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ABSTRACT: The “Map of the Body” is an artistic production held in Naturology, used
as an assessment instrument and sources for symbolic and energetic readings. The
formal aspect of the images is rarely considered in art-therapy literature. The aim of
this work is to analyze the formal differences between the “Map of the Body” made in
the first and last sessions of therapeutic process carried on Center of Natural
Practices in the second half of 2011. This is a documental study of a mixed nature, in
which 24 cases were analyzed. Data collection took place by photographic recording
and reading of visual images by means of an adapted guide. Qualitative analysis was
done through the formal analysis of the artistic productions, and in the statistical
analysis Fisher’s exact test and KruskalWallis test were used. Five categories were
found and analyzed: “Disposition of the leaf”, “Colors on the map of the body”, “Art
Supplies on the map of the body”, “Stereotype x Spontaneity” and “The laws of
Gestalt and the map of the body”. Changes were observed in the map of the body at
the end of treatment when compared to initial one. There was a tendency to
horizontality, spontaneity and greater use of colors and materials (preferably crayon)
at the end of treatment. However, the categories corresponding to the changes of the
laws of Gestalt were minor. It was concluded that the formal reading is fundamental
in the context of art therapy, as it helps to “see” without prior interpretations. Similarly,
it was confirmed the need to consider the uniqueness of each image of its creator
and the therapeutic process.
KEYWORDS: Art therapy. Naturology. “Map of the body”. Visual reading of the form
INTRODUÇÃO
vê, não o sente, não o percebe, não o imagina)51. Assim, o interagente é convidado
a expressar-se a partir apenas da seguinte consigna: Faça uma representação
artística do seu corpo. O resultado deste processo artístico pode então ser objeto de
estudo, leituras, análises ou interpretaçõesii. Neste trabalho, guiado pela perspectiva
gestáltica, será utilizada a leitura visual da forma, direcionada para a observação dos
elementos formais e o modo como estes se configuram no espaço.
Os elementos expressivos que constituem a linguagem formal iii nas artes
plásticas são a linha, a superfície, o volume, a luz e a cor. A partir destes cinco
elementos pode-se formular uma variedade de expressões artísticas. Estes
elementos não possuem significados preestabelecidos, nada representam a não ser
dentro de um contexto formal. Neste contexto, a forma é inerente ao conteúdo
expresso, sendo que quando a forma se modifica também se modifica o conteúdo e
vice-versa. Ressalta-se que a ordenação formal de uma imagem é uma maneira de
objetivar as experiências subjetivas do criador. É por meio da forma que se
consegue “fixar a experiência pessoal e estabelecer um modo objetivo de transmiti-
la a outros. Objetivada, a forma é sempre expressão e comunicação ao mesmo
tempo”32 (p. 63, 1999). Dessa maneira, o interagente como criador de seu Mapa do
corpo comunica seu estado integral [psicoemocional, físico, social, cultural,
energético] através da relação que estabelece, espontaneamente, entre os
elementos formais em sua expressão criativa.
A abordagem gestáltica não se reduz a análises simbólicas, causais,
explicativas dos motivos que levaram à determinada forma, mas interessa-se,
sobretudo, ao valor intrínseco da expressão criativa, na plasticidade da forma2. O
modo como se percebe e cria as formas visuais corresponde ao modo como se
pensa, age, sente. As figuras centrais que emergem numa produção artística
podem refletir o que é central na vida no criador. Os estilos de vida se expressam
nos estilos de arte. Qualquer expressão pode ser correspondente a como o seu
criador vivencia a própria realidade existencial3,37.
A partir da abordagem gestáltica, Ciornai10 expõe que é necessário
observar não apenas os conteúdos implícitos das expressões criativas, mas
aprender a vê-las, reconhecê-las e descrevê-las a partir de sua disposição visual e
estrutural. Além disso, o olhar apurado para a linguagem plástica visual, composta
de linhas, pontos, formas, cores, composições e movimentos, deve ser considerado
tanto quanto o olhar analítico e interpretativo. Gombrich 10 (1989 apud Ciornai 2004,
5
p. 89) afirma: “como a maioria das leituras sobre o trabalho artístico ainda repousa
muito mais sobre a análise de seus significados simbólicos do que sobre a
especificidade de sua linguagem”, a contribuição da leitura formal é fundamental.
Assim, a leitura visual dos elementos formais dos Mapas do corpo será
guiada pela Teoria da Gestalt. A palavra alemã Gestalt, que não tem tradução
equivalente exata em português, remete a idéia de forma, figura, padrão, estrutura37.
A forma não se caracteriza apenas por algo delimitado em área, fronteiras,
superfícies, como se fosse uma espécie de silhueta, mas “é o modo por que se
relacionam os fenômenos, é o modo como se configuram certas relações dentro de
um contexto”33 (p. 79, 2005).
Na leitura visual da imagem, vinculada à Teoria da Gestalt, destaca-se a
importância da percepção sobre a interpretação8. E, segundo Gomes17, esta
percepção visual assim como a criação de imagens a partir dos elementos formais é
guiada por alguns princípios ou leis: Princípio da Unidade, Segregação, Unificação,
Fechamento, Continuidade, Proximidade, Semelhança e Pregnância da forma.
Para a leitura visual das imagens, Gomes17 (p.50, 2003) define algumas
categorias conceituais fundamentais, que “se entrelaçam e/ou superpõem”,
baseadas na teoria da gestalt, respeitando, em especial a pregnância da forma.
Além disso, expõe categorias conceituais que funcionam como técnicas visuais
aplicadas, as quais podem fornecer subsídios e nortear o olhar acerca do fenômeno
artístico. Estes fundamentos e categorias não esgotam as infinitas possibilidades de
analisar uma imagem, todavia, acredita-se estarem neste conjunto os dados
necessários para uma leitura adequada da expressão visual mapa do corpo.
Estes fundamentos, técnicas e categorias facilitadoras da leitura visual se
manifestam, em geral, numa relação de antagonismo, podendo ampliar-se num
continuum entre duas polaridades. Dondis12 expõe algumas delas, dentre várias:
Equilíbrio/Instabilidade, Simetria/Assimetria, Regularidade/Irregularidade,
Simplicidade/Complexidade, Unidade/Fragmentação, Economia/Profusão,
Minimização/Exagero, Previsibilidade (no contexto arteterapêutico esta categoria
pode ser vista como produção estereotipada) / Espontaneidade, Atividade/Estase,
Neutralidade/Ênfase, Planura/Profundidade, Verticalidade/Horizontalidade,
Monocromatismo/Colorido. Gomes17 mostra também algumas categorias para a
leitura visual, entre elas: Harmonia, associada à ordem e regularidade e
Desarmonia, associada à desordem e irregularidade; Equilíbrio associado ao peso e
6
PERCURSO METODOLÓGICO
RESULTADOS E DISCUSSÕES
diferentes teorias sobre a significação do uso das cores, muitos teóricos concordam
que elas representam os sentimentos e os humores individuais dentro da produção
criativa14.
Sugere-se que a inclusão de mais cores na produção criativa final pode
estar associada a maior abertura (permissão) para a expressão afetiva. Do mesmo
modo, Furth14 menciona que desenhos mais preenchidos podem denotar mais
energiavii investida na atividade criadora, enquanto desenhos “vazios”, podem
denotar pouca energia/vitalidade expressa; o que também pode ter se refletido no
Mapa do corpo.
ESTEREÓTIPO X ESPONTANEIDADE
sendo a busca pela harmonia, clareza e simplicidade nas criações artísticas uma
necessidade humana13,26.
As leis ou princípios da teoria da gestalt norteiam tanto a percepção visual
externa do meio, quanto o processo de criação de uma imagem a partir da
composição dos elementos formais. Dentro do contexto arteterapêutico, Rhyne 37
sugere que a própria proposta direcionada à ação de desenhar e/ou pintar pode
mobilizar na pessoa a capacidade intrínseca de organização da forma. Assim ao se
usar materiais artísticos descobre-se a própria tendência em completar o todo e
ordenar as suas partes.
A partir das discussões acerca das leis da Gestalt, vale refletir sobre a lei
da Pragnanz (Pregnância), conhecida como a lei geral, que abarca todas as outras.
Percebeu-se a partir da análise qualitativa das produções artísticas, considerando-as
individualmente que o aspecto de “melhor” pregnância esteve associado à “mais
presença” do desenho, o qual aparecia “mais forte”, mais claro, mais visível, mais
equilibrado e estável. Dizer que uma configuração possui melhor pregnância
equivale a dizer que esta se tornou mais harmônica, clara, visível, equilibrada,
coerente, melhor definida, o que se reflete nas demais categorias.
Segundo a lei da Pregnância, as forças de organização da forma tendem,
espontaneamente, na medida em que as condições permitem, à harmonia, à
regularidade, à homogeneidade, à simetria, ao equilíbrio, e à clareza. “Pode-se,
portanto, falar de uma tendência geral à realização de uma estrutura tão simples, tão
regular quanto possível”18 (p. 26, 1966). Koffka22 concorda que a percepção da
forma é guiada por propriedades, tais como regularidade, simetria e simplicidade,
sendo que dentre muitas formas de organização “geometricamente” possíveis,
sucederá a configuração mais estável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
associações e a leitura da própria pessoa que criou (não considerados neste estudo)
precisam ser respeitados.
O estudo levou a confirmar a dificuldade de separação entre forma e
conteúdo, pois, embora as leis da gestalt tenham permanecido inalteradas em sua
maioria, aspectos relativos ao conteúdo das imagens permitiriam inferir
transformações possivelmente estimuladas pelo processo terapêutico realizado.
Ainda sobre a interrelação forma e conteúdo, percebeu-se que as
combinações dos elementos formais no espaço expressam conteúdos peculiares da
pessoa criadora, os quais precisam ser considerados juntamente com ela, com sua
leitura, a partir de seu referencial, como também através de leitura simbólica. Cabe
lembrar que apesar das tentativas de leitura tanto da forma quanto do conteúdo não
é possível abarcar a totalidade (amplitude) e riqueza do material artístico, dados os
infinitos materiais que dele podem emergir, dependendo da abordagem utilizada.
Uma das propostas iniciais deste trabalho era a criação de um
instrumento avaliativo a partir da leitura formal dos trabalhos artísticos avaliados,
porém, percebeu-se que o roteiro utilizado para análise dos Mapas do corpo valeu
mais como um direcionador de olhar, um norteador do que um instrumento objetivo
de avaliação em arteterapia, o qual necessitaria de mais precisão e cautela, já que
se propor a avaliar a produção artística levaria a considerar não só o produto final,
mas também o processo terapêutico em si. No entanto, constatou-se a importância
de “aprender a ver” e reconhecer categorias visuais e as relações na produção
artística.
O instrumento de análise inicial sofreu modificações ao longo da
construção do trabalho já que alguns itens, como predominância de linhas
(retilíneas, curvas, sinuosas, pontilhadas) no geral, não foram tão relevantes durante
a observação dos 48 mapas analisados. Este item, dispensável na abordagem deste
estudo, poderia fornecer dados mais significativos em estudos de caso, onde seria
possível um olhar mais aprofundado de cada caso. Do mesmo modo, o item material
artístico, não incluído inicialmente, foi analisado já que “emergiu” como categoria
relevante a ser discutida no decorrer do estudo.
De maneira geral, foi difícil observar os Mapas do corpo a partir de um
único parâmetro (leitura formal), já que cada um possuía sua singularidade, cada
qual sendo parte de processos terapêuticos diferentes. Alguns Mapas do corpo -
principalmente os que tiveram poucas mudanças em termos formais mantendo a
20
REFERÊNCIAS
4 Arnheim R. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. 13. ed. São
Paulo: Pioneira, 2000.
7 Arcuri IG (Org.). Arteterapia de corpo e alma. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
23
12 Dondis DA. Sintaxe da linguagem visual. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
14 Furth G. O mundo secreto dos desenhos: uma abordagem junguiana da cura pela
arte. São Paulo: Paulus, 2004.
15 Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
17 Gomes JF. Gestalt do objeto: sistema de leitura visual da forma. 5. ed. São
Paulo: Escrituras, 2003.
23 Kramer E. The Basics. In: RUBIN; Judith, A. Art Therapy: An Introduction. New
Work: Routledge, 1998.
24
25 Malchiodi CA. Handbook of Art Therapy. New York: Guilford Press, 2002.
26 Maleronka C, Pallamin VM. Caetano Fraccaroli: arte, reflexão e ensino. 2000. 56f.
Pesquisa de Iniciação Científica - Fauusp-Fapesp, São Paulo, 2000. Disponível em:
<http://www.usp.br/fau/atelier/Caetano_Fraccaroli_arte_reflexao_ensino.pdf. Acesso
em: 19 set. 2011.
30 Motoyama H. Teoria dos chakras. Ponte para a consciência superior. 7º ed. São
Paulo: Pensamento, 2004.
37 Rhyne J. Arte e Gestalt: padrões que convergem. São Paulo: Summus, 2000.
51 Wedekin LM. Corpo simbólico em arteterapia: reflexões sobre saúde integral. In:
HELLMANN F, WEDEKIN LM, DELLAGIUSTINA M. (Org). Naturologia Aplicada:
Reflexões sobre Saúde Integral. Tubarão, SC: UNISUL, 2008.
26
APÊNDICES
27
O presente roteiro destinou-se à orientação para a leitura visual da produção artística “mapa do
corpo”, baseada nos princípios da teoria da gestalt e dos fundamentos da leitura formal da linguagem
visual. (Definições fundamentadas em Dondis, 1999; Ostrower, 1999; Gomes, 2003; Valladares,
2005)
Idade: ......................
Sexo: ( )F ( )M
Estado Civil: .................................................
Queixa principal: .......................................................................................................................................
Leitura do Mapa do corpo (para uso das pesquisadoras):
1.Horizontalidade/Verticalidade da
folha
4.Contraste/Homogeneidade (a.
quanto ás cores; b. quanto às
linhas; c. quanto às superfícies)
5.Equilíbrio
(Estabilidade)/Desequilíbrio
(Instabilidade)
6.Harmonia/Desarmonia
variedade de elementos na
produção)
8.Coerência/Incoerência
9.Unidade/Fragmentação
10.Previsibilidade (Estereótipo)/
Espontaneidade (Originalidade)
11.Atividade (Movimento e
Direção espacial)/ Estase
12.Neutralidade/Ênfase
14.Cores e tonalidades
Monocromatismo/Policromatismo
Predominância de cores
(a.“quente/frias; b. primárias,
secundárias, terciárias, c.
complementares)
18.Predomínio de detalhes no
espaço (a. em alguma parte do
corpo; fora ou dentro do corpo)
19.Omissões ou Inclusões de
elementos*
20.Pregnância da forma
31
*Corpo: cabeça, olhos, nariz, boca, lábios, orelhas, cabelo, pescoço, rosto, corpo, tórax,
cintura, quadril e nádegas, braços, ombros, cotovelos, mãos, dedos, unhas, pernas, joelhos e
pés.
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2011
APÊNDICE C – Tabela 1
Fig. 1a Fig.1b
Fig. 2a Fig. 2b
Fig. 3a Fig. 3b
34
Fig. 4a Fig. 4b
Fig. 5a Fig. 5b
Fig. 6a Fig. 6b
35
NOTAS EXPLICATIVAS
i
Aromaterapia, Cromoterapia, Fitoterapia, Massoterapia, Reflexoterapia, Hidroterapia, Geoterapia,
Florais de Bach, além de recursos de Arteterapia e Musicoterapia 20
ii
Em essência, esta atividade arteterapêutica serve de instrumento avaliativo no contexto
naturológico, sendo realizada antes e após os atendimentos com as práticas integrativas
complementares. Com base nas medicinas energéticas tradicionais é possível “ler” a expressão
artística e assim perceber os estados biopsicoemocionais e, portanto, energéticos do interagente.
iii
De acordo com Ostrower 32 considera-se uma expressão de ordem formal, quando não pressupõe a
linguagem verbal, isto é, é um modo de comunicação não-verbal. Esta linguagem “sem palavras”
existe, por exemplo, na música, com as formas auditivas, na dança, com as formas visuais tátil-
cinestésicas, e nas artes plásticas, com as formas visuais.
iv
VALLADARES; CARVALHO46; SEI39; BAPTISTA9; VALLADARES44; VALLADARES45.
v
Destes, todos são de autoria de Valladares; Carvalho 46,47,48,49 que utiliza os mesmos parâmetros de
avaliação em trabalhos diferentes.
vi
Na naturologia os instrumentos avaliativos utilizados em arteterapia seguem Alessandrini1 e
Valladares42.
vii
O termo energia, definido por Furth, está associado a energia psíquica, dado seu viés junguiano.
viii
A estrutura compositiva equivale ao conjunto dos seguintes itens: disposição dos elementos no
espaço, proporções dos elementos na configuração, homogeneidade/contraste;
equilíbrio/desequilíbrio, harmonia/desarmonia, minimização/profusão, coerência/incoerência,
unidades/fragmentação, atividade/estase, planura/profundidade, pregnância da forma.
De acordo com Johari21, as fontes antigas (Upanishads ) definem chakra como “uma roda, um disco,
ix