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ELEIÇÕES 2018
NAIRA HOFMEISTER
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16/10/2018 Eleições 2018: Nem fascistas nem teleguiados: os bolsonaristas da periferia de Porto Alegre | Brasil | EL PAÍS Brasil
Anriel do Prado Neves, de 24 anos, mostra o adesivo de Jair Bolsonaro no carro que dirige para um
aplicativo. TÂNIA MEINERZ
C
ássio Martins tem 18 anos e quer que a Debate da
AO VIVO
Rede TV reúne
lei do morro onde ele vive, ditada pelos
candidatos a
donos do tráfico, valha também para o presidente de novo
Bolsonaro propõe
Porto Alegre que tem um dos piores Índices de
‘licença para matar’
Desenvolvimento Humano da capital do Rio Grande do para policiais e
venda de ativos da
Sul, mas onde ele se sente confortável para ouvir música Petrobras
e checar o Facebook no telefone sem medo de ser
roubado. Essa é a justificativa principal para dar o
primeiro voto de sua vida para Jair Bolsonaro (PSL), o
controverso candidato à presidência da República que
“Vendo camisetas
promete rigor com a criminalidade. de Bolsonaro, mas
não voto nele”
Quem é quem na
candidato a governador de São Paulo João Doria
corrida eleitoral (PSDB) e faz discurso contra a burocracia para
empreendedores. Mas tem consciência da profunda
desigualdade brasileira e acha que ampliar oportunidades aos mais pobres é
tarefa do Estado. Quando faz corridas para estudantes (ele detesta pegar
passageiros das humanas na federal do Rio Grande do Sul), nota diferenças:
“Se eu pego corrida na UFRGS é só Assunção, Menino Deus, bairros finos.
Mas se é nas faculdades privadas, o destino é Restinga, Pinheiro, só
periferia”. Por isso, embora contrário a cotas raciais, ele é simpático à reserva
de vagas públicas a quem tem baixa renda.
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“Eu tenho pena da Dilma, aquilo não era para ter ocorrido. Passamos uma
vergonha na frente de outros países. Ela tinha votos para estar lá”, lamenta.
Ainda assim, entende a posição do seu candidato: “Ele estava fazendo
política. Bolsonaro é um democrata”, acredita.
O morro
Os bairros onde o Morro da Cruz está localizado não são muito familiares ao
porto-alegrense médio (São José é o principal, mas também a Vila João
Pessoa e Coronel Aparício Borges). Mas nem por isso a favela é desconhecida
da população em geral: lá se celebra anualmente a procissão de Páscoa
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Não é raro ouvir de um morador do Morro da Cruz que ele “vai pra Porto
Alegre” quando precisa sair da localidade (são nove quilômetros até o
centro). Lá tem de tudo: supermercado, farmácia, mecânica, padaria. Placas
de freteiros e de confeiteiras são muitas, penduradas nas grades de ferro das
casas. Mesmo a parte alta do morro é abastecida com transporte coletivo, os
postos de saúde atendem a população apesar da precariedade, as escolas
estão abertas. Em uma lan house que estava cheia perto do meio-dia de uma
sexta-feira, os cartazes avisam: “É proibido pornografia”. Quem não atender é
punido com a “perda de todos os créditos”. Já falar palavrão ou ter um ataque
histérico são falhas menos graves, custam 30 créditos a quem cometer os
deslizes.
E a realidade pode ser ainda pior do que mostram os dados oficiais, porque há
uma imensidão de áreas irregulares no entorno do centrinho mais
organizado, nos becos. Essa parte não entra nas estatísticas. Por exemplo, se
os dados do IBGE contabilizam uma população de pouco mais de 16.000
pessoas, estima-se que a vila tenha entre 35 e 45 mil moradores. “São muitas
ocupações, é impossível saber com precisão”, argumenta Lucia Mury Scalco,
que divide seu tempo no morro entre a pesquisa de pós-doutorado em
antropologia e um trabalho social que criou depois de 12 anos estudando a
população do local.
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Quem votou em uma das cinco zonas eleitorais do bairro São José, onde fica
a maior parte do Morro da Cruz elegeu Dilma Rousseff (PT) —a candidata
petista venceu Aécio Neves (PSDB) em todas as seções eleitorais da região.
A sigla tem certa tradição na localidade: a população do morro sempre foi
muito atuante nas assembleias do Orçamento Participativo, criado no final
dos anos 80 durante a gestão de Olívio Dutra na prefeitura, figura sempre
lembrada e referência no bairro.
ele - que tinha uma irmã recebendo o benefício, porque a creche da filhinha
exigiu o cadastro no programa para aceitar a matrícula da menina. “Eu sei que
tem gente que precisa mesmo, mas também conheço muitos que ficaram
parados depois. Acho que deveria ser obrigatório, para quem recebesse, ir
todos os dias no SINE para arrumar emprego”, opina.
Informação
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Oposição
Apesar de ter grande apoio, Bolsonaro não é unanimidade no Morro da Cruz
—e há muitos jovens contra suas propostas. Mas mesmo quem o critica,
reconhece qualidades: “Eu não gosto dele e não votaria nele, mas ele propõe
coisas diferentes do que estamos acostumados”, avalia Shaiane Carolina
Azevedo, de 19 anos. “As propagandas dos outros são todas iguais”, lamenta
Bianca Martins, 20 anos, também contrariada.
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vai instigar mais a violência. O Brasil dele não é real”, contesta Fabiana Carniel
Gonçalves, 42 anos.
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