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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 10ª REGIÃO
11ª Vara do Trabalho de Brasília - DF
TutCautAnt 0000247-02.2018.5.10.0016
REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
REQUERIDO: INSTITUTO HOSPITAL DE BASE DO DISTRITO FEDERAL -
IHBDF
Processo : 0000247-02.2018.5.10.0016
SENTENÇA
I. RELATÓRIO
O réu utilizou-se do mandado de segurança como sucedâneo recursal (processo autuado sob o nº
0000163-49.2018.5.10.0000), no qual o Desembargador Relator Dorival Borges de Souza Neto
concedeu parcialmente a liminar por meio da decisão acostada no id. d7036bf.
A decisão liminar deste órgão jurisdicional foi mantida, com ressalva à parcela destacada por
ordem do eminente Relator naquela processo acessório (0000163-49.2018.5.10.0000), nos
moldes do id. e9aa1b3.
Sem outras provas foi encerrada a instrução processual no tocante à tutela cautelar antecedente.
É o relatório.
II. FUNDAMENTOS
A jurisprudência dos tribunais superiores é pacífica no sentido de que a concessão dos benefícios
da justiça gratuita a pessoas jurídicas, mesmo as entidades sem fins lucrativos, não depende
apenas declaração de hipossuficiência, mas também da comprovação da insuficiência de recursos
para suportar as despesas processuais.
Na linha da jurisprudência da Corte Especial, as pessoas jurídicas de direito privado, com ou sem
fins lucrativos, para obter os benefícios da justiça gratuita, devem comprovar o estado de
miserabilidade, não bastando simples declaração de pobreza. Embargos de divergência providos"
(STJ, Corte Especial, EREsp 1185828/RS, Relator Cesar Asfor Rocha, DJe 01.07.2011)
No mesmo diapasão, o artigo 99, § 3º, do CPC dispõe sobre a presunção exclusivamente em
favor da pessoa natural na alegação de insuficiência econômica em requerimento de gratuidade
de justiça, de acordo com o artigo 5º, LXXIV, da CRFB.
Assim, mesmo após o advento do CPC introduzido pela Lei nº 13.105/2015 manteve-se inalterada
essa compreensão do ordenamento jurídico, consoante enunciado do item II da Súmula nº
463/TST.
No caso concreto, contudo, a parte reclamada afirmou, mas não demonstrou a ausência de
condições financeiras de suportar os custos da ação judicial.
Rejeito.
Não obstante, é preciso entender essa tutela de urgência a partir da concepção de acesso à
justiça no sentido material (artigo 5º, XXXV, da CRFB), para que a proteção de direito material ou
situação jurídica tutelável seja assegurada sempre que a demora da cognição exauriente possa
comprometer a efetividade da tutela que está sendo ou será reivindicada em processo principal.
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Nesse diapasão, a tutela cautelar deve ser subordinada apenas ao perigo da permanência da
situação de risco que ameaça o direito, o que encontra respaldo também no poder geral conferido
ao julgador, para definir quais serão as medidas adequadas ao caso concreto, atualmente
consagrado no artigo 301 do CPC.
No caso concreto, em momento liminar, a partir de cognição apenas sumária, tomou-se decisão
destinada à vigência provisória, pois, após o aprofundamento das discussões jurídicas e maior
dilação probatória, o processo terá, naturalmente, sentença vocacionada ao caráter definitivo.
Naquela ocasião - sobretudo por ausência de divulgação de edital, de inexistência de publicidade
efetiva, de falta de disponibilização de vagas, bem como por conta da previsão de contratação
poucos dias depois do exíguo prazo para a inscrição - prejudicou a ampla concorrência e a
validade do processo seletivo controvertido em virtude de ofensa aos princípios que orientam a
Administração Pública desde o artigo 37, caput, da CRFB e aos valores erigidos como
fundamentais nas normas especificamente aplicáveis ao requerido (artigos 2º, III e IX, da Lei
Distrital nº 5.899/2017 e 3º da Resolução CA/IHBDF nº 3/2017). Eis o teor daquele primeiro ato
judicial neste feito:
"Hoje em dia, tornou-se notória a corrupção sistêmica e endêmica que infestou as instituições do
nosso país, colocando-as em risco de ruína.
Nesse cenário, estamos diante de grave deterioração das entidades - o que não é exclusividade
de um Poder do Estado ou de um Ente da Federação, da Administração Pública Centralizada ou
Descentralizada - advinda de gestões incompatíveis com os compromissos assumidos com a
Constituição da República de 1988.
Por evidente, não se discute neste processo a precariedade específica e notória da saúde pública
no âmbito do Distrito Federal, tampouco as causas desse triste quadro, mas a contextualização
inicial demonstra a importância cada vez maior da defesa dos valores essenciais à ordem
constitucional, definidores do nosso Estado Democrático de Direito.
No caso concreto, o Ministério Público do Trabalho ajuizou a presente ação cujo objeto é a tutela
cautelar antecedente, a fim de suspender o segundo processo seletivo promovido pelo requerido,
para a contratação de 66 (sessenta e seis) empregados com formações diversas (id. 97f9e9e).
A propósito, o requerido sofreu a impugnação do primeiro concurso público do ano, cuja validade
é discutida nos processos autuados sob os nºs 0000045-25.2018.5.10.0016 e 0000105-
46.2018.5.10.0000, este último no qual decisão monocrática do eminente Relator, Desembargador
Mário Macedo Fernandes Caron, determinou a suspensão do Edital nº 1- IHB/DF/2018, que prevê
a contratação de empregados celetistas para exercerem as funções de enfermeiro, médico e
técnico de enfermagem.
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A análise da prova documental sumariamente produzida revelou situação ainda mais drástica
nesta relação processual, pois, no segundo processo seletivo, sequer foi localizado um edital, nem
notícia da contratação de organizadora do certame, mas apenas a disponibilização de 66 vagas
para diversas funções, igualmente sem reserva de postos para portadores de deficiência, com
divulgação da informação apenas nos sites e do período de inscrição de 08 a
www.diariooficialdf.com.br www.saude.df.gov.br 23.03.2018, com previsão de admissão imediata,
em 26.03.2018.
Cumpre ressaltar que esses mesmos valores são básicos à formação do requerido e às regras
para seleção de seus empregados, por força dos artigos 2º, III e IX, da Lei Distrital nº 5.899/2017
e 3º da Resolução CA/IHBDF nº 3/2017.
Isso porque a divulgação mínima não atende a diretriz da publicidade, e favorece quem detém a
informação por sorte, melhores contatos ou acesso privilegiado em prejuízo dos valores da
impessoalidade e da moralidade.
Como relatado, o requerido buscou reverter esse decisão liminar com diversos sucedâneos
recursais, tendo êxito em sede de suspensão de segurança que sensibilizou o Exmo. Ministro
Presidente do col. TST. Antes disso, contudo, este Juízo manteve a decisão liminar, com a
ressalva à parcela cassada por ato do Desembargador Relator Dorival Borges de Souza Neto em
mandado de segurança (processo autuado sob o nº 0000163-49.2018.5.10.0000), nos seguintes
termos:
"O Instituto Hospital de Base apresentou contestação no id. 74cdc79 acompanhada de farta
documentação.
Cumpre ressaltar que a sociedade brasiliense como um todo lamenta a deficiência dos serviços
públicos prestados direta ou indiretamente pelo Distrito Federal, assim também em relação ao
Hospital de Base com o risco de colapso descrito por seu Diretor de Atenção à Saúde conforme
id. c93677a.
Entretanto, não é transferível a responsabilidade dos gestores pelo atual quadro de sobrecarga de
trabalho dos profissionais já lotados na unidade, acarretando o excesso de jornada e o dispêndio
de recursos financeiros para o pagamento das correspondentes horas extras, e da falta de
atendimento hospitalar digno à população.
É notório o histórico das organizações sociais e seus contratos de gestão na área de saúde
pública do Distrito Federal, com os problemas enfrentados sendo amplamente divulgados (artigo
374, I, do CPC), do que a questão trabalhista é apenas um dos reflexos.
Nesse contexto, embora seja louvável a intenção de correção do sistema e saúde pelos atuais
administradores públicos ou não, os órgãos de fiscalização não podem transigir com os primados
da ordem jurídica por conta de urgência provocada por incompetência ou desvio daquelas
autoridades e dirigentes.
No mesmo diapasão, este órgão do Poder Judiciário, quando regularmente provocado, continuará
atuando de forma independente, sem fazer concessão com as leis da República e à Constituição
em virtude de qualquer tentativa de pressão manifestada neste processo ou por qualquer outro
meio antigo ou pós-moderno.
Aliás, não se ignora a liminar deferida no mandado de segurança, cujo processo está autuado sob
o nº 0000163-49.2018.5.10.0000, nos seguintes termos:
"Por todo exposto, concedo parcialmente a liminar postulada para cassar a tutela apenas
em relação à suspensão ou à dispensa dos empregados contratados anteriormente à data
da concessão da tutela de urgência, mantidas as demais determinações do Juízo de
primeiro grau." (destaques originais)
Então, logicamente, a ordem do eminente Relator deverá ser cumprida, assim como serão, por
hierarquia, as ulteriores advindas das instâncias superiores.
A propósito, ainda não foi recebida comunicação oficial de nenhum outro ato judicial em ação
diversa utilizada como sucedâneo recursal. De todo modo, eventual ordem dos tribunais poderá,
no máximo, sustar os efeitos do comando decisório proferido em caráter precário, mas não
impedirá a regular tramitação processual até a cognição exauriente e a natural decisão definitiva
do mérito." (destaques originais) (id. e9aa1b3)
Vejamos.
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Essa nova disposição constitucional, somada ao primado da livre iniciativa, erigido a fundamento
da República Federativa do Brasil (artigo 1º, IV, da CRFB) e da ordem econômica brasileira (artigo
170, caput, da CRFB), e à autorização conferida ao Poder Público para a prestação de serviços
públicos direta ou indiretamente (artigo 175 da CRFB), propiciou a edição da Lei nº 9.637/1998.
A Lei das Organizações Sociais inovou o ordenamento jurídico para conferir a pessoas jurídicas
de direito privado, sem fins lucrativos, a possibilidade de qualificação pelo Poder Executivo para
celebração de contrato de gestão com objeto voltado a ensino, pesquisa científica,
desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação do meio ambiente, cultura e saúde. O
diploma normativo, exemplificativamente, também prevê a possibilidade de destinação de
recursos orçamentários e bens público, dispensada a licitação, em permissão de uso (artigo 12,
caput e § 3º, da Lei nº 9.637/1998), de cessão de servidores com ônus para a origem (artigo 14 da
Lei nº 9.637/1998) e a dispensa de licitação para as atividades contempladas no contrato de
gestão (artigo 24, XXIV, da Lei nº 8.666/1993).
Com efeito, o direito social fundamental à saúde está previsto no artigo 6º da CRFB e, para sua
concretização, impôs-se ao Estado o dever de promovê-lo mediante políticas sociais e
econômicas, facultando a execução direta ou indireta, inclusive por terceiros da iniciativa privada,
sem prejuízo da livre iniciativa das instituições privadas, consoante inteligência dos artigos 196,
197 e 199 da CRFB. Nesta frente de atuação, o artigo 14 da Lei nº 9.637/1998 dispõe:
" A organização social que absorver atividades de entidade federal extinta no âmbito da área de
saúde deverá considerar no contrato de gestão, quanto ao atendimento da comunidade, os
princípios do Sistema Único de Saúde, expressos no art. 198 da Constituição Federal e no art. 7o
da Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990."
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Diante do dever do Estado de adotar políticas públicas para promoção, proteção e recuperação da
saúde de todos (artigo 196 da CRFB) e do seu evidente descumprimento com a ineficiência do
sistema único próprio, com desolador cenário de sucateamento dos hospitais, filas para
atendimento acarretando até mesmo o não atendimento, quadro deficitário de servidores ainda
assim sujeito a despreparo decorrente do aparelhamento e desestímulo dos técnicos habilitados,
tudo a prejudicar a qualidade e a promessa de universalidade nessa delicada área de atuação
estatal, com resultados fatais dessa exclusão social - o discurso de modernização da gestão dos
serviços hospitalares, com qualificação profissional, práticas empreendedoras, progresso
tecnológico, por meio da parceria com a iniciativa privada, organização social com quem se
pretende contrato de gestão, encontrou terreno fértil.
Ou seja, o legítimo anseio da sociedade serviu para justificar a atuação do terceiro setor para a
atender esse interesse público, sob a tese de que o particular é dotado de maior liberdade na
aplicação dos recursos se comparado à burocracia do setor público, favorecendo o alcance das
metas estipuladas no contrato de gestão, pois sujeito ao controle de resultados.
Todavia, não se olvida que as organizações sociais recebem recursos públicos, bens públicos e
servidores públicos, razão pela qual devem observar o núcleo essencial dos princípios da
Administração Pública, notadamente aqueles previstos no artigo 37, caput, da CRFB. No mesmo
diapasão, embora o critério formal determine que seus contratos trabalhistas sejam regidos pelo
direito privado, essa realidade compensada pela incidência de princípios do direito público, resulta
no que a doutrina denomina de regime jurídico híbrido. Por conseguinte, não se sujeitam à
obrigatoriedade do concurso público, mas devem realizar seleção pública através de
procedimento objetivo e impessoal. Nesse sentido, pacificou-se o entendimento jurisprudencial
após o julgamento da ADI 1.923/DF pelo excelso Supremo Tribunal Federal, assim ementado:
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2. Os setores de saúde (CF, art. 199, caput), educação (CF, art. 209, caput), cultura (CF, art. 215),
desporto e lazer (CF, art. 217), ciência e tecnologia (CF, art. 218) e meio ambiente (CF, art. 225)
configuram serviços públicos sociais, em relação aos quais a Constituição, ao mencionar que "são
deveres do Estado e da Sociedade" e que são "livres à iniciativa privada", permite a atuação, por
direito próprio, dos particulares, sem que para tanto seja necessária a delegação pelo poder
público, de forma que não incide, in casu, o art. 175, caput, da Constituição.
3. A atuação do poder público no domínio econômico e social pode ser viabilizada por intervenção
direta ou indireta, disponibilizando utilidades materiais aos beneficiários, no primeiro caso, ou
fazendo uso, no segundo caso, de seu instrumental jurídico para induzir que os particulares
executem atividades de interesses públicos através da regulação, com coercitividade, ou através
do fomento, pelo uso de incentivos e estímulos a comportamentos voluntários.
5. O marco legal das Organizações Sociais inclina-se para a atividade de fomento público no
domínio dos serviços sociais, entendida tal atividade como a disciplina não coercitiva da conduta
dos particulares, cujo desempenho em atividades de interesse público é estimulado por sanções
premiais, em observância aos princípios da consensualidade e da participação na Administração
Pública.
6. A finalidade de fomento, in casu, é posta em prática pela cessão de recursos, bens e pessoal
da Administração Pública para as entidades privadas, após a celebração de contrato de gestão, o
que viabilizará o direcionamento, pelo Poder Público, da atuação do particular em consonância
com o interesse público, através da inserção de metas e de resultados a serem alcançados, sem
que isso configure qualquer forma de renúncia aos deveres constitucionais de atuação.
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7. Na essência, preside a execução deste programa de ação institucional a lógica que prevaleceu
no jogo democrático, de que a atuação privada pode ser mais eficiente do que a pública em
determinados domínios, dada a agilidade e a flexibilidade que marcam o regime de direito privado.
8. Os arts. 18 a 22 da Lei nº 9.637/98 apenas concentram a decisão política, que poderia ser
validamente feita no futuro, de afastar a atuação de entidades públicas através da intervenção
direta para privilegiar a escolha pela busca dos mesmos fins através da indução e do fomento de
atores privados, razão pela qual a extinção das entidades mencionadas nos dispositivos não
afronta a Constituição, dada a irrelevância do fator tempo na opção pelo modelo de fomento - se
simultaneamente ou após a edição da Lei.
11. A previsão de competência discricionária no art. 2º, II, da Lei nº 9.637/98 no que pertine à
qualificação tem de ser interpretada sob o influxo da principiologia constitucional, em especial dos
princípios da impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (CF, art. 37, caput). É de se ter
por vedada, assim, qualquer forma de arbitrariedade, de modo que o indeferimento do
requerimento de qualificação, além de pautado pela publicidade, transparência e motivação, deve
observar critérios objetivos fixados em ato regulamentar expedido em obediência ao art. 20 da Lei
nº 9.637/98, concretizando de forma homogênea as diretrizes contidas nos inc. I a III do
dispositivo.
13. Diante, porém, de um cenário de escassez de bens, recursos e servidores públicos, no qual o
contrato de gestão firmado com uma entidade privada termina por excluir, por consequência, a
mesma pretensão veiculada pelos demais particulares em idêntica situação, todos almejando a
posição subjetiva de parceiro privado, impõe-se que o Poder Público conduza a celebração do
contrato de gestão por um procedimento público impessoal e pautado por critérios objetivos, por
força da incidência direta dos princípios constitucionais da impessoalidade, da publicidade e da
eficiência na Administração Pública (CF, art. 37, caput).
14. As dispensas de licitação instituídas no art. 24, XXIV, da Lei nº 8.666/93 e no art. 12, §3º, da
Lei nº 9.637/98 têm a finalidade que a doutrina contemporânea denomina de função regulatória da
licitação, através da qual a licitação passa a ser também vista como mecanismo de indução de
determinadas práticas sociais benéficas, fomentando a atuação de organizações sociais que já
ostentem, à época da contratação, o título de qualificação, e que por isso sejam
reconhecidamente colaboradoras do Poder Público no desempenho dos deveres constitucionais
no campo dos serviços sociais. O afastamento do certame licitatório não exime, porém, o
administrador público da observância dos princípios constitucionais, de modo que a contratação
direta deve observar critérios objetivos e impessoais, com publicidade de forma a permitir o
acesso a todos os interessados.
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15. As organizações sociais, por integrarem o Terceiro Setor, não fazem parte do conceito
constitucional de Administração Pública, razão pela qual não se submetem, em suas
contratações com terceiros, ao dever de licitar, o que consistiria em quebra da lógica de
flexibilidade do setor privado, finalidade por detrás de todo o marco regulatório instituído
pela Lei. Por receberem recursos públicos, bens públicos e servidores públicos, porém,
seu regime jurídico tem de ser minimamente informado pela incidência do núcleo essencial
dos princípios da Administração Pública (CF, art. 37, caput), dentre os quais se destaca o
princípio da impessoalidade, de modo que suas contratações devem observar o disposto
em regulamento próprio (Lei nº 9.637/98, art. 4º, VIII), fixando regras objetivas e impessoais
para o dispêndio de recursos públicos.
16. Os empregados das Organizações Sociais não são servidores públicos, mas sim
empregados privados, por isso que sua remuneração não deve ter base em lei (CF, art. 37,
X), mas nos contratos de trabalho firmados consensualmente. Por identidade de razões,
também não se aplica às Organizações Sociais a exigência de concurso público (CF, art. 37,
II), mas a seleção de pessoal, da mesma forma como a contratação de obras e serviços,
deve ser posta em prática através de um procedimento objetivo e impessoal.
17. Inexiste violação aos direitos dos servidores públicos cedidos às organizações sociais, na
medida em que preservado o paradigma com o cargo de origem, sendo desnecessária a previsão
em lei para que verbas de natureza privada sejam pagas pelas organizações sociais, sob pena de
afronta à própria lógica de eficiência e de flexibilidade que inspiraram a criação do novo modelo.
18. O âmbito constitucionalmente definido para o controle a ser exercido pelo Tribunal de Contas
da União (CF, arts. 70, 71 e 74) e pelo Ministério Público (CF, arts. 127 e seguintes) não é de
qualquer forma restringido pelo art. 4º, caput, da Lei nº 9.637/98, porquanto dirigido à estruturação
interna da organização social, e pelo art. 10 do mesmo diploma, na medida em que trata apenas
do dever de representação dos responsáveis pela fiscalização, sem mitigar a atuação de ofício
dos órgãos constitucionais.
20. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido é julgado parcialmente procedente, para
conferir interpretação conforme à Constituição à Lei nº 9.637/98 e ao art. 24, XXIV, da Lei nº
8666/93, incluído pela Lei nº 9.648/98, para que: (i) o procedimento de qualificação seja conduzido
de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 37 da CF,
e de acordo com parâmetros fixados em abstrato segundo o que prega o art. 20 da Lei nº
9.637/98; (ii) a celebração do contrato de gestão seja conduzida de forma pública, objetiva e
impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 37 da CF; (iii) as hipóteses de
dispensa de licitação para contratações (Lei nº 8.666/93, art. 24, XXIV) e outorga de permissão de
uso de bem público (Lei nº 9.637/98, art. 12, §3º) sejam conduzidas de forma pública, objetiva e
impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 37 da CF; (iv) os contratos a serem
celebrados pela Organização Social com terceiros, com recursos públicos, sejam conduzidos de
forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 37 da CF, e
nos termos do regulamento próprio a ser editado por cada entidade; (v) a seleção de pessoal
pelas Organizações Sociais seja conduzida de forma pública, objetiva e impessoal, com
observância dos princípios do caput do art. 37 da CF, e nos termos do regulamento próprio
a ser editado por cada entidade; e (vi) para afastar qualquer interpretação que restrinja o
controle, pelo Ministério Público e pelo TCU, da aplicação de verbas públicas." (sem destaque no
original) (STF, Pleno, ADI 1.923/DF, Relator Ministro Luiz Fux, Publicação 17.12.2015)
Nessa conjuntura, a Lei Distrital nº 5.889/2017 autorizou ao Poder Executivo a criação do Instituto
Hospital de Base do Distrito Federal, pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos, com o
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Além disso, constam dos autos o contrato de gestão celebrado pelo Ente Público com o requerido
(id. b0f8bff), o Estatuto do Instituto Hospital de Base do Distrito Federal (id. 3c7e962) e a
Resolução CA/IHBDF Nº 3/2017 (id. 637b910), com o regulamento próprio do processo de
seleção para admissão de pessoal, enquanto documentos úteis à solução do presente litígio.
Aliás, esses valores também estão consagrados no artigo 2º, IX, da Lei Distrital nº 5.889/2017, in
verbis:
(...)
IX - o processo de seleção para admissão de pessoal do IHBDF deve ser conduzido de forma
pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios da publicidade, da
impessoalidade, da moralidade, da economicidade e da eficiência, nos termos do regulamento
próprio a ser editado pelo Conselho de Administração". (sem grifo no original)
"Art. 45. O processo de seleção para o pessoal efetivo do IHBDF será precedido de edital,
observadas as peculiaridades de cada categoria profissional.
(...)
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A Resolução CA/IHBDF nº 3/017, que instituiu regulamento próprio do processo de seleção para
admissão de pessoal, repete, no artigo 3º, os valores da publicidade, da igualdade, da
impessoalidade, da moralidade, da economicidade e da eficiência, para compatibilizá-los com sua
natureza privada.
Ademais, o processo seletivo controvertido nesta ação conseguiu ofender esses e outros valores
ainda mais evidentemente, para preencher as 66 vagas de Técnico de Manutenção em
Equipamentos Hospitalares; Engenheiro Clínico; Médico Regulador; Analista de Processos
Operacionais; Assistente de Faturamento; Enfermeiro Auditor; Médico Auditor; Analista de Gestão
de Pessoas; Analista Administrativo; Farmacêutico; Engenheiro Ambiental; Comprador
Especializado; Analista de Contratos; Analista de Compras; Administrador; a começar pela
ausência da publicação de edital, contrariando o artigo 45 do próprio Estatuto do IHBDF.
Outrossim, a falta de edital ou de qualquer outro documento para balizar o processo seletivo, a par
de desrespeitar os postulados de publicidade, impessoalidade, moralidade e, em última análise,
eficiência, também prejudicou a disponibilização de vagas para portadores de deficiência,
contrariando, assim, a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência
instituída pela Lei nº 7.853/1989, regulamentada pelo Decreto nº 3.298/1999.
No curso do processo seletivo, principalmente a 5ª etapa definida como entrevista e análise pelo
gestor da área é dotada de alta carga de subjetividade, a permitir que esse examinador escolha o
candidato a partir de suas preferências pessoais, em detrimento dos postulados da
impessoalidade e da moralidade, retrocedendo na escalada evolutiva em nosso ordenamento
jurídico para exterminar a cultura de apadrinhamentos, nepotismos, discriminações odiosas entre
outras.
Nesse contexto, o conjunto probatório até então produzido foi convincente acerca da invalidade do
segundo processo seletivo realizado pelo requerido para preenchimento de 66 vagas de emprego
de Técnico de Manutenção em Equipamentos Hospitalares; Engenheiro Clínico; Médico
Regulador; Analista de Processos Operacionais; Assistente de Faturamento; Enfermeiro Auditor;
Médico Auditor; Analista de Gestão de Pessoas; Analista Administrativo; Farmacêutico;
Engenheiro Ambiental; Comprador Especializado; Analista de Contratos; Analista de Compras;
Administrador.
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Sob outro enfoque, uma vez evidenciada a maior probabilidade do direito alegado pela
requerente, o perigo da demora é consequência lógica, pois se mostra inadmissível a perpetuação
do ilícito e de seus efeitos, impondo-se a concessão da tutela cautelar para impedir a continuidade
nociva, especialmente nesta circunstância em que se supõe como ação principal uma complexa
ação civil pública, a exigir a ampliação do diálogo social com a participação de outros
interlocutores (entes públicos, entidades representativas das categorias etc), assim, com
tramitação processual ainda mais demorada do que ordinariamente se experimenta na Justiça do
Trabalho.
a) suspender, com efeitos ex tunc, o segundo processo seletivo público promovido para o
preenchimento das 66 (sessenta e seis) vagas de empregados celetistas mencionados nesta
ação;
c) suspender a contratação para os empregos previstos neste segundo processo seletivo, até o
julgamento final da ação principal.
Não obstante, a fim de evitar o agravamento do quadro de deficiência dos serviços prestados no
Hospital de Base, levando em consideração o risco de colapso descrito por seu Diretor de
Atenção à Saúde conforme id. c93677a, o que, embora não justifique a perpetuação do ilícito
tendo como refém a saúde pública, é sopesado, pelo que determino a correção do processo
seletivo ou realização de um novo hígido por parte do requerido, no prazo de 6 (seis)
meses, sendo recomendável a maior participação dos demais atores sociais e dos órgãos de
controle para a correção da atuação dos gestores desta vez.
Em outra frente, a fim de responder às questões suscitadas pelo requerido quando da impetração
do mandado de segurança (processo autuado sob o nº 0000163-49.2018.5.10.0000): "A quem
caberá indenizar os atuais empregados que sequer fizeram parte dos atacados processos
seletivos? E as pessoas que pediram demissão de seus empregos anteriores para serem
admitidos no IHB? Como fica essa situação? Quem assumirá esses danos e arcará com as
indenizações que certamente serão pleiteadas?", bem como para aferir a responsabilidade pelos
demais prejuízos à sociedade, torna-se forçoso levar ao conhecimento, das autoridades
competentes pela correspondente investigação, o teor das principais peças processuais e desta
decisão.
Entretanto, não se vislumbra a intenção deliberada do requerido em ludibriar o órgão julgador com
a juntada do referido documento, restando a análise das dificuldades enfrentadas pelos
candidatos no mérito ora cautelar.
Portanto, estamos diante do exercício regular do direito de defesa, em observância aos princípios
da lealdade e da boa-fé processual, razão pela qual não estão configuradas as hipóteses do artigo
80 do CPC.
Rejeito.
Dispositivo
Diante do exposto, e considerando o que mais consta dos autos, decido julgar procedente o
pedido cautelar formulado por MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO em face de INSTITUTO
HOSPITAL DE BASE DO DISTRITO FEDERAL - IHBDF, nos termos da fundamentação.
Intimem-se as partes.
Após, voltem-me os autos conclusos para o processamento da ação principal promovida no id.
c155e52.
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