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EDUCAÇÃO FÍSICA NA

EDUCAÇÃO INFANTIL
E NOS ANOS INICIAIS

PROFESSORES

Dr.ª Vânia de Fátima Matias de Souza


Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

NEAD
Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4
Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância;


OLIVEIRA, Amauri Aparecido Bássoli de; SOUZA, Vânia de Fátima Matias de.
Educação Física na Educação Infantil e nos Anos Iniciais. Amauri
Aparecido Bássoli de Oliveira; Vânia de Fátima Matias de Souza.
Maringá - PR.:UniCesumar, 2018.
156 p.
“Graduação em Educação Física - EaD”.
1. Educação Infantil . 2. Pedagógicas. 3. EaD. I. Título.

CDD - 22ª Ed. 701.1


CIP - NBR 12899 - AACR/2

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Direção Executiva de Ensino Janes Fidélis Tomelin, Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho,
Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha, Direção de Operações Chrystiano Mincoff,
Direção de Polos Próprios James Prestes, Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção
de Relacionamento Alessandra Baron, Gerência de projetos especiais Daniel F. Hey, Supervisão do
Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Coordenador(a) de Contéudo Mara
Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva,
Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Qualidade Textual Hellyery Agda, Revisão Textual
Cíntia Prezoto Ferreira, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock.

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Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar

Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande as demandas institucionais e sociais; a realização
desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, de uma prática acadêmica que contribua para o
informação, conhecimento de qualidade, novas desenvolvimento da consciência social e política e, por
habilidades para liderança e solução de problemas fim, a democratização do conhecimento acadêmico
com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência com a articulação e a integração com a sociedade.
no mundo do trabalho. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja
Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: ser reconhecida como uma instituição universitária
as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará de referência regional e nacional pela qualidade
grande diferença no futuro. e compromisso do corpo docente; aquisição de
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume competências institucionais para o desenvolvimento
o compromisso de democratizar o conhecimento por de linhas de pesquisa; consolidação da extensão
meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos universitária; qualidade da oferta dos ensinos
brasileiros. presencial e a distância; bem-estar e satisfação da
No cumprimento de sua missão – “promover a comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica
educação de qualidade nas diferentes áreas do e administrativa; compromisso social de inclusão;
conhecimento, formando profissionais cidadãos que processos de cooperação e parceria com o mundo
contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade do trabalho, como também pelo compromisso
justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar e relacionamento permanente com os egressos,
busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com incentivando a educação continuada.
boas-vindas

Willian V. K. de Matos Silva


Pró-Reitor da Unicesumar EaD

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à A apropriação dessa nova forma de conhecer


Comunidade do Conhecimento. transformou-se hoje em um dos principais fatores de
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar agregação de valor, de superação das desigualdades,
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
e pela nossa sociedade. Porém, é importante Logo, como agente social, convido você a saber cada
destacar aqui que não estamos falando mais daquele vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas tecnologia que temos e que está disponível.
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
atemporal, global, democratizado, transformado pelas modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
tecnologias digitais e virtuais. as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
De fato, as tecnologias de informação e comunicação equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o
informações, da educação por meio da conectividade conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes
e da mobilidade dos celulares. cativantes, ricos em informações e interatividade. É
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá
a informação e a produção do conhecimento, que não as portas para melhores oportunidades. Como já disse
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.
segundos. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
boas-vindas

Kátia Solange Coelho


Diretoria Operacional de Ensino

Fabrício Lazilha
Diretoria de Planejamento de Ensino

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
profissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e profissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível crescimento e construção do conhecimento deve
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
autores

Professora Doutora
Vânia de Fátima Matias de Souza
Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2014). Mestre em Educação
Física pela UEM (2009). Graduada em Pedagogia pela Faculdade Estadual de Educação, Ciências e
Letras de Paranavaí (Fafipa/2000) e graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de
Londrina (UEL/2000). Professora Adjunta do Departamento de Educação Física da UEM. Líder do
Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar (GEEFE/CNPq). Tem experiência na área
de Educação, com ênfase em Educação Física Escolar, atuando principalmente nos seguintes temas:
infância, estágio supervisionado, formação profissional e políticas públicas.
Link: <http://lattes.cnpq.br/7642081335847897>.

Professor Doutor
Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira
Pós-Doutor em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS/2015). Doutor
em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp/1999). Mestre em Ciência
do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/1988). Especialista em
Educação Física Infantil pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/1984). Graduado em Educação
Física pela Universidade do Norte do Paraná (Unopar/1979). Atualmente é professor Associado nível
C da UEM. Integrante do Programa de Pós-Graduação Associado UEM-UEL em Educação Física, com
orientações de mestrado e doutorado. Tem experiência na área de educação física, com ênfase em
Métodos e Técnicas de Ensino e Metodologia da Pesquisa, atuando principalmente nos seguintes
temas: formação profissional, currículo, atividade física e saúde, educação física escolar, atividade
física e obesidade. Consultor ad hoc do Ministério da Educação/SESu/Inep para comissões de ava-
liação institucional e de autorização e reconhecimento de cursos em educação física. Atuou como
Consultor do Ministério do Esporte na Secretaria Nacional de Esporte, Lazer e Inclusão Social (Snelis)
como Coordenador Pedagógico Nacional dos Programas de Esporte Educacional.
Link: <http://lattes.cnpq.br/5845836567219056>.

6
apresentação

EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL


E NOS ANOS INICIAIS

Seja bem-vindo(a)!
Caro(a) aluno(a), este material é fruto de reflexões e análises que buscam con-
tribuir para que as aulas de educação física escolar, tratadas na educação infantil
e nas séries inicias do ensino fundamental, possam avançar cada vez mais! Afinal,
reconhecemos que o caminho trilhado pela educação física no universo escolar
tem sido uma trajetória marcada pela busca de uma ação pedagógica que valorize
o desenvolvimento da criança, respeitando suas individualidades, potencializando
suas capacidades e valorizando suas experiências, sua cultura e seus conhecimentos.
Neste livro, trazemos uma proposta de intervenção por meio da qual você poderá
construir um planejamento para as aulas aplicadas no contexto de atuação da educação
física escolar a partir da valorização das potencialidades da criança. Aliás, é ela – a
criança – o centro de nossas ações e interações, e é por esse motivo que trazemos
argumentos e apontamentos que contribuirão para a organização dos conteúdos.
As discussões aqui apresentadas se dão a partir das relações estabelecidas
entre as temáticas do movimento e da corporeidade; do movimento e dos jogos;
do movimento e do esporte; do movimento em expressão e ritmo; e, por fim, do
movimento e da saúde. Nosso intuito é que você tenha um rol de conhecimentos
que lhe possibilite estruturar um planejamento adequado à realidade das crianças
no contexto escolar.
Para tanto, o livro foi organizado e escrito com o intuito de levar você a en-
tender a importância do planejamento para as aulas de educação física escolar.
Assim, organizamos as discussões trazendo reflexões e análises acerca do conceito
e construção da infância, e trazemos os apontamentos legais da educação física
escolar, que irão ajudá-lo(a) a compreender como se dá o processo de legalização
da educação física.
Outro ponto central para as ações didático-pedagógicas apresentadas neste livro
é a questão do planejamento, que está estruturado e organizado por meio de um
passo a passo para a construção de um bom programa escolar. E, para auxiliá-lo(a)
nessa tarefa, na sequência você terá os mapas conceituais que irão lhe ajudar a com-
por esse planejamento para os contextos da educação infantil e das séries iniciais.
Esperamos que você aproveite a leitura, reflita e analise todos os caminhos e
ações tratados para que as aulas de educação física possam romper com os discursos
fragmentados de uma prática pouco estruturada. Ótimos estudos!
Abraços.
sum ário

UNIDADE I UNIDADE IV
O CONCEITO DE INFÂNCIA: SISTEMATIZAÇÃO E AÇÕES PEDAGÓGICAS
NA SOCIEDADE E NA ESCOLA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
14 O Conceito de Infância: Uma Construção 104 A Educação Física na Educação Infantil: quem
Histórica é a Criança
20 A Infância no Espaço Escolar: da Assistência 110 Características da Criança da Educação Infantil
ao Caráter Educativo das Instituições de Edu-
cação Infantil 114 Mapa Conceitual dos Conteúdos da Educação
Infantil
26 A Escola e a Infância: A Institucionalização da
Criança e da Infância 120 Planejando as Aulas para a Educação Infantil
30 Considerações Finais 122 Considerações Finais
35 Referências 127 Referências
38 Gabarito 129 Gabarito

UNIDADE II
UNIDADE V
A EDUCAÇÃO INFANTIL E A LEGISLAÇÃO PLANEJANDO AS AULAS PARA AS SÉRIES INICIAIS
44 Educação, Educação Infantil e Educação Física DO ENSINO FUNDAMENTAL
48 A Educação Infantil na Legislação 134 A Educação Física nas Séries Iniciais a Partir
54 Refletindo Sobre A Educação Física Na Edu- das Abordagens Educacionais: quem é a
cação Infantil Criança
59 Considerações Finais 140 Elementos para a Construção de uma
Proposta Pedagógica: mapas Conceituais 1º
65 Referências ao 3º Anos
67 Gabarito 144 Elementos para a Construção de uma
Proposta Pedagógica: mapas Conceituais do
UNIDADE III 4º e 5º Anos
PLANEJANDO A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
148 Considerações Finais
74 Planejar é Imprescindível
153 Referências
86 Como Pensar a Educação Física de Forma
Sistematizada 154 Gabarito
88 Caminhos Para o Processo de Estruturação
dos Conteúdos da Educação Física 156 Conclusão Geral
92 Considerações Finais
97 Referências
99 Gabarito
O CONCEITO DE INFÂNCIA:
NA SOCIEDADE E NA ESCOLA

Professora Doutora Vânia de Fátima Matias de Souza


Professor Doutor Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• O conceito de infância: uma construção histórica
• A infância no espaço escolar: da assistência ao caráter
educativo das instituições de educação infantil
• A escola e a infância: a institucionalização da criança e da
infância

Objetivos de Aprendizagem
• Analisar a construção histórica da infância e suas relações
com o campo escolar.
• Compreender o conceito de infância tratado na sociedade
contemporânea a partir das finalidades do atendimento
das crianças da educação infantil e das séries iniciais nas
instituições educativas.
• Entender as implicações da formação do conceito de
infância nas relações escolares.
unidade

I
INTRODUÇÃO

As ações educativas vão se constituindo ao longo da história enquanto possibili-


dades de transformações sociais partem das práticas individuais e se expandem
às coletivas. Nesse sentido, estamos iniciando um momento para refletirmos so-
bre a compreensão da infância ao longo da história da sociedade, bem como sua
estruturação no campo da educação infantil e das séries iniciais da Educação
Básica, como uma possibilidade de repensarmos e reorganizarmos nossa prática
cotidiana escolar.
Partimos desse pressuposto por entendermos que, para iniciarmos os estudos
acerca da infância, é preciso, em um primeiro momento, conhecer e reconhecer o
papel que a criança tem ocupado na família e na sociedade ao longo dos séculos,
para que possamos chegar à compreensão dos caminhos que a infância, na edu-
cação brasileira, tem ocupado.
Revisitar alguns fatos que marcaram a história e os caminhos que a infância
tem trilhado na sociedade nos possibilita revisitar a história social a que estamos
submetidos. Assim, temos condições para refletirmos e analisarmos os aconte-
cimentos como possibilidade de compreensão e entendimento das práticas que
se estabelecem. Para Coelho (2001, p. 31), “estudar a história é ainda escolher
a melhor forma ou o recurso mais adequado de apresentá-la”. Por essa razão,
optamos por apresentar, como caminho histórico desta unidade, os aponta-
mentos e considerações acerca da infância no seu entendimento a partir da
realidade social para então, tratar, dos espaços educativos.
Para tanto, é imprescindível situarmos a compreensão da infância no
contexto social e histórico para chegarmos à representação e ao papel da
infância nas instituições de ensino na sociedade contemporânea. Assim,
precisamos refletir sobre as seguintes questões: quem é a criança a que
nos referimos no espaço escolar na atualidade? Como podemos enten-
der e tratar a infância a partir dos paradigmas e propostas educacionais?
Buscando respostas a esses questionamentos e a outros que podem sur-
gir ao longo da caminhada, vamos aos estudos!
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

O Conceito de Infância:
Uma Construção
Histórica
Caro(a) aluno(a), navegar pela história da infância e a infância como objetos centrais das discussões e
implica estar disposto a buscar, junto aos aconteci- encaminhamentos propostos. Afinal, para tratarmos
mentos que se deram na sociedade contemporânea, das questões da corporalidade e do movimento das
as dimensões e compreensões que foram sendo de- ações infantis nesse momento da escolarização, é ne-
sencadeadas a partir das relações sociais, políticas e cessário, em um primeiro momento, entendermos
econômicas existentes, e relacioná-las ao papel que a de quem estamos falando, para, na sequência, com-
criança foi constituindo e ocupando junto à família, preendermos como trabalhar os conhecimentos,
ao Estado e no campo educacional. princípios, normas e valores escolares, respeitando
Para os estudos relacionados à educação física in- os limites e fragilidades das crianças e destacando
fantil e das séries iniciais, vamos considerar a criança suas potencialidades nas aulas de educação física.

14
EDUCAÇÃO FÍSICA

Para tanto, caro(a) aluno(a), iniciamos com o ça tem sido vista, principalmente, a partir das rela-
entendimento básico acerca do que se trata a infân- ções e necessidades sociais. Veja o que dizia Platão
cia – segundo as palavras de Steinberg e Kincheloe sobre a criança da realidade ateniense de sua época:
(2001, p. 11), “a infância nada mais é que um arte-
fato social e histórico, e não uma simples entidade [...] entre todas as criaturas selvagens, a criança
é a mais intratável; pelo próprio fato dessa fonte
biológica”. A partir dessa definição, você deve estar
de razão que nela existe ainda ser indisciplina-
se questionando por que o estudo da infância se faz da, a criança é uma criatura traiçoeira, astucio-
necessário nesse momento. A resposta a esse ques- sa e sumamente insolente, diante do que tem
tionamento está no fato de que é preciso estudar e que ser atada, por assim dizer, por múltiplas
revisar o significado de infância na história da so- rédeas [...] (PLATÃO, 2010, p. 302).

ciedade a partir de perspectivas pedagógicas e so-


ciais, para que possamos realizar as devidas análises Essa afirmação retrata a visão que se tinha na Anti-
conjunturais e estruturais que envolvem a criança na guidade acerca do que era ser criança; significava ser
sociedade contemporânea no contexto escolar, para um sujeito que deveria ser disciplinado, com regras
que seja possível planejar e orientar ações que levem rígidas e poucas oportunidades para explorar seu
a uma ação pedagógica que possibilite, à criança, potencial, pois este poderia ser prejudicial ao con-
desenvolver suas potencialidades motoras, sociais vívio social. Afinal, a infância era entendida como
e comportamentais a partir das diversas infâncias e uma fase da vida construída socialmente e, portanto,
realidades que se apresentam nesses espaços de in- a criança deveria ser educada de tal forma que não
tervenção pedagógica. se tornasse um adulto indisciplinado para com as re-
O conceito de infância não é algo linear na his- gras de convívio social.
tória – tem se alterado e, para chegarmos ao con- A história da infância sempre esteve associada
ceito de infância brasileira, é preciso entendermos a às ações e aos contextos sociais que envolvem todas
conjuntura social global que tem se constituído em as relações existentes entre a política, a influência
torno do assunto. da cultura, da economia e dos espaços a que esta-
Tendo essa compreensão, vamos primeiro, nesta mos submetidos em cada tempo social. Para Ariès
unidade, compreender o conceito de infância trata- (2006), o sentimento de infância traduz a evolução
do na sociedade contemporânea a partir dos estu- histórica de suas várias concepções, desde o não re-
dos de Ariès (2006), Durkheim (1996), Guiraldelli conhecimento ao reconhecimento de que as crian-
(1996), Bujes (2001), Steinberg e Kincheloe (2001) ças são diferentes dos adultos, culminando com as
e Heywood (2004): como tem se constituído o con- novas invenções e sentimentos de infância na mo-
ceito de infância, como esta tem sido apresentada dernidade. É importante destacar que o trato para
e considerada junto ao universo familiar, escolar e com a infância, no que se refere à pesquisa, valoriza-
social no decorrer da história da sociedade contem- ção e/ou preocupação enquanto formação humana,
porânea. pertencente às artes e ao convívio social, foi, durante
O conceito de infância tem se constituído de for- um longo período da história da sociedade, muito
mas distintas. Em cada tempo e espaço social, a crian- ignorada e, por vezes, estereotipada. Esse fato se evi-

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EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

dencia a partir da afirmativa de Ariès (2006, p. 50), a infância foi modificado para atender as demandas
ao dizer em seus estudos que “até por volta do século que foram surgindo no decorrer de cada momento
XII, a arte medieval desconhecia a infância ou não da sociedade. Em séculos distintos, esse interesse e
tentava representá-la. É provável que não houvesse preocupação com a infância foram alterados. Até o
lugar para a infância nesse mundo”. século XIII e início do século XIX, por exemplo,
Cabe lembrar que até por volta do século XVIII,
as imagens, gravuras e retratos das crianças foram [...] pode-se apresentar um argumento con-
tundente para demonstrar que a suposta in-
escassos ou quase inexistentes e, quando retratadas,
diferença com relação à infância nos períodos
não eram caracterizadas como crianças, mas como medieval e moderno resultou em uma postura
adultos em miniatura, ou seja, desde a roupa, a ves- insensível com relação à criação de filhos. Os
timenta e a postura até o comportamento ali repre- bebês abaixo de 2 anos, em particular, sofriam
sentado eram de um adulto em tamanho reduzido. de descaso assustador, com os pais consideran-
do pouco aconselhável investir muito tempo
Heywood (2004, p. 23) vai além, e afirma que
ou esforço em um “pobre animal suspirante”,
que tinha tantas probabilidades de morrer com
a ‘descoberta’ da infância teria de esperar pelos pouca idade (HEYWOOD, 2004, p. 87).
séculos XV, XVI e XVII, quando então se reco-
nheceria que as crianças precisavam de trata-
mento especial, ‘uma espécie de quarentena’, an- Como consequência, o trato para com a infância
tes que pudessem integrar o mundo dos adultos. e o desenvolvimento da criança naquele momento
acabava sendo refletida no contexto da educação da
Essa forma de olhar para a criança começou a se mo- criança pequena, o que significava que aos adultos
dificar lentamente a partir do século XIX, com os responsáveis pelas crianças não era exigida nenhu-
estudos realizados e publicados por Ariès (2006). De ma preparação.
acordo com o autor, a preocupação com a infância
vai se dar a partir do instante em que o campo his- A criança não traz mais do que a sua natureza
de indivíduo. A sociedade se encontra, a cada
toriográfico passa a romper com as rígidas regras da
nova geração, como que em face de uma nova
investigação tradicional, institucional e política, para tabula rasa, sobre a qual é preciso construir
abordar temas e problemas vinculados à história so- quase tudo de novo. É preciso que, pelos meios
cial. Nesse sentido, o autor contrapõe as afirmativas mais rápidos, ela agregue ao ser egoísta e so-
de que a infância foi esquecida ou ignorada. Para ele, cial, que acaba de nascer, uma natureza capaz
de vida moral e social, eis aí a obra educação
o que aconteceu foi decorrente das dificuldades em-
(DURKHEIM, 1994, p. 42).
píricas e científicas para se estruturar e reconhecer a
infância a partir da perspectiva histórica. Em sua análise histórica, Ariès (2006) assume e en-
Essas relações ocorridas entre o pensar, o agir, fatiza que a infância do século XIX e início do sé-
o conceituar, valorizar, pesquisar e/ou se preocupa culo XX passou por fenômenos de clausura, pois as
com a formação do ser humano na sua infância tem crianças eram separadas dos adultos por faixa etária
se transformado de acordo com cada tempo histórico e tinham assegurada uma educação voltada para os
– com cada realidade social e econômica o olhar para bons hábitos, o que garantia uma infância inocente e

16
EDUCAÇÃO FÍSICA

civilizada. Desse modo, a vida social em um espaço De acordo com os estudos realizados tanto por Ariès
público era substituída por um espaço privado. As- (2006) quanto por Elias (1994), o destaque foi para
sim, a criança, tida como irracional, não teria meios evidenciar que as crianças, que inicialmente eram
psicológicos para o pensar e o agir socialmente, dei- vistas apenas como seres biológicos, passaram a ser
xando de aproveitar tal momento para aprender ati- vistas e compreendidas na sua totalidade e chegam
tudes socialmente valorizadas, como nos aponta De na sociedade moderna como sendo aquelas que ne-
Mause (1991). cessitavam de grandes cuidados e, também, de uma
Elias (1994), em seu texto A Sociedade dos In- rígida disciplina, a fim de serem transformadas em
divíduos, traz à tona outras reflexões acerca da in- adultos socialmente aceitos. Logo, não era só a fa-
fância ao enfatizar que, ao nascer, o indivíduo tem mília a responsável pela criança; o Estado passa a
uma dependência natural do outro para se tornar ocupar um papel importante junto a essa categoria
social, ressaltando os processos sociais presentes da sociedade. Segundo Levin (1997, p. 254), a par-
na infância. O autor ainda afirma que os valores ou tir da Revolução Francesa, em 1789, modificou-se
crenças, as representações, os sistemas simbólicos a função do Estado e, com isso, a responsabilidade
constituídos pelas crianças e o significado das suas para com a criança e o interesse por ela. Assim, “os
experiências ao longo de seu processo civilizador governos começaram a se preocupar com o bem-es-
têm se modificado ao longo da história da socie- tar e com a educação das crianças”.
dade em função das mudanças sociais; assim, pas- As mudanças e transformações para com o
sou-se a entender que a medida em que a criança se conceito de infância se alteraram, em especial, a
relaciona com os indivíduos à sua volta, a sua sub- partir do século XVIII, isto porque, de acordo com
jetividade se depara com novos mundos que trans- Guiraldelli (1995),
formam seu comportamento social e suas funções
psicológicas. Elias (1994, p. 27), afirma, ainda, que [...] o século XVIII, em que um novo sentimen-
to dos adultos em relação às crianças já carac-
teriza a presença social da noção de infância, o
o indivíduo só se humaniza através do outro, a
que proporciona o advento de uma pedagogia
criança, isolada dessas relações, evolui, na me-
que advoga uma disciplina autônoma, e não
lhor das hipóteses, para a condição de um ani-
mais heterônoma. Se Locke trabalha com o ob-
mal humano semi‐selvagem afinal,
jetivo de estabelecer as condições da liberdade
[...] a criança não é apenas maleável ou adap- dos homens, Montaigne, antes dele, quer que os
tável em grau muito maior que os adultos. Ela adultos façam da criança um homem – o que já
precisa ser adaptada pelo outro, precisada da significa considerar que ela não é um “adulto
sociedade. [...] Na criança, não são apenas as em miniatura” – e Rousseau, depois dele, quer
ideias ou apenas o comportamento consciente que os adultos deixem a criança ser criança, de
que se veem constantemente formados e trans- modo que a infância aconteça, pois ela é o que
formados nas relações com o outro e por meio há de melhor nos homens (GHIRALDELLI,
delas (ELIAS, 1994, p. 30). 1996, p. 15).

17
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Evidente que essa mudança na perspectiva de se co- [...] a infância que aqui está em questão não
locar a infância como um período que compreendia pode ser simplesmente algo que precede cro-
nologicamente a linguagem e que, a uma certa
o desenvolvimento global da criança
altura, cessa de existir para versar-se na pala-
vra, não é um paraíso que, em um determi-
só foi possível porque também se modificaram nado momento, abandonamos para sempre a
na sociedade as maneiras de se pensar o que é ser fim de falar, mas coexiste originalmente com
criança e a importância que foi dada ao momen- a linguagem, constitui-se aliás ela mesma na
to específico da infância (BUJES, 2001, p. 13). expropriação que dela efetua, produzindo a
cada vez o homem como sujeito (AGAMBEN,
Chegamos à atualidade entendendo que não é pos- 2005, p. 59).
sível classificar a infância como sendo simplesmen-
te uma fase do desenvolvimento humano ou que o Observamos que a palavra “infância” foi se modifi-
crescimento natural da criança se dá exclusivamen- cando ao longo dos tempos: passa de um ser infante
te por razões biológicas, pois essa visão seria muito – “não falante” (ARIÈS, 2006) – para ser valoriza-
reducionista. Tal entendimento foi se constituindo da enquanto um ser em formação essencial e como
durante as transformações da ciência produzida na parte da sociedade à qual pertence. Contribuíram
sociedade moderna, que ao longo dos tempos pas- para essa mudança de pensamento os estudos de
sou a caracterizar e buscar a compreensão da criança Comenius (1592-1670), Locke (1632-1704), Rou-
e da infância a partir dos fenômenos psicológicos, sseau (1712-1778), dentre outros que possibilita-
das influências sociais, culturais e históricas – e essa ram tornar o século XX o que Becchi (1994) vai
realidade é sempre modificada culturalmente. Na chamar de “século das crianças”, em que os estudos
realidade brasileira, o conceito de infância tem sido sobre a infância se colocaram como centro das teo-
o adotado no Ocidente. De acordo com Steinberg rias, das pesquisas, das preocupações pedagógicas,
e Kincheloe (2001, p. 11) “na realidade, o que nos sanitárias e sociais, atentas ao desenvolvimento
últimos anos do século XX foi rotulado como uma das chamadas crianças pequenas.
infância tradicionalmente ocidental tem apenas cer- Com essas compreensões, chegamos à atuali-
ca de 150 anos”, o que significa que ainda temos uma dade entendendo a infância como um momento
história da infância muito recente com escassos es- de desenvolvimento do ser humano que deve ser
tudos que se ocupam do desenvolvimento integral considerado na sua integralidade. Entendemos que
da criança para além do biológico. a criança possui características e necessidades pró-
Essas mudanças podem ser justificadas de acordo prias, que influencia e é influenciada pelo contexto
com Sarmento (2005, p. 363), pelo fato de que histori- em que se encontra inserida, porque pertence a um
camente associamos infância à imagem da criança ou, meio social cuja imersão cultural lhe permite en-
mais especificamente, a uma determinada etapa cro- tender o mundo que a cerca, e o contexto escolar vai
nológica do desenvolvimento humano, fruto de pers- surgir nesse compasso como um importante meio
pectivas biologistas e psicologizantes. Essa perspecti- dessa transformação.
va foi se modificando ao longo dos tempos, afinal,

18
EDUCAÇÃO FÍSICA

19
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

A Infância no
Espaço Escolar:
DA ASSISTÊNCIA AO CARÁTER EDUCATIVO DAS
INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL

Reconhecemos que a história da infância tem sido Os conceitos de criança e infância são diferen-
marcada por inúmeras transformações e que, ao re- ciados, porém se encontram intimamente ligados. É
fletirmos acerca do desenvolvimento da criança e da preciso entender que, ao tratarmos da criança, esta-
infância no espaço escolar, temos que compreendê- mos nos referindo a uma fase com desenvolvimento
-la a partir das diversas possibilidades e perspectivas e ações desejadas para um determinado momento
históricas de cada contexto e espaço social. cronológico. Quando nos referimos ao conceito de
Segundo Kuhlmann Jr. (1991, p. 05), “a compa- infância, referimo-nos a uma categoria ampla na
ração com o passado precisa superar a linearidade qual se considera a criança um ser social e cultural.
para não obscurecer o presente que se quer pôr em Para esclarecer essas definições, fazemos uso das pa-
questão”. Tendo esse entendimento, compreender lavras de Sarmento (2005a, p. 04), que define que
o conceito de infância e seu desenvolvimento para
as ações do cotidiano pedagógico escolar se torna a infância é independente das crianças; estas são
os atores sociais concretos que em cada momen-
essencial para que estas possam ser planejadas de
to integram a categoria geracional; ora por efeito
acordo com cada momento que a criança está pas- da variação etária desses atores, a “geração” está
sando e que, como consequência, poderá influenciar continuamente a ser “preenchida” e “esvaziada”
no processo de aprendizagem escolar. dos seus elementos constitutivos concretos.

20
EDUCAÇÃO FÍSICA

Para entendermos melhor a definição do termo crian- É visível que, como vimos anteriormente, essa
ça, vamos recorrer ao Estatuto da Criança e do Ado- noção e preocupação para com a infância vai se dar
lescente (BRASIL, 1990). Nele, temos estabelecido efetivamente e com maior intensidade ao longo do
que se considera criança “a pessoa até os 12 anos de século XX, período que se constituiu como um sécu-
idade incompletos”. Kramer (2006) vai além e afirma lo que trouxe inúmeras transformações na sociedade
que as crianças são sujeitos sociais e históricos, que e, em especial, para a infância, para com as responsa-
produzem cultura e são nela produzidas. A infância, bilidades do cuidar e educar a criança pequena. Vale
segundo Castro (2008, p. 04), lembrar que foi nesse século que o Estado passou a
ter efetivamente o dever obrigatório com a educação
deriva da palavra infante e evoca um período infantil, que passou a ser vista como um momento
da vida humana. [...] É um período que pode-
essencial para o desenvolvimento da criança.
ríamos chamar de construção/apropriação de
um sistema de comunicação, de signos e sinais Muitas transformações se aglutinaram com a
destinados a fazerem-se ouvir. presença do Estado como um dos gerenciadores
e responsáveis pela educação da criança, influen-
Em síntese, tratamos aqui de infância, pois conside- ciando e refletindo diretamente em mudanças na
ramos, dentre outras, as transformações culturais, so- construção e ideal de famílias da sociedade con-
ciais, políticas, econômicas e pedagógicas que ocor- temporânea. De acordo com Perez (2012), essas
rem na sociedade num dado tempo e espaço, e que transformações nas finalidades da família resulta-
vão se configurar e se desenvolver de acordo com o ram das mudanças que aconteceram no processo
contexto familiar, social e cultural, tendo ou não um histórico, social, econômico e cultural – muitos
papel social significativo. aspectos contribuíram para a caracterização do
Nesse contexto, podemos considerar as ideias grupo familiar tal qual o concebemos em nossos
de Sarmento (2005), que entende a infância como dias, ou seja, como instituição que representa es-
uma construção social, com diferenças diacrônicas, paço de educação e transmissão de valores e nor-
ou seja, historicamente construídas e transformadas mas, bem como de expressão da afetividade entre
no decorrer dos anos. Há, também, diferenças sin- seus componentes.
crônicas, que revelam que, em um mesmo tempo, as Caro(a) aluno(a), tendo compreendido o trajeto
formas de compreender a infância podem ser distin- histórico da infância, passamos a buscar o entendi-
tas, conforme a localização geográfica, as religiões, a mento de como essas mudanças no conceito e ideal
etnia, a classe social, o gênero, enfim, são muitas as de família e de sociedade passaram a influenciar e
variáveis que interferem na maneira de representar a modificar o campo da educação para atender as
a infância, isso porque é nesse período que se pode crianças que necessitavam de cuidados; afinal, a
experimentar e vivenciar diversas experiências em educação também precisou se adequar para atender
contextos diferenciados. a essas novas demandas sociais.

21
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

[...] entender as condições históricas da emergên-


cia do ‘sentimento de infância’ possibilita também
a compreensão de que esse sentimento começa a
se fazer necessário a partir do século XVI. Inventá-
-lo foi uma estratégia de governo para preservar as
crianças de diversas práticas, como a dos hospícios
de menores abandonados, a criação dos filhos por
amas-de-leite e a educação artificial das crianças
ricas. Acima de tudo, de impedir a morte das crian-
ças. O governo dos infantis enquanto população
constitui-se num certo sentido como uma tomada
de poder sobre as crianças, a fim de fazê-las viver.

Para uma maior compreensão dessa afirmativa, vale


A escola passa a exercer um papel essencial na for- nos voltarmos para Kramer (2001), que destaca que
mação do sujeito e, para tanto, o devir pedagógico o grande impulso para o desenvolvimento da educa-
torna-se significativo para as ações desencadeadas ção infantil foi a Segunda Guerra Mundial:
nesse contexto. De acordo com Saviani (1997, p. 17),
o trabalho educativo é entendido como “o ato de pro- [...] a segunda guerra mundial provocou um
novo impulso ao atendimento pré-escolar, vol-
duzir, direta e in­tencionalmente, em cada indivíduo
tando-se principalmente para aquelas crianças
singular, a humanidade que é produzida histórica e cujas mães trabalhavam em indústrias bélicas
coletivamente pelo conjunto dos homens”. Na prática ou naquelas em que substituíam o trabalho mas-
cotidiana escolar, há que se considerar todos os co- culino. Por um lado, foi introduzido o conceito
nhecimentos e elementos produzidos ao longo da his- de assistência social para as crianças pequenas,
sendo ressaltada a sua importância para a comu-
tória por meio da ciência e do empirismo sobre quem
nidade na medida em que liberava a mulher para
é a criança, como é ser criança e o que significa a in- o trabalho (KRAMER, 2001, p. 27).
fância, visando um trabalho pedagógico qualificado
e que tenha condições de oportunizar o desenvolvi- Como consequência desse movimento necessário de
mento nesses espaços educativos de educação formal. ingresso da mulher no mundo do trabalho, a educa-
No compasso das discussões acerca do papel da es- ção infantil passa a ter como objeto de ação e discus-
cola surge a discussão e a necessidade de uma modali- são os elementos culturais que precisavam ser assi-
dade de ensino que dê conta dessas chamadas crianças milados pelos sujeitos que compõem a sociedade, o
pequenas – surgem aí os primeiros indícios da educa- que significava que, para buscar o desenvolvimento
ção infantil. Evidente que essa modalidade de ensino da industrialização e do comércio na sociedade, ou
teve origens diversas, mas a unanimidade dos estudos seja, para que a sociedade fosse transformada, era
e pesquisas relata que sua origem sempre esteve atrela- preciso que a mulher também passasse a fazer parte
da às necessidades econômicas e sociais, associada às desse cenário; daí a necessidade de se efetivar um
diferentes necessidades dentro do contexto histórico- local no qual as crianças pequenas pudessem ficar
-social em que as famílias e as crianças encontram-se sob cuidados e iniciarem sua formação. Assim, fo-
inseridas. Segundo Dornelles (2002, p. 33), ram concebidas as primeiras creches:

22
EDUCAÇÃO FÍSICA

[...] a creche ao longo da história foi concebida


como refúgio assistencial de crianças desprovidas A escola é, portanto, um espaço para desenvolver,
de cuidados, ou seja, criança pobre, para uma fa- transformar, modificar e ser modificado a partir de
mília que não sabe cuidar, tem até seus dias atu- todas as mudanças que são implícitas no percurso es-
ais definido a infância com um caráter privativo, colar, isso porque, segundo Bissoli (2005), na escola,
desconsiderando as políticas públicas de proteção
a criança amplia seus interesses além do mundo in-
e direitos a educação da infância. A creche como
substituta da família, cabe, portanto, organizar fantil e dos objetos, estende as possibilidades de rela-
atividades que atendam aos cuidados tipicamen- ções sociais, estabelece interações mais diversificadas
te domésticos, deslocados do conhecimento e da com os adultos, compreende, paulatinamente, as ati-
cultura na qual está inserida (REGO, 2006, p. 08). tudes e as várias formas de atividades humanas, tais
como trabalho, lazer, produção cultural e científica.

SAIBA MAIS

A memória do brincar, hoje, encontra-se apa-


gada pelo excesso de estímulos oferecidos
incessantemente, em um ritmo veloz e instan-
tâneo. A exaltação do objeto eleva minúsculos
brinquedos à extrema potência, para dali a
alguns dias serem substituídos por outros,
novas versões tecnológicas, mais avançadas,
melhores. Hoje, a dimensão do social confere
ao sujeito um lugar onde o singular encontra-
-se fragmentado na multiplicidade que o rege.
Os games e jogos virtuais não têm a mes-
ma dimensão simbólica de uma brincadeira
Após a criação do jardim de infância de Froebel, com carrinhos ou bonecas. São formas que
muitas versões foram criadas para atender a deman- as crianças encontram de falar do universo
que as cerca, de apropriar-se dele ao navegar
da, mas com o passar do tempo, esse espaço educati- nas vias eletrônicas, mas a automatização
vo passou a fazer parte da escola e foi integrado a ela. que rege os jogos virtuais apresenta efeitos
De acordo com Sacristán (2005, p. 125), de apagamento do tecido social que se cons-
truiria em presença. O brincar é tecido por
histórias e a travessia pelos brinquedos feitos
a escola e as práticas que nela se desenvolvem com arte, elaborados com as mãos das crian-
não nasceram nem são somente cenários do de- ças e dos adultos que as cercam, representa
senvolvimento, nos quais os atores podem me- uma via possível de construir suas bordas.
lhorar ou fracassar em suas atuações: a maneira
Fonte: Meira (2003)
de viver nelas é que faz o ator. A criança vai à
escola, e esta prepara a criança.

23
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

O CUIDAR E O EDUCAR NA EDUCAÇÃO de infância, mais tarde chamados de pré-primário e


INFANTIL pré-escolar, davam ênfase ao aspecto educacional,
sendo destinados para as crianças ricas, com méto-
dos e atividades pedagógicas voltadas para o desen-
volvimento social, cognitivo e outras habilidades;
por outro lado, nas instituições denominadas como
creches e escolas maternais era enfatizada a guarda,
a alimentação e os cuidados com saúde, higiene e
formação de hábitos de bom comportamento na so-
ciedade, sendo destinadas para as crianças pobres e
abandonadas.
Essa relação entre o educar e o cuidar no am-
biente da educação infantil vai gerar conflitos, tam-
bém, na atuação junto às questões pedagógicas a
serem desenvolvidas nessas instituições. Conforme
A função da escola e, em especial, da educação in- descreve Campos (2013), é muito importante reco-
fantil, tem sido um emaranhado de ações com signi- nhecer quais são os objetivos que se deseja alcançar
ficados e funções oscilando entre o cuidar e o educar, com a criança, pois eles orientarão as ações. É preci-
entre o fazer pedagógico e o assistencialismo. Essa so definir se os objetivos são cuidar e educar, aliando
dicotomia entre cuidar e educar vai se refletir, tam- as questões pedagógicas com as questões ligadas à
bém, no campo das políticas públicas educacionais higiene, alimentação e cuidados em geral, ou se o
e das políticas sociais. Segundo Campos (2013), no objetivo é apenas um ou outro.
Brasil, a educação da infância surge como princípio Afinal, qual seria a função da educação infantil?
de uma política assistencial associada ao processo Para amenizar essas dicotomias e compreender os
civilizatório que teve por base as necessidades indi- objetivos desse período educacional, é preciso re-
viduais e não coletivas, evidenciando as responsabi- correr aos documentos orientadores e norteadores
lidades individuais e não a questão do direito social. para essa modalidade de ensino. Dentre eles, desta-
Essa ideia acabou influenciando a educação infantil cam-se os pressupostos estabelecidos no Referencial
enquanto instituição que tem como função inicial a Curricular Nacional para a Educação Infantil (Brasil,
ação civilizatória e assistencial, cujo papel assumido 1998), no qual se tem a proposição de que deve ha-
foi o de compensar carências. ver a indissociabilidade das ações de cuidar e educar
Outro paradigma relacionado à educação infan- crianças de zero a seis anos de idade, sem hierarqui-
til está vinculado ao termo utilizado. De acordo com zar os profissionais ou a instituição que atuam com
Vieira (1999), as instituições de educação infantil as crianças pequenas. De acordo com o documento,
durante a história tiveram dupla trajetória: os jardins educar significa:

24
EDUCAÇÃO FÍSICA

[...] propiciar situações de cuidados, brincadei- Ainda que haja conflitos e distanciamentos entre as
ras e aprendizagens orientadas de forma inte- ações pedagógicas e as delimitações com os cuida-
grada e que possam contribuir para o desen- dos básicos de subsistência da criança nesses espa-
volvimento das capacidades infantis de relação
ços educacionais e o que seria seu objetivo central,
interpessoal, de ser e estar com os outros em
uma atitude básica de aceitação, respeito e con- tanto os documentos orientadores quanto os estu-
fiança, e o acesso a educação poderá auxiliar o diosos da área entendem que, na educação infantil,
desenvolvimento das capacidades de apropria- o educar está relacionado a preparar para o conví-
ção e conhecimento das potencialidades corpo-
vio junto à sociedade, para o mundo do trabalho e
rais, afetivas, emocionais, estéticas, na perspec-
tiva de contribuir para a formação de crianças o cuidar, ao bem-estar relacionado às questões bá-
felizes e saudáveis (RCN/I, vol. I, 1998, p. 23). sicas de subsistência da criança, tais como alimen-
tação e higiene. Ao longo da história da educação e
Por outro lado, o cuidar no documento está definido da infância, a educação infantil passa a assumir, na
como sociedade, o pedagógico que auxilia no desenvol-
[...] parte integrante da educação, embora exigir vimento integral da criança na atualidade, atrelada
conhecimentos, habilidades e instrumentos que às necessidades de desenvolvimento econômico e
extrapolam a dimensão pedagógica, ou seja, político de um determinado grupo social.
cuidar de uma criança em um contexto educa-
tivo demanda integração de vários campos de
conhecimentos e a cooperação de profissionais
de diferentes áreas (BRASIL, 1998, p. 24).

25
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

A Escola e a Infância:
A Institucionalização
da Criança e da Infância

26
EDUCAÇÃO FÍSICA

A história da educação infantil brasileira não diferiu econômico e social das comunidades, para que se
das demais realidades sociais. De acordo com Kuhl- possa oferecer o que a criança necessita para o seu
mann Jr. (1991), a constituição da educação infantil desenvolvimento.
brasileira apresentou como marco representativo os Vale ressaltar que a educação infantil que temos
anos de 1940, quando essa modalidade de ensino tratado refere-se ao estabelecido pela lei, compreen-
passou a sofrer transformações. Kuhlmann Jr. (ibi- dendo o atendimento em creches e pré-escolas. Se-
dem) também destaca o fato de que o processo de gundo Kramer (2001, p. 49), a diferença entre ambas
legalização do ensino da educação infantil se consti- está no fato de que
tuiu efetivamente a partir das definições da Consti-
tuição Nacional de 1988. [...] creche e pré-escola, em geral, distinguidas
ora pela idade das crianças incluídas nos pro-
Outro destaque legislativo para a educação
gramas – a creche se definiria por incluir crian-
infantil se deu nos anos de 1990, com a criação e ças de 0 a 3 anos e pré-escola de 4 a 6 –, ora pelo
implementação do Estatuto da Criança e do Ado- seu tipo de funcionamento e pela sua extensão
lescente (ECA), Lei nº 8.069/90, que regulamentou em termos sociais – a creche se caracterizaria
os artigos da Constituição Federal e esclareceu as por uma atuação diária em [horário integral], e
a pré-escola, por um funcionamento semelhan-
ações que deveriam ser realizadas, efetivando a
te à escola, em [meio período]. Há ainda uma
legalidade dos direitos da criança a partir de uma terceira classificação que diz respeito à vincu-
normativa legal. lação administrativa: a creche se subordinaria,
Além da Constituição de 1988 e do ECA em assim, a órgãos de caráter médico ou assisten-
cial, e a pré-escola ao sistema educacional.
1990, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei
nº 9394/96 – legalizou efetivamente as ações políti-
cas enquanto predisposições, orientações e normati- A educação infantil é considerada a primeira etapa
vas de uma legislação educacional, na qual se reco- da educação básica que tem por objetivo o desenvol-
nhece oficialmente que as creches e pré-escolas para vimento integral da criança, em seus aspectos físi-
crianças de zero a seis anos são parte integrante do co, psicológico, intelectual e social, e se constitui em
sistema educacional, sendo consideradas a primeira um espaço privilegiado para interação e aprendiza-
etapa da educação básica. gens significativas, onde o lúdico é o foco principal
No entanto, mesmo com as definições legais, o (BRASIL, 1996).
objetivo da educação infantil ainda causa polêmica
na sociedade atualmente, haja vista que, de acordo
REFLITA
com Craydi (2001, p. 24), é preciso estar claro que
as “creches e pré-escolas têm uma função de com-
plementação e não de substituição da família, como Se a educação infantil é uma necessidade
social, por que os organismos nacionais e
muitas vezes foi entendido”. Nesse sentido, esses es- internacionais tratam esses espaços educa-
paços educativos devem estar integrados às diversas tivos como sendo espaços em que o educar
realidades e necessidades das infâncias, consideran- sucumbe ao cuidar?

do as realidades das famílias e do contexto cultural,

27
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Segundo Kramer (2006), é preciso entender que a [...] as crianças possuem uma natureza singu-
lar, que as caracteriza como seres que sentem e
educação infantil e o ensino fundamental são indis-
pensam o mundo de um jeito muito próprio. E
sociáveis e, para tanto, devem assumir a apropria- isto através das interações que estabelecem des-
ção da cultura como suporte para a educação das de cedo com as pessoas que lhe são próximas e
crianças, respeitando-se, em contrapartida, nas duas com o meio que as circunda, as crianças reve-
lam seu esforço para compreender o mundo em
modalidades de ensino, as crianças nas suas singula-
que vivem as relações contraditórias que pre-
ridades. Devem ser espaços nos quais a ludicidade, senciam, por meio das brincadeiras, explicitam
a imaginação e as interações sociais sejam os eixos as condições de vida a que estão submetidas e
estruturantes considerados como as culturas infan- seus anseios e desejos (BRASIL, 1996, p. 21).
tis (SARMENTO, 2005).
Essa relação de infância e educação, aspectos Para além dos documentos orientadores que legis-
conceituais e orientações normativas e pedagógi- lam e deliberam acerca da educação infantil bra-
cas vão se dar, no entendimento de Molina e Lara, sileira, tem-se os documentos provenientes das
(2008, p. 3982) pela compreensão de que agências e organismos multilaterais, que trazem
orientações acerca da compreensão do conceito de
[...] infância, do mesmo modo que a educação, infância a partir das análises descritas em seus do-
não pode ser compreendida fora de um contex-
cumentos. Rosemberg (2001, p. 27-28) postula que
to socioeconômico e político. Por isso, quando
se fala em infância, não é possível se referir à
criança sem se considerar o tempo, o lugar e a as políticas de educação infantil contemporâ-
estrutura social na qual ela está inserida. neas nos países subdesenvolvidos têm sido for-
temente influenciadas por modelos ditos ‘não
formais’ a baixo investimento público, propug-
Logo, infância, educação, políticas públicas e ações nados por organismos multilaterais.
pedagógicas estão sempre entrelaçadas, afinal, para
se desenvolver as proposições e encaminhamentos Na concepção dessa autora, as influências sobre os
nessa instituição de ensino é preciso seguir as nor- projetos da educação infantil brasileira, na atuali-
mativas da legislação. dade, provêm, em especial, do Banco Mundial.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Outro destaque é a afirmativa de Campos (2013).
Educação Nacional, nº 9394/96, nos artigos 29, 30 Segundo a autora, nas últimas décadas, cresceram as
e 31, específicos da educação infantil, tem-se esta- discussões acerca das crianças e seus direitos, sendo
belecido e considerado como sendo essa modalida- este, inclusive, o tema de diferentes conferências e
de de ensino a primeira etapa da educação básica. reuniões internacionais e regionais. Dentre os di-
Consolidando essa lei, o Referencial Curricular Na- reitos aí referidos, o direito à educação, sobretudo à
cional para a Educação Infantil também vai trazer as educação infantil, configurou-se como uma questão
orientações para as ações nesses espaços educativos, fundamental para os governos locais. Segundo Dale
definindo a educação infantil como um espaço em (2004), as agências e organismos multilaterais, tais
que se deve considerar que como a Unesco e a Unicef, têm influenciado de for-

28
EDUCAÇÃO FÍSICA

ma significativa o desenvolvimento das ações políti- desenvolvimento da educação infantil, uma vez que
cas e governamentais para com a educação infantil. essa modalidade de ensino deve ser uma forma de
Entre esses documentos que têm, na atualidade,
transformado e modificado as relações, objetivos e [...] fortalecer os programas destinados à pri-
meira infância e dinamizar a produção de co-
metas para serem desenvolvidas na educação infan-
nhecimentos sobre a infância na região, apoian-
til, destacam-se as orientações continuadas da Con- do o esforço de pesquisa educacional baseada
ferência de Jomtienbem como os seguintes: Proyecto nas experiências intersetoriais com populações
regional de educación para América Latina y el Caribe vulneráveis, e difundir as lições aprendidas
(Unesco, 2002); Síntesis regional de indicadores de la (OEA, 1998, p. 05).

primera infancia; Informe de seguimiento de la EPT


en el mundo: bases sólidas: atención y educación de la Segundo Rosemberg (2001), a entrada de organi-
primera infancia; Situação mundial da infância 2007: zações internacionais, como a Unesco e a Unicef,
mulheres e crianças: o duplo dividendo da igualdade no âmbito da educação infantil na América Lati-
de gênero (Unesco, 2007); Pobreza infantil en América na trouxe implicações referentes aos incentivos e
Latina y el Caribe (Cepal; Unicef, 2010); Metas educa- às políticas de indução à expansão desse nível de
tivas 2021: la educación que queremos para la genera- atendimento educacional por meio das instituições
ción de los Bicentenarios; e o relatório Educação para não formais, mas seu apoderamento suscitou uma
Todos 2000-2015: progresso e desafios (Cepal, 2000). mudança no modus operandi desses organismos,
Dale (2004) ainda destaca os documentos para que passaram a se envolver nos projetos educativos
a educação infantil propostos para a América Lati- destinados à infância e à juventude em seus países
na com o formato de projetos, sendo eles a Agenda membros.
Iberoamericana para a Infância e a Adolescência, o As ações desencadeadas enquanto normativas
Programa Iberoamericano de Educação e o Projeto serão detalhadas na unidade seguinte, mas é preciso
Regional de Educação para América Latina e Caribe, que você entenda, caro(a) aluno(a), que a educação
projetos desenvolvidos e coordenados pela Organi- infantil, ao longo da sua constituição histórica, se
zação dos Estados Ibero-Americanos, pela Organi- oficializa enquanto um campo educacional passí-
zação dos Estados Americanos e pela Unesco. vel de provocar mudanças, mas que também é tido,
Dentre esses documentos, a educação infantil é ainda, por inúmeras vezes, como sendo um espaço
tratada com destaque no Plano Ibero-americano de apenas destinado aos cuidados básicos da criança.
Educação, no qual as discussões e determinações se Ainda há que se repensar e refletir acerca do que se
configuraram a partir da proposição de que deve- espera para a educação infantil, mas muitos passos
riam ser aplicadas e direcionadas ações denomina- já foram dados e o planejar pode ser um gesto essen-
das no documento como “políticas compensatórias e cial para que os resultados nas áreas sociais possam
intersetoriais para populações vulneráveis”, deixan- ser refletidos a partir do reconhecimento e valoriza-
do claro os elementos que consolidam o objetivo e o ção da infância.

29
considerações finais

C
aro(a) aluno(a), no decorrer desta unidade trouxemos as discussões
acerca do conceito de infância, discutimos e refletimos sobre o fato de
que a infância se constituiu historicamente enquanto artefato social
e histórico que foi e tem sido moldado de acordo com cada tempo e
espaço, vinculado a um fazer social necessário para cada momento vivido pela
sociedade.
Vimos que a infância em suas múltiplas facetas tem sido tratada no espaço es-
colar como uma ação necessária ao desenvolvimento do homem para a vida em
sociedade, mas que a educação infantil persevera na dicotomia de como tratar a
criança inserida em seu espaço escolar, vagando entre as ações de cunho assisten-
cialista e práticas de caráter totalmente educativos.
A partir da análise estrutural e conjuntural do conceito de infância a partir do
lócus social, percebemos a existência de uma linha tênue entre o ser criança e a
necessidade de se estruturar e orientar e/ou normatizar as ações políticas e gover-
namentais de tal modo que a finalidade do atendimento às crianças da educação
infantil e das séries iniciais nas instituições educativas seja por meio de ações de
corresponsabilidade, nas quais Estado e Família comunguem dos mesmos an-
seios para que as relações escolares possam ser bem-sucedidas.
Tendo essa compreensão, é possível que se tenha chegado ao final desta uni-
dade com o entendimento de que a educação infantil é uma modalidade de ensi-
no com características próprias, que as crianças envolvidas nesse contexto devem
ter suas particularidades respeitadas, e que essa é uma modalidade integrada ao
conjunto da estrutura educacional que compõe a Educação Básica no País. As-
sim, teremos um educador reflexivo com condições de compreender que as ações
no local são sempre originárias ou influenciadas pelo global e que, portanto, a
educação infantil não se difere ou se distancia desse fato.

30
atividades de estudo

1. O conceito de infância tem se alterado durante o decorrer da história da


sociedade. Releia o conteúdo que discorre a respeito dos principais
acontecimentos que influenciaram a construção do conceito de in-
fância que se tem na atualidade e explique como esse conceito tem
modificado o trato pedagógico no campo da educação infantil.

2. A infância tem sido vista de formas diferenciadas em cada tempo histórico.


Explique como a infância era vista na Antiguidade até chegar aos dias
atuais.

3. Os documentos provenientes das agências e organismos multilaterais têm


influenciado de forma significativa os objetivos de atendimento da educa-
ção infantil. Explique como esses documentos influenciam a ação na
prática da educação infantil.

4. A educação infantil é uma fase de desenvolvimento essencial para a crian-


ça. Com isso em mente, quais as contribuições da educação física para
a educação infantil?

5. O conceito de infância tem se alterado ao longo da história. É possível


afirmar que na atualidade a infância não é valorizada?

31
LEITURA
COMPLEMENTAR

EDUCAÇÃO INFANTIL: JOGOS E BRINCADEIRAS mente como ações e desenvolvem a coordenação moto-
EM PAUTA ra e sensorial das crianças; em seguida vêm as atividades
que aparecem como imitações, dramatizações, constru-
A educação infantil brasileira tem sido um tema recor-
ção, modelagens, reconhecimento de figuras e símbolos,
rente nos debates educacionais que tratam das políticas
desenhos e linguagem, que trabalham o simbólico da
da educação, das questões pedagógicas, do seu papel
criança e, assim, posteriormente são codificadas e apare-
na sociedade atual e do trato com a infância. Kramer
cem como o processo de leitura e escrita (alfabetização).
(2006) corrobora essa afirmativa ao defender a ideia de
que nos últimos vinte anos no Brasil têm-se destacado as
discussões da educação infantil nos fóruns estaduais de CONHECENDO E CONCEITUANDO JOGOS E
educação, especificamente no tocante ao financiamento BRINCADEIRAS
e ao papel que a educação infantil ocupa no cenário da A compreensão de infância, cultura, jogos e brincadeiras

educação. [...] infantis pode ser tratada a partir de diversos olhares. A

Para Ferrero e Teberosky (1999, p. 105), devemos consi- opção foi partir do pressuposto e entendimento de uma

derar que infância enquanto categoria social e da criança como ser


produtor de cultura (PEREIRA, 2013), que, por meio da
[...] as crianças possuem conceitualizações
interação com os seus pares no contexto escolar, produz
sobre a natureza da escrita muito antes da
uma série de culturas, que se tornam conhecimentos e
intervenção de um ensino sistemático. Porém,
práticas infantis que serão transformados de modo a ad-
além disso, essas conceitualizações não são
quirir novos conhecimentos, construindo, configurando
arbitrárias, mas sim possuem uma lógica interna
e reconfigurando seus saberes e seu universo. [...]
que as torna explicáveis e compreensíveis sob
Na visão de Vygotsky (1979), existem duas concepções
um ponto de vista psicogenético.
importantes do jogo e do ato de brincar: a imaginação
Afinal, a educação infantil deve ser vista como um espa- e as regras. O jogo e a brincadeira são atividades que
ço de experiência, em que o uso da linguagem deveria ajudam a recriar a realidade da criança com objetos sim-
partir de uma temporalidade, de um processo de criação bólicos. Brincando, a criança representa papéis do mun-
que possibilite ao pensamento se entrelaçar e navegar do adulto que irá desempenhar mais tarde, desenvolve
por outros universos e assim encontrar semelhanças, capacidades físicas, verbais e intelectuais, tornando-se
construir e desconstruir suas ações. capaz de se comunicar. O jogo e o brinquedo são fatores
[...] Para Abramovay e Kramer (1984), inicialmente, as ati- de comunicação mais amplos do que a linguagem, pois
vidades trabalhadas no campo escolar aparecem basica- propiciam o diálogo entre pessoas de culturas diferentes.

32
LEITURA
COMPLEMENTAR

Atualmente, os jogos também podem se constituir de OS JOGOS E BRINCADEIRAS NO PROCESSO DE


um brinquedo ou brincadeira que a criança executa por ALFABETIZAÇÃO
puro prazer e com vontade de exercer. De acordo com Quando brinca, a criança não está preocupada com a
Brougère (1996), o brinquedo seria munido de significa- aquisição de conhecimentos ou com o desenvolvimento
dos, carregando consigo uma representação de infância, de qualquer habilidade – assim, a atividade pedagógica/
e a brincadeira deveria desvendar essa representação, lúdica proposta com determinados jogos ou brincadei-
decodificando o brinquedo. [...] ras devem ter por base a conduta dos educandos, suas
espontaneidades e estímulos externos durante as brin-
OS JOGOS E BRINCADEIRAS NO cadeiras. Segundo Kishimoto (2000, p. 26), “o jogo edu-
DESENVOLVIMENTO NOS PRIMEIROS ANOS cativo utilizado em sala de aula desvirtua o conceito de
[...] brincar ao dar prioridade para o produto”, ou seja, para
Vygotsky (1991) explica que existe uma grande relação a aprendizagem e as habilidades adquiridas.
entre o jogo e a aprendizagem, em que a criança executa Os jogos e brincadeiras estimulam a curiosidade e o de-
papéis, assume as regras das brincadeiras e desempe- senvolvimento de habilidades físicas e cognitivas que
nha funções para as quais ainda não está apta e prepa- auxiliam posteriormente o processo alfabetizador. Se-
rada na realidade. Vygotsky defende que o ato de brincar gundo o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa
permite que a criança aprimore a sua imaginação, fazen- (PNAIC) (Brasil, 2012), o processo de alfabetização é um
do com que ela conviva e entenda melhor o grupo social processo cognitivo complexo – a criança precisa não só
no qual está inserida. [...] decorar o formato e nome dos códigos, mas reconstruir
Segundo Kishimoto (1994), o jogo está vinculado à ima- em sua mente propriedades complexas desse sistema,
ginação, aos símbolos e ao pensamento. A criança pré- ou seja, ela precisa compreender sua lógica funcional. No
-escolar aprende por modo espontâneo e intuitivo, e o primeiro ano do ensino fundamental, os alunos deverão
brinquedo, se usado com propósito pedagógico, trans- iniciar, aprofundar e consolidar alguns conhecimentos
forma-se em um instrumento muito importante e essen- convencionais e, como dito no PNAIC, a educação infantil
cial para a aprendizagem e o desenvolvimento intelec- se constitui de um espaço e tempo de vivências e experi-
tual infantil. A autora ainda esclarece que o jogo, para mentações que poderão ser transportadas no momento
vários professores da educação infantil, é visto como da alfabetização da criança.
uma prática desnecessária, que não ajuda na educação Fonte: Bonora, Krüger e Souza (2016, on-line)
por não apresentar características sérias. Entretanto, ao
jogar os alunos mostram muita concentração e dedica-
ção nas atividades lúdicas.

33
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Crianças Invisíveis
Ano: 2006
Sinopse: o documentário Crianças invisíveis, lançado em 2006,
mostra a realidade de um grupo de crianças, muitas em situ-
ação de vulnerabilidade, que vivem no Brasil, Itália, Inglaterra,
Sérvia, Burkina Faso, China e Estados Unidos. Retrata a infância
construída por crianças que coletam sucata nas ruas de São Paulo ou que roubam para viver
em Nápoles e no interior da Sérvia. Mostra a realidade vivida por essas crianças de forma
explícita, denunciando problemas, erros e dificuldades que elas enfrentam no seu dia a dia.
Esse documentário não só irá lhe permitir trazer à tona suas lembranças de infância, mas
também vai lhe fazer refletir sobre o que estamos fazendo pelas crianças da nossa realidade.

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IxmBRrbEhFA>.

34
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37
gabarito

1. A história da infância foi marcada por acontecimentos provenientes dos contextos


sociais, econômicos e políticos de cada época. Os que mais marcaram o campo da
educação física foram os referentes ao ingresso da mulher no mundo do trabalho
após a Revolução Industrial. O que se percebe, ao longo da história, tem sido a di-
cotomia com relação ao objetivo da educação infantil: o educar e o cuidar, aspectos
relevantes que sempre foram considerados como essenciais nessa modalidade de
ensino.
2. A história da infância foi marcada por inúmeros acontecimentos. A criança pequena
era vista na Antiguidade como um ser que pouco ou nada influenciava a casa e a
vida, assim como na Idade Média era vista apenas sob a responsabilidade da família,
tida como um adulto em miniatura, que poderia ser descartada/rejeitada quando
afligida por alguma anomalia. Essa ideia vai mudar apenas com o advento da socie-
dade moderna, quando a criança passa a ser vista pelo prisma da ciência e a ocupar
um lugar central nas discussões do Estado, na constituição da família e dos cuidados
para com o seu desenvolvimento.
3. A questão da influência das agências e organismos multilaterais na educação infantil
está em destaque no tópico “A escola e a infância: a institucionalização da crian-
ça e da infância”. Como Visto, a influência reside no fato de que esses organismos
internacionais, por meio de seus documentos, repassam aos países membros as
indicações de ações políticas que devem regular e regulamentar as ações para com
a criança, em especial na educação infantil. Esses documentos acabam se tornando
os parâmetros globais acerca das definições das finalidades e objetivos que devem
ser seguidos.
4. A educação física pode contribuir para o desenvolvimento da criança por meio das
atividades que exploram, da linguagem corporal e do movimento, as potencialidades
da criança.
5. Na atualidade, o conceito de infância está atrelado ao próprio conceito que se
tem de sociedade e de ser humano.

38
UNIDADE
II
A EDUCAÇÃO INFANTIL
E A LEGISLAÇÃO

Professora Doutora Vânia de Fátima Matias de Souza


Professor Doutor Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Educação, Educação Infantil e Educação Física
• A Educação Infantil na legislação
• Refletindo sobre a Educação Física na Educação Infantil

Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar os aspectos legais que norteiam a Educação
Infantil no Brasil, em especial no que se refere à
Constituição Federal, Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei 9.394/1996) e Diretrizes Curriculares
Nacionais.
• Analisar o papel da Educação Física no contexto da
Educação Infantil.
• Refletir sobre a importância da atuação do professor de
Educação Física no campo da Educação Infantil.
unidade

II
INTRODUÇÃO

A
infância tem se constituído, ao longo da história, enquanto
um conceito social de representação de uma fase de forma-
ção do homem, considerando-o integrante do processo de
transformação e mudanças na sociedade, que são refletidas no
universo escolar. A partir dessa compreensão, trazemos as discussões e
reflexões que tratam das perspectivas de ação e atuação com a infância a
partir das orientações políticas voltadas ao campo educacional; afinal, a
educação escolar reflete o conceito e valorização que se tem para a crian-
ça e a infância.
A Educação Infantil é um espaço escolar, um nível de ensino em que
se considera a ação pedagógica, tendo como ponto de partida a sociali-
zação, o diálogo, o brincar, a brincadeira, o faz de conta e o imaginário
infantil. Na Educação Infantil, a criança, a partir das experiências educa-
cionais, desenvolve-se tanto em seus aspectos cognitivos quanto sociais,
afetivos e motores. E, nesse contexto, a Educação Física contribui de ma-
neira significativa com esse desenvolvimento, haja vista que o cerne do
trabalho pedagógico da Educação Infantil é o movimento, a linguagem
corporal, a cultura lúdica, os jogos e brincadeiras que, por sua vez, tam-
bém são os objetos de ação pedagógica do campo da Educação Física.
A partir dessas considerações, nesta unidade, você verá que o tra-
balho docente e as orientações didático-pedagógicas que normatizam e
regulamentam a atuação na Educação Infantil seguem os pressupostos
e orientações da legislação educacional brasileira. Afinal, a Educação
Infantil é um nível de ensino que tem sua estruturação marcada pelo
entendimento de que esse é um espaço educacional, no qual é proporcio-
nado à criança aprender, brincar e se desenvolver. Vamos lhe apresentar
as análises das orientações para o desenvolvimento das ações no campo
da Educação Infantil. A partir dessa leitura, faça as reflexões e busque
comparar as informações trazidas neste texto com sua prática docente.
Vamos aos estudos!
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Educação, Educação Infantil e


Educação Física
Ao nos referirmos ao termo educação, estamos tra- de busca pelo aprender. Afinal, a escola é um espa-
zendo à tona as reflexões acerca do educar. O educar ço de educação formal, na qual professores e alunos
é compreendido como uma ação que acontece ao compartilham os anseios, as necessidades e as an-
longo da vida do ser humano, haja vista que esta- gústias com o mundo do saber e do conhecimento.
mos em constantes processos de mudanças, trans- O aprender é uma ação de reciprocidade, que se dá
formações individuais e coletivas, que nos levam a a partir das relações sociais, das interações que, por
desenvolvimentos no campo social, intelectivo, cog- vezes, provocam mudanças e transformações, pois a
nitivo ou motor. O educar é um processo constante, educação escolar possibilita aos envolvidos refleti-
em movimento que, quando tratado no ambiente rem, transformarem seus conceitos, ideias e concep-
escolar, passa a ser visto como uma ação consciente ções cotidianamente.

44
EDUCAÇÃO FÍSICA

A educação está atrelada ao desenvolvimento e Essa busca por desafios e novas conquistas no es-
formação do homem, isso porque, de acordo com paço escolar se dá por meio de uma prática educa-
Ferreira (1993), a educação é um ato ou o efeito tivo-crítica, que se sustenta em ações construídas
de educar e/ou se educar, que se concretiza com o coletivamente a partir de saberes e conhecimentos
desenvolvimento da capacidade física, intelectual e individuais que vão se organizando a partir das ex-
moral do ser humano. Palma et al. (2008) vão além periências vivenciadas coletivamente. Então, é pos-
e destacam que o objetivo da educação escolariza- sível dizer que a educação escolar é um espaço no
da deve ser o de proporcionar aos alunos momentos qual o ensinar não se restringe à mera transferên-
em que eles possam criar, inventar, construir e mo- cia de conhecimento, mas deve ser entendida como
dificar conceitos; para isso, o aluno deve-se interagir sendo uma possibilidade para se produzir a partir
com o meio. da curiosidade e pela constante busca pelo aprender
Essa reinvenção, criação, construção, na qual (FREIRE, 1996).
a criança constrói e desconstrói seus saberes cons- A educação escolar é, nesse sentido, um espa-
tantemente para poder criar outros conceitos, ou- ço de intervenção no qual a criança é apresentada
tras normas e compreensões de mundo, precisa ser a situações que a levem a um desenvolvimento in-
orientada, planejada e estruturada a partir de objeti- tegral de suas potencialidades. E uma das formas de
vos definidos. Para que a educação escolar possa ter se oportunizar esse desenvolvimento é por meio de
significado para criança, é preciso que se promova ações que tratem do real e do imaginário, do concre-
situações, meios de intervenção que a levem a que- to ao abstrato, do lúdico ao formal, do cognitivo-in-
rer aprender, buscar se desenvolver. Afinal, como telectual ao motor, ou seja, é preciso promover, no
afirma Freire (1992, p. 28), espaço da Educação Infantil, uma educação motora
que leve ao desenvolvimento integral da criança. Se-
[...] o ser humano, principalmente quando gundo afirma Bracht (1999, p. 70), a educação não
criança, precisa construir seus próprios meios
deve ser tratada de forma fragmentada, haja vista
de transporte para empreender essa viagem
chamada vida. Se ele não consegue alcançar que é um equívoco tratar o desenvolvimento intelec-
um objeto que o atrai, que ele deseja, só resta tivo separado do corporal, afinal, é preciso romper
um recurso: construir um mecanismo que o com a ideia
leve ao seu objetivo. Um bebê de poucos me-
ses, que ainda não sabe engatinhar, terá que re-
[...] culturalmente cristalizada, da superiori-
alizar um enorme esforço, arrastando-se, para
dade da esfera mental ou intelectual – a razão
pegar qualquer objeto que esteja distante. Em
como identificadora da dimensão essencial e
pouco tempo, assim que a maturação biológi-
definidora do ser humano. O corpo deve servir.
ca gere força muscular e organização nervosa
O sujeito é sempre razão, ele (o corpo) é sem-
suficientes, o arrastar-se permite à criança uma
pre objeto; a emancipação é identificada com a
viagem muito limitada, enquanto o engatinhar
racionalidade da qual o corpo estava, por defi-
já lhe permite ir mais longe e empreender novas
nição, excluído.
conquistas.

45
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Nesse contexto de formação do homem, enquanto [...] tomar a criança como ponto de partida
um ser social, crítico e reflexivo, tem-se as ações significa pensar num currículo que contemple
diferentes linguagens em suas múltiplas formas
desencadeadas na Educação Infantil, que, portan-
de expressão, as quais se manifestam por meio
to, carecem, em muitos momentos, romper com a da oralidade, gestualidade, leitura, escrita, mu-
linearidade pedagógica, trazendo um planejamento sicalidade. Estas formas de expressão, vividas e
flexível, que atenda às necessidades da criança. Se- percebidas pelo brincar, representam a totali-
dade do ser criança e precisariam estar garanti-
gundo Faria e Palhares (1999), o modelo de esco-
das na organização curricular da sua educação
larização da Educação Infantil deve ser repensado, e não enquadradas em áreas do conhecimento
afinal os autores destacam que nesse mesmo nível de e alocadas em disciplinas.
ensino podemos encontrar características diferen-
ciadas para creches e pré-escolas, Nesse contexto, a criança na Educação Infantil deve
ser vista de forma integral, contextualizada, enten-
[...] com intencionalidade educativa, que pos- dendo que, nessa fase da vida, a primeira fonte de
sibilita superar qualquer resquício: escolari-
exploração do mundo pela criança é por meio do
zante (centrado na professora, alfabetizante,
seriado, com matérias/disciplinas, etc); assis- seu corpo, de seu movimento. Assim, a Educação
tencialista; e também adultocêntrico, higienis- Física vem como um campo de conhecimento que
ta, maternal, discriminatório, preconceituoso, colabora com essa integração dos saberes, dos co-
reforçando o objetivo principal da educação nhecimentos sociais à formação cognitiva e afetiva
das crianças de 0 a 6 anos que é o cuidado/
da criança, tão importantes nessa fase de desenvol-
educação (sem confundir com assistência/es-
cola (FARIA, PALHARES, 1999, p. 78). vimento. De acordo com Rodrigues (2003, p. 11),

É importante lembrarmos que ao nos referirmos aos [...] a educação física infantil tem por finalidade
contribuir para a formação integral do educan-
estudos no campo da Educação Infantil, como nos
do, utilizando-se das atividades físicas para o
lembra Didonet (2001), seja no formato de creche desenvolvimento de todas as suas possibilidades.
ou pré-escola, estamos tratando de uma instituição
de ensino e, portanto, torna-se necessário tratar de A criança da Educação Infantil tem em, seu desen-
suas qualidades e defeitos, de sua necessidade social volvimento, a necessidade de realizar atividades que
ou da sua importância educacional. É preciso consi- lhe oportunizem o fazer, o experimentar, o vivenciar;
derar que o objeto central da Educação Infantil é a isto porque, nessa fase, caracterizada como a pri-
criança, um ser humano em desenvolvimento com meira infância, a criança necessita de ações e tarefas
características e necessidades próprias. E, como nos que a levem a aperfeiçoar e a estimular os movimen-
alerta Sayão (1999, p. 234), tos adquiridos. Por meio das atividades planejadas,
as aulas de Educação Física promovem o aperfeiço-

46
EDUCAÇÃO FÍSICA

amento dos movimentos já adquiridos e oportuni- Nesse contexto, as aulas de Educação Física na Edu-
zam a aprendizagem de novas habilidades motoras. cação Infantil passam a considerar a criança a par-
Afinal, a criança, nessa fase, anseia pelo novo, pelo tir de suas particularidades, considerando o fato de
aprender, busca atividades que a levem a explorar o que, por meio do trabalho corporal realizado nas
mundo por meio de sua corporalidade, de suas ex- aulas, tendo como foco o trabalho a partir da gestu-
perimentações. alidade e da corporeidade, a criança passa a se inte-
Palma e Palma (2005 apud Palma et al., 2008, p. grar com mais facilidade no universo escolar em que
99) colaboram com essa discussão ao afirmarem que, se encontra inserida.

[...] quanto mais ricas e numerosas forem as


experiências motoras das crianças, maior será
o número de esquemas por elas construídos, o
que possibilitará, pelas coordenações estabe-
lecidas entre esses esquemas, a construção de
inúmeras e diferentes habilidades motoras: as
operações motoras.

Portanto, essas atividades vivenciadas nas aulas de


Educação Física, no contexto da Educação Infantil,
devem estar vinculadas e integradas às ações desen-
volvidas no Projeto Pedagógico, de forma a integrar
suas atividades, tendo uma sequência lógica, partin-
do do simples para o complexo, permitindo que os
conhecimentos e saberes possam ser experimenta-
dos, explorados e modificados ao longo da trajetória
escolar da criança. No entanto, para que isso ocorra,
segundo Kuhlmann Júnior (1999, p. 64), é impor-
tante ressaltar que

[...] a educação infantil não pode deixar de


lado a preocupação com uma articulação com
o ensino fundamental, especialmente para as
crianças mais velhas que logo mais estarão na
escola e se interessam por aprender a ler, escre-
ver, contar.

47
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

A Educação Infantil
na Legislação
A Educação tem sido compreendida ao longo da Mesmo com a Educação Infantil tendo surgido
história como um direito adquirido pela sociedade, e se constituído como um espaço necessário já na
cujas responsabilidades e obrigações, quanto à regu- segunda metade do século XIX, foi apenas na Cons-
lamentação, à organização, à normatização, à orien- tituição Federal (CF) de 1988 que ela começou a ser
tação, aos princípios e às diretrizes, ficam a cargo do definida como responsabilidade do Estado, pois, até
Estado. Entretanto, ao tratarmos da Educação Infan- então, essa etapa da escolarização das crianças de
til, esse direito tem sido questionado, visto que a sua zero a seis anos não estava regulamentada de modo
materialização efetiva ou consolidação, enquanto mais preciso e objetivo.
parte integrante dos direitos educacionais da crian- Os questionamentos acerca da função da Educa-
ça, tem sido construída lentamente na história da ção Infantil perpassam basicamente pelas discussões
legislação educacional brasileira. e compreensões ligadas ao entendimento de que esta

48
EDUCAÇÃO FÍSICA

tem sido uma das etapas destinadas à primeira in- disso, o autor diz que as instituições de Educação
fância, sendo formada, basicamente, da creche e do Infantil, em geral, se preocupavam com questões de
jardim de infância, seguindo o modelo adotado em cuidados com a criança, sendo que as ações do cam-
outros países e tendo, inicialmente, um caráter assis- po educativo centravam-se nas atividades desenvol-
tencialista e raras orientações de caráter pedagógico. vidas, que objetivavam que as crianças pudessem
Para explicitar esses conflitos conceituais acer- adquirir hábitos de obediência, bondade, identificar
ca da compreensão do objetivo da Educação In- as letras do alfabeto, pronunciar bem as palavras e
fantil, podemos trazer os apontamentos de Souza assimilar noções de moral e religião. De acordo com
(2007), pois, segundo o autor, essa dificuldade no Marafon (2002. p. 4-5, on-line), essa mudança na
processo de institucionalização da Educação In- perspectiva de trato com a infância vai acontecer,
fantil tem se dado em função de seu percurso his- mais especificamente, após o final do século XIX,
tórico conturbado na educação brasileira. Souza segundo o autor,
(2007, p. 15-16) afirma que,
O atendimento às crianças de 0 a 6 anos apa-
[...] a educação institucionalizada de crianças receu no Brasil no final do século XIX, pois
pequenas surgiu no Brasil no final do século antes deste período, o atendimento de crianças
XIX. O setor privado da educação pré-escolar, pequenas longe da mãe em instituições como
voltado para as elites - os jardins-de-infância de creches praticamente não existiam. Na zona
orientação fröebeliana -, já tinha seus princi- rural, onde vivia a maior parte da população,
pais expoentes no Colégio Menezes Vieira no as famílias de fazendeiros assumiam o cuidado
Rio de Janeiro, desde 1875, e na Escola Ameri- das crianças abandonadas, geralmente fruto da
cana anterior a isso. No setor público, o jardim exploração sexual da mulher negra e índia, pelo
de infância da Escola Normal Caetano de Cam- senhor branco. Na área urbana, bebês abando-
pos, que atendia à elite paulistana, foi inaugura- nados, por vezes filhos de moças pertencentes a
do apenas em 1896, mais de vinte anos depois famílias de prestígio social, eram recolhidos na
das fundações da iniciativa privada. O jardim roda dos expostos.
de infância da Escola Caetano de Campos, cujo
trabalho pedagógico se baseava em Fröebel, ti-
nha como princípios educativos os conteúdos Caro(a) aluno(a), é importante entendermos que o
cognitivo e moral. Nas duas primeiras décadas movimento de legitimação e institucionalização da
do século XX, foram implantadas em várias re- Educação Infantil ao longo dos tempos sempre es-
giões do Brasil, as primeiras instituições pré-es-
teve associado ao entendimento de que a Educação
colares assistencialistas.
Infantil refere a uma instituição de ensino em que a
função essencial está ligada a sua função social, cuja
Corroborando com as discussões acerca da institu- dimensão dos conhecimentos está sempre atrela-
cionalização da Educação Infantil, Kuhlmann Junior da ao desenvolvimento das linguagens, das intera-
(1999) afirma que a dificuldade na estruturação da ções, dos jogos e das brincadeiras. Kuhlmann Junior
Educação Infantil enquanto um campo educacional (1999, p. 61) colabora com essa discussão, afirman-
se deu em função de seu objetivo inicial estar cen- do que, até o século XIX, o que se observava para a
trado nas questões assistenciais e de custódia. Além Educação Infantil era uma ação vista a partir de uma

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EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

[...] filantropia que representava a organização De acordo com Merisse (1997, p. 49), “[...] essa
racional da assistência, em substituição à cari- legitimação mesmo com a Lei 5.692, de 1971, não
dade, prática dominada pela emoção, por sen-
se tinha garantias de educação para a criança que
timento de simpatia e piedade.
estava inserida na Educação Infantil”. Segundo a au-
A Educação Infantil tem apresentado, ao longo de tora, é nesse momento que surge o movimento de
sua história, compassos e descompassos com os ob- luta por creches, sob influência do feminismo, que
jetivos distintos. Ora preocupados com o educar, ora
com o cuidar, acabam sendo refletidos na processo [...] apresentava suas reivindicações aos pode-
res públicos no contexto por direitos sociais e
de construção legal da área. Entenda que, segundo
da cidadania, modificando e acrescendo signi-
Kramer (1995), o caminho da legalização da Educa- ficados à creche enquanto instituição (MERIS-
ção Infantil se deu a partir de conquistas e valoriza- SE, 1997, p. 49).
ção da infância. Visto que, segundo Kramer (1995) ,
os principais marcos legais se deram a partir de 1940, Esta começa a aparecer como um equipamento es-
com o surgimento do departamento Nacional da pecializado para atender e educar a criança peque-
Criança, cuja finalidade era a ordenação das ativida- na, que deveria ser compreendido não mais como
des dirigidas à infância, maternidade e adolescência, um mal necessário, mas como alternativa que pode-
administrados pelo Ministério da Saúde. Por volta ria ser organizada de forma a ser apropriada e sau-
de 1950, disseminou-se a tendência médico-higiêni- dável para a criança, desejável à mulher e à família.
ca do Departamento Nacional da Criança, desenvol- A creche irá, então, aparecer como um serviço que
vendo vários programas e campanhas visando ao é um direito da criança e da mulher, que oferece a
possibilidade de opção por um atendimento com-
[...] combate à desnutrição, vacinação e diver-
sos estudos e pesquisas de cunho médico reali-
plementar ao oferecido pela família, necessário e
zadas no Instituto Fernandes Figueira. Era tam- também desejável.
bém fornecido auxílio técnico para a criação, Nesse sentido, a Educação Infantil se configu-
ampliação ou reformas de obras de proteção ra a partir de orientações político-governamentais
materno-infantil do país, basicamente hospitais
no país, oficialmente a partir da CF de 1988, sendo
e maternidades (KRAMER, 1995, p. 65).
afirmada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
Ainda segundo o autor, nos anos 1960, o Departa- (ECA) de 1990 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
mento Nacional da Criança enfraqueceu-se e teve cação Nacional (LDB - Lei 9.394/1996), documentos
que transferir algumas de suas responsabilidades nos quais a Educação Infantil é assumida como dever
para outros setores, predominando o caráter mé- de Estado, sendo a educação um direito social.
dico-assistencialista, cuja ênfase eram ações de re- A Educação Infantil está assegurada na CF, por
dução da mortalidade materna infantil. E, em 1970, meio do Artigo 7, inciso XXV, no qual se estabelece
tem-se a promulgação da Lei 5.692/1971, a qual faz que deve ser assegurada “[..] a assistência gratui-
referência à Educação Infantil, apresentando como ta a filhos e dependentes desde o nascimento até
ser conveniente à educação em escolas maternais, seis anos de idade em creches e pré-escolas”. Ob-
jardins de infância e instituições equivalentes. serve que, na CF, ainda aparece os termos creche e

50
EDUCAÇÃO FÍSICA

pré-escolas, já que a mudança para o uso do termo A EDUCAÇÃO INFANTIL NA LEI DE DI-
Educação Infantil vai acontecer somente na Emen- RETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO: LEI
da Constitucional no 14, que trouxe uma nova re- 9.394/1996
dação ao parágrafo 2º da CF, o qual passa a ado-
tar o termo Educação Infantil ao atendimento de A inserção da Educação Infantil, enquanto parte
crianças de zero a seis anos (e que foi alterado pos- constituinte da educação básica, foi resultado de
teriormente), sendo compreendido como creche o conquistas das mobilizações que foram realizadas
atendimento a crianças de zero a três anos de idade, ao longo da história da Educação Infantil brasileira,
e pré-escolas, o atendimento de crianças de quatro visto que, ao pertencer à educação básica, passa-se a
a seis anos de idade. ter outras ações de desenvolvimento voltadas a esse
Essa inserção na legislação brasileira passa a efe- nível de ensino, bem como investimentos, financia-
tivar o dever do Estado com o cumprimento, orga- mentos, orientações pedagógicas e administrativas
nização e normatizações para a Educação Infantil. relacionadas aos objetivos de atendimento dessa
Essa inserção, de acordo com Corrêa (2002), é con- modalidade de ensino. Assim, a LDB, no artigo 29,
siderada uma conquista, haja vista que, efetiva a Educação Infantil como sendo a primeira
etapa da Educação Básica, considerando
Uma nova lógica se impõe, dado que qualquer
família que deseje colocar sua criança numa cre- Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da
che poderá recorrer a promotoria pública para educação básica, tem como finalidade o desen-
que está, baseada e fundamentada na Constitui- volvimento integral da criança até os seis anos
ção Federal, acione o Estado a fim de que este de idade, em seus aspectos físicos, psicológicos,
cumpra seu dever (CORRÊA, 2002, p. 19). intelectuais e sociais, completando a ação da fa-
mília e da comunidade (BRASIL, 1996, on-line).
As orientações para a Educação Infantil também
vão se dar por meio do ECA, atualizado pela Lei Ainda de acordo com a LDB (BRASIL, 1996) den-
12.796/2013, que garante o direito ao atendimento tre as atribuições e funções da Educação Infantil, o
da criança em creches e pré-escolas. Entretanto, a artigo 29 destaca o fato de que a referida legislação
Lei 13.306/2016 altera o ECA e prevê que a Educa- preconiza que “cabe aos docentes à função de contri-
ção Infantil passa a compreender o ensino de zero buir para que as crianças que frequentam esse nível
a cinco anos. de ensino construam e exerçam a sua cidadania”.
Com relação às responsabilidades administrati- Outra deliberação da LDB (BRASIL, 1996)
vas da oferta da Educação Infantil, de acordo com a aponta, no artigo 29, que a faixa etária de atendi-
CF, no artigo 211, e com a LDB, no artigo 11, a Edu- mento das crianças nos espaços de creches e pré-
cação Infantil deve ser prioritariamente responsabi- -escolas deveriam ser realizadas pela matrícula
lidade dos municípios, enquanto o Ensino Funda- de crianças na Educação Infantil com idade até os
mental é competência compartilhada entre estados seis anos, isso porque estava vinculada ao Ensino
e municípios e o oferecimento do Ensino Médio é Fundamental, em que a legislação determinava,
incumbência dos estados. nos artigos 5º e 6º, que o Ensino Fundamental, en-

51
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

quanto um direito público subjetivo, considerava a âmbito da Educação Infantil, aceitando-se, para esse
matrícula a partir dos sete anos de idade. Entre- nível de ensino, a atuação chamada de unidocência.
tanto, esse cenário se alterou com as modificações Essa sustentação de uma formação unidocente
ocorridas nessa lei, no ano de 2005, a partir da também está nas orientações dos Parâmetros Nacio-
Lei 11.114, que passa a considerar que o ingresso nais de Qualidade Para a Educação Infantil (BRA-
nas séries iniciais do Ensino Fundamental se efe- SIL, 2006b, p. 43), nos quais ainda se tem a orienta-
tiva com matrícula a partir dos seis anos de idade. ção de que os espaços da Educação Infantil
Como consequência, a Educação Infantil passa a
ser modificada também, sendo considerada, a par- [...] são construídos e organizados para atender
às necessidades de saúde, segurança, descanso,
tir dessa legislação, um nível de ensino direcionado
interação, estudo, conforto, aconchego de pro-
a crianças de zero a cinco anos. fissionais e familiares e/ou responsáveis pelas
O Ensino Fundamental, com ingresso e matrí- crianças
cula aos seis, de acordo com as normatizações esta-
belecidas pela Lei Federal 11.274/2006a é prioridade o que resulta, equivocadamente, na compreensão da
dos municípios com a colaboração do Estado. O En- não necessidade de inserção de profissionais espe-
sino Médio é prioridade dos estados, e a União deve cializados e qualificados nas áreas distintas dos sa-
prestar assistência técnica e financeira. beres e conhecimentos.
De acordo com essa alteração da lei, as ações pe-
dagógicas passam a considerar que os níveis de ensi- A EDUCAÇÃO INFANTIL NAS DIRETRIZES
no apresentam as seguintes características:
Educação Infantil: creche (0 a 3 anos) e pré-es- As Diretrizes Curriculares para a Educação Infan-
cola (4 a 5 anos); desenvolvimento integral da crian- til também se constituíram como uma ação política
ça, não existe reprovação. O Ensino Fundamental: que buscou efetivar os direitos da Educação Infantil,
(mínimo 9 anos) objetivo de desenvolver a capaci- que se consolidou a partir da aprovação, na Câmara
dade de aprender, fortalecer os vínculos da família, de Educação Básica (CEB) e Conselho Nacional de
da solidariedade e tolerância. Tendo pelo menos 4 Educação (CNE), e da Resolução nº 1/1999, que ins-
horas de trabalho diário. titui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a edu-
Com relação à atuação docente na Educação cação Infantil, cujo objetivo centrou-se em nortear a
Infantil, de acordo com a LDB, artigo 62, define-se organização das propostas pedagógicas das institui-
que, para ser docente na Educação Infantil, o indiví- ções de Educação Infantil. O Parecer nº 4/2000 é o
duo deverá se formar em “[...] nível superior, admi- dispositivo da lei responsável por dispor acerca das
tindo-se como formação mínima, a oferecida em ní- Diretrizes Operacionais para a Educação Infantil.
vel médio, na modalidade normal” (BRASIL, 1996). Outra resolução significativa para a Educação
Observe, caro(a) aluno(a), que não existe nenhuma Infantil foi a Resolução nº 5, estabelecida pela CEB
orientação acerca de um trabalho docente que siga as em dezembro de 2009, que estabelece como Diretri-
especificidades de formação das áreas que compõem zes Curricula­res Nacionais para a Educação Infantil
o corpo de conhecimentos pedagógicos tratados no no seu inciso primeiro do artigo 8º que:

52
EDUCAÇÃO FÍSICA

§ 1º Na efetivação desse objetivo, as propostas


pedagógicas das instituições de Educação In-
fantil deverão prever condições para o trabalho
coletivo e para a organização de materiais, es-
paços e tempos que assegurem: II ­a indivisibili-
dade das dimen­sões expressivo­motora, afetiva,
cognitiva, linguística, ética, estética e sociocul-
tural da criança (BRASIL, 2009, p. 2).

Essa Resolução nº 5/2009 vai ao encontro do esta-


belecido no Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil (BRASIL, 1998), no qual a disci-
plina de Educação Física não se encontra incluída
nos eixos norteadores da Educação Infantil. Entre-
tanto, a referida legislação estabelece como objeto do
conhecimento aplicado à Educação Infantil o movi-
mento como prioridade das atividades didático-pe-
dagógicas a serem realizadas nesse nível de ensino.
Caro(a) aluno(a), ainda se evidencia, nas legis-
lações que buscam normatizar e orientar as ações
didático-pedagógicas e administrativas direciona-
das à Educação Infantil o assistencialismo e a prepa-
ração para o Ensino Fundamental. Entretanto, uma
preocupação ainda se dá em relação à qualidade do
atendimento profissional, vinculando-se, também, a
falta de exigência na qualificação do profissional que
atua nesse nível de ensino.
De acordo com Campos (1999, p. 127), essa pre-
ocupação com a qualificação profissional tem sido
um processo histórico na educação. Para o autor,

[...] confirma-se por toda a parte a regra que es-


tabelece que, quanto menor a criança a se edu-
car, menor o salário e o prestígio profissional de
seu educador e menos exigente o padrão de sua
formação prévia.

Essa falta de valorização vai ser refletida tanto na


formação inicial quanto na formação continuada
dos professores que atuam nesse nível de ensino.

53
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Refletindo Sobre A Educação Física


Na Educação Infantil
A escola como meio educacional, como aponta Can- E nesse contexto da Educação Infantil, a Edu-
field (2000), é responsável por oferecer à criança prá- cação Física se constitui em uma área de conheci-
ticas motoras diversificadas, pois elas são essenciais mento essencial para colaborar com esse processo,
e determinantes no processo de desenvolvimento. uma vez que as aulas de Educação Física, minis-
A escola é, nesse sentido, um espaço de intervenção tradas por professores especializados na área, de
e atuação, que oportuniza à criança se desenvolver um planejamento sistematizado, possibilitam, por
integralmente; logo, a Educação Infantil sendo um meio de conteúdos específicos e adequados a cada
nível que constitui a educação básica é considerada, momento ou fase da criança, oportunizar a cons-
também, um espaço educativo no qual a intervenção trução do conhecimento de forma lúdica e recreati-
e o planejamento são orientados rumo ao desenvol- va. Afinal, como nos lembra Libâneo (1992), a pri-
vimento da criança. meira interação social da criança com a sociedade

54
EDUCAÇÃO FÍSICA

ocorre com o seu ingresso na escola, sendo nesse De acordo com Melo (2006), ao se compreen-
espaço que a criança passa a ampliar seu entendi- der a Educação Física como componente curricular,
mento de mundo, a perceber outras pessoas ao seu passamos a ter um novo pensar e um novo agir dos
redor, já que é a escola que vai preparar o aluno seus professores.
para uma participação ativa e transformadora nas
várias instâncias da sociedade. O novo pensar é caracterizado pela necessidade
de se conceber a Educação Física na escola nas
A Educação Infantil é um espaço no qual as des-
mesmas condições dos demais componentes
cobertas da criança se dão por meio da ampliação curriculares, nos quais as organizações dos seus
das experiências, situações e vivências corporais da aspectos didáticas os consolidam na educação
criança com o universo que a cerca. Em geral, es- escolarizada (MELO, 2006, p. 188).
sas descobertas com o corpo e com o movimento
possibilitam a criança descobrir seus limites, valo- Como vimos, caro(a) aluno(a), de acordo com a
rizando suas potencialidades, tendo o próprio cor- LDB, a Educação Infantil, sendo a primeira etapa da
po como possibilidades para reconhecer, perceber educação básica, tem como finalidade o desenvolvi-
e construir e desenvolver cada movimento, afinal mento integral da criança até os seis anos, em seus
é o corpo da criança a fonte de sua comunicação aspectos físicos, psicológicos, intelectuais e sociais,
social. Por meio da linguagem corporal e das expe- complementando a ação da família e da comunida-
riências motoras, a criança, na Educação Infantil, de. Assim, a Educação Física, inserida no contexto
tem a oportunidade de desenvolver suas capacida- da Educação Infantil, tem como pressupostos para o
des intelectuais e afetivas. trabalho o movimento, que, segundo Neira (2003), é
Entretanto, mesmo sendo a Educação Infantil mais que o deslocamento do corpo no espaço, apre-
relevante e significativa para o processo e desenvol- sentando-se como linguagem que permite a ação
vimento da criança, ainda existe uma lacuna nessa da criança sobre o meio físico e sua atuação sobre o
orientação. Tendo em vista que a prática da Educa- ambiente humano, mobilizando as pessoas com base
ção Física, em nível da Educação Básica, integrada à em seu teor expressivo. O professor de Educação Fí-
proposta pedagógica da escola, é componente cur- sica é o mediador desse processo, aquele que leva o
ricular, ajustando-se às faixas etárias e às condições movimento, a experimentação e a vivência motora
da população escolar. De acordo com o artigo 34 da de forma orientada e planejada para a criança.
LDB, a Educação Física deve ser integrada à propos- Entretanto, nem sempre essa é a realidade do
ta pedagógica da escola enquanto componente cur- professor de Educação Física atuando no contexto da
ricular da educação básica, ajustando-se às faixas e Educação Infantil, isso porque, ainda para as turmas
às condições da população escolar, sendo facultativa de Educação Infantil, não são exigidos professores
nos cursos noturnos (BRASIL, 1996). licenciados, especializados na área, uma vez que se

55
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

permite a atuação, nesse nível, do professor regente Educação Física, nesse nível de ensino, tem se dado,
de sala com a chamada formação unidocente. por vezes, de forma deturpada ou equivocada. E esse
Como já destacamos, a fragilidade da formação fato acontece, segundo Sayão (1999, p. 226), porque
unidocente consiste no fato de que, muitas vezes,
esse profissional não está qualificado para atender [...] num primeiro momento, muito mais no setor
privado do que no público, com a proliferação de
as necessidades e especificidades do currículo, dos
escolinhas infantis nas décadas de 1970 e 1980, as
conteúdos, afinal, segundo Zabala (1998, p. 14), quais se utilizaram de elementos como o ballet,
jazz, inglês, artes marciais e, mais recentemen-
o professor(a) como profissional do currículo te, da informática como estratégia de marketing
significa estar além do que poderia significar para atrair os pais que podiam pagar por isso.
uma referência a ele na acepção mais habitual
de profissional de ensino. O professor(a) não
só ensina a sua matéria ou atende à sua turma Sayão (2002, p. 59) destaca ainda que
(o que reduz o seu trabalho a alguns conteú-
dos específicos, uma sala de aula e um grupo de [...] só se justifica a necessidade de um/a profes-
alunos), mas desenvolve um currículo (ou seja, sor/a dessa área na Educação Infantil se as pro-
integra o seu trabalho em um projeto formativo postas educativas que dizem respeito ao corpo
global do qual ele mesmo faz parte); esta nova e ao movimento estiverem plenamente integra­
visão do professor(a) como profissional do cur- das ao projeto da instituição, de forma que o
rículo exige um novo repertório de competên- trabalho dos adultos envolvidos se complete e
cias profissionais que vão além de uma simples se amplie visando possibilitar cada vez mais ex-
atitude positiva em relação à mudança e ao tra- periências inovadoras que desafiem as crian­ças.
balho coletivo.

Porém essa realidade está sendo alterada, e estamos Nesse sentido, ao defendermos a inserção do pro-
observando movimentos e ações que buscam pro- fessor especializado ministrando as aulas de Educa-
mover essa valorização. Como exemplo, podemos ção Física na Educação Infantil, podemos afirmar
citar a Lei 10.172/2001, na qual se tem as orientações que essa ação se dará a partir da organização e da
rumo a uma política global de magistério, que im- construção de um planejamento com qualidade, que
plica a formação profissional inicial, as condições de considere a criança, o movimento e sua relação com
trabalho, salário e carreira, e a formação continuada. o mundo. Afinal, como afirma Kunz (2002, p. 24),
Caro(a) aluno(a), defendemos, aqui, a inserção
do professor de Educação Física na Educação In- [...] a linguagem e o movimento humano po-
dem ser considerados como diálogo com o
fantil com qualificação especializada por entender-
mundo, são as poucas possibilidades que nos
mos que, a partir dessa formação específica na área, restam para uma melhor compreensão de
que tem o corpo e o movimento como um de seus quem somos e ter, a partir deles, uma melhor
objetos centrais, as contribuições para a Educação consciência do mundo em que vivemos.
Infantil são essenciais. Entretanto, a histórica da

56
EDUCAÇÃO FÍSICA

E, por meio das aulas de Educação Física na Educa- [...] tem um papel fundamental na Educação
ção Infantil, temos a possibilidade de oportunizar- Infantil, pela possibilidade de proporcionar às
crianças uma diversidade de experiências atra-
mos uma ampliação dessas vivências e experimen-
vés de situações nas quais elas possam criar,
tações, ampliando os saberes e conhecimentos da inventar, descobrir movimentos novos, reela-
criança acerca do mundo que a cerca a partir de seu borar conceitos e ideias sobre o movimento e
corpo, sua linguagem corporal, seu movimento. suas ações. Além disso, é um espaço para que,
É importante destacar que, de acordo com Li- através de situações de experiências – com o
corpo, com materiais e de interação social – as
bâneo (1992), cada aula é uma situação didática crianças descubram os próprios limites, en-
específica, na qual objetivos e conteúdos se combi- frentem desafios, conheçam e valorizem o pró-
nam com procedimentos metodológicos e formas prio corpo, relacionem-se com outras pessoas,
didáticas, visando, fundamentalmente, a propiciar percebam a origem do movimento, expressem
sentimentos, utilizando a linguagem corporal,
a assimilação ativa de conhecimentos e habilidades
localizem-se no espaço, entre outras situações
pelos alunos. A Educação Infantil vem ainda mais voltadas ao desenvolvimento de suas capacida-
carregada dessa necessidade de, em cada aula, pla- des intelectuais e afetivas, numa atuação cons-
nejar, orientar, buscar caminhos diferenciados; isso ciente e crítica.
porque a criança, nessa fase, busca pelo novo, pelo
explorar e pelo experimentar.
REFLITA
Segundo Rolim (2004), crianças nessa fase são
ativamente envolvidas em melhorar suas habilida-
des em uma variedade de maneiras, e a forma de se Entendendo que a criança tem suas caracte-
rísticas próprias e individuais, como o profes-
efetivar essa ação é por meio do brincar, uma vez
sor de Educação Física pode incluir atividades
que este pode ser visto como o equivalente ao traba- que atendam as necessidades da turma?
lho dos adultos, afinal o brincar é o meio prioritário
pelo qual as crianças aprendem sobre seus corpos,
além de facilitar o crescimento afetivo e cognitivo Ayoub (2001) vai além e afirma que a Educação Fí-
e fornecer um importante meio para o desenvolvi- sica na Educação Infantil pode se configurar como
mento das habilidades motoras grossas e finas. Nes- um espaço em que a criança brinca com a linguagem
se sentido, as aulas de Educação Física Infantil, de corporal, com o corpo, com o movimento, alfabeti-
acordo com Basei (2008, p. 01), zando-se nessa linguagem.

57
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Brincar com a linguagem corporal significa Caro(a) aluno(a), entendemos que o professor de
criar situações nas quais a criança entre em
Educação Infantil é essencial em sua atuação es-
contato com diferentes manifestações da cultu-
ra corporal (entendida como as diferentes prá- pecializada na Educação Física, isso porque ele é o
ticas corporais elaboradas pelos seres humanos profissional que trabalha com o corpo, considera o
ao longo da história, cujos significados foram movimento como ação educativa, considera o brin-
sendo tecidos nos diversos contextos sociocul-
car e a brincadeira como elementos educativos. A
turais), sobretudo aquelas relacionadas aos jo-
gos e as brincadeiras, às ginásticas e às danças, Educação Física no contexto da Educação Infantil se
sempre tendo em vista a dimensão lúdica como torna um momento em que a ludicidade é o centro
elemento essencial para a ação educativa na in- das atividades propostas. A Educação Física, nesse
fância. Ação que se constrói na relação criança/
período, não pode se limitar apenas à brincadeira.
adulto e criança/criança e que não pode prescin-
dir da orientação do (a) professor(a) (AYOUB, Logo, o professor generalista, isto é, o docente que
2001, p. 03). atua em sala de aula, não pode exercer a função sem
ter a formação adequada na área. O professor de
SAIBA MAIS Educação Física deve planejar suas aulas, organizar
sua ação didático-pedagógica e, assim, desenvolver
As aulas de Educação Física aplicadas na Edu- um trabalho diferenciado com qualidade educativa,
cação Infantil se constituem em um espaço que justifique a importância de sua atuação na Edu-
de interação constante, no qual o brincar é cação Infantil.
o elemento central para o desenvolvimento
das ações que levam ao aprendizado. A crian-
ça quando brinca de forma orientada, com
objetivos definidos, é levada a realizar ações
motoras, cognitivas e afetivas, em um con-
texto social que proporciona situações que
a levem a desenvolver suas potencialidades
de forma lúdica e prazerosa.

Fonte: os autores.

58
considerações finais

C
aro(a) aluno(a), nesta unidade, discutimos a relação com a infância e a
importância das aulas de Educação Física ministradas por professores
da área para atuarem junto a Educação Infantil. A discussão se deu a
partir da construção e entendimento de que o tempo da infância é um
tempo do lúdico, das brincadeiras, do faz de conta, do movimento, dos risos,
dos choros, da exploração dos tempos e espaços e do fazer tudo de novo. E é por
meio desse explorar que, segundo Sarmento (2004), será definido a capacidade
de reiteração das crianças.
Para o autor, a reiteração se caracteriza como o tempo recursivo da infância,
que se exprime em um plano sincrônico, ou seja, em que há uma contínua re-
criação das mesmas situações e rotinas, bem como em um plano diacrônico, por
meio do qual ocorre a transmissão de brincadeiras, de jogos, rituais e rotinas de
modo contínuo e incessante, começando tu­do de novo.
Entendemos, ainda, que a atual concepção que se tem de Educação Física
para Educação Infantil recebeu contribuições das discussões que se deram nas
áreas de Psicologia, Historiografia, Sociologia e Antropologia. A infância brasi-
leira, segundo documentos oficiais, por meio das políticas educacionais, perpas-
sam pelo cuidar e o educar, mas buscam, também, trazer orientações que levem
à ampliação de oportunidades, com a criança apropriando-se de experiências di-
versificadas e significativas para sua humanização.
Chegamos ao final desta unidade entendendo que os contextos histórico, po-
lítico e social da sociedade e da educação escolar são elementos significativos
para compreendermos como deve se dar a inserção da Educação Física nos es-
paços da Educação Infantil. A partir desse momento, você é convidado a refletir
sobre das ações concretas das aulas de Educação Física voltadas para a Educação
Infantil, do planejar as orientações para a organização do currículo e das aulas.
Bons estudos!

59
atividades de estudo

1. A Educação Infantil é um espaço escolar, um nível de ensino considerado


um espaço de intervenção pedagógica integrada, atualmente, à educação
básica. Tendo esse conhecimento, descreva quais as principais legis-
lações que contribuíram para que a Educação Infantil se tornasse um
direito da infância.

2. Para as turmas de Educação Infantil, não são exigidos professores licencia-


dos com formação específica em Educação Física, isso porque a Educação
Infantil se caracteriza pela intervenção profissional pautada na unidocên-
cia. Sabendo desse fato, justifique a importância do professor de Edu-
cação Física com formação na área atuando nesses espaços.

3. Qual o papel do lúcido para as aulas de Educação Física Infantil?

4. Como explorar as potencialidades motoras da criança nas aulas de Educa-


ção Física?

5. Quais os elementos essenciais a serem considerados no desenvolvimento


das aulas de Educação Física Infantil?

60
LEITURA
COMPLEMENTAR

Caro(a) aluno(a), buscando refletir sobre o papel da Edu- meio de sites oficiais de educação do governo federal e
cação Infantil enquanto uma área de conhecimentos estadual, que tratam da especificidade da educação físi-
constituída a partir de uma disciplina essencial para co- ca infantil. Os dados foram tratados por meio da análise
laborar com o processo de ação pedagógica e desenvol- de conteúdo. Os resultados apresentaram como desta-
vimento da criança, trouxemos o resultado de uma pes- que o fato de que a educação infantil possui conteúdos
quisa realizada pelo Grupo de Pesquisa Educação Física específicos da disciplina da área da educação física, en-
Escolar CNPq/DEF/UEM da Universidade Estadual de Ma- tretanto os documentos legais não garantem a obrigato-
ringá, com o intuito de discutir a presença da Educação riedade de professores com a qualificação da área para
Física nos documentos a Educação Infantil. Os resultados atuarem na área na referida modalidade. Evidenciou-se
do estudo indicaram que a Educação Física está inserida a disciplina educação física enquanto um componente
enquanto conteúdos de ensino para a Educação Infan- curricular nesta modalidade de ensino, garantida por
til, entretanto, não há nenhuma especificação do rom- meio dos conteúdos a serem trabalhos no cotidiano do
pimento com a unidocência nesses espaços educativos. ensino. Entretanto, a menção a obrigatoriedade e a efe-
Há que se pensar em ações e movimentos que levem à tivação do professor de educação física nestes espaços
efetivação da obrigatoriedade do professor de Educação ou modalidade de ensino não são garantidas nos docu-
Física nesses espaços. Leia o texto a seguir e reflita sobre mentos oficiais de governo para a educação. Conclui-se
o assunto! que, ainda há que se fazerem estudos e investigações
que acrescentem o investimento e a inserção efetiva do
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: profissional nestes espaços de inversão, haja vista que o

REALIDADE OU NECESSIDADE PARA ESSA conteúdo é primordial, mas a garantia do professor se


faz necessária de maneira clara para que o pedagógico
INTERVENÇÃO DE QUALIDADE?
possa ser realmente contemplado.
Georgia Gonçalves do Carmo
Vânia de Fátima Matias de Souza
Introdução
A educação física tornou-se obrigatória nos currículos
Resumo:
escolares, e efetivou-se como componente curricular,
Este trabalho tem como objetivo analisar o papel do pro-
consolidando-se enquanto uma disciplina que possui o
fissional de Educação Física na modalidade de Educação
seu conteúdo estruturante denominado nas Diretrizes
Infantil, por meio de documentos e legislações que regu-
Curriculares (2007): esporte, jogos, brinquedos e brinca-
lamentam o ensino desta modalidade. Para isso, o estu-
deiras, ginástica, lutas, dança. E, ainda, possui os elemen-
do recorreu a pesquisa bibliográfica, cuja coletado dos
tos articuladores dos conteúdos estruturantes da educa-
documentos orientadores da educação infantil se deu a
ção básica: o corpo, a ludicidade, a saúde, o mundo do
partir da busca em acervos públicos disponibilizados por

61
LEITURA
COMPLEMENTAR

trabalho, a desportivização, a tática e a técnica, o lazer, promovendo sempre a capacidade infantil de conhecer
a diversidade étnico-racial, de gênero e de pessoas com o mundo e a si mesma. Por isso o planejamento político-
necessidades educacionais especiais, a mídia. -pedagógico deve sempre tratar de atividades educativas
A educação física tida como um componente curricular incluindo a segurança, acolher as crianças, alimentar sua
passava a ter então sua legislação específica, sendo in- curiosidade, a ludicidade e a expressividade infantil.
tegrada como atividade escolar regular e obrigatória no Tendo esse conhecimento, o estudo originou-se da in-
currículo de todos os cursos e níveis dos sistemas de quietude lançada pela problemática: se a educação in-
ensino para crianças acima de 6 anos, de acordo com a fantil está entrelaçada com os conteúdos da educação
promulgação da Lei 9.394/1996, artigo 7º e pelo Decreto física, como o professor qualificado na área específica
11.274/2006. da educação física está inserido nesse contexto? Para
Do ponto de vista legal, a Educação Infantil é a primeira tanto, buscando responder essa inquietude a pesquisa
etapa da Educação Básica e tem como finalidade o de- realizada objetivou analisar o papel do profissional de
senvolvimento integral da criança de zero a cinco anos educação física na modalidade de educação infantil, por
de idade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, meio de documentos e legislações que regulamentam o
linguístico e social, complementando a ação da família ensino desta modalidade.
e da comunidade (Lei nº 9.394/1996, art. 29). As Diretri- Este estudo tem como característica a ser descrito
zes Curriculares Nacionais (2013) propõem que para a como um estudo bibliográfico que é definido por Cer-
educação das crianças da educação infantil é necessá- vo e Bervian (1983), tendo como subsídios documentos
rio profissionais com a formação específica que atenda legislativos e orientadores tratados a partir da análise
as necessidades básicas de todas as crianças, como as de conteúdos.
dimensões expressivo-motora, afetiva, cognitiva, linguís- Para que pudéssemos entender o quão importante é a
tica, ética, estética e sócio cultural. Todos esses aspectos atuação de um professor de educação física na área da
se desenvolvem a partir das interações que as crianças educação infantil, primeiramente, temos que entender
estabelecem com o mundo. como que regem as leis do Estado, ou seja, analisar toda
Ainda nas Diretrizes Curriculares Nacionais (2013) é enfa- a sua estrutura e saber como é planejado e como o Es-
tizado como fator de extrema importância para a criança tado vê a educação brasileira. Desse modo, por meio de
o ato de brincar, já que este proporciona oportunidades suas políticas educacionais, públicas e sociais consegui-
para o imitar, construir o novo, recriar. As crianças usam mos entender como que funciona toda essa base cons-
de sua fantasia para copiar o cotidiano do adulto, por isso truída para manter a sociedade.
é importante que os professores desenvolvam brincadei- A partir da construção desse itinerário infância, foi ne-
ras, contem histórias, conversem sobre diversos temas, cessário que o governo pudesse qualificar profissionais

62
LEITURA
COMPLEMENTAR

para atender essas crianças com qualidade. A qualidade Conclusões


para a educação infantil começa na educação infantil, Os dados indicaram que o trato dos conteúdos da edu-
onde profissionais capacitados iniciam a alfabetização cação física na educação infantil, estão presentes de for-
de crianças que serão preparadas futuramente para o ma recorrente. Entretanto, se faz necessário a inserção
mercado de trabalho. “É necessário então uma organi- e obrigatoriedade nos documentos legislativos e orien-
zação eficaz capaz de fazer com que seus alunos obte- tadores da educação infantil que destaquem para a ne-
nham independentemente da sua origem sociocultural cessidade de professores qualificados de educação física
e econômica, níveis elevados de rendimento acadêmico” para atender a todas as crianças nos centros de educa-
(ZABALZA, 1988, p. 36). ção infantil pois há que se destacar que esse profissio-
É necessária a educação para que possam existir pro- nal contribuiria de forma significativa para o processo
gressos pessoais que talvez sem essa formalização não de desenvolvimento infantil em função de sua formação
fosse possível alcançá-los, é assim que vemos a impor- específica.
tância para que haja a educação para todos os tipos de
Fonte: Carmo e Souza (2016).
crianças, incluindo todas as classes sociais e econômicas.
Sendo assim, o profissional da educação ajuda para po-
tencializar, reforçar e multiplicar o desenvolvimento da
criança (ZABALZA, 1998).
Desse modo, o professor/educador precisa refletir acer-
ca da importância e o papel das brincadeiras no seu
trabalho e deve fazer de todas as atividades de cuidar
e educar um brincar. A deliberação 003/99, do Conselho
Estadual de Educação em seu art. 6º, ressalta que a edu-
cação infantil deve cumprir suas duas funções: cuidar e
educar, sendo estas indispensáveis e indissociáveis, para
promover o bem estar da criança, seu desenvolvimento
físico, motor, intelectual, emocional, moral e social, esti-
mulando a criança a interessar-se pelo processo do co-
nhecimento do ser humano, da natureza e da sociedade.
Isso deve ocorrer, num processo prazeroso, que valorize
o lúdico, a cultura, as múltiplas formas de comunicação,
diálogo e interação.

63
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Tarja Branca: tratado com seriedade, o direito de brincar é o tema desse documentário
que aborda o conceito de “espírito lúdico” e convida para a reflexão do desenvolvimento do
homem adulto. Um documentário incrível, dirigido por Cacau Rhoden e produzido pela Ma-
ria Farinha Filmes e pelo Instituto Alana, fala exatamente sobre um dos melhores remédios
para a vida toda: a brincadeira. “Quando você perde a capacidade de brincar, você perde
uma conexão com a sua essência”. Em uma referência a adultos e crianças, a frase é do ator
Domingos Montagner e faz parte da abertura de Tarja Branca – a revolução que faltava.
Assista ao documentário disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=UjtWdecuX3w>.

O professor e pesquisador Jorge Alberto de Oliveira, do Laboratório de Pedagogia do Movi-


mento Humano (Lapem), traz uma excelente contribuição acerca dos principais aspectos a
serem considerados no desenvolvimento da criança e que são essenciais para pensarmos no
planejamento e desenvolvimento de nossas aulas na Educação Infantil.
Veja o texto na íntegra, disponível em: <https://www.researchgate.net/profile/Jorge_De_Oli-
veira/publication/237608994_PADROES_MOTORES_FUNDAMENTAIS_IMPLICACOES_E_APLI-
CACOES_NA_EDUCACAO_FISICA_INFANTIL/links/540e22a70cf2df04e756ca60.pdf>.

64
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65
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67
gabarito

1. As principais documentos orientadores da Educação Infantil são a Constituição Fede-


ral de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990 e a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/1996), nos quais a Educação Infantil é assu-
mida como dever do Estado, sendo a educação um direito social.
2. Caro(a) aluno(a), é importante lembrar que a presença do professor de Educação
Física na Educação Infantil se justifica pelas ações didático-pedagógicos que possi-
bilitam uma intervenção centrada em atividades que permitem que a criança, por
meio de seu conhecimento corporal, sua imagem corporal, seu movimento, possam
ser integradas ao projeto da instituição, ampliando e possibilitando cada vez mais
experiências inovadoras e desafiadoras, levando-as a um desenvolvimento das habi-
lidades básicas para o processo educativo.
3. Possibilitar a interação da criança com o universo que a cerca a partir da diversidade
cultural de sua realidade.
4. Por meio das ações lúdicas, do faz de conta e de atividades adequadas à faixa etária
atendida.
5. É preciso considerar a individualidade da criança, as características culturais e as
necessidades que a criança apresenta.

68
UNIDADE
III
PLANEJANDO A
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Professora Doutora Vânia de Fátima Matias de Souza


Professor Doutor Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Planejar é imprescindível
• Como pensar a Educação Física de forma sistematizada
• Caminhos para o processo de estruturação dos conteúdos
da Educação Física

Objetivos de Aprendizagem
• Compreender as etapas do planejamento.
• Apresentar indicadores da organização do planejamento
das aulas de Educação Física.
• Refletir sobre a relevância do planejamento para as aulas
de Educação Física.
unidade

III
INTRODUÇÃO

A
o longo da história, a Educação Física percorreu caminhos acidenta-
dos e, até o presente momento, ainda busca construir caminhos mais
suaves. Houve muita problematização em nossa tradicional Educação
Física escolar, desde a sua forma de se colocar no contexto educacional
como atividade até o fato de se submeter incondicionalmente à prática do esporte
performance, entendendo-se como formadora de atletas e responsável pelo su-
cesso esportivo nacional. Grande engano!
Inicialmente, a busca foi pelo desmantelamento dessa concepção equivoca-
da e limitada da área, colocando-a como integrante do processo educacional e
com participação que supera a visão reducionista de atividade. Nessa empreitada,
podemos afirmar que a Educação Física escolar avançou significativamente em
todos os sentidos, mas ainda precisamos avançar muito mais.
A educação, de forma geral, assim como as demais áreas, possui propostas
que se baseiam em pressupostos de concepções de homem e sociedade distintos.
Isso acaba por refletir na forma propositiva de cada vertente, com indicativos
que, por vezes, são similares, mas que trazem raízes e intencionalidades distin-
tas. Por isso, ao ler uma proposta, faz-se necessário saber suas raízes, proponen-
tes e intencionalidades.
Dessa forma, um aspecto assume papel preponderante nessa tarefa de
apresentar uma área de conhecimento no processo educacional: o planeja-
mento. Esse é o elemento central que nos auxilia a valorizar e a colocar nossas
expectativas em curso no processo educativo.
Assim, nesta unidade, você poderá visualizar como nós podemos orga-
nizar a Educação Física escolar e seus conteúdos, dando sequência lógica
ao longo dos anos escolares, respeitando o desenvolvimento dos alunos e
o grau de complexidade que se exige para cada tema estabelecido. Essa
organização visa capacitá-lo(a) para que possa, autonomamente, em fu-
turo profissional próximo, ter a condição de organizar um plano educa-
cional para a Educação Física escolar.
Vamos ao trabalho!
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Planejar é
Imprescindível
O ato de planejar se aplica a todas as atividades de Ao pensarmos o ato educativo, temos a mesma
nossas vidas. Se não houver cuidado e atenção a esse situação, mas com agravantes futuros muito mais
ato, corremos o risco de desenvolvermos ações sem complexos. Podem decorrer da falta de planejamen-
sentido e significado para os propósitos idealizados. to o desinteresse dos alunos, a desvalorização da
É como pensarmos em ir ao mercado para fazermos área de conhecimento, o entendimento de perda de
compra e não termos clareza de quais mantimentos tempo e muitos outros problemas que comprome-
precisamos, quanto dinheiro temos e o quanto é ne- tem gerações. Dessa forma, pensar antecipadamente
cessário, como vamos transportar as compras e se e com rigor estrutural se coloca como estratégia bá-
ir ao mercado seria a melhor opção, uma vez que sica para o sucesso educacional.
na feira do produtor poderia ser mais barato. Se as Em específico, ao se observar as aulas de Edu-
etapas e os detalhes não estiverem bem organizados cação Física, se não for alguém da área, pode-se ter
e pensados, as compras poderão ser um verdadeiro a impressão de que elas não exigem planejamento,
desastre. Este é um simples exemplo de nosso co- pois são crianças brincando ou jogando sem de-
tidiano para demonstrar que planejar está incluído monstrar preocupação com algum objetivo que não
nas mais corriqueiras atividades que temos. seja o de se divertir e/ou ganhar. É óbvio que isso

74
EDUCAÇÃO FÍSICA

é um grande erro de interpretação e uma visão de AS ETAPAS DO PLANEJAMENTO E A RE-


leigos sobre a área. Contudo, se os leigos podem ter LEVÂNCIA DE SUAS ETAPAS
essa visão é porque nem sempre nos preocupamos
em despertar neles visões para além das atividades.
Esse é um cuidado pedagógico que os professores de
Educação Física precisam ter, ou seja, apresentar e
fazer com que os participantes das aulas consigam
enxergar para além da diversão e da movimentação.
É fundamental que se demonstre, aos participantes,
o sentido, o significado, a importância e a utilidade
do que se trabalha nas aulas de Educação Física.
O professor de Educação Física deve ter cla-
ro que todas as ações desenvolvidas em suas aulas
precisam ser muito bem organizadas e estruturadas, Os alunos do 5º ano chegam para a aula e perguntam:
pois delas decorrem o aprendizado e a futura auto- “Professor, o que teremos na aula hoje?”. O professor
nomia dos alunos para que possam usufruir desses responde: “Hoje vamos brincar de bola queimada”.
conhecimentos e vivências em suas vidas. Um aluno problematiza: “Mas de novo, professor?”.
Nesse sentido, selecionar adequadamente os obje- “Sim”, responde o professor. Outro aluno questiona:
tivos, os conteúdos, os procedimentos metodológicos “Mas por que a queimada, professor?”. “Porque eu
e avaliativos, se coloca como vital para o sucesso das já planejei essa atividade”, o professor responde. Boa
aulas e da valorização dessa área como integrante do parte dos alunos foi para a brincadeira e os que não
processo educacional. Se não houver essa preocupa- queriam ficaram conversando e/ou fazendo outras
ção, estaremos mantendo uma atividade na escola e atividades durante a aula. Findada a aula, os alunos
não o desenvolvimento de um componente curricular, se despedem do professor e vão para a sala de aula.
como já bem salientado anteriormente na Unidade I. Nessa experiência, nós podemos questionar:
• Esse exemplo de aula é muito comum nas es-
SAIBA MAIS colas brasileiras?
• O professor possuía um planejamento?
O planejamento é uma ação pedagógica que • Os alunos participaram da elaboração do pla-
deve ocorrer de forma integrada a todos os nejamento da disciplina?
acontecimentos escolares e deve envolver, • As atividades estão de acordo com os interes-
nas discussões, toda a comunidade escolar,
pois somente dessa forma o conhecimento
ses e necessidades dos participantes?
pode chegar ao aluno de forma significativa e • O que os alunos levaram para suas vidas de
com objetivos possíveis de se concretizarem. relevante desse exemplo de aula?
Para saber mais, acesse o link disponível em:
<https://novaescola.org.br/conteudo/295/pla- • Qual será a ideia que esses alunos carregarão
nejamento-escolar>. consigo ao longo de suas vidas sobre aulas de
Educação Física e sobre esse professor?

75
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

As respostas a essas questões não são favoráveis ao de ultrapassar os estágios anteriores e atingir novos
profissional e à área da Educação Física. Mesmo que estágios de desenvolvimento em cada um dos domí-
tenha ocorrido uma evolução na produção do co- nios trabalhados”.
nhecimento da área, ainda sofremos com práticas Em relação às etapas do planejamento, indepen-
descontextualizadas e frágeis pedagogicamente. dentemente das diversas propostas educacionais que
surgem, não fogem às etapas que estão apresentadas
na Figura 1. Essas etapas se colocam como o alicerce
REFLITA
de qualquer planejamento, um caminho a ser ob-
servado e atendido para que haja coerência no que
Se consideramos o planejamento como sen- se pretende com a disciplina trabalhada. Assim, de
do integrado à necessidade e à realidade da
criança e da comunidade escolar, é possível acordo com Oliveira et al. (2009), para se pensar
afirmar que o planejamento deve ser flexível em um planejamento, é preciso seguir um esquema
e não engessado? coerente e coeso para que possamos obter o sucesso
das suas aulas. Veja, a seguir, as indicações dos au-
tores para a elaboração de um bom planejamento.
O exemplo citado carrega um processo histórico
que denigre a imagem da área e fortalece um ima-
ginário social muito desfavorável ao profissional da
Educação Física e da própria área. Essas crianças,
com certeza, integrarão a sociedade em postos de
trabalho, serão pais, mães e carregarão consigo uma
imagem deplorável de suas experiências escolares
com a Educação Física.
Para mudar esse quadro e essa prática, o profes-
sor precisa ter clareza da importância de organizar
os conhecimentos a serem trabalhados na escola.
O tempo que se tem com as crianças é pequeno e
precisa ser valorizado em cada segundo com opor-
tunidades de aprendizagem. Com isso, não se pode
ter tempo ocioso no processo educacional e todas as
ações devem ter o compromisso de contribuir com
o processo formativo e informativo dos alunos. As
atividades vivenciadas devem estar encaixadas em
propósitos que levem os alunos a patamares cognos-
centes, sociais, afetivos e motores superiores. Aqui,
podemos utilizar o termo trabalhado pelo Prof. Ma- Figura 1 - Etapas do planejamento
nuel Sérgio (2005, p. 50): “Transcendência é o ato Fonte: Oliveira et al. (2009, p. 242).

76
EDUCAÇÃO FÍSICA

O diagnóstico Quem serão os alunos atendidos?


Quais são os elementos culturais da comunidade, e Esse ponto é vital. Ter o perfil do seu grupo de
como podem intervir em relação às atividades sociais? alunos é imprescindível para que não haja equívo-
O diagnóstico se coloca como o ponto de par- cos no planejamento. Portanto, tenha clareza sobre
tida de um planejamento, afinal, saber para quem e idades, sexo, relação idade/série, histórico na escola,
com quem se planeja é de fundamental importância características das turmas, assim como as atividades
para que haja harmonia e sucesso. Nesse sentido, al- físico-esportivas que costumam praticar. Não deixe
guns pontos são importantes de serem considerados de verificar como é o processo histórico da Educa-
e observados nesse levantamento: ção Física na escola. Esse panorama geral facilita a
organização de ações pedagógicas para futuras mu-
Como é a localidade em que se insere a escola? danças e com que ritmo elas podem ser realizadas.
Lembre-se sempre que a escola não está em uma Essas questões devem, de forma inicial, apre-
abóboda e não pode ser considerada fora da reali- sentar um quadro real da situação em que se en-
dade do seu entorno. Assim, mapeie a população contra a escola e a localidade com a qual estará se
com a qual irá interagir – nível socioeconômico, relacionando. Por isso, são imprescindíveis de se-
sexo, idade e densidade demográfica. Levante a in- rem levantadas, a fim de contribuir para o processo
fraestrutura da localidade e pontos de convivência e de planejamento que se dará a partir dessas infor-
esporte que são disponibilizados. mações gerais.

Quais são os hábitos locais em relação às atividades Objetivos


sociais? De acordo com Oliveira et al. (2009, p. 246-247):
Não deixe de verificar como a comunidade se di-
verte e faz uso do tempo livre. Tente mapear as brin- [...] após a elaboração do diagnóstico e de sua
respectiva análise, inicia-se a fase de estrutu-
cadeiras, esportes praticados, danças e festividades
ração dos objetivos. Nesta fase perspectiva-se
mais frequentes e características do local. um futuro e o projeta em etapas por meio dos
objetivos que se definirão como alvos de suas
Quais são os problemas sociais que a localidade enfrenta? atuações ao longo do período que compreende
As escolas estão cada vez mais vulneráveis. Nes- o planejamento. Os objetivos devem expressar
as intenções, o que se busca com o desenvolvi-
se sentido, verifique se na comunidade há problemas
mento da disciplina.
relacionados a drogas, gangues e delinquência de
forma geral. Você precisa se preparar para futuros [...]

enfrentamentos e, se necessário, deverá saber como Para que haja harmonia na estruturação e hie-
agir. No curso de formação, você não terá acesso a rarquização dos objetivos, é importante que se
atente para o fato de que deve haver relação di-
todo tipo de informação necessária, portanto, tem
reta entre eles. Os objetivos específicos são par-
que ter iniciativa e verificar como a sua comunida- celas menores que unidas devem favorecer ao
de vivencia os problemas sociais e tentar se preparar atendimento pleno do objetivo geral.
adequadamente.

77
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Nesse sentido, os autores destacam o fato de que al- SAIBA MAIS


guns cuidados são necessários para se manter a rela-
ção entre os objetivos: Unidade de tempo é entendida como um pe-
• Especificar o conhecimento para assimilação ríodo necessário para o desenvolvimento de
e sua aplicação na vida cotidiana (o que meu determinadas atividades, podendo ser uma
aluno pode levar para sua vida); unidade mensal, bimestral, trimestral, qua-
drimestral ou mesmo semestral.
• Garantir a sequência lógica para compreen-
são conjunta (organizar os objetivos de ma- Fonte: os autores.

neira que avance para um estágio posterior,


garantindo aquisição de informações neces-
sárias para tarefas futuras);
É fundamental que se tenha clareza da intencio-
• Garantir a clareza dos objetivos, fazendo com
nalidade demonstrada no objetivo construído e par-
que os alunos percebam que os mesmos são
seus (que o aluno se perceba como parceiro tilhá-lo com todos os alunos para que estejam cien-
na concepção e desenvolvimento dos propó- tes das intenções e propósitos gerais dos trabalhos a
sitos da disciplina, assim como saiba aonde serem desenvolvidos.
se pode chegar com o que está sendo pers- Os alunos precisam ser corresponsáveis pelo de-
pectivado); senvolvimento da disciplina!
• Oferecer graduação nas experiências, tor- De acordo com Oliveira et al. (2009, p. 248),
nando o ensino motivante (que o desafio seja quando nos referimos aos objetivos específicos, de-
mantido para o grupo de alunos e sirva como ve-se levar em consideração o fato de que estes “[...]
fator estimulante à sua superação - transcen-
devem ser organizados em função do que se desig-
dência);
nou enquanto objetivo geral, ou seja, são os cami-
• Organizar objetivos para verificar resultados
nhos que se percorrerá para chegar ao final de um
que permitam o controle avaliativo (os obje-
tivos devem possibilitar meios de compara- processo”. Para os autores (2009, p. 248):
ção entre início e fim das ações) (OLIVEIRA
et al. 2009, p. 247). Esses objetivos podem ser temporais ou temá-
ticos. Assim, ao determinar os objetivos gerais
devem-se escolher quais podem ser os melho-
Para Oliveira et al. (2009), a Educação Física escolar res caminhos para atingi-los num período es-
se constitui a partir da perspectiva do esporte educa- pecífico de tempo, por exemplo, em um mês
cional, considerando os princípios pedagógicos par- com dez/doze aulas.
ticipantes e emancipatórios. Seguindo essas premis-
sas, as aulas serão desenvolvidas tendo um princípio Considerando os objetivos gerais exemplificados an-
educacional formativo constante no decorrer do seu teriormente, estabelecemos objetivos específicos para
desenvolvimento. um mês de aula, sendo três aulas por semana. Os

78
EDUCAÇÃO FÍSICA

professores deverão-se atentar para a estruturação de os alunos precisam ter a chance de novos conheci-
objetivos específicos que consigam demonstrar clara- mentos e vivências. Trata-se de um processo que
mente os caminhos a serem seguidos para o alcance exige o comprometimento de todos e é um exercício
pleno do objetivo geral traçado para a disciplina. que deve ser contínuo como forma de treinamento.
É importante observar que os objetivos especí- Precisamos aprender a nos dar chances ao novo, ao
ficos exemplificados tratam apenas de uma parte do desconhecido e às novas experiências – sendo elas
que se pretende com os objetivos gerais idealizados positivas ou negativas. De todas elas, podemos ex-
anteriormente. A partir deles, outros deverão ser or- trair conhecimentos importantes para nossas vidas.
ganizados para se atender plenamente aos objetivos Esse destaque foi dado, nesse momento, pois é co-
gerais. Esse foi apenas um exemplo de uma pequena mum nas aulas de Educação Física, por consequência
parcela a ser organizada. da falta de uma organização mais consistente e vin-
É imprescindível que os professores considerem culada aos demais conhecimentos da formação, tra-
a realidade de cada turma de alunos. Por isso a im- balhar-se conteúdos esportivos que são vinculados às
portância do diagnóstico; do contrário, o planeja- vivências dos professores. Por exemplo: um professor
mento não surtirá o efeito desejado. que é técnico de handebol trabalha somente essa mo-
dalidade ao longo dos diversos anos escolares. Com
A seleção e organização dos conteúdos isso, os alunos são obrigados a vivenciarem somente o
Após a estruturação dos objetivos para a disciplina, handebol, não tendo a chance de novas experiências.
vem o momento de o professor selecionar e orga- É fundamental que se entenda que os conteúdos
nizar os conteúdos que serão trabalhados durante o reúnem conhecimentos organizados, de forma pe-
ano. Dando sequência às atividades desenvolvidas dagógica e didática, tendo em vista a aplicação prá-
até aqui e com base no que o diagnóstico demons- tica na vida dos alunos (LIBÂNEO, 1994).
trou, deve-se ter claro que os conteúdos precisam ter Seguindo as palavras de Oliveira et al. (2009, p. 251):
relação com os dados levantados e a realidade da lo-
calidade em que a escola está inserida. [...] deve-se considerar que os conteúdos são
uma herança cultural diversificada e têm uma
Dois aspectos precisam ter atenção do professor,
relação com a vida dos alunos. A Educação
em especial: Física pode abarcar muitos conhecimentos e
• É muito comum se trabalhar conteúdos que precisa ter clareza na seleção a ser feita para os
são de domínio do docente e do grupo; diversos anos escolares.
• A vivência de novos conteúdos e conheci-
mentos exigem estudo, dedicação e conven- Por último, é preciso entender que a docência exige
cimento, o que, por vezes, pode provocar li- contínuo estudo e aperfeiçoamento. Um professor
mitações de novas experiências.
não deve limitar-se a sua formação inicial. É preciso
Esses dois aspectos precisam ser continuamente estar atento para elaborar estratégias de ensino que
cuidados, pois a escola deve ser o ambiente em que contem com as novidades que surgem na área.

79
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

A natureza dos conteúdos Procedimentos


De acordo com Oliveira et al. (2009), os conteúdos Para Oliveira et al. (2009), os conteúdos de ordem
sempre estão no cerne das discussões de progra- procedimental estão ligados ao “fazer”, à ação pro-
mas de ensino. Devem ser considerados e elenca- priamente dita.
dos, considerando todas as possibilidades de sua Aqui, cabe a ressalva de que a Educação Física é
utilização. Assim, propõe um novo olhar sobre acusada continuamente de se embasar somente nos
esses conteúdos. Nesse sentido, vamos exempli- aspectos procedimentos dos conhecimentos que são
ficar utilizando o uso das regras dos esportes e, trabalhados. Dada a aproximação com os aspectos
ou jogos e brincadeiras (para qualquer um deles práticos da disciplina, por vezes ela se reduz a vivên-
serve o exemplo). A natureza básica desse con- cias sem a devida atenção aos demais aspectos con-
teúdo - regras dos esportes- é a de apresentar a ceituais e atitudinais. Aqui, todo cuidado é pouco!
organização dos esportes. Ultrapassar esse limite Se o professor não ficar atento e cuidar adequada-
para como as regras dos esportes se relacionam mente das ações, elas podem ser reduzidas a ativida-
com as nossas regras sociais de convivência, ou des com fim em si mesmas.
em como elas se aplicam no nosso cotidiano, se
coloca como o novo olhar. Trata-se de ensinar as Atitudes
regras dos esportes fazendo uso da transcendên- Segundo Oliveira et al. (2009, p. 211), “As atitudes re-
cia desse conteúdo básico - um olhar ampliado e ferem-se à personalidade, às ações que os indivíduos
complexificado. têm numa relação”. Ainda segundo os autores, “[...] é
preciso considerar que as atitudes abrangem valores
Fatos e conceitos e normas de comportamento, de natureza relacional”.
Segundo Oliveira et al (2009), os conceitos per- Nessa perspectiva, de acordo com Oliveira et al.
mitem a interpretação sobre os significados. (2009, p. 211),
Quanto maior for a compreensão dos conceitos,
mais fatos podem ser aprendidos. Esses conceitos, [...] é preciso considerar que todas as práticas
esportivas têm uma dimensão conceitual, pro-
em geral, são abstratos e estão ligados à compre-
cedimental e atitudinal, naturalmente em al-
ensão e memorização dos fatos e acontecimentos guns casos predominam uma ou outra dimen-
vivenciados. são, mas todas estão presentes.
Dessa forma, segundo Oliveira et al (2009, p. 254),
Critérios para a seleção dos conteúdos
[...] há um grande desafio para o professor de Além dos aspectos já salientados para a seleção e
Educação Física: como escolher e organizar con- organização dos conteúdos, há a necessidade de
teúdos conceituais e utilizá-los em aulas de práti- se cuidar de alguns critérios destacados por Pilleti
cas esportivas. (1997). Aqui, vale o destaque de que os conteúdos

80
EDUCAÇÃO FÍSICA

da Educação Física são conteúdos de aplicação e Nem sempre conseguiremos atender a todos
utilização imediata dos alunos. Istó é, ao finalizar a esses questionamentos com nossas aulas, mas é im-
aula, os alunos já podem usufruir desses conteúdos portante entendermos a importância das estraté-
nos seus cotidianos. Contudo, o professor precisa gias. A estratégia é o caminho, o rumo, o percurso
estar atento e continuamente demonstrar aos alu- utilizado para atingir os objetivos determinados. A
nos como isso pode ser aplicado. escolha da estratégia está relacionada aos conteú-
A seguir, de acordo com Pilleti (1997), seguem dos que serão desenvolvidos e às características do
indicações de critérios que devem ser cuidados nes- grupo de alunos que se tem. Quanto mais próximo
sa seleção de conteúdos. do aluno, maiores as chances de acertar a escolha
metodológica.
A Pedagogia e a própria Educação Física pos-
suem muitas opções de caminhos, contudo, para
facilitar um pouco esse trabalho, utilizamos os
conceitos de metodologia de ensino apresentados
por Libâneo (1994): exposição do professor, traba-
lho independente, elaboração conjunta, trabalho
em grupo e atividades especiais, pois eles se co-
locam de forma global e abarcam procedimentos
essenciais ao que podemos denominar de bom tra-
balho metodológico.
De acordo com Oliveira et al. (2009, p. 212), no
Figura 2 - Critérios de seleção dos conteúdos
contexto escolar,
Fonte: adaptada de Pilleti (1997).
[...] todas essas situações entendidas, discuti-
das e refletidas a partir das práticas corporais,
Estratégias metodológicas
podem gerar apropriação de conhecimentos
Agora, chegou o momento de se definir pelo ca- significativos para os alunos. Entretanto, é pre-
minho metodológico, ou seja: como apresentar ciso entender que para o desenvolvimento dos
e desenvolver os conteúdos selecionados? Qual conteúdos o professor pode (deve) optar por
a melhor forma e estratégia para isso? Como en- uma ou mais estratégias. Tudo vai depender do
estágio de desenvolvimento e de que recursos o
volver os alunos? Como aproveitar os momentos
grupo constituído precisa para se apropriar dos
para que sejam ricos pedagogicamente e que todos conhecimentos e vivências trabalhadas.
possam enxergar e aproveitar, em seus cotidianos,
os temas trabalhados? Veja, a seguir, o exemplo:

81
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Rugby – Adaptação das regras do jogo para Estratégias


a inclusão As estratégias utilizadas para colocar os conteúdos
O rugby tem um histórico de ações viris e que exi- em prática serão:
gem muita força! • Exposição do professor;
O objetivo, nessa aula, será o de organizar a ativida- • Trabalho independente;
de de forma que todos possam ter chances iguais • Trabalho em grupo;
de participação no rugby. • Elaboração conjunta;
• Atividades especiais.
Organização da ação
1. Apresentação do rugby e suas regras. Tais estratégias serão utilizadas de acordo com o mo-
2. Apresentação de um vídeo do jogo com destaque mento de ensino que a modalidade esportiva estiver.
às regras centrais do esporte.
3. Verificar junto ao grupo quais são as exigências Exemplo 1: quando o ensino de determinada práti-
motoras básicas para participar do jogo. ca corporal estiver no início, haverá a exposição do
4. Discussão sobre as possibilidades de participa- professor para que os alunos possam entender o
ção de todos. conceito da atividade para depois praticá-la.
5. Reorganização das regras de forma que todos
possam ser contemplados e valorizados no jogo.
Exemplo 2: quando determinada prática corporal
6. Vivência das ações e reorganização das regras e
já tenha sido, de certa forma, assimilada, passa-se
ações tantas vezes quantas forem necessárias
à utilização do método de trabalho independente,
para atendimento aos propósitos de valorização
momento no qual os alunos poderão praticar au-
pessoal, participação e cooperação.
tonomamente e criar sobre as formas pré-concebi-
das do próprio esporte.
Metodologias envolvidas
Exposição verbal do professor para nivelar o en- Exemplo 3: quando for identificado que os alunos
tendimento de todos sobre o jogo, suas regras e têm condição de trabalhar em grupo e solucionar
exigências físico-motoras. problemas de forma não conflituosa, utilizar-se-á
Demonstração por intermédio de vídeos e exposi- o trabalho em grupo. Esse é o momento fulcral da
ções práticas. criação e adaptação, pois poderão alterar substan-
Trabalho conjunto, no qual os alunos cooperativa- cialmente o desenho geral do esporte e organizá-lo
mente discutem as ações e formas de como adaptar de acordo com seus interesses, vontades e condi-
o jogo à realidade do grupo e suas possibilidades. ções físico-motoras.

Como podemos verificar, em uma aula, várias estratégias podem ser utilizadas. O professor precisa to-
mar esse cuidado sempre que for planejar suas ações, pois dessa organização resulta o sucesso da aula.

82
EDUCAÇÃO FÍSICA

Entretanto, para o fechamento deste tópico, apresen- 6. As ações docentes devem ser organizadas e
tamos algumas recomendações baseadas no trabalho planejadas de modo a possibilitar que o alu-
no construa esquemas de ação - habilidades
de Palma et al. (2010, p. 190-191), que indicam os
motoras – o que contribui para a tomada de
cuidados e ações que os professores precisam ter ao consciência de sua corporeidade e das ações
desenvolverem as aulas: próprias como operações.
1. Proporcionar às crianças situações nas quais
elas sejam capazes de inventarem, construí- Recursos
rem, reelaborarem conceitos e ideias, numa Agora, chegamos ao aspecto relacionado aos recur-
atuação consciente e crítica, repleta de signifi-
sos disponibilizados para as aulas. No Brasil, ainda
cado e significância, evitando, assim, a repro-
dução de ações provenientes das gerações que há uma carência muito grande de recursos, sejam
lhes sucederam, portanto, promover aprendi- eles físicos, materiais e, até mesmo, de pessoal. Nesse
zagens significativamente construídas. A va- sentido, dobra-se o cuidado ao se planejar, pois há
loração e consideração devem ser dadas aos a necessidade de se prever muito bem o que se tem
momentos e conhecimentos construídos e vi- disponível para o que se pretende oferecer aos alu-
vidos intensamente. nos. Por outro lado, não podemos nos acomodar e
2. Possibilitar situações para vivências de movi- não improvisar e enriquecer nossas práticas quando
mentos corporais de várias formas para que
não houver materiais e/ou espaço suficientes para as
os alunos reflitam sobre suas ações, compre-
endendo a sua utilização e identificando-os ações. O professor precisará partir para os processos
nas diversas tarefas do cotidiano. adaptativos e criativos para que possa deixar sua dis-
3. As atividades propostas nas diversas situa- ciplina estimulante.
ções de uma aula devem possibilitar a com-
preensão das razões das vivências das ma- Avaliação
nifestações culturais – esporte, dança, jogo, Para Oliveira et al. (2009, p. 263), a avaliação nas au-
ginástica e lutas - estudando, com maior las de Educação Física deve ocorrer de forma contí-
profundidade, aquelas que fazem parte do
nua, sendo “[...] refletida e discutida, em conjunto
seu contexto.
(pois isoladamente não se consegue despir de valo-
4. Ao organizar as situações das aulas, para as
vivências das formas culturais, deve ser possi- res), na escola, para assim resignificá-la”.
bilitado ao aluno que ele identifique as ações Os autores descrevem que os objetivos a serem
motoras que acontecem quando as vivencia. avaliados devem ser
5. As ações e atividades propostas devem,
também, favorecer, em amplitude e pro- [...] reais, apontam as capacidades que se quer
fundidade, a ampliação dos conhecimentos atingir e estão relacionados com a cultura do
sobre o movimentar-se que o aluno possui, local, seria simples avaliar, porém quando o pla-
para que contribua na construção do con- nejamento de ensino é uma ação burocrática e
os conteúdos são desenvolvidos sem considerar
ceito de corpo e se perceba como um corpo
os interesses e as necessidades do grupo, avaliar
em movimento e com possibilidades dife-
é algo praticamente impossível (OLIVEIRA, et
rentes de ação.
al., 2009, p. 263).

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EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

De acordo com Oliveira et al. (2009, p. 264), pode-se Fundamentação teórica


considerar, para o acompanhamento e desenvolvi- Todo plano deve ter como base uma fundamentação
mento das aulas, alguns instrumentos que podem teórica. Não é possível que haja um planejamento
ser utilizados para avaliar os alunos: “Ficha de acom- sem que se atente para os pressupostos teóricos que
panhamento individual; Ficha de acompanhamento o fundamente. A base central para isso, dentro da es-
de turmas; Ficha de auto avaliação; Entrevistas com cola, será o Projeto Pedagógico. Portanto, o profes-
os alunos; Questionários com os alunos”. sor, ao elaborar o plano de sua disciplina, não pode
Oliveira et a.l (2009, p. 264) destacam, ainda, que negligenciar os pressupostos definidos pela equipe
pedagógica da escola, bem como a matriz geral cur-
[...] os conteúdos devem ser tratados em sua di- ricular.
mensão conceitual, procedimental e atitudinal,
É evidente que, para a elaboração do Projeto
logo a avaliação deve utilizar instrumentos que
identifiquem a assimilação desses conteúdos. Pedagógico da escola, os professores e demais inte-
grantes da estrutura escolar devem participar efeti-
Assim, a avaliação deve: vamente. Contudo, nem sempre tal recomendação é
• Verificar como o aluno utiliza os conceitos acatada, ficando sob a responsabilidade de poucos
ora apresentados pelo professor e os relacio- essa organização, o que se coloca como um grande
na com a sua vida; erro de gestão.
• Observar se o aluno demonstra satisfação na Dessa forma, fica o alerta: envolva-se, participe,
realização das manifestações corporais, den- exija, demonstre a importância da disciplina sob a
tro de suas limitações e capacidade de execu-
sua responsabilidade, verifique os pressupostos ge-
ção, não impondo um padrão a ser alcançado;
rais da escola, atualize-se, ou seja, mantenha-se por
• Identificar se o aluno demonstra assimilação
dentro de todas as ações de sua escola, isso é funda-
conceitual e procedimental das práticas cor-
mental para que os alunos se sintam seguros frente
porais e se essas efetuaram transformações na
forma de comportar-se frente às atividades e a tudo que vivenciam dentro dela e que deve servir
ao grupo a que pertence (OLIVEIRA et al., para suas vidas.
2009, p. 264).

Para Oliveira et al. (2009, p. 265), “[...] a avaliação


não pode centrar-se nas respostas prontas e decora-
das ou na execução perfeita de movimentos especí-
ficos de modalidades esportivas”.
Lembre-se que a avaliação deve oportunizar que
o aluno demonstre autonomia para solucionar os
problemas, incorporando valores, conceitos, conhe-
cimentos e saberes a sua prática cotidiana.

84
EDUCAÇÃO FÍSICA

85
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Como Pensar a
Educação Física de
Forma Sistematizada
Este talvez, ainda seja um dos maiores problemas teúdos, respeitando o desenvolvimento que eles têm
que temos com a Educação Física escolar, pois, tra- ao longo da vida escolar.
dicionalmente, ela é trabalhada distante dos demais Nesse sentido, deve-se pensar em como os co-
componentes curriculares, o que se coloca como um nhecimentos e vivências podem ser estruturados em
erro pedagógico tremendo. uma sequência lógica e que possa estimular a todos
Assim como os demais componentes curricula- no decorrer das aulas. Essa condição exige que o
res, a Educação Física precisa ser organizada e estru- professor fique atento às fases de desenvolvimento
turada de forma sistematizada, de modo a oferecer, (cognitivo, motor, físico e social) dos alunos, que se
aos alunos, uma sequência lógica e gradativa de con- preocupe com o que as demais disciplinas desenvol-

86
EDUCAÇÃO FÍSICA

vem ao longo dos anos escolares e como esses co- livro de Palma et al. (2010). Nessa obra, há uma pro-
nhecimentos podem servir de base para a seleção posta de organização da Educação Física em núcleos
dos conhecimentos da Educação Física e de ações temáticos que devem ser trabalhados ao longo de
interdisciplinares. E, por fim, de que forma as teorias toda a vida escolar, com graus de complexidade para
da aprendizagem indicam que os conhecimentos se- os conhecimentos e vivências para cada ano. Trata-
jam tratados e potencializados para que os alunos -se apenas de uma proposta, mas que pode contri-
aprendam com mais facilidade. buir com a futura estruturação que você fará em sua
Uma forma bastante rica e esclarecedora dessa escola, como base para os dados que irá levantar e
possibilidade de sistematização está apresentada no elencar em seu planejamento.

87
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Caminhos Para o
Processo de Estruturação dos
Conteúdos da Educação Física
O professor precisa se atentar para Conhecimentos e Estrutura Sistematizada
aspectos que podem potencializar das demais áreas atuantes na escola

a estruturação de conteúdos e de
como eles podem contribuir com Teorias Pedagógicas
o processo formativo e informa-
Postos de Apoio
tivo dos alunos, da mesma forma Teorias do
para o processo de
que se vinculam ao Projeto Peda- desenvolvimento Motor
Sistematização
gógico da escola e demais áreas do da EFE
conhecimento que são trabalhadas Psicologia do Desenvolvimento
ano a ano. e da Aprendizagem Humana

Conhecimentos produzidos na área


Alguns pontos podem servir da Educação Física
de base para a estruturação da sis- Figura 3 - Estruturação dos Conteúdos
tematização dos conteúdos. Fonte: os autores.

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EDUCAÇÃO FÍSICA

CONHECIMENTOS PRODUZIDOS NA A Educação Física tem evoluído sistematica-


ÁREA DA EDUCAÇÃO FÍSICA mente e disponibilizado muitos conhecimentos
que favorecem o processo formativo. As práticas
As práticas corporais compõem um leque enorme corporais envolvem as manifestações esportivas,
de possibilidades e ações que devem ser trabalhadas rítmicas, jogos, brincadeiras, expressão corporal,
na Educação Física escolar. Elas se colocam como ginástica, dança, lutas, sendo consubstanciadas
um acervo rico, que deve ser refletido, vivenciado para além de seu próprio entendimento com te-
e, se necessário, reformulado e adaptado no proces- mas relacionados à saúde, biomecânica, ergono-
so educacional. Entretanto, é imperioso se ter claro mia, Sociologia, Antropologia, Filosofia e outras
que a Educação Física escolar não se restringe e se dimensões pedagógicas. A Educação Física é uma
responsabiliza apenas pelo trabalho com as práti- área que podemos dizer “abusada” em se tratando
cas corporais, já que elas são apenas parte do que se de possibilidades de intervenção e formação, pois
deve trabalhar na sequência escolar. pode, por intermédio de suas vivências, trabalhar
Na organização das aulas, as práticas acabam as- seus conhecimentos e apoiar todas as demais áre-
sumindo papéis distintos de acordo com o objetivo as formativas do processo educacional. Para tan-
traçado, tais como acesso aos conhecimentos de sua to, exige do professor dedicação e um processo de
própria estrutura e organização do meio para o en- planejamento muito detalhado e articulado com
sino de outros conteúdos, por exemplo: inicialmen- as demais áreas de conhecimento. Nesse sentido,
te se organizam aulas de atletismo com as provas ressalta-se que, para todos os componentes, isso é
de pista, para que os alunos entendam e conheçam vital, pois assim haverá a chance de trabalhos mais
como são organizadas e estruturadas essas provas, produtivos e que poderão, muito facilmente, favo-
assim como são as técnicas motoras exigidas por recer o processo de aprendizagem dos alunos.
essa modalidade. Esse será um bloco de estudo para As demais disciplinas de formação e seus ca-
algumas aulas. Oportunamente, se fará uso das pro- dernos são prova fiel dessa afirmativa que aca-
vas de pista para os trabalhos de conhecimentos vin- bamos de apresentar, ou seja, todos têm muitos
culados à saúde e treinamento, tais como capacidade conhecimentos da Educação Física para serem or-
aeróbica, capacidade anaeróbica, força explosiva e ganizados e trabalhados com os alunos no proces-
outras. so educacional.
Nesse exemplo, as provas de pista, em um mo-
mento, são o objeto de estudo das aulas; em outro, PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E
acabam servindo de meio (estratégia) para o acesso DA APRENDIZAGEM HUMANA
a outros objetos de estudo. Isso é muito importante
o professor dominar e entender, pois, do contrário, A Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendiza-
acabará fazendo apenas repetição de atividades, sem gem Humana trabalha conhecimentos que balizam
chance de aprofundamento e de enriquecimento pe- o grau de profundidade e de exigência que podemos
dagógico das vivências. atribuir na organização de nossas aulas.

89
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Estar atento aos autores, como Erikson, E. e alunos. De forma muito recorrente, há um descom-
Erikson, J. (1998), Olds e Papalia (2000), Wallon passo entre o que se tem condições de realizar com
(1953), Vayer (1982), Piaget (1986), dentre outros. chances de sucesso e o que se programa para as aulas.
Esses autores fornecem informações que vão do es- Nesse sentido, recorrer às teorias de desenvolvimen-
tado psicológico de desenvolvimento até as etapas de to trabalhadas por Magill (1984), Boulch (1987),
desenvolvimento motor, apresentando indicativos Tani et al. (1988), Gallahue e Ozmund (2005), entre
de como o professor pode dar complexidade à orga- outros, para fundamentar a organização dos conhe-
nização das ações no planejamento e em suas aulas. cimentos e vivências, se coloca como imprescindível
A base teórica é a consistência que o professor ao planejamento da Educação Física escolar.
precisa para consolidar e justificar seu planejamen-
to. Sem estrutura teórica, o plano fica vulnerável e TEORIAS PEDAGÓGICAS
pode incorrer em equívocos que diminuem a im-
portância da disciplina. As teorias pedagógicas-se colocam como opções aos
O professor que mantém a consistência teórica professores e aos projetos pedagógicos das escolas. A
e tem claramente justificada as ações selecionadas, forma de entender e desenvolver o processo formativo
terá a tranquilidade das defesas frente ao corpo do- é carregada de intencionalidades que trazem consigo
cente e pedagógico de sua escola, assim como junto o entendimento de homem, de mundo e de sociedade.
à comunidade. Com isso, a disciplina ganha em re- Esse entendimento é traduzido na forma de organizar
levância e importância para a proposta pedagógica a escola, de selecionar e trabalhar os conteúdos e ava-
que a escola possui. liar. Assim, reforça-se a importância da participação
efetiva de todos na elaboração do Projeto Pedagógico
TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO MOTOR da Escola, pois será com base nesse documento norte-
ador que a escola e seus integrantes irão organizar as
Em relação às teorias do desenvolvimento motor, é ações pedagógicas e administrativas gerais.
importante que se tenha clareza das etapas e formas Essas tendências são apenas alguns exemplos para
de estimulações motoras possíveis e que sejam in- que seja possível observar que, ao se escolher uma ten-
teressantes aos alunos. Por algum tempo, a área da dência, isso recairá na forma de trabalhar os diversos
Educação Física criticou, sem muito fundamento, as componentes curriculares da escola. Contudo, é mui-
teorias desenvolvimentistas. Contudo, nos dias atu- to importante que todos entendam as propostas e suas
ais, isso está mais bem resolvido e o que importa é bases teóricas, pois delas é que se estruturam os pro-
saber fazer uso dos conhecimentos tratados por es- cedimentos e discussões gerais do processo formativo.
sas teorias, a fim de qualificar as ações motoras ao Em específico à Educação Física, pode-se re-
longo da vida escolar de nossos alunos. correr aos trabalhos apresentados por Oliveira et
Um dos grandes equívocos que os professores al. (1998) e Darido (2008), que trazem uma síntese
cometem e que acaba por desestimular os alunos é a das propostas da área para a intervenção e que se
programação de ações motoras em graus de comple- relacionam direta ou indiretamente às apresentadas
xidade diferentes das etapas de desenvolvimento dos anteriormente.

90
EDUCAÇÃO FÍSICA

CONHECIMENTOS E ESTRUTURA SISTE- riência sinestésica, pois é isso que acontece, repre-
MATIZADA DAS DEMAIS ÁREAS ATUAN- sentam com seus corpos toda a estrutura do grande
TES NA ESCOLA sistema circulatório, não esquecerão tão cedo todas
as fases. Destacamos que é muito importante que to-
As demais áreas de conhecimento que são trabalha- dos troquem de funções para as vivências.
das na escola possuem uma estrutura sistematizada No trabalho interdisciplinar, o professor de Ci-
e podem servir de base para a organização a ser es- ências descreverá todo o sistema teoricamente, o
truturada pela Educação Física. professor de Educação Física irá representar sines-
Como citado anteriormente, a Educação Física tesicamente com os alunos e depois ambos poderão
pode fazer relação de seus conhecimentos às demais reforçar em suas aulas os aspectos relacionados e
áreas que são trabalhadas na escola. Assim, para como esse sistema é vital para as condições gerais de
aproveitar um pouco dessa facilidade que existe na saúde e de performance.
nossa área, é oportuno que o professor verifique o No exemplo, houve a aplicação de trabalho te-
que as demais áreas estão trabalhando em cada um órico, aplicado em vivências motoras expressivas e
dos anos escolares e buscar vínculos que possibili- também a potencialização do tema como base para
tem uma boa visualização dos conhecimentos que futuros trabalhos em ambos componentes curricu-
podem ser enriquecidos no processo formativo. lares, pois ele não se esgota nessa fase, é apenas uma
As áreas que podem ter um vínculo mais forte introdução ao que se fará oportunamente.
são de ciências, geografia, história, linguagem e ar- Da mesma forma que o exemplificado anterior-
tes. Contudo, como salientado, todas podem contri- mente, nas demais áreas há a mesma possibilidade de
buir nesse processo. aproximações de conhecimentos, o que fatalmente
Apenas para exemplificar o que estamos defen- favorecerá a organização curricular geral da escola.
dendo, veja que o grande sistema em ciências é tra-
balhado, normalmente, no quarto ou quinto ano do
Ensino Fundamental. Esse é um bom momento para
que o professor de Educação Física possa trabalhar
as questões relacionadas a trocas gasosas, capacida-
de aeróbica e anaeróbica, e como esses aspectos são
vitais para a saúde e para o rendimento esportivo.
Como trabalhar isso: uma boa forma é por intermé-
dio da expressão corporal, na qual o grupo poderá
se dividir para a estruturação dos componentes do
grande sistema - coração, pulmões, sistema e san-
gue. E eles fazem uma representação de como o san-
gue circula no sistema e como realiza a troca gasosa.
Aqui vale a criatividade dos grupos para a represen-
tação. Uma vez que os alunos realizem essa expe-

91
considerações finais

A
o longo desta unidade, apresentamos reflexões e apontamentos acerca
dos principais elementos que devem compor um bom planejamento
para a ação no campo da Educação Física Escolar. Você pode enten-
der que a ação do planejar deve ser uma ação orientadora da prática
docente, uma vez que, por meio do planejamento estruturado e organizado, será
possível ter, em suas aulas, uma prática pedagógica adequada.
O planejamento irá levá-lo(a) a alcançar os objetivos propostos para o ano,
semestre, bimestre, ou aula, isso porque é o planejamento que irá conduzi-lo(a)
no caminho trilhado. Para tanto, ao elaborar seu planejamento, não se esqueça de
responder aos seguintes questionamentos: Como? Com que? O que? Para que? e
Para quem? respondendo a essas questões. No seu planejamento, você conseguirá
visualizar e materializar se o tempo e a organização que propôs está coerente com
o que se deseja trabalhar.
Além desse fato, o planejamento das aulas de Educação Física escolar irão
ajudá-lo(a) nas tomadas de decisão, nas ações necessárias ao longo do processo
para que seja possível atingir os objetivos propostos, os quais devem estar sempre
em consonância com o Projeto Pedagógico da escola e atrelados às demais ações
escolares. Assim, entendemos que não seja possível propor uma prática pedagó-
gica com qualidade sem que haja um bom planejamento estabelecido.
E a qualidade nas aulas de Educação Física é uma ação necessária para a sua
prática docente, uma vez que tendo a Lei 9.394/1996 instituído a Educação Fí-
sica no ambiente escolar como sendo um componente curricular, passamos a
ter, também, a obrigatoriedade de uma ação pedagógica com cunho formativo e
informativo nas aulas por meio dos conteúdos estabelecidos como prioritários a
serem desenvolvidos em cada momento de desenvolvimento da criança no con-
texto educacional.

92
atividades de estudo

1. Sabemos que a escolha dos conteúdos é uma 3. Após a elaboração do diagnóstico e de sua res-
ação essencial para que o planejamento esco- pectiva análise, inicia-se a fase de estruturação
lar esteja adequado às necessidades e realida- dos objetivos. Com relação à elaboração do ob-
de da criança. Tendo esse conhecimento para jetivo, assinale V para as afirmativas verdadei-
a escolha da seleção dos conteúdos, é preciso ras e F para as falsas.
considerar:
( ) Nessa fase, perspectiva-se um futuro e o projeta
a. Apenas o contido no projeto pedagógico e or- em etapas por meio dos objetivos que se definirão
ganizado nas disciplinas da série. como alvos de suas atuações ao longo do período
b. A validade, flexibilidade, significado, possibi- que compreende o planejamento.
lidade de elaboração pessoal, utilidade, inte- ( ) Os objetivos devem expressar as intenções, o
resse, adequação às necessidades culturais que se busca com o desenvolvimento da disciplina.
e sociais.
( ) Os objetivos devem ser organizados de forma
c. Os interesses pessoais e os métodos de en- que contemplem todas as turmas sem variação exa-
sino que devem ser os mais diversificados gerada, pois não devem ampliar a complexidade já
possíveis. existente nos conteúdos.
d. As regras dos esportes, jogos e brincadeiras
Assinale a alternativa correta.
trabalhadas no desenvolvimento das aulas.
a. V, V, F.
e. Os esportes que devem ser desenvolvidos nas
aulas e as suas exigências motoras e físicas. b. V, F, V.
c. F, V, F.
2. A avaliação é um processo contínuo, que deve
d. F, F, V.
indicar elementos que direcionam a ação do-
cente e o desenvolvimento do aluno, bem e. V, V, V.
como propor uma reflexão acerca dos cami-
nhos a serem adotados. Nesse sentido, é cor- 4. Para a escolha dos conteúdos tratados no uni-
reto afirmar que a avaliação: verso da Educação Física escolar, quais os cri-
a. É aquela que consegue identificar se o aluno térios que devem ser considerados para a
realmente compreendeu a importância do seleção dos conteúdos?
conteúdo.
5. O diagnóstico é um ponto essencial a ser consi-
b. Deve ser aplicada em um único momento du-
derado no início do planejamento, uma vez que
rante a disciplina no semestre.
ele aponta as necessidades e realidade escolar.
c. Não precisa ser aplicada nas aulas de Educa- Sabendo desse fato, descreva os principais
ção Física. pontos a serem observados no diagnóstico
para que se possa iniciar o planejamento.
d. Avaliação em Educação Física exerce um pa-
pel secundário na organização das aulas.
e. É um instrumento que para a Educação Física
serve para mensurar a performance motora e
física dos alunos.

93
LEITURA
COMPLEMENTAR

O texto elaborado pelo professor Amauri A. B. Oliveira Os significados institucionais devem ser impressos po-
traz uma análise acerca das propostas metodológicas derosa inesquecivelmente na consciência do indivíduo.
emergentes na área da Educação Física. Caracteriza-se Como os seres humanos são frequentemente preguiço-
sos e esquecidos, deve também haver procedimentos
como sendo um estudo do tipo descritivo. Como estra-
mediante os quais estes significados possam ser reim-
tégia metodológica, o professor utilizou a bibliografia pressos e rememorizados, se necessário, por meios co-
específica relacionada ao assunto e a aplicação de um ercitivos geralmente desagradáveis. Além disto, como os
questionário aos idealizadores das propostas apresen- seres humanos são freqüentemente estúpidos, os signi-
ficados institucionais tendem a ser simplificados no pro-
tadas sobre os pontos: referencial teórico, objeto de es-
cesso de transmissão, de modo que uma determinada
tudo, conteúdos básicos, enfoque metodológico, relação coleção de “fórmulas” institucionais possa ser facilmen-
professor-aluno e avaliação. Entenderam-se como pro- te aprendida e guardada na memória pelas gerações
postas metodológicas emergentes da área: metodologia sucessivas. O caráter de “fórmula” dos significados ins-
titucionais assegura sua possibilidade de memorização.
aberta, metodologia crítico-superadora, metodologia
construtivista e crítico-emancipadora. Vamos a leitura!
Tendência educacional: progressista crítica.
METODOLOGIA DO ENSINO ABERTO Objeto de estudo: o mundo do movimento e suas impli-
Idealizadores: Reiner Hildebrandt e Ralf Laging da Ale- cações sociais.
manha (1986) e Cardoso et al. (1991) – organizador do Objetivos gerais: trabalhar o mundo do movimento em
Grupo de Trabalho Pedagógico, UFPe e UFSM, do Brasil. sua amplitude e complexidade com a intenção de pro-
Referencial teórico: Teoria Sociológica do Interacionismo porcionar, aos participante, autonomia para as capacida-
Simbólico (Mead/Blumer); Teoria Libertadora (Paulo Freire). des de ação.
Interacionismo Simbólico (Blumer, 1981) Seriação escolar: pode ser trabalhada dentro da atual
a) o atributo simbólico é justificado pela premissa de que estrutura curricular escolar. Preocupa-se mais em como
os homens agem baseados nos significados em relação trabalhar, acessar e tornar significativo os conteúdos aos
a coisas e a pessoas; b) estes significados são adquiri- participantes.
dos em interações sociais; c) estes significados podem Conteúdos básicos: o mundo do movimento e suas re-
ser modificados através de processos interpretativos. lações com os outros e as coisas; os conteúdos são cons-
Berger e Luckman (1985, p. 98), comentando sobre os truídos através de temas geradores.
significados/símbolos, admitem que:

94
LEITURA
COMPLEMENTAR

METODOLOGIA CRÍTICO-SUPERADORA Objetivos gerais: ensinar as pessoas a se saberem cor-


A metodologia crítico-superadora é assim chamada por- po. Ou seja, terem consciência de que são corpo. Mais
que tem a concepção histórico-crítica como ponto de especificamente, seria ensinar as habilidades que permi-
partida. Assim como ela, entende ser o conhecimento tem as expressões no mundo.
elemento de mediação entre o aluno e o seu apreen-
der (no sentido de construir, de demonstrar, de com- METODOLOGIA CRÍTICO-EMANCIPADORA
preender e de explicar para poder intervir) a realidade Idealizador: Elenor Kunz (1994).
social complexa em que vive. Diferentemente dela, Referencial teórico: teoria sociológica da razão comuni-
porém, privilegia uma dinâmica curricular que valoriza, cativa (Habermas).
na constituição do processo pedagógico, a intenção dos Tendência educacional: progressista crítica.
diversos elementos (trato do conhecimento, tempo, es- Objeto de estudo: movimento humano – esporte e suas
paço pedagógico, ...) e segmentos sociais (professores, transformações sociais.
funcionários, alunos e seus pais, comunidade e órgãos Objetivos gerais: conhecer e aplicar o movimento cons-
administrativos. cientemente, libertando-se de estruturas coercitivas; re-
funcionalizar o movimento.
METODOLOGIA CONSTRUTIVISTA Conteúdos básicos: o movimento humano através do
Apesar de o trabalho não ser considerado totalmente esporte, da dança e das atividades lúdicas.
construtivista (pelo próprio autor que não gosta de clas-
sificação), denominou-se esse como tal por apresentar, Fonte: Oliveira (1997). Leia o artigo na íntegra, acesse o
dentro da área da Educação Física, a ligação mais próxi- link disponível em: <http://ojs.uem.br/ojs/index.php/Re-
ma a esta metodologia educacional. vEducFis/article/view/3868>
Objeto de estudo: motricidade humana, entendida
como o conjunto de habilidades que
permitem ao homem produzir conhecimento e ex-
pressar-se.

95
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Educação Física e a organização curricular: Educação


Infantil e Ensino Fundamental
Ângela P. T. V. Palma, Amauri A. B. Oliveira e José Augusto V. Pal-
ma
Editora: Eduef
Sinopse: essa obra é resultado de estudos sobre a temática do
ensino da Educação Física na escola, em suas dimensões históricas, filosóficas, políticas, ins-
titucionais e pedagógicas, abordadas em suas possibilidades educacionais. Trata-se de um
trabalho consistente e que, com certeza, provocará ampla discussão sobre esse assunto e
poderá contribuir para fechar uma das lacunas presentes no ensino da Educação Física na
educação básica: a organização curricular.

Na série de documentários sobre a Educação Física apresentada pelo Programa Salto para
o Futuro da TV Escola, você vai encontrar os principais teóricos da Educação Física refletindo
sobre nosso campo de atuação.
Acesse o link disponível em: <http://educacaofisicaescolarparatodos.blogspot.com.
br/2011/12/salto-para-o-futuro-educacao-fisica.html>.

96
referências

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vive, 1993.
ALARCÃO, I. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 2003.
BERALDO MATEUS, I. B. Didática. Maringá: Centro Universitário de Maringá.
Núcleo de Educação a Distância, 2016.
BOULCH, J. L. Rumo a uma ciência do movimento humano. Porto Alegre: Ar-
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COLL, C. Introdução. In: COLL, C. (orgs). Os conteúdos na reforma: ensino
e aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes. Porto Alegre: Artmed,
2000a. p. 9-16.
COLL, C.; VALLS, E. A aprendizagem e o ensino dos procedimentos. In: COLL,
C. (orgs). Os conteúdos na reforma: ensino e aprendizagem de conceitos, proce-
dimentos e atitudes. Porto Alegre: Artmed, 2000b. p. 73-118.
DARIDO, S. C. EF na escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara
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ERIKSON, E. H.; ERIKSON, J. O ciclo da vida completo. Porto Alegre: Artes
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GALLAHUE, D. L.; OZMUN, C. Compreendendo o desenvolvimento motor:
bebês, crianças, adolescentes e adultos. 2. ed. São Paulo: Phorte Editora, 2005.
HOFFMANN, J. Avaliar para promover: as setas do caminho. 5. ed. Porto Ale-
gre: Mediação, 2004.
LIBÂNEO, J. C. Didática. 19. reimp. São Paulo: Cortez, 1994.
MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Ed-
gard Blücher Ltda, 1984.
MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e media-
ção pedagógica. Campinas: Papirus, 2000.
NEIRA, M. G. Educação Física: desenvolvendo competências. São Paulo: Phorte,
2003.

97
referências

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2000.
OLIVEIRA, A. A. B. Metodologia Emergentes no Ensino da Educação Física.
Rev. da Ed. Física/UEM, Maringá, v. 8, n. 1, p. 21-27, 1997.
OLIVEIRA, A. A. B.; MOREIRA, E. C.; JÚNIOR, H. A.; NUNES, M. P. Planeja-
mento do Programa Segundo Tempo: a intenção é compartilhar conhecimentos,
saberes e mudar o jogo. In: OLIVEIRA, A. A. B.; PERIM, G. L. (Orgs.). Funda-
mentos Pedagógicos do Programa Segundo Tempo: da reflexão a prática. Ma-
ringá: Eduem, 2009.
PALMA, A. P. T. V.; OLIVEIRA, A. A. B. e; PALMA, J. A. V. Educação Física e a
organização curricular. 2. ed. Londrina: Eduel, 2010.
PIAGET, J. A linguagem e o pensamento da criança. 4. ed. São Paulo: Martins
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PILETTI, C. Didática Geral. 8. ed. São Paulo, Ática, 1997.
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Os conteúdos na reforma: ensino e aprendizagem de conceitos, procedimentos e
atitudes. Porto Alegre: Artmed, 2000. p. 17-72.
SARABIA, B. A aprendizagem e o ensino das atitudes. In: COLL, C. (orgs). Os
conteúdos na reforma: ensino e aprendizagem de conceitos, procedimentos e
atitudes. Porto Alegre: Artmed, 2000. p. 119-178.
SERGIO, M. Para um novo paradigma do saber e ...do ser. Coimbra: Ariadne
Editora, 2005.
TANI, G.; MANOEL, E. J.; KOKUBUN, E.; PROENÇA, J. E. Educação Física
escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU –
Editora da Universidade de São Paulo, 1988.
VAYER, P. A criança diante do mundo. 3. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.
ZABALA, A. A prática educativa. Porto Alegre: Artmed, 1998.
WALLON, H. As etapas da socialização da criança. In: WALLON, H. Psicologia
e Educação da criança. Lisboa: Editorial Veja, 1953.

98
gabarito

1. B.
2. A.
3. A.
4. O diagnóstico, a reflexão sobre o universo em que se está inserido. Isso permitirá
identificar quais são as reais necessidades dos grupos com os quais irá interagir
durante o ano. Olhar para a realidade, estabelecer julgamento sobre essa realidade
e prever caminhos que possibilitem atender as suas necessidades básicas contribui
e evita erros desnecessários.
5. Deve-se considerar a validade, flexibilidade, significado, possibilidade de elaboração
pessoal, viabilidade, utilidade, interesse e adequação as necessidades.

99
SISTEMATIZAÇÃO E
AÇÕES PEDAGÓGICAS
NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Professora Doutora Vânia de Fátima Matias de Souza


Professor Doutor Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• A Educação Física na Educação Infantil: quem é a criança
• Características da criança da Educação Infantil
• Mapa conceitual dos conteúdos da Educação Infantil
• Planejando as aulas para a Educação Infantil

Objetivos de Aprendizagem
• Compreender as etapas do desenvolvimento da criança da
Educação Infantil.
• Apresentar propostas didáticas para ações pedagógicas
no contexto dos diferentes níveis da Educação Infantil, por
meio do mapa conceitual dos conteúdos.
• Apresentar indicadores para o planejamento das aulas da
Educação Infantil.
unidade

IV
INTRODUÇÃO

D
iscutir a Educação Física na Educação Infantil implica refletir
acerca das especificidades e dos desafios que são inerentes ao
processo educativo, no qual a criança, inserida no mundo da
imaginação do faz de conta, constrói seus saberes a partir da
experimentação e da exploração de seu corpo com os objetos ao seu re-
dor, na sua relação com o outro e com o mundo que a cerca, permitindo
e possibilitando que seu corpo se torne um sujeito único com relações e
interações próprias e individuais.
O corpo para criança da Educação Infantil é o seu primeiro espaço
de construção dos saberes, é possível interagir criar e recriar a constru-
ção do mundo a partir do olhar lúdico que lhe é ofertado pelas aulas
nas quais o movimento, o movimentar-se e o vivenciar colaboram de
forma significativa, sendo possível avançar dos movimentos simples aos
complexos, nos quais as atividades de alta intensidade e curta duração
passam a ser substituídos por ações que requerem baixa intensidade e
maior duração. Isso porque a criança passa a explorar todas as vivências
em graus diferentes das possibilidades de sua realização.
É preciso nos atentar para o fato de que “[...] escolas que são asas não
amam pássaros engaiolados. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer,
porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensina-
do” (ALVES, 2004, p. 54). Na Educação Infantil, temos que ajudar na
construção do voo, fazendo com que a criança sinta-se livre e à vontade
para criar e recriar, tendo sempre a perspectiva de que o errar pode ser
possível e a mesma tarefa pode ser realizada de diversas formas. Tudo
dependerá da forma de se olhar, afinal, o movimento não é único e pode
ser infinitamente reinventado.
Nesta unidade, vamos pensar juntos em ações didático-pedagógicas
que ajudem a dar espaços para os voos das crianças nas aulas de Educa-
ção Física infantil.
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

A Educação Física na Educação Infantil:


Quem é a Criança?
Ao dialogarmos acerca do processo de intervenção da cultura infantil e todas as demais experiências
e ação pedagógica nas aulas de Educação Física na que compõem o universo da Educação Física Infan-
Educação Infantil, torna-se relevante trazermos à til possam colaborar para que o processo de ensino e
pauta discussões que englobam os elementos cons- aprendizagem tenha significado, colaborando para a
titutivos do planejamento e que subsidiam a orga- construção do ser social da criança.
nização das aulas e atividades que compõem o ce- Essa construção da identidade da criança, in-
nário das aulas de Educação Física no universo da fluenciada pelo ambiente da Educação Infantil, vai
Educação Infantil. Sabemos que, nesses espaços de se constituindo a partir de suas interações e vivên-
atuação docente, é essencial que seja considerado cias múltiplas que lhe são ofertadas. Por esse mo-
o contexto da criança, seu cotidiano escolar, bem tivo, o currículo da educação física para a Educa-
como suas características e necessidades para que as ção Infantil deve centrar-se no desenvolvimento
ações definidas no projeto pedagógico, a valorização de ações que tem como foco o lúdico, presente nos

104
EDUCAÇÃO FÍSICA

jogos, brinquedos e brincadeiras que são oferecidos SAIBA MAIS


nas aulas de Educação Física enquanto elementos
essenciais da ação didática-pedagógica, e se consti- No livro Compreendendo o desenvolvimento
tuírem como elementos essenciais nesses espaços de motor, Gallahue e Ozmun (2005) afirma que
intervenção. Lembrando que, segundo Palma, et al. o desenvolvimento de competências motoras
fundamentais amadurecidas é básico para o
(2010, p. 27), desenvolvimento motor e a educação motora
das crianças. Uma ampla variedade de expe-
[...] o currículo não é, apenas, mais uma área riências motoras fornece as crianças grande
voltada para a aplicação e desenvolvimento de riqueza de informação em que podem base-
métodos e técnicas de ensino. Ele é guiado por ar a percepção que tem de si próprias e do
questões sociais, políticas e epistemológicas e mundo que as rodeia.
considerado um artefato social e cultural. Fonte: Gallahue e Ozmun (2005).

Logo, o currículo estruturado para a Educação In-


fantil deve considerar todos os elementos que cola-
boram com as ações desenvolvidas pela criança no Ao iniciarmos o processo de planejamento e orga-
período da infância. nização das aulas, o primeiro passo é conhecer as
Dessa forma, o currículo se torna um instrumen- especificidades da criança da Educação Infantil que
to de auxílio para a efetivação da ação docente, na iremos atender. Conforme a Lei 9.394/1996, a crian-
qual a prática didático-pedagógica passa a se cons- ça da Educação Infantil é aquela que se encontra en-
tituir a partir das opções e estratégias adequadas a tre os 4 e 5 anos de idade. Tem seu desenvolvimento
contemplar as necessidades da criança. No entanto, motor, social, cognitivo e afetivo se constituindo,
há que se destacar que, de acordo com et al. (2010, p. ou seja, esse é um momento no qual a criança está
51), “[...] os professores, de maneira geral, têm muita passando por vivências e experiências que irão con-
dificuldade em sistematizar os conteúdos. Quando tribuir para sua compreensão de mundo e, a partir
ensinar e para ensinar em cada uma das séries”, isso dessa interação, a criança pode avançar fases ou eta-
porque as diretrizes da Educação Infantil personifi- pas de seu desenvolvimento. O lúdico, o brincar, o
cam os saberes e conhecimentos que devem ser con- brinquedo e a brincadeira, tão expressivos para a
templados. Entretanto, flexibilizam os conteúdos a criança, vão se dar pela ação motora, na qual o cor-
serem tratados nos contextos do processo formativo po e o movimento passam a ser sua primeira forma
da criança. Nesse sentido, quando trabalhamos com de interagir com o mundo, ampliando, assim, seu
o planejamento curricular para a Educação Infantil, repertório motor, influenciando significativamente
os questionamentos são: seu desenvolvimento integral.
• Quais os saberes e conhecimentos necessários Tendo esse conhecimento, as atividades plane-
a serem tratados na Educação Física infantil? jadas e orientadas para as aulas de Educação Física
• Como organizar esses saberes e conhecimen- na Educação Infantil devem levar a criança a pensar
tos nas aulas de Educação Física da Educação e agir por meio de movimentos e experimentações
Infantil? vivenciadas a partir de situações que as façam inte-

105
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

ragir por meio das linguagens corporais, nas experi- oportunizado uma gama de experimentações que
mentações propiciadas por atividades de interação ampliem seus conhecimentos culturais e seu reper-
corpo-movimento, corpo-brinquedo-brincadeira e tório motor. Segundo Nista-Picollo e Moreira (2012,
corpo-objeto-espaço. Já que, de acordo com Sayão p. 17), as escolas que se propõem a trabalhar com a
(2002, p. 61), Educação Infantil devem ter clareza de que

[...] o trabalho pedagógico na Educação In- [...] antes de propor atividades, é importante
fantil, deve se sustentar em planejar situações que os professores identifiquem os diferentes
que levem as crianças a brincar, a interagir e a perfis de capacidade das crianças; o ambiente
manifestar-se através de diferentes linguagens, vivido no dia a dia da criança deve propiciar
o que significa permitir e reconhecer que a ora- um diálogo com as múltiplas linguagens.
lidade, a escrita, o desenho, a dramatização, a
música, o toque, a dança, a brincadeira, o jogo,
os ritmos, as inúmeras formas de movimentos
corporais, são todos eles expressões das crian-
ças, que não podem ficar limitadas a um segun-
do plano.

REFLITA

Se o jogo, o brincar e a brincadeira devem ser


o foco central das ações didático-pedagógicos
no ambiente da Educação Infantil, por que a
Educação Física ainda não é uma obrigatorie-
dade legal em todos os estabelecimentos de
ensino nessa modalidade?

De acordo com a legislação da Educação Infantil,


considera-se que a primeira infância é a fase do de-
senvolvimento da criança, que abrange a idade de 0 a
5 anos. Esse é o momento primordial para o desenvol-
vimento, uma vez que é nessa fase que a criança arqui-
tetará uma base que a favoreça por toda a existência.
Tendo esse conhecimento, é válido ressaltar que
cabe ao professor que planejará a Educação Física na
Educação Infantil iniciar suas ações didático-peda-
gógicas considerando o fato de que a criança é um
ser social que deve ser considerada em sua essência,
nas suas particularidades individuais. A ela deve ser

106
EDUCAÇÃO FÍSICA

A CRIANÇA DA EDUCAÇÃO INFANTIL: texto da Educação Infantil, temos a possibilidade de


DE QUEM ESTAMOS FALANDO? ampliação das linguagens corporais, uma vez que,
por meio dos movimentos, pelas relações interpes-
Entendemos que a infância vai se consolidando por soais, pelas experiências com o outro, com o meio
meio do movimento e das interações com o mundo e com os objetos, a criança é possibilitada a ampliar
que a cerca. Na Educação Infantil, a criança deve ser seu repertório motor e de convívio social. Por isso,
oportunizada à experimentação, à vivência motora é tão importante, para o professor de Educação Fí-
que tenha como ponto de partida o lúdico e as inte- sica, conhecer os estágios de desenvolvimento das
rações do seu corpo com o espaço, com os objetos e crianças, considerando os domínios, habilidades e
com os seus pares. competências.
Para discutirmos sobre os estágios de desenvol-
vimento da criança, vamos trazer a classificação de
Gallahue e Ozmun (2005), na qual os autores pro-
põem considerar, para o desenvolvimento da crian-
ça, o período da infância dos 2 aos 10 anos de idade,
sendo que este ainda vai ser dividido em três fases:
o período de aprendizagem, que vai dos 24 aos 36
meses; a infância precoce, considerada dos 3 aos 5
anos; e, por fim a infância intermediário-avançada,
dos 6 aos 10 anos de idade. Como estamos tratando
das aulas de Educação Física na Educação Infantil,
vamos nos atentar às características das crianças que
se encontram na faixa dos 4 a 5 anos, uma vez que,
em geral, é com essa fase que se tem maior especifi-
cidade nas aulas de Educação Física.
De acordo com Gallahue e Ozmun (2005), uma
É importante entendermos que cada criança apre- criança por volta dos 4 e 5 anos de idade já compre-
senta características que lhes são próprias e particu- ende melhor o mundo a sua volta, tornando-se gra-
lares, mas o que vamos considerar para as discussões dualmente menos egocêntrica e com melhor com-
aqui apresentadas serão as semelhanças em suas ca- preensão de que suas ações podem afetar as pessoas
racterísticas, sendo diferenciadas a partir da forma a sua volta. Segundo Harrow (1983), essa fase é o
de agir, pensar, sentir e vivenciar os episódios do seu período sensível para que as formas motoras básicas
cotidiano. De acordo com Nista-Picollo e Moreira sejam desenvolvidas corretamente na criança. Dessa
(2012, p. 22), “[...] o corpo é o primeiro objeto que maneira, as atividades pré-escolares devem se fun-
a criança percebe por meio de suas satisfações, de damentar nas formas motoras básicas desenvolvidas
suas dores, das sensações visuais e auditivas”. Por pela Educação Física, favorecendo, assim, o desen-
esse motivo, nas aulas de Educação Física no con- volvimento das crianças.

107
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Linguagem A criança de Fase de transição


corporal e oral 4 a 5 anos período pré-operatório

Fase dos Coordenação Lúdica Egocêntrica Começa a ter


Distingue Porquês motora ainda noção de tempo
fantasia do real requer e espaço
Atividades de
estímulos faz de conta
Comunicativa Dificuldade
com jogos:
ganhar e
Preferência
perder
Sensório-motor por atividades
• Tem opinião própria Facilidade na
intenso de alta
aprendizagem
• Expressa-se com clareza intensidade e
de novos Dificuldade
• Gosta de brincadeiras de faz de baixa
movimentos com aceitação
conta complexidade
de regras
• Permanece mais tempo em uma
brincadeira

Figura 1 - Quem é a criança da Educação Infantil: principais características da criança de 4 a 5 anos de idade
Fonte: os autores.

Consideramos que a construção da infância é um Logo, a existência da influência e apropriação da


processo que se dá pela ação conjunta dos contex- cultura infantil, das brincadeiras e jogos oportu-
tos cotidianos da sociedade, uma vez que, de acordo nizados estão muito ligados a esse repertório. Por
com Kishimoto (2000, p. 19), essa razão, é preciso conhecer as especificidades e
características de cada fase de desenvolvimento da
[...] a imagem de infância é reconstituída pelo
adulto por meio de um duplo processo: de um
criança, em especial, o perfil motor da criança da
lado, ela está associada a todo um contexto de Educação Infantil; afinal, nossa ação didático-pe-
valores e aspirações da sociedade, e, de outro, dagógica se dará, em especial, nesse campo.
depende de percepções própria do adulto, que
incorporam memórias de seu tempo de criança.

108
EDUCAÇÃO FÍSICA

109
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Características da Criança da
Educação Infantil
De acordo com Caetano, Silveira e Gobbi (2005), o gica, na qual o indivíduo progride de um movimen-
desenvolvimento motor é um processo de alterações to simples, sem habilidade, até atingir o ponto das
no nível de funcionamento de um indivíduo, onde habilidades motoras mais complexas e organizadas
uma maior capacidade de controlar movimentos é e, assim, chegar ao ajuste dessas habilidades que irão
adquirida ao longo do tempo, por meio da interação acompanhá-lo até o envelhecimento.
entre as exigências da tarefa, da biologia do indiví- Gallahue e Ozmun (2001) vão além e destacam
duo e o ambiente. que o desenvolvimento humano ocorre em um in-
Segundo Haywood e Getchell (2004), é preciso divíduo desde sua concepção até a morte. Explicam,
considerar que o desenvolvimento motor é um pro- ainda, que a palavra desenvolvimento em si impli-
cesso contínuo e sequencial, ligado à idade cronoló- ca mudanças comportamentais e/ou estruturais dos

110
EDUCAÇÃO FÍSICA

seres vivos durante a vida. Já o processo de desen- De acordo com Gallahue e Ozmun (2001), as
volvimento motor revela-se por alterações no com- habilidades motoras fundamentais podem ser divi-
portamento motor. Para os autores, é preciso con- didas em três categorias:
siderar que bebês, crianças, adolescentes e adultos • Habilidades locomotoras - movimentos que
estão envolvidos no processo de aprender a mover- indicam uma mudança na localização do
-se com controle e competência, reação aos desafios corpo em relação a um ponto fixo na super-
que enfrentam diariamente. Por essa razão, devem fície. Ex.: caminhar, correr, saltar, saltitar etc.
ser continuamente estimulados e motivados a mo- • Habilidades manipulativas - movimentos de
manipulação motora, como tarefas de arre-
vimentar-se.
messo, recepção, chutes (manipulativas gros-
Nessa fase de desenvolvimento da criança, o
sas) e costurar, cortar (manipulativas finas).
aprendizado vai se dar de forma contínua, pela ex-
• Habilidades estabilizadoras ou de equilíbrio
ploração do ambiente, a criança conhece suas habi-
- a criança na tentativa de manter a postura
lidades corporais. Por isso, segundo Mattos e Neira vertical é envolvida em constantes esforços
(2003), a realização de atividades motoras oportu- contra a força da gravidade. Ex.: girar braços
nizadas nesse momento devem ser sempre aquelas e tronco, flexionar o tronco, entre outros.
que visam ao desenvolvimento das habilidades mo-
toras básicas, tais como o andar, correr, saltar, correr, Outro aspecto relevante, de acordo com Gallahue e
arremessar, receber, empurrar, puxar, subir, descer, Ozmun (2001), das habilidades motoras fundamen-
enfim, habilidades de explorar o mundo a sua volta. tais, é que, durante o seu desenvolvimento, o indiví-
De acordo com Neto et al (2004) as experiências duo passa por três estágios distintos, são eles:
motoras estão presentes no dia a dia das crianças e • Estágio inicial - representa a primeira meta-
representam toda e qualquer atividade corporal re- de orientada da criança na tentativa de exe-
alizada em casa, na escola e nas brincadeiras. As ex- cutar um padrão de movimento fundamen-
periências motoras, antes vivenciadas pelas crianças, tal. As integrações dos movimentos espaciais
e temporais são mínimas. A criança atinge
e suas atividades diárias eram suficientes para que
esse nível por volta de 2 a 3 anos de idade.
se adquirissem as habilidades motoras e formassem
• Estágio elementar - envolve maior controle
uma base para o aprendizado de habilidades mais
e melhor coordenação dos movimentos fun-
complexas. Seu desenvolvimento motor era apri- damentais. Evidencia-se por volta dos 4 a 5
morado e explorado na disposição de grandes áreas anos de idade, dependendo do processo de
livres para brincar, como praças, ruas e quintal. En- maturação.
tretanto, atualmente a criança precisa dessas ações • Estágio maduro - é caracterizado como me-
oportunizadas por meio do lúdico nas suas experi- canicamente eficiente coordenado e de exe-
ências vivenciadas nas aulas de Educação Infantil. cução controlada. Tipicamente as crianças
Para podermos planejar, organizar e elaborar têm potencial de desenvolvimento para estar
atividades adequadas a cada momento da criança, é no estágio maduro perto de 6 a 7 anos.
preciso compreender o que cada categoria de movi- Outro aspecto a ser considerado acerca do desenvol-
mentos representa. vimento da criança da Educação Infantil está rela-

111
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

cionado às características cognitivas da criança que, Em relação a sua noção de corpo e espaço, na Educa-
nessa fase, segundo Piaget (1993), encontram-se no ção Infantil, segundo De Meur e Staes (1991, p. 122),
período pré-operatório, dos 2 a 7 anos, em que se [...] a criança não distingue ainda o tempo sub-
tem o destaque para a fase dos 4 aos 6 anos, por ser jetivo e o tempo objetivo. Para ela, é importante
um período de emergência da linguagem. Para o au- que vivencie situações com vários tempos de
execução para que comece a perceber o tempo
tor, o eixo do desenvolvimento cognitivo da crian-
longo, curto, e situações rápidas e lentas.
ça, nesse momento, vai se dar pela linguagem e pela
reorganização da sua ação cognitiva, isso porque o Segundo Le Boulch (1983, p. 190),
autor relaciona o desenvolvimento da linguagem de-
pendente do desenvolvimento da inteligência. [...] a estruturação espacial é fundamental para
a criança se situar no meio em que vive, estabe-
Com relação ao desenvolvimento afetivo e social
lecendo relações entre os objetos, fazendo ob-
da criança na Educação Infantil, há que se consi- servações, comparações, combinações e vendo
derar, segundo Wallon (1953), que essa é a fase de semelhanças e diferenças entre eles.
formação da personalidade do indivíduo. Segundo
o autor, a partir dos 3 anos, ocorre o estágio do per- Sobre a imagem corporal, considerada o conheci-
sonalismo, momento da constituição do eu, no qual mento do corpo, consciente e intelectualmente, jun-
a criança, em seu confronto com o outro, passa por tamente com a função de seus membros e de seus
uma verdadeira crise de personalidade, caracteriza- órgãos, Fonseca (1983, p. 262) destaca que
da pelas mudanças nas suas relações com o seu en-
[...] o desenho do corpo não exprime unica-
torno e pelo aparecimento de novas aptidões. Outro
mente a gnosia corporal. Nele se projetam às
destaque de Wallon (1953), para essa idade, consiste experiências emocionais, as sensações erógenas,
na definição de que, por volta dos 4 anos de idade, a as pressões sócio-culturais, isto é, o desenho
criança desenvolve maneiras de ser admirada e cha- do corpo é reflexo do que a criança viveu, nas
relações com o meio ambiente, não só no que
mar a atenção para si, com uma necessidade de agra- sentiu como também no que simbolicamente
dar, cujo objetivo é obter a aprovação dos demais. A integrou. Através do conhecimento das sensa-
criança passa a se considerar em função da admira- ções que provém do corpo e das experiências
táteis, cria-se um esquema corporal, que regula
ção que acredita poder despertar nas pessoas.
a postura e o equilíbrio. Esse esquema é a base
Com relação a coordenação motora ampla da essencial para a criação da imagem corporal.
criança, Araújo (1992, p. 35) destaca que, nessa fase
da Educação Infantil, De acordo com Mattos (1999, p. 37), a estruturação
espacial da criança, nada mais é que “[...] a tomada
[...] a criança pode andar, correr, saltar, rolar, de consciência de seu corpo em um ambiente, isto é,
pular, arrastar-se, nadar, lançar-pegar, sentar.
do lugar e da orientação que pode ter em relação às
Permite a realização de múltiplos movimentos
ao mesmo tempo, com cada membro realizan- pessoas e as coisas”. Logo, a estruturação espacial pos-
do uma atividade diferente, sem perder a con- sibilita que a criança consiga se organizar diante do
servação de unidade do gesto. universo que a cerca, organizar os objetos entre si e
movimentá-los. Segundo Oliveira (1997, p. 82),

112
EDUCAÇÃO FÍSICA

[...] em primeiro lugar, a criança percebe a po- Caro(a) aluno(a), o Quadro 1 apresenta a síntese
sição de seu próprio corpo no espaço, depois, das principais características da criança da Edu-
a posição dos objetos em relação a si mesma e, cação Infantil, de modo a lhe ajudar a visualizar
por fim, aprende a perceber as relações das po-
quem é a criança que você deve considerar em seus
sições dos objetos entre si.
planejamento.

Quadro 1 - Características da criança da Educação Infantil


Características da criança da Educação Infantil
Motor Intelectual Emocional e social Brincadeira e estimulação
• Andar. • Egocentrismo ainda pre- • Utiliza habilidades aprendidas • Brincadeiras em grupo.
• Correr. sente. para enfrentar novas situações. • Amigo imaginário.
• Saltar. • Aos poucos passa a consi- • Avalia sua atuação como • Faz de conta.
• Subir e descer derar o ponto de vista do satisfatória, resultando em
escadas. outro. uma percepção positiva de si
• Pedalar. • Associa ideias a eventos (autoestima).
próximos. • Precisa estar segura do apoio
• Continua pensando uma dos pais, ser orientada e apro-
ideia por vez. vada em suas decisões e ações.
• Confunde imaginação • O que, quando, como e porque
com realidade. são perguntas constantes.
• Julga as experiências pe- • Fala o tempo todo.
los resultados aparentes.
Fonte: adaptado de Costa (2008).

Em síntese, o desenvolvimento da criança que está Além desses fatos, é preciso considerar que os
na Educação Infantil, segundo Gallahue e Ozmun movimentos da criança nas aulas de Educação Física
(2001), encontra-se na fase dos movimentos funda- na Educação Infantil, por vezes, irão se apresentar,
mentais, fase na qual os movimentos de pegar, enga- inicialmente, de forma global, desarmônica e quase
tinhar, andar, correr, saltar, girar e rolar são essenciais sempre simétricas. No entanto, por meio das ativi-
na Educação Infantil. Além disso, as tarefas motoras dades planejadas e estruturadas por meio do lúdi-
de estabilização, locomoção e manipulação podem ser co, a criança passa a descobrir seus movimentos e
exploradas, isso porque as crianças, ao final da Edu- a produzir ações que, aos poucos, podem produzir
cação Infantil, já conseguem entender regras e com- movimentos que se caracterizam com maior destre-
preendê-las, começam a apresentar maior atenção e za e eficiência.
concentração, começam a se organizar em grupos.

113
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Mapa Conceitual dos Conteúdos


da Educação Infantil
Quando pensamos na organização dos conteúdos Para essas reflexões, vamos iniciar entendendo que
das aulas de Educação Física na Educação Infantil, a Educação Infantil é um espaço no qual o brin-
instintivamente nos reportamos ao trabalho com o car, o lúdico, o jogo da imitação, do faz de conta e
movimento, certo? Essa forma de pensar está cor- o movimento são elementos essenciais para todas
reta, visto que, de acordo com Garanhani (2002), o as ações desenvolvidas nesse ambiente. De acordo
corpo em movimento constitui a matriz básica da com Vieira (2007, p. 5),
aprendizagem infantil. Entretanto, mesmo adotan-
do essa delimitação para a abrangência das ações [...] a Educação Física na Educação Infantil
pode configurar-se como um espaço em que
no campo das aulas da Educação Física tratadas na
a criança brinque com a linguagem corporal,
Educação Infantil, outros questionamentos podem com o corpo, com o movimento, alfabetizan-
surgir, por exemplo: do-se nessa linguagem.
• Quais são os conteúdos na Educação Infantil?
• Como devem ser organizados? Nas aulas de Educação Física, as atividades es-
• Qual a contribuição da Educação Física para truturadas e planejadas devem criar situações em
o desenvolvimento infantil? que a criança entre em contato com várias ma-
nifestações da cultura corporal, tendo em vista

114
EDUCAÇÃO FÍSICA

sempre a dimensão lúdica como um dos elemen- Portanto, trabalhar a Educação Física na Educação
tos principais para a ação educativa na infância, Infantil é buscar novas estratégias, métodos e ativi-
afinal, para a criança, o ato do brincar se relaciona dades que oportunizem
com a sua forma de se expressar perante o mun-
[...] possibilidades de ampliação do repertório
do. É a linguagem corporal sua primeira forma de de movimentos, gestos, capacidade expressiva e
se comunicar. capacidade de planejar seu próprio movimento,
Nesse sentido, Mattos e Neira (2003, p. 183) co- assim como reconhecimento da cultura corpo-
ral (VIEIRA, 2007, p. 7).
laboram ao afirmar que
A prática corporal tratada na Educação Infantil
[...] a pré-escola e a 1° série tem grande relevân- deve ser uma ação que permita à criança criar, re-
cia na proposição das atividades que visam ao
criar, construir e reconstruir seus movimentos, suas
desenvolvimento das habilidades básicas à al-
fabetização, percepção, lateralidade, orientação capacidades e potencialidades, sendo considerados,
espaço-temporal, coordenação visual e motora para tanto, o aprendizado sistematizado das normas
e esquema corporal, parece-nos bastante clara de convivência, dos hábitos culturais e de outros
a noção de que o trabalho na educação física objetos sociais de conhecimento, que contribuem
deva caminhar na mesma direção.
expressivamente para o processo de socialização e
desenvolvimento da criança.

Eixo 2:
movimento em
expressão e ritmo

Eixo 1: Eixo 3:
movimento corporeidade
e os jogos e autonomia

Eixo 4:
movimento e
a corporeidade

Figura 2 - Continuidade da educação: explicando os eixos do desenvolvimento


Fonte: os autores.

115
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Na Figura 2, respondemos nosso primeiro ques- novas perspectivas e reconstruindo conceitos e co-
tionamento apresentado no início desta discussão: nhecimentos de mundo e da realidade.
Quais são os conteúdos na Educação Infantil? Em Assim, as aulas de Educação Física devem trazer
geral, os conteúdos tratados nas aulas de Educação para seu contexto, a valorização dos conhecimentos
Física na Educação Infantil devem estar relacio- da própria criança, pois, conforme afirma Wallon
nados com as questões do corpo e do movimento, (1953), a cultura e a linguagem fornecem ao pensa-
sendo que, por meio deles, a criança possa conhecer mento os elementos que a criança possa se modifi-
seu corpo, explorar as possibilidades de movimen- car. A socialização, nesse momento, se faz necessá-
tos, buscar as diversas formas de gestualidades que ria, pois, por meio de atividades lúdicas, a criança
podem ser produzidas pelo seu próprio corpo por interage, socializa, tendo, então, a possibilidade de
meio das atividades lúdicas. reconfigurar seus conceitos. Não existe linearidade
Afinal, de acordo com Piaget (1993), o começo no desenvolvimento, já que este é sempre descontí-
do conhecimento é a ação do sujeito sobre o objeto, nuo e, por isso, sofre crises, rupturas, conflitos, re-
o que significa, de acordo com o autor, que o conhe- trocessos, enfim um movimento que tende levar a
cimento humano se constrói na interação homem- criança a conquistar outros conhecimentos.
-meio, sujeito-objeto. E, portanto, cabe ao professor, Entendendemos que a criança tem suas caracte-
nas aulas de Educação Física, organizar esses mo- rísticas próprias e que, enquanto um ser social, sofre
mentos, nos quais haja sempre uma equilibração e influências do meio ao qual está inserida. Na Figura
reequilibração dos conhecimentos, de tal forma que 3, apresentamos um mapa conceitual, traçando dife-
levem as crianças a assimilarem e a acomodarem os rentes conteúdos para cada momento da criança da
novos conhecimentos apresentados, construindo Educação Infantil.

Expressão
corporal

Eixo: Jogos de mímica


Lateralidade movimento e Brincadeiras de roda
os jogos Jogos motores

Coordenação
motora
(grossa e fina) Conhecimento Linguagem
Regras:
de si e do corporal
criar e recriar
mundo

Interagir com Expreriência


o outro lúdica

Figura 3 - Eixo: movimento e os jogos


Fonte: os autores.

116
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 4 - Eixo: movimento em expressão e ritmo


Fonte: os autores.

Figura 5 - Eixo: movimento e a corporeidade


Fonte: os autores.

117
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Figura 6 - Eixo: corporeidade e autonomia - conteúdos tratados


Fonte: os autores.

Qualquer relação didática envolve questões de


As Figuras 3, 4, 5 e 6 representam os elementos que reciprocidade, equilíbrio, poder e relação afeti-
compõem os eixos motores essenciais para o desen- va. No caso de uma criança pequena, a partici-
volvimento do planejamento das aulas da Educação pação numa interação didática oferece a opor-
Física no contexto da Educação Infantil. Porém, é tunidade de aprender a conceber e a lidar com
relações de poder diferenciadas. As relações
preciso considerar que em todos os eixos cabe ao afetivas tendem a se tornar mais diferenciadas
professor possibilitar o desenvolvimento de ações e pronunciadas no curso da atividade conjunta.
relacionadas ao desenvolvimento de conteúdos con- Na medida em que estas são positivas e recípro-
ceituais, atitudinais e procedimentais (ZABALA, cas no início se tornam cada vez mais positiva,
há muita chance de que aumentem o ritmo e a
1999). Vale ressaltar o que afirma Bronfrenbrenner
probabilidade de ocorrência dos processos de-
(1996, p. 47): senvolvimentais.

118
EDUCAÇÃO FÍSICA

119
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Planejando as Aulas para a


Educação Infantil
Segundo Ho�mann (2001), a organização e planeja- aula, por meio dos planejamentos, as manifestações
mento das atividades diárias proporcionam, ao pro- que as crianças expressam no seu dia a dia, a partir
fessor, a reflexão de suas ações e metodologias, ana- de seus balbucios, choros, falas, gestos, desejos, hi-
lisando os resultados de seu projeto. De acordo com póteses e conhecimentos prévios, estes são de suma
o Referencial Curricular Nacional para a Educação relevância para um trabalho que respeite as culturas
Infantil (BRASIL, 1998, p. 196) cabe infantis (AHMAD, 2011, p. 3).
Schimtt (2006, p. 2) vai além e afirma que
[...] ao professor planejar uma sequência de
atividades que possibilite uma aprendizagem o objetivo principal do planejamento é possi-
significativa para as crianças, nas quais elas bilitar um trabalho mais significativo e trans-
possam reconhecer os limites de seus conheci- formador na sala de aula, na escola e na so-
mentos, ampliá-los e/ou reformulá-los. ciedade. O plano escrito é o produto destes
processos de reflexão e decisão. Não deve ser
O planejamento pedagógico na Educação Infantil feito por uma exigência burocrática, mas, ao
precisa ser discutido e articulado aos sujeitos que contrário, deve corresponder a um projeto-
-compromisso do professor, tendo, pois, suas
estão inseridos nesses ambientes coletivos de edu-
marcas.
cação, assim é imprescindível trazer para a sala de

120
EDUCAÇÃO FÍSICA

O planejamento pedagógico na Educação Infantil parte do que ele precisa para viver está, também, no
precisa ser discutido e articulado com os interesses mundo lá fora, no meio ambiente e ao seu redor.
culturais das crianças, pois, assim, De acordo com Hernández (1998), é preciso que
o planejamento considere as questões culturais, de
é possível trazer para as aulas de Educação Fí-
sica manifestações que as crianças expressam forma que as ações docentes levem a criança a cons-
no seu dia a dia, suas hipóteses e conhecimen- truir alternativas de conhecimentos, fazendo-a rom-
tos prévios, que são de suma relevância para per a linearidade estabelecida, ou seja, é preciso que
um trabalho que respeite as culturas infantis
as aulas deem possibilidade de a criança
(AHMAD, 2011, p. 4).
O planejamento educativo deve ser assumido no
refazer e de renomear o mundo e de ensinar os
cotidiano como um processo de reflexão, pois,
alunos a interpretar os significados mutáveis
mais do que ser um papel preenchido, é atitude
com que os indivíduos das diferentes culturas
e envolve todas as ações e situações do educador
e tempos históricos dotam a realidade de senti-
no cotidiano do seu trabalho pedagógico. Plane-
jar é essa atitude de traçar, projetar, programar, do. Ao mesmo tempo em que lhes abre as por-
elaborar um roteiro para empreender uma via- tas para compreender suas concepções e as de
gem de conhecimento, de interação, de experiên- quem os rodeiam (HERNÁNDEZ, 1998, p. 28).
cias múltiplas e significativas para com o grupo
de crianças. Planejamento pedagógico é atitude
crítica do educador diante de seu trabalho do-
É importante considerar que a criança, sendo um
cente. Por isso não é uma fôrma! Ao contrário, é ser social e a considerando um ser em adaptação,
flexível e, como tal, permite ao educador repen- precisa ser oportunizada a construir seus conheci-
sar, revisando, buscando novos significados para
mentos. Isso porque, conforme indica Freire (2003),
sua prática pedagógica. O planejamento marca a
intencionalidade do processo educativo mas não para que a criança se adapte ao mundo, para agir
pode ficar só na intenção, ou melhor, só na ima- sobre, transformando-o e resolvendo problemas,
ginação, na concepção (OSTETTO, 2004, p. 1). é preciso que ela construa seu próprio movimento
corporal específico. Isso só poderá ocorrer por meio
Nas palavras de Paim (2003), a Educação Física ad- de esquemas de ação, pois é com eles que o ser hu-
quire um papel importantíssimo à medida que ela mano expressará, em todas as ocasiões de sua vida,
possa estruturar o meio ambiente adequado para a seus movimentos. Lembrando que a primeira fase
criança, oferecendo experiências, resultando em um da infância é crucial, pois é a partir dela que se de-
grande auxiliar e promotor do desenvolvimento hu- senvolvem as movimentações corporais básicas.
mano, em especial ao desenvolvimento motor, e ga- Tendo essa compreensão, é preciso que você, en-
rantir a aprendizagem de habilidades específicas. A quanto professor(a), planeje suas atividades consi-
construção de movimentos varia de indivíduo para derando as características das crianças, seus conhe-
indivíduo, a organização construída pelo sujeito de- cimentos culturais, bem como suas potencialidades;
pende tanto dos recursos biológicos e psicológicos afinal, a aula deve ser desafiadora e levar a criança a
de cada pessoa quanto das condições do meio am- buscar novos saberes e conhecimentos, de tal forma
biente em que ela se encontra. Por isso, o ser huma- que seu repertório motor e sua linguagem corporal
no não precisa somente do que está presente nele, sejam ampliados.

121
considerações finais

N
esta unidade, ressaltamos que o movimento é a essência da infância e,
nesse sentido, a ação do professor de Educação Física, atuando didá-
tica e pedagogicamente nesse espaço de intervenção, torna-se essen-
cial. Nosso intuito foi promover uma discussão acerca do movimento
para que você possa ter uma sustentação teórica de quem é a criança da Educação
Infantil, podendo compreender a complexidade que envolve seu desenvolvimen-
to, suas fases e etapas da aprendizagem. Evidenciamos que o desenvolvimento é
um processo contínuo e constante, e que, portanto, as atividades escolares devem
ser sempre planejadas e organizadas seguindo uma sistematização prévia, na qual
se considera a idade cronológica da criança, seus limites, suas potencialidades
e possibilidades para o processo de aprendizagem, além, é claro, de se conside-
rar que, em geral, as aulas de Educação Física para a Educação Infantil ocorrem
de maneira global, sustentando-se na ludicidade e colaborando efetivamente em
uma ação motora para o desenvolvimento afetivo, social e cognitivo da criança.
Além de considerar a rotina da criança, sua cultura e meio social, também
cabe ao professor ir além e organizar atividades que motive e estimule a criança
a explorar seus movimentos corporais, a aprender a vivenciar experiências que a
auxilie no desenvolvimento de suas habilidades motoras por meio de brincadei-
ras, na qual possa aprimorar, pouco a pouco, suas habilidades, suas potencialida-
des e, assim, alavancar nos processos de desenvolvimento motor.
Toda ação didático-pedagógica do professor de Educação Física deve ser
marcada por constantes reflexões acerca de sua ação docente, entretanto, quando
nos referimos ao trabalho com a Educação Infantil, há que se atentar para o fato
de que a criança é um ser social, em constante transformação e que, portanto,
deve ser considerada sempre de forma global, acenando, sempre, suas potenciali-
dades e colaborando para que possa superar suas fragilidades.

122
LEITURA
COMPLEMENTAR

As discussões acerca da valorização da cultura infantil no ambiente da Educação In-


fantil têm sido uma preocupação latente no campo da pesquisa da Educação Física.
Tendo esse conhecimento, trazemos para você o artigo “Cultura e escola & movimento
e linguagem na educação de crianças pequenas”, resultante da pesquisa da professora
Marynelma Camargo Garanhani, do Programa de Pós-graduação em Educação - PPGE/
UFPR; e da professora da Rede Municipal de Ensino de Curitiba-Pr Lorena Fatima Na-
dolny. Vamos à leitura!
Resumo: Este texto discute o papel da cultura na educação escolar da pequena infância
por meio da pesquisa de autores que compreendem a criança como sujeito histórico
e social, capaz de expressar ideias, sentimentos e de produzir cultura. [...] Além disso,
apresenta proposições sobre o movimento do corpo infantil como uma das linguagens
que a criança se utiliza para apropriação e construção de conhecimentos da e sobre a
cultura que está inserida. Concluiu-se, neste estudo, que a concepção de infância deter-
mina as instituições que proporcionam a educação escolar para as crianças pequenas
e, consequentemente, o trabalho pedagógico desenvolvidos nestes contextos. Ao en-
tendermos que a instituição de Educação Infantil é o meio em que a criança pequena
extrai, experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da inserção
e interação num grupo diferente do seu meio familiar, concluímos que esta escola é
um meio privilegiado para o desenvolvimento da autonomia corporal e vivências de di-
versos modelos de movimentos corporais provenientes da cultura em que se encontra.
Neste cenário, as ações sistematizadas e intencionais poderão proporcionar à criança
pequena o conhecimento e domínio de sua movimentação corporal como uma lingua-
gem que mobiliza e aprimora a sua expressão e comunicação.
[...]

A movimentação do corpo: uma linguagem da criança...


Desde que nascem as crianças se movimentam e, progressivamente, se apropriam
de possibilidades corporais para a interação com o mundo. Por meio do movimento,
aprendem sobre si mesmas, se relacionam com o outro e com os objetos, desenvolvem
suas capacidades e aprendem habilidades. Portanto, o movimento é um recurso utili-
zado pela criança para o seu conhecimento e do meio em que se insere, para expressar
seu pensamento e também experimentar relações com pessoas e objetos.

123
LEITURA
COMPLEMENTAR

O movimento corporal se apresenta na Educação Infantil como uma linguagem, pois


toda a movimentação da criança tem um significado e uma intenção. Palomo (2001)
nos explica que linguagem é um sistema complexo de significação e comunicação e
pode ser de dois tipos: a verbal, cujos sinais são as palavras e a não-verbal, que em-
prega outros sinais que não as palavras, como as imagens, os sons, os gestos. Com
base neste conceito entendemos o movimento como uma linguagem não-verbal que
permite à criança agir no meio em que está inserida, através da expressão de suas
intenções e construção de relações de comunicação. Portanto, o movimento é uma im-
portante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana (BRASIL, 1998) e o corpo
em movimento constitui a matriz básica da aprendizagem infantil (GARANHANI, 2002).
A justificativa para esta afirmação é que a criança necessita agir para compreender e
expressar significados presentes no contexto histórico-cultural em que se encontra, ou
seja, ao transformar em símbolo aquilo que pode experimentar corporalmente, a crian-
ça constrói o seu pensamento primeiramente sob a forma de ação. Por isto, a criança
necessita agir, se movimentar para conhecer e compreender os significados presentes
no seu meio (GARANHANI, 2004).
Neste cenário, a criança utiliza a movimentação do seu corpo como linguagem para
compreender, expressar e comunicar suas ideias, entendimentos, desejos, etc e, este
fato, nos faz (re)pensar uma concepção de Educação Infantil que valorize a movimenta-
ção da criança, não somente como uma necessidade físico-motora do desenvolvimento
infantil, mas também como uma capacidade expressiva e intencional.
Assim, é necessário estar atento ao fazer pedagógico da Educação Infantil que contem-
ple o conhecimento e desenvolvimento de diferentes linguagens, dentre elas o movi-
mento corporal. Mas esta condição está diretamente atrelada à formação de professo-
res responsáveis pela escolarização da pequena infância.
[...]

Fonte: Garanhani e Nadolny (2009).

124
atividades de estudo

1. De acordo com a legislação da Educação In- ( ) Habilidades manipulativas: movimentos de ma-


fantil, considera-se que a primeira infância nipulação motora, como tarefas de arremesso, recep-
é a fase do desenvolvimento da criança que ção, chutes (manipulativas grossas) e costurar, cortar
abrange a idade entre: (manipulativas finas).
a. 0 e 5 anos. ( ) Habilidades manipulativas: são representadas
b. 2 a 4 anos. por movimentos de correr, saltar, rolar e saltitar.

c. 4 e 5 anos. ( ) Habilidades estabilizadoras ou de equilíbrio: a


criança é envolvida em constantes esforços contra a
d. 1 e 6 anos.
força da gravidade na tentativa de manter a postura
e. 1 a 7 anos. vertical. Ex.: girar braços e tronco, flexionar o tronco,
entre outros.
2. Conceitualmente, o desenvolvimento motor a. F, V, F, V, F.
pode ser compreendido como:
b. V, F, F, V, V.
a. Um processo de alterações no nível de fun-
c. V, F, V, F, V.
cionamento de um indivíduo, considerando
a interação entre as exigências da tarefa, da d. V, V, F, F, V.
biologia do indivíduo e o ambiente.
e. V, V, V, V, F.
b. Um processo restrito que ocorre apenas nos
três primeiros anos de vida da criança. 4. Ao elaborar um plano de aula para a Educação
c. Um processo que se dá a partir dos seis anos Física infantil, quais os elementos corporais
de idade da criança. essenciais a serem considerados para o de-
senvolvimento da aula?
d. Um processo que se dá ao longo do tempo e
independe das características do meio.
5. Qual o papel o professor de Educação Física
e. Um processo que independe dos estímulos e para as aulas de Educação Física infantil?
motivações externas.

3. De acordo com Gallahue e Ozmun (2001), as


habilidades motoras fundamentais podem ser
divididas em três categorias. Observe as afir-
mativas a seguir e assinale V para as verda-
deiras e F para as falsas.
( ) Habilidades locomotoras: movimentos que
indicam uma mudança na localização do corpo em
relação a um ponto fixo na superfície. Ex.: caminhar,
correr, saltar, saltitar etc.
( ) Habilidade locomotoras: movimentos que
ocorrem apenas na primeira infância.

125
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Corpo e movimento na Educação Infantil


Vilma Leni Nista-Píccolo e Wagner Wey Moreira
Ano: 2012.
Sinopse: esse livro pretende contribuir para uma compreensão
de aspectos que envolvem o desenvolvimento da criança, a cor-
poreidade associada à criatividade, à importância da motricida-
de, do jogo e do aspecto lúdico nas atividades, entre outros. Oferece um repertório de práti-
ca, aliado a uma base teórica, que poderão proporcionar aos professores melhores práticas
educativas na Educação Infantil.

O começo da vida
Ano: 2016
Sinopse: um dos maiores avanços da neurociência é ter desco-
berto que os bebês são muito mais do que uma carga genéti-
ca. O desenvolvimento de todos os seres humanos se encontra
na combinação da genética com a qualidade das relações que
desenvolvemos e do ambiente onde estamos inseridos. O começo da vida convida todos a
refletirem como parte da sociedade: estamos cuidando bem dos primeiros anos de vida, que
definem tanto o presente quanto o futuro da humanidade?

126
referências

AHMAD, L. A. S. Planejamento na Educação Infan- FONSECA, V. Psicomotricidade. São Paulo: Martins


til: uma construção mediada pela coordenação pe- Fontes, 1983.
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1992. Porto Alegre: Artmed, 1998

128
gabarito

1. A.
2. A.
3. C.
4. Corpo, movimento, expressão corporal e ritmo, entre outros.
5. O papel do professor de Educação Física é essencial, uma vez que contribui tanto
para o desenvolvimento motor quanto afetivo, cognitivo e social da criança.

129
PLANEJANDO AS AULAS PARA AS
SÉRIES INICIAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL

Professora Doutora Vânia de Fátima Matias de Souza


Professor Doutor Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• A Educação Física nas Séries Iniciais a partir das
abordagens educacionais: quem é a criança
• Elementos para a Construção de uma Proposta
Pedagógica: Mapas Conceituais 1° ao 3° anos
• Elementos para a Construção de uma Proposta
Pedagógica: Mapas Conceituais do 4° e 5° anos

Objetivos de Aprendizagem
• Analisar as perspectivas de ação pedagógica para a
Educação Física nas séries iniciais do Ensino Fundamental,
apontando a relação e atuação didático-pedagógica nas
intervenções.
• Apresentar uma proposta pedagógica para a Educação
Física no contexto das séries iniciais.
unidade

V
INTRODUÇÃO

O
Ensino Fundamental no Brasil tem passado por inúmeras transforma-
ções ao longo de sua história, dentre elas, podemos destacar a organi-
zação do ensino. Entenda que, de acordo com a legislação educacional
brasileira, a Lei 4.024/1961 estabeleceu quatro anos de escolaridade
obrigatória; já a Lei 5.692/1971 determinou a extensão da obrigatoriedade para
oito anos; a Lei 9.394/1996 sinalizou para um ensino obrigatório de nove anos de
duração, a iniciar-se aos seis anos de idade, o que, por sua vez, tornou-se meta da
educação nacional pela Lei 10.172/2001, que aprovou o Plano Nacional de Edu-
cação (PNE). Em 2006, a Lei 11.274 institui o Ensino Fundamental de nove anos
de duração com a inclusão das crianças de seis anos de idade.
Com essas mudanças na educação e com o processo de ampliação do Ensino
Fundamental, muitos questionamentos têm surgido. Na Educação Física, esses
questionamentos se dão principalmente acerca do currículo a ser trabalhado:
Quais os conteúdos? Como organizá-los?
Precisamos entender que os conteúdos e práticas pedagógicas trabalhadas
nas séries iniciais do Ensino Fundamental precisam seguir uma estrutura de
planejamento que contemple objetivos, saberes e conhecimentos estabelecidos
para essa etapa de ensino e que correspondam às necessidades e expectativas da
criança em cada fase ou momento de seu desenvolvimento.
Compreendemos que a Educação Física enquanto componente curricular
das séries iniciais do Ensino Fundamental se constitui em um espaço no qual
a relação entre os processos de ensino e aprendizagem partem dos princí-
pios de uma educação de qualidade, centrada nos saberes e conhecimentos
necessários para o desenvolvimento integral da criança. Por isso, conside-
ramos que toda ação pedagógica do professor deve ser tratada a partir da
estrutura e organização de um planejamento adequado às necessidades da
criança. Tendo esse enfoque, preparamos esta unidade para ajudá-lo(a) a
pensar na estrutura e organização para as aulas de Educação Física das
séries iniciais.
Boa leitura!
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

A Educação Física nas Séries Iniciais a


Partir das Abordagens Educacionais:
Quem é a Criança
De acordo com a Lei 11.274/2006, as séries iniciais Entendemos que a infância, enquanto categoria
da educação básica compreendem a ensino realiza- social, engloba a criança em seus múltiplos contex-
do do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Tendo tos e relações históricas e sociais. Por esse motivo,
essa compreensão, nesta unidade, apresentaremos para se discutir os conteúdos escolares, é preciso co-
elementos e apontamentos iniciais que lhe auxiliarão nhecer a criança da qual estamos falando.
na construção do planejamento das aulas de Educa- Precisamos partir do pressuposto de que, para
ção Física, tendo como pressupostos teóricos a com- obtermos uma educação de qualidade, é preciso que
preensão da criança no contexto da sua infância, se tenha um bom planejamento, no qual conste as
com suas características e singularidades próprias. necessidades tanto da criança quanto da escola e da

134
EDUCAÇÃO FÍSICA

sociedade, para que os conteúdos tratados no currí- entendemos que conhecer as caraterísticas desta,
culo possam estar adequados. Assim, ao organizar- os interesses e necessidades de cada momento da
mos a estrutura das aulas de Educação Física para infância permite que as aulas sejam estruturadas
as séries iniciais, temos que nos questionar: quais atendendo as necessidades da criança. Uma vez
as condições para implementar o currículo da Edu- que consideramos que a criança tem sua própria
cação Física? Qual é o papel das aulas de Educação história, que é fruto e produtora de um contexto
Física para as crianças das séries inicias do Ensino social, as aulas passam a apresentar um maior sig-
Fundamental? Qual é o significado dos conteúdos nificado para ela. Tendo essa perspectiva- quando
e atividades selecionadas? Como trabalhar com as consideramos o contexto, as condições concretas
crianças de maneira que sejam considerados seu em que as crianças estão inseridas e onde se dão
contexto cultural, seu desenvolvimento e o acesso suas práticas e interações, a ação educativa passa a
aos conhecimentos? ser mais significativa para a criança, afinal, como
Para iniciarmos a organização e planejamento trabalhamos, o planejamento consiste em um tra-
das aulas da Educação Física, há que se considerar balho orientado às dimensões conceituais, proce-
que a criança traz consigo seus próprios conhecimen- dimentais e atitudinais.
tos de mundo e de si mesma, que são resultantes de
sua história e do meio cultural do qual faz parte. Por REFLITA
isso, é preciso considerar a história das crianças para
a construção da estrutura organizacional das aulas Se entendemos que a Educação Física con-
de Educação Física escolar, afinal, como afirmava tribui para o desenvolvimento integral das
Benjamin (1984, p. 14), as crianças “fazem história crianças, e consta na Lei 9.394/1996 como
componente obrigatório na Educação Básica,
a partir da história”. Por meio das relações sociais, quais os motivos que ainda levam à ausên-
dos jogos e brincadeiras, as crianças são capazes de cia em muitas escolas desse componente
criar e recriar situações, compreender regras, afinal curricular?

a cultura infantil consiste em um processo no qual o


criar, o recriar, o produzir conhecimentos, o trans-
formar e se transformar se dá a partir das interações Entendemos que a ação docente voltada para a or-
cotidianas da criança com o mundo adulto, com o ganização e estruturação do planejamento das au-
universo infantil, nas suas relações de pertencimen- las de Educação Física deve levar em consideração
to, considerando suas relações com o seu tempo e as características individuais da criança, as suas
espaço. Logo, as aulas de Educação Física se cons- relações e interações sociais; afinal, a apropriação
tituem em um ambiente importante para que essas e a influência do meio e das tarefas oportunizadas
interações ocorram de forma significativa para o de- para a criança irão ser elementos importantes em
senvolvimento da criança. sua formação.
Tendo a compreensão de que as aulas de Edu- E, considerando as relevância das interações
cação Física escolar contribuem de forma significa- sociais para o desenvolvimento da criança, Vy-
tiva para o desenvolvimento integral das crianças, gotsky (1996, p. 98) aponta que “[...] as intera-

135
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

ções sociais ocupam a centralidade do processo de REFLITA


desenvolvimen­to do sujeito e são percebidas como
consti­tutivas da sua identidade do sujeito”, o que sig- Entendendo que a criança tem características
nifica dizer que a criança terá, no fluxo do seu de- próprias, mas que o ambiente e as tarefas
senvolvimento, as influências e contribuições decor- oportunizadas influenciam o seu desenvol-
vimento, como deve ocorrer o processo de
rentes das relações sociais que a ela estabelece com ensino e aprendizagem na aulas de Educação
seu meio, pela mediação decorrente das suas intera- Física para as séries iniciais?
ções com outros indivíduos, a partir de um processo
cíclico e histórico.
Também podemos considerar como elementos
que colaboram significativamente para o desenvol- Tendo a compreensão de que o processo de desen-
vimento da criança, as influências exercidas pela volvimento da criança não é algo estático e que de-
cultura, pelas relações sociais e pelo meio. Afinal, a pende de elementos que são derivados do universo
criança, no seu cotidiano escolar, passa a ter rela- que a cerca, é importante ressaltar o fato de que a
ções sociais mais intensas e vai, consequentemente, aquisição e desenvolvimento dos padrões de movi-
por meio dos valores, conceitos, regras e interações mentos da criança são essenciais para o planejar das
com o outro construir sua concepção de mundo, que aulas de Educação Física, afinal, é por meio deles que
pode ser constante­mente reelaboradas e internaliza- o professor consegue integrar a proposta pedagógica
das. Nesse contexto, a aula de Educação Física torna- da escola de acordo com o momento e as necessida-
-se um espaço oportuno para o desenvolvimento da des que a criança se encontra.
criança, isso porque, por meio dos jogos e das brin- Vale destacar que a criança das séries iniciais
cadeiras, a criança interage com o grupo, aprende vai se encontrar, no que Gallahue e Ozmun (2001)
regras, passa pela construção identitária a partir de vão denominar como padrão fundamental de movi-
suas relações. Dessa forma, as aulas de Educação Fí- mentos, considerado um momento em que a criança
sica possibilitam que o desenvolvimento da criança deve receber uma grande oferta de vivências corpo-
seja estimulado, motivado a alavancar, em especial, rais. Isso porque, segundo os autores, a maioria das
pela ampliação e variabilidade das ações motoras ter crianças possui um potencial de desenvolvimento
um desenvolvimento de todas as suas habilidades e que as conduz ao estágio maduro dessas habilida-
potencialidades. des e que a ampliação de ações motoras ofertadas
Afinal, como Gallahue e Ozmun (2001) enfati- possibilitará que a criança vivencie um processo de
zam, o desenvolvimento não só é uma ação única, refinamento e combinação de movimentos, os quais
mas também resultante das interações dos domínios serão responsáveis pela aquisição das habilidades es-
motor, cognitivo e socioafetivo, que ocorrem sempre pecializadas, amplamente utilizadas nas ações mo-
de forma interligadas. Isso porque os três domínios toras especializadas.
se influenciam mutuamente, sendo considerado um
processo permanente, que abrange todas as etapas
da vida do homem.

136
EDUCAÇÃO FÍSICA

Quadro 1 - Elementos da construção dos movimentos motores

Levam-se em conta a utilização dos grupamentos musculares, sendo classificados em


1. Aspectos muscu-
coordenação motora grossa (grandes grupamentos musculares) e coordenação motora
lares
fina (pequenos grupamentos musculares).
Levam-se em conta o tempo no qual o movimento acontece, podendo ser classificados
em movimento:
2. Aspectos temporais
a. Discreto (o início e o fim do movimento é bem definido);
do movimento
b. Em série (movimentos simples repetidos diversas vezes em sucessão rápida); e
c. Contínuo (movimentos repetidos de forma cíclica por um período de tempo).
Levam em conta o contexto onde o movimento acontece, dividindo-se em:
3. Aspectos ambien- a. Tarefa motora aberta (acontece em um ambiente onde as condições estão constan-
tais do movimento temente mudando); e
b. Tarefa motora fechada (ambiente estável ou previsível).
Apesar de todas as tarefas envolverem sempre elementos de equilíbrio, pode-se dividir
os movimentos com base na intenção em:
4. Função intencional a. Tarefa de estabilidade (ganhar ou manter a orientação corporal estável ou realizar
de movimento movimentos axiais, como flexão, alongamento, torção e giro);
b. Tarefas locomotoras (têm por objetivo transportar o corpo de um lugar a outro); e
c. Tarefas de manipulação de objetos (dar ou receber força de um objeto).
Levam-se em conta as fases da aquisição e de aprimoramento do movimento, tais
como:
a. Fase reflexiva (tem característica involuntária, como os movimentos reflexos primiti-
5. Níveis de desenvol-
vos e posturais da infância precoce);
vimento de movi-
b. Rudimentar (movimentos da 1ª infância);
mento.
c. Fundamental (movimentos da 2ª infância); e
d. Especializada (movimentos complexos utilizados por crianças com idade mais avan-
çada, adolescentes e adultos).
Fonte: adaptado de Gallahue e Ozmun (2001).

137
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

É preciso considerar que cada criança apresenta seu


próprio tempo para o desenvolver-se. No entanto,
nas aulas de Educação Física, é preciso considerar
alguns fatores que Gallahue e Ozmun (2001) pro-
põem como essenciais a serem observados, ou seja,
fatores, como como idade, gênero, nível de habilida-
de e o contexto no qual estão inseridas, isso porque
é nessa amplitude de ações que a criança é possibili-
tada de ampliar seu repertório motor de forma gra-
dativa, tendo um avanço significativo em seu com-
portamento motor.

138
EDUCAÇÃO FÍSICA

Quadro 2 - Características da criança das séries iniciais do Ensino Fundamental

Características gerais da criança Características gerais da criança


Teoria de Gallahue e Ozmun (2001) Teoria de Eckert (1993)
A criança na idade dos 6 a 7 anos – fase dos movi- Tarefas dos 6 aos 10 anos – fase de grandes mudan-
mentos fundamentais – maduro. ças: do convívio familiar para o
Principais características: surgimento de múltiplas convívio em um grupo de pares; preferência pelo
formas (correr, saltar, arremessar, receber, quicar, domínio dos jogos; e compreensão do mundo dos
chutar) e suas combinações, que variam conforme as conceitos adultos, o qual requer a aquisição gradu-
atividades e o desempenho das crianças. al das habilidades e da arte da lógica, simbolismo e
A criança na idade dos 7 a 10 anos – fase dos movi- comunicação.
mentos especializados. Transição: início da tentativa
de combinação dos movimentos fundamentais; au-
mento por práticas mais complexas (esportes, danças
e jogos).
Aspectos gerais Aspectos gerais
Aumento rápido e qualitativo do rendimento. Período no qual a criança muda do ambiente pro-
Aumento de disponibilidade variável das formas de tegido do lar para o clima de envolvimento social da
movimento. escola – necessidades de ampliação de atividades
Aumento da capacidade de aplicação em diferentes de socialização por meio de trabalhos, como jogos e
tarefas e situações. brincadeiras em grupo.
Fonte: adaptado de Gallahue e Ozmun (2001) e Eckert (1993).

É preciso entender que o desenvolvimento da criança nação motora é a base para o desenvolvimento de sua
é contínuo e não se traduz de forma exclusiva por capacidade de aprendizagem sensório-motora, logo,
determinantes biológicos ou genéticos. É necessário quanto mais elevado for seu nível de desenvolvi-
ponderar o meio como fator preponderante para o mento, mais rápido e mais seguramente poderão ser
desenvolvimento das habilidades da criança. Dentro aprendidos movimentos novos ou difíceis, com uma
desse contexto, faz-se indispensável considerar que economia de esforço, propiciando melhor orientação
as crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental e precisão (PEREIRA, 2002). Por essa razão, as aulas
que, em geral, estão entre os 6 e os 11 anos de idade, de Educação Física devem oportunizar uma gama de
encontram-se em uma fase na qual a força e habilida- experiências motoras, em que as práticas corporais
des esportivas passam a ser aprendidas e melhoradas possam corroborar significativamente para o desen-
(PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Sua coorde- volvimento de todo esse processo.

139
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Elementos para a Construção


de uma Proposta Pedagógica:
Mapas Conceituais
1º ao 3º Anos
De acordo com Pain (1992, p. 22), “é com o cor- linguagem corporal passa a ser a interlocução do
po que se aprende”. Logo entendemos que as au- seu processo de aquisição desses novos saberes e
las de Educação Física no ambiente escolar são o conhecimentos, que passam a ser inseridos em seu
alicerce central do processo de aprendizagem nas cotidiano escolar.
séries iniciais, com destaque para os 1º, 2º e 3º De acordo com Freire (1989, p. 20), para o pro-
anos, pois é nesse momento que a criança é inseri- cesso de aprendizagem da criança, deve-se conside-
da no universo escolar normatizado e, então, sua rar que “[...] entre os sinais gráficos de uma língua

140
EDUCAÇÃO FÍSICA

escrita e o mundo concreto, existe um mediador, que [...] o ponto de vista dos alunos, os significados
é a ação corporal”. Por essa razão, as aulas de Edu- e valores que eles vinculam às várias atividades
do ensino devem ser considerados pelo profes-
cação Física devem tratar, nos 1º, 2º e 3º anos das
sor, pois a alteridade é um dos princípios pe-
séries inicias do Ensino Fundamental, de vivências e dagógicos que deve orientar a Educação Física.
ações motoras que tenham o foco na ludicidade, na
interação com o meio, mas que sejam atividades que Para o desenvolvimento das aulas dos 1º, 2º e 3º anos
possibilitem à criança alavancar no seu processo de das séries inicias, é de grande importância conside-
aquisição de novas habilidades. rar os valores educativos em cada atividade propos-
Nessa fase escolar, a criança ainda é muito lú- ta. Estando ou não centrada no ato do brincar ou da
dica e, por esse motivo, busca por atividades que dimensão lúdica, a atividade deve primar por valo-
evoquem o brincar, que são próprias da cultura in- res pedagógicos sustentados por uma prática forma-
fantil. Esse pode ser um elemento inicial a ser con- tiva, em que a criança seja oportunizada a aprender
siderado no planejar das aulas de Educação Física novos padrões, gestos ou movimentos motores e, ao
escolar, uma vez que, segundo Vygotsky (2000), pela mesmo tempo, seja possibilitada, por meio das ativi-
brincadeira, a criança vincula-se com o mundo que dades, a modificar as representações por ela apren-
a cerca, podendo interferir e ser interferida direta- didas, o que significa dizer que as aulas de Educa-
mente durante a atividade. Por essa razão, os jogos ção Física, para esses anos escolares, deve-se centrar
motores são elementos essenciais por contribuírem na qualidade e diversidade de atividades propostas,
para a sociabilização e o desenvolvimento da apren- tendo como pressupostos a valorização da criança
dizagem das crianças nessa fase. de forma participativa na aula.
Nesse contexto, é preciso que o professor, ao A seguir, apresentamos um quadro com os ob-
planejar suas aulas de Educação Física, considere os jetivos a serem considerado no desenvolvimento e
conhecimentos e saberes trazidos pelas crianças, afi- estruturação das aulas de Educação Física Escolar
nal, como afirmam Betti e Liz (2003, p. 135), para as séries iniciais.

Quadro 3 - Objetivos da Educação Física nas séries iniciais

Eixos Objetivos 1° a 5° ano das séries iniciais do Ensino Fundamental


Movimento e a Organizar situações de vivências corporais e estudos que possibilitem a compreensão em
corporeidade ser um corpo em movimento e em constantes interações com objetos e pessoas.
O movimento e os Favorecer o estudo e a vivência de manifestações lúdicas e esportivas como integrantes
jogos da cultura motora, contribuindo com o processo de construção da motricidade.
O movimento em Promover a compreensão do movimento rítmico como forma de expressão corporal e de
expressão e ritmo representação social, valorizando-o em diversas manifestações culturais.
Possibilitar o entendimento e envolvimento da interação entre a ação motora e a saúde,
O movimento e a
destacando os benefícios que esses conhecimentos podem trazer para a melhora da
saúde
qualidade de vida.
Fonte: Palma, Oliveira e Palma (2010, p. 74).

141
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

SAIBA MAIS

Daolio (1996) discute a relevância dos aspec-


tos culturais da construção do campo da Edu-
cação Física escolar, apontando as relações
históricas que influenciam sobremaneira a
forma de se conceber as aulas na realidade
escolar. Segundo o autor, entendemos que a
Educação Física Escolar é uma prática cultu-
ral, com uma tradição respaldada em certos
valores. Ela ocorre historicamente em um
certo cenário, com um certo enredo e para um
certo público, que demanda uma certa expec-
tativa. É justamente isso que faz a Educação
Física escolar ser o que é. Sendo uma prática
tradicional, ela possui certas características,
muitas vezes inconscientes para seus atores.
Em outras palavras, existe um certo estilo de
dar aulas de Educação Física, estilo que é, na
maioria das vezes, valorizado pelos alunos,
comunidade e direção da escola.

Fonte: os autores.

Eixo: Eixo:
o movimento em ritmo movimento e
e expressão corporeidade

1º Ano
Brincadeiras Movimentos em
cantadas: construção e estruturação
representação original Eixo: Lançar e
representação criativa movimento e agarrar:
os jogos com uma
mão; para • Andar: em diferentes formas
frente; no
Brincadeiras Participar de solo; • Correr: em diferentes velocidades
populares: jogos com as e direções
tradicionais simbílicos duas mãos
na família com um • Rolar: decúbito ventral, dorsal para
pé. frente e para trás
• Saltar: com os dois pés lateralmente
com um pé em altura

Figura 1 – Mapa conceitual: conteúdos para o 1º ano


Fonte: os autores.

142
EDUCAÇÃO FÍSICA

Eixo: Eixo:
o movimento ritmo movimento e a
e em expressão corporeidade

2º Ano
Danças populares: Movimentos
origem, música,
movimento
Eixo:
o movimento • Girar: sobre os dois pés (no mesmo lugar);
e os jogos para direita; para esquerda
• Sustentar: em pé (frontal, dorsal, lateral);
Brincadeiras Jogos com sentado; de joelhos
cooperativas: regras simples
• Estender: partes do corpo, o corpo todo
em pequenos
e médios grupos • Empurrar: com as duas mãos (para cima,
para baixo, lateralmente); com uma mão
• Rebater: com uma mão, com as duas,
com o pé, com a perna
Figura 2 – Mapa conceitual: conteúdos para o 2º ano
Fonte: os autores.

Eixo: Eixo:
o movimento nas manifestações movimento e a
lúdicas e esportivas corporeidade

3º Ano
Movimentos
• Ginástica:
• Rolamentos: para Eixo:
frente e para trás o movimento e os jogos • Conduzir: com as mãos, para frente,
• Vela simples para trás, para direita/esquerda

• Estrela: executar • Chutar: com a ponta dos pés; com a


no solo; ultrapassar lateral interna/externa, com o calcanhar,
um objeto Brincadeiras Jogos com com o peito do pé, com o objeto
cooperativas: regras parado/em movimento
em grandes
grupos

Figura 3 – Mapa conceitual: conteúdos para o 3º ano


Fonte: os autores.

A organização apresentada nos mapas conceituais permitem a compreensão de


uma organização prévia dos conteúdos que devem ser trabalhados com a criança
nos 1º, 2º, e 3º anos das séries iniciais do Ensino Fundamental.

143
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Elementos para a Construção


de uma Proposta Pedagógica:
Mapas Conceituais
do 4º e 5º Anos
A Educação Física escolar tem se constituído en- ças com 9 e 10 anos de idade, que se encontram nos
quanto um componente curricular que possibilita 4º e 5º anos, deve ter a perspectiva da formação in-
a articulação dos saberes e conhecimentos teórico tegral da criança, contemplando suas necessidades
e práticos e a articulação da experimentação inter- biológicas e culturais. Por esse motivo, é importante
disciplinar, em especial nas séries iniciais do Ensino romper com a dicotomia corpo e mente, tratada nas
Fundamental. aulas de Educação Física, para esse nível de ensino,
Vale lembrar que a construção dos objetivos e uma vez que a aula deve ser um momento de cons-
finalidades da Educação Física escolar, para as crian- trução da autonomia e da criticidade da criança a

144
EDUCAÇÃO FÍSICA

partir do movimento. Segundo Melo e Urbanetz forma como deve ocorrer o processo de sistematiza-
(2008), a aprendizagem que ocorre no ambiente es- ção dos saberes tratados nas aulas. Isso porque, ao se
colar se dá de forma organizada e considera tanto estabelecer essas relações com as demais ações de-
as condições específicas para a transmissão e assi- sencadeadas no ambiente escolar, é possível integrar
milação de conhecimentos e habilidades quanto a a Educação Física com os demais saberes e conheci-
organização intencional, planejada e sistemática das mentos tratados nas demais áreas.
finalidades, além das condições das aulas no am- Tendo essa perspectiva, na sequência, traze-
biente escolar. mos uma proposta de organização e sistematiza-
Por esse motivo, para a organização e estrutura- ção dos conteúdos que devem ser tratados como
ção das aulas para os 4º e 5º anos das séries iniciais, é elementos básicos das aulas de Educação Física
preciso considerar sempre os objetivos da Educação Escolar nos 4º e 5º anos das séries iniciais do En-
Física Escolar, a proposta pedagógica da escola e a sino Fundamental.

Eixo:
movimento e a
corporeidade

4º Ano
Movimentos
Eixo:
o movimento nas manifestações Eixo:
lúdicas e esportivas o movimento • Conduzir com os pés:
e os jogos para frente, para trás,
para direita/esquerda
Ginástica:
• Combinações: · andar e chutar
• Rolamentos: para Jogos
cooperativos · correr e saltar
frente com as pernas
estendidas/ com as · correr e chutar
pernas estendidas · correr e arremessar
e afastadas
· correr e receber
• Rolamentos: para
trás com as pernas · correr e transportar
unidas e estendidas · lançar e receber
• Estrela · saltar e arremessar
• Ponte
• Parada de mãos

Figura 4 - Mapa conceitual dos conteúdos dos 4° ano das séries iniciais
Fonte: os autores.

145
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

• Corpo e atividade física


• Aspectos relacionados à atividade
física e saúde
• Efeitos dos exercícios anaeróbicos e
Eixo aeróbicos sobre o corpo

Eixo:
o movimento nas manifestações 5º Ano Eixo:
lúdicas e esportivas o movimento e
os jogos

• Jogos cooperativos
• Iniciação às lutas
• Ginástica: elementos básicos • Jogos recreativos
• Dança: danças brasileiras e
populares
• Práticas corporais: skate, escalada

Figura 5 - Mapa conceitual dos conteúdos dos 5° ano das séries iniciais
Fonte: os autores.

Ao observar os mapas conceituais apresentados É evidente que esse processo de ensino e apren-
para o 4° e 5° anos das séries iniciais, lembre-se de dizagem nas aulas de Educação Física escolar está
que, para além das dimensões procedimentais tra- centrados nas questões motoras, afinal, como diz
tadas nas aulas, é preciso ter como foco o desen- Canfield (2000), não é possível negar a importân-
volvimento dos aspectos conceituais e atitudinais cia de se trabalhar o aspecto motor no decorrer da
durante as aulas, isso porque, para Zabala (1998), infância do ser humano. Assim, as salas de Educa-
educar significa trabalhar em prol da formação do ção Física (enquanto um espaço de intervenção que
homem de forma integral. Por essa razão, as fina- possibilita e oportuniza de maneira efetiva a vivên-
lidades e objetivos devem ser explícitos e claros cia motora por meio de jogos, atividades lúdicas e
para que possam ser desenvolvidos de acordo com esportivas e conhecimentos sobre saúde) colaboram
as necessidades e expectativas de todos os envolvi- como fatores essenciais para o processo de desenvol-
dos no processo. vimento da criança do 4º e 5º anos das séries iniciais
do Ensino Fundamental.

146
EDUCAÇÃO FÍSICA

SAIBA MAIS
Outro fator a ser considerado é o fato de que a esco-
la da atualidade deve atender a demandas próprias.
O processo de ensino caracteriza-se pela Etchepare (2000) afirma que é preciso compreender
combinação de atividades do professor e dos que a escola da atualidade tem como objetivo prin-
alunos. Estes, pelo estudo das matérias, sob
a direção do professor, vão atingindo pro- cipal desenvolver, no aluno, as características neces-
gressivamente o desenvolvimento de suas sárias para uma ação efetiva e participação ativa na
capacidades mentais. A direção eficaz desse sociedade. Nesse contexto, a Educação Física esco-
processo depende do trabalho sistematiza-
do do professor que, tanto no planejamento lar trata, por meio da apropriação do movimento e
como no desenvolvimento das aulas, conjuga das relações culturais, condições para que a criança
objetivos, conteúdos, métodos e formas or- vivencie e experiencie formas diversificadas para os
ganizativas do ensino.
movimentos, possibilitando que esse movimento te-
Fonte: adaptado de Libâneo (1994). nha significados próprios na relação da criança com
o seu dia a dia.

147
considerações finais

C
omo vimos, as aulas de Educação Física escolar para os primeiros anos
da séries iniciais do Ensino Fundamental se dá pela constituição e arti-
culação entre o movimento, a cultura e os interesses da criança, afinal
ela é o ponto central das aulas. O professor é, nesse contexto, o agente
de transformação responsável por oportunizar que haja uma inter-relação entre
os saberes tratados por meio do movimento e sua interlocução com o cotidiano
da vida da criança.
Tendo essa compreensão, os mapas conceituais apresentados nesta unidade
trouxeram a possibilidade de uma estruturação de aulas centradas em movimen-
tos que consideram os contextos das crianças, trazendo eixos de aprendizagem
que apresentam uma prática pedagógica que valoriza as relações e interações da
criança com o universo que a cerca.
Entendemos que a criança, que se encontra nas séries iniciais do Ensino Fun-
damental, tem uma maior facilidade com o processo de aprendizagem e com a
compreensão do universo que a cerca por meio do movimento, pois, nas aulas
de Educação Física, a criança é possibilitada a explorar o seu corpo no espaço
mediante à interação com o meio. Isso porque os atos motores auxiliam a crian-
ça a exteriorizar seu desenvolvimento decorrente das suas dimensões: cogniti-
va, corporal, afetiva, ética, estética, interpessoal e biológica. Afinal, como alerta
Vygotsky (1996), o desenvolvimento da criança não só ocorre no meio escolar,
mas também das interações dos fatores, como a hereditariedade, crescimento or-
gânico, maturação neurofisiológica e o meio social. Assim, as aulas de Educação
Física escolar intensificam a relação entre o ser e o desenvolver da criança.
Encerramos esta unidade tendo a perspectiva de que você tenha compreen-
dido que as aulas de Educação Física escolar devem seguir uma sequência lógica
e sistematizada de tal forma que os movimentos se completem e colaborem para
o desenvolvimento das potencialidades da criança.

148
atividades de estudo

1. A Educação Física escolar deve seguir uma organização e estruturação


sistemática, sustentada em objetivos, que devem ser claros e coerentes.
Sabendo desse fato, cite os principais objetivos da Educação Física
escolar.

2. Quais as principais dimensões do conhecimento devem estar presentes


na organização do planejamento das aulas de Educação Física das séries
iniciais?

3. Sabendo que a criança deve ser considerada de forma integral nas aulas
de Educação Física escolar, quais os elementos que devem ser conside-
rados no processo de elaboração das atividades com foco na aprendi-
zagem significativa da criança?

4. Qual a importância da cultura para a construção das aulas de Educação


Física no Ensino Fundamental?

5. Qual o papel do planejamento para o sucesso das aulas de Educação Física


no Ensino Fundamental?

149
LEITURA
COMPLEMENTAR

As discussões e reflexões acerca das ações no campo da construção da Educação Física


escolar têm se dado ao longo da história a partir de diferentes vertentes pedagógicas.
Sabendo desse fato, apresentamos a você uma reflexão levantada pelos professores
Marcos Garcia Neira e Mario Luiz Ferrari Nunes. Vale a pena a leitura do texto.

CONTRIBUIÇÕES DOS ESTUDOS CULTURAIS PARA O CURRÍCULO DA


EDUCAÇÃO FÍSICA

Neste começo de século, a democratização dos contextos educacionais remete, por um


lado, ao questionamento dos currículos em vigor em grande parcela das escolas, dado
seu tratamento privilegiado aos elementos provenientes da cultura dominante e, por
outro, à necessária inserção e problematização daqueles conhecimentos advindos das
culturas subordinadas (HALL, 2003).
As investigações sobre o currículo inspirados nos Estudos Culturais (EC) retificam seu
papel decisivo na constituição de identidades. O acesso a certos conhecimentos e não
outros, fazendo uso de certas atividades e não outras, termina por posicionar o aluno
de uma determinada forma diante das “coisas” do mundo, influenciando fortemente as
representações construídas. Nessa vertente, o currículo é concebido como campo de
lutas para validação de modos de ser, o currículo forja identidades (SILVA, 2007).
Resultado de lutas travadas em meio a relações de poder tecidas no âmbito de con-
textos culturais e sociais o debate curricular subsidiado pelo campo teórico dos EC,
pode-se dizer, tem recebido pouca atenção da comunidade acadêmica da Educação
Física. Ou seja, os alertas emitidos por Silva (2000 e 2007) vêm sensibilizando grada-
tivamente a área.
Considerando que toda decisão curricular é uma decisão política e que o currículo pode
ser visto como um território de disputa em que diversos grupos atuam para validar co-
nhecimentos (SILVA, 2007), é lícito afirmar que, ao promover o contato com determina-
dos textos culturais, o currículo, além de viabilizar o acesso e uma gradativa compreen-
são dos conteúdos veiculados, influencia nas formas de interpretar o mundo, interagir
e comunicar ideias e sentimentos.

150
LEITURA
COMPLEMENTAR

A partir dos EC, o currículo da Educação Física também pode ser imaginado sob o mo-
delo da textualidade. Enquanto texto, envolve práticas, estruturas institucionais e as
complexas formas de atividade que estas requerem, condições legais e políticas de
existência, determinados fluxos de poder e conhecimento, bem como uma organiza-
ção semântica específica de múltiplos aspectos. Simultaneamente, esse texto só existe
dentro de uma rede de relações intertextuais (a rede textual da cultura corporal, da cul-
tura escolar, da prática pedagógica). Trata-se de uma entidade ontologicamente mista
e para a qual não pode haver nenhuma forma “correta” ou privilegiada de leitura. Tal
perspectiva questiona e ajuda a compreender o privilégio que determinados grupos
possuem para fazer valer suas concepções de mundo, sociedade e práticas corporais,
por exemplo. É justamente esse aspecto, mais do que qualquer outra coisa, que de-
sencadeou o interesse por investigar as principais produções dos EC e garimpar suas
contribuições mais relevantes, a fim de esboçar encaminhamentos para a construção e
o desenvolvimento de currículos da Educação Física.
Em tempos de repetidas críticas aos diversos modelos curriculares em voga e diante
da tentativa de transformar a realidade social brasileira tão desigual, os EC fornecem
subsídios para afirmar o caráter político do currículo da Educação Física, ao incitar uma
investigação mais rigorosa que busque desvelar como se dão os processos de identifi-
cação/diferenciação travados no seu interior. Para os EC, revelar os mecanismos pelos
quais se constroem determinadas representações é o primeiro passo para reescrever
os processos discursivos e alcançar a formação de outras identidades (NELSON; TREI-
CHLER; GROSSBERG, 1995). Compreender melhor seus fundamentos é, como diz Cora-
zza (2006), o primeiro passo para artistar currículos da Educação Física comprometidos
com uma construção identitária mais democrática.

Fonte: Neira e Nunes (2011, p. 672-673).

151
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

Esporte como conhecimento e prática nos anos ini-


ciais do Ensino Fundamental
Vilma L. Nista-Piccolo e Wagner Wey Moreira
Ano: 2012
Sinopse: nesse livro, os autores propõem reflexões acerca da
Educação Física escolar praticada nos anos iniciais do Ensino
Fundamental. Amparados em amplas pesquisas e acompanhamentos de práticas em es-
colas, levantam questões para se pensar criticamente o modo como as noções de esporte
e corporeidade são encaradas hoje por professores de todas as áreas, e contribuem para
uma nova visão e estruturação da disciplina, ressaltando o valor de seus saberes como com-
ponente imprescindível na formação integral dos alunos. Com considerações abrangentes
sobre tais noções, o livro é, ainda, enriquecido com um repertório de atividades como suges-
tões diversificadas para aulas pautadas na construção de novos conhecimentos.

A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obri-


gatório da educação básica. A série apresentada pela TV Escola enfoca a disciplina por meio
das atividades físicas realizadas nos centros escolares sob um outro ângulo: atletas, profes-
sores e especialistas mostram como a prática esportiva pode contribuir para a formação da
cidadania. Cada programa contém uma sugestão de jogos ou atividades físicas e explicações
de como produzir os materiais necessários para essas atividades.
Acesse o link disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br/tve/videoteca/serie/esporte-na-es-
cola>.

152
referências

BENJAMIN, W. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Sum-


mus, 1984.
BETTI, M.; LIZ, M. T. F. Educação Física Escolar: a perspectiva de alunas do en-
sino fundamental. Motriz, Rio Claro, v. 9, n. 3, p. 135-142, set./dez. 2003.
BOULCH, J. L. Educação psicomotora. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.
BRASIL. Lei 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Edu-
cação e dá outras providências. Presidência da República, 2001. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm>. Acesso em:
03 ago. 2017.
______. Lei n° 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30,
32 e 87 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes
e bases da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para
o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de
idade. Presidência da República, 2006. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11274.htm>. Acesso em: 04 out. 2017.
______. Lei n° 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases
da Educação Nacional. Presidência da República, 1961. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4024.htm>. Acesso em: 05 out. 2017.
______. Lei n° 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para
o ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências. Presidência da Re-
pública, 1971. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L5692.htm>. Acesso em: 04 out. 2017.
______. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes
e bases da educação nacional. Presidência da República, 1996. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em:
04 out. 2017.
CANFIELD, M. S. A Educação Física nas séries iniciais: paralelo entre 15 anos.
Revista Kinesis, Santa Maria, n. 23, p. 87-102, 2000.
DAOLIO, J. Educação Física escolar: em busca da pluralidade. Rev. Paul. Educ.
Fís., São Paulo, supl. 2, p. 40-42, 1996.
ECKERT, H. M. Desenvolvimento motor. 3. ed. São Paulo: Manole, 1993.

153
referências

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estadual, particular e federal de ensino de Santa Maria. 2000. Dissertação (Mes-
trado em Ciência do Movimento Humano) – Centro de Educação Física e Des-
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PALMA, A. P. T. V.; OLIVEIRA, A. A. B.; PALMA, J. A. V. Educação Física e a
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PEREIRA, C. O. Estudo dos parâmetros em crianças de 02 e 06 anos de idade na
cidade de Cruz Alta. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Huma-
no) - Centro de Ciências da Saúde e do Esporte, Universidade do Estado de Santa
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VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1996.
ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

154
gabarito

1. Organizar situações de vivências corporais e estudos que possibilitem a compreen-


são em ser um corpo em movimento e em constantes interações com objetos e
pessoas. Favorecer o estudo e a vivência de manifestações lúdicas e esportivas como
integrantes da cultura motora, contribuindo com o processo de construção da motri-
cidade. Promover a compreensão do movimento rítmico como forma de expressão
corporal e de representação social, valorizando-o em diversas manifestações cultu-
rais. Por fim, possibilitar o entendimento e envolvimento da interação entre a ação
motora e a saúde, destacando os benefícios que esses conhecimentos podem trazer
para a melhora da qualidade de vida.
2. Deve-se considerar as dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais para a
opção e desenvolvimento das aulas de Educação Física escolar.
3. Deve-se considerar os fatores hereditários, culturais, biológicos e ambientais.
4. Valorizar a cultura é de suma importância uma vez que se passa a valorizar os co-
nhecimentos da própria criança para a construção das aulas.
5. O planejamento é essencial para garantir que os objetivos sejam alcançados com
êxito e as aulas tenham grande qualidade no seu ensino.

155
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS

conclusão geral

Caro(a) aluno(a), Outro destaque que acreditamos ser de grande


Chegamos ao final de mais uma jornada, espe- relevância é que os mapas conceituais podem opor-
ramos que você possa ter compreendido o papel re- tunizar que você tenha uma dinâmica e uma sequ-
levante que a Educação Física ocupa na Educação ência nos conteúdos abordados, permitindo, assim,
Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental. que o ensino da Educação Física escolar possa ser,
Além disso, vimos a importância do compromisso e para a criança, um momento de conhecimentos e
comprometimento do professor para a ação pedagó- aprendizagens significativas.
gica do cotidiano das aulas. Ouse em suas aulas, seja criativo(a), afinal
Esperamos que você tenha compreendido que o de contas, estamos trabalhando com a criança,
planejamento é a ação essencial quando temos como e tanto na Educação Infantil quanto nas séries
foco a construção de uma Educação Física escolar de inicias elas anseiam por experimentar, vivenciar,
qualidade. Você deve ter percebido que o planeja- descobrir e criar novas possibilidades. Suas re-
mento possibilita o desenvolvimento e organização lações com o corpo e com o movimento são o
da ação docente. Por esse motivo, ele deve ser flexí- caminho mais rápido para esse aprender. Então,
vel, pois irá direcionar todo o processo de ensino e não exite, seja criativo!
aprendizagem nos anos escolares. Sucesso em sua caminhada.
Trouxemos, para você, caminhos que foram Abraços
apresentados por meio dos mapas conceituais e as
orientações de trabalho com a Educação Infantil e Profª. Dra. Vânia de Fátima Matias de Souza e
com as séries iniciais que lhe darão suporte para que Prof. Dr. Amauri Aparecido Bassoli de Oliveira.
possa compreender que as aulas de Educação Física
devem ser planejadas considerando a realidade coti-
diana da criança e da escola.

156

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