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Dimensionamento à solicitação tangencial Cortante

■ Uma viga resiste às cargas, primeiramente, através da mobilização


dos esforços internos de momento fletor e força cortante. No
dimensionamento das vigas de concreto armado primeiro leva-se em
conta o momento fletor para determinar as dimensões da peça e a
Concreto Armado II armadura longitudinal necessária para resisti-lo. Depois, são feitas a
verificação do esforço cortante e a
determinação da armadura transversal necessária (estribos).
Vigas de Concreto ■ A ruptura de uma viga por efeito da força cortante é
Solicitação Tangencial freqüentemente violenta e frágil, devendo sempre ser evitada, o que
se obtém fazendo a resistência da viga à força cortante superior
à sua resistência à flexão. A armadura de flexão deve ser
proporcionada de tal modo que, se vier a ocorrer à ruptura, deve ser
por flexão, de modo que se desenvolva lenta e gradualmente. “É
necessário garantir uma boa ductilidade, de forma que uma eventual
ruína ocorra de forma suficientemente avisada, alertando os
usuários” (NBR 6118/2003).

► Estado limite último de solicitações tangenciais ■ Se, na mesma seção, estão agindo o esforço cortante e o
momento fletor simultaneamente, a distribuição de tensões
O concreto armado tem três estádios de comportamento no
cisalhamento, representados por: internas não é mais uniforme, mas varia com a distância à linha
neutra, podendo ser determinada por:
● Estádio I
Nesse estádio o concreto está intacto, sem fissuras. O VQ
comportamento das peças de concreto armado nesse estádio é
τ = bw I
elástico linear, obedecendo a Lei de Hooke, e as tensões Onde:
tangenciais podem ser calculadas através das equações da
resistência dos materiais.
τ  Tensão tangencial
V  Esforço cortante
■ Se há somente o esforço cortante, a distribuição das tensões I  Momento de inércia da seção transversal em relação à linha
internas é uniforme, podendo ser determinada por: neutra
V Q  Momento estático em relação à linha neutra
τ= bw  Largura da seção transversal no ponto de determinação da
Onde: A tensão tangencial
τ  Tensão tangencial
V  Esforço cortante
A  Área da seção transversal

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● Estádio II ► Tensões principais
Chamado também de estádio de fissuração, onde o concreto As armaduras no concreto armado absorvem os esforços de tração que
não resiste mais à tração e as tensões são absorvidas pela aparecem na estrutura. Em uma viga solicitada por esforço cortante,
armadura. As verificações em serviço do elemento estrutural, surgem tensões internas de cisalhamento para equilibrar a carga
abertura de fissuras e flecha, são feitas levando-se em externa. As trajetórias das tensões principais definem o posicionamento
correto das armaduras de tração e nos informa a direção das bielas de
consideração as hipóteses dos Estádios I e II.
compressão.
■ Ao se carregar uma viga de concreto armado já são mobilizados,
desde o início, tensões normais de flexão (σ) e tangenciais (τ), cujas
● Estádio III direções principais e trajetórias são apresentadas a seguir:
Chamado também de estádio de ruptura, o concreto está na
iminência de ruptura à compressão, podendo ocorrer por
escoamento do aço ou esmagamento do concreto. Com as
hipóteses do Estádio III se faz a verificação da segurança no
estado limite último de ruína.
■ O comportamento da região da viga sob maior influência das forças
cortantes e com fissuras inclinadas de cisalhamento, pode ser muito
bem descrito fazendo-se a analogia com uma treliça isostática clássica
de Mörsch.

► Modelo da treliça clássica de Mörsch ● Considerações do modelo da treliça


Esse modelo se baseia na analogia entre uma viga fissurada e Sendo “V” a força de corte na viga, temos:
uma treliça.
Viga simplesmente apoiada com armadura transversal
formada por estribos a 90°

Onde:
Rcb  Força resultante de compressão na biela.
• Banzo superior  Cordão de concreto comprimido. Rs,α  Força resultante na diagonal tracionada.
• Banzo inferior  Armadura longitudinal de tração. θ  Inclinação da diagonal comprimida (bielas
• Diagonais comprimidas  Bielas de concreto entre as fissuras. de compressão).
• Diagonais tracionadas  Armadura transversal de α  Inclinação da diagonal tracionada.
cisalhamento (estribos).

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■ Uma ruptura precoce pode ocorrer quando a distância entre as ● Considerações importantes na analogia da treliça clássica
barras “s” for:
● s ≥ 2 z para estribos inclinados a 45°. O comportamento real obtido através de ensaios comprovam que
● s > z para estribos a 90°. há imperfeições na analogia de treliça clássica. Tais imperfeições
Analogia clássica de uma viga com uma treliça são funções, principalmente, dos três fatores a seguir:

1- A inclinação das fissuras é menor que 45°.

2- Os banzos não são paralelos, pois há o arqueamento do banzo


comprimido, principalmente nas regiões dos apoios.

● Hipóteses básicas da analogia da treliça clássica 3- A treliça é altamente hiperestática,pois ocorre engastamento
das bielas no banzo comprimido, e esses elementos comprimidos
1- Fissuras, bielas de compressão, com inclinação de 45°.
possuem rigidez muito maior que a das barras tracionadas.
2- Banzos paralelos.
3- Treliça isostática, não havendo engastamento nos nós, ou seja,
nas ligações entre os banzos e as diagonais.
4- Amadura de cisalhamento com inclinação entre 45° e 90°.

► Redução da força cortante ● Carga distribuída

■ Ensaios experimentais com medição da tensão nos estribos A força cortante obtida a partir de carga distribuída pode ser
mostram que o modelo de treliça desenvolvido para as vigas é considerada, no trecho entre o apoio e a seção situada à
efetivamente válido após uma pequena distância dos apoios, distância “d/2” da face de apoio, constante e igual à desta seção.
pois se constatou que os estribos muito próximos aos apoios
apresentam tensão menor que os estribos fora deste trecho.

■ Em função desta característica, na região junto aos apoios, a


norma permite uma pequena redução da força cortante para o
dimensionamento da armadura transversal.

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● Carga concentrada ► Dimensionamento à esforço cortante pela NBR 6118/2003

A força cortante obtida a partir de uma carga concentrada ■ A NBR 6118/2003 admite como hipótese básica a analogia com
aplicada a uma distância “a ≤ 2d” do eixo teórico do apoio pode, o modelo em treliça, de banzos paralelos, associado a
nesse trecho de comprimento “a”, ser reduzida multiplicando-a mecanismos resistentes complementares desenvolvidos no
por “a/2d”. interior do elemento estrutural e traduzidos por uma componente
adicional Vc.

■ O projeto do elemento estrutural à força cortante é sugerido


com base em dois modelos de cálculo, chamados modelos de
cálculo I e II.

■ A condição de segurança do elemento estrutural é satisfatória


quando verificados os estados limites últimos, atendidas
simultaneamente as duas condições seguintes:

Onde: ■ Considerações do modelo de cálculo I:


VSd  Força cortante solicitante de cálculo “Vd” na seção. Na • Bielas com inclinação θ = 45°.
região de apoio é o valor na face “VSd,face”. • Vc constante, independente de VSd.

■ Considerações do modelo de cálculo II:


• Bielas com inclinação θ entre 30°e 45°.
 Coeficiente de ponderação. • Vc diminui com o aumento de VSd.
VSk  Força cortante solicitante característica na seção.
VRd2  Força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína das ■ Considerações importantes dos dois modelos de cálculo:
diagonais comprimidas de concreto. Tanto no modelo de cálculo I quanto no modelo de cálculo II,
devem ser consideradas as etapas de cálculo a seguir:
VRd3 = Vc + Vsw  Força cortante resistente de cálculo, relativa
à ruína por tração diagonal. • Verificação de compressão na biela.
Vc  Parcela de força cortante absorvida por mecanismos • Cálculo da armadura transversal.
complementares ao de treliça, ou seja, equivalente a resistência • Deslocamento “al” do diagrama de força no banzo
ao cisalhamento da seção sem armadura transversal. tracionado.
Vsw  Parcela de força absorvida pela armadura transversal.

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■ Dimensionamento através do modelo de cálculo I Para não ocorrer o esmagamento das diagonais comprimidas
deve-se ter:
● Verificação da compressão na biela

Independente da taxa de armadura transversal, deve ser


verificada a condição: ● Cálculo da armadura transversal

Além da verificação da compressão na biela, deve ser satisfeita a


De acordo com a norma, no modelo de cálculo I, temos: condição:

Onde: A parcela “Vc” referente à parte da força cortante absorvida pelos


mecanismos complementares ao de treliça é definida como:
 fck em MPa
a) Elementos tracionados quando a linha neutra se situa fora da
seção:
 fck em kN/cm2

b) Elementos na flexão simples e na flexo-tração com a linha Onde:


neutra cortando a seção:
M0  Momento fletor que anula a tensão normal de compressão
na borda da seção (tracionada por Md,máx), provocada pelas
Onde: forças normais de diversas origens simultâneas com VSd.

MSd,máx  Momento fletor de cálculo, máximo no trecho em


em “MPa” análise, que pode ser tomado como o de maior valor no semi-
tramo considerado.

Com o valor de “Vc” conhecido, calcula-se a parcela do esforço


cortante “VSw” a ser resistida pela armadura transversal,
c) Elementos na flexo-compressão: considerando-se “VRd3 = VSd”, temos:

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De acordo com a norma, para o modelo de cálculo I, temos: ■ Dimensionamento através do modelo de cálculo II
Ao admitir ângulos θ inferiores a 45° a norma adota a chamada
treliça generalizada.
● Verificação da compressão na biela
435 MPa = 43,5 kN/cm2 Independente da taxa de armadura transversal, deve ser
Onde: verificada a condição:
Asw,α  Armadura transversal total do estribo, cortando todos os
ramos verticais existentes.
α  Inclinação dos estribos. A inclinação dos estribos deve estar De acordo com a norma, no modelo de cálculo II, temos:
no intervalo: 45° ≤ α ≤ 90°.
s  Espaçamento da armadura transversal.
fywd  Tensão máxima admitida na armadura transversal. Onde:
Em geral adotam-se estribos verticais (α = 90°) e procura-se
determinar a área desses estribos por unidade de comprimento  fck em MPa
“Asw = (Asw,α)/s”, ao longo do eixo da viga.
 fck em kN/cm2

Para não ocorrer o esmagamento das diagonais comprimidas b) Elementos na flexão simples e na flexo-tração com a linha
deve-se ter: neutra cortando a seção:

c) Elementos na flexo-compressão:
● Cálculo da armadura transversal

Além da verificação da compressão na biela, deve ser satisfeita a


condição:
A seguinte lei de variação para “Vc1” deve ser considerada:

A parcela “Vc” referente à parte da força cortante absorvida pelos


mecanismos complementares ao de treliça é definida como:

a) Elementos tracionados quando a linha neutra se situa fora da Deve-se interpolar os valores intermediários de “Vc1” de maneira
seção: inversamente proporcional ao acréscimo de VSd .

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Sabe-se que, para valores de “Vc0” temos: Interpolação para determinação do valor de “Vc1”

Onde:

em “MPa”

O valor de “Vc1” pode ser calculado a partir a equação:

Temos: De acordo com a norma, para o modelo de cálculo II, temos:

M0  Momento fletor que anula a tensão normal de compressão


na borda da seção (tracionada por Md,máx), provocada pelas
forças normais de diversas origens simultâneas com VSd. 435 MPa = 43,5 kN/cm2
Onde:
MSd,máx  Momento fletor de cálculo, máximo no trecho em Asw,α  Armadura transversal total do estribo, cortando todos os
análise, que pode ser tomado como o de maior valor no semi- ramos verticais existentes.
tramo considerado. θ  Inclinação da diagonal comprimida.
α  Inclinação dos estribos. A inclinação dos estribos deve estar
Com o valor de “Vc1” conhecido, calcula-se a parcela do esforço no intervalo: 45° ≤ α ≤ 90°.
cortante “VSw” a ser resistida pela armadura transversal, s  Espaçamento da armadura transversal.
considerando-se “VRd3 = VSd”, temos: fywd  Tensão máxima admitida na armadura transversal.
Em geral adotam-se estribos verticais (α = 90°) e procura-se
determinar a área desses estribos por unidade de comprimento
“Asw = (Asw,α)/s”, ao longo do eixo da viga.

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► Armadura transversal mínima Valores de “ρsw,min” (%)

Para garantir ductilidade à ruína por cisalhamento, a armadura


transversal deve ser suficiente para suportar o esforço de tração
resistido pelo concreto na alma, antes da formação de fissuras de
cisalhamento. A norma estabelece a seguinte equação para a
taxa geométrica “ρsw”, constituída por estribos:

A armadura mínima é calculada por:


Onde “fywk” é a resistência característica de escoamento da
armadura transversal.

A a taxa mínima “ρsw,min” da armadura transversal depende das ► Força mínima relativa a taxa mínima
resistências do concreto e do aço e possuem valores tabelados.
A força cortante solicitante “VSd,min” relativa à taxa mínima será:

► Disposições construtivas – Detalhamento dos estribos b) Espaçamento longitudinal mínimo e máximo

As armaduras destinadas a resistir aos esforços de tração O espaçamento mínimo entre estribos, na direção longitudinal da
provocados por forças cortantes podem ser constituídas por viga, deve ser suficiente para a passagem do vibrador, garantindo
estribos. um bom adensamento. Adotando-se uma folga de 1 cm para a
passagem do vibrador, o espaçamento mínimo fica:
a) Diâmetro mínimo e diâmetro máximo

● O diâmetro dos estribos devem estar no intervalo: Para que não ocorra ruptura por cisalhamento nas seções entre
5 mm ≤ φt ≤ bw /10. os estribos, o espaçamento máximo deve atender às seguintes
condições:
● Quando a barra for lisa, temos: φt ≤ 12 mm.

● No caso de estribos formados por telas soldadas, temos:


φt,min = 4,2 mm

Desde que sejam tomadas precauções contra a corrosão da


armadura.

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O espaçamento transversal “st” entre ramos sucessivos da armadura e) Decalagem
constituída por estribos não deve exceder os seguintes valores: ● Modelo de cálculo I
A equação para determinação do deslocamento “al” a ser aplicado no
diagrama de momentos fletores, para o modelo de cálculo I, será:

c) Ancoragem
Os estribos para cisalhamento devem ser fechados através de um ● Modelo de cálculo II
ramo horizontal, envolvendo as barras da armadura longitudinal de A equação para determinação do deslocamento “al” a ser aplicado no
tração, e ancorados na face oposta. diagrama de momentos fletores, para o modelo de cálculo II, será:
● Vigas bi-apoiadas  Os estribos podem ser abertos na face
superior, com ganchos nas extremidades.
● Vigas em balanço ou contínuas  Devem ser adotados estribos
fechados tanto na face inferior quanto na superior. Para os modelos de cálculo I e II, a decalagem do diagrama de força no
d) Emendas banzo tracionado pode também ser obtida simplesmente aumentando a
força de tração, em cada seção, pela expressão:
As emendas por transpasse são permitidas apenas quando os
estribos forem constituídos por telas ou por barras de alta aderência.

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