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Supremo Tribunal Federal

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 633.952 ESPÍRITO SANTO

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
RECDO.(A/S) : HERALDO EVANGELISTA COSTA
ADV.(A/S) : VÂNIA LOURENSUTE
ADV.(A/S) : JOSMAR DE SOUZA PAGOTTO E OUTRO(A/S)

Trata-se de recurso extraordinário interposto pelo Ministério Público


Federal contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, que
manteve sentença absolutória proferida em favor de Heraldo Evangelista
Costa.
Na espécie, o Recorrido foi denunciado pela prática do crime de
contrabando (art. 334, § 1º, alíneas c e d, do Código Penal). Em síntese,
mantinha, em seu estabelecimento comercial, cinco máquinas eletrônicas
programadas para a exploração de jogos de azar. Tais máquinas
conteriam componentes eletrônicos de importação proibida no país.
O magistrado de primeiro grau, ao fundamento da inexistência de
qualquer prova de que o acusado, ora Recorrido, tivesse ciência de que as
máquinas caça-níqueis continham componentes de procedência
estrangeira e de importação proibida, o que ensejaria atipicidade de
conduta pela falta do crime culposo, proferiu sentença de absolvição
sumária (fls. 26-28). Transcrevo o seguinte trecho:

“Esclareço: não se questiona a ciência do agente sobre a


proibição concernente a jogos de azar, de fato notória e, possivelmente,
objeto de processo por contravenção penal perante a Justiça Estadual.
O que está em pauta é a ciência acerca da origem estrangeira dos
objetos apreendidos, eis que se trata de elemento constitutivo do tipo
penal imputado no presente feito (CP, art. 334, §1º, ‘c’ e ‘d’).”

O Tribunal Regional Federal da 2ª Região, em sede de apelação


criminal, negou provimento ao recurso, mantendo a absolvição de
Heraldo Evangelista Costa (fls. 73-97). Conforme a ementa:
O acórdão recorrido restou assim ementado (fls. 96-97):

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RE 633.952 / ES

“PENAL. APELAÇÃO DO MPF. CRIME DE


CONTRABANDO. ART. 334, § 1º, ALÍNEAS “C” E “D”, DO CP.
UTILIZAR, EM ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS,
MÁQUINAS CAÇA-NÍQUEIS, DE ORIGEM ESTRANGEIRA,
EM PROVEITO PRÓPRIO OU ALHEIO, SEM A
DOCUMENTAÇÃO DEVIDA. PERÍCIA INDIRETA. SENTENÇA
DE ABSOLIVÇÃO SUMÁRIA. DESCONHECIMENTO SOBRE A
PROCEDÊNCIA ESTRANGEIRA DOS COMPONENTES
ELETRÔNICOS. AUSÊNCIA DE DOLO. ATIPICIDADE DA
CONDUTA. APELAÇÃO DESPROVIDA.
I- O Direito Penal objetiva impor limites, ao poder punitivo
estatal; daí a importância do respeito às garantias individuais, à
liberdade e ao devido processo legal. Por esta razão, mister se faz uma
acusação fundamentada em lastro probatório consistente até mesmo
em respeito aos princípios da celeridade e da eficácia da prestação
jurisdicional, como um todo; não se concebe, no atual quadro
judiciário, em nosso país, que se prolonguem processos inumeráveis e
intermináveis, em razão da observância de regras rígidas e formais;
em nome da política criminal, devemos aplicar o princípio da
instrumentalidade e decidir, sumariamente, pela absolvição, se esta for
antevista.
II- Os donos dos estabelecimentos comerciais, em princípio, não
são os mentores das organizações criminosas, não são os proprietários
das máquinas e nem os responsáveis pela sua importação. No entanto,
para se obter a decisão mais justa, devem ser apreciadas as
circunstâncias do fato e as peculiaridades de cada processo, visando o
devido equilíbrio entre o direito à liberdade do acusado e o direito à
proteção da sociedade, além da aplicação criteriosa dos princípios
envolvidos.
III- Neste caso concreto, não procedem as alegações do Parquet;
de fato, a exploração de máquinas e jogos de azar se configura em
contravenção penal; entretanto, a questão se cinge à imputação do
crime de contrabando aos donos de estabelecimentos comerciais. Ora, é
inviável que a parte ré detivesse o conhecimento técnico de que alguns
componentes eletrônicos das máquinas caça-níqueis (placa-mãe e

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RE 633.952 / ES

coletor de cédulas) seriam de origem estrangeira e de importação


proibida.
IV- Portanto, encontra-se ausente, o elemento subjetivo do tipo,
o dolo, em razão da ocorrência de erro de tipo; não se cogita de dolo
eventual porque este pressupõe a consciência da ilicitude da conduta
para que se assuma o risco de produzi-la. Além disso, a Sentença não
violou os princípios do contraditório e da instrução probatória, mas,
sim, aplicou os princípios do devido processo legal, do lastro
probatório suficiente, da instrumentalidade, da celeridade e da eficácia
jurisdicional.
V- Portanto, sob o fundamento de ocorrência de erro de tipo,
com exclusão do dolo e consequentemente da tipicidade; e, com vistas
ao atendimento da política criminal estabelecida com as inovações da
Lei 11.719/2008, entendo que a manutenção da Sentença de absolvição
sumária se configura como a solução mais adequada para o presente
feito.
VI- Apelação do Ministério Público Federal desprovida para
manter a Sentença absolutória, nos termos do art. 397, III, do CPP.”

Contra esta decisão, o Ministério Público Federal interpôs Recursos


Especial e Extraordinário, admitidos na Corte de origem (fls. 199-204).
Ato contínuo, o Ministro Adilson Vieira Macabu (Desembargador
convocado do TJRJ), do Superior Tribunal de Justiça, relator do REsp
1.214.849/ES, negou seguimento ao apelo especial, em decisão transitada
em julgado no dia 09.8.2011.
Nas razões do RE, sustenta o Parquet ofensa aos arts. 1º, 5º, LIV, LV,
127 e 129, da Constituição Federal, uma vez não assegurada a avaliação
da proposta ministerial de suspensão condicional do processo, tampouco
o devido processo legal diante da absolvição sumária, sem a
possibilidade de produção de prova acerca da existência do elemento
subjetivo. Inviável, portanto, o reconhecimento de atipicidade e, por
conseguinte, da absolvição sumária. Por fim, alega que poderia tentar
provas pelo menos o dolo eventual na prática de descaminho (fls. 130-
143).
Passo a decidir.

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RE 633.952 / ES

O magistrado de primeiro grau absolveu sumariamente o acusado,


ora Recorrido, decisão mantida pela Corte de Apelação.
Ora, apenas a conclusão pelo desacerto da absolvição sumária
permitiria que se prosseguisse na avaliação da afirmada vulneração dos
dispositivos constitucionais apontados como violados.
Rever a absolvição sumária e concluir pela tipicidade aparente dos
fatos descritos na denúncia exigiria exame e valoração aprofundada das
provas , o que é vedado em recurso extraordinário, conforme Súmula 279
desta Suprema Corte.
Portanto, inviável a apreciação do extraordinário, por envolver
revolvimento de provas.
Ante o exposto, nego seguimento ao recurso extraordinário (art. 21,
§1º, do Regimento Interno).

Publique-se.

Brasília, 09 de outubro de 2012.

Ministra Rosa Weber


Relatora

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