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1.

INTRODUÇÃO

Para ‘definir verdadeira loucura’- o interlocutor é Polonius, esforçando-se, como de


costume, para ser espirituosamente sábio - ‘o que significa se não ser nada além de louco?’. A
pedante barba grisalha de Shakespeare acertou na mosca dessa vez: Não seria insanidade o
mistério dos mistérios? Até mesmo professores de psiquiatria têm as mais surpreendentes
visões do assunto sobre o qual ensinam. Em um casal de livros, O Mito da Doença Mental (1961),
e A Fabricação da Loucura (1970), Thomas Szasz, Professor de Psiquiatria na Universidade de
Syracusa (Nova York), negou que haviam ‘doenças mentais’: Não era um fato da natureza, mas
um ‘mito’ criado pelo homem. Ele elabora:

“Psiquiatria é convencionalmente definida como uma especialidade


médica que se ocupa do diagnóstico e tratamento de doenças mentais.
Eu acredito que esta definição, que é amplamente aceita, coloca a
Psiquiatria na companhia da Alquimia e Astrologia, classificando-a como
pseudociência.”

Porque? A razão era clara: ‘Não existem ‘doenças mentais”’.

Para Szasz, que continua com essa opinião pelos últimos 40 anos, doenças mentais não
são doenças, e sua natureza sem sido esclarecida pela Ciência; é apenas um mito, fabricado por
psiquiatras para avançarem em suas carreiras e apoiado pela Sociedade por render soluções
fáceis para pessoas problemáticas. Ao longo dos séculos, ele alega, homens da medicina e seus
apoiadores têm se envolvido em uma fabricação de loucuras egoísta, fixando rótulos
psiquiátricos à pessoas que são pestes sociais, estranhas, ou difíceis. E nesta orgia de
estigmatização, psiquiatras orgânicos não tem menos culpa que Freud e seus seguidores, cuja
invenção do Inconsciente (alega Szasz) foi um sopro de nova vida a desbancadas metafísicas da
mente e teologias da alma.

Toda esperança de encontrar a etiologia de doenças mentais no corpo ou na mente –


para não mencionar algum submundo Freudiano – é, na visão de Szasz, um erro de categoria ou
pura má fé: ‘doença mental’ e o ‘inconsciente’ são apenas metáforas, e enganosas além de tudo.
Retificando esse tipo de conversa avulsa, psiquiatras tem configurado uma imagem inocente da
psique ou têm sido complacentes com um sorrateiro imperialismo profissional, fingindo assim
uma especialidade que não têm. Tendo tudo isso em vista, abordagens padrão à insanidade e
sua história são prejudicadas por hospedeiros de suposições ilícitas e questões mal colocadas.

Szasz não está sozinho. Loucura e Civilização, que apareceu em francês em 1961,
trabalho do historiador parisiense do pensamento Michel Foucault, argumentou similarmente
que doença mental deve ser entendida não como um fato natural, mas um construto social,
sustentado por uma malha de práticas administrativas e medico-psiquiátricas.

A história da loucura devidamente escrita seria, portanto, uma explicação não da doença
e do seu tratamento, mas de questões de liberdade e controle, conhecimento e poder. Menos
radicalmente, mas igualmente inquietante, dois psiquiatras britânicos altamente respeitados,
Richard Hunter e Ida Macalpine, apontavam na mesma época a profunda confusão em que a
psiquiatria se metera:

“Não há um método objetivo de descrever ou comunicar descobertas


clínicas sem interpretação subjetiva, nem mesmo uma terminologia
exata e uniforme que convenha a todos. Dessa forma, há grande
divergência de diagnóstico, até mesmo diagnósticos, um fluxo constante
de novos termos e mudança constante de nomenclaturas, bem como
um excesso de hipóteses que tendem a ser apresentadas como fato.
Além do mais, a etiologia continua especulativa, patogênese
amplamente obscura, classificações predominantemente sintomáticas
e, portanto, arbitrárias e possivelmente efêmeras; tratamentos físicos
são empíricos e sujeitos a moda, e psicoterapias ainda estão em sua
infância e doutrinário.”

As afirmações provocativas de Szasz e Foucalt – que tornam a tradicional e progressiva


(‘Whiggish’) história da psiquiatria de cabeça para baixo, realocando seus heróis como vilões –
foram, por sua vez, fortemente refutados. Em A Realidade da Doença Mental (1986), Martin
Roth, Professor de Psiquiatria da Universidade de Cambridge, e Jerome Kroll contra argumentam
que a estabilidade de sintomas psiquiátricos ao longo do tempo mostra que doença mental não
é meramente um rótulo ou bode expiatório, mas uma entidade psicopatológica real, com
fundamento autêntico e orgânico.

Estas divisões drásticas dentro da psiquiatria, em relação à natureza da doença mental


(realidade, convenção ou ilusão?), mostram quão sábio foi o velho Polonius. E, seguindo sua
sabedoria, a breve pesquisa histórica que se segue não tenta de forma alguma definir a
verdadeira loucura ou adentrar na natureza da doença mental; repousa contente com um breve,
arrojado e imparcial relato de sua história. Ainda assim, o passado da psiquiatria, assim como
seu status científico, tem sido altamente discutido. ‘A história em suas linhas gerais é familiar’,
escreveu Sir Aubrey Lewis, o eminente diretor do instituto de Psiquiatria, ligado ao Hospital de
Maudsley em Londres, em uma resenha do livro de Foucault:

“Após as torturas e os assassinatos judiciais da Idade Média e do


Renascimento, que confundiram como possessões demoníacas as
ocorrências de delírio e frenesi, e julgou como bruxaria o balbuciar de
mulheres idosas dementes, houve as crueldades e degradação dos
manicômios dos séculos XVII e XVIII, onde autoridades usaram correntes
e chicotes como instrumentos de ofício. O esforço humanitário pôs fim
aos abusos. Pinel na França, Chiarugi na Itália, Tuke na Inglaterra
inauguraram uma era de bondade e cuidados médicos, que preparou o
caminho para uma abordagem racional e humana à doença mental. No
século XIX investigou-se a patologia da insanidade, suas formas foram
descritas e classificadas, seu parentesco com doenças e as
psiconeuroses reconhecidas. Tratamentos foram realizados em
hospitais universitários, clínicas de pacientes ‘soltos’ multiplicaram-se,
e os aspectos sociais dos cuidados ganharam crescente atenção. No final
do século, o caminho tinha sido aberto para as ideias de homens como
Kraepelin, Freud, Charcot e Janet, seguindo os passos de Kahlbaum e
Griesinger, Conolly e Maudsley. No século XX, a psicopatologia tem sido
esclarecida, e tratamentos psicológicos tem ganhado escopo cada vez
maior. Mudanças revolucionárias ocorreram nos métodos de
tratamento físico, o dia a dia nos hospitais psiquiátricos tem se tornado
mais liberal, e as variedades de cuidado articularam-se umas as outras,
individualizaram-se, e fizeram-se elementos integrais em um processo
terapêutico contínuo que se estende à comunidade em geral,
começando com a fase de início, stadium incrementi, e procede para a
última fase de reabilitação e recolocação social. ”

1 A prova da água fria é mostrada nesta gravura francesa do século XVII: Um homem é
torturado, amarrado por uma corda e jogado na água fria. Imersão violenta em água fria
era uma forma de prova divina, muito usada em bruxas: Se boiassem eram culpadas, se
afundassem, eram inocentes. Era também, supostamente, uma cura para loucura.
"Este", concluiu Lewis, "é o quadro convencional, um de progresso e esclarecimento. . .
não está longe.”

Ou está? Ao longo da última geração, a historia da psiquiatria como contada por Lewis
tem sido rejeitada, e controvérsia tem crescido acerca da interpretação muitos acontecimentos
cruciais: A ascensão e queda do manicômio (‘um lugar conveniente para pessoas
inconvenientes’?); a política envolvida no confinamento compulsório e então da
‘descarcerização’; as origens, status científico, e alegações da psicanálise (foi Freud uma
fraude?); a ‘beneficência’ da profissão de psiquiatria; a razão por trás de tratamentos
questionáveis como clitoridectomia, lobotomia frontal, e terapia eletroconvulsiva; e o papel da
psiquiatria no controle socio-sexual de minorias étnicas, mulheres, e gays, e outras ‘vítimas’
sociais – para não citar mais. Os últimos 30 anos trouxeram um fermento de sabedoria original
– muitas vezes apaixonada, partidária, e polêmica – em todas essas áreas e muitas outras, que
não mostram sinal algum de diminuírem. Construindo sobre esses estudos, este livro vai
adereçar a credibilidade das opiniões de Lewis.

Um menu seria de grande ajuda. O próximo capítulo analisa a loucura entendida como
possessão divina ou demoníaca. Prevalente entre povos não letrados mundo afora, tais crenças
sobrenaturais foram incorporadas na medicina mesopotâmica e egípcia, bem como no mito e
na arte grega. Prevaleceram atuais no ocidente até o século XVIII, como reformuladas e
promulgadas pelos ensinamentos do Cristianismo, embora desbancadas cada vez mais pela
medicina e ciência.

É para o nascimento da ciência médica que o capítulo 3 se volta, examinando a forma


de pensar racional e naturalista acerca da loucura, desenvolvida por filósofos e doutores greco-
romanos e subsequentemente incorporada na tradição médica ocidental. Enquanto isso,
loucura e demência foram simbolicamente carregadas na arte e literatura: Estas motivações
culturais e significados são explorados no capítulo 4. Cobrindo a loucura na sociedade, o capítulo
5 procede analisando o ímpeto de institucionalizar aqueles com perturbações mentais,
alcançando um pico na metade do século XX, quando meio milhão de pessoas estavam detidas
psiquiatricamente nos EUA, e por volta de 150,000 no Reino Unido.

A ‘nova ciencia’ do século dezessete tomou o lugar do modo de pensar grego com novos
modelos de corpo, cérebro e doença: As primeiras teorias psiquiátricas e práticas que vieram
delas são o foco do capítulo 6. O capítulo seguinte volta-se para os objetos de estudo da
psiquiatria: O que os insanos pensavam e sentiam? Como viam o tratamento que recebiam, por
tantas vezes contra sua vontade?

O século 20 tem sido amplamente chamado de ‘o século da psiquiatria’, então um


capítulo inteiro (capítulo 8) é reservado aos seus desenvolvimentos. Atenção particular é dada
a uma de suas maiores inovações, a ascensão (e queda?) da psicanálise, além de grandes
inovações em tratamentos via cirurgia e medicamentos. Psiquiatria vista como ciência e terapia
no alvorecer do século XXI é então brevemente avaliada na conclusão: Tem sua história algo a
nos dizer acerca da iniciativa da psiquiatria em geral?

Como se tornará evidente, muito é omitido. Não há nada acerca de insanidade ou


psiquiatria em ideias não-ocidentais. Não me ocupei com questões de psicopatologias sociais (o
que torna as pessoas loucas, à princípio?), muito menos tentei explorar as representações da
loucura na cultura geral ou mídias populares. Em tão curto livro, foquei em algumas questões
principais: Quem foi identificado como louco? O que se pensou causar sua condição? E que
atitude foi tomada para curá-lo ou garantir sua segurança?
2. DEUSES E DEMÔNIOS

Aqueles que os deuses destroem, primeiro são enlouquecidos.


(Euripides)

No começo

A loucura pode ser tão antiga quanto à raça humana. Arqueologistas já desenterraram
crânios datados de até pelo menos 5000 a.C. que já haviam sido trefinados ou trepanados -
buracos pequenos e redondos foram feitos neles com ferramentas de pedra. Pensou-se,
provavelmente, que o sujeito estava possuído por demônios e que os buracos permitiriam que
escapassem.

A loucura aparece, comumente como destino ou punição, em mitos religiosos e fábulas


heroicas muito antigas. Em Deuteronômio (6:5) está escrito: ‘O Senhor atacar-te-á com loucura’;
o Antigo Testamento conta de muitos possuídos por demônios, e relata como o Senhor puniu
Nabucodonosor, reduzindo-o a loucura bestial. Homero escreve do louco Ajax promovendo uma
carnificina com suas ovelhas na crença insana de que eram soldados inimigos, uma cena em
comum com Don Quixote, de Cervantes, inclinando-se a moinhos de vento. Violência, luto,
sanguinolência e canibalismo foram comumente associados a loucura, a insanidade. Heródoto
descreve Cambises, o rei louco da Persia, caçoando da religião – quem, se não um homem louco,
desonraria os deuses?

2 No Antigo Testamento, Nabucodonosor, rei da babilônia, tem um sonho que Daniel interpreta
como presságio de loucura. Quando mais tarde ele demonstrou orgulho ao falar de seu
maravilhoso palácio, a voz de Deus anuncia que ‘o Reino agora será separado de ti’, e
Nabucodonosor é levado à loucura, como no sonho.

Grandes perturbações de humor, fala e comportamento eram geralmente atribuídas a


poderes sobrenaturais. O hinduísmo tem um demônio especial, Grahi (‘aquela que toma posse’),
que é tida como responsável por convulsões epilépticas. Na Índia, um cachorro-demônio é
acusado de ‘tomar posse’ do sofredor. (Traços caninos e loucura são comumente ligados, como
na difundida crença em lobisomens - licantropia, ou ‘loucura de loubo’ – onde o louco perambula
por túmulos e tumbas, uivando para a Lua, ou no uso do termo ‘black dog – cachorro preto, no
inglês’ para depressão).

Os babilônios e mesopotâmicos tinham que certas doenças eram causadas por invasões
espirituais, bruxaria, maldade demoníaca, mau olhado, ou a quebra de tabus; possessão era
tanto julgamento quando punição. Um texto assírio datado por volta de 650 a.C. atribui o que
eram evidentemente sintomas de epilepsia à demônios:

“Se na hora de sua possessão, enquanto estiver sentado, seu


olho esquerdo mover-se para o lado, um lábio se contrair, saliva
pingar de sua boca, e suas mãos, pernas e tronco do lado
esquerdo tiver espasmos como uma ovelha abatida, é migtu. Se
na hora da possessão, sua mente está acordada, o demônio
pode ser dirigido para fora; se na hora de sua possessão sua
mente não estiver acordada, o demônio não pode ser retirado.”

Costumes antigos dos gregos podem ser compilados através dos mitos e histórias épicas.
Estes não apresentam faculdades como razão e intenção na maneira familiar da medicina e
filosofia que viriam mais adiante na História, nem mesmo seus heróis possuem psiques
comparáveis ás de, por exemplo, Édipo de Sophocles, menos ainda às encontradas em
Shakespeare ou Freud. O homem homérico não é o tipo introspectivo e consciente de si mesmo,
tanto ilustrados nos diálogos de Sócrates alguns séculos depois – de fato, A Ilíada não tem uma
palavra ou expressão para ‘pessoa’ ou ‘si mesmo’. Cotidiano e conduta, normal e anormal, eram
vistos como à mercê do externo, forças sobrenaturais, e humanos mostrados como literalmente
levados à distração por sentimentos como raiva, angústia ou vingança. Os protagonistas de A
Ilíada são marionetes, nas garras de terríveis forças muito além de seu controle – deuses,
demônios e as Fúrias – que punem, se vingam, destroem; e seus destinos são decididos, na
maioria das vezes, por decretos dos céus, comumente revelados por sonhos, oráculos ou seres
divinos. A vida interna, com seus dilemas agonizantes de consciência e escolha, ainda não havia
se tornado decisiva, então escutamos muito mais sobre os feitos dos heróis do que suas
considerações.

Um cenário mental mais moderno estava emergindo, contudo, na era de ouro de


Atenas. O pensamento acerca da psique desenvolvido nos séculos V e IV a.C. pavimentou o
entendimento convencional acerca da mente e da loucura no ocidente, como foi tacitamente
evidenciado por Freud quando este nomeou conflitos psico-sexuais infantis como ‘Complexo de
Édipo’, em homenagem à peça de Sophocles. O drama grego combina elementos tanto de
pensamentos tradicionais como novos modos de pensar.

As peças de Aeschylus, Sophocles e Euripides dramatizam conflitos elementais e


terríveis – um herói ou heroína atormentado como brinquedo dos deuses ou esmagado sob um
destino inelutável, necessidades rivais de amor e honra, dever e desejo, do indivíduo, do sangue,
e estado. Algumas vezes, o resultado inescapável é a loucura: Eles tornam-se insanos,
enraivecidos e ensandecidos, totalmente fora do controle, como quando Medea assassina os
próprios filhos. Porém, diferente dos heróis de Homero, os protagonistas das tragédias gregas
são conscientemente postos a refletir, encarar responsabilidades e culpa; eles caem em conflito
interno como mentes agonizantes divididas em si mesmas, como era comumente ecoado pelo
contraditório ‘pensamento em voz alta’ do Coro. Os poderes da destruição nas tragédias não
são mais somente aqueles do destino externo, deuses orgulhosos e fúrias malevolentes. Ruína
também é auto inflingida – heróis são consumidos por arrogância, ganância ou orgulho, seguidos
de vergonha, luto e culpa; eles se destroem, ajudando a deixar com que a loucura tome conta
(nemesis): Guerra civil psíquica torna-se endêmica à condição humana.

Dramas também sugeriam caminhos para a resolução – ou, como poderíamos dizer,
teatro servia como ‘terapia’. Transgressão poderia, é claro, simplesmente ser punida na morte.
Mas, como com Édipo, agonia era mostrada como o caminho para uma maior sabedoria;
cegueira poderia levar a realização, e o próprio drama, a própria atuação poderiam levar a uma
catarse coletiva (purga, purificação). Shakespeare viria a mostrar o mesmo acontecimento com
o rei Lear, cuja auto alienação levou a final, via loucura, ao conhecimento pessoal.

As crenças sobrenaturais acerca da possessão, típicas de eras arcaicas, também eram


confrontadas e desafiadas pela medicina grega. Como já citado, os deuses eram
tradicionalmente culpados por ataques epilépticos, sendo a vítima da ‘doença sagrada’ tomada
por um demônio ou espírito que lutava com seu corpo e alma. A desordem era, por sua vez,
contrastada por rezas, encantamentos e sacrifícios oferecidos nos templos de Asklepios, deus
da cura.

Um tratado ‘Acerca da Doença Sagrada’ surgiu. Seu autor, um seguidor do


autoproclamado ‘pai da medicina grega’, Hipocrates (460-357 a.C.), não encontrou nada de
sobrenatural na doença. Epilepsia era simplesmente uma enfermidade do cérebro:

“A doença sagrada me parece não mais divina ou sagrada que


quaiquer outras doenças, mas tem uma causa natural de onde
se origina, como outras aflições. O Homem acredita que sua
natureza seja divina por ignorância e crendice, porque não é
como outras doenças.”

O autor Hipocrático catalogou com desdém os diferentes deuses supostamente


responsáveis pelas distintas formas de convulsões. Se o doente se comportasse como uma
cabra, ou se aterrasse seus dentes, ou se o lado direito estivesse em convulsão, Hera, a mãe dos
deuses, era culpada. Se o paciente chutava e espumava pela boca, Ares era o responsável. E
assim em diante. Se chamássemos doenças de sagradas meramente por conta de seus sintomas
bizarros, o faríamos com infinitas doenças. Com o exemplo da epilepsia em mente, a medicina
Hipocrática naturalizou a loucura, então a trouxe de volta dos deuses, do divino. As teorias
explanatórias que desenvolveu serão analisadas no próximo capítulo.

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