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PODER JUDICIÁRIO

ESTADO DA PARAÍBA
COMARCA DE CONCEIÇÃO – 1ª VARA MISTA

Processo Nº 0000577-31.2014.815.0151

SENTENÇA

AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. CONSÓRCIO.


TAXA DE ADMINISTRAÇÃO. FIXAÇÃO. LIMITE
SUPERIOR A 10% (DEZ POR CENTO). AUSÊNCIA DE
ILEGALIDADE E ABUSIVIDADE. LIVRE PACTUAÇÃO
PELAS ADMINISTRADORAS. POSSIBILIDADE.
ANATOCISMO E JUROS. INOCORRÊNCIA.
IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

As administradoras de consórcio têm liberdade para fixar


a respectiva taxa de administração, nos termos do art.
33 da Lei nº 8.177/91 e da Circular nº 2.766/97 do Banco
Central, não havendo que se falar em ilegalidade ou
abusividade da taxa contratada superior a 10% (dez por
cento).

Embora aplicável o CDC, descabe a revisão de


cláusulas de juros remuneratórios, juros moratórios,
capitalização e correção monetária, inexistentes no
presente caso, pois o valor do bem é calculado tomando
como base o valor do bem à época do pagamento.

Vistos, etc.

Trata-se de AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO


proposta por ANDERSON FERNANDO BEZERRA VIEIRA, qualificada nos autos, por
meio de advogado habilitado, em face da YAMAHA ADMINISTRADORA DE
CONSÓRCIOS LTDA, igualmente identificado.

O(a) promovente alega, em síntese, na peça vestibular,


que firmou contrato de consórcio junto à instituição ré demandada para a aquisição de
uma motocicleta, todavia vem observando a prática de juros elevados, anatocismo,
elevada taxa de administração, que entende ilegais.

Foram acostados documentos com a exordial (fl.


17/66).

Citado, o promovido apresentou contestação rebatendo


os argumentos iniciais, preliminarmente, ilegitimidade ativa e carência da ação por falta de
interesse, pugnando, ao final, pela improcedência do pedido (fl. 71 e ss.). Foram
acostados documentos com a contestação.

Apresentada impugnação às fls. 129 e ss, momento em


que o promovido incluiu no polo ativo da demanda RAFAEL FERNANDES VIEIRA FILHO .

Intimados para especificarem as provas, a parte


promovente juntou memorial de cálculos às fls.142 e ss e a promovida requereu o
julgamento antecipado.

Relatados no essencial. Fundamento e decido.

O art. 330, do CPC, dispõe que o juiz conhecerá


diretamente do pedido, proferindo sentença, quando a questão de mérito for unicamente
de direito, ou, sendo de direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova em
audiência.

O julgamento antecipado do mérito da causa é


possível, quando o julgador, destinatário das provas, se convence que a produção de
outras provas não acrescentaria novos elementos que possam alterar o pronunciamento
jurisdicional.
À vista do contido nos autos, não há qualquer
necessidade de produção de outras provas em instrução, pelo que o feito se encontra
pronto para julgamento antecipado, pelo que passo a análise do caso.

Cumpre registrar que a relação jurídica mantida entre


as partes sujeita-se ao regime protetivo do Código de Defesa do Consumidor, vez que a
atividade desempenhadas pela promovida se enquadra no conceito de relação de
consumo. Por conseguinte, a questão em tela deve ser dirimida com o escopo de
assegurar o equilíbrio entre as partes e o cumprimento da função social do contrato.

Cláudia Lima Marques, a respeito do tema, leciona que:

“.nos contratos do sistema de consórcio, como os denomina o art. 53, § 2º, CDC, a
administradora do consórcio caracteriza-se como fornecedora, prestadora de
serviço; o contrato é geralmente concluído com consumidores, destinatários finais
fáticos e econômicos dos bens duráveis (automóveis, geladeiras, televisores e
mesmo imóveis), que se pretende adquirir através dos consórcios. (…) Em virtude
da presença constante de consumidores como pólo contratual, podemos concluir
que os contratos de sistema de consórcios são típicos contratos de consumo, cuja
finalidade justamente é permitr e incentivar o consumo de bens duráveis, que de
outra forma não estariam ao alcance do consumidor” (Contratos no Código de
Defesa do Consumidor , 199, p. 206-207).

O Superior Tribunal de Justiça de igual forma já se


manifestou:

“Conforme entendimento pacífico, o Código de Defesa do Consumidor é aplicável


às relações decorentes de grupo de consórcio. É o que se extrai dos seguintes
precedentes: Resp 618.708/SC , Terceira Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes
Direito, DJ de 27/03/206; Resp 165.304/SP, Quarta Turma, Rel. Min. Aldir
Pasarinho Junior, DJ de 20/03/206; Resp 541.212/RS, Quarta Turma, Rel. Min.
Baros Monteiro, DJ de 03/10/205; Resp 619.531/SC, Terceira Turma, de minha
Relatoria, DJ de 05/09/205; Resp 29.386/RS, Quarta Turma, Rel. Min. Ruy Rosado
de Aguiar, DJ de 04/02/202” (Ag n. 56.465/RS, Rel. Min. Castro Filho, DJU de 12-5-
2006).

TAXA DE ADMINISTRAÇÃO

No que se refere à taxa de administração, recente


julgamento dos Recursos Especiais nºs 1.114.606 – PR e 1.114.604 – PR, na forma do
artigo 543-C do CPC (Recursos Repetitivos), consolidou o entendimento de que as
administradoras de consórcio têm liberdade para fixar a respectiva taxa de administração,
nos termos do art. 33 da Lei nº 8.177/91 e da Circular nº 2.766/97 do Banco Central.

Nesse sentido:

RECURSO ESPECIAL. RITO DO ART. 543-C DO CPC. CONSÓRCIO. TAXA DE


ADMINISTRAÇÃO. FIXAÇÃO. LIMITE SUPERIOR A 10% (DEZ POR CENTO).
AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE E ABUSIVIDADE. LIVRE PACTUAÇÃO PELAS
ADMINISTRADORAS. POSSIBILIDADE. 1 - As administradoras de consórcio
têm liberdade para fixar a respectiva taxa de administração, nos termos do
art. 33 da Lei nº 8.177/91 e da Circular nº 2.766/97 do Banco Central, não
havendo que se falar em ilegalidade ou abusividade da taxa contratada
superior a 10% (dez por cento), na linha dos precedentes desta Corte Superior
de Justiça (AgRg no REsp nº 1.115.354/RS, Rel. Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 27/3/2012, DJe 3/4/2012; AgRg no REsp
nº 1.179.514/RS, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, julgado em
20/10/2011, DJe 26/10/2011; AgRg no REsp nº 1.097.237/RS, Rel. Ministro Raul
Araújo, Quarta Turma, julgado em 16/06/2011, DJe 5/8/2011; AgRg no REsp nº
1.187.148/RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 3/5/2011,
DJe 10/5/2011; AgRg no REsp nº 1.029.099/RS, Rel. Ministro Sidnei Beneti,
Terceira Turma, julgado em 14/12/2010, DJe 17/12/2010; EREsp nº 992.740/RS,
Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 9/6/2010, DJe
15/6/2010 ). 2 - O Decreto nº 70.951/72 foi derrogado pelas circulares
posteriormente editadas pelo BACEN, que emprestaram fiel execução à Lei nº
8.177/91. 3 - Recurso especial provido. (REsp 1114606/PR, Rel. Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/06/2012,
DJe 20/06/2012)

Dessa forma, diante do paradigma acima citados, bem


como da ausência de atuação legislativa do BACEN, no sentido de limitar a taxa de
administração em contratos de consórcio, no caso dos autos, não verifico a alegada
abusividade da taxa de administração.

ANATOCISMO E JUROS

Não obstante a aplicabilidade dos ditames do CDC,


cumpre registrar que, diferentemente do que ocorre nos contratos de financiamento em
geral, que possuem cláusulas específicas prevendo juros remuneratórios ou capitalização
de juros, o contrato em tela, qual seja, o de consórcio, é sui generis, não havendo
incidência deste tipo de cláusulas.
Na espécie, existe apenas previsão do valor das
contraprestações mensais, nas quais estão agregadas a taxa de administração e o fundo
de reserva, inerentes aos contratos de consórcio, da multa e dos juros moratórios para os
casos de inadimplemento.

Todavia, como é cediço, em se tratando de contrato de


consórcio, a atualização das parcelas pactuadas ocorre pela variação do preço do veículo
objeto do plano de consórcio. Asim, o reajuste das prestações está vinculado à variação
do preço do bem, não havendo, pois, que se falar em incidência de juros remuneratórios
ou de capitalização dos juros.

Nesse sentido, confira-se a vasta jurisprudência pátria


sobre o tema:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REVISIONAL. CONTRATO DE


CONSÓRCIO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE NO
ENCARGO PREVISTO PARA O PERÍODO DA NORMALIDADE CONTRATUAL.
TAXA DE ADMINISTRAÇÃO. Deve ser mantida a decisão que negou a
antecipação de tutela, pois a análise do contrato permite verificar a ausência de
abusividade da taxa de administração, encargo do período da normalidade
contratual. Em se tratando de contrato de consórcio, não há falar em juros
remuneratórios e capitalização dos juros, sendo a taxa de administração o
único encargo da normalidade contratual. Aliás, o simples ajuizamento da ação
revisional não descaracteriza a mora, conforme a Súmula 380, do STJ. NEGADO
SEGUIMENTO AO AGRAVO, EM DECISÃO MONOCRÁTICA. (Agravo de
Instrumento Nº 70058120783, Décima Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Jorge André Pereira Gailhard, Julgado em 13/01/2014, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia 23/01/2014)

Apelação Cível. Revisional de contrato de consórcio. Sentença que declarou como


abusiva cláusula que prevê a cumulação de comissão de permanência com
correção monetária, com juros de mora e multa contratual, determinando a
incidência, no contrato, do IPC/INPC para correção monetária e multa moratória
em 2% sobre o saldo devedor, com a exclusão de qualquer outra taxa, bem como
o abatimento do valor já liquidado, inclusive para efeito de restituição do
excedente, porventura existente. Contudo, por se tratar de contrato de
consórcio, não se cogita de cobrança abusiva de juros, tampouco
anatocismo, vez que em tais negócios não são cobrados juros
remuneratórios, mas um percentual mensal sobre o valor do bem
consorciado, além da taxa de administração e do fundo de reserva. E, para a
hipótese de inadimplemento do consorciado, há previsão de juros
moratórios e multa contratual, os quais foram estipulados em 1% ao mês e
2% sobre o saldo devedor, inexistindo, nesse aspecto, qualquer
irregularidade na cobrança. Também, não existe, no contrato, cláusula
estabelecendo a incidência de comissão de permanência cumulada com correção
monetária, juros de mora e multa contratual, nem prova, nos autos, de que tal
cobrança tenha-se realizado. Assim, não há que se falar em nulidade de cláusula
pertinente à cumulação de comissão de permanência. Quanto à taxa de
administração contratada (16%), "consoante entendimento firmado pela Corte
Especial, as administradoras de consórcio possuem liberdade para fixar a
respectiva taxa de administração, nos termos do art. 33 da Lei 8.177/91 e da
Circular 2.766/97 do BACEN, não sendo considerada ilegal ou abusiva a taxa
fixada em mais de 10% (dez por cento)" (AgRg no REsp 1187148/RS). Honorários
advocatícios, em face da reforma da Sentença, fixados em 10% sobre o valor da
causa, por se mostrar razoável e condizente com o disposto no § 4º do art. 20 do
CPC. Sentença Reformada. Recurso provido. (TJ-BA - APL:
00753301520058050001 BA 0075330-15.2005.8.05.0001, Relator: José Cícero
Landin Neto, Data de Julgamento: 26/11/2013, Quinta Câmara Cível, Data de
Publicação: 03/12/2013)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. CONSÓRCIO.


CONTRATO FIRMADO EM BRANCO PELO CONSUMIDOR. NULIDADE
INEXISTENTE. PRIMEIRA PRESTAÇÃO QUE NÃO SE CONFUNDE COM "TAXA
DE ADESÃO". LEGALIDADE DO VALOR COBRADO. TAXA DE
ADMINISTRAÇÃO. COBRANÇA NOS TERMOS DO ART. 33 DA LEI 8.177/1991 E
CIRCULAR N. 2766 DO BANCO CENTRAL DO BRASIL. INAPLICABILIDADE DA
LIMITAÇÃO PREVISTA NO ART. 42 DO DECRETO N. 70.951/1972. JUROS
MORATÓRIOS E CORREÇÃO MONETÁRIA. AUSÊNCIA DE PACTO NO
CONTRATO DE CONSÓRCIO. ATUALIZAÇÃO DO VALOR COM BASE NA
AVALIAÇÃO DO BEM À ÉPOCA DO PAGAMENTO. MORA. CARACTERIZAÇÃO.
INEXISTÊNCIA DE VALORES A RESTITUIR. CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. APLICABILIDADE. FATO, CONTUDO, QUE NÃO PERMITE A
REVISÃO EX OFFÍCIO, DE EVENTUAIS CLÁUSULAS ABUSIVAS, SOB PENA DE
VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA INÉRCIA E DISPOSITIVO. RECURSO
DESPROVIDO. Omissis. IV - "'Embora aplicável o CDC, descabe a revisão de
cláusulas de juros remuneratórios, juros moratórios, capitalização e correção
monetária, inexistentes no presente caso, pois o valor do bem é calculado
tomando como base o valor do bem à época do pagamento [...]' (TJRS,
Apelação cível n. 70006575468, de Porto Alegre, rel. Dr. Eduardo Kraemer, j. em
23.12.2004)" [grifei] (AC n. , Des. Cláudio Valdyr Helfenstein). Omissis.
Precedentes. (TJ-SC , Relator: Soraya Nunes Lins, Data de Julgamento:
02/06/2011, Quinta Câmara de Direito Comercial)

DISPOSITIVO

Ante ao exposto, por tudo mais que dos autos consta, e


com fulcro no art. 269, I do CPC, JULGO IMPROCEDENTE o pedido formulado na inicial,
pelo que extingo o processo com julgamento de mérito.

Condeno a parte autora em custas e honorárias,


permanecendo a exigibilidade suspensa nos termos da Lei Nº 1060/50.

Publique-se. Registre-se. Intime-se.

Aguarde-se o trânsito em julgado. Após, caso inexista pleito de


cumprimento de sentença ou pagamento voluntário, ARQUIVE-SE com baixa na
distribuição, independente de nova conclusão.

Cumpra-se. Diligências necessárias.

Conceição-PB, 17 de dezembro de 2014.

Antonio Eugênio Leite Ferreira Neto


Juiz de Direito

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