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Campus Fortaleza
Departamento de Artes
Curso de Licenciatura em Artes Visuais
Filosofia da Arte
Prof. William Moreno
Aluna: Renata Andrade Frota
Matrícula: 20181014040320
1. INTRODUÇÃO
2. DESENVOLVIMENTO
Sendo assim, é a partir da verdade e do bem que se pode falar de beleza em Platão.
É um tripé que compõe o mundo das ideias, da forma: verdade, bem e beleza. O
conhecimento, a sabedoria é da ordem do que é verdadeiro, portanto é bom, logo, belo. A
beleza está na razão. “A Beleza é o brilho da Verdade” (PLATÃO apud. SUASSUNA,
2013, p. 28), pontua. Daí o problema de Platão com os artistas. Para o filósofo, a arte que
está atrelada a ordem do sensível, do mundo imperfeito, da ruína. Mundo ilusório, sombra
daquilo que real. Mentiroso, pois imita. Se é falso, não é belo. Por isso, em sua obra A
República, ele elenca uma série de restrições aos artistas e decide expulsar o poeta da
cidade.
(...) se viesse à nossa cidade algum indivíduo dotado da habilidade de assumir
várias formas e de imitar todas as coisas, e se propusesse a fazer uma
demonstração pessoal com seu poema, nós o reverenciaríamos como a um ser
sagrado, admirável e divertido, mas lhe diríamos que em nossa cidade não há
ninguém como ele nem é conveniente haver; e, depois de ungir-lhe a cabeça
com mirra e de adorná-lo com fitas de lã, o poríamos no rumo de qualquer
outra cidade. Para nosso uso, teremos de recorrer a um poeta ou contador de
histórias mais austero e menos divertido, que corresponda aos nossos
desígnios, só imite o estilo moderado e se restrinja na sua exposição a copiar
os modelos que desde o início estabelecemos por lei, quando nos dispusemos
a educar nossos soldados.
(DUARTE (org.), 2012, pg. 14)
Aristóteles, por sua vez, embora discípulo de Platão, vem quebrar a lógica de seu
mestre. Sua concepção de beleza não se atrelará a uma noção de sublime, ideal, mas a
noção de harmonia, proporção, grandeza. O belo para Aristóteles se dá numa perspectiva
realista, concreta. Dentro dessa lógica, em sua obra Poética, o filósofo vai pensar a
Estética tanto por meio da Tragédia, sendo esta relacionada ao belo, como, inclusive, pela
sua oposição, a Comédia, que trabalha a desordem, o feio.
A relação que Aristóteles faz da Comédia, que é da ordem do feio, com a Estética
dá indícios, bem como início, de uma fissura no campo estético, compreendido apenas
como o campo do belo. Aqui se começa uma virada na compreensão de Estética.
Salto agora da História Antiga para início da Modernidade. Esse salto, longo,
prevê uma mudança significativa na forma de se compreender o mundo, portanto, a
Estética aqui já não é mais a mesma dos períodos clássicos. A partir da rachadura
provocada por Aristóteles, que ficará mais evidente em Kant (que tratarei na sequência),
o belo passará a ser entendido como uma das categorias da Estética. Esta, por sua vez,
mais adiante será pensada não mais enquanto filosofia, porém, enquanto ciência.
Mas para conseguir se apreender Kant é preciso percorrer outro pensador, David
Hume. O filósofo irá pensar estética a partir de uma abordagem cética sobre a questão de
juízo de gosto (DUARTE [org.], 2012). Em sua obra Do padrão do gosto, Hume colocará
que tanto a noção de beleza quanto a noção de deformidade se darão de modo singular
para cada pessoa, a partir do modo cada um sente em relação a tais noções. Se dará a
partir do gosto, que é heterogêneo, diverso. Sendo assim, nada poderia ser absolutamente
classificado como belo ou como feio. Tais concepções são relativas.
Por sua vez, os mil e um sentimentos diferentes despertados pelo mesmo objeto
são todos certos, porque nenhum sentimento representa o que realmente está
no objeto. Ele se limita a assinalar uma certa conformidade ou relação entre o
objeto e os órgãos ou faculdades do espírito, e, se essa conformidade realmente
não existisse, o sentimento jamais teria sido despertado. A beleza não é uma
qualidade das próprias coisas; ela existe apenas no espírito que as contempla,
e cada espírito percebe uma beleza diferente.
(2012, pgs. 74 e 75)
É a partir dessa noção de gosto esboçada por Hume que será possível compreender
a virada violenta que Kant dará no campo estético. A partir dessa noção de gosto que
Hume fala, Kant colocará que os problemas apresentados pela Estética são
insolucionáveis, uma vez que o juízo estético é relativo. Ele se dá de acordo com o gosto,
com a apreciação de cada sujeito. A forma como este sujeito reage a determinado objeto,
para Kant, não emite conceito, decorre “(...) de uma simples reação pessoal do
contemplador diante do objeto, e não de propriedades deste.” (SUASSUNA, 2013, p. 38).
Somente emite um conceito o juízo do conhecimento, uma vez que este, sim, diz respeito
a uma propriedade do objeto. Como por exemplo: “a bola é azul”.
A partir daí, Kant emite quatro paradoxos, que caracterizarão o que ele conceitua
como Beleza: ela é universal sem conceito (uma vez que seu julgamento é relativo); ela
é uma necessidade subjetiva, que aparece como objetiva; trata-se de um prazer
desinteressado e é “a satisfação determinada pelo juízo de gosto é uma finalidade sem
fim” (KANT apud SUASSUNA, 2013, p. 41).
Em suma: a Beleza, de modo livre, é desinteressada, não se propõe assinalar uma
propriedade do objeto, se dá de modo objetivo por uma relação de prazer com o objeto
que se contempla.
Por fim, na via oposta de Kant e em uma crítica a este, temos o pensamento de
Hegel. Seu trabalho resgata uma perspectiva platônica da Beleza ao relacioná-la com a
Verdade e por pensá-la por um viés racionalista, bem como idealista extremado. No
entanto, sua concepção de Beleza, bem como de Verdade difere bastante da esboçada pelo
grego. Para Hegel, a beleza artística se sobressai à beleza natural – noção completamente
oposta a visão platônica -, uma vez que esta se trata de uma produção do espírito e na
produção deste espírito, no caráter de Ideia e é na Ideia (ou espírito Absoluto) que mora
a Verdade.
A arte é a manifestação sensível do espírito absoluto. Obviamente, não toda a
arte manifesta-o no mesmo grau. Algumas são limitadas por sua própria
natureza expressiva. Por outro lado, o fato mesmo de a arte estar circunscrita
ao sensível impõe a sua superação por outra manifestação do espírito com um
grau mais elevado de abstração (a saber, a filosofia).
(DUARTE [org.], 2012, p. 133)
3. CONCLUSÃO
Por meio do debate teórico percebe-se que a noção de estética se altera ao longo
da história. Do seu início grego, no qual estava apenas atrelada somente a um conceito de
filosofia da beleza, do belo, em que a beleza da natureza se sobressaia a beleza da arte, a
noção de estética foi sendo associada a um saber científico e abrangendo não somente a
noção de belo, mas a noção do disforme, do feio, da desordem do desprazer. Após Kant,
a estética vai saindo do lugar de filosofia da arte e do belo e se colocando enquanto
ciência.
Tais mudanças nas concepções estéticas influenciam diretamente na fruição da
arte, como se pode perceber por meio da obra aqui analisada. Conforme pontuei
anteriormente, Paratudo só pode ser entendida enquanto arte justamente por esse
deslocamento de perspectiva do que se trata a beleza, a arte, enfim a estética.
4. REFERÊNCIAS