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Resumo VYGOSTSKY, Lev Semionovitch. Interação entre aprendizado e desenvolvimento.

In:________. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

Assessoria Acadêmica Sorocaba


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[A Zona de Desenvolvimento Proximal seria, então], “(...) a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se
costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado
através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes” (p.
97).

Neste capítulo do livro A formação social da mente Vygotsky analisa as teorias existentes acerca da relação
entre desenvolvimento e aprendizado e ainda apresenta sua teoria sobre o desenvolvimento, mais especificamente, o
conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal.
Para Vygostsky, não é possível realizar a análise psicológica do ensino sem considerar a relação entre
aprendizado e desenvolvimento. Segundo ele, esta relação é obscura, embora existam pesquisas que abordam essa
temática. O estudo da relação aprendizado e desenvolvimento, segundo seu ponto de vista, apresenta também
problemas metodológicos, “(...) uma vez que pesquisas concretas sobre o problema dessa relação fundamental
incorporaram postulados, premissas e soluções exóticas, teoricamente vagos, não avaliados criticamente e, algumas
vezes, internamente contraditórios: disse resultou obviamente, uma série de erros” (p. 89).
Vygotsky reduziu todas as teorias existentes em sua época acerca da relação entre desenvolvimento e
aprendizado em três posições teóricas. A primeira, segundo ele, considera que os processos de desenvolvimento da
criança são independentes do aprendizado. Nessa posição teórica, o aprendizado é considerado um processo externo
que se utiliza dos avanços do desenvolvimento, sem, contudo, alterar seu curso. Os conhecimentos prévios da criança
são desconsiderados. Vygotsky cita Piaget e Binet como exemplos de pesquisadores que utilizam os princípios desse
paradigma, o qual tem como premissa o fato de considerar:

(...) que o aprendizado sempre adianta ao aprendizado, e exclui a noção de que o aprendizado pode ter um papel no curso
do desenvolvimento ou maturação daquelas funções ativadas durante o próprio processo de aprendizado. O
desenvolvimento ou a maturação são vistos como uma pré-condição do aprendizado, mas nunca como resultado dele.
Para resumir essa posição: o aprendizado forma uma superestrutura sobre o desenvolvimento, deixando este último
essencialmente inalterado (p. 90).

A segunda posição teórica, de acordo com Vygotsky, postula que o aprendizado é desenvolvimento. Para ele,
essa identidade é a essência de um grupo de teorias diferentes entre si. Uma dessas teorias fundamenta-se no conceito
de reflexo. O desenvolvimento é considerado “(...) como domínio de reflexos condicionados, não importando se
considera é o ler, escrever ou a aritmética” (p. 90-91). O processo de aprendizado e desenvolvimento está misturado.
Todas as teorias que participam dessa posição teórica têm como fundamento o reflexo, comungam assim como Piaget,
que o desenvolvimento é concebido como elaboração e substituição de respostas inatas. Entretanto, possuem
pressupostos distintos quanto às relações temporais entre os processos de desenvolvimento e aprendizado. Conforme
observa Vygotsky:

(...) Os teóricos que mantém o primeiro ponto de vista afirmam que os ciclos de desenvolvimento precedem os ciclos de
aprendizado; a maturação precede o aprendizado e a instrução deve seguir o crescimento mental. Para o segundo grupo
de teóricos, os dois processos ocorrem simultaneamente; aprendizado e desenvolvimento coincidem em todos os pontos,
da mesma maneira que as duas figuras geométricas idêntica coincidem quando superpostas (p. 91).

A terceira posição tenta, ressalta Vygotsky, superar os extremos das duas teorias citadas anteriormente,
combinando-as. Cita como exemplo a teoria de Koffka.
Para Koffka, o desenvolvimento se fundamentava em dois processos intrinsecamente diferentes: “(...) de um
lado a maturação, que depende diretamente do desenvolvimento do sistema nervoso; de outro o aprendizado, que é,
em si mesmo também um processo de desenvolvimento” (p. 91).
Vygotsky ressalta que esta teoria apresenta três novos aspectos:

a) a combinação de dois pontos opostos;


b) a ideia de que os dois processos constitutivos do desenvolvimento são integrados e mutuamente
dependentes. O processo de aprendizagem “empurra” o processo de maturação;
c) o papel atribuído ao aprendizado no desenvolvimento da criança. Este é, segundo Vygotsky, o aspecto
mais importante.

Essa posição remete-se ao problema pedagógico da disciplina formal e ao problema da transferência, ou seja,
de que o ensino de um determinado conteúdo provoca o desenvolvimento da capacidade global. Assim, ao aprender a
fazer uma determinada coisa, a pessoa é capaz de fazer outra, mesmo se esta não tiver qualquer relação com a
primeira, isto é, “assume-se que as capacidades mentais funcionam independentemente do material com que elas
operam, e que o desenvolvimento de uma capacidade promove o desenvolvimento de outra” (p. 93).
Segundo Vygotsky, esses estudos demonstraram que a mente não é uma rede complexa de capacidades gerais,
“(...) mas um conjunto de capacidades específicas, cada uma da quais, de alguma forma, independe das outras e se
desenvolvem independentemente” (p. 93). Nesta perspectiva, o aprendizado é a aquisição de muitas capacidades
especializadas para pensar sobre várias coisas. Esta constatação levou-o a concluir que o desenvolvimento da
consciência é o desenvolvimento de um conjunto de hábitos específicos.
É importante ressaltar que Vygotsky rejeita as três posições teóricas apresentadas, porém é preciso ter
presente que ao analisá-las elaborou uma nova forma para abordar a relação entre aprendizado e desenvolvimento.
Relação esta que, segundo ele, pode ser feita a partir de dois tópicos: a relação geral entre aprendizado e
desenvolvimento e os aspectos específicos dessa relação quando a criança ingressa na instituição escolar.
Para Vygotsky, o aprendizado da criança inicia muito antes de ela entrar na escola. Todos os conhecimentos
ensinados na escola têm uma história prévia. Admite que os conhecimentos prévios são diferentes dos escolares, os
quais estão voltados para a assimilação do conhecimento científico. Entretanto, ressalta que o aprendizado está, desde
o nascimento da criança, inter-relacionado com o desenvolvimento.
O aprendizado escolar e pré-escolar difere tanto no que se refere à sistematização quanto aos efeitos que o
aprendizado escolar produz no desenvolvimento da criança. Para elaborar com mais precisão as dimensões do
aprendizado escolar, Vygotsky elaborou o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Segundo ele, para
se elucidar as relações entre desenvolvimento e aprendizado, é preciso distinguir dois níveis de desenvolvimento: o
real e o proximal.
O desenvolvimento real é “(...) o nível de desenvolvimento das funções mentais da criança que se
estabeleceram como resultado de certos ciclos de desenvolvimento já completados” (p. 95, grifos do autor). E aquele
que a criança precisa de ajuda para realizar, de adultos ou de crianças mais experiente, é o nível de desenvolvimento
proximal. A ZDP seria, então,

“(...) a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de
problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um
adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes” (p. 97).

Dessa forma, a ZDP caracteriza o desenvolvimento real retrospectivamente e o desenvolvimento potencial


prospectivamente. Sendo assim, o desenvolvimento de uma criança só pode ser determinado quando se considera os
dois níveis de desenvolvimento.
Neste texto Vygotsky também se refere ao papel da imitação, à natureza social do aprendizado, à importância
da linguagem para o processo de desenvolvimento e aprendizado. Ressalta, ainda, o lugar central do aprendizado,
segundo ele, “aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente
organizadas e especificamente humanas” (p. 101).
Ao finalizar, apresenta as hipóteses derivadas de suas análises: a unidade, mas não a identidade entre os
processos de aprendizado e os processos de desenvolvimento interno e as capacidades na criança. Destaca ainda que

Um segundo aspecto essencial de nossa hipótese é a noção de que, embora o aprendizado esteja diretamente relacionado
ao curso do desenvolvimento da criança, os dois nunca são realizados em igual medida ou em paralelo. O
desenvolvimento nas crianças nunca acompanha o aprendizado escolar da mesma maneira como uma sombra acompanha
o objeto que o projeta. Na realidade, existem relações dinâmicas altamente complexas entre os processos de
desenvolvimento e de aprendizado, as quais não podem ser englobadas por uma formulação hipotética imutável.
Cada assunto tratado na escola tem a sua própria relação específica com o curso do desenvolvimento da criança, relação
essa que varia à medida que a criança vai de um estágio para outro.
Isso leva-nos diretamente a reexaminar o problema da disciplina formal, isto é, a importância de cada assunto em
particular do ponto de vista do desenvolvimento mental global. Obviamente, o problema não pode ser solucionado
usando-se uma fórmula qualquer; para resolver essa questão são, necessárias pesquisas concretas altamente
diversificadas e extensas, baseadas no conceito de zona de desenvolvimento proximal (p. 102).

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