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Perdemos a privacidade também na internet para o comércio eletrônico,

de modo que há bancos de dados reunindo elementos sobre nossa vida, nossa
condição física, mental, econômica, social, religiosa, política, tudo para sermos
atraídos pelo mercado de produtos que circulam pela rede. É a utilização da
informática facilitando a interconexão de fichários com a possibilidade de formar
grandes bancos de dados desvendando a vida dos indivíduos, sem nossa
autorização e até sem nosso conhecimento.

Quando usamos a internet, nossos passos são recolhidos por “cookies”


(pequenos arquivos de texto inseridos no computador do usuário com a
finalidade principal de identificar usuários e possivelmente preparar páginas,
informações e ofertas personalizadas para eles), com o argumento de facilitar o
acesso a certas páginas, mas também para absorver detalhes sobre nosso
comportamento, identificando o internauta. Depois nossos dados pessoais são
vendidos, e é por isso que recebemos mensagens publicitárias e cartas de lojas
que nunca vimos antes (as malas diretas), o que caracteriza uma prática
comercial agressiva.

Sem contar que tais mensagens sobrecarregam nossa caixa postal,


levando-nos a gastar mais tempo conectados, separando as mensagens úteis,
e também podendo provocar a perda de outras mensagens mais importantes por
falta de espaço para armazenamento. São os chamados “spam”, equivalentes
aos panfletos que recebemos na rua e que somos obrigados a conduzir até uma
lixeira para não sujarmos o chão.

Um exemplo prático de espionagem divulgado pela Revista Eletrônica


Consultor Jurídico é com relação ao jogo utilizado pelas crianças, chamado
“Coelho Malvado”, CD-ROM educativo lançado nos EUA pela Mattel, a criadora
da boneca Barbie. Oculto no software, o programa registrava como a criança
utilizava o videogame e enviava furtivamente os dados para o servidor da Mattel,
enquanto o computador estava conectado com a internet. A empresa dispunha,
assim, de um cadastro, constantemente atualizado, com dados a respeito de
milhares de famílias. Isso durou até o momento em que o processo foi
descoberto e provocou um veemente protesto de pais norte-americanos
indignados. Os responsáveis pela Mattel tentaram explicar que o único objetivo
desse sistema era enviar às famílias softwares atualizados dos jogos. Mas a
Mattel acabou retirando o “espião”.
Com o monitoramento de nossos passos pela internet, várias informações
dispersas podem ser integradas pelas escolas, pelas empresas de assistência
médica, pelas seguradoras, pelos departamentos de recursos humanos, pelos
bancos, entre outros. O que fazer se nossa seguradora de saúde descobre que
nós compramos cigarro pela internet? Ou se nossa seguradora de vida descobre
que nós gostamos de esportes radicais? E nossos empregadores checarem
nossos arquivos médicos e históricos escolares antes de sermos contratados?
E também nossos empregadores checando os sites dos Tribunais para verificar
se ajuizamos com freqüência reclamações trabalhistas?

A nova economia está inteiramente fundada sobre o acúmulo e


intercâmbio de informações pessoais, para que produtos nos sejam oferecidos
pelos comerciantes em nossos lares, adaptados ao nosso perfil, de modo que
nossas necessidades são conhecidas antecipadamente.

O grave é que proteger-se significa renunciar ao computador. Estamos


condenados a viver numa sociedade sem privacidade, com a vida íntima sendo
substituída pela transparência tecnológica.

As pessoas que se sentirem prejudicadas e sofrerem um dano, material


ou moral, devem mover a devida ação de indenização, cabendo inclusive medida
cautelar para evitar o dano a sua privacidade (ver arts. 12 e 21 do CC). Ainda o
art. 43, § 2o, do CCons determina que o consumidor seja avisado pelo fornecedor
sobre a abertura de cadastro com dados pessoais seus. Como se vê, cada
indivíduo é que sabe quanta privacidade quer preservar ou expor. O direito à
privacidade é um limite natural ao direito de informação (colisão de direitos, ver
arts. 5o, IX, e 220, da CF sobre a liberdade de comunicação), cabendo ao jurista
conciliar ambos os interesses (privacidade x interesse público da informação), e
construir o equilíbrio da sociedade em que vive, tarefa difícil diante das
constantes evoluções da informática.
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O Marco Civil da Internet, igualmente, garante o direito à privacidade, bem


como a proteção dos dados pessoais, dos usuários dos serviços de conexão a
internet e aplicações. Esta lei incide sobre os provedores de conexão à internet,
bem como os provedores de aplicações.

O site que expõe dados pessoais dos usuários dos serviços de


telecomunicações e internet pode ser classificada como aplicação de internet,
conforme o Marco Civil da Internet. Isto porque esta aplicação de internet realiza
as atividades de guarda e disponibilização de dados pessoais, assim
enquadrável no art. 10 do Marco Civil da Internet.

Segundo o Marco Civil da Internet garante-se o direito do usuário ao não


fornecimento a terceiros de seus dados pessoais, inclusive registros de conexão
e acesso a aplicações de internet, salvo mediante consentimento livre, expresso
e informado ou nas hipóteses previstas em lei.

Por óbvio, portanto, que o endereço de e-mail do usuário do serviço de


conexão à internet integra o âmbito normativo do direito à privacidade, somente
podendo ser repassado a terceiros na hipótese de consentimento do seu titular.
Daí outra possível ilegalidade do site que expõe os endereços de e-mails dos
usuários dos serviços de conexão à internet.

O Marco Civil da Internet é expressamente claro:

"Art. 16. Na provisão de aplicações de internet, onerosa ou gratuita, é


vedada a guarda: I - dos registros de acesso a outras aplicações de internet sem
que o titular dos dados tenha consentido previamente, respeitado o disposto no
art. 7º, ou II - de dados pessoais que sejam excessivos em relação à finalidade
para a qual foi dado consentimento pelo seu titular".
Aqui, é importante destacar a atualidade do Marco Civil da Internet quanto
à proteção dos dados pessoais dos usuários das aplicações de internet,
especialmente quanto à necessidade de consentimento prévio para a utilização
de dados pessoais.

Além disso, é possível a suspensão, bloqueio ou proibição das atividades


do referido site que faz coleta, armazenamento e divulgação de dados pessoais
dos usuários, sem o consentimento prévio dos respectivos titulares, por ofensa
à legislação brasileira, especialmente por ofender o art. 12 do Marco Civil da
Internet.

A título conclusivo, a exposição de dados pessoais dos usuários dos


serviços de telecomunicações e conexão à internet (tais como: e-mail, endereço
e celular), por site anônimo na internet, sem o consentimento livre, expresso e
informado dos titulares, é ofensiva ao direito à privacidade, previsto na
Constituição Federal, no art. 5º, inc. X, à Lei Geral de Telecomunicações e ao
Marco Civil da Internet.

Também configura prática abusiva contra os direitos à privacidade, à vida


privada e à segurança pessoal. Trata-se de prática de invasão à privacidade dos
dados pessoais dos usuários dos serviços de telecomunicações e internet, com
sérios danos aos direitos fundamentais.

O desrespeito ao direito fundamental à privacidade fundamenta tanto


ações preventivas quanto ações de reparação de danos morais e materiais,
individuais e coletivas.

Daí porque os responsáveis por site que exponha dados pessoais, ainda
que hospedado em território estrangeiro, podem ser objeto de apuração de
responsabilidade quanto à ofensa à legislação brasileira, bem como responder
por eventuais danos materiais e danos morais individuais e à coletividade.

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