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Prova Escrita de Português

12º Ano de Escolaridade

Prova 639/Simulação 7 Páginas


Duração da Prova: 120 minutos. Tolerância: 30 minutos.

2019

VERSÃO 1

Indique de forma legível a versão da prova.


Utilize apenas caneta ou esferográfica de tinta azul ou preta.
Não é permitido o uso de corretor.
Deve riscar aquilo que pretende que não seja classificado.
Para cada resposta, identifique o grupo e o item.
Apresente as suas respostas de forma legível.
Apresente apenas uma resposta para cada item.
As cotações dos itens encontram-se no final do enunciado da prova.

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GRUPO I

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

A
Leia o texto.

Tinham o rosto aberto a quem passava.


Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
5 de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
10 e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
15 à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
deslumbrado penetrava nos espaços

Eugénio de Andrade, Primeiros Poemas/ As mãos e os frutos/

Os amantes sem dinheiro (1948)

1. Explicite a excecionalidade destes “amantes sem dinheiro” e relacione-a com a realidade


circundante presente no poema.

2. Explique o valor da metáfora nos três últimos versos do poema.

3. Explicite de que modo o título do poema, Amantes sem dinheiro, o liga a um determinado
contexto social.

4. Indique três dos processos utilizados para marcar o ritmo do poema, fundamentando a
resposta com elementos do texto.

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Parte B
Leia o texto.

MADALENA
Meu adorado esposo, não te deites a perder, não te arrebates. Que farás tu contra
esses poderosos? Eles já te querem tão mal pelo mais que tu vales que eles, pelo teu saber –
que esses grandes fingem que desprezam... mas não é assim, o que eles têm é inveja! – O que
fará, se lhes deres pretexto para se vingarem da afronta em que os traz a superioridade do
teu mérito! – Manuel, meu esposo, Manuel de Sousa, pelo nosso amor...
JORGE
Tua mulher tem razão. Prudência, e lembra-te de tua filha.
MANUEL
Lembro-me de tudo, deixa estar. – Não te inquietes, Madalena: eles querem vir para
aqui amanhã de manhã; e nós forçosamente havemos de sair antes de eles entrarem. Por isso
é preciso já.
MADALENA
Mas para onde iremos nós, de repente, a estas horas?
MANUEL
Para a única parte para onde podemos ir: a casa não é minha… mas é tua, Madalena.

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, Lisboa, Comunicação, 1982, pp. 120-121

Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

5. Caracterize Manuel, tendo em conta quer as falas de Madalena, quer as decisões por ele
tomadas.

6. Explique os comportamentos manifestados por Madalena e por Manuel no excerto transcrito,


fundamentando a sua resposta com elementos textuais pertinentes.

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Parte C

7. Fazendo apelo à sua experiência de leitura de Os Lusíadas, escreva uma breve exposição,
na qual aponte duas críticas e consequentes conselhos que Camões dirige aos portugueses em finais
de cantos.

A sua exposição deve incluir:

•  uma introdução ao tema;

•  um desenvolvimento no qual explicite duas críticas e consequentes conselhos;

•  uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

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GRUPO II

Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.


Camões e as altas torres
De Camões, em pura verdade, muito pouco sabemos. Nasceu pobre, viveu pobre. Morreu mais
pobre ainda (se não miseravelmente), ele que acumulou bens que milhares e milhares de homens
não têm chegado para delapidar. E será difícil exaurir1 tão fabulosa fortuna. Porque – quem o
duvida? – foi Camões que deu à nossa língua este aprumo de vime branco, este juvenil ressoar de
5 abelhas, esta graça súbita e felina, esta modelação de vagas sucessivas e altas, este mel corrosivo da
melancolia. Daí ser raro o verso português digno de tal nome que as águas camonianas não tenham
molhado de luz, desde as mais ásperas das suas consoantes às vogais mais brandas.
Fora do nosso coração, não sabemos onde Camões nasceu; nem o ano ou o dia em que saiu da
“materna sepultura” para o primeiro amanhecer. Como não sabemos onde estudou ou quem lhe
10 ensinou o muito que sabia. Nem isso importa. Nalgumas linhas da sua poesia, e sobretudo nas poucas
cartas que indubitavelmente são dele, pode ler-se que, como português, encarnou até à medula toda
a nossa condição: pobreza, vagabundagem, cadeia, desterro. “Erros”, “má fortuna” e “amor
ardente” se conjuraram para fazer daquele alto espírito do Maneirismo europeu uma das figuras mais
desgraçadas da via-sacra nacional. Por “erros”, talvez se possa entender um cristianíssimo
15 arrependimento daquele marialvismo2 da sua juventude; a “má fortuna” não pode ter sido senão a
de ter vivido num tempo em que “Portugal era uma casa sem luz em matéria de instrução”, e se
preparava fatidicamente para abandonar todas as suas guitarras nos campos de Alcácer Quibir;
quanto ao “amor ardente” – não foi o próprio Camões que se mostrou dividido entre o límpido apelo
dos sentidos e toda uma platonizante teoria de amor bebida em Petrarca e Santo Agostinho?
20 Se não estou em erro, foi António Sérgio quem mais incisivamente trouxe o lirismo camoniano
para a esfera do neoplatonismo, e sublinhou, além de preocupações religiosas e morais, a raiz
metafísica da sua poesia amorosa. Ao pôr-se o acento sobre o carácter intelectual desta poesia,
procurava-se corrigir uma ideia bastante corrente de que o poeta seria predominantemente
sensorial, antimetafísico, e não sei que mais. Claro que Camões, como homem, medida de todas as
25 coisas, foi um e outro, porque nada impede que a música de uma natureza mesmo profundamente
sensual, mas de eminente capacidade visionária, possa subir às mais altas torres; que se saiba, não
há incompatibilidade nenhuma entre o estar-se eroticamente “a prisões baixas atado” e ter no “alto
pensamento” a sua naturalíssima complementaridade.
Afinal, este homem que deixou fama de desabusado, este pobre soldado raso que regressa de
30 Ceuta a “manqueja(r) de um olho” (para o dizermos com terríveis palavras suas), que serviu na Índia
durante cerca de três lustros3 sem sequer ter ganho para as passagens de regresso à pátria, este
homem que, segundo um dos seus primeiros biógrafos, ao morrer não tinha um lençol para lhe servir
de mortalha, estava destinado a consolidar a Hierarquia com o seu Canto – o supremo ressoar das
águas de todos os nossos mares e de todos os nossos olhos.
Eugénio de Andrade (pref.), Versos e alguma prosa de Luís de Camões, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1977 (texto com supressões)

_________________________________________________________________________
1
Exaurir: consumir, esgotar.
2
Marialvismo (marialva): sedutor, aquele que leva uma vida desregrada.

3Lustro: período de cinco anos.

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1. Eugénio de Andrade apresenta um contraste entre a pobreza de Camões e

(A) a fortuna material deixada por ele, impossível de esgotar.


(B) a sua acumulação de bens materiais ao longo da vida.
(C) a sua fabulosa e inesgotável dádiva à língua portuguesa.
(D) a fabulosa fortuna, não compreendendo a sua miséria.

2. No caso de Luís de Camões, a expressão “Erros”, “má fortuna” e “amor ardente” (ll.12-13)
corresponde a uma síntese da sua vida que exclui

(A) o desregramento da juventude.


(B) a ausência de Universidades em Portugal.
(C) o desprezo pelas artes em Portugual.
(D) o arrebatamento das paixões.

3. Ao referir que a consolidação da “Hierarquia”(l.33) estava destinada a Camões, o autor refere-se

(A) à supremacia dos portugueses relativamente aos mares celebrada n’Os Lusíadas.
(B) à sua supremacia na Índia ao longo de quinze anos, cantada n’Os Lusíadas.
(C) à nossa comoção perante a leitura d’Os Lusíadas.
(D) à sua supremacia enquanto autor d’Os Lusíadas.

4. Com a interrogação retórica apresentada entre travessões (ll.3-4), o autor pretende

(A) exprimir as suas dúvidas acerca do discurso anterior.


(B) reforçar o seu discurso posterior.
(C) introduzir uma informação adicional.
(D) destacar uma crítica.

5. Na expressão “materna sepultura” (l.9), o autor recorre à

(A) comparação.
(B) metonímia.
(C) metáfora.
(D) ironia.

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6. Identifique a função sintática desempenhada pela expressão em a) e indique o antecedente do
pronome presente na alínea b).

a) “de Ceuta”(ll.29-30).
b) “(…) para lhe servir de mortalha(…)”(ll.32-33).

7. Classifique a oração “onde Camões nasceu”(l.8).

Grupo III

A viagem pode entender-se como algo material, mas pode entender-se igualmente como algo
metafórico.
Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de
trezentas e cinquenta palavras, defenda uma perspetiva pessoal sobre a viagem e possíveis
interpretações da mesma.
No seu texto:
– explicite, de forma clara e pertinente, o seu ponto de vista, fundamentando-o em dois
argumentos, cada um deles ilustrado com um exemplo significativo;
– utilize um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).

Observações
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco,
mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única
palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2009/).

2. Um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto
produzido.
FIM

Cotações

Grupo Item
Cotação (em pontos)
1 2 3 4 5 6 7
I
16 16 16 8 16 16 16 104
1 2 3 4 5 6 7
II 8 8 8 8 8 8 8 56
Item único
III 40
TOTAL 200

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