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A chuva chove...
Canção
Eu ando sozinha
No meio do vale
Mas a tarde é minha.
Meus pés vão pisando a terra
Que é a imagem da minha vida:
Tão vazia, mas tão bela,
Tão certa, mas tão perdida!
Eu ando sozinha
Por cima de pedras
Mas a flor é minha.
Eu ando sozinha
Por dentro de bosques
Mas a fonte é minha.
Eu ando sozinha,
Ao longo da noite
Mas a estrela é minha.
Canção excêntrica
Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
projeto-me num abraço
e gero uma despedida.
Se volto sobre o meu passo,
é já distância perdida.
Meu coração, coisa de aço
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
- saudosa do que não faço,
- do que faço, arrependida.
Canção da alta noite
Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.
Andar, andar que um poeta
não necessita de casa.
Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.
Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.
Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.
Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.
Andar... - enquanto consente
Deus que seja a noite andada.
Porque o poeta, indiferente,
andar por andar - somente.
Não necessita de nada.
Lua Adversa
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
Epigrama nº 8
Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti.
Diálogo
Minhas palavras são a metade de um diálogo obscuro
continuando através de séculos impossíveis.
Agora compreendo o sentido e a ressonância
que também trazes de tão longe em tua voz.
Nossas perguntas e resposta se reconhecem
como os olhos dentro dos espelhos. Olhos que choraram.
Conversamos dos dois extremos da noite,
como de praias opostas. Mas com uma voz que não se importa...
E um mar de estrelas se balança entre o meu pensamento e o teu.
Mas um mar sem viagens.
Fio
No fio da respiração,
rola a minha vida monótona,
rola o peso do meu coração.
Tu não vês o jogo perdendo-se
como as palavras de uma canção.
Passas longe, entre nuvens rápidas,
com tantas estrelas na mão...
Aceitação
Desapego
Mesmo no sofrimento
Gosto de prazer.
Motivo
Se desmorono ou se edifico,
Se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Timidez
Reinvenção
A vida só é possível
reinventada.
Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vêm de fundas piscinas
de ilusionismo... – mais nada
Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços,
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcanço...
Só – no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva,
Só – na treva
fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Eclipse lunar
Pois ali está, no meio da noite, a Lua. É mesmo um lago de prata, com
vagas sombras cinzentas – sombras de árvores, de barcos, de aves
aquáticas... O céu está muito límpido, e é puro o brilho das estrelas.
Mas em breve se produzirá o eclipse.E, então, pouco a pouco, o
luminoso contorno vai sendo perturbado pela escuridão. A Terra, esta
nossa misteriosa morada, vai projetando sua forma naquele redondo
espelho. Muito lentamente sobe a mancha negra sobre aquela cintilante
claridade. É mesmo um dragão de trevas que vai calmamente bebendo
aquela água tão clara; devorando, pétala por pétala, aquela flor
tranqüila.
E o globo da Lua, num dado momento, parece roxo, sangüíneo, como
um vaso de sangue. Que singular metamorfose, e que triste símbolo! Ali
vemos a Terra, melancolicamente reproduzida na apagada limpidez da
Lua. Ali estamos, com estas lutas, estes males, ambições, cóleras,
sangue. Ali estamos projetados! E poderíamos pensar, um momento, na
sombra amarga que somos. Sombra imensa. Mancha sangüínea. (Por
que insistimos em ser assim?)
Ah! – mas o eclipse passa. Recupera-se a Lua, mais brilhante do que
nunca. Parece até purificada.
(Brilharemos um dia também com o maior brilho? Perderemos para
sempre este peso de treva?)
Noções
Meu Sonho
Os pássaros da madrugada
Canção
Serenata
Sem título
importância nenhuma.
importância nenhuma.
Canteiros
Ou Isto Ou Aquilo