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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO

DIREITO
UNIVERSIDADE LUSÍADA DO NORTE-PORTO
Parte I/Título II/Capítulo V
FUNDAMENTO DO DIREITO
 A. Santos JUSTO, Introdução ao Estudo do Direito, 6.ª ed, 2012, pp. 95-136

Prof. Doutor J. Daniel Tavares da Silva


Introdução ao Estudo do Direito
1
FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
Qual o fundamento ou razão para o dever ou obrigação de obediência
à lei?
Principais respostas: JUSNATURALISMO E POSITIVISMO
I
JUSNATURALISMO
 O Direito Natural como fundamento do pensamento
jusnaturalista.
 Noção de Direito Natural (DN): justiça que se projecta na ordem
social ou ordenamento de raiz ética que a razão retira duma
ordem objectiva inserida nas coisas e nos homens.
 No século XVIII é consagrado em sistemas jurídicos construídos
pela razão.
Doutrinas jusnaturalistas
Jusnaturalismo transcendente Jusnaturalismo Racionalista
Jusnaturalismo greco-romano
Jusnaturalismo medieval
Escola espanhola do Direito Natural
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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
JUSNATURALISMO TRANSCENDENTE
JUSNATURALISMO GRECO-ROMANO:
GRÉCIA
 Concepção sofista (revolucionária):O DN baseia-se no conceito
fundamental da natureza humana. Enfase para a liberdade e igualdade
dos homens. A criação por Deus dos homens livres e iguais suporta a
contestação das leis injustas da polis que servem os interesses dos
poderosos. Usa o DN para destacar o carácter arbitrário do Estado.
 Concepção de Sócrates, Platão e Aristóteles: Há, na natureza, uma
harmonia que rege o curso dos astros, e a vida animal e vegetal. O justo
está esculpido no coração ou na consciência dos homens. Cabe-lhes
observar e descobrir regras disciplinadoras da vida familiar, económica
e política. O direito natural dá o sentido, o fim e a base ética normativa
ao direito positivo. Aristóteles invoca o direito natural para defender a
ordem estabelecida, por considerar que o Estado é virtuoso e educador
do homem no sentido da moralidade e justiça.
 Consequências desta divergência para os cépticos
 Negação da existência do direito natural. Os sentidos não dão um
conhecimento verdadeiro, apenas ilusões.
 Impossibilidade de conhecer a natureza das coisas e a do homem.
 Um só direito (positivo), fruto da vontade arbitrária de quem o cria.
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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
ROMA
 Influência estóica. A ética e a sabedoria como ideal de felicidade e
ausência de paixões que impedem a lucidez do conhecimento e do juízo.
 O direito natural é criado pela recta ratio determinando o que convém à
essência do homem. É um direito fundamentalmente ético que
reconhece a liberdade e a igualdade dos homens.
 Cícero fundamenta o direito positivo no direito natural, pois, de
contrário, seriam justas todas as arbitrariedade e atropelias dos tiranos.
Não considera leges as normas ditadas por tiranos.
 A lex naturalis está presente na lei positiva e serve de critério de
integração de lacunas.
JUSNATURALISMO MEDIEVAL:
 Influência do jusnaturalismo greco-romano na filosofia e teologia
católicas da Idade Média. (Epístola de São Paulo aos Romanos).
 A Lei de Deus, revelada nos Dez Mandamentos e no Evangelho, está
inscrita na natureza.
 A razão humana como imagem de Deus. (Santo Agostinho). Seguir a
natureza racional do Homem é seguir Deus.
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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
 A lei natural como espelho da lei divina na sua relação com o
Homem (Graciano). Os direitos e deveres naturais como medida e regra
das leis positivas (São João Crisóstomo)
Importância de S. TOMÁS DE AQUINO no jusnaturalismo
CRISTÃO: Para S. Tomás a razão dirige a vontade
“Deus criou o Mundo dotando-o de uma lei natural (lex naturalis)”
 Tendências fundamentais expressas pelas normas (mandatos e
proibições) que a razão deduz do Direito Natural
 À conservação da vida humana (normas relativas à defesa da vida e
proibição do homicídio)
 À conservação da espécie humana (relações familiares e
procriação).
 Conhecimento da verdade e vivência em sociedade (perfeição
intelectual do homem e relações entre a autoridade e os súbditos).
 Tipos de preceitos que constituem a lex naturalis
 Primários: a sua clareza e evidência torna-os nos princípios gerais
da ordem social.
 Secundários: derivam dos primários e admitem restrições e
excepções conforme as circunstâncias da vida. Relatividade e
evolução.
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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
 Características da lex naturalis:
 Universalidade dos preceitos primários. Sua aplicação a todos os
homens. Universalidade relativa dos preceitos secundários
 Imutabilidade dos preceitos primários
 Indelibilidade: relaciona-se com a imutabilidade. É a propriedade de
a lex naturalis não se poder apagar ou desaparecer na consciência
humana.
 Contestação da doutrina de S. Tomás de Aquino pela escolástica
franciscana.
 Para os franciscanos (Duns Scotto e Guilherme de Ockham) a
primazia assenta na vontade à qual a lex naturalis se reduz. Favorece
o positivismo jurídico segundo o qual a lei identifica-se, tão só, com
a vontade do legislador.
 Sendo a natureza essencialmente contingente e dependendo tudo da
vontade de Deus, o Direito natural perde a sua base sólida e passa a
constituir uma mera lex moralis.

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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
ESCOLA ESPANHOLA DO DIREITO NATURAL:(Neo-
escolástica, segunda Escolástica ou Escola Peninsular do Direito Natural)
 Tendência maioritária na defesa de que a razão dirige a vontade (tese
intelectualista).
 Fernando Vasquez de Menchaca: O DN é bom (quaisquer que sejam ou
fossem os seus preceitos) porque Deus o gravou em nós.
 Gabriel Vasquez: Desvincula de Deus o Direito cuja fonte não está na
vontade ou razão divinas mas na natureza racional do homem.
 Abre caminho à autonomia da razão e à visão laica da Escola do
Direito Natural Racionalista que dispensa Deus.
 Na Idade Média o DN constitui o fundamento do direito positivo que
lhe deve obediência. Ilegitimidade da norma arbitrária. Papel do DN no
progresso do direito, na interpretação e correcção das leis e na
integração de lacunas.
 Na Idade moderna o DN legitima e serve de medida ao direito.
 Separação do DN e do direito positivo. Enfraquecimento da função do
DN como legitimação, padrão e guia para o legislador e o juiz.
 Consideração de que o Direito Natural está positivado nas Constituições
e nos Códigos, identificando-se com eles.
 Existência de um só direito: o direito positivo.
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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
JUSNATURALISMO RACIONALISTA
 A construção de um Direito Natural essencialmente laico a partir da
natureza racional do homem.
 Principais pensadores:
 Grócio, seguindo as ideias de Gabriel Vásquez, caminha para um
sistema que dispensa Deus cujo lugar é ocupado pela ratio humana.
 Pufendorf: A natureza empírica do Homem como base da ciência
sistemática do direito.
 Thomasius: Disciplinas que integram a conduta humana: Ética,
política e jurisprudência. Separação entre a moral e o Direito. Defesa
do Homem da acção omnipotente do Estado. Direito natural da felicitas
 Wolf: Deduz o Direito Natural a partir da natureza do Homem.

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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
DIREITO NATURAL (APRECIAÇÃO CRÍTICA)
 Principais críticas ao DN:
 Importância alternada ao longo da história - entre a apologia plural
(nas várias doutrinas gregas, na Idade Média) e o desinteresse.
 Assinala-se o seu regresso como suporte para censurar a tirania que
levou às duas guerras mundiais do sec. XX (Julgamento de
Nuremberga).
 Ofuscação actual pelo bem-estar.
 Natureza estática e fechada, de conteúdo apenas moral que reflecte
apenas a ideia de cada época e de cada pensador.
 Dificuldade em o explicar: Não sabendo o que é, sentimos que
[“acima (do direito positivo) existe outro, que não é (…) criação do
homem, mas antes emanação da natureza (humana): o Direito
Natural.”… “..o homem não renuncia à ideia de um Direito Justo
nem à exigência de uma validade ideal, intemporal, desse Direito”].

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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
II
POSITIVISMO
SUPERAÇÃO DO DIREITO NATURAL
 Principais doutrinas que debilitaram ou eliminaram o Direito
Natural:
 Teorias contratualistas: Defendem que só há lugar para o direito
positivo.
 Hobbes: Pacto entre os homens e o Estado para acabar com o
clima de guerra contínua em que viviam no status naturalis. O
direito positivo tem de ser indiscutível. Vontade do Estado como
único critério de justiça. Não há lugar para o DN.
 Rousseau: Contrato social pelo qual o homem se submete à
vontade geral que se manifesta na lei e é a fonte de direito,
suprimindo o DN.
 Teoria de Kant: É impossível conhecer o DN porque o
conhecimento não conhece a realidade, apenas as suas
representações. O Estado enquanto comunidade de ordem moral que
repousa num contrato. Contra a sua autoridade nenhuma resistência
é lícita.

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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
 Escola Histórica: Sec.s XVIII/XIX-Alemanha. O direito não se
deduz racionalmente de princípios básicos. É criação espontânea do
espírito do povo (como a arte, a linguagem, a música) que se faz em
dois momentos: Manifestação consuetudinária (momento histórico)
a depuração e desenvolvimento dos princípios básicos pela
jurisprudência (momento científico). Defende a natureza dinâmica
do direito.
POSITIVISMO JURÍDICO
 Positivismo legalista ou exegético
 Positivismo científico ou conceitual
 Positivismo normativista
 Positivismo sociológico
 Realismo jurídico escandinavo
 Realismo jurídico norte-americano
Manifestações embrionárias: Direito Romano: O imperador como única
fonte de direito. Idade média.
 Características gerais:
 A recusa da metafísica e do Direito Natural.
 A recusa de o jurista emitir um juízo crítico sobre a justiça ou
injustiça do direito (positivo) que aplica (de avaliar a justiça ou
injustiça da sua decisão).
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Introdução ao Estudo do Direito
FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
 Aspectos fundamentais:
 Conceito de direito: comando imposto pela vontade do legislador.
A sua validade afere-se por critérios de vigência (validade formal) e
de eficácia (validade social). A lei injusta pode ser válida e
vinculativa.
 Fontes de direito: A lei identifica-se como o próprio direito.
Obediência absoluta e incondicional.
 Método: O juiz como mero aplicador da lei ao caso concreto através
de um processo lógico-dedutivo e subsuntivo.
 Epistemologia: Corte com a Ética e a Metafísica. Separação entre a
ciência do direito e a Filosofia do Direito.

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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
POSITIVISMO LEGALISTA OU EXEGÉTICO (1804 a 1900)
Inicia-se com a publicação do Código de Napoleão. Ideais progressistas da
revolução francesa. Racionalismo jurídico e perfeição do Código.
 Características gerais:
 Identificação entre o direito e a lei que expressa a volonté génerale.
Presunção de que todas as leis são justas.
 Interpretação assente na intenção do legislador.
 O juiz como “bouche de la loi” cujo trabalho, quase mecânico,
consiste em aplicar a lei mediante o seguinte silogismo dito
judiciário: Norma (premissa maior) caso (premissa menor) e
sentença (conclusão).
 Desconhece a existência de lacunas. O Código ofereceria sempre
solução

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Introdução ao Estudo do Direito
FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
POSITIVISMO CIENTÍFICO OU CONCEITUAL
Características gerais:
 O direito como um sistema de conceitos construído segundo as regras
da lógica formal. Assemelha-se a uma pirâmide na base da qual estão os
conceitos menos gerais e no vértice o mais geral (conceito supremo).
 À ciência do direito cabe determinar o conteúdo da lei.
 O sistema lógico-conceitual é uma totalidade unitária e fechada. Exclui
a existência de verdadeiras lacunas que só podem ser aparentes: ou
serão casos não jurídicos ou revelam conhecimento insuficiente do
sistema jurídico.
APRECIAÇÃO CRÍTICA:
 Atribuição ao juiz da mera função de aplicador da lei (bouche de la loi).
 Proibição de o juiz interpretar a lei, procurando a solução mais justa.
 Inadmissibilidade da insuficiência da lei (lacunas) e recusa em aceitar a
dificuldade de a lei acompanhar a dinâmica social.
 Afastamento entre a lei e as instituições.
 Excessivo recurso à lógica formal.
CONTRIBUTO
 Consolidação da parte geral

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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
POSITIVISMO NORMATIVISTA
Hans KELSEN: Teoria pura do direito.
Características gerais:
 Depura a ciência do direito de todos os elementos (históricos,
sociológicos, políticos, jusnaturalistas, metafísicos) pertencentes a
outras ordens do conhecimento
 Separação entre realidade social e histórica (mundo do ser) e as normas
(o mundo do dever-ser).
 O direito como ordem normativa que pertence à categoria ontológica do
dever-ser. É um conjunto de normas consideradas na sua autonomia
formal, desligadas do fundamento normativo que as transcende e da
realidade social em que actuam.
 Os valores recebidos pela norma pertencem ao direito positivo, não
podendo ser discutida a justiça ou injustiça de uma norma.
 A justiça é um ideal inacessível ao conhecimento racional, sendo o
direito apenas uma técnica de controlo social essencialmente coactiva.
 A validade de uma norma é conferida por uma norma superior. No topo
está a Constituição que tem o seu fundamento numa norma fundamental
(hipotética/pressuposta) que manda obedecer à Constituição.
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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
APRECIAÇÃO CRÍTICA:
 A não consideração de juízos de valor de valores éticos justificativos do
direito.
 A transformação do direito numa mera técnica de controlo social que
pode legitimar a realização de fins iníquos por qualquer força que
alcance o poder.
 Atribuição da validade do direito a uma norma fictícia que manda
obedecer á Constituição, sendo indiferente a sua aceitação democrática
o imposição autoritária. (A validade do direito passa a depender de mera
suposição lógica).
 O direito subjectivo como simples reflexo dum dever que uma norma
jurídica estabeleça.
 Identificação do direito com o Estado e com a justiça.
CONTRIBUTO
 Rigor terminológico e conceitual.
 Coerência lógica
 Defesa da autonomia da ciência do direito.

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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
POSITIVISMO SOCIOLÓGICO:
Características gerais:
 Opõe-se ao pensamento normativista.
 Reduz o direito a um simples facto social
 Substitui a ciência dogmática do direito por uma ciência empírico-
sociológica sem carácter normativo.
 Concepção do direito como facto social empírico, sem carácter
normativo
 Estruturação da ciência jurídica nos moldes sociológicos, como ciência
empírica e estritamente positiva de factos sociais.
Positivismo Sociológico: REALISMO JURÍDICO ESCANDINAVO
Características gerais:
 Abdica de uma atitude valorativa.
 Considera que só é científico o que se funda na experiência. Por isso,
 Considera um mito que o direito se funde na natureza racional do
homem.
 Propõe-se fazer da jurisprudência uma verdadeira ciência fundada na
experiência sujeita à observação e verificação.
 APRECIAÇÃO CRÍTICA:
 Fracassa ao recusar ao direito uma dimensão normativa irrecusável.
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Introdução ao Estudo do Direito
FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
Positivismo sociológico: REALISMO JURÍDICO NORTE-
AMERICANO
Características gerais:
 Aspira a uma global compreensão sociológica do direito através da
consideração das suas causas e dos seus fins.
 Considera como direito apenas o que se impõe nas decisões judiciais.
 A ciência jurídica estuda a probabilidade de o juiz decidir num ou
noutro sentido, estudando os factores determinantes das decisões dos
juízes.
APRECIAÇÃO CRÍTICA:
 Cai num decisionismo irracionalista que confere ao direito um carácter
vago e incerto.
 Direito incompatível com o funcionamento das modernas sociedades
industriais.
 O direito deve manifestar-se mais nas normas de organização que nas
decisões dos tribunais.

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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
NOVAS SOLUÇÕES
 Neopositivismo
 Jusnaturalismo contemporâneo
 Jusnaturalismo tradicional
 Jusnaturalismo protestante
 Jusnaturalismo bíblico
 Direcção cristológica
 A ordem da criação
 Doutrina da natureza das coisas
 Baptista Machado
 Castanheira Neves

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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
NOVAS SOLUÇÕES
NEOPOSITIVISMO
 Escola de Viena: Revalorização dos pontos fundamentais do positivismo:
Repudia a metafísica. Experiência como única fonte de conhecimento.
 Atrocidades nazis fundadas em normas positivas contrárias aos princípios e
valores fundamentais superiores ao direito positivo, como a vida e
dignidade da pessoa humana.
 Admissibilidade por algumas correntes neopositivistas de valores
superiores ao direito positivo (valores aqui entendidos como conquista
histórica e não como permanentes e imutáveis como no jusnaturalismo).
 Para o jusnaturalismo o direito natural (enquanto conjunto de valores
fundamentais superiores) é um verdadeiro direito, não o sendo para o
neopositivismo.
 O neopositivismo já não é uma ideologia conservadora e imobilista que
legitima qualquer ordem estabelecida. O jurista pode apreciar o valor da
sua decisão e opor-se à aplicação de normas injustas.
 Influência actual do positivismo jurídico e de alguma neutralidade
axiológica do juiz. (Código Civil):
 Relevo da lei e omissão do costume nas fontes de direito (artºs 1º a 4º
CC)
 Afastamento do costume contra legem (artº 7º/1 do Código Civil)
 Disciplina da interpretação da lei (artº 9º CC) e da integração de
lacunas (artº 10º do Código Civil).
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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
NOVAS SOLUÇÕES
JUSNATURALISMO CONTEMPORÂNEO
 Resistência do Direito Natural ao período positivista do século XIX.
 Renascimento na Alemanha após a II Guerra Mundial (doutrina e
jurisprudência e Constituição alemã).
 Ex.: Radbruch em 1932 considerava a segurança jurídica o valor
principal do direito e a justiça um valor secundário.
 Após as atrocidades nazis, reconheceu que: “Esta concepção da lei e
a sua validade, a que chamamos Positivismo, foi a que deixou sem
defesa o povo e os juristas contra as leis mais arbitrárias, mais
cruéis e mais criminosas”.
 Staamler é o pioneiro da restauração do jusnaturalismo, construindo
um Direito Natural de conteúdo variável conforme as épocas históricas
e reduzido à mínima expressão formal.

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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
 Correntes do JUSNATURALISMO CONTEMPORÂNEO:
 Jusnaturalismo tradicional: Inspiração na doutrina escolástica de
S. Tomás de Aquino. Concebe a lei natural como manifestação da
lei eterna referida à convivência humana. Conteúdo variável: factor
constante e factor variável.
 Jusnaturalismo protestante:
 Jusnaturalismo bíblico: assenta na revelação por Deus da Sua
vontade no Decálogo que contém as orientações da conduta
moral e jurídica do homem.
 Direcção cristológica: revelação da vontade de Deus através da
‘Nova Aliança’.
 A ordem da criação: Deus dotou toda a criatura duma ordem
divina que contém uma estrutura ou modo de ser

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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
DOUTRINA DA NATUREZA DAS COISAS
 O direito deve considerar a realidade ontológica sobre que actua,
adaptando-se aos dados objectivos das coisas e à ordem metafísica da
natureza, sob pena de conduzir a um resultado absurdo ou injusto e, em
consequência, ser inoperante.
 Ideia já abordada por Aristóteles, em Roma, pela escolástica tomista e
Montesquieu.
 Desenvolvimento actual por Radbruch (Alemanha).
 Tendências actuais:
 A natureza das coisas como uma ‘relação de vida’, brotando o direito
espontaneamente da convivência humana. (Fechner e Cohing)
 A natureza das coisas como ‘estruturas lógico-objectivas’ a que o
legislador se encontra vinculado. A realidade possui uma estrutura
axiológica que, em cada momento e circunstância, o legislador e o juiz
devem ter em conta. (Maiohofer)
APRECIAÇÃO CRÍTICA
• A ‘natureza das coisas’ não terá nada a ver com as coisas: Para se extrair
uma norma jurídica da ‘natureza das coisas’ introduz-se nas coisas uma
tensão jurídica que necessariamente transmuda a sua fisionomia empírica
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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
Doutrina da natureza das coisas Direito Natural
 O Direito Natural:
 Tem as suas raízes num princípio supremo acima das relações da
vida.
 É um ordenamento imutável
 Doutrina da natureza das coisas
 Procura o fundamento jurídico no seio dessas relações, numa ordem
que lhes é imanente.
 Adopta a forma histórica das relações de convivência a cada
momento.

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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
OUTRAS SOLUÇÕES
BAPTISTA MACHADO
 Não existência de um ‘Direito Positivo’ sem um ‘Direito Natural’ e
também não existe um ‘Direito Natural’ sem um ‘Direito Positivo’.
 Os textos legais não determinam ou criam ‘autonomamente’ o
jurídico, a juridicidade. Antes, eles são já uma expressão ou
tradução dessa juridicidade, a qual por princípio, e como referente
último, está para além deles, está fora deles.
 Ao direito natural cabe a função hermenêutica indispensável à
compreensão dos textos legais positivos.
 A validade do direito positivo tem o seu fundamento no direito
natural.
 O legislador não cria o direito, mas apenas o articula e concretiza a
partir de evidências latentes partilhadas pelos membros daquela
comunidade.
APRECIAÇÃO CRÍTICA
 Afastamento da compreensão tradicional do Direito Natural.
 Não se trata dum outro Direito (Natural), mas de uma certa ideia de
Direito que o direito positivo deve permanentemente assumir para ser
válido.
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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
CASTANHEIRA NEVES
 A dimensão axiológica é a dimensão capital, fundamentante e mesmo
significante, da normatividade jurídica que a constitui como direito,
isto é, como fundamento socialmente incondicional de validade.
 Os valores fundamentais susceptíveis de sustentar o direito devem ser
procurados no fundo ético da nossa cultura, neste momento histórico.
 A consciência jurídica geral é. a objectivação histórica da validade
comunitária, do seu sentido axiologicamente material e de “justiça”.
 Níveis de intencionalidade normativa: (3)
 Primeiro: contém os princípios normativos e critérios jurídicos
positivados no direito vigente que resultam da assimilação ou
conversão jurídica de valores e postulados ético-sociais. É o nível
em que o sistema jurídico se revela susceptível de uma maior
mutabilidade.
 Segundo: contém os princípios normativo-jurídicos fundamentais os
quais, uma vez revelados ficam verdadeiramente adquiridos como
elementos irrenunciáveis da juridicidade (v.g. princípios da
igualdade, da independência jurisdicional, da legalidade da
incriminação e da culpa, da autonomia privada e da
responsabilidade…). Menor mutabilidade histórico-intencional.

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FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
 Terceiro (último): contêm uma intenção final de validade que (…)
é verdadeiramente um absoluto pressuposto de sentido axiológico.
Exprime, em termos normativos, aqueles valore que numa certa
cultura fundam o próprio sentido comunitário, o sentido de todos os
sentidos humanos, o sentido ontológico (fundamentante) em que se
exprime. O valor da pessoa humana e da sua dignidade. Este valor
fundamental é pressuposto decisivo e fim último da existência
humana finita que uma comunidade do nosso tempo terá de assumir
e cumprir para ser uma comunidade válida.
 Hierarquia interna dos níveis: Dentro destes três níveis, o segundo
controla a validade do primeiro e o terceiro, espelhando a consciência
jurídica geral, controla a validade do segundo.
 Esta compreensão da validade do direito, repousa no respeito
incondicional da pessoa humana o maior valor, o bem supremo a que
todos os outros valores vão referidos nas suas posições axiológicas
deste mundo.
 Função do jurista: assumir criticamente a ideia de direito e de a
realizar histórico-concretamente.
 Natureza da lei injusta, a norma que não permita realizar
concretamente a ideia de direito carece de validade e constitui
preversão do poder legislativo.
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Introdução ao Estudo do Direito
FUNDAMENTO DA OBEDIÊNCIA À LEI
 Destino da lei injusta: A única atitude legítima em face de uma «lei
injusta» é a de recusar a sua aplicação.
 Papel do juiz perante a lei injusta: A recusa da sua aplicação compete
à função judicial que pode ser ideologicamente neutra, devendo, para
tal, ser verdadeiramente independente, e não aceitar degradar-se a mera
função burocrática.
 Intercâmbio entre o poder judicial e a universidade: A função
judicial de apoiar-se e ser esclarecida pelas universitárias Faculdades
de Direito, como instituição crítica com intencionalidade axiológica.
 A consciência ética da comunidade: A função judicial e a
universidade devem representar a consciência ética da comunidade.

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