Professional Documents
Culture Documents
Unicamp).
Esta mensagem é dedicada a você, eleitor consciente e crítico, cujo voto é fundamentado em
argumentos, que ainda está indeciso.
Ela é dividida em tópicos para facilitar: você pode ir direto onde lhe interessa.
Tudo o que será exposto nesta mensagem terá dados e respectivas fontes (clique nos links em
azul), diferentemente de tantos spams eleitorais e correntes apócrifas que surgem por aí.
Se você discordar de algo - o que é perfeitamente legítimo - o debate poderá se dar em cima de
evidências, em vez de boatos e achismos.
Tópico 1: Não é verdade que houve "aparelhamento da máquina administrativa" na Era Lula;
Tópico 2: Não é verdade que "houve mais corrupção no governo Lula"; pelo contrário, os
últimos 8 anos foram marcados por um combate inédito a esse mal;
Tópico 3: Não é verdade que "a economia foi bem no governo Lula só porque este não mudou a
política econômica de FHC";
Tópico 4: Não é verdade que o governo Lula "enfraqueceu as instituições democráticas"; pelo
contrário, hoje elas são muito mais vibrantes e sólidas;
Tópico 5: A campanha de José Serra é baseada nas fanáticas campanhas da direita norte-
americana, daí o perigo de referendá-la com seu voto.
Pois bem, então lhe perguntamos: quantos são esses cargos em comissão no Poder Executivo
federal? São 200 mil, 80 mil, 20 mil? Você faz ideia de qual é esse número preciso?
Vejamos: na página 33, você pode ver que há hoje, no Executivo federal, um total de 570 mil
servidores civis na ativa.
Os ocupantes de DAS (cargos de direção e assessoramento superior) são 21,6 mil (página 107).
Porém, os de recrutamento amplo, ou seja, aqueles que foram nomeados sem concurso, sem
vínculo prévio com a administração, são quase 6 mil (página 109), ou pouco mais de 1% do
total de servidores civis. Se você considerar apenas os cargos que são efetivamente de chefia
(DAS 4, 5 e 6), não chegam a mil e quinhentos.
Parece bem menos do que se diz por aí, não é mesmo? Agora vamos lá: para que servem esses
cargos? Não custa dizer o óbvio: em democracias contemporâneas, o grupo que ganha o poder
via eleições imprime ao Estado as suas orientações políticas. Em alguns países, o número de
comissionados é maior (caso dos EUA); em outros, menor (como na Inglaterra). É natural que
seja assim.
Vamos então falar de meritocracia? O que importa é que o governo Lula perseguiu uma política
de realização de concursos e de valorização do servidor público concursado sem precedentes.
Basicamente, com os novos concursos, a força de trabalho no serviço público federal retomou o
mesmo patamar quantitativo de 1997. A maior parte dos cargos criados pelo PT, porém, foi para
a área de educação: para as universidades e institutos técnicos já existentes ou que foram
criados. Volte no Boletim Estatístico e veja a página 90, sobre as novas contratações em
educação. Houve muitos concursos para Polícia Federal e advocacia pública, além de outras
áreas essenciais para o bom funcionamento do Estado.
O governo Lula regulamentou os concursos na área federal (veja os arts.10 a 19 deste Decreto),
recompôs as carreiras do ciclo de gestão, dotou as agências reguladoras de técnicos concursados
(veja a página 92 do Boletim Estatístico), sendo que nos tempos de Fernando Henrique, elas
estavam ocupadas por servidores ilegalmente nomeados.
E então? você ainda acha que houve inchaço da máquina pública? Dê uma olhada nos dados
deste estudo aqui.
E os tucanos, que alegam serem exímios na gestão pública? O que têm para mostrar?
Você sabia? O Estado de São Paulo, governado por José Serra, tem proporcionalmente mais
ocupantes de cargos em comissão por habitante do que o governo federal.
E os técnicos, concursados, como são tratados por lá? Bem, eles não estão muito felizes com o
Serra não.
Talvez porque as práticas que o PSDB mais condena no governo federal sejam justamente
aquelas que eles praticam no governo estadual...
Cientistas sociais sabem que é muito difícil "medir" a corrupção. Como a maior parte dela
nunca vem à tona, não chega a ser descoberta, noticiada e investigada, nunca se tem uma noção
clara do quanto um governo é realmente corrupto. O que importa, então, é o que um governo
faz para combater essa corrupção. E nisso, o governo Lula fica muito bem na fita.
Vamos começar pela Polícia Federal. Logo no início do governo, foi feita uma limpeza no
órgão (até a revista Veja chegou a publicar uma elogiosa reportagem de capa). Desde então,
foram realizados uma série de megaoperações contra corruptos, traficantes de drogas, máfias de
lavagem de dinheiro, criminosos da Internet e do colarinho branco (veja uma relação dessas
operações aqui). Só em 2009, foram 281 operações e 2,6 mil presos. Desde 2003, foram quase
dois mil servidores públicos corruptos presos. Quem compara os números não pode negar que a
PF de FHC não agia, e que a PF de Lula tem uma atuação exemplar.
Vamos ficar nesses casos, mas poderíamos citar muitos outros: o fortalecimento do TCU como
órgão de controle, um Procurador-Geral da República que não tem medo de peitar o governo (o
do FHC era chamado de "engavetador-geral da República", lembra-se?), o Decreto contra o
nepotismo no Executivo Federal. Numa expressão, foi o governo Lula quem "abriu a tampa do
esgoto".
Se uma pessoa acreditar menos numa mídia que é claramente parcial, e mais nas evidências, a
frase "o governo Lula foi o mais republicano da nossa história" deixará de parecer absurda. Que
tal abrir a cabeça para isso?
Tópico 3: Não é verdade que "a economia foi bem no governo Lula
só porque este não mudou a política econômica de FHC";
Quando se fala em política macroeconômica implantada por FHC, refere-se geralmente ao tripé
câmbio flutuante, regime de metas de inflação e superávit primário. Vamos poupar o leitor do
economês: basicamente, o preço do real em relação ao dólar não é fixo, flutuando livremente; o
Banco Central administra os juros para manter a inflação dentro de um patamar; e busca-se
bons resultados nas transações com o exterior para pagar as contas do governo.
Nem sempre foi assim, nem mesmo no governo FHC: até 1998, o câmbio era fixo. Todo mundo
se lembra que, em janeiro de 1999, o dólar, que valia pouco mais de um real, valorizou
subitamente para quatro reais. Talvez não se lembre que isso ocorreu porque FHC tinha mantido
artificialmente o câmbio fixo durante 1998, para ganhar a sua reeleição - que teve um custo
altíssimo para o país - e logo depois, vitorioso, mudou o regime cambial (no que ficou
conhecido como "populismo cambial"). O regime de metas de inflação foi adotado só depois
disso. Ou seja, FHC não só não adotou uma mesma política macroeconômica o tempo em que
esteve no Planalto, como também deu um "cavalo-de-pau" na economia, que jogou o Brasil
nos braços do FMI, para ser reeleito.
Que política macroeconômica de FHC então é essa, tão "genial", que o Lula teria mantido? A
estabilidade foi mantida, sim, e a implementação do Plano Real pode ser atribuída ao governo
FHC (embora Itamar Franco, hoje apoiador de Serra, discorde disso).
Mas Lula fez muito mais do que isso. A inflação não voltou: as taxas de inflação foram
mantidas, entre 2003 e 2008, num patamar inferior ao do governo anterior. E com uma
diferença: a estagnação econômica foi substituída por taxas de crescimento econômico bem
maiores, com redução da dívida pública.
A alta do preço das commodities no mercado externo favoreceu esse quadro (reduzindo a
inflação de custos), mas não foi tudo. O crescimento da economia também foi favorecido pelo
crescente acesso ao crédito: em 2003, foi criado o crédito consignado, para o consumo de massa
de pessoas físicas - e deu certo, puxando o crescimento do PIB; o BNDES se tornou um agente
importantíssimo na concessão de crédito de longo prazo (veja esta tabela), induzindo outros
bancos a paulatinamente fazerem o mesmo.
Os aumentos reais do salário mínimo e os benefícios do Bolsa Família foram decisivos para
uma queda da desigualdade social igual não se via há mais de 40 anos: foi a ascensão da classe
C.
E quando bateu a crise? Aí o governo Lula foi exemplar. Ao aumentar as reservas em dólar
desde o princípio do governo, dotou o país de um colchão de resistência essencial. Os aumentos
reais do salário mínimo e o bolsa família possibilitaram que o consumo não se retraísse e a
economia não parasse - o mercado interno segurou as pontas enquanto a crise batia lá fora. E,
seguindo o receituário keynesiano - num momento em que os economistas tucanos sugeriam o
contrário - aumentou os gastos do governo como forma de conter o ciclo de crise. Deu certo. E
a receita do nosso país virou motivo de admiração lá fora.
No meio da pior crise global desde a de 1929, o Brasil conseguiu criar milhões de empregos
formais. Provamos que é possível crescer, num momento de crise, respeitando direitos
trabalhistas, sendo que a agenda do PSDB era flexibilizá-los para, supostamente, crescer.
Você ainda acha que tucanos são ótimos de economia e petistas são meros imitões?
Então vamos ao argumento mais poderoso: imagens valem como mil palavras.
Dedique alguns minutos ao vídeo abaixo, e depois veja se você estaria feliz se Serra fosse
presidente quando a crise de 2008/2009 tomou o Brasil de assalto:
http://www.youtube.com/watch?v=Ig9pE6qwzxw&
Se você tem mais interesse nessa discussão, baixe este documento aqui e veja como andam os
indicadores econômicos do Brasil neste período de crescimento, inflação baixa e geração de
empregos.
Tópico 4: Não é verdade que o governo Lula "enfraqueceu
as instituições democráticas"; pelo contrário, hoje elas são
muito mais vibrantes e sólidas;
Mostramos no tópico 2 que os órgãos de controle e combate à corrupção se fortaleceram no
governo Lula. Além deles, os outros Poderes continuaram sendo independentes do Executivo. O
Legislativo não deixou de ser espaço de oposição ao governo (que Artur Virgílio não me deixe
mentir), e lhe impôs ao menos uma derrota importante. O Judiciário... bem, além de impor ao
governo derrotas, como no caso da Lei de Anistia, está no momento julgando o caso do
mensalão, o que dispensa maiores comentários.
E a imprensa? Ela foi silenciada, calada, em algum momento? Uma imagem vale por mil
palavras - clique aqui.
O que se vê, na verdade, é o oposto. Foi o Estadão, que se diz guardião da liberdade, quem
censurou uma articulista por escrever este texto, favorável ao voto em Dilma.
Sobre democracia, é impossível não abordar um tema que foi tratado à exaustão neste ano de
2010: o terceiro Plano Nacional dos Direitos Humanos, PNDH-3.
Muito se escreveu sobre seu caráter "autoritário", sobre a "ameaça" que ele representaria à
democracia. Pouco se escreveu sobre o fato de ele ser não uma lei, mas um Decreto do Poder
Executivo, incapaz, portanto, de gerar obrigações em relação a terceiros. Não se falou que se
tratava de uma compilação de futuros projetos de governo, que teriam que passar pelo crivo do
Poder Legislativo. Não foi mencionado que ele não partiu do governo, mas de uma Conferência
Nacional, que reuniu os setores da sociedade civil ligados ao tema. E pior, a imprensa
deliberadamente omitiu que seus pontos polêmicos já estavam presentes nos Planos de Direitos
Humanos lançados no governo FHC.
Duvida? Leia este texto e este aqui. Ou ainda, veja com seus próprios olhos: neste link, os três
PNDH's.
Olha lá, por exemplo, a temática do aborto no PNDH-2, de 2002 (itens 179 e 334).
Por fim: você realmente acha que um governo que traz a sociedade civil para discutir em
Conferências Nacionais, para, a partir delas, formular políticas públicas, é antidemocrático?
Pense nisso.
Você nota aí alguma coincidência com a campanha de José Serra, a partir de meados de
setembro de 2010?
Não?
Então vamos compilar algumas acusações, boatos e promessas que surgiram nas ruas, na
internet, na televisão e nos jornais, com o objetivo de desconstruir a imagem da candidata
adversária, ao mesmo tempo em que tentam atrair votos com base em mentiras e oportunismo.
Campanha terceirizada:
Panfletos pregados em periferias associaram a candidatura de Dilma a tudo o que, na ótica
conservadora, ameaça a família e os bons costumes;
Panfletos distribuídos de forma apócrifa disseram que Dilma é assassina, terrorista e bandida,
com argumentos dignos da época da Guerra Fria;
E você acha que isso foi iniciativa isolada de apoiadores, sem vínculo com o comando central
da campanha? Sinto lhe informar, mas não é o caso: é o PSDB mesmo que financiou e
fomentou esse tipo de campanha de baixo nível.
Oportunismo religioso:
- José Serra distribuiu panfletos em igrejas, associando seu nome a Jesus Cristo;
- José Serra pagou campanhas de telemarketing para associar o nome de Dilma ao aborto;
- Até hino em igreja evangélica o Serra cantou;
- José Serra começou a ir a missas constantemente, de forma tão descarada que chamou atenção
dos fiéis;
Isso sem citar os boatos que circulam nas ruas, nos ônibus, nas conversas de bar e entre taxistas.
E então: você ainda acha que a campanha de Serra é propositiva, digna, limpa? Um candidato
que se vale de expedientes tão sujos para chegar ao poder merece o seu voto?
http://napraticaateoriaeoutra.org/?p=7171