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DESIGN THINKING

DESIGN THINKING
CONTEXTO processos de ensino no aluno, fomentando sua
O design thinking tem feito enorme sucesso criatividade e habilidade de resolver problemas.
no mundo dos negócios, principalmente na Mas, afinal, como funciona essa estratégia que
indústria de tecnologia, devido à sua orien- traz tantos benefícios, especialmente ao seg-
tação para atender às expectativas e desejos mento da aprendizagem?
dos clientes. Sua influência também se ex- Definir design thinking não é uma tarefa fácil,
pandiu para ONGs e projetos que têm o obje- visto que é um conceito vago e até mesmo con-
tivo de sanar problemas sociais de países em traditório. Entretanto, esboçando uma resposta
desenvolvimento. Uma rápida busca na in- inicial para essa pergunta, considera-se que a
ternet é suficiente para encontrar inúmeras metodologia consiste em uma forma de estru-
histórias de sucesso envolvendo essa técnica. turar o pensamento, por meio de um conjunto
Com o mesmo entusiasmo, o design thinking de princípios que podem ser aplicados em di-
chegou à área da educação e muitas universida- ferentes contextos, com o objetivo de resolver
des têm adotado o método visando centrar seus problemas. Pode-se complementar, afirmando

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ESTRATÉGIAS DE ENSINO

que é uma estratégia baseada em co-cria- com seu público-alvo, de modo a buscarem a
ção, isto é, uma criação elaborada em conjun- melhor solução a partir da perspectiva do clien-
to, por uma equipe, e organizada em torno de te ou do cidadão.
um projeto. Assim, o design thinking estabelece três mo-
É importante ressaltar que, apesar de ser uma mentos para a resolução do problema:
maneira de pensar sobre o problema e buscar • Inspiração: definição e experimentação do
uma solução, essa abordagem não segue um problema que precisa ser solucionado;
raciocínio linear. Pelo contrário, é interativa, • Ideação: geração de ideias, maturação e testes;
irregular e, de certa forma, até indisciplina- • Implementação: momento de colocar o pro-
da, já que consiste fundamentalmente em um jeto em prática. Dependendo da agenda do
processo exploratório, como diria Tim Brown, curso ou do perfil da disciplina, este espaço
evangelizador do método e CEO da IDEO, em- nem sempre é aproveitado.
presa de design no Vale do Silício idealizadora
do design thinking for educators. Mas quais as etapas necessárias para que es-
Dessa forma, muitos devem estar se pergun- ses momentos sejam concretizados da melhor
tando: “Então, qual é a diferença entre essa es- maneira possível?
tratégia e a aprendizagem por meio de proble-
mas?”. Recorrendo novamente a Tim Brown, ADOTANDO A ESTRATÉGIA
pode-se dizer que o design thinking é centrado As etapas exigidas por esse método podem ser
no ser humano, uma vez que procura definir o distribuídas ao longo da disciplina. Por exem-
problema e interagir com ele a partir da reali- plo, o professor escolhe uma delas ou realiza
dade dos atores envolvidos (sejam eles consu- uma imersão em cada aula. Essa decisão depen-
midores ou cidadãos). Ou seja, o desafio não é de do planejamento e dos objetivos de aprendi-
apenas resolver a adversidade de maneira viá- zagem que o docente estabelece para a ativida-
vel, mas, principalmente, buscar alto valor per- de e para o curso.
cebido por parte do público-alvo. Além disso, A primeira etapa é a empatia: para compreen-
a metodologia apresenta uma abordagem por der o problema é necessário que o aluno se co-
projeto e não por problema. Portanto, ela se loque no lugar do outro, pois é a melhor forma
desenvolve a partir de uma lógica de começo, de entender o contexto em questão e criar raí-
meio e fim, sendo justamente essas etapas que zes para a solução. Nesta etapa, os estudantes
a aderem melhor à realidade e ao contexto da devem observar, mergulhar na experiência e se
questão proposta, permitindo o estabelecimen- imaginar no lugar do público-alvo.
to de objetivos claros, metas e prazo. A segunda é a definição, na qual os alunos de-
Considerando que essa estratégia foca priori- vem interpretar a situação a partir das análi-
tariamente pessoas, é possível deduzir que, no ses realizadas na fase da empatia, definir seus
contexto do ensino, ela precisa ser centrada nos objetivos e expressar qual problema preten-
alunos, os quais devem possuir autonomia para dem atacar. Segundo a explicação de Holly
conduzir seu trabalho e administrar suas expec- Morris e Greg Warman no artigo Using design
tativas. Obviamente, pela mesma razão, duran- thinking in higher education, publicado pela re-
te o desenvolvimento do projeto, os estudantes vista EDUCAUSE review, três perguntas devem
também devem entrar em contato e interagir ser respondidas nesta fase:

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EMPATIA IDEAÇÃO

EXPERI-
DEFINIÇÃO
MENTAÇÃO

EVOLUÇÃO

(i) Quem é o seu público-alvo e o como ele se testar a funcionalidade das ideias dos estudan-
beneficiará com seu projeto? – o que ajuda a tes, mas aprofundar o conhecimento e propor-
inserir o público-alvo no cerne do problema; cionar a eles um aprendizado mais amplo do
(ii) Por que o discente quer trabalhar com esse processo, explorando outras alternativas e ser-
problema? – avaliando-se a possibilidade de vindo de inspiração para buscarem novas solu-
aumentar o escopo do problema, caso ele ções para o problema.
esteja muito restrito; Por fim, a aplicação da última etapa depen-
(iii) O que impede que o problema seja resol- de dos objetivos que o professor atribui à ati-
vido? – focando nas ações e oferecendo um vidade e à disciplina. A evolução é o momento
ponto de partida para a próxima fase. de refletir sobre o caminho percorrido: o que
poderia ter sido feito de forma diferente, o que
A terceira etapa é a ideação, ou seja, o brains- os grupos aprenderam durante o processo, en-
torming, quando as ideias devem “voar soltas”, tre outros pontos. A intenção é encontrar uma
o momento de pensar nas mais diversas solu- opção viável e apropriada para a resolução da
ções, as quais serão o banco de dados para a questão. Este também é o momento de testar,
próxima etapa. Não há problemas se surgirem divulgar, “vender” a ideia e, se necessário, ini-
muitas ideias, pois o objetivo dessa fase é ex- ciar um novo ciclo de ajustes, especialmente
plorar o universo de resoluções. Por isso, é im- se os alunos quiserem implementar a solução.
portante que o grupo seja bem orientado sobre Percebe-se que esta é uma metodologia ma-
o momento em que deve gerar novas ideias e o joritariamente presencial, em que a interação e
momento em que deve avaliá-las. a vivência em grupo são fundamentais para o
Após a seleção das sugestões mais coerentes bom desempenho da atividade.
e aplicáveis no contexto proposto, vem a etapa
de experimentação, que é o momento de expe- BENEFÍCIOS
renciá-las, tirá-las dos post-its coloridos e trans- Partindo da perspectiva de ensino centrado
formá-las em algo real, concreto e que tenha no aluno, o design thinking se destaca, pois o
forma física, podendo-se utilizar os mais diver- discente dispõe de mais autonomia para ade-
sos tipos de materiais e até mesmo realizar uma quar o problema à luz de sua interpretação,
encenação. Seu objetivo não é necessariamente bem como desenhar uma possível solução à

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ESTRATÉGIAS DE ENSINO

questão apresentada. O estudante vira protago- estudantes tenham espaço para criar e interpre-
nista da disciplina na medida em que interage tar a situação. Caso seja muito restrito, o tema
com o público-alvo e que sua imersão em um de- não permitirá o desenvolvimento adequado da
terminado contexto do problema pode lhe pro- atividade e, consequentemente, não será possí-
porcionar aprendizados que não estavam previs- vel atingir o objetivo de ensino esperado.
tos no formato do curso. O terceiro e mais importante desafio refere-se à
Nesse método, o professor não é mais deten- avaliação. A metodologia exige grande reflexão
tor único do conhecimento. Seu papel é dire- e planejamento para identificar o que e de que
cionar a disciplina e conduzir o aprendizado do forma deve ser avaliado. Além disso, o aprendi-
aluno – de forma que este absorva o conteú- zado não reside apenas em qual grupo propôs a
do da maneira mais prática e eficaz possível, “melhor” solução, mas principalmente no pro-
conferindo-lhe independência e o estimulando cesso, no caminho percorrido pelos alunos até
a buscar respostas para os dilemas encontra- a escolha da ideia mais apropriada para sanar o
dos. O docente deve, portanto, facilitar e orien- problema, o que também deve ser considerado
tar essa descoberta. na avaliação. Daí a importância da etapa da evo-
Apesar da relevância dos benefícios citados, lução, a qual pode ser uma aliada, visto que cria
algumas pessoas apontam que a principal con- espaço para os próprios estudantes refletirem a
tribuição do design thinking para o processo de respeito de seu aprendizado. Obviamente, a de-
aprendizagem é proporcionar aos discentes a cisão sobre o que avaliar varia conforme os ob-
oportunidade de estarem em contato com uma jetivos da disciplina, determinados pelo profes-
situação que lhes permita escutar, dialogar e sor no início do curso.
aprender com o raciocínio dos demais mem-
bros de sua equipe, o que possibilita a co-cria-
ção, essencial nessa abordagem. Além disso, a
imersão vivida na etapa da empatia pode propi-
ciar uma experiência prática ampla e profunda,
que vai além da transmissão do conhecimento.
Saiba mais
Change by design: how design thinking transforms or-
ganization and inspires innovation. Tim Brown. New
DESAFIOS York: HarperCollins. 2009.

Essa estratégia também traz desafios que re- Design thinking for educators. IDEO. 2012.
Disponível em:
querem atenção especial para a sua aplicação. designthinkingforeducators.com/DTtoolkit_
v1_062711.pdf
O primeiro é o planejamento. Apesar de as ati-
Design thinking in the classroom: free inspiration
vidades muitas vezes adquirirem um caráter lú- from the ad award winners. Ashley Nahornick. Eduto-
pia. 2013. Disponível em: edutopia.org/blog/design-
dico, isso não significa que basta formar grupos thinking-free-inspiration-ashley-nahornick

e jogar um problema para os alunos resolverem. Design thinking para educadores. Instituto Educadigi-
tal. IDEO. 2013. Disponível em:
Ao contrário, é necessário que o professor dese- dtparaeducadores.org.br/site/?page_id=14

nhe cuidadosamente como esse procedimento se How to apply design thinking in class, step by step.
MindShift. 2013. Disponível em:
relaciona com o conteúdo do curso e prepare as kqed.org/mindshift/2013/06/26/how-to-use-design-
thinking-in-class-step-by-step/
atividades com antecedência para que o design
Using design thinking in higher education.
thinking seja um método eficaz na aprendizagem. Holly Morris e Greg Warman. 2015. Disponível em:
educause.edu/ero/article/using-design-thinking-
O segundo está ligado à definição do problema, higher-education

o qual precisa ser amplo o suficiente para que os

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