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A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a

educação rural brasileira

Altair Ferraz Neto

Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (2008),


especialização em Gestão de Políticas Públicas para a juventude (211) e graduado em
Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (2004). Atualmente é
professor titular da Universidade Pitágoras Unopar. Tem experiência na área de
Sociologia, com ênfase em Ciência Política.

Como a igualdade educacional proposta na Base Nacional Comum Curricular,


no pacto federativo e implementação, vai ocorrer na prática das diferentes
especificidades do campo? A proposta de uma educação técnica e voltada para o
mercado de trabalho vai promover o protagonismo da juventude rural brasileira e
melhorar a condição material e de vida e emprego no campo? Como as escolas de
Ensino Médio abraçariam as diretrizes de uma Base Comum Curricular no universo
rural brasileiro?1
Outro ponto importante é o fato de que uma proposta de universalizar as
diretrizes, principalmente para a disciplina de Sociologia, caminha na contramão do
pensamento crítico, reflexivo e atento aos problemas da desigualdade social no Brasil,
assim como a forma como estão colocados os conteúdos de Ciências Humanas na Base
Nacional Comum Curricular, que não prioriza o protagonismo juvenil tão importante no
campo.
A Sociologia é, na maioria das vezes, descartada na proposta da Base Nacional
Comum Curricular, para dar espaço para argumentos pouco debatidos, a disciplina é a

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Sobre essas questões, a BNCC apresenta as seguintes direções: “Diante desse quadro, as decisões curriculares e didático-
pedagógicas das Secretarias de Educação, o planejamento do trabalho anual das instituições escolares e as rotinas e os eventos do
cotidiano escolar devem levar em consideração a necessidade de superação dessas desigualdades. Para isso, os sistemas e redes de
ensino e as instituições escolares devem se planejar com um claro foco na equidade, que pressupõe reconhecer que as necessidades
dos estudantes são diferentes. De forma particular, um planejamento com foco na equidade também exige um claro compromisso de
reverter a situação de exclusão histórica que marginaliza grupos – como os povos indígenas originários e as populações das
comunidades remanescentes de quilombos e demais afrodescendentes – e as pessoas que não puderam estudar ou completar sua
escolaridade na idade própria. Igualmente, requer o compromisso com os alunos com deficiência, reconhecendo a necessidade de
práticas pedagógicas inclusivas e de diferenciação curricular, conforme estabelecido na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Lei nº 13.146/2015)14”.
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que menos possui docentes na área específica de formação. Como a especificidade do


mundo rural brasileiro já sofre com as desigualdades, ressaltamos o fato de que a
instituição da BNCC vai na contramão do investimento docente e da qualificação do
trabalho dos professores de Sociologia.

De acordo com o indicador, o pior resultado ocorre para a disciplina Sociologia. Das
disciplinas de Sociologia declaradas nas turmas de ensino médio, apenas 25,8% são
ministradas por professores com a formação mais adequada. Os melhores resultados
do indicador de formação são observados para as disciplinas Geografia, Matemática,
Educação Física, Língua Portuguesa e Biologia, com percentuais acima de 70%.
(INEP, 2017, p. 28.)

Em uma análise resumida, encontramos que o instrumento da Base Nacional


Comum Curricular critica a própria realidade educacional brasileira e culpa o “excesso
de componentes curriculares” como fator para o problema do ensino no país,
entendendo que a saída é um ensino mais técnico e diretamente voltado ao trabalho e a
manutenção da dinâmica educativa da reprodução de mão de obra2. Podemos também
compreender esses fatores como pertencentes ao campo e à realidade educacional rural.
Estamos falando de uma população que, por uma série de fatores históricos,
materiais e sociais, cada vez mais busca as cidades em detrimento da estrutura de vida e
de educação do universo rural brasileiro. Isso também denota uma postura controversa
quando se pensa no importante papel do campo no Brasil, pois basta um olhar inicial
para que tenhamos uma dimensão do problema: A realidade educacional do campo, no
censo escolar de 2016 revelado pelo Inep, aponta que “89,8% das escolas com ensino
médio estão na zona urbana e 10,2% na zona rural – menor participação da zona rural
em toda educação básica”.3
Em suma, a maneira como está estruturada a composição das competências na
BNCC no que concerne à educação no campo não permite um avanço significativo
quando o assunto é uma reflexão crítica e contundente do universo agrário brasileiro e,
tampouco, quando o assunto é a Sociologia. Além disso, não deixa claro como a
construção dessa proposta comum ocorrerá nas mais específicas realidades sociais do
campo no Brasil. A proposta tem uma objetividade importante pela discussão
educacional no país, porém, devemos questionar se um instrumento que propõe uma
única diretriz para o Ensino Médio vai, em certa medida, alterar ou tocar o problema das

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Conforme o que está na BNCC: “Todavia, a realidade educacional do País tem mostrado que essa etapa representa um gargalo na
garantia do direito à educação. Entre os fatores que explicam esse cenário, destacam-se o desempenho insuficiente dos alunos nos
anos finais do Ensino Fundamental, a organização curricular do Ensino Médio vigente, com excesso de componentes curriculares, e
uma abordagem pedagógica distante das culturas juvenis e do mundo do trabalho” (BRASIL, BNCC, 2018, p. 461).
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(INEP, 2016, p. 9).
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diferenças e desigualdades de classe em suas dimensões jurídico-políticas, ideológicas e


econômicas.

Referências

BRASIL. BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: ENSINO MÉDIO.


Disponível em:
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wpcontent/uploads/2018/04/BNCC_EnsinoMed
io_embaixa_site.pdf>. Acesso em: maio 2018.

INEP. CENSO ESCOLAR DA EDUCAÇÃO BÁSICA 2016: Notas Estatísticas.


Brasília-DF | Fevereiro de 2017. Disponível em:
<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/notas_estatisticas/2017/no
tas_estatisticas_censo_escolar_da_educacao_basica_2016.pdf>. Acesso em: maio 2018.

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