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A INCLUSÃO MENOR: UM ENSAIO INSPIRADO NA OBRA “KAFKA” DE


DELEUZE E GUATTARI

Article · November 2016

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Silvia Ester Orrú


University of Brasília
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A inclusão menor: um ensaio
inspirado na Obra “Kafka”, de
Deleuze e Guattari

Sílvia Ester Orrú1

Resumo
A educação é um direito fundamental do cidadão. Para garantir esse
direito, legislações foram feitas para que alunos com deficiências
tivessem acesso e permanência nas escolas. A esse movimento deu-
se o nome de inclusão. Contudo, apesar das legislações instituídas,
muitos alunos sofrem uma pseudoinclusão, pois, embora tenham
acesso físico à escola, o acolhimento que promove o sentimento
de pertencimento ao grupo inexiste. O objetivo deste texto é dar a
conhecer o conceito de “inclusão menor”, inspirado na leitura de
“Kafka, por uma literatura menor”, de Deleuze e Guattari. Foram
realizadas duas entrevistas, com uma diretora e uma professora,
além de uma roda de conversa com uma turma de crianças do
primeiro ano. Como resultados, são apresentadas experiências
nas quais a inclusão faz parte da filosofia pedagógica e de vida
da comunidade escolar. Por fim, conceitua-se inclusão menor
como aquela que acontece na diferença que se diferencia, e sem a
imposição legal como sua motivação.

Palavras-chave: inclusão; diferença; inclusão menor; educação;


singularidades.

1 Docente do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade de Brasília. Professora


colaboradora na Universidade Federal de Alfenas. Coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas
em Aprendizagem e Inclusão (LEPAI).

Educação em Foco, ano 19 - n. 28 – mai./ago. 2016 p. 47-73 47


A inclusão menor: um ensaio inspirado na Obra “Kafka”, de Deleuze e Guattari

The lesser inclusion: an essay inspired in the


work of “Kafka” of Deleuze and Guattari

Abstract

Education is a fundamental right of the citizen. To safeguard this


right laws were made for students with disabilities so they may
access and retention in the schools. In this movement was given
the name of inclusion. However, despite the established laws,
many students experience a pseudo-inclusion, since, although
they have physical access to school, the treatment that promotes
the feeling of belonging to the nonexistent group. The this paper
aims to introduce the concept of “lesser inclusion” inspired by
readings of “Kafka, by a lesser literature” of Deleuze and Guattari.
Two interviews were held, one with a school principal and a
the other with a teacher, in addition to a round of conversation
with a child class of the first year. As a result, experiments that
demonstrate inclusion as a part of the educational philosophy
and life of the school community were presented. Lastly, lesser
inclusion is conceptualized as that which occurs in the difference
that is different and without the legal imposition as its motivation.

Keywords: inclusion; difference; lesser inclusion; education;


singularities.

1 Introdução

As políticas afirmativas para a educação brasileira postulam um


acervo de leis e decretos de ordem nacional e internacional que versam
sobre o direito de todos à educação. Constituem-se de instrumentos
universais que norteiam o plano nacional de educação, na perspectiva
da educação inclusiva. O Brasil recebeu impacto do movimento da
inclusão iniciado, primeiramente, em outros países, e que resultaram em
documentos internacionais dos quais nosso país é signatário. Vejamos,
em ordem cronológica, algumas das legislações que amparam a inclusão

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Sílvia Ester Orrú

no Brasil: Declaração Mundial de Educação para Todos (1990); Lei nº.


8.069/90; Declaração de Salamanca (1994); Convenção da Guatemala
(1999); Carta para o Terceiro Milênio (1999); Decreto nº 3.298 (1999), que
regulamenta a Lei nº 7.853/89; Declaração Internacional de Montreal
(2001); Resolução CNE/CEB nº 2/2001;  Lei nº 10.172/2001; Resolução
CNE/CP nº1/2002; Lei nº 10.436/02; Portaria nº 2.678/02; Decreto nº
5.296/04; Decreto nº 5.626/05;  Decreto nº 6.094/07; Convenção sobre
os Direitos das Pessoas com Deficiência (2008); Decreto nº 6.949/09;
Resolução nº 4 CNE/CEB/2009;. Decreto 7611/2011; Lei nº 12.764/2012;
Lei nº 13.146/2015.
Contudo, mesmo existindo as leis, coexistem as brechas aniquiladoras
da probidade, bem como as fendas para descender à jurisprudência. A
jurisprudência se mostra mais importante em seu acontecimento do que
as próprias leis. Ela se abastece e se constitui não pelo complexo de leis
maiores, mas sim pelos acontecimentos menores, particulares, singulares.
Este ensaio surge inspirado na leitura de “Kafka, por uma literatura
menor”, obra publicada por Deleuze e Guattari (2003) em que espelhamos
a problemática da inclusão. “Kafka, por uma literatura menor” é uma
reunião de ensaios realizados por Deleuze e Guattari a partir de temas
e questões presentes na obra de Franz Kafka. Constitui-se de diversas
análises e questionamentos não só sobre a obra de Kafka, mas também
sobre todo um período político e social. Literatura menor, conceito
utilizado por Deleuze e Guattari, em uma dimensão que se fundamenta
na ideia de desterritorialização, diz respeito a um desconjuntamento
desencadeado pela perda do verdadeiro caráter cultural a partir da
marginalização de grupos étnicos que se tornam estrangeiros em sua
própria língua e que subtraem na indigência da língua a potência
criadora. O sentido de “menor”, nesse contexto, está relacionado a um
devir que pertence a uma minoria e que produz linhas de fuga para a
linguagem, de maneira a re-inventar resistências e potências (DELEUZE,
1992).
Embora existam leis e políticas maiores que a orientam, a inclusão
sempre re2-torna e se re-cria em espaços muitas vezes hostis de disputas

2 Optamos pela escrita das palavras com ênfase no prefixo “re”. “Re”, prefixo

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e de conflitos de ordem cultural, política e territorial, emergindo o caos e


desequilibrando o que parecia estar harmonizado. Na verdade, ela grita
e ressuscita o silenciado, aquele que se encontra excluído. Apesar de
existir sólida legislação que legitima a inclusão no contexto macrossocial,
como a escola, a saúde e o mercado de trabalho, por exemplo, nesses
espaços, ainda encontramos a rispidez e a brutalidade da discriminação
e do preconceito, que criam mecanismos de exclusão pela diferença
do sujeito. Esses espaços, concebidos neste trabalho como “maiores”,
provocam a inclusão, em toda sua complexidade, para transcender às
muitas dificuldades, criando possibilidades de seu acontecimento no
meio de diferentes contextos, cujo excluído enuncia sua voz e evidencia
que a diferença não é somente sua, porém, uma qualidade de todos os
pertencentes à espécie humana. Esses microcontextos, em que a inclusão
se faz presente em disputa acirrada com aquilo que já está posto no
macrocontexto da sociedade para diferenciar e classificar pessoas, é
que concebemos como um espaço “menor”, que existe e coexiste com
o “maior”.
O objetivo deste texto é dar a conhecer o conceito de inclusão menor,
bem como apresentar experiências nas quais a inclusão faz parte da
filosofia pedagógica e de vida da comunidade escolar, de maneira a
envolver a todos beneficamente.

2 Procedimentos métodológicos

Os procedimentos metodológicos se fundamentaram na abordagem


qualitativa. Com o objetivo de conhecer o que os sujeitos da pesquisa
pensam sobre “diferença”, optamos pela realização de entrevista aberta
com os participantes adultos, para produzirmos informações acerca dos
pormenores do olhar que têm sobre o tema da inclusão. Com as crianças
participantes da pesquisa, optamos pela roda de conversa.
Segundo Méllo et al. (2007), as rodas de conversa favorecem a
existência de diálogos sobre um determinado tema e possibilitam que
os participantes enunciem suas vozes, contraditórias ou não, de modo

de origem latina, elemento que designa repetição, reciprocidade, retorno.

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que todos ouvem o que cada um tem a dizer sobre o tema abordado,
sendo, ao mesmo tempo, instigado a se colocar sobre o assunto. Esse
processo dialógico, favorecido pelas rodas de conversa, é próprio das
metodologias participativas de abordagem qualitativa.
Para esta pesquisa, a roda de conversa foi um recurso que possibilitou
o diálogo, de maneira que as crianças pudessem se enunciar sobre
o tema. Por meio da roda de conversa, ao mesmo tempo em que as
crianças enunciavam suas vozes sobre “diferença”, também tiveram
a oportunidade de perceber o enunciar e o pensar compartilhado
pelos demais colegas, tendo a possibilidade de dar significação aos
acontecimentos.
Sobre a metodologia qualitativa, foram realizadas, em uma escola
de ensino fundamental situada no Sul do Estado de Minas Gerais, duas
entrevistas: uma entrevista com a diretora da escola e outra, com uma
professora do primeiro ano. A seleção dessa escola se deu pelo fato de
ser a única da cidade com Projeto Político Pedagógico fundamentado
na aprendizagem por projetos, avessa ao sistema apostilado, e por se
caracterizar como uma escola com princípios inclusivos.
As entrevistas abertas ocorreram da seguinte forma: à diretora da
escola, foram apresentadas as palavras “diferença – inclusão – gestão”,
e, à professora, foram apresentadas as palavras “diferença – inclusão –
aprendizagem”. As entrevistas foram gravadas e não tiveram intervenção
da pesquisadora.
Também foi realizada uma roda de conversa com a turma da
professora entrevistada, com crianças entre 6 e 7 anos de idade3. A turma
é constituída por 25 crianças, sendo que duas possuem o diagnóstico
de autismo, e uma possui comprometimentos motores e de fala, além
de outras quatro crianças advindas de culturas distintas, três delas,
filhos de imigrantes. As crianças fizeram uma roda e se sentaram uma
ao lado da outra. Explicamos que gostaríamos de conversar com elas
sobre o conteúdo de um vídeo musical. Às crianças, foi apresentado
o vídeo com a música “Você vai gostar de mim”, cantada por Xuxa
Meneguel. A letra da música aborda a diferença entre as pessoas, e as

3 Os nomes citados das crianças são pseudônimos.

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A inclusão menor: um ensaio inspirado na Obra “Kafka”, de Deleuze e Guattari

imagens apresentam crianças que usam cadeiras de rodas, crianças com


deficiência visual, crianças com as mais diversas características. Após
verem o vídeo, as crianças foram convidadas a falarem o que quisessem
a respeito do clipe. Embora todas permanecessem atentas durante e
após a apresentação do vídeo, algumas aparentaram certa timidez e
preferiram não falar; contudo, acenavam concordando ou discordando
dos colegas que enunciavam suas vozes na roda de conversa. Outras
crianças contaram diversos fatos sobre brincadeiras e momentos em
sala junto aos coleguinhas, na intenção de apontar que gostavam uns
dos outros, que se apoiavam e que todos participavam das atividades.
Para o presente texto, escolhemos trechos das vozes enunciadas que
auxiliam na compreensão do que propomos como “inclusão menor”.
Não houve intenção de analisar conteúdos ou discursos, mas sim de
evidenciar como processos inclusivos podem acontecer quando o
respeito às diferenças e o entendimento de que somos todos diferentes
está presente no Projeto Pedagógico da escola, na filosofia da escola,
independente de uma “inclusão maior”, estabelecida por legislações
que não garantem que, de fato, acontecerá um processo de educação
inclusiva de qualidade para todos os envolvidos na comunidade escolar.

3 A inclusão menor: um conceito de acolhimento

Uma inclusão menor, roubando e fecundando o conceito de


“menor” latente em “Kafka”, por meio de seus autores, não é uma
inclusão minguada, de menos valia ou inferior. Entendemos que é
a inclusão que se faz todos os dias nos mais diversos e minúsculos
espaços de aprendizagem, independente da lei maior - aquela
promulgada pelo Estado, que obriga haver a inclusão – mas sim
pela convicção de que seus pressupostos são como uma filosofia
de vida que a minoria gera no território de uma política maior.
Contudo, não se trata da existência de binarismo entre “inclusão
menor” versus “inclusão maior”, pois, nos pressupostos de
Deleuze, no contexto de Kafka, a língua menor sempre acontecerá
no âmago da língua maior como uma combinação engenhosa de
tensão na língua preponderante (DELEUZE, 1977, p. 38-39).

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A inclusão menor é aquela que não é pseudalizada; é aquela que se


faz presente para além do papel do Projeto Pedagógico da escola, para
além do abstrato e do intelectual das políticas públicas promulgadas da
inclusão maior. É aquela que não é estacada, por obrigatoriedade da lei,
para que os outros a vejam existir na escola, sem motivos de denúncia
que atrapalhariam o bom e desejável andamento legal da instituição. A
essa inclusão que coexiste nas fronteiras, na linha divisória do enlace
binário, excluídos/incluídos, é que chamamos de inclusão menor.
Menor, no sentido Deleuziano (1977), é aquela maneira habitual de
proceder que avoca sua importância escassa e secundária no tocante às
representações e ideologias da língua (em nosso caso, da inclusão) e que
admite o desterro nas entranhas dos costumes palradores da maioria,
de modo a se tornar como um forasteiro em seu próprio território, em
sua própria língua, consentindo aparecer à inflexão particular regional,
e o não reconhecimento daquele que fala fora do lugar ou daquele que
toma para si espaços de anonimato, descaracterizados e impessoais.
A inclusão menor não é anunciada nas redes sociais, nos meios de
comunicação televisivos; não aparece em matérias de jornais, não se torna
um exemplo de conquista nacional, mas é um acontecimento provocador
de devires e chama à desterritorialização para o acesso de todos, sem
discriminação à educação.
De certo modo, o conceito de inclusão menor aqui esculpido pode
aparentar discrepância com aquele estabelecido por Deleuze (1977).
Isto porque, a princípio, a inclusão menor deveria ser benéfica apenas
para a minoria, os classificados como excluídos. Ocorre que, no
entendimento de que não há identidades, mas apenas uma identidade
(a de Ser humano), e de que a diferença é todos, é própria da espécie
humana, e não somente daquele nomeado como deficiente, a inclusão
menor, em sua potência, acaba por ser benéfica a todos, uma vez que
ela desterritorializa o território dos excluídos e dos incluídos, uma vez
que todo ser humano, em algum momento, vive circunstâncias no papel
de excluído e de incluído.

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A inclusão menor: um ensaio inspirado na Obra “Kafka”, de Deleuze e Guattari

Toda sociedade, mas também todo indivíduo, são, pois,


atravessados pelas duas segmentaridades ao mesmo tempo: uma
molar e outra molecular. Se elas se distinguem, é porque não
têm os mesmos termos, nem as mesmas correlações, nem a
mesma natureza, nem o mesmo tipo de multiplicidade. Mas,
se são inseparáveis, é porque coexistem, passam uma para a
outra, segundo diferentes figuras como nos primitivos ou em
nós – mas sempre uma pressupondo a outra. Em suma, tudo é
político, mas toda política é ao mesmo tempo macropolítica e
micropolítica (DELEUZE; GUATTARI, 2012, p. 90).

Ainda, com relação à noção de diferença em Kafka, os autores


enunciam: “Porque nós não enxergamos qualquer diferença entre todas
essas coisas (quem pode afirmar a diferença que há entre uma oposição
diferencial estrutural e um arquétipo imaginário cuja propriedade é a
de diferenciar-se?” (DELEUZE; GUATTARI, 2003, p. 25). Justamente por
sermos da espécie humana é que apresentamos imensas diferenças, pois
somos idênticos em nossa única identidade de Ser humano. Portanto, a
inclusão que acentuava certa territorialidade factícia se torna centro de
perturbação das circunstâncias e das pessoas, uma espécie de membrana
que se liga arrojadamente ao processo de desterritorialização.
É nesse sentido que a inclusão menor comunica e se manifesta como
um processo revolucionário no seio da inclusão maior, arruinando seu
chamado para apoiar ou para se solidarizar com certa ideologia pátria.
Uma ideologia que, quando conveniente ao Estado, apoia os excluídos
e, em outra partida, os designa à perpétua exclusão.
A inclusão menor se faz como produção de uma organização de
crenças e transgride os padrões universais de categorização pela
diferença; ocorre para além de sua obrigatoriedade prescrita na lei. Ela
torna possível o acesso e a permanência de todas as crianças, de todos
os adolescentes, jovens, adultos e idosos nos espaços de aprendizagem,
mesmo que sejam marginalizados pelos diagnósticos centrados no déficit.
A organização de crenças, nesse sentido, é um conjunto de valores e
princípios que permeiam documentos nacionais e internacionais4 sobre

4 Entre muitos, a Constituição Federal (1988), a Declaração de Jomtien (1990), a Declaração de Salamanca
(1994) e o Estatuto da Pessoa com Deficiência (2015).

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inclusão. Esses dizem que todas as pessoas têm direito à educação,


e que todas têm possibilidades de aprendizagem. Princípios como
a acessibilidade em seu sentido pleno e o respeito à diferença são
fundamentais no processo de inclusão, mas esses princípios e valores
não devem ser considerados como específicos, pois se multiplicam para
além das legislações, a cada circunstância em que a inclusão precisa ser
re-inventada.
Na inclusão menor, esses acontecimentos não ocorrem apenas
para contemplar a legislação e legitimar as intenções do Estado. Essa
organização de crenças no contexto da inclusão menor gera uma filosofia
de vida que abarca a comunidade escolar, uma filosofia não utilitarista
ou específica, mas que se propõe a pensar a inclusão como um problema
fundamental e, a partir dela mesma, re-inventar as ações inclusivas,
no entendimento de que as pessoas aprendem por modos e caminhos
diferentes, que se multiplicam, de modo que o diagnóstico universal não
determina quem é o aprendiz.
Ela provoca o rompimento com o paradigma cartesiano de ensinar
a todos da mesma forma, pois demanda considerar as singularidades
no processo de aprendizagem, a partir do problema da re-invenção de
estratégias metodológicas que emergem a potência criadora junto aos
aprendizes, de modo a transgredir o que está posto conceitualmente,
inclusive a descolonização do pensamento, em prol da produção de
saberes não hierarquizados (DELEUZE, 1975). Nesse contexto, a inclusão
menor demanda que todos (professores e alunos) se vejam e se concebam
como aprendizes, sem hierarquização de saberes ou poderio, mas sob
formas de compartilhar conhecimentos e aprender de outras maneiras.
A inclusão menor, além de se constituir nas fronteiras, nas linhas
divisórias, no meio da ponte, e não em suas extremidades, que
determinam quem está a favor ou contra ela, conecta o sujeito no contíguo
cenário histórico, político e social, pois “tudo é político” (DELEUZE;
GUATTARI, 2012, p. 90). Pautamos o conceito de “fronteira” nas obras
de Deleuze (1988, 1992). É um processo produzido histórica e socialmente
sob o ponto de vista simbólico. As fronteiras são lugares de mutações, de
transformações, de metamorfoses. E elas são professadas pela capacidade

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A inclusão menor: um ensaio inspirado na Obra “Kafka”, de Deleuze e Guattari

de transgredir ao que está posto; são imbuídas de multiplicidade,


reciprocidade e relatividade. Nas fronteiras, os confins e as raias são
transpostas, e outras potências são avistadas. A fronteira, a entrelinha,
ensina-nos a conviver com as diferenças, com a incompletude do ser e
das coisas. São locais onde acontecem os devires. Onde há produção do
híbris. Lugar onde se ecoa o grito. Onde a coexistência é evocada. É onde
há encontros e desencontros. Onde a diferença prevalece na própria
diferença. Onde há conexões e acontecimentos imprevisíveis.
A inclusão menor torna real o acontecimento do agenciamento plural
do enunciar de vozes, antes, silenciadas. O que é um agenciamento?

É uma multiplicidade que comporta muitos termos heterogêneos,


e que estabelece ligações, relações entre eles, através das
idades, dos sexos, dos reinos – através de naturezas diferentes.
A única unidade do agenciamento é de co-funcionamento:
é uma simbiose, uma “simpatia”. O que é importante, não
são nunca as filiações, mas as alianças, ou as misturas; não são
as hereditariedades, as descendências, mas os contágios, as
epidemias, o vento (DELEUZE; PARNET, 2004, p. 88).

Essa inclusão menor transgride o convencional, a tradição de


supervalorizar certos conhecimentos escolares/acadêmicos em
detrimento de outros, de subestimar sujeitos que tiveram sua identidade
de Ser 5 embrutecida pelas profecias realizadoras do diagnóstico
biomédico universal. Ela não desqualifica alguém pela materialização
de quadros sintomáticos. Ela não cede aos modos de subjetivação
provenientes do biopoder. Mas avante, para além de uma revolução,
a inclusão menor cria condições para que transformações ocorram na
sinuosidade da educação que, contida na Lei, está ordenada, porém, em
muitas ocasiões, desviada pelos anseios políticos de um projeto coletivo
para a nação que não deve ser desequilibrado por acontecimentos
imprevistos, a serviço sempre dos interesses do Estado.
A inclusão menor, diferentemente daquela que está contida nas Leis
(inclusão maior) e que se conhece mais em sua forma universal-abstrata,
faz-se presente como um acontecimento acolá da controvérsia e polêmica

5 Para Deleuze, a única identidade que realmente temos é a de Ser humano, de sermos da própria espécie.

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terminante. Ela não pode ser categorizada e fixada ou compreendida


como algo estático, mas com radical inovador; ela coexiste no campo
molar e molecular, ou seja, no todo e nas partes, na inclusão maior e
fora dela, e possibilita o aprender e o compartilhar saberes por meio de
variadas formas de expressão, sempre considerando as singularidades
dos sujeitos, a diferença na diferença6, em sua multiplicidade.

Se elas se distinguem, é porque não têm os mesmos termos, nem


as mesmas correlações, nem a mesma natureza, nem o mesmo tipo
de multiplicidade. Mas, se são inseparáveis, é porque coexistem,
passam uma para a outra, segundo diferentes figuras como nos
primitivos ou em nós – mas sempre uma pressupondo a outra
(DELEUZE; GUATTARI, 2004, p. 90).

As diferenças de multiplicidades e a diferença na multiplicidade


substituem as oposições esquemáticas e grosseiras. Há tão somente
a variedade de multiplicidade; isto é, a diferença, em vez da enorme
oposição do uno e do múltiplo. E talvez seja uma ironia dizer: “tudo é
multiplicidade, mesmo o uno, mesmo o múltiplo” (DELEUZE, 1988,
p. 174).
Por conseguinte, a cada ocasião em que a inclusão é invocada pelos
excluídos, os atores das comunidades de aprendizagem, dos espaços
de aprendizagem, aqueles que tecem teias colaborativas, que são
acolhedores e não separatistas, são chamados a re-inventar a inclusão,
uma vez que não há métodos ou receitas para fazê-la. O que há são
pressupostos de uma organização de crenças, uma filosofia de vida que
dá vida e concretização ao acontecimento da inclusão, esquadrinhando
em sua condição de ser um problema fundamental, possibilidades
de favorecimento da aprendizagem para a turma toda, sem soluções
imediatistas ou paliativas, porém, com tessitura que compreenda e acolha
as diferenças, as singularidades, como algo próprio da espécie humana.
Ao mencionarmos “a turma toda”, subtendemos que a minoria

6 A diferença aqui citada diz respeito às pessoas classificadas e nomeadas como diferentes a partir
do diagnóstico. A exemplo, a trissomia do cromossomo XXI é concebida como uma diferença, uma
anormalidade em relação ao que é considerado normal pela literatura científica. No entanto, essa
diferença (trissomia do cromossomo XXI) se diferencia em sua própria diferença, ou seja, nunca haverá
pessoas semelhantes ou iguais pelo diagnóstico desta trissomia que se repete. A trissomia se repete,
mas as pessoas não se repetem, mas se diferenciam e se multiplicam.

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A inclusão menor: um ensaio inspirado na Obra “Kafka”, de Deleuze e Guattari

(aqueles com deficiência), por meio da inclusão menor, desterritorializa o


território, então constituído por aqueles não rotulados como deficientes,
diferentes. A inclusão menor acontece nas fronteiras, e não em territórios
de excluídos ou incluídos.
O caminho da inclusão não é algo fácil ou simples de se trilhar ou de
se compreender. Na realidade, é complexo, pois não despreza as mazelas
existentes nos diversos contextos e circunstâncias; não finge ausência de
obstáculos; não supervaloriza determinadas ações, em detrimento de
outras; tampouco elege práticas pedagógicas iluminadas para se fazer
materializar. A inclusão menor, o tempo todo, em todo o tempo, constitui-
se nas fronteiras, nas entrelinhas, na linha divisória, no meio da ponte
onde todos caminham, onde a natureza híbrida da condição humana se
faz presente. Portanto, sempre percorre longos trechos sem dar as costas
à desterritorialização, em razão da necessidade de se manter tenaz. A
inclusão menor é que revoluciona, que transgride, que transforma a
inclusão maior (prevista na lei) em acontecimento dialético, dialógico,
engenhoso. É ela que é intensa e pertinaz. Ela subsiste à envergadura da
inclusão legalista, que ora serve aos interesses do Estado, ora concede o
direito ao cidadão, ora se dobra à microfísica do biopoder.
A inclusão menor subsiste e coexiste à inclusão legalista (inclusão
maior), porque seu vigor e seu fortalecimento rizomático se encontram
na organização de crenças que constituem um modo de ser, uma filosofia
de vida de seus sujeitos-atores, que concebem e percebem a inclusão
para muito além do que está anunciado na legislação. Por convicção,
fazem suas escolhas por uma inclusão menor sem a pseudalizar, sem a
macular, sem perpetuar mecanismos de exclusão que podem ser sutis,
porém, potencialmente maléficos. Assim como o microscópio está para
a visibilidade de objetos de excessiva pequenez, a inclusão menor está
para amplificar aquilo que é abstrato e intelectual, presente nas políticas
de educação na perspectiva inclusiva.

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Sílvia Ester Orrú

4 Entre linhas e fronteiras

Muitas são as linhas divisórias, as fronteiras que separam um povo


do outro, embora nossa única identidade real seja a de Ser humano.
As fronteiras são invisíveis, porém, enunciam as diversas maneiras de
dominação do outro por meio de políticas cartográficas das distintas
áreas, desde a econômica até a hierarquização de saberes.
Esse apartheid7 desenhado pelas linhas invisíveis são vetores para
a exclusão social, pois determinam como as pessoas, como o “outro”
é visto e concebido. Caso típico que pode ser exemplificado a partir
das teorias pós-colonialistas, nas quais há a presença de um colono
e de seu colonizador e, consequentemente, há ou haverá a presença
de um mestiço, cuja natureza será híbrida, mutante. Nesse contexto,
poderíamos dizer que a escola inflexível, que sustenta suas práticas em
determinar e aceitar apenas aquilo que considera ser certo e irrefutável,
perpetuadora da homogeneização e da hierarquização de saberes,
na verdade, uma instituição de poder, tem seus alunos como meros
colonizados controlados, desapossados de seus saberes emanados em
suas vivências. Para Fanon:

A descolonização é o encontro de duas formas congenitalmente


antagonistas, que têm precisamente a sua origem nessa espécie
de substantificação que a situação colonial excreta e alimenta.
O primeiro confronto dessas forças se desenrolou sob o signo da
violência, e sua coabitação – mais precisamente a exploração
do colonizado pelo colono – prosseguiu graças às baionetas e
aos canhões. O colono e o colonizado são velhos conhecidos.
E, na verdade, o colono tem razão quando diz que “os” conhece.
Foi o colono que fez e continua a fazer o colonizado. O colono
tira a sua verdade, isto é, os seus bens, do sistema colonial
(FANON, 2005, p. 52).

A docilização dos corpos pelo poder disciplinar, e o poder de controle

7 Significa separação. Citamos o termo pelo significado histórico, cultural e social que nos traz.
O apartheid trouxe violência e um significativo movimento de resistência interna na África do Sul,
tendo como seu maior representante Nelson Rolihlahla Mandela, sobrevivente desse regime excludente
e segregador.

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A inclusão menor: um ensaio inspirado na Obra “Kafka”, de Deleuze e Guattari

regula o outro, muta o corpo em frações de órgãos, aniquila e embrutece


o indivíduo, que se assujeita ao poderio colonizador, de modo a tonar-
se fragilizado e vulnerável a todo tipo de brutalidade, tanto física
como psíquica (FOUCAULT, 1998; 2005). Esse corpo sob o crivo da
colonização que a tudo converte em capital é ajuntado conscientemente
por categorias de igualdade, a partir de identidades pré-estabelecidas
que, na verdade, convertem-se nas formas mais incivis de diferença, de
desigualdade social.
Não diferente, o mesmo ocorre junto ao aluno com deficiência no
espaço escolar. Ele é colonizado. Suas diferenças, suas singularidades,
seu jeito de ser, sua subjetividade e seu corpo são desconsiderados,
sendo concebido como um (1) a mais na estatística da instituição que
serve aos interesses do Estado e cuja função social está bem distante de
uma educação presente no movimento escolanovista, uma educação
emancipatória. Ser um (1) a mais significa que ele é tão somente um
elemento de produção para os fins do capital, consequentemente,
invisível à sociedade. Como colonizado, ele é oprimido e silenciado,
sofre o apartheid e cai no esquecimento social.
Embora políticas e leis sejam promulgadas para a inclusão sócio-
educacional do aluno com deficiência em escolas regulares, esse, na
verdade, encontra-se sempre em risco, na corda bamba de ter, de fato,
seus direitos assegurados, pois, na condição de não pertencer ao padrão
pré-estabelecido pela sociedade, as instituições recorrem ao Estado como
exequentes do direito e da responsabilidade de cumprirem sua função
social atribuída pelo próprio Estado, ou seja, educar; na verdade, treinar
o indivíduo para a formação cidadã em prol do mercado de trabalho,
para produzir a manutenção do país e de sua máquina.
A colonização social, escolar, edifica territórios inóspitos, pedregosos,
arriscados de sobrevivência. Mesmo existindo leis (inclusão maior)
para uma educação de todos e para todos, as fendas produzidas pelos
mecanismos de exclusão expulsam ou aniquilam o categorizado diferente
daquele território. São vários os possíveis mecanismos de exclusão,
porém, o laudo diagnóstico proferido pelo biopoder8 é legitimado,

8 Cujo foco não é o corpo individualizado, mas o corpo coletivo.

60 Educação em Foco, ano 19 - n. 28 – mai./ago. 2016 p. 47-73


Sílvia Ester Orrú

pela júris9, para o apartheid desse diferente. Desse modo, assegura a


conveniência e os interesses daqueles que estão do lado de cá da fronteira,
ignorando os acontecimentos letais (física e/ou psíquica) dos que estão
do lado de lá, daqueles colonizados. Sobre biopoder, Foucault diz que:

[...] essa série de fenômenos que me parece bastante importante,


a saber, o conjunto dos mecanismos pelos quais aquilo que,
na espécie humana, constitui suas características biológicas
fundamentais vai poder entrar numa política, numa estratégia
política, numa estratégia geral de poder. Em outras palavras, como
a sociedade, as sociedades ocidentais modernas, a partir do século
XVIII, voltaram a levar em conta o fato biológico fundamental
de que o ser humano constitui uma espécie humana. É em linhas
gerais o que chamo, o que chamei, para lhe dar um nome, de
biopoder (FOUCAULT, 2008, p. 3).

A inclusão coexiste em ambos os espaços, e sempre faz sua travessia


nas entrelinhas, nas fronteiras. Ela não se encontra em um território
específico de sua propriedade. Ela é a própria linha de fuga. Não serve
aos interesses do Estado para o capital, mas é a materialização do grito
dos excluídos no território do colonizador. A inclusão é a transgressão,
a revolução, o agente transformador nesse território inóspito; nessa
condição, causa o caos, o desequilíbrio, a ameaça à ordem pré-
determinada da instituição de ensino, de moldagem humana.
Todavia, apesar do território colonizador da instituição de ensino,
quer pública ou privada, a educação não é de sua posse legal, não é a
coisa possuída. A educação está para além dos territórios; ela também se
encontra nas fronteiras, nos mais diversos espaços onde a aprendizagem
é favorecida, quer seja formal ou informal. Por isso, ela, por si mesma,
é um Direito Fundamental (BRASIL, 1988; UNESCO, 1990), e, na
contemporaneidade, trinca a ideia unívoca de que só pode ser oferecida
por instituições de ensino regularizadas e reguladas pelo Estado.

9 Expressão em latim cujo significado literal é “apenas de direito”.

Educação em Foco, ano 19 - n. 28 – mai./ago. 2016 p. 47-73 61


A inclusão menor: um ensaio inspirado na Obra “Kafka”, de Deleuze e Guattari

5 Inclusão e diferença

A inclusão aproxima os desiguais e se constitui em suas próprias


diferenças, que se diferenciam em sua multiplicidade. Ou seja, as
diferenças estão postas e são próximas na sociedade, nos corpos; uma vez
que somos idênticos pela identidade de Ser humano, nossas diferenças
são imensas, mas elas não são semelhantes, não se repetem e nem são
estáticas; nossas diferenças se multiplicam. Nesse contexto, a inclusão
menor não é simplesmente um modelo de inclusão educativa a ser
seguido. Ela é a potência no acontecimento e realiza uma transvaloração
de valores que têm como distinção central se “opor aos valores
superiores, e mesmo à negação desses valores, a vida como condição
do valor, propondo a criação de novos valores, que sejam os valores
da vida, ou melhor, propondo a criação de novas possibilidades de
vida” (MACHADO, 1999, p. 87). A inclusão menor acontece em prol da
educação emancipatória, pelo direito do aluno a aprender tendo suas
singularidades respeitadas, por uma educação que considere as vivências
do aluno no processo de aprendizagem.
A inclusão não incita à divisão de turmas por classes organizadas a
partir da psicometria, nem segrega em um espaço à parte da instituição
de ensino outros categorizados pelo biopoder, muito menos admite a
exclusão em locais feitos somente para os excluídos. A inclusão é um
movimento contrário a todas as formas de apartheid. A inclusão é de
natureza híbrida. Ela se faz presente no território dos incluídos pelo grito
dos excluídos. Na inclusão, a mesclagem é um acontecimento habitual. É
na “híbris que cada um encontra o ser que o faz retornar, como também a
espécie de anarquia coroada, a hierarquia revertida, que, para assegurar
a seleção da diferença, começa por subordinar o idêntico ao diferente”
(DELEUZE, 1988, p. 49).
O núcleo duro da inclusão é a construção de valores e princípios
que não têm vácuo, porém, são substanciais. A inclusão requer espaços
de aprendizagem plurais em todos os sentidos. E o processo de
aprendizagem no contexto da inclusão deve ser construído pelos seus
próprios sujeitos, e não ordenados hierarquicamente. Em sua organização

62 Educação em Foco, ano 19 - n. 28 – mai./ago. 2016 p. 47-73


Sílvia Ester Orrú

de crenças, ela combina e mistura elementos em prol de um aprender a


pensar por si mesmo, a conhecer domínios diversos que extrapolam a
sala de aula, a conviver com as diferenças na diferença, a ser resiliente.
Nesse re-inventar constante da inclusão, a aprendizagem é um
acontecimento do cânon do imprevisto, da criação do novo, do
pensamento singular. Não há metodologias receituárias sobre como
aprender ou ensinar, tampouco aceita adestramentos comportamentais. A
inclusão transgride os métodos pedagógicos de controle e de mensuração
dos processos de aprendizagem. Contudo, a aprendizagem acontece de
maneira singular com cada um, mesmo que de forma inconsciente. E o
que não está aprendido é simplesmente um devir a ser.

6 Resultados

6.1 Inclusão, diferença e acolhimento: as vozes enunciadas

Com relação aos entrevistados, não houve intenção de analisar


conteúdos ou discursos, mas sim de evidenciar como processos inclusivos
podem acontecer quando o respeito às diferenças e o entendimento de
que somos todos diferentes está presente no projeto pedagógico da escola.
Importante ressaltar que o conceito de diferença por nós trabalhado a
partir de Deleuze não foi apresentado aos entrevistados, de modo que
eles demonstram ter um conceito de diferença mais relacionado ao senso
comum, ou seja, a diferença como uma qualidade daquilo que é diferente,
de diversidade. Isso deve ser levado em conta para que o texto não
aparente uma ideia contraditória daquilo que discutimos como diferença.

6.1.1 A voz da Diretora

Apresentamos as palavras “diferença – inclusão – gestão” à diretora


da escola, por nós entrevistada, e pedimos a ela que falasse aquilo que
desejasse a respeito. Os trechos selecionados evidenciam a existência de
uma inclusão menor, na qual a diferença e o acolhimento são alicerces
da proposta pedagógica da escola.

Educação em Foco, ano 19 - n. 28 – mai./ago. 2016 p. 47-73 63


A inclusão menor: um ensaio inspirado na Obra “Kafka”, de Deleuze e Guattari

Eu começo falando de uma ex-aluna que também me fez pensar


uma porção de coisas. Ela já está no final do Ensino Médio e
alguém perguntou pra ela se quando estudou aqui, o que ela
achava da inclusão. E ela falou que aqui não tinha inclusão.
Então a mãe perguntou a ela, “mas como você fala que lá não
tem inclusão? Você estudou com aquele menino!”. Então ela
respondeu: “não mãe, é porque não havia exclusão, então para
nós nada era diferente”. Esse foi o relato dessa menina. Havia na
sala dela um menino com paralisia cerebral, mas ele pertencia
ao grupo, ele fazia todas as atividades, todos os projetos e havia
o respeito. Então ela falou que aqui não existia inclusão porque
não havia exclusão.

E ela me fez pensar muito e eu recebi este recado e falei “nossa!” acho
que nós temos que cada vez mais a aperfeiçoar a ideia de que quanto
menos exclusão, menos inclusão também. A hora que você começa com
as especificidades é que você percebe as diferenças. (Entrevista com a
Diretora – dados da pesquisa).
A inclusão menor se constitui naturalmente no seio da escola.
O pertencimento do aluno com paralisia cerebral ao grupo é um
acontecimento tão vital que sua colega responde à mãe que ali não havia
inclusão. Isso, no sentido de que não havia para aquela aluna o encontro
binário exclusão/inclusão orbitando no mesmo centro em comum.
Percebe-se o acontecimento da inclusão menor na voz da diretora da
escola: “Quando o professor aposta, ele aposta em todos, naquele que é
mais tímido, naquele que precisa de um atendimento especial, naquele
que é mais disperso, naquele que é mais agressivo, ele aposta em todos”
(Entrevista com a Diretora – dados da pesquisa). Ela não se remete apenas
aos alunos com algum tipo de deficiência, embora esses estejam presentes
pelas suas singularidades, que exigem um “atendimento especial”, como
é dito por ela. Ao revés, ela menciona alunos com diferenças próprias do
ser humano. O sentido do verbo “apostar” se engaja com o substantivo
“acolhimento”. Aposta-se, investe-se, acredita-se em quem se acolhe; em
sua voz, é notável que todos os alunos são acolhidos e respeitados em
suas diferenças. Ou seja, a inclusão menor acontece na própria inclusão
maior (inclusão prevista e obrigatória pela legislação vigente) e para
além dela.

64 Educação em Foco, ano 19 - n. 28 – mai./ago. 2016 p. 47-73


Sílvia Ester Orrú

6.1.2 A voz da professora

As palavras apresentadas à professora foram “inclusão – diferença


– aprendizagem”. Eis os trechos da entrevista para o objetivo proposto
para este ensaio:

Eu já conhecia a metodologia da escola e foi quando eu me


deparei com essa turma. E na verdade, quem foi incluída fui eu!
Eu comecei a pensar as coisas de um jeito diferente. Todos com
suas particularidades, na verdade, eles acrescentam muito um
ao outro. Essa turma é diferente, sim! E tem várias crianças que
saem desses padrões que são estabelecidos pela sociedade e que
precisam de um olhar diferenciado. Aprendem de uma maneira
diferente. Mas eu penso que eles ensinam mais para os outros
que nós consideramos “normais”, [eu não gosto de usar essa
palavra], do que os outros para eles. Eu aprendi muito a ver e a
tentar conhecer por detrás de uma barreira que não é concreta.
E isso para mim foi uma experiência como pessoa [ai, não posso
chorar], nesse ano, impagável. (Entrevista com a professora –
dados da pesquisa).

A voz da professora é o espelho do sentido de uma inclusão menor


que acolhe a todos, inclusive a ela mesma. Uma inclusão menor que
não acontece por imposição legal ou para ascender às redes sociais
ou midiáticas. Ela acontece porque a escola está envolvida em uma
organização de crenças em que ser diferente é próprio da espécie humana,
e que essa diferença não se repete, mas se multiplica, uma vez que as
pessoas não se repetem.

Quando eu penso em inclusão, o meu olhar nesse ano passou a


ser diferenciado. Não sou eu que aceito o diferente, que trabalha
com o diferente, mas é o diferente que conseguiu me colocar no
mundo dele da maneira mais maravilhosa possível.
Já o João como cadeirante nós aprendemos a procurar sermos
as pernas dele. E eu vejo as crianças nisso e é muito lindo! As
crianças emprestam suas pernas para ele, elas se preocupam e é
uma preocupação que vem delas mesmas. A escola trabalha muito
com esse projeto de integração, de respeito ao próximo, mas ainda
assim, isso parte delas. E isso é algo fantástico! (Entrevista com a
professora – dados da pesquisa).

Educação em Foco, ano 19 - n. 28 – mai./ago. 2016 p. 47-73 65


A inclusão menor: um ensaio inspirado na Obra “Kafka”, de Deleuze e Guattari

A experiência em receber um aluno cadeirante com comprometimentos


motores e de fala sugeriu à professora e aos demais alunos que
algumas coisas deveriam ser feitas de modo diferente. A solidariedade,
a generosidade, o compartilhar são princípios que constituem o
acolhimento ao outro, e esse acolher é uma das singularidades da inclusão
que se faz na própria diferença, que sempre se diferencia, nunca se repete.
Percebe-se, pela voz da professora, coerência em relação à voz da
Diretora; a metodologia da escola possibilita a integração de todos,
inclusive dos professores COM seus alunos, e de todos entre si. É o
acontecimento da inclusão menor na inclusão maior.

Eles aprenderam a olhar para o diferente se colocando no lugar


do outro e com respeito. As ecolalias do Lucas, por exemplo,
eles sabem que se fossem eles nessa situação, o que eles fariam
e que precisam respeitar porque às vezes é algo incontrolável.
Eles sabem que dentro dessas ecolalias alguma coisa Lucas está
querendo dizer, com relação ao bem estar dele, como ele está se
sentindo. Eles sabem que isso diminui quando Marcos está mais
calmo, quando eles contribuem para o ambiente. Com o João é a
mesma coisa. Quando ele se posiciona que quer participar da roda
de conversa, eles fazem silêncio, um cutuca o outro e dizem “o João
quer falar!”. (Entrevista com a professora – dados da pesquisa).

Na mesma turma, há a presença de um aluno com autismo - o Marcos


– e de um aluno com os comprometimentos motores e de fala – o João. A
relação entre a turma é de respeito às diferenças de cada um, de observar
o que cada um necessita, de dar atenção ao que cada um tem a enunciar.
Não é uma questão de sentir pena ou de ignorá-los, mas de construir
possibilidades de diálogo, de interação; de vivenciar a diferença como
algo presente no ser humano, explícito em cada um de nós.

Então, eu percebo que as crianças são muito abertas. Já os adultos


são mais resistentes. Então, nesse ano a visão sobre inclusão para
mim, mudou bastante. Sempre me assustava muito a questão de
infraestrutura, muito, muito. Hoje, depois dessa experiência, eu
receberia qualquer criança sem nenhum pesar. Foi uma experiência
muito forte! (Entrevista com a professora – dados da pesquisa).

A voz da professora evidencia o quanto a vivência da inclusão é

66 Educação em Foco, ano 19 - n. 28 – mai./ago. 2016 p. 47-73


Sílvia Ester Orrú

envolvente, é forte, é benéfica para os alunos com deficiência (a minoria);


contudo, não deixa de ser propícia para todos (inclusão maior presente na
legislação). Não são apenas os alunos com deficiência que se beneficiam
com a inclusão menor (uma potência realizadora para além da júris).
Todos são beneficiados pela vivência e pelo entendimento de que
somos todos diferentes e que nos diferenciamos na própria diferença.
Essa experiência vital é um acontecimento da inclusão menor. Um
acontecimento que se dá em determinado espaço de aprendizagem, com
infinitas possibilidades de aprendizado para todos, de modo a favorecer
aqueles que se encontram no território minoritário como excluídos, assim
como de envolver os demais alunos na percepção e no entendimento
que a diferença é de todos.
Essas vivências tão singulares não acontecem por determinação de
uma política pública ou pela imposição de leis e decretos, pois, tal como
é sabido, há inúmeros casos nos quais há uma pseudo-inclusão, e o que
acontece é somente a presença no espaço físico da instituição. Presença
consentida para evitar multas e desfechos escandalosos, que acabam
sendo expostos pela mídia. Contudo, essa inclusão menor, singular e
real, pouco se faz conhecer, a não ser por aqueles que a experimentam.

6.1.3 As vozes das crianças

Apresentamos o vídeo com a música “Você vai gostar de mim”.


Depois, perguntamos às crianças o que elas gostariam de dizer a respeito
daquilo que ouviram. Selecionamos os trechos das vozes de algumas
das crianças que nos exemplificam o sentido da inclusão e da diferença.

Eu gostei da parte que tinha as pessoas em um quadradinho. Elas


dançavam e cantavam. Eram todas diferentes! (Renato. Entrevista
com os alunos – dados da pesquisa).
Eu gostei mais da onde diz que “você é diferente”. Quer dizer que
uma pessoa não é igual à outra pessoa. (Roger. Entrevista com os
alunos – dados da pesquisa).
Eu achei que a música é legal porque todos são diferentes. E é
mesmo tudo diferente. Porque a Júlia é loirinha, tem o cabelo da
mesma cor que o meu, mas ela não é igual a mim. Ela é uma outra

Educação em Foco, ano 19 - n. 28 – mai./ago. 2016 p. 47-73 67


A inclusão menor: um ensaio inspirado na Obra “Kafka”, de Deleuze e Guattari

pessoa. (Bruna. Entrevista com os alunos – dados da pesquisa).


Se o João não pode brincar de uma coisa, que nem pega-pega, a
gente faz assim, faz diferente: dá pra pegar o João na cadeira de
rodas e ir correndo com ele. E quem é o pegador vai correndo junto
com ele e, se a cadeira encostar no coleguinha, se o João encostar,
então ele pegou e tá com o outro coleguinha para pegar. (Jean.
Entrevista com os alunos – dados da pesquisa).
Eu brinco com o Marcos. Ele é diferente, mas eu gosto muito
dele. Eu descobri que a gente pode brincar de um jeito diferente.
(Moisés. Entrevista com os alunos – dados da pesquisa).
Quando o João quer balançar, ele balança no balanço de caixa
[adaptado com caixa de supermercado]. E quando ele quer
escorregar no escorregador, alguém escorrega com ele no colo.
[E ao ouvir o que o colega diz, João, o colega cadeirante, sorri do
outro lado da sala]. (Renato. Entrevista com os alunos – dados
da pesquisa).
Fala João, o que você quer?O que você não gosta? [Helton tem
autismo. Faz a pergunta ao João por perceber que ele estava
tentando dizer algo e por falar baixinho a compreensão estava
difícil]. (Helton. Entrevista com os alunos – dados da pesquisa).
Eu faço tudo!!! [diz após sorrir, percebendo que os colegas estavam
se referindo a ele] e ainda complementa nos dando sua opinião
sobre o vídeo passado: Eu não gosto da Xuxa! [e todos riem com
ele]. (João. Entrevista com os alunos – dados da pesquisa).

A percepção das crianças sobre “diferença” é notória. Elas têm entre 6 e


7 anos, mas compreendem o sentido da diferença, em razão das vivências
que experimentam diariamente no envolvimento das particularidades
de uma inclusão menor. Elas não têm consolidado o conceito teórico
de inclusão ou de diferença, mas o vivenciam. Encontraram diferentes
maneiras de brincar a partir das demandas de seus colegas que, por
alguma deficiência, exigem ações diferenciadas, criativas. É assim que
a inclusão é re-inventada.
Nesse espaço, percebemos o acontecimento de uma inclusão
menor, em que professores e alunos são aprendizes da diferença que
os diferencia. Essa inclusão menor não fica cercada pelos muros da
escola, mas, de maneira envolvente, amplia seus espaços para além dos
muros, para os lares de cada um, pois é compartilhada por todos a cada

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Sílvia Ester Orrú

vez que os pais deixam e buscam seus filhos na escola e observam os


acontecimentos. Ela acontece na inclusão maior, pois é de conhecimento
dessa comunidade escolar que há legislações para a promoção da
inclusão, porém, transcende-a. A inclusão menor acontece a cada reunião
entre professores e pais, em que as atividades escolares são percebidas
como diferentes de outras escolas que padronizam conhecimentos e
ritmos de aprendizagem. A cada aniversário, momento em que todos
se encontram em espaços diferentes, porém, com a densidade profunda
da inclusão menor que acolhe a todos.

7 Considerações finais

A inclusão, muitas vezes, é um acontecimento imposto por leis e


decretos organizados pelo Estado para a garantia de direitos, entre
eles, o direito à educação de todos e para todos. A lei, de fato, necessita
existir, pois há muitos que veem a inclusão como um problema que
requer soluções imediatistas, para não recorrerem em problemas com o
Estado. Esses não percebem a inclusão como um problema fundamental,
em que, em si mesma, se constroem as possíveis soluções que não são
estatísticas ou receituárias. Sem a lei (inclusão maior), possivelmente, a
inclusão menor não existiria. Elas coexistem.
A inclusão se move, acontece na diferença, que se diferencia em sua
multiplicidade, porque, sendo nós seres singulares, somos únicos, e
sendo uno, logo, somos da ordem da diferença. O fato de sermos uno não
quer dizer que somos iguais ou semelhantes. Somos únicos e uno porque
somos diferentes, e isso é próprio da espécie humana. Mas também somos
uno porque a única identidade que realmente existe é a de Ser humano.
Portanto, a diferença não é atributo de apenas alguns, tal como nomeia
o diagnóstico universal do biopoder, que cria um grupo específico de
marginalizados, de excluídos, de minoria; na realidade, a diferença é de
todos, porque pessoas não se repetem, mas se diferenciam. A diferença
contém a própria diversidade, ela é inexata e, ao mesmo tempo, é excesso
de grandeza; nela, não há repetição.
O movimento da inclusão é complexo, é singular, é rizomático e

Educação em Foco, ano 19 - n. 28 – mai./ago. 2016 p. 47-73 69


A inclusão menor: um ensaio inspirado na Obra “Kafka”, de Deleuze e Guattari

radical. Para que aconteça a inclusão, a diferença precisa ser seu par.
Inclusão e diferença, em suas incompletudes, só podem existir na própria
diferença. A inclusão nunca será estática, nunca se repetirá. Jamais
acontecerá no meio termo. E não se pautará na homogeneidade.
A inclusão menor, por sua vez, é um acontecimento pleno no qual
os sujeitos-atores a vivenciam, promovem-na em razão da organização
de crenças que geram e que estão muito além das imposições legais.
É aí que a diferença é compreendida em sua própria diferença, que
sempre se diferencia, nunca se repete, pois somos seres singulares, e os
acontecimentos nunca são iguais.
É na inclusão menor que encontramos uma infinita possibilidade de
sermos todos aprendizes, para que a inclusão seja sempre re-inventada,
de modo a beneficiar todos à sua volta, por uma sociedade cada vez
menos excludente.

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Recebido em 19/05/2016
Aprovado em 27/08/2016

Educação em Foco, ano 19 - n. 28 – mai./ago. 2016 p. 47-73 73

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