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Carmen Meneses Ferreira- OAB/RJ 204.

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EXMO. JUIZO DE DIREITO DA ___ VARA CIVEL DA COMARCA DA
CAPITAL-RJ.

PAMELA MARTINS, brasileira, solteira, IFP. , residente , , vem por


intermédio de sua advogada com procuração em anexo, com fulcro nos arts. 359 do
Código de Processo Civil, propor a presente

AÇÃO ORDINÁRIA REVISIONAL DE FINANCIAMENTO AO


ESTUDANTE DE ENSINO SUPERIOR (FIES) C/ c CONSIGNAÇÃO EM
PAGAMENTO
COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

em face do BANCO DO BRASIL S.A., com endereço na Rua Carvalho de


Souza - Madureira - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro, pelos fatos e fundamentos a
seguir expostos

I- DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

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Inicialmente, vêm requerer o benefício da Gratuidade de Justiça, com fulcro na Lei nº
1.060/50, com as alterações introduzidas pela Lei nº 7.510/86, por não ter condições
de arcar com as custas e honorários advocatícios sem prejuízo de seu próprio sustento,
conforme documento anexo.

II - DOS FATOS

A autora contratou o FINANCIAMENTO ESTUDANTIL sob o nº


352.203.907 através do Banco do Brasil na data de 10 de agosto de 2012 para
terminar um período de sua faculdade, pelo prazo de 30 meses e com amortização
contar da data de 10.07.2014, com saldo inicial de R$ 1.682,18 e saldo final de
R$ 5.046,55.

Ficou inadimplente por motivo de desemprego.

Ocorre que no momento a autora quer pagar a sua dívida. Procurou sua agência
onde é correntista para negociar o parcelamento onde então foi informada de que
deveria procurar o MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO pois só eles poderiam negociar.

De posse da informação ligou para o MEC no dia 18/07 e foi informada através
do protocolo 2016.000.999.7971 de que a negociação é de OBRIGAÇÃO DO
BANCO DO BRASIL, posto que foi a instituição financeira que houvera feito o
empréstimo.

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Cabe informar que a autora encontra-se com restrição em seu nome no cadastro
de inadimplentes do SPC/SERASA tendo como credora a instituição bancária do
BANCO DO BRASIL.

O Banco do Brasil não quer negociar. Isso é fato e demonstrado pela sua
funcionária gerente da conta da autora.

A autora não tem condições de pagar o valor total financiado de R$ 5.046,55


(cinco mil quarenta e seis reais e ciquenta e cinco centavos). Reconhece sua
dívida e quer pagar. Desta forma requer a consignação em pagamento de 12
parcelas de R$ 210,28 (duzentos e dez reais e vinte e oito centavos).

II – DO DIREITO

O financiamento estudantil FIES hoje, em sua forma, é claramente um típico


contrato de mútuo do que um benefício social, sendo a única modalidade praticada
pelo poder público federal destinada a financiar estudantes universitários. Portanto,
possui natureza contábil, nos termos do art. 1° da Lei 10.260/2001:

"Art.1º - Fica instituído nos termos desta lei, o Fundo de


Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES), de natureza
contábil, destinado à concessão de financiamento a estudantes
regularmente matriculados em cursos superiores não-gratuitos e com
avaliação positiva de acordo com a regulamentação próprias nos
processos conduzidos pelo Ministério da Educação (MEC)". (grifo nosso)

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Nas palavras do consultor jurídico da Caixa Econômica Federal, Davi Duarte,
"a atual concepção do FIES enquadra-o como espécie de financiamento bancário
(especial), sujeitando-se às regras do mercado no que tange à concepção de cobrança,
não obstante a finalidade nitidamente social que o caracteriza" (R. CEJ, Brasília, n°
26, p. 5-9, jul./set.2004). Assim, o financiamento estudantil é considerado um
contrato bancário, portanto aplica-se as regras contidas no CDC.

A incidência das normas do CDC (Lei 8.078/90) nas relações entre o Banco e
os seus clientes, é algo mais que reconhecido pelos Tribunais pátrios, eis que os arts.
2° e 3°, da citada lei incluem as instituições bancárias como legítimas fornecedoras
de serviços aos seus clientes (consumidores), também em relação aos contratos de
financiamento.

" Art. 2º - Consumidor é toda a pessoa física ou jurídica que adquire


ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Art. 3º - Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados,
que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.

§ 1º - Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

§ 2º - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,


mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de

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crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista." (grifo nosso)

Neste sentido, a autora se enquadra como consumidora que utilizou os serviços


como destinatária final, valendo-se ao atendimento de uma necessidade própria e não
para o desenvolvimento de uma outra atividade negocial, uma vez que a requerente
utilizou-se deste serviço com intuito de se qualificar para o trabalho, ou seja, para seu
pleno desenvolvimento pessoal e no exercício de sua cidadania, conforme preceitua o
art. 205 da Constituição Federal.

"Art. 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando
ao pleno desenvolvimento de pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho." (grifo nosso)

Em relação ao Banco, esse é nitidamente um fornecedor, pois o serviço


prestado por ele é conceituado como relação de consumo, vez que tal mútuo se
encaixa como contrato bancário e sua função econômica tem o preceito jurídico de
atividade bancária sob o entendimento de coleta, intermediação em moeda nacional
ou estrangeira, podendo estar ligada direta ou indiretamente à concessão, circulação
ou administração do crédito.

Desta feita, mesmo que este financiamento seja a única modalidade praticada
pelo poder público federal e conduzido pelo MEC, sua operação, administração,
coleta, intermediação e concessão (critérios) são aplicados pelo Banco, ora requerido,
tornando-se um contrato bancário, o qual é mútuo ao consumidor ainda que o
mutuário utiliza tais recursos para finalidades particulares, como destinatário final.

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Não resta dúvidas, portanto, que o contrato bancário em tela deve passar pelo crivo
do CDC.

Acrescenta-se que o FIES é uma modalidade de financiamento oferecido no


mercado de consumo, não se considerando um benefício social, ou seja, o público
alvo não são pessoas pobres, uma vez que seus critérios são rigorosos, pois o
estudante e o fiador devem comprovar idoneidade cadastral, bem como o fiador deve
comprovar renda, no mínimo, duas vezes o valor da mensalidade integral do curso
financiado (item 11 do contrato, modificado pelo item 8 do primeiro termo de
aditamento). Assim, é levado em consideração a situação sócio-econômica dos
candidatos e fiadores, o que para a realidade brasileira não classifica-se como um
benefício social a quem gostaria de estudar e não tem condições financeiras e, sim
oferecido a quem alcança os requisitos exigidos e garante o seu pagamento.

"GARANTIA: É exigida a apresentação de fiador com idoneidade


cadastral e renda comprovada de, no mínimo, duas vezes o valor da
mensalidade integral do curso financiado, para tanto estando a CAIXA
devidamente autorizada a promover consulta em cadastro restritivos em
nome do FIADOR". (grifo nosso)

Nesse mister, é que o financiamento estudantil é lançada no mercado de


consumo, com o intuito de financiar estudantes universitários que sejam
consumidores com condições de garantir seu integral pagamento nos moldes
instituídos pela CEF. Veja-se o que diz a jurisprudência:

EMBARGOS À EXECUÇÃO. PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR. As


regras previstas no Código de Defesa do Consumidor são plenamente

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aplicáveis na hipótese de revisão de contrato de financiamento, na
modalidade de crédito educativo, pois dizem com operações bancárias,
nos moldes do art. 3º, § 2º, da Lei nº 8.078/90. (Apelação Cível nº
2001.70.05.001177-2/PR, 4ª Turma do TRF da 4ª Região, Rel. Juiz
Edgard A Lippmann Júnior. j. 27.09.2001, Publ. DJU 31.10.2001). (grifo
nosso)

Embora exista uma vaga finalidade social ao contrato, este não se enquadra à
realidade financeira da população brasileira, pois somente quem tem condições de
pagar o numerário emprestado (acrescido de taxas de juros de 9% ao ano,
capitalização mensal e amortizado pelo sistema francês) é que poderá fazer uso deste
financiamento estudantil. Isso tudo sem carência alguma, ou seja, o estudante termina
o curso superior, estando na maioria dos casos desempregado, e com uma obrigação
imediata de seguir arcando com prestações altíssimas do financiamento estudantil,
sob a forma coatora de cobrança que a requerida costuma usar. Senão vejamos:

Dessa forma, tem-se uma onerosidade excessiva para o consumidor, pois à ele
recai abusividade de juros dando a ensejar ao enriquecimento sem causa, ofendendo
diretamente o princípio da equivalência contratual instituído como base das relações
jurídicas de consumo.

Assim, essa excessiva onerosidade poderá ensejar o direito do consumidor à


modificar tais cláusulas contratuais, bem como se preservará o equilíbrio do contrato.
Também poderá revisar este contrato por fatos supervenientes não previstos pelas
partes quando da conclusão do negócio e podendo ensejar a nulidade destas cláusulas
por trazerem desvantagens ao consumidor.

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Verificando-se a abusividade imposta ao devedor, em contrato de
financiamento, invalida-se as cláusulas por aplicação do art. 51, inc. IV e parágrafo 1º,
inc. III, do Código do Consumidor.

Além disso, a autora também encontra-se protegida de abusividade contratual


pela nossa Carta Magna, a qual preceitua em seus arts. 5°, inc. XXXII e 170, inc. V,
in verbis:

"Art. 5°. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no país a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade nos termos seguintes:

(…)

XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do


consumidor;

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho


humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:

(…)

V – defesa do consumidor;" (grifo nosso)

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De todo o exposto, conclui-se que a relação entre as partes é de consumo e é
com o intuito de JUSTIÇA que a requerente busca no poder jurisdicional a revisão do
financiamento estudantil, o qual encontra-se eivado de vícios, acarretando inafastável
desequilíbrio econômico do contrato e contrariando a Lei Maior quando esta
determina, como já salientado, o dever do Estado com a EDUCAÇÃO PLENA,
subsidiada aos estudantes carentes por toda a sociedade, tratando-se de um
investimento sócio-educacional que acarreta inegáveis benefícios para toda a nação.

Das características do contrato sub judice:

Os contratos bancários, como o de financiamento estudantil, aos olhos da mais


moderna doutrina e jurisprudência, revelaram-se com diversas características. Através
do exame das características destes contratos, veremos como estes tipos de contratos
estão minados de abusividades e ilegalidades, que, aos olhos do bom direito, não
podem prevalecer.

Veja-se, então, algumas características destes contratos:

Contrato de adesão:

De acordo com a ilustre mestra Cláudia Lima Marques em Contratos no


Código de Defesa do Consumidor: O novo regime das relações contratuais (SP, ed.
RT, 1992), contrato de adesão é "aquele cujas cláusulas são preestabelecidas
unilateralmente pelo parceiro contratual economicamente mais forte (fornecedor), "ne
varietur", isto é, sem que o outro parceiro (consumidor) possa discutir ou modificar
substancialmente o conteúdo do contrato escrito".

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O contrato em questão, chamado Contrato de Adesão, possui diversos itens que
se sobressaem pelo seu caráter leonino com que foram, de forma unilateral, impostas
pela parte economicamente mais forte, ou seja, a instituição financeira.

À autora não foi oportunizado discutir nem negociar os termos e condições do


contrato, cabendo-lhe apenas, aceitar ou rejeitar o que lhe era imposto como única
forma de concretização de negócio. Caso não aceitasse as condições impostas no
contrato, ficaria sem o financiamento de seus estudos o que impediria seu direito à
educação e qualificação profissional, ou seja, o contrato foi firmado em clima de in
conteste coação.

Isto ocorre devido às exigências do dia a dia, que impõe às instituições


financeiras este modo de contratar. São os chamados contratos de massa ("Take-it-or-
leave-it basis"), no entanto, como são previamente elaborados, de forma unilateral,
facilita a inclusão de cláusulas abusivas que asseguram vantagens excessivas para
uma das partes, a instituição que as elabora, em detrimento do cliente que a contrata.

Desta forma, tais cláusulas devem ser revistas a fim de que se traga um mínimo
de equilíbrio entre as partes, sem a cobrança de juros e valores extorsivos, em
atendimento ao Princípio da Transparência e da boa fé.

Arbitrariedade:

Como já dito, tais contratos derivam da vontade impositiva de uma das partes,
que estabelece cláusulas e vantagens de modo unilateral e que colocam a outra parte
em nítida e exagerada desvantagem, devendo estas cláusulas serem declaradas nulas.

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Desta forma, fica exclusivamente à vontade da ré as taxas de juros a serem
cobradas, taxas estas que se mostram abusivas e que quebra a bilateralidade da
relação.

Data maxima venia, as cláusulas contratuais que estipulam as taxas de juros, o


reajuste das parcelas, o modo de pagamento e amortização do saldo devedor, são de
todas abusivas, e desta forma devem ser declaradas nulas.

Como tratam-se de cláusulas que se sujeitam ao arbítrio de uma das partes,


estas devem ser decretadas nulas forte o artigo 115 do Código Civil, com atual
correspondência ao art. 122 do mesmo diploma legal em que vigore o que preceitua o
Código de Defesa do Consumidor.

Coação:

Como já foi explanado, a autora, desejosa de suprir suas necessidades e


concluir um curso superior, o que deve ser incentivado pelo Estado e por toda a
sociedade, viu-se obrigada a aceitar as condições impostas pela ré.

A coação que aqui se vislumbra ocorre, pois à contratante não resta nenhuma
possibilidade de adequação do contrato à sua vontade, sendo que à esta não restaria
sequer a alternativa de buscar outro fornecedor, porque todo o sistema de
fornecimento deste serviço pertence unicamente à CEF, ou seja, ao consumidor
desejoso de qualificar-se para o trabalho, através de financiamento estudantil, tem
que, obrigatoriamente, se submeter às condições impostas pela fornecedora requerida
sob pena de ficar sem a EDUCAÇÃO e QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL, o que
contraria de imediato os direitos básicos do consumidor, dispostos no art. 6º do CDC.

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"Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:

(…)

II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos


e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas
contratações;

III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e


serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem;

IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos


comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas
abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;

V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam


prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;

(...)

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a


inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele

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hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;" (grifo
nosso)

Outorgou-se ao magistrado, assim, o poder-dever de modificar ou suprimir


eficácia às cláusulas contratuais contravenientes aos preceitos inderrogáveis contidos
na legislação consumerista de interesse social (art. 6º, V), dentre elas as cláusulas
elencadas como nulas de pleno direito em seu art. 51. Cabe ao consumidor, dessa
forma, apenas demonstrar a onerosidade excessiva ou a vantagem exagerada,
devendo o magistrado proceder a uma interpretação acerca da abusividade das
condições contratuais segundo os paradigmas estabelecidos pelas disposições
normativas.

Sobre o direito do consumidor à modificação das cláusulas abusivas contratuais,


convém transcrever as sábias palavras de Agathe E. Schmidt, bem como do
Desembargador Ney Almada:

"É claro que deve haver respeito pela autonomia privada, tutelando-se
a confiança das partes na estabilidade dos contratos celebrados, porém
esta estabilidade não pode prevalecer quando haja grave desequilíbrio
entre direitos e obrigações dos contratantes. É assim que a Constituição
de 1988 exige que a autonomia privada atenda os ditames da justiça
social, tendo na sua base a função social do contrato, cabendo ao Poder
Judiciário a determinação do ponto em que a liberdade e justiça se
equilibrem." (Agathe E. Schmidt da Silva. Cláusula geral de boa-fé nos
contratos de consumo. Revista Direito do Consumidor, vol. 17, São
Paulo: Ed. RT, jan/março de 1996, p. 149)".

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"A intervenção judicial no campo contratual, dirigida no sentido de
humanizar as relações contratuais, de modo a prevenir a opressão
econômica, constitui módulo de observância já consagrada no direito
obrigacional. Tem em seu substrato motivacional o sucumbimento do
puro liberalismo econômico, inspirado no qual as normas primárias do
CC destacaram o primado do indivíduo, hoje, no entanto, superado pelo
coletivo. É pacífico admitir-se a função social do contrato." (Des. Ney
Almada, Ap. 271.394-2/2 - RT 739/273)

Registre-se, ainda, a lapidada lição da jurista Cláudia Lima Marques,


explanando sobre a relativização da força obrigatória do contrato, in verbis:

"Assim, o princípio clássico de que o contrato não pode ser


modificado ou suprimido senão através de uma nova manifestação
volitiva das mesmas partes contratantes sofrerá limitações (veja neste
sentido os incisos IV e V do art. 6° do CDC). Aos juízes é agora
permitido um controle do conteúdo do contrato, como no próprio Código
Brasileiro de Defesa do Consumidor, devendo ser suprimidas as
cláusulas abusivas e substituídas pela norma legal supletiva (art. 51 do
CDC). (...) Assim também a vontade das partes não é mais a única fonte
de interpretação que possuem os juizes para interpretar um instrumento
contratual (...), especialmente das partes que só tiveram a liberdade de
aderir ou não aos termos pré-elaborados". (in Contratos no Código de
Defesa do Consumidor, p. 93/94, 2ª ed.). (grifo nosso)

E, mais adiante, assevera a citada jurista:

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"A tendência, portanto, é do crescimento em importância do
permissivo legal de revisão judicial dos contratos. Dois aspectos devem
ser ressaltados: o limite imposto pelo próprio CDC, ao mencionar apenas
as cláusulas referentes à prestação do consumidor, geralmente uma
prestação monetária, envolvendo o preço e demais acréscimos, despesas
e taxas, logo não englobando todos os tipos de cláusulas abusivas; o
consumidor é livre para requerer ou a modificação da cláusula e
manutenção do vínculo, ou a rescisão do contrato, com o fim do vínculo
e concomitante decretação seja da nulidade, se abusiva, ou da
modificabilidade, se excessivamente onerosa, da cláusula.

Desnecessário aqui dizer que, quando há coação, sempre existe a possibilidade


da anulação do ato, o que, no caso em tela, corresponderia à anulação das taxas de
juros extorsivas e demais encargos contratuais estipulados pela ré.

Juros abusivos:

No que tange à cobrança de taxas de juros pela requerida estas são irregulares,
visto que 3,4% ao ano, com capitalização mensal não é a taxação correta a ser
aplicada, como se verá a seguir.

DOS ENCARGOS INCIDENTES SOBRE O SALDO DEVEDOR: O saldo


devedor será composto pelas parcelas de financiamento liberadas, acrescidas de juros
estabelecidos na Cláusula sétima e deduzidos pagamentos efetuados nos termos deste
contrato...

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Ocorre que os juros cobrados nos contratos de crédito educativo era de 6% ao
ano, conforme pode-se constatar na Lei n° 8.436/92 em seu art. 7º.

"Art. 7º - Os juros sobre o Crédito Educativo não ultrapassarão


anualmente a seis por cento".

Denota-se que a Medida Provisória n° 1.827, de 27 de maio de 1999, instituiu o


Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES). A autora efetuou
sua contratação junto ao BB na data de 10/08/2012, quando da vigência da dita
Medida Provisória, a qual era omissa quanto à taxação de juros, tendo delegado tal
poder a CMN, conforme pode-se perceber no art. 5°, inc. II.

"Art. 5o Os financiamentos concedidos com recursos do FIES deverão


observar o seguinte:

I - prazo: não poderá ser superior à duração regular do curso;

II - juros: a serem estipulados pelo CMN, para cada semestre letivo,


aplicando-se desde a data da celebração até o final da participação do
estudante no financiamento;

III - oferecimento de garantias adequadas pelo estudante financiado;

IV - amortização: terá início no mês imediatamente subseqüente ao da


conclusão do curso, ou antecipadamente, por iniciativa do estudante
financiado, calculando-se as prestações, em qualquer caso:

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Percebe-se, então, que o Banco tem por base a cobrança de juros fixados pelo
CMN - que estipula a taxa de juros de 9% ao ano, capitalizados mensalmente.
Todavia, conforme dispõe o art. 25, inc. I do A.D.C.T., bem como o art. 48, inc.
XIII da CF/88, esta matéria é da competência exclusiva do Congresso Nacional, não
podendo ser delegado ao poder executivo esta competência.

Ainda, no que diz respeito à aplicação da Lei 4.595/64 ao caso, trazemos à


baila despacho proferido pelo Exmo. Sr. Juiz de Direito da 7ª Vara da Fazenda
Pública, proferido nos autos do processo n° 100.745.828, pág. 26, que assim entende:

"Com efeito, "limitar" juros e encargos não é sinônimo de "liberar" (Lei 4594/64,
art. 3º, inciso IX). Assim, não podem o BACEN ou o CMN – que não tem o poder de
legislar - por norma subalterna, diversa da lei, liberar juros e encargos." (grifo nosso)

A requerida está tentando fazer crer que uma simples resolução (n° 2.647 do
CMN – Disciplina juros de 9% ao ano, capitalizados) possa ser superior a preceitos
constitucionais, art. 48, inc. XIII, que determina ser de competência exclusiva do
Congresso Nacional legislar sobre taxas de juros.

Desta feita, está condenada a instituição financeira à limitação na prática de


juros, não podendo estipular aqueles que bem entender, além de observar a limitação
legal de 6% ao ano consoante a Lei n.º 8.436/92 que objetivava beneficiar estudantes
sem recursos suficientes para cursar a educação superior, a nível de graduação, sendo
concretizado, na hipótese, um dos DIREITOS SOCIAIS FUNDAMENTAIS, que é o
DIREITO À EDUCAÇÃO PLENA (art. 6º, caput, CF/88) e, sendo esta Lei a mais

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benéfica, encaixa-se aos moldes da realidade social e econômica dos cidadãos
brasileiros.

Ressalta-se o estabelecido no art. 5º da LICC:

"Art. 5° Na aplicação da Lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se
dirige e às exigências do bem comum."

Nesse sentido, permissa venia, merece destaque e transcrição o entendimento


do Procurador da República em São Paulo, Doutor André de Carvalho Ramos, que,
na citada Ação Civil Pública resgata o histórico de todo o anterior Programa, e que
deu base para o atual financiamento estudantil:

"(...) O direito subjetivo constitucional à educação é envolvido pela


trama de direitos sociais e individuais constitucionais que buscam dar
efetividade aos princípios fundantes da sociedade e do Estado brasileiro,
de acordo com a normatividade da Lei Maior.

Nesse enquadramento, ele é um dos meios pelos quais se procura realizar, entre
outros valores e fins, a cidadania – postulado pelo legislador constituinte como
fundamento da República Federativa do Brasil e do Estado Democrático de Direito,
conforme o art. 1º, caput e inciso II, e que se exerce com mais profunda consciência e
espírito democrático através da difusão da educação; a dignidade da pessoa humana –
claramente conectada, conforme a "visão de mundo" (tradução aproximada do
conceito filosófico de Weltanschauung, que denota os aspectos essenciais do
patrimônio espiritual existente em determinada civilização) contemporânea, ao
desenvolvimento cultural e espiritual da pessoal, na qual a educação exerce papel

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preponderante (art. 1º, caput e inciso III); a erradicação da pobreza e da
marginalização – objetivos fundamentais, de acordo com o art. 3º, inciso III – cuja
solução passa pela questão educacional.

Diante das considerações anteriores, percebe-se com clareza meridiana o papel


do regramento legal instituidor do Programa de Crédito Educativo. Além de garantir-
se o ensino fundamental de modo universal a todos os brasileiros, é necessário que o
Estado forneça meios pelos quais os indivíduos oriundos das classes menos abastadas
possam atingir o ensino superior e, consequentemente, propiciar possibilidade de
concretização da igualdade material de chances na sociedade brasileira.

Para a realização desse intento, deve ser acessível e justo o fornecimento de


meios materiais para o gozo do direito subjetivo constitucional à educação – não
ensino gratuito e universal, como no caso do ensino básico, mas meios razoáveis para
que o grau superior de ensino possa ser atingido por estudantes carentes.

E esse objetivo dever ser passível de ser atingido através da regulamentação


infraconstitucional, em vigor a partir da edição da Lei n. 8436/92, e da sua
conseguinte aplicação.

Tendo em vista a função eminentemente social do programa, o art. 7º da


mesma lei determina:

"Os juros sobre o Crédito Educativo não ultrapassarão anualmente a


seis por cento" dispensando o estudante universitário de pagar o saldo
devedor indexado a qualquer índice quer oficial ou oficioso, apenas

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determinando que o valor residual seja remunerado em até 6% (seis por
cento) ao ano". (grifo nosso)

Em razão da NATUREZA SOCIAL do financiamento estudantil, é que a parte


autora requer a aplicação do art. 7º da Lei n.º 8.436/92, importando na aplicação dos
juros simples de 6% ao ano, que disciplina de maneira expressa todos os contratos
firmados até 01/07/1996 e, de maneira implícita, os firmados no ano de 1999, visto
que nessa época não havia outra Lei que revogasse o estabelecido no art. 7º da Lei n°
8.436/92, estando esta, ainda, em plena vigência. A MP n° 1.827/99 não poderia
suspender dito artigo, vez que era omissa e não disciplinava sobre tal matéria,
delegando poder a órgão incompetente para legislar.

A Lei de Introdução ao Código Civil, no art. 2º, parágrafos 1º e 2º e art. 4°,


assim dispõe:

"Art. 2°. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que
outra a modifique ou revogue.

§ 1°. A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare,


quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a
matéria de que trata a lei anterior.

§ 2°. A lei nova, que estabelece disposições gerais ou especiais a par


das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.

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Art. 4°. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com
a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito".

Portanto, não há outra alternativa mais justa senão a aplicação, por analogia, do
art. 7º da Lei n° 8.436/92. É o que requer, desde já, a parte autora.

2.e. Capitalização mensal de juros:

O contrato de financiamento, ora objeto da lide, prevê a capitalização mensal


de juros como encargos incidentes sobre o saldo devedor.

Neste mister, cumpre impugnar os dispositivos contratuais que possibilitam à


instituição financeira ré cobrar juros capitalizados. A incidência de juros sobre juros
onera o consumidor demasiadamente e, além de constituir uma verdadeira afronta à
moral e aos bons costumes, contraria a legislação aplicável à espécie.

Joaquim Ernesto Palhares, do Instituto Brasileiro de Direito Bancário, elucida


que nos contratos a longo prazo a capitalização de juros é uma questão muito séria.

"A questão da capitalização de juros é muito séria. Quando você pega um gráfico e
coloca as duas linhas de juros lineares e juros capitalizados, vê que a curva dos
lineares é levemente irregular e que a dos capitalizados dispara. Quanto mais o tempo
exercer influência sobre essa alteração, maior será a diferença entre essas linhas,
portanto maior será o efeito da captação. Isso é fácil de se perceber nos contratos a
longo prazo." (Entrevista com Joaquim Ernesto Palhares, do Instituto Brasileiro de

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Direito Bancário, Rev. pró Consumidor - Guia nacional do consumidor, ano I, nº5, jan.
98, p.70.)

Quando se discute o cabimento da capitalização de juros nos contratos de


financiamento estudantil – previsto no contrato, com o afastamento do Decreto
22.626/33 –, é cabível levantar precedentes do STJ, onde as Turmas de Direito
Privado têm proclamado persistir a vedação contida no artigo 4° da Lei de Usura.
Entende-se, então, que só se admite a capitalização dos juros quando há específica
legislação que autorize a incidência de juros sobre juros – como ocorre com as
cédulas de crédito rural, comercial e industrial, sendo permitida tão-somente a
capitalização anual, o que não cabe ao presente caso.

Informa-se, ainda, que nas Turmas de Direito Público do STJ somente foram
encontradas decisões monocráticas que afastam a regra contratual que permite o
anatocismo no contrato de crédito educativo, à míngua de uma legislação específica
que viesse a afastar a Lei de Usura.

Transcrevem-se, a seguir, alguns comentários e decisões jurisprudenciais ilustrativos


desta questão:

"CONTRATO DE CRÉDITO EDUCATIVO. CAPITALIZAÇÃO


TRIMESTRAL DE JUROS. IMPOSSIBILIDADE. ÍNDICE DE
ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. A capitalização de juros é vedada nos
contratos de mútuo bancário, aplicando-se a estes o disposto na Súmula
121 do STF, não revogada pela Súmula 596 do mesmo Tribunal.
(Apelação Cível nº 1999.04.01.084408-5/RS (00075602), 3ª Turma do

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TRF da 4ª Região, Relª. Juíza Luiza Dias Cassales. j. 06.04.2000, Publ.
DJU 24.05.2000, p. 99/100)". (grifo nosso)

"Juros - Capitalização - Iliquidez de dívida - Vedação legal. Segundo


precedentes da Corte, a capitalização de juros, salvo exceções legais, é
vedada em nosso ordenamento jurídico, não guardando relação o
anatocismo, repudiado ao verbete 121, com o enunciado 596, ambos da
Súmula do Supremo Tribunal Federal. (Ac. da 4ª T. do STJ - Resp 7.432-
PR - rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira - j. 17.09.96)". (grifo nosso)

"CRÉDITO EDUCATIVO. JUROS. CAPITALIZAÇÃO. A


capitalização de juros é permitida em casos expressos em lei, entre os
quais não se encontra o crédito educativo, em cujos contratos deve ser
aplicada anualmente. Dec. nº 22.626/33, art. 4º. STJ, Sum. nº 93.
(Apelação Cível nº 1999.04.01.136647-0/RS (00075321), 3ª Turma do
TRF da 4ª Região, Rel. Juiz Sérgio Renato Tejada Garcia. j. 30.03.2000,
Publ. DJU 03.05.2000, p. 116)". (grifo nosso)

"ADMINISTRATIVO. CRÉDITO EDUCATIVO. CAPITALIZAÇÃO


DE JUROS. 1. A renovação dos contratos de crédito educativo não
revela novação, eis que as obrigações que vão se sucedendo apenas
confirmam a primeira. A capitalização semestral dos juros, por ocasião
das renovações do contrato, são indevidas, na esteira da Súmula 121 do
STF ("É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente
convencionada"). 2. Decaindo a parte autora em parte mínima de seu
pedido, nos termos do § único do artigo 21 do Código de Processo Civil,
deve a ré arcar com os honorários e demais despesas. 3. Apelo provido.

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Decisão: A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos
termos do voto do Relator. (Apelação Cível nº 1999.71.05.003334-7/RS,
4ª Turma do TRF da 4ª Região, Rel. Juiz João Pedro Gebran Neto. j.
11.10.2001, Publ. DJU 31.10.2001 p. 1253)". (grifo nosso)

"Execução por Título Extrajudicial - Abertura de Crédito - Cheque


especial - Extrato bancário - Contrato de adesão - Notificação - Multa -
Juros compostos - É inadmissível a capitalização mensal de juros em se
tratando de financiamento bancário decorrente de contrato de abertura de
crédito para cheque especial, tendo em vista o disposto no art. 4º da Lei
de Usura e na Súmula n. 121 do STF, que não foi afastada pelo
Enunciado n. 596 do mesmo Tribunal. A jurisprudência vigente
uniformizou-se no sentido de não admitir a incidência de juros sobre
juros na hipótese de financiamento bancário através de contrato de
abertura de crédito, cheque especial, ainda que prevista expressamente
no pacto celebrado entre as partes. Isso porque a Súmula n. 121 do STF
não foi afastada pelo disposto no Enunciado n. 595 do mesmo Tribunal -
que não guarda relação com o anatocismo -, pelo que permanece ilegal a
capitalização de juros no ordenamento jurídico do País. (Ap. Cível nº
210.922-8 - TA MG - Relator Juíza Jurema Brasil Marins., j. 30.04.96)".
(grifo nosso)

Enfim, dispositivos legais não faltam para coibir as práticas ilícitas adotadas
pelas instituições financeiras neste País. Certamente o Poder Judiciário empenhar-se-
á em aplicar os mencionados preceitos, não compactuando com os abusos que vêm
sendo reiteradamente perpetrados pelo banco réu, em detrimento da autora e de
centenas de estudantes.

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Sistema Francês de Amortização- Tabela Price:

O banco réu emprega como modo de reajuste o Sistema Francês de


Amortização - Tabela Price -, conforme os itens 9 do contrato de financiamento.

A operação de reajuste feita pela empresa ré contraria leis simples de lógica e


bom senso e afronta flagrantemente a lei. Obviamente, deveria a instituição financeira,
a cada mês, ao receber a prestação mensal da estudante consumidora, amortizar este
valor do saldo devedor, para depois proceder à sua atualização monetária. No entanto,
constata-se, com estarrecimento, que o banco réu ao invés de amortizar primeiro para,
em seguida, efetuar a correção, comete o disparate de reajustar o saldo devedor e
somente depois reduzir o valor referente à prestação paga, gerando para a autora uma
situação insustentável.

O que se depreende dos inúmeros contratos de crédito educativo que


engendram um verdadeiro calvário para inúmeros estudantes, é que a ré vem se
aproveitando da estrutura de adesão para impor um ônus adicional e significativo ao
final do contrato ocasionado pela adoção da chamada Tabela Price.

Nesse sentido não se pode perder de vista a significativa contribuição para o


estudo do tema que nos é trazida por Luiz Antônio Scavone Júnior que assim define o
malfadado e também conhecido Sistema Francês de Amortização:

"Tabela Price, como é conhecido o sistema francês de amortização –


pode ser definida como o sistema em que, a partir do conceito de juros
compostos (juros sobre juros), elabora-se um plano de amortização em

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parcelas periódicas, iguais e sucessivas considerado o termo vencido.
Nesse caso, as parcelas compor-se-ão de um valor referente aos juros,
calculado sobre o saldo devedor amortizado, e outro referente à própria
amortização" (Scavone Júnior, Luiz Antônio. Os contratos imobiliários e
a previsão de aplicação da tabela price – Anatocismo, in Revista de
Direito do Consumidor, Vol.28, out/dez 98).

A eleição, absolutamente desfavorável ao estudante, do sistema francês de


amortização conduz, inexoravelmente, ao final de anos de reajuste mediante esta
operação ilícita e imoral, a uma diferença a maior no saldo devedor, diferença esta
verdadeiramente enorme.

Ademais, deve ser ressaltado que no caso da Tabela Price, por definição, os
juros são compostos, ou seja, o que se estabelece é um sistema de cobrança de juros
sobre juros disfarçados; o que implica dizer que a capitalização é composta, incidindo
a taxa de juros sobre o capital inicial, acrescido dos juros acumulados até o período
anterior.

É mister acentuar que o Dec. Lei 22.626/33, no disposto acima, aplica-se


plenamente aos contratos de concessão de crédito firmados com instituições
financeiras, como é o caso da requerida, devendo ainda restar claro que o mencionado
decreto somente não se aplica às instituições financeiras no que concerne à limitação
dos juros legais, estando obrigadas à observância da remuneração fixada pelo
Conselho Monetário Nacional (Lei 4.595/64, art. 4º, VI e IX), muito embora conste
do art. 192, § 3º da CF o limite de 12% ao ano. Não há que se falar portanto na
aplicabilidade da Súmula 596 do STF que veda a aplicação da Lei de Usura nas
operações que envolvam instituições financeiras. Destarte, não se pode concluir que a

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Lei 4.864/65 permite a cobrança de juros, uma vez que não logrou disciplinar
totalmente a matéria, nada dispondo acerca do montante e da capitalização dos juros,
permanecendo in totum as disposições do Dec. 22.626/33.

A jurisprudência pátria tem largamente se manifestado acerca do tema, que não


constitui novidade:

Mútuo - Juros – Débito mensal na conta corrente do mutuário, passando a


constituir novo saldo – Cálculo, no mês seguinte, sobre o novo saldo – Correção
Monetária a cada trimestre – Condenação dessa prática pela Súm. 121 do STF –
Capitalização de juros inadmitida - Anatocismo caracterizado ( 1º TACSP).

PROCESSO CIVIL. FINANCIAMENTO. CAPITALIZAÇÃO.


TABELA PRICE. AMORTIZAÇÃO. REAJUSTE DO SALDO
DEVEDOR E DAS PRESTAÇÕES. O uso da chamada Tabela Price, no
cálculo dos juros, padece de nulidade, salvo naqueles casos autorizados
por lei, porque "somente se admite a capitalização dos juros havendo
norma legal que excepcione a regra proibitória estabelecida no art. 4º do
Decreto nº 22.626/33" (STJ - REsp nº 63.372/PR). A amortização da
prestação, incluindo os juros, deve ser efetuada antes da correção do
saldo devedor. (Apelação Cível nº 0210172-8 (16993), 3ª Câmara Cível
do TAPR, Maringá, Rel. Noeval de Quadros. j. 25.02.2003, unânime).
(grifo nosso)

CIVIL. AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO. FINANCIAMENTO


IMOBILIÁRIO. CÓDIGO DE DEFESA AO CONSUMIDOR.
REAJUSTE DO SALDO DEVEDOR. CAPITALIZAÇÃO. TABELA

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PRICE. Os contratos bancários estão sujeitos ao Código de Defesa do
Consumidor. O uso da chamada tabela price, no cálculo dos juros,
padece de nulidade, salvo naqueles casos autorizados por lei, porque
"somente se admite a capitalização dos juros havendo norma legal que
excepcione a regra proibitória estabelecida no art. 4º do Decreto nº
22.626/33" (STJ-REsp nº 63.372-PR). A capitalização de juros é vedada,
mesmo as instituições financeiras (Súmula nº 121 do STF), ressalvada a
casos especiais, de acordo com a Súmula nº 93 do STJ. (Apelação Cível
nº 0210448-7 (16641), 3ª Câmara Cível do TAPR, Curitiba, Rel. Noeval
de Quadros. j. 15.10.2002, DJ 29.11.2002). (grifo nosso)

Na mesma direção o voto da Juíza Jurema Brasil Marins nos autos da apelação
de n° 236.906-4, cuja decisão foi unânime, o qual pede-se vênia para transcrever:

"Em se tratando de contrato de mútuo, afigura-se inconcebível a capitalização de


juros, tendo em vista a ausência de norma jurídica permissiva, incidindo o disposto
no art. 4º da Lei de Usura e na Súm. 121 do STF, a qual não foi afastada pelo
enunciado 596 do mesmo Tribunal."

Assim, não há dúvidas que é indevida a utilização da Tabela Price na


atualização monetária de contrato de financiamento estudantil firmado com
instituição do Sistema Financeiro Nacional. A irregularidade na aplicação desse
indicador é porque os juros crescem em progressão geométrica, sobrepondo-se juros
sobre juros, caracterizando-se a capitalização, o anatocismo. Na atualização, deve-se
aplicar juros legais ajustados de forma não capitalizada ou composta. As regras
previstas no Código de Defesa do Consumidor (CDC), portanto, são plenamente

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aplicáveis na hipótese de revisão desse financiamento que se configura como
operação bancária.

Sobre o tema, o Ministro-Relator, José Delgado, em recente decisão dada em


recurso especial (n° 572.210) pelo Superior Tribunal de Justiça, considerou como
elucidativo o mesmo entendimento manifestado pelo Desembargador Adão Sérgio do
Nascimento Cassiano do TJRS, no julgamento da Apelação Cível (n° 70002065662),
em 2002, envolvendo empréstimo habitacional.

Transcrevendo o acórdão do Desembargador, o Ministro registrou que "a


aplicação da Tabela Price, nos contratos de referência, encontra vedação em regras
dispostas no CDC, em razão da excessiva onerosidade imposta ao consumidor", no
caso o estudante. Reforçou que "a capitalização é legalmente proibida em nosso
sistema, nos contratos de mútuo, estando excetuados da vedação apenas os títulos
regulados por lei especial, nos termos da Súmula nº 93 do STJ".

No seu voto, o Desembargador asseverou que "na Tabela Price percebe-se que
somente a amortização é que se deduz do saldo devedor". Pelo Sistema Price, diz, "os
juros não são abatidos do saldo, mas são incluídos na prestação mensal, o que faz
com que a parcela de amortização seja menor, acarretando o pagamento de juros
maiores em cada prestação, porque são calculados e cobrados sobre saldo devedor
maior (porque a amortização deduzida é menor) em decorrência da função
exponencial contida na Tabela". Explicita que isso evidencia juros compostos ou
capitalizados, "de modo que o saldo devedor é simples e mera conta de diferença."
Para o magistrado, tratando-se de progressão geométrica, "quanto mais longo for o
prazo do contrato, mais elevada será a taxa e maior será a quantidade de juros que o
devedor pagará ao credor".

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Portanto, o posicionamento do STJ é que a aplicação da Tabela Price, nos


contratos em referência, encontra vedação na regra disposta nos artigos 6º, inc.
V, e 51, inc. IV, § 1º, inc. III, do CDC, em razão da excessiva onerosidade imposta
ao estudante. Além disso, concorda que na atualização de contrato de financiamento
estudantil, deve-se aplicar os juros legais, ajustados de forma não capitalizada ou
composta.

Por todo exposto, impõe-se uma revisão do contrato de financiamento estudantil de


modo a suprimir-se a disposição que prevê a utilização do sistema francês de
amortização por constituir causa de enriquecimento da instituição financeira em
detrimento da espoliada consumidora.

3. Da antecipação de tutela:

Por último, torna-se oportuno acrescentar que o réu vem utilizando-se, como
elemento de coação para obter o pagamento ou forçar a renegociação ad infinitum da
dívida, do lançamento do nome da autora e sua fiadora no rol dos maus
pagadores dos diversos órgãos de proteção ao crédito (CADIN, SPC, SERASA e
outros), causando-lhes danos de ordem creditícia e moral, prática de tudo vexatória
para a demandante que pretende, formada, entrar no mercado de trabalho com
dignidade.

Este tipo de procedimento vem de encontro ao princípio constitucional de livre


acesso ao Judiciário, art. 5º, XXXIV, de modo que a única forma de a autora ver valer
o seu direito é socorrer-se ao Poder Judiciário para que este afaste os meios de
pressão da ré ao menos enquanto o valor exigido estiver sub judice.

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A quaestio iuris discutida na presente ação enseja o deferimento da TUTELA


ANTECIPADA, como será demonstrado.

Com a antecipação de tutela criou-se um instrumento que visa a efetividade da


jurisdição, buscando-se a atenuação da influência negativa do tempo, por vezes
incompatível com a defesa dos direitos, cujo risco de pagamento reclama tutela
urgente, antecipando o direito postulado quando haja "fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação".

In casu, se antecipa provisoriamente a tutela pretendida pela autora como meio


de evitar que, no curso do processo, ocorra perecimento ou a danificação do direito
afirmado, preservando a possibilidade de concessão definitiva, se for o caso e desde
que esteja o juiz convencido da verossimilhança da alegação através de prova
inequívoca.

A prova inequívoca da verossimilhança do pedido, segundo o Código de


Processo Civil, arts. 273 e 461 c/c o Código de Defesa do Consumidor, art. 84, § 3º,
encontra-se consubstanciada diante do demonstrado contraste entre a lei e os termos
dos itens do contrato de financiamento estudantil, aos quais se reporta a parte autora.

Por conseguinte, urge que se determine o imediato recalculo do saldo devedor


do contrato de financiamento estudantil, extirpando-se os juros incidentes sobre o
saldo devedor no percentual de 9% ao ano, aplicando-se o art. 7º da Lei n° 8.436/92 e
eliminando-se a capitalização de juros.

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A demandante vem sofrendo danos ocasionados pela conduta da requerida,
contrária às normas constitucionais e infraconstitucionais citadas, sendo obrigada à
assunção de débito desarrazoado, em valores acima dos previstos em lei e dos
efetivamente devidos.

Some-se a isso que, diante da inadimplência pela impossibilidade de


pagamento, os nomes da autora e sua fiadora estão sendo lançados no SPC, SERASA,
CADIN e similares, causando verdadeiro constrangimento e dano moral à autora que,
por não suportar os juros repetidas vezes capitalizados, se vê impedida de honrar os
seus compromissos, e iniciar a sua carreira profissional sem a "qualificação" de "mau
pagadora", "caloteira" etc., que em muito dificultará ou, até, impossibilitará que se
firme, como profissional qualificada e honesta, no mercado de trabalho, sendo mais
um paradoxo de um financiamento que se diz de "instrumento de política social".

Presente o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.

Ademais, tal deferimento fará com que alguns efeitos decorrentes de eventual
sentença procedente sejam, desde já, preservados, para evitar dano irreparável ou de
difícil reparação à autora, pois as garantias constitucionais do devido processo legal e
do contraditório, previstas nos incisos LIV e LV do art. 5° da Constituição Federal
não lhe foram asseguradas.

O instituto da tutela jurisdicional antecipada possui, como requisito, o que a


doutrina findou por denominar "probabilidade da procedência dos fatos e do direito
argüidos".

Nesse sentido, mister apreciar a lição de Cândido Rangel Dinamarco:

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"O artigo 273 condiciona a antecipação de tutela à existência de prova


inequívoca suficiente para que o juiz ‘se convença da verossimilhança da
alegação’. (…)

Aproximadas as duas locuções formalmente contraditórias contidas no artigo


273 do CPC (prova inequívoca e convencer-se da verossimilhança), chega-se ao
conceito de probabilidade, portador da maior segurança do que a mera
verossimilhança. Probabilidade é a situação decorrente da preponderância dos
motivos convergentes à aceitação de determinada proposição, sobre os motivos
divergentes". (in Reforma do Código de Processo Civil, 2ª ed., ver. Ampl., São Paulo-
SP, Malheiros, 1995, p. 143).

Contudo, a verossimilhança encontra-se caracterizada, vez que a inscrição do


nome da parte autora em cadastro de inadimplentes, enquanto os valores estão
pendentes de decisão judicial, constitui inequívoco constrangimento ilegal, além de
restar demostrado pelos itens contratuais ora revisado as abusividades que incidem
sobre o direito da autora, conforme legislação vigente e o posicionamento
jurisprudênciais dos tribunais pátrios. Assim, é sabido, tal situação acarreta sérias
restrições creditícias e causa inúmeros transtornos à administração da vida pessoal,
residindo, aqui o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.

A jurisprudência pátria tem entendido que a inscrição nos órgãos de proteção


ao crédito, no caso de estar sendo discutido judicialmente o débito em questão,
consiste basicamente em meio de coerção dos devedores inadimplentes ao pagamento,
o que não pode ser aceito a partir do momento em que estes, dispondo-se a revisar o
débito consolidado, alegando a adoção pelo credor de práticas abusivas na aplicação

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das regras contratuais, demonstra a probabilidade da ocorrência das alegações iniciais,
possibilitando vislumbrar a verossimilhança das alegações.

Ainda, o Código de Defesa do Consumidor veda, em seu art. 42, a utilização do


constrangimento do devedor nas medidas tendentes a buscar o crédito até porque, a
partir da inscrição, a restrição ao crédito refoge no âmbito das partes, tornando-se
passível do conhecimento de terceiros. Trata-se, na verdade, de nítido
constrangimento comercial e pessoal, o que deve ser repudiado pelo Poder Judiciário
em defesa do direito do cidadão consumidor.

A intenção primeira da demandante é a efetivação do pagamento do


considerado devido, objetivando a não configuração da inadimplência enquanto
discute-se as avenças contratuais das quais discordam, além de não ter seu crédito
abalado por eventuais inscrições em cadastros protetivos de crédito.

VEJA QUE A AUTORA, COM A PROPOSITURA DA AÇÃO REVISIONAL,


JÁ SE ENCONTRA CADASTRADA COMO DEVEDORA NO SERASA, SPC,
CADIN E SIMILARES de modo que devem ser expedidos ofícios para que se retire
o nome da mesma destes cadastros, bem como de sua fiadora.

O FUMUS BONI IURIS, aqui invocado para a concessão da medida, se


consubstancia na real possibilidade de a autora ver o seu direito acatado pelo
Judiciário, além de ser prática reiterada em nossos Tribunais, a concessão de
liminares nas condições acima expostas.

Não se trata de benefício à autora, mas sim uma garantia para que esta possa
pleitear seus direitos junto ao Poder Judiciário sem o risco de ver seu nome e de sua

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fiadora estampados como devedoras. Nestes casos, a princípio, não se pode taxar uma
pessoa como devedor de um valor que se encontra sub judice.

O PERICULUM IN MORA no caso em baila resume-se na possibilidade de


lesão grave do direito da requerente, e de sua fiadora, face estar na iminência de
sofrer danos irreparáveis ou de difícil reparação como conseqüência da disseminação
de informações negativas da mesma que não condizem com a realidade, bem como a
impossibilidade de proceder qualquer operação financeira ou compra a crédito,
operações estas, aliás, imprescindíveis à realização de seus compromissos
profissionais e o seu dia a dia.

A situação, pela relevância, impõe ao credor o dever da prova do "perigo de


dano para o crédito", se pretender a restrição. Nesse sentido também decidiu o
Egrégio STJ:

"PROCESSUAL CIVIL- CAUTELAR SUSPENSÃO DE MEDIDA


DETERMINATIVA DE INSCRIÇÃO DO NOME DO DEVEDOR NO
SPC OU SERASA. Não demonstrado o perigo de dano para o credor,
não há como deferir seja determinada a inscrição do nome do devedor no
SPC ou SERASA, mormente quando este discute em ações aparelhadas
os valores sub judice. Precedentes do STJ. Recurso conhecido e provido.
(Relator Ministro WALDEMAR ZVEITER, RESP 161151, DJ de
29.06.98)."

Considera-se ainda, que a autora trata-se de pessoas sérias e idôneas, que


sempre honraram seus compromissos e não podem ter os seus nomes cadastrados
como devedoras de algo que a demandante não está se negando a pagar, apenas quer

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pagar dentro de que diz a lei e o que vem entendendo nossos Tribunais, de modo que
teria um grande abalo, inclusive moral, de ver seu nome disseminado e exposto à
sociedade como devedora.

Além do mais, não se está negando o pagamento do financiamento, apenas


quer que se apure o real valor devido, através da aplicação das leis pertinentes à
matéria, sem os juros e taxas abusivas cobradas pelo banco réu, dentro da ótica do
bom direito e de acordo com o que vem decidindo nosso Tribunal.

Tal procedimento está mais do que consagrado pelo nosso Tribunal de Justiça,
como bem ilustra as ementas a seguir transcritas:

Recurso: Agravo de Instrumento

Número: 196.044.622

Quinta Câmara Cível TARGS

"AGRAVO. CAUTELAR DE PROTESTOS. IMPEDIMENTO DE


REGISTRO NO SERASA. Enquanto é dabatida a existência do débito
ou seu montante, não se deve tratar o devedor como inadimplente.
AGRAVO DESPROVIDO."

Recurso: Agravo de Instrumento

Número: 196.052.252

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Oitava Câmara Cível TARGS

"AGRAVO DE INSTRUMENTO. REGISTRO NO SERASA. A


discussão judicial do débito é motivo para evitar o cadastramento do
devedor na SERASA, pois se está discutindo o quantum efetivamente
devido. O contrário acarretaria tratamento desigual entre as partes,
forçando os devedores a efetuarem os pagamentos pela quantia que os
credores entendem como corretas, funcionando como verdadeira forma
de coação e constrangimento, que é vedado pelo nosso ordenamento
jurídico (art. 42 do CDC). AGRAVO IMPROVIDO."

Deste modo, como já dito, haverá um dano irreparável e de difícil reparação à


autora, inclusive moral, uma vez que seguirá com seu nome execrado publicamente,
ficando privada de proceder qualquer compra a crédito, além de prejudicá-la no
campo profissional, tudo isto em virtude de uma informação que não reflete a
realidade.

Sobreleva notar que, enquanto os valores cobrados estiverem sub judice, é imperioso
que não se proceda nenhum cadastramento da autora e de sua fiadora como devedora,
conforme várias jurisprudências elencadas, uma vez que nosso Tribunal tem se
mostrado favorável à revisão destes tipos de contratos, de modo que não cabe, no
momento, proceder nenhum cadastramento neste sentido.

Desta forma, impõe-se o deferimento desta liminar para que a ré não inclua em
cadastros de inadimplentes a autora OU O RETIRE com relação a supostos débitos
oriundos do contrato que se está por revisar, bem como se abstenha de executar

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extrajudicialmente a parte autora, tendo em vista a já mencionada
inconstitucionalidade do Decreto 70/66.

DA CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

Ora, é inconteste que ao devedor assiste o direito de solver suas dívidas, sendo
para tanto, amparado pelo ordenamento jurídico, que propugna, justamente, pelo
adimplemento das obrigações, conforme se pode facilmente verificar, mediante
disposições do Código Civil, adiante transcritas:

"Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito


judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e
forma legais."

Estipula, ainda, o mesmo diploma legal, as hipóteses em que se entende cabível


o pagamento em consignação, sendo certo, a uma simples leitura, que o caso ora em
questão subsume-se, perfeitamente, à previsão do artigo que se transcreve:

"Art. 335. A consignação tem lugar:


I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o
pagamento, ou dar quitação na devida forma;
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e
condição devidos;

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III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado
ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto
do pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento."

Ademais, não se pode olvidar, que a relação ora em apreço é regulada pela Lei
nº 8.245/91, denominada Lei do Inquilinato, que traz em seu art. 67 disposição acerca
da possibilidade de se propor Ação de Consignação de Aluguel e Acessórios da
Locação, consoante se pode verificar:

“Art. 67. Na ação que objetivar o pagamento dos aluguéis e acessórios


da locação mediante consignação, será observado o seguinte:”

Conforme se verifica em resposta do agente financeiro e do Banco Central o


prazo da resposta seria o dia 25/07/2016 e isso não ocorreu.

Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito


judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e
forma legais.

Por tratar-se de prestações periódicas, bem como o fato de que o credor recusa-
se a receber o pagamento, é necessário consignar o depósito das parcelas vincendas,

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em juízo, nos respectivos vencimentos, conforme previsto no artigo 892 do Código
de Processo Civil Brasileiro.

Art. 892. Tratando-se de prestações periódicas, uma vez consignada a


primeira, pode o devedor continuar a consignar, no mesmo processo e
sem mais formalidades, as que se forem vencendo, desde que os
depósitos sejam efetuados até 5 (cinco) dias, contados da data do
vencimento.

A autora se vê constrangida com o acontecimento, está com o nome SUJO e


quer resolver o problema. Diante disso, não viu alternativa e recorre ao Judiciário
para ver solucionado seu problema.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer a parte autora a concessão imediata de TUTELA


ANTECIPADA, inaudita altera pars, visto que é plenamente cabível a concessão da
medida, como ora requerida, sem a prévia oitiva da parte adversa, para:

1 – determinar ao Réu, Banco do Brasil, a imediata suspensão, no cálculo das


prestações, da prática de abusividades contratuais, representada pelo modo de
reajuste das parcelas, amortização do saldo devedor, capitalização mensal de juros,
previstas nos itens citados na exordial por ausência de previsão legal, mantendo-se,
por conseguinte, no cálculo das referidas prestações, tão-somente e por analogia, a
taxa de rentabilidade conforme legislação vigente à época em que foi firmado tal

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contrato (Lei n.º 8.436/92), apropriada anualmente, e incidente apenas sobre o valor
do financiamento, excluída a capitalização de juros sobre juros;

2 – não sendo atendido o pedido n° 1, supra, requer-se, na forma do Código de


Processo Civil, art. 289, como pedido sucessivo, a concessão da tutela antecipada no
sentido de determinar-se à ré a utilização, no cálculo das prestações, apenas, a taxa de
rentabilidade de 9% (nove por cento) apropriada anualmente, e incidente apenas
sobre o valor do financiamento, excluída a capitalização de juros sobre juros;

3 – determinar à ré que proceda à imediata exclusão do nome da autora, caso tenham


sido incluídos em razão disso, nos registros do SPC, SERASA, CADIN ou outros,
por inadimplência esta existente em função da aplicação dos itens supramencionados,
os quais instituem a prática de abusividade contratual no financiamento estudantil;

4 – determinar à ré obrigação de não-fazer, consistente em abster-se de enviar o nome


da autora e sua fiadora nos registros do SPC, SERASA, CADIN e outros, até que
sejam revistos todos os itens considerados abusivos no contrato ora questionado;

5 – determinar que a ré não promova qualquer processo administrativo,


especialmente a execução extrajudicial prevista no Decreto-Lei n° 70/66, enquanto o
contrato estiver sub judice;

6 - que seja cominada multa diária, a ser arbitrada por este Juízo, em caso de
descumprimento da tutela antecipada.

No mérito, confirmando-se a tutela antecipada, requer e espera a parte autora:

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1 – que seja decretada a nulidade dos itens do Contrato de Financiamento Estudantil
que prevêem a utilização do sistema francês de amortização – Tabela Price - por
constituir causa de enriquecimento da instituição financeira em detrimento da
espoliada consumidora;

2 - que seja decretada a nulidade dos itens do Contrato de Financiamento Estudantil


que possibilitam à instituição financeira ré cobrar juros capitalizados mensalmente,
de acordo com a Súmula 121 do STF e art. 4° da Lei de Usura;

3 – Requer, na forma do Código de Processo Civil, art. 289, como pedido sucessivo, a
condenação da ré no cumprimento de obrigação de fazer, consubstanciada na
realização dos recalculos de atualização dos valores do saldo devedor do contrato
referente ao Financiamento Estudantil, com a utilização, tão-somente, da taxa de
rentabilidade de 9% (nove por cento) apropriada anualmente, e incidente, apenas,
sobre o valor do financiamento, excluída a capitalização de juros sobre juros;

4 – que seja a ré condenada a determinar a exclusão e a não proceder a inscrição da


autora e sua fiadora em qualquer sistema de controle de proteção ao crédito, tais
como SPC, SERASA, CADIN e outros, em virtude supostos débitos oriundos do
contrato que se está por revisar;

5 - que a ré não promova qualquer processo administrativo, especialmente a execução


extrajudicial prevista no Decreto-Lei n° 70/66, enquanto o contrato estiver sub judice;

6 – que seja reconhecida a relação de consumo entre os litigantes e,


consequentemente, sejam aplicadas aos normas do Código de Defesa do Consumidor

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ao contrato em tela, nos moldes dos artigos 6°, V, 42, 47, 51, 52 e 54 deste diploma
legal;

7 - que seja a ré condenada às custas e honorários advocatícios, a serem arbitrados


por Vossa Excelência, nos termos do Código de Processo Civil, bem como a suportar
outros encargos decorrentes da sucumbência.

8 - a citação do réu, por intermédio de seu(s) representante(s) legal(is), no endereço


constante do preâmbulo desta exordial, para, querendo, contestar o feito e
acompanhá-lo em todos os seus trâmites até o julgamento final, sob pena de revelia.

Requer a parte autora a produção de provas por todos os meios em direito admitidos,
especialmente a prova pericial, depoimentos pessoais e juntada de novos documentos.

Por fim, requer a parte autora que seja concedido o Benefício da Assistência
Judiciária Gratuita, com base no fundamento constitucional insculpido no inc.
LXXIV do art. 5° da Constituição Federal, bem como Leis 1.060/50, 7.115/83 e
7.510/86, tendo em vista não possuir condições econômicas de arcar com as custas
processuais e honorários advocatícios, periciais, conforme declaração de pobreza em
anexo, sem prejuízo de seu sustento próprio e de sua família.

Prequestiona-se os artigos 1°, caput, II, III; 3°, III; 5°, XXXII, XXXIV, LIV, LV; 6°;
48, XIII; 119, caput, I; 170, V; 205, todos da Constituição Federal/1988 e Súmula 121
do STF.

Em relação à consignação em pagamento requer:

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a) A expedição de guia para depósito da quantia devida EM 24 PARCELAS,
calculada em R$ R$ 5.046,55 (cinco mil quarenta e seis reis e cinquenta e cinco
centavos) a ser efetivado no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, após a intimação do
REQUERENTE, num valor de R$ R$ 210,28 (duzentos e dez reais e vinte e oito
centavos) cada.

II - A citação do REQUERIDO para levantar o depósito ou para oferecer resposta,


sob pena de ser acolhido o presente pedido, declarando-se extinta a obrigação,
condenando o réu nas custas e honorários de vinte por cento do valor dos depósitos.

III - Ao final, que se julgue procedente a ação e extinta a obrigação, condenando o


REQUERIDO nas custas e honorários do advogado.

Dá-se a causa o valor de R$ 5.046,55

Termos em que
Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 31 de agosto de 2016

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