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Que a Terra Parou (The Day The Earth Stood Still, 2008) invade os
cinemas, nós oferecemos um plano de 10 partes para o
filmecatástrofe supremo
Por Paul Owen para o site
Guardian.co.uk
Roland Emmerich, o rei dos filmescatástrofe, está de volta. Não contente em mandar uma
gigantesca onda quebrarse sobre Manhattan em O Dia Depois de Amanhã (The Day After
Tomorrow, 2004), ou permitir alienígenas destruírem a Casa Branca em Independence Day
(Idem, 1996), Emmerich, em seu novo filme 2012 (Idem, 2008), está se preparando para
desencadear erupções vulcânicas, imensas rachaduras na superfície da Terra, enormes
tufões – e mais inundações.
Se você não conseguir esperar por isso, hoje tem o lançamento do remake de O Dia Em
Que a Terra Parou, em que esferas alienígenas surgem repentinamente no mundo inteiro –
inclusive uma no Central Park – anunciando um ataque contra o planeta que somente
Keanu Reeves pode impedir.
Algo disso lhe soa familiar? Permitame refrescar a sua memória com este guia de 10
partes para o filmecatástrofe perfeito.
1 Escolha um bom desastre
Muitos dos melhores desastres – asteróides, alienígenas, terremotos, tsunamis – já foram
aproveitados, alguns duas vezes, como os inoportunos lançamentos simultâneos de
Armageddon (Idem, 1998) / Impacto Profundo (Deep Impact, 1998) e Volcano – A Fúria
(Volcano, 1997) / O Inferno de Dante (Dante’s Peak, 1997). Então você terá de ser um
pouco criativo. Escolha algo incomum: E se a gravidade começasse a tender para os lados,
ao invés de direto para baixo, digamos?
A sua cena de abertura deveria mostrar a vida acontecendo de forma aparentemente
normal – pense em Will Smith saindo para pegar um jornal no começo de Independence
Day. O seu personagem principal deveria levantar uma manhã, passando a mão nos
cabelos desalinhados e bocejando, e dirigirse para o banheiro para escovar seus dentes.
Ele abre a torneira, ignorando os primeiros sinais da catástrofe prestes a acontecer. Aos
poucos, o fluxo de água começa a se virar em direção a ele. A saboneteira de repente
tomba para fora da prateleira e cai com estrépito no chão, e ele começa a perder seu
equilíbrio. Ele cai estendido contra a parede do banheiro, a água fluindo sobre ele, vindo da
torneira. Balançando a cabeça, ele puxa uma pequena garrafa de uísque do bolso de seu
roupão e olha para ela com desaprovação.
2 Você precisa de um cientista
Um cientista ou um professor de algum tipo – de meia idade, bonito – é crucial para um bom
filmecatástrofe. Devemos primeiramente vêlo trabalhando duro no laboratório, ou em uma
missão externa (talvez brevemente usando óculos), conforme ele começa a captar os
primeiros indícios do que está acontecendo de errado. Talvez alguns animais em um
zoológico se assustaram com um clima incomum, ou um carro foi derrubado de cabeça para
baixo de uma rodovia, sem motivo aparente. Intrigado, ele leva suas descobertas para um
mentor mais velho, que acrescenta um fato que ele descobriu sozinho: enormes vespas
com três vezes o seu tamanho normal têm aparecido por todo o Ártico, digamos. Esta é a
peça que faltava do quebracabeça. “Você tem que levar isto ao Presidente”, o mentor diz a
ele.
3 Você precisa de um herói
Este não é o cientista. O herói tem de ser um pouco mais pé no chão, um pouco de
diamante bruto. Imperfeito, mas nobre – como Bruce Willis em Armageddon. Um gatuno
movido pela culpa e com um menino órfão doente terminal adotado como filho, seria
perfeito.
4 Mande o seu cientista para a Casa Branca
Um rápido encontro com o presidente dos Estados Unidos parece ser a primeira parada
para todos os cientistas preocupados em filmescatástrofe. Mas não torne isso fácil demais.
Um vicepresidente ou secretário de estado cético e levemente sinistro deveria detêlo na
porta do Salão Oval. Ele não quer ouvir nada desse papo sobrenatural sobre gravidade
lateral. “Mas esta pode ser a nossa única chance de salvar o mundo!”, o cientista diz a ele.
“Ouça, professor, volte às suas teorias”, zomba o vice, “e deixe a salvação do mundo
conosco.”
5 Destruição ao redor do globo
Agora é hora de você aumentar os riscos e sacrificar umas cidades estrangeiras – ou
mesmo uma cidade americana de menor porte como Chicago (você vai reservar Nova York
e Los Angeles para mais tarde, é claro). Londres e Roma seriam perfeitas. Xangai e Tóquio
são ótimas, também. Em seu laboratório, o cientista liga o noticiário televisivo
(preferivelmente um canal de marca afiliado do estúdio cinematográfico) para ver edifícios
estrangeiros desabando nas ruas. Os repórteres falam rápido e incompreensivelmente para
a câmera enquanto deslizam impotentes pelo meio da rua. “Começou”, murmura o cientista.
6 – Destruição em Nova York
Enquanto o cientista tenta alertar um público incrédulo, as coisas devem ficar realmente
sérias: é hora de atingir Nova York. Numa enxurrada de efeitos especiais, a cidade deve
cair espetacularmente para um lado, conforme os efeitos da catástrofe tomam lugar, com
vários arquétipos novaiorquinos, tais como estudantes de moda e garçonetes fleumáticas
lançados pelas ruas, enquanto táxis amarelos viramse e rolam nos lados dos arranhacéus,
e torres d’água voam dos telhados e explodem contra saídas de incêndio.
É crucial a esta altura destruir um edifício icônico em uma cena de tirar o fôlego que você
possa apresentar no trailer. Entretanto, muitos dos edifícios mais famosos de Nova York já
foram usados antes – alguns mais do que uma vez – mas que tal o museu Guggenheim?
Você poderia fazêlo virar de lado e rolar pela Quinta Avenida abaixo, como uma roda de
carroça.
7 De volta à Casa Branca
Tudo isso é suficiente para convencer o presidente de que o cientista está certo, então ele o
chama de volta para uma reunião ultrasecreta na sala de reuniões da Casa Branca,
acompanhado por dezenas de chefes militares com cara de preocupados. O cientista
explica o que está acontecendo com uma mistura de astronomia ginasial e uma ultrajante
pseudociência, usando quaisquer itens que estejam à mão, talvez uma bola de pingpong
para representar a Terra, e uma bola de basquete para representar o Sol.
Neste ponto, é o papel do cientista estabelecer o enredo na íntegra. “Vocês estão
conscientes da força da gravidade, certo? Se vocês soltarem alguma coisa, ela vai cair no
chão, ao invés de flutuar no ar. Desse jeito.” Ele joga uma maçã no chão. “Agora, este
meteoro que atingiu o Sol foi poderoso o suficiente para mudar a gravidade da Terra para
uma direção diferente. Na Inglaterra, em Tóquio, e agora na cidade de Nova York, a
gravidade parou de ir para baixo – e começou a ir para os lados.” Enquanto o
vicepresidente protesta, o cientista continua: “Conforme o meteoro continua a sua jornada
para o coração do Sol, a Terra toda irá mudar para a gravidade horizontal.”
8 O cientista reúne a sua equipe
Numa caverna sob o Monte Rushmore, o presidente deve apresentar o cientista para uma
equipe de primeira classe dedicada a consertar o problema – que deveria acabar incluindo a
atraente exesposa dele, assim como um inglês engraçado. Os três devem encontrar um
plano para impedir a catástrofe – quanto menos realista, melhor. Um bom plano neste caso
seria fazer alguém pular do edifício Empire State como um trampolim a fim de ativar uma
arma nuclear que destruiria a Lua, deste modo recompondo a gravidade da Terra; qualquer
coisa assim, na verdade. Assistindo às notícias do canal a cabo enquanto discutem quem
poderia levar a cabo esta missão perigosa, a equipe vê uma notícia da Nova York
devastada, onde o gatuno está pulando através das laterais dos arranhacéus para salvar a
vida de uma velha avó. “Por Deus”, diz o inglês, “eu acho que encontramos o nosso
homem!”.
O clima de comemoração deve ser pontuado por um breve telefonema para o cientista,
vindo do chefe das forças armadas, com a desagradável notícia: “Perdemos o Canadá.”
9 Contratempo de última hora
A esta altura, mais e mais partes do mundo devem ter sucumbido à ameaça, e, após
recalcular suas contas por algum motivo, o cientista deve relatar que há uma janela de
tempo muito menor do que ele pensava para poder parar a gravidade horizontal, antes que
ela destrua o globo inteiro. Mas enquanto constrói a arma nuclear para destruir a Lua, algo
dá errado, matando o infeliz inglês e danificando a arma de forma que, quem quer que a
detone, morrerá com ela. Isto deve causar um grande bateboca, com o gatuno
recusandose a ir adiante com o plano. No entanto, um discurso sentimental, seja do
cientista ou de sua exmulher, será o suficiente para convencêlo, e ele corajosamente
concorda em se sacrificar. Pouco antes dele zarpar para Nova York, seu pequeno filho
adotivo bate no ombro dele e sussurra: “A mamãe ia querer que você fizesse isso, papai.” O
ladrão coloca a mão na cabeça do menino e diz: “Eu sei, filho.”
10 – A operação final
Tudo o que resta agora é colocar o plano em ação. O ladrão escala precariamente ao longo
do edifício Empire State, quase caindo pelo menos duas vezes, e preparase para o
mergulho de sua vida a partir da ponta da torre. O cientista e sua exmulher trocam um
olhar significativo. Um grupo de personagens secundários brindam o fim da civilização com
um último drinque. Multidões reúnemse em Times Square e em outras localidades ao redor
do mundo para assistir o que está para acontecer. No Salão Oval, o presidente, sombrio,
murmura: “Que Deus ajude a todos nós.”
O gatuno mergulha. A cena corta para o espaço sideral no momento em que a Lua é
destruída. O Sol se inclina de volta para o seu eixo, e de volta à Terra, a gravidade
gradualmente gira de volta à sua direção normal. Edifícios se endireitam e ficam eretos
novamente. Estrangeiros em turbantes, ou esquimós envoltos em pele aplaudem e se
abraçam em locais distantes. O cientista pega a mão de sua exmulher. E o pequeno órfão
corre para o seu pai ladrão para um abraço dramático, o edifício Empire State de volta ao
normal atrás deles. E ele acabou não morrendo no final das contas!