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COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ – ENSINO FUNDAMENTAL, MÉDIO E

PROFISSIONAL
PROFESSOR: LEONARDO DISCIPLINA: FILOSOFIA
CONTEÚDO: ÉTICA

A banalidade do mal de Hannah Arendt


O termo “banalidade do mal” foi consagrado por Hannah Arendt em seu livro Eichmann
em Jerusalém (1963). Inspirado no julgamento de Adolf Eichmann em 1961 o qual Arendt
acompanhou em Jerusalém como correspondente do Jornal New Yorker, foi uma obra que
gerou grande controvérsia, principalmente entre a comunidade judaica, devido à extensão
das questões morais levantadas pela autora.

Adolf Eichmann (1906/1962) foi um oficial da Alemanha Nazista e membro da SS


(Schutzstaffel), um dos grandes responsáveis pela logística do extermínio de milhões de
pessoas durante o holocausto com a chamada “Solução Final” (Endlösung), organizou a
identificação e o transporte de pessoas para diferentes campos de concentração, sendo
conhecido frequentemente como o “Executor Chefe” do Terceiro Reich. Com o fim da
Segunda Guerra Mundial, dentre a captura pelas tropas norte americanas e fugas,
Eichmann acabou por refugiar-se em 1950 na Argentina, onde, no dia 11 de maio de 1960
foi raptado por agentes secretos israelitas da Mossad (Serviços Secretos Israelitas) e
levado para Israel onde foi julgado em 1961 e condenado a morte, a qual foi culminada
com seu enforcamento em junho de 1962.

No livro de Hannah Arendt, os debates acerca do julgamento presenciado pela autora, em


síntese, se polarizam em três questões principais, quais sejam: (1) o retrato feito por ela
de Eichmann como um indivíduo banal, (2) as notas dela sobre os conselhos judeus
europeus e o papel desses conselhos na solução final nazista, (3) e as discussões sobre
a condução do processo com as questões jurídicas levantadas e os interesses políticos
postos em jogo.

O termo “banalidade do mal” é utilizado demonstrando a falta de profundidade evidente


que caracterizou o culpado, de forma que o mal inegável e extremo ao qual organizou
seus atos não podia ser atribuído nem às suas convicções ideológicas sólidas, nem às
suas motivações especificamente malignas. Para Arendt, falar de banalidade do mal seria
abordar “(...) algo bastante fatual, o fenômeno dos atos maus cometidos em proporções
gigantescas – atos cuja raiz não iremos encontrar em uma espécie de maldade, patologia
ou convicção ideológica do agente (ARENDT. A vida do espírito: o pensar, o querer, o
julgar.). A banalidade para ela está no fato do mal não possuir profundidade nem
dimensão demoníaca, “(...) desafia o pensamento, porque o pensamento tenta atingir a
profundidade, tocar as raízes, e no momento em que se ocupa do mal, ele se frustra por
que não encontra nada. Eis sua banalidade.”
Sendo assim, conclui-se com base no caso Eichmann e na análise da banalidade do mal
que o abandono da necessidade e afastamento da realidade, em conjunto, preparam o
caminho para um mal tão banal, que chega a ser cometido por indivíduos comuns. Dessa
forma, a “ausência de pensamento” dos indivíduos os levam a sujeitar-se incapazes de
resistir ao mundo que a ideologia constrói, levando tais pessoas a basearem-se em regras
de conduta de determinadas sociedade e época, caracterizando a idéia da autora de que
o mal não possui profundidade ou dimensão maligna.

Fonte: http://problemadomal.blogspot.com/2009/09/banalidade-do-mal-de-hannah-arendt.html.
Acesso: 11/08/2011
Trecho do livro Eichmann em Jerusalém:

Evidentemente não há dúvida de que o acusado e a natureza de seus atos, assim como o julgamento
em si, levantam problemas de natureza geral que vão muito além das questões consideradas em
Jerusalém. Tentei abordar algumas delas no Epílogo, que já não é um simples relato. Eu não me
surpreenderia se achassem meu tratamento inadequado, e teria apreciado uma discussão sobre a
significação geral de todo o conjunto dos fatos, que seria tanto mais significativa quanto mais
diretamente se referisse aos eventos concretos. Posso também imaginar muito bem que uma
controvérsia autêntica poderia ter surgido do subtítulo do livro; pois quando falo da banalidade do
mal, falo num nível estritamente factual, apontando um fenômeno que nos encarou de frente no
julgamento. Eichmann não era nenhum Iago, nenhum Macbeth, e nada estaria mais distante de sua
mente do que a determinação de Ricardo III de “se provar um vilão”. A não ser por sua
extraordinária aplicação em obter progressos pessoais, ele não tinha nenhuma motivação. E essa
aplicação em si não era de forma alguma criminosa; ele certamente nunca teria matado seu superior
para ficar com seu posto. Para falarmos em termos coloquiais, ele simplesmente nunca percebeu o
que estava fazendo. Foi precisamente essa falta de imaginação que lhe permitiu sentar meses a fio
na frente do judeu alemão que conduzia o interrogatório da polícia, abrindo seu coração para aquel
homem e explicando insistentemente como ele conseguiria chegar só à patente de tenente-coronel
da SS e que não fora falha sua não ter sido promovido. Em princípio ele sabia muito bem do que se
tratava, e em sua declaração final à corte, falou da “reavaliação de valores prescrita pelo governo
(nazista)”. Ele não era burro. Foi pura irreflexão – algo de maneira nenhuma idêntico à burrice –
que o predispôs a se tornar um dos grandes criminosos desta época. E se isso é “banal” e até
engraçado, se nem com a maior boa vontade do mundo se pode extrair qualquer profundidade
diabólica ou demoníaca de Eichmann, isso está longe de se chamar lugar-comum. Certamente não é
nada comum que um homem, diante da morte e, mais ainda, já no cadafalso, não consiga pensar em
nada além do que ouviu em funerais a sua vida inteira, e que essas “palavras elevadas” pudessem
toldar inteiramente a realidade de sua própria morte. Essa distância da realidade e esse desapego
podem gerar mais devastação do que todos os maus instintos juntos – talvez inerentes ao homem;
essa é, de fato, a lição que se pode aprender com o julgamento de Jerusalém. Mas foi uma lição, não
uma explicação do fenômeno, nem uma teoria sobre ele.

ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo:
Companhia das Letras, 1999. Páginas 310/311.

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