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Curso/Disciplina: Lei das Estatais

Aula: Histórico do Estatuto da Estatal


Professor (a): Luiz Jungstedt
Monitor (a): Lívia Cardoso Leite

Nº da aula 01

Objetivo das aulas: comentários ao Estatuto da Estatal – Lei nº 13.303, de 30 de junho de 20161.
Como a lei foi publicada no meio desse ano, ainda não temos doutrinas publicadas a respeito.

HISTÓRICO DO ESTATUTO DA ESTATAL

Emenda Constitucional nº19/982 - Em 1998, o governo Fernando Henrique Cardoso resolveu


alterar as regras das empresas estatais, dando a elas, ou procurando dar, uma maior gestão, uma maior
dinâmica na sua gestão.
Como foi feito isso?
O governo FHC jogou um boato no Congresso Nacional dizendo que estava vindo uma emenda
constitucional que liberaria as empresas estatais da obrigação de realizarem licitações. Porém, o governo não
queria isso tudo. O que se queria, na verdade, era barganhar com o Congresso.
O governo passou a defender que era um absurdo uma estatal como a Petrobras, por exemplo,
que compete com o mercado e com as empresas privadas3, ter que fazer licitação com as mesmas regras, nos
mesmos moldes, que uma Administração Direta, que uma Autarquia, que nem fins lucrativos têm.
O governo negociou a aprovação de uma emenda que dava à empresa estatal um tratamento
diferenciado daquele dado à Administração Direta, Autárquica, Fundacional, pois estas não têm fins
lucrativos, mas as estatais têm. A oposição aprovou.

A EC nº 19/1998 é a origem da criação do Estatuto da Estatal.

CRFB, art. 173, §1º - A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de

1
Dispõe sobre o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias,
no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
2
Modifica o regime e dispõe sobre princípios e normas da Administração Pública, servidores e agentes
políticos, controle de despesas e finanças públicas e custeio de atividades a cargo do Distrito Federal, e dá
outras providências.
3
A EC nº 09/1995 flexibilizou o privilégio para a exploração do petróleo no Brasil, e a Petrobras passou a
concorrer com empresas privadas, nacionais ou estrangeiras.

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economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens
ou de prestação de serviços, dispondo sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
I - sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela sociedade; (Incluído
pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos
direitos e
obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
III - licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os
princípios da
administração pública; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
IV - a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e fiscal, com a
participação de
acionistas minoritários; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
V - os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabilidade dos
administradores. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

CRFB, art. 22 - Compete privativamente à União legislar sobre:


XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações
públicas diretas, autárquicas e fundacionais4 da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto
no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Obs: interessante fazer na legislação remissões recíprocas dos artigos 173, §1º, III, e 22, XXVII,
da CRFB.

O art. 173, §1º, III trouxe exatamente o que o governo queria: desatrelar as estatais da
aplicação da Lei nº 8.666/935, dando a elas um tratamento diferenciado, mais simples, ágil, operacional, pois
elas competem com empresas privadas. Assim, não podem ficar engessadas por uma lei que vale para as
pessoas de Direito Público, que nem fins lucrativos possuem.

Redação original do art. 22, XXVII, da CRFB - XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em
todas as modalidades, para a administração pública, direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas
pelo Poder Público, nas diversas esferas de governo, e empresas sob seu controle;

Cotejando-se a redação atual com a original do inciso XXVII, do art. 22, da CRFB, percebemos

4
Fundações públicas de Direito Público. 5
Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da
Administração Pública e dá outras providências.

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que a mudança operada pela EC nº 19/1998 foi a seguinte: a redação original exigia que toda a Administração
Pública, todo o 1º setor do Estado Gerencial brasileiro, isto é, Administração Direta e Indireta, fizesse
licitações e contratos nos moldes de uma mesma lei.
Para se ajustar à mudança do art. 173, §1º, III, que pede um estatuto que traga regras próprias
de licitação para a estatal, tiveram que mexer no inciso XXVII do art. 22, que pedia uma lei para tudo.
O próprio art. 22, XXVII faz um elo com o art. 173, §1º, especificamente com o inciso III, que
trata de licitações e contratos, pedindo que o Estatuto da Estatal traga as normas de licitações e contratos
para as empresas estatais, com regras mais flexíveis, mais operacionais.

O Estatuto da Estatal (Lei nº 13.303/16) possui o Título II5, que trata exclusivamente de
licitações e contratos. A maior parte da lei é para regulamentar licitações e contratos, para que a empresa
estatal tenha uma maior liberdade de atuação.

Até a criação do Estatuto da Estatal se passaram 18 anos. A EC nº 19 é de 1998. O Estatuto saiu


durante o governo interino de Michel Temer. Foi uma surpresa.
Como a lei demorou 18 anos, muitas empresas estatais não esperaram, como a Petrobras.
Quando a empresa percebeu que não havia lei progredindo, pleiteou junto ao Presidente da República, o
mesmo que negociou a EC nº 19/1998 criando a possibilidade de uma regra diferenciada, a aprovação de um
Decreto que colocasse em vigor um estatuto simplificado de licitação da Petrobras, e só para ela, para mais
nenhuma outra estatal. O Presidente FHC atendeu através do Decreto nº 2745/1998 - Aprova o Regulamento
do Procedimento Licitatório Simplificado da Petróleo Brasileiro S.A. – PETROBRÁS, previsto no art . 67 da Lei
nº 9.478, de 6 de agosto de 19976.

Esse Decreto entregou apenas à Petrobras a possibilidade de se desgarrar da Lei nº 8.666/1993.


Houve muita polêmica. O Tribunal de Contas da União, na famosa decisão TCU nº 663/2002 7 considerou
inconstitucional o Decreto, e mandou a Petrobras utilizar a Lei nº 8.666/93. A empresa não quis cumprir e
conseguiu diversas decisões liminares no Supremo Tribunal Federal para continuar usando o Decreto.

No escândalo do Petrolão vimos que a primeira liminar foi dada pelo Ministro Gilmar Mendes,

5
DISPOSIÇÕES APLICÁVEIS ÀS EMPRESAS PúBLICAS, ÀS SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA E ÀS SUAS
SUBSIDIÁRIAS QUE EXPLOREM ATIVIDADE ECONÔMICA DE PRODUÇÃO OU COMERCIALIZAÇÃO DE BENS OU DE
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS, AINDA QUE A ATIVIDADE ECONÔMICA ESTEJA SUJEITA AO REGIME DE MONOPÓLIO
DA UNIÃO OU SEJA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS (arts. 28 a 90).
6
Dispõe sobre a política energética nacional, as atividades relativas ao monopólio do petróleo, institui o
Conselho Nacional de Política Energética e a Agência Nacional do Petróleo e dá outras providências.
7
Decisão assim ementada: Sumário: Relatório de Auditoria realizada na área de licitações e contratos.
Considerações acerca do art. 67 da Lei nº 9.478/97 e do Decreto nº 2.745/98, que aprovou o Regulamento do
Procedimento Licitatório Simplificado da Petrobrás. Inconstitucionalidade das normas. Comunicação à Petrobrás.
Existência de outras irregularidades. Determinações. Realização de audiências. Remessa de cópias. Decisão completa
emhttps://contas.tcu.gov.br/juris/Web/Juris/ConsultarTextual2/Jurisprudencia.faces?numeroAcordao=663&anoAcor
dao=2002.

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que até hoje não devolveu o processo para o julgamento do mérito. Agora já não precisa mais, pois há o
Estatuto da Estatal. A demora facilitou o saque que a Petrobras sofreu pelo PT.

No governo Dilma, por volta de 2013/2014, fez-se um Decreto para a Infraero e um para a
Eletrobrás, também com processo simplificado de licitação. Eles não são mais necessários. Agora há o
Estatuto da Estatal.

O que fazer hoje com o Decreto da Petrobras (Decreto nº 2745/1998) se já há a Lei nº


13.303/2016? Qual a solução? Como se portar?
Não há dúvidas de que o Decreto continua valendo, só que agora como ele deveria ser desde a
origem, um decreto regulamentar. No que o Decreto da Petrobras contrariar a lei será ilegal e não produzirá
mais efeitos. No que estiver de acordo com a lei continua valendo, rotulando-se como decreto regulamentar.

O TCU considerou o Decreto inconstitucional porque ele não estava regulamentando. O que
regulamenta a Constituição é Decreto autônomo, independente, que legisla. Para o professor, após a CRFB
de 1988, o Poder Executivo não pode mais utilizar Decreto para legislar. O decreto autônomo e independente
morreu com a CRFB/88.
Decisão do Tribunal de Contas vincula (apenas na esfera administrativa). Para descumpri-la o
Poder Executivo tem de ir a Juízo.

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