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"The Handmaiden" não é só uma peça ostensiva do período romântico, bem como um sexy

thriller de espionagem, repleto de identidades secretas e entrecruzamentos. Também é um


comentário extenso sobre a ocupação da Coréia pelo Japão na década de 1930, com uma
intensa sensação de horror psicológico de um dos mestres do gênero, Park Chan-wook. O
filme enfatiza a natureza humilhante da relação entre os coreanos e seus governantes
japoneses. A desconfiança e a má-fé em nível nacional são espelhadas pelas relações pessoais
entre os personagens, que estão sempre conspirando uns contra os outros, mesmo quando se
tornam amantes e confidentes. Aqui, eles trocam de idioma constantemente. Há certamente
paralelos entre a narrativa central, um esquema coreano para se casar com uma rica família
japonesa, com a natureza desesperada de uma nação em tempos de crise existencial. Mas,
acima de tudo, é apenas cinema puro, uma fábula perturbadora de amor e traição que se
acumula em imagens luxuosas, sem nunca perder de vista o núcleo humano de sua história. O
filme é um salto evolutivo de uma carreira já brilhante.

Este é um filme sobre os trajes que as pessoas usam, tanto literais quanto psicológicos, em que
o foco se estende para fora do cenário: uma mansão peculiar que mistura a arquitetura
japonesa e vitoriana. O filme de Park é onde todo gesto ou detalhe do período é carregado
com duplo sentido, e onde suas heroínas têm que envolver seus sentimentos em camadas de
fraude apenas para tentar sobreviver.

Hideko é uma prisioneira em uma gaiola dourada, uma mansão projetada para refletir a
cultura do poder de ocupação da Coréia, da qual ela é o maior exemplo. O principal vilão da
peça, Kozuki, tio de Hideko, é um intelectual coreano que fetichiza a cultura japonesa - mas
também mantém o Hideko sob seu controle como um pequeno ato de supremacia. Enquanto
ele mergulha em um romance entre Hideko e Sook-hee, Park insere-se na relação distorcida
entre os dois países, e a loucura dos personagens coreanos que buscam ascendência social
imitando o estilo de vida japonês.

Os homens que atormentam as heroínas do sexo feminino o fazem porque odeiam parte de si
mesmos - uma parte de si mesmos que foram obrigados a odiar por circunstâncias maiores
que eles próprios.

Já Hideko é como um pedaço de fruta pronto para ser saboreado. Park mostrará a imagem de
alguém comendo um pêssego tão maduro que o líquido jorra no momento em que é mordido
pela primeira vez. Em um momento, ele joga como um drama de fantasia. No próximo, desliza
para o reino do filme erótico noir. Park não consegue resistir a lançar algumas das táticas de
choque com as quais ele ficou conhecido.

Os elementos de suspense dos clássicos de Hitchcock recebem toques únicos, aplicados a


dramas de vingança com conteúdo ainda mais extremo do que um dos autores mais chocantes
do cinema poderia ter imaginado.

Os momentos mais exploradores são os voos de lirismo em que os personagens se comportam


com ternura extraordinária um em relação ao outro e parecem expor seus sentimentos mais
íntimos. Mesmo aqui, no entanto, nunca temos certeza se suas emoções são reais ou se ainda
estão fingindo. Isso é o que torna o filme uma experiência tão escorregadia, mas prazerosa.

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