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NOTA CIENTÍFICA

Atividade da Redutase do Nitrato em


Folhas de Plantas Jovens de Mogno
(Swietenia macrophylla King R.A)
Submetidas ao Estresse Hídrico e à Reidratação
Nilton Junior Lopes Rascon1, Diana da Silva Castro2, Allan Klynger da Silva Lobato2 , Dramerson
Dorivan Silva Gouvea3, Cândido Ferreira de Oliveira Neto3, Raimundo Lázaro Moraes da Cunha4 e
Roberto Cezar Lobo da Costa4

Introdução decréscimos no potencial da água [5], porém os


mecanismos moleculares não são totalmente conhecidos
O mogno (Swietenia macrophylla) é uma espécie
[6]. Por outro lado, a atividade das enzimas envolvidas
pertencente à família Meliaceae, que possui folhas
com os passos seguintes da assimilação de nitrato
compostas e uma altura variando entre 25 e 30 m. Está
(redutase de nitrito, glutamina sintetase e glutamato
presente não só na Amazônia, mas também em outras
sintase) são pouco afetadas pelo déficit hídrico [7].
regiões do Brasil, sendo particularmente freqüente na
A redução de nitrato, através de redutase de nitrato
região sul do Pará Lorenzi [1].
(EC.1.6.6.1), representa o principal ponto de controle
Globalmente, existe aproximadamente 200 mil ha de
quando a fonte externa é o nitrato [8].
plantações de mogno. Contudo, poucas madeiras
A interação nitrogênio versus condição hídrica do
provenientes de plantações entram no comércio
solo é importante porque esse nutriente freqüentemente
internacional. Os compradores americanos consideram
limita o crescimento das plantas cultivadas em ambientes
que a madeira crescida em plantações é inferior à
de pouca pluviosidade. Além disso, existem evidências
madeira de árvores naturais. Em decorrência disso,
na literatura de que o nitrogênio e a disponibilidade de
atualmente o mogno está ameaçado de extinção, devido a
água no solo limitam o crescimento, dentre outros
forte pressão da exploração sofrida pelo alto valor
fatores, pela limitação na aquisição e assimilação desse
econômico da madeira, que no mercado internacional
nutriente. O objetivo desse trabalho foi avaliar a
chega a valores acima de US$ 1.000 (mil dólares) o
influência do estresse hídrico e da reidratação na
metro cúbico. A S. macrophylla é explorada devido sua
atividade da enzima redutase do nitrato em folhas de
madeira ser de alta qualidade, e muito utilizada por
mogno.
fabricantes de móveis, de botes e de painéis caros. A
maior parte das exportações são as de madeira serrada de
alta qualidade sem processamento [2]. Material e métodos
A intensa exploração das indústrias madeireiras vem O experimento foi conduzido em casa de vegetação
ocasionando desmatamentos que estão se expandindo do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade
para áreas maiores, promovendo a redução na Federal Rural da Amazônia (UFRA), em Belém, PA. As
evapotranspiração e diminuição das chuvas, gerando, mudas de mogno, fornecidas pela AIMEX quando
assim, períodos secos na Amazônia [3]. tinham seis meses de idade, e oriundas de sementes
O estresse hídrico, que é, na maior parte das vindas de Rondônia/RO e Paragominas/PA, foram
definições, um desvio significativo das condições ótimas acondicionadas em vasos plásticos com capacidade para
para a vida, origina mudanças e respostas a todos os 10 litros, contendo terra preta arenosa. Antes do inicio
níveis do organismo. Estas respostas são inicialmente dos tratamentos, todas as plantas foram colocadas sob
reversíveis, no entanto, podem tornar-se permanentes. sombrite 50%, irrigadas diariamente, recebendo macro e
Mesmo se o acontecimento os fatores de estresse for micronutrientes na forma de solução nutritiva de
temporário, a vitalidade da planta diminui com o Hoagland & Arnon [9] modificada no laboratório de
prolongar do estresse. Quando a capacidade de Fisiologia Vegetal da UFRA. A intensidade luminosa
ajustamento da planta é atingida, o que era até aí um dentro da casa de vegetação, medida por um Luxímetro
dano latente, passa a ser considerada uma doença crônica portátil LD-206 Light Meter, foi 25% da luz solar total.
ou um dano irreversível [4]. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente
O metabolismo do nitrogênio relacionado com a casualizado, em fatorial 2 x 6 (condições hídricas x
absorção e assimilação de fontes orgânicas (uréia e ciclos de estresse) com 5 repetições, totalizando 60
glutamina) e inorgânicas (nitrato e amônio) têm sido alvo mudas. A comparação entre as médias foi feita através do
de recentes pesquisas. desvio padrão da média ao longo do tempo. Foram feitas
O estresse hídrico provoca reduções drásticas na 10 coletas destrutivas (tempos: 0, 3, 6, 9, 12 e 14
atividade de redutase do nitrato já a partir de pequenos (reidratação) dias), sempre às 9:00 h da manhã.
________________
1. Acadêmico Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET) do Curso de Eng. Florestalal. E-mail: neto.fsvegetal@hotmail.com.
2. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/UFRA, UFRA, Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, PA, Brasil.
3.Mestrando em Biologia Vegetal Tropical, UFRA, Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, PA, Brasil.
4. Professor e pesquisador da UFRA, Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, PA, Brasil.

Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 930-932, jul. 2007


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Imediatamente após a coleta, as folhas foram congeladas [2] ROBBINS, C. 2000. Mahogany matters: The US market for big-
leafed mahogany and its implications for the conservation of the
em freezer (- 20 º C), e depois conduzidas para estufas de
species. TRAFFIC North America. Washington, DC.
circulação de ar forçada a 65 ºC, até a secagem para [3] LEAN, J., C.B. BUNTON, C.A. NOBRE & P.R. ROWNTREE.
preparo da farinha. As análises da atividade de redutase 1996. The simulated impact of Amazonian deforestation on
de nitrato nas folhas foram feitas pelo o método “in climate using measured abraco vegetation characteristics. p. 549-
vivo” descrito por Hangeman & Hucklesby [10]. As 576 In: J.H.C. Gash, C.A. Nobre, J.M. Roberts & R.L. Victoria
(eds.) Amazonian Deforestation and Climate. Wiley, Chichester,
médias dos tratamentos foram comparadas através do Reino Unido. 611 p.
desvio padrão da média segundo Gomes [11]. [4] LARCHER, W. 2000. Ecofisiologia vegetal ed. Rima artes e texto.
São Carlos.
[5] COSTA, R.C.L.da. 1999. Assimilação de Nitrogênio e
Resultados e Discussão Ajustamento Osmótico em Plantas Noduladas de Feijão-de-corda
Os resultados demonstram que nas plantas controle [Vigna unguiculata (L.) Walp] Submetidas ao Estresse Hídrico.
(irrigadas diariamente), houve uma manutenção na Tese de doutorado. UFC/DBBM, março.
[6] FOYER, C.H.; VALADIER, M.; MIGGE, A. & BECKER, T.W.
atividade da enzima redutase do nitrato durante os 14 1999. Drought-induced effectes on nitrate reductase activity and
dias do experimento, conforme mostra a figura 1. mRNA and on coordination of nitrogen and carbon in maize
Entretanto, quando as plantas foram submetidas ao leaves. Plant Phyology, 117:283-292,.
estresse hídrico contínuo, houve uma considerável [7] RABE, E. 1993. Altered Nitrogen Metabolism Under
Environmenatal Stress Conditions. In: Handbook of Plant and
redução na atividade desta enzima, variando de 1,704 Crop Stress. Ed. Mohammad Passarakli, Marcel Dekker,(Inc,),
micromoles de NO2- /g.MF/h (tempo zero) para 0,3552 New York.
micromoles de NO2- /g.MF/h no 12º dia do estresse, [8] LEA, P. J. 1997. Primary Nitrogen Metabolism. In: PLANT
ocasionando um decréscimo aproximado de 79,15%, BIOCHEMISTRY (DEY, P. M. & HARBORNE, J. B. eds.), pp.
273-306. Academic Press, San Diego, California-USA.
quando comparado com as plantas controle nesse mesmo [9] HOAGLAND, D. R. & ARNON. D. I. 1950. The water culture
período do experimento. Resultados semelhantes foram method for growing plants without soil. Calif. Agric. Exp. Stn.
encontrados em plantas de algodoeiro [12], onde o Univ. Calif. Berkeley Circ. 347:139.
decréscimo da atividade desta enzima se deve ao fato da [10] HAGEMAN, R. H. G. & HUCKLESBY, D. P. 1971 Nitrate
reductase from higher plants. In: METHODS IN ENZIMOLOGY,
diminuição de água disponível no solo provocar um 17 A: 491 – 503 .
fechamento estomático e consequentemente [13] e com [11] GOMES, F. P. 2000 Curso de estatística experimental. 14° ed.
isso diminuir a corrente transpiratória [8]. Como esta Piracicaba: USP, 477p.
enzima é altamente dependente de seu substrato [14], o [12] MARUR , C. J.; MAZZAFERA P ; MAGALHÃES A. C. 2000
Atividade da enzima e redutase do nitrato em algodoeiro
nitrato que chega as folhas em teores muito baixos, submetido ao déficit hídrico e posterior recuperação da
diminui a atividade da redutase do nitrato [15], sendo turgescência. Scientia Agricola, v.57, n.2, p.277-281, abr./jun..
que no 12º dia do experimento, as plantas foram [13] SCHULZE, E. D. 1986. Carbon dioxide and water vapor exchange
condicionadas a reidratação e os resultados evidenciam in response to drought in the atmosphere and soil. Annual Review
of Plant Phisiology 37:247-274.
uma pequena elevação na atividade da enzima, [14] WALLACE, W. 1987. Regulation of Nitrate Utilization in Higher
mostrando assim que apenas dois dias de reidratação não Plants. IN: INORGANIC NITROGEN METABOLISM (ULLRICH,
são suficientes para a atividade de a enzima voltar a ter W. R.; APARICIO, P.J.; SYRETT, P.J. & CASTILLO, F.eds). Pp.
uma atividade igual ao das plantas controle (Figura 1) 223-230. Springer-Verlag, Belin, Heidelberg.
[15] ABROL, Y. P. 1990. Nitrogen in Higher Plants. Research Studies
[5].
Press Lda., Tourton, Somerset, England and John Wiley & Sons
Inc. New York-USA.
Referências
[[1] LORENZI, H. 1996. Árvores brasileiras: manual de identificação
e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa.
SP: Ed. Plantarum, v.1.

Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 930-932, jul. 2007


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Atividade da Redutase do Nitrato controle


estresse
2,00

micromoles de NO2- /gMF/h


1,80
1,60
1,40
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0 3 6 9 12 14
Dias de Estresse

Figura 1. Atividade in vivo da enzima redutase do nitrato em discos de folhas de plantas de mogno (Swietenia
macrophylla) submetidas à desidratação progressiva (seca) durante 12 dias e reidratação após o 12º dia. A seta indica o
dia de reidratação e as barras o desvio padrão.

Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 930-932, jul. 2007

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