÍTULO 2 – Existem limites para a arte? 91

BIBLIOGRAFIA 111

UNIDADE 3 – LÍNGUAS ESTRANGEIRAS MODERNAS

CAPÍTULO 1 – Língua Inglesa – Brazil, Brazilian culture and people 115


CAPÍTULO 2 – Língua Inglesa – Brazil in figures: information from new agencies 125

CAPÍTULO 3 – Língua Espanhola – ¿Cuándo iremos a Cuba? 134

CAPÍTULO 4 – Língua Espanhola – ¿Dónde estabas quando te busqué? 147

BIBLIOGRAFIA 165

UNIDADE 4 – HISTÓRIA

CAPÍTULO 1 – Conflitos pelo poder: o mundo em disputa 169

CAPÍTULO 2 – Ditadura e democracia no Brasill 186

CAPÍTULO 3 – Visões do Brasil contemporâneo: um olhar sobre a periferia 205

BIBLIOGRAFIA 222
UNIDADE 5 – GEOGRAFIA

CAPÍTULO 1 – Globalização, territórios e redes geográficas 225

CAPÍTULO 2 – Conflitos e tensões no mundo atual: uma geografia 247

CAPÍTULO 3 – Paz e cooperação entre povos e países: uma governança global? 274

BIBLIOGRAFIA 297

UNIDADE 6 – CIÊNCIAS

CAPÍTULO 1 – Os materiais e a Química 301

CAPÍTULO 2 – A energia em transformação 321

CAPÍTULO 3 – Saúde e qualidade de vida 338

BIBLIOGRAFIA 366

UNIDADE 7 – MATEMÁTICA

CAPÍTULO 1 – Desde tempos remotos 371


CAPÍTULO 2 – Conexões matemáticas 384

CAPÍTULO 3 – Matemática nas finanças 400

CAPÍTULO 4 – Uma leitura por meio de tabelas e gráficos 412

BIBLIOGRAFIA 431
UNIDADE 1

Língua
Portuguesa
Capítulo 1
PORTUGUÊS Tecendo o texto

E m volumes anteriores, tratamos do conceito de texto. Você leu que a palavra


texto significa “aquilo que foi tecido”. E tecido, seja relacionado a pano, seja
relacionado à linguagem, traz a ideia dos fios que foram entrelaçados e que criam
um todo, uma unidade. O que garante essa unidade aos bons textos é a presença
de coesão e coerência. Neste capítulo, você vai estudar como essas propriedades
podem orientar nossa leitura e como é preciso proceder para que elas estejam
presentes nos textos que escrevemos.

RODA DE CONVERSA

Para começar, observe a imagem e responda às questões a seguir.

Courtesy Sikkema Jenkins Co., NYC

Detalhe da obra Soldadinho de brinquedo (série Mônadas). Impressão cromogênica de Vik Muniz, 90 × 72 cm, 2003.

1. Que elementos você identifica?


2. Você acha que a disposição das peças nessa imagem foi planejada?

9º ano 9
3. Observe a imagem a seguir. Que figura você vê?

Courtesy Sikkema Jenkins Co., NYC


Soldadinho de brinquedo (série Mônadas). Impressão
cromogênica de Vik Muniz, 90 × 72 cm, 2003.

Vik Muniz
Vik Muniz (Vicente José de Oliveira Muniz) nasceu em 1961 na cidade de São Paulo.
É fotógrafo, desenhista, pintor e gravador. Em 1988, começou a investigar a represen-
Juan Guerra/Agência Estado/AE

tação de imagens do mundo das artes por meio de técnicas variadas e inusitadas.
Com chocolate líquido e lixo, por exemplo, ele compõe imagens em uma superfície
e produz uma fotografia. Na Rio+20 ele criou uma imagem da Baía de Guanabara
com o lixo trazido pela população. O documentário Lixo extraordinário, que concor-
reu ao Oscar de melhor documentário em 2011, mostra o aproveitamento de lixo para
a produção de arte e como esse trabalho, que foi realizado no aterro sanitário
Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, transformou a vida dos catadores.

4. Com que material essa obra foi construída?


5. Em sua opinião, o que foi necessário para que as peças resultassem na figura que você reconheceu?
6. Se a primeira imagem do capítulo fosse um texto verbal, as peças seriam equivalentes a quê?

PARA O TEXTO SER UM TEXTO: COESÃO E COERÊNCIA

A unidade do texto, aquilo que permite que uma sequência de palavras ou


frases seja chamada de texto, é a presença de determinadas características. Quais?
Em primeiro lugar, deve haver afinidade entre as várias ideias que compõem
o texto, e elas também devem estar dispostas em uma ordem lógica. Além disso,

10 Língua Portuguesa
na passagem de uma para outra, o leitor precisa perceber que existe uma relação
entre elas, que elementos específicos de um trecho se ligam ao trecho seguinte.
Mencionamos no início deste capítulo que a unidade do texto deve-se à existên-
cia de determinadas características. Essas características são a coesão e a coerência.
O que significa quando alguém comenta, por exemplo, “Aquela equipe venceu
porque é muito coesa” ou “Essa é uma classe coesa”? Certamente essa pessoa está
fazendo referência à união que existe entre os membros da equipe e da classe.
E, quando alguém diz “Fulano teve uma atitude incoerente” ou “Essa resposta não
tem coerência”, provavelmente a pessoa agiu de um modo que não combina com
sua forma habitual de agir, ou fez algo que contraria o que ela falou anteriormen-
te; enfim, algo em sua atitude destoou. Com uma resposta sem coerência, aconte-
ce coisa semelhante, ou seja, alguma coisa não faz sentido.
E no texto? O que essas duas palavras representam?

COESÃO
Vamos analisar três trechos:
1. Visitei Belém do Pará recentemente. Nessa cidade é possível experimen-
tar alguns pratos com sabor bem diferente.
2. Descasque três batatas médias e cozinhe-as inteiras.
3. Fui ao baile. Não dancei. Meu pé doía.

Você já viu que coesão tem a ver com união. No trecho 1, há duas ideias bem
ligadas. Primeiro, fala-se em Belém; depois, conta-se que em Belém há pratos
com sabor diferente. Em vez de repetir a palavra “Belém”, o autor escolheu uma
expressão substituta (“nessa cidade”), mas que retoma a ideia já citada. O mesmo
acontece no trecho 2: o autor menciona “as batatas” e, em seguida, emprega o
pronome “as” no lugar dessas palavras. Dessa forma, “cidade” e “as” são termos
que contribuem para que, nos dois trechos, as ideias estejam bem relacionadas
ou articuladas.
No trecho 3, não há palavras que sejam responsáveis pela ligação das ideias,
mas o leitor tem uma experiência sobre o conteúdo que está lendo: ele sabe que
nos bailes em geral as pessoas dançam e que é difícil dançar com o pé machucado.
Além disso, a ordem em que os acontecimentos estão escritos ajuda o leitor a ter
uma noção clara do que o autor da fala quer comunicar. Portanto, podemos dizer
que, apesar da ausência de algumas palavras, esse trecho apresenta coesão, isto é,
há uma articulação entre as ideias.
Se o autor do trecho 3 quisesse deixar mais clara para o leitor a relação que
existe entre os três fatos, ele poderia escrever: “Fui ao baile, mas não dancei por-
que meu pé doía”. Dizemos nesse caso que a relação entre as ideias é explícita. O
texto é ainda mais coeso.

9º ano 11
COERÊNCIA
Vamos analisar mais três trechos:
4. Choveu durante o tempo em que estivemos no parque. Voltamos verme-
lhos do sol.
5. Gosto muito de dançar, mas sempre que posso vou aos bailes.
6. O aluno esqueceu o livro. O livro trata do lixo. O lixo é um tema impor-
tante na atualidade.
Os trechos acima provocam um estranhamento em quem os lê porque não
fazem sentido, não têm nexo.
No trecho 4, como entender que as pessoas tomaram sol se choveu? Essa si-
tuação faria sentido se houvesse uma explicação plausível. Por exemplo: “Choveu
durante todo o tempo em que estivemos no parque, mas ficamos vermelhos do sol
porque, durante o trajeto que fizemos a pé, na volta, o sol saiu”.
No trecho 5, o problema de incoerência seria solucionado com a simples tro-
ca da palavra que está articulando as ideias. Verifique: “Gosto muito de dançar,
portanto sempre que posso vou aos bailes”. Nesse caso, o novo termo selecionado
para o encadeamento das ideias (“portanto”) tem coerência. A palavra “mas”, que
é usada para quebrar expectativas, tornava a frase incoerente.
O trecho 6 não permite uma correção simples. Falta unidade de sentido. Em-
bora exista uma relação da primeira oração com a segunda e desta com a terceira,
seu autor falou de aspectos que não conseguem, juntos, comunicar determinada
ideia. A impressão a é de que está tudo “solto”.

RESUMINDO...
A coerência tem a ver com o sentido, a lógica entre as ideias, e a coesão tem a
ver com o modo como as partes do texto estão encadeadas. Na maioria das vezes,
a coesão conta com elementos linguísticos (trechos 1 e 2). Em alguns casos, o ele-
mento linguístico responsável pela coesão pode interferir na coerência (trecho 5).
Quando o texto é coerente e coeso, as informações fluem durante a leitura, e
o texto se mostra como uma unidade dotada de sentido.
O mesmo vale para a escrita. Se seguirmos essas orientações ao escrever, nos-
so texto dará ao leitor todas as possibilidades de ser compreendido.

A COERÊNCIA E A COESÃO NA PRÁTICA


Como tudo o que foi dito até aqui se concretiza?
Podemos perceber esses aspectos de coesão e coerência analisando o texto
“Os indesejáveis ratos”. Ele foi extraído de um livro que trata da questão do lixo
em nosso planeta.
Leia-o.

12 Língua Portuguesa
Os indesejáveis ratos
No início deste século, as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro fizeram uma
campanha de saúde pública em que se ofereciam 100 réis por cada rato levado ao
incinerador público. Nessa época, o lixo vivia espalhado por todo lado e esses ani-
mais proliferavam em abundância, transmitindo doenças à população. A campanha
inicialmente foi um sucesso, mas algumas pessoas mal-intencionadas passaram a
criar ratos para ganhar dinheiro!
Até hoje, a quantidade de roedores dispersos no mundo todo é tão grande que
a proporção chega ao alarmante número de três ratos para cada habitante.
Durante a Idade Média, mais exatamente entre os anos de 1340 a 1360 d.C.,
cerca de um quarto da população europeia morreu em consequência da peste bubônica,
também chamada de peste negra, transmitida pela pulga dos ratos. Naquela época, o
lixo das casas era simplesmente jogado nas ruas, o que favorecia a proliferação de roe-
dores, que circulavam por toda a cidade.
Felizmente essa doença está erradicada, mas na Índia já surgiu um outro tipo
de epidemia chamada peste pneumônica, muito grave, também causada pela pulga do
rato. Provavelmente, a peste apareceu nas favelas de uma cidade chamada Surat, que
disputa o título de ser a mais suja da Índia.
No Brasil, esses animais são ainda responsáveis por diversas moléstias. A
mais comum é a leptospirose, transmitida por bactérias que parasitam esses roedores,
e que são eliminadas pela sua urina, contaminando o ambiente. Em épocas de
enchente, o caminho por onde os ratos circulam é inundado pelas águas das chuvas,
que espalham os germes, inclusive para dentro das casas.
[...]
RODRIGUES, Francisco Luiz; CAVINATTO, Vilma Maria. Lixo: de onde vem? Para onde vai? São Paulo: Moderna, 1997. p. 38.

Você compreendeu tudo que o autor do texto apresentou porque acompa-


nhou o encadeamento das ideias, ou seja, você se beneficiou da estratégia de
coesão que foi usada nesse texto. Outro fator que contribuiu para sua compreen-
são foi a estratégia de coerência que o autor usou. No texto, todas as ideias estão
relacionadas e voltadas a um objetivo, que é o de mostrar as doenças causadas
pelos ratos.
Vamos primeiramente analisar a estratégia de coesão.
Logo no princípio do texto, quando lê “No início deste século...”, o leitor é cha-
mado a dialogar com o que está lendo. No início de qual século? “Este” é sempre
o mês, a semana, o século em que estamos. Se levarmos em conta o momento da
leitura, estamos no século XXI, que se iniciou em 2001. Foi nesse século que os
autores escreveram? Na referência bibliográfica, que marca a primeira edição do
livro, quer dizer, o ano da sua primeira publicação, a data é 1997, portanto século
XX. Isso permite concluir que, quando lemos “No início deste século”, o texto
refere-se ao século XX, começado em 1901.
Há outro ponto: a moeda usada; fala-se em “100 réis”, e, no começo no século
XXI, as transações comerciais são feitas em reais.
Repare que foi necessário buscar fora do texto uma referência para a expres-
são “este século”. Ela poderia significar muitos momentos diferentes em outras

9º ano 13
ocorrências, mas significa apenas um no texto que estamos lendo. E é o próprio
texto que nos aponta que momento é esse.
Essa operação de estabelecer relações continua. Vamos examinar algumas
passagens.
• “Nessa época, o lixo vivia espalhado por todo lado e esses animais pro-
liferavam em abundância, transmitindo doenças à população.”
Em que época o lixo vivia espalhado? De acordo com o que acabamos
de ler, a época à qual o texto se refere é o início do século XX, e “esses
animais” só pode ser uma alusão aos ratos.
“Rato” e “animal” não são a mesma coisa; o segundo termo abrange
muitas outras espécies, mas é importante perceber que, nesse texto,
“animal” equivale a “rato”. É um termo que estabelece coesão, porque a
expressão “esses animais” retoma uma ideia já citada. Ela evita a repe-
tição desagradável da mesma palavra e obriga o leitor a executar uma
operação: voltar ao que já leu.
Quando tenta, com o auxílio do próprio texto, determinar de que animais
se está falando, o leitor obrigatoriamente vai “tecendo” as partes do texto. Dessa
forma, ele vai acompanhando a progressão das ideias.
• “Até hoje, a quantidade de roedores dispersos no mundo todo é tão
grande [...].”
Entre os roedores, estão as cotias, as capivaras... Mas é desses seres que
o texto trata? Naturalmente o leitor pensa em um roedor específico: o
rato. “Roedores” tem um papel coesivo no texto: liga as ideias e evita a
repetição de palavras.
• “A campanha inicialmente foi um sucesso [...].”
Que campanha?, perguntaria o leitor, se isso já não tivesse sido escla-
recido anteriormente. Empregamos os artigos definidos (o, a, os e as)
justamente para nos referir a ideias já apresentadas. Caso contrário,
empregamos os indefinidos (um, uma, uns e umas). Por exemplo: “Na
minha rua mora um menino... Um dia o menino encontrou...”
Quando o leitor estabelece mentalmente uma relação entre “fizeram
uma campanha de saúde pública” e “a campanha foi um sucesso”, vai
“costurando” as ideias do texto. É a coesão em ação.
• “Felizmente essa doença está erradicada, mas na Índia já surgiu um
outro tipo de epidemia [...].”
Que doença é essa? O leitor sabe: é a peste bubônica, ou peste negra. Ele aca-
bou de ler a informação no parágrafo anterior.
Repare a pista que o texto fornece para o leitor continuar acompanhando a
exposição: a peste negra está erradicada, mas surgiu outro tipo de epidemia. O lei-

14 Língua Portuguesa
tor já se prepara para o que vai ler; a informação que virá pode se referir a muitas
doenças, menos à peste bubônica ou negra. Isso é indicado pela palavra “outro”.
Essa palavra tem a função de excluir do conjunto o termo que já foi citado. Veja
mais um exemplo: “O filho caçula ficou em casa; os outros seguiram junto com os
avós” (fora o caçula, os demais filhos saíram).
No trecho há outra palavra responsável pela coesão textual. É a palavra “epidemia”.
Em vez de escrever “essa doença está erradicada, mas surgiu outro tipo de doença”, o
autor escreve “essa doença está erradicada, mas surgiu outro tipo de epidemia”. Nem
toda doença é uma epidemia; porém, no contexto desse texto, uma palavra substitui
a outra.

• “A mais comum é a leptospirose, transmitida por bactérias que parasi-


tam esses roedores, e que são eliminadas pela sua urina [...].”

Sua? De quem? O leitor que vem acompanhando a progressão das


ideias no texto sabe: dos roedores, que, no caso, são os ratos.
Esse trecho também exemplifica mais uma estratégia que a língua oferece
para a coesão do texto: a omissão de uma palavra. Isso quer dizer o se-
guinte: o autor oculta uma palavra quando é fácil saber o que estaria no
lugar dela. Examine: “A mais comum é a leptospirose [...]”. Não é necessá-
rio repetir “a moléstia mais comum é a leptospirose”, pois, intuitivamente,
o leitor “preenche o vazio” com informações coerentes colhidas no texto.
E a vantagem é que, ao fazer isso, o leitor vai “costurando” as ideias.

• “Naquela época, o lixo das casas era simplesmente jogado nas ruas, o
que favorecia a proliferação de roedores [...].”

Repare a importância de estabelecer relação entre as ideias do texto.


No primeiro parágrafo apareceu a expressão “nessa época”, que indi-
cava “no começo do século XX”. No entanto, no trecho transcrito, a
expressão “naquela época” indica outro momento. Como saber qual?
É simples: basta levar em conta o que está escrito no parágrafo em que
essa expressão aparece e avaliar se a ideia é coerente no conjunto do
texto. A época mencionada dessa vez foi a Idade Média, precisamente
entre 1340 e 1360.
Muitas vezes, um texto não apresenta palavras difíceis, mas o leitor não o
compreende porque não percebe as relações de coesão que certas palavras estabe-
lecem e, dessa forma, não acompanha o desenrolar das ideias.
Ao mesmo tempo que é preciso compreender o que o texto diz a fim de esta-
belecer essas relações, também é necessário estabelecer tais relações a fim de que
se possa compreender o texto. Uma coisa leva à outra. Trata-se de um comporta-
mento “de mão dupla”, que ajuda tanto na leitura quanto na redação.
Além desse aspecto, ou seja, da retomada de ideias anteriores, a coesão tam-
bém se manifesta de outra forma. Há palavras que marcam a relação que já existe

9º ano 15
entre duas ideias próximas. Esse segundo aspecto da coesão está associado à coe-
rência entre as ideias, ou seja, ao nexo que existe entre elas.
Vamos examinar em alguns exemplos como isso ocorre.
• “Felizmente essa doença está erradicada, mas na Índia já surgiu um
outro tipo de epidemia [...].”
Existem acima duas ideias: 1) A doença foi erradicada; 2) Surgiu uma epide-
mia. Há uma oposição: o fim da doença versus a existência da doença. A palavra
“mas” foi empregada para articular essas duas ideias porque “avisa” o leitor de que
virá algo contrário ao que foi dito. Quando você lê “Ele chegou no horário, mas...”,
já fica aguardando algo que se opõe a chegar no horário em um compromisso.
Imagina logo que a pessoa não foi atendida, por exemplo.
Examine como ficaria o trecho tirado do texto sem essa palavra: “Felizmente
essa doença está erradicada. Na Índia já surgiu um outro tipo de epidemia”.
Para o leitor, tudo fica mais claro se ele já for “avisado” de que em seguida virá
uma ideia oposta. O que nos dá esse aviso é o conectivo, isto é, a palavra que une
ideias estabelecendo entre elas determinada relação. No exemplo citado, o conec-
tivo é o “mas”, que estabelece a relação de oposição entre ambas as ideias.
Em resumo, existe um nexo entre as duas ideias, mas elas poderiam estar es-
critas sem um termo que tornasse esse nexo evidente. No entanto, o autor preferiu
explicitar que relação havia e deixou o texto mais coeso, mais “amarrado”, já que
as ideias estão bem ligadas por meio do “mas”.
• “[...]algumas pessoas mal-intencionadas passaram a criar ratos para
ganhar dinheiro!”
A relação que existe entre as duas ideias acima é outra. Analise: 1) Algumas
pessoas passaram a criar ratos; 2) Essas pessoas queriam ganhar dinheiro. A se-
gunda ideia (ganhar dinheiro) é a finalidade da criação de ratos. Por isso, o autor
empregou a palavra “para”, que indica a noção de objetivo, finalidade. Essa palavra
deixa explícita uma relação que já existia.
• “[...] surgiu um outro tipo de epidemia chamada peste pneumônica,
muito grave, também causada pela pulga do rato.”
Nesse trecho há ideias semelhantes; são duas as doenças transmitidas pela
pulga do rato: a peste pneumônica e uma outra que já tinha sido mencionada. Por
isso, empregou-se a palavra “também”, que soma, inclui.
• “[...]cerca de um quarto da população europeia morreu em consequên-
cia da peste bubônica [...].”
Ocorreu no trecho uma relação muito comum entre duas ideias: a relação de
causa/consequência. Relembre as duas ideias: 1) Morte de um quarto da popula-
ção europeia; 2) Ocorrência da peste bubônica.
A segunda ideia indica a razão pela qual a primeira ocorreu. Podemos
afirmar também que a primeira ideia é consequência da segunda. A expressão

16 Língua Portuguesa
responsável por deixar claro o vínculo de causa e conquência é “em consequ-
ência de”.
A seguir, estão algumas relações que podem ocorrer entre as ideias de um
texto e exemplos de expressões que podem indicá-las:

Oposição: mas, porém, no entanto, entretanto, contudo, por outro lado, apesar de, embora...
Adição: e, além disso...
Finalidade: para, a fim de que, com o objetivo de...
Causa: porque, pois, já que, devido a, em razão de, graças a, por causa de...
Conclusão: portanto, então, dessa forma...
Tempo: quando, antes que, depois que, assim que, sempre que, primeiramente, depois, em seguida...

É importante ressaltar que a coerência do texto não se manifesta apenas pela


relação que existe entre as orações. É preciso também que os vários “blocos de
ideia” do texto tenham uma relação lógica entre si, para que a passagem de uma
parte para outra não comprometa a leitura.
Observe como isso acontece no texto “Os indesejáveis ratos”. Todos os pará-
grafos estão escritos de modo a associar os ratos com a grande quantidade de lixo
espalhado e com a existência de doenças graves provocadas por esses animais.
Não se fala sobre outros aspectos relativos ao rato; não se apontam outras ques-
tões referentes ao lixo; não são citadas doenças que não tenham relação com esses
dois elementos. Dessa forma, os blocos de ideia desse texto estão integrados.

APLICAR CONHECIMENTOS

1. Releia o último parágrafo do texto “Os indesejáveis ratos”.


a) Que palavras retomam “ratos”?
b) Que expressões diferentes das que foram usadas no texto poderiam ser empregadas para reto-
mar “ratos”?
2. Examine o trecho a seguir do texto “Os indesejáveis ratos”.
Provavelmente, a peste apareceu nas favelas de uma cidade chamada Surat,
que disputa o título de ser a * mais suja da Índia.
a) Que palavra foi omitida no local onde aparece o símbolo *?
b) Assinale o nome da doença a que a palavra peste se refere, nesse caso.
( ) peste bubônica ( ) peste negra
( ) leptospirose ( ) peste pneumônica

3. Leia o trecho a seguir de “Os indesejáveis ratos”.


A campanha inicialmente foi um sucesso, mas algumas pessoas mal-
-intencionadas passaram a criar ratos para ganhar dinheiro!
a) Nesse trecho, as ideias são articuladas pelo conectivo “mas”. Que relação esse conectivo anun-
cia? Que outro conectivo poderia ser usado para indicar a mesma relação?

9º ano 17
b) Leia outra versão para esse trecho.
A campanha inicialmente foi um sucesso, mas fracassou. Algumas pessoas
mal-intencionadas passaram a criar ratos para ganhar dinheiro.
Termine de reescrever a reformulação proposta, preenchendo as lacunas com uma expressão
que torne as ideias ainda mais claras para o leitor.

A campanha inicialmente foi um sucesso, mas, ,


fracassou, algumas pessoas mal-intencionadas passaram a
criar ratos para ganhar dinheiro.
4. Leia este trecho de “Os indesejáveis ratos”.
Naquela época, o lixo das casas era simplesmente jogado nas ruas, o que
favorecia a proliferação de roedores, que circulavam por toda a cidade.
a) A expressão “o que” retoma algo dito antes. Qual é essa ideia anterior?
b) Reescreva esse trecho, substituindo a expressão “o que” por “isso”. Faça as adaptações necessárias.
5. O trecho a seguir fala da descoberta de diamantes na atual cidade mineira de Diamantina, no
século XVIII. Leia-o para responder às questões.

[...] Não se sabe ao certo quando e por quem foram descobertas as primeiras
minas de diamantes no Brasil. Relatos esparsos sobre a existência desse mineral
remontam à segunda metade do século XVI e é certo que, já no início do século XVIII,
os diamantes eram extraídos às margens do Rio Tijuco [...]. Porém, apenas em 1729
sua existência foi oficializada pelo então governador da capitania de Minas Gerais,
dom Lourenço de Almeida, que justificava a demora em noticiar as descobertas pela
suposta incerteza quanto à qualidade e autenticidade das pedras.
Na verdade, tal atraso deveu-se à lucrativa exploração clandestina estabelecida
desde os primeiros achados, atividade que envolveu o próprio governador e ganhou
notoriedade. A partir daí, tamanha foi a profusão dos diamantes que foram suspensas
todas as minerações de ouro nas terras diamantinas. [...]
SILVA, Ana Rosa Cloclet. “O tesouro de Minas”. Revista Carta Fundamental , n.º 36, mar./2012. p. 30.

a) No primeiro parágrafo, foram empregadas três palavras equivalentes a “diamante(s)”. Quais?


b) Que ideias, nesse texto, são retomadas pelas expressões:
• tal atraso?
• a partir daí
6. Termine de escrever o parágrafo a seguir, preenchendo as lacunas com um conectivo coerente.

Em algumas cidades, a prefeitura tem um programa de reciclagem de água.


A água reciclada não é usada em residências é imprópria
para o consumo, serve para regar jardins de praças, lavar
ruas e apagar incêndios, economiza a água potável utilizada
nessas atividades.
7. Examine as ideias que seguem:
• É difícil encontrar alguém que ignore que o hábito de fumar faz mal ao sistema respiratório e vascular.
• A novidade é que o fumo pode estar correlacionado ao declínio da atividade cerebral.

18 Língua Portuguesa
a) Complete o trecho, preenchendo as lacunas com um conectivo coerente.

É difícil encontrar alguém que ignore que o hábito de fumar faz mal ao sistema
respiratório e vascular, a novidade é que o fumo pode estar
correlacionado ao declínio da atividade cerebral.
b) Os conectivos que você acrescentou tornam mais explícitas as relações entre as ideias. Que
noção eles reforçam?
8. Complete as frases com ideias que sejam coerentes com o que o conectivo “avisa” ao leitor.
a) O rio da nossa cidade deve ser preservado limpo, porque
b) O rio da nossa cidade deve ser preservado limpo, antes que
c) O rio da nossa cidade deve ser preservado limpo, embora

9. Leia o trecho a seguir.


O Brasil central foi fracamente povoado por mineradores e criadores de
gado, desde o século XVIII. O povoamento efetivo do Brasil central iniciou-se apenas
em meados do século XX e o povoamento efetivo do Brasil central ganhou forte
impulso com a construção de Brasília. No Brasil central, a quantidade de pessoas,
em geral, ainda é pequena. Os locais com maior número de pessoas revelam o
trajeto das rodovias, em torno das quais se desenvolveram as cidades.
MAGNOLI, Demétrio. Geia: fundamentos da Geografia. São Paulo: Moderna, 2002. v. 6. p. 89-90. (Texto adaptado.)

Reescreva-o, substituindo as expressões sublinhadas por outras.


10. Leia o trecho a seguir.

Todas as paisagens estão sempre em mudança. Mas, em geral, a mudança é


tão lenta que não pode ser percebida pelos nossos sentidos. Não é isso que acontece
nos desertos de areia – nesses ambientes, a erosão provocada pelo vento faz mudanças
rápidas nas formas de relevo.
Nos desertos, praticamente não há vegetação. As partículas de areia e os seixos
encontram-se soltos, sem fixação. Soprando sobre esse tipo de solo, o vento remove,
transporta e deposita fragmentos. Quanto mais leve o material, maior a distância
do transporte. Minúsculos grãos de areia do deserto do Saara atravessam o oceano
Atlântico e depositam-se na Amazônia brasileira. Uma tempestade no Saara, em 1901,
depositou 4 milhões de toneladas de areia e pó na Europa.
MAGNOLI, Demétrio. Geia: fundamentos da Geografia. São Paulo: Moderna, 2002. v. 5.p. 61. (Texto adaptado.)

a) Cada expressão sublinhada remete o leitor a algo que foi tratado antes. Escreva que ideias são
retomadas em cada uma delas.
b) Releia o trecho a seguir e responda: Que ideia representa a causa? E que ideia representa a
consequência?
[...] a mudança é tão lenta que não pode ser percebida pelos nossos sentidos.
c) Complete os trechos a seguir com uma palavra ou expressão coerente.
A mudança não pode ser percebida pelos nossos sentidos
é muito lenta.
A mudança não pode ser percebida pelos nossos sentidos em razão de .

9º ano 19
MOMENTO DA ESCRITA

PROPOSTA
Em revistas de divulgação científica, é comum haver uma seção em que as dúvidas dos leitores
são respondidas.
Junto com seus colegas, você vai escrever textos semelhantes e vai publicá-los em um mural
da escola.

PLANEJAMENTO
1. Escolha um tópico sobre o qual você gostaria de ter mais informações. Por exemplo, a partir do
estudo do capítulo sobre saúde e doenças, em Ciências, um aluno pode se interessar em investigar
as vacinas. Nesse caso, ele vai propor uma questão delimitada: como foi inventada/descoberta a
vacina? Por que algumas pessoas desconfiam da vacinação?
2. Todos vão escrever sua questão em um pedaço de papel e, depois, guardá-lo em uma caixa. Em
seguida, cada aluno vai sortear com que pergunta vai ficar. Ele vai agir como a equipe da revista,
ou seja, vai responder à pergunta em forma de texto.
3. O próximo passo é selecionar fontes de informação.
4. Tome nota dos dados relevantes para responder à dúvida pela qual você ficou responsável.

ELABORAÇÃO
Redija a resposta de forma clara, levando em conta o que você estudou sobre o papel da coesão
e da coerência na constituição de um texto.

AVALIAÇÃO
Troque de texto com um colega (que não pode ser aquele que fez a pergunta) e considere os
seguintes aspectos:

1. A dúvida foi respondida?


2. As etapas que envolvem o processo estão claras? O autor empregou expressões que evidenciam as
relações importantes, como causa, tempo etc.? Localize essas palavras no texto do colega.
3. Quando o autor empregou termos para resgatar ideias anteriormente expostas, a referência ficou
clara? Assinale as palavras que resgatam ideias anteriores.

REESCRITA

1. Considerando a avaliação que o colega fez do seu texto, reescreva-o, aperfeiçoando o que garante
o aspecto de unidade em um texto.
2. Siga as orientações do professor para passar o texto a limpo e exponha-o em um mural. A turma
pode optar por colocar alguns textos por semana, de modo que o mural tenha sempre novidades.

20 Língua Portuguesa
PLANEJANDO A FALA

Os elementos responsáveis pela coesão e pela coerência de um texto precisam ser alvo de aten-
ção nas situações de comunicação oral.
Suponha que um funcionário, que recebe mensalmente uma cesta básica, encontre um de seus
produtos com o prazo de validade vencido. Ao entrar em contato com o serviço de atendimento
ao consumidor (SAC), ele diz, assim que o atendente responde: “Meu molho de tomate está ven-
cido e eu quero ser recompensado”.
Discuta com seus colegas:

1. O que isso dá a entender a quem o ouve?


2. A ideia de recompensa é coerente para a situação?
3. Com base na situação em que essa frase foi dita, você acha que o atendente pode compreendê-la?
4. Há nessa frase referências anteriores que estariam sendo retomadas?
5. Como o texto oral poderia ser formulado, de modo que o atendente não precisasse preencher
sozinho as lacunas que o texto deixa? Escreva uma versão de como essa frase poderia ser dita ao
telefone.
Na versão que você escreveu, há termos que retomam ideias anteriores? As referências estão
claras? Se julgar necessário, faça alterações.
Nas situações que você presencia no dia a dia, procure identificar uma em que a comunicação
oral tenha problemas de coesão e coerência. Identifique outra em que essas propriedades estavam
presentes e garantiram o sucesso da comunicação.
Quando for possível, registre os textos para não esquecer. O professor vai programar a apre-
sentação e a análise de alguns textos.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS


Filme Lixo extraordinário
Filmado ao longo de dois anos (agosto de 2007 a maio de 2009), Lixo extraordinário acompanha
o trabalho do artista plástico Vik Muniz em um dos maiores aterros sanitários do mundo: o Jar-
dim Gramacho, na periferia do Rio de Janeiro.
Direção: Lucy Walker, João Jardim, Karen Harley. Brasil/Reino Unido, 2010. 90 minutos.

Site A Vaguidão específica


Nesse texto de Millôr Fernandes, você pode analisar alguns aspectos relativos à coesão e à
coerência textuais. A aparente ausência ou o aparente mau uso dessas propriedades podem
constituir-se na fonte de sentido de um texto.
Disponível em: <www2.uol.com.br/millor/aberto/textos/005/011.htm>. Acesso em: 10 out. 2012.

9º ano 21
Capítulo 2
PORTUGUÊS Crônica: histórias do cotidiano

V ocê já estudou que o jornal apresenta grande variedade de gêneros de texto,


cada um com uma finalidade. Pelos jornais você pode se informar sobre
acontecimentos relevantes, que repercutem sobre sua vida, e também sobre fa-
tos pitorescos. Pode obter informações práticas, como o resultado da loteria, um
índice econômico, ou a programação do cinema e da TV. Pode, ainda, descobrir
uma vaga de emprego, um imóvel para alugar, um carro usado para comprar.
Pode receber dicas de passeios, livros e viagens e encontrar diversão e entreteni-
mento nos quadrinhos, nas palavras cruzadas e nas crônicas.
Dedicaremos este capítulo ao estudo específico de um gênero textual do jor-
nal − a crônica.
Observe e leia a tirinha de Charles Schulz:

Peanuts, Charles Schulz © Peanuts Worldwide LLC./ Dist. by Universal Uclick


RODA DE CONVERSA

Em dupla, converse com seu colega sobre as questões a seguir.

1. Comprove pelas falas das personagens da tirinha que o jornal tem variedade de gêneros textuais.
2. Quais são os gêneros textuais que aparecem nas falas da tirinha?
3. Qual é a fala que emite uma suposição?
4. Por que podemos afirmar que o pensamento do cãozinho Snoopy é o título de uma notícia?
5. O pensamento de Snoopy comprova a suposição do menino Charlie Brown?
6. Você achou graça na tirinha? Por quê?

22 Língua Portuguesa
Charles Monroe Schulz

Douglas Kirkland/Corbis/Latinstock
O cartunista Charles Schulz (1922-2000) nasceu nos Estados Unidos. É o
criador da tira Peanuts, conhecida no Brasil como Minduim. O quadrinho da
turma de Snoopy e Charlie Brown é um dos mais populares do mundo. Apa-
receu pela primeira vez em 1950. Chegou a ser publicado em 2 600 jornais e
alcançou mais de 355 milhões de leitores em 75 países. Foi traduzido para mais
de 21 idiomas. Schulz foi um inovador. Introduziu a vida cotidiana no mundo
dos comics, dominados até então por histórias de ação. Outra característica
marcante de seu trabalho é o fato de nunca aparecerem adultos desenhados. O
mundo de Snoopy e de Charlie Brown pertence somente à infância.
Disponível em: <www.tvsinopse.kinghost.net/art/c/charles-schulz>. Acesso em: 3 out. 2012.

A CRÔNICA E O LEITOR

Em meio a tanta informação, a crônica surge na página do jornal ou da revis-


ta para compensar o peso das manchetes diárias, aliviando a tensão das notícias
graves.

NOTÍCIA E CRÔNICA
Assim como a notícia, a crônica também se alimenta dos fatos do cotidiano.
Onde, então, está a diferença entre esses dois gêneros? A diferença principal está
na intencionalidade de cada um deles. As notícias são escritas para informar o
leitor dos principais acontecimentos nacionais e internacionais: políticos, espor-
tivos, culturais, científicos, econômicos etc. Já as crônicas são escritas, sobretudo,
para entreter esse mesmo leitor.

LINGUAGEM
A segunda diferença decorre da primeira. É a linguagem. Por um lado, um
texto escrito para informar, como a notícia, não tem a mesma linguagem de um
texto que pretende entreter o leitor. A linguagem de um texto cuja finalidade é
dar informações precisa ser objetiva e fornecer dados reais e precisos. Por outro
lado, o texto que não tem esse mesmo compromisso com a realidade permite ao
escritor usar a linguagem com mais liberdade, como nas crônicas. O escritor, nes-
se caso, tem de usar sua criatividade. Ele deve encontrar novas formas para narrar
coisas corriqueiras. Para isso, precisa dar novos sentidos às palavras, diferentes
dos sentidos conhecidos.
Por meio de suas crônicas, com lirismo, humor, ironia ou sarcasmo, o cronista
reflete sobre a realidade que nos rodeia e a critica de forma explícita ou implícita,
ajudando a ampliar nossa visão de mundo.

9º ano 23
LER CRÔNICA I

Vamos analisar um exemplo do que estudamos até aqui.


O fato: No fim dos anos 1990, os ônibus urbanos da cidade de São Paulo foram equipados com
bancos que ficam de frente um para o outro.
Converse com os colegas sobre as perguntas a seguir.

1. Você já sentou nesse tipo de banco, no ônibus, no metrô ou no trem? Como se sentiu sentado de
frente para pessoas que não conhece? Ficou à vontade ou se sentiu constrangido? Como você reagiu?
2. O que você pensa que vai ler, sabendo que o título da crônica é “Banco dos bobos”?
Veja como o escritor Fernando Bonassi traduziu numa crônica o que ele pensava sobre esses bancos.
Repare no uso da linguagem informal. O autor faz uso de expressões bastante populares como
“imbecil”, “idiota” e “troço”. Ele inventa uma personagem chamada “Moura”. Por intermédio do
“Moura”, podemos perceber o que o cronista pensa do ser humano.
Agora, leia a crônica de Fernando Bonassi, publicada na coluna Da Rua, no caderno Ilustrada, do
jornal Folha de S.Paulo, em abril de 2000.

Banco dos bobos


Moura não consegue entender o que leva a indústria a construir esses ônibus,
que podem fazer três idiotas chegar a passar algumas horas olhando pra cara de outros
três imbecis, conforme a duração da viagem. Não há livro, videogame ou walkman
que distraia todo o tempo. Logo estão olhares enviesados se cruzando, escapando,
rebatendo nas vidraças que ainda teimam em refletir. Aqueles engenheiros devem
estar acreditando que a raça humana é um troço geneticamente dotado de simpatia.
Parecem não imaginar o quanto um mísero contato é difícil por aqui.
BONASSI, Fernando. Banco dos bobos. Folha de S.Paulo, caderno Ilustrada, 8 abr. 2000. Disponível em:
<www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0804200012.htm>. Acesso em: 1o out. 2012.

Responda às questões a seguir com um colega.


3. Para o autor, a simpatia não faz parte da natureza humana, e estabelecer contato com seu seme-
lhante é difícil para o ser humano. Você concorda com esse ponto de vista? Explique sua resposta.
4. Você mudaria o título da crônica? Em caso afirmativo, para qual? Explique sua escolha.

Fernando Bonassi
Karime Xavier/Folhapress

Paulistano, nascido em 1962. Con-


tista, cronista, romancista, dramaturgo,
roteirista e cineasta, tem inúmeros livros
publicados no Brasil, França, Alemanha
e Estados Unidos.

24 Língua Portuguesa
CONHECER MAIS

A crônica

Alguns cronistas baseiam-se nos fatos noticiados na tas para colunas que escritores mantêm nos periódicos.
imprensa. Outros vão buscar inspiração nos temas mais Luis Fernando Verissimo, Danuza Leão, Carlos Heitor
simples e comuns da vida de qualquer pessoa. A crônica Cony e Antônio Prata são alguns nomes de cronistas de
é um gênero dirigido a um público específico – o leitor jornais e revistas que circulam no país.
dos jornais ou revistas. As crônicas são, em geral, escri-

Paulo Liebert/Agência Estado/AE


Daniel Marenco/Folhapress

Neco Varella/Folhapress
Carlos Heitor Cony (14/3/1926, no Luis Fernando Verissimo (26/9/1936, em Antônio Prata (24/8/1977, em
Rio de Janeiro – RJ). Porto Alegre – RS). São Paulo – SP).

A ORIGEM DA CRÔNICA

Chronos, em grego, significa tempo. A palavra “crônica” deriva do latim chro-


nica. No início da Era Cristã, ela significava o relato de acontecimentos em ordem
cronológica, isto é, de acordo com seu desenrolar no tempo. Era um registro de
eventos, a chamada crônica histórica. Na Europa, no século XIX, com a invenção
da imprensa, a crônica passou a fazer parte dos jornais. Eram textos que comenta-
vam, de forma crítica, os acontecimentos da época. Tinham, portanto, um sentido
histórico e serviam, assim como outros textos do jornal, para informar o leitor.
Essa prática foi trazida para o Brasil na segunda metade do século XIX.
Veja a definição de crônica no dicionário.

Crônica. [Do lat. Chronica.] S.f. 1. Narração histórica, ou registro de fatos comuns, feitos por ordem cronológica. [...] 4. Texto
jornalístico redigido de forma livre e pessoal, e que tem como temas fatos ou ideias da atualidade, de teor artístico, político, esportivo
etc., ou simplesmente relativos à vida cotidiana. 5. Seção ou coluna de revista ou de jornal consagrada a um assunto especializado:
crônica política; crônica teatral...

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

Com o passar do tempo, a crônica brasileira foi, pouco a pouco, distanciando-


-se daquela crônica com sentido de documento histórico. Entretanto, não perdeu
a ligação com o “tempo”, sua característica definidora, e a relação com os aconte-
cimentos.

9º ano 25
A PRIMEIRA CRÔNICA BRASILEIRA
A carta que Pero Vaz de Caminha escreveu a d. Manuel, rei de Portugal, rela-
tando o achamento do Brasil, é considerada a primeira crônica brasileira. Na época
de Caminha, século XVI, crônica significava registro de acontecimentos históricos.
É disso que se trata sua carta. No século XVIII, o termo com esse significado foi
substituído pela palavra história. Desde então, história é o registro e a interpreta-
ção de acontecimentos históricos.

FOLHETINS OCUPAM O ESPAÇO MENOS NOBRE DO JORNAL: O RODAPÉ


Entre o fim do século XIX e o início do século XX, escritores já consagra-
dos ocupavam o rodapé, a parte inferior das páginas dos jornais, com pequenos
textos: contos, artigos, ensaios etc. Eram os chamados folhetins, destinados ao
entretenimento do leitor e muito apreciados na época. Machado de Assis e José
de Alencar são alguns dos grandes nomes da literatura brasileira que foram folhe-
tinistas. Nos folhetins eles escreviam crônicas e romances em capítulos, que eram
acompanhados com tanto interesse como as novelas de televisão nos dias de hoje.
A crônica atual nasceu dos folhetins.

LER TEXTO JORNALÍSTICO

Mais adiante você vai ler uma crônica escrita por Moacyr Scliar baseada na notícia a seguir:
“Igrejas são alvos de ladrões em São Paulo”, de Daniela Tófoli, publicada em 2006, no jornal Folha
de S.Paulo.
Antes de ler a notícia, converse com um colega sobre as questões a seguir.
1. Você tem ideia do que ladrões roubam das igrejas?
2. O que eles fazem com o que é roubado? Você conhece algum caso de roubo em igreja?
Agora, confirmem as hipóteses, lendo o texto de Daniela Tófoli.

Igrejas são alvos de ladrões em São Paulo


Das 20 paróquias consultadas pela Folha na semana passada, 13 sofreram algum tipo de furto ou
roubo no último ano
Para tentar afastar os ladrões, padres passaram a instalar circuito de câmeras, contratar vigilantes
e até a utilizar cães de guarda
Daniela Tófoli
Da reportagem local
Só a proteção divina não está mais dan- a contratar seguranças, instalar alarmes e até
do conta. Os assaltos a igrejas tornaram-se colocar câmeras no altar para evitar furtos e
tão frequentes que padres e sacristães preci- roubos. Nem sempre, no entanto, todo esse
sam dar uma ajudinha aos santos e passaram aparato é suficiente.

26 Língua Portuguesa
Bastou a última missa do domingo da semana sabe o que aconteceu com a coroa de Nossa Se-
passada terminar para os religiosos da igreja de nhora Aparecida, furtada há um mês.
São Judas Tadeu, no Jabaquara (zona sul), cons- Histórias de assaltos são comuns entre os
tatarem que, pela terceira vez em dois meses, padres. No ano passado, roubaram o ofertório
tinham sido assaltados. O ladrão furtou o cofre no meio de uma missa na paróquia Imaculada
onde estavam as oferendas do dia. Os padres não Conceição, na Bela Vista (centro). Também
sabem o valor nem têm pistas do ladrão. em 2005, ladrões levaram microfones e pedes-
Três semanas atrás, porém, um dos quatro tais da Nossa Senhora do Rosário, na Pompeia
seguranças que se revezam no local identifica- (zona oeste). No mês passado, assaltantes fur-
ram um assaltante. “A polícia o prendeu e re- taram o cofre do grupo de orações na igreja de
cuperou o dinheiro. Era o mesmo ladrão que Santa Cecília, no centro.
nos roubou há menos de dois meses”, diz o pa-
dre Augusto Pereira, um dos vigários da igreja. Ímã para pegar moedinha
“Ainda não temos câmeras, mas a segurança se Ladrão “pé de chinelo” também não falta,
tornou preocupação nas paróquias.” contam os párocos. Para roubar as moedinhas
Assaltar igreja não é caso raro na capital. dos ofertórios, os assaltantes usam ímãs ou
De 20 paróquias consultadas pela Folha, 13 so- bolinhas de piche e, assim, atraem o dinheiro.
freram algum roubo ou furto neste ano ou no É para evitar esse tipo de furto que a Sagrado
passado. Ou seja, 65% das paróquias foram ví- Coração de Jesus, no Morumbi (zona oeste),
timas de ladrões. De agosto para cá, foram sete assaltada em 2005, decidiu depositar no banco
assaltos. “Não tem ano em que a gente não seja o dinheiro das oferendas logo após as missas.
roubado, mas agora está demais”, diz o padre Segurança maior, porém, está na instalação
João Enes, da paróquia Nossa Senhora Casalu- de câmeras nas igrejas. Das 20 paróquias con-
ce, no Brás, centro. “Em agosto, levaram boti- sultadas, seis já têm o sistema e muitas estudam
jão de gás e 600 refrigerantes e cervejas de uma a instalação.
festa. Não se respeita mais nem a igreja.” “Depois de sofrermos vários roubos, deci-
dimos no começo do ano que era melhor gastar
Furtos de para-raios
dinheiro com as câmeras e colocar o cofre no
Falta juízo aos ladrões, afirma padre Pas- seguro”, conta Eugênio João Mezzomo, pa-
coali Priolo, da São Januário, na Mooca (zona dre da igreja do Calvário, em Pinheiros (zona
leste). “A situação é terrível, não sei mais o que oeste). “Sempre somos assaltados na época da
fazer. Os assaltantes abusam e só a guarda de quermesse; desta vez, só tivemos pequenos fur-
Deus não dá conta de tudo.” tos.” A manutenção do sistema custa cerca de
A igreja de Priolo já foi furtada duas vezes R$ 900 por mês.
neste ano. Em março, os ladrões levaram cá- As paróquias que não podem colocar câme-
lices, depredaram o sacrário e roubaram até o ras contratam seguranças. Das 20 consultadas,
para-raios. “Como era de cobre, levaram para 13 têm vigias. Mas na igreja da Cruz Torta, tam-
vender ao ferro-velho.” Na semana passada, a bém em Pinheiros, o que espanta os ladrões são
igreja da Consolação, no centro, foi mais uma os nove cachorros do padre Ilson Frossard. “São
que teve os fios de seu para-raios furtados. cinco cães policiais e quatro vira-latas, que la-
O ferro-velho foi o destino, ainda, da cruz tem muito. Ninguém se atreve a chegar perto.”
de R$ 3.000 que adornava a igreja Nossa Se- TÓFOLI, Daniela. Igrejas são alvos de ladrões em São Paulo. Folha de S.Paulo, 16
nhora da Paz, no Glicério, centro, dizem os out. 2006. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1610200601.htm>.
Acesso em: 3 out. 2012.
religiosos de lá. Já a Bom Jesus, no Brás, não

Agora, responda a essas questões:


3. Qual é a data da notícia?
4. Que jornal a publicou?

9º ano 27
5. Qual é o nome da redatora da notícia?
6. Localize na notícia e reproduza:
a) o título:
b) os subtítulos:
7. Das igrejas consultadas para a reportagem, qual é a porcentagem das que foram roubadas?
8. A rosa dos ventos é uma representação dos pontos cardeais usada para indicar direção e localiza-
ção nos mapas. A figura a seguir é uma rosa dos ventos. As letras N, S, L e O significam, respec-
tivamente, norte, sul, leste e oeste. Escreva na rosa dos ventos o nome de cada bairro citado na
reportagem na direção correspondente.

Ilustração digital: Estúdio Pingado

9. Complete o quadro abaixo com o nome de todas as igrejas ou paróquias citadas na notícia, o bair-
ro onde ficam situadas e os objetos roubados, seguindo o modelo:

Nome da igreja Bairro ou região Objeto(s) roubado(s)

São Judas Tadeu Jabaquara Cofre

28 Língua Portuguesa
10. De que forma os padres estão defendendo suas igrejas?
11. O que os ladrões fazem com os para-raios roubados?
12. Como os ladrões roubam as moedinhas dos ofertórios?
13. As hipóteses que você levantou antes da leitura da notícia se confirmaram?

CONHECER MAIS

A notícia que vocês acabaram de ler faz lembrar uma Expulsão dos vendilhões GLOSSÁRIO
passagem bíblica muito conhecida em que Jesus expulsa do Templo. Os quadros Vendilhão: vendedor ambulante,
os homens que faziam comércio ilícito dentro do tem- podem ser apreciados que pode, ou não, aproveitar-se
indevidamente de uma determinada
plo. Apesar de no Evangelho este ser um curto relato, no site da Galeria Nacio- situação.
a história ganhou destaque no imaginário ocidental, ao nal de Londres: <www. Vendilhões do templo: mercadores
longo dos séculos, simbolizando o conflito entre os va- nationalgallery.org.uk>. que foram expulsos por Jesus Cristo
do Templo em Jerusalém, como
lores espirituais e o interesse material. No capítulo IV Outro exemplo da
é contado nos quatro evangelhos
do Evangelho de São Marcos, o episódio é relatado em influência dessa pas- canônicos do Novo Testamento.
apenas dois versículos, do 15 ao 17: “E ele os ensinava sagem bíblica é o livro
dizendo-lhes ‘Porventura não está escrito: que a minha Os vendilhões do templo, escrito por Moacyr Scliar. Ele
Casa será chamada Casa de Oração entre todas as gen- toma como base esse evento para criar sua narrativa. A
tes? E vós tendes feito dela um covil de ladrões’?”. história é uma parábola sobre as relações entre crença
Artistas como o grego El Greco (1541-1614) e o italiano e poder, interesses e ideais. A narrativa começa assim:
Bernardo Cavallino (1616-1656?) fizeram belíssimas pintu- “Nunca pensei em me tornar vendilhão do Templo,
ras representando esta passagem, que é conhecida como dizia ele, em alto e bom som, aos que quisessem ouvir”.

LER CRÔNICA II

Poucos dias depois de publicar a notícia “Igrejas são alvos de ladrões em São Paulo”, o mesmo
jornal publicou a crônica “Não roubarás”, de Moacyr Scliar. Com base na notícia, Scliar diverte o
leitor, contando o que aconteceu com um ladrão de igreja.
Converse com o colega sobre as questões a seguir:

• Você consegue imaginar o que passa na cabeça de um ladrão, antes de decidir se vai ou não
roubar uma igreja?
• Pense no significado do título “Não roubarás”. É uma ordem? É o desejo de alguém? É um
artigo de um código moral? Confirme sua resposta, depois de ler o texto.
Textos conversam com textos. Quanto mais um leitor conhece outros textos, mais ele entende
o que está lendo. Um exemplo disso é que, para compreender melhor essa crônica, é bom que você
saiba que existe um filme americano chamado O diabo veste Prada. Você já viu esse filme? Você
sabe que Prada é o nome de uma famosa grife italiana especializada em vários produtos de luxo?
Leia, agora, a crônica de Moacyr Scliar.

9º ano 29
Não roubarás
Tinha certeza de que, se entrasse numa igreja para roubar, mais cedo ou mais tarde seria castigado
Moacyr Scliar

Verdade seja dita, ele hesitou muito. Porque, estava começando a chover e, talvez por causa
apesar de já ter assaltado gente em bares, em disso, o lugar estava deserto.
restaurantes, nas ruas, em carros, nunca o fizera Nenhum fiel ali, nem homem, nem mulher,
numa igreja. Um amigo, que em outra época fora ninguém para ser assaltado. E na igreja propria-
seu cúmplice, tentava inutilmente convencê-lo: mente dita, nada que aparentemente valesse a
é mole, cara, o pessoal que vai a igreja não rea- pena carregar; apenas algumas modestas ima-
ge, não é de briga, não precisa nem usar arma. A gens de santos. Foi até o ofertório, sacudiu-o:
ele, aquilo parecia um sacrilégio, uma tentação. nada, estava vazio.
Não era religioso, mas acreditava em Deus e Uma violenta trovoada fez estremecer o
na justiça divina. Tinha certeza de que, se entras- templo, o que lhe deu uma ideia: o para-raios.
se numa igreja para roubar, mais cedo ou mais Sempre podia render alguma coisa, afinal era de
tarde seria castigado. cobre, e ele conhecia um ferro-velho que pagaria
Mas então teve um sonho, um sonho que foi uma boa grana.
decisivo. Sonhou que estava num lugar distan- Sem muito esforço, retirou o para-raios, uma
te, desolado, perdido entre dunas de areia: um haste com o seu fio, e foi embora sob o temporal.
deserto. Sem saber o que fazer, olhava ao redor, Ao atravessar o descampado, aconteceu aquilo
desorientado, quando de repente avistou um ho- que sempre pode ocorrer com quem carrega pa-
mem. Uma figura exótica, sinistra mesmo: ves- ra-raios: foi atingido por uma descarga elétrica
tia uma espécie de fraque, usava cavanhaque e fulminante. A última coisa que viu foi o homem
exibia um sorriso malicioso. Você está indeciso, que aparecera em seu sonho, mostrando os cani-
disse o estranho, você não sabe se assalta uma nos num sorriso irônico. E estava bem abrigado
igreja ou não, mas você está só perdendo tempo: da chuva. Porque, em ocasiões de temporal, o
é a coisa mais fácil do mundo. diabo não veste Prada.
Acordou resolvido: naquele mesmo dia faria O diabo veste uma elegante capa preta. Ótima
o assalto. E, para a estreia, escolheu uma peque- para quem tem de seguir pecadores sob a tormenta.
na e modesta igreja de bairro. O que se revelou SCLIAR, Moacyr. Folha de S.Paulo, 23 out. 2006. Disponível em:
uma verdadeira decepção. Quando lá chegou, <www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2310200603.htm>. Acesso em: 3 out. 2012.

Todo leitor, mesmo diante de um texto que nunca leu antes, reconhece nele algum traço co-
nhecido. São vestígios conhecidos que permitem o entendimento dos textos lidos pela primeira
vez. Quanto mais elementos forem familiares ao leitor, mais fácil será a compreensão de um texto.
Você vai ver que reconhecer o gênero do texto, por exemplo, é importante para a compreen-
são. Saber que o texto é uma crônica já permite antecipar algumas informações. O leitor que leu
outras crônicas sabe que:
• esse gênero é ficcional;
• o autor inventa uma história, ou faz reflexões sobre um acontecimento que ele presenciou no
seu cotidiano, ou que está nos noticiários;
• em geral, é um texto com humor;
• por trás do humor, o autor critica um comportamento de sua época.

30 Língua Portuguesa
A notícia começava assim: “Só a proteção divina não está mais dando conta”. E mais adiante:
“[...] padres e sacristães precisam dar uma ajudinha aos santos”.
Moacyr Scliar se inspirou nessas referências religiosas e criou um texto que mistura tentação,
pecado e castigo. Essa mistura, que já foi tão temida em outras épocas, hoje, para muitas pessoas,
não causa mais nenhum temor. Ladrões de igrejas roubam não só as pessoas que as frequentam
como os bens das próprias igrejas. O mandamento que diz “Não roubarás” parece estar perdido
no tempo. O que aconteceria se esse mandamento ainda fizesse sentido para um assaltante dos
dias de hoje? A crônica cheia de humor de Moacyr Scliar é uma resposta a essa pergunta.

Moacyr Scliar
Tasso Marcelo/Agência Estado/AE

O gaúcho Moacyr Jaime Scliar (1937-2011) é considerado um dos


escritores mais representativos da literatura brasileira contemporânea e
dos mais produtivos. Tem mais de setenta títulos publicados. Além de
crônicas, escreveu contos, romances, ficção infantojuvenil e ensaios. Os
temas dominantes de sua obra são a realidade social da classe média
urbana no Brasil, a medicina e o judaísmo.
Disponível em: <www.academia.org.br>. Acesso em 3 out. 2012. (Texto adaptado.)

Agora, em pequenos grupos, responda junto com seus colegas às perguntas:

1. O texto tem um subtítulo:


“Tinha certeza de que, se entrasse numa igreja para roubar, mais cedo ou mais
tarde seria castigado”
Títulos e subtítulos podem dar pistas do que vai acontecer numa narrativa. A certeza do castigo
se confirmou? O assaltante foi castigado? Como?
2. Por que o ladrão nunca tinha assaltado uma igreja antes?
3. O que o fez decidir assaltar uma igreja pela primeira vez?
4. Como era o homem que apareceu no sonho do ladrão?
5. Por que ele se decepcionou com o assalto?
6. O que ocorreu e fez o ladrão se lembrar do para-raios da igreja?
7. O que o fez tomar a decisão de roubar o para-raios?
8. O que aconteceu ao assaltante, enquanto carregava o para-raios?
9. O homem do sonho reapareceu? Como ele estava vestido?

INTERTEXTUALIDADE
Textos conversam entre si. Chama-se intertextualidade a referência explícita
ou implícita que um texto faz a outro(s) texto(s). Na crônica que estamos ana-

9º ano 31
lisando, a intertextualidade está presente em diferentes momentos: o autor faz
referências implícitas à Bíblia; usa como título um dos dez mandamentos do An-
tigo Testamento, “Não roubarás” (Êxodo 20-15); cita a figura do diabo e fala em
castigo, em Deus e na justiça divina.
Além da Bíblia, há outra marca intertextual. O narrador diz que “o diabo não
veste Prada”. Esta é uma referência ao livro O diabo veste Prada, que ganhou uma
versão cinematográfica, dirigida por David Frankel. No filme, a atriz Meryl Streep
faz o papel da exigente executiva de uma importante revista de moda. Ela é o “dia-
bo” que veste Prada − centenária marca italiana que inicialmente fabricava malas
e bolsas de couro e que hoje é uma grife de moda.

EXPLORANDO O UNIVERSO TEXTUAL


Ao contrário da notícia, a crônica é um texto ficcional, uma recriação fictícia
da realidade. Isso significa que o escritor não tem compromisso com a realidade e
pode inventar todos os elementos da sua história. Assim fez Scliar no texto “Não
roubarás”.
Vamos analisar o universo textual dessa crônica.

1. A CRÔNICA COMO GÊNERO TEXTUAL NARRATIVO E SUA ORGANIZAÇÃO


A crônica que estamos analisando apresenta as características essenciais do
texto narrativo: um narrador, um enredo estruturado numa sequência de fatos,
personagens, espaço e tempo.
Toda história precisa ser contada por “alguém”; esse “alguém” que conta a his-
tória em um texto narrativo é chamado de narrador. É por meio dele que toma-
mos conhecimento do enredo, das características das personagens, da descrição
dos cenários etc.

Narrador-personagem – Quando o narrador participa da história como per-


sonagem, é chamado de narrador-personagem. Nesse caso, a narração é em pri-
meira pessoa (“eu”).

Narrador-observador – Quando o narrador sabe o que acontece na história,


mas não participa dela, chama-se narrador-observador. Nesse caso, a narração se
faz na terceira pessoa (“ele” ou “ela”).

Na crônica “Não roubarás”, o narrador conta a história de um assalto a uma


igreja praticado por um homem, mas não participa da história. É, portanto, um
narrador-observador.

Vamos trocar o narrador. Leia as frases a seguir:


Verdade seja dita, ele hesitou muito.
Verdade seja dita, eu hesitei muito.

32 Língua Portuguesa
Observe que a troca de um pronome por outro, ele por eu, alterou o sentido
da frase. A terceira pessoa “ele” provoca um efeito de distanciamento maior dos
fatos em relação à primeira pessoa “eu” e causa menos impacto no leitor. Já a
narração em primeira pessoa traz a personagem para perto do leitor, provocando
uma emoção maior. É como se a personagem estivesse “cara a cara” com o leitor,
contando para ele sua história.
Vejamos a seguir os demais elementos do texto narrativo.
Enredo estruturado em uma sequência de fatos – O enredo é a própria histó-
ria que se desenrola em fatos numa sequência temporal. Observe a sequência dos
fatos na crônica “Não roubarás”:
1o O narrador explica por que o ladrão ainda não tinha assaltado uma igreja.
2o O ladrão tem um sonho decisivo.
3o O ladrão assalta uma igreja.
4o O assaltante é atingido por uma descarga elétrica.

Personagens – São representações de pessoas. As três personagens da crônica


são: o assaltante, um amigo e o homem elegante do sonho.
Personagem e pessoa – Nas notícias, é obrigatório dizer o nome completo
das pessoas citadas. Já nas crônicas, o autor inventa uma história com persona-
gens imaginadas por ele, que podem ter nome ou não. Na crônica que estamos
analisando as personagens não têm nome. A personagem principal é chamada
simplesmente de “ele”. (Volte ao texto e confirme essa afirmação.)
Espaço – São os cenários, os espaços naturais, ambientais ou geográficos onde
a ação da narrativa se desenvolve. Na crônica, aparecem três espaços: o lugar do
sonho é um deserto distante, desolado, perdido entre dunas de areia; o assalto
acontece numa igreja de bairro, pequena e modesta; e uma descarga elétrica atin-
ge o assaltante num descampado.
Tempo – É o transcurso da existência e das ações nar-
radas no tempo. Os fatos, os acontecimentos e as ações O enredo de uma narrativa é
das personagens se articulam no plano temporal; eles têm, o resultado da atuação das per-
sonagens em determinados ce-
necessariamente, uma duração. Na crônica, tudo aconte- nários, durante certos períodos
ce num curto espaço de tempo, entre uma noite e um dia. de tempo; tudo isso contado,
Observe a passagem do tempo nas frases: “Mas então teve para o leitor, por um narrador.
um sonho”, “naquele mesmo dia”, “quando lá chegou”.

2. ANÁLISE LINGUÍSTICA
Vamos observar os recursos utilizados por Moacyr Scliar em sua crônica.
A descrição
Quando lemos, formamos na nossa mente uma imagem de como são persona-
gens, objetos e lugares da história lida. São as descrições desses elementos feitas pelo

9º ano 33
escritor que nos ajudam a imaginar as diferentes situações da narrativa. Um dos
recursos para a elaboração de uma descrição é o uso de adjetivos ou de locuções
adjetivas. Assim, na crônica “Não roubarás”, por meio desses elementos ficamos
sabendo como são a igreja, as imagens da igreja, a figura do diabo e seu sorriso.

Observe os adjetivos e as locuções adjetivas no quadro a seguir:

Substantivos Adjetivos Locuções adjetivas


igreja pequena/modesta de bairro
imagens modestas de santos
figura exótica/sinistra −
sorriso malicioso/irônico −

Linguagem formal e linguagem coloquial


Quando falamos ou escrevemos, usamos uma linguagem mais formal ou
menos formal de acordo com a situação, com nosso interlocutor e com nossa
intencionalidade.
A personagem principal da crônica “Não roubarás” é um assaltante. Quan-
do ele está em conflito, sem saber se vai ou não assaltar uma igreja, um amigo,
também assaltante, tenta convencê-lo a praticar o crime. Nesse trecho, o autor
abandona o padrão culto da língua e adota uma linguagem mais informal, empre-
gando gírias para representar a fala de outro bandido: “é mole, cara”.
Mais adiante, outra personagem, um homem elegante, vestindo uma espécie
de fraque, aparece num sonho e também tenta convencer o ladrão a roubar a igre-
ja. Nesse caso, a linguagem é mais formal:
“Você está indeciso [...], você não sabe se assalta uma igreja ou não, mas você
está perdendo tempo: é a coisa mais fácil do mundo.”
Portanto, para convencer a personagem a roubar a igreja, o amigo assaltante
e o homem elegante do sonho usaram o mesmo argumento: roubar igreja é fácil.
No entanto, a linguagem empregada por eles não foi a mesma. O assaltante diz: “é
mole, cara”, enquanto o homem bem-vestido fala “é a coisa mais fácil do mundo”.

Tempo verbal (presente, passado e futuro)


Você já estudou que títulos de notícia geralmente têm verbo no presente e
que, no corpo da notícia, o verbo, quase sempre, é usado no passado.
Neste capítulo, você está estudando crônica, que é um gênero textual nar-
rativo. Nos textos narrativos, os verbos são usados frequentemente no passado.
Isso ocorre por causa de uma característica do próprio ato de contar histórias.
Escritores ou contadores orais narram histórias acontecidas num tempo anterior
ao tempo da leitura ou da audição da história. Assim acontece não só com as crô-
nicas, mas também com as parábolas, os apólogos, as lendas, as fábulas, os mitos,
os contos e os romances.

34 Língua Portuguesa
O passado é o tempo verbal predominante nas narrativas, mas não é o único.
Vamos observar os tempos verbais na crônica “Não roubarás”. O verbo roubar do
título está no futuro. A forma roubarás concorda com a segunda pessoa do singu-
lar, representada pelo pronome tu. Hoje, o uso da segunda pessoa do singular pre-
valece no Sul do país, nos estados do Norte e em estados do Nordeste. Em regiões
do Sul e do Norte, ainda há a variação da concordância com o verbo na segunda
pessoa ou verbo na terceira pessoa: tu vai/tu vais. Na fala carioca também ocorre
o primeiro caso: tu vai. Na maior parte do Brasil, o pronome tu foi substituído
pelo pronome você.
O verbo é a única categoria de palavra
que pode ser flexionada para indicar o tem- amei, bebi, parti – passado
amo, bebo, parto – presente
po. Observe a seguir algumas formas que o amarei, beberei, partirei – futuro
verbo assume para indicar tempo passado,
presente e futuro:
Observe o uso dos tempos verbais no último parágrafo da crônica. Nesse tre-
cho, você encontra verbos no passado e no presente:
“Sem muito esforço, retirou (pretérito) o para-raios, uma haste com o seu
fio, e foi (pretérito) embora sob o temporal. Ao atravessar o descampado, aconteceu
(pretérito) aquilo que sempre pode ocorrer (presente) com quem carrega (presente)
para-raios: foi atingido (pretérito) por uma descarga elétrica fulminante. A última coisa
que viu (pretérito) foi (pretérito) o homem que aparecera (pretérito) em seu sonho,
mostrando os caninos num sorriso irônico. E estava (pretérito) bem abrigado da
chuva. Porque, em ocasiões de temporal, o diabo não veste (presente) Prada. O diabo
veste (presente) uma elegante capa preta. Ótima para quem tem (presente) de seguir
pecadores sob a tormenta.”

Chama-se pretérito o tempo verbal que indica o passado. No modo indicati-


vo, há três tipos de pretérito:

• perfeito – indica uma ação que se produziu e foi concluída em certo


momento do passado.
• imperfeito – indica um fato passado, mas não concluído.
• mais-que-perfeito – indica uma ação que ocorreu antes de outra ação
já passada.

APLICAR CONHECIMENTOS I

Para responder às questões a seguir, releia a crônica de Moacyr Scliar.

1. Vamos refletir sobre o uso dos adjetivos no texto.


a) Que palavras mostram como eram o lugar do sonho do assaltante e a capa usada pelo diabo?
Para isso, registre as palavras “lugar” e “capa”. Depois, anote os adjetivos correspondentes a
essas palavras no texto.

9º ano 35
b) Para que o ladrão pudesse ter tido algum lucro com o assalto, a igreja e as imagens de santos
precisariam ser diferentes. Nesse caso, que adjetivos você acrescentaria às palavras “igreja” e
“imagens”? Escreva alguns adjetivos relacionados a essas palavras.
2. Sobre o vocabulário usado na crônica, responda:
a) As passagens a seguir dizem respeito às duas vezes em que o narrador se refere à insegurança
do assaltante. Que expressões revelam essa insegurança?
“Verdade seja dita, ele hesitou muito.”
“Você está indeciso, disse o estranho [...]”
b) O homem que aparece no sonho do ladrão é chamado de figura exótica e sinistra. Qual é a
diferença entre exótico e sinistro?
c) Você sabe o que é um fraque? Se souber, explique a um colega que não saiba. Se você não sou-
ber, pergunte a um colega que saiba ou procure no dicionário o significado dessa palavra.
d) Na primeira vez em que o homem de fraque aparece, ele exibe um sorriso malicioso. Na se-
gunda vez, mostra os caninos num sorriso irônico. No texto, qual é a diferença entre o sorriso
malicioso e o sorriso irônico do homem de fraque?
e) Por que o sorriso do homem mudou de malicioso para irônico?
3. Marque um X no espaço correspondente ao tempo em que cada verbo está.

Verbo Pretérito perfeito Pretérito imperfeito Pretérito mais-que-perfeito


Viu
Foi
Aparecera
Estava

4. Em dupla, cada um em seu caderno, reescreva três vezes o trecho a seguir, passando os verbos
sublinhados primeiro para o pretérito imperfeito, depois para o pretérito perfeito e o pretérito
mais-que-perfeito.
“Porque em ocasiões de temporal, o diabo não veste Prada. O diabo veste uma elegante capa
preta. Ótima para quem tem de seguir pecadores sob a tormenta.”
5. Comente com seu colega a diferença de sentido que a mudança dos tempos verbais provocou e
registre no caderno.

ORTOGRAFIA: COM QUE LETRA EU ESCREVO?

Ortografia é a maneira correta de escrever as palavras de uma língua, de acor-


do com uma convenção.
Observe o início da crônica: “Verdade seja dita, ele hesitou muito.”
A escrita de algumas palavras da nossa língua exige uma atenção redobrada.
Uma delas é o verbo hesitar. Hesitar significa ficar em dúvida entre uma coisa e outra.

36 Língua Portuguesa
Por que é difícil escrever essa palavra? Porque ela tem o som (fonema) z, que
em português pode ser grafado com as letras s, z ou x. Daí pode surgir uma dúvi-
da sobre que letra usar ao escrever esse verbo.
As letras do alfabeto representam os sons da língua, mas não há uma corres-
pondência perfeita entre letras e sons. Comprove isso, lendo em voz alta as pala-
vras a seguir. Em seguida, também em voz alta, pronuncie as sílabas em destaque.
Preste atenção no som das consoantes x, s, z:
asa casebre azia zebra exército êxito exótico
a – sa ca – se – bre a – zi – a ze – bra e – xér – ci – to ê – xi – to e – xó – ti – co

Leia em voz alta as palavras êxito e hesito. Perceba que os sons são iguais, mas
a escrita é diferente. Outra diferença é a posição da sílaba tônica. Em ê-xi-to, a
sílaba tônica é a antepenúltima. Essa palavra é, então, proparoxítona. Em he-si-to,
a sílaba tônica é a penúltima. É uma palavra paroxítona.
êxito hesito
ê – xi – to he – si – to
proparoxítona paroxítona

A segunda dificuldade é a letra h no início da palavra. A letra h inicial não


representa nenhum fonema (som), como nas palavras hélice, horta, harmonia e
haste. Por isso, se você não gravou na memória a ortografia da palavra, pode sur-
gir a dúvida: “hesito se escreve com h?”.
Em casos como esse, uma boa alternativa é consultar um dicionário. Nessa consul-
ta, você deverá levar em consideração as possíveis grafias da palavra que quer escrever.

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Explique o significado das palavras “êxito” e “hesito” nas frases a seguir:


a) A campanha teve grande êxito. Foram arrecadados milhares de agasalhos.

b) Quando estou fazendo dieta para perder peso, sempre hesito diante de uma barra de chocola-
te: como ou não como?

2. Reescreva as frases abaixo de forma mais sintética, usando dois-pontos no lugar adequado para
substituir uma das palavras. Faça adaptações, se necessário.
Exemplo:
Sonhou que estava num lugar distante, desolado, perdido entre dunas de areia, era um deserto.
Sonhou que estava num lugar distante, desolado, perdido entre dunas de areia: um deserto.
a) O lugar estava quieto e vazio, parecia um cemitério.

b) As águas fortes cobriram totalmente as ruas, tudo se transformou num rio.

9º ano 37
MOMENTO DA ESCRITA

Agora é a sua vez de ser cronista. Um escritor competente é alguém que planeja o que vai escrever
de acordo com seu objetivo e o do leitor a que o texto se destina, sem desconsiderar as características
específicas do gênero. Para seu texto cumprir a finalidade de comunicação, os seguintes elementos de-
vem ser considerados no momento da produção da crônica: o leitor, o local da publicação e a intenção.
Produza uma crônica para ser publicada no mural ou no jornal da escola. Pense no leitor que
lerá sua crônica. Será toda a comunidade da sua escola? Serão apenas os colegas da classe? Con-
sidere que crônica é um gênero textual que tem como intenção entreter. Selecione os recursos
linguísticos mais adequados à finalidade do texto e ao interlocutor a que ele se destina. Faça um
rascunho e, antes de passá-lo a limpo, revise o que escreveu. Peça para um colega ler e propor
melhorias. Só então faça a versão definitiva. Não se esqueça do título.
Escolha uma das propostas a seguir.

1. Selecione uma foto de jornal ou revista e, com base nessa imagem, elabore uma crônica em pri-
meira pessoa (com narrador-personagem). Lembre-se de que o cronista, por meio de uma histó-
ria, transmite ao leitor uma visão pessoal dos acontecimentos que o cercam.
2. Escreva uma crônica em terceira pessoa (com narrador-observador). Escolha um acontecimento
atual que tenha chamado a sua atenção. Para tanto, consulte jornais, revistas e acompanhe notici-
ários no rádio, na TV e na internet, para entrar em contato com os acontecimentos do momento.
É importante que o tema escolhido cause em você alguma sensação: entusiasmo, surpresa, indig-
nação, alegria etc.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros As cem melhores crônicas brasileiras


Esta obra contém, organizadas cronologicamente, cem ótimas crônicas de nossos melhores
autores. Entre eles estão Rubem Braga, Luis Fernando Verissimo, Xico Sá, João do Rio, Nel-
son Rodrigues, Paulo Mendes Campos, Antônio Maria e Fernando Sabino.
SANTOS, Joaquim Ferreira dos. As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

A vida ao rés do chão


Texto introdutório do volume 5 da Coleção Para Gostar de Ler, em que o autor explica de
forma bastante didática sua teoria sobre crônica.
CANDIDO, Antonio. “A vida ao rés do chão”. In: Para gostar de ler: crônicas 5. São Paulo: Ática, 1981.

Comédias para se ler na escola


Seleção de crônicas que permite ao leitor mergulhar no universo das histórias e personagens
de Luis Fernando Veríssimo. A seleção foi organizada por Ana Maria Machado, uma das mais
populares e importantes escritoras do país.
VERISSIMO, Luis Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Crônicas para ler na escola


Carlos Heitor Cony parte de temas e objetos cotidianos para criar textos em que examina o
futuro e o passado.
CONY, Carlos Heitor. Crônicas para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

Histórias que os jornais não contam


O autor reúne 54 crônicas, já publicadas em jornal, em que consegue transformar, com leve-
za e humor, o mais comum dos acontecimentos em ótima literatura.
SCLIAR, Moacyr. Histórias que os jornais não contam. Rio de Janeiro: Agir, 2009.

O imaginário cotidiano
O volume é composto de crônicas publicadas na seção Cotidiano, do jornal Folha de S.Paulo.
Para escrever seus textos, Scliar tira inspiração dos episódios do cotidiano.
SCLIAR, Moacyr. O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, 2002.

38 Língua Portuguesa
Capítulo 3
PORTUGUÊS A arte de argumentar

O objetivo deste capítulo é que você conheça um gênero de texto em que o


autor expressa e defende seu ponto de vista sobre um tema, geralmente con-
troverso: o artigo de opinião.

RODA DE CONVERSA

Observe a tirinha a seguir e converse com seus colegas sobre as questões propostas.

QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 100.

Quino
Joaquín Salvador Lavado nasceu na Argentina, em 17 de A obra de Quino é apreciada no mundo inteiro pela agude-
julho de 1932. Em 1949, decide tornar-se desenhista de his- za e crítica que faz da vida em sociedade. Mafalda é a sua
tórias em quadrinhos e humor. Em 1957, Quino começa a personagem mais conhecida.
publicar regularmente seus desenhos em jornais e revistas. Disponível em: <www.quino.com.ar/bra-quino-biografia.html>. Acesso em: 17 fev. 2013.
(Texto adaptado.)

1. Você reparou que a palavra “veículo”, na tirinha, aparece com dois sentidos diferentes. Quais são
esses sentidos?
2. Por que, em sua opinião, a personagem Mafalda aconselha a cultura a saltar do veículo e ir a pé?
3. A tirinha está transmitindo um ponto de vista sobre um assunto. Qual é o assunto? Qual é o ponto
de vista?
4. Muita gente acha que a TV é apenas um meio pelo qual os fatos chegam aos indivíduos, ou seja,
ela apenas reflete o que acontece em nossa sociedade. Dê sua opinião sobre o tema. Os veículos de
comunicação apenas refletem a violência que há no mundo, ou podem incentivá-la, por meio de
programas e notícias? Justifique sua resposta.
5. De que maneira, em sua opinião, a TV poderia ser efetivamente um veículo de cultura?

9º ano 39
OPINAR E ARGUMENTAR
O tema da imagem anterior é um dos muitos que circulam no mundo
sobre o qual podemos opinar, dar um parecer, fazer um julgamento. É co-
mum, no trabalho, na escola e no convívio com a família e com os amigos,
declararmos o que pensamos sobre diferentes temas e ideias. Opinamos sobre
as vantagens e desvantagens de seguir uma carreira profissional; sobre o com-
portamento de alguém; sobre uma notícia publicada em um jornal; sobre a
atuação da Seleção Brasileira; sobre as razões da violência, do preconceito, da
fome, dos hábitos alimentares de algumas pessoas, da existência da guerra, do
sentimento de solidão...
Opinar é “achar”, é “conjecturar”. O que é opinável é discutível, ou seja,
admite a possibilidade de que outra pessoa não aceite e, inclusive, apresente
razões contrárias ao que foi manifestado por nós. Não existe opinião unânime
sobre um assunto.
Por isso, tão importante quanto opinar é saber defender sua opinião. Apresen-
tar fatos, ideias, dados, informações e mostrar causas e consequências ajudam a
convencer e persuadir alguém sobre o que é postulado em uma opinião.
Em alguns dos textos que circulam nos meios de comunicação de massa – jor-
nal, revista, rádio, televisão –, as opiniões podem aparecer camufladas; em outros
– nos artigos de opinião, por exemplo –, os autores argumentam claramente em
favor de um ponto de vista.

ARTIGO DE OPINIÃO
Um artigo de opinião é um texto escrito que aborda uma questão controversa
ou polêmica. Esse gênero de texto apresenta uma argumentação bem caracteriza-
da, que busca conduzir o raciocínio do leitor, a fim de que ele reflita e, possivel-
mente, passe a compartilhar da opinião do autor.
Esse gênero de texto é normalmente veiculado em revistas e jornais, impres-
sos ou on-line.
É importante considerar duas coisas, quando temos em mãos um artigo
de opinião:
1. Não é necessário concordar com tudo que está escrito. Você pode reco-
nhecer argumentos sensatos, lógicos, mas também pode perceber que são
tendenciosos, que mostram apenas um dos lados da questão e manipu-
lam os fatos de acordo com os interesses do autor.
2. Uma leitura crítica de diferentes artigos de opinião sobre um mesmo tema
pode fornecer elementos para que você construa o próprio ponto de vista
sobre o que está sendo discutido. Para fazer uma boa análise dos artigos,
convém que você se familiarize com o modo como a argumentação desse
gênero de texto é construída.

40 Língua Portuguesa
Dessa forma, estudar artigos de opinião implica estudar estratégias argumen-
tativas, isto é, a maneira como o autor expõe e organiza ideias, fatos e dados, com
o objetivo de defender um ponto de vista e influenciar o leitor.
Vamos ler alguns artigos de opinião e analisar algumas estratégias argumen-
tativas, para que você possa produzir o próprio artigo.

LER ARTIGO DE OPINIÃO I

Antes de ler o próximo texto, examine-o e responda às questões a seguir:


1. Quem escreveu o texto que você vai ler? Que informações você tem sobre esse autor?
2. Essas informações (ou a falta delas) criam expectativas em relação ao texto?
3. Esse texto trata de atendimento médico. Qual é sua opinião sobre o atendimento médico hoje
no Brasil?
Agora, leia o artigo:

Médico de família
Drauzio Varella
1 Há pessoas mais velhas que morrem de sau- tudo, porque médico de família era privilégio
dade do médico de família. Contam, com nostal- de poucos.
gia, que ele visitava os doentes em casa, ouvia 4 Nasci durante a Segunda Guerra, no bairro
suas queixas, medicava e fazia as recomendações operário do Brás, a 15 minutos da praça da Sé.
necessárias. Depois, tranquilizava os familiares Quando aparecia um homem com maleta de
na sala, ouvia confidências, dava conselhos. médico na porta de uma das casas coletivas ca-
2 É possível comparar com a velocidade do racterísticas do bairro, a molecada do futebol de
atendimento no serviço público, nos convênios e rua já sabia que alguém estava à beira da morte.
mesmo nas clínicas particulares? Por que os médi- Aos sete anos, acordei com os olhos inchados, e
cos atuais teriam perdido essa delicadeza no trato? meu pai me levou ao pediatra pela primeira vez;
Antes de responder, quero deixar claro que na volta, meus amigos queriam saber se era ver-
não pretendo fazer a defesa corporativa dos profis- dade que os pediatras amarravam as crianças na
sionais que maltratam pacientes humildes, dos ir- cama para aplicar injeções enormes no traseiro.
responsáveis que sequer os ouvem, dos incompe- 5 Se a 15 minutos da praça da Sé não chega-
tentes e desonestos que envergonham a profissão. va assistência médica à classe operária, o que
3 Estabelecida tal premissa, voltemos à ques- aconteceria na zona rural, residência de mais de
tão: esse tipo de médico foi extinto por várias 70% dos brasileiros na época? Os médicos do
razões. Primeiro, porque desapareceram as fa- interior do Ceará assolado pelas secas também
mílias numerosas de antigamente que se reu- sentavam com as famílias na sala de visita?
niam em torno do patriarca para o cafezinho 6 Hoje, num país urbano, apesar do descalabro
na sala com o doutor. Segundo, porque as cida- administrativo em que vive parte significativa das
des pacatas nas quais ele se movimentava não unidades de saúde estatais, do desperdício absur-
existem mais. Terceiro, porque os honorários do de recursos e da praga da corrupção que infesta
recebidos por um médico daquele tempo eram de forma crônica o Ministério e as secretarias de
suficientes para uma vida confortável, sem pre- Saúde, a assistência médica é incomparavelmen-
cisar de três ou quatro empregos. E, acima de te mais democrática. Quase 100% das crianças

9º ano 41
são vacinadas, a maioria das mães faz pré-na- a mesma, caso a população tivesse duplicado
tal, dá à luz em maternidades e encontra postos nos últimos 35 anos.
de Saúde. Esperam horas para ser atendidas, 9 Às custas de perdas salariais e de enfrentar
muitas vezes saem insatisfeitas, é verdade, mas condições precárias de trabalho, não apenas
seus filhos são examinados pelo pediatra, luxo médicos, mas enfermeiras, assistentes sociais
inatingível para as crianças da minha geração. e todos os profissionais que prestam servi-
7 Embora insuficientes, capengas, sempre em ços de saúde foram os heróis anônimos dessa
luta contra a falta de recursos, temos alguns pro- revolução, que poderia ter sido muito mais
gramas de distribuição gratuita de medicamen- abrangente se houvesse menos demagogia
tos que jamais seriam acessíveis sequer à classe política e maior envolvimento da sociedade.
média, hospitais que realizam procedimentos de 10 Quando ouço exaltar as qualidades humani-
alta complexidade pelo SUS e equipes de agen- tárias dos antigos médicos de família, sinto res-
tes de saúde que prestam atendimento em comu- peito por eles. Mas o desprendimento dos pro-
nidades que jamais puderam sonhar com ele. fissionais de saúde que trabalham nas frentes de
8 Por mais incompetente, corrompida e ca- batalha recebendo salários baixos para atender
ótica que seja nossa administração pública, é gente pobre em comunidades distantes, nos am-
preciso reconhecer o esforço realizado pelo bulatórios, pronto-socorros e enfermarias dos
país nos últimos 40 anos para levar assistên- hospitais públicos me comove muito mais.
cia médica à população. Em 1970, éramos 90 11 O desafio atual é como conciliar o trabalho
milhões de habitantes servidos por um siste- duro realizado por eles, com a preservação do
ma de saúde muito mais precário do que o sentimento de solidariedade diante do sofrimento
atual. Perguntem a franceses, ingleses ou ale- humano, sem o qual a medicina não tem sentido.
mães se a saúde pública de seus países seria Disponível em: <http://drauziovarella.com.br/wiki-saude/medico-de-familia>.
Acesso em: 5 dez. 2012.

4. O texto “Médico de família” pode ser considerado um artigo de opinião? Por quê?
5. O texto discute um atendimento específico, dado a determinada pessoa, em local e momento bem
marcados, ou o atendimento médico de maneira geral?
6. A base desse texto é uma comparação. Qual?
7. Que ponto de vista sobre o atendimento médico atual é defendido pelo autor?
8. O autor expõe vários dados estatísticos e ocorrências que comprovam o que ele defende.
a) Como você acha que ele obteve essas informações?
b) Em sua opinião, qual é a função das informações que aparecem ao longo do texto?
9. Releia o que escreveu sobre o atendimento médico atual. O texto “Médico de família” apresentou
dados novos? Os argumentos do texto fizeram que você mudasse de opinião? Justifique sua resposta.

A CONSTRUÇÃO DE UM ARTIGO DE OPINIÃO

Vamos retomar o texto e verificar como Drauzio Varella expôs sua opinião e
como a defendeu.
Leia novamente os dois primeiros parágrafos. O autor, se quisesse, poderia ter
escrito: “Os médicos de hoje não dão aos pacientes o tratamento compreensivo

42 Língua Portuguesa
que era dado antigamente pelo médico de família”. Entretanto, em vez de apresen-
tar com rapidez essa ideia, ele a apresenta de uma forma que conquista o leitor e o
faz concordar com ele: primeiro descreve como era bom o contato do médico de
antigamente com as famílias, depois pergunta: “Dá para comparar?”. A resposta
que intimamente o leitor dá é “não”. Porém, sem perder tempo, e para não encer-
rar a discussão com um lamento saudosista, o autor provoca: “Por que os médicos
atuais teriam perdido essa delicadeza no trato?”.
Muitas seriam as respostas que você ouviria se lançasse essa questão num
bate-papo. Provavelmente seriam ditas frases como “porque os médicos hoje só
querem saber de dinheiro”; “porque eles são obrigados a atender muitos pacien-
tes”; “porque tudo mudou, a vida antes era mais tranquila” etc.
Mas o que é feito num texto de opinião? Para que o autor defenda um ponto
de vista, ele investiga o tema mais a fundo, procura dados estatísticos para pro-
curar entender o que ocorre de fato, lê o que especialistas pesquisam. Enfim, não
emite apenas uma opinião, mas procura fundamentá-la para defendê-la.
Releia o terceiro parágrafo. O que o autor faz aí se chama contra-argumentar.
Prevendo a alegação que o leitor poderia fazer, ele já se defende, definindo uma
posição. É claro que a atitude desrespeitosa é inaceitável no médico. Isso não será
discutido. O que, então, é válido considerar?
No quarto parágrafo, a frase “Estabelecida tal premissa, voltemos à questão”
funciona como fator de coesão. Como o autor interrompeu o que estava dizendo,
ele retoma formalmente o percurso inicial do texto, para orientar a leitura do
leitor, já enumerando quatro razões. Nesse momento, é importante o auxílio de
termos que ordenam ideias (“primeiro”, “segundo”). Repare no modo como ele
apresenta a última razão. Ele escreve: “E, acima de tudo, porque...”. O que a expres-
são “acima de tudo” revela para o leitor? Das quatro razões apresentadas, qual o
autor considera a mais importante?
Nesse parágrafo, o autor retoma o que disse antes (que aquele médico antigo
não existe mais) e apresenta motivos para isso. Você percebeu que esses motivos
são expostos em uma ordem que revela um valor? O primeiro nada tem a ver
com o profissional (aquele médico de família sumiu porque não há mais aquele
tipo de família). Os dois seguintes já pressupõem circunstâncias ligadas ao mé-
dico: ele não teria a possibilidade de visitar os doentes em razão da vida turbu-
lenta na cidade hoje; além disso, precisa trabalhar mais do que naquela época
para obter um rendimento adequado. Não é à toa que o autor dá tanto destaque
ao último argumento; é nele que toda a discussão restante vai se fundamentar.
O médico de família de antigamente é um modelo, porém, para quantas pessoas
ele estava disponível?
O leitor que examina atentamente o que lhe é apresentado reflete que algo
mais precisa ser analisado nessa situação antes de continuar o saudosismo pelo

9º ano 43
médico de antigamente. O autor já preparou o terreno para expor o ponto de
vista que quer defender. Diante de uma boa argumentação, o leitor aceita ideias
diferentes daquelas que tinha quando começou a ler. É comum que isso aconteça
durante a leitura de um artigo de opinião, mas é preciso ser crítico e não se deixar
convencer por argumentos fracos ou falsos.
Volte ao quinto e ao sexto parágrafo. Você reparou que o autor lançou mão de
um exemplo para justificar a ideia que é a base de sua reflexão? A distância que
uma família como a do autor mantinha de um médico é representativa da distân-
cia de toda uma classe social, que nem era extremamente pobre, do atendimento
médico. E o autor estende o pensamento. Se era desse jeito em um centro urbano
desenvolvido, que pensar de um lugar afastado, no interior do Brasil? Realmente,
a figura do médico de família era muito importante, mas que eficácia ela tinha na
sociedade como um todo? Veja que o leitor participa da discussão que ele acom-
panha no artigo de opinião.
O advérbio “hoje” que aparece no sétimo parágrafo faz muito mais do que
apenas indicar a que tempo o autor se refere. Ele é marcador da comparação que
está na base desse artigo: ontem x hoje. E qual é a situação hoje? “A assistência
médica é incomparavelmente mais democrática”, diz o autor. Isso quer dizer que
mais gente tem acesso a ela. Enfim, nesse ponto do texto, o autor propõe que hou-
ve um ganho; passamos de um atendimento limitado, restrito a poucas pessoas, a
um atendimento mais abrangente. E comprova com dados:
• “quase 100% das crianças são vacinadas, a maioria das mães faz pré-
-natal, dá à luz em maternidades e encontra postos de saúde”;
• “seus filhos são examinados pelo pediatra”;
• “temos alguns programas de distribuição gratuita de medicamentos
que jamais seriam acessíveis sequer à classe média, hospitais que reali-
zam procedimentos de alta complexidade pelo SUS e equipes de agen-
tes de saúde que prestam atendimento em comunidades que jamais
puderam sonhar com ele”.
Enfim, ainda que não tenha a qualidade desejável, o atendimento na área da
saúde pública chega a mais pessoas do que antigamente. O Estado levou assistên-
cia médica à população, mesmo tendo ela duplicado nas últimas décadas. Este é o
ponto de vista que o autor quer provar. Ele levantou uma questão, fez uma compa-
ração e, para concluir, provou que os médicos de hoje merecem respeito, porque
atendem populações pobres em comunidades distantes, nos ambulatórios, pron-
tos-socorros e enfermarias dos hospitais públicos. Mas repare que há uma crítica:
o atendimento poderia ser mais eficiente “se houvesse menos demagogia política
e maior envolvimento da sociedade”. Será que o autor poderia esclarecer de que
forma a sociedade poderia se envolver? Será que poderia entrar em detalhes sobre
a demagogia política e suas implicações?
Claro! Mas de que tamanho ficaria o texto? Seria possível esgotar o assunto?
De forma alguma. Uma ideia puxaria outra, e ele perderia seu principal objetivo,
aquele que o autor propôs discutir. Esta é outra regra para quem escreve um ar-

44 Língua Portuguesa
tigo de opinião. É preciso saber delimitar o assunto. Não é recomendável fazer
uma discussão superficial, mas é preciso ter consciência de que não é possível
abranger tudo. Há limite de espaço e de alcance. Assim, muitas outras questões
ficam fora do texto, porque não é a intenção do autor discuti-las ali.
A conclusão do texto é a necessidade de conciliar o “trabalho duro realizado
por eles, com a preservação do sentimento de solidariedade diante do sofrimento
humano, sem o qual a medicina não tem sentido”. Como isso poderia ser feito?
É assunto para outro texto e requer outra investigação...
Depois da leitura desse artigo de opinião, poderíamos dizer simplesmente
que, no passado, o serviço médico era bom e hoje não é? No mínimo teríamos de
pensar que critérios definem um bom atendimento médico.

Dica
Um bom artigo de opinião não precisa dizer apenas o que interessa e es-
conder dados inconvenientes, justamente porque esses últimos, quando a re-
flexão é benfeita, não destroem a argumentação do autor.
Vale a pena salientar (e imitar) os termos empregados com o objetivo de
admitir o outro lado:
• “apesar do descalabro administrativo, …”
• “muitas vezes saem insatisfeitas, é verdade, mas…”
• “embora insuficientes, …”

MOMENTO DA ESCRITA I

As questões abaixo devem ser respondidas em seu caderno. Elas vão ajudá-lo a refletir sobre a
redação de um artigo de opinião.

1. Muitas estruturas empregadas nesse artigo de opinião podem ser repetidas em textos de tema
diferente. Veja o trecho do texto de Drauzio Varella a seguir.

“[...] esse tipo de médico foi extinto por várias razões. Primeiro, porque
desapareceram as famílias numerosas de antigamente que se reuniam em torno do
patriarca para o cafezinho na sala com o doutor. Segundo, porque as cidades pacatas
nas quais ele se movimentava não existem mais. Terceiro, porque os honorários
recebidos por um médico daquele tempo eram suficientes para uma vida confortável,
sem precisar de três ou quatro empregos. E, acima de tudo, porque médico de família
era privilégio de poucos.”

Agora, complete os parágrafos a seguir sobre os temas sugeridos.


a) Futebol
O futebol é um esporte popular no Brasil por várias razões.
Primeiro, porque

Segundo, porque

9º ano 45
Terceiro, porque

E, acima de tudo, porque

b) Televisão
A televisão é um dos mais eficazes meios de comunicação criados pelo homem.
Primeiro, porque

Segundo, porque

Terceiro, porque

E, acima de tudo, porque

c) Carreira profissional
Poder escolher uma carreira profissional é muito importante.
Primeiro, porque

Segundo, porque

Terceiro, porque

E, acima de tudo, porque

2. Examine o trecho abaixo:


“Se a 15 minutos da praça da Sé não chegava assistência médica à classe operária, o que aconte-
ceria na zona rural, residência de mais de 70% dos brasileiros na época?”
Escolha livremente dois temas e complete as frases:

Tema 1:

Se o que aconteceria ?

Tema 2:

Se o que aconteceria ?

46 Língua Portuguesa
3. Termine as frases a seguir, acrescentando causas no lugar do *. Para introduzir a causa, use conec-
tivos, como: porque, já que, uma vez que, em virtude de, por e como.
a) O atendimento médico, nas grandes cidades, vem se tornando um problema *.
b) Hoje em dia, os cursos de medicina são os mais concorridos *.
c) O tratamento de doenças como o câncer e a aids desenvolveu-se muito nas últimas décadas *.
d) A realização pessoal está muito ligada à escolha de uma profissão *.
e) Vem crescendo o consumo de álcool, sobretudo cerveja, *.
f) A pesquisa e o estudo contam muito na hora de escrever um artigo de opinião *.
4. Examine o contraste de ideias.

→ antigamente: dirigidos às donas de casa


Comerciais de TV
→ hoje: dirigidos às crianças

Observe como essas ideias foram organizadas nas frases abaixo:


Antigamente, a maioria dos comerciais de TV era dirigida à dona de casa. Hoje, muitos têm
como alvo as crianças.
Com base no exemplo, organize outras frases com as ideias que se seguem:

→ antigamente: menor em função do número de carros


a) Poluição atmosférica → hoje: põe em risco a vida de milhares de pessoas, sobretudo da-
quelas que sofrem de problemas respiratórios

→ antigamente: era um problema que podia ser resolvido


apenas pela polícia
b) Violência nas grandes cidades
→ à hoje: é um problema que vem aumentando, e solucioná-
lo requer um esforço de toda a sociedade

→ antigamente: atendiam menos pacientes


c) Médicos → hoje: atendem várias pessoas, pois, para se manter, preci-
sam trabalhar em muitos hospitais

9º ano 47
ARGUMENTAÇÃO
Você conhece a fábula “O lobo e o cordeiro”, de La Fontaine? Veja como
ela começa:
Um cordeiro estava bebendo água num riacho. O terreno era inclinado e por
isso havia uma correnteza forte. Quando ele levantou a cabeça, avistou um lobo,
também bebendo água.
Como é que você tem a coragem de sujar a água que eu bebo? – disse o lobo,
que estava alguns dias sem comer e procurava algum animal para matar a fome.
– Senhor – respondeu o cordeiro –, não precisa ficar com raiva porque eu
não estou sujando nada. Bebo aqui, uns vinte passos mais para baixo. É impossível
acontecer o que o senhor está falando.
[...]
LA FONTAINE, Jean de. O lobo e o cordeiro. Porto Alegre: Kuarup, 1994. (Texto adaptado.)

O lobo quer castigar o cordeiro por ter sujado a sua água. Repare na razão
que o cordeiro aponta para não ser castigado. Ele está vinte passos abaixo, ou seja,
está num ponto do rio onde corre uma água que já tinha passado pelo lobo. O que
o cordeiro apresenta é inegável. Ele poderia ter discutido que não estava sujo e,
portanto, não sujava nada, mas nem se preocupou com isso. Afinal, essa questão
dependeria do que o lobo entende por “sujar” e a discussão poderia ser intermi-
nável. Dizemos, então, que o cordeiro apresentou um bom argumento.
Essa fábula exemplifica como os argumentos podem ser usados. Há muitas
estratégias para argumentar. Vamos conhecer algumas.

1. ARGUMENTO DE CAUSA E CONSEQUÊNCIA


Esse argumento ocorre quando se esclarece o motivo pelo qual é possível fazer
determinada afirmação. Exemplo:
O tempo se encarregou de deixar claro que a varíola foi mais fácil de eliminar
[do que a poliomielite]. Primeiro, porque seus portadores são facilmente identificáveis
a partir das lesões que surgem na pele, enquanto a maioria das infecções pelo vírus
da pólio são inaparentes: apenas um em cada cem a 200 infectados desenvolve a
forma paralítica da doença, mas todos eliminam o vírus nas fezes. Segundo, porque
enquanto uma única dose da vacina contra a varíola confere imunidade em 95% a
98% das vacinações, a da paralisia infantil exige três, quatro e, às vezes, seis doses de
reforço para a imunização.
(Drauzio Varella, Folha de S.Paulo, 5 ago. 2006.)

É simples verificar em que se baseia a declaração de que eliminar o vírus da


varíola foi mais fácil que eliminar o da poliomielite: a fácil identificação da doença
e a necessidade de menos doses de vacina.
Na tentativa de justificar alguns pontos de vista, é preciso cuidado para não
repetir de outra forma o que já foi dito, em vez de apontar a causa. É o que acon-
teceria se escrevêssemos: “O número de casos da pólio aumentou, porque um
número muito maior de crianças foi infectado”. Aumento de casos equivale a mais
gente infectada; nada foi acrescentado. Esse é um defeito na argumentação.

48 Língua Portuguesa
2. ARGUMENTO DE AUTORIDADE
Às vezes, para atestar a veracidade do que se apresenta como prova, cita-se
uma pessoa ou uma instituição que tem muita credibilidade no assunto que
está sendo discutido. Exemplo:
Do outro lado da equação, a ONU diz que os indivíduos precisam de 5 litros de
água por dia, simplesmente para sobreviver em um clima moderado, e de ao menos
50 litros diários para beber e cozinhar, tomar banho e usar em saneamento. (Juliette
Jowit, Carta na Escola, fevereiro de 2009, edição 33. p. 20.)
Os dados que aparecem são confiáveis, uma vez que são da Organização das Na-
ções Unidas (ONU), cujos objetivos são “manter a paz e a segurança internacionais;
desenvolver relações amistosas entre as nações; e realizar a cooperação internacional
para resolver os problemas mundiais de caráter econômico, social, cultural e huma-
nitário” (ONU-BR. Disponível em: <www.onu.org.br>. Acesso em: 23 out. 2012.)

3. ARGUMENTO POR EXEMPLIFICAÇÃO


Nesse tipo de argumento, cita-se uma ocorrência concreta para dela extrair
uma conclusão geral. Exemplo:
O caso da Nigéria é didático. Em 2003, grupos que se opõem à vacinação
de crianças [...] lançaram boatos de que a vacina estaria contaminada pelo vírus da
aids ou misturada com hormônios destinados a esterilizar meninas muçulmanas, e
conseguiram suspender a vacinação em vários Estados no norte do país.” (Drauzio
Varella, Folha de S.Paulo, 5 ago. 2006.)
Com base em um exemplo, conclui-se que problemas sociais e políticos po-
dem interferir negativamente na erradicação da poliomielite.
É preciso ter cuidado, porém, para não fazer generalizações falsas. O exemplo
de um prefeito que desviou dinheiro público não comprova que todos os prefeitos
são corruptos. Esse exemplo serviria para mostrar que é necessário haver leis para
fiscalizar e punir os ocupantes de cargos executivos.

4. ARGUMENTO DE PRINCÍPIO
É um tipo de argumento bastante empregado. Baseia-se nas ideias de bom
senso, normalmente aceitas e que dispensam maiores justificativas. Exemplo:
País nenhum pode se considerar imune às epidemias alheias. (Drauzio
Varella, Folha de S.Paulo, 14 out. 2006.)
O senso comum é a chamada opinião pública; é aquele saber que adquirimos
espontaneamente, no nosso contato com os outros. É um saber superficial, que
não exige especialização. O contrário seria o senso crítico.
É preciso ter cuidado ao usar opiniões do senso comum, que podem não
se justificar. É o caso de um argumento como “A pena de morte vai fazer di-
minuir a criminalidade”.

9º ano 49
ARTICULADORES
Palavras soltas, sem nenhuma organização, não constituem um texto. É preciso
uni-las com outras palavras que tenham o sentido que desejamos. Uma coisa é es-
crever “Foram para lá, apesar do calor”; outra é escrever “Foram para lá, por causa
do calor”. Esse trabalho de unir ideias de forma coerente é chamado de articulação.
Há articuladores que unem orações e há os que unem parágrafos, e eles são ex-
tremamente importantes para expressar os argumentos usados em um artigo de opi-
nião. Durante a leitura que faremos de alguns textos, repare na importância deles na
expressão dos argumentos.

MAIS POLÊMICA

Zig Koch/Pulsar Imagens

Vista aérea do rio São Francisco em Juazeiro (BA), 2012.


Zig Koch/Opção Brasil Imagens

Encontro do rio São Francisco com o rio Grande em Barra (BA), 2012.

50 Língua Portuguesa
Você já ouviu falar sobre o projeto de transposição das águas do rio São
Francisco?
Esse projeto divide opiniões. A ideia é construir dois canais ligando o rio São
Francisco a bacias hidrográficas menores do Nordeste, bem como aos seus açu-
des. Segundo o governo federal, o intuito dessas obras é melhorar a distribuição
da água para uma população de 12 milhões de nordestinos. O prazo para reali-
zação do projeto é de vinte anos. Até 2009, seu custo total estimado era de R$ 4,5
bilhões. Além da interligação das bacias, há um projeto para recuperar os afluen-
tes do rio São Francisco, pois vários deles sofrem problemas de assoreamento,
decorrentes do desmatamento para a agricultura.
Como toda questão polêmica, há argumentos a favor e contra. Alguns grupos
da sociedade consideram o projeto caro e que, no lugar dele, pequenas obras po-
deriam ser feitas para resolver o problema. Outra questão polêmica diz respeito a
quem vai realmente se beneficiar com a transposição. Entretanto, o governo fede-
ral afirma que o número de empregos que serão criados, direta e indiretamente, e
a solução do problema da seca trariam muitos benefícios para a população.

MOMENTO DA ESCRITA II

Antes de ler dois artigos de opinião, escreva o seu ponto de vista sobre a alteração do curso do
rio São Francisco. O que você acha desse projeto? É a melhor maneira de melhorar a qualidade
de vida de quem vive em regiões castigadas pelas grandes secas? Ou obras assim não resolvem o
problema e colocam em risco a fauna e a flora da região?
Escreva também seus argumentos a favor e/ou contra.

Ponto de vista:

Argumentos:

O quadro a seguir reúne argumentos a favor do projeto de transposição e ar-


gumentos contrários. Escolha e grife os argumentos que, em sua opinião, podem
ajudar a fundamentar seu ponto de vista sobre esse projeto.

9º ano 51
ARGUMENTOS A FAVOR DO PROJETO
• Garantir água potável para 12 milhões de habitantes do semiárido é construir o futuro
do Nordeste.
• A disponibilidade hídrica atual de algumas cidades do Nordeste é inferior a 1/3 do reco-
mendado pela Organização Mundial da Saúde.

• “As terras lindeiras dos 620 quilômetros de canais da interligação foram previamente declaradas
de interesse público para fins de desapropriação do futuro. Elas compreendem uma faixa de 2,5
quilômetros de cada lado, que poderá assegurar a arrecadação de mais de 350 mil hectares de
terras férteis, o que produzirá no futuro cerca de 200 mil empregos permanentes.” (José Graziano
da Silva, professor titular de economia agrícola da Unicamp. Folha de S.Paulo, 9 out. 2005.)
• Nos EUA, há 30 anos, as águas do rio Colorado foram canalizadas pelo deserto de Phoenix, no
Arizona, com um desvio de 4 mil quilômetros. A China constrói um canal de mil quilômetros
para levar águas do Yang-tsé, do Sul, ao Norte do país. (José Graziano da Silva, Folha de
S.Paulo, 9 out. 2005.)

• Extinção de fatores resultantes da seca, como escassez de alimentos, baixa produtividade no


campo, morte de rebanhos e desemprego no meio rural.
• A oferta de água vai contribuir para a fixação do homem no campo.
• A região onde o projeto será construído apresenta um alto índice de doenças ligadas à água.
Com menos pessoas doentes pela má qualidade da água, haverá menos pressão na infra-
estrutura da saúde.

ARGUMENTOS CONTRA O PROJETO


• Não há projeto que resolva o problema histórico da seca.
• “Ao invés de se combater as secas com soluções de engenharia hidráulica, deve-se desenvolver
uma política de convivência com o semiárido.” (Marco Antônio Tavares Coelho, jornalista,
autor do livro Os descaminhos do São Francisco. Folha de S.Paulo, 9 out. 2005.)
•“O projeto baseia-se na tese falsa “de que a escassez de água na região impede a sobrevivência em
condições dignas das populações.” (Marco Antônio Tavares Coelho. Folha de S.Paulo, 9 out. 2005.)
• “O projeto, que utiliza imensos recursos públicos, não tem por objetivo ajudar a população
pobre, mas impulsionar a exportação de produtos agrícolas.” (Marco Antônio Tavares Coelho.
Folha de S.Paulo. 9 out. 2005.)
• “Diminuiria a geração de energia elétrica no Nordeste; teria de fixar caríssimas tarifas pelo uso de
águas transportadas por centenas de quilômetros e elevadas por bombas elétricas para vencer
altitudes de mais de 300 metros.” (Marco Antônio Tavares Coelho. Folha de S.Paulo, 9 out. 2005.)

• Perda de emprego por causa das desapropriações e no fim da obra, quando trabalhadores
não devem conseguir vagas de trabalho para permanecer na região.
• Poderá haver desaparecimento da biodiversidade nos rios da região. Estima-se que 430
hectares de vegetação serão desmatados.
• A desapropriação das terras pode gerar conflitos, além de romper laços formados no cotidiano.
• Haverá menos espaço para peixes com a mudança de volume nos açudes. Isso pode acarretar
a diminuição de espécies usadas na pesca e no comércio.

52 Língua Portuguesa
Agora escreva um artigo de opinião sobre a transposição do rio São Francisco. Imagine que ele
será publicado em um jornal de grande circulação, cujos leitores não têm necessariamente muitas
informações sobre o tema.
Organize seu texto em parágrafos. No primeiro escreva seu ponto de vista sobre o projeto de
transposição do rio. Nos parágrafos seguintes, escreva seus argumentos (de causa e consequência,
de autoridade, de exemplificação, de princípio). Reserve o último parágrafo exclusivamente para
a conclusão.

LER ARTIGO DE OPINIÃO II

Você vai ler agora dois artigos de opinião sobre a transposição do rio São Francisco. Depois de
lê-los com muita atenção, responda às questões.

Demora a transposição
EDITORIAL
28.8.2012

A transposição das águas do Rio São Fran- levância da interligação das águas do Rio São
cisco para as bacias hidrográficas do Nordes- Francisco com as bacias hidrográficas do Nor-
te Oriental vem sofrendo atrasos identificados deste Oriental, beneficiando porções signifi-
pelo Tribunal de Contas da União (TCU), ao cativas do Ceará, Pernambuco, Paraíba, Rio
avaliar o cumprimento de seus organogramas Grande do Norte e Alagoas.
físico e financeiro. Além dos municípios situados no entor-
A conclusão desse projeto ciclópico, ini- no dos grandes reservatórios construídos pelo
cialmente prevista para entre 2010 e 2012, foi Dnocs na região, há também carência de água
reestimada para o período compreendido entre para suprir o abastecimento humano de, pelo
2014 e 2015, portanto, fora da administração menos, três das maiores cidades interioranas:
da presidente Dilma Rousseff. Essa hipótese Campina Grande, na Paraíba; Caruaru, em Per-
representa risco de postergação, diante da má nambuco; e Mossoró, no Rio Grande do Norte,
vontade manifestada de segmentos influentes com fontes hídricas insuficientes.
em relação a esse macroprojeto. O projeto é gigantesco para a região, mas
Ademais, a protelação do prazo de um dos minúsculo em relação a investimentos realiza-
maiores investimentos do governo federal no dos pelo poder público no Centro-Sul, no Su-
Nordeste tem-se refletido no seu valor inicial, deste ou no Centro-Oeste. Quando concluído,
estimado em R$ 4,7 bilhões, mas já alterado ele irá assegurar o suprimento de água potável
para mais de R$ 8 bilhões. Evidentemente, a para 12 milhões de pessoas, distribuídas por
obra com execução programada para médio 1 100 cidades disseminadas pelo semiárido nor-
prazo sofreria reajustes contratuais e, mais ain- destino, sem água no subsolo.
da, por outros ditados pelo encarecimento dos O último relatório setorial do TCU é, de
insumos utilizados nos canteiros. certa forma, desanimador, quando aponta irre-
O quadro de dificuldades provocado pela gularidades na condução das obras. Empresas
escassez de chuvas, neste ano, diz bem da re- contratadas para supervisionar a construção

9º ano 53
encontraram defeitos de responsabilidade das Diante da magnitude do empreendimento, po-
construtoras. De outra parte, alguns lotes pas- deria haver esforço conjunto para a unificação
saram quase um ano sem o acompanhamento dos critérios de execução das obras e de verifi-
das equipes responsáveis pelo controle de qua- cação da procedência das despesas, sem deixar
lidade. Por esse ato falho, o que as empreiteiras dúvidas quanto a seu valor.
faziam não era fiscalizado de forma adequada, As divergências alimentam as correntes
gerando consequências nocivas. Houve, igual- contrárias a essa obra que deveria ser incon-
mente, excessivas mudanças no projeto, for- testável. O governo é o maior empreendedor
çando aditivos contratuais no limite do valor no País, movimentando as obras diversificadas
legal, mas sem que o projeto ficasse pronto. Há, do Programa de Aceleração do Crescimento
até mesmo, segundo o TCU, indícios de obras (PAC). Contudo, suas obras têm sofrido críticas
com pagamento duplicado. em decorrência da má gestão. Enquanto essa
A experiência tem demonstrado ser dife- questão básica não for resolvida, o País estará
rente a realidade dos canteiros de obra das exi- com seu desenvolvimento atolado em obras ví-
gências contidas nas normas de fiscalização e timas de paralisação.
controle dos órgãos incumbidos dessa tarefa. Disponível em: <http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1175068>.
Acesso em: 9 set. 2012.

1. O texto “Demora a transposição” é um editorial. Segundo o Manual de redação e estilo do jornal


O Estado de S. Paulo, o editorial é um “texto jornalístico opinativo, escrito de maneira impessoal
e publicado sem assinatura, que expressa o ponto de vista da empresa responsável pela publica-
ção”. Qual é o ponto de vista do Diário do Nordeste sobre o projeto de transposição do rio São
Francisco?
2. No título do editorial, já é possível perceber se o jornal é a favor ou contra o projeto de transposi-
ção do rio? Justifique sua resposta.
3. Localize o parágrafo em que o editorial afirma que a obra é muito importante para a região atin-
gida pelo projeto.
4. Quais problemas o editorial aponta como consequência da reestimativa dos prazos do projeto?
5. “O projeto é gigantesco para a região, mas minúsculo em relação a investimentos realizados pelo
poder público no Centro-Sul, no Sudeste ou no Centro-Oeste.”
a) Quais palavras são indicadoras da opinião do editorialista?
b) Na frase transcrita há uma comparação e uma crítica que vai além do tema da transposição do
rio. Qual é a crítica que está subentendida?
6. Compare as frases e responda às questões.
Frase 1: O último relatório setorial do TCU aponta irregularidades na condução de obras.
Frase 2: O último relatório setorial do TCU é, de certa forma, desanimador, quando aponta irre-
gularidades na condução das obras.
a) Qual das duas expressa uma opinião? Justifique a resposta.
b) Quando o editorialista escreve “de certa forma”, ele expressa possibilidade ou certeza? Justifi-
que sua resposta.
7. Qual é a sugestão que o autor do editorial faz para que a obra prossiga sem adiamentos?

54 Língua Portuguesa
8. “A experiência tem demonstrado ser diferente a realidade dos canteiros de obra das exigências
contidas nas normas de fiscalização e controle dos órgãos incumbidos dessa tarefa.” Esse argu-
mento deve ser considerado um argumento de autoridade ou de princípio? Justifique a resposta.
9. “O governo é o maior empreendedor no País, movimentando as obras diversificadas do Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC). Contudo, suas obras têm sofrido críticas em decorrência
da má gestão.”
Usando o conectivo que aparece em cada quadro, junte os dois períodos num só. Atente para as
modificações necessárias.

Ainda que

Apesar de

10. “As divergências alimentam as correntes contrárias a essa obra que deveria ser incontestável.”
Que palavra nessa frase mostra claramente que o editorialista é a favor da obra de transposição do rio?

LER ARTIGO DE OPINIÃO III

Rio São Francisco: A quem vai servir a transposição das águas?


Aziz Ab’Sáber*, Especial para a Folha
20/2/2005
É compreensível que em um país de dimen- que possam atender às expectativas de todas as
sões tão grandiosas, no contexto da tropicalida- classes sociais regionais, de modo equilibrado e
de, surjam muitas ideias e propostas incompletas justo, longe de favorecer apenas alguns especu-
para atenuar ou procurar resolver problemas de ladores contumazes. Pessoalmente, estou can-
regiões críticas. Entretanto, é impossível tolerar sado de ouvir propostas ocasionais, mal pensa-
propostas demagógicas de pseudotécnicos não das, dirigidas a altas lideranças governamentais.
preparados para prever os múltiplos impactos Nas discussões que ora se travam sobre a
sociais, econômicos e ecológicos de projetos questão da transposição de águas do São Fran-
teimosamente enfatizados. cisco para o setor norte do Nordeste Seco,
Tem faltado a eventuais membros do pri- existem alguns argumentos tão fantasiosos
meiro escalão dos governos qualquer compro- e mentirosos que merecem ser corrigidos em
misso com planificação metódica e integrativa, primeiro lugar. Referimo-nos ao fato de que a
baseada em bons conhecimentos sobre o mundo transposição das águas resolveria os grandes
real de uma sociedade prenhe de desigualdades. problemas sociais existentes na região semiá-
Nesse sentido, bons projetos são todos aqueles rida do Brasil.

9º ano 55
Trata-se de um argumento completamente gação indispensável em qualquer projeto que
infeliz lançado por alguém que sabe de ante- envolve grandes recursos, sensibilidade social
mão que os brasileiros extranordestinos desco- e honestas aplicações dos métodos disponíveis
nhecem a realidade dos espaços físicos, sociais, para previsão de impactos.
ecológicos e políticos do grande Nordeste do Os “vazanteiros” que fazem horticultura no
país, onde se encontra a região semiárida mais leito dos rios que “cortam” − que perdem fluxo
povoada do mundo. durante o ano − serão os primeiros a ser total-
O Nordeste Seco, delimitado pelo espaço mente prejudicados. Mas os técnicos insensíveis
até onde se estendem as caatingas e os rios in- dirão com enfado: “A cultura de vazante já era”.
termitentes, sazonários e exoreicos (que che- Sem ao menos dar qualquer prioridade para a
gam ao mar), abrange um espaço fisiográfico realocação dos heróis que abastecem as feiras
socioambiental da ordem de 750 000 quilôme- dos sertões. A eles se deve conceder a priori-
tros quadrados, enquanto a área que preten- dade maior em relação aos espaços irrigáveis
samente receberá grandes benefícios abrange que viessem a ser identificados e implantados.
dois projetos lineares que somam apenas al- De imediato, porém, serão os fazendeiros pe-
guns milhares de quilômetros nas bacias do cuaristas da beira alta e colinas sertanejas que
rio Jaguaribe (Ceará) e Piranhas-Açu, no Rio terão água disponível para o gado, nos cinco ou
Grande do Norte. Portanto, dizer que o projeto seis meses que os rios da região não correm. É
de transposição de águas do São Francisco para possível termos água disponível para o gado e
além-Araripe vai resolver problemas do espaço continuarmos com pouca água para o homem
total do semiárido brasileiro não passa de uma habitante do sertão. Nesse sentido, os maiores
distorção falaciosa. beneficiários serão os proprietários de terra, re-
Um problema essencial na discussão das sidentes longe, em apartamentos luxuosos em
questões envolvidas no projeto de transposição grandes centros urbanos.
de águas do São Francisco para os rios do Cea- Sobre a viabilidade ambiental pouca coisa
rá e Rio Grande do Norte diz respeito ao equi- se pode adiantar, a não ser a falta de conheci-
líbrio que deveria ser mantido entre as águas mentos sobre a dinâmica climática e a perio-
que seriam obrigatórias para as importantíssi- dicidade do rio que vai perder água e dos rios
mas hidrelétricas já implantadas no médio/baixo intermitentes-sazonários que vão receber file-
vale do rio − Paulo Afonso, Itaparica, Xingó. tes das águas transpostas.
Devendo ser registrado que as barragens ali im- Um projeto inteligente e viável sobre trans-
plantadas são fatos pontuais, mas a energia ali posição de águas, captação e utilização de águas
produzida, e transmitida para todo o Nordeste, da estação chuvosa e multiplicação de poços ou
constitui um tipo de planejamento da mais alta cisternas tem que envolver obrigatoriamente co-
relevância para o espaço total da região. De for- nhecimento sobre a dinâmica climática regional
ma que o novo projeto não pode, em hipótese do Nordeste. No caso de projetos de transposi-
alguma, prejudicar o mais antigo, que reconheci- ção de águas, há de ter consciência que o perío-
damente é de uma importância areolar. Mas pa- do de maior necessidade será aquele que os rios
rece que ninguém no Brasil se preocupa em saber sertanejos intermitentes perdem correnteza por
nada de planejamentos pontuais, lineares e areo- cinco a sete meses.
lares. Nem tampouco em saber quanto o projeto Trata-se, porém, do mesmo período que o rio
de interesse macrorregional vai interessar para os São Francisco torna-se menos volumoso e mais
projetos lineares em pauta. esquálido. Entretanto, é nesta época do ano que
Segue-se na ordem dos tratamentos exigi- haverá maior necessidade de
GLOSSÁRIO
dos pela ideia de transpor águas do São Francisco reservas do mesmo para hi-
para além-Araripe a questão essencial a ser feita para drelétricas regionais. Trata-se Falaciosa: enganadora,
mentirosa.
políticos, técnicos acoplados e demagogos: a quem de um impasse paradoxal, do
Paradoxal: contraditório.
vai servir a transposição das águas? Uma interro- qual, até agora, não se falou.

56 Língua Portuguesa
Por outro lado, se esta água tiver que ser ele- do passado, que acontecerá a disputa pelos R$ 2
vada ao chegar a região final de seu uso, para bilhões pretendidos para o começo das obras.
desde um ponto mais alto descer e promover al- O risco final é que, atravessando acidentes
guma irrigação por gravidade, o processo todo geográficos consideráveis, como a elevação da
aumentará ainda mais a demanda regional por escarpa sul da chapada do Araripe − com grande
energia. E, ainda noutra direção, como se evitará gasto de energia! −, a transposição acabe por signi-
uma grande evaporação desta água que atraves- ficar apenas um canal tímido de água, de duvidosa
sará o domínio da caatinga, onde o índice de eva- validade econômica e interesse social, de grande
poração é o maior de todos? Eis outro ponto obs- custo, e que acabaria, sobretudo, por movimentar
curo, não tratado pelos arautos da transposição. o mercado especulativo, da terra e da política. No
A afoiteza com que se está pressionando o go- fim, tudo apareceria como o movimento geral de
verno para se conceder grandes verbas para início transformar todo o espaço em mercadoria.
das obras de transposição das águas do São Fran- *Aziz Ab’Sáber, 80, é geógrafo, professor-emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e
cisco terá consequências imediatas para os espe- Ciências Humanas da USP e professor convidado do Instituto de
Estudos Avançados da USP.
culadores de todos os naipes. Existindo dinheiro −
Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/atualidades/rio-sao-francisco-a-quem-
em uma época de escassez generalizada para pro- vai-servir-a-transposicao-das-aguas.jhtm>. Acesso em: 23 out. 2012.
jetos necessários e de valor certo −, todos julgam
que deve ser democrática a oferta de serviços, se GLOSSÁRIO

Arauto: pregoeiro, anunciador.


possível bem rentosos. Será assim, repetindo fatos

1. Em sua opinião, o autor Aziz Ab’Sáber domina o assunto sobre o qual escreve? Por quê?
2. Para o autor, a transposição das águas do rio São Francisco resolveria os grandes problemas so-
ciais existentes na região semiárida do Brasil?
3. Em qual parágrafo o autor responde à pergunta feita no título do artigo?
4. Em qual parágrafo o autor expressa seu ponto de vista sobre a transposição das águas?
5. Faça uma tabela com duas colunas (causas e consequências) e escreva os argumentos de causa
e de consequência usados pelo autor para defender seu ponto de vista sobre a transposição das
águas do rio São Francisco.
6. Retire um argumento de princípio dos parágrafos 1, 2, 6 e 10.
7. Observe as expressões destacadas nas frases retiradas do texto:
“Mas parece que ninguém no Brasil se preocupa em saber nada de
planejamentos pontuais, lineares e areolares.”
“É possível termos água disponível para o gado e continuarmos com pouca
água para o homem habitante do sertão. Nesse sentido, os maiores beneficiários serão
os proprietários de terra, residentes longe, em apartamentos luxuosos em grandes
centros urbanos.”
a) As expressões destacadas indicam certeza ou possibilidade em relação aos argumentos apre-
sentados?
b) Em sua opinião, porque expressões assim são comuns em artigos de opinião?
8. Na frase “dizer que o projeto de transposição de águas do São Francisco para além-Araripe vai
resolver problemas do espaço total do semiárido brasileiro não passa de uma distorção falaciosa”,
quais palavras mostram claramente que o autor Aziz Ab’Sáber é contra o projeto de transposição
das águas do rio São Francisco?

9º ano 57
Dica
Os adjetivos, palavras que atribuem características (qualidade, estado, modo de ser, aspecto) ao substantivo,
funcionam como uma das pistas em um artigo de opinião para que possamos distinguir fatos de opiniões. As carac-
terísticas positivas ou negativas apontadas são questionáveis e podem ser refutadas.
Veja alguns exemplos:
a) Há uma lei que proíbe fumar em locais públicos.
Há uma lei correta que proíbe fumar em locais públicos.
b) O projeto de transposição das águas do São Francisco acontece na região semiárida do Brasil.
O equivocado projeto de transposição das águas do São Francisco acontece na região semiárida do Brasil.
O necessário projeto de transposição das águas do São Francisco acontece na região semiárida do Brasil.

MOMENTO DA ESCRITA III

Retome o artigo de opinião que você escreveu sobre a transposição do rio São Francisco. Depois
da leitura dos textos “Demora a transposição” e “A quem vai servir a transposição das águas?”, você
vai poder alterar seu artigo, caso julgue necessário.
Lembre-se de levar em consideração seus possíveis leitores, os de um jornal de grande circula-
ção em sua cidade, os quais não estão necessariamente inteirados sobre o tema abordado.
Faça a revisão, observando os itens abaixo:
• Seu texto apresenta um título instigante? Caso não tenha, você deve criar um.
• Você, como autor do artigo, preocupou-se em escrever uma descrição do projeto de trans-
posição do rio para os leitores se inteirarem do assunto que será discutido? Caso não tenha
feito isso, escreva um parágrafo contextualizando a questão.
• Seu ponto de vista está explicitado? Se quiser dar ênfase a um ponto de vista, pode escrever
certamente, sem dúvida, com certeza etc. Se quiser atenuar alguma declaração, convém usar
as palavras provavelmente, talvez, possivelmente etc.
• Você reuniu argumentos consistentes para defender a posição assumida? Verifique se você
utilizou argumentos de diferentes tipos: de causa e consequência, de exemplificação, de
autoridade e de princípio.
• O último parágrafo ficou reservado para a conclusão? Para concluir, você pode fazer uso de
palavras como portanto, enfim, dessa forma etc.
• Você citou opiniões diferentes das suas? Caso queira inserir uma, empregue termos como
embora, ainda que, mesmo, por mais que, por menos que, porém, por outro lado etc.
• Você acha que seu texto está legível e adequado às normas gramaticais?
• Acha que conseguiu atingir seus objetivos de tentar convencer seus leitores?

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS


Livros Redação linha a linha
Nesse livro, a autora revisa e comenta textos de opinião escritos por leitores do jornal Folha
de S.Paulo. Além das correções gramaticais, a autora mostra como encadear ideias e refor-
mular parágrafos. O livro traz ainda um conjunto de tópicos gramaticais que podem ser
consultados para resolver dúvidas comuns surgidas na hora de elaborar um texto.
CAMARGO, Thaís Nicoleti de. Redação linha a linha. São Paulo: Publifolha, 2004.

Pontos de vista
Esse livro faz parte do conjunto de cadernos elaborados para fornecer subsídios para quem quer par-
ticipar da Olimpíada de Língua Portuguesa. O material proporciona um mergulho no gênero artigo
de opinião, inclui textos para serem lidos e analisados, além de atividades que ajudam na produção.
GAGLIARDI, Eliana; AMARAL, Heloísa. Pontos de vista. São Paulo: Cenpec: Fundação Itaú Social; Brasília, DF: MEC, 2008.

58 Língua Portuguesa
Capítulo 4
PORTUGUÊS A opinião (assumida) do jornal

A notícia e a reportagem são gê-

Edu Oliveira/Agência RBS


neros que se caracterizam pela
divulgação objetiva dos fatos, ape-
sar de a intencionalidade de quem
os produz deixar neles algumas
marcas. Mas os jornais também fa-
zem uso de um gênero cujo traço
principal é justamente a manifes-
tação da posição assumida por esse
veículo de comunicação. Trata-se
do editorial. Neste capítulo, vamos
estudar o editorial de jornal diário.
Para começar o estudo desse
gênero, observe a charge publicada
em um jornal, e converse sobre as
questões propostas a respeito dela Esta charge foi utilizada para ilustrar um editorial publicado no jornal Zero Hora no dia
23 de outubro de 2012. O título do editorial era “Mais estudo, mais renda”.
com seus colegas e o professor.

RODA DE CONVERSA

1. No desenho, uma letra “a” está sendo guardada no cofre.


a) Há razões para o leitor compreender literalmente essa imagem? Justifique sua resposta.
b) O que a letra “a” pode representar?
c) Quais as vantagem em ter consigo aquilo que você respondeu no item anterior?
2. Há uma diferença entre guardar dinheiro por meio do sistema representado na charge e por meio
de uma poupança bancária.
a) Explique qual.
b) Apesar do que foi apontado no item anterior, a imagem do cofrinho costuma ser usada como
símbolo de investimento financeiro, até mesmo nos cadernos de economia dos jornais e nos
folhetos bancários. Você considera que a imagem do cofrinho na charge pretende despertar
no leitor a ideia de perda ou de ganho?
3. Associando o que você respondeu nas questões anteriores, o que provavelmente o autor da charge
desejou expressar?
4. A opinião manifestada na charge é muito pessoal ou é compartilhada pelas pessoas em geral?

9º ano 59
O EDITORIAL
O editorial é um texto argumentativo, de estrutura semelhante à do artigo
de opinião, mas apresenta algumas especificidades. Curiosamente, apesar de
haver nele um ponto de vista sobre determinado tema, ele é um texto impes-
soal. Como isso se dá?
Naturalmente ele foi redigido por um indivíduo, mas não é a visão desse
indivíduo que se manifesta, e sim a do jornal como instituição, tanto que nin-
guém assina o texto.
Outro fator que contribui para a impessoalidade do editorial é um recurso lin-
guístico: o emprego da terceira pessoa. Não se costumam ver nesse tipo de texto
expressões como “Eu acho...”, “Para mim...”, “A nosso ver...”. Portanto, dizemos que
não há marcas de primeira pessoa (um “eu” que fala).
Alguns editoriais empregam a primeira pessoa do plural para impessoalizar o
texto. Nesses casos, o “nós” representa uma coletividade. Graças a esse recurso, os
pontos de vista assumidos parecem pertencer a uma voz geral, soam como uma
ideia da qual todos parecem compartilhar.
Os editoriais publicados em um jornal costumam ser escritos pelo mesmo
profissional ou pelo mesmo grupo restrito de profissionais. Por representar
a empresa responsável por aquele veículo de comunicação, o ponto de vista
defendido no editorial é sempre algo socialmente aceito, politicamente corre-
to e relevante para a coletividade. Para a comprovação desse ponto de vista, é
fundamental a argumentação. Ela consiste na escolha de ideias que susten-
tem uma opinião (para que ela não pareça uma impressão) e na ordenação
adequada dessas ideias (para que o leitor possa acompanhar o raciocínio rea-
lizado pelo autor).
A variedade linguística empregada no editorial é a formal. Outro traço desse
gênero é que ele tem uma ligação forte com o momento de sua produção. Ele ava-
lia sempre um fato recente, noticiado no próprio jornal, ou então um debate em
curso na sociedade, estimulado por trabalhos de centros universitários, estatísti-
cas dos institutos de pesquisa e relatórios oficiais. Enfim, o editorial usa os gan-
chos fornecidos pelo próprio jornal. O fato de se basear em informações precisas
o ajuda a garantir objetividade.

No contexto jornalístico, gancho


é o motivo que justifica a publicação
de uma matéria, pela primeira vez ou
como continuação de outra.

O Estado de S.Paulo resume o caráter do editorial: é um “texto jornalístico


opinativo, escrito de maneira impessoal e publicado sem assinatura, que expressa o
ponto de vista da empresa responsável pela publicação”.
MARTINS FILHO, Eduardo Lopes. Manual de redação e estilo de O Estado de São Paulo. 3.ed. revista e ampliada. São Paulo: O Estado de S. Paulo, 1997.

60 Língua Portuguesa
Além dos jornais, as revistas e telejornais também podem ter editoriais. Ao
contrário do editorial do jornal diário, o das revistas muitas vezes identifica fo-
tograficamente o editor que assina o editorial. Nesse caso, o editorial comenta a
própria edição e apresenta um tom mais subjetivo.
O editorial pretende levar o leitor a refletir e a agir. Isso fica bem marcado nas su-
gestões normalmente feitas no texto, conforme você vai constatar na leitura a seguir.

Além do editorial, existe opinião nas colunas assinadas, que são da responsabilidade
das pessoas que o jornal convida a escrever, e também nas resenhas, isto é, nas críticas
a filmes, livros etc.

LER EDITORIAL

O editorial que você vai ler foi publicado no jornal Zero Hora, de Porto Alegre (RS). Examine
o seu título e reflita sobre as questões a seguir:

1. Relacionar pais e educação é algo frequente ou incomum?


2. Você supõe que o editorial vá abordar algo previsível ou apresentar um dado surpreendente?
3. Você esperava encontrar esse tema em um editorial de jornal diário? Por quê?
4. Que relação você supõe que o editorial estabelece entre os pais e a educação?

Os pais e a educação
Uma mudança no comportamento dos pais, como revelou reporta- GLOSSÁRIO
consolidada nas últimas décadas, vem interfe- gem publicada ontem Consolidada: fixada.
rindo diretamente nos resultados da educação por Zero Hora, é a Ibope: sigla de Instituto Bra-
de crianças e adolescentes. É o enfraquecimen- confusão sempre pre- sileiro de Opinião Pública e
Estatística.
to da figura da mãe também como educadora, o sente entre a educação Omissões: falta de cuidado, de
que acabou sobrecarregando a escola com uma formal e a educação atenção; descuidos, negligência.
responsabilidade historicamente compartilhada. em seu sentido mais Efetivos: que produzem um
efeito real, que atingem seu
O fenômeno, provocado pela participação cada amplo. Mudar esse objetivo; bem-sucedidos.
vez mais intensa das mães no mercado de traba- quadro não significa
lho, não é, no entanto, o único a comprometer cobrar apenas das mães, envolvidas cada vez
a educação como atribuição da escola e da fa- mais em tarefas fora de casa, uma participação
mília. Há um distanciamento generalizado entre ativa na vida escolar dos filhos. Significa cha-
família e escola, determinado por omissões que mar também o pai, os cuidadores, enfim, todas
podem ser medidas de várias formas. Uma pes- as pessoas que têm a obrigação de proteger suas
quisa do Ibope, por exemplo, revela que apenas crianças e seus adolescentes, para que sejam
7% da população brasileira considera que a edu- efetivos no envolvimento com professores e
cação também é uma responsabilidade dos pais. com o ambiente escolar.
O que aparece na pesquisa e em outras ma- A necessidade da aproximação dos pais do
nifestações, de forma nem sempre explícita, processo educacional é o foco da terceira das

9º ano 61
seis interrogações apresentadas pela campanha Não se espere que as respostas a essa tercei-
da RBS A Educação Precisa de Respostas. Por ra pergunta, que vão inspirar outras reportagens
que é importante os pais participarem da vida durante as próximas duas semanas em ZH, sejam
escolar dos seus filhos? Algumas conclusões, originais ou espetaculares. As melhores respos-
como as apresentadas por ZH em sua edição tas são as cotidianas, de quem não se contenta
dominical, podem parecer elementares. Pais em transferir aos governos, às escolas e aos pro-
participativos sabem que seus filhos terão me- fessores todas as culpas pelas insuficiências da
lhor desempenho, desde a escola infantil. O que educação. Pais precisam passar, pelo exemplo,
se apresenta como óbvio, no entanto, não vem a convicção de que suas atitudes são coerentes
sendo traduzido em atitudes, como comprova a com o que pregam, ou não terão autoridade para
realidade do ensino brasileiro. Infelizmente, não exigir um melhor ensino para seus filhos.
são maioria os pais que participam das lições que
os filhos levam para casa, que incentivam a lei- Zero Hora, 1o out. 2012. Disponível em: <http://diariodonordeste.globo.com/
materia.asp?codigo=1175068>. Acesso em: 9 set. 2012.
tura, elogiam seus esforços, apontam e ajudam
a corrigir erros e, o que mais importa, inspiram GLOSSÁRIO

a convicção de que estudar não é um sacrifício.


RBS: sigla de Rede Brasil Sul de Televisão, empresa
Ainda são minoritários os pais que contagiam os cujas emissoras e retransmissoras cobrem os esta-
filhos com a certeza de que têm responsabilida- dos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
des complementares na educação formal.

5. O editorial faz referência ao fato que o motivou.


a) Qual é esse fato?
b) Sublinhe o trecho que faz referência a esse fato.
c) O jornal já tinha divulgado esse fato em matérias anteriores. Comprove com trechos do texto.
d) Que informação de matérias anteriores é aproveitada pelo editorial?

6. No primeiro parágrafo, o editorial apresenta uma mudança na relação entre “os pais e a educação”.
a) Qual é essa mudança?
b) Em que momento o editorial a situa?
c) Por que ocorreu a mudança, segundo o editorial?
d) O que o editorial declara sobre como as coisas se passavam antes?
e) Ele avalia a mudança positiva ou negativamente? Que palavras comprovam sua resposta?

7. No final do primeiro parágrafo, o editorial menciona um dado de uma pesquisa do Ibope.


a) Por que é importante para o editorial fazer referência a esse dado?
b) Pode-se dizer que o editorial manifesta um ponto de vista sobre o dado do Ibope. Que palavra
demonstra isso? Explique.
8. O editorial atribuiu um motivo à mudança constatada na relação entre pais e educação. Prevendo
a reação que esse conteúdo poderia despertar no leitor, o editorial, no segundo parágrafo, apresenta
uma espécie de resposta a um provável contra-argumento do leitor. Que resposta é essa?

62 Língua Portuguesa
9. Leia a informação a seguir.
Educação formal é a educação planejada, que ocorre por meio de instituições
de ensino e envolve o aprendizado de conteúdos das ciências e das artes, com
profissionais especializados, legislação específica etc. A educação informal ocorre ao
longo da vida e não pressupõe planejamento, é basicamente a que envolve o processo
de socialização do ser humano. Ela se dá pela percepção de comportamentos e
valores em espaços diversos. A educação não formal é intencional, mas não conta
com a fixação de períodos e locais nem de conteúdos rígidos. Está envolvida com a
transformação social e relaciona-se a movimentos sociais, grêmios e associações.
a) Que modalidade de educação se deve entender, no segundo parágrafo do editorial, por “edu-
cação no sentido mais amplo”?
b) Quando o editorial menciona a relação entre pais e educação, ele se refere à participação deles
em que forma de educação?
c) Por que provavelmente há uma confusão entre “a educação formal e a educação em seu senti-
do mais amplo”?
10. No terceiro parágrafo, uma palavra revela o ponto de vista expresso no editorial a respeito da
atuação dos pais. Qual é essa palavra? Justifique sua resposta.
11. Releia este trecho.
Pais participativos sabem que seus filhos terão melhor desempenho, desde a
escola infantil. O que se apresenta como óbvio, no entanto, não vem sendo traduzido
em atitudes, como comprova a realidade do ensino brasileiro.
Assinale o que o editorial apresenta depois dessa declaração.
( ) Uma justificativa para o quadro apresentado.
( ) Uma recomendação aos pais e responsáveis sobre como atuar em benefício da educação de
crianças e adolescentes.
( ) Uma crítica à política do governo para a educação.
12. Escreva em uma frase a tese que o editorial defende.

13. Releia este trecho.


As melhores respostas são as cotidianas, de quem não se contenta em transferir
aos governos, às escolas e aos professores todas as culpas pelas insuficiências da educação.
Confronte-o com a versão a seguir.
As melhores respostas são as cotidianas, de quem não transfere aos governos, às
escolas e aos professores todas as responsabilidades pelas insuficiências da educação.
Qual versão é capaz de sugerir mais fortemente uma tomada de posição diante do que é dito? Explique.

APROFUNDANDO A LEITURA DE UM EDITORIAL


O conteúdo explícito dos dados que o autor escolhe encaminha a interpre-
tação que o leitor faz. Entretanto, o leitor também pode inferir o que não está

9º ano 63
explícito, e sim insinuado. E, se a leitura for feita com crítica, o leitor acaba
avaliando também se os argumentos são plausíveis.
Por exemplo, releia este trecho:
As melhores respostas são as cotidianas, de quem não se contenta em transferir
aos governos, às escolas e aos professores todas as culpas pelas insuficiências da
educação.

Nele fica implícito que algumas responsabilidades podem, sim, ser atribuí-
das a outras instâncias que não a família.
O editorial poderia ter optado por discutir brevemente essa questão. Ele não o
fez. Trata-se de algo que um leitor crítico pode considerar. Por exemplo: crianças
e adolescentes de famílias que não têm a preocupação reivindicada pelo editorial
estariam fadadas ao fracasso escolar? Como pode ser equacionada a questão?
Considere este outro trecho:
Pais participativos sabem que seus filhos terão melhor desempenho, desde a
escola infantil. O que se apresenta como óbvio, no entanto, não vem sendo traduzido
em atitudes, como comprova a realidade do ensino brasileiro.

A realidade do ensino brasileiro (constatada por meio de exames oficiais


e pela prática) comprova que os pais não participam da educação formal dos
filhos? O que se pode concluir é que essa realidade é fruto de um conjunto de
vários fatores.
A leitura de textos argumentativos, como o editorial, contribui para que o
leitor exercite a leitura crítica.

APLICAR CONHECIMENTOS

O editorial a seguir foi publicado no jornal O povo, de Fortaleza (CE). Leia-o


para responder às questões.

Ciência e consciência animal: descoberta aquece debate


O grau de humanização de uma socieda- plicações de tais resultados poderão revolu-
de pode ser medido pela forma como trata os cionar a forma como os humanos veem e se
animais. relacionam com os animais.
As confusões reinantes no planeta por A prova de que não se trata de sensacio-
conta de guerras e crises financeiras tiraram nalismo está na respeitabilidade de institui-
de foco um importante manifesto lançado, há ções envolvidas na pesquisa – tais como os
duas semanas, por neurocientistas, alertando institutos de tecnologia Caltech, MIT e Max
para confirmações de pesquisas que apontam Planck. A eles pertence o grupo de neurocien-
a existência de graus de consciência – mais tistas responsável pelo manifesto no qual se
do que os suspeitados – em animais. As im- afirma que o estudo da neurociência evoluiu

64 Língua Portuguesa
de modo tal que pela forma como

João Prudente/Pulsar Imagens


não é mais possível trata os animais. O
excluir mamíferos, combate à cruelda-
aves e até polvos de deve ser feito
do grupo de seres não só pela repres-
vivos que possuem são, mas, sobretu-
consciência. A de- do, pela educação.
claração está sen- Em certas áreas ru-
do encarada como rais, por exemplo,
um possível marco considera-se natu-
divisor na forma Em criação de porcos no interior paulista, porcas amamentam seus filhotes em ral a tortura empre-
como o pensamen- um espaço muito pequeno e cercado por grades. Bragança Paulista (SP), 2011. gada por crianças e
to filosófico e o adolescentes con-
pensamento político encararam a questão dos tra animais silvestres e domésticos. Isso embo-
animais até agora. ta a qualidade da compaixão e cria as condições
Tais conclusões reforçam a luta pelos direi- psicológicas para a violência contra o próprio
tos dos animais. O racionalismo ocidental havia ser humano.
quebrado a respeitosa visão originária das anti- Que esta nova descoberta da ciência sirva
gas tradições em relação aos bichos. No entan- para remover tal deformação cultural e me-
to, no próprio Ocidente, a evolução da doutrina lhorar a legislação e as formas de tratar os ani-
dos direitos fundamentais levou à incorporação mais, inclusive os meios de abate dos que são
também de outros seres vivos, além dos huma- sacrificados para servirem de alimento ao bicho
nos. Hoje, não é possível conceber o Estado De- homem. Até que um dia, quem sabe, o próprio
mocrático de Direito sem incluir uma legislação abate possa ser dispensado para sempre.
protetora dos animais. É a base para se combater O povo, 25 jul. 2012. Disponível em:<www.opovo.com.br/app/
a crueldade contra eles. opovo/opiniao/2012/07/25/noticiasjornalopiniao,2885127/
ciencia-e-consciencia-animal-descoberta-aquece-debate.shtml>.
Por isso, o grau de humanização alcançado Acesso em: 22 nov. 2012.

por uma sociedade pode ser medido também

GLOSSÁRIO

Caltech: sigla em inglês do Instituto de Tecnologia da Califórnia, universidade estadounidense que está entre as principais do mundo
em ciências naturais e engenharia.
Doutrina: conjunto de princípios adotados em determinado ramo do conhecimento.
Embota: enfraquece.
Estado Democrático de Direito: aquele que respeita as liberdades civis, os direitos humanos e as liberdades fundamentais.
Max Planck: designação da Sociedade Max Planck para o Progresso da Ciência, instituição alemã que reúne centros de pesquisa.
MIT: Sigla em inglês de Instituto de Tecnologia de Massachusetts, universidade americana que está entre os líderes mundiais em
ciência e tecnologia e outros campos, como administração, economia, linguística, ciência política e filosofia.
Racionalismo: modo de pensar que privilegia a razão, o pensamento lógico como meio de conhecimento.

1. Que fato motivou o editorial?


2. Que implicação o editorial vê nesse fato?
3. De que forma o editorial atesta a credibilidade do fato que está analisando?

9º ano 65
4. O Ocidente rompeu a visão respeitosa em relação aos animais, mas, por outro lado, a restaurou.
a) O que, segundo o editorial, permitiu que ela fosse restaurada?
b) Que conclusão o editorial propõe no quarto parágrafo a respeito da mudança mencionada no
item anterior?
5. O editorial apresenta um fato que pode ser observado: a eventual crueldade de crianças e adoles-
centes contra animais.
a) De acordo com o editorial, em que medida esse fato pode atingir negativamente o próprio ser
humano?
b) A partir da ideia que você mencionou, o que o editorial deixa implícito para o leitor?
6. Pode-se dizer que o editorial faz uma convocação ao leitor, propondo-lhe uma mudança de com-
portamento.
a) Que expressão usada no texto anuncia isso?
b) Em linhas gerais, o que o editorial julga recomendável?
7. Que opinião você tem sobre a perspectiva de eliminar o abate de animais para a alimentação humana?
8. Sem comprometer o ponto de vista que defendeu, que alternativas o editorial poderia apresentar
à eliminação do abate animal?

MOMENTO DA ESCRITA

PROPOSTA
Você vai produzir um editorial para um jornal da escola ou do bairro. O tema será escolhido
por você, com base nos acontecimentos da semana e no que foi divulgado sobre eles.

PLANEJAMENTO

1. Depois de acompanhar o noticiário da semana, determine uma notícia cujo tema seja relevante
para a comunidade.
2. Estabeleça a posição que o jornal que você representa deve assumir diante do fato escolhido.
Lembre-se de que o bem-estar coletivo deve predominar.
3. Defina uma tese específica que o editorial possa defender.
4. Com base nas matérias divulgadas pela imprensa, reúna dados que possam sustentar sua tese.
5. Verifique se a discussão presente no editorial leva o leitor a uma ação, a uma formação de opinião.

ELABORAÇÃO
Redija a primeira versão do editorial.

66 Língua Portuguesa
AVALIAÇÃO
Troque de texto com um colega e verifique:
a) A tese fica clara para o leitor?
b) Os argumentos (dados e exemplos) são coerentes com a tese e são consistentes para sustentá-la?
c) Eles foram apresentados com clareza para o leitor ao longo de alguns parágrafos?
d) Eles se encaminham para a conclusão presente no texto?
e) O editorial convida o leitor à ação ou à reflexão?
f) O ponto de vista defendido é socialmente aceitável?
g) O editorial foi escrito em uma variedade urbana de prestígio?
h) Há elementos que asseguram a coesão do texto?

Escreva suas observações a lápis após o texto ou faça marcas no próprio texto.

REESCRITA
Com base nos comentários do seu colega, revise o que for necessário e reescreva o texto para
entregar ao professor.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Site A educação precisa de respostas


O site apresenta as seis perguntas da campanha “A educação precisa de respostas” e as respos-
tas dadas pelos especialistas a cada uma delas. Trata-se de material interessante para a produção
de outros editoriais.
Disponível em: <www.clicrbs.com.br/especial/br/precisamosderespostas/pagina,1428,0,0,0,Sobre-o-projeto.html>. Acesso em: 22 nov. 2012.

9º ano 67
Bibliografia

LÍNGUA PORTUGUESA

CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
CAMARGO, Thaís Nicolete de. Redação linha a linha. São Paulo: Publifolha, 2004.
CANDIDO, Antonio. O estudo analítico do poema. São Paulo: Humanitas, 1996.
CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil. São Paulo: Global, 2004.
CITELLI, A. Aprender e ensinar com textos não escolares. São Paulo: Cortez Edito-
ra, 1997, v. 3. (Aprender e ensinar com textos).
DOLZ, J.; NOVERRAZ, M.; SCHNEUWLY, B. Gêneros orais e escritos na escola.
Campinas: Mercado de Letras, 2004.
FARIA, M. A. O jornal na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2002.
______. Para ler e fazer o jornal na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2002.
ILARI, Rodolfo. Introdução ao estudo do léxico: brincando com as palavras. São
Paulo: Contexto, 2002.
______. Introdução à semântica: brincando com a gramática. São Paulo: Contexto, 2001.
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 2005.
______. A coerência textual. 13. ed. São Paulo: Contexto, 2000.
LAJOLO, Marisa. O romance brasileiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.
MACHADO, Regina. Acordais. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita. São Paulo: Cortez Editora. 2000.
MORAIS, Artur Gomes. Ortografia: ensinar e aprender. São Paulo: Ática, 2000.
MORICONI, Ítalo. A poesia brasileira do século XX. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
PENNAC, Daniel. Com um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.
SÁ, Jorge. A Crônica. São Paulo: Ática, 1997.
VIANA, Antonio Carlos et al (Coord.). Roteiro de redação: lendo e argumentan-
do. São Paulo: Scipione, 1998.
ZORZI, Jaime Luiz. Aprender a escrever: a apropriação do sistema ortográfico. São
Paulo: Artes Médicas, 1998.

68 Língua Portuguesa
UNIDADE 2

Arte
Capítulo 1
ARTE A natureza e suas múltiplas
possibilidades

A natureza tem sido uma importante fonte de inspiração para os artistas, desde
os primórdios da humanidade. Na tentativa de compreendê-la e dominá-la,
os seres humanos imitaram suas manifestações e representaram suas formas. Po-
demos perceber isso em obras cujos temas são animais, plantas e paisagens. Elas
são bastante comuns na história da arte.
Movido pelo desejo de registrar o que vê, percebe e imagina, o ser humano
cria e desenvolve técnicas e recursos de representação que servem tanto à repre-
sentação fiel como à transformação da natureza.
A relação entre a arte e a natureza e seus múltiplos aspectos é o assunto que
desenvolveremos neste capítulo.

RODA DE CONVERSA

Hermitage, St. Petersburg, Russia.


Foto: The Bridgeman Art/Keystone

Caspar David Friedrich.


Pôr do sol (irmãos),
1830-1835. Óleo sobre tela,
25 × 31 cm. Hermitage,
São Petersburgo.

Função da Arte/1
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que
descobrisse o mar. Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de
muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar,
e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
– Me ajuda a olhar!
GALEANO, Eduardo. Livro dos abraços. Porto Alegre: L&PM, 2005. p. 15.

9º ano 71
A pequena história escrita por Eduardo Galeano e a obra de Caspar David Friedrich (1774-
-1840) revelam o encantamento do ser humano por formas, cores e mistérios da natureza, ou seja,
da relação entre ambos.
• O que as pessoas representadas na obra de Friedrich estão admirando?
• Em que estarão pensando?
• Por que gostamos de admirar um pôr do sol e apreciar representações desse fenômeno?
• Qual é a função da arte na história contada por Galeano? A que o autor se refere?
Você já deve ter se deslumbrado ao observar um jardim florido, as cores das asas de uma bor-
boleta, a correnteza de um rio, as ondas do mar ou qualquer outro fenômeno da natureza. Procure
se lembrar de uma dessas experiências para representá-la.

LER IMAGENS E LETRAS DE CANÇÕES

O artista japonês Hokusai (1760-1849) observou o movimento das ondas do mar e o oscilar
de suas cores antes de representá-lo. Por meio da xilogravura, produziu muitas imagens em que o
mar é representado ora mais calmo, ora mais bravo.

Coleção particular

Hokusai. A grande onda de Kanagawa, 1830. Xilogravura, 25,7 × 37,8 cm.

Observe bem a obra de Hokusai e descreva as sensações que ela desperta em você.

Compare-a agora com a pintura do brasileiro Aldemir Martins. Observe as linhas e as cores.
Identifique em que aspectos as duas obras se diferenciam e que elementos são comuns a ambas.

72 Arte
Coleção particular
Aldemir Martins. Marinha, 1989. Acrílica sobre tela, 70 × 100 cm.

A xilogravura de Hokusai faz parte da série “As trinta e seis vistas do monte Fuji”, que, como o
próprio nome indica, tem em comum um dos símbolos do Japão: seu monte mais alto.

Katsushika Hokusai
Katsushika Hokusai nasceu em 1760, no Japão, e foi um sa e mantinham-se fiéis aos seus princípios. Com Hokusai
dos grandes mestres da gravura japonesa. Aos catorze anos foi diferente. O artista buscou outras referências, inclusive
foi apresentado ao ofício de gravador e, a partir de então, na arte ocidental. Sua inventividade e apuro técnico produ-
demonstrou, além de grande habilidade, um atento per- ziram gravuras originais, sobretudo representações de aves
feccionismo, qualidade essencial à técnica da gravura. Sua e pássaros e paisagens naturais como a apresentada neste
capacidade criativa foi fruto de sua inquietude e, ainda bem capítulo. Hokusai morreu em 1849. Anos depois, suas gra-
jovem, suas obras começaram a ser publicadas. Outros ar- vuras tornaram-se famosas na França e influenciaram pin-
tistas de sua época estavam presos à forte tradição japone- tores como Claude Monet e Vincent van Gogh.

A obra de Aldemir Martins (1922-2006) é uma das muitas que ele pintou tendo o mar como
tema. De um azul denso e com áreas de cores bem definidas, a pintura representa uma praia brasi-
leira, imortalizada também na composição de Vinicius de Morais e Toquinho: “Tarde em Itapoã”.
É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã
Toquinho. As canções de minha vida. Universal, 2003.

9º ano 73
Aldemir Martins
Aldemir Martins nasceu no Ceará, na cidade de Inga- São Paulo que realizou sua primeira exposição individual.
zeiras, em 1922, e morreu em São Paulo, em 2006. Além Recebeu como prêmio uma viagem ao exterior, do Salão
da pintura, Martins também tem gravuras, ilustrações e Nacional de Arte Moderna, em 1959, e permaneceu por
esculturas em sua extensa lista de obras. Ainda no Cea- dois anos na Itália. Sua produção é majoritariamente figu-
rá, o artista produziu desenhos, xilogravuras, aquarelas e rativa, com uso de cores contrastantes e intensas, na qual
pinturas, além de trabalhar como ilustrador na imprensa são constantes algumas figuras: gatos, flores, frutas, pai-
cearense. Em 1946, estabeleceu residência em São Paulo, sagens do Nordeste brasileiro – como o sertão e o litoral –,
tendo morado um ano antes no Rio de Janeiro. Foi em entre outras.

Que mar teria visto Diego Kovadloff, personagem do autor Eduardo Galeano? Seria mais
parecido com o que Aldemir Martins pintou ou com aquele pintado por Hokusai?
Que mar você pintaria agora? Descreva-o em forma de texto.

Dorival Caymmi, músico baiano, eternizou o mar em suas canções. Leia o refrão da canção
“O mar”, uma de suas grandes composições.
O mar
Quando quebra na praia
É bonito, é bonito...
CHEDIAK, Almir. Dorival Caymi Songbook vol.1.
Rio de Janeiro: Lumiar, 2010.

Na canção “Como uma onda”, escrita por Lulu Santos e Nelson Motta, a vida é comparada
ao mar.
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito [...]
SANTOS, Lulu. O último romântico II. Warner Music, 1991.

Essas são apenas duas canções em que o mar foi elemento inspirador. Tente se lembrar de
outras canções, obras literárias e pinturas e verá como o mar serviu de inspiração para um sem-
-número de obras artísticas.
Em todas as obras mencionadas até este ponto, percebemos que seus autores tinham certa intimi-
dade com o mar. Hokusai, como já vimos, era um observador das ondas do mar do Japão. Caymmi foi
admirador confesso do mar, e os compositores da canção “Como uma onda” foram muito felizes ao
escolher o movimento infinito de suas ondas para falar do movimento da vida. Você não concorda?

74 Arte
PARA CRIAR I

Vamos fazer um exercício de imaginação? Para isso, forme uma dupla com um colega e re-
tome as descrições de paisagens marinhas que fizeram anteriormente, trocando-as entre vocês.
A seguir, cada um deverá desenhar ou pintar o mar que o outro tinha em mente, procurando
ser fiel à descrição que leu. Observem, ao final do trabalho, se as representações correspondem à
ideia de mar que cada um tinha em mente. Discutam sobre os resultados e anotem suas conclusões.

CONHECER MAIS

Observação e imaginação

A observação é muito importante a quem deseja repre- baleia, mas esculpiu esses animais junto aos profetas Jo-
sentar algo. Por isso, na formação de um artista, os exercí- nas e Daniel. Tais obras fazem parte de um conjunto de
cios de observação são um recurso comum. Porém, uma doze esculturas em pedra-sabão produzidas entre 1800
representação pode também ser resultado da imaginação. e 1805 no do santuário de Congonhas do Campo (MG).
Antes da invenção da fotografia, a divulgação de ima- O escultor deve ter se baseado em informações orais
gens era muito escassa. Por isso, representá-las por meio e escritas ou mesmo em outras imagens, o que fica
de figuras que representassem descrições e interpreta- evidente na estilização que empregou aos animais que
ções dessas imagens era prática comum entre os artistas. esculpiu. Embora o leão e a baleia não correspondam
Antônio Francisco Lisboa (1730-1814), mais conhecido em detalhes às características reais desses animais, sua
como Aleijadinho, nunca deve ter visto um leão ou uma presença como símbolo é inegável.
João Prudente/Pulsar Imagens

Daniel Cymbalista/Pulsar Imagens

Escultura Escultura do
do profeta profeta Jonas,
Daniel com esculpida em
o leão a pedra-sabão
seus pés, por Aleijadi-
esculpida nho. Podemos
em pedra- observar a
sabão por baleia aos pés
Aleijadinho. do profeta.
Congonhas Congonhas
(MG). (MG).

LER IMAGENS

Nossa imaginação não nasce do nada. Imaginamos a partir daquilo que vivemos e conhece-
mos. Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, concebeu a baleia e o leão a partir dos animais que
conhecia, acrescentando-lhes as características de animais imaginados.

9º ano 75
Assim também fez Tarsila do Amaral em suas representações da natureza. Porém, ao contrá-
rio de Aleijadinho, ela tinha grande intimidade com os elementos da natureza que pintou. Afinal,
Tarsila nasceu em uma fazenda e, desde pequena, pôde observar e apreciar animais e plantas.
A artista não se contentou em pintar apenas o que via. Ela inventou novas formas de represen-
tação para o que conhecia, permitindo o surgimento de imagens que revelam seu próprio estilo.
Observe atentamente as duas pinturas de Tarsila e responda:

• O que elas têm em comum e que elementos as diferenciam?


• O que cada uma delas tem em especial?
• Em sua opinião, em qual das duas obras Tarsila inventou mais?
Coleção particular, RJ

Coleção particular, Buenos Aires


Tarsila do
Tarsila do Amaral.
Amaral. Cartão-
Árvore, -postal, 1929.
1922. Óleo Óleo sobre tela,
sobre tela, 127,5 × 142,5
61 × 46 cm. cm.

Observe as datas em que ambas foram pintadas. Você vai perceber que, como outros artistas,
Tarsila também passou por fases distintas em sua carreira.
A obra Árvore é uma de suas primeiras pinturas. Já Cartão-postal, pintada sete anos depois,
pertence à fase chamada “antropofágica” (1928 e 1929), quando a artista pintou figuras de seres
humanos, animais e vegetais sem qualquer preocupação com a realidade exterior.
Com o predomínio de linhas curvas e cores fortes, Tarsila representou imagens nascidas de
sua imaginação nessa fase.
Faça uma pesquisa sobre as fases da pintura de Tarsila do Amaral. Observe outras obras da
fase antropofágica e escreva um breve relato sobre o que achou de tais produções.

REPRESENTAÇÃO E ILUSÃO
Vimos que a imaginação é um dos ingredientes da representação e que ela
parte do repertório que já temos. Hoje em dia, temos à nossa disposição inú-
meras formas de representação em todas as manifestações artísticas, e os artis-
tas têm liberdade para ousar e criar outras tantas possibilidades. No entanto,
nem sempre foi assim.

76 Arte
Na história da arte, a busca por uma representação fiel à realidade, ou seja,
a representação de uma pessoa ou uma paisagem como se fosse uma fotografia,
ocupou grande parte dos artistas durante muitos séculos.
No caso das artes visuais, são conhecidas algumas histórias que ilustram bem
o desejo humano de copiar a natureza de maneira fidedigna e de valorizar os ar-
tistas que conseguiram realizar tal feito.
Na Grécia antiga, quando os pintores e escultores buscavam incessantemente
técnicas que lhes possibilitassem a ilusão da realidade, foram instituídas as qua-
drienais gregas. Assim como ocorria nos jogos olímpicos, as quadrienais promo-
viam disputas entre pintores, visando a demonstrações de aperfeiçoamento nas
representações de elementos da natureza.
Em uma delas participaram os pintores Zêuxis e Parrásio. O primeiro já se ga-
bava havia muito tempo de ser o maior de todos os pintores gregos e tratava todos
os seus pares como inferiores. Parrásio, apesar de se autopromover proclamando-
-se “príncipe dos pintores”, era também conhecido por sua cordialidade e humor.
Durante o concurso, as obras ficavam cobertas por cortinas que eram aber-
tas pelos artistas ao apresentá-las à comissão julgadora. Quando Zêuxis afastou
a cortina e apresentou sua pintura de cachos de uvas perfeitos, imediatamente
alguns pássaros se aproximaram tentando bicá-las, comprovando, assim, que se
tratava de uma cópia fiel da realidade.
Os jurados vibraram e, certo de que ganhara o concurso, Zêuxis não espe-
rou que chegasse a vez de Parrásio descortinar sua obra. Ele próprio tomou a
iniciativa de fazê-lo. Surpreso, reconheceu imediatamente a sua derrota: não
havia o que descortinar, pois as cortinas que aparentemente cobriam o quadro
eram a pintura de Parrásio. Se Zêuxis enganara os animais com seus cachos de
uvas, Parrásio foi além e produziu uma pintura ainda mais perfeita, capaz de
enganar o próprio Zêuxis.
Independentemente de ser verdadeira, a história demonstra como a ilusão
já foi muito importante na representação da realidade. Mas é preciso considerar
que, embora os artistas estivessem focados em iludir o espectador, aproximando-
-se ao máximo da realidade, estavam também representando de forma pessoal.
É importante notar que, quando representamos algo, fazemos sempre algum
tipo de seleção. Enfatizamos e excluímos determinados elementos de acordo com
nossa percepção e determinação, realizando o que podemos chamar de recortes.
A ênfase e a exclusão são sempre resultados de nossas escolhas pessoais, do
que achamos que é mais ou menos importante e do que acreditamos que deve ou
não fazer parte de uma composição.
Assim, quando apreciamos uma obra de arte, estamos diante de um “recor-
te” realizado pelo artista. Mesmo ao ver uma obra em que os elementos são re-
presentações muito próximas da realidade, é importante lembrar-se de que ela é
resultado de escolhas pessoais. Isso é aplicado a todas as manifestações artísticas,
inclusive a fotografia.

9º ano 77
CONHECER MAIS

Recursos para a ilusão

Na busca por representações realistas, durante mui- ticos e de acordo com o espírito cientificista dos séculos
tos séculos os artistas recorreram a recursos como os XIV ao XVII, em um período conhecido como Renasci-
efeitos de luz e sombra e a perspectiva. mento. Trata-se da organização geométrica do espaço
A representação do espaço mais próxima do real que sobre linhas que se encontram em um ponto chamado
conhecemos foi concebida a partir de cálculos matemá- de ponto de fuga.
The National Gallery, Londres

Ilustração digital: Estúdio Pingado

Meindert Hobbema. A alameda de Middelharnis, 1689. Óleo sobre Esquema com a estrutura da perspectiva da obra de Meindert Hobbema.
tela, 103,5 × 141 cm. The National Gallery, Londres.

O esquema à direita mostra a estrutura da perspectiva da pelas proporções das coisas representadas (pessoas,
na obra de Meindert Hobbema. A linha vermelha é chama- objetos, construções etc.). As que estão mais próximas
da de linha do horizonte e o ponto situado no meio dessa do observador são representadas maiores e, à medida
linha, onde as linhas azuis se juntam, é conhecido como que se distanciam desse olhar, diminuem de tamanho.
ponto de fuga. Perceba como toda a composição está su- Existem composições que apresentam dois ou três
jeita à ordem apresentada por essas linhas. pontos de fuga, conferindo à representação efeitos mui-
A perspectiva cria a ilusão de profundidade, reforça- to interessantes. Observe o esquema a seguir:
Ilustração digital: Estúdio Pingado

“A perspectiva é de natureza tal, que faz parecer relevo o que é plano e converte em plano o que é relevo.”
Leonardo da Vinci

78 Arte
REGRAS E CONTRARREGRAS
Foi no Renascimento que os pintores criaram recursos matemáticos para a representação,
aliando a arte à ciência. Assim, aprimoraram as técnicas anteriores e, a partir desse período, a
perspectiva passou a ser uma regra para quem quisesse desenhar e pintar de maneira convincente.
No início do século XX, o movimento modernista quebrou muitas dessas regras, sobretudo
a que se refere à perspectiva. Os artistas modernistas não se preocupavam mais com a “cópia” da
realidade e se sentiam livres para recriá-la.

Acervo Musée de Grénoble, França.

Tarsila do Amaral. A cuca, 1924. Óleo sobre tela, 73 × 100 cm. Museu de Grenoble, França.

Observe como Tarsila do Amaral realizou essa composição, dispondo os elementos em um


único plano. Na obra, não é possível indicar os pontos de fuga.
No entanto, a artista usou outro recurso para “iludir” nosso olhar. Veja como ela pintou cada
elemento sombreando as bordas e deixando o centro mais claro. Sua intenção foi dar às suas
figuras um aspecto volumoso. Usou, de forma bem estilizada, um recurso muito aplicado nas
representações que chamamos efeito de luz e sombra.

9º ano 79
Esse efeito é bastante explorado por aqueles que desejam que suas pinturas ou desenhos ga-
nhem um aspecto mais realista, porque confere à representação a aparência de volume.

Ilustração digital: Estúdio Pingado


Observe a mesma composição em desenho linear e com a aplicação de efeito de luz e sombra.

APLICAR CONHECIMENTOS

Pintar paisagens tornou-se uma atividade muito difundida a partir do Renascimento, embora,
muito antes do século XIV, artistas chineses já se dedicassem a esse tema.
Desde então, as paisagens são registradas por pintores e fotógrafos e fazem parte do acervo
cultural da humanidade. Selecione uma dessas imagens e identifique os recursos que o autor da
obra usou ou optou por não usar ao representar uma paisagem.
Apresente sua imagem a seus colegas fazendo comentários. Perceba se fizeram outras obser-
vações além das que você já tinha feito e identifique, nas imagens que eles trouxeram, as opções
dos artistas que as produziram.

A NATUREZA IMÓVEL
Os pintores holandeses do século XVII chamaram de “vida silenciosa” a re-
presentação de alimentos e objetos dispostos sobre uma mesa. Entre nós, esse
gênero de pintura é conhecido como natureza-morta.
Ao pintar uma natureza-morta, os artistas podem escolher os objetos que lhes
agradam e dispô-los sobre uma mesa de forma harmoniosa.
O desafio daqueles pintores holandeses era representá-los de maneira perfei-
ta, a fim de despertar os sentidos do olfato, da gustação e até do tato do especta-
dor, pois era isso que recomendavam os academicistas.
Os recursos para alcançar os efeitos pretendidos eram muitos, e os artistas
realizavam inúmeras experiências nesse sentido. Willen Kalf (1622-1693), por
exemplo, dedicou-se a estudar os reflexos da luz sobre os vidros. Suas naturezas-
-mortas apresentam grande variedade de texturas: frutos, vidros, tapetes e porcelanas.

80 Arte
Academicismo
As academias de arte nasceram na Itália, durante o Re- lizar o ensino das artes por meio de normas e regras, as
nascimento, com o objetivo de formar artistas, garantindo academias também promoviam exposições e concursos
o aprendizado artístico e científico. Na segunda metade com o objetivo de controlar os padrões estéticos da épo-
do século XVIII, espalharam-se por toda a Europa. No ca, determinados por elas próprias. No século XX, as aca-
Brasil, a primeira academia foi fundada com a chegada demias perderam sua força diante das diversas tendên-
da Missão Artística Francesa, formada por um grupo de cias propostas pelo modernismo. Tal movimento pregava
artistas trazidos por dom João VI, em 1816. Além de oficia- a ruptura com todas as convenções acadêmicas.

Gemäldegalerie, Berlim

Willen Kalf. Natureza-morta com porcelana chinesa, 1662. Óleo


sobre tela, 64 × 53 cm. Gemäldegalerie, Berlim.

Até a última década do século XIX, as convenções para a pintura de naturezas-mor-


tas prevaleceram. Mas, a partir do século XX, os artistas que mantiveram a temática
produziram novas composições, de maneira distinta da que era utilizada até então.
O artista francês Paul Cézanne (1839-1906) foi um dos que produziram inú-
meros quadros de naturezas-mortas, criando sensações de forma, relevo e volu-
me sem usar as técnicas tradicionais da perspectiva. Com massas de cor pintava
o que via, conferindo a objetos e paisagens um aspecto bastante interessante.
Mesmo se afastando das representações convencionais, as telas de Cézanne pro-
vocam nossos sentidos. Embora suas pinturas tenham sido ridicularizadas no
início de sua carreira, Paul Cézanne é considerado hoje o pai da “arte moderna”.

9º ano 81
Museu d'Orsay, Paris

Museu de Arte de São Paulo - MASP. © Léger, Fernand/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013
Paul Cézanne. Maçãs verdes, 1872-1873. Óleo sobre tela, 26 × 36 cm. Museu Fernand Léger. A compoteira de peras, 1923. Óleo sobre tela, 79 × 98 cm.
D’Orsay, Paris. Masp, São Paulo.

Seu compatriota, Fernand Léger (1881-1955), inspirou-se em Cézanne e


buscou geometrizar suas composições. Suas pinturas incluem algumas naturezas-
-mortas, como A compoteira de peras.
“É tarefa do artista fazer algo tão formoso como a natureza, mas não imitando
a natureza.”
Fernand Léger

Museu de Arte Contemporânea, USP

Francisco Brennand.
Bandeja verde, 1959.
Óleo sobre tela. Museu
de Arte Contemporânea,
USP, São Paulo.

O artista brasileiro Francisco Brennand pintou as frutas do Nordeste do Bra-


sil. Perceba como ele as distribuiu sobre uma bandeja, mas sem sobrepô-las. A
composição é vista de cima, dispensando os recursos de perspectiva e de luz e
sombra para evidenciar seu formato arredondado.
Marcel Duchamp (1882-1968) tratou esse tema com muito humor, realizando
o que intitulou de escultura morta. Reuniu legumes e frutas feitos de doce e os

82 Arte
enquadrou. Com essa e outras obras que produziu durante sua carreira, fez críti-
cas à arte tradicional, defendendo que arte não é apenas o que vemos, mas o que
pensamos ao observar suas manifestações.
O tema, de origem acadêmica, rompeu as barreiras das convenções e dos esti-
los, possibilitando muitos outros tipos de representações. Hoje, os artistas podem
optar por seguir as convenções criadas ao longo do tempo ou criar sua própria
maneira de representar. Por isso, convivemos com uma grande diversidade de
expressões, de técnicas, de recursos e de materiais.

PARA CRIAR II

É chegada a hora de você construir sua própria natureza-morta! Lembre-se de que não há
limites para a inovação. Pense, consulte outras obras, invente! O importante é que se valha dos
recursos de que dispõe e procure sua própria forma de expressão.
Você poderá, inclusive, fazer uma natureza-morta industrializada com produtos naturais pro-
cessados, como sucos de frutas, doces, flores artificiais etc.
Colete os elementos que considerar interessantes para sua obra, organize-os em um espaço
no qual possa trabalhar de maneira concentrada e registre sua composição por meio de desenho,
pintura, colagem ou fotografia. Se tiver outra ideia para representá-la, também será bem-vinda.
Lembre-se de que fazer arte é também experimentar; por isso, crie diversas composições e com-
pare-as entre si.
Ao concluir seu trabalho, dê-lhe um título e organize uma exposição com os outros trabalhos
da turma.

PARA REFLETIR I

1. Em sua composição, você preferiu manter uma configuração mais tradicional ou preferiu inovar?
O que interferiu em sua decisão?

2. Comparando sua obra com as de seus colegas, pode perceber uma diversidade de soluções para
representar uma natureza-morta? Que aspectos contribuíram para haver ou não resultados di-
versificados?

9º ano 83
3. As referências apresentadas neste capítulo ou as que você tenha buscado em outras fontes auxilia-
ram na concepção de sua obra? De que maneira?

MÚSICA-IMAGEM
Em 1725, o compositor italiano Antonio Lucio Vivaldi (1678-1741) apresen-
tou ao público um conjunto de doze concertos. Quatro deles ficaram conheci-
dos como As quatro estações. Por meio da música, Vivaldi “pintou” verdadeiros
quadros sonoros representando cada uma das estações do ano: primavera, verão,
outono e inverno. Seus “quadros musicais” são inspirados no campo e no trabalho
dos camponeses, e cada peça é acompanhada de um soneto ilustrativo do tema da
estação. Acredita-se que tenha sido o próprio Vivaldi que os escreveu.
A primeira peça refere-se à primavera e é caracterizada por uma alegre melodia
em que os violinos nos dão a sensação de um despertar da natureza. A melodia se
intensifica como se a luminosidade sobre os campos também crescesse. Sons como o
barulho dos pássaros são reproduzidos também pelas cordas dos violinos. O texto do
soneto refere-se a um pastor de cabras que dorme com um cão ao seu lado.
Na representação do verão, o músico intensificou a sonoridade; o movimento
mais lento refere-se ao sol intenso que atinge os camponeses, diminuindo seu
ritmo de trabalho. Pastores e seus rebanhos sonolentos assustam-se com os re-
lâmpagos que anunciam a chuva, que chega em forma de granizo.
O movimento para o outono é o de uma festa rural em que os camponeses dançam
e comemoram a boa colheita que fizeram. As danças e a embriaguez dos camponeses
são representadas pelas escalas que sobem e descem no violino até que a cadência di-
minui, indicando a hora de descansar. Uma caçada finaliza a peça do outono.
Para representar o inverno, o músico inspirou-se no rigoroso frio do norte da
Itália, onde viveu. Dessa vez, o som do violino é utilizado para imitar o vento e o
gélido arrepio causado pela visão de uma paisagem coberta de neve. Essa visão
alterna-se com momentos calmos junto ao fogo.
A música foi composta a partir de cenas que Vivaldi imaginou e essas, por sua
vez, possibilitam a construção de outras cenas na mente de quem ouve a música.
Muitas peças de música erudita foram criadas dessa maneira, ou seja, com
base em imagens e histórias que envolvem a imaginação de cenários naturais re-
velados pela sonoridade.
É considerada erudita a música composta a partir de estudos de teorias musi-
cais, ou seja, fruto da erudição, do conhecimento específico de uma área – no caso,
a da música. O termo é aplicado a determinada variedades de músicas de diferentes

84 Arte
épocas e culturas, distinguindo-as das produções folclóricas e populares. As compo-
sições de música erudita são também conhecidas como música clássica.

O pintor italiano Giuseppe Arcimboldo (1527-1593) sentou as quatro estações. São figuras humanas vis-
ficou famoso por seus retratos fantásticos feitos com tas de perfil. Contra um fundo escuro, destacam-se as
determinados objetos e com frutas, legumes, flores e frutas e outras plantas de cada estação do ano. São
outras espécies vegetais. composições de detalhamento impressionante.
Nesta série, pintada em 1573, Arcimboldo repre-

Museu do Louvre, Paris

Museu do Louvre, Paris


Giuseppe Arcimboldo. Primavera, Giuseppe Arcimboldo. Verão, 1573.
1573. Óleo sobre tela, 76 × 64 cm. Óleo sobre tela, 76 × 64 cm. Museu do
Museu do Louvre, Paris. Louvre, Paris.
Museu do Louvre, Paris

Museu do Louvre, Paris

Giuseppe Arcimboldo. Outono, 1573. Giuseppe Arcimboldo. Inverno, 1573.


Óleo sobre tela, 76 × 64 cm. Museu do Óleo sobre tela, 76 × 64 cm. Museu do
Louvre, Paris. Louvre, Paris.

PARA CRIAR III

OUVIR E INTERPRETAR

Por meio de uma gravação em áudio ou uma apresentação em vídeo de uma orquestra, ouça
As quatro estações, de Vivaldi, sozinho ou em companhia de seus colegas. O importante é que se
dedique a apreciá-la e, para isso, precisará de atenção e concentração.
Lembre-se de que a forma como nos relacionamos com uma obra de arte é diferente da rela-
ção cotidiana e utilitária que temos com as coisas corriqueiras. A arte amplia nossos sentidos e
precisamos estar atentos a isso.

9º ano 85
Ao apreciarmos uma música, é necessário que estejamos abertos e prontos para ouvir seus
sons e seus silêncios de maneira atenta e intensa. Lembre-se de que esse é um momento em
que damos outros significados à obra e que as interpretações que podemos fazer podem ser
muito variadas.
Assim, uma mesma música ouvida em um determinado momento poderá não ter o mesmo
significado em outro. Depende muito de como nos sentimos e do que já conhecemos até o mo-
mento em questão.
As interpretações também não são as mesmas entre diferentes pessoas. Isso tudo indica que as
obras compostas há muito tempo podem ter sido interpretadas de muitas formas.
As plateias de três séculos atrás, quando não havia outra forma de audição que não a audição
em teatros e salas de concerto, ou seja, ao vivo, encontraram sentidos distintos dos que encontra-
mos hoje ao ouvir a mesma música gravada em um CD ou em um DVD.
É essa possibilidade de impressionar plateias, de tempos e lugares tão distintos, que levam tais
composições a ganhar o título de “clássicas” ou “eruditas”.
Ao ouvir As quatro estações, procure perceber as nuances da música, ou seja, suas variações.
Tente identificar os sons produzidos pelos diferentes instrumentos. Ouça com tranquilidade, co-
loque-se em cada cena imaginada para cada estação do ano.
Depois da apreciação, relacione as sensações percebidas em cada uma das peças com cores. Pro-
cure se desvencilhar de ideias preconcebidas sobre o que já sabe sobre as estações do ano e tente
direcionar seus pensamentos e emoções para atribuir cores à cada parte da composição de Vivaldi.
Com as cores selecionadas para cada estação, ouça a música novamente enquanto traça sobre
uma folha de papel os movimentos que os ritmos da música lhe sugerem. Você pode usar lápis de
cor, giz de cera ou tinta. Não se preocupe em figurar, em desenhar formas conhecidas, mas deixe
que suas emoções guiem sua mão, produzindo movimentos que vão gerar os traçados. Use uma
folha para cada estação da composição de Vivaldi.
1. Em uma roda de apreciação, compare os seus resultados com os de seus colegas, discutindo o que
puderam observar quanto à experiência realizada e quanto às produções resultantes. Anote suas
conclusões.

2. Que impressões a obra de Vivaldi lhe causou?

86 Arte
3. Houve alguma diferença entre a primeira audição e a segunda? Em caso positivo, explique o que
ocorreu.

ARTE NA PAISAGEM
A “arte da terra” (ou, em inglês, land art) é também conhecida como earth
work. Trata-se de uma tendência contemporânea em que os artistas atuam na
própria paisagem natural. Campos, montanhas, lagos, praias e desertos transfor-
mam-se em suportes para todo tipo de intervenção. A land art é uma reação à arte
das galerias e um chamado de olhares para a natureza.
Por sua vez, as intervenções de land art sofrem desgastes pela ação da própria
natureza. Como obras efêmeras, transformam-se ao longo de sua existência, que
é registrada por meio de fotografias
George Steinmetz/Corbis/Latinstock

e de filmes. Cada registro é feito de


um ponto de vista, multiplicando, de
certa forma, a obra e oferecendo di-
versas percepções e visões a seu res-
peito.
Hoje em dia, a arte é, mais uma
vez, uma forma potente de sensibi-
lização para um mundo no qual as
questões ambientais estão sempre no
centro das discussões nacionais e in-
ternacionais.
O artista tunisiano radicado na
Spiral Jetty (1970), de Robert Smithson (1938-1973).
França Jean-Paul Ganem executa
Em 1970, Robert Smithson criou uma gigantesca espiral de terra e pedras em grandes projetos paisagísticos in-
Great Salt Lake, Utah, Estados Unidos.
terferindo esteticamente em áreas
muitas vezes degradadas. Entre 2000
e 2002, transformou um aterro sanitário em jardim na cidade de Montreal, Ca-
nadá. A gigantesca obra de arte que foi o resultado dessa transformação causou
uma impressão bastante positiva na população local. Por meio de instituições e
organizações não governamentais, o artista ajudou a plantar flores e a manter o
jardim sempre belo.
No Brasil, o paulista Vik Muniz (1961-), conhecido por suas obras com ma-
teriais inusitados, como lixo e sucatas, fez também uma série intitulada “Earth
works”, registrando com fotos desenhos realizados em áreas de mineração em

9º ano 87
Minas Gerais e no Pará. As fotos foram feitas a centenas de metros de altura para
que os desenhos “tomassem forma” e fossem reconhecidos. Tratores e escavadei-
ras traçaram no chão os desenhos concebidos pelo artista.

Fotografia do próprio artista


Vick Muniz, Outlet, 2005. Pintura feita na terra.

PARA REFLETIR II

Por meio de alguns exemplos, vimos que a natureza em toda sua amplitude tem sido tema
constante da arte produzida em todos as épocas.
Além disso, percebemos a arte de ampliar e de sensibilizar olhares que a natureza nos proporcio-
na, como expressou Eduardo Galeano ao relatar a emoção de Diego Kovadloff: “Me ajuda a olhar!”.
É justamente essa uma das funções da arte: ela nos ajuda a perceber. Pense e escreva sobre isso.

PARA CRIAR IV

No início do século XX, o maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959) rompeu com padrões
musicais acadêmicos ao incorporar traços marcantes da música popular brasileira às suas com-
posições de música erudita.
Em suas viagens pelo interior do Brasil, coletou o material musical que o inspirou a produzir
peças de grande arrojo nas manifestações populares das regiões que visitou.
A canção “Trenzinho do Caipira” é uma de suas composições inspiradas na cultura popu-
lar brasileira. De melodia simples e de orquestração impactante, a canção reúne um universo
de sons brasileiros em uma cadência que nos remete à velocidade do trem puxado por uma
locomotiva “maria-fumaça”.
Anos mais tarde, o poeta Ferreira Gullar (1930-) escreveu um poema como letra para a
peça musical.

88 Arte
Trenzinho caipira
[...] lá vai o trem com o menino
lá vai a vida a rodar
lá vai ciranda e destino
cidade e noite a girar
lá vai o trem sem destino
pro dia novo encontrar
correndo vai pela terra
vai pela serra
vai pelo mar
cantando pela serra do luar
correndo entre as estrelas a voar
no ar
piuí piuí piuí
no ar
Gullar, Ferreira. Melhores poemas. Alfredo
Bosi (Sel.). 6. ed. São Paulo: Global, 2000. p. 106-107.

A proposta agora é que você produza, em grupo ou individualmente, painéis musicais, baseando-
-se na canção “Trenzinho do Caipira”, de Heitor Villa-Lobos. Vejamos os passos a seguir para a
realização da oficina proposta.
1o passo: a audição da música
Escute a canção atentamente. É possível encontrar diversas versões na internet. Lembre-se de
que, para uma apreciação, é fundamental que você e os outros integrantes do grupo fiquem em si-
lêncio e ouçam com atenção a canção de Villas-Lobos, concentrando-se no ritmo e no andamento
musical, ou seja, na cadência da música.
2o passo: a imaginação
Imagine-se no trem de Villa-Lobos, percorrendo paisagens brasileiras. Busque em sua memó-
ria as referências que tem sobre uma viagem de trem.
3o passo: a confecção dos desenhos
Procure desenhar o que imaginou. Lembre-se de que você (ou você e seus colegas) é o autor
e a forma de expressão é sua; não há, portanto, necessidade de representar o que imaginou de
maneira estritamente realista. Você poderá imprimir um estilo próprio à sua representação. Faça
ao menos dois desenhos.
4o passo: a seleção dos desenhos
Selecione em seus desenhos os elementos que considerar mais interessantes para a sua com-
posição final.
5o passo: a ampliação dos desenhos
Amplie seus desenhos sobre uma superfície que tenha uma área maior e que seja firme, como
papelão, lona ou madeira.
6o passo: a seleção da técnica
Selecione a técnica que mais se adequar à sua expressão: pintura, colagem, grafite ou outra que
considerar apropriada. Caso ache pertinente, poderá usar mais de uma técnica, combinando, por
exemplo, pintura com colagem. A esse tipo de trabalho damos o nome de técnica mista.
7o passo: a apreciação
Finalizado o trabalho, é chegado o momento da apreciação. Faça-a, primeiro em silêncio, ao
som da música “Trenzinho do Caipira”. Procure, ao observar os trabalhos realizados (seu e de seus

9º ano 89
colegas), fazer novamente a viagem pelas paisagens brasileiras, agora por meio da interpretação
e não da imaginação.
8o passo: a exposição
Organize, com seus colegas e com o professor, uma exposição dos painéis. Durante a mostra,
os visitantes também poderão ouvir a música e viajar no trem proposto por cada um dos grupos.
Boa viagem!

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros O livro dos abraços


O autor constrói pequenas narrativas baseadas em sua memória pessoal, refletindo a memó-
ria coletiva da América Latina.
GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto Alegre: L&PM, 2005.

Pequena viagem pelo mundo da música


A autora apresenta os compositores mais significativos da música ocidental erudita. Sua
obra traz algumas curiosidades a respeito da arte dos sons musicais.
GUSMÃO, Cinthia. Pequena viagem pelo mundo da música. São Paulo: Moderna, 2008.

Mesa de artista
O livro faz parte da série “‘Mundo de artista” e apresenta uma introdução ao estilo estudado
neste capítulo: a natureza-morta. Detalha-o desde a representação do cotidiano até o exer-
cício da composição. A autora apresenta o contexto histórico da “mesa posta” e evolui para
os diversos processos de construção da cena na pintura, destacando a natureza-morta como
uma natureza reinventada, controlada pela mão e pelo olhar do homem. O livro ensina ao
leitor a observação detalhada da composição dos objetos e mostra como esse estilo pode ser
construído pelo artista contemporâneo de uma maneira mais “artificial”. Assim, além dos
artistas clássicos no gênero, a autora apresenta também artistas como Andy Warhol, Mira
Schendel e Tunga.
KANTON, Katia. Mesa de artista. São Paulo: Cosac Naif, 2008.

História da Arte
O livro traça um panorama da arte ocidental, desde a pré-história. Os períodos da história
da arte são desenvolvidos, assim como as tendências, os artistas e os materiais. A arte no
Brasil recebe destaque, e a obra apresenta reproduções em cores que apoiam as explicações
do texto.
PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo: Ática, 2010.

Vistas e paisagens do Brasil


O autora traça um panorama das vistas e das paisagens das mais variadas regiões do Brasil,
com base na visão e na inspiração de artistas brasileiros e estrangeiros. É possível notar o
percurso da arte brasileira, desde a pintura documental dos viajantes nos séculos XVII a XIX,
como Frans Post e Johann Moritz Rugendas, até a visão contemporânea e abstrata de artistas
como Cláudio Tozzi, passando pelos traços modernistas de Cícero Dias e José Pancetti.
SANTA ROSA, Nereide Schilaro. Vistas e paisagens do Brasil. São Paulo: Pinacoteke, 2005.

A magia na arte
O autor apresenta diversos recursos para a representação visual, destacando o poder de ilu-
são contido nas imagens. A obra é bastante didática e apresenta boas reproduções. Além dis-
so, aborda diferentes períodos da história da arte por meio da análise de obras emblemáticas.
STURGIS, Alexander. A magia na arte. Lisboa: Estampa, 1994.

Sites Itaú Cultural


O portal abriga a Enciclopédia de Artes Visuais, que apresenta mais de 3 mil verbetes e é um
grande referencial da arte brasileira.
Disponível em: <www.itaucultural.org.br>. Acesso em: 18 abr. 2013.

Pinacoteca do Estado de São Paulo


O portal da Pinacoteca de São Paulo possui um grande acervo de obras com temáticas apre-
sentadas neste capítulo, sobretudo paisagens e naturezas-mortas.
Disponível em: <www.pinacoteca.org.br>. Acesso em: 18 abr. 2013.

90 Arte
Capítulo 2
ARTE Existem limites para a arte?

A o longo dos capítulos sobre arte, você teve a oportunidade de conhecer e


transitar por diversas manifestações. Perceber e se relacionar positivamente
com essa linguagem são os principais objetivos do estudo proposto nesta obra,
pois, com a visão e a audição sensivelmente ativadas, podemos ler as diversas in-
terpretações da realidade produzidas pelos seres humanos ao longo de sua história.
Atualmente, vivemos em um tempo em que a velocidade e a quantidade de
informações aumentam a cada dia. Além disso, estamos diante de recursos tec-
nológicos que há bem pouco tempo nem imaginávamos que um dia iriam existir.
Nessa época de cultura de massa em que obras são reproduzidas, a linguagem da
arte se renova e se amplia. Observamos a presença da arte até na propaganda e
nos produtos de consumo.
Nossa relação com esse universo de reproduções de obras de arte e a formação
de um repertório pessoal são os assuntos que compõem este capítulo.

RODA DE CONVERSA
Museu do Louvre, Paris

Leonardo da
Vinci. Mona Lisa
[Gioconda], c.
1503-1506. Óleo sobre
madeira, 77 × 53 cm.
Museu do Louvre,
Paris.

“A mina bela de pele lisa


Com quatro letras é a Mona Lisa”
Junior Blau

9º ano 91
É bem possível que você já conheça essa CONHECER MAIS
tela de Leonardo da Vinci. A moça retratada
no século XVI não imaginou que seria, mais Você poderá até questionar: O que faz essa tela ser tão
de quinhentos anos depois, uma das mais mencionada por tantas áreas distintas? O que a tornou tão
famosa?
populares figuras usadas na promoção de Para encontrar as respostas, temos de observar a ima-
produtos. Sua imagem virou produto de con- gem de Leonardo da Vinci com muita atenção. Perceba a ex-
pressão da moça retratada. Observe os cantos dos olhos e
sumo, sendo impressa em canecas, roupas,
da boca. Note sua posição, a forma como suas mãos foram
aventais e brinquedos. Hoje, ela aparece em modeladas, seus cabelos, as minúsculas pregas das mangas.
comerciais de xampu, automóveis, perfumes, Em seguida, perceba os detalhes da paisagem ao fundo.
Sem pressa, permita que seu olhar caminhe pela imagem.
maquiagem, sanduíches, amaciantes, entre
Que impressões ela lhe causa?
muitos outros produtos. Ao pintar essa obra, Leonardo utilizou uma técnica que
Em 2009, o Museu Ideale Leonardo da vinha desenvolvendo há anos, chamada sfumato – palavra
italiana que significa fumaça e que podemos traduzir como
Vinci organizou uma exposição de pinturas esfumaçado ou sombreado. Esse efeito, que é obtido com
e desenhos feitos entre os séculos XVI e XX a sobreposição de inúmeras finas camadas de tinta, con-
inspirados na Mona Lisa. O objetivo da mos- siste em não deixar aparentes as linhas de contorno, cau-
sando um efeito de esfumaçado que confere mais realismo
tra, segundo seus organizadores, foi discutir à composição.
o fenômeno da Gioconda – como também é Se você percebeu um ar de mistério na expressão da Gio-
conhecida a Mona Lisa – na arte, na literatu- conda, é por causa dessa técnica, que foi usada nos cantos
da boca e nos olhos. Ela foi tão bem aplicada na obra que
ra, no design, na propaganda e nos produtos ficamos em dúvida quanto ao seu estado de espírito. Estaria
de consumo da sociedade contemporânea. ela triste, cansada ou prestes a abrir um sorriso de satisfação?
A popular Gioconda não é a única obra a Apesar de muito inovador para a época, não foi apenas
esse efeito que tornou o quadro uma obra-prima. Da Vin-
figurar em nosso cotidiano. Você já deve ter ci foi um grande estudioso das proporções humanas e da
se deparado com outros exemplos. Procure perspectiva, embora nem sempre se prendesse rigorosa-
em revistas, na internet ou em sua casa al- mente às regras, acreditando que elas deveriam estar sem-
pre aliadas à observação atenta do artista.
guns exemplos de utilização de obras de arte Na representação de espaços, desenvolveu estudos de
em objetos ou em publicidades. Selecione perspectiva atmosférica que, com o uso da cor e do sfuma-
to, conferiam ao fundo de suas obras uma aparência mais
aqueles que considerar mais interessantes e
realista de profundidade. Quanto mais longe estivessem
compartilhe-os com seus colegas. objetos, plantas ou relevos representados, mais imprecisas
A partir da apreciação das imagens e dos eram as pinceladas que utilizava para defini-los.
Assim, a paisagem ao fundo não é tão importante, apare-
objetos selecionados, discuta com seus cole-
ce apenas com certa delicadeza, encaminhando nosso olhar
gas sobre a atitude de se apropriar de obras para a figura da mulher. A forma como foi representada nos
de arte aplicando-as a objetos do cotidiano e dá a impressão de que a Gioconda está viva diante de nos-
sos olhos. Imagine o impacto causado há mais de 500 anos,
peças publicitárias. quando Leonardo da Vinci apresentou ao público o fruto de
A prática é polêmica: alguns críticos se seus experimentos e estudos para a representação.
manifestam dizendo que, apesar de as ima- Quanto à dama retratada, os historiadores da arte con-
cordam em dizer que se trata de Lisa Gherardini, esposa
gens conferirem um toque de classe e sofisti- de um rico e influente comerciante da época, Francesco di
cação aos produtos, existe o risco da produção Bartolomeo di Zanoli del Giocondo, o que explica a obra ser
em larga escala diluir ou acabar com o sentido também conhecida como La Gioconda ou La Joconde.
É claro que o uso da técnica do sfumato é apenas um
da própria obra de arte. Já outros acreditam dos muitos aspectos que fazem dessa obra uma referência
que essa é uma forma democrática de divulgar em arte.
a arte, apropriando-se de algumas obras e uti-
lizando-as para divulgar produtos populares.

92 Arte
• O que você e seu grupo pensam sobre o uso de obras de arte em artigos de consumo?
• Você valorizaria mais um objeto que fizesse referência a uma obra de arte?
• A que público podem ser dirigidas as propagandas que se utilizam de obras de arte? O que
tem motivado alguns publicitários a utilizá-las?
Não se esqueça de anotar as observações do grupo. Mesmo que não haja consenso, registre
as afirmações que julgar relevantes. Utilize-as na produção de um pequeno texto argumentativo.

PARA REFLETIR

Com frequência, a publicidade tem usado obras de arte em suas mensagens, sejam visuais,
sonoras ou gestuais. Em suma, aquilo que foi criado para outros fins está presente em nosso coti-
diano para nos seduzir a comprar os produtos divulgados.
Procure se lembrar de uma ou mais propagandas – de televisão, de jornal ou revista – associa-
das a manifestações artísticas como a música, a pintura, o teatro e a dança. Colete alguns exem-
plos, compartilhe-os com seus colegas e reflita sobre as seguintes questões:
• O público submetido a essas propagandas pode entrar em contato com a arte?
• Elas são acessíveis àqueles que não conhecem as obras apresentadas?
• É lícito se apropriar de obras que não foram criadas com o propósito de vender mercadorias
em propagandas? Por quê?
• Em uma propaganda, uma obra de arte pode ser apreciada como se estivéssemos um mu-
seu? Ou como se tivéssemos comprado uma reprodução da obra para pendurar na parede
de nossas casas?
Discuta com seus colegas, anote o que considerar mais significativo e produza um texto reflexivo.

O CONSUMO COMO TEMA


A relação entre a arte e o consumo é bem antiga, mas foi na década de 1960
que um grupo de artistas tomou a cultura das cidades e do consumo como tema,
tratando-a ora com ironia e criticidade, ora de maneira positiva.
A proposta era derrubar as barreiras entre a arte e a vida cotidiana. Anúncios,
letreiros luminosos, produtos do consumo de massa, sinais de trânsito, imagens
de pessoas famosas, tudo cabia em suas obras. Quanto às técnicas, tentava-se a
substituição dos processos artesanais pela máquina.
Andy Warhol (1928-1987) foi um dos artistas que se destacaram nesse movi-
mento. Publicitário bem-sucedido, ele considerou a arte como mais um produ-
to de consumo que poderia ser fabricado em larga escala. Batizou seu ateliê de
Factory – palavra que, em português, significa fábrica – e, com a técnica utilizada
até então para a estamparia industrial, produziu imagens em série partindo de fo-
tografias de celebridades, produtos de consumo, objetos, obras de arte. Tal técnica
é chamada de serigrafia ou silkscreen.

9º ano 93
As imagens em repetição nos passam a ideia de que, assim como objetos do
cotidiano, as pessoas famosas têm suas imagens transformadas em artigos de con-
sumo pelos meios de comunicação em massa.

Coleção particular © Andy Warhol Foundation/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013. Foto: Album/AKG-Images/Latinstock

The Metropolitan Museum of Art, Nova York/Andy Warhol Foundation/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013
Andy Warhol. Mona Lisa, 1963. Serigrafia e acrílico sobre Andy Warhol. Campbell’s Soup Can – Beef Noodle, 1962. Serigrafia,
tela, 320 × 208,5 cm. 50,8 × 40,6 cm. The Metropolitan Museum of Art, Nova York.

Outro artista que aderiu ao movimento foi Roy Lichtestein (1923-1997), que apre-
ciava as imagens publicitárias e as incorporava em suas obras. Ficou conhecido por suas
pinturas que aplicam a técnica das imagens impressas nas histórias em quadrinhos.
Museum Ludwig, Colônia. © Lichtenstein, Roy/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2012

Roy Lichtestein. M-Maybe,


1965. Magna sobre tela,
152 × 152 cm. Museum
Ludwig, Colônia.

94 Arte
Não foi por acaso que o movimento da Pop Art ganhou força nos Estados Uni-
dos, sobretudo em Nova York, importante centro financeiro do mundo, em uma
época em que o consumo crescente empolgava multidões e impulsionava as mídias.
O movimento – do qual fazem parte Warhol, Lichtestein e muitos outros ar-
tistas – foi tão forte e contou com a adesão de tantos artistas que Nova York ultra-
passou Paris como centro de arte contemporânea. A capital francesa era, até então,
referência internacional de estética. No entanto, o movimento não ficou restrito a
esse país: artistas de outras partes do mundo também adotaram sua estética.
No Brasil, Antonio Dias (1944-), Claudio Tozzi (1944-), Rubens Gerchman
(1942-2008), Wesley Duke Lee (1931-2010), entre outros receberam influências
do movimento Pop Art, sobretudo na figuração, na adesão a técnicas como o
silkscreen e na incorporação de materiais industrializados.
Quanto ao conteúdo das obras, uma das principais características notadas é a
irreverência, marca do movimento. Ela está presente em obras de conteúdo polí-
tico e social.

Coleção do artista

Cláudio Tozzi. Bandido da luz vermelha, 1967. Liquitex sobre hardboard, 95 × 95 cm.

9º ano 95
DE LONGE É ARTE, DE PERTO É LIXO
Meio século após o surgimento da Pop Art, o consumo continua a ser tema
para artistas, sobretudo para aqueles que, engajados em causas ambientais, utili-
zam sua arte como forma de alerta e reflexão.
O lixo e os descartes se tornam materiais para as obras do brasileiro Vik Mu-
niz (1961-) e do estadunidense Chris Jordan (1963-). Ambos usam os processos
fotográficos para mostrar seu trabalho de construção de imagens – conhecidas ou
não – a partir de sucatas.

Musées Royaux des Beaux-Arts de Belgique, Bruxelas.

Coleção particular
Jacques-Louis David. A morte de Marat, 1793. Óleo sobre tela, 162 × Vik Muniz. Marat – Sebastião, 2008. Impressão digital. 129,5 × 101,6 cm.
128 cm. Musées Royaux des Beaux-Arts de Belgique, Bruxelas. A obra é uma releitura da obra de David, A morte de Marat (1793).

O lixo é a principal matéria-prima das obras de Vik Muniz. Por isso, o artista
pôde retratar catadores de um aterro do Rio de Janeiro, chamado Jardim Grama-
cho. Sebastião, um desses catadores, foi retratado pelo artista como Marat, perso-
nagem da Revolução Francesa.
O contato com essas pessoas levou o artista a querer registrar em filme seu
cotidiano e seus depoimentos diante da perspectiva de extinção do lixão e de
seu contato com a arte. O resultado foi o documentário Lixo extraordinário, que
revela a dignidade dos catadores em seu trabalho e também o poder transforma-
dor da arte. Com direção de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley, o longa-
-metragem recebeu importantes prêmios nacionais e internacionais.
Na série “Running the Numbers”, Chris Jordan explora as estatísticas tradu-
zindo números em imagens. Refere-se a esse trabalho como “um olhar para a
cultura americana contemporânea através da lente austera de estatísticas”.

96 Arte
Assim, as 106 mil latinhas de alumínio consumidas a cada 30 segundos nos Esta-
dos Unidos são representadas em uma reprodução de uma obra do artista francês Ge-
orges Seurat. As 32 mil cirurgias de aumento dos seios realizadas por mês, em 2006,
nos EUA, são traduzidas na imagem de 32 mil bonecas formando um busto feminino.
São diversas obras impactantes, tanto pelo tema que retratam como pelo nú-
mero de elementos que as constitui. Sua principal motivação é a esperança de que
a tradução dos números em figuras seja capaz de alertar sobre o significado do
modo de vida consumista e seu negativo impacto ao meio ambiente.
Como as de Vik Muniz, as “obras” de Jordan são conjuntos enormes e repetiti-
vos de dejetos dispostos de maneira a formar padrões ou imagens e, a partir dessa
disposição, são então fotografados.

Acervo do artista

Chris Jordan. Gyre, 2009.


A releitura da obra A grande onda, de Hokusai, é composta de 2,4 milhões de peças de plástico equivalentes ao número
de quilos desse material jogados ao mar a cada hora. Todo o material empregado na obra foi coletado no Oceano Pacífico.

Detalhes da
obra de Crhis
Jordan.

QUANDO AS COISAS VIRAM ARTE


Objetos manufaturados ou industrializados podem ser transformados
em arte, como já nos mostrou o artista francês Marcel Duchamp (1882-

9º ano 97
1968). Ele retirava objetos de seu contexto original e os categorizava como
obra de arte.
Já o espanhol Pablo Picasso (1881-1973) figurava a partir de objetos, demons-
trando o potencial dos materiais não convencionais para a construção de uma
obra de arte.

Museu Picasso, Paris.© Succession Pablo Picasso / Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013. foto:
Scala/Glow Images
Pablo Picasso. Cabeça
de touro, 1942. Escultura
confeccionada com um selim e
um guidão de bicicleta. Museu
Picasso, Paris.

O brasileiro Arthur Bispo do Rosário (1911-1989) passou grande parte de sua


vida internado em um hospital psiquiátrico, onde fez arte com os objetos que tinha
a seu alcance. Recolhia-os e organizava-os de acordo com suas formas e cores.
Acreditava que suas obras seriam apresentadas ao “Todo-poderoso” no dia
do juízo final e não imaginava que um dia sairiam do país e chegariam a ser
expostas até em Paris, Nova York e Veneza, além de fazer parte de importantes
mostras no Brasil.
Em 2007, foi homenageado pela escola de samba Império Serrano. Veja, a
seguir, um trecho do samba-enredo da escola.
[...] É difícil
Conviver na adversidade
Com arte ser eficiente
Fazer da pintura sua liberdade
Fazer esculturas usando a paixão
Feitiço de poeta invade o coração
Divino é o poder da criação
Eu pergunto a você
Será que existe?
Limite entre a loucura e a razão.
CRUZ, Arlindo; MAURIÇÃO; MACHADO, Aluísio; SENNA, Carlos; BOSCO, João.
Samba-enredo 2007: Ser diferente é normal. O Império Serrano faz a diferença no carnaval.

98 Arte
Museu Bispo do Rosário. Foto: Fernando Chaves

Museu Bispo do Rosário. Foto: Fernando Chaves

Arthur Bispo do Rosário. Vinte garrafas: vinte conteúdos (s/d). Museu Bispo Arthur Bispo do Rosário. Planeta paraíso dos homens (s/d). Museu Bispo
do Rosário, Rio de Janeiro. do Rosário, Rio de Janeiro.

PARA CRIAR

A percepção e a capacidade de transformar objetos é um ato de criação, e reciclar é hoje uma


necessidade. Diante de tantos descartes, saber reaproveitá-los de maneira criativa é um desafio e
quase uma obrigação.
A artista brasileira Leda Catunda (1961-) optou por criar um suporte para sua pintura com ca-
misetas velhas, deixando expostas as imagens preexistentes. A técnica utilizada é conhecida como
assemblage, palavra de origem francesa usada para as obras de arte que resultam da justaposição
de diversos objetos, fabricados ou naturais.

9º ano 99
Coleção Gilberto Chateaubriand
Leda Catunda. Camisetas, 1989. Acrílica sobre camisetas, 220 × 190 cm.

A proposta para essa atividade é a produção de uma assemblage. Como já vimos que não há
limites para a criação em arte, realize uma obra a partir do reaproveitamento de sucatas.
Você poderá iniciar o trabalho de duas maneiras:
• coletando materiais e se inspirando em suas formas, como fez Picasso ao criar a escultura
Cabeça de touro; ou
• projetando, mentalmente ou por meio de desenhos, o que vai construir e, então, iniciando
a coleta de materiais que atendam à sua criação.
Procure fotografar a construção de seu trabalho, documentando todo o processo. Não se es-
queça de nomear seu trabalho.
Apresente a seus colegas o resultado final e o processo documentado.
Se sua escola tiver acesso à internet, procure realizar uma exposição virtual dos trabalhos de
toda a turma, postando-os no próprio site da escola ou criando uma página para registrar e divul-
gar o trabalho realizado.

TER OU NÃO TER REPERTÓRIO, EIS A QUESTÃO!


Você já leu ou ouviu algo parecido? A frase é uma adaptação de um famoso
verso da obra Hamlet, escrita pelo dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-
-1616) entre 1599 e 1601. A obra relata a dor e o sofrimento do príncipe Hamlet
quando descobre as ações de seu tio para tomar o trono da Dinamarca após a
morte de seu pai.

100 Arte
“To be or not to be, that’s the question”, que, em português, podemos traduzir
por “ser ou não ser, eis a questão”, é a frase original da obra do dramaturgo inglês.
A frase é mencionada em discursos das mais variadas tendências com bastante
frequência. Quem a ouve passa adiante, mesmo que não conheça sua origem.
A formação de repertório cultural é muito importante, sobretudo para nos
relacionarmos no mundo contemporâneo, repleto de informações que preci-
samos ler e decodificar. Quanto mais variado for o repertório cultural de uma
pessoa, mais criativas serão suas relações e suas ações transformadoras e, nesse
sentido, as linguagens artísticas permitem ampliar o entendimento de temas di-
versos. Quem tem repertório compreende melhor o que ouve e vê e possui mais
dados para criar e recriar.

LER E RELER, CRIAR E RECRIAR


A obra Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, faz parte do impressionante acervo
do Museu do Louvre em Paris, França. Além de tema para peças publicitárias e
produtos comerciais, a obra já foi referência para muitos artistas. Foi copiada re-
petidas vezes por artistas aprendizes e resignificada em obras de artista famosos,
sobretudo no século XX. Veja, a seguir, alguns exemplos desses usos.
Coleção particular/Succession Marcel Duchamp/
Adagp, Paris, 2003/Scala/Imageplus

Museu Nacional Fernand Leger. © Léger,


Fernand/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013.
Foto: The Bridgeman ArtLibrary/Keystone

Fernand Léger. Mona Lisa com


Marcel Duchamp. L.H.O.O.Q., 1919. chaves, 1930. Óleo sobre tela.
O artista acrescentou bigode e cavanhaque Museu Nacional Fernand Léger,
a uma reprodução da Mona Lisa. Biot.
Museu Botero, Bogotá

Cortesia José
Nesa, Genebra

Jean-Michel Basquiat.
Mona Lisa, 1983. Acrílico
Fernando Botero. Mona e tinta a óleo em barra sobre
Lisa, 1978. Óleo sobre tela, 169,5 × 154,5 cm.
tela, 166 × 183 cm. Museu O artista estadunidense de
Botero, Bogotá. origem caribenha pintou
Botero arredondou e a imagem de Mona Lisa
“engordou” as formas de acrescentando elementos
sua Mona Lisa, assim como presentes em cédulas de
o faz com todas as outras dinheiro.
figuras que retrata.

9º ano 101
Na história da arte ocidental, ins- CONHECER MAIS
pirar-se em uma obra consagrada para
Museu espanhol encontra cópia da Mona Lisa
elaborar outra é uma atividade que re-
monta à Antiguidade. Os romanos, por MADRI – O Museu do Prado encontrou em seus
exemplo, copiaram largamente as es- arquivos uma cópia da Mona Lisa, de Leonardo da Vin-
ci, que parece ter sido pintada ao mesmo tempo que
culturas gregas. Copiar é uma ativida- o retrato original no ateliê do artista italiano, segundo
de bastante comum no aprendizado de uma publicação artística.
A revelação foi feita por uma especialista do museu
técnicas e recursos de representação espanhol em um seminário na Galeria Nacional de Lon-
(como mostramos no quadro apresen- dres há duas semanas e foi divulgada pela primeira vez
tado anteriormente). na revista The Art Newspaper.
[...]
Muitos artistas confessam ter co- Segundo a revista, o quadro teria sido feito por um
piado os grandes mestres em seu apren- pupilo de Leonardo da Vinci ao mesmo tempo em que
dizado. Também os artistas artesãos, no o mestre pintava sua obra mais famosa, entre 1503 e
1506, mas ficou relegada nos depósitos do Prado por
Brasil e no exterior, aprendem seu ofí- se pensar que era mais uma cópia do famoso retrato
cio muitas vezes copiando as obras e as exposto no Museu do Louvre.
Análises de raios X permitiram comprovar que sob
técnicas de outros de sua comunidade, um verniz escuro na obra – praticamente do mesmo
perpetuando, assim, as tradições. tamanho que a Mona Lisa autêntica – havia um fundo
No entanto, se pesquisarmos além paisagístico da Toscana parecido ao do quadro original.
[...]
dos exemplos expostos neste capítulo,
vamos encontrar inúmeros exemplos Disponível em: <www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,museu-espanhol-encontra-copia-
da-mona-lisa,830069,0.htm>. Acesso em: 25 out. 2012. (Texto adaptado.)
de obras criadas a partir de outras, al-
terando-se, porém, o contexto da obra
original. Isso não significa que se trata de uma cópia. Nesse caso, chamamos de
releitura da obra.
Diferente da cópia, que como o próprio nome indica, visa à reprodução idên-
tica de uma determinada obra, em uma releitura espera-se uma reinterpretação.
As alterações podem ocorrer apenas do ponto de vista da técnica ou da estética
ou ainda em relação à própria temática da obra. Nos exemplos citados em relação
à Mona Lisa, podemos perceber diferentes maneiras de se fazer uma releitura.
Observe-as bem.
As releituras foram um recurso bastante explorado pelos artistas do sé-
culo XX, sobretudo quando Pablo Picasso realizou um grande número delas.
De uma só obra – As meninas (1656), do também espanhol Diego Velásquez
(1465-1524) –, Picasso fez mais de 150 esboços, desenhos e pinturas. De outra
famosa obra – Almoço na relva (1863), de Edouard Manet (1832-1883) – ele
fez cerca de 27 quadros. Picasso admirava profundamente essas obras e seus
autores quando decidiu recriá-las.
Considerando-se que, para executar uma releitura, uma pessoa deva ter apre-
ciado determinada obra, estudando-a em seus mais diferentes aspectos (época,
estilo, significados etc.), é possível dizer que esse tipo de trabalho constitui uma
verdadeira homenagem às obras originais.

102 Arte
Foi o desejo de homenagear uma obra brasileira, o Abaporu, pintado em 1928
por Tarsila do Amaral, que motivou um grupo de doze artistas brasileiros das
mais diversas tendências a produzir obras para a exposição “Filhos do Abaporu”,
realizada pela Galeria Arte do Brasil em 1985. Tal homenagem também teve ou-
tro motivo bastante importante: a obra iria deixar o Brasil para compor o acervo
do Malba (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires), na Argentina.
Cada artista imprimiu à releitura do Abaporu as marcas de seu trabalho pessoal.

Romulo Fialdini
Romulo Fialdini

Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina. Foto: Romulo Fialdini
José Roberto Aguilar. A noite da antropofagia. Acrílica Tarsila do Amaral. Abaporu. Óleo sobre tela, Siron Franco. S/ título. Técnica mista sobre tela.
sobre tela. 205 × 212 cm. 73 × 85 cm. Museo de Arte Latinoamericana 80 × 90 cm.
Aguilar inseriu um trecho do Manifesto Antropofágico à obra. (Malba), Buenos Aires. Siron Franco trabalhou a imagem com areia e terra.

Cia. Articularte – Teatro e Bonecos

O grupo Articularte, por meio


da manipulação de bonecos,
criou o espetáculo “A cuca fofa
da Tarsila”, repleto de recursos
cênicos bastante originais.

9º ano 103
AS ADAPTAÇÕES TEATRAIS
[...] Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor...
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d’água.

BUARQUE, Chico. Gota d’água. In: Chico 50 anos –


O político (CD). Polygram/Philips, 1994.

O trecho é cantado pela personagem Joana, na peça musical Gota d’água, es-
crita por Chico Buarque (1944-) e Paulo Pontes (1940-1976).
Ao escrever a peça, seus autores desejaram dar voz ao povo que, segundo eles,
estava afastado da vida cultural do país, aparecendo apenas nas estatísticas e nas
notícias de jornais sensacionalistas.
No drama, Joana é uma mulher do povo, moradora do conjunto habita-
cional Vila do Meio-Dia e casada com o sambista Jasão. O casal e seus vizi-
nhos enfrentam problemas para pagar os altos preços dos reajustes e juros das
prestações de suas casas, que são propriedade de Creonte, um explorador da
comunidade da vila.
Na peça, Jasão apaixona-se por Alma, filha de Creonte, traindo não apenas
Joana, mas também seus pares. Impossibilitada de pagar as prestações de sua casa,
Joana é despejada por Creonte. Inconformada, transforma sua dor em ira e jura
vingar-se do marido.
Ela planeja matar Alma e seu pai, oferecendo-lhes um bolo envenenado. Este
é recusado por Creonte, que a vê como uma mulher de feitiços. Quando per-
cebe que seu plano fracassou, oferece o bolo a seus próprios filhos, matando-
-os e suicidando-se em seguida.
Assim, Gota d’água faz uma crítica social aos interesses capitalistas e à falta de
habitação, mas também aborda as relações humanas.
A história, que poderia ter se desenrolado aqui no Brasil, nasceu na Gré-
cia há muito tempo com o mito de Medeia. Ela era uma mulher que, para
se vingar do marido infiel, afrontou as leis humanas e divinas, matando os
próprios filhos.
O dramaturgo grego Eurípedes (480-406 a.C.) apropriou-se da história e es-
creveu a peça Medeia, encenada pela primeira vez em 431 a.C. e reescrita muitos
séculos depois por Chico Buarque e Paulo Pontes.

104 Arte
Na tragédia grega, vivida na cidade de Corinto, Medeia é uma princesa com
dons de feiticeira que se apaixona por Jasão, deixando para trás pátria e família
para seguir ao lado de um grande amor – até descobrir ser traída por ele.
Transtornada pelo ódio, oferece à noiva de Jasão um manto com o poder de
queimá-la, matando também seu pai, o rei Creonte. Em seguida, mata seus fi-
lhos, frutos de seu casamento com Jasão, abrindo mão de sua condição humana.
Transforma-se então em uma feiticeira vitoriosa, saindo de cena no carro de seu
avô, o Sol.

Museu do Louvre, Paris

Eugène Delacroix. Medeia, 1838. Óleo sobre tela, 260 × 165 cm. Museu do Louvre, Paris.
Delacroix foi um dos artistas que representaram Medeia, pintando a cena em que ela se prepara para matar
os filhos.

9º ano 105
No relato teatral do mito de Medeia, Eurípedes também faz críticas à sociedade
da época, sobretudo à condição feminina e ao abuso de poder dos soberanos.
Chico Buarque e Paulo Pontes mantiveram tanto o tema como a crítica social e
política da peça, adaptando-os à realidade brasileira da época, referindo-se ao
sofrimento da classe trabalhadora e ao autoritarismo do regime militar. O em-
bate da oprimida Joana, a Medeia brasileira, contra Creonte, símbolo do poder, e
Jasão, que por interesse se rende a ele, conquistou o público e a crítica teatral em
meados dos anos 1970.

Nossa tragédia é uma tragédia da vida brasileira.


BUARQUE, Chico; PONTES, Paulo. Gota d’água. 27. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.

Escrita em versos, os diálogos poeticamente revelam a realidade de pessoas


simples com seus dramas pessoais e sociais. Segundo os autores, a poesia exprime
melhor a densidade de sentimentos que movem os personagens. Quatro músicas
de Chico Buarque compõem o texto teatral de Gota d’água. São elas: “A flor da
idade”, “Bem querer”, “Basta um dia” e “Gota d’água”.
É possível observar em alguns trechos da escrita de “Gota d’água” as referên-
cias que seus autores fazem à origem grega do drama, ao lado de elementos da
religiosidade brasileira. Observe:

[...] Eu quero ver sua vida passada a limpo,


Creonte. Conto co’a Virgem e o Padre Eterno,
todos os santos, anjos do céu e do inferno,
eu conto com todos os orixás do Olimpo! [...]
BUARQUE, Chico; PONTES, Paulo. Gota d’água. 27. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.

A arte alimenta a própria arte; suas releituras e adaptações chegam até nós de
muitas maneiras. É importante estar informado e ser um conhecedor para melhor
apreciá-las.
Aqui, apresentamos alguns exemplos de como as obras clássicas chegam até
nós e, no caso das peças teatrais, apenas um breve resumo. Mas, sempre que
possível, você pode pesquisar para conhecer mais sobre esse e muitos outros
assuntos.

LER IMAGENS

Como já pudemos ver, a arte é um meio para se falar de qualquer assunto. Nas três obras se-
lecionadas para esta atividade, seus autores representaram pessoas. Se pensarmos que cada uma
delas carrega uma história pessoal, poderemos dizer que foram retratadas muitas vidas, não é
mesmo?
Observe bem as três obras. Procure as semelhanças e diferenças entre elas e escolha uma para
fazer uma leitura mais aprofundada.

106 Arte
Coleção particular
Coleção do artista
Mario Tama/Staff/Getty Images

As questões a seguir orientarão sua leitura. Você poderá respondê-las de maneira individual
ou coletivamente.

9º ano 107
O QUE OS OLHOS VEEM
A obra que você lê – pintura ou escultura – representa um grupo de pessoas. Como elas estão
distribuídas no espaço? Horizontal ou verticalmente?
Como estão vestidas?
Em que ambiente se encontram?
Que cores predominam na obra?
As pessoas representadas expressam movimentos?
Além de pessoas, que outros elementos estão representados?
Na pintura, você percebe a utilização dos recursos da perspectiva e de efeitos de luz e sombra
para dar noção de volume?
Se você lê a escultura, de que materiais imagina terem sido feitas as pessoas representadas?
Como é o fundo da cena representada?

O QUE OS OLHOS PERCEBEM E SENTEM


A que classe social você imagina pertencerem as pessoas representadas?
Que nacionalidade elas poderiam ter?
Que sentimentos elas expressam?
Você gostaria de se juntar a elas na cena em que estão representadas?
Que sensações a obra lhe causa?
As cores utilizadas pelo artista colaboram para esse sentimento?
Além das cores, que outros elementos podem lhe ter causado essa sensação?
Que título você daria a esta obra?

O OLHAR QUE CONHECE


A seguir você encontrará algumas informações que complementarão sua leitura.
A pintura que representa um grupo sentado a olhar para o céu foi realizada em 1960 por
Edward Hopper (1882-1967). O artista se destacou por pintar paisagens urbanas e cenas em que
a imobilidade e a solidão estão sempre presentes. A luz do sol ou de fontes artificiais tem um
destaque especial em sua pintura. Ele a utilizava para dar às suas obras um clima de opressão e
isolamento aos ambientes. O título desta obra é Pessoas ao sol.
A xilogravura é de autoria do brasileiro Rubem Grilo (1946-). Criada e produzida em 1985,
faz referência à vida nas grandes cidades. Toda a superfície é densamente trabalhada. As pessoas
representadas integram-se e confundem-se com o ambiente, e seus olhares não se cruzam.
Nas décadas de 1970 e 1980, Grilo trabalhou como ilustrador na imprensa brasileira e esco-
lheu a xilogravura como linguagem por seu alcance popular. Suas imagens dessa época refletem
o cotidiano e os efeitos da política no país sob a ditadura militar.
As esculturas em gesso foram feitas em 1964 pelo estadunidense George Segal (1924-2000).
Segal começou sua carreira como pintor, mas decidiu-se pela escultura. Não as convencionais em
bronze, madeira ou argila: preferiu modelar suas figuras humanas em tamanho natural a partir de
moldes feitos com ataduras gessadas.
Seus amigos e familiares eram seus modelos. Seus homens e suas mulheres de gesso aparecem
em bancos de praça, lanchonetes, filas, em situações que vivemos em nosso cotidiano. Segal tinha

108 Arte
a intenção de representar o anonimato imposto pela vida nas grandes cidades. As figuras brancas,
sem cor que as individualizem, reforçam essa ideia. O título da obra é Street Crossing.
Coleção Particular

Coleção do artista

Mario Tama/Staff/Getty Images


Edward Hopper. Pessoas ao sol, 1960. Óleo Rubem Grilo. Urbanoides, 1985. Xilogravura, George Segal. Street Crossing, 2003.
sobre tela, 102,6 × 153,4 cm. 23 × 33 cm. Escultura. Pedestres passam ao lado das
esculturas de Segal, em frente ao Central
Park, em Nova York.

O OLHAR QUE INTERPRETA


Observe novamente as três obras. Perceba o que as pessoas representadas po-
dem ter em comum. A partir da frase a seguir, escreva outras frases sobre o que
percebeu.
A arte me faz ver muito do que sou no outro que me apresenta.

PARA CRIAR

Agora é sua vez de interpretar e recriar as obras que acabou de ler. Escolha uma das imagens
para esse trabalho. A partir do que você viu, sentiu, imaginou e conheceu, selecione uma das cin-
co sugestões apresentadas a seguir para realizar a sua atividade.

1. Elabore um comercial para a divulgação de um produto. Você GLOSSÁRIO

poderá escolher entre as seguintes versões: impresso para di- jingle: música composta especial-
mente para propaganda. Assim como
vulgação em periódicos, sonoro para divulgação no rádio ou no os slogans, elas ajudam muito na
fixação da imagem do produto.
formato de filme para divulgação em televisão e cinema. Não se
slogan: frase de efeito que se relacio-
esqueça de criar um slogan. No caso de uma propaganda sonora, na diretamente ao produto.

lembre-se do jingle.
2. Com o auxílio de colegas, crie um quadro vivo.
3. Escreva uma poesia sobre a obra.
4. Escreva uma nota jornalística sobre uma hipotética exposição em que a obra estaria presente.
5. Transforme as pessoas representadas em personagens e crie uma cena teatral envolvendo-os.
Lembre-se de que não é próprio da arte ficar escondida, longe dos olhos dos espectadores.
Portanto, organize, com seus colegas, apresentações de seus trabalhos. Promova um grande even-
to e muito sucesso!

9º ano 109
É inegável que os recursos da tecnologia têm facilitado imensamente o acesso a produções
artísticas realizadas em outros tempos e em lugares distantes, a começar pelos livros e demais
publicações como jornais e revistas.
Desde a invenção da imprensa, muito se avançou nesse campo e hoje podemos encontrar
excelentes reproduções de obras de arte, cujos originais talvez nunca tenhamos a possibilidade
de apreciar. Quanto à internet, são inimagináveis as possibilidades que a cada dia nos apresenta.
Bastam alguns toques no teclado ou no mouse e visitamos virtualmente museus, salas de concer-
to, teatros, espaços e apresentações de todo o mundo.
Filmes, que até certo tempo só podiam ser assistidos nas salas de cinema ou na televisão por
meio de um aparelho de reproduzir DVDs, hoje podem ser apreciados na tela do computador. Po-
demos ainda optar por ouvir música por meio de vários tipos de aparelho, como rádios, tocadores
de CDs ou de arquivos MP3 e MP4, e celulares.
No entanto, nada supera a experiência de se apreciar ao vivo. Sempre que tiver oportunidade,
não deixe de visitar museus, assistir a apresentações teatrais, musicais e de dança. O contato com
a arte lhe apresentará um novo mundo, no qual você tem papel fundamental, seja como ator, seja
como espectador.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS


Livros
Arthur Bispo do Rosário: o senhor do la- Vik Muniz: obra completa 1987-2009
birinto O livro de autoria do próprio artista apresenta sua pro-
O livro aborda as relações entre loucura e criação ar- dução entre os anos 1987 e 2009. O catálogo inclui
tística na obra de Arthur Bispo do Rosário. A obra deu mais de mil obras, permitindo a visualização e até a
origem a um filme com o mesmo nome. percepção dos materiais usados pelo artista, muito im-
HIDALGO, Luciana. Arthur Bispo do Rosário: o senhor do labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
portantes no impacto de seus trabalhos.
MUNIZ, Vik. Vik Muniz: obra completa 1987-2009. Rio de Janeiro: Capivara, 2009.

Mona Lisa: a história da pintura mais famo-


sa do mundo Filmes
O autor relata como o famoso quadro de Leonardo da
Vinci tornou-se um ícone global e investiga as razões do Basquiat
fascínio pela obra, que mede apenas 77 × 53 centímetros. Inspirado na vida do artista nova-iorquino Basquiat,
Mostra também como o artista italiano criou a obra des- descoberto nas ruas por Andy Warhol em 1981, o filme
tacando as técnicas para a composição do sorriso enig- apresenta o panorama artístico da cidade de Nova York
mático e como artistas como Fernando Botero e Andy e a carreira meteórica e atribulada do pintor.
Warhol usaram e abusaram dela. Aspectos da história do Direção de Julian Schnabel. EUA, 1996. (106 min.)
quadro, como o roubo em 1911, são também menciona-
dos na obra do historiador inglês Donald Sassoon. O senhor do labirinto
SASSOON, Donald. Mona Lisa: a história da pintura mais famosa do mundo. Rio de Janeiro: Produzido a partir do livro homônimo, relata a vida de
Record, 2004. Arthur Bispo do Rosário como interno na Colônia Julia-
no Moreira, no Rio de Janeiro.
Os pintores mais influentes do mundo e os Direção de Geraldo Motta e Gisella de Mello. Brasil, 2010. (80 min.)
artistas que eles inspiraram
Em uma linha do tempo, o livro revela as conexões en-
tre cinquenta pintores que estabeleceram ou redefiniram
movimentos e tradições, mostrando as influências de uns
Site
sobre os outros.
Medeia
GARIFF, David. Os pintores mais influentes do mundo e os artistas que eles inspiraram.
Barueri: Girassol, 2008.
Nesse endereço, é possível encontrar outras represen-
tações de Medeia em pinturas e gravuras.
Pop Art Disponível em: <http://personal.centenary.edu/~cmanning/medeaart.html> Acesso em: 22 abr. 2013.

O livro traça um histórico do movimento com a apresen-


tação de obras de artistas da Pop Art de forma detalhada.
HONNEF, Klaus. Pop Art. Colônia: Tashen, 2004.

110 Arte
Bibliografia

ARTE

BUARQUE, Chico; PONTES, Paulo. Gota d’água: uma tragédia brasileira. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
CARPEAUX, Otto Maria. O livro de ouro da música: da Idade Média ao século
XX. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
COSTA, Cristina. Questões de arte: a natureza do belo, da percepção e do prazer
estético. São Paulo: Moderna, 1999.
EURÍPIDES. Medeia. Trad. Trajano Vieira. São Paulo: Editora 34, 2010.
GOMBRICH, Ernest. A história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
HIDALGO, Luciana. Arthur Bispo do Rosário: o senhor do labirinto. Rio de Janeiro:
Rocco, 1996.
HONNEF, Klaus. Pop Art. Colonia: Tashen/Paisagem, 2004.
MUNIZ, Vick. Vick Muniz: obra completa 1987-2009. Rio de Janeiro: Capivara,
2009.
READ, Herbert. Arte de agora, agora: uma introdução à teoria da pintura e escul-
tura modernas. São Paulo: Perspectiva, 1991.
SASSOON, Donald. Mona Lisa: a história da pintura mais famosa do mundo. São
Paulo: Record, 2004.
VÁRIOS AUTORES. Arte y propaganda: Carteles de la Universitat de Valencia.
Valencia: Universidad Valencia, 2003.

9º Ano 111
UNIDADE 3

Língua
Estrangeira
Moderna
Capítulo 1
LÍNGUA Brazil, Brazilian culture
INGLESA
and people

N este primeiro capítulo vamos refletir um pouco sobre como nosso país é
visto pelos estrangeiros. Analisaremos algumas informações sobre o Brasil
encontradas em um guia turístico conhecido por trazer, além de dados turísticos,
informações históricas, políticas,

Bettmann/Corbis/Latinstock
sociais e culturais. Será uma prá-
tica de leitura crítica e de refle-
xão sobre a imagem que passa-
mos para outros povos. Assim
como nos outros textos que você
já estudou, muitas das informa-
ções apresentadas podem já ser
conhecidas, pois se referem a
assuntos que fazem parte do co-
tidiano do país. Assim, antes de
iniciar a leitura, pense no que
sabe sobre os assuntos — obser-
ve o título do texto e o gênero Pelé e o senador estadunidense Robert F. Kennedy se cumprimentam nos vestiários
do Maracanã após partida da seleção brasileira no Rio de Janeiro (RJ), em 1965. A
(reportagem, lista, artigo etc.) imagem do Brasil no exterior frequentemente foi associada à beleza de suas paisagens
para antecipar o assunto e facili- naturais, ao carnaval e ao futebol. Será que isso mudou? Como o nosso país é visto
atualmente pelos estrangeiros?
tar a sua leitura.

LER TEXTO EM INGLÊS I

Leia os textos e responda às questões a seguir. Em seguida, compare suas respostas com as de
um colega.
Why is Brazil so special?
Because it is a fantastic place, one of the largest, most populous countries in the
world. Although Brazil is a specially beautiful and interesting place, people in the world know
very little about its rich and diverse culture.

Some information about Brazil

• Brazil is the fifth largest country in size and the eighth in population. Brazil is larger than the
United States, excluding Alaska.
• Brazil is larger than Argentina, Mexico, Venezuela, Colombia and Peru combined.

9º ano 115
• The social, historical and economic development of Brazil is unique. It has a large and
growing economy which presents great opportunities for investment.
• Portuguese is the language spoken in Brazil, and many other people around the
world speak Portuguese as their first language. Portuguese is the sixth most common
language in the world. As Brazil is the biggest country in Latin America, almost half of
the people in Latin America don’t speak Spanish – they speak Portuguese.
Texto elaborado para fins didáticos, 2012.

1. Leia a primeira parte do texto e note que há uma pergunta em seu título. Procure no dicionário,
se precisar, as palavras que você desconhece e tente entender o sentido da frase. Com base na sua
compreensão, faça o que se pede a seguir.
a) Antecipe o que você acha que aquele pequeno parágrafo vai conter sem lê-lo. Lembre-se do
que foi explicado anteriormente sobre antecipação de assuntos para a compreensão do texto.
b) Observe as palavras do texto que você consegue entender e veja se suas previsões foram ou
não confirmadas.
2. No texto, o que se afirma sobre o tamanho do Brasil e que comparação é feita com outro país?
3. O que se fala sobre a língua portuguesa?

LER TEXTOS INFORMATIVOS I

Ao apresentar a cultura brasileira, um guia turístico do Brasil divide-se em diferentes seções: estilo
de vida, população, economia, hábitos, crenças. Selecionamos três dessas seções para sua reflexão.
Primeiramente, pense um pouco sobre o que vamos ler. Observe a foto a seguir, converse com
um colega e responda: a imagem tem relação com qual das três partes do texto que será lido, “The
national psyche”, “Lifestyle” ou “Multiculturalism”? Por quê? O que você diria a alguém sobre
esses três assuntos? Fernando Donasci/Folhapress

Carnival in Olinda (PE), 2008: the traditional “bloco dos bonecos gigantes” of Olinda parade through the streets
of the historic centre of the city.

116 Língua Inglesa


The national psyche
Brazilians are known for lively celebrations: carnival, football matches, samba
clubs. Nearly every Carioca (Rio resident) and Paulistano(São Paulo city resident) has a
horror story of robbery. There is an official way of doing things and there is the jeitinho:
a characteristically Brazilian way around it. In a land of profound diversity, the Brazilians
exhibit some deep contradictions. Brazilian racial harmony is an accepted ideal, but the
blacks are among the poorest people. Carnival is a time for wild freedom, but sexual
repressiveness is a reality in the country. Some people profess to be catholic, but believe
in Candomblé and other Afro-Brazilians cults. Poor and rich people live in close proximity.
[…]
ST. LOUIS, Regis. Brazil. Hong Kong: Lonely Planet, 2008. p. 51.

1. Quais comemorações típicas do Brasil são mencionadas no texto?


2. Como o “jeitinho brasileiro” é explicado no texto? O que você pensa sobre esse “jeitinho”?
3. O que o texto diz a respeito dos pobres e ricos? Qual a consequência disso, em sua opinião?
Lifestyle
It is difficult to construct a portrait of the typical Brazilian because of the mix
of social, cultural and economic factors. The rich people send their children to private
schools and abroad to university. Depending on where the person lives in the country,
the Brazilians are very worried about crime. Maids are common, even among middle-
class Brazilians. The children tend to live at home until they are married. Below the elite
are the working class people, and at the bottom of the socioeconomic ladder are the
favelados(slum dwellers). […]
ST. LOUIS, Regis. Brazil. Hong Kong: Lonely Planet, 2008. p. 52.

4. Quais fatores econômicos, culturais e sociais são mencionados no texto? Você concorda com a
descrição que é feita do Brasil?
Multiculturalism
The Brazilian identity is the union of many races and nationalities: the
Portuguese, the native Indians, Africans and immigrants from Europe, the Middle East
and Asia. Many indigenous foods and beverages have become popular. Gauchos speak
a Spanish-inflected Portuguese. Baianos, descendents of the first Africans in Brazil,
are famous for being the most extroverted and celebratory of Brazilians. Mineiros are
considered more serious and reserved than the Brazilians who live close to the sea. It
is not uncommon for apparently white Brazilians to have a mix of European, African
and indigenous ancestors.
ST. LOUIS, Regis. Brazil. Hong Kong: Lonely Planet, 2008. p. 54.

5. O que você acha que é verdade nesse trecho? Você acha que o autor tem razão em relação aos
nossos hábitos, considerando seu conhecimento e sua experiência?
6. Há no guia a seguinte informação sobre os negros no Brasil:

Blacks are underrepresented in the government.

O que você acha sobre o trecho, que diz que os negros são mal representados no governo? Há
motivos para concordar e também discordar dessa informação. Procure justificar sua resposta.
Em geral, um bom modo de expressar sua opinião é usar argumentos que você tenha lido no jor-
nal, visto na TV ou ouvido falar.

9º ano 117
Nesta atividade, aproveite e pratique duas habilidades: entender o texto em inglês e escrever co-
mentários em português. Releia sempre suas sentenças, verificando se elas são bastante claras e se
fazem sentido, isto é, se expressam exatamente o que você tem em mente. Ao escrever, é normal haver
muita releitura, muita revisão. Sem essa revisão, dificilmente o texto final sairá do jeito que se espera.

PREFIXOS E SUFIXOS NA LÍNGUA INGLESA


Uma característica comum entre muitas línguas é o uso de prefixos e sufixos.
Trata-se de partes de palavras que trazem diferentes significados quando acrescen-
tadas no começo (prefixo) ou no fim (sufixos) de outras palavras. Veja alguns exem-
plos em português de prefixos e de sufixos, alguns dos quais bastante semelhantes.

irresponsável desigual impróprio inaceitável desorganizado


despercebido inacabado participação machismo cientista

Veja alguns exemplos de prefixos e sufixos nos textos em inglês que você já leu
neste capítulo.

largest populous specially interesting population bigger excluding


combined social historical development growing investment biggest
Brazilians celebrations robbery doing characteristically diversity contradictions
racial accepted poorest sexual repressiveness reality proximity
typical dwellers social cultural depending worried married
working identity nationalities Portuguese Indians Africans indigenous
inflected descendents famous being extroverted celebratory considered
serious reserved uncommon apparently

SUFIXOS -ED E -ING


Dois sufixos em inglês merecem atenção especial, pois, além de serem muito
usados, têm significados diferentes.
O -ed é usado para mostrar o passado de verbos regulares, mas o que se chama
de “passado” pode ter outras funções, como a de adjetivo. Veja exemplos:

Brazilian racial harmony is an accepted ideal.


Brazilians are very worried about crime.
The children tend to live at home until they are married.
Gauchos speak a Spanish-inflected Portuguese.
Baianos, descendents of the first Africans in Brazil, are famous for being the
most extroverted and celebratory of Brazilians.
Mineiros are considered more serious and reserved than the Brazilians who
live close to the sea.

118 Língua Inglesa


O sufixo -ing tem várias funções. Forma o gerúndio dos verbos, como em fa-
zendo, comendo, olhando e pensando. Nesse caso, é sempre usado com o verbo
to be (estar) para significar “estar fazendo alguma coisa”. Por exemplo: “You are
studying English now”.

Depending on where the person lives in the country, the Brazilians are very
worried about crime.

(Dependendo de onde a pessoa mora [...] — o sufixo -ing mostra o gerúndio.)


O sufixo -ing também pode ser usado para formar o infinitivo de verbos, prin-
cipalmente quando usados no início de uma sentença ou logo após uma preposi-
ção. Além disso, o -ing pode ser usado como sufixo com verbos para transformá-
-los em adjetivos (to interest – interessar / interesting – interessante). Veja alguns
exemplos do texto que você leu:

There is an official way of doing things and there is the jeitinho.

(Há um modo oficial de fazer coisas [...] — o sufixo -ing mostrando o infiniti-
vo do verbo “do”: doing = fazer.)

Baianos, descendents of the first Africans in Brazil, are famous for being the
most extroverted and celebratory of Brazilians.

(Os baianos, descendentes dos primeiros africanos no Brasil, são famosos por
ser [...] — o sufixo -ing mostrando um verbo no infinitivo.)

Below the elite are the working class people, and at the bottom of the
socioeconomic ladder are the favelados (slum dwellers).

(Abaixo da elite estão as pessoas da classe trabalhadora […] — o sufixo -ing


forma um adjetivo.)

LER TEXTO EM INGLÊS II

Você verá a seguir algumas palavras com as terminações -ing e -ed, como located, logo na pri-
meira linha do texto sobre o Rio de Janeiro. Lembre-se sempre de utilizar as estratégias de leitura.
Veja um guia básico para ajudá-lo a lembrar delas.

• Identifique palavras cognatas: palavras grafadas em inglês que se parecem com palavras em
português e que têm significado semelhante.
• Adivinhe o significado de certas palavras que desconhece. Para isso, é preciso atentar para
o contexto em que estão sendo utilizadas.
• Localize palavras-chave, aquelas que fornecem a ideia central e que se repetem num texto.
• Use o dicionário somente quando necessário.

As palavras com sufixos estão marcadas em itálico.

9º ano 119
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro is located in southeastern Brazil, on the Atlantic Ocean. It is
Brazil’s second largest city, and the country’s leading tourist center. It is separated from
the rest of the country by mountains, including the Serra da Mantiqueira.
Rio was the capital and dominant city of Brazil from 1763 to 1960. It is an
important seaport located along the maritime traffic routes that link the coastal cities
of the northeast with the more economically developed areas of southeastern Brazil. Rio
is also a manufacturing and service center. The service sector dominates the economy
and includes banking and other financial functions. Tourism and entertainment are
also important.
Forests, mountains and beaches
Rio’s lush forests, spectacular mountains, and sparkling beaches make it one
of the most beautiful cities of the world. The city occupies a magnificent natural setting
between the mountains and the sea. From its beginnings as a fort and trading outpost,
Rio has spread to fill the space between the beaches and the mountains. Its more
famous landmarks are Sugarloaf Mountain, situated on a peninsula in Guanabara Bay,
and the large statue called Christ the Redeemer, atop Corcovado Mountain.

Celso Ávila/Folhapress

Christ the Redeemer in Corcovado Mountain, Rio de Janeiro (RJ), 2005.

Traduza as frases a seguir e observe os diferentes significados das palavras com -ed e com -ing.

a) Kissing upon greeting is common in Brazil.


b) Brazil is a great country − one of the most interesting places in the world.
c) Brazil has a large and growing economy.
d) Brazil is a country worth visiting.
e) Women should be very cautious about giving gifts to male colleagues or customers.

120 Língua Inglesa


f) Rio de Janeiro is an enchanting city.
g) The racial mixing in Brazil is the result of the increasing number of immigrants from all over
the world.
h) The country offers a welcoming social environment.
i) Visitors are fascinated by the incredible natural beauty of the country.
j) Tourists are surprised to know that the National Park of Tijuca in Rio de Janeiro is considered
the largest urban forest in the world.
k) Brazilians are disappointed that Brazil did not win World Cup.
l) Brazilian music is much appreciated abroad.
m) Learning a new language can be a challenging task.

PARA REFLETIR I

Continue sua análise do que acha verdadeiro ou não nas informações retiradas do guia turísti-
co. Lembre-se de que se trata de uma leitura crítica (sua opinião), baseada em sua experiência de
vida e em seus conhecimentos. Desenvolva uma metodologia por meio da qual você possa melhor
organizar esta atividade. Por exemplo, utilize T para true e F para false, indicando o que você acha
que é verdadeiro (true) ou falso (false). Ou algo como I agree ou I don’t agree, para opiniões com
as quais você concorda ou não concorda, respectivamente.

LER TEXTOS INFORMATIVOS II

Leia outras seções do guia de turismo do Brasil, apresentadas a seguir.

Sports: soccer
Soccer, or football, as it is also called, was introduced in Brazil in the 1890s,
when a young student from São Paulo, Charles Miller, returned from studies in England
with two footballs and a rule book and began to organize the first league. It quickly
became the national passion, and Brazil is the only country to have won five World
Cups. See some information about this fact:

• Most people in the world acknowledge that Brazilians are among the best
footballers.
GLOSSÁRIO
• Brazilians are insane about the sport.
Acknowledge: reconhecer.
• No one goes to work on big international game days.
Just about: quase.
• When Brazil unexpectedly lost to France in the 1998 World Cup
final, millions cried on the street.
• Most of the best players leave Brazil for lucrative contracts with European clubs.

It seems that many gifted kids are waiting to replace the stars. You will see
tiny children playing skilled, rough matches in the streets, on the beaches, in a jungle
clearing − just about everywhere.
ST. LOUIS, Regis. Brazil. Hong Kong: Lonely Planet, 2008. p. 59.

9º ano 121
Alexandre Tokiaka/Pulsar Imagens
Kids play football while they wait for the school bus in Bom Jesus da Serra (BA).

Economy
Brazil was noted by economists, in 2003, as a country with a very big economic
potential. In the Latin American context, it is the biggest economy.
Brazilian economy has been growing in the last years and the growth has been
particularly strong in agribusiness, which employs about 20% of the country’s workforce.
Brazil is now the leader in sugar, coffee, orange juice, soy and beef exportation.
Biofuel has gained more and more attention in the last decades in Brazil. Dur-
ing the oil crisis in the 1970s, Brazil transformed its sugarcane into an alternative fuel:
ethanol. Today, 70% of its cars run on gasoline, ethanol or some combination of the
two, and ethanol provides 40% of the country’s fuel. But environmentalists point out
that Brazil’s growth in agribusiness has led to the continued destruction of GLOSSÁRIO
the rain forest. Big forests have been chainsawed to make way for fields, a Growth: crescimento.
practice with enormously damaging implications for Brazil’s environment. Soy: soja.

ST. LOUIS, Regis. Brazil.. Hong Kong: Lonely Planet, 2008. p. 53.

1. Que combustível é mencionado no texto e produzido em larga escala no Brasil? Qual a sua im-
portância?
2. Quais vantagens e desvantagens são mencionadas no texto a respeito do agronegócio no Brasil?
Explique.
Women in Brazil
In spite of having one of the earliest feminist movements in Latin America,
chauvinist stereotypes persist in Brazil, and women are still underrepresented in
positions of power. See some facts about the women’s situation in Brazil:
• Brazilian women were among the first in Latin America to gain the right to
vote, in 1932.
• There is a growing number of feminist NGOs dedicated to educating women
about their legal rights.
• Only about 9% of all legislators are women.
• Although women represent 44% of the workforce, they tend to be GLOSSÁRIO
concentrated in low paying jobs. Low paying jobs: traba-
lhos que pagam pouco
• A woman usually earns 70% of a man’s salary.

122 Língua Inglesa


GLOSSÁRIO • Instances of domestic advances are frighteningly common: one
Beaten (to be beaten): ser report stated that every 15 seconds a woman is beaten in Brazil.

Sempreviva Organização Feminista (SOF)


espancado(a) • Since 1990, 250 women’s Police stations have been created.
• Many attribute the significantly decline in birth rate to the
aids epidemic and to sterilization.
• Sterilization is such a large problem that in 1997 the
government passed a law allowing sterilization only for
women who have had at least two children and are over the
age of 25.
• Abortions are illegal, except in cases of rape and maternal
health risks.
• An estimated one million clandestine abortions are
performed every year. The World March of Women is an action
• More than 200 000 women each year are hospitalized from of the international movement against
poverty and sexist violence.
clandestine abortions.
ST. LOUIS, Regis. Brazil. Hong Kong: Lonely Planet, 2008. p. 59.

3. Com relação às mulheres no Brasil, há mais aspectos positivos ou negativos no texto? Por que
você acha que isso acontece?
4. O texto menciona a expressão domestic advances. Discuta com um colega ou em grupos qual é o
possível significado da expressão. Após chegarem a uma conclusão, anote alguns exemplos recen-
tes noticiados na TV, internet ou rádio que se relacionem com a sua resposta.

PARA REFLETIR II

Continue sua leitura crítica e reflita sobre as opiniões e recomendações que são dadas aos que
pretendem visitar o Brasil. Para orientar sua leitura, faça anotações que apresentem a sua opinião
sobre as informações apresentadas, considerando os seguintes pontos:
• realidade sobre o contexto brasileiro;
• mitos construídos que não se aplicam mais à nossa realidade.

O PRESENT PERFECT
Esse tempo verbal é um tipo de mistura entre presente e passado. Veja o exem-
plo explicado:
The number of higher education students in Brazil has doubled in ten years.

(O número de alunos no ensino superior no Brasil dobrou em dez anos.)

A frase expressa um verbo no passado, mas a informação refere-se ao presen-


te: “o número de alunos no ensino superior dobrou em dez anos até agora”. Note
que essa é justamente a informação que fica implícita com o uso desse tempo
verbal: a escolha por has doubled mostra que a ação dura até agora, no presente
(present perfect). Se fosse em dez anos em algum período do passado, a sentença
seria feita utilizando-se outra forma verbal, o passado simples, apenas com o ver-

9º ano 123
bo doubled. Em português não se faz essa diferenciação. Ou seja, has doubled tem
a ver com o presente e doubled, com o passado. No que diz respeito ao sentido da
frase, em português, o verbo “dobrou” é utilizado no passado, mas pode trazer (e
traz, nesse caso) informação sobre o presente.
O exemplo apresentado anteriormente é o da utilização de um verbo regular.
No caso desses verbos, que têm o passado formado pelo sufixo -ed, o particípio
passado é igual à forma usada no passado. Mas, no caso de verbos irregulares,
muitos têm forma diferente. Veja um exemplo com o verbo irregular spend, que
significa “gastar” e tem como passado a forma spent, que é igual ao particípio.
Brazil has spent over US$ 670m promoting tourism.
(O Brasil gastou mais de 670 milhões de dólares promovendo o turismo.)
Nesse caso, o uso da forma has spent implica que “vem gastando até agora”,
“tem gastado”. É importante lembrar que, nesses casos, o verbo have funciona
como verbo auxiliar e, na maioria das vezes, não tem tradução. Esse aspecto ver-
bal muitas vezes pode ser traduzido como o passado simples em português. Ob-
serve alguns exemplos retirados de textos deste capítulo.
Many indigenous foods and beverages have become popular.

(Muitas comidas e bebidas nacionais tornaram-se populares.)


Brazil is the only country that has won five World Cups.

(O Brasil é o único país que ganhou cinco Copas do Mundo.)

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Observe as sentenças a seguir, releia as explicações e tente extrair dos exemplos como a estrutura
do present perfect é formada:
The growth has been particularly strong in agribusiness.
Biofuel has gained more and more attention in the last decades in Brazil.
Brazil’s growth in agribusiness has led to the continued destruction of the rain
forest.
No present perfect, temos:
No presente contínuo, temos: verbo to be + verbo + ing
No tempo futuro, temos: will + verbo
No tempo condicional ou futuro do pretérito, temos: would + verbo

2. Escreva em inglês, usando o present perfect, sobre algumas de suas ações recentes no passado.
Baseie-se nas dicas a seguir:
a) Algo que venha estudando.
b) Algo que comprou esta semana (sem dizer quando).
c) Onde você trabalha.

124 Língua Inglesa


Capítulo 2
LÍNGUA Brazil in figures: information
INGLESA
from news agencies

N este capítulo, você verá informações sobre o Brasil a partir da visão de gran-
des agências internacionais de notícias. O propósito da leitura será mais a
compreensão da informação do que o questionamento dela. Entretanto, apesar
de trabalharmos com fontes relativamente confiáveis (agências de notícias), você
deve ter em mente que todas as notícias merecem um olhar crítico.
Tenha em mente as estratégias de leitura apresentadas nos capítulos anteriores.

• Identifique palavras cognatas, que se assemelham às da língua portuguesa.


• Tente entender o significado de certas palavras com base no que você
sabe sobre o assunto.
• Use os títulos, subtítulos e palavras destacadas no texto para guiar
sua leitura e localize palavras-chave.
• Use o dicionário se necessário.

LER TEXTO JORNALÍSTICO I

Amazon deforestation hits record low


Deforestation in the Amazon rain forest has dropped to its lowest level in 24 years

Ilustração digital: Sonia Vaz

N
0 515 1 030 km
O L

9º ano 125
Deforestation in Brazil’s Amazon rain ducing deforestation by 80% from 1990 levels.
forest has dropped to its lowest level in 24 Up to July 2012, deforestation dropped by 76%.
years, the government said on Tuesday. George Pinto, a director of Ibama, Brazil’s
“Satellite imagery showed that 1,798 square environmental protection agency, told repor-
miles of the Amazon were deforested between ters that better enforcement of environmental
August 2011 and July 2012”, environment laws and improved surveillance technology are
minister Izabella Teixeira said, “27% less than behind the drop in deforestation levels.
the 2,478 sq miles deforested a year earlier.” Pinto said that in the 12-month period a
Brazil’s National Institute for Space Rese- total of 2,000 square metres of illegally felled
arch said the deforestation level is the lowest timber were seized by government agents. The
since it started measuring the destruction of the impounded lumber is sold in auctions and the
rain forest in 1988. money obtained is invested in environmental
Sixty-three percent of the rain forest’s 2.4m preservation programmes.
sq miles are in Brazil. The Guardian. Disponivel em: <www.guardian.co.uk/environment/2012/nov/28/
The space institute said that the latest figures amazon-deforestation-record-low>.Acesso em: 26 mar. 2013.

show that Brazil is close to its 2020 target of re-

1. Observe a figura que acompanha o texto e responda: quantos quilômetros de floresta foram des-
matados em 2006?

2. De acordo com a figura, quais países têm porções da Floresta Amazônica?

3. Houve diminuição no desmatamento? Explique.

4. Agora, vamos ouvir o texto que estudamos com o livro fechado. Enquanto ouve o texto,
anote em seu caderno todos os números que conseguir compreender. Em seguida, procure
pensar a quais assuntos do texto os números se referem. Converse com os colegas da sala
sobre suas escolhas.

CONHECER MAIS

Unidades de medidas
Você sabia que em alguns países, como os Estados distâncias são medidas em milhas, pés e polegadas. Isso
Unidos, algumas medidas que usamos no Brasil são dife- também acontece com as medidas de massa. Nós usamos
rentes? No Brasil, quando medimos distâncias, utilizamos medidas em quilos enquanto eles usam em libras. Veja a
centímetros, metros e quilômetros. Nos Estados Unidos, as tabela de conversão abaixo com alguns exemplos em inglês:

126 Língua Inglesa


Brazil USA
1 kilometer = 0.62 mi 1 mile = 1.61 km
1 metro = 3.28 ft 1 foot = 0.3 m
1 centimeter = 0.39 in 1 inch = 2.54 cm
1 kilo = 2.2 lb 1 pound = 0.45 kg
1 square kilometer = 0.39 mi² 1 square mile = 1.52 km²

Portanto, se você percorrer 3 quilômetros no Brasil, 70 milhas = 43,4 quilômetros (70 x 0,62)
nos Estados Unidos você vai percorrer o equivalente a 6,2 pés = 1,86 metros (6,2 x 0,3)
1,24 milhas (2 x 0,62). 12 quilômetros quadrados = 4,68 milhas
Se você tivesse 1,60 m no Brasil, nos Estados Unidos quadradas(12 x 0,39)
diríamos que você mede 5,3 ft (1,60 x 3,28).
Converter as medidas americanas para as brasileiras
não tem segredo, veja os exemplos:

APLICAR CONHECIMENTOS I

• Complete as sentenças abaixo, transformando as medidas que aprendemos:


a) The scientists walked miles within the Amazon forest. (20 km)
b) They work miles away from the city. (47 km)
c) The average height for women in Brazil is feet. (1,61 m)

MOMENTO DA ESCRITA

A atividade desta seção foi preparada para fazer você aplicar os conhecimentos adquiridos
de língua inglesa e geografia, praticando, ao mesmo tempo, a produção de um texto em portu-
guês. A ideia é levá-lo a uma prática interdisciplinar, isto é, que procura unir diferentes áreas
do conhecimento.
Escreva um parágrafo que resuma as informações apresentadas no textos e no gráfico da ati-
vidade “Ler texto jornalístico I”. Seu texto deve ser articulado de maneira que una as informações
e, ao mesmo tempo, exclua ou resuma algumas.

O BRASIL EM NOTÍCIAS
A seção a seguir foi preparada a partir de diferentes notícias sobre o Brasil
divulgadas por agências de notícias internacionais. Para cada texto há diferentes
atividades, visando não apenas promover a interação entre diferentes disciplinas
(Língua Inglesa, Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Sociais e Política, entre
outras), mas também estimular as habilidades de compreensão e produção textual.
Os textos de algumas notícias foram apresentados apenas parcialmente. Para
ler os textos completos, acesse a fonte indicada no final de cada um deles.

9º ano 127
LER TEXTOS JORNALÍSTICOS II

1. Leia a seguir algumas notícias sobre personalidades brasileiras. Os textos foram reduzidos, de
modo que se apresenta apenas o primeiro parágrafo de cada um. Para isso, foram escolhidos tex-
tos cujo primeiro parágrafo, sozinho, fizesse sentido.

Brazilian physicist receives environmental award


José Goldemberg, 80, a physics professor at contributions in formulating and implementing
the University of São Paulo (USP), has recei- many policies associated with improvements in
ved the annual Blue Planet Prize from Japan’s energy use and conservation”.
Asahi Glass Foundation for “making major Embassy of Brazil in London. 26 jul. 2008. Disponível em: <www.brazil.org.uk/press/
pressreleases_files/20080626.html>. Acesso em: 5 fev. 2013.

Brazilian architect Oscar Niemeyer dies, aged 104


Oscar Niemeyer, a towering patriarch of signed for the modernist capital city of Brasí-
modern architecture who shaped the look of lia, paid tribute by calling him “a revolutionary,
contemporary Brazil and whose inventive, cur- the mentor of a new architecture, beautiful, lo-
ved designs left their mark on cities worldwide, gical, and, as he himself defined it, inventive”.
died late on Wednesday. He was 104.
President Dilma Rousseff, whose office sits BLOUNT, Jeb. Reuters, 6 dez. 2012. Disponível em: <http://uk.reuters.com/
among the landmark buildings Niemeyer de- article/2012/12/06/uk-brazil-niemeyer-idUKBRE8B500G20121206>.
Acesso em: 3 fev. 2013.

Sua tarefa será escrever um pequeno texto que apresente comentários sobre as duas celebrida-
des brasileiras citadas nos trechos. Seu texto deve ter um título, um breve parágrafo introdutório
(que apresente os dois como personalidades destacadas, mencionando suas respectivas ocupa-
ções), um segundo parágrafo mais explicativo (que mostre por que eles são merecedores de reco-
nhecimento) e um último parágrafo que feche o assunto. Veja alguns exemplos a seguir.

• Exemplos de possíveis títulos:

“Dois brasileiros ilustres”


“Dois nomes que mudaram o Brasil”
“Alguns brasileiros ilustres”

• Exemplo de como iniciar o parágrafo introdutório:

“Niemeyer e José Goldemberg são...”


“Entre os brasileiros que se destacaram no século XX, temos Niemeyer...”

128 Língua Inglesa


• No parágrafo de explicação sobre eles, baseie-se nas informações contidas nos textos. Nessa
atividade, não se deve resumir, mas incluir todas as informações que estão nos textos, sobre
cada uma das personalidades.

• Exemplo de um parágrafo para o fechamento:


“Esses exemplos mostram que o Brasil é mais do que samba e praia...”
“Esses são apenas alguns exemplos do potencial dos brasileiros...”
“O Brasil é mais do que...”

Você deverá escolher uma das duas celebridades para receber mais atenção, de acordo com o
que pensa ou conhece sobre cada uma. Aliás, este pode ser um momento para você pesquisar
um pouco mais sobre elas.
2. Para a leitura do texto a seguir, baseie-se no que você sabe sobre o caso do brasileiro Jean Charles
de Menezes, assassinado em Londres, em 2005. A intenção nesta seção é a prática da leitura com
base em estratégias que vão além de simplesmente entender palavras ou fazer uma leitura linear
(palavra por palavra e linha por linha).
Pretende-se também levantar a discussão sobre esse caso tão polêmico. A polícia londrina é famosa
por não portar armas de fogo e utilizá-las apenas em casos extremos. Nesse caso, no entanto, mata-
ram uma pessoa por engano, julgando que fosse um terrorista. Leia o texto e responda às questões.

The Jean Charles de Menezes family campaign


On 22nd July 2005, 27 year old Jean Char- Menezes memorial univeiling
les de Menezes was shot 7 times in the head stockwell tube station
by London police officers at Stockwell tube
The family of Jean Charles de Menezes will
station as part of a pre-planned anti-terrorism
be unveiling a permanent memorial to Jean
operation.
Charles at Stockwell tube station at 10:00 am
No one has been held responsible for his
Thursday, 7 January 2010.
death.
Disponível em: <www.justice4jean.org>. Acesso em: 18 fev. 2013.

a) Faça um mapeamento do texto, com base nos nomes de pessoas, locais e instituições, escritos
com letras iniciais maiúsculas. A que se referem os nomes mencionados no texto?
b) Baseando-se no assunto geral do texto, descubra quais são as principais informações dadas.
c) Busque uma informação específica: que parte do texto traz a informação sobre o assassinato
de Jean Charles?

OS TEMPOS VERBAIS NO TEXTO


Observe agora como os tempos verbais presente, passado e futuro se mistu-
ram de maneira natural nos textos. Observe que algumas notícias utilizam de-

9º ano 129
terminado tempo (ou aspecto) verbal na manchete e outro no texto. Veja um
exemplo de uma matéria jornalística fictícia em que aparecem essas mudanças
de tempos verbais, seguida de explicações, para ajudá-lo a melhor compreender.

Lula says strike does not affect PAC


Brazil’s President Luiz Inácio Lula da Silva said the national strike of the
Brazilian Institute of the Environment and Renewable Natural Resources (Ibama)
workers will not affect the Plan to Boost Economic Growth (PAC).

Observe que, na manchete, se utiliza o verbo no presente: says. Entretanto, na


segunda linha do texto o mesmo verbo é utilizado no passado (said) e, em segui-
da, utiliza-se o verbo modal will como indicação de futuro.
A proposta aqui é proporcionar a percepção de diferentes tempos verbais da
língua inglesa, apresentados em volumes anteriores desta coleção. Lembre-se de
que o passado dos verbos regulares da língua inglesa é marcado pelo sufixo -ed.
É interessante ter em mãos a lista dos verbos irregulares no passado, já que nem
sempre essas formas constam em dicionários.

APLICAR CONHECIMENTOS II

Leia os textos sobre Jean Charles e Lula novamente e preencha a tabela a seguir com exemplos
de alguns dos tempos verbais encontrados no texto:

Presente simples Passado simples Futuro

was

LER TEXTOS JORNALÍSTICOS III

Leia a seguir dois textos a respeito de relações internacionais entre Brasil e outros países da
América Latina.

Brazil and Venezuela strengthen bilateral and regional integration

Lula said the “extraordinary” oil accor- garding the production and distribution of
ds with Venezuela will improve national sov- energy and food, Venezuela’s bid to become
ereignty, and Chávez said relations with Brazil a member of the South American free trade
are at an “optimum level”. (El Universal) bloc Mercosur, educational exchange, border
The President of Brazil, Luiz Inácio relations, and the nascent South American
“Lula” da Silva, and Venezuelan President Defense Council.
Hugo Chávez met in Caracas last Friday to Venezuela Analysis. 1 jul. 2008. Disponível em: <www.venezuelanalysis.com/
discuss the progress of bilateral accords re- news/3609>. Acesso em: 5 fev. 2013.

130 Língua Inglesa


President Lula arrives in Cuba
Luiz Inácio Lula da Silva, president of the te Petrobras Middle East B.V., and the Havana
Federative Republic of Brazil, begins a visit to office of Brazil’s export and import promotion
our country today with the purpose of expres- agency, Apex, is to be inaugurated.
sing Brazil’s solidarity with the people and go- President Lula will hold official talks with
vernment of Cuba in the wake of the damages General of the Army Raúl Castro Ruz, presi-
caused by hurricanes Gustav and Ike. dent of the councils of State and Ministers of
During his visit, he is to sign a contract on the Republic of Cuba.
participation in hydrocarbons production be-
tween Cubapetroleos and the Petrobras affilia- Cuba Min Rex. 30 out. 2008. Disponível em: <www.cubaminrex.cu/English/
currentissues/2008/Octubre/Lula.html>. Acesso em: 14 out. 2009.

As atividades propostas a seguir visam promover a conscientização sobre a estrutura e algumas


formas verbais da língua inglesa. Trata-se de uma explicação enfocando superficialmente a estru-
tura dessa língua. A intenção não é simplesmente ensinar a gramática, mas principalmente fazer
com que o conhecimento da estrutura e da gramática sejam fatores facilitadores da compreensão
de textos escritos. Assim, iniciaremos com uma breve explicação da estrutura verbal da língua.
A estrutura básica das frases na língua inglesa é relativamente parecida com a estrutura da
língua portuguesa. Segue a ordem sujeito-verbo-objeto. Veja um exemplo:

Você está aprendendo inglês.

sujeito verbo objeto

Tendo isso em mente, você sabe que, de maneira geral, a estrutura é essa, mesmo quando mais
de uma frase se sobrepõe a outra.

1. Escolha o texto apresentado que lhe pareça mais interessante. Faça sua escolha baseando-se nas
manchetes que indicam os assuntos tratados. Algumas palavras são parecidas com o português,
portanto serão de fácil compreensão. Lembre-se de que você não precisa conhecer todas as pa-
lavras − algumas podem ser deduzidas. Se essa estratégia não levar à compreensão da manchete,
você pode, ainda, usar o dicionário. Entretanto, procurar palavras em dicionários também requer
certa técnica: algumas podem não ser encontradas e outras podem estar escritas de maneira ligei-
ramente diferente, sem prefixos ou sufixos.
Observe as manchetes das notícias e antecipe o assunto tratado. Naturalmente, alguns assuntos
devem ser mais conhecidos que outros, de acordo com a experiência de vida de cada um.
2. Releia cada um dos textos aplicando as estratégias de leitura para compreendê-los. Siga esses pas-
sos e veja quanto consegue entender.
Observe o formato geral de cada texto − título, subtítulo e fotos − e registre o assunto que você
acha que ele aborda.

9º ano 131
Faça uma lista de palavras que você não conhece, mas cujo significado você pode adivinhar (de-
duzir) sem consultar o dicionário.
Faça uma lista de palavras que você precisa ou deseja procurar no dicionário.
3. Leia novamente o texto de sua escolha e procure entendê-lo mais detalhadamente. Não se pede
aqui que você escreva a tradução do texto, mas que o compreenda.
4. Ainda trabalhando com o texto que você escolheu, separe as sentenças e observe o verbo utiliza-
do em cada uma. Veja que tempo verbal foi empregado (presente ou passado) e se os verbos são
regulares ou irregulares, no caso de verbos utilizados no passado.

O SUFIXO -TION
Agora que já conhecemos um pouco mais sobre a estrutura das frases em in-
glês, vamos aprofundar nosso conhecimento sobre algumas características linguís-
ticas típicas de textos jornalísticos. Os textos jornalísticos costumam trazer um
grande número de substantivos que utilização o sufixo -tion. Para isso, transforma-
-se um verbo ou substantivo em um substantivo com maior abrangência usando a
terminação -tion. Nos textos deste capítulo há alguns exemplos desse recurso.

Venezuelan President Hugo Chávez met in Caracas last Friday to discuss the
progress of bilateral accords regarding the production and distribution of energy and
food […] (Product – production / To distribute – distribution).

Releia os textos e encontre outras palavras desse tipo, colocando-as na tabela


a seguir. Depois, descubra qual a sua origem:

Derivado com -tion Radical

distribution distribute

132 Língua Inglesa


Um outro fator de grande relevância na compreensão de textos é conhecer
um pouco sobre a conotação das palavras. Algumas palavras, tanto do português
como do inglês, têm uma carga positiva, neutra ou negativa. O verbo to cause
(causar) tem carga negativa, pois, se observarmos os assuntos e vocabulário ao
seu redor, poderemos notar que se referem a coisas ruins.
This hit caused a concussion.
(Essa batida causou uma concussão.)
What causes the common cold?
(O que causa o resfriado comum?)
Air pollution so bad it caused a 40 car pileup.
(Poluição do ar tão ruim que causou um engavetamento de 40 carros.)
Malaria is caused by the Plasmodium parasite.
(A malária é causada pelo parasita Plasmodium.)

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Encontre nos textos lidos neste capítulo uma frase com o verbo to cause. Escreva-a e destaque as
palavras de conotação negativa que se referem a esse verbo.
2. Em duplas, façam uma pesquisa com o verbo to improve. Anotem alguns exemplos, conversem
sobre eles e expliquem se esse verbo tem carga positiva ou negativa. Expliquem como chegaram
a essa conclusão.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Site Convertword
Para ver outras medidas e aprender a converter os valores, você pode utilizar esse site.
Disponível em: <www.convertworld.com/pt/>. Acesso em: 5 fev. 2013.

9º ano 133
Capítulo 3
LÍNGUA ¿Cuándo iremos a Cuba?
E S PA N H O L A

Tupungato/Dreamstime.com

La Habana, capital de Cuba, 2011.

Y a hablamos de planes e intenciones. Ahora vamos a tratar del futuro, de lo que


esperamos para nosotros y para el mundo. Hablaremos sobre cómo imagina-
mos que será el mundo dentro de unos treinta años, por ejemplo. El país elegido
para nortear este capítulo es Cuba, un país lleno de historia, pero, como todos los
demás, con muchas esperanzas en el futuro. Y, encima, es un país de mucho interés
turístico, de ahí la pregunta que da nombre al capítulo: ¿Cuándo iremos a Cuba?

¡A HABLAR!

¿Te gustaría pasar unas vacaciones en el Caribe? ¿Qué te parecería elegir esta
isla caribeña para empezar el paseo? ¿Qué referencias tienes sobre Cuba? ¿Pien-
sas que la población cubana tiene alguna semejanza con nosotros, brasileños?
¿En qué aspectos crees que nos parecemos?

134 Língua Espanhola


Este capítulo será iniciado con la introducción que el poeta cubano José Martí
hace en el libro Ismaelillo, con poemas dedicados a su hijo. Y no faltará poesía en
esta unidad, pues Cuba nos brindó con grandes poetas y ellos estarán por aquí.

LEER TEXTO LITERARIO

Hijo,
Espantado de todo, me refugio en ti. Tengo fe en el mejoramiento humano, en
la vida futura, en la utilidad de la virtud y en ti.
Si alguien te dice que estas páginas se parecen a otras páginas, diles que te
amo demasiado para profanarte así. Tal como aquí te pinto, tal te han visto
mis ojos. Con esos arreos de gala te me has aparecido. Cuando he cesado de GLOSARIO
verte en una forma, he cesado de pintarte. Esos riachuelos han pasado por mi Riachuelos: riachos.
corazón. ¡Lleguen al tuyo!
MARTÍ, José. Ismaelillo: versos libres, versos sencillos. Madrid: Catedra, 2001. p. 65.

1. Por la manera como abre esta introducción al libro, ¿qué estado de ánimo presenta el autor?
2. Discute con tus colegas y anota lo que has comprendido del texto de José Martí.

CONJUGACIÓN DE VERBOS
Observa el siguiente fragmento de un poema de José Martí:
Bosque de rosas
Allí despacio te diré mis cuitas
GLOSARIO
¡Allí en tu boca escribiré mis versos!
Borraré: apagarei.
¡Ven, que la soledad será tu escudo!
Cuitas: aflições, anseios, desejos.
Ven, blanca oveja,
Despacio: devagar.
Oveja: ovelha.
Pero, si acaso lloras, en tus manos
Roto: quebrado. Esconderé mi rostro, y con mis lágrimas
Soledad: solidão. Borraré los extraños versos míos,
¿Sufrir tú, a quien yo amo, y ser yo el casco
Brutal, y tú, mi amada, el lirio roto?
No, mi tímida oveja, yo odio el lobo,
Ven, que la soledad será tu escudo.
¿Notaste que las palabras en negrita son verbos conjugados en el futuro? Observa
el cuadro a continuación y verifica cómo se conjuga este tiempo verbal en español.

EL FUTURO SIMPLE DE INDICATIVO – VERBOS REGULARES E IRREGULARES


En Futuro de Indicativo hay una única terminación para los verbos: é – ás –
á – emos – éis – án. Se usa esta misma terminación en todas las conjugaciones,
tanto para verbos regulares como para irregulares.
Cuando se trata de un verbo regular, basta con usarlo en infinitivo y añadirle
la terminación:

9º ano 135
Futuro Simple de Indicativo
Cantar Comer Subir

Yo cantaré comeré subiré

Tú cantarás comerás subirás

Él/ella/usted cantará comerá subirá

Nosotros(as) cantaremos comeremos subiremos

Vosotros(as) cantaréis comeréis subiréis

Ellos/ellas/ustedes cantarán comerán subirán

Hay tres irregularidades en Futuro de Indicativo: -br / -dr / -rr. Los siguien-
tes verbos sufren alteraciones en la raíz, pero usamos la misma terminación de
los verbos regulares para conjugarlos.
-BR → haber = habr / saber = sabr / caber = cabr
-DR → tener = tendr / venir = vendr / poner = pondr / salir = saldr /
valer = valdr / poder = podr
-RR → querer = querr
Siguen las mismas irregularidades
Ejemplo: los derivados de los verbos, como:
Mañana no podremos salir de casa porque intervenir = intervendr / mantener =
habrá una reforma en el piso de arriba y los técnicos mantendr / componer = compondr /
tendrán que ver cómo está el nuestro. reponer = repondr.

APLICAR CONOCIMIENTOS I

1. Completa con el Futuro de Indicativo el correo electrónico que le ha enviado el agente de turismo
a Doña Margarita, un ama de casa que quiere conocer la capital de Cuba:

Nuevo e-mail – ×

Para

Asunto

Estimada Doña Margarita,

Usted (viajar) a un país encantador. (ser) sus

mejores vacaciones. ¡Seguro! En La Habana usted (encontrar) a una

gente muy alegre y acogedora. Los guías turísticos la (llevar) a los mejo-

res lugares y usted (probar) de lo mejor de la cocina cubana.

Yo (cuidar) personalmente para que todo salga bien durante

su estancia en La Habana. Usted no (preocuparse) con nada.

136 Língua Espanhola


Yo (reservar) los pasajes y el hotel. También (con-

tratar) a los mejores guías para mostrarle esta preciosa ciudad.

Mañana le (enviar) todos los documentos para su viaje y la

(encontrar) en el aeropuerto.

Hasta mañana, entonces.

Atentamente,

Javier

Turismo Caribeño S.A.

Enviar

2. Ordena las frases a continuación, conjugando los verbos destacados, en Futuro Simple de Indica-
tivo, de acuerdo con el sujeto indicado:
a) estudiar / con más concentración / nosotros / en un lugar más silencioso.

b) comprar / una nueva casa / mis vecinos / después de la primavera

c) visitar / Cuba / el próximo verano / mis amigos y yo

d) encantarse / estoy seguro de que / los paisajes caribeños / yo

e) salir / el vuelo para La Habana / con retraso / avisaron

f) venir / tus amigos cubanos / a visitarte / cuándo / (¿?)

g) haber / la compañía de viajes / anunció que / descuentos / en hospedajes para familias

h) saber / nosotros / sólo / el día del viaje / cuando lleguen los billetes

i) poner / ellos / dónde / nuestros equipajes (¿?)

j) poder / tú / comprar / cuándo / tu pasaje (¿?)

9º ano 137
ACTIVIDAD CON AUDIO

Juvenal Pereira/Pulsar Imagens


Área de facturación de equipajes en el Aeropuerto Internacional de São Paulo, Guarulhos (SP), 2012.

1. Escucha los diálogos e identifica en qué lugar del aeropuerto están esas personas:
( ) recogida de equipajes ( ) escaleras mecánicas ( ) aduana
( ) inmigración ( ) ascensor ( ) facturación de equipajes
( ) duty free ( ) puerta de embarque ( ) servicios
2. Cuando estamos de viaje hay que conocer un vocabulario específico. Escucha los diálogos y luego
relaciona las columnas según lo que hay en cada lugar o medio de transporte mencionado. Puede
ser que haya más de una respuesta para cada ítem. ¡Ojo! Ni todos los elementos están menciona-
dos en los diálogos, por eso, es importante que investigues en diccionarios y también en internet.
(1) hotel ( ) ticket
(2) avión ( ) reserva
(3) autobús ( ) habitación
(4) tren ( ) cabina
(5) estación de trenes ( ) llaves
(6) estación de autobuses ( ) desayuno
(7) aeropuerto ( ) andén
( ) individual/doble
( ) taquilla

138 Língua Espanhola


CURIOSIDADES DE LA LENGUA

FALSOS AMIGOS
Hay mucha gente por ahí intentando adivinar el futuro. ¿Crees que sería posi-
ble hacerlo? ¿Y si se cae en manos de falsos videntes que no conocen el español y
menos aún los falsos amigos? Vamos a ver el significado de algunos para que no
nos pase algo así. Observa la ilustración que sigue.

Ilustració digital: Estúdio Pingado


El pobre chico está asustado así porque no sabía que lo que decía la previsión
era que él estaría por un buen tiempo en un lugar asustador y no con un ratón
gordo en una finca vieja.

INVESTIGAR

1. Con la ayuda de un diccionario, marca las palabras que corresponden a la traducción de los si-
guientes falsos amigos y luego verifica cómo se encajan en el contexto de las frases a continuación
que vas a traducir:
a) todavía
( ) ainda ( ) todavia ( ) no entanto
b) sucesos
( ) sucessos ( ) acontecimentos ( ) êxitos
c) competencia
( ) habilidade ( ) capacidade ( ) concorrência
d) pronto
( ) pronto ( ) concluído ( ) cedo, logo

9º ano 139
2. Observa las previsiones del Míster Todoloadivina y luego intenta explicarle a otro espantado chi-
co que lo consulta lo que el mago realmente quería decir, traduciendo sus frases con atención
especial a las palabras destacadas:

– Hijo mío, tu futuro te reserva muchas sorpresas.


Vamos a ver... Estás soltero todavía, pero no desesperes.
Encontrarás tu media naranja.
– Los sucesos de tu vida te llevarán a una vida muy
agitada y lejos de tu familia.
– La competencia perjudicará tus planes de ampliación
de la empresa, pero pronto resolverás todo.

LEER POEMA

Lluvia sobre tejados


GLOSRIO Quien pudiera escribir sobre estos tejados
Alborotados: alvoroçados. musicales y casi dormidos
Antaño: em um tempo antigo. por eso mismo quizás envueltos
Azoro: preocupação, inquietação. en la lluvia y por eso mismo quizás cayendo
Huecos: vazios.
en el corazón ajustado de alguien
Temblor: tremor.
sin que nadie se esté dando cuenta.
Algunos tejados están cantando en su temblor,
están mojándose por una lluvia que nadie ha anunciado,
que nadie puede reconocer sino las gotas más pequeñas,   
las gotas que ruedan
hacia el asfalto bordado de piedrecillas
y huecos grandes como espacios abiertos
ante las balas de un ejército de ocupación asesina.
Estos animosos tejados
grises en su esplendor urbano,
alborotados en la pupila de alguien que los contempla
con el azoro de antaño, cuando los negros curros
campeaban
bajo la luz de estos tejados buscando los colores de su
pasado
y el canto ciego de sus gargantas...
MOREJÓN, Nancy. Disponible en: <www.poeticous.com/nancy-morejon/
lluvia-sobre-tejados?al=t&locale=en>. Acceso el: 25 mar. 2013.

1. ¿Cómo entiendes el poema que acabas de leer?


2. ¿Qué relación tiene la música mencionada con el tejado? ¿Por qué la autora los llama tejados
musicales?
3. ¿Y los demás adjetivos atribuidos a los tejados? ¿Cómo los interpretas? ¿A qué se refiere
la autora?

140 Língua Espanhola


LOS DEMOSTRATIVOS
Nancy Morejón es una poeta cubana cuya obra merece la pena conocer. En el
poema que acabas de leer, hay algunas palabras destacadas. ¿Sabes clasificarlas?
¿Conoces los demostrativos?
Los demostrativos pueden ser:

ADJETIVOS POSESIVOS
Cuando aparecen delante del sustantivo concordando con él en género y número.
Esta casa es muy bien iluminada.

PRONOMBRES POSESIVOS
Nunca acompañan un sustantivo, van en su lugar.
Y éstos son los billetes de avión de su viaje a La Habana.

Los demostrativos en español son los siguientes:

Pronombres demostrativos

singular plural

este estos
masculino ese esos
aquel aquellos

esta estas
femenino esa esas
aquella aquellas

Cuando funcionan como pronombres, hay también los demostrativos neutros


que se refieren a una idea, a algo que se acaba de decir, y como son neutros, no
varían ni de género ni de número:
Todo eso que acabas de contarme es verdaderamente increíble.

Son demostrativos neutros:

neutros

esto (“isto”)
eso/ello (“isso”)
aquello (“aquilo”)

9º ano 141
APLICAR CONOCIMIENTOS II

La gran diferencia entre los demostrativos en portugués y español está en la formación del
plural. Pasa las siguientes frases al plural, con especial atención al uso de los pronombres demos-
trativos:

a) Este viaje que haré a Cuba va a ser un gran viaje para recordar.
b) ¿Cuánto vale ese puro, por favor?
c) Y esta es la principal atracción turística de La Habana.
d) En aquella calle ustedes encontrarán bellos puntos de interés turístico.
e) ¿De quién es esa canción que estás escuchando?
f) Esta es de Pablo Milanés, pero aquella de ayer era de Silvio Rodríguez.
g) Ya viajé muchas veces a Cuba. Recuerdo aquel tiempo con nostalgia.

LEER TEXTO INFORMATIVO

Ya te preguntamos si hay algo de parecido entre Cuba y Brasil. ¿Y en la gastronomía? ¿Crees


que hay semejanzas también? Lee el siguiente texto y luego haz una comparación con tus com-
pañeros.

Cocina cubana
Reservada la comida típica cubana resulta sorprendente
MARKA/Alamy/Other Images

por la variedad de sus platos.


Se comienza tomando cervezas heladas acompañadas
con chicharrones de puerco. Las mujeres se encargan de
preparar los frijoles negros dormidos, la yuca con mojo,
frituras de malanga o maíz, arroz blanco abundante, plátanos
chatinos, ensalada de tomates adornada con lechugas. Los
hombres, casi todos agrupados en el patio, van asando en púa
una pierna de puerco, o un puerco entero que se cubre con
hojas de guayaba y cada cierto tiempo se empapa con zumo de
naranja agria. Este asado puede durar horas en terminar, pero
mientras, se sigue conversando y tomando GLOSARIO
cervezas. Todo se sirve en fuentes, menos Buñuelos de yuca en almíbar de anís: bolinhos
de mandioca com calda de anis.
el puerco que se coloca en una bandeja y al Chicharrones: torresmos.
centro de la mesa. Al cubano le gusta comerlo Fuentes: travessas.
Los chicharrones forman parte de la todo junto, casi siempre en el mismo plato. Malanga: tipo de inhame.
culinaria cubana. El postre típico es la mermelada de guayaba Mermelada: geleia, doce.
con lascas de queso amarillo, o los buñuelos Pero mientras: mas, enquanto isso.

de yuca en almíbar con anís. La sobremesa se hace bebiendo ron Plátanos chatinos: bananas verdes amassadas
e fritas.
y, después de haber comido hasta la saciedad, se empieza a bailar Postre: sobremesa.
hasta el amanecer. Púa: tipo de espeto.
Disponible en: <www.cultura-cubana.com/spanish/cocina.asp>. Acceso el: 30 ene. 2013. (Texto adaptado.) Yuca con mojo: mandioca com molho.

142 Língua Espanhola


1. ¿Qué hay de parecido en la cocina cubana y la brasileña? ¿Qué ingredientes son muy usados en
ambas? ¿Cuál de ellos pertenece también a tu región?

2. ¿Y el postre típico que se menciona? ¿Dónde, en Brasil, se come algo parecido? ¿Cómo se lla-
ma por aquí?

3. En el texto se habla de postre y de sobremesa. ¿Cuál es la diferencia?

CONJUGACIÓN DE VERBOS
En la oficina:

– Gabriel, ¿contratarías a este contador si fueras el jefe?


– No sé, creo que antes verificaría algunos currículos más y sólo entonces
elegiría este o aquel candidato.
– Pienso que yo haría igual.

En este diálogo los dos chicos están comentando sobre lo que harían si estu-
viesen en otra posición. Para ello están usando un tiempo verbal llamado Con-
dicional Simple de Indicativo. Si observas el cuadro a continuación, verás que su
forma de conjugación e irregularidades son iguales a las del Futuro Simple de
Indicativo, que acabas de aprender en este capítulo.

EL CONDICIONAL SIMPLE DE INDICATIVO – VERBOS REGULARES E IRREGULARES


En Condicional Simple de Indicativo también hay una única terminación
para los verbos: ía – ías – ía – íamos – íais – ían. Se usa esta misma terminación
en todas las conjugaciones, tanto para verbos regulares como para irregulares.
El Condicional Simple se usa para indicar:
• cortesía: ¿Te gustaría ver una película conmigo?
• consejo: Yo que tú, trataría de estudiar un poco más este tema.
• probabilidad: Serían unas diez de la noche cuando llegaron.

9º ano 143
Cuando se trata de un verbo regular, basta con usarlo en infinitivo y añadirle
la terminación.

Condicional Simple de Indicativo

Cantar Comer Subir

Yo cantaría comería subiría

Tú cantarías comerías subirías

Él/ella/usted cantaría comería subiría

Nosotros(as) cantaríamos comeríamos subiríamos

Vosotros(as) cantaríais comeríais subiríais

Ellos/ellas/ustedes cantarían comerían subirían

Hay tres irregularidades en Condicional Simple también, y son las mismas del
futuro: -br / -dr / -rr.
Ejemplo:
Si tuviésemos dinero suficiente podríamos comprar unos billetes de avión y
hacer un viaje a Cuba, donde tendríamos deliciosos días de descanso y diversión en el
Caribe. Pero no lo tenemos, entonces, a trabajar.

APLICAR CONOCIMIENTOS III

1. Antonio tiene algunos problemas y está preocupado. ¿Por qué no


lo ayudas con algunos consejos? Puedes comenzar tus consejos con
“Yo que tú... ” / “Yo en tu lugar…”. Observa el ejemplo:

Tengo mucha hambre, soy capaz de comer cualquier cosa. (buscar


Ilustración digital: Estúdio Pingado

comer cosas poco pesadas)


Yo que tú buscaría comer cosas poco pesadas.

a) Tengo un dolor de cabeza que me está matando. (tomar una aspirina)

b) Ya tengo los billetes para el viaje, pero todavía no conseguí cambiar el dinero. (pedir ayuda al
agente de viajes)

144 Língua Espanhola


c) No sé con quién dejaré mi perro durante el viaje. (preguntarle al portero si lo puede cuidar)

d) No sé cómo sobrevivirán mis pobres plantas tanto tiempo sin agua. (dejarlas con un amigo
durante el tiempo del viaje)

e) No me gustan las despedidas y sé que mi sobrino llorará mucho con mi salida. (salir cuando
él estuviese durmiendo)

2. Ahora, vamos a usar el condicional para expresar probabilidad.


a) – ¿Cuántos años tenía tu madre cuando se casó?
– No estoy seguro, pero (tener) unos 25 ya.

b) – ¿Qué hora era cuando sucedió el crimen?


– Nadie lo sabe, pero (ser) unas dos de la madrugada o más.

c) – ¿Qué (decir-tú) si te invitasen a un viaje al Caribe?


– Pues, yo (decir) que sí, inmediatamente.

d) – ¿Crees que tu hermano se (preocupar) si supiese que estabas


en peligro?
– Estoy segura de que (salir) corriendo y
(venir) a ayudarme.

MOMENTO DE LA ESCRITURA

1. Si investigas sobre los rituales y santerías de Cuba, verás que los cubanos se parecen a los brasi-
leños también en cuanto al misticismo y al sincretismo religioso. Aquí, vamos a explorar este lado
curioso brasileño hacia las previsiones.
Haz de cuenta que eres un(a) poderoso(a) vidente y elabora una lista con previsiones. Puedes
elegir entre los siguientes temas, pero recuerda que debes usar verbos en Futuro de Indicativo y
también los demostrativos, que son los temas gramaticales del capítulo.
Temas:
• La vida amorosa de tu compañero(a) de clase u otro personaje cualquiera.
• El futuro financiero de la empresa donde trabajas.
• La vida financiera y amorosa de una personalidad conocida.
• El futuro de tu ciudad.
• El futuro del planeta Tierra.

9º ano 145
2. Te vamos a proponer tres situaciones para las cuales deberá crear minidiálogos en los que apa-
rezcan los usos del Condicional Simple. Sigue las indicaciones:
Situación 1 – cortesía: Estás en una tienda de souvenires en La Habana y quieres comprar regalos
para tus amigos. Necesitas ayuda y sugerencias.
Situación 2 – consejo: Estás en el aeropuerto de La Habana y a tu lado está una señora cuyas
maletas desaparecieron. Aconséjala a estar tranquila, pedir información y hablar con la central de
equipajes del aeropuerto.
Situación 3 – probabilidad: Sigues en el aeropuerto de La Habana y la misma señora te está lle-
nando de preguntas y dudas sobre el horario de los vuelos que van a llegar, dónde estaría su ma-
leta cuando salió de Brasil, y otras preguntas más.

Lo que hemos aprendido


Vamos a reflexionar sobre el futuro de los conocimientos adquiridos por ti hasta ahora sobre la lengua es-
pañola. Marca la alternativa que corresponda a lo que piensas que pasará en el futuro.

1. Podré hablar con amigos y conocidos sobre países hispanoamericanos en lo que corresponde a su cultura
y costumbres:
( ) sí ( ) no ( ) no estoy seguro ( ) sólo un poco
2. Seré capaz de leer textos en español y comprenderlos con más facilidad:
( ) sí ( ) no ( ) no estoy seguro ( ) sólo un poco
3. Responderé con tranquilidad a cuestiones sobre los temas gramaticales estudiados:
( ) sí ( ) no ( ) no estoy seguro ( ) sólo algumas
4. Sabré pedir comidas, comprar ropas, preguntar precios, entender y hablar por lo menos lo mínimo necesario
en variadas situaciones como las de comercio y restaurantes, entre otras:
( ) sí ( ) no ( ) no estoy seguro ( ) sólo algumas

PARA AMPLIAR TUS ESTUDIOS


Sitios web Buena vista social club
El Buena Vista Social Club es un legendário grupo musical cubano que vale la pena conocer.
Visita su página, conoce su historia y escucha sus músicas.
Disponible en: <www.buenavistasocialclub.com>. Acceso el: 30 ene. 2013.

Música Música cubana


Disponible en: <www.musicacubana.com.br>. Acceso el: 30 ene. 2013.

Radio cadena habana


Disponible en: <www.cadenahabana.cu>. Acceso el: 30 ene. 2013.

Radio cuba
Disponible en: <www.digiradio.ch/radiocuba>. Acceso el: 30 ene. 2013.

Tune in
Si lo que quieres es escuchar la música cubana de ayer y de ahora, puedes entrar en esta página.
Disponible en: <http://tunein.com/radio/Musica-Cubana-s158964/>. Acceso el: 30 ene. 2013.

146 Língua Espanhola


Capítulo 4
LÍNGUA ¿Dónde estabas cuando
E S PA N H O L A
te busqué?
Eg004713/Dreamstime.com

Ruinas de Machu Picchu, Perú, 2010.

P ara hablar del pasado en español, hay varias formas. En este capítulo estudia-
remos tres de ellas y las usaremos para conocer también un poco sobre otro
país cercano a nosotros y que tanta historia tiene: el Perú.

¡A HABLAR!

¿Conoces el Perú? ¿Ya has estado alguna vez allí? ¿Algún conocido tuyo ya ha
viajado por este país y te trajo o contó algo interesante?
Como en capítulos anteriores, este también va a empezar con un poema. El
poema se llama “Masa”, de César Vallejo, poeta peruano, que nació en 1892, en
Santiago de Chuco, y se murió en 1938, en París, y cuya historia vamos a conocer
a lo largo del capítulo.

9º ano 147
LEER POEMA
Masa
Al fin de la batalla,
y muerto el combatiente, vino hacia él un hombre
y le dijo: “¡No mueras, te amo tanto!”
Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo.

Se le acercaron dos y repitiéronle:


“¡No nos dejes! ¡Valor! ¡Vuelve a la vida!”
Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo.

Acudieron a él veinte, cien, mil, quinientos mil,


clamando “¡Tanto amor y no poder nada contra la
muerte!”
Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo.

Le rodearon millones de individuos,


GLOSARIO con un ruego común: “¡Quédate hermano!”
Acudieron: recorreram. Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo.
Echóse a andar: começou a andar.
Hacia: em direção a. Entonces todos los hombres de la tierra
Incorporóse: levantou-se; soergueu-se.
le rodearon; les vio el cadáver triste, emocionado;
Quédate: fique; permaneça.
incorporóse lentamente,
Ruego: pedido; súplica.
abrazó al primer hombre; echóse a andar...
VALLEJO, César. Disponible en: <www.poemas-del-alma.com/masa.htm>.
Acceso el: 25 mar. 2013.

1. ¿Cuándo suceden las acciones mencionadas en el poema?


2. ¿Cómo lo interpretas? ¿Pasó algo?

ACTIVIDAD CON AUDIO

1. Escucha el siguiente diálogo en el que Mauro habla con Laís sobre su más reciente viaje y complé-
talo con los verbos que son dichos.
– Sí, ¿dígame?
– ¿Laís? Soy Mauro, ¿qué tal?
– Mauro, ¿cuándo ?
– esta mañana y todavía no con nadie.
– Chico, cuéntame, ¿cómo el viaje?
– Ah, no te imaginas. Perú es un país fantástico, por mí me quedaría allí muchos días más.
– ¿Qué lugares ?
– a Cuzco, Machu Picchu y la última semana la en Lima.
– ¿Y cómo el tiempo?

148 Língua Espanhola


– Casi todos los días por la tarde y un calor tre-
mendo, pero una noche mucho y el tiempo un poco.
– Y, ¿qué más cuentas? ¿ algo típico?
– Sí, muchas exquisiteces y te una botella de pisco sour, la bebida típica
de aquel país.
– ¿En serio? Entonces, tenemos que encontrarnos para que me cuentes todo y también quiero
ver fotos. muchas, ¿no?
– Sí, un montón, ¡por supuesto!
2. En el diálogo anterior hay tres formas verbales en el pasado. Separa en las listas a continuación los
verbos que, para ti, pertenecen al mismo grupo.

LOS PASADOS EN ESPAÑOL


En el texto inicial y también en el ejercicio de audio aparecieron situaciones
pasadas y para contarlas usamos más de una forma verbal. ¿Te has dado cuenta?
Lee otra vez el poema de César Vallejo. ¿Consigues identificar en él los verbos que
fueron conjugados en el pasado?
¿Crees que el pasado en español es semejante al portugués? ¿Sabes si hay algu-
na diferencia? Observa los siguientes diálogos:
Ilustración digital: Estúdio Pingado

– ¿Sí?
– Hola, soy Ana
¿está Beatriz?
– No, salió hace unos
minutos con su madre.
– ¿Sabes adónde
fueron?
– Sí, salieron a
comprar un regalo a su tía.
– Es que ella estaba
ansiosa por una noticia… La
llamo más tarde, entonces.

9º ano 149
Ilustración digital: Estúdio Pingado
– Beatriz, esta tarde ha llamado Ana.
– ¿Y qué quería?
– No sé, sólo dijo que tú estabas ansiosa por una noticia.
– ¿Será que ya han divulgado los resultados de los exámenes? Voy a llamarla
ahora mismo.

¿Te has dado cuenta de que en los diálogos hay tres formas verbales desta-
cadas? ¿Que hay dos formas que se parecen al portugués y una que no usamos?
Pues, son los tres pretéritos de indicativo: el Perfecto Compuesto, el Indefinido, y
el Imperfecto. Vamos a estudiarlos paso a paso.

CONJUGACIÓN DE VERBOS

EL PRETÉRITO PERFECTO COMPUESTO


Este tiempo verbal no lo tenemos en portugués, pero en español se usa para
hablar de algo que sucedió en un pasado reciente, o sea, expresa acciones inicia-
das en el pasado, pero que tienen alguna relación con el presente. Lo primero que
tienes que saber es que se forma así:

verbo HABER (conjugado en Presente de Indicativo) + PARTICIPIO del verbo principal

150 Língua Espanhola


Pretério Perfecto Compuesto

Haber (Presente de Indicativo) + Participio

Yo he

Tú has

Él/ella/usted ha
cantado, comido, vivido, dicho
Nosotros(as) hemos

Vosotros(as) habéis

Ellos/ellas/ustedes han

La traducción del Pretéri to Perfecto Compuesto se hace en portugués con el


Pretérito Perfeito Simples.
Ejemplo:
Esta mañana he encontrado al agente de turismo y me ha dicho que ya ha
comprado los pasajes.
(Esta manhã eu encontrei o agente de turismo e ele me disse que já comprou
as passagens.)

Uso del Pretérito Perfecto Compuesto


El uso de este pretérito en español se limita por el nos de los marcadores temporales que permiten el uso
uso de marcadores temporales. Sólo podemos usarlo si del Pretérito Perfecto Compuesto son:
por la marcación temporal se nota que el hablante está • Hoy, últimamente, esta mañana / tarde / semana
dentro de una unidad temporal que indica que la acción • Este mes / año
iniciada en el pasado tiene relación con el presente. Algu- • Ya / jamás / nunca / todavía / aún / alguna vez

EL PARTICIPIO
Como vimos, para formar este pretérito necesitamos el participio, por tanto,
es importante saber cómo se forma.
El participio de los verbos regulares se forma como en portugués:
• Verbos de 1a conjugación (-ar) tienen el participio -ado: cantar =
cantado
• Verbos de 2a y de 3a conjugaciones (-er, -ir), tienen el participio -ido:
comer = comido / subir = subido
Los verbos irregulares pueden tener la forma -cho o -to:

hacer = hecho / decir = dicho / escribir = escrito / volver = vuelto


Los verbos terminados por -olver tienen su participio formado por -uelto:

volver = vuelto / disolver = disuelto / desenvolver = desenvuelto

9º ano 151
APLICAR CONOCIMIENTOS I

1. Escribe en el crucigrama el infinitivo correspondiente a los siguientes participios:


a) hecho e) abierto i) vuelto
b) dicho f) descubierto j) devuelto
c) muerto g) visto k) resuelto
d) roto h) puesto

e)

c)

a)

d)

f) g)

b)

h)

j)

k)

i)

2. Traduce al portugués las siguientes frases que están en el Pretérito Perfecto Compuesto, con mu-
cha atención al sujeto de la frase, que será indicado por el verbo auxiliar haber.
a) Ya te he oído, no grites, el aeropuerto está vacío.

b) ¿Has ido alguna vez a Lima?

c) ¿Cuántas veces te han pedido el número del pasaporte?

152 Língua Espanhola


d) Hemos terminado de hacer las maletas y el taxi todavía no ha llegado.

e) Nunca he llevado tantas maletas en un viaje.

3. Elige la opción que completa adecuadamente las frases a continuación, teniendo en cuenta el
sujeto de cada una de ellas.
a) Ya (he – han – has) llamado tres veces nuestro vuelo. ¡Vamos!
b) Jamás (ha – hemos – han) oído hablar de los Incas. ¡Qué absurdo!
¿Cómo puede ser tan desinformado?
c) ¿ (he – habéis – has) estado alguna vez en Cuzco? Es que tienes unos
objetos típicos de allí.
d) (han – has – hemos) traído muchos regalos de nuestro viaje a Lima,
pero no (hemos – han – has) encontrado la artesanía que querías.

CONJUGACIÓN DE VERBOS
Cuando vivía en Cuzco, Gabriel solía dedicar los fines de semana a visitar a sus
amigos y su familia. En Lima, siquiera tiene tiempo para llamarles por teléfono.

En este pequeño texto se presentan dos situaciones de la vida de Gabriel. Indica:


a) Algo que sucedía antes.

b) Cómo es ahora.

EL PRETÉRITO IMPERFECTO DE INDICATIVO


Cuando queremos contar cosas que sucedían en un tiempo pasado, con cierta
frecuencia, usamos el Pretérito Imperfecto, que es muy parecido con el portugués
y es el que aparece en el texto cuando se cuenta lo que pasaba antes. Observa
cómo se conjugan los verbos regulares.

Verbos regulares
Cantar Comer Subir
Yo cantaba comía subía
Tú cantabas comías subías
Él/ella/usted cantaba comía subía
Nosotros(as) cantábamos comíamos subíamos
Vosotros(as) cantabais comíais subíais
Ellos/ellas/ustedes cantaban comían subían

9º ano 153
Y ahora, los irregulares, que son sólo tres, y también bastante parecidos con
el portugués.

Verbos irregulares

Ser Ir Ver

Yo era iba veía

Tú eras ibas veías

Él/ella/usted era iba veía

Nosotros(as) éramos íbamos veíamos

Vosotros(as) erais ibais veíais

Ellos/ellas/ustedes eran iban veían

Hay aquí algunos marcadores temporales de frecuencia que piden el uso del
Pretérito Imperfecto:
• Antes, en aquella época, de pequeño(a), de niño(a);
• Normalmente, a menudo, a veces, la mayor parte del tiempo, siempre, casi
siempre, casi nunca;
• Todos los fines de semana, en primavera, en invierno, en Navidad.

APLICAR CONOCIMIENTOS II

Para fijar el tema, ayúdanos a contar esta pequeña historia, completándola con el Pretérito
Imperfecto de Indicativo de los verbos indicados en los paréntesis:

En aquella época, (salir) juntos todos los domingos por la tarde. Él


(ir) a recogerme a casa de mis padres y juntos (ir) al
cine, luego (tomar) un delicioso helado en la plaza mayor del pueblo y
(hablar) de muchas cosas, me (contar) cómo había
sido la semana, (hacer) planes para el futuro, y todas aquellas cosas que
(soler) hacer los jóvenes enamorados de aquellos tiempos.
Los fines de semana nos (gustar) ir a conciertos de música clásica, pues él
(ser) músico y muchas veces (ser) sus conciertos los que yo
(asistir) y (disfrutar) con mucha emoción.
La verdad es que (estar) enamorados uno del otro y
(pensar) que el mundo (ser) sólo nuestro.
Bueno, el tiempo pasó, mucha cosa ha cambiado desde entonces, pero nosotros seguimos
juntos y, lo que es mejor, somos hoy tan felices como (ser) en aquella época.

154 Língua Espanhola


ESTADOS DE ÁNIMO
¿Conoces bien tus emociones? ¿Sabes cómo decirlas en español? Entonces
vamos a estudiar los estados de ánimo que nos movieron y siguen moviéndonos
en la vida. Observa en el siguiente recuadro cómo nombramos en español algunas
emociones bastante comunes y verás que no hay mucha diferencia de cómo se
dice en portugués.

Ilustraciones digitales: Estúdio Pingado


alegría cólera miedo tristeza amor

INVESTIGAR I

1. Existen otros estados de ánimo además de los que aparecieron anteriormente. Con tus compañe-
ros, haz una lista en portugués de otros que el grupo conozca. Luego, con la ayuda de un diccio-
nario bilingüe y de internet, busca la traducción para el español y monta una lista.
2. Después, usa la lista formulada por ti y tus compañeros para completar las siguientes frases con
el estado de ánimo que te parezca más adecuado a cada situación. Puede que en tu lista no haya
aparecido algún estado de ánimo necesario para completar las frases, discútelo con tus compañe-
ros para que todos juntos encuentren el adjetivo adecuado:

a) Ana está con el viaje a Lima que ganó en un sorteo.

b) Ricardo volvió con los lugares que visitó en Perú.

c) Ese chico es extremadamente . Dice que no va a visitar Machu Picchu

porque es muy alto y peligroso. ¿Te lo crees?

d) Cuando llegó al aeropuerto, vio que había perdido las maletas. Se puso .

e) Esa chica es una . Con todas aquellas maravillas de la naturaleza que

conocimos en Perú, ella estuvo todo el tiempo con cara de .

f) Las chicas volvieron súper con las amistades que hicieron en Arequipa.

g) Al final del viaje, todos se mostraron bastante con todo.

9º ano 155
CONJUGACIÓN DE VERBOS
Lee los diálogos a continuación.
Diálogo 1
– Ayer vine aquí, hice todo lo que era necesario para dejar la casa en orden y
también traje flores.
– ¡Vaya dedicación!
Diálogo 2
– Ayer vino aquí, hizo todo lo que era necesario para dejar la casa en orden y
también trajo flores.
– ¡Vaya dedicación!
¿Eres capaz de identificar el sujeto que ordenó la casa en cada uno de los
diálogos anteriores? ¿Cuál es yo y cuál es él/ella? A continuación verás que por
la terminación de cada verbo destacado, en la primera frase el sujeto es yo y en la
segunda, él/ella.
Ahora vamos a estudiar una tercera forma verbal en el pasado. Se llama Pre-
térito Indefinido o Pretérito Perfecto Simple y corresponde al pretérito perfeito
simples del portugués. Se usa para hablar de una acción que ocurrió en un tiempo
pasado y acabado.

EL PRETÉRITO INDEFINIDO – VERBOS REGULARES


Cantar Comer Subir

Yo canté comí subí

Tú cantaste comiste subiste

Él/ella/usted cantó comió subió

Nosotros(as) cantamos comimos subimos

Vosotros(as) cantasteis comisteis subisteis

Ellos/ellas/ustedes cantaron comieron subieron

EL PRETÉRITO INDEFINIDO – VERBOS IRREGULARES


Observa la terminación del verbo estar conjugado en el Pretérito Indefinido:

Estar
Yo estuve
Tú estuviste
Él/ella/usted estuvo
Nosotros(as) estuvimos
Vosotros(as) estuvisteis
Ellos/ellas/ustedes estuvieron

156 Língua Espanhola


• Esta misma terminación se usará con los siguientes verbos irregulares,
cuyas raíces serán las siguientes:
tener → tuv caber → cup poder → pud
andar → anduv querer → quis venir → vin
saber → sup poner → pus
Ejemplo: Ayer tuvieron problemas con el coche y no pudieron volver
al hotel a tiempo para la cena.
• Siguen la misma irregularidad los verbos derivados de los de la lista
anterior:
mantener → mantuv componer → compus intervenir → intervin
detener → detuv reponer → repus

OTRAS IRREGULARIDADES
Ser/Ir Hacer Decir Traer Conducir

Yo fui hice dije traje conduje

Tú fuiste hiciste dijiste trajiste condujiste

Él/ella/usted fue hizo dijo trajo condujo

Nosotros(as) fuimos hicimos dijimos trajimos condujimos

Vosotros(as) fuisteis hicisteis dijisteis trajisteis condujisteis

Ellos/ellas/ustedes fueron hicieron dijeron trajeron condujeron

• Los verbos ser e ir tienen la misma forma cuando


están conjugados en Pretérito Indefinido.
• El verbo hacer en 3a persona de singular sufre un
cambio en la raíz: hiz
• Verbos como decir, traer, conducir y sus deriva-
dos son verbos con Pretérito Indefinido fuerte, o sea,
en la raíz aparece la letra j. Debido a eso, en 3a persona
de plural la terminación pierde la i: ieron → eron.

E>I O>U Y + O/E Y + O/E

Medir Dormir Leer Construir

Yo medí dormí leí construí

Tú mediste dormiste leíste construíste

Él / ella / usted midió durmió leyó construyó

Nosotros(as) medimos dormimos leímos construímos

Vosotros(as) medisteis dormisteis leísteis construísteis

Ellos / ellas / ustedes midieron durmieron leyeron construyeron

9º ano 157
• La letra e se transforma en i y la o se transforma • Antes de e y de o, en la conjugación en pretérito indefi-
en u en 3a persona de singular y 3a persona de plural de nido no se puede usar la i. Entonces en verbos como leer y
verbos de 3a conjugación (-ir). Como medir se conjugan construir, por ejemplo, se usa la y en 3a persona de singular
también los verbos: conseguir, seguir, repetir, derretir, y en 3a persona de plural. Como leer se conjugan también los
teñir, advertir, reír, sonreír, entre otros. Como dormir se verbos: creer y poseer. Como construir se conjugan todos
conjuga el verbo morir. los verbos terminados por -uir: incluir, destruir, concluir etc.

APLICAR CONOCIMIENTOS III

1. Consulta las reglas y completa el cuadro a continuación con el Pretérito Indefinido de los verbos
indicados en 1a (yo) y en 3a (él) persona de singular.

Yo Él

andar

estar

tener

poder

poner

querer

saber

caber

venir

hacer

decir

contraer

traducir

¿Has notado alguna semejanza en la conjugación de estos verbos? ¿Cuál?

158 Língua Espanhola


2. Busca en el cuadro la conjugación adecuada de los verbos de las frases a continuación.
¡Ojo! hay varias conjugaciones, tienes que elegir la adecuada de acuerdo con el contexto
de cada frase.

anduve contrajeron pudieron trajimos


anduvimos cupo propuso tuvieron
concluimos dijo quise tuvimos
concluyeron estuve quiso vino
contrajo leyó supe vine
condujo leyeron supo vinieron
conduje pudo trajo
contrajimos pude traje

a) Cuando (estar) en Cuzco yo (andar) por caminos desco-

nocidos pero maravillosos.

b) No (traer) todo lo que compró en Arequipa porque no

(caber) en sus maletas.

c) Ellos no (poder) sacar todas las fotos que querían porque no

(tener) tiempo suficiente.

d) No (poder) ir a Machu Picchu. (decir) que volverá el pró-

ximo año, con más tiempo.

e) A pesar del frío que sentimos en la montaña (contraer) la gripe que nos

preocupaba.

f) Y el guía nos (proponer) conocer la fauna y la flora de la selva peruana.

g) ¿Sabes quién (conducir) nuestro coche por los 2 250 kilómetros de la costa

peruana? Juan Pedro. Y no (querer) que nadie lo sustituyera.

h) Cuando le pregunté al guía dónde encontraríamos comidas típicas peruanas no

(saber) decir. ¿Es posible algo así?

i) Cuando los compañeros de viaje (leer) el itinerario del paseo a Machu

Picchu, (concluir) que tendrían que caminar mucho.

9º ano 159
LEER RELATO DE VIAJE

Un viaje inolvidable
A nadie le quedará en el olvido nuestro viaje.

Ildipapp/Dreamstime.com
Nada dejó de ser observado. Estuvimos en los más
fascinantes sitios y tuvimos la oportunidad de conocer
muchas leyendas sobre el período incaico y nuestros oídos
pudieron disfrutar también de los más bellos sonidos de la
selva que jamás habíamos oído. Nos fascinamos delante
de muñecas típicas de muchos colores y entre ellos el rojo
y, por supuesto, probamos la mazamorra, que se hace con
La mazamorra es um postre común en Perú y en
maíz morado.
otros países latinoamericanos.
Texto elaborado para fines didácticos.

En el texto que acabas de leer están destacadas algunas palabras. Busca en el


cuadro su correspondiente en portugués. Son falsos amigos, entonces hay tram-
pas, ¿vale? (¿Sabes lo que es una trampa? Investígalo antes de hacer el ejercicio,
pues es otro falso amigo).

cairá roxo ninguém supostamente vermelho


esquecimento
lugares sitios nada lendas ouvidos
bonecas
legendas ouvido evidentemente munhecas ficará

a) nadie

b) quedará

c) olvido

d) nada

e) sitios

f) leyendas

g) oídos

h) oído

i) muñecas

j) rojo

k) por supuesto

l) morado

160 Língua Espanhola


LA CULTURA HISPANOAMERICANA

GRANDES NOMBRES DE LA LITERATURA PERUANA


Muchos son los nombres que hicie-

Carlos Alvarez/Getty Images


ron y siguen haciendo historia en Perú.
Vamos a conocer a algunos que marca-
ron la literatura con sus ideas y poemas.
César Vallejo: al inicio del capítulo
leímos el fragmento de un poema suyo.
Vallejo nació en 1892, en un pueblo
de la Cordillera de los Andes llamado
Santiago de Chuco. Escribió sus prime-
ros poemas en 1912, pero sólo en 1919
publicó Los heraldos negros, su primer
libro. En 1921 ganó un concurso lite-
rario y con el dinero publicó Trilce, un
libro de poemas llenos de intervencio-
nes y metáforas perturbadoras. Murió
en 1938.
Cesar Calvo: nació en Iquitos, en la
floresta amazónica. Además de poeta,
fue también periodista y antropólogo.
Fue un apasionado por el arte popular
y el folclor de su país y se hizo conocido
en el mundo con su grupo de canto y
danza Perú Negro. También fue autor
de muchas canciones eternizadas en las
voces de Pablo Milanés, Silvio Rodrí-
guez y Mercedes Sosa.
Mario Vargas Llosa: es natural de
Arequipa, donde nació en 1936. Estu-
dió en España y vivió muchos años en
El escritor Mario Vargas Llosa, 2011.
Europa, entre España, Francia e Ingla-
terra. De vuelta a Perú, ejerció varias
actividades, entre ellas, condujo el programa televisivo La Torre de Babel, en 1983
presidió una comisión investigativa sobre el asesinato de ocho periodistas y, en
1990, fue candidato a la presidencia de la República. Perdió las elecciones y se fue
a Londres donde volvió a sus actividades literarias. En 2010 fue galardonado con
el Premio Nobel de Literatura. Escribió novelas, cuentos, ensayos, memorias y
teatro. Algunas de sus obras, como Pantaleón y las visitadoras, La fiesta del chivo
y La ciudad y los perros fueron adaptadas para el cine.

9º ano 161
INVESTIGAR II

Tras la lectura de estas informaciones sobre los escritores peruanos, te proponemos una investi-
gación para que puedas ampliar tus conocimientos sobre este país. Te daremos algunos caminos
para la investigación, pero también puedes buscar más cosas que te interesen.
a) “Piedra negra sobre una piedra blanca”, “España, aparta de mí este cáliz” y “Masa” son de
autoría de:

b) Busca el nombre de dos otros importantes escritores peruanos.

c) ¿A qué deporte se dedica Alberto “Chiquito Rossel” y qué título mundial ganó en 2012? ¿A
quién venció?

d) Uno de los platos típicos más conocidos de Perú es el ceviche. Investiga qué ingredientes lleva
y cómo se prepara.

e) Perú también tiene dos bebidas muy típicas, una que es alcohólica y otra que no. ¿Cuáles
son ellas?

MOMENTO DE LA ESCRITURA

Esta vez te proponemos un desafío. Vas a ponerte en la piel de Antonio, un turista que ya co-
noce casi el mundo entero. Vas a contar cómo era su infancia cuando soñaba viajar por el mundo,
los viajes que todavía no ha realizado y relatar cómo fue su último viaje a Perú, los lugares que
conoció, las cosas que compró, lo que comió, bebió, entre otras cosas. Para esta tarea deberás
usar los tres pretéritos aprendidos en esta unidad. Vamos a dividir el trabajo en etapas. Sigue las
instrucciones:
• Haz una lista, con por lo menos cinco ítems, usando el Pretérito Imperfecto de Indicativo
(cantaba) para contar cómo era Antonio de niño y qué sueños tenía para su futuro de viajero.
• Haz una lista de los lugares que Antonio ya haya o no conocido, usando el Pretérito Perfecto
Compuesto (he cantado) y también expresiones de tiempo que permitan su uso: todavía, ya,
algunas veces, nunca, jamás, aún...

162 Língua Espanhola


• Ahora, haz una lista de los lugares que visitó y también de las cosas que hizo allí, usando el
Pretérito Indefinido (canté) y marcadores temporales como: el año... / durante el verano /
invierno de... / hace... años / un día... / una vez... / aquel otoño etc.
• Por último, júntalo todo, sin olvidarte de mencionar las emociones de Antonio durante sus
viajes, sobre todo cuando conoció a Laura y continúa su historia. Empieza con la frase a
continuación y dale el final que quieras.

De niño, me gustaba leer libros de aventuras en los que los personajes viajaban alrededor del
mundo. Yo siempre…

9º ano 163
Lo que hemos aprendido

¿Vamos a evaluar cuánto aprendiste de español en este curso y cómo te sientes en relación con la lengua?
Para cada ítem, marca la alternativa que corresponde a lo que sabes:

Comprensión de la lectura:
( ) consigo leer y entender textos en español sólo si tengo un diccionario cerca.
( ) consigo leer y entender textos en español orientándome por el contexto, para después investigar alguna
palabra que no haya comprendido.
( ) consigo responder a cuestiones sobre el contenido y el vocabulario de los textos que leo.
( ) no consigo entender bien los textos en español.

Comprensión auditiva:
( ) consigo entender grabaciones didácticas, canciones y también fragmentos de conversaciones reales.
( ) consigo entender bien a un hispanohablante.
( ) sólo consigo entender a un hispanohablante si habla muy despacio.
( ) no consigo entender nada de lo que escucho en español.

Expresión escrita:
( ) consigo escribir pequeños textos y comunicarme en español en situaciones cotidianas.
( ) consigo escribir textos un poco más elaborados en español, dentro de los límites de los conocimientos
hasta ahora adquiridos.
( ) no consigo escribir bien en español, pero me arriesgo.
( ) no consigo escribir en español y no me arriesgo.

Expresión oral:
( ) consigo comunicarme, en situaciones simples y cotidianas como en un restaurante, en una tienda o su-
permercado, en aeropuerto o estación de trenes o autobuses etc.
( ) consigo hablar con amigos y contar cosas sobre mí, sobre mi familia, el lugar donde vivo, lo que hago etc.
( ) no consigo comunicarme en español porque tengo vergüenza de hablar.
( ) no consigo comunicarme en español porque tengo muchas dudas y dificultades.
( ) no me arriesgo a hablar en español porque pienso que sólo podré hacerlo cuando termine un curso
avanzado.

PARA AMPLIAR TUS ESTUDIOS

Libros Conjugação de verbos em espanhol


en un diccionario de verbos encontrarás, además de explicaciones sobre cada modo y tiempo
verbal, una lista de verbos y sus conjugaciones completas. Es una herramienta esencial para
el estudio de la lengua.
ASSALI, Shirley Maia. Conjugação de verbos em espanhol. 2. ed. São Paulo: Ática, 2008.

Síntesis gramatical de la lengua española


Se trata de una gramática contrastiva, con los principales temas y su comparación con el
portugués. También constituye una herramienta importante para el estudio del español.
FREIRE, María Teodora R. Monzú. Síntesis Gramatical de la Lengua Española. São Paulo: Librería española..

164 Língua Espanhola


Bibliografia

LÍNGUA ESTRANGEIRA MODERNA

BECHARA, Suely Fernandes; MOURE, Walter Gustavo. ¡OJO! com los falsos ami-
gos: dicionário de falsos cognatos em Espanhol e Português. São Paulo: Editora
Moderna, 1998.
COLLINS English dictionary. Collins Dictionary of the English Language. Lon-
dres: Collins/ London & Glasgow, 1982.
FLAVIAN, Eugênia; FERNANDEZ, Gretel. Minidicionário Espanhol/Português –
Português/ Espanhol. São Paulo, Ática, 2008.
KRASHEN, Stephen. Principles and practice in second language acquisition.
Oxford: Pergamon, 1982.
LIGHTBOWN, Patsy M.; SPADA, Nina. How languages are learned. Hong Kong:
Oxford University Press, 1993.
ST. LOUIS, Regis. Brazil. Hong Kong: Lonely Planet, 2008.
MARTÍ, José. Ismaelillo: versos libres, versos sencillos. Madri: Cátedra. 2001.
MELLO, Thiago de. Poetas da América de canto castelhano. São Paulo: Global,
2011.
SECO, Manuel. Diccionario de dudas y dificultades de la lengua española. 9. ed.
Madri: Espasa Calpe, 1996.
________. Diccionario de la lengua española. 21. ed. Madri: Real Academia Es-
pañola, 1992.

9º ano 165
UNIDADE 4

História
Capítulo 1
HISTÓRIA Conflitos pelo poder: o mundo
em disputa

O século XX foi marcado por inúmeros conflitos entre as nações, alguns com
o uso de armas, outros não. Em sua maior parte, tratava-se de disputas para
se obter maior poder perante outros países, fosse esse poder político, econômico
ou cultural. Muitas vezes a busca pelo poder levou a grandes guerras, que envol-
veram todo o planeta. Neste capítulo veremos como a tentativa de se impor pe-
rante os demais esteve presente na História após o fim da Segunda Guerra Mun-
dial, fazendo do mundo um palco de batalhas em potencial.

MGM/Courtesy Everett Collection/Latinstock

Cena do filme Rocky, o lutador – IV, que estreou em 1985. No filme, o boxeador estadunidense Rocky, interpretado por Sylvester Stallone,
enfrenta um poderoso adversário russo. O cinema frequentemente representa conflitos da História, como o caso da Guerra Fria, entre Estados
Unidos e União Soviética.

DEBATER

O poder faz parte do nosso cotidiano: nas dinâmicas familiares; no ambiente de trabalho; na
nossa comunidade; nos espaços da cidade, do estado e do país. Mas o que é poder? Reúnam-se em
grupos e discutam em que situações podemos identificar a presença do poder nas nossas relações
do dia a dia. Descrevam acontecimentos frequentes em que ele está presente. Após a discussão, os
grupos devem realizar uma síntese das opiniões que apareceram e compartilhar com os demais
colegas da classe.

9º ano 169
LER IMAGENS I

Ainda em grupo, observem as imagens a seguir e debatam as questões propostas.


Dmitry Astakhov/ITAR-TASS Photo/Corbis/Latinstock

Andreas Solaro/AFP/GettyImages
Encontro de chefes de Estado dos membros do Grupo dos 20 (G20),
formado pelos 19 países com as maiores economias do mundo e a União
Europeia, ocorrido em Cannes (França) em 2011. Na foto, vemos os então
representantes das seguintes nações: Brasil (Dilma Rousseff); Rússia
(Dmitry Medvedev); Argentina (Cristina Kirchner); França (Nicolas Sarkozy);
Alemanha (Angela Merkel); Estados Unidos (Barack Obama), Indonésia Papa Bento XVI, em cerimônia realizada no Vaticano em 2012. No início de
(Susilo Bambang Yudhoyono); entre outros. 2013, ele renunciou ao pontificado.
Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Ismar Ingber/Pulsar Imagens

Conflito entre polícia militar e moradores da comunidade Pinheirinho, em


São José dos Campos (SP), em 2012. Na ocasião, a ordem de reintegração de
posse foi cumprida com violência, diante da resistência dos moradores em Praia de Copacabana e favela Pavão-Pavãozinho, na zona sul do Rio de
deixar suas casas. Janeiro (RJ), 2010.

1. Em quais imagens o grupo identifica situações de poder? Justifique a resposta para cada uma delas.
2. Façam uma lista das principais palavras que apareceram nas respostas à questão 1, que explica-
vam o porquê de as imagens representarem situações de poder. Para fazerem a lista, reflitam sobre
que termos podem ser usados para definir o que é poder.
3. Criem uma definição para explicar aos demais colegas o que é poder. Usem as imagens para dar
exemplos de situações onde ele está presente.
4. Por fim, debatam com a classe a questão: pode-se dizer que todas as imagens mostram uma mes-
ma forma de poder? Justifiquem.

170 História
GUERRA FRIA

Guerra Fria é o nome que se dá a um período da História que vai do final da


Segunda Guerra Mundial (1945) ao fim da União Soviética (1991). Apesar dos
muitos acontecimentos e processos ocorridos nesse longo período, ele tem uma
característica comum, já que nessas quase cinco décadas o mundo foi marcado
por uma disputa de poder entre duas nações: Estados Unidos e União Soviética.
Porém, não ocorreram conflitos diretos entre esses países – por isso, os historia-
dores costumaram chamar essa disputa de uma “guerra fria”, ou seja, sem batalhas
efetivas entre os dois inimigos.
Como essas duas nações tinham um grande potencial bélico, isto é, dispu-
nham de armas que poderiam causar uma enorme tragédia no planeta, a simples
ameaça de ataque de ambos os lados era suficiente para manter o conflito aceso.
Assim, elas frequentemente comprovavam o seu poder interferindo em disputas
fora de suas fronteiras nacionais, apoiando sempre lados opostos de guerras e de
debates ideológicos em diversos países, principalmente durante a segunda metade
do século XX.
Cada uma dessas duas potências seguia um regime político diferente e buscava
expandi-lo para as áreas onde tinha influência. Os Estados Unidos difundiam o
modo de vida capitalista, baseado no consumo e na propriedade privada. Já a União
Soviética, socialista, era defensora de um Estado forte que controlava a economia
e também o cotidiano de seus cidadãos. Como ambas procuravam expandir seu
poderio pelo mundo, pode-se dizer que, além de divididos pelo apoio a uma dessas
duas potências, os demais países também se dividiam entre capitalistas e socialistas.
O maior exemplo desse mundo bipolar (dividido em dois polos, um contro-
lado pelos Estados Unidos e outro pela União Soviética) foi o continente europeu.
Após o fim da Segunda Guerra, seus países estavam abalados e precisavam de
ajuda para reerguer sua economia. Diante dessa situação, em 1947, o secretário de
Estado estadunidense George Marshall ofereceu recursos econômicos às nações
da Europa Ocidental. Essa foi uma dentre várias iniciativas políticas conhecidas
como Doutrina Truman, que em troca de empréstimos pediam apoio político e
ideológico. Esse apoio se tornou também militar com a criação da Organização
do Tratado dos Países do Atlântico Norte (Otan), um pacto em que Reino Uni-
do, Bélgica, Portugal, Itália, entre outros países, comprometiam-se a estar do lado
dos estadunidenses em caso de um conflito armado.
Por outro lado, a União Soviética também estendeu seu poder na Europa
Oriental, conseguindo vários aliados. Em 1955 criou o Pacto de Varsóvia, que
também era um acordo militar pelo qual países como Tchecoslováquia, Bulgária,
Polônia, Hungria se comprometiam a apoiar os soviéticos em possíveis guerras.
Esses países também adotavam o socialismo como regime político e a aliança en-
tre eles ficou conhecida como cortina de ferro, já que formavam uma espécie de
divisão no continente entre os aliados da União Soviética e dos Estados Unidos.

9º ano 171
Divisão da Europa durante a Guerra Fria

Ilustração digital: Sonia Vaz


N
0 340 780 Km
O L

Fonte: <www.monde-diplomatique.fr/cartes/europeguerrefroide>. Acesso em: 20 dez. 2012.

No caso da Alemanha, o país sofreu devido aos acordos estabelecidos logo


após o fim da Segunda Guerra, já que a nação foi derrotada. No final da década
de 1940, o país foi dividido em duas partes: a República Federal da Alemanha
(RFA), capitalista e sob influência dos Estados Unidos; e a República Demo-
crática Alemã (RDA), socialista e sob influência soviética. Os Estados Unidos
investiram muitos recursos na parte ocidental, pois pretendiam transformá-la em
um modelo dos benefícios do capitalismo para as nações próximas. Para evitar
que a população da parte oriental migrasse para o outro lado, a União Soviética
construiu um muro separando a capital Berlim em duas, em 1961.
O Muro de Berlim se tornou um símbolo do que se passava em outras par-
tes do mundo durante a Guerra Fria. Muitos conflitos ocorridos na Ásia e até na
América Latina contaram com a participação dessas duas potências. Estados Uni-
dos e União Soviética se enfrentaram indiretamente na Guerra da Coreia (1950-
1953), dividida em Coreia do Norte (socialista) e Coreia do Sul (capitalista). O
mesmo aconteceu na Guerra do Vietnã (1955-1975), país que era capitalista em
sua porção sul e socialista em sua porção norte. Esses episódios mostram que,
apesar de não ter havido enfrentamentos diretos durante a chamada Guerra Fria,
ocorreram batalhas e mortos em decorrência da briga entre os governos estadu-
nidense e soviético pelo poder.

172 História
LER IMAGENS II

As duas imagens a seguir são documentos históricos e foram produzidas sob influência da
Guerra Fria. Observe-as atentamente e responda às questões.
Michael Nicholson/Corbis/Latinstock

Propaganda comunista mostra soldado russo reprovando soldado estadunidense que oculta uma bomba com a inscrição: “capitalismo
monopolista”.

9º ano 173
RKO Radio Pictures Inc.

Cartaz do filme Eu casei com um comunista, de 1950. Ao alto, à direita, lê-se: “A beleza dela serviu para a máfia do terror cuja missão é destruir”.

1. Descreva detalhadamente cada uma das imagens, dizendo que aspectos chamaram mais a sua atenção.
2. Qual é a visão da União Soviética presente na primeira imagem? Justifique.
3. Qual é a visão do comunismo no cartaz de filme? Justifique.
4. Pode-se dizer que os dois cartazes, defendem o mesmo lado nesse conflito? Justifique com base
nos elementos das imagens.

ÁSIA E ÁFRICA: LUTA PELA LIBERDADE


Durante o século XIX, as nações europeias dominaram diversas regiões da
África e da Ásia, em uma disputa por poder econômico, político e cultural. Esse
processo de dominação foi denominado pelos historiadores de imperialismo e
seguia uma lógica colonial de expansão territorial, já que essas regiões passavam
a ser exploradas economicamente e ocorria também a tentativa de impor aos seus
habitantes um modo de viver e de pensar vindo da Europa.

174 História
As duas grandes guerras travadas na primeira metade do século XX, porém, en-
fraqueceram as nações europeias, facilitando o desenvolvimento de movimentos que
buscavam a independência política e a reafirmação da cultura local nessas áreas GLOSSÁRIO
dominadas da África e da Ásia. Esses movimentos deram origem ao processo Emancipação:
libertação;
de descolonização, ou de emancipação de diversos países africanos e asiáticos. independência.
Além do enfraquecimento das nações europeias com as duas grandes guer-
ras, muitos outros fatores ajudam a explicar por que as lutas pela emancipação
se espalharam por tantos países a partir dos anos 1950. É necessário dizer que nas
regiões da África e da Ásia esses processos foram diferentes entre si e inspirados por
ideias também distintas. No entanto, há alguns pontos em comum entre eles, como o
fato de parte das elites locais e dos estudantes aderir a movimentos internacionais de
direitos humanos e pela liberdade civil. Os movimentos nacionalistas, que surgiram
em muitos países, também foram responsáveis pelo abalo do poder colonial.
Em 1947, o Reino Unido reconheceu a

Hulton-Deutsch Collection/Corbis/Latinstock
independência da Índia. Porém, esse fato
foi apenas o desfecho de uma luta que vinha
desde o final do século XIX, quando começa-
ram a ser criados partidos e associações que
questionavam a presença britânica no país.
O principal movimento ocorrido nesse pro-
cesso pregava a desobediência civil (um mé-
todo que descumpre as ordens consideradas
injustas do Estado) e foi liderado pelo paci-
fista Mahatma Gandhi. Tendo estudado em
Londres, Gandhi foi um exemplo entre os jo-
vens que voltavam ao seu país de origem com
ideias de emancipação. Apesar de seu método
recusar o uso da violência, ele foi assassinado
em 1948, por um extremista que o responsa-
bilizava pela fraqueza do novo governo. Mahatma Gandhi, líder da campanha de não violência e de desobediência
Outra região que conseguiu a indepen- civil durante o processo de independência da Índia. Foto de 1930.

dência após a Segunda Guerra foi a Indo-


china, formada pelos atuais Vietnã, Laos e Camboja. Colônia da França, durante
esse conflito mundial foi ocupada pelo Japão. Nessa época se espalharam movi-
mentos que lutavam pela emancipação, sendo o principal deles a Liga Revolucio-
nária para a Independência do Vietnã (ou Movimento Vietminh), liderada pelo
líder comunista Ho Chi Minh.
Com a derrota japonesa na Segunda Guerra, Ho Chi Minh declarou a inde-
pendência do Vietnã, decisão não apoiada pela França. Isso deu origem a um lon-
go conflito, conhecido como Guerra da Indochina (1946-1954), que terminou
com o reconhecimento da emancipação de Laos e Camboja. O Vietnã foi dividido
em dois, uma parte socialista ao norte, e outra capitalista ao sul. Inicialmente, o

9º ano 175
acordo previa que elas se unificassem em 1956, o que não ocorreu. Essa foi uma
das causas da Guerra do Vietnã, um dos principais palcos da Guerra Fria.
Na África, havia colônias da França, do Reino Unido, da Espanha, da Bélgica,
da Itália e de Portugal. Cada país teve seu próprio processo de independência,
porém, algumas ideias circularam e estiveram presentes em todo o continente. A
principal delas foi o pan-africanismo, que propunha a união dos diversos povos
africanos para lutar pela emancipação. Essa ideologia considerava que as frontei-
ras africanas haviam sido impostas pelos colonizadores, e que por isso esses povos
deveriam se juntar para combatê-los.
Essas ideias circularam também em outras partes do mundo, como nos Esta-
dos Unidos e na Europa, ganhando força nos anos 1950 e 1960. Na França, por
exemplo, um pensador nascido na Martinica (América Central), Frantz Fanon,
defendia a afirmação das culturas locais e o uso da violência como forma de liber-
tação. Seus livros foram lidos por jovens de todo o mundo, inclusive da América
Latina. Ele acompanhou de perto a luta pela independência da Argélia (1954-
-1962), onde a Frente de Libertação Nacional recorreu à guerrilha para conquis-
tar a emancipação do Estado francês.
No caso das ex-colônias portuguesas, a independência também foi fruto de
muitas guerras. Em Angola, três movimentos de emancipação participaram des-
sas disputas: Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), a União Nacional
para a Independência Total de Angola (Unita) e Movimento Popular de Liberta-
ção de Angola (MPLA). As lutas se intensificaram no país a partir de 1961, mas a
libertação só foi declarada em 1975.
De forma semelhante, Moçambique só obteve a independência frente ao go-
verno português após mais de dez anos de luta. O movimento, liderado pela Fren-
te de Libertação de Moçambique (Frelimo), conquistou a emancipação do país
também em 1975. Na realidade, um episódio ocorrido em Portugal colaborou
para que as então colônias portuguesas conquistassem sua autonomia política. A
chamada Revolução dos Cravos
Patrick Chauvel/Sygma/Corbis/Latinstock

pôs fim a uma longa ditadura e


foi organizada por jovens oficiais
do exército (muitos dos quais ha-
viam lutado na África contra os
movimentos de independência).
Essa mudança de governo na Eu-
ropa colaborou para o sucesso
da emancipação das nações afri-
canas. Porém, os muitos anos de
guerra necessários para conquis-
tá-la ainda hoje deixam conflitos
e dificuldades para os habitantes
Soldados da União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita), durante a
desses países. Guerra Civil, em 1975, em Huambo, Angola.

176 História
CONHECER MAIS

Os zoológicos humanos na Europa

Coleção particular - Michael Graham-Stewart/The Bridgeman Art Library/Keystone


A dominação exercida pelos países europeus sobre a África e
a Ásia não foi apenas econômica e política. Esses países se julga-
vam superiores às suas colônias, considerando que tinham como
missão “levar a civilização” a partes do mundo e povos que con-
sideravam inferiores. Porém, por trás dessa mentalidade estavam
preconceitos e também a incapacidade de aceitar diferentes for-
mas de viver e pensar. Nesse sentido, pode-se dizer que as nações
europeias foram intolerantes às diferenças.
Em nome dessa “civilização”, foram cometidos atos absur-
dos, que desrespeitaram direitos que esses próprios países di-
ziam defender, como o direito à liberdade. Um exemplo desse
desrespeito foram os zoológicos humanos, montados nas ca-
pitais europeias – assim como em várias cidades dos Estados
Unidos. Pessoas vindas da África, da Ásia e da América Latina
(como indígenas e grupos considerados “exóticos” para essas
nações) eram levadas e expostas em feiras e exposições univer-
sais em cidades francesas, inglesas, belgas, portuguesas, ale-
mãs, italianas, entre outras.
Expostas como “selvagens” – ou seja, como povos sem civili- Ilustração de William Maud, de 1899, mostra europeus
zação e cultura –, essas pessoas eram visitadas por europeus em observando nativos da África do Sul como se eles fossem
espécies de “zoológicos humanos”. Apesar de essa prática ter di- animais expostos em um zoológico.
minuído após a Segunda Guerra, muitas exposições e feiras foram
realizadas até 1958, quando os movimentos de descolonização já GLOSSÁRIO

estavam espalhados, impedindo esse tipo de evento preconceituo- Exóticos: não originários do país de origem, estrangeiros;
so e intolerante. esquisitos ou estranhos ao olhar.

LER DOCUMENTO

Leia o documento a seguir e depois responda às questões propostas.

Carta à juventude africana (1958)


[...] O mundo colonial sucumbe após uma quinzena de anos de assaltos cada
vez mais violentos e o edifício rachado está em vias de desabar. [...]
Os povos colonizados se reconheceram, de modo geral, em cada um dos
movimentos, em cada revolução proposta e conquistada pelos oprimidos. Além da
necessária solidariedade com os homens que, em toda a superfície da Terra, lutam pela
democracia e pelo respeito aos seus direitos, se impõe, com uma violência incomum,
a firme decisão dos povos colonizados em desejar para si e para seus GLOSSÁRIO
irmãos o reconhecimento da sua existência nacional, da sua existência Sede administrativa: no caso
desse texto, a expressão se refere
enquanto membros de um Estado independente, livre e soberano. [...] a uma instituição da metrópole
Há dez anos que o dever de todo colonizado está definido: sob que administra a colônia.
o sol nacional, minar o edifício do colonialismo e apoiar de maneira Soberano: que detém o poder;
que tem autoridade para decidir
positiva as lutas dos povos colonizados. [...] sobre suas próprias questões.
Todo colonizado que aceita atualmente uma sede administrativa Sucumbe: cai, é vencido, deixa
deve saber que, de maneira evidente, proporcionará, cedo ou tarde, de existir.

9º ano 177
uma política de repressão, massacres, assassinatos coletivos em uma das regiões do
Império francês. [...]
Juventude africana! Juventude de Madagascar! Juventude das Antilhas!
Nós devemos, todos juntos, cavar o túmulo em que se enterrará definitivamente o
colonialismo!
FANON, Frantz. Frantz Fanon œuvres. Paris: La Découverte, 2011. p. 799-804. (Traduzido do francês pela autora.)

1. Como Fanon define, nesse texto de 1958, a situação do mundo colonial? Destaque uma frase do
texto que exemplifique sua resposta.
2. Na frase “se impõe, com uma violência incomum, a firme decisão dos povos colonizados em de-
sejar para si e para seus irmãos o reconhecimento da sua existência nacional”, a quem o autor se
refere ao usar a palavra “irmãos”? Justifique.
3. Para Fanon, que atitudes das nações colonialistas são indiretamente apoiadas por uma pessoa que não
se junta aos movimentos anticoloniais? Localize um parágrafo do texto que responde a essa pergunta.
4. Você concorda com o autor que nas situações em que não protestamos contra algo que nos desa-
grade estamos sendo coniventes com a situação? Explique seu ponto de vista.

MOBILIZAÇÃO DA JUVENTUDE
Os anos 1950 foram marcados por uma recuperação da economia principal-
mente nos países ocidentais, após a crise da década anterior causada pela Segunda
Guerra. Nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, a indústria viveu um
período de crescimento. Nesse contexto, destacava-se a fabricação de produtos
como eletrodomésticos e automóveis. O avanço da tecnologia possibilitava mer-
cadorias cada vez mais modernas, enquanto as propagandas convenciam a popu-
lação de que as novidades deveriam se tornar sonhos de consumo.
Nesse contexto, onde as inovações eram cada vez mais aceleradas, a juventude
passou a ser um grupo social privilegiado, especialmente a partir do final dos
anos 1950. Os jovens desempenhavam um importante papel como consumido-
res de novidades, mas também como pessoas que buscavam transformar as for-
mas de viver e de pensar. Em vários países, eles começaram a ouvir músicas que
retratavam as preocupações de sua faixa etária; passaram a ser protagonistas de
muitos estilos cinematográficos; lançavam moda em vários setores.
Além de inovar os hábitos culturais e as relações sociais, muitos deles se
organizavam em movimentos políticos e manifestavam ativamente sua opinião,
opondo-se às posturas políticas e sociais que consideravam conservadoras. Di-
versos exemplos dessa mobilização podem ser citados, mas sem dúvida o mais
conhecido entre eles foi o Maio de 1968, em Paris. Nesse mês, alunos das uni-
versidades francesas iniciaram uma onda de protestos que se espalhou pela Eu-
ropa e pelas Américas. Em muitos países, a ação dos estudantes foi seguida por
outros setores da sociedade, como os operários. Na França, além das ocupações
das instituições de ensino, 1968 foi marcado por greves em várias fábricas.

178 História
Wally McNamee/Corbis/Latinstock
Os protestos estudantis ocorridos em Paris em maio de 1968 espalharam-se pelo mundo. Jonathan Blair/Corbis/Latinstock Nos Estados Unidos, as manifestações dos jovens
muitas vezes traziam um pedido de paz, e se opunham
ao governo que participava da Guerra do Vietnã. Nessa
foto, protesto ocorrido na capital, Washington, em 1969.

No Brasil, que vivia desde 1964 uma ditadura militar, ocorreram passeatas
que reivindicavam direitos dos estudantes e a volta da democracia, sendo que a
maior delas reuniu 100 mil pessoas no Rio de Janeiro, em 26 de junho de 1968.
A cultura brasileira da época, antenada com os movimentos internacionais, fez
importantes mudanças na forma de fazer teatro (com as peças dos grupos Oficina
e Arena), cinema (com um movimento conhecido como Cinema Novo) e artes
plásticas. Todo esse cenário de agitação incentivava o desejo pela liberdade polí-
tica, que estava restrita desde o golpe militar.
Em vários países da América Latina, 1968 também foi um ano marcado por
mobilizações estudantis. Isso ocorreu na Argentina, no Uruguai, na Colômbia e
na Venezuela, onde estudantes ocuparam os edifícios das universidades, decreta-
ram greves e organizaram grandes manifestações.
Muitos desses episódios terminaram em conflito com a polícia e o exérci-
to. No Brasil, Edson Luís de Lima Souto, que tinha vindo do Pará estudar no
Rio de Janeiro, foi assassinado pela polícia militar durante uma passeata em março
de 1968, o que gerou grandes protestos por parte dos colegas. No entanto, a pior
tragédia ocorreu no México, onde os confrontos nas universidades resultaram em
38 mortos. Para piorar, como a capital mexicana seria palco dos Jogos Olímpicos,
o governo ordenou uma forte repressão policial, que terminou no assassinato de
quase 300 pessoas que se manifestavam contra o Estado.

9º ano 179
Proceso/AP Photo/Glowimages
Conhecido como Massacre de Tlatelolco, calcula-se que entre 200 a 300 pessoas morreram na
Cidade do México em 2 de outubro de 1968. Na foto, estudantes são revistados por soldados
dentro de um edifício.

LER TEXTO CIENTÍFICO

Leia o texto abaixo sobre o papel da televisão na cultura brasileira a partir dos anos 1960. Em
seguida, responda às questões.

A massificação da televisão
O ano de 1968 pode ser considerado o momento em que a GLOSSÁRIO
televisão, efetivamente, se tornou um veículo de massa, suplantando a Suplantando: superando,
ultrapassando.
importância do rádio como principal meio de comunicação de massa nas
grandes cidades brasileiras.
Aquele que marcou a crise definitiva de um dos maiores fenômenos de audiência
de todos os tempos: o programa Jovem Guarda, após a saída do seu grande astro, Roberto
Carlos, em janeiro de 1968. Na verdade, o fim do programa assinalou a decadência do
próprio movimento, que já não repetia o sucesso de 1965 e 1966. A juventude brasileira
havia mudado, a ingenuidade e a rebeldia adocicada que se limitavam a acelerar o
carango, ter vários brotos e brigar na rua não davam mais pontos no Ibope. Os jovens
queriam ir além e discutir comportamento, sexualidade, revolução. Ainda que limitados
a uma atitude mais estética do que política, esses temas passaram a ocupar a agenda da
cultura jovem em 1968. Além disso, o setor mais politizado da juventude estava em alta,
ocupando as páginas da imprensa. Nunca os estudantes estiveram com tanto prestígio,
mesmo entre alguns conservadores e, a partir de março de 1968, com a morte do jovem
secundarista Edson Luís pela polícia do Rio de Janeiro, os estudantes passaram a ser os
novos heróis da sociedade brasileira, em sua luta pela democracia. Os festivais acabaram
se tornando palco dos debates estéticos, políticos e culturais.
NAPOLITANO, Marcos. Cultura brasileira: utopia e massificação (1950-1980). São Paulo: Contexto, 2001. p. 73-74.

180 História
1. De acordo com o autor, qual foi o meio de comunicação que mais ganhou importância no final
dos anos 1960?

2. Que temas a juventude passou a valorizar nos programas de televisão, a partir de 1968?

3. Qual foi o papel dos jovens, segundo o autor, no final dos anos 1960? Explique.

DEMOCRACIA E DITADURA NA AMÉRICA LATINA


A segunda década do século XX foi marcada na América Lati- GLOSSÁRIO
na por fortes conflitos políticos e ideológicos. Muitos desses con- Revolução Cubana: movimento
de apoio popular ocorrido em
flitos estavam ligados à disputa entre Estados Unidos e União So- Cuba que, utilizando a guerrilha,
viética durante a Guerra Fria, já que esses países apoiavam grupos derrubou o governo do ditador
Fulgêncio Batista, em 1959. Dois
locais distintos. Em Cuba, por exemplo, após a Revolução Cubana, anos depois, o novo governo
assumiu o caráter socialista
os soviéticos apoiaram o governo de Fidel Castro, inclusive inves- da Revolução, tornando-a
tindo recursos; enquanto os estadunidenses tentaram invadir a ilha um símbolo vitorioso para as
esquerdas de todo o mundo.
quando os revolucionários se declararam socialistas e lhe impuse-
ram um forte bloqueio econômico.
Em toda a América Latina, a Revolução Cubana inspirou grupos de esquerda
a pegarem em armas para levarem seus países ao socialismo. Alguns exemplos
dos grupos que aderiram a essa tática foram os montoneros, na Argentina; os
tupamaros, no Uruguai; o Sendero Luminoso, no Peru; e a Ação Libertadora
Nacional (ALN), no Brasil. Durante os anos 1960 e 1970, esses movimentos pra-
ticaram a guerrilha, com ações como sequestros, assaltos e atentados. Essas ações
também tinham como objetivo combater ditaduras instauradas nesses países.
Por outro lado, a direita se organizou em várias nações latino-americanas,
promovendo uma onda de golpes militares que depuseram presidentes conside-
rados socialistas ou adeptos de reformas de base. Apoiados por vários setores
da elite, que viam seus privilégios em risco, esses golpes levaram a uma crise da
democracia na América Latina, já que ditaduras permaneceram durante muitos
anos no poder.
Essa tendência foi sustentada pelos Estados Unidos, que, temendo perder sua
influência sobre a região, colaboraram militarmente com vários golpes de Esta-
do, assim como para a manutenção das forças armadas no poder. A Operação
Condor – uma espécie de aliança militar entre Brasil, Argentina, Chile, Bolívia,

9º ano 181
Paraguai e Uruguai – tinha apoio estadunidense e perseguia opositores políticos
das ditaduras nacionais em outros países do continente. Além disso, durante esse
período, militares latino-americanos eram treinados na Escola das Américas,
instituição organizada pelos Estados Unidos no Panamá, para praticarem torturas
durante interrogatórios.
Na Argentina, o país viveu uma ditadura militar entre 1966 e 1973, quando
voltou a ter eleições por um curto período. Em 1976, no entanto, outra ditadura foi
instaurada, dessa vez ainda mais repressiva e violenta que a anterior. Até a abertura
política, em 1983, os argentinos estiveram submetidos a um dos mais sangrentos
governos ditatoriais da América Latina. Calcula-se que cerca de 30 mil civis foram
assassinados durante esse período, entre opositores e integrantes de grupos de es-
querda. Os militares praticaram ainda sequestros de crianças, que eram detidas
durante a prisão de seus pais e doadas a famílias da elite ou dos próprios militares.
Hoje em dia, existem muitos movimentos que lutam pelo julgamento desses cri-
mes e pela localização de corpos e dos filhos levados de seus parentes de origem.
Outro país que sofreu um golpe de Estado brutal foi o Chile. Em 1970 um
candidato socialista foi eleito à presidência da república. Salvador Allende gover-
nou durante três anos, período em que fez mudanças significativas na sociedade
chilena. Seu governo tornou públicas empresas importantes, que estavam, em sua
maioria, nas mãos de corporações estadunidenses. Além disso, começou a fazer
reformas que desagradaram à elite nacional, como a reforma agrária, a instalação
de projetos habitacionais nas cidades e a desapropriação de empresas para deixá-
-las sob responsabilidade dos operários.
Os Estados Unidos, que viam seus interesses ameaçados no país, apoiaram
o exército chileno, que atacou e bombardeou o palácio da presidência em 11 de
setembro de 1973. Na ocasião, Allende morreu, não se sabe ao certo se vítima
dos golpistas ou se em consequência de um suicídio. O fato é que nesse dia uma
ditadura militar foi instaurada no país, iniciando uma série de prisões, desapare-
cimentos e assassinatos. Sob a liderança do general Augusto Pinochet, os militares
permaneceram no poder até 1990.
Luis Orlando Lagos Vázquez/The Dmitri Baltermants Collection/Corbis/Latinstock

O presidente chileno Salvador Allende (no centro, de óculos) em 11 de setembro de 1973, dia em que ocorreu o golpe
militar, em Santiago, Chile.

182 História
CONHECER MAIS

A ideia de Terceiro Mundo


Com o processo de descolonização na África e na

Pascal Deloche/Godong/Corbis/Latinstock
Ásia, muitos novos países foram criados, sendo reco-
nhecidos internacionalmente como nações indepen-
dentes. No entanto, em muitos deles, as populações
locais enfrentavam graves problemas econômicos e so-
ciais, vivendo em uma situação de pobreza e de miséria.
Durante a Guerra Fria, muitos desses países passa-
ram a ser chamados de “terceiro mundo”, em oposição
aos países capitalistas desenvolvidos – que fariam parte
do “primeiro mundo” – e aos países socialistas indus-
trializados – que estariam na categoria de “segundo
mundo”. Dessa forma, o termo “terceiro mundo” pas-
sou a ser usado para definir nações pobres e com gra-
ves problemas sociais, não apenas na África e na Ásia,
mas também na América Latina.
A partir da década de 1970 esse termo passou a ser
cada vez mais questionado, principalmente com base
na Teoria da dependência, sendo os termos “desen-
volvimento” e “subdesenvolvimento” os mais usados.
Essa teoria considera que a existência dos países subde-
senvolvidos está diretamente ligada a dos países desen-
volvidos; ou seja, eles só existem dentro de uma lógica
de exploração econômica que faz com que dependam
das nações mais ricas. Portanto, apenas com o fim des-
sa dependência é que essa situação pode mudar.
Atualmente, o grau de desenvolvimento social dos
países costuma ser medido pelo Índice de Desenvol- Crianças estudando em escola no Congo, África, 2011. O Congo
vimento Humano (IDH). Trata-se de um número que apresenta um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento
considera a expectativa de vida ao nascer, a taxa de alfa- Humano (IDH) entre os países avaliados pela Organização das
betização e o Produto Interno Bruto (PIB) por pessoa. Nações Unidas (ONU).

FIM DA ORDEM BIPOLAR


A década de 1980 representou para a União Soviética um período de gra-
ve crise econômica. Diante da dificuldade de concorrer com as indústrias dos
países capitalistas desenvolvidos, a economia dessa nação entrou em colapso.
O índice de desemprego entre a população era alto e existia grande dificuldade
de acesso a produtos básicos, como pão, leite e outros alimentos. Diante desse
quadro, o presidente Mikhail Gorbachev implementou grandes mudanças, que
levaram ao fim da Guerra Fria.
O maior símbolo da disputa entre Estados Unidos e União Soviética, o Muro
de Berlim, foi derrubado em novembro de 1989. Sua queda possibilitou a reuni-
ficação das duas Alemanhas, em 1990, sendo a parte que estava submetida aos
socialistas incorporada pela porção capitalista. No ano seguinte, outra grande
transformação anunciava o fim de uma era: a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS) deixava de existir, o que deu início a um processo de indepen-
dência em vários dos países que estavam agrupados sob o poder da Rússia.

9º ano 183
Regis Bossu/Sygma/Corbis/Latinstock
Alemães colaboram para derrubar o Muro de Berlim, no final de 1989.
A queda dessa construção que dividia a cidade se tornou o maior símbolo
do fim da ordem bipolar.

Essas mudanças terminaram com um período histórico bipolar. GLOSSÁRIO


Com isso, começou uma Nova Ordem Mundial, em que o poder econô- Mercado financeiro:
mico passou a concentrar-se em blocos de países associados. O socialis- é o mercado no qual
se vende e se compra
mo perdeu força como regime político, embora ainda tenha adeptos e o valores mobiliários
governo de muitas nações. O capitalismo seguiu forte, porém foi abalado (principalmente ações
de empresas).
por crises mundiais, como a que afetou o mercado financeiro em 2008.

LER CANÇÃO

O grupo de rap Calle 13, de Porto Rico, compôs uma canção denominada “Latinoamérica”,
que destaca alguns pontos em comum dos povos da América Latina. Leia alguns trechos dessa
canção e responda às questões seguintes.

Latinoamérica [América Latina]


Sou... Sou o que deixaram
Sou toda sobra do que roubaram
Um povo escondido lá em cima
Minha pele é de couro, por isso aguenta qualquer clima
Sou uma fábrica de fumo
Mão de obra camponesa para seu consumo [...]
Você não pode comprar o vento
Você não pode comprar o sol
Você não pode comprar a chuva

184 História
Você não pode comprar o calor [...]
Trabalho duro, mas com orgulho
Aqui se divide, o que é meu é seu
Esse povo não se afoga com marola
E se desmorona eu reconstruo [...]
A Operação Condor invadindo meu ninho
Perdoo, mas nunca esqueço
Ei!
Vamos caminhando
Aqui se respira luta
Vamos caminhando
Eu canto porque se escuta
Vamos caminhando
Aqui estamos de pé
Viva a América!
Não pode comprar minha vida...
Calle 13. Latinoamérica. Disponível em: <www.lacalle13.com/
entrenlosquequieran/index.php?option=com_content&view=article&id=61&Itemid=69>.
Acesso em: 15 ago. 2012. (Tradução da autora.)

1. De que maneira o grupo caracteriza o povo latino-americano? Justifique citando algumas frases
que comprovem sua resposta.
2. A quem você acha que o Calle 13 se refere no refrão ao dizer “Você não pode comprar o vento/
Você não pode comprar o sol/ Você não pode comprar a chuva/ Você não pode comprar o calor”?
Justifique sua resposta.
3. Você considera que existe uma identidade comum aos países da América Latina? Justifique sua
opinião.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros A descolonização da Ásia e da África


Aborda os diferentes processos de descolonização na África e na Ásia, analisando suas con-
sequências para o subdesenvolvimento desses países.
CANEDO, Letícia Bicalho. A descolonização da Ásia e da África. São Paulo: Atual, 1994.

Da Guerra Fria à Nova Ordem Mundial


O livro procura focar nos efeitos da Guerra Fria na vida cotidiana da população, analisando a
propaganda ideológica feita por Estados Unidos e União Soviética no período.
FARIA, Ricardo de Moura. Da Guerra Fria à Nova Ordem Mundial. São Paulo: Contexto, 2003.

Filmes Adeus, Lenin!


Uma alemã que entrou em coma antes de 1989 acorda em meados de 1990. Com medo de que
seu estado de saúde piore diante das drásticas mudanças ocorridas no país após a queda do
Muro de Berlim, seu filho tenta fingir que a Guerra Fria ainda não acabou.
Direção: Wolfgang Becker. Alemanha, 2002. 118 min.

Uma noite em 67
Documentário sobre o final do III Festival da Música Popular Brasileira transmitido pela TV Re-
cord, em 1967. O filme mostra um pouco da cultura da juventude brasileira que buscou resistir
à repressão do regime militar.
Direção: Ricardo Calil, Renato Terra. Brasil, 2010. 93 min.

9º ano 185
Capítulo 2
HISTÓRIA Ditadura e democracia no Brasil

D urante o século XX, a política brasileira alternou períodos de democracia e


de ditadura. Até mesmo em muitos momentos tidos como “democráticos”,
a ameaça de golpes de Estado que iniciassem novos períodos ditatoriais foi cons-
tante. Além disso, a participação do povo no governo, uma das características da
democracia, sempre foi restrita e dificultada por ações das elites que dominavam
o poder político e econômico. Neste capítulo, veremos como a História do Brasil
no século XX intercalou essas duas formas de governo. Mas, afinal, o que diferen-
cia uma da outra?

Fernando Santos / Folha Imagem


Multidão reunida na praça da Sé, na cidade de São Paulo (SP), em 1984, exigindo a volta da democracia ao país.

186 História
RODA DE CONVERSA

Reúnam-se em grupos de até cinco pessoas. Depois, sigam o roteiro abaixo para definir os
conceitos de democracia e de ditadura.

1. Discuta com o seu grupo o que vocês consideram que seja democracia e ditadura. Para isso, ela-
borem duas listas: na primeira, anotem palavras e frases escolhidas pelo grupo que se relacionem
aos governos democráticos; na segunda, registrem as expressões relativas aos governos ditatoriais.
2. Leiam, em grupo, as definições de democracia e ditadura a seguir. Discutam o que vocês enten-
deram sobre cada uma delas.

Democracia. Forma de governo na qual o poder supremo Ditadura. [...] Com a palavra ditadura, tende-se a designar
está nas mãos do povo e é exercido diretamente ou por toda classe dos regimes não democráticos [...]. São três, a
intermédio de representantes eleitos [...]. Na era moderna, meu parecer, essas características: a concentração do poder;
o conceito significa, em geral, governo da maioria, direitos as condições políticas [...] constituídas [...] pelo princípio da
individuais e minoritários, igualdade de oportunidades, soberania popular; a precariedade das regras de sucessão no
igualdade perante a lei, e direitos e liberdades civis. poder [...].

ROHMANN, Chris. O livro das ideias. Rio de Janeiro: BOBBIO, Norberto (Org.). Dicionário de política.
Campus, 2000. p. 96. Brasília: UnB, 1986. p. 372-373.

3. As definições lidas usam palavras parecidas com as que o grupo havia listado na questão 1?
Quais são as semelhanças e diferenças entre as palavras escolhidas pelo grupo e o que colocam
os dicionários?

DITADURA, DIREITOS POLÍTICOS, CULTURA E IDEIAS


No século XX, convencionou-se chamar de ditadura os governos que tinham
como marca o autoritarismo. No Brasil, tivemos dois períodos nos quais o poder
político foi exercido de forma autoritária – que, por isso, são denominados dita-
duras: o Estado Novo (1937-1945) e a Ditadura Militar (1964-1985).
Nessas duas épocas, as Constituições em vigor foram desrespeitadas. Alguns
grupos e pessoas criaram novas leis e alteraram as que já existiam para justificar
a sua permanência no poder ou para chegar a ele. Houve a suspensão dos direi-
tos políticos dos cidadãos, ou seja, a população perdeu algumas conquistas em
relação à sua participação nas decisões do país. Entre essas perdas, destaca-se a
suspensão do voto direto para a escolha do presidente da República.
Nas ditaduras do século XX, inclusive nas que vivemos no Brasil, a propagan-
da foi um fator importante para sustentar os grupos no poder. Por meio de dife-
rentes estratégias – produções culturais, controle da imprensa e grandes eventos
políticos –, esse tipo de governo procurou divulgar para a população que o gover-
nante e o grupo que estava ao seu lado traziam benefícios para a nação. Assim,
esperava-se conquistar o apoio das massas.

9º ano 187
Por fim, vale destacar outras duas estratégias importantes, utilizadas pelas di-
taduras contemporâneas, que também estiveram presentes nos governos ditato-
riais brasileiros: a censura e a repressão. Essas duas medidas visavam combater
e silenciar aqueles que não concordavam com as ideias do grupo que estava no
poder. Como veremos neste capítulo, muitas vezes a tentativa de calar a oposição
levou a prisões, torturas e assassinatos.

DEBATER

Reúnam-se em grupos de até cinco pessoas. Cada integrante deve responder oralmente às
seguintes questões:

1. Você se lembra de alguma propaganda política das últimas eleições? Qual?


a) Por que você acha que essa propaganda ficou em sua memória?
b) Você considera que essa propaganda influenciou no resultado da eleição (para a vitória ou a
derrota desse candidato)? Por quê?
c) Caso o candidato tenha sido eleito, havia alguma promessa de campanha na propaganda? Ela
foi cumprida?
2. Na sua opinião, qual é a função de uma propaganda política? Que elementos ela deve ter para ser
eficiente?
3. Em grupo, criem uma propaganda política para um candidato a vereador. Considere que esse
candidato tem projetos importantes para o seu município, que ajudam a melhorar a vida da po-
pulação. Pense a melhor estratégia que ele pode utilizar para divulgar suas ideias aos eleitores.
Escrevam um texto coletivo para ser dito durante a propaganda e façam a descrição dos demais
elementos (músicas, figurino, cenário etc.) que devem ser utilizados.

A DITADURA DO ESTADO NOVO (1937-1945)


O Estado Novo foi um período de ditadura que começou com a GLOSSÁRIO
abolição arbitrária da Constituição de 1934 pelo então presidente Ge- Arbitrária: que não
segue normas ou leis.
túlio Vargas. Evitando ser substituído nas eleições, ele elaborou uma es- Dissolução: extinção de
tratégia para manter-se no cargo e ampliar os seus poderes. Em 10 de uma entidade; no caso,
do Parlamento.
novembro de 1937, tropas da polícia militar fecharam o Congresso, e
Getúlio apresentou uma nova Carta constitucional, bastante autoritária.
Entre as medidas imediatas da nova Constituição de 1937 estava a dissolução
do Parlamento, das Assembleias estaduais e das Câmaras municipais. Ela previa
que houvesse um plebiscito, que confirmaria ou não o mandato do presidente, e
que, após essa etapa, fossem convocadas novas eleições para o Parlamento. No
entanto, esse plebiscito nunca ocorreu, tampouco as eleições para o legislativo, até
o fim do Estado Novo.

188 História
Um dos principais aliados do Estado Novo era o grupo dos indus- GLOSSÁRIO
triais, que acreditava que a segurança e o crescimento econômico do Indústria de base: são
aquelas que produzem
país dependiam da intervenção do Estado na economia, principalmen- matérias-primas ou
máquinas para serem
te por meio de medidas que incentivassem o desenvolvimento da in- usadas em outras
dústria. O governo de Getúlio, agradando a seus apoiadores, passou indústrias.
Siderúrgica: indústria
a substituir as importações por produtos industrializados brasileiros. responsável pela produção
Investiu, sobretudo, na indústria de base, setor no qual se destacou a de ferro e aço.

construção da primeira siderúrgica

CPDOC/Fundação Getulio Vargas


da América Latina, em 1941.
Apesar de colaborar com o lucro
das indústrias, o Estado Novo esfor-
çou-se para transmitir uma imagem
de Getúlio Vargas como protetor dos
trabalhadores, buscando garantir a sua
aceitação pelo povo. Por outro lado, o
governo tinha a intenção de manter
as reivindicações e as ações dos traba-
lhadores sob seu controle. Para isso,
proibiu as greves a partir de 1937. Em
1940, criou o imposto sindical, uma
contribuição obrigatória, equivalente
a um dia de trabalho, a ser paga por
todo trabalhador ao Estado, que re-
distribuía o dinheiro aos sindicatos.
Com o imposto, os sindicatos passa-
ram a funcionar independentemente
da adesão dos trabalhadores, abrindo
espaço para líderes que atuavam mais
em benefício próprio e do Estado —
de quem recebiam a verba — do que
daqueles a quem representavam.
Uma das principais medidas es-
tatais relacionadas aos trabalhadores
foi a criação da Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT), em 1943. A
CLT reuniu as leis trabalhistas que já
Primeiro poço de petróleo brasileiro, fruto de iniciativas do governo Getúlio Vargas.
existiam e as ampliou, garantindo aos Em Lobato (BA), 1938.
trabalhadores benefícios como a jor-
nada máxima de trabalho de 48 horas, o salário mínimo (que já era garantido por
lei, mas ainda não estava vigorando), as férias remuneradas, entre outros. Ainda
hoje, a CLT e o imposto sindical estão ativos. A CLT é a principal garantia dos tra-
balhadores. No entanto, o seu texto original passou por inúmeras reformulações.

9º ano 189
BELMONTE, 1932-1940. Coleção Particular
Fonte: LAGO, Pedro Corrêa do. Caricaturistas brasileiros 1836-1999. Rio de Janeiro: Sextante Artes, 1999. p. 106.

Caricatura de Belmonte, feita na década de 1930. No desenho, Getúlio Vargas aparece como alguém que coloca fogo nos recintos para sair
como herói. De maneira semelhante, sua estratégia de governo era a de conceder alguns benefícios aos trabalhadores, mas combatia a
autonomia e as reivindicações deles. Assim, apesar de restringir direitos, o Estado tinha o apoio das massas, pois o governante aparecia para
a opinião pública como alguém que resolvia os problemas da população.

Outro aspecto que caracterizou o Estado Novo como período de ditadura foi
o controle da produção cultural e intelectual do país. Os meios de comunicação
estavam a serviço do Estado e colaboravam para transmitir uma imagem positiva
do governo. Para isso, havia o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP),
que tinha duas funções principais: censurar qualquer manifestação que julgasse
contrária ao governo (fosse na música, no cinema, na literatura ou na imprensa)
e fazer propaganda das iniciativas governamentais. Nessa época, Getúlio utiliza-
va também o espaço da Hora do Brasil (atualmente transmitida com o nome de
A voz do Brasil), um programa de veiculação obrigatória no qual a população
ouvia os discursos do presidente e de seus ministros, além de músicas de artistas
populares. Com isso, ele vinculava a sua imagem a cantores e cantoras de sucesso,
queridos do povo, aumentando sua popularidade.
Por outro lado, com o DIP, muitos artistas, intelectuais e políticos da oposi-
ção foram censurados. Alguns chegaram a ser presos, exilados e até torturados
pelo comando do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), criado
também nessa época. A repressão foi uma marca da ditadura do Estado Novo. O
descontentamento com a censura e as ações repressivas fo- GLOSSÁRIO
ram alguns dos fatores que colaboraram para o enfraqueci- Estado totalitário: tipo de Estado baseado
mento do governo. Mas havia outras contradições que aca- no autoritarismo, que não permite oposição,
utilizando para isso o terror policial. Apesar da
baram levando ao fim esse governo, como o fato de o Brasil repressão, recebe o apoio das massas, que são
ter lutado na Segunda Guerra Mundial contra os fascistas e normalmente convencidas pela propaganda
oficial a apoiar o governo. Em geral, o poder
os nazistas, mas ter características de um Estado totalitário. é exercido por um único partido, por meio da
figura de um governante forte e centralizador.
Enfraquecido, Getúlio foi deposto em 1945, pondo fim a um
período de ditadura.

190 História
LER IMAGEM

Observe a charge e responda às questões a seguir.

Coleção Plínio Doyle, FCRB

Fonte: Théo. Careta, 4 dez. 1937. GOMES, Ângela de Castro et al.


A República no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. p. 106.

1. Verifique o ano em que a charge foi publicada. Após a leitura do texto didático, identifique:
a) Quem era o presidente do Brasil nessa época?

b) O Brasil vivia um período de democracia ou de ditadura?

2. Sobre qual assunto os dois homens estão conversando?

3. De acordo com o primeiro homem, quantos eleitores o Brasil tinha na época?

4. Por que você acha que o segundo homem diz que “há muitos zeros no número de eleitores”? Jus-
tifique a sua resposta.

9º ano 191
CONHECER MAIS

O caso do samba: da vadiagem à música do trabalhador


O samba é uma manifestação democrática do povo No entanto, o samba popularizou-se muito rapi-
que sofreu momentos de repressão e depois foi utilizado damente e, a partir dos anos 1930, durante o Estado
por um governo autoritário. Novo, passou a ser um instrumento de propaganda
Ele surgiu no começo do século XX, nas comunida- das ideias do governo para as massas. Assim como
des dos trabalhadores que migraram ao Sudeste (prin- havia feito com os sindicatos, Getúlio Vargas prefe-
cipalmente vindos da Bahia para trabalhar no Rio de riu se associar aos sambistas em vez de combatê-los.
Janeiro). Em seu início, foi reprimido pelas elites e pe- Sendo assim, nas décadas de 1930 e 1940, muitos dos
las autoridades. Praticado pelas camadas mais pobres, compositores que antes exaltavam a vadiagem como
assim como outros ritmos populares, era tido como um modo de vida começaram a falar sobre os benefícios
meio de “vadiagem” e perseguido pela polícia. do trabalho em suas letras.

A VOLTA PROVISÓRIA DA DEMOCRACIA

Com o fim do Estado Novo, o Brasil voltou a ser uma democracia. No entanto, a
participação do povo nas decisões políticas ainda era muito restrita. O governo do pre-
sidente eleito que substituiu Getúlio Vargas, Eurico Gaspar Dutra, dirigiu o processo
que gerou uma nova Constituição, a de 1946, considerada mais “democrática” do que a
anterior, de 1934. Nela, os três poderes — legislativo, executivo e judiciário — adquiri-
ram forças mais equilibradas. Mas ainda havia alguns pontos autoritários nas novas leis.
Na Constituição de 1946, alguns direitos sociais passaram a ser previstos na
lei. O direito de voto foi ampliado para todas as mulheres, já que na Constituição
anterior apenas as mulheres que exerciam funções públicas podiam votar. Mas
ainda mantinha a regra de que apenas os alfabetizados podiam participar das
eleições, sendo que a população que sabia ler e escrever na época era reduzida.
Para os trabalhadores da cidade e do campo, a Constituição de GLOSSÁRIO
1946 teve dois lados, um bom e um ruim. Em relação às greves, ela Reforma agrária: reorganização das
as permitia, desde que autorizadas por lei. Por outro lado, algumas propriedades rurais, por meio de lei,
visando a maior distribuição de terras.
de suas medidas acabaram possibilitando, pelo menos na teoria, Geralmente, ela desapropria as propriedades
mudanças sociais, como a previsão de desapropriações com fim improdutivas, dando direito aos pequenos
produtores rurais de utilizar essas áreas.
social, o que retomou o debate em torno da reforma agrária.

LER TABELA

Analise a tabela a seguir, sobre as eleições brasileiras em 1934 e 1947, e responda às questões.

ANO 1934 1947

Número de eleitores 42 659 171 47 710 504

Total da população brasileira 40 741 589 48 000 000


Dados estimados encontrados em: IBGE: Estatísticas do século XX. Disponível em: <www.ibge.gov.br/seculoxx/default.shtm>. Acesso em: 26 set. 2012.

192 História
1. O que ocorreu com o número de eleitores entre 1934 e 1947?

2. O que é possível concluir comparando o total de eleitores de 1947 com o total da população bra-
sileira nesse mesmo ano? Justifique a sua resposta.

3. Analisando os dados da tabela, você considera que a participação política da população era ampla
em 1947? Por quê?

O DESENVOLVIMENTISMO DE JUSCELINO KUBITSCHEK (1956-1961)


O período da História do Brasil situado entre o Estado Novo e a ditadura
militar foi marcado por um grande crescimento da indústria e das cidades. Com
isso, as elites ligadas à produção industrial e à construção civil aumentaram o seu
poder político, principalmente durante o período do governo de Juscelino Ku-
bitschek — também conhecido como JK.
O seu mandato foi marcado por um modelo econômico que ficou conhecido
como desenvolvimentismo. Logo que assumiu o cargo, Kubitschek anunciou o
Programa de Metas, que reunia objetivos para o desenvolvimento nos setores de
energia, transporte, alimentação, indústria de base e educação, além de prever a
construção de uma nova capital, Brasília. Seu lema era 50 anos em 5, ou seja, fazer
com que os cinco anos de JK na presidência desenvolvessem mais o país que nos
últimos cinquenta anos.
Com a implementação do Programa de Metas, Kubitschek investiu em fer-
rovias e portos, na construção de hidrelétricas, na indústria automobilística (o
primeiro carro fabricado no Brasil foi o DKW Vemag, em 1958), entre outros
setores. O automóvel acabou se transformando em um dos símbolos de seu go-
verno, tornando-se mais presente nas ruas das grandes cidades.
Na agricultura, JK investiu na modernização do campo, abrindo espaço para
máquinas, que passaram a ocupar o lugar de trabalhadores. Com isso, muitos
camponeses perderam a sua função e acabaram migrando para as cidades, para
tentar novos trabalhos.

9º ano 193
Outro ícone do mandato de JK foi a construção de Brasília. Procurando des-
centralizar o poder político e econômico da região Sudeste e ampliar o desenvol-
vimento do país, Kubitschek solicitou a Oscar Niemeyer e Lúcio Costa um projeto
para a nova cidade, que foi construída em um período de cinco anos com a mais
moderna arquitetura. Muitos nordestinos, retirantes que migravam devido às se-
cas, e também camponeses, sem trabalho no campo, participaram da sua constru-
ção. Esses trabalhadores passaram a ser chamados de “candangos” e foram seus
primeiros moradores, já que muitos continuaram na região após a finalização das
obras. Em 21 de abril de 1960, Brasília foi inaugurada como a nova capital federal,
que deixava de ser o Rio de Janeiro.
No entanto, parte desses trabalhadores que ficaram na região após a inaugura-
ção da capital enfrentou dificuldades para encontrar empregos regulares e pagar os
caros aluguéis cobrados dentro do plano-piloto, que consiste nos limites planejados
por Niemeyer e Lúcio Costa. Muitos deles começaram a se instalar nas chamadas
“cidades-satélites”, que cresciam a partir de ocupações irregulares. Ceilândia, por
exemplo, em 1969, já contava com quase 80 mil pessoas vivendo em favelas. Ainda
hoje, grande parte dos trabalhadores de Brasília mora em seus arredores.
Acervo UH/Folha Imagem

O presidente Juscelino Kubitschek chegando a Brasília, em 2 de fevereiro de 1960. O automóvel e a nova capital federal foram dois símbolos muito associados
à imagem de JK.

LER TEXTO JORNALÍSTICO

Leia a seguir trechos de uma entrevista com Horácio Augusto Figueira, engenheiro de tráfego,
vice-presidente da Associação Brasileira de Pedestres e defensor do uso intensivo de ônibus nas
grandes cidades. Após a leitura, responda às questões. 

194 História
“O sonho do automóvel acabou” em São Paulo, diz engenheiro
Como o senhor avalia o custo/benefício do transporte público em São Paulo?
Horácio Augusto Figueira – Em termos de custo/benefício, fora do horário de pico,
dá para você usar como serviço comum. Nos horários de pico, por não ter velocidade
compatível nos corredores, os ônibus andam em baixa velocidade e lotados. Não é
um serviço de boa qualidade. Para reverter essa situação, teria de ser dada prioridade
total para os ônibus no sistema viário e, para isso, você tem de incomodar o usuário
de carro, não tem outro jeito. Não tem como conciliar privilégios ao transporte coletivo
sobre rodas sem tirar uma faixa dos automóveis. [...]

Por que isso?


Figueira – Pelo congestionamento imposto pelos automóveis. O poder público não
tem a coragem de falar que uma faixa de ônibus transporta dez vezes mais pessoas
que a mesma faixa, ao lado, de automóveis. [...] Todo mundo quer andar de carro, mas
não existe espaço físico que comporte mais na cidade de São Paulo. Não tem mais
obra viária que vá resolver a questão da mobilidade por transporte individual. [...] O
sonho do automóvel acabou na cidade de São Paulo. Ele foi bom há 40 anos, quando
era 1 em mil. [...]
UOL carros, 15 jun. 2012. Disponível em: <http://carros.uol.com.br/ultnot/2012/06/15/o-sonho-do-automovel-
acabou-em-sao-paulo-diz-engenheiro.jhtm>. Acesso em: 7 ago. 2012.
Paulo Fridman/Pulsar Imagens

Congestionamento de veículos na Avenida 23 de Maio, em São Paulo (SP), 2012.

9º ano 195
1. De acordo com o engenheiro Figueira, qual deveria ser a prioridade de investimento do poder
público para melhorar o problema dos congestionamentos nas grandes cidades? Por quê?
2. Por que o engenheiro afirma que “o sonho do automóvel acabou na cidade de São Paulo”? Explique.
3. Você concorda com as opiniões do engenheiro Figueira? Por quê? Na sua opinião, qual seria uma
possível solução para o trânsito em São Paulo?
4. Vimos que uma das áreas que mais receberam investimentos do governo Juscelino Kubitschek nos anos
1960 foi a indústria automobilística, com a finalidade de desenvolver a economia brasileira. Você consi-
dera que hoje em dia essa indústria deveria continuar recebendo investimentos? Justifique sua resposta.

A BATALHA PELAS REFORMAS DE BASE

Principalmente a partir da década de 1950, alguns setores da sociedade pas-


saram a se organizar para pressionar os governos a fazer reformas de base, ou
seja, reformas que possibilitassem igualdade social e melhor distribuição de ren-
da. Além da desigualdade entre a minoria rica da população e a grande maioria
pobre ou miserável, nessa época a industrialização e o aumento da população nas
cidades trouxeram novos problemas.
A introdução das máquinas no campo, as secas constantes e a ampliação dos
latifúndios foram alguns dos fatores que colaboraram para que trabalhadores ru-
rais migrassem para grandes cidades em busca de novos empregos. Com isso, os
centros urbanos cresceram rapidamente e de forma desordenada. Esse processo
fez com que, em pouco tempo, muitos estivessem sem emprego ou subemprega-
dos, sem recursos para pagar o alto custo de vida, como o aluguel. Essas pessoas
passaram então a ocupar áreas menos valorizadas, geralmente de maneira ilegal,
em cortiços ou favelas. Dessa forma, cresceu a demanda por uma reforma urbana
que redistribuísse as propriedades dentro das cidades.
Um dos setores que buscaram se organizar para exigir os seus direitos nessa
época foi o dos camponeses. A partir de 1955, formaram-se as Ligas Campone-
sas, que eram movimentos de trabalha-
Acervo Iconographia

dores rurais que lutavam pela reforma


agrária e pelo direito de plantar em sua
própria terra. Elas se espalharam pelo
Brasil, especialmente pelo Nordeste.
Seu líder era um advogado da clas-
se média urbana de Recife, chamado
Francisco Julião. Uma das maiores vitó-
rias das Ligas foi a tomada do Engenho
Galileia, em Pernambuco, considerado
de “fogo morto” (improdutivo), que foi Manifestação de trabalhadores rurais que aderiram às Ligas Camponesas, em
desapropriado pelo governo federal. setembro de 1960.

196 História
LER CANÇÃO

Leia a letra de canção a seguir, do compositor maranhense João do Vale, e responda às questões.

Sina de caboclo
Mas plantar pra dividir
Não faço mais isso, não.
Eu sou um pobre caboclo,
Ganho a vida na enxada.
O que eu colho é dividido
Com quem não planta nada.
Se assim continuar
vou deixar o meu sertão,
mesmo os olhos cheios d’água
e com dor no coração.
Vou pró Rio carregar massas
prós pedreiros em construção.
Deus até está ajudando:
está chovendo no sertão!
Mas plantar... [...]
J. B. de Aquino; João do Vale; Zélia Barbosa.
Warner Chappell Edições Musicais Ltda.

1. Quem é a personagem dessa canção? Por quê?


2. Por que ela diz que “O que eu colho é dividido/Com quem não planta nada”? Justifique a sua
resposta.
3. O que a personagem diz que terá de fazer caso a sua situação no campo continue como está?

O GOVERNO JOÃO GOULART E O FIM DO PERÍODO


DEMOCRÁTICO (1961-1964)
João Goulart — apelidado de Jango — teve um governo marcado pela tenta-
tiva de estabelecer as reformas de base. Jango via o Estado como um intermedi-
ário entre os trabalhadores urbanos e rurais e a burguesia. Porém, essa postura
desagradou aos políticos conservadores, aos setores mais influentes das forças
armadas, aos grandes proprietários de terra e a muitos industriais.
Esses grupos temiam perder os seus privilégios com as atitudes do presidente.
Em 1963, Jango criou o Estatuto do Trabalhador Rural, que dava ao trabalhador
do campo os mesmos direitos do da cidade, garantidos na carteira de trabalho e
previstos na CLT. O presidente também visava realizar a reforma agrária.
As medidas de João Goulart desagradavam a muitas pessoas das classes média
e alta diante do temor de perder seus bens com o que consideravam o “avanço
do comunismo”. No dia 19 de março de 1964, em São Paulo, ocorreu a Marcha
da Família com Deus pela Liberdade, um evento que reuniu cerca de 300 mil

9º ano 197
pessoas que apoiavam a deposição de Jango. As forças armadas constituíam outra
significativa oposição. Em 31 de março de 1964, as forças armadas e um grupo
de civis conservadores deflagraram o golpe de Estado que depôs João Goulart
do cargo e iniciou uma ditadura militar no Brasil. No dia 1o de abril, os militares
triunfaram e tomaram o poder, obrigando o presidente a viajar para o Uruguai
para receber asilo político.

A DITADURA MILITAR NO BRASIL:


VINTE ANOS SEM DEMOCRACIA (1964-1985)
Ao tomar o poder, a primeira ação dos militares, assim como ocorreu na dita-
dura anterior, foi alterar a Constituição com o Ato Institucional no 1 (AI-1), que
cassava os direitos políticos de todos aqueles que eram considerados “comunis-
tas” ou “subversivos”. Nesse primeiro momento, o general Humberto de Alencar
Castelo Branco, um dos apoiadores do golpe, passou a exercer o poder.
Após o AI-1, o governo ditatorial começou a adotar uma série de outras ações,
que restringiam ainda mais a participação política e a liberdade de expressão dos
cidadãos brasileiros. Iniciou-se, então, um período de perseguições políticas, pri-
sões, torturas e assassinatos.
Em outubro de 1965, o governo de Cas-
Loredano

telo Branco decretou o Ato Institucional


no 2 (AI-2), extinguindo os partidos polí-
ticos. Em novembro desse ano, foi criado
o bipartidarismo, que permitia a existência
de apenas dois partidos: a Aliança Renova-
dora Nacional (Arena), reunindo membros
favoráveis ao regime autoritário, e o Mo-
vimento Democrático Brasileiro (MDB),
agregando a oposição.
No ano seguinte, 1966, o governo publi-
cou o AI-3. Ele definia que as eleições para
governador, assim como já ocorria com o
presidente, fossem realizadas de maneira in-
direta. Os prefeitos das capitais, por sua vez,
passavam a ser escolhidos pelos governadores
e deveriam ser aprovados pelas Assembleias
Legislativas. Nesse mesmo ano, por meio de
votação indireta, foi escolhido o novo presi-
dente da República: o Ministro da Guerra, Loredano, caricatura publicada originalmente no Jornal do Brasil,
general Artur da Costa e Silva. Ele era consi- em 1984. A imagem mostra os cinco presidentes da ditadura militar:
Castelo Branco (sentado na cadeira, à frente), Costa e Silva (embaixo, à
derado membro da “linha dura” e iniciou um esquerda), Garrastazu Médici (em cima, à esquerda), Ernesto Geisel (em
período de repressão ainda maior. cima, à direita) e João Figueiredo (embaixo, à direita).

198 História
Em 1967, foi criada a Lei de Imprensa, que proibia a publicação de notícias
que se opusessem ao presidente, incitassem a guerra ou a subversão da ordem pú-
blica. Durante a Ditadura Militar, jornais, revistas, rádios e a televisão foram con-
trolados pelo Estado, sofrendo ação direta da censura. Com essa medida, o go-
verno visava anular a voz da oposição nos meios de comunicação. No entanto, os
que não concordavam com a ditadura criavam jornais ou panfletos distribuídos
de mão em mão clandestinamente. Esse tipo de material ficou conhecido como
“imprensa alternativa”. A mesma coisa ocorria com peças teatrais, filmes, obras de
arte ou qualquer manifestação pública de opinião.
Apesar da repressão, os movimentos sociais e a oposição continuavam ati-
vos contra o governo militar. Muitas organizações protestavam contra a ditadura,
como é o caso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Apesar de ter sido posta
na ilegalidade em 1964, estudantes organizaram passeatas. A mais importante foi a
Passeata dos Cem Mil, em junho de 1968, no Rio de Janeiro, que reuniu estudantes,
artistas e lideranças políticas favoráveis à volta da democracia. Os operários tam-
bém se manifestaram contra as políticas governamentais, organizando duas gran-
des greves nesse mesmo ano, uma em Contagem (MG) e outra em Osasco (SP).
Alguns grupos viam a luta armada como a única alternativa para enfrentar a
Ditadura Militar. Eles se inspiravam na Revolução Cubana, considerando que as
armas eram um meio possível de estabelecer o socialismo como forma de gover-
no no Brasil. Entre esses grupos, estavam a Aliança Libertadora Nacional (ALN)
e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). A ALN era liderada por
Carlos Marighella, ex-líder do Partido Comunista Brasileiro que rompeu com o
partido, o qual era contrário à guerrilha.
Para intensificar a repressão aos seus opositores, o governo militar GLOSSÁRIO
Habeas corpus: em latim, essa
decretou o AI-5, em 13 de dezembro de 1968. O ato dava plenos pode- expressão significa “que tenhas
o corpo”. No mundo jurídico, diz
res ao Executivo, permitindo que o presidente suspendesse as garantias respeito ao direito da pessoa de
constitucionais da população quando julgasse necessário. Ele suspendia solicitar sua liberdade quando julga
que ele está sendo desrespeitado.
também o direito ao habeas corpus para os crimes políticos, facilitando Depende, porém, de o juiz aceitar
ou não esse pedido.
as prisões arbitrárias e dificultando a defesa dos cidadãos.
Na prática, o AI-5 intensificou as prisões, as torturas e os assassinatos por parte
do governo. Os líderes da luta armada, por exemplo, foram mortos. Mas não foram
apenas os guerrilheiros que sofreram com a repressão. Qualquer pessoa que fosse con-
siderada uma ameaça à segurança nacional ou “subversiva” poderia ser presa. Após
as prisões, muitos permaneciam dias incomunicáveis, sendo torturados sem direito à
defesa. Um dos casos que mais causaram comoção foi o do diretor de jornalismo da
TV Cultura, Vladimir Herzog, que, ao comparecer para interrogatório, em 1975, foi
morto no DOI-Codi (órgão do governo que cuidava dos casos de ameaça à ordem). A
versão oficial do Exército foi a de que Herzog teria se enforcado na prisão, porém ela
foi facilmente contestada pela oposição ao regime autoritário e, em 2012, seu atestado
de óbito foi modificado com as causas reais de sua morte. Era comum o uso de tor-
tura durante os interrogatórios, o que resultava na morte de muitos presos.

9º ano 199
Ziraldo
Em outubro de 1969,
o general Emílio Gar-
rastazu Médici assumiu
a presidência. Durante a
sua gestão, a repressão e
a censura estiveram ain-
da mais fortes do que no
governo Costa e Silva.
As prisões, a tortura e os
assassinatos enfraquece-
ram os movimentos so-
ciais e a oposição. Médici
usou a propaganda como
meio de mascarar os ex-
cessos da ditadura. Du-
rante a Copa do Mundo
de Futebol de 1970, fo-
ram criados anúncios
como “Pra frente, Brasil”
e “Brasil, ame-o ou dei-
xe-o”, buscando explorar
o nacionalismo como
forma de divulgar a ima-
gem do governo.
Em 1974, Médici foi
sucedido pelo general Er-
nesto Geisel, considerado
um militar mais “mo-
derado”. No seu manda-
to, começou a aparecer
a ideia de um retorno à Fonte: ZIRALDO. A última do brasileiro: quatro anos de história nas páginas do Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: Codecri, 1976.

democracia, porém, por Nessa charge de Ziraldo, o cartunista expressa sua preocupação com o futuro do Brasil após o AI-5.

meio de um processo de
abertura “lento, gradual e seguro”. Entre os fatores que explicam essa abertura polí-
tica, estava a pressão social pelo fim do regime ditatorial.
A partir de 1974, o governo acumulou derrotas nas eleições para senador e
deputado, nas quais o MDB começou a superar os candidatos governistas, que
eram da Arena. Aos poucos, a oposição se organizou em torno do MDB, da UNE,
do movimento operário, de um setor da Igreja católica, entre outros grupos. O
resultado dessas pressões foi o fim do AI-5, em 1978. Com isso, o Estado não
poderia mais prender pessoas e cassar mandatos sem motivo. A pena de morte e
a prisão perpétua também foram abolidas nesse período.

200 História
Começou a ser cada vez mais frequente a mobilização da população nas ruas,
especialmente durante o governo do general João Oliveira Batista Figueiredo. Em
1978, começaram a surgir grandes greves na região do ABC paulista (na Grande
São Paulo), das quais Luiz Inácio Lula da Silva era um dos líderes. Também em
1978, cresceram os comícios a favor da anistia para os presos políticos e das pes-
soas que foram obrigadas a ficar fora do país. A Lei de Anistia foi aprovada em
agosto de 1979: os presos políticos foram libertados e os exilados puderam voltar
ao país, embora alguns permanecessem sem direitos políticos.
Ainda no final de 1979, visando enfraquecer o MDB, o governo acabou com o
bipartidarismo e vários partidos políticos puderam ser criados. Nessa época, surgiu
o Partido Democrático Social (PDS), constituído pela antiga Arena. O MDB trans-
formou-se no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Surgiram
ainda no cenário político o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido Popular
(PP), o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT).
No ano de 1982, os brasileiros puderam eleger os governadores de forma di-
reta. As eleições para presidente, marcadas para 1985, seriam ainda indiretas. Os
grupos que queriam a volta das eleições diretas também para presidente come-
çaram a se organizar em um movimento que ficou conhecido como Diretas já!.
Seus líderes organizaram grandes comícios pelo Brasil, exigindo o direito de votar
para a presidência. O maior deles ocorreu no vale do Anhangabaú, em São Paulo,
em abril de 1984, com a presença de mais de 1 milhão de pessoas. Vários artistas,
políticos e personalidades aderiram à campanha das Diretas já!.
No entanto, essa campanha conseguiu apenas que as eleições diretas fossem mar-
cadas para 1989. As eleições de 1985 ainda ocorreram de maneira indireta. Mas o
candidato vencedor foi
Reinaldo Martins/ Estadão Conteúdo

Tancredo Neves, que era


da oposição ao governo
militar. Sua vitória foi
tida como uma maneira
de restabelecer a demo-
cracia no Brasil. Porém,
devido a um problema
de saúde, Tancredo mor-
reu antes de sua posse,
assumindo em seu lugar
o vice-presidente eleito,
José Sarney. Mesmo sem
a conquista das Diretas
já!, o novo presidente
punha fim a mais de vin- Lula discursa para metalúrgicos em greve, em São Bernardo do Campo (SP), 1985. No final dos anos 1970 e
início dos anos 1980, grandes greves foram organizadas na região do ABC paulista. Esse movimento operário
te anos de Ditadura Mili- foi responsável por grandes mobilizações públicas ocorridas no período da ditadura militar. Com isso,
tar no país. colaboraram para a volta da democracia no país.

9º ano 201
LER TEXTO ACADÊMICO

Leia o texto a seguir, da historiadora Angela de Castro Gomes, e responda às questões.

Primeiro de Maio
O dia 1o de maio foi escolhido como Dia do Trabalho como forma de assinalar
e de lembrar as muitas e difíceis lutas que marcaram a história do movimento dos
trabalhadores no mundo. A data é uma homenagem aos trabalhadores da cidade de
Chicago que, nesse dia, em 1886, enfrentaram forte repressão policial por reivindicarem
melhores condições de trabalho e, especialmente, uma jornada de oito horas. [...]
É possível observar que, já no início do século XX, os trabalhadores brasileiros
passaram a assinalar o Primeiro de Maio com manifestações que ganhavam as ruas e
faziam demandas. [...]
De forma inteiramente diversa, outro período marcou a história do Primeiro de
Maio no Brasil. Foi o do Estado Novo, mais especificamente a partir do ano de 1939,
quando o Dia do Trabalho passou a ser comemorado no estádio de futebol do Vasco da
Gama, em São Januário, com a presença de autoridades governamentais, com destaque
para o presidente Getúlio Vargas. Nesse momento, o presidente fazia um discurso e
sempre anunciava uma nova medida de seu governo que visava beneficiá-los. O salário
mínimo, a Justiça do Trabalho e a Consolidação das Leis do Trabalho (a CLT) são três bons
exemplos do porte das iniciativas que então eram ritualmente comunicadas ao público [...].
Dando um salto muito grande, outro período em que o Primeiro de Maio
ganhou relevo para a história do movimento sindical e para o país foi o dos últimos
anos da década de 1970. O Brasil vivia, mais uma vez, sob um regime autoritário, mas
o movimento sindical começava a recuperar sua capacidade de ação e de reivindicação.
Grandes comícios então se realizaram, sobretudo em São Paulo, onde se protestava
contra o “arrocho salarial” imposto aos trabalhadores, e se denunciava o regime militar.
Essa era grande bandeira e projeto do movimento sindical: combater a ditadura militar
e lutar por melhores salários e liberdade de negociação.
E o Primeiro de Maio hoje? Certamente, ao longo de mais de cem anos, é bom
reconhecer que tantas lutas não foram em vão. Os trabalhadores de todo o mundo
conquistaram uma série de direitos e, em alguns países, tais direitos ganharam códigos
de trabalho e também estão sancionados por constituições. Mas os direitos do trabalho,
como quaisquer outros direitos, podem avançar ou recuar com o passar do tempo e com as
pressões de grupos sociais organizados. Assim, nas décadas de 1980 e 1990, os trabalhadores
brasileiros viveram um período em que se discutiu a “flexibilização” desses direitos. [...]
O Primeiro de Maio [...] é uma boa oportunidade para reflexões sobre o rumo
que se deseja dar aos direitos do trabalho, direitos esses que fazem parte de um pacto
social e cuja defesa esteve sempre nas mãos de organizações de trabalhadores. [...]
GOMES, Angela de Castro. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/PrimeiroMaio>. Acesso em: 7 ago. 2012.

1. De que forma a autora descreve o Primeiro de Maio durante o governo de Getúlio Vargas?
2. E em relação aos anos 1970, por que ela afirma que se trata de um período em que o Primeiro de
Maio ganhou destaque para o movimento sindical?
3. Para a autora, qual seria a utilidade dessa data? Explique.
4. Qual é sua opinião sobre o Primeiro de Maio? Você acredita que essa data deve ser festejada ou
servir para manifestações? Justifique.

202 História
PRINCIPAIS CONQUISTAS DO MOVIMENTO NEGRO
No contexto de abertura política que pedia a

Marcelo Justo/Folha Imagem


volta da democracia no Brasil, no final dos anos
1970, o movimento negro foi um dos grupos que
se manifestaram publicamente a favor de seus di-
reitos. Em 1978 foi realizado um ato contra o ra-
cismo em frente ao Teatro Municipal de São Pau-
lo. Entre as razões do protesto, estava a morte de
Robson Silveira da Luz, fruto de torturas sofridas
por policiais em uma delegacia da cidade. Desse
ato surgiu o Movimento Negro Unificado Contra
a Discriminação Racial (MNUCDR), que poste-
riormente passou a ser chamado de Movimento
Show do rapper MV Bill em evento para comemorar o Dia Nacional da
Negro Unificado (MNU), hoje responsável por Consciência Negra, realizado em 2007 na Praça da Sé, em São Paulo (SP).
denúncias de discriminação racial e social.
A luta e a resistência dos negros — organizados em movimentos sociais, orga-
nizações não governamentais (ONGs), entidades etc. — já obtiveram muitas con-
quistas importantes no combate ao preconceito e na luta pela igualdade de opor-
tunidades. No Brasil, desde 1989, existe a Lei Federal no 7 716, que define como
crime qualquer forma de preconceito de raça ou de cor. Atualizada em 1997, essa
lei determina que: “Serão punidos, na forma desta lei, os crimes resultantes de dis-
criminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.
Impedir o acesso de alguém a algum lugar ou negar emprego por conta de uma
dessas características pode render ao infrator de três a cinco anos de reclusão.
Além de transformar o racismo em crime, o movimento negro conseguiu estabe-
lecer uma data histórica a ser comemorada e relembrada por toda a sociedade brasi-
leira: o Dia Nacional da Consciência Negra, em 20 de novembro. Esse movimento
sugeriu outra data comemorativa no lugar do 13 de maio (dia em que foi decretada a
abolição) que fosse mais significativa da resistência negra durante o regime escravista.
O argumento para isso é o de que a Lei Áurea (de 1888), que acabou com a escravidão
pelo menos no papel, foi assinada por uma princesa branca e, portanto, exaltaria a
passividade do negro, em vez de relembrar as suas batalhas. Dessa forma, atualmente,
13 de maio é rememorado como o Dia Nacional da Luta contra o Racismo.
E por que a escolha do 20 de novembro? Foi nessa data, em 1695, que morreu
uma grande referência para o movimento negro: Zumbi dos Palmares. De acor-
do com Kabenguele Munanga:

Hoje, Zumbi é considerado um dos principais símbolos da luta contra todas as


formas de opressão e exclusão que continuam a castigar os descendentes de africanos
no Brasil.
MUNANGA, Kabenguele; GOMES, Nilma Lino. Para entender o negro no Brasil de hoje: história, realidades, problemas e caminhos. São Paulo: Global, 2006. p. 99.

9º ano 203
Essa data já é feriado em pelo menos 225 municípios brasileiros, entre os quais
São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto, União dos Palmares (em Alagoas), Cuiabá,
Pelotas, Porto Alegre e Macapá.
Outra importante conquista, fruto da luta dos descendentes de africanos no Bra-
sil, é a Lei Federal no 10 639, de 2003, que torna obrigatório o ensino sobre História e
Cultura Afro-Brasileira no ensino fundamental e médio. A ideia da lei é resgatar “[...]
a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à His-
tória do Brasil”. Com essa conquista, o movimento pretende que os negros sejam mais
valorizados por toda a sociedade, mas que também os próprios afrodescendentes se
reconheçam representados na história brasileira e elevem sua autoestima, percebendo a
importância da luta de seus ancestrais para as conquistas da atual democracia.

APLICAR CONHECIMENTOS

1. Por que o movimento negro optou pela data de 20 de novembro para comemorar o Dia Nacional
da Consciência Negra?
2. Por que o dia 13 de maio é lembrado como o Dia Nacional da Luta contra o Racismo? Explique.
3. De que maneira você acha que estudar as contribuições dos negros na História do Brasil pode
colaborar para diminuir o preconceito? Justifique a sua resposta.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros Cultura e sociedade no Brasil: 1940-1968


Analisa a produção musical, teatral e cinematográfica brasileira entre os anos 1940 e 1960,
usando essas produções culturais como fonte para o ensino e a aprendizagem da História.
ALMEIDA, Claudio Aguiar. Cultura e sociedade no Brasil: 1940-1968. São Paulo: Atual, 1999.

Cultura Brasileira: Utopia e massificação (1950-1980)


Analisa diversas formas de produção cultural que apareceram no país entre as décadas de
1950 e 1980. Destaque para o período da ditadura militar, quando a cultura foi usada para
contestar o governo.
NAPOLITANO, Marcos. Cultura brasileira: utopia e massificação (1950-1980). São Paulo: Contexto, 2001.

Site CPDOC-FGV
No item “Navegando na História”, há textos didáticos sobre diversos períodos da história repu-
blicana brasileira.
Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/>. Acesso em: 7 ago. 2012.

204 História
Capítulo 3
HISTÓRIA Visões do Brasil contemporâneo:
um olhar sobre a periferia

Q uando nos referimos a uma região usando o termo “periferia”, não estamos fa-
lando apenas do local em que ela se localiza na cidade. A periferia pode estar
nas divisas dos municípios ou no centro. Ela pode abrigar barracos e cortiços, ou ca-
sas em bairros com pouca estrutura. Isso ocorre porque, além do território, outros
fatores importantes ajudam a definir o que é periferia: as redes de convívio entre as
pessoas, as práticas culturais, a maneira como atuam as políticas públicas etc.
As periferias do Brasil – e do mundo – são bastante diferentes entre si. Em
cada comunidade, as pessoas têm necessidades, gostos e hábitos distintos. Cada
vez mais, porém, alguns grupos e cidadãos nascidos nesses espaços começam a
perceber que, apesar das diferenças, todas as periferias se formaram dentro do
mesmo processo histórico de exclusão e expansão da pobreza e miséria. Assim,
podemos dizer que há o reconhecimento de uma identidade periférica.

Gerson Gerloff/Pulsar Imagens


Criança anda de bicicleta em rua na periferia de Corumbá (MS), 2012.

9º ano 205
RODA DE CONVERSA

Reúna-se em um grupo de cerca de seis pessoas. Cada uma delas deverá escrever uma lista de
cinco palavras que melhor definem o conceito de periferia. Discutam com os colegas as palavras que
apareceram, elaborando uma nova lista com as cinco palavras consideradas pelo grupo as mais sig-
nificativas. Utilizem-nas para escrever um pequeno texto coletivo sobre o que é periferia na opinião
de vocês. Em seguida, os grupos devem ler as definições para a classe e escutar as dos demais alunos.

O SÉCULO XXI E A URBANIZAÇÃO DO PLANETA


Nessas primeiras décadas do século XXI, a urbanização do planeta está cada
vez mais acelerada. O número de megacidades, ou seja, cidades com mais de
8 milhões de habitantes, vem aumentando bastante. Muitos centros urbanos, por
sua vez, se tornaram hipercidades com mais de 20 milhões de habitantes, como
é o caso de Tóquio (Japão), da Cidade do México (México), Seul (Coreia do Sul),
Nova York (Estados Unidos), Mumbai (Índia) e São Paulo.
Enquanto no século XX o crescimento das cidades ocorreu principalmente
por causa da migração dos moradores vindos do campo, no século XXI os centros
urbanos estão crescendo tanto e de forma tão acelerada que passaram a “engolir”
as áreas rurais. Dessa forma, a diferença entre o que é urbano e o que é rural co-
meça a se tornar menos evidente.
No Brasil, podemos citar como exemplo dessa intensa urbanização a Re-
gião Metropolitana Ampliada Rio-São Paulo, que engloba uma área de cerca de
500 quilômetros entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, além da região
de Campinas. Se contarmos a população que vive nessa faixa, teremos mais de
37 milhões de pessoas. Observe no gráfico a seguir como a urbanização cresceu
no país nos últimos anos e de que maneira os especialistas estimam que essa ten-
dência vai continuar.
Brasil: proporção entre população urbana e rural
100
90
80
70
60
Urbana
50
Rural
40
30
20
10
0
1950 1960 1980 2000 2020 2040 2050
Fonte: United Nations, Department of Economic and Social Affairs. Disponível em: <http://esa.un.org/unpd/wup/Country-Profiles/country-profiles_1.htm>. Acesso em: 8 ago. 2012.

206 História
LER MAPAS

Observe atentamente os mapas a seguir e responda às questões.

Crescimento da população urbana no mundo – 1950-2010

N
0 2 090 4 180 km
O L

N
0 2 090 4 180 km
O L

Fonte dos mapas: Questions internationales, n. 52. La Documentation française, Paris, nov./dez. 2011.

9º ano 207
1. Comparando os mapas de 1950 e de 2010, o que é possível afirmar sobre o crescimento da popu-
lação urbana no mundo?

2. No mapa de 2010, quais são os continentes ou regiões cuja concentração de população residente
em áreas urbanas mais cresceu?

3. Em que continente é possível encontrar mais países cuja população permaneceu predominante-
mente no campo, com base no mapa de 2010?

4. Comparando os dois mapas, o que é possível afirmar sobre a urbanização no Brasil?


Gautam Singh /AP Photo/ Omegaplus

URBANIZAÇÃO OU “FAVELIZAÇÃO”?
Nas quatro últimas décadas do século XX,
o processo de urbanização nos países que apre-
sentam um alto índice de pobreza e miséria foi
ainda maior do que nas outras nações. No en-
tanto, ao contrário do que ocorria até os anos
1960, quando a população do campo migrava
para as cidades para trabalhar nas fábricas ou
na construção civil, a partir dos anos 1970 a
oferta de empregos nos centros urbanos co-
meçou a diminuir consideravelmente. Assim,
muitos desses novos habitantes não encontra-
ram oportunidades de trabalho, sendo obriga- Menino anda de bicicleta na periferia de Délhi, Índia, 2009. As
favelas multiplicam-se por todo o mundo, especialmente nos países
dos a ganhar a vida no mercado informal. subdesenvolvidos. Délhi, por exemplo, recebe cerca de 500 mil migrantes
todos os anos. Deles, 400 mil vão morar em favelas ou na periferia.
A maior parte dos governos dos países

208 História
subdesenvolvidos, por sua vez, não realizou todos os investimentos necessários
em infraestrutura e serviços voltados para o bem-estar da população, como habi-
tação, saúde, educação, transporte coletivo etc. A sua prioridade foi abrir oportu-
nidades para as grandes empresas e os bancos multinacionais, seguindo a lógica
do neoliberalismo. Como resultado, a urbanização dos últimos anos trouxe com
ela o aumento da pobreza urbana.
Assim, além da urbanização, muitos dos países subdesenvolvidos passam por
um processo de “favelização”. Mesmo nos países mais ricos, a pobreza nas gran-
des cidades cresce a cada dia. Segundo o historiador estadunidense Mike Davis,
se a sociedade continuar nesse caminho, logo viveremos em um “planeta favela”,
ou seja, o número de habitantes da periferia será maior que o de outros espaços.
Como exemplo, ele cita o que ocorre hoje na região amazônica:
Na Amazônia, uma das fronteiras urbanas que crescem com mais velocidade
em todo o mundo, 80% do crescimento das cidades tem-se dado nas favelas,
privadas, em sua maior parte, de serviços públicos e transporte municipal, tornando-
-se assim sinônimos de “urbanização” e “favelização”.
DAVIS, Mike. Planeta favela. São Paulo: Boitempo, 2006. p. 26.

Como as cidades não oferecem infraestrutura nem condições de moradia ade-


quadas para tanta gente, a população tem de encontrar maneiras de viver ocupan-
do lugares pouco valorizados pelo mercado de imóveis. Muitas vezes, a alternativa
é ocupar terrenos em encostas, áreas que alagam facilmente, regiões muito distan-
tes do centro, prédios com estruturas danificadas, entre outras situações de risco.
Quanto mais desvalorizado financeiramente é o terreno, menor é a chance de seus
habitantes sofrerem despejo. No entanto, o risco de serem expulsos e obrigados a
se mudar está sempre presente.
Nesse sentido, a periferia é um conceito que não é restrito a determinados
espaços, pois ela está sempre se mu-
Delfim Martins / Pulsar Imagens

dando e se ampliando dentro das


cidades. Uma área desabitada atual-
mente (como um morro, uma flo-
resta ou um campo) pode se tornar
um bairro periférico amanhã. Uma
região mais central que, por algum
motivo, perdeu valor no mercado de
imóveis pode vir também a ser peri-
feria. O fato é que a periferia sempre
será caracterizada como local de ha-
bitações pobres e geralmente infor-
mais (das quais os moradores não
têm a posse formal), superpovoado
e, o mais grave, com pouca atenção e Vista da periferia de Bento Gonçalves (RS), 2008, onde as casas foram
construídas na encosta do morro, correndo o risco de desabamento.
recursos do poder público.

9º ano 209
BRASIL: DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO × “FAVELIZAÇÃO”
Diante desse cenário, o Brasil vive atualmente uma situação particular. Sua
economia cresceu muito mais do que a dos países desenvolvidos na última década,
estando entre as maiores do mundo. Pesquisas da Fundação Getúlio Vargas (FGV)
indicam que mais de 18 milhões de brasileiros saíram da condição de miséria ex-
trema nos últimos dez anos. Porém, em 2010 cerca de 16,2 milhões ainda estavam
nessa situação, mostrando que a pobreza continua sendo um problema grave.
Dessa forma, pode-se dizer que, apesar do crescimento econômico impressio-
nante, o Brasil ainda é um dos países com maior desigualdade de renda do mun-
do. Se esse crescimento econômico possibilitou que muitos brasileiros saíssem da
condição de miséria extrema, entre os ricos também houve uma ampliação do
poder aquisitivo, que é comprovada pelo aumento do mercado de produtos de
luxo nas grandes metrópoles.
Nesse ambiente, enquanto alguns bairros ganham edifícios de alto padrão, a
periferia segue avançando, principalmente nas áreas mais distantes do centro. Em
1991, por exemplo, 3,1% da população brasileira vivia em favelas ou ocupações
irregulares. Em 2010, esse número já estava em 6%, comprovando que a urba-
nização no Brasil foi acompanhada por um processo de favelização das cidades,
apesar do grande desenvolvimento econômico do país.

LER TEXTO JORNALÍSTICO

Leia a reportagem a seguir e responda às questões.

Cortiços: o mercado habitacional de exploração da pobreza


A habitação constitui um dos mais graves problemas sociais da cidade de São Paulo. [...]
Parece inacreditável a constatação de que os problemas que existiam nos
cortiços no início do século 20, conforme estudos e jornais da época, sejam os
mesmos dos dias de hoje. Dentre eles, destacam-se a grande concentração de pessoas
em pequenos espaços; um único cômodo como moradia; ambientes com falta de
ventilação e iluminação; uso de banheiros coletivos; instalações de esgotos danificados;
falta de privacidade; e o fato de comporem um mercado de locação habitacional de
alta lucratividade.
Além desses aspectos, os cortiços mantêm as características de estarem,
predominantemente, localizados nos bairros centrais da cidade, apresentarem
diversas situações de ilegalidades e os seus moradores terem salários insuficientes
para acessarem moradias adequadas. Os cortiços, diferentemente das favelas e de
outras moradias precárias, quase não são visíveis na paisagem urbana, porque, em
geral, são edificações que foram utilizadas como moradias unifamiliares, mas que
atualmente abrigam dezenas de famílias. Logicamente, tornam-se visíveis sempre
quando há interesse do capital imobiliário na região onde os cortiços estão instalados,
porque seus moradores são os primeiros a serem expulsos. [...]

210 História
[...] os resultados escolares apontaram que as crianças CONHECER MAIS
moradoras em cortiços possuíam quatro vezes mais chances de
serem reprovadas quando comparadas com outros alunos da mesma O neoliberalismo
e a intensificação da
série. A falta de espaço para dormir adequadamente, a insalubridade
desigualdade social
das moradias sem janelas, a rotatividade habitacional e a porta
Até os anos 1970, havia uma ten-
de entrada sempre aberta atingem diretamente o desempenho dência por parte de vários Estados
escolar das crianças. Ficou evidente que as condições precárias da de controlar a economia e as gran-
moradia eram fatores de limitação para os estudos e geradoras de des empresas, repassando parte do
discriminação e segregação social e, consequentemente, de evasão dinheiro arrecadado com elas para a
escolar. [...] população mais pobre. Esse repasse
ocorria por meio dos altos investi-
Por outro lado, os moradores de cortiços tornaram-
mentos em serviços públicos, como
se importantes atores sociais quando formaram movimentos habitação, saúde, educação, seguro
para reivindicar o direito à moradia digna no centro da cidade social, entre outros.
e, principalmente, quando utilizaram a estratégia de ocupar Após esse período, intensificou-
edifícios vazios. Isso porque denunciam a falta de política de se o processo de globalização, no
habitação de interesse social para as áreas centrais da cidade e qual as multinacionais começaram
a ter facilidade de instalar suas sedes
expõem as contradições do setor imobiliário, que deixa os imóveis
nos países que cobrassem os meno-
abandonados sem função social aguardando valorização. res impostos e onde os trabalhadores
Apesar da luta e mobilização empreendidas nos últimos 20 recebessem salários mais baixos. As-
anos, pode-se afirmar que as inúmeras expressões da precariedade sim, os Estados tornaram-se reféns
das moradias, o comprometimento de grande parcela da renda e das grandes corporações, optando
a segregação social que sofrem seus moradores são fatores que por reduzir os benefícios da popula-
ção para garantir investimentos na
fazem com que os cortiços sejam um fator para reprodução da
economia de seu país. Esse modelo
pobreza e ampliação da desigualdade social. econômico, conhecido como neoli-
KOHARA, Luiz. Carta maior, 5 set. 2012. beralismo, colaborou para que a ren-
Disponível em: <www.cartamaior.com.br/templates/ da se concentrasse ainda mais nas
materiaMostrar.cfm?materia_id=20832>. Acesso em: 18 out. 2012.
mãos de alguns grupos, aumentando
1. Identifique no texto quais são os problemas existentes nos corti- a desigualdade social. Na América
Latina, favoreceu o enriquecimento
ços desde o início do século XX até os dias de hoje.
de alguns setores e o empobrecimen-
2. Por que o autor afirma que, ao contrário das favelas, os cortiços to de muitos cidadãos.
Na história brasileira, o modelo
estão invisíveis na paisagem urbana? Explique.
neoliberal intensificou-se durante
3. De que maneira os moradores dos cortiços se tornam impor- o mandato de Fernando Collor de
tantes atores sociais? De que forma eles atuam para reivindicar Mello (1990-1992), quando a eco-
nomia se abriu para a entrada de in-
o direito à moradia? vestimentos estrangeiros. Durante o
4. Pesquise em meios de comunicação – jornais, revistas e na inter- governo de Fernando Henrique Car-
doso (1994-2002), foram realizadas
net – alguns movimentos sociais que reivindicam melhores con- privatizações, ou seja, vendas de em-
dições de moradia nas cidades. Anote em seu caderno: presas públicas para grupos privados
(a maior parte, multinacionais). No
a) o nome desses movimentos; governo de Luiz Inácio Lula da Silva
b) o que eles reivindicam; (2003-2010), a política econômica
manteve traços neoliberais dos perí-
c) que estratégias utilizam. odos anteriores. Porém, houve a ten-
tativa de realizar investimentos em
Por fim, debata com seus colegas de que forma esses movi- programas de distribuição de renda,
mentos podem ou não colaborar para melhorar as condições como o Bolsa Família e o Prouni. A
maior parte dessas políticas segui-
habitacionais nos grandes centros urbanos. ram ativas após Dilma Rousseff as-
sumir a presidência, em 2011.

9º ano 211
LER CANÇÃO

Leia a seguir a letra do rap “Caminhada 2”, de Nega Gizza


Nega Gizza, e responda às questões. Giselle Gomes Souza, ou Nega Gizza, nas-
ceu em Brás de Pina, subúrbio do Rio. Com o
Caminhada 2 discurso afiado e a voz firme, Gizza teve (e
Quando minha família veio pra cá, eu tinha 13 tem) talento e rimas de sobra para se firmar
anos, isso foi em 1989... Nessas comunidades num meio em que, até então, destacavam-se
apenas vozes masculinas. Filha de empregada
que tem aqui, Parque Esperança, Criança doméstica, aos sete anos vendia refrigerante e
Esperança, Parque Tiradentes... cerveja com seus irmãos no centro do Rio. [...]
Paulinho foi o cara que encabeçou tudo, foi o Após ter perdido seu irmão, Márcio, morto pela
cara que foi o grande líder pra todo mundo tá polícia aos 27 anos, Nega Gizza foi “adotada”
seguindo ele pra... pras invasões. E... aceitamos como irmã por MV Bill, que a

Ana Carolina Ferreira Brasil/Folha Imagem


a ideia, acreditamos na ideia que a gente ia convidou para participar de
sua banda como backing
conseguir fazer a invasão, ia dar tudo certo, que o vocal. [...] Em 2001, Gizza
terreno ia ser nosso, que a gente precisava. venceu o Hutúz – o mais
Adotamos a ideia, acreditamos e entramos com importante prêmio de
tudo, mente, bolso, pés, mãos pra poder dar... rap da América Latina
fazendo parte do movimento dos sem-terra e – na categoria Melhor
sem-teto. Demo Feminino [...].
Todo sábado e domingo a gente se reunia às 8 Disponível em: <www.negagizza.com.br>.
Acesso em: 8 ago. 2012.

da manhã pra poder ficar capinando, porque era


imenso o terreno e ninguém ia capinar pra gente,
a gente que tinha que botar a mão e capinar. A rapper Nega Gizza.

Nega Gizza. CD: Na humildade. Dum Dum Records, 2002.

1. De acordo com a letra da canção, o que a família da autora fez ao chegar nas comunidades citadas?
2. Qual foi o papel de Paulinho, segundo a canção, nesse processo?
3. Por que a letra diz que “acreditamos e entramos com tudo, mente, bolso, pés e mãos”? Explique.
4. O que você acha da atitude da família da compositora, levando em consideração o contexto em
que eles se encontravam? Justifique a sua resposta.

QUEM ATUA NA PERIFERIA?


Como vimos ao longo do capítulo, o crescimento das periferias nas grandes
cidades do Brasil se deu, de modo geral, sem os necessários investimentos do
Estado em infraestrutura e serviços públicos de qualidade, como habitação, trans-
porte, saúde e educação. Alguns programas governamentais mais recentes pro-
curaram compensar essa ausência, como é o caso do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), lançado pelo governo Lula em 2007, que dobrou os recursos
destinados à infraestrutura urbana até 2010. Seu objetivo era investir nas áreas
de moradia e saneamento básico e, com a posse de Dilma em 2011, entrou numa
segunda fase.

212 História
Essa ausência do poder público nas periferias favoreceu o surgimento de
organizações não governamentais (ONGs), que hoje em dia atuam em comu-
nidades de todo o Brasil. As ONGs podem se valer de recursos públicos, de
instituições internacionais ou privadas para realizar seus projetos. No entanto,
uma das críticas que se faz ao seu modo de funcionamento, quando utilizam
recursos de origem governamental, é que esse dinheiro poderia servir para criar
políticas públicas de grande alcance, já que geralmente essas associações fazem
projetos em locais determinados. Por outro lado, algumas delas conseguiram
trazer grandes benefícios a essas populações.
A ausência do Estado nas periferias contribuiu também para o crescimento
do crime organizado, principalmente o tráfico de drogas. Desde os anos 1990, a
criminalidade e a violência atingiram números alarmantes. O comércio ilegal de
drogas e armas gerou polos de riqueza dentro das periferias, atraindo especial-
mente jovens que veem no crime uma oportunidade para mudar a sua situação
social. Hoje em dia, organizações surgidas dentro das cadeias, como o Comando
Vermelho (CV), no Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), em
São Paulo, constituem “poderes paralelos” em muitas favelas do Brasil.
Os jovens da periferia que se envolvem com o crime organizado costumam ter
vida curta. São assassinados pelos próprios traficantes ou em ações da polícia. A
força policial, em muitas ocasiões, age movida pela ideia de que os jovens da pe-
riferia são, em sua maioria, criminosos em potencial, cometendo abusos e até as-
sassinatos injustificados. Movidos pelo preconceito e pela certeza da impunidade,
alguns policiais cometem crimes alegando o possível envolvimento das vítimas
em ações criminosas.
Rafael Andrade/Folhapress

A vinda de grandes even-


tos internacionais para o Brasil
(consequência do crescimento
econômico do país nos últi-
mos anos), como a Copa do
Mundo de Futebol de 2014 e
os Jogos Olímpicos de 2016,
incentivaram ações para mu-
dar a paisagem da periferia.
No Rio de Janeiro, sede desses
eventos, começaram a ser im-
plementadas, a partir de 2008,
Unidades de Polícia Pacifica-
dora (UPPs), com o objetivo
de combater as organizações
criminosas que atuavam nas
Policiais durante cerco à favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ), em 2011. Apesar de diminuir
comunidades e instalar uma a violência após sua instalação, o processo de ocupação para implantar as Unidades de Polícia
polícia comunitária. Pacificadora (UPPs) costuma ser violento.

9º ano 213
Apesar de diminuir o crime em algumas regiões, esse projeto sofreu crí-
ticas. A principal delas foi o fato de grande parte das comunidades “pacifica-
das” se localizarem na zona sul carioca ou próximas de bairros de classe alta.
Nesse sentido, seus críticos denunciam que as UPPs teriam como objetivo
diminuir a criminalidade próxima a essa classe social, e não beneficiar os ha-
bitantes das periferias.

LER TEXTOS JORNALÍSTICOS

Leia os dois textos a seguir e responda às questões.

Avanço da classe C “aquece” a economia, dizem analistas


O Brasil foi um dos últimos países a entrar na crise econômica mundial e o
primeiro a sair. O motivo do “sucesso”, segundo especialistas, está na nova classe C
do país, cuja renda fica entre R$ 1 000 e R$ 4 500, e já soma mais de 50% da população.
Nos últimos seis anos, de acordo com o economista Alex Mendes, professor de
economia da Faculdade da Academia Brasileira de Educação e Cultura (Fabec),
20 milhões de brasileiros ascenderam para esta classe social.
“A demanda, reprimida por anos de baixos salários, agora explode numa onda
de consumo que ao que tudo indica veio para ficar. Somada aos trabalhadores que
ganham um salário mínimo [...] a classe C vem buscando conforto e qualidade de vida,
o que representa não só a aquisição de eletroeletrônicos, mas também o almejado
sonho da casa própria, facilitado nos últimos anos pela estabilização econômica e
novas linhas de financiamento”, analisa. [...]
Jornal do Brasil, 26 jan. 2012. Disponível em: <www.jb.com.br/economia/noticias/2012/01/26/
avanco-da-classe-c-aquece-a-economia-dizem-analistas/>. Acesso em: 9 ago. 2012.

“Quem estiver esperando que a classe C apenas consuma vai tomar um


susto. Eles estão querendo estudar”
Sérgio Vaz é poeta e ativista, diretor da Cooperativa Cultural da Periferia
(Cooperifa). No bairro de Piraporinha, zona sul da capital paulista, ele coordena um
núcleo cultural que leva arte para as populações carentes da região. [...]
“Os jovens da periferia não estão mais se inspirando só nos artistas – estão se
inspirando nas universidades. Tem muito jovem se inspirando em advogado, devido às
faculdades terem chegado mais perto... a molecada está se inspirando em ser médico,
veterinário. A arte não é uma coisa que salva ninguém. A gente sempre diz que a
Cooperifa não te prepara pra ser escritor, te prepara para ir pra universidade. O grande
barato é que você pode ser médico E poeta. A gente sempre trabalha no sentido de
fazer os jovens voltarem a estudar”.
“Essa nova classe C que eles chamam, é C de correria. Essas pessoas foram
atrás da televisão, atrás da geladeira... agora elas já estão atrás do curso de inglês, de
formação. Quem estiver esperando essa classe C consumir, só, no shopping, vai tomar
um susto. A rapaziada está se preparando pra ler também, pra fazer cursos.”
VAZ, Sérgio. Revista Trip, 13 out. 2011. Disponível em: <http://revistatrip.uol.com.br/
tv-trip/sergio-vaz.html>. Acesso em: 9 ago. 2012.

214 História
1. De acordo com o primeiro texto, qual foi o principal fator para que o Brasil fosse o país menos
prejudicado pela crise econômica mundial?
2. O que Sérvio Vaz quer dizer, no segundo texto, com a frase “Os jovens da periferia não estão mais
se inspirando só nos artistas – estão se inspirando nas universidades”?
3. Você reconhece, no seu cotidiano, um maior poder de consumo na chamada classe C? Justifique.
4. Você considera que a chamada classe C tem mais acesso à educação do que alguns anos atrás?
Justifique sua opinião.

MOVIMENTOS CULTURAIS: A PERIFERIA SE AFIRMA


Nas últimas décadas, diversos movimentos culturais surgiram nas periferias do
Brasil, refletindo sobre o dia a dia dessas comunidades. Artistas, escritores e pensa-
dores nascidos em regiões periféricas procuram utilizar o seu talento para pensar
os temas e as questões de quem vive nas áreas mais pobres dos centros urbanos.
Muitas vezes, esses movimentos culturais não são conhecidos pela grande im-
prensa, mas circulam em circuitos paralelos. Os artistas divulgam seu trabalho com
ajuda da propaganda boca a boca, do mercado de CDs piratas (por meio dos ca-
melôs) e da internet. Muitas vezes desconhecida pelas elites, a cultura da periferia
ganha força debatendo os assuntos dessas regiões e falando a linguagem das ruas.
Um dos movimentos culturais que discutem a periferia de forma mais po-
litizada é o hip-hop. Inicialmente praticado nos Estados Unidos, ele é seguido
no Brasil sobretudo por jovens negros, nascidos nos bairros pobres das grandes
cidades. Na música, o hip-hop caracteriza-se por letras questionadoras; nas artes
visuais, destaca-se por meio do grafite; na dança, ocupa os espaços urbanos com
o breakdance. Esse movimento vem ganhando força na mídia. Um exemplo disso
é o programa Manos e minas, que a TV Cultura passou a exibir em 2008, voltado
para o público jovem.
Ligado à cultura hip-hop, outro movimento que se destaca é o rap, estilo mu-
sical que traz letras contundentes, com rimas. Nas periferias do Brasil, há muitos
grupos que compõem letras questionando a exclusão social e a condição dos jo-
vens em um mundo de possibilidades restritas. O principal grupo de rap brasi-
leiro é o Racionais MC’s, liderado por Mano Brown, atuante na periferia de São
Paulo desde os anos 1990. GLOSSÁRIO

Para o escritor Sérgio Vaz, organizador de um sarau poético sema- Sarau: reunião onde ocorrem
apresentações culturais de
nal no bairro da Piraporinha, periferia de São Paulo, os artistas desses literatura, poesia, música,
movimentos colaboram para fortalecer a cidadania na periferia. teatro, dança, entre outras.

[...] Falávamos sobre a cidadania e problemas próprios da juventude e do país.


As conversas eram diretas e sem frescuras. [...] Daí fui percebendo a força dos artistas
da comunidade no fortalecimento da cidadania da periferia, e que a gente precisava
mudar a, e não mudar da periferia.
VAZ, Sérgio. Cooperifa: antologia periférica. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2008. p. 62. (Tramas urbanas.)

9º ano 215
Outro fenômeno cultural que nasceu na periferia foi o funk carioca, um
gênero de música eletrônica geralmente comandado por um DJ. Assim como
o rap, esse estilo foi influenciado pela cultura estadunidense, mas incorporou
elementos nacionais. Ao contrário de outros movimentos nascidos nas peri-
ferias, o funk carioca ganhou a grande mídia e passou a ser escutado também
pelos jovens de elite.
Vale destacar um movimento cultural que hoje é reconhecido como nacional,
mas que também nasceu nas periferias urbanas: o samba. Dentro desse ritmo,
existem diversos grupos e gêneros (como o pagode, o partido alto, entre muitos
outros). As escolas de samba também costumam ser locais de encontro e de atua-
ção política em várias comunidades periféricas, principalmente nos morros do
Rio de Janeiro, onde elas têm muita tradição. O samba está presente em todas as
periferias do país.
Há muitos outros movimentos culturais que ganham espaço nas periferias
brasileiras, como o tecnobrega, predominante em Belém; o forró, dominante no
Norte, Nordeste e nas comunidades de migrantes dessas regiões pelo Brasil; o
lambadão, que cresce no Mato Grosso; entre outros. Com a expansão de igrejas
evangélicas nas comunidades, o gospel, que traz letras religiosas, também pas-
sou a fazer sucesso entre os fiéis. O mesmo aconteceu com algumas vertentes
católicas, conhecidas como “carismáticas”, que compõem canções para animar as
missas e, dessa forma, atrair mais seguidores. Geralmente, todos esses estilos se
difundem por meio de CDs de produção caseira, vendidos por ambulantes nas
ruas das cidades. Dessa maneira, as bandas independem das rádios e das grava-
doras para conquistar um público amplo.
Wado Lao

Samba da Vela, com participação especial de Osvaldinho da Cuíca, São Paulo (SP), 2009.

216 História
LER IMAGENS

Reúnam-se em grupos de cerca de cinco pessoas. Observem atentamente as imagens e sigam


o roteiro de trabalho.

Coleção Sérgio Fadel, Rio de Janeiro


Tarsila do Amaral. Morro da favela, 1924. Óleo sobre tela, 64 × 76 cm.

Frederic Soltan/Corbis/Latinstock

Trabalho dos grafiteiros Osgemeos, feito em Lisboa, Portugal. Foto de 2011.

9º ano 217
1. Qual dessas duas imagens melhor representa a periferia? Por quê? Discutam em grupo essa questão.
2. Elaborem uma tabela com duas colunas. Em uma delas, escrevam os argumentos usados pelos
membros do grupo para defenderem a imagem de Tarsila do Amaral. Na outra, façam uma lista
com os argumentos que apareceram durante a discussão para defender a imagem de Osgemeos
como a mais representativa.
3. Com base na tabela, escrevam um pequeno texto coletivo dizendo que características um traba-
lho artístico deveria ter, na opinião do grupo, para representar a periferia.
4. Cada grupo deve ler seu texto para a classe. Debatam com os demais colegas as diferentes opi-
niões que aparecerem.

LER DOCUMENTO

Em 2007, São Paulo foi palco da Semana de Arte Moderna da Periferia, evento que reuniu
apresentações de artes plásticas, dança, literatura, cinema, teatro e música. Esse momento foi
importante para os artistas da periferia, pois representou a força que eles começaram a ter após o
surgimento de inúmeras iniciativas espalhadas pela cidade. Leia o documento a seguir, de autoria
de Sérgio Vaz, organizador do evento, e responda às questões seguintes.

Manifesto da antropofagia periférica


A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor. Dos becos e vielas há de vir a
voz que grita contra o silêncio que nos pune, eis que surge das ladeiras um povo lindo
e inteligente, galopando contra o passado.
A favor de um futuro limpo, para todos os brasileiros. A favor de um subúrbio
que clama por arte e cultura, e universidade para a diversidade [...].
A arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.
A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer [...].
É preciso surgir na arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele
que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a
mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades. Um artista
a serviço da comunidade, do país. [...]
Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior.
Miami pra eles? “Me ame!” pra nós. [...]
Contra o artista serviçal escravo da vaidade. Contra os vampiros das verbas
públicas e arte privada.
A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza. Por uma periferia que
nos une pelo amor, pela dor e pela cor. É tudo nosso!
VAZ, Sérgio. Cooperifa: antologia periférica. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2008. p. 246-250. (Tramas urbanas.)

1. Por que o autor diz que “a Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor”? Explique.

218 História
2. O que o autor defende com a frase “a arte que liberta não pode vir da mão que escraviza”? Justifique.

3. Como será o novo tipo de artista que precisa surgir, de acordo com o autor?

DA CAPOEIRA AO HIP-HOP
No sistema escravista, os africanos trazidos para o Brasil perdiam o domínio
sobre o próprio corpo, visto pelos senhores como instrumento de trabalho. Além
disso, nas sociedades africanas, o corpo era um forte símbolo de identidade do
povo ao qual o indivíduo pertencia, sendo caracterizado por penteados, marcas
na pele, perfurações, entre outros elementos. Ao serem transformados em escra-
vos, esses homens e mulheres tinham suas diferenciações retiradas, junto a sua
cultura, seu passado e seus laços comunitários.
Nesse sentido, na luta contra a escravidão e a exploração, os africanos e seus
descendentes desenvolveram novas linguagens corporais que resgatassem as suas
raízes, além de criarem formas de resistência física contra o opressor. De acordo
com Kabenguele Munanga e Nilma Lino Gomes:

De uma ponta a outra do continente americano e do Brasil a população


negra utilizou o corpo como instrumento de resistência sociocultural e como agente
emancipador da escravidão. Seja pela religiosidade, pela dança, pela luta, pela
expressão, a via corporal foi o percurso adotado para combate, resistência e construção
da identidade.
MUNANGA, Kabenguele; GOMES, Nilma Lino. Para entender o negro no Brasil de hoje: história, realidades,
problemas e caminhos. São Paulo: Global, 2006. p. 116.

A capoeira, espécie de luta coreográfica, foi uma das manifestações culturais


que mais desempenharam o papel de construção de identidade e de resistência
negra no Brasil. No sistema escravista, ela colaborou nas fugas e também foi arma

9º ano 219
importante nos quilombos. Com o passar do tempo, transformou-se em caracte-
rística comum nas comunidades afro-brasileiras, sendo praticada escondida do
governo até 1932, quando sua prática foi finalmente legalizada.
Além da capoeira, cada vez mais presente em toda a sociedade brasileira como
prática esportiva e recreativa, outras práticas corporais surgiram recentemente en-
tre os jovens negros e pobres brasileiros. Desde a década de 1970, quando os bailes
de black music estadunidenses passaram a estar presentes nas periferias das cidades
brasileiras, estilos musicais como o funk e o hip-hop ganham adeptos por todo o país.
Como vimos ao longo deste capítulo, esses estilos musicais criaram uma cultura
periférica, já que são produzidos e consumidos por pessoas que habitam esses locais
dos centros urbanos. Apesar de não serem admirados apenas por afrodescendentes,
mas por jovens de todas as origens, pode-se dizer que o funk e o hip-hop expressam
a presença da juventude negra em sua criação. Podemos identificar essa caracterís-
tica principalmente nas letras politizadas do rap (que integra a cultura hip-hop), que
abordam as dificuldades e a luta dos negros que vivem nas periferias urbanas.
Rogério Reis/Pulsar

Grupo de dança de rua Byboys, em apresentação de hip-hop em Cidelândia (MA), 2008.

DEBATER

Converse com seus colegas sobre os itens a seguir.

1. Considerando que uma das estratégias de repressão no sistema escravista era retirar traços de
identidade do corpo dos africanos, qual era a importância de manifestações culturais como a
capoeira? Explique.

220 História
2. Faça uma pesquisa na internet ou em CDs musicais que você conheça de grupos de funk e de hip-
-hop. Encontre uma letra de música que trate da questão do negro na sociedade. Apresente a letra
para a classe chamando atenção para as seguintes questões:
a) Como o negro é retratado na letra?
b) A letra faz referência ao passado de escravidão? De que maneira?
c) Quais são as dificuldades enfrentadas pelo negro na sociedade de hoje que o grupo ou o can-
tor quis ressaltar?

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livro Literatura, pão e poesia


Traz textos produzidos por Sérgio Vaz, que se tornou uma referência para a chamada “cultura
periférica” após organizar o Sarau da Coperifa.
VAZ, Sérgio. Literatura, pão e poesia. São Paulo: Global, 2011.

Sites Colecionador de pedras


VAZ, Sérgio. Colecionador de pedras. Disponível em: <www.colecionadordepedras1.blogspot.com>. Acesso em: 26 set. 2012.

Suburbano convicto
BUZO, Alessandro. Suburbano convicto. Disponível em: <www.buzo10.blogspot.com.br>. Acesso em: 26 set. 2012.

Filme 5x favela: agora por nós mesmos


Inspirado em um filme de 1962, que mostrava cinco episódios de ficção ocorridos em favelas, o
filme foi realizado por diretores vindos das periferias brasileiras. Traz cinco histórias diferentes
que mostram problemas enfrentados nas comunidades do Brasil.
Direção: Wagner Novais, Manaira Carneiro e Rodrigo Felha. Brasil, 2009. 103 min.

9º ano 221
Bibliografia

HISTÓRIA

AGGIO, Alberto. Democracia e socialismo. São Paulo: Annablume, 2002.


BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina: a América Latina após 1930.
São Paulo: Edusp, 2012. v. 8.
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CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em cena. São Paulo: Unesp, 2009.
HOBSBAWM, Eric J. A era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Compa-
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______. Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras,
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FARIA, Ricardo de Moura. Da Guerra Fria à Nova Ordem Mundial. São Paulo:
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GOMES, Angela de Castro et alli. A República no Brasil. Rio de Janeiro: Nova
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MAZRUI, Ali A.; WONDJI, Christophe. História geral da África: África desde
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MATOS, Olgária. Paris 1968: as barricadas do desejo. São Pulo: Brasiliense, 1989.
NAPOLITANO, Marcos. Cultura brasileira: utopia e massificação (1950-1980).
São Paulo: Contexto, 2001.
PIMENTA, Heyk; COHN, Sérgio. Maio de 68. São Paulo: Azougue, 2008.
SADER, Emir. Transição no Brasil: da ditadura à democracia? São Paulo: Atual,
1990.

222 História
UNIDADE 5

Geografia
Capítulo 1
GEOGRAFIA Globalização, territórios e redes
geográficas

A té o final do primeiro semestre de 2008, tudo parecia ir bem na GLOSSÁRIO


economia mundial: os bancos mostravam estabilidade, havia cré-
ditos disponíveis no mercado financeiro, a China mantinha elevado
Hipotecas: documen-
tos ou contratos que
crescimento econômico – na casa dos 10% ao ano –, e o Brasil apre- estabelecem garantia
de pagamento de dívida
sentava bons resultados no mercado de exportação de commodities. Os referente a bens imóveis.

debates internacionais giravam

R. Black
em torno da aparente contradi-
ção entre a produção de etanol e
a de alimentos.
Entretanto, o que ocorreu
nos anos seguintes foi uma tur-
bulência financeira sem prece-
dentes nas últimas décadas, um
verdadeiro “terremoto”. Ela se
originou no mercado de crédito
imobiliário dos Estados Unidos
(bancos, seguradoras, empresas
de hipotecas etc.). Depois, tanto
nos Estados Unidos como em
outros países, como alguns da
Europa, bancos faliram, empre-
sas fecharam as portas e começa-
ram a faltar créditos para indiví-
duos, indústrias e outros setores.
Pequenos investidores perderam
dinheiro em bolsas de valores.
Empresas com imagem de soli-
dez, como as montadoras de au-
tomóveis, tiveram de pedir ajuda
econômica ao governo norte-
americano e notícias de desem-
prego passaram a tomar conta
dos jornais. No caso de empresas
norte-americanas e japonesas, Cartaz do movimento Occupy Wall Street, criado nos Estados Unidos, convocando para marchas,
manifestações de protesto e ocupação de praças e outros espaços em novembro de 2011. O
uma constante: demissões em movimento se posiciona contra as políticas econômicas e as instituições financeiras, que para os
suas unidades no mundo todo. seus ativistas seriam os grandes responsáveis pela crise financeira global e naquele país.

9º ano 225
Nos anos de 2011 e 2012, alguns países que integram a União Europeia começa-
ram a despertar dúvidas no mercado internacional quanto à possibilidade de saldar
ou refinanciar suas dívidas, o que gerou novas instabilidades no cenário econômico
mundial. Entre eles, estava principalmente a Grécia, mas também Itália, Espanha,
Irlanda e Portugal. No caso dos gregos, foi necessário aprovar um “pacote” de ajuda,
com recursos e empréstimos de um fundo europeu e também do Fundo Monetário
Internacional (FMI). Os cortes de gastos públicos e os aumentos de impostos, entre
outras medidas, provocaram fortes protestos de cidadãos gregos.
Para muitos estudiosos, essa foi uma crise sistêmica, que atingiu setores de
atividade econômica como um todo. Muitas análises do problema foram feitas e
medidas para resolvê-lo foram tomadas desde então. Algumas análises aponta-
vam para uma crise da globalização ou atribuíam a responsabilidade pela crise à
globalização capitalista – em especial do mercado financeiro, que atua no planeta
inteiro em tempo integral e desconhece fronteiras.
Mas, afinal, o que é globalização? Como se configura essa nova fase do capitalis-
mo? Em que medida ela se associa à crise que se iniciou em 2008? É o que veremos
a seguir, sem a pretensão de apresentar respostas definitivas a essas perguntas.

O ADVENTO DA GLOBALIZAÇÃO
GLOSSÁRIO
O período ou fase do capitalismo mundial conhecido
Economia centralmente planificada:
como globalização surgiu, segundo vários pesquisadores, a o termo refere-se às economias dos países
partir da década de 1980, numa convergência de fatores de do chamado socialismo real. Distingue-se
das economias capitalistas de mercado
diferentes ordens. Entre eles, estão: pelo planejamento centralizado e pela
propriedade estatal dos meios de produção:
• Desmoronamento dos regimes de economia cen- instrumentos de trabalho como máquinas,
tralmente planificada: isso ocorreu na União Sovié- ferramentas, instalações, insumos agrícolas
etc., e objetos de trabalho, elementos sobre
tica e nos países que giravam em sua órbita, no final os quais ocorre o trabalho humano, como
terra, matérias-primas e recursos naturais),
da década de 1980 e início da década seguinte. Tal pertencem ao Estado.
fato permitiu a ampliação dos mercados e das em- Muro de Berlim: no final da Segunda
presas, já que esses países eram uma barreira aos Guerra Mundial (1939-1945), Berlim, capital
da Alemanha, foi dividida em quatro áreas,
interesses capitalistas. A queda do Muro de Berlim, que passaram a ser administradas pelos
vencedores do conflito (União Soviética,
em 1989, que dividia a cidade alemã em duas par- Estados Unidos, França e Inglaterra). Em
tes, foi um símbolo desse processo. 1961, com o acirramento das disputas entre
soviéticos e norte-americanos, a Alemanha
• Desenvolvimento dos meios de transporte, co- Oriental, sob influência soviética, construiu
um muro dividindo Berlim. Assim, impediu-
municações e informações: permitiu transpor -se o trânsito de pessoas entre os lados
mais rapidamente distâncias (pelo menos as que capitalista e socialista. Em 1989, com a
crise do socialismo na região, o muro foi
são medidas em quilômetros), superar isolamen- derrubado. Foi um ato simbólico para o fim
tos geográficos e estabelecer possibilidades de do regime socialista no lado oriental e um
passo para a reunificação alemã.
novas interações sociais. Com isso, foi possível
intensificar a produção e a circulação de bens, pessoas e informações
nas últimas décadas. Começa a se erguer uma nova escala geográfica
de relações humanas, a escala global.

226 Geografia
• Criação e expansão da rede mundial de computadores: com os
avanços recentes da informática e da microeletrônica, surgiu a rede
mundial de computadores, que tornou possível a comunicação si-
multânea e instantânea, em tempo real, entre diferentes grupos, in-
divíduos e lugares de diversas partes do mundo (embora ainda tenha
distribuição e acesso bastante desiguais). Isso favoreceu a agilização
das operações financeiras e as trocas de informações e ordens entre
unidades de empresas do setor produtivo. Surgem grandes empresas
do ramo das tecnologias de informática, especializadas em produzir
novos aparelhos e programas.
• Reestruturação do sistema produtivo e da produção de bens: os
sistemas produtivos passaram a ser mais descentralizados, flexí-
veis e adaptáveis. Cada vez mais, as grandes empresas – em espe-
cial as chamadas transnacionais – procuram criar fábricas meno-
res, mais enxutas e movidas à base de uso intensivo de tecnologias.
Ficou mais fácil para as empresas industriais fecharem unidades e
transferi-las de um país a outro, de acordo com seus interesses. No
caso do sistema financeiro, temos o “dinheiro que nunca dorme”: as
aplicações financeiras são feitas em bolsas de valores e outras insti-
tuições mundiais 24 horas por dia.
Caro/Alamy/Otherimages

Manifestação no Muro de Berlim (Alemanha) em 1989, no momento de sua derrubada.

9º ano 227
LER MAPA

Observe o mapa e responda às perguntas a seguir:

Ilustração digital: Sonia Vaz


Toyota Locais de produção e mercados – 2009

N
0 2 700 5 400 km
O L

Fonte: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/cartotheque>. Acesso em: 23 ago. 2012.

1. Qual é o tema retratado no mapa? Quais recursos da cartografia foram utilizados em sua elaboração?
2. Qual é o país de origem da empresa retratada? Qual é o principal produto feito por ela?
3. Em quais países e continentes ela possui unidades produtivas e/ou de pesquisa?
4. Responda também: qual região do planeta produz grande parte das peças que compõem seus
produtos? Em que regiões do planeta situam-se seus centros de pesquisa?
5. Cite os nomes das duas regiões que constituem os maiores mercados consumidores dos produtos
da empresa (segundo as vendas). Descubra também o nome da região que recebe o maior volume
de veículos exportados pelo país de origem da empresa retratada.

AS EMPRESAS TRANSNACIONAIS
O que o mapa revela? Ele mostra que as grandes empresas transnacionais pos-
suem uma estratégia espacial que envolve o planeta inteiro. No exemplo, uma em-
presa atua segundo uma divisão do trabalho em escala planetária na produção
e no fluxo das peças para a montagem dos produtos.
Por que essas empresas são chamadas de transnacionais? Aí está uma pista
para compreender a globalização. Antes, as empresas multinacionais, originárias

228 Geografia
de determinados países – Japão, Estados CONHECER MAIS
Unidos, Alemanha etc. –, instalavam suas
Empresas chinesas são as que têm maior
filiais em outros pontos do planeta. Os lu- interesse no país
cros obtidos pelas unidades eram remeti-
dos, em parte, para a matriz situada no país Previsão de alta demanda do mercado brasileiro, filiais
locais lucrativas e generosos subsídios oferecidos por muni-
de origem da empresa. Daí o prefixo multi, cípios e estados atraem as montadoras
que quer dizer “muitos”, no caso de “muitas
nações”. Maior mercado para a Fiat, segundo maior para a
Volkswagen e terceiro para a General Motors, o Brasil
No caso das transnacionais, o prefixo vem batendo recordes de vendas e este ano deve atingir
trans vem de “transcender, superar, ultra- 3,7 milhões de veículos. O Produto Interno Bruto (PIB),
passar”. Assim, são grandes conglomera- que cresceu 7,5% em 2010 e deve desacelerar para cerca
de 4%, ainda assim é atrativo para empresas de merca-
dos econômicos cuja ação ultrapassa as dos estagnados como Europa, Japão e Estados Unidos.
fronteiras nacionais. Aproveitando as atuais Além de modelos compactos mais baratos, o país
possibilidades técnicas de transportes, co- atrai fabricantes de carros de luxo, como a alemã BMW,
que deve anunciar uma fábrica nos próximos meses. A
municações e informações, sua base de japonesa Suzuki já escolheu Goiás para produzir o jeep
operações passa a ser o planeta como um Jimny, importado hoje por R$ 55 mil. A previsão é que o
mercado brasileiro consuma 6 milhões de veículos até
todo. Sendo assim, muitas vezes as peças e
2020.
os componentes de um produto são feitos Outro atrativo para as montadoras é que as subsidiá-
em dois países diferentes e o produto final rias locais costumam ser lucrativas, às vezes mais do
que as próprias matrizes. Também há generosa oferta de
é montado num terceiro país – que, por sua subsídios dos municípios e estados para receber as fá-
vez, exporta os bens produzidos para outros bricas, que, na visão dos governantes, geram empregos
mercados nacionais. e desenvolvimento tecnológico.
As empresas chinesas são as mais interessadas em
Há, assim, um nítido enfraquecimento fincar raízes no país. Além das que já anunciaram inves-
das fronteiras e uma redução do grau de timentos, estão na lista de interessadas Geely, BYD, Si-
comprometimento da empresa com as rea- notruk, Foton, Great Wall e Haima/Changan. Para alguns
analistas, o interesse tem a ver com a semelhança dos
lidades nacionais. A empresa retratada no mercados, com ênfase em carros mais baratos e legisla-
mapa, assim como muitas outras, possui ção menos rígida em questão de segurança.
bases estratégicas no país de origem. Mas Fonte: SILVA, Cleide. O Estado de S. Paulo, 28 set. 2011. Disponível em: <www.estadao.com.
também possui unidades importantes em br/noticias/impresso,empresas-chinesas-sao-as-que-tem-maior-interesse-no-pais,765100,0.
htm>. Acesso em: 24 ago. 2012.
outros países e continentes, como as fábri-
cas, as sedes dedicadas à pesquisa e uma
extensa rede de unidades produtivas e de comercialização dos bens. Assim, cria
um circuito próprio, que já não é mais nacional.
É o que acontece com os automóveis, mas também com televisores, compu-
tadores, motocicletas e outros bens. As fábricas que montam os automóveis hoje
são menores que as do passado: enquanto na década de 1970 algumas monta-
doras chegavam a empregar mais de 10 mil operários, atualmente as unidades
funcionam com cerca de mil a 2 mil funcionários – incluindo os do setor admi-
nistrativo. Sendo assim, estas unidades podem ser fechadas e transferidas rapida-
mente, desvinculando-se do país que as sedia.
É preciso dizer também que muitas empresas, como a que foi apresentada,
contam com o apoio de Estados nacionais para funcionar dessa maneira. Um

9º ano 229
modo de fazer isso é obtendo benefícios fiscais, seja no plano federal, estadual ou
municipal. No Brasil, por exemplo, é muito comum empresas receberem terrenos
e isenções de impostos, como o IPTU e as taxas de importação.
Isso provoca uma verdadeira “guerra entre lugares” (no caso do Brasil, entre
municípios e, até mesmo, entre estados da federação) para sediar novas empresas,
sempre com a promessa de que a iniciativa poderá gerar muitos empregos. Na ver-
dade, como vimos, muitas vezes não passam de algumas centenas de novos postos
de trabalho. Além disso, os recursos públicos gastos na instalação dessas empresas
poderiam ser destinados a áreas sociais como habitação, saúde ou educação.

PESQUISAR

Reúna-se com um grupo de colegas e realize a seguinte pesquisa: há situações de instalação


de novas empresas como as citadas em seu município ou região? Se sim, entre elas estão empre-
sas transnacionais? O governo auxiliou empresas com recursos públicos? Quais? Tente descobrir
também quantos empregos diretos pelo menos uma dessas empresas gerou.
Verifique também se alguma empresa antes instalada em seu município se mudou para outro.
Procure saber as razões que a levaram a decidir pela mudança.
Por fim, anote também as opiniões do grupo sobre o tema da pesquisa, considerando impac-
tos trazidos pela instalação de novas empresas.

LER MAPA E TEXTO

O mapa e o texto a seguir trazem informações sobre o sistema financeiro internacional.


Observe-os e responda às perguntas a seguir:

Ilustração digital: Sonia Vaz


Principais praças financeiras do mundo – 2009

N
0 2 700 5 400 km
O L

Fonte: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/cartotheque>. Acesso em: 23 ago. 2012.

230 Geografia
Planeta finança
Consequência das políticas de liberalização dos anos GLOSSÁRIO

1980 e também dos progressos tecnológicos na informática Liberalização: conjunto de ideias baseadas na
e nas telecomunicações, a finança é um dos campos mais economia de mercado e da livre empresa. Os
integrados no tempo (funciona 24 horas por dia e em tempo que defendem essa perspectiva são contrários à
participação do Estado nas relações econômicas
real sob a forma de redes do mercado financeiro) e no espaço e pregam a redução ou eliminação de regras que
(presença permanente de capitais). possam frear os empreendimentos econômicos.
A desregulamentação financeira favoreceu particular- Países emergentes: refere-se a países em
desenvolvimento que vêm alcançando nos
mente os intercâmbios de valores financeiros entre os países últimos anos expressivos índices de crescimento
ricos, que emitem e recebem a maioria dos fluxos de capitais. econômico. Querem ter mais voz e participação
nas decisões econômicas e políticas em escala
Permitiu também a redução dos custos de financiamento dos mundial. Entre eles, estão Brasil, China, Índia,
países emergentes, os quais, a exemplo da China, souberam Rússia e África do Sul.
beneficiar-se da situação para atrair investimentos estrangeiros Recessão: situação de declínio da atividade eco-
e desenvolver sua economia. nômica marcada pela combinação entre queda da
produção, aumento do desemprego, redução de
lucros, crescimento no número de empresas que
Crash das bolsas em 2008 vão à falência, por exemplo.
Depois de cinco anos de altas ininterruptas, os mer- Fontes: DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas
cados financeiros registraram em 2008 quedas espetaculares, da mundialização: compreender o espaço mundial
contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009; SANDRONI,
de −42% em Paris até −67% para o índice de Moscou. Reflexo Paulo. Dicionário de economia do século XXI. Rio
de Janeiro: Record, 2005.
do valor econômico das empresas (ou seja, a soma atualizada
de benefícios futuros previstos), a cotação das ações diminuiu
drasticamente diante do medo de uma recessão mundial em
2009, relacionada à disseminação dos créditos de risco em todo o planeta. O perfil
similar das curvas de evolução das bolsas de valores reflete a interdependência entre os
diferentes mercados financeiros mundiais.
Fonte: DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 64-65. (Texto adaptado.)

1. Qual é o tema retratado no mapa? Quais recursos da cartografia foram utilizados em sua elaboração?
2. Das instituições financeiras apresentadas no mapa, cite três que operam com grande volume de
capitais.
3. Das praças ou instituições financeiras apresentadas, cite três localizadas em países em desenvol-
vimento. Compare o volume de capitais dessas praças com o de outras situadas em países ricos.
4. De acordo com o texto, o que ocorreu após 2008 nos mercados financeiros de todo o mundo?
5. Examinando o mapa e o texto, responda: como as aplicações financeiras podem ser realizadas
24 horas por dia, todos os dias? Quais são os recursos tecnológicos que permitem às bolsas de
valores operarem o tempo todo? Explique e dê exemplos.

O SISTEMA FINANCEIRO GLOBAL


O termo sistema financeiro se refere a um setor da economia que envolve
atividades e processos relacionados a créditos, operações de valorização de ca-
pitais, ações de empresas e movimentos com títulos e obrigações emitidos pelos
Estados. O setor é composto por bancos privados e estatais, bancos comerciais e
de desenvolvimento, casas de câmbio, bolsas de valores, corretoras de seguros e

9º ano 231
outras. Os Estados também contam com agências que operam no setor e regulam
a atividade financeira em cada território nacional, como bancos centrais e conse-
lhos monetários nacionais.
Existem instituições e praças financeiras de diferentes portes e volumes de
investimento. Entre as maiores estão as bolsas de valores de Nova York (incluindo
a Nasdaq, que possui ações de empresas de alta tecnologia, as chamadas “ponto-
-com”), Tóquio e Londres. Como mostram o mapa e o texto, a turbulência finan-
ceira ocorrida a partir de 2008 provocou sucessivas perdas nessas instituições e
também no valor das ações de diversas empresas. Investidores perderam dinheiro
e várias empresas deixaram de ter acesso a créditos, o que interferiu diretamente
nas atividades produtivas e nas taxas de emprego.
Por outro lado, os negócios ligados ao setor financeiro vêm se consolidando
também em países emergentes, como Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul,
embora eles tenham sido um pouco afetados pela crise citada.
Vale lembrar que o sistema financeiro é altamente especulativo. Assim, de
acordo com seus interesses, os investidores vendem ações e outros papéis em uma
bolsa e quase que instantaneamente podem transferir recursos e realizar opera-
ções financeiras em outras partes do mundo.
Como já vimos, trata-se de um “dinheiro que nunca dorme”. É um sistema mui-
to integrado: ao raiar de um novo dia no Oriente, investidores que operam na Eu-
ropa, nos Estados Unidos ou no Brasil, por exemplo, já podem realizar operações
nas bolsas de Tóquio ou de Hong Kong, no leste asiático. Assim, forma-se uma rede
mundial em que os recursos financeiros nunca se territorializam – ou seja, não são
aplicados em atividades produtivas permanentes, que exigem recursos disponíveis
no território, como água, matérias-primas e estradas. Tais recursos circulam num
espaço eletrônico, com algumas bases terrestres CONHECER MAIS
de apoio, e têm como suportes os satélites, ca-
O tempo real e as operações financeiras
bos de fibra ótica e computadores, por exemplo.
É assim que um abalo num dado mercado No mundo atual, a noção de tempo real
ganha realidade, trazendo à vida social e po-
é capaz de afetar o sistema econômico como lítica, sobretudo aos negócios, novos pontos
um todo. Como se sabe, diante de turbulên- de apoio. O uso adequado e preciso do tem-
cias, os investidores buscam imediatamente po e do espaço multiplica a eficácia e o poder
das empresas capazes de utilizar essas novas
retirar seus capitais investidos em uma deter- possibilidades.
minada instituição e em certos tipos de aplica- Mas são as atividades financeiras que
melhor se beneficiam desse enquadramento
ção e transferi-los para outras operações mais
rigoroso do tempo. O dinheiro, em suas múl-
seguras, gerando uma espécie de “efeito domi- tiplas formas, pode agora fluir globalmente,
nó” em que diversos operadores e investidores 24 horas sobre 24 horas, ligado por uma vasta
rede interativa de comunicações funcionando
passam a fazer a mesma coisa. E isso passa a sem descanso. Pontos estrategicamente dis-
ocorrer num setor que é uma força conside- postos na superfície da Terra são interligados
rável nos destinos da economia global. Todo mediante computadores, televisões, satélites,
cabos submarinos, fibras óticas […].
dia são movimentados trilhões de dólares em
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção.
operações financeiras. São Paulo: Edusp, 1997. p. 160.

232 Geografia
Embora os efeitos de crises e fugas de capitais sejam nefastos para as economias e
as sociedades, nem todos os problemas decorrem da atuação dos agentes financeiros
globais. Por exemplo: as taxas de desemprego também podem aumentar em função
de políticas econômicas nacionais equivocadas ou por decisões de setores econômicos
ou empresas do setor produtivo. Como vimos, não é raro uma empresa transnacional
ou uma empresa nacional fechar uma fábrica num lugar para em seguida reabri-la em
outro – criando instabilidades para a localidade que antes a sediava.

Spencer Platt/Getty Images


Operadores da bolsa Nasdaq, em Nova York (EUA), 2012. A instituição realiza operações financeiras relacionadas a empresas e setores de alta
tecnologia.

UMA GEOGRAFIA DAS REDES


Vimos que, para que algumas atividades ocorram em escala global, é preciso
existir equipamentos e infraestruturas de transportes, comunicações e informa-
ções. Assim, para que as empresas e o setor financeiro prossigam em sua busca
voraz por lucros de forma competitiva, é preciso que haja fluidez do espaço. O
que significa isso? Significa que os bens, as pessoas, as mercadorias, as informa-
ções, o dinheiro, as ideias e as ordens devem fluir – ou seja, circular, transitar – o
mais livremente possível. Por exemplo, trens quebrados ou atrasados, assim como
panes em linhas de transmissão de energia elétrica, rompem essa fluidez.
O que dá maior fluidez ao espaço no mundo atual? Ela resulta da construção
de redes técnicas, baseadas na procura incessante de novas tecnologias, cada vez
mais eficazes. Como destaca o geógrafo Milton Santos, as sociedades criam obje-

9º ano 233
tos e lugares destinados a favorecer uma fluidez do espaço cada vez maior: oleo-
dutos, gasodutos, ferrovias, rodovias, portos, aeroportos, sistemas de transmissão
via satélite e muitos outros.
Não estamos falando das redes sociais que se organizam em sites de relacio-
namentos na internet, mas de redes geográficas. E o que são elas? Numa primeira
definição, as redes seriam toda a infraestrutura que permite o transporte de matéria,
energia ou informações. Tal como uma rede de pescador, elas se caracterizam por
pontos, linhas e nós. Embora sejam implantadas nos territórios, a ideia não é que
ocupem uma grande área, mas que ativem seus pontos e linhas – muitas delas atra-
vessam territórios mas não possuem maiores conexões com seu entorno.
No mundo atual, as redes técnicas podem ser materiais, como uma linha de
metrô, uma rede de transmissão de energia elétrica ou uma ferrovia. Mas elas
também podem ser imateriais, ou seja, que não se materializam concretamente
na paisagem, como as redes de transmissão de dados a distância, via satélite ou
via telefonia celular. Nesse caso, como vimos antes, o que há de base concreta
material são apenas os nós ou as junções que asseguram a interconexão da rede.
Essas inovações e o modo como os espaços vêm sendo organizados pelas re-
des trazem grandes repercussões para a vida social, como veremos a seguir.

LER MAPAS E GRÁFICO

Examine o mapa e o gráfico a seguir. Depois, responda às perguntas:

Planeta Terra Disign


Brasil: matriz de transportes

Dutoviário e aéreo
Aquaviário
13 %
Ferroviário
Rodoviário

25 %
58 %

4%

Fonte: Ministério dos Transportes. Universidade Federal de Santa Maria (RS). Políticas de transportes no Brasil: antecedentes, realidades e perspectivas.
Ministério dos Transportes, abr. 2012.

234 Geografia
Brasil: redes de transporte

Ilustrações digitais: Sonia Vaz


N
0 420 840 km
O L

Brasil: ferrovias

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2009, p. 143.

N
0 420 840 km
O L

Fonte: Ministério dos Transportes, 2009.

1. Como está organizada a matriz de transportes no Brasil, de acordo com os dados? O que isso
representa para a fluidez do espaço e para a vida social e econômica do país?
2. Como é a distribuição das redes de transportes no território nacional?
3. Compare os mapas e indique diferenças na distribuição das redes rodoviária e ferroviária no país.
4. Converse com um colega e responda: em sua opinião, o que pode ser feito para melhorar a distri-
buição e as condições das redes de transporte no Brasil?

9º ano 235
REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL: UMA RADIOGRAFIA
O gráfico e os mapas destacam as redes e a matriz de transporte no Brasil,
incluindo tanto o transporte de passageiros como o de cargas.
Os dados mostram uma evidente predominância da rede rodoviária. A partir
da década de 1950, houve uma clara opção no país por esse modelo. Reforçou o
papel das rodovias o fato de muitas montadoras de automóveis terem se instalado
no Brasil a partir das décadas de 1950 e 1960. De forma geral, as rodovias partici-
param do projeto de integração e articulação do território nacional. O transporte
rodoviário (incluindo o uso do automóvel) tem a vantagem de permitir maior
flexibilidade nos deslocamentos, levando mercadorias de ponto a ponto. É ade-
quado para deslocamentos a distâncias mais curtas.
Esse quadro geral evidentemente contribuiu para aumentar as conexões entre
localidades e regiões e dar maior fluidez ao espaço geográfico. Por outro lado, o
sistema traz várias desvantagens e elevados custos sociais e ambientais. As rodo-
vias têm custo mais baixo no momento de sua instalação, mas solicitam manu-
tenção constante ao longo do tempo. Más condições de vias reduzem a velocidade
média e comprometem a eficiência do sistema.
A expansão do modelo rodoviário levou também ao aumento do uso do automó-
vel nas cidades, que acabam sofrendo verdadeiras “cirurgias” para dar passagem aos
carros, como a construção de pistas expressas e avenidas. Em pouco tempo, as novas
vias já estarão tomadas por carros. Assim, congestionamentos, acidentes frequentes
e poluição atmosférica são problemas urbanos a serem resolvidos. Em outros países,
como os da Europa Ocidental, há maior combinação e integração entre as diferentes
modalidades de transporte, o que inclui trens, metrô, ônibus e ciclovias.
As ferrovias, por sua vez, apresentam custo de instalação mais elevado e custo
mais baixo de manutenção ao longo do tempo. Embora tenham menor flexibilida-
de que o transporte rodoviário, uma de suas grandes vantagens é a maior capaci-
dade de transporte de carga, em especial de produtos a granel (grãos, minérios etc.).
As primeiras linhas de trem foram implantadas em nosso país ainda no século
XIX. Enquanto nos países desenvolvidos a ferrovia acompanhou o processo de
industrialização, no Brasil ela esteve a serviço da exportação de bens agrícolas,
notadamente o café. É por essa razão que as ferrovias têm uma orientação litoral-
interior: eram destinadas a ligar as áreas produtoras de bens primários aos portos
exportadores.
Há muitas ferrovias ainda em operação no estado de São Paulo, que foi o principal
núcleo da produção cafeeira no século XIX e início do século XX. Isso mostra também
as diferentes “idades” das redes e os períodos em que elas foram sendo construídas.
Com a consolidação do processo de industrialização brasileira, o sistema ferro-
viário como um todo foi mantido de forma precária, com sucessivas desativações de
linhas, em especial após a década de 1960. Novos investimentos no setor só ocorre-
ram a partir dos anos 1980, com a construção de linhas como a da Estrada de Ferro

236 Geografia
Carajás, ligando as jazidas de ferro do sudeste do Pará ao porto de Ponta da Madei-
ra, no Maranhão. Os novos investimentos também foram voltados à exportação, as-
sim como os projetos atuais para o Norte e o Centro-Oeste, cujo objetivo principal
é facilitar a exportação da produção agrícola dessas regiões. Trata-se, portanto, de
atender a empreendimentos econômicos e setores específicos.
O mapa mostra também o transporte de passageiros, e merece destaque a
expansão do sistema de trens metropolitanos (metrô e trens urbanos), que hoje
atende grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, além de
capitais de estados nordestinos.
Há uma distribuição desigual da rede ferroviária no território nacional. Existe uma
concentração das linhas e estações no Centro-Sul e parte do Nordeste do Brasil. Com
exceção do metrô e do sistema de trens urbanos, as ferrovias atendem preferencial-
mente o transporte de cargas. Assim, faltam opções de ferrovias para o transporte de
passageiros, em especial para viagens de longas distâncias e em ligações inter-regionais.
Essa situação vai na contramão do que acontece em outros países de grande ex-
tensão territorial, como Rússia e China, que têm grande malha ferroviária, ou em nos-
sos vizinhos, como Argentina e Peru, que também se valem desse meio de transporte.
Na Rússia, por exemplo, as ferrovias respondem por 81% da matriz de transporte.
Novas medidas estão sendo adotadas no Brasil com base no Plano Nacional
de Logística de Transporte, lançado em 2006. A ideia central é aumentar a partici-
pação das ferrovias e das hidrovias na matriz nacional de transporte. O programa
prevê também maior participação do sistema dutoviário (que pode transportar
combustíveis a longas distâncias, como é o caso do já existente gasoduto Brasil-
-Bolívia) e a ampliação da infraestrutura portuária e aeroportuária.

AS REDES E A ESCALA PLANETÁRIA


Vimos até aqui que gradativamente foram implantadas redes de transpor-
tes no Brasil, contribuindo para ampliar a fluidez do espaço em algumas regiões.
Isso ocorreu com os sistemas de telecomunicações, permitindo a quase totalidade
de cobertura do território do país pelas transmissões de rádio e TV e um crescimen-
to significativo das redes de telefonia fixa e móvel (celular) e do acesso à internet.
Apesar dos avanços, ainda há desigualdades no acesso às novas redes, tanto
no mundo como no Brasil. Assim, em escala planetária, quem melhor se serve
dessas novas possibilidades tecnológicas são as grandes empresas transnacionais
e o sistema financeiro. Isso também vale para as redes técnicas convencionais.
Algumas indústrias de extração mineral consomem grande quantidade de ener-
gia elétrica (é o caso das que lidam com a bauxita, a partir da qual é produzido
o alumínio). Do mesmo modo, é comum que apenas certas pessoas ou empresas
possam se aproveitar da circulação de carros ou aviões.
Vamos ver a seguir o funcionamento de algumas redes planetárias e analisar
suas repercussões.

9º ano 237
LER GRÁFICOS

Examine os gráficos, com dados sobre a internet no mundo, e responda às questões a seguir:

Ilustração digital: Planeta Terra Design


Taxa de expansão da internet no mundo segundo Usuários de internet por grupo

Ilustração digital: Planeta Terra Design


as regiões, em % da população – 2011 de 100 habitantes – 2001-2011
América do Norte 78,6%
País desenvolvidos
Oceania/ 67,5% Mundo
Austrália
Países em desenvolvimento

Por 100 habitantes


Europa 61,3%
América Latina/
Caribe 39,5%

Oriente Médio 35,6%

Mundo (média) 32,7%

Ásia 26,2%

África 13,5%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%


Taxa de penetração
Fonte: International Telecommunication Union. Disponível em: <www.itu.int/ITU-D/ict/statistics>.
Fonte: Internet World Stats. Disponível em: <www.internetworldstats.com/stats.htm>. Acesso em: 24 ago. 2012. Acesso em: 24 ago. 2012.

1. De modo geral, o que se pode concluir sobre a expansão da internet no mundo?


2. Localize as duas regiões do planeta que têm maior proporção de internautas em relação à sua
população total. Localize também uma região em que apenas uma pequena parte da população
tem acesso à internet.
3. Em relação à evolução do número de internautas nos últimos anos, compare a situação dos países
desenvolvidos e em desenvolvimento.
4. Em sua opinião, qual é a situação atual do Brasil em relação ao uso da internet e à presença dessa
rede no território nacional?

A INTERNET
Os dados apresentados mostram que houve uma extraordinária expansão do
número de usuários de internet no mundo. Em 15 anos, o número de internautas
saltou de apenas 4,4 milhões, em 1991, para quase 1 bilhão de pessoas, em 2005.
Segundo dados coletados pela Internet World Stats, que faz pesquisas sobre o
tema no mundo, em 2011 esse número ultrapassava 2 bilhões de pessoas, ou cerca
de 32% da população mundial, que era de 7 bilhões.
A internet resulta da combinação das inovações nos campos da informática
e da telefonia, constituindo a rede mundial de computadores. Sua principal ca-
racterística é permitir o contato e a comunicação a distância entre usuários das
diferentes regiões do planeta. Trata-se de uma tecnologia de comunicação e infor-
mação que veio para ficar.

238 Geografia
Apesar da sucessiva expansão do acesso à internet em todo o mundo, os países
desenvolvidos são os que possuem maior proporção de usuários em sua popula-
ção. Portanto, como já destacamos, o quadro ainda é de desigualdade, assim como
ocorre em outras redes. Chamam a atenção os casos de países como Noruega,
Austrália, Islândia ou Suécia, em que praticamente todas as pessoas têm esse re-
curso à disposição.
O Brasil segue a corrente, embora ainda esteja distante dessa marca. Em 1996,
apenas 36 mil pessoas acessavam a rede no país; em 2002, já eram 14 milhões,
saltando para 41,5 milhões de brasileiros em 2008. Segundo a pesquisa Ibope
NetRatings, registrou-se a marca de 79,9 milhões de internautas no país em 2011.
Com isso, o Brasil atingiu a posição de quinto maior país do mundo em número
de pessoas conectadas à rede.
É preciso considerar que, desse total, há variações quanto à regularidade do
acesso à rede: alguns acessam diariamente, enquanto outros grupos apresentam
frequência menor. Os dados variam também quando consideramos as diferentes
faixas de renda.
Dados de pesquisa realizada pelo Centro de Estudos em Tecnologias da In-
formação e da Comunicação (Cetic) revelam também que 38% dos domicílios
brasileiros dispunham de acesso à internet em 2011. No Sudeste, no mesmo ano,
esse número chegava a 49% nas áreas urbanas, atingindo a marca de 76% entre
aqueles com renda acima de cinco salários mínimos.
Novamente aparecem aqui as desigualdades de acesso a recursos tecnológicos
como resultantes das desigualdades sociais. O mesmo fato ocorre em vastas regiões
da África, da Ásia e em parte da América Latina, embora esteja havendo crescimen-
to em todas essas regiões.
Edson Sato/Pulsar Imagens

Vale lembrar, tomando o


caso brasileiro como referência,
que vem aumentando o uso do-
méstico do computador, mas são
bastante expressivos os usos por
empresas e no setor público. A
internet está mudando a face do
mundo, dada a possibilidade de
acesso a um gigantesco banco de
informações e do envio e recebi-
mento de imagens e textos varia-
dos. Ela tem permitido também
maior organização social em
torno de temas relevantes para
as populações e maior fiscali-
zação da ação de governantes e Na assembleia de todas as etnias Yanomami, realizada em Barcelos (AM) em 2010, o uso de
agentes econômicos. computadores e da internet já era uma realidade.

9º ano 239
Tais sistemas estão também cada vez mais integrados com os de telefonia móvel.
Mas não são poucos os estudos que mostram riscos de uma redução das interações
sociais realizadas em contato pessoal, especialmente entre grupos de jovens.

A EXPANSÃO DA TV NO MUNDO MODERNO


Outras redes merecem destaque em sua relação com a escala planetária. Um
sistema de comunicações e informações fortemente difundido é o de televisão.
As primeiras transmissões de TV ocorreram em 1936, na Inglaterra. No Brasil, a
inauguração das transmissões foi em 1950. De lá para cá, muitas inovações tecno-
lógicas ocorreram, oferecendo diferentes modalidades e sistemas de transmissão,
como as TVs a cabo, via satélite e outras, o que revela uma forte segmentação
nesse sistema.
No Brasil, levantamentos indicam que a quase totalidade da população tem
acesso a esse recurso, o que permite a sintonia com fatos e acontecimentos de
forma quase simultânea, como ocorre com as transmissões via satélite. Há tam-
bém forte integração da TV com outros meios, como a internet e os sistemas de
telefonia. Localidades mais remotas e aldeias de povos indígenas na Amazônia já
conseguem receber imagens de TV e estabelecer conexão sem fio à internet.
De um lado, isso permitiu que os aparelhos passassem a desempenhar múl-
tiplas funções (como um telefone celular que faz ligações, toca músicas e conta
com acesso rápido à internet). Por outro lado, as pessoas que quiserem ter acesso
a essas inovações são obrigadas a se desfazer de seus aparelhos antigos, que se
tornam obsoletos, e precisam pagar pelos novos serviços oferecidos.

O TRANSPORTE AEROVIÁRIO E A ESCALA PLANETÁRIA


Outro destaque, quando pensamos as conexões em escala planetária, deve ser
dado ao sistema de transporte aeroviário. com o progressivo desenvolvimento
tecnológico de aeronaves, da comunicação e das infraestruturas terrestres ligadas
ao sistema, praticamente não existem mais regiões isoladas no planeta, sem con-
tato com as demais.
Como ressalta o historiador Eric Hobsbawm, o uso dos aviões permitiu, por
exemplo, superar o problema de realizar o transporte de bens perecíveis a longas
distâncias. E possibilitou também a expansão de atividades como o turismo, tanto
o internacional como o doméstico, e também as viagens de negócios.
Esse sistema viabiliza que os indivíduos se desloquem com mais facilidade
e rapidez, permanecendo por um determinado período fora de sua cidade,
estado ou país, com a finalidade de visitar e conhecer outros lugares ou reali-
zar negócios. Segundo a Organização Mundial do Turismo, após queda entre
os anos de 2008 e 2009, em 2010 houve novamente crescimento do setor no
mundo. Registrou-se o total de 980 milhões de chegadas internacionais em

240 Geografia
2011, contra 935 milhões em 2010 e 877 milhões em 2009. Houve também
crescimento das receitas da visitação internacional ao Brasil de 2009 para
2010. O aumento foi de expressivos 37%. Foram quase 8 milhões de desem-
barques internacionais no país, também no ano de 2010.
Alguns destinos mais procurados pelos turistas internacionais são França, Es-
panha, Estados Unidos, Itália e China. Mas seja qual for a motivação para o uso
dos transportes aeroviários – transporte de carga, turismo, negócios etc. –, nova-
mente entra em cena a questão do acesso ao sistema, restrito a quem dispõe dos
meios e recursos para utilizá-lo.

AS CIDADES E A ESCALA PLANETÁRIA


Vale a pena destacar também o papel das cidades no debate sobre as relações
entre as redes e a escala planetária. Em primeiro lugar, é importante dizer que a
informação hoje é um dado primordial para a produção econômica. Não seria
possível as empresas globais tomarem decisões sem o acesso a informações. Isso
também vale para os governos e as entidades da sociedade civil.

Carol Guedes/Folhapress
Avenida Luís Carlos Berrini, São Paulo (SP), 2008. Nessa região, há grande quantidade de edifícios de escritórios. Uma das principais
características das cidades globais é a concentração de empresas, tecnologias e informações.

9º ano 241
Sabe-se que hoje as unidades industriais deslocam-se do núcleo denso das
grandes cidades para outras cidades menores – o que não significa decadência
econômica dos grandes centros urbanos. Ao contrário, muitos desses núcleos
passam a sediar setores administrativos de grandes empresas e bancos, centros
de pesquisa científica e tecnológica, financeiras, bolsas de valores, grupos de co-
municação (rádio, TV, jornais etc.), órgãos públicos, escritórios de publicidade e
muitos outros.
São serviços especializados que demandam forte qualificação de mão de obra
e disponibilidade de recursos econômicos, tecnológicos e financeiros.
Assim, cidades como Tóquio, São Paulo, Nova York, Londres, Paris e outras de
menor porte, como Frankfurt e Genebra, convertem-se em cidades globais. Elas
passam a centralizar o comando das decisões econômicas que atingem a produ-
ção, a circulação e o consumo de bens e pessoas, além de operações financeiras,
que vão repercutir nas mais diferentes regiões do planeta. Trata-se, portanto, de
um comando a distância, com base nas redes e nas novas tecnologias.
Mesmo com esse novo papel, as grandes metrópoles não deixam de polarizar o
espaço onde se situam. Isso quer dizer que outras regiões e cidades seguem depen-
dendo delas para muitas atividades. Como vimos, as redes técnicas são distribuídas
desigualmente no mundo e também no Brasil. Para o geógrafo francês Roger Brunet,
isso se deve aos diferentes níveis de desenvolvimento econômico, aos modos de vida
e à forma como os espaços foram e são organizados.
Desse modo, as metrópoles também são um retrato das desigualdades sociais
no mundo e em nosso país. No entanto, as novas redes e tecnologias que as cidades
concentram podem representar um salto de qualidade na defesa ou na conquista de
direitos, na denúncia de injustiças sociais e em novas formas de se fazer política.

MOMENTO DA ESCRITA

Leia o texto a seguir. Depois, escreva com suas palavras um comentário sobre as posições do
autor a respeito das relações entre o papel das novas tecnologias, a política e as perspectivas de
futuro para a humanidade.

Um novo mundo é possível


Nesse emaranhado de técnicas dentro do qual estamos vivendo, o homem
pouco a pouco descobre suas novas forças. Ampliam-se e diversificam-se as escolhas,
desde que se possa combinar técnica e política. [...] Graças aos progressos fulminantes
da informação, o mundo fica mais perto de cada um, não importa onde esteja. O outro,
isto é, o resto da humanidade, parece estar próximo. Criam-se para todos a certeza e,
logo depois, a consciência de ser mundo e de estar no mundo, mesmo se ainda não o
alcançamos em sua plenitude. O próprio mundo se instala nos lugares, sobretudo as
grandes cidades, pela presença maciça de uma humanidade misturada. [...]
Assim, o cotidiano de cada um se enriquece, pela experiência própria e pela do
vizinho, tanto pelas realizações atuais como pelas perspectivas de futuro.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 171-173.

242 Geografia
APLICAR CONHECIMENTOS

1. Com suas palavras, escreva definições para os seguintes termos:

a) globalização
b) rede técnica material e imaterial
c) território
d) rede mundial de computadores
e) fluidez do espaço
f) empresa transnacional
g) sistema financeiro global
h) escala planetária ou global

2. Com base no que você estudou no capítulo, analise a reportagem a seguir:

Governo divulga a lista de 18 montadoras que foram protegidas


com IPI mais baixo
Brasília – O governo federal divulgou a lista definitiva das 18 montadoras
de automóveis instaladas no Brasil que serão beneficiadas com o desconto de 30
pontos percentuais no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que incide
sobre a produção de veículos. O benefício vale até dezembro de 2012. A relação
anterior era provisória.
As montadoras livres do pagamento da alíquota mais alta são Agrale, Caoa
(Hyundai), Fiat, Ford, GM, Honda, Iveco, MAN, Mercedes-Benz, MMC, Nissan,
Peugeot, Renault, Scania, Toyota, Volkswagen, Volvo e International. Todas essas
montadoras cumprem as regras de conteúdo nacional e de investimento em
inovação. Entre as exigências está a utilização de, no mínimo, 65% de componentes
nacionais, a realização no Brasil de ao menos seis de 11 etapas da fabricação e
investimento de 0,5% do faturamento líquido em pesquisa e desenvolvimento aqui
no país.
A relação das empresas habilitadas foi publicada no Diário Oficial da
União. O texto diz que o benefício “está sujeito à verificação do cumprimento
dos requisitos exigidos, bem como ao cancelamento da habilitação definitiva”. A
redução no pagamento do IPI é válida para os modelos fabricados no Brasil, no
México, Uruguai e parceiros do Mercosul. Para essas empresas, o tributo fica entre
7% e 25%. [...]
Fonte: CRUZ, Luciene. Agência Brasil, 31 jan. 2012. Disponível em:<http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-01-31/governo-divulga-lista-
de-18-montadoras-que-foram-protegidas-com-ipi-mais-baixo>. Acesso em: 23 ago. 2012.

3. Explique o que significa a afirmação de Marie-Françoise Durand: “Consequência dos [...] pro-
gressos tecnológicos na informática e nas telecomunicações, a finança é um dos campos mais
integrados no tempo”.

9º ano 243
4. Desafio National Geographic Brasil (2011)
Usuários de internet por grupo de 100 habitantes e por regiões – 2010*

70

Ilustração digital: Planeta Terra Design


65,0

60
55,0

50 46,0

40
30,0
30
24,9
21,9
20

9,6
10

0
Estados Comunidade dos
Europa Americanos Estados Independentes Mundo Estados árabes Ásia e Pacífico África

(*) Estimativas.
Fonte: International Telecommunication Union/ICT Indicators Database, 2010. Disponível em: <www.viagemdoconhecimento.com.br/canal-do-professor/provas-anteriores.php>. Acesso em: 27 ago. 2012.

Com base nos dados do gráfico, é correto afirmar que:


a) Apesar de desenvolvidos, a Europa e os Estados Unidos deixaram de incorporar plenamente o
recurso tecnológico em questão.
b) Os maiores índices de difusão e uso da internet estão nos países emergentes, diante do seu
notável crescimento econômico.
c) Há uma desigual difusão das inovações nos meios de comunicação no mundo, afetando em
especial os países menos desenvolvidos.
d) Há uma difusão e distribuição equilibrada de recursos como a internet, garantindo a agilidade
das comunicações no mundo atual.
5. Analise os dados da tabela a seguir e escreva um texto com suas principais conclusões:

Brasil: Proporção de domicílios com acesso à internet (1)


Percentual sobre o total de domicílios (2)
Total Brasil 38%
Urbana 43%
Área
Rural 10%
Sudeste 49%
Sul 45%
Região Centro-Oeste 39%
Norte 22%
Nordeste 21%
Até 1 SM (*)
6%
Mais de 1 SM até 2 SM 21%
Mais de 2 SM até 3 SM 38%
Renda familiar
Mais de 3 SM até 5 SM 58%
Mais de 5 SM até 10 SM 76%
Acima de 10 SM 91%
1
Excluindo-se o acesso via telefone celular no domicílio. 2 Base: 25 000 domicílios. (*) Salário mínimo.
Fonte: Pesquisa Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) Domicílios e Usuários 2011. Cetic, 2011. Disponível em:<http://cetic.br/usuarios/tic/2011-total-brasil/rel-geral-04.htm>.Acesso em: 24 ago. 2012.

244 Geografia
6. Desafio National Geographic Brasil (2011)

Chegadas internacionais de turistas segundo as grandes regiões – 2010

Ilustração digital: Planeta Terra Design


Fonte: Organização Mundial do Turismo, 2010. Disponível em: <http://www.viagemdoconhecimento.com.br/canal-do-professor/provas-anteriores.php>. Acesso em: 25 ago. 2012.

De acordo com os dados expostos no gráfico, é correto afirmar que:


a) Devido à sua estabilidade econômica, a Ásia conta com os espaços turísticos mais procurados
em todo o mundo.
b) O destino mais procurado pelos turistas internacionais são os ambientes tropicais, favoráveis
ao turismo de sol e praia.
c) O patrimônio histórico e cultural europeu contribui para que o continente receba grande
contingente de visitantes.
d) Os conflitos e guerras civis causaram a suspensão da visitação turística ao Oriente Médio e ao
norte da África.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Atlas Atlas da mundialização


Atlas com cartografia inovadora com temas relevantes do Brasil e do mundo. Consultar
Geográficos capítulos sobre firmas e atores globais.
DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009.

Atlas do mundo global


Com cartografia criativa e inovadora, trata de temas de interesse da geopolítica do mun-
do atual. Apresenta visões de mundo na ótica de diferentes países.
BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Hubert. Atlas do mundo global. São Paulo: Estação Liberdade, 2009.

Atlas geográfico escolar


Traz mapas do Brasil e do mundo sobre diversos temas.
IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.

9º ano 245
Sites Agência nacional de telecomunicações
Dispõe de notícias, dados e programas relativos ao desenvolvimento do sistema nacional
de telecomunicações.
Agência Nacional de Telecomunicações (anatel). Disponível em: <www.anatel.gov.br/>. Acesso em: 2 out. 2012.

Agência nacional dos transportes terrestres


Dispõe de notícias, dados e mapas sobre os sistemas de transportes terrestres (rodovias e
ferrovias), tanto para passageiros como para transporte de cargas.
Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT-Brasil). Disponível em: <www.antt.gov.br>. Acesso em: 2 out. 2012.

Atelier de cartographie sciences po


Apresenta mapas em francês e português (no caso de mapas já publicados no Brasil).
Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.Fr/fr/cartotheque>. Acesso em: 2 out. 2012.

Comitê gestor da internet no brasil


Traz notícias e resultados de pesquisas anuais sobre a difusão das tecnologias de comuni-
cação e informação no Brasil.
Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI). Disponível em: <www.cgi.br>. Acesso em: 2 out. 2012.

Dados e fatos
Traz resultados de pesquisas periódicas sobre fluxos turísticos no brasil, incluindo a chegada
de turistas internacionais e a participação das chamadas atividades características do turis-
mo (hospedagem, locação de veículos, agências de viagens etc.).
Ministério do Turismo. Dados e fatos: turismo no Brasil e no mundo. Disponível em: <www.dadosefatos.turismo.gov.br/dadosefatos/home.html>. Acesso em:
2 out. 2012.

Le monde diplomatique
Artigos e reportagens sobre temas de interesse da economia e política mundiais.
Jornal Le Monde Diplomatique. Disponível em: <http://diplo.org.br>. Acesso em: 2 out. 2012.

Filmes Encontro com milton santos: o mundo global visto do lado de cá


Documentário apresentando ideias do consagrado geógrafo brasileiro. Com depoimentos e
imagens, destaca as desigualdades entre países e regiões, conflitos sociais e a constituição
da globalização no mundo atual.
Direção: Silvio Tendler. Brasil, 2007. 89 min.

A rede social
Narra a história da criação do site de relacionamentos sociais Facebook.
Direção: David Fincher. Estados Unidos, 2010. 190 min.

Trabalho interno
Premiado documentário sobre os bastidores da crise financeira de 2008 nos Estados Uni-
dos. Expõe a participação e as responsabilidades de representantes da política, da justiça,
das universidades e de empresas do setor financeiro.
Direção: Charles Ferguson. Estados Unidos, 2010. 120 min.

246 Geografia
Capítulo 2
GEOGRAFIA Conflitos e tensões no mundo
atual: uma geografia

E m diversas oportunidades, os capítulos de Geografia e História desta coleção


destacaram a ocorrência de guerras, revoltas sociais e conflitos em diferentes
períodos da história da humanidade. O século XX foi particularmente dramá-
tico quanto a isso, pois nele ocorreram duas guerras mundiais devastadoras. A
Primeira Guerra Mundial (1914-1918) deixou aproximadamente 13 milhões de
vítimas fatais. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945), por sua vez, ceifou a vida
de cerca de 60 milhões de pessoas.
No período pós-Segunda Guerra, o mundo assistiu também à eclosão de
dezenas de conflitos regionais, muitos deles motivados por lutas anticoloniais
que procuravam libertar povos e países da dominação imposta por europeus,
em especial na África e na Ásia. Outros foram provocados pelo embate entre o
mundo capitalista e o socialista, tendo respectivamente Estados Unidos e União
Soviética à frente de cada um dos blocos.
Vale notar que, além da perda de vidas humanas, as guerras deixam também
um rastro de destruição de cidades, edificações, estradas, atividades econômicas e
recursos naturais disponíveis nos territórios. Em função dos conflitos, milhões de
pessoas passam a viver como refugiadas. De outro lado, nos países que superaram
conflitos armados, os desafios são os de construir o Estado democrático de direito
e combater a pobreza e as desigualdades.

Sia Kambou/AFP/Getty Images

Militares das forças de paz da ONU patrulham as ruas de Abidjã, na Costa do Marfim, em meio a confronto entre forças políticas no país africano em 2011.

9º ano 247
Decorridos pouco mais de dez anos do século XXI, por que continuam a ocor-
rer conflitos sociais e confrontos armados em diferentes partes do mundo? Quais
são a natureza e a abrangência espacial deles? Quais são os atores envolvidos?
Quais são as principais dificuldades para se promover a paz e a cooperação entre
os povos? Como avaliar, nesse quadro, a ação dos grupos e organizações ligados
ao terror? Esses são alguns dos temas que serão examinados neste capítulo. Para
começar, realize a atividade a seguir.

LER MAPA

Observe o mapa e responda às questões propostas:

Conflitos armados ao longo do ano de 2009

Ilustração digital: Sonia Vaz


N
0 1 900 3 800 Km
O L

Fonte: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/conflits-arm-s-2009>. Acesso em: 31 ago. 2012.

1. Qual é o tema retratado no mapa? Quais recursos cartográficos foram utilizados na elaboração
desse tipo de representação?

248 Geografia
2. Com base no mapa, prepare uma lista com os principais tipos de conflito existentes no mundo
atual.

3. Quais são as áreas mais afetadas por conflitos no mundo contemporâneo?

A NATUREZA DOS CONFLITOS E TENSÕES NO MUNDO ATUAL


O que podemos concluir a partir das informações retratadas no mapa? Em
primeiro lugar, é importante destacar que, apesar da existência de inúmeros con-
flitos que envolvem ações armadas e violentas, estamos em um quadro de maior
estabilidade política. No continente americano e na Europa, por exemplo, guerras
e confrontos pela via das armas hoje são mais raros ou inexistentes. Levantamen-
tos feitos pelo pesquisador Dan Smith e publicados em 2007 em seu Atlas dos
conflitos mundiais mostram que houve uma redução no número de conflitos
armados no mundo após a Guerra Fria e a queda do Muro de Berlim (a partir de
1989 e início da década seguinte).
De outro lado, temos uma série de conflitos em áreas bem delimitadas do
mapa-múndi, cujo pano de fundo são os embates entre governos centrais e gru-
pos armados de contestação ao poder. Isso se dá em zonas da África subsaariana,
Oriente Médio e países da Ásia central (como Azerbaijão e Afeganistão, entre
outros).
Outra reflexão refere-se à natureza dos conflitos no mundo atual. A maior
parte deles se dá internamente a cada território nacional, mas em regra acabam
tendo ramificações regionais ou internacionais, ampliando-se sua escala geográ-
fica. Assim, eles tomam a forma de guerras civis (em geral, internas a um Estado
nacional, com forte convulsão social e confronto armado entre os grupos belige-
em: 31 ago. 2012. rantes). Também estão presentes movimentos de caráter nacionalista, separa-
tista ou autonomista, quando grupos minoritários dominados aspiram a uma
maior autonomia e ao poder político ou, ainda, a criar seu próprio Estado nacio-
nal (casos históricos da Palestina ou do povo curdo).
Há também disputas políticas ou movidas por diferenças de fundo étnico ou
religioso, como ocorre, com as devidas particularidades, no Iraque, na Somália,
no Sudão e no Afeganistão.

9º ano 249
Nesse contexto geral, os confrontos entre Estados nacionais soberanos repre-
sentam apenas uma pequena parte dos conflitos no mundo atual. Alguns ainda
persistem e são motivo de grande preocupação, como as tensões entre Índia e Pa-
quistão (disputam a região da Caxemira, província situada no norte da Índia, mas
de maioria muçulmana – e por isso mesmo reivindicada pelo Paquistão), e entre
Coreia do Norte e Coreia do Sul (que entraram em guerra no início da década de
1950). O Tibete, país independente até a década de 1950, foi invadido pela China
e incorporado ao já extenso território do “Império do Meio”. A China mantém
ainda disputa com Taiwan, considerada uma província “rebelde”.

Sajjad Hussain/AFP/Getty Images


Protesto de tibetanos contra a ocupação chinesa de seu país durante um rali em Nova Délhi, Índia, em 2012.

GUERRA E PAZ
Os dados mostram que há no mundo atual maior diversidade de conflitos,
o que impõe a necessidade de rever os conceitos tradicionais de guerra e paz.
Há uma extensa produção de conhecimentos a respeito do que é a guerra. Tradi-
cionalmente, a guerra foi considerada como a rivalidade entre pelo menos dois
Estados nacionais, implicando o uso da força armada. Ocorre que, como vimos,
houve mudanças na natureza dos conflitos armados, passando a envolver agora
uma gama muito ampla e variada de grupos e organizações não estatais que uti-
lizam as armas e as ações violentas para atingir seus objetivos. Eles proliferam
sobretudo em Estados onde as instituições políticas estão destruídas ou são muito
frágeis e incapazes de resolver os conflitos internos. Ao longo do capítulo, vamos
nos referir em especial a esse segundo tipo de conflito.

250 Geografia
Vale notar que a paz não é simplesmente a ausência de guerra (confrontos
armados entre Estados, guerras civis ou lutas anticoloniais). Segundo o cientista
político italiano Norberto Bobbio, a paz deve permitir que um conflito seja con-
cluído de forma definitiva. Para que a paz seja alcançada, é preciso desenvolver
ações de curto prazo (manter o cessar-fogo e o desarmamento, garantir a oferta
de alimentos e a proteção social, reconstruir estruturas físicas essenciais, como
escolas e hospitais, criar processos eleitorais etc.) e outras de prazo mais longo,
como promover a reconciliação entre os diferentes grupos.
Portanto, assegurar a paz implica a busca pela justiça social e o pleno exercí-
cio de direitos humanos (de ir e vir, de expressar livremente posições políticas,
de votar etc.). Trata-se de um sentido positivo para a paz.
Desse modo, algumas tensões e conflitos potenciais no mundo atual estão
associados também à ausência de democracia e dos mecanismos essenciais do
Estado de direito. A aparente calma em um país como o Zimbábue vincula-se não
a um quadro de paz e estabilidade, mas à ação opressiva do regime comandado
pelo ditador Robert Mugabe, que está no poder desde 1986.

REDES GEOGRÁFICAS, TERRITÓRIOS E CONFLITOS


Situações de instabilidade política também são um campo aberto para a ação
de grupos e redes ligados ao terror. Embora tenha origem nas práticas violentas
de quem ocupava o poder do Estado na Revolução Francesa, no final do século
XVIII, o termo terror é hoje associado a grupos e organizações que se valem das
mesmas práticas para minar ou derrubar um determinado regime. No quadro
atual, são organizações transnacionais que utilizam frações de territórios para
suas bases de operações e desenvolvem ações como atentados violentos em locais
públicos. Aproveitando as inovações tecnológicas disponíveis, muitas delas ope-
ram em redes de alcance planetário.
Um exemplo bastante conhecido é o da Al Qaeda, responsável pelos ataques
que destruíram dois prédios do World Trade Center, as torres gêmeas de Nova
York, e parte do Pentágono, em Washington, em 2001. A ação motivou a chama-
da “guerra ao terror”: em busca dos líderes da organização, os Estados Unidos
realizaram ataques em países como o Afeganistão e intensificaram a vigilância
de suas fronteiras. Mas nem sempre alguns líderes mundiais compreendem que
tal “guerra” já não envolve mais o embate convencional entre exércitos regulares,
pertencentes a Estados soberanos. Trata-se agora de neutralizar organizações que
atuam em rede, de forma dispersa – mas com um comando central.
Há também situações de instabilidade, extrema violência e perda de vidas
humanas associadas a outros tipos de rede, como as dos circuitos e atividades
ilegais – em especial o tráfico de drogas. Para operar, essas redes criminosas or-
ganizam áreas produtoras e receptoras de drogas ilegais (cocaína, heroína, drogas
sintéticas e outras), assim como os fluxos e conexões que garantem o alcance dos

9º ano 251
principais mercados consumidores, localizados sobretudo nos países ricos. Para
garantir a continuidade dos negócios ilícitos, tais organizações se valem de ações
violentas e da desagregação social, recrutando para seus quadros muitos jovens
de baixa renda ou que se encontram sem perspectivas.

O COMÉRCIO MUNDIAL DE ARMAS


Muitos dos conflitos contemporâneos são alimentados por um movimentado
comércio mundial de armas, envolvendo tanto as trocas regulares, entre países,
de veículos militares, aviões e outros materiais bélicos, como as trocas de armas
de diferentes portes realizadas entre as redes de tráfico (comércio ilegal). Boa par-
te desse comércio é alimentada pelas indústrias bélicas de países ricos e também
de arsenais de ex-repúblicas soviéticas e abastece os inúmeros conflitos em mar-
cha no mundo atual.
Diversos países vêm aumentando exponencialmente seus gastos militares
(veja o gráfico “Evolução das despesas militares 1988-2009”). Além disso, um le-
vantamento do Instituto de Pesquisas para a Paz de Estocolmo (Suécia) publicado
em 2012 indicou o aumento de 24% no comércio de armas entre 2007 e 2011.
Segundo o estudo, os Estados Unidos permanecem como o maior exportador
mundial de armas, seguido de Rússia, Alemanha, França e Grã-Bretanha.
A Índia destacou-se como o maior importador no período, sucedida por
Coreia do Sul, Paquistão, China e Cingapura. Observa-se, portanto, que alguns
importantes compradores de armas estão envolvidos diretamente em tensões e
conflitos de natureza interestatal, ou seja, com outro país ou países.

O PAPEL DAS POTÊNCIAS


CONHECER MAIS
A participação ou interferência de nações estrangei-
Geopolítica
ras em conflitos está associada, entre outros, a interesses
Refere-se à dimensão espacial da
geopolíticos e econômicos. Dessa forma, a existência relação entre Estados, cujos esforços
ou permanência de conflitos acaba sendo uma projeção estão vinculados à apropriação e ao
controle do território (na escala nacio-
do poder das principais potências. nal e na escala internacional) e em que
Após o final da Segunda Guerra Mundial, Estados o modo de ação fundamental é o uso,
Unidos e União Soviética, as duas superpotências de en- direto ou indireto, da violência organi-
zada. Envolve também discursos que
tão, lideravam blocos de países (capitalistas e socialistas, combinam o conhecimento geopolíti-
respectivamente). Ao longo do período da Guerra Fria, co propriamente dito, o modo de ação
ambos apoiaram lados opostos em diferentes conflitos entre Estados e as ideologias naciona-
listas e imperialistas. Ela será o cora-
no mundo e neles interferiram. ção de toda decisão sobre os interes-
Com o fim da Guerra Fria e o desmoronamento ses de uma sociedade política dotada
do socialismo real, os Estados Unidos passaram à po- de um Estado, quando colocada diante
de outras sociedades políticas.
sição hegemônica de superpotência única, atuando
AGNEW, John. Geopolítica. In: LÉVY, Jacques; LUSSAULT, Michel
em diversos países, regiões e conflitos como se fosse (org.). Dictionnaire de la Géographie et de l’espace des
sociétés. Paris: Belin, 2003, p. 409 (tradução de Jaime T. Oliva).
uma espécie de “polícia do mundo”. Desse modo, em

252 Geografia
pouco mais de vinte anos, os Estados Uni-

Ilustração digital: Caco Bressane


EVOLUÇÃO DAS DESPESAS MILITARES
dos se envolveram diretamente na Guerra ENTRE OS ANOS DE 1988 E 2009.
do Golfo (invadindo o Iraque em 1991 e em Em milhões de dolares.

2003) e nos ataques ao Afeganistão (após


2001) na esteira da chamada guerra ao ter- 533,6
663,3 ESTADOS UNIDOS

ror, e influenciou, direta ou indiretamen-


te, conflitos no norte da África ao final da 339,1
98,8 CHINA

primeira década do século XXI. Em 2011,


uma ação militar estadunidense executou 71,0 67,3 FRANÇA

Osama Bin Laden, líder da Al Qaeda, em 16,3


61,0 RÚSSIA
localidade próxima a Islamabad – fazendo, 69,4

portanto, uma incursão pelo território de 48,0 ALEMANHA

46,9 JAPÃO
um país soberano, o Paquistão, e nele exe- 40,3
39,3 ARÁBIA SAUDITA
cutando ação armada. 36,6 ÍNDIA

A presença dos Estados Unidos no 17,8

Oriente Médio, seja apoiando Israel – seu 14,1


27,1 BRASIL

17,9
aliado incondicional – ou pressionando o 12,3
14,3 ISRAEL
9,1 IRÃ
governo do Irã, suspeito de desenvolver se-
4,8 PAQUISTÃO
cretamente armas nucleares, não se desvin- 3,4

cula dos seus fortes interesses econômicos


na região. Em especial, relacionados ao pe- 1,5

tróleo, já que ali estão as mais ricas reservas 1988 2009


desse recurso do planeta. Fonte: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em:
<http://cartographie.sciences-po.fr/fr/d-penses-militaires-1988-2009>. Acesso em: 1 set. 2012.
o

Vale notar que o poder de potência


pode ser exercido tanto no sentido mais convencional (chamado de hard power:
controlar territórios, exercer o poder econômico, explorar riquezas naturais em ou-
tros países etc.) como por formas mais sutis de dominação (chamado de soft power,
como a dominação pela via cultural ou ideológica: expansão de uma língua, difusão
de filmes de cinema, programas de TV ou propagandas de empresas etc.).
Nos últimos anos, surgiram alguns contrapontos à hegemonia norte-ameri-
cana, como o próprio Irã e a China, que possui hoje uma força militar considerá-
vel e pretensões territoriais em suas fronteiras a oeste e no mar da China. Além
disso, cada vez mais os países emergentes (Brasil, China, Índia, Rússia, África do
Sul e outros), devido a seu vigoroso crescimento econômico nos últimos anos,
reivindicam participação nos principais fóruns políticos e econômicos mundiais,
contribuindo para gerar um cenário de multipolaridades.

CONFLITOS E TENSÕES REGIONAIS: ESTUDOS DE CASO


Vamos fazer a seguir um mapeamento dos principais conflitos, revoltas sociais
e guerras civis em marcha no mundo contemporâneo, sem a pretensão de esgotar
o tema ou a complexidade das causas e das motivações dos atores envolvidos.

9º ano 253
A PRIMAVERA ÁRABE
O cenário internacional sofreu profundas transformações políticas e sociais
com as revoltas ocorridas e outras ainda em curso em países do norte da África
e do Oriente Médio. Elas afetaram, entre outros, Tunísia, Líbia, Egito e países da
chamada região do Golfo Pérsico (países da península Arábica – Arábia Saudita,
Iêmen, Emirados Árabes Unidos e outros – mais o Iraque e o Irã). Esses episódios
ficaram conhecidos como a Primavera Árabe.
Como lembra o historiador Osvaldo Coggiola, as lutas dos povos árabes e em
grande parte também dos muçulmanos contra regimes autoritários ou a domina-
ção estrangeira não começaram nos dias de hoje. Muitos deles lutaram contra o
domínio do Império Otomano já desde o século XVI e, no início do século XX,
dos colonizadores europeus.
As revoltas recentes tiveram início em dezembro de 2010 na Tunísia, quando
Mohamed Bouazizi, um jovem que vivia do comércio ambulante, teve suas mer-
cadorias apreendidas pela polícia. Como protesto, ateou fogo ao próprio corpo.
Daí em diante houve uma sucessão de revoltas no país, denominadas “Revolução
de Jasmin”, o que levou à deposição do ditador Zine Al-Abidine Ben Ali, no poder
havia pouco mais de duas décadas.
Episódios dessa natureza adquiriram proporções regionais, atingindo em pri-
meiro lugar o Egito e depois a Líbia e o Iêmen. Todos eram governados por figu-
ras que se encastelaram no poder por longos anos. Alguns, como o ex-líder líbio
Muammar Kadafi, eram considerados “heróis da pátria”.
No Egito, fortes protestos realizados na praça Tahrir, no Cairo, capital do país,
já em janeiro de 2011, provocaram a renúncia de Hosni Mubarak no mês seguin-
te. Sob intensa repressão, com muitos mortos e feridos, a população egípcia pro-
testou contra o desemprego crescente, a pobreza, a corrupção e a falta de perspec-
tivas, sobretudo para os mais jovens. Ainda há uma forte presença dos militares
em diversos setores, inclusive no comando de empresas. Em novembro daquele
ano, realizaram-se eleições livres, iniciando a transição política no país.
O ano de 2011 viu também o desenrolar de uma guerra civil aberta na Líbia para
depor Muammar Kadafi, tendo a cidade de Benghazi, no leste, como principal foco da
revolta. Kadafi assumiu o poder em 1969. Então coronel do exército, liderou um golpe
de Estado que derrubou a monarquia, governando depois o país com mão de ferro
por quatro décadas. O governo se manteve à base das riquezas obtidas com o petróleo
e de pactos para conter divergências entre os grupos tribais do país.
Para vencer o conflito, os revoltosos líbios contaram com auxílio de tropas e
aviões de combate da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Assim
como no caso egípcio, o apoio dos Estados Unidos foi bastante discreto. Para ana-
listas internacionais, esses últimos receavam que o desfecho das revoltas levasse
ao poder nos dois países forças políticas antiocidentais ou marcadamente islâmi-
cas. Da mesma forma, temiam que tais processos viessem a atingir tradicionais
aliados estadunidenses na região, como a Arábia Saudita.

254 Geografia
Pedro Ugarte/AFP/Getty Images
Milhares de pessoas se reuniram na praça Tahrir, no Caito (Egito), para celebrar a queda de Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011.

As revoltas se espraiaram para países como Iêmen, Bahrein e Síria. Em co-


mum, todos esses países tinham e ainda têm um grande déficit democrático,
com ausência de eleições livres e diretas (na Líbia, inexistiam partidos políticos),
e precárias condições sociais. Vale notar também que os processos de mudanças
não foram conduzidos ou não tiveram entre suas principais lideranças grupos
islâmicos organizados, mas estudantes, trabalhadores e organizações laicas. Ga-
nhou destaque nas rebeliões do Egito o uso de novas tecnologias, como as de
redes de relacionamento social, para organizar marchas e protestos. Apesar desse
contexto, em 2012 foi eleito como novo presidente Mohamed Morsi, ligado ao
grupo Irmandade Muçulmana.
Ao longo de 2011 e primeiro semestre de 2012, ainda como efeito da Prima-
vera Árabe, ganhou destaque no cenário internacional o caso da Síria. O governo
de Bashar Assad passou a reprimir fortemente as ondas de protestos nas cidades
de Homs e Aleppo. Em 2012, o quadro internou agravou-se, configurando uma
guerra civil, opondo forças militares do governo e grupos rebeldes.
A Síria é um Estado militarizado e um antigo aliado sovié- GLOSSÁRIO
tico (e depois da Rússia). Conta com um dos maiores e mais Laicas: que não pertencem a clero ou
bem equipados exércitos da região. Há quatro décadas é chefia- ordem religiosa ou recusam influências
dessas instituições. Um Estado laico (ou
do pela família Assad (o pai, Hafez, e depois seu filho, Bashar), leigo) é o contrário de Estado confessional
(o que assume como sua uma determina-
pertencente à minoria alauíta, uma ala da corrente islâmica xiita da religião).
– enquanto 75% da população é partidária da corrente sunita. Sunita, xiita: correntes do islâmismo
que surgiram de cisões relativas a heran-
Apesar dessas diferenças, trata-se de um Estado laico. Um efeito ças e descendência de Maomé, fundador
dos conflitos foi a geração de centenas de milhares de refugiados, da religião no século VII. Os sunitas
representam algo em torno de 85% dos
abrigados em especial nos vizinhos Líbano e Turquia. A popula- adeptos em todo o mundo; os xiitas são
majoritários em países como Irã e Iraque.
ção síria ainda aguarda uma solução definitiva para o impasse.

9º ano 255
LER TEXTO E GRÁFICO

Observe o texto e o gráfico a seguir e responda às perguntas:

Chamas da mudança
Do norte da África ao Oriente Médio, uma nova geração – armada com
celulares, redes sociais e muita determinação – luta pela posse do seu futuro. [...]
Em dezembro de 2010, na Tunísia, um vendedor de frutas de 26 anos, humilhado
pelos achaques de policiais e por um Estado corrupto e conivente, ateou fogo em
si mesmo. Um vídeo feito com celular mostrando os protestos com ambulantes foi
postado no Facebook. A rede Al Jazeera, do Catar, transmitiu o vídeo. Os protestos na
Tunísia recrudesceram. Em janeiro de 2011, o presidente da Tunísia, no poder havia 23
anos, fugiu. Em um mês, o presidente do Egito desde 1981 também caiu – o estopim
para outras revoltas [como a que derrubou Kadafi, na Líbia].
Elaborado pelo autor

Ilustração digital: Caco Bressane

Fontes: Divisão de População da ONU; Organização Internacional do Trabalho; Censo EUA e outras. In: National Geographic Brasil, ano 12, n. 136, jul. 2011, p. 100-102.

1. O que se pode afirmar sobre a distribuição da população segundo as faixas etárias e sua ocupação
profissional nos países citados?

256 Geografia
2. O que os dados do gráfico indicam a respeito das condições políticas, econômicas e sociais nos
países em questão?

3. Com base no que foi visto no capítulo, responda: em sua opinião, há relação direta entre os dados
apresentados e os episódios da chamada Primavera Árabe? Explique sua resposta.

O CONFLITO ENTRE PALESTINOS E ISRAELENSES


Palco do domínio e da intervenção estrangeira por séculos, o Oriente Médio é
hoje área de interesse de potências ocidentais – em especial, os Estados Unidos, que
mantêm bases militares e rede de aliados na região, como sauditas e israelenses. A
área é a mais rica do planeta em petróleo, mas é a mais afetada por confrontos arma-
dos, atentados terroristas, disputas políticas e perseguição a opositores dos regimes.
Um dos mais antigos conflitos é o que opõe israelenses e palestinos desde
1948, quando o Estado de Israel foi fundado ainda sob os efeitos devastadores da
Segunda Guerra Mundial. Nela, como se sabe, havia o firme propósito do regime
nazista de Adolf Hitler, na Alemanha, de exterminar o povo judeu e também ou-
tros grupos. A morte de cerca de 6 milhões de judeus no conflito, além dos refu-
giados em outros países, gerou as condições políticas para se criar o novo Estado.
A proposta original previa a partilha da região então conhecida como Palesti-
na. Mas não foi isso que ocorreu. A partir daí, sucedeu-se uma longa série de con-
flitos e disputas territoriais entre os dois lados – quase sempre opondo os israe-
lenses, apoiados pelos estadunidenses, e os palestinos, apoiados por governos ou
grupos armados dos vizinhos árabes-muçulmanos. Entre eles, a Guerra dos Seis
Dias, em 1967, e a Guerra do Yom Kippur, em 1973. Alguns acordos de paz foram
tentados, mas sem a eficácia necessária (veja o quadro a seguir).
Em 2011, o líder palestino Mahmoud Abbas apresentou na Assembleia Geral
da Organização das Nações Unidas (ONU) a criação e o reconhecimento interna-

9º ano 257
cional do Estado palestino, com fronteiras anteriores às da Guerra dos Seis Dias.
O discurso, rechaçado por Israel, marcou a intenção de instalar novo quadro de
negociações, agora entre dois Estados soberanos. Vale notar que parte da popula-
ção israelense reivindica o fim dos confrontos e a busca de soluções negociadas.
Ainda sem desfecho definitivo, a região continua à procura de paz.

CONHECER MAIS

Conflito árabe-israelense: uma cronologia


1948-1949 – Criado o Estado de Israel. Início de guer- 1994 – Arafat retorna aos territórios ocupados. Israel
ra com Líbano, Síria, Jordânia e Egito. Vitória de Israel. e Jordânia assinam acordo de paz. O Prêmio Nobel da
1956 – Guerra de Suez: Israel, apoiado por França e Paz é dado a Arafat e a Ytzhak Rabin e Shimon Peres.
Reino Unido, declara guerra ao Egito. Ocupa Gaza. 1995 – Rabin é assassinado por extremista israelense.
1964 – É formada a Organização para Libertação da 1998 – Acordo leva à retirada de Israel da Cisjordânia.
Palestina (OLP). Em 1969, Yasser Arafat torna-se líder da 2000 – Tropas de Israel retiram-se do sul do Líbano.
OLP. Em 1974, a organização é reconhecida pela ONU Em julho, Israel e OLP falham ao iniciar novo acordo de
como representante do povo palestino. paz. Em setembro, dá-se a segunda intifada.
1967 – Guerra dos Seis Dias: após meses de tensão, 2001 – Ariel Sharon é eleito primeiro-ministro de Is-
Israel investe em ataque surpresa. Ocupa a Cisjordânia, rael. Este ocupa a Cisjordânia. George W. Bush, Sharon e
Gaza, as colinas de Golã e o Sinai. [...] M. Abbas comprometem-se a novo acordo de paz.
1973 – Guerra do Yom Kippur: Egito e Síria atacam 2002 – Israel inicia a construção de um muro sepa-
sem sucesso o Sinai e as colinas de Golã. [...] rando cidades palestinas (Kalkilya, Tulkarm etc.) de as-
1978 – O presidente egípcio Anuar Sadat e o primei- sentamentos de colonos judeus na Cisjordânia.
ro-ministro israelense Menachem Begin assinam acor- 2004 – Sharon inicia retirada de colônias judaicas em
dos de paz em Camp David (EUA). O Sinai é devolvido Gaza. Arafat morre num hospital de Paris.
ao Egito. Ambos ganham o Prêmio Nobel da Paz. Israel
ocupa o sul do Líbano com 30 mil soldados. 2006 – O Hamas, um grupo islâmico fundamenta-
lista que faz uso das armas para atingir seus objetivos,
1981-1982 – Anuar Sadat é assassinado. Israel anexa conquista o poder em Gaza. No ano seguinte, ocorrem
as colinas de Golã ao seu território e invade o Líbano. A conflitos com Israel.
OLP retira-se para Túnis, na Tunísia.
2008-2010 – Fracassam tentativas de reconciliar o
1987 – Intifada: estoura a revolta palestina contra a Hamas e o Fatah, ou Al-Fatah, fundado em 1964 por Ara-
ocupação israelense. fat e seguidores e que se tornou o maior grupo político
1988 – OLP reconhece soberania de Israel sobre 78% dentro da OLP. Há uma cisão, em clima de guerra civil.
do território histórico da Palestina e proclama o estabele- 2011 – Mahmoud Abbas discursa na ONU, reivindi-
cimento de um Estado palestino independente. cando o ingresso da Palestina como membro pleno na
1993 – Acordos de Oslo: negociações conduzem OLP organização.
e Israel à assinatura da Declaração dos Princípios pela 2012 – A Palestina é reconhecida como Estado obser-
Paz. Os acordos preveem a criação da Autoridade Na- vador na ONU.
cional Palestina.
Fontes: SMITH, Dan. Atlas dos conflitos mundiais. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007, p. 64-65; jornal O Estado de S. Paulo, 17 set. 2011. (Texto adaptado.)

IRAQUE E IRÃ
Outras fontes de conflitos situam-se no Iraque e no Irã. O primeiro foi sa-
cudido por duas guerras em pouco mais de dez anos (em 1991 e 2003). Um dos
principais berços da civilização humana, o Iraque já foi parte do Império Otoma-
no e área tutelada pelos britânicos após a Primeira Guerra Mundial. Antes desses
episódios e da ocupação dos Estados Unidos no início do século XXI, o Iraque se
envolveu em longa guerra com o Irã, de 1980 a 1988.

258 Geografia
Em 1991, o país foi atacado pelos Estados Unidos e aliados em represália à in-
vasão iraquiana do Kuwait, um importante fornecedor de petróleo. A invasão foi
ordenada pelo então líder iraquiano, Saddam Hussein. Ele veio a ser deposto com
a nova Guerra do Golfo, em 2003-2004. A alegação na época é que o ditador abri-
gava em seu território armas de destruição em massa, o que não se confirmou.
As tropas estadunidenses retiraram-se do país definitivamente no final de
2011. Mas prosseguem os atentados e embates entre facções sunitas e xiitas.
Bagdá, um tesouro do patrimônio cultural da humanidade, é hoje uma cidade
dividida por muros, com bairros ocupados por sunitas e outros por xiitas –
que não se misturam. O poder político é dividido entre as correntes islâmicas
e os curdos, mas há conflitos entre eles. A população iraquiana ainda luta para
retomar a normalidade.
Com território correspondente ao da antiga Pérsia, o Irã é hoje uma república
islâmica e sobre a qual pairam suspeitas de desenvolvimento de projeto de fabri-
cação de armas nucleares. No século XX, o país foi governado por um monarca
– o xá Reza Pahlevi – por quase 40 anos, de 1941 a 1979. Apesar de ser um tirano,
sob sua gestão o país passou por um processo de modernização econômica e so-
cial e aproximação com o Ocidente. Foram estruturados a produção e o processa-
mento do petróleo, sua maior riqueza.
O país foi totalmente transformado a partir do final da década de 1970, com
a revolução social comandada pelos aiatolás (chefes religiosos xiitas, maioria no
país). Foi instituído um Estado teo-
crático – ou seja, baseado no poder
Carlos Cazalis/Corbis/Latinstock

e na influência da religião. Portanto,


a vida social e política passou a ser
ditada pela visão de mundo e precei-
tos dos aiatolás. Nesse quadro, por
exemplo, a vida das mulheres sofreu
inúmeras restrições.
Em 2005, assumiu o poder o ul-
traconservador Mahmoud Ahma-
dinejad, que veio a se reeleger cinco
anos depois sob suspeitas de fraude
eleitoral. Seu governo tem se carac-
terizado por uma postura hostil ao
Ocidente e a Israel, além de reprimir
e prender opositores do regime. Em
função da suposta continuidade do
projeto nuclear, que inclui criar di-
ficuldades para a entrada de inspe-
tores da ONU, o país vem sofrendo Jovens iranianos protestam nas ruas de Teerã (Irã) contra o resultado das eleições
sanções econômicas. presidenciais de 2009.

9º ano 259
CONHECER MAIS
Afeganistão: a luta das mulheres
Há 25 anos, uma garota afegã de olhos verdes cau- Em criança, Sahera enfrentou o pai, um mulá conser-
sou espanto na capa da revista National Geographic. vador, trancando-se em um armário até ele permitir que
Uma jovem refugiada tentando escapar da guerra entre ela fosse à escola. Sahera atravessou a guerra civil em
os comunistas, apoiados pela hoje extinta União Sovié- meio a grupos rivais de mujahedins que arrasaram Cabul
tica, e os mujahedins, guerrilheiros islâmicos sustenta- antes da vitória do Talibã, em 1996. [...]
dos pelos Estados Unidos, ela tornou-se a imagem do Depois da queda do Talibã, em dezembro de 2001,
desespero em seu país. O atual ícone do Afeganistão é Sahera Sharif abriu uma estação de rádio para educar as
de novo uma jovem, Bibi Aisha, que foi ferida com cortes mulheres sobre higiene e noções de saúde. Em atitude
pelo marido como castigo por ter fugido dele e de sua ainda mais radical, ela apresentou-se como voluntária
família. Bibi fizera isso para escapar dos espancamentos para dar aulas na universidade em Khost, tornando-se a
e dos abusos a que era submetida. [...] primeira mulher a fazer isso. Sahera aposentou a burca
Na área chamada “crescente pashtun” a vida era, e – outro pioneirismo – e postou-se diante de alunos ho-
em muito sentidos ainda é, organizada em torno do có- mens para lhes ensinar psicologia. Eles ficaram corados.
digo [...] “à maneira dos pashtuns”. Seu fundamento é a E assim ela começou a educá-los.
honra masculina, avaliada segundo três tipos de posse:
zar (ouro), zamin (terra) e zan (mulheres). [...] GLOSSÁRIO

O Parlamento afegão propôs [...] um projeto de lei vi- Burca: traje tradicional feminino que cobre todo o corpo, utilizado
sando eliminar a violência contra as mulheres. Elas, por por mulheres em países como Afeganistão e Paquistão. No caso
sua vez, começam a rejeitar as velhas práticas. Visitei em das afegãs, o uso da burca foi imposto pelo grupo Talibã, que
Cabul o lar de Sahera Sharif, pashtun e a primeira parla- governou o país na virada do milênio.
mentar feminina da província de Khost. “Ninguém sabia Mulá: significa o líder religioso das mesquitas frequentadas pelos
islâmicos.
que uma mulher podia afixar pôsteres de campanha po-
lítica nos muros” [...], diz ela.
RUBIN, Elisabeth. Rebelião velada. National Geographic Brasil, ano 11, n. 129, dez. 2010, p. 136-137. (texto adaptado.)

PESQUISAR

Com um grupo de colegas, elabore um painel com mapas, fotografias e textos sobre os con-
flitos no norte da África, Oriente Médio e sul da Ásia. O grupo deverá preparar uma base carto-
gráfica com os países em questão, seus nomes e cidades mais importantes e os principais focos
de conflitos. Deverá também criar símbolos para representar e localizar áreas de extração de
petróleo e bases militares estrangeiras. Com os colegas, selecione e organize os dados coletados.
Se precisar, consulte as indicações ao final deste capítulo. Os textos explicativos devem destacar as
revoltas e seu desfecho, analisando seu significado político e socioeconômico para as populações
e as relações em escala regional e mundial. Apresente os resultados e discuta-os com a turma.

A EUROPA ATUAL
Vimos que a Europa foi o palco principal dos dois maiores flagelos da humani-
dade, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Um novo quadro começou a se er-
guer no continente no final do segundo conflito: os europeus precisavam criar me-
canismos de cooperação regional que pudessem evitar novos e sangrentos conflitos.
Nas primeiras décadas do pós-Segunda Guerra, o continente atravessou o período
de reconstrução, baseado no Plano Marshall, projeto de financiamentos patrocinado
pelos Estados Unidos, e na criação da Otan, organização militar e estratégica de defe-

260 Geografia
sa do mundo ocidental (leia-se, países capitalistas da Europa, mais Estados Unidos e,
recentemente, ex-repúblicas soviéticas e da Cortina de Ferro). Além disso, conviveu
com a Guerra Fria, que, embora caracterizada pela ausência de confrontos armados,
foi marcada pela crescente militarização e pelo aumento das tensões Leste-Oeste.
Mesmo afetadas pela guerra, muitas nações europeias (em especial, Reino
Unido, França e Portugal) viram-se envolvidas nas décadas pós-Segunda Guerra
em sangrentos embates para preservar suas colônias na África ocidental francesa
e África central, Indochina, Angola e Moçambique, Argélia e outros.
Com a derrocada do socialismo real no final da década de 1980 e nos anos
seguintes, diversos países do leste europeu iniciaram sua transição ao capitalismo.
Tais processos se deram com turbulências e violência localizada, como é o caso da
Romênia, mas não chegaram a se espalhar pelo continente.
Entretanto, episódios de violência extrema ressurgiram na região dos Bálcãs,
com a implosão da antiga Iugoslávia. O país, uma federação de Estados socia-
listas não alinhada com a União Soviética, manteve-se unificado até a morte de
seu líder supremo, Josip Broz Tito, em 1980. Daí em diante, o que se viu foi uma
sucessão de conflitos entre as repúblicas, caracterizados sobretudo pela atitude
beligerante da Sérvia. Os episódios incluíram a prática do genocídio, destruição
em massa de um grupo étnico e tentativa de eliminação dos seus traços culturais
– num espaço que já vivenciou tal prática na Segunda Guerra Mundial.
O final do conflito deu origem a novas repúblicas independentes: Bósnia-Herze-
govina, Croácia, Eslovênia, Macedônia, Montenegro e Sérvia (veja os mapas a seguir).
A pendência restante refere-se ao Kosovo, que declarou unilateralmente sua indepen-
dência em 2008, reconhecida em seguida pelos Estados Unidos e membros da União
Europeia. A Sérvia, entretanto, ainda não reconheceu a soberania de sua ex-província.

Impérios e estados dos bálcãs – 1914-2008


Ilustrações digitais: Sonia Vaz

N N
0 260 520 km 0 260 520 km
O L O L

S S

1914 1923

9º ano 261
Ilustrações digitais: Sonia Vaz
N
0 250 500 km
O L

N
0 275 550 km Fonte: Atelier de Cartographie
O L
Sciences Po. Disponível em:
S <http://cartographie.sciences-
po.fr/fr/balc-s-1878-2008>.
Acesso em: 3 set. 2012.
1949 2008

Outros conflitos importantes, mas de âmbito CONHECER MAIS


nacional, foram os embates entre católicos e pro- O Cáucaso
testantes na Irlanda do Norte (solucionados na vi- É uma região com 51 línguas, em que os Estados
rada do milênio) e a luta nacionalista-separatista fronteiriços e as nações não se harmonizam. No final
dos anos 1980, os esforços dos georgianos e armê-
do País Basco, região do norte da Espanha e sudo- nios pela independência contribuíram para a crise
este da França (na Espanha, firmou-se compro- que provocou a dissolução da URSS em 1991. [...] Re-
misso com o governo central de buscar soluções gimes sólidos na Geórgia e no Azerbaijão integrados
por políticos soviéticos veteranos, a presença militar
no campo do Estado de direito). Ainda permane- russa e o olhar atento dos observadores internacio-
cem disputas no Cáucaso, região com grande di- nais extinguiram a maioria dos conflitos, mas não os
versidade étnica e cultural que, embora não inte- solucionaram. [...] O interesse externo na região não
é devido apenas à guerra [...] O petróleo da região do
grasse a União Soviética, viveu décadas sob Além mar Cáspio deverá corresponder a 5% da produção
disso sua influência (e, hoje, sofre interferências mundial em 2020 – importante o suficiente para con-
da Rússia). Além disso, o espaço europeu não está flitar os interesses de norte-americanos, russos e ira-
nianos sobre a melhor rota para um novo oleoduto.
isento de ataques de organizações do terror, como SMITH, Dan. Atlas dos conflitos mundiais. São Paulo: Companhia Editora
aconteceu no metrô de Madri (Espanha) em 2004. Nacional, 1997, p. 58.

RACISMO, XENOFOBIA E SEGREGAÇÃO NA EUROPA


O fim das guerras e dos confrontos armados na
GLOSSÁRIO

Discriminação: expressão concreta de preconceitos que conduzem à


Europa não significa o fim de conflitos e violações ação daqueles que discriminam, que buscam cercear direitos ou gerar
de direitos humanos. No contexto atual, muitos de- tratamento desigual a outros indivíduos ou grupos.
Racismo: conjunto de ideias ou doutrinas que estabelece e justifica a
les estão associados ao racismo, à xenofobia, à discri- dominação de um grupo racial (ou segundo a cor) sobre outro. Tais
minação e à segregação social e espacial. O racismo desigualdades se expressam, por exemplo, por meio do preconceito,
modo de pensar que leva a uma qualificação em geral negativa de um
e outras formas de discriminação em função da cor indivíduo em função de suas origens ou condição.
da pele e de diferenças étnico-culturais (como as reli- Segregação: ato ou efeito de separar, com a finalidade de isolar, evitar
contato ou interação de qualquer tipo.
giosas) não são prerrogativa dos países europeus. Eles Xenofobia: do grego xénos, que significa “estranho”, “estrangeiro”.
ocorreram e ainda ocorrem em países que receberam A xenofobia refere-se à aversão a pessoas e coisas estrangeiras, que
vêm de fora, podendo combinar-se também com a discriminação de
muitos imigrantes, como os Estados Unidos e o Brasil. fundo étnico-racial.

262 Geografia
Tampouco é possível afirmar que tais práticas e sentimentos são compartilha-
dos por todos os membros das sociedades europeias.
Entretanto, no caso da Europa, onde proliferaram e ainda se disseminam
ideias racistas e nazistas, são muito frequentes episódios de intolerância, inclusive
ceifando vidas ou criando obstáculos aos que são estrangeiros ou tidos como “di-
ferentes”. Isso inclui também outros grupos tradicionais que circulam no espaço
europeu, como os ciganos. Tais acontecimentos se dão em esferas como a do tra-
balho e nos espaços da vida cotidiana.
Em diversos países do continente, os imigrantes ocupam tarefas penosas, pre-
cárias, com baixa remuneração e que não exigem maior qualificação profissional.
Muitas dessas tarefas são rejeitadas pelas populações nativas. Mesmo assim, em
momentos de crise econômica, como a que países da União Europeia vivem des-
de 2008, amplia-se a rejeição aos imigrantes e ganha força o discurso de que eles
subtraem postos de trabalho dos nacionais. Em regra, há dificuldades para os
estrangeiros acessarem benefícios e serviços sociais.
Vale notar que há ali grandes contingentes de estrangeiros egressos de ex-colônias
europeias ou de territórios coloniais remanescentes (como os pertencentes à França:
Guadalupe e Martinica, na América Central, e a Guiana Francesa, na América do
Sul). No Reino Unido, existem imigrantes e descendentes originários do subcontinen-
te indiano (Índia, Paquistão, Bangladesh, Sri Lanka). Na Espanha e em Portugal, por
sua vez, há presença de muitas pessoas vindas de países latino-americanos.
Outros países contam com imigrantes de outras partes da Europa (na Alema-
nha, turcos, gregos e oriundos do leste europeu). Vale notar que são recorrentes as
denúncias de tráfico humano, também de pessoas oriundas do Leste Europeu. Tal
prática vitima em especial as mulheres. Mas, de forma geral, quem se subordina
aos agenciadores está sujeito a todo tipo de exploração. Os abusos desse tráfico he-
diondo são variados e frequentes: promessas de empregos transformam-se rapida-
mente em exploração sexual ou em trabalho em condições análogas à escravidão.
A segregação se expressa, portanto, no aviltamento das condições sociais. Isso
é reforçado por situações de segregação espacial. É frequente que imigrantes e
seus descendentes, muitos deles nascidos no país, vivam em conjuntos habitacio-
nais precários e distantes do núcleo mais denso das cidades, onde estão os empre-
gos e os serviços. Como muitos jovens que vivem nesses bolsões não dispõem de
empregos e outras oportunidades, configuram-se áreas de fortes tensões e confli-
tos, como os que sacudiram Paris em 2005 e 2009. Episódios similares ocorreram
em Londres e outras cidades do Reino Unido em 2011.
Esse quadro é reforçado por hostilidades frequentes em espaços públicos e locais de
entretenimento que reúnem grande número de pessoas, como os estádios esportivos.
Da milenar cidade de Marselha, no sul da França, vêm exemplos contrários
e bastante positivos. Porto mediterrâneo, ela é caracterizada pela diversidade
cultural, pela convivência e por interações sociais de grupos e indivíduos das mais
diferentes origens.

9º ano 263
Algumas medidas foram tomadas para conter as práticas antissociais descri-
tas, por exemplo, a assinatura de convenções internacionais e regionais contra o
racismo, a discriminação e a intolerância. Entre os organismos da União Europeia
já existe uma agência central para tratar da questão de como integrar a diversida-
de nos países-membros.

OUTROS CONFLITOS NO CONTINENTE AFRICANO


Vimos que os movimentos ocorridos em países do norte da África trouxe-
ram um sopro de democracia e a rejeição a ditaduras opressoras. Vamos exami-
nar aqui alguns acontecimentos em países situados no Sael (extensa faixa leste-
oeste ao sul do Saara) e na África subsaariana, nas partes central e meridional
do continente.
Alguns capítulos de História e de Geografia já examinaram diversos aspec-
tos de flagelos humanitários na África, como o tráfico de escravos no mercan-
tilismo e a intensa exploração ocorrida na fase do imperialismo e do neocolo-
nialismo, no final do século XIX e ao longo da primeira metade do século XX,
respectivamente.
Uma vez ultrapassada a fase de lutas anticoloniais e alguns conflitos frontei-
riços entre nações africanas independentes, nos últimos trinta anos do século
XX, os países africanos hoje se defrontam com novos desafios: enfrentar pobreza,
fome e epidemias, garantir a segurança alimentar das populações de forma per-
manente, converter suas imensas riquezas em benefícios sociais, erguer estrutu-
ras econômicas e instituições do Estado.
Entre as mudanças políticas desejadas estão as mesmas da Primavera Ára-
be: superar o déficit democrático e construir o Estado democrático de direito,
além de abandonar as violentas disputas pelo poder entre grupos, líderes ou
partidos rivais.
Sobre os atuais desafios, vamos examinar alguns casos que são fonte de preo-
cupação da comunidade de países e da opinião pública mundial.

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO (RDC) E VIZINHOS


A situação do país é uma das mais dramáticas do continente africano. A RDC
é muito rica em minérios (como a columbita-tantalita, ou coltan, usada em com-
ponentes dos telefones celulares), mas ao mesmo tempo está envolvida em inter-
mináveis conflitos e apresenta baixíssimo Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH). As zonas mais conflituosas estão no leste do país, nas fronteiras com Ru-
anda e Burundi e onde estão grandes reservas minerais. No final dos anos 1990,
o país também foi afetado pelos massacres ocorridos em Ruanda, decorrentes da
sangrenta disputa entre as etnias hutu e tutsi. Milhares de ruandeses migraram
para a RDC, então chamada de Zaire.

264 Geografia
MOMENTO DA ESCRITA I

Com um colega, examine o texto, a fotografia e o mapa a seguir. Destaque as informações


principais e escreva em dupla uma redação que descreva e analise a situação política, econômica
e social da RDC. No texto, indique quem está realizando fortes investimentos no país, com vistas
a explorar suas riquezas minerais.

RDC: Uma década após a Grande Guerra


A Segunda Guerra do Congo, também conhecida como a Grande Guerra da
África, iniciou-se em 1998 na República Democrática do Congo (RDC). Estima-se
que nela morreram 3,8 milhões de pessoas – a maior parte de inanição e doenças –
além de milhões de refugiados.
A maior guerra na história moderna africana envolveu diretamente oito países
africanos, bem como 25 grupos armados.
A Primeira Guerra do Congo (novembro/1996 a maio/1997) terminou quando
as forças rebeldes apoiadas pela Uganda e Ruanda depuseram o presidente Mobutu
Sese Seko em maio de 1997, no país que ele chamava de Zaire. O líder dos insurgentes,
Laurent Kabila, tomou posse como presidente.
Esta guerra estabeleceu a fundação para a Segunda Guerra do Congo, que
começou em agosto de 1998. Kabila tinha divergências com os seus antigos aliados,
que o acusaram de não honrar o seu acordo para garantir a paz e segurança nas suas
fronteiras. Um grupo rebelde apoiado pela Ruanda e Uganda emergiu e rapidamente
dominou as províncias orientais ricas em recursos.
Em menos de duas semanas, os rebeldes tinham se movimentado pelo país
e tomado a estação hidroelétrica de Inga, que fornece energia à Kinshasa, bem como
o porto de Matadi, através do qual muitos alimentos de Kinshasa passam. O centro
de diamantes de Kisangani caiu nas mãos de rebeldes em agosto e forças avançando
do leste começaram a ameaçar Kinshasa no final do mesmo mês. Um Kabila sitiado
procurou ajuda nos Estados vizinhos. A ofensiva rebelde foi abruptamente repelida
visto os esforços diplomáticos de Kabila terem dado frutos.
Os primeiros países africanos a responder à solicita-
Lucas Oleniuk/ ZUMA Press/Latinstock

ção de Kabila de ajuda foram membros da Comunidade de


Desenvolvimento da África Austral (SADC). Os governos de
Angola, Namíbia e Zimbábue enviaram tropas para apoiarem
o governo de Kabila. Esta intervenção salvou o governo e em-
purrou as frentes rebeldes da capital. Várias outras nações se
juntaram ao conflito em apoio a Kabila, notavelmente o Cha-
de, Líbia e Sudão.
Até setembro de 1999, os rebeldes tinham aceitado
um acordo de cessar-fogo e em fevereiro de 2000 o Conselho
de Segurança da ONU autorizou uma força de 5 500 membros
para monitorar o cessar-fogo, mas as escaramuças persisti-
ram. O fim do conflito em julho de 2003 não impediu a morte
de cerca de mil pessoas por dia no ano seguinte, em função de
doenças e subnutrição. Há também relatos de muitos casos Em Bisie, na República Democrática do
de exploração extrema de mulheres no conflito e de continui- Congo, soldado patrulha atividades de
extração da cassiterita. Na mina, crianças,
dade da ação violenta de milícias armadas. jovens e adultos trabalham sob a mira de
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), agosto de 2008. Disponível em: homens armados. Foto de 2011.
<www.sardc.net/Editorial/sadctoday/portview.asp?vol=690&>. Acesso em: 6 set. 2012. (Texto adaptado.)

9º ano 265
Ilustração digital: Mario Yoshida
“Corredor Chinês”
na República
Democrática
do Congo

N
0 410 820 km
O L

S
Fonte: Le Monde Diplomatique, 2010. Disponível em: <http://mondediplo.com/maps/drcchina>. Acesso em: 6 set. 2012.

SOMÁLIA
A Somália é hoje um país dividido, devastado e sem um governo central que
possa fazer frente à ação de milícias islâmicas que controlam parte do sul do país.
Dados da ONU de 2009 indicam que cerca de 1/4 da população somali é compos-
ta por aqueles que emigraram ou vivem em campos de refugiados. Ao norte, está
a Somalilândia, província livre de conflitos que declarou sua independência em
1991, reforçada por um plebiscito em 2001, mas que ainda não obteve o reconhe-
cimento internacional.
A ausência de um comando político no país permitiu a proliferação de pira-
tas, que saqueiam embarcações no golfo de Aden e no oceano Índico, na costa da
Somália. Em 2010, foram mais de 50 ataques a embarcações e mais de mil passa-
geiros e tripulantes feitos reféns. O golfo de Aden, que dá acesso ao canal de Suez,
ao norte, é uma das principais rotas mercantes do mundo. A ONU já instituiu
sistemas de segurança e vigilância nessas águas oceânicas.
Sobre a complexa situação deste país, que se localiza em uma região conheci-
da como Chifre da África, realize a atividade a seguir:

266 Geografia
MOMENTO DA ESCRITA II

Examine o mapa a seguir. Depois, escreva um texto que descreva e analise a situação da Somá-
lia no contexto atual. Indique os aspectos que configuram uma crise humanitária no país. Con-
verse com colegas e indique o que pode ser feito pela comunidade internacional e dos países da
região para solucionar os graves conflitos e suas repercussões no território somali. Se necessário,
pesquise novos dados com a ajuda do professor.

Somália: crise humanitária no Chifre da África


Ilustração digital: Sonia Vaz

País em desespero. Enquanto a paz reina em parte


da região separatista da Somalilândia, ao norte, as
milícias islâmicas lutam para assumir o controle
do sul do país, e os piratas prosperam na costa da
semiautônoma região de Punt. O conflito e a seca
geraram uma catástrofe humanitária – mais de 1
milhão de pessoas deixaram suas casas; 3,5 milhões
dependem da distribuição de alimentos. Mas a falta
de segurança torna cada vez mais difícil levar ajuda
à população.

N
0 165 330 km
O L

Fonte: DRAPPER, Robert. Somália devastada. National Geographic Brasil, ano 10, n. 114, set. 2009, p. 127.

SUDÃO E SUDÃO DO SUL


Em 2011, um acontecimento promoveu a mudança do mapa de divisão políti-
ca da África e do mundo: surgiu um novo país, o Sudão do Sul. Cerca de 99% da
população do sul decidiu pela criação do novo Estado em um referendo. O novo
país é bastante pobre – quase 1/3 da população ainda depende de ajuda humani-
tária para sobreviver. De outro lado, conta com as mais ricas reservas de petróleo
do território do antigo Sudão.

9º ano 267
Vale notar que a divisão ocorreu em meio aos conflitos na região de Darfur,
no oeste do Sudão. Ali, o exército sudanês, apoiado por milícias, travou longa
batalha com grupos rebeldes. Acordos firmados também em 2011 decidiram pela
reorganização política de Darfur, criando dois novos Estados e firmando tréguas
entre o governo central e as várias milícias existentes. Ainda ocorrem situações
localizadas de violência e crise humanitária, com centenas de milhares de pessoas
vivendo em campos de refugiados.
Assim como na RDC, também há presença de capitais, investimentos e técni-
cos chineses operando no país – com objetivos semelhantes, como obter recursos
preciosos como o petróleo.

MOMENTO DA ESCRITA III

Com base no gráfico e no texto a seguir, escreva um texto que exponha e discuta a situação
atual do Sudão e do Sudão do Sul. Indique quais são os interesses em jogo, considerando a dispo-
nibilidade de riquezas naturais nos dois países.

Sudão e Sudão do

Ilustração digital: Sonia Vaz


Sul – Divisão políti-
ca e exploração do
petróleo

O petróleo fornece 98% da


receita interna do Sudão do
Sul, percentual maior que em
qualquer outro país do mundo.

(*) Consórcios exploram os blocos de produção


do petróleo. Discrepâncias nos números geram
a desconfiança sulista de que o governo central
não distribui as receitas como determina o
tratado de paz.
Fonte: Global Witness; IHS Energia; Wildlife
Conservation Society; Atlas de comércio
global; Administração de Informação sobre
Energia Americana. National Geographic
Brasil, ano 11, n. 132, mar. 2011, p. 107.

N
0 280 560 km
O L

Sudão do Sul: sonho de paz

A causa das tensões no Sudão é de natureza tão geográfica que poderia ser notada
até mesmo por um observador na Lua. A ampla faixa cor de marfim do Saara no norte da
África contrapõe-se à savana e à selva verdejante no centro do continente. As populações
em geral se distribuem de um lado e de outro desse divisor vegetal. [...] No Sudão, o
contato entre árabes e negros sempre foi problemático. Já no século VII, os conquistadores
muçulmanos descobriram que muitos moradores da terra então conhecida como Núbia
eram cristãos. O confronto entre ambos consolidou-se em um impasse que durou mais de
um milênio. [...]

268 Geografia
[Já no século XX], com a eclosão da segunda guerra civil no país, em 1983, surgiu
um grupo rebelde, intitulado Exército de Libertação do Povo do Sudão, que em um dos
seus primeiros atos espetaculares lançou um ataque contra a sede da construtora de
um canal [que desviaria águas da região úmida do Sudd para o norte, até o árido Egito].
Anos de carnificina se seguiram e somente seriam encerrados em 2005, quando esforços
diplomáticos nos bastidores levaram à assinatura do Acordo de Paz Global. Esse pacto
assegurou ao Sudão do Sul uma autonomia relativa, com Constituição, Exército e moeda
próprios. Em janeiro de 2011, a história sudanesa deu um passo determinante: a população
sulista aprovou em referendo a decisão de separar-se do norte e formar uma nação livre,
por ora chamada de Sudão do Sul.
As lideranças políticas de ambos os lados emitem sinais de que pretendem respeitar
o resultado, temerosas de uma intervenção internacional. Ao mesmo tempo, continuam o
antagonismo e a troca de acusações. [...]
A questão é: por que o norte não aceita a separação do sul? De novo, o motivo é
geográfico: petróleo. A maior parte das reservas fica no Sudão do Sul, mas o governo central
controla as refinarias, assim como a distribuição das receitas.
TEAGUE, Matthew. Sudão do Sul: sonho de paz. National Geographic Brasil, ano 11, n. 132, mar. 2011. p. 106, 108.

UMA NOVA ÁFRICA?


Ao longo do tempo, a história e a cultura da África e afro-brasileira figuraram
nos livros escolares apenas em tópicos do sistema escravista colonial. Deixaram
de ser discutidos de forma mais extensiva aspectos como a grande riqueza e di-
versidade dos reinos e grupos culturais da África pré-colonial, as resistências à
exploração e à dominação estrangeiras e, mais contemporaneamente, os avanços
nos campos político e econômico.
Do mesmo modo, o continente africano quase sempre foi retratado como
espaço de pobreza, confrontos armados, desigualdades profundas e dissemi-
nação de doenças como a aids e o vírus ebola. Essa visão corresponde a uma
abordagem comum no cenário internacional: muitos conflitos e questões im-
portantes relativos à África não têm o mesmo peso nos meios de comunicação
globais e nos discursos de líderes mundiais que, por exemplo, os conflitos entre
árabes e israelenses.
Entretanto, novos acontecimentos no continente mostram possibilidades de
superação dos dramas sociais. Ainda há muito por fazer: conflitos diversos ou
ditaduras permanecem em países como Mali, Mauritânia, Costa do Marfim, Zim-
bábue, Guiné-Bissau e na multiétnica Nigéria (que é também grande produtora
de petróleo). Mas em países onde governos autoritários foram derrubados há in-
dícios claros de melhorias sociais e prosperidade econômica.
Uma nova África parece surgir de escombros dos conflitos e das heranças co-
loniais. Além das significativas revoltas no norte nos últimos anos, o continente
tem a oferecer ao mundo um exemplo notável: o da África do Sul, que superou o
regime do apartheid. Instituído em 1948, ele se baseava no governo de minoria

9º ano 269
branca (formado por descendentes de colonizadores britânicos e holandeses) e
na separação oficial entre negros e brancos, com forte exploração e opressão dos
primeiros. Aos negros era vedado compartilhar com os brancos até coisas mí-
nimas, como assentos em ônibus e banheiros públicos. Muitos grupos e etnias
foram confinados em territórios (os bantustões) ou bairros precários de grandes
cidades, como Joanesburgo.
Sob a liderança de Nelson Mandela, acompanhado de milhares de ativistas,
os sul-africanos encerraram o regime oficial de segregação em 1993-1994, com a
assinatura de acordo entre Mandela e o presidente branco da época, Frederick de
Klerk. Em 1994, Mandela foi eleito presidente, passando a coordenar a transição
política no país. Embora ainda existam muitas desigualdades entre brancos e ne-
gros, a nação ingressou num ciclo de prosperidade econômica, hoje integrando
grupo dos países chamados emergentes.
Após anos de convulsões internas, que incluíram o uso de meninos-soldados,
países como Serra Leoa e Libéria abandonaram a resolução dos seus conflitos por
meio da ação armada. Retrata esse novo quadro o fato de que, em 2011, a presi-
dente eleita da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, a ativista Leymah Gbowee, também
liberiana, e a jornalista e militante antigoverno Tawakul Karman, do Iêmen, fo-
ram agraciadas com o Prêmio Nobel da Paz.
Os países africanos de língua portuguesa vêm estreitando laços econômicos e
culturais entre si e também com o Brasil. Os brasileiros estão presentes em diversas
obras públicas e cooperam com Angola e Moçambique em diversos campos (entre
eles, o da saúde). Angola tem tido forte ritmo de crescimento econômico, com base
na exploração do petróleo e dos diamantes sob o controle do Estado. Resta ainda que
essa riqueza alcance o conjunto da população; da mesma forma, muitos esperam
alternância no poder político, já que o país é governado há mais de 30 anos por José
Eduardo dos Santos, um líder da luta anticolonial.

APLICAR CONHECIMENTOS

1. Escreva com suas palavras o significado dos termos a seguir, essenciais para a compreensão dos
processos discutidos no capítulo:
a) guerra j) redes e circuitos ilegais
b) paz k) racismo
c) guerra civil l) xenofobia
d) luta anticolonial m) discriminação
e) geopolítica n) segregação social e espacial
f) poder o) crise humanitária
g) potência p) direitos humanos
h) multipolaridade q) Estado democrático de direito
i) rede geográfica

270 Geografia
2. Observe a charge a seguir e responda: a quais povos e países ela está se referindo? O que ela
representa no quadro das relações políticas para a comunidade internacional e para cada país
envolvido?

Tiago Recchia
Fonte: Recchia, Tiago. Jornal Gazeta do Povo (PR), 24 mar. 2011

3. Desafio National Geographic (2011)

Quando os britânicos se retiraram em meados da década de 1950, não admira


que a região fosse engolfada por uma guerra civil. Os rebeldes combateram as tropas
do governo federal durante os anos 1960, e 500 mil pessoas perderam a vida antes
que os dois lados interrompessem as hostilidades em 1972. [...] Com a eclosão da
segunda guerra civil, em 1983, surgiu um novo grupo rebelde. Anos de carnificina se
seguiram e foram encerrados em 2005, com a assinatura do Acordo de Paz Global. [...]
Nas regiões em que árabes e negros haviam, ao longo da história, disputado terras de
pastagem, agora eles lutavam pelo petróleo – reservas de até 3 bilhões de barris em
uma zona fronteiriça [...] há tempos uma área de confronto entre tribos e clãs.
National Geographic Brasil, n. 132, mar. 2011, p. 106 e 115. Disponível em:
<www.viagemdoconhecimento.com.br/canal-do-professor/provas-anteriores.php>. Acesso em: 3 set. 2012.

Os episódios descritos estão diretamente relacionados a:

a) Guerra civil opondo tropas do governo da Líbia e os grupos revoltosos que derrubaram
Muammar Kadafi, havia 40 anos no poder.
b) Lutas entre milícias na Somália, tendo como desfecho a criação da Somalilândia, província
separatista no norte do país.
c) Combates entre as tropas do governo comunista de Angola e a guerrilha pró-ocidental, com a
vitória final das primeiras.
d) Conflitos históricos entre grupos do norte e do sul do Sudão, onde um referendo aprovou a
criação do Sudão do Sul em 2011.

9º ano 271
4. Analise o trecho de entrevista com Wangari Maathai, ativista em defesa do ambiente nascida no
Quênia. Em seguida, escreva um texto comentando suas posições.

As revoluções no norte da África estão causando um terremoto no mundo árabe. Elas


terão o mesmo impacto ao sul do Saara?

Wangari Maathai: Certamente. Quem não quiser enfrentar tribunais, terá de fazer reformas.

E essas reformas estão ocorrendo?

Wangari Maathai: Esse é o problema. [...] Quando o povo se queixa, esses líderes
apenas dão respostas que ofendem a população. Que comam bolos se não têm pão.
Os ditadores africanos estão fazendo o mesmo hoje. Os líderes estão surdos e não
escutam a população. Por isso, as revoltas estão ocorrendo.

Essa surdez pode acabar causando novos conflitos?

Wangari Maathai: Não há a necessidade de mais vítimas. Podemos ter as reformas sem
novos banhos de sangue. Mas, para isso, as monarquias que ainda existem na África
precisam acabar. A menos que um rei seja muito bom para seu povo, ele tende a transformar
o Estado em sua propriedade privada. E é isso o que ocorre. Por isso, as revoltas têm sido
tão violentas. São décadas não apenas de ditaduras, mas de pessoas que tomaram conta
do Estado e transformaram a polícia em sua proteção pessoal contra o povo.

O que a população pede exatamente?

Wangari Maathai: Governos responsáveis, impostos que não sejam desviados e a


criação de serviços, como educação e saúde. Precisamos de novos líderes.

A posição do Ocidente em relação à África é criticada pelo cinismo, já que vários ditadores
foram mantidos por muito tempo com recursos americanos e europeus, principalmente
durante a Guerra Fria. Como a sra. avalia isso?

Wangari Maathai: De fato, vimos uma abertura dos regimes na África depois que o Muro
de Berlim caiu. O Ocidente não precisava mais de aliados para frear o comunismo e,
portanto, passou a permitir uma maior abertura. Houve maior liberdade. O número de
rádios e TVs explodiu. Antes, só o governo tinha esse controle sobre a informação. O
espaço político foi ampliado e as Constituições mudaram. Mas o problema é que essa
democratização está ocorrendo muito devagar e o povo não aguenta mais.

Há muita crítica no continente em relação ao Ocidente, mas um dos maiores parceiros


da África hoje é a China. Entidades alertam que Pequim inaugurou uma nova fase
da conquista da África. O continente voltou a ser explorado como ocorreu com o
imperialismo ocidental?

Wangari Maathai: A China está na África porque foi convidada. Nos explora porque
nossos líderes permitem isto. O certo é que a China veio fazer negócios. Alguns acham
que estão nos roubando. Mas nossos líderes permitem isso.
O Estado de S. Paulo, 17 abr. 2011. Disponível em: <www.estadao.com.br/noticias/impresso,
ha-muitas-marias-antonietas-na-africa,707327,0.htm>. Acesso em: 2 set. 2012

272 Geografia
PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS
Livros África e brasil africano
O volume traz textos e figuras que discutem a diversidade social, cultural e política da África
pré-colonial, destacando também os efeitos do sistema escravista e do neocolonialismo no
continente africano.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2007.

A longa caminhada árabe


Artigo do consagrado historiador sobre o significado das revoltas no norte da África e no
Oriente Médio que ficaram conhecidas como Primavera Árabe.
COGGIOLA, Osvaldo. A longa caminhada árabe. História Viva, ano viii, n. 91, p. 46-49.

Atlas Atlas da mundialização


Atlas com cartografia inovadora com temas relevantes do Brasil e do mundo. Consultar ca-
pítulos sobre firmas e atores globais.
DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009.

Atlas do mundo global


Com cartografia criativa e inovadora, trata de temas de interesse da geopolítica do mundo
atual. Apresenta visões de mundo na ótica de diferentes países.
BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Hubert. Atlas do mundo global. São Paulo: Estação Liberdade, 2009.

Atlas dos conflitos mundiais


Traz textos, mapas e gráficos sobre conflitos no mundo e a situação política e econômica dos
países, entre outros. Consultar capítulos sobre conflitos regionais e unidades finais sobre
tratados e operações de paz.
SMITH, Dan. Atlas dos conflitos mundiais. São Paulo: Nacional, 2007.

Sites Mapa interativo dos conflitos do mundo


Mapa interativo que permite localização e obtenção de informações sobre conflitos regionais no
mundo contemporâneo.
Mapa interativo dos conflitos no mundo (em inglês). Disponível em: <www.conflicthistory.com/#/period/2005-2011>. Acesso em: 3 out. 2012.

Organização das nações unidas


O portal da ONU traz textos, documentos e notícias sobre os países do mundo. Apresenta links
de acesso a documentos e relatórios de encontros, convenções e fóruns mundiais diversos.
Organização das Nações Unidas/Brasil. Disponível em: <www.onu.org.br>. Acesso em: 3 out. 2012.

Pelo menos 12 nações árabes viveram 2011 sob tensão e violência


A matéria destaca episódios e contextos políticos, econômicos e sociais de países árabes influen-
ciados pelas revoltas no mundo árabe-muçulmano.
Pelo menos 12 nações árabes viveram 2011 sob tensão e violência. National Geographic Brasil. 28 dez. 2011. Disponível em: <http://viajeaqui.abril.com.br/materias/
pelo-menos-12-nacoes-arabes-viveram-2011-sob-tensao-e-violencia>. Acesso em: 3 out. 2012.

Tecnologia, consumo e dor


Artigo que expõe a situação devastadora da exploração de crianças, jovens e adultos nas ricas
minas da RDC, muitas delas com minérios utilizados na fabricação de telefones celulares.
Tecnologia, consumo e dor (rep. Democrática do congo). O Estado de S. Paulo. Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/link/tecnologia-consumo-e-dor/>.
Acesso em: 3 out. 2012.

Filmes O casamento de rana


A jovem palestina Rana percorre as ruas de Jerusalém, em meio à violência e à permanente re-
construção da cidade, em busca de Khalil, seu verdadeiro amor.
Direção: Hany Abu-Assad. Holanda, Emirados Árabes Unidos, Palestina, 2002. 90 min.

Entre os muros da escola


Embates entre o professor de francês e os alunos de uma escola da periferia de Paris, em que
grande parte dos estudantes são descendentes de imigrantes.
Direção: Laurent Cantet. França, 2008. 128 min.

O último voo do flamingo


Baseado na obra homônima do escritor moçambicano Mia Couto, narra enigmática investigação
sobre explosões que tiraram a vida de soldados da missão de paz da ONU na pequena vila de
Tizangara, em Moçambique.
Direção: João Ribeiro. Moçambique, 2010. 90 min.

Um grito de liberdade
Obra clássica sobre a luta de ativistas como Stephen Biko contra o apartheid na África do Sul.
Direção: Richard Attenborough. Reino Unido, 1987. 157 min.

9º ano 273
Capítulo 3
GEOGRAFIA Paz e cooperação entre povos e
países: uma governança global?

V imos anteriormente algumas das principais causas e repercussões de guerras


entre Estados nacionais e de conflitos envolvendo grupos e atores não estatais.
Examinamos também ocorrências, ao longo dos primeiros anos do século XXI, de
ações de grupos em disputa pelo poder político internamente a cada país, e ações de
organizações ligadas ao terror e às redes e circuitos ilegais.
Neste capítulo, vamos estudar ações, medidas e propostas para superar guer-
ras e confrontos armados, criando novos quadros de construção da paz, além de
iniciativas de busca de justiça social, atendimento aos direitos humanos GLOSSÁRIO
Organizações multilaterais:
e preservação de recursos essenciais para a vida na Terra. Como vere- entidades que congregam
mos, tais contextos envolvem uma ampla rede de atores, desde governos grupos de países em torno
de objetivos comuns, como
e organizações multilaterais até indivíduos e entidades da sociedade civil, é o caso da Organização
das Nações Unidas (ONU).
cujo raio de atuação hoje abrange diferentes escalas geográficas.
Avançam também as solidariedades em rede, com a participação de grupos e
indivíduos que se valem de novas tecnologias e maior acesso a informações para
disseminar lutas por conquista e expansão de direitos e liberdades fundamentais.
Cada vez mais ganha força no mundo atual a ideia de governança. O termo,
que não deve ser confundido com “governo” tal como o conhecemos, refere-se
a novas formas de regulação coletiva de diversas demandas sociais, políticas e
econômicas pelos diferentes atores sociais, sejam eles públicos ou privados. O
que isso significa? Trata-se da participação de atores não estatais – indivíduos,
grupos organizados, comunidades e entidades sociais – nos destinos dos países e
da humanidade como um todo.

Marlene Bergamo/Folhapress

Marcha dos Povos, passeata que reuniu ativistas que participaram da Cúpula dos Povos, em junho de 2012, no Rio de Janeiro (RJ). A Cúpula dos Povos fez parte da conferência
Rio+20 e contou com representantes de movimentos de diversos países. A declaração final da Cúpula posicionou-se contra a militarização dos Estados e contra o poder das grandes
corporações, além de reafirmar a luta pelo fim da violência, da opressão e da pobreza.

274 Geografia
FAZER A PAZ
Como já vimos, a paz não é simplesmente a ausência de guerras. Para assegu-
rá-la, é preciso percorrer etapas que garantam que os acordos firmados ao final de
cada conflito sejam cumpridos. Manter a paz e garantir a segurança internacional
são dois objetivos mencionados no primeiro artigo da Carta da ONU, aprovada
na criação da entidade, em 1945, logo após o final da Segunda Guerra Mundial.
Entretanto, apenas em 1992 foi lançado um documento de referência sobre
a paz no âmbito da ONU, funcionando a partir de então como diretriz para as
ações da entidade e como recomendação para a comunidade de países. Neste
documento, sob a direção do secretário-geral à época, o egípcio Boutros-Ghali,
estabeleceram-se os diferentes tipos de operação de paz.
Para um primeiro exame do tema, realize a atividade a seguir.

LER MAPA E TEXTO

Observe os mapas e o texto a seguir e responda às questões propostas:

Ilustração digital: Sonia Vaz


Operações multilaterais de paz – 1948-2010

N
0 3 150 6 300 km
Operações concluídas por outras organizações O L

Fonte: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/op-rations-de-paix-multilat-rales-1948-2010>. Acesso em: 21 ago. 2012.

9º ano 275
Missões de paz da ONU
A manutenção da paz é uma ação militar sob mandato da ONU e com o
consentimento das partes para um cessar-fogo e fazer com que ele seja respeitado.
O restabelecimento da paz inclui negociação e mediação para reaproximar as
partes. Pode-se decidir por um uso preventivo de forças militares, a fim de levar os
beligerantes à paz.
A imposição da paz é uma ação desenvolvida por forças militares contra um
agressor identificado em casos de ameaça contra a paz, ruptura da paz ou ato de
agressão.
A consolidação da paz prevê o desenvolvimento de infraestruturas políticas,
econômicas e de segurança para resolver de forma durável um conflito. Ela se aproxima, às
vezes, de uma verdadeira reconstrução dos Estados e do estabelecimento de protetorados
pela comunidade internacional. São países que se tornam áreas sob proteção de outros
países por estarem muito fragilizados, sem conseguir cumprir suas funções.
DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 94. (Texto adaptado.)

1. Qual é o tema representado nos mapas? Quais recursos cartográficos foram utilizados em sua
elaboração?
2. De forma geral, quais são as regiões do planeta que receberam operações de paz? Em sua opinião,
o que explica essa distribuição?
3. Quem são os responsáveis pelas diferentes operações de paz no mundo?
4. Para você, é correto afirmar que uma operação de paz é exclusivamente uma ação militar,
desenvolvida para evitar novas guerras e atos violentos em países que já passaram por isso? Ex-
plique sua resposta.
5. Converse com os colegas e responda: o Brasil esteve envolvido em alguma operação de paz nos
últimos anos? Qual ou quais e com que objetivos?

OPERAÇÃO DE PAZ
Os dados apresentados mostram que existem diversos tipos de operação de
paz, desde as que implicam o uso efetivo de forças militares até os trabalhos de
reconstrução do país ou países devastados por guerras. Isso já aconteceu em inú-
meros deles, como Timor Leste, Angola e Iraque. Seguindo determinação firmada
pela ONU nos anos 1990, esses complexos processos envolvem quatro campos
principais, como assinalou o pesquisador Dan Smith no Atlas dos conflitos mun-
diais, publicado em 2007:
• Estrutura política: organizar e acompanhar eleições; criar ou recriar
instituições políticas (assembleias de parlamentares, estruturas de go-
verno); lançar ou aperfeiçoar leis; buscar constituir um governo dito
satisfatório (transparente, que preste contas e realize o combate à cor-
rupção), e outras ações. É preciso também garantir direitos humanos
e elaborar relatos de abusos cometidos durante ou após os conflitos.

276 Geografia
• Segurança: assegurar a paz, controlando o cessar-fogo e evitando no-
vos atos de agressão; promover o desarmamento e a desmobilização de
tropas; dedicar atenção aos casos de crianças-soldados; controlar o co-
mércio e circulação de armas; criar ou reconstruir órgãos de segurança
no país, por exemplo.
• Aspectos socioeconômicos: reconstruir infraestruturas (estradas,
portos, redes de água e energia etc.), escolas, hospitais, órgãos públi-
cos; realizar investimentos na atividade econômica e em empresas de
serviços públicos; organizar retorno dos refugiados que foram vítimas
dos conflitos e reacomodar os ex-combatentes.
• Reconciliação: promover o diálogo entre líderes políticos, ativistas e
entidades; instituir práticas que possibilitem o reconhecimento mútuo
das partes envolvidas nos conflitos, em especial por meio da educa-
ção; impedir manifestações hostis e garantir às mídias o acesso à in-
formação; criar Comissões de Verdade e Reconciliação, que consistem
em assembleias regulares com as populações e as partes envolvidas no
conflito. Nelas, as pessoas relatam ou denunciam fatos e refletem sobre
eles, promovendo a reaproximação entre os ex-beligerantes.
As missões de paz são fundamentalmente um mandato da ONU, com apoio
dos países e de organizações regionais (União Africana, União Europeia, Organi-
zação do Atlântico Norte – Otan e muitas outras). As agências especiais da ONU
também participam dos processos de paz, como a que trata da questão dos refu-
giados. Além delas, outras organizações sociais não governamentais também se
envolvem, como a Anistia Internacional, Médicos Sem Fronteiras e outras.
É importante lembrar que as forças de paz da ONU (que contam com solda-
dos de diversos países) atuam também em situações em que não há confrontos
armados, mas existe potencial para que eles venham a ocorrer. Um exemplo di-
retamente relacionado ao Brasil é o Haiti. Devastado por um forte terremoto em
janeiro de 2010, que destruiu cerca de 70% das instalações de sua capital, Porto
Príncipe, o país recebeu logo em seguida novas forças da Missão de Estabilização
das Nações Unidas no Haiti (Minustah, na sigla em inglês). A missão tem na
chefia militar o Brasil e foi criada já em 2004 para garantir a segurança interna do
país. Os soldados vigiam as ruas, buscam impedir atos violentos e participam de
atividades como a distribuição de alimentos.
Os brasileiros também estiveram presentes no Timor Leste, situado na parte
oriental da ilha de Timor, no sudeste da Ásia. Ex-colônia portuguesa que ficou
sob domínio da Indonésia entre 1975 e 1999, o país passou vários anos sob efei-
to dos combates entre a guerrilha de libertação nacional e as forças do invasor
estrangeiro. Encerrado o conflito, era necessário realizar eleições e reconstruir o
país, tarefas que contaram com ajuda de diplomatas e técnicos brasileiros.
Apesar da relevância do trabalho realizado pelas forças de paz, nem todos os
países colaboram efetivamente para esse fim. Alguns, como os Estados Unidos e o

9º ano 277
Reino Unido, até oferecem recursos financeiros, mas têm reduzida presença nos
efetivos das forças de paz da ONU, cujos membros são conhecidos como “capa-
cetes azuis”.
É importante salientar também que apenas após o final da Guerra Fria a ONU
pôde realizar de forma mais efetiva e mais livre o trabalho com as missões de paz.
Nos anos anteriores, tais iniciativas sofriam restrições dos países-líderes e seus
aliados, tanto do bloco capitalista como do socialista. Nesse quadro, as principais
potências usavam seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU para
impedir ações que poderiam contrariar seus interesses estratégicos. O conselho
tem cinco membros permanentes ‒ Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido
e França ‒, que já exerceram diversas vezes o poder de veto, em especial os esta-
dunidenses e os russos (herdeiros da representação soviética).
Vale notar também que organizações multilaterais como a ONU, a Organiza-
ção dos Estados Americanos (OEA) e outras só passaram a ter efetividade após
a Segunda Guerra Mundial. Antes disso, qualquer tentativa de ingerência nos
assuntos internos de um país era, em regra, interpretada como interferência na
soberania nacional.

Thony Belizaire/AFP/Getty Images


“Capacetes azuis” organizam distribuição de alimentos para vítimas do terremoto no Haiti, na cidade de Pétion-Ville, em 2010.

278 Geografia
Como veremos a seguir, as organizações CONHECER MAIS
multilaterais (que congregam grupos de paí-
ses em torno de objetivos comuns), os gover- A construção da cultura de paz
A cultura de paz está intrinsecamente relacionada
nos e as demais entidades sociais nacionais
à prevenção e à resolução não violenta dos conflitos.
e mundiais devem acompanhar e atuar em É uma cultura baseada em tolerância e solidariedade,
outras questões que são fontes potenciais de uma cultura que respeita todos os direitos individu-
ais, que assegura e sustenta a liberdade de opinião e
conflitos. Entre elas estão situações de: que se empenha em prevenir conflitos, resolvendo-os
• racismo, preconceito, discriminação, em suas fontes, que englobam novas ameaças não
xenofobia e intolerância religiosa; militares para a paz e para a segurança, como a ex-
clusão, a pobreza extrema e a degradação ambiental.
• secas extremas ou inundações, que po- A cultura de paz procura resolver os problemas por
dem provocar a eventual escassez de meio do diálogo, da negociação e da mediação, de
forma a tornar a guerra e a violência inviáveis.
alimentos, reforçando a pobreza e a de-
Na atualidade, continuamos com inúmeros confli-
sigualdade social; tos armados e lutas civis, que sacrificam vidas huma-
• disputas por recursos naturais como nas em mais de quarenta países. Outras fontes de ten-
são têm sua origem na deterioração do meio ambiente
água ou metais preciosos e conflitos [...], na competição por recursos de água doce, cada vez
pela posse de terras; mais escassos, na desnutrição e na flagrante desigual-
• degradação ambiental, como as ge- dade econômica e social não só entre os países, como
também internamente a estes, devido a modelos de de-
radas por desmatamento, contami- senvolvimento concentradores de renda e excludentes.
nação de rios, tráfico ou matança de NOLETO, Marlova Jovchelovitch. Cultura de paz: da reflexão à ação; balanço da
Década Internacional da Promoção da Cultura de Paz e Não Violência em Benefício
animais e outras. das Crianças do Mundo. Brasília: Unesco; São Paulo: Associação Palas Athena, 2010.
p. 10-11.

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL


O encerramento de um conflito envolve a assinatura de pactos ou tratados
nos quais são estabelecidas as bases para a paz. Os conflitos também podem ter-
minar com a vitória de um dos lados (e com assinatura de algum acordo) ou
pela exaustão de uma ou de ambas as partes em litígio. Assim, existem inúmeros
pactos, acordos ou tratados já assinados, correspondentes aos conflitos que já se
desenrolaram ao longo do tempo e que foram encerrados.
Nesse quadro, desenvolveram-se os princípios que regem o direito interna-
cional. Ele se refere a um extenso conjunto de normas e regras que busca estabele-
cer critérios e solucionar pendências, por exemplo, disputas entre dois países por
linhas de fronteira, direitos sobre águas territoriais, direitos comerciais (hoje a
cargo da Organização Mundial do Comércio – OMC), proteção de cidadãos víti-
mas dos conflitos armados. Da mesma forma, surgiram regulamentos para punir
crimes internacionais, como crimes de guerra, escravidão e o tráfico de mulheres
e crianças. A resolução 1 325 da ONU, aprovada no ano 2000, impõe a presença
de mulheres na condução dos processos de paz.
Aos poucos, desenvolveram-se também noções suficientes para identificar e
punir crimes hediondos como o de genocídio e garantir o atendimento dos di-
reitos humanos.

9º ano 279
Algumas instituições foram criadas para julgar responsáveis por episódios de
guerra: tribunais militares para julgar os derrotados na Segunda Guerra Mundial
(Alemanha nazista e Japão) e os crimes cometidos na guerra na antiga Iugoslávia
(em 1993) e em Ruanda (1994), entre outros.
Conforme Marie-Françoise Durand e colaboradores, o fim da Guerra Fria
e a crescente participação dos meios de comunicação na divulgação de abusos
cometidos contra as populações criaram as condições políticas para instituir o
Tribunal Penal Internacional (TPI), com a finalidade de julgar chefes de guerra.
Em 1998, cerca de 60 países assinaram o estatuto que rege o tribunal. Já em 2002,
foram abertos processos contra os responsáveis por abusos em conflitos na África
(República Democrática do Congo, Uganda, Sudão e outros) e na Europa, com o
julgamento de Slobodan Milosevic, ex-presidente da Sérvia, que foi interrompido
com a morte do acusado em 2006. Outras participações do TPI e outros órgãos,
como a Corte Internacional de Justiça e tribunais ou juízes nacionais, deram-se no
julgamento de crimes de guerra em países como Serra Leoa, Libéria e Camboja.
Vale notar que, em função de interesses geopolíticos, nem todos os países ra-
tificaram o estatuto de criação do TPI. Entre eles, estão China, Estados Unidos,
Índia, Israel e Rússia. Muitos deles ainda adotam, por exemplo, a pena de morte,
que cada vez mais passa a ser compreendida como uma questão da esfera inter-
nacional e não meramente como assunto interno de cada país. Há fortes pressões
diplomáticas e de entidades de direitos humanos para que os países abandonem
definitivamente essa prática.

O Tribunal Penal Internacional (TPI)


Desde o final da Segunda Guerra Mundial, as Nações Unidas cogitaram várias vezes
a ideia de estabelecer um tribunal penal internacional permanente. Em 1993 e 1994 instituíram
dois tribunais especiais para punir as graves violações do direito internacional humanitário ocorri-
das na ex-Iugoslávia e em Ruanda, Dan Emmert/AFP/Getty Images

respectivamente. Em 1994, iniciou


uma série de negociações para
estabelecer um tribunal penal in-
ternacional permanente que tives-
se competência sobre os crimes
mais graves para a comunidade
internacional, independente do lu-
gar em que foram cometidos.
Essas negociações culmi-
naram com a aprovação, em julho
de 1998, em Roma, do Estatuto do
TPI, o que demonstra a decisão da
comunidade internacional de cuidar
para que os autores desses graves
crimes não fiquem sem castigo. Corte penal internacional discute na ONU, em Nova York (EUA), o julgamento de crimes de guerra em
Ruanda. Foto de 2008.

280 Geografia
Entre os crimes de competência do TPI estão os de guerra (uso de crianças, qualquer
forma de violência sexual etc.), genocídio (atos praticados com a intenção de destruir, no todo
ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tais), contra a humanidade
(extensa lista que fala em homicídio, extermínio, escravidão, deportação forçada, tortura, agressão
sexual, perseguição de grupos específicos, apartheid e outros.)
Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Disponível em: <www.icrc.org/por/
resources/documents/misc/5yblr2.htm>. Acesso em: 10 set. 2012.

PROLIFERAÇÃO DE ARMAS E DESARMAMENTO:


ARSENAIS CONVENCIONAIS E NUCLEARES
Já estudamos aspectos do comércio mundial de armas, que abastece os confli-
tos pelo mundo com armamentos de diferentes tipos e portes. Vimos que alguns
países participam ativamente desse mercado, entre eles, por mais contraditório
que seja, os que têm assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Eles figuram também no grupo dos países mais ricos do mundo, o G8 (no caso do
comércio de armas, a exceção é o Japão).
Nesse campo, também entram em cena tratados e acordos internacionais,
muito importantes, mas nem sempre suficientes para conter a compra e venda de
armas. Entre eles estão as convenções sobre proibição de armas químicas e bioló-
gicas, que se enquadram na categoria das armas de destruição em massa.
Há fortes preocupações da comunidade internacional quanto a esse tipo de
armamento, assim como em relação às armas nucleares. Mas não se deve descon-
siderar o grande efeito destrutivo das armas ditas convencionais (tanques, mís-
seis, aviões de combate, minas, metralhadoras, lança-granadas e outras). Entre
as dificuldades para conter o comércio desses armamentos estão as de rastrear
equipamentos provenientes do tráfico (portanto, do comércio ilegal) e superar os
obstáculos postos por governos que dele se beneficiam. Em abril 2013, a Assem-
bleia Geral da ONU aprovou um tratado sobre o comércio de armas, para tentar
controlar os efeitos nefastos dessa atividade. Entre outras medidas, o tratado in-
dica que os países não devem vender armamentos para o crime organizado, orga-
nizações do terror ou grupos que violam os direitos humanos.
O final da Guerra Fria e da bipolaridade que regia as relações internacionais
criou um novo contexto para a questão das armas nucleares. Estados Unidos e
Rússia assinaram sucessivos acordos para redução dos respectivos arsenais.
Desde 1957, a Agência Internacional de Energia Atômica, órgão autônomo
criado no âmbito da ONU, tem a tarefa de estabelecer e acompanhar normas de
segurança nuclear e de incentivar o uso pacífico dessa fonte de energia. Apesar
da adoção de medidas importantes, como a proibição de testes nucleares que não
sejam subterrâneos, criação de zonas livres de armas nucleares, limitação de ar-
senais ou assinatura de tratados de não proliferação, diversos países dificultam a
inspeção de instalações nucleares suspeitas de produzir armas dessa natureza –
caso notório do Irã. Sobre esse tema, realize a atividade a seguir:

9º ano 281
LER MAPA

Examine o mapa e, em seguida, responda às questões propostas:

Ilustração digital: Sona Vaz


Proliferação e desarmamento nuclear – 2009

Adotado em 1968,
o Tratado de Não
Proliferação Nuclear
(TNP) visa reduzir o
risco de proliferação
de armas nucleares,
que têm alto poder
destrutivo. O tratado
concedeu aos países
dotados de armas
nucleares antes de
1967 (EUA, Rússia,
França, China e
Reino Unido)o
direito de manter
seus arsenais.
Mas exigiu deles o
compromisso de
N não auxiliar outros
0 2 750 5 500 km
O L países a adquirir
S
ou desenvolver
tais armamentos –
tarefa nem sempre
cumprida. As ogivas
são cápsulas de
formato curvo
e pontiagudo
que carregam o
Fonte: DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 92. armamento nuclear.

1. Quais países se destacam quanto à posse de arsenais e ogivas nucleares? Em sua opinião, o que
isso representa para as relações de poder no mundo atual?

2. Quais são os países que não assinaram o Tratado de Não Proliferação Nuclear? O que contribui
para explicar a posição adotada por eles?

3. De acordo com o mapa, qual é a posição do Brasil com relação à produção de armas nucleares?

4. Pesquise e discuta a atual posição do Irã no campo da produção de armas nucleares.

282 Geografia
A QUESTÃO DOS REFUGIADOS E DESLOCADOS INTERNOS
Outro quesito importante relativo aos contextos de guerras e conflitos é a
questão dos refugiados e deslocados internamente em cada país. Para não sofrer
os efeitos destrutivos da guerra, parte significativa das populações busca refúgio
em outros países (notadamente, os vizinhos) e em outras regiões do próprio país.
Um exemplo recente é o da Síria, em 2012. Diante do embate entre governo e
grupos armados de contestação ao poder, centenas de milhares de cidadãos bus-
caram abrigo na Turquia, no Líbano e na Jordânia.
Ao longo do século XX houve uma tomada de consciência, pela comunidade
internacional, da questão dos refugiados, já que a Revolução Russa e as duas gran-
des guerras mundiais, entre outros conflitos, geraram a fuga ou o deslocamento
de dezenas de milhões de pessoas. Já nas primeiras décadas do século, a antiga
Liga das Nações, depois substituída pela ONU, criou um escritório para cuidar do
tema. Em 1947, a ONU cria nova organização, o Alto Comissariado das Nações
Unidas para os Refugiados (Acnur). A ele cabe oferecer apoio e proteção aos refu-
giados incluindo alimentos e assistência médica, e intermediar negociações com
países para encontrar novos locais de reassentamento das vítimas dos conflitos.
A agência identifica e apoia também os grupos e indivíduos apátridas. São pes-
soas que, por variadas razões, perderam sua nacionalidade. A nacionalidade é o elo
legal entre um indivíduo e um Estado. Por que isso ocorre? Muitas vezes, algumas
pessoas têm sua nacionalidade negada porque as leis do país não as reconhecem
como cidadãos por motivos religiosos, étnicos ou mesmo por suas opiniões e ações
políticas. Um caso conhecido é o dos membros da etnia Tâmil, não reconhecidos
pelo Estado em Sri Lanka. Em outros casos, não há consenso sobre qual Estado
deve conceder nacionalidade a essas pessoas. Desse modo, o apátrida não pode tirar
documentos, votar ou mesmo matricular filhos na escola.
Outro trabalho relevante do Acnur é produzir regularmente relatórios e do-
cumentos sobre a situação dos refugiados, deslocados e apátridas. Isso viabiliza
ações mais concretas em relação a esses grupos. O relatório Tendências Globais
2010 revela que, ao final desse ano, havia 43,7 milhões de pessoas forçadas a se
deslocar em todo o mundo, o maior contingente dos últimos 15 anos. Desse total,
15,4 milhões eram refugiadas, sendo 10,5 milhões sob cuidados do Acnur, e ou-
tros 4,8 milhões a cargo da agência para refugiados palestinos.
O quadro inclui também 837 mil solicitantes de refúgio, 27,5 milhões de pes-
soas deslocadas internamente e 12 milhões de apátridas. Há pelo menos 7 mi-
lhões de pessoas em situação prolongada de refúgio (cinco anos ou mais). O estu-
do contabiliza também pelo menos 2 milhões de pessoas deslocadas em função de
catástrofes naturais. Entre os refugiados e deslocados, há elevados contingentes
de mulheres e crianças desacompanhadas.
Quase a metade dos refugiados sob responsabilidade do Acnur no mundo
vem do Afeganistão e do Iraque. Há, por exemplo, afegãos espalhados por 75 dife-
rentes países. Os iraquianos estão situados em especial nos países vizinhos ao seu.

9º ano 283
Entre os receptores, destacam-se o Paquistão (com 1,9 milhão de refugiados,
muitos deles afegãos), seguido do Irã. A Síria também já abrigou muitos iraquia-
nos, mas hoje são cidadãos sírios que buscam abrigo nos vizinhos, como vimos
antes. Países da África central e oriental como Chade, Quênia, Tanzânia e Zâmbia
também recebem levas de refugiados vindos de vizinhos como Sudão, República
Democrática do Congo (RDC), República Centro-Africana e outros.
Portanto, crises humani-
tárias e ambientais e disputas

François Lo Presti/AFP/Getty Images


políticas expulsaram milhões
de homens, mulheres e crianças
de seus lares e terras. Da mesma
forma, impediram o retorno a
seus países dos que foram obri-
gados a se deslocar antes. Os
esforços das agências têm sido
o de promover a repatriação
(desde que haja condições para
isso) ou o reassentamento das
pessoas em outros países. Isso
exige das sociedades receptoras
o desafio de exercer a tolerân-
cia, a aceitação de diferenças e
promover a integração social Membros de associação humanitária distribuem alimentos para refugiados afegãos
assentados em campo de Teteghem, no norte da França, 2010.
dos recém-chegados.

COMBATE À FOME, À POBREZA E À INSEGURANÇA ALIMENTAR


Vimos que os quadros extremos de pobreza e desigualdade social são conside-
rados fontes potenciais de conflitos. Existem vários indicadores para mostrar graus
de pobreza no mundo e em cada país. Um deles, calculado pelo Banco Mundial,
baseia-se no número de pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 por dia.
Dados levantados pela instituição e publicados em 2012 revelam que houve redu-
ção da pobreza em todas as regiões do mundo até o ano de 2008. Isso se deve, entre
outras razões, ao desempenho da China, que retirou cerca de 600 milhões de pessoas da
pobreza desde a década de 1980. O mesmo ocorreu em relação à África, que também
registrou quedas no período considerado. Mesmo assim, os números ainda são bastante
elevados na África subsaariana (cerca de 400 milhões de pessoas) e sul da Ásia (em tor-
no de 600 milhões de pessoas, em países como Índia, Indonésia e Bangladesh).
Situações de fome e insegurança alimentar (pela escassez e irregularidade na
oferta de alimentos) também são frequentes no mundo atual. O sistema mundial
de produção de alimentos apresenta algumas disparidades flagrantes: a produção
mundial de bens alimentícios, superior às 2 500 quilocalorias diárias necessárias

284 Geografia
para cada ser humano, é suficiente para garantir o sustento de toda a população
do planeta. Entretanto, estimativas do Fundo das Nações Unidas para Agricultura
e Alimentação (FAO-ONU) indicavam que o problema ainda afetava 925 milhões
de pessoas no planeta em 2011, apesar da redução no número de indivíduos nessa
condição em relação aos resultados de anos anteriores.
Outros dados da entidade indicavam também que 98% das pessoas nessa con-
dição viviam em países em desenvolvimento. Deste percentual, dois terços esta-
vam em apenas sete países: Bangladesh, China, RDC, Etiópia, Índia, Indonésia e
Paquistão. Quanto às regiões, os dados coincidem com os indicadores de pobreza,
afetando em especial Ásia e Pacífico e África subsaariana. Os números também
preocupam em outras regiões, como a América Latina e Caribe, onde se estima
haver 53 milhões de subnutridos.
São muitas as razões para que esse quadro geral se configure. Entre elas estão os
eventos naturais extremos, como secas e inundações, mas a escassez de alimentos
decorre também dos conflitos políticos. Além disso, embora a produção seja ele-
vada, a falta de alimentos deriva de um movimento perverso do mercado agrícola
global: em regra, o objetivo é mais vender do que alimentar, como assinalam Marie-
Françoise Durand e colaboradores. A crise econômica após 2008 agravou a situa-
ção, pois provocou oscilações nos preços. Muitos países deixaram de importar bens
agrícolas em virtude de alta nos preços. Outros, por sua vez, preferiram atender seu
mercado interno, em detrimento das exportações.
Algumas iniciativas de organizações multilaterais, governos e entidades sociais
buscam reverter esse quadro. Há países que criaram programas de complementação
de renda, permitindo aos mais pobres o acesso a alimentos e outros bens. Esse é o
caso do Brasil. O país, que é um grande celeiro agrícola, também possui progra-
mas de doação de alimentos, em especial para países africanos e da América Latina
(como Haiti e Guatemala). Do mesmo modo, mantém projetos de cooperação hu-
manitária para ajuda a populações vulneráveis, também africanas. Envolvem, entre
outros, recuperação de solos, reconstrução de escolas e hospitais e melhorias no uso
da água para irrigação agrícola.
Farjana K. Godhuly/AFP/Getty Images

Programas apoiados pela FAO não se limitam


a distribuir alimentos em situações de emergên-
cia. O órgão já apoiou iniciativas como a recupe-
ração de pastagens no Irã, criação de cabras leitei-
ras na Etiópia e programas de regularização das
terras agrícolas em Ruanda, com a decisiva parti-
cipação de mulheres.
Uma iniciativa consagrada em todo o mundo é
sistema de microcrédito, criado em Bangladesh a
partir da fundação do Grameen Bank pelo econo-
mista Muhammad Yunus. Esse banco oferece crédi- Homem oferece serviços telefônicos em Bangladesh, na
tos a pessoas de baixa renda para que possam desen- Índia, apoiado pelo sistema de microcrédito, 2004.

9º ano 285
volver pequenos empreendimentos (comércio, serviços, pequena produção agríco-
la), o que já ajudou milhares a sair da condição de pobreza. Tais projetos vêm sendo
postos em prática em outros países, inclusive no Brasil, com bancos comunitários
implementados pelas comunidades com apoio de organizações não governamentais.

CONHECER MAIS

Combate ao racismo, ao preconceito, à xenofobia e à intolerância: integrar a diversidade


Existe uma vasta legislação que compõe os estatutos Nós, os Governos dos Estados-Membros do Conse-
do direito internacional ligados às questões do racismo, lho da Europa, por ocasião da Conferência Europeia
discriminação, xenofobia e intolerâncias diversas. Os Todos Diferentes, Todos Iguais: dos Princípios à Práti-
princípios e as recomendações emanam de um impor- ca, contribuição europeia para a Conferência Mundial
tante documento, resultante da Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e
contra Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e In- Intolerância Conexa,
tolerância Conexa, realizada na cidade de Durban, África
do Sul, em 2001. Estrasburgo, 11 a 13 de Outubro de 2000
O documento traz dezenas de artigos solicitando
aos Estados e às sociedades que combatam o racismo, a Reafirmamos que:
discriminação e a intolerância em suas variadas formas, A Europa é uma comunidade de valores partilha-
por meio de ações no campo jurídico/penal (envolvendo dos, multicultural no seu passado, presente e futuro;
criminalização e reparações), de inclusão social e ações a tolerância garante a manutenção da Europa enquan-
educacionais e outras. Recomenda também levantar da- to sociedade pluralista e aberta, no seio da qual é pro-
dos, identificar problemas e buscar soluções, atendendo movida a diversidade cultural;
aos direitos humanos, e mobilizar setores como empre- Todos os seres humanos nascem livres e iguais em
sas, poder público, jovens e organizações não governa- dignidade e em direitos e com capacidade para partici-
mentais. Nele, está explicitada a necessidade de manter par de forma construtiva no desenvolvimento e bem-
focos de atenção na situação de afrodescendentes, po- -estar das nossas sociedades [...].
vos indígenas e migrantes. A aprovação de leis e princípios representa um gran-
Os países da Europa, onde a questão é bastante gra- de avanço para os países e sociedades. Mas, por si só,
ve, participaram e são signatários da Conferência, crian- não são capazes de resolver os problemas citados. Os
do mecanismos, leis e instituições próprios para o setor.
mesmos avanços ainda precisam ocorrer no campo das
Contam hoje com o Escritório da Comissão Europeia
políticas migratórias e em setores correlatos, como o de
contra o Racismo e a Intolerância e inúmeros documen-
controle e policiamento de fronteiras, muitas vezes mais
tos, relatórios e levantamentos sobre o tema. Veja os ex-
certos a seguir: rígidos em função de um eventual aumento da imigra-
Declaração Política adotada pelos Ministros dos Esta- ção dita ilegal. Assim como nos demais países e regiões
dos-Membros do Conselho da Europa, na sessão de encerra- do planeta, trata-se de compreender que a diversidade é
mento da Conferência Europeia contra o Racismo. uma das bases da riqueza da humanidade.
ONU. Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Conexa. Conferência Europeia contra o Racismo. Disponível em: <www.gddc.pt/direitos-humanos/
Racismo.pdf>. Acesso em: 5 out. 2012; apud GIANSANTI, Roberto et al. Geografia: um olhar sobre o espaço mundial. São Paulo: AJS, 2012.

QUESTÕES AMBIENTAIS GLOBAIS


Diante da escala de degradação ambiental no planeta, afetando quase sempre
os mais pobres e os países em desenvolvimento, desde 1972 a comunidade inter-
nacional realiza eventos internacionais sobre o tema ambiental. São as conferên-
cias para o meio ambiente e desenvolvimento, sob coordenação do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Um marco histórico dessas con-
ferências, que sempre contaram com reuniões governamentais e fóruns paralelos
da sociedade civil, foi a conferência realizada no Rio de Janeiro em 1992, a Rio-92.
Ali se delineou melhor o conceito de desenvolvimento sustentável que, apesar

286 Geografia
das diferentes visões, prevê conciliar desenvolvimento econômico e preservação
dos recursos naturais, procurando mantê-los para as gerações futuras. Da mesma
forma, indicou-se que os países teriam “responsabilidades comuns, mas diferen-
ciadas”, cabendo sobretudo aos países mais ricos financiar a proteção ambiental.
O evento definiu também os termos da Agenda 21, conjunto de metas para os
países envolvendo desde a proteção de áreas naturais (florestas, mangues, sava-
nas, mares e oceanos etc.) até práticas sustentáveis no âmbito econômico, redução
e revisão dos padrões de consumo, luta contra a pobreza, valorização da parti-
cipação feminina e das populações tradicionais (como os povos indígenas). Os
debates lançaram as bases para o combate e monitoramento do chamado aque-
cimento global e geraram convenções (documentos-base para os países) sobre a
diversidade biológica, indicando a necessidade de conservação da variedade de
ambientes e das espécies de plantas e animais.
Em relação ao aquecimento global, o acompanhamento se deu em torno da agên-
cia Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês),
a partir de 1988. Nos anos seguintes, o órgão buscou reunir dados sobre os prováveis
efeitos das crescentes emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito
estufa, que contribuiriam para elevar as temperaturas médias na atmosfera terres-
tre. Em 1997, a maioria dos países assinou o Protocolo de Quioto. Em seus diversos
anexos e documentos, o protocolo indicava que caberia aos países ricos reduzir suas
emissões em 5,2% em relação ao total expelido na atmosfera no ano de 1990. Trata-se
de um debate – que ainda prossegue – repleto de divergências e resistências, em espe-
cial dos Estados Unidos, grande emissor de CO2, e dos países produtores de petróleo.
Outros fóruns temáticos (sobre clima e aquecimento global e florestas, em
especial) ocorreram nos anos seguintes. A mais recente conferência mundial foi
realizada novamente no Rio de Janeiro, em 2012 – a Rio+20. Um balanço dos re-
sultados globais constatou a insuficiência das ações governamentais em diversos
subsetores, em especial no que se refere ao item aquecimento global/mudanças
climáticas e na contenção dos índices de devastação dos ambientes naturais. Os
documentos da ONU lançaram a ideia de “economia verde” (basicamente, eco-
nomias de baixo carbono), mas a definição do conceito e sua tradução em ações
práticas foram adiadas para novos encontros.
Entrou na pauta também a proposta de criar uma agência mundial para re-
gular as ações referentes ao ambiente, a exemplo do que já é feito no plano das
trocas comerciais pela Organização Mundial do Comércio. Esse seria um passo
importante para criar um novo mecanismo de governança global. Mas a proposta
não teve a adesão de muitos países, incluindo o Brasil, o país-sede. Tudo precisa
ser aprovado por consenso nas conferências.
De forma geral, as organizações ambientalistas e outras que participaram dos
eventos paralelos (chamados de Cúpula dos Povos) entenderam que os resultados
foram tímidos demais diante da escala das questões ambientais a serem enfrenta-
das. Por exemplo: faltou, entre outros pontos, aprofundar e aprovar medidas de

9º ano 287
proteção de mares e oceanos, hoje grandes receptáculos de resíduos humanos e
palcos de exploração intensa. Por outro lado, o evento renovou o vigor e a decisiva
participação das entidades sociais de diferentes países. Um dado importante foi a
introdução do combate à pobreza como uma das metas centrais nos próximos anos.
Ganharam destaque também algumas iniciativas para a busca de alternativas
energéticas limpas e renováveis, como as desenvolvidas na China com energia
eólica, solar e hidrelétrica. Reconheceram-se também esforços de países como o
Brasil no combate ao desmatamento, embora o problema ainda seja muito grave
em nosso país, que está entre os de maior biodiversidade em todo o planeta.

LER MAPAS E TEXTOS

Sobre o papel das organizações não governamentais nas principais questões sociais e ambien-
tais no mundo atual, examine o texto e os mapas a seguir e responda às questões.

ONGS plurais
Entre público e privado, local e global
O fim da Guerra Fria, o desinteresse de certos governos do Sul pelo GLOSSÁRIO
desenvolvimento social, a multiplicação de Estados falidos e a renovação
Estado falido: Estado em colapso, em
dos conflitos contribuíram para o desenvolvimento de organizações não situação de não governo; incapaz de
governamentais (ONGs). O censo das ONGs existentes é uma tarefa prover a segurança de sua população.

complicada, tendo em vista seu aumento, sua quantidade e diversidade. Lobby (singular), lobbies (plural): grupo
de pressão criado que tem como objetivo
As mais antigas atuam frequentemente na escala mundial e em setores influenciar as autoridades políticas a tomar
variados: desenvolvimento, ação humanitária, defesa dos direitos humanos, decisões que lhe interessam. O reconhe-
cimento e a aceitação da atuação desses
proteção do ambiente, desarmamento etc. Múltiplas organizações nacionais
grupos variam de Estado para Estado.
são igualmente ativas no tecido social dos Estados. Organizações não governamentais
A definição clássica de ONG – “toda organização social não (ONGs): associações criadas por
estatal e sem fins lucrativos” – é ao mesmo tempo insuficiente e errônea. particulares para realizar objetivos que
não visam lucros. Em tese, defendem
Algumas assemelham-se a agências governamentais, outras mais parecem ideias e valores, e não interesses. Se
lobbies profissionais ou grupos religiosos. [...] associações similares já existem há
muito tempo (como as antiescravistas no
Uma progressiva profissionalização substituiu o voluntariado,
século XVIII), considera-se que uma das
o engajamento individual e a militância dos primórdios. Especialistas primeiras ONGs contemporâneas é a Cruz
em captação dos recursos, juristas, economistas e outros seguiram os Vermelha, fundada em 1863.
passos antes trilhados por profissionais como médicos, enfermeiras e
agrônomos que foram atuar em ONGs. Essa competência crescente fez dessas organizações
atores significativos na produção do direito internacional, acabando por constituir um setor de
emprego disputado, cujo pessoal assalariado, internacional e muito qualificado, circula entre
diferentes ONGs, organizações internacionais ou mesmo administrações públicas. [...]
De modo geral, as ONGs exercem funções de denúncia, alerta e mobilização. Assim,
sua ação dificulta cada vez mais os segredos de Estado, as formas de repressão e a violação
dos direitos humanos ou a ineficácia das instituições financeiras internacionais. [...] Fazendo
amplo uso da internet, essas organizações, frequentemente agrupadas em redes, dispõem de
repertórios de ações variadas, para sensibilizar e fazer pressão: campanhas de informação,
fóruns, manifestações etc.
DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 68-69. (Texto adaptado.)

288 Geografia
O que é o Fórum Social Mundial?
O FSM é um espaço de debate democrático de ideias, aprofundamento da
reflexão, formulação de propostas, troca de experiências e articulação de movimentos
sociais, redes, ONGs e outras organizações da sociedade civil que se opõem ao
neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo.
Após o primeiro encontro mundial, realizado em 2001, se configurou como um processo
mundial permanente de busca e construção de alternativas às políticas neoliberais.
O FSM se caracteriza também pela pluralidade e pela GLOSSÁRIO
diversidade, tendo um caráter não confessional, não governamental
Neoliberalismo: conjunto de ideias que busca
e não partidário. Ele se propõe a facilitar a articulação, de forma adaptar ao capitalismo moderno os princípios
descentralizada e em rede, de entidades e movimentos engajados em do liberalismo econômico dos séculos XVIII
ações concretas, do nível local ao internacional, pela construção de e XIX. Este se assentava na livre-iniciativa, na
força do mercado e da concorrência e no direito
um outro mundo, mas não pretende ser uma instância representativa à propriedade. Segundo seus defensores,
da sociedade civil mundial. haveria pouco espaço para a ação econômica
do Estado. Os neoliberais também consideram
O fórum é organizado no mundo por um grande conjunto
que a vida econômica e social deve ser regida
de organizações não governamentais, sindicatos e movimentos pelos mecanismos de preços e pela economia
populares das mais diferentes partes do mundo. de mercado, embora achem importante que
essa última seja mais disciplinada, de modo a
Fórum Social Mundial. Disponível em: <www.forumsocialmundial.org.br/ combater excessos da livre-concorrência.
main.php?id_menu=19&cd_language=1>. Acesso em: 17 set. 2012.

Redes mundiais de escritórios de algumas ONGs – 2008

Ilustração digital: Sonia Vaz


Oxfam

Oxfam: Fundada em 1995.


Coordena ONGs nacionais
em 13 países, com rede de
cerca de 3 mil parceiros
locais. Atua no combate à
N
pobreza e na defesa dos
0 3150 6300 km direitos humanos.
O L

Greenpeace

Greenpeace (em
português, Paz Verde):
conhecida entidade
internacional de defesa
do ambiente, foi criada
em 1971 com os objetivos
de combater os testes
nucleares realizados pelas
grandes potências e defender
espécies ameaçadas de
extinção. Tem como marca
ações arrojadas, como
N
bloquear barcos pesqueiros
0 3150 6300 km ou navios de transporte de
O L

S substâncias tóxicas.

9º ano 289
Ilustração digital: Sonia Vaz
WWF

WWF (World Wildflife


Found, ou, em
português, Fundo
Mundial para a
Natureza): criado em 1961
para a defesa da natureza
e dos ambientes, em
especial a preservação da
biodiversidade e a utilização
duradoura dos recursos
N

O L
0 3150 6300 km naturais.
S

Anistia Internacional

Anistia Internacional:
criada em 1961, defende
a liberdade de expressão,
estendendo suas
atividades para a defesa
das vítimas de tortura e
de desaparecimento, de
condenados à pena de morte
e outros direitos. Ganhou
o Prêmio Nobel da Paz em
1977. Conta com mais de
2,2 milhões de membros
e simpatizantes ativos em
cerca de 150 países.
N
0 3150 6300 km
O L

Fontes: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/sites/default/files/BR_C05c_Bureaux_Oxfam_WWF_Greenpeace_Amnesty_2008.jpg>.


Acesso em: 17 set. 2012; DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização:compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 69.

1. Quais são as organizações descritas nos mapas e nos textos? Em quais áreas elas atuam?

2. De acordo com os dados, como é a organização espacial das entidades apresentadas?

3. Retome a ideia de governança global apresentada no início do capítulo. Em sua opinião, a atuação
das entidades descritas contribui para desenvolver a governança global? Explique sua resposta.

290 Geografia
UM MUNDO MAIS JUSTO E SOLIDÁRIO
Vimos ao longo do capítulo que as relações internacionais evoluíram de um
sistema de coexistência internacional (ou seja, um mosaico de soberanias nacio-
nais) para outro caracterizado pela cooperação multilateral, em especial após a
Segunda Guerra Mundial. Esta cooperação envolve tanto as organizações regio-
nais e multilaterais como os governos e uma constelação de organizações sociais.
Tendo em vista a busca de justiça social, desenvolvimento econômico e pre-
servação ambiental e atendimento dos direitos humanos, a agenda política e so-
cial do mundo contemporâneo implica ainda uma série de desafios. Um deles é
promover reformas em entidades como a ONU, em especial no seu Conselho de
Segurança, para que ela ganhe mais poder e legitimidade diante da complexidade
dos conflitos e dramas sociais.
É preciso também favorecer contextos que reforcem a multiplicidade e plu-
ralidade de atores estatais e não estatais, públicos e privados, no cenário interna-
cional. A expectativa é de que isso ofereça contrapontos ao poder e aos interesses
das nações hegemônicas e das grandes corporações econômicas transnacionais.
O rumo dos acontecimentos indica também a necessidade de incorporar as va-
riáveis ambiental e social (em especial, o combate à pobreza) nos projetos de
desenvolvimento. Não é por outra razão que os chamados Objetivos de Desen-
volvimento do Milênio deverão conter, tendo o ano de 2015 como referência,
objetivos também de desenvolvimento sustentável.
Para inúmeros especialistas, o caminho para alcançar objetivos de paz, desen-
volvimento pleno e efetiva cooperação internacional só poderá ser pavimentado
com a efetiva participação social.

MOMENTO DA ESCRITA

Com base nas iniciativas discutidas neste capítulo, examine os textos a seguir. A partir disso,
escreva um texto que apresente e discuta as perspectivas para a paz, justiça social e cooperação
internacional. Inclua em sua análise o potencial para superação de guerras e conflitos no mundo
contemporâneo. Apresente os resultados e discuta-os com sua turma.

Declaração Universal dos Direitos Humanos


A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas proclama: 
A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser
atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada
órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e
da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas
progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua
observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto
entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.
Artigo I – Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas
de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade. 

9º ano 291
Artigo II – Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo,
língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza,
nascimento, ou qualquer outra condição.
Artigo III – Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo IV – Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico
de escravos serão proibidos em todas as suas formas. 
ONU, 1948. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso em: 15 set. 2012.

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)


Durante a reunião da Cúpula do Milênio, realizada em Nova York, em 2000,
líderes de 191 nações oficializaram um pacto para tornar o mundo mais solidário e
mais justo, até 2015. O sucesso desse grande projeto humanitário só será possível por
meio de oito iniciativas que ficaram conhecidas como Objetivos de Desenvolvimento
do Milênio (ODM). [Entre elas estão]: erradicar a extrema pobreza e a fome, educação
básica de qualidade para todos; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia
das mulheres [e] reduzir a mortalidade infantil.
ODM Brasil. Disponível em: <www.odmbrasil.org.br>. Acesso em: 17 set. 2012.

APLICAR CONHECIMENTOS

1. A partir do que você estudou no capítulo, escreva com suas palavras o significado das seguintes
palavras ou expressões:
a) paz
b) guerra
c) missões de paz
d) governança global
e) direito internacional
f) Tribunal Penal Internacional
g) refugiado
h) deslocado
i) apátrida
j) repatriação
k) cooperação humanitária
l) organização não governamental
m) ator não estatal
n) desenvolvimento sustentável

2. Escreva um texto que explique o que significa a seguinte afirmação: “Cada vez mais ganha força
no mundo atual a ideia de governança. O termo, que não deve ser confundido com ‘governo’ tal
como o conhecemos, refere-se a novas formas de regulação coletiva de diversas demandas sociais,
políticas e econômicas”.

292 Geografia
3. Desafio National Geographic Brasil (2011)

Médicos Sem Fronteiras (MSF) é uma organização médico-humanitária


internacional, independente e comprometida em levar ajuda às pessoas. São cerca de
22 mil profissionais (médicos, enfermeiras, psicólogos etc.), espalhados por 65 países
e atuando em situações de desastres naturais, fome, conflitos, epidemias e combate a
doenças negligenciadas. Há mais de 100 brasileiros atuando na MSF.
Fontes: National Geographic Brasil, ed. 138, set. 2011, p. 21; Médicos Sem Fronteiras: <www.msf.org.br>.

Atuação da MSF no mundo

Ilustração digital: Sonia Vaz


N
0 2380 9760 km
O L

Atuação de brasileiros da MSF

N
0 2310 4620 km
O L

Fonte: <www.msf.org.br/brasileiros-no-mundo>, <www.msf.org.br/msf-no-mundo>. Acesso em: 20 dez. 2012.

9º ano 293
Sobre a MSF, considere as afirmações a seguir:
I – A MSF conta com a participação de profissionais de diferentes países. Entre eles estão os
brasileiros, com atuação em vários países africanos.
II – O trabalho de assistência social e ajuda humanitária no mundo está a cargo da ONU,
ficando vedada a participação de organizações da sociedade civil nesses setores.
III – A MSF atua em dezenas de países, como os da Ásia e da África, dedicando especial
atenção às populações mais necessitadas ou afetadas por conflitos, fome, doenças e
catástrofes naturais.
Está correto o que foi afirmado em:
a) I, II e III. b) III, apenas. c) I e III. d) I, apenas.
4. Desafio National Geographic Brasil (2011)

Os mares do mundo foram invadidos por uma praga quase invisível, o lixo
plástico, em boa parte arrastado das cidades pelo curso dos rios. Os resíduos não
chegam a formar ilhas flutuantes, mas uma fina camada de fragmentos está presente
em todo o percurso da expedição – 3,5 mil quilômetros entre o Rio de Janeiro e a ilha
de Ascensão. [...]
Enquanto viaja, o plástico entra em contato com os poluentes orgânicos
persistentes (POPs), uma categoria de contaminantes de longa duração no ambiente.
[...] “Um fragmento de plástico circulando há alguns anos no mar chega a ter uma
concentração de POPs 1 milhão de vezes maior que a água a seu redor”, diz o cientista
americano Marcus Eriksen.
Isso acontece porque esse lixo e os poluentes têm a mesma origem – o
petróleo – e possuem afinidade química. Assim, os organoclorados dispersos na água
aderem ao plástico “viajante”. Pobre do animal que engolir a mistura indigesta: não
conseguirá metabolizar o plástico e sofrerá os efeitos da contaminação.
[...] “A grande maioria dos resíduos sai de cidades e lixões em terra. São despejados
diretamente nos rios ou carregados pelas enxurradas até terminar no mar”, conta Eriksen.
National Geographic Brasil, ed. 133, abr. 2011, p. 19.

Sobre a grande presença de lixo plástico no mar, é correto afirmar que:


a) Os resíduos do lixo urbano provocam desequilíbrios nos ecossistemas marinhos.
b) A presença dos POPs reduz efeitos danosos dos plásticos nas águas oceânicas.
c) Os oceanos empurram o lixo para os rios, onde se concentram em maior quantidade.
d) A contaminação dos oceanos será eliminada com o fim dos lixões urbanos.

5. Comente o texto a seguir, considerando a importância das iniciativas de erradicação da pobreza


e da exclusão social:
Não é preciso muito dinheiro para transformar a vida de uma pessoa ou
comunidade. Essa é a ideia do microcrédito, termo criado nos anos 1970 por Muhammad
Yunus, fundador do Grameen Bank, de Bangladesh. Ele designa o crédito concedido a
pessoas de baixa renda sem acesso a formas tradicionais de financiamento. A ideia em
si é antiga. Mas com Yunus ela ganhou corpo e passou a mudar a realidade de milhões
de pessoas. Em 1976, ele começou a fazer pequenos empréstimos para produtores

294 Geografia
rurais, no início, tirando o dinheiro do próprio bolso. Assim, surgiu o Grameen Bank.
Nele, a taxa de pagamento dos empréstimos beira os 99%.
O Brasil também participa desse jogo, com instituições governamentais e
privadas. “O microcrédito é diferente do microempréstimo. O dinheiro não vai para o
consumo, mas para investimentos em negócios, no sonho das pessoas”, diz Jerônimo
Ramos, do setor de microcrédito de um banco privado. Um estudo feito com 175
empreendedores de Heliópolis (favela em São Paulo) mostrou que as vendas de quem
recebeu o microcrédito cresceram em até 60%.
CALLEGARI, Jeanne. O poder do microcrédito. Vida Simples, mar. 2011. Disponível em:<http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/
microcredito-banco-comunitario-financiamento-baixa-renda-vidasimples-623607.shtml>. Acesso em: 4 out. 2012. (Texto adaptado.)

6. Com base nos estudos feitos neste capítulo, analise o texto a seguir, que examina perspectivas
futuras para a humanidade.
Por uma outra globalização
Agora que estamos descobrindo o sentido de nossa presença no planeta, pode-
-se dizer que uma história verdadeiramente humana está, finalmente, começando.
A mesma materialidade, atualmente utilizada para construir um mundo confuso e
perverso, pode vir a ser uma condição da construção de um mundo mais humano.
Basta que se completem as duas grandes mutações ora em gestação: a mutação
tecnológica e a mutação filosófica da espécie humana.
A grande mutação tecnológica é dada com a emergência das técnicas da
informação, as quais – ao contrário das técnicas das máquinas – são constitucionalmente
divisíveis, flexíveis e dóceis, adaptáveis a todos os meios e culturas, ainda que seu uso
perverso atual seja subordinado aos interesses dos grandes capitais. Mas, quando sua
utilização for democratizada, essas técnicas estarão ao serviço do homem.
Muito falamos hoje nos progressos e nas promessas da engenharia genética,
que conduziriam a uma mutação do homem biológico. [...] Pouco, no entanto, se fala
das condições, também hoje presentes, que podem assegurar uma mutação filosófica
do homem, capaz de atribuir um novo sentido à existência de cada pessoa e, também,
do planeta.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 174.

9º ano 295
PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS
Atlas Atlas da mundialização
Atlas com cartografia inovadora com temas relevantes do Brasil e do mundo. Consultar ca-
pítulos sobre firmas e atores globais.
DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009.

Atlas dos conflitos mundiais


Traz textos, mapas e gráficos sobre conflitos no mundo e a situação política e econômica dos
países, entre outros. Consultar capítulos sobre conflitos regionais e unidades finais sobre
tratados e operações de paz.
SMITH, Dan. Atlas dos conflitos mundiais. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.

Atlas do mundo global


Com cartografia criativa e inovadora, trata de temas de interesse da geopolítica do mundo
atual. Apresenta visões de mundo na ótica de diferentes países.
BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Hubert. Atlas do mundo global. São Paulo: Estação Liberdade, 2009.

Atlas geográfico escolar


Traz mapas do Brasil e do mundo sobre diversos temas.
IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de janeiro: IBGE, 2009.

Geoatlas
Atlas com mapas, gráficos e figuras sobre temas de interesse para a geografia no Brasil e no mundo.
SIMIELLI, Maria E. Geoatlas. São Paulo: Ática, 2010.

Sites Documentos preparatórios para a rio+20


Apresenta textos de referência e balanços para a realização da Conferência Mundial sobre Desen-
volvimento Sustentável, realizada em junho de 2012 no Rio de Janeiro.
ONU. Documentos preparatórios para a rio+20. Disponível em: <www.onu.org.br/rio20/documentos>. Acesso em: 5 out. 2012.

Fórum social mundial


Portal da congregação de entidades que desenvolve lutas sociais e promove encontros anuais
sobre questões como combate à pobreza, democracia, direitos sociais e muitos outros.
Fórum Social Mundial. Disponível em: <www.forumsocialmundial.org.br>. Acesso em: 5 out. 2012.

Fundo das nações unidas para a agricultura e a alimentação


O portal da agência da ONU traz notícias, relatórios, programas e publicações sobre garantia da
segurança alimentar no mundo.
Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO-ONU). Disponível em: <www.onu.org.br/onu-no-brasil/fao>. Acesso em: 5 out. 2012.

Objetivos de desenvolvimento do milênio


Apresenta em detalhes os oito principais objetivos do milênio, com a finalidade de oferecer cri-
térios e ferramentas para a melhoria das condições sociais no mundo.
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Disponível em: <www.odmbrasil.org.br>. Acesso em: 5 out. 2012.

Filme Quem se importa


Documentário da cineasta brasileira sobre empreendedores sociais de diferentes partes do mundo.
Depoimentos e imagens mostram a importância das iniciativas sociais de organizações, indivíduos
e comunidades para a melhoria das condições de vida no mundo e no Brasil.
Direção: Mara Mourão. Brasil, 2010. 91 min.

296 Geografia
Bibliografia

GEOGRAFIA

AGNEW, John. Geopolítica. In: LÉVY, Jacques; LUSSAULT, Michel (Org.).


Dictionnaire de La Géographie et de l’Espace des Sociétés Tradução Jaime T. Oliva.
Paris: Belin, 2003. p. 409.

BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Hubert. Atlas do mundo global. São Paulo: Esta-
ção Liberdade, 2009.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Proposta


curricular para a educação de jovens e adultos: segundo segmento do ensino fun-
damental: 5a a 8a séries. Brasília: MEC/SEF, 2002.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacio-


nais. Geografia. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 8ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
(A era da informação: economia, sociedade e cultura).

COGGIOLA, Osvaldo. A longa caminhada árabe. História Viva. ano VIII, n. 91,
pp. 46-49.

DIAS, Leila C. Redes: emergência e organização. In: CORRÊA, Roberto Lobato


et al (Org.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p.
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298 Geografia
UNIDADE 6

Ciências
Capítulo 1
CIÊNCIAS Os materiais e a Química

RODA DE CONVERSA
A diversidade de materiais é uma característica forte da atualidade. Há milhares de materiais
em uso e novos materiais não param de ser pesquisados e desenvolvidos. Para iniciar seus estu-
dos, converse com seus colegas sobre as questões a seguir, levantando hipóteses de resposta.

1. Você sabe de que materiais são feitos os objetos que usa em seu cotidiano? Quais as principais
matérias-primas em uso?
2. Como os materiais se transformam? Você tem ideia de como o conhecimento químico auxilia
nesse processo?
3. Você já ouviu falar dos alquimistas, que estudavam materiais e substâncias nos tempos antigos,
antes do surgimento da Química moderna?
4. Quais características da Química moderna a tornam diferente da alquimia? Quais as assemelham?

Victoria Albert Museum, Londres.

William Fettes Douglas. O Alquimista, 1853.


Óleo sobre tela. Victoria Albert Museum, Londres.
O quadro mostra dois alquimistas em um
laboratório. A palavra laboratório vem do latim –
laboratorium – e significa “lugar de trabalho”.

9º ano 301
MATERIAIS BRUTOS OU TRANSFORMADOS
Rochas e minerais, madeira, lã, couro e algodão são exemplos de materiais
usados durante séculos pela humanidade. São retirados do ambiente e tratados
de diferentes modos para se tornarem úteis na fabricação de objetos. Muito antes
do surgimento da ciência química, foram criados os procedimentos para tratar
matérias-primas importantes até hoje.
A argila, por exemplo, é um material importante para moldar tijolos, potes e
panelas. O processo básico da preparação desses objetos começa com a coleta da
argila em barrancos ou proximidades de rio, onde se acumula, já que resulta da
fragmentação de certas rochas. Há milhões de anos descobriu-se como produzir
potes de barro cozido (cerâmica), um material de grande utilidade, pois é imper-
meável e bom condutor de calor.
João Prudente/Pulsar Imagens

Gerson Gerloff/Pulsar Imagens


Rubens Chaves/Folhapress

A argila úmida é usada para modelar os tijolos Os tijolos vão ao sol para secar. Finalmente, os tijolos são cozidos no forno.
em fôrmas.

Observando as construções das casas no passado e na atualidade, encontra-


mos diversos materiais em uso. Muitas rochas são utilizadas nas diversas etapas
da construção, desde a fundação até o acabamento. Em alguns casos, as rochas
são retiradas de pedreiras, cortadas em pedriscos ou mesmo grandes blocos, sen-
do apenas o tamanho alterado. Nesse caso, dizemos que pedras e areia são usados
em estado bruto.
Os metais também são velhos conhecidos da humanidade e passam por um
longo percurso desde a mineração até a moldagem de objetos metálicos. Por suas

302 Ciências
propriedades de maleabilidade (facilidade para modelagem e capacidade de for-
mar lâminas), tenacidade (resistência à quebra por impacto) e ductilidade (faci-
lidade para formar fios), servem para produzir incontáveis objetos. Nas constru-
ções modernas, o cobre é usado em fios condutores elétricos e em tubulações para
gás e água quente; o ferro é empregado em vigas que sustentam as construções,
em grades e portões; o alumínio é empregado em portas, janelas, portões. No
passado recente (até a década de 1960 do século passado) praticamente todos os
encanamentos de água fria e quente eram feitos de ferro e os de esgoto eram de
chumbo (metal tóxico para os seres vivos) ligados a manilhas de cerâmica que
desembocavam em fossas ou em redes coletoras. Atualmente, com exceção dos
encanamentos de cobre para água quente e gás, praticamente todos os demais
foram substituídos por plástico (PVC).
O cimento é outro material extremamente importante nas construções, pois
realiza a fixação de pedras e tijolos. Quando se mistura o cimento com água, ocor-
re geração de calor. O aquecimento mostra que houve uma reação química com
liberação de energia. A mistura, adicionada à areia lavada, forma o agregado usa-
do nas construções. Depois de seca, a mistura se torna dura, com boa tenacidade
e impermeável (não permite que a água a atravesse).

Ilustração digital: Luiz Moura


e
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Depó de argila
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Britador calc sito d o
Depóer e gess
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clínq
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Silos Moi tivo
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Distr ibuiçã ci
e n to
de cim
Silos

Para fabricar cimento é necessário levar a fornos especiais certas argilas (ricas no elemento químico silício) e o
calcário (composto pelos elementos químicos cálcio, carbono e oxigênio). O produto do cozimento é chamado
clínquer. Na etapa seguinte, o clínquer moído é misturado ao gesso (composto por enxofre, oxigênio e cálcio).
O resultado é o pó de cimento, um material que contém silício, oxigênio, cálcio e enxofre.
Elaborado pelas autoras, 2012. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Por fim, o vidro é outro tipo de material necessário nas construções, por suas
propriedades de transparência e impermeabilidade. Ele é produzido pelo aque-
cimento de areia (constituída principalmente por sílica, que é composta dos ele-
mentos químicos silício e oxigênio) misturada com carbonato de sódio (compos-
to dos elementos sódio, carbono e oxigênio), também conhecido como barrilha.
Outros componentes também são adicionados à mistura, com a finalidade de ob-
ter os diferentes tipos de vidros que conhecemos.

9º ano 303
Diz a lenda que, há 4 mil anos, mercadores fenícios colocaram pedaços de na-
trão para ajeitar uma fogueira feita na areia. O natrão, também chamado trona ou
natro, composto por carbonato de sódio natural, era usado para tingir tecidos e es-
tava sendo transportado pela caravana. A fogueira durou toda a noite e, de manhã,
para surpresa de todos, apareceram pedaços de vidro transparente. O vidro passou
a ser empregado, inicialmente, para fazer enfeites e depois para produzir utensílios.

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. Dê exemplos de materiais que continuam sendo usados desde muito tempo até hoje.
2. Usamos panelas feitas de metais (ferro, alumínio, aço) e de argila. Quais são as propriedades co-
muns e quais as diferentes entre esses materiais?
3. Cite exemplos de materiais usados em estado bruto, descrevendo para que eles servem.
4. Sobre o cimento, explique:
a) Quais as matérias-primas utilizadas na primeira etapa de sua produção? E na segunda?
b) Como é o procedimento da primeira etapa? E o da segunda?
5. Complete o quadro com os materiais citados no texto.

Propriedade Materiais

Tenacidade

Ductilidade

Maleabilidade

Impermeabilidade

Transparência

Condução de calor

6. Veja os símbolos dos elementos químicos citados no texto.

Silício: Si
Oxigênio: O
Cálcio: Ca
Sódio: Na
Enxofre: S

Em quais dos materiais citados no texto eles estão presentes? Complete o quadro utilizando
os símbolos.

304 Ciências
Nome do material Elementos químicos presentes

Vidro Si, O, Ca

7. Observe o esquema simplificado da transformação que origina o cimento:

argila + calcário clínquer + gesso pó de cimento


calor

Agora, esquematize a transformação que origina o vidro.


8. Identifique fenômenos físicos ou fenômenos químicos,
respectivamente, com as letras F e Q. Para responder à As transformações dos materiais podem
ser classificadas em dois grandes grupos:
questão, consulte o quadro ao lado. • Fenômenos físicos: os materiais mudam
( ) Produção do cimento: etapa de produção do a forma ou o estado físico, mas não mu-
dam sua identidade química. O gelo, por
clínquer. exemplo, é água congelada e, apesar de
( ) Produção do cimento: etapa da mistura de clín- ter outra forma e outro estado físico, con-
quer com gesso. tinua tendo a identidade química da água.
• Fenômenos químicos: os materiais que
( ) Explosão de pedreira para obtenção de pedriscos. participam da transformação assumem
( ) Coleta de barro de barrancos para obtenção de outra identidade química. Isso significa
argila. que o fenômeno inclui reações quími-
cas. O leite natural, por exemplo, tem
( ) Separação do barro de impurezas para obten- sabor adocicado, mas o iogurte, sabor
ção de argila. azedo. Isso indica que novas substân-
( ) Queima de tijolos ou potes de cerâmica. cias se formaram na transformação do
leite em iogurte.
( ) Modelagem de fios de cobre.

PESQUISAR

FÁBRICAS E OFICINAS NA COMUNIDADE

Em grupo, localize em sua cidade uma olaria, uma oficina de cerâmica, de cestaria, de produ-
ção de artefatos de couro ou de outro tipo de artesanato. Investigue os conhecimentos tradicionais
para a produção artesanal.
Entreviste os artesãos e descubra:
• quais são os materiais com que trabalham, como eles são obtidos e transformados;
• quais são os objetos produzidos e a sua utilidade;
• quais são os procedimentos e as técnicas do trabalho;
• quais são as máquinas utilizadas;
• quais são os fenômenos físicos e as transformações químicas envolvidos na preparação do produto.
Antes de fazer as entrevistas, registre as perguntas elaboradas por seu grupo. Anote ou grave
suas descobertas. Complete o registro com fotos.

9º ano 305
DEBATER

MISTURAS E SEPARAÇÕES DE MISTURAS

1. Apesar de não parecerem, o ar e a água do mar são misturas. Você sabe explicar o porquê desse
fato? Converse com seus colegas e levante hipóteses.
2. Complete a segunda coluna da tabela a seguir com as expressões do quadro. Em seguida, preen-
cha a terceira coluna, com base em seus conhecimentos.

• mistura de sólidos;
• mistura de líquidos;
• mistura de líquidos e sólidos;
• mistura de líquido e gás.

Materiais Tipo de mistura Materiais presentes

Refeição de arroz e feijão

Areia da praia

Refrigerante

Café coado

Café com leite

Água do mar

3. Observe a foto de uma salina, local de produção de sal de cozinha.

Philippe Saharoff/Opção Brasil Imagens

Pessoa trabalhando em salina, 2008.

306 Ciências
Em uma salina, a água do mar é represada em tanques rasos, onde facilmente evapora. O sal
depositado no fundo é coletado e passa por processos para que sejam retiradas impurezas. Após a
purificação, é adicionado o iodato de potássio, que contém o elemento químico iodo. Por isso, há
nos pacotes de sal a inscrição “sal iodado”. Essa adição é obrigatória por lei para prevenir doenças
da glândula tireoidea causadas por carência crônica de iodo.
a) Qual fonte de energia é necessária para a separação entre sal marinho e água líquida?
b) Qual o formato do tanque de água salgada? Esse formato é importante no processo e em seu
resultado?
c) Crie um experimento para simular a obtenção do sal a partir da água salgada. Liste os mate-
riais necessários e anote os passos a serem realizados.

EXPERIMENTAR

TRANSFORMAÇÕES OU REAÇÕES QUÍMICAS

EXPERIMENTO 1

Materiais
• uma colher de sopa de vinagre
• um copo limpo e seco
• uma colher de chá de bicarbonato de sódio

Procedimento
Coloque o vinagre em um copo limpo e seco. Em seguida, acrescente o bi-
carbonato de sódio.

1. Agora, responda:
a) O que aconteceu?

b) Leia e explique a seguinte sentença, distinguindo os reagentes dos produtos:


bicarbonato de sódio + ácido acético (vinagre) → acetato de sódio (um sal) + água + gás car-
bônico

9º ano 307
EXPERIMENTO 2

Materiais
• 1 colher de sopa de cal virgem (usado em pintura de parede)
• 2 litros de água em uma garrafa pet
• uma jarra
• um canudo para cada aluno
• um copo para cada aluno

Procedimento
Prepare a água de cal misturando a cal virgem com a água. Deixe a mistura
descansar por um dia dentro de um armário ou outro lugar escuro. Colete
na jarra o líquido transparente que se separou do resíduo branco no fundo.
Esse líquido transparente é a água de cal.
Encha meio copo com a água de cal. Com ajuda do canudo, sopre no líqui-
do durante um minuto, devagar para que ele não espirre para fora do copo.
Proteja os olhos com óculos de segurança.

2. Agora, responda:
a) O que acontece após soprar?

b) Por que podemos dizer que houve uma transformação química?

MISTURAS, SUBSTÂNCIAS E ÁTOMOS


A palavra átomo se tornou popular nos dias de hoje. É difundida a ideia de
que a matéria é feita de átomos. Mas a história do conhecimento do átomo é bem
longa. Foi custoso descobrir como são essas pequeníssimas partes invisíveis da
matéria, ainda hoje objeto de investigação. Por outro lado, as substâncias e as
misturas podem ser conhecidas a olho nu e por experiência direta.
A maioria dos materiais presentes nos ambientes são misturas: os solos, o ar
atmosférico, a água do rio e do mar, as rochas etc. Por exemplo, a água do mar
reúne água, areia e vários sais, principalmente o cloreto de sódio – mais conheci-

308 Ciências
do como sal de cozinha. A água é a substância mais comum da superfície da Terra
e compõe o corpo dos seres vivos; ela tem fórmula química e propriedades defi-
nidas. Sua fórmula é H2O, isso quer dizer que cada molécula de água é formada
por dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio. O cloreto de sódio tem
a fórmula NaCl, sendo Na o símbolo químico do elemento sódio, pois seu nome
latino é natrium. Ou seja, para formar o cloreto de sódio basta um átomo de só-
dio e um de cloro, conforme mostra a sua fórmula. Para representá-la, como o sal
forma cristais, são utilizados vários átomos de cloro e de sódio.

Ilustração digital: Luiz Moura


Molécula de água

Molécula de cloreto de sódio


Cl

Na

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Por sua vez, o ar atmosférico também é uma mistura de gases. A maior porção
corresponde ao gás nitrogênio, substância cujas moléculas possuem dois átomos
do elemento nitrogênio, com fórmula N2. Confira a composição do ar atmosféri-
co na tabela a seguir. Essa composição não considera a água que existe no ar, em
quantidades variadas, conforme o dia e o lugar no planeta.

Composição do ar atmosférico seco

Fórmula química Nome do componente % em volume

N2 Nitrogênio 78,1000

O2 Oxigênio 20,9000

Ar Argônio 0,9340

CO2 Dióxido de carbono 0,0314

Ne Neônio

He Hélio

Kr Criptônio 0,0346

H2 Hidrogênio

Xe Xenônio
Fonte: Interações e transformações III – Química – Ensino Médio. São Paulo: Edusp, 1998.

9º ano 309
Os diferentes materias vem sendo investigados há muitos séculos. As substân-
cias que os compõem eram conhecidas de forma prática, mesmo que se ignoras-
sem as suas fórmulas. Os antigos alquimistas acumularam saberes sobre substân-
cias pesquisando medicamentos, elixires curativos e todo tipo de transformação
útil para a indústria de metais, couro e tantas outras.
Para que se chegasse à Química moderna, foi muito importante a contribui-
ção do cientista francês Antoine Lavoisier (1745-1794). Suas descobertas vieram
encerrar as disputas entre cientistas europeus que tentavam explicar como ocor-
ria a queima dos materiais. Lavoisier demonstrou que essa queima depende da
união entre o material queimado e o oxigênio, presente no ar atmosférico. Desco-
briu também que a água não é um elemento único, mas uma mistura de oxigênio
e hidrogênio. E foi ele quem determinou uma lei fundamental da química, a Lei
da Conservação de Massas, que pode ser descrita assim: a soma das massas dos
reagentes é igual à soma das massas dos produtos. Veja um exemplo de aplicação
dessa lei, considerando a reação química em que hidrogênio e oxigênio se combi-
nam para formar água. Observe que a soma das massas dos reagentes é idêntica à
massa do produto da reação.

10 g de hidrogênio + 80 g de oxigênio 90 g de água

As maiores aliadas de Lavoisier foram as balanças de alta precisão, novida-


de tecnológica de sua época. Outro químico francês, Joseph Louis Proust (1784-
-1823), avançou ainda mais no estudo das reações químicas e demonstrou a lei
ponderal das reações químicas. Após muitos experimentos com medidas preci-
sas, ele concluiu que a combinação entre os reagentes da transformação química
obedece a uma proporção fixa. No exemplo anterior, temos a proporção de uma
parte de hidrogênio para oito de oxigênio.
Bibliothèque des Arts Decoratifs, Paris

Coleção particular

E. Mennechet. Antoine Laurent de Ambroise Tardieu. Joseph Lois Proust, 1795.


Lavoisier, 1835. Ilustração. Bibliothéque des Ilustração. Coleção particular.
Arts Decoratifs, Paris.

310 Ciências
SUBSTÂNCIAS SIMPLES E SUBSTÂNCIAS COMPOSTAS
Há substâncias formadas por um só tipo de elemento químico, por exemplo:
gás oxigênio (O2), gás nitrogênio (N2), gás cloro (Cl2); o diamante (carbono orga-
nizado em cristal). Nesses casos, temos substâncias simples, constituídas por um
único elemento químico.
Mas, em outras substâncias, os elementos aparecem combinados, por exemplo:
cloreto de sódio (NaCl); água (H2O); dióxido de carbono (CO2); monóxido de car-
bono (CO); hidróxido de sódio (NaOH − soda cáustica); ácido acético (C2H4O2
− vinagre); etanol (C2H6O – álcool etílico).

EVOLUÇÃO DA TEORIA ATÔMICA


A ideia de que os materiais são feitos de partes bem pequenas e invisíveis é mui-
to antiga. Há 2 mil anos certos sábios gregos pensaram que a divisão contínua da
matéria, cada vez em partes menores, e menores ainda, daria lugar a uma partícula
indivisível: o átomo. Essa é uma palavra grega criada para expressar esse conceito
pois “a” quer dizer “sem” e “tomo” significa “divisão”. Para esses sábios, o universo
seria constituído de átomos e do vazio, onde as partículas podiam circular e colidir.
A ideia do átomo indivisível foi retomada no século XIX e ajudou a compreen-
der melhor as transformações dos materiais e os elementos químicos. Depois de
Lavoisier e Proust descobrirem as leis fundamentais das transformações de subs-
tâncias, o inglês John Dalton (1766-1844) sugeriu que os diferentes elementos
possuiriam átomos com suas próprias características. Assim, o ouro seria feito por
átomos de ouro, o ferro, por átomos de ferro e assim por diante. Dalton explicou
que novos compostos se formam na reação química pela reunião dos átomos dos
elementos reagentes. Por exemplo, um fio de cobre se escurece quando aquecido
a altas temperaturas e em presença de ar. Isso acontece porque o elemento cobre
se combina com os átomos de oxigênio do ar. Essa explicação é válida até hoje.
Chemical Heritage Foundation/Science Photo Library/Latinstock

O
Cu
O
Cu O
Cu

Cu O
Átomos de
Átomos de oxigênio
cobre

O Cu
Cu O
Ilustração digital: Luis Moura

O O
Cu Cu

Moléculas de óxido de cobre


O esquema mostra a combinação do elemento cobre (Cu) com o oxigênio (O) presente no
William Henry Worthington. John Dalton, 1823.
ar, dando origem ao óxido de cobre(CuO).
Ilustração. Chemical Heritage Foundation.
Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

9º ano 311
São conhecidos atualmente 112 elementos químicos, cada um deles com qua-
lidades comuns a todos e características próprias. Em comum: os átomos dos ele-
mentos são constituídos por partículas ainda menores. As partículas que formam
o átomo foram descobertas há mais de cem anos e continuam sendo pesquisadas.
Na atualidade, sabe-se que os átomos são formados por dezenas de partículas
diferentes, sendo as três fundamentais: os elétrons, localizados na eletrosfera, os
prótons e os nêutrons, que constituem o núcleo atômico. Os elétrons são partí-
culas minúsculas com carga elétrica negativa, que se mantêm em movimento ao
redor do núcleo atômico, com carga positiva. Os prótons possuem carga elétrica
positiva, e os nêutrons não têm carga elétrica. Quando a carga positiva do átomo
é igual à carga negativa, ou seja, quando o número de prótons é igual ao número
de elétrons, o átomo está eletricamente neutro.
O átomo mais simples é também o mais antigo e mais abundante do Universo:
o hidrogênio. Seu número atômico é 1, o que significa que ele possui um próton
no seu átomo. No estado neutro, ele possui um elétron na eletrosfera. Aqui na
Terra, ele é encontrado na atmosfera na forma de gás hidrogênio com fórmula
H2 (dois átomos reunidos). Já o gás hélio tem sua fórmula idêntica ao nome do
elemento: He. Isso porque ele é constituído por um único átomo. Observe a re-
presentação do átomo de hélio, que possui dois prótons e dois nêutrons no núcleo
atômico, bem como dois elétrons girando na eletrosfera. Ao contrário do hidro-
gênio, o hélio é um elemento estável que dificilmente se combina com outros.
O mesmo acontece com os demais gases atmosféricos chamados nobres, que se
encontram na mesma coluna da Tabela Periódica.
Ilustração digital: Luis Moura

Próton

Neutron

Elétron

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

312 Ciências
A Tabela Periódica representa uma síntese do que se conhece dos elementos
químicos. Os elementos encontram-se organizados conforme seu número atômico,
que é o número de prótons de cada elemento e que o distingue dos demais.

Ilustração digital: Luis Moura


Fonte: Elaborada com base na IUPAC.

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. As substâncias químicas têm fórmulas definidas. Dê exemplos.


2. Por que as misturas não têm fórmulas?
3. Dê exemplos de uma substância simples e de outra substância composta.
4. Qual tecnologia foi essencial ao trabalho de Lavoisier? Justifique.
5. As reações químicas são comparáveis a receitas de bolo, especialmente se pensarmos na Lei de
Proust. Por quê?
6. Siga o exemplo do esquema da formação do óxido de cobre e monte outros para mostrar a for-
mação de compostos citados no texto “Evolução da teoria atômica”. Por exemplo: água, glicose,
metano (gás comum produzido na digestão dos ruminantes, na decomposição de esgoto ou lodo
e erupção de vulcões – CH4).
7. Consulte na Tabela Periódica os números atômicos do lítio e do berílio e monte desenhos esque-
máticos desses dois átomos.
8. Observe a Tabela Periódica. Como estão organizados os elementos nela?

9º ano 313
PESQUISAR II

Examine rótulos de materiais diversos, como os de limpeza e de construção. Identifique os


nomes de elementos químicos presentes.

Fernando Favoretto/Criar Imagem


Rótulo de água mineral.

DEBATER II

Observe as fotos das embalagens e dos objetos.


Ciete Silvério/Folhapress
Boarding1now/Dreamstime.com

Fernando Favoretto/Criar Imagem


Fernando Favoretto/Criar Imagem

Antes do advento do plástico, o vidro e o metal eram mais utilizados na produção de embalagens e outros objetos do nosso cotidiano.

314 Ciências
1. Procure em seu cotidiano outros exemplos de objetos que podem ser feitos de diversos materiais,
mas hoje são principalmente feitos de plástico.
2. Por que os plásticos são tão importantes hoje em dia? Quais são suas propriedades? O que os
torna úteis e quais suas desvantagens em relação aos materiais tradicionais? Converse com seus
colegas sobre essas questões.

PETRÓLEO ONTEM E HOJE


Conforme a teoria mais aceita, a formação do petróleo depende de condições
especiais existentes em alguns lugares da Terra, como fundos de cavernas, mares e
rios. Nesses lugares há pouco ou nenhum oxigênio, dificultando a decomposição dos
organismos que morreram no local ou que foram para lá transportados. Acredita-
-se que o petróleo formou-se a partir do lodo do fundo dos oceanos do passado, con-
tendo restos de seres vivos. Esse lodo foi sendo filtrado pelas rochas porosas do fundo
dos mares até se transformar no líquido escuro, grosso e viscoso que conhecemos.
Por sua vez, o carvão mineral é um material sólido fóssil, formado pelo so-
terramento de vegetais terrestres há milhares de anos. Assim, carvão mineral e
petróleo são chamados combustíveis fósseis e, portanto, recursos naturais não
renováveis, pois sua formação demora na ordem de milhares ou milhões de anos.
O petróleo foi bem conhecido no mundo antigo, quando as fontes brotavam
do chão. No Egito antigo, ele servia para iluminação noturna, para construção das
pirâmides, para impermeabilizar esgotos e cisternas de água e estava entre os ele-
mentos usados na mumificação. A palavra múmia contém “mum”, que na língua
egípcia quer dizer betume, um material da mesma família do petróleo.
Paul Rapson/Science Photo Library/Latinstock
Ismar Ingber/Pulsar Imagens

Vista aérea de plataforma de petróleo na Baía de Guanabara, Amostra de petróleo bruto extraído das plataformas.
no Rio de Janeiro (RJ), em 2012.

9º ano 315
Muitas das antigas fontes de petróleo já se encontram esgotadas. Hoje em dia, o
petróleo é retirado por meio de poços profundos, pois encontrá-lo se tornou mui-
to mais difícil do que antigamente. O Brasil, por exemplo, desenvolve tecnologias
para retirar o petróleo milhares de metros abaixo do piso do oceano, em uma
região chamada de pré-sal. Para chegar até as reservas, é preciso ultrapassar uma
camada grossa de sal.
Depois de extraído, o petróleo segue para refinarias, onde passa por um pro-
cesso de destilação fracionada. Por meio do aquecimento, seguido de resfriamen-
to, as diversas substâncias presentes no petróleo são separadas. Isso é possível
porque algumas substâncias do petróleo mudam de estado físico apenas em de-
terminadas temperaturas, podendo ser coletadas separadamente.

Ilustração digital: Luis Moura


C1 a C4 Gás liquefeito
de petróleo
20 °C

C5 a C9
Produtos
químicos
Densidade e ponto de 70 °C
ebulição diminuindo C5 a C10 Gasolina para veículo

120 °C

C10 a C16 Combustível para jato,


parafina para iluminação e
aquecimento
170 °C

C14 a C20 Diesel

270 °C

Petróleo cru C20 a C60


Óleos lubrificantes, ceras, graxas

Combustíveis para
C20 a C70 navios, fábricas e
aquecimento central
Densidade e ponto de 600 °C
ebulição aumentando
> C70
Betume para estradas e telhas

O esquema mostra a destilação fracionada do petróleo, com a qual se retiram seus subprodutos. O propano é a substância de fórmula C3H8, o butano, C4H10,
a gasolina é uma mistura de substâncias que contém, igualmente, apenas hidrogênio e carbono, com fórmulas de cinco a oito carbonos, como C5H12 ou C8H18.
Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

316 Ciências
Com substâncias seperadas do petróleo são fabricados diversos produtos,
destacando-se: plásticos, tintas, cosméticos, fertilizantes, detergentes, isopor, fi-
bras para tecidos (náilon, poliéster) e acrílicos. Esses produtos modernos são ob-
tidos com a ajuda de conhecimentos científicos desenvolvidos há pouco mais de
100 anos. Assim, a geração de novos subprodutos do petróleo apoia-se no desen-
volvimento cada vez mais acelerado da ciência e da tecnologia.

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. No campo da transformação da energia e dos materiais, quais usos os egípcios faziam do petróleo?
2. Na atualidade, para encontrar petróleo, é preciso cavar poços profundos. O que aconteceu com
as fontes superficiais?
3. Do ponto de vista químico, o petróleo é uma mistura de hidrocarbonetos (substâncias formadas
apenas por carbono e hidrogênio).
a) Exemplifique as frações que podem ser obtidas a partir do petróleo.
b) Como essa mistura é separada em suas partes constituintes?
c) Esse processo é uma transformação química ou física? Justifique.
4. Na atualidade, o petróleo fornece matéria-prima para plásticos, fertilizantes e muitos outros pro-
dutos. Por que isso se tornou possível apenas há pouco mais de 100 anos?
5. O petróleo é classificado, junto com o carvão mineral, como combustível fóssil. Por quê?

QUEIMA DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS: QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS?


O uso intensivo dos combustíveis fósseis diminui suas reservas mundiais, o
que constitui uma preocupação com o esgotamento e gera a necessidade de fontes
de energia alternativas. Contudo, petróleo e carvão são as principais fontes ener-
géticas em muitos países, como os Estados Unidos e a China, onde a queima dos
combustíveis fósseis move os meios de transporte e gera energia elétrica. Já no
Brasil, o etanol da cana é um substituto importante para a gasolina, enquanto a
eletricidade normalmente é gerada em usinas hidrelétricas, pela força da queda-
-d’água, embora os derivados de petróleo sejam também amplamente utilizados.
O esgotamento dos recursos naturais não renováveis não é o único problema
relacionado ao uso de combustíveis fósseis. Sua queima lança na atmosfera fuli-
gem, monóxido de carbono (CO) e dióxido de carbono (CO2). Há algumas déca-
das cientistas começaram a relacionar o aumento da temperatura do planeta ao
aumento de CO2 na atmosfera terrestre. Diariamente, a água, o solo e os demais
materiais que cobrem a superfície terrestre recebem energia solar e se aquecem
durante o dia, perdendo calor para o espaço durante a noite. A atmosfera terrestre
gera um efeito estufa que é benéfico, pois ameniza as mudanças de temperatura

9º ano 317
naturais e mantém médias adequadas para a vida. Esse efeito é gerado pelo va-
por de água e pelos gases de modo geral, pois suas moléculas funcionam como
pequeníssimos espelhos, que refletem o calor de volta para a superfície terrestre.
Desse modo, a atmosfera devolve para a superfície o calor que dela se dissipara,
funcionando como uma estufa. Entre os gases atmosféricos, o dióxido de carbono
tem grande influência no efeito estufa. Maior influência tem o gás metano, o CH4,
que retém ainda mais calor na Terra.
Além da queima de combustíveis fósseis, há outras fontes de emissão de
CO2, como as queimadas. No Brasil, elas são usadas tradicionalmente para a
produção de pastos em áreas desflorestadas, ou depois da coleta de safra. Em
nosso país, o desflorestamento contribui para o aumento do CO2 na atmosfera
e, por isso, deve haver constante vigilância nesse aspecto. O metano, por sua
vez, pode ser gerado naturalmente em vulcões, na decomposição de lixo ou
madeira em área alagada, bem como pelo gado bovino durante a digestão do
alimento.

LER IMAGEM
Ilustração digital: Luciano Tasso

Atmosfera
Calor que escapa
Sol para o espaço

Calor refletido
para a Terra

Radiação solar
recebida

Atmosfera

Radiação solar
emitida sob forma
de calor

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

1. Identifique na imagem o efeito estufa que ocorre na atmosfera. Sem esse efeito, benéfico para o
planeta, a Terra seria parecida com a Lua, que tem noites muito frias e dias quentíssimos.
2. Como a intensificação do efeito estufa, provocada pelo acúmulo do CO2 na atmosfera terrestre,
poderia ser sinalizada no esquema?

318 Ciências
CONHECER MAIS

Aquecimento global e mudança climática

Em escala local, é mais fácil reconhecer as mudan- co, pode perder mais de 2 mil das suas 17 mil ilhas
ças causadas pelas atividades humanas no ambiente. Já nos próximos 20 anos. No Brasil, a ilha do Marajó,
as mudanças climáticas em escala global não são nada no estado do Pará, é identificada como um lugar que
simples de serem compreendidas. Depois de quase duas facilmente perderá território com a subida do nível
décadas de estudos, relatórios e conferências, ainda há do mar. As consequências são dramáticas para toda a
discussão sobre as causas e consequências das mudan- vida no planeta. Observam-se, em diferentes regiões,
ças climáticas que ocorrem na atualidade. alterações expressivas no regime de chuvas e na loca-
Essas mudanças são mais perceptíveis nas regiões lização das secas.
geladas, nos polos e no alto das montanhas de cli- Mundialmente, estuda-se e debate-se como pode-
ma frio, onde o degelo de blocos imensos de água mos, em sociedade, diminuir as emissões de carbono,
congelada e de neve no pico de montanhas não re- por um lado, e aumentar o seu “sequestro”, por outro.
presenta apenas uma mudança nas paisagens. Si- Isto é, retirá-lo da atmosfera e armazená-lo na biosfera
multaneamente, a água proveniente desse degelo já ou na hidrosfera. O carbono segue para a biosfera na
está causando a elevação do nível do mar nas costas etapa de crescimento das plantas; assim, manter as flo-
continentais, ameaçando algumas ilhas de sumir do restas em pé e plantar árvores é um remédio importante
mapa. A Indonésia, país na região do oceano Pacífi- contra as mudanças climáticas.

APLICAR CONHECIMENTOS IV

1. Nos materiais da lista a seguir, escreva B se um material bruto está sendo empregado ou Q se o
material foi transformado quimicamente para ser usado.
( ) Petróleo usado pelos egípcios para impermeabilizar cisternas.
( ) O caldo de cana é ambiente rico para o crescimento de população de fungos que fazem
sua fermentação. Como resultado, há a produção de álcool etílico, ou etanol.
( ) Pó vulcânico misturado com água servia como cimento para romanos na Antiguidade.
( ) Pedaços de rocha polida ornamentam o piso de casas.
( ) Cerâmicas e azulejos servem de cobertura de pisos e paredes.
2. É fácil confundir ouro com pirita, um mineral também dourado, mas com comportamento dife-
rente do ouro quando amassado entre duas superfícies metálicas ou sob uma martelada. Apenas
o ouro é amassado, enquanto a pirita se quebra. Isso porque apenas o ouro é um metal com a
propriedade:
a) maleabilidade.
b) brilho.
c) tenacidade.
d) condutividade térmica.
3. A destilação em alambiques ou destilarias permite separar o etanol do caldo de cana fermentado.
a) Por que a destilação do álcool é mais fácil de fazer que a destilação do petróleo?
b) A destilação é um fenômeno físico ou químico? Explique.
4. Examine a transformação química que ocorre na fotossíntese, processo que permite às plantas

9º ano 319
produzir seu próprio alimento, a glicose (cuja fórmula química é C6H12O6):

gás carbônico + água glicose + oxigênio + água


luz, clorofila

a) Explique de onde vem e para onde vai o carbono, considerando a atmosfera e a biosfera.
b) Por que essa transformação é importante para diminuir a intensificação do efeito estufa?
5. Escreva a fórmula química do gás metano e as semelhanças e diferenças entre esse gás e o dióxido
de carbono.
6. O degelo atinge os polos e as zonas próximas, especialmente o bioma chamado tundra (a terra das
renas), com vastas áreas cobertas por liquens que habitam o solo gelado. Já se sabe que o degelo da
tundra causa forte emissão de gás metano. O que isso significa para o planeta?

Plunne/Dreamstime

Vegetação de tundra em
Esvalbarda (território noruegues
no Ártico), 2012.

7. Quais os maiores e os menores átomos que se conhece?

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livro Química no dia a dia


Ciência Hoje na Escola. v. 12. Química no dia a dia. São Paulo: Global, 2003.

320 Ciências
Capítulo 2
CIÊNCIAS A energia em transformação

A energia é uma das bases da existência do Universo e da Terra. Em nosso co-


tidiano, gastamos dinheiro para utilizá-la nos vários aparelhos e máquinas
que fazem sua transformação e nos prestam serviços. É mais fácil percebê-la do
que defini-la. Podemos estudá-la em processos que ocorrem em objetos e corpos
muito grandes, até nos infinitamente pequenos, que formam os átomos. Quando
um processo tecnológico ou fenômeno da natureza acontece, transformações da
energia estão ocorrendo.

RODA DE CONVERSA

Com seus colegas, observem as fotos de diferentes meios de transporte e respondam às ques-
tões a seguir, com base no que já sabem ou criando hipóteses. Depois, confiram as legendas e
busquem mais conhecimentos sobre os conceitos de ciência e tecnologia.

1. Vocês reconhecem as máquinas de todas as fotos a seguir?


2. De onde vem a energia que move cada máquina? Procure responder antes de ler as legendas.
3. Quais são as tecnologias mais avançadas retratadas pelas fotos? Por quê?
4. Para você, o que é tecnologia?
Edson Grandisoli/Pulsar Imagens
Delfim Martins/Pulsar Imagens
Brett Critchley/Dreamstime.com

Neste caso, vemos um carro puxado por O trem conhecido pelo nome maria-fumaça é movido O metrô é um meio de transporte de
bois. A energia que move esse veículo vem pelo vapor de água sob pressão. O vapor é produzido em massa, utilizado em grandes cidades.
dos bois, que, por sua vez, a obtiveram por caldeiras, aquecidas com uso de lenha ou carvão. A eletricidade é sua fonte de energia.
meio da sua alimentação.

9º ano 321
RECURSOS NATURAIS E TECNOLOGIA
Muitas pessoas acreditam que a tecnologia seja algo relacionado apenas à
informática e que surgiu a partir da criação dos computadores, da internet, dos
jogos eletrônicos, dos celulares etc. Entretanto, a tecnologia é tão antiga quan-
to a humanidade, sendo o domínio do fogo considerado o marco inicial dessa
longa história.
Por meio dos aparelhos e dispositivos tecnológicos desenvolvidos em cada
época, a humanidade tem sido capaz de transformar os ambientes, obter materiais
das mais diversas origens e utilizar os tipos de energia de modo apropriado em
cada situação. Não se sabe ao certo quando ocorreu o domínio do fogo, mas tal
fato contribuiu para a ocupação do continente europeu, há cerca de 300 mil anos,
pelo Homo sapiens. Esses humanos primitivos provavelmente usavam o fogo para
se aquecer e afugentar os animais que rondavam seus acampamentos durante a
noite. Além disso, o fogo permitiu cozinhar os alimentos, ampliando as opções de
preparação e consumo, tornando-os mais macios e mais fáceis de serem comidos.
Assim, a tecnologia teve papel fundamental na melhoria da qualidade de vida das
populações desde o início da história da humanidade.

Ilustração digital: Luis Moura

O domínio do fogo modificou os hábitos do homem primitivo, permitindo que ele se aquecesse, cozinhasse os
alimentos e afugentasse os outros animais.

Com o passar do tempo, o ser humano inventou muitos meios para obter luz
e calor, duas formas de energia. A lenha, as gorduras de animais e o esterco seco
foram e ainda são fontes de fácil acesso e muito usadas para essas finalidades.
É certo que a humanidade dependeu, durante a maior parte de sua existência,
de materiais e energia obtidos a partir de animais, vegetais, minerais, água, vento,
fogo ou diretamente do sol. Mas tudo mudou com as primeiras máquinas movi-
das a vapor, no início do século XVII, criadas na Inglaterra para elevar e retirar a

322 Ciências
água acumulada nas regiões mais profundas das minas de carvão. Pouco tempo
depois a máquina a vapor passou a ser usada para puxar o minério em carrinhos
sobre trilhos, dando início ao que foi chamado de Primeira Revolução Industrial.
Durante o século XVIII, a máquina a vapor foi a principal impulsionadora de um
rápido crescimento tecnológico e econômico na Inglaterra. A Primeira Revolu-
ção Industrial foi palco da substituição da ferramenta manual e das máquinas
movidas a energia obtida diretamente da natureza pelas máquinas a vapor.

GL Archive/Alamy/Other Images

O navio Titanic, movido a vapor,


representa o apogeu da Primeira
Revolução Industrial.

Enquanto a energia térmica do vapor dominava a indústria, diversos cientis-


tas acumulavam conhecimentos que permitiram, depois de muita pesquisa e in-
venção, utilizar a energia elétrica. Foi somente na virada do século XIX para o XX
que começou a substituição das máquinas térmicas por suas similares elétricas.
Inicialmente, a energia elétrica foi utilizada nas fábricas de tecidos, depois para
mover os bondes, e só posteriormente para a iluminação pública. Dentro de casa,
a luz e o calor provenientes do uso do carvão vegetal ou mineral começaram a ser
substituídos pela eletricidade. Ao longo do século XX, a energia elétrica passou a
ser produzida em todo o mundo, consolidando a Segunda Revolução Industrial.
Foi nesse período que o petróleo começou a ser utilizado em grande escala, como
nunca antes havia sido.
Assim, ao longo da história, diferentes fontes de energia foram usadas para
mover máquinas e transformar energia. Na maioria dos casos, a energia mecânica
empregada em ferramentas ou máquinas vem dos animais ou do nosso próprio
corpo; por exemplo, ao usar um abridor de latas, um macaco hidráulico ou uma

9º ano 323
chave de fenda. Também usamos frequentemente as formas de energia direta-
mente disponíveis na natureza, como a energia dos ventos e do movimento das
águas e o calor do sol. Contudo, com o emprego da energia térmica do vapor, a
humanidade teve máquinas que proporcionaram certa autonomia em relação ao
trabalho humano e dos animais e mais liberdade quanto à presença de sol e vento.
Toda a energia de que precisamos para viver e construir nossa sociedade pro-
vém da natureza. Entretanto, quando aprendemos a usar a energia térmica em
máquinas para realizar tarefas que antes eram realizadas pelo esforço físico hu-
mano ou animal, conseguimos acelerar o desenvolvimento de nossas sociedades.
Com o domínio da energia elétrica, que atualmente está quase sempre disponível
nas tomadas ou por meio de pilhas e baterias, o desenvolvimento industrial se
acentuou ainda mais. Com a eletricidade foi possível produzir a infinidade de
aparelhos de que dispomos hoje em dia, como geladeira, televisão, computador e
telefone celular.
Mas a que custo a energia está sempre a nosso dispor? Essa é uma discussão
muito importante na área ambiental. Vejamos alguns fatos. Nas construções
de hidrelétricas, por exemplo, as barragens inundam grandes áreas, provocam
perdas de seres vivos e modificam a dinâmica dos ecossistemas. O uso em lar-
ga escala do petróleo tem diversas consequências: o lixo plástico persistente é
uma delas e o aumento de poluentes atmosféricos é outra. De fato, a queima
do petróleo permite a liberação da energia química nele armazenada e produz
gases como o dióxido de carbono, considerado o grande vilão da intensificação
do efeito estufa.
Refletindo sobre a História, percebemos o quanto a tecnologia é importante
para aumentar o conforto das pessoas, melhorando a qualidade de vida. Ao mes-
mo tempo, entretanto, esse mesmo desenvolvimento tecnológico deu origem a
transformações imprevistas no ambiente, além de aprofundar o risco de esgota-
mento de recursos naturais, como a água potável. Portanto, são fundamentais os
debates e as pesquisas desenvolvidas para o uso sustentável de recursos naturais,
afinal, seus estoques são limitados. A meta da sustentabilidade é o desenvolvi-
mento humano de tal forma que o planeta e seus recursos sejam preservados para
as próximas gerações.

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. Dizemos que os materiais e as fontes de energia formam dois grandes conjuntos de recursos que
usamos da natureza. Quais fontes de materiais e energia são utilizadas pelas populações humanas,
desde os mais remotos tempos?
2. Por que dizemos que a tecnologia modifica o planeta? Justifique sua resposta com exemplos atuais
e históricos.
3. Para você, o que é tecnologia? Escreva uma explicação usando a palavra transformação.

324 Ciências
4. O texto descreve diferentes situações em que se usa a energia. Complete o quadro com base no
que foi lido e em seus conhecimentos.

Fonte Aplicação

Energia eólica

Energia mecânica

Energia térmica

Energia química

Energia luminosa

5. Complete as frases:

a) Há milhares de anos, o ser humano começou a manejar fontes de energia quando dominou o

, que fornece a ou energia e


o ou .

b) Na Primeira Revolução Industrial, com ajuda do vapor, pela primeira vez podia-se aproveitar

a dos combustíveis para mover máquinas.

c) O Titanic foi um navio movido a .

d) Locomotivas e enormes teares do século XVIII eram movidos pela transformação da energia

térmica em . Essa forma de energia está em


qualquer movimento.
6. Por que o domínio do fogo representou uma grande vantagem dos seres humanos sobre os outros
animais?
7. O que caracteriza a Primeira Revolução Industrial? E a Segunda?

9º ano 325
8. (Encceja) Em uma casa, utilizamos vários equipamentos para promover transformações de ener-
gia, com diferentes finalidades.

Ilustração digital: Estúdio Pingado


Duas situações de transformação de energia estão enumeradas na figura. A opção que descre-
ve as transformações 1 e 2 é:
a) 1 – elétrica em luminosa; 2 – química em térmica
b) 1 – luminosa em química; 2 – térmica em elétrica
c) 1 – química em térmica; 2 – elétrica em luminosa
d) 1 – térmica em elétrica; 2 – luminosa em química
9. Observe o quadro. Todos os aparelhos citados recebem um suprimento de eletricidade para rea-
lizar sua função, transformando a eletricidade em outras formas de energia. Quais são as formas
de energia obtidas?

Aparelho Função Energia

Ventilador

Ferro de passar roupa

Chuveiro elétrico

Lâmpada

Liquidificador

PESQUISAR I

Procure na internet o significado da expressão Terceira Revolução Industrial


ou Revolução Tecnocientífica. Debata o assunto com os colegas e com o professor,
tentando definir suas principais características.

326 Ciências
EXPERIMENTAR

ELETRICIDADE E MAGNETISMO

Com alguns materiais fáceis de encontrar, é possível observar fenômenos elétricos ou magné-
ticos ou os dois ao mesmo tempo, pois estão estreitamente relacionados. Eletricidade e magnetis-
mo trabalham em conjunto nas usinas elétricas.

Eletrização com materiais simples


Materiais
• Pedaços pequenos de papel
• Pente de plástico ou de osso
• Blusa de lã
• Balão
• Pedaços de ímã

Como fazer

1. Esfregue vigorosamente o pente na blusa de lã, ou passe-o várias vezes no cabe-


lo seco. Aproxime o pente dos papéis. O que acontece?

Ilustração digital: Estúdio Pingado

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

2. Esfregue na lã ou nos cabelos o balão cheio de ar. Depois, coloque-o em contato


com uma parede. O que vemos? Registre suas observações.
Ilustração digital: Estúdio Pingado

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

9º ano 327
Exploração de ímãs
Materiais
• Pedaços de ímãs

Como fazer
Aproxime pedaços de ímã. Veja como os pedaços se atraem ou se repelem.
Quais materiais eles podem atrair, dentre vários metais?

Se atraem Se repelem

N S N S N S S N

S N S N S N N S

Obtemos ímãs em sucatas de alto-falantes e discos rígidos de computadores. Os primeiros têm formato cilíndrico, os segundos
são planos, com forma de “V”.

3. Com base nessas observações, explique por que afirmamos que o magnetismo
tem ação à distância.

O EFEITO ELETROMAGNÉTICO
O experimento a seguir permite observar um fenômeno descoberto no co-
meço do século XIX e fundamental na geração de eletricidade nas usinas ou sua
transformação nos motores e outros aparelhos elétricos.

Materiais
• ímã
• agulha fina
• uma rolha ou um plástico duro
• copo
Ilustração digital: Luis Moura

• água
• uma ou duas pilhas
• um pedaço de fio encapado fino
• fita adesiva

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

328 Ciências
Como fazer

Com uma agulha fina e um ímã, construa uma bússola. Para isso, imante a
agulha, passando o ímã várias vezes nela, sempre no mesmo sentido (da ponta
para o furo ou ao contrário, do furo para a ponta, nunca nos dois sentidos).
Com a rolha ou o plástico duro faça uma cama para a agulha imantada flutuar
livremente na água do copo, que deve estar com água até ¾ de sua capacidade.
Você pode utilizar, em vez de sua “bússola caseira”, uma bússola pequena.
Nesse caso, coloque-a dentro do copo seco e dispense a água.
Como qualquer bússola, a agulha imantada move-se para o sentido norte-
-sul, alinhando-se com o eixo magnético da Terra. Observe essa posição antes
de prosseguir a experiência.
Separadamente, reúna os materiais para montar um circuito simples: pilhas,
pedaço de fio e fita adesiva. Monte-o de acordo com a figura, deixando-o próxi-
mo da base do copo. Feche o circuito e observe sua bússola.

4. O que aconteceu ao fechar o circuito? Registre sua hipótese explicativa.

CONHECER MAIS

Gilbert e as pesquisas pioneiras sobre magnetismo e eletricidade


Encontra-se na natureza o mineral magnetita, usado para a cons-

Ilustração digital: Estúdio Pingado


trução de bússolas, desde cerca de mil anos atrás. Mas não havia ne-
nhuma explicação para o fato de esses minerais apontarem o sentido
norte-sul de nosso planeta, possibilitando orientação espacial mesmo
quando não era possível olhar para o sol ou as estrelas. Diz a lenda que
foi com o uso da bússola de magnetita que um general chinês ganhou
uma batalha em meio a neblina.
Na Antiguidade também se conhecia a eletrização dos materiais por
fricção, quando atraíam ou repelir objetos pequenos. Contudo, havia
confusão entre os fenômenos elétricos e magnéticos – afinal, nos dois
casos há atração à distância entre corpos. As investigações de Willian
Gilbert (1544-1603), iniciadas ainda durante o século XVI, vieram trazer
os primeiros esclarecimentos.
Conheça alguns dos experimentos e conclusões de Gilbert.
Na época em que Gilbert começou a trabalhar, acreditava-se que
apenas objetos feitos de âmbar ou de azeviche (uma espécie de carvão)
fossem capazes de ser eletrizados por fricção e, assim, atrair pequenos O versorium de Gilbert é um eletroscópio
corpos. Mas acontece que, quando friccionados, os objetos esquenta- pioneiro. Os eletroscópios servem para
vam, e aí vinha a dúvida: será que era o calor que gerava a força de atra- saber se um corpo está eletrizado. Um corpo
ção? Usando seu eletroscópio, ele conseguiu mostrar que não era o calor eletrizado induz movimento no eletroscópio.
o responsável pelo aparecimento da força. Para isso, ele primeiro atritou Podemos fabricá-lo com materiais simples como
canudinhos de plástico, fio de náilon, rolha,
um pedaço de âmbar e viu que ele ficava quente e era capaz de atrair a
tachinha ou uma esfera leve (serve uma bolinha
ponta do versorium. Em seguida, ele aqueceu outro pedaço de âmbar de isopor ou de cortiça).
numa chama, mas sem friccioná-lo. Quando aproximou do versorium, Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)
não notou alteração nenhuma.

9º ano 329
Usando seu versorium, aparelho recém-inventado, Gilbert mostrou que
muitas outras substâncias – como laca, berílio, opala, safira etc. – podiam

Ilustração digital: Luis Moura


ser carregadas eletricamente.
Ele ainda mostrou que, quando aproximava objetos eletrizados do pon-
teiro do versorium, ele girava, ao passo que a magnetita (um ímã) era capaz
apenas de atrair alguns tipos de materiais.
Gilbert achava que uma explicação para o comportamento da agulha
de magnetita era que o planeta Terra devia ser um grande ímã. Para tentar
comprovar sua teoria, construiu uma esfera usando magnetita. Ele a chamou
de terrela, isso é, pequena Terra. Com sua terrela pôde verificar que, quando
colocava uma pequena bússola sobre ela, a bússola se orientava numa certa
direção, aproximadamente como o fazem as bússolas colocadas em qualquer
lugar da terra: mostram a direção norte-sul.
Esse procedimento de mapear a terrela com auxílio de uma bússola, para
saber qual direção estava apontando a força magnética, foi bastante importan- A terrela de Gilbert
te para a construção do conceito de campo magnético.
Trecho de: FERREIRA, Norberto Cardoso. Magnetismo e eletricidade. Em: Eletricidade. 3. ed. p. 14 -17. Ciência Hoje na Escola. Vol. 12. Texto adaptado.

A ELETRICIDADE PERTENCE À NATUREZA E À SOCIEDADE


O Brasil encontra-se no topo da lista de países onde mais ocorrem relâmpa-
gos, fenômeno assustador e que merece muito cuidado, pois a eletricidade pode
causar prejuízos ou mesmo matar. Mas, afinal, o que são cargas elétricas?
Podemos observar o efeito do acúmulo de cargas elétricas quando esfrega-
mos um pano ou o cabelo em certos materiais, como no experimento proposto,
ou quando, em dias secos, tiramos uma blusa de lã ou de tecido sintético e os
nossos cabelos se arrepiam. Em nossos experimentos, antes de atritamos o pente
nos cabelos, os papéis não eram atraídos pelo pente. Isso significa que, nessa
situação, não existe acúmulo de cargas nem nos cabelos, nem no pente, ou seja,
ambos estão com carga elétrica nula (a quantidade de cargas positivas – prótons
− é igual à quantidade de negativas − elétrons). Ao passar o pente nos cabelos,
uma parte dos elétrons dos átomos que compõe os fios de cabelo migrou para o
pente. Isso deixou o pente com excesso de cargas negativas, ao mesmo tempo em
que os cabelos ficaram com falta de elétrons em relação aos seus prótons, ou seja,
carregados positivamente.
Ilustração digital: Estúdio Pingado

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

330 Ciências
Como cargas elétricas de sinais opostos se atraem, podemos concluir que o
pente induziu um acúmulo de carga de sinal oposto nos papéis picados, fazendo
com que os elétrons dos papéis fossem repelidos pelos elétrons do pente. Como o
papel não conduz bem a eletricidade, esses elétrons foram apenas deslocados para
mais longe de onde se aproximava o pente, permanecendo ainda no papel. Isso
é suficiente para produzir esse efeito eletrostático. O mesmo fenômeno ocorre
nas demais experiências de eletricidade realizadas, assim como quando passamos
próximo de uma televisão antiga de tubo e sua tela carregada de elétrons atrai os
pelos de nosso braço.
Os raios são um tipo de descarga elétrica que circula entre a terra e as nuvens,
enquanto os relâmpagos, entre duas nuvens carregadas eletricamente. Com a for-
mação de chuvas fortes, as cargas se acumulam no interior de nuvens muito al-
tas, com cerca de 10 km de altu- 15 km

Ilustração digital: Luis Moura


ra. Esse fenômeno é muito mais
complexo que nosso experimen-
to com pente e papel. Entre os
fatores que favorecem a acumu-
lação de cargas, encontra-se a 10 km
circulação de ar, água e gelo no
interior das nuvens, provocando
atrito entre as partículas e seus
átomos. Quando cargas diferen-
tes se acumulam em duas ou três
regiões das nuvens, está cria- 5 km
da a condição para a formação
dos raios. O trânsito das cargas
ocorre em uma região bem defi-
nida, formada por sequências de
linhas retas que caracterizam os
relâmpagos ou raios vistos du- Altitude
rante as tempestades.
Formação de cargas elétricas nas nuvens, com indicação da altura das nuvens (valores médios).
Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

A PESQUISA DA ELETRICIDADE: PRIMEIROS SUCESSOS


Quem inventou o para-raios foi o estadunidense Benjamim Franklin, em
1752, a partir da noção de que o raio sempre atinge a ponta mais alta do terreno
onde cai, por exemplo, a torre da igreja na cidade ou uma árvore em campo aber-
to. Além disso, ele reproduziu e criou diversos experimentos, observando fenô-
menos elétricos de atração e repulsão em laboratório. Franklin foi o primeiro a
propor a conservação da carga elétrica, ou seja, as cargas elétricas não podem ser
criadas nem destruídas, apenas transportadas de lugar, como nos experimentos
de eletrostática descritos anteriormente.

9º ano 331
Kent Wood/Latinstock

Foto flagra momento


em que raio atinge um
para-raios. Tucson,
Estados Unidos.

À mesma época, já se pesquisavam também as pilhas e baterias feitas com


substâncias ácidas e duplas de metais diferentes, como zinco e cobre. A reunião
dessas substâncias resulta em transformação química, com a formação de átomos
com cargas positivas (excesso no número de prótons em relação aos elétrons) e
negativas (excesso de elétrons
em relação aos prótons), cha-

Oxford Science Archive/HIP/TopFoto/Keystone


mados íons. Essa é uma das
condições para a circulação
de cargas em uma bateria ou
pilha e desta para um fio con-
dutor. É necessário também
que o circuito esteja fechado,
ou seja, que os polos da pilha
ou da bateria sejam conecta-
dos por meio de um fio para
que a reação química libere
os elétrons pelo polo negativo
(excesso de elétrons), seguin-
do até o polo positivo (falta
de elétrons) e estabelecendo
O italiano Alessandro Volta montou o equipamento que se vê na figura. Empilhou discos
assim uma corrente elétrica, de cobre e zinco intercalados com feltro molhado com líquido ácido, onde também
que faz o aparelho elétrico estavam os fios do circuito; para fechá-lo, bastava reunir as duas pontas. O investigador
colocava as pontas unidas na língua e sentia um pequeno choque; assim, a pilha de Volta
funcionar, como uma lâmpa- e seu circuito serviam para experimentar a eletricidade.

da, por exemplo. Se o circuito

332 Ciências
for aberto (desligar o interruptor), a reação química da pilha ou bateria para de
ocorrer, interrompendo a corrente e desligando o aparelho.
Em um circuito conectado a uma pilha, a dinâmica das cargas é a mesma
que nos fenômenos eletrostáticos: os elétrons removidos de um lugar foram
acumulados em outro, deixando-os com cargas de sinais opostos, provocando
a atração. Assim, nos dois casos, cargas de mesmo sinal se repelem e de sinais
opostos se atraem.

O ELETROMAGNETISMO
Nada mais se acrescentou ao conhecimento sobre o magnetismo, além do que
Gilbert já tinha registrado em sua obra de 1600, chamada De magneto, até que a
eletricidade e o magnetismo fossem investigados conjuntamente, a partir de uma
descoberta que se deu praticamente por acaso. Foi em 1820, quando o dinamar-
quês Hans Christian Øersted verificou que uma agulha imantada movia-se sob
efeito da corrente elétrica que passava por um fio situado a certa distância. Conta-
-se que um ajudante teria esquecido uma bússola perto de um circuito elétrico, o
que tornou possível a observação.
Desde então, estudos sobre o eletromagnetismo ganharam enorme importân-
cia e foram muitas as descobertas feitas com ajuda de equipamentos e de cálculos
matemáticos. Entre os esclarecimentos obtidos, verificou-se que o magnetismo
dos ímãs também decorre de correntes elétricas microscópicas. Um grande nú-
mero de equipamentos usados no cotidiano tem base no eletromagnetismo, como
o telefone e os equipamentos eletrônicos, cada vez mais sofisticados.

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Dê exemplos de formação de cargas elétricas na natureza. Qual delas você já viu pessoalmente?
2. O texto explica a eletrização do pente e de pedaços pequenos de papel. A eletrização da bexiga de
borracha, esfregada em cabelos, é semelhante. Faça um desenho mostrando as cargas do cabelo e
do balão de borracha após ser esfregado.
3. Sobre as realizações de Benjamin Franklin citadas no texto, identifique:
a) a tecnologia por ele criada;
b) a lei científica por ele descoberta.
4. Sobre a pilha de Volta:
a) como está indicada a presença de cargas opostas?
b) a eletricidade gerada tem pequena ou grande intensidade? Por quê?
5. Examine a figura do experimento de Øersted e identifique o circuito elétrico. Quais são seus
componentes?
6. Compare o experimento proposto no capítulo para a verificação da indução eletromagnética com
o equipamento que proporcionou a descoberta do fenômeno por Øersted.

9º ano 333
DÍNAMOS E USINAS ELÉTRICAS
A descoberta de Øersted foi amplamente divulgada e os cientistas passa-
ram a se perguntar se seria possível fazer o contrário: usar magnetismo para
obter a eletricidade. O inglês Michael Faraday (1791-1897) fez muitos testes
até conseguir o que queria. A peça-chave da descoberta de Faraday é o sole-
noide: uma bobina de fio metálico, que dá muitas voltas formando um cilin-
dro. No experimento do inglês, as pontas do fio são ligadas a um galvanôme-
tro, instrumento que indica a passagem de corrente elétrica em um circuito.
O ponteiro do galvanômetro se mexe quando um ímã entra e sai do solenoide,
repetidas vezes.

Ilustrações digitais: Luis Moura


Imã entrando: a corrente flui

Elaborados pelas autoras. (Esquemas sem escala, cores-fantasia.)

Assim, Faraday criou o gerador de eletricidade a partir da indução eletro-


magnética. Uma curiosidade: consta que Gladstone, primeiro ministro inglês, te-
ria perguntado ao cientista: “Senhor Faraday, tudo isso é muito interessante, mas
qual a sua utilidade?” A resposta: “Talvez essa descoberta dê lugar a uma grande
indústria, da qual o senhor possa arrecadar impostos.” Faraday talvez suspeitas-
se que seus experimentos fossem a base para transformar completamente nossa
sociedade.

OS GERADORES ELÉTRICOS
As pilhas são geradores químicos, um equipamento que coloca certa carga
elétrica à disposição de um circuito.
As pilhas comuns possuem uma tensão pequena que varia de 1,5 V até 9 V e
fornecem a energia elétrica necessária para colocar os aparelhos eletrônicos cons-
truídos para funcionarem com esses tipos de fontes de energia. Aparelhos que são
ligados na tomada, em geral, trabalham com tensões mais elevadas, necessitando
de outros tipos de geradores.
Nos geradores por indução eletromagnética, alguma fonte de energia faz com
que ímãs se movam no interior de um solenoide (bobina de fio). Esse é o princípio
da geração de eletricidade usado nas grandes usinas elétricas, ou num pequeno
dínamo de bicicleta.

334 Ciências
No caso das hidrelétricas, o que move a turbina é um fluxo contínuo de água
que desce por uma canaleta e, no caso de uma termelétrica, é a queima de algum
combustível que superaquece o vapor de água que move um gerador. Ao girar o
gerador, seus ímãs se movem nas imediações dos solenoides, induzindo neles o
surgimento de uma corrente elétrica.

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Retome os experimentos de Faraday e Øersted citados nos textos anteriores. Identifique qual
cientista mostrou que a eletricidade gera magnetismo e qual mostrou o contrário, que magnetis-
mo gera eletricidade.
2. O que é preciso para haver geração elétrica por meio da indução eletromagnética?
3. De acordo com o texto, qual foi a grande invenção de Michael Faraday?
4. Compare a pilha de Volta e a pilha comum, destacando em que são parecidas e em que diferem.

LER IMAGENS

Examinando as figuras a seguir, vamos observar as etapas mais importantes das transforma-
ções da energia.
Talvez você já tenha observado o dínamo acoplado em bicicletas, como mostrado a seguir:
Fernando Favoretto/Criar Imagem

Ilustração digital: Luis Moura


Polia ligada à roda

Bobina

Ímã permanente
cilíndrico

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

1. Examine a figura e explique como ocorre a geração de eletricidade na bicicleta, que é utilizada
para acender um farol do veículo. Lembre-se de indicar: a fonte de energia que move a bobina, as
partes do equipamento que promovem a indução eletromagnética e como a eletricidade é condu-
zida até o seu uso final.

9º ano 335
2. E a usina hidrelétrica, como ela funciona? Observe o esquema a seguir para auxiliá-lo em
sua resposta.

Reservatório Transformador

Ilustração digital: Luis Moura


Linha de transmissão

Gerador

Água sob pressão


Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.) Turbina

3. Um gerador eólico também tem uma turbina e um gerador. Observe a figura e mostre onde se
situa cada um deles.

Ilustração digital: Luis Moura

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

4. Escreva a sequência de eventos que proporcionam a geração de eletricidade no gerador eólico.

PESQUISAR II

Faça uma pesquisa sobre as usinas de eletricidade. Tente responder às seguintes questões:

1. Identifique na internet e em livros figuras que mostram usinas movidas por diferentes fontes de
energia: hidrelétrica, termelétrica movida a petróleo, usina solar ou GLOSSÁRIO

fotovoltaica, nuclear, eólica e termelétrica movida a biomassa. Sustentabilidade ambiental: sustentabi-


lidade significa a preservação dos am-
2. Quais os custos e benefícios das diferentes fontes de energia? Elas bientes e dos recursos naturais por meio
de atitudes coletivas, escolhas sociais e
são renováveis ou não renováveis? Quais tipos de energia contri- políticas que permitem o desenvolvimento
buiem para a sustentabilidade ambiental? humano, garantindo-se o direito das gera-
ções futuras ao usufruto desses recursos.

336 Ciências
Na sua pesquisa, identifique quais são as consequências ou os impactos sobre a saúde e o meio
ambiente.
3. Informe-se também sobre os custos financeiros de cada opção.
Antes de iniciar a pesquisa, selecione palavras-chave que orientarão a sua busca. Procure tam-
bém imagens e estatísticas que ajudem a entender como são usadas as fontes de energia no Brasil
e no mundo.

APLICAR CONHECIMENTOS IV

Faça um resumo de suas pesquisas no quadro a seguir.

Usina Fonte Vantagens Desvantagens

Hidrelétrica

Termelétrica a
petróleo

Solar fotovoltaica

Nuclear

Eólica

Termelétrica a
biomassa ou biodiesel

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Sites Energias renováveis


Disponível em: <www.mma.gov.br/clima/energia/energias-renovaveis>. Acesso em: 19 dez. 2012.

Ambiente brasil
Revista eletrônica sobre ambiente.
Disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/energia.html>. Acesso em: 22 jan. 2013.

Eletrização
Página mostra fotos e vários experimentos de eletrização.
Disponível em: <www.rc.unesp.br/showdefisica/99_Explor_Eletrizacao/Pagina%20inicial.htm>. Acesso em: 22 jan. 2013.

9º ano 337
Capítulo 3
CIÊNCIAS Saúde e qualidade de vida

O s seres humanos podem compreender a saúde e as doenças de formas muito


variadas. Escritos e desenhos antigos, produzidos por diferentes povos, re-
velam o que cada um deles considerava saudável e como tratavam os problemas
de saúde.

RODA DE CONVERSA

O que é saúde? Pense em uma definição para a palavra, registre-a e troque ideias com seus
colegas de turma. O conceito de saúde é o mesmo para todos? Procurem criar uma definição co-
mum, que englobe as ideias de toda a turma. Anotem suas conclusões.

PARA REFLETIR I

Observe as situações representadas nas fotos e converse sobre elas com seus colegas. A partir
de sua definição de saúde, podemos dizer que as pessoas representadas são saudáveis? E a partir
da definição elaborada pela turma?
Mika/Corbis/Latinstock

Lisa F. Young/Dreamstime.com
Viktor Drachev/AFP/Getty Images

338 Ciências
SAÚDE E DOENÇA SÃO TEMAS MUITO ANTIGOS
Os chineses antigos viam a saúde e a doença como manifestações do equilí-
brio ou do desequilíbrio da circulação de energia pelo corpo humano. De acordo
com essa visão, a energia é considerada a essência da vida e as energias positivas
e negativas estão sempre em movimento por caminhos que atravessam todo o
corpo. Esses caminhos são chamados meridianos e têm alguns pontos especiais,
que podem ser estimulados para ajudar a equilibrar a circulação da energia e me-
lhorar a saúde. Desse conhecimento surgiu a acupuntura, uma técnica usada para
estimular esses pontos com agulhas finas ou sementes, que serve para aliviar do-
res, prevenir e curar problemas de saúde. Atualmente, a acupuntura é usada não
apenas na China como em muitos lugares do mundo, inclusive no Brasil.

Yuri_arcurs/Dreamstime.com
CONHECER MAIS

Remédios

Em 1536, o médico Paracelso (1493-


-1541), nascido na Suíça, publicou a
obra O grande livro da cirurgia. Ele
afirmava que as doenças aconteciam
devido à falta de alguma substância
química no organismo e que, por isso,
cada doença poderia ser curada se o
doente tomasse a substância que es-
tava faltando em seu corpo. No caso
de feridas na pele, as substâncias de-
veriam ser aplicadas sobre elas. Essa
ideia marca a origem da produção dos
remédios que nós utilizamos até hoje.
Dos tempos de Paracelso até os
nossos dias, a medicina ocidental se
desenvolveu junto com a produção de
novas tecnologias e a evolução dos co-
A acupuntura é uma técnica chinesa milenar. Pode ser feita com sementes ou agulhas, aplicadas nhecimentos da Biologia e da Química.
em pontos que correspondem aos órgãos a serem tratados.

OS AVANÇOS DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA


No modelo ocidental de atenção à saúde, as ciências biológicas e a tecnologia
ocupam um lugar central. Esse modelo é frequentemente avaliado como “biolo-
gicista”, pois não valoriza as pessoas de modo integral, com suas peculiaridades e
seus aspectos psicológicos e sociais.

[...] O corpo humano é considerado uma máquina que pode ser analisada em
termos de suas peças; a doença é vista como um mau funcionamento dos mecanismos
biológicos... O papel dos médicos é intervir, física ou quimicamente, para consertar o
defeito no funcionamento de um específico mecanismo enguiçado.
Fonte: Fritjof Capra. O ponto de mutação. São Paulo: Círculo do Livro, [s.d.]. p. 116-117.

9º ano 339
Sem dúvida, os avanços da ciência e da tecnologia trouxeram muitos bene-
fícios à saúde. Podemos hoje contar com exames que permitem identificar de-
terminadas doenças antes mesmo de as pessoas perceberem qualquer alteração
no funcionamento do organismo. É o caso dos exames preventivos de câncer de
mama, de colo do útero ou de próstata, que hoje podem e devem ser feitos rotinei-
ramente. Esses exames ajudam a detectar uma neoplasia que está GLOSSÁRIO
tumor gerado pelo crescimento
começando a se formar. Mesmo que o tumor seja maligno (caso Neoplasia:
desordenado de células. Pode ser benigno
em que é chamado de câncer), existe uma grande chance de cura ou maligno e seu nome depende do tipo
de célula ou órgão afetado.
quando o diagnóstico é precoce.
Alamy/Glowimages

O exame e o autoexame regulares


permitem identificar caroços,
saída de secreção pelos mamilos
ou outras alterações na mama.
Caso seja encontrada qualquer
alteração, é importante fazer uma
consulta médica e verificar o mais
rápido possível se é um sinal de
câncer de mama. Caso a doença
seja diagnosticada e tratada logo no
início, há uma grande chance de cura.

A evolução das técnicas e dos equipamentos utilizados nas cirurgias tam-


bém contribui para que as pessoas superem vários problemas de saúde que
antes levavam à morte. Os transplantes de órgãos e cirurgias no coração são
bons exemplos.
Além disso, as vacinas e alguns medicamentos, como os antibióticos, trouxeram
grandes benefícios para a prevenção e o tratamento de doenças infecciosas, causadas
por organismos vivos, que já foram as principais causas de morte em todo o mundo.

PARA REFLETIR II

1. Quais aspectos da vida são desconsiderados quando o corpo humano é tratado como uma
máquina?
2. Apresente três exemplos de doenças que hoje podem ser prevenidas ou controladas graças ao
desenvolvimento da ciência e da tecnologia.

340 Ciências
A MEDICALIZAÇÃO DA VIDA
A evolução dos conhecimentos e práticas de saúde também teve seu lado ne-
gativo. Durante o século XX, tanto o poder da ciência como o da tecnologia não
pararam de crescer. Essa nova cultura levou muitas pessoas a acreditarem que
a saúde é o resultado de tratamentos, do uso de remédios e da obediência a um
conjunto de regras de comportamento definidas pelos médicos. A crença de que o
organismo humano pode funcionar perfeitamente (como uma máquina), se cada
aspecto da vida for regulado pelo saber médico, levou à chamada “medicalização”
da vida.
Como tantas outras coisas, a saúde e as doenças tornaram-se um bom negócio
e ganharam muito espaço no mundo das mercadorias. O valor das pessoas e a sua
qualidade de vida passaram a ser medidos também pela quantidade de consultas,
exames, checkups, tratamentos e medicamentos que conseguem comprar.
Exames e tratamentos caros e agressivos vêm sendo usados com uma fre-
quência cada vez maior, mesmo quando não trazem benefícios. As cesarianas,
por exemplo, passaram a ser feitas quando não há necessidade, gerando ris-
cos desnecessários à saúde da mãe e da criança. As intervenções excessivas e
o abuso de medicamentos causam novos problemas de saúde. O uso excessi-
vo de antibióticos está fazendo com que alguns micro-organismos causadores
de doenças fiquem resistentes, de modo que os antibióticos já não atuam de
forma satisfatória quando são necessários.

PARA REFLETIR III

Você já observou que os cuidados e conhecimentos sobre saúde passaram a


ser encarados como propriedade dos especialistas?
O texto a seguir questiona a desvalorização do conhecimento popular em saú-
de. É como se a saúde e a maneira saudável de viver só pudessem ser decididas por
técnicos da saúde, e as pessoas não tivessem nenhuma capacidade de fazer escolhas.
Você acha que essa tendência afeta a vida das pessoas com quem você convive?

O cientista virou um mito. E todo mito é perigoso, porque ele induz o


comportamento e inibe o pensamento. Este é um dos resultados engraçados (e
trágicos) da ciência. Se existe uma classe especializada em pensar de maneira
correta (os cientistas), os outros indivíduos são liberados da obrigação de pensar e
podem simplesmente fazer o que os cientistas mandam. Quando o médico lhe dá
uma receita você faz perguntas? Sabe como os medicamentos funcionam? Será que
você se pergunta se o médico sabe como os medicamentos funcionam? Ele manda, a
gente compra e toma. Não pensamos. Obedecemos. Não precisamos pensar, porque
acreditamos que há indivíduos especializados e competentes em pensar [...]. Afinal de
contas, para que serve nossa cabeça? Ainda podemos pensar? Adianta pensar?
ALVES, Rubem. Filosofia da ciência. São Paulo: Ars Poética, 1996. p. 8-9.

9º ano 341
MOMENTO DA ESCRITA

Escreva em seu caderno um parágrafo definindo, com suas palavras, a expressão “medicali-
zação da vida”. Em seguida, explique por que essa forma de encarar a saúde pode ser prejudicial
para a qualidade de vida das pessoas e da sociedade.

DEBATER

As doenças podem ser agrupadas em diversas categorias: doenças de homens e de mulheres;


doenças da infância, da idade adulta, da velhice etc. Imagine outras formas de agrupar as doenças
conhecidas e converse com seus colegas sobre elas. Somente depois leia o texto a seguir, verifican-
do se ele traz informações sobre esse assunto que são novas para você.

OS DIFERENTES TIPOS DE DOENÇAS


CONHECER MAIS
Há diferentes modos de classificar as doenças.
Usando como critério o seu tempo médio de dura- Como sabemos que estamos doentes?
ção, as doenças podem ser classificadas em agudas
Dor de cabeça, mal-estar ou colesterol
(de evolução rápida, seja para a cura ou para a morte) elevado não são doenças; são sinais e sin-
ou crônicas (que persistem por muitos anos ou mes- tomas que mostram que algo diferente está
mo por toda a vida e não têm cura, mas podem ser acontecendo no organismo. Os sinais são os
modos como a doença se expressa no corpo.
controladas). As doenças também podem ser classi- Eles podem ser visíveis (como inchaço), ou
ficadas conforme os órgãos afetados, formando con- demonstrados por meio de exames (como
elevação da taxa de glicose no sangue). Os
juntos como: doenças sexualmente transmissíveis sintomas, como o nome indica, incluem as
(DST), que afetam os órgãos sexuais; doenças do apa- alterações que a pessoa sente, como tontu-
relho respiratório, como bronquites e asma; doenças ra, cansaço ou dor.
Muitos sinais e sintomas são comuns
psiquiátricas, relacionadas ao funcionamento do cé- a várias doenças. Contudo, é bom ter em
rebro e ao comportamento; doenças da pele; doen- mente que diversas doenças evoluem sem
ças que afetam o sistema de sustentação do corpo (o sintomas ou sinais aparentes, sendo cha-
madas de doenças silenciosas. É o caso do
sistema musculoesquelético), como certos reumatis- diabetes, da hipertensão arterial e de vários
mos, artrites e artroses; e assim por diante. tipos de câncer, que só podem ser desco-
Considerando as causas e as consequências das bertos em suas fases iniciais por meio do
acompanhamento de saúde e da realiza-
doenças, elas podem ser divididas em três grandes ção de exames de rotina, que possibilitam o
grupos: as infectocontagiosas, originadas pelo conta- diagnóstico precoce e o tratamento para
to com seres vivos patogênicos para o ser humano (como o controle ou a cura da doença.
gripe, dengue, mal de Chagas, malária, entre outras);
as doenças por causas externas, que incluem os acidentes e violências; e as crônico-
-degenerativas, que têm causas diversas, nem sempre bem conhecidas. Incluem aler-
gias, hipertensão, diabetes, doenças cardíacas, reumatismo e mal de Alzheimer. Como
diz o nome, as doenças degenerativas e crônicas afetam as pessoas por tempo prolon-
gado, levam tecidos e órgãos à perda de vitalidade e a um funcionamento deficiente.

342 Ciências
APLICAR CONHECIMENTOS I

Adotando algumas medidas de prevenção, podemos evitar ou retardar o aparecimento de boa


parte dos problemas de saúde. Vamos conferir?
Complete a primeira coluna do quadro a seguir escolhendo problemas de saúde que você co-
nhece e encaixando-os nas seguintes categorias:
• doenças infecciosas e parasitárias;
• doenças crônicas e degenerativas;
• problemas de saúde originados por causas externas (acidentes e violências).
Complete a segunda coluna com no mínimo duas ações que ajudem a prevenir cada uma das
doenças indicadas.

Ações de prevenção dos problemas de saúde

Doenças infecciosas e parasitárias Ações de prevenção das doenças ou de suas complicações

Usar camisinha

Aids
Fazer o teste do HIV

9º ano 343
Doenças crônicas e degenerativas Ações de prevenção das doenças ou de suas complicações

Evitar o fumo
Câncer de colo de útero

Fazer o preventivo regularmente

Doenças geradas por causas externas Ações de prevenção das doenças ou de suas complicações

Não dirigir depois de beber

Acidente de trânsito
Usar cinto de segurança

Compartilhe os resultados com seus colegas, elaborando um grande quadro com as doenças e
recursos de prevenção indicados por todos.

344 Ciências
PESQUISAR

Leve as questões a seguir aos agentes de saúde que visitam sua comunidade ou procure respos-
tas para elas na Unidade Básica de Saúde do seu bairro.
1. Quais são as doenças mais frequentes na população que procura a Unidade Básica de Saúde?
2. Quais medidas preventivas podem ser tomadas para evitar ou controlar essas doenças?
3. Converse com os colegas sobre os resultados e preparem um cartaz para divulgação dos resulta-
dos na escola.

LER GRÁFICO

O gráfico a seguir mostra a evolução das causas de morte no Brasil, no período de 1930 a 2002.
As faixas coloridas permitem ver as mudanças na proporção de cada uma das principais causas de
morte: causas externas, neoplasias, doenças digestórias, respiratórias, cardiovasculares e infecto-
parasitárias. As causas que ocorrem em menor proporção foram todas somadas na categoria “ou-
tras causas”, e o total sempre corresponde a 100% dos óbitos ocorridos durante um ano. Observe
as curvas e as legendas para responder às questões.
Evolução da mortalidade proporcional por grupos de causas. Brasil 1930-2002

100
90
80
70 Outras causas
60 Causas externas
50 Cardiovasculares
40 Respiratórias
30 Digestórias
20 Neoplasias
10 Infectoparasitárias
0
1930

1940

1950

1960

1970

1980

1990

2000

2002

Fonte: Departamento de Informática do SUS.

1. Quais causas de morte tornaram-se mais frequentes ao longo do tempo?


2. Qual causa de morte teve a maior diminuição proporcional?
3. Considerando que a soma sempre corresponde a 100% dos óbitos ocorridos em cada ano, como
você explicaria a mudança na proporção das diversas causas?

A PERSISTÊNCIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS


Como você pode observar, as doenças infecciosas e parasitárias vêm perden-
do importância no Brasil, mas ainda persistem especialmente nos ambientes com
saneamento básico precário. A dengue, um problema muito sério nas últimas
décadas, é causada por um vírus que vive tanto no ser humano como no mosqui-
to chamado Aedes aegypti, que é o vetor de transmissão da doença. Em ambientes

9º ano 345
de clima quente, além da dengue, há diversas doenças trans- GLOSSÁRIO
células do sangue também
mitidas por vetor animal. Podemos citar como exemplos o mal Hemácias:
chamadas de glóbulos vermelhos, que
de Chagas e a esquistossomose, que são transmitidos aos seres dão ao sangue a sua cor típica. A hemo-
globina é o principal componente das he-
humanos por intermédio de um mosquito e um caramujo, res- mácias. Ela é responsável pelo transporte
pectivamente. A malária é outra doença transmissível presente do oxigênio, do pulmão para as células,
e do dióxido de carbono, das células para
no Brasil. Ela é causada por um parasita chamado plasmódio, os pulmões, de onde é eliminado junto
sendo transmitida de uma pessoa a outra por meio da picada com o ar expirado.
de um mosquito infectado. Os plasmódios parasitam as hemá-
cias, onde se reproduzem em grande quantidade, levando à sua destruição, o que
causa febre e calafrios intensos no doente.

Vladvitek/Dreamstime.com

Fábio Colombini

Mosquito anófeles, transmissor da malária. Caramujo biomphalaria, transmissor da esquistossomose.

Há também diversos parasitas como as amebas e giárdias, que afetam o apa-


relho digestório. Alguns organismos multicelulares como a lombriga e a tênia
se instalam no intestino, mas podem ocupar outras regiões do corpo humano,
trazendo problemas variados. Vermes parasitas atrapalham tanto a digestão dos
alimentos como a absorção dos nutrientes, levando à subnutrição. Hábitos de hi-
giene no preparo de alimentos e cuidados com a lavagem das mãos são essenciais
na prevenção dessas e muitas outras doenças.
Hank Morgan/ Platinum/Latinstock

Colônia de bactérias
causadoras da
Carolina Biological/Visuals Unlimited/Corbis/Latinstock

pneumonia. As
bactérias são Foto de uma ameba.
organismo simples, que As amebas são seres
podem ter vida livre unicelulares maiores
ou serem parasitas. e mais complexos
São importantes que as bactérias.
na natureza para a Também podem ter
decomposição da vida livre ou serem
matérias orgânica. parasitas.

346 Ciências
Science Source / Photo Researchers, Inc./Latinstock
Vermes são
organismos
multicelulares.
Na foto vê-se
uma tênia,
parasita do
ser humano
e de outros
mamíferos.

Alguns fungos unicelulares também causam doenças, principalmente na pele.


Eles são responsáveis pelas incômodas micoses, como o pé de atleta.
Outras doenças infecciosas estão mais associadas às aglomerações huma-
nas e podem afetar um grande número de pessoas ao mesmo tempo, como nos
casos da dengue e da gripe A. Esses casos caracterizam epidemias ou pande-
mias. A gripe, por exemplo, é uma doença infecciosa porque é causada pelo
vírus da influenza. É transmitida de uma pessoa para outra por meio de gotas
de saliva expelidas ao falar, espirrar ou tossir. Também pode ser transmitida
por meio de talheres, copos ou mãos contaminadas.

LER PANFLETOS EDUCATIVOS

Leia os panfletos e reflita sobre as regras de combate à dengue e GLOSSÁRIO


à influenza H1N1. Essas doenças e suas formas de prevenção foram Pandemias: epidemias que afetam
vários países ou continentes ao mesmo
levantadas por você na atividade Aplicar conhecimentos I? tempo. É por exemplo o caso da aids.
Ministério da Saúde

OUTROS CUIDADOS QUE VOCÊ DEVE TOMAR


PARA A DENGUE NÃO TE PEGAR:

1. Não acumule materiais descartáveis desnecessários e sem uso. Se forem


destinados à reciclagem, guarde-os sempre em local coberto e abrigados
da chuva.

2. Trate adequadamente a piscina com cloro. Se ela não estiver em uso,


esvazie-a completamente, não deixando poças d’água. Se tiver lagos,
cascatas ou espelhos d’água, mantenha-os limpos ou crie peixes que se
alimentem de larvas.

3. Entregue pneus velhos ao serviço de limpeza urbana. Caso precise deles,


guarde-os, sem água, em locais cobertos.

4. Verifique se todos os ralos da casa não estão entupidos. Limpe-os


pelo menos uma vez por semana e, se não os estiver usando, deixe-os
fechados.

5. Guarde as garrafas, baldes ou latas vazias de cabeça para baixo.

6. Lave com escova e sabão as vasilhas de água e de comida de seus animais


pelo menos uma vez por semana.

7. Retire a água da bandeja externa da geladeira pelo menos uma vez por
semana. Lave a bandeja com sabão.

8. Não deixe acumular água na parte debaixo das torneiras de bebedouros


e filtros de água.

Procure logo um serviço de


saúde em caso dos seguintes
sintomas: febre com dor de Cartaz educativo
www.saude.gov.br
Secretarias Estaduais
cabeça e dor no corpo. para a prevenção
DISQUE SAÚDE 0800 61 1997 e Municipais de Saúde
de dengue.
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9º ano 347
Ministério da Saúde

Cartaz educativo
para a prevenção
de influenza H1N1.

DOENÇAS DA MODERNIDADE
CONHECER MAIS
Ao mesmo tempo que ocorre o aumento progres-
sivo no tempo de vida, uma transformação radical no Infarto: mais uma epidemia?
estilo de vida da maioria das pessoas está se proces-
Um sério problema de saúde asso-
sando em quase todos os cantos da Terra. Mudaram ciado à vida moderna e à hipertensão
as formas de organização da sociedade, os meios de arterial é o infarto do miocárdio, uma
trabalho, os costumes, os hábitos alimentares. das principais causas de morte na maio-
O aumento no tempo de vida, somado a essas ria dos países do mundo. O infarto é
uma doença provocada pela interrupção
transformações no estilo de vida, resultou em grandes da circulação do sangue nas artérias que
mudanças nos padrões de saúde e doença. O ritmo de irrigam o coração. Uma obstrução com-
vida nas cidades, o estresse no trabalho, o isolamento pleta dessas artérias (as coronárias), ou
social e a competição, bem como a falta de atividade de um de seus ramos, faz com que uma
parte do músculo cardíaco deixe de re-
física e a obesidade, fazem com que o organismo das ceber oxigênio, provocando a destruição
pessoas seja um terreno fértil para o desenvolvimento dessa aérea. Esse processo é chamado
de doenças crônicas (hipertensão, diabetes) e dege- infarto agudo do miocárdio. Quando a
nerativas (como os vários tipos de câncer e doenças obstrução da passagem do sangue não
é completada, a área que recebe sangue
cardíacas). Surgiram novos tipos de câncer, que de- desse vaso fica com o funcionamento
correm da exposição a agentes que podem estar no prejudicado, porém não há destruição de
ar, nos alimentos ou nas substâncias presentes no am- células. Esse processo é chamado angi-
biente de trabalho. Um exemplo é o câncer de pulmão, na. A pessoa que tem angina ou infarto
sente dores muito fortes na região do
que aumentou muito mais do que os outros tipos em coração, que podem irradiar-se pelos
razão do uso do cigarro. Aumentou muito, também, o ombros, costas, braços – geralmente o
número de pessoas que morrem em consequência de esquerdo – e mandíbula.
problemas da circulação e do coração.

348 Ciências
O SISTEMA CARDIOVASCULAR

Ilustração digital: Luciano Tasso


Esquema do sistema cardiovascular. Todo o
transporte do sangue pelo corpo se dá por meio
desse sistema fechado, por onde a corrente
sanguínea se movimenta sem parar.
Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Os vasos sanguíneos constituem uma grande rede de tubos de paredes elásti-


cas que conduzem o sangue para todas as partes do corpo. Eles formam o sistema
cardiovascular, por meio do qual o sangue transporta os nutrientes obtidos na
digestão, o oxigênio absorvido do ambiente com a respiração, o gás carbônico
produzido pela respiração celular e, também, resíduos e hormônios.
Existem três tipos de vasos sanguíneos: as artérias, as veias e os capilares. No
esquema, as artérias estão representadas em vermelho. Elas são vasos grossos, que
precisam suportar a pressão do sangue bombeado do coração. São bastante elásti-
cas, de forma que suas paredes se contraem e relaxam a cada batimento cardíaco.
As artérias se ramificam pelo corpo e vão se tornando cada vez mais finas, cons-
tituindo as arteríolas e, finalmente, os capilares, vasos finíssimos com a espessura
de um fio de cabelo.
Na imagem, o caminho de volta para o coração está representado em azul. Os
vasos capilares vão se reunindo e formam ramos mais grossos (vênulas), os quais
se reúnem nas veias, que terminam o transporte do sangue de volta para o coração.
As veias têm diâmetro menor que o das artérias (são mais finas). Independente-
mente de seu diâmetro, pela constituição celular de suas paredes, as veias são bem
menos resistentes que as artérias mais grossas ou que as mais finas (as arteríolas).

CIRCULAÇÃO
O coração é um órgão muscular muito forte, que funciona como uma bomba
dupla. O lado esquerdo bombeia sangue arterial para diversas partes do corpo

9º ano 349
enquanto o lado direito bombeia sangue

Ilustração digital: Luis Moura


Pulmão Pulmão
venoso para os pulmões. O coração de uma
pessoa adulta, em repouso, bate cerca de 70

Ilustração digital: Luis Moura


vezes por minuto.
Em um circuito completo, o sangue
passa duas vezes pelo coração. Esses traje- O2 CO2 CO2 O2
tos são denominados pequena circulação
e grande circulação.
Aorta
No primeiro trajeto, o sangue venoso
que sai pelo lado direito do coração, vai
para os pulmões e volta para o lado esquer-
do do coração. Esse circuito é denominado
Ventrículo
“pequena circulação”. Dali, o sangue parte direito
Ventrículo
para todo o corpo, no circuito da grande esquerdo
Veia
circulação. cava
inferior
Localize no esquema ao lado a repre-
Tecidos
sentação da pequena circulação e a da
grande circulação. Representação esquemática da circulação.
Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Consulte o texto e o esquema que representa a circulação do sangue no corpo humano para com-
pletar o parágrafo a seguir.

Todos os tecidos do corpo humano recebem o sangue, de onde retiram o .


O sangue, agora pobre em , volta pelas veias, chega ao lado direito do coração, en-
trando no direito. Passa então para o ventrículo direito, de onde é bombeado para
o . No pulmão, o sangue volta a ficar rico em oxigênio. Esse sangue reoxigenado
vai para o lado esquerdo do passando primeiro no átrio e depois no ventrículo
esquerdo, de onde será bombeado de volta para o , reiniciando-se o ciclo. Portanto,
o lado direito do coração é responsável pelo retorno do sangue para os , e o lado
esquerdo, pelo bombeamento de sangue para os tecidos.
2. Um jovem começou a sentir uma coceira terrível no pé e seu médico explicou que ele tinha uma
micose, causada por um fungo que estava crescendo na sua pele. Como ele pode ter pegado a
doença?
3. Explique a frase a seguir: “Hábitos de higiene e hábitos de alimentação são relevantes para preve-
nir doenças infecciosas e doenças crônicas”.
4. A silicose é uma doença que afeta mineiros, trabalhadores em pedreiras ou pessoas que traba-
lham em empresas de pedras ornamentais. A sílica (areia em pó) se acumula nos pulmões e isso
causa graves lesões. Como essa doença pode ser classificada?

350 Ciências
5. A tosse e o espirro são doenças? Explique.
6. Qualquer doença dá sinais visíveis? Dê exemplos.
7. A recomendação de lavar muito bem as mãos ao chegar em casa é muito reforçada em tempos de
gripe. Que tipo de contágio é prevenido com essa ação?

POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA E SAÚDE


Certos fatores ambientais favorecem o desenvolvimento de doenças crônicas
como a bronquite e outras alergias, que podem ser desencadeadas pela presença
de poeira no ambiente ou pelo consumo de alguns alimentos.
O câncer, um mal com muitas formas de manifestação e níveis de gravidade,
também pode ser provocado pela exposição a condições e substâncias que favore-
cem a multiplicação anormal das células, como exposição excessiva ao sol, a subs-
tâncias do tabaco ou a poluentes do ar e da água, além de substâncias químicas
adicionadas aos alimentos.
A queima de combustíveis fósseis, como madeira e carvão, ou a “limpeza” de
campos desflorestados por meio de queimadas também são fontes de poluentes
atmosféricos. Além do dióxido de carbono, esses processos geram monóxido de
carbono, fuligem e outros gases.
Nossa saúde é sensível ao aumento desses gases no ar. O monóxido de carbono
é um gás incolor e sem cheiro, mas muito perigoso. Ele é eliminado pela descarga
dos escapamentos de automóveis e na fumaça de cigarros, cachimbos e charutos.
ECSantos

O monóxido de carbono
existente na fumaça dos cigarros,
cachimbos e charutos é a
mesma substância que sai dos
escapamentos de automóveis. Ele
se fixa nos glóbulos vermelhos do
sangue, prejudicando a atividade
dessas células, que é transportar
o oxigênio para todas as partes
do corpo.

O TABACO E AS MULTINACIONAIS DA SAÚDE E DA DOENÇA


Durante séculos, o tabaco foi utilizado de forma ocasional ou ritualística e já
foi classificado como erva medicinal. Na primeira metade do século XX, acon-
teceu uma explosão do seu consumo e a consolidação do poder econômico das

9º ano 351
indústrias de cigarros. Eles passaram a ser produzidos em escala industrial e foi
feito um investimento maciço em propaganda para associar o fumo à beleza, ao
sucesso e à liberdade.
O uso do tabaco tornou-se um problema de saúde pública, pois causa quase
metade de todas as mortes por câncer e a maioria das mortes por câncer de pulmão.
O consumo de derivados do tabaco (cigarros, charutos, cachimbos) provoca quase
50 doenças diferentes, principalmente as doenças cardiovasculares, como o infarto,
muitos tipos de câncer e doenças respiratórias, como o enfisema pulmonar. Em
muitos países, a propaganda desses produtos na TV e no rádio está sendo severa-
mente restringida ou proibida. Essas medidas são parte do combate internacional à
epidemia do uso do tabaco, que causa cerca de 5 milhões de mortes por ano.
A nicotina é a substância do fumo que gera a dependência física (responsável
pelos sintomas da chamada síndrome de abstinência, quando se deixa de fumar),
dependência psicológica (responsável pela sensação de ter no cigarro um apoio
ou um mecanismo de adaptação para lidar com sentimentos de solidão, frustra-
ção, pressões sociais etc.) e condicionamento (representado por associações ha-
bituais com o ato de fumar, como tomar café, consumir bebidas alcoólicas, fumar
após as refeições). Por isso é tão difícil parar de fumar. É preciso enfrentar esses
três componentes da dependência.
Quanto maior o tempo de consumo do cigarro, maior a dependência. Por
isso, para a indústria do fumo, quanto mais jovem a pessoa começar a fumar,
melhor. Para quem não quer ficar dependente do cigarro, a única alternativa
totalmente confiável é não começar a fumar.

As drogas tornaram-se mercadorias muito rentáveis


No mundo globalizado, não foi apenas o consumo psicotrópicas tinham o seu lugar bem definido em
do tabaco que se tornou um problema de saúde pública. festas ou rituais, cujo uso era controlado e protegido
Muitas outras drogas, legais ou ilegais, passaram a ser pela sociedade. Além do uso como fonte de prazer,
comercializadas em larga escala. sempre existiu o uso sagrado, mágico ou medicinal
Uma característica comum a todas elas é que atu- dessas substâncias. A religião e a medicina foram
am no cérebro, modificando a maneira de sentir e duas fontes básicas de conhecimento das drogas
agir. Os registros históricos mostram que, desde que psicotrópicas.
o mundo é mundo, as pessoas procuram e utilizam Mais recentemente, entretanto, essas drogas pas-
substâncias que modifiquem seu humor, suas sen- saram para um domínio bem diferente: tornaram-se
sações, seu grau de consciência e seu estado emo- mercadorias muito lucrativas em razão do comércio
cional. Em todas as culturas conhecidas, as drogas em larga escala e do incentivo ao consumo cotidiano.

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Dê exemplos de fontes de poluição atmosférica.


2. Por que os poluentes são causadores de doenças crônicas e degenerativas? Cite exemplos.
3. O texto indica três fatores que compõem um tabagista. Identifique sinais de cada um deles na
história a seguir:

352 Ciências
Maria está tentando abandonar o cigarro. No primeiro dia a dificuldade foi
muito grande. A todo momento tinha vontade de fumar, principalmente quando falava
ao telefone. Ela considerava o cigarro seu companheiro, uma espécie de amigo que a
acompanhava nos momentos de solidão. Mas seu grupo de apoio antitabagismo já
tinha discutido o problema e Maria estava firme na decisão.

LER TABELA I

O 6o Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do


Ensino Fundamental e Médio foi realizado no ano 2010, cobrindo as 26 capitais brasileiras e o
Distrito Federal.
A seguir estão indicadas as drogas mais utilizadas pelas pessoas que participaram desse levan-
tamento e a porcentagem dos participantes que usou cada uma delas alguma vez na vida e nos 30
dias anteriores à pesquisa.

Uso de drogas psicotrópicas entre estudantes do Ensino Fundamental e Médio, Brasil, 2010

DROGAS PSICOTRÓPICAS USO ALGUMA VEZ NA VIDA (%) USO NO ÚLTIMO MÊS (%)

álcool 60,5 21,1

tabaco 16,9 05,5

energético com álcool 15,4 *

solventes / inalantes 8,7 02,2

maconha 5,7 02,0


* não informado na pesquisa
Fonte: VI Levantamento Nacional Sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio da rede pública e privada de ensino nas 26 capitais brasileiras e distrito federal, 2010. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas.

1. O que é possível concluir com base nos dados apresentados na tabela?


2. Você acredita que os resultados correspondem ao que poderia ser verificado em uma pesquisa
realizada na sua cidade ou na sua comunidade escolar?

USO A ABUSO
O abuso de drogas lícitas atualmente não está relacionado apenas às substân-
cias como o álcool e o tabaco, mas também a medicamentos, utilizados muitas
vezes de forma desnecessária ou inadequada, com ou sem prescrição médica. Em
alguns casos, os medicamentos são comercializados sem que tenham sido feitos
os testes necessários para comprovar sua eficácia e para conhecer melhor os pos-
síveis efeitos indesejados.

9º ano 353
Andy Ryan

Figura de homem com a face


composta de cápsulas de
medicamento faz uma crítica
ao uso indiscriminado de
remédios.

O que são drogas


O SISTEMA NERVOSO Uma droga é qualquer subs-
tância capaz de modificar a
O sistema nervoso é formado por um conjunto de
função dos organismos vivos,
órgãos que tem capacidade de captar mensagens e estí- promovendo mudanças fisioló-
mulos do ambiente ou do próprio corpo, interpretá-las e gicas ou de comportamento. Por
exemplo: uma substância que,
armazená-las, produzindo respostas que podem ser dadas ao ser ingerida, contrai os vasos
na forma de movimentos ou sensações. Junto com o sis- sanguíneos, levando ao aumen-
tema endócrino, o sistema nervoso coordena as diversas to da pressão arterial (mudança
fisiológica), ou que torna as célu-
funções do organismo. las do nosso corpo mais ativas,
A cada estímulo externo (como o uso de substâncias deixando a pessoa sem sono
psicotrópicas, o cheiro de um alimento ou o som de uma (mudança de comportamento).
Drogas psicotrópicas são
música) ou interno (como a dor ou a sensação de fome), o aquelas que atuam no nosso cé-
organismo reage instantaneamente. Isso ocorre porque o rebro, estimulando ou deprimin-
sistema nervoso central permite a troca de informações e do o funcionamento do sistema
nervoso central.
a geração de respostas, conforme os estímulos recebidos.

354 Ciências
OS COMPONENTES DO SISTEMA NERVOSO

Os órgãos que compõem o sistema nervoso podem ser estudados, esque-


maticamente, em duas partes: sistema nervoso central e sistema nervoso pe-
riférico.
Os principais componentes do sistema nervoso central são o encéfalo,
que está localizado no crânio, e a medula espinhal, que está protegida pela
coluna vertebral.

Ilustração digital: Luciano Tasso


Planejamento Controle
Direcionamento da motor motor
atenção Tato e sensibilidade

Cérebro

Inteligência
espacial

Movimento visual

Memória funcional
espacial
Visão
Controle da escrita
Controle motor fino

Reconhecimento Compreensão de
de objetos palavras
Sentido da audição Cerebelo

Ciclo de somo e
Bulbo vigília/controle
geral da excitação

O encéfalo é constituído principalmente por cérebro, cerebelo e bulbo. Uma teoria afirma que as funções do cérebro são comandadas por neurônios localizados
em zonas específicas, como mostra a figura.
Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

O sistema nervoso periférico comporta os nervos que se encontram em to-


das as partes do corpo. Algumas divisões da parte periférica podem ser contro-
ladas de acordo com nossa vontade. A musculatura esquelética de todo o corpo
é regulada dessa forma. Já os movimentos dos músculos, como os do coração e
do sistema respiratório, respondem ao sistema nervoso autônomo, que realiza os
movimentos involuntários.

9º ano 355
Ilustração digital: Luciano Tasso
Cérebro

Tronco cerebral
Nervos cranianos

Nervos cervicais Medula espinhal

Nervos torácicos

Nervo radial

Nervos lombares
Nervo mediano

Nervos sacros

Nervo cubital

Nervo femoral

Nervo ciático

Nervo tibial posterior


Nervo tibial

Nervo plantar externo

Nervo plantar médio

Representação esquemática do sistema nervoso.


Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

As células nervosas constituem a unidade básica de todo o sistema nervoso.


Elas são denominadas neurônios, sendo capazes de perceber todas as formas
de estímulo e reagindo com uma alteração elétrica que percorre sua mem-
brana. Essa alteração elétrica é o impulso nervoso. Essas células têm forma
alongada e ramificada.

356 Ciências
Um neurônio típico apresenta três partes distintas: corpo celular, dendritos e
axônio. No corpo celular, a parte mais volumosa da célula nervosa, localizam-se o
núcleo e a maioria das estruturas citoplasmáticas. O corpo celular se expande nos
dendritos, chamados assim porque são prolongamentos finos e ramificados, com
a função de transportar estímulos até ao corpo celular. Os estímulos chegam do
ambiente ou, mais frequentemente, de um outro neurônio. Outra parte do neu-
rônio é o axônio, que é um prolongamento fino mais longo que os dendritos. Ele
transmite para outras células impulsos nervosos vindos do corpo celular. Assim,
os estímulos são disseminados em uma rede de neurônios.

Nódulo de Ranvier

Terminal do axônio
(terminal de transmissão)

Bainha de Mielina

Sentido de
propagação

Axônio
Corpo

Dentritos
(terminal de recepção)

Representação esquemática de um neurônio. Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Dendritos e axônio passam a ser conhecidas como fibras nervosas, presentes


em todo o corpo e responsáveis por ligar os corpos celulares dos neurônios entre
si e com células musculares e glandulares.
A transmissão das mensagens, uma reação em cadeia, ocorre de duas maneiras. No
interior dos neurônios, ela ocorre por meio de um impulso elétrico. Entre dois neurô-
nios, a mensagem é transmitida também por impulso elétrico ou por substâncias quími-
cas chamadas neurotransmissores. Já são conhecidos mais de 50 neurotransmissores.

9º ano 357
APLICAR CONHECIMENTOS IV

1. Quais são as duas principais regiões do sistema nervoso central? Onde se localizam?
2. Nosso sistema nervoso possui trilhões de neurônios. Como as mensagens são transmitidas
entre elas?

OS EFEITOS DAS DROGAS PSICOTRÓPICAS NO SISTEMA NERVOSO


A essa altura, você já sabe que as substâncias que geralmente chamamos de
“drogas” são, na realidade, as drogas psicotrópicas ilegais. Entretanto, é impor-
tante saber que a legalidade ou a ilegalidade das drogas está mais relacionada a
costumes e questões políticas e econômicas que aos seus efeitos sobre a saúde.
Existem diversos tipos de drogas psicotrópicas. Todas elas causam mudanças na
forma de sentir e compreender a realidade, mas essas mudanças variam de acordo
com diferentes fatores: o tipo de droga, a quantidade consumida, as característi-
cas de quem a usa, as expectativas que a pessoa tem sobre seus efeitos e a situação
em que a droga é consumida, o estado emocional da pessoa naquele momento e o
valor (positivo ou negativo) que a droga tem para cada grupo social.
Assim, cada tipo de droga, com suas características químicas, tende a pro-
duzir um tipo de efeito no organismo. Mas cada pessoa, em cada situação, e de
acordo com suas características individuais, pode ter reações específicas.
Diversas drogas psicotrópicas (lícitas ou ilícitas) atuam nas sinapses nervosas.
Por exemplo, a nicotina atua nos mesmos circuitos de neurônios responsáveis
pelo movimento voluntário. Na ausência do cigarro, o fumante se torna irritado
e se lembra do vício constantemente. A cocaína provoca inundação de um neu-
rotransmissor que atua nas áreas de percepção e prazer do cérebro. Com o uso
continuado, o organismo entende que há sobra dessa substância e, consequente-
mente, diminui os mecanismos de sua recepção. Como resultado, a pessoa fica
pouco a pouco mais insensível aos prazeres cotidianos, precisando aumentar a
dose da droga para obter os mesmos efeitos. Os estudos sobre a ação do álcool,
por sua vez, sugerem que ele atue modificando a transmissão elétrica no neurônio
e, desse modo, deprimindo o sistema nervoso central, o que é percebido como
relaxamento pelo usuário.
Muitas vezes, os usuários de uma droga são discriminados porque, em nossa
sociedade, isso é interpretado como fraqueza de caráter. O alcoolismo, por exem-
plo, está relacionado à necessidade incontrolável de ingerir álcool, uma necessi-
dade que se mostra tão forte quanto a sede ou a fome. Isso ajuda a entender por
que a maioria dos dependentes de álcool não consegue se valer só de “força de
vontade” para parar de beber. Hoje sabemos que o alcoolismo pode ser controla-
do, mas não “curado”. Mesmo os indivíduos decididos a parar de beber podem ter
uma recaída. Isso não significa que a pessoa fracassou ou não possa recuperar-se

358 Ciências
do alcoolismo no futuro. Todas as formas de apoio da família, dos amigos e de
outros grupos são muito importantes para que a pessoa consiga enfrentar as difi-
culdades da abstinência com recursos positivos.

DROGAS E VIOLÊNCIAS
Já sabemos que o uso de drogas psicotrópicas que hoje são livremente comer-
cializadas — como o álcool, o tabaco e certos medicamentos — causa muito mais
danos à saúde dos brasileiros. O abuso do álcool,
em especial, está diretamente associado aos aci-
Tolerância e dependência
dentes e às violências.
Tolerância é a necessidade de aumentar
O comércio de drogas ilegais, por sua vez, progressivamente a dose da droga para con-
causa um número cada vez maior de vítimas. As seguir o mesmo efeito. Isso acontece com as
violências associadas ao tráfico implicam, hoje, anfetaminas, a cocaína, o álcool e os xaropes
que contêm codeína.
insegurança, perda da qualidade de vida e muitas Já a dependência é o impulso que leva a
mortes prematuras. Isso faz com que essas violên- pessoa a usar uma droga de forma contínua ou
periódica. O dependente é a pessoa que não
cias sejam comparadas a uma verdadeira guerra.
consegue controlar o consumo, agindo de for-
ma impulsiva e repetitiva. As duas formas prin-
cipais em que ela se apresenta são a dependên-
AS CONDIÇÕES DE VIDA E A PRODUÇÃO cia química e a dependência psicológica.
DA SAÚDE E DAS DOENÇAS Quando há dependência física e o usuário
para de tomar a droga ou diminui bruscamen-
Hoje sabemos que usar os recursos públicos te seu uso, geralmente acontece uma crise de
abstinência. A pessoa pode sentir mal-estar, fi-
para melhorar as condições de vida da população car irritável, ter insônia, ter sensação de vazio
é o caminho mais eficiente, humanitário e demo- e falta de concentração, sentir dores no corpo,
crático para garantir a saúde. Afinal, é possível entre outros efeitos físicos e psicológicos pelo
efeito da droga. A dependência física não acon-
manter a saúde quando falta trabalho, respira-se tece com todas as drogas psicotrópicas, nem
ar poluído, mora-se em uma casa onde nunca bate mesmo com a maioria delas. Além disso, para
sol ou ingere-se água e alimentos contaminados ajudar a superar a dependência, existem atual-
mente diversas formas de tratamento (com
por pesticidas e esgotos? outras drogas que precisam ser utilizadas de
Numa sociedade em que os jovens são as prin- forma muito cautelosa), que contribuem para
cipais vítimas de mortes violentas, é necessário diminuir as crises de abstinência. O uso ocasio-
nal e moderado do álcool, para fins de recrea-
enfrentar os problemas sociais que geram essas ção, faz parte do lazer da maioria das socieda-
violências, e não apenas preparar os serviços de des. Entretanto, existe hoje em quase todos os
saúde com pessoal e equipamentos especializados países do mundo um grande incentivo ao con-
sumo regular de bebidas alcoólicas, e em altas
para o atendimento das vítimas. doses. Vale dizer que a maior parte das pessoas
Outro ponto importante é o trânsito. Os aciden- que consome bebida alcoólica não se torna al-
coolista (dependente do álcool). Isso também é
tes de trânsito são uma importante causa de morte
válido para as outras drogas: somente algumas
em nosso país. Combinando leis de trânsito ade- pessoas se tornam dependentes. Na maioria
quadas com sinalização, transporte coletivo, edu- dos casos, o que faz as pessoas voltarem a usar
uma droga é a dependência psicológica e a in-
cação para o trânsito e qualidade das vias públicas,
tensa vontade de sentir novamente seu efeito.
é possível diminuir o número de acidentes, dimi- Geralmente, a dependência psicológica é muito
nuindo também a necessidade de prontos-socorros mais prolongada e mais difícil de ser superada.

9º ano 359
e hospitais para tratar as vítimas. É possível, ainda, prevenir pequenos acidentes que
acontecem com os idosos, que frequentemente precisam passar meses se recuperan-
do de fraturas decorrentes de quedas que poderiam ser evitadas. Dessa forma, pro-
mover a saúde também é cuidar da cidade, melhorar as vias públicas, os caminhos e
as calçadas para os pedestres.

Ciclovia na orla da Praia


de Camburi, em Vitória
(ES), 2011.

Sem dúvida, é necessário criar e manter serviços de saúde, garantindo a todos


os cidadãos os benefícios do conhecimento e das tecnologias para melhorar e
recuperar a saúde. Mas é igualmente necessário criar e manter espaços de convi-
vência e lazer, oferecer meios de transporte, garantir postos de trabalho e prevenir
a violência, pois é nas atividades cotidianas, e no ambiente onde elas acontecem,
que se constrói a história da saúde e da doença de pessoas e povos.

O SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE NO BRASIL


A Constituição Federal de 1988, pela primeira vez, declarou a saúde como
direito de todos os brasileiros.
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos
e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação. (artigo 196)

Até então as coisas eram diferentes. Quem tinha carteira de trabalho assinada
e pagava a Previdência Social tinha direito ao atendimento nos serviços públicos.
Quem não podia pagar e não “tinha INPS” era considerado indigente ou carente.
Como resultado de muitas lutas, foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS).
O nosso sistema público de saúde atende 75% da população brasileira. So-
mente 25% dos brasileiros usam convênios ou serviços privados. Embora seja
um sistema ainda jovem e esteja apenas começando a ser implantado em boa
parte dos municípios brasileiros, o volume de atendimentos é um dos maiores
do mundo.

360 Ciências
CONHECER MAIS

O que é o Sistema Único de Saúde (SUS)? Alguns números relativos ao SUS

É o conjunto de ações e serviços de saúde do país. No mês de novembro de 2012, foram realizados no
Esse sistema é responsável pela elaboração e divul- SUS:
gação das informações de saúde da população e pela – 822 414 procedimentos hospitalares;
aplicação das políticas de saúde em todo o país, desen- – 312 060 desses procedimentos hospitalares foram
volvendo para isso uma grande variedade de ações que cirurgias;
afetam a nossa vida de todo dia. Alguns exemplos são: – 5 062 transplantes de órgãos, tecidos e células;
• as ações de vigilância sanitária de locais como por- – 4 540 944 tratamentos odontológicos;
tos, aeroportos, mercados, bares, padarias, farmá- – 11 734 práticas corporais em medicina tradicio-
cias, hospitais e escolas; nal chinesa.
• a proposição e a fiscalização do cumprimento de Fonte: Departamento de Informática do SUS. Disponível em: <www.datasus.gov.br>.
leis que garantam a qualidade de todos os pro- Acesso em: 25 jan. 2013.
dutos que interferem na saúde como alimentos,
medicamentos, vacinas, órgãos para transplante, Nos bancos de dados do SUS você pode escolher
sangue para transfusões, substâncias usadas nos o período, o estado e o município para saber quan-
locais de trabalho; tos reais foram transferidos para o Fundo de Saúde,
• ações de prevenção e tratamento dos problemas bem como quantas consultas, atividades educativas e
de saúde do conjunto da população. internações foram realizadas ou quantos profissionais
A realização desses serviços e de todas as demais de saúde estão contratados. Acompanhar e controlar
ações do SUS é paga pelos cidadãos, por meio da arre- essas informações também é direito — e dever — de
cadação de impostos. todos.

Campanha de vacinação contra influenza H1N1 em Unidade Básica de Saúde em São Paulo (SP), 2010.

LUTA POR DIREITOS


Não podemos menosprezar nossas conquistas, que já foram muitas, nem per-
mitir que elas sejam perdidas depois de tantas lutas em prol de um sistema público
de saúde. O SUS serve de exemplo para outros países do mundo por causa de pro-
gramas como Saúde da Família, DST/aids, de vacinação e transplantes. O grande
desafio ainda é garantir que todas as políticas e ações de saúde definidas no SUS

9º ano 361
sejam colocadas em prática em todos os cantos do país. Como está caminhando a
implantação do SUS em seu município? Você pode participar do Conselho e das
Conferências de Saúde e da defesa de nossos direitos garantidos na Constituição.

INDICADORES DE SAÚDE
Para avaliar a qualidade de vida e a situação de saúde da população, são
coletadas informações que são utilizadas como indicadores de saúde. A espe-
rança de vida ao nascer ou expectativa de vida é um dos indicadores de saúde
mais importantes. Ela é calculada pela soma da idade de todas as pessoas que
morrem durante um ano, em determinada região (cidade, estado, país etc.),
dividida pelo número total de mortes, no mesmo período e na mesma região.
O resultado é o número médio de anos de vida esperados, naquele momento,
para uma pessoa que nasce naquela região.

LER TABELA II

O quadro a seguir mostra a esperança de vida ao nascer em sete países, no ano de 2009.

Esperança de vida ao nascer, 2009

Anos
País
Homens Mulheres

Angola 51 43

Índia 63 66

Brasil 70 77

Cuba 76 80

Estados Unidos 76 81

França 78 85

Japão 80 86

Fonte: Organização Mundial de Saúde, 2013.

362 Ciências
1. Cite os dois países onde a esperança de vida ao
A tendência atual, na maior parte
nascer é a mais elevada. dos países do mundo, é ter menos
2. Indique o país onde a esperança de vida ao nascer filhos e uma vida mais longa. Com
isso, está acontecendo um envelheci-
é menor. mento da população. Estima-se que,
3. Considerando os fatores que influenciam a quali- até 2050, o número de idosos no
mundo excederá o de jovens. No Bra-
dade de vida e a saúde, como você explicaria essas
sil, se for mantida a tendência atual, a
diferenças? população vai começar a diminuir já
neste século.

APLICAR CONHECIMENTOS V

Retome a lista dos problemas de saúde que você elaborou no começo do capítulo. Pense
agora nas medidas que podem ser tomadas pelo conjunto da sociedade ou pelo poder pú-
blico para promover a saúde e prevenir os problemas de saúde que mais afetam a sociedade.
Observe que, para cada problema, podem ser indicadas diversas medidas complementares de
prevenção.

Ações de prevenção dos problemas de saúde

Ações da sociedade e do poder público na prevenção das


Doenças infecciosas e parasitárias
doenças ou de suas complicações
Aids Oferecer o teste do HIV nos serviços públicos de saúde.

9º ano 363
Doenças crônicas e degenerativas Ações da sociedade e do poder público na prevenção das
doenças ou de suas complicações
Câncer de colo do útero Proibir o fumo em locais fechados para prevenir o fumo
passivo.

Adoecimento por causas externas Ações da sociedade e do poder público na prevenção das
doenças ou de suas complicações
Acidente de trânsito Apoiar pessoas que estão deixando de beber ou de usar
outras drogas.
Sinalizar corretamente as ruas.

364 Ciências
PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS
Sites Centro brasileiro de informações sobre drogas psicotrópicas (cebrid)
Na página do Cebrid na internet você pode obter muitas informações e dicas em uma abordagem
positiva. Clique em Folhetos ou em Perguntas mais frequentes e encontre informações seguras
sobre as drogas psicotrópicas, inclusive álcool e tabaco.
Disponível em: <www.cebrid.epm.br>. Acesso em: 14 fev. 2012.

Política nacional sobre drogas


O site contém cartilhas voltadas para jovens, educadores, pais de crianças, pais de adolescentes etc.
Os textos trazem conhecimentos científicos atualizados, apresentando questões relacionadas ao uso
de drogas de forma leve, informal e interativa.
Para acessar as cartilhas é preciso entrar na página dedicada a Políticas sobre Drogas e clicar em
Publicações.
Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD0D73EAFPTBRNN.htm>. Acesso em: 14 fev. 2012.

Portal da saúde
No site, você pode encontrar informações sobre o SUS, sobre a promoção da qualidade de vida
e da saúde, assim como informações específicas sobre as doenças.
Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/area/2/cidadao.html>. Acesso em: 14 fev. 2012.

9º ano 365
Bibliografia

CIÊNCIAS

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CASH, T.; TAYLOR, B. Eletricidade e ímãs. São Paulo: Melhoramentos, 1991.
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CHASSOT, A. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 1994.
CARLINI-COTRIM, Beatriz. Drogas: mitos e verdades. São Paulo: Ática, 1997.
(De Olho na Ciência).
CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas). Diponí-
vel em: <www.cebrid.epm.br/index.php>. Acesso em: 21 fev. 2013.
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366 Ciências
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Unicamp, 1995. (Os Recursos Físicos da Terra, Bloco II).
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VALADARES, Eduardo de Campos. Física mais que divertida: inventos eletrizan-
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tora UFMG, 2002.
VALADÃO, M. M. Saúde e qualidade de vida. São Paulo: Global/Ação Educativa,
2003.

9º ano 367
UNIDADE 7

Matemática
Capítulo 1
M AT E M ÁT I C A Desde tempos remotos

E m tempos remotos, as pessoas não sabiam plantar. Elas se alimentavam de


frutos que colhiam nas matas, da caça e da pesca. As práticas dessas ativida-
des levou-as a observar transformações nas árvores, nas folhas, nos frutos, nas
flores, nas sementes, no nascimento e no desenvolvimento de animais, nos movi-
mentos do Sol, da Lua, das estrelas, na passagem do tempo, nas estações do ano e
em outras ocorrências na natureza.
Essas observações fizeram com que algumas pessoas aprendessem a plantar, a
dividir terras férteis às margens de rios, a construir casas, a prever os movimentos
dos astros.
Essas e muitas outras práticas humanas dependiam do que hoje chamamos de
conhecimentos matemáticos.

Ricardo Azoury/Pulsar imagens

Plantação de alface e chicória em Teresópolis (RJ), em 2012.

RODA DE CONVERSA

Você sabe quais conhecimentos matemáticos estão por trás das atividad es de plantio, de caça
e de pesca? E no seu dia a dia, você usa a Matemática para perceber as regularidades na natureza?
Converse com os colegas a respeito da presença desses conceitos no cotidiano.

9o ano 371
UMA RELAÇÃO IMPORTANTE: O TEOREMA DE PITÁGORAS
Você já observou o início da construção de uma casa?
Uma das primeiras etapas consiste em marcar no terreno a localização da
casa, usando linhas e estacas para indicar no solo a posição e as medidas de cada
cômodo.
Em seguida, constrói-se o alicerce, parte da alvenaria que fica enterrada no
solo e vai sustentar as paredes que, por sua vez, sustentarão o telhado.
Em geral, as paredes formam ângulos retos, ou “ficam no esquadro”, como se
costuma dizer.
No Antigo Egito já se usavam ângulos retos para medir, entre outras coisas,
mudanças de direção.
Os ângulos retos eram construídos com pedaços de corda que continham 13
nós, dispostos em intervalos iguais.

Ilustração digital: Estúdio Pingado

A corda era bem esticada e fixada no chão por três estacas: a primeira prendia
tanto o primeiro nó como o décimo terceiro, a segunda estaca prendia o quinto
nó, e a terceira estaca prendia o oitavo nó.
Assim eram traçados triângulos retângulos cujos lados mediam 3, 4 e 5 uni-
dades de comprimento.
Para nos aprofundarmos nessa questão, vamos imaginar que Pedro e Geraldo,
dois pedreiros, precisam construir uma casa cujo alicerce tem forma retangular.
Para que as paredes da casa fiquem no esquadro, eles precisam aplicar um
procedimento comum entre pedreiros que se baseia no Teorema de Pitágoras.
Por volta do século VI antes de Cristo, o filósofo e matemático grego Pitágoras
e seus discípulos descobriram que, em qualquer triângulo que tem um canto reto,
a soma dos quadrados das medidas dos lados que formam esse canto reto é igual
ao quadrado da medida do terceiro lado desse triângulo.
Ou seja, sempre que um triângulo tem um ângulo reto, o quadrado da medida

372 Matemática
A
do lado maior é igual à soma dos quadrados das medidas dos
outros dois lados.
Um triângulo que possui um ângulo reto é denominado triân-
gulo retângulo. hipotenusa cateto

Nesse tipo de triângulo o lado maior é denominado hipote-


nusa e os outros dois lados, catetos.
Essa importante propriedade do triângulo retângulo pode C cateto B
ser formulada da seguinte maneira: O ângulo ABC é reto, e o indicamos
pelo símbolo . O triângulo ABC
é um triângulo retângulo.

Num triângulo retângulo, o quadrado da medida da hipotenusa


é igual à soma dos quadrados das medidas dos catetos.

(hipotenusa)2 = (cateto)2 + (cateto)2

Esse é o famoso Teorema de Pitágoras.


Esse teorema vale para todos os triângulos retângulos.
Acompanhe, agora, os procedimentos utilizados pelos dois pedreiros do nos-
so exemplo para aplicar esse teorema, deixando as paredes “no esquadro”.
Pedro finca uma estaca de madeira na posição que chamaremos de canto 1.
Geraldo amarra nela uma linha.
A partir do canto 1, eles esticam a linha e medem nela, com uma trena, a dis-
tância de 10 metros, marcando um ponto. Nesse ponto eles colocam uma segunda
estaca, identificada por canto 2, na qual amarraram a linha.
Pedro estica a linha numa direção aproximadamente perpendicular ao segmento de
reta nomeado por “canto 1; canto 2” e marca um ponto a 6 metros do canto 2.
Nesse ponto, ele finca uma terceira estaca, que
é identificada provisoriamente como canto 3. canto 2 10 m canto 1

canto 3

6m

10 m
canto 2 canto 1

A posição da terceira estaca é provisória porque os pedreiros precisam ve-


rificar se o canto 2 ficou reto ou no esquadro. Como se pode observar na figura
acima, ele não ficou.

9o ano 373
Acompanhe os procedimentos canto 3

que Geraldo usa para deixar o canto


2 no esquadro: B

1. A partir do canto 2, ele mede


80 cm sobre o fio que liga o can-
to 2 ao canto 1 e marca um ponto 60 cm

que será nomeado por A.


canto 2
2. A partir do canto 2, ele mede 60 cm A
canto 1
sobre o fio que liga o canto 2 ao 80 cm

canto 3, marcando o ponto B. canto 3

3. Em seguida, ele pega um pedaço


de madeira “retilíneo” com 1 me- B

tro de comprimento, coloca uma


das suas extremidades no ponto A
60 cm 1m
e desloca o fio esticado que liga o
canto 2 ao canto 3, tentando fazer
canto 2
coincidir a outra extremidade do A
canto 1
pedaço de madeira com o ponto B. 80 cm

4. No momento em que a distância de


A a B for igual a 1 metro, então Ge- o
ent canto 3
raldo afirma que o canto 2 está no vim
mo
esquadro.
B
Em seguida, ele marca a posição
definitiva do canto 3, que fica a 6 me-
tros do canto 2. 1m
Deslocando o fio que forma o can- 60 cm

to 3, Geraldo consegue fazer com que a


A
distância de A a B seja igual a 1 metro. canto 2 canto 1
80 cm
Nesse momento, ele tem certeza
que o canto 2 está no esquadro.
O que o Geraldo quer dizer quando ele afirma que o canto 2 está no esquadro?
Observe que as medidas dos lados do triângulo des- B

tacado na figura anterior são 80 cm, 60 cm e 1 metro, ou 1m


100 cm. 60 cm
Esses lados são os catetos e a hipotenusa do triângulo, res-
pectivamente. Por isso, pode ser aplicada a relação entre eles: canto 2 A
80 m

802 + 602 = 1002, ou 6 400 + 3 600 = 10 000

Veja outros exemplos.


Os triângulos a seguir são retângulos.
Para eles, vale o Teorema de Pitágoras.

374 Matemática
13

2,6
1
5 12
2,4

2,62 = 12 + 2,42 132 = 52 + 122


6,76 = 1 + 5,76 169 = 25 + 144

A nova tarefa de Pedro e Geraldo é localizar o canto 4 que vai formar a base
retangular na qual a casa vai ser construída.
Para colocar o canto 4 no esquadro, Pedro amarra uma linha no canto 3, com 10
metros de comprimento, e a estica até onde vai ser o canto 4 em uma direção apro-
ximadamente perpendicular ao segmento de reta nomeado por “canto 2; canto 3”.
Geraldo amarra outra linha, com 6 metros de
comprimento, no canto 1, e a estica até onde vai ser canto 3 canto 4
o canto 4 em uma direção aproximadamente per-
pendicular ao segmento de reta nomeado por “can-
6m
to 1; canto 2”.
O ponto onde essas duas linhas se encontrarem
determinará o canto 4. canto 2 canto 1
Dessa forma, os dois pedreiros marcam a base para 10 m
construir o alicerce da casa com suas medidas reais.

APLICAR CONHECIMENTOS I

• No triângulo retângulo ao lado, os catetos medem 3 unida-


des e 4 unidades.
unidade
Junto de cada cateto, foi desenhado um quadrado, cujos la-
dos têm a mesma medida do cateto.
Observe a figura e complete as frases. 3
a) A área do quadrado pintado de amarelo é
4
.
b) A área do quadrado pintado de verde é
.
c) A área do quadrado construído “junto” da hipotenusa é .
d) Relacione a área do quadrado maior com a soma das áreas dos quadrados menores.

e) Você acabou de fazer uma verificação particular do Teorema de Pitágoras.


Agora complete a frase a seguir:
“Num triângulo retângulo, o quadrado da medida da é igual à soma dos
das medidas dos .“

9o ano 375
TEOREMA DE PITÁGORAS: APLICAÇÕES

RAIZ QUADRADA

Conhecendo-se as medidas de dois lados de um triângulo retângulo e usando


o Teorema de Pitágoras, é possível determinar a medida do terceiro lado.
Por exemplo, conhecendo as medidas dos catetos, podemos calcular a medi-
da da hipotenusa.
O triângulo PQR a seguir é retângulo.
Se o cateto PQ mede 12 cm e o cateto QR mede 9 cm, Q

então a medida da hipotenusa pode ser obtida assim:


9 12

(hipotenusa)2 = 92 + 122
(hipotenusa)2 = 81 + 144 R
(hipotenusa)2 = 225 P

Portanto, para se obter a medida da hipotenusa, é preciso encontrar um nú-


mero que elevado ao quadrado seja igual a 225.
Um desses números é 15, pois 152 = 15 × 15 = 225.
Dizemos que 15 é uma raiz quadrada de 225 e representamos este fato assim:

225 = 15

Por causa do frequente uso do conceito de raiz quadrada de um número, o


símbolo 2 costuma ser substituído pelo símbolo .
Se os catetos de um triângulo retângulo medem 9 cm e 12 cm, então a sua hipote-
nusa medirá:

( )
2
225 cm = 52 cm = 15 cm = 15 cm

Como vimos, a raiz quadrada de um número envolve uma potência com ex-
poente 2.
Por exemplo, como 132 é igual a 169, então, 13 é a raiz quadrada de 169, ou seja:

( )
2
2
169 = 169 = 132= 13 = 13

Dando nomes aos seus componentes:

2
169 ou 2 169 chama-se radical.
169 chama-se radicando.
2 é o índice do radical.
13 é a raiz quadrada.

376 Matemática
Para calcular a raiz quadrada de um número em uma calculadora simples, basta digitar
o número e em seguida pressionar a tecla .
Por exemplo, para calcular 169 digitamos:

1 6 9

e no visor aparecerá o número 13.


O número inteiro 169 é um número quadrado perfeito, pois é o quadrado do nú-
mero inteiro 13.
Dizemos que 13 é a raiz quadrada exata de 169.
Um número racional, inteiro ou não inteiro, é quadrado perfeito se existir
número racional que, elevado ao quadrado, é igual àquele número.
Os números quadrados perfeitos têm raízes quadradas exatas.
Todo número racional quadrado perfeito tem raiz quadrada exata.
Todo número racional positivo possui uma única raiz quadrada.
A raiz quadrada de um número racional positivo é o número positivo que,
elevado ao quadrado, resulta nele.
Em particular: 0 = 0, pois 02 = 0.
Por exemplo, na igualdade c2 = 81, a letra c representa um número inteiro que
elevado ao quadrado é igual a 81.
Há dois números que elevados ao quadrado são iguais a 81. Um deles é 9, pois
9 = 81. O outro é –9, pois (–9)2 também é 81.
2

Mas, de acordo com o que foi mencionado, só 9 é a raiz quadrada de 81, pois
trata-se de um número racional positivo. Logo:

81 = 9

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Desenhe o triângulo retângulo MNP ao lado em uma fo- M

lha de papel sulfite.


O lado MN mede 6 cm e o lado NP, 8 cm.
a) Qual é a medida do lado MP?

b) Qual é o quadrado da medida de MP?


N P

c) Calcule 62 + 82 e compare esse resultado com o que você obteve no item anterior.

2. Complete as sentenças seguintes com números que as tornem verdadeiras:


2
a) 100 = 8 porque = 64. b) 100 = .
2
3. Na igualdade = 16, o ”esconde” pelo menos um número inteiro. Qual é esse número?

9o ano 377
OUTROS EXEMPLOS
1o exemplo:

Uma escada com 5 metros de compri-


mento está apoiada em uma parede.

Ilustração digital: Luciano Tasso


Sua base superior está a 4 metros do chão.
Qual é a distância da sua base inferior até
a parede?
É possível considerar como catetos o
“segmento” que vai da sua base superior per-
pendicularmente à base inferior da parede e
o “segmento” que vai da base inferior da es-
cada perpendicularmente à base inferior da
parede.
Um dos catetos mede 4 metros e a hipotenusa mede 5 metros.
Aplicando o Teorema de Pitágoras, temos:

(distância)2 + 42 = 52
(distância)2 + 16 = 25
(distância)2 = 9

Logo:

(distância)2 = 9, ou seja, distância = 9 = 32 = 3 metros

Logo, a distância da base inferior da escada à base inferior da parede é igual


a 3 metros.

2o exemplo: C
11
Fixando uma estaca no ponto A e marcando os
pontos B e C de modo que o ângulo C seja reto, 10
A
Antônio verificou que a medida de B a C é igual a
10 metros e de A a C é igual a 11 metros.
B
Qual é a distância de A a B?
O triângulo ABC é retângulo. Se o cateto BC mede 10 cm e o cateto CA mede
11 cm, então a medida da hipotenusa pode ser assim obtida:

(hipotenusa)2 = 102 + 112


(hipotenusa)2 = 100 + 121
(hipotenusa)2 = 221
hipotenusa = 221

378 Matemática
Para obter um valor aproximado de 221 em uma calculadora, podemos di-
gitar as teclas:

2 2 1

e no visor deverá aparecer um valor próximo de 14,86606875 (como é um valor


aproximado, ele pode variar, dependendo da precisão da calculadora).
Fazendo uma aproximação com duas casas decimais temos: 14,87.
Portanto, a distância de A a B é de, aproximadamente, 14,87 cm.

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Em um pedaço de cartolina, Angélica desenhou o tabuleiro retangular representado ao lado.


a) Quantos quadradinhos com 1 cm2 compõem esse tabuleiro?

b) Qual é a área desse tabuleiro, na unidade cm2?

c) Qual é a medida de cada lado desse tabuleiro na unidade cm?


1 cm

d) Lembrando que:

Área de um quadrado = lado × lado = lado2

escreva uma relação numérica entre a medida de cada lado desse quadrado e sua área usando
símbolo de raiz quadrada.

e) Representando a medida de cada lado de um quadrado pela letra L e a sua área pela letra A,
escreva uma relação algébrica entre e a medida de cada lado desse quadrado e sua área usando
símbolo de raiz quadrada.

2. No retângulo ABCD, seus lados distintos medem 12 cm e 20 cm.


Calcule a medida aproximada da diagonal AC com duas casas decimais após a vírgula.
A D

B C

9o ano 379
3. Na figura a seguir, os pontos A, B e C representam as casas de Alice (em A), Berenice (em B) e
Carolina (em C).
B A

A distância AB é igual a 32 km e a distância AC é igual a 40 km.


Calcule a distância da casa de Berenice, em linha reta (medida do segmento AC), à casa de Caro-
lina com duas casas decimais após a vírgula.

NÚMEROS IRRACIONAIS
Mayskyphoto/Shutterstock

1 1
1 1
Reinhard Dirscher/Imageplus

2 3
5
1 2
6 1

1 7
1
8
1 3 10

Exemplos de espirais: náutilus (acima, à esquerda), chifre de carneiro e triângulos retângulos em espiral.

Linhas parecidas com as linhas espirais que aparecem nos náutilus ou nos chi-
fres de um carneiro montanhes podem ser observadas numa sequência de triân-
gulos retângulos, cujas hipotenusas medem 2 , 3 , 4 , 5 , 6 , ..., e que “giram”
ao redor de um ponto.
Desses números, sabemos que 4 é o número inteiro 2, porque 22 = 4.
Porém, as representações decimais dos números 2 , 3 , 5 , 6 não são deci-
mais exatos e nem são dízimas periódicas.
Esses números não são números inteiros, nem números racionais.

380 Matemática
Supõe-se que Pitágoras e seus discípulos tenham sido as primeiras pessoas a
descobrirem a existência de um outro tipo de número, além dos racionais.
O famoso Teorema de Pitágoras foi a primeira constatação da existência desse
1
tipo de número, que foi denominado número irracional.
Acompanhe uma justificativa da representação geométrica
do número 2 que corresponde à hipotenusa do triângulo re-
tângulo ao lado, que é primeiro triângulo retângulo da figura 1
2
do espiral.
Lembrando do Teorema de Pitágoras, temos:

(hipotenusa)2 = 12 + 12 = 1 + 1 = 2
hipotenusa = 2

Pode-se utilizar uma calculadora sim-

EC Santos
ples para determinar um valor aproximado
da raiz quadrada de 2, pressionando as te-
clas 2 e , nessa ordem.
Se uma calculadora utilizada exibe, no
máximo, 8 dígitos, então, um valor aproxi-
mado de 2 mostrado por essa calculadora
é 1,4142136 ou 1,4142135.
Em uma máquina cujo visor exibe mais dígitos, podemos observar que 2
possui mais que sete casas decimais após a vírgula.
Na tabela a seguir, pode-se ver valores aproximados para 2 com 7, 8, 9, 10
e 31 casas decimais:

Número de casas decimais após a vírgula Valor aproximado para 2


7 1,4142136
8 1,41421356
9 1,414213562
10 1,4142135624
31 1,4142135623730950488016887242097

Por que os valores obtidos para 2 são aproximados?


Pode-se tentar responder à última questão usando uma calculadora.
Pressionando as teclas 2 e , calcularemos um valor aproximado da raiz
quadrada de 2.
Com o valor obtido (1,4142136 ou 1,4142135) no visor da calculadora (ima-
ginando que ela mostre 8 dígitos), se pressionarmos as teclas × e = , estaremos
calculando 1,41421362 (ou 1,41421352).
No visor da calculadora, pode aparecer o valor 2,0000001 ou 1,9999998.

9o ano 381
Usando uma calculadora que exibe 12 dígitos, então 2 é aproximadamente
igual a 1,41421356237, que pode ser representado por 2 1,41421356237.
Nesse caso, pode-se encontrar: 1,414213562372 1,99999999999.
A difícil conclusão a que muitos bons matemáticos chegaram ao longo da
história (há mais de 2 000 anos) é que, por melhor que seja a aproximação de 2 ,
nunca iremos obter:

(aproximação de 2 )2 = 2

Se, ao calcular (aproximação de 2 )2, o resultado obtido for 2, isso significa


que o processador numérico da máquina fez um arredondamento.
Da mesma forma, pode-se verificar que valores obtidos para 3 , 5 e 6
também são aproximados.
Eles também são números irracionais.
Outros exemplos de números irracionais são:
• π 3,1415926535897932384626433832795...;
• 0,123456789101112131415161718192021... (os dois algarismos se-
guintes são os algarismos do número 22, os dois seguintes são os alga-
rismos do número 23, e assim sucessivamente);
2 zeros 4 zeros 6 zeros
  
• 1,1010010001000010000010000001
   , e assim por diante.
1 zero 3 zeros 5 zeros

Mas nem todo número escrito na forma de radical é um número irracional. Por
exemplo, 9 , 25 e 1, 44 não são números irracionais, porque 9 = 3, 25 = 5 e
1, 44 = 1,2.

APLICAR CONHECIMENTOS IV

1. Qual é a medida da hipotenusa de um triângulo retângulo cujos catetos medem 5 cm e 3 cm? Esse
número é irracional?

2. A medida de cada lado de um quadrado é igual a 10 cm.


a) Qual é a área desse quadrado?

b) Essa área representa um número racional ou irracional? Justifique.

10 cm

382 Matemática
15 cm
3. Qual é a medida da diagonal do quadrado ao lado?
Escreva na forma decimal, um valor aproximado para essa medida
com 3 casas decimais após a vírgula decimal. 15 cm

EXERCITANDO MAIS

1. Calcule a medida do cateto do triângulo retângulo abaixo.


P

20 cm

16 cm

2. Observe os triângulos retângulos ao lado.


Use uma calculadora para determinar a
1 ? 1 ?
medida aproximada de cada hipotenusa,
com duas casas decimais.
1 2
unidade

3. Em um triângulo retângulo, a hipotenusa mede 13 cm e um dos catetos mede 5 cm.


O perímetro desse triângulo retângulo é .
4. Observe os números a seguir:

136 576 5 184 6 144

Quais deles são números quadrados perfeitos?

5. O tampo de uma mesa é quadrado e tem área de 6,25 m2. Quanto mede cada lado dessa mesa?

6. Desenhe em seu caderno um triângulo retângulo cujos catetos medem 2 cm e 1 cm.


a) Qual é o número irracional expresso na forma de radical que é representado pela hipotenusa
desse triângulo retângulo?

b) Obtenha um valor aproximado desse número irracional. Utilize uma calculadora para obter
um valor aproximado com 8 casas decimais após a vírgula.

9o ano 383
Capítulo 2
M AT E M ÁT I C A Conexões matemáticas

A s origens dos conhecimentos matemáticos remontam a tempos pré-históricos e


derivam de ideias centradas nos conceitos de número, grandeza e forma.
Alguns textos sobre a história das ciências afirmam que noções de Aritmética,
parte da Matemática que estuda os números e as operações, antecedem a escrita.
Registros de povos antigos mostram desenhos com formas geométricas, o
que faz supor que a Geometria é um dos campos mais antigos da Matemática.
Para essas civilizações, o conhecimento geométrico tinha um caráter essencial-
mente prático: sua importância estava diretamente relacionada à sua utilidade
para resolver problemas da vida cotidiana.
Ilustração digital: Luciano Tasso

Fonte: BOYER, Carl B. História da matemática. São Paulo: Blucher, Edusp, 1974.

Foram os gregos que, a partir do século VI antes de Cristo, passaram a


apresentar a Geometria como conhecimento formalizado, o que contribuiu
para o progresso das ciências.
As medidas também estavam presentes nas civilizações antigas, como as
dos egípcios, babilônios e chineses. Os avanços nesse campo ocorreram prin-
cipalmente por causa da necessidade de resolver problemas relacionados à de-
marcação e distribuição de terras e à cobrança de impostos de quem as culti-
vava. Essas civilizações desenvolveram fórmulas, exatas ou aproximadas, para
calcular a área de quadrados, retângulos e, talvez, triângulos.
A Álgebra, que hoje conhecemos como uma linguagem simbólica, usada para
representar fatos e relações gerais por meio de expressões, também teve suas ori-
gens no mundo antigo.
Consta que tanto os gregos como os babilônios já conheciam métodos algé-
bricos para resolver equações. Entretanto, o grande avanço ocorrido na Álgebra
se deve aos estudos produzidos pela civilização árabe.

384 Matemática
A própria palavra álgebra deriva de Al-jabr we mukabala (o equilíbrio), que é o
título de um tratado sobre equações, escrito pelo matemático árabe Al-Khowarizmi.
Esses conhecimentos são uma valiosa herança cultural deixada por nossos
antepassados para o desenvolvimento das ciências e das tecnologias.
Grupos como os indígenas brasileiros e povos nativos da América, África e
Ásia ainda hoje utilizam distintos modos de se orientar no tempo e no espaço, de
contar, de calcular, de reconhecer e medir as formas do universo. Você sabe algo
sobre esse assunto?

RODA DE CONVERSA

Você conhece algum fato relacionado à história do conhecimento matemático?


Em sua opinião, hoje em dia, os conhecimentos da Aritmética, da Geometria, da Álgebra e
das medidas aprendidos na escola também são úteis para resolver problemas da vida prática? Dê
exemplos e discuta com seus colegas.

GEOMETRIA E PROPORCIONALIDADE

Um profissional que desenha plantas de casas, edifícios e outras construções


muitas vezes precisa recorrer a conhecimentos matemáticos para resolver proble-
mas que surgem no decorrer de seu trabalho, como dividir um segmento de reta
com 8 cm em três partes iguais.
O quociente da divisão de 8 por 3 é um número racional com infinitas casas
decimais (uma dízima periódica):

8 ÷ 3 = 2,66666...

Para resolver esse problema sem usar o cálculo 8 ÷ 3 ou uma régua, pode-se
aplicar um conhecimento matemático desenvolvido por Tales de Mileto, comer-
ciante, filósofo e estudioso de Geometria que viveu na Grécia antiga, por volta do
ano 600 a.C.
Essa importante descoberta ficou conhecida como Teorema de Tales.
Veja o que diz o Teorema de Tales.

Quando três ou mais retas paralelas são cortadas por


duas retas transversais, as medidas dos segmentos determi-
nados sobre uma das transversais são respectivamente pro-
GLOSSÁRIO
porcionais às medidas dos segmentos determinados sobre a
Transversal: que passa de tra-
outra transversal. vés; que segue direção transversa
ou oblíqua; não reto; colateral.

9o ano 385
Veja uma figura ilustrativa para o Teorema de Tales.
r t

segmentos determinados
pelas transversais

segmentos determinados
pelas transversais
feixe de
retas paralelas

segmentos determinados
pelas transversais

reta transversal reta transversal

Acompanhe a explicação sobre o Teorema de Tales.


Na figura a seguir, aparecem três retas paralelas cortadas por duas retas transver-
sais, r e t.
Os segmentos de reta AB e BC, determinados sobre a transversal r, medem
respectivamente 2 cm e 3 cm e os segmentos de reta DE e EF, determinados sobre
a transversal t, medem respectivamente 3 cm e 4,5 cm.

r t r t

A D D
A
2 cm 3 cm
B E B E

3 cm 4,5 cm

C F C F

3
Considere as razões 2 e obtidas por meio das medidas dos segmentos de
3 4, 5
reta determinados sobre as duas transversais r e t.
Use uma calculadora para obter os quocientes da divisão de 2 por 3 e de 3 por
4,5, ou multiplique 2 por 4,5 e 3 por 3.
2
Com base nos resultados obtidos, é possível concluir que as razões 2 e
3 4 ,5
são iguais.
Como as razões são iguais, ou seja, como as medidas dos segmentos de reta
AB e BC, determinados sobre a transversal r, formam uma proporção com as
medidas dos segmentos de reta DE e EF, determinados sobre a transversal t, então
diz-se que os segmentos AB e BC são proporcionais aos segmentos DE e EF.

386 Matemática
Essa relação de proporcionalidade pode ser observada em outros exemplos,
nos quais retas paralelas são cortadas por retas transversais.
F t
N Q x

1,5 cm 2,5 cm
M P y 4 cm 5 cm

E H s
3 cm 5 cm
2 cm 2,5 cm
L O z D G r

a b x y
1,5 2,5 4 5
= =
3 5 2 2,5

O próximo exemplo é um caso particular do Teorema de Tales.


L
K
J
p
2,5 cm 2,5 cm
I

H
2,0 cm
n
G
2,0 cm
m

Se três ou mais retas paralelas cortadas por duas transversais determinarem so-
bre uma das transversais segmentos de reta com medidas iguais, então elas deter-
minam também, sobre a outra transversal, segmentos de reta com medidas iguais.
Aplicando esses conhecimentos, podemos dividir um segmento de reta com 8 cm
em três segmentos com medidas iguais, realizando os seguintes procedimentos:
• trace um segmento de reta AB, com 8 cm;
• partindo da extremidade A, desenhe um segmento de reta auxiliar AC, cuja medida seja
um número divisível por 3, por exemplo, 9 cm;
• divida o segmento AC em três partes iguais;
• nomeie os pontos obtidos em AC por M e N, como se pode ver na figura abaixo;
A B

9o ano 387
• trace o segmento de reta BC e, em A P Q B

seguida, trace as retas paralelas ao


segmento de reta BC que passam
pelos pontos M e N e que cortam M

o segmento de reta AB nos pontos


que serão nomeados por P e Q; N
• as medidas dos segmentos de reta
AP e PQ são 1 da medida do seg-
mento AB. 3
C

Como vimos, aplicando o Teorema de Tales, é possível determinar os pontos


que dividem um segmento de reta com 8 cm em três partes iguais, sem trabalhar
com a medida 2,666... cm, resultado da divisão de 8 cm por 3.
Veja no próximo exemplo como dividir um segmento de reta AB em três partes
não iguais, mas diretamente proporcionais a 2, 3, 5, aplicando o Teorema de Tales:
• trace um segmento de reta com 5 cm;
A B

• trace uma semirreta com origem no ponto A e que não passe pelo ponto B;
A B

• escolha uma unidade de medida qualquer (1 u) e, com uma régua ou compasso, marque
sobre a semirreta os dez segmentos de reta AM, MN, NO, OP, PQ, QR, RS, ST, TU e UV,
todos com medidas iguais a 1 u, pois 2 + 3 + 5 = 10. Esses segmentos são consecutivos.

A B

M
N
O
P
Q
R
S
T 1u
U
V
C
Dois segmentos de reta são consecutivos quando
têm uma extremidade em comum. A B
Os segmentos de reta AB e BC são consecutivos.
Os segmentos de reta MN e NP são consecutivos.
M N P

388 Matemática
• trace o segmento de reta BV;
A B

M
N
O
P
Q
R
S
T 1u
U
V

• finalmente, a partir do ponto A, sobre a semirreta, conte dois pontos


até N e trace a reta paralela ao segmento BV, passando pelo ponto N.
A partir do ponto N, sobre a semir-
reta, conte três pontos até Q e trace a
reta paralela ao segmento BV, passando A B
K L
pelo ponto Q.
Com isso, ficam determinados no M
segmento AB os pontos K e L, respec- N
O
tivamente. P
Como as medidas dos segmentos Q
R
NA, NQ, QV, são 2 u, 3 u e 5 u, respecti- S
vamente, então as medidas dos segmen- T 1u
tos AK, KL e LB, são respectivamente U
V
proporcionais a 2, 3 e 5.
Logo, os segmentos de reta AN e AK,
NQ e KL, e QV e LB são proporcionais.
O Teorema de Tales pode ser utilizado em situações em que é necessário di-
vidir um segmento de reta em partes proporcionais. Situações como essas são
vivenciadas por pedreiros, engenheiros, desenhistas. Para esses profissionais, é
inegável a utilidade da descoberta feita por Tales, no século VI antes de Cristo.

CONHECER MAIS

A pirâmide de Quéops e o Teorema de Tales


V
A grandiosidade da pirâmide de Quéops, construção que
data de 2600 a.C., inspirou Tales a construir um procedimen-
to preciso para determinar sua altura. Acompanhe o pensa-
mento de Tales: em um dia de sol, após fincar verticalmente
no chão um bastão de madeira de comprimento conhecido U
e medir sua sombra, ele concluiu que a altura do bastão e a
sombra projetada eram proporcionais à altura da pirâmide e
sua sombra, naquele mesmo instante. Dessa forma, no mo- C B F
mento em que a sombra do bastão fosse igual a sua altura, a
sombra da pirâmide seria igual à altura da pirâmide.

9o ano 389
APLICAR CONHECIMENTOS I

1. Aos domingos, Antônio gostava de ler jornal no jardim de sua casa e admirar o belo pinheiro que
ficava ao lado do portão. O hábito de observar a árvore levou-o a reparar em sua sombra, que,
bem cedo, era sempre muito comprida e ia diminuindo à medida que as horas se aproximavam
do meio-dia. Intrigado, ele pensou que haveria um momento em que o comprimento da sombra
seria exatamente o mesmo do pinheiro. Você acha que é possível comprovar a hipótese de Antô-
nio? Como? Discuta com um colega.
2. Tente resolver as seguintes situações aplicando as relações do Teorema de Tales. Se for convenien-
te, use régua e esquadro.
a) Trace um segmento com 18 cm e divida-o em três partes iguais. Utilizando esse resultado,
divida um segmento com 20 cm em três partes iguais.
b) Divida um segmento com 9 cm em duas partes proporcionais a 3 e 5.
c) Divida um segmento de reta com 20 cm em três partes, cujas medidas serão chamadas a, b e
c, de tal modo que b seja o dobro de a e c seja o triplo de a.

ARITMÉTICA E ÁLGEBRA

Aritmética e Álgebra são campos da Matemática que nos ajudam a compreen-


der relações quantitativas.
Os procedimentos aritméticos permitem atribuir significados aos números e
às operações na resolução de um problema.
Os procedimentos algébricos permitem representar situações-problema (por
meio de expressões), envolvendo variáveis ou incógnitas, números e operações
aritméticas.
Acompanhe a seguir a aplicação de um procedimento algébrico.
Para indicar o perímetro da figura abaixo, pode-se recorrer às seguintes for-
mas escritas.

a representa a medida de cada lado


da estrela, numa mesma unidade.
a+a+a+a+a+a+a+a+a+a+
+ a + a + a + a + a + a = 16 × a

O perímetro da estrela pode ser representado pela expressão algébrica 16 × a,


ou 16 · a.
Expressões algébricas desse tipo são chamadas monômios.

390 Matemática
Veja outros exemplos de monômios:

3
2·a·b –5 · x2 ·m·n 0,73 · p · q2 · r3 · s4
7

Tomando como base os exemplos dados, podemos caracterizar monômio,


simplificadamente, da seguinte forma:
• O seu fator numérico é chamado coeficiente.
• O produto das variáveis na forma de potências com expoentes inteiros
e positivos é chamado parte literal. Por exemplo:
No monômio 2 · a · b, 2 é o coeficiente e a · b é a parte literal.
No monômio –5 · x2, –5 é o coeficiente e x2 é a parte literal.
No monômio 3 · m · n, 3 é o coeficiente e m · n é a parte literal.
7 7
No monômio 0,73 · p · q2 · r3 · s 4, 0,73 é o coeficiente e p · q2 · r 3 · s 4 é a parte literal.
• Todo monômio com o coeficiente igual a zero é o monômio nulo. Por
exemplo: 0 · x2 = 0.
• Quando o coeficiente de um monômio é 1, então esse coeficiente não
precisa ser escrito. Por exemplo: 1 · x = x.
• Monômios com as mesmas partes literais são chamados monômios se-
melhantes. Por exemplo: 3 · x2 e 5 · x2 são monômios semelhantes; 5 · x
e 3 · x2 não são monômios semelhantes.
Podemos operar com monômios utilizando as propriedades já estudadas para
os números.

ADIÇÃO DE MONÔMIOS
As medidas dos lados do triân-
2·a 4·a
gulo representado estão indicadas
em centímetros.
Calcule seu perímetro. 5·a

Para obter o perímetro desse triângulo, calculamos a soma das medidas de seus
lados, representadas pelos monômios semelhantes 2 · a, 4 · a e 5 · a.
Perímetro = 2 · a + 4 · a + 5 · a = (a + a) + (a + a + a + a) + (a + a + a + a + a) = 11 · a
Esse perímetro pode ser calculado colocando o fator comum a em evidência:
Perímetro = 2 · a + 4 · a + 5 · a = (2 + 4 + 5) · a = 11 · a

fator comum
fator comum em evidência

Perímetro = 2 · a + 4 · a + 5 · a = (2 + 4 + 5) · a = 11 · a

Veja outros exemplos nos quais calculamos a soma de monômios semelhantes.


• 3 · x2 + 2 · x2 = (3 + 2) · x2 = 5 · x2
• 8 · m2 + m2 = (8 + 1) · m2 = 9 · m2
Observe que, em cada caso, adicionamos os coeficientes dos monômios e con-
servamos suas partes literais.

9o ano 391
Na adição de monômios, quando estes não são semelhantes o resultado (a
soma) é uma expressão algébrica que denominamos polinômio.
Exemplos: a2 – b e x2 – 62 · a · x + 10 + 3 · b3 são polinômios.
Uma expressão algébrica que é soma de dois monômios não semelhantes é
chamado binômio.
Por exemplo: Os monômios 2 · b e b2 são os termos do binômio 2 · b + b2.
Uma expressão algébrica que é soma de três monômios, dois a dois não seme-
lhantes, é chamado trinômio.
Por exemplo: Os monômios 2 · x, – 0,62 · a · x e y3 são os termos do trinômio:
2 · x – 0,62 · a · x + y3

SUBTRAÇÃO DE MONÔMIOS
A área do retângulo menor da figura ao lado
é 6 · b e a área do retângulo maior é 10 · b. Vamos
determinar a área da região pintada de azul. 10
Uma forma para determinar essa área con- 6
siste em calcular a diferença entre as áreas dos
retângulos, que são dadas pelos monômios se-
b
melhantes 10 · b e 6 · b.
Logo, a área da região pintada de azul é igual a 10 · b – 6 · b.
Para calcular a diferença 10 · b – 6 · b, podemos colocar em evidência o fator
comum b:

10 · b – 6 · b = (10 – 6) · b = 4 · b

Observe que subtraímos os coeficientes dos monômios e conservamos suas


partes literais.
Veja outros exemplos, nos quais calculamos a diferença entre monômios se-
melhantes:
• 3 · a2 – 2 · a2 = (3 – 2) · a2 = 1 · a2 = a2
1
• 3 · y − (− · y)
2 1
A diferença entre 3 · y e − 2 · y pode ser expressa como a soma de 3 · y com o
1
oposto de − 2 · y :

1 1 1  6 + 1 7
3 · y – (– · y) = 3 · y + · y = (3 + ) · y =   ·y= ·y
2 2 2  2  2

A soma ou a diferença entre dois monômios semelhantes é o monômio com:


• coeficiente igual à soma ou à diferença entre os seus coeficientes;
• a mesma parte literal desses monômios.

392 Matemática
MULTIPLICAÇÃO DE MONÔMIOS

No retângulo representado ao lado, a lar- x


gura é a metade do comprimento.
Qual é a área desse retângulo?
Se x é seu comprimento, então sua lar- 1
·x
gura é x . 2
2
Portanto, a área desse retângulo é o produ-
to do seu comprimento pela sua largura, repre-
sentados pelos monômios semelhantes x e x .
2

x
área do retângulo = x ·
2

Aplicando algumas vezes as propriedades associativa e comutativa da multi-


plicação, tem-se:

x 1 1 1 1
x· =1·x· · x =  1 ⋅ 1  · x · x = · x1 · x1 = · x1+1 = · x2
2 2  2  2 2 2
Produto de potências de bases iguais:
mantém-se a base e adicionam-se os expoentes.

1
Observe que foram multiplicados os coeficientes 1 e 2 desses monômios e
foram multiplicadas as partes literais x e x.
Veja outros exemplos, nos quais calculamos os produtos de monômios.
• 3 · t2 · 5 · t2 = (3 · 5) · t2 · t2 = 15 · t2+2 = 15 · t4
Produto de potências de bases iguais:
mantém-se base e adicionam-se os expoentes

• 4 · r 2 · 2 · r 2 · 3 · r 3 = (4 · 2 · 3) · r 2 · r 2 · r 3 = 24 · r 2+2+3 = 24 · r 7

O produto de dois ou mais monômios é o monômio com:


• coeficiente igual ao produto dos coeficientes desses monômios;
• parte literal igual ao produto das partes literais desses monômios.

DIVISÃO DE MONÔMIOS

O depósito de uma empresa é utilizado para estocar caixas cúbicas de emba-


lagem de um produto para informática, formando pilhas de caixas. As caixas são
colocadas em camadas. Cada camada tem o mesmo número de caixas na largura
e no comprimento.
Se você denominar o número de caixas da largura e do comprimento por n,
então cada camada de caixas terá n · n = n2 caixas por camada.

9o ano 393
Em determinado dia, o
número de caixas estoca-
altura da pilha
das no depósito era de 5 · n3 de caixas
caixas. Qual era a altura da
pilha nesse dia?
Podemos identificar a
quantidade de caixas na pi- n de caixas
lha como o volume da pilha, de largura

considerando cada caixa


n de caixas
como unidade de volume. de comprimento
Logo:

volume da pilha = número de caixas na pilha = 5 · n3

Mas o volume dessa pilha pode ser calculado pela fórmula:

volume da pilha = comprimento · largura · altura = n · n · altura = n2 · altura = 5 · n3

Portanto:

5 ⋅ n3 5 ⋅ n ⋅ n ⋅ n
altura = = = 5 ⋅ n caixas
n2 n⋅n

O valor da altura da pilha foi obtido pela divisão entre dois monômios 5 · n3 e n2.
O coeficiente do monômio 5 · n, obtido como resultado da divisão dos dois
monômios, é o quociente da divisão dos coeficientes daqueles monômios, e sua
parte literal é o quociente da divisão das partes literais daqueles monômios.
Mas nem sempre a divisão entre dois monômios dá um monômio.
Acompanhe o seguinte exemplo.
A densidade de um líquido pode ser obtida por meio da seguinte fórmula:

massa do liquido
densidade de um líquido = quilogramas por litro (kg/L).
volume ocupado pelo liquido

Um líquido está acondicionado em uma caixa em forma de bloco retangular


cujas dimensões são:

comprimento = largura = a decímetros


altura = 2 · largura

394 Matemática
Logo:

volume da caixa = a · a · 2 · a = 2 · a3 decímetros cúbicos = 2 · a3 litros.

Considerando que a massa desse líquido seja de a quilogramas, vamos deter-


minar a sua densidade.
Introduzindo as informações dadas na fórmula da densidade de um líquido,
obtemos:

a a 1 1 1 1
densidade do líquido = = = = ⋅ 2 = 0,5 ⋅ 2 kg/L
2⋅a3
2⋅a⋅a2
2⋅a2
2 a a
1
Como: 2 = a–2, então é possível concluir que a–2 não é um monômio, pois o
a
expoente da variável a é negativo.

O cociente entre dois monômios, com divisor diferente de zero, tem:


• coeficiente igual ao cociente entre os coeficientes desses monômios;
• parte literal igual ao cociente entre as partes literais desses monômios.

Nos cálculos que acabamos de realizar, observamos que as operações aritmé-


ticas e suas propriedades podem ser estendidas para efetuar operações com ex-
pressões algébricas.
Constatamos, também, que expressões algébricas permitem expressar genera-
lizações sobre algumas propriedades das operações aritméticas.

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Escreva frases ou textos para explicar o significado de cada um dos termos a seguir. Procure dar
exemplos nas suas explicações.
a) variável d) parte literal de um monômio
b) monômio e) monômios semelhantes
c) coeficiente de um monômio f) polinômio
Apresente suas explicações para um colega e peça a ele que faça a mesma coisa. Analise as expli-
cações dele e identifique os pontos comuns e divergentes.
2. O que é monômio nulo?
3. Identifique os termos dos seguintes polinômios:
y2 2 m2
a) –n2 – 5 · m b) x · 2 c) 5 – 4 · n2 · m +
2
4. Assinale as expressões algébricas que são binômios e trinômios:
a) 3 · a · x2 b) 2 · b · y – 3 · x2 c) 4 · x + 2 · a · y – 2 · a · x2 d) n3 + 2 · m · n2 + m2 · n + m3
5. No exercício anterior há uma expressão algébrica que não é monômio, binômio ou trinômio.
Identifique essa expressão e pesquise o nome que se dá a ela.

9o ano 395
CÁLCULOS ARITMÉTICOS E EXPRESSÕES ALGÉBRICAS
Observe, nas situações a seguir, a utilização de cálculos aritméticos e de ex-
pressões algébricas para determinar perímetros, áreas e volumes.

2 2

2 4 a b
perímetro = (2 + 4) · 2 = 2 · 2 + 4 · 2 perímetro = 2 · (a + b) = 2 · a + 2 · b

3 n

6 m
área = 6 · 3 área = m · n

5 3·a

5 3·a
5 3·a
volume = 5 · 5 · 5 = 53 volume = (3 · a) · (3 · a) · (3 · a) =
(3 · 3 · 3) · (a · a · a) = 27 · a3

Analisando as situações estudadas neste capítulo, pode-se notar que as expres-


sões algébricas não têm o objetivo de encontrar apenas uma resposta numérica
para os problemas. Elas expressam o que é genérico, ou seja, aquilo que vale para
diferentes valores numéricos, independentemente de quais sejam esses valores, e
de acordo com as restrições de cada caso.
APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Utilize uma expressão algébrica para representar a área da figura abaixo.

x x x 2

2. Desenhe uma figura:


a) cujo perímetro seja representado pela expressão: 2 · a + 5 · b + 7 · c;
b) cuja área seja representada pela expressão: (x + 3) · (x + 3);
c) cujo volume seja representado pela expressão: 2 · a · 3 · a · 5 · a.
3.Uma praça de forma retangular terá seu comprimento ampliado em 5 m. Indique por meio de ex-
pressões algébricas qual será o perímetro e a área da praça após a ampliação.

396 Matemática
EXERCITANDO MAIS

1. Nesta figura há um feixe de retas paralelas cortadas por duas transversais. Calcule o valor de x.

r s

6 x

9 12

2. Observe, na figura, um feixe de retas paralelas cortadas por duas transversais. Calcule o valor de y.

12 3 y

3. Observe a figura e descreva uma relação de proporcionalidade entre os segmentos determinados


sobre as retas paralelas.

r A
B
C

s
D E F

m n o

4. Traduza para uma linguagem algébrica as expressões a seguir.


a) O dobro da soma de a e b:
b) O quadrado da soma de a e b:
c) A soma de a com o quadrado de b:
d) O quadrado de a adicionado ao dobro de b:
5. Escreva, para cada caso, um exemplo de monômio que tenha:
a) parte literal igual a a2:
b) coeficiente igual a 2,5:

9o ano 397
6. Usando monômios, represente o que é pedido para cada figura. As letras representam a metade
das medidas de cada lado nas figuras.
Figura 1: determine o perímetro do triân-
gulo equilátero.
a
b c
Figura 2: determine a área do hexágono.
b
Figura 1 Figura 2 Figura 3
Figura 3: determine a medida do lado do
quadrado.

7. Calcule o perímetro das figuras, sabendo A B


x
que AB = BC = CD = DE = EF = FG = .
2 C D

3·x
E F

2·x 5·x

H G 6·x

8. Se A = 2 · x , B = x , C = 3 · x e D = 6 · x , então determine:
2 2 2 2

a) A + B e) (A + B) – C
b) A – B f) D – (A – B) + C
c) (A – B) + (C – B) g) C – B
d) A + C h) D – (C + B)

9. Escreva as expressões algébricas que traduzem a área de cada figura a seguir.


3 x
a)
x

3∙x x2 3
b)
x

c) x 6

398 Matemática
10. Considere uma caixa em forma de bloco retangular com as medidas indicadas abaixo e escreva a
expressão algébrica que traduz o volume desta caixa:

2·x

x
3·x

11. Complete as igualdades a seguir, atribuindo ao símbolo um monômio, de modo que as


sentenças sejam verdadeiras:
a) · 3 · x2 = 9 · x4
b) ÷ 2 · x = x2
1
c) ·x· = 4 · x2
2
d) 36 · x2 ÷ =6·x

9o ano 399
Capítulo 3
M AT E M ÁT I C A Matemática nas finanças

Richard Drew/Associated Press/AE


Operadores trabalham no pregão da Bolsa de Valores de Nova York, nos Estados Unidos, 2011.

Trabalhamos com matemática financeira quando aplicamos alguns conceitos


matemáticos para resolver problemas relacionados com empréstimos, aplicações
em cadernetas de poupança, financiamentos de automóveis, casas, apartamentos,
pagamentos de dívidas, taxa de juros, regimes de capitalização, entre outros.
Com as noções abordadas neste capítulo não se pretende que você seja um
especialista em finanças, mas espera-se que você possa analisar e comparar al-
gumas situações envolvendo aplicações financeiras e entender o funcionamento
simplificado de uma caderneta de poupança.

NOÇÕES DE MATEMÁTICA FINANCEIRA


No dia 1o de julho de 2013, em um momento de dificuldade, Carlos pediu um
empréstimo no valor de R$ 1 000,00 a seu amigo José.
Ele combinou que pagaria essa dívida no dia 1o de agosto do mesmo ano, da
seguinte forma:
• os R$ 1 000,00 do empréstimo;
• mais R$ 15,00, para compensar o dinheiro que José poderia conseguir
se tivesse aplicado essa quantia no mercado financeiro.

400 Matemática
Essa situação contém algumas noções de matemática financeira importan-
tes. Veja:
• o valor R$ 1 000,00 pode ser denominado capital;
• o total a ser pago no dia 1o de agosto, R$ 1 015,00 pode ser denominado
montante;
• o tempo decorrido desde o empréstimo até o pagamento (um mês,
neste caso) pode ser denominado tempo de aplicação;
• o valor R$ 15,00 é o juro pago pelo empréstimo (uma espécie de prê-
mio, preço pelo custo do dinheiro no mercado financeiro).
De uma forma simplificada, capital pode ser entendido como uma determi-
nada quantidade de unidades monetárias (dinheiro) ou de algo que pode ser con-
vertido em dinheiro.
Os juros do capital podem ser entendidos como a quantidade de unidades
monetárias que deve ser paga pelo seu uso temporário.
Os juros são um prêmio em dinheiro que o emprestador recebe, além da parte
integral do capital cedido.
O montante do capital é a quantidade de unidades monetárias obtidas pela
adição do capital aos juros, num certo intervalo de tempo, que é o tempo de apli-
cação.
Se calcularmos a razão (cociente) entre o juro pago e o capital emprestado,
teremos a taxa de juros referente ao período de tempo desse empréstimo.
No caso citado:

15
taxa de juros do empréstimo = = 0,015 = 1,5% ao mês
1000

O esquema a seguir ilustra o negócio financeiro realizado entre Carlos e José.


tempo de aplicação

1 /7/2013
o
1o/8/2013

tempo (mês)
1 000 1 015
capital montante

Veja outro exemplo.


Ilustração digital: Estúdio Pingado

Em 23 de dezembro uma família apro-


veitou a promoção a seguir, oferecida por
uma loja de departamentos, e realizou uma
compra no valor de R$ 400,00.
A dívida da família foi paga dois meses
depois no valor de R$ 428,00.
Qual foi a taxa de juro que a loja prati-
cou nesse período?
Para uma resolução do problema pro-
posto, podemos calcular quantas vezes
R$ 428,00 cabe em R$ 400,00:

9o ano 401
R$ 428, 00
razão entre o valor pago e a dívida = = 1,07
R$ 400, 00

ou seja, o valor pago no final de 2 meses é 1,07 – 1,00 = 0,07 = 7% maior que a
dívida da compra feita. Portanto, a taxa de juro do financiamento da família foi
de 7% por dois meses.

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. Pedi a uma instituição financeira um empréstimo no valor de R$ 5 000,00 no dia 1o de agosto de


2013. Combinei pagar essa dívida no dia 1o de setembro do mesmo ano, da seguinte forma:
• os R$ 5 000,00;
• mais R$ 750,00 como pagamento pelo empréstimo temporário do dinheiro.
Identifique os valores relacionados nesse empréstimo aos seguintes termos financeiros:
a) capital: c) montante
b) juro do capital: d) tempo de aplicação:
Calcule a taxa de juros praticada no período de um mês para esse empréstimo:
2. Um tratamento dentário custou R$ 1 200,00. O dentista que realizou esse tratamento concordou
em receber seus honorários um mês após o seu término no valor de R$ 1 300,00.
a) Qual foi o valor dos juros desse financiamento?

b) Calcule a taxa de juros desse período de tempo.

3. Roberto comprou uma calça que custou R$ 120,00 para ser paga em 2 meses. O juro cobrado pela
loja nesse período de 2 meses foi de R$ 60,00.
Calcule a taxa de juros que foi praticada pela loja nesse período de tempo.

JUROS SIMPLES

José recorre a Carlos quando tem dúvidas sobre como aplicar o seu dinheiro.
Em uma conversa sobre esse tema, Carlos pediu que José imaginasse que ele
queria fazer uma aplicação financeira colocando R$ 100 000,00 em uma conta
bancária que rende 0,5% de juro ao mês.

402 Matemática
Imagine que esse rendimento obedeça às regras a seguir:
• Um mês depois que José fizer o depósito inicial de R$ 100 000,00, o
banco irá depositar na conta dele 0,5% de R$ 100 000,00.
• Com esse depósito, o saldo de José passará a ser:
fator comum fator comum em evidência

saldo (após 1 mês) = 100 000 + 0,5% × 100 000 = 100 000 × (1 + 0,5%) =
= 100 000 × (1 + 0,005) = 100 000 × 1,005 = 100 500 reais
• Passado o segundo mês do depósito inicial do José, o banco deposita-
rá na conta dele, novamente, 0,5% de R$ 100 000,00.
Com esse novo depósito, o saldo do José passará a ser:
saldo (após 2 meses) = saldo (após 1 mês) + 0,5% × 100 000 =
fator comum

= 100 000 × (1 + 0,5%) + 0,5% × 100 000 =


fator comum em evidência

= 100 000 × (1 + 0,5% + 0,5%) = 100 000 × (1 + 2 × 0,5%) =


= 100 000 × (1 + 2 × 0,005) = 100 000 × (1 + 0,010) =
= 100 000 × 1,010 = 101 000 reais
• Passado o terceiro mês do depósito inicial do José, o banco depositará
na conta dele, novamente, 0,5% de R$ 100 000,00.
Com esse novo depósito, o saldo do José passará a ser:
Saldo (após 3 meses) = saldo (após 2 meses) + 0,5% × 100 000 =
= 100 000 × (1 + 2 × 0,5%) + 0,5% × 100 000 =
= 100 000 × (1 + 2 × 0,5% + 0,5%) = 100 000 × (1 + 3 × 0,5%) =
= 100 000 × (1 + 3 × 0,005) = 100 000 × (1 + 0,015) =
= 100 000 × 1,015 = 101 500 reais
e assim por diante.
Depois de explicar esses cálculos, Carlos pergunta a José:
— Como você faria para calcular o seu saldo um ano após o depósito inicial
de R$ 100 000,00?
— Se eu continuar a calcular os saldos da minha conta mês a mês, então, de-
pois de uma boa dose de trabalho, eu chegarei ao valor pedido.
É, são mais nove cálculos parecidos com os três primeiros! Veja como é possí-
vel chegar a um resultado, economizando tempo, cálculos e energia.
Com base nos três cálculos anteriores, é possível concluir que:
• no final do primeiro mês, o banco depositará na conta de José R$ 500,00,
que representam 0,5% de R$ 100 000,00;
• no final do segundo mês, o banco depositará mais R$ 500,00, ou seja,
após dois meses o banco terá depositado 2 × 500 reais na conta dele;
• no final do terceiro mês, o banco depositará mais R$ 500,00, ou seja,
após três meses o banco terá depositado 3 × 500 reais na conta dele, e
assim por diante.

9o ano 403
Isso quer dizer que, no final de um ano (12 meses), o banco irá depositar na
conta dele 12 × 500 reais, ou seja 12 × 0,5% × 100 000. Logo:
saldo (após 1 ano) = saldo (após 12 meses) = 100 000 + 12 × 0,5% × 100 000 =
= 100 000 × (1 + 12 × 0,5%) = 100 000 × (1 + 12 × 0,005) = 100 000 × (1 + 0,06) =
= 100 000 × 1,06 = 106 000 reais
Como é possível perceber, essa forma de pensar resolve o desafio de maneira
eficiente.
Como calcular, então, o saldo de José dois anos após o depósito inicial de
R$100 000,00?
saldo (após 2 anos) = saldo (após 24 meses) = 100 000 + 24 × 0,5% × 100 000 =
= 100 000 × (1 + 24 × 0,5%) = 100 000 × (1 + 0,12) = 112 000 reais
As regras que acabaram de ser usadas têm o nome regime de capitalização
sob juros simples, ou simplesmente juros simples.

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Uma instituição financeira paga as aplicações de seus investidores a uma taxa de juros simples de
0,6% ao mês. Qual será o valor final de uma aplicação de R$ 20 000,00 por um semestre?
2. Antônio comprou um fogão que custou R$ 530,00 e que foi financiado em 2 meses. O valor
do juro cobrado pela financeira nesses 2 meses foi de R$ 106,00. Supondo que o financiamen-
to foi feito sob o regime de juros simples, calcule a taxa mensal de juro que foi aplicada pela
financeira.
3. Ricardo resolveu fazer uma aplicação financeira colocando R$ 150 000,00 em uma conta bancária
que rende 0,5% de juros simples ao mês, a partir do dia 2 de janeiro de 2013. Ele pretende deixar
esse dinheiro rendendo durante dois anos até o dia 2 de janeiro de 2015, quando pretende sacar
seu investimento para comprar, com pagamento à vista, um apartamento que custa R$ 170 000,00.
Imaginando que o preço desse apartamento permaneça o mesmo durante o tempo de aplicação,
essa aplicação permitirá que Roberto compre aquele apartamento sem ter que investir nenhuma
quantia a mais?

UMA GENERALIZAÇÃO DO REGIME DE CAPITALIZAÇÃO SOB JUROS SIMPLES


Com base no que foi observado nos exemplos anteriores, pode-se construir
uma generalização do regime de capitalização sob juros simples e aplicá-la em
outras situações que envolverem o cálculo de juros simples, considerando as in-
formações específicas de cada situação.
Primeira generalização: cálculo do montante alguns meses após o dia
2/1/2013.
Se representarmos por uma variável (uma letra) o número de meses de aplica-
ção e repetirmos os procedimentos vistos, então estaremos fazendo uma primeira
generalização deste tipo de aplicação.

404 Matemática
Por exemplo, vamos representar o número de meses de aplicação pela letra n.
Assim:

saldo (após n meses) = 100 000 × (1 + n × 0,5%) = 100 000 × (1 + n × 0,005)

Após a primeira generalização, José quis saber o que aconteceria se o valor da


aplicação mudasse.
Segunda generalização: cálculo do montante a partir de uma outra aplica-
ção, após o dia 2/1/2013.
Carlos explicou:
— Nesse caso, basta utilizar outra variável para representar qualquer valor
inicial de aplicação.
Por exemplo, vamos representar a aplicação inicial pela letra C. Assim:

saldo (após n meses) = C × (1 + n × 0,5%) = C × (1 + n × 0,005)

Terceira generalização: cálculo do montante com outra taxa de juro, após o


dia 2/1/2013.
Carlos explicou a José que também é possível generalizar a representação da
taxa de juros.
Se representarmos a taxa de juros pela letra i na sua forma decimal (unitária),
iremos obter a generalização final.

saldo (após n meses) = C × [1 + n × (i × 100)%] = C × (1 + n × i)

Porém, Carlos explicou para José que essa regra não é comumente usada por
instituições bancárias ou financeiras. Em geral, se você pedir um empréstimo, ou
fizer uma aplicação no sistema financeiro brasileiro, o regime utilizado não é o
de juros simples.
Para empréstimos ou aplicações de dinheiro em cadernetas de poupança, o
regime de capitalização costuma ser o regime de juros compostos, como vere-
mos adiante.
Vejamos antes outro exemplo de aplicação do regime de juros simples.
Janete pediu um empréstimo de R$ 26 000,00 em uma instituição financeira
para comprar um carro.
Esse empréstimo será pago no final de 10 meses em uma única parcela, a uma
taxa de juro simples de 1,5% ao mês.
Vamos calcular o valor final do carro de Janete usando a última generali-
zação feita:
• o valor do capital C a ser financiado é de R$ 26 000,00;
• o período de tempo n do financiamento é de 10 meses;
• a taxa de juro simples i é de 1,5% ao mês.
Logo, utilizando a fórmula obtida na terceira generalização, temos:

9o ano 405
preço final (após 10 meses) = 26 000 × [1 + 10 × 1,5%] = 26 000 × 1,15 = 29 900 reais

O preço final do carro de Janete será R$ 29 900,00.

APLICAR CONHECIMENTOS III


• Pedro emprestou a uma pessoa R$ 3 000,00 para serem pagos no final de 9 meses a uma taxa
de juro simples de 1% ao mês. Quanto Pedro recebeu de juro simples no final desse período?

UMA POUPANÇA SOB JUROS SIMPLES


João resolveu fazer uma aplicação financeira, sob a forma de poupança, numa
instituição que paga a sua aplicação a uma taxa de juros simples de 0,5% ao mês.
A aplicação inicial foi de R$ 200,00 em 1o de junho.
Acompanhe o que ocorreu.
Tempo 0,5% sobre Saldo anterior Depósito (Saldo anterior + juros) Saldo da
Data
(em meses) 200,00 + juros mensal + depósito aplicação
1o/6 0 – – 200 200 200

No dia 1o de julho, João depositou mais R$ 200,00. Veja como ficaram essas
novas informações na tabela seguinte.
Tempo 0,5% sobre Saldo anterior Depósito (Saldo anterior + juros) Saldo da
Data
(em meses) 200,00 + juros mensal + depósito aplicação
1o/6 0 – – 200 200 200
1 /7
o
1 1,00 200 + 1 200 (200 + 1) + 200 401

No dia 1o de agosto, João depositou mais R$ 200,00.


Tempo 0,5% sobre Saldo anterior Depósito (Saldo anterior + juros) Saldo da
Data
(em meses) 200,00 + juros mensal + depósito aplicação
1o/6 0 – – 200 200 200
1 /7
o
1 1,00 200 + 1 200 (200 + 1) + 200 401
1o/8 2 1,00 401 + 1 + 1 200 (401 + 1 + 1) + 200 603

No dia 1o de setembro, João depositou mais R$ 200,00.


Tempo 0,5% sobre Saldo anterior Depósito (Saldo anterior + juros) Saldo da
Data
(em meses) 200,00 + juros mensal + depósito aplicação
1o/6 0 – – 200 200 200
1 /7
o
1 1,00 200 + 1 200 (200 + 1) + 200 401
1 /8
o
2 1,00 401 + 1 + 1 200 (401 + 1 + 1) + 200 603
1 /9
o
3 1,00 603 + 1 + 1 + 1 200 (603 + 1 + 1 + 1) + 200 806

Nos três meses subsequentes, João continuou depositando mais R$ 200,00 a


cada mês, naquela mesma poupança.

406 Matemática
APLICAR CONHECIMENTOS IV

1. Complete a tabela a seguinte com os valores dos diversos saldos mensais da aplicação do João nos
meses que se seguiram (sugere-se usar uma calculadora):

Tempo 0,5% sobre Saldo anterior Depósito (Saldo anterior + juros) Saldo da
Data
(em meses) 200,00 + juros mensal + depósito aplicação

1o/6 0 – – 200 200 200

1o/7 1 1,00 200 + 1 200 (200 + 1) + 200 401

1o/8 2 1,00 401 + 1 + 1 200 (401 + 1 + 1) + 200 603

1o/9 3 1,00 603 + 1 + 1 + 1 200 (603 + 1 + 1 + 1) + 200 806

1o/10 4

1o/11 5

1o/12 6

2. Veja a seguir outra formatação de poupança, em que o valor depositado mensalmente é de R$ 250,00,
a taxa mensal de juro simples é de 0,6% e o tempo de formação da poupança é de 8 meses.
Complete essa tabela com os valores referentes aos meses de junho a setembro (sugere-se usar
uma calculadora).

Tempo 0,6% sobre Saldo anterior Depósito (Saldo anterior + juros) Saldo da
Data
(em meses) 250,00 + juros mensal + depósito aplicação

1o/2 0 – – 250 250 250

1o/3 1 1,50 250 + 1,50 250 (250 + 1,50) + 250 501,50

501,50 + 1,50 (501,50 + 1,50 + 1,50)


1o/4 2 1,50 250 754,50
+ 1,50 + 250

754,50 + 1,50 (754,50 + 1,50 + 1,50


1o/5 3 1,50 250 1 009,00
+ 1,50 + 1,50 + 1,50) + 250

1o/6 4

1o/7 5

1o/8 6

1o/9 7

9o ano 407
JUROS COMPOSTOS
Se você já conhece o funcionamento das cadernetas de poupança, então faça
uma avaliação de seus conhecimentos, acompanhando as propostas seguintes. Se
não conhece, então tente acompanhá-las.
Em primeiro lugar, veja os valores das taxas porcentuais diárias nos dez pri-
meiros dias de rendimento das cadernetas de poupança referentes ao ano de 2011,
de julho a dezembro.

Rendimento de caderneta de poupança (em %)

Dia Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

1 0,612 0,6235 0,7086 0,6008 0,5623 0,5648

2 0,6229 0,6373 0,6862 0,5931 0,5941 0,5629

3 0,6027 0,672 0,7132 0,5663 0,5959 0,6032

4 0,5739 0,7128 0,634 0,6004 0,614 0,5532

5 0,6084 0,6715 0,6504 0,6323 0,5919 0,5315

6 0,639 0,6881 0,6505 0,6258 0,5849 0,5626

7 0,6208 0,6716 0,676 0,609 0,5421 0,5938

8 0,5966 0,6301 0,6762 0,6244 0,537 0,5924

9 0,6084 0,6388 0,6664 0,6155 0,569 0,595

10 0,6074 0,6736 0,6768 0,587 0,6065 0,588


Fonte: Banco Central do Brasil. Disponível em: <www.bcb.gov.br>. Acesso em 15 out. 2012.

Imagine que uma pessoa tenha aberto uma caderneta de poupança no dia 2 de
julho de 2011 com um depósito de R$ 2 500,00.
No dia 2 de agosto de 2011, a taxa de rendimento das cadernetas de poupança
foi de 0,6373%. (Veja esse índice na coluna “agosto” e linha “2”.)
O saldo dessa pessoa, naquele dia, seria:
saldo (em 2/8/2011) = saldo (em 2/7/2011) + 0,6373% do saldo (em 2/7/2011) =
= 2 500 + 0,6373% de 2 500 = 2 500 + 0,6373% × 2 500 =
= 2 500 × (1 + 0,6373%) = 2 500 × (1 + 0,006373) =
= 2 500 × 1,006373 = 2 515,933 reais.
No dia 2 de setembro de 2011, a taxa de rendimento das cadernetas de pou-
pança foi de 0,6862%. (Veja esse índice na coluna “setembro” e linha “2”.)

408 Matemática
O saldo, naquele dia, seria:
saldo (em 2/9/2011) = saldo (em 2/8/2011) + 0,6862% do saldo (em 2/8/2011) =
= 2 515,933 + 0,6862% de 2 515,933 = 2 515,933 + 0,6862% × 2 515,933 =
= 2 515,933 × (1 + 0,6862%) = 2 515,933 × (1 + 0,006862) =
= 2 515,933 × 1,006862 2 533,197 reais.
Como você pode perceber, o regime de capitalização utilizado nas cadernetas
de poupança não é o regime de capitalização simples. A diferença entre o regime de
capitalização simples e o regime de capitalização utilizado nas cadernetas de pou-
pança é que o rendimento da aplicação nas cadernetas de poupança é calculado
sobre o saldo do dia e não sobre o capital inicial (exceto no final do primeiro mês,
quando os dois regimes coincidem).
Esse regime é chamado regime de capitalização composta, ou simplesmente
juros compostos.

APLICAR CONHECIMENTOS V

1. Complete a tabela seguinte utilizando o regime de capitalização composta (use uma calculadora
e faça um arredondamento com duas casas decimais):

Rendimento (%) do dia


Dia Saldo do mês anterior Saldo (montante)
sobre o saldo do dia

2/7/2011 0 0,6229 2 500,00

2/8/2011 2 500,00 0,6373 2 515,93

2/9/2011 2 515,93 0,6862 2 533,19

2/10/2011 2 533,19 0,5931

2/11/2011 0,5941

2/12/2011 0,5629

2/1/2012 0,5604

9o ano 409
2. Complete a tabela seguinte utilizando o regime de capitalização simples (use uma calculadora e
faça um arredondamento com duas casas decimais):

Rendimento (%) do dia


Dia Saldo do mês anterior Saldo (montante)
sobre o capital inicial

2/7/2011 0 0,6229 2 500,00

2/8/2011 2 500,00 0,6373 2 515,93

2/9/2011 2 515,93 0,6862 2 533,09

2/10/2011 2 533,09 0,5931

2/11/2011 0,5941

2/12/2011 0,5629

2/1/2012 0,5604

3. Compare os valores dos saldos de cada dia sob os dois regimes de capitalização dos exercícios
anteriores. Se você quiser fazer uma aplicação em caderneta de poupança, então qual regime de
capitalização escolheria? Justifique sua resposta.

EXERCITANDO MAIS

1. Rosa tem uma dívida de R$ 1 000,00 que deve ser paga em 3 meses, com taxa de juro de 8% ao
mês, em regime de juros simples. Quanto ela pagará de juros?
2. Pedro aplicou um capital de R$ 5 000,00 à taxa de juro simples de 20% ao ano durante 4 anos. Que
quantia de juro simples ele recebeu referente a esse período?
3. As demissões de trabalhadores podem ser feitas por justa causa (quando o empregado desrespei-
ta alguma lei trabalhista), e sem justa causa (quando ele não desrespeita essas leis). No caso de
demissão sem justa causa, o empregador costuma fazer um tipo de acordo, pagando ao empre-
gado certa quantia como compensação pela demissão.
Imagine que uma trabalhadora tenha sido demitida de uma empresa sem justa causa e, por
isso, tenha recebido a quantia de R$ 2 500,00, firmada no acordo de sua demissão. Para que o
seu dinheiro não perdesse o valor muito rapidamente, ela resolveu aplicá-lo em uma instituição

410 Matemática
financeira que paga a aplicação feita pela trabalhadora a uma taxa de juro de 0,5% ao mês, usando
o regime de capitalização simples (juros simples).
Complete a tabela a seguir com os valores do saldo dessa trabalhadora (sugere-se usar uma
calculadora).

Tempo 0,5% sobre 2 500 Saldo (montante)

0 – 2 500,00

1 mês 12,50 2 512,50

2 meses 12,50

3 meses 12,50

6 meses 12,50

9 meses 12,50

1 ano 12,50

1,5 ano 12,50

1,75 ano 12,50

1,9 ano 12,50

9o ano 411
Capítulo 4
M AT E M ÁT I C A Uma leitura do mundo por meio
de tabelas e gráficos

Smilla/Dreamstime.com
Podemos nos deparar com gráficos e tabelas em diversas situações do nosso cotidiano, como em uma reunião de trabalho.

Ler e interpretar informações apresentadas em gráficos e tabelas são habili-


dades importantes, que possibilitam às pessoas analisar temas e problemas que
afetam a vida de todos.
Por isso, a leitura e a interpretação de números, organizados em gráficos e ta-
belas, bem como a construção desses recursos, usados na estatística, serão abor-
dados neste capítulo.
Nos meios de comunicação e, em especial, nos jornais e revistas impressos e te-
lejornais, uma variedade de informações numéricas é expressa por meio de tabelas,
gráficos e porcentagens.
É comum utilizar gráficos ou tabelas para expressar resultados de pesquisas
que envolvem a totalidade ou parte da população de um país ou de um determi-
nado grupo social.

412 Matemática
Para ler e interpretar essas informações, é preciso saber como elas são organi-
zadas e apresentadas, o que significam e a que se relacionam.
É importante, por exemplo, identificar o tema ou assunto a que essas informa-
ções se referem e saber como podem ser dispostas num gráfico ou numa tabela.

RODA DE CONVERSA

Qual é o tema ou assunto a que se referem os dois gráficos a seguir? Você saberia dizer de que
tipo são esses gráficos?
Reúna-se com seus colegas e contem uns aos outros sobre suas experiências com gráficos e
tabelas: se já precisaram criar um gráfico ou pesquisar informações em um.

Ilustração digital: Planeta Terra Design


População brasileira por região

80 353 724
72 412 411
População em 2000

População em 2010
53 078 137
47 741 711

27 384 815
25 107 616
15 865 678

14 050 340
12 900 704

Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul 11 636 728
Região Centro-Oeste
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Brasil: esperança de vida ao nascer – ambos os sexos – 1980/2009


Anos de referência Esperança de vida ao nascer – ambos os sexos Anos Meses Dias
1980 62,57 62 6 25
1991 66,93 66 11 5
2000 70,46 70 5 16
2001 70,75 70 9 -
2002 71,04 71 - 14
2003 71,35 71 4 6
2004 71,66 71 7 28
2005 71,95 71 11 12
2006 72,28 72 3 11
2007 72,57 72 6 25
2008 72,86 72 10 10
2009 73,17 73 2 1
Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 16 out. 2012.

9o ano 413
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS

Como já foi mencionado, gráficos ou tabelas são geralmente usados para ex-
pressar resultados de pesquisas que envolvem a população de um país, de um
determinado grupo social ou, ainda, de partes dessa população ou desse grupo.
Pode-se afirmar que a coleta de dados e a criação de gráficos e tabelas são
atividades que fazem parte de um campo de estudo científico chamado estatística.
Um exemplo é um censo demográfico, utilizado para traçar um perfil de gru-
pos ou populações, ou para mostrar indicadores como as taxas de mortalidade
infantil e de desemprego da população economicamente ativa, entre outros.

Alexandre Tokitaka/Pulsar Imagens


Travessia de pedestres na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), 2010. A diversidade da população brasileira pode ser percebida
facilmente em diversas cenas cotidianas. O censo demográfico, porém, nos traz dados mais precisos que nos permitem pensar sobre
as características dessa população.

Observe a tabela a seguir para analisar como foi o aumento da população bra-
sileira nas décadas de 1980, 1990, 2000 e 2010.

População total do Brasil: 1980/2010 (número de habitantes)


Ano 1980 1991 1996 2000 2010
População total 119 002 706 146 825 475 157 070 163 169 799 170 190 732 694
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1980, 1991, 2000 e 2010 e Contagem da População 1996.

De 1980 a 2010, a população total brasileira cresceu sempre no mesmo ritmo?


Para responder a essa pergunta, pode ser conveniente visualizar melhor esse
crescimento por meio de um gráfico. Podemos construir um gráfico de barras
ou de colunas utilizando os dados da tabela. Esse tipo de gráfico permite realizar
uma comparação entre os dados fornecidos.

414 Matemática
População total do Brasil: 1980/2010

Ilustração digital: Planeta Terra Design


População (milhão de habitantes)
200,00
180,00
160,00
140,00
120,00
100,00
80,00
60,00
40,00
20,00
0,00
1980 1991 1996 2000 2010
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1980, 1991 e 2000 e Contagem da População 1996.

Observe que os anos em que foram feitos os censos e a contagem da popula-


ção aparecem em um dos eixos.
No outro eixo estão representados os números de habitantes obtidos em
cada censo.
A altura de cada coluna indica o tamanho da população apurada em cada
década.
Repare no título do gráfico. Trata-se de uma informação importante que resu-
me seu conteúdo: “População total do Brasil: 1980/2010”.
Além disso, é importante saber, também, qual é a origem dos dados do grá-
fico, ou seja, a fonte das informações. Em geral, ela aparece na parte inferior do
gráfico.
Os dados de uma tabela também podem ser representados por outros tipos
de gráfico.
A figura a seguir é um gráfico de setores que apresenta as porcentagens cor-
respondentes à área de cada região do território brasileiro.

Porcentagem de território por região

6,77%
10,85%
Ilustração digital: Planeta Terra Design

Sul
45,25% Sudeste
18,86%
Norte
18,27%
Nordeste
Centro-Oeste

Fonte: IBGE. Censos Demográficos

Fonte: IBGE: Censo Demográficos, 2012.

9o ano 415
Esse tipo de gráfico possibilita visualizar partes de um todo sob a forma de
porcentagem, informando a participação de cada uma delas no total.
O círculo inteiro representa a porcentagem total da área do território brasilei-
ro. As diversas regiões em que o círculo foi dividido representam as porcentagens
das áreas das cinco regiões desse território.
A legenda indica a correspondência entre cada setor do gráfico e cada região do
Brasil.
Com base no último gráfico de setores, qual região brasileira possui a maior
área de seu território? E qual possui a menor área?
A figura ao lado é um gráfico Crescimento populacional (1872 a 2010)

Ilustração digital: Planeta Terra Design


de linha que informa como foi o (milhão de habitantes)
200,00
aumento da população brasileira 180,00
entre o Censo de 1872 e o de 2010. 160,00

Utilizamos esse tipo de grá- 140,00

fico para analisar as variações de 120,00


100,00
uma situação ou fenômeno du- 80,00
rante um período de tempo. 60,00

Que informações você pode 40,00


20,00
obter nesse gráfico de linha?
0,00
1872 1890 1900 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2001 2010
Fonte: IBGE, Censos Demográficos, de 1872 a 2010.

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. A tabela a seguir apresenta alguns indicadores demográficos brasileiros de 1950 a 2010.

Indicadores demográficos
Esperança de vida Taxa de natalidade Taxa de mortalidade
Ano
ao nascer (anos) (por mil hab.) (por mil hab.)
1950 51 44 15,4
1960 55,9 42,1 12,5
1970 59,8 33,7 9,9
1980 63,6 30,8 8,3
1990 67,5 22,6 6,8
2000 71,0 20,7 6,4
2010 73,5 17,5 6,5
Fonte: Anuario estadístico de América Latina y el Caribe – 2010. Disponível em: <http://websie.eclac.cl/anuario_estadistico/anuario_2010/docs/Anuario%20Estadistico_2010.pdf>.
Acesso em: 17 set. 2012.

Observações:
Esperança de vida ao nascer ou expectativa de vida: duração provável da vida de uma pessoa
tomando-se por base os índices de mortalidade da época de seu nascimento.
Taxa de natalidade: número de nascimentos em um ano para cada 1 000 habitantes de um lugar.
Taxa de mortalidade: número de mortes em um ano para cada 1 000 habitantes de um lugar.

416 Matemática
a) Qual é a fonte desses dados?

b) Ao observar os valores indicados na coluna “Esperança de vida ao nascer”, qual é a sua con-
clusão em relação à variação desses valores de 1950 a 2010?

c) Analise os dados das outras colunas e escreva o que se pode concluir a respeito das taxas de na-
talidade e de mortalidade no período indicado.

2. Segundo dados do Instituto Bra-


sileiro de Geografia e Estatística

Ilustração digital: Planeta Terra Design


Expectativa de vida no Brasil – 1980 a 2010
(IBGE), a expectativa de vida anos de vida
das pessoas no Brasil aumentou 80
77,3
de 62,8 anos para 73,5 anos, de
74,3
1980 a 2010. 73,7

Analise o gráfico de linhas ao 70,4 70,5 69,7


70
lado e responda às perguntas: 66,6 66,7
66,0
a) Quais eram as expectativas
de vida dos brasileiros em 62,8 62,8

1980, em 1990, em 2000 e 60


59,6
em 2010?
Mulher
Homem
Ambos os sexos

50

2010
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Fonte: IBGE

b) Quais foram as mudanças nas expectativas de vida das mulheres e dos homens no período
que vai de 1980 a 2010?

c) Por que a curva da expectativa de vida de ambos os sexos está entre as curvas da expectativa
de vida das mulhares e dos homens?

d) No período de 1980 a 2010, qual variação de expectativa de vida foi maior: a das mulheres ou
a dos homens? De quanto? Quanto por cento?

9o ano 417
ORGANIZAÇÃO DE DADOS

AMOSTRAGEM, COLETA DE DADOS E DISTRIBUIÇÃO DE FREQUÊNCIAS


Ao coletar dados sobre as características de pessoas ou de objetos, muitas ve-
zes pode ser difícil e caro observar todo o conjunto, especialmente se o grupo for
muito grande.
Nesses casos, em vez de examinar todo o grupo, chamado de população ou
universo, examina-se uma pequena parte dele, chamada de amostra.
Por exemplo, para planejar a produção de vestuário para jovens, os diretores
de uma confecção se basearam em uma amostra com 2 000 entrevistas represen-
tativa de jovens entre 15 e 24 anos.
Essa amostra foi definida por especialistas da fábrica com base num amplo
conjunto de informações sobre a população-alvo, alcançando todas as regiões do
país. Ela cobre diferentes realidades em termos de localização geográfica, urbani-
zação, níveis socioculturais, econômicos, de escolaridade e do perfil de distribuição
étnica e de gênero da população brasileira.
No exemplo, a população é o conjunto de jovens com idades entre 15 e 24
anos e a amostra corresponde ao grupo de 2 000 pessoas entrevistadas.
Resumindo: para fazer uma pesquisa sobre um determinado tema, define-se
qual é a população considerando certas características que se quer pesquisar e,
desse conjunto, escolhe-se um conjunto menor (a amostra) com as mesmas ca-
racterísticas da população para ser investigado.
As conclusões e os resultados que forem obtidos na pesquisa dependem signi-
ficativamente da escolha da amostra.
Existem técnicas especiais para selecionar amostras adequadas e que estejam
de acordo com os objetivos de uma pesquisa. Elas são denominadas técnicas de
amostragem.
Em estatística costuma-se organizar os dados agrupando-os em classes ou in-
tervalos e construir tabelas com base neles.
Os dados são organizados, em geral, em alguma ordem (crescente ou decres-
cente) e procede-se à contagem dos entrevistados. Esse procedimento é chamado
de tabulação.
Essa forma de organizar os dados chama-se distribuição de frequências.
Acompanhe a situação seguinte:
Numa pesquisa feita por estudantes do Segundo Segmento da Educação de Jo-
vens e Adultos (EJA), foram tabulados os dados sobre as idades dos entrevistados.
Observe como esses dados foram registrados:

Idade No de entrevistados Idade No de entrevistados


19 ||||| || 25 ||||| ||||| ||||| ||
21 |||| 26 ||||| |||||
22 |||| 27 ||||| ||||| ||
23 ||||| | 28 ||
24 ||||| ||||| || 29 ||||| |||

418 Matemática
Idade No de entrevistados Idade No de entrevistados

30 ||||| | 40 |

32 ||||| 42 |

33 ||| 45 ||

34 || 49 |

37 || 55 ||

39 ||| 58 |

Além da forma apresentada pelos estudantes na tabela, existem outras manei-


ras de tabular os dados, por exemplo, como a que segue:

Idade No de entrevistados Frequência Idade No de entrevistados Frequência

19 7 32 5

21 4 33 3

22 4 34 2

23 6 37 2

24 12 39 3

25 17 40 1

26 10 42 1

27 12 45 2

28 2 49 1

29 8 55 2

30 6 58 1

9o ano 419
Uma vez coletados os dados, eles podem ser organizados numa tabela, num
gráfico, ou em ambos.
Veja a seguir duas distribuições de frequências com base na tabulação feita
pelos estudantes, ambas elaboradas em uma planilha eletrônica:
1. Distribuição por idade dos estudantes

18

Ilustração digital: Planeta Terra Design


17
16
14
Número de estudantes

12 12
12
10
10
8 8
7
6 6 6
5
4 4
4 3 3
2 2 2 2 2
2
0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1
0
19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58
Idade Fonte: Elaborado pelos autores. Dados fictícios, 2011.

2. Distribuição por classes (faixas) de idade dos estudantes


Veja os dados agrupados organizados numa tabela, segundo um critério definido.

Faixa ou classe de idade No de entrevistados por classe

Com idade até 20 anos (idade ≤ 20 anos) 7

Com mais de 20 até 30 anos (20 anos < idade ≤ 30 anos) 81

Com mais de 30 até 40 anos (30 anos < idade ≤ 40 anos) 16

Com mais de 40 anos (idade > 40 anos) 7

Agora, veja o gráfico correspondente de distribuição de frequências por classe


(faixa) de idade.

Distribuição absoluta de idades de estudantes por faixa de idade


90
Ilustração digital: Planeta Terra Design

81
80
70
Número de estudantes

60
50
40
30
16
20
7 7
10
0
idade ≤ 20 anos 20 < idade ≤ 30 anos 30 < idade ≤ 40 anos idade > 40 anos
Faixa de idade Fonte: Elaborado pelos autores. Dados fictícios, 2011.

420 Matemática
Os resultados por classes foram apresentados por meio de suas frequências
absolutas.
A frequência absoluta de uma classe de idade consiste no número de entrevis-
tados que têm idades “dentro” daquela faixa.
É possível, também, representar as informações daquela tabela sob a forma
porcentual, ou sob a forma de frequência relativa. Acompanhe:

Faixa ou classe de idade Frequência absoluta Frequência relativa

7
Com idade até 20 anos 7 111
= 6,306306306...%

81
Com mais de 20 até 30 anos 81 111
= 72,972972972...%

16
Com mais de 30 até 40 anos 16 111
= 14,414414414...%

7
Com mais de 40 anos 7 111
= 6,306306306...%

111
Total 111 111
= 1 = 100%

Fonte: Elaborado pelos autores. Dados fictícios, 2011.

Nesse caso, um gráfico da distribuição de frequências pode ser:

Distribuição porcentual de idades de estudantes por faixa de idade


90

Ilustração digital: Planeta Terra Design


80
72,97
70
Número de estudantes

60
50
40
30
14,41
20
6,31 6,31
10
0
idade ≤ 20 anos 20 < idade ≤ 30 anos 30 < idade ≤ 40 anos idade > 40 anos
Faixa de idade Fonte: Elaborado pelos autores. Dados fictícios, 2011.

ARREDONDAMENTO

Ao trabalhar com frequências, muitas vezes é conveniente trabalhar com da-


dos aproximados obtidos por arredondamento.
Acompanhe uma regra para arredondamento para duas casas decimais após
a vírgula. Essa regra será usada para a organização das frequências relativas da
tabela anterior.

9o ano 421
Para um valor ser arredondado (por exemplo, 6,306306306...%), observe a
terceira casa decimal após a vírgula.
• Se essa casa é ocupada por um algarismo menor que 5, então se man-
têm exatamente as duas primeiras casas decimais.
• Se a terceira casa decimal é ocupada pelo algarismo 5 ou por um al-
garismo maior que 5, então somamos uma unidade ao algarismo da
segunda casa decimal (casa dos centésimos).

Faixa ou classe de idade Frequência absoluta Frequência relativa

Com idade até 20 anos 7 6,31%

Com mais de 20 até 30 anos 81 72,97%

Com mais de 30 até 40 anos 16 14,41%

Com mais de 40 anos 7 6,31%

Total 111 100%

PARA REFLETIR

Como você faria o arredondamento se a segunda casa decimal após a vírgula fosse ocupada
pelo algarismo 9 e a terceira casa fosse ocupada por um algarismo maior que ou igual a 5?

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Em um exame biométrico realizado por um professor de educação física foram anotadas as altu-
ras dos estudantes de uma turma. Essas alturas, em metro, constam da seguinte listagem:
ado ng
Estúdio Pi
o digital:
Ilustraçã

a) Organize esses dados em uma tabela de distribuição de frequências.

422 Matemática
b) Quais medidas de alturas apareceram o maior número de vezes?

c) Qual é a frequência absoluta das medidas das alturas que você identificou no item b?

d) Qual é a frequência relativa da altura 1,69?

2. Faça uma pesquisa das alturas dos colegas de sua classe.


a) Qual é a menor altura?

b) Quantos estudantes têm a menor altura?

c) Qual é a maior altura?

d) Construa uma tabela de distribuição de frequências dessas alturas.

ELABORAÇÃO DE GRÁFICOS
GRÁFICO DE BARRAS
Vejamos a elaboração de uma representação gráfica de barras tomando como
base a pesquisa sobre a idade dos entrevistados feita por estudantes do Segundo
Segmento de Educação de Jovens e Adultos, exibida anteriormente.
Para isso, vamos utilizar um plano formado por dois eixos perpendiculares.
No eixo vertical são dispostas as diversas classes (ou faixas) de idades:
• a primeira classe corresponde ao intervalo: idade ≤ 20 anos;
• a segunda classe corresponde ao intervalo: 20 anos < idade ≤ 30 anos;
• a terceira classe corresponde ao intervalo: 30 anos <idade ≤ 40 anos;
• a quarta classe corresponde ao intervalo: idade > 40 anos.
No eixo horizontal são representados os números de entrevistados por classe
de idade.
As barras que dão nome à representação gráfica são representadas por retân-
gulos cujas bases estão “apoiadas” no eixo das classes e cujas alturas representam
os números de entrevistados por classe.
É necessário que as alturas dos retângulos sejam proporcionais aos correspon-
dentes valores das classes.
É importante, também, colocar um título que explique o assunto do gráfico,
nomear os eixos e indicar a fonte na qual se basearam as informações.
Veja a seguir a representação gráfica de barras das frequências relativas (ela-
boradas em uma planilha eletrônica):

9o ano 423
Distribuição por faixa de idade de turma de EJA

Ilustração digital: Planeta Terra Design


idade > 40 anos 7%
Faixa de idade

30 anos < idade ≤ 40 anos 16%

20 anos < idade ≤ 30 anos 81%

idade ≤ 20 anos 7%

0 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%


Porcentagem do número de estudantes
Fonte: Elaborado pelos autores. Dados fictícios, 2012.

GRÁFICO DE SETORES
Para construir um gráfico de setores com informações na forma de valores
absolutos, ou de porcentagens, usamos um círculo que representa a totalidade do
grupo pesquisado, ou seja, 100%.
Dividimos 360º, que correspondem ao círculo, proporcionalmente aos valores
dados em porcentagem, obtendo as correspondentes medidas dos ângulos centrais.

Ângulo central
Ângulo central é um ângulo com
vértice no centro do círculo e cujos
lados passam por dois pontos da sua
circunferência.

Veja alguns exemplos:

180o 120o 90o


360o 72o

1 1 1 1
× 100% = 50% × 100% = 33,33% × 100% = 25% × 100% = 20%
100% 2 3 4 5
Ângulo central: 180º Ângulo central: 120º Ângulo central: 90º Ângulo central: 72º

60o 45o 36o 22,5o

1 1 1 1
× 100% = 16,66...% × 100% = 12,5% × 100% = 10% × 100% = 6,25%
6 8 10 16
Ângulo central: 60º Ângulo central: 45º Ângulo central: 36º Ângulo central: 22,5º

Acompanhe os cálculos que podem ser feitos para representar os dados da


tabela seguinte em um gráfico de setores.

424 Matemática
População total e proporção da população por grandes grupos de idade em 2010

População total 190 732 694

Por grandes grupos de idade (%) Valores arredondados (%)

0 a 14 anos 24,20 24

15 a 29 anos 26,02 26

30 a 64 anos 41,91 42

65 anos ou mais 7,87 8

Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 2012.

Para representar a porcentagem do grupo cujas idades estão entre 0 e 14 anos,


por exemplo, desenhamos um ângulo central cujo setor circular corresponde a
24% do círculo:

24% de 360º = 0,24 × 360º = 86,4° 86°

Esse resultado pode ser obtido em uma calculadora digitando, por exemplo,
as seguintes sequências de teclas:

. 2 4 × 3 6 0 = ou 2 4 × 3 6 0 %

Calculamos as medidas dos ângulos centrais correspondentes às porcenta-


gens relativas aos outros grupos de idade para completar o círculo.
Grupo de 15 a 29 anos:

26% de 360º = 0,26 × 360º = 93,6° 94º

Grupo de 30 a 64 anos:

42% de 360º = 0,42 × 360º = 151,2° 151º

9o ano 425
Grupo de 65 anos ou mais:

8% de 360º = 0,08 × 360º = 28,8° 29º

Finalmente, utilizando um Proporções da população brasileira por grandes


transferidor e uma régua, tra- grupos de idade em 2009 

Ilustração digital: Planeta Terra Design


çamos ângulos centrais mar-
8,00 %
cando aproximadamente os
0 a 14 anos
graus desejados.

Ilustração digital: Planeta Terra design


24,00 % 15 a 29 anos
Construímos o gráfico de se-
tores, colocamos um título que 30 a 64 anos

explique do que se trata o gráfico, 42,00 % 65 anos ou mais


26,00 %
escrevemos uma legenda e indica-
mos a fonte na qual se basearam
as informações.
Fonte: Elaborado pelos autores. Dados fictícios, 2012.

GRÁFICO DE LINHA
Acompanhe a seguir a construção de um gráfico de linha.
Na tabela seguinte, pode-se observar como tem sido o crescimento da popu-
lação brasileira desde o Censo de 1970 até o Censo de 2010.

População do Brasil: 1970 a 2010 (em milhões de habitantes)

Indicador Unidade 1970 1980 1991 2000 2010

População urbana habitante 52 80 111 138 191


Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 2012.

Para apresentar esses dados em um gráfico de linha, utilizamos um plano


(cartesiano) de coordenadas no qual representamos:
• em um dos eixos, os anos em que foram realizados os censos; no exem-
plo, escolhemos a escala 2 cm para cada 10 anos;
• no outro eixo, os correspondentes números de habitantes para cada censo.
Para estabelecermos uma escala proporcional às informações sobre as popu-
lações no eixo correspondente, podemos proceder de duas formas:
Primeira forma:
• Marcamos nesse eixo o valor máximo da população, 191 milhões de
habitantes (correspondente ao Censo de 2010), que irá representar o
seu ponto máximo.
• O segmento de reta com extremidades na origem do sistema (ponto
comum aos dois eixos coordenados) e no seu ponto máximo é dividido
proporcionalmente aos demais valores.

426 Matemática
Segunda forma:

Ilustração digital: Planeta Terra Design


População urbana do Brasil:
• Escolhemos uma escala conveniente 1970 a 2010
que permita, a partir da origem e so- (em milhões de habitantes)
bre esse eixo, determinar pontos su-
cessivos que servirão de base para os População urbana

demais valores. 200

Em nosso caso, 1 cm representa 10 milhões 191


e 10 cm representam 100 milhões. Assim:
• a população 52 milhões foi marcada a
5,2 cm da origem desse eixo;
• a população 80 milhões foi marcada a
8,0 cm da origem desse eixo;
• a população 111 milhões foi marcada
a 11,1 cm da origem desse eixo;
• a população 138 milhões foi marcada 150
a 13,8 cm da origem desse eixo;
• e a população 191 milhões foi marca- 138
da a 19,1 cm da origem desse eixo.
Em seguida, marcamos os pontos no plano de
coordenadas.
Esses pontos são determinados por pares
ordenados de valores da seguinte forma: 111
• a partir de um valor de um ano em que
foi realizado um censo no eixo corres-
pondente, traçamos uma reta paralela 100

ao outro eixo;
• a partir do correspondente número de
habitantes daquele ano, traçamos uma 80
reta paralela ao eixo correspondente
aos anos dos censos;
• o ponto comum dessas duas retas per-
pendiculares é o ponto do plano que
corresponde ao par de informações 52
com o qual se está trabalhando; 50
• procedemos da mesma forma para os
demais valores da tabela.
Uma vez determinados todos os pontos, bas-
ta ligá-los, ordenadamente, com segmentos de
reta e teremos um gráfico de linha que represen-
ta, aproximadamente, os dados da tabela.
Também é conveniente colocar um título que
explique do que se trata o gráfico, nomear os ei-
xos e indicar a fonte na qual se basearam as in- 0
1970 1980 1990 2000 2010
formações. Censo
Fonte: IBGE. Censos demográficos, 2012.

9o ano 427
APLICAR CONHECIMENTOS III

1.
a) Faça uma pesquisa sobre o mês Aniversários
de aniversário dos colegas de sua
classe e registre em uma tabela Mês Frequência absoluta Frequência relativa
como a apresentado ao lado:

Janeiro

Fevereiro

... ... ...

b) Faça outra tabela colocando so-


mente os meses em que há aniver- Aniversários
sariantes, o número de estudantes
correspondente a cada mês, a por- Mês No de alunos
Porcentagem Medida dos
(%) ângulos (graus)
centagem de estudantes que ani-
versariam em cada mês e a medi-
da aproximada do ângulo de cada
setor correspondente a cada mês.

c) Construa um gráfico de setores coloridos, consultando as informações da tabela para mostrar


essa distribuição de frequências.
Se você usar uma cor para cada setor, então não há necessidade de colocar números no gráfi-
co, basta fazer uma legenda.

• Qual é o mês em que ocorrem aniversários com maior frequência?

• Qual é a taxa porcentual de aniversários desse mês?

428 Matemática
2. A família Silva, no período de
março de 2012 a fevereiro de Consumo de água de março/2012 a fevereiro/2013

2013, teve o seguinte consumo de


Mês/ano m3 Mês/ano m3
água, em m3.
Faça um gráfico de linha que re-
março/2012 10 setembro/2012 6
presente esses dados.
O que você pode concluir em abril/2012 16 outubro/2012 9
relação ao consumo de água da
família Silva nesse período? maio/2012 8 novembro/2012 12

junho/2012 9 dezembro/2012 22

julho/2012 9 janeiro/2013 9

agosto/2012 7 fevereiro/2013 17

EXERCITANDO MAIS

1. Elabore um texto sobre seu entendimento a respeito de população e amostra. Depois, comente
por que, em algumas pesquisas, uma amostra é utilizada para representar uma população.
2. O gráfico seguinte mostra o número de matrículas da EJA no Ensino Fundamental no período de
1999 a 2010.

Ilustração digital: Planeta Terra Design


Matrículas da EJA no Ensino Fundamental

3 516 225
3 315 887

2 846 104

2 112 214

1999 2003 2006 2010


Fonte: Edudata e Censo Escolar 2010.

a) Faça uma análise do número de matrículas no Ensino Fundamental de estudantes do sistema


EJA no período de 1999 a 2010.
b) De acordo com o gráfico, em qual período de tempo houve o maior crescimento do número
de matrículas no Ensino Fundamental do sistema EJA? Quais foram as variações absoluta e
relativa (porcentual) nesse período?
c) De acordo com o gráfico, houve algum período de tempo no qual o número de matrículas no
Ensino Fundamental do sistema EJA diminuiu? Se houve, destaque-o e calcule as variações
absoluta e relativa (porcentual) nesse período.

9o ano 429
d) No período total representado
Taxa de analfabetismo das pessoas com 10 anos ou mais, em %

Ilustração digital: Planeta Terra Design


no gráfico (1999 a 2010) hou-
ve crescimento ou redução no 24,6 2000 2000

número de matrículas no En-


17,6
sino Fundamental do sistema 15,6
12,8
EJA? Calcule as variações ab- 10,6 9,7
9
soluta e relativa (porcentual) 7,5
5,1
7 6,6
4,7
nesse período.
e) Compare as variações absoluta Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Cento-Oeste
e relativa (porcentual) obtidas
Fonte: Censo Escolar 2010.

no item b) com as variações


absoluta e relativa obtidas no item d). Quais são suas conclusões sobre esses resultados?
3. O analfabetismo é, ainda, um dos grandes problemas brasileiros no âmbito da Educação.
O gráfico a seguir destaca os índices de analfabetismo das cinco grandes regiões em que o Brasil
foi dividido, nos anos 2000 e 2010.
a) Realize uma análise dos índices observados no gráfico.
b) Em quais regiões houve maior e menor redução dos índices de analfabetismo? Calcule essas
reduções.
c) Houve, em alguma das regiões, um aumento do analfabetismo entre 2000 e 2010? Em caso
afirmativo, qual foi ela, ou quais foram elas?

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livro Estatística
IMENES, L. M.; JAKUBO, J.; LELLIS, M. Estatística. São Paulo: Atual, 2001. (Coleção Pra que serve matemática?)

430 Matemática
Bibliografia

MATEMÁTICA

BRASIL. Ministério da Educação. INEP. Matemática e suas tecnologias: livro do


estudante – ensino fundamental. Brasília: MEC/INEP, 2002.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria do Ensino Fundamental. Parâmetros
curriculares nacionais: Matemática – 3o e 4o ciclos. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria do Ensino Fundamental. Proposta
Curricular para a Educação de Jovens e Adultos. 2o Segmento do Ensino Funda-
mental. Brasília: MEC/SEF, 2002, v. 3.
BRASIL. Ministério da Educação. Instituto de Matemática e Estatística e Ciências
da Computação – Unicamp. Geometria experimental. São Paulo: MEC/IMECC/
PREMEN/SE/CENP, 1980.
BRASIL. Ministério da Educação. Universidade Federal do Ceará. Centro de
Ciências. Departamento de Estatística e Matemática Aplicada. Noções de estatís-
tica no ensino de matemática do 1o grau. Rio de Janeiro: MEC/SEPS/PREMEN/
FENAME, 1981.
COXFORD, Arthur F.; SHULTE, Albert P. (Orgs.). As ideias da álgebra. São Paulo:
Atual, 1995.
FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO. Diário de
classe – 5: Matemática. São Paulo: FDE, 1994.
IMENES, Luiz Marcio; JAKUBOVIC, José; LELLIS, Marcelo. Álgebra. São Paulo:
Atual, 1992. (Coleção Para que serve a Matemática).
LINS, Rômulo Campos; GIMENEZ, Joaquim. Perspectivas em aritmética e álge-
bra para o século XXI. Campinas: Papirus, 1997.
MONTENEGRO, Fábio; RIBEIRO, Vera Masagão. Nossa escola pesquisa sua opi-
nião. 2. ed. São Paulo: Global, 2002.
MORI, I.; ONAGA, D. S. Matemática: ideias e desafios. São Paulo: Editora Sarai-
va, 2006. v. 5, 6.
SANTOS, Vânia Maria Pereira dos (Org.). Avaliação de aprendizagem e raciocínio
em Matemática. Rio de Janeiro: UFRJ – Instituto de Matemática, 1997.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Nor-
mas Pedagógicas – CENP. Experiências matemáticas. São Paulo: SE/CENP, 1984.

7º Ano 431
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Nor-
mas Pedagógica – CENP. Prática pedagógica: Matemática 1o grau. São Paulo: SE/
CENP, 1993. v. 1-4.
STRUIK, D. J. História concisa das Matemáticas. Trad. João Cosme Santos Guer-
reiro. Lisboa: Gradiva, 1992.
TINOCO, L. A. A. (Coord.). Razões e proporções. Rio de Janeiro: Editora UFRJ,
1996.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Centro de Ciências. Departamento de
Estatísticas e Matemática Aplicada. Noções de estatística no ensino de matemática
do 1o grau. Rio de Janeiro: MEC/SEPS/PREMEN/FENAME, 1981.

432 Matemática

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