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Comunicação entre as células nervosas


Por Silvia Helena Cardoso, PhD

Introdução
Todas as nossas sensações, sentimentos, pensamentos,  respostas motoras e emocionais, a
aprendizagem e a memória, a ação das drogas psico-ativas, as causas das doenças mentais, e
qualquer outra função ou disfunção do cérebro humano não poderiam ser compreendidas sem o
conhecimento do fascinante processo de comunicação entre as células nervosas (neurônios). Os
neurônios precisam continuamente coletar informações sobre o estado interno do organismo e
de seu ambiente externo, avaliar essas informações e coordenar atividades apropriadas à
situação e às necessidades atuais da pessoa.
Como os neurônios processam essas informações?

Isso ocorre essencialmente graças aos impulsos nervosos.  Um impulso nervoso é a transmissão
de um sinal codificado de um estímulo dado ao longo da membrana do neurônio, a partir de seu
ponto de aplicação. Os impulsos nervosos podem passar de uma célula a outra, criando assim
uma cadeia de informação dentro de uma rede de neurônios.

Dois tipos de fenômenos esão envolvidos no processamento do impulso nervoso: os elétricos e


os químicos. Os eventos elétricos propagam o sinal dentro de um neurônio, e os eventos
químicos transmitem o sinal de neurônio a outro ou para uma célula muscular. O processo
químico de interação entre os neurônios e entre os neurônios e células efetoras acontecem na
terminação do neurônio, em uma estrutura chamada sinapse. Aproximando-se do dendrito de
outra célula (mas sem continuidade material entre ambas as células), o axônio  libera
substâncias químicas chamadas neurotransmissores, que ligam-se aos receptores químicos do
neurônio seguinte e promove mudanças excitatórias ou inibitórias em sua membrana.

Portanto, os neurotransmissores possibilitam que os impulsos nervosos de uma célula influencie


os impulsos nervosos de outro, permitindo assim que as células do cérebro "conversem entre si",
por assim dizer. O corpo humano desenvolveu um grande número desses mensageiros químicos
para facilitar a comunicação interna e a transmissão de sinais dentro do cérebro. Quando tudo
funciona adequadamente, as comunicações internas acontecem sem que sequer tomemos
consciência delas.

Uma compreensão da transmissão sináptica é a chave para a o entendimento das operações


básicas do sistema nervoso a nível celular. O sistema nervoso controla e coordena as funções
corporais e permite que o corpo responda, e aja sobre o meio ambiente. A transmissão sináptica
é o processo chave na ação interativa do sistema nervoso

Nós já vimos o processo elétrico do impulso nervoso no artigo anterior. Nesse número, vamos
examinar mais em detalhes como a sinapse e os neurotransmissores funcionam.

Sinapse: O ponto de encontro entre neurônios

Dado que os neurônios formam uma rede de atividades elétricas, eles de algum modo têm que
estar interconectados. Quando um sinal nervoso, ou impulso, alcança o fim de seu axônio, ele
viajou como um potencial de ação ou pulso de eletricidade. Entretanto, não há continuidade
celular entre um neurônio e o seguinte;  existe um espaço chamado sinapse. As membranas das
células emissoras e receptoras estão separadas entre si pelo espaço sináptico, preenchido por
um fluido. O sinal não pode ultrapassar eletricamente esse espaço. Assim, substâncias químicas
especias, chamadas neurotransmissores, desempenham esse papel. Elas são liberadas pela
membrana emissora pré-sináptica e se dinfundem através do espaço para os receptores da
membrana do neurônio receptor pós-sináptico. A ligação dos neurotransmissores para esses
receptores tem como efeito permitir que íons (partículas carregadas) fluam para dentro e para
fora da célula receptora, conforme visto no artigo sobre condução nervosa.

A direção normal do fluxo de informação é do axônio terminal para o neurônio alvo, assim o
axônio terminal é chamado de pré-sináptico (conduz a informação para a sinapse) e o neurônio
alvo é chamado de pós-sináptico (conduz a informação a partir da sinapse).

Tipos de sinapses

A sinapse típica, e a mais frequente, é aquela na qual o axônio de um neurônio se conecta ao


segundo neurônio através do establecimento de contatos normalmente de um de seus dendritos
ou com o corpo celular. Existem duas maneiras pelas quais isso pode acontecer: as sinapses
elétricas e as sinapses químicas.
A Sinapse elétrica
 
 
A maioria das sinapses dos mamíferos
são sinapses químicas, mas existe uma
forma simples de sinapse elétrica que
permite a transferência direta da
corrente iônica de uma célula para a
célula seguinte. As sinapses elétricas
ocorrem em locais especializados
chamados junções. Elas formam canais
que permitem que os ions passem
diretamente do citoplasma de uma célula
para o citoplasma da outra. A
transmissão nas sinapses elétricas é
muito rápida; assim, um potencial de
ação no neurônio pré-sináptico, pode
produzir quase que instantaneamente um
potencial de ação no neurônio pós-
sináptico. Sinapses elétricas no sistema
nervoso central de mamíferos, são
encontradas principalmente em locais
especiais onde funções normais exigem
Uma junção de fendas. (a) Neuritos de duas células que a atividade dos neurônios vizinhos
conectadas seja altamente sincronizada. Embora as
junções sejam relativamente raras entre
os neurônios de mamíferos adultos, eles
são muito comuns em uma grande
variedade de células não neurais,
inclusive as células do músculo liso
cardíaco, células epiteliais, algumas
células glandulares, glia, etc. Elas
também são comuns em vários
invertebrados.

A sinapse química

Nesse tipo de sinapse, o sinal de entrada é transmitido quando um neurônio libera um


neurotransmissor na fenda sináptica, o qual é detectado pelo segundo neurônio através da
ativação de receptores situados do lado oposto ao sítio de liberação. Os neurotransmissores são
substâncias químicas produzidas pelos neurônios e utilizadas por eles para transmitir sinais para
outros neurônios ou para células não-neuronais (por exemplo, células do músculo esquelético,
miocárdio, células da glândula pineal) que eles inervam.

A ligação química do neurotransmissor aos receptores causa uma série de mudanças


fisiológicas no segundo neurônio que constituem o sinal. Normalmente a liberação do primeiro
neurônio (chamado pré-sináptico) é causado por uma série de eventos intracelulares evocados
por uma despolarização de sua membrana, e quase que invariavelmente quando um potencial de
ação é gerado.
 
 

 Sinapse. Quando um
impulso elétrico ao viajar
para a "cauda" da célula,
chamado axônio", chega a
seu término, ele dispara
vesículas que contêm um
neurotransmissor as quais
movem-se em direção a
membrana terminal. As
vesículas se fundem com a
membrana terminal para
liberar seus conteúdos.
Uma vez na fenda sináptica
(o espaço entre dois
neurônios) o
neurotransmissor pode
ligar-se aos receptores
(proteínas específicas ) na
membrana de um neurônio
vizinho.

Diagrama e micrografia de
uma sinapse de uma junção
neuromuscular da mosca da
fruta. 
1- Vesículas sinápticas; 
2- Neurônio pré-sináptico
(axônio terminal); 
3- Fenda sináptica ; 
4- Neurônio pós-sináptico.

Foto: De Synaptic function, por Kendal


Broadie, PhD, Univ. Utah. Reprodução
autorizada. Diagrama: Silvia Helena Cardoso,
PhD. Univ. Campinas, Brasil

 
 
 
O que dispara a liberação de um
neurotransmissor?

Algum mecanismo deve existir


através do qual o potencial de
ação causa a liberação do
transmissor armazenado nas
vesículas sinápticas para a
fenda sináptica.

O potencial de ação estimula a


entrada de Ca2+, que causa a
adesão das vesículas sinápticas
aos locais de liberação, sua
fusão com a membrana
Veja a animação 
plasmática e a descarga de seu
suprimento de transmissor. O
transmissor se difunde para a
célula alvo, onde se liga à uma
proteína receptora na superfície
externa da membrana celular.
Após um breve período o
transmissor se dissocia do
receptor e a resposta é
terminada. Para impedir que o
transmissor associe-se
novamente a um receptor e
recomece o ciclo, o tranmissor,
ou é destruído pela ação
catabólica de uma enzima, ou é
absorvido, normalmente na
terminação pré-sináptica. Cada
neurônio pode produzir
somente um tipo de
transmissor. 

Categorias de sinapses químicas

Existem dois tipos de sinapses químicas, de acordo com o efeito que causam no elemento pós-
sináptico:
 
Sinapses excitatórias

Sinapses excitatórias causam uma


mudança elétrica excitatória no potencial
pós-sináptico (EPSP). Isso acontece
quando o efeito líquido da liberação do
transmissor é para despolarizar a
Um impulso chegando no terminal pré-sináptico membrana, levando-o a um valor mais
provoca a liberação do neurotransmissor. A. As próximo do limiar elétrico para disparar um
moléculas ligam-se aos canais de íon, cuja abertura é potencial de ação. Esse efeito  é
controlada pelo transmissor, na membrana pós-
tipicamente mediado pela abertura dos
sináptica. Se o Na+ entra na célula pós-sináptica
através dos canais abertos, a membrana se tornará canais da membrana (tipos de poros que
despolarizada. atravessam as membranas celulares para
B. As moléculas ligam-se aos canais de íon, cuja os íons cálcio e potássio.
abertura é controlada pelo pelo transmissor, na
membrana pós-sináptica. Se o Cl- entra a célula pós- Sinapses inibitórias
sináptica, através dos canais abertos, a membrana se
tornará hiperpolarizada. A mudança resultante no
As sinapses inibitórias causam um
potencial da membrana, conforme registrado através
de um microeletrodo na célula é visto na figura abaixo potencial pós-sináptico inibitório (IPSP),
(Geração de um EPSP e IPSP). porque o efeito líquido da liberação do
transmissor é para hiperpolarizar a
membrana, tornando mais difícil alcançar o
potencial de limiar elétrico. Esse tipo de
sinapse inibitória funciona graças à
abertura de diferentes canais de ions na
membranas: tipicamente os canais cloreto
(Cl-) ou potássio (K+).
 
 
 
 
Nessa figura, o registro
do potencial elétrico
transmembrana em
função do tempo (em
vermelho) mostra que
há uma deflexão
gradual para cima do
traçado quando uma
sinapse excitatória
(EPSP) é ativada. O
fluxo de íons causa a
despolarização, i.e, a
membrana torna-se
menos polarizada.
Lembre-se que
normalmente a face
externa da membrana é
Geração de um EPSP e IPSP. negativa em relação ao
interior, e que o
potencial de repouso da
membrana pós-
sináptica é cerca de -70
milivolts. Qualquer
despolarização diminui
esse valor, tornando-o
menos negativo, e
portanto causando uma
deflexão para cima
(mais próxima ao nível
zero).

O registro do potencial
de membrama para o
potencial pós-sináptico
inibitório (IPSP: em
verde) mostra uma
hiperpolarização, i.e.,
uma deflexão para
baixo no traçado porque
ele torna-se mais
negativo que o
potencial de repouso.

Uma única célula


nervosa normalmente
tem centenas ou
milhares de sinapses
químicas excitatórias e
inibitórias que chegam
em seus dendritos ou
corpo celular. As EPSP
e IPSPs somam-se de
modo que a curva
resultante (em preto)
podem inclinar-se para
uma despolarização
líquida ou uma
hiperpolarização. Se a
despolarização líquida
alcançar o valor limiar,
a célula pós-sináptica
dispara potenciais de
ação.

Sinapses no sistemas nervoso central


 
 
Diferentes tipos de sinapses podem ser
diferenciados pelo critério de qual parte do
neurônio é pós-sináptico em relação ao axônio
teminal. Se a membrana pós-sináptica está em
um dendrito, a sinapse é chamada axo-dendrítica.
Se a membrana pós-sinpática está no corpo
celular, a sinapse é chamada axo-somática. Em
alguns casos a membrana pós-sináptica está em
um outro axônio, e essas sinapses são chamadas
axo-axônicas. Em determinados neurônios
Arranjos sinápticos no SNC. A. Uma sinapse especializados, os dendritos formam, na
axo-dendrítica. B. uma sinapse axo-somática. C. realidade, sinapses entre si, essas são as
Uma sinapse axo-axônica.
chamadas sinapses dendro-dendríticas. 

Neurotransmissores:  Mensageiros do Cérebro


Quimicamente, os neurotransmissores são moléculas relativamente pequenas e simples.
Diferentes tipos de células secretam diferentes neurotransmisores. Cada substância química
cerebral funciona em áreas bastante espalhadas mas muito específicas do cérebro e podem ter
efeitos diferentes dependendo do local de ativação. Cerca de 60 neurotransmissores foram
identificados e podem ser classificados, em geral em uma das quatro categorias.

1) colinas: das quais a acetilcolina é a mais importante;

2) aminas biogênicas: a serotonina, a histamina, e as catecolaminas - a dopamina e a


norepinefrina

3) aminoácidos: o glutamato e o aspartato são os transmissores excitatórios bem conhecidos,


enquanto  que o ácido gama-aminobutírico (GABA), a glicina e a taurine são neurotransmissores
inibidores.

 4) neuropeptídeos: esses são formados por cadeias mais longas de aminoácidos (como uma
pequena molécula de proteína). Sabe-se que mais de 50 deles ocorrem no cérebro e muitos deles
têm sido implicados na modulação ou na transmissão de informação neural.

Neurotransmissores importantes e suas funções


Dopamina
Controla níveis de estimulação e controle motor em muitas partes do cérebro. Quando os níveis
estão extremamente baixos na doença de Parkinson, os pacientes são incapazes de se mover
volutáriamente. Presume-se que o LSD e outras drogas alucinógenas ajam no sistema da
dopamina.

Serotonina
Esse é um neurotransmissor que é incrementado por muitos antidepressivos tais com o Prozac, e
assim tornou-se conhecido como o 'neurotransmissor do 'bem-estar'. ' Ela tem um profundo
efeito no humor, na ansiedade e na agressão.

Acetilcolina (ACh)
A acetilcolina controla a atividade de áreas cerebrais relaciondas à atenção, aprendizagem e
memória. Pessoas que sofrem da doença de Alzheimer apresentam tipicamente baixos níveis de
ACTH no córtex cerebral, e as drogas que aumentam sua ação podem melhorar a memória em
tais pacientes.

Noradrenalina
Principalmente uma substância química que induz a excitação física e mental e bom humor. A
produção é centrada na área do cérebro chamada de locus coreuleus, que é um dos muitos
candidatos ao chamado centro de "prazer" do cérebro. A medicina comprovou que a
norepinefrina é uma mediadora dos batimentos cardíacos, pressão sanguínea, a taxa de
conversão de glicogênio (glucose) para energia, assim como outros benefícios físicos.

Glutamato
O principal neurotransmissor excitante do cérebro, vital para estabelecer os vínculos entre os
neuroônios que são a base da aprendizagem e da memória a longo prazo.

Encefalinas e Endorfinas
Essas substâncias são opiáceos que, como as drogas heroína e morfina, modulam a dor, reduzem
o estresse, etc. Elas podem estar envolvidas nos mecanismos de dependência física.

Veja Neurotransmissores

Para saber mais:

Neurotransmissores
Visão geral de neurotransmissores e sinapses químicas
Neurotransmissores cerebrais
Neurotransmissores - Informações básicas
Moléculas de neurotransmissores
Sinapse
Capítulo 6: Comunicação ao longo e entre os neurônios - Eckert & Randall - Capítulo #6
Neurofisiologia e Farmacologia de Receptor de droga y
Armazenagem vesicular - ( Pequenos Neurotransmissores )

O Autor

Silvia Helena
Cardoso, PhD.
Psicobióloga,
mestre e

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