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HEOLEY BULL
A SOCIEDADE
~
ANARQUICA
PIefJcio:
Williams Gonçalves
Tmduçlo:
Sérgio Bath
A presente edicào foi feita em forma cooperativa da Editora Universidade de Brasília com o
Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais OPRI/FUNAG) e a Imprensa Oficial do Es
tado de Sâo Paulo. Todos os direitos reservados conforme a lei. Nenhuma parte' desta publica
(;ào poderá ser armazenada ou reproduzida por qualquer meio sem autorizacào por escrito da
Editora I lniversidade de Brasília.
Equi[x:témiGt
EIITISxro (Planejamento editorial)
Buli, Heddley
A sociedade anárquica / Heddley Buli: Prefácio de
WiJliams Gonçalves: Trad. Sérgio Bath ( la. ediçao) Brasília:
Editora 1 Iniversidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relaçôt:s
Internacionais: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002
XXVIII. 361 p .. 23 em - (Clássicos IPRI, '))
CDLJ - 327
DIREITO
o
INTERNACIONAL E A
ORDEM INTERNACIONAL
internacional?
I Vide 1\1 yres S, ;\fc Dougal e associados, \'/I/(/iI'J /lI lrí'J/ir! J>II/J/i( Ordrr (Yalc r 111\'. Press, 19()()),
csp, capo 1. Vide rarnbcm Rosalvn 1[lggtl1S, "I)o/i()' C(J//Jir!I'/{//ifJl/J II//r! !/!I' 1IIII'I'I/II!io//t//jllrliria/ Prorrss",
1IIII'I'I/iI/i(Jl/iI/ fll/r/ COl))pilrtl/il'l' I .c/li' Q(flff11'1i)', vol. 17 (19()~).
148
John Austin de que a lei é "a ordem do soberano", e que como não há
um soberano na sociedade internacional ("nenhuma pessoa determina
da a quem a sociedade em geral preste habitualmente obediência e que
não obedeça habitualmente a qualquer outra pessoa"), o direito interna
cional não é propriamente "lei", mas apenas uma "moralidade interna
cional positiva".' Esta visão é mantida vigorosamente, embora com mo
dificações importantes, na doutrina contemporânea de Hans Kelsen,
segundo a qual a lei se distingue de todos os outros tipos de ordem
social (por exemplo, da ordem religiosa baseada em sanções sobrenatu
rais e da ordem moral baseada na obediência voluntária) pelo seu cará
ter de "ordem coercitiva".' Para Kelsen a característica fundamental da
regra legal é o fato de estipular que o delito (ou seja, sua violação) deva
provocar uma sanção (ou ameaça de mal).
Em que pesem as dificuldades do ponto de vista de Austin,
ele contribui para deixar claro o fato de que, seja ou não estrita
mente "lei", o direito internacional diferencia-se do direito naci
onal em um aspecto fundamental: enquanto dentro do estado
moderno a lei se apoia na autoridade de um governo, que tem
inclusive o poder de usar, ou ameaçar usar, a força, o mesmo
não acontece com o direito internacional.
Isto não significa, porém, que o direito internacional não
mereça ser chamado de "lei". Essa conclusão é rejeitada por
dois grupos teóricos: o grupo que argumenta que, embora não
exista um governo mundial, o direito internacional baseia-se em
sanções, na força ou na coerção e o grupo que aceita que, na
verdade, falta esta base mas contestam a afirmação de que a lei precisa
ser definida em termos de coerção.
Um importante representante do grupo anterior é o próprio Hans
Kelsen. Ele aceita o conceito de Austin da lei como "ordem coercitiva",
e argumenta também que uma característica da lei é o fato de que ela
, John Austin, The Prot 'ince ~/.Iuri.rpmdenc(' Deterruined (Londres, Weidenfcld & Nicolson, 1954,
4 Hans Kclsen, Tbe General 'l beor» 0/ tbe 1 LlJ], and State, trad. A. Wedberg (Harvard Univ, Press,
1946).
() direito internacional e a ordem internacional 151
i Ibid., cap. VI
152
- Desenvolvi esta argumentaçào em "Tbe Grotian Conception ofI nternationai Society", em Diploma/ic
JnvesligatiollS.
H Ibid., pág, 79.
"1\ única forma de mudar as regras conhecidas por essa sociedade será o
lento processo de crescimento, mediante o qual formas de conduta LJue
no princípio eram consideradas opcionais passam a ser primeiramente
habituais, ou usuais, e depois obrigatc'lrias, e o processo inverso de deca
dência, quando certos desvios, no princípio reprimidos com severidade,
passam a ser tolerados e depois sâo esquecidos."!'
" Para uma discussâo sobre essa tríplice divisao vide Ceorg Schwarzcnbcrgcr, Tbe I'rontters oi
lnternationai I .atr (Londres, Stcvcns & Son, 19(2), capo 1.
162 HI':DLFY BULI,
ORl)/:M J1\lF/iRl'<AC/ONA/ J
equilíbrio, ainda que ele não seja responsável por qualquer agressão co
metida contra urn membro da sociedade internacional.
Outro ponto de choque entre esses dois conjuntos de exigências é
a questão das sanções contra a guerra de agressão. Na época da invasão
da Etiópia pela Itália, os juristas consideravam, de modo geral, que a
Itália violara suas obrigações sob a Carta da Liga das Nações. Nessas
circunstâncias, como a Liga determinava certas sanções contra a Itália, a
Inglaterra, a França e os outros estados membros tinham o dever de
aplicá-las. Do ponto de vista do equilíbrio de poder, contudo, o efeito
dessas sanções seria simplesmente empurrar a Itália para os braços da
Alemanha, prejudicando os esforços anglo-franceses para manter o equi
líbrio de poder com relação à Alemanha. () mesmo choque voltou a
ocorrer na época em que a União Soviética invadiu a Finlândia, em 1939,
quando a Inglaterra e a França mais uma vez precisaram optar entre agir
contra a União Soviética, considerando-a "agressora", ou preservar a
possibilidade de ter a sua cooperação contra a Alemanha.
finalmente, um ponto de choque entre os imperativos do direito
internacional e do equilíbrio de poder está relacionado com a questão
da intervenção. A maior parte dos textos sobre o direito internacional
sustenta a obrigação recíproca dos estados de não intervir pela força ou
ditatorialmente nos assuntos internos dos outros (embora alguns de
fendam a possibilidade de intervir a convite do governo local, que pro
cura resistir à intervenção por parte de outra potência). No entanto,
argumenta-se muitas vezes que as considerações sobre o equilíbrio de
poder exigem a intervenção nos assuntos internos de outros estados
para estabelecer a influência de uma grande potência ou para resistir à
influência de outra grande potência, devido a considerações de caráter
mais amplo sobre a distribuição do poder na sociedade internacional
como um todo.
Já foram propostas várias tentativas de resolver este choque de
imperativos entre o direito internacional e o equilíbrio de poder. Un1a
delas consiste em absorver o princípio do equilíbrio no próprio direi
to. Outra é a adoção de uma visão restritiva da esfera da validade do
direito internacional, colocando a questão do equilíbrio de poder, ao
() direito internacional e a ordem internacional 167
I' Vide, por exemplo, \Iwes S, l\1cDougal, f larold D. I .aswcll c \V Michacl Rcisrnau, '!'/Jc IrÍirId
0/ 1111' Illltmflliollt;/ / .<{l!,tI/ Urder, cd. Richard
(ollJlill/lil'c J>1'O(('.).1 oi ,'1111110111fllll'l' I )1'<1.11011, em 1/1('1'111111'1'
;\. l'alk e Cyril I", Black (PrlI1CCI()l1 l niv, Prc-e-, 1<)('9, vol. l). \'ide rambcm C. \,\'iltred .Ienks,
.\fll/lillr/liol!fll I :lIlilic,l" il/ 1/11' 1.<111' oI' \'rlliOII,l", em '1irlll.l'/lr/liollfl/ / .</11' il! ri (J/(/I<i!,Il<1!, S'ocil'!]': 1:,1",1"(1)',1" 111
HOIllJltr oi J>bi/ij> C .1C,l".fllj>, cd. \Vol(gang I -ncdmann, 1.ouis I Icnkin e Oliver J -issit:l.yn (C .olurnlna
l 'niv. Press, 1(72).
1(, Vide Philip C. {cssup, '/irl!I,I"IIt1lio!lrI/ I .<1/1' (Yalc l 'niv. Prcss, 1956),
,- Vide C. Wiltred ,lcnks, nlc (OIIIII/O!I / LI/I' oi ;\ {rlllkillrl (I .ondrcs, Stcvcns & Sons, 195H); c Pcrcv
I':. Corbcrr, 'IJ)(' C,m!1'111 0/ II'0drll ,,/1/' (Pnnccrou l.'ntv. Prcss, 1( 7 1) .
() direito internacional e a ordem internacional 169
tância cada vez maior de outros atores na política mundial, teve como
conseqüência a maior atenção, dedicada pelo direito internacional à eco
nomia, refletida nas atividades do Conselho I ~cont)mico e Social das Na
cócs Unidas (l ~C( )S( )C), da UNCTAD, do Banco l\lundial, do Fundo
Monetário Internacional, da ()rgani;;;ação de Alimentação e Agricultura,
e de outras instiruicóes; aos ternas sociais, como ilustra o trabalho da
UNESC() e da Organizaçào l\lundial da Saúde; aos transportes e comu
nicacócs, como a União Internacional de Tclecornunicaçócs e a Organi
zacâo Internacional da Aviacâo Civil; e, mais recentemente, à rq.,rulamen
ração dos aspectos internacionais do ambiente humano.
I ~ssa expansão do escopo do direito internacional levou B. V. A.
Roling a falar da transição que está ocorrendo de um "direito interna
cional da liberdade" para um contemporâneo "direito internacional do
bem-estar". Para Roling, o "direito internacional da liberdade" foi cria
do por um pequeno grupo de prósperos estados europeus preocupados
em conciliar mutuamente a sua liberdade, de acordo com os padrões
liberais. I '~m contraste, o "direito internacional do bem-estar" reflete
toda a extensão da intervenção estatal na vida econômica, assim como o
impacto sobre a sociedade internacional da maioria dos estados, que
nem são europeus nem prósperos, e se inclinam a desafiar a lei da liber
dade, numa equivalência internacional da luta de classes. Para esse au
tor, "a comunidade mundial deverá tornar-se uma comunidade do bem
estar, assim como o estado nacional tornou-se um estado do
bem-estar."!" Wolfgang Friedmann escreveu, de certa forma nos mes
mos termos, sobre a transição da "lei internacional da coexistência"
para a "lei internacional da cooperação", refletindo a expansão "hori
zontal" do direito internacional, de modo a incorporar novos estados
fora da tradição européia, e sua expansão "vertical", para regulamentar
outros campos da atividade internacional."
Sustenta-se também amplamente que ocorreram mudanças nos
processos pelos quais o direito internacional é formulado, ou as fontes
das quais ele deriva. Desde o século XIX, entre os juristas, prcdo
tx B.V.,\. Roling, lllli'l"Iltl/lolltl/ f .m in tlll f :,"\/Jtllldl'd li" orld (Arnsrerdam, Djarnbatan, 1%(1), p;í.g. f'n.
1'1 \\'olfgang lricdmann, 1IIe C!ItII{~/1/1.!, S/mil/l/(' oI lllli'l"I/tl//Ollall rnr (I .onclrcs, Stcvcnx & Sou, 1WJ4).
170
n.Je
2(1 Vide J. I," Brierly, /3I1Jl.r r/ O/;/{!!,l1tion in i ntemational/ 1l11' « hford, Clarcndon Press, 19SH);
e Hersch Lautcrpacht, l nternationa] f .LJ1l' anrl f-IU1JI1111 J{{l!,hIJ (Londres, Stcvcns & Son, 1950).
() direito internacional e a ordem internacional 171
'I Richard 1\. lalk, !'I/f \/(1111..- 0/ 111J1' il/ IJiltn/(lIiOJltl/ \'om/l (Princcton L'ruv. Prcss, ]lJ7()), p;í.g. 177.
" \lncl., capo 5.
172
.'1 Vide I .~. I\IcWhinney, luternationa] I .L1lI' illldlr or/d RCI'o/tltioll (l .lcydcn, Sijrhoff, 19CJ7), capo 4.
.'4 Rosalyn Higgins, FI)/' Del'e/opllJtIIt 0/ lntentationa] I .L1lI' F;'rol{~!J til(' Po/ili(iI/ ()(~aIlJ 0/ I/Je [ 'lIi1ed
-" Vide C. Wilfed Jcnkins, 1.L1JI\ I'recdon: illldlfd/áre (Londres, Stcvcns & Son, 1963), capo 5.
cial, e não de forma abstrata; precisa ser dinâmica, e não estática, para
poder reagir a mudanças no contexto social. Devido à inexistência no
direito internacional de urna autoridade legislativa competente para mo
dificar a lei, cabe ao jurista profissional levar em conta a mudança dos
valores ao expor a norma legal.
":stas quatro altcracocs ocorridas no direito internacional a par
tir do fim da Segunda Guerra Mundial estão relacionadas entre si e
tendem a reforçar-se reciprocamente. ] -:las levam alguns juristas à con
clusao de llue houve, na verdade, nào só altcracocs mas um progresso
efetivo: progresso a partir de um din.:,ito que p()e sob sua jurisdição
nao apenas os estados mas toda a comunidade mundial; de um direito
interessado apenas na coexistcncia entre os estados para um direito
preocupado com a cooperação econômica, social e ambiental entre as
pessoas, dentro da comunidade mundial: de uru direito que permite
que estados recalcitrantes, recusando sua concordância, possam desa
fiar o consenso da comunidade mundial para um direito em que o
consenso se tenha tornado uma fonte das obriuacocs; de um direito
interpretado de forma estática e mecânica, e por isso fora de contato
com os valores mutáveis da comunidade mundial (rcflcrindo, corno
diz Ri)ling, deu i\ ii!::;/ic/Je j'()1I C'eJ!erll, "o que ontem tinha utilidade")
para leis expostas de modo dinâmico e criativo, mantendo-se assim à
frente desses valores mutáveis.
No entanto, pode-se dizer llue esse "progresso" do direito inter
nacional tenha se refletido no fortalecimento do seu papel com respeito
à ordem internacional? Martin \'Vight observava que os períodos em
que as pretensocs do direito internacional sào mais extravagantes e ex
cessivas são também aqueles em que a prática internacional efetiva está
mais marcada pela desordem, enquanto nos períodos em que as rela
coes internacionais são relativamente ordeiras as prctensôcs do direito
internacional são mais modestas:
",\ característica marcante de) úlumo mero scculo " l' a mudança decisiva
de um regime legal de indifcrcnca com rcsllL'ito ,'t oporrurudadc da guerra,
em l]Ue ela era considerada prlm( .rdialmcnrc como um duelo, uma forma
de resolver U111a diferença particular, para um regll11e lq>;a\ l]Ue impt)s
limitacócs subsranciars ,I compcrcncta dos estados de recorrer ú força.
Desde 192~ o efeito cumulativo do Pacto kellogg-Bnand; do Pacto
Saa\"edra Lamas: da doutrina St1111S0n; da PLllIC\ dos estados entre 192~
c 1942; da guerra condUZIda contra o 1'"lXO; da (,ana de NuremGcrg, cujos
17H
\I lan Brownlic, /fllert/{/lir!IJaj / ,(II!' atu! Ih/' I '.rI' of I 'O/le /;]' S/ale.r « rxford, Clarcndon Prcss, 19(3),
pág.424.
() direito internacional e a ordem internacional 179
além dessas regras. As normas que governam o uso da força, por exem
plo, servem para conter e limitar a guerra em uma situação em que não
há consenso sobre qual o lado do conflito representa uma causa justa.
As regras relativas aos acordos internacionais destinam-se a garantir o
respeito por ações em uma situação em que falta consenso na sociedade
internacional sobre se determinado acordo é desejável. As regras que
sustentam a jurisdição soberana de cada estado, contra a intervenção
forçada de outros estados nos seus assuntos internos, são uma tentativa
de garantir o respeito mútuo dos estados por sua soberania em uma
situação em que não podem naturalmente alcançar um consenso para
distinguir as intervençôes justas das injustas.
Com efeito, para que a sociedade internacional atingisse um tal
nível de solidariedade política e moral básica (no sentido de acordos
majoritários) que permitisse chegar normalmente a um consenso sobre
a justiça de uma bJUerra, um tratado ou um ato de intervenção, então a
contribuição do direito à ordem internacional poderia ser fortalecida
pela aceitação da doutrina do consenso. No entanto, a ordem não é
fortalecida se, em situação em que não há tal consenso e a sociedade
internacional está dividida em grupos conflitantes, um desses grupos
pretende representar o consenso agindo como se o representasse. Nes
te caso, o resultado seria não o fortalecimento de regras derivadas da
premissa da existência do consenso, mas simplesmente a debilitação das
regras tradicionais que presumem uma falta de consenso.
Podemos tomar como exemplo as regras relativas às restrições
impostas à violência. Como já observamos, essas regras procuram limi
tar o papel da violência nas relações internacionais, confinando-a aos
estados soberanos, restringindo o direito que estes têm de praticá-la, a
maneira de fazê-lo e limitando a sua difusão aos beligerantes iniciais. No
entanto, a doutrina solidarista ou grociana, segundo a qual o direito inter
nacional trata a bJUerra como um conflito entre os que querem aplicar a lei
e os que pretendem violá-la, distinguindo entre as causas justas e as injus
tas, tem como objetivo primordial não a limitação da guerra, mas o triun
fo das hostilidades da parte que representa a causa justa. Quando aconte
ce, como na crise da Abissínia ou na guerra da Coréia, que não há um
lR2
consenso decisivo sobre o lado que representa a causa justa, mas ao mes
mo tempo um dos contendores pretende representar o conjunto da soci
edade internacional e vê o seu oponente como violador da lei, a conse
qüência é, não o triunfo do primeiro, mas simplesmente o enfraquecimento
das regras que limitam a violência.
A questão crucial com respeito a cada pretensão específica de que
um consenso determine a condição legal de uma regra ou procedimento
é saber se esse consenso realmente existe, ou em que medida de pode ser
verificado. Da mesma forma que a doutrina do consentimento, a doutrina
de que a fonte do direito internacional é o consenso ou a solidariedade
dos estados não garante que o direito internacional se relacione de perto
com a prática dos estados, e não expressa simplesmente um protesto moral
contra essa prática, derivado de forma arbitrária. Com efeito, sq.,rundo
certas interpretações, a doutrina do consenso não é muito diferente da
teoria do consentimento. Se o consentimento inclui o "consentimento
implícito", os estados podem ser obrigados por regras que não se poderia
provar que tivessem recebido sua aceitação explícita. I~ o que sustentam
certos defensores da teoria do consentimento, preocupados com novos
estados que não tenham manifestado a sua concordância, ou com o caso
de estados cuja aceitação de uma regra seja difícil de comprovar, ou ainda
que tenham retirado essa aceitação, depois de concedê-la." Por outro lado,
como proclamam alguns proponentes da doutrina do consentimento, se
o consenso dos estados é uma fonte do direito apenas quando há uma
esmagadora maioria, representando uma preponderância de poder e a
solidariedade dos principais grupos políticos e econômicos - um consen
so manifestado de forma evidente - neste caso é provável que a teoria do
consenso não resulte na intensificação dos conflitos entre os principais
grupos que compõem a sociedade internacional.
É preciso reconhecer, porém, que para alguns juristas o atrativo da
doutrina do consenso reside nas oportunidades que ela oferece de de
senvolver o direito internacional não em relação com a prática efetiva
dos estados, mas em conformidade com a sua própria opinião sobre o
\1 I ':m Brictly; '1'!Je l3a.flS 0/ ()bI~'l!,a/iotl in lnterttatioual .an; cap, 1, o leitor encontrará uma séria
Í
\1 Rosalvn IIlggins, "f>o/ic)' CO/IJirlcrrt/lOl/J and tbc 11I1ert/iI/irl/l{I/./lIrliritl/ Proccss", pág. 62.
184 HI·:DLEY BULI.
b Para uma discussào ulterior deste ponto vide meu artigo "Internationai I LlII' and lnternationai