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A Primeira Guerra Mundial representou uma crise teórica para o marxismo, pois este esperava
que os trabalhadores se unissem contra seus empregadores, mas o que aconteceu foi
exatamente o contrário: os trabalhadores se uniram uns contra os outros. A grande pergunta
que surgiu foi a seguinte: quem alienou os trabalhadores desta forma? Um alienado[1], segundo
o marxismo, é alguém que renunciou aos seus direitos de classe para dá-los a outra pessoa.
Quando ele para de lutar pelos seus direitos de classe, está servindo a outra classe. Quem
alienou o proletário, o pobre? A resposta do marxismo: a civilização ocidental.
Mas, voltando à crise do marxismo após a Primeira Guerra, uma das tentativas de solução foi
oferecida pelo fascismo: o otimismo nacional. Tal empreitada ficou caracterizada pela tentativa
de se criar uma sociedade justa, um estado totalitário, através da bandeira do otimismo
nacional, da raça, do nobre selvagem. Hitler, por exemplo, considerava que o cristianismo
abastardou a nobreza da nação alemã.
A nação alemã, que Hitler liga diretamente aos gregos admirados por Nietzsche, tem a nobreza
do pagão pré-cristão, do bárbaro, que rejeita a civilização racionalista. Hitler admirava o
trabalho de Nietzsche, o valor do não racional, das trevas, das forças ctônicas[4]. A partir do
homem que tem força, que se libertou dos grilhões da racionalidade, Hitler promovia a
possibilidade de criar uma nova nação a partir da fidelidade à própria raça, às próprias
origens.
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24/12/2018 Reação à Crise Marxista
Uma segunda reação à crise marxista foi a reação pessimista[5] da Escola de Frankfurt, que via
na civilização ocidental como algo extremamente negativo[6]. A tentativa de descontrução do
mundo ocidental era a força de seu trabalho, através da proposição da Teoria Crítica como um
caminho a ser adotado, numa atitude de constante crítica e destruição ante a civilização
ocidental. Se ela cair, o mundo será melhor. A escola de Frankfurt, porém, não tinha um projeto
para o pós-destruição, pois também acreditava no poder criativo do mal, na certeza de que se
houvesse destruição, a ordem, de alguma maneira desconhecida, iria surgir.
Herbert Marcuse, outro grande expoente da Escola de Frankfurt, escreveu um livro chamado
Eros e Civilização, na década de 50, no qual traça, com toda clareza, o programa da revolução
hippie, da revolução sexual, do pacifismo. Marcuse propõe uma junção do pensamento de
Freud e Marx ao defender a tese de que o americano é puritano e que por reprimir o sexo é
extremamente agressivo. Para superar tal agressividade, os americanos precisam fazer guerra.
Como o sistema capitalista precisa de mercados, as guerras são úteis para o imperialismo
americano conquistar o mundo. A repressão sexual seria um dos meios para manter o
sistema capitalista de pé, segundo Marcuse, pois ao tornar as pessoas agressivas, leva a
guerras e, automaticamente, acaba por atrasar a implantação da nova sociedade marxista no
mundo.
É preciso, então, que o homem reprimido, puritano, faça sexo. Daí surge o lema de Marcuse:
faça amor, não faça a guerra[10]. A revolução hippie é fruto direto do pensamento de
Marcuse. Segundo ele, fazendo sexo os jovens iriam se tornar pacifistas, não fariam guerras, o
que faria com que o sistema capitalista caísse. Assim, o movimento hippie e Woodstock, que
pareciam ser fruto da decadência do modelo da sociedade americana, fruto do capitalismo
decadente e materialista, na realidade são fenômenos inoculados na sociedade americana pelos
marxistas.
A Escola de Frankfurt buscou, dessa forma, alavancar a revolução marxista mudando a forma
de a pessoa se relacionar com a sua própria sexualidade, pois percebeu que ao impor um novo
padrão de sexualidade, a implantação da sociedade socialista se tornava mais fácil[11]. Porém,
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não é verdade que ao destruir a moral sexual, surja automaticamente uma sociedade melhor.
Para que os jovens da década de 70 transgredissem, violentassem a própria consciência, as
regras morais, eram necessárias altas doses de drogas para que a libertinagem sexual fosse
vivenciada. Só assim diziam não à moral cristã, conservadora. Os jovens de hoje,
infelizmente, estão numa situação diferente, pois muitos já experimentaram o fundo do poço:
mesmo na mais tenra idade já há pessoas deprimidas e que, desiludidas pela experiência do
hedonismo, acabam por perceber, desde cedo, que o prazer não responde à sede de sentido de
vida que lhes é peculiar[12].
Referências
2. Sozial Forschung. Quando alguém ouve falar dos pensadores ligados a esse Instituto
di cilmente os relacionará com o marxismo clássico, uma vez que usam um marxismo
heterodoxo, que não luta especi camente no campo econômico, mas no campo
cultural, assim como acontece com Antonio Gramsci.
5. São tão pessimistas que veem perversões nos atos mais simples da vida. Para Adorno,
por exemplo, o simples fato de assobiar demonstra o desejo de dominar a música.
9. Para ilustrar a escala, basta dizer que os traços de fascismo são caracterizados pelos
seguintes elementos: valorizar a família (mostram que a autoridade do pai é sinal do
totalitarismo social), valorizar a religião, a propriedade privada, mercado livre, valores
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11. É por isso que os marxistas in ltrados no meio eclesiástico precisam que não se viva o
celibato dentro da Igreja. O celibato está sempre ligado a uma patologia, para que se
viva uma vida devassa, pois deixando de viver o celibato automaticamente as pessoas
abandonariam o imperialismo romano (católico e papal, falando mais claramente). O
sistema espiritual, dentro da religião, é considerado um paralelo do sistema econômico
americano. O sistema romano vive de oprimir os povos e romanizá-los. O papa e os
padres conservadores vivem de oprimir os povos impondo a eles uma ortodoxia
doutrinal e que está intimamente ligada à repressão sexual do celibato.
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