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ORGANIZADORA
acompanhamento editorial
Michele Bandeira
projeto gráfico
Carolina Nobre
editoração
Carolina Nobre
Tábata Costa
revisão
Ana Santos
capa
Antônio Silveira
Tábata Costa
edição de imagens
Felipe Hackner
ISBN 978-85-9489-107-5
1. Ilha da Pintada (Porto Alegre, RS) 2. Memó-
rias 3. Extensão universitária I. Piccinini, Gema Conte
Prefácio....................................................................... 7
Apresentação............................................................. 9
Vó Caco................................................................... 177
Apêndices............................................................... 215
Prefácio
Ana Lúcia de Lourenzi Bonilha
10 Apresentação
Iscas biográficas
do Delta: fragmentos
da vida de um pescador
19
contro, a objetividade acadêmica programada e o que
estamos sentindo neste momento em que a chuva e
os relâmpagos também começam a tomar conta.
Mauricio inicia oficialmente:
– O senhor lembra o nome da gente? Mauricio,
Bruna, Gema. A gente marcou o encontro hoje para
conversar com o senhor, com a sua esposa... Sobre sua
vida na Ilha, falar sobre as histórias; o senhor viveu
aqui 92 anos!
Alfredo:
– Nossa vida foi sempre aqui, pescando, de barra-
ca; agora a gente não sai muito. Agora pra onde saio,
saio de lancha. Se fosse mais novo ainda ia fazer uma
lancha; o pessoal em volta tem lancha.
Mauricio pergunta como a Ilha era e como se trans-
formou no que é hoje.
Alfredo:
– O rio sempre foi o mesmo. Mas ele muda. O
que muda é o rumo. Com as águas a terra vai saindo,
vai indo pra outro lugar. Aqui pra baixo aumentou,
não sei, mais de dois mil metros ali pro lado de Guaí-
ba que desceu... Cada enchente que dá, da ponta de
cima da Ilha a água que vem vai indo, e indo, e vem
redemoinhando e vai aterrando lá adiante, aterrando
a ponta de baixo. Vai saindo aqui, vai ficando lá, vai
criando mato.
Mauricio:
– E um pouco do que a gente queria conhecer... A
gente tá aqui há pouco tempo, gostaríamos de saber
21
Mauricio:
– O senhor sabe fazer um monte de coisa, pescar,
fazer barco...
Alfredo:
– Eu faço barco... Fazia... Agora não quero nem sa-
ber, governo tá fazendo, vou pagar ali pra fazer... Casa
fazia e faço, a parte de baixo aqui foi tudo eu que fiz:
as vigas, senta pé.
(A Sueli, na cozinha, está falando que os dois fi-
zeram...)
Gema, para Sueli:
– Entra aqui, conte pra gente também...
Sueli:
– Deixa ele...
Alfredo:
– O que eu sei, o que eu fiz: eu digo, não tenho
vergonha de contar... Se eu tivesse estudo eu dizia, não,
eu sei... Sei escrever de tudo, mas não sei dizer o que
tô escrevendo. Falo do estudo da escola, tem outro.
(Um lindo cão carinhoso entra e fica aos nossos
pés ouvindo a conversa.)
Alfredo:
– Comecei a trabalhar com nove anos, ia pescar...
Gema:
– Ia pescar com quem?
Alfredo:
– Com meu pai, ia pescar com meu pai. Perdi ele
com 13 anos. No dia que eu ia fazer 13 anos ele mor-
reu... No dia do meu aniversário... Me lembro até hoje,
não gosto nem de falar.
Bruna:
– Então não vamos falar! Tu não tem outras his-
tórias de mistérios? Nós falamos com outros pescado-
res e eles falavam de histórias de assombração...
Alfredo:
– Sobre assombração, não acredito. Mas, ah! Isso
eu tenho história, de ver certas coisas, já vi coisa as-
sim. Eu tava ali atrás do Morro da Polícia, num porto
que se chama Figueirinha, tava eu e meu guri mais
moço, távamos sentados assim, eu e meu guri mais
novo, perto do fogo, aí veio uma luz por cima, assim...
Um clarão, clareou mais que dia! Não levou um mi-
nuto e escureceu de novo. Meu guri perguntou: pai,
que que é isso? Isso eu já vi uma porção de vezes. Tem
pessoal que sai correndo, lugar aí que pessoal não
acampa... Eu acampo... Tem uma porção de coisa que
25
sar aqui na frente pra ir pra casa, tinha umas goiabei-
ra, laranjeira, tudo na estrada aqui, aqui onde passa a
igreja, o armazém que tem ali. Aí, eu usando uma blu-
sa de couro e uma faca prateada, eu aflouxei a blusa,
levantei o facão pra me defender assim, aí disse “eu não
vou correr esse medo”, fui indo, fui indo... Aí cheguei
lá, um cavalo, uma égua, com uma mancha branca,
umas estrelas na testa, encostada na goiabeira, eu caí
assustado, caí e dava de volta no lobisomem, tal de lo-
bisomem, quantas vezes já não vi ele... Uma vez um
cara entrou num barco, eu tirei a faca, vi, não era gen-
te, era um cachorro!
Mauricio:
– O senhor se assustava com as histórias?
Alfredo:
– Eu não, não tinha medo. Essa figueira que eu
falava, eu dormia embaixo dela, tirava o barco ali, ti-
rava a rede. Naquele tempo a gente usava a rede aqui
e depois ia lá embaixo... Largava ela com rio correndo
e pegava lá embaixo. Largava de hora em hora, às ve-
zes até de meia hora, largava uma canoa, fazia meia
hora. Antigamente a pescaria era assim, usava a água
do rio, agora terminou tudo. Então, esperando a hora
de eu largar a rede, eu dormia em cima da rede, puxa-
va a vela por cima, assim... Quando vi, aquele bicho
fogueijando assim, tirei o olhar, o monstro daquele bi-
cho preto, com os olhos que parecia uma tocha. Eu ti-
nha um porrete, um cassetete, passei a mão no por-
rete e ele se veio aqui pra cima, cachorrada, mas se é
lobisomem, não sei. Não tenho medo de nada, respei-
to Deus.
26 Iscas biográficas do Delta
E, em demonstração de sua sensibilidade aguça-
da, Alfredo nos conta sobre um triste episódio premo-
nitório em sua vida...
Alfredo:
– Teve um dia lá, que minha vontade era de ir em-
bora, aí o João: “vamo ficá mais um dia”. A minha von-
tade era botar tudo e ir embora, mas aí ficamos. No
outro dia não tava bem direito, não conseguia comer
direito, tava enjoado. Aí quando foi onze horas da noi-
te eles bateram lá, mas antes, bem antes, fiz a comida
pra ele, ele comeu, fiz uns bolinhos e deitei bem na
beira da praia, perto da sombra, veio uma garça, pas-
sou aqui como entre eu e a porta. Ela olhava pra mim
assim... e eu olhando pra ela. Ficou ali, mais de hora,
eu deitado ali. Quando chegou onze horas, ainda dei-
tado, com aquela vontade de botar tudo e ir embora.
Aí chegou dois pescadores, uma hora dessas aqui sem
rede, sem nada, queriam me dizer uma coisa, mas não
queriam me dizer. Eu disse “podem dizer”. “Viemo te
dizer que tua mãe faleceu”.
Mauricio:
– Imagino que nesse tempo o senhor tenha co-
nhecido muita coisa, feito muita amizade.
Alfredo:
– Nas estradas, rua assim, a gente vê muita coi-
sa... A minha religião é católica, sempre me lembro de
Deus quando vou me deitar. Uma vez tava com dor de
ouvido, nem sabia que era reza... Naquela época nin-
guém ensinava nada. Aí minha mãe falou “tem que re-
zar” e me ensinou assim:
27
“Com Deus eu me deito,
Com Deus eu me levanto,
Com a graça de Deus
E do Divino Espírito Santo”
Isso, quando eu era pequeno, eu rezava sempre...
Mauricio:
– O senhor ainda repete?
Alfredo:
– Todos os dias...
(Neste momento todos repetimos a oração.)
Gema:
– Outra, imagine, há 52 anos atrás, era outra Ilha,
a casa do seu Ivo ali, que era a prefeitura, o que era?
Alfredo:
– Não, ali não tinha casa, não tinha nada, era um
depósito de querosene, com um jacaré de símbolo...
Ali atrás era uma fábrica de vidro.
Mauricio:
– Na época em que as casas eram poucas, eram
mais separadas?
Alfredo:
– Eram tudo longe as casas, só tinha essa sede
aí; depois da enchente de 41, Getúlio Vargas mandou
aterrar e ficou com o aterro, e o Oscar Freitas, que era
prefeito na época, que aterrou isso aí. Tava de manhã
de calção fazendo o aterro. Não tinha mais de 200 ca-
sas entre ali em casa, hoje tem mais de dez mil. Dava
para plantar, criar porcos, galinhas. Os primeiros mo-
radores aqui da Ilha moravam em rancho de capim,
como o meu avô, que se chamava Chico Capoeira.
29
Alfredo:
– Até pouco tempo, até fazerem o muro da Mauá
ali, ali tinha, até desmancharem, quebrarem tudo e
fazerem o muro. Cada uma banquinha naquela época
ia o pescador, pagava um mil réis e vendia o peixe ali.
A gente chegava lá de madrugada, seis horas, o guar-
da abria o portão pra gente, todo o pessoal chegava
com o peixe e a gente ficava ali o dia vendendo...
Gema:
– E quanto aos remédios? O que usavam quando
ficavam doentes?
Alfredo:
– Não tinha. Varicela, sarampo, curava com chá e
reza. Fui picado de cobra com 7 anos, tomei um remé-
dio verde que um pescador me deu e fiquei bom. Mo-
rei no alagado onde choveu por 40 dias sem parar, lá
matei mais de 200 cobras dentro de casa na enchen-
te de 41. Em minha casa entrava de tudo, cobras, ara-
nhas e muitos peixes...
Bruna:
– Tu conheces a dona Caco, benzedeira?
Alfredo:
– É minha comadre! Mas convivi mais com a mãe
dela, que tecia a melhor rede da Ilha.
Bruna:
– Sabemos que muitas pessoas procuram a cura
nas rezas da dona Caco, ainda queremos ter uma con-
versa, dessas que estamos tendo com o senhor, com
ela também.
(Entre conversas amigáveis e leves, um passari-
nho nos presenteia com seu voo dentro da sala de es-
tar, rumo à xícara de açúcar que sempre o espera em
cima do mesmo balcão. A natureza é presente no es-
paço...)
Alfredo:
– Desde pequeno, quando corto uma árvore, planto
duas no lugar. Agora nem tem mais lugar pra plantar,
não tem mais lugar nem para criar porco nem gali-
nha. As taquara que tem aqui na frente, tudo eu que
plantei há muitos anos atrás.
A conversa com seu Alfredo foi descrita aqui com
o máximo de verossimilhança, respeitando aquela tar-
de e as pessoas que dela usufruíram. O resgate da ve-
lha Ilha da Pintada, o processo de urbanização, a ocu-
pação de territórios, o caminho das águas, a mudança
da cultura local, da economia, tudo isso foi desven-
A FARMÁCIA DO PESCADOR
Para urinar:
- chá-de-pata-de-vaca.
MAS É UM CIENTISTA!
Alfredo:
– Um dia, já faz tempo, eu tava ruim de uma dor
na bexiga. Tava no mato com o Vilmar e fazia muito
frio. Olhei num canto uma porção de pata-de-vaca e
fui lá e peguei pra fazer chá. O Vilmar ficou assustado,
chegou até a me chamar de cientista!
Mauricio:
– Mas tu toma de tudo?
Alfredo:
– Não, só as que eu conheço. Conheço muito, des-
de criança: erva-de-nossa-senhora, cidró, casca de co-
cão, tarumã, casca de romã, carrapicho rasteiro, bana-
na-do-mato, casca de angico.
COMER, COMER!
33
34 Iscas biográficas do Delta
35
36 Iscas biográficas do Delta
37
38 Iscas biográficas do Delta
Gema, Sueli, Mauricio, Bruna e Alfredo
39
Iracema:
a Cema da Ilha
43
suave nas casas. Aguçando a escuta do que tinham a
nos contar, descobrimos esse lugar sagrado para com-
preender o intenso viver e a harmonia do cotidiano
desses lendários seres das águas. Pontes movediças de
nosso conhecimento acadêmico, que rangiam em cada
registro, desde o diário de campo até a última pala-
vra escrita neste (enfim) livro. Muitos ruídos permane-
cem por carregarem consigo faces da vida e da histó-
ria de muitos de nós, por terem sido ponte com o pas-
sado de cada um de nós – que, às vezes, parecia visa-
gem. Pontes difíceis de atravessar entre falar e escutar,
escrever e fotografar, permanecer e retornar; pontes
entre o real e o imaginário de cada um; pontes que,
por serem ilhas, confundiam-se com portos – de mui-
tas maneiras e por diversos motivos – no Delta de cada
um de nós.
”
sentir o cheiro das coisas...
À CEMA DA ILHA...
1
Médico obstetra na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
e professor da Faculdade de Medicina até a década de 30. Em re-
conhecimento a seu trabalho, seu nome identifica a Maternidade
Mário Totta, na Santa Casa.
45
Ponte construída para dar acesso a veículos de passeio
da Ilha da Pintada para a Ilha Mauá.2
2
Anteriormente, a conexão era feita apenas através de trapiche para
pedestres. Em primeiro plano, a bolsa do projeto Convivências e,
ao fundo, o Cais do Porto de Porto Alegre. À esquerda, o Estaleiro
Mabilde (Pintada). À direita, a SEMA (Mauá). A SEMA (Secretaria
Estadual do Meio Ambiente) é a sede administrativa da APA (Área
de Preservação Ambiental) do Delta. Fotografada por Gema Conte
Piccinini durante o projeto Convivências, em 18/01/2011.
UNIFICAM O TEMPO...
3
Trecho traduzido da canção “Blowin’ in the Wind”, disponível na
página <http://letras.mus.br/bob-dylan/11904/traducao.html>.
47
responsabilidade de compor este documento que pode
soar para alguns como ilha e, para outros, como pon-
te. Para todos, certamente, uma inegável história de
amor, dedicação e bem-querer.
”
Tava de manhã de calção fazendo o aterro.
Alfredo, 25/07/12
49
Iracema, Gema, Mauricio e Bárbara, fotografados por Clara em
24/09/2012. Nosso primeiro retorno.
”
homem, saudável, pai de família.
”
de igual.
51
“O doutor, eu e a outra enfermeira. Descer do bar-
co, às vezes, pra ir, no barco grande e no barco peque-
no, pra atender fora. Isso foi que trabalhamos muito.
Às vezes passava até horas sem se alimentar. Aí quan-
do foi uma enchente muito grande, aí veio os educa-
dor do governo, aí eles faziam, faziam carreteiro pra
gente comer. Eu agarrava as crianças das ilhas, botava
no barco porque estava mal, o doutor mandava, pegava,
tudo era eu. Ia direto até Porto Alegre levar no hospital
Santo Antônio. Às vezes a água ia até aqui. Eu nunca
gripava, nunca tinha nada.”
“Me formei na cidade de Venâncio Aires, lá eu es-
tudei, lá eu me formei. Eu fui duas vezes no Rio de
Janeiro para completar meus estudos. [Supõe-se que
Iracema tenha se formado na Escola Prática de Enfer-
magem da Cruz Vermelha, no Rio de Janeiro]. Eu ti-
nha medo de andar de avião Aí o professor era muito
bom e a professora. Ah, eu fui, nem. Depois perdi o
medo. Graças a Deus, trabalhei bastante.” Perguntada
sobre se lembrava o nome de alguma colega que se
formou com ela, respondeu: “Uma se chamava Tere-
za, uma que se chamava Nair, outra que se chamava
Ana, três. Depois que eu me formei, ainda trabalhei
um ano, aí que me casei. Eu fui casada. A primeira
vez tive dois filhinhos. Quando mataram meu marido,
eu tinha 22 anos, eu fiquei pra ganhar outro filhinho.
Ele não conheceu o pai. Aí eu estava lá na fazenda.
Agora...”. Mais um silêncio do mergulho no passado.
“Venâncio Aires é longe. Lá tem meus parentes
tudo. Eu sou família Pereira. Lá pra Taquari, Lajeado,
”
tária.
Clarinha, 02/08/12
53
Iracema continua: “Minha mãe era parteira, mi-
nha vó era parteira. Eu estava morando aqui. Meu ma-
rido era delegado, subprefeito da Ilha. Ele que arrumou
isso aqui, não tinha nada. Não tinha rua, era água. Luz,
coisa... Ele trabalhou muito aqui, muito tempo que ele
trabalhou. Quatro anos, arrumou tudo.”
“Mas eu sempre me tratei com o doutor, um ve-
lhinho aqui na cidade, doutor Croco, ele sempre me
tratou. Ele me dizia ‘não, a senhora vai ganhar no hos-
pital’. Aí eu disse pra minha mãe: ‘Ah, eu vou ganhar
em casa. Eu tenho tudo, tenho tudo em casa, qualquer
coisa’. Foi mesmo, ela nasceu com 4 kg e 200 gramas.
Uma enorme guria. Linda, linda. Muito bem. Eu ti-
nha tudo, eu tinha minha bolsa lotada. De tudo, tudo,
medicamento, injeção. Me chamavam, eu ia. Pegava
minha bolsa de parteira e ia.”
“O governo tinha um programa de parteiras, ti-
nha, era uma bolsa do governo. Eu fui do governo, eu
fui nomeada pelo governo do estado. E sou do esta-
do, eu recebo do estado. E tenho uma aposentadoria
do meu esposo. Mas sou do estado, fui nomeada pelo
estado.”
”
ajudou muito as pessoas na Ilha.
”
mim, tanto ela quanto Clarinha são ótimas vizinhas.
Carmem, 08/11/2012
55
“ Encontrei ela agora lá no posto! Fazia tempo
que não via ela. Eu tava lá esperando para ser atendida,
quando vi um tumulto, fui ver o que era e era ela! To-
dos fazendo festa: Dona Cema! Dona Cema! Gosto muito
”
dela, faz bem falar dela.
Diva, 17/10/2012
”
Diva, Eva e Caco, 17/10/2012
”
voz que, com humor e amor, conforta os corpos...
Bruna, 17/10/2012
REVELANDO RELÍQUIAS...
57
so da enfermeira Iracema, que com ela navegava as
ilhas do Delta levando saúde, conforto, carinho e es-
perança. Objeto de uso tradicional em lugares despro-
vidos de assistência médica, para assistência domici-
liar, principalmente em épocas ou localidades em que
não estavam disponíveis seringas descartáveis e mui-
to menos havia a presença de profissionais da saúde.
Símbolo de época da assistência domiciliar.
A parteira Iracema, iniciada na profissão com Má-
rio Totta, traz do berço sua vocação. Na Ilha, levada pe-
las circunstâncias, e depois, com apoio institucional,
desenvolveu por mais de meio século essa prática mi-
lenar. Com sua bolsa de parteira, sua energia vital e
suas mãos vividas, acolheu muitos ilhéus das águas,
levando essas crianças com o cuidado que lhe é pe-
culiar até as margens, onde a vida cresceu e se mul-
tiplicou.
Quantos partos ela fez, quanta gente ela ajudou.
Certamente, na memória do Delta, estão registradas
as vezes que a Iracema Parteira, entre um braço e ou-
tro do rio-estuário-lago, de barco, lancha ou bacatela 4,
foi levada para atender chamados. Com seu conheci-
mento e sabedoria, juntou as águas do parto com as
águas do Delta, ressignificando seus cursos e, agora,
sua história.
As águas do Delta guardam na fluida memória a
Iracema que circulava entre as ilhas, de porto em por-
4
Canoa rudimentar muito usada pelos ribeirinhos.
QUE APROXIMAM...
59
e convidou-nos para entrar. Entramos os três e fomos
direto a seu quarto.
Lá estava Iracema sentada em sua cadeira, ao lado
da cama. Ambiente aconchegante. Ela, sem óculos, ti-
nha os brincos combinando com a roupa e com o es-
malte das unhas, perfeitamente feitas. Ao perceber nos-
sa movimentação, perguntou: “Clarinha, quem é?”. Ale-
grou-se muito quando soube que havíamos retornado.
Após carinhosa acolhida, apresentaram-se Mau-
ricio, acadêmico de Psicologia, e Bárbara, acadêmica
de Serviço Social.
Juntos tivemos uma manhã de vivência inesquecí-
vel. Partilha ímpar de carinho, aula magna de como vi-
ver, quer seja na sutil presença de Clara ou no modo de
Iracema viver e contar a vida. Traduzirmos o que foi a
vivência de cada um é o exercício de dar vida a fragmen-
tos que possam comunicar o infinito dos encontros.
”
espetacular e, mesmo com mais de 100 anos, está cheia de
vida e muito lúcida.
Bárbara, 24/09/12
61
A MÚSICA
Diva, 17/10/12
63
A FITOTERAPIA NA CURA DO LEPROSO
CONSELHEIRA
A REZA, A ORAÇÃO
Salmo 23
65
GERANDO GRATIDÃO...
“ Velhas árvores
(Olavo Bilac)
”
da Pintada.
27/10/2012
67
E ANCORANDO REFERÊNCIAS
69
“ São pontes que nos levam à Cema da Ilha, uni-
ficam o tempo na voz de Iracema e dos ilhéus, revelando
relíquias que aproximam recursos de cura do passado e
do presente, gerando gratidão e ancorando referências
”
nos fluxos do tempo de cada um...
”
Iracema Pereira de Freitas, 08/11/2012
71
74 As histórias do seu Salomão
As histórias
do seu Salomão
Sentados à sombra de um jambolão na Secretaria Estadual do Meio Ambiente
(SEMA), as crianças da Ilha da Pintada, lideradas por Débora Balzan da Silva
e acompanhadas por outros acadêmicos da UFRGS, escutam e registram
atenciosamente falas de um ilhéu que, por seu ser e fazer, tornou-se referência
para as atividades do nosso projeto “Alfabetização ecológica”.
Com larga experiência e conhecimento sobre a dinâmica da vida nas ilhas e nas
águas do Delta, seu Salomão transmite-nos o cuidado para com o lugar em que
vivemos, ensinando-nos a amar a natureza e cultivar a vida a partir dos recursos
disponibilizados por ela.
Mal sabíamos nós que ele balizaria a construção deste filtro dos sonhos da Ilha...
78 As histórias do seu Salomão
80 As histórias do seu Salomão
82 As histórias do seu Salomão
84 As histórias do seu Salomão
86 As histórias do seu Salomão
88 As histórias do seu Salomão
90 As histórias do seu Salomão
92 As histórias do seu Salomão
94 As histórias do seu Salomão
96 As histórias do seu Salomão
98 As histórias do seu Salomão
100 As histórias do seu Salomão
102 As histórias do seu Salomão
104 As histórias do seu Salomão
106 As histórias do seu Salomão
108 As histórias do seu Salomão
As aventuras
do seu João
Nas páginas a seguir, encontramos a sabedoria de um humilde pescador,
anunciada na seguinte fala:
“Eu nunca tive estudo. Agora, o que eu aprendi na minha vida, aí isso eu
armazenei. Escrevi nas tábuas o entendimento do coração...”
112 As aventuras do seu João
114 As aventuras do seu João
116 As aventuras do seu João
118 As aventuras do seu João
120 As aventuras do seu João
122 As aventuras do seu João
124 As aventuras do seu João
126 As aventuras do seu João
128 As aventuras do seu João
130 As aventuras do seu João
132 As aventuras do seu João
134 As aventuras do seu João
136 As aventuras do seu João
138 As aventuras do seu João
140 As aventuras do seu João
142 As histórias do seu Salomão
As velhas histórias
da Ilha da Pintada
Tecendo a arte da partilha, estas grandes e vividas senhoras, cheias de memórias
ancestrais, nos falam da Ilha nos tempos em que criaram suas famílias,
desafiando no cotidiano as águas do Delta. Retalhos dessas histórias podem ser
lidos a seguir...
146 As velhas histórias da Ilha da Pintada
148 As velhas histórias da Ilha da Pintada
150 As velhas histórias da Ilha da Pintada
152 As velhas histórias da Ilha da Pintada
154 As velhas histórias da Ilha da Pintada
156 As velhas histórias da Ilha da Pintada
158 As velhas histórias da Ilha da Pintada
160 As velhas histórias da Ilha da Pintada
162 As velhas histórias da Ilha da Pintada
164 As velhas histórias da Ilha da Pintada
166 As velhas histórias da Ilha da Pintada
168 As velhas histórias da Ilha da Pintada
170 As velhas histórias da Ilha da Pintada
172 As velhas histórias da Ilha da Pintada
174 As velhas histórias da Ilha da Pintada
176 As histórias do seu Salomão
Vó Caco
Terapeuta da reza.
Há mais de sessenta anos, seu amor pelas pessoas e pela vida transborda
de seu corpo, traduzindo-se nas suas benzeduras.
180 Vó Caco
182 Vó Caco
184 Vó Caco
186 Vó Caco
188 Vó Caco
190 Vó Caco
192 Vó Caco
194 Vó Caco
196 Vó Caco
198 Vó Caco
200 Vó Caco
202 Vó Caco
204 Vó Caco
206 Vó Caco
208 Vó Caco
210 Vó Caco
212 Vó Caco
214 As histórias do seu Salomão
Apêndices
216 Apêndices
217
218 Apêndices
219
Desenh0: Bruna de Souza Fiorentin
Filtro dos Sonhos
Bruna de Souza Fiorentin
223
Quando os primeiros raios de sol surgem iluminando o filtro, os sonhos maus
desaparecem no vento – enquanto nós acordamos com um novo aprendizado tra-
zido pelos sonhos bons.1
Este livro representa o que passou entre os fios da teia que compõe o filtro dos
sonhos do programa “Ilhas de conhecimento”. Pequenos retalhos de nossa cami-
nhada, pedacinhos dos sonhos realizados, outras realizações surpreendentes, não
sonhadas anteriormente (na mágica dinâmica do conviver e deixar ser). Como tudo
é perfeito, para traduzirmos em palavras nosso aprendizado – vivido sob o arco-íris
que une as águas do Delta às terras da Vila Cruzeiro –, nem mil livros seriam sufi-
cientes. Grande parte do que passou pela teia alcançou nossos corpos de maneira
sutil e fluida: são elementos que não vimos com os olhos nem tocamos com os
dedos; apenas os sentimos, por isso a possibilidade limitada de materialização.
1
As informações deste texto foram extraídas do seguinte site: <http://somostodosum.ig.com.br/artigos/
autoconhecimento/o-que-e-um-filtro-de-sonhos-05394.html>.
224 Apêndices
A Oficina dos Filtros dos Sonhos
da Ilha da Pintada
Bruna de Souza Fiorentin
2
Esse grupo era composto por mim, por meu colega Mauricio Nardi Valle e pela professora Gema Conte
Piccinini, orientadora do programa “Ilhas de conhecimento”.
225
Assim, ao longo do tempo fomos construindo nossa rede de relacionamentos
e aprendizados nas ilhas do Delta. Certamente, algum elemento poderá servir para
alimentar as aranhas que constroem a teia.
Finalizando o projeto “Alfabetização ecológica em saúde pela cura da Terra: trans-
pondo 2012”, esta oficina e estas páginas de conhecimento foram pensadas com muito
carinho e doação, esperando que, de alguma forma, os sonhos, amores e agrade-
cimentos de cada um dos acadêmicos e ilhéus fossem materializados nas linhas
e cipós, trançados na tarde de sol em que construímos nossos filtros e firmamos
nossos laços.
Este registro, construído em conexão com a Natureza – e alimentado com a
essência vital de nossos seres acadêmicos multiprofissionais, multigeracionais e
transculturais –, congrega aqui nossas histórias com um filtro de amor e paz. Robert
Happé nos tornou cientes de que “consciência é a melhor resposta”3 também na
construção do conhecimento acadêmico. Para nós isso pôde ser forjado unindo os
livros com o viver cotidiano dos nativos em seu lugar, no milagre do convívio entre
o progresso, a ciência e a natureza.
A LENDA 4
Uma aranha fiava sua teia perto da cama de uma senhora chamada Nokomi.
Todos os dias, ela observava a aranha trabalhar. O neto de Nokomi entrou no quarto
e, ao ver a aranha na teia, pegou uma pedra para matá-la. A avó não deixou. O garoto
achou estranho, mas respeitou o seu desejo.
A velha mulher voltou-se para observar mais uma vez o trabalho do animal e,
então, a aranha falou:
“Obrigada por salvar minha vida. Vou dar-lhe um presente por isso. Na próxima
lua nova, vou fiar uma teia na sua janela. Quero que você observe com atenção e
aprenda como tecer os fios, pois essa teia vai servir para capturar todos os maus
sonhos e energias ruins. O pequeno furo no centro vai deixar os bons sonhos pas-
sarem e chegarem até você.”
3
HAPPÉ, Robert. Consciência é a resposta. São Paulo: Talento, 2004.
4
Adaptado de: <http://somostodosum.ig.com.br/artigos/autoconhecimento/o-que-e-um-filtro-de-
sonhos-05394.html>.
226 Apêndices
Quando a Lua chegou, a avó viu a aranha tecer sua teia mágica e, agradecida,
não cabia em si de felicidade pelo maravilhoso presente. Finalmente, exausta após
assistir atentamente à confecção do filtro, a avó dormiu. Quando os primeiros raios
de sol surgiram no céu, ela acordou e viu a teia brilhando como joia graças às gotas
de orvalho capturadas nos fios. A brisa trouxe penas de pomba que também ficaram
presas na teia e, então, um grande pássaro pousou na teia e deixou uma longa pena
pendurada – o movimento do ar levou o que não era bom e deixou a linda dança das
penas alegrarem o início do novo dia.
227
material nas beiradas da Ilha. Na semana seguinte, saímos a campo com seu Estevão,
como prometido, e coletamos muito material. Entre cipós, a casca de embira e sua
resistência inquebrável. Além da ajuda com o material, a AAAPIP prometeu man-
dar um grupo no dia da oficina para representar a instituição e contribuir para nosso
encontro especial.
Entre essas paradas, nos comunicamos com o Alexandre, da SEMA, que, cele-
brando nossa parceria, nos cedeu um espaço lindo para a oficina acontecer. Outro
Alexandre que apoiou essa ideia foi o enfermeiro do Posto de Saúde da Ilha, tam-
bém sendo ele um de nossos pilares em meio a tanto trabalho e dedicação para fazer
tudo acontecer.
A Escola Almirante Barroso não poderia faltar nessa caminhada de parceiros e,
mostrando seu interesse em nosso projeto, prometeu levar uma turma inteirinha
no dia da grande Oficina dos Filtros dos Sonhos da Ilha da Pintada!
Após a coleta e o planejamento inicial, vieram os convites. Com muito carinho,
passamos no lar de cada ser que nos representa de alguma maneira na Ilha, de cada
um que leva um pedacinho nosso e de quem nós levamos um pedacinho. Assim foi
o dia de convites: cheio de lembranças gostosas, celebração de amizades, gozo de
memórias e experiências que selam a conexão entre a terra e a água, entre a universi-
dade e a comunidade – e com o grande orgulho de fazer parte disso tudo!
TARDE DE ESTRELAS...
228 Apêndices
vontade de viver aquela tarde estrelada – com a estrela mais próxima e quentinha, o
Sol – de uma maneira linda: aprendendo, partilhando cultura e amor.
Partimos nós e nossas sacolas cheias de filtros e de sonhos doces. O caminho,
já avistado, revistado, sentido, andado e ditado, se renovou nesse dia, por ser tradu-
zido para os novos tripulantes que viam aquelas águas pela primeira vez.
Chegando à SEMA, resgatamos os materiais coletados, que estavam guardados
num cantinho da sede. Estabelecemo-nos ao ar livre, nas pedras perto do trapiche,
com o consentimento receptivo e acolhedor dos profissionais da SEMA, ali presen-
tes e disponíveis.
Com os filtros dos sonhos que eu havia trazido de casa (feitos especialmente
para esse encontro) pendurados nas árvores de jambolão, fiquei com Camila, Liana
e Iasmine à espera de quem mais fosse chegar... De repente, vimos uma turma
de crianças chegando com uma moça e nos perguntamos se estariam vindo para a
oficina; fomos todos surpreendidos quando descobrimos que sim, os pequeninos
que estávamos conhecendo naquele momento passariam a tarde conosco!
“Profe” Carla e a turma de “pitocos” do segundo ano (crianças de 7 anos em
média) vieram representar a Escola Almirante Barroso na oficina. Ficamos muito
gratos.
Chegaram as senhoras do livro “As velhas histórias da Ilha da Pintada”, repre-
sentando a AAAPIP, cheias de materiais, animação, energia e habilidades fantásticas!
Chegaram Gema, Mauricio, Jeferson, César e Carmen com sua luz e presença
mais que especial.
Mãos à obra! Iniciamos torcendo os cipós enquanto eu explicava a origem desse
artefato e seu significado para as tribos indígenas norte-americanas até os dias de
hoje: o filtro dos sonhos como a ferramenta fundamental para separar os sonhos bons
(os que nos trazem mensagens de autoconhecimento) dos sonhos ruins (energias
que não nos pertencem), bem como a importância de receber e interpretar as men-
sagens dos sonhos bons, sendo esse o principal objetivo da vida desses índios.
O segundo passo foi aprender a trançar as linhas da teia. Em meio aos “por
cima, por baixo, por dentro”, todos foram construindo suas redes, pensando na his-
tória que provém desses objetos e nos sonhos que poderiam chegar até suas mentes
enquanto os filtros estivessem pertinho deles na hora de dormir.
229
A fim de enriquecer o conteúdo invisível dos artesanatos, conto que faz bem
pensarmos em alguém especial para nós enquanto estamos tecendo a teia. As crian-
ças logo se lembram de suas mães, então sugiro que nos lembremos de uma pessoa
que seja especial para o grupo todo, para que todos possamos pensar nessa mesma
pessoa enquanto trançamos os nós. Rapidamente, uma menina lembra um nome
que compartilha com o grupo: Jesus! Bruna pergunta por que “esse cara” é impor-
tante para todos nós e começam a chover respostas; entre elas, esta: porque ele é
bom, porque ele nos ajuda a sonhar sonhos bons, assim como o filtro dos sonhos
que estamos construindo!
Depois de todas as teias prontas, usamos tintas, pincéis, miçangas, tecidos, flo-
res, folhas secas e sementes para enfeitar nossos artesanatos! Entre os enfeites colhi-
dos na Ilha, usamos penas de garças que povoam os ares, as águas e a vegetação
do Delta para representar a leveza e a paz que o filtro dos sonhos nos traz a cada
manhã, quando o vento as faz dançar iluminadas pelos raios de sol.
“Que ideia boa tiveram os índios, né?”
“Vou presentear um amigo...”
“Eu tinha muitos pesadelos, agora estou protegido...”
“Quero colocar bem pertinho de minha cama!”
“Muito bom aprender...”
“Adorei fazer este filtro dos sonhos!”
“Olhe como ficou bonito!”
“Acho que vou começar a fazer em casa e vender para guardar um dinheirinho!”
“Podemos fazer uma exposição com nossos filtros!”
“Que tarde boa de sol, não podia ser melhor!”
Muitas exclamações alegres de um dia de aprendizados na Ilha da Pintada...
Trocamos palavras no piquenique que fizemos logo depois que os filtros ficaram
prontos! Um bolo gostoso, bananas maduras, bolachas, chocolates, cada um trouxe
um pouquinho, que alimentou o grupo todo!
E assim voltamos aos nossos lares com a sensação de partilha, absorção de conhe-
cimento, vivência em grupo, troca de experiências, troca de carinho e atenção, res-
peito mútuo e gratidão à natureza! É o que o nosso projeto se propõe a proporcionar
desde o início: a Alfabetização Ecológica trazendo à tona os meios de promoção de
saúde (em todos os aspectos) e a importância do cuidado com a Terra, ensinando-nos
230 Apêndices
a transpor os desafios da vida com amor e trabalho, junto à comunidade e ao espaço
em que vivemos.
231
Ilhas de conhecimento:
COMPARTILHANDO PRÁTICAS E SABERES ENTRE AS
COMUNIDADES UNIVERSITÁRIAS E DA APA DELTA DO JACUÍ
DE TERRA E ÁGUA
233
Projeto Semear (2011-2012): Construção, junto à comunidade do sul da Ilha, de
vivências integradoras saudáveis entre acadêmicos e famílias locais, através da rea-
lização de oficinas, rodas de conversas, visitas domiciliares e passeios educativos,
integrando diferentes ambientes de ensino e aprendizagem.
234 Apêndices
- Criação do jornal O Angazeiro para divulgação das ações desenvolvidas e inte-
ração com a comunidade.
NO CURSO DO DELTA...
235
Memorial de gratidão
“Uma andorinha só não faz verão”. Um dito popular que traduz toda a nossa
caminhada. Foi com muitos remos que fizemos navegar nossa bacatela por entre
as ilhas de conhecimento do Delta. A cada “Terra à vista!”, aportávamos e vivíamos
com os elementos lá presentes, com os quais trançamos nossos sonhos, criando
vínculos, afetos, conexões.
Por isso (e muito mais), dedicamos este espaço a essas entidades com as quais
compartilhamos vivências e aprendizados no tempo de cada um. Assim, toda a
equipe do “Ilhas de conhecimento” (UFRGS/PROREXT/PROPESQ) agradece à
AAAPIP, à Escola Infantil Ilha da Pintada, à Escola Estadual Maria José Mabilde,
à Escola Almirante Barroso, ao CAR da Ilha da Pintada, à Z5, à SEMA, à FABICO
– que aceitou o nosso desafio de construir o sonhado Museu da Ilha –, a todos os aca-
dêmicos, bolsistas ou não, que desfrutaram dessa travessia, revezando-se nos remos
(Sofia, Liv, Débora, Mel, Fran, Evelyne, Thais, Monique, Cássia, Ândrya, Ricardo,
Cecília, Pablo, Evelyn, Mauricio, Iasmine, Camila, Bruno, Manoela, Carmen,
Marília...), e à jovem PRAE, por ter nos dado de presente o “bixo” Jeferson, que,
ainda sem morada, dedicou-se à construção dessa obra.
Agradecemos a todo o Delta do Jacuí, por servir de laboratório vivo para nossa
formação humana e profissional; por fortalecer nossa crença não só no tripé
ensino-pesquisa-extensão, mas no poder dos elementos da natureza.
E, por último, mas não menos importante, agradecemos a você, leitor, que
pode conhecer, através deste livro, um pouco do banzeiro criado pela passagem do
“Ilhas” no Delta. Gostamos de comparar essa caminhada à construção de uma casa
na qual todos os envolvidos foram os construtores e os tijolos ao mesmo tempo; nossa
sintonia foi a argamassa que nos uniu para dar ao programa “Ilhas” a vitalidade que
mostrou ter. Somos todos muito gratos e esperamos que essa conexão seja para
sempre!
De toda a equipe do “Ilhas de conhecimento”, com muito carinho.
237
Seis anos depois...
ALFREDO E SUELI
Sueli faleceu em dezembro de 2017. Alfredo, aos 97 anos, continua forte, dedi-
cando-se ao jardim, à horta e à confecção de equipamentos de pesca. Preocupa-se
com a ecologia das águas, a poluição das marinas, a vida e a reprodução dos peixes.
Sua filha, que mora na mesma casa, continua com a arte do crochê que realizava
junto a Sueli.
IRACEMA
Dona Cema faleceu em janeiro de 2013, pouco antes de seu aniversário de 101
anos. Sua filha Clarinha, com quem morava, continua vivendo na mesma casa, guar-
dando consigo as lembranças da “presença viva” de Iracema.
SEU SALOMÃO
Em 2017, seu Salomão mudou-se com a família para uma praia no Litoral Norte.
SEU JOÃO
Ainda mora na mesma casa e demonstra a mesma energia e disposição, aco-
lhendo com entusiasmo amigos e familiares.
VÓ CACO
Ainda mora com a filha e continua rezando e benzendo.
239
Autores
Gema Conte Piccinini (Org.) – Doutora em Fitotecnia pela UFRGS e professora
aposentada da Escola de Enfermagem. Coordenou o programa de extensão “Ilhas
de conhecimento”.
241
Nesta obra foram utilizadas as fontes Scala e Great Vibes.
Páginas internas em papel reciclato 75 g/m2 e capa em papel supremo 250 g/m2.
Editoração e impressão:
Gráfica da UFRGS
Rua Ramiro Barcelos, 2500
Porto Alegre/RS
(51) 3308 5083
grafica@ufrgs.br
www.ufrgs.br/graficaufrgs