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SEDUC-CE

Professor de História

1 Concepções do pensamento histórico, a dinâmica historiográfica e sua influência no ensino da


história. 1.1 Memória, oralidade e cotidiano no ensino de História. 1.2 Currículo: cultura, gênero, direitos
humanos, meio ambiente, história local e diversidade étnico racial no ensino de História, novas
abordagens teóricas e metodológicas no ensino de História. 1.3 Novas tecnologias de comunicação e
informação no ensino de História. 1.4 Aspectos avaliativo no ensino de História ..................................... 1
2 História Natural e História Social. 2.1 O processo de humanização e a dinâmica da formação das
sociedades humanas na Pré-história. 2.2 A Organização sócio-política, econômica, cultural religiosa do
Egito, Núbia, Kush, Ménroe, Napata, Mesopotâmia, Palestina, Fenícia, Pérsia, Grega e Romana, sua
dinâmica, relações, rupturas e transformações ...................................................................................... 17
3 A organização sócio-política, econômica, cultural religiosa da sociedade europeia do século V ao XV
sua dinâmica, relações, rupturas e transformações. 3.1 A Cristianização da Europa. 3.2 A sociedade
Oriental, o Islamismo e a islamização da Arábia e África. 3.3 Os reinos africanos no século V ao XV. .. 46
4 Dinâmica, relações, rupturas e transformações da sociedade europeia do século XV ao XVIII. 4.1 As
civilizações e organizações políticas pré-coloniais Mali, Congo e Zimbabwe. 4.2 Escravidão e diáspora
dos povos africanos................................................................................................................................ 61
5 Dinâmica, relações, rupturas e transformações da sociedade europeia, americana, africana e asiática
do século XVIII a contemporaneidade. 5.1 Escravidão e resistência negra e indígena no Brasil e Ceará
Colonial. 5.2 As tecnologias de agricultura, de beneficiamento de cultivo, de mineração e de edificações
trazidas pelos escravizados, bem como a produção científica, artística (artes plásticas, literatura, música,
dança, teatro) política. 5.3 Cultura e religiosidade africana e indígena no Brasil e Ceará Colonial. 5.4
Movimento de independência no Brasil e Ceará Colonial. 5.5 Organização sóciopolítica, econômica e
cultural no Império: Primeiro e Segundo Reinado e participação do Ceará. 5.6 As revoluções sociais:
Cabanagem, Balaiada, Farroupilha, Sabinada, Revolta dos Malês, Quebra Quilo; Abolição e Movimento
Republicano no Brasil e Ceará. 6 Dinâmica, relações, rupturas e transformações da organização sócio-
política, econômica e cultural no Brasil e Ceará na República ................................................................ 61
7 Atualidades ................................................................................................................................... 149
8 Competências e habilidades propostas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio
para a disciplina de História.................................................................................................................. 218

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Candidatos ao Concurso Público,
O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail professores@maxieduca.com.br para dúvidas
relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um bom
desempenho na prova.
As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao entrar
em contato, informe:
- Apostila (concurso e cargo);
- Disciplina (matéria);
- Número da página onde se encontra a dúvida; e
- Qual a dúvida.
Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados. O
professor terá até cinco dias úteis para respondê-la.
Bons estudos!

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1 Concepções do pensamento histórico, a dinâmica historiográfica e sua
influência no ensino da história. 1.1 Memória, oralidade e cotidiano no ensino de
História. 1.2 Currículo: cultura, gênero, direitos humanos, meio ambiente,
história local e diversidade étnico racial no ensino de História, novas
abordagens teóricas e metodológicas no ensino de História. 1.3 Novas
tecnologias de comunicação e informação no ensino de História. 1.4 Aspectos
avaliativo no ensino de História

Caro(a) candidato(a), antes de iniciar nosso estudo, queremos nos colocar à sua disposição, durante
todo o prazo do concurso para auxiliá-lo em suas dúvidas e receber suas sugestões. Muito zelo e técnica
foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida
conceitual. Em qualquer situação, solicitamos a comunicação ao nosso serviço de atendimento ao cliente
para que possamos esclarecê-lo. Entre em contato conosco pelo e-mail: professores@maxieduca.com.br

* Candidato(a). Os conteúdos do Tópico 1 e do Tópico 8 (Competências e Habilidades...) se


completam. Para que o material não fique repetitivo, focaremos aqui nas Orientações Curriculares
Nacionais para o Ensino de História e no Tópico 8 trabalharemos com o texto dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, como sugerido pelo edital. Apenas não se esqueça que ambos se
completam nesses dois tópicos, os manteremos na íntegra em cada pedaço para evitar confusão
entre seus conteúdos.

Conhecimentos de História (OCN Ensino Médio)


Por que História

“Papai, então me explica para que serve a História”


Marc Bloch

Milhares são os jovens que, como o garoto do qual fala Marc Bloch na introdução do seu livro, escrito
em 1943, Apologia da História ou o ofício de historiador, dirigem essa questão ao seu professor de
História. Responder aos jovens essa questão requer muito mais do que saber falar a eles com clareza,
simplicidade e correção sobre o que é a História. Requer oferecer-lhes condições para refletirem
criticamente sobre suas experiências de viver a história e para identificarem as relações que essas
guardam com experiências históricas de outros sujeitos em tempos, lugares e culturas diversas das suas.
Os jovens vivem e participam de um tempo de múltiplos acontecimentos que precisam ser
compreendidos na sua historicidade. No entanto, a compreensão da historicidade dos acontecimentos
tem sido dificultada não só pela sua quantidade e variedade, mas também pela velocidade com que se
propagam por meio das tecnologias da informação e da comunicação. O acúmulo e a velocidade dos
acontecimentos afetam não só os referentes temporais e identitários, os valores, os padrões de
comportamento, construindo novas subjetividades, como também induzem os jovens a viverem, como diz
Hobsbawm (1995), “numa espécie de presente contínuo” e, portanto, com fracos vínculos entre a
experiência pessoal e a das gerações passadas.
Auxiliar os jovens a construírem o sentido do estudo da História constitui, pois, um desafi o que requer
ações educativas articuladas. Trata-se de lhes oferecer um contraponto que permita ressignifi car suas
experiências no contexto e na duração histórica da qual fazem parte, e também apresentar os
instrumentos cognitivos que os auxiliem a transformar os acontecimentos contemporâneos e aqueles do
passado em problemas históricos a serem estudados e investigados.
Com essa nova versão dos parâmetros curriculares de História, procura-se buscar a sintonia com os
anseios dos professores quanto a suas visões a respeito das necessidades de formação dos jovens do
nosso tempo e com suas concepções a respeito da História e do seu ensino.

O currículo do ensino médio e a disciplina História


Cada disciplina que compõe o currículo do ensino médio pode ser comparada a uma peça que é parte
inseparável de um conjunto. A História adquire seu pleno sentido para o ensino-aprendizagem quando
procura contribuir, com sua potencialidade cognitiva e transformadora, para que os objetivos da educação
sejam plenamente alcançados.
Auxiliar os jovens a melhor na sociedade e dela participarem de forma ativa e crítica. As concepções
e os encaminhamentos foram passando de amplas definições para concretizações mais específicas. Na

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construírem o sentido do estudo da História constitui, pois, um desafio que requer ações educativas
articuladas.
A partir dos anos 1980, o assunto “reformas do ensino” foi-se propagando cada vez mais. Assim, além
dos estudos teóricos que se produziram e de práticas renovadas e pioneiras, diversas medidas de cunho
legal foram sendo tomadas para que o ensino desempenhasse a função social que lhe cabia, no sentido
de auxiliar as pessoas a viverem a educação, definida como direito de todos e dever do Estado, recebeu
dispositivos amplos que foram detalhados na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996
(para o ensino médio, ver especialmente os Artigos 26, 27, 35 e 36); estes, por sua vez, foram ainda mais
definidos e explicitados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (1998).
Para esclarecermos qual é o papel que ocupa a disciplina História no contexto do ensino médio, é
necessário recorrer às grandes linhas que são trabalhadas nesses textos legais. Segundo a LDB, Artigo
22, as finalidades da educação, além de abrangentes, são desafiadoras: “A educação básica tem por
finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da
cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos superiores”. Já as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio estabelecem como finalidade “[...] vincular a educação com
o mundo do trabalho e a prática social, consolidando a preparação para o exercício da cidadania e
propiciando preparação básica para o trabalho” (DCNEM, Artigo 1o).
...o ensino de História, articulando-se com as outras disciplinas, busca oferecer aos alunos
possibilidades de desenvolver competências que os a prepará-lo para outra etapa escolar ou para o
exercício profissional.
A nova identidade atribuída ao ensino médio define-o, portanto, como uma etapa conclusiva da
educação básica para a população estudantil. O objetivo é o de preparar o educando para a vida, para o
exercício da cidadania, para sua inserção qualificada no mundo do trabalho, e capacitá-lo para o
aprendizado permanente e autônomo, não se restringindo sobre si mesmos.
Instrumentalizem a refle volver competências que os instrumentalizem a refletir sobre si mesmos, a se
inserir e a participar ativa e criticamente no mundo social, cultural e do trabalho. Procura-se, portanto,
contribuir para que a disparidade e as tensões existentes entre os objetivos que visam à preparação para
o vestibular, à preparação para o trabalho e à formação da cidadania possam ser atenuadas. Pretende-
se que o ensino médio atinja um grau de qualidade em que o aluno dele egresso tenha todas as condições
para enfrentar a continuidade dos estudos no ensino superior e para se posicionar na escolha das
profissões que melhor se coadunem com suas possibilidades e habilidades.
Nessa perspectiva, o ensino médio buscará, também, superar a oferta de disciplinas
compartimentadas e descontextualizadas de suas realidades sociais e culturais próximas, espacial e
temporalmente, não só no interior da área das ciências humanas, como no interior das outras áreas e
entre elas. Apontam-se como princípios estruturadores do currículo a interdisciplinaridade, a
contextualização, a definição de conceitos básicos da disciplina, a seleção dos conteúdos e sua
organização, as estratégias didático-pedagógicas. Esse conjunto de preocupações consubstancia-se,
ganha concretude e garantia de efetivação, a médio e a longo prazos, no projeto pedagógico da escola,
elaborado com a participação efetiva da direção, dos professores, dos alunos e dos agentes da
comunidade em que se situa a escola.
Para fazer frente à necessidade vital de formação para a vida, o ensino pautasse pelo conceito de
educação permanente, tendo em vista o desenvolvimento de competências cognitivas, socioafetivas,
psicomotoras e das que incentivam uma intervenção consciente e ativa na realidade social em que vive
o aluno. Dentre essas competências, podem-se enumerar, segundo as DCNEM: a autonomia intelectual
e o pensamento crítico; a capacidade de aprender e continuar aprendendo, de saber se adequar de forma
consciente às novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento, de constituir significados sobre a
realidade social e política, de compreender o processo de transformação da sociedade e da cultura; o
domínio dos princípios e dos fundamentos científico-tecnológicos para a produção de bens, serviços e
conhecimentos. O trabalho com a disciplina História estará atento ao desenvolvimento dessas
competências mais gerais e, ao mesmo tempo, à busca das competências que são específicas do
conhecimento histórico. Cabe ao professor priorizar e selecionar as competências que são mais
adequadas ao desenvolvimento de acordo com os contextos específicos da escola e dos alunos.
O princípio pedagógico da interdisciplinaridade é aqui entendido especificamente como a prática
docente que visa ao desenvolvimento de competências e de habilidades, à necessária e efetiva
associação entre ensino e pesquisa, ao trabalho com diferentes fontes e diferentes linguagens, à
suposição de que são possíveis diferentes interpretações sobre temas/assuntos. Em última análise, o que
está em jogo é a formação do cidadão por meio do complexo jogo dos exercícios de conhecimento e não
apenas a transmissão–aquisição de informações e conquistas de cada uma das disciplinas consideradas

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isoladamente. A questão da interdisciplinaridade está claramente exposta nos PCN+, Ciências Humanas,
p. 15-16.
O que é preciso compreender é que, precisamente por transcender cada disciplina, o exercício dessas
competências e dessas habilidades está presente em todas elas, ainda que com diferentes ênfases e
abrangências. Por isso, o caráter interdisciplinar de um currículo escolar não reside nas possíveis
associações temáticas entre diferentes disciplinas, que em verdade, para sermos rigorosos, costumam
gerar apenas integrações e/ou ações multidisciplinares. O interdisciplinar se obtém por outra via, qual
seja, por uma prática docente comum na qual diferentes disciplinas mobilizam, por meio da associação
ensino-pesquisa, múltiplos conhecimentos e competências, gerais e particulares, de maneira que cada
disciplina dê a sua contribuição para a construção de conhecimentos por parte do educando, com vistas
a que o mesmo desenvolva plenamente sua autonomia intelectual.
Para que o princípio pedagógico da interdisciplinaridade possa efetivamente presidir os trabalhos da
escola, faz-se necessária uma profunda reestruturação do ponto de vista organizacional, físico-espacial,
de pessoal, de laboratórios, de materiais didáticos. Daí o poder estratégico do projeto político-pedagógico
da escola como instrumento capaz de mobilizar o conjunto dos profissionais que nela trabalham, assim
como a comunidade, para que se possam conseguir as condições que possibilitem implantar as reformas
pedagógicas preconizadas.
Outro eixo estruturador do currículo, a contextualização, é entendido como o trabalho de atribuir
sentido e significado aos temas e aos assuntos no âmbito da vida em sociedade. Os conhecimentos
produzidos pelos estudiosos da História e do ensino da História, no âmbito das universidades, por
exemplo, são referências importantes para a construção dos conhecimentos escolares na dimensão da
sala de aula.
Nessa compreensão, portanto, a referência à contextualização vai muito além daquela intenção de
“situar” fatos e acontecimentos que estão sendo estudados na pretensa referência a aspectos gerais de
uma situação histórica, externos à produção do conhecimento em pauta, como se fosse necessário
descrever o “pano de fundo” no qual eles estariam “inseridos”. Evita-se, também, entender a
contextualização como se fosse apenas e tão-somente a referência a temas específicos e candentes do
cotidiano dos alunos. Estes poderão e deverão ser pontos de partida para a problematização do trabalho
com a História, mas isso não substitui a dimensão temporal da realidade humana. Como se afirma nas
DCNEM: “A relação entre teoria e prática requer a concretização dos conteúdos curriculares em situações
mais próximas e familiares do aluno, nas quais se incluem as do trabalho e do exercício da cidadania”
(Artigo 9o, II). Cabe ainda lembrar que o trabalho de contextualização busca compreender a correlação
entre as dimensões de realidades local, regional e global, sem o que se torna impossível compreender o
real significado da vida cotidiana do aluno do ponto de vista histórico.

A HISTÓRIA NO ENSINO MÉDIO

Questões de conteúdo
Seria muito difícil chegar a um acordo sobre os assuntos, temas ou objetos de estudo que deveriam
fazer parte do currículo de História. E ainda é mais complexo e arbitrário direcionar a escolha para uma
ou outra opção teórico-metodológica, seja em relação ao conhecimento histórico seja em relação aos
posicionamentos didático-pedagógicos. Além de sua quase infinita variedade, pois o objeto da História
são todas as ações humanas na dimensão do tempo, a escolha dos temas, dos assuntos ou dos objetos
consagrados pela historiografia depende necessariamente de posições metodológicas assumidas ou
mesmo de preferências ideológicas. Em vista disso, no caso da História, optou-se por apresentar como
parâmetros os conceitos básicos que sustentam o conhecimento histórico e podem articular as práticas
dos professores em sala de aula.
Alguns conceitos básicos do conhecimento histórico fazem parte do arcabouço constituído, ao longo
dos tempos, pela prática dos historiadores. Paulatinamente, o processo do conhecimento histórico foi
tomando formas que o diferenciaram do de outras disciplinas cognitivas também elaboradas segundo
métodos rigorosos.
Os posicionamentos ideológicos ou as proposições de ordem metodológica, não há como não trabalhar
com esses conceitos, ou, pelo menos, com uma parte importante deles. O que diferencia as diversas
concepções de História é a forma como esses conceitos e procedimentos são entendidos e trabalhados.
As propostas pedagógicas, sejam elas quais forem, têm um compromisso implícito com essas práticas
historiográficas ao produzirem o conhecimento histórico escolar, resguardadas as devidas
especificidades e particularidades.
Importa perceber quais conceitos e procedimentos de análise e interpretação, construídos e
empregados na e pela prática da produção do conhecimento, são imprescindíveis para permitir aos alunos

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do ensino básico apropriarem-se de uma formação histórica que os auxilie em sua vivência como
cidadãos. Para iniciar o aluno nos processos de ensino-aprendizagem, sugere-se uma reflexão sobre
alguns conceitos e procedimentos do conhecimento histórico considerados fundamentais. A partir dessas
considerações, é possível iniciar um debate construtivo para corrigir, redimensionar, confirmar, ampliar e
sugerir outras possibilidades.
É preciso levar em consideração, em primeiro lugar, que os conceitos históricos somente podem ser
entendidos na sua historicidade. Isso quer dizer que os conceitos criados para explicar certas realidades
históricas têm o significado voltado para essas realidades, sendo equivocado empregá-los indistintamente
para toda e qualquer situação semelhante. Dessa forma, os conceitos, quando tomados em sua acepção
mais ampla, não podem ser utilizados como modelos, mas apenas como indicadores de expectativas
analíticas. Ajudam-nos e facilitam o trabalho a ser realizado no processo de conhecimento, na indagação
das fontes e na compreensão de realidades históricas específicas.
Registre-se que é possível distinguir os “conceitos”, na escala de compreensão, entre aqueles que são
mais abrangentes e os que se referem a realidades mais especificamente determinadas. Quando se
atribui ao conceito uma compreensão mais ampla, relacionada a realidades histórico-sociais semelhantes,
esse pode receber a denominação de “categoria”. Por exemplo, as categorias trabalho, homem,
continente, revolução, etc. Nesse sentido, os conceitos ou categorias são abertos, são vetores à espera
de concretizações, a serem elaborados por meio de conhecimentos específicos, de acordo com os
procedimentos próprios da disciplina História. No momento em que se atribui a essas categorias suas
especificidades históricas, como trabalho assalariado, trabalho servil, trabalho escravo, por exemplo, já
se está lidando com conceitos que, por sua vez, poderão receber ainda mais especificações, como
trabalho servil na Germânia, na Francônia, e assim por diante; a revolução socialista, a revolução
industrial, etc. Não se pode usar indevidamente o caráter universal que o conceito efetivamente tem para
tirar-lhe a historicidade. Não seria conveniente, por exemplo, atribuir à “democracia” uma dimensão
essencialista, como se ela existisse à guisa de modelo a ser imitado. O que existe são democracias
historicamente praticadas na Grécia, no século XIX, a democracia liberal, a socialista, a brasileira atual,
etc. Os conceitos propriamente ditos seriam, então, considerados representações de um objeto ou
fenômeno histórico por meio de suas características.
Tendo como referência os princípios anteriormente enunciados para o ensino médio (competências,
interdisciplinaridade, contextualização), apresenta-se a seguir uma proposta de explicitação dos
conceitos estruturadores para a disciplina História.

História
O conceito “história” tem sido tomado em um duplo significado. Sob um aspecto, história são todas as
ações humanas realizadas no decorrer dos tempos, independentemente de terem sido ou não objeto de
conhecimento dos estudiosos. É o que se poderia chamar de matéria-prima para o trabalho dos
historiadores, que, por sua vez, foram construindo suas representações cognitivas. A essas
representações cognitivas dá-se o nome de História, em geral grafada com maiúscula para distinguir da
história como acontecimento. O objetivo primeiro do conhecimento histórico é a compreensão dos
processos e dos sujeitos históricos, o desvendamento das relações que se estabelecem entre os grupos
humanos em diferentes tempos e espaços. Os historiadores estão atentos às diferentes e múltiplas
possibilidades e alternativas que se apresentam nas sociedades, tanto nas de hoje quanto nas do
passado, as quais emergiram da ação consciente ou inconsciente dos homens. Procuram apontar,
também, os desdobramentos que se impuseram com o desenrolar das ações desses sujeitos.
Um dos objetivos do ensino de História, talvez o primeiro e o que condiciona os demais, é levar os
alunos a considerarem como importante a apropriação crítica do conhecimento produzido pelos
historiadores, que está contido nas narrativas de autores que se utilizam de métodos diferenciados e
podem até mesmo apresentar versões e interpretações díspares sobre os mesmos acontecimentos. Essa
leitura crítica presidirá também os materiais didáticos colocados à disposição dos alunos, especialmente
os livros didáticos.
A aprendizagem de metodologias apropriadas para a construção do conhecimento histórico, seja no
âmbito da pesquisa científica seja no do saber histórico escolar, torna-se um mecanismo essencial para
que o aluno possa apropriar-se de um olhar consciente no que tange à sociedade e a si mesmo. Ciente
do caráter provisório do conhecimento, o aluno terá condições de se exercitar nos procedimentos próprios
da História: problematização das questões propostas; delimitação do objeto; estudo da bibliografia
produzida sobre o assunto; busca de informações; levantamento e tratamento adequado das fontes;
percepção dos sujeitos históricos envolvidos (indivíduos, grupos sociais); estratégias de verificação e
confirmação de hipóteses; organização dos dados coletados; refinamento dos conceitos (historicidade);

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proposta de explicação dos fenômenos estudados; elaboração da exposição; redação de textos. Dada a
complexidade do objeto de conhecimento, é imprescindível que se incentive a prática interdisciplinar.
Faz parte da construção do conhecimento histórico, no âmbito dos procedimentos que lhe são próprios,
a ampliação do conceito de fontes históricas que podem ser trabalhadas pelos alunos: documentos
oficiais; textos de época e atuais; mapas; gravuras; imagens de histórias em quadrinhos; poemas; letras
de música; literatura; manifestos; relatos de viajantes; panfletos; caricaturas; pinturas; fotos; reportagens
e matérias veiculadas por rádio e televisão; depoimentos provenientes da pesquisa levada a efeito pela
chamada História oral, etc. O importante é que se alerte para a necessidade de as fontes receberem um
tratamento adequado, de acordo com sua natureza.
É preciso deixar claro, porém, que o ensino básico não se propõe a formar “pequenos historiadores”.
O que importa é que a organização dos conteúdos e a articulação das estratégias de trabalho levem em
conta esses procedimentos para a produção do conhecimento histórico. Com isso, evita-se passar para
o educando a falsa sensação de que os conhecimentos históricos existem de forma acabada, e assim
são transmitidos.

Processo histórico
A História busca explicar tanto as permanências e as regularidades das formações sociais quanto as
mudanças e as transformações que se estabelecem no embate das ações humanas. A descrição factual
e linear dos acontecimentos não leva a um conhecimento significativo. Na verdade, o passado humano
constitui um conjunto de comportamentos intimamente interligados que tem uma razão de ser, ainda que,
no mais das vezes, imperceptível aos nossos olhos. O processo histórico resulta da captação cognitiva
dessas práticas, ordenadas e estruturadas de maneira racional agentes históricos são pelos historiadores.
Parte-se do princípio de o ponto de partida para que não há caminhos preestabelecidos para entendermos
os processos da História, seja no sentido idealista seja nas concepções de etapas predeterminadas pelas
quais a humanidade deva trilhar. Assim, são os problemas que os indivíduos e as sociedades colocam
constantemente a si mesmos, na trajetória da trama social que é por princípio indeterminada, que fazem
com que os homens optem pelos caminhos possíveis e desenhem os acontecimentos que passam a ser
registrados. Os registros ou as evidências da luta dos agentes históricos são o ponto de partida para se
entenderem os processos históricos.
Deve-se ressaltar, igualmente, que o conceito de processo histórico supõe a enunciação resultante de
uma construção cognitiva dos estudiosos. No entanto, embora os processos não tenham existido
exatamente como descritos, eles são sedimentados na realidade social. A dimensão de elaboração no
sentido de uma aquisição cognitiva em permanente construção permite entender a possibilidade das
diversas interpretações do passado histórico, dependentes de posicionamentos teóricos e metodológicos
diferenciados.
Assim, a História, concebida como processo, intenta aprimorar o exercício da problematização da vida
social como ponto de partida para a investigação produtiva e criativa, buscando identificar relações sociais
de grupos locais, regionais, nacionais e de outros povos; perceber diferenças e semelhanças,
conflitos/contradições e solidariedades, igualdades e desigualdades existentes nas sociedades; comparar
problemáticas atuais e de outros momentos, posicionar-se de forma analítica e crítica diante do presente
e buscar as relações possíveis com o passado.
Nesse quadro conceitual de processo, dimensiona-se a compreensão do conceito de “fato histórico”,
de “acontecimento”, que resulta de uma construção social da qual faz parte o historiador e tem importância
fundamental, como ponto referencial das relações sociais, no cotidiano da História. No entanto, o sentido
pleno dos acontecimentos, em sua dimensão micro, resolve-se quando remetido aos processos que lhe
emprestam as possibilidades explicativas. Enfim, o fato histórico toma sentido se considerado como
constitutivo dos processos históricos, e nessa escala deve ser compreendido.

Tempo (temporalidades históricas)


A dimensão da temporalidade é considerada uma das categorias centrais do conhecimento histórico.
Considera-se fundamental levar o aluno a perceber as diversas temporalidades no decorrer da História e
sua importância nas formas de organizações sociais e de conflitos. Sendo um produto cultural forjado
pelas necessidades concretas das sociedades historicamente situadas, o tempo representa um conjunto
complexo de vivências humanas. Por isso a necessidade de relativizar as diferentes concepções de
tempo e as periodizações propostas, e de situar os acontecimentos históricos nos seus respectivos
tempos. É de se ressaltar a importância das periodizações, dos calendários e das contagens dos tempos
como foram sendo historicamente construídos para que o aluno elabore, de forma problematizada, seus
próprios pontos de referência como marcos para as explicações de sua própria história de vida, assim

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como da história dos homens em geral. O tempo pode ser considerado o estruturador do pensamento e
da ação humanos.
O conceito de tempo supõe também que se estabeleçam relações entre continuidade e ruptura,
permanências e mudanças/transformações, sucessão e simultaneidade, o antes, o agora e o depois.
Sendo assim, é necessário lembrar que o tempo histórico não tem uma dimensão homogênea, mas
comporta durações variadas, como tem sido largamente discutido na historiografia. Eis a importância de
se considerarem os diversificados ritmos do tempo histórico quando situados na duração dos fenômenos
sociais e naturais. É justamente a compreensão dos fenômenos sociais na duração temporal que permite
o exercício explicativo das periodizações. Essas são frutos de concepções de mundo, de metodologias e
até mesmo de ideologias diferenciadas.
As considerações sobre a riqueza e a complexidade do conceito de tempo são imprescindíveis para
que sejam evitados os anacronismos, não tão raros, nas explicações históricas. O anacronismo consiste
em atribuir a determinadas sociedades do passado nossos próprios sentimentos ou razões, e, assim,
interpretar essas ações ou aplicar critérios e conceitos que foram elaborados para uma determinada
época, em circunstâncias específicas, para avaliar outras épocas de características diferentes.

Sujeitos históricos
Perceber a complexidade das relações sociais presentes no cotidiano e na organização social mais
ampla permite indagar qual o lugar que o indivíduo ocupa na trama da História e como são construídas
as identidades pessoais e as sociais, em dimensão temporal. Os sujeitos históricos, que se configuram
na inter-relação complexa, duradoura e contraditória das identidades sociais e pessoais, são os
verdadeiros construtores da História.
Conceber a História como resultado da ação de sujeitos históricos significa não atribuir o desenrolar
do processo como vontade de instituições, tais como o Estado, os países, a escola, etc., ou como
resultante do jogo de categorias de análise (ou conceitos): sistemas, capitalismo, socialismo, etc. É
perceber também que a trama histórica não se localiza nas ações individuais, mas no embate das
relações sociais no tempo.

Trabalho
A categoria “trabalho” é aqui entendida como um modo de sustentação e autopreservação do gênero
humano, que se expressa nas transformações impostas pelo homem à natureza e às formações sociais
e culturais historicamente construídas. Trata-se de conceito fundamental para a compreensão da
formação e do fazer histórico da humanidade em toda a sua diversidade.
Entende-se o trabalho na sua diversidade social, econômica, política e cultural, pois o trabalho não se
refere somente às formas de produzir formalmente e historicamente aceitas nas diversas sociedades
históricas, tais como a escravidão, a servidão e o trabalho assalariado, mas também ao trabalho
relacionado à esfera doméstica, à prática comunitária, às manifestações artísticas e intelectuais, à
participação nas instâncias de representação políticas, trabalhistas, comunitárias e religiosas. Essas
diferentes formas de produzir e organizar a vida individual e coletiva intercambiam-se com diversas
perspectivas ou abordagens. Dentre elas podem-se destacar as de gênero (a participação das mulheres
e dos homens nas relações entre trabalho formal, informal e doméstico); de parentesco ou de comunidade
(posição dos membros na hierarquia da família e da comunidade relacionados a sua ocupação
profissional); de geração (as transformações históricas na relação entre o trabalho formalmente aceito em
uma sociedade e o trabalho infantil, além do trabalho como formação educativa nas dimensões professor/
aluno, mestre/aprendiz, entre outras); e de poder (tensões e conflitos entre os diferentes agentes sociais,
profissionais e políticos).

Poder
O poder pode ser entendido como o complexo de relações entre os sujeitos históricos nas diversas
formações sociais e nas relações entre as sociedades. Articula-se com todos os conceitos presentes
neste documento, pois as relações de poder permeiam o processo de construção do conhecimento
histórico e são um dos fatores de significação que delimitam o que seria a consciência histórica, que
marca os diversos modos da apreensão e da construção do mundo historicamente constituído e suas
respectivas interpretações. Além disso, o exercício do poder encontra-se presente nos usos sociais que
se fazem da História tanto para legitimar poderes quanto para execrar o passado de inimigos políticos,
sociais ou de qualquer outra natureza.
As relações de poder são exercidas nas diversas instâncias das sociedades históricas, como as do
mundo do trabalho e as das instituições, como, por exemplo, as escolas, as prisões, as fábricas, os
hospitais, as famílias, as comunidades, os Estados nacionais, as Igrejas e os organismos internacionais

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políticos, econômicos e culturais, os quais se transformam na sua relação com as formações sociais
historicamente constituídas. É na inter-relação entre essas instituições (sociais, políticas, étnicas e
religiosas) e nas relações de dominação, hegemonia, dependência, convencimento, submissão,
resistência, convivência, autonomia e independência entre elas que se torna possível a compreensão de
suas construções políticas como algo próprio da formação histórica do ser humano. Não se pode esquecer
também o processo de invenção das tradições, que expressa muito bem as articulações entre mudanças
e permanências no campo das relações políticas.
Nesse aspecto, o conceito de poder facilita o entendimento da construção histórica do conceito de
cidadania e do processo de constituição da participação política nas mais diversas instituições marcadas
por consensos, tensões e conflitos revelados em toda a sua historicidade.

Cultura
A ampliação do conceito de cultura, fruto da aproximação das disciplinas História e Antropologia,
enriquece o âmbito das análises, caminhando, de forma positiva, para a abertura do campo científico da
História Cultural. O recurso à Filosofia, por sua vez, enriquece e amplia o conceito, especialmente no que
se refere à ideia de cultura como formação advinda da “paidéia” (ligada à educação) e da cultura
humanista, renascentista e iluminista. Na articulação dessas abordagens (histórica, antropológica e
filosófica), o conceito de cultura pode alcançar maior abrangência e significado.
A cultura não é apenas o conjunto das manifestações artísticas e materiais. É também constituída
pelas formas de organização do trabalho, da casa, da família, do cotidiano das pessoas, dos ritos, das
religiões, das festas. As diversidades étnicas, sexuais, religiosas, de gerações e de classes constroem
representações que constituem as culturas e que se expressam em conflitos de interpretações e de
posicionamentos na disputa por seu lugar no imaginário social das sociedades, dos grupos sociais e de
povos.
A cultura, que confere identidade aos grupos sociais, não pode ser considerada produto puro ou
estável. As culturas são híbridas e resultam de trocas e de relações entre os grupos humanos. Dessa for
de apropriação de uns mais, podem impor padrões uns sobre os outros, ou também receber influências,
constituindo processos de apropriações de significados e práticas que contém elementos de
acomodação–resistência. Daí a importância dos estudos dos grupos e culturas que compõem a História
do Brasil, no âmbito das relações interétnicas. O estudo da África e das culturas afro-brasileiras, assim
como o olhar atento às culturas indígenas, darão consistência à compreensão da diversidade e da
unidade que fazem da História do Brasil o complexo cultural que lhe dá vida e sentido.

Memória
Um compromisso fundamental da História encontra-se na sua relação com a memória. O direito à
memória faz parte da cidadania cultural e revela a necessidade de debates sobre o conceito de
preservação das obras humanas em toda a sua diversidade étnico-cultural. A constituição do patrimônio
cultural diverso e múltiplo e sua importância para a formação de uma memória social e nacional, sem
exclusões e discriminações, são abordagens necessárias aos educandos. É necessário chamar a atenção
dos alunos para os usos ideológicos a que a memória histórica está sujeita, que muitas vezes constituem
“lugares de memória”, estabelecidos pela sociedade e pelos poderes constituídos, que escolhem o que
deve ser preservado e relembrado e o que deve ser silenciado e “esquecido” (ver PCNEM 99, p. 54).
Enfatize-se também a riqueza que o conceito de memória vem adquirindo no âmbito da História com
os trabalhos de autores estrangeiros e nacionais. Evidencia-se, por exemplo, que os lugares da memória
são criações da sociedade contemporânea para impor determinada memória, que a concepção de
memória nacional ou identidade regional constitui formas de violência simbólica que silenciam e
uniformizam a pluralidade de memórias associadas aos diversos grupos sociais. Por isso, a questão da
memória ou da educação patrimonial associasse à valorização da pluralidade cultural e ao
questionamento da construção do patrimônio cultural pelos órgãos públicos, que, historicamente, vêm
alijando a memória de grupos sociais (como os escravos ou operários) daquilo que se concebe como
memória nacional.
É oportuno lembrar, igualmente, que a memória construída a favor de interesses políticos ou
ideológicos pode ser contraditada ou questionada a partir de pesquisas historiográficas calcadas em
processos científicos de conhecimento. Nesse contexto, é fundamental que sejam introduzidas as
conquistas historiográficas conseguidas nas últimas décadas sobre a memória dos povos e das nações
que estiveram presentes em todos os momentos da História do Brasil, aí incluídos índios, africanos e
imigrantes. Em educação patrimonial enfatiza-se a importância de a escola atuar para mapear e divulgar
os bens culturais relacionados com o cotidiano dos diversos grupos, mesmo aqueles bens que ainda não
foram reconhecidos pelos poderes instituídos e pelas culturas dominantes.

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Introduzir na sala de aula o debate sobre o significado de festas e monumentos comemorativos, de
museus, arquivos e áreas preservadas permite a compreensão do papel da memória na vida da
população, dos vínculos que cada geração estabelece com outras gerações, das raízes culturais e
históricas que caracterizam a sociedade humana. Retirar os alunos da sala de aula e proporcionar-lhes o
contato ativo e crítico com ruas, praças, edifícios públicos, festas e outras manifestações imateriais da
cultura constituem excelente oportunidade para o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa e
crítica de preservação e manutenção da memória.

Cidadania
A atenção dada à questão da cidadania participativa, no seu sentido pleno, focada nos direitos às
diferenças, é recente na historiografia. Atualmente, o conjunto de preocupações que norteia o
conhecimento histórico e suas relações com o ensino vivenciado na escola leva ao aprimoramento de
atitudes e valores imprescindíveis ao exercício pleno da cidadania, tais como: atenção ao conhecimento
autônomo e crítico; valorização de si mesmo contra qualquer tipo de injustiça e mentira social; valorização
do patrimônio sociocultural, próprio e de outros povos, incentivando o respeito à diversidade; valorização
dos direitos conquistados pela cidadania plena, aí incluídos os correspondentes deveres, seja dos
indivíduos, dos grupos e dos povos, na busca da consolidação da democracia. É de se ressaltar o papel
central da História em alicerçar a prática da cidadania, especialmente ao colocar em evidência a
diversidade das culturas que integram a história dos povos.
Assim, é necessário incorporar a cidadania como objeto do ensino de História. No desenvolvimento
dos conteúdos, a historicidade do conceito de cidadania torna-se objeto do ensino de História, ao ressaltar
as experiências de participação dos indivíduos e dos grupos sociais na construção coletiva da sociedade,
assim como os obstáculos e a redução dos direitos do cidadão ao longo da história. A importância e o
sentido do conceito consolidam-se ainda mais com o estudo do processo de ampliação da concepção de
cidadania, por meio do movimento de incorporação dos direitos sociais e dos direitos humanos ao lado
dos direitos civis e políticos.

Questões metodológicas
A mobilização dos conceitos no trabalho pedagógico escolar como instrumentos de conhecimento
supõe a articulação entre os conceitos estruturadores da disciplina História e as habilidades necessárias
para trabalhá-la como um processo de conhecimento. Os conceitos estruturadores da História, além de
expressarem o arcabouço da prática da tradição historiográfica, são os pontos nucleares a partir dos quais
se definem as habilidades e as competências específicas a serem conquistadas por meio do ensino da
História. Ademais, a concepção de um ensino/aprendizagem criativo que coloque o aluno no centro do
processo supõe a mobilização de atividades adequadas.
No quadro proposto a seguir, são apontados os conceitos estruturadores da História anteriormente
tratados; são descritas as habilidades decorrentes da prática do conhecimento histórico e as expectativas
como conhecimento. Além disso, são indicadas algumas das condições necessárias para que as
atividades didáticas propiciem o exercício do conhecimento histórico produzido na e para a escola, pois
se trata de um processo de ensino/aprendizagem.

Quadro: Articulação entre conceitos, habilidades, atividades didáticas


Conceitos básicos da História
Habilidades para o trabalho com a História
Elaboração e condução das atividades didáticas
Historicidade dos conceitos
• Perceber os conceitos como representações gerais do real social organizadas pelo pensamento.
• Compreender os conceitos como expectativas analíticas que auxiliam na indagação das fontes e
das realidades históricas.
• Considerar a dinâmica dos conceitos, que adquirem especificidade a partir da construção de
representações.
Na elaboração da proposta de ensino, levar em conta:
• a necessidade de problematizar a relação entre o conhecimento prévio dos alunos e os
conhecimentos históricos;

História
• Reconhecer a natureza específica de cada fonte histórica.
• Criticar, analisar e interpretar fontes documentais de natureza diversa.

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Conceitos básicos da História

Habilidades para o trabalho com a História Elaboração e condução das atividades didáticas

História

• Reconhecer o papel das diferentes linguagens: escrita, pictórica, fotográfica, oral, eletrônica, etc.
• Compreender textos de natureza histórica (obras de historiadores, materiais didáticos).
• Organizar a produção do conhecimento.
• Produzir textos analíticos e interpretativos sobre os processos históricos a partir das categorias e
dos procedimentos metodológicos da História.
• Reconhecer os diferentes agentes sociais e os contextos envolvidos na produção do
conhecimento histórico.
• Ter consciência de que o objeto da História são as relações humanas no tempo e no espaço.
• Perceber os processos históricos como dinâmicos e não determinados por forças externas às
ações humanas.
• Exercitar-se nos procedimentos metodológicos específicos para a produção do conhecimento
histórico.
• Praticar a interdisciplinaridade.
• a importância de tomar os conhecimentos prévios dos alunos como referência para adequar o
planejamento e as intervenções didáticas;
• a adequação do planejamento dos programas com a realidade sócio- econômica da escola e dos
alunos.
• que as atividades são procedimentos didáticos relacionados aos aspectos metodológicos;
• a importância da prática pedagógica interdisciplinar;

Processo histórico

• Compreender o passado como construção cognitiva que se baseia em registros deixados pela
humanidade e pela natureza (documentos, fontes).
• Perceber que o fato histórico (dimensão micro) adquire sentido relacionado aos processos
históricos (dimensão macro).
• Buscar os sentidos das ações humanas que parecem disformes e desconectadas.
• Entender que os processos sociais resultam de tomadas de posição diante de variadas
possibilidades de encaminhamento.
• Reconhecer nas ações e nas relações humanas as permanências e as rupturas, as diferenças e
as semelhanças, os confl itos e as solidariedades, as igualdades e as desigualdades.
• Aceitar a possibilidade de várias interpretações.

Conceitos básicos da História


Habilidades para o trabalho com a História
Elaboração e condução das atividades didáticas

Processo histórico

• Problematizar a vida social, o passado e o presente, na dimensão individual e social.


• Comparar problemáticas atuais e de outros momentos históricos. • que é necessário evitar a
simples memorização e repetição de definições;
• o uso da memorização associado aos procedimentos de compreensão, análise, síntese,
interpretação, criatividade, inventividade, curiosidade, autonomia intelectual;
• o cuidado em relacionar, nas atividades, competências gerais e específicas com conceitos
estruturadores da História, de forma explícita ou implícita;

Tempo
• Reconhecer que as formas de medir o tempo são produtos culturais resultantes das necessidades
de sociedades diversificadas.
• Perceber que as temporalidades históricas e as periodizações propostas são criações sociais.
• Estar atento às referências temporais (sequência, simultaneidade, periodização), que permitem
ao aluno se situar historicamente e ante as realidades presentes e passadas.

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• Estabelecer relações entre as dinâmicas temporais: continuidade–ruptura, permanências–
mudanças, sucessão–simultaneidade, antes–agora–depois.
• Perceber que os ritmos e as durações do tempo são resultantes de fenômenos sociais e de
construções culturais.
• Evitar anacronismos ao não atribuir valores da sociedade presente a situações históricas
diferentes.

Sujeito histórico
• Compreender que a História é construída pelos sujeitos históricos, ressaltando-se: – o lugar do
indivíduo;
– as identidades pessoais e sociais;
– que a história se constrói no embate dos agentes sociais, individuais e coletivos;
– que as instituições são criações das ações sociais, no decorrer dos tempos, e não adquirem
vontade nem ações próprias;
– a importância apenas relativa de personalidades históricas que ocuparam lugar mais destacado
nos processos históricos.

Trabalho
• Compreender o trabalho como elemento primordial nas transformações históricas.
Conceitos básicos da História
Habilidades para o trabalho com a História
Elaboração e condução das atividades didáticas

Trabalho

• Entender como o trabalho está presente em todas as atividades humanas: social, econômica,
política e cultural.
• Perceber as diferentes formas de produção e organização da vida social em que se destacam a
participação de homens e mulheres, de relações de parentesco, da comunidade, de múltiplas gerações
e de diversas formas de exercício do poder.
• a distinção entre saber acadêmico e conhecimento voltado para o desenvolvimento de
competências, habilidades e conceitos, que é próprio do ensino/aprendizagem da escola;
• Perceber a complexidade das relações de poder entre os sujeitos históricos.
• Captar as relações de poder nas diversas instâncias da sociedade, como as organizações do
trabalho e as instituições da sociedade organizada – sociais, políticas, étnicas e religiosas.
• Perceber como o jogo das relações de dominação, subordinação e resistência fazem parte das
construções políticas, sociais e econômicas.cicio da cidadania plena e da democracia;

Cultura

• Compreender a cultura como um conjunto de representações sociais que emerge no cotidiano da


vida social e se solidifica nas diversas organizações e instituições da sociedade.
• Perceber que as formações sociais são resultado de várias culturas.
• Situar as diversas produções da cultura – as linguagens, as artes, a filosofia, a religião, as ciências,
as tecnologias e outras manifestações sociais – nos contextos históricos de sua constituição e
significação.
• Perceber e respeitar as diversidades étnicas, sexuais, religiosas, de gerações e de classes como
manifestações culturais por vezes conflitantes.

Memória

• Ter consciência de que a preservação da memória histórica é um direito do cidadão.


• Identificar o papel e a importância da memória histórica para a vida da população e de suas raízes
culturais.

Conceitos básicos da História


Habilidades para o trabalho com a História
Elaboração e condução das atividades didáticas

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Memória
• Identificar e criticar as construções da memória de cunho propagandístico e político.
• Valorizar a pluralidade das memórias históricas deixadas pelos mais variados grupos sociais.
• Atuar sobre os processos de construção da memória social, partindo da crítica dos diversos
“lugares de memória” socialmente instituídos.
• Compreender a importância da escola e dos alunos na preservação dos bens culturais de sua
comunidade e região.
• o combate a todas as formas de preconceitos;
• a indignação diante das injustiças.
• a atenção às contradições, às mudanças e às transformações sociais, evitando-se a passividade
no processo ensino/aprendizagem.

Cidadania

• Aprimorar atitudes e valores individuais e sociais.


• Exercitar o conhecimento autônomo e crítico.
• Sentir-se um sujeito responsável pela construção da História.
• Praticar o respeito às diferenças culturais, étnicas, de gênero, religiosas, políticas.
• Auxiliar na busca de soluções para os problemas da comunidade.
• Indignar-se diante das injustiças.
• Construir a identidade pessoal e social na dimensão histórica a partir do reconhecimento do papel
do indivíduo nos processos históricos simultaneamente como sujeito e como produto destes.
• Ter consciência da importância dos direitos pessoais e sociais e zelar pelo cumprimento dos
deveres.
• Incorporar os direitos sociais e humanos além dos direitos civis e políticos.
• Posicionar-se diante de fatos presentes a partir da interpretação de suas relações com o passado.

PERSPECTIVAS DE AÇÃO PEDAGÓGICA

A seleção e a organização dos conteúdos


É dever da escola propiciar os meios para que os alunos adquiram de forma crítica e ativa o conjunto
de conhecimentos socialmente elaborados e considerados necessários ao exercício da cidadania. As
dificuldades acentuam-se quando se trata de explicitar o que deve ser entendido como “necessários”,
especialmente quando se pensa que o termo deveria referir-se a todos os alunos brasileiros.
A seleção dos conteúdos, entendidos aqui como o conjunto de temas e assuntos de cunho histórico a
ser organizado para fins didático-pedagógicos em sala de aula, pressupõe a articulação das
preocupações descritas neste documento:
... a importância dos conteúdos não é relegada a segundo plano em favor da educação por com- da
contextualização; conceitos estruturadores da disciplina; e articulação com as habilidades
significativamente para fins escolares, que o currículo da escola e de cada disciplina específica toma
corpo e ocupa lugar estrategicamente central no processo educativo. Portanto, a importância dos
conteúdos e do seu tratamento didático pedagógico não é relegada a segundo plano em favor da
educação por competências. A seleção, a organização e a escolha de estratégias metodológicas é que
são informadas pelo conjunto das proposições que fazem parte da nova concepção de educação presente
na LDBEN, nas leis e nos documentos subsequentes.
A qualidade das estratégias didático-pedagógicas, por sua vez, é que irá garantir o sucesso dos
enfoques educacionais anteriormente apontados: a prática pedagógica planejada e interdisciplinar; as
atividades que levem os alunos a buscar soluções de problemas; a contextualização que confira
significado a temas e assuntos; a mobilização de instrumentos de análise, de conceitos, de habilidades e
a prática constante da pesquisa, que, por recorrer a fontes diversificadas e passíveis de interpretações
variadas, se relaciona permanentemente com o ensino e dele é parte indissociável. As orientações que
são citadas no quadro anterior, item “Elaboração e condução das atividades didáticas”, além de muitas
outras, quando assumidas de forma consciente pelo conjunto dos agentes da educação, deverão fazer
parte integrante do projeto político-pedagógico da escola.
Passa a ser consenso também entre os profissionais da História, ainda que com menor intensidade,
que os conteúdos a serem trabalhados em qualquer dos níveis de ensino–pesquisa (básico, médio,
superior, pós-graduado) não são todo o conhecimento socialmente acumulado e criticamente transmitido
a respeito da “trajetória da humanidade”. Forçosamente, devem ser feitas escolhas e seleções.

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Em contrapartida, tendo em vista a diversidade dos enfoques teórico-metodológicos que se foram
construindo, especialmente nas últimas décadas, não é possível pensar em uma metodologia única para
a pesquisa e para a exposição dos resultados, nem mesmo para a prática pedagógica do ensino de
História. Assim, as escolhas e as seleções estão condicionadas ao entendimento que o professor tem a
respeito dos conhecimentos históricos e do processo de ensino/aprendizagem.

A seleção dos conteúdos


A necessária seleção dos conteúdos faz parte de um conjunto formado pela preocupação com o saber
escolar, com as competências e com as habilidades. Por isso, os conteúdos não podem ser trabalhados
independentemente, pois não constituem um fim em si mesmos, como vem sendo constantemente
lembrado, “mas meios básicos para constituir competências cognitivas ou sociais, priorizando-as sobre
as informações” (DCNEM, Artigo 5º, I). São considerados meios para a aquisição de capacidades que
auxiliem os alunos a produzir bens culturais, sociais e econômicos devendo sua seleção e escolha estar
em consonância com as problemáticas sociais marcantes de cada momento histórico. Além do mais, eles
são concebidos não apenas como a organização dos fenômenos sociais historicamente situados na
exposição de fatos e de conceitos, mas abrangem também os procedimentos, os valores, as normas e
as atitudes, seja em sala de aula, seja no projeto pedagógico da escola.
Para se proceder à seleção dos conteúdos e programar as atividades didáticas, indicam-se alguns
critérios que poderão servir como orientação básica aos professores.
O planejamento do trabalho escolar é feito em diversas fases: algumas requerem trabalho coletivo, e
outras exigem o trabalho individual do professor, sem, contudo, perder as referências discutidas e
determinadas pelo grupo. Com efeito, esse planejamento é parte integrante das opções, das diretrizes e
dos objetivos traçados no âmbito das Secretarias de Educação dos estados, das microrregiões e dos
municípios quando estabelecem projetos de implantação didático-pedagógicos elaborados em conjunto
com todos os agentes envolvidos – gestores, professores, técnicos e representações de pais e alunos.
Outro marco definidor de planejamentos em que se efetiva a seleção dos conteúdos é a escola, com
seu projeto político-pedagógico, que necessariamente traduz a percepção das pessoas envolvidas na
prática educativa daquele ambiente. São relevantes as considerações sobre a realidade da comunidade
em que está inserida a escola, inclusive no que diz respeito a valores que devem ser desenvolvidos na
comunidade escolar, como o respeito às diferenças e o estímulo ao cultivo e à vivência de valores
democráticos.
Tendo como referência os pontos enfocados anteriormente, cabe ao professor a responsabilidade
última e pessoal de elaborar os programas e selecionar os conteúdos para sua prática pedagógica. É
nesse momento que se evidenciam suas concepções sobre a sociedade, a educação e a História, sem
que sejam permitidas as imposições de agentes externos à comunidade escolar, como a legislação ou o
mercado editorial. Ao mesmo tempo, deve-se garantir que os princípios e os objetivos construídos
paulatinamente pela comunidade de educadores e pelos professores de História – lembrados neste
documento – se coadunem com as escolhas relativas ao conhecimento histórico a ser construído pelos
alunos e mediado pelo professor.
Com o intuito de subsidiar os professores na tarefa de escolher os conteúdos de História, cabe lembrar
as observações do professor Marc Ferro no livro A História vigiada (1989), no qual afirma que se devem
selecionar acontecimentos que:

• foram considerados importantes pelas sociedades que os vivenciaram e mobilizaram as


populações que os presenciaram, nos quais o conjunto da sociedade se sentiu partícipe;
• foram conservados pela memória das sociedades como grandes acontecimentos;
• ocasionaram uma mudança na vida dos Estados e das sociedades, tendo, dessa forma, efeito a
longo prazo;
• sendo significativos, deram origem a múltiplas interpretações, ainda hoje debatidas não só em
estudos acadêmicos como também pelos diferentes grupos/instituições que compõem as sociedades;
• atingem um patamar cujo alcance ultrapassa o próprio limite dos lugares onde aconteceram;
• permanecem vivos por meio das inúmeras obras que suscitam: romances, textos históricos, filmes.

Diversidade na apresentação dos conteúdos.


A organização dos conteúdos, uma parte essencial na construção do currículo, está intimamente ligada
à concepção de ensino que sustenta o projeto pedagógico da escola. Por isso, sua escolha não é
aleatória, tendo relação também com a concepção de História subjacente à prática pedagógica. Esse
conjunto de especificidades explica a grande variedade de propostas curriculares, desde as mais
clássicas até as mais recentes tentativas de inovações. Cada uma delas apresenta qualidades e

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limitações que serão avaliadas pelos professores segundo suas convicções metodológicas, concepções
de História, de Educação e do próprio ensino de História. A título de exemplo, podem ser citadas:
a) o exemplo clássico de organização dos conteúdos é o que se constitui a partir das temporalidades.
Preponderante ainda na maioria das escolas brasileiras, o tempo, considerado em sua dimensão
cronológica, continua sendo a medida utilizada para explicar a “trajetória da humanidade”. A periodização
que se impôs desde o século XIX – História Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea – está presente
em grande parte dos livros didáticos e do currículo das escolas. Retrocede-se às origens, estabelecendo-
se trajetórias homogêneas do passado ao presente, em que a organização dos acontecimentos é feita a
partir da perspectiva da evolução. Por isso, o que caracteriza a organização dos conteúdos, nesse
contexto, é a linearidade e a sequencialidade;
b) mais recentemente, vem-se tentando a superação da sequencialidade e da linearidade em alguns
currículos, os quais tomam a chamada História integrada como fi o condutor da sua organização. Assim,
América e Brasil figuram junto a povos da pré-história, da Europa e da Ásia, fazendo-se presente, por
vezes, a História da África. Nota-se em grande parte dos livros didáticos que optam por essa forma de
organizar os conteúdos de História uma diminuição considerável dos assuntos referentes ao Brasil e
pouquíssimo ou nenhum espaço para a História da África;
c) há propostas diferenciadas, em que os conteúdos são organizados a partir de temas selecionados
ou eixos temáticos, esperando-se maior liberdade e criatividade por parte dos professores. A organização
e a seleção dos conteúdos a partir de uma concepção ampliada de currículo escolar foram elaboradas de
forma mais sistematizada e aprofundada nas propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o
Ensino Fundamental, assim como para o Ensino Médio. Nas Orientações Educacionais Complementares,
PCN+ Ensino Médio de 2002, a opção pela organização programática de assuntos a partir de eixos
temáticos é assumida na apresentação geral para as Ciências Humanas e para todas as disciplinas da
área;
d) nota-se ainda uma via intermediária: mantém-se a opção pela exposição cronológica dos eventos
históricos consagrados pela historiografia, mas agora intercalada ou informada por exercícios e atividades
chamados estratégicos, por meio dos quais os alunos são levados a perceber todos os meandros da
construção do conhecimento histórico, instados a se envolver nas problemáticas comuns ao presente e
ao passado estudado e encorajados a assumir atitudes que os levem a posicionar-se como cidadãos.
Aproximam-se assim as preocupações com a sequencialidade dos conteúdos e as finalidades da
educação na formação de indivíduos conscientes e críticos, com autonomia intelectual;
e) outra construção possível, algumas vezes praticada, consiste em manter, como fio organizador, a
periodização consagrada como “pano de fundo” para a elaboração de problemáticas capazes de atingir
o objetivo de tornar significativa a aprendizagem da História. A estruturação temática possibilita
discussões de ordem historiográfica em diferentes períodos históricos e abre a possibilidade de se
considerarem os momentos históricos na dimensão da sucessão, da simultaneidade, das contradições,
das rupturas e das continuidades. A cronologia não é simplesmente linear, pois leva em consideração
que tempos históricos são passíveis de diversificados níveis e ritmos de duração;
f) muitas outras experiências de composição curricular poderiam ainda ser elencadas. Basta lembrar
que, em muitos casos, a organização dos conteúdos é assumida de forma responsável pelos professores,
tendo como referência suas experiências docentes ou as orientações dos órgãos responsáveis pelas
políticas educacionais dos estados e dos municípios. Há Secretarias Estaduais de Educação que, com
maior ou menor intensidade e envolvimento, têm trabalhado no sentido de estabelecer diretrizes ou
roteiros para as organizações curriculares da História, cuja diversidade pode ser verificada a partir das
possibilidades já apontadas.
Por fim, ressalta-se que ainda é muito raro encontrar nas organizações curriculares, tanto das escolas
como dos livros didáticos, a importância que merece a História da África. Essa lacuna, que está sendo
revista paulatinamente pela produção historiográfica, deverá ser eliminada por causa do papel histórico
que os africanos trazidos para o Brasil desempenharam na construção da sociedade brasileira, assim
como pela importância da herança cultural que vem sendo construída pelos brasileiros de origem africana.
A força do Decreto Lei nº 10.639, que torna obrigatório o ensino da História da África, não terá respaldo
se a historiografia não der ainda maior impulso à cultura africana no Brasil. É de se ressaltar a clareza
com que a LDB, em seu artigo 26, se refere à questão:
Art. 26A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se
obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § I - O conteúdo programático a que se refere
o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a
cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo
negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § II - Os conteúdos referentes

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à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial
na Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.

Cuidados especiais
Seja qual for a proposta apresentada e assumida pela escola e pelo professor, há cuidados especiais
a serem tomados. O primeiro refere-se ao envolvimento do aluno com o objeto de estudo trabalhado. Na
exposição factual e linear que supõe o aluno como receptáculo de ensinamentos, além dos textos
expositivos e detalhados, utilizam-se exercícios voltados especificamente para o teste de compreensão
e de fixação de conteúdos. A preocupação com o desenvolvimento de competências e habilidades não
faz parte dos horizontes dessas propostas pedagógicas.
Já as propostas curriculares correntes, que concebem o currículo e a educação a partir de padrões–
referências–perspectivas mais atualizados, constroem a trama expositiva procurando envolver o aluno
por meio da problematização dos temas, de sua abordagem, da relação necessária com o mundo cultural
do aluno. As atividades constituem o cerne do trabalho pedagógico apresentado, pensado sempre do
ponto de vista da construção de um conhecimento escolar significativo. A preocupação não é com a
quantidade de conteúdos a serem apresentados ou com as lacunas de conteúdo de História a serem
preenchidas, de acordo com a lista de assuntos tradicionalmente utilizados na escola. A preocupação é
com o modo de trabalhar historicamente os temas–assuntos–objetos em pauta, sejam eles organizados
em eixos temáticos norteadores ou por hierarquização de assuntos ou objetos construídos pela
perspectiva do tempo cronológico.

Construção e uso dos conceitos e dos procedimentos no processo de ensino-aprendizagem


Dada a natureza abstrata das operações cognitivas relacionadas ao pensamento histórico, é
importante levar os alunos a identificarem elementos de compreensão de conteúdos históricos nas suas
experiências sociais. Desenvolver capacidades de compreensão e de explicação histórica requer, no
entanto, a apropriação e o uso de vários conceitos.
Qualquer campo de conhecimento é constituído por um conjunto de conceitos que lhe conferem
especificidade e cientificidade. Na História, os conceitos representam um reagrupamento de fatos para
tornar possível, por meio de uma ou duas palavras, a comunicação de ideias e relações complexas
historicamente constituídas. Por meio dos conceitos pode-se, pois, distinguir e organizar o real.
A cognição histórica é composta de conceitos, e um conjunto deles foi selecionado para fazer parte da
proposição do presente documento de referência nacional para o ensino da História no ensino médio. No
entanto, há de se reconhecer que a construção e o domínio desses conceitos, assim como o entendimento
do seu valor para a compreensão e a interpretação históricas, não é fácil para a maioria dos jovens que
frequentam o ensino médio no nosso país. Os conceitos históricos, mais do que sintetizarem ideias e
raciocínios, representam para a História uma expectativa, um norte analítico; além disso, possuem sua
história, ou seja, guardam as marcas do momento histórico em que se desenvolveram e se consolidaram.
Há um consenso entre os a identificarem elementos de estudiosos da aquisição dos conteúdos
hisceitos de que esses só começam a teóricos nas suas experiências se desenvolver quando os alunos
tiverem alcançado certo nível em relação aos conceitos cotidianos que lhes são correlatos. Afirma-se que
são os conceitos cotidianos que abrem caminho para o desenvolvimento dos conceitos científicos. Muitos
dos conceitos históricos, no entanto, constroem-se por meio de vivências compartilhadas em diferentes
grupos que difundem e perpetuam preconceitos e estereótipos a respeito de realidades passadas e
presentes. Esses devem ser objeto de problematização constante em sala de aula, usando-se para isso
a análise de evidências históricas situadas em seu contexto de produção.
Observa-se que muitas vezes os alunos respondem a questões relativas aos conceitos científicos de
forma que esses parecem “carentes de riqueza de conteúdo proveniente da experiência pessoal”
(Vygotsky, 1998, p. 135). Na História, porém, os alunos não têm experiência pessoal direta com os
conceitos apresentados. Tornar esses conceitos acessíveis e carregados de significado para os alunos é
um grande desafio para os professores de História. Recorrer à analogia e, principalmente, torná-los
capazes de utilizar os procedimentos históricos de análise das diferentes fontes pode permitir aos alunos
a construção de tais conceitos. As fontes, tratadas como documentos históricos, fornecem elementos a
partir dos quais podem ser identificados traços comuns às situações nelas representadas, estimuladas
comparações e identificadas especificidades de cada momento histórico. Tendo os conceitos sido
construídos e ou apropriados, tornam-se instrumentos de novas indagações às fontes e aos
conhecimentos históricos produzidos.
Promover o trânsito entre os conceitos cotidianos e os conceitos históricos, assim como orientar os
alunos na construção e ou na apropriação desses últimos, constitui sempre um desafio que deve ser
levado em conta na proposição das atividades didático-pedagógicas.

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O projeto político-pedagógico da escola e o ensino de História
A proposta para essas Orientações Curriculares de História está calcada em alguns eixos norteadores:
os sujeitos do processo de ensino/aprendizagem – aluno e professor; a finalidade do ensino médio –
formação geral para a vida; competências, interdisciplinaridade e contextualização como princípios
pedagógicos básicos; a identificação dos conceitos estruturadores da História como horizonte para a
seleção e a organização dos conteúdos; a importância das atividades didáticas. Buscam-se também
apontar os alicerces mais duradouros para a construção de um sistema de ensino que tenha abrangência
nacional e durabilidade condizente com as necessidades do trabalho pedagógico: a experiência didático-
pedagógica, que se traduz em documentos oficiais historicamente situados, como LDBEN e DCNEM; os
organismos estaduais que assumem a operacionalização das diretrizes mais gerais, como as Secretarias
de Educação; por fim, a escola contextualizada na comunidade à qual presta seus serviços educacionais.
No entanto, em última análise, os elementos fundamentais do processo de ensino/aprendizagem situam-
se no aluno, no professor, na escola e na comunidade. Esse conjunto de atores elabora seus planos de
trabalho consubstanciado no projeto político-pedagógico da escola.
O primeiro passo para conseguir o planejamento escolar é a adequação – a ser realizada pelos estados
da Federação – dos objetivos traçados para o ensino médio pela legislação e pelas recomendações dos
órgãos federais. O projeto pedagógico da escola deverá estar em sintonia com o planejamento das
respectivas Secretarias de Educação e ser elaborado em consonância com representantes de todos os
agentes envolvidos (gestores, professores, técnicos e representações de pais e alunos).
A prática pedagógica levou à convicção de que toda e qualquer reforma que se pretenda é dependente
da consciência que os dirigentes e os profissionais da educação têm do papel da escola e da organização
de seu currículo. Segundo a LDB, Artigo 12, “os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas
comuns e as de seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta
pedagógica; VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da
sociedade com a escola”. A proposta pedagógica da escola é obra comum dos dirigentes, dos professores
e da comunidade, ressaltando-se o lugar central da competência e da responsabilidade da direção da
escola. Há pesquisas que apontam a relação íntima entre o ensino de qualidade ministrado na escola e
a competência de seu(sua) diretor(a).
Ressalte-se ainda a importância da participação consciente dos professores na elaboração da
proposta pedagógica, que integra seu plano de trabalho, elaborado segundo o previsto na proposta. A
formação sólida dos profissionais que atuam no sistema de ensino é condição imprescindível para a
implantação de reformas educacionais. Daí a responsabilidade das instituições que se dedicam à
formação superior de historiadores-professores em estruturar propostas e práticas curriculares que visem
ao domínio não apenas do conteúdo, das teorias e metodologias do conhecimento histórico, mas também
ao domínio das proposições teóricas e metodológicas a respeito do processo de ensino/aprendizagem da
História. A formação básica, constantemente realimentada pela formação permanente, fornecerá a
consistência necessária para que os professores-historiadores desempenhem suas funções na
elaboração e na execução do projeto pedagógico da escola.
Para que as reformas preconizadas nos documentos oficiais – LDBEM, DCNEM, PCNEM – passem
do plano dos preceitos à realidade do sistema de ensino no país, faz-se necessária uma profunda
reelaboração na concepção e nas estruturas das escolas, que supõe uma tomada de posição das
autoridades educacionais do ponto de vista organizacional, físico-espacial, de pessoal, de laboratórios,
de materiais didáticos, além de uma revisão radical na estrutura de trabalho dos profissionais da
educação. Os princípios pedagógicos da interdisciplinaridade, da contextualização e do lugar central da
formação para a vida e para o exercício da cidadania somente poderão tomar corpo e constituir impulso
para um ensino de qualidade quando forem assumidos no conjunto da escola. Projetos específicos que
contemplem políticas afirmativas de inclusão social, como as da diversidade étnica, religiosa, sexual, além
da defesa do meio ambiente, poderão fazer com que a História e as demais disciplinas encontrem
efetivamente um ponto de entrosamento que possa ser considerado consistente, e não forçado e
meramente formal e legalista.
Em síntese, o que define a montagem de um currículo escolar e o lugar da disciplina História, em
conformidade com os princípios estabelecidos pela LDBEN e pelas Diretrizes Curriculares para o Ensino
Médio, é a sintonia com a concepção de educação que embasa os princípios. A seleção dos conteúdos
de História, à luz dos princípios aqui enunciados, e as estratégias didático-pedagógicas ao mesmo tempo
em que expressam a alma do processo de ensino/aprendizagem, são de competência dos professores,
em reflexão constante na elaboração do projeto político-pedagógico das respectivas escolas.
É nesse exercício de elaboração do saber escolar que se promove a formação contínua dos docentes.
A finalidade das Orientações Curriculares não é estabelecer uma espécie de “currículo mínimo” de
conteúdos de História para o ensino médio. O conjunto de considerações presentes neste documento

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tem por finalidade explicitar a filosofia e os princípios educacionais inspiradores dos dispositivos legais
que passaram a nortear o sistema de ensino no país e suas referências à disciplina História. São
orientações que buscam auxiliar e orientar os docentes na elaboração dos currículos apropriados aos
alunos das escolas em que atuam. Assim, essas orientações são concebidas como indicativas daquelas
exigências consideradas imprescindíveis para que o professor e a escola elaborem os currículos de
História que melhor se coadunem com as necessidades de formação dos alunos de suas respectivas
regiões e escolas, que têm perfis e necessidades específicas.
Questões1

01. (SEAP–DF – Professor de História – IBFC) Tempo e temporalidade são consideradas categorias
centrais para o conhecimento histórico, segundo as Orientações Curriculares para o Ensino Médio:
I. É fundamental levar o aluno a perceber as diversas temporalidades no decorrer da História e sua
importância nas formas de organizações sociais e de conflitos;
II. Tempo e temporalidade representam um conjunto complexo de vivências humanas, produto cultural
forjado pelas necessidades concretas das sociedades historicamente situadas;
III. Importante ressaltar as periodizações dos calendários e das contagens dos tempos como foram
sendo historicamente construídos para que o aluno elabore, de forma problematizada, seus próprios
pontos de referência como marcos para as explicações de sua própria história de vida, assim como da
história dos homens em geral.

É correto o que se afirma em:


(A) I, II e III.
(B) I e II, apenas.
(C) II e III, apenas.
(D) Apenas III.

02. (IFC-SC – Professor História – IFC) O livro didático não pode ser compreendido isoladamente,
fora do contexto escolar e social. É um produto cultural com suas especificidades e conformado
segundo a lógica da sociedade onde está inserido. Numa sociedade capitalista, como a brasileira, tal
recurso didático não poderia fugir à lógica que rege esta sociedade, em que as classes dominantes
procuram veicular as visões que lhes interessam e neutralizar possíveis oposições. No entanto, dentro
da produção de livros didáticos de História, é possível fazer uma crítica interna ao nosso segmento,
mesmo fazendo uma ressalva, de que a produção do conhecimento historiográfico é recente em
nosso país e “refém” da recente propagação dos programas de pós-graduação em História. Apesar
das mudanças que vêm sendo potencializadas pelos movimentos de reorientação curricular em todo
o país, os livros didáticos distribuídos a nível nacional, não contemplam ainda a “totalidade” de nossa
História e apresentam uma supremacia da História da região:
(A) Sul
(B) Sudeste
(C) Centro-Oeste
(D) Nordeste
(E) Norte
Gabarito

01.A / 02.B

Comentários

01 – A
Todas as alternativas se mostraram verdades. Nessa questão não é necessário nem mesmo a
interpretação dos itens, uma vez que eles foram retirados sem modificação do texto original, como segue
o exemplo marcado: “Considera-se fundamental levar o aluno a perceber as diversas temporalidades
no decorrer da História e sua importância nas formas de organizações sociais e de conflitos. Sendo

1
Disponível em: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-
concursos/questoes/search?utf8=%E2%9C%93&todas=on&q=orienta%C3%A7%C3%A3o+curricular&instituto=&organizadora=&prova=&ano_publicacao=&cargo=
&escolaridade=&modalidade=&disciplina=550&assunto=&esfera=&area=&nivel_dificuldade=&periodo_de=&periodo_ate=&possui_gabarito_comentado_texto_e_vid
eo=&possui_comentarios_gerais=&possui_comentarios=&possui_anotacoes=&sem_dos_meus_cadernos=&sem_anuladas=&sem_desatualizadas=&sem_anuladas
_impressao=&sem_desatualizadas_impressao=&caderno_id=&migalha=&data_comentario_texto=&data=&minissimulado_id=&resolvidas=&resolvidas_certas=&res
olvidas_erradas=&nao_resolvidas=>

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um produto cultural forjado pelas necessidades concretas das sociedades historicamente situadas, o
tempo representa um conjunto complexo de vivências humanas. Por isso a necessidade de relativizar as
diferentes concepções de tempo e as periodizações propostas, e de situar os acontecimentos históricos
nos seus respectivos tempos”.
O mesmo padrão serve para as alternativas II e III.

02 – B
A evolução na criação do material didático a nível nacional acompanha as principais instituições
educacionais no país. Como, por questões econômicas por muito tempo as referências estiveram na
região sudeste, o material a nível nacional beneficiava essa região. Hoje, mudanças são feitas
principalmente em relação à valorização da história regional/local onde não apenas os livros didáticos
ganham capítulos específicos, como as instituições que criam e avaliam (como no caso dos concursos)
cobram essas regionalidades.

2 História Natural e História Social. 2.1 O processo de humanização e a dinâmica


da formação das sociedades humanas na Pré-história. 2.2 A Organização sócio-
política, econômica, cultural religiosa do Egito, Núbia, Kush, Ménroe, Napata,
Mesopotâmia, Palestina, Fenícia, Pérsia, Grega e Romana, sua dinâmica,
relações, rupturas e transformações

A Vida na Pré-História

O período humano que chamamos de pré-história é bastante grande. Corresponde aos tempos desde
o surgimento do Homem até a invenção da escrita, que ocorreu a aproximadamente há 5.000 anos na
Mesopotâmia.
Quando surgiu o conceito de pré-história no século XIX, os historiadores consideravam somente como
documentos de estudo fontes escritas. Então convencionou-se chamar de pré-história o período anterior
à escrita. Hoje os pesquisadores já não concordam mais com esta expressão, pois o homem é um ser
histórico e este conceito não consegue abarcar a diversidade de povos e culturas existentes no mundo,
pois ainda hoje existem tribos espalhadas pelo planeta que não desenvolveram a escrita. Vivem eles na
pré-História? Então sabemos que ao usar esta expressão devemos fazer ressalvas, mas podemos usá-
la tranquilamente por ser um convenção consagrada. Para podermos compreender melhor a pré-História,
os historiadores dividem o período em dois momentos: O Paleolítico (pedra lascada), que vai do
surgimento do Homem até aproximadamente 10000 atrás, quando foi inventada a escrita. Depois temos
o período Neolítico (pedra nova), que vai até a invenção da escrita.
Os principais registros fósseis permitem concluir que o homem surgiu na África e de lá se espalhou
para outros continentes. Migrou para a Ásia e para a Europa. O povoamento da América ocorreu mais
tarde. Os registros para estudarmos esta época são pinturas rupestres e pontas de flechas e lanças de
pedra ou Sílex, que eram rudimentarmente lascadas para se tornarem instrumentos para os homens. As
comunidades eram tribais e pequenas e não eram fixos a um território, ou seja, eram populações
nômades de caçadores e coletores. Viviam em um local até que os recursos se esgotassem ou se
tornassem insuficientes para a tribo, que passava a buscar novos locais para viver. Nesta época já ocorre
o domínio do fogo. Há registros de instrumentos musicais e estatuetas femininas que datam de
aproximadamente 35000 anos.

A vida na pré-história
Durante esse grande espaço de tempo o homem aprendeu a viver em sociedade e aprendeu como
moldar a natureza e os elementos a seu favor. Ferramentas eram criadas e problemas eram solucionados
de acordos com as necessidades e desafios que se colocavam diante do ser humano
A pré-história pode ser dividida em alguns períodos, de acordo com a maneira de vida e as técnicas
que as pessoas utilizavam, sendo eles:

Paleolítico
Durante o paleolítico o ser humano era nômade, ou seja, não possuía um local fixo de residência,
movendo-se de acordo com as necessidades de caça e alimentação do ambiente em que viviam. Quando
sua sobrevivência era dificultada pela falta de alimentos as famílias que compunham os grupos humanos
migravam para novos locais. Normalmente abrigavam-se em cavernas e grutas para fugir do frio e dos

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predadores. Durante esse período o ser humano tinha seu sustento através da caça de animais de
pequeno, médio e grande porte, da pesca e da coleta de produtos silvestres (frutos, raízes, mel, entre
outros)
O animais abatidos eram fonte de outros recursos, como peles e ossos. As peles poderiam ser
utilizadas para a confecção de roupas, que ajudavam a manter o corpo aquecido, e os ossos poderiam
ser transformados em ferramentas
As ferramentas fabricadas e utilizadas durante esse período eram feitas de pedras lascadas e como
anteriormente descrito, ossos de animais. Eram utilizadas principalmente para cortes, raspagens e
perfurações e também para a caça.

Exemplo de ferramenta do período paleolítico


Fonte:http://www.historyofinformation.com/images/biface_small.jpg

A descoberta do fogo
O fogo foi muito importante para o ser humano que viveu durante a pré-história. Antes de seu domínio,
o ser humano dependia da natureza e de acontecimentos como a queda de um raio em uma floresta para
obtê-lo. Esse fogo poderia ser utilizado para a iluminação de cavernas, a preparação de um alimento ou
para esquentar-se do frio.
Segundo apontam os estudos, o Homo Erectus, um ser de maior capacidade intelectual que seus
antecessores, descobriu que a partir da fricção, ou seja, o movimento de esfregar duas pedras uma na
outra gerava uma pequena fagulha, que se feita próxima a materiais de fácil combustão poderia criar uma
chama para iniciar uma fogueira.
A partir do momento em que aprende a controlá-lo, a vida ficou muito mais fácil. Agora acabava a
necessidade de aguardar um fenômeno da natureza para sua obtenção. Carnes poderiam ser cozidas ou
assadas, o que tornava seu gosto mais agradável e permitia uma duração maior antes de começar a se
decompor, assim como os legumes e raízes. O fogo também ajudou o ser humano a se proteger de
animais, permitindo uma vida mais tranquila.

A arte rupestre e a comunicação


Antes da invenção da escrita, o ser humano utilizava outras formas de se expressar. A principal delas
foram as pinturas rupestres. A arte rupestre é compreendida como o amplo conjunto de desenhos,
pinturas e inscrições feitas pelo ser humano.
Essas pinturas eram feitas em superfícies de rochas, em paredes de cavernas e paredões, cujos
materiais mais usados são o sangue, saliva, argila, e excrementos de morcegos. As pinturas
representavam cenas da vida do cotidiano, como pessoas em diversas atividades que iam dos atos
sexuais, partos, e rituais às caçadas. Também eram representados animais, isoladamente ou atacando
grupos de pessoas.
As pinturas mais antigas encontradas até o momento foram encontradas nas atuais regiões da
Indonésia, França e Espanha. Os exemplares encontrados possuem idade entre 35 mil e 40 mil anos,
com representações de mãos humanas e animais de caça.

Pintura rupestre encontrada na região da França, representando animais


Fonte:http://www.portaldarte.com.br/04-pintura-rupestre/lascaux-policromicos.jpg

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As pinturas rupestres formam uma importante forma de comunicação do ser humano na pré-história.
Através da pintura nas superfícies de rochas o homem conseguiu vencer a barreira do tempo e deixar
suas marcas de maneira permanente.
Além da pintura, oralidade, ou seja, os sons e a fala foram outro meio encontrado pelo ser humano
para se comunicar. Acredita-se que quando o ser humano começa a viver em pequenos agrupamentos
durante o período paleolítico a utilização de sons e gestos passa a ser empregada para indicar objetos e
ações que eram realizadas em conjunto. Os sons produzidos eram limitados a um pequeno conjunto, já
que a fala não havia sido completamente desenvolvida por esses grupos.

Período neolítico
Segundo apontam os estudos, o período neolítico teria se iniciado por volta de 12 mil anos atrás. Esse
período trouxe importantes mudanças na vida do ser humano, com o domínio de elementos da natureza
que resultariam na agricultura, melhor desenvolvimento de ferramentas e a sedentarização.
Após sobreviver da coleta de plantas e raízes, o ser humano descobre que quando uma semente era
depositada no solo, após algum tempo ocorria a germinação, que resultava no crescimento de uma planta
semelhante à que havia sido consumida. O plantio de várias sementes do mesmo tipo garantiu a produção
de alimentos, que poderiam ser consumidos após as colheitas. O ser humano também descobre que
algumas plantas possuem adaptação melhor em diferentes épocas do ano, o que gerava a necessidade
de cultivar diferentes tipos de planta ao longo das estações para conseguir produzir alimentos o ano todo.
A partir do cultivo de seus alimentos, era necessário criar mecanismos para o armazenamento de suas
colheitas. O ser humano passa a produzir instrumentos feitos a partir do barro (argila), como panelas,
potes e bacias.
O domínio do cultivo de plantas pelo ser humano é entendido como o início da atividade agrícola. A
partir desse momento não era mais necessária a mudança de local em local para garantir a sobrevivência
e a obtenção de alimentos, agora é possível tê-los em um único lugar, sem precisar se deslocar. Essa
garantia de alimentos em local fixo garantiu ao ser humano o necessário para tornar-se sedentário, ou
seja, abandonar o nomadismo e fixar-se em um único local que fosse propicio para a agricultura.
Além dos processos de agricultura e sedentarismo, o homem do neolítico passar a domesticar animais,
como o boi, o cavalo e a ovelha. Esses animais passam a fazer parte da vida, servindo a diversas funções
como obtenção de carne para alimentação, o transporte de pessoas e cargas e a produção de vestimentas
para se aquecer em períodos de frio.
Outra grande mudança se dá na maneira de produzir ferramentas e utensílios. Ao invés do lascamento
de pedras, característico do período paleolítico, agora utiliza-se a chamada pedra polida, através de um
processo de fabricação que permitia criar instrumentos mais afiados e precisos

Idade dos metais


A partir desse período, o ser humano aprender a extrair e trabalhar o metal, de maneira a moldá-lo de
acordo com suas necessidades. A utilização de metais se iniciou com a extração e produção do cobre,
utilizado para fabricar armas mais afiadas e resistentes que aquelas feitas de pedra. Mais tarde aprendeu
que poderia misturá-lo com o estanho para produzir uma liga metálica mais resistente, que ficou
conhecida como bronze.
É a partir da idade dos metais que surgem os primeiros núcleos urbanos e as primeiras cidades. Os
mais antigos indícios apontam que as primeiras cidades teriam surgido no atual Oriente Médio. Entre as
mais antigas estão as cidades de Jericó na Palestina, Biblos no Libano e Çatal Hüyük na Turquia. Além
de serem centros urbanos estabelecidos, contavam com um sistema de religião que já se desenvolvia
desde o período neolítico e também com atividades comerciais.

A pré-história e as origens do homem americano


O Brasil possui um grande período de ocupação humana antes da chegada dos portugueses em
1500.Existem diversas teorias para explicar a chegada do ser humano ao continente americano, que
variam entre 40 e 15 mil anos atrás
A teoria mais difundida é de que os primeiros seres humanos chegaram na América, vindos da Ásia,
através da travessia do Estreito de Bering, localizado entre os Estados Unidos(Alaska) e a Rússia. A ideia
é de que a última glaciação garantiu a passagem segura entre os continentes. A partir daí o ser humano
teria se espalhado pelo continente de maneira gradual, ocupando territórios até chegar ao Brasil.
Outra teoria aceita é a de que o homem americano tenha chegado através das ilhas polinésias em
embarcações rudimentares na costa sul-americana.
A arqueóloga Niède Guidon descobriu no município de São Raimundo Nonato, no Piauí, diversos
vestígios, como ossos de animais, ferramentas de pedra, e pinturas rupestres que podem indicar uma

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ocupação ainda mais antiga do território, com datações que podem alcançar até 45.000 anos. A
arqueóloga defende a ideia de que os seres humanos chegaram ao continente americano em diversas
levas migratórias, vindas de várias partes da África e da Ásia em períodos diferentes, o que poderia
explicar a grande variedade linguística encontrada entre os povos nativos.
Os primeiros habitantes do continente praticavam principalmente a caça e a coleta de frutos, utilizando
instrumentos feitos de pedra lascada. Utilizavam fogueiras para se aquecer, cozinhar alimentos e
defender-se de animais selvagens. Por volta de 5000 anos atrás alguns povos começam a praticar a
agricultura, após a revolução neolítica, que permitiu a utilização de ferramentas mais elaboradas e
contribuiu para a sedentarização de vários grupos. A cerâmica também é desenvolvida no período
neolítico, como forma de armazenar os alimentos que passaram a ser cultivados. No território brasileiro
destacam-se os povos Tupi, Guarani e Caraíbas como praticantes da agricultura.

Pinturas rupestres
Muitos dos antigos habitantes do território brasileiro buscaram alojamento em cavernas. Nas paredes
dessas cavernas foram encontradas pinturas que retratam cenas do cotidiano de vida dessas pessoas,
com representações de caçadas, de partos e relações sexuais. As figuras eram desenhadas a partir da
mistura de sangue de animais, carvão e minerais dissolvidos em água. As pinturas rupestres representam
parte importante da pesquisa arqueológica no Brasil, servindo como fonte para a datação de sítios
arqueológicos

Fonte:http://www.revistaea.org/img/claudia21_html_60586f2a.jpg
Pintura Rupestre representando animais, Parque Nacional da Serra da Capivara, Piauí.

População Sambaqui: As populações que habitaram o litoral, desde cerca de 6 mil anos atrás
acumularam próximo a suas moradias ao longo do tempo os restos de alimentos, conchas e ossos de
peixe. Esses depósitos deram origem aos sambaquis. O termo sambaqui é de origem Tupi-Guarani e
significa “monte de conchas”.
A dieta desses povos era baseada em peixes, crustáceos e moluscos. Os instrumentos e ferramentas
fabricados por esses povos eram compostos de arpões e anzóis, além de instrumentos polidos Pela
grande abundancia de alimentos que o mar proporcionava, esses povos fixavam-se em pontos
específicos, sem a necessidade de migração. Os sambaquis também eram utilizados para o sepultamento
dos mortos e podem ser encontrados em diversos pontos da costa brasileira, de nordeste a sul, além de
outros países.

Questões

01. Nas últimas décadas o Piauí vem figurando como um tema obrigatório nas discussões sobre o
primitivo povoamento do território americano, o que decorre, principalmente, dos achados arqueológicos
da Serra da Capivara, no município piauiense de São Raimundo Nonato. Sobre esse assunto, assinale,
nas alternativas a seguir, aquela que está INCORRETA:
(A) Os municípios de São Raimundo Nonato, no Piauí, e de Central, na Bahia, detêm os mais antigos
vestígios da presença humana na região nordeste.
(B) O acervo arqueológico de São Raimundo Nonato é administrado pela FUMDHAM - Fundação
Museu do Homem Americano.
(C) A arqueóloga Niede Guidon, personalidade mais conhecida entre os profissionais que atuam junto
ao acervo arqueológico de São Raimundo Nonato, tem protagonizado, ao longo dos anos, vários conflitos
e polêmicas com o governo do Piauí, com órgãos federais como o IBAMA e até mesmo, com nativos do
município de São Raimundo Nonato.
(D) Os achados arqueológicos de São Raimundo Nonato, no Piauí, assim como aqueles encontrados
na Bahia, impõem uma revisão das teorias sobre o povoamento da América e não deixam dúvidas quanto
à natureza autóctone do homem americano.

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(E) Hoje, apesar de ainda ser forte a tese do povoamento da América ter-se dado através do Estreito
de Behring, os estudiosos, a partir de acervos arqueológicos como os do Piauí, consideram seriamente a
hipótese de múltiplas correntes de povoamento. Quanto à data da chegada dos primeiros povoadores,
ainda há muitas controvérsias, não estando, em rigor, nada definitivamente estabelecido.

02. Tradicionalmente, podemos definir a pré-história como o período anterior ao aparecimento da


escrita. Portanto, esse período é anterior há 4000 a.C, pois foi por volta desta época que os sumérios
desenvolveram a escrita cuneiforme. Com base nesse entendimento, qual a alternativa que apresenta
características das atividades do homem na fase paleolítica?
(A) Os homens aprenderam a polir a pedra. A partir de então, conseguiram produzir instrumentos
(lâminas de corte, machados, serras com dentes de pedra) mais eficientes e mais bem acabados.
(B) Os homens descobriram uma forma nova de obter alimentos: a agricultura, que os obrigou a
conservar e cozinhar os cereais.
(C) Semeando a terra, criando gado, produzindo o próprio alimento, os homens não tinham mais por
que mudar constantemente de lugar e tornaram-se sedentários.
(D) Os homens conheciam uma economia comercial e já praticavam os juros.
(E) Os homens ainda não produziam seus alimentos, não plantavam e nem criavam animais. Em
verdade, eles coletavam frutos, grãos e raízes, pescavam e caçavam animais.

03.

Pintura rupestre da Toca do Pajaú

A pintura rupestre mostrada na figura anterior, que é um patrimônio cultural brasileiro, expressa
(A) o conflito entre os povos indígenas e os europeus durante o processo de colonização do Brasil.
(B) a organização social e política de um povo indígena e a hierarquia entre seus membros.
(C) aspectos da vida cotidiana de grupos que viveram durante a chamada pré-história do Brasil.
(D) os rituais que envolvem sacrifícios de grandes dinossauros atualmente extintos.
(E) a constante guerra entre diferentes grupos paleoíndios da América durante o período colonial.

04. São fatos ligados à Revolução Neolítica:


(A) Vida nômade e organização em tribos.
(B) terras pertencentes ao Estado e escravismo.
(C) domesticação de plantas e animais e sedentarização do homem.
(D) escravidão, impostos em trabalho e vassalagem,
(E) pintura em cavernas, vida nômade, caça e coleta de vegetais.

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05.

Analisando a linha do tempo, no período que vai do surgimento do homem até o desenvolvimento da
agricultura, encontra-se a fase
(A) Neolítica.
(B) da invenção da escrita.
(C) dos Metais.
(D) da Antiguidade.
(E) Paleolítica.
Gabarito
01.D / 02.E / 03.C / 04.C / 05.E

Comentários
01. Resposta: D.
Apesar de muito importantes, os vestígios encontrados em São Raimundo Nonato não podem ser
utilizados como prova definitiva da origem do ser humano na América, muito menos determinar uma
origem exclusiva. O assunto ainda é muito discutido na comunidade cientifica e gera muitos debates, pois
são diversas as teorias apresentadas para o povoamento do continente.

02. Resposta E.
O período paleolítico é conhecido por características que definiam o homem pré-histórico, como as
atividades de caça e pesca como forma de alimentação, a utilização de ferramentas simples feitas através
do lascamento de pedras e ossos de animais e a vida em abrigos sob rocha. As técnicas agrigolas,
domesticação de animais e a utilização de ferramentas elaboradas veio com o período Neolitico.

03. Resposta C.
As pinturas rupestres foram a maneira encontrada pelos seres humanos de eras passadas para
expressar cenas do dia-a-dia, caçadas e rituais relacionados à vida e natureza. Não existem evidencias
de pinturas rupestres feitas durante o contato com os europeus. A cena no caso mostra uma caçada e
cenas do cotiano. É importante lembrar que quando os seres humanos surgem no planeta os dinossauros
já haviam sido extintos há muito tempo.

04. Resposta C.
É a partir do período conhecido como idade Neolítica ou revolução Neolítica que o ser humano passa
a praticar a agricultura e domestica animais selvagens. Os dois fatores anteriores contribuíram para a
sedentarização, onde não precisaria mais se mudar de acordo com a oferta de alimentos de um
determinado local, já que o ser humano agora é responsável pela criação de seus próprios alimentos.

05. Resposta E.
O período paleolítico é conhecido por características que definiam o homem pré-histórico, como as
atividades de caça e pesca como forma de alimentação, a utilização de ferramentas simples feitas através
do lascamento de pedras e ossos de animais e a vida em abrigos sob rocha. As técnicas agrícolas,
domesticação de animais e a utilização de ferramentas elaboradas veio com o período Neolítico.

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Antiguidade Oriental

O Crescente Fértil

Crescente Fértil é o nome da região conhecida como o lar das primeiras civilizações. A Mesopotâmia
faz parte dessa região, uma faixa de terra junto ao Mar Mediterrâneo e o nordeste da África.
A origem desse nome é devida ao seu traçado em forma de semicírculo que lembra a Lua no quarto
crescente e também pela presença de grandes rios, cujos vales apresentavam solos férteis propícios para
a prática da agricultura. As duas características explicam o nome: lua CRESCENTE + solo FÉRTIL.
Foram essas áreas férteis em uma região árida que atraíram a fixação de povos nômades e
impulsionaram a agricultura baseada na irrigação. Merecem destaque no período a Mesopotâmia e o
Egito.
Nesses vales – todo o Crescente Fértil, junto aos rios Nilo, Tigre e Eufrates – se desenvolveram
algumas das grandes civilizações da Antiguidade Oriental como a egípcia, babilônica, persa, fenícia,
assíria, entre outras.

Fonte: www.infoescola.com

A seguir veremos algumas características dessas civilizações.

Egito

A civilização egípcia desenvolveu-se no nordeste da África às margens do rio Nilo. Situado em meio a
dois desertos (Líbia e Arábia), o Egito aproveitou suas características geográficas que contavam com as
cheias do Nilo para tornar o solo fértil e prover grandes área de plantio.
Foi ali que houveram duas grandes mudanças:
1 - as comunidades primitivas iniciaram um processo de divisão por território (em busca das melhores
terras). Surgiu nesse momento a figura dos primeiros líderes. Eles se destacaram dominando terras,
agregando ou expulsando famílias dependendo de suas relações.
2 – duas figuras surgiram como consequência desse fato. A figura do camponês (famílias que não
tinham mais a posse da terra) e os nomarcas (líderes que tinha o domínio das terras e abrigavam essas
famílias).
O termo normarca deriva justamente dessas áreas. Essas unidades de terra independentes eram
chamadas de nomos, logo o chefe de um nomo era o nomarca.
Os nomos não demoraram a entrar em choque uns com os outros fazendo com que os nomos menores
desaparecessem anexados ao mais fortes.
Não tardou para que esses agrupamentos crescessem e dessem origem a apenas dois grandes nomos
(reinos), e por consequência, dois grandes líderes. Divididos com domínios ao sul e ao norte eles ficaram
conhecido como Alto e Baixo Egito.
O reino do sul tinha como símbolo uma coroa branca e o reino do norte era simbolizada por uma coroa
vermelha.
Por volta de 3200 a. C o nomarca do sul, Menés, venceu o normarca do norte unificando o Egito e
colocando em sua cabeça as coroas branca e vermelha. A capital do reino passou a ser Tinis, e Menés
tomou-se o primeiro faraó. Com ele, começam as grandes dinastias (famílias reais que governaram o
Egito por quase 3.000 anos).

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O período historico em que as dinasticas governaram o Egito é considerado extenso, e por isso a
História do Egito é comumente dividida em três partes:
- Antigo Império: de 3200 a.C. até 2200 a.C.
- Médio Império: de 2200 a.C. a 1750 a.C.
- Novo Império: de 1580 a.C. a 1085 a.C.

O Antigo Império (3200 a 2200 a.C.)


Os sucessores de Menés continuaram a governar por mais de mil anos, e durante todo esse período
o Egito Antigo viveu um isolamento quase completo. O faraó possuia poderes imensos, e era visto como
uma encarnação do deus do Sol, Rá.
Foi durante o Antigo Império que a classe religiosa (representada pelos sacerdotes) conquistaram
poder através da influencia e riqueza. As grandes pirâmides de Gizé, consideradas maravilhas honorarias
do mundo moderno, foram construidas durante o Antigo Império, atribuídas aos faraós Quéops, Quéfren
e Miquerinos.
Uma nobreza privilegiada cooperava na administração e na exploração dos camponeses, também
acumulando grande poder. Esse fortalecimento levou-a a tentar assumir o controle direto do Estado.
Seguiu-se um período de anarquia em que praticamente cada nobre se julgava em condições de
ocupar o trono faraônico; o clero aproveitou-se para expandir seu poder político, apoiando diferentes
postulantes ao trono de acordo com seus interesses.

O Médio Império (2000 a 1750 a.C.)


O Médio Império caracterizou-se por uma nova dinastia e uma nova capital: Tebas. O Egito havia se
expandido em direção ao sul, aperfeiçoou sua rede de canais de irrigação e estabeleceu colônias
mineradoras no Sinai (Península do Sinai). A procura por cobre (escasso na região) e seu consequente
comércio com outros povos fez com que o Egito ficasse conhecido de outras populações do Oriente
Médio.
Alguns povos procedentes da Ásia Menor desencadearam uma série de ataques em direção ao vale
do Nilo. Após diversos ataques de povos diferentes, foram os hicsos, povo semita que já utilizava o cavalo
e o ferro que derrotaram as forças faraônicas do Sinai e ocuparam a região do delta do Egito, onde se
instalaram de 1750 a 1580 a.C.
Foi durante essa dominação estrangeira que os hebreus se estabeleceram no Egito.

O Novo Império (1580 a 1085 a.C.)


O faraó Amósis I expulsou os hicsos, dando início a uma fase militarista e expansionista da história
egípcia. Sob o reinado de Tutmés III, a Palestina e a Síria foram conquistadas, estendendo o domínio do
Egito até as nascentes do rio Eufrates.
Durante esse período de apogeu, o faraó Amenófis IV empreendeu uma revolução religiosa e política.
O soberano substituiu o politeísmo tradicional, cujo deus principal era Amon-Ra, por Aton, simbolizado
pelo disco solar. Essa medida tinha por finalidade eliminar a supremacia dos sacerdotes, que ameaçavam
sobrepujar o poder real.
O faraó passou a denominar-se Akhnaton, atuando como supremo sacerdote do novo deus. A
revolução religiosa teve fim com o novo faraó Tutancaton, que restaurou o politeísmo e mudou seu nome
para Tutancâmon.
Com a instauração da capital em Tebas, os faraós da dinastia de Ramsés II (1320-1232 a.C.)
prosseguiram as conquistas. O esplendor do período foi demonstrado pela construção de grandes
templos, como os de Luxor e Karnak.
As dificuldades do período começaram a surgir com as constantes ameaças de invasão das fronteiras.
No ano 663 a.C., os assírios invadiram o Egito.

O Renascimento Saíta (663 a 525 a.C.)


Os assírios foram expulsos do Egito pelo faraó Psamético I, que também mudou a capital transferindo-
a para a cidade de Saís, no delta do rio Nilo. Após isso houve também uma ampliação do comercio,
incentivada pelos faraós que o sucederam.
As lutas pela posse do trono levaram o Egito à ruína. Os camponeses se rebelaram e a nobreza
disputava o poder com o clero. Novas invasões aconteceram, fragmentando ainda mais o poder do Egito:
Diversas invasões seguiram não possibilitando ao Egito se reestruturar como Estado. Finalmente os
romanos o invadem em 30 a.C., pondo fim ao Egito como Estado independente.

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Economia do Egito Antigo
A economia do Egito estava baseada principalmente na agricultura, com o cultivo de cereais como o
trigo e a cevada, além do cultivo de linho e papiro. O pastoreio completava os trabalhos na terra, com a
criação de rebanhos de gado bovino e ovino.
A agricultura foi amplamente favorecida pelo rio Nilo e seu regime de cheias. A cheia do Rio Nilo era
gerada por chuvas na África Oriental e pelo degelo nas terras altas etíopes.
A forma como a agricultura era praticada causava espanto e curiosidade nos estrangeiros. O
historiador grego Heródoto, em sua obra Histórias, escreveu: “O Egito é uma dádiva do Nilo”, associando
a formação do Egito à presença e utilização do rio.
Em sua obra, Heródoto também relata sobre a maneira como era feito o cultivo:

“Em todo o mundo, ninguém obtém os frutos da terra com tão pouco trabalho. Não se cansam de sulcar
a terra com arado e enxada, nem têm nenhum dos trabalhos que todos os homens têm para garantir as
colheitas. O rio sobe, irriga os campos e, depois de os ter irrigado, torna a baixar. Então, cada um semeia
o seu campo e nele introduz os porcos para que as sementes penetrem na terra; depois, só têm de
aguardar o período da colheita. Os porcos também lhe servem para debulhar o trigo, que é depois
transportado para o celeiro.”

Ao longo do Nilo estendiam-se plantações cuidadas pelos felás (camponeses egípcios),


desenvolvendo-se rapidamente graças ao aperfeiçoamento das técnicas de plantio e semeadura. A
charrua, puxada pelos bois e o emprego de metais propiciaram grandes colheitas.
Teoricamente, as terras pertenciam ao faraó, porém a nobreza detinha grande parte delas. Enormes
armazéns guardavam as colheitas que eram administradas pelo Estado.
De um modo geral, a economia egípcia é enquadrada no modo de produção asiático, em que a
propriedade geral das terras pertencia ao Estado e as relações sociais de produção fundamentavam-se
no regime de servidão coletiva. As comunidades camponesas, presas à terra que cultivavam, entregavam
os resultados da produção ao Estado, representado pela pessoa do rei.

A sociedade egípcia
O Egito é considerado uma Sociedade Hidráulica, cuja organização está relacionada com os períodos
de seca e cheia dos rios. Nesse tipo de sociedade, a distinção social começou a se fazer notar através
do domínio das áreas férteis: os donos das terras ocupavam as áreas mais altas da sociedade enquanto
os camponeses, sua base.
O topo da pirâmide social era ocupado pelo faraó e sua família.
A seguir vinham os sacerdotes. Eles, junto da nobreza que detinha a posse das terras também tinham
destaque na sociedade egípcia.
Com o crescimento do comércio e do artesanato durante o Médio Império, surgiu uma classe média
empreendedora, a qual chegou a conquistar uma certa posição social e alguma influência no governo.
Os burocratas passaram a ocupar um lugar de destaque na administração, principalmente no que
tangia ao recolhimento da produção dos camponeses. Os escribas tinham lugar de destaque nesse
segmento e seu poder variava de acordo com a confiança que a nobreza ou o faraó depositavam neles.
Os artesãos e os camponeses ocupavam uma posição abaixo.
Apesar de o governo manter escolas públicas, estas formavam em sua maioria escribas destinados a
trabalhar na administração do Estado Faraônico.
Por último e em pequeno número estavam os escravos que se dedicavam a diferentes tipos de
trabalhos, podendo ser desde escravos domésticos até trabalhadores rurais.

Religião
No Egito antigo, como em quase toda a Antiguidade a religião assumia a forma politeísta,
compreendendo uma enorme variedade de deuses e divindades menores.
Muitos animais eram venerados e possuíam um culto especial, como era o caso do gato, do crocodilo,
do íbis, do escaravelho e do boi Apis; havia também divindades híbridas, com corpo humano e cabeça
de animal: Hator (a vaca), Anúbis (o chacal), Hórus (o falcão protetor do faraó). Havia ainda deuses
antropomórficos (forma humana), como Osíris e sua esposa Isis.
O Mito de Osíris ilustra bem a religiosidade dos egípcios, a ponto de terem se decidido a erigir túmulos
e templos em homenagem à morte e à vida futura.
A preocupação com a vida futura era grande e os cuidados com os mortos eram contínuos, bastando
lembrar as cerimônias fúnebres, nas quais se realizavam as oferendas de alimentos e de incenso.

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Acreditava-se em um julgamento após a morte, quando o deus Osíris iria colocar em uma balança o
coração do indivíduo, para julgar seus atos. Os justos e os bons teriam como recompensa a
reincorporação e depois iriam para uma espécie de Paraíso.
Por volta de 1360 a.C., o Egito passou por um período de monoteísmo (o culto a um único deus) em
que o culto foi direcionado a Aton.
Essa mudança fez parte de um tentativa do faraó em limitar o poder do clero. Além disso ele mudou
seu palácio para longe dos templos e organizou um novo clero. Esse plano funcionou enquanto Amenófis
III esteve no poder. Com sua morte, as coisas retornaram ao estágio anterior e o antigo clero voltou a ter
maior poder no Egito.

Influências
A arquitetura foi uma das heranças deixadas pelo Egito que os pesquisadores melhor puderam
analisar. Muitos edifícios construídos no Egito antigo chegaram até nós em bom estado de conservação.
Pirâmides, hipogeus, templos e palácios de dimensões gigantescas ainda são estudados e visitados.
A pintura egípcia prendeu-se principalmente a temas da Natureza e da vida cotidiana, sendo muitas
vezes acompanhada de hieróglifos explicativos.
A escrita ideográfica, nascida no Egito, evoluiu para o alfabeto fonético com os fenícios. Utilizando três
formas de escrita (hieroglífica, hierática e demótica), os egípcios deixaram-nos obras religiosas como o
Livro dos Mortos e o Hino ao Sol, além da literatura popular de contos e lendas.
A decifração da escrita egípcia foi feita por Jean-François Champollion que, observando e comparando
os diversos tipos de escrita encontrados em um achado arqueológico, estabeleceu um método de leitura
graças ao grego arcaico que também se encontrava no texto. Surgiu assim a ciência conhecida como
Egiptologia, a qual vem constantemente evoluindo com novas descobertas e restaurações.
As ciências exatas também tiveram oportunidade de expansão, uma vez que as necessidades de
ordem prática forçaram o desenvolvimento da Astronomia e da Matemática.
A Geometria desenvolveu-se pela necessidade de se remarcarem as terras quando as águas do Nilo
voltavam a seu leito. A Medicina, por sua vez, está de certa forma ligada à própria prática da mumificação,
o que a levou a um desenvolvimento razoável; por outro lado, a farmacopeia2 egípcia notabilizou-se por
sua variedade. Havia instituições de sacerdotes-médicos e os papiros atestam o regular conhecimento
de doenças e a própria especialização da atividade médica.
Por fim, a mumificação constituiu uma técnica de grande importância na civilização do Egito antigo. Os
métodos, até hoje pouco conhecidos, produziram resultados notáveis que se podem ver em museus de
diversas partes do mundo.

Mesopotâmia

A origem do nome Mesopotâmia vem do grego (meso = no meio; pótamos = rio). Ela é uma antiga
região do Oriente Médio, compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, e onde predominavam condições
semelhantes ao Egito, pois os dois rios forneciam facilidades para o transporte de mercadorias, pesca e
agricultura.
Apesar da presença das enchentes periódicas dos rios, a Mesopotâmia apresentou certas dificuldades
no estabelecimento de populações ribeirinhas, pois, ao contrário do que acontecia no Egito com o rio Nilo,
essas cheias eram irregulares. Além disso, o clima mais seco e as doenças tropicais tornavam o trabalho
do solo mais difícil, apesar de sua fertilidade.
Outra diferença em relação ao Egito é quanto às diferentes sociedades que lá habitaram. Enquanto no
Egito tivemos o desenvolvimento da civilização egípcia, na Mesopotâmia tivemos o desenvolvimento de
diferentes povos e sociedades. *A Mesopotâmia é uma região e não um país.
Sumérios, acádios, amoritas, cassitas, assírios, caldeus e mais um sem-número de povos lutaram
pela posse das terras aráveis. Os povos das planícies (agricultores) viviam assediados desde a época
dos primeiros estabelecimentos humanos na área pelos povos das montanhas, que viviam mais do saque
e do pastoreio.
As civilizações da Baixa Mesopotâmia puderam desenvolver-se mais, notabilizando-se por seus
aspectos econômicos e culturais. Surgiram, assim, importantes sociedades hidráulicas, com a instituição
de um Estado baseado na posse das terras e no controle das águas dos rios.
Estendendo-se da Mesopotâmia em direção ao vale do rio Indo, encontra-se o Planalto Iraniano.
Grande parte dele está acima de 2.000 metros: aqui e ali surgem bruscas elevações, cujos vales são

2
Conjunto de informações técnicas que definem o nome das substâncias e medicamentos básicos.

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regados pelos rios que buscam o mar. A região toda é pouco irrigada e por isso grande parte dela é
desértica.
A partir do II milênio a.C., essa região foi ocupada por grupos de pastores de origem ariana, os quais
deram origem a dois remos distintos: ao norte, a Média; e ao sul, a Pérsia.

Os Sumérios Acadianos
Os sumérios fixaram-se na Caldéia por volta de 3500 a.C., fundando diversas cidades-Estado, como
Ur, Uruk, Nipur e Lagash. Cada cidade-Estado era governada por reis absolutos (com total poder em suas
mãos), chamados Patesi, que lutavam entre si pelo predomínio na Caldéia.
Os sumérios foram os criadores da escrita mesopotâmica, a escrita cuneiforme. Inicialmente essa
escrita era composta de marcas simples, depois de pictogramas3, e evoluíram para formas mais abstratas.
Os primeiros documentos eram gravados em tabuletas de argila, em sequências verticais. Quando os
sumérios queriam que seus registros fossem permanentes, as tabuletas cuneiformes eram colocadas em
um forno tornando-as permanentes.
A escrita cuneiforme foi uma forma de se expressar muito difícil de ser decifrada, pois possuía mais
de 2000 sinais. O seu principal uso foi na contabilidade e na administração, pois facilitavam no registro
de bens, marcas de propriedade, cálculos e transações comerciais.
Por volta de 2300 a.C, os invasores acádios conquistaram a Mesopotâmia, dos quais se destacou o
rei Sargão I, o “soberano dos quatro cantos da terra”, e primeiro rei mesopotâmico.
Novas invasões estrangeiras arruinaram o Império Acádio, e em breve os sumérios ressurgiram, com
destaque para o governo de Dungui. Este, mais curto desta vez deu lugar aos amoritas, que fundariam o
Primeiro Império da Mesopotâmia.

O Primeiro Império Mesopotâmico


Os amoritas submeteram os sumério-acadianos e transformaram a sua cidade (Babilônia) em capital
do Império. À força das conquistas, o comércio cresceu e a Babilônia transformou-se num dos principais
centros urbanos e políticos da Antiguidade, o centro do Império Babilônico.
O mais destacável imperador amorita foi Hamurabi (1792-1750 a.C.), que, além de estender as
fronteiras do Império desde o Golfo Pérsico até a Assíria, elaborou o primeiro código completo de leis: O
“Código de Hamurabi “.
Considerado o maior ordenamento jurídico da Antiguidade Oriental, ele era composto de 282 leis,
muitas das quais compiladas do direito sumeriano, e incluía a conhecida “lei de Talião” — “olho por olho,
dente por dente…” Hoje, o Código de Hamurabi, gravado num monumento de uma só pedra encontrado
em 1901, está no museu do Louvre, em Paris (França).
Após Hamurabi, o Império foi golpeado por várias invasões, como a dos hititas e a dos cassitas,
acabando por desaparecer.

O Império Assírio
Os assírios formavam um povo que antes de 2500 a.C. estabeleceu-se no norte da Mesopotâmia, na
região de Assur. Eram guerreiros famosos pela crueldade com que tratavam os povos vencidos. Sob
governo de Sargão II, os assírios conquistaram o Reino de Israel4. Posteriormente, no governo de Tiglat-
Falasar, tomaram a cidade da Babilônia.
Dois outros importantes soberanos assírios foram Senaqueribe, que transferiu a capital de Assur para
Nínive, e Assurbanipal, construtor da famosa biblioteca de Nínive e conquistador do Egito. Após sua
morte, o Império entrou em lento declínio, com diversas revoltas internas.
Finalmente, Nabupolasar, comandando os caldeus e contando com a ajuda dos medos, destruiu o
Império Assírio, inaugurando o Segundo Império Babilônico (612 a.C.).

O Segundo Império Babilônico


Após o período assírio, a Babilônia voltou a ser a capital da Mesopotâmia, agora sob o domínio dos
caldeus. O apogeu do Império Babilônico se deu com Nabucodonosor (604-561 a.C.). Durante o seu
reinado, a Palestina foi conquistada e seu povo, o hebreu, transportado como escravo para a Babilônia:
episódio conhecido “Cativeiro da Babilônia”.
Nabucodonosor foi o responsável também pela construção dos “Jardins Suspensos da Babilônia”,
considerados uma das sete maravilhas do mundo antigo. Após a morte de Nabucodonosor, iniciou-se a
decadência do Império Caldeu (babilônico). Em 539 a.C., a Babilônia foi conquistada pelos Persas,
comandados pelo imperador Ciro I.
3
Símbolos que representam objetos ou conceitos (ideias)
4
Reino formado após a unificação das 12 tribos de Israel

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Esse foi o fim da Mesopotâmia com autonomia política, agora transformada em província persa.

A Economia mesopotâmica
A principal atividade econômica era a agricultura, produzindo sobretudo trigo e cevada. O artesanato
e o comércio atingiram alto grau de desenvolvimento transformando a Babilônia num dos grandes centros
comerciais da Antiguidade. A sociedade possuía uma estrutura piramidal, como a egípcia: no topo, o rei
e a elite econômico-militar que faziam parte do Estado; na base, os camponeses, servindo coletivamente
o governo, e por último os escravos5.
O governo era uma monarquia teocrática, absoluta, mas com uma religiosidade menos acentuada que
a do Egito. O rei absoluto, os funcionários públicos e os sacerdotes formavam uma aristocracia
controladora das melhores terras e de toda a produção. Compunham a elite social mesopotâmica,
subjugando a grande massa de camponeses e escravos.

Religião
A maior parte dos costumes dos povos mesopotâmicos descende dos sumérios, incluindo a religião.
Acreditavam em vários deuses (eram politeístas), representantes de vários astros. Os principais eram:
Marduk, o deus da Babilônia e do comércio; Shamash, o sol; Anu, o céu; Enlil, deus do ar; Ea, da água;
Ishtar, deusa do amor e da guerra; e Tamus, deus da vegetação.
Os mesopotâmicos criaram o mito de Marduk e a lenda do Dilúvio: acreditavam que o deus Marduk
fora o criador do céu e da terra, dos astros e do homem, e que ajudara Gilgamesh a sobreviver ao dilúvio
em uma arca com vários animais e membros de sua família.
Para os mesopotâmicos, a religião servia para obter recompensas terrenas imediatas; não acreditavam
na vida após a morte. Os rituais religiosos, comandados pelos sacerdotes, faziam dos templos (zigurates)
o eixo da religiosidade mesopotâmica. Esses templos às vezes compreendiam também celeiros,
armazéns e oficinas, neles se definindo o estoque e a distribuição do excedente agrícola tomado dos
camponeses.

Cultura
A ciência foi importante para o desenvolvimento das sociedades na Mesopotâmia. Fosse para
conhecer o regime das cheias dos rios Tigre e Eufrates ou para calcular a movimentação dos astros, os
mesopotâmicos desenvolveram um conhecimento científico notável.
Os sacerdotes, a partir das observações feitas do alto dos Zigurates desenvolveram a astronomia,
descobrindo cinco planetas, dividindo o círculo em 360 graus, criando o processo aritmético da
multiplicação e dividindo o dia em 12 horas de 120 minutos cada uma. Como acreditavam na influência
dos astros sobre o dia-a-dia das pessoas, criaram a astrologia e o uso dos horóscopos, elaborando os 12
signos do zodíaco. Na matemática, além da multiplicação, criaram também a raiz quadrada e a cúbica.
Na arquitetura, inovaram com a aplicação do sistema de arcos, abóbadas e cúpulas, e, na escultura,
com o uso do baixo-relevo em trabalhos de cerâmica, marfim e metais preciosos. Na literatura,
destacaram-se “O Mito da Criação” e a “Epopeia de Gilgamesh”. No Direito, o “Código de Hamurabi”
sobressai como a maior obra jurídica da região.

O Império Persa

No leste da Mesopotâmia, região do Planalto iraniano, conviviam medos e persas, povos de origem
indo-europeia que desenvolveram uma intensa atividade pastoril.
Ciro, rei dos persas foi quem unificou os dois povos e deu início ao Império Persa, o maior até então
organizado na Ásia Ocidental. Esse império desapareceu com a expansão macedônica.
Ciro foi responsável pela unificação política do Planalto Iraniano e a criação do Império Persa, após
anexar o Reino da Média (555 a.C.). Em seguida, Ciro derrotou Creso, rei da Lídia, e conquistou o
Segundo Império Babilônico, permitindo que os hebreus retomassem à Palestina.
Ciro buscou unificação econômica de seu império, além de garantir que os povos conquistados
mantivessem seus próprios costumes, língua e tradição. Foi visto pelos hebreus como um libertador do
jugo dos caldeus.
Cambises, filho e sucessor de Ciro, conquistou o Egito na batalha de Pelusa (525 a.C.), vencendo o
faraó Psamético III. Morreu quando se preparava para voltar à Pérsia, a fim de sufocar uma revolta.
Em 522, Dario I subiu ao poder e com ele, o Império Persa atingiu o apogeu. Seus domínios estendiam-
se desde a Trácia, na Europa, até a Ásia Central. Dario consolidou o despotismo real, dando à sua pessoa

5
BARDINE, RENAN. Mesopotâmia. Disponível em: < https://www.coladaweb.com/historia/mesopotamia>

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um caráter semidivino. Dividiu o império em satrápias6, cuja administração civil e militar era confiada aos
nobres escolhidos; não obstante, as satrápias eram vigiados por funcionários reais (os “olhos e ouvidos
do rei”), que percorriam as províncias fiscalizando a ação dos dirigentes. Houve estímulos ao comércio e
o florescimento de várias capitais (Susa, Persépolis e Pasárgada), pois a Corte persa se deslocava
periodicamente.
Dario envolveu-se em uma disputa pela hegemonia comercial nos mares Egeu e Negro e, apoiado por
seus aliados fenícios, deu início às Guerras Médicas, sendo derrotado pelos atenienses na batalha de
Maratona.
A queda do grande Império Persa teve início no reinado de Xerxes, que também foi derrotado pelos
gregos (batalha de Salamina); o fim de sua independência política veio com a derrota e morte de Dario III
perante a investida dos gregos e macedônios, comandados por Alexandre Magno.

A economia e a sociedade do Império persa


Durante o reinado de Dario I, o império persa viveu um período de prosperidade econômica, através
do estímulo ao comércio e a agricultura. Um dos fatores que contribuíram para o aumento da atividade
comercial foi a introdução do dárico, cunhado em ouro ou prata, de peso fixo e com a efígie do rei
(inovação trazida da Lídia), que instituiu um padrão monetário no reino.
A construção de estradas, bem como um eficiente policiamento efetuado por tropas reais, permitiram
um tráfego maior de caravanas que buscavam alcançar a Mesopotâmia, provenientes de partes distantes
da Ásia. Os correios reais facilitavam as comunicações e dizia-se que “na capital podia-se comer o peixe
pescado no mar no mesmo dia”.
O Império Persa nasceu do conflito entre as tribos pastoras e agricultoras. Quando o persa Ciro se
impôs pela força, a nobreza agrária e guerreira também se sobrepôs. O povo, constituído de artesãos,
agricultores e pastores, que podiam ser recrutados para a guerra, ocupava uma posição superior aos
escravos.
Entre os persas, o poder da camada sacerdotal era menor do que na maioria das civilizações da
Antiguidade Oriental.

Religião
A religião entre os persas caracterizou-se pela prática do Dualismo, que segundo a tradição, foi
proposta por Zaratustra (Também chamado Zoroastro), através dos escritos contidos no Zend-Avesta. O
dualismo espalhou-se pela Ásia, e com algumas alterações, é praticado até hoje.
O princípio do dualismo é a crença na existência dos princípios opostos: o bem, representado pelo
deus Aura-Mazda, e o mal, representado por Ahriman. A ideia é de que ambos viviam em constante luta
pelo controle das ações humanas. Os homens, agindo corretamente, estariam ajudando o bem a vencer
o mal. Zaratustra previa que no final dos tempos Aura-Mazda venceria e os que ficassem ao lado do mal
seriam destruídos.
O dualismo persa acabou por influenciar o Cristianismo, no que tange à dicotomia entre Céu e Inferno.
Previa a vinda de um Messias e se apresentava na condição de religião revelada. A religião persa sofreu
influência da Mesopotâmia, acabando por adotar fórmulas de horóscopos e a predição do futuro através
da posição dos astros. O culto de Mitra (auxiliar de Aura-Mazda) chegou a influenciar os próprios romanos,
que o representavam pelo Sol.

A cultura Persa
Os persas procuraram fora das suas fronteiras os elementos que marcaram suas construções.
Influências egípcias e mesopotâmicas fizeram-se sentir na arquitetura e a esculturas persas e os restos
de seus palácios evidenciam esse ecletismo cultural.
Os palácios do Império Persa possuíam alicerces de pedra, vastos terraplanos, paredes de tijolos,
colunas finas e elegantes, com capitéis esculpidos com cabeças de touro ou de cavalo. O teto era forrado
com madeira pintada. Muros recobertos de baixos-relevos ou ladrilhos esmaltados caracterizam as
principais construções existentes.

Hebreus

Antepassados do povo judeu, os hebreus têm sua trajetória marcada por migrações e pelo
monoteísmo. O Antigo Testamento da bíblia cristã é uma das maiores fontes de informação sobre o povo
Hebreu, já que cria uma mitologia para a criação desse povo.

6
Províncias, unidades administrativas.

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A Origem dos Hebreus
Os hebreus originam-se da região da Palestina, localizada entre o deserto da Arábia, Líbano e Síria.
Na proximidade do Mar Mediterrâneo e cruzada pelo rio Jordão, a região da Palestina era considerada
um dos mais importantes centros comerciais do mundo antigo. Era uma região de conflito, uma vez que
era habitada por diferentes povos que disputavam territórios, bens e poder, sendo palco da histórica briga
entre árabes e palestinos, que perdura até os dias de hoje.
Os hebreus são um povo com origem semita7, que se diversificaram de outros povos contemporâneos
a eles por meio de uma crença religiosa monoteísta e por possuírem um líder religioso, Moisés.
A palavra hebreu significa: "povo do outro lado do rio”, como referência ao Rio Jordão, uma vez que a
base de seu povoado deu-se após realizarem a travessia do rio e se fixarem na chamada “terra de Canaã”.
A civilização hebraica foi uma das que mais exerceu influência sobre a civilização presente em todas as
partes do mundo, uma vez que a sua religião, o judaísmo, forneceu subsídios para a constituição do
cristianismo e do islamismo.
A população hebraica era organizada em vários clãs patriarcais, que na verdade eram tribos
seminômades. Essas tribos familiares dedicavam-se à criação de gado em pastagem próximas a oásis
espalhados pelo deserto da Arábia. Através de suas crenças, os hebreus fundaram uma religião
monoteísta baseada no culto ao Deus Javé (Yahweh). Os hebreus seguiam líderes “escolhidos” por Javé
e consideravam-se uma nação santa que deveria expandir a sua população pela terra. Desse modo, as
famílias eram muito numerosas em integrantes. As mulheres recebiam o papel de criar os filhos e manter
o lar, enquanto os homens tinham a função de administrar as tribos e obter o sustento da família.
É possível dividir a trajetória dos Hebreus em três períodos:

- Período dos Patriarcas;


- Período dos Juízes;
- Período dos Reis.

No período dos patriarcas, que foi a primeira parte da história política dos hebreus, a população
esteve sob o domínio de uma liderança. Um membro de uma das tribos possuía o poder jurídico, militar
e religioso. Com relação à atividade econômica os hebreus sustentavam-se por meio de trabalhos pastoris
de caráter nômade, ou seja, o povo deslocava-se constantemente para regiões mais férteis.
Conduzidos por Abraão, deixaram a cidade de Ur, na Mesopotâmia, e se fixaram na Palestina (Canaã
a Terra Prometida), por volta de 2000 a.C.
A Palestina era uma pequena faixa de terra, que se estendia pelo vale do rio Jordão. Limitava-se ao
norte, com a Fenícia, ao sul com as terras de Judá, a leste com o deserto da Arábia e a oeste com o mar
Mediterrâneo.
Governados por patriarcas, os hebreus viveram na palestina durante três séculos. Os principais
patriarcas hebreus, foram Abraão (o primeiro patriarca), Isaac, Jacó (também chamado Israel, daí o nome
israelita), Moisés e Josué.
Por volta de 1750 a.C. uma grande seca atingiu a Palestina. Os hebreus foram obrigados a deixar a
região e buscar melhores condições de sobrevivência no Egito. Permaneceram no Egito cerca de 400
anos, até serem perseguidos e escravizados pelos faraós. Liderados pelo patriarca Moisés, os hebreus
abandonaram o Egito em 1250 a.C., retornando à Palestina. Essa saída em massa dos hebreus do Egito
é conhecida como Êxodo.
O período dos juízes tem início com a volta dos hebreus à Palestina. Sob a liderança de Josué, os
hebreus tiveram de lutar contra os cananeus e posteriormente, contra os filisteus. Josué (sucessor de
Moisés), distribuiu as terras conquistadas entre as doze tribos de Israel. Nesse período os hebreus
passaram a se dedicar à agricultura, a criação de animais e ao comércio, tornando-se, portanto,
sedentários.
No período de lutas pela conquista da Palestina, que durou quase dois séculos, os hebreus foram
governados pelos juízes. Os juízes eram chefes políticos, militares e religiosos. Embora comandassem
os hebreus de forma enérgica, não tinham uma estrutura administrativa permanente. Entre os mais
famosos juízes destaca-se Sansão, que ficou conhecido por sua grande força. Outros juízes importantes
foram Gedeão e Samuel.
Os conflitos e problemas sociais criaram a necessidade de um comando militar unificado, o que levou
os hebreus a adotarem a monarquia. O objetivo era centralizar o poder nas mãos de um rei e assim, ter
mais força para enfrentar os povos inimigos, como os filisteus. Foi o início do período dos reis.

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Relativo ao grupo étnico e linguístico ao qual se atribui Sem como ancestral, e que compreende os hebreus, os assírios, os aramaicos, os fenícios e os árabes,
ou membro desse grupo.

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O primeiro rei dos hebreus foi Saul (1010 a.C.). Depois veio o rei Davi (1006-966 a.C.), conhecido por
ter vencido os filisteus. Com a conquista de toda a Palestina, a cidade de Jerusalém tornou-se a capital
política e religiosa dos hebreus.
O sucessor de Davi foi seu filho Salomão, que terminou a organização da monarquia hebraica e
alcançou o apogeu do reino. Durante o reinado de Salomão (966-926 a.C.), houve um grande
desenvolvimento comercial e foram construídos palácios, fortificações, e o Templo de Jerusalém. Além
das construções, Salomão criou um poderoso exército, organizou a administração e o sistema de
impostos. Montou uma luxuosa corte com muitos funcionários e grandes despesas.
Para poder sustentar uma corte tão luxuosa, Salomão obrigava o povo hebreu a pagar pesados
impostos. O preço dessa exploração foi o surgimento de revoltas sociais.
Com a morte de Salomão, essas revoltas provocaram a divisão religiosa e política das tribos e o fim
da monarquia unificada.

Formaram-se dois reinos:


- Ao norte, dez tribos formaram o reino de Israel, com capital em Samaria;
- Ao sul, as duas tribos restantes formaram o reino de Judá, com capital em Jerusalém.

Em 722 a.C., os reinos de Israel foram conquistados pelos assírios, comandados por Sargão II. Grande
parte dos hebreus foi escravizada e espalhada pelo Império Assírio.
Em 587 a.C., o reino de Judá foi conquistado pelos babilônios, comandados por Nabucodonosor. Os
babilônios destruíram Jerusalém e aprisionaram os hebreus, levando-os para a Babilônia.
Os hebreus permaneceram presos até 538 a.C., quando o rei persa Ciro II conquistou a Babilônia. Os
hebreus puderam então retornar à Palestina, que se tornara província do Império Persa e reconstruíram
o templo de Jerusalém.
A partir dessa época, os hebreus conseguiram conquistar a autonomia política da Palestina, que se
tornou sucessivamente província dos impérios persa, macedônio e romano.
Durante o domínio romano na Palestina, o sentimento de unidade dos hebreus fortaleceu-se, levando-
os a se revoltar contra Roma. No ano 70 d.C. o imperador romano Tito, sufocou uma rebelião hebraica e
destruiu o segundo templo de Jerusalém. Os hebreus, então, dispersaram-se por várias regiões do
mundo. Esse episódio ficou conhecido como Diáspora (Dispersão).
No ano de 136, sofreram a Segunda Diáspora no reinado de Adriano (imperador romano), em que os
judeus foram definitivamente expulsos da Palestina.
Dispersos pelo mundo, o povo israelita organizou-se em pequenas comunidades. Unidos, preservaram
os elementos básicos de sua cultura, como a linguagem, a religião e alguns objetivos comuns, entre eles
voltar um dia à Palestina. Assim, os hebreus se mantiveram como nação, embora não constituíssem um
Estado.
Somente em 1948, os judeus puderam se reunir num Estado independente, com a determinação da
ONU (Organização das Nações Unidas), que criou o Estado de Israel. Decisão que criou sérios problemas
na região do Oriente Médio, pois com a saída dos judeus da Palestina, no século I, outros povos,
principalmente de origem árabe ocuparam e fixaram-se na região. A oposição dos árabes à existência do
Estado de Israel, tem resultado em contínuos conflitos na região.

Religião
Diferentemente da maioria dos povos da região, a religião hebraica era monoteísta (crença em um
único deus), e não politeísta (crença em vários deuses e divindades) como os egípcios, por exemplo.
Além disso, também possuíam a ideia do messianismo.
A ideia messiânica foi divulgada pelos profetas. Acreditavam na vinda de um messias, um enviado de
Deus para conduzir os homens à salvação eterna. Para os cristãos (católicos e protestantes) esse
messias é Jesus Cristo. Os judeus não consideram Jesus como messias, e sim como apenas um dos
muitos profetas e pregadores que existiram na época. Os judeus continuam aguardando a vinda do
messias.
A doutrina fundamental da religião hebraica (o Judaísmo) encontra-se no Pentateuco, contido no Velho
Testamento da Bíblia. O Pentateuco é composto pelos primeiros livros da bíblia: Gênesis, Êxodo,
Deuteronômio, Números e Levítico. Os hebreus chamam esse livro de Torá.
A religião hebraica prescreve uma conduta moral orientada pela justiça, a caridade e o amor ao
próximo. Entre as principais festas judaicas, destacam-se: a Páscoa, que comemora a saída dos hebreus
do Egito em busca da Terra Prometida; o Pentecostes, que recorda a entrega dos Dez Mandamentos a
Moisés; o Tabernáculo, que relembra a longa permanência dos hebreus no deserto, durante o Êxodo.

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Na literatura, o melhor exemplo são os livros bíblicos do Velho Testamento, dentre os quais destacam-
se os Salmos, o Cântico dos Cânticos, o Livro de Jó e os Provérbios.

Fenícios

Essa civilização desenvolveu-se na Fenícia, território do atual Líbano. Os fenícios foram povos de
origem semita, assim como os hebreus. Por volta de 3000 a.C., estabeleceram-se numa estreita faixa de
terra com cerca de 35 km de largura, situada entre as montanhas do Líbano e o mar Mediterrâneo. Com
200 km de extensão, corresponde a maior parte do litoral do atual Líbano e uma pequena parte da Síria.
Por habitarem uma região montanhosa e com poucas terras férteis, os fenícios dedicaram-se à pesca
e ao comércio marítimo.
Diferente de outros povos, os fenícios não chegaram a fundar um reino. A rivalidade entre as diversas
cidades-estados levou-as, no máximo, a constituir uma confederação.
A cidade de Biblos alcançou prestígio por volta de 2500 a.C., expandindo seu comércio e poderio por
uma grande área do Mediterrâneo. Sidon teve o seu período por volta de 1400 a.C., mantendo durante
séculos sua supremacia sobre todo o comércio realizado no mar. Finalmente, coube a Tiro alcançar a
hegemonia marítima, tendo acesso às rotas mais longínquas.
Como outros povos, os fenícios entraram em decadência, caindo sob o domínio dos assírios,
babilônios e, finalmente, dos persas. A colônia fenícia de Cartago, no norte da África, subsistiu até o
século II a.C., quando foi destruída pelos romanos no final das Guerras Púnicas.

As atividades econômicas e a sociedade fenícia


A proximidade do Egito, com sua grande produção de cereais, a abundância de madeira de cedro e
um litoral extenso fizeram dos fenícios hábeis navegadores.
Os fenícios desenvolveram extraordinariamente o artesanato comercial, produzindo em série objetos
facilmente negociáveis no mundo antigo, tais como armas, vasos, adornos de bronze e cobre, tecidos e
até mesmo objetos de vidro, que alcançavam ótimos preços. Conheciam todas as rotas de navegação do
Mediterrâneo e, transpondo o Estreito de Gibraltar, alcançaram as Ilhas Britânicas. Chegaram mesmo a
fazer uma viagem de circunavegação da África, a soldo de um faraó egípcio.
O comércio de escravos propiciava grandes lucros; muitos, porém, eram trazidos para a Fenícia a fim
de trabalhar nas oficinas de artesanato. Os fenícios fundaram colônias nas margens do mar Mediterrâneo,
as quais funcionavam como entrepostos de comércio e abastecimento. As mais conhecidas colônias
fenícias foram as cidades de Cartago, no Norte da África, e Cádiz, na Espanha.
Os fenícios detiveram a hegemonia comercial do Mediterrâneo (talassocracia8) e foram sérios
concorrentes dos gregos, etruscos e romanos.
A maior parte da população fenícia era constituída de marinheiros e artesãos pobres, os quais
trabalhavam em função de uma classe rica que vivia do comércio marítimo. Essa classe de mercadores
detinha não só o poder político das cidades-Estado, mas também a riqueza e o controle das atividades
comerciais. Os escravos e mercenários eram facilmente conseguidos nas viagens pelo Mediterrâneo;
enquanto os primeiros trabalhavam como remadores ou artesãos, os segundos protegiam as naus e as
muralhas das grandes cidades-portos

A religião dos fenícios

A religião dos fenícios, assim como outros povos da região adquiriu caráter politeísta. Cada cidade
possuía um Baal (deus) protetor: Melcart, em Tiro; Adonis, em Biblos; e Eshum, em Sidon. Cartago tinha
como protetor Moloc. Os fenícios possuíam ainda divindades menores protetoras do comércio, das rotas,
dos navios etc. Entre os rituais religiosos estavam o sacrifício de animais e pessoas, como forma de
agradar as divindades.

O Alfabeto

Os fenícios desenvolveram o alfabeto em função de suas atividades comerciais – a necessidade de


manter registros -
Além das técnicas de navegação e dos conhecimentos geográficos, provenientes da exploração das
rotas marítimas, os fenícios trouxeram um fator de inegável valor para o progresso da humanidade. A
partir dos ideogramas egípcios, desenvolveram um alfabeto fonético de 22 letras, que mais tarde foi

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Nação baseada no poder marítimo.

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adaptado pelos gregos e romanos. Provavelmente fizeram isso buscando simplificar as operações
comerciais, uma vez que não deixaram no campo literário, ou em qualquer outra atividade artística, algo
de similar importância.
Também foram as inestimáveis contribuições que os fenícios deram para a astronomia e a matemática,
que foram ciências largamente aperfeiçoadas por eles.

Questões

01. (UFPE) Entre os povos do oriente médio, os hebreus foram os que mais influenciaram a cultura da
civilização ocidental, uma vez que o cristianismo é considerado como uma continuação das tradições
religiosas hebraicas.
A partir do texto anterior, assinale a alternativa incorreta:
(A) Originários da Arábia, os hebreus constituíram dois reinos: o de Judá e o de Israel na Palestina.
(B) As guerras geraram a unidade política dos hebreus. Essa unidade se firmou primeiro em torno de
juízes e, depois, em volta dos reis.
(C) Os profetas surgiram na Palestina por volta dos séculos VIII e VII a.C., quando ocorreu uma onda
de protestos dos trabalhadores contra os comerciantes.
(D) A religião hebraica passou por diversas fases, evoluindo do politeísmo ao monoteísmo difundido
pelos profetas.
(E) Os hebreus organizaram-se social e economicamente com base na propriedade da terra, o que
deu início à Diáspora.

02. (UFRN) Entre os hebreus da Antiguidade, os profetas eram considerados mensageiros de Deus,
lembrando ao povo as demandas da justiça e da Lei dadas por Javé. Isaías, um dos profetas dessa época,
em nome de Javé proclamou:
Ai dos que decretam leis injustas; dos que escrevem leis de opressão, para negarem justiça aos
pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo, a fim de despojarem as viúvas e roubarem os
órfãos! (Isaías 10:1-2)
Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até que não haja mais lugar, e ficam como
únicos moradores no meio da terra! (Isaías 5:8)
Esses pronunciamentos do profeta Isaías estão ligados a uma época da história hebraica em que
ocorreu:
(A) a saída dos hebreus do Egito, sob o comando de Moisés, e o estabelecimento em Canaã,
conquistando as terras dos povos que ali habitavam.
(B) a imigração para o Egito, quando os hebreus receberam terras férteis no delta do rio Nilo, por
influência de José, que exercia ali o cargo de governador.
(C) a formação de uma aristocracia, que enriquecera com o comércio e com a apropriação das terras
dos camponeses endividados.
(D) a conquista de Jerusalém por Nabucodonosor, quando os judeus foram despojados de suas terras
e deportados para a Babilônia.
(E) ao domínio persa, como Ciro, o Grande, que massacrou milhares de camponeses hebreus.

03. (ENEM) O Egito é visitado anualmente por milhões de turistas de todos os quadrantes do planeta,
desejosos de ver com os próprios olhos a grandiosidade do poder esculpida em pedra há milênios: as
pirâmides de Gizé, as tumbas do Vale dos Reis e os numerosos templos construídos ao longo do Nilo. O
que hoje se transformou em atração turística era, no passado, interpretado de forma muito diferente, pois
(A) significava, entre outros aspectos, o poder que os faraós tinham para escravizar grandes
contingentes populacionais que trabalhavam nesses monumentos.
(B) representava para as populações do alto Egito a possibilidade de migrar para o sul e encontrar
trabalho nos canteiros faraônicos.
(C) significava a solução para os problemas econômicos, uma vez que os faraós sacrificavam aos
deuses suas riquezas, construindo templos.
(D) representava a possibilidade de o faraó ordenar a sociedade, obrigando os desocupados a
trabalharem em obras públicas, que engrandeceram o próprio Egito.
(E) significava um peso para a população egípcia, que condenava o luxo faraônico e a religião baseada
em crenças e superstições.

04. (FGV-SP) Das alternativas abaixo, a que melhor caracteriza a sociedade fenícia é:

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(A) a existência de um Estado centralizado e o monoteísmo;
(B) o monoteísmo e a agricultura;
(C) o comércio e o politeísmo;
(D) as cidades-Estados e o monoteísmo;
(E) a agricultura e a forma de Estado centralizado.

05. (UNESP) Na região onde atualmente se encontra o Líbano, instalou-se, no III milênio a. C., um
povo semita, que passou a ocupar a estrita faixa de terra, com cerca de 200 quilômetros de comprimento,
apertada entre o mar e as montanhas. Várias razões os levaram ao comércio marítimo, merecendo
destaque sua proximidade geográfica com o Egito; a costa, que oferecia lugares para bons portos; e os
cedros, principal riqueza, usados na construção de navios.
O contido nesse parágrafo refere-se ao povo:
(A) fenício.
(B) hebreu.
(C) sumério.
(D) hitita.
(E) assírio.

06. (SEDUC/PI – Professor de História – NUCEPE) Dividida em províncias, que ficaram conhecidas
como satrápias, as terras eram consideradas como propriedades do império e cultivadas pelas
comunidades. Considerando as características destacadas, podemos afirmar que estas se referem
(A) ao Império Babilônico.
(B) à fase unificada do Império Egípcio.
(C) ao reino de Israel.
(D) às Cidades-estados gregas.
(E) ao Império Persa.

Gabarito

01.E / 02.C / 03.A / 04.C / 05.A / 06.E

Comentários

01. Resposta: E
A diáspora hebraica não ocorreu em razão da organização social e econômica baseada na propriedade
de terras (inclusive, durante uma boa parte da constituição enquanto civilização, os hebreus eram
seminômades), mas por esse povo ter sido submetido ao domínio de outras civilizações, como a
babilônica e, posteriormente, a romana e a árabe.

02. Resposta: C
Os textos proféticos do Antigo Testamento, além de guardarem consigo, segundo a tradição judaico-
cristã, o anúncio da vinda do Messias, também revelam muitos aspectos do contexto histórico que
permeava a vida dos hebreus daquele período. O trecho em questão evidencia a crítica do profeta Isaías
àqueles que se enriqueceram às custas da população camponesa.

03. Resposta: A
As pirâmides, tumbas e templos na Antiguidade Oriental representavam também a autoridade e o
poder dos governantes, sempre associados a divindades.

04. Resposta: C
As condições do relevo na região em que habitavam foi essencial para seu expansionismo.
A proximidade do Egito, com sua grande produção de cereais, a abundância de madeira de cedro e
um litoral extenso fizeram dos fenícios hábeis navegadores.
A religião dos fenícios, assim como outros povos da região adquiriu caráter politeísta.

05. Resposta: A
O trecho refere-se aos fenícios, citando as condições geográficas, como o relevo e a proximidade com
o Egito, e o comércio marítimo.

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06. Resposta: E
Em 522, Dario I subiu ao poder e com ele, o Império Persa atingiu o apogeu. Seus domínios estendiam-
se desde a Trácia, na Europa, até a Ásia Central. Dario consolidou o despotismo real, dando à sua pessoa
um caráter semidivino. Dividiu o império em satrápias, cuja administração civil e militar era confiada aos
nobres escolhidos; não obstante, as satrápias eram vigiados por funcionários reais.

Antigos Impérios Africanos

Na apresentação das grandes civilizações africanas, em 1000 a.C., povos semitas da Arábia emigram
para a atual Etiópia. Depois, em 715 a.C. o Rei de Cush, funda no Egito a 25a dinastia. Em 533 a.C.
transfere sua capital de Napata para Meroé, onde, cerca de cinquenta anos depois, já se encontra uma
metalurgia do ferro, altamente desenvolvida. Por volta do ano 100 a.C. desabrocha, na Etiópia, o Reino
de Axum. O tempo que se passou até a chegada dos árabes à África Ocidental foi, durante muitos séculos,
considerado um tempo obscuro, face à absoluta ausência de relatos escritos, que só apareceram nos
séculos XVI e XVII, com o “Tarik-Al-Fattah” e o “Tarik-Es-Sudam”, redigidos, respectivamente, por
Muhammad Kati e Abderrahman As Saadi, ambos nascidos em Tombuctu. Mas o trabalho de arqueólogos
do século XX, aliado aos relatos da tradição oral, conseguiu resgatar boa parte desse passado. O mais
antigo desses reinos foi o da Etiópia. Entre os séculos III e VII, a Etiópia teve como vizinhos outros reinos
cristãos: o Egito e a Núbia, contudo, com a expansão do islamismo essas duas últimas regiões caíram
sob o domínio árabe e a Etiópia persistiu como único grande reino cristão da África. Antes do efetivo início
do processo de islamização do continente africano, a África Ocidental vai conhecer um padrão de
desenvolvimento bastante alto. E, os antigos Estados de Gana, do Mali, do Songai, do Iorubá e Benin,
são excelentes exemplos de pujança das civilizações pré-islâmicas. Império do Gana

O Antigo Império Gana


Teve seu apogeu entre os anos 700 e 1200 d.C. Acredita-se que o florescimento desse império
remonte ao século IV. Fundado por povos berberes, segundo uns, e por outros, por negros mandeus,
mandês ou mandingas, do grupo soninkê. O antigo nome desse império era Uagadu, que ocupava uma
área tão vasta quanto à da moderna Nigéria e, incluía os territórios que hoje constituem o Mali ocidental
e o sudeste da Mauritânia. Kumbi Saleh foi uma das suas últimas capitais. Segundo relatos históricos, o
Antigo Império de Gana era tão rico em ouro, que seu imperador, adepto da religião tradicional africana,
tal como seus súditos, eram denominados “o senhor de ouro”. Com a concorrência de outras potências
no comércio do ouro, o Antigo Império Gana começou a declinar. Até que, por volta de 1076 d.C., em
nome de uma fé islâmica ortodoxa, os berberes da dinastia dos almorávidas, vindos do Magrebe, atacam
e conquista Kumbi Saleh, capital do Império de Gana.O atual Gana, que antigamente se chamava Costa
de Ouro, deve o seu nome moderno ao de um antigo império que dominava a África Ocidental durante a
Idade Média. O velho Gana ficava a muitos quilómetros mais para norte do atual, entre o deserto do Saara
e os rios Níger e Senegal. O Gana foi provavelmente fundado durante os anos 300. Desde essa data até
770 os seus governantes constituíram a dinastia dos Magas, uma família berbere, apesar do povo ser
constituído por negros das tribos Soninque. Em 770 os Magas foram derrubados pelos Soninques, e o
império expandiu-se grandemente sob o domínio de Kaya Maghan Sisse, que foi rei cerca de 790.Nessa
altura o Gana começou a adquirir uma reputação de ser uma terra de ouro. Atingiu o máximo da sua glória
durante os anos 900 e atraiu a atenção dos Árabes. Depois de muitos anos de luta, a dinastia dos
Almorávidas berberes subiu ao poder, embora não o tenha conservado durante muito tempo. O império
entrou em declínio e em 1240 foi destruído pelo povo de Mali. Os soninkés habitavam a região ao sul do
deserto do Saara. Este povo estava organizado em tribos que constituíam um grande império. Este
império era comandado por reis conhecidos como caia-maga. Viviam da criação de animais, da agricultura
e da pesca. Habitavam uma região com grandes reservas de ouro. Extraíam o ouro para trocar por outros
produtos com os povos do deserto (berberes). A região de Gana, tornou-se com o tempo, uma área de
intenso comércio. Os habitantes do império deviam pagar impostos para a nobreza, que era formada pelo
caia-maga, seus parentes e amigos. Um exército poderoso fazia a proteção das terras e do comércio que
era praticado na região. Além de pagar impostos, as aldeias deviam contribuir com soldados e lavradores,
que trabalhavam nas terras da nobreza.

O Império do Mali
Os fundados do Antigo Mali teriam sido caçadores reunidos em confrarias ligadas pelos mesmos ritos
e celebrações da religião tradicional. O fervor com que praticavam a religião de seus ancestrais veio até
bem depois do advento do Islã. Conquistando o que restara do Antigo Gana, em 1240, Sundiata Keita,

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expandiu seu império, que já era oficialmente muçulmano desde o século anterior. E, o Mali se torna
legendário, principalmente sob o mansa (rei) Kanku Mussá, que, em 1324, empreendeu a peregrinação
a Meca com a intenção evidente de maravilhar os soberanos árabes. O Antigo Império Gana teve seu
apogeu entre os anos 700 e 1200 d.C. Acredita-se que o florescimento desse império remonte ao século
IV. Fundado por povos berberes, segundo uns, e por outros, por negros mandeus, mandês ou mandingas,
do grupo soninkê. O antigo nome desse império era Uagadu, que ocupava uma área tão vasta quanto à
da moderna Nigéria e, incluía os territórios que hoje constituem o Mali ocidental e o sudeste da Mauritânia.
Kumbi Saleh foi uma das suas últimas capitais. Segundo relatos históricos, o Antigo Império de Gana era
tão rico em ouro, que seu imperador, adepto da religião tradicional africana, tal como seus súditos, eram
denominados “o senhor de ouro”. Com a concorrência de outras potências no comércio do ouro, o Antigo
Império Gana começou a declinar. Até que, por volta de 1076 d.C., em nome de uma fé islâmica ortodoxa,
os berberes da dinastia dos almorávidas, vindos do Magrebe, atacam e conquista Kumbi Saleh, capital
do Império de Gana. No século XVI chegou a ser o mais importante entreposto comercial do império, mas
os mesmos fatores que causaram a decadência da «cidade irmã» – o comércio marítimo dos portugueses,
a ocupação marroquina e, depois, francesa – acabaram por torná-la num insignificante centro agrícola
dotado de magníficos exemplares de arquitetura islâmica. Djenné foi igualmente um importante centro de
peregrinação e cultura, atraindo peregrinos e estudantes de toda a África ocidental. Durante muito tempo
foi uma verdadeira escola de juristas. Os seus monumentos, entre os quais se destaca uma Grande
Mesquita que remonta ao século XIII, recorrem ao mesmo tipo de material e técnicas construtivas que os
de Tombuctu. O que dá origem a problemas de conservação muito semelhantes.

Império Songai
A organização do Songai era mais elaborada ainda que a do Mali. O Império Songai teria suas origens
num antepassado lendário, o gigante comilão Faran Makan Botê, do clã dos pescadores sorkôs. Por volta
de 500 d.C., diz ainda a tradição, que guerreiros berberes, chefiados por Diá Aliamen teriam chegado à
curva norte do Níger, tomando o poder dos sorkôs. A partir daí, a dinastia dos Diá reina em Kukya, uma
ilha perto do Níger, até 1009, quando o reino se converte oficialmente ao islamismo e transfere a capital
para Goa, onde a dinastia reina até 1335. Nesse ano, o povo songhai se liberta do Antigo Mali, de quem
se tornara vassalo em 1275 e, começa a conquistar as regiões vizinhas. O Império Songhai, também
conhecido como o Império Songhay foi um estado pré-colonial africano e grande civilização oriental, em
Mali. Do início do século XV até o final do século 16, Songhai foi um dos maiores impérios africanos da
história. Este império tinha o mesmo nome de seu grupo étnico líder, os Songhai. Sua capital era a cidade
de Gao, onde uma pequeno estado Songhai já existia desde o século XI. Sua base de poder era sobre a
volta do rio Níger nos dias atuais Níger e Burkina Faso. Antes do Império Songhai, a região tinha sido
dominada pelo Império Mali, uma das civilizações mais ricas da história do mundo. Mali tornou-se famoso
devido à sua imensa riqueza obtida através do comércio com o mundo árabe, e os lendários hajj de Mansa
Musa. No início do século XV, o Império do Mali começou a declinar. As disputas pela sucessão
enfraqueceram a coroa e muitos afastaram-se. Os Songhai foram um deles, fazendo a cidade
proeminente de Gao a sua nova capital. A cidade do Songhai originou-se na região de Dendi, do noroeste
de Nigéria e o rio expandido chega gradualmente de Níger, no século VIII. No ano 800, estabeleceram
uma cidade do mercado florescendo em Gao. Aceitaram o Islão em torno do ano 1000. Por diversos
séculos, dominaram os estados adjacentes pequenos, quando foram controlados ao mesmo tempo pelo
império poderoso de Mali ao oeste.

Império Kanem-Bornu
Outro grande Estado da África Negra, florescido por essa época, no norte da atual Nigéria, foi Kanem-
Bornu, em torno do ano 800 d.C. As cidades-estados haussás, situadas entre o Níger e o Chade que se
encontram em uma grande encruzilhada. Constituíram-se por volta do século XII, em redor das vias
comerciais que ligavam Trípolis e o Egito à floresta tropical, por um lado, e, por outro lado, o Níger ao alto
vale do Nilo pelo Darfur. Os haussás ou a classe dirigente são negros que habitavam muito mais ao norte
e a leste do que hoje. Junto com o Mali e o Songai, um dos mais vastos impérios dos grandes séculos
africanos foi o Kanem-Bornu. A sua influência, no seu período de maior esplendor, estendia-se da
Tripolitânia e do Egito até ao Norte dos Camarões atuais e do Níger ao Nilo. Nas origens do Kanem
encontra-se a conjunção dos nômades e dos sedentários.

Império Iorubá
A sudeste da atual Nigéria constituíra-se o poderoso e dinâmico grupo Ibo. Possuía uma estrutura
ultrademocrática que favorecia a iniciativa individual. A unidade sociopolítica era a aldeia. No sudoeste,
desenvolveram-se os principados iorubás e aparentados, entre os séculos VI e XI. As suas origens,

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mergulhadas na mitologia dos deuses e semideuses, não nos fornecem, do ponto de vista cronológico,
informações suficientes. O grande passado de todos estes príncipes é Odudua. Seria ele próprio filho de
Olodumaré, que para muitos seria o Nimrod de que fala a Bíblia, ou segundo a piedosa tradição islâmica,
de Lamurudu, rei de Meca. O seu filho Okanbi, teria tido sete filhos que vieram a ser todos “cabeças
coroadas”, a reinar em Owu, Sabé, Popo. Benin, Olé, Ketu e Oyó. Por volta do século XII, Ifé era uma
cidade-estado cujo soberano o Oni, era reconhecido como chefe religioso pelas outras cidades iorubás.
É que Ifé, fora o lugar a partir de onde as terras se teriam espalhado sobre as águas originais para,
segundo a tradição, fazerem nascer o mundo. Os iorubás foram expulsos da antiga Oyó pelos Nupês
(Tapas) estabelecendo-se no que é a Oyó de hoje. A partir do século XVI o poder da cidade-Estado de
Oyó cresce até unificar toda as cidades-Estado ioruba. O alafin (rei de Oió) exerce a soberania temporal
dos iorubas e também começa a questionar a legitimidade de Ifé, deificando Xangô, antigo rei oioano,
como divindade principal. No século XVII o Império de Oyó dominará grande parte da Nigéria, incluindo
o Reino de Daomé. A civilização dos iorubas alcançou grande prosperidade, notavelmente em relação à
vida urbana. Censos iorubas de 1850 revelam 10 cidades com mais de 100 mil habitantes. O Império de
Oyo Yoruba (c. 1400 - 1835) foi um império da África Ocidental onde é hoje a Nigéria ocidental. O império
foi criado pelos Yoruba, no século XV e cresceu para se tornar um dos maiores estados do Oeste africano
encontradas pelos exploradores coloniais. Aumentou a vantagem riqueza adquirida através do comércio
e de sua posse de uma poderosa cavalaria. O império de Oyo foi o estado mais importante politicamente
na região de meados século XVII ao final do século XVIII, dominando não só outras monarquias Yoruba
nos dias atuais Nigéria, República do Benim, e Togo, mas também outras monarquias africanas, sendo a
mais notável o reino Fon do Dahomey localizado no que é hoje a República do Benim).Império do
BeninFamoso por sua arte, o Benin, situado ao sudeste de Ifé, foi fundado, segundo a tradição, também
por Oranian, pai de Xangô, sendo então, intimamente aparentado com Oyó e Ifé. A primeira dinastia a
reinar teve, segundo mitos, primeiro doze Obas (reis) e terminou por uma revolta, quando se constituiu
em reino. Seu apogeu ocorreu no século XIV, com a capital Edo, que perdura até hoje. A cultura nagô,
evidenciada nesta pesquisa, tem procedência no grupo dos escravos sudaneses do império iorubá, acima
citado, em suas origens.Na verdade a denominação “nagô” foi dada, no Brasil, a língua iorubá que foi, na
Bahia, a “língua geral” dos escravos, tendo dominado as línguas faladas pelos escravos de outras nações.
O iorubá compreende vários subgrupos e dialetos, entre os quais o Egbá, que inclui o grupo Ketu e Ijexá,
das tribos do mesmo nome, cujos rituais foram adotados, principalmente o Ketu, pelos candomblés mais
conservadores. Do ewe “anago”, nome dado pelos daomeanos aos povos que falavam o Iorubá, tanto na
Nigéria como no Daomé (atual Benin), Togo e arredores, e que os franceses chamavam apenas nagô. O
reino possuí uma origem mítica: teria sido fundado por Oranian, um ioruba. A sede é a cidade de Ubini.
No século XVI é proibido a escravidão masculina, numa política de estímulo demográfico. O oba mantinha
o monopólio na produção e circulação do marfim e da Pimenta.O território onde o Benim se localiza era
ocupado no período pré-colonial por pequenas monarquias tribais, das quais a mais poderosa foi a do
reinado Fon de Daomé. A partir do século XVII, os portugueses estabelecem entrepostos no litoral,
conhecido então como Costa dos Escravos. Os negros capturados são vendidos no Brasil e no Caribe.
No século XIX, a França, em campanha para abolir o comércio de escravos, entra em guerra com reinos
locais. Em 1892, o reinado Fon é subjugado e o país torna-se protetorado francês, com o nome de Daomé.
Em 1904 integra-se à África Ocidental Francesa. O domínio colonial encerra-se em 1960, quando Daomé
torna-se independente, tendo Hubert Maga como primeiro presidente. A partir de 1963, o país mergulha
na instabilidade política, com seis sucessivos golpes militares. Em 1972, um grupo de oficiais subalternos
toma o poder e institui um regime esquerdista, liderado pelo major Mathieu Kérékou, que governa até
1990. Kérékou nacionaliza companhias estrangeiras, estatiza empresas privadas de grande porte e cria
programas populares de saúde e educação. A doutrina oficial do Estado é o marxismo-leninismo, mas a
agricultura e o comércio permanecem em mãos privadas. Em 1975, o país passa a designar-se Benim.
O regime político entra em crise na década de 1980, e o governo recorre a empréstimos estrangeiros.
Uma onda de protestos, em 1989, leva Kérékou a promover uma abertura política e econômica. Com a
instituição do pluripartidarismo, surgem mais de 50 partidos. Nicéphore Soglo, chefe do governo de
transição formado em 1990, é eleito presidente em 1991.

Grécia

Situada na Europa Meridional, entre os mares Jônio, Egeu e Mediterrâneo, a Grécia é um país
montanhoso, em cuja costa existem muitos golfos e enseadas. A pobreza do solo e o litoral recortado
com muitas ilhas, contribuiu para que os gregos se tornassem excelentes navegadores, lançando-os à
conquista de outras regiões mais produtivas.

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Diferente do país que conhecemos hoje, no passado a Grécia era formada por diversos territórios que
se espalhavam pelos mares que a cercavam. O próprio nome Grécia não era utilizado, pois os habitantes
da região chamavam a Grécia Antiga de Hélade e a si de helenos. Os povos que ali habitavam julgavam-
se autóctones descendentes de Heleno, filho de Deucalião, que havia escapado de um dilúvio provocado
por Júpiter, pai dos Deuses. Daí o nome de Hélade.

Antiguidade Ocidental

A Grécia Primitiva
A Ilíada e A Odisseia, poemas atribuídos a Homero, nos fornecem muitos conhecimentos sobre a
Grécia Antiga.
A Ilíada narra a guerra entre os gregos e os troianos. A causa dessa guerra foi o rapto da bela Helena,
esposa de Menelau, por Páris, filho do rei de Tróia ou Ileo (daí Ilíada).
Comandados por Agamenon os gregos atacaram os troianos.
Durante as lutas Aquiles foi o destaque grego enquanto Heitor era o herói troiano.
Protegido pelo deus Hefaísto, que lhe cedera uma armadura impenetrável, Aquiles atacou os troianos
que fugiram, exceto o corajoso Heitor, que enfrentou Aquiles. Apesar da bravura, Heitor foi morto por
Aquiles que acabou profanando o seu cadáver.
O irmão de Heitor, Paris, que jurara vingança, acabou matando Aquiles após feri-lo com uma flecha
em seu único lugar vulnerável: o calcanhar, daí o termo calcanhar de Aquiles que quer dizer o ponto fraco
de uma pessoa.
Não conseguindo tomar Tróia pela força, os gregos usaram da astúcia…
Após terem celebrado a paz com os troianos, os gregos enviaram à Tróia um grande cavalo de madeira
como presente (daí a expressão “presente-de-grego”). Acontece que dentro desse cavalo estavam os
melhores guerreiros gregos. Estes, já dentro da cidade, abriram as portas para que o exército grego
liquidasse os troianos que foram apanhados desprevenidos.
Foi assim que os gregos conquistaram Tróia, após uma guerra de durou 10 anos.
Hoje acredita-se que apesar da aventura contada no obra, os gregos forçaram a invasão a Tróia por
causa de sua localização estratégica para o comércio marítimo no mar Egeu.
A Odisseia narra as aventuras de Ulisses (ou Odisseu), rei da Ítaca, que após a destruição de Tróia
procura retornar a sua fiel esposa Penélope, que prometera escolher um noivo, assim que terminasse de
tecer um manto. Acontece que na esperança da chegada de Ulisses ela desmanchava, à noite, o trabalho
que fizera durante o dia.
Finalmente, Ulisses chegou. Disfarçado em mendigo, se dirigiu ao local onde se celebrava a festa em
honra do deus Apolo. Nesta festa, Penélope propôs que aquele que conseguisse disparar o arco e as
flechas de Ulisses ela desposaria. Todos tentaram, sem sucesso.
Ulisses, graças à interferência de Telêmaco, seu filho, que sabia de seu segredo, disparou as doze
flechas. Em seguida venceu os seus adversários e revelou-se a Penélope, que não acreditava ser aquele
velho esfarrapado o seu esposo. Para contornar a situação, a deusa Atenéia devolveu a Ulisses a sua
juventude e também a obediência a seu povo.
No final do período homérico, o aumento populacional e a falta de terras acabou desagregando a
comunidade primitiva.
As terras coletivas foram divididas pelo páter (chefe de família) entre seus parentes mais próximos,
surgindo dessa forma à propriedade privada e a hierarquização da sociedade em classes distintas.
Dessa forma, de um lado formou-se uma poderosa aristocracia que possuía as melhores terras e
controlava o poder político, do outro lado os despossuídos que passaram a trabalhar para os aristocratas
ou se dedicaram ao comércio e ao artesanato. Outros ainda acabaram emigrando para novas terras.

O Povo Grego
Na verdade a civilização grega resultou numa mistura de diversos povos.
Por volta do segundo milênio a.C., a ilha de Creta, graças ao seu comércio marítimo possuía uma
civilização bastante complexa.
As comunidades neolíticas das costas do mar Egeu foram muito influenciadas pela metalurgia. O
comércio de metais e as novas armas conferiram superioridade a alguns povos, provocando mudanças
em sua organização.
A civilização grega teve suas raízes mais profundas na cultura cretense, desenvolvida nos milênios III
a.C. e II a.C, baseada na agricultura e em um rico comércio marítimo.

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A partir de 2200 a.C, a ilha de Creta adquiriu um papel preponderante na região do mar Egeu.
Localizada nas proximidades do Egito e da Ásia Menor, seu esplendor se iniciou em torno do ano 2000
a.C, época na qual a cidade de Cnossos dominava a ilha.
A sociedade minoica era governada por príncipes, que criaram um império marítimo. Dentre eles
destacou-se o legendário Minos (o mesmo da lenda do minotauro), que teria construído numerosos
palácios em Cnossos, a cidade mais importante de Creta. Por isso, a cultura cretense também é
denominada cultura minoica.
A economia, construída sobre uma base agrícola, evoluiu para o comércio. A aplicação do torno à
cerâmica e o domínio da metalurgia impulsionaram a exportação e a importação. Além de produtos
agrícolas, os cretenses exportavam suas manufaturas e importavam matérias-primas: cobre do Chipre e
estanho da Europa ocidental. Eles eram os intermediários comerciais entre os povos vizinhos. O comércio
favoreceu o desenvolvimento da vida das pessoas nas cidades.
A arte minoica esteve bastante presente na construção dos palácios e sobretudo na decoração de
seus interiores. As obras artísticas, que anteriormente tinham apenas inspiração religiosa, sofreram
mudanças graças às transformações ocorridas na vida e na mentalidade da sociedade. Assim, elas
deixaram de ter caráter apenas sagrado e passaram a ter sentido próprio, voltadas à simples
contemplação. Destacam-se as elegantes pinturas em afresco que representavam cenas da vida
cotidiana.
Os minoicos utilizavam dois tipos de escrita, Linear A e Linear B. O primeiro ainda não é bem
conhecido, mas o segundo está ligado à escrita grega.
Atraídos pelo desenvolvimento de Creta, por volta de 1400 a.C, os aqueus invadiram e conquistaram
a ilha. Contudo, não destruíram a cultura cretense; ao contrário, procuraram assimilá-la e preservá-la, de
onde surgiu a civilização micênica.
A Civilização Micênica é considerada uma das sociedades mais sofisticadas da cultura grega pela
grande disseminação artística e pela avançada organização política que via as mulheres com igualdade.
Entretanto, ao contrário das civilizações gregas mais antigas que adoravam uma deusa-mãe, os
micênicos passaram a louvar Poseidon, que eles acreditavam ser o governador máximo da Terra.
Acredita-se que nesta civilização se dá início às primeiras lendas da Mitologia Grega, pois ao fim deste
período o deus principal passou a ser Zeus.
O sistema político e econômico era centrado na figura do rei, mas pouco se sabe sobre a hierarquia
social da época. Alguns especialistas sustentam que, abaixo dos reis, havia uma forte organização militar
detentora de grandes lotes de terra. Os escravos, trabalhadores livres e comerciantes faziam parte da
escala social mais baixa.
Os micênicos eram grandes navegadores e construíram embarcações bem mais avançadas que as
iniciadas pelos minoicos. Este povo, que se caracterizava pelo aspecto guerreiro, construiu barcos de
carga que eram propícias ao combate. Como armamento, os micênicos começaram a utilizar o ferro e o
bronze.
Não se sabe ao certo qual foi o real motivo de desaparecimento dessa civilização, mas alguns
historiadores acreditam que a invasão dos dórios na região de Creta foi o principal motivo. Os dórios
acabaram com toda a potência marítima iniciada pelos micênicos e a ilha de Creta, que se tornara uma
das regiões mais desenvolvidas da Grécia, perdeu sua hegemonia com sua divisão em cidades-Estado.
Os dóricos entraram violentamente na Grécia pouco depois da Guerra de Tróia, por volta de 1100 a.C.
Eram mais poderosos que os Aqueus do ponto de vista bélico, pois possuíam armas feitas de ferro. Com
a invasão de Creta as cidades micênicas foram destruídas.
Os dóricos não conseguiram absorver as conquistas micênicas, como a escrita, e a urbanização
praticamente desapareceu. A Grécia viveu um período conhecido como idade obscura ou período
Homérico (recebeu este nome por conta das poucas fontes, e sendo as obras Ilíada e Odisseia de Homero
as principais), do qual se conhece muito pouco.
Com a invasão dórica muitos habitantes fugiram da Península do Peloponeso, essa foi a primeira
diáspora grega.

Cidades-Estado
A história da Grécia Antiga caracteriza-se pela presença da cidade-Estado (pólis). Havia ao todo cerca
de 160 cidades-Estado na Grécia, todas elas soberanas, com destaque para Atenas e Esparta. A
independência dessas cidades resultou de vários fatores: o relevo montanhoso, que dificultava as
comunicações terrestres; o litoral recortado e as numerosas ilhas existentes no Mar Egeu, que
estimulavam a navegação; a ausência de uma base econômica interna sólida, que poderia aglutinar os
gregos em um Estado-nação. Contudo, os gregos passaram por um processo de dispersão que os levou
a fundar numerosas colônias no litoral do Mediterrâneo e do Mar Negro. Essas colônias vieram a tornar-

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se outras tantas cidades-Estado, de forma que não se estabeleceu uma unidade política entre elas.
Entretanto, como havia unidade cultural (identidade de língua, etnia, religião e costumes), por isso
podemos falar em um Mundo Grego, mas não em um Império Grego.
Nessa época, os gregos viviam em pequenas comunidades agrícolas autossuficientes — os genos –
cujos membros eram aparentados entre si e obedeciam à autoridade de um pater famílias. A propriedade
da terra era coletiva. O sistema gentílico desintegrou-se quando o crescimento demográfico tornou
insuficiente a produção dos genos. Os parentes mais próximos do pater famílias (os eupátridas)
apropriaram-se das terras, transformando-as em propriedade privada; quanto aos parentes mais
afastados, estes se transformaram em camponeses sem terra ou então emigraram. Separando-se dos
camponeses, os eupátridas passaram a morar em locais fortificados que, com o correr do tempo e o
desenvolvimento do comércio, deram origem às polis.
Constituída por um aglomerado urbano, abrangia toda a vida pública de um pequeno território e
geralmente encontrava-se protegida por uma fortaleza. Compreendia a totalidade dos cidadãos, exceto
os escravos, metecos e membros de populações subjugadas e distinguia-se de outras cidades pelo nome
dos seus habitantes.
A criação da pólis foi favorecida pelo progresso da agricultura, do comércio e pelo aparecimento da
indústria têxtil, bem como pela intensificação da vida política. Quando os habitantes de povoações
disseminadas transferiram a sua residência para perto das fortalezas, a acrópole se converteu no centro
político da pólis.
A pólis era uma organização social constituída por cidadãos livres que discutiam e elaboravam as leis
relativas à cidade. Dentro dos limites de uma pólis ficavam a Ágora e a Acrópole, além dos espaços
urbano e rural. A agricultura era a base da economia da pólis.
A Ágora era uma grande praça pública, um espaço onde os cidadãos se reuniam para atividades
comerciais, discussões políticas e manifestações cívicas e religiosas.
A Acrópole era uma fortificação onde estavam os monumentos, os templos e os palácios dos
governantes.
Atenas e Esparta foram as pólis com maior reconhecimento através dos tempos, com fama até os dias
atuais.

Esparta
Esparta localizava-se na região da Lacônia, que ocupava a parte sudeste da Península do Peloponeso,
ao extremo sul da Grécia, sendo uma das primeiras cidades-Estado. Foi fundada pelos dórios, por volta
do século IX a.C., após a submissão dos aqueus.
Durante o Período Homérico, os dórios vivenciaram o sistema gentílico, como as demais regiões da
Grécia. Nesse período, as terras que haviam sido conquistadas aos aqueus foram distribuídas entre os
guerreiros, que as trabalhavam coletivamente, sob um regime patriarcal. No século VII a.C., em razão da
escassez de terras e do crescimento da população dória, teve início a expansão vitoriosa sobre a Planície
Messênia; os messênios foram reduzidos à condição de escravos. Esse fato promoveu profundas
alterações na estrutura econômica e fundiária de Esparta. As propriedades coletivas desapareceram,
cedendo lugar a uma vasta propriedade estatal, denominada de terra cívica — as terras centrais e mais
férteis da planície.
Essas terras foram divididas em cerca de 8.000 lotes, que foram distribuídos aos guerreiros dórios,
detentores da posse útil da terra cívica. Recebiam também cerca de seis escravos para realizar os
trabalhos. As terras periféricas foram divididas entre os aqueus, que detinham a propriedade privada
sobre a terra, podendo vendê-la ou dividi-la.
A conquista da Planície Messênia promoveu uma reestruturação social em Esparta. Basicamente,
após a conquista da Planície, a sociedade era composta de esparciatas (cidadãos e guerreiros de origem
dória, que constituíam a camada social superior e recebiam educação militar), periecos (aqueus,
habitantes da periferia, que, apesar de serem homens livres, não eram considerados cidadãos) e hilotas
(escravos). A sociedade era estamental, rigidamente hierarquizada e sem mobilidade social.
Até o século VII a.C., a legislação de Esparta—Grande Retra — estabelecia que o governo deveria ser
exercido por dois reis (diarquia), por um conselho e por uma assembleia. A sucessão ao trono era
hereditária e duas famílias dividiam o poder: os Ágidas e os Euripôntidas. O Conselho, denominado
Gerúsia, era formado pelos homens idosos e tinha um caráter apenas consultivo. A Assembleia, Ápela,
era o órgão mais importante, e os cidadãos tomavam as decisões finais sobre todos os assuntos. A
Constituição e a organização política eram praticamente imutáveis, pois eram atribuídas à lendária figura
de Licurgo, personagem histórica que, por ter um caráter divino, imprimia essa divinização às normas por
ele criadas. Com o processo de conquista da Planície Messênia concluído no século VII a.C., as
transformações políticas foram proporcionais às mudanças socioeconômicas. O governo passou por uma

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transformação conservadora e mais uma vez essas alterações foram atribuídas a Licurgo. Esparta adotou
a oligarquia como forma de governo. A antiga Gerúsia passou a monopolizar o poder e, nesse momento,
compunha-se de 28 gerontes (cidadãos com mais de 60 anos), com poderes vitalícios.
O Poder Executivo passou a ser exercido pelos éforos, cinco magistrados escolhidos pelos gerontes,
com o mandato de um ano. A antiga Ápela aprovava as leis apenas por aclamação, correspondendo,
nesse contexto, a um órgão formal de decisões políticas, de caráter meramente consultivo. A diarquia
continuou a existir, mas os seus poderes políticos foram esvaziados, restando-lhe o exercício do poder
sacerdotal e as atribuições militares. O caráter conservador de Esparta resultou da preocupação da
minoria esparciatas em manter a maioria hilota subordinada. Daí o militarismo do estamento dominante,
a xenofobia (aversão ao estrangeiro) e o laconismo (forma sintética de expressão), que sufocavam o
surgimento de ideias e restringiam o espírito crítico.
A educação espartana estava voltada para a guerra, moldando os homens, desde crianças, que se
preparavam para tornar-se soldados.
Esse processo de formação militar começava quando ainda criança, quando um grupo de anciãos
observava as crianças, que não poderiam ter problemas físicos e de saúde. Caso a criança fosse
completamente saudável ela ficaria sob a guarda da sua mãe até os sete anos de idade; após, quem se
tornaria responsável pela criança era o próprio Estado.
Assim, ao sete anos, a criança “entrava” para o exército onde permaneceria até seus doze anos de
idade, quando receberia alguns ensinamentos para que conhecesse a dinâmica do estado Espartano e
principalmente as tradições de seu povo, e após esses ensinamentos entrariam de fato em um
treinamento militar.
Aprendiam a combater com eficácia, eram testados fisicamente e psicologicamente, além de
aprenderem a sobrevivência em condições extremas e diversas, e principalmente aprendiam a obedecer
seus superiores. Se por algum acaso esses jovens soldados não conseguissem completar essas missões
pela qual eram submetidos, ocorriam punições.
O teste final na vida do soldado espartano era realizado aos seus 17 anos. Esse teste era conhecido
como Kriptia e funcionava como um jogo, onde os soldados escondiam de dia em campo para ao
anoitecer, saírem a caça do maior número de escravos (hilotas) possíveis.
Passando por esses processos de seleções o jovem espartano já poderia integrar oficialmente os
exércitos e teria direito também a um lote de terras.
Aos trinta anos de idade o soldado poderia ganhar a condição de cidadão e isso o dava o direito de
participar de todas as decisões e leis que seriam colocadas na mesa pela Apela, e aos sessenta anos o
indivíduo poderia sair do exército podendo integrar a Gerúsia.

Atenas
De origem jônica, Atenas se apresentou como um padrão para o desenvolvimento para outras cidades-
estados gregas. A região cercada de montanhas, foi poupada de uma ocupação dos Dórios. Ao lado de
Esparta, a cidade de Atenas é caracterizada como um modelo a ser seguido, isso pois, nessa cidade
aconteceu a formação e o desenvolvimento da Democracia. Essa palavra em sua origem representa:
DEMO (povo) KRATOS (poder), ou seja, poder do povo. A Democracia é até hoje o regime político
utilizado na maioria dos países Ocidentais, inclusive no Brasil.
Em 621 a.C, o legislador Drákon foi o encarregado de escrever as primeiras leis escritas em Atenas,
codificou portanto as antigas leis conhecidas pela tradição oral. Nada mudou em relação à legislação, os
eupátridas continuavam sendo os que detinham os maiores direitos políticos, por isso, aconteceram em
Atenas várias manifestações dos Thetas (camada social marginalizada, camponeses, servos...) que
queriam participar da política ateniense, lutando principalmente contra a escravidão por dívida que ainda
existia em Atenas.
Somente em 594 a.C. com o legislador Sólon, aconteceram reformas políticas em Atenas mais
próximas dos interesses dos Thetas. Sólon decretou a lei seisachtéia, a proibição da escravidão por
dívida, além de determinar o confisco de terras dos eupátridas e uma divisão de terras para as famílias
mais pobres, isso resultou numa grande paz e estabilidade social. No plano jurídico decretou a eunomia,
a igualdade de todos perante a lei. Essa reforma foi decisiva para o desenvolvimento de um sentimento
democrático em Atenas.
A Democracia em Atenas passaria ainda por algumas reformas, o que aconteceu em 507 a.C com o
legislador Clístenes, que recebeu o título de “pai da democracia”.

Educação

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Na antiguidade, a cidade-estado grega de Atenas destacou-se nas áreas de artes, teatro, literatura e
outras atividades culturais. Desta forma, a educação ateniense refletiu os anseios e valores desta
sociedade.
A educação ateniense tinha como objetivo principal à formação de indivíduos completos, ou seja, com
bom preparo físico, psicológico e cultural.
Por volta dos sete anos de idade, o menino ateniense era orientado por um pedagogo. Na escola, os
jovens estudavam música, artes plásticas, Filosofia, etc.
As atividades físicas também faziam parte da vida escolar, pois os atenienses consideravam de grande
importância a manutenção da saúde corporal.
Já as meninas de Atenas não frequentavam escolas, pois ficavam aos cuidados da mãe até o
casamento.

Cidadania e Democracia na Antiguidade


Comumente consideramos como antiguidade o período que vai do surgimento da escrita, por volta de
3000 a.C na Mesopotâmia, até a queda do Império Romano do Ocidente, no ano de 476 d.C. Diferentes
povos se desenvolveram na Idade Antiga, entre elas as civilizações do Egito, Mesopotâmia, China, as
civilizações clássicas como Grécia e Roma, os Persas, os Hebreus, os Fenícios, além dos Celtas,
Etruscos, Eslavos, dos povos germanos (visigodos, ostrogodos, anglos, saxões,) entre outros. Ela surge
como um período histórico de fundamental importância, destacadamente por suas criações e legados,
muitos dos quais lançaram as bases para a construção de muitas sociedades atuais.
Além de ser o período do surgimento da escrita, a antiguidade também viu nascerem os jogos
olímpicos, a organização do conhecimentos, o surgimento de diversas cidades e a criação do Estado
enquanto instituição capaz de regulamentar o convívio entre os homens. A partir de então, o crescente
nível de complexidade das civilizações comportou também o fortalecimento das relações políticas.

Política
Os sistemas de governo na Antiguidade estavam baseados em elementos teocráticos, ou seja,
sustentados por uma visão religiosa e dominado por uma pequena elite política. O Faraó no Egito era
visto como um enviado dos deuses, e, em alguns casos, como uma reencarnação divina. Nos povos
mesopotâmicos, assim como em grande parte das demais civilizações do período, eram frequentes as
interferências do sacerdote em assuntos políticos.

O exemplo de Esparta
Até o século VII a.C., a legislação de Esparta —Grande Retra — estabelecia que o governo deveria
ser exercido por dois reis (diarquia), por um conselho e por uma assembleia. A sucessão ao trono era
hereditária e duas famílias dividiam o poder: os Ágidas e os Euripôntidas.
O conselho, denominado Gerúsia, era formado pelos homens idosos e tinha um caráter apenas
consultivo. A Assembleia, Ápela, era o órgão mais importante, e os cidadãos tomavam as decisões finais
sobre todos os assuntos.
A Constituição e a organização política eram praticamente imutáveis, pois eram atribuídas a lendária
figura de Licurgo, personagem histórica que, por ter um caráter divino, imprimia essa divinização às
normas por ele criadas.
Com o processo de conquista da Plante Messênia concluído no seculo VII a C., as transformações
políticas foram proporcionais às mudanças socioeconômicas. O governo passou por uma transformação
conservadora e mais una vez essas alterações foram atribuídas a Licurgo. Esparta adotou a oligarquia
como forma de governo. A antiga Gerúsia passou a monopolizar o poder e, nesse momento, compunha-
se de 28 gerontes (cidadãos com mais de 60 anos), com poderes vitalícios. O Poder Executivo passou a
ser exercido pelos éforos, cinco magistrados escolhidos pelos gerontes, com o mandato de um ano. A
antiga Ápela aprovava as leis apenas por aclamação, correspondendo, nesse contexto, a um órgão formal
de decisões políticas, de caráter meramente consultivo. A diarquia continuou a existir, mas os seus
poderes políticos foram esvaziados, restando-lhe o exercício do poder sacerdotal e as atribuições
militares. O caráter conservador de Espana resultou da preocupação da minoria esparciata em manter a
maioria hilota (escravos) subordinada. Daí o militarismo do estamento dominante, a xenofobia (aversão
ao estrangeiro) e o laconismo (forma sintética de expressão), que sufocavam o surgimento de ideias e
restringiam o espirito crítico.
A sociedade espartana era composta de esparciatas (cidadãos e guerreiros de origem dória, que
constituíam a camada social superior e recebiam educação militar), periecos (aqueus, habitantes da
periferia, que, apesar de serem homens livres, não eram considerados cidadãos) e hilotas (escravos).
A sociedade era estamental, rigidamente hierarquizada e sem mobilidade social.

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A política nos exemplos citados possui uma maneira de organização pautada na hierarquia e na
participação de um seleto grupo de pessoas, que governavam e mantinham o poder através da
justificativa divina e também familiar.
Apesar do caráter oligárquico da política na Antiguidade, algumas experiências merecem destaque
por mudarem esse cenário, aumentando a participação da população nos assuntos políticos.

A democracia em Atenas
A democracia, governo do povo (demo = povo, cracia=governo), foi implantada em Atenas, por volta
de 510 a.C., quando Clístenes comandou um revolta contra o último tirano que governou a cidade-estado.
As reformas políticas adotadas por Clístenes visavam a resolver os graves conflitos sociais decorrentes
da estratificação social em Atenas.
O regime político democrático instituído por Clístenes tinha por princípio básico a noção de que “todos
os cidadãos têm o mesmo direito perante as leis”.

E quem eram os cidadãos?


Somente os homens atenienses maiores de 21 eram considerados cidadãos, ou seja, eram
excluídos da vida política as mulheres, os estrangeiros, os escravos e os jovens. A democracia de Atenas
era, dessa forma, elitista, patriarcal e escravista, porque apenas uma pequena minoria de homens
proprietários de escravos poderia exercê-la.
Os cidadãos participavam da Assembleia do Povo, órgão de decisão que ficava a cargo de aprovar
ou rejeitar os projetos apresentados para a cidade. Esses projetos eram elaborados pelo Conselho dos
Quinhentos, um conjunto de 500 cidadãos eleitos anualmente. Após serem aprovados pela Assembleia
do Povo, os projetos eram executados, em tempos de paz, pelos estrategos.
A democracia ateniense acabou por volta de 404 a.C., quando a cidade-estado foi derrotada por
Esparta na Guerra do Peloponeso, voltando a ser governada por uma oligarquia.

Roma
Em Roma, também existia a ideia de cidadania como capacidade para exercer direitos políticos e civis
e a distinção entre os que possuíam essa qualidade e os que não a possuíam.
A sociedade romana era composta basicamente de três classes:
Patrícios (descendentes dos fundadores);
Plebeus (descendentes dos estrangeiros);
Escravos (prisioneiros de guerra e os que não saldavam suas dívidas).
Existiam também os clientes, que eram homens livres, dependentes de um aristocrata romano que
lhes fornecia terra para cultivar em troca de uma taxa e de trabalho
A cidadania em Roma era garantida aos homens livres. Apesar da garantia ao homens livres, não eram
todos aqueles considerados livres que tinham o direito de exercê-la. Inicialmente apenas os patrícios
possuíam direitos políticos, civis e religiosos. O cargo de senador, por exemplo, era vitalício e exclusivo
apenas para os patrícios. Essa diferenciação entre patrícios e plebeus gerou diversos conflitos. Após a
reforma do Rei Sérvio Túlio, os plebeus tiveram acesso ao serviço militar e lhes foram assegurados alguns
direitos políticos. Só a partir de 450 a.C., com a elaboração da famosa Lei das Doze Tábuas, foi
assegurada aos plebeus uma maior participação política, o que se deveu em muito à expansão militar
romana.

Direito Romano
Direito romano é um termo histórico-jurídico que se refere, originalmente, ao conjunto de regras
jurídicas observadas na cidade de Roma e, mais tarde, ao corpo de direito aplicado ao território do Império
Romano e, após a queda do Império Romano do Ocidente em 476 d.C., ao território do Império Romano
do Oriente. Mesmo após 476, o direito romano continuou a influenciar a produção jurídica dos reinos
ocidentais resultantes das invasões bárbaras, embora um seu estudo sistemático no ocidente pós-romano
esperaria a chamada redescoberta do Corpo de Direito Civil pelos juristas italianos no século XI.
Os historiadores do direito costumam dividir o direito romano em fases. Um dos critérios empregados
para tanto é o da evolução das instituições jurídicas romanas, segundo o qual o direito romano
apresentaria quatro grandes épocas:

Época Arcaica (753 a.C. a 130 a.C.)


Época Clássica (130 a.C. a 230 d.C.)
Época Pós-Clássica (230 d.C. a 530 d.C.)
Época Justiniana (530 d.C. a 565 d.C.)

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A influência do direito romano sobre os direitos nacionais europeus é imensa e perdura até hoje. Uma
das grandes divisões do direito comparado é o sistema romano-germânico, adotado por diversos Estados
continentais europeus e baseado no direito romano. O mesmo acontece com o sistema jurídico em vigor
em todos os países latino-americanos.
Durante o primeiro período da história romana, que vai até a criação da república em 510 a.C. o direito
era baseado nos costumes, com a ligação do Direito Sagrado ao humano.
No período republicano, que vai de 510 a.C. até Augusto, em 27 a.C., no Direito Romano prevalecia o
jus gentium sobressaindo sobre o jus fas (Direito Sagrado, religioso), que era o direito comum para todos
os povos que habitavam o Mediterrâneo, além do conceito do bonum et aequum, e o conceito da boa-fé;
O período do Direito clássico, é considerando a época áurea da jurisprudência, indo do reinado de
Augusto até o imperador Diocleciano. Existe uma participação maior dos jurisconsultos, que são os
conhecedores do Direito na época, além da substituição do direito magistratural (jus honorarium) que
auxiliava, e supria o cerne originário do Direito Quiritário; no lugar deste surge o cognitio extra ordinem,
administração da justiça de aplicação particular do imperador.
O último período do Direito Romano acontece após o imperador Diocleciano (século IV d.C.), e vai até
a morte do imperador Justiniano. Durante este período que surgiu o direito pós-clássico, havendo a
ausência de grandes jurisconsultos, e ocorrendo uma adaptação das leis em face da nova religião Cristã
que ficou popular no império. Durante este período ocorre a formação do direito moderno, que começa a
ser codificado a partir do século VI d.C. pelo imperador Justiniano.
Apesar de proteger as liberdades individuais e reconhecer a autonomia da família com o pátrio poder,
o Direito Romano não assegurava a perfeita igualdade entre os homens, admitindo a escravidão e
discriminando os despossuídos. Ao lado da desigualdade extrema entre homens livres e escravos, o
Direito Romano admitia a desigualdade entre os próprios indivíduos livres, institucionalizando a exclusão
social.

Questões

01. (MPE-SP – Analista Técnico Científico – Pedagogo – VUNESP-2016)9 Das alternativas a


seguir, assinale aquela que define corretamente o modelo de democracia cuja experiência mais
marcante e conhecida foi a da Grécia Antiga. Esse modelo, conhecido como democracia direta, é
(A) uma forma em que o cidadão escolhe seus representantes, que devem eleger os responsáveis
pela condução do poder público, nos diferentes níveis.
(B) o sistema de eleição em que todos os cidadãos participam da escolha dos candidatos à eleição
para os diferentes cargos eletivos.
(C) o sistema em que o eleitor vota diretamente no seu representante para o Poder Executivo e
Legislativo.
(D) quando as decisões são tomadas por cada um dos cidadãos, administrar sem intermediários.
(E) o sistema em que o cidadão escolhe, entre os candidatos do seu distrito, aquele que deverá
participar da eleição em nível municipal.

02. (TJ-RS – Historiógrafo – FAURGS) Foram os gregos os primeiros a interessar-se pelas culturas
chamadas bárbaras. A partir desse interesse, foi rompido o ciclo de produção dos anais dinásticos e
iniciou-se o movimento que propunha uma reflexão mais ampla sobre a sociedade em geral. Assim
nascia a história ocidental. A respeito da História produzida na Grécia Antiga, qual das afirmações
abaixo está INCORRETA?
(A) Fundamentava-se na coleta e cotejo de informações e na sua guarda em arquivos.
(B) Cabia ao historiador dizer a verdade sobre os acontecimentos que achava digno relatar.
(C) Representou a emergência de um discurso sobre o passado que aspirava à verdade.
(D) Demonstrava interesse pelo estrangeiro e apresentava digressões etnográficas e geográficas.
(E) Baseava-se na observação direta, por meio do testemunho do historiador, e na valorização da
tradição oral.

9
https://www.qconcursos.com/questoes-de-
concursos/questoes/search?utf8=%E2%9C%93&todas=on&q=Gr%C3%A9cia&instituto=&organizadora=&prova=&ano_publicacao=&cargo=&escolaridade=&modali
dade=&disciplina=550&assunto=&esfera=&area=&nivel_dificuldade=&periodo_de=&periodo_ate=&possui_gabarito_comentado_texto_e_video=&possui_comentari
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_desatualizadas_impressao=&caderno_id=&migalha=&data_comentario_texto=&data=&minissimulado_id=&resolvidas=&resolvidas_certas=&resolvidas_erradas=&
nao_resolvidas=

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03. (FEI)10 Atenas foi considerada o berço do regime democrático no mundo antigo. Sobre o regime
democrático ateniense, é CORRETO afirmar que:
(A) Era baseado na eleição de representantes para as Assembleias Legislativas, que se reuniam uma
vez por ano na Ágora e deliberavam sobre os mais variados assuntos.
(B) Apenas os homens livres eram considerados cidadãos e participavam diretamente das decisões
tomadas na Cidade-Estado
(C) Os estrangeiros e mulheres maiores de 21 anos podiam participar livremente das decisões
tomadas nas assembleias da Cidade-Estado.
(D) Era erroneamente chamado de democrático pois negava a existência de representantes eleitos
pelo povo
(E) A inexistência de escravos em Atenas levava a uma participação quase total da população da
Cidade-Estado na política.

04. (FEI) A Guerra do Peloponeso, ocorrida na Grécia entre 431 e 401 a.C., foi:
(A) Uma guerra defensiva empreendida pelos gregos contra a invasão dos persas e a ameaça de
perda de suas principais praças de comércio do Mar Mediterrâneo;
(B) Uma luta entre dórios e aqueus na época da ocupação do território grego que resultou na
formação das cidades de Esparta e Atenas;
(C) Uma luta comandada pelas cidades de Esparta e Corinto contra a hegemonia da Confederação de
Delos - liderada por Atenas - sobre o território grego;
(D) Uma guerra entre gregos e romanos, pelo desejo de implantação de uma cultura hegemônica sobre
os povos do Oriente Próximo;
(E) Uma invasão do território grego pelas tropas de Alexandre - O Grande, na época de expansão do
Império Macedônico que herdara de seu pai.

05. (PUC-PR) A Civilização Grega apresentou unidade cultural e fragmentação política. Sobre o
assunto, assinale a alternativa correta:
(A) Quando as tribos arianas ou indo-europeias dos aqueus, eólicos, jônios e dóricos penetraram na
Grécia encontraram a região desabitada, o que facilitou-lhes a fixação.
(B) A conquista da Grécia por Felipe II da Macedônia foi anterior ao domínio romano na região.
(C) Atenas e Esparta, as principais polis gregas foram igualmente fundadas pelos descendentes dos
eólicos, o que explica serem suas economias iguais, baseadas na pesca, artesanato e intenso comércio,
inclusive marítimo.
(D) Tanto Atenas quanto Esparta implantaram governos tipicamente democráticos nos séculos V e IV
a.C., tendo a primeira, contudo, mantido a forma monárquica de governo.
(E) A agressividade das polis, ou cidades-estados de Tebas e Corinto, provocou a primeira onda
colonizadora grega, que povoou inclusive as ilhas do mar Egeu.

Gabarito

01.D / 02.A / 03.B / 04.C / 05.B

Comentários

01. Resposta – D
A democracia direta é aquela em que os próprios cidadãos elaboram as leis e participam diretamente
das decisões estatais, como a criação de tributos, de leis, da necessidade de se implantar uma obra
pública, dentre outros. Esse modelo surgiu na Grécia e teve diversas variações, porém geralmente quem
podia participar eram os cidadãos da Polis (vedado para mulheres, plebeus, estrangeiros e escravos).

02. Resposta – A
Na Grécia Antiga não há ainda o conceito de fontes históricas documentais, embora a história tenha
sendo escrita e documentada para estudos posteriores. O que historiadores como Heródoto relatavam
eram suas observações, utilizavam da tradição oral e havia uma valorização pelo cotidiano dos sujeitos.

03. Resposta – B

10
http://www.questoesdosvestibulares.com.br/2015/05/historia-idade-antiga-grecia-antiga.html

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O “direito” de ser cidadão em Atenas passava por alguns requisitos. Apenas homens maiores de 21 e
filhos de atenienses podiam ter participação política. Mulheres, estrangeiros, homens atenienses menores
de 21 anos e escravos (ou mesmo escravos libertos) não tinham direitos políticos.

04. Resposta – C
A Guerra do Peloponeso pode ser considerada uma consequência direta da hegemonia de Atenas
após o conflito contra os persas. O poder marítimo ateniense após as Guerras Medicas fez com que
Esparta se sentisse ameaçada e o resultado foi o conflito interno na Grécia.

05. Resposta – B
A Macedônia de Felipe II domina a Grécia quase 200 anos antes dos romanos. Os conflitos contra os
persas e entre as cidades-Estado gregas fizeram com que o país ficasse enfraquecido, nunca se
recuperando das constantes invasões.

3 A organização sócio-política, econômica, cultural religiosa da sociedade


europeia do século V ao XV sua dinâmica, relações, rupturas e transformações.
3.1 A Cristianização da Europa. 3.2 A sociedade Oriental, o Islamismo e a
islamização da Arábia e África. 3.3 Os reinos africanos no século V ao XV

O Feudalismo

O Feudalismo, ou sistema feudal, corresponde ao modo de organização da vida durante a Idade Média
na Europa Ocidental. Suas origens remontam à crise do Império Romano a partir do século III.
A Idade Média abrange um longo período da história europeia, e é comum dividi-la em duas fases:
Alta Idade Média e Baixa Idade Média.
- A Alta Idade Média, é o período que vai do século V ao XI, corresponde à formação e consolidação
do sistema feudal;
- A Baixa Idade Média, é o período que vai século XI ao XV, caracteriza-se pela crise do feudalismo
e início da formação do sistema capitalista.
A formação do sistema feudal tem início com a crise do século III do Império Romano e acentua-se
no século V, com as invasões dos povos germânicos. A queda do escravismo, a formação do colonato e
a posterior implantação de um regime servil constituem o passo decisivo para a formação do sistema.
Por outro lado, os germanos que invadiram o Império Romano levaram consigo relações sociais
comunitárias de exploração coletiva das terras e subordinação aos grandes chefes militares (comitatus).
As invasões, além de despovoar as cidades, aumentando a população rural, dificultaram as comu-
nicações e provocaram o isolamento das localidades, forçando-as a adotar uma economia de subsistência
autossuficiente.
O feudalismo pode ser definido de vários modos. A melhor maneira, porém, é defini-lo conforme suas
relações sociais básicas: relações vassálicas (entre os senhores ou nobreza), relações comunitárias
(entre os servos) e relações servis (que ligavam o mundo dos senhores ao mundo dos servos).
Esta última ligação se processava por meio das obrigações, que resultavam das imposições feitas pelo
senhor aos servos, de realizar paga mentos em produtos ou serviços, e que constituem a própria essência
do feudalismo. Tais obrigações eram costumeiras e não contratuais, como ocorre no sistema capitalista.
Note-se que o servo era vinculado ao feudo, dele não podendo sair.

Feudos

A posse de bens variava de acordo com as circunstâncias:


Propriedade privada, no manso senhorial (terra do senhor);
Propriedade coletiva, nos pastos e bosques (de uso comum para senhores e servos);
Propriedade dupla, isto é, copropriedade, no manso servil. (O senhor detinha a posse legal e o servo,
a posse útil da terra.)
Levando-se em consideração que a maior parte da produção obtida pelo servo não se conservava em
suas mãos, pois passava para o senhor feudal, seu interesse era mínimo. Associando-se a este fato o de
que os trabalhos agrícolas eram realizados coletivamente, tolhendo a iniciativa individual, eles resultavam
em baixo nível da técnica e pequena produtividade: para cada grão semeado, colhiam-se dois. Daí o

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regime de divisão das terras cultiváveis em três campos, destinados alternadamente para o plantio de
cereais e de forragem, reservando-se o terceiro para o descanso (pousio). Realizava-se a rotação trienal
dos campos, com vistas a impedir o esgotamento do solo.

Sociedade Feudal
De acordo com as bases materiais descritas não havia possibilidade de mobilidade social nos feudos:
a sociedade era, portanto, estamental. O princípio de estratificação era o nascimento, surgindo então
duas camadas básicas: senhores e servos. Existiam também categorias intermediárias, tais como os
vilões (camponeses livres) e os ministeriais (corpo de funcionários livres do senhor).
O número de escravos reduziu-se cada vez mais, pois não havia guerras de expansão para apresá-
los; além disso, a Igreja condenava a escravização de cristãos. Por outro lado, os vilões tendiam a se
tornar servos, pois de nada lhes adiantava a liberdade dentro da insegurança reinante: o fundamental era
a obtenção de proteção.
No topo da hierarquia social estavam os senhores feudais. Os senhores feudais viviam com suas
famílias em casas fortificadas. Nas regiões mais ricas, os nobres habitavam em castelos.
Na base da sociedade feudal estavam os servos, que representavam aproximadamente 98% da
população de um feudo. Os servos viviam nas terras do senhor e a ele deviam uma série de serviços
como a corveia, a talha e as banalidades.
Na corveia o servo ficava obrigado a trabalhar nas terras do nobre por alguns dias da semana;
Na talha, o camponês ficava obrigado a entregar ao senhor feudal parte de sua produção;
Nas banalidades o servo era obrigado a pagar pela utilização do moinho, do forno e demais utensílios
pertencentes ao senhor.
Mão-morta, uma espécie de taxa que o servo devia pagar ao senhor feudal para permanecer no feudo
quando o pai morria.
Tostão de Pedro (10% da produção), que o servo devia pagar à Igreja de sua região.

Outra classe social existente no feudo era o clero, os membros da Igreja. Os clérigos eram os
responsáveis pela transmissão religiosa e cultural. Também eram os responsáveis pelas leis, que nesta
época eram transmitidas pela interpretação religiosa. Isto tudo garantia ao clero a responsabilidade pelo
caráter moral da sociedade. E, não por acaso, que foi neste período que a Igreja Católica se transformou
na mais poderosa instituição da Idade Média. O domínio da Igreja foi garantido por ela ser a única com
acesso ao saber. Afinal, somente os membros do clero podiam ser instruídos de educação e,
consequentemente, eram os poucos que sabiam ler e escrever. O clero era sustentado pelos dízimos
entregues à Igreja.
A definição do bispo Adalberon de León para a sociedade medieval reflete muito bem o pensamento
da época, pois para o bispo “na sociedade feudal o papel de alguns é rezar, de outros é guerrear e de
outros trabalhar”. Para a Igreja medieval, cada indivíduo tinha um importante papel na sociedade, por
isso, deveria executar a sua função com zelo e gratidão como se estivesse trabalhando para o próprio
Deus. Com isso, a Igreja garantia a manutenção da sociedade tal e qual ela era.

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Relações Vassálicas
O poder político no sistema feudal era exercido pelos senhores feudais, daí seu caráter localista. Não
tendo autoridade efetiva, os reis apenas aparentavam poder, pois na prática existia uma descentralização
político-administrativa.
Impossibilitados de defender o reino, os soberanos delegaram essa tarefa aos senhores feudais. Por
isso, e com vistas a se protegerem, os senhores procuravam relacionar-se diretamente por um
compromisso: o juramento de fidelidade. O senhor feudal que o prestasse tornar-se-ia vassalo e aquele
que o recebesse seria seu suserano. Na hierarquia feudal, suseranos e vassalos tinham obrigações
recíprocas, pois à homenagem prestada pelo vassalo correspondia o benefício concedido pelo suserano.
Essa relação definia-se em um rito denominado "cerimônia de investidura" ou "cerimônia de adubamento".

Igreja Medieval
Em meio à desorganização administrativa, econômica e social produzida pelas invasões germânicas
e ao esfacelamento do Império Romano, a Igreja Católica, com sede em Roma, conseguiu manter-se
como instituição. Consolidando sua estrutura religiosa e difundindo o cristianismo entre os povos
bárbaros.
Valendo-se de sua crescente influência religiosa, a Igreja passou a exercer importante papel em
diversos setores da vida medieval, servindo como instrumento de unificação, diante da fragmentação
política da sociedade feudal.
Os sacerdotes da Igreja era divididos em duas categorias:
Clero secular (aqueles que viviam no mundo fora dos mosteiros), hierarquizado em padres, bispos,
arcebispos etc.
Clero regular (aqueles que viviam nos mosteiros), que obedecia às regras de sua ordem religiosa:
beneditinos, franciscanos, dominicanos, carmelitas e agostinianos.

No ponto mais alto da hierarquia eclesiástica estava o papa, bispo de Roma, considerado sucessor do
apóstolo Pedro. Nem sempre a autoridade do papa era aceitar por todos os membros da Igreja, mas em
fins do século VI ela acabou se firmando, devido, em grande parte, à atuação do papa Gregório Magno.
Além da autoridade religiosa, o papa contava também com o poder temporal da Igreja, isto é, o poder
advindo da riqueza que acumulara com as grandes doações de terras feitas pelos fiéis em troca da
salvação.
Calcula-se que a Igreja Católica tenha chegado a controlar um terço das terras cultiváveis da Europa
Ocidental.
O papa, desde 756, era o administrador político do Patrimônio de São Pedro, o Estado da Igreja,
constituído por um território italiano doado pelo rei Pepino, dos francos.
O poder temporal da Igreja levou o papa a envolver-se em diversos conflitos políticos com monarquias
medievais. Exemplo marcante desses conflitos é a Questão da Investiduras, no século XI, quando se
chocaram o papa Gregório VII e o imperador do Sacro Império Romano Germânico, Henrique IV.

Questão das Investiduras e o Movimento Reformista


A Questão das Investiduras refere-se ao problema de a quem caberia o direito de nomear sacerdotes
para os cargos eclesiásticos, ao papa ou ao imperador.

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As raízes desse conflito remontam a meados do século X, quando o imperador Oto I, do Sacro Império
Romano Germânico, iniciou um processo de intervenção política nos assuntos da Igreja a fim de fortalecer
seus poderes. Fundou bispados e abadias, nomeou seus titulares e, em troca da proteção que concedia
ao Estado da Igreja, passou a exercer total controle sobre as ações do papa.
Durante esse período, a Igreja foi contaminada por um clima crescente de corrupção, afastando-se de
sua missão religiosa e, com isso, perdendo sua autoridade espiritual. As investiduras (nomeações) feitas
pelo imperador só visavam os interesses locais. Os bispos e os padres nomeados colocavam o
compromisso assumindo com o soberano acima da fidelidade ao papa.
No século XI surgiu um movimento reformista, visando recuperar a autoridade moral da Igreja, liderado
pela Ordem Religiosa de Cluny. Os ideais dos monges de Cluny foram ganhando força dentro da Igreja,
culminando com a eleição, em 1073, do papa Gregório VII, antigo monge daquela ordem reformista.
Eleito papa, Gregório VII tomou uma série de medidas que julgou necessárias para recuperar a moral
da Igreja. Instituiu o celibato dos sacerdotes (proibição de casamento), em 1074, e proibiu que o imperador
investisse sacerdotes em cargos eclesiásticos, em 1075. Henrique IV, imperador do Sacro Império, reagiu
furiosamente à atitude do papa e considerou-o deposto. Gregório VII, em resposta, excomungou Henrique
IV. Desenvolveu-se, então, um conflito aberto entre o poder temporal do imperador e o poder espiritual
do papa.
Esse conflito foi resolvido somente em 1122, pela Concordata de Worms, assinada pelo papa Calixto
III e pelo imperador Henrique V. Adotou-se uma solução de meio termo: caberia ao papa a investidura
espiritual dos bispos (representada pelo báculo), isto é, antes de assumir a posse da terra de um bispado,
o bispo deveria jurar fidelidade ao imperador.

Inquisição
Nos países cristãos, nem sempre a fé popular manifestava-se nos termos exatos pretendidos pela
doutrina católica. Havia uma série de doutrinas, crenças e superstições, denominadas heresias, que se
chocavam com os dogmas da Igreja.
Para combater essas heresias, o papa Gregório IX criou, em 1231, os tribunais da Inquisição, cuja
missão era descobrir e julgar os heréticos. Os condenados pela inquisição eram entregues às autoridades
administrativas do Estado, que se encarregavam da execução das sentenças. As penas aplicadas a cada
caso iam desde a confiscação de bens até a morte em fogueiras.
O processo inquisitorial cumpria basicamente as seguintes etapas: o tempo de graça, o interrogatório
e a sentença.

Vida cultural
Quando se compara a produção cultural da Idade Média com a Antiguidade ou a Modernidade, ela é
considerada tradicionalmente um período de trevas. Ao longo do tempo, esse conceito tem sofrido
algumas revisões, graças à reabilitação da Idade Média por certos autores que nela encontram as raízes
culturais do Mundo Moderno e - num sentido mais imediato - do Renascimento.
Também é importante lembrar que a Igreja foi a grande mantenedora da cultura durante o Período
Feudal, apesar de o fazer de forma que justificasse suas ideias e dogmas. O privilégio da leitura e da
escrita também estava vinculado à Igreja.
Já na crise do feudalismo, com a expansão comercial e a criação das universidades, o pensamento
filosófico desenvolveu-se, surgindo, então, a escolástica ("filosofia da escola"), produzida por São Tomás
de Aquino, autor da Suma Teológica. O ideal tomista era conciliar o racionalismo aristotélico com o
espiritualismo cristão, harmonizando fé e razão.

Baixa Idade Média e as Mudanças na Sociedade Feudal


Na Baixa Idade Média, ocorreu a transição para o sistema capitalista. Ao mesmo tempo, surgiram
novas classes sociais, principalmente a burguesia, que auxiliou a realeza no processo de centralização
política.
A questão fundamental para entender as mudanças durante a Baixa Idade Média é a crise do
feudalismo. A produção feudal era baseada no trabalho servil, sendo limitada e estática, o que, por sua
vez, representava o baixo nível de técnica do sistema feudal.
No século XI, cessaram as ondas invasoras, criando uma certa estabilidade na Europa, além de
condições de segurança para o aumento da circulação de mercadorias. Houve uma maior redistribuição
da produção, gerando um crescimento demográfico que não foi acompanhado pelo aumento da oferta de
empregos e alimentos.
Com o aumento da circulação de mercadorias e a introdução de novos artigos de luxo, os senhores
feudais passaram a ter necessidade de aumentar as suas rendas. Para obter mais recursos, eles eram

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obrigados a aumentar as obrigações dos servos, que, pressionados, partiam para as cidades em busca
de uma vida melhor. A solução para a crise seria a substituição do regime de trabalho servil pelo trabalho
assalariado, porém essa mudança incentivou a evolução do modo de produção feudal para o capitalista,
o que não seria viável num curto período.
Dessa forma, a crise do feudalismo ocorreu pela incapacidade da antiga estrutura econômica de
sustentar as mudanças, o que foi gerando uma nova organização do modo de vida.
A crise do sistema feudal deu origem a um processo de marginalização social, quer pela fuga dos
servos, quer pelos deserdamentos ocorridos na camada senhorial. Essa marginalização trouxe como
consequência o aumento da belicosidade, marcada por assaltos e sequestros a ricos cavaleiros.
A Igreja Católica, para tentar conter a crise, propôs a "Paz de Deus" (proteção aos cultivadores,
viajantes e mulheres) e a "Trégua de Deus" (na qual os dias para realizar guerras ficavam limitados a 90
por ano). Porém, essa intervenção da Igreja não foi suficiente para conter a crise e a violência feudais.

Cruzadas
Como as tentativas anteriores não obtiveram o resultado esperado, a Igreja propôs as Cruzadas, uma
contraofensiva da cristandade diante do avanço do Islã. A Europa, que, entre os séculos VIII e XI, não
teve condições de reagir contra os árabes, passava a reunir nesse momento as condições necessárias:
- Mão-de-obra militar marginalizada e ociosa;
- Controle espiritual e religioso que a Igreja exercia sobre o homem medieval, que o levou a crer na
necessidade de resgatar o Santo Sepulcro e combater o infiel muçulmano;
- Poder papal que se fortalecera quando Gregário VII impôs sua autoridade a Henrique IV, na Querela
das Investiduras:
-A Igreja do Ocidente pretendia a reunificação da cristandade, quebrada pelo Cisma de 1054;
- O desejo do imperador de Constantinopla em afastar o perigo que os muçulmanos representavam;
- Para Urbano II, o papa do exílio imposto pela Querela das Investiduras, convocar as Cruzadas
demonstrava prestígio e autoridade perante toda a Igreja.

Em 1095, durante Concílio de Clermont, Urbano II convocou a cristandade para uma guerra santa
contra o Islã. Foram realizadas oito Cruzadas, entre 1095 e 1270.
Apesar da mobilização realizada pelas Cruzadas, elas são consideradas um insucesso, que se deve
em primeiro lugar ao caráter superficial da ocupação. A presença cristã no Oriente Médio não criou raízes
entre as populações locais. Outra razão foi a anarquia feudal, que enfraquecia as colônias militares
estabelecidas em território inimigo. A luta fratricida foi uma constante entre as ordens religiosas e os
cruzados latinos.

Fonte: 10emtudo.com.br

Consequências das Cruzadas


As Cruzadas não se limitaram às expedições ao Oriente. Ao mesmo tempo, os reinos ibéricos de Leão,
Castela, Navarra e Aragão começavam a Reconquista da Península Ibérica contra os muçulmanos. A
ofensiva teve início com a tomada da cidade de Toledo, em 1036, e concluiu-se, em 1492, com a tomada
de Granada. A vitória dos italianos sobre os muçulmanos no Mar Tirreno e norte da África fez com que
as cidades italianas iniciassem o seu domínio sobre o Mediterrâneo, lançando as sementes do comércio
e do capitalismo. As relações entre Ocidente e Oriente foram redinamizadas depois de séculos de

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bloqueio, e as mercadorias orientais se espalhavam pela Europa. O contato com o Oriente trouxe o
conhecimento de novas técnicas de produção, fabricação de tecidos e metalurgia.

Renascimento do Comércio
As transformações econômicas e sócias entre os séculos XI e XIV na Europa foram imensos. A crise
do feudalismo acentuou-se, principalmente depois das cruzadas. Ao voltarem das batalhas em terras
orientais, os cruzados traziam consigo produtos de luxo, como tapetes persas, porcelanas chinesas,
tecidos finos ou especiarias (temperos como cravo, canela e pimenta), que atraíam a população europeia,
proporcionado o Renascimento do Comércio.
Por haverem estabelecido feitorias nessas regiões mais afastadas, os europeus abriram um novo eixo
comercial ligando o Ocidente ao Oriente. As principais rotas de comércio eram feitas pelo mar
Mediterrâneo e estavam sob o controle de cidades como Gênova, Veneza, Pisa, Constantinopla,
Barcelona e Marselha. No mar Báltico e no mar do Norte, o domínio ficava por conta de cidades como
Hamburgo, Bremen e pela região de Flandres (Países Baixos).

Burgos e Burgueses
Com a retomada do comércio, muitos europeus deixaram o campo e foram viver dentro dos burgos -
vilas fortificadas com muralhas, construídas entre os séculos IX e X e posteriormente abandonadas -,
onde esperavam encontrar melhores condições de vida. Em pouco tempo, contudo, esses lugares
tomaram-se pequenos e as pessoas viram-se obrigadas a se instalar do lado de fora de suas muralhas.
Essa população, formada principalmente por artesãos, operários e comerciantes, acabou dando
origem a novos burgos em vários pontos da Europa. Seus habitantes, por oposição aos nobres que viviam
em castelos, ficaram conhecidos como burgueses.
O aumento do comércio e do volume de negociações gerou uma nova necessidade: a padronização
de unidades de valor. O uso de moedas tornou-se essencial, substituindo o escambo ou troca de
mercadorias. Com a criação das moedas, surgiram também primeiras casas bancárias, responsáveis
pelas operações de câmbio e empréstimos a juros. Toda essa dinâmica fez com que o dinheiro passasse
a ganhar importância e a terra e a produção agropecuária deixassem de ser a base da riqueza na Europa.
Com o aumento do comércio, e, consequentemente, dos lucros, os mercadores e banqueiros
conquistavam maior status social e passaram a ansiar pelo poder político. A burguesia ganhava prestígio
e espaço, aproximando-se dos reis e emprestando-lhes dinheiro em troca de medidas políticas favoráveis
ao comércio. Ao mesmo tempo, os senhores feudais viam-se envolvidos em dívidas, muitas delas
decorrentes das altas despesas com as Cruzadas.

Humanismo
Além dos empreendimentos comerciais, o maior contato entre os burgueses e os monarcas financiou
o surgimento de novas universidades. Com a expansão comercial surgiu a necessidade de formar
pessoas que entendessem de direito e comércio. Com a criação das universidades, a difusão do
conhecimento deixou de ser algo exclusivo da Igreja, e o ensino tomou-se laico, voltado cada vez mais
para questões mundanas.
As aulas voltaram-se para os textos clássicos, principalmente os dos gregos e romanos, e as atenções
dos estudiosos dirigiam-se a diversas áreas do saber e das artes. Iniciava-se o Humanismo, movimento
cultural que viria a influenciar a Europa por quase três séculos. Até então hegemônico, o pensamento da
Igreja passou a ser questionado por religiosos e filósofos leigos.

Guerra, Fome e Peste


O crescimento que a Europa obteve nos séculos anteriores sofreu um forte golpe no século XIV. As
mudanças climáticas geraram um grave colapso no abastecimento agrícola e, apesar dos diversos
avanços tecnológicos verificados no campo, como a invenção da charrua, da ferradura, a difusão dos
moinhos de vento, a produção não era suficiente para abastecer a população europeia, que duplicou
entre o ano 1000 e o ano 1300, levando boa parte da população a passar fome.
Entre 1346 e 1352, o continente foi assolado pela Peste Negra, uma epidemia decorrente das
péssimas condições de higiene das cidades, transmitida ao ser humano através das pulgas dos ratos-
pretos ou outros roedores, matando cerca de 30 milhões de pessoas, mais de um terço da população
europeia na época. A situação ficou ainda mais grave depois que a nobreza da França e Inglaterra deram
início à chamada Guerra dos Cem Anos, conflito que se estendeu de 1337 a 1453 provocando grande
número de mortos em ambos os países. Outras guerras ocorreram também na Península ibérica, na Itália
e na Alemanha.

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O cristianismo, a Igreja Católica e os reinos bárbaros

A conversão religiosa dos bárbaros


Ao longo de sua trajetória, a Igreja Cristã teve grande papel na divulgação e expansão do cristianismo
pelos vastos territórios dominados pela população romana. Inicialmente, como bem sabemos, os cristãos
realizavam a pregação do Cristianismo, mesmo com as perseguições empreendidas pelos romanos que
se opunham ferrenhamente ao conteúdo das crenças disseminadas. Com o crescimento da religião, o
Império Romano acabou revertendo tal situação ao oficializar o Cristianismo e, desse modo, observamos
a configuração de uma hierarquia que mais tarde consolidaria a presença da Igreja como instituição
atuante.
Entre os séculos III e IV, a Igreja Cristã realizava a disseminação do Cristianismo com o apoio do
Império Romano, que oferecia enormes facilidades para que populações inteiras paulatinamente se
voltassem para a nova religião. Contudo, essa situação veio a se transformar com o advento das invasões
bárbaras, as quais trouxeram uma variedade de povos, culturas e crenças para os antigos domínios
imperiais. A partir de então, diferentes estratégias deveriam ser elaboradas para que os clérigos cristãos
conseguissem penetrar no interior dos recém-formados reinos bárbaros e, de tal forma, garantir a
sobrevivência da religião.
O cristianismo é uma religião que surgiu por volta do século I, na região que hoje compreende a atual
Palestina. Seu principal representante é Jesus Cristo de Nazaré. É atualmente a religião com mais
seguidores no mundo, com pouco mais de dois bilhões de seguidores, sendo a maioria de católicos.
Segundo a fé cristã, Deus mandou seu filho único para o mundo, Jesus Cristo, destinado a ser o salvador
dos homens.
A religião Cristã, assim como o judaísmo e o Islamismo é uma religião monoteísta, ou seja, tem a
crença baseada em um único deus. Possui diversas variações, sendo as mais comuns o Catolicismo,
Protestantismo e também a igreja ortodoxa. Os católicos são a maioria, com mais da metade da
população cristã.
Durante o período de vida de Jesus a região em que viveu era dominada pelo império romano, e sua
vida é contada na bíblia pelo Novo Testamento. Apesar de ser considerado o Messias, salvador da
humanidade, as autoridades o viam como um falso profeta. Por essa razão foi perseguido e executado.
Após sua morte, e apesar da proibição do culto cristão, seus seguidores continuaram a pregar seus
ensinamentos e a realizar encontros secretos. Durante os séculos II e III os cristãos ainda são perseguidos
por suas práticas, porém a aceitação cada vez maior de sua religião dentro da sociedade romana fez com
que a religião fosse oficializada em 313 pelo imperador Constantino. Em 392 tornou-se a religião oficial
do império romano.
Inicialmente, vemos que a ação da Igreja se concentrou na formação de mosteiros em regiões rurais,
na promoção de estratégias que aproximassem os clérigos dos monarcas e na melhoria da formação dos
membros cristãos que promoveriam o diálogo junto às populações pagãs. No entanto, devemos salientar
que esse processo de diálogo para com os povos bárbaros, aconteceu muito mais em função de práticas
que não só apresentavam uma nova religião, mas também colocavam em voga vários hábitos, instituições
e modelos provenientes da própria cultura clássica que se mostrava viva, apesar da crise romana.
De forma alguma, não podemos apontar que tal experiência fosse determinante para que a cultura dos
povos bárbaros desaparecesse ou que a Igreja tivesse seus esforços radicalmente voltados para tal
objetivo. Ao mesmo tempo em que as conversões aconteciam, o processo de unificação de tribos em
reinos unificados, as novas rivalidades experimentadas e a modificação das estruturas sociais bárbaras
também atuavam na formação de um novo mosaico cultural. Com isso, percebemos que a cristianização
ou ocidentalização dos bárbaros esteve longe de configurar um tipo de transformação histórica imposta
de cima para baixo.
Ao longo do tempo, podemos ver que as formas de representação da crença cristã, a organização dos
calendários, o reconhecimento da santidade de alguns indivíduos e a formação dos movimentos heréticos
nos indicavam um movimento de penetração da cultura bárbara em direção ao Cristianismo. Por outro
lado, a consolidação da hierarquia, a manutenção de importantes traços da cultura greco-romana e o
poder de mobilização da Igreja indicavam o sentido contrário dessa relação. Com isso, percebemos que
as negociações e trocas culturais são bem mais eficazes para enxergarmos o mundo formado por
bárbaros e cristãos ao longo da Idade Média.

EXPANSÃO DO CRISTIANISMO
A Igreja Romana, detentora de diversos territórios na parte central da Itália, via-se afrontada por duas
grandes ameaças: os povos lombardos, recém chegados à península, e o Império Bizantino, que
controlava a Igreja Cristã Oriental.

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A sobrevivência da Igreja Romana era ameaçada, tanto territorialmente como doutrinariamente – e,
por isto, o projeto do papado de se projetar como força cristã universal, no âmbito do ocidente, poderia
se combinar perfeitamente com o projeto de expansão do povo franco, já cristianizado. A passagem da
dinastia Merovíngia para a dinastia Carolíngia, através de Pepino, o Breve, é precisamente assinalada
por uma aliança entre o reino franco e o papado, que ficou selada, simbolicamente, pela unção, recebida
por Pepino, das mãos de Estevão II.
Durante a Idade Média, a Igreja Católica experimentou seu momento de maior poder e expressão na
sociedade. Toda a vida civil estava regulada pelas observações religiosas.
As estações do ano agrícola, as reuniões das assembleias consultivas, o calendário anual eram
marcados pelas atividades religiosas.
A vida cotidiana era toda impregnada por rituais católicos, demonstrando o grande poder da religião.
As doenças, epidemias e catástrofes eram geralmente atribuídas ao Diabo, e eram resolvidas por meio
de exorcismos, sinais da cruz e outros simbolismos católicos. O poder da Igreja diferenciava-se dos
demais, uma vez que além do território sob sua jurisdição política ela tinha o poder espiritual sobre quase
todo o território europeu.
Esse domínio consistia em estar presente na vida das diferentes camadas sociais. A Igreja
representava pela sua função religiosa, a segurança para a população medieval atemorizada com a
morte.
Entre os nobres a Igreja atuava como fornecedora de justificativas religiosas, para as guerras contra
os infiéis - as Guerras Santas. Entre os movimentos mais conhecidos da Idade Média, orientados pela
Igreja, estão as Cruzadas, que contaram com o apoio dos dirigentes políticos das monarquias feudais,
para retomar a Terra Santa, então em poder dos turcos.
No plano intelectual a Igreja Católica foi durante o período medieval, a guardiã do conhecimento
sistematizado, uma vez que as bibliotecas ficavam em seu poder.

Expansão do Islã

Na Idade Média, os árabes formaram um vasto Império que passou a rivalizar com o Império Bizantino
(ou Império Romano do Oriente) e o Império Persa. A rápida expansão dos árabes, que constituiu um dos
principais aspectos da História Medieval, resultou da unificação política e religiosa da Arábia, efetuada
por Maomé, que lançou as bases da fundação do primeiro Estado nacional árabe.

Península Arábica
A Península Arábica é uma região desértica em sua maior parte. Fica localizada entre o Mar Vermelho
e o Golfo Pérsico. Apesar do aspecto árido da região, os diversos oásis propiciaram o surgimento de
postos caravaneiros, além de algumas cidades situadas na proximidade da costa e dos portos.
A condição geográfica da região não despertou o interesse dos grandes impérios da antiguidade, como
o romano.

Religião na Península Arábica


A palavra islamita quer dizer "submisso a Deus" e muçulmano significa "crente. Os árabes acreditavam
em espíritos (djinns), representados por árvores e pedras, e em uma infinidade de divindades
subordinadas a um ser superior - Alá (Deus, a divindade). O único fator de unidade religiosa era o
santuário existente na cidade de Meca, a Caaba, em cujo interior era guardada uma Pedra Negra,
reverenciada por todos os árabes que para lá se dirigiam em peregrinação. Ali estavam também
representados os ídolos das diversas tribos da Arábia, que todos os anos eram visitados pelos peregrinos
que aproveitavam para realizar suas práticas comerciais.
Com o tempo, Meca ganhou importância e tornou-se um grande centro comercial e parada obrigatória
de caravanas e viajantes. Aos habitantes de Meca interessavam, sobretudo, as romarias que se
realizavam ao final de cada ano, pois dinamizavam as trocas e enriqueciam a cidade. Sua única grande
rival era Yatreb, velha cidade situada em um oásis, 350 quilômetros ao norte de Meca. Desse afluxo de
beduínos viviam os grandes comerciantes pertencentes à tribo dos coraixitas, que controlavam o
santuário da cidade e o poder político local.

Maomé
Maomé era filho de uma família pobre (haxemitas), porém, pertencia à tribo dos coraixitas. Dedicou-
se ao trabalho em caravanas, o que lhe permitiu viajar por toda a Península Arábica e além, conhecendo
outros povos do Oriente Médio. Em suas viagens também entrou em contato com o cristianismo e o
judaísmo. Após anos de trabalho nas caravanas, Maomé casou-se com uma rica viúva, Kadidja.

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Após o casamento, Maomé entregou-se aos retiros espirituais e meditações, sem abandonar por
completo a atividade profissional. Segundo ele, teve sucessivas visões do arcanjo Gabriel. O Arcanjo teria
confiado a missão de propagar uma nova religião, cuja essência se consubstanciava na seguinte frase:
"Maomé, tu és o Profeta do Deus único, Alá." Maomé converteu primeiramente seus familiares e, em
seguida, tentou convencer os coraixitas, porém, não conseguindo, teve de fugir de Meca para Yatreb, que
desde então passou a ser chamada Medina en Nabi, que significa “a Cidade que recebeu o Profeta”.
A fuga de Maomé com seus vários familiares, ficou conhecida como Hégira, que marca o início do
calendário muçulmano. Apoiando-se nos habitantes de Medina. Maomé deu início à Guerra Santa contra
Meca, atacando suas caravanas. O prestigio de Maomé cresceu com suas vitórias e, com o apelo dos
beduínos, marchou contra Meca, destruindo os ídolos da Caaba, declarando sagrado o recinto do
santuário e implantando definitivamente o monoteísmo. Nesse ano de 630, nasceu o Islã.
Maomé passou os últimos anos de sua vida convertendo os demais árabes pela força das armas.
Maomé morreu em 632 d.C., na cidade de Medina, onde construiu a primeira mesquita do Islã, deixando
elaborada a doutrina islâmica, que transmitiu a seus seguidores. As transcrições de seus ensinamentos
consubstanciaram-se mais tarde no livro sagrado, o Corão ou Alcorão. A doutrina islâmica é um
sincretismo fundamentado no cristianismo e no judaísmo, bem como nas tradições religiosas da própria
Arábia. Prega a crença em um único Deus, nos anjos, no paraíso celestial e no Juízo Final. Impõe aos
fiéis como princípios essenciais do dogma: peregrinar à Meca, pelo menos uma vez na vida; dar esmolas;
jejuar no mês do Ramadã; orar e pronunciar a profissão de fé cinco vezes ao dia, voltados em direção a
Meca; fazer a Guerra Santa (jihad), que representava uma obrigação ocasional. As tradições sobre a vida
de Maomé foram reunidas por seus seguidores em outro livro, chamado Suna (Tradição), utilizado sempre
que se tratava de achar argumentos para impor uma decisão ou definir uma norma de governo para a
qual o Corão não fornecesse elementos.

Jihad
É um termo árabe que significa “luta”, “esforço” ou empenho. É muitas vezes considerado um dos
pilares da fé islâmica, que são deveres religiosos destinados a desenvolver o espírito da submissão a
Deus.
O termo jihad é utilizado para descrever o dever dos muçulmanos de disseminar a fé muçulmana. É
também utilizado para indicar a luta pelo desenvolvimento espiritual.
Ao contrário do que muitas vezes é dito, jihad não significa uma guerra santa, implica mais uma luta
interna com o objetivo de melhorar o próprio indivíduo ou o mundo à sua volta.
Grupos extremistas como a Al Qaeda e o Estado Islâmico apropriaram-se do termo como justificativa
para as ações contra os considerados “infiéis” (normalmente países ocidentais, como Europa e Estados
Unidos)
A unidade do mundo muçulmano foi quebrada após a morte de Maomé, com o surgimento de vários
movimentos, entre os quais se destacam os sunitas e os xiitas. A divergência inicial entre os dois grupos
reside na questão do direito de sucessão ao governo do Islã. Segundo o Corão, somente os parentes de
Maomé poderiam substitui-lo no comando da fé. Mas na Suna não havia a mesma afirmação sobre a
questão. Assim, os xiitas constituíram o grupo fundamentalista que aceita apenas as regras estabelecidas
pelo Corão, ou seja, que apenas os descendentes de Maomé possuem o direito de governo, enquanto os
sunitas abraçaram a Suna e iniciaram um processo de disputa sucessória com os xiitas.

Expansão Muçulmana (Séculos VII-XI)


Quando Maomé morreu, deixou Arábia unificada, com sua capital em Meca e sob a preponderância
política dos haxemitas. A morte de Maomé não provocou a dissolução do Estado árabe:
- Primeiro, porque os adeptos do islamismo, em sua maioria, eram crentes apegados à fé e à
propagação dos ideais religiosos;
- Segundo, porque surgiram de imediato dois homens, Abu Bekr e Omar - os dois primeiros califas -
que souberam assumir a sucessão e a herança de Maomé, exercendo autoridade civil, militar e religiosa.
Um ano após a morte de Maomé, Abu Bekr conseguiu eliminar os focos de resistência locais e consolidar
a unificação da península. A expansão islâmica, iniciada imediatamente após a morte de Maomé, foi
estimulada por diversos fatores:
- Econômico - interesse pelo saque contra os vencidos ("butim");
- Social - alta densidade demográfica, provocada pelo crescimento da população e pela grande
capacidade de miscigenação dos árabes;
- Político - unificação política alcançada pela unidade religiosa;
- Religioso - obediência ao preceito de Guerra Santa contra os infiéis;
- Psicológico -atração exercida pelo paraíso muçulmano, que prodigalizava recompensas materiais.

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Consideram-se ainda elementos propulsores da expansão árabe, facilitando suas conquistas, a
fraqueza dos Impérios Bizantino e Persa e a instabilidade política dos reinos germânicos do Ocidente.
Omar foi o principal califa da Dinastia Haxemita. Conquistou a Síria, a Palestina, a Pérsia e o Egito.
A substituição dos califas haxemitas pelos omíadas, em 660, levou a duas mudanças: a capital foi
transferida para Damasco, na Síria, e as conquistas voltaram-se para o Ocidente. Avançando de forma
fulminante, os maometanos conquistaram a África do Norte, a Península Ibérica e até o sul da Gália, onde
foram detidos pelos francos, liderados por Carlos Martel, na Batalha de Poitiers; as ilhas de Córsega,
Sardenha e Sicília também caíram sob dominação muçulmana Os árabes passavam a deter o controle
sobre o Mar Mediterrâneo. Em 750, em Damasco, um golpe político afastou os omíadas do poder. Nesse
momento, ascendia a Dinastia Abássida, formada por parentes de Maomé, instalando a capital em Bagdá.
O Islamismo, é a religião que mais cresce atualmente no mundo, mais de 1/4 da população Mundial é
Muçulmana, segundo o último censo Mundial realizado pela ONU.
Considera-se países muçulmanos aqueles em que os muçulmanos representem mais de 50% da
população e a maioria deles são membros da Organização do Congresso Islâmico, que foi fundado em
1969, com sede em Jedah na Arábia Saudita. Os presidentes e os reis destes países se reúnem a cada
3 anos.
Os países muçulmanos que não são membros do Congresso Islâmico são: Costa do Marfim, Albânia,
Etiópia, República Centro Africana, Tanzânia e Togo.
Além disso há dois países Africanos em que os muçulmanos representam menos de 50%, e que são
membros da Organização e são eles Uganda e Gabão11.

Os reinos da África Ocidental


Na África, durante o período conhecido como Idade Média na história da Europa, houve grandes e
poderosos reinos, como os de Gana, Mali e Songai. Esses reinos, localizados na África Ocidental, ficaram
conhecidos pelo controle que tinham sobre as rotas de comércio e as minas de ouro na sua região.
Realizavam comércio com diferentes partes do mundo, incluindo a Europa e o Oriente, através das rotas
de caravanas que atravessavam o deserto de Saara e chegavam ao norte da África. No comércio de
longa distância se fazia ao mesmo tempo contatos e trocas de mercadorias, bem como intercâmbios de
tecnologias e conhecimentos.

Gana12
Na região entre os rios Senegal e Níger, os soninquês (povos de origem mandê), fundaram pequenas
cidades, que desde o século 4 foram se unificando, muito provavelmente para resistir às guerras com
povos nômades. No século 8, a região era conhecida como Império de Gana.
Os soninquês chamavam sua região de Wagadu, mas os berberes (povos do Magreb), que chegaram
ali no século 8, a chamavam de Ghana, pois era esse o título do rei da região (ghana: "rei guerreiro").
Por muito tempo, o deserto do Saara dificultou o acesso dos povos do norte da África ao interior do
continente. Uma viagem do Magreb (região africana banhada pelo mar Mediterrâneo, exceto o Egito) até
a bacia do rio Níger poderia durar até 4 meses em pleno deserto.
Dessa forma, enquanto o norte da África estava inserido no comércio entre diversos povos desde a
Antiguidade (gregos, romanos, fenícios, cartagineses, líbios, persas, egípcios, árabes), o reino de Gana,
na África Subsaariana (ou África Negra), pôde se desenvolver isoladamente.
Somente quando os árabes conquistaram o Magreb e introduziram o camelo como animal de
transporte foi possível a viagem através do deserto. A partir de então, os reinos e as grandes riquezas da
África Negra passaram a fazer parte do comércio internacional do Mediterrâneo.
Gana já era um reino rico antes da chegada dos comerciantes do norte, e são os documentos deixados
por esses comerciantes (árabes e berberes) que nos informam o que foi Gana, e relatam um império
extraordinário, também chamado de Terra do Ouro. Segundo Al-Bakri, comerciante árabe de Córdoba
(século 11), o rei de Gana usava túnicas bordadas a ouro, colares e pulseiras de ouro - e os arreios dos
cavalos e as coleiras dos cachorros do rei eram de ouro.
O império de Gana tinha como capital Kumbi-Saleh. Dessa cidade, o rei e seus nobres controlavam
povos vizinhos, obrigando-os a pagar impostos em troca de proteção. Além disso, Gana controlava o
comércio tanto das mercadorias que eram trazidas do norte (como sal e tecidos), quanto das que saíam
do interior da África (como ouro e escravos). Na capital, o comércio era intenso: os seus 20 mil habitantes
recebiam diariamente as caravanas que vinham de diversas regiões. Entre os séculos 9 e 10, Gana viveu
seu apogeu, sendo um dos mais ricos reinos do mundo, segundo Ibn Haukal, viajante árabe da época.

11
cap-historia-21c.blogspot.com
12
Adaptado de Turci

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Com o processo de islamização dos povos africanos (os primeiros convertidos foram os berberes), o
Império de Gana (que se recusava a se converter ao Islã) foi perdendo força, até que em 1076 os
almorávidas (dinastia berbere) conquistaram e saquearam Kumbi-Saleh, transformando a cidade em um
reino tributário. A partir daí, todo império se fragmentou, o que possibilitou as incursões de vários povos
vizinhos, um deles os sossos, que passaram a controlar várias regiões do antigo império.

Fonte: Wikimedia.org/Mapa_ghana-pt.svg/286px

Mali
O Reino de Mali era, a princípio, uma região do Império de Gana habitada pelos mandingas. Era
composto por 12 reinos menores ligados entre si, e tinha como capital Kangaba. Os mandingas
chamavam seu território de Manden (= terra dos mandingas).
Após anos de guerras entre os soninquês de Gana e os almorávidas (século 11), e depois das guerras
com os sossos (século 12), Mali conseguiu sua independência e adotou o islamismo. E, apesar de passar
por um período de crise política e econômica, conseguiu se restabelecer e, em 1235, os mandingas de
Mali conquistaram o território do antigo Império de Gana, sob a liderança de Maghan Sundiata, que
recebeu o título de Mansa, que na língua mandinga significa "imperador".
O nome que os mandingas davam ao seu império era Manden Kurufa; o nome Mali era usado por seus
vizinhos, os fulas, para se referir ao grande império. Manden Kurufa significa Confederação de Manden.
A capital era Niani (atualmente uma aldeia na República da Guiné).
Ao contrário do Império de Gana, que somente se preocupava em manter os povos dominados, a fim
de controlar o comércio regional, o Império de Mali se impôs de forma centralista, estabelecendo fronteiras
bem definidas e formulando leis por meio de uma assembleia chamada Gbara, composta por diversos
povos do império. A aplicação da justiça era implacável, tanto que vários viajantes se referiam aos povos
negros como "os que mais odeiam as injustiças - e seu imperador não perdoa ninguém que seja acusado
de injusto". Acredita-se que o Império de Mali tivesse a extensão da Europa Ocidental.
O Império de Mali se tornou herdeiro do Império de Gana, pois passou a controlar todo o comércio
local. O ouro extraído por Mali sustentava grande parte do comércio no Mediterrâneo. Conta-se que, entre
1324 e 1325, Mansa Mussa, em peregrinação a Meca, parou para uma visita ao Cairo e teria presenteado
tantas pessoas com ouro, que o valor desse metal se desvalorizou por mais de 10 anos.
Também sob o reinado de Mussa, a cidade de Timbuktu (ou Tombuctu) se tornou uma das mais ricas
e importantes da região. Sua universidade era um dos maiores centros de cultura muçulmana da época,
e produziu várias traduções de textos gregos que ainda circulavam nos séculos XIV e XV. A grandiosidade
de Timbuktu atravessou os tempos e, no século XIX, exploradores europeus se embrenharam pelos
caminhos africanos, seguindo o rio Níger, em busca da lendária cidade.
O Império de Mali entrou em decadência a partir do final do século 14, em função das disputas políticas
internas e das incursões dos tuaregues (povo berbere), sendo conquistado, no século 15, pelos songais
(povo africano até então dominado por Mali). Foi nesse mesmo século que os portugueses, em pleno
processo de expansão marítima, conheceram o já decadente Mali.

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Fonte: http://3.bp.blogspot.com/

Cidades iorubás
A partir do século IX formaram-se as cidades da civilização iorubá, na região da atual Nigéria, já
habitada por esse povo desde o século 4.
Os iorubás nunca unificaram suas cidades, mas mantiveram a mesma cultura (língua, religião etc.). A
cidade iorubá mais importante era Ifé, considerada sagrada, por ser o berço dos iorubás, segundo a
crença local. Outra cidade importante foi Oyo, um centro militar que, no final do século 17, tinha se
expandido até Daomé (atual Benin).
Ifé foi um grande centro artesanal e artístico, e era governada por um rei sacerdote que tinha o título
de Oni, enquanto nas outras cidades os governantes recebiam o título de Oba.
Apesar do cristianismo e do islamismo terem chegado até os iorubás, a maioria desse povo sempre
se manteve fiel às antigas tradições politeístas locais, sendo os orixás os seus deuses.
Ao contrário do que se acredita, a crença nos orixás não se expandiu pela África, mantendo-se
exclusivamente iorubá. Mas como muitos iorubás (chamados de nagôs ou anagôs pelos portugueses)
foram transformados em escravos e trazidos à força para a América, o culto aos orixás se misturou ao
cristianismo imposto por portugueses e espanhóis, criando vários sincretismos religiosos que fazem parte
da cultura americana, como, por exemplo, o Candomblé e a Umbanda, no Brasil, e o Vodu no Haiti (apesar
de o Vodu também receber influências de outras culturas africanas).
A partir do século XV, as cidades iorubás iniciaram seu processo de declínio (apesar de Oio ter se
mantido até o século XIX). Muitos pesquisadores acreditam que a falta de unidade política foi uma das
causas desse declínio, já que os iorubás não tiveram condições de se fortalecer para enfrentar o processo
de escravização que lhes foi imposto.

A expansão Banto
Durante os últimos milênios, as sociedades africanas passaram por longos e diversos processos
migratórios e adaptativos em relação ás mudanças climáticas no interior do continente.
Esses movimentos migratórios levaram ao surgimento de diversas cidades e aldeias, além de criar
diferentes povos, com diferentes costumes.
O surgimento de novos polos de habitação e as migrações geraram diversos conflitos por territórios, o
que fez com que surgissem as primeiras fronteiras entre diferentes grupos.
Os grupos que compartilhavam uma história de migração comum e a conquista de um território, com
o tempo desenvolveram uma tradição e uma língua comuns. Muitas vezes seus vizinhos de região tinham
a mesma antiga origem. Mas, o momento em que partiram na sua migração, os caminhos que tomaram
e diferente maneira pela qual cada um dos grupos se apossou da terra, mudaram sua história. Mudando
a história, mudava também a sua tradição e a sua identidade. Tinham uma origem comum, mesmo que
distante no tempo, eram vizinhos, mas eram povos distintos. Assim, foram se formando as identidades
dos grupos, mais tarde chamadas de identidades étnicas.
Entre as principais origens dos povos africanos, está o tronco linguístico Banto. A palavra Banto é a
combinação de ‘ntu’ (ser humano) acrescido do prefixo ‘ba’, que designa plural. Ou seja, banto (em alguns
lugares é escrita como bantu) quer dizer: ‘seres humanos’ ou ‘gente’.
A ocupação dos povos de origem banto no continente africano, ao sul da linha do equador foi um
processo lento, que ocorreu ao longo de milhares de anos.
A primeira grande onda migratória teria se movimentado ainda no final do IIº milênio a.C., partindo da
região norte, entre o Camarões e a Nigéria. Estes grupos cruzaram a região onde fica hoje a República
Centro Africana, ocupando áreas dentro e fora da floresta equatorial, a oeste e a leste. Ao se
estabelecerem, de forma sedentária ou semi-sedentária, introduziram dois sistemas diferentes de

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produção de alimentos, que se adaptaram respectivamente às florestas e à savana. Eram agricultores e
foram os primeiros nesta região a se organizar em aldeias e a agrupar estas aldeias em unidades mais
abrangentes, com cerca de 500 pessoas cada.
Uma segunda onda migratória ocorreu por volta do ano 900 a.C., quando terminava a longa expansão
inicial. A esta altura haviam dois grandes grupos, falando línguas semelhantes, porém diversas:
- Os bantos do oeste (norte da atual República Popular do Congo e leste do Gabão);
- Os bantos do leste (atual Uganda).

Os bantos do oeste desceram para a região que atualmente compreende o norte de Angola e
chegaram a uma terra mais seca. Outros permaneceram na fronteira entre a savana e a floresta, seguindo
os cursos de água. Enquanto isso, os bantos do leste moveram-se em direção ao Sul, para o sudeste do
Zaire e Zâmbia atuais.
Os processos de expansão banto não representaram invasões. Eles foram parte de um movimento
populacional lento e irregular. Os bantos acabaram por estabelecer contatos com outros povos, que
habitavam as regiões para onde migravam. As pesquisas linguísticas e arqueológicas demonstram que
algumas vezes os bantos mudaram seu modo de vida, tornaram-se pastores nômades, e chegaram em
alguns casos a transformar sua própria língua.
Novas ondas migratórias dos grupos banto do leste desceram em direção ao Sul, nos séculos iniciais
da era Cristã, e parecem ter levado junto consigo as importantes técnicas de metalurgia para estas áreas.
A esta altura seriam, além de agricultores, também ferreiros. O domínio desta técnica modificou
enormemente a vida destes povos. A partir deste momento - em torno do século V - e como resultado
desta verdadeira rede de movimentos de população, expandiram técnicas de produção de alimento e
metalurgia entre os povos da África subequatorial.
Com o domínio das técnicas agrícolas, a produção de alimentos ficou assegurada, levando estes
grupos ao sedentarismo. O sedentarismo foi importante na criação da noção de pertencimento à terra, da
ligação de determinados grupos a seus territórios.
Os contatos entre os grupos foram aumentando com as trocas entre produtores de diferentes tipos de
alimentos, de acordo com a região. O inhame e o azeite de dendê, além da caça e pesca das áreas mais
próximas às florestas podiam ser trocados por cereais e outros produtos de áreas próximas.
Estas mudanças foram sendo acompanhadas por transformações nas organizações sociais destes
grupos. Surgiram novos modos de reconhecer e se relacionar interna e externamente. Em alguns casos,
apareceram divisões sociais mais profundas e em outros se criaram autoridades a partir da história de
liderança da ocupação da terra. E, em todos os casos, estas criações para o funcionamento da vida em
sociedade se basearam no mundo espiritual, parte inseparável do entendimento da vida para estas
populações.
Assim, e paralelamente a esta história de ocupação de grandes partes da África ao sul do equador,
foram surgindo grupos que, por uma história, língua, crenças e práticas em comum passaram a constituir
povos. Isto ocorreu longamente, entre o século V a.C e século V da nossa era. Foram surgindo novas
identidades de grupo.

A África Muçulmana
Atualmente o número de muçulmanos na África está estimado em mais de 300 milhões, ou seja, cerca
de 27% do total dos seguidores da religião no mundo
A expansão do Islã na África se deu no início mais pelo comércio e pela migração do que pelas
conquistas militares. A expansão do islã na África seguiu três direções:
- Do noroeste do continente (região do Magreb), ela avançou pelo Saara e alcançou a África Ocidental;
- Do baixo para o alto vale do Nilo, chegando ao nordeste da África (península da Somália e arredores);
- Comerciantes originários da porção sul-sudoeste da Península Arábica e imigrantes do subcontinente
indiano, criaram assentamentos no litoral do Índico e, dali, difundiram a presença muçulmana para o
interior.
O islamismo fez sua entrada no continente a partir da África do Norte, do Egito ao Marrocos, sendo
uma das primeiras regiões a ser conquistadas pela expansão inicial árabe-islâmica (séculos VII e VIII).
A partir do norte do Egito, os muçulmanos tentaram ir mais ao sul, mas esbarraram nos exércitos da
Núbia cristã. Derrotados, foram forçados a reconhecer a autonomia do reino cristão núbio. Mas, do Norte
conseguiram expandir-se para o Oeste (que, em árabe, quer dizer Magreb, nome pelo qual esta região
da África ficou conhecida). Foram pouco a pouco conseguindo dominar o Norte do continente africano,
durante a segunda metade do século VII. A partir dali, cruzaram o mar Mediterrâneo e conquistaram
partes do sul da Europa, incluindo a Península Ibérica (Espanha e Portugal).

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Dos séculos X a XVI, mercadores muçulmanos contribuíram para o surgimento de importantes reinos
na África Ocidental, que floresceram graças ao comércio feito por caravanas que, atravessando o Saara,
punham em contato o mundo mediterrâneo ao das estepes e savanas do Sudão Ocidental e África centro-
ocidental. A conversão de certos monarcas africanos fez não só o islã avançar como criou uma florescente
cultura. Assim, cidade de Tumbuktu (no atual Máli) era, no século XIV, um núcleo urbano conhecido pelo
alto nível de suas escolas islâmicas, que atraíam muçulmanos de várias partes do mundo.
Na porção oriental do continente, comerciantes árabes conseguiram se fixar junto ao litoral do Índico,
levando a gradual conversão de grupos africanos que viviam em áreas da atual Eritréia e do leste da
Etiópia. Todavia, os reinos cristãos do alto vale do Nilo conseguiram bloquear por séculos o avanço
muçulmano, como foi o caso dos grupos etíopes, ocupantes dos altos planaltos da Etiópia. Nos séculos
seguintes, a cultura árabe-muçulmana influenciaria grupos bantos que estavam em processo de
expansão para a África oriental e meridional.
Paralelamente, comerciantes árabes cruzaram o Oceano Índico e criaram, do Chifre da África ao atual
Moçambique, um conjunto de importantes cidades-estados e fortalezas, junto ao litoral e nas ilhas, cujo
comércio de ouro se manteve até o início da presença portuguesa no século XVI. Às vésperas do início
da colonização europeia, o islã se constituía na principal presença "importada" no continente, presença
esta que já estava fortemente integrada às sociedades africanas.

Os Reinos Africanos13
A região da África Oriental, dos reinos da Núbia, Etiópia e posteriormente Burundi e Uganda, sofreram
grande influência religiosa em seu processo de organização cultural e espacial. Conflitos religiosos entre
mulçumanos e cristãos foram decisivos para a nova organização desses reinos, a exemplo do Antigo
Egito, que teve que se consolidar como Estado mulçumano entre duas potências cristãs – Bizâncio e
Dongola.
O resultado desses conflitos foi à conquista de Dongola em 1323 pelos mulçumanos, e a tomada
gradativa do controle da Núbia em 1504, o que daria um golpe de misericórdia nos reinos cristãos da
região. Nos casos da Núbia e da Etiópia, além dos conflitos religiosos existentes, o comércio
principalmente com o Egito, foi outra atividade que influenciou diretamente, servindo como estímulo para
a criação destes Estados. Esta atividade comercial se dava por rotas que cortavam o deserto do Saara,
em caravanas puxadas por cavalos, dificultando o percurso e prejudicando consequentemente a atividade
comercial, uma vez que o camelo domesticado só foi introduzido no Norte africano no século II da era
cristã. Só a partir do domínio mulçumano na região é que as atividades comerciais expandiram-se mais
para o sul do continente. Portanto, os conflitos religiosos entre mulçumanos e cristãos, além das
atividades comerciais exercidas entre esses povos, foram decisivos para a organização espacial dos
territórios da África Oriental, fatos que produzem reflexos atuais na cultura e na religiosidade dos Estados
africanos atuais.

Questões

01. (FGV) "A palavra 'servo' vem de 'servus' (latim), que significa 'escravo'. No período medieval, esse
termo adquiriu um novo sentido, passando a designar a categoria social dos homens não livres, ou seja,
dependentes de um senhor. (...) A condição servil era marcada por um conjunto de direitos senhoriais ou,
do ponto de vista dos servos, de obrigações servis". (Luiz Koshiba, "História: origens, estruturas e
processos")

Assinale a alternativa que caracterize corretamente uma dessas obrigações servis:


(A) Dízimo era um imposto pago por todos os servos para o senhor feudal custear as despesas de
proteção do feudo.
(B) Talha era a cobrança pelo uso da terra e dos equipamentos do feudo e não podia ser paga com
mercadorias e sim com moeda.
(C) Mão morta era um tributo anual e per capita, que recaía apenas sobre o baixo clero, os vilões e os
cavaleiros.
(D) Corveia foi um tributo aplicado apenas no período decadente do feudalismo e que recaía sobre os
servos mais velhos.
(E) Banalidades eram o pagamento de taxas pelo uso das instalações pertencentes ao senhor feudal,
como o moinho e o forno.

13
http://www.historiageralcomgd.com/2009/10/reinos-africanos.html

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02. (FATEC-SP) Uma das características a ser reconhecida no feudalismo europeu é:
(A) A sociedade feudal era semelhante ao sistema de castas.
(B) Os ideais de honra e fidelidade vieram das instituições dos hunos.
(C) Vilões e servos estavam presos a várias obrigações, entre elas o pagamento anual de capitação,
talha e banalidades.
(D) A economia do feudo era dinâmica, estando voltada para o comércio dos feudos vizinhos.
(E) As relações de produção eram escravocratas.

03. (FUVEST) Politicamente, o feudalismo se caracterizava pela:


(A) atribuição apenas do Poder Executivo aos senhores de terras;
(B) relação direta entre posse dos feudos e soberania, fragmentando-se o poder central;
(C) relação entre a vassalagem e suserania entre mercadores e senhores feudais;
(D) absoluta descentralização administrativa, com subordinação dos bispos aos senhores feudais;
(E) existência de uma legislação específica a reger a vida de cada feudo.

04. (UNIP) O feudalismo:


(A) deve ser definido como um regime político centralizado;
(B) foi um sistema caracterizado pelo trabalho servil;
(C) surgiu como consequência da crise do modo de produção asiático;
(D) entrou em crise após o surgimento do comércio;
(E) apresentava uma considerável mobilidade social.

05. (PUC) A característica marcante do feudalismo, sob o ponto de vista político, foi o enfraquecimento
do Estado enquanto instituição, porque:
(A) a inexistência de um governo central forte contribuiu para a decadência e o empobrecimento da
nobreza;
(B) a prática do enfeudamento acabou por ampliar os feudos, enfraquecendo o poder político dos
senhores;
(C) a soberania estava vinculada a laços de ordem pessoal, tais como a fidelidade e a lealdade ao
suserano;
(D) a proteção pessoal dada pelo senhor feudal a seus súditos onerava-lhe as rendas;
(E) a competência política para centralizar o poder, reservada ao rei, advinha da origem divina da
monarquia.
Gabarito

01.E / 02.C / 03.B / 04.B / 05C

Comentários
01. Resposta: E
Na corveia o servo ficava obrigado a trabalhar nas terras do nobre por alguns dias da semana;
Na talha, o camponês ficava obrigado a entregar ao senhor feudal parte de sua produção;
Nas banalidades o servo era obrigado a pagar pela utilização do moinho, do forno e demais utensílios
pertencentes ao senhor.
Mão-morta, uma espécie de taxa que o servo devia pagar ao senhor feudal para permanecer no feudo
quando o pai morria.
Tostão de Pedro (10% da produção), que o servo devia pagar à Igreja de sua região.

02. Resposta: C
Apesar de não serem escravos, os servos estavam presos à terra do senhor feudal, através de diversas
obrigações e impostos que deveriam ser pagos para usufruir da terra e das benfeitorias do feudo.

03. Resposta: B
O feudalismo marcou a descentralização do poder, com cada feudo funcionando como uma unidade
autônoma, onde o senhor feudal, dono da terra, era o soberano.

04. Resposta: B
Na base da sociedade feudal estavam os servos, que representavam aproximadamente 98% da
população de um feudo. Os servos viviam nas terras do senhor e a ele deviam uma série de serviços
como a corveia, a talha e as banalidades.

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05. Resposta: C
O poder político no sistema feudal era exercido pelos senhores feudais, daí seu caráter localista. Não
tendo autoridade efetiva, os reis apenas aparentavam poder, pois na prática existia uma descentralização
político-administrativa.

4 Dinâmica, relações, rupturas e transformações da sociedade europeia do


século XV ao XVIII. 4.1 As civilizações e organizações políticas pré-coloniais
Mali, Congo e Zimbabwe. 4.2 Escravidão e diáspora dos povos africanos

*Conteúdos a respeito dos antigos reinos africanos foram abordados no tópicos 2 e 3.

Tráfico Negreiro
A escravidão na África é uma pratica que acontece desde a antiguidade, presente inclusive no Egito
antigo. Entre as formas mais comuns de escravidão estava aquela produzida através de guerras entre
tribos e etnias diferentes, em que os membros das tribos derrotadas eram transformados em escravos.
Também poderia acontecer como forma de pagar uma dívida para alguém, por um determinado período
de tempo.
A pratica de comercializar escravos tem início por volta do século II a.C., depois do retorno do faraó
Snerfru da região da Nubia trazendo milhares de prisioneiros de guerra. A pratica de escravidão e
comercio também foi praticada por gregos e romanos que dominaram o norte do continente.
Após a conquista árabe do norte do continente, no século XII, o tráfico de pessoas tem aumento
significativo, que seria superado somente após a expansão marítima no século XIV pelos europeus, que
exploraram a costa africana com o objetivo de expandir o comercio, além de enviarem milhões de
escravos para as américas onde trabalhariam principalmente no cultivo de cana-de-açúcar e tabaco.
Com a expansão da produção nas américas, o tráfico negreiro intensificava-se para abastecer as
colônias produtoras, criando o tráfico negreiro, lucrativa pratica que durou até meados do século XIX,
Sendo no Brasil abolida em 1850 através da lei Eusébio de Queiroz.

5 Dinâmica, relações, rupturas e transformações da sociedade europeia,


americana, africana e asiática do século XVIII a contemporaneidade.
5.1 Escravidão e resistência negra e indígena no Brasil e Ceará Colonial. 5.2 As
tecnologias de agricultura, de beneficiamento de cultivo, de mineração e de
edificações trazidas pelos escravizados, bem como a produção científica,
artística (artes plásticas, literatura, música, dança, teatro) política. 5.3 Cultura e
religiosidade africana e indígena no Brasil e Ceará Colonial. 5.4 Movimento de
independência no Brasil e Ceará Colonial. 5.5 Organização sóciopolítica,
econômica e cultural no Império: Primeiro e Segundo Reinado e participação do
Ceará. 5.6 As revoluções sociais: Cabanagem, Balaiada, Farroupilha, Sabinada,
Revolta dos Malês, Quebra Quilo; Abolição e Movimento Republicano no Brasil e
Ceará. 6 Dinâmica, relações, rupturas e transformações da organização sócio-
política, econômica e cultural no Brasil e Ceará na República

*Candidato(a). O primeiro texto deste tópico trata apenas da História Regional. Logo depois
seguiremos com o conteúdo relativo à História do Brasil.

História do Ceará

Formação
O Ceará foi formado pela miscigenação de colonizadores europeus, indígenas catequizados e
aculturados após grande resistência à colonização e negros e mulatos que viviam como trabalhadores
livres ou como escravos. O povoamento do território foi e tem sido bastante influenciado pelo fenômeno
natural da seca14.
Com uma colonização complexa e conturbada, marcada pela resistência dos nativos e pelas
dificuldades de adaptação às condições particulares do território, formou-se uma sociedade rural baseada
14
História do Ceará. Ceará Cultural. https://cearacultural.com.br/gente/historia-do-ceara.html.

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sobretudo na pecuária, assim como na agricultura, em especial nos vales úmidos e serras. A elite
latifundiária, através de seu poder econômico e de complexas relações de parentesco e afilhadagem,
possuía controle de quase todos os aspectos da vida social. Os "coronéis" mantinham em suas
propriedades muitos dependentes que lhes prestavam serviços ou entregavam parte de sua produção
em troca da posse de um lote de terra, em regime praticamente semifeudal, além de trabalhadores
assalariados. A escravidão africana, embora de menor importância, foi praticada ao longo de séculos,
principalmente nas áreas onde a agricultura floresceu.
O desenvolvimento independente do Ceará começaria apenas depois de sua separação de
Pernambuco em 1799, e sua história foi sempre marcada por lutas políticas e movimentos armados. Essa
instabilidade prolongou-se durante o Império e a Primeira República, normalizando-se depois da
reconstitucionalização do País em 1945. As secas, os conturbados fatores sociais e econômicos do
Estado acarretaram eventos importantes na história desse povo, como o cangaço, os movimentos
messiânicos, a emigração para a Amazônia e para outros Estados, inclusive os do Sudeste do Brasil.
Historicamente um dos locais mais miseráveis do País, o Ceará tem passado por grandes transformações
desde a década de 1950, progressivamente se tornando um Estado predominantemente urbano, mais
industrializado e com crescente de desigualdade regional e de renda.

Era Colonial
As terras atualmente pertencentes ao Ceará foram doadas, em 1535, a Antônio Cardoso de Barros,
mas este não se interessou em colonizá-las e nem sequer chegou a visitar a capitania. Ironicamente,
quando Barros decide vir à Capitania do Siará (como era conhecida a região correspondente aos
seguintes lotes: Capitania do Rio Grande, Capitania do Ceará e a Capitania do Maranhão), em expedição
organizada, o navio naufraga na costa de Alagoas (1556), culminando com sua morte.
A primeira tentativa séria de colonização ocorre com Pero Coelho de Sousa, que lidera a primeira
bandeira feita em 1603, demonstrando por isso certo interesse em colonizar o Ceará.
A missão dos bandeiristas era explorar o rio Jaguaribe, combater piratas, "fazer a paz" com os
indígenas e tentar encontrar metais preciosos. Após construírem o Forte de São Tiago, às margens do
Rio Ceará e verificarem a inexistência de riqueza na região, Pero Coelho passou a escravizar índios, que
se revoltaram e destruíram o forte, obrigando os europeus a fugirem para as ribeiras do Rio Jaguaribe,
onde construíram o Forte de São Lourenço. Devido às hostilidades dos nativos e à seca de 1605-1607,
Pero Coelho viu-se obrigado a deixar o Ceará.
Diante do fracasso de Pero Coelho de conquistar as nações indígenas, em 1607 foram enviados os
padres Jesuítas Francisco Pinto e Pereira Figueira com o intuito de evangelizar os silvícolas. Estes
avançaram até a Chapada da Ibiapaba, onde ficaram até a morte do padre Francisco Pinto em outubro
do mesmo ano. O padre Pereira Figueira, retorna a Pernambuco em 1608, sem grandes sucessos.
Em 1612, sob o comando de Martim Soares Moreno (considerado posteriormente o "fundador" do
Ceará), foi construído, às margens do Rio Ceará, o Forte de São Sebastião, local conhecido atualmente
como Barra do Ceará (divisa entre os Municípios de Fortaleza e Caucaia).
A colonização da região, iniciada no século XVII, foi dificultada pela forte oposição das tribos indígenas
e as invasões de piratas europeus. Só tomou impulso com a construção, na embocadura do riacho
Marajaitiba, do forte holandês Schoonenborch, que em 1654, foi tomado pelos portugueses e passou a
ser chamado Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção. Em volta dessa Fortaleza formou-se a segunda
vila do Ceará, a vila do Forte, ou Fortaleza. Depois de muita disputa política entre Aquiraz e Fortaleza, a
última passou a ser a capital do Ceará, oficialmente a partir de 13 de abril de 1726 (Data em que se
comemora o aniversário da cidade).
Houve duas frentes de ocupação do território cearense:
- a do sertão-de-fora, controlada por pernambucanos que vinham pelo litoral;
- a do sertão-de-dentro, dominada por baianos.

Graças à pecuária e aos deslocamentos de pessoas das áreas então mais povoadas, praticamente
todo o Ceará foi ocupado ao longo do tempo, levando ao nascimento de várias cidades importantes nos
cruzamentos das principais estradas utilizadas pelos vaqueiros, como Icó. Ao longo do século XVIII, a
principal atividade econômica cearense foi a pecuária, levando muitos historiadores a falarem que o Ceará
se transformou em uma "Civilização do Couro", pois a partir do couro se faziam praticamente todos os
objetos necessários à vida do sertanejo através de um rico artesanato.
O comércio do charque foi decisivo para a vida econômica do Ceará ao longo do século XVIII e XIX.
Com ele passou a existir uma clara divisão do trabalho entre as regiões do Estado: no litoral se
encontravam as charqueadas e, no sertão, as áreas para criação de gado. O charque também permitiu o

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enriquecimento de proprietários de terras e de comerciantes, bem como o surgimento de um
pequeníssimo mercado interno local.
Durante o auge do comércio do charque, a principal cidade cearense foi Aracati, de onde eram
exportadas mas também floresceram outros centros regionais, como Sobral, Icó, Acaraú, Camocim e
Granja. A era do charque finda-se depois das secas de 1790/93, que devastaram o estado e
impossibilitaram a continuação da pecuária cearense. Com este evento a produção do charque mudou
para o Rio Grande do Sul.
Outras cidades nasceram a partir de aldeamentos indígenas, onde os nativos (isto é, o que restava
deles) eram confinados sob o controle de jesuítas, responsáveis por sua catequização e aculturação. Este
foi o caso de cidades importantes como Caucaia (outrora chamada Soure), Crato, Pacajus, Messejana e
Parangaba (as duas últimas atuais bairros de Fortaleza). Os indígenas cearenses foram, em sua maior
parte, massacrados, embora tenham resistido até o início do século XIX. Um dos maiores exemplos de
sua resistência foi a Guerra dos Bárbaros, na qual indígenas de diversas tribos (Kariri,Janduim, Baiacu,
Icó, Anacé, Quixelô, Jaguaribara, Kanindé, Tremembé, Acriú, etc.) se uniram para lutar contra os
conquistadores, resistindo bravamente durante quase 50 anos.
O Ceará torna-se administrativamente independente de Pernambuco em 1799. Nas décadas
anteriores, o cultivo do algodão começou a despontar como uma importante atividade econômica,
gerando um período de prosperidade para a capitania. Com a recuperação da cotonicultura dos Estados
Unidos da América, o algodão e o próprio Ceará entraram em crise, o que explica o envolvimento de
cearenses na Revolução Pernambucana de 1817 e na Confederação do Equador.

Movimentos independentistas e Império


O século XIX também foi marcado por alguns movimentos revolucionários e conflitos. Em 1817, alguns
cearenses, liderados pela família Alencar, apoiaram a Revolução Pernambucana. O movimento, no
entanto, ficou restrito ao Cariri e, especialmente, à cidade do Crato, e foi rapidamente sufocado. Em 1824,
já após a independência, os mesmos ideais republicanos e liberais apareceram num movimento mais
amplo e organizado: a Confederação do Equador. Aderindo aos revoltosos pernambucanos, várias
cidades cearenses, como Crato, Icó e Quixeramobim, demonstraram sua insatisfação com o governo
imperial. Após choques com o governo provisório controlado pelo Imperador Dom Pedro I, foi estabelecida
a República do Ceará em 26 de agosto de 1824, tendo Tristão Alencar como presidente do Conselho que
governaria a província. A forte repressão das forças imperiais, no entanto, derrotaram rapidamente o
movimento rebelde devido a diversos motivos: a superioridade militar das tropas do governo imperial; a
pouca participação popular; as principais lideranças terem sido presas ou mortas.
Outro conflito que se destacou na história cearense foi a Sedição de Pinto Madeira, um violento conflito
entre a vila do Crato, liderada por liberais republicanos (com maior destaque para a família Alencar), e a
de Jardim, praticamente dominada por Pinto Madeira, de caráter absolutista e autoritário. As duas elites
locais disputavam pelo controle político do Cariri cearense. Por fim, os cratenses contrataram o
mercenário francês Pierre Labatut e, reagindo com um exército formado por sertanejos humildes,
renderam os jardinenses. Pinto Madeira foi julgado sumariamente no Crato, após ser considerado culpado
pela morte do liberal José Pinto Cidade.
Também no século XIX, o Ceará sofreu um verdadeiro boom econômico durante o período da Guerra
de Secessão (1861-1865) nos EUA, que, afetando a cotonicultura norte-americana, abriu o mercado
mundial para o algodão cearense. Foi nesse período que Fortaleza desbancou Aracati do posto de cidade
principal do Ceará: o algodão substituía o charque em importância econômica. Porém, a Grande
Seca(1777/78/79), interfere na agricultura do algodão, Fortaleza foi invadido pelas vítimas da estiagem,
uma grande parte da população cearense emigra para a Amazônia e assim contribui no boom do primeiro
Ciclo da Borracha. E partir desta seca o Ceará passa a ser fator de atenção dentro da política nacional.
Depois do outro período de seca, o Império iniciou projetos sociais e de infraestrutura (Açude do
Cedro), para amenizar as consequências das estiagens, fato que resultou com criação da Comissão de
Açudes e Irrigação(atualmente DNOCS).
No século XIX, um movimento de grande importância aconteceu no Ceará: a campanha abolicionista,
que aboliu a escravidão no Estado em 25 de março de 1884, antes da Lei áurea, que é de 1888. Foi,
portanto, o primeiro estado brasileiro a abolir a escravatura. Dentro do Ceará, o primeiro município a abolir
a escravatura foi Acarape, que depois do evento, passou a ser chamado de Redenção. O abolicionismo
foi favorecido pela pouca importância da escravidão na economia cearense relativamente às outras
regiões do Brasil. Contou com o apoio da Maçonaria e até mesmo de grupos formados por mulheres da
elite do Estado.
Além da pequena quantidade de escravos, quando da campanha abolicionista, muitos escravos eram
vendidos para o trabalho em outras províncias com maior demanda de trabalho compulsório. Pela grande

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dificuldade em atracar navios, devido ao mar bravio, a capital cearense era um péssimo ancoradouro, o
que fazia dos jangadeiros um elemento de suma importância para a economia local, já que o embarque
e desembarque no porto de Fortaleza tinha que ser feito por meio de embarcações pequenas e
insubmersíveis conhecidas como jangadas, e a forte campanha abolicionista, em 1881, convenceu os
jangadeiros cearenses a não mais realizar o transporte de escravos para terra firme.
Sob o lema "No Ceará não se embarcam mais escravos", o movimento, comandado pelo jangadeiro
Francisco José do Nascimento, o "Dragão do Mar", hoje nome de um centro cultural da cidade de
Fortaleza, ganhou significativa simpatia da população cearense.

República Velha
Após a proclamação da República no Brasil, em 1889, o quadro político-econômico do Ceará começou
a se transformar. Alguns anos depois, teria início a poderosa oligarquia acciolina, que recebeu esse nome
por ser comandada pelo comendador Antônio Pinto Nogueira Accioli, que governou o estado de forma
autoritária e monolítica entre 1896 e 1912. A situação de desesperadora miséria e abandono social era
uma marca profunda do Ceará nessa época, o que levou ao surgimento de diversos movimentos
messiânicos ao longo do século XIX e XX, tendo como líderes religiosos Antônio Conselheiro (que
formaria na Bahia o arraial de Canudos), Padre Ibiapina, Padre Cícero, Beato Zé Lourenço, etc. Surgiu
também outro meio de escapar da miséria: o cangaço. Muitos homens formaram grupos de cangaceiros
que saqueavam vilas, assaltavam e amedrontavam a todos.
O século XX, para o Ceará, foi marcado pelos ciclos de poder dos "coronéis" e por enormes
transformações de ordem social e econômica. O século se iniciou no contexto da oligarquia acciolina,
comandada, direta ou indiretamente, por Nogueira Accioli de 1896 a 1912. Durante esse período, a família
Accioli controlou, literalmente, todas as esferas do poder cearense, desde os altos escalões do Governo
estadual até as delegacias.
Então se vivia uma conturbada e violenta campanha eleitoral no Ceará, graças ao Salvacionismo
pretendido pelo presidente Hermes da Fonseca, que procurava enfraquecer as oligarquias regionais
contrárias ao seu poder. Dentro das política das Salvações, foi lançada a candidatura de Franco Rabelo
para o governo, enquanto Accioli apontava como seu candidato Domingos Carneiro. Em Fortaleza, houve
uma passeata de crianças em favor de Franco Rabelo, a qual foi repreendida duramente pelas forças
policiais, causando a morte de algumas crianças e ferindo outras tantas.
Em consequência, a população fortalezense se revoltou contra o governo, mergulhando a capital em
verdadeiro estado de guerra civil durante três dias. Accioli teve, então, que renunciar ao governo
cearense, tendo como garantia o direito de permanecer vivo e poder fugir do Estado. Franco Rabelo foi
eleito para governar o Ceará logo em seguida, mas acabou sendo deposto por outra revolta, a Sedição
de Juazeiro, entre 1913 e 1914.
Juazeiro do Norte era uma cidade recém-emancipada do Crato. Seu surgimento se deveu ao
carismático Padre Cícero, que, após ter ficado famoso devido ao suposto milagre da Beata Maria de
Araújo (cuja hóstia teria se transformado em sangue), conquistou uma imensa massa de sertanejos
pobres e religiosos. Muitos passaram a morar em Juazeiro, de modo que em pouco tempo o local possuía
milhares de moradores.
Como não tinha o apoio da alta hierarquia católica, Padre Cícero procurou evitar que Juazeiro tivesse
o mesmo fim trágico de Canudos e aliou-se ao poder político dos coronéis, posicionando-se ao lado da
oligarquia de Nogueira Accioli. Embora mantendo a proximidade com o povo, o padre tornou-se, para
alguns, um "coronel de batinas".
Franco Rabelo havia, em pouco tempo, perdido o apoio de muitos políticos que o haviam ajudado a
chegar ao poder - a Assembleia Legislativa tentou até mesmo, sem sucesso, votar o impeachment do
"salvacionista". Os oposicionistas tentaram, então, convocar extraordinariamente a Assembleia
Legislativa em Juazeiro e cassaram o mandato de Rabelo. Este, que tinha ainda bastante apoio em
Fortaleza, mandou tropas para Juazeiro do Norte, pretendendo derrotar os golpistas. Os sertanejos,
incitados pelo Padre Cícero e pelos coronéis, acreditaram ser aquela uma agressão contra o "Padim
Ciço". Iniciou-se um verdadeiro clima de guerra santa em Juazeiro. Após meses de combate, os
seguidores de Padre Cícero venceram as tropas de Rabelo e iniciaram uma longa marcha até Fortaleza,
obrigando Rabelo a renunciar ao governo cearense.
Após a Sedição de Juazeiro, estabeleceu-se um certo equilíbrio entre as oligarquias cearenses, não
havendo mais conflitos militares entre elas. O povo, no entanto, continuou reprimido e sem voz.
Além desses eventos em 1896 começou a ser construída a ferrovia Sobral-Crateus por Antonio
Sampaio Pires Ferreira, onde logo se estabeleceria em suas margens a cidade de Pires Ferreira.

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Estado Novo
A situação política no Ceará se modificaria bastante com a Revolução de 30, que levou ao poder
Getúlio Vargas. Durante 15 anos, governaram o Estado interventores do Governo Federal. O primeiro
interventor no Ceará foi Fernandes Távora, mas ele governou por pouco tempo, pois continuou com as
práticas clientelistas e corruptas da República Velha. Os interventores não tardaram a se acomodar com
as elites locais. O quadro político cearense esteve, nesse período, influenciado por duas associações: a
Liga Eleitoral Católica (LEC), que, por seus vínculos religiosos e apoio dos latifundiários interioranos,
obteve grande penetração no eleitorado cearense e apoiou segmentos fascistas que organizaram a Ação
Integralista Brasileira (AIB) no Ceará; e a Legião Cearense do Trabalho (LCT), organização operária
conservadora, corporativista, anticomunista e antiliberal (na prática, fascista) que existiu no Ceará entre
1931 e 1937.
A LCT, após o exílio de seu líder Severino Sombra por ter apoiado a Revolução Constitucionalista de
São Paulo em 1932, foi perdendo poder. Ao voltar do exílio, Sombra abandonou a LCT e fundou a
Campanha Legionária, mas não teve sucesso, pois a Igreja prestava agora apoio à AIB e começavam a
surgir entidades operárias de esquerda no Estado. Em 1937, por fim, todas as associações de orientação
fascista (LCT, AIB e Campanha Legionária) foram extintas pelo Estado Novo de Getúlio Vargas.
Um importante movimento social no período varguista foi o Caldeirão. De forma semelhante a
Canudos, ele reuniu cerca de 3 mil pessoas sob a liderança do beato Zé Lourenço, paraibano que chegara
a Juazeiro por volta de 1890 e era seguidor de Padre Cícero. Aconselhado por Padre Cícero a se
estabelecer na região e trabalhar com algumas das famílias de romeiros, arrendou um lote de terra no
sítio Baixa Danta, em Juazeiro do Norte. O sítio prosperou e começou a desagradar a parte da elite, sendo
difamado pelos adversários políticos de Padre Cícero. Isso culminou na exigência do dono do sítio Baixa
Danta de que os camponeses e o beato deixassem a terra.
Instalando-se no sítio Caldeirão, no Crato, propriedade de Padre Cícero, os camponeses formaram
uma pequena sociedade coletiva e igualitária, prosperando tanto que chegaram a vender os excedentes
nas cidades vizinhas. O sítio tornou-se, portanto, um "mau exemplo" para os sertanejos e desagradou
fortemente à Igreja e aos latifundiários que perdiam a mão-de-obra barata. As difamações culminaram
com a acusação de que o beato Zé Lourenço era agente bolchevique!
Quando Padre Cícero morreu, em 1934, as terras foram herdadas pelos padres salesianos, e os
camponeses do Caldeirão ficaram desamparados. Em setembro de 1936, a comunidade é dispersa e o
sítio é incendiado e bombardeado. Zé Lourenço e seus seguidores rumaram, então, para uma nova
comunidade. Alguns dos moradores, no entanto, resolveram se vingar e realizaram uma emboscada,
matando alguns policiais, o que foi respondido com um verdadeiro massacre de camponeses pelos
contingentes policiais (estima-se entre trezentos e mil mortos).
O início dos anos 1940, no Ceará, foi influenciado pela Segunda Guerra Mundial e as implantações
decorridoas pelos Acordos de Washington. Em Fortaleza, foi montada uma base norte-americana,
mudando os hábitos locais e empolgando a população, que passou a realizar diversos atos, manifestos
e passeatas contra o nazismo. O Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia -
SEMTA, foi criado e teve sua sede em Fortaleza.
Este realizou uma forte propaganda governamental a qual estimulava os sertanejos a migrar para a
Amazônia, onde estes tornariam-se os Soldados da Borracha do Exército da Borracha, isto é, explorariam
o látex das seringueiras. Milhares de cearenses emigraram para o Norte, muitos dos quais morreram.
Porém, estas mortes não foram em vão, já que, graças aos soldados da borracha e sua mais-valia, os
Estados Unidos e Aliados puderam combater os exércitos do Eixo sem os seringais da Ásia para
abastecê-los.
A luta contra o nazismo e o posicionamento contraditório do governo brasileiro (uma ditadura de base
fascista dentro do País lutando contra regimes autoritários fascistas no exterior) precipitaram a derrocada
do Estado Novo. Formaram-se os diversos partidos novos, como a UDN, o PSD, o PCB e o PSP. A UDN
e o PSD, partidos conservadores e elitistas, dominariam o cenário político cearense pelas próximas
décadas, enquanto o PSP, chefiado por Olavo Oliveira, seria, ao menos nos anos 1950, o "fiel da balança"
nas disputas eleitorais. O primeiro governador após a redemocratização foi Faustino Albuquerque, da
UDN. Vale lembrar que, apesar de todas as transformações políticas, o Ceará era então um dos locais
mais miseráveis do Brasil.

República Nova
O período de República Nova no Ceará tem início com a eleição de Faustino de Albuquerque pela
UDN. Durante seu governo, nas eleições de 1950, o candidato udenista a presidência, Eduardo Gomes,
obteve a maior votação colocando Getúlio Vargas em 3º colocado no estado. Para a direção do governo
estadual é eleito Raul Barbosa que foi um dos responsáveis, junto com os parlamentares cearenses, pela

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campanha de obtenção da sede do Banco do Nordeste do Brasil, fundado em 1952, para Fortaleza. No
mesmo ano o governo federal inaugurou oficialmente o Porto do Mucuripe. Em seu entorno foram
instalados usinas termoelétricas para dotar Fortaleza de energia elétrica em abundância.
Durante a década de 1950 surgiram ou se fortaleceram vários dos maiores grupos econômicos do
Ceará: Deib Otoch, J. Macêdo, M. Dias Branco, Grande Moinho Cearense e Edson Queiroz. Paulo
Sarasate foi o terceiro governador eleito no período. Ainda na década de 1950 tem início uma nova onda
migratória para vários estados e regiões. Em uma década, entre 1950 e 1960, o estado decaiu a taxa de
representação da população brasileira, de 5,1% para 4,5%. Em 1955 a cearense Emília Barreto Correia
Lima foi eleita Miss Brasil.
Em 1958 foi eleito Parsifal Barroso que teve a ajuda do governo federal para combater as mazelas
decorrentes de secas, sendo a principal obra o Açude Orós inaugurado em 1961. Em Fortaleza foi
inaugurado o Cine São Luis. O governador inicia a construção da nova sede do governo, o Palácio da
Abolição, em 1962 e no mesmo ano é criado o Banco do Estado do Ceará (BEC).
Em 1963 Virgílio Távora foi eleito governador do Ceará. Seu mandato foi até o fim em 1966, mesmo
com o surgimento da Ditadura militar em 1964. Seu governo foi marcado pela criação do "PLAMEG I" -
Plano de Metas do Governo que visou a modernização da estrutura do estado com a ampliação do porto
do Mucuripe e a transmissão da energia de Paulo Afonso. Foram criados ou instalados também em seu
governo o Distrito Industrial de Maracanaú, o BEC, a CODEC e da Companhia DOCAS do Ceará. Com o
AI-2, Virgílio aderiu à ARENA, e seu vice Figueiredo Correia ao MDB.

Governo Militar
Plácido Castelo foi eleito pela Assembleia Legislativa em 1966. Durante seu governo houve
perseguição política a deputados e várias manifestações com a prisão e tortura de estudantes e
trabalhadores, tendo ocorrido inclusive atentados a bomba em Fortaleza. Criado o BANDECE e a
pavimentação da rodovia CE-060, a rodovia "do algodão". Também tem início as obras do estádio
Castelão.
Durante o governo de César Cals se sucedeu o auge da repressão militar. Vários cearenses de
esquerda estiveram envolvidos na Guerrilha do Araguaia. Cals procurou governar tecnocraticamente,
formando sua própria facção política rompendo com Virgílio Távora. Seu sucessor, Adauto Bezerra
(mandato de 1975 a 1978) não acontecem grandes mudanças. Adauto volta-se politicamente para o
interior com a criação de uma secretaria de assuntos municipais. Renuncia seu mandato para se eleger
deputado federal. O vice-governador Waldemar Alcântara toma posse e termina o mandato.
Virgílio Távora retorna ao governo em 1979 sendo o último eleito indiretamente e resgata seu primeiro
governo com a criação do PLAMEG II. Inicia a industrialização da região noroeste do Ceará e cria o
PROMOVALE (projetos de irrigação) e sua esposa, a primeira dama Luiza Távora implementa projetos
sociais como a Central de Artesanato do Ceará. Seu governo foi marcado pela ausência, quase que total,
de oposição na Assembleia, nomeações aproximadas de 16.000 pessoas para cargos públicos e várias
greves.
Gonzaga Mota foi eleito pelo voto popular tomando posse em 1983 e rompe com os coronéis anteriores
para criar seu próprio grupo político. Seu rompimento rendeu-lhe ataques do regime militar com a
suspensão de verbas federais.

Nova República
A Nova República começa no Ceará com a eleição de Maria Luiza para o cargo de prefeita de Fortaleza
em 1986. Foi a primeira prefeita de capital estadual eleita pelo Partido dos Trabalhadores e o primeiro
político do sexo feminino a ser eleito para esse cargo após o regime militar. A insatisfação com a política
praticada durante a ditadura militar e o movimento de redemocratização impulsionam as transformações
no poder político, com a decadência da hegemonia tradicional do coronelismo.
Gonzaga Mota deixa o governo com pagamentos atrasados ao funcionalismo e descontrole nas contas
públicas, mas seu candidato, o empresário Tasso Jereissati, consegue se eleger com a promessa de
modernizar a administração pública, afastando-se do clientelismo dos governos anteriores; promover a
austeridade fiscal; e desenvolver a economia estadual. A nova gestão passa a se autodenominar
"Governo das Mudanças". Nas duas décadas seguintes, Jereissati e seus aliados passam a deter a
hegemonia política no Estado, e rapidamente perdem a aliança com partidos mais à esquerda, como o
PT e o PCdoB.
Ciro Gomes, então prefeito de Fortaleza, se candidata em 1990 ao cargo de governador com o apoio
de Tasso e é eleito. Com a abertura do mercado brasileiro, o Ceará recebe os primeiros carros importados
da marca russa Lada. Os "Governos das Mudanças" priorizam o aumento dos investimentos públicos e
privados em infraestrutura e nos setores industrial e de serviços, enquanto o agropecuário permanece à

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margem. Politicamente, há uma relativa diminuição de poder dos "coronéis", com ampliação do poder do
grande empresariado. O saneamento das contas estaduais - atingido, em parte, pela diminuição das
despesas com o funcionalismo público através de demissões e achatamentos salariais - garantem
superávits entre 1988 e 1994, mas com a consolidação do Plano Real volta-se a uma predominância de
déficits.
O Estado se beneficia também da guerra fiscal que então se iniciava, o que, somado à mão-de-obra
barata, atrai várias indústrias, as quais se concentram em algumas poucas cidades. O crescimento médio
do PIB, de 4,6%, é superior à média nacional e nordestina nos anos 1990, continuando a tendência
iniciada na década de 1970. As ações do governo, aliado aos esforços do empresariado local, e os
incentivos de instituições de grande importância na história econômica recente do Ceará, como o BNB e
a Sudene, foram determinantes para tal desempenho.
O forró eletrônico se populariza na década de 1990, e o Ceará começa a despontar, seguindo a
tendência do litoral nordestino, como um grande pólo de turismo no Brasil. Ao longo dos anos 1990, com
ações como o Programa de Saúde da Família (PSF), o Estado também realiza grandes avanços na
redução da mortalidade infantil. A migração em direção a Fortaleza segue forte, tendo em vista o
persistente atraso do interior em comparação com o forte crescimento da capital. A segurança pública
torna-se muito mais problemática entre 1990 e 2003, com a taxa de homicídios subindo de 8,86 para
20,15 por 100 mil habitantes, um aumento de 127%.
Tasso é eleito novamente em 1994 e reeleito em 1998, concentrando os esforços governamentais na
construção e reforma de grandes obras, como a construção do Porto do Pecem, o novo Aeroporto
Internacional de Fortaleza, o Açude Castanhão e o início das obras do Metrofor. O terceiro "Governo das
Mudanças" (1994-1997) se caracteriza pela privatização de empresas estatais e extinção de outros
órgãos, e pelo seguimento de políticas de inspiração neoliberal, com enxugamento da máquina
administrativa, racionalização dos investimentos, aumento de taxas de contribuição da aposentadoria,
etc.
Contudo, apesar de vários avanços na saúde e educação básicas e do crescimento econômico estável,
a chamada Era Tasso não alterou a estrutura socioeconômica problemática do Ceará, em especial a
ausência de distribuição de renda, o que foi duramente questionado; a má distribuição fundiária; a enorme
disparidade regional (sobretudo entre a capital e o interior); a parca infraestrutura fora da Região
Metropolitana; e os altíssimos níveis de pobreza - em 1999, segundo o Banco Mundial, cerca de metade
dos cearenses viviam abaixo da linha de pobreza.
No início do século XXI, consolida-se a tendência de queda na tradicional emigração de cearenses,
que, no período 2001-2006, reverte-se para um saldo positivo de 38,3 mil pessoas, o que se atribui à
melhoria das condições de vida e à maior estabilidade proporcionada por programas sociais, que
permitiram a fixação do pobre cearense em sua terra e o retorno de parte dos emigrantes.
Lúcio Alcântara, eleito com o apoio de Tasso continua, em linhas gerais, o modelo político dos
governos anteriores, mas não recebe apoio do próprio partido e não consegue se reeleger em 2006,
rompendo com o o PSDB e mudando para o Partido da República após deixar o cargo. Cid Gomes, do
PSB e ex-prefeito de Sobral, alcança o cargo de Governador, pondo fim à longa hegemonia do PSDB no
Estado e sinalizando um movimento rumo à oposição na política estadual, já demonstrado com a vitória
de Luizianne Lins, do PT, na capital, que se elegera em 2004 mesmo sem apoio real do partido, que,
devido às alianças partidárias nacionais, apoiara o candidato Inácio Arruda. Em 2008, Luizianne Lins é
reeleita.

Brasil Colonial
saúde
Da organização da colônia ao Governo Geral

 A organização colonial mostrada aqui é aquela a partir de 1530, após o chamado período pré-colonial.
É o período após o envio da expedição de Martin Afonso de Souza com a intenção de policiar, ocupar e
explorar efetivamente o território brasileiro, aceito como início real da colonização.

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As Capitanias Hereditárias

Fonte: http://www.estudopratico.com.br/

A implantação do regime de capitanias hereditárias no Brasil em 1534 está vinculada com a


incapacidade econômica do Estado português em financiar diretamente a colonização. Lembrando que o
comércio com as Índias, maior responsável pelo excedente da balança comercial portuguesa já não era
tão lucrativo.
Por essa razão, e considerando a necessidade de se colonizar o país, D. João III decidiu dividir o
território em capitanias hereditárias para que elas se “auto colonizassem” com recursos particulares sem
que a coroa tivesse que investir dinheiro.
O regime de capitanias já havia sido aplicado com êxito nas ilhas atlânticas (Madeira, Açores, Cabo
Verde e São Tomé) e no próprio Brasil já existia a capitania de São João, correspondente ao atual
arquipélago de Fernando de Noronha.
O território brasileiro foi dividido em 14 capitanias e doadas a doze donatários. Os limites de cada
território definido sempre por linhas paralelas iniciadas no litoral, estavam especificados na Carta de
Doação. Este documento estipulava que a capitania seria hereditária, indivisível e inalienável, podendo
ser readquirida somente pela Coroa.
Nesse processo havia um segundo documento: o Foral, que regulamentava minuciosamente os
direitos do rei. Na realidade, os donatários não recebiam a propriedade das capitanias, mas apenas sua
posse. Ainda assim possuíam amplos poderes administrativos, militares e judiciais, respondendo
unicamente ao soberano. Tratava-se portanto de um regime administrativo descentralizado.
São Vicente e Pernambuco foram as únicas capitanias que prosperaram. O fracasso do projeto como
um todo decorreu de vários fatores: falta de coordenação entre as capitanias, grande distância da
metrópole, excessiva extensão territorial, ataques indígenas, desinteresse de vários donatários e, acima
de tudo, insuficiência de recursos.
Motivado por esses fracassos, a saída encontrada pelo rei foi uma mudança na forma de administrar
a colônia, com a criação do Governo-Geral.
As capitanias hereditárias não desapareceram de uma vez com a criação do Governo-Geral, elas
foram gradualmente readquiridas pela Coroa até serem totalmente extintas, na segunda metade do século
XVIII pelo Marquês de Pombal.

* A relação de propriedades e nomes dos donatários e suas capitanias já não é alvo de questões (é
mais pedida em vestibulares do que em concursos). De qualquer forma a lista segue abaixo. Sugiro que

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foquem sua atenção mais nas características e motivos do fracasso do que na relação capitania-
donatário.

Principais Capitanias Hereditárias e seus donatários: São Vicente (Martim Afonso de Sousa),
Santana, Santo Amaro e Itamaracá (Pêro Lopes de Sousa), Paraíba do Sul (Pêro Gois da Silveira),
Espírito Santo (Vasco Fernandes Coutinho), Porto Seguro (Pêro de Campos Tourinho), Ilhéus (Jorge
Figueiredo Correia), Bahia (Francisco Pereira Coutinho), Pernambuco (Duarte Coelho), Ceará (António
Cardoso de Barros), Baía da Traição até o Amazonas (João de Barros, Aires da Cunha e Fernando
Álvares de Andrade).

Governo Geral

A ideia de D. João III era centralizar a administração colonial subordinando as capitanias a um


governador-geral que coordenasse e acelerasse o processo de colonização do Brasil. Com esse objetivo
elaborou-se em 1548 o Regimento do Governador-Geral no Brasil, que regulamentava as funções do
governador e de seus principais auxiliares — o ouvidor-mor (Justiça), o provedor-mor (Fazenda) e o
capitão-mor (Defesa).
O primeiro governador-geral foi Tomé de Sousa, fundador de Salvador, primeira cidade e capital do
Brasil. Com ele vieram os primeiros jesuítas.
A administração do segundo governador-geral, Duarte da Costa, apresentou mais problemas que seu
antecessor:
- revoltas dos índios na Bahia
- conflito entre o governador e o bispo
- a invasão francesa do Rio de Janeiro (criação da França Antártica).

Em compensação, o terceiro governador-geral, Mem de Sá, mostrou-se tão eficiente que a metrópole
o manteve no cargo até sua morte. Foi ele quem conseguiu expulsar os invasores franceses, com ajuda
de seu sobrinho Estácio de Sá.
Depois de Mem de Sá, por duas vezes a colônia foi dividida temporariamente em dois governos-gerais:
a primeira teve como divisão a Repartição do Norte, com capital em Salvador, e a do Sul, com capital no
Rio de Janeiro.
A segunda divisão foi durante a União Ibérica15, onde o Brasil foi transformado em duas colônias
distintas: Estado do Brasil (cuja capital era Salvador e, depois, Rio de Janeiro) e Estado do Maranhão
(cuja capital era São Luís e, depois, Belém). A reunificação só seria concretizada pelo Marquês de
Pombal, em 1774.
Além das Capitanias e do Governo-Geral, as Câmaras Municipais nas vilas e nas cidades
desempenhavam papel menor na administração do Brasil colonial. O controle das Câmaras Municipais
era exercido pelos grandes proprietários locais, conhecidos como "homens-bons". Entre suas
competências, destacavam-se a autoridade para decidir sobre preços de mercadorias e a fixação dos
valores de alguns tributos.
As eleições para as Câmaras Municipais eram realizadas entre os já citados homens-bons. Elegiam-
se três vereadores, um procurador, um tesoureiro e um escrivão, sob a presidência de um juiz ordinário
(juiz de paz).

Sistema Colonial

Sociedade
No topo da pirâmide social do período estavam os senhores de engenho. Eles dominavam a economia
e a política, exercendo poder sobre sua família e sobre outras pessoas que viviam em seus domínios sob
sua proteção – os agregados. Era a chamada família patriarcal.
Na camada intermediária estavam os homens livres, como religiosos, feitores, capatazes, militares,
comerciantes, artesãos e funcionários públicos. Alguns possuíam terras e escravos, porém não exerciam
grande influência individualmente, principalmente em relação à economia.
Na base estava a maior parte da população, que era composta de africanos e índios escravizados
(sendo os índios a primeira tentativa de escravidão). Os escravos não eram vistos como pessoas com

15
*A União Ibérica foi o período em que o império português e espanhol estiveram sob a mesma administração. Quando D. Sebastião – Rei de Portugal -
desapareceu durante conflitos contra os mouros na África sem deixar herdeiros diretos, o trono português foi ocupado provisoriamente por seu tio-avô. Após seu
falecimento, Felipe II, rei da Espanha e tio de D. Sebastião assume o trono português. Esse período durou 60 anos (1580 – 1640). Ele influenciou definitivamente as
relações entre Portugal e Espanha e alterou de forma marcante nosso território originalmente definido pelo Tratado de Tordesilhas.

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direito a igualdade. Eram considerados propriedade dos senhores e faziam praticamente todo o trabalho
na colônia. Os escravos nas zonas rurais não tinham nenhum direito na sociedade e começavam a
trabalhar desde crianças.
A sociedade colonial brasileira foi um reflexo da própria estrutura econômica, acompanhando suas
tendências e mudanças. Suas características básicas entretanto, definiram-se logo no início da
colonização segundo padrões e valores do colonizador português. Assim, a sociedade do Nordeste
açucareiro do século XVI, essencialmente ruralizada, patriarcal, elitista, escravista e marcada
pela imobilidade social, é a matriz sobre a qual se assentarão as modificações dos séculos seguintes16.
No século XVIII, a sociedade brasileira conheceu transformações expressivas. O crescimento
populacional, a intensificação da vida urbana e o desenvolvimento de outras atividades econômicas para
atender a essa nova realidade, resultaram indubitavelmente da mineração. Embora ainda conservasse o
seu caráter elitista, a sociedade do século XVIII era mais aberta, mais heterogênea e marcada por uma
relativa mobilidade social, portanto mais avançada em relação à sociedade rural e escravista dos séculos
XVI e XVII.
Os folguedos (festas populares) das camadas mais pobres conviviam com os saraus e outros eventos
sociais da camada dominante. Com relação a esta, o hábito de se locomover em cadeirinhas ou redes
transportadas por escravos, evidencia o aparecimento do escravo urbano, com destaque para os
chamados negros de ganho17.

Escravos e homens livres na Colônia


No Brasil colonial a mão de obra escrava foi utilizada amplamente. A escravidão está presente na
formação do país, desde os índios aos negros que chegavam em navios, a utilização do trabalho escravo
se deu pela intenção de maximizar lucros através da super exploração do trabalho e do trabalhador.
Apesar da ampla utilização do trabalho escravo, este não foi o único. Uma parte da sociedade era livre,
composta de trabalhadores livres, que no início eram apenas os portugueses condenados ao exílio na
América como punição.
Ser livre, mas pertencer ao último estamento social na colônia significava apenas não ser escravo.
Mesmo sendo livres, os mais pobres eram marginalizados e tinham poucas chances de ascensão sendo
privados de exigir melhores situações econômicas. No grupo de trabalhadores livres estavam os
desgredados portugueses, escravos forros (libertos) e os pardos.
O cultivo do açúcar e os engenhos motivaram essa variação de posição dos trabalhadores livres, em
que os senhores de engenhos consideravam estar no topo da sociedade. A divisão da terra através das
sesmarias18 beneficiava os mais abastados que se tornavam os grandes proprietários e arrendavam uma
parte para colonos que não possuíam condições para ter sua própria terra, denominando assim os
senhores de engenhos (produtores de açúcar) e os agricultores (produtores de cana). As relações entre
senhores de engenho e agricultores, unidos pelo interesse e pela dependência em relação ao mercado
internacional, formaram o setor açucareiro.

A resistência à escravidão
Onde quer que tenha existido escravidão, houve resistência escrava. No Brasil os escravizados
criaram diversas maneiras de resistência ao sistema escravista durante os quase quatro séculos em que
a escravidão existiu entre nós. A resistência poderia assumir diversos aspectos: fazer “corpo mole” na
realização das tarefas, sabotagens, roubos, sarcasmos, suicídios, abortos, fugas e formação de
quilombos. Qualquer tipo de afronta à propriedade senhorial por parte do escravizado deve ser
considerada como uma forma de resistência ao sistema escravista.
As motivações que levavam um escravizado a fugir eram variadas e nem todas as fugas tinham por
objetivo se livrar do domínio senhorial. De forma contrária, às vezes, o escravizado fugia à procura de um
outro senhor que o comprasse; caso o seu senhor não aceitasse a negociação, ele poderia continuar
fugindo e, portanto, dando prejuízos e maus exemplos, até que seu senhor resolvesse vendê-lo.
Era comum a fuga por alguns dias, quando em geral o escravizado ficava nas imediações da moradia
de seu senhor, às vezes para cumprir obrigações religiosas, outras para visitar parentes separados pela
venda, outras ainda, para fazer algum “bico” e, com o dinheiro, completar o valor da alforria.

16
https://www.coladaweb.com/historia-do-brasil/sociedade-colonial-brasileira
17
Escravos que repassavam todos os ganhos de seu trabalho aos seus donos.
18
Sesmarias nada mais eram do que pedaços de terra doados a beneficiários para que estes a cultivassem. Assim como no exemplo das capitanias, a posse
real ainda era da Coroa e os beneficiários, deviam cumprir uma série de exigências para garantir sua posse. Diferentemente das capitanias, ela não podiam ser
divididas em novos lotes.

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Os Quilombos
Os quilombos ou mocambos (conjunto de habitações miseráveis) existiram desde a época colonial até
os últimos anos do sistema escravista e assim como as fugas, foram comuns em todos os lugares em
que existiu escravidão. A formação de quilombos pressupõe um tipo específico de fuga, a fuga de
rompimento, cujo objetivo maior era a liberdade. Essa não era uma alternativa fácil a ser seguida, pois
significava viver sendo perseguido não apenas como um escravo fugido, mas como criminoso.
O Brasil teve em sua história vários grandes quilombos e o mais conhecido foi Palmares. Palmares foi
um quilombo formado no século XVII, na Serra da Barriga, região entre os estados de Alagoas e
Pernambuco. Localizado numa área de difícil acesso, os aquilombados conseguiram formar um Estado
com estrutura política, militar, econômica e sociocultural, que tinha por modelo a organização social de
antigos reinos africanos. Calcula-se que Palmares chegou a possuir uma população de 30 mil pessoas.
Depois da abolição definitiva da escravidão no Brasil, em 1888, as comunidades negras deram outro
sentido ao termo “quilombo”, não sendo mais utilizado como forma de luta e resistência ao cativeiro, mas
sim como morada e sobrevivência da família negra em pequenas comunidades onde seus valores
culturais eram preservados. Tais comunidades receberam diferentes nomeações: remanescentes de
quilombos, quilombos, mocambos, terra de preto, comunidades negras rurais, ou ainda comunidades de
terreiro.

Educação
A história da educação no Brasil tem início com a vinda dos padres jesuítas no final da primeira metade
do século XVI, inaugurando a primeira, mais longa e a mais importante fase da educação no país,
observando que a sua relevância encontra-se nas consequências resultantes para a cultura e civilização
brasileiras19.
Os jesuítas se dedicaram à pregação da fé católica e ao trabalho educativo. Logo perceberam que não
seria possível converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e escrever.
De Salvador a obra jesuítica estendeu-se para o sul e, em 1570, vinte e um anos depois da sua
chegada, já eram compostos por cinco escolas de instrução elementar – cursos de Letras, Filosofia e
Teologia -, localizadas em Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga,
e três colégios, localizados no Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia.
A educação era privilégio apenas das classes abastadas, pois as famílias tradicionais faziam questão
de terem entre seus filhos um doutor (médico ou advogado) e um padre. A educação era usada como
instrumento de legitimação da colonização, inculcando na população ideias de obediência total ao Estado
português. Os jesuítas impunham um padrão educacional europeu, que desvalorizava completamente os
aspectos culturais dos índios e dos negros.
Em relação às mulheres, mesmo as das famílias mais abastadas raramente recebiam instrução
escolar, e esta limitava-se às aulas de boas maneiras e de prendas domésticas. As crianças escravas por
sua vez estavam excluídas do processo educacional, não tendo acesso às escolas.

Religião
A origem do processo de ocupação territorial do Brasil, serviu também para as intenções da igreja
católica.
Os portugueses que vieram para o Brasil estavam inseridos no ideal similar ao das cruzadas, adotando
o catolicismo como símbolo do poder da coroa.
Diante desta ideia, todo o não católico era considerado um inimigo em potencial, a não aceitação da
fé em cristo era vista como contestação do poder do rei e afronta direta a todo português, uma motivação
que incentivou, dentre outros fatores, o extermínio dos indígenas, vistos como pagãos e infiéis.
Havia também o outro lado da moeda, em que o gentil era visto como potencialmente um servo da
coroa e de Deus, desde que tivesse a devida instrução. Essa ideia era defendida por muitos jesuítas,
como o padre Manuel da Nóbrega, conhecido por defender o direito de liberdade dos nativos
cristianizados.
Dentro deste contexto, a construção de igrejas passou a delimitar a conquista territorial, garantindo a
soberania do Estado.

19
OLIVEIRA, M. B. AMANDA. Ação educacional jesuítica no Brasil colonial. Revista Brasileira de História da Religiões.
http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf8/ST6/005%20-%20AMANDA%20MELISSA%20BARIANO%20DE%20OLIVEIRA.pdf

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A religiosidade africana
Vigiados de perto por seus senhores e fiscalizados pelos eclesiásticos católicos, na qualidade de
escravos, considerados utensílios de trabalho semelhantes a uma ferramenta, os africanos foram
obrigados a aceitar a fé em cristo como símbolo da submissão aos europeus e a coroa portuguesa20.
Apesar disso, elementos das religiões africanas sobreviveram se ocultando em meio à simbologia
cristã.
Associações de caráter locais, as irmandades negras contribuíram para forjar a polissemia (múltiplos
sentidos de uma palavra) e sincretismo21 religioso brasileiro.
Impedidos de frequentar espaços que expressavam a religião católica dos brancos, as irmandades
representavam uma das poucas formas de associação permitidas aos negros no contexto colonial.
Surgiram como forma de conferir status e proteção aos seus membros, sendo responsáveis pela
construção de capelas, organização de festas religiosas e pela compra de alforrias de seus irmãos,
auxiliando a ação da igreja e demonstrando a eficácia da cristianização da população escravizada.
Entretanto, ao se organizarem geralmente em torno da devoção a um santo específico que assumiu
múltiplos significados, incorporando ritos e cultos que eram originais aos deuses africanos, permitiram o
nascimento de religiões afro-brasileiras como o acotundá, o candomblé e o calundu.

Os judeus
Perseguidos pelo Tribunal do Santo Ofício na Europa, os judeus sempre estiveram em situação de
perigo iminente, sendo obrigados a converterem-se ao cristianismo em Portugal.
Aos olhos do Estado, os convertidos passaram a ser considerados cristãos-novos, vigiados de perto
pela Inquisição sofrendo preconceitos e perseguições esporádicas.
O Brasil se transformou na terra prometida para os cristãos-novos portugueses, compelidos a
migrarem para novas terras em além-mar.
Foi uma saída viável à recusa da aceitação de sua fé no reino, tendo em vista o fato da Inquisição
nunca ter se instalado por aqui, embora tenham sido instituídas visitações do Santo Ofício em 1591, 1605,
1618, 1627, 1763 e 1769.
Alojados sobretudo na Bahia, em Pernambuco, na Paraíba e no Maranhão; os cristãos-novos recém-
chegados integraram-se rapidamente ocupando cargos nas Câmaras Municipais em atividades
administrativas, burocráticas e comerciais, destacando-se também como senhores de engenho, algo
impensável em Portugal.
Sem a Inquisição em seus calcanhares, os cristãos-novos continuaram a exercer práticas judaicas no
interior de seus lares, mantendo vivos os laços familiares e comunitários clandestinamente e ao mesmo
tempo, adotando uma postura pública católica respondendo a uma necessidade de adesão, participação
e identificação.

Cultura
As manifestações artístico-culturais foram até o século XVII, condicionadas às atividades
desenvolvidas aos centros de educação, que eram os colégios jesuíticos. No trato social alicerçavam-se
práticas, usos e costumes que seriam marcantes para a formação da sociedade brasileira. A partir do
século XVIII esse cenário mudou.
Com a emergência da mineração, inúmeras manifestações tornaram-se presentes, como a arte
barroca (seja ela plástica ou literária), as manifestações árcades e parnasianas, principalmente ligadas a
uma referência mais letrada e influenciada pelos matizes europeus (a produção cultural não era mais
monopólio da igreja).

Economia
 A primeira atividade extrativista lucrativa da colônia foi em torno da exploração do pau-brasil. É
considerado seu ápice ainda no período pré-colonial, anterior a 1530 com a chegada de Martin Afonso e
o empenho dos primeiros engenhos. Tratamos aqui a partir do cultivo de cana e produção do açúcar.

- A cana-de-açúcar
Houveram muitos motivos para a escolha da cana como principal produto da colônia, sendo o principal
a ocorrência do solo de massapê, propício para o cultivo da cana-de-açúcar. Além disso, era um produto
muito bem cotado no comércio europeu.

20
MOREIRA, S. ANTONIA. Intolerância Religiosa em Acapare. UNILAB.
http://repositorio.unilab.edu.br:8080/jspui/bitstream/123456789/373/1/Antonia%20da%20Silva%20Moreira.pdf
21
Fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com reinterpretação de seus elementos.

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As primeiras mudas chegaram no início da ocupação efetiva do território brasileiro, trazidas por Martim
Afonso de Souza e plantadas no primeiro engenho, construído em São Vicente.
Os principais centros de produção açucareira do Brasil localizavam-se nos atuais estados de
Pernambuco, Bahia e São Paulo.
A ocupação do Brasil no Século XVI esteve profundamente ligada à indústria açucareira. A economia
de plantation22 possui relação intensa com os interesses dos proprietários de terras que lucravam
enormemente com as culturas de exportação.
O latifúndio formou-se nesse período tendo consequências até os dias de hoje. A produção da cana-
de-açúcar também contribuiu para a vinculação dependente do país em relação ao exterior, a monocultura
de exportação e a escravidão com suas consequências. A colônia portuguesa de exploração prosperou
graças ao sucesso comercial de sua produção.
Em 1630 os holandeses invadiram o nordeste da colônia, na região de Pernambuco, que era a maior
produtora de açúcar na época. Durante sua permanência no Brasil, os holandeses adquiriram o
conhecimento de todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira. Esses
conhecimentos criaram as bases para a implantação e desenvolvimento de uma indústria concorrente,
de produção de açúcar em grande escala, na região do Caribe. A concorrência imposta pelos holandeses,
que haviam sido expulsos pelos portugueses, fez com que o Brasil perdesse o monopólio que exercia no
mercado mundial do açúcar, levando a produção a entrar em declínio.

- Outras atividades econômicas


Na região Nordeste a atividade pastoril expandiu-se rapidamente, pois o capital necessário para a
montagem de uma fazenda de gado era bastante reduzido. As terras eram fartas e o criador precisava
somente requerer a doação de uma sesmaria ou simplesmente apossar-se da terra.
As instalações das propriedades pastoris eram comuns, com poucas casas e alguns currais feitos com
material encontrado nas localidades. O método de criação também era muito simples, feito de maneira
extensiva (o gado vivia solto no campo), o que dispensava mão-de-obra numerosa ou especializada.
Na região amazônica a geografia impedia a implantação de fazendas de cultivo ou a criação de
animais. Ao penetrarem os rios e selvas da região os portugueses notaram que os índios utilizavam uma
grande variedade de frutas, ervas, folhas e raízes para fins medicinais e alimentícios. Os produtos
utilizados, em especial cacau, baunilha, canela, urucum, guaraná, cravo e resinas aromáticas foram
chamados de drogas do sertão, e possuíam bom valor de comércio na Europa, podendo ser vendidas
como substitutas ou complementos das especiarias. Além das plantas, outras variedades de drogas do
sertão incluíam: gordura de peixe-boi, ovos de tartaruga, araras e papagaios, jacarés, lontras e felinos.

- O Ciclo do Ouro
Quando foi divulgada a notícia da descoberta de jazidas auríferas, muitas pessoas dirigiram-se para
as regiões onde foi encontrado o ouro, em especial para o atual território do estado de Minas Gerais.
Praticamente todas as pessoas que se deslocaram para a região o fizeram na intenção de dedicar-se
exclusivamente na exploração do metal, deixando de lado até mesmo atividades essenciais para a
sobrevivência, como a produção de alimentos.
Isso gerou uma profunda escassez de mercadorias na região. Era comum entre os anos de 1700 e
1730 a ocorrência de crises de fome caso o acesso a outras regiões das quais os produtos básicos eram
adquiridos fossem interrompidas. A situação começa a mudar com a expansão de novas atividades, e
com a melhoria das vias de comunicação.

- Impostos e a administração da coroa


Com as primeiras notícias de descobrimento das jazidas em Minas Gerais, a Coroa publicou o
Regimento dos Superintendentes, Guardas-Mores e Oficiais-Deputados para as minas de ouro, no ano
de 1702.
Para executar o regimento, cobrar impostos e superintender o serviço de mineração, foram criadas as
Intendências de Minas, uma para cada capitania em que houvesse a extração de ouro.
Quando uma nova jazida era descoberta, era obrigatória a comunicação para a Intendência. O Guarda-
mor, então, dirigia-se ao local, ordenando a demarcação do terreno a ser explorado. Este era dividido em
lotes, que eram chamados de datas.
As datas eram entregues através de sorteio. No dia da distribuição, comunicado com certa
antecedência, deviam comparecer todos aqueles que estivessem interessados em receber um lote; não
se admitiam procuradores ou representantes. O descobridor da jazida não só tinha o direito de escolher

22
Possui como características: latifúndio, mão de obra escrava e interesses voltados à exportação.

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uma data, mas também de receber um prêmio em dinheiro. A Intendência separava em seguida uma data
para si, vendendo-a depois em leilão público. As datas restantes eram sorteadas entre os presentes.
Encerrado o sorteio, se sobrassem terras auríferas, fazia-se uma distribuição suplementar. Se o número
de interessados era muito grande, o tamanho das datas era reduzido. Normalmente as datas eram lotes
com no máximo 50 metros de largura.
No início da atividade mineradora foi estabelecido um imposto para as pessoas que se dedicavam à
extração: o quinto. Correspondia a 20% do ouro extraído, que deveria ser pago para a Coroa. Como era
difícil determinar se uma barra ou saca de ouro havia sido ou não quintada, a sonegação era uma pratica
fácil de ser realizada.
Com o objetivo de regularizar a cobrança, foi criado um imposto adicional chamado finta23 que não
funcionou como planejado e acabou sendo extinto. Para resolver o problema o governo criou as Casas
de Fundição, das quais a mais famosa foi a de Minas Gerais, inaugurada em 1725.
Nas casas de fundição o minerador entregava seu ouro, que era fundido e transformado em barras,
das quais era descontado o quinto. Após as Casas de Fundição, também foi proibida a comercialização
e exportação de ouro em pó. É possivelmente dessa época o surgimento dos “Santos do pau oco”
(imagens de santos esculpidas por dentro e preenchidas com ouro em pó, para fugir da fiscalização e da
cobrança).
Em 1735 a Coroa começou a cobrar um novo imposto, a Capitação. Era um imposto per capita, pago
em ouro pelas pessoas e estabelecimentos comerciais da área mineradora.
Em 1750 a capitação foi extinta, restando apenas o quinto. Apesar disso, era exigida uma arrecadação
mínima de 100 arrobas de ouro por ano. Caso não fosse atingida a arrecadação era decretada a derrama:
cobrança da quantidade que faltava para completar as 100 arrobas de arrecadação.
Conforme as jazidas foram se esgotando, a produção de ouro caiu assim como a arrecadação de
impostos. As suspeitas de sonegação de impostos e a violência da Intendência aumentaram juntamente,
gerando atritos e conflitos entre autoridades e mineradores, uma das causas da Inconfidência Mineira de
1789.
Para a extração do ouro foram organizados dois tipos de empreendimentos: lavras e faiscações.
As lavras eram unidades de produção relativamente grandes, podendo até possuir equipamento
especializado e o trabalho de mais de 100 escravos, o que exigia o investimento de alto capital, sendo
rentável apenas em jazidas de ouro de tamanho suficientemente grande.
Nas faiscações, que eram pequenas unidades produtoras, trabalhavam somente algumas pessoas
(por vezes eram até mesmo compostas de trabalhadores individuais). Era comum a prática do envio de
escravos por homens livres para faiscação, sendo o ouro encontrado dividido entre ambos.

Expansões Geográficas

Entradas e bandeiras, conquista e colonização do nordeste, penetração na Amazônia, conquista do


Sul, Tratados e limites.

Bandeiras e Bandeirantes
As bandeiras, tradicionalmente definidas como expedições particulares, em oposição às entradas, de
caráter oficial, contribuíram decisivamente para a expansão territorial do Brasil Colônia. A pobreza de São
Paulo, decorrente do fracasso da lavoura canavieira no século XVI, a possibilidade da existência de
metais preciosos no interior e particularmente, a necessidade de mão-de-obra para o açúcar nordestino
durante a União Ibérica, levaram os paulistas a organizar a caça ao índio, o bandeirismo de contrato e a
busca mineral.

 As entradas tinham uma origem diferente, porém com finalidade semelhante à dos bandeirantes.
Enquanto o movimento das bandeiras tratava-se de uma expedição particular (normalmente financiada
pelos próprios paulistas) com objetivo de obter lucros (encontrando metais preciosos, preando índios ou
comercializando as ervas do sertão), as entradas eram expedições financiadas pela Coroa, normalmente
composta por soldados portugueses e brasileiros. Embora o objetivo inicial fosse mapear o território
brasileiro e facilitar a colonização, as entradas também envolviam-se em conflitos com os índios
(principalmente aqueles que apresentavam resistência) e, como era de se esperar, também lucravam
com isso.

23
30 arrobas de ouro cobradas anualmente.

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A caça ao Índio
Inicialmente a caça ao índio (preação) foi uma forma de suprir a carência de mão-de-obra para a
prestação de serviços domésticos aos próprios paulistas. Porém logo transformou-se em atividade
lucrativa, destinada a complementar as necessidades de braços escravos, bem como para a triticultura
(cultura do trigo) paulista.
Na primeira metade do século XVII os vicentinos (bandeirantes da Vila de São Vicente) realizaram
incursões principalmente contra as reduções jesuíticas espanholas, resultando na destruição de várias
missões, como as do Guairá, Itatim e Tape, por Antônio Raposo Tavares. Nesse período, os holandeses,
que haviam ocupado uma parte do Nordeste açucareiro, também conquistaram feitorias de escravos
negros na África, aumentando a escassez de escravos africanos no Brasil.

O bandeirismo de contrato
A ação de bandeirantes paulistas contratados pelo governador-geral ou por senhores de engenho do
Nordeste com o objetivo de combater índios inimigos e destruir quilombos, corresponde a uma fase do
bandeirismo na segunda metade do século XVII. O principal acontecimento desse ciclo de bandeiras foi
a destruição de um conjunto de quilombos situados no Nordeste açucareiro, conhecido genericamente
como Palmares.
A atuação do bandeirismo foi de fundamental importância para a ampliação do território português na
América. Num espaço muito curto os bandeirantes devassaram o interior da colônia explorando suas
riquezas e arrebatando grandes áreas do domínio espanhol, como é o caso das missões do Sul e Sudeste
do Brasil.
Antônio Raposo Tavares, depois de destruí-las, foi até os limites com a Bolívia e Peru atingindo a foz
do rio Amazonas, completando assim o famoso périplo brasileiro. Por outro lado, os bandeirantes agiram
de forma violenta na caça de indígenas e de escravos foragidos, contribuindo para a manutenção do
sistema escravocrata que vigorava no Brasil Colônia.

Conquistas e Tratados
Fato curioso na ação das bandeiras e entradas é que eles não tinham real noção do tamanho do nosso
território. Era comum pensarem que se adentrassem o suficiente, logo chegariam às colônias espanholas.
As necessidades econômicas (que já falamos acima) levaram os portugueses a adentrar muito mais do
que o combinado no Tratado de Tordesilhas e posteriormente obrigou os governos a reconhecerem novos
acordos.
No século XVII um evento ajudou para que essa expansão ocorresse sem maiores problemas. Trata-
se da União Ibérica. Para a expansão territorial brasileira isso foi ótimo. Primeiro por estreitar as relações
entre colônias portuguesas e espanholas e depois por, quando dos portugueses adentrarem o território
além do estabelecido não encontrarem nenhum problema, afinal os espanhóis entendiam que o seu povo
estava povoando a sua terra.
Os limites estabelecidos em Tordesilhas foram tão alterados e de forma tão definitiva (várias novas
colônias já haviam sido estabelecidas) que um novo acordo sobre os limites territoriais entre Portugal e
Espanha foi estabelecido: o Tratado de Madri (1750). Em resumo ele reconhecia que a maioria do
território desbravado pertencia a Portugal, baseado no princípio da posse por uso.
 No período colonial, que dura até o ano de 1815 quando o Brasil é elevado à categoria de Reino
Unido de Portugal e Algarves, ainda teremos o início dos conflitos da Cisplatina (1811 – 1828) – disputa
entre Portugal e Espanha em torno da fronteira do RS devido às pretensões espanholas de controlar o
rio da Prata -. Porém esse conteúdo é mais comumente pedido dentro do período imperial, talvez pelo
seu final ter sido após 1822.

União Ibérica
Em 1578, na luta contra os mouros marroquinos em Alcácer-Quibir, o rei D. Sebastião de Portugal,
desapareceu. Com isso teve início uma crise sucessória do trono português, já que o rei não deixou
descendentes. O trono foi assumido por um curto período de tempo por seu tio-avô, o cardeal Dom
Henrique, que morreu dois anos depois, sem deixar herdeiros.
Logo após, Filipe II da Espanha e neto do falecido rei português D. Manuel I, demonstrou o interesse
em assumir o trono português. Para alcançar o poder, além de se valer do fator parental, o monarca
hispânico chegou a ameaçar os portugueses com seus exércitos para que pudesse exercer tal direito.
Assim foi estabelecida a União Ibérica, que marca a centralização de Portugal e Espanha sob um mesmo
governo.
A vitória política de Filipe II abriu oportunidade para que as finanças de seu país pudessem se
recuperar após diversos gastos em conflitos militares. Para tanto, tinha interesse em estabelecer o

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comércio de escravos com os portugueses que controlavam a atividade na costa africana. Além disso, o
controle da maior parte das possessões do espaço colonial americano permitiria a ampliação dos lucros
obtidos através da arrecadação tributária.
Apesar das vantagens, o imperador espanhol manteve uma significativa parcela dos privilégios e
posições ocupadas por comerciantes e burocratas portugueses.
Mesmo preservando aspectos fundamentais da colonização lusitana, a União Ibérica também foi
responsável por algumas mudanças. Com a junção das coroas, as nações inimigas da Espanha passam
a ver na invasão do espaço colonial lusitano uma forma de prejudicar o rei Filipe II. Desta maneira, no
tempo em que a União Ibérica foi vigente, ingleses, holandeses e franceses tentaram invadir o Brasil.
Entre todas essas tentativas, podemos destacar especialmente a invasão holandesa, que alcançou o
monopólio da atividade açucareira em praticamente todo o litoral nordestino. No ano de 1640 a
Restauração definiu a vitória portuguesa contra a dominação espanhola e a consequente extinção da
União Ibérica. Ao fim do conflito, a dinastia de Bragança, iniciada por dom João IV, passou a controlar
Portugal.

Invasões

Invasões francesas
A França foi o primeiro reino europeu a contestar o Tratado de Tordesilhas que dividiu as terras
descobertas na América entre Portugal e Espanha em 1494. Visitaram constantemente o litoral brasileiro
desde o período da extração do pau-brasil mantendo relações amistosas com os povos indígenas locais.
Deste acordo surgiu a Confederação dos Tamoios (aliança entre diversos povos indígenas do litoral:
tupinambás, tupiniquins, goitacás, entre outros), que possuíam um objetivo em comum: derrotar os
colonizadores portugueses.
Em 1555 os franceses fundaram na baía de Guanabara a França Antártica, criando uma sociedade
de influências protestantes. Através dos franceses, algumas partes do litoral brasileiro ganharam diversas
feitorias e fortes.
Por aproximadamente cinco anos ocorreram conflitos entre os portugueses e a Confederação dos
Tamoios. Em 1567 os portugueses derrotaram a Confederação e expulsaram os franceses do litoral
brasileiro, o que não desencorajou os ideais franceses.
No século XVII (1612), fundaram a França Equinocial, correspondente à cidade de São Luís, capital
do estado do Maranhão.
Com a intenção de conter a expansão francesa, Portugal enviou uma expedição militar à região do
Maranhão. Essa expedição atacou os franceses tanto por terra quanto por mar. Em 1615, foram
derrotados e se retiraram do Maranhão, deslocando-se para a região das Guianas onde fundaram uma
colônia, a chamada Guiana Francesa.
Após duas tentativas mal sucedidas de estabelecimento de uma civilização francesa no Brasil colonial,
os franceses passaram a saquear através de corsários (piratas), algumas cidades do litoral brasileiro no
século XVIII. A principal delas foi a cidade do Rio de Janeiro, de onde escoava todo ouro extraído da
colônia rumo a Portugal. Uma primeira tentativa de saque, em 1710, foi barrada pelos portugueses;
entretanto, no ano de 1711, piratas franceses tomaram a cidade do Rio de Janeiro e receberam dos
portugueses um alto resgate para libertá-la: 600 mil cruzados, 100 caixas de açúcar e 200 bois.
Terminavam, então, as tentativas de invasões francesas no Brasil.

Invasões Inglesas
As incursões inglesas no Brasil ficaram restritas a ataques de piratas e corsários.
William Hawkins foi o primeiro corsário inglês a aportar na colônia. Entre 1530 e 1532, percorreu alguns
pontos da costa e fez escambo de pau-brasil com os índios. Outro foi Thomas Cavendish, que atracou
em Santos em 1591. Conhecido como “lobo-do-mar”, Cavendish estava a serviço da rainha inglesa
Elizabeth I.
O corso realizado pelos ingleses entretanto, intensificou-se apenas na segunda metade do século XVI,
quando os conflitos entre católicos e protestantes tornaram-se intensos na Inglaterra e os mercadores
empolgaram-se com as possibilidades comerciais abertas pelas novas rotas marítimas.
A primeira incursão pirata dos ingleses ao litoral brasileiro foi em 1587. Em 1595, o inglês James
Lancaster conseguiu tomar o porto do Recife. Retirou grande volume de pau-brasil, que levou para a
Inglaterra depois de realizar saques na capitania durante mais de um mês.

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Invasões Holandesas
As invasões holandesas na primeira metade do século XVII estão relacionadas com a criação da União
Ibérica. Antes do domínio dos Habsburgos24, as relações comerciais e financeiras entre Portugal e
Holanda eram intensas. Pouco antes de Filipe II tornar-se rei de Portugal, os Países Baixos iniciaram uma
guerra de independência tentando libertar-se do domínio espanhol. Iniciada em 1568, essa guerra de
libertação culminou com a União de Utrecht25, sob a chefia de Guilherme de Orange. Em 1581, nasciam
as Províncias Unidas dos Países Baixos, mas a guerra continuou.
Assim que Filipe II assumiu o trono luso, proibiu o comércio açucareiro luso-flamengo. O embargo de
navios holandeses em Lisboa provocou a criação de companhias privilegiadas de comércio. Entre 1609
e 1621, houve uma trégua que permitiu a normatização temporária do comércio entre Brasil-Portugal e
Holanda. Em 1621, terminada a trégua, os holandeses fundaram a Companhia de Comércio das Índias
Ocidentais cujo alvo era o Brasil. Começava então a Guerra do Açúcar.
A primeira invasão foi na Bahia, realizada por três mil e trezentos soldados. Salvador foi ocupada sem
muita resistência e o governador Diogo de Mendonça Furtado foi preso, tendo a cidade saqueada. A
população fugiu para o interior onde a resistência foi organizada pelo bispo D. Marcos Teixeira e por
Matias de Albuquerque. Os baianos também receberam a ajuda de uma esquadra luso-espanhola
(“Jornada dos Vassalos”) e, em maio de 1625 os holandeses foram expulsos.
A segunda invasão holandesa no Nordeste foi direcionada contra Pernambuco, uma capitania rica em
açúcar e pouco protegida. Olinda e Recife foram ocupadas e saqueadas. A resistência foi comandada por
Matias de Albuquerque a partir do Arraial do Bom Jesus, e durante alguns anos impediu que os invasores
ampliassem sua área de dominação. Mas a traição de Domingos Calabar alterou a situação.
Entre 1637 e 1644, o Brasil holandês foi governado pelo conde Mauricio de Nassau-Siegen, que
expandiu o domínio holandês do Nordeste até o Maranhão e conquistou Angola (fornecedora de
escravos). Porém, em 1638 fracassou ao tentar conquistar a Bahia.
Quando Portugal restaurou sua independência e assinou a Trégua dos Dez Anos com a Holanda,
Nassau continuou administrando o Brasil holandês de forma exemplar. Urbanizou Recife, fundou um
zoológico, um observatório astronômico e uma biblioteca, construiu jardins e palácios e promoveu a vinda
de artistas e cientistas para o Brasil.
Além disso, adotou a tolerância religiosa e dinamizou a economia canavieira. Sua política garantiu o
apoio da aristocracia local, mas entrou em choque com os objetivos da Companhia das Índias Ocidentais.
O desgaste com a Companhia levou Nassau a deixar o Brasil em 1644. Enquanto isso, os próprios
brasileiros organizaram a luta contra os flamengos com a Insurreição Pernambucana. Os líderes foram
André Vidal de Negreiros, João Fernandes Vieira, Henrique Dias (negro) e o índio Filipe Camarão.
Em 1648 e 1649, as duas batalhas de Guararapes foram vencidas pelos nativos. Em 1652, o apoio
oficial de Portugal e as lutas dos holandeses na Europa contra os ingleses em decorrência dos prejuízos
causados pelos Atos de Navegação de Oliver Cromwell, levaram os holandeses a Capitulação da
Campina do Taborda26.
Os holandeses foram desenvolver a produção de açúcar nas Antilhas, contribuindo para a crise do
complexo açucareiro nordestino. Mais tarde, Portugal e Holanda firmaram o Tratado de Paz de Haia
(1661), graças a mediação inglesa. Segundo tal tratado a Holanda receberia uma indenização de 4
milhões de cruzados e a cessão pelos portugueses das ilhas Molucas e do Ceilão, recebendo ainda o
direito de comercializar com maior liberdade nas possessões portuguesas, em razão da perda do Brasil
holandês.

As Rebeliões Nativistas
A população colonial já enraizada na terra e portanto, com fortes sentimentos nativistas, manifestou
seu descontentamento frente às exigências metropolitanas. Em vista disto, surgiram os primeiros sinais
de rebeldia, denominados rebeliões nativistas.

Revolta de Beckman (1684)


Na segunda metade do século XVII, a situação da economia maranhense que nunca fora boa, tendia
a piorar. A Coroa, pressionada pelos jesuítas proibiu a escravização de indígenas, os quais eram a base
da mão-de-obra local utilizados na coleta de “drogas do sertão” e na agricultura de subsistência.

24
Poderosa família que dos séculos XVI ao XX governaram diversos reinos na Europa, entre eles Áustria, Nápoles, Sicília e Espanha.
25
A União de Utrecht foi um acordo assinado na cidade holandesa de Utrecht, em 23 de Janeiro de 1579, entre as províncias rebeldes dos Países Baixos -
naquele tempo em conflito com a coroa espanhola durante a guerra dos 80 anos.
26
Acordo que estabelecia, entre tantas cláusulas que o governo holandês abdicava de suas terras no Brasil.

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Visando melhorar a situação da capitania, o governo português criou em 1682 a Companhia de
Comércio do Maranhão, a qual recebia o monopólio do comércio maranhense e em troca deveria
promover o desenvolvimento da agricultura local.
A má administração da empresa gerou uma rebelião de colonos em 1684, sob a chefia dos irmãos
Manoel e Thomas Beckman. O objetivo dos rebeldes era o fechamento da Companhia e a expulsão dos
jesuítas. A revolta foi sufocada pela coroa, mas a Companhia encerrou suas atividades.

A Guerra dos Emboabas (1708-1709)


Apesar da fome que assolou as Minas em 1696-1698 ter sido terrível, uma crise de desabastecimento
ainda mais devastadora aconteceu na região em 1700. Três anos depois da descoberta das primeiras
jazidas, cerca de 6 mil pessoas haviam chegado às minas. Na virada do século XVIII, esse número
quintuplicara: 30 mil mineiros perambulavam pela área.
Pouco depois surgiram os conflitos entre paulistas, que foram os descobridores das jazidas e primeiros
povoadores e os Emboabas, forasteiros, normalmente portugueses, pernambucanos e baianos.
Os dois grupos disputavam o direito de exploração das terras. Os paulistas argumentavam que
deveriam ter o direito de exploração, por serem os descobridores. Já os emboabas defendiam que por
serem cidadãos do Reino também possuíam o direito de exploração das riquezas. Entre 1707 e 1709,
ocorreram lutas violentas entre os dois grupos, com derrotas sucessivas por parte dos paulistas.
O governador Albuquerque Coelho e Carvalho promoveu a pacificação geral em 1709, quando foi
criada a capitania de São Paulo e Minas de Ouro, pertencente à coroa.

A Guerra dos Mascates (Pernambuco, 1710-1714)


Luta entre os proprietários rurais de Olinda e os comerciantes portugueses de Recife, originada pela
expulsão dos holandeses no século XVII. Se a perda do monopólio brasileiro do fornecimento de açúcar
à Europa foi trágica para os produtores pernambucanos, não foi tanto assim para a burguesia lusitana de
Recife, que passou a financiar a produção olindense, com elevadas taxas e grandes hipotecas.
A superioridade econômico-financeira de Recife não tinha correspondente político, visto que seus
habitantes continuavam dependendo da Câmara Municipal de Olinda. Em 1710, Recife conseguiu sua
emancipação político-administrativa transformando-se em município autônomo. Os olindenses,
comandados por Bernardo Vieira de Melo invadiram Recife, provocando a reação dos Mascates,
chefiados por João da Mota.
A luta entre as duas cidades manteve-se até 1714, quando foi encerrada graças à mediação da Coroa.
O esforço da aristocracia fora inútil: Recife manteve sua autonomia.

Os Movimentos Emancipacionistas

As revoltas emancipacionistas foram movimentos sociais ocorridos no Brasil Colonial, caracterizados


pelo forte anseio de conquistar a independência do Brasil com relação a Portugal. Entre os principais
motivos para esses movimentos estavam:
- a alta cobrança de impostos;
- limites estabelecidos pelo Pacto Colonial que obrigava o Brasil de comercializar somente com
Portugal;
- a falta de autonomia e representação na criação de leis e tributos, além da política dominada por
Portugal;
- os ideais iluministas e separatistas vindos da Europa e dos Estados Unidos.

A Inconfidência Mineira (1789)


Na segunda metade do século XVIII, a produção de ouro nas Minas Gerais vinha apresentando um
grande declínio, o que aumentou os choques e conflitos entre a população local e as autoridades
portuguesas. Quanto menos ouro era extraído, maiores eram os boatos e ameaças do acontecimento da
Derrama27, atitude que afetaria boa parte da elite local.
Os grupos mais influenciados pelas ideias iluministas, que eram também os que mais teriam a perder
com as medidas do governo português, resolveram tomar uma atitude dando início em 1789 ao
movimento que seria chamado pela metrópole de Inconfidência Mineira, ou Conjuração Mineira.
Os inconfidentes tinham como objetivo a imediata separação da colônia, criando uma República
moldada pelo pensamento liberal-iluminista e pela Constituição dos Estados Unidos, que havia
conquistado sua independência em 1776. Após conquistada a liberdade em relação à metrópole,
27
No Brasil Colônia, a derrama era um dispositivo fiscal aplicado em Minas Gerais a fim de assegurar o teto de cem arrobas anuais na arrecadação do quinto.
O quinto era a retenção de 20% do ouro em pó ou folhetas que eram direcionadas diretamente a Coroa Portuguesa

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estabeleceriam São João del-Rei como capital, criariam a Universidade de Vila Rica e dariam estímulo à
abertura de manufaturas têxteis e de uma siderurgia para o novo Estado. Em relação à escravidão as
posições eram divergentes.
A revolta foi suspensa quando participantes da conspiração denunciaram o movimento ao governador.
O coronel Joaquim Silvério dos Reis foi apontado como principal delator. Endividado com a coroa assim
como outros inconfidentes, o coronel resolveu separar-se do movimento e apresentar um depoimento
formal para o governador da capitania, Visconde de Barbacena. O governador suspendeu a cobrança e
mandou prender os inconfidentes.
Após a confissão de Joaquim Silvério e a prisão dos suspeitos foi instituída a devassa, uma
investigação levada a cabo pelas autoridades da época, constatando que envolveram-se no movimento
da Capitania das Minas grandes fazendeiros, criadores de gado, contratadores, exploradores de minas,
magistrados, militares, além de intelectuais luso-brasileiros.
Dentre os inconfidentes, destacaram-se os padres Carlos Correia de Toledo, José de Oliveira Rolim e
Manuel Rodrigues da Costa, além do cônego Luís Vieira da Silva; o tenente-coronel Francisco de Paula
Freire de Andrade, comandante militar da capitania, os coronéis Domingos de Abreu Vieira, também
comerciante, e Joaquim Silvério dos Reis, rico negociante; e os letrados Cláudio Manuel da Costa, Inácio
José de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga.
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi o único “conspirador” que não fazia parte da elite.
Conhecido como alferes (primeiro posto militar) e dentista prático, foi talvez por sua origem o mais
duramente castigado. A memória de Tiradentes passou a ser celebrada no Brasil com a Proclamação da
República, quando foi considerado herói nacional pelo regime estabelecido em 15 de novembro de 1889.
Sua representação mais conhecida é muito semelhante à imagem de Cristo, reforçando a construção da
imagem de mártir.
Assinada em 19 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, a sentença de morte de Tiradentes cumpriu-se
dois dias depois: ele foi enforcado, decapitado e esquartejado. Os outros participantes foram condenados
ao desterro na África.

Conjuração Baiana (1798)


A conjuração Baiana, ou Revolta dos Alfaiates, assim como a Conjuração Mineira, foi influenciada
pelos ideais iluministas, em especial a Revolução Francesa. Ocorrida na Bahia em 1798, buscava a
emancipação e defendeu importantes mudanças sociais e políticas na sociedade.
Entre as causas do movimento estava a insatisfação com Portugal pela transferência da capital para
o Rio de Janeiro em 1763. Com tal mudança, Salvador (antiga capital) sofreu com a perda dos privilégios
e a redução dos recursos destinados à cidade. Somado a tal fator, o aumento dos impostos e exigências
à colônia vieram a piorar sensivelmente as condições de vida da população local. O preço dos alimentos
também gerou revolta na população. Além de caros, muitos produtos tornavam-se rapidamente escassos
pelas restrições impostas sobre o comércio e as importações.
Os revoltosos defendiam a separação da região do restante da colônia, buscando independência de
Portugal e instalando um governo baseado nos princípios da República. Também defendiam a liberdade
de comércio (fim do pacto colonial estabelecido), o aumento dos soldos28 e a igualdade entre as pessoas,
resultando na abolição da escravidão.
O movimento ganhou o nome de Revolta dos Alfaiates pela grande adesão desses profissionais no
movimento, entre eles Manuel Faustino dos Santos Lira e João de Deus do Nascimento. Outros setores
também aderiram ao movimento, como o militar, representado pelo soldado Luís Gonzaga das Virgens.
O movimento contou com a participação de pessoas pobres, letrados, padres, pequenos comerciantes,
escravos e ex-escravos.
A revolta foi impedida antes mesmo de começar. O ferreiro José da Veiga informou sobre os detalhes
do movimento ao governador, que pôde mobilizar tropas do exército para conter os revoltosos.

Questões

01. (TJ/SC - Analista Administrativo - TJ) Sobre o Período Colonial Brasileiro, assinale a alternativa
INCORRETA:
(A) De 1500 a 1530 a economia brasileira gravitou em torno do pau-brasil. Após 1530, declinando o
comércio com as Índias, a coroa portuguesa decidiu-se pela colonização do Brasil.

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A palavra ¨soldo¨ (em latim ¨solidus¨), remuneração por serviços militares e ¨soldado¨, têm sua origem no nome desta moeda.

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(B) A extração do pau-brasil foi declarada estanco, ou seja, passou a ser um monopólio real, cabendo
ao rei conceder a permissão a alguém para explorar comercialmente a madeira. O primeiro arrendatário
a ser beneficiado com o estanco foi Fernando de Noronha, em 1502.
(C) A administração colonial foi efetuada inicialmente por meio do sistema de Capitanias Hereditárias.
Com seu fracasso foram instituídos os Governos Gerais, não para acabar com as capitanias, mas para
centralizar sua administração.
(D) No sistema de Capitanias hereditárias a ocupação das terras era assegurada pela Carta de Doação
e pelo Foral. A carta de doação determinava os direitos e deveres dos donatários e o Foral cedia aos
donatários as terras, bem como o poder administrativo e jurídico das mesmas.
(E) O primeiro núcleo de colonização do Brasil foi a Vila de São Vicente, fundada no litoral paulista em
1532.

02. (TJ/SC - Assistente Social - TJ) Sobre o Período Colonial brasileiro, assinale a única alternativa
que está INCORRETA:
(A) Portugal só deu início à colonização das terras conquistadas, que passaram a chamar-se Brasil,
devido à pressão que sofria com o declínio de seu comércio com o oriente e com a sistemática ameaça
estrangeira no território brasileiro.
(B) O sistema de Capitanias Hereditárias foi implantado por D. João III mas não teve o sucesso
esperado. Entre os fatores que contribuíram para o fracasso das capitanias podemos citar: falta de terras
férteis em algumas regiões, falta de interesse dos donatários, conflitos com os indígenas, falta de recursos
financeiros para o empreendimento por parte de quem recebia a capitania.
(C) Tomé de Souza foi o primeiro Governador-Geral do Brasil e a sede do governo geral foi
estabelecida na Bahia.
(D) A estrutura econômica brasileira do período colonial tinha como principais características a
monocultura, o latifúndio, o trabalho escravo e a produção para o mercado externo.
(E) O primeiro núcleo de colonização do Brasil foi a Vila de Santos, fundada em 1532.

03. (PC/SC - Investigador de Polícia – ACAFE) Sobre a economia do período colonial do Brasil, todas
as alternativas estão corretas, exceto a:
(A) O ciclo do ouro contribuiu para a formação de núcleos urbanos no interior do Brasil e para a
transferência da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro.
(B) A propriedade agrícola no qual se baseava o sistema colonial tinha duas características básicas: a
monocultura e o trabalho escravo.
(C) O pau-brasil foi um dos primeiros produtos explorados no Brasil, sendo obtido pelos europeus
numa relação de escambo com os nativos.
(D) O ciclo da cana-de-açúcar foi fundamental para a criação de um mercado econômico interno,
realizando a ligação comercial entre o litoral e o interior da colônia.

04. (Prefeitura de Padre Bernardo/GO - Contador – Itame) Entre 1708 e 1709 o estado de Minas
Gerais foi palco de um conflito marcado pela disputa pelo Ouro. Tal guerra se baseou no conflito entre
bandeirantes paulistas e forasteiros que buscavam a riqueza oriunda dos metais preciosos. Tal conflito
ficou conhecido como:
(A) Guerra das Emboabas.
(B) Inconfidência Mineira.
(C) Levante de Vila Rica.
(D) Guerra Mata Maroto.

05. (PUC) “Nenhuma outra forma de exploração agrária no Brasil colonial resume tão bem as
características básicas da grande lavoura como o engenho de açúcar.”
Alice Canabrava, in Sérgio Buarque de Holanda (org.) História geral da civilização brasileira. Rio de Janeiro: Difel, 1963, tomo I, vol. 2, p. 198-206.

A frase pode ser considerada correta, entre outros motivos, porque na produção açucareira:
(A) prevalecia o regime de trabalho escravo e a grande propriedade monocultora.
(B) havia emprego reduzido de mão de obra e prevalecia a agricultura de subsistência.
(C) prevalecia a atenção ao mercado consumidor interno e à distribuição das mercadorias nas grandes
cidades.
(D) havia disposição modernizadora do aparato produtivo e prevalecia a mão de obra assalariada.
(E) prevalecia a pequena propriedade familiar e a diversificação de culturas

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06. (VUNESP) Leia o texto para responder à questão.
O Brasil colonial foi organizado como uma empresa comercial resultante de uma aliança entre a
burguesia mercantil, a Coroa e a nobreza. Essa aliança refletiu-se numa política de terras que incorporou
concepções rurais tanto feudais como mercantis.
(Emília Viotti da Costa. Da Monarquia à República, 1987.)

A afirmação de que “O Brasil colonial foi organizado como uma empresa comercial resultante de uma
aliança entre a burguesia mercantil, a Coroa e a nobreza” indica que a colonização portuguesa do Brasil
(A) desenvolveu-se de forma semelhante às colonizações espanhola e britânica nas Américas, ao
evitar a exploração sistemática das novas terras e privilegiar os esforços de ocupação e povoamento.
(B) implicou um conjunto de articulações políticas e sociais, que derivavam, entre outros fatores, do
exercício do domínio político pela metrópole e de uma política de concessões de privilégios e vantagens
comerciais.
(C) alijou, do processo colonizador, os setores populares, que foram impedidos de se transferir para a
colônia e não puderam, por isso, aproveitar as novas oportunidades de emprego que se abriam.
(D) incorporou as diversas classes sociais existentes em Portugal, que mantiveram, nas terras
coloniais, os mesmos direitos políticos e trabalhistas de que desfrutavam na metrópole.
(E) alterou as relações políticas dentro de Portugal, pois provocou o aumento da participação dos
burgueses nos assuntos nacionais e eliminou a influência da aristocracia palaciana sobre o rei.

Gabarito

01.D / 02.E / 03.D / 04.A / 05.A / 06.B

Comentários

01. Resposta: D.
Na alternativa incorreta houve uma inversão, pois Carta de Doação era um documento que cedia aos
Donatários a posse da terra, já o Foral era o documento que estabelecia direito e os deveres dos
donatários.

02. Resposta: E.
Martim Afonso de Souza fundou, em 1532, o primeiro núcleo populacional do Brasil: A Capitania de
São Vicente.

03. Resposta: D.
A produção de cana-de-açúcar era feita em grandes latifúndios, toda a produção feita na colônia era
voltada ao mercado externo, nessa época não havia produção destinada ao mercado interno, exceto os
gêneros alimentícios de subsistência.

04. Resposta: A.
O enunciado da questão faz referência a Guerra dos Emboabas. Como havia sido um paulista a
descobrir ao ouro, eles achavam que tinham direitos especiais sobre a terra. Quando um dos líderes dos
emboabas enfrentou, junto com uma frente armada e conseguiu expulsar os paulistas da região de
Sabará, o ato foi entendido por eles como uma declaração de guerra.

05. Resposta: A
A produção do açúcar no Brasil foi a primeira grande atividade comercial estabelecida de forma efetiva
para a geração de lucros para a coroa portuguesa. Era caracterizada pela mão-de-obra escrava (indígena,
depois africana), a grande propriedade rural (Latifúndio) e a exportação para o mercado europeu.

06. Resposta: B
Durante o período colonial, a obtenção de terras estava vinculada à concessão do rei, que as cedia
para pessoas com capital disponível para a construção de engenhos ou investimentos na colônia.

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Período Joanino e a Independência

Só passando para lembrar que quando tratamos sobre a chegada dos portugueses no Brasil a
partir do período joanino ou após o período colonial, estamos falando das CORTES portuguesas,
uma vez que a presença lusitana no nosso território é ininterrupta desde o descobrimento.

Realizações Político-sociais das Cortes no Brasil

As mudanças econômicas e políticas que vinham soprando suas ideias da América do Norte e da
Europa para as colônias é fator chave para entendermos porque a família real portuguesa mudou-se com
toda a sua Corte da “civilizada” Lisboa para a abandonada colônia brasileira.
O absolutismo viu suas bases estremecerem na segunda metade do século XVIII principalmente pelo
sucesso das Revoluções Estadunidense e Francesa com suas ideias democráticas. No mesmo sentido,
sua política econômica - o mercantilismo - via o capitalismo industrial começar a tomar a dianteira frente
ao capitalismo comercial, marca desses governos.
Mas foi da França o empurrão fundamental para a mudança da Corte lusitana29. Quando da expansão
napoleônica na Europa, apenas a Inglaterra conseguia fazer frente aos franceses. Em uma tentativa de
enfraquecer seu maior adversário, a França decreta um bloqueio comercial à Inglaterra por todos os
países que estavam sob sua influência, entre eles, Portugal, que não aceita manter o bloqueio,
desencadeando a invasão francesa, consequência da fuga da Corte para o Brasil.
Os motivos que o leva a não aceitar manter o bloqueio dizem respeito a uma série de acordos
econômicos entre Portugal e Inglaterra (mal feitos), que tornou Portugal uma nação dependente. As
premissas dos acordos mantinham os portugueses como uma economia basicamente agrária enquanto
os ingleses desenvolviam sua indústria.
O Tratado de Methuen exemplifica bem isso: Portugal forneceria vinho aos ingleses (campo) e a
Inglaterra forneceria tecidos aos portugueses (indústria). Sem opção e por exigência da Inglaterra,
Portugal recusa o bloqueio.
Por sua vez, Napoleão foi um cão que latia e também mordia. Ao ver a recusa portuguesa nos seus
planos, a França invade e divide Portugal com a Espanha (Tratado de Fontainebleau) além de declarar
extinta a Dinastia dos Bragança.

A fuga para o Brasil


Portugal contou com o apoio naval inglês para sua fuga. Cerca de 15 mil pessoas que compunham a
Corte fizeram a viagem que durou cerca de dois meses com escolta e medidas de segurança como
colocar membros da família real em diferentes navios, caso houvesse ataques.
Ao chegar, D. João tomou duas medidas que afetaram tanto França quanto Inglaterra, sendo:
- a retaliação à Napoleão, invadindo e conquistando a Guiana Francesa; e
- premiando a Inglaterra e visando o próprio conforto, ainda em 1808 assinou uma Carta Régia com a
medida que ficou conhecida como “Abertura dos Portos às Nações Amigas”, beneficiando basicamente o
país inglês.
A medida mudava o status do Brasil, mas beneficiou muito os ingleses que agora não precisavam mais
negociar com a metrópole suas relações comerciais em território nacional.
Além das mudanças que afetavam política e economia externas, D. João também realizou mudanças
internas.
Temos que ter em mente que até então o Brasil é uma colônia. Isso significa que todo o aparato
administrativo, judiciário e econômico são da metrópole. Com a vinda da Corte, todos os tipos de decisões
nesse sentido que eram tomadas em Lisboa, teriam que ser tomadas no Rio de Janeiro e para isso seguiu-
se uma série de mudanças: nomeou ministros de Estado, criou secretarias públicas, criou tribunais de
justiça, o Banco do Brasil e o Arquivo Central.
Mudanças na cidade também foram realizadas com a intenção de tornar a capital do Brasil uma cidade
mais próxima do que a Corte estava acostumada na Europa: foram criados jornais de circulação diária,
uma biblioteca real com mais de 60 mil exemplares vindos de Lisboa, Academias militar e da marinha,
faculdades de medicina e de direito, observatórios, jardim botânico, teatros (...) Estruturalmente a cidade
ganhou iluminação pública, ruas pavimentadas, chafarizes e pontes.
Culturalmente a principal mudança se deu pela vinda da Missão Francesa para a criação da Imperial
Academia e Escola de Belas-Artes, tendo como principal nome o artista Jean-Baptiste Debret.

29
Que se refere à Lusitânia, antiga região situada na península Ibérica. Atualmente, refere-se ao território português.

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Apesar de os trabalhos realizados pela Missão Francesa não influenciarem o grosso da população
brasileira e carioca, foram de grande importância para o conhecimento do Brasil na Europa.
Como era no Rio de Janeiro que as coisas aconteciam, foi natural o crescimento populacional. Além
do número crescente de brasileiros que migravam em busca de emprego na capital, o número de escravos
também aumentou – para atender a maior demanda de serviços – assim como o de estrangeiros que
faziam negócios e já pregavam a ideia de trabalhadores assalariados.
Economicamente, apesar de D. João autorizar a instalação de manufaturas no país, os acordos
desiguais feitos com a Inglaterra castravam as intenções empreendedoras dos brasileiros.
Em 1810 foi assinado o Tratado de Comércio e Navegação em que os produtos ingleses entravam em
nosso país com taxas menores até do que os produtos portugueses.

O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves

Após a derrota de Napoleão, o Congresso de Viena30 contou com os principais representantes dos
países europeus e decidiu os caminhos que seriam tomados a partir de então.
Em uma disputa de interesses entre Inglaterra e França, D. João acaba sendo influenciado pelas ideias
francesas e decide continuar com a Corte no Brasil, além de declará-lo como Reino Unido de Portugal e
Algarves.
No Congresso de Viena ficou decidido que toda e qualquer mudança realizada durante a expansão
napoleônica seria desfeita. Reis destituídos – como os casos de Portugal e Espanha – teriam seu governo
restaurado. Essa era uma medida que beneficiaria novamente a Inglaterra. Se D. João voltasse a
Portugal, dificilmente ele conseguiria fazer com que as mudanças realizadas no Brasil (econômicas)
voltassem ao modelo antigo, aquele em que a metrópole tem controle sobre a colônia.
A Inglaterra já havia estabelecido negócios e influência dentro do nosso país, e os próprios
comerciantes e classe alta brasileiros não aceitariam o retorno à condição de colônia.
Do outro lado do Atlântico tínhamos uma Lisboa financeiramente debilitada ao ponto de a Corte preferir
permanecer no Rio de Janeiro. A solução para manter a posição em Lisboa e o controle sobre o Brasil foi
elevá-lo a categoria de Reino e não mais colônia.

Revolução Pernambucana

Todas as melhorias que foram descritas há pouco ficaram restritas apenas ao Rio de Janeiro. As outras
províncias do Brasil ainda sofriam com a precariedade econômica e social. Esse cenário gerou
descontentamento em várias regiões mas apenas algumas fizeram algo a respeito, como foi o caso de
Pernambuco.
Com ideais republicanos, separatistas e anti-lusitanos, a Revolução Pernambucana ia contra os
pesados impostos, descaso administrativo e opressão militar.
A Revolução apenas teve início após a delação do movimento. Quando os líderes conspiradores foram
presos, a luta começou. A revolta chegou a contar com a participação da Paraíba e Rio Grande do Norte,
porém a coroa conseguiu encerrá-la através da força militar.
Alguns líderes foram executados e outros receberam o perdão real anos depois, como Frei Caneca.

O Retorno de D. João para Portugal

Lisboa e Rio de Janeiro literalmente inverteram os papeis nesse período. Se antes Lisboa era o centro
do império português com suas instituições e riquezas colhidas pela forma de governo colonial, agora ela
via o Rio de Janeiro assumir esse papel.
Os comerciantes portugueses viram sua economia despencar quando das assinaturas de D. João nos
novos acordos com os ingleses. O Brasil era o principal mercado lusitano. Não bastasse isso, o rei de
Portugal não tinha planos de regressar e ainda deixou o governo do país a cargo de um inglês (general
Beresford).
Fórmula certa para insatisfação, foi o que ocorreu: Em 24 de agosto de 1820 eclodiu a Revolução do
Porto, onde, vitoriosa, a nova Assembleia Constituinte (Cortes portuguesas) adotou nova Constituição,
exigindo o retorno da Família Real para jurar à ela e a volta do Brasil à condição de colônia. Não foi o que
aconteceu.

30
O Congresso de Viena foi uma conferência entre embaixadores das grandes potências europeias que aconteceu na capital austríaca, entre maio de 1814 e
junho de 1815, cuja intenção era a de redesenhar o mapa político do continente europeu após a derrota da França napoleônica

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D. João garantiu que sua família ainda governasse os dois territórios. Para agradar os portugueses,
ele regressou à Portugal. Para agradar os brasileiros ele deixou seu filho, D. Pedro I como regente,
assegurando que o Brasil não voltaria a ser colônia.

O dia do Fico e a Independência do Brasil

Apesar dos planos de D. João, as Cortes portuguesas não encararam bem o fato de D. Pedro I ter
ficado no Brasil como regente. A partir daí ele passa a ser pressionado a voltar para Portugal e prestar
homenagens às Cortes.
Por outro lado a aristocracia brasileira sabia que a única forma de garantir que o país não regressasse
à condição de colônia era apoiar o movimento emancipacionista em volta de D. Pedro I.
Em janeiro de 1822 com grande apoio do movimento emancipacionista brasileiro D. Pedro I não
cumpre às exigências das Cortes e afirma que permaneceria no Brasil (“Dia do Fico”). Esse dia foi seguido
de negociações e mudanças na administração brasileira até finalmente em 7 de setembro do mesmo ano
ser declarada a independência do Brasil.

O Reconhecimento da Independência
O simples fato de D. Pedro I declarar o Brasil independente não o tornava assim. Era necessário que
externamente essa independência fosse reconhecida. Portugal, claro, não o fez. No início apenas alguns
reinos africanos com o qual o Brasil tinha relações comerciais (negociação de escravos) e os Estados
Unidos (dois anos depois) reconheceram nossa autonomia.
A Inglaterra, embora continuasse fazendo negócios com o Brasil não reconheceu de imediato a nova
condição, uma vez que não queria perder Portugal como parceiro/dependente dentro da Europa. Visando
os próprios interesses foi ela quem intercedeu para que um acordo fosse realizado entre Brasil e Portugal.
Em 29 de agosto de 1825 foi assinado o Tratado de Paz e Aliança, em que mediante o pagamento de
dois milhões de libras esterlinas como indenização, e a continuidade do título de imperador do Brasil para
D. João, Portugal reconhecia a emancipação do Brasil.
O dinheiro foi conseguido junto à Inglaterra que reviu seus acordos comerciais com o Brasil e
conseguiu o “compromisso” do fim da escravidão no país, além do pagamento da própria dívida. A partir
daí outras nações da América e do mundo também reconheceram o Brasil como nação autônoma.

O Primeiro Reinado (1822-1831)

De cara, alguns fatores chamaram a atenção a respeito da independência do Brasil:


- éramos o único país na América que após a emancipação da metrópole continuamos a viver em um
regime monárquico;
- a população não teve participação alguma no processo e até mesmo províncias mais distantes só
ficaram sabendo da mudança meses depois;
- a aceitação não foi total e pacífica como era de se esperar.

Algumas regiões, principalmente aquelas com conservadores portugueses e acúmulo de tropas


lusitanas não apenas recusaram-se a aceitar a autoridade de D. Pedro I como lutaram contra ela.
As províncias da Bahia, Cisplatina, Maranhão, Piauí e Pará resistiram ao novo governo e apenas com
o uso da força aceitaram a nova condição.
Na prática, nossa política não teve mudanças, ainda vivíamos em uma monarquia centralizadora e
mesmo os defensores de ideias republicanas só pensavam em sua projeção política e não em uma
mudança de fato.

A Primeira Constituição Brasileira


D. Pedro I havia convocado uma Assembleia Constituinte antes mesmo de declarar o Brasil
independente. E desde o primeiro momento houve desacordo.
A Assembleia, liderada pelos irmãos Andrada, tinha a intenção de fazer uma Constituição similar à
portuguesa, onde D. Pedro teria seus poderes limitados. Já o monarca, que era conhecido por ser
autoritário e centralizador trabalhou para permanecer com todos os poderes em torno de si.
Apesar da Constituição elaborada por influência dos Andrada ter a intenção de limitar os poderes de
D. Pedro I, ela garantia os privilégios da aristocracia rural. Popularmente conhecida como Constituição

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da Mandioca31 ela garantia os privilégios à quem tivesse a posse da terra e defendia a manutenção da
escravidão.
Acontece que essa Constituição, onde o legislativo predominaria pelo executivo nem chegou a ser
concluída. Em 12 de novembro de 1823 D. Pedro I ordenou o fechamento da Assembleia (episódio
conhecido como “Noite da Agonia”), convocou um Conselho de Estado e encomendou a nova
Constituição do país, onde seu poder estaria assegurado.
A nova Constituição dividia o Estado em quatro poderes: executivo, legislativo, judiciário e moderador.
O poder moderador era exclusivo de D. Pedro I e estava acima de todos os outros. Assim ele mantinha
todas as características centralizadoras e absolutistas de uma monarquia e não via precedentes de
verdadeira oposição.

A Confederação do Equador
A tendência autoritária de D. Pedro I e a nova Constituição desagradaram em vários aspectos muitas
províncias brasileiras. O nordeste, já marginalizado nesse período e com histórico de revoltas contra a
coroa, novamente se movimentou. Com início em Pernambuco e com apoio popular, outras províncias se
juntaram ao movimento (Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba).
Apesar de iniciada por lideranças populares, entre eles Cipriano Barata e Frei Caneca, as elites
regionais também apoiaram o movimento. Do ponto de vista social foi o mais avançado do período com
reformas sociais, mudança de direitos políticos e abolição da escravidão.
Essas mesmas mudanças radicais levaram as elites regionais a abandonar o movimento, pois temiam
perder seus próprios privilégios.
Sem o apoio da aristocracia local e com forte repressão do governo, o levante foi contido com
dezesseis membros sendo condenados à morte, entre eles, Frei Caneca.

A Cisplatina
A região da Cisplatina32 sempre foi alvo do interesse do governo português que desejava expandir
suas fronteiras até o rio da Prata. Após a “bagunça” feita por Napoleão às Coroas europeias, mais
precisamente à Coroa espanhola que teve sua continuidade interrompida e retomada após a queda do
general francês, as colônias americanas viviam um período de instabilidade e descentralização. Todos
os movimentos de independência dessas colônias, apesar de bem sucedidos, as debilitaram econômica
e politicamente. Foi quando dessa instabilidade que D. João viu a oportunidade de realizar um antigo
desejo português, em 1820 ele ordena às tropas imperiais invadirem a região da Cisplatina.
Mesmo após o retorno de D. João à Portugal e à independência, a Cisplatina continuou sendo parte
do Brasil (até 1828), porém à duras custas, a região nunca aceitou o domínio brasileiro, e constantemente
D. João e posteriormente D. Pedro I tinham de enviar expedições para conter as revoltas. Isso não apenas
gerava custos aos cofres imperiais como também atacava a imagem do imperador, que se mostrava
incapaz de resolver a questão. A opinião pública era avessa à causa de gastar com os conflitos e insistir
em manter a posse de uma região que nem era semelhante culturalmente ao povo brasileiro.
Enfim, em 1828, com apoio do governo argentino, as forças cisplatinas fazem com que o Brasil se
retire do conflito e proclamam a República Oriental do Uruguai.
A imagem de D. Pedro I sai abalada após o episódio. Seguiu-se a isso o misterioso assassinato de
Libero Badaró (jornalista declarado opositor e crítico de D. Pedro I), maior força do movimento liberal e
aumento das críticas a respeito da conduta política do imperador.
Além da pressão política, do exército e da população, D. Pedro I teve de superar uma crise sucessória.
Quando D. João faleceu, D. Pedro I abdica do trono português em favor de sua filha. Em Portugal é
iniciado então um conflito sucessório entre D. Maria da Glória e o irmão de D. Pedro I, D. Miguel.
D. Pedro passa a gastar recursos brasileiros para garantir o trono de sua filha, o que gera mais
descontentamento nacional. Com a pressão interna e a necessidade de cuidar de seus interesses em
Portugal, D. Pedro I abdica do trono brasileiro e retorna para seu país, deixando como herdeiro seu filho,
D. Pedro II.

O Período Regencial (1831-1840)

D. Pedro II, herdeiro do trono brasileiro tinha apenas cinco anos de idade quando D. Pedro I retornou
a Portugal. A maioria dos políticos brasileiros ainda eram favoráveis à manutenção do império e se
preocuparam com as possíveis revoltas que haveriam tendo uma criança como governante. Ficou então
decidido que o país seria governado por regentes até a idade apropriada de D. Pedro II.
31
apenas pessoas com mais de 150 alqueires de mandioca poderiam se candidatar ou votar.
32
província do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e, posteriormente, do Império do Brasil. A província correspondia ao atual território do Uruguai.

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Politicamente esse foi o período mais conturbado desde a colonização. Além dos grupos regionais que
se revoltaram, o próprio cenário político não tinha unidade. Apesar de todos fazerem parte basicamente
dos mesmos segmentos e terem interesses econômicos semelhantes, politicamente estavam divididos
entre:

- restauradores (conhecidos como Caramurus, eles defendiam a continuidade de D. Pedro I no poder


e acreditavam que a tranquildade política passava pela ação absolutista. José Bonifácio fazia parte desse
grupo que foi articulador do Golpe da Maioridade anos depois);
- liberais moderados (apesar do nome, esse grupo era composto em grande parte pela aristocracia
rural. Eram contra reformas sociais e lutavam por manter seus privilégios. Defendiam a monarquia, porém
de forma menos autoritária do que D. Pedro I empregava. Eram chamados de Chimangos);
- liberais exaltados (era o grupo mais variado, tinha desde aristocratas até trabalhadores livres e sem
terras. Esse grupo buscava reformas sociais e políticas, maior autonomia das províncias e mudanças
constitucionais. Eram conhecidos como Chapéus-de-palha).

A Regência Trina Provisória


A Constituição previa que caso o soberano não tivesse um parente próximo com mais de 35 anos para
governar em seu lugar, uma regência trina (composta por três pessoas) deveria fazê-lo.
Como na época em que D. Pedro I abdicou os deputados estavam de férias, foi formada uma Regência
Trina Provisória.
Suas principais ações foram a manutenção da Constituição de 1824, reintegração do ministério
demitido por D. Pedro I, anistia aos presos políticos e a promulgação da Lei Regencial de abril de 1831,
que limitava os poderes dos regentes.

A Regência Trina Permanente


Foi eleita em junho de 1831. Com o padre Digo Antônio Feijó como ministro da justiça e composta por
Bráulio Muniz, Costa Carvalho e Francisco de Lima e Silva, essa regência teve como principal realização
a criação da Guarda Nacional.
A criação da Guarda Nacional gera uma série de consequências que serão vistas até o século XX,
principalmente no período da República Velha. A Guarda foi uma tentativa de baratear os custos da
segurança no país “terceirizando” as funções de polícia e do exército. Os chamados coronéis compravam
suas patentes militares e recebiam autonomia para organizar suas próprias forças armadas locais.
Embora na teoria seu papel fosse garantir a ordem regional, essa força só servia aos seus interesses,
como as leis garantiam que apenas ingressasse na Guarda quem dispusesse de altos ganhos anuais, e
estes eram apenas os grandes proprietários de terras, apenas a aristocracia rural ficou identificada com
os coronéis.
A mesma administração ainda promulga a “Lei Feijó” que proibia o tráfico e tornava livre todos os
africanos introduzidos em território brasileiro. Essa lei nunca foi respeitada de fato e a escravidão
permaneceu até 1888.

Ato Adicional de 1834


O Ato Adicional de 1834 foi uma revisão da Constituição de 1824. Promulgado em 12 de agosto,
possuía caráter descentralizador, instituindo a criação de assembleias legislativas nas províncias, a
supressão do Conselho de Estado e a Regência Una (governante único). O Rio de Janeiro foi considerado
um território neutro. Também foi reduzida a idade para o imperador ser coroado, de 21 para 18 anos.

Regência Una
Apesar de uma tentativa frustrada de assumir o poder em 1832, abandonando o cargo de Ministro da
Justiça logo em seguida, o padre Feijó obteve a maioria dos votos na eleição para Regente em 1835.
Sendo empossado em 12 de outubro do mesmo ano para um mandato de quatro anos, não completando
nem dois anos no cargo. Seu governo é marcado por intensa oposição parlamentar e rebeliões
provinciais, como a Cabanagem, no Pará, e o início da Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul. Com
poucos recursos para governar e isolado politicamente, renunciou em 19 de setembro de 1837.

Segunda Regência Una


Com a renúncia de Feijó e o desgaste dos liberais, os conservadores obtêm maioria na Câmara dos
Deputados e elegem Pedro de Araújo Lima como novo regente único do Império, em 19 de setembro de
1837. A segunda regência una é marcada por uma reação conservadora, e várias conquistas liberais são
abolidas. A Lei de Interpretação do Ato Adicional, aprovada em 12 de maio de 1840, restringe o poder

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provincial e fortalece o poder central do Império. Acuados, os liberais aproximam-se dos partidários de D.
Pedro II. Juntos, articulam o chamado golpe da maioridade, em 23 de julho de 1840.

Revoltas no Período Regencial

Em muitas partes do império a insatisfação com o governo cresceu muito, levando alguns grupos a
apelarem para a luta armada e a revolta como forma de protesto.

Cabanagem (1833-1840)
A Cabanagem foi uma revolta que ocorreu entre 1833 e 1839, na região do Grão-Pará, que
compreende os atuais estados do Amazonas e Pará. A revolta começou a partir de pequenos focos de
resistência que aumentaram conforme o governo tentava sufocar os protestos, impondo leis mais rígidas
e a obrigação de participação no exército para aqueles que fossem considerados praticantes de atos
suspeitos. A cabanagem contou com grande participação da população pobre, principalmente os
Cabanos, pessoas que viviam em cabanas na beira dos rios. Os revoltosos tomaram a cidade de Belém,
porém foram derrotados pelas tropas imperiais.

Revolução Farroupilha (1835-1845)


A Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos foi uma revolta promovida por grandes proprietários
de terras no Rio Grande do Sul, conhecidos como estancieiros. O objetivo de seus líderes era de separar-
se do restante do país.
A revolta começa pelo descontentamento de produtores do sul em relação aos produtores estrangeiros
de charque, principalmente os platinos e argentinos que comercializavam e concorriam com os
estancieiros pelo mercado do produto no Brasil, utilizado principalmente na alimentação de escravos.
Em 1835, insatisfeitos com o governo, os estancieiros iniciam a revolta, tendo Bento Gonçalves como
principal chefe do movimento, comandando as tropas farroupilhas que dominaram Porto Alegre. Com as
vitórias obtidas foi proclamado um governo independente em 1836, conhecido como República do Piratini,
com Bento Gonçalves como presidente.
Em 1839, o movimento farroupilha conseguiu ampliar-se. Forças rebeldes, comandadas por Giuseppe
Garibaldi e Davi Canabarro, conquistaram Santa Catarina e proclamaram a República Juliana.
A revolta consegue ser contida somente após a coroação de D. Pedro II e com os esforços do Barão
de Caxias, encerrando os conflitos em 1 de março de 1845.

Revolta dos Malês (1835)


Em Salvador, nas primeiras décadas do século XIX, os negros escravos ou libertos correspondiam a
cerca de metade da população. Pertenciam a vários grupos étnicos, culturais e religiosos, entre os quais
os muçulmanos – genericamente denominados malês -, que protagonizaram a Revolta dos Malês, em
1835.
O exército rebelde era formado em sua maioria, por “negros de ganho”, escravos que vendiam
produtos de porta em porta e, ao fim do dia, dividiam os lucros com os senhores. Podiam circular mais
livremente pela cidade que os escravos das fazendas, o que facilitava a organização do movimento. Além
disso, alguns conseguiam economizar e comprar a liberdade. Os revoltosos lutavam contra a escravidão
e a imposição da religião católica, em detrimento da religião muçulmana.
A repressão oficial resultou no fim da Revolta dos Malês, que teve muitos mortos, presos e feridos.
Mais de quinhentos negros libertos foram degredados para a África como punição.

Sabinada (1837-1838)
A Sabinada ocorreu na Bahia, com o objetivo de implantar uma república independente. Foi liderada
pelo médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, e por isso ficou conhecida como Sabinada. O
principal objetivo da revolta era instituir uma república baiana, mas só enquanto o herdeiro do trono
imperial não atingisse a maioridade legal. Diferentemente de outras revoltas ocorridas no período, a
sabinada não contou com o apoio das camadas populares e nem com os grandes proprietários rurais da
região, o que garantiu ao exército imperial uma vitória rápida.

Balaiada (1838-1841)
Balaiada ocorreu no Maranhão, em 1838, e recebeu esse nome devido ao apelido de uma das
principais lideranças do movimento, Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, o "Balaio", conhecido por ser
vendedor do produto.

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A Balaiada representou a luta da população pobre contra os grandes proprietários rurais da região. A
miséria, a fome, a escravidão e os maus tratos foram os principais fatores de descontentamento que
levaram a população a se revoltar.
A principal riqueza produzida na província, o algodão, sofria forte concorrência no mercado
internacional, e com isso o produto perdeu preço e compradores no exterior. Além da insatisfação popular,
a classe média maranhense também se encontrava descontente com o governo imperial e suas medidas
econômicas, encontrando na população oprimida uma forma de combatê-lo.
Os revoltosos conseguiram tomar a cidade de Caxias em 1839 e estabelecer um governo provisório,
com medidas que causaram grande repercussão, como o fim da Guarda Nacional e a expulsão dos
portugueses que residiam na cidade.
Com a radicalização que a revolta tomou, como a adesão de escravos foragidos, a classe média que
apoiava as revoltas aliou-se ao exército imperial, o que enfraqueceu bastante o movimento e garantiu a
vitória em 1841, com um saldo de mais de 12 mil sertanejos e escravos mortos em batalhas. Os revoltosos
que acabaram presos foram anistiados pelo imperador.

Revolta dos Quebra-Quilos33


Em 1874, a Força Policial da Paraíba teve importante participação em um acontecimento histórico. Foi
a pacificação do movimento que ficou conhecido como a Revolta de Quebra Quilo. Nesse período havia
no seio da população interiorana da Paraíba, um sentimento de revolta com recentes acontecimentos
religiosos envolvendo o Estado, a igreja e seguimentos maçônicos, que resultaram na prisão de um Bispo
em Pernambuco. Ainda nessa época, o Brasil passou a adotar o sistema métrico decimal, o alistamento
militar e, na Paraíba, começava-se a cobrar o imposto de Chão, para permitir a prática de comércio nas
feiras-livres. Essas medidas não eram bem explicadas à população. A soma desses fatos provocou o
movimento que ficou conhecido como a revolução de quebra-quilo. Centenas de pessoas, como na
revolta do Ronco da Abelha, invadiam as Vilas, quebravam os pesos e outras medidas, queimavam
arquivos, soltavam presos, e gritavam "morte aos maçons". Esses fatos ocorreram em Ingá, Fagundes,
Areia, Campina Grande, Guarabira e outras cidades do brejo paraibano. Todo efetivo da Força Policial,
sob o Comando do Tenente Coronel Francisco Antônio Aranha Chacon, foi deslocado no dia 18 de
novembro de 1874 para pacificar o movimento. Depois de muitos confrontos, que duraram cerca de dois
meses, sem registros de mortes, a revolta foi pacificada e o contingente Policial retornou a Capital.

A Maioridade e a tranquilidade política


Toda a instabilidade do período regencial colocou tanto liberais quanto conservadores em xeque, uma
vez que ambos haviam ocupado o poder mas nenhum conseguiu trazer estabilidade ao país. A ideia de
antecipar a maioridade de D. Pedro II começou a agradar ambos os grupos: os liberais esperavam que
com isso teriam a chance de voltar ao governo. Os conservadores viam nisso uma oportunidade de
preservar a monarquia e manter a unidade do império. Em 1840, com uma regência conservadora o
parlamento aprova adiantar a maioridade de D. Pedro II.

Segundo Reinado

Ao contrário do que aconteceu com seu pai, a preparação política de D. Pedro II parece ter sido melhor.
Mesmo sem abandonar o aspecto autoritário em seu governo, politicamente ele soube trabalhar com as
aristocracias rurais. D. Pedro II dava a elas a condição de crescerem economicamente e em troca recebia
seu apoio político.
Falamos em aristocracias porque nesse período uma nova elite agrária e mais poderosa surgiu
representada pelos cafeicultores do sudeste frente a antiga elite nordestina. O café passou a ser o
principal produto do país e assim permaneceu até a república.

Liberais e Conservadores34
Liberais (chamados de Luzia) e conservadores (Saquarema) diferiam em suas teorias e aspirações
políticas em seus discursos, porém, durante todo o Segundo Reinado ficou claro que quando no poder,
ambos eram iguais.
Os liberais defendiam a descentralização e autonomia das províncias enquanto os conservadores,
como o próprio nome sugere, defendiam um governo forte e centralizado.

33
LIMA, J. B. História da PMPB. Disponível em: < http://www.pm.pb.gov.br/arquivos/historia_da_pmpb.pdf>
34
Adaptado de MARTINS. U. (Segundo Reinado – 1840 – 1889)

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As Eleições do Cacete
Ao assumir, D. Pedro II vivenciou um grande impasse político: para auxiliá-lo em seu governo foi criado
o Ministério da Maioridade. O problema se deu porque o Ministério tinha sua maioria composta por
liberais, enquanto a Câmara era composta maioritariamente por conservadores. Qualquer decisão a ser
tomada gerava grande debate pelas divergências entre ambos.
A solução encontrada para acabar com essa disputa foi dissolver a Câmara e convocar novas eleições:
As Eleições do Cacete. O nome não foi por acaso. Para garantir a vitória, o partido liberal colocou
“capangas” para trabalhar nas eleições e através de coerção e ameaças eles venceram.
Os liberais mantiveram-se no poder por pouco tempo. Apesar de serem maioria, as pressões externas
(Inglaterra) e internas (Guerra dos Farrapos), e a má impressão que ficou após o uso da força nas eleições
fez com que o imperador novamente dissolve-se a Câmara e formasse um novo ministério, este composto
por ambos os lados.

Revolução Praieira
A Revolução Praieira ocorreu na metade do século XIX (1848) em um contexto onde o nordeste já
sofria as consequências econômicas da crise do açúcar, enquanto a região sudeste já era a “favorita” do
Império com a prosperidade econômica ocasionada pelo café.
Pernambuco era uma província conturbada na época: eram os portugueses quem controlavam o
comércio e a política local. O cenário de problemas econômicos, sociais e políticos criou o clima para um
conflito entre os partidos Liberal e Conservador.
Os portugueses se concentravam em torno do partido conservador. Os democratas e liberais
brasileiros em torno do partido liberal. Após as eleições de 1848 que tiveram como resultado a eleição de
um conservador para o cargo de presidente de província, os liberais revoltam-se pegando em armas e
lançando o Manifesto ao Mundo, documento que exigia o fim dos privilégios comerciais portugueses,
liberdade de imprensa, fim da monarquia e proclamação da república, fim do voto censitário, extinção do
poder moderador e Senado vitalício.
Com adesão popular os revoltosos chegaram a derrubar o presidente de província e controlar Olinda,
porém as tropas imperiais os contêm em 1849.

O Parlamentarismo às Avessas
Em 1847 D. Pedro II cria no Brasil um sistema parlamentarista até então inédito no mundo.
Um sistema parlamentarista tradicional funciona com o rei (ou presidente) sendo o chefe de Estado,
porém não sendo o chefe de governo. Isso implica nas responsabilidades políticas do cargo, onde o chefe
de governo as têm em muito maior quantidade.
Normalmente é o parlamento quem elege o Primeiro Ministro para chefe de governo. No Brasil as
coisas aconteceram um pouco diferentes: o Parlamentarismo às Avessas, como ficou conhecido, contava
com um novo cargo, o de Presidente do Conselho de Ministros (que em um sistema normal seria o
Primeiro Ministro), submisso e escolhido por D. Pedro II, que poderia destitui-lo quando quisesse.
Era uma forma de manter o parlamento e o Presidente sob controle e que acabava descaracterizando
o sistema como Parlamentarista.

A Influência do Café
O sistema de produção rural no Brasil sempre foi o mesmo, baseado na monocultura, grande
propriedade e trabalho escravo. Desde a crise do açúcar e esgotamento das jazidas de ouro, o país
procurava seu novo salvador econômico. Este se apresentou na figura do café, que além da mudança
em relação à mão de obra, mostrou poucas mudanças na estrutura de produção.
Graças ao aumento do consumo europeu, clima e solos favoráveis, além da já estabelecida estrutura
de grandes propriedades e monocultura, o café já na primeira metade do século XIX despontava como
principal produto nacional. Das primeiras fazendas comerciais no Rio de Janeiro, até sua expansão para
o interior de Minas Gerais, São Paulo e norte do Paraná, até quase a metade do século seguinte o café
não apenas conseguia sozinho equilibrar nossa balança comercial, mas foi responsável pelo
desenvolvimento da malha ferroviária, algumas cidades que a acompanhavam e pela introdução da mão
de obra livre.
Com crescente demanda, maior necessidade de braços para a lavoura, com a pressão da Inglaterra
pelo fim do tráfico e posteriormente fim da escravidão, os cafeicultores não encontraram outra solução
que não trazer trabalhadores imigrantes europeus para suas fazendas.
Esse foi um período que marca o país em todos os aspectos:
- sociais com o surgimento de novas classes;

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- políticos com a mudança do eixo central da velha oligarquia açucareira para a nova oligarquia
cafeeira (Barões do Café); e
- econômicas com o desenvolvimento de cidades, serviços e ensaios de industrialização.

Cultura
A cultura no século XIX desenvolveu-se de acordo com os padrões europeus.
Na literatura tínhamos o romantismo como principal gênero seguindo as devidas influências exteriores.
José de Alencar com sua obra O Guarani nos dá um bom exemplo disso, descrevendo o índio Peri como
herói que enfrenta tribos menos civilizadas.
No campo das artes os indígenas também eram retratados de maneira ao imaginário europeu:
passivos e martirizados, além de características físicas distorcidas (a obra Moema – Victor Meirelles - é
representada com pele quase branca).
No campo das instituições, D. Pedro II revelou-se grande entusiasta e apoiador. Sempre demonstrou
interesses pelas atividades do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro) do qual chegou a receber
o título de protetor da instituição. Pouco depois fundou a Ópera Nacional, a Imperial Academia de Música
e o Colégio Pedro II, onde ele frequentemente fazia visitas.
Por fim, manteve incentivos financeiros em campos de estudo como medicina e direito.

O caso indígena
No século XVIII a metrópole desenvolveu um projeto civilizador que foi incorporado à colônia. O
conceito era simples à primeira vista: povos que não respondiam ao poder real precisavam ser
subjugados.
Acontece que as elites locais ao incorporar a ideia não levavam em conta o fator “civilizador”, mas sim
o econômico. Caso não houvesse a possibilidade de angariar recursos (de qualquer natureza) a
intervenção não era justificada. De uma forma mais simples: o projeto só aconteceu em regiões que
dariam algum retorno financeiro para as expedições, para as elites ou para a metrópole.
Civilizar ou não o indígena tinha um segundo lugar de importância nessa empreitada.

A questão agrária
Do início da colonização até o século XIX a questão e a política agrária no Brasil eram definidas pelas
sesmarias. Ao mesmo tempo em que a concessão de uma sesmaria era a garantia legal de posse da
terra, apenas quem tivesse relações e contatos políticos conseguiam esse acesso.
Outras formas como a ação de posseiros também eram comuns, porém até o ano de 1850 ela era
ilegal mediante algumas condições.
O que muda em 1850 é o advento da Lei nº 601, conhecida como Lei de Terras. A criação dessa lei
não apenas afirmava a legalidade das sesmarias como garantia o direito legal da terra a posseiros (desde
que as terras tivessem sido possuídas anteriormente à lei e fossem devidamente cultivadas).
A Lei de Terras veio para garantir o valor de um novo produto, a própria terra, uma vez que a escravidão
via seus dias contados desde a aprovação da Lei Eusébio de Queirós. A lei que proibia o tráfico de
escravos dificultou a obtenção de mão de obra para os grandes fazendeiros, que então importavam
escravos de outras regiões do país. Com a escassez de escravos, a terra passaria a ser o principal
produto e símbolo de status (da mesma forma que ter um grande número de escravos destacava as
pessoas de maiores fortunas e influência, agora a terra garantia essa imagem).
A Lei de Terras ainda tinha um segundo propósito: garantir que apenas quem tivesse capital
(normalmente quem já tinha terras) conseguisse obtê-las. As terras devolutas (aquelas “desocupadas”35)
não mais seriam entregues por doação ou ação de posseiros, o que garantia que os trabalhadores
dependessem de um emprego em fazendas.
O governo arrecadou mais impostos com demarcação e vendas e com isso conseguiu financiar, junto
de cafeicultores a vinda de mão de obra imigrante no período.

Imigração36
Vários são os motivos que explicam o movimento de imigração para o Brasil: internamente havia o
preconceito dos grandes produtores rurais que, quando obrigados a abrir mão do trabalho escravo por
motivos de lei ou econômicos, não admitiam ter que pagar para os mesmos negros trabalhar em suas
terras. Havia a desinteligência de que a partir daquele momento o escravo não seria ideal para o trabalho

35
Quando falamos em terras “desocupadas” falamos do ponto de vista do governo da época. Eram terras no qual o governo não havia recebido rendimentos.
Indígenas e posseiros sem permissão ocupavam essas terras e eram expulsos sem cerimônia ou compensação.
36
Adaptado: UNOPAREAD < http://www.unoparead.com.br/sites/museu/exposicao_sertoes2/Imigrantes-e-migracoes.pdf>

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rural e ainda as aspirações do governo de uma “recolonização”, principalmente da região sul ainda alvo
de disputas de fronteiras ou povoada por indígenas.
Externamente víamos na Europa um exemplo inverso ao Brasil: aqui tinham terras de sobra e poucos
trabalhadores, lá eles tinham muitos braços livres e poucas terras. A Europa do século XVIII e XIX viu um
aumento na taxa de natalidade, expulsão dos trabalhadores do campo e pequenos proprietários, além de
perseguições políticas e religiosas.
Pareceu à época uma solução natural que os imigrantes europeus arriscassem a sorte no novo
continente.
A região sudeste, principalmente o estado de São Paulo, apesar de ter tido grande influência imigrante
demorou a “engrenar”. As primeiras experiências receberam o nome de sistema de parceria. Nesse
sistema os imigrantes trabalhavam no cultivo e colheita do café, e dividiam os lucros e eventuais prejuízos
com o dono da terra. O maior exemplo desse sistema (e seu fracasso) foi o implantado pelo Senador
Campos Vergueiro. Apesar da promessa, a fazenda tinha o monopólio de tudo que os imigrantes
necessitavam adquirir (sempre com preços mais elevados), o que resultava em uma dívida viciosa com
o fazendeiro. Além disso, devido à proximidade do contato com o trabalho escravo, o tratamento com os
imigrantes era semelhante, o que chegou a fazer com que o próprio governo italiano recomendasse que
seus cidadãos não viessem para o Brasil.
Nos últimos anos do século XIX, com a situação se agravando na Itália e com a maior necessidade de
mão de obra no Brasil, governo e fazendeiros oferecem melhores condições, o que abre as portas
definitivamente para a chegada do europeu.
O sul, como falamos acima, mostrou uma colonização diferente. Composto por pequenas propriedades
familiares ou comunidades rurais, a região não atendeu os interesses do mercado externo e o governo
tinha maior preocupação em garantir a posse do Brasil na região do que garantir as exportações da época.

Tráfico negreiro, lutas abolicionistas e fim da escravidão37


À época da independência D. Pedro I se viu pressionado por dois lados muito importantes para manter
seu governo:
- De um lado a Inglaterra, nação industrializada que via na extinção do comércio de escravos (e na
própria instituição escravista) maior possibilidade de capital e mercado consumidor. Seu apoio político e
financeiro ao Brasil no processo de independência estava condicionado ao compromisso do país em
abolir essa prática.
- Do outro lado estavam os grandes proprietários de terra, motivo pelo qual nem D. Pedro I, nem a
regência e nem D. Pedro II conseguiram cumprir o acordo.
No curto período anterior ao aumento da produção cafeeira no país, o tráfico de escravos de fato
diminuiu em números visto que a necessidade de mão de obra era menor. A partir do momento em que
os grandes fazendeiros sentiram necessidade de mais braços em suas lavouras, mesmo com leis da
regência proibindo a importação de escravos, o volume voltou a crescer. As consequências foram a maior
pressão inglesa sobre o Brasil no aspecto político, e na prática uma perseguição real da marinha inglesa
a navios negreiros.
Sentindo a pressão britânica surtir mais efeito que a interna, finalmente em 1850 o governo brasileiro
promulga uma lei com a verdadeira intenção de cumpri-la. A Lei Eusébio de Queiroz, que a partir da data
de sua publicação proíbe o tráfico negreiro no Brasil.
Como o governo não tinha intenção nenhuma de acelerar o processo que levaria o fim da escravidão,
a Lei Eusébio de Queiroz garantia apenas o fim do tráfico de importação. O tráfico ou troca interna ainda
era permitido, o que ocasionou grande deslocamente de contingente negro escravo do nordeste para as
colheitas de café no Vale do Paraíba no sudeste.
Uma segunda consequencia foi que com o capital que agora estava “sem destino”, uma vez que a
compra de escravos se tornava mais difícil com o tempo, novas atividades econômicas começaram a
receber esse dinheiro: bancos, estradas de ferro, indústrias, companhias de navegação...
A modernização do pensamento econômico, mesmo que de certa forma forçada, também provocou
mudanças na política externa do país. Em 1844 o ministro da Fazenda Alves Branco promulga uma lei
que levaria seu nome, e que aumentava as taxas alfandegárias para os produtos importados. Era uma
das poucas vezes até então em nossa história que o governo tomava medidas que beneficiavam nossa
indústria em relação à estrangeira.

37
Adaptado de FOGUEL, I. Brasil: Colônia, Império e República. < https://bit.ly/2Iqul4S>

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Processo abolicionista38
Em maio de 1888, a princesa Isabel Cristina Leopoldina de Bragança conhecida posteriormente como
“A Redentora” assina o documento que finalmente colocou fim à escravidão no país.
A História normalmente nos ensina a respeito do ato generoso dessa figura, mas não podemos ignorar
que o dia 13 de maio foi apenas o cume de uma empreitada que vinha sendo construída há muito tempo.
A resistência à escravidão por parte dos negros existiu sempre que houve a escravidão. Fugas,
violência contra os senhores e formação de quilombos eram algumas das práticas comuns que existiam
desde a colônia. A partir da segunda metade do século XIX, talvez por algumas leis já existirem, elas se
tornaram mais comuns.
A sociedade também já contava com um número maior de entusiastas que estavam dispostos a lutar
pelo fim dessa prática e pressionar o governo. O império inglês junto desses fatores finalmente consegue
se colocar em posição de forma que o Brasil não podia mais ignorá-lo.
As seguintes leis são o resultado dessas pressões e mostram a evolução do processo de abolição:

Lei no 581 (Lei Eusébio de Queirós), de 4 de setembro de 1850: a partir dessa data é proibido o
tráfico de escravos para o Brasil. Trocas internas entre províncias de escravos que já estão no país ainda
são permitidas.

Lei no 2.040 (Lei do Ventre Livre), de 28 de setembro de 1871: considerava livre todos os filhos de
mulheres escravas nascidas a parte dessa data.

Lei no 3.270 (Lei dos Sexagenários ou Lei Saraiva-Cotegipe), de 28 de setembro de 1885: a Lei
concedia liberdade a escravos com mais de 60 anos de idade.

Lei no 3.353 (Lei Áurea), de 13 de maio de 1888: Art. 1o É declarada extinta desde a data desta lei a
escravidão no Brasil.”

A Questão Platina39

A questão da Cisplatina foi um conflito entre Brasil e Argentina pelo controle de parte da bacia do Prata,
especificamente na região Cisplatina (que corresponde ao atual Uruguai).
Deve-se entender que apesar de em parte da história o Uruguai pertencer ao Brasil ou ser tomado
pela Argentina, o conflito nunca envolveu apenas duas partes.
Historicamente o que hoje corresponde ao território uruguaio foi uma colônia portuguesa (Colônia de
Sacramento). Quase um século depois (1777) a colônia passa a ter domínio espanhol, que dura até a
transferência da coroa portuguesa para o Brasil que volta a anexá-lo.
Acontece que o período em que a Espanha controlou a região deixou marcas mais fortes que o período
colonial português (cultura e língua). Não se sentindo como parte do império português, a Cisplatina
(Uruguai) inicia um movimento de separação.
A Argentina que já era independente e tinha interesses expansionistas à região não demorou a
comprar o lado do Uruguai enviando além do apoio político, suprimentos.
O governo brasileiro não recuou, além de fazer frente ao Uruguai ele declarou guerra à Argentina.
Apesar de haver algum equilíbrio durante o início do conflito, o nosso governo sofreu com grande pressão
interna. O país já estava endividado com os gastos da independência e bancar um conflito em tão pouco
tempo depois causou insatisfação geral (aumento de impostos).
Em 1828, com mediação inglesa e se vendo muito pressionado, Brasil e Argentina chegam a um
acordo e ambos concordam que a região da Cisplatina se tornaria independente. Tinha início a república
do Uruguai.
Posteriormente Brasil e Argentina ainda brigaram indiretamente dentro do território uruguaio: a política
do novo país estava dividida principalmente entre dois partidos, os “colorados” e os “blancos” (federalistas
e unitários respectivamente) onde o Brasil apoiava os colorados e a Argentina os blancos.
Internamente o Uruguai sofreu com sucessivas trocas no comando por parte de generais ou de acordo
com os interesses vizinhos até o ano de 1865, contando com grande contingente brasileiro (gaúcho)
quando o general Flores assume o poder e cessam os conflitos internos.

38
História do Negro no Brasil. CEAO/UFBA.
39
Adaptado de: JARDIM, W. C. A Geopolítica no Tratado da Tríplice Aliança. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História - ANPUH

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A Guerra do Paraguai

A Guerra do Paraguai foi um conflito envolvendo Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina que durou entre
os anos de 1864 e 1870 e teve consequências que marcam o continente até hoje.
O Paraguai não era o país mais rico da América Latina até o início do conflito, mas é correto dizer que
era o mais desenvolvido socialmente e menos dependente economicamente.
Desde 1811, ano de sua independência, o país fora governado por apenas três governantes, não
encontrando a turbulência política interna que aconteceu com alguns vizinhos, como o Uruguai.
Era Francisco Solano Lopes o líder uruguaio no período do conflito e assim como seus antecessores
ele garantiu algumas medidas que tornavam o Paraguai um país único na América Latina: apesar de não
ser democrático, seu governo beneficiava as camadas populares, não havia elite agrária e as terras eram
garantidas aos trabalhadores rurais, seus principais produtos (erva-mate e madeira) eram de monopólio
do Estado, a maioria das famílias tinham garantido o direito a emprego, comida, moradia e vestuário. O
analfabetismo quase não existia, não tinha dívida externa e já havia iniciado um processo de
industrialização.

As causas da guerra
O Paraguai se manteve fora dos conflitos na região desde sua independência. Tinha um acordo com
o Brasil que garantia a autonomia uruguaia e um acordo com o Uruguai que garantia ajuda mútua.
Foi a partir das intervenções brasileiras no governo uruguaio (quando depôs Aguirre e assume Flores)
que o Paraguai quebra sua política de neutralidade. Considerando que o Brasil perturbava a harmonia da
região e temendo que ele mesmo fosse o próximo alvo (além do fato de Solano Lopes ser simpatizante
de Aguirre, derrotado no Uruguai com ajuda brasileira), o Paraguai direcionou vários avisos preventivos
ao Brasil. Não surtindo efeito, no final de 1864 Solano Lopes ordena o aprisionamento do navio brasileiro
Marquês de Olinda e declara guerra do Brasil, é o início da Guerra do Paraguai.

O conflito
O início do conflito envolveu apenas os dois países, porém o próprio Paraguai acabou fomentando os
seus vizinhos a se juntarem a causa brasileira.
O Paraguai mostrou clara vantagem tomando partes do território brasileiro (MS) e posteriormente
invadindo até a Argentina (queria através dela dominar o Rio Grande do Sul). A vantagem do país se
mantém até a formação da Tríplice Aliança, unindo Brasil, Argentina e Uruguai.
A partir daí o conflito se torna desfavorável. Apesar de o Paraguai estar estruturado, os números não
podiam ser ignorados. O Paraguai contava com uma população total de 800.000 habitantes no período
contra 13.000.000 dos aliados. O Rio da Prata, única via de comunicação do Paraguai para fora do
continente foi bloqueado pelo maior número de navios aliados. Por fim, países como a Inglaterra
ofereciam apoio financeiro aos aliados enquanto o Paraguai se matinha sozinho.
A partir de 1868, muito sob o domínio de Caxias a vantagem já havia passado para os aliados e a
Guerra se passou apenas em território paraguaio. Em março de 1870, já com o conflito vencido, Conde
D’Eu, genro de D. Pedro II, substituto de Caxias no comando das tropas aliadas persegue o restante das
forças paraguaias e executa Solano Lopes.

As consequências da Guerra
Apesar de os países aliados ganharem territórios, seu saldo comum dessa guerra foi o aumento da
dívida externa além do número de vidas perdidas.
Para o Paraguai as perdas foram irremediavelmente mais pesadas e mostram sequelas até hoje.
Cerca de 75% de sua população morreu nesse período (90% dos homens). Ele perdeu 150.000 km²
de seu território, teve seu parque industrial destruído, sua malha ferroviária vendida a companhias
inglesas a preço de sucata, reservas de madeira e erva-mate praticamente entregue aos estrangeiros.
Por fim, todas as terras passaram para o controle de banqueiros estrangeiros que as alugavam aos
paraguaios.

A Crise do Império

A partir da década de 1870 o império brasileiro vê seus melhores dias passarem. Uma crise iniciada
com o conflito do Paraguai resultaria em quase vinte anos depois na proclamação da república.
A crise do império pode ser baseada em quatro pilares:

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- Questão abolicionista e de terras: Durante muito tempo a escravidão foi a base econômica das
elites que apoiavam a monarquia. Com a grande campanha abolicionista e as medidas graduais tomadas
pelo império, a antiga aristocracia escravista que ainda apoiava D. Pedro II ficou descontente com seu
governo. As novas elites, que faziam fortuna com o café e se adaptaram ao trabalho livre imigrante
europeu, ansiavam por mais autonomia política, e passaram a fazer grande campanha em favor da
república.
A sociedade, agora com crescente número de imigrantes também convivia com novas ideias (entre
elas o abolicionismo).
D. Pedro II se viu sem o apoio da classe média da sociedade, da nova aristocracia e também da antiga.

- Questão religiosa: A Constituição de 1824 declarava o Brasil um país oficialmente católico. A


Constituição fixava que a Igreja deveria ser subordinada ao Estado, razão pelo qual já haviam alguns
atritos. O problema maior se dá a partir de 1860 quando o Papa Pio IX publica a Bula Syllabus, excluindo
membros da maçonaria de irmandades católicas. Apesar de o imperador não acatar as recomendações,
os bispos de Olinda e Belém seguem as instruções do Papa. Em consequência, D. Pedro II ordena que
ambos sejam presos, o que leva a Igreja a também dar as costas a coroa.

- Questão militar: Até a Guerra do Paraguai o exército brasileiro não tinha qualquer influência ou
importância para o governo. Durante as regências a criação da Guarda Nacional garantiu que a
necessidade de um exército forte quase não existisse.
A Guerra do Paraguai vem para mudar essa situação. Forçados a se modernizar e se estruturar, após
a guerra o exército não apenas exige maior participação no governo do país como passa a ter setores
contrários às ideias monarquistas.
Como a Coroa continuava intervindo em assuntos militares e punindo alguns de seus membros a ponto
de censurar a imprensa em determinados assuntos relacionados às forças armadas, o exército também
dá as costas a monarquia e com isso deixa D. Pedro II sem nenhum apoio de peso.
Sem apoio após a abolição da escravatura por parte da princesa Isabel, em novembro de 1889 com a
ação militar, sem conflitos ou participação popular, termina o império brasileiro e tem início o período
Republicano.

Questões

01. (Prefeitura de Monte Mor/SP – Agente de Transito – CONSESP) Historicamente, o primeiro


passo para o advento do Parlamentarismo no Brasil, ocorreu na época do Império com:
(A) A Constituição outorgada em 1824
(B) A criação da presidência do Conselho de Ministros por D. Pedro II
(C) A abdicação de D, Pedro I
(D) A declaração da maioridade

02. (IF/AL – Professor-História – CEFET/AL) No processo crescente que levou à abolição dos
escravos (1888), o Brasil passou a instituir uma legislação que iria culminar com a abolição. Em 1850
foi sancionada a Lei Euzébio de Queiróz (proibição do tráfico de escravos). Em contrapartida o império
instituiu a Lei das Terras, que significou:
(A) Objetivando regularizar os quilombos que existiam no Brasil, foi criada a Lei das Terras, dessa
forma, os quilombolas poderiam permanecer nas terras ocupadas.
(B) O império objetivava com a criação da LEI DAS TERRAS facilitar a aquisição de terras pelos negros
libertos e dificultar para os imigrantes.
(C) A Lei das Terras tinha o objetivo de restringir terras para os novos libertos e facilitar para os
imigrantes.
(D) Pensando em proteger os negros libertos, a Lei das Terras seria um arcabouço jurídico que
protegeria todos os brasileiros.
(E) Visando a aumentar os valores das terras, a lei foi criada dificultando, assim, a compra por parte
dos libertos, favorecendo a permanência dos libertos como trabalhadores nas fazendas já existentes.

03. (SEDUC/AM – Professor-História – FGV) A Constituição do Império do Brasil, outorgada por


D. Pedro I em 1824, inaugurou formalmente um sistema político-eleitoral que sofreu algumas
alterações ao longo do período monárquico (1822-1889).

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Assinale a opção que caracteriza corretamente uma dessas alterações.
(A) 1834 – modificação da Constituição extinguiu o Poder Moderador, assegurando a independência
dos três poderes.
(B) 1840 – interpretação parcial da Reforma Constitucional de 1834, ampliando a autonomia dos
legislativos provinciais.
(C) 1847 – criação do cargo de Presidente do Conselho de Ministros, inaugurando o “parlamentarismo
às avessas”.
(D) 1855 – reforma eleitoral denominada “Lei dos Círculos”, extinguindo o voto distrital da Constituição
do Império.
(E) 1881 – nova reforma eleitoral conhecida como “Lei Saraiva”, estendendo o direito de voto aos
analfabetos.

04. O período monárquico no Brasil costuma ser dividido em três momentos distintos: Primeiro Reinado
(1822-1831); Regências (1831 1840) e Segundo Reinado (1840-1889). Sobre as principais questões que
marcaram esses momentos, assinale a alternativa incorreta.
(A) A Guerra do Paraguai marcou o Primeiro Reinado e foi a grande responsável pelo enfraquecimento
do poder de D. Pedro I, resultando na Independência do Brasil.
(B) A primeira etapa da monarquia brasileira teve dificuldades para se consolidar, o Primeiro Reinado
foi curto e marcado por tumultos e conflitos entre D. Pedro I - que era português com os brasileiros.
(C) A primeira Constituição Brasileira foi outorgada em 1824, por D. Pedro I.
(D) A segunda etapa da história do Brasil monárquico inicia-se em 1831, com a renúncia de D. Pedro
I em favor do filho Pedro de Alcântara, com apenas cinco anos de idade.
(E) O terceiro momento da monarquia no Brasil inicia-se com o reinado de Dom Pedro II, período
marcado pela centralização do poder de um lado e pelas disputas político-partidárias entre liberais e
conservadores, de outro.

05. (UEL/PR) “[...] explodiu na província do Grão-Pará o movimento armado mais popular do Brasil
[...]. Foi uma das rebeliões brasileiras em que as camadas inferiores ocuparam o poder.”

Ao texto podem-se associar:


(A) a Regência e a Cabanagem.
(B) o Primeiro Reinado e a Praieira.
(C) o Segundo Reinado e a Farroupilha.
(D) o Período Joanino e a Sabinada.
(E) a abdicação e a Noite das Garrafadas.

06. (FATEC) Em 4 de setembro de 1850, foi sancionada no Brasil a Lei Eusébio de Queirós (ministro
da Justiça), que abolia o tráfico negreiro em nosso país. Em decorrência dessa lei, o governo imperial
brasileiro aprovou outra, "a Lei de Terras".

Dentre as alternativas a seguir, assinale a correta.


(A) A Lei de Terras facilitava a ocupação de propriedades pelos imigrantes que passaram a chegar ao
Brasil.
(B) A Lei de Terras dificultou a posse das terras pelos imigrantes, mas facilitou aos negros libertos o
acesso a elas.
(C) O governo imperial, temendo o controle das terras pelo coronéis, inspirou-se no "Act Homesteade"
americano, para realizar uma distribuição de terras aos camponeses mais pobres.
(D) A Lei de Terras visava a aumentar o valor das terras e obrigar os imigrantes a vender sua força de
trabalho para os cafeicultores.
(E) O objetivo do governo imperial, com esta lei, era proteger e regularizar a situação das dezenas de
quilombos que existiam no Brasil.

Gabarito

01.B / 02.E / 03.C / 04.A / 05.A / 06.D

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Comentários

01. Resposta B.
Como falamos, a primeira experiência com o parlamentarismo ocorreu da criação e prática do que
ficou conhecido como “Parlamentarismo às Avessas”, em que D. Pedro II criou um quarto poder, o
“moderador” onde a ele (o próprio D, Pedro II) caberia autoridade sobre todos os outros e a livre opção
de colocar ou retirar qualquer pessoa do cargo de Primeiro Ministro.

02. Resposta E.
Além da questão econômica (agora a terra não seria apenas um símbolo de status social, mas de
poder), a medida garantia que o preço elevado das terras mantivesse apenas quem tinha maior poder
aquisitivo com sua posse. Como quem detinha o poder financeiros eram comumente os próprios
proprietários de terras, acabou-se criando um ciclo onde aqueles que trabalhavam nela, teriam que
continuar trabalhando pela dificuldade em obtê-la.

03. Resposta C.
Dentre todas as mudanças que a Constituição sofreu, como o senado vitalício, a criação do cargo de
Presidente do Conselho de Ministros foi a mais drástica, uma vez que em nenhuma outra experiência
parlamentarista havia um quarto poder acima dos outros. A alternativa “E” poderia causar alguma
confusão, mas note que ela não faz nenhuma referência a uma renda mínima, critério presente na
Constituição.

04. Resposta A.
A Guerra do Paraguai ocorre somente durante o segundo reinado, quando D. Pedro II estava no trono.
A abdicação de D. Pedro I ocorre somente em 1831, ou seja, quase dez anos após a Proclamação da
Independência.

05. Resposta A.
O período Regencial foi marcado por inúmeras revoltas, na maioria descontentes com o governo
imperial, mas também com os grandes proprietários rurais. Assim como a Cabanagem, a Farroupilha
também ocorreu no mesmo período, porém no Rio Grande do Sul.

06. Resposta D.
Com o fim do tráfico negreiro, era necessário encontrar uma nova mão-de-obra que pudesse substituir
a força de trabalho deixada pelo escravo. A regularização nas vendas, juntamente com aumento de
preços foi a solução encontrada para evitar a concorrência de imigrantes, que deveriam se submeter ao
trabalho assalariado para sobreviver, já que muitos não conseguiriam adquirir uma propriedade no
momento em que chegassem ao Brasil.

Brasil República

A palavra República possui várias interpretações, sendo a mais comum a identificação de um sistema
de governo cujo Chefe de Estado é eleito através do voto dos cidadãos ou de seus representantes, com
poderes limitados e com tempo de governo determinado.
A República tem seu nome derivado do termo em latim Res publica, que significa algo como “coisa
pública” ou “coisa do povo”.
Em 15 de novembro de 1889 foi instituída a República no Brasil. Entre os fatores responsáveis para o
acontecimento, estão a crise que se instalou sobre o império, os atritos com a Igreja e o desgaste
provocado pela abolição da escravidão. Com a Guerra do Paraguai e o fortalecimento do exército, os
ideais republicanos começaram a ganhar força, sendo abraçados também por parte da elite cafeicultora
do Oeste Paulista.

O Movimento Republicano e a Proclamação da República

Mesmo com a manutenção do sistema escravista e de latifúndio exportador, na segunda metade do


século XIX o Brasil começou a experimentar mudanças, tanto na economia como na sociedade.
O café, que já era um produto em ascensão ganhou mais destaque quando cultivado no Oeste Paulista.
Juntamente com o café na região amazônica a borracha também ganhava mercado.

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Com a ameaça do fim da escravidão, começaram os incentivos para a vinda de trabalhadores
assalariados gerando o surgimento de um modesto mercado interno, além da criação de pequenas
indústrias. Surgiram diversos organismos de crédito e as ferrovias ganhavam cada vez mais espaço,
substituindo boa parte dos transportes terrestres, marítimos e fluviais.
As mudanças citadas acima não alcançaram todo o território brasileiro. Apenas a porção que hoje
abrange as regiões Sul e Sudeste foram diretamente impactadas, levando inclusive ao crescimento dos
núcleos urbanos. Em outras partes como na região Nordeste, o cultivo da cana-de-açúcar e do algodão,
que por muito tempo representaram a maior parte das exportações nacionais, entravam em declínio.
Muitos dos produtores e da população dessas regiões em desenvolvimento passavam a questionar o
centralismo político existente no império brasileiro que tirava a autonomia local. A solução para resolver
os problemas advindos da mudança pela qual o país passava foi encontrada no sistema federalista, capaz
de garantir a tão desejada autonomia regional. Não é de se espantar que entre os principais apoiadores
do sistema federalista estivessem os produtores de café do oeste paulista, que passavam a reivindicar
com mais força seus interesses econômicos.
Apesar das influências republicanas nas revoltas e tentativas de separação desde o século XVIII, foi
apenas na década de 1870, com a publicação do Manifesto Republicano, que o ideal foi consolidado
através da sistematização partidária.
O Manifesto foi publicado em 3 de dezembro de 1870, no jornal A República, redigido por Quintino
Bocaiúva, Saldanha Marinho e Salvador de Mendonça, e assinado por cinquenta e oito cidadãos entre
políticos, fazendeiros, advogados, jornalistas, médicos, engenheiros, professores e funcionários públicos.
Defendia o federalismo (autonomia para as Províncias administrarem seus próprios negócios) e criticava
o poder pessoal do imperador.
Após a publicação do Manifesto, entre 1870 e 1889 os ideais republicanos espalharam-se rapidamente
pelo país. Um dos principais frutos foi a fundação do Partido Republicano Paulista, fundado na Convenção
de Itu em 1873 e marcado pela heterogeneidade de seus membros e da efetiva participação dos
cafeicultores do Oeste Paulista.
Os republicanos brasileiros divergiam em seus ideais, criando duas tendências dentro do partido: A
Tendência Evolucionista e a Tendência Revolucionária.
Defendida por Quintino Bocaiuva, a Tendência Evolucionista partia do princípio de que a transição
do império para a república deveria ocorrer de maneira pacífica, sem combates. De preferência após a
morte do imperador.
Já a Tendência Revolucionária, defendida por Silva Jardim e Lopes Trovão, dizia que a República
precisava “ser feita nas ruas e em torno dos palácios do imperante e de seus ministros” e que não se
poderia “dispensar um movimento francamente revolucionário”. A eleição de Quintino Bocaiúva (maio de
1889) para a chefia do Partido Republicano Nacional expurgou dos quadros republicanos as ideias
revolucionárias.
O final da Guerra do Paraguai (1870) aumentou os antagonismos entre o Exército e a Monarquia. O
exército institucionalizava-se. Os militares sentiam-se mal recompensados e desprezados pelo Império.
Alguns jovens oficiais, influenciados pela doutrina de Augusto Comte (positivismo) e liderados por
Benjamin Constant, sentiam-se encarregados de uma "missão salvadora" e estavam ansiosos por corrigir
os vícios da organização política e social do país. A "mística da salvação nacional" não era privativa deste
pequeno grupo de jovens. Generalizara-se entre os militares a ideia de que só os homens de farda eram
"puros" e "patriotas", ao passo que os civis, as “casacas” como diziam eram corruptos venais e sem
nenhum sentimento patriótico.
A Proclamação resultou da conjugação de duas forças: o exército descontente, e o setor cafeeiro da
economia, pretendendo este eliminar a centralização vigente por meio de uma República Federativa que
imporia ao país um sistema favorável a seus interesses.
Portanto, a Proclamação não significou uma ruptura no processo histórico brasileiro: a economia
continuou dependente do setor agroexportador. Afora o trabalho assalariado, o sistema de produção
continuou o mesmo e os grupos dominantes continuaram a sair da camada social dos grandes
proprietários. Houve apenas uma modernização institucional.
O golpe militar promovido em 15 de novembro de 1889 foi reafirmado com a proclamação civil de
integrantes do Partido Republicano, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Ao contrário do que
aparentou, a proclamação foi consequência de um governo que não mais possuía base de sustentação
política e não contou com intensa participação popular. Conforme salientado pelo ministro Aristides Lobo,
a proclamação ocorreu às vistas de um povo que assistiu tudo de forma bestializada.

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O Governo Provisório e a República da Espada

Proclamada a República, o primeiro desafio era estabelecer um governo. O Marechal Deodoro da


Fonseca ficou responsável por assumir a função de Presidente até que um novo presidente fosse eleito.
Os primeiros atos decretados por Deodoro foram o banimento da Família Real do Brasil, estabelecimento
de uma nova bandeira nacional, separação entre Estado e Igreja (criação de um Estado Laico, porém não
laicista), liberdade de cultos, secularização dos cemitérios e a Grande Naturalização, ato que garantiu a
todos os estrangeiros que moravam no Brasil a cidadania brasileira, desde que não manifestassem dentro
de seis meses a vontade de manter a nacionalidade original.
No plano econômico, Rui Barbosa assumiu o cargo de Ministro da Fazenda lançando uma política de
incentivo ao setor industrial, caracterizada pela facilitação dos créditos bancários, a especulação de ações
e a emissão de papel-moeda em excesso. As medidas tomadas por Rui Barbosa que buscavam
modernizar o país, acabaram por gerar uma forte crise que provocou o aumento da inflação e da dívida
pública, a quebra de bancos e empobrecimento de pequenos investidores. Essa dívida ficou conhecida
como Encilhamento.
Em 24 de fevereiro de 1891 foi eleito um Congresso Constituinte, responsável por promulgar a primeira
Constituição republicana brasileira, elaborada com forte influência do modelo norte-americano. O Poder
Moderador, de uso exclusivo do imperador foi extinto, assim como o cargo de Primeiro-Ministro, a
vitaliciedade dos senadores, as eleições legislativas indiretas e o voto censitário.
Em relação ao poder do Estado, foi adotado o sistema de tripartição entre Executivo, Legislativo e
Judiciário, com um sistema presidencialista de voto direto com mandato de 4 anos sem reeleição. As
províncias, que agora eram denominadas Estados, foram beneficiadas com uma maior autonomia através
do Sistema Federalista.
Em relação ao voto, antes censitário, foi declarado o sufrágio universal masculino, ou seja, “todos” os
homens alfabetizados e maiores de 21 anos poderiam votar. Na prática o voto ainda continuava restrito,
visto que eram excluídos os mendigos, os padres e os praças (soldados de baixa patente). No Brasil de
1900, cerca de 35%40 da população era alfabetizada. Desse total ainda estavam excluídas as mulheres,
já que mesmo sem uma regra explícita de proibição na constituição, “considerou-se implicitamente que
elas estavam impedidas de votar”41
A Constituição também determinava que a primeira eleição para presidente deveria ser indireta através
do Congresso. Deodoro da Fonseca venceu a eleição por 129 votos a favor e 97 contra, resultado
considerado apertado na época. Para o cargo de vice-presidente o Congresso elegeu o marechal Floriano
Peixoto.
A atuação de Deodoro foi encarada com suspeita pelo Congresso, já que ele buscava um
fortalecimento do Poder Executivo baseado no antigo Poder Moderador. Deodoro substituiu o ministério
que vinha do governo provisório por um outro, que seria comandado pelo Barão de Lucena, tradicional
político monárquico. Em 3 de novembro de 1891 o presidente fechou o Congresso, prometendo novas
eleições e a revisão da Constituição.
A intenção do marechal era limitar e igualar a representação dos Estados na Câmara, o que atingia os
grandes Estados que já possuíam uma participação maior na política. Sem obter o apoio desejado dentro
das forças armadas, Deodoro acabou renunciando em 23 de novembro de 1891, assumindo em seu lugar
o vice Floriano Peixoto.
Floriano tinha uma visão de República baseada na construção de um governo estável e centralizado,
com base no exército e no apoio dos jovens das escolas civis e militares. A visão de Floriano chocava-se
diretamente com a visão dos grandes fazendeiros, principalmente os produtores de café de São Paulo
que almejavam um Estado liberal e descentralizado. Apesar das diferenças, o presidente e os fazendeiros
conviveram em certa harmonia, pela percepção de que sem Floriano a República corria o risco de acabar,
e sem o apoio dos fazendeiros, Floriano não conseguiria governar.
Os dois primeiros governos republicanos no Brasil ganharam o nome de República da Espada devido
ao fato de seus presidentes serem membros do exército.

A Revolução Federalista
Desde o período imperial, o Rio Grande do Sul fora palco de protestos e indignações com o governo,
como pode ser observado na Revolução Farroupilha, que durou de 1835 até 1845. Com a Proclamação
da República, a política no Estado manteve-se instável, com diversas trocas no cargo de presidente

40
Souza, Marcelo Medeiros Coelho de. O analfabetismo no brasil sob enfoque demográfico. Cad. Pesqui. Jul 1999, no.107, p.169-186. ISSN 0100-1574
41
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1999. Página 251.

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estadual. Conforme aponta Fausto, entre 1889 e 1893, dezessete governos se sucederam no comando
do Estado42, até que Júlio de Castilhos assumiu o poder no Estado.
Dois grupos disputavam o controle do Rio Grande do Sul: o Partido Republicano Rio-grandense (PRR)
e o Partido Federalista (PF).
O Partido Republicano era composto por políticos defensores do positivismo, apoiadores de Júlio de
Castilhos e de Floriano Peixoto. Sua base política era composta principalmente de imigrantes e habitantes
do litoral e da Serra do Rio Grande do Sul, formando uma elite política recente. Durante o conflito foram
conhecidos como Pica-paus.
O Partido Federalista defendia um sistema de governo parlamentarista e a revogação da constituição
do Estado, de caráter positivista. Foi fundado em 1892 e tinha como líder o político Silveira Martins,
conhecida figura política do Partido Liberal durante o império. A base de apoio do Partido Federalista era
composta principalmente de estancieiros de campanha, que dominaram a cena política durante o império.
Durante o conflito ganharam o apelido de Maragatos.
O conflito teve início em fevereiro de 1893, quando os federalistas, descontentes com a imposição do
governo de Júlio de Castilhos, pegaram em armas para derrubar o presidente estadual. Desde o início da
revolta, Floriano Peixoto, então presidente do Brasil, colocou-se do lado dos republicanos. Os opositores
de Floriano em todo o país passaram a apoiar os federalistas.
No final de 1893 os federalistas ganharam o apoio da Revolta Armada que teve início no Rio de Janeiro,
causada pelas rivalidades entre o exército e a marinha e o descontentamento do almirante Custódio José
de Melo, frustrado em sua intenção de suceder Floriano Peixoto na presidência.
Parte da esquadra naval comandada pelo almirante deslocou-se para o Sul, ocupando a cidade de
Desterro (atual Florianópolis), em Santa Catarina, e a partir daí ocupando parte do Paraná e a capital
Curitiba. O prolongamento do conflito, com grandes custos aos revoltosos, levou à decisão de recuar e
manter-se no Rio Grande do Sul.
A revolta teve fim somente em agosto de 1895, quando os combatentes maragatos depuseram as
armas e assinaram um acordo de paz com o presidente da república, garantindo a anistia para os
participantes do conflito. Apesar de curta, a Revolução Federalista teve um saldo de mais de 10.000
mortos, a maior parte deles de prisioneiros capturados em conflitos e mortos posteriormente, o que
garantiu o apelido de “revolução da degola”.

Características da Primeira República

O período que vai de 1889, data da Proclamação da República, até 1930, quando Getúlio Vargas
assumiu o poder, é conhecido como Primeira República. O período é marcado pela dominação de poucos
grupos políticos, conhecidos como oligarquias, pela alternância de poder entre os estados de São Paulo
e Minas Gerais (política do café-com-leite), e pelo poder local exercido pelos Coronéis.
Com a saída dos militares do governo em 1894, teve início o período chamado República das
Oligarquias. A palavra Oligarquia vem do grego oligarkhía, que significa “governo de poucos”. Os grupos
dominantes, em geral ligados ao café e ao gado, impunham sua vontade sobre o governo, seja pela via
legal, seja através de fraudes nas votações e criação de leis específicas para beneficiar o grupo
dominante.

O Coronelismo
Durante o período regencial, espaço entre a abdicação de D. Pedro I e a coroação de D. Pedro II,
diversas revoltas e tentativas de separação e instalação de uma república aconteceram no Brasil. Sem
condições de controlar todas as revoltas, o governo regencial, pela sugestão de Diogo Feijó, criou a
Guarda Nacional.
Com o propósito de defender a constituição, a integridade, a liberdade e a independência do Império
Brasileiro, sua criação desorganiza o Exército e começa a se constituir no país uma força armada
vinculada diretamente à aristocracia rural, com organização descentralizada, composta por membros da
elite agrária e seus agregados. Para compor os quadros da Guarda nacional era necessário possuir
amplos direitos políticos, ou seja, pelas determinações constitucionais, poderiam fazer parte dela apenas
aqueles que dispusessem de altos ganhos anuais.
Com a criação da Guarda e suas exigências para participação, surgiram os coronéis, que eram
grandes proprietários rurais que compravam suas patentes militares do Estado. Na prática, eles foram
responsáveis pela organização de milícias locais, responsáveis por manter a ordem pública e proteger os

42
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1999.

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interesses privados daqueles que as comandavam. O coronelismo esteve profundamente enraizado no
cenário político brasileiro do século XIX e início do século XX.
Após o fim da República da Espada, os grupos ligados ao setor agrário ganharam força na política
nacional, gerando uma maior relevância para os coronéis no controle dos interesses e na manutenção da
ordem social. Como comandantes de forças policiais locais, os coronéis configuravam-se como uma
autoridade quase inquestionável nas áreas rurais.
A autoridade do coronel, além de usada para manter a ordem social, era exercida principalmente
durante as eleições, para garantir que o candidato ou grupo político que ele representasse saísse
vencedor. A oposição ao comando do coronel poderia resultar em violência física, ameaças e
perseguições, o que fazia com que muitos votassem a contragosto, para evitar as consequências de
discordar da autoridade local, gerando uma prática conhecida como Voto de Cabresto.
Na república velha, o sistema eleitoral era muito frágil e fácil de ser manipulado. Os coronéis
compravam votos para seus candidatos ou trocavam votos por bens materiais. Como o voto era aberto,
os coronéis mandavam os capangas para os locais de votação, com o objetivo de intimidar os eleitores e
ganhar os votos. As regiões controladas politicamente pelos coronéis eram conhecidas como currais
eleitorais.
Os coronéis costumavam alterar votos, sumir com urnas e até mesmo patrocinavam a prática do voto
fantasma. Este último consistia na falsificação de documentos para que pessoas pudessem votar várias
vezes ou até mesmo utilizar o nome de falecidos nas votações.
Dessa forma, a vontade política do coronel era atendida, garantindo que seus candidatos fossem
eleitos em nível municipal e também estadual, e garantindo também participação na esfera federal.

Prudente de Morais

Floriano tentou garantir que seu sucessor fosse um aliado político, porém as poucas bases de apoio
de que dispunha não lhe foram suficientes para concretizar o desejo. No dia 1 de março de 1894 foi eleito
o paulista Prudente de Morais, encerrando o governo de membros do exército, que só voltariam ao poder
em 1910, com a eleição do marechal Hermes da Fonseca.
Prudente buscou desvincular o exército do governo, substituindo os cargos que eram ocupados por
militares por civis, principalmente representantes da cafeicultura, promovendo uma descentralização do
poder.
Suas principais bandeiras eram a de uma república forte, em oposição às tendências liberais,
antimonarquistas e antilusitanas.

Campos Salles

Em 1898 o paulista Manuel Ferraz de Campos Salles assumiu a presidência no lugar de Prudente de
Morais. Antes mesmo de assumir o governo, Campos Salles renegociou a dívida brasileira, que vinha se
arrastando desde os tempos do império.
Para resolver a situação, ele se reuniu com os credores e estabeleceu um acordo chamado Funding-
Loan. Este acordo consistia no seguinte: o Brasil fazia empréstimos e atrasava o pagamento da dívida,
fazendo concessões aos banqueiros nacionais. Como consequência a indústria e o comércio foram
afetados e as camadas pobres e a classe média também foram prejudicadas.
A transição de governos consolidou as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais no poder. O único
entrave para um governo harmônico eram as disputas políticas entre as oligarquias locais nos Estados.
O governo federal acabava intervindo nas disputas, porém, a incerteza de uma colaboração duradoura
entre os Estados e a União ainda permanecia. Outro fator que não permitia uma plena consolidação
política era a vontade do executivo em impor-se ao legislativo, mesmo com a afirmação na Constituição
de que os três poderes eram harmônicos e independentes entre si.
A junção desses fatores levou Campos Salles a criar um arranjo político capaz de garantir a
estabilidade e controlar o legislativo, que ficou conhecido como Política dos Governadores.
Basicamente, a política dos governadores apoiava-se em uma ideia simples: o presidente apoiava as
oligarquias estaduais mais fortes, e em troca, essas oligarquias apoiavam e votavam nos candidatos
indicados pelo presidente.
Na Câmara dos Deputados, uma mudança simples garantiu o domínio. Conhecida como Comissão de
Verificação de poderes, essa ferramenta permitia decidir quais políticos deveriam integrar a Câmara e
quais deveriam ser “degolados”, que na gíria política da época significava ser excluído.
Quando ocorriam eleições para a Câmara, os vencedores em cada estado recebiam um diploma. Na
falta de um sistema de justiça eleitoral, ficava a cargo da comissão determinar a validade do diploma. A

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comissão era escolhida pelo presidente temporário da nova Câmara eleita, o que até antes da reforma
de Campos Salles significava o mais velho parlamentar eleito.
Com a reforma, o presidente da nova Câmara deveria ser o presidente do mandato anterior, desde
que reeleito. Dessa forma, o novo presidente da Câmara seria sempre alguém ligado ao governo, e caso
algum deputado oposicionista ou que desagradasse o governo fosse eleito, ficava mais fácil removê-lo
do poder.

Convênio de Taubaté
Desde o período imperial o café figurava como principal produto de exportação brasileiro,
principalmente após a segunda década do século XIX. Consumido em larga escala na Europa e nos
Estados Unidos, o cultivo da planta espalhou-se pelo vale do Paraíba fluminense e paulista. Continuando
sua marcha ascendente, houve expansão dos cafeeiros na província de Minas Gerais (Zona da Mata e
sul do estado), ao mesmo tempo em que a produção se consolidava no interior de São Paulo,
principalmente no “Oeste Paulista”.
A grande oferta causada pela produção em excesso levou a uma queda do preço, visto que havia mais
produto no mercado e menos pessoas interessadas em adquiri-lo.
O convênio de Taubaté foi um acordo firmado em 1906, último ano do mandato de Rodrigues Alves
(1902-1906), entre os presidentes dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, na cidade
de Taubaté (SP), com o objetivo de pôr em prática um plano de valorização do café, garantindo o preço
do produto por meio da compra, pelo governo federal, do excedente da produção. O acordo foi firmado
mesmo contra a vontade do presidente, e foi efetivamente aplicada por seu sucessor, Afonso Pena.

O Tratado de Petrópolis e a Borracha


O espaço físico que constitui o Estado do Acre, era, até o início do século XX, considerado uma zona
não descoberta, um território contestado pelos governos boliviano e brasileiro.
Em 1839, Charles Goodyear descobriu o processo de Vulcanização, que consistia em misturar enxofre
com borracha a uma temperatura elevada (140ºC/150ºC) durante certo número de horas. Com esse
processo, as propriedades da borracha não se alteravam pelo frio, calor, solventes comuns ou óleos.
Apesar do surto econômico e da procura do produto, favorável para a Amazônia brasileira, havia um
sério problema para a extração do látex: a falta de mão-de-obra.
Isso foi solucionado com a chegada à região de nordestinos (Arigós) que vieram fugindo da seca de
1877. Prisioneiros, exilados políticos e trabalhadores nordestinos misturavam-se nos seringais do Acre,
fundavam povoações, avançavam e se estabeleciam em pleno território boliviano.
A exploração brasileira na região incomodava o governo boliviano, que resolveu tomar posse definitiva
do Acre. Fundou a vila de Puerto Alonso, em 03 de janeiro de 1889, e foram instalados postos da
alfândega para arrecadar tributos originados da comercialização de borracha silvestre. Essa atitude
causou revolta entre os quase sessenta mil brasileiros que trabalhavam nos seringais acreanos.
Liderados pelo seringalista José Carvalho, do Amazonas, os seringueiros rebelaram-se e expulsaram as
autoridades bolivianas, em 03 de maio de 1889.
Após o episódio, um espanhol chamado Luiz Galvez Rodrigues de Aurias liderou outra rebelião, de
maior alcance político, proclamando a independência e instalando o que ele chamou de República do
Acre, no local conhecido como Seringal Volta da Empresa, em 14 de julho de 1889. Galvez, o “Imperador
do Acre”, como auto proclamava-se, contava com o apoio político do governador do Amazonas, Ramalho
Junior. Entretanto, a República do Acre durou apenas oito meses. O governo brasileiro, signatário do
Tratado de Ayacucho, de 23 de março de 1867, reconheceu o direito de posse da Bolívia, prendeu Luiz
Galvez Rodrigues de Aurias e devolveu o Acre ao governo boliviano.
Mesmo com a devolução do Acre aos bolivianos, a situação continuava insustentável. O clima de
animosidade persistia e aumentava a cada dia. Em 11 de julho de 1901, o governo boliviano decidiu
arrendar o Acre a um grupo de empresários americanos, ingleses e alemães, formado pelas empresas
Conway and Withridge, United States Rubber Company, e Export Lumber. Esse consórcio constituiu o
Bolivian Syndicate que recebeu da Bolívia autorização para colonizar a região, explorar o látex e formar
sua própria milícia, com direito de utilizar a força para atender seus interesses.
Os seringueiros brasileiros, a maior parte formada por nordestinos, não aceitaram a situação.
Estimulados por grandes seringalistas e apoiados pelos governadores do Amazonas e do Pará, deram
início, no dia 06 de agosto de 1902, a uma rebelião armada: a Revolta do Acre. Os seringalistas
entregaram a chefia do movimento rebelde ao gaúcho José Plácido de Castro, ex-major do Exército,
rebaixado a cabo por participar da Revolução Federalista do Rio Grande do Sul, ao lado dos Maragatos.

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A Revolta por ele liderada, financiada por seringalistas e por dois governadores de Estado, fortalecia-
se a cada dia, na medida em que recebia armamentos, munições, alimentos, além de apoio político e
popular. Em todo o país ocorreram manifestações em favor da anexação do Acre ao Brasil.
A imprensa do Rio de Janeiro e de São Paulo exigia do governo brasileiro imediatas providências em
defesa dos acreanos. Por seu lado, o governo brasileiro procurava solucionar o impasse pela via
diplomática, tendo à frente das negociações o diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão
do Rio Branco. Mas todas as tentativas eram inócuas e os combates entre brasileiros e bolivianos
tornavam-se mais frequentes e acirrados.
Em meio aos conflitos, o presidente da Bolívia, general José Manuel Pando, organizou sob seu
comando uma poderosa expedição militar para combater os brasileiros do Acre. O presidente do Brasil,
Rodrigues Alves, ordenou que tropas do Exército e da Armada Naval, acantonadas no Estado de Mato
Grosso, avançassem para a região em defesa dos seringueiros acreanos. O enfrentamento de tropas
regulares do Brasil e da Bolívia gerou a Guerra do Acre.
As tropas brasileiras, formadas por dois regimentos de infantaria, um de artilharia e uma divisão naval,
ajudaram Plácido de Castro a derrotar o último reduto boliviano no Acre, Puerto Alonso, hoje Porto Acre.
Em consequência, no dia 17 de novembro de 1903, na cidade de Petrópolis, as repúblicas do Brasil e da
Bolívia firmaram o Tratado de Petrópolis, através do qual o Brasil ficou de posse do Acre, assumindo o
compromisso de pagar uma indenização de dois milhões de libras esterlinas ao governo boliviano e mais
114 mil ao Bolivian Syndicate.
O Tratado de Petrópolis, aprovado pelo Congresso brasileiro em 12 de abril de 1904, também obrigou
o Brasil a realizar o antigo projeto do governo boliviano de construir a estrada de ferro Madeira-Mamoré.
A Bolívia, aproveitando-se do momento político, colocou na pauta de negociações seu ambicionado
projeto. Em contrapartida, reconheceu a prioridade de chegada dos primeiros brasileiros à região e
renunciou a todos os direitos sobre as terras do Acre.

O declínio da borracha
Em 1876, Henry Alexander Wyckham contrabandeou sementes de seringueiras da região situada entre
os rios Tapajós e Madeira e as mandou para o Museu Botânico de Kew, na Inglaterra. Muitas das
sementes brotaram nos viveiros e poucas semanas depois, as mudas foram transportadas para o Ceilão
e Malásia.
Na região asiática as sementes foram plantadas de forma racional e passaram a contar com um grande
número de mão-de-obra, o que possibilitou uma produção expressiva, já no ano de 1900. Gradativamente,
a produção asiática foi superando a produção amazônica e, em 1912 há sinais de crise, culminando em
1914, com a decadência deste ciclo na Amazônia brasileira.
Para a economia nacional, a borracha teve suma importância nas exportações, visto que em 1910, o
produto representou 40% das exportações brasileiras. Para a Amazônia, o primeiro Ciclo da Borracha foi
importante pela colonização de nordestinos na região e a urbanização das duas grandes cidades
amazônicas: Belém do Pará e Manaus.
Durante o seu apogeu, a produção de borracha foi responsável por aproximadamente 1/3 do PIB do
Brasil. Isso gerou muita riqueza na região amazônica e trouxe tecnologias que outras cidades do sul e
sudeste do Brasil ainda não possuíam, tais como bondes elétricos e avenidas construídas sobre pântanos
aterrados, além de edifícios imponentes e luxuosos, como o Teatro Amazonas, o Palácio do Governo, o
Mercado Municipal e o prédio da Alfândega, no caso de Manaus, o Mercado de São Brás, Mercado
Francisco Bolonha, Teatro da Paz, Palácio Antônio Lemos, corredores de mangueiras e diversos
palacetes residenciais no caso de Belém.

Industrialização e Greves
Ao ser proclamada a República em 1889, existiam no Brasil 626 estabelecimentos industriais, sendo
60% do ramo têxtil e 15% do ramo de produtos alimentícios. Em 1914, o número já era de 7.430 indústrias,
com 153.000 operários.
Após o incentivo para abertura de novas indústrias decorrentes do período de 1914 a 1918, em que a
Europa esteve em guerra, diversas empresas produtoras principalmente de matéria-prima iniciaram
atividades no Brasil. Em 1920, o número havia subido para 13.336, com 275.000 operários. Até 1930,
foram fundados mais 4.687 estabelecimentos industriais.
Há que se levar em conta que a industrialização se concentrou no eixo Rio-São Paulo e,
secundariamente, no Rio Grande do Sul. O empresariado industrial era oriundo do café, do setor
importador e da elite dos imigrantes.

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Durante o período republicano fica evidente o descaso das autoridades governamentais com os
trabalhadores. O país passava por um momento de industrialização e os trabalhadores começam a se
organizar.
Em sua maioria imigrantes europeus que possuíam uma forte influência dos ideais anarquistas e
comunistas, os primeiros trabalhadores das fábricas brasileiras possuíam um discurso inflamado,
convocando os colegas a se unirem em associações que resultariam posteriormente na fundação dos
primeiros sindicatos de trabalhadores.
Os líderes dos movimentos operários buscavam melhores condições de trabalho para seus colegas
como redução de jornada de trabalho e segurança no trabalho. Lutavam contra a manutenção da
propriedade privada e do chamado “Estado Burguês”.
Ocorreram entre 1903 e 1906 greves de pouca expressão pelo país, através de movimentos de
tecelões, alfaiates, portuários, mineradores, carpinteiros e ferroviários. Em contrapartida, o governo
brasileiro criou leis para impedir o avanço dos movimentos, como uma lei expulsando os estrangeiros que
fossem considerados uma ameaça à ordem e segurança nacional.
A greve mais significativa do período ocorreu em 1917, a Greve Geral em São Paulo, que contou com
os trabalhadores dos setores alimentício, gráfico, têxtil e ferroviário como mais atuantes. O governo, para
reprimir o movimento utilizou inclusive forças do Exército e da Marinha.
A repressão cada vez mais dura do governo através de leis, decretos e uso de violência acabou
sufocando os movimentos grevistas, que acabaram servindo de base para a criação no ano de 1922,
inspirado pelo Partido Bolchevique Russo, do PCB, Partido Comunista Brasileiro. Os sindicatos também
começam a se organizar no período.

Revoltas

Guerra de Canudos
A revolta em Canudos deve ser entendida como um movimento messiânico, ou seja, a aglomeração
em torno de uma figura religiosa capaz de reunir fiéis e trazer a esperança de uma vida melhor através
de pregações.
Canudos formou-se através da liderança de Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido também por
Antônio Conselheiro, um beato que, andando pelo sertão pregava a salvação por meio do abandono
material, exigindo que seus fiéis o seguissem pelo sertão nordestino.
Perseguido pela Igreja, e com um número significativo de fiéis, Antônio Conselheiro estabeleceu-se no
sertão baiano, à margem do Rio Vaza-Barris, formando o Arraial de Canudos. Ali fundou a cidade santa,
à qual dera o nome de Belo Monte, administrada pelo beato, que contava com vários subchefes, cada
qual responsável por um setor (comandante da rua, encarregado da segurança e da guerra, escrivão de
casamentos, entre outros).
A razão para o crescimento do arraial em torno da figura de Antônio Conselheiro pode ser explicada
pela pobreza dos habitantes do sertão nordestino, aliada à fome e a insatisfação com o governo
republicano, sendo o beato um aberto defensor da volta da monarquia.
A comunidade de Canudos, assim, sobrevivia e prosperava, mantendo-se por via das trocas com as
comunidades vizinhas.
Devido a um incidente entre os moradores do arraial e o governo da Bahia - uma questão mal resolvida
em relação ao corte de madeira na região - o governo estadual resolveu repreender os habitantes,
enviando uma tropa ao local. Apesar das poucas condições materiais dos moradores, a tropa baiana foi
derrotada, o que levou o presidente da Bahia a apelar para as tropas federais.
Canudos manteve-se firme diante das ameaças, derrotando duas expedições de tropas federais
municiadas de canhões e metralhadoras, uma delas comandada pelo Coronel Antônio Moreira César,
também conhecido como "corta-cabeças" pela fama de ter mandado executar mais de cem pessoas na
repressão à Revolução Federalista em Santa Catarina. A incapacidade do governo federal em conter os
revoltosos, com derrotas vergonhosas, gerou diversas revoltas no Rio de Janeiro.
Com a intenção de resolver de vez o problema, foi organizada a 4ª expedição militar ao vilarejo, com
8.000 soldados sob o comando do general Artur de Andrade Guimarães. Dotada de armamento moderno,
a expedição levou um mês e meio para vencer os sertanejos, finalmente arrasando o arraial em agosto
de 1897, quando os últimos defensores do vilarejo foram capturados e degolados.
Canudos foi incendiada para evitar que novos moradores se estabelecessem no local. Nos jornais e
também no pensamento do governo federal, a vitória sobre Canudos foi uma vitória “da civilização sobre
a barbárie”.
Os combates ocorridos em Canudos foram contados pelo Jornalista Euclides da Cunha, em seu livro
Os Sertões. O livro busca trazer um relato do ocorrido, através do ponto de vista do autor, que possuía

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uma visão de “raça superior”, comum do pensamento científico da época. De acordo com esse
pensamento, o mestiço brasileiro seria uma raça de características inferiores, que estava destinada ao
desaparecimento por conta do avanço da civilização.
Não só Euclides da Cunha pensava da mesma forma. O pensamento racial baseado em teorias
científicas foi comum no Brasil da virada do século XX.

A Guerra do Contestado
Na virada do século XX uma grande parte da população que vivia no interior do estado era composta
por sertanejos, pessoas de origem humilde, que viviam na fronteira com o Paraná. A região foi palco de
um intenso conflito por posse de terras, ocorrido entre 1912 e 1916, que ficou conhecido como Guerra do
Contestado.
O conflito teve início com a implantação de uma estrada de ferro que ligaria o Rio Grande do Sul a São
Paulo, além de uma madeireira, em 1912, de propriedade do empresário Norte-Americano Percival
Farquhar.
A Brazil Railway ficou responsável pela construção da estrada de ferro que ligaria os dois pontos.
Como forma de remuneração por seus serviços, o governo cedeu à companhia uma extensa faixa de
terra ao longo dos trilhos, aproximadamente 15 quilômetros de cada margem do caminho.
As terras doadas pelo governo foram entregues à empresa na categoria de terras devolutas, ou seja,
terras não ocupadas pertencentes à união. O ato desconsiderou a presença de milhares de pessoas que
habitavam a região, porém não possuíam registros de posse sobre a terra.
Apesar do contrato firmado, de que as terras entregues à companhia pudessem ser habitadas somente
por estrangeiros, o principal interesse do empresário era a exploração da madeira que se encontrava na
região, em especial araucárias e imbuias, com alto valor de mercado. Não tardou para a criação da
Southern Brazil Lumber and Colonization Company, responsável por explorar a extração da madeira e
que posteriormente tornou-se a maior empresa do gênero na América do Sul.
A derrubada da floresta implicava necessariamente em remover os antigos moradores regionais,
gerando conflitos imediatos. Os sertanejos encontraram na figura de monges que vagavam pelo sertão
pregando a palavra de Deus a inspiração e a liderança para lutar contra o governo e as empresas
estrangeiras. O primeiro Monge que criou pontos de resistência ficou conhecido como José Maria.
Adorado pela população local, o monge era visto pelos sertanejos como um salvador dos pobres e
oprimidos, e pelo governo como um empecilho para os trabalhos de construção da estrada de ferro.
O governo e as empresas investiram fortemente na tentativa de expulsão dos sertanejos, e em 1912
próximo ao vilarejo de Irani ocorreu uma intensa batalha entre governo e população, causando a morte
do Monge. A morte do líder causou mais revolta nos sertanejos, que intensificaram a resistência, unindo
sua crença em outras figuras que despontavam como lideranças, como Maria Rosa, uma jovem de quinze
anos de idade, que foi considerada por historiadores como Joana D'Arc do sertão. A jovem afirmava
receber ordens espirituais de batalha do Monge Assassinado.
O conflito foi tomado como prioridade pelo governo federal, que investiu grande potencial bélico na
contenção dos revoltosos, como fuzis, canhões, metralhadoras e aviões. O conflito acaba em 1916 com
a captura dos últimos lideres revoltosos. Assim como em Canudos, a Revolta do Contestado foi marcada
por um forte caráter messiânico.

A Revolta da Vacina
A origem dessa revolta ocorrida no Rio de Janeiro deve ser procurada na questão social gerada pelas
desigualdades sociais e agravada pela reurbanização do Distrito Federal pelo prefeito Pereira Passos.
O grande destaque do período foi a Campanha de Saneamento no Rio de Janeiro, dirigida por Oswaldo
Cruz. Decretando-se a vacinação obrigatória contra a varíola, ocorreu o descontentamento popular.
Isso ocorreu devido a forma que a campanha foi conduzida, onde os agentes usavam da força para
entrar nas casas e vacinar a população. Não houve uma campanha prévia para conscientização e
educação. Disso se aproveitaram os militares e políticos adversários de Rodrigues Alves.
Assim, irrompeu a Revolta da Vacina (novembro de 1904), sob a liderança do senador Lauro Sodré.
O levante foi rapidamente dominado, fortalecendo a posição do presidente.

Revolta da Chibata43
A Revolta da Chibata ocorreu em 22 de novembro de 1910 no Rio de Janeiro. Entre outros, foi motivada
pelos castigos físicos que os marinheiros brasileiros recebiam. As faltas graves eram punidas com 25
chibatadas (chicotadas). Esta situação gerou uma intensa revolta entre os marinheiros.

43
http://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/revolta-da-chibata

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O estopim da revolta se deu quando o marinheiro Marcelino Rodrigues foi castigado com 250
chibatadas, por ter ferido um colega da Marinha, dentro do encouraçado Minas Gerais. O navio de guerra
estava indo para o Rio de Janeiro e a punição, que ocorreu na presença dos outros marinheiros,
desencadeou a revolta.
O motim se agravou e os revoltosos chegaram a matar o comandante do navio e mais três oficiais. Já
na Baia da Guanabara, os revoltosos conseguiram o apoio dos marinheiros do encouraçado São Paulo.
O líder da revolta, João Cândido (conhecido como o Almirante Negro), redigiu a carta reivindicando o
fim dos castigos físicos, melhorias na alimentação e anistia para todos que participaram da revolta. Caso
não fossem cumpridas as reivindicações, os revoltosos ameaçavam bombardear a cidade do Rio de
Janeiro (então capital do Brasil).

Segunda Revolta44
Diante da grave situação, o presidente Hermes da Fonseca resolveu aceitar o ultimato dos revoltosos.
Porém, após os marinheiros terem entregues as armas e embarcações, o presidente solicitou a expulsão
de alguns deles. A insatisfação retornou e no começo de dezembro, os marinheiros fizeram outra revolta
na Ilha das Cobras.
Esta segunda revolta foi fortemente reprimida pelo governo, sendo que vários marinheiros foram
presos em celas subterrâneas da Fortaleza da Ilha das Cobras. Neste local, onde as condições de vida
eram desumanas alguns prisioneiros faleceram. Outros revoltosos presos foram enviados para a
Amazônia, onde deveriam prestar trabalhos forçados na produção de borracha.
O líder da revolta João Cândido foi expulso da Marinha e internado como louco no Hospital de
Alienados. No ano de 1912, foi absolvido das acusações junto com outros marinheiros que participaram
da revolta.

O Cangaço no Nordeste45
Entre o final do século XIX e começo do XX (início da República), ganharam força, no nordeste
brasileiro, grupos de homens armados, conhecidos como cangaceiros. Estes grupos apareceram em
função principalmente das péssimas condições sociais da região nordestina. O latifúndio que concentrava
terra e renda nas mãos dos fazendeiros, deixava a margem da sociedade a maioria da população.
Existiram três tipos de cangaço na história do sertão:

O defensivo, de ação esporádica na guarda de propriedades rurais, em virtude de ameaças de índios,


disputa de terras e rixas de famílias;
O político, expressão do poder dos grandes fazendeiros;
O independente, com características de banditismo.

O Cangaço pode ser entendido como um fenômeno social, caracterizado por atitudes violentas por
parte dos cangaceiros, que andavam em bandos armados e espalhavam o medo pelo sertão nordestino.
Promoviam saques a fazendas, atacavam comboios e chegavam a sequestrar fazendeiros para obtenção
de resgates. A população que respeitava e acatava as ordens dos cangaceiros era muitas vezes
beneficiada por suas atitudes. Essa característica fez com que os cangaceiros fossem respeitados e até
mesmo admirados por parte da população da época.
Como não seguiam as leis estabelecidas pelo governo, eram perseguidos constantemente pelos
policiais. Usavam roupas e chapéus de couro para protegerem os corpos, durante as fugas, da vegetação
cheia de espinhos da caatinga. Além desse recurso da vestimenta, usavam todos os conhecimentos que
possuíam sobre o território nordestino (fontes de água, ervas, tipos de solo e vegetação) para fugirem ou
obterem esconderijos.
Existiram diversos bandos de cangaceiros. Porém, o mais conhecido e temido da época foi o bando
comandado por Lampião (Virgulino Ferreira da Silva), também conhecido pelo apelido de “Rei do
Cangaço”. O bando de Lampião atuou pelo sertão nordestino durante as décadas de 1920 e 1930.
De 1921 a 1934, Lampião dividiu seu bando em vários subgrupos, dentre os quais os chefiados por
Corisco, Moita Brava, Português, Moreno, Labareda, Baiano, José Sereno e Mariano. Entre seus bandos,
Lampião sempre teve grande apreço pelo bando de Corisco, conhecido como “Diabo Loiro” e também
grande amigo de Virgulino.

44
http://www.abi.org.br/abi-homenageia-filho-do-lider-da-revolta-da-chibata/
45
http://www.seja-ead.com.br/2-ensino-medio/ava-ead-em/3-ano/03-ht/aula-presencial/aula-5.pdf

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Lampião morreu numa emboscada armada por uma volante46, junto com a mulher Maria Bonita e
outros cangaceiros, em 29 de julho de 1938. Tiveram suas cabeças decepadas e expostas em locais
públicos, pois o governo queria assustar e desestimular esta prática na região.
A morte de lampião atingiu o movimento do Cangaço como um todo, enfraquecendo e dividindo os
grupos restantes. Corisco foi morto em uma emboscada no ano de 1940, encerrando de vez o cangaço
no Nordeste.

A Semana de Arte Moderna de 1922

O ano de 1922 representou um marco na arte e na cultura brasileira, com a realização da Semana de
Arte Moderna, de 11 a 18 de fevereiro. A exposição marcava uma tentativa de introduzir elementos
brasileiros nos campo da arte e da cultura, vistas como dominadas pela influência estrangeira,
principalmente de elementos europeus, trazidos tanto pela elite econômica quanto por trabalhadores
imigrantes, principalmente italianos que trabalhavam na indústria paulista.
Na virada do século XX, São Paulo despontava como segunda maior cidade do país, atrás apenas do
Rio de Janeiro, capital nacional. Apesar de ocupar o segundo lugar em tamanho, a cidade possuía grande
taxa de industrialização, mais até que a capital, principalmente pelos recursos proporcionados pela
produção de café.
O contato proporcionado pelos novos meios de transporte e de comunicação proporcionou o contato
com novas tendências que rompiam com a estrutura das artes predominante desde o renascimento. Entre
elas estavam o futurismo, dadaísmo, cubismo, e surrealismo.
No Brasil, o espírito modernista foi apresentado por autores como Euclides da Cunha, Monteiro Lobato,
Lima Barreto e Graça Aranha, que se desligaram de uma literatura de “falsas aparências”, procurando
discutir ou descobrir o “Brasil real”, frequentemente “maquiado” pelo pensamento acadêmico. As novas
tendências apareceram em 1917, em trabalhos: da pintora Anita Malfatti, do escultor Brecheret, do
compositor Vila Lobos e do intelectual Oswaldo de Andrade.
Os modernistas foram buscar inspiração nas imagens da indústria, da máquina, da metrópole, do
burguês e do proletário, do homem da terra e do imigrante.
Entre os escritores modernistas, o que melhor reflete o espírito da Semana é Oswald de Andrade. De
maneira geral, sua produção literária reflete a sociedade em que se forjou sua formação cultural: o
momento de transição que une o Brasil agrário e patriarcal ao Brasil que caminha para a modernização.
Ao lado de Oswald de Andrade, destaca-se como ponto alto do Modernismo a figura de Mário de Andrade,
principal animador do movimento modernista e seu espírito mais versátil. Cultivou a poesia, o romance,
o conto, a crítica, a pesquisa musical e folclórica.

Os anos 1920 e a crise política47

Após a Primeira Guerra Mundial, a classe média urbana passava cada vez mais a participar da política.
A presença desse grupo tendia a garantir um maior apoio a políticos e figuras públicas apoiados em um
discurso liberal, que defendesse as leis e a constituição, e fossem capazes de transformar a República
Oligárquica em República Liberal. Entre as reivindicações estavam o estabelecimento do voto secreto, e
a criação de uma Justiça Eleitoral capaz de conter a corrupção nas eleições.
Em 1919, Rui Barbosa, que já havia sido derrotado em 1910 e 1914, entrou novamente na disputa
como candidato de oposição, enfrentando o candidato Epitácio Pessoa, que concorria como novo
sucessor pelo PRM (Partido Republicano Mineiro).
Permanecendo ausente do Brasil durante toda a campanha, devido à sua atuação na Conferência de
Paz da França, Epitácio venceu Rui Barbosa no pleito realizado em abril de 1919 e retornou ao Brasil em
julho para assumir a presidência da República.
Apesar da derrota, o candidato oposicionista conseguiu atingir cerca de um terço dos votos, sem
nenhum apoio da máquina eleitoral, inclusive conquistando a vitória no Distrito Federal.
Mesmo com o acordo de apoio conseguido com a Política dos Governadores, e o controle estabelecido
por São Paulo e Minas Gerais no revezamento de poder a partir da década de 1920, estados com uma
participação política e econômica considerada mediana resolveram interferir para tentar acabar com a
hegemonia da política do “Café com Leite”.
Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia se uniram nas eleições presidenciais de 1922,
lançando um movimento político de oposição - a Reação Republicana - que lançou o nome do fluminense
Nilo Peçanha contra o candidato oficial, o mineiro Artur Bernardes.
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Tropa ligeira, que não transporta artilharia nem bagagem.
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A chapa oposicionista defendia a maior independência do Poder Legislativo frente ao Executivo, o
fortalecimento das Forças Armadas e alguns direitos sociais do proletariado urbano. Todas essas
propostas eram apresentadas num discurso liberal de defesa da regeneração da República brasileira.
O movimento contou com a adesão de diversos militares descontentes com o presidente Epitácio
Pessoa, que nomeara um civil para a chefia do Ministério da Guerra. A Reação Republicana conseguiu,
em uma estratégia praticamente inédita na história brasileira, desenvolver uma campanha baseada em
comícios populares nos maiores centros do país. O mais importante deles foi o comício na capital federal,
quando Nilo Peçanha foi ovacionado pelas massas.
Em outubro de 1921, os ânimos dos militares foram exaltados com a publicação de cartas no Jornal
Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, assinadas com o nome do candidato Artur Bernardes e endereçadas
ao líder político mineiro Raul Soares. Em seu conteúdo, criticavam a conduta do ex-presidente e Marechal
do Exército, Hermes da Fonseca, por ocasião de um jantar promovido no Clube Militar.
As cartas puseram lenha na fogueira da disputa, deixando os militares extremamente insatisfeitos com
o candidato. Pouco antes da data da eleição dois falsários assumiram a autoria das cartas e comprovaram
tratar-se de uma armação. A conspiração não teve maiores consequências, e as eleições puderam
transcorrer normalmente em março de 1922.
Como era de se esperar, a vitória foi de Artur Bernardes. O problema foi que nem a Reação
Republicana nem os militares aceitaram o resultado. Como o governo se manteve inflexível e não aceitou
a proposta da oposição de rever o resultado eleitoral, o confronto se tornou apenas uma questão de
tempo.

O Tenentismo48
Após a Primeira Guerra Mundial, vários oficiais jovens de baixa patente, principalmente tenentes (e
daí deriva o nome do movimento tenentista) sentiam-se insatisfeitos. Os soldos permaneciam baixos e o
governo não fazia menção de aumentá-los. Havia um grande número deles, e as promoções eram muito
lentas. Um segundo-tenente podia demorar dez anos para alcançar a patente de capitão.
Sua reinvindicações oficiais foram contra a desorganização e o abandono em que se encontrava o
exército brasileiro. Com o tempo os líderes do movimento chegaram à conclusão de que os problemas
que enfrentavam não estavam apenas no exército, mas também na política.
Com a intenção de fazer as mudanças acontecerem, os revoltosos pressionaram o governo, que não
se prontificou a atendê-los, o que gerou movimentos de tentativa de tomada de poder por meio dos
militares. Esse programa conquistou ampla simpatia da opinião pública urbana, mas não houve
mobilização popular e nem mesmo engajamento de dissidências oligárquicas à revolução (com exceção
do Rio Grande do Sul), daí o seu isolamento e o seu fracasso.

Os 18 do Forte
Como citado anteriormente, a vitória de Artur Bernardes em março de 1922 não agradou os setores
oposicionistas. Durante o período em que aguardava para assumir a posse, que acontecia no dia 15 de
novembro, houveram diversos protestos contra o mineiro.
Em junho, o governo federal interveio durante a sucessão estadual em Pernambuco, fato que foi
extremamente criticado por Hermes da Fonseca. O presidente Epitácio Pessoa, que ainda exercia o
poder, mandou prender o ex-presidente e ordenou o fechamento do Clube Militar em 2 de julho.
As ações de Epitácio geraram uma crise que culminou em uma série de levantes na madrugada de 5
de julho. Na capital federal, levantaram-se o forte de Copacabana, guarnições da Vila Militar, o forte do
Vigia, a Escola Militar do Realengo e o 1° Batalhão de Engenharia; em Niterói, membros da Marinha e do
Exército; em Mato Grosso, a 1ª Circunscrição Militar, comandada pelo general Clodoaldo da Fonseca, tio
do marechal Hermes. No Rio de Janeiro, o movimento foi comandado pelos "tenentes", uma vez que a
maioria da alta oficialidade se recusou a participar do levante.
Os rebeldes localizados no Forte de Copacabana passaram a disparar seus canhões contra diversos
redutos do Exército, forçando inclusive o comando militar a abandonar o Ministério da Guerra. As forças
legais revidaram, e o forte sofreu sério bombardeio.
Os revoltosos continuaram sua resistência até a tarde de 6 de julho, quando resolveram abandonar o
Forte e marchar pela Avenida Atlântica, indo de encontro às forças do governo que enfrentavam.
Em uma troca de tiros com as forças oficiais, morreram quase todos os revoltosos, que ficaram
conhecidos como “Os 18 do Forte de Copacabana”. Apesar do nome atribuído ao grupo, as fontes de
informação da época não são exatas, com vários jornais divulgando números diferentes. Os únicos
sobreviventes foram os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes, com graves ferimentos.

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A Revolta de 192449
Os participantes das Revoltas de 1922 foram julgados e punidos em dezembro de 1923, acusados de
tentar promover um golpe de Estado. Novamente o exército teve suas relações com o governo federal
agravadas, com uma tensão crescente que gerou uma nova revolta militar, novamente na madrugada,
em 5 de julho de 1924 em São Paulo, articulada pelo general reformado Isidoro Dias Lopes, pelo major
Miguel Costa, comandante do Regimento de Cavalaria da Força Pública do estado, e pelo tenente
Joaquim Távora, este último morto durante os combates. Tiveram ainda participação destacada os
tenentes Juarez Távora, Eduardo Gomes, João Cabanas, Filinto Müller e Newton Estillac Leal.
O objetivo do movimento era depor o presidente Artur Bernardes, cujo governo transcorria, desde o
início, sob estado de sítio permanente e sob vigência da censura à imprensa.
Entre as primeiras ações dos revoltosos, ganhou prioridade a ocupação de pontos estratégicos, como
as estações da Luz, da Estrada de Ferro Sorocabana e do Brás, além dos quartéis da Força Pública,
entre outros.
Logo após a ocupação, no dia 8 de julho o presidente de São Paulo, Carlos de Campos, deixou o
palácio dos Campos Elíseos, sede do governo paulista na época. No dia seguinte, os rebeldes instalaram
um governo provisório chefiado pessoalmente pelo general Isidoro. O ato foi respondido com um intenso
bombardeio das tropas legalistas sobre a cidade, principalmente em bairros operários de São Paulo na
região da zona leste. Os bairros da Mooca, Brás, Belém e Cambuci foram os mais atingidos pelo
bombardeio.
A partir do dia 16, sucederam-se as tentativas de armistício. Um dos principais mediadores foi José
Carlos de Macedo Soares, membro da Associação Comercial de São Paulo. Num primeiro momento, o
general Isidoro condicionou a assinatura de um acordo à entrega do poder a um governo federal provisório
e à convocação de uma Assembleia Constituinte. A negativa do governo federal, somada às
consequências do bombardeio da cidade, reduziu as exigências dos revoltosos à concessão de uma
anistia ampla aos revolucionários em 1922 e 1924. Entretanto, nem essa reivindicação foi atendida.
Como as exigências dos revoltosos não foram atendidas e a pressão do governo aumentava, a solução
foi mudar a estratégia. Em 27 de julho os revoltosos abandonaram a cidade, indo em direção a Bauru, no
interior do Estado. O deslocamento foi facilitado graças a eclosão de diversas revoltas no interior, com a
tomada de prefeituras.
Àquela altura, já haviam eclodido rebeliões militares no Amazonas, em Sergipe e em Mato Grosso em
apoio ao levante de São Paulo, mas os revoltosos paulistas desconheciam tais acontecimentos.
Em outubro, enquanto os paulistas combatiam em território paranaense, tropas sediadas no Rio
Grande do Sul iniciaram um levante, associadas a líderes gaúchos contrários à situação estadual. As
forças rebeladas juntaram-se aos paulistas em Foz do Iguaçu, no Paraná, no mês de abril de 1925.
Formou-se assim o contingente que deu início à marcha da Coluna Prestes.

A Coluna Prestes
Enquanto alguns militares se rebelavam em São Paulo, Luís Carlos Prestes, também militar,
organizava outro grupo no Rio Grande do Sul. Em abril de 1925, as duas frentes de oposição, a Paulista
liderada por Miguel Costa, e a Gaúcha, por Prestes, uniram-se em Foz do Iguaçu e partiram para uma
caminhada pelo Brasil.
Sempre vigiados por soldados do governo, os revoltosos evitavam confrontos diretos com as tropas,
por meio de táticas de guerrilha.
Por meio de comícios e manifestos, a Coluna denunciava à população a situação política e social do
país. Num primeiro momento, não houve muitos resultados, porém o movimento ajudou a balançar as
bases já enfraquecidas do sistema oligárquico e a preparar caminho para a Revolução de 1930.
A Coluna Prestes durou 2 anos e 3 meses, percorrendo cerca de 25 mil quilômetros através de treze
estados do Brasil. Estima-se que a Coluna tenha enfrentado mais de 50 combates contra as tropas
governistas, sem sofrer derrotas.
A passagem da Coluna Prestes, gerava reações diversas na população. Como forma de desmoralizar
o movimento, o governo condenava os rebeldes e associavam suas ações a assassinos e bandidos.
Iniciando a marcha, a coluna concluiu a travessia do rio Paraná em fins de abril de 1925 e adentrou no
Paraguai com a intenção de chegar a Mato Grosso. Posteriormente percorreu Goiás, entrou em Minas
Gerais e retornou a Goiás.
Após a passagem por Goiás, a Coluna partiu para o Nordeste, chegando em novembro ao Maranhão,
ocasião em que o tenente-coronel Paulo Krüger foi preso e enviado a São Luís. Em dezembro, penetrou

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no Piauí e travou em Teresina sério combate com as forças do governo. Rumando então para o Ceará, a
coluna teve outra baixa importante: na serra de Ibiapina, Juarez Távora foi capturado.
Em janeiro de 1926, a coluna atravessou o Ceará, chegou ao Rio Grande do Norte e, em fevereiro,
invadiu a Paraíba, enfrentando na vila de Piancó séria resistência comandada pelo padre Aristides
Ferreira da Cruz, líder político local. Após ferrenhos combates, a vila acabou ocupada pelos
revolucionários.
Continuando rumo ao sul, a coluna atravessou Pernambuco e Bahia e retornou para Minas Gerais,
pelo norte do Estado. Encontrando vigorosa reação legalista e precisando remuniciar-se. O comando da
coluna decidiu interromper a marcha para o sul e, em manobra conhecida como "laço húngaro50", retornar
ao Nordeste através da Bahia. Cruzou o Piauí, alcançou Goiás e finalmente chegou de volta a Mato
Grosso em outubro de 1926.
Àquela altura, o estado-maior revolucionário decidiu enviar Lourenço Moreira Lima e Djalma Dutra à
Argentina, para consultar o general Isidoro Dias Lopes quanto ao futuro da coluna: continuar a luta ou
rumar para o exílio.
Entre fevereiro e março de 1927, afinal, após uma penosa travessia do Pantanal, parte da coluna,
comandada por Siqueira Campos, chegou ao Paraguai, enquanto o restante ingressou na Bolívia, onde
encontrou Lourenço Moreira Lima, que retornava da Argentina. Tendo em vista as condições precárias
da coluna e as instruções de Isidoro, os revolucionários decidiram exilar-se.
Durante o tempo em que passou na Bolívia, Prestes dedicou-se a leituras em busca de explicações
para a situação de atraso e miséria que presenciara em sua marcha pelo interior brasileiro. Em dezembro
de 1927 foi procurado por Astrojildo Pereira, secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, que fora
incumbido de convidá-lo a firmar uma aliança entre "o proletariado revolucionário, sob a influência do
PCB, e as massas populares, especialmente as massas camponesas, sob a influência da coluna e de
seu comandante".
Prestes, contudo, não aceitou essa aliança. Foi nesse encontro que obteve as primeiras informações
sobre a Revolução Russa, o movimento comunista e a União Soviética. A seguir, mudou-se para a
Argentina, onde leu Marx e Lênin.

A defesa do café
Os acordos para a manutenção do preço do café elevaram a dívida brasileira, principalmente após as
emissões de moeda realizadas entre 1921 e 1923 por Epitácio Pessoa, o que gerou uma desvalorização
do câmbio e o aumento da inflação. Artur Bernardes preocupou-se em saldar a dívida externa brasileira,
retomando o pagamento dos juros e da dívida principal a partir do ano de 1927.
Com o objetivo de avaliar a situação financeira do Brasil, em fins de 1923 uma missão financeira
inglesa, chefiada por Edwin Samuel Montagu chegou ao país. Após os estudos, a comissão apresentou
um relatório à presidência da República, em que apresentava os riscos decorrentes da emissão
exagerada de moeda e o consequente receio dos credores internacionais.
A defesa dos preços do café representava um gasto entendido pelo governo federal como secundário
nesse momento, mesmo em meio às críticas de abandono proferidas pelo setor cafeeiro. A solução foi
passar a responsabilidade da defesa do café para São Paulo. Em dezembro de 1924 foi criado o Instituto
de Defesa Permanente do Café, que possuía a função de regular a entrada do produto no Porto de Santos
e realizar compras do produto para evitar a desvalorização.

O governo de Washington Luís

Em 1926, mantendo a tradicional rotação presidencial entre São Paulo e Minas Gerais, o paulista
radicado Washington Luís foi indicado para a sucessão e saiu vencedor nas eleições de 1926. Seu
governo seguiu com relativa tranquilidade, até que em 1929 uma série de fatores, internos e externos,
mudaram de maneira drástica os rumos do Brasil.
No plano interno, a insatisfação das camadas urbanas, em especial da classe média, crescia cada vez
mais. A estrutura de governo baseada no poder das oligarquias, dos coronéis e da predominância dos
grandes proprietários e produtores de café da região de São Paulo não atendia as exigências e os anseios
de boa parte da população, que não fazia parte ou não era beneficiada pelo sistema de governo.
Em 1926 surgiu o Partido Democrático, de cunho liberal. O partido desponta como oposição ao PRP
(Partido Republicano Paulista), que repudiava o liberalismo na prática. Seus integrantes pertenciam a
uma faixa etária mais jovem em comparação aos republicanos, o que também contribuiu para agradar
boa parte da classe média insatisfeita com o PRP.

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Recebia esse nome devido ao percurso da manobra lembrar o desenho aplicado na platina dos uniformes dos oficiais de antigamente, o “laço húngaro”.

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Formado por prestigiados profissionais liberais e filhos de fazendeiros de café, o partido tinha como
pauta a reforma do sistema político, através da implantação do voto secreto, da representação de
minorias, a real divisão dos três poderes e a fiscalização das eleições pelo poder judiciário.

A Sucessão de Washington Luís


Voltando à política do Café-com-leite, em 1929 começava a campanha para a escolha do sucessor de
Washington Luís. Pela tradição, o apoio deveria ser dado a um candidato mineiro, já que o presidente
que estava no poder fora eleito por São Paulo.
Ao invés de apoiar um candidato mineiro, Washington Luís insistiu na candidatura do governador de
São Paulo, Júlio Prestes. A atitude do presidente gerou intensa insatisfação em Minas Gerais, e ajudou
a alavancar o Rio Grande do Sul no cenário político.
O governador mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, que esperava ser o indicado para a
sucessão presidencial, propôs o lançamento de um movimento de oposição para concorrer contra a
candidatura de Júlio Prestes. O apoio partiu de outros dois estados insatisfeitos com a situação política:
Rio Grande do Sul e Paraíba.
Do Rio Grande do Sul surgiu, após inúmeras discussões entre os três estados, o nome de Getúlio
Vargas – governador gaúcho eleito em 1927, que fora Ministro da Fazenda de Washington Luís – para
presidente, tendo como vice o nome do governador da Paraíba e sobrinho do ex-presidente Epitácio
Pessoa, o pernambucano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque.
Definidos os nomes, foi formada a Aliança Liberal, nome que definiu a campanha. O Partido
Democrático de São Paulo expressou seu apoio à candidatura de Getúlio Vargas, enquanto alguns
membros do Partido Republicano Mineiro resolveram apoiar Júlio Prestes.
A Aliança Liberal refletia os desejos das classes dominantes regionais que não estavam ligadas ao
café, buscando também atrair a classe média. Seu programa de governo defendia o fim dos esquemas
de valorização do café, a implantação de alguns benefícios aos trabalhadores, como a aposentadoria
(nem todos os setores possuíam), a lei de férias e a regulamentação do trabalho de mulheres e menores
de idade. Além disso, insistiam no tratamento com seriedade pelo poder público das questões sociais,
que Washington Luís afirmava serem “caso de polícia”. Um dos pontos marcantes da campanha da
Aliança Liberal foi a participação do proletariado.

Reflexos da Crise de 1929 no Brasil


No plano externo, a quebra da bolsa de valores de Nova York, seguida da crise que afetou grande
parte da economia mundial, também teve repercussões no Brasil.
O ano de 1929 rendeu uma excelente produção de café, tudo que os produtores não esperavam. A
colheita de quase 30 milhões de sacas na safra 1927-1928 representava aproximadamente o dobro da
produção dos anos anteriores. Esperava-se que, devido a alternância entre boas e más safras 1929
representasse uma colheita baixa, já que as três últimas safras haviam sido boas.
Aliada a ideia de uma safra baixa, estava a expectativa de lucros certos, garantidos pela Defesa
Permanente do Café, o que levou muitos produtores a contraírem empréstimos e aumentarem suas
lavouras.
A produção, ao contrário do esperado, graças às condições climáticas e a implantação de novas
técnicas agrícolas. O excesso do produto foi de encontro com a crise, que diminuiu o consumo, e
consequente o preço do café. O resultado foi um endividamento daqueles que apostaram em preços altos
e não quitaram suas dívidas.
Em busca de salvação para os negócios, o setor cafeeiro recorreu ao governo federal na busca de
perdão das dívidas e de novos financiamentos. O presidente, temendo perder a estabilidade cambial,
recusou-se a ajudar o setor, fator que foi explorado politicamente pela oposição.
Apesar do esforço em tentar combater o candidato de Washington Luís, a Aliança Liberal não foi capaz
de derrotar Júlio Prestes, que foi eleito presidente em 1º de Março de 1930.

A Revolução de 1930

Em 1º de março de 1930 Júlio Prestes foi eleito presidente do Brasil conquistando 1.091.709 votos,
contra 742.794 votos recebidos por Getúlio Vargas. Ambos os lados foram acusados de cometer fraudes
contra o sistema eleitoral, seja manipulando votos, seja impondo votos forçados através de violência e
ameaça.
A derrota Getúlio Vargas nas eleições de 1930 não significou o fim da Aliança Liberal e sua busca pelo
controle do poder executivo. Os chamados “tenentes civis” acreditavam que ainda poderiam conquistar o
poder através das armas.

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Buscando agir pelo caminho que o movimento tenentista havia tentado anos antes, os jovens políticos
buscaram fazer contato com militares rebeldes, que receberam a atitude com desconfiança. Entre os
motivos para o receio dos tenentes, estava o fato de que alguns nomes, como João Pessoa e Osvaldo
Aranha, estiveram envolvidos em perseguições, confrontos e condenações contra o grupo.
Porém, depois de conversas e desconfianças dos dois lados, os grupos chegaram a um acordo com a
adesão de nomes de destaque dos movimentos da década de 20, como Juarez Távora, João Alberto e
Miguel Costa. A grande exceção foi o nome de Luís Carlos Prestes, que em maio de 1930 declarou-se
abertamente como socialista revolucionário, e recusou-se a apoiar a disputa oligárquica.
Os preparativos para a tomada do poder não aconteceram da maneira esperada, deixando o
movimento conspiratório em uma situação de desvantagem. Porém, em 26 de julho de 1930 ocorreu um
fato que serviu de estopim para o movimento revolucionário: por volta das 17 horas, na confeitaria “Glória”,
em Recife, João Pessoa foi assassinado por João Duarte Dantas.
O crime, motivado tanto por disputas pessoais como por disputas públicas, foi utilizado como
justificativa para o movimento revolucionário, sendo explorado seu lado público, e transformado João
Pessoa em “mártir da revolução”.
A morte de João Pessoa foi extremamente explorada por seus aliados como elemento político para
concretizar os objetivos da revolução. Apesar de ter morrido no Nordeste e ser natural da região, o corpo
do presidente da Paraíba foi enterrado no Rio de Janeiro, então capital da República, fator que reuniu
uma enorme quantidade de pessoas para acompanhar o funeral. A morte de João Pessoa garantiu a
adesão de setores do exército que até então estavam relutantes em apoiar a causa dos revolucionários.
Feitos os preparativos, no dia 3 de outubro de 1930, nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul
e no Nordeste, estourou a revolução comandada por Getúlio Vargas e pelo tenente-coronel Góes
Monteiro. As ações foram rápidas e não encontraram uma resistência forte. No Nordeste, as operações
ficaram a cargo de Juarez Távora, que contando com a ajuda da população, conseguiu dominar
Pernambuco sem esforços.
Em virtude do maior peso político que os gaúchos detinham no movimento e sob pressão das forças
revolucionárias, a Junta finalmente decidiu transmitir o poder a Getúlio Vargas. Num gesto simbólico que
representou a tomada do poder, os revolucionários gaúchos, chegando ao Rio, amarraram seus cavalos
no Obelisco da avenida Rio Branco. Em 3 de novembro chegava ao fim a Primeira República.

Candidato(a), segue abaixo a lista completa dos presidentes da República Velha com a cronologia
correta:

- 1889-1891: Marechal Manuel Deodoro da Fonseca;


- 1891-1894: Floriano Vieira Peixoto;
- 1894-1898: Prudente José de Morais e Barros;
- 1898-1902: Manuel Ferraz de Campos Sales;
- 1902-1906: Francisco de Paula Rodrigues Alves;
- 1906-1909: Afonso Augusto Moreira Pena (morreu durante o mandato)
- 1909-1910: Nilo Procópio Peçanha (vice de Afonso Pena, assumiu em seu lugar);
- 1910-1914: Marechal Hermes da Fonseca;
- 1914-1918: Venceslau Brás Pereira Gomes;
- 1918-1919: Francisco de Paula Rodrigues Alves (eleito, morreu de gripe espanhola, sem ter assumido
o cargo);
- 1919: Delfim Moreira da Costa Ribeiro (vice de Rodrigues Alves, assumiu em seu lugar);
- 1919-1922: Epitácio da Silva Pessoa;
- 1922-1926: Artur da Silva Bernardes;
- 1926-1930: Washington Luís Pereira de Sousa (deposto pela Revolução de 1930);
- 1930: Júlio Prestes de Albuquerque (eleito presidente em 1930, não tomou posse, impedido pela
Revolução de 1930);
- 1930: Junta Militar Provisória: General Augusto Tasso Fragoso, General João de Deus Mena Barreto,
Almirante Isaías de Noronha.

Questões

01. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário – História – FCC) Seu Mundinho, todo esse tempo
combati o senhor. Fui eu quem mandou atirar em Aristóteles. Estava preparado para virar Ilhéus do
avesso. Os jagunços estavam de atalaia, prontos para obedecer. Os meus e os outros amigos, para
acabar com a eleição. Agora tudo acabou.(In: AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela)

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O texto descreve uma realidade que, na história do Brasil, identifica o
(A) tenentismo, que considerava o exército como a única força capaz de conduzir os destinos do povo.
(B) coronelismo, que se constituía em uma forma de o poder privado se manifestar por meio da política.
(C) mandonismo, criado com o objetivo de administrar os conflitos no interior das elites agrárias do
país.
(D) messianismo, entidade com poderes políticos capaz de subjugar a população por meio da força.
(E) integralismo, que consistia em uma forma de a oligarquia cafeeira demonstrar sua influência e
poder político.

02. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário – História – FCC) Para responder à questão, considere
o texto abaixo.
... A forma federativa deu ampla autonomia aos Estados, com a possibilidade de contrair empréstimos
externos, constituir forças militares próprias e uma justiça estadual.
[...] A representação na Câmara dos Deputados, proporcional ao número de habitantes dos Estados,
foi outro princípio aprovado...
[...] A aceitação resignada da candidatura Prudente de Moraes, que marcou o início da república civil
oligárquica, consolidada por Campos Sales, se deu em um momento difícil, quando Floriano dependia do
apoio regional [...].
(Adaptado de: FAUSTO, Boris. Pequenos ensaios de História da República (1889-1945). São Paulo: Cebrap, 1972, p. 2-4)

O principal mecanismo para a consolidação da república a que o texto se refere foi a


(A) política de “salvação nacional", desencadeada pelos militares ligados aos grandes fazendeiros
mineiros e paulistas com a finalidade de fortalecer o poder das oligarquias estaduais do sudeste.
(B) “campanha civilista" que defendia a regulamentação dos preços dos produtos de exportação e
garantia os empréstimos contraídos no exterior aos fazendeiros das grandes propriedades.
(C) “política dos governadores", que consistia na troca de apoio entre governo federal e governos
locais, com a finalidade de manter no poder os representantes dos grandes fazendeiros.
(D) política do “café-com-leite", que incentivava uma disputa acirrada entre os representantes dos
pequenos Estados e enfraquecia o poder dos fazendeiros paulistas e dos mineiros.
(E) política de “valorização do café" realizada pelos Estados contribuía para o enfraquecimento do
poder local e garantia a troca de favores entre os fazendeiros e o governo federal.

03. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário – História – FCC) Ao contrário do que sucedeu na
Capital da República, as primeiras manifestações do movimento operário em São Paulo surgiram já sob
a inspiração de ideologias revolucionárias ou classistas – o anarquismo e, em muito menor grau, o
socialismo reformista. As condições sócio-políticas tendiam a confirmar as ideologias negadoras da
organização vigente na sociedade aos olhos da marginalizada classe operária nascente, estrangeira em
sua grande maioria. (...) O anarquismo se converteria, entretanto, na principal corrente organizatória do
movimento operário, tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo.
(FAUSTO, Boris. Trabalho urbano e conflito social. São Paulo: s/data, p.60-62)

A corrente ideológica a que o texto se refere, e que dominou a cena do movimento operário brasileiro
durante a segunda década do século XX,
(A) pode ser tratada como um sistema de pensamento social visando a modificações fundamentais na
estrutura da sociedade com o objetivo de substituir a autoridade do Estado por alguma forma de
cooperação não governamental entre indivíduos livres.
(B) investe contra o capital e o Estado capitalista, pretendendo substitui-lo por uma livre associação
de produtores diretos, possuidores dos meios de produção e na organização do sindicato único como
meio de promover a emancipação das classes trabalhadoras.
(C) defende a coletivização dos meios de produção, a violência nas lutas operárias e dá ênfase ao
papel que os sindicatos desempenhariam na obra emancipadora dos trabalhadores e da sociedade, e na
luta operária para a conquista do Estado.
(D) argumenta que o sindicalismo operário deve ser o articulador da autogestão e um instrumento do
plano econômico e da unidade de produção, e que as diversas associações produtivas devem ser
coordenadas pelas federações sindicais ligadas ao Estado.
(E) inclina-se pelo caminho revolucionário ao sustentar a necessidade de realizar de imediato a tese
marxista segundo a qual o critério de distribuição de bens e serviços deveria ser determinada pelas
assembleias sindicais de cada Estado da Federação.

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04. (SEE/AC - Professor de Ciências Humanas – FUNCAB) Leia o texto.

“O São Francisco lá pra cima da Bahia


Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato
que dizia que o sertão ia alagar
O sertão vai virar mar, dá no coração
O medo que algum dia o mar também vire sertão.”
(Sobradinho. Sá e Guarabyra.)

A expressão “O sertão vai virar mar” está associada a uma personagem de um importante movimento
messiânico do início da República brasileira.
O personagem referido é:
(A) João Cândido.
(B) Beato José Maria.
(C) Antônio Conselheiro.
(D) Marcílio Dias.
(E) Barão de Drumond.

Gabarito

01.B / 02.C / 03.A / 04.C

Comentários

01. Resposta: B
Durante a República Velha os grandes fazendeiros(coronéis) impunham seu poder através de seus
exércitos particulares de jagunços. O voto era aberto e os eleitores que moravam nas grandes fazendas
eram forçados a votar no candidato do coronel.

02. Resposta: C
A política dos governadores foi um sistema político não oficial, idealizado e colocado em prática pelo
presidente Campos Sales (1898 – 1902), que consistia na troca de favores políticos entre o presidente da
República e os governadores dos estados. De acordo com esta política, o presidente da República não
interferia nas questões estaduais e, em troca, os governadores davam apoio político ao executivo federal.

03. Resposta: A
O anarquismo é o movimento político que defende a supressão de todas as formas de dominação e
opressão vigentes na sociedade moderna, dando lugar a uma comunidade mais fraterna e igualitária,
fruto de um esforço individual a partir de um árduo trabalho de conscientização. O anarquismo é
frequentemente apontado como uma ideologia negadora dos valores sociais e políticos prevalecentes no
mundo moderno como o estado laico, a lei, a ordem, a religião e a propriedade privada.

04. Resposta: C
Antônio Conselheiro foi o líder do arraial de canudos, no interior da Bahia, local em que ocorreu a
guerra de canudos, revolta de grande repercussão no período republicano.

A Era Vargas

Dentro das divisões históricas do período republicano, a “Era Vargas” é dividida em três intervalos
distintos:
1 - um período provisório, quando assume o governo após o movimento de 1930;
2 - um período constitucional, quando eleito após a promulgação da Constituição de 1934, e;
3 - um autoritário, com o golpe de 1937, que deu início ao período conhecido como Estado Novo.

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PERÍODO PROVISÓRIO

As Forças de oposição ao Regime Oligárquico


No decorrer das três primeiras décadas do século XX houveram uma série de manifestações operárias,
insatisfação dos setores urbanos e movimentos de rebeldia no interior do Exército (Tenentismo). Eram
forças de oposição ao regime oligárquico, mas que ainda não representavam ameaça à sua estabilidade.
Esse quadro sofreu uma grande modificação quando, no biênio 1921-30, a crise econômica e o
rompimento da política do café-com-leite por Washington Luís colocaram na oposição uma fração
importante das elites agrárias e oligárquicas. Os acontecimentos que se seguiram (formação da Aliança
Liberal, o golpe de 30) e a consequente ascensão de Vargas ao poder podem ser entendidos como o
resultado desse complexo movimento político.
Getúlio Vargas se apoiou em vários setores sociais liderados por frações das oligarquias descontentes
com o exclusivismo paulista sobre o poder republicano federal.

O Governo Provisório
Ao final da Revolução de 1930, com Washington Luís deposto e exilado, Getúlio Vargas foi empossado
como chefe do governo provisório. As medidas do novo governo tinham como objetivo básico promover
uma centralização política e administrativa que garantisse ao governo sediado no Rio de Janeiro o
controle efetivo do país. Em outras palavras, o federalismo da República Velha caía por terra.
Para atingir esse objetivo, foram nomeados interventores para governar os estados. Eram homens de
confiança, normalmente oriundos do Tenentismo, cuja tarefa era fazer cumprir em cada estado as
determinações do governo provisório.
Esse fato e o adiamento que Getúlio Vargas foi impondo à convocação de novas eleições
desencadearam reações de hostilidade ao seu governo, especialmente no Estado de São Paulo. As
eleições dariam ao país uma nova Constituição, um presidente eleito pela população e um governo com
legitimidade jurídica e política. Mas poderia também significar a volta ao poder dos derrotados na
Revolução de 30.

A Reação Paulista
A oligarquia paulista estava convencida da derrota que sofreu em 24 de outubro de 1930, mas não
admitia perder o controle do Executivo em “seu” próprio estado. A reação paulista começou com a não
aceitação do interventor indicado para São Paulo, o tenentista João Alberto. Às pressões pela indicação
de um interventor civil e paulista, se somou à reivindicação de eleições para a Constituinte. Essas teses
foram ganhando rapidamente simpatia popular.
As manifestações de rua começaram a ocorrer com o apoio de todas as forças políticas do Estado, até
por aquelas que tinham simpatizado com o movimento de 1930 (exemplo do Partido Democrático - PD).
Diante das pressões crescentes, Getúlio resolveu negociar com a oligarquia paulista, indicando um
interventor do próprio Estado. Isso foi interpretado como um sinal de fraqueza. Acreditando que poderiam
derrubar o governo federal, os oligarcas articularam com outros estados uma ação nesse sentido.
Manifestações de rua intensificaram-se em São Paulo. Numa delas, quatro jovens, Miragaia, Martins,
Dráusio e Camargo (MMDC) foram mortos e se transformaram em mártires da luta paulista em nome da
legalidade constitucional. Getúlio, por seu lado, aprovou outras “concessões”: elaborou o código eleitoral
(que previa o voto secreto e o voto feminino), mandou preparar o anteprojeto para a Constituição e marcou
as eleições para 1933.

A Revolução Constitucionalista de 1932


A oligarquia paulista, entretanto, não considerava as concessões suficientes. Baseada no apoio
popular que conseguira obter e contando com a adesão de outros estados, desencadeou em 9 de julho
de 1932, a chamada Revolução Constitucionalista.
Ela visava a derrubada do governo provisório e a aprovação imediata das medidas que Getúlio
protelava. Entretanto, o apoio esperado dos outros estados não ocorreu e, depois de três meses, a revolta
foi sufocada. Até hoje, o caráter e o significado da Revolução Constitucionalista de 1932 geram polêmicas.
De qualquer forma, é inegável que o movimento teve duas dimensões:
No plano mais aparente, predominaram as reivindicações para que o país retornasse à normalidade
política e jurídica, baseadas numa expressiva participação popular. Nesse sentido, alguns destacam que
o movimento foi um marco na luta pelo fortalecimento da cidadania no Brasil.
Num plano menos aparente, mas muito mais ativo, estava o rancor das elites paulistas, que viam no
movimento uma possibilidade de retomar o controle do poder político que lhe fora arrebatado em 1930.

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Se admitirmos que existiu uma revolução em 1930, o que aconteceu em São Paulo em 1932, foi a
tentativa de uma contra revolução, pois visava restaurar uma supremacia que durante mais de 30 anos
fez a nação orbitar em torno dos interesses da cafeicultura. Nesse sentido, o movimento era marcado por
um reacionarismo elitista, contrário ao limitado projeto modernizador de 1930.

As Leis Trabalhistas
Como forma de garantir o apoio popular, Getúlio Vargas consolidou um conjunto de leis que garantiam
direitos aos trabalhadores, destacando-se entre eles: salário mínimo, jornada de oito horas,
regulamentação do trabalho feminino e infantil, descanso remunerado (férias e finais de semana),
indenização por demissão, assistência médica, previdência social, entre outras.
A formalização dessa legislação trabalhista teve vários significados e implicações. Representou a
primeira modificação importante na maneira de o Estado enfrentar a questão social e definiu as regras a
partir das quais o mercado de trabalho e as relações trabalhistas poderiam se organizar. Garantiu, assim,
uma certa estabilidade ao crescimento econômico. Por fim, foi muito útil para obter o apoio dos
assalariados urbanos à política getulista.
Essa legislação denota a grande habilidade política de Getúlio. Ele apenas formalizou um conjunto de
conquistas que, em boa parte, já vigoravam nas relações de trabalho nos principais centros industriais.
Com isso, construiu a sua imagem como “Pai dos Pobres” e benfeitor dos trabalhadores.

O Controle Sindical
A aprovação da legislação sindical representou um grande avanço nas relações de trabalho no Brasil,
pois pela primeira vez o trabalhador obtinha individualmente amparo nas leis para resistir aos excessos
da exploração capitalista.
Por outro lado, paralelamente à sua implantação, o Estado definiu regras extremamente rígidas para
a organização dos sindicatos, entre as quais a que autorizava o seu funcionamento (Carta Sindical), as
que regulavam os recursos da entidade e as que davam ao governo direito de intervir nos sindicatos,
afastando diretorias se julgasse necessário. Mantinha, assim, os sindicatos sob um controle rigoroso.

PERÍODO CONSTITUCIONAL

Eleições Presidenciais de 1934


Uma vez promulgada a Constituição de 1934, a Assembleia Constituinte converteu-se em Congresso
Nacional e elegeu o presidente da República por via indireta: o próprio Getúlio. Começava o período
constitucional do governo Vargas.

O Governo Constitucional e a Polarização Ideológica


Durante esse período, simultaneamente à implantação do projeto político do governo, foram se
desenhando duas ideologias para o país: uma defendia um nacionalismo conservador, a outra, um
nacionalismo revolucionário.

- Nacionalismo conservador
Esse movimento contava com o apoio das classes médias urbanas, Igreja e setores do Exército. O
projeto que seus apoiadores tinham em mente decorria da leitura que eles faziam da história do país até
aquele momento.
Segundo os conservadores, o aspecto que marcava mais profundamente a formação histórica do país
e do seu povo era a tradição agrícola. Desde o descobrimento, toda a vida econômica, social e política
organizou-se em torno da agricultura. Todos os nossos valores morais, regras de convivência social,
costumes e tradições fincavam suas raízes no modo de vida rural.
Dessa forma, tudo o que ameaçava essa “tradição agrícola” (estímulos a outros setores da economia,
crescimento da indústria, expansão da urbanização e suas consequências, como a propagação de novos
valores, hábitos e costumes tipicamente urbanos) representava um atentado contra a integridade e o
caráter nacional, uma corrupção da nossa identidade como povo e nação.
O movimento se caracterizava como nacionalista e conservador por ser contrário a transformações
modernizadoras de origem externa (induzidas pela industrialização, vanguardas artísticas europeias,
etc.).
Para que a coerência com a nossa identidade histórica fosse mantida, os ideólogos do nacionalismo
conservador propunham o seguinte: os latifúndios (grandes propriedades rurais) deveriam ser divididos
em pequenas parcelas de terras a ser distribuídas. Assim, as famílias retornariam ao campo tornando o
Brasil uma grande comunidade de pequenos e prósperos proprietários.

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Podemos concluir a partir desse ideário, que eram antilatifundiários e antiindustrialistas. Na esfera
política, defendiam um regime autoritário de partido único.
Nesse contexto o maior defensor dessas ideias foi o movimento que recebeu o nome de Ação
Integralista Brasileira (AIB), cujo lema era Deus, Pátria e Família, que tinha como seu principal líder e
ideólogo Plínio Salgado.
Tradicionalmente, a AIB também é interpretada como uma manifestação do nazifascismo no Brasil,
pela semelhança entre os aspectos aparentes do integralismo e do nazifascismo: uniformes, tipo de
saudação, ultranacionalismo, feroz anticomunismo, tendências ditatoriais e apelo à violência eram traços
que aproximavam as duas ideologias.
Um exame mais atento, entretanto, mostra que eram projetos distintos. Enquanto o nazi fascismo era
apoiado pelo grande capital e buscava uma expansão econômico-industrial a qualquer custo, ao preço
de uma guerra mundial se necessário, os integralistas queriam voltar ao campo. Num certo sentido, o
projeto nazifascista era mais modernizante que o integralista. Assim, as semelhanças entre eles
escondiam propostas e projetos globais para a sociedade radicalmente distintos.

- Nacionalismo Revolucionário
Frações dos setores médios urbanos, sindicatos, associações de classe, profissionais liberais,
jornalistas e o Partido Comunista prestaram apoio a outro movimento político: o nacionalismo
revolucionário. Este defendia a industrialização do país, mas sem que isso implicasse subordinação e
dependência em relação às potências estrangeiras, como a Inglaterra e os Estados Unidos.
O nacionalismo revolucionário propunha uma reforma agrária como forma de melhorar as condições
de vida do trabalhador urbano e rural e potencializar o desenvolvimento industrial. Considerava que a
única maneira de realizar esses objetivos seria a implantação de um governo popular no Brasil. Esse
movimento deu origem à Aliança Nacional Libertadora, cujo presidente de honra era Luís Carlos Prestes,
então membro do Partido Comunista.

As Eleições de 1938
Contida a oposição de esquerda, o processo político evoluiu sem conflitos maiores até 1937. Nesse
ano, começaram a se desenhar as candidaturas para as eleições de 1938, destacando-se Armando Sales
Oliveira, paulista que articulava com outros estados sua eleição para presidente.
Getúlio Vargas, as oligarquias que lhe davam apoio e os militares herdeiros da tradição tenentista não
viam com bons olhos a possibilidade de retorno da oligarquia paulista ao poder. Uma vez mantido o
calendário eleitoral, isso parecia inevitável. Como forma de evitar que as eleições acontecessem, Getúlio
Vargas coloca em prática o famoso Plano Cohen.
Segundo as informações oficiais, forças de segurança do governo tinham descoberto um plano de
tomada do poder pelos comunistas. Muito bem elaborado, esse plano colocava em risco as instituições
democráticas do país.
Para evitar o perigo vermelho, Getúlio Vargas solicitou ao Congresso Nacional a aprovação do estado
de sítio, que suspendia as liberdades públicas e dava ao governo amplos poderes para combater a
subversão.

PERÍODO AUTORITÁRIO

A Decretação do Estado de Sítio e o Golpe de 1937


A fração oligárquica paulista hesitava em aprovar a medida, mas diante do clamor do Exército, das
classes médias e da Igreja, que temiam a escalada comunista, o Congresso autorizou a decretação do
estado de sítio. A seguir, com amplos poderes concentrados em suas mãos, Getúlio Vargas outorgou
uma nova Constituição ao país, implantando, por meio desse golpe o Estado Novo.

Estado Novo (1937-1945)51


A ditadura estabelecida por Getúlio Vargas durou oito anos, indo de 1937 a 1945. Embora Vargas
agisse habilidosamente com o intuito de aumentar o próprio poder, não foi somente sua atuação que
gerou o Estado Novo. Pelo menos três elementos convergiam para sua criação:

1 - A defesa de um Estado forte por parte dos cafeicultores, que dependiam dele para manter os preços
do café;

51
Adaptado de MOURA, José Carlos Pires. História do Brasil.

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2 - Os industriais, que seguiam a mesma linha de defesa dos cafeicultores, já que o crescimento das
indústrias dependia da proteção estatal;
3 - As oligarquias e classe média urbana, que assustavam-se com a expansão da esquerda e julgavam
que para “salvar a democracia” era necessário um governo forte.

Além disso Vargas tinha também o apoio dos militares, por alguns motivos:

- Por sua formação profissional, os militares possuíam uma visão hierarquizada do Estado, com
tendência a apoiar mais um regime autoritário do que um regime liberal;
- Os oficiais de tendência liberal haviam sido expurgados do exército por Vargas e pela dupla Góis
Monteiro-Gaspar Dutra52;
- Entre os oficiais do exército estava se consolidando o pensamento de que se deveria substituir a
política no exército pela política do exército. A política do exército naquele momento visava o próprio
fortalecimento, resultado atingido mais facilmente em uma ditadura.

Com todos esses fatores a seu favor, não houveram dificuldades para Getúlio instalar e manter por
oito anos a ditadura no país. Durante o período foi implacável o autoritarismo, a censura, a repressão
policial e política e a perseguição daqueles que fossem considerados inimigos do Estado.

Política econômica do Estado Novo53


Por meio de interventores, o governo passou a controlar a política dos estados. Paralelamente a eles,
foi criado em cada um dos estados um Departamento Administrativo, que era diretamente subordinado
ao Ministério da Justiça com membros nomeados pelo presidente da república.
Cada Departamento Administrativo estudava e aprovava as leis decretadas pelo interventor e
fiscalizava seus atos, orçamentos, empréstimos, entre outros. Dessa forma os programas estaduais
ficavam subordinados ao governo federal.
Na área federal foi criado o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP). Além de
centralizar a reforma administrativa, o Departamento tinha poderes para elaborar o orçamento dos órgãos
públicos e controlar a execução orçamentária deles.
Com a criação do DASP e do Conselho Nacional de Economia, não só a atuação administrativa e
econômica do governo passou a ser muito mais eficiente, como também aumentou consideravelmente o
poder do Estado e do presidente da república, agora diretamente envolvido na solução dos principais
problemas econômicos do país, inclusive com a criação de órgãos especializados: o instituto do Açúcar
e Álcool, o Instituto do Mate, Instituto do Pinho, etc.
Por meio dessas medidas, o governo conseguiu solucionar de maneira satisfatória os principais
problemas econômicos da época. A cafeicultura foi convenientemente defendida, a exportação agrícola
foi diversificada, a dívida externa foi congelada, a indústria cresceu rapidamente, a mineração de ferro e
carvão expandiu-se e a legislação trabalhista foi consolidada.
Com essas medidas, as elites enriqueceram, a classe média melhorou seu padrão de vida e o
operariado ganhou a proteção que lutou por anos para conseguir. Dessa forma, mesmo com a repressão
e perseguição política em seu regime, Vargas atingiu altos níveis de popularidade.
No período de 1937 a 1940, a ação econômica do Estado objetivava racionalizar e incentivar atividades
econômicas já existentes no Brasil. A partir de 1940, com a instalação de grandes empresas estatais, o
Estado alterou seu papel passando a ser um dos principais investidores do setor industrial.
Os investimentos estatais concentravam-se na indústria pesada, principalmente a siderurgia química,
mecânica pesada, metalurgia, mineração de ferro e geração de energia hidroelétrica. Esses eram setores
que exigiam grandes investimentos e garantiam retorno somente no longo prazo, o que não despertou o
interesse da burguesia brasileira.
Como saída, existiam duas opções para sua implantação: o investimento do capital estrangeiro ou o
investimento estatal. O segundo foi o escolhido. A iniciativa teve êxito graças a um pequeno número de
empresários e também do exército, que associava a indústria de base com a produção de armamentos,
entendendo-a como assunto de segurança nacional.
A maior participação do Estado na economia gerou a formação de novos órgãos oficiais de
coordenação e planejamento econômico, destacando-se:
CNP – Conselho Nacional do Petróleo (1938)
CNAEE – Conselho Nacional de Aguas e Energia Elétrica (1939)
CME – Coordenação da Mobilização Econômica (1942)
52
Ambos foram ministros da Guerra no período em que Vargas estava no poder. Monteiro (1934-1935). Dutra (1936-1945)
53
Referência: < http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-45/PoliticaAdministracao/DASP>

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CNPIC – Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial (1944)
CPE – Comissão de Planejamento Econômico (1944)

As principais empresas estatais criadas no período foram:


CSN – Companhia Siderúrgica Nacional (1940)
CVRD – Companhia Vale do Rio Doce (1942)
CNA – Companhia Nacional de Álcalis (1943)
FNM – Fábrica Nacional de Motores (1943)
CHESF – Companhia Hidroelétrica do São Francisco (1945)

Desse modo, apesar da desaceleração do crescimento industrial ocasionado pela Segunda Guerra
Mundial devido à dificuldade para importar equipamentos e matéria-prima, quando o Estado Novo se
encerrou em 1945, a indústria brasileira estava plenamente consolidada.

Características políticas do Estado Novo


Pode até parecer estranho, mas a ditadura estadonovista possuía uma constituição, que é uma
característica das ditaduras brasileiras, onde a constituição afirmava o poder absoluto do ditador.
A nova constituição foi apelidada de “Polaca”, elaborada por Francisco Campos, o mesmo responsável
por criar o AI-1 (Ato Institucional) em 1964, que deu origem à ditadura militar no Brasil. A constituição
“Polaca” era extremamente autoritária e concedia poderes praticamente ilimitados ao governo.
Em termos práticos, o governo do Estado Novo funcionou da seguinte maneira:
- O poder político concentrava-se todo nas mãos do presidente da república;
- O Congresso Nacional, as Assembleias Estaduais e as Câmaras Municipais foram fechadas;
- O sistema judiciário ficou subordinado ao poder executivo;
- Os Estados eram governados por interventores nomeados por Vargas, os quais, por sua vez,
nomeavam os prefeitos municipais;
- A Polícia Especial (PE) e as polícias estaduais adquiriram total liberdade de ação, prendendo,
torturando e assassinando qualquer pessoa suspeita de se opor ao governo;
- A propaganda pela imprensa e pelo rádio foi largamente usada pelo governo, por meio do
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).

Os partidos políticos foram fechados (até mesmo o Partido Integralista que mudou seu nome para
Associação Brasileira de Cultura.). Em 1938 os integralistas tentaram um golpe de governo que fracassou
em poucas horas. Seus principais líderes foram presos, inclusive Plínio Salgado, que foi exilado para
Portugal.
Nesse meio tempo, o DIP e a PE prosseguiam seu trabalho. Chefiado por Lourival Fontes, o DIP era
incansável tanto na censura quanto na propaganda, voltada para todos os setores da sociedade –
operários, estudantes, classe média, crianças e militares – abrangendo assuntos tão diversos quanto
siderurgia, carnaval e futebol.
Procurava-se assim, formar uma ideologia estadonovista que fosse aceita pelas diversas camadas
sociais e grupos profissionais e intelectuais. Cabia também ao DIP o preparo das gigantescas
manifestações operárias, particularmente no dia 1º de Maio, quando os trabalhadores, além de
comemorarem o Dia do Trabalho, prestavam uma homenagem a Vargas, apelidado de “o pai dos
pobres”54.

Leis trabalhistas no governo de Getúlio Vargas


Getúlio Vargas garantiu diversas mudanças em relação ao trabalho e ao trabalhador durante seu
governo. Decretou a organização da jornada de trabalho, instituiu o Ministério do Trabalho, criou a Lei de
Sindicalização e o salário mínimo em 1940.
As concessões garantidas por Getúlio criavam a imagem de Estado disciplinando ao mercado de
trabalho em benefício dos assalariados, porém também serviram para encobrir o caráter controlador do
Estado sobre os movimentos operários.
O relacionamento entre Getúlio e os trabalhadores era muito interessante, temperado pelos famosos
discursos do governante nos quais sempre começavam pela frase “trabalhadores do Brasil...”. Utilizando
um modelo de política populista, Vargas, de um lado, eliminava qualquer liderança operária que tentasse
uma atuação autônoma em relação ao governo, acusando-a de “comunista”, enquanto por outro lado,
concedia frequentes benefícios trabalhistas ao operariado.

54
Referência: < http://pessoal.educacional.com.br/up/50240001/1411397/12_TERC_7_HIST_265a326%20(1)-%20AULA%2075.pdf>

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Desse modo, por meio de uma inteligente mistura de propaganda, repressão e concessões, Getúlio
obteve um amplo apoio das camadas populares.

A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) entrou em vigor em 1943, durante a típica comemoração
do 1º de maio. Entre seus principais pontos estão:
- Regulamentação da jornada de trabalho – 8 horas diárias.
- Descanso de um dia semanal, remunerado.
- Regulamentação do trabalho e salário de menores.
- Obrigatoriedade de salário mínimo como base de salário.
- Direito a férias anuais.
- Obrigatoriedade de registro do contrato de trabalho na carteira do trabalhador.

As deliberações da CLT priorizaram em 1943 as relações do trabalhador urbano, praticamente


ignorando o trabalhador rural que ainda representava uma grande parcela da população. Segundo dados
do IBGE, em 1940 aproximadamente 70% da população brasileira estava na zona rural.
Essas pessoas não foram beneficiadas com medidas trabalhistas específicas, nem com políticas que
facilitassem o acesso à terra e à propriedade.
Para organizar os trabalhadores rurais, a partir da década de 1950 surgiram movimentos sociais como
as Ligas Camponesas, as Associações de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, até o mais estruturado
destes movimentos, o MST (Movimento dos Trabalhadores dos Trabalhadores Rurais Sem Terra),
nascido nos encontros da CPT- Comissão Pastoral da Terra, em 1985, no Paraná.
Enquanto isso, a PE continuava agindo: prendia pessoas, sendo que a maioria jamais foi julgada,
ficando apenas presas e sendo torturadas durante anos a fio.
Após o fim do Estado Novo foi formada uma comissão para investigar as barbaridades cometidas pela
polícia durante o período de ditadura, chamada de “Comissão Parlamentar de Inquérito dos Atos
Delituosos da Ditadura”. Mas os levantamentos feitos pela comissão em 1946 e 1947, eram quase sempre
abafados, fazendo-se o possível para que caíssem no esquecimento, por duas razões:

1 - A maioria dos torturadores e assassinos permaneciam na polícia depois que a PE havia sido extinta,
sendo apenas transferidos para outros órgãos e funções;
2 - Muitos civis e militares envolvidos nas torturas e assassinatos fizeram mais tarde rápida carreira,
chegando a ocupar postos importantes na administração e na política.

Também era comum durante o período a espionagem feita por militares e civis, que eram conhecidos
como “invisíveis”. Sua função poderia ser a de espiar alguém em específico ou fazer uma espionagem
generalizada em escolas, universidades, fábricas, estádios de futebol, transporte público, cinemas, locais
de lazer, unidades militares e repartições públicas. Formaram-se milhares de arquivos pessoais com
informações minuciosas sobre as pessoas, que seriam utilizadas novamente 19 anos após o fim do
Estado Novo, na Ditadura Militar.

Fim do Estado Novo


O início da Segunda Guerra Mundial em 1939, possibilitou algumas variações ao Brasil.
Permitiu ao governo de Vargas neutralidade para negociar tanto com os Aliados (Estados Unidos,
Inglaterra, Rússia...) como com o Eixo (Itália, Alemanha e Japão). Conseguiu financiamento dos Estados
Unidos para a construção da usina siderúrgica de Volta Redonda, a compra de armamentos alemães e
fornecimento de material bélico norte-americano.
Apesar da neutralidade de Getúlio, que esperava o desenrolar do conflito para determinar apoio ao
provável vencedor, em seu governo haviam grupos divididos e definidos sobre quem apoiar:
Oswaldo Aranha, que era ministro das Relações Exteriores era favorável aos Estados Unidos,
enquanto os generais Gaspar Dutra e Góis Monteiro eram favoráveis ao nazismo. Com a entrada dos
Estados Unidos na guerra em 1941 e o torpedeamento de vários navios mercantes brasileiros, o país
entra em guerra ao lado dos aliados em agosto de 1942.
Em 1944 foram mandados 25.000 soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para a Itália,
marcando a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
Mais do que a vitória contra as forças do Eixo na Europa, a Segunda Guerra Mundial teve um efeito
na política brasileira. Muitos dos que lutavam contra o Fascismo na Europa não aceitavam voltar para
casa e viver em um regime autoritário.

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O sentimento de revolta cresceu na população e muitas manifestações em prol da redemocratização
foram realizadas, mesmo com a forte repressão da polícia. Pressionado pelas reivindicações, em 1945
Vargas assinou um Ato Adicional que marcava eleições para o final daquele ano.
Foram formados vários partidos: UDN (União Democrática nacional), PSD (Partido Social
Democrático), PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), o PCB (Partido Comunista Brasileiro) foi legalizado,
além de outros menores.
Apesar dos protestos para o fim do Estado Novo, muitas pessoas queriam que a redemocratização
ocorresse com a continuação de Getúlio no poder. Daí vem o movimento conhecido como “Queremismo”,
que vem do slogan “Queremos Getúlio”.

Questões

01. (MPE/GO – Secretário auxiliar – MPE/2017) Sobre o Estado Novo de Getúlio Vargas, é incorreto
afirmar:
(A) que foi implantado por Getúlio Vargas sob a justificativa de conter uma nova ameaça de golpe
comunista no Brasil.
(B) que tomado por uma orientação socialista, o governo preocupava-se em obter o favor dos
trabalhadores por meio de concessões e leis de amparo ao trabalhador.
(C) financiava o amplo desenvolvimento do setor industrial brasileiro, ao realizar uma política de
industrialização por substituição de importações e com criação das indústrias de base.
(D) para dar ao novo regime uma aparência legal, Francisco Campos redigiu uma nova Constituição
inspirada nas constituições fascistas italiana e polonesa.
(E) adotou o chamado “Estado de Compromisso”, onde foram criados mecanismos de controle e vias
de negociação política responsáveis pelo surgimento de uma ampla frente de apoio a Getúlio Vargas.

02. (IPEM/RO – Agente de Atividades Administrativas – FUNCAB) O processo histórico da


formação do estado de Rondônia possui muitos capítulos importantes, com diferentes atores. Um dos
marcos nesse processo foi a criação do Território Federal do Guaporé por meio do Decreto-Lei nº 5.812,
de 13 de setembro de 1943. O Presidente da República que assinou o referido documento foi:
(A) Getúlio Vargas.
(B) Gaspar Dutra.
(C) Juscelino Kubitschek.
(D) Jânio Quadros.
(E) João Goulart.

03. (MPE/GO – Secretário Auxiliar – MPE/2017) Em 1945 chega ao fim o Estado Novo implantado
pelo presidente Getúlio Vargas. Entre as causas tivemos a(s)
(A) Revolução de 1945 realizada pelos sindicatos e apoiado pelo Partido Trabalhista Brasileiro daquela
época.
(B) Atuação do movimento estudantil, liderado pela UNE, que assumiu o poder apoiando o partido da
União Democrática Nacional.
(C) Pressões norte-americanas obrigando Getúlio Vargas a extinguir o Estado Novo e tornar o país
uma democracia.
(D) Adesão de Getúlio ao Fascismo, propiciando que ele implante no Brasil um regime semelhante
após 1945.
(E) Participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial ao lado das democracias, criando uma situação interna
contraditória, pois o país vivia, até aquele ano, uma ditadura.

04. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Assinale a opção correta a respeito do Estado Novo,
implantado pela Constituição de 1937.
(A) Comparada à Constituição de 1934, a nova carta apresentava como característica nítida a
descentralização do poder.
(B) O Plano Cohen serviu de pretexto para o reforço do autoritarismo.
(C) A Lei de Segurança Nacional, até hoje vigente, foi proposta após a instauração da nova carta.
(D) Plínio Salgado, líder da Ação Integralista Brasileira, foi um dos grandes beneficiados pelo novo
regime político.
(E) Imediatamente após a implantação do Estado Novo, Getúlio Vargas substituiu todos os
governadores de estado.

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05. (MPE/GO – Secretário Auxiliar – MPE/2017) “No dia 10 de novembro de 1937, tropas da polícia
militar cercavam o Congresso Nacional e impediram a entrada dos congressistas. O ministro da Guerra
– general Dutra – se opusera a que a operação fosse realizada por foças do Exército. À noite, Getúlio
anunciou uma nova fase política e a entrada em vigor de uma Carta constitucional, elaborada por
Francisco Campos” (trecho extraído do livro História do Brasil, de Boris Fausto). O período histórico
brasileiro narrado acima descreve o início:
(A) da Ditadura Militar
(B) da Política do Café com Leite
(C) do Tenentismo
(D) do Estado Novo
(E) da Revolta da Armada
Gabarito

01.B / 02.A / 03.E / 04.B / 05.D

Comentários
01. Resposta: B
Getúlio nunca escondeu sua simpatia pelo regime Fascista, e não pelo socialista. Seu governo teve
forte caráter populista, o que não deve ser confundido como um regime de cunho socialista. Vale lembrar
que apesar de sua simpatia pelos regimes fascistas, no período da Segunda Guerra, o Brasil ficou do
lado dos Aliados.

02. Resposta: A
Questão simples que não necessita de conhecimentos regionais (RO) para encontrar a questão
correta. É necessário apenas lembrar que durante do período de 1930 a 1945 Getúlio Vargas esteve no
poder. Em caráter provisório (1930-1934), em caráter legal (1934-1937) e em caráter inconstitucional
(1938 – 1945).

03. Resposta: E
O fato de o Brasil enviar seus soldados para lutar pelos estados que representavam a democracia na
2ª Guerra Mundial criou uma situação contraditória no país. Defendíamos a democracia lá fora e vivíamos
em uma ditadura aqui dentro. A mobilização popular contra essa situação ganhou força de modo que
Getúlio desistiu de seu governo permitindo eleições livres.

04. Resposta: B
Percebendo que não teria sucesso nas próximas eleições, Getúlio Vargas colocou em prática o Plano
Cohen. Sob o pretexto de que os comunistas tinham um plano para controlar o Congresso Nacional,
Vargas, para garantir a integridade do país toma para si a responsabilidade de “limpar” o Brasil do perigo
comunista. Com plenos poderes e encorado por uma nova Constituição, o Estado Novo nasce nesse
contexto.

05. Resposta: D
O golpe ocorrido em novembro de 1937 foi a forma que Getúlio Vargas encontrou para continuar no
poder, uma vez que não venceria as eleições que ocorreriam no ano seguinte. Esse movimento ocorreu
quando da aplicação do já citado Plano Cohen. O Estado Novo durou até o ano de 1945, quando o próprio
Getúlio convoca novas eleições.

República Populista – Ditadura Militar

República Populista

O Governo de Eurico Gaspar Dutra

O governo Dutra foi marcado internamente pela promulgação da nova Carta Constitucional, em 18 de
setembro de 1946. De caráter liberal e democrático, a Constituição de 1946 iria reger a vida do país por
mais duas décadas55.

55
http://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/governo-eurico-gaspar-dutra

. 121
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Em 18 de setembro de 1946 foi oficialmente promulgada a Constituição dos Estados Unidos do Brasil
e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, o que consagrou liberdades que existiam na
Constituição de 1934, mas haviam sido retiradas em 1937.

Alguns dos dispositivos regulados pela Constituição de 1946 foram:


- A igualdade de todos os cidadãos perante a lei;
- A liberdade de expressão, sem censura, fora em espetáculos e diversões públicas;
- Sigilo de correspondência inviolável;
- Liberdade de consciência, crença e exercício de quaisquer cultos religiosos;
- Liberdade de associação para fins lícitos;
- Casa como asilo do indivíduo torna-se inviolável;
- Prisão apenas em flagrante delito ou por ordem escrita de autoridade competente e a garantia ampla
de defesa do acusado;
- Fim da pena de morte;
- Os três poderes são definitivamente separados.

A separação dos três poderes visava delimitar a ação de cada um deles. Esta nova lei, na verdade foi
elaborada devido à reflexão sobre os anos em que Vargas ampliou as atribuições do Poder Executivo e
obteve controle sobre quase todas as ações do Estado. Fora isso, o mandato do presidente se
estabeleceu em 5 anos, sendo proibida a reeleição para cargos do Executivo56.
No que se referia às leis trabalhistas, a Constituição de 1946 manteve o princípio de cooperação dos
órgãos sindicais e diminuiu o controle dos mecanismos do Estado aos sindicatos e seus adeptos. Já no
que tocava à organização do processo eleitoral, a Carta de 1946 diluiu as bancadas profissionais de
Getúlio Vargas e aumentou a participação do voto das mulheres.
Sendo assim, a distribuição das cadeiras na Câmara dos Deputados foi alterada, aumentando-se as
vagas para Estados considerados “menores”. Porém, o Governo de Dutra feriu sua própria constituição,
que pregava o pluripartidarismo, ao iniciar uma cassação ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).
A Constituição de 1946 ficou em vigência até o Golpe Militar em 1964. Nessa ocasião, os militares
passaram a aplicar uma série de emendas para estabelecer as diretrizes do novo regime até ser
definitivamente suspensa pelos Atos Institucionais e pela Constituição de 196757.
Com o avanço da redemocratização, o movimento operário ganhou vigor, com um aumento
significativo no número de sindicalizados e a eclosão de várias greves no país. Para barrar o avanço do
movimento sindical, que contava com forte apoio dos comunistas, Dutra, ainda no início do governo e
antes da promulgação da nova Constituição, baixou um decreto proibindo o direito de greve.
No primeiro ano do governo Dutra, por conta de uma conjuntura internacional favorável à cooperação
entre países capitalistas e socialistas, a atuação dos comunistas, apesar das restrições, foi tolerada. As
mudanças ocorridas no cenário internacional a partir de 1947, com o dissolvimento da aliança entre os
Estados Unidos e a União Soviética transformaram a situação, levando ao início da Guerra Fria. Segundo
o presidente americano Harry Truman, as potência mundiais da época estavam divididas em dois
sistemas nitidamente contraditórios: o capitalista e o comunista. E a política externa americana voltou-se
para o combate ao comunismo.
No Brasil, as repercussões da Guerra Fria foram imediatas. No dia 7 de maio de 1947, após uma
batalha judicial, o PCB teve seu registro cassado. Nesse mesmo dia, o Ministério do Trabalho decretou a
intervenção em vários sindicatos e fechou a Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil criada pelo
movimento sindical em setembro de 1946 e não reconhecida oficialmente pelo governo.
A exclusão dos comunistas do sistema político partidário culminou em janeiro de 1948, com a cassação
dos mandatos de todos os parlamentares que haviam sido eleitos pelo PCB. Sob o impacto da cassação,
o PCB lançou um manifesto pregando a derrubada imediata do governo Dutra, considerado um governo
"antidemocrático", de "traição nacional" e "a serviço do imperialismo norte-americano"58.
A política econômica do governo Dutra foi guiada pelo plano SALTE (Saúde, Alimentação, Transporte
e Energia), programa com grande incentivo dado à pesquisa, refino e distribuição do petróleo. Por meio
dessas ações de controle, o governo Dutra conseguiu atingir uma média anual de crescimento econômico
de 6%.
Em relação à política externa, a aliança com os Estados Unidos foi reforçada. Em decorrência disso,
o Brasil foi um dos primeiros países ocidentais a romper relações com a União Soviética (durante a época

56
SOARES, L. M. SILVA. A dimensão pedagógica da ação ideológica de uma instituição cultural do período de 1955 a 1964.
http://tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1031/1/Silvia%20Leticia%20Marques%20Soares.pdf
57
https://unipdireito2015.files.wordpress.com/2015/11/sistema-eleitoral-e-jurisprudc3aancia.doc
58
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/artigos/DoisGovernos/CassacaoPC

. 122
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da Guerra Fria, o país manteve-se aliado aos estadunidenses). O Brasil tomou parte da fase inicial da
Organização das Nações Unidas (ONU) como membro não permanente, participando da aprovação do
Estado de Israel, em 1947, tendo Oswaldo Aranha como Presidente da Segunda Assembleia Geral da
ONU.
Em nível de integração internacional, a atuação brasileira se fez presente na montagem do Sistema
Interamericano, iniciada no Rio de Janeiro, em 1947, com a Conferência para a Manutenção da Paz e da
Segurança, em que as nações do continente assinaram o Tratado Internamericano de Assistência
Recíproca e, no ano seguinte, na Conferência de Bogotá, com a aprovação da criação da Organização
dos Estados Americanos (OEA). Em 1948, com o intuito de estabelecer um foro de defesa de interesses
econômicos comuns, os países latino-americanos criaram a Comissão Econômica para a América Latina
(CEPAL)59.
O governo Dutra pregava a não intervenção do Estado na economia e a liberdade de ação para o
capital estrangeiro. Sua política econômica fez crescer a inflação e a dívida externa.
O liberalismo econômico adotado pelo presidente Dutra, dando facilidade à livre importação de
mercadorias, teve como consequência o esgotamento das divisas do país; mais tarde, o governo teve de
modificar sua posição, restringindo algumas importações.
O período que abrange os anos de 1946 a 1964, é considerado pelos historiadores e cientistas sociais
como a primeira experiência de regime democrático no Brasil. O período de existência da República
Oligárquica ou República Velha (1889-1930) esteve longe de representar uma experiência
verdadeiramente democrática devido aos incontáveis vícios políticos mascarados por princípios de
legalidade jurídica prescritos nas leis60.
Não obstante, o presidente Eurico Gaspar Dutra praticou uma política governamental deliberadamente
autoritária a partir de medidas que desrespeitou flagrantemente a Constituição vigente.
Chegando em 1950, os brasileiros preparavam-se para uma nova eleição para presidente da
República. Mais uma vez, assim como em 1945, o cenário político nacional experimentava a carência de
líderes políticos nacionais. De tal forma, o PSD (Partido Social Democrático) ofereceu a candidatura do
incógnito mineiro Cristiano Machado e a UDN (União Democrática Nacional) apostou novamente no
brigadeiro Eduardo Gomes. O PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) por sua vez, chegava à frente lançando
o nome de Getúlio Vargas, que venceu com 48% dos votos válidos.

O governo democrático de Getúlio Vargas

Em 1950 Getúlio lança-se à presidência juntamente com Café Filho pelo PTB e PSP (Partido Social
Progressista). Com a fraca concorrência, é eleito presidente do Brasil, assumindo novamente o poder,
agora por vias democráticas, em 31 de janeiro de 1951.
De volta ao Palácio do Catete, Vargas adotou "uma fórmula nova e mais agressiva de nacionalismo
econômico”, tanto aos aspectos internos quanto aos externos dos problemas brasileiros. A fórmula do
nacionalismo radical propunha, como o próprio nome já diz, uma mudança radical na estrutura social e
econômica que vigorava, visto que a mesma era considerada exploradora pelos nacionalistas radicais.61
Após a década de 30, no primeiro governo de Vargas, começa-se a investir na “nacionalização dos
bens do subsolo” devido à presença de empresas estrangeiras. Um dos maiores incentivadores de tal
campanha foi um importante escritor brasileiro: Monteiro Lobato.
Ao voltar dos EUA, onde se encantara com a perspectiva de um país próspero para seus habitantes,
ele se tornou um grande articulador da conscientização popular através de palestras, artigos em jornais,
livros sobre o assunto e até cartas ao então presidente, Getúlio Vargas que, em 1939 cria o CNP –
Conselho Nacional de Petróleo – tornando o petróleo um recurso da União.
Mais tarde, no início da década de 50 a esquerda brasileira lança a campanha “O Petróleo é Nosso”
contra a tentativa dos chamados “entreguistas” de propugnar a exploração do petróleo brasileiro por
empresas ou países estrangeiros alegando que o país não possuía recursos nem técnica suficiente para
fazê-lo62.
Em resposta, Getúlio Vargas assina a Lei 2.004 de 1953, criando a Petrobras.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e o projeto de criação da Eletrobrás
também fazem parte da política nacionalista, industrialista e estatizante de novo governo de Getúlio.
Desde o início do seu mandato sofreu forte oposição, sem conseguir o apoio que precisava para
realizar reformas. Neste período Vargas entra em constantes atritos com empresas estrangeiras

59
http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/old/serie-estrangeira-old
60
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/governo-gaspar-dutra-1946-1951-democracia-e-fim-do-estado-novo.htm
61
SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco (1930-1964). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975
62
Federação da Agricultura do Estado do Paraná. http://www.sistemafaep.org.br/wp-content/uploads/2017/06/BI-1253.pdf

. 123
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acusadas de enviar excessivas remessas de lucro ao exterior. Em 1952 um decreto institui um limite de
10% para tais remessas.63
Em 1953 João Goulart foi nomeado para o ministério do Trabalho com o objetivo de criar uma política
trabalhista que aproximasse os trabalhadores do governo, aventando-se a possibilidade do aumento do
salário-mínimo em 100%. A campanha contra o governo voltou-se então contra Goulart.
Jango, como era conhecido, causava profundo descontentamento entre os militares que em 8 de
fevereiro de 1954 entregaram um manifesto ao ministério da Guerra (Manifesto dos Coronéis). Getúlio
pressionado e procurando conciliar os ânimos, aceitou demitir João Goulart.
Os ânimos contra Getúlio se acirraram e ele procurou mais do que nunca se amparar nos
trabalhadores, concedendo em 1º de maio de 1954 o aumento de 100% no salário-mínimo. A oposição
no congresso entra com um pedido de impeachment, porém sem sucesso.
Embora Vargas tivesse o apoio político do PTB, do PSD, dos militares nacionalistas, de segmentos da
burguesia, da elite agrária, dos sindicatos e de parte das massas urbanas, seu governo sofreu forte
oposição.
No meio político, o foco da oposição era a UDN. Para esse partido, "a indústria e a agricultura deveriam
desenvolver-se livremente, de acordo com as forças do mercado, além de valorizar o capital estrangeiro,
atribuindo-lhe o papel de suprir as dificuldades naturais do País.
A imprensa conservadora e particularmente o jornal Tribuna da Imprensa de Carlos Lacerda inicia uma
violenta campanha contra o governo. Em 5 de agosto de 1954, Lacerda sofre um atentado que matou o
major-aviador Rubens Florentino Vaz. O incidente teve amplas repercussões e resultou numa grave crise
política.64
As investigações demonstraram o envolvimento de Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de
Getúlio. Fortunato acabou sendo preso.
A pressão da oposição tornou-se mais intensa no Congresso e nos meios militares, exigia-se a
renúncia de Vargas. Cria-se um clima de tensão que culmina com o tiro que Vargas dá no coração na
madrugada de 24 de agosto de 1954.
Antes de suicidar-se escreveu uma Carta-Testamento, na realidade seu testamento político. Onde diz
coisas como: “Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios (…) Não querem
que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente. (…) Eu vos dei a minha vida.
Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da Eternidade
e saio da vida para entrar na História”.65

Governo Café Filho (1954-1955)

João Fernandes Campos Café Filho, ou simplesmente Café Filho, como era mais conhecido no meio
político, teve um curto mas agitado governo. Durante os poucos mais de 14 meses em que ocupou a
Presidência da República, Café Filho teve que conciliar os problemas econômicos herdados do governo
anterior com o acirramento político provocado pelo cenário aberto com a morte de Getúlio Vargas.

A sucessão presidencial
Em 1955, durante a disputa presidencial, o PSD, partido que Vargas fundara uma década antes, lançou
o nome de Juscelino Kubitscheck (JK) à Presidência da República. Na disputa para vice-presidente, que
na época ocorria em separado da corrida presidencial, a chapa apresentou o ex-ministro do Trabalho do
governo Vargas, João Goulart, do PTB, sigla pela qual o ex-presidente havia sido eleito em 1950.
Setores mais radicais da UDN, representados pelo jornalista Carlos Lacerda, receosos de que a vitória
de Juscelino Kubitscheck e Jango pudesse significar um retorno da política varguista, passaram a pedir
a impugnação da chapa. Lacerda chegou a declarar, na época, que "esse homem (JK) não pode se
candidatar; se candidatar não poderá ser eleito; se for eleito não poderá tomar posse; se tomar posse
não poderá governar".
A pressão da UDN para que Café Filho impedisse a posse dos novos eleitos intensificou-se logo após
a divulgação dos resultados oficiais, que davam a vitória à chapa PSD-PTB. De outro lado, entre os
militares, também surgiam divergências quanto ao resultado das urnas. A principal delas ocorreu quando
um coronel declarou-se contrário à posse de JK e Jango, numa clara insubordinação ao ministro da
Guerra de Café Filho, marechal Henrique Lott, que havia se posicionado a favor do resultado.66

63
https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=263288
64
http://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/estado-novo
65
http://www.culturabrasil.org/vargas.htm
66
Câmara Municipal de São Paulo. http://www.camara.sp.gov.br/memoria/wp-content/uploads/sites/20/2017/11/leg4_final_02.pdf

. 124
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Carlos Luz

A intenção de Lott em punir o coronel, entretanto, dependia de autorização do presidente da República,


que em meio a tantas pressões foi internado às pressas num hospital do Rio de Janeiro. Afastado das
atividades políticas, Café Filho foi substituído no dia 08 de novembro de 1955, pelo primeiro nome na
linha de sucessão, Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados.
Próximo à UDN, Carlos Luz decidiu não autorizar o marechal Lott a seguir em frente com a punição, o
que provocou sua saída do Ministério da Guerra.
A partir de então, Henrique Lott iniciou uma campanha contra o presidente em exercício, que terminou
na sua deposição, com apenas três dias de governo. Acompanhado de auxiliares civis e militares, Carlos
Luz refugiou-se no prédio da Marinha e, em seguida, partiu para a cidade de Santos, no litoral paulista.
Com a morte de Vargas, a internação de Café Filho e a deposição de Carlos Luz, o próximo na linha
de sucessão seria o vice-presidente do Senado, Nereu Ramos, que assumiu a Presidência da República
e reconduziu Lott ao cargo de ministro da Guerra.
Subitamente, Café Filho tentou reassumir o cargo, mas foi vetado por Henrique Lott e outros generais
que o apoiavam. Era acusado de conspirar contra a posse de JK e Jango. No dia 22 de novembro, o
Congresso Nacional aprovou o impedimento para que ele reassumisse a Presidência da República. Em
seu lugar, permaneceu o senador Nereu Ramos, que transmitiu, sob Estado de Sítio, o governo ao
presidente constitucionalmente eleito: Juscelino Kubitscheck, o "presidente bossa nova".67

Nereu de Oliveira Ramos

Nascido na cidade de Lages, em Santa Catarina, Nereu de Oliveira Ramos era advogado e assumiu a
presidência aos 67 anos. Em virtude do impedimento do Presidente Café Filho e do Presidente da Câmara
dos Deputados Carlos Luz, o Vice-Presidente do Senado Federal, assumiu a Presidência da República,
de 11/11/1955 a 31/01/1956.

Governo Juscelino Kubitschek (1956-1961)

Na eleição presidencial de 1955, o Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB) se aliaram, lançando como candidato Juscelino Kubitschek para presidente e João Goulart para
vice-presidente. A União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Democrata Cristão (PDC) disputaram
o pleito com Juarez Távora.

O Plano de Metas
O governo de Juscelino Kubitschek entrou para história do país como a gestão presidencial na qual se
registrou o mais expressivo crescimento da economia brasileira. Na área econômica, o lema do governo
foi "Cinquenta anos de progresso em cinco anos de governo".
Para cumprir com esse objetivo, o governo federal elaborou o Plano de Metas, que previa um acelerado
crescimento econômico a partir da expansão do setor industrial, com investimentos na produção de aço,
alumínio, metais não ferrosos, cimento, álcalis, papel e celulose, borracha, construção naval, maquinaria
pesada e equipamento elétrico.
O Plano de Metas teve pleno êxito, pois no transcurso da gestão governamental a economia brasileira
registrou taxas de crescimento da produção industrial (principalmente na área de bens de capital) em
torno de 80%.

A construção de Brasília
A ideia de estabelecer a capital do Brasil no interior do país nasceu ainda no século XVIII, algumas
décadas após Rio de Janeiro tornar-se o centro administrativo do país, título que até então pertencia a
Salvador. Os inconfidentes mineiros queriam que a capital da república, caso seu plano de separação
funcionasse, fosse a cidade de São João del Rey-MG. Mesmo com a independência do Brasil em 1822,
a capital permaneceu no Rio.
Já em meados do século XIX, o historiador Francisco Adolfo de Varnhagem reiniciou a luta pela
transferência, propondo que uma nova capital fosse construída na região onde hoje fica a cidade de
Planaltina-GO.
Após a Proclamação da República, a ideia de transferir a capital brasileira voltou a ser tema de debate,
principalmente pelos problemas sanitários e as epidemias de Febre Amarela que assolavam o Rio de

67
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/governo-cafe-filho-1954-1955-os-14-meses-do-vice-de-vargas.htm

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Janeiro durante o verão, e pela posição estratégica em caso de guerra, já que o acesso a uma capital no
interior do território brasileiro seria dificultado para os inimigos.
Os constituintes de 1891 estabeleceram nas Disposições Transitórias, essa determinação que, não
tendo sido executada em toda a Velha República, foi renovada na constituição promulgada em 1934.
Igualmente a carta de 1946 conservou aquele propósito, determinando a nomeação, pelo presidente da
República, de uma comissão de técnicos que visassem estudos localizando, no Planalto Central, uma
região onde fosse demarcada a nova capital.
Em maio de 1892, o governo Floriano Peixoto criou a Comissão Exploradora do Planalto Central e
entregou a chefia a Louis Ferdinand Cruls, astrônomo e geógrafo belga radicado no Rio de Janeiro desde
1874. Essa comissão tinha como objetivo, conforme disposto na constituição, proceder à exploração do
planalto central da república e à consequente demarcação da área a ser ocupada pela futura capital.68
Diversos problemas, entre eles a questão logística, impediram a construção da nova capital federal,
pois a dificuldade nos transportes e também no acesso ao Planalto Central tornavam a ideia inviável.
Ao assumir a presidência da República, Juscelino Kubitschek, logo após a sua posse, em Janeiro de
1956, afirmou o seu empenho “de fazer descer do plano dos sonhos a realidade de Brasília”.
Apresentando o projeto ao congresso como um fato consumado, em setembro do mesmo ano, foi
aprovada a lei nº 2.874 que criou a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (vulgarizada pela sigla
NOVA-CAP). As obras se iniciaram em Fevereiro de 1957, com apenas 3 mil trabalhadores – batizados
de “candangos”.
O arquiteto Oscar Niemeyer foi escolhido para a chefia do Departamento de Urbanística e Arquitetura,
recusando-se a traçar os planos urbanísticos de Brasília, insistindo na necessidade de um concurso para
a escolha do plano-piloto, aceito em março de 1957.

Desenvolvimento e dependência externa


A prioridade dada pelo governo ao crescimento e desenvolvimento econômico do país recebeu apoio
de importantes setores da sociedade, incluindo os militares, os empresários e sindicatos trabalhistas. O
acelerado processo de industrialização registrado no período, porém, não deixou de acarretar uma série
de problemas de longo prazo para a econômica brasileira.
O governo realizava investimentos no setor industrial a partir da emissão monetária e da abertura da
economia ao capital estrangeiro. A emissão monetária (ou emissão de papel moeda) ocasionou um
agravamento do processo inflacionário, enquanto que a abertura da economia ao capital estrangeiro
gerou uma progressiva desnacionalização econômica, porque as empresas estrangeiras (as chamadas
multinacionais) passaram a controlar setores industriais estratégicos da economia nacional.
O controle estrangeiro sobre a economia brasileira era preponderante nas indústrias automobilísticas,
de cigarros, farmacêutica e mecânica. Em pouco tempo, as multinacionais começaram a remeter grandes
remessas de lucros (muitas vezes superiores aos investimentos por elas realizados) para seus países de
origem. Esse tipo de procedimento era ilegal, mas as multinacionais burlavam as próprias leis locais.
Portanto, se por um lado o Plano de Metas alcançou os resultados esperados, por outro, foi
responsável pela consolidação de um capitalismo extremamente dependente que sofreu muitas críticas
e acirrou o debate em torno da política desenvolvimentista.

Denúncias da oposição
A gestão de Juscelino Kubitschek não esteve a salvo de críticas dos setores oposicionistas. No
Congresso Nacional, a oposição política ao governo de JK vinha da UDN. A oposição ganhou maior força
no momento em que as crescentes dificuldades financeiras e inflacionárias (decorrentes principalmente
dos gastos com a construção de Brasília) fragilizaram o governo federal.
A UDN fazia um tipo de oposição ao governo baseada na denúncia de escândalos de corrupção e uso
indevido do dinheiro público. A construção de Brasília foi o principal alvo das críticas da oposição. No
entanto, a ação de setores oposicionistas não prejudicou seriamente a estabilidade governamental na
gestão de JK.69

Governabilidade e sucessão presidencial


Em comparação com os governos democráticos que antecederam e sucederam a gestão de JK na
presidência da República, o mandato presidencial de Juscelino apresenta o melhor desempenho no que
se refere à estabilidade política.
A aliança entre o PSD e o PTB garantiu ao Executivo Federal uma base parlamentar de sustentação
e apoio político que explica os êxitos da aprovação de programas e projetos governamentais. O PSD era
68
http://blogs.correiobraziliense.com.br/candangando/missao-cruls-exaltava-fartura-de-agua-na-nova-capital/
69
http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=217

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a força dominante no Congresso Nacional, pois possuía o maior número de parlamentares e o maior
número de ministros no governo. Era considerado um partido conservador, porque representava
interesses de setores agrários (latifundiários), da burocracia estatal e da burguesia comercial e industrial.
O PTB, ao contrário, reunia lideranças sindicais representantes dos trabalhadores urbanos mais
organizados e setores da burguesia industrial. O êxito da aliança entre os dois partidos deu-se ao fato de
que ambos evitaram radicalizar suas respectivas posições políticas, ou seja, conservadorismo e
reformismo radicais foram abandonados.
Na sucessão presidencial de 1960, o quadro eleitoral apresentou a seguinte configuração: a UDN
lançou Jânio Quadros como candidato; o PTB com o apoio do PSB apresentou como candidato o
marechal Henrique Teixeira Lott; e o PSP concorreu com Adhemar de Barros.
A vitória coube a Jânio Quadros, que obteve expressiva votação. Naquela época, as eleições para
presidente e vice-presidente ocorriam separadamente, ou seja, as candidaturas eram independentes.
Assim, o candidato da UDN a vice-presidente era Milton Campos, mas quem venceu foi o candidato do
PTB, João Goulart. Desse modo, ele iniciou seu segundo mandato como vice-presidente.70

Governo Jânio Quadros (1961)

A gestão de Jânio Quadros na presidência da República foi breve, duraram sete meses e encerrou-se
com a renúncia. Neste curto período, Jânio Quadros praticou uma política econômica e uma política
externa que desagradou profundamente os políticos que o apoiavam, setores das Forças Armadas e
outros segmentos sociais.
A renúncia de Jânio Quadros desencadeou uma crise institucional sem precedentes na história
republicana do país, porque a posse do vice-presidente João Goulart não foi aceita pelos ministros
militares e pelas classes dominantes.

A crise política
O governo de Jânio Quadros perdeu sua base de apoio político e social a partir do momento em que
adotou uma política econômica austera e uma política externa independente. Na área econômica, o
governo se deparou com uma crise financeira aguda devido a intensa inflação, déficit da balança
comercial e crescimento da dívida externa.
O governo adotou medidas drásticas, restringindo o crédito, congelando os salários e incentivando as
exportações. Mas foi na área da política externa que o presidente acirrou os ânimos da oposição ao seu
governo.
Nomeou para o ministério das Relações Exteriores Afonso Arinos, que se encarregou de alterar
radicalmente os rumos da política externa brasileira. O Brasil começou a se aproximar dos países
socialistas. O governo brasileiro restabeleceu relações diplomáticas com a União Soviética (URSS).
As atitudes menores também tiveram grande impacto, como as condecorações oferecidas
pessoalmente por Jânio ao guerrilheiro revolucionário Ernesto "Che" Guevara (condecorado com a Ordem
do Cruzeiro do Sul) e ao cosmonauta soviético Yuri Gagarin, além da vinda ao Brasil do ditador cubano
Fidel Castro71. Apresentando assim indícios de alinhamento aos governos socialistas do período.

Independência e isolamento
De acordo com estudiosos do período, o presidente Jânio Quadros esperava que a política externa de
seu governo se traduzisse na ampliação do mercado consumidor externo dos produtos brasileiros por
meio de acordos diplomáticos e comerciais.
Porém, a condução da política externa independente desagradou o governo norte-americano e,
internamente, recebeu pesadas críticas do partido a que Jânio estava vinculado, a UDN, sofrendo também
uma forte oposição das elites conservadoras e dos militares.
Ao completar sete meses de mandato presidencial, o governo de Jânio Quadros ficou isolado política
e socialmente. Renunciou a 25 de agosto de 1961.

Política teatral
Especula-se que a renúncia foi mais um dos atos espetaculares característicos do estilo de Jânio. Com
ela, o presidente pretenderia causar uma grande comoção popular, e o Congresso seria forçado a pedir
seu retorno ao governo, o que lhe daria grandes poderes sobre o Legislativo. Não foi o que aconteceu.
A renúncia foi aceita e a população se manteve indiferente. Vale lembrar que as atitudes teatrais eram
usadas politicamente por Jânio antes mesmo de chegar à presidência. Em comícios, ele jogava pó sobre
70
http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=217
71
https://cidadeverde.com/noticias/241078/reportagem-especial-janio-quadros-os-100-anos-de-um-politico-incomum

. 127
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os ombros para simular caspa, de modo a parecer um "homem do povo". Também tirava do bolso
sanduíches de mortadela e os comia em público.
No poder, proibiu as brigas de galo e o uso de lança-perfume, criando polêmicas com questões
menores, que o mantinham sempre em evidência, como um presidente preocupado com o dia a dia do
brasileiro.

Governo João Goulart (1961-1964)

Com a renúncia de Jânio Quadros, a presidência caberia ao vice João Goulart, popularmente
conhecido como Jango. No momento da renúncia, se encontrava na Ásia, em visita a República Popular
da China.
O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, assumiu o governo provisoriamente. Porém,
os grupos de oposição mais conservadores representantes das elites dominantes e de setores das Forças
Armadas não aceitaram que Jango tomasse posse, sob a alegação de que ele tinha tendências políticas
esquerdistas. Não obstante, setores sociais e políticos que apoiavam Jango iniciaram um movimento de
resistência.72

Campanha da legalidade e posse


O governador do estado do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, se destacou como principal líder da
resistência ao promover a campanha legalista pela posse de Jango. O movimento de resistência, que se
iniciou no Rio Grande do Sul e irradiou-se para outras regiões do país, dividiu as Forças Armadas
impedindo uma ação militar conjunta contra os legalistas. No Congresso Nacional, os líderes políticos
negociaram uma saída para a crise institucional.
A solução encontrada foi o estabelecimento do regime parlamentarista de governo que vigorou por
dois anos (1961-1962) reduzindo enormemente os poderes constitucionais de Jango. Com essa medida,
os três ministros militares aceitaram, enfim, seu retorno. Em 5 de setembro retorna ao Brasil, e é
empossado em 7 de setembro.

O retorno ao presidencialismo
Em janeiro de 1963, Jango convocou um plebiscito para decidir sobre a manutenção ou não do sistema
parlamentarista. Cerca de 80% dos eleitores votaram pelo restabelecimento do sistema presidencialista.
A partir de então, Jango passou a governar o país como presidente, e com todos os poderes
constitucionais a sua disposição.
Porém, no breve período em que governou o país sob regime presidencialista, os conflitos políticos e
as tensões sociais se tornaram tão graves que seu mandato foi interrompido pelo Golpe Militar de 1º de
abril de 1964.
Desde o início de seu mandato, não dispunha de base de apoio parlamentar para aprovar com
facilidade seus projetos políticos, econômicos e sociais, por esse motivo a estabilidade governamental foi
comprometida.
Como saída para resolver os frequentes impasses surgidos pela ausência de apoio político no
Congresso Nacional, adotou uma estratégia típica do período populista, recorreu a permanente
mobilização das classes populares a fim de obter apoio social ao seu governo.
Foi uma forma precária de assegurar a governabilidade, pois limitava ou impedia a adoção por parte
do governo de medidas antipopulares, ao mesmo tempo em que seria necessário o atendimento das
demandas dos grupos sociais que o apoiavam. Um episódio que ilustra de forma notável esse tipo de
estratégia política ocorreu quando o governo criou uma lei implantando o 13º salário. O Congresso não a
aprovou. Em seguida, líderes sindicais ligados ao governo mobilizaram os trabalhadores que entraram
em greve e pressionaram os parlamentares a aprovarem a lei.

As contradições da política econômica


As dificuldades de Jango na área da governabilidade se tornaram mais graves após o restabelecimento
do regime presidencialista. A busca de apoio social junto às classes populares levou o governo a se
aproximar do movimento sindical e dos setores que representavam as correntes e ideias nacional-
reformistas.
Por esta perspectiva é possível entender as contradições na condução da política econômica do
governo. Durante a fase parlamentarista, o Ministério do Planejamento e da Coordenação Econômica foi

72
http://www.institutojoaogoulart.org.br/conteudo.php?id=73

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ocupado por Celso Furtado, que elaborou o chamado Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico
e Social.
O objetivo do Plano Trienal era combater a inflação a partir de uma política de estabilização que
demandava, entre outras coisas, a contenção salarial e o controle do déficit público. Em 1963, o governo
abandonou o programa de austeridade econômica, concedendo reajustes salariais para o funcionalismo
público e aumentando o salário mínimo acima da taxa pré-fixada.
Ao mesmo tempo, tentava obter o apoio de setores da direita realizando sucessivas reformas
ministeriais e oferecendo cargos às pessoas com influência e respaldo junto ao empresariado nacional e
os investidores estrangeiros.

Polarização direita-esquerda
Ao longo do ano de 1963, o país foi palco de agitações sociais que polarizaram as correntes de
pensamento de direita e esquerda em torno da condução da política governamental. Em 1964 a situação
de instabilidade política agravou-se.
O descontentamento do empresariado nacional e das classes dominantes como um todo se acentuou.
Por outro lado, os movimentos sindicais e populares pressionavam para que o governo programasse
reformas sociais e econômicas que os beneficiassem.73
Atos públicos e manifestações de apoio e oposição ao governo eclodem por todo o país. Em 13 de
março, ocorreu o comício da estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, no Rio de Janeiro, que reuniu
300 mil trabalhadores em apoio a Jango.
Uma semana depois, as elites rurais, a burguesia industrial e setores conservadores da Igreja
realizaram a “Marcha da Família com Deus e pela Liberdade”, considerada o ápice do movimento de
oposição ao governo.
As Forças Armadas também foram influenciadas pela polarização ideológica vivenciada pela
sociedade brasileira naquela conjuntura política, ocasionando rompimento da hierarquia devido à
sublevação de setores subalternos.
Os estudiosos do tema assinalam que, a quebra de hierarquia dentro das Forças Armadas foi o
principal fator que ocasionou o afastamento dos militares legalistas que deixaram de apoiar o governo de
Jango, facilitando o movimento golpista.

Candidato(a), segue abaixo a lista completa dos presidentes da República Populista com a cronologia
correta:
- José Linhares (1945-1946 - interino)
- Eurico Gaspar Dutra (1946-1951)
- Getúlio Vargas (1951-1954)
- Café Filho (1954-1955)
- Carlos Luz (1955 - interino)
- Nereu Ramos (1955-1956 - interino)
- Juscelino Kubitschek (1956-1961)
- Jânio Quadros (1961)
- Ranieri Mazilli (1961 - interino)
- João Goulart (1961-1964)

Questões

01. (TRT/MG – Analista – FCC) O Ministro do Trabalho João Goulart provocou grande turbulência
política em 1954 ao
(A) ser nomeado para esse cargo à revelia da vontade de Vargas, uma vez que era o principal líder do
Partido Trabalhista, que nele via possibilidade de reverter o clima político desfavorável em razão da
oposição exercida pela União Democrática Nacional.
(B) propor um aumento de 100% no valor do salário mínimo, proposta que causou a indignação de
setores do Exército insatisfeitos com sua situação e incomodados com o fato de que o salário de um
operário, caso recebesse o aumento em questão, se aproximaria do salário de um oficial.
(C) comunicar o suicídio de Getúlio Vargas e ler, no rádio, sua carta-testamento, alegando que uma
conspiração política antivarguista havia influenciado a população que agora culpava a ele e ao ex-
presidente pela alta inflacionária e pela crise econômica em curso.

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(D) renunciar a esse cargo diante da reação agressiva do empresariado e das Forças Armadas às
suas medidas trabalhistas, atitude que despertou o apoio da população a Jango e o clamor por sua
permanência no cargo, fenômeno apelidado de “queremismo”.
(E) atender às pressões dos sindicatos e propor amplas reformas de base, insubordinando-se à
autoridade de Getúlio Vargas por considerar que seu governo não estava tomando medidas
suficientemente favoráveis aos trabalhadores.

02. (SEDUC/PI – Professor-História – NUCEPE)

“Bossa nova mesmo é ser presidente


Desta terra descoberta por Cabral
Para tanto basta ser tão simplesmente
Simpático, risonho, original".
(Juca Chaves. Presidente Bossa Nova. RGE, 1957).

Considerando o período apresentado na composição, e o governo de Juscelino Kubitschek (1956-


1961), podemos afirmar CORRETAMENTE:
(A) Com seu Plano de Metas, o governo de Juscelino propunha romper com a política econômica do
governo Vargas, investindo com capitais nacionais nas áreas prioritárias para o governo, como energia,
transporte, indústria e distribuição de renda.
(B) Como efeito da euforia e do crescimento econômico, o governo de Juscelino conseguiu reduzir
drasticamente as disparidades econômicas e sociais do país, permitindo uma tranquilidade social que
perdurou até vésperas do Golpe Civil-Militar.
(C) Apoiado em capitais externos, Juscelino pôde ampliar a base monetária do país e assim custear
investimentos produtivos que permitiram o controle do déficit do orçamento público e a redução da
inflação.
(D) Seu governo coincidiu com um período de forte otimismo, apoiado em uma visão de modernidade
industrializante, o que fez o presidente prometer 50 anos de desenvolvimento em 5 anos de mandato.
(E) Apesar de sua política populista, Juscelino agia de forma autoritária em sua forma de governar,
condição que pode ser exemplificada com o episódio em que puniu o ministro da Guerra, o general
Teixeira Lott, por ter contrariado um de seus aliados políticos, o coronel Jurandir Mamede, subordinado
do general.

03. (IF/AL – Professor – CEFET) O Governo João Goulart (1961/1964) foi marcado pela interrupção
e conseguinte instalação da ditadura militar no país. O governo Goulart, na prática, ficou caracterizado
em função das suas ações políticas, como um governo:
(A) Autoritário, com uma linha ideológica próxima ao socialismo chinês.
(B) Democrático, sendo apoiado durante todo seu curto período pelos partidos de esquerda, inclusive
o partido comunista.
(C) Conturbado, em que foi implantado o parlamentarismo, fato este, que não foi suficiente para
amenizar as crises políticas do período.
(D) Democrático, sendo apoiado incondicionalmente pelas forças armadas.
(E) Autor das reformas de base, sendo estas apoiadas por setores da chamada classe média, dos
trabalhadores e do empresariado mais progressista. Obteve, assim, êxito na proposta de modernizar o
país.

Gabarito

01.B / 02.D / 03.C

Comentários

01. Resposta: B
No início de 1954, Jango propôs um projeto de aumento do salário mínimo de 100%. Segundo ele,
devido à elevação do custo de vida, a questão salarial continuava explosiva e, para enfrentá-la, era
necessário elevar o salário mínimo de 1.200 para 2.400 cruzeiros. A reação contrária foi tamanha que
Jango acabou sendo exonerado do cargo em 22 de fevereiro do mesmo ano.

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02. Resposta: D
O marco da proposta de campanha de JK foi o “Plano de Metas”, com previsões esperançosas para
acelerar o crescimento econômico através da indústria, produção do aço, alumínio, cimento, álcalis e
outros metais. Com a abertura do mercado estrangeiro a ampliação e investimentos na indústria se
tornariam ainda mais fáceis. O plano consistia de 31 metas, sendo a última, a construção de Brasília,
chamada de Meta Síntese.

03. Resposta: C
Além da implantação de um sistema parlamentar que não rendeu resultados, a aproximação de Jango
com figuras ligadas ao bloco comunista, como o revolucionário Che Guevara e o cosmonauta Yuri Gagarin
foram motivo de duras críticas da oposição.

O Regime Militar

O início do governo militar é marcado por grande perseguição política aos líderes de esquerda, tendo
por exemplo deputados e políticos seus mandatos cassados. Para tanto foi criado o SNI (Serviço Nacional
de Informação).
O SNI era o serviço secreto do Exército e contava com agentes infiltrados em vários setores como
jornais, sindicatos, escolas (...). Apesar das cassações de mandato o Congresso Nacional foi mantido e
mesmo após a constituição de 67, que institucionalizava o regime, os militares continuaram governando
através de atos institucionais74.
Foram eles:
AI-1: Ampliação dos poderes do presidente, eleição indireta e a cassação de parlamentares de
esquerda. O início da instalação da Ditadura. Perseguem lideranças opositoras (líderes camponeses,
estudantis, sindicais, partidários e intelectuais) e são cassados mandados políticos e cargos públicos.
AI-2: Instituiu bipartidarismo. Só podiam existir dois partidos: a ARENA e o MDB. Consolida as eleições
indiretas. Os voto dos congressistas para a presidência era aberto e declarado dito no microfone na
assembleia. Não havia oposição de fato. O congresso aprovava tudo o que os presidentes militares
mandavam.
AI-3: Estabelecia eleições indiretas para governadores de estado. Votavam os deputados estaduais
por voto aberto e declarado.
AI-4: Convocação urgente da assembleia para a aprovação da constituição de 67
AI-5: Concede poder excepcional ao presidente que pode cassar mandatos, cargos, fechar o
congresso e estabelece o estado de sítio. O AI-5 eliminou as garantias individuais.

Os presidentes eram escolhidos pelos próprios militares em colégio eleitoral, assim como os
governadores de estado e prefeitos de cidades com mais de 300 mil habitantes. O voto da população em
nível federal limita-se aos deputados e senadores que eram ou da ARENA (conhecido como “partido do
sim”) ou do MDB (conhecido como “partido do sim senhor”). Não havia oposição real e concreta no
congresso. Somente a permitida pelos militares.
Foram presidentes militares:
- Castelo Branco (64-67)
- Costa e Silva (67-69)
- Garrastazu Médici (69-74)
- Ernesto Geisel (74-79)
- Figueiredo (79-85)

A ditadura entre 1964 e 1967 durante o governo do Marechal Castelo Brancos foi um período mais
brando dentro do contexto do regime. Os partidos foram extintos (ficou o bipartidarismo) e a censura
ocorria, mas ainda que pequeno, havia um espaço para os trabalhadores e estudantes se manifestarem,
sobretudo os artistas. As manifestações proliferaram. Ocorreram grandes greves operárias em Contagem
(MG) e São Paulo.
O último ato de Castelo Branco foi a imposição de LSN (Lei de Segurança Nacional), que estabelecia
que certas ações de oposição ao regime seriam consideradas “atentatórias” à segurança nacional e
punidas com rigor.
Em dezembro de 1968, sob o governo do Marechal Costa e Silva foi instituído o AI-5, o mais duro e
repressor dos atos institucionais.
74
O Golpe de 1964 e a Ditadura Militar em Perspectiva / Carlo José Napolitano, Caroline Kraus Luvizotto, Célio José Losnak e Jefferson Oliveira Goulart (orgs).
- - São Paulo, SP: Cultura Acadêmica, 2014

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Alguns grupos políticos contra a ditadura passaram a atuar na clandestinidade. Alguns deles, devido
ao AI-5 optaram por partir para a revolta armada que adotou táticas de guerrilha.
Surgiram focos de guerrilha urbana (principalmente São Paulo) e guerrilha rural (na região do rio
Araguaia). A guerrilha nunca representou um grande problema de verdade, pois eram pequenos e poucos
grupos, mas forneceu o argumento que a ditadura precisava para manter e aumentar a repressão, pois
tínha inclusive um inimigo interno comunista. O risco não havia passado (lembra-se que o pretexto do
golpe era afastar o risco comunista?).

Milagre Econômico e Repressão


Durante o Governo do General Médici o país viveu a maior onda de repressões e torturas da ditadura.
O AI-5 era aplicado com toda a força e a censura era plena. Ao mesmo tempo o país vivia um período de
propaganda ufanista (nacionalismo e enaltecimento do Brasil) e experimentava um grande crescimento
econômico e urbano em razão do “milagre econômico”.
Foram contraídos empréstimos e concedidos créditos ao consumido, mas ao mesmo tempo os salários
foram congelados. Esta política nos primeiros anos de aplicação gerou um enorme consumo e
consequentemente gerou empregos (cada vez menos remunerados). Ao final da década de setenta o
país amargava uma grande inflação, salários cada vez mais defasados e um aumento da desigualdade
social.

Movimentos de Resistência

O Movimento Estudantil
Entre os grupos que mais protestavam contra o governo de João Goulart para a implementação de
reformas sociais estavam os estudantes, mobilizados pela União Nacional dos Estudantes e União
Brasileira dos Estudantes secundaristas.
Quando os militares chegaram ao poder em 1964, os estudantes eram um dos setores mais
identificados com a esquerda comunista, subversiva e desordeira; uma das formas de desqualificar o
movimento estudantil era chamá-lo de baderna, como se seus agentes não passassem de jovens
irresponsáveis, e isso se justificava para a intensa perseguição que se estabeleceu.
Em novembro de 1964, Castelo Branco aprovou uma lei, conhecida como lei "Suplicy de Lacerda",
nome do ministro da Educação, reorganizando as entidades e proibindo-as de desenvolverem atividades
políticas.
Os estudantes reagiram, boicotando as novas entidades oficiais e realizando passeatas cada vez mais
frequentes. Ao mesmo tempo, o movimento estudantil procurou assegurar a existência das suas
entidades legítimas, agora na clandestinidade75.
Em 1968 o movimento estudantil cresceu em resposta não só repressão, mas também em virtude da
política educacional do governo, que já revelava a tendência que iria se acentuar cada vez mais no sentido
da privatização da educação, cujos efeitos são sentidos até hoje.
A política de privatização tinha dois sentidos: um era o estabelecimento do ensino pago (principalmente
no nível superior) e outro, o direcionamento da formação educacional dos jovens para o atendimento das
necessidades econômicas das empresas capitalistas (mão-de-obra e técnicos especializados).
Estas diretrizes correspondiam à forte influência norte-americana exercida através de técnicos da
Usaid (agência americana que destinava verbas e auxílio técnico para projetos de desenvolvimento
educacional) que atuavam junto ao MEC por solicitação do governo brasileiro, gerando uma série de
acordos que deveriam orientar a política educacional brasileira.
As manifestações estudantis foram os mais expressivos meios de denúncia e reação contra a
subordinação brasileira aos objetivos e diretrizes do capitalismo norte-americano. O movimento estudantil
não parava de crescer, e com ele a repressão.
No dia 28 de março de 1968 uma manifestação contra a má qualidade do ensino realizada no
restaurante estudantil Calabouço, no Rio de Janeiro, foi violentamente reprimida pela polícia, resultando
na morte do estudante Edson Luís Lima Souto76.
A reação estudantil foi imediata: no dia seguinte, o enterro do jovem estudante transformou-se em um
dos maiores atos públicos contra a repressão; missas de sétimo dia foram celebradas em quase todas as
capitais do país, seguidas de passeatas que reuniram milhares de pessoas.

75
http://repositoriolabim.cchla.ufrn.br/bitstream/123456789/111/16/O%20MOVIMENTO%20ESTUDANTIL%20BRASILEIRO%20DURANTE%20O%20REGIME
%20MILITAR%201968-1970.pdf
76
https://www.une.org.br/2011/09/historia-da-une/

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Em outubro do mesmo ano, a UNE (União Nacional dos Estudantes), na ilegalidade convocou um
congresso para a pequena cidade de Ibiúna, no interior de São Paulo. A polícia descobriu a reunião,
invadiu o local e prendeu os estudantes.

Movimentos Sindicais
As greves foram reprimidas duramente durante a ditadura. Os últimos movimentos operários ocorreram
em 1968, em Osasco e Contagem, sendo reavivadas somente no fim da década de 1970, com a greve
de 1.600 trabalhadores no ABC paulista em 12 de maio de 1978, que marcou a volta do movimento
operário à cena política.
Em junho do mesmo ano, o movimento espalhou-se por São Paulo, Osasco e Campinas. Até 27 de
julho registraram-se 166 acordos entre empresas e sindicatos beneficiando cerca de 280 mil
trabalhadores. Nessas negociações, tornou-se conhecido em todo o país o presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, Luís Inácio da Silva.
No dia 29 de outubro de 1979 os metalúrgicos de São Paulo e Guarulhos interromperam o trabalho.
No dia seguinte o operário Santos Dias da Silva acabou morrendo em confronto com a polícia, durante
um piquete na frente uma fábrica no bairro paulistano de Santo Amaro. As greves se espalharam por todo
o país.
Em consequência de uma greve realizada no dia 1º de Abril de 1980 pelos metalúrgicos do ABC
paulista e de mais 15 cidades do interior de São Paulo, no dia 17 de Abril o ministro do trabalho, Murillo
Macedo, determinou a intervenção nos sindicatos de São Bernardo do Campo e Santo André, prendendo
13 líderes sindicais dois dias depois. A organização da greve mobilizou estudantes e membros da Igreja.

Ligas Camponesas
O movimento de resistência esteve presente também no campo. Além da sindicalização formaram-se
Ligas Camponesas que, sobretudo no Nordeste, sob a liderança do advogado Francisco Julião, foram
importantes instrumentos de organização e de atuação dos camponeses.
Em 15 de maio de 1984 cerca de 5 mil cortadores de cana e colhedores de laranja do interior paulista
entraram em greve por melhores salários e condições de trabalho. No dia seguinte invadiram as cidades
de Guariba e Bebedouro. Um canavial foi incendiado. O movimento foi reprimido por 300 soldados.
Greves de trabalhadores se espalharam por várias regiões do país, principalmente no Nordeste.

A Luta Armada
Militantes da Esquerda resolveram resistir ao regime militar através da luta armada, com a intenção de
iniciar um processo revolucionário. Entre os grupos mais notórios estão:

- Ação Libertadora Nacional (ALN), em que se destaca Carlos Marighella, ex-deputado e ex-
membro do Partido Comunista Brasileiro, morto numa emboscada em 1969;

- Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), que era comandada pelo ex-capitão do Exército Carlos
Lamarca, morto na Bahia, em 17 de setembro de 1971. Em 1969 funde-se com o Comando de
Libertação Nacional (COLINA), e muda o nome para Vanguarda Armada Revolucionária Palmares
(VAR-Palmares), que teve participação também da presidente Dilma Rousseff;

- A Ação Popular, que teve origem em 1962 a partir de grupos católicos, especialmente influentes no
movimento estudantil;

- Partido Comunista do Brasil (PC do B), que surge de um conflito interno dentro do PCB.

Um dos principais feitos da ALN, em conjunto ao Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8), foi
o sequestro do embaixador estadunidense Charles Ewbrick, em 1969. Em nenhum lugar do mundo um
embaixador dos EUA havia sido sequestrado. Essa façanha possibilitou aos guerrilheiros negociar a
libertação de quinze prisioneiros políticos. Outro embaixador sequestrado foi o alemão-ocidental Ehrefried
Von Hollebem, que resultou na soltura de quarenta presos.
A luta armada intensificou o argumento de aumento da repressão. As torturas aumentaram e a
perseguição aos opositores também. Carlos Marighella foi morto por forças policiais na cidade de São
Paulo. As informações sobre seu paradeiro foram conseguidas também através de torturas.
O VPR realizou ações no Vale do Ribeira em São Paulo, mas teve que enfrentar a perseguição militar
na região. Lamarca conseguiu fugir para o Nordeste, mas acabou morto na Bahia, em 1971.

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O último foco de resistência a ser desmantelado foi a Guerrilha do Araguaia. Desde 1967, militantes
do PCdoB dirigiram-se para região do Bico do Papagaio, entre os rios Araguaia e Tocantins, onde
passaram a travar contato com os camponeses da região, ensinando a eles cuidados médicos e
auxiliando-os na lavoura.
As Forças Armadas passaram a perseguir os guerrilheiros do Araguaia em 1972, quando descobriu a
ação do grupo. O desmantelamento ocorreria apenas em 1975, quando uma força especial de
paraquedistas foi enviada à região, acabando com a Guerrilha do Araguaia.
No Brasil, as ações guerrilheiras não conseguiram um amplo apoio da população, levando os grupos
a se isolarem, facilitando a ação repressiva. Após 1975, as guerrilhas praticamente desapareceram, e os
corpos dos guerrilheiros do Araguaia também. À época, a ditadura civil-militar proibiu a divulgação de
informações sobre a guerrilha, e até o início da década de 2010 o exército não havia divulgado informação
sobre o paradeiro dos corpos.

Redemocratização do País e Diretas Já.


O General Geisel assume em 74. Foi o militar que deu início à abertura política, assinalando o fim da
ditadura. O fim do regime foi articulado pelos próprios militares que planejaram uma abertura “lenta,
segura e gradual”.
Nas eleições parlamentares de 74 os militares imaginaram que teriam a vitória da ARENA, mas o MDB
teve esmagadora maioria. Em razão deste acontecimento a ditadura lança a Lei Falcão e o Pacote de
Abril. A lei falcão acabava com a propaganda eleitoral. Todos os candidatos apareceriam o mesmo tempo
na TV, segurando seu número enquanto uma voz narrava brevemente seu currículo. Apesar de uma
oposição consentida o MDB estava incomodando e o pacote de abril serviu para garantir supremacia da
ARENA.
A constituição poderia ser mudada somente por 50% dos votos (garante a vitória da ARENA). Um terço
dos senadores teriam o papel de “senador biônico”, ou seja, indicado pela assembleia (sempre
senadores da ARENA) e alterou o coeficiente eleitoral de forma que a região nordeste (que ainda ocorria
claramente o voto de “cabresto” e os eleitores votavam em peso na ARENA) tivesse um maior número de
deputados. Geisel pôs fim ao AI-5 em 1978.
Em 1979 assumiu a presidência o General Figueiredo, sob uma forte crise econômica resultado da
política econômica do milagre brasileiro. Em 79 foi aprovada a Lei da Anistia (perdão de crimes políticos),
que de acordo com o governo militar era uma anistia “ampla, geral e irrestrita”.
O que isso queria dizer?
Que todos os crimes cometidos na ditadura seriam perdoados, tanto o “crime” dos militantes políticos,
estudantes, intelectuais e artistas que se encontravam exilados (fora do país por motivos de perseguição
política), e puderam voltar ao Brasil, como os torturadores do regime.
Em 1979 são liberadas para a próxima eleição o voto direto aos governadores. Também foi aprovada
a “Lei Orgânica dos Partidos” que punha fim ao bipartidarismo e foram fundados novos 5 partidos:
- PDS (Partido Democrático Social)
- PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro)
- PTB (Partido Trabalhista Brasileiro)
- PDT (Partido Trabalhista Brasileiro)
- PT (Partido dos Trabalhadores)

Obs.: A lei eleitoral obrigava a votar somente em candidatos do mesmo partido, de vereador à
governador. A oposição ao regime, na eleição para governador de 1982, obteve vitória
esmagadora.

A Resistência às Reformas Políticas de Figueiredo


Assim como Geisel, o general Figueiredo teve de enfrentar resistência da linha-dura às reformas
políticas que estavam em andamento. As primeiras manifestações dos grupos que estavam descontentes
com a abertura vieram em 1980.
No final desse ano e no início de 1981, bombas começaram a explodir em bancas de jornal que
vendiam periódicos considerados de esquerda (Jornal Movimento, Pasquim, Opinião etc.). Uma carta-
bomba foi enviada à OAB e explodiu nas mãos de uma secretária, matando-a. Havia desconfianças de
que fora uma ação do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de
Defesa Interna), mas nunca se conseguiu provar nada.

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O Caso Riocentro
Em abril de 1981, ocorreu uma explosão no Riocentro durante a realização de um show de música
popular. Dele participavam inúmeros artistas considerados de esquerda pelo Regime. Quando as
primeiras pessoas, inclusive fotógrafos, se aproximaram do local da explosão, depararam com uma cena
dramática e constrangedora.
Um carro esporte (Puma) estava com os vidros, o teto e as portas destroçados. Havia dois homens no
seu interior, reconhecidos posteriormente como oficiais do Exército ligados ao DOI-Codi. O sargento,
sentado no banco do passageiro, estava morto, praticamente partido ao meio. A bomba explodira na
altura de sua cintura. O motorista, um capitão, estava vivo, mas gravemente ferido e inconsciente.
O Exército abriu um inquérito Policial-Militar para apurar o caso e, depois de muitas averiguações,
pesquisas, tomadas de depoimentos, concluiu que a bomba havia sido colocada ali, dentro do carro e
sobre as pernas do sargento do Exército, por grupos terroristas. Essa foi a conclusão da Justiça Militar, e
o caso foi encerrado.
Em 1984 o deputado do PMDB Dante de Oliveira propôs uma emenda constitucional que restabelecia
as eleições diretas para presidente. A partir da emenda Dante de Oliveira tem início o maior movimento
popular pela redemocratização do país, as Diretas Já que pediam eleições diretas para presidente no
próximo ano.
Infelizmente a emenda não foi aprovada. Em 1985 ocorreram eleições indiretas e formaram-se chapas
para concorrer à presidência. Através das eleições indiretas ganhou a chapa do PMDB em que o
presidente eleito foi Tancredo Neves e seu vice José Sarney. Contudo Tancredo Neves passou mal na
véspera da posse e foi internado com infecção intestinal, não resistiu e morreu. Assumiria a presidência
da República em 1985 José Sarney.
O Governo de José Sarney foi um momento de enorme crise econômica, com hiperinflação, mas um
dos momentos mais fundamentais que coroaria a redemocratização, pois foi em seu governo que foi
aprovada a nova constituição. Foi reunida em 1987 uma assembleia nacional constituinte (assembleia
reunida para escrever e promulgar uma nova constituição).

A constituição de 1988

A nova constituição foi votada em meio a grandes debates e diferentes visões políticas. Havia muitos
interesses em disputa. O voto secreto e direto para presidente foi restaurado, proibida a censura,
garantida a liberdade de expressão e igualdade de gênero, o racismo tornou-se crime e o estado
estabeleceu constitucionalmente garantias sociais de acesso a saúde, educação, moradia e
aposentadoria.
Ao final de 1989 foi realizada a primeira eleição livre desde o golpe de 1964. Foi disputada em dois
turnos. O segundo foi concorrido entre o candidato Fernando Collor de Mello (PRN – partido da renovação
nacional), contra Luís Inácio Lula da Silva. Collor ganhou a eleição, com apoio dos meios de comunicação
e governou até 1992 após ser afastado por um processo de impeachment. Ocorreram grandes
manifestações populares, sobretudo estudantis, conhecidas como o “movimento dos caras-pintadas”.

Questões

01. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário – História – FCC) O processo de abertura política no
Brasil, ao final do período de regime militar, foi marcado
(A) pela denominada “teoria dos dois demônios”, discurso oficial que culpava os grupos guerrilheiros
e o imperialismo soviético pelo endurecimento do autoritarismo no Brasil e nos países vizinhos.
(B) pelo chamado “entulho autoritário”, pois a Constituição outorgada em 1967 continuou vigente,
mantiveram-se os cargos “biônicos” e persistiu prática da decretação de Atos Institucionais durante a
década de 1980.
(C) pela lógica do “ajuste de contas”, pois, ainda que o governo encampasse uma abertura “lenta,
gradual e irrestrita”, os setores populares organizaram greves nacionais que culminaram na realização de
eleições diretas para presidente em 1985.
(D) pelo caráter de “transição negociada”, uma vez que prevaleceram pressões por parte dos setores
afinados com o regime e concessões dos movimentos pela democratização, em um complexo jogo
político que se estendeu pelos anos 1980.
(E) pela busca da “conciliação nacional” ao se instituírem as Comissões da Verdade que conseguiram,
com o aval do primeiro governo civil pós-ditadura, atender as demandas por “verdade, justiça e reparação”
da sociedade brasileira.

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02. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário – História – FCC) A respeito dos Atos Institucionais
decretados durante o regime militar no Brasil,
(A) sucederam-se rapidamente totalizando cinco durante a ditadura, sendo o último, em 1968, o que
suspendeu a garantia do direito ao habeas corpus e instituiu a censura prévia.
(B) refletiram a intenção dos militares em preservar a institucionalidade da democracia, uma vez que
todos os atos eram votados pelo Congresso.
(C) prestaram-se a substituir a falta de uma nova Constituição, chegando a 20 decretações que se
estenderam até o governo Geisel.
(D) foram mais de dez e entre os objetivos de sua promulgação destaca-se o reforço dos poderes
discricionários da Presidência da República.
(E) concentraram-se nos dois primeiros anos de governo militar e instituíram o estado de sítio e o
bipartidarismo.

03. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário – História – FCC) O golpe de 1964, que deu início ao
regime militar no Brasil e que foi chamado pelos militares de “revolução de 64”, teve, entre seus objetivos
(A) refrear o avanço do comunismo apoiado pelo presidente Jango que, após ver concretizado seu
programa reformista, articulava-se para adaptar o Estado aos moldes socialistas, por meio do projeto de
uma nova constituição difundido e aplaudido no histórico Comício da Central do Brasil.
(B) reinstaurar o presidencialismo, uma vez que o regime parlamentarista pelo qual João Goulart
governava favorecia alianças entre partidos pequenos e grupos de esquerda liderados pelo PTB, que
tinha representação significativa na Câmara e no Senado.
(C) destituir o governo de João Goulart, contando com o apoio do governo dos Estados Unidos e de
parcelas da sociedade brasileira que apoiaram, dias antes, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade
organizada por setores conservadores da Igreja Católica.
(D) restaurar a ordem no país e garantir a recuperação do equilíbrio econômico, uma vez que greves
paralisavam a produção nacional e movimentos de apoio à reforma agrária se radicalizavam, caso das
Ligas Camponesas que haviam iniciado a guerrilha do Araguaia.
(E) iniciar um processo autoritário de transição política e econômica nos moldes do neoliberalismo, por
meio de uma estratégia defendida por entidades como o FMI, a ONU e a Cepal, com o aval do
empresariado brasileiro insatisfeito com o governo vigente.

04. (VUNESP) A partir dessa época, a tortura passou a ser amplamente empregada, especialmente
para obter informações de pessoas envolvidas com a luta armada. Contando com a “assessoria técnica”
de militares americanos que ensinavam a torturar, grupos policiais e militares começavam a agredir no
momento da prisão, invadindo casas ou locais de trabalho. A coisa piorava nas delegacias de polícia e
em quartéis, onde muitas vezes havia salas de interrogatório revestidas com material isolante para evitar
que os gritos dos presos fossem ouvidos.
(Roberto Navarro – http://mundoestranho.abril.com.br.)

Os aspectos citados no texto permitem identificar a época a que ele se refere como sendo a da
(A) Repressão à Revolução Constitucionalista de 1932.
(B) Nova República, cujo primeiro presidente foi José Sarney.
(C) Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder.
(D) Democracia populista, que durou de 1946 a 1964.
(E) Ditadura militar, iniciada com o golpe de 1964.

05. (VUNESP) A imagem a seguir refere-se a um movimento da década de 1980 que contou com
grande participação popular em várias cidades do Brasil.

(Http://www.oabsp.org.br/portaldamemoria/historia-da-oab/ a-redemocratizacao-e-o-processo-constituinte)

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Assinale a alternativa que indica corretamente o objetivo deste movimento.
(A) Devolver à população o direito de votar nos candidatos à presidência do país.
(B) Anistiar os presos políticos e permitir o retorno dos exilados ao Brasil.
(C) Reajustar o salário-mínimo de acordo com os índices reais de inflação.
(D) Autorizar a justiça comum a punir políticos envolvidos em crimes de corrupção.
(E) Permitir que leis propostas pela população fossem discutidas no Congresso Nacional.

Gabarito
01.D / 02.D / 03.C / 04.E / 05.A

Comentários
01. Resposta: D
A ideia de uma abertura “Lenta, gradual e segura” foi utilizada pelo governo militar. No final da década
de 70 e início da década de 80 ocorreram muitas greves, principalmente na região do ABC paulista.
A primeira eleição direta para presidente após a abertura ocorreu em 15 de novembro de 1989.

02. Resposta: D
Os Atos Institucionais foram normas elaboradas no período de 1964 a 1969 durante o regime militar.
Foram editadas pelos Comandantes-Chefe do Exército, da Marinha e da Aeronáutica ou pelo Presidente
da República, com o respaldo do Conselho de Segurança Nacional. Foram 17 atos ao todo, sendo o mais
conhecido deles o AI-5, cuja descrição é: Suspende a garantia do habeas corpus para determinados
crimes; dispõe sobre os poderes do Presidente da República de decretar: estado de sítio, nos casos
previstos na Constituição Federal de 1967; intervenção federal, sem os limites constitucionais; suspensão
de direitos políticos e restrição ao exercício de qualquer direito público ou privado; cassação de mandatos
eletivos; recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras de Vereadores;
exclui da apreciação judicial atos praticados de acordo com suas normas e Atos Complementares
decorrentes; e dá outras providências.

03. Resposta: C
Em 1º de abril de 1964 foi dado o golpe militar pelo exército. Contou com apoio de vários setores
sociais como o alto clero da Igreja Católica, ruralistas e grandes empresários urbanos. Devido a este
apoio este período também é chamado de Ditadura Civil-Militar (Ditadura militar com apoio civil). O
argumento para o golpe foi afastar o “risco comunista”.

04. Resposta: E
Citando a própria matéria referida na questão:
Uma pesquisa coordenada pela Igreja Católica com documentos produzidos pelos próprios militares
identificou mais de cem torturas usadas nos "anos de chumbo" (1964-1985). Esse baú de crueldades,
que incluía choques elétricos, afogamentos e muita pancadaria, foi aberto de vez em 1968, o início do
período mais duro do regime militar. Durante o governo militar, mais de 280 pessoas foram mortas -
muitas sob tortura. Mais de cem desapareceram, segundo números reconhecidos oficialmente. Mas
ninguém acusado de torturar presos políticos durante a ditadura militar chegou a ser punido.

05. Resposta: A
Em 1984 o deputado do PMDB Dante de Oliveira propôs uma emenda constitucional que restabelecia
as eleições diretas para presidente. A partir da emenda Dante de Oliveira tem início o maior movimento
popular pela redemocratização do pais, as Diretas Já que pediam eleições diretas para presidente no
próximo ano. Infelizmente a emenda não foi aprovada. Em 1985 ocorreram eleições indiretas e formaram-
se chapas para concorrer à presidência. Através das eleições indiretas ganhou a chapa do PMDB em que
o presidente eleito foi Tancredo Neves e seu vice José Sarney.

República Nova

Nova República

Chamamos Nova República a organização do Estado Brasileiro a partir da eleição indireta de Tancredo
Neves pelo Colégio eleitoral, após o movimento pelas diretas já. No dia da posse foi hospitalizado e
faleceu. Então a cadeira presidencial foi ocupada por seu vice José Sarney

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A Vitória da Aliança Democrática e a posse de Sarney

Em 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral elegeu Tancredo Neves, primeiro presidente civil em 20
anos. Ele obteve 275 votos do PMDB (em 280 possíveis), 166 do PDS (em 340 possíveis), que
correspondiam à dissidência da Frente Liberal, e mais 39 votos espalhados entre os outros partidos. No
total foram 480 contra 180 do candidato derrotado.
O PT, por não concordar com as eleições indiretas, não participou da votação. A posse do novo
presidente estava marcada para 15 de março. Um dia antes, entretanto, Tancredo Neves foi internado
com diverticulite. Depois de várias operações, seu estado de saúde se agravou, falecendo no dia 21 de
abril de 1985. Com a morte do presidente eleito, assumiu o vice, José Sarney.

O governo Sarney
José Sarney foi o primeiro presidente após o fim da ditadura militar. Durante seu governo foi
consolidado o processo de redemocratização do Estado brasileiro, garantido liberdade sindical e
participação popular na política, além da convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte,
encarregada de elaborar uma nova constituição para o Brasil.
Entre os princípios incluídos na Constituição de 1988 estão:
- garantia de direitos políticos e sociais;
- aumento de assistência aos trabalhadores;
- ampliação das atribuições do poder legislativo;
- limitação do poder executivo;
- igualdade perante a lei, sem qualquer tipo de distinção;
- estabelecimento do racismo como crime inafiançável.

No plano econômico, o governo adotou inúmeras medidas para conter a inflação, como congelamento
de preços e salários e a criação de um novo plano econômico, o Plano Cruzado.
No final de 1986, o plano começou a demonstrar sinais de fracasso, acentuado pela falta de
mercadorias e pressão por aumento de preços.
Além do Plano Cruzado, outras tentativas de conter a inflação foram colocadas em prática durante o
governo Sarney, como o Plano Cruzado II, o Plano Bresser e o Plano de Verão. No último mês do governo
Sarney, em março de 1990, a inflação alcançou o nível de 84%.

O governo Collor

No final de 1989, os candidatos Fernando Collor de Mello, do PRN (Partido da Renovação Nacional)
e Luiz Inácio Lula da Silva, do PT (Partido dos Trabalhadores) disputaram as primeiras eleições diretas
(com voto da população) para presidente após a redemocratização. Com forte apoio de setores
empresariais e principalmente da mídia, Collor vence as eleições.
Collor, durante a campanha presidencial, apresentou-se como caçador de marajás, termo referente
aos corruptos que beneficiavam-se do dinheiro público. Seus discursos possuíam forte influência do
populismo, principalmente do Peronismo argentino77, dizendo-se representante dos descamisados
(população mais pobre).
Seu governo ficou marcado pelos Planos Collor:

Plano Collor78
A inflação no período de março de 1989 a março de 1990 chegou a 4.853%, e o governo anterior viu
apenas tentativas fracassadas de conter a inflação. Após sua posse, Collor anuncia um pacote econômico
no dia 15 de março de 1990: o Plano Brasil Novo.
Esse plano tinha como objetivo pôr fim à crise, ajustar a economia e elevar o país, do terceiro para o
Primeiro Mundo. O cruzado novo é substituído pelo "cruzeiro", bloqueia-se por 18 meses os saldos das
contas correntes, cadernetas de poupança e demais investimentos superiores a Cr$ 50.000,00. Os preços
foram tabelados e depois liberados gradualmente. Os salários foram pré-fixados e depois negociados
entre patrões e empregados.
Os impostos e tarifas aumentaram e foram criados outros tributos, foram suspensos os incentivos
fiscais não garantidos pela Constituição. Foi anunciado corte nos gastos públicos e também se reduziu a
máquina do Estado com a demissão de funcionários e privatização de empresas estatais. O plano também
previa a abertura do mercado interno, com a redução gradativa das alíquotas de importação.
77
Referente ao governo de Juan Domingo Peron na Argentina durante os anos de 1952 – 1955.
78
LENARDUZZI, Cristiano, Et al. PLANO COLLOR. Adaptado

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As empresas foram surpreendidas com o plano econômico e sem liquidez pressionaram o governo. A
ministra da economia Zélia Cardoso de Mello, faz a liberação gradativa do dinheiro retido, denominado
de "operação torneirinha", para pagamento de taxas, impostos municipais e estaduais, folhas de
pagamento e contribuições previdenciárias. O governo liberou os investimentos dos grandes empresários,
e deixou retido somente o dinheiro dos poupadores individuais.

Recessão - No início do Plano Collor a inflação foi reduzida, pois o plano era ousado e tirava o dinheiro
de circulação. Porém, ao mesmo tempo em que caía a inflação, iniciava-se a maior recessão da história
no Brasil, houve aumento de desemprego, muitas empresas fecharam as portas e a produção diminuiu
consideravelmente, com uma queda de 26% em abril de 1990, em relação a abril de 1989. As empresas
foram obrigadas a reduzirem a produção, jornada de trabalho e salários, ou demitir funcionários. Só em
São Paulo nos primeiros seis meses de 1990, 170 mil postos de trabalho deixaram de existir, pior
resultado, desde a crise do início da década de 80. O Produto Interno Bruto diminuiu de US$ 453 bilhões
em 1989 para US$ 433 bilhões em 1990.79

Privatizações80 - Em 16 de agosto de 1990 o Programa Nacional de Desestatização que estava


previsto no Plano Collor foi regulamentado. A Usiminas foi a primeira estatal a ser privatizada, através de
um leilão em outubro de 1991. Depois disso, mais 25 estatais foram privatizadas até o final de 1993,
quando Itamar Franco já estava à frente do governo brasileiro, com grandes transferências patrimoniais
do setor público para o setor privado, com o processo de privatização dos setores petroquímicos e
siderúrgico já praticamente concluído. Então se inicia a negociação do setor de telecomunicações e
elétrico, existindo uma tentativa de limitar as privatizações à construção de grandes obras e à abertura
do capital das estatais, mantendo o controle acionário pelo Estado.

Plano Collor II
A inflação entra em cena novamente com um índice mensal de 19,39% em dezembro de 1990 e o
acumulado do ano chega a 1.198%, o governo se vê obrigado a tomar algumas medidas. É decretado o
Plano Collor II em 31 de janeiro de 1991.
Tinha como objetivo controlar a ciranda financeira. Para isso extinguiu as operações de overnight e
criou o Fundo de Aplicações Financeiras (FAF) onde centralizou todas as operações de curto prazo,
acabando com o Bônus do Tesouro Nacional fiscal (BTNf), que era usado pelo mercado para indexar
preços.
Passa a utilizar a Taxa Referencial Diária (TRD) com juros prefixados e aumenta o Imposto sobre
Operações Financeiras (IOF). Pratica uma política de juros altos, e faz um grande esforço para desindexar
a economia e tenta mais um congelamento de preços e salários. Um deflator é adotado para os contratos
com vencimento após 1º de fevereiro.
O governo acreditava que aumentando a concorrência no setor industrial conseguiria segurar a
inflação, então se cria um cronograma de redução das tarifas de importação, reduzindo a inflação de 1991
para 481%.

A queda de Collor
Após um curto sucesso nos primeiros meses de governo, a administração Collor passou por profundas
crises. Com a taxa de inflação superior a 20%, em 1992 a impopularidade do presidente cresceu. Em
maio do mesmo ano, o irmão do presidente, Pedro Collor, acusou Paulo Cesar Farias, que havia sido
caixa da campanha de Fernando Collor, de enriquecimento ilícito, obtenção de vantagens no governo e
ligações político financeiras com o presidente.
Em junho do mesmo ano, o Congresso Nacional instalou uma Comissão de Inquérito Parlamentar
(CPI) para que fossem apuradas as irregularidades apontadas. Em 29 de setembro a Câmara dos
Deputados aprovou a abertura do processo de Impeachment e em 3 de outubro o presidente foi afastado.
Em dezembro o processo foi concluído e Fernando Collor teve seus direitos políticos cassados por oito
anos, e o governo passou para as mãos de seu vice, Itamar Franco.

O governo Itamar Franco (1992-1994)

Durante seu período na presidência, Itamar Franco passou por um quadro de crescente dificuldade
econômica e alianças políticas instáveis com inúmeras nomeações e demissões de ministros do
executivo.
79
https://vdocuments.com.br/fernando-collor.html
80
GANDOLPHO, C. Plano Collor completa 20 anos. Diário do Grande ABC. http://www.dgabc.com.br/Noticia/144113/plano-collor-completa-20-anos

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Um plebiscito foi realizado em 1993 para definir a forma de governo, com uma vitória esmagadora da
República Presidencialista. Outras opções incluíam a monarquia e o parlamentarismo.
No ano de 1993 a economia começava a dar sinais de melhora, com índice de crescimento de
aproximadamente 5%, que não ocorria desde 1986. Apesar do crescimento, houve um aumento na
população, deixando a renda per capita com menos de 3%.
Em 1994 a inflação continuou a subir, até que os efeitos do Plano Real começaram a surtir efeito.

Implantação do Plano Real81


O Plano de Fernando Henrique Cardoso, que era ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco,
consistia em três fases: o ajuste fiscal, o estabelecimento da URV (Unidade de Referência de Valor) e a
instituição de uma nova moeda, o Real.
De acordo com os autores do plano, as reformas liberais do Estado que estavam em andamento
naquele período seriam fundamentais para efetividade do plano.
A primeira fase, o ajuste fiscal procurava criar condições fiscais adequadas para diminuir o
desequilíbrio orçamentário do Estado, principalmente sua fragilidade com financiamento, que seria um
dos principais problemas relacionados à inflação. A criação do FSE (Fundo Social de Emergência), que
tinha por finalidade diminuir os custos sociais derivados da execução do plano e dos cortes de impostos,
foi uma das principais iniciativas do governo.
A URV, o embrião da nova moeda, que terminou quando o Real começou a funcionar em 1º de julho
de 1994, era um índice de inflação formado por outros três índices: o IGP-M82, da Fundação Getúlio
Vargas, o IPCA83 do IBGE e o IPC84 da FIPE/USP. O objetivo do governo era amarrar o URV ao dólar,
preparando o caminho para a “âncora cambial” da moeda e também evitar o caráter abrupto dos outros
planos, com esta ferramenta transitória. Dessa forma, ao contrário da proposta de “moeda indexada” e
da criação de duas moedas, apenas separaram-se duas funções da mesma moeda, pois o URV servia
como uma “unidade de conta”.85
A terceira fase do plano consistiu na implementação da nova moeda, que substituiria o Cruzeiro de
acordo com a cotação da URV que, naquele momento, valia CR$ 2.750,00. O governo instituiu que este
valor corresponderia a R$ 1,00 que, por sua vez, foi fixada pelo Banco Central em US$ 1,00, com a
garantia das reservas em dólar acumuladas desde 1993.
No entanto, apesar de amarrar a moeda ao dólar, o Governo não garantiu a conversibilidade das duas
moedas, como ocorreu na Argentina. Dessa forma, o Real conseguiu corresponder de uma forma mais
adequada às turbulências desencadeadas pela crise do México, que começou a se intensificar no final de
1994.
A política de juros altos, que promoveu a entrada de capitais de curto prazo, e a abertura do país aos
produtos estrangeiros, com a queda do Imposto de Importação, foram fundamentais para complementar
a introdução da nova moeda e para combater a inflação e elevar os níveis de emprego.
O sucesso do Plano Real garantiu a Fernando Henrique a vitória nas eleições de 1994 logo no primeiro
turno, contra o candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

O primeiro governo Fernando Henrique

Em seu discurso de posse, o presidente destacou como prioridades a estabilização da nova moeda e
a reversão do quadro de exclusão social dos brasileiros.
Assim como outros países ao redor do mundo (e seus respectivos blocos), o Brasil começava a dar
início ao MERCOSUL.

Mercosul86
Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai assinaram, em 26 de março de 1991, o Tratado de Assunção,
com vistas a criar o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). O objetivo primordial do Tratado de Assunção
é a integração dos Estados Partes por meio da livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos, do
estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC), da adoção de uma política comercial comum, da
coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais, e da harmonização de legislações nas áreas
pertinentes.

81
Adaptado de Ipolito.
82
Índice Geral de Preços de Mercado.
83
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo.
84
Índice de Preços ao Consumidor.
85
GHIORZI, J. B. Política Monetária dos Governos FHC e LULA. UFSC. http://tcc.bu.ufsc.br/Economia295594
86
Adaptado de: http://www.mercosul.gov.br/index.php/saiba-mais-sobre-o-mercosul

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A configuração atual do MERCOSUL encontra seu marco institucional no Protocolo de Ouro Preto,
assinado em dezembro de 1994. O Protocolo reconhece a personalidade jurídica de direito internacional
do bloco, atribuindo-lhe, assim, competência para negociar em nome próprio acordos com terceiros
países, grupos de países e organismos internacionais.
O MERCOSUL caracteriza-se, ademais, pelo regionalismo aberto, ou seja, tem por objetivo não só o
aumento do comércio intrazona, mas também o estímulo ao intercâmbio com outros parceiros comerciais.
São Estados Associados a Bolívia (em processo de adesão), o Chile (desde 1996), o Peru (desde 2003),
a Colômbia e o Equador (desde 2004). Guiana e Suriname tornaram-se Estados Associados em 2013.
Com isso, todos os países da América do Sul fazem parte do MERCOSUL, seja como Estados Parte,
seja como Associado.
O aperfeiçoamento da União Aduaneira é um dos objetivos basilares do MERCOSUL. Como passo
importante nessa direção, os Estados Partes concluíram, em 2010, as negociações para a conformação
do Código Aduaneiro do MERCOSUL.
Na última década, o MERCOSUL demonstrou particular capacidade de aprimoramento institucional.
Entre os inúmeros avanços, vale registrar a criação do Tribunal Permanente de Revisão (2002), do
Parlamento do MERCOSUL (2005), do Instituto Social do MERCOSUL (2007), do Instituto de Políticas
Públicas de Direitos Humanos (2009), bem como a aprovação do Plano Estratégico de Ação Social do
MERCOSUL (2010) e o estabelecimento do cargo de Alto Representante-Geral do MERCOSUL (2010).
Merece especial destaque a criação, em 2005, do Fundo para a Convergência Estrutural do
MERCOSUL - FOCEM, por meio do qual são financiados projetos de convergência estrutural e coesão
social, contribuindo para a mitigação das assimetrias entre os Estados Partes.
Em operação desde 2007, o FOCEM conta hoje com uma carteira de projetos de mais de US$ 1,5
bilhão, com particular benefício para as economias menores do bloco (Paraguai e Uruguai). O fundo tem
contribuído para a melhoria em setores como habitação, transportes, incentivos à microempresa,
biossegurança, capacitação tecnológica e aspectos sanitários.
O Tratado de Assunção permite a adesão dos demais Países Membros da ALADI87 ao MERCOSUL.
Em 2012, o bloco passou pela primeira ampliação desde sua criação, com o ingresso definitivo da
Venezuela como Estado Parte. No mesmo ano, foi assinado o Protocolo de Adesão da Bolívia ao
MERCOSUL, que, uma vez ratificado pelos congressos dos Estados Partes, fará do país andino o sexto
membro pleno do bloco.
Com a incorporação da Venezuela, o MERCOSUL passou a contar com uma população de 285
milhões de habitantes (70% da população da América do Sul); PIB de US$ 3,2 trilhões (80% do PIB sul-
americano); e território de 12,7 milhões de km² (72% da área da América do Sul). O MERCOSUL passa
a ser, ainda, ator incontornável para o tratamento de duas questões centrais para o futuro da sociedade
global: segurança energética e segurança alimentar. Além da importante produção agrícola dos demais
Estados Partes, passa a ser o quarto produtor mundial de petróleo bruto, depois de Arábia Saudita, Rússia
e Estados Unidos.
Em julho de 2013, a Venezuela recebeu do Uruguai a Presidência Pro Tempore do bloco. A Presidência
Pro Tempore venezuelana reveste-se de significado histórico: trata-se da primeira presidência a ser
desempenhada por Estado Parte não fundador do MERCOSUL.
Na Cúpula de Caracas, realizada em julho de 2014, destaca-se a criação da Reunião de Autoridades
sobre Privacidade e Segurança da Informação e Infraestrutura Tecnológica do MERCOSUL e da Reunião
de Autoridades de Povos Indígenas.
Uma das prioridades da Presidência venezuelana, o foro indígena é responsável por coordenar
discussões, políticas e iniciativas em benefício desses povos. Foram também adotadas, em Caracas, as
Diretrizes da Política de Igualdade de Gênero do MERCOSUL, bem como o Plano de Funcionamento do
Sistema Integrado de Mobilidade do MERCOSUL (SIMERCOSUL).
Criado em 2012, durante a Presidência brasileira, o SIMERCOSUL tem como objetivo aperfeiçoar e
ampliar as iniciativas de mobilidade acadêmica no âmbito do Bloco.
No segundo semestre de 2014, a Argentina assumiu a Presidência Pro Tempore do MERCOSUL.
Entre os principais resultados da Cúpula de Paraná, Argentina, destacam-se: a assinatura de Memorando
de Entendimento de Comércio e Cooperação Econômica entre o MERCOSUL e o Líbano; a assinatura
de acordo-quadro de Comércio e Cooperação Econômica entre o MERCOSUL e a Tunísia; e a aprovação
do regulamento do Mecanismo de Fortalecimento Produtivo do bloco.
Em 17 de dezembro de 2014, o Brasil recebeu formalmente da Argentina a Presidência Pro Tempore
do MERCOSUL, que foi exercida no primeiro semestre de 2015. No dia 17 de julho de 2015 a Presidência
Pro Tempore foi passada ao Paraguai, que a exercerá por um período de seis meses.

87
Associação Latino Americana de Integração

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O MERCOSUL na atualidade
O MERCOSUL atravessa um processo acelerado de fortalecimento econômico, comercial e
institucional. Os Estados Partes consolidaram um modelo de integração pragmático, voltado para
resultados concretos no curto prazo. O sentido da integração do MERCOSUL atual é a busca da
prosperidade econômica com democracia, estabilidade política e respeito aos direitos humanos e
liberdades fundamentais.
Os resultados desse novo momento do MERCOSUL já começaram a aparecer. Entre os muitos
avanços recentes, destacam-se:
- aprovação do Protocolo de Cooperação e Facilitação de Investimentos (2017), que amplia a
segurança jurídica e aprimora o ambiente para atração de novos investimentos na região;
- conclusão do acordo do Protocolo de Contratações Públicas do MERCOSUL (2017), que cria
oportunidades de negócios para as nossas empresas, amplia o universo de fornecedores dos nossos
órgãos públicos e reduz custos para o governo;
- encaminhamento positivo da grande maioria dos entraves ao comércio intrabloco;
- modernização no tratamento dos regulamentos técnicos;
- apresentação dos projetos brasileiros para Iniciativas Facilitadoras de Comércio e Protocolo de
Coerência Regulatória.
- tratamento do tema de proteção mútua de indicações geográficas entre Estados Partes do
MERCOSUL;
- aprovação do Acordo do MERCOSUL sobre Direito Aplicável em Matéria de Contratos Internacionais
de Consumo (2017), que estabelece critérios para definir o direito aplicável a litígios dos consumidores
em suas relações de consumo.
Ainda há muito avanços necessários para consolidar o Mercado Comum previsto no Tratado de
Assunção, em todos os seus aspectos: a livre circulação de bens, serviços e outros fatores produtivos,
incluindo a livre circulação de pessoas; a plena vigência da TEC e de uma política comercial comum; a
coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais; e a convergência das legislações nacionais dos
Estados Partes.
Na área institucional, é fundamental tornar o MERCOSUL mais ágil, moderno e dinâmico. Também há
espaço para avançar na racionalização da estrutura institucional do Bloco, tornando-a mais enxuta,
transparente e eficiente.
Nas área de cidadania e das políticas sociais, as metas estão dadas pelo Estatuto da Cidadania e pelo
PEAS. Entre as prioridades estabelecidas pelo Brasil, destacam-se a facilitação da circulação de pessoas
no MERCOSUL, por meio da modernização e simplificação dos procedimentos migratórios, e a plena
implementação do sistema de mobilidade acadêmica do MERCOSUL.
O Brasil seguirá trabalhando para que o MERCOSUL dê continuidade à concretização de uma agenda
pragmática, tendo sempre em mente os interesses dos cidadãos e empresas do bloco no fortalecimento
da integração econômica e comercial, da democracia e da plena observância dos direitos humanos.

Questões

01. (MPE/GO – Secretário Auxiliar – MPE/GO) São Membros Plenos ou Estados Partes do Mercosul
(Mercado Comum do Sul), bloco econômico sediado na América do Sul, EXCETO:
(A) Brasil
(B) Argentina
(C) Chile
(D) Uruguai
(E) Paraguai

02. (DEMAE/GO – Técnico em Informática – CS/UFG) Alguns Blocos Econômicos agregam países
de um mesmo continente. No caso da América do Sul, onde foi criado, em 1991, o Mercado Comum do
Sul (Mercosul) pelo Tratado de Assunção, poucos países fazem parte deste Bloco, entre eles:
(A) Equador e Suriname
(B) Argentina e Uruguai
(C) Peru e Guiana Francesa
(D) Colômbia e Guiana

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Gabarito

01.C / 02.B

Comentários

01. Resposta: C
O Chile faz parte do grupo MERCOSUL apenas como Estado Associado, assim como a Bolívia,
Colômbia, Peru e Equador.

02. Resposta: B
Os membros fundadores do MERCOSUL são Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, signatários do
Tratado de Assunção de 1991. Todos os outros países que compõem o grupo estão na condição de
Estados Associados.

O segundo governo Fernando Henrique

Em seu segundo mandato, vencido novamente através da disputa contra Luiz Inácio Lula da Silva,
houveram dificuldades para manter o valor do Real em relação ao Dólar.
A partir de dezembro de 1994 eclodiu a crise cambial mexicana, e a saída de capital especulativo
relacionada à queda da cotação do dólar nos mercados internacionais começou a colocar em xeque a
estabilização da economia nacional e o Plano Real, que dependia em grande parte do capital estrangeiro.
A crise mostrou que a política de contenção da inflação com a valorização das moedas nacionais frente
ao dólar não poderia ser sustentável a longo prazo.
Negando sempre à similaridade entre o Brasil, o México e a Argentina, o governo passou a desacelerar
a atividade econômica e a frear a abertura internacional com a elevação da taxa de juros, aumento das
restrições às importações e estímulos à exportação. Com a necessidade de opor a situação econômica
brasileira à mexicana, como um sinal ao capital especulativo, o governo quis mostrar que corrigiria a
trajetória de sua balança comercial, atingindo saldo positivo.
Após a retomada do crescimento entre abril de 1996 e junho de 1997, a crise dos Tigres Asiáticos88,
que começou com a desvalorização da moeda da Tailândia, se alastrou para Indonésia, Malásia, Filipinas
e Hong Kong e acabou por atingir Nova York e os mercados financeiros mundiais.
A crise obrigou o governo a elevar novamente as taxas de juros e decretar um novo ajuste fiscal.
Novamente a fuga de capitais voltou a assolar a economia brasileira e o Plano Real.
A consequência foi a demissão de 33 mil funcionários públicos não estáveis da União, suspensão do
reajuste salarial do funcionalismo público, redução em 15% dos gastos em atividades e corte de 6% no
valor dos projetos de investimento para 1998, o que resultou em uma diminuição de 0,12% do PIB naquele
ano.
A crise se intensificou em agosto com o aumento da instabilidade financeira na Rússia, com a
desvalorização do Rublo (moeda russa) e a decretação da moratória por parte do governo.
A resposta brasileira foi a mesma de sempre, a elevação da taxa de juros básica cresceu até 49% e
um novo pacote fiscal surgiu no período de 1999/2001. No entanto, diferentemente das outras duas crises,
o governo recorreu ao FMI (Fundo Monetário Internacional) em dezembro de 1998, com quem obteve
cerca de US$ 41,5 bilhões, comprometendo-se a: manter o mesmo regime cambial, acelerar as
privatizações e as reformas liberais, realizar o pacote fiscal e assumir metas com relação ao superávit
primário. O que gradativamente desvalorizou o Real.

O fim da âncora cambial


Nos primeiros dias do segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, em janeiro de 1999, a
repercussão da crise cambial russa chegou ao seu limite no Brasil. As elevadas taxas de juros
começavam a perder força como ferramenta de manutenção do capital externo na economia brasileira e
um novo déficit recorde na conta de transações correntes obrigou o governo a mudar a banda cambial,
que foi ampliada para R$ 1,32.
Logo no primeiro dia, o Real atingiu o limite máximo da banda, sendo desvalorizado em 8,2%, o que
influenciou na queda do valor dos títulos brasileiros no exterior e das bolsas de valores do mundo todo.
O Banco Central tentou defender o valor da moeda vendendo dólares, mas a saída de capitais continuou
ameaçando se aproximar do limite de 20 bilhões, que foi acordado com o FMI no ano anterior. Nesse

88
Cingapura, Coreia do Sul, Taiwan (República da China) e Hong Kong (região administrativa da República Popular da China).

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momento, o governo não teve outra escolha senão deixar o câmbio flutuar livremente, alcançando a
cotação de R$ 1,98 em relação ao Dólar em 13 dias.
Os índices de desemprego atingiram um alto nível, alcançando 7,6 milhões de pessoas em 1999,
número três vezes maior que os 2 milhões do final da década de 1980. Apenas a Federação Russa, com
9,1 milhões e a Índia com 40 milhões possuíam taxas de desemprego maiores do que as do Brasil.
No plano político, foi aprovada em 2000 a Lei de Responsabilidade Fiscal, com o objetivo de controlar
os gastos do poder público e de restringir as dívidas deixadas por prefeitos e governadores a seus
sucessores.

O governo Lula

Pouco antes de encerrar seu primeiro mandato, Fernando Henrique aprovou uma emenda que alterou
a constituição, permitindo a reeleição por mais um mandato. Com o fim de seu segundo mandato em
2002, José Serra, que foi ministro da saúde e um dos fundadores do PSDB foi apoiado por Fernando
Henrique para a sucessão.
Do lado da oposição, Lula concorreu à presidência pela quarta vez, conseguindo levar a disputa para
o segundo turno com o candidato tucano, quando obteve 61% dos votos válidos. A vitória de Lula foi
atribuída ao desejo de mudança na distribuição de riquezas, entre diversos grupos sociais.
Em seus dois mandatos, de 2003 a 2010, não foram adotadas medidas grandiosas, com o presidente
buscando ganhar progressivamente a confiança de agentes econômicos nacionais e internacionais. Foi
mantida a política econômica do governo FHC, com a busca pelo combate da inflação por meio de altas
taxas de juros e estímulos à exportação. Em 2005 foi saldada a dívida com o FMI.
Como resultado da política econômica, em julho de 2008 a dívida externa total do país era de US$ 205
bilhões, e o país possuía reservas internacionais acima dos US$ 200 bilhões. As exportações bateram
recordes sucessivos durante o governo Lula, com ampliação do saldo positivo da balança comercial.
No plano social, o projeto de maior repercussão e sucesso foi o Bolsa-Família, baseado na
transferência direta de recursos para famílias de baixa ou nenhuma renda. Em janeiro de 2009 o programa
já contava com mais de 10 milhões de famílias atendidas, recebendo uma remuneração que variava de
R$ 20,00 a R$ 182,00. Para utilizar o programa, era exigência a frequência escolar e vacinação das
crianças. O programa teve como efeito a melhoria alimentar e nutricional das famílias mais pobres, além
de uma leve diminuição nas desigualdades sociais.
Em seu segundo mandato, destacou-se o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O Mensalão
Em 2005, o deputado federal Roberto Jefferson (PTB – RJ) denunciou no jornal Folha de São Paulo o
esquema de compra de votos conhecido como Mensalão.
No Mensalão deputados da base aliada do PT recebiam uma “mesada” de R$ 30 mil para votarem de
acordo com os interesses do partido. Entre os parlamentares envolvidos no esquema estariam membros
do PL (Partido Liberal), PP (Partido Progressista), PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro)
e do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro).
Entre os nomes mais citados do esquema estão: José Dirceu, que na época era ministro da Casa Civil
e foi apontado como chefe do esquema, Delúbio Soares era Tesoureiro do PT e foi acusado de efetuar
os pagamentos aos participantes e Marcos Valério, que era publicitário e foi acusado de arrecadar o
dinheiro para os pagamentos.
Outras figuras de destaque no governo e no PT também foram apontadas como participantes do
mensalão, tais como: José Genoíno (presidente do PT), Sílvio Pereira (Secretário do PT), João Paulo
Cunha (Presidente da Câmara dos Deputados e ex-Ministro das Comunicações), Luiz Gushiken (Ministro
dos Transportes), Anderson Adauto, e até mesmo o Ministro da Fazenda, Antônio Palocci.

Governo Dilma Rousseff89

Primeira mulher presidente


As viagens internacionais e os encontros com chefes de Estado marcaram os primeiros meses do
governo Dilma em razão do ineditismo de o Brasil ser representado por uma presidente mulher. Entre as
visitas mais importantes está a do presidente dos EUA, Barack Obama, ao Brasil, em março de 2011.
Em setembro, ela foi a primeira mulher a fazer o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU.
Em sua fala, disse que era a "voz da democracia" e defendeu a criação do Estado Palestino.
89
BBC BRASIL. De aprovação recorde ao impeachment: relembre os principais momentos do Governo Dilma. BBC Brasil. http://www.bbc.com/portuguese/brasil-
37207258

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No roteiro de viagens de Dilma, além de países da América do Sul, estiveram França, África, Bélgica,
Grécia e Turquia.

Troca de ministros e 'faxina ética'


Antes de completar um ano de governo, Dilma viu sete ministros caírem, seis deles por acusações de
corrupção. Em dezembro de 2010, o recém-indicado ministro do Turismo, Pedro Novais, foi o primeiro
integrante do governo a ser acusado, antes mesmo da posse. Denunciado por irregularidades cometidas
quando era deputado, acabou deixando a pasta em setembro de 2011.
O primeiro ministro a sair, no entanto, foi Antonio Palocci, que deixou a Casa Civil em 8 de junho do
mesmo ano, um dia após as acusações contra ele terem sido arquivadas pelo procurador-geral da
República, Roberto Gurgel. Palocci era suspeito de enriquecimento ilícito, porque teria multiplicado seu
patrimônio em 20 vezes nos quatro anos anteriores. A senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) assumiu a pasta.
Os ministros Alfredo Nascimento (Transportes), Nelson Jobim (Defesa), Wagner Rossi (Agricultura),
Orlando Silva (Esportes) e Carlos Lupi (Trabalho) completaram a lista de baixas.
A forma enérgica como Dilma lidou com esses episódios fez com que parte da população passasse a
vê-la como a grande responsável pela "faxina ética" contra a corrupção.
Isso se refletiu na aprovação de 59% da população - o maior índice para o primeiro mandato de um
presidente desde a redemocratização, maior até que a popularidade de Lula nos primeiros quatro anos
na presidência, que foi de 52%.

Lava Jato e Pasadena


Deflagrada em março de 2014, a operação Lava Jato começou a investigar um grande esquema de
lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras e políticos.
Uma das primeiras prisões, também em março, foi a do doleiro Alberto Youssef. Dias depois, houve a
prisão de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras. Costa era investigado pelo
Ministério Público Federal por supostas irregularidades na compra pela Petrobras da refinaria de
Pasadena, no Texas, em 2006.
Indícios de que a compra da refinaria teria sido desastrosa para a estatal - em uma época em que
Dilma ainda era ministra de Minas e Energia do governo Lula e presidente do Conselho Administrativo da
empresa - levaram ao pedido de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Duas CPIs
acabaram sendo criadas: uma exclusiva do Senado e uma mista.
Depois de meses de investigação, a CPI mista aprovou o relatório do deputado Marco Maia (PT-RS),
que pedia o indiciamento de 52 pessoas e reconhecia prejuízo de US$ 561,5 milhões (R$ 1,9 bilhão) à
época, na compra da refinaria.
Costa e Youssef assinaram com o Ministério Público Federal acordos de delação premiada para
explicar detalhes do esquema e receber, em contrapartida, alívio de penas.
Em novembro de 2014, a Polícia Federal deflagrou uma nova fase da Lava Jato, que envolveu buscas
em grandes empreiteiras como Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht e outras sete companhias.

Economia em desaceleração
No primeiro ano do governo Dilma a economia já dava sinais de desaceleração, depois de o PIB
brasileiro ter crescido 7,5% em 2010, o maior avanço desde 1986. Em 2011, o PIB cresceu 2,7%, bem
menos que os 5,5% projetados.
O ponto positivo ficou por conta do emprego formal, que se mantinha em alta e apenas 5% da
população economicamente ativa estava desempregada. No entanto, à medida que o primeiro mandato
avançava, a economia apresentava mais resultados preocupantes.
Em 2012, ela cresceu 0,9%, o pior desempenho desde 2009. No ano seguinte, se recuperou
impulsionada pela alta de investimentos - o governo fez várias linhas de financiamento - e a alta do PIB
foi de 2,3%.
Para enfrentar a desaceleração, o governo apelou para medidas de desoneração, tanto para o setor
produtivo quanto para os consumidores. Pacotes de estímulos fiscais e financeiros também foram
lançados contra os gargalos de infraestrutura, como nas estradas e portos.
Segundo cálculos feitos por auditores da Receita Federal para a Folha de S. Paulo, as desonerações
concedidas pelo governo desde 2011 somariam estimados R$ 458 bilhões em 2018, quando deveria
terminar o segundo mandato de Dilma.
A redução de impostos começou no governo Lula, como forma de estimular o crescimento do país. No
entanto, passou a ser mais intensa quando Dilma foi eleita e avançou fortemente no primeiro ano de
mandato.

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As desonerações aumentaram a dívida bruta do país. Em 2014, o setor público gastou R$ 32,5 bilhões
a mais do que arrecadou com tributos — o equivalente a 0,63% do PIB, o primeiro déficit desde 2002.

Pedaladas fiscais
Em 2013 começaram a ocorrer as chamadas pedaladas fiscais, nome dado à prática do Tesouro
Nacional de atrasar de forma proposital o repasse de dinheiro para os bancos públicos, privados e
autarquias, como o INSS.
O objetivo era melhorar artificialmente as contas federais. Ao deixar de transferir o dinheiro, o governo
apresentava todos os meses despesas menores do que elas deveriam ser na prática.

Segundo Governo Dilma

Eleições de 2014
A campanha presidencial foi marcada pela disputa acirrada por votos e pela morte do candidato do
PSB, Eduardo Campos, que estava em terceiro lugar nas pesquisas e era considerado uma via alternativa
à oposição PT-PSDB. Marina Silva, substituta de Campos, logo saiu do páreo. Dilma foi reeleita com
51,64% dos votos válidos.

Popularidade abalada
A popularidade da presidente se inverteu no segundo mandato, com os efeitos da situação econômica
e da crise de governabilidade. Nos primeiros três meses de 2016, pesquisa CNI-Ibope (Confederação
Nacional da Indústria) apontou que somente 24% dos entrevistados diziam confiar em Dilma, o pior
resultado desde o início do segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1999.

Ajuste fiscal e desemprego


No primeiro mandato, sinais de que a meta do superávit primário (economia para pagar os juros da
dívida) não seria cumprida levaram o governo a adotar, no primeiro mandato, um ajuste fiscal voltado à
redução de gastos públicos.
Em 2015, encabeçado pelo então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o ajuste voltou a fazer parte da
agenda econômica do governo, mas para recompor as receitas. A nova prioridade da política econômica
era reequilibrar as contas públicas.
Para isso, Levy lançou medidas que ficaram conhecidas como "pacote de maldades", com o objetivo
de aumentar a arrecadação federal e retomar o crescimento da economia, entre elas, medidas provisórias
que alteraram o acesso a direitos previdenciários como seguro-desemprego e pensão por morte. Logo
nos primeiros meses, houve também ajustes nos preços dos combustíveis e da eletricidade para
aumentar a arrecadação.
No entanto, muitos economistas consideram que o corte necessário de gastos não veio, assim como
o aumento de impostos, o que foi agravado pela crescente dificuldade do governo de dialogar com o
Congresso.
Em 2015, o PIB caiu 3,8%. Tarifas de ônibus e energia elétrica, além de impostos e taxas, como IPVA
e IPTU, estiveram por trás da alta da inflação, que bateu 7% nos primeiros meses do ano.
Com a economia em crise, o mercado de trabalho passou por dificuldades, com reflexos sobre o
emprego e formalização do trabalho.
A taxa de desemprego do país cresceu para 8,5% na média no ano passado, conforme divulgação do
IBGE. Esse resultado é o maior já medido pela Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios), iniciada em 2012. Em 2014, a média foi de 6,8%.
Depois de uma sequência de derrotas em sua batalha para promover o ajuste, inclusive a perda do
grau de investimento do país, Levy deixou o governo em dezembro de 2015.

Lava Jato
As fases da operação Lava Jato monopolizaram as manchetes dos jornais desde 2014. Entre os
momentos mais importantes estão a prisão dos presidentes da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e da
Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo.
O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto foi condenado a 15 anos e quatro meses de prisão por
corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Ele teria recebido cerca de R$ 4,26
milhões em propinas envolvendo contratos da Petrobras. O então senador e líder do governo no Senado
Delcídio do Amaral (ex-PT) foi preso sob acusação de tentar obstruir as investigações da Lava Jato, foi o
primeiro caso no Brasil de prisão de senador no exercício do cargo.

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Protestos "Fora Dilma"
Em um cenário de crise econômica e ajustes fiscais, a reprovação do governo Dilma chegou a 62%
em 2015, de acordo com o Datafolha, e levou milhares às ruas das principais cidades do país. As
principais bandeiras dos manifestantes eram o combate a corrupção e a saída de Dilma e do PT do
governo. Muitos elogiavam a atuação do juiz Sérgio Moro, da Lava Jato.
Realizada após novos protestos nas ruas, pesquisa do Datafolha indicou que o segundo mandato da
petista já alcançou a mais alta taxa de rejeição de um presidente desde setembro de 1992, pouco antes
do impeachment de Fernando Collor.

Saída do PMDB e isolamento


A saída do PMDB, partido do vice-presidente, Michel Temer, da base aliada concretizou o isolamento
da presidente no Congresso. O afastamento da presidente dos parlamentares se agravou com a marcha
do processo de impeachment e o convite feito a Lula para ocupar a Casa Civil.
A tentativa de trazer Lula para construir pontes com os partidos enfrentou forte resistência e levou
milhares de manifestantes às ruas, além de afastar possibilidades de novas alianças.

Impeachment
Em dezembro de 2015, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, autorizou o pedido para a abertura
do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Ele deu andamento ao requerimento formulado pelos
juristas Hélio Bicudo, fundador do PT, Janaina Paschoal e Miguel Reale Júnior. Os juristas atacaram as
chamadas "pedaladas fiscais", prática atribuída ao governo de atrasar repasses a bancos públicos a fim
de cumprir as metas parciais da previsão orçamentária.
Em abril, a Câmara aprovou a Comissão Especial do Impeachment. Por 38 votos a 27, a comissão
aprovou no dia 11 de abril o parecer do relator Jovair Arantes (PTB-GO) favorável à abertura do processo
de afastamento da presidente. O afastamento da presidente também passou pelo plenário da Câmara,
por 367 votos a favor e 137 contra.
O processo seguiu para o Senado. No dia 6 de maio, a Comissão Especial do Impeachment da Casa
aprovou por 15 votos a 5, o parecer do relator Antonio Anastasia (PSDB-MG), favorável à abertura de um
processo contra Dilma.
Em seguida, o plenário decidiu por 55 votos a 20 que a petista seria processada e, assim, afastada
temporariamente do cargo para o julgamento. Ela deixou o cargo em 12 de maio. Em seu primeiro
discurso na nova condição, Dilma Rousseff afirmou que o processo de impeachment era "fraudulento" e
um "verdadeiro golpe".

Posse de temer

Três horas após o afastamento de Dilma Rousseff, Michel Temer foi empossado o novo presidente da
República. Na primeira reunião ministerial do governo, Temer destacou que agora a cobrança sobre o
governo seria "muito maior" e rejeitou a acusação de que o impeachment foi um golpe. "Golpista é você,
que está contra a Constituição", afirmou dirigindo-se a Dilma.

Repercussão e manifestações
Após a votação final do impeachment, houve protestos a favor e contra Temer pelo país. A Avenida
Paulista, se tornou um exemplo da divergência de opiniões entre os manifestantes. Um grupo protestava
contra o impeachment, enquanto outro comemorava seu desfecho.

Repercussão internacional
A rede norte-americana CNN deu grande destaque à notícia em seu site e afirmou que a decisão é
“um grande revés” para Dilma, mas "pode não ser o fim de sua carreira política". O argentino “Clarín”
afirma que o afastamento de Dilma marca “o fim de uma era no Brasil”. O “El País”, da Espanha, chamou
a atenção para a resistência da ex-presidente, que decidiu enfrentar o processo até o final, apesar das
previsões de que seu afastamento seria concretizado.

E como fica agora?90


O rito da destituição de Dilma foi consumado e o Partido dos Trabalhadores (PT), que a sustentava,
passa à oposição depois de 13 anos no poder. Porém o Senado manteve os direitos políticos de Dilma,
o que lhe permitirá se candidatar a cargos eletivos e exercer funções na administração pública.

90
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/09/01/opinion/1472682823_081379.html

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A saída da presidente era desejada, segundo as pesquisas, por 61% dos brasileiros, o que não impede
que tenha sido uma comoção nacional.
Atualmente o presidente Temer está afundado em denúncias e escândalos e também sofre grande
pressão para deixar o cargo.

Questões

01. (IF/AL- CEFET) O Brasil, a partir do processo de redemocratização (1985), definiu-se por medidas
econômicas que foram significativamente adotadas. Podemos afirmar que entre as medidas citadas
consta:
(A) Processo de privatização em ramos da economia, como comunicação e mineração.
(B) Prioridade na ampliação do comércio internacional com os países africanos e asiáticos.
(C) Proteção da indústria nacional, por meio do aumento de tarifas alfandegárias de importações.
(D) Retirada da prioridade para exportações dos produtos agrícolas nacionais.
(E) Um intenso programa de reforma agrária no país, inclusive sem indenizações das terras
desapropriadas.

02. (CESGRANRIO) Nas cidades gregas da Antiguidade, a democracia limitava-se à minoria da


população. Os escravos e as mulheres não tinham direitos políticos. Além disso, só aqueles que nasciam
na cidade de Atenas podiam ser cidadãos.

De acordo com a Constituição Brasileira de 1988, quem NÃO pode votar no Brasil atualmente são os
(A) maiores de 70 anos.
(B) maiores de dezesseis anos.
(C) estrangeiros naturalizados.
(D) analfabetos.
(E) que estão cumprindo o serviço militar obrigatório.

03. (MPE/SP – VUNESP) Com o fim da ditadura e o restabelecimento da normalidade democrática, a


escolha do Presidente da República passou a ocorrer por meio do voto popular, exigindo que os
candidatos expusessem suas propostas e o histórico de sua atuação política. Nos anos 1980 e 1990,
respectivamente, o Brasil conheceu um candidato popularmente chamado de “O caçador de marajás” e
outro que, enquanto foi Ministro da Fazenda, ganhou notoriedade pela implantação do Plano Real,
responsável pela estabilização da economia nacional. Esses presidentes foram, respectivamente,
(A) Fernando Collor de Mello e Tancredo Neves.
(B) José Sarney e Fernando Henrique Cardoso.
(C) Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso.
(D) Tancredo Neves e Itamar Franco.
(E) Itamar Franco e Luiz Inácio Lula da Silva.

Gabarito
01.A / 02.E / 03.C

Comentários
01. Resposta: A
Entre as medidas tomadas para garantir o funcionamento da economia brasileira estiveram os
programas de privatização de algumas empresas estatais, como a Vale do Rio Doce, por exemplo.

02. Resposta: E
Os menores de 16 anos, os conscritos (o jovem prestando serviço militar obrigatório), e os presos com
sentença transitada em julgado que estejam cumprindo suas penas privativas de liberdade não podem
votar. A razão para isso é que todos eles seriam facilmente manipuláveis pelos pais, pelo comandante do
quartel ou pelo diretor do presídio.

03. Resposta: C
Collor, durante a campanha presidencial, apresentou-se como caçador de marajás, termo referente
aos corruptos que beneficiavam-se do dinheiro público. Seus discursos possuíam forte influência do
populismo, principalmente do Peronismo argentino, dizendo-se representante dos descamisados
(população mais pobre).

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1484997 E-book gerado especialmente para NADIA NARCISA DE BRITO SANTOS
O sucesso do Plano Real garantiu a Fernando Henrique a vitória nas eleições de 1994 logo no primeiro
turno, contra o candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

7 Atualidades

Política
saúde
Decreto cria cotas para presidiários e ex-detentos em contratos de serviços à União91

Decreto assinado nesta terça (24) pela presidente em exercício, Cármen Lúcia, define que empresas
com contratos acima de R$ 330 mil têm que oferecer entre 3% a 6% das vagas a presos.
A presidente da República em exercício, Cármen Lúcia, assinou nesta terça-feira (24/07) decreto para
determinar que empresas contratadas pelo governo federal para prestação de serviços ofereçam cotas
para presidiários e ex-presidiários sempre que os contratos ultrapassarem R$ 330 mil. O governo alegou
que a medida visa a estimular a ressocialização de apenados.
O decreto presidencial, de acordo com o governo, torna “obrigatória” a contratação de presos e ex-
presidiários por parte das empresas que vencerem licitações para serviços com a administração pública
federal direta e também com autarquias e fundações. Entre os serviços que poderão passar a ser
executados por detentos e ex-presidiários estão, por exemplo, atividades de consultoria, limpeza,
vigilância e alimentação.
A assessoria da Presidência informou que o decreto será publicado na edição desta quarta (25/07) do
“Diário Oficial da União”.
Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmen Lúcia está interinamente no comando do
Palácio do Planalto em razão de viagens ao exterior do presidente Michel Temer e dos presidentes da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE).
O decreto assinado pela presidente em exercício institui a “Política Nacional de Trabalho no âmbito do
Sistema Prisional”, que foi apresentada nesta terça em uma entrevista coletiva concedida pelos ministros
Raul Jungmann (Segurança Pública) e Gustavo Rocha (Direitos Humanos).
“Nos editais de licitação já haverá a previsão para contratação desses presos e, preenchidos os
critérios do edital, será obrigatório que essas empresas absorvam essa mão de obra de forma a permitir
uma maior ressocialização desse apenado ou desse egresso”, explicou Rocha.
A medida se aplica a presos provisórios, presos dos regimes fechado, semiaberto ou aberto, ou
egressos do sistema prisional. Conforme o decreto, as empresas terão de destinar um percentual de
vagas para presos e ex-presidiários em cada contratos firmados com o governo federal.

- 3% das vagas para contratos que exijam contratação de 200 ou menos funcionários;
- 4% das vagas para contratos que exijam contratação de 201 a 500 funcionários;
- 5% das vagas para contratos que exijam contratação de 501 a 1 mil funcionários;
- 6% das vagas para contratos que exijam a contratação de mais de 1 mil funcionários

Autorização judicial
O ministro de Direitos Humanos ressaltou na entrevista que caberá ao juiz responsável pela execução
da pena dos presos analisar se o detento tem condições de atuar na prestação de serviços para a
administração pública federal.
No caso de presidiários do regime fechado, o detento contratado deverá ter cumprimento, no mínimo,
um sexto da pena, ter autorização do juiz da vara de execuções penais e ainda terá que comprovar
"aptidão, disciplina e responsabilidade".
Gustavo Rocha afirmou ainda que, caso não haja presídios ou ex-presidiários em determinada região
onde o contrato com a União é executado, a empresa que ganha a licitação não precisará cumprir o
percentual mínimo de vagas.
"É possível que em determinados locais não haja presídios ou egressos do sistema prisional. Em razão
de uma impossibilidade de contratação, essa regra pode ser excepcionada", ponderou o ministro.

91
Guilherme Mazui. Decreto cria cotas para presidiários e ex-detentos em contratos de serviço à União. G1 Política.
https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/07/24/decreto-presidencial-cria-cotas-para-presos-e-ex-presidiarios-em-contratos-de-servicos-a-uniao.ghtml. Acesso em 25
de julho de 2018

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Ressocialização
Em meio à entrevista, Jungmann disse que a oferta de emprego para presos e ex-presidiários é
fundamental para criar uma "possibilidade real" de ressocialização e para combater o "recrutamento" de
facções nos presídios.
O ministro da Segurança Pública lembrou que o Brasil tem em torno de 726 mil presos, em um sistema
prisional dominado por cerca de 70 facções. Jungmann informou que, do total de apenados no Brasil,
12% trabalham e 15% estão em atividades educacionais.
"Se nós não implementarmos e não levarmos e ampliarmos um programa como esse, as facções
criminosas estarão sempre criando a dependência, seja dos presos seja dos egressos. Essa política tem
uma função fundamental", defendeu Jungmann.

Caminhoneiros autônomos se dizem satisfeitos com nova proposta de Temer92

Representantes da categoria se reuniram com o presidente em Brasília. Eles disseram que vão orientar
motoristas a encerrar greve após publicação das medidas no 'Diário Oficial'.
Representantes de caminhoneiros autônomos afirmaram que aprovam as medidas para a categoria
anunciadas mais cedo neste domingo (27/05) pelo presidente Michel Temer.
Com a nova proposta, detalhada por Temer durante pronunciamento, o governo espera encerrar a
greve dos caminhoneiros, que chegou neste domingo ao sétimo dia.
Entre as medidas está a redução de R$ 0,46 no preço do litro do diesel por 60 dias e a isenção de
pagamento de pedágio para eixos suspensos de caminhões vazios. Apenas a redução de R$ 0,46 no
preço do diesel custará ao governo R$ 10 bilhões.
No pacote, estava prevista a edição de três medidas provisórias para atender à demanda dos
caminhoneiros. As MPs saíram em edição extra do Diário Oficial da União publicada no fim da noite deste
domingo.
Durante o pronunciamento de Temer, foram registrados panelaços no DF, Rio de Janeiro e São Paulo.

Fim da greve?

"Saiu no 'Diário Oficial', a nossa recomendação é que aceitem [as propostas e liberem as estradas]",
afirmou Carlos Alberto Litti Dahmer, presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga
(Sinditac) de Ijuí (RS).
"Eles [caminhoneiros] só vão aceitar [o acordo proposto pelo governo] após saírem publicadas no
'Diário Oficial' as medidas que foram negociadas aqui", disse José da Fonseca Lopes, presidente da
Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), uma das entidades que não tinham assinado o acordo
na quinta-feira (24/05).
O grupo não tinha assinado o acordo proposto pelo governo na quinta-feira (24/05) por entender que
ele não atendia às suas reivindicações. Diante da manutenção da greve pelos caminhoneiros, as
entidades foram chamadas de volta a Brasília neste domingo para negociar a nova proposta.
De acordo com eles, com as estradas desobstruídas, serão necessários de 8 a 10 dias para normalizar
o abastecimento de combustível e alimentos no país.
"Daquilo que se propunha, o nosso movimento está contemplado. Nós queríamos piso mínimo de frete,
suspensão no preço do combustível do PIS-Cofins, que está contemplado, queríamos a suspensão por
60 dias de novos reajustes para ter previsibilidade e o setor se organizar. Está contemplado", afirmou
Dahmer.
Para ele, uma das principais conquistas para a categoria será a fixação de um valor mínimo para o
frete.
"Essa política de preço vai fazer com que a gente saiba a quanto está trabalhando e ninguém vai poder
nos explorar menos do que aquele valor, que será o nosso custo", disse.

Corte do PIS-Cofins e CIDE

A proposta anunciada por Temer prevê a redução de R$ 0,46 no litro do diesel, que terá validade por
60 dias. A partir daí, os reajustes no valor do combustível serão feitos a cada 30 dias, decisão que,
segundo o presidente, visa dar mais "previsibilidade" aos motoristas.
Ele informou que o corte de R$ 0,46 se dará com a redução a zero das alíquotas do PIS-Cofins e da
Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) sobre o diesel.
92
FERNANDA CALGARO. Caminhoneiros autônomos se dizem satisfeitos com nova proposta de Temer. G1 Política.
<https://g1.globo.com/politica/noticia/caminhoneiros-autonomos-se-dizem-satisfeitos-com-nova-proposta-de-temer.ghtml> Acesso em 28 de maio de 2018.

. 150
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A proposta anterior, divulgada na quinta, já contemplava o corte na CIDE. A novidade, portanto, é a
suspensão da cobrança do PIS-Cofins sobre o diesel.
No caso do diesel, os valores praticados pela Petrobras são mais da metade (55%) do preço pago pelo
consumidor nos postos; 7% é o custo do biodiesel, que, por lei, deve compor 10% do diesel, e 9%
corresponde aos custos e lucro dos distribuidores, conforme os cálculos da Petrobras, que levam em
conta a coleta de preços entre os dias 6 e 12 de maio em 13 regiões metropolitanas do país.
Cerca de 29% são tributos, sendo:
- 16% ICMS, recolhido pelos Estados
- 13% Cide e PIS-Cofins, de competência da União.
O ministro Carlos Marun disse que o Procon vai fiscalizar se a redução anunciada por Temer chegará
às bombas.
"A redução vai chegar às bombas. O Procon está, inclusive, editando medida e vai fazer fiscalização
no sentido de que o nosso objetivo, de que essa redução chegue ao tanque do caminhoneiro, se torne
realidade", afirmou.

Eixo suspenso e fretes da Conab

Temer também anunciou a edição de três medidas provisórias para atender a outras demandas dos
grevistas. As MPs saíram em edição extra do Diário Oficial da União publicada na noite deste domingo e
preveem:
- Isenção da cobrança de pedágio para eixo suspenso de caminhões vazios, em rodovias federais,
estaduais e municipais;
- Determinação para que 30% dos fretes da Conab sejam feitos por caminhoneiros autônimos;
- Estabelecendo de tabela mínima dos fretes.
Medidas provisórias têm força de lei e começam a valer assim que o texto é publicado no "Diário Oficial
da União". A partir daí, o Congresso Nacional terá até 120 dias para analisar as MPs. Se isso não
acontecer no prazo, as medidas perderão validade.

Reoneração da folha

Durante o pronunciamento, o presidente afirmou que os pontos do acordo negociado na semana


passada seguem valendo, entre eles o que tira o setor de transporte rodoviário de carga da chamada
reoneração da folha.
A proposta, que na prática eleva a arrecadação federal, já foi aprovada pela Câmara e ainda depende
de análise do Senado. Vários setores que haviam sido atendidos com a desoneração perderão o
benefício. Segundo Temer, o setor dos caminhoneiros não estará entre esses setores.

Aos 2 anos, governo Temer festeja economia, mas enfrenta impopularidade, denúncias e crise
política; relembre93

Reeleito vice-presidente em 2014, Temer assumiu Presidência interinamente em 12 de maio de 2016,


devido ao afastamento de Dilma. Três meses depois, foi efetivado após impeachment da petista.
Passados dois anos desde o afastamento de Dilma (o impeachment só foi aprovado em 31 de agosto
de 2016), Temer lidera um governo que ostenta queda da inflação e a redução da taxa de juros, mas que
tenta lidar com o aumento no número de desempregados e com os altos índices de rejeição.
Hoje, Temer conduz um governo alvo de denúncias da Procuradoria Geral da República (PGR),
envolvido em crises políticas e no foco de investigações criminais.

Aprovação

Nove meses após tomar posse para o segundo mandato como vice-presidente, Temer afirmou num
evento, em setembro de 2015, que seria "difícil" Dilma Rousseff aguentar mais três anos no Palácio do
Planalto em razão da baixa popularidade. À época, ela tinha 8% de aprovação.
Temer assumiu a Presidência de maneira interina em maio de 2016 e no primeiro discurso afirmou
que, para governar, precisaria do "apoio do povo", que, por sua vez, precisaria "aplaudir" as medidas
adotadas.

93
MAZUI G. MATOSO, F. MARTELLO, A. Aos 2 anos, governo Temer festeja economia, mas enfrenta impopularidade, denúncias e crise política; relembre. G1
Política. <https://g1.globo.com/politica/noticia/aos-2-anos-governo-temer-festeja-economia-mas-enfrenta-impopularidade-denuncias-e-crise-politica-
relembre.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1> Acesso em 14 de maio de 2018.

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Hoje, a aprovação do presidente, segundo o Datafolha, é de 6% - 70% consideram o governo ruim ou
péssimo.
Em recente entrevista, Temer afirmou que um publicitário disse a ele que "aproveite a impopularidade"
para fazer as reformas necessárias ao país.

Economia

O presidente apontou como maior desafio "estancar o processo de queda livre na atividade
econômica".
Em dois anos, Temer acostumou-se a badalar índices alcançados em sua gestão, como a alta do PIB
em 2017 (1%) após dois anos de retração e as quedas da inflação e da taxa básica de juros (6,5% ao
ano), a menor da série histórica do Banco Central, iniciada em 1986.
No mercado de trabalho, contudo, o governo não conseguiu reduzir o número de desempregados, pelo
contrário. Segundo o IBGE, quando Temer assumiu eram 11,4 milhões e hoje, 13,7 milhões.

Crises

Nesses dois anos à frente do Planalto, Temer enfrentou uma série de polêmicas causadas por
denúncias, delações, prisões de assessores mais próximos e investigações da Polícia Federal.
No ano passado, o presidente foi denunciado duas vezes ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela
Procuradoria Geral da República (PGR). Os crimes: corrupção passiva, organização criminosa e
obstrução de Justiça.
As denúncias, baseadas nas delações da JBS, fizeram Temer viver seu momento mais dramático no
governo.
Segundo o Ministério Público, numa conversa com o dono da empresa, Joesley Batista, Temer deu
aval ao pagamento de dinheiro para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, o que o
presidente nega. O encontro aconteceu no fim da noite, fora da agenda, e foi gravado por Joesley.
O STF só poderia analisar as denúncias, porém, se a Câmara autorizasse. Nos dois casos, a maioria
dos deputados votou contra o prosseguimento dos processos e, com isso, as acusações contra Temer
só poderão ser analisadas após ele deixar o Planalto.

Investigações

Hoje, Temer é alvo de dois inquéritos que tramitam no STF. Com base nas delações de executivos da
JBS e da Obderecht, o presidente passou a ser investigado por suposto recebimento de propina na edição
do decreto dos portos e em contratos da Secretaria de Aviação Civil.
A pasta da Aviação foi comandada por Moreira Franco, atual ministro de Minas e Energia, e Eliseu
Padilha, atual chefe da Casa Civil, ambos do MDB, principais conselheiros de Temer e formalmente
denunciados pelo Ministério Público ao STF.
Além dos dois, outras pessoas muito próximas ao presidente passaram a ser investigadas e até foram
presas, entre as quais:
Rodrigo Rocha Loures, ex-deputado e ex-assessor especial de Temer;
José Yunes, ex-assessor especial de Temer;
João Baptista Lima Filho, coronel aposentado da PM e amigo de Temer;
Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Temer.

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O presidente nega qualquer tipo de envolvimento com irregularidades. Afirma ser vítima de uma
"campanha oposicionista" para enfraquecer o governo, acrescentando que é alvo de "vazamentos
irresponsáveis" de dados relacionados às investigações sobre ele.
Sobre se tem medo de ser preso ao deixar o cargo, o presidente diz que não, acrescentando que isso
seria uma "indignidade".

Julgamento do TSE

Em junho de 2017, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) garantiu a continuidade do governo de Michel
Temer ao absolver, por 4 votos a 3, a chapa formada por ele e por Dilma da acusação de abuso de poder
político e econômico na campanha de 2014.
A ação foi apresentada pelo PSDB após a eleição e apontava mais de 20 infrações supostamente
cometidas pela coligação encabeçada por PT e PMDB (hoje MDB).
Com o placar apertado, cujo voto decisivo foi dado pelo ministro Gilmar Mendes, então presidente do
TSE, Temer escapou da perda do atual mandato e Dilma, da inelegibilidade por 8 anos.

Reformas e concessões
Temer chegou ao poder com discurso em favor das reformas trabalhista e previdenciária, tendo como
objetivo "o pagamento das aposentadorias e a geração de emprego".
Nesses dois anos:
Nova lei trabalhista entrou em vigor;
Reforma do ensino médio foi sancionada;
Reforma da Previdência parou no Congresso;
Reforma tributária não avançou na Câmara.

Temer também defendeu, ao assumir o governo, o incentivo às parcerias público-privadas (PPPs). O


presidente lançou um programa de concessões e privatizações.
Segundo dados oficiais, 74 projetos foram concluídos, o que inclui quatro aeroportos, linhas de
transmissão, terminais portuários e blocos para exploração de óleo e gás.
Dentro do programa de concessões, uma das principais apostas do governo para 2018 é a privatização
da Eletrobras, que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional.

Contas públicas

Quando Temer assumiu, afirmou ser preciso restaurar o equilíbrio das contas públicas "trazendo a
evolução do endividamento no setor público de volta ao patamar de sustentabilidade ao longo do tempo".
Desde então, foram anunciadas algumas medidas, como a instituição de um teto para os gastos
públicos; o aumento da tributação sobre a gasolina; a aprovação da Taxa de Longo Prazo (TLP) – que
diminui, com o passar do tempo, o pagamento de subsídios pelo governo.
Também foram anunciados programas de parcelamento de tributos vencidos para empresas,
produtores rurais e estados e municípios. Esses parcelamentos, mesmo criticados pela área técnica da
Receita Federal – pois influenciam para baixo o recolhimento mensal dos impostos –, contribuem para
elevar a arrecadação no curto prazo.

Intervenção federal
Em 16 de fevereiro, o presidente decretou a intervenção federal na área de segurança pública do Rio
de Janeiro, a primeira desde a Constituição de 1988.
Com a decisão, o governador Luiz Fernando Pezão (MDB) deixou de responder pela área, que ficou
sob a gestão do general do Exército Walter Braga Netto, escolhido por Temer como interventor.

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No período, o fato de maior repercussão no Rio foi o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL),
cuja investigação segue em curso.
Temer também criou, neste ano, o Ministério da Segurança Pública. Com isso, a Polícia Federal saiu
da alçada do Ministério da Justiça e passou a ser subordinada à nova pasta.
Raul Jungmann, então ministro da Defesa, assumiu a Segurança Pública. Para o lugar dele, Temer
nomeou Joaquim Silva e Luna, primeiro militar a comandar a Defesa.

Programas sociais
Nos dois anos de Temer à frente do Planalto:
O Bolsa Família foi reajustado duas vezes;
O reajuste do salário mínimo ficou abaixo da inflação;
No Minha Casa, Minha Vida, de acordo com Ministério das Cidades, em 2016 foram contratadas
382.311 unidades habitacionais. Em 2017, o governo traçou como meta contratar 610 mil unidades
habitacionais, mas entregou 500 mil.
A meta para este ano é contratar 650 mil unidades – até agora, foram contratadas 125 mil unidades.

O foro privilegiado não acaba hoje94

A decisão do STF é apenas um primeiro (e modesto) passo para acabar com o absurdo incentivo à
impunidade – e ainda abre margem a dúvidas e manobras
Se tudo correr como programado, termina hoje, com o voto do ministro Gilmar Mendes, o julgamento
do Supremo Terminal Federal (STF) a respeito do foro privilegiado – ou, como preferem os puristas, foro
por prerrogativa de função.
Pela legislação brasileira, 58.660 cidadãos têm o direito de ser julgados em tribunais especiais, de
acordo com um levantamento do jornal Folha de São Paulo. Tal contingente inclui do presidente da
República ao defensor público de Taboão da Serra – passando por vereadores, oficiais das Forças
Armadas, juízes, procuradores, prefeitos, governadores e, naturalmente, deputados e senadores.
O processo em julgamento no STF examina apenas o que fazer em relação aos 594 deputados
federais e senadores. É provável que a decisão tenha implicação para os demais cargos, mas ela não
será automática. Dependerá de decisões posteriores da Justiça.
Sete dos ministros já votaram em favor da nova interpretação proposta pelo relator, o ministro Luís
Roberto Barroso. Ela prevê a manutenção do foro especial apenas para crimes cometidos no cargo, em
função de atividades relativas ao cargo.
A divergência, iniciada pelo ministro Alexandre de Moraes, afirma que tal critério abrirá margem a
interpretações subjetivas quando casos concretos vierem a julgamento. Ele propôs que todo crime
atribuído a parlamentar seja julgado no STF a partir do momento da diplomação, até o fim do mandato,
não importando a natureza.
O argumento vitorioso de Barroso atém-se ao princípio do foro especial: ele existe para proteger o
cargo de ingerências políticas. O argumento de Alexandre é de ordem prática: a decisão poderá tornar
os julgamentos ainda mais complexos e morosos.
Ser julgado no STF é considerado um privilégio justamente por que, na visão predominante, lá os
processos costumam demorar mais, e os crimes prescrevem.
Um estudo da FGV-Rio, tão citado quanto criticado, constatou, com base na análise de 2.963 inquéritos
e 822 ações penais entre 2002 e 2016, que o tempo médio de tramitação até o julgamento definitivo caiu
para os primeiros (de 1.297 para 797 dias), mas cresceu num movimento constante para as segundas
(de 65 para 1.377).
O estudo levantou casos em que um processo espera mais de quatro anos por providências do relator.
Numa amostra de casos entre 2012 e 2016, verificou que menos de 6% começavam e terminavam no
94
GUROVITZ, HELIO. O foro privilegiado não acaba hoje. G1 Mundo. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/post/2018/05/03/o-foro-
privilegiado-nao-acaba-hoje.ghtml> Acesso em 04 de maio de 2018.

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STF. Apenas 5,44% preenchiam as duas condições propostas por Barroso. O fim do foro representaria,
portanto, um alívio na carga do tribunal, concebido como corte constitucional, não penal.
Em artigo no site Consultor Jurídico, o jurista Lenio Streck criticou o estudo por não determinar o
período de demora que cabe ao inquérito policial, ao oferecimento da denúncia pelos procuradores e ao
STF especificamente. Streck afirma que as regras para prescrição mudaram em 2010, dificultando as
manobras protelatórias e diz que a própria natureza do julgamento criminal no STF é distinta, feita em
instância única por um colegiado de juízes.
Num levantamento entre o primeiro semestre de 2015, quando já estavam consolidados a atual
estrutura de julgamentos em turmas e o uso de juízes auxiliares, e o início de 2017, ele verificou que 18
de 42 ações penais autuadas já haviam sido julgadas – num prazo em torno de 800 dias, eficácia bem
superior à verificada no estudo da FGV-Rio.
Num ponto, todos estão de acordo: as idas e vindas entre as instâncias judiciárias contribuem para
dilatar a duração dos processos. Barroso sugere, em seu voto, que o STF encerre todos os processos
cuja instrução já esteja concluída, mesmo que o parlamentar perca o mandato ou adquira foro noutra
instância do Judiciário.
Esse critério valeria para os processos da Operação Lava Jato que lá tramitam? Dependerá de como
o relator, ministro Edson Fachin, interpretar as novas condições aos processos. É provável que ele envie
a instâncias inferiores aqueles cujas acusações digam respeito a crimes cometidos fora do cargo hoje
ocupado.
Para novos processos por corrupção, a tendência é haver menos controvérsia – embora o ponto
levantado pela divergência do ministro Alexandre prometa doravante pairar sobre qualquer decisão,
abrindo brechas para advogados manobrarem em favor de seus clientes.
É preciso acabar com os absurdos do foro privilegiado no Brasil. Ele protege criminosos e promove a
impunidade. Mas a decisão de hoje não fará isso, ao menos não em definitivo. O melhor seria o Congresso
Nacional emendar a Constituição para resolver a questão em toda a sua extensão. Infelizmente, por causa
da intervenção federal no Rio de Janeiro, ele está impedido de examinar emendas constitucionais.

Lula chega a Curitiba para cumprir pena por corrupção e lavagem de dinheiro95

Ex-presidente foi condenado em segunda instância no caso do triplex.


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou na noite deste sábado (07/04) a Curitiba, onde
começará a cumprir a pena de 12 anos e 1 mês de prisão pela condenação no caso do triplex em Guarujá
(SP).
Ele foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele é o primeiro ex-presidente do
Brasil condenado por crime comum.
Por ordem de Moro, o ex-presidente ficará preso em uma sala especial de 15 metros quadrados, no 4º
andar do prédio da PF, com cama, mesa e um banheiro de uso pessoal. Também foi autorizada a
instalação de um TV no local.
O mandado de prisão foi expedido pelo juiz Sérgio Moro no início da noite de quinta-feira (05/04) e, na
sequência, Lula seguiu para a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo
(SP).
O ex-presidente se entregou à Polícia Federal quase 26 horas após o prazo dado pelo juiz para que
ele se apresentasse voluntariamente.
Lula saiu a pé do sindicato, às 18h42, e caminhou até um prédio próximo, onde equipes da Polícia
Federal o aguardavam. A saída teve de ser feita dessa maneira porque, por volta das 17h, Lula tentou
sair de carro, mas foi impedido pela militância.
De carro, Lula foi levado por agentes até a Superintendência da PF em São Paulo, onde realizou
exame de corpo de delito. Na sequência, seguiu de helicóptero para o aeroporto de Congonhas e, de lá,
decolou em avião com destino a Curitiba.
O ex-presidente anunciou que se entregaria neste sábado, em um discurso feito em frente à sede do
sindicato. A fala durou 55 minutos e ocorreu durante ato religioso em homenagem a ex-primeira-dama
Marisa Letícia, que completaria 68 anos neste sábado. Lula disse que não iria “correr”, “nem se esconder”.
Ele também criticou as decisões do Judiciário e disse que vai provar sua inocência.

95
G1 PR. Lula chega a Curitiba para cumprir pena por corrupção e lavagem de dinheiro. G1 RPC. Disponível em: <https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/lula-
chega-a-curitiba-para-cumprir-pena-por-corrupcao-passiva-e-lavagem-de-dinheiro.ghtml> Acesso em 09 de abril de 2018.

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Mandado de prisão
O ex-presidente é acusado de receber o triplex no litoral de SP como propina dissimulada da
construtora OAS para favorecer a empresa em contratos com a Petrobras. O ex-presidente nega as
acusações e afirma ser inocente.
Lula foi condenado por Moro na primeira instância, e a condenação foi confirmada na segunda
instância pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
A defesa tentou evitar a prisão de Lula com um habeas corpus preventivo no Supremo Tribunal Federal
(STF), mas o pedido foi negado pelos ministros, por 6 votos a 5, em votação encerrada na madrugada de
quinta.
Na tarde de quinta, o TRF-4 enviou um ofício a Moro autorizando a prisão, e o juiz expediu o mandado
em poucos minutos.
Os advogados de Lula, porém, questionaram a ordem de prisão porque ainda poderiam apresentar ao
TRF-4 os chamados "embargos dos embargos de declaração".
Depois, a defesa ainda tentou evitar a prisão com recursos no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no
STF, que também foram rejeitados.

Deputados da UE pedem fim de acordo com Mercosul após morte de Marielle96

Grupo também denunciou a violência política no Brasil


Mais de 50 deputados do Parlamento Europeu pediram nesta quinta-feira (15/03) a suspensão
"imediata" das negociações para um acordo comercial entre União Europeia e Mercosul por conta do
assassinato da vereadora Marielle Franco, uma conhecida ativista pelos direitos humanos do Rio de
Janeiro.
Deputados da UE protestam contra assassinato de Marielle. O documento foi divulgado pelo jornalista
Jamil Chade e é endereçado para a vice-presidente da Comissão Europeia, a italiana Federica Mogherini,
também responsável pela diplomacia do bloco.
"Esse assassinato se produz em um clima de crescente violência no Brasil e em particular na cidade
do Rio de Janeiro. A política de segurança do Governo brasileiro e do Estado do Rio de Janeiro, baseada
essencialmente no aumento da presença de corpos policiais e militares (e que culminou na intervenção
do Exército brasileiro), não fez mais do que agravar o clima de violência no país", diz a carta, que é
assinada pelo eurodeputado espanhol Miguel Urbán Crespo, do partido de esquerda Podemos.
O documento também é firmado por outros 51 europarlamentares e lembra que Marielle era relatora
da comissão municipal criada para fiscalizar a intervenção militar no Rio e crítica da violência policial na
cidade. "A defesa das populações oprimidas e discriminadas deve ser uma prioridade para a União
Europeia. O assassinato de Marielle Franco pretende amedrontar os defensores dos direitos humanos,
assim como influir nas eleições deste ano", diz o documento.
A carta se encerra com um pedido para que a Comissão Europeia, poder Executivo da UE, "suspenda
as negociações comerciais, de forma imediata", com o Mercosul, "exigindo do Brasil uma investigação
independente, rápida e exaustiva que permita alcançar a verdade e a justiça".
Os signatários pertencem ao Grupo da Esquerda Unitária Europeia, que reúne 52 eurodeputados de
partidos comunistas e socialistas, como o Podemos, o grego Syriza, o irlandês Sinn Féin, o alemão Die
Link e o português Bloco de Esquerda. O grupo tem cerca de 7% dos assentos no Parlamento da UE.
Também nesta quinta, Urbán Crespo já havia usado o plenário de Estrasburgo para condenar o
assassinato da vereadora. Exibindo uma placa com a frase "Marielle Presente", que virou símbolo das
homenagens à política do Psol, Urbán Crespo afirmou que o Brasil vive um clima de "violência política
pré-eleitoral".
"Esta noite, assassinaram a vereadora do Psol Marielle Franco no Rio de Janeiro. Assassinaram uma
ativista feminista dos direitos humanos, anticapitalista, uma ativista assassinada em um clima de violência
política pré-eleitoral no Brasil", declarou o eurodeputado.
O espanhol ainda enviou "solidariedade" a seus "companheiros" no país latino-americano e exprimiu
sua "condenação a esse clima de violência no Brasil". Ao lado de Urbán Crespo, outros eurodeputados
do Podemos exibiram cartazes em memória de Marielle.

Assassinato
O crime ocorreu na noite da última quarta-feira (14/03) e também vitimou o motorista da vereadora,
Anderson Pedro Gomes. As características do homicídio - uma emboscada sem roubo - apontam para a
hipótese de execução, que é a principal linha de investigação da polícia.
96
AGÊNCIAS ANSA. Deputados da EU pedem fim de acordo com Mercosul após morte de Marielle. ÉpocaNegócios. Disponível em:
<https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2018/03/deputados-da-ue-pedem-fim-de-acordo-com-mercosul-por-marielle.html> Acesso em 16 de março de 2018.

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Nascida e criada na favela da Maré, Marielle foi a quinta vereadora mais votada nas eleições
municipais de 2016, com 46.502 votos. Nos últimos dias, postou mensagens nas redes sociais
denunciando a violência policial no Rio.
"Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava
saindo da igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?", escreveu no Facebook.
Ela também chamou o 41º Batalhão da Polícia Militar de "Batalhão da Morte" por causa de denúncias
de crimes no bairro de Acari. Marielle era crítica da intervenção militar do Governo Federal na segurança
pública do Rio de Janeiro.

Ficha Limpa passa a valer também para ocupantes de cargos eletivos97

Entendimento foi defendido pelo ministro Luiz Fux, relator da matéria e presidente do Tribunal Superior
Eleitoral.
Nesta quinta-feira (01/03), os ministros do Supremo derrubaram a chamada modulação da Lei da Ficha
Limpa. Na prática, isso quer dizer que a lei vale não só para os candidatos nas eleições, mas também
para os atuais ocupantes de cargos eletivos.
Por seis votos a cinco, os ministros do Supremo decidiram em outubro de 2017 que a Lei da Ficha
Limpa deve ser aplicada para políticos condenados por abuso de poder político e econômico antes de
2010, quando ela passou a vigorar. A lei tornou o condenado inelegível por oito anos.
Em 2017, o ministro Luiz Fux afirmou que ter a ficha limpa é uma pré-condição para uma pessoa se
candidatar, que inelegibilidade não é pena e que, por isso, não significa que a lei vai retroagir.
“Há de se entender que, mesmo no caso em que o indivíduo já foi atingido pela inelegibilidade, de
acordo com as hipóteses e prazos anteriormente previstos na lei complementar 64, vejam o grau de
cognição e discussão nas ações de controle da constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa, mesmo nesses
casos esses prazos poderão ser estendidos, se ainda em curso, ou mesmo restaurados para que
cheguem a oito anos por força da lex nova, desde que não ultrapasse esse prazo”.
Mas no julgamento de outubro, faltou decidir sobre a partir de quando essa decisão seria aplicada. É
o que se chama de modular a decisão. Nesta quinta, o ministro Ricardo Lewandowski defendeu que a lei
só fosse aplicada a partir das eleições de 2018.
“Fui informado pela liderança do governo na Câmara de que a prosperar a decisão da Suprema Corte,
alcançada por maioria muito estreita, de seis a cinco, nós atingiríamos o mandato de 24 prefeitos,
abrangendo cerca de 1,5 milhão, um número incontável de vereadores e também não se sabe ao certo
quantos deputados estaduais em exercício do mandato seriam atingidos”.
Os ministros Celso de Mello, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Alexandre de
Moraes manifestaram a mesma opinião de Lewandowski.
Os ministros Luiz Fux, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Edson Fachin e a presidente do
Supremo, Cármen Lúcia, ficaram contra.
Fux argumentou que os candidatos que concorreram nas eleições passadas, apoiados em liminares
da Justiça, sabiam do risco que estavam correndo e defendeu que a Lei da Ficha Limpa seja aplicada a
todos os casos anteriores a ela.
“Qualquer modulação esbarraria, digamos assim, num custo político gravíssimo de termos impedido
várias pessoas de concorrer e ao mesmo tempo fechar os olhos para candidaturas eivadas de vício
gravíssimo, reprovadas por uma lei com amplo apoio da soberania popular e chancelada a sua
constitucionalidade. Não modulo”.
A Lei da Ficha Limpa só poderia ser modulada com os votos favoráveis de ao menos oito dos 11
ministros. Como apenas seis ministros votaram a favor da modulação, prevalece a decisão tomada pelo
Supremo em outubro de 2017. Políticos condenados por abuso do poder econômico e político, mesmo
antes da aprovação da Lei da Ficha Limpa, ficam inelegíveis por oito anos, inclusive os eleitos nas
eleições passadas.

Governo criará nesta segunda novo Ministério da Segurança Pública98

Pasta terá função de integrar e coordenar ações de segurança entre União e estados; PF e PRF
responderão ao novo ministro. Criação do ministério terá de ser aprovada pelo Congresso.

97
JORNAL NACIONAL. Ficha Limpa passa a valer também para ocupantes de cargos eletivos. G1 Jornal Nacional. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-
nacional/noticia/2018/03/ficha-limpa-passa-valer-tambem-para-ocupantes-de-cargos-eletivos.html?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=jn>
Acesso em 02 de março de 2018.
98
MAZUI. GUILHERME. Governo criará nesta segunda novo Ministério da Segurança Pública. G1 Política. Disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/noticia/amanha-sai-a-criacao-do-ministerio-diz-perondi-sobre-pasta-da-seguranca-publica.ghtml> Acesso em 26 de fevereiro de 2018.

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Integrantes do governo anunciaram na noite deste domingo (25/02) que o Ministério da Segurança
Pública, anunciado nos últimos dias pelo presidente Michel Temer, será criado nesta segunda (26/02)
Os detalhes sobre a criação da nova pasta foram discutidos por Temer em uma reunião no Palácio do
Jaburu.
Participaram do encontro os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral),
Torquato Jardim (Justiça), Raul Jungmann (Defesa), Sergio Etchegoyen (Gabinete de Segurança
Institucional) e Gustavo Rocha (interino dos Direitos Humanos), além do deputado Darcísio Perondi
(PMDB-RS), um dos vice-líderes do governo na Câmara.
Segundo o deputado, a nova estrutura será criada por meio de uma medida provisória, que deve ser
publicada no "Diário Oficial da União" de terça-feira. Será o 29º ministério do governo Temer.
Por se tratar de uma MP, a criação do novo ministério passará a valer a partir do momento de sua
publicação, mas terá de ser aprovada pelo Congresso em até 60 dias, que podem ser prorrogáveis por
mais 60.
Perondi afirmou ainda que o anúncio do nome do novo ministro poderá ser feito ainda nesta segunda.
Ele disse, porém, que ainda não há definição sobre o nome a ser escolhido.
"Tem 10 nomes, mas não tem o nome [do novo ministro]. Poderá ser amanhã, mas nós não discutimos
o nome [na reunião deste domingo]. Tem 10 nomes", disse.
Segundo o ministro da Justiça, Torquato Jardim, que também falou com a imprensa após a reunião,
Temer busca um perfil de "repercussão nacional" para ocupar o comando da pasta, com capacidade de
diálogo com parlamentares e governadores, já que o ministério não pretende invadir a atribuição dos
estados sobre a segurança pública.

Estrutura da nova pasta


Ao conversar com os jornalistas, Torquato deu mais detalhes sobre a estrutura do novo ministério.
Torquato explicou Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Departamento Penitenciário Nacional
(Depen) e Secretaria Nacional de Segurança (que inclui a Força Nacional) ficarão com o novo ministério,
saindo da alçada do Ministério da Justiça.
Ele ainda informou que a pasta terá, além do ministro, um secretário-executivo e outros nove
assessores.
"Você terá um ministro de estado, um secretário-executivo e nove cargos de assessoria. Os demais é
a mera transposição da Justiça para a Segurança Pública, os departamentos que saem de um ministério
para outro já têm seu quadro de servidores, seu orçamento, seu programa de trabalho", informou o
ministro.
Torquato também explicou que a opção por criar a nova pasta por meio de medida provisória se justifica
pela crise na segurança pública dos estados. Pela lei, o governo só pode editar uma medida provisória
em casos de relevância e urgência.

Governo desiste da votação da Previdência e anuncia nova pauta prioritária no Congresso99

Após suspensão da tramitação da reforma da Previdência, governo vai investir em outros projetos
como a privatização da Eletrobras e a autonomia do Banco Central.
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, anunciou nesta segunda-feira (19/02) uma lista de 15 projetos
na área econômica que o governo tentará aprovar no Congresso Nacional, já que a tramitação da reforma
da Previdência foi suspensa em razão de decreto de intervenção federal no Rio de Janeiro.
A legislação proíbe, durante vigência de intervenção federal, a aprovação de emendas à Constituição.
A reforma da Previdência foi apresentada como uma PEC e a intervenção no Rio, na área de segurança
pública, tem previsão de durar até 31 de dezembro deste ano.
O anúncio foi feito em entrevista concedida no Palácio do Planalto. Entre os projetos, constam a
regulamentação do teto remuneratório, a privatização da Eletrobras e a autonomia do Banco Central.
Pauta prioritária do governo:

- Reforma do PIS/Cofins e a simplificação tributária


- Autonomia do Banco Central
- Marco legal de licitações e contratos
- Nova lei de finanças públicas
- Regulamentação do teto remuneratório

99
MAZUI, G. CASTILHOS, R. Governo desiste da votação da Previdência e anuncia nova pauta prioritária no Congresso. G1 Política. Disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/noticia/governo-desiste-da-votacao-da-previdencia-e-anuncia-nova-pauta-prioritaria-no-
congresso.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1> Acesso em 20 de fevereiro de 2018.

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- Privatização da Eletrobras
- Reforço das agências reguladoras
- Depósitos voluntários no Banco Central
- Redução da desoneração da folha
- Programa de recuperação e melhoria empresarial das estatais
- Cadastro positivo
- Duplicata eletrônica
- Distrato
- Atualização da Lei Geral de Telecomunicações
- Extinção do Fundo Soberano

Segundo Padilha, o governo definiu a nova pauta a partir das falas dos presidentes da Câmara, Rodrigo
Maia, e do Senado, Eunício Oliveira, sobre a suspensão da tramitação da reforma da Previdência.
“Tivemos que concluir que efetivamente não se poderia iniciar a discussão que nós tínhamos
programada para dia (19/02), a discussão da reforma da Previdência e nem poderíamos encaminhar
votação”, disse Padilha.
Temer decretou na sexta-feira (16/02) a intervenção federal na segurança pública do estado do Rio de
Janeiro. Apesar de já estar em vigor desde sexta, a intervenção precisa ser aprovada pelo Congresso
Nacional. A votação na Câmara está prevista para a noite desta segunda.
O decreto assinado por Temer nomeou o general Walter Braga Nettocomo interventor, responsável
pela estrutura de segurança do Rio, o que incluí as polícias Civil e Militar, o Corpo de Bombeiros e o
sistema carcerário do estado.

Reforma adiada
O ministro Carlos Marun reconheceu a possibilidade de votação da reforma da Previdência depois da
eleição de outubro.
"A eleição de outubro pode oferecer as condições políticas para que venhamos a votar a reforma da
Previdência", afirmou Marun.
O ministro Eliseu Padilha negou troca de interesses e disse que o governo não está fugindo da reforma
da Previdência.
"Não está vinculada a questão da intervenção com a votação. Não houve troca de interesses. Não
houve uma fuga do enfrentamento da votação da reforma", disse Padilha.
De acordo com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a pauta da Previdência continua "prioritária"
e "fundamental".
"A ideia é que a previdência continua como uma agenda de reforma para o pais e ela é a mais
importante para o setor fiscal", afirmou Meirelles.

Um dia depois da condenação, PT lança pré-candidatura de Lula à Presidência100

Mesmo com possibilidade de ter candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa, ex-presidente afirmou
que recorrerá 'até o final'. 'Não temos plano B', disse presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
Um dia depois da condenação a 12 anos e 1 mês de prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
foi lançado nesta quinta-feira (25/01) como pré-candidato do PT à Presidência da República durante
reunião da Comissão Executiva Nacional do partido, em São Paulo. Além de Lula, outros 13 políticos já
se declararam pré-candidatos.
Lula foi condenado pelos três desembargadores da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª
Região (TRF-4). Por unanimidade, eles rejeitaram o recurso do ex-presidente contra a condenação a 9
anos e 6 meses de prisão aplicada pelo juiz federal Sérgio Moro e ampliaram a pena para 12 anos e 1
mês.
Com a condenação, o ex-presidente poderá se tornar inelegível com base na Lei da Ficha Limpa. A lei
prevê que candidatos com condenação criminal a partir da segunda instância da Justiça – caso do
Tribunal Regional Federal – ficam inelegíveis e não podem obter registro. Antes, a legislação só previa
esse impedimento para condenações definitivas, na última instância. A decisão sobre o registro da
candidatura será do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O ex-presidente foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, acusado de receber um
apartamento triplex em Guarujá (SP) da empreiteira OAS em troca de favorecimento à empresa em

100
STOCHERO, TAHIANE. Um dia depois da condenação, PT lança pré-candidatura de Lula à Presidência. G1, Eleições 2018. Disponível em:
<https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/um-dia-depois-de-condenacao-pt-lanca-pre-candidatura-de-lula-a-presidencia.ghtml> Acesso em 26 de janeiro de 2018.

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contratos da Petrobras. A defesa nega as acusações, diz que não há provas e que Lula é alvo de
perseguição política. O ex-presidente afirmou após o julgamento que a acusação é mentirosa.
Durante a reunião da executiva, da qual participaram governadores, senadores e deputados do partido,
a presidente do PT, Gleisi Hoffman, colocou a proposta de pré-candidatura em votação. “Foi aprovada
por unanimidade a pré-candidatura dele. Não temos plano B”, disse Gleisi.
Lula participou da reunião, discursou, disse que recorrerá às instâncias em que for necessário recorrer.
"Vamos batalhar até o final", declarou. O ex-presidente se disse ainda alvo de um "cartel" com o objetivo
de impedir que dispute a eleição.
"Eles formaram um cartel para tomar uma decisão, para evitar o Lula ser candidato. Se eles tivessem
encontrado um crime que eu cometi eu estaria aqui pedido desculpas", declarou.
Ele criticou o que chamou de "corporação da Polícia Federal", que, segundo afirmou, faz "qualquer
processo", com perguntas "sem nexo", sem importar "a quantidade de mentiras".
Na esfera eleitoral, a situação de Lula só será definida no segundo semestre deste ano, quando o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) analisar o registro de candidatura. O PT tem até o dia 15 de agosto para
protocolar o pedido e a Corte tem até o dia 17 de setembro para aceitar ou rejeitar a candidatura.
A defesa do ex-presidente Lula anunciou que irá recorrer da decisão do Tribunal Regional Federal.
"Não houve qualquer demonstração de elementos concretos que pudessem configurar a prática de um
crime", disse o advogado Cristiano Zanin. Como a condenação foi unânime, a possibilidade de recursos
do ex-presidente ficou reduzida.

Quase 350 mil cadastros do Bolsa Família foram fraudados, diz auditoria101

Segundo relatório da Controladoria-geral da União (CGU), foram identificadas no cadastro do benefício


famílias com casa própria e carro de luxo, além de funcionários públicos.
De acordo com o ministério do Desenvolvimento Social, o programa beneficiou, em dezembro de 2017,
mais de 13 milhões de famílias, que receberam benefícios com valor médio de R$ 179. O valor total
transferido pelo governo federal às famílias foi de R$ 2,4 milhões em dezembro.
Segundo o relatório da CGU, o governo pagou indevidamente R$ 1,4 bilhão a pessoas que não tinham
direito ao benefício. A CGU afirma que quem recebeu o dinheiro indevidamente está sendo localizado.
"Não é aquele indivíduo que aumentou a renda, conseguiu emprego, melhorou que a gente vai atrás.
O que nos preocupa é aquele caso da pessoa que já entrou errada, tem um padrão de vida excelente,
que está fraudando o programa de fato", afirma Antônio Carlos Leonel, secretário federal de controle
interno da CGU.
Segundo a auditoria da CGU, famílias com casa própria e carro de luxo foram identificadas no cadastro,
além de funcionários públicos. O levantamento foi feito entre 2016 e 2017.
O Bolsa Família foi criado em 2003 para atender famílias em condições de extrema pobreza.
Tem direito ao benefício a família que tem renda de R$ 170 por pessoa. Algumas famílias apontadas
na fiscalização da CGU tinham renda de mais de R$ 1.900 por pessoa.
Na cidade de Piancó, no sertão da Paraíba, quase 54% dos moradores tinham cobertura do Bolsa
Família. Depois do pente-fino, quase metade perdeu o benefício. A cidade tinha servidores da prefeitura
e da câmara de vereadores cadastrados no programa.

Benefícios cancelados
O ministério do Desenvolvimento Social disse que recebeu agora as informações da CGU e que vai
conferir com a checagem que já estava fazendo. O ministério disse, ainda, que está corrigindo falhas e
que os cadastros passaram a ser revistos todos meses.
O governo disse que de outubro de 2016 até a semana passada, cancelou 4,7 milhões de pagamentos.
Disse também que já começou a cobrar os casos mais absurdos identificados pelo próprio ministério -
são três mil e 200 famílias.
"Nós já temos cartas enviadas para as famílias. E até este momento, espontaneamente, 23 famílias
devolveram. Ainda é um universo muito pequeno, mas eu acredito que, no andamento desse processo,
nós obteremos a devolução dos R$ 12 milhões que foram recebidos indevidamente por essas famílias",
afirmou Alberto Beltrame, secretário-executivo do MDS.

101
BOM DIA BRASIL. Quase 350 mil cadastros do Bolsa Família foram fraudados, diz auditoria. G1 Política. Disponível em: <
https://g1.globo.com/politica/noticia/quase-350-mil-cadastros-do-bolsa-familia-foram-fraudados-diz-auditoria.ghtml> Acesso em 05 de janeiro de 2017.

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Ex-ministro Geddel Vieira Lima é preso após apreensão de R$ 51 milhões102

Ex-ministro já cumpria prisão domiciliar em Salvador. PF e MPF pediram nova preventiva para evitar
destruição de provas.
O ex-ministro Geddel Vieira Lima, do PMDB, foi preso preventivamente (sem prazo determinado) na
manhã desta sexta-feira (08/09), em Salvador, três dias após a Polícia Federal (PF) apreender R$ 51
milhões em um imóvel supostamente utilizado pelo peemedebista.
A prisão foi determinada pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, em
uma nova fase da Operação Cui Bono, que investiga fraudes na Caixa Econômica Federal. Além de
Geddel, a PF cumpre mandado de prisão preventiva contra Gustavo Ferraz – que, segundo as
investigações, é ligado ao ex-ministro – e outros três mandados de busca e apreensão, todos na capital
baiana.
Geddel deixou o prédio pouco depois das 7h, no banco de trás de uma viatura da PF, e chegou ao
aeroporto Luiz Eduardo Magalhães cerca de meia hora depois. Ele será levado para Brasília).
O ex-ministro já tinha sido preso preventivamente na operação, em julho, mas recebeu autorização do
desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, para cumprir prisão domiciliar.
Embora a decisão judicial determine que ele seja monitorado por tornozeleira eletrônica, isso não vinha
acontecendo pois o governo da Bahia não tem o equipamento.
Sete agentes e dois carros da PF entraram no condomínio de Geddel às 6h. Segundo a TV Bahia
(afiliada da Rede Globo), um vendedor ambulante, que estava na região, foi levado para dentro do
condomínio, possivelmente para servir de testemunha.
Segundo o MPF, a nova fase da operação busca apreender provas de crimes como corrupção passiva,
lavagem de dinheiro e organização criminosa, e que as medidas são necessárias para evitar a destruição
de provas.
O G1 tentou contato com a defesa de Geddel, mas não obteve resposta até a última atualização desta
reportagem.

Fortuna em outro imóvel


Na terça-feira (05/09), a PF apreendeu R$ 51 milhões em um apartamento que seria utilizado por
Geddel em Salvador. O dono do imóvel afirmou à PF que havia emprestado o imóvel ao ex-ministro para
que ele guardasse pertences do pai, que morreu no ano passado.
Segundo o jornal "O Globo", a PF reuniu 4 provas que reforçam a ligação Geddel com o dinheiro. As
impressões digitais do ex-ministro foram encontradas no próprio dinheiro, uma outra testemunha
confirmou que o espaço tinha sido cedido a ele, e uma segunda pessoa é suspeita de ajudar Geddel na
destinação das caixas e das malas de dinheiro. Além disso, a PF identificou risco de fuga, depois da
divulgação da apreensão do dinheiro.
A apreensão do dinheiro é um desdobramento da Operação Cui Bono, que investiga fraudes na
liberação de créditos da Caixa Econômica Federal. De acordo com o MPF, entre 2011 e 2013, Geddel
agia para beneficiar empresas com liberações de créditos e fornecia informações privilegiadas para os
outros membros da quadrilha que integrava.
O ex-ministro virou réu em agosto em uma ação na Justiça Federal em Brasília por obstrução de
justiça. Ele é acusado de tentar atrapalhar as investigações. Em nota divulgada após a decisão da Justiça,
a defesa de Geddel rechaçou as acusações, a a que chamou de "fruto de verdadeiro devaneio e excesso
acusatório".
A defesa do ex-ministro não se manifestou sobre os R$ 51 milhões.

Comissão da Câmara aprova texto-base da reforma política; saiba o que está previsto103

A comissão da Câmara destinada à análise de uma das propostas que estabelecem a reforma política
aprovou nesta quarta-feira (09/08), por 25 votos a 8, o texto-base do relatório apresentado pelo deputado
Vicente Cândido (PT-SP) – saiba mais abaixo o que está previsto.
O parecer de Vicente Cândido sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) foi aprovado após
9 horas de sessão. Os deputados, contudo, não haviam concluído a análise do projeto até a última
atualização desta reportagem, isso porque, após o texto-base, eles passaram a analisar os destaques,
ou seja, sugestões que podem mudar a redação.

102
BOMFIM, CAMILA. Ex-ministro Geddel Vieira Lima é preso após apreensão de R$ 51 milhões. G1 Bahia. Disponível em: <
http://g1.globo.com/bahia/noticia/mpf-pede-prisao-preventiva-de-geddel-vieira-lima.ghtml> Acesso em 08 de setembro de 2017.
103
CARAM, B. CALGARO, F. Comissão da Câmara aprova texto-base da reforma política; saiba o que está previsto. G1 Política. Disponível em:
<http://g1.globo.com/politica/noticia/comissao-da-camara-aprova-texto-base-da-reforma-politica-saiba-o-que-esta-previsto.ghtml> Acesso em 11 de agosto de 2017.

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Após passar na comissão, a PEC seguirá para o plenário da Câmara, onde deverá ser aprovada em
dois turnos antes de seguir para o Senado. A proposta precisa do apoio mínimo de 308 deputados.
Como a sessão se estendia sem previsão de encerramento, a deputada Laura Carneiro (PMDB-RJ)
distribuiu sanduíches a alguns parlamentares.
Entre outros pontos, o projeto cria um fundo para financiar campanhas eleitorais com recursos públicos
e faz mudanças no sistema eleitoral.
Durante a sessão desta quarta, o relator esclareceu que o parecer dele não prevê o chamado
"distritão", modelo que ganhou força entre parlamentares e lideranças partidárias nos últimos dias,
embora o modelo possa ser incluído por meio de uma emenda apresentada por outro parlamentar.
No "distritão", acaba o quociente eleitoral e os mais votados são eleitos, ou seja, seria uma eleição
majoritária, como para presidente. Cada estado vira um distrito eleitoral. No caso de vereador, seria o
município. O eleitor vota em um nome no distrito. Os mais votados são eleitos.

Sistema eleitoral
A proposta aprovada pela comissão estabelece o sistema distrital misto a partir de 2022 nas eleições
para deputado federal, deputado estadual e vereador nos municípios com mais de 200 mil eleitores. O
modelo é uma mistura dos sistemas proporcional e majoritário.
Pelo texto, para escolher deputados federais, por exemplo, o eleitor votará duas vezes. Uma nos
candidatos do distrito e outra nas listas fechadas pelos partidos. A metade das vagas, portanto, iria para
os candidatos eleitos por maioria simples. A outra metade, preenchida conforme o quociente eleitoral
pelos candidatos da lista partidária.
No caso de municípios de até 200 mil eleitores, será adotado o sistema eleitoral de lista preordenada
nas eleições para vereador.

Eleições de 2018 e de 2020


Pela proposta elaborada pelo deputado Vicente Cândido, o sistema eleitoral será mantido como é hoje
em 2018 e em 2020, no modelo proporcional com lista aberta.
Nele, é possível votar tanto no candidato quanto na legenda, e um quociente eleitoral é formado,
definindo quais partidos ou coligações têm direito de ocupar as vagas em disputa. A partir desse cálculo,
são preenchidas as cadeiras disponíveis, proporcionalmente.
O sistema sofre críticas por permitir que candidatos com pouquíssimos votos sejam eleitos, "puxados"
por aqueles com mais votos do mesmo partido.
Na proposta de Cândido, a mudança está na limitação no número de candidatos. A depender do
número de vagas a serem preenchidas, cada partido terá um limite específico de candidatos que poderá
lançar.

Fundo de campanha
Ao apresentar o parecer, o relator Vicente Cândido (PT-SP) dobrou o valor previsto de recursos
públicos que serão usados para financiar campanhas eleitorais.
O projeto institui o Fundo Especial de Financiamento da Democracia, que será mantido com recursos
públicos, previstos no orçamento. Na versão anterior do relatório, Cândido havia estabelecido que 0,25%
da receita corrente líquida do governo em 12 meses seria destinada a financiar campanhas.
Havia uma exceção somente para as eleições de 2018, com o valor do fundo em 0,5% da Receita
Corrente Líquida, o que corresponderá a cerca de R$ 3,6 bilhões.
No novo parecer, Vicente Cândido tornou a exceção uma regra. Pelo texto reformulado, o valor do
fundo será de 0,5% da receita corrente líquida em 12 meses, de maneira permanente.

Extinção do cargo de vice


O relatório aprovado nesta quarta extingue da política brasileira as figuras de vice-presidente da
República, vice-governador e vice-prefeito.

Vacância da presidência
No caso de vacância do cargo de presidente da República, será feita eleição 90 dias após a vaga
aberta. Se a vacância ocorrer no último ano do mandato presidencial, será feita eleição indireta, pelo
Congresso, até 30 dias após a abertura da vaga.
A regra também valerá para governadores e prefeitos.

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Mandato nos tribunais
O texto define que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), do Tribunal de Contas da União
(TCU) e de tribunais superiores serão nomeados para mandatos de dez anos.
A mesma regra valerá para os membros de tribunais de contas dos estados e dos municípios, tribunais
regionais federais e dos estados. Os juízes dos tribunais eleitorais terão mandato de quatro anos.

Posse
As datas das posses dos eleitos passarão a ser as seguintes:
6 de janeiro: governadores e prefeitos;
7 de janeiro: presidente da República;
1º de fevereiro: deputados e vereadores.

Suplente de senador
A proposta reduz o número de suplentes de senadores, de dois suplentes para um. Em caso de morte
ou renúncia do titular, será feita nova eleição para o cargo, na eleição subsequente. Esse substituto terá
mandato somente até o término do mandato do antecessor.
O texto define, ainda, que o suplente de senador será o candidato a deputado federal que ocupar o
primeiro lugar na lista preordenada do partido do titular do mandato.

Imunidade do presidente da República


Inicialmente, Vicente Cândido chegou a propor estender aos presidentes da Câmara, do Senado e do
Supremo Tribunal Federal (STF) a imunidade garantida ao presidente da República.
Pela Constituição, o presidente não pode ser investigado por crime cometido fora do mandato. Diante
da reação negativa de diversos integrantes da comissão, o relator informou que retiraria a proposta do
parecer.

Tentativa de adiamento
O PSOL tentou adiar a votação do parecer, sob a justificativa de que seria preciso ouvir antes a
sociedade sobre o texto final, mas não conseguiu.
"Não querer ouvir a sociedade é novamente virar de costas para a opinião popular. Há uma sofreguidão
de preservação de mandatos para o sistema continuar o mesmo", afirmou o deputado Chico Alencar
(PSOL-RJ).

Temer sanciona texto da reforma trabalhista em cerimônia no Planalto104

Modificações na CLT foram aprovadas pelo Senado na última terça (11/07) em uma sessão
tumultuada. Governo prometeu alterar pontos da reforma por meio de medida provisória.
O presidente Michel Temer sancionou nesta quinta-feira (13/07) o projeto de reforma trabalhista
aprovado pelo Congresso Nacional.
A nova legislação altera regras da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e prevê pontos que
poderão ser negociados entre empregadores e empregados e, em caso de acordo coletivo, passarão a
ter força de lei. As novas regras entrarão em vigor daqui a quatro meses, conforme previsto na nova
legislação.
Ao discursar na solenidade de sanção da reforma trabalhista, o peemedebista também criticou o que
chama de “passionalização” na Justiça que, na opinião dele, gera instabilidade ao país.
Temer argumentou que se "passionalizou" praticamente todas as questões que vão ao Judiciário.
Segundo ele, em vez de aplicar "rigidamente" a lei "sem qualquer emoção", há pessoas que usam
"ideologia" e "sentimentos psicológicos e sociológicos".
Temer também enalteceu a atuação do ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, e do relator da
proposta na Câmara, deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), na articulação política do projeto. Na
avaliação do presidente, foi "árduo o percurso" para aprovar a reforma das leis trabalhistas.
Aprovado pela Câmara em abril, o projeto da reforma trabalhista foi aprovado pelo Senado na última
terça-feira (11/07) em uma sessão tumultuada.
Com a reforma trabalhista, a negociação entre empresas e trabalhadores prevalecerá sobre a lei em
pontos como parcelamento das férias, flexibilização da jornada, participação nos lucros e resultados,
intervalo de almoço, plano de cargos e salários e banco de horas.

104
LIS, LAÍS. Temer sanciona texto da reforma trabalhista em cerimônia no Planalto. G1 Política. Disponível em: < http://g1.globo.com/politica/noticia/temer-
sanciona-texto-da-reforma-trabalhista-em-solenidade-no-planalto.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1> Acesso em 14 de julho de
2017.

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Outros pontos, como FGTS, salário mínimo, 13º salário, seguro-desemprego, benefícios
previdenciários, licença-maternidade, porém, não poderão ser negociados.

'Suposta crise'
Em meio ao discurso sobre a reforma trabalhista, Temer afirmou que o país vive uma ‘suposta crise’,
mas que há um “entusiasmo extraordinário” em relação às políticas públicas.
“Eu faço um registro curioso: nessas últimas semanas, certa e precisamente, em função de uma
suposta crise, o que tem acontecido é um entusiasmo extraordinário”, enfatizou.
O presidente também fez um balanço das medidas aprovadas, citando, além da reforma trabalhista,
as mudanças no ensino médio e a PEC do teto de gastos.
“Poderia elencar tudo que nós fizemos ao longo desses 14 meses e olhe: não são 4 anos, não são oito
anos, são 14 meses. E, toda a modéstia de lado, estamos revolucionando o país. Fizemos a reforma
trabalhista, a do ensino médio”, destacou.

Medida provisória
Diante da polêmica gerada em torno das modificações prometidas pelo Palácio do Planalto na
legislação aprovada nesta semana, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), voltou a
afirmar nesta quinta que o Executivo federal vai editar uma medida provisória para alterar os pontos
negociados com os congressistas.
O peemedebista afiançou durante a tramitação do projeto no Senado as mudanças exigidas, inclusive
por integrantes da base aliada, como o dispositivo que permite que gestantes trabalhem em ambientes
insalubres.
O acordo foi costurado com os senadores governistas para que o texto que chegou da Câmara não
fosse alterado no Senado. Se o texto retornasse para nova análise dos deputados, iria atrasar a sanção
das novas regras.
Segundo Jucá, o governo tem 119 dias para editar a MP que modificará a recém-aprovada reforma
trabalhista.
Antes da solenidade de sanção da reforma, o líder do governo no Senado divulgou o texto-prévio da
medida provisória que Michel Temer deve enviar ao Congresso com mudanças em nove pontos da
proposta.

Justiça do Trabalho
Convidado a participar da cerimônia de sanção da reforma trabalhista, o presidente do Tribunal
Superior do Trabalho (TST), ministro Ives Gandra Filho, cumprimentou Michel Temer, em meio ao seu
discurso, pelo que classificou de “coragem, perseverança e visão de futuro" do chefe do Executivo federal
ao "abraçar" as mudanças na legislação trabalhista, o ajuste fiscal e a reforma previdenciária.
Gandra Filho afirmou ainda que a negociação coletiva, que é a espinha dorsal da reforma, é importante
porque, na avaliação dele, quem trabalha em cada segmento é que sabe as reais necessidades daqueles
trabalhadores.
“Aquilo que é próprio de cada categoria você estabelece por negociação coletiva, quem melhor
conhece as necessidades de cada ramo é quem trabalha naquele ramo”, disse.
Veja abaixo alguns pontos que a MP deve modificar:

Gestantes e lactantes
Um dos pontos que a proposta de MP deve alterar é a possibilidade de que gestantes trabalhem em
locais insalubres. O texto original previa que gestantes deveriam apresentar atestado para que fossem
afastadas de atividades insalubres de grau médio ou mínimo.
A proposta de MP divulgada por Jucá determina que “o exercício de atividades insalubres em grau
médio ou mínimo, pela gestante, somente será permitido quando ela, voluntariamente, apresentar
atestado de saúde”.

Jornada 12x36
Outra ponto que o texto-prévio da MP pretende alterar é o que permitia que acordo individual entre
patrão e empregado pudesse estabelecer jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas ininterruptas de
descanso. A minuta divulgada por Jucá quer viabilizar essa jornada após acordo coletivo, ou convenção
coletiva.

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Trabalhador autônomo
O texto aprovado prevê que as empresas poderão contratar autônomos e, ainda que haja relação de
exclusividade e continuidade, o projeto prevê que isso não será considerado vínculo empregatício.
A proposta de medida provisória quer alterar esse trecho para vedar a celebração de cláusula de
exclusividade no contrato com trabalhadores autônomos. Além disso, prevê que não será admitida a
restrição da prestação de serviço pelo autônomo a uma única empresa, sob pena de caracterização de
vínculo empregatício.

Prorrogação de jornada e insalubridade


O texto-prévio da MP também tem a intenção de modificar a lei sancionada no trecho que sobre a
negociação coletiva para estabelecimento de enquadramento do grau de insalubridade e prorrogação de
jornada em ambientes insalubres.
Pela minuta, isso será permitido por negociação coletiva, mas desde que sejam respeitadas normas
de saúde, higiene e segurança do trabalho previstas em lei ou em normas regulamentadoras do Ministério
do Trabalho.

Outros pontos
A minuta também promete alterar outros pontos da proposta relativos à contribuição previdenciária e
ao pagamento de indenizações por danos morais no ambiente do trabalho.
Além disso, o texto-prévio da MP que deverá ser enviada ao Congresso prevê mudanças para
salvaguardar a participação de sindicatos em negociações de trabalho.
Pela proposta, comissão de representantes dos empregados não substituirá a função do sindicato de
defender os direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas, sendo obrigatória a participação dos sindicatos em negociações coletivas.

Contribuição sindical
Durante a tramitação da proposta no Senado, chegou-se a postular, por senadores governistas, uma
sugestão de que a Casa Civil elaborasse uma proposta de eliminação gradual da obrigatoriedade da
contribuição sindical.
O objetivo era conquistar apoio de parlamentares ligados a sindicatos de trabalhadores.
A proposta aprovada pelo Congresso retira a obrigatoriedade dessa contribuição, o que foi alvo de
críticas de movimentos sindicais.
A proposta de medida provisória apresentada nesta quinta, no entanto, não trata do assunto.

Questões

01. (TJM/SP – Escrevente Técnico Judiciário – VUNESP) De saída do governo, o ex-ministro da


Cultura, Marcelo Calero, acusa o ministro Geddel Vieira Lima (Governo) de tê-lo pressionado para
favorecer seus interesses pessoais. Calero diz que o articulador político do governo Temer o procurou
pelo menos cinco vezes, por telefone e pessoalmente.
(Folha, 19.11.2016. Disponível em:<https://goo.gl/YjmzVm> . Adaptado)
Marcelo Calero acusa Geddel Vieira Lima de pressionar o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional), órgão subordinado à Cultura, a
(A) aprovar projeto imobiliário de interesse particular de Geddel localizado nas cercanias de bens
históricos tombados pelo patrimônio.
(B) financiar projetos de restauro de prédios históricos que pertencem a empresários próximos a
Geddel que pretendem explorá-los economicamente.
(C) rejeitar o tombamento de uma nova área que está em discussão no órgão para favorecer
empreendimentos que interessam a Geddel.
(D) direcionar projetos, investimentos e recursos voltados à preservação do patrimônio histórico na
região da base eleitoral de Geddel.
(E) nomear aliados e políticos próximos a Geddel para funções estratégicas e cargos de confiança do
órgão, favorecendo o loteamento de cargos.

02. (CRBio-1ª Região – Auxiliar Administrativo – Vunesp) O ministro (...) foi escolhido para ser o
novo relator dos processos da Operação Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), em sorteio
realizado nesta quinta-feira (02.02) por determinação da presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia.

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O ministro vai herdar os processos ligados à operação que estavam com o ministro Teori Zavaski,
morto num acidente aéreo em janeiro. Estavam sob a relatoria de Teori 16 denúncias e outros 58
inquéritos relacionados à Lava Jato.
(Uol, https://goo.gl/NANZYF, 02.02.2017. Adaptado)
O novo relator escolhido por sorteio é o ministro
(A) Alexandre de Moraes
(B) Dias Toffoli
(C) Edson Fachin
(D) Gilmar Mendes
(E) Luiz Fux

03. (TJ-SP – Escrevente Técnico Judiciário – Vunesp) O governo endureceu as negociações com
os parlamentares e deu um basta a novas concessões na reforma da Previdência, rejeitando assim
o lobby pesado de algumas categorias do serviço público, sobretudo com altos salários.
(O Globo, 23.04.17. Disponível em: <https://goo.gl/E79kQQ>. Adaptado)

(A) a aplicação do fator previdenciário para servidores públicos e o direito à aposentadoria com menos
anos de contribuição do que os trabalhadores privados.
(B) a integralidade, que garante a aposentadoria com o último salário da carreira, e a paridade, que
garante ao servidor aposentado reajustes salarias iguais ao do pessoal da ativa.
(C) o período mínimo de 25 anos de contribuição, que passaria para 35 com a reforma, e o mínimo de
50 anos de idade para aposentar-se, que poderia aumentar para 60 anos.
(D) a estabilidade após dez anos de serviço e o pagamento, aos filhos, de pensão integral vitalícia no
caso de servidores públicos que venham a falecer.
(E) a não contribuição dos servidores com o INSS, destinado apenas à aposentadoria na iniciativa
privada, e o direito ao aumento real anual no valor da aposentadoria.

04. (TJ-MG – Titular de Serviços de Notas e de Registros – Remoção – CONSUPLAN) A


denominada “Operação Lava Jato” trata, segundo o Ministério Público Federal, do maior caso de
corrupção e lavagem de dinheiro já apurado no Brasil, envolvendo um grande número de políticos,
empreiteiros e empresas, como a Petrobras, a Odebrecht, entre outras. O nome do magistrado
encarregado do julgamento em primeira instância, dos crimes apurados na mencionada operação é
(A) Sérgio Moro
(B) Rodrigo Janot
(C) Odilon de Oliveira
(D) Gilmar Mendes

05. (PC-AP – Agente de Polícia – FCC) O presidente Michel Temer sancionou em 24 de maio o
projeto da nova Lei da Migração. O texto será publicado no dia 25, no Diário Oficial da União.
(Adaptado de: http://brasil.estadao.com.br)
Sobre a lei da Migração são feitas as seguintes afirmações:

I. À semelhança do Estatuto do Estrangeiro, da década de 1980, a nova lei está voltada para a
segurança nacional.
II. A nova lei determina a existência de um visto temporário para pessoas que precisam fugir dos países
de origem, mas que não se enquadram na lei do refúgio.
III. A lei acaba com a proibição e garante o direito do imigrante de se associar a reuniões políticas e
sindicatos.
IV. Para especialistas, a legislação endurece o tratamento para os imigrantes, o que fere os direitos
humanos e incentiva a xenofobia.

Está correto somente o que se afirma APENAS em


(A) II e III
(B) I e II
(C) I e IV
(D) II e IV
(E) III e IV

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Gabarito

01.A / 02.C / 03.B / 04.A / 05.A

Comentários

01. Resposta: A.
Segundo Calero, Geddel o procurou, em ao menos cinco ocasiões, em busca de conseguir, junto ao
Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) a liberação de um projeto imobiliário em área
tombada de Salvador, na Bahia. Vieira Lima afirmou para Calero ser dono de um apartamento no prédio,
que dependia de aprovação federal, após ter sido liberado pelo Iphan da Bahia, comandado por seus
aliados.

02. Resposta: C
Como tem sido recorrente em notícias que envolvem política, é sabido que o ministro Edson Fachin foi
sorteado para a função de relator da Operação Lava Jato no lugar do ministro Teori Zavaski. Segue o link
com uma notícia do dia do sorteio <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,edson-fachin-sera-o-relator-da-lava-jato-no-stf,70001650453>

03. Resposta: B
Próximo a data da notícia, Temer já havia feito reuniões para manter a reforma sem alteração, mesmo
com as reivindicações de vários setores. <https://oglobo.globo.com/economia/temer-reune-lideres-determina-que-texto-da-reforma-da-
previdencia-sera-votado-como-esta-21246160> . Após suas recentes vitórias é provável que a base governista tenha força
para aprovar a reforma da maneira que está.

04. Resposta: A
Desde março de 2014 Moro julga em primeira instancia os crimes cometidos na Operação Lava-Jato,
maior caso de corrupção e lavagem de dinheiro já apurado no Brasil, segundo o MPF. Sérgio Moro é Juiz
Federal da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba.

05. Resposta: A
O Estatuto do Estrangeiro proibia imigrantes de participarem de qualquer atividade de natureza
política. A nova lei acaba com a proibição e garante o direito do imigrante de se associar a reuniões
políticas e sindicatos.
A nova lei determina a existência de um visto temporário específico para o migrante em situação de
acolhida humanitária, para pessoas que precisam fugir dos países de origem, mas que não se enquadram
na lei do refúgio. A legislação também contempla migrantes que vêm ao Brasil para tratamentos de saúde
e menores desacompanhados.
Segue o link de uma notícia vinculada à questão: <http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,temer-sanciona-lei-da-migracao-com-
diversos-vetos,70001812512>

Economia
saúde

Temer indica interino Ivan Monteiro para presidir Petrobras105

O presidente Michel Temer indicou nesta sexta-feira o engenheiro Ivan Monteiro como novo
presidente-executivo da Petrobras, em substituição a Pedro Parente, que pediu demissão do cargo nesta
manhã, em meio a ataques à política de preços da estatal.
Em breve pronunciamento no Palácio do Planalto, Temer afirmou que não haverá qualquer
interferência do governo sobre a política de preços da Petrobras e apontou a nomeação de Monteiro,
antes diretor financeiro e de relações com investidores na companhia, como uma garantia de que o rumo
da petroleira seguirá inalterado.

105
REUTERS. Temer indica interno Ivan Monteiro para presidir Petrobras. Economia. Terra. < https://www.terra.com.br/economia/temer-indica-ivan-monteiro-
para-presidir-petrobras-e-nega-que-havera-interferencia-na-estatal,c5d3729cd2d28185e0d24bb7b7a6df4cglgdcirz.html> Acesso em 04 de junho de 2018.

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Para baixar diesel, governo corta verba de programas de transplantes e de combate ao trabalho
escravo106

Mais Médicos, policiamento e programas ligados à Educação também serão afetados


BRASÍLIA — Para garantir a redução de R$ 0,46 no litro do óleo diesel nas refinarias, o governo retirou
recursos de áreas sensíveis como a fiscalização de trabalho escravo e trabalho infantil, programa Mais
Médicos, verba de policiamento e até do Sistema Nacional de Transplante. Áreas sociais e programas
ligados à Educação e ao Meio Ambiente também serão afetadas pelos cortes, que somam R$ 9,5 bilhões.
Para garantir o crédito extraordinário que será remanejado para os Ministérios de Minas e Energia e
da Defesa, o governo precisou retirar dinheiro de 19 ministérios, sendo que, ironicamente, o dos
Transportes foi o mais afetado: terá de cortar R$ 1,4 bilhão. Também houve corte em programas sociais
como políticas para juventude, violência contra mulheres, políticas sobre drogas e saúde indígena.
A redução do preço do diesel foi uma concessão do governo diante da pressão da greve dos
caminhoneiros que paralisou o país por nove dias. Só no Ministério da Educação os cortes serão de R$
R$ 55,1 milhões. O dinheiro estava previsto no orçamento para concessão de bolsas no Programa de
Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior (Proies). Houve ainda
um corte de R$ 150 milhões no fundo garantidor do financiamento estudantil.
Além de sofrer com cortes no programa de transplantes, no valor de R$ 1,3 milhão, o Ministério da
Saúde foi vai ter de retirar R$ 34 milhões do Programa Mais Médicos, R$ 11,8 milhões do programa de
gratuidade do Farmácia Popular e R$ 38,9 milhões do dinheiro que seria destinado à manutenção de
unidades de saúde. O montante do corte na pasta foi de R$179,6 milhões.
No Ministério do Meio Ambiente, chama a atenção a retirada de R$ 1,1 milhão da fiscalização ambiental
e de R$ 2,9 milhões do montante que seria aplicado em unidades de conservação. As informações sobre
as áreas e ministérios que sofreram cortes foram publicadas numa edição extra do Diário Oficial da União
de 30 de maio.
Temer também cortou R$ 3,8 milhões do programa "Criança Feliz". A inciativa da área social tinha
como embaixadora a primeira-dama, Marcela Temer, que resolveu recentemente se afastar dos holofotes.
No início de 2017, os marqueteiros do governo tinham um ambicioso plano para alavancar a popularidade
do presidente. Umas das ideias era escalar Marcela para participar de uma série de atos oficiais
relacionados ao “Criança Feliz”.
Na lista está ainda o corte de R$ 1,5 milhão para o "policiamento ostensivo nas rodovias e estradas
federais". A verba, que seria usada pela Polícia Rodoviária Federal, serviria, entre outros propósitos, para
operações de fiscalização do transporte de cargas e aumento do policiamento em feriados. Procurada
pela reportagem, a PRF disse que a decisão é recente e que ainda vai estudar como irá remanejar os
recursos para garantir o policiamento nas estradas.
O governo também retirou R$ 4,1 milhões para o combate ao tráfico de drogas e proteção de bens da
União. Na rubrica, ainda estava incluído o combate ao tráfico de seres humanos, à exploração sexual
infanto-juvenil e à pedofilia.

Greve dos caminhoneiros afeta abastecimento e causa alta de preços107

Frigoríficos e abatedouros estão parados e foram interrompidas exportações calculadas em mais de


R$ 200 milhões.
No terceiro dia da greve dos caminhoneiros, a Petrobras acenou uma bandeira branca e tentou uma
trégua anunciando uma redução temporária do preço do óleo diesel. A paralisação no transporte de
mercadorias e o bloqueio de rodovias provocaram desabastecimento em todas as regiões do país.
Fogo de pneus incendiados. Rodovia Fernão Dias, na Grande São Paulo, no fim da tarde desta quarta-
feira (23/05). Mais cedo, a manifestação foi na Régis Bittencourt. A Advocacia Geral da União conseguiu
nove liminares para liberar seis rodovias federais. Outros 15 pedidos ainda não foram julgados.
A paralisação nas estradas já provoca desabastecimento. Leite desperdiçado. Os caminhões que iam
buscar cinco mil litros, no interior do Paraná, não chegaram. “É triste porque você trabalha com leite de
qualidade, produz, você quer a tua vaca produzindo leite e chegar e jogar fora”, lamenta a produtora rural
Margareth Coller.
Segundo as entidades dos produtores e exportadores de carnes, há pelo menos 129 frigoríficos e
abatedouros parados, e foram interrompidas exportações no valor de mais de R$ 200 milhões.
106
CAMPOREZ, P. BRESCIANI, E. GÓES, B. Para baixar diesel, governo corta verba de programas de transplantes e de combate ao trabalho escravo. O Globo.
Economia <https://oglobo.globo.com/economia/2018/05/31/2270-para-baixar-diesel-governo-corta-verba-de-programas-de-transplantes-de-combate-ao-trabalho-
escravo?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo> Acesso em 01 de junho de 2018.
107
G1. Greve dos caminhoneiros afeta abastecimento e causa alta de preços. G1 Jornal Nacional. <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/05/greve-
dos-caminhoneiros-afeta-abastecimento-e-causa-alta-de-precos.html> Acesso em 24 de maio de 2018.

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Em São Paulo, cena rara no maior entreposto de alimentos do país, a Ceagesp. No meio do dia, muitos
boxes fechados ou desertos. Frutas acabando, como mangas e melões. Mamão, que vem principalmente
do Nordeste, sumiu. O feirante perdeu a viagem: “Tem uns 20 boxes que vendem mamão papaia e não
descarregaram em lugar nenhum”, conta o feirante Célio Martins.
No setor que comercializa batata e cebola, a movimentação era muito pequena nesta quarta-feira.
Basicamente de saída de mercadoria, não de descarregamento. Um caminhão era praticamente o único
de cebola. Muitos comerciantes acabaram antecipando as encomendas já contando com a manifestação
dos caminhoneiros. Um dos caminhões, por exemplo, chegou na madrugada de domingo (20/05). O
problema, é que os estoques, que hoje são muito mais de cebola do que de batata, não devem durar
muito tempo. O efeito da antecipação já passou.
E o preço para quem conseguir novo fornecimento de batata? “Custava para nós a R$ 50 o saco, hoje
se está pagando R$ 130, R$ 140 o saco”.
Aumento que vai chegando ao supermercado. “Nesta quarta, nós estamos vendendo uma batata a R$
4, um tomate a R$ 3 reais. Esses preços, a partir de quinta-feira (24/05), vão ter que ser elevados pra R$
5 a R$ 5,50”, explica o gerente do supermercado Edgar Pimenta.
O transporte de combustível também parou em várias regiões do país. Em São Paulo, a prefeitura
informou que 40% dos ônibus urbanos não vão circular nesta quinta-feira (24/05). No Recife e no Rio isso
já aconteceu nesta quarta. O resultado para os passageiros foi atraso.
Filas enormes para abastecer em várias capitais, como no Vale do Paraíba, em São Paulo. Mesmo
com o preço da gasolina nas alturas, houve confusão em filas de postos em Macaé, no estado do Rio. E
nem era a gasolina mais cara. Olha o preço no Recife: R$ 8,99.
Caminhões foram escoltados pela polícia para abastecer aviões no Recife e em Brasília. Na capital
federal, a partir da tarde desta quarta, só podem pousar aviões que decolem de novo sem abastecimento.
Segundo um relatório da Infraero, outros cinco aeroportos só têm combustível para esta quarta: Recife,
Maceió, Aracaju, Palmas e Congonhas, em São Paulo.
No Porto de Santos, quase parado, os navios chegam. Os caminhões, não. Os motoristas defendem
a paralisação. “Os gastos são de 70% do frete, ficam na estrada: no diesel e nos pedágios”, conta o
caminhoneiro Nilson Oliveira.
Caminhões que transportam oxigênio de uso hospitalar não estão chegando a Juazeiro, na Bahia. A
maternidade, o hospital infantil e o pronto-socorro só têm estoque para mais dois dias. “Todas as cirurgias
eletivas vão ser canceladas e vamos atender na urgência apenas pacientes classificados como vermelho
e amarelo”, diz o diretor médico do hospital José Antônio Bandeira.
O Procon de Pernambuco interditou na noite desta quarta-feira (23/05) por 72 horas o posto que
cobrava gasolina a R$ 8,99 o litro e aplicou multa de R$ 500 mil.
A Agência Nacional de Aviação Civil recomenda que os passageiros com voos marcados consultem
as empresas aéreas antes de irem para os aeroportos por causa das dificuldades no abastecimento de
querosene de aviação.

Pobreza extrema aumenta 11% no último ano; economistas culpam trabalho informal108

Levantamento foi baseado nos dados atualizados sobre renda e desigualdade, publicados nesta
quarta-feira (11/04) pelo IBGE
O número de pessoas em situação de extrema pobreza no Brasil passou de 13,34 milhões, em 2016,
para 14,83 milhões no ano passado. A informação, que revela um aumento de 11,2% no índice, foi
levantada pela empresa LCA Consultores com base nos dados da Pesquisa de Rendimento divulgada na
quarta-feira (11/04) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para chegar ao dado, a
consultoria adotou a linha de corte do Banco Mundial, que estabelece a renda domiciliar por pessoa, por
dia, de US$1,90 como limite para a pobreza extrema nos países em desenvolvimento.
Segundo especialistas, o aumento da pobreza extrema está relacionado, principalmente, ao aumento
do trabalho informal. O estudo do IBGE analisa os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad) Contínua, divulgada em fevereiro deste ano, que mostrou que, em dezembro de 2017, os
trabalhadores informais representavam 37,1% da população ocupada no país. De acordo com o IBGE, é
a primeira vez na história que o número de trabalhadores sem carteira assinada superou o conjunto de
empregados formais.
Em entrevista ao Valor Econômico, publicada nesta quinta-feira (12/04), o economista Cosmo Donato,
da LCA Consultora, ressaltou o fechamento de postos com carteira assinada. "No lugar de empregos

108
JÚIA DOLCE. Pobreza extrema aumenta 11% no último ano; economias culpam trabalho informal. Brasil de Fato. Disponível em:
<https://www.brasildefato.com.br/2018/04/12/pobreza-extrema-aumenta-11-no-ultimo-ano-economistas-culpam-trabalho-informal/> Acesso em 13 de abril de 2018.

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[com garantias trabalhistas e pisos salariais], o mercado de trabalho gerou ocupações informais, de baixa
remuneração e ganho instável ao longo do tempo”, destacou.
Segundo Adriana Marcolino, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese), o aumento de vagas sem carteira assinada, junto ao não aumento real do
salário mínimo, tiveram um grande impacto no aumento da desigualdade social.
"No mercado de trabalho estamos com altas taxas de desemprego, e o emprego que está sendo
gerado é de baixa qualidade, é informal, instável, com salários menores. Esses elementos todos
compõem o quadro de aumento na desigualdade", destacou.
De acordo com os dados do IBGE, em 2017, o grupo formado por 1% da população mais rica do país
ganhou 36,1 vezes mais do que a metade mais dos pobres, tendo um rendimento médio mensal de
R$27.213. A pesquisa mostra também que a parcela dos 5% mais pobres da população brasileira teve
um rendimento médio de R$40 por mês em 2017, o que representa uma queda de 18% em relação ao
ano anterior (R$49). Já para a população que compõe o 1% mais rico do país, o rendimento encolheu em
apenas 2,3%.
A diminuição da renda advinda do trabalho formal também foi um dos motivos levantados pelo
coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, para essa desigualdade, durante a
divulgação do suplemento especial da Pnad Contínua. "A qualidade do emprego foi baixa em 2017, com
a redução da taxa de desocupação por meio do trabalho informal", disse.
No entanto, segundo Marcolino, a pesquisa não reflete a real desigualdade no país, uma vez que o
IBGE tem um limite de dados captados, se utilizando apenas das informações de renda gerada por
emprego, Previdência, pensão, aluguel ou políticas públicas, como o programa Bolsa Família.
"O problema dessa estatística é que ela não pega os super ricos do Brasil, que tem investimentos na
bolsa, isso só seria captado se o IBGE fosse articulado com o imposto de renda. Então, na verdade, a
desigualdade no Brasil é muito maior do que a gente falava" afirmou.

Bolsa Família

A redução no número de beneficiários do programa Bolsa Família no último ano, pelo governo de
Michel Temer (MDB), também foi apontada como um dos principais motivos para o aumento da
desigualdade social. O IBGE apontou que pelo menos 326 mil domicílios deixaram de receber a renda do
programa no ano passado.
A região Nordeste foi a mais impactada pelos cortes: ao todo, 131 mil domicílios nordestinos deixaram
de contar com a renda extra. Paralelamente, a região também sofreu com o maior aumento de
desigualdade, tendo seu índice de Gini, principal medida da desigualdade da renda, elevado de 0,555
para 0,567 entre 2016 e 2017. Para Marcolino, ambas as estatísticas estão relacionadas.
"Na região Nordeste, o salário mínimo, do Bolsa Família e da formalização do trabalho estavam tendo
um impacto importante para reduzir as desigualdades. Com os cortes no Bolsa Família, as pessoas em
pobreza extrema, que agora vivem simplesmente de uma pequena renda de trabalho, somente o fato do
desemprego aumentar e ela ser demitida, já a coloca em uma situação de vulnerabilidade muito grande",
afirmou.

No 12º corte seguido, BC baixa juro para 6,5% ao ano, novo piso histórico109

O Taxa é a menor de toda a série histórica do Banco Central, que começou em 1986. Em nota, Copom
sinalizou a possibilidade de novo corte na Selic na próxima reunião, em maio.
Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou nesta quarta-feira (21/03) a redução
da taxa básica de juros da economia brasileira de 6,75% ao ano para 6,5% ao ano.
Foi o 12º corte consecutivo na Selic. A taxa de 6,5% ao ano é a menor desde a adoção do regime de
metas para a inflação, em 1999, e também de toda a série histórica do BC, iniciada em 1986.
A decisão confirma a previsão da maior parte dos economistas do mercado, colhida pelo próprio BC
na semana passada. Ela também afeta o rendimento das cadernetas de poupança.
Em comunicado, o Copom sinalizou que pode fazer uma nova redução moderada da taxa básica de
juros na próxima reunião, em 16 de maio. O novo corte viria para garantir que seja alcançada, ao final do
ano, a meta de inflação de 4,5%.

109
MARTELLO, A. SOUSA, Y. No 12º corte seguido, BC baixa juro para 6,5% ao ano, novo piso histórico. G1 Economia. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/noticia/no-12-corte-seguido-bc-baixa-juro-para-65-ao-ano-novo-piso-historico.ghtml> Acesso em 22 de março de 2018.

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A possibilidade de novo corte contraria a expectativa dos analistas, que esperavam que a reunião
desta quarta colocasse fim ao atual ciclo de redução da Selic, iniciado em 2016.
"A evolução do cenário básico tornou adequada a redução da taxa básica de juros em 0,25 ponto
percentual nesta reunião. Para a próxima reunião, o comitê vê, neste momento, como apropriada uma
flexibilização monetária moderada adicional [novo corte na Selic]. O Comitê julga que este estímulo
adicional mitiga o risco de postergação da convergência da inflação rumo às metas", informou o Copom
na comunicado.
Por outro lado, o Copom informou que, se a economia evoluir como o previsto, não serão necessários
cortes adicionais na Selic nas reuniões seguintes à de maio.
"Para reuniões além da próxima, salvo mudanças adicionais relevantes no cenário básico e no balanço
de riscos para a inflação, o Comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização
monetária, visando avaliar os próximos passos, tendo em vista o horizonte relevante naquele momento",
diz o texto.
A taxa definida pelo BC influencia nos juros praticados pelos bancos. Entretanto, apesar de a Selic
estar na mínima histórica, os juros bancários seguem elevados. Em janeiro (último dado disponível), as
taxas do cheque especial e do cartão de crédito rotativo estavam acima de 300% ao ano.

Como as decisões são tomadas


A definição da taxa de juros pelo BC tem como foco o cumprimento da meta de inflação, fixada todos
os anos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Para 2018, a meta central de inflação é de 4,5%. Para 2019, é de 4,25%. O sistema, porém, prevê
uma margem de tolerância, para cima e para baixo. Isso significa que a meta não seria descumprida pelo
Banco Central caso a inflação neste ano ficasse entre 2,5% e 6,5%.
Normalmente, quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. A expectativa é que a subida da taxa
também eleve os juros cobrados pelos bancos, ou seja, que o crédito fique mais caro e, com isso, freie o
consumo, fazendo a inflação cair. Essa medida, porém, afeta a economia e gera desemprego.
Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas predeterminadas pelo CMN, o BC
reduz os juros. É o que está acontecendo neste momento. Para 2018 e 2019, o mercado estima um IPCA
de 3,63% e de 4,20%, respectivamente.

Comparação com outros países


Com a redução de juros promovida pelo Copom nesta quarta, o Brasil caiu de quinto para sexto lugar
no ranking mundial de juros reais (calculados com abatimento da inflação prevista para os próximos 12
meses), compilado pelo MoneYou e pela Infinity Asset Management.
Com os juros básicos em 6,5% ao ano, a taxa real do Brasil soma 2,54% ao ano, atrás da Turquia
(5,95% ao ano), Argentina (4,56% ao ano), México (3,57% ao ano), Rússia (3,36% ao ano) e Índia (2,67%
ao ano).

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Rendimento da poupança
As decisões do Banco Central sobre a Selic também afetam o rendimento da poupança, que vai cair
novamente a partir desta quarta-feira. A regra atual, em vigor desde maio de 2012, prevê corte nos
rendimentos da poupança sempre que a Selic estiver abaixo de 8,5% ao ano.
Nessa situação, a correção anual das cadernetas fica limitada a um percentual equivalente a 70% da
Selic, mais a Taxa Referencial, calculada pelo BC. A norma vale apenas para depósitos feitos a partir de
4 de maio de 2012.
Com a nova queda dos juros, desta vez para 6,50% ao ano, a correção da poupança passará a ser de
4,55% ao ano, mais Taxa Referencial.
Mesmo assim, segundo cálculos da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e
Contabilidade (Anefac), a poupança continuará sendo uma "excelente opção de investimento,
principalmente sobre os fundos cujas taxas de administração sejam superiores a 1% ao ano".

1% mais ricos concentra 28% de toda a renda no Brasil, diz estudo110

A população 1% mais rica detinha, em 2015, 28% de toda a riqueza obtida no país, mostrou um
relatório sobre a desigualdade no mundo divulgado nesta quinta-feira (14/12/17). Em 2001, essa
participação era de 25%.
O documento é assinado por um time de pesquisadores, entre eles o aclamado autor do livro "O Capital
no Século XXI", Thomas Piketty, especialista em estudos sobre desigualdade de renda.
Enquanto os 50% mais pobres do Brasil eram mais de 71 milhões de pessoas em 2015, os 1% mais
favorecidos somavam 1,4 milhão de pessoas.
O estudo também aponta que os 10% mais ricos elevaram sua riqueza de 54% para 55% neste mesmo
período.

Extremos
Os 50% mais pobres também tiveram um aumento da renda, passando de 11% para 12%, um
crescimento mais rápido que os 10% mais ricos, segundo o relatório, mas com impacto bem menos
relevante devido a sua baixa renda.
A participação da classe média, por sua vez, caiu entre 2001 e 2015 de 34% para 32%. Segundo o
estudo, esse estreitamento da camada do meio é resultado da baixa participação da renda e baixa
performance de crescimento desta população.
"Enquanto a desigualdade de renda salarial declinou de acordo com nossas observações, essa queda
foi insuficiente para mitigar a concentração de capital e reverter a crescente concentração de renda entre
os mais favorecidos", diz o estudo.

Terceirização: como fica a partir de agora?111

A sanção da lei que permite a terceirização de trabalhadores de forma irrestrita provocou muita
controvérsia recentemente na sociedade. Diante do novo cenário, é preciso as enxergar as novas
implicações no mercado de trabalho com essa nova lei.
O projeto aprovado pela Câmara e transformado em lei pelo presidente é de 1998 e libera a
terceirização de todos os setores das empresas, seja atividade fim ou atividade meio, e também no serviço
público, com exceção de carreiras de Estado, como auditor e juiz.
A maior crítica da oposição, é que o projeto não tem dispositivos para impedir a chamada "pejotização"
- demissão de trabalhadores no regime de CLT para contratação deles como pessoas jurídicas (PJ) - e
assim restringir direitos trabalhistas. Porém essa conduta continua sendo ilegal. Explicando um pouco
melhor esse termo, a PJ tem vínculos que caracterizam uma relação de funcionário com aquela empresa,
mas não tem sua carteira assinada e, em geral, não tem todos os direitos trabalhistas garantidos
justamente por não trabalhar em regime CLT. Já na terceirização, uma empresa tem empregados com
carteira assinada vinculados a ela, e aloca esses funcionários para prestar serviços na empresa cliente.
Em relação às leis trabalhistas, por enquanto nada mudou. Porém, a expectativa fica sobre como será
votada a lei de flexibilização do regime trabalhista. Caso aprovada, reforma trabalhista irá permitir que o
acordado entre patrões e empregados tenha poder de se sobrepor à normas trabalhistas – o chamado
“combinado sobre o legislado”.

110
G1. 1% mais ricos concentram 28% de toda a renda no Brasil, diz estudo. G1 Economia. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/1-mais-ricos-
concentram-28-de-toda-a-renda-no-brasil-diz-estudo.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1> Acesso em 15 de dezembro de 2017.
111
DANA, Samy. Terceirização: Como fica a partir de agora? Portal G1. Disponível em: < http://g1.globo.com/economia/blog/samy-dana/post/terceirizacao-
como-fica-partir-de-agora.html>. Acesso em 10 de abril de 2017.

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Já o lado que apoia o projeto afirma que ele irá reduzir o alto número de desempregados atualmente
no Brasil. Para se ter ideia, segundo dados do IBGE, no trimestre encerrado em fevereiro o número de
desempregados no Brasil atingiu a marca de 13,5 milhões de brasileiros, o maior índice da série histórica
que se iniciou em 2012. O número de pessoas sem trabalho cresceu 36% em relação ao mesmo período
do ano anterior.
Eles ainda dizem que, na medida em que as empresas passam a se focar em partes específicas do
trabalho, tornam-se mais especializadas e produtivas, elevando assim os ganhos em toda sua cadeia de
produção. Por exemplo, quando uma empresa contrata uma terceirizada para cuidar da limpeza de suas
instalações, essa empresa reduz a quantidade de procedimentos que tem que lidar e acaba prestando
um melhor serviço do seu “core business”. Menos recursos indo para a burocracia resultariam em maior
produtividade. E maior produtividade significa melhores condições e mais ganhos reais ao trabalhador.
Agora, vamos aos pontos mais parciais que foram vetados na proposta. O primeiro deles é da
possibilidade de prorrogação do prazo de até 270 dias do contrato temporário de trabalho por acordo ou
convenção coletiva. O segundo assegura ao trabalhador temporário, salário, jornada de trabalho e
proteção previdenciária e contra acidentes equivalentes aos trabalhadores fixos da mesma função. Por
fim, o terceiro e último, prevê o benefício do pagamento direto do FGTS, férias e décimo terceiro
proporcionais a empregados temporários contratados até trinta dias.
Além disso, um assunto que foi muito questionado com essa lei, foi a maneira em que os concursos
públicos ficariam pós a lei entrar em vigor. A realidade é que o projeto não tem nenhum ponto específico
que fala sobre o serviço público, pois é considerado muito amplo e com poucos itens pontuais que
explicam determinada área em específico.
Segundo o juiz federal William Douglas, a abolição de concursos seria considerada inconstitucional.
Ademais, enquanto algumas pessoas interpretam que o projeto é só para o setor privado, outras acham,
por exemplo, que empresas como o Banco do Brasil, que tem “economia mista”, são afetadas pelo projeto.
Com a terceirização em vigor, as empresas tendem a se tornar mais produtivas e isso se refletirá em
melhores serviços e produtos com preços mais competitivos. Até serviços melhores poderão vir até
mesmo do governo, uma vez que produzindo mais, aumenta-se a arrecadação de impostos e com isso
orçamento público também se eleva.

Questões

01. (TJ-SP – Assistente Social Jurídico – Vunesp) O presidente Michel Temer sancionou na noite
desta sexta-feira o projeto de lei que regulamenta a terceirização no país.
A iniciativa foi publicada em edição extra do “Diário Oficial da União” e inclui vetos parciais a três pontos
da proposta.
(Folha de S.Paulo, 31.03.2017)
O projeto de lei sancionado
(A) Isenta as empresas contratantes e contratadas dos serviços terceirizados de qualquer ação no
âmbito da Justiça do Trabalho e determina que todos os trabalhadores terceirizados devem se constituir
em microempresários, dessa forma responsáveis pelos tributos relacionados ao trabalho.
(B) Determina que todas as empresas privadas podem terceirizar qualquer atividade profissional,
desde que todos os direitos trabalhistas sejam respeitados, e veta a utilização de trabalho terceirizado
para as empresas de economia mista e a administração pública, com exceção para a área de saúde.
(C) Limita a terceirização do trabalhador à denominada atividade-meio e, em caso de litígio trabalhista,
as empresas contratadas e contratantes devem ser acionadas conjuntamente na Justiça do Trabalho e
dividirão os custos das indenizações relacionadas a tais processos.
(D) Impede que a empresa de terceirização subcontrate outras empresas, prática denominada de
quarteirização, e amplia os direitos trabalhistas dos funcionários das empresas de terceirização, por
exemplo o aumento da multa sobre o valor dos depósitos do FGTS em caso de demissão sem justa
causa.
(E) Permite a terceirização de todas as atividades e autoriza a empresa de terceirização a subcontratar
outras empresas para realizar serviços de contratação, remuneração e direção do trabalho e atribui à
empresa terceirizada, em casos de ações trabalhistas, o pagamento dos direitos questionados na Justiça,
se houver condenação.

02. (PC-AP – Agente de Polícia – FCC) A Lei da Terceirização, foi sancionada pelo presidente Michel
Temer, em 31 de março. Essa lei dispõe que:

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I. A terceirização poderá ser aplicada a qualquer atividade da empresa, tanto atividade-meio como
atividade-fim.
II. O tempo de duração do trabalho temporário não deve ultrapassar três meses ou 90 dias.
III. Após o término do contrato, o trabalhador temporário só poderá prestar novamente o mesmo tipo
de serviço à empresa após esperar três meses.

Está correto somente o que se afirma APENAS em


(A) I e III
(B) I
(C) I e II
(D) II e III
(E) III.

03. (BRDE – Analista de Projetos-Área Econômico-financeiro – FUNDATEC) O Banco Central do


Brasil está entre as principais autoridades monetárias do país e é integrante do Sistema Financeiro
Nacional. Quem é seu atual presidente?
(A) Alexandre Tombini.
(B) Armínio Fraga.
(C) Henrique Meirelles.
(D) Ilan Goldfajn.
(E) Michel Temer.

04. (PC-AP – Agente de Polícia – FCC) A economia brasileira voltou a crescer após oito trimestres
seguidos de queda. Nos três primeiros meses de 2017, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 1,0% em
relação ao 4° trimestre do ano passado, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (1° ) pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
(Adaptado de: http://g1.globo.com)

Um dos fatores que contribuiu para o crescimento do PIB foi a


(A) expansão dos setores do comércio e de serviços.
(B) redução do desemprego e do trabalho informal.
(C) manutenção das taxas básicas de juros.
(D) expressiva expansão do agronegócio.
(E) ampliação dos gastos do governo.

05. (Câmara Municipal de São José dos Campos/SP – Técnico Legislativo – Vunesp–2018) A
decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de aumentar os impostos de importação de aço e alumínio
pode abalar o comércio mundial e a economia brasileira.
(UOL, 09.03.2018. Disponível em:<https://goo.gl/Tn1QpE> . Adaptado)
Uma das possíveis consequências da decisão de Trump para o Brasil é
(A) o aumento da produção de aço nacional, devido à demanda de outros países.
(B) uma crise na oferta de aço, diante da escassez do produto no mercado.
(C) o impacto nas siderúrgicas nacionais, que exportam muito para os EUA.
(D) a interrupção da importação de produtos norte-americanos, como retaliação à decisão.
(E) a redução no consumo de petróleo, muito utilizado na produção de aço.

Gabarito

01.E / 02.A / 03.D / 04.D / 05.C

Comentários

01. Resposta: E
Seria algo como uma “quarteirização”. As novas regras permitem que uma empresa terceirizada
terceirize o serviço para o qual ela foi contratada ou para que essas empresas encontrem outras para
executar esse serviço. Segue o link explicativo < http://g1.globo.com/politica/noticia/temer-sanciona-com-3-vetos-projeto-da-camara-sobre-
terceirizacao.ghtml>

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02. Resposta: A
A alternativa II está incorreta. “O contrato de trabalho temporário, com relação ao mesmo
empregador, NÃO poderá exceder ao prazo de CENTO E OITENTA dias, consecutivos ou não.”.
Conforme Artigo 10 da mesma lei.

03. Resposta: D
Ilan Goldfajn (Haifa, 12 de março de 1966) é um professor e economista israelo-brasileiro. É o atual
presidente do Banco Central do Brasil.
De origem judaica, nasceu em Haifa, Israel. Parte de sua criação deu-se no Rio de Janeiro, onde
estudou no Colégio Israelita Brasileiro A. Liessin.
Em 17 de maio de 2016, foi indicado ao cargo de presidente do Banco Central pelo ministro da Fazenda
Henrique Meirelles. Seu nome foi submetido à aprovação no Senado Federal, contando com 53 votos
favoráveis e 13 contrários. Foi empossado no cargo em 9 de junho.

04. Resposta: D
PIB do Brasil cresce 1% no 1º trimestre de 2017, após 8 quedas seguidas.
Agropecuária foi o destaque na primeira alta da economia em 2 anos. Tecnicamente, resultado positivo
tira o país de sua pior recessão. (https://g1.globo.com/economia/noticia/pib-do-brasil-cresce-10-no-1-trimestre-de-2017.ghtml)

05. Resposta: C
A decisão do presidente norte-americano Trump afeta o setor siderúrgico nacional porque o Brasil
ocupa a segunda posição entre os países exportadores de aço para a industrial estadunidense. <
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2018/03/09/trump-cria-taxa-para-aco-e-aluminio-que-impacto-isso-pode-ter-na-sua-vida.htm>

Sociedade
saúde
Corte Interamericana condena Brasil por morte de Vladimir Herzog112

Tribunal apontou o Estado brasileiro como responsável pela violação ao direito de conhecer a verdade
sobre o assassinato do jornalista
A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) condenou o Brasil pela falta de investigação
e sanção dos responsáveis pela morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, durante o regime militar,
informou o tribunal nesta quarta-feira (04/07).
O tribunal questionou a aplicação da lei de anistia de 1979 para encobrir os responsáveis pela morte
de Herzog e apontou o Estado brasileiro como responsável pela violação ao direito de conhecer a verdade
e a integridade pessoal em detrimento dos familiares da vítima.
O caso ocorreu após a detenção de Herzog, em 25 de outubro de 1975, quando foi interrogado,
torturado e assassinado "em um contexto sistemático e generalizado de ataques contra a população civil,
considerada como opositora à ditadura brasileira", segundo a corte, sediada em San José, na Costa Rica.
A instância ressaltou que as principais vítimas destes abusos eram jornalistas e membros do Partido
Comunista Brasileiro, durante a ditadura que governou o Brasil entre 1964 e 1985.
Diretor de jornalismo da TV Cultura, Vladimir Herzog foi convocado pelo DOI-Codi em 1975 a prestar
depoimento sobre seus vínculos com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). No dia seguinte, estava
morto. No mesmo dia da prisão, o Exército divulgou que Herzog tinha se suicidado e confirmou a versão
em uma posterior investigação da jurisdição militar. A versão oficial, supostamente corroborada por uma
foto do jornalista enforcado, não convenceu.
Na imagem, Vlado estava de joelhos dobrados, com a cabeça pendida para a direita e o pescoço preso
a uma tira de pano. A "fake news" da ditadura não resistiu à verdade indiscutível, testemunhada por
colegas jornalistas de Herzog também detidos: ele havia sido torturado e morto pelos militares.
O assassinato coincidia com uma greve estudantil em algumas das principais universidades de São
Paulo. Organizado por Dom Paulo Evaristo Arns, o ato inter-religioso em homenagem à Herzog reuniu 8
mil cidadãos na Catedral da Sé em outubro daquele ano. O número poderia ser maior não fosse o esforço
dos militares em dificultar o acesso da população ao local.
Novas investigações foram iniciadas em 1992 e 2007, mas as duas foram arquivadas em aplicação à
lei de anistia.

112
Carta Capital. Corte Interamericana condena Brasil por Morte de Vladimir Herzog. <https://www.cartacapital.com.br/politica/corte-idh-condena-brasil-por-
morte-de-vladimir-herzog-durante-ditadura> Acesso em 05 de julho de 2018.

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Durante as audiências perante o tribunal interamericano, "o Brasil reconheceu que a conduta estatal
de prisão arbitrária, tortura e morte de Vladimir Herzog causou aos familiares uma dor severa,
reconhecendo sua responsabilidade" no caso, informou a corte em um comunicado.
Em sua sentença, a Corte IDH determinou que a morte de Herzog foi um "crime contra a humanidade",
razão pela qual o Estado não podia invocar a prescrição do crime ou a lei de anistia para evitar sua
investigação e a sanção dos responsáveis.
Destacou ainda que o Brasil violou os direitos às garantias judiciais e à proteção da mulher e dos filhos
de Herzog, e que o país descumpriu sua obrigação de adequar sua legislação interna à Convenção
Americana de Direitos Humanos, ao manter a lei de anistia vigente.
O tribunal ordenou ao Brasil várias medidas de reparação, como a investigação dos fatos ocorridos
com a detenção de Herzog para identificar e sancionar os responsáveis por sua tortura e morte.

Governo federal lança pacto nacional contra LGBTfobia nesta quarta113

Portaria foi publicada na terça. Estados e DF terão de assinar adesão e criar estruturas locais, em
troca de consultoria e 'articulação de verbas' da União.
O governo federal lança nesta quarta-feira (16/05), em Brasília, um pacto nacional de enfrentamento
à violência contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais – os grupos que compõem a sigla
LGBT. Os governos dos estados e do Distrito Federal terão de manifestar, individualmente, a adesão ao
programa.
Até a tarde desta terça (15/05), 12 estados tinham confirmado presença na cerimônia de assinatura,
segundo o Ministério dos Direitos Humanos. O pacto tem vigência prevista de dois anos, prorrogáveis por
igual período.
A portaria que institui o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência LGBTfóbica já foi publicada no
Diário Oficial da União. Nela, o ministro dos Direitos Humanos, Gustavo Rocha, cita tratados
internacionais, o Programa Nacional de Direitos Humanos instituído no país em 2009 e recomendações
das Nações Unidas sobre o tema.
De acordo com a portaria, o pacto "tem por objetivo promover a articulação entre a União, Estados e
Distrito Federal nas ações de prevenção e combate à LGBTfobia". O formato exato dessa articulação não
consta na portaria, e deve ser detalhado durante a cerimônia de lançamento, à tarde.
O lançamento do pacto nacional ocorre dois dias antes do Dia Nacional de Combate à Homofobia no
Brasil, celebrado em 17 de maio. Nesta mesma data, em 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS)
retirou o termo "homossexualismo" da lista de doenças e problemas de saúde.

Adesão e compromissos
Junto com a portaria, o governo também publicou o modelo do Termo de Adesão a ser preenchido
pelos governos signatários do pacto. O documento lista alguns dos "direitos e deveres" gerados pela
medida.
As atribuições dos estados e do DF incluem a criação de estruturas para "promoção de políticas"
ligadas à população LGBT, assim como "equipamentos nos órgãos estaduais para atendimento
adequado" aos mesmos grupos.
Os governos locais também terão de dar "pleno funcionamento" ao comitê gestor estadual, em até 60
dias após a assinatura do termo. A partir daí, começa um outro prazo, de 45 dias, para a apresentação
de um "plano de ação", com cronograma e estatísticas.
As ações não se resumem à burocracia. O governo que aderir ao pacto terá de incluir as políticas
LGBT no Plano Plurianual (PPA) – um documento elaborado de 4 em 4 anos, e que serve como base
para a elaboração dos orçamentos anuais de cada governo. Na prática, a inclusão no PPA funciona como
uma "garantia orçamentária" para o tema.
Os gestores que cumprirem os compromissos podem, em troca, exigir contrapartidas da União. A lista
de possibilidades inclui auxílio técnico para o cumprimento do pacto, o compartilhamento de dados de
denúncias do Disque Direitos Humanos (Disque 100) e a capacitação de gestores e gestoras.

Dinheiro 'a combinar'


O documento também fala em "contribuir com a articulação de recursos financeiros, seja em órgãos
do Poder Executivo e/ou Poder Legislativo para financiamento das ações propostas no Plano de Ação".

113
Matheus Rodrigues. Governo Federal lança pacto nacional contra LGBTfobia nesta quarta. G1 Distrito Federal. < https://g1.globo.com/df/distrito-
federal/noticia/governo-federal-lanca-pacto-nacional-contra-lgbtfobia-nesta-quarta.ghtml> Acesso em 16 de maio de 2018.

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Isso não significa que a assinatura, por si só, gere verba pública. Na seção seguinte, a própria portaria
esclarece que a transferência de recursos será oficializada "por meio de convênio específico ou outro
instrumento adequado" – se, e quando acontecer.

Muito a percorrer
De acordo com o Ministério dos Direitos Humanos, em 2017, o Disque 100 registrou 1.720 denúncias
de violações de direitos de pessoas LGBT.
A cada 10 casos, 7 são referentes a episódios de discriminação. A violência psicológica aparece em
53% das denúncias, e a física, em 31%. O somatório é maior que 100% porque, muitas vezes, um único
caso é composto de diferentes tipos de violação.
Segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP), em 2016, 343 pessoas foram mortas pela
LGBTIfobia. A sigla usada pela entidade inclui a letra I, de intersexual – alguém que, por razões genéticas
ou de desenvolvimento fetal, não se enquadra na definição típica de "masculino" ou "feminino".

50 milhões de brasileiros vivem na linha da pobreza, aponta IBGE114

Cerca de 25% da população possui renda familiar equivalente a R$ 387. Número de jovens que não
trabalham nem estudam cresce.
Cerca 50 milhões de brasileiros, o equivalente a 25,4% da população, vivem na linha de pobreza e
possuem renda familiar equivalente a R$ 387, ou US$ 5,5 por dia, valor adotado pelo Banco Mundial para
definir se uma pessoa é pobre.
Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (15/12) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) e fazem parte da pesquisa SIS 2017 (Síntese de Indicadores Sociais 2017). Ela indica, ainda,
que o maior índice de pobreza se dá na região Nordeste do país, onde 43,5% da população se enquadram
nessa situação e, a menor, no Sul, com 12,3%.
A situação é ainda mais grave se levadas em conta os números envolvendo crianças de 0 a 14 anos
de idade. No país, 42% dos cidadãos nesta faixa etária se enquadram nestas condições e sobrevivem
com apenas US$ 5,5 por dia.
A pesquisa de indicadores sociais revela uma realidade: o Brasil é um país profundamente desigual e
a desigualdade gritante se dá em todos os níveis.
Seja por diferentes regiões do país, por gênero - as mulheres ganham, em geral, bem menos que os
homens mesmo exercendo as mesmas funções, por raça e cor: os trabalhadores pretos ou pardos
respondem pelo maior número de desempregados, têm menor escolaridade, ganham menos, moram mal
e começam a trabalhar bem mais cedo exatamente por ter menor nível de escolaridade.
Um país onde a renda per capita dos 20% que ganham mais, cerca de R$ 4,5 mil, chega a ser mais
de 18 vezes que o rendimento médio dos que ganham menos e com menores rendimentos por pessoa,
cerca de R$ 243.
No país, em 2016, a renda total apropriada pelos 10% com mais rendimentos (R$ 6.551) era 3,4 vezes
maior que o total de renda apropriado pelos 40% (R$ 401) com menos rendimentos, embora a relação
variasse dependendo do estado.
Entre as pessoas com os 10% menores rendimentos do país, a parcela da população de pretos ou
pardos chega a 78,5%, contra 20,8% de brancos. No outro extremo, dos 10% com maiores rendimentos,
pretos ou pardos respondiam por apenas 24,8%.
A maior diferença estava no Sudeste, onde os pretos ou pardos representavam 46,4% da população
com rendimentos, mas sua participação entre os 10% com mais rendimentos era de 16,4%, uma diferença
de 30 pontos percentuais.

Desigualdade acentuada entre brancos e negros


No que diz respeito à distribuição de renda no país, a Síntese dos Indicadores Sociais 2017 comprovou,
mais uma vez, que o Brasil continua um país de alta desigualdade de renda, inclusive, quando comparado
a outras nações da América Latina, região onde a desigualdade é mais acentuada.
Segundo o estudo, em 2017 as taxas de desocupação da população preta ou parda foram superiores
às da população branca em todos os níveis de instrução. Na categoria ensino fundamental completo ou
médio incompleto, por exemplo, a taxa de desocupação dos trabalhadores pretos ou pardos era de 18,1%,
bem superior que o percentual dos brancos: 12,1%.

114
DIÁRIO DE S. PAULO. 50 milhões de brasileiros vivem na linha da pobreza, aponta IBGE. Diário de S. Paulo. Disponível em:
<http://www.diariosp.com.br/_conteudo/2017/12/dia_a_dia/24209-50-milhoes-de-brasileiros-vivem-na-linha-da-pobreza-aponta-ibge.html> Acesso em 18 de
dezembro de 2017.

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"A distribuição dos rendimentos médios por atividade mostra a heterogeneidade estrutural da
economia brasileira. Embora tenha apresentado o segundo maior crescimento em termos reais nos cinco
anos disponíveis (10,9%), os serviços domésticos registraram os rendimentos médios mais baixos em
toda a série. Já a Administração Pública acusou o maior crescimento (14,1%) e os rendimentos médios
mais elevados", diz o IBGE.

Comissão dá aval à PEC que proíbe aborto115

Em sessão tumultuada, vence proposta que pode restringir até interrupções legais da gravidez
A Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, (08/11), um texto que, na
prática, pode levar à proibição de todas as formas de aborto no País, incluindo as hipóteses que
atualmente são autorizadas na legislação e livres de punição.
Em uma sessão tumultuada, venceu a proposta de alterar a Constituição para que o princípio da
dignidade da pessoa humana e a garantia de inviolabilidade do direito à vida passem a ser respeitados
desde a concepção e não, como é hoje, após o nascimento. A PEC havia sido apresentada originalmente
para se discutir a ampliação da licença-maternidade em caso de bebês prematuros de 120 para 240 dias.
O relator da proposta, Jorge Tadeu Mudalem (DEM-SP), no entanto, sob influência da bancada
evangélica, alterou o texto para incluir também as mudanças relacionadas à interrupção da gravidez.
A mudança foi uma resposta à 1.ª Turma do Supremo Tribunal Federal que, em 2016, havia decidido
não considerar crime a prática do aborto durante o primeiro trimestre de gestação, independentemente
da motivação da mulher.
A comissão foi instalada em dezembro. Entre os 35 membros titulares do colegiado, só seis são
mulheres. Dos parlamentares integrantes, quase um terço tem iniciativas para restringir o direito ao aborto
legal.
O presidente da comissão especial, deputado Evandro Gussi (PV-SP), negou que o texto aprovado
nesta quarta coloque em risco as garantias hoje existentes. Atualmente, o aborto não é punido nos casos
em que a gravidez é resultante do estupro ou quando represente ameaça à vida da gestante. “Hoje essas
duas formas não são punidas e assim vai permanecer. O maior impacto do texto é impedir que o aborto
seja descriminalizado”, disse Gussi.
A deputada Érika Kokay (PT-DF), no entanto, tem avaliação diferente. “Impede a discussão da
interrupção da gravidez e traz, no mínimo, insegurança jurídica para os casos já permitidos no Código
Penal”, afirmou.
Foi aprovado apenas o texto principal. Na próxima semana, será a vez de a comissão especial votar
os destaques. Dentre as propostas que deverão ser avaliadas está a de suprimir justamente o trecho que
determina o respeito à vida desde a concepção. Uma vez avaliados os destaques, o texto fica disponível
para o plenário da Casa, onde precisará de 308 votos para ser aprovado, em dois turnos.

Brasil elimina disparidades entre homens e mulheres na educação e na saúde, mas política e
economia derrubam país em ranking global116

O Brasil é um dos países mais igualitários do mundo quando o assunto é o acesso de homens e
mulheres à educação e saúde, mas figura entre aqueles onde mais imperam disparidades de gênero nos
campos político e econômico.
A conclusão faz parte do "The Global Gender Gap Report 2017", um estudo divulgado pelo Fórum
Econômico Mundial nesta quinta-feira, que revela o tamanho da desigualdade em 144 países e aponta
quais seriam os ganhos com a reversão desse quadro.
Os dados mostram que desde o início da série histórica, em 2006, é a primeira vez que a igualdade
de gênero retrocede globalmente. No Brasil, porém, o nível de desigualdade é o maior desde 2011 - o
país caiu 23 posições no ranking, figurando em 90º lugar na lista global e com o terceiro pior desempenho
na região que engloba América Latina e Caribe, depois apenas de Paraguai e Guatemala.
A igualdade é medida no levantamento em uma escala de 0 a 1 - quanto mais próximo a 1, maior a
igualdade entre homens e mulheres. Para o Brasil, a nota registrada em 2017 ficou em 0,684, a menor
desde 2011, quando estava em 0,668.

115
CARDOSO, D. FORMENTI, L. Comissão dá aval à PEC que proíbe aborto. Estadão Brasil. Disponível em:
<http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,comissao-aprova-pec-que-impossibilita-aborto-destaques-ainda-precisam-ser-votados,70002077147> Acesso em 09 de
novembro de 2017.
116
Moura. R. Brasil elimina disparidades entre homens e mulheres na educação e na saúde, mas política e economia derrubam país em ranking global. BBC
Brasil. Disponível em: < http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41853171?ocid=socialflow_twitter> Acesso em 03 de novembro de 2017.

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"A posição atual do Brasil no relatório se deve a duas disparidades de gênero em particular - a política
e a econômica", disse por email à BBC Brasil Vesselina Stefanova Ratcheva, economista e coautora do
relatório.
Segundo ela, o país pouco progrediu ao longo dos últimos dez anos no sentido de resolver o problema
no campo econômico. Nessa área, perdeu 20 posições de 2006 para cá, passando do 63º para o 83º
lugar - os principais gargalos são as disparidades de salários em funções semelhantes e de renda obtida
por meio do trabalho.

Política
A desigualdade na política é outro gargalo, observa a economista.
"Nosso índice constata que 2017 tem a menor igualdade de gênero em cargos políticos no Brasil desde
que começamos a calculá-lo, em 2006. Isso contrasta com uma região que, na média, se atua fortemente
para a inclusão das mulheres no campo político."
A participação feminina é medida pelo chamado "empoderamento político", e é considerada um dos
principais problemas para o país em relação à desigualdade. O Brasil foi da 86ª para a 110ª posição no
período de 11 anos englobado no relatório - embora sua nota tenha subido de 0.061 para 0.101, o que
indica um ambiente mais igualitário.
O estudo coloca o país entre os piores em dois aspectos: mulheres no parlamento e em posições
ministeriais, rankings em que ocupa, respectivamente, a 121ª e a 134ª posições.
Segundo o Fórum Econômico Mundial, a maior igualdade nesse âmbito foi registrada entre 2011 e
2015, período que engloba a governo Dilma Rousseff. Seu sucessor, Michel Temer, foi duramente
criticado ao assumir o governo nomeando apenas ministros homens - após as críticas, ele nomeou
mulheres para posições de destaque.

Avanços
Nos campos da educação e da saúde, o Brasil se mantém em posição estável e de liderança nos
últimos anos, dividindo o topo do ranking com pouco mais de 30 países. Mesmo assim, ainda enfrenta
desafios, diz a coautora do relatório.
"Hoje, o Brasil acabou com a desigualdade de gênero em nível educacional, mas, como em muitas
outras economias em todo o mundo, desequilibra na contratação, retenção e remuneração, entre vários
fatores analisados no relatório, que impedem uma maior integração das mulheres no mercado de trabalho
- e de forma igualitária em todos os setores", observa Ratcheva.
Nesse campo, o relatório também leva em consideração o nível educacional de homens e mulheres
que chegam ao mercado de trabalho.
O Brasil foi o único país da América Latina e um dos seis, em meio às 144 nações, a eliminar a
desigualdade entre homens e mulheres na área de educação. Em saúde e sobrevivência, a diferença
também está próxima do fim. Tais resultados são semelhantes aos registrados nos últimos anos.
Neste ano, somente outros cinco países conseguiram resolver as disparidades nas duas áreas:
República Checa, Letônia, Lituânia, Eslováquia e Eslovênia.
No que diz respeito à educação, são consideradas a taxa de alfabetização e de matrículas nos ensinos
primário e secundário. Na saúde, a análise se dá sobre a razão entre os sexos no nascimento e a
expectativa de vida saudável entre eles.

Ganhos com a igualdade


Globalmente, o estudo observa que apenas 58% da desigualdade de gênero foi resolvida pelos países,
o pior índice desde 2008.
Segundo o estudo, a igualdade deve resultar em ganhos econômicos expressivos, que variam de
acordo com o contexto de cada país.
O texto não traz estimativas específicas para o Brasil, mas no caso do Reino Unido, por exemplo,
mostra que avançar nessa área significaria um reforço adicional de US$ 250 bilhões no Produto Interno
Bruto (PIB).

Nos Estados Unidos, o valor projetado é de US$ 1,7 trilhão.


Há um longo caminho, no entanto, até que as disparidades registradas no estudo sejam eliminadas.
No atual estágio, estima-se que a Europa Ocidental será a região a resolver o problema mais rápido, mas
ainda assim daqui a 61 anos. Na área que englobe a América Latina e o Caribe - e que inclui o Brasil -
serão necessários 79 anos. Para a América do Norte, o tempo previsto chega a 168 anos.

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Outro ponto destacado pelo estudo é a fraca presença feminina em áreas como engenharia, indústria
e construção, bem como nos segmentos de comunicação e tecnologia. Áreas que, afirma o relatório,
estão abrindo mão dos os benefícios da diversidade.

Juiz federal do DF libera tratamento de homossexualidade como doença117

Ação popular questionava resolução do Conselho Federal de Psicologia que proibia tratamentos de
reorientação sexual. Desde 1990, OMS deixou de considerar homossexualidade doença.
Justiça Federal do Distrito Federal liberou psicólogos a tratarem gays e lésbicas como doentes,
podendo fazer terapias de “reversão sexual”, sem sofrerem qualquer tipo de censura por parte dos
conselhos de classe. A decisão, do juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, é liminar e acata parcialmente o
pedido de uma ação popular. Esse tipo de tratamento é proibido desde 1999 por uma resolução do
Conselho Federal de Psicologia. O órgão disse que vai recorrer.
A ação popular foi assinada por um grupo de psicólogos defensores das terapias de reversão sexual.
A decisão é de sexta-feira (15/09). Nela, Carvalho mantém a integralidade da resolução, mas determina
que o conselho não proíba os profissionais de fazerem atendimento de reorientação sexual. Além disso,
diz que os atendimentos têm caráter reservado.
Na resolução 01/1999, o conselho estabelece as normas de condutas dos psicólogos no tratamento
de questões envolvendo orientação sexual. De acordo com a organização, ela trouxe impactos positivos
no enfrentamento a preconceitos e proteção de direitos da população homossexual no país, “que
apresenta altos índices de violência e mortes por LGBTfobia”.
Para o Conselho Federal de Psicologia, terapias de reversão sexual representam “uma violação dos
direitos humanos e não têm qualquer embasamento científico”. Desde 1990, a homossexualidade deixou
de ser considerada doença pela Organização Mundial da Saúde.
Ainda de acordo com o conselho, a resolução não cerceia a liberdade dos profissionais nem de
pesquisas na área de sexualidade. O juiz mantém a resolução, mas determina que o Conselho Federal
de Psicologia não impeça os psicólogos de promoverem estudos ou atendimento profissional, de forma
reservada, e veta qualquer possibilidade de censura ou necessidade de licença prévia.
“O que está em jogo é o enfraquecimento da Resolução 01/99 pela disputa de sua interpretação, já
que até agora outras tentativas de sustar a norma, inclusive por meio de lei federal, não obtiveram
sucesso", afirma o conselho.
"O Judiciário se equivoca, neste caso, ao desconsiderar a diretriz ética que embasa a resolução, que
é reconhecer como legítimas as orientações sexuais não heteronormativas, sem as criminalizar ou
patologizar. A decisão do juiz, valendo-se dos manuais psiquiátricos, reintroduz a perspectiva
patologizante, ferindo o cerne da Resolução 01/99.”

Ação popular
Uma das autoras da ação popular que questionava a resolução é a psicóloga Rozângela Alves Justino,
que oferecia terapia para que gays e lésbicas deixassem de ser homossexuais. Ela foi punida em 2009
pela prática.
Na época, Rozângela disse ao G1 que considera a homossexualidade um distúrbio, provocado
principalmente por abusos e traumas sofridos durante a infância. Ela afirmou ter "aliviado o sofrimento"
de vários homossexuais.
“Estou me sentindo amordaçada e impedida de ajudar as pessoas que, voluntariamente, desejam
largar a atração por pessoas do mesmo sexo", disse Rozângela na ocasião.

Refugiado sírio é atacado em Copacabana: 'Saia do meu país!'118

Um refugiado sírio foi vítima de um ataque em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Mohamed Ali, de 33
anos, que vende esfirras e outros quitutes árabes, e foi agredido verbalmente por um homem por causa
do ponto de venda. Um vídeo da discussão foi publicado nas redes sociais e viralizou.
Nas imagens é possível ver um homem com dois pedaços de madeira nas mãos gritando: "saia do
meu país! Eu sou brasileiro e estou vendo meu país ser invadido por esses homens-bombas que
mataram, esquartejaram crianças, adolescentes. São miseráveis". Adiante no vídeo, ele ainda fala: "Essa
terra aqui é nossa. Não vai tomar nosso lugar não".

117
MORAIS, RAQUEL. Juiz Federal do DF libera tratamento de homossexualidade como doença. G1 Distrito Federal. Disponível em:
<https://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/juiz-federal-do-df-libera-tratamento-de-homossexualidade-como-doenca.ghtml> Acesso em 19 de setembro de 2017.
118
VIANA GABRIELA. Refugiado Sírio é atacado em Copacabana: ‘Saia do meu país!’. O Globo. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/rio/refugiado-sirio-
atacado-em-copacabana-saia-do-meu-pais-21665327?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=OGlobo> Acesso em 04 de agosto de 2017.

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Os comerciantes chegam a derrubar a mercadoria de Mohamed no chão, que pergunta o motivo da
agressão. Os homens, então, falam novamente para ele sair do Brasil. Mohamed está no Brasil há três
anos e estava trabalhando na esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com a Rua Santa
Clara na sexta-feira, quando tudo aconteceu.
— Eu não entendi muito bem porque ele veio brigar comigo. De repente ele começou a gritar e me
pedir para sair. Ele falava muito rápido e não consegui compreender algumas coisas. Outras pessoas que
estavam traduzindo para mim. Sei que ele falou que os muçulmanos estavam invadindo o país e falando
de homens-bomba. Não esperava que isso pudesse acontecer comigo. Vim para o Brasil porque a guerra
me fez vir para cá. Vim com amor, porque os amigos sempre diziam que o Brasil aceita muito outras
culturas e religiões, e as pessoas são amáveis e todos os refugiados procuram paz. Não sou terrorista,
se eu fosse, eu não estaria aqui, estaria lá — disse.
No vídeo, ainda é possível ouvir algumas pessoas defendendo Mohamed. Uma mulher ainda o orientou
a deixar o local diante da confusão. Ele, então, retira os pertences.
— Chegaram carros da polícia, da Guarda Municipal. Me falaram para registrar na polícia, mas não
quis. Não quero confusão. Quero apenas trabalhar em paz – disse.
No Facebook, diversos internautas pediram desculpas a Mohamed em nome dos brasileiros pelo
ocorrido:
"Olá, Mohamed Ali, boa noite. Em nome de todos os brasileiros e trabalhadores, peço desculpas pelo
que você passou enquanto trabalhava", escreveu uma internauta.
"Você é bem-vindo no Brasil. Perdoe este sujeito que te atacou, ele não sabe o que faz", disse outro.
Apesar do ocorrido e de ter medo de encontrar o homem que o ofendeu, Mohamed não tem intenção
de sair do Rio ou deixar de trabalhar em Copacabana.
– Passei a trabalhar em outro ponto para não encontrá-lo novamente, mas não vou sair daqui. Mudar,
trocar de casa, é difícil. Espero apenas que não aconteça novamente. Foi muito triste. Não quero outra
briga. Fico com medo. Trabalho sozinho – falou.
O titular da 12ª DP (Copacabana), Gabriel Ferrando, disse ter conhecimento das imagens, mas em
casos como o de Mohamed, a atuação da polícia depende de uma manifestação da vítima.
– O ofendido não compareceu para registrar e denunciar o feito. Ameaça e injúria dependem de
manifestação de vontade da vítima. Independente disso estamos analisando as imagens para tentar
localizar os envolvidos. Estamos diligenciando – disse.
Em nota, a Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI)
afirma que acompanha o caso do refugiado agredido. O órgão repudia o ataque de xenofobia, e afirma
que já está em contato com a família do sírio, que participou do curso de português oferecido pela
secretaria no ano passado, para prestar a assistência necessária.
"É inaceitável casos de xenofobia e intolerância religiosa ainda aconteçam no Rio de Janeiro. Essas
pessoas saíram dos seus países por serem vítimas de algum tipo de perseguição e viram no Brasil uma
oportunidade de recomeço. Eles trazem uma grande contribuição para a economia do estado, além da
rica troca cultural com os fluminenses.", afirma, em nota, o secretário Átila A. Nunes.

Governo Temer empurra Brasil de volta ao mapa mundial da fome119

Jornal GGN - A crise econômica aumentou o desemprego no Brasil e ações deflagrados no governo
Temer, sob o guarda-chuva do ajuste fiscal, empurra o País de volta ao mapa mundial da fome da ONU.
Entre elas, a exclusão de pessoas do programa Bolsa Família e o corte no programa de agricultura
familiar, que tem impedido centenas de milhares de pessoas de terem renda suficiente para comprar
alimentos. É o que aponta reportagem publicada pelo jornal O Globo neste domingo (09/07).
Segundo o veículo, "três anos depois de o Brasil sair do mapa mundial da fome da ONU — o que
significa ter menos de 5% da população sem se alimentar o suficiente —, o velho fantasma volta a
assombrar famílias" no Brasil.
O alerta conta em relatório que será apresentado às Nações Unidas na próxima semana, sobre o
"cumprimento de um plano de ação com objetivos de desenvolvimento sustentável acordado entre os
Estados-membros da ONU, a chamada Agenda 2030".
O Globo ouviu de Francisco Menezes, coordenador do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Soicias
e Econômicas) e consultor do ActionAid, que "o país atingiu um índice de pleno emprego, na primeira
metade desta década, mesmo os que estavam em situação de pobreza passaram a dispor de empregos
formais ou informais, o que melhorou a capacidade de acesso aos alimentos".

119
NASSIF, LUIS. Governo Temer empurra Brasil de volta ao mapa mundial da fome. GGN. Disponível em: <http://jornalggn.com.br/noticia/governo-temer-
empurra-brasil-de-volta-ao-mapa-mundial-da-fome> Acesso em 11 de julho de 2017.

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Mas a mudança na base de dados do Bolsa Família com o intuito de esvaziar o programa, realizada
no final do ano passado, além da "redução do valor investido no Programa de Aquisição de Alimentos da
Agricultura Familiar (PAA), que compra do pequeno agricultor e distribui a hospitais, escolas públicas e
presídios, são uma vergonha para um país que trilhava avanços que o colocava como referência em todo
o mundo".
O jornal lembrou que, ano passado, Temer promoveu um "pente-fino" no Bolsa Família com a desculpa
de que o programa estava cheio de beneficiários que adulteravam os dados para continuar recebendo a
ajuda de custo do governo sem ter necessidade. Com esse valor "economizado", Temer pretendia fazer
um reajuste no programa.
Porém, segundo O Globo, o pente-fino do governo só mostrou que a pobreza no Brasil avança a
passos largos, em meio à crise econômica.
"O resultado [do pente-fino], porém, foi a confirmação de um fenômeno de empobrecimento. Ao cruzar
bases de dados, a fiscalização encontrou mais de 1,5 milhão de famílias que tinham renda menor que a
declarada — haviam perdido o emprego, mas não atualizaram o cadastro — e, por isso, teriam direito a
benefícios maiores do que recebiam. Isso corresponde a 46% dos 2,2 milhões de famílias que caíram na
malha fina por inconsistência nos dados. E o prometido reajuste no benefício, que seria de 4,6%, foi
suspenso no fim do mês passado pelo governo, por falta de recursos."
No Facebook, a assessoria de Lula comentou a reportagem. "O Brasil estava no caminho da inclusão
social e da redução da fome e da miséria, com programas sociais que são referência em todo mundo.
Com a sabotagem promovida pelos golpistas e o golpe, o Brasil saiu desse caminho."

34% dizem ter vergonha de ser brasileiros, segundo Datafolha120

Ainda segundo o levantamento, publicado pelo jornal 'Folha de S.Paulo', 63% se sentem mais
orgulhosos do que envergonhados.
Pesquisa do Instituto Datafolha divulgada nesta terça-feira (02/05) pelo jornal "Folha de S.Paulo"
apontou que 34% têm vergonha de ser brasileiros. O índice daqueles que têm mais orgulho do que
vergonha de ser brasileiros é de 63%, o menor valor para a série histórica, segundo o Datafolha.
O Datafolha questiona a população sobre o orgulho de ser brasileiro desde 2000. O menor resultado
havia sido em julho de 2016, quando 67% diziam se sentir orgulhosos. Já o menor índice dos
envergonhados havia sido em 2000, quando era de 9%.
A atual pesquisa ouviu 2.781 pessoas em 172 municípios na semana passada. A margem de erro de
2 pontos percentuais para mais ou para menos.
O Datafolha também ouviu as pessoas sobre a avaliação do Brasil como lugar para viver. Para 54%,
o Brasil é um país ótimo ou bom para morar, uma queda de sete pontos percentuais desde o final do ano
passado. Para 26% é regular e para 20% é ruim ou péssimo.
Segundo o instituto, as duas avaliações, apesar de estar em queda, ainda mostram otimismo com o
país, já que a maioria sente orgulho de ser brasileiro e considera o Brasil um bom lugar para morar.

Questões

01. (CRQ – 5ª Região (RS) – Auxiliar Administrativo – FUNDATEC) A Declaração Universal dos
Direitos Humanos (DUDH) foi aprovada em 10 de dezembro de 1948 na Assembleia-Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU). O documento é a base de uma luta universal que visa a
igualdade e a dignidade de todas as pessoas e o combate à opressão e à discriminação. Os direitos
humanos são essenciais a todos os seres humanos e garantem as liberdades fundamentais que devem
ser aplicadas a cada cidadão do planeta. Dentre as alternativas abaixo, qual NÃO consta como um direito
proclamado no documento assinado pela maioria dos países do mundo?
(A) Direito à propriedade.
(B) Direito de tomar parte na direção dos negócios públicos do seu país; diretamente ou por intermédio
de representantes livremente escolhidos.
(C) Pagamento de salário igual por trabalho igual sem discriminação alguma.
(D) Direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu.
(E) Direito à legítima defesa.

120
G1, BRASÍLIA. 34% dizem ter vergonha de ser brasileiros, segundo Datafolha. G1, Política. Disponível em: < http://g1.globo.com/politica/noticia/34-dizem-
ter-vergonha-de-ser-brasileiros-segundo-datafolha.ghtml> Acesso em 02 de maio de 2017.

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02. (ESAF – Planejamento e Orçamento – ESAF) No Século XXI, o Trabalho Forçado, Trabalho
análogo ao Escravo e o Trabalho Infantil ainda são uma realidade no mundo e o Brasil não é uma exceção.
Existem inúmeras razões para a persistência do Trabalho Forçado e Trabalho análogo ao Escravo no
Brasil.
Não é uma das razões para persistência do Trabalho Forçado no Brasil.
(A) Sentimento de Impunidade para os promotores do Trabalho Forçado ou Trabalho análogo ao
Escravo, na maioria dos casos praticado em áreas distantes e/ ou desconhecidas dos trabalhadores
recrutados.
(B) São raros os casos de condenação criminal por Trabalho Forçado no Brasil. A lei tem dificuldade
em atingir o promotor do trabalho escravo, devido a existência de intermediários (“os gatos”)
encarregados da contratação.
(C) No Brasil, a lei penal é inadequada para a responsabilização dos infratores. Falta clareza ao
qualificar como crime de condição análoga à escravidão a submissão do empregado a uma jornada
exaustiva ou em situação degradante.
(D) A legislação penal brasileira está em descompasso com o conceito universal de trabalho escravo
em razão da não adesão pelo Brasil as Convenções Internacionais que tratam do tema.
(E) Dificuldade de fiscalizar um país com as dimensões territoriais do Brasil.

Gabarito
01.E / 02.D

Comentários
01. Resposta: E
De acordo com a Declaração Universal dos Diretos Humanos:
Artigo 13°
1.Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um
Estado.
2.Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de
regressar ao seu país.
Artigo 17°
1.Toda a pessoa, individual ou coletiva, tem direito à propriedade.
2.Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.
Artigo 21°
1.Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direção dos negócios, públicos do seu país, quer
diretamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.
Artigo 23°
1.Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e
satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego.
2.Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.

02. Resposta: D
O Brasil trata o conceito de trabalho escravo com parâmetros próprios e seguindo as instituições
internacionais. Mas que fique claro, apesar de seguir alguns aspectos, a legislação brasileira referente ao
tema ainda é própria. Segue o link exemplificando que é usado ambos as situações <
http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-12/governo-publica-nova-portaria-sobre-trabalho-escravo>

Educação
saúde
Uneb terá cotas para trans, ciganos, portadores de transtorno do espectro autista e pessoas com
deficiência121

Instituição vai oferecer 5% de vagas adicionais para o público, além das que já são ofertadas
normalmente. Decisão valerá para os processos de graduação e de pós-graduação a partir de 2019.
A Universidade Estadual da Bahia (Uneb) terá sistema de cotas para transexuais, travestis,
transgêneros, quilombolas, ciganos e portadores de deficiência, transtorno do espectro autista e altas
habilidades.
121
G1 BA. Uneb terá cotas para trans, ciganos, portadores de transtorno do espectro autista e pessoas com deficiência. G1 Bahia.
https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2018/07/23/uneb-tera-cotas-para-trans-ciganos-portadores-de-transtorno-do-espectro-autista-e-pessoas-com-
deficiencia.ghtml. Acesso em 24 de julho de 2018.

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1484997 E-book gerado especialmente para NADIA NARCISA DE BRITO SANTOS
De acordo com as informações divulgadas pela instituição nesta segunda-feira (23/07), a decisão foi
tomada pelo Conselho Universitário (Consu) e começa a valer a partir de 2019, em todos os processos
de graduação e de pós-graduação da universidade.
Segundo a Uneb, serão oferecidos 5% de vagas adicionais para cada um dos grupos, além das que
já são ofertadas para os demais. Dessa forma, as novas cotas não devem alterar o percentual ofertado
aos não cotistas.
Atualmente, a instituição oferece 40% das oportunidades para negros e 5% para indígenas, além das
vagas de ampla concorrência, para quem não integra o sistema de cotas, que, segundo a instituição,
corresponde a 60%.
Ainda conforme a Uneb, para concorrer às cotas, assim como nos demais grupos, os candidatos das
novas cotas devem ter cursado todo o segundo ciclo do ensino fundamental e o ensino médio
exclusivamente em escola pública, além de terem renda familiar mensal de até quatro salários mínimos.

Uneb
Fundada em 1983, a Uneb é mantida pelo Governo do Estado por intermédio da Secretaria da
Educação (SEC). A instituição possui 29 departamentos instalados em 24 campi: um sediado em
Salvador, onde se localiza a administração central, e os demais distribuídos em 23 importantes municípios
baianos de porte médio e grande, como Feira de Santana, Juazeiro, Vitória da Conquista e Barreiras.
Atualmente, segundo o site da instituição, mais de 150 opções de cursos e habilitações nas
modalidades presencial e de educação a distância (EaD) são ofertados pela universidade, nos níveis de
graduação e pós-graduação.
Além dos campi, a Uneb está presente na quase totalidade dos 417 municípios do estado, por
intermédio de programas e ações extensionistas em convênio com organizações públicas e privadas, que
beneficiam milhões de cidadãos baianos, a maioria pertencente a segmentos social e economicamente
desfavorecidos e excluídos. Entre eles, a alfabetização e capacitação de jovens e adultos em situação de
risco social; educação em assentamentos da reforma agrária e em comunidades indígenas e quilombolas;
projetos de inclusão e valorização voltados para pessoas com deficiência, da terceira idade, LGBT.
A Uneb desenvolve também importantes pesquisas em todas as regiões em que atua. Alguns projetos
trazem a marca da vanguarda acadêmica, a exemplo dos trabalhos nas áreas de robótica e de jogos
eletrônicos pedagógicos. O corpo discente da instituição é estimulado a participar das pesquisas por meio
de programas de iniciação científica e de concessão de bolsas de monitoria.

Fies vai voltar a atender cursos com mensalidade de até R$ 7 mil, anuncia MEC122

Valor máximo que um contrato de financiamento poderia ter era de R$ 30 mil por semestre; mas, a
partir do segundo semestre, ele vai ser 40% maior, para R$ 42 mil por semestre, ou R$ 7 mil por mês.
O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) voltou a aumentar o limite máximo do valor de
mensalidades para estudantes poderem fechar um contrato de financiamento, segundo anunciou nesta
quarta-feira (06/06) o ministro da Educação, Rossieli Soares da Silva. Em entrevista a jornalistas em
Brasília, ele divulgou as mudanças aprovadas na reunião desta terça (05/06) pelo Comitê Gestor do Fies,
composto por representantes de vários ministérios.
A partir do segundo semestre, a adesão dos estudantes vai contemplar cursos com mensalidades de
até R$ 7 mil, ou R$ 42 mil por semestre. No primeiro semestre, o limite era de R$ 30 mil, o que permitia
que apenas cursos com mensalidade de até R$ 5 mil pudessem participar do financiamento. Segundo
Rossieli, isso acabou excluindo estudantes interessados em cursos de medicina.
Conhecido como "teto da semestralidade", esse limite de R$ 42 mil já existia no antigo modelo do Fies,
mas foi reduzido no lançamento do Novo Fies, segundo ele, em nome da "sustentabilidade" do programa.
Reportagem do G1 com dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação mostrou que, em fevereiro,
54% dos contratos do Fies que já estavam na fase de amortização (pagamento por parte dos
estudantes) tinham pelo menos um dia de atraso no pagamento de parcelas.
De acordo com o ministro, as mudanças anunciadas nesta terça valem apenas para a modalidade 1
do Novo Fies e para o segundo semestre. As inscrições começam em julho, ainda sem data definida.
No primeiro semestre, o ministro disse que 35.866 estudantes fecharam novos contratos de
financiamento do Fies 1, e outros 16.351 estão em fase de tramitação do contrato para vagas
remanescentes. O prazo para o fechamento dos contratos termina no dia 25/06. Segundo o MEC, o Novo
Fies, na modalidade 1, tem verba para cerca de 100 mil novas vagas no ano de 2018, incluindo os dois

122
G1. Fies vai voltar a atender cursos com mensalidade de até R$ 7 mil, anuncia MEC. G1 Educação. <https://g1.globo.com/educacao/noticia/fies-vai-voltar-a-
atender-cursos-com-mensalidade-de-ate-r-7-mil-anuncia-mec.ghtml> Acesso em 07 de junho de 2018.

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semestres. Considerando todas as três modalidades, 155 mil novos contratos já foram fechados no
primeiro semestre, e a estimativa é oferecer 310 mil vagas neste ano.

'Travas' para garantir sustentabilidade


Rossieli explicou que as mudanças fazem parte do processo de "implantação" do Novo Fies. "A gente
queria inclusive testar o novo modelo, a gente está em um processo de implantação", disse ele.
"A gente veio de um cenário catastrófico, ponto. Para termos segurança de avanço, tem que ter
sustentabilidade", afirmou Rossieli.
O ministro diz que o retorno ao teto da semestralidade voltou ao patamar anterior depois que o comitê
gestor observou que, com outras medidas de controle dos valores dos contratos, o Novo Fies pode manter
a sustentabilidade.
Segundo ele, a nova obrigação para as instituições de ensino cobrarem do aluno do Fies o valor
mínimo cobrado na turma em que ele estuda foi o principal mecanismo introduzido pelo Novo Fies para
evitar abusos por parte das faculdades privadas.
De acordo com informações divulgadas pelo MEC, como os estudantes financiados pelo Fies eram
uma garantia de pagamento em dia das mensalidades, já que quem paga é o governo federal, muitas
instituições se aproveitaram disso para cobrar desses estudantes uma mensalidade mais alta do que os
demais alunos daquela mesma turma do mesmo curso, que Rossieli diz ser uma "mensalidade
artificializada para aumentar o lucro de instituições".

Inclusão de mais cursos de medicina


"O valor mínimo por turma funcionou bem, isso traz sustentabilidade de forma muito mais clara",
explicou ele. Por isso o comitê decidiu aumentar o teto do valor da semestralidade, o que deve aumentar
o número de contratos de financiamento de estudantes cursando medicina.
Segundo Rossieli, o comitê considera que a mudança pode contemplar cursos que têm valores mais
altos para todos os alunos – e não só para os alunos financiados pelo governo federal, principalmente os
de medicina.
"Atende uma demanda para cursos mais caros, como medicina, para valores que estavam mais
adequados ao mercado."

Novo limite de financiamento mínimo


Outra novidade anunciada pelo MEC nesta terça é um limite mínimo para que o financiamento do Novo
Fies seja concretizado. A partir do segundo semestre, todos os contratos deverão cobrir pelo menos 50%
do valor total da mensalidade do estudante.
Segundo Rossieli, esse valor não tinha limite mínimo e chegou a ser de apenas 8%, dependendo a
renda familiar do estudante e do custo da faculdade.
"Se o curso custar R$ 10 mil e você pedir o financiamento, você vai ter no mínimo [financiamento de]
R$ 5 mil reais. Se o menino for mais pobre, tiver mais necessidade, pode chegar a 60%, 70%", explicou
o ministro.
Apesar de essa última mudança valer para o segundo semestre, estudantes que já fecharam contrato
no primeiro semestre vão ter a opção de aumentar a porcentagem do financiamento quando renovarem
o contrato a partir do próximo semestre.

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Disciplinas, carga horária e impacto no Enem: veja o que deve mudar com a base curricular do
ensino médio123

A última versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino médio foi entregue pelo
Ministério da Educação ao Conselho Nacional de Educação (CNE) na tarde desta terça-feira (03/04).

Abaixo, veja as principais questões sobre a medida e, na sequência, o que já se sabe sobre seus
impactos:

Qual a relação com a BNCC já aprovada em dezembro?


Esta é a segunda etapa na definição das diretrizes de tudo o que deve ser obrigatoriamente ensinado
nas escolas de todo Brasil: a primeira etapa foi concluída com a finalização da base específica para o
ensino infantil e fundamental, que deve ser implementada até 2020.
Agora, a atual versão da BNCC do ensino médio vai passar por audiências e debates antes de o texto
ser finalizado. Depois disso, ele será votado no Conselho Nacional de Educação (CNE) e homologado
pelo ministério da Educação.

Quando a BNCC vai sair do papel?


Ainda não existe um prazo definido. Segundo Eduardo Deschamps, presidente do CNE, na próxima
semana os conselheiros se reunirão para definir o cronograma.
A BNCC referente à educação infantil e ao ensino fundamental, que foi entregue ao CNE em abril de
2017, só foi aprovada oito meses depois, em dezembro. Agora, um comitê especial do MEC orienta a
implementação da nova Base Curricular do ensino infantil e fundamental nas escolas até 2020.

O Enem vai mudar?


Sim, o MEC trabalha com a necessidade de futuras adequações no exame. Porém, segundo o ministro
da Educação, Mendonça Filho, qualquer mudança no Enem só deve ocorrer a partir de 2020.
"O processo de adaptação do Enem, respeitando toda essa concepção estabelecida da Base
Curricular do ensino médio, será gradual, e certamente só a partir de 2020 em diante", afirmou o ministro.

Qual a relação da BNCC com a reforma instituída via MP por Temer?


A reforma foi um conjunto de novas diretrizes para o ensino médio implementadas via Medida
Provisória. Elas foram apresentadas pelo governo federal em 22 de setembro de 2016. A reforma
flexibilizou o conteúdo que será ensinado aos alunos, mudou a distribuição do conteúdo das 13 disciplinas
tradicionais ao longo dos três anos do ciclo e deu novo peso ao ensino técnico.
Entretanto, para entrar de fato em vigor, a reforma precisa da BNCC para apontar a diretriz do que se
espera que os alunos aprendam, para que, no passo seguinte, estados, municípios e a rede privada
elaborem seus currículos.

Essa é a versão final da BNCC?


Não. A versão apresentada pelo MEC é a terceira desde o início do processo de elaboração, mas
ainda não é final: ela ainda precisa ser analisada e votada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE),
que já confirmou que realizará audiências pelo Brasil para ouvir as contribuições da sociedade. Porém,
alterações e emendas podem ser feitas, mas a versão não pode ser completamente reelaborada.

A BNCC funciona como currículo para as escolas?


Não. A Base, segundo o próprio documento, é uma "referência nacional comum e obrigatória para a
elaboração dos seus currículos e propostas pedagógicas". Ela não se trata do currículo escolar.
O currículo é definido em cada escola e as competências e habilidades previstas na BNCC devem
preencher 60% da carga horária do ensino médio.

Há disciplinas que deixarão de ser obrigatórias no ensino médio?


A rigor, nenhuma. A BNCC prevê que apenas matemática e língua portuguesa sejam disciplinas
obrigatórias nos três anos da etapa final da educação básica. A regra, porém, não é nova. Apesar de os
adultos de hoje terem tido aulas de química, história, geografia, biologia e física em todos os anos do

123
MARQUES, M. MORENO, A. C. Disciplinas, carga horária e impacto no Enem: veja o que deve mudar com a base curricular do ensino médio. G1 Educação.
Disponível em: <https://g1.globo.com/educacao/noticia/com-base-curricular-do-ensino-medio-so-portugues-e-matematica-serao-obrigatorios-nos-tres-anos-e-enem-
pode-mudar-a-partir-de-2020.ghtml> Acesso em 04 de abril de 2018.

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ensino médio (ou do antigo colegial), essas matérias nunca tiveram seu ensino obrigatório por lei. A
prevalência dessas aulas é, em parte, explicada pelos conteúdos exigidos nos vestibulares.
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) sempre manteve como obrigatórias, nos três anos do ensino médio,
apenas língua portuguesa e matemática. Entre as demais disciplinas, as únicas que também já eram
obrigatórias, mas não necessariamente em todos os anos, são artes, educação física, língua estrangeira
e história e cultura afro-brasileira e indígena.
Com a divulgação da última versão da BNCC pelo Ministério da Educação, a novidade é que
competências e habilidades das áreas de ciências humanas e da natureza também passam a ser
oficialmente obrigatórias no ensino médio.
Apesar de as escolas não serem obrigadas a oferecer essas disciplinas em todos os três anos, elas
podem fazê-lo, desde que cumpram os requisitos obrigatórios, como a aplicação dos conteúdos da BNCC
na carga horária mínima exigida.

Qual a carga horária prevista pela BNCC?


O documento prevê que as três mil horas do ensino médio sejam divididas em duas partes: 1.800
horas para os conteúdos das quatro áreas do conhecimento (linguagens, matemática, ciências humanas
e ciências da natureza), e 1.200 para os itinerários formativos, onde cada escola poderá se aprofundar
em uma ou mais áreas.
"Itinerários formativos serão desenvolvidos pelos estados e escolas. O MEC não fará a definição de
itinerários, mas sim, um guia de orientação para apoiar estados e municípios", afirmou Maria Helena
Guimarães de Castro, secretária executiva do MEC.

Ensino médio em tempo integral alcança 7,9% dos alunos no Brasil, aponta Censo Escolar
2017124

Censo Escolar 2017 mostra aumento de 1,5 ponto percentual no total de adolescentes que têm jornada
de sete horas nas escolas.
O total de alunos do ensino médio matriculados em escolas de tempo integral aumentou 1,5 ponto
percentual entre 2016 e o ano passado, de acordo com o Censo Escolar 2017. Ao todo, são 7,9% de
alunos nessa modalidade de ensino. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (31/01) pelo Ministério
da Educação (MEC).
O número ainda está abaixo da meta do governo, que pretende aumentar a porcentagem de vagas em
tempo integral para 13% até 2018, investindo R$ 1,5 bilhão até o fim da gestão. É considerada escola em
tempo integral aquela na qual o estudante passa uma média de sete horas diárias em aulas ou atividades.
Aumentar o tempo de permanência dos jovens na escola é um dos objetivos da reforma do ensino
médio, instituída por meio de medida provisória e sancionada pelo presidente Michel Temer em fevereiro
de 2017.
“O ensino integral reflete a prioridade do MEC. Claro que a escola nunca será integral para todo mundo,
tem aluno que precisa trabalhar. Mas é um papel importante oferecer alternativas para que eles não
abandonem a escola no primeiro ano, que cheguem até o final", afirma Maria Helena Guimarães de
Castro, secretária-executiva do MEC e ministra interina da Educação.

Ensino médio em tempo integral

Veja a expansão entre 2011 e 2017 da taxa de matrículas no ensino médio de pelo menos sete horas
diárias

124
LARISSA BATISTA. Ensino Médio em Tempo Integral alcança 7,9% dos alunos no Brasil, aponta censo escolar 2017. Disponível em:
<https://g1.globo.com/educacao/noticia/ensino-medio-em-tempo-integral-alcanca-79-dos-alunos-no-brasil-aponta-censo-escolar-2017.ghtml> Acesso em 01 de
fevereiro de 2018.

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No ensino fundamental, a porcentagem de alunos matriculados no ensino integral subiu para 13,9%.
Em 2016, ano que houve uma queda nesse indicador, o percentual era de 9,1%.

Queda nas matrículas do ensino médio


De acordo com o Censo, em 2017, havia 48,6 milhões de matrículas nas 184,1 mil escolas de
educação básica no Brasil. Dentro desse grupo, são 7,9 milhões de matrículas no ensino médio.
O levantamento aponta que o total de matrículas nessa etapa de ensino segue a tendência de queda
observada nos últimos anos, que se deve a duas questões: menos alunos entraram no ensino
fundamental (a matrícula do 9º ano teve queda de 14,2% de 2013 a 2017) e menos estudantes foram
reprovados. Esse último fato faz com que haja uma melhoria no fluxo no ensino médio - a taxa de
aprovação subiu 2,8 pontos percentuais de 2013 a 2017.
"Um número muito elevado de alunos que concluem o nono ano nem se matriculam no ensino médio.
Então essa etapa continua sendo o gargalo." - Maria Helena
"Por isso, a prioridade da agenda do governo foi uma série de ações, como a base comum curricular,
que vai melhorar esse quadro. Essas políticas apresentarão resultado mais para frente, mas são
fundamentais para que o aluno não desista do ensino médio", diz a secretária-executiva do MEC.
Apesar da queda no ensino médio geral, as matrículas nos cursos técnicos de nível médio da rede
pública apresentaram um crescimento de 2,2% no último ano.

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Censo 2017 - matrículas no ensino médio

Luta contra o abandono


A manutenção dos alunos nesta etapa do ensino é um dos desafios para o país, que enfrenta nesta
década taxas de evasão acima de 12%, conforme estudo revelado no ano passado.
O Censo Escolar 2017 mostra que a taxa de distorção idade-série do ensino médio é de 28,2%,
permanecendo em patamar elevado – em 2016, o percentual era de 28,0%. A chamada distorção ocorre
quando jovens que já deveriam ter concluído a etapa ainda permanecem em busca do diploma.
A secretária-executiva do MEC criticou o alto índice de reprovação dos alunos brasileiros. "As crianças
que serão reprovadas terão uma enorme dificuldade de continuar na escola e ter prazer em aprender, ter
curiosidade, porque a escola continuará usando o mesmo livro", disse. "Então é inútil reprovar se a
dinâmica da escola vai se manter a mesma. Isso é um fracasso da escola."
De acordo com dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 53%
dos jovens brasileiros estavam matriculados no ensino médio em 2015, enquanto a média dos países da
OCDE é de 95%.
A estimativa é que mais de 1,5 milhão de jovens de 15 a 17 anos estejam fora da escola. Ao todo, o
Brasil tem cerca de 2,5 milhão de crianças fora das salas de aula.

Cai total de docentes no ensino médio


Um número maior de adolescentes matriculados no ensino médio de tempo integral não significa que
eles passarão mais tempo dentro das salas de aula. As atividades previstas para a “jornada estendida”
também não necessariamente serão orientadas por professores.
Entre 2016 e 2017, o ensino médio brasileiro viu, na prática, que houve redução de 1,9% no número
de docentes. Atualmente, esse grupo tem 509,8 mil professores, sendo que 77,7% atuam na rede
estadual de educação e 20,2% dão aulas em escolas particulares.
A maioria, nessa etapa de ensino, é formada por mulheres (59,6%) e 52,9% têm mais de 40 anos de
idade. Mas 6,5% dos professores do ensino médio ainda não têm o nível superior completo e 13,2% não
possuem licenciatura. De acordo com os dados do Censo Escolar 2017, 3,9% dos professores no ensino
médio estão, atualmente, cursando o nível superior.

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Formação de professores do ensino médio em 2017

As parcelas de docentes do ensino médio que são formados na disciplina que lecionam são menores
em sociologia (27,1%), artes (41,1%), física (42,6%) e filosofia (44,22%). Nesses quatro componentes
curriculares, os professores estudaram outro campo do conhecimento, e não o que ensinam aos alunos.
Para reverter o quadro, a aposta do ministério é a oferta de cursos a distância ou semi presenciais. "O
MEC está ampliando a oferta de matrículas na Universidade Aberta do Brasil, para que os professores
tenham a chance de fazer ou a distância ou em curso semi presencial os cursos de formação superior
assim eles complementem a formação de casos de professores que não atuam na área pela qual foram
formados", afirma Maria Helena.

Escolas particulares x escolas públicas


O Censo Escolar 2017 mostra que os municípios são responsáveis por 61,3% das escolas brasileiras
– o equivalente a 112,9 mil instituições de ensino. As estaduais representam 16,6% e as federais, 0,4%.
A porcentagem de colégios privados apresentou um pequeno aumento entre 2016 e 2017: foi de 21,5%
para 21,7% das escolas de educação básica.
Considerando as etapas de ensino oferecidas pelas instituições, percebe-se que a maior parte delas
tem vagas nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano). O ensino médio, por outro lado, só está
disponível em 28.558 escolas – 15,5% do total:

Número de escolas que oferecem cada etapa de ensino (2017)

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Sobre as matrículas, 0,8% dos alunos estão em escolas federais, 33,4% em estaduais, 47,5% em
municipais e 18,3% em particulares.

Professores na educação infantil e no fundamental

Analisando a formação dos professores na educação infantil, 6,2% deles estudaram até o ensino
fundamental e 18,1% não terminaram nem o ensino médio. Apenas 65,9% fizeram a licenciatura e 1,2%,
o bacharelado. Outros 8,5% estão na universidade, segundo o Censo.

Formação de professores da educação infantil em 2017

No ensino fundamental, 3,7% dos docentes não terminaram o ensino médio e 5% estudaram só até
essa etapa. Existem ainda 6% que estão na faculdade e 85,3% formados na universidade.
Sobre as disciplinas, o Censo aponta que língua estrangeira têm apenas 42% dos professores com
formação adequada na área. Em 23,7% dos casos, os docentes desse componente curricular não
possuem sequer ensino superior completo.

Inclusão escolar
Entre 2013 e 2017, o número de matrículas de alunos com deficiência nas escolas cresceu 22,7%:
saltou de 639.888 para 827.243 crianças e adolescentes de 4 a 17 anos. A pesquisa inclui também
estudantes com transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades.
Em 2013, 14,5% deles estavam em salas especiais, reservadas apenas para pessoas com deficiência.
No ano passado, o índice caiu para 9,1% - ou seja, 90,9% desses alunos estão estudando em classes
comuns, em que há, juntas, crianças com e sem necessidades educativas especiais.
É importante ressaltar, no entanto, que a inclusão escolar abrange mais do que a presença desses
estudantes na escola: é necessário que haja uma política de atendimento a elas, com materiais didáticos
adaptados, professores com formação adequada e acessibilidade na infraestrutura dos prédios.
Cresceu também a parcela de alunos com deficiência que usufruem do chamado atendimento
educacional especializado – um direito deles, reservado por lei, de ir à escola no contraturno para receber
um atendimento específico.
Uma criança que estude na turma comum pela manhã, por exemplo, pode ir à tarde para a escola e
ter um tempo reservado para desenvolver trabalhos relacionados à deficiência, como melhoria da
coordenação motora, socialização, etc. Em 2013, 35,2% dos alunos com necessidades educativas
especiais estavam em classes comuns e frequentavam a sala de atendimento especializado. No ano
passado, o índice subiu para 40,1%.

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É interessante notar que os municípios com menores porcentagens de matrículas de crianças com
deficiência estão no Sul e no Sudeste. No Paraná, por exemplo, 16,5% das cidades possuem menos da
metade dos alunos de 4 a 17 anos desse grupo em classes comuns.
Analisando a porcentagem das crianças e adolescentes com deficiência nas salas comuns, por etapa
de ensino, temos os seguintes resultados, de acordo com o Censo:

Porcentagem de alunos com deficiência matriculados em salas comuns

Sisu cresce quatro vezes em sete anos e concentra quase metade das vagas públicas em
universidades125

Levantamento do G1 mostra a expansão de vagas do sistema do MEC, que desde 2010 usa a nota do
Enem para selecionar candidatos para cada vez mais vagas no ensino superior público.
Criado depois da reformulação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2009, o Sistema de
Seleção Unificada (Sisu) ganhou, em menos de uma década, o status de maior aglutinador de vagas em
graduação nas instituições públicas do país. Entre 2010 e 2016, o número de vagas que as universidades,
institutos e faculdades federais e estaduais decidiram destinar ao sistema cresceu mais de quatro vezes,
e a concentração do total de vagas ofertadas no ensino superior público do Brasil no Sisu saltou de 10,7%
para 43%.
Nesta terça, o Sisu 2018 do primeiro semestre abriu as inscrições para 239.601 vagas em 130
instituições.
O levantamento foi feito pelo G1 a partir de dados divulgados ano a ano pelo Ministério da Educação
e informações das edições do Censo da Educação Superior de 2010 e 2016, ano dos dados mais recentes
disponíveis.

125
MORENO, ANA CAROLINA. Sisu cresce quatro vezes em sete anos e concentra quase metade das vagas públicas em universidades. G1 Educação.
Disponível em: <https://g1.globo.com/educacao/noticia/sisu-cresce-quatro-vezes-em-sete-anos-e-concentra-quase-metade-das-vagas-publicas-em-
universidades.ghtml> Acesso em 23 de janeiro de 2018.

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A evolução do Sisu

Em 2010, as 47.913 vagas oferecidas por meio do Sisu representaram 10,7% do total de 445.337
vagas oferecidas por vestibular ou outros processos seletivos de todos os cursos presenciais em
universidades públicas, segundo os dados do Censo da Educação Superior.
Entre 2010 e 2016, as instituições públicas haviam expandido seu número total de vagas oferecidas
para 529.239, um aumento de 18,8%. Mas, nesse mesmo período, a expansão de vagas do Sisu foi de
376%. Na edição do primeiro semestre de 2016, o Sisu reuniu 228.071 vagas, ou seja, 43,1% do total de
novas vagas oferecidas no ensino superior público em todo o país.

Histórico do Sisu

Fonte: <https://g1.globo.com/educacao/noticia/sisu-cresce-quatro-vezes-em-sete-anos-e-concentra-quase-metade-das-vagas-publicas-em-universidades.ghtml>

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Distribuição de vagas
Nesta edição, são 100 instituições federais participantes, e 30 estaduais. De acordo com o MEC, as
instituições aumentaram o número de vagas oferecidas, mas reduziram o número de cursos com os quais
aderiram ao sistema. O estado com o maior número de vagas oferecidas é Minas Gerais, que responde
por 30.381 vagas, ou 12,7% do total do Sisu. Rondônia, com 328, e Roraima, com 886 vagas, são os
estados com a menor oferta neste semestre.
Atualmente, segundo dados do MEC, só duas universidades federais não participam do Sisu: a
Universidade Federal de Rondônia (Unir) e a Universidade Federal do Oeste do Pará. "Ele é por adesão
e não é obrigatório. Das nossas 63 universidades federais, por exemplo, atualmente 61 já ofertam vagas",
explicou Fernando Bueno, coordenador-geral de Programas de Ensino Superior do MEC, em dezembro,
quando a nova edição foi anunciada.
"Cada instituição tinha o seu vestibular, em uma data diferente. (...) Às vezes havia coincidência de
datas e o candidato tinha que optar por um ou por outro. O Sisu veio para unificar."

Cotas raciais e sociais


Das 239 mil vagas oferecidas pelo Sisu 2018, 121.266 (ou 50,6%) estão reservadas para alguma
modalidade de cota social ou racial. São 103.897 vagas que seguirão a Lei Federal de Cotas, obrigatória
apenas para as instituições federais, e 17.369 vagas de outras políticas de ação afirmativa que tanto as
instituições federais quanto as estaduais têm liberdade para criar.
A USP, por exemplo, vai oferecer 2.745 vagas em 102 cursos pelo Sisu; dessas, 2.322 são destinadas
a ações afirmativas, o que representa 84,5% do total.
O estado com o maior número de vagas reservadas para algum tipo de cota é Santa Catarina, com
60,8% do total. O Piauí, com 41,9% das vagas destinadas às ações afirmativas, é o estado com a menor
porcentagem. As instituições federais são obrigadas por lei a destinar pelo menos 50% de suas vagas a
cotistas, somando todas as vagas oferecidas, incluindo as do Sisu e as do vestibular tradicional.

Analfabetismo entre pessoas pretas e pardas é mais que o dobro do que entre as brancas, diz
IBGE126

Taxa geral de analfabetismo no país caiu para 7,2%. Entre as pessoas autodeclarados pretas ou
pardas, índice é de 9,9%, e de 4,2% entre as brancas.
Uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (21) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) aponta que, em 2016, a taxa de analfabetismo no país caiu para 7,2%. Em 2015, 8% dos
brasileiros com 15 anos ou mais não sabiam ler ou escrever no país.
O levantamento foi feito ao longo de 2016 por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD). Naquele ano, o total de analfabetos foi estimado em 11,8 milhões de pessoas e
"apresentou relação direta com a idade, aumentando à medida que a idade avançava até atingir 20,4%
entre as pessoas de 60 anos ou mais".
O total de analfabetos mostra que o país ainda está distante de cumprir a Meta 9 do Plano Nacional
de Educação (PNE), instituído pela Lei n. 13.005. O PNE estipulava a redução da taxa de analfabetismo
para 6,5%, em 2015.

Taxa entre pretos ou pardos


Além de notar que a taxa é maior entre os mais idosos, a pesquisa também aponta que o número é
superior entre as pessoas pretas ou pardas. Se considerados apenas os autodeclarados brancos, a taxa
total de analfabetismo é de 4,2%, enquanto entre as que se declaravam pretas ou pardas o índice foi de
9,9%. Em um recorte que considera as pessoas com 60 anos ou mais, o percentual entre os dois grupos
é de, respectivamente, 11,7% e 30,7%.
"Essa relação foi constatada em todas as Grandes Regiões", analisa o relatório do IBGE.
No país, a taxa de analfabetismo para os homens de 15 anos ou mais de idade foi 7,4% e para as
mulheres, 7,0%.

Analfabetismo nas regiões


De acordo com o estudo, a região Nordeste apresentou a maior taxa de analfabetismo (14,8%), o que
representa "em torno de quatro vezes mais do que as taxas estimadas para as regiões Sudeste (3,8%) e

126
G1. Analfabetismo entre pessoas pretas e pardas é mais que o dobro do que entre as brancas, diz IBGE. G1 Educação. Disponível em:
<https://g1.globo.com/educacao/noticia/analfabetismo-entre-pessoas-pretas-e-pardas-e-mais-que-o-dobro-do-que-entre-as-brancas-diz-ibge.ghtml> Acesso em 21
de dezembro de 2017.

. 194
1484997 E-book gerado especialmente para NADIA NARCISA DE BRITO SANTOS
Sul (3,6%). Na Região Norte essa taxa foi 8,5% e no Centro-Oeste, 5,7%. Logo, a Meta 9 do PNE para
2015 só foi alcançada nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste".

Nível de instrução e anos de estudo


De acordo com o IBGE, no Brasil, 51% da população de 25 anos ou mais de idade estavam
concentradas nos níveis de instrução até o ensino fundamental completo ou equivalente; 26,3% tinham o
ensino médio completo ou equivalente; e 15,3%, o superior completo.
"Considerando a cor ou raça, as diferenças no nível de instrução se mostraram ainda maiores:
enquanto 7,3% das pessoas brancas não tinham instrução, 14,7% das pessoas pretas ou pardas estavam
nesse grupo. Situação inversa ocorreu no nível superior completo: 22,2% das pessoas brancas o
possuíam, ao passo que entre as pretas ou pardas a proporção era de 8,8%", aponta o relatório do IBGE.

Taxa de escolarização
A pesquisa também verificou o percentual das pessoas que frequentavam a escola, um contingente
que somava 56,5 milhões de pessoas. "Entre as crianças de 0 a 3 anos a taxa de escolarização foi 30,4%,
o equivalente a 3,1 milhões de estudantes, e entre as crianças de 4 e 5 anos, faixa correspondente à pré-
escola, a taxa foi de 90,2%, totalizando 4,8 milhões de estudantes".
A meta 1 do PNE estabelecia a universalização, até o ano de 2016, da educação infantil na pré-escola.
Entretanto a PNAD constatou, em 2016, taxa de 90,2%.
Apesar de a meta não ter sido atingida, houve um aumento significativo da presença de crianças de 4
a 5 anos na escola. Em 4 anos, o índice subiu de 78,1% para 90,2%.
A PNAD também constatou que 5% dos estudantes de 6 a 10 anos e 15,6% de 11 a 14 anos de idade
estavam atrasados em relação à etapa de ensino que deveriam estar frequentando, seja por reprovação,
seja por evasão.
A meta 2 prevê a universalização, até 2024, do ensino fundamental de nove anos para as pessoas de
6 a 14 anos.

Rede de ensino
Do total de estudantes, 73,5% frequentavam escola pública, enquanto 26,5%, escola privada.
"Enquanto nos cursos até o ensino médio a rede pública corresponde a mais de 70% dos estudantes, no
ensino superior de graduação essa participação se reduz a 25,7%, e na especialização, mestrado e
doutorado equivale a 32,9%", aponta o relatório.
A pesquisa estimou que 24,8 milhões das pessoas de 14 a 29 anos de idade não frequentavam escola,
cursos pré-vestibular, técnico de nível médio ou de qualificação profissional, e, no caso dos mais velhos,
não haviam concluído uma graduação.

Ocupação e condição de estudo


O IBGE também analisou a situação na ocupação e condição de estudo para pessoas de 14 a 29 anos.
"No que diz respeito à cor ou raça, a maior diferença entre os grupos foi estimada para as pessoas que
estavam não ocupadas e não estudavam: 16,6% para as pessoas brancas e 23,3% para as pretas ou
pardas", aponta o relatório do IBGE.

Governo decide reincorporar ensino religioso na Base Nacional Curricular127

MEC e CNE discutem mudanças no documento voltado à educação infantil e ensino fundamental
BRASÍLIA - Depois de retirar o ensino religioso da última versão da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) referente à educação infantil e ao ensino fundamental, o Ministério da Educação (MEC)
recuou da decisão e resolveu reincorporar o tema ao documento. A decisão recente do Supremo Tribunal
Federal, que considerou constitucional a oferta da disciplina nas escolas, mantendo a matrícula
facultativa, ampliou as pressões de grupos religiosos em favor da volta do assunto para a BNCC.
A volta do ensino religioso está dentro de um pacote de últimas sugestões levantadas pelo Conselho
Nacional de Educação (CNE), a partir de audiências públicas realizadas pelo país neste ano, que estão
sendo debatidas com o MEC nesta quinta-feira. O CNE fará então a versão final do texto para encaminhá-
lo ao ministro da Educação, a quem cabe homologar a BNCC. O documento irá definir o que deve ser
aprendido pelos alunos em cada etapa escolar. A previsão é que esteja pronto até o fim deste ano.

127
MARIZ, RENATA. Governo decide reincorporar ensino religiosa na Base Nacional Curricular. O Globo Sociedade. Disponível em: <
https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/governo-decide-reincorporar-ensino-religioso-na-base-nacional-curricular-
22050225?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo> Acesso em 10 de novembro de 2017.

. 195
1484997 E-book gerado especialmente para NADIA NARCISA DE BRITO SANTOS
Segundo o secretário de Educação Básica do MEC, Rossieli Silva, a decisão de recolocar o ensino
religioso na BNCC vem de uma “sensibilidade” em torno do tema a partir das manifestações colhidas nas
últimas audiências:
— O que há é uma sensibilidade clara de que o ensino religioso deve ser tratado na Base Nacional
Comum. Existe uma comissão do CNE específica para tratar de ensino religioso e esta comissão está
debruçada e trará uma proposta.
O presidente do CNE, Eduardo Deschamps, afirmou que a própria decisão do Supremo deixou
registrada a necessidade de haver uma regulamentação sobre a oferta do ensino religioso, embora os
alunos não sejam obrigados a se matricular:
— A lei fala da oferta, que é obrigatória com matrícula facultativa, mas não diz como deve ser. Temos
vários documentos que podem tratar disso. Um deles é a Base.
Deschamps minimiza as pressões sofridas pelo CNE desde que a terceira versão da BNCC foi
entregue pelo MEC, em abril deste ano, para análise, modificações e aprovação.
— Não são pressões, mas manifestações da sociedade de maneira em geral. Essa é uma Casa para
receber esse tipo de manifestação.

Indígenas e Quilombolas
Além da volta do ensino religioso, outras mudanças serão feitas, como a incorporação de um
detalhamento mais apurado em língua portuguesa e na educação indígena e quilombola. A antecipação
do fim do ciclo de alfabetização para o 2º ano, em vez do 3º ano, é outra mudança feita pelo MEC na
última versão da BNCC, mas sobre a qual não se sabe o que o CNE fará.
— Existem posicionamentos individuais de conselheiros acerca da alfabetização que podem ser
divergentes da posição do MEC. Mas a manifestação do CNE só se dará no momento em que aprovar o
parecer e a devolução final do documento.
Tanto Deschamps quanto Rossieli disseram que não haverá uma quarta versão da BNCC e que o
cronograma está mantido, para que o documento seja entregue ainda neste ano ao MEC. Após
homologação do ministro, o texto se torna uma norma nacional. Eles minimizaram o número de críticas e
sugestões colhidas nas audiências públicas feitas pelo CNE e que agora serão debatidas:
— Foram 234 postagens e contribuições. Muitas delas se repetem. E obviamente agora haverá uma
análise — disse Deschamps.
Ele lembrou que a primeira versão da BNCC recebeu 12 milhões de intervenções e a segunda contou
com 9 mil participantes em discussões regionais. Agora, segundo Deschamps, são apenas “centenas de
contribuições, apenas ajustes”.

Questões

01. (UFFS – Farmacêutico – FAFIPA)128 Os estudantes brasileiros de nível superior podem contar
com o financiamento das anuidades como forma de estimular a permanência e a conclusão de curso
de graduação em instituições não gratuitas. O programa do Ministério da Educação (MEC) destinado
à concessão deste financiamento chama-se:
(A) FIES
(B) FNDE
(C) ENADE
(D) PROUNI
(E) ENEM

02. (PROAMUSEP – Enfermeiro – FAUEL) Em 2016, ocorreu um relevante movimento de


ocupação em escolas, institutos e universidades federais por todo o país. Segundo dados divulgados
pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, mais de mil estabelecimentos estavam ocupados
no mês de outubro. Assinale a alternativa que melhor explica esse movimento de oc upações: Em
2016, ocorreu um relevante movimento de ocupação em escolas, institutos e universidades federais
por todo o país. Segundo dados divulgados pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, mais
de mil estabelecimentos estavam ocupados no mês de outubro. Assinale a alternativa que melhor
explica esse movimento de ocupações:

128
https://www.qconcursos.com/questoes-de-
concursos/questoes/search?utf8=%E2%9C%93&todas=on&q=fies&instituto=&organizadora=&prova=&ano_publicacao=&cargo=&escolaridade=&modalidade=&disc
iplina=56&assunto=1327&esfera=&area=&nivel_dificuldade=&periodo_de=&periodo_ate=&possui_gabarito_comentado_texto_e_video=&possui_comentarios_gerai
s=true&possui_comentarios=&possui_anotacoes=&sem_dos_meus_cadernos=&sem_anuladas=&sem_desatualizadas=&sem_anuladas_impressao=&sem_desatu
alizadas_impressao=&caderno_id=&migalha=&data_comentario_texto=&data=&minissimulado_id=&resolvidas=&resolvidas_certas=&resolvidas_erradas=&nao_res
olvidas=

. 196
1484997 E-book gerado especialmente para NADIA NARCISA DE BRITO SANTOS
(A) As ocupações estiveram focadas nos graves problemas enfrentados pelo Exame Nacional do
Ensino Médio (ENEM) nos últimos anos.
(B) Estudantes e professores uniram-se contra as propostas do Governo Federal para realizar
operações de varredura em penitenciárias do país.
(C) Foi um movimento estudantil organizado pela oposição peemedebista a favor do afastamento da
então presidente Dilma Rousseff.
(D) Tratou-se de uma forma de protestos contra a chamada “PEC do Teto” e outras medidas que
afetariam o Ensino Médio.

03. (CRBio – 1ª Região – Auxiliar Administrativo – VUNESP) Alvo de protestos de estudantes em


todo o país, a lei da reforma do ensino médio foi promulgada nesta quinta- -feira (16.02) pelo presidente
da República, Michel Temer, em cerimônia no Palácio do Planalto. A proposta, feita por meio de uma
Medida Provisória, foi aprovada na semana passada pelo Senado.
(Valor, https://goo.gl/Y3J7PW, 16.02.2017. Adaptado)
Essa reforma
(A) cria a base nacional curricular comum e proíbe a participação de não docentes na sala de aula.
(B) estabelece a segmentação de disciplinas por áreas de conhecimento e amplia a carga horária.
(C) transforma Artes e Educação Física em disciplinas facultativas e organiza o ensino em módulos.
(D) extingue o turno integral nas escolas públicas e favorece a formação profissional dos jovens.
(E) universaliza os cursos à distância e permite ao aluno a escolha de somente uma área de estudo.

Gabarito

01.A / 02.D / 03.B

Comentários

01. Resposta: A
O FIES é um programa do Governo criado em 1999 para substituir o Programa de Crédito Educativo
– PCE/CREDUC. Destina-se a financiar a graduação no Ensino Superior de estudantes que não possuem
condições de arcar com os custos de sua formação129.

02. Resposta: D
Uma das principais medidas anunciadas até agora pelo governo de Michel Temer é a PEC 241,
que estabelece um teto para o crescimento dos gastos públicos. No Senado, a proposta tramitou
como PEC 55. A mudança de número seria por conta da organização das proposições no Senado.
No dia 13 de dezembro, o Senado aprovou em segundo turno a proposta do governo, com 53 votos
a favor e 16 contrários.
Com a aprovação do teto de gastos, a tendência é que dentro de algu ns anos os gastos públicos
tenham uma participação menor na economia e que os recursos que financiam serviços públicos
sejam limitados, tais como educação e saúde 130.

03. Resposta: B
Alvo de protestos de estudantes em todo o país, a lei da reforma do ensino médio foi promulgada
nesta quinta-feira (16) pelo presidente da República, Michel Temer, em cerimônia no Palácio do
Planalto. A proposta, feita por meio de uma Medida Provisória, foi aprovada na semana passada pelo
Senado, no dia 08. A reforma flexibiliza o conteúdo que será ensinado aos alunos, muda a distribuição
do conteúdo das 13 disciplinas tradicionais ao longo dos três anos do ciclo, possibilita a oferta do
ensino técnico na grade curricular e incentiva a ampliação de escolas de tempo integral. O en sino
médio terá cinco tipos, que são chamados de itinerários formativos, que são: linguagens e suas
tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências
humanas e sociais aplicadas e formação técnica e profissional 131.

129
https://guiadoestudante.abril.com.br/fies-prouni/o-que-e-e-como-funciona-o-fies-financiamento-estudantil/
130
http://www.politize.com.br/teto-de-gastos-publicos-infografico/
131
http://www.valor.com.br/politica/4871882/alvo-de-protesto-de-estudantes-lei-do-novo-ensino-medio-e-sancionada

. 197
1484997 E-book gerado especialmente para NADIA NARCISA DE BRITO SANTOS
Meio Ambiente e Sustentabilidade
saúde
Olá candidato(a). No conteúdo a respeito de Meio Ambiente dentro dos tópicos de atualidades,
teremos uma ordem um pouco diferente. Antes dos textos noticiados no período estipulado, traremos
alguns conceitos e explicações que normalmente são cobrados independente de ser um conteúdo
veiculado através de meios de comunicação ou não. Envolvem definições de desenvolvimento
sustentável e créditos de carbono por exemplo. Caso tenha alguma dúvida, por favor entre em contato
conosco.

Desenvolvimento sustentável132: é o modelo que prevê a integração entre economia, sociedade e


meio ambiente.

Responsabilidade Socioambiental133: Está ligada a ações que respeitam o meio ambiente e a


políticas que tenham como um dos principais objetivos a sustentabilidade. Todos são responsáveis pela
preservação ambiental: governos, empresas e cada cidadão.

Gestão do Lixo
O lixo ainda é um dos principais desafios dos governos na área de gestão sustentável. No entanto, na
última década, o Brasil deu um salto importante no avanço para a gestão correta dos resíduos sólidos.
Para regulamentar a coleta e tratamento de resíduos urbanos, perigosos e industriais, além de
determinar o destino final correto do lixo, o Governo brasileiro criou a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (Lei n° 12.305/10), aprovada em agosto de 2010.

Créditos de Carbono
No mercado de carbono, cada tonelada de carbono que deixa de ser emitida é transformada em
crédito, que pode ser negociado livremente entre países ou empresas.
O sistema funciona como um mercado, só que ao invés das ações de compra e venda serem
mensuradas em dinheiro, elas valem créditos de carbono.
Para isso é usado o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que prevê a redução certificada
das emissões de gases de efeito estufa. Uma vez conquistada essa certificação, quem promove a redução
dos gases poluentes tem direito a comercializar os créditos.
Por exemplo, um país que reduziu suas emissões e acumulou muitos créditos pode vender este
excedente para outro que esteja emitindo muitos poluentes e precise compensar suas emissões.
O Brasil ocupa a terceira posição mundial entre os países que participam desse mercado, com cerca
de 5% do total mundial e 268 projetos.

Consumo racional134
É um modo de consumir capaz de garantir não só a satisfação das necessidades das gerações atuais,
como também das futuras gerações. Isso significa optar pelo consumo de bens produzidos com tecnologia
e materiais menos ofensivos ao meio ambiente, utilização racional dos bens de consumo, evitando-se o
desperdício e o excesso e ainda, após o consumo, cuidar para que os eventuais resíduos não provoquem
degradação ao meio ambiente. Principalmente: ações no sentido de rever padrões insustentáveis de
consumo e diminuir as desigualdades sociais.
Adotar a prática dos três 'erres':
Redução, que recomenda evitar o consumo de produtos desnecessários;
Reutilização, que sugere que se reaproveite diversos materiais; e
Reciclagem, que orienta reaproveitar materiais, transformando-os e lhes dando nova utilidade.

Aquecimento Global
É uma consequência das alterações climáticas ocorridas no planeta. Diversas pesquisas confirmam o
aumento da temperatura média global. Conforme cientistas do Painel Intergovernamental em Mudança
do Clima (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), o século XX foi o mais quente dos últimos
cinco, com aumento de temperatura média entre 0,3°C e 0,6°C. Esse aumento pode parecer

132
Fonte: http://www.rio20.gov.br/sobre_a_rio_mais_20/desenvolvimento-sustentavel.html
133
RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental.
134
Texto adaptado de http://www.wwf.org.br/natureza_
brasileira/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/

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1484997 E-book gerado especialmente para NADIA NARCISA DE BRITO SANTOS
insignificante, mas é suficiente para modificar todo clima de uma região e afetar profundamente a
biodiversidade, desencadeando vários desastres ambientais.
As causas do aquecimento global são muito pesquisadas. Existe uma parcela da comunidade científica
que atribui esse fenômeno como um processo natural, afirmando que o planeta Terra está numa fase de
transição natural, um processo longo e dinâmico, saindo da era glacial para a interglacial, sendo o
aumento da temperatura consequência desse fenômeno.
No entanto, as principais atribuições para o aquecimento global são relacionadas às atividades
humanas, que intensificam o efeito de estufa através do aumento na queima de gases de combustíveis
fósseis, como petróleo, carvão mineral e gás natural. A queima dessas substâncias produz gases como
o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), que retêm o calor proveniente das
radiações solares, como se funcionassem como o vidro de uma estufa de plantas, esse processo causa
o aumento da temperatura. Outros fatores que contribuem de forma significativa para as alterações
climáticas são os desmatamentos e a constante impermeabilização do solo.
Atualmente os principais emissores dos gases do efeito de estufa são respectivamente: China, Estados
Unidos, Rússia, Índia, Brasil, Japão, Alemanha, Canadá, Reino Unido e Coreia do Sul. Em busca de
alternativas para minimizar o aquecimento global, 162 países assinaram o Protocolo de Kyoto em 1997.
Conforme o documento, as nações desenvolvidas comprometem-se a reduzir sua emissão de gases que
provocam o efeito de estufa, em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990. Essa meta teve que ser
cumprida entre os anos de 2008 e 2012. Porém, vários países não fizeram nenhum esforço para que a
meta fosse atingida, o principal é os Estados Unidos.

Lixo Eletrônico
Um estudo da Organização Internacional do Trabalho, OIT, destaca que 40 milhões de toneladas de
lixo eletrônico são produzidas todos os anos. O descarte envolve vários tipos de equipamentos, como
geladeiras, máquinas de lavar roupa, televisões, celulares e computadores. Países desenvolvidos enviam
80% do seu lixo eletrônico para ser reciclado em nações em desenvolvimento, como China, Índia, Gana
e Nigéria. Segundo a OIT, muitas vezes, as remessas são ilegais e acabam sendo recicladas por
trabalhadores informais.
Saúde - O estudo Impacto Global do Lixo Eletrônico, publicado em dezembro, destaca a importância
do manejo seguro do material, devido à exposição dos trabalhadores a substâncias tóxicas como chumbo,
mercúrio e cianeto. A OIT cita vários riscos para a saúde, como dificuldades para respirar, asfixia
pneumonia, problemas neurológicos, convulsões, coma e até a morte.
Orientações - Segundo agência, simplesmente banir as remessas de lixo eletrônico enviadas à países
em desenvolvimento não é solução, já que a reciclagem desse material promove emprego para milhares
de pessoas que vivem na pobreza. A OIT sugere integrar sistemas informais de reciclagem ao setor formal
e melhorar métodos e condições de trabalho. Outro passo indicado no estudo é a criação de leis e
associações ou cooperativas de reciclagem.

Textos Noticiados:

Cientistas identificam fonte de misteriosas emissões que estão destruindo camada de ozônio135

Nos últimos meses, cientistas de todo o mundo foram surpreendidos com um misterioso aumento das
emissões de gases que estão comprometendo, de forma drástica, a camada de ozônio que protege a
Terra.
Agora, um grupo de pesquisadores acredita ter descoberto os responsáveis pelos danos ao meio
ambiente: espumas de isolamento térmico de poliuretano, produzidas na China para uso em residências.
A Agência de Investigação Ambiental (EIA, na sigla em inglês), com base no Reino Unido, identificou
a presença de CFC-11, ou clorofluorocarbonos-11, na produção dessas espumas na China. O composto
químico havia sido proibido em 2010, mas está sendo usado intensamente em fábricas chinesas.
O relatório da EIA apontou a construção de casas na China como fonte das emissões atípicas de
gases. Há dois meses, pesquisadores publicaram um estudo que mostrava que a esperada redução do
uso de CFC-11, banido há oito anos, havia desacelerado drasticamente.
Os pesquisadores suspeitavam que o composto continuava sendo usado em algum lugar do leste da
Ásia. Mas a fonte exata ainda era desconhecida.
Especialistas tinham receio de que o CFC-11 pudesse estar sendo usado secretamente para
enriquecer urânio na produção de armas nucleares.
135
BBC. Cientistas identificam fonte de misteriosas emissões que estão destruindo camada de ozônio. BBC Brasil. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-
44778158. Acesso em 13 de julho de 2018.

. 199
1484997 E-book gerado especialmente para NADIA NARCISA DE BRITO SANTOS
Agora, os pesquisadores dizem não ter dúvidas de que a fonte de produção do composto está
vinculada ao uso de espuma para isolamento térmico de casas.

'Agente expansor'
Os CFC-11 funcionam como um eficiente agente expansor na fabricação de espuma de poliuretano,
convertendo-as em isolantes térmicos rígidos usados, principalmente, como forro no teto de residências
para reduzir o custo da eletricidade e a emissão de carbono.
O EIA entrou em contato com fábricas de espuma de poliuretano em dez províncias na China. Depois
de várias conversas com executivos de 18 empresas, os investigadores concluíram que o composto
químico estava sendo usado na maioria dos isolantes de poliuretano produzidos pelas empresas.
A razão é simples: os CFC-11 têm melhor qualidade e são muito mais baratos que os produtos
alternativos. Apesar do CFC-11 ter sido banido, a fiscalização não é eficiente e, por isso, ele continua
sendo usado.
"Ficamos totalmente chocados ao descobrir que as empresas eram muito abertas em confirmar que
estavam usando o CFC-11 e, ao mesmo tempo, reconhecendo que era ilegal", disse à BBC Avipsa
Mahapatra, do EIA.
A EIA calcula que os gases produzidos na China estão ligados ao aumento das emissões observado
no relatório da agência em maio. No entanto, embora os achados da EIA sejam considerados plausíveis,
alguns especialistas acreditam que eles não explicariam, por si só, o atual elevado nível de emissão de
gases que tem comprometido a camada de ozônio.
Stephen Montzka, da Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA (Noaa, na Sigla em inglês),
disse à BBC que "o uso generalizado do CFC-11, que parece ser evidente na China com base no estudo
(do EIA), é bastante surpreendente".
Ele pondera, contudo, ser difícil analisar com precisão o cálculo das emissões provenientes do uso do
CFC-11 para "saber se é realmente possível que essa atividade explique tudo ou quase tudo que estamos
observando na atmosfera global".

Por que a descoberta da EIA é importante?


Ainda que o uso de CFC-11 em fábricas chinesas não seja o único ou mesmo o maior responsável
pela emissão de gases que estão destruindo a camada de ozônio, a descoberta do EIA é importante por
ter identificado que uma quantidade considerável de químicos ilegais continua sendo usada - com a
capacidade em potencial de reverter a já observada recuperação da camada de ozônio.
A espuma de poliuretano fabricada na China representa quase um terço da produção global desse
produto. Os pesquisadores calculam que a produção atrasará em uma década ou mais o objetivo de
fechar o buraco que permite os efeitos nocivos da radiação solar.
Como a China é signatária do Protocolo de Montreal - tratado de 1987, mas que entrou em vigor dois
anos depois -, seria possível impor sanções comerciais contra o país. Mas desde que o protocolo foi
firmado, há mais de 20 anos, nenhum país foi punido com sanções e dificilmente será esse o caso para
o uso de CFC-11 na China.
É provável que a China seja incentivada a reduzir a produção de CFC-11 e será aberta uma
investigação com o apoio do secretariado do Protocolo de Montreal para averiguar a situação no país.
Nesta semana, representantes do Protocolo de Montreal se reúnem em Viena, na Áustria, para
elaborar um plano na tentativa de solucionar o problema.

No Dia Mundial do Meio Ambiente, ONU pede fim de poluição plástica136

A cada minuto, 1 milhão de garrafas plásticas são consumidas no mundo; e todos os anos, 8 milhões
de toneladas de plástico são despejadas nos mares; secretário-geral da ONU suspendeu o uso de copos
plásticos no gabinete dele, segundo recado dado em redes sociais.
O Dia Mundial do Meio Ambiente, marcado neste 5 de junho, tem como mensagem central a poluição
plástica principalmente nos oceanos. Segundo dados da agência ONU Meio Ambiente, todos os anos, 8
milhões de toneladas de plástico são jogadas nos mares.
Segundo a agência, se nada for feito, até 2050 os oceanos terão mais plástico que peixes. A ONU
Ambiente lançou a campanha “Acabe com a Poluição Plástica” ou #BeatPlasticPollution, na sigla em
inglês.

136
Daniela Gross. No Dia Mundial do Meio Ambiente, ONU pede fim de poluição plástica. <https://news.un.org/pt/story/2018/06/1625911> Acesso em 06 de
junho de 2018.

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Coleta
Vários eventos estão sendo realizados pelo mundo como coletas de lixos nas praias e palestras de
conscientização sobre a importância de dizer não aos plásticos descartáveis. Por toda a semana passada,
a ONU frisou incluindo em mensagens pelo próprio secretário-geral, António Guterres, que se o utensílio
só pode ser usado uma vez, ele deve ser dispensado.
Guterres chegou a gravar um vídeo para as redes sociais dizendo que estava abolindo de seu gabinete
os copos de plástico.

Oceanos
A ONU News conversou com a coordenadora do Dia do Meio Ambiente no Brasil e também da
campanha Mares Limpos, Fernanda Daltro. De Brasília, ela explicou que o plástico é um dos maiores
desafios ambientais da era atual.
“O plástico se tornou um material presente em absolutamente todos os lugares do planeta, inclusive
nas regiões mais remotas. E esta poluição tem uma relação direta com a sociedade de consumo em que
a gente vive hoje. Este volume de lixo se mistura à cadeia alimentar. Todas as espécies nos oceanos
acabam tendo contato e se alimentando do plástico de uma forma ou de outra.”
Para celebrar o Dia do Meio Ambiente, o Comitê Olímpico Internacional, COI, anunciou uma parceria
com a ONU para combater o plástico descartável.
Atletas olímpicos de várias modalidades incluindo triátlon, surfe, e rúgbi se comprometeram em cortar
os utensílios de plástico.

5 trilhões de sacolas
A cada minuto, 1 milhão de garrafas plásticas são consumidas no mundo. Já a quantidade de sacolas
plásticas chega a 5 trilhões por ano.
De acordo com o diretor-executivo da ONU Meio Ambiente, Erik Solheim, já existe a consciência da
situação alarmante, mas os impactos de longo prazo desta crise ambiental sobre a saúde ainda são pouco
conhecidos.
Solheim comparou esta falta de informação ao pouco conhecimento que antes se tinha em relação ao
tabaco, ao pó de amianto e ao mercúrio.
Ainda na entrevista à ONU News, Fernanda Daltro da ONU Meio Ambiente, no Brasil, destacou a
importância da mudança na cabeça dos consumidores.

Canudo
“É muito importante entender que nós, como consumidores, temos um papel ativo e simples no
combate à poluição plástica. E este papel está em fazer escolhas melhores. Não apenas em relação ao
material, em deixar de usar o plástico descartável, em todas as situações, mas simplesmente abolir das
nossas vidas alguns itens que não têm real necessidade. É o caso do canudo, por exemplo, que não
chega a ter uma reciclagem e o consumo dele é relativamente desnecessário na maior parte das
situações. ”
Entre as recomendações da ONU Ambiente para acabar com a poluição plástica estão ações simples
que podem ser adotadas no dia a dia.
Entre elas, levar a própria sacola ao supermercado, recusar canudos e talheres de plástico, preferir
garrafas de água reutilizáveis, catar o plástico que encontrar na rua enquanto estiver caminhando e apoiar
políticas governamentais contra o uso único das sacolas de plástico.

Projeto de Lei do Agrotóxico abre crise no governo137

Para presidente da Anvisa, mudança em regra para agrotóxico põe em risco segurança dos brasileiros.
BRASÍLIA - Uma nova proposta de projeto de lei que flexibiliza as regras para fiscalização e utilização
de agrotóxicos no País abriu uma crise dentro do governo, colocando o Ministério da Saúde, a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Ibama em rota de
colisão com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), além da Frente Parlamentar
Agropecuária (FPA).
A movimentação se intensificou devido à leitura do texto relatado pelo deputado Luiz Nishimori
(PR/PR), em audiência marcada para a próxima terça-feira, (08/05), na Comissão Especial da Câmara
que analisa o PL. De um lado, Ibama e Anvisa declaram que a proposta é inconstitucional e cercada de

137
BORGES, A. FORMENTI, L. Projeto de Lei do Agrotóxico abre crise no governo. Estadão. <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,projeto-de-lei-do-
agrotoxico-abre-crise-no-governo,70002295137> Acesso em 10 de maio de 2018.

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falhas que prejudicariam a fiscalização, ameaçando a vida das pessoas. Do outro, o Mapa e a FPA
afirmam que o tema é tratado com “preconceito e ideologia” e que precisa ser modernizado.
O texto substitutivo, que foi juntado ao projeto de Lei 6.299/2002, de autoria do ministro da Agricultura,
Blairo Maggi, propõe mudanças profundas no setor, a começar pelo próprio nome com que esses
produtos são chamados.
Pela proposta, o termo “agrotóxico” deixaria de existir. Entraria em seu lugar a expressão “produto
fitossanitário”. A responsabilidade por conceder registros de novos agrotóxicos também mudaria de mãos.
Hoje Ibama, Ministério da Saúde e Ministério da Agricultura tomam decisões de forma conjunta. Com a
mudança, o Ministério da Agricultura concentraria todo o poder decisório.
O Ibama e o Ministério da Saúde teriam apenas a função de homologar pareceres técnicos, mas essas
avaliações não seriam elaboradas por esses órgãos públicos. Caberia às próprias empresas interessadas
em vender os agrotóxicos a missão de apresentar essas avaliações.
O texto também acaba com os atuais critérios de proibição de registro de agrotóxicos no País. Segundo
o Ibama e a Anvisa, a proposta deixa brechas para que sejam vendidos no mercado nacional produtos já
banidos em boa parte do mundo, causadores de distúrbios hormonais e danos ao sistema reprodutivo.
Inconstitucional. O Estado obteve uma nota técnica do Ibama sobre o substitutivo ao projeto de lei. O
documento, assinado pela presidente do Ibama, Suely Araújo, foi concluído na semana passada. O órgão
se posiciona radicalmente contra o PL, sob o argumento de que “são propostas excessivas simplificações
ao registro de agrotóxicos, sob a justificativa de que o sistema atual está ultrapassado e de que não estão
sendo atendidas as necessidades do setor agrícola”.
Na avaliação do Ibama, trata-se de mudanças “inviáveis ou desprovidas de adequada fundamentação
técnica e, até mesmo, que contrariam determinação constitucional”.
A conclusão do órgão ligado ao MMA é de que as propostas “reduzirão o controle desses produtos
pelo poder público, especialmente por parte dos órgãos federais responsáveis pelos setores da saúde e
do meio ambiente”.
“O registro dos agrotóxicos, com participação efetiva dos setores de saúde e meio ambiente, é o
procedimento básico e inicial de controle a ser exercido pelo poder público e sua manutenção e
aperfeiçoamento se justificam na medida em que seja, primordialmente, um procedimento que previna a
ocorrência de efeitos danosos ao ser humano, aos animais e ao meio ambiente”, informa a nota técnica.
Procurado pela reportagem, o Ibama não comentou a análise.

Retrocesso
Presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Jarbas Barbosa afirma que a proposta
em tramitação do Congresso representaria um retrocesso para o País. “O projeto muda para pior as
regras de registro de agrotóxicos”, avalia.
As críticas também são feitas entre especialistas em saúde pública. A pesquisadora da Fundação
Oswaldo Cruz de Pernambuco Aline Gurgel considera a mudança nas regras de registro de agrotóxicos
um atraso que pode colocar em risco tanto a saúde da população quanto o meio ambiente. “A regra atual
é moderna, equilibrada, pois dá um poder equivalente ao Ministério da Agricultura, à Anvisa e ao Ibama.
É inaceitável que Anvisa e Ibama, que hoje têm poder de veto, passem a exercer apenas um mero papel
consultivo”, completa a pesquisadora.
As críticas de Aline à proposta vão além da restrição do poder de veto da Anvisa e Ibama. A começar
da sugestão de tratar agrotóxicos por defensivos fitossanitários. “Isso provocaria a ocultação do risco. O
agrotóxico tem toxicidade. E isso precisa ficar claro para população. O termo precisa ser mantido.”
A pesquisadora é contrária também à regra que facilitaria o registro provisório de agrotóxicos. “Feitos
para algumas moléculas, esses registros baseiam-se em informações que constam em processos de
registro do produto em outros países, sem que haja a devida análise dos órgãos ambientais e de saúde.”
Aline rebate ainda a justificativa apresentada pelo projeto, de que regras atuais acabam levando a um
processo moroso de avaliação de aprovação de novos agrotóxicos para culturas brasileiras. “A análise
não pode ser simplista, movida por motivos econômicos. Estamos falando de saúde, de preservação do
meio ambiente.”

Ideologia e preconceito
O Ministério da Agricultura reagiu duramente às críticas. Em resposta encaminhada ao Estado, o Mapa
afirmou que, dos órgãos envolvidos na regulação de agrotóxicos no Brasil, é a Pasta, por meio da
Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA), que de fato executa as fiscalizações federais de agrotóxicos.
“São feitas mais de 1.500 ações fiscais no Brasil por ano, com atingimento de mais de 99,9% de
conformidade nos produtos fiscalizados”, declarou. “Portanto, fiscalização é uma atividade realizada
eminentemente pelos órgãos de agricultura no Brasil, considerando a área de agrotóxicos.”

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Sobre o texto do projeto de lei e o relatório final do deputado Luiz Nishimori, o Mapa afirmou que a
proposta “congrega uma série histórica de diversas demandas negligenciadas pelos órgãos federais nos
últimos 20 anos”. A Pasta admitiu que “alguns pontos devem ser discutidos em função de seu contexto e
origem”, mas sustenta que o relatório representa “uma iniciativa do legislativo de ajustar o marco legal e
permitir a modernização da legislação nacional”.
A respeito do termo “agrotóxico”, o ministério declarou que se trata de um “neologismo brasileiro, único
no planeta” e que este “reflete a intenção do legislador de comunicar o risco para produtos que possuem,
naturalmente, um perigo intrínseco”. Quanto à acusação do Ibama e Anvisa de que estes perderiam
funções de fiscalizar o setor, o Mapa declarou que, “no que tange ao registro e às prioridades para
produtos que serão usados fundamentalmente para controle de pragas nas lavouras brasileiras, é missão
indissociável do órgão federal de agricultura”.
Questionado sobre o risco de entrada de substâncias proibidas no País, o Mapa afirmou que o
“alinhamento da legislação é fundamental para trazer serenidade na regulação de agrotóxicos no Brasil,
diminuindo ruídos ideológicos e baseando a regulação unicamente em ciência”.
“O Mapa repudia ideias de exclusão dos entes de saúde e meio ambiente do meio regulatório, mas
entende que é necessário incrementar com recursos o corpo técnico, as ferramentas de informática e os
conceitos pétreos científicos para que mantenhamos a excelência e o reconhecimento internacional de
produção agropecuária”, conclui o Ministério.
O relator do texto substitutivo, deputado Luiz Nishimori, respondeu por meio da Frente Parlamentar
Agropecuária (FPA). Em nota, a frente esclareceu que, apesar do texto ser apensado ao PL de autoria
de Blairo Maggi, a proposta base foi criada a partir do PL 3200/15, de autoria do deputado Covatti Filho
(PP-RS).
Segundo a FPA, a atual avaliação de risco do agrotóxicos é “restritiva porque não leva em
consideração que, sempre que usados em respeito às boas práticas agrícolas, os defensivos não
oferecem riscos à saúde do agricultor, dos animais, das plantas, dos consumidores ou ao meio ambiente”.
A frente ruralista afirmou que “todos os parâmetros internacionais de avaliação de riscos aceitáveis
para a saúde humana, animal e para o meio ambiente estão mantidos” e criticou a demora na emissão
de registros de produtos.
“Hoje, demora-se de 8 a 10 anos para aprovar o registro de um novo produto. Muitas vezes, quando o
produto é autorizado, já está defasado. Em países como EUA e Austrália, por exemplo, o prazo médio de
registro é de três anos. A demora no registro de novos defensivos agrícolas no Brasil é um dos principais
gargalos da legislação”, declarou.

Ideia antiga
A proposta de afrouxar as regras para agrotóxicos no País não é nova. No ano passado, o governo
preparou uma Medida Provisória que facilitava o registro de agrotóxicos no País. Redigido pelo Ministério
da Agricultura com a colaboração do setor produtivo, o texto criava uma brecha para o uso de defensivos
que atualmente são classificados como cancerígenos, com risco de provocar má-formação nos fetos ou
capacidade de provocar mutações celulares. Pelas regras atuais, qualquer produto que se encaixe nessas
características é proibido de ser lançado no Brasil. No texto proposto na MP, esses empecilhos cairiam
por terra. Bastaria que algumas condições fossem atendidas para reduzir os riscos desses efeitos.

Risco
A proposta em tramitação no Congresso para mudar as normas de registro de agrotóxicos colocaria
em risco a saúde dos trabalhadores do campo, reduziria a segurança dos brasileiros em geral e, ainda,
poderia provocar danos para a imagem de produtos brasileiros no mercado externo, afirma o presidente
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Jarbas Barbosa. “Seria muito prejudicial. Torço para
não ser aprovada.”
Em entrevista ao Estado, Barbosa afirma que seria um erro retirar a Anvisa e o Ibama da análise dos
pedidos de registro de agrotóxicos, como propõe o projeto. A atribuição ficaria a cargo do Ministério da
Agricultura. “Mas quem vai fazer a avaliação do impacto à saúde ou ao meio ambiente? O Ministério da
Agricultura não tem experiência acumulada para fazer avaliação toxicológica. Seria um retrocesso
imenso.” Teoricamente, Ibama e Anvisa atuariam numa comissão criada para fazer a avaliação, mas sem
poder de veto. “O Brasil vai passar a dar registro só levando em conta as necessidades da indústria
agrícola?”, questiona.
Para o setor produtivo, o sistema atual é muito burocrático e lento, o que acabaria reduzindo as
chances de entrada no mercado de novos produtos, mais baratos, eficientes e portanto essenciais para
tornar a produção brasileira mais competitiva no mercado internacional.

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O presidente da Anvisa, no entanto, tem uma avaliação diferente. Ele alerta que uma mudança de
regras tem impacto negativo também no mercado externo. “A ideia será a de que o País abriu mão de
uma regulação mais séria”, ponderou. O impacto no mercado interno também seria significativo.

Saneamento avança, mas Brasil ainda joga 55% do esgoto que coleta na natureza, diz estudo138

Apenas 45% do esgoto do país é tratado, apontam os dados mais recentes do governo. Em 2015, na
ONU, Brasil se comprometeu a universalizar serviços de saneamento até 2030.

Apenas 45% do esgoto gerado no Brasil passa por tratamento. Isso quer dizer que os outros 55%
são despejados diretamente na natureza, o que corresponde a 5,2 bilhões de metros cúbicos por ano ou
quase 6 mil piscinas olímpicas de esgoto por dia. É o que aponta um novo estudo do Instituto Trata Brasil
obtido pelo G1 e que será divulgado nesta quarta-feira (18/04).
O estudo é feito com base nos dados mais recentes do Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento (SNIS), que se referem ao ano de 2016. Eles foram divulgados apenas neste ano.
Os números indicam que o saneamento tem avançado no país nos últimos anos, mas pouco. Veja os
destaques:
Em 2016, 83,3% da população era abastecida com água potável, o que quer dizer que os outros 16,7%,
ou 35 milhões de brasileiros, ainda não tinham acesso ao serviço. Em 2011, o índice de atendimento era
de 82,4%. A evolução foi de 0,9 ponto percentual.
Quanto à coleta de esgoto, 51,9% da população tinha acesso ao serviço em 2016. Já 48,1%, ou mais
de 100 milhões de pessoas, utilizavam medidas alternativas para lidar com os dejetos – seja através de
uma fossa, seja jogando o esgoto diretamente em rios. Em 2011, o percentual de atendimento era de
48,1% — um avanço de 3,8 pontos percentuais.
Apenas 44,9% do esgoto gerado no país era tratado em 2016. Em 2011, o índice era de 37,5% — uma
evolução de 7,4 pontos percentuais.
Historicamente, os números de esgoto são piores que os de água no país por conta da falta de
prioridade nas políticas públicas, maior custo de investimento e de dificuldade nas obras, entre outros
motivos.
Por isso, mesmo tendo apresentado a maior alta entre os indicadores, o acesso ao tratamento no país
continua baixo, já que o esgoto que não é tratado é jogado diretamente na natureza, causando problemas
ambientais e sanitários.
"No caso do tratamento de esgoto, houve um pouco mais de um ponto percentual de alta por ano. Se
considerarmos que não chegamos nem nos 50% de atendimento, estamos falando de mais de 50 anos
[para universalizar]. Isso é inaceitável. É muito tempo para ter essa estrutura tão essencial, que é a do
saneamento", diz Édison Carlos, presidente executivo do instituto.

138
VELASCO, CLARA. Saneamento avança, mas Brasil ainda joga 55% do esgoto que coleta na natureza, diz estudo. G1. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/noticia/saneamento-avanca-mas-brasil-ainda-joga-55-do-esgoto-que-coleta-na-natureza-diz-estudo.ghtml> Acesso em 18 de abril
de 2018.

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O ritmo lento ainda vai de encontro a compromissos assumidos pelo país tanto em políticas públicas
nacionais, como os do Plano Nacional de Saneamento Básico, como internacionais, como os assinados
na Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em 2015. O país se comprometeu
a, até 2030, universalizar o acesso a água potável e "alcançar o acesso a saneamento e higiene
adequados e equitativos para todos".

Grandes centros urbanos


O estudo do Trata Brasil destaca ainda o desempenho das 100 maiores cidades do país em
comparação com a média nacional. Segundo Édison Carlos, estas cidades deviam puxar o crescimento
do país, já que têm estruturas públicas e privadas mais bem desenvolvidas e abrangem cerca de 40% da
população do Brasil.
As diferenças entre os índices nacionais e os dessas cidades, porém, são poucas. O índice de perda
de água é de 39,1%, contra os 38,1% nacionais. Quanto ao tratamento de esgoto, a situação é melhor
(54,3% do esgoto tratado, contra 45%), mas o ritmo foi semelhante (aumento de 7,7 pontos percentuais,
contra 7,4).
Segundo Édison Carlos, a diminuição nos investimentos públicos é um dos motivos para os avanços
pouco significativos no setor. De 2015 para 2016, os investimentos em água e esgoto no país caíram de
R$ 13,26 bilhões para R$ 11,51 bilhões. Já entre as maiores cidades, o valor caiu de R$ 7,11 bilhões
para R$ 6,6 bilhões.
"O investimento estava estagnado e caiu. Além disso, desses R$ 11 bilhões de investimento nacional,
cerca de R$ 4 bilhões são de São Paulo. Ou seja, esse valor oculta uma realidade, que é a concentração
grande de investimento onde a situação já é melhor. O investimento é muito desigual", diz Édison Carlos.
Considerando as 100 maiores cidades do país, uma comparação entre as 20 melhores e as 20 piores
escancara estas desigualdades. O investimento médio anual por habitante nas melhores foi de R$ 84,55;
já nas piores, foi de R$ 29,31.

"As cidades não param de crescer, então mesmo as com os melhores índices continuam investindo
para conseguir universalizar os serviços, trocar redes antigas e diminuir perda de água. Por outro lado,
muitas cidades apresentam péssimos indicadores e investem pouco", diz o presidente do Trata Brasil.
O estudo ainda aponta que menos de um quarto dos recursos arrecadados com saneamento foi
reinvestido no setor. São considerados não apenas os investimentos realizados pela prestadora do
serviço, mas também os feitos pelo poder público.

Desigualdades regionais
As diferenças entre as 100 maiores cidades do país são vistas em todos os índices de saneamento.
Veja alguns destaques:
Abastecimento de água: 20 municípios possuem 100% de atendimento da população, e 41 cidades
tem atendimento superior a 99%. A grande maioria (90 das 100) atende mais de 80% da população com
água potável. Ao mesmo tempo, porém, apenas 30% da população de Ananindeua, no Pará, é atendida.

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Coleta de esgoto: dois municípios possuem 100% de esgoto: Cascavel (PR) e Piracicaba (SP). Outras
10 cidades possuem índice superior ou igual a 99% e também podem ser considerados universalizados.
Mas, em 21 cidades, o índice não chega a 40%. Ananindeua novamente é a pior cidade, com 0,75% da
população atendida.
Tratamento de esgoto: Mais da metade das cidades (54) tem menos de 60% do esgoto tratado. Apenas
seis relataram tratar todo o esgoto. Em Governador Valadares (MG), Nova Iguaçu (RJ) e São João do
Meriti (RJ), não há nenhum tipo de tratamento.
Perda de distribuição de água: o índice considera o volume de água produzida e o volume entregue.
As perdas ocorrem por vazamentos, “gatos” etc. A média de água perdida entre as 100 maiores cidades
foi de 39%. A cidade com menos perdas foi Palmas, com 13%, e a com maior desperdício foi Porto Velho
(71%).

STF decide se anistia do novo Código Florestal a quem desmatou é válida139

Supremo Tribunal Federal (STF) deve concluir nesta quarta-feira um julgamento que tem dividido os
membros da corte e terá repercussões para os agricultores e as regras de proteção ambiental no Brasil.
Os ministros terminarão de analisar as quatro ações que questionam a constitucionalidade da Lei
12.651, também conhecida como o novo Código Florestal, sancionada em 2012 pela então presidente
Dilma Rousseff.
Entre os pontos questionados está o perdão a multas e sanções a agricultores que desmataram
ilegalmente até 2008, um dos dispositivos mais polêmicos do novo código.
Dez dos onze ministros já votaram, e por enquanto há empate em relação a vários pontos, incluindo a
anistia.
O desempate caberá ao ministro Celso de Mello, membro mais antigo da corte e último a votar.

Preservação em áreas privadas


A legislação brasileira determina que todo agricultor deve manter parte de sua propriedade preservada.
No bioma amazônico, o índice de proteção exigido é de 80%, no Cerrado, 35%, e nos demais biomas,
20%. Essa porção do território é conhecida como Reserva Legal.
Também devem ser preservadas todas as áreas ecologicamente sensíveis das propriedades, como
nascentes e matas à beira de rios. Esses trechos são chamados de Áreas de Preservação Permanente
(APP), considerados essenciais para a proteção de recursos hídricos e para a manutenção da
biodiversidade.
O novo Código Florestal criou um banco de dados para controlar o cumprimento dessas regras: o
Cadastro Ambiental Rural (CAR), hoje com 4,7 milhões de imóveis rurais registrados e informações
detalhadas sobre a ocupação do solo em cada propriedade.
Segundo a nova regra, proprietários que até 2008 desmataram áreas que deveriam ter sido
preservadas ficariam livres de multas e outras sanções, desde que se registrassem no CAR e se
comprometessem a se adequar à legislação.
Se o STF julgar que essa anistia é inconstitucional, o governo federal poderá multar os proprietários
rurais pelas infrações cometidas antes de 2008.

O que pensam agronegócio e ambientalistas


Entidades ligadas ao agronegócio criticam a possível anulação do perdão.
Para Rodrigo Lima, diretor geral da consultoria Agroicone, a mudança da regra "criaria um cenário de
insegurança muito grande" para os agricultores.
Ele afirma que a anistia é justa porque, até a aprovação do novo código, as regras sobre o
desmatamento em propriedades privadas passaram por muitas mudanças, o que dificultava seu
cumprimento.
Segundo Lima, se a anistia for revogada, "teremos uma situação paradoxal, na qual quem fez o CAR
pode ter criado provas contra ele mesmo".
Já organizações ambientalistas defendem a revisão da anistia. Para a bióloga Nurit Bensusan, do
Instituto Socioambiental (ISA), o perdão "premia os proprietários que infringiram a lei".
"Aquele que seguiu as regras, fez tudo direitinho, vai se sentir um trouxa completo (se a anistia for
mantida)", afirma.
Ela diz ainda que a manutenção da regra estimularia novos desmatamentos ilegais, pois criaria a
expectativa de outros perdões no futuro.
139
BBC. STF decide se Anistia do Novo Código Florestal a quem desmatou é válida. G1 Natureza. Disponível em: <https://g1.globo.com/natureza/noticia/stf-
decide-se-anistia-do-novo-codigo-florestal-a-quem-desmatou-e-valida.ghtml> Acesso em 28 de fevereiro de 2018.

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Regras de compensação
Outro ponto polêmico cuja votação no STF está empatada trata da compensação de áreas de Reserva
Legal desmatadas além dos percentuais mínimos por meio de pagamentos para a preservação da
vegetação excedente em outras propriedades.
Antes do novo código, a legislação definia que compensação deveria ocorrer na mesma microbacia
hidrográfica da propriedade que havia desmatado além da conta. Após o novo código, passou-se a aceitar
que a compensação ocorresse no mesmo bioma.
Para Nurit Bensusan, do ISA, a possibilidade de compensação no mesmo bioma "pode gerar bacias
completamente desmatadas". Ela defende o retorno à regra anterior.
Já Rodrigo Lima, da Agroicone, afirma que a limitação ao mesmo bioma não necessariamente fará
com que os produtores recorram a áreas distantes para a compensação. Ele diz que os governos
estaduais poderão definir que a compensação ocorra no próprio Estado, pois teriam interesse em impedir
a saída dos recursos movimentados por esse mercado.

Outros temas pendentes


Alguns outros pontos analisados pelo STF cuja votação está empatada são:
- A possibilidade de redução da Reserva Legal - de 80% para 50% - em municípios na Amazônia que
tenham mais da metade de seu território ocupado por Terras Indígenas e/ou Unidades de Conservação,
ou nos Estados com mais de 65% do território ocupado por Terras Indígenas e/ou Unidades de
Conservação que tenham planos de Zoneamento Ecológico-Econômico (instrumento que busca conciliar
desenvolvimento econômico e conservação ambiental);

- A permissão para realizar atividades agropecuárias em APPs nos topos dos morros;
- A possibilidade de novas autorizações para o corte de vegetação a quem desmatou ilegalmente;

Decisões já tomadas
Em decisões festejadas por ambientalistas, a maioria dos juízes do STF já decidiu no julgamento que:
- Não se pode desmatar APPs para implantar depósitos de lixo ou instalações esportivas;
- Todas as nascentes e olhos d'água, sejam intermitentes ou perenes, devem ter APPs preservadas;
- APPs só podem ser desmatadas por "interesse social" ou "utilidade pública" quando não houver
alternativas.

Outras decisões tomadas no julgamento agradaram o agronegócio, entre as quais a manutenção dos
seguintes pontos do novo código:
- As APPs em beira de rios devem ser medidas conforme sua variação média anual, e não conforme
o nível medido na cheia;
- Pequenas propriedades podem seguir critérios menos rigorosos para recuperar APPs na beira de
rios;
- Pequenos imóveis rurais podem plantar em regiões de várzea;
- Propriedades que desmataram além dos percentuais mínimos atuais ficam dispensadas de recompor
as áreas caso tenham seguido as regras vigentes no momento em que desmataram;
- Propriedades podem contabilizar APPs no percentual de Reserva Legal;
- Possibilidade de empregar espécies exóticas em até 50% da Reserva Legal desmatada.

Renca

A polêmica decisão de Temer de abrir uma área gigante da Amazônia à mineração140

Em meados de 1980, uma região da floresta amazônica entre o Pará e Amapá comparada à Serra dos
Carajás por seu potencial mineral despertava o interesse de investidores brasileiros e estrangeiros.
Para salvaguardar sua exploração, o então governo militar decretou em 1984 que grupos privados
estavam proibidos de explorar a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), uma área de quase
47 mil km quadrados - maior que o território da Dinamarca. A ideia era que a administração federal
pesquisasse e explorasse suas jazidas.
Nos anos seguintes, no entanto, o projeto avançou pouco, e a riqueza natural da área levou à criação
de nove zonas de proteção dentro da Renca, entre elas reservas indígenas. A possibilidade de mineração
foi, então, banida.
140
MILHORANCE, FLÁVIA. A polêmica decisão de Temer de abrir uma área gigante da Amazônia à mineração. BBC Brasil. Disponível em: <
http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41043853?ocid=socialflow_twitter> Acesso em 25 de agosto de 2017.

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Mais de três décadas depois do decreto, nesta quarta-feira, o governo federal reabriu a área para a
exploração mineral, numa iniciativa que gera expectativa de empresas e preocupação de pesquisadores
e ambientalistas.
Assinado pelo presidente Michel Temer, o decreto nº 9.142 extingue a Renca e libera a região para a
exploração privada de minérios como ouro, manganês, cobre, ferro e outros.
Em meio à crise econômica, o Ministério de Minas e Energia argumenta que a medida vai revitalizar a
mineração brasileira, que representa 4% do PIB e produziu o equivalente a US$ 25 bilhões (R$ 78 bilhões)
em 2016, mas que vinha sofrendo com a redução das taxas de crescimento global e com as mudanças
na matriz de consumo, voltadas hoje para a China.

Críticas
O ministério garante que o decreto cumprirá legislações específicas sobre a preservação da área. Ou
seja, áreas de proteção integral (onde não é permitida a habitação humana) e terras indígenas serão
mantidas.
No entanto, a iniciativa foi bombardeada por especialistas brasileiros e estrangeiros, que acreditam
que os prejuízos da mineração serão sentidos amplamente.
A Amazônia brasileira chegou a ter recorde de 80% na queda do desmatamento entre 2004 e 2012,
segundo dados do Ministério do Meio Ambiente. Mas voltou a crescer nos últimos cinco anos - embora
uma tendência comece a indicar novamente uma redução. Além disso, 2015 e 2016 foram anos recordes
de queimadas na região, segundo dados do Inpe.
Áreas de proteção são essenciais para conter o desmatamento, ressalta Erika Berenguer,
pesquisadora-sênior do Instituto de Mudança Ambiental da Universidade de Oxford.
"O maior impacto não será na área de mineração, mas indireto. Haverá um influxo de pessoas que
levará a mais desmatamento, mais retirada de madeira e mais incêndios", explica. "É uma visão muito
simplista do governo de dizer que só uma área será afetada."
"Fora que a mineração é altamente poluidora e tem poucos benefícios para a população local, vide a
situação socioeconômica de Carajás", acrescenta Berenguer.

'Mudará para sempre'


Os pesquisadores também lembraram o evento de Mariana, o pior acidente da mineração brasileira,
em 2015, quando uma barragem rompeu no município de Minas Gerais, destruindo vilarejos no entorno
do Rio Doce.
"O desastre aconteceu em plena Minas Gerais, totalmente urbanizada, imagine o controle que se tem
em lugares ermos como a Amazônia", afirma Bereguer.
Jos Barlow também critica a iniciativa de Temer: "Isso mudará a área inteira para sempre".
Ele alertou para problemas sociais na região, semelhantes aos que ocorreram em Belo Monte e
Altamira, e a previsão de mudanças climáticas.
"Qualquer perda de floresta e entrada de agricultura e estradas vai baixar a resiliência das florestas
para secas severas, aumentando incêndios florestais", afirma.
Em entrevista à BBC, Ghillean Prance, da organização Trustee Eden Project, da Inglaterra, considerou
a quarta-feira(32/08) do decreto "um dia triste para o meio ambiente da Amazônia".

Processo de dois anos


A extinção do Renca é aventada desde 2015, quando começava-se a debater o marco regulatório para
a mineração. Em novembro passado, representantes do CPRM (Companhia de Pesquisas de Recursos
Minerais), o serviço geológico brasileiro, testaram a popularidade da área com investidores numa
conferência do setor em Londres.
E em abril de 2017, o Ministério de Ministério de Minas e Energia publicou uma portaria balizando os
trâmites para a extinção da reserva - o decreto confirmou a mudança.
Antes mesmo da criação da Renca, na década de 1980, houve 160 requerimentos de mineração na
área, segundo levantamento da WWF. A maior parte deles foi retirada, mas os que restaram, em torno
de dez, terão prioridade na análise do governo de concessões.
Esses pedidos que deverão prosseguir compreendem uma área de 15 mil quilômetros quadrados, em
torno de 30% do total da Renca. Para o restante da área, devem ser abertas licitações.

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Temer recua e vai revogar decreto que extinguiu reserva de cobre na Amazônia141

Governo confirmou a decisão sobre a polêmica Renca (Reserva Nacional de Cobre e Associados),
que será publicada no Diário Oficial (26/09). Segundo auxiliares, a decisão levou em conta a polêmica
em torno do decreto e, diante de novas pressões, o presidente decidiu deixar que o tema seja mais
debatido. Segundo fontes do Planalto, Temer vai assinar a revogação na tarde desta segunda-feira,
25/09, e um novo decreto será publicado no Diário Oficial da União de terça. Ao revogar o decreto, o
governo restabelece as condições originais da área, criada em 1984.
Em nota, o MME (Ministério de Minas e Energia) destacou que as razões que levaram o órgão a propor
a extinção da Renca permanecem as mesmas. “O País necessita crescer e gerar empregos, atrair
investimentos para o setor mineral, inclusive para explorar o potencial econômico da região”, diz o
comunicado.
O debate sobre o tema será retomado “mais à frente”, esclareceu o órgão. “O MME reafirma o seu
compromisso e de todo o governo com a preservação do meio ambiente e com as salvaguardas previstas
na legislação de proteção e preservação ambiental. O debate em torno do assunto deve ser retomado
em outra oportunidade mais à frente e deve ser ampliado para um número maior de pessoas, da forma
mais democrática possível.”
No dia 14/09, a Comissão de Meio Ambiente da Câmara já havia pedido a revogação definitiva do
decreto. "A maneira agressiva que foi feito (o decreto) não só causou constrangimento da sociedade
brasileira, mas do parlamento como um todo, atingiu a Câmara e o Senado", afirmou o presidente da
comissão, Ricardo Trípoli (PSDB-SP), na ocasião. "Estamos aguardando que o governo revogue por
definitivo e diga quais são os propósitos de exploração na área."
O decreto de extinção da reserva foi assinado pelo presidente Michel Temer no dia 23 de agosto de
2017. Diante da repercussão negativa, o governo fez outro decreto, o que não aplacou as críticas. O
Ministério de Minas e Energia, depois, publicou portaria para congelar por 120 dias a proposta. O decreto
também era questionado no Senado.
O decreto original provocou uma onda de protestos de ambientalistas e artistas, como a modelo Gisele
Bündchen, que acusaram o presidente de estar "vendendo" uma parte da Amazônia para interesses de
mineradoras estrangeiras. As críticas chegaram até ao Rock in Rio, novamente pela voz de Gisele e da
líder indígena Sônia Guajajara, que fez um protesto durante a apresentação de Alicia Keys.
O temor de ambientalistas era que, com a extinção da Renca, haveria um novo interesse de empresas
de mineração pela região. Até mesmo o Ministério do Meio Ambiente tinha se mostrado contrário a essa
medida, e o ministro Sarney Filho disse, em entrevista ao jornal Valor Econômico, que foi pego de
surpresa com a decisão de Temer de extinguir a Renca.

Desastre ambiental de Mariana


A barragem se rompeu no dia 5 de novembro de 2015, destruindo o distrito de Bento Rodrigues, em
Mariana, e atingindo várias outras localidades. Os rejeitos também atingiram mais de 40 cidades do Leste
de Minas Gerais e do Espírito Santo. O desastre ambiental, considerado o maior e sem precedentes no
Brasil, deixou 19 mortos. Um corpo nunca foi encontrado.
No dia 18 de novembro de 2016, a Justiça Federal aceitou denúncia oferecida pelo Ministério Público
Federal (MPF) contra 22 pessoas e as empresas Samarco, Vale, BHP Billiton e VogBR pelo rompimento
da barragem e eles se tornam réus por crimes ambientais e por homicídios.
Dentre as denúncias, 21 pessoas são acusadas de homicídio qualificado com dolo eventual - quando
se assume o risco de matar. Eles ainda respondem por crimes de inundação, desabamento, lesão
corporal e crimes ambientais. A Samarco, a Vale e a BHP são acusadas de nove crimes ambientais. A
VogBR e um engenheiro respondem pelo crime de apresentação de laudo ambiental falso.
Segundo o MPF (Ministério Público Federal), os acusados podem ir a júri popular e, se condenados,
terem penas de prisão de até 54 anos, além de pagamento de multa, de reparação dos danos ao meio
ambiente e daqueles causados às vítimas.
A procuradoria pediu a qualificação do homicídio por motivo torpe, justificando ganância da empresa
e impossibilidade de defesa por parte das vítimas. "Em relação ao motivo torpe, o MPF trouxe indícios de
que a obtenção de rápidos lucros, sem que se atentasse devidamente para as condições da barragem,
pode ter contribuído para o ocorrido", descreveu o juiz Jacques de Queiroz Ferreira na decisão.
Em março de 2017, a 12ª Vara da Justiça Federal de Minas Gerais homologou em parte o acordo
preliminar firmado entre Ministério Público Federal (MPF) e as mineradoras Samarco, Vale e BHP Billiton,

141
ARAÚJO, C. MONTEIRO, T. WARTH, A. Temer recua e vai revogar decreto que extinguiu reserva de cobra na Amazônia. Estadão Sustentabilidade.
Disponível em: < http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,temer-recua-e-vai-revogar-decreto-que-extinguir-reserva-nacional-de-cobre,70002015457>
Acesso em 26 de setembro de 2017.

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1484997 E-book gerado especialmente para NADIA NARCISA DE BRITO SANTOS
permitindo que instituições independentes façam um diagnóstico dos danos socioambientais causados
pelo rompimento da barragem de Fundão.
Em julho de 2017, a Justiça Federal suspendeu o processo ambiental por causa da prorrogação, para
30 de outubro, do prazo para que a Samarco e suas donas, a Vale e a BHP Billiton, cheguem a um acordo
com a União e o MPF em relação às medidas que serão tomadas como indenização pelo desastre
ambiental.

Justiça Federal suspende ação criminal que tornou acusados réus por homicídio no desastre de
Mariana142

A Justiça Federal em Ponte Nova, na Zona da Mata de Minas Gerais, suspendeu o processo criminal
que tornou rés 22 pessoas e as empresas Samarco, Vale, BHP Billiton e VogBR por causa do desastre
com a barragem de Fundão, em Mariana, em novembro de 2015. A reportagem teve acesso à decisão,
que data de 4 de julho de 2017. A defesa do diretor-presidente licenciado da Samarco, Ricardo Vescovi,
e do diretor-geral de operações, Kleber Terra, alegou que escutas telefônicas usadas no processo foram
feitas de forma ilícita.
O despacho é assinado pelo juiz Jacques de Queiroz Ferreira. Os advogados de Ricardo Vescovi e
Kleber Terra pediram a anulação do processo, alegando que a quebra de sigilo telefônico ultrapassou
período judicialmente autorizado e que as conversas foram analisadas pela Polícia Federal e usadas pelo
Ministério Público Federal (MPF) na denúncia.
A pedido do MPF, companhias telefônicas foram oficiadas pela Justiça sobre o esclarecimento das
informações e o processo fica suspenso até que elas entreguem os dados solicitados. No pedido, o MPF
também se manifestou pela não interrupção do processo, o que não foi atendido pelo juiz.
“Acresceram que outra nulidade ocorreu quando da determinação dirigida à Samarco para que
apresentasse cópias das mensagens instantâneas (chats) e dos e-mails enviados e recebidos entre
01/10/2015 e 30/11/2015, visto que a empresa forneceu dados não requisitados, relativos aos anos de
2011, 2012, 2013 e 2014, que, da mesma forma, foram objeto de análise policial e consideradas na
denúncia, desrespeitando a privacidade dos acusados”, explica trecho da decisão.
O magistrado afirmou que a defesa dos réus levantou “duas graves questões que podem implicar na
anulação do processo desde o início” e determinou a suspensão do processo até a decisão sobre as duas
alegações.
Procurado pelo G1, o MPF contestou as alegações da defesa dos dois réus, afirmando que as
interceptações usadas na denúncia estão dentro do prazo legal.
“As interceptações indicadas pela defesa como supostamente ilegais sequer foram utilizadas na
denúncia, por isso, não teriam a condição de causar nulidade no processo penal”, informou o órgão em
nota.
Por telefone, o advogado Paulo Freitas, que representa Vescovi e Terra, reforçou que considera as
interceptações telefônicas ilegais.
O G1 entrou em contato com a Polícia Federal para saber sobre o período da quebra de sigilo
telefônico, mas a corporação respondeu apenas que ainda não foi informada oficialmente da suspensão
pela Justiça.
A Samarco, a Vale, a BHP e a VogBR disseram que não vão se pronunciar.

Trump anuncia saída dos EUA do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas143

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira (01/06/17) a saída de
seu país do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, mas prometeu negociar um retorno ou um novo
acordo climático em termos que considere mais justos para os americanos. Ele disse que o atual
documento traz desvantagens para os EUA para beneficiar outros países, e prometeu interromper a
implementação de tudo que for legalmente possível imediatamente.
"Para cumprir o meu dever solene de proteger os Estados Unidos e os seus cidadãos, os Estados
Unidos vão se retirar do acordo climático de Paris, mas iniciam as negociações para voltar a entrar no
acordo de Paris ou em uma transação inteiramente nova em termos justos para os Estados Unidos, suas
empresas, seus trabalhadores, suas pessoas, seus contribuintes ", disse Trump.

142
ZUBA, F. CRISTINI, F. ÂNGELO, P. Justiça Federal suspende ação criminal que tornou acusados réus por homicídio no desastre de Mariana. G1 Minas
Gerais. Disponível em: < http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em-mariana/noticia/justica-federal-suspende-acao-criminal-que-tornou-acusados-
reus-por-homicidio-no-desastre-de-mariana.ghtml> Acesso em 08 de agosto de 2017.
143
G1. Trump anuncia saída dos EUA do acordo de Paris sobre mudanças climáticas. G1 Natureza. Disponível em: <http://g1.globo.com/natureza/noticia/trump-
anuncia-saida-dos-eua-do-acordo-de-paris-sobre-mudancas-climaticas.ghtml> Acesso em 02 de junho de 2017.

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Logo após o anúncio, no entanto, o prefeito de Pittsburgh, Bill Peduto, disse que irá "garantir que
seguiremos as diretrizes do Acordo de Paris para nosso povo, nossa economia e futuro."
O acordo, assinado em dezembro de 2015 durante a cúpula da ONU sobre mudanças climáticas, COP
21, prevê que os países devem trabalhar para que o aquecimento fique muito abaixo de 2ºC, buscando
limitá-lo a 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais.
A saída dos EUA, segundo maior produtor mundial de gás de efeito estufa, pode minar o acordo
internacional, o primeiro da história em que os 195 países da ONU se comprometem a reduzir suas
emissões.

Medida anunciada
Antes de ser eleito, Trump descreveu em várias ocasiões o aquecimento global como uma enganação
criada pela China para prejudicar as empresas americanas, e anunciou que iria “cancelar” o Acordo de
Paris nos primeiros 100 dias após sua posse.
Uma decisão necessária, segundo ele, para favorecer as empresas petrolíferas e produtores de carvão
dos EUA, e dessa forma garantir mais crescimento econômico e a criação de novos empregos. Depois
de tomar posse, Trump anunciou que teria estudado o acordo antes de tomar uma decisão sobre o
assunto.
O presidente norte-americano tem poderes suficientes para retirar os EUA do tratado. Isso porque o
texto foi denominado “acordo” para permitir que Barack Obama pudesse utilizar seus poderes
presidenciais para ratificá-lo sem pedir a permissão do Congresso, então controlado pelo Partido
Republicano, hostil a qualquer redução das emissões de poluentes. Por esse motivo, a delegação dos
EUA foi obrigada a negociar por muitas horas sobre essa complexa linguagem jurídica no dia da
assinatura do documento.

Veja os principais pontos do Acordo do Clima


- Países devem trabalhar para que o aquecimento fique muito abaixo de 2ºC, buscando limitá-lo a
1,5ºC
- Países ricos devem garantir financiamento de US$ 100 bilhões por ano
- Não há menção à porcentagem de corte de emissão de gases-estufa necessária
- Texto não determina quando emissões precisam parar de subir
- Acordo deve ser revisto a cada 5 anos
A decisão de Trump pode ter sérias consequências para o cumprimento das obrigações previstas pelo
tratado por parte de outros países e, mais em geral, sobre a condição climática do planeta, considerando
que o aquecimento global é um fenômeno que já está ocorrendo e que todos os anos perdidos na luta
contra esse fenômeno aumentam o risco de provocar efeitos irreversíveis sobre o clima.
Segundo levantamentos realizados por várias universidades e centros de pesquisa de diferentes
países do mundo, a saída dos EUA do Acordo de Paris acrescentaria 3 bilhões de toneladas de dióxido
de carbono (CO2) emitido por ano na atmosfera, aumentando a temperatura da Terra entre 0,1º e 0,3º C
até o final do século.

Apoio dividido
A decisão de Trump foi influenciada por uma carta assinada por 22 senadores republicanos, incluindo
o líder da bancada Mitch McConnell, que defendia a retirada dos EUA do tratado. Trump preferiu ignorar
a opinião de alguns dos seus assessores mais influentes, como a filha, Ivanka, o Secretário de Defesa,
James Mattis, e o Secretário de Estado Rex Tillerson, os quais defendiam que ele mantivesse os Estados
Unidos no acordo. Mattis em particular salientou como o Pentágono, o Ministério da Defesa dos EUA, já
está produzindo uma grande quantidade de pesquisas sobre o aumento do nível dos mares, a mudança
nas rotas marinhas para os navios de guerra por causa do derretimento das geleiras do Ártico e os efeitos
de secas ou de inundações sobre a segurança nacional americana.

ONU
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu oficialmente aos EUA para que não saíssem do
Acordo de Paris, sem obter nenhum resultado. Outros países, como Alemanha e França, expressaram
suas preocupações com a posição de Trump sobre o meio ambiente e mudanças climáticas. Até o Papa
Francisco tentou persuadir o presidente norte-americano em permanecer no acordo durante sua recente
visita no Vaticano, entregando-lhe uma cópia da encíclica “Laudato si'” que o Pontífice escreveu em 2015
sobre as complexas questões das mudanças climáticas. Os líderes do G7 criticaram a decisão de Trump
de deixar o tratado e os governos do Canadá, da China e a União Europeia já informaram que continuarão
a honrar seus compromissos com o Acordo de Paris mesmo se os EUA se retirarão.

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A preocupação em nível global com a saída dos Estados Unidos é o efeito de emulação: outros países
poderiam ser influenciados a reduzir ou atenuar seus compromissos internacionais sobre a questão
climática ou até abandonar completamente o acordo.
A decisão de se retirar do acordo poderia sinalizar a intenção de Trump de cortar outras leis que limitam
a produção de gases poluentes nos EUA assinadas pelo seu antecessor Obama. Entretanto, a saída dos
EUA do Acordo de Paris não seria imediata. O processo poderá demorar até três anos, assim como
estabelecido no próprio acordo, com diversas batalhas jurídicas e diplomáticas muito intensas, além do
grave desgaste de imagem internacional dos Estados Unidos.

O que é o Acordo de Paris


O Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas impõe aos países signatários conter o aquecimento
global em até 2º C em relação aos níveis pré-industriais, com o objetivo de não superar o 1,5º de aumento
da temperatura mundial até 2100.
Já hoje as temperaturas médias são de 1º acima dos níveis pré-industriais, uma mudança climática
ocorrida em larga parte nas últimas décadas. Com o acordo assinado em 2015 no final da Cúpula do
Clima de Paris (COP 21), 195 países signatários se comprometeram a reduzir suas emissões de gases
de efeito estufa. Entretanto, segundo muitos cientistas essas medidas seriam insuficientes para garantir
o respeito dos objetivos fixados e deveriam ser rapidamente atualizadas.
O Acordo de Paris foi assinado na cúpula anual da ONU sobre o clima COP 21, a vigésima-primeira
cúpula das Nações Unidas sobre o tema.
Segundo o próprio acordo, os países signatários não podem abandoná-lo antes de três anos, além de
um quarto ano para que o procedimento seja completado. Ou seja, Trump não poderia se livrar dos
vínculos legais do texto antes de 2020, sem cometer uma violação do direito internacional.
Uma alternativa para os EUA poderia ser aquela de abandonar completamente a Convenção-Quadro
das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) (a que organiza as cúpulas da COP), que
Trump criticou fortemente em diversas ocasiões no passado. Uma última opção poderia ser uma
renegociação dos objetivos de corte das emissões, obrigando todavia Washington a uma longa e difícil
negociação com os outros países.

Questões

01. (CRB – 6ª Região – Auxiliar Administrativo – QUADRIX) “O comitê gestor do Fundo Nacional
sobre Mudança do Clima (Fundo Clima) estabeleceu novas regras para o financiamento de projetos para
os anos de 2017 e 2018. Em reunião realizada nesta quarta-feira (30), o comitê definiu questões como
tecnologia e adaptação para orientar os programas que serão contemplados nos próximos dois anos.
Temas ligados a monitoramento e transparência também estão na lista. A iniciativa busca manter a
atuação do Fundo de acordo com os compromissos assumidos pelo Brasil, no contexto do Acordo de
Paris.”
http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2016/12/fundo-clima-definenovas-regras-para-os-proximos-dois-anos

A respeito do Acordo de Paris, assinale a alternativa correta.


(A) Assinado em 2002, dez anos após a Rio-92, tem como objetivo a redução na emissão de gases
que contribuem para o aquecimento global.
(B) O acordo insere-se na mesma política do Protocolo de Kyoto, porém, diferentemente deste, não foi
assinado pelos Estados Unidos.
(C) O principal objetivo do acordo diz respeito a limitar o aumento da temperatura global a no máximo
2°C em relação aos níveis pré-industriais.
(D) Grande parte dos países industrializados ainda não aceitaram o acordo, o que dificulta sua
implementação.
(E) O acordo tem por base a ideia de que a temperatura média global não sofre influência da ação
antrópica.

02. (Pref. de Lauro Muller/SC – Auxiliar Administrativo – Instituto Excelência) Ártico tem ano
recorde de calor e derretimento maciço de gelo. Avaliação foi publicada no Arctic Report Card 2016,
relatório revisado por pares de 61 cientistas de todo o mundo.
Disponível< http://g1.globo.com/natureza/noticia/artico-temano-recorde-de-calor-e-derretimento-macico-de-gelo.ghtml>

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Sobre essa notícia é INCORRETO afirmar:
(A) O Ártico quebrou recordes de calor no ano passado, quando um ar excepcionalmente quente
provocou o derretimento maciço de gelo e de neve e um congelamento tardio no outono.
(B) Os cientistas do clima dizem que as razões para o aumento do calor incluem a queima de
combustíveis fósseis que emitem gases causadores do efeito estufa, que prendem o calor na atmosfera,
bem como a tendência de aquecimento do oceano El Niño, que terminou no meio do ano.
(C) Essa tendência de aquecimento também levou a uma cobertura de gelo adulta e grossa que derrete
facilmente.
(D) Nenhuma das alternativas.

03. (TRF-5ª Região – Analista Judiciário – FCC) Desenvolvimento Sustentável


(A) envolve iniciativas que concebem o meio ambiente de modo articulado com as questões sociais,
tais como: saúde, habitação e educação, e que estimulem uma visão acrítica da população acerca das
questões ambientais.
(B) e crescimento econômico são sinônimos, significando atividades de incentivo ao desenvolvimento
do país, seguindo modelos de avanço tecnológico e científico.
(C) significa crescimento da economia, demonstrado pelo aumento anual do Produto Nacional Bruto
(PNB) combinado com melhorias tecnológicas e ganhos sociais relevantes.
(D) pode ser alcançado somente através de políticas e diretrizes governamentais de estímulo à
redução do crescimento populacional do país, tendo em vista que a dinâmica demográfica exerce forte
impacto sobre o meio ambiente em geral e os recursos naturais em particular.
(E) significa crescimento econômico com utilização dos recursos naturais, porém com respeito ao meio
ambiente, à preservação das espécies e à dignidade humana, de modo a garantir a satisfação das
necessidades das presentes e futuras gerações.

Gabarito
01.C / 02.C / 03.E

Comentários
01. Resposta: C.
Na 21ª Conferência das Partes (COP21) da UNFCCC, em Paris, foi adotado um novo acordo com o
objetivo central de fortalecer a resposta global à ameaça da mudança do clima e de reforçar a capacidade
dos países para lidar com os impactos decorrentes dessas mudanças.
O Acordo de Paris foi aprovado pelos 195 países Parte da UNFCCC para reduzir emissões de gases
de efeito estufa (GEE) no contexto do desenvolvimento sustentável. O compromisso ocorre no sentido de
manter o aumento da temperatura média global em bem menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais
e de envidar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
Para que comece a vigorar, necessita da ratificação de pelo menos 55 países responsáveis por 55%
das emissões de GEE. O secretário-geral da ONU, numa cerimônia em Nova York, no dia 22 de abril de
2016, abriu o período para assinatura oficial do acordo, pelos países signatários. Este período se estende
até 21 de abril de 2017.
Para o alcance do objetivo final do Acordo, os governos se envolveram na construção de seus próprios
compromissos, a partir das chamadas Pretendidas Contribuições Nacionalmente Determinadas (iNDC,
na sigla em inglês). Por meio das iNDCs, cada nação apresentou sua contribuição de redução de
emissões dos gases de efeito estufa, seguindo o que cada governo considera viável a partir do cenário
social e econômico local.
(Continua em: http://www.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/acordo-de-paris)

02. Resposta: C.
No ártico existe uma camada de gelo adulta e grossa que demora para derreter, mas o aquecimento
global tem acelerado o derretimento dessa camada durante o verão. No inverno o mar recongela mas
formando uma camada de gelo jovem e fina que no próximo verão vai derreter muito mais rápido.

03. Resposta: E
A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as
necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras
gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Essa definição surgiu na
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e
propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental.
Fonte: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/>

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Cultura
saúde
Olá candidato(a). No conteúdo a respeito de Cultura dentro dos tópicos de atualidades, teremos
uma ordem um pouco diferente. Antes dos textos noticiados no período estipulado pelo edital,
traremos uma pequena introdução falando a respeito da cultura brasileira e sua diversidade. Caso
tenha alguma dúvida, por favor entre em contato conosco.

A cultura no Brasil é um reflexo da formação do país já no período colonial, quando começam a surgir
as primeiras relações entre portugueses e indígenas, nos primeiros anos do contato. Ao longo de mais
de cinco séculos de transformação, ela incorpora elementos de todos aqueles que ajudaram a criar o país
ou que vieram para o Brasil em buscas de vida nova. Do churrasco ao acarajé, catolicismo a umbanda,
norte ao sul, o Brasil é um país de contrastes, definidos por seus habitantes que convergem seus
costumes, crenças e práticas em território nacional.
Mesmo admitindo a existência de diversos estudos e discussões antropológicas sobre o conceito de
cultura, podemos considerá-la a grosso modo da seguinte forma: cultura diz respeito a um conjunto de
hábitos, comportamentos, valores morais, crenças e símbolos, dentre outros aspectos mais gerais, como
forma de organização social, política e econômica que caracterizam uma sociedade.
Dessa forma, podemos pensar na seguinte questão: o que caracteriza a cultura brasileira?
Certamente, ela possui suas particularidades quando comparada ao restante do mundo,
principalmente quando nos debruçamos sobre um passado marcado pela miscigenação racial entre
índios, europeus e africanos e que sofreu ainda a influência de povos do Oriente Médio e da Ásia. Na
prática isso reflete em aspectos religiosos, musicais, gastronômicos (...) em que apesar de serem
brasileiros, sofrem fortes influências europeias, indígenas e africanas.
A diversidade cultural reflete os diferentes costumes e práticas que compõem a sociedade brasileira.
O Brasil é um país de dimensões continentais, que passou por diversos processos de ocupação,
migração, imigração e emigração, incorporando os traços de diversos povos e sociedades para compor
uma cultura única e diversificada. Além disso, por conter um extenso território, apresenta diferenças
climáticas, econômicas, sociais e culturais entre as suas regiões.

Textos noticiados:

Em Oscar marcado por discursos a favor da diversidade, “A Forma da Água” vence144

O filme “A Forma da Água” foi o grande vencedor da cerimônia. O longa conquistou 4 das 13 categorias
que concorria. O evento foi marcado por protestos a favor da diversidade e da defesa de minorias.
Pela 2ª vez consecutiva, o apresentador norte-americano Jimmy Kimmel foi o anfitrião da cerimônia.
Ele mencionou o incidente de 2017, quando os envelopes foram trocados pela equipe de produção e o
filme errado foi anunciado como vencedor do Oscar. Segundo Kimmel, a empresa PwC, responsável pelo
acontecido, disse que o “foco singular será no show e entregar os envelopes corretos“. Os atores Faye
Dunaway e Warren Beatty apresentaram novamente a categoria de “Melhor Filme”.
O apresentador Jimmy Kimmel falou também sobre o caso de “Todo Dinheiro do Mundo”, em que o
ator Mark Wahlberg foi pago com US$ 1,5 milhão para regravar o filme enquanto Michelle Williams
recebeu US$ 80 por dia, pontuou que o caso é mais crítico pelos 2 atores serem representados pela
mesma agência (William Morris Endeavor – WME). O filme em questão passou por regravações após o
ator Kevin Spacey ser retirado da produção por denúncias de assédio sexual. Spacey foi substituído por
Christopher Plummer.
Ao mencionar a expulsão de Harvey Weistein da Academia, o magnata de Hollywood acusado de
inúmeros casos de assédio sexual, Kimmel mencionou os movimentos Me Too, Time’s Up e Never
Again. “Não podemos deixar que mau comportamento escape novamente”, disse. “Esta é uma mudança
positiva. Nosso plano é trazer luz para filmes excepcionais”.
Os atores Kumail Nanjiani e Lupita Nyong’o fizeram 1 discurso sobre imigração antes de apresentarem
o Oscar de “Melhor Design de Produção”. Ambos citaram seus países (México e Paquistão) e destacaram
que os imigrantes estão em Hollywood apesar de ainda serem esquecidos. Nanjiani declarou: “Sou do
Paquistão e de Iowa, 2 lugares que nenhuma pessoa em Hollywood sabe apontar no mapa“.

144
GOMES, R. IBARRA, P. Em Oscar marcado por discursos a favor da diversidade, “A Forma da Água” vence. Poder 360. Disponível em: <
https://www.poder360.com.br/internacional/em-oscar-marcado-por-discursos-a-favor-da-diversidade-a-forma-da-agua-vence/> Acesso em 05 de março de 2018.

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TIME’S UP
Após uma temporada de premiações marcadas por manifestações a favor de igualdade salarial e
contra o assédio sexual, o Oscar teve em 2018 discursos acentuados sobre 1 tempo de mudança.
Um dos momentos de destaque ocorreu na apresentação da música “Stand Up for Something”, do
filme “Marshall”. Common e Andra Day convocaram ativistas de diversos movimentos a favor de minorias,
como membros do Dream Act Now, a favor do DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals).
A fundadora do movimento Time’s Up, Tarana Burke, anunciou que algo diferente aconteceria pela
sua rede social.

RESUMO
O Poder360 compilou os vencedores da noite:
Melhor filme: “A Forma da Água”;
Melhor diretor: Guillermo del Toro, por “A Forma da Água”;
Melhor ator: Gary Oldman, por “Destino de uma Nação”;
Melhor ator coadjuvante: Sam Rockwell, por “Três anúncios para um crime”;
Melhor atriz: Frances McDormand, por “Três anúncios para um crime”;
Melhor atriz coadjuvante: Allison Janney, por “Eu, Tonya”;
Melhor roteiro original: “Corra!”;
Melhor roteiro adaptado: “Call Me By Your Name”;
Melhor Animação: “Viva – A Vida é Uma Festa”;
Melhor Animação em Curta-Metragem: “Dear Basketball”;
Melhor Fotografia: “Blade Runner 2049”;
Melhor Figurino: “Trama Fantasma”;
Melhor Maquiagem e Cabelo: “Destino de uma Nação”;
Melhor Mixagem de Som:”Dunkirk”;
Melhor Edição de Som: “Dunkirk”;
Melhores Efeitos Visuais: “Blade Runner 2049”;
Melhor Design de Produção: “A Forma da Água”;
Melhor Montagem: “Dunkirk”;
Melhor Trilha Sonora: “A Forma da Água”;
Melhor Canção Original: “Remember Me”, de “Viva – A Vida é Uma Festa”;
Melhor Filme Estrangeiro: “Mulher Fantástica”;
Melhor Curta-Metragem: “The Silent Child”;
Melhor Documentário: “Icarus”;
Melhor Documentário em Curta-Metragem: “Heaven is a Traffic Jam on the 405”.

Com exposição sobre sexualidade, Masp veta pela primeira vez entrada de menores de 18
anos145

'História da sexualidade' tem obras de artistas consagrados como Pablo Picasso e será inaugurada
nesta sexta (20/10) com classificação etária.
Segundo o Museu, é a primeira vez em 70 anos que a presença de menores, mesmo que
acompanhados dos pais ou responsáveis, será vetada em uma exposição.
A medida ocorre menos de um mês após o Museu de Arte Moderna (MAM) e seus funcionários serem
alvo de ataques por conta de um vídeo divulgado nas redes sociais em que uma criança aparece
interagindo com a performance de um artista nu. O caso rendeu investigação do Ministério Público.
Em nota, o Masp afirma que buscou orientação jurídica que "confirmou a autoclassificação, houve a
análise das obras integrantes da exposição Histórias da sexualidade, à luz dos critérios contidos no Guia
Prático de Classificação Indicativa do Ministério da Justiça, tendo-se concluído que tal exposição deveria
ser classificada como não permitida para menores de 18 anos".
"Observando a regulamentação vigente e orientação jurídica sobre o tema, o MASP estabeleceu a
autoclassificação de 18 anos, restringindo o acesso à referida exposição para menores de idade, mesmo
que acompanhados de seus responsáveis. Tal classificação será restrita às galerias da exposição
Histórias da sexualidade no 1º andar, 1º subsolo e sala de vídeo. As exposições Guerrilla Girls: gráfica,
1985-2017, Pedro Correia de Araújo: Erótica e Acervo em Transformação, nas galerias do 1º subsolo, 2º

145
G1 SP. Com exposição sobre sexualidade, Masp veta pela primeira vez entrada de menores de 18 anos. G1 São Paulo. Disponível em:
<https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/com-exposicao-sobre-sexualidade-masp-veta-pela-primeira-vez-entrada-de-menores-de-18-
anos.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1> Acesso em 20 de outubro de 2017.

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1484997 E-book gerado especialmente para NADIA NARCISA DE BRITO SANTOS
subsolo e 2º andar, respectivamente, continuarão abertas ao público em geral, com classificação livre",
diz a nota.
Com mais de 300 obras de diversos artistas, a exposição, concebida em 2015, se insere na
programação anual do museu, dedicada às histórias da sexualidade.
Algumas obras de artistas centrais do acervo do Masp, como Edgard Degas, Maria Auxiliadora da
Silva, Pablo Picasso, Paul Gauguin, Suzanne Valadon e Victor Meirelles, estarão expostas em novos
contextos, oferecendo outras possibilidades de compreensão e leitura.
O material estará reunido em nove núcleos temáticos e não cronológicos: Corpos nus, Totemismos,
Religiosidades, Performatividades de gênero, Jogos sexuais, Mercados sexuais, Linguagens e
Voyeurismos, na galeria do primeiro andar, e Políticas do corpo e Ativismos, na galeria do primeiro
subsolo. A mostra inclui também a sala de vídeo no terceiro subsolo, como parte do núcleo Voyeurismos.

Nomeação de Sérgio Sá Leitão para Cultura é publicada146

Sérgio Sá Leitão assume o comando do Ministério da Cultura no lugar do ministro interino João Batista
de Andrade, que estava no cargo desde maio, após o deputado Roberto Freire (PPS-PE) ter deixado a
pasta
A nomeação de Sérgio Sá Leitão para o comando do Ministério da Cultura está publicada na edição
desta terça-feira (25/07) do Diário Oficial da União. A cerimônia de posse do novo ministro ocorre às 11h,
no Palácio do Planalto.
Além da passagem pela direção da Agência Nacional de Cinema, para onde teve a indicação aprovada
em abril pelo Senado, Leitão ocupou a chefia de gabinete do Ministério da Cultura durante a gestão do
ex-ministro Gilberto Gil e foi secretário municipal de Cultura do Rio de Janeiro.
Sérgio Sá Leitão assume o comando do Ministério da Cultura no lugar do ministro interino João Batista
de Andrade, que estava no cargo desde maio, após o deputado Roberto Freire (PPS-PE) ter deixado a
pasta.

Ministério da Cultura cria teto para Lei Rouanet e promete maior controle147

O ministério da Cultura anunciou nesta terça-feira (21/03) a criação de um teto para liberação de
recursos pela Lei Rouanet. A legislação permite a captação de verbas para projetos culturais por meio de
incentivos fiscais para empresas e pessoas físicas. Pelas novas regras, o limite será de R$ 700 mil para
pessoas físicas e microempreendedores. Grandes empresas podem captar até R$ 40 milhões para até
10 projetos, sendo que um único projeto não pode receber mais de R$ 10 milhões.
Os cachês individuais também não poderão ultrapassar R$ 30 mil por artista. Todas as despesas dos
produtores serão pagas a partir de uma conta única do Banco do Brasil, e o ministério receberá os dados
sobre cada transferência em até 24 horas. Em 30 dias, o governo promete divulgar essas informações no
Portal da Transparência.
Os produtos gerados a partir da Lei Rouanet também vão sofrer mudança. Livros e ingressos deverão
ter valor médio de R$ 150. Antes o valor limite era de R$ 200. Na prática, uma peça de teatro pode custar
bem mais caro do que R$ 150, mas se o valor médio (considerando também o número de meias em
relação ao total de ingressos comprados) ficar até este limite, está autorizado.
Por exemplo, uma peça de teatro pode custar R$ 300, mas fazendo a média com número de cadeiras
de estudantes, o valor médio abaixa para R$ 150.
As regras ainda estabelecem que o valor total da receita bruta da produtora não pode ser superior ao
valor previsto no projeto. Estão isentos dos limites de captação projetos que trabalhem com área de
patrimônio e museologia.
Segundo o Ministério da Cultura, o objetivo é trazer maior controle sobre a gestão e aproveitamento
dos recursos destinados para incentivar a cultura.
De acordo com a nova resolução, que substitui as regras aprovadas em 2013, o ministério vai priorizar
projetos que já tenham captado 10% dos recursos do orçamento aprovado. Na opinião do governo, essas
são propostas com maior chance de serem executadas. Atualmente, um a cada quatro projetos consegue
patrocínio suficiente para começar a fase preparatória e ser considerado executável pelos pareceristas
do ministério.

146
AGÊNCIA BRASIL. Nomeação de Sérgio Sá Leitão para cultura é publicada. O Tempo. Política. Disponível em:
<http://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/nomea%C3%A7%C3%A3o-de-s%C3%A9rgio-s%C3%A1-leit%C3%A3o-para-cultura-%C3%A9-publicada-
1.1501297> Acesso em 26 de julho de 2017.
147
21/03/2017 – Fonte: http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/ministerio-da-cultura-cria-teto-para-lei-rouanet-e-promete-maior-controle.ghtml

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1484997 E-book gerado especialmente para NADIA NARCISA DE BRITO SANTOS
Os repasses da pasta foram alvos de uma operação da Polícia Federal deflagrada em junho de 2016,
a Operação Boca Livre, que segue investigando a liberação de R$ 180 milhões em projetos fraudulentos
com recursos da lei. Em 2016, a Lei Rouanet aprovou projetos no valor total de R$ 1,142 bilhão.

Descentralizar
Outro ponto da resolução desta terça (21/03) é o incentivo para projetos que forem realizados nas
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país. Em 2016, o ministério informou que 91,1% das
liberações de recursos pela Lei Rouanet foram para projetos no Sul e Sudeste. A mesma concentração
foi registrada nos dois anos anteriores.
Para reduzir esse índice de desigualdade, o limite de orçamento poderá ser 50% maior caso o produtor
cultural apresente algum projeto a ser realizado nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país.
Atualmente, os números do ministério mostram que enquanto 62% dos projetos beneficiados se
concentram na região Sudeste; o Nordeste conta com 8,13% dos favorecidos e Centro-Oeste e Norte
com 3,5% e 1,2% respectivamente.

Questões

01. (Prefeitura de Cipotânea/MG – Enfermeiro - REIS & REIS) “Apontada como um mecanismo
importante de financiamento cultural no Brasil, a ________________ é constantemente alvo de críticas e
voltou ao debate nacional por causa da extinção – agora revertida – do Ministério da Cultura na gestão
interina de Michel Temer. Esta Lei foi criada em 1991, durante o governo Collor, e permite que produtores
e instituições captem, junto a pessoas físicas e jurídicas, recursos para financiar projetos culturais. O valor
destinado a esses projetos pode ser deduzido integralmente do Imposto de Renda a pagar.”
Marque a alternativa que completa corretamente o enunciado acima:
(A) Lei Collor.
(B) Lei Rouanet.
(C) Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
(D) Lei Echer.

02. (TJ/CE – Titular de Serviços de Notas e de Registros – IESES – 2018) As principais premiações
da indústria cinematográfica em 2018, o Globo de Ouro e o Oscar, foram marcadas por manifestações
contra o assédio sexual e a favor da igualdade de gênero e da diversidade. A respeito desses dois
eventos, é correto afirmar:
(A) O filme “Coco”, cujo título em português é “Viva – A Vida É uma Festa”, novo filme da Pixar
ambientado em Cuba e com um elenco totalmente latino, foi o vencedor do Oscar de melhor animação
do ano.
(B) A atriz Daniela Vega, transexual, ganhou o Oscar de melhor atriz por sua atuação no filme “Uma
mulher fantástica". Este foi o primeiro filme estrelado por uma pessoa transexual a levar um Oscar.
(C) Em uma noite dominada por mulheres e com fortes manifestações contra o assédio sexual e a
favor da igualdade de gênero em Hollywood, a minissérie "Big little lies" e o filme "Três anúncios para um
crime", com quatro prêmios cada, foram os principais ganhadores do Globo de Ouro 2018.
(D) O ator Gary Oldman, que fez um trabalho magnífico interpretando Winston Churchill, levou o Oscar
de melhor ator por sua atuação no filme “Dunkirk”.

Gabarito

01.B / 02.C

Comentários

01. Resposta: B
Segue na íntegra a notícia onde ainda há debates a respeito da lei Rouanet (Referência: <
http://www.bbc.com/portuguese/brasil-36364789>)

02. Resposta: C
Os discursos dos vencedores (não apenas as mulheres) foram marcados pela forte crítica ao assédio
maquiado na indústria cinematográfica. Segue a premiação do Globo de Ouro na íntegra:
<https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/globo-de-ouro-2018-veja-vencedores.ghtml>

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8 Competências e habilidades propostas pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais do Ensino Médio para a disciplina de História

Parâmetros Curriculares Nacionais


Ensino Médio

Parte IV
Ciências Humanas e suas Tecnologias

A elaboração destes Parâmetros Curriculares Nacionais para a área de Ciências Humanas e suas
Tecnologias do Ensino Médio percorreu um longo caminho, desde 1996, quando se iniciaram os estudos
e a discussão de documentos preliminares que embasaram as reflexões sobre seu papel no novo
currículo.
A presente versão, já levando em conta as disposições do Parecer nº 15, que integra a Resolução nº
3/98 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, contou com a participação de
especialistas e professores do Ensino Médio e levou em consideração os documentos produzidos para
reflexão e as primeiras versões para a área, bem como as discussões e críticas a que foram submetidas.
Também foram importantes nesse processo de elaboração, os documentos referentes às outras duas
áreas do Ensino Médio, em suas versões preliminares e na final.
Cabe mencionar a contribuição dos profissionais envolvidos com as primeiras versões do documento
e com a elaboração de textos para discussão, visando à produção destes Parâmetros Curriculares,
salientando-se as contribuições de Heloísa Dupas Penteado, Celso Favaretto, Ângela Maria Martins e
Nidia Nacib Pontuschka.
Chamamos a atenção para o fato de que, neste documento, ao desenvolvermos textos específicos
voltados para os conhecimentos de História, Geografia, Sociologia e Filosofia, habitualmente
formalizados em disciplinas escolares, incluímos diversas alusões – explícitas ou não – a outros
conhecimentos das Ciências Humanas que consideramos fundamentais para o Ensino Médio. Trata-se
de referências a conhecimentos de Antropologia, Política, Direito, Economia e Psicologia. Tais indicações
não visam a propor à escola que explicite denominação e carga horária para esses conteúdos na forma
de disciplinas. O objetivo foi afirmar que conhecimentos dessas cinco disciplinas são indispensáveis à
formação básica do cidadão, seja no que diz respeito aos principais conceitos e métodos com que
operam, seja no que diz respeito a situações concretas do cotidiano social, tais como o pagamento de
impostos ou o reconhecimento dos direitos expressos em disposições legais. Na perspectiva do exercício
da cidadania, importa em muito o desenvolvimento das competências envolvidas na leitura e
decodificação do “economês” e do “legalês”.
Futuramente, a critério da escola, e obedecendo a suas disponibilidades específicas, poderão até ter
organização explícita e própria, mas a sugestão aqui feita é no sentido de que esses conhecimentos
apareçam em atividades, projetos, programas de estudo ou no corpo de disciplinas já existentes. Tanto
a História quanto a Sociologia, por exemplo, englobam conhecimentos de Antropologia, Política, Direito
e Economia. O mesmo acontece com a Geografia em relação à Economia e ainda com a Filosofia, que
pode conter elementos de Psicologia, Política e Direito. E não se deve esquecer também que a
contextualização na Matemática poderá envolver conhecimentos de Economia, como o cálculo de juros
aplicados a transações financeiras.

O sentido do aprendizado na área


Repensar o papel das Ciências Humanas na escola básica e organizá-las em uma área de
conhecimento do Ensino Médio implica relembrar as chamadas “humanidades”, nome genérico que
engloba as línguas e cultura clássicas, a língua e a literatura vernáculas, as principais línguas
estrangeiras modernas e suas literaturas, a Filosofia, a História e as Belas Artes.
A finalidade educacional inscrita nesse humanismo respondia por uma formação moral e cultural de
caráter elitista, que remontava tanto à cultura clássica antiga quanto ao humanismo renascentista, que a
“modernizou”. No Brasil, essa tradição esteve claramente representada nos programas de ensino do
Colégio Pedro II, principal educandário das elites brasileiras durante o século XIX e parte do XX. O regime
republicano, nascido sob a marca do positivismo, instituindo “ordem e progresso” como lema, iniciou um
redimensionamento do papel das Ciências Naturais no ensino do país, rompendo com a tradição
“bacharelesca”, na promessa de introduzir na escola secundária os conhecimentos voltados para a
solução de problemas práticos, que levassem a superar o nosso “atraso”, como se dizia.

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Isso não quer dizer, porém, que se tenha abandonado ou negligenciado o ensino da Língua
Portuguesa ou de História e de Geografia, disciplinas estratégicas para a conformação de um imaginário
social comprometido com um ideal de “pátria”. E, assim, curiosamente, o ensino das humanidades era
posto em cheque no mesmo momento em que principiavam os estudos que constituem os primórdios de
nossas Ciências Humanas, tocadas pelo mesmo pragmatismo que presidia os estudos dedicados à
compreensão da natureza.
As transformações socioeconômicas e políticas por que passou o Brasil na virada do século XIX para
o XX foram acompanhadas por uma série de trabalhos voltados para as questões sociais, apoiados,
porém, em um viés fortemente racista. Destacam-se dentre seus autores Tobias Barreto, Sílvio Romero,
João Ribeiro, Manoel Bonfim, Euclides da Cunha e Nina Rodrigues, que, amparados em pressupostos
teóricos e metodológicos extraídos de autores europeus, especialmente de língua inglesa e alemã,
refletiram sobre a realidade brasileira, produzindo estudos jurídicos, literários, históricos, etnológicos,
folclóricos e de psicologia social. Advogando para si um caráter científico e dedicados ao ensino – muitos
no Colégio Pedro II –, apontaram a necessidade de se redirecionar a educação para a construção de
instrumentais de análise e ação sobre a realidade do país.
A partir dos anos 30 e 40 deste século, as Ciências Humanas no Brasil encontraram enorme
renovação, com os trabalhos de Gilberto Freire, Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda e
Fernando de Azevedo. Com a fundação da Universidade de São Paulo e a vinda de pesquisadores
estrangeiros do porte de Roger Bastide, Claude Lévi-Strauss, Fernand Braudel, Jacques Lambert, Jean
Tricart, dentre outros, tais estudos encontraram um campo fértil, dando origem a seguidas gerações de
sociólogos, economistas, historiadores, antropólogos e cientistas políticos, que se dedicaram ao estudo
da sociedade brasileira, em uma perspectiva de forte engajamento político, que acabaria esbarrando no
enrijecimento da reação, no período que se seguiu a 1964.
Ao longo desse processo de desenvolvimento das Ciências Humanas, as humanidades foram
progressivamente superadas na cultura escolar. Mas não foi só no Brasil que isso se deu. A História, a
Sociologia, a Ciência Política, o Direito, a Economia, a Psicologia, a Antropologia e a Geografia – esta
última, a meio caminho entre as Ciências Humanas e as Naturais – contribuíram por toda a parte para a
superação das humanidades clássicas. Em sua constituição, voltaram-se para o homem, não com a
preocupação de formá-lo, mas de compreendê-lo. Assim fazendo, passaram a circundar em torno de um
mesmo objeto principal: o humano, explorado em todas as suas vertentes.
A caracterização desses estudos como ciências está intimamente ligada às transformações sofridas
pelas sociedades modernas, a partir das chamadas “Revoluções Burguesas” dos séculos XVIII e XIX,
que introduziram novos paradigmas no campo da produção – a indústria – e do convívio social – a
democracia representativa.
As Ciências Naturais, ao longo de sua constituição histórica, vêm atuando como indutoras de
transformações sociais e econômicas, idealizando e construindo mecanismos de controle da natureza.
Esse esforço de controle teve grande importância para o nascimento, desde a segunda metade do século
XVIII, das sociedades capitalistas amparadas na indústria e na técnica. Por sua vez, as Ciências
Humanas, tocadas pelo mesmo sopro, e, em decorrência das importantes transformações políticas e
sociais ocorridas no século XIX, desenvolveram-se inicialmente para criar instrumentos de controle social.
Seguindo a inspiração posivitista, transpunham para o campo da cultura os mesmos pressupostos
aplicáveis ao estudo da natureza.
Assim, incorporando as determinações que as fizeram se desenvolver como ciências autônomas, a
História cumpriu a tarefa de construir uma identidade e uma memória coletivas, a fim de glorificar e
legitimar os feitos dos Estados nacionais; a Sociologia traçou estratégias para ordenar e reordenar as
novas relações sociais; a Ciência Política ocupou-se do poder, de como constituí-lo e regrá-lo; o Direito
encarregou-se de construir um aparato legal e processos jurídicos para a conservação ou renovação da
ordem social; a Economia voltou-se para a otimização e o controle da produção e das trocas de bens; a
Psicologia procurou compreender e amenizar o impacto das transformações sobre os comportamentos
humanos; a Antropologia, em sua vertente etnográfica, lançou-se à descrição dos povos “exóticos”, que
a expansão econômica e política das grandes potências capitalistas necessitava submeter; e a Geografia
serviu para mapear as potencialidades dos territórios nacionais ou daqueles a serem conquistados, além
de exaltar as riquezas de cada “solo pátrio”.
No século XX, a progressiva penetração dos pressupostos teóricos de Marx e Engels nas pesquisas
da área instituiu ricos debates, cruzando perspectivas diferentes e antagônicas. O marxismo fez
aumentar, embora sob enfoque diferente, as responsabilidades das Ciências Humanas perante o social.
Os novos estudos, tão engajados na ação política quanto os outros, também visavam a dotar os homens
de instrumentais de controle sobre a vida em sociedade, na perspectiva de se direcionar a própria história.

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1484997 E-book gerado especialmente para NADIA NARCISA DE BRITO SANTOS
Amparadas em quadros referenciais de diferentes inspirações, as Ciências Humanas buscaram
cumprir as tarefas que lhes foram designadas. No século XX, sem que desaparecessem as concepções
anteriores, novas perspectivas teóricas têm procurado minar as certezas positivas, incorporando
orientação mais relativista às análises. A crise de confiança gerada pelo desastre da Primeira Guerra
Mundial e pelas crises econômicas que a ela se seguiram deu origem, nos anos 30, a um esforço de
revisão dos pressupostos positivistas, como o da fragmentação dos estudos. Deu-se, então, importante
experiência interdisciplinar, unindo-se historiadores, economistas, geógrafos e sociólogos, no esforço de
tentar entender as razões da crise. É rico de lições perceber que, no momento mesmo em que atingiam
sua maturidade, as Ciências Humanas buscassem a alternativa interdisciplinar como solução para seus
impasses. Desse enriquecimento, surgiram abordagens diversas e inovadoras, em antropohistória,
geohistória, sociolinguística, história e geografia econômicas etc.
Em todo esse percurso histórico, as Ciências Humanas alcançaram ampla significação e prestígio nas
sociedades de nosso século e seus pesquisadores passaram a ocupar postos-chave na vida política e
nos órgãos da administração pública, em diversas partes do mundo. No Brasil, entretanto, os anos de
autoritarismo institucionalizado, pós-64, tornaram as Ciências Humanas suspeitas e baniram do “ensino
de 1º grau” a História e a Geografia, dissolvidas nos “Estudos Sociais”, que incluíam a “Educação Moral
e Cívica”, tentativa de atualização para as massas de uma educação de caráter moral, sem o componente
cultural próprio às humanidades.
No Ensino Médio, História e Geografia sobreviveram, ao lado da “Organização Social e Política do
Brasil”, espécie de Geopolítica aplicada a noções básicas de Sociologia, Política e Direito. A “área” podia
enriquecer-se ora pela Filosofia, ora pela Sociologia, ora pela Psicologia, com conteúdos diversificados,
mas não obrigatórios. O estudo da Filosofia, fundamental na formação dos jovens, mas incômodo pelas
questões que suscita, foi relegado ao exílio, juntamente com as artes e o latim. Sepultava-se, assim, e
por completo, a educação de caráter humanista.
Ecoando a definição curricular oficial, o imaginário social e o escolar ratificavam a impressão de que
tais disciplinas, “absolutamente inúteis” do ponto de vista da vida prática, roubavam precioso tempo ao
aprendizado da Língua Portuguesa e das “Ciências Exatas”. Estes conhecimentos eram os que realmente
importavam, na luta pela aprovação nos exames vestibulares de ingresso aos cursos superiores de maior
prestígio social.
A lógica tecnoburocrática ali presente, embora assumindo um viés autoritário explícito, não fazia mais
do que acompanhar uma tendência geral das sociedades contemporâneas. Pressionadas pelas
necessidades imediatas de uma civilização cada vez mais apoiada nas Ciências Naturais e nas
tecnologias delas decorrentes, tanto as humanidades quanto as Ciências Humanas perderam o prestígio
e o espaço que detinham na sociedade e na escola. O momento, hoje, porém, é o de se estruturar um
currículo em que o estudo das ciências e o das humanidades sejam complementares e não excludentes.
Busca-se, com isso, uma síntese entre humanismo, ciência e tecnologia, que implique a superação do
paradigma positivista, referindo-se à ciência, à cultura e à história.
Destituído de neutralidade diante da cultura, o discurso científico revela-se enquanto representação
sobre o real, sem se confundir com ele. Desta forma, “a tensão entre a lei e o indivíduo, entre a
necessidade e a liberdade, entre o universal e o singular, entre a linguagem formal das matemáticas e as
línguas naturais encontraria no conceito de cultura e de autoprodução do homem sua matriz inteligível,
de sorte a integrar em um só conjunto, sistematicamente tratado, a aparente dispersão dos fatos e dos
conhecimentos.”
De um lado, os desafios postos por uma sociedade tecnológica, cujos aspectos mais diretamente
observáveis se modificam rapidamente, confirmando a percepção que Daniel Halévy tivera já no século
passado a respeito da “aceleração da história”. De outro, a necessária superação dos “anos de chumbo”
da história recente do País, com todas as suas consequências nefastas para o convívio social e, em
especial, para a educação. Eis as novas responsabilidades que as Ciências Humanas assumem hoje
frente à sociedade brasileira e aos estudantes do nível médio.
Nesta passagem de século e de milênio, em meio aos enormes avanços trazidos pela ciência e pela
tecnologia, mas também em meio às angústias e incertezas, a sociedade brasileira, representada por
seus educadores, dos mais variados níveis escolares, em diálogo com o poder público, constrói a
oportunidade de atualizar sua educação escolar, dotando-a de recursos para lidar com os imperativos da
sociedade tecnológica, sem descuidar do necessário resgate da tradição humanista.
Sem perder de vista a dimensão histórica e fugindo à pretensão de uma volta ao século XV ou ao XIX,
esse resgate se dá através do ideal possível de uma síntese entre humanismo e tecnologia, em que a
mão do homem e o teclado do computador estejam ambos a serviço da construção de uma sociedade
mais justa e solidária.

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Outro não é o imperativo que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, promulgada em 20
de dezembro de 1996, nos obriga a respeitar, ao estabelecer como finalidade da educação “o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho” (Art. 2º). E como finalidades do Ensino Médio, “a consolidação e o aprofundamento dos
conhecimentos”; “a preparação básica para o trabalho e a cidadania”; “o aprimoramento como pessoa
humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento
crítico”; e “a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos” (Art. 35).
Por sua vez, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, aprovadas pela Câmara de
Educação Básica do Conselho Nacional de Educação e homologadas pelo Ministério da Educação,
asseguram a retomada e a atualização da educação humanista, quando preveem uma organização
escolar e curricular baseada em princípios estéticos, políticos e éticos.
Ao fazê-lo, o documento reinterpreta os princípios propostos pela Comissão Internacional sobre
Educação para o Século XXI, da UNESCO, amparados no aprender a conhecer, no aprender a fazer, no
aprender a conviver e no aprender a ser. A estética da sensibilidade, que supera a padronização e
estimula a criatividade e o espírito inventivo, está presente no aprender a conhecer e no aprender a
fazer, como dois momentos da mesma experiência humana, superando-se a falsa divisão entre teoria e
prática.
A política da igualdade, que consagra o Estado de Direito e a democracia, está corporificada no
aprender a conviver, na construção de uma sociedade solidária através da ação cooperativa e não-
individualista. A ética da identidade, exigida pelo desafio de uma educação voltada para a constituição
de identidades responsáveis e solidárias, compromissadas com a inserção em seu tempo e em seu
espaço, pressupõe o aprender a ser, objetivo máximo da ação que educa e não se limita apenas a
transmitir conhecimentos prontos.
Tais princípios são a base que dá sentido à área de Ciências Humanas e suas Tecnologias. O trabalho
e a produção, a organização e o convívio sociais, a construção do “eu” e do “outro” são temas clássicos
e permanentes das Ciências Humanas e da Filosofia. Constituem objetos de conhecimentos de caráter
histórico, geográfico, econômico, político, jurídico, sociológico, antropológico, psicológico e, sobretudo,
filosófico. Já apontam, por sua própria natureza, uma organização interdisciplinar. Agrupados e
reagrupados, a critério da escola, em disciplinas específicas ou em projetos, programas e atividades que
superem a fragmentação disciplinar, tais temas e objetos, ao invés de uma lista infindável de conteúdos
a serem transmitidos e memorizados, constituem a razão de ser do estudo das Ciências Humanas no
Ensino Médio.
Sintetizando e coroando essas preocupações, retornam ao currículo os conteúdos filosóficos. Em
referência à tradição do estudo das humanidades, é na área de Ciências Humanas e suas Tecnologias
que eles vêm se situar. Entretanto, deve-se ter em conta o caráter transdisciplinar de que se reveste a
Filosofia, quer enquanto Filosofia da Linguagem, quer enquanto Filosofia da Ciência. Da mesma forma,
a História, que deverá estar presente também enquanto História das Linguagens e História das Ciências
e das Técnicas, não na perspectiva tradicional da História Intelectual, que se limita a narrar biografias de
cientistas e listar suas invenções e descobertas, mas da nova História Cultural, que enquadra o
pensamento e o conhecimento nas negociações e conflitos da ação social6. Filosofia e História, assim,
tornam-se instrumentais para a compreensão do significado social e cultural das linguagens, das ciências
– naturais e humanas – e da tecnologia.
A presença das tecnologias na área de Ciências Humanas dá-se a partir do alargamento do
entendimento da própria tecnologia, tanto como produto quanto como processo. Se, enquanto produto,
as tecnologias apontam mais diretamente as Ciências da Natureza e a Matemática, enquanto processo,
remetem ao uso e às reflexões que sobre elas fazem as três áreas de conhecimento.
Entretanto, uma compreensão mais ampla da tecnologia como fenômeno social permite verificar o
desenvolvimento de processos tecnológicos diversos, amparados nos conhecimentos das Ciências
Humanas. É preciso, antes de tudo, distinguir as tecnologias das Ciências Humanas em sua
especificidade ante as das Ciências da Natureza. Enquanto estas últimas produzem tecnologias “duras”,
configuradas em ferramentas e instrumentos materiais, as Ciências Humanas produzem tecnologias
ideais, isto é, referidas mais diretamente ao pensamento e às ideias, tais como as que envolvem
processos de gestão e seleção e tratamento de informações, embasados em recortes sociológicos.
Outro aspecto que permite associar as tecnologias às Ciências Humanas diz respeito ao uso que estas
fazem das tecnologias originárias de outros campos de conhecimento, como o recurso aos satélites e à
fotografia aérea na cartografia. E, por fim, cabe ainda à área de Ciências Humanas construir a reflexão
sobre as relações entre a tecnologia e a totalidade cultural, redimensionando tanto a produção quanto a
vivência cotidiana dos homens. Inclui-se aqui o papel da tecnologia nos processos econômicos e sociais

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e os impactos causados pelas tecnologias sobre os homens, a exemplo da percepção de um tempo
fugidio ou eternamente presente, em decorrência da aceleração do fluxo de informações.
Sem dúvida, é através da referência a contextos concretos e não abstratamente que se pode atribuir
sentido às tecnologias na área de Ciências Humanas. Na organização curricular das escolas, a
tecnologia, enquanto tema ou aplicação, produto ou processo, poderá constituir um excelente recurso
para o tratamento contextualizado aos conhecimentos da área.

Competências e Habilidades

Dentre os quatro princípios propostos para uma educação para o século XXI – aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser – destaca-se o aprender a conhecer, base que
qualifica o fazer, o conviver e o ser e síntese de uma educação que prepara o indivíduo e a sociedade
para os desafios futuros, em um mundo em constante e acelerada transformação. A educação
permanente e para todos pressupõe uma formação baseada no desenvolvimento de competências
cognitivas, sócio afetivas e psicomotoras, gerais e básicas, a partir das quais se desenvolvem
competências e habilidades mais específicas e igualmente básicas para cada área e especialidade de
conhecimento particular. Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, o desenvolvimento
de competências básicas constitui um princípio de caráter epistemológico, referido no aprender a
conhecer, que vem somar-se aos princípios filosóficos, já apontados.
As competências abaixo descritas são consideradas indispensáveis para o nível médio de ensino e
foram fixadas pela Resolução nº3/98, da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de
Educação. A ausência de tais competências implica limites à ação do indivíduo, impedindo-o de
prosseguir em seus estudos na área e de se preparar adequadamente para a vida em sociedade. São,
portanto, indicações genéricas que devem apoiar as escolas e os professores na montagem de seus
currículos e na proposição de atividades, projetos e programas de estudo ou disciplinas, através das
quais serão desenvolvidas pelos estudantes. Cabe ainda observar preliminarmente que as
competências não eliminam os conteúdos, pois que não é possível desenvolvê-las no vazio. Elas apenas
norteiam a seleção dos conteúdos, para que o professor tenha presente que o que importa na educação
básica não é a quantidade de informações, mas a capacidade de lidar com elas, através de processos
que impliquem sua apropriação e comunicação, e, principalmente, sua produção ou reconstrução, a fim
de que sejam transpostas a situações novas.
Somente quando se dá essa apropriação e transposição de conhecimentos para novas situações é
que se pode dizer que houve aprendizado. Do contrário, o que se dá é um simplório mecanismo de
memorização, através do qual os fatos, mas não as ideias, circulam de uma folha de papel a outra, do
livro didático para o caderno e do caderno para a prova, caindo em esquecimento no dia seguinte, por
não encontrarem ressonância nem fazerem sentido para quem lê, fala, ouve ou escreve.

A presença da área de Ciências Humanas e suas Tecnologias na organização curricular do Ensino


Médio tem por objetivo a constituição de competências que permitam ao educando:

- Compreender os elementos cognitivos, afetivos, sociais e culturais que constituem a


identidade própria e a dos outros.

Afeitos ao princípio da ética da identidade, os conhecimentos da área devem contribuir para a


construção da identidade pessoal e social dos educandos.
Contam aqui os aspectos psíquicos da formação da personalidade em relação com os diversos
contextos em que se dá, o contexto familiar, escolar, laboral, enfim, os contextos dos diversos grupos
sociais com e nos quais o indivíduo se relaciona.
Quer na perspectiva psicológica, quer na antropológica, a construção da identidade autônoma é
acompanhada, em um movimento único, da construção da identidade dos outros. Isso implica o
reconhecimento das diferenças e imediatamente a aceitação delas, construindo-se uma relação de
respeito e convivência, que rejeita toda forma de preconceito, discriminação e exclusão. É o que prevê a
política da igualdade. Na base da identidade e da igualdade deverá estar a sensibilidade, primeiro
momento do se posicionar socialmente, que deverá guiar o indivíduo para a indignação e o repúdio às
formas veladas ou explícitas de injustiça ou desrespeito.
O senso de responsabilidade perante o social que daí se origina exige conhecimentos de História,
Sociologia e Política que deem conta da inter-relação entre o público e o privado, para que se evite tanto
o esmagamento do segundo pelo primeiro, quanto a projeção individualista, no sentido inverso. A tradição
escravocrata, patrimonialista e autoritária no Brasil tem produzido lamentáveis resultados em matéria de

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corrupção política e social, desrespeito à ordem constitucional e legal e abusos de toda sorte, em
flagrante violação aos direitos de cidadania. O Ensino Médio, enquanto etapa final da Educação Básica,
deve conter os elementos indispensáveis ao exercício da cidadania e não apenas no sentido político de
uma cidadania formal, mas também na perspectiva de uma cidadania social, extensiva às relações de
trabalho, dentre outras relações sociais.
Por sua natureza própria, as Ciências Humanas e a Filosofia constituem um campo privilegiado para
a discussão dessas questões. Mas, não se deve perder de vista que a cidadania não deve ser encarada,
no Ensino Médio, apenas como um conceito abstrato, mas como uma vivência que perpassa todos os
aspectos da vida em sociedade. Daí, que a preparação para o exercício da cidadania não se esgota no
aprendizado de conhecimentos de História, Sociologia, Política ou Filosofia. Antes, está presente nos
usos sociais das diferentes linguagens e na compreensão e apropriação dos significados e resultados
dos conhecimentos de natureza científica.
Os conhecimentos de História são fundamentais para a construção da identidade coletiva a partir de
um passado que os grupos sociais compartilham na memória socialmente construída. A ênfase em
conteúdos de História do Brasil – como reza a LDB –, construídos em conexão com conteúdos da
chamada História Geral, em uma relação de “figura” e “fundo”, é parte da estratégia de autoconstrução e
auto reconhecimento, que permite ao indivíduo situar-se histórica, cultural e socialmente na coletividade,
envolvendo seu destino pessoal no destino coletivo. Na perspectiva formativa, isso não implica negar a
individualidade, mas combater os excessos do individualismo.
Os conhecimentos de Antropologia e Sociologia contribuem igualmente para a construção da
identidade social e, sem negar os conflitos, a convivência pacífica. Dá-se especial destaque ao relativismo
cultural proposto pelas correntes antropológicas surgidas após a Segunda Guerra Mundial, que advogam
o direito de todos os povos e culturas construírem sua organização própria, respeitando da mesma forma
os direitos alheios.
Frente às imposições de uma economia e de uma rede de informações cada vez mais globalizadas,
urge assegurar a preservação das identidades territoriais e culturais, não como sobrevivências
anacrônicas, mas como realidades sociais constitutivas de sentido vivencial para os diversos grupos
humanos. Nesse sentido, a Geografia, a Antropologia e também a História têm um significativo papel a
desempenhar na formação dos futuros cidadãos, entendendo-se estes quer como cidadãos de uma
nação, quer como cidadãos do mundo.
Em um mundo globalizado, em que culturas e processos políticos e econômicos parecem fugir ao
controle e ao alcance, a construção de identidades solidamente alicerçadas em conhecimentos
originados nas Ciências Humanas e na Filosofia constitui condição imprescindível ao prosseguimento da
vida social, evitando-se os riscos da fragmentação ou da perda de referências existenciais, responsável
por variadas formas de reação violentas e destrutivas.

- Compreender a sociedade, sua gênese e transformação, e os múltiplos fatores que nela


intervêm, como produtos da ação humana; a si mesmo como agente social; e aos processos
sociais como orientadores da dinâmica dos diferentes grupos de indivíduos.

A estética da sensibilidade transparece nesta competência no tanto que ela implica de ação produtiva.
A identidade humana como produtora de cultura e de história embasa as ações tanto individuais quanto
de grupos e essas ações estão circunscritas por essa consciência.
No conhecimento dos processos sociais, importa compreender o humano em uma perspectiva
intersubjetiva: como sujeito que realiza e se inscreve nos processos sócio históricos de forma autônoma,
mas também como sujeito envolto por uma trama social formada por outras subjetividades. Nesse
sentido, os fatos econômicos, jurídicos e políticos devem ser entendidos sob a mesma lógica que põe o
humano no centro dos processos sociais e não como fenômenos naturalizados e alheios à ação humana.
Isso implica dizer que uma lei ou uma decisão política não são abstrações produzidas por algum ente
metafísico, mas produtos concretos de agentes sociais.
A compreensão dos processos de constituição e transformação das sociedades implica a relativização
do tempo presente, evitando que se caia na “presentificação” absoluta, que gera tanto o descompromisso
com os processos sociais, quanto a desesperança diante do que nos foge ao controle. Há cerca de cento
e cinquenta anos, no Manifesto Comunista, Marx e Engels já se referiam ao impacto causado pela rapidez
e inexorabilidade das transformações na sociedade capitalista, na qual “tudo que é sólido desmancha no
ar”, gerando desconforto, insegurança e apreensão.

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- Compreender o desenvolvimento da sociedade como processo de ocupação de espaços
físicos e as relações da vida humana com a paisagem, em seus desdobramentos político-sociais,
culturais, econômicos e humanos.

A dimensão temporal, inscrita na memória que constrói a identidade coletiva e na dinâmica dos
processos sociais, completa-se na dimensão espacial, que territorializa os eventos e processos. Essa
dimensão espacial situa a ação humana em suas complexas relações com a paisagem natural, que é
culturalizada a cada momento de interação.
Os conhecimentos de Geografia e de Economia estão aqui apontados nas relações de produção e
apropriação de bens, que conformam as dimensões materiais da existência concreta do homem e geram
desdobramentos diversos sobre a vida em sociedade. Os processos de ação e controle dessas paisagens
implicam responsabilidades sociais, coletivas, que assegurem a existência comum e a sobrevivência
futura das comunidades humanas. Aqui, o diálogo interdisciplinar pode aproximar as Ciências Humanas
das Naturais, em reflexões conjugadas ou em óticas distintas sobre os mesmos problemas.

- Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas,


associando-as às práticas dos diferentes grupos e atores sociais, aos princípios que regulam a
convivência em sociedade, aos direitos e deveres da cidadania, à justiça e à distribuição dos
benefícios econômicos.

Nas perspectivas temporal e sociocultural das relações de produção e apropriação de bens, importa
compreender os processos passados e contínuos – bem como suas rupturas – em que essas relações
se dão e as variantes de cultura e de grupo, bem como as relações entre grupos, que lhes dão matizes
diversos.
Os diferentes contextos do trabalho produtivo devem ser dimensionados a par da estética da
sensibilidade, no agir e fazer sobre a natureza; da política da igualdade, na distribuição justa e equilibrada
dos trabalhos e dos produtos; e da ética da identidade, na responsabilidade social perante os mesmos
processos e produtos. A compreensão histórica e social dos processos produtivos deve orientar as
análises econômicas, políticas e jurídicas, no sentido de evitar que percam de vista a dimensão humana
e solidária necessária à convivência pacífica, justa e equânime em sociedade.
Entretanto, e justamente para propiciar que tais objetivos sejam atingidos, a aprendizagem das
Ciências Humanas deve atuar na identificação e denúncia de seus obstáculos, no entendimento de que
as práticas sociais envolvem inevitavelmente conflitos e contradições, os quais, quando mal
dimensionados, ameaçam o próprio convívio social.
O reconhecimento dessas tensões, porém, não deve conduzir os indivíduos e os grupos em que se
inserem a atitudes imobilistas nem fatalistas. Antes, deve proporcionar-lhes a consciência necessária que
possibilita ações de transformação e aperfeiçoamento da realidade social, na perspectiva da efetiva
construção da cidadania real.

- Traduzir os conhecimentos sobre a pessoa, a sociedade, a economia, as práticas sociais e


culturais em condutas de indagação, análise, problematização e protagonismo diante de
situações novas, problemas ou questões da vida pessoal, social, política, econômica e cultural.

A ética da identidade pressupõe uma ação consciente e reflexiva, embasada nos conhecimentos sobre
o homem e a sociedade. Referida no pensar e no agir, essa consciência traduz-se na capacidade de lidar
com situações novas, acionando-se os conhecimentos construídos, que são redirecionados para a
resolução de problemas. Isso vale tanto para as decisões pessoais e intransferíveis do cotidiano, quanto
para as grandes questões que afligem as comunidades e a humanidade como um todo.
A consciência histórica está presente na perspectiva da continuidade e da transformação, do processo
temporal direcional, porém fracionado por rupturas e novas possibilidades. A ação autônoma e refletida
sobre a realidade requer clareza quanto aos processos sociais e históricos, evitando o imobilismo cético
ou inseguro diante de novas situações. As tradições sociais, culturais, econômicas, políticas, jurídicas e
filosóficas, embora sejam referenciais, não devem levar o indivíduo a se conformar com o já visto, o já
conhecido, o já experimentado. Antes, devem impulsioná-lo à construção de alternativas, à reinvenção
dos processos e das atitudes, à superação das resistências à ação criativa, a fim de que, com a
consciência do passado e os pés no presente, o pensamento e a ação se projetem para o futuro.

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- Entender os princípios das tecnologias associadas ao conhecimento do indivíduo, da
sociedade e da cultura, entre as quais as de planejamento, organização, gestão e trabalho de
equipe, e associá-los aos problemas que se propõem resolver.

Entendendo-se a tecnologia não apenas sob o ponto de vista da produção industrial, mas também
sob a moderna ótica da comunicação e da organização produtiva, concebe-se a ideia de tecnologias
próprias às Ciências Humanas ou desenvolvidas a partir delas. É o caso das requeridas em processos
de planejamento e administração, no âmbito público ou privado, embasadas em conhecimentos
econômicos, geográficos, políticos e jurídicos, mas também históricos, sociológicos, antropológicos e
psicológicos. E ainda das tecnologias aplicadas a processos de obtenção e organização de informações,
tais como o tratamento de dados estatísticos, na Economia, na Demografia, na Sociologia e na História,
o rastreamento do espaço na Cartografia e as pesquisas de opinião apoiadas em critérios sociológicos e
psicológicos.

- Entender o impacto das tecnologias associadas às Ciências Humanas sobre sua vida pessoal,
os processos de produção, o desenvolvimento do conhecimento e a vida social.

As Ciências Humanas têm um importante papel na compreensão do significado das tecnologias para
as sociedades. Apontam tanto os processos sociais que levam os homens a buscarem respostas e
ferramentas para a resolução de problemas concretos, quanto avaliam o impacto que as tecnologias
promovem sobre essas mesmas sociedades.
Um exemplo disso diz respeito às concepções de tempo, que têm variado intensamente ao longo da
história, em função das tecnologias envolvidas na sua medição, como os relógios mecânicos ou
eletrônicos e os modernos cronômetros, que asseguram precisão em medidas muito curtas.
Esses recursos, desenvolvidos para atender necessidades no campo da produção econômica e da
circulação de mercadorias e informações, foram responsáveis por darem aos homens a sensação de
controle do tempo. Essa nova relação com o tempo, distinta das de épocas anteriores, interferiu
diretamente nas rotinas do cotidiano social, em contextos tão diversos quanto os do trabalho e do lazer.
A percepção social do tempo decorrente disso, por um lado, aproxima os homens, ao fixar referenciais
comuns. Por outro, os distancia, na apropriação individualizada que fazem, a exemplo dos relógios de
pulso, que, por serem portáteis, permitem que cada um organize seu próprio tempo. Na complexidade
das relações sociais, entretanto, nem todos os homens dispõem do tempo da mesma forma,
estabelecendo-se relações diferenciadas de maior ou menor liberdade nesse controle. Para alguns, o
relógio implica libertação; para outros, escravidão.
Da mesma forma como ocorreu historicamente com os relógios e o tempo, diferentes tecnologias
relacionadas às Ciências Humanas, como processos de planejamento, gestão e controle de informações,
foram aplicadas aos contextos da produção. Essas tecnologias, e não só aquelas diretamente envolvidas
com o manuseio de máquinas e ferramentas, têm sido responsáveis por transformações radicais nos
processos produtivos. Estamos nos referindo obviamente ao processo de transformação da produção
que levou à Revolução Industrial, enquanto processo contínuo de inovações tecnológicas. Além do
emprego de equipamentos cada vez mais sofisticados, o que tem garantido o aumento da produtividade
tem sido a introdução de novas formas de organização do trabalho, nos sistemas manufatureiro, fabril ou
“pós-industrial”, e na divisão do trabalho ou na gestão informatizada e cooperativa dos processos
produtivos.
Sem dúvida, esse processo de inovação permanente e fora de controle imediato traz sérias
consequências para a vida humana, a exemplo da inviabilidade de formas de produção artesanais para
suprir mercados amplos. A consequência mais drástica certamente é o desemprego. A compreensão do
impacto dessas tecnologias sobre o mundo do trabalho e a vida social é urgente no contexto em que
vivemos, de problemas de dimensões sempre crescentes, requerendo de todos reflexões e soluções
inovadoras.

- Entender a importância das tecnologias contemporâneas de comunicação e informação para


planejamento, gestão, organização e fortalecimento do trabalho de equipe.

As modernas estratégias de planejamento e ação coletiva vêm requerendo cada vez mais o emprego
de tecnologias de comunicação e informação, que se encarregam de coletar, processar, armazenar e
comunicar dados e informações. A interação resultante da combinação de informação e comunicação
age no sentido de dotar os processos de trabalho de caráter mais coletivo e menos especializado.

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Daí, a necessidade de serem desenvolvidas competências que permitam aos indivíduos aperfeiçoar a
organização do fazer produtivo, disseminando as instâncias decisórias e superando a fragmentação
excessiva, com vistas à construção de processos mais horizontais e dinâmicos, amparados no
compromisso e na participação comuns. Na base desses processos, encontram-se competências típicas
das Ciências Humanas, que envolvem a construção das identidades sociais responsáveis e solidárias.

- Aplicar as tecnologias das Ciências Humanas e Sociais na escola, no trabalho e em outros


contextos relevantes para sua vida.

Nos diversos contextos sociais em que as tecnologias são empregadas – a agência de um banco, a
estação ferroviária, a biblioteca, a escola, o trabalho –, são requeridas competências básicas que
assegurem seu entendimento como produtos originados e recombinados a partir de conhecimentos
científicos diversos e como processos a serem postos em ação, em momentos determinados, para
atender a necessidades pessoais e coletivas.
No contexto escolar, especificamente, a própria organização curricular sob uma orientação
interdisciplinar, explícita e consciente tanto para os educadores quanto para os estudantes, constitui uma
oportunidade privilegiada para o desenvolvimento de competências associadas às tecnologias das
Ciências Humanas. E o mesmo se pode dizer a respeito da utilização das tecnologias de informação e
comunicação para a construção de redes informatizadas interativas ou a utilização das já existentes, a
fim de propiciar a troca de informações ou o gerenciamento coletivo de projetos de estudo.
Sob a ótica do desenvolvimento econômico, o domínio ativo das tecnologias aplicáveis aos contextos
do trabalho é tarefa mais que necessária para a superação da situação de desvantagem em que
sociedades emergentes como a brasileira se encontram. No aspecto social, a difusão do domínio dessas
tecnologias, como estratégia intrínseca à política da igualdade, propicia aos indivíduos meios para
amenizarem as consequências negativas que o próprio processo de transformação econômica provoca.
Nesse sentido, é preciso que o fortalecimento do trabalho de equipe decorrente da aplicação dessas
tecnologias não resulte somente em vantagens estritamente econômicas, nem permita que a
administração, quer no âmbito público, quer no privado, se constitua em um fim em si mesmo. A interação
e a cooperação resultantes das novas tecnologias de informação e comunicação devem contribuir
igualmente para o aperfeiçoamento das formas de convívio social. E, para tanto, é necessário, é
imperativo, que se assegure o acesso a elas a um número crescente de indivíduos e grupos sociais, na
perspectiva da igualdade. Afastam-se, com isso, os temores de uma sociedade tecnológica a serviço da
exploração e alienação do homem, na qual o monopólio das tecnologias cumpre estratégias de controle
político, social, econômico e cultural.
A presença de uma educação tecnológica no Ensino Médio como um todo e, em particular, na área
de Ciências Humanas, propicia aos estudantes a construção e a apropriação de um significativo
instrumental tanto de análise quanto de ação sobre os diversos aspectos da vida em sociedade. Os
conhecimentos envolvidos na área, por seu caráter intrinsecamente humanista, agem no sentido de
despir as novas tecnologias de sua aparente artificialidade e distanciamento diante do humano. Evitam-
se, com isso, os riscos de uma naturalização das tecnologias e promove-se a culturalização de sua
compreensão. E, desta forma, assegura-se um papel novo para a aprendizagem em Ciências Humanas
na escola básica: o de humanizar o uso das novas tecnologias, recolocando o homem no centro dos
processos produtivos e sociais.
Procuramos agrupar as competências básicas e específicas da área, que foram acima descritas, com
base em três grandes campos de competências de caráter geral que se aplicam às três áreas da
organização curricular do Ensino Médio, compreendidas a partir de sua essência enquanto campos de
conhecimento. O objetivo desse rearranjo é auxiliar as equipes escolares na tarefa de construir uma
proposta curricular de caráter efetivamente interdisciplinar, cruzando os diversos conhecimentos
específicos. Assim, temos competências ligadas a representação e comunicação, investigação e
compreensão e contextualização sociocultural.
As competências de representação e comunicação apontam as linguagens como instrumentos de
produção de sentido e, ainda, de acesso ao próprio conhecimento, sua organização e sistematização.
As competências de investigação e compreensão apontam os conhecimentos científicos, seus
diferentes procedimentos, métodos e conceitos, como instrumentos de intervenção no real e de solução
de problemas.
As competências de contextualização sociocultural apontam a relação da sociedade e da cultura, em
sua diversidade, na constituição do significado para os diferentes saberes.

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Representação e comunicação
- Entender a importância das tecnologias contemporâneas de comunicação e informação para
planejamento, gestão, organização e fortalecimento do trabalho de equipe.

Investigação e compreensão
- Compreender os elementos cognitivos, afetivos, sociais e culturais que constituem a identidade
própria e a dos outros.
- Compreender a sociedade, sua gênese e transformação, e os múltiplos fatores que nela intervêm,
como produtos da ação humana; a si mesmo como agente social; e os processos sociais como
orientadores da dinâmica dos diferentes grupos de indivíduos.
- Entender os princípios das tecnologias associadas ao conhecimento do indivíduo, da sociedade e da
cultura, entre as quais as de planejamento, organização, gestão, trabalho de equipe, e associá-las aos
problemas que se propõem resolver.

Contextualização sociocultural
- Compreender o desenvolvimento da sociedade como processo de ocupação de espaços físicos e
as relações da vida humana com a paisagem, em seus desdobramentos políticos, culturais, econômicos
e humanos.
- Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas,
associando-as às práticas dos diferentes grupos e atores sociais, aos princípios que regulam a
convivência em sociedade, aos direitos e deveres da cidadania, à justiça e à distribuição dos benefícios
econômicos.
- Traduzir os conhecimentos sobre a pessoa, a sociedade, a economia, as práticas sociais e culturais
em condutas de indagação, análise, problematização e protagonismo diante de situações novas,
problemas ou questões da vida pessoal, social, política, econômica e cultural.
- Entender o impacto das tecnologias associadas às Ciências Humanas sobre sua vida pessoal, os
processos de produção, o desenvolvimento do conhecimento e a vida social.
- Aplicar as tecnologias das Ciências Humanas e Sociais na escola, no trabalho e em outros contextos
relevantes para sua vida.

Conhecimentos de HISTÓRIA

- Por que ensinar História

A História, enquanto disciplina escolar, ao se integrar à área de Ciências Humanas e suas Tecnologias,
possibilita ampliar estudos sobre as problemáticas contemporâneas, situando-as nas diversas
temporalidades, servindo como arcabouço para a reflexão sobre possibilidades e/ou necessidades de
mudanças e/ou continuidades.
A integração da História com as demais disciplinas que compõem as denominadas Ciências Humanas
permite sedimentar e aprofundar temas estudados no Ensino Fundamental, redimensionando aspectos
da vida em sociedade e o papel do indivíduo nas transformações do processo histórico, completando a
compreensão das relações entre a liberdade (ação do indivíduo que é sujeito da história) e a necessidade
(ações determinadas pela sociedade, que é produto de uma história).
O papel das disciplinas que compõem a área de Ciências Humanas, para esse nível de ensino e o
momento histórico que se está vivendo, deve ser entendido em sua dimensão mais ampla, envolvendo a
formação de uma cultura educacional. Vive-se hoje em uma sociedade marcada pelo domínio do mito do
consumo e pelas tecnologias, com ritmos de transformações aparentemente muito acelerados e
informações provenientes de vários espaços, embora predominando os meios audiovisuais, e ainda pela
fragmentação do conhecimento sobre os indivíduos e a vida social.
As concepções políticas e as referentes às ações humanas nos espaços público e privado, assim
como as relações homem-natureza, estão sendo modificadas. Os paradigmas científicos que
sustentavam as bases fundamentais dessas concepções estão sendo questionados e colocados em
cheque pelas realidades que glorificam o novo tecnológico, mas não solucionam problemas antigos, como
as desigualdades, preconceitos, dificuldades de percepção do “outro” e as diversas formas de
convivência e de estabelecimento de relações sociais. A difusão da racionalidade da ciência não
acarretou o desaparecimento de formas de representação do mundo e do homem submetidas a dogmas
e misticismos variados, permanecendo crenças religiosas diversas, muitas vezes contraditórias e
paradoxais diante da presença cotidiana das tecnologias.

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Tais constatações sobre as incertezas e mitos vividos pelos jovens da atual geração implicam delimitar
com maior precisão o papel educativo da área, no sentido de possibilitar um Ensino Médio de caráter
humanista capaz de impedir a constituição de uma visão apenas utilitária e profissional das disciplinas
escolares.
No que se refere ao conhecimento histórico escolar, os currículos atuais são indicativos das
transformações paradigmáticas do campo que envolve o conhecimento histórico como um todo. As
aproximações entre a História ensinada e a produção acadêmica têm se intensificado a partir do final dos
anos setenta, estabelecendo relações muitas vezes profícuas, mas que apontam para as dificuldades de
consensos e ou definições simplificadas sobre os conteúdos e métodos de ensino.
O debate historiográfico tem sido intenso, com abordagens diversas sobre antigos temas e inclusão
de novos objetos que constituem as múltiplas facetas da produção humana e que se sustentam em uma
pluralidade de fundamentos teóricos e metodológicos.
A história social e cultural tem se imposto de maneira a rearticular a história econômica e a política,
possibilitando o surgimento de vozes de grupos e de classes sociais antes silenciados. Mulheres,
crianças, grupos étnicos diversos têm sido objeto de estudos que redimensionam a compreensão do
cotidiano em suas esferas privadas e políticas, a ação e o papel dos indivíduos, rearticulando a
subjetividade ao fato de serem produto de determinado tempo histórico no qual as conjunturas e as
estruturas estão presentes. A produção historiográfica, no momento, busca estabelecer diálogos com o
seu tempo, reafirmando o adágio que “toda história é filha do seu tempo”, mas sem ignorar ser fruto de
muitas tradições de pensamento.
A pesquisa histórica esforça-se atualmente por situar as articulações entre a micro e a macro história,
buscando nas singularidades dos acontecimentos as generalizações necessárias para a compreensão
do processo histórico. Na articulação do singular e do geral recuperam-se formas diversas de registros e
ações humanas tanto nos espaços considerados tradicionalmente os de poder, como o do Estado e das
instituições oficiais, quanto nos espaços privados das fábricas e oficinas, das casas e das ruas, das festas
e das sublevações, das guerras entre as nações e dos conflitos diários para sobrevivência, das
mentalidades em suas permanências de valores e crenças e das transformações advindas com a
modernidade da vida urbana em seu aparato tecnológico.

- O que e como ensinar em História

O estudo de novos temas, considerando a pluralidade de sujeitos em seus confrontos, alterando


concepções calcadas apenas nos “grandes eventos” ou nas formas estruturalistas baseadas nos modos
de produção, por intermédio dos quais desaparecem de cena homens e mulheres de “carne e osso”, tem
redefinido igualmente o tratamento metodológico da pesquisa. A investigação histórica passou a
considerar a importância da utilização de outras fontes documentais, além da escrita, aperfeiçoando
métodos de interpretação que abrangem os vários registros produzidos. A comunicação entre os homens,
além de escrita, é oral, gestual, sonora e pictórica.
Nesse aspecto, os estudos de inspiração marxista, que privilegiavam inicialmente as análises das
infraestruturas econômicas e das lutas de classe, passaram a incluir pesquisas referentes à cultura, às
ideias e aos valores cotidianos, ao simbólico presentes nas experiências das classes sociais e nas formas
de mediação entre elas. E passaram a se interessar também pela linguagem como uma referência de
análise dos discursos políticos e do processo de construção da consciência de classe ou de identidades.
Ao lado desses estudos, a Nova História inspirada na e continuadora da Escola dos “Annales”, tem
igualmente contribuído para as indagações relativas ao funcionamento das sociedades, de maneira a
integrar as multiplicidades temporais, espaciais, sociais, econômicas e culturais presentes em uma
coletividade, destacando investigações sobre a história das “mentalidades” na interpretação da realidade
e das práticas sociais. Nessa vertente, as representações do mundo social passaram a ser analisadas
como integrantes da própria realidade social e possibilitaram uma redefinição da história cultural.
A aproximação entre a Antropologia e a História tem sido importante, dando origem a abordagens
históricas que consideram a cultura não apenas em suas manifestações artísticas, mas nos ritos e festas,
nos hábitos alimentares, nos tratamentos das doenças, nas diferentes formas que os vários grupos
sociais, ao longo dos séculos, têm criado para se comunicar, como a dança, o livro, o rádio, o cinema, as
caravelas, os aviões, a Internet, os tambores e a música.
Metodologias diversas foram sendo introduzidas, redefinindo o papel da documentação. À objetividade
do documento – aquele que fala por si mesmo – se contrapôs sua subjetividade – produto construído e
pertencente a uma determinada história. Os documentos deixaram de ser considerados apenas o alicerce
da construção histórica, sendo eles mesmos entendidos como parte dessa construção em todos seus

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momentos e articulações. Passou a existir a preocupação em localizar o lugar de onde falam os autores
dos documentos, seus interesses, estratégias, intenções e técnicas.
Na transposição do conhecimento histórico para o nível médio, é de fundamental importância o
desenvolvimento de competências ligadas à leitura, análise, contextualização e interpretação das
diversas fontes e testemunhos das épocas passadas – e também do presente. Nesse exercício, deve-se
levar em conta os diferentes agentes sociais envolvidos na produção dos testemunhos, as motivações
explícitas ou implícitas nessa produção e a especificidade das diferentes linguagens e suportes através
dos quais se expressam. Abre-se aí um campo fértil às relações interdisciplinares, articulando os
conhecimentos de História com aqueles referentes à Língua Portuguesa, à Literatura, à Música e a todas
as Artes, em geral.
Na perspectiva da educação geral e básica, enquanto etapa final da formação de cidadãos críticos e
conscientes, preparados para a vida adulta e a inserção autônoma na sociedade, importa reconhecer o
papel das competências de leitura e interpretação de textos como uma instrumentalização dos indivíduos,
capacitando-os à compreensão do universo caótico de informações e deformações que se processam no
cotidiano. Os alunos devem aprender, conforme nos lembra Pierre Vilar, a ler nas entrelinhas. E esta é a
principal contribuição da História no nível médio.
A diversidade de tradições historiográficas e a pluralidade de vinculações teóricas, no entanto, ao
contrário de indicarem crise, esgotamento ou impasses, apontam para a área da pesquisa e do ensino
de História, muitas alternativas válidas, além da viabilidade de criações pedagógicas. Desta forma, é
importante considerar as diferentes dimensões dos estudos históricos, na medida em que possibilitam
forjar teorias de ensino e aprendizagem.
Nessa perspectiva, a História para os jovens do Ensino Médio possui condições de ampliar conceitos
introduzidos nas séries anteriores do Ensino Fundamental, contribuindo substantivamente para a
construção dos laços de identidade e consolidação da formação da cidadania.
O ensino de História pode desempenhar um papel importante na configuração da identidade, ao
incorporar a reflexão sobre a atuação do indivíduo nas suas relações pessoais com o grupo de convívio,
suas afetividades, sua participação no coletivo e suas atitudes de compromisso com classes, grupos
sociais, culturas, valores e com gerações do passado e do futuro.
Além de consubstanciar algumas das noções básicas introduzidas nas séries anteriores, que
contribuem e fornecem os fundamentos para a construção da identidade, tais como a de diferença e de
semelhança, o ensino de História para as séries do nível médio amplia e consolida as noções de tempo
histórico.
A percepção da diferença (o “outro”) e da semelhança (“nós”) varia conforme a cultura e o tempo e
depende de comportamentos, experiências e valores pessoais e coletivos. O convívio entre os grupos
sociais tem gerado “atitudes de identificação, distinção, equiparação, segregação, submissão,
dominação, luta ou resignação, entre aqueles que se consideravam iguais, inferiores ou superiores,
próximos ou distantes, conhecidos ou desconhecidos, compatriotas ou estrangeiros. Hoje em dia, a
percepção do ‘outro’ e do ‘nós’ está relacionada à possibilidade de identificação das diferenças e,
simultaneamente, das semelhanças. A sociedade atual solicita que se enfrente a heterogeneidade e que
se distinga as particularidades dos grupos e das culturas, seus valores, interesses e identidades. Ao
mesmo tempo, ela demanda que o reconhecimento das diferenças não fundamente relações de
dominação, submissão, preconceito ou desigualdade.”
O tempo histórico pode ser compreendido em toda sua complexidade, ultrapassando sua apreensão
a partir das vivências pessoais, psicológicas ou fisiológicas. No nível médio de ensino, é preciso
igualmente que o tempo histórico seja entendido como objeto da cultura, como criação de povos em
diversos momentos e espaços. É da cultura que nascem concepções de tempo tão diferenciadas como
o tempo mítico, escatológico, cíclico, cronológico, noções sociais criadas pelo homem para
representar as temporalidades naturais, expressas nos tempos geológico e astronômico. Não se pode
esquecer, ainda, que mesmo o tempo natural reveste-se de um caráter cultural, quando apropriado pela
Geologia e pela Astronomia, enquanto ciências socialmente criadas.
O tempo construído pelas diversas culturas é muitas vezes expresso nos mitos, destacando-se os
que se referem às origens do universo e do homem, e nas religiões, que ultrapassam os tempos passado
e presente e determinam o tempo de possíveis vidas futuras, constituindo o tempo salvacionista ou
escatológico. As sociedades agrárias organizaram a vida cotidiana pelo tempo cíclico, fixado pelos
momentos da plantação e da colheita e pelas estações que se repetem anualmente, e vincularam o tempo
cotidiano, com seus ritmos de mudanças, ao astronômico, criando calendários, referenciando as marcas
dos acontecimentos diários e daqueles considerados significativos para a memória coletiva.
Pode-se, então, compreender o tempo cronológico como instrumento de marcação e datação e
entender como a cultura ocidental cristã criou seu próprio calendário. Sobre o calendário gregoriano, que

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marca os nossos tempos, é importante considerar as formas como ele está organizado: “O calendário
gregoriano pode ser representado por uma linha contínua e infinita. Envolve a compreensão de que cada
um dos pontos dessa linha é distinto dos outros e que cada ponto corresponde a uma datação. As
datações são, assim, distintas umas das outras, especificando um dia, um mês e um ano. Apesar dos
números dos dias e os nomes dos meses se repetirem de um ano para o outro (com base em
organizações cíclicas), a numeração dos anos nunca se repete (concepção linear), o que torna cada data
um momento único e sem possibilidade de repetição no tempo.”
A contribuição mais substantiva da aprendizagem da História é propiciar ao jovem situar-se na
sociedade contemporânea para melhor compreendê-la. Como decorrência direta disso está a
possibilidade efetiva do desenvolvimento da capacidade de apreensão do tempo enquanto conjunto de
vivências humanas, em seu sentido completo.
O tempo histórico, compreendido nessa complexidade, utiliza o tempo cronológico, institucionalizado,
que possibilita referenciar o lugar dos momentos históricos em seu processo de sucessão e em sua
simultaneidade. Fugindo à cronologia meramente linear, procura identificar também os diferentes níveis
e ritmos de durações temporais. A duração torna-se, nesse nível de ensino e nas faixas etárias por ele
abarcadas, a forma mais consubstanciada de apreensão do tempo histórico, ao possibilitar que alunos
estabeleçam as relações entre continuidades e descontinuidades. A concepção de duração possibilita
compreender o sentido das revoluções como momentos de mudanças irreversíveis da história e favorece
ainda que o aluno apreenda, de forma dialética, as relações entre presente-passado-presente,
necessárias à compreensão das problemáticas contemporâneas, e entre presente-passado-futuro, que
permitem criar projeções e utopias.
Pela compreensão da duração pode-se, ainda, entender, de maneira mais efetiva, o humanismo,
situando as relações entre tempo histórico e tempo da natureza. O momento da criação do homem tem
sido determinado, como no caso da sociedade ocidental cristã, por textos sagrados. O livro do Gênesis
determina que o homem surgiu na face da Terra há aproximadamente seis mil anos e esta datação,
mesmo relativizada após as teorias evolucionistas e o desenvolvimento dos trabalhos arqueológicos,
situa a visão antropocêntrica da história que estabelece, ainda fortemente, a divisão do antes e depois
da escrita como marco decisivo para a compreensão do passado da humanidade. Quando, no entanto,
situamos o homem numa escala planetária, da formação das paisagens, das plantas e outros animais,
pensando no “tempo da natureza”, os referenciais se transformam. Percebemos o “lugar” que o homem
ocupa na história do planeta em uma outra dimensão temporal.
O tempo geológico determina outras formas de referenciar o tempo social. Ao situarmos a idade da
Terra em aproximadamente 4,5 bilhões de anos, podemos entender que a história das sociedades
humanas corresponde a uma pequena fração de tempo da história do planeta. A compreensão da escala
de tempo pode situar o papel do homem no processo de transformação da natureza, assim como
dimensionar, para além do tempo presente, os limites e o poder das ações humanas. Dentre os aspectos
importantes decorrentes da abordagem dessas temporalidades, destaca-se a reciprocidade das
transformações promovidas pela natureza sobre a vida dos homens e como estes mudam os ritmos de
tempo da natureza.
Ao se repensar o tempo histórico tendo como referência as relações homem-natureza, pode-se ainda
avançar na compreensão das diversas temporalidades vividas pela sociedade e nas formulações das
periodizações e marcos de rupturas. Assim como defendia Lévi-Strauss, as grandes transformações
irreversíveis da sociedade podem ser basicamente divididas em dois grandes períodos. O primeiro
momento desse longo processo foi a revolução agrícola, com a criação da agricultura, responsável por
mudanças significativas nas relações entre os homens, a terra e as plantas e animais. O segundo grande
momento foi o da revolução industrial dos séculos XVIII e XIX, que introduziu relações entre o homem
e os recursos naturais em escala sem precedentes, impondo novo ritmo no processo de transformações
e de permanências. Esses dois momentos correspondem à constituição de novas formas de os homens
organizarem o tempo, com novos ritmos, e de se organizarem no seu tempo cotidiano: ao longo desse
processo, o tempo da natureza foi sendo substituído pelo tempo da fábrica.
Os ritmos da duração, conforme descritos por Fernand Braudel, permitem identificar a velocidade
em que as mudanças ocorrem e como nos acontecimentos estão inseridas várias temporalidades: a curta
duração, a dos acontecimentos breves, com data e lugar determinados; na média duração, no decorrer
da qual se dão as conjunturas, tendências políticas e/ou econômicas, que, por sua vez, se inserem em
processos de longa duração, com permanências e mudanças que parecem imperceptíveis. É o ritmo das
estruturas, tais como a constituição de amplos sistemas produtivos e de relações de trabalho, as formas
de organização familiar e dos sistemas religiosos, a constituição de percepções e relações ecológicas
estabelecidas na relação entre o homem e a natureza.

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Podemos identificar os diferentes ritmos da duração pelo exemplo da escravidão africana brasileira.
A Abolição da Escravidão ocorreu no dia 13 de maio de 1888, na capital do Brasil. Trata-se de um
acontecimento breve, datado e localizado no espaço, que se explica pela conjuntura econômica da
expansão da cafeicultura de exportação com necessidades urgentes de ampliação de mão-de-obra e
pela conjuntura política e social que forçava rearticulacões no grupo do poder monárquico e criava
oposições ao regime, principalmente pelos republicanos. Mas, para compreender a abolição da
escravidão e a forma como ela ocorreu, torna-se necessário situá-la no processo estrutural, em
temporalidades mais longas: no processo de mudanças do sistema capitalista, desde sua constituição
histórica, e na longa duração do racismo. Este explica não só a permanência até hoje de preconceitos e
discriminações em relação às populações negras e mestiças, mas também a origem da própria
escravidão, baseada em conceitos de raça superior e inferior criados por sociedades que pretendiam
dominar e explorar outros grupos humanos. A escravidão não cria o racismo, mas o tem como
pressuposto.
A apreensão das noções de tempo histórico em suas diversidades e complexidades pode favorecer
a formação do estudante como cidadão, aprendendo a discernir os limites e possibilidades de sua
atuação, na permanência ou na transformação da realidade histórica em que vive.
A formação de “cidadãos”, é importante ressaltar, não ocorre sem reflexões sobre seu significado. Do
ponto de vista da formação histórica do estudante, a questão da cidadania envolve escolhas pedagógicas
específicas para que ele possa conhecer e distinguir diferentes concepções históricas acerca dela,
delineadas em diferentes épocas. O significado, por exemplo, que a sociedade brasileira atual tem de
cidadania não é o mesmo que tinham os atenienses da época de Péricles, assim como não é o mesmo
que possuíam os revolucionários franceses de 1789. O sentido que a palavra assume para os brasileiros
atualmente, de certa maneira, inclui os demais sentidos historicamente localizados, mas ultrapassa os
seus contornos, incorporando problemáticas e anseios individuais, de classes, de gêneros, de grupos
sociais, locais, regionais, nacionais e mundiais, que projetam a cidadania enquanto prática e enquanto
realidade histórica.
A compreensão de cidadania em uma perspectiva histórica, como resultado de lutas, confrontos e
negociações, e constituída por intermédio de conquistas sociais de direitos, pode servir como referência
para a organização dos conteúdos da disciplina histórica. A partir de problemáticas contemporâneas, que
envolvem a constituição da cidadania, pode-se selecionar conteúdos significativos para a atual
geração. Identificar e selecionar conteúdos significativos são tarefas fundamentais dos professores, uma
vez que se constata a evidência de que é impossível ensinar “toda a história da humanidade”, exigindo a
escolha de temas que possam responder às problemáticas contundentes vividas pela nossa sociedade,
tais como as discriminações étnicas e culturais, a pobreza e o analfabetismo.
A organização de conteúdos por temas requer cuidados específicos com a escolha dos métodos. O
estudo de temas articulado à apropriação de conceitos ocorre por intermédio de métodos oriundos das
investigações históricas, desenvolvendo a capacidade de extrair informações das diversas fontes
documentais tais como textos escritos, iconográficos, musicais. A apropriação do método da pesquisa
historiográfica, reelaborada em situações pedagógicas, possibilita interpretar documentos e estabelecer
relações e comparações entre problemáticas atuais e de outros tempos. Torna-se necessário escolher
métodos que auxiliem a capacidade de relativizar as próprias ações e as de outras pessoas no tempo e
no espaço.
Dessa maneira, trabalhar com temas variados em épocas diversas, de forma comparada e a partir de
diferentes fontes e linguagens, constitui uma escolha pedagógica que pode contribuir de forma
significativa para que os educandos desenvolvam competências e habilidades que lhes permitam
apreender as várias durações temporais nas quais os diferentes sujeitos sociais desenvolveram ou
desenvolvem suas ações, condição básica para que sejam identificadas as semelhanças, diferenças,
mudanças e permanências existentes no processo histórico.
O trabalho permanente com pesquisas orientadas a partir da sala de aula constitui importante
alternativa para viabilizar essas sugestões pedagógicas. Sugestões que pretendem desenvolver no aluno
a capacidade de refletir sobre o tempo presente também como processo. Entender o atual estágio
tecnológico requer, por exemplo, que o aluno entenda o que é a linguagem escrita e seu papel social,
situando-a nos diversos suportes usados pelos homens para criá-la e dela se apropriar, tais como papiros,
pedras, placas de barro, papel, livros e computadores.
Finalmente, é necessário frisar a contribuição da história para as novas gerações, considerando-se
que a sociedade atual vive um presente contínuo, que tende a esquecer e anular a importância das
relações que o presente mantém com o passado. Nos dias atuais, a cultura capitalista impregnada de
dogmas consumistas fornece uma valorização das mudanças no moderno cotidiano tecnológico e uma
ampla difusão de informações sempre apresentadas como novas e com explicações simplificadas que

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as reduzem aos acontecimentos imediatos. Um compromisso fundamental da História encontra-se na
sua relação com a Memória, livrando as novas gerações da “amnésia social” que compromete a
constituição de suas identidades individuais e coletivas.
O direito à memória faz parte da cidadania cultural e revela a necessidade de debates sobre o
conceito de preservação das obras humanas. A constituição do Patrimônio Cultural e sua importância
para a formação de uma memória social e nacional sem exclusões e discriminações é uma abordagem
necessária a ser realizada com os educandos, situando-os nos “lugares de memória” construídos pela
sociedade e pelos poderes constituídos, que estabelecem o que deve ser preservado e relembrado e o
que deve ser silenciado e “esquecido”.
Introduzir na sala de aula o debate sobre o significado de festas e monumentos comemorativos, de
museus, arquivos e áreas preservadas, permeia a compreensão do papel da memória na vida da
população, dos vínculos que cada geração estabelece com outras gerações, das raízes culturais e
históricas que caracterizam a sociedade humana. Retirar os alunos da sala de aula e proporcionar-lhes
o contato ativo e crítico com as ruas, praças, edifícios públicos e monumentos constitui excelente
oportunidade para o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa.
Ao sintetizar as relações entre as durações e a constituição da memória e da identidade sociais, o
ensino de História, desenvolvido por meio de atividades específicas com as diferentes temporalidades,
especialmente da conjuntura e da longa duração, pode favorecer a reavaliação dos valores do mundo de
hoje, a distinção de diferentes ritmos de transformações históricas, o redimensionamento do presente na
continuidade com os processos que o formaram e a construção de identidades com as gerações
passadas.

Competências e habilidades a serem desenvolvidas em História

Representação e comunicação

- Criticar, analisar e interpretar fontes documentais de natureza diversa, reconhecendo o papel das
diferentes linguagens, dos diferentes agentes sociais e dos diferentes contextos envolvidos em sua
produção.
- Produzir textos analíticos e interpretativos sobre os processos históricos, a partir das categorias e
procedimentos próprios do discurso historiográfico.

Investigação e compreensão

- Relativizar as diversas concepções de tempo e as diversas formas de periodização do tempo


cronológico, reconhecendo-as como construções culturais e históricas.
- Estabelecer relações entre continuidade/permanência e ruptura/transformação nos processos
históricos.
- Construir a identidade pessoal e social na dimensão histórica, a partir do reconhecimento do papel
do indivíduo nos processos históricos simultaneamente como sujeito e como produto dos mesmos.
- Atuar sobre os processos de construção da memória social, partindo da crítica dos diversos “lugares
de memória” socialmente instituídos.

Contextualização sociocultural

- Situar as diversas produções da cultura – as linguagens, as artes, a filosofia, a religião, as ciências,


as tecnologias e outras manifestações sociais – nos contextos históricos de sua constituição e
significação.
- Situar os momentos históricos nos diversos ritmos da duração e nas relações de sucessão e/ou de
simultaneidade.
- Comparar problemáticas atuais e de outros momentos históricos.
- Posicionar-se diante de fatos presentes a partir da interpretação de suas relações com o passado.

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Questões148

01 (IF-PR – Técnico em assuntos educacionais – CETRO) Os conteúdos referentes à história e à


cultura afro- brasileiras e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o
currículo escolar preconizado na Lei nº 11.645/2008, a qual indica que esse conteúdo deve ser
ministrado, em especial, nas áreas de

(A) Arte e História Geral.


(B) Literatura e História brasileiras, apenas.
(C) Arte, Literatura, História e Sociologia.
(D) Sociologia, Filosofia, Literatura e História brasileiras.
(E) Literatura e História brasileiras e Arte.

02. (SEDU-ES – Professor – História - FCC) A Nova História problematizou a concepção de


documento histórico endossada pelos historiadores positivistas pois estes

(A) partiam do princípio de que citando documentos oficiais, o pesquisador poderia fazer uma livre
interpretação do passado.
(B) valorizavam documentos produzidos sem a chancela da Igreja ou do Estado, acreditando serem
estes mais fidedignos.
(C) hierarquizavam os documentos como fontes “primárias” e “secundárias”, abandonando os últimos.
(D) acreditavam que os documentos eram fontes neutras e que permitiam conhecer a verdade
incontestável sobre o passado.
(E) defendiam que, após serem tabulados e interpretados, os documentos deveriam ser descartados.

Gabarito

01.E / 02.D

Comentários

01 – E
Segundo as definições sugeridas: “Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos
povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas
áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.”

02 – D
Baseados principalmente em documentos oficiais, os positivistas não enxergavam a possível
modificação ou natureza que poderia ser tendenciosa de acordo com os autores dos documentos. Ao
homem caberia apenas o papel de coletar as informações presentes nos documentos.

148
Referência: , https://www.qconcursos.com/questoes-de-
concursos/questoes/search?utf8=%E2%9C%93&todas=on&q=hist%C3%B3ria&instituto=&organizadora=&prova=&ano_publicacao=&cargo=&escolaridade=&modal
idade=&disciplina=182&assunto=&esfera=&area=&nivel_dificuldade=&periodo_de=&periodo_ate=&possui_gabarito_comentado_texto_e_video=&possui_comentari
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