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NOVO CANCIONEIRO

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sonto

froncisco iosé tenreiro


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TER R A (essolodo)
poemode FernondoNorrroro

POE M A S (essolodo)
deMár ioDíonísio

SOL DE AGOSTO (essotodo)


poemo de Jo6o Jo¡é Cochof el

AVISO A NAVEGAqÁO (essoioclo;


poemos de Jooquim Nomorodo

OS POEMAS DE ÁrVtnO FEUÓ (essorodo)


(Primeiros Versos, Corsúrio e D¡ár¡o de Bordo)

P LA N I CIE
de Mon u el doF onsecd

TU R t§MO
poemos de Csrlos de Ol¡veiro

PASSA G EM DE NiVEL
p o am o I G 5idónio Murolho
ILHA DE NOME SANTO
de Fronci¡ao José Tenreiro

il §Eüütn, tIrtt 0üIn0§:


AVOZOUEESCUfA
poemot póslumos de Políbio Gonie¡ do¡ Sonlor

I
romoncelro
oNasci naquela terra distante
num dia de batuque.

Daí esta pressa de viverl

Ombros balanqando
Iábios sangrando de prazer
éles danqavam
dangavam. . .

Daí 6ste olhar pró sofrert

Depois o descanso.
Olhos longe sém se saber porqué.

Assim esta vontade de viver !o


romonce de seu
silvo costs

"§eu Silva Costa


chegou na ilha . . .,

Seu Silva Costa


chegou na ilha:
calcinha no fiozinho
dois moeda de ilusáo
e vontade de voltar.

Seu Silva Costa


chegou na ilha:
fez comércio di alcool
fez comércio di homem
fez comércio di terra.

l3
uil
Seu Silva Costa
virou branco grande:
su calga náo é fiozinho
e sus moeda náo tém mais ilusáo I . . .

t1
romqnce de sqm
mürinhq

Sam Márinha
a que menina foi no norte
chegou naquele navio á ilha.

Risadas brancas
e goles de champagne t

A hor" do espalmadoiro
os moeos do cornércio
passaram de gravatas garridas.
O monhé chegou na porta
e limpou o suor
ao lengo di s6da que importou do |apáo !

l5
Ait
Aquela que chegou na ilha
como uma risada branca
está fechando a carinha á terra.

Braqos pendentemente tristes


só os olhinhos
estáo pulando pra Iá da fortaleza
querendo ver a Europal...


romonce de sinhó
corloto

Na beira do caminho
sinhá Carlota
está pitando no seu cachimbo.

Um círculo de cuspo
a seu lado. . .

Veio do sul
numa leva de contratados.
Teve filhos negros
que trocam hoje o peixe
por cachaga.
17
Teve filhos mestiqos.
Uns
forros de a. b. c.
perdidos em rixas de navalhas.
Outros foram no norte
com seus pais brancos
e o seu coragáo
já náo lembra o rostinho deles t

Sinhá Carlota
veio há muito do sul
numa leva de contratados. . .

Assim
embora pra seu branco
o seu corpo náo baile mais no sócópé
éle ao passar
fica sempre dizendo:
sábuá?

Sinhá Carlota
nos olhos cansados e vermelhos
solta um achó distante
enquanto vai pitando
no seu cachimbo carcomido. . .

l8
concdo
, do mestico ------7-

Mestigo !

Nasci do negro e do branco


e quem olhar para mim
é como que se olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
a vista passando depressa
fica baralhando c6r
no 6lho alumbrado de quem me vé.

Mesti§.o !

E tenho no peito uma alma grande


uma alma feita de adiqáo
como 1 e 1 sáoZ.

r9
Foi por isso que um dia
o branco cheio de raiva
contou os dedos das máos
fez uma tabuada e falou grosso:

- mestigot
a tua conta está errada.
Teu lugar é ao pé do negro.¡

Ahr
Mas eu náo me danei. . .

e muito calminho
arrepanhei o meu cabelo para trás
fiz saltar fumo do meu cigarro
cantei do alto
a minha gargalhada livre
que encheu o branco de calort...

Mestigo t

Quando amo a branca


sou branco.. .

Quando amo a negra


sou negro.

Pois é.. .

2A
c¡clo
do olcool
I

Quando seu Silva Costa


chegou na ilha
trouxe uma garrafa de aguardente
para o primeiro comércio.

A terra era táo vasta


havia tanto calor
que a águ,a !,,

parecia náo ter poténcia §{,

,l
para acalmar a séde da sua garganta. *=,

*,
ái
I,
:!':
Seu Silva Costa. ;ii
i:
bebeu metade. . . ii
ln '
j.'
E sua garganta ganhou palavra
para o primeiro comércio.
l?'
lr
Íi'
23 j,
,fu
fi:
i'
,fl'
,ri

ir
ri
A lua batendo nos palmares
tem carícias de sonho
nos olhos de sam Márinha.
Sil6ncio I

O mar batendo nas rochas


é o eco da ilha.
Sil€ncio t
Lá no longe
solugam as cubatas
batidas dum luar sem sonho.
Sil6ncio !

No canto da rua
os brancos estáo fazendo negócio
a golpes de champagne t

24
Mái-Negra contou:
u eu disse:

filhinho
beba isso coisa náo. .
Filhinho riu tanto tantol...»

Nhá Rita calou-se.


Só os olhos e as rugas
estremeceram um sorriso longínquo.

E depois Mái-Negra?
-
"Ohl
filhinho
entrou no vinhateiro
vinhateiro entrou néle . . .,

25
Os olhos de nhá Rita
estáo avermelhando de tristeza.

nHumt
filhinho
ficou esquecendo sua máit...»

26
3 poemos
soltos
epopeto

Náo mais Africa


"
da vida livre
e dos gritos agudos de azagaia t
Náo mais Africa
"
de rios tumultuosos
entumescidas dum corpo em sangue!.
-u"im

Os brancos abriram clareiras


a tiros de carabina.
Nas clareiras fogos
arroxeando a noite Íropical.

29

€rá::,q
;t :|.:,ta: :'
.. .,)t:.,

:¿r'll
Fogos t

Milhóes de fogos
num terreno em brasa!

Noite de grande lua


e um cántico subindo
do poráo do navio.
O som das grilhetas
marcando compasso t

Noite de grande lua


e destino ignoradot...

F6ste o homem perdido


em terras estranhas. . .

No Brasil
ganhaste calo nas costas
nas vastas plantagóes do cafét
No Norte
f6ste o homem enrodilhado
nas vastas plantag6es do fumo I

30
Na calma do descanso nocturno
só a saüdade da terra
que ficou do outro Iado. . .

-só as cangóes bem soluqadas


dum ritmo estranhot...

Os homens do norte
ficaram rasgando
ventres e cavalos
aos homens do sul !

Os homens do norte
estavam cheios
dos ideais maiores
táo grandes
que tudo foi um despropósito ! . . .

Os homens do norte
os mais lúcidos e cheios de ideais
deram-te do que era teu
um pedago para viveres...
Libéria ! Libéria !

3t
Ah!
os homens nas ruas da Libéria
sáo dollars americanos
ritmicamente deslizando. . .

Quando cantas nos cabarés


fazendo brilhar o marfim da tua b6ca
é a Africa que está chegandoi

Quando nas Olimpíadas


corres veloz
é a Africa que está chegando !

Segue em frente
irmáo t
Que a tua música
seja o ritmo de uma conquista t

32
E que o teu ritmo
seja a cadéncia de uma vida nova !

. . . para que a tua gargalhada


de novo venha estragalhar os ares
como gritos agudos de azagaia !

:i!
.:s!.
S&&";-
exortocño
,

Negro
para quem as horas sáo sol e febre
que colhes
nesse ritmo de guindaste.

Negro
para quem os dias sáo iguais
que respeitas teu patráo e senhor
como água que mexe o engenho.

Negro t

Levanta os olhos prao sol rijo


e ama tua mulher
na terra húmida e quente I

34

...::i: jl
i rri. I i:ir, i,ri: ,t
negro de todo
o mundo

O som do gong
ficou gritando no ar
que o neglo tinha perdido.

Harlem! Harleml

Américat

Nas ruas de Harlern


os negtos trocam a vida por navalhas!

:.

*é*
"t.1
América I

Nas ruas de Harlem


o sangue de negros e de brancos
está formando xadrez.

Harlemt
Bairro negro I

Ring da vidal

Os poetas de Cabo-Verde
estáo cantando. . .

Cantando os homens
perdidos na pesca da baleia.
Cantando os homens
perdidos em aventuras da vida
espalhados por todo o mundo !

Em Lisboa?
Na América?
No Rio?
Sabe-se Iát. . .
36
- aEscuta.
Morna...
E

Voz nostálgica do caboverdeano


chamando por seus irmáos !

Nos terrenos do fumo


os negros estáo cantando.

Nos arranha-céus de New-york


os brancos macaqueando !

Nos terrenos da Virgínia


os negros estáo dangando.

No show-boat do Mississipi
os brancos macaqueando!

37

E-
Ahl
Nos estados do sul
os negros estáo cantando!

A tua voz escurinha


está cantando
nos palcos de Paris.

Folies-Bergéres t

Os brancos estáo pagando


o teu corpo
a litros de champagne.

Holies'Bergéres t

Londres-Paris-Madrid
na mala de viagens. . .

38

i
'
. :-- ...
¡:l'1
''
' i,..".:-9:i.:'-
ñ
.'iI
Só as cang6es longas
que estás solugando
dizem da nossa tristeza e melancolia !

a
Se fósses branco
terias a pele queimada
das caldeiras dos navios
que te levam á aventura!

Se f6sses branco
terias os pulmóes cheios
do carváo descarregado
no cais de Liverpool!

Se f6sses branco
quando jogas a vida
por um copo de whisky
terias o teu retrato no jornal!

Negro !

.l

Na cidade da Baía
o§ negros
estáo sacudindo os músculos.

39
uil
Na cidade da Baía
o§ negro§
estáo fazendo macumba.

Oraxilá! Oraxilát

Cidade branca da Baía.


Trezentas e tantas igrejasl

Baía. . .
Negra. Bem negra!
Cidade de Pai de Santo.

Oraxilál Oraxilát

10

J
conclonetro
conqño de f¡¿
mol¡cho

*Lenso di séda
...S€dacáboutu

O branco arregalou os olhos:


Negrinha táo tenra
de peito durinho !

* Saia di pano
.. . Pano cábout"

No sócópé seu branco a tomou:


Negrinha táo tenra
de riso táo largo I

43
'Y

* Vinho di plóto
. . . Pl6to cábou !,

Seu branco deu tudo:


uté roqa montout,

Mas mina piquina


tudo cábou. . .

44

.)z
conto do óbó

O sol golpeia as costas do negro


e rios de suor ficam correndo.

Ardorl

0 machim golpeia o pau


e. rios de seiva escorrendo.

Ardorl

Os olhos do branco
como chicotes
ferem o mato que está gritando. . .
Y

Só o água sussurrantemente calmo


corre prao mar

tal qual a alma da terat

46
socope

nB6 cá bé di stláda Monta. . .,

Aht
E lana o coixo
que está cantandol

As sangués suspenderam
o ritmo dos. seios. . .
Músculos estáticos
pró espasmo de amorl

* Puntá pétó Stléla dámo . . .,

47
Ahl
E lana o coixo
que mexe no violáol

(Onde está Stléla


a que foi na Monta?)

Iana está cantando. . .


E dos seus beigos grossos
um engenho de sonho
arnolentando corpos pró amorl

48

_.&
-w

o mor
A voz branca que está no mato
perde-se na imensidáo do mar.
Lá vai !
O sol bem no alto
é uma atrapalhagáo de c6r.
- Abacaxi sáfu nona
carr6gozinho do barcot. . .

Um tubaráo passando
é um risco de frescura.
Lá vai !

O barco deslizando
só com a vontade Iivre e cJ*a do negro
Iá vait.. .

49 ;l
I

ii
logindo o lodrüo

Os olhos de Logindo
saltam a noite
como dois bichinhos luminosos.

Chiut
Só o eco do mart

O corpo de Logindo
segue os olhos
como cag6 atrás de homem I

Chiul
Sé o rumor do palmart

50
A máo de Logindo
estendeu-se prá frente
os olhos saltando na noite !

uil
Um tiro de carabina!

O coragáo de Logindo
comegou batendo
e a navalha cantou de encontro á pele.

Hum t

Um tiro de carabina !

Logindo fechou um 6lho,


Depois o outro.
O branco o perdeu na escuridáo!. ..

Aht
Só o ronco-ronco do mart

5I
ilho de nome sonto
Terra I

das plantaqóes de cacau de copra de café de c6co a perde-


rem-se de vista
que váo morrer numa quebra ritmada
num mar azul como o céu mais gostoso de todo o mundo !

Onde o sol bem amarelo bem redondo incendeia as costas


dos homens das mulheres agitando.lhes os nervos
num cadenciar mágico mas humano: capinar sonhar plantar !

Onde as mulheres que t6m os braqos mais grossos e mais


tortos que ocá
sáo negras como o café que colhem depois de torrado
trabalham ao lado de seu homem numa ajuda t6da de músculos I

52

,,: x
'|::::jñ1
':.r,:l]#i{
Onde os moleq.ues véem seus pais no ritmo-diário
deixando correr gostosamente pelo queixo quente
o sabor e a seiva húmida do sáfu maduro !

Onde nas noites estreladas


e uma lua redonda como um fruto
os negros as sangués os moleques os caq6

- mesmo o branco e a sua mulata -


vém no sócópé de uma sinhá
ouvir um malandro tocando no violáo
cantando ao violáo t

E o som fica ecoando pelo mar. . .

Onde apesar da pólvora que o branco trouxe num navio escuro


onde apesar da espada e duma bandeira multicor
dizerem poder dizerem f6rga dizerem império de branco
é terra de homens cantando vida que os brancos jamais sou-
beram
é terra do sáfu do sócépé da mulata

- ui I fetiche di branco t -
é terra do negro leal forte e valente que nenhum outrot

53

:.

--
' :?l
T

índíce

om e o
Págo.
Roma¡cc de seu Silva Cost¿
13
Roma¡ce dc §¡m Miri¡ha.
15
Romaace de Sinhá Carlota
t7
Can§o do Mestiso
19

ciclo do olcool
I
23
2
24
3
25

3 poemCls solto§
Epopcia
29
Erortag§o
34
Negro do todo o mundo
35

cct o
CanSo de Fiá Malicha.
43
Canto do óbó.
45
Sücópó
46
O Mar
48
Logindo o ladr6o.
49
Ilha dc Nome Santo
5l

55

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