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1.

INTRODUÇÃO

Segundo Gonçalves (2011), "nas sociedades primitivas desconhecia-se a


existência de garantia real. Respondia o devedor com a sua pessoa, isto é, com o próprio
corpo para o pagamento de suas dívidas; Em alguns povos ele era adjudicado ao credor.
Em outros, tornava-se escravo de seu credor, juntamente com sua mulher e filhos”.

Objetivando a solvência de tal situação, buscou o legislador instituir maiores


garantias, sendo as mesmas de caráter pessoal ou fidejussórias, nas quais "terceira
pessoa se obriga, por meio de fiança, a solver o débito, não satisfeito pelo devedor
principal," esta garantia decorre do contrato de fiança, como pontua Gonçalves (2011),
"é uma garantia real, que por sua vez concerne ao fato de o "próprio devedor, ou alguém
por ele, oferece todo ou parte do patrimônio para assegurar o cumprimento da
obrigação", considerada a mais eficaz, pelo fato de vincular a coisa do devedor ao
pagamento da dívida, através do penhor, da hipoteca ou da anticrese, que fica vinculado
visando à satisfação do crédito.

O penhor surgiu como uma alternativa ao instituto da fidúcia, representando o


contrato pelo qual o devedor entregava a posse da coisa móvel que lhe pertence ao
credor, como garantia do pagamento.

Com a crescente complexidade da realidade social romana, o instituto jurídico


do penhor ganhou vulto, ao permitir uma modalidade de garantia real que vedava a
privação da propriedade, atendendo, dessa forma, a necessária segurança nas relações
jurídicas e o interesse dos devedores em se utilizarem de recursos de crédito.

2. DIREITOS REAIS DE GARANTIA

O direito das coisas ocupa-se com a relação jurídica de titularidade, de poder que
vincula a coisa alienável a um sujeito de direito, ainda que a coisa seja alheia, logo, não
pertencente ao domínio da pessoa, como na hipótese em que a norma jurídica permite
que terceiro possa usar ou ter como seu um bem integrante do patrimônio de outrem:
dando direito real sobre coisa alheia.
De acordo com Rodrigues (2003), "a garantia real se apresenta quando o devedor
separa de seu patrimônio um bem e o destina, primordialmente, ao resgate de uma
obrigação".

A natureza real do direito de garantia é confirmada no art. 1.419 do Código


Civil: “Nas dívidas garantidas por penhor, anticrese ou hipoteca, o bem dado em
garantia fica sujeito, por vínculo real, ao cumprimento da obrigação”.

Como embasamento da imposição legal, ao credor pignoratício é conferido o


direito de preferência (CC, art. 1.442, parágrafo único) ao pagamento do seu crédito,
vale dizer, tem precedência no recebimento dos montantes devidos pela dívida, ou seja,
quando houver diversos credores para uma dívida e posterior ocorrer a arrematação do
bem onerado, será dada preferência ao pagamento dos credores que ostentarem
garantias reais para que, posteriormente, se efetue o pagamento dos demais credores.

Outro efeito dos direitos reais de garantia é o direito de excussão, ou seja, de


poder executar judicialmente bens do devedor dado em garantia, uma vez que as
operações de penhor são consideradas títulos executivos extrajudiciais.

Portanto, o conceito e a natureza jurídica desse instituto, segundo o regramento


contido no art. 1.431 do Código Civil, penhor é o direito real constituído pela
submissão de uma coisa móvel ou mobilizável, passível de alienação, realizada pelo
devedor, em garantia do débito ao credor.

Como visto, a natureza jurídica do penhor é de direito real de garantia sobre


coisa alheia, vale dizer: “o direito do credor pignoratício recai diretamente sobre a coisa.
Uma vez legalmente constituído, opera erga omnes, é munido de ação real e de sequela,
deferindo, ademais, ao seu titular, as vantagens da preferência.”

Constituído regularmente o penhor, surge em favor do credor pignoratício o


direito real que vincula a coisa empenhada ao pagamento da dívida e acompanha o bem
onerado com quem quer que se ache.

3. CARACTERÍSTICAS

O penhor possui caráter acessório, por ser mesmo direito de garantia, e, como
tal, segue a sorte da coisa principal. É direito indivisível, ainda que presente a
divisibilidade da coisa ou da obrigação, permanecendo o bem onerado sob constrição
legal de garantia da dívida. Como contrato real que é, o penhor exige, além do mero
acordo volitivo das partes, a entrega da coisa empenhada para a sua perfeita operação.
Depente da tradição, embora não seja um requisito absoluto, pois em algumas
modalidades de penhor (p. ex.: penhor rural, industrial, mercantil e de veículos), a coisa
empenhada continua em poder do devedor, que a deve guardar e conservar (CC, art.
1.431, parágrafo único).

4. DIREITOS E DEVERES DO CREDOR PIGNORATÍCIO

Conforme o art. 1.433 do Código Civil, o penhor confere ao credor pignoratício


os seguintes direitos: a posse da coisa empenhada; a retenção dela, até que o indenizem
das despesas devidamente justificadas, que tiver feito, não sendo ocasionadas por culpa
sua; o ressarcimento do prejuízo que houver sofrido por vício da coisa empenhada;
excutir a coisa empenhada, promovendo a execução judicial, ou a venda amigável, se
lhe permitir expressamente o contrato, ou lhe autorizar o devedor mediante procuração;
apropriar-se dos frutos da coisa empenhada que se encontra em seu poder; promover a
venda antecipada, mediante prévia autorização judicial, sempre que haja receio fundado
de que a coisa empenhada se perca ou deteriore, devendo o preço ser depositado,
ressalvado o direito do dono da coisa empenhada de impedir a venda antecipada,
substituindo-a, ou oferecendo outra garantia real idônea.

Se o devedor continuar com a posse da coisa, na condição de depositário, por


força de lei ou do contrato, terá o credor direito à ação correspondente no caso de
inadimplemento daquele (CPC, arts. 901 a 906). De igual forma, constituído depósito
nas mãos do credor, torna-se depositário do bem e, uma vez paga a dívida, sujeita-se
igualmente à ação de depósito, face ao desaparecimento da causa da garantia real.

5. ESPÉCIES

O penhor legal é a modalidade de garantia real estabelecida pela lei em favor de


certas pessoas, como se extrai do art. 1.467 do Código Civil. São requisitos dessa
espécie de penhor o negócio jurídico precedente, de hospedagem ou congênere e de
locação, e o inadimplemento dela decorrente. A relação contratual prévia caracteriza o
penhor legal, porém, não é ela que o forma, mas o inadimplemento da obrigação em sua
consequência. Quanto às modalidades de penhor convencional e especiais seguem
abaixo elencadas:

i. Penhor Rural: subdivide-se em agrícola e pecuário; o penhor agrícola incide


sobre culturas e plantações (1442) e o penhor pecuário sobre animais domésticos
(1444). Ambos exigem contrato solene (1424), seja particular ou público,
registrado no Cartório de Imóveis do lugar da fazenda (1438). A posse da coisa
empenhada permanece com o devedor, o que é uma grande vantagem para o
devedor, como na hipoteca, e ao contrário do penhor convencional. O devedor
fica assim utilizando os bens empenhados e usa o dinheiro para melhorar sua
produção, trazendo progresso para o campo. É por isso que não se pode depois
ter pena do devedor: ele usou o dinheiro do credor para gerar emprego e renda, e
se por má-fé ou incompetência não obteve o resultado esperado, precisa pagar a
dívida e ter seus bens executados. Muitas vezes o devedor alega a “crise”, ou a
“seca”, para justificar sua inadimplência, mas tais fatores sempre existiram e
nunca impediram empresários mais capazes de se desenvolver. Proteger o
devedor, como já disse, é prejudicar os bons pagadores e é frustrar o credor, que
na próxima vez deixará de emprestar, ou vai cobrar juros mais altos, ou exigir
mais garantias, e sem crédito não existe progresso, perdemos todos.

ii. Penhor Industrial: é o das máquinas e demais objetos do 1.447. Interessa ao


Direito Comercial. Existem muitas normas, decretos e portarias regulamentando
o penhor especial, que só vale a penas vocês conhecerem caso queiram se
especializar neste assunto.

iii. Penhor Mercantil: é o das mercadorias depositadas em armazéns, conforme p.ú.


do 1.447. Exige registro no Cartório de Imóveis do lugar do armazém (1.448).

iv. Penhor de direitos e de títulos de crédito: incide sobre o direito autoral ou sobre
um cheque ou uma nota promissória (1451). Então o proprietário intelectual de
obra autoral pode empenhá-la, afina o direito do autor, embora incorpóreo,
também integra o patrimônio das pessoas. E tudo que é alienável é empenhável.
Já vimos Direito do Autor no semestre passado, outro ótimo tema para a
monografia de final de curso. O penhor de direitos exige registro no Cartório de
Títulos e Documentos (1452). Já o penhor de título de crédito se perfaz pela
tradição do título ao credor (1458).
v. Penhor de veículos: é novidade do CC e é mais um instrumento para aumentar a
venda de veículos, juntamente com o leasing, a venda com reserva de domínio e
a alienação fiduciária (1461). Aplica-se também a caminhões, lanchas, etc. Já
navios e aviões sujeitam-se a hipoteca, que veremos na próxima aula. Na prática
a alienação fiduciária é mais utilizada por ser melhor para o credor, como
veremos em breve. O penhor de veículos exige anotação no documento do
veículo (1462). O art. 1463 traz uma determinação que deveria ser extensiva ao
leasing e à alienação fiduciária, afinal já sabemos que o contrato de seguro é
importante por dividir por muitos o prejuízo imposto a alguém pelo destino. A
falta de seguro representa um grande problema para o devedor caso o veículo
venha a sofrer um roubo ou acidente, pois o devedor fica sem o bem e ainda tem
que pagar a dívida.

6. EXTINÇÃO

Segundo o Código Civil (art. 1.436), o penhor é resolvido com a extinção da


obrigação; o perecimento da coisa; a renúncia do credor; a confusão na mesma pessoa
das qualidades de devedor e credor; e a adjudicação judicial, a remição, ou a venda
amigável do penhor, se permitir expressamente o contrato ou for autorizada pelo
devedor.

Insta salientar que, seja qual for a causa de extinção do penhor, seus efeitos em
relação a terceiros apenas serão produzidos após a averbação do cancelamento do
registro da garantia, à vista da respectiva prova (CC, art. 1.437), como, por exemplo,
sentença judicial, documento do devedor etc. É que o penhor, como direito real, produz
efeitos erga omnes com o seu registro no órgão competente, logo, sua desconstituição
também reclama o devido cancelamento do registro anteriormente realizado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RODRIGUES, Sílvio. Direito civil: direito das coisas. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2011.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. 5 vol. 6 ed.
São Paulo: Saraiva, 2011.

FRANCESCHINA, Aline Oliveira Mendes de Medeiros. Direitos Reais de Garantia: Do


Penhor/ Artigos Comentados Individualmente. Disponível em:
<http://www.lex.com.br/doutrina_25664222_DIREITOS_REAIS_DE_GARANTIA_D
O_PENHOR_ARTIGOS_COMENTADOS_INDIVIDUALMENTE.aspx> Acesso em
23 de fevereiro de 2019.

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