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O Misantropo, de Menandro.

Produção de Teatro Maizum, com encenação de Silvina


Pereira, de 6 a 23 de Julho de 2017, no Museu de Lisboa – Teatro Romano
Autor(es): Sousa, Ana Alexandra Alves de
Publicado por: Imprensa da Universidade de Coimbra
URL URI:http://hdl.handle.net/10316.2/43524
persistente:
Accessed : 21-Dec-2018 01:30:45

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Imprensa da Universidade de Coimbra


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O Misantropo, de Menandro. Produção de Teatro Maizum, com


encenação de Silvina Pereira, de 6 a 23 de Julho de 2017, no Museu
de Lisboa – Teatro Romano

A comédia Díscolo, do grego Menandro, foi apresentada em 316 aC,


no festival das Leneias, que decorria em Janeiro, e terá granjeado o primeiro
prémio. Hoje é no Museu de Lisboa –Teatro Romano que podemos assistir
à peça, produzida pelo Teatro Maizum, com encenação de Silvina Pereira.
A peça integra-se no Festival Internacional de Teatro Clássico de Mérida,
que decorre entre 5 de Julho e 27 de Agosto, o qual apresenta na cidade
espanhola, nesta sua 63.ª edição, as seguintes peças: Oresteia, de Ésquilo;
Calígula, de Albert Camus; Troianas, de Eurípides, numa versão de Alberto
Conejero; Séneca, de Antonio Gala; A bela Helena, de Jacques Offenbach;
A comédia das mentiras, de Pep Anton Gómez e Sergi Pomermayer, a partir
da obra de Plauto; e Viriato, de Florián Recio.
O Teatro Romano de Lisboa construído e reconstruído no séc. I dC,
a meia encosta, na vertente sul da colina do Castelo, com capacidade
para cerca de quatro mil espectadores, foi abandonado no séc. IV dC.
Permaneceu soterrado até à reconstrução da cidade de Lisboa, em 1798.
Apesar dos constrangimentos impostos pela urbanização densa do local,
que inviabiliza descobrir mais o monumento, foi notável o trabalho feito
num espaço verdadeiramente difícil para acomodar uma audiência. Bem
instalados, os espectadores conseguem até imaginar, graças a uma tela
convenientemente posicionada, o que seriam as bancadas que jazem sob
as casas circundantes.
Em 2016, pela mesma altura (entre 7 e 17 de Julho), neste mesmo local,
com a mesma parceria (Teatro Maizum e Teatro Romano) pudemos assistir
a uma peça da Comédia Antiga, Paz, de Aristófanes. Um ano depois, entre 6
e 23 de Julho de 2017, a escolha recaiu sobre uma peça da Comédia Nova,
a qual tem particular relevância por ser a mais completa e por isso a que
melhor permite conhecer este tipo de comédia, que tão grande influência
teve entre os cultores latinos do género. Em ambos os casos, a versão do

Humanitas 71 (2018) 141-144


142 Recensões

texto é da autoria da Doutora Maria de Fátima Sousa e Silva, catedrática


da Universidade de Coimbra e especialista em Aristófanes.
O título, sob o qual a companhia apresenta a comédia de Menandro,
reproduz o que Molière escolheu para a peça que escreveu na esteira da
peça grega: O Misantropo. No entanto, em seiscentos (1666), o imperfeito
conhecimento de uma peça que só em meados do século xx foi encontrada
(Papyrus Bodmer IV, Cologny-Genève, 1958) levou a diferenças inevitáveis
no tratamento do tema do homem que odeia o género humano.
De caras empoadas de branco a imitar as máscaras teatrais da Anti-
guidade, onze actores, sobem e descem, movimentando-se pelas pedras
do teatro, num notável aproveitamento da cena. Da casa do misantropo,
mal-humorado, ao poço, onde o protagonista quase se afoga, na sua vã
afirmação de auto-suficiência, as pedras tornam prescindíveis mecanismos
e cenários sofisticados. Ninguém duvida da existência do poço, imaginado
nas pedras que ocultam a personagem. Inequívoca é também a sua profun-
didade. Atestam-na a extensão das cordas desenroladas pelos salvadores
Sóstrato e Górgias e o andar arrastado do protagonista Cnémon quando
dele emerge.
Escrita depois da morte de Alexandre (323 aC), na época de governação
do diádoco Cassandro (305-297 aC), a peça não veicula ideias políticas,
mas lições intemporais: a importância da solidariedade humana, evidente
no salvamento do misantropo, e a prevalência vácua da riqueza, quando
discriminatória dos mais pobres, como explica Górgias a seu pai, quando o
tenta demover a aceitar o enlace com a filha do velho Cnémon. De facto, é a
ideia de igualdade entre os homens e o valor do íntegro carácter do homem
o que a peça pretende realçar e celebrar com o lieto fine das duplas bodas
celebradas. Os espectadores são alegremente integrados na cena final com
uma distribuição dos frutos que torna as suas palmas um aplauso à festa
nupcial e uma homenagem à probidade do ser humano.

Ana Alexandra Alves de Sousa


alexandra.a.sousa@sapo.pt
Departamento de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa

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