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TRABALHO DE

LITERATURA BRASILEIRA II

Por
Zilda Mara Peixoto dos Santos Azevedo

NILÓPOLIS
SETEMBRO, 2010.
Zilda Mara Peixoto dos Santos Azevedo

Análise da obra Memórias de um sargento de milícias de Manuel


Antônio de Almeida e Iracema de José de Alencar

Trabalho de graduação apresentado


à disciplina Literatura Brasileira II
ministrada pelo professor
Anderson Brandão
do curso de Letras
da UNIABEU.

NILÓPOLIS,
SETEMBRO, 2010.
INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por finalidade analisar o plano das relações sociais dentro da

obra Memórias de um sargento de milícias de Manoel Antônio de Almeida,e Iracema de

José de Alencar, focando a vida dos personagens bem como a interação entre eles, a

construção desses personagens, assim como, a construção dos cenários de suas obras.
Memórias de um Sargento de Milícias é considerado um romance de transição, que é

contemporâneo ao Romantismo e precursor do Realismo, pois ambos se misturam em suas

características, em relação ao dois estilos desta época. Memórias é um romance que aborda

críticas aos valores que se pregava na época, sua linguagem é bem diferente da empregada

até então, pois ela é mais objetiva e retrata o seu cotidiano. Os perfis dos personagens, a

sociedade e o cenário em questão também são abordados diferentemente.O subjetivismo vai

dar lugar ao que é objetivo, o que era sonho passa a ser realidade, o sentimentalismo é

deixado um pouco de lado, para florescer o prazer carnal, entre outras substituições.

O espaço urbano do Rio de Janeiro do início do século XIX constitui o palco das ações no

qual o enredo se desenvolve.Estão presentes na obra tipos alegóricos que representam uma

mesma camada da sociedade, entre eles, podemos citar o barbeiro, a comadre, os ciganos,

as viúvas, o mestre-de-cerimônias, entre outros.

Como figura central da obra tem o Leonardo, menino travesso que desde seu nascimento já

anunciava sua natureza traquina. Toda referência da infância do menino o que se tem são

armadilhas e travessuras que o mesmo não parava de praticar.

Leonardo é o primeiro "malandro" da ficção brasileira.

Se na infância suas brincadeiras poderiam ser avaliadas ou julgadas como travessura, na

juventude a falta de um ofício ou inclinação para alguma profissão, dava o que falar

naquela sociedade. Visto que era hábito de muitos ficarem na janela de casa observando a

vida alheia.

Mas este mesmo malandro, posteriormente a muitas confusões, veio a torna-se o sargento

de milícias. Figura no meio social que impunha muito respeito e defensor da moral e de

bons comportamentos. Além disto, Leonardo casa com Luisinha, paixão de sua

adolescência, que fora esquecida em algum momento por uma aventura com Vidinha.
O modelo conceituado atende as regras de uma família tradicional, porém os membros que

constituem as famílias em Memória de Um Sargento de Milícias divergem-se totalmente,

não são nada convencionais. São pessoas que se agregam sem formalidade e passam a viver

aparentemente como uma família. Como por exemplo podemos citar Leonardo, que a

princípio apresenta-se com seu pai e sua mãe, mas está por uma conduta falha trai o marido

desprezando o valor da instituição familiar. Para tanto, Leonardo- Pataca desespera-se e em

conseqüência disto chuta seu filho para fora de casa. Deste ato é possível uma avaliação da

relação paternal que havia entre ambos. Não são narrados momentos felizes, calmos em que

a família se aconchegava, mais um forte enfoque na fúria de Leonardo-Pataca em relação

ao comportamento do filho. Não havia dialogo, manifestações de carinho e preocupação

dos pais em relação ao futuro do menino.

Leonardo após desprezado pela sua família biológica é acolhido por seu padrinho, um

barbeiro que cuida do menino com todos os cuidados de um pai, ou com melhores

intenções no garoto do que o próprio Leonardo-Pataca. É interessante ressaltar que a

história de vida do barbeiro é bem semelhante à vida do menino, pois é desconhecido por

todos sua origem. Deste fato fica evidente que o barbeiro identificou-se com o sofrimento

de Leonardo que conhecia seus pais, mas que por aquele momento encontrava-se numa

mesma situação de abandono. O diálogo ainda é ausente nesta relação, mas havia um por

parte do padrinho grande carinho pelo menino além da preocupação quanto ao futuro de

Leonardo.

Observando o comportamento de Leonardo em relação à estrutura familiar que recebeu

pode-se dizer que ele foi determinado pelo seu próprio meio acrescido de vínculos

hereditários.

Leonardo não se destacava apenas por sua peraltice e má criação dentro do universo

familiar, quando foi à escola também teve grandes dificuldades tanto na aprendizagem
quanto para manter uma relação saudável com seus colegas de sala. Em função disto, levou

do professor autoritário alguns "bolos" nas mãos e de lá conseguiu sair sem ler nem

escrever direito. E essa dificuldade é reflexo de sua edificação familiar.

O amor ou atração que sentira Leonardo por Luizinha e Vidinha se apresentam de formas

bem diferentes. Uma privilegia mais o sentimento na outra a atração física ganha espaço:

A percepção de Leonardo por Luizinha seu envolvimento foi mais sentimental, como

mencionado ele refere-se a ela como menina, lhe são atribuídas características puras, mas

que o próprio Leonardo classifica como sem sabor. Não a idealiza com traços perfeitos e

sim a descreve em seus gestos acanhados destacando aspectos distantes de um perfil belo.

Já quando se refere a Vidinha a coloca como mulher e a descrição que há são características

totalmente diferentes de Luizinha. A personagem é descrita em aspectos mais sensuais e

atraentes evidenciando seu poder de sedução em relação aos homens. Além do mais eram

acrescentados aos seus dotes físicos, um comportamento bem avançado quanto ao das

moças da época. Vidinha era atirada e objetiva em suas paixões.

Por esta mulher de características tão belas, Leonardo se deixa atrair esquecendo

provisoriamente, a envergonhada Luizinha, com a qual havia tido um idílio apenas de

olhares e de contados mais sutis. Posteriormente, depois de muitas confusões já exercendo

carreira militar chega a casar-se com Luizinha.

A religião em Memórias de Um Sargento de Milícias já sofre grande depressão, visto que

atende a tendência realista. Os representantes do clero que apresentam-se na narrativa são

dotadas de características que se desviam totalmente da representatividade da igreja perante

a sociedade. Além do que seus integrantes expõem aspectos cuja fé e os respeitos decaem.

A principio tem-se, por exemplo, a vizinha do barbeiro que ora estava na igreja ou na janela

de sua casa observando e criticando a vida alheia, principalmente a de Leonardo.


Quanto à decadência da fé e uma forte adoração a imagens são possíveis encontrar no parto

de Chiquinha, que na preparação do nascimento de seu filho, diversos adereços são postos

sobre a cama e da gestante, como se a providência de um bom parto saísse daqueles

objetos. Nesta mesma ocasião a reza apresenta-se sempre interrompida pelos gritos da

comadre que cuidava na preparação do parto da sobrinha.

Destes fatos evidencia-se a relação de hipocrisia do próprio homem com sua crença. Há um

parcial cumprimento de suas leis, mas um desvio muito maior evidenciado no seu

comportamento, vinculado a fé, mas desprovido da convicção.

De fato, 'no tempo do rei' a ordem social definia-se a partir de dois pólos extremamente

rígidos: o escravo e o senhor-de-escravos. No meio, os homens livres sem poder econômico

e político representavam um grupo restrito mas, certamente, de alguma importância em

termos sociais. Sua ação era definida fundamentalmente a partir da necessidade de

sobreviver através de expediente raramente ligados a uma atividade econômica específica.

Caracterizavam-se antes por exercerem ocupações ocasionais, pequenos serviços e alguns

cargos burocráticos subalternos: vendeiro, barbeiro, parteira, miliciano, sacristão.

Leonardo, típico representante deste setor, tem como alternativa desempenhar um destes

papéis. Não chega, a rigor, a optar por um ou por outro. Vê-se, antes, obrigado pelas

circunstâncias, a aceitar ora esta, ora aquela ocupação. Já de início, o compadre e a

comadre, seus tutores, desejam para ele uma carreira de mais destaque: advogado, padre ou

algo semelhante. Leonardo desaponta-os. Pensa em casar com Luisinha, moça de certas

posses. Ela, porém, escolhe alguém de nível social superior. Por fim, o 'malandro' Leonardo

vê-se obrigado a entrar para o serviço militar. Não se adapta à nova carreira mas, depois de

muita confusão, Vidigal, o terrível major, símbolo da ordem constituída, incumbe-se de

salvar-lhe a pele e coloca-o no confortável posto de sargento de milícias. Isto não seria
estranhável não fosse o fato de que a artífice de tudo é Maria Regalada, a mulher que já

fora de 'vida fácil', ou seja, uma típica representante da desordem social, uma marginal.

Assim é que, entre a ordem constituída (representada por Vidigal) e a desordem tolerada

(Maria Regalada), quem sai beneficiado é Leonardo. E de tudo isto, de acordo com a visão

de mundo ingênua e sem conflitos que impregna o romance, não resta qualquer sentimento

de culpa, tanto que ao final, em paz, o herói casa, é reformado e desfruta de cinco heranças.

O salto, em termos de enredo, pode ser um tanto brusco, mas o fato é que Leonardo escolhe

a ordem e suas vantagens. Afinal, não por nada resolve esquecer Vidinha e seus encantos,

aos quais faltava o charme da fortuna e do reconhecimento social.

Neste sentido , Memórias de um sargento de milícias poderia ser qualificado de realista,

pois deixou registrado, tanto no personagem central, como nos outros, a regra constitutiva

dos valores do grupo social dos homens livres do Brasil do século XIX: para eles ordem e

desordem pouco representavam. Sem trabalhar, o que era obrigação dos escravos, e sem

estar no poder, como os senhores-de-escravos, Leonardo passeia pelo mundo não levando

muito em conta as convenções sociais, a não ser quando funcionam em seu próprio

benefício.

Podemos encontrar no romance de Manuel Antônio de Almeida algumas tendências muito

particulares, entre elas:

* Emprego de linguagem bem coloquial, marcada por incorreções e linguajar lusitano do

interior, lembrando que boa parte das personagens são imigrantes portugueses ou gente

simples do povo.

* Ausência de personagens idealizadas e de análise psicológica: o romance prefere focalizar

os costumes, hábitos das pessoas de camadas sociais inferiores, numa construção mais

realista da sociedade suburbana do início do século XIX.


* Presença do humorismo, do ridículo e do burlesco: o tom geral da obra segue a tendência

da gozação, marcado que está pela construção de personagens que tendem para o

caricatural, para o mais absoluto ridículo. A essa tendência chamamos carnavalização.

* Presença da ironia.

* Presença da linguagem: A obra volta-se para si mesma, comentando os procedimentos

que estão sendo empregados: palavras utilizadas, explicações sobre capítulos ou

personagens que desaparecem de cena.

* Presença de digressões: a narrativa não segue a ordem linear dos fatos, é episódica e, não

raro, foge da história para comentar fatos paralelos ou para dar explicações sobre o próprio

livro.

* Presença do narrador intruso, que o tempo todo se intromete para dar explicações,

analisar fatos ou personagens e conversar com o leitor.

* Presença do leitor incluso, com quem o narrador procura estabelecer um diálogo.

A obra deixa transparecer a presença de diversas figuras de linguagem, bem como,

hipérboles, comparações, metáforas, metonímias, sarcasmos, barbarismos, etc...

A obra é fundamentalmente humorística, estabelecendo contatos com gênero picaresco

espanhol através do protagonista, que traz em si toda esperteza e picardia de um anti-herói.

Retrato vivo dos costumes bem brasileiros do início do séc. XIX, romance focaliza um sem

número de tipos populares do RJ suburbano. Esse painel pitoresco retrata a alegria de viver,

a malícia da época, as fofocas, as beatices, as crendices, as festas, as profissões, os

costumes e hábitos de nosso povo. Leonardo é o típico malandro carioca, cheio de picardia,

esperteza, sarcasmo e desejo de vingança.

Podemos destacar entre as temáticas fundamentais as críticas ao aurtoritarismo policial, à

religião, ao clero imoral, ao interesse econômico, ao casamento como meio de ascensão

social e à vadiagem como meio de vida. Há, ainda, uma espécie de paródia do próprio
Romantismo, montado nessa obra às avessas, abandonando os adocicados finais felizes

para deixar nas entrelinhas uma sucessão de fatos tristes que poderiam vir a acontecer.

O objetivo da obra era mostrar o avesso das instituições do clero, da justiça, dos governos e

das famílias e para isso valia-se da presença do humorismo e da ironia. Apresenta, de certa

forma, um realismo ingênuo, pois apenas traduz a realidade sem fazer a análise desta.

Durante a narrativa, o autor deixa claro que a miscigenação, base da sociedade brasileira,

reflete-se nos costumes e na tradição religiosa. Misturam-se missas católicas a feitiçarias e

mitos mágicos para caracterizar a sociedade urbana brasileira do século passado.

Através de uma paisagem extremamente exótica e bela, o Ceará torna-se cenário do romance. A civilização
européia, simbolizada por Martim, se aproxima da América primitiva, inocente, quase intocada, Iracema.
Deste encontro nasce Moacir, filho do casal, que é o primeiro ser genuinamente brasileiro fruto deste
casamento entre o colonizador e o colonizado.
A natureza, tão exaltada pelos românticos, não funciona apenas como “pano de fundo”, mas é cenário
exuberante e serve como apoio para a história de amor. Em determinados momentos, o ambiente bucólico
chega a compor a protagonista como parte de sua beleza e personalidade. O desejo de escrever a respeito de
um tema brasileiro fez com que Alencar valorizasse termos em Tupi, língua de nosso típico herói nacional.
Nesta narrativa, o índio é um ser mítico, dotado de inúmeras qualidades, enquanto o branco é um ser primário
e vicioso. Encontramos neste romance, dois estilos literários: o épico e o lírico; e também um misto entre
lenda e história, visto que personagens como Martim e Poti são verídicos, o que demonstra uma certa
vanguarda. A heroína da narrativa é extremamente idealizada, ela simboliza o próprio espírito harmonioso da
floresta virgem que é corrompido pelo contato com o homem branco, simbolizado por Martim. Esta
aproximação retrata o processo de estranhamento e fascínio mútuo que dominou os dois povos. Começavam a
se conhecer sem sequer suspeitar as trágicas conseqüências do encontro para os indígenas. A sedução também
está presente na narrativa. Martim está seduzido e inebriado durante o ato sexual que será a sentença de morte
de Iracema, assim como a invasão do Brasil há de provocar a destruição da floresta virgem americana e isto se
dá de forma inconsciente e inconseqüente, assim como o amor dos protagonistas. Esta obra exprime uma
visão clássica dominante. A burguesia ansiava por romances que fizesse as suas jovens donzelas suspirar sob
o aroma de uma aventura amorosa.
Apesar de divergentes, estes romances compõem o cenário literário do Brasil no período do Romantismo,
demonstrando, através de sua repercussão na época, diferentes temáticas e a visão daquela sociedade.
A abordagem da visão da literatura nacional dentro do contexto cultural brasileiro da
segunda metade do século XIX e do posicionamento crítico de José de Alencar fez, de sua
produção, principalmente a indianista, representada neste trabalho por Iracema,um símbolo
de conjunto de intenções nacionalistas que invadiram a época e o coração do povo, no que
dizia respeito ao sentimento de “ nacionalismo”
CONCLUSÃO

Neste trabalho foi analisado o plano das relações sociais na obra Memórias de Um

Sargento de Milícias. Diante dum contexto social esta análise foi feita sobre a vida dos

personagens valorizando como estes se comportavam numa dimensão social e de interação.


A partir daí percebe-se uma relação de intensos conflitos de ordem moral, em que os

personagens são vitimas de uma concepção determinista e que por isso só retribuem uma

ação do meio.

Numa investida a tendência realista o homem é abordado como um ser real, dotado de

defeitos e qualidades, praticante de bem e do mal. Mantém relações saudáveis, mas sempre

visando seus benefícios. Nesta perspectiva, coloca o homem diante da mulher, da família e

de sua própria crença e confrontá-lo estes fragmentos sociais é estabelecer reações entre os

assuntos abordados de forma crítica.

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