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O Deus Cornífero possui inúmeros nomes. Ele é chamado de Consorte da Deusa, Doador de
Vida, Senhor da Morte e Ressurreição, Deus das Sementes, Flores e Frutas, Antigo Deus da
Fertilidade, o Senhor da Dança.
Ele é conhecido por Cernunnos, Herne, Pan, Osíris, e outros incontáveis nomes.
O Deus é adorado sob muitas formas e nomes, mas o aspecto predominante venerado por
nossos antepassados foi o Deus Cornífero. O homem do período Paleolítico de 12 mil anos
atrás retratou inúmeras vezes nas paredes das cavernas o Deus Cornífero da Caça, um ser
meio homem meio animal.
O Deus Cornífero teve uma força dominante, mesmo depois do aparecimento de novos
Deuses. Esse poderoso arquétipo continuou existindo durante 10 mil anos, depois de aparecer
primeiramente em pinturas rupestres nas paredes das cavernas.
Chifres sempre foram sinais de algo Divino. Na Babilônia, o grau de importância dos Deuses era
identificado pelo número de chifres atribuídos a Ele. Um exemplo principal é Ishtar, uma
antiga Deusa, detentora de sete chifres.
Ele era reverenciado e invocado antes das sementes serem plantadas e novamente quando
eram colhidas. Ele se mostra na terra vivente, na grama, nas árvores e na vinha. Esse aspecto é
o Deus da Morte, que é enterrado como semente e que ressurge novamente verde e jovem na
Primavera, renascido do Útero da Grande Mãe. Ele se mostra também nas colinas estéreis e
frias, nos ventos indomáveis e nas planícies de Inverno.
O Deus Cornudo é o espírito de vegetação, das coisas verdes e crescentes, da floresta e do
campo. Dionísio, Adonis e muitos outros Deuses da vegetação e colheita eram freqüentemente
descritos como cornudos e eventualmente usavam chifres de touro, cabra, carneiro ou veado.
Muitos Wiccanos chamam o Deus de Cernunnos, que é a versão Céltica e Galo-romano do
Deus Cornífero. Um altar para Cernunnos foi descoberto debaixo do que é agora a Catedral de
Notre-Dame, em Paris, França. Herne, o Caçador, também é usado freqüentemente para
designar o Deus. Muitas variações dos nomes do Deus aparecem como nomes de alguns
lugares na Inglaterra. Cerne Abbas, na Inglaterra meridional, é um exemplo.
O Deus Cornífero foi transformado no “Diabo” cristão por aqueles que foram tentar difundir
sua fé na Europa Antiga. Muito antes de o cristianismo emigrar dos desertos de Jerusalém, o
Deus Cornífero era tido como o símbolo da vida, da sexualidade, do êxtase, da liberdade e da
indomabilidade.
Muitas deidades Pagãs foram absorvidas pelo cristianismo. Porém, o Deus Cornífero
transpareceu num semblante ameaçador os primeiros cristãos. Ele era um Deus animalesco e
sexual. Uma Divindade da noite e da floresta. Considerando que o Cristianismo era uma
religião praticada durante o dia, em templos, ele não teve lugar e teve que ser excluído. O
Cristianismo viu a sexualidade como a escuridão e o mal, e o Deus Cornífero foi identificado
como o princípio do mal, chamado por eles de Diabo. Ainda assim, o Deus Cornífero
sobreviveu por séculos de supressão e difamação.
Consideremos os muitos modos nos quais o Deus Cornudo sobreviveu. O folclore o retratou
como Robin Goodfellow e Puck. Puck é o personagem principal em Sonho de uma Noite de
Verão, peça na qual Shakespeare desenvolveu em um dia de Sabbat (Solstício de Verão-Litha) a
trama da história. O Homem Verde (Green Man) ainda é venerado em celebrações e é um
símbolo comum achado nas paredes das tavernas na Inglaterra.
Ele é forte e poderoso, mas não deve ser temido. O corpo dele é de um homem, mas os seus
pés são patas, e os chifres capturam os poderes dos céus, do Sol e das estrelas. Ele é Deus do
constante renovar, do movimento eterno, e é considerado a própria força crescente de vida. O
Deus Cornífero é o caçador, o guerreiro, o gerador, o Rei da terra, e representa ao mesmo
tempo as mudanças e verdades.
É o Deus visto com características duais. Ele é o Deus do Verão e do Inverno. Ele é o Rei do Sol,
o Rei do Milho e o Homem Verde, honrados no Verão. Ele é o Senhor do Submundo, o
Caçador, o Pastor e o Curandeiro, na sua face do Inverno. Ele é o Sol renascido no Solstício de
Inverno que traz vida e alegria, mas também o Senhor da Luz e da Morte.
Entrando em Contato com as Faces do Deus
Sou o brilhante Deus, Senhor do Sol, Mestre de tudo aquilo que é Selvagem e livre, Pai das
mulheres e homens, Amante da Deusa Lua.
Entrar em contato com a energia do Deus é um processo vital para a recuperação de nossos
dons perdidos ou esquecidos.
O Deus Conífero é o Senhor da fauna, flora e animais e nos coloca em contato com o nosso
lado mais animalesco e primitivo, capaz de nos conduzir ao centro de nossos mais puros
instintos e vitalidade plena.
O Deus, assim como a Deusa, possui também três aspectos: o Cornífero, o Homem Verde e o
Ancião.
Cada uma das faces do Deus está associada a um período da evolução humana e de nossa
própria vida.
Meditar com o Deus nos traz a possibilidade de contatarmos o nosso Eu mais profundo. Isso
traz um processo de integração total com a Natureza e os seus ciclos, além de possibilitar uma
maior interação com a vida e a humanidade como um todo.
O Cornífero
É a face do Deus que exerce domínio sobre as florestas. Ele é a representação da Natureza
intocada e de tudo o que é livre. Nesse aspecto o Deus assume a face de Caçador e representa
a renovação, virilidade, força, fertilidade e vitalidade. O Cornífero exerce domínio sobre os
animais selvagens e ferozes. Esteve em contato direto com a humanidade principalmente nos
períodos Neolítico e Paleolítico, onde os homens subsistiam principalmente da caça.
Cernunnos: Deus celta, portador de chifres é regente dos animais selvagens e bosques. Está
associado à fertilidade e fartura.
Pan: Deus grego dos campos e bosques. Está associado à vegetação, ao êxtase e ao vigor
sexual.
Dionísio: Deus grego que assumia a forma de touro ou bode, ambos símbolos da fertilidade.
Está associado à fertilidade e tinha a capacidade de morrer e renascer.
Esus: Deus celta associado ao touro, que era acompanhado freqüentemente por três pássaros.
Posteriormente, foi identificado como Cernunnos. Está associado ao Submundo e muitas vezes
era representado brandindo um machado contra uma árvore.
Odin: Deus germânico associado à magia, à guerra e ao êxtase. Muitas vezes é representado
portando um capacete de chifres e acompanhado por um cervo.
• Livrar-se de estresse.
• Centralizar.
• Estabilizar situações.
Material necessário:
• Um tambor;
• Bastão.
Procedimento: Acenda a vela sobre o seu Altar. Trace o Círculo e invoque o Deus com o seu
Bastão, dizendo:
Chamo por Aquele que domina os campos, as montanhas, os vales e as charnecas, o Deus
Cornífero, Senhor da alegria e fertilidade para que esteja comigo.
Venha a mim
Venha a mim.
Venha a mim.
Condutor da Eterna Dança,
Venha a mim.
Venha a mim.
Venha a mim!
Olhe fixamente para a chama da vela e comece a tocar o tambor. Deixe sua consciência
divagar por onde quiser, indo rumo a um bosque. Sinta as batidas do tambor e deixe que elas o
levem até esse bosque.
Siga as batidas do instrumento e cada vez bata mais forte, sentindo o coração da Terra pulsar
através das batidas do tambor, e caminhe através da sua mente ao bosque.
Ao chegar, peça mentalmente que o Deus se apresente a você na sua face de Cornífero.
Continue tocando o tambor, mas preste atenção ao bosque até que o Deus decida se
aproximar de você.
Quando ele se aproximar, converse com Ele, peça-lhe instruções e diga por que você foi ao
encontro Dele. Seja sincero.
O Deus conversará com você e o instruirá sobre como agir em relação à solicitação feita por
você.
Peça que Ele doe um pouco de seu poder e vitalidade a você. O Deus então lhe estende a mão
e quando a abre você vê um objeto, um símbolo, ou algo semelhante. O Deus entrega para
você. Esse é o portal de acesso pelo qual você poderá invocar a energia do Deus quando
necessário. Guarde-o, e, se possível, reproduza esse objeto ou símbolo em madeira, pedra ou
metal e tenha-o sempre junto de você.
Continue tocando o tambor. Aos poucos o Deus se afasta. Agradeça a Ele pela presteza com
que atendeu ao seu chamado e deixe-o seguir.
Continue tocando o tambor e deixe que suas batidas o tragam de volta à sua consciência
normal. Bata cada vez mais rápida e intensamente e sinta-se voltando a ela.
Quando se sentir centrado, abra os olhos e agradeça mentalmente mais uma vez ao Deus.
Deixe a vela queimar até o fim em homenagem ao Cornífero.
O Homem Verde
O segundo aspecto do Deus é o Homem Verde (Green Man), Ele é o Senhor da Colheita e de
toda a Natureza cultivada. Está relacionado aos grãos e ao desenvolvimento da agricultura.
Exerce domínio sobre a vida e o crescimento das plantas. É ele que nos traz a alegria, a
felicidade. Está associado aos excessos e ao êxtase provocado pelo vinho, tão sagrado para as
culturas primitivas. Nessa face Ele assume vários papéis, principalmente o de Filho e Amante
da Deusa.
Green Man: Uma Divindade que aparece em várias representações como um homem coberto
de folhas. Está associado às florestas, à alegria, à descontração. Sua face com múltiplas folhas
aparece em construções de antigas tabernas, espalhadas por toda a Europa, representando a
sua ligação com a embriaguez através do vinho. É o portador de alegria.
Baco: Deus romano da fertilidade e do vinho. Suas cerimônias sagradas, as bacanais, eram
marcadas por excessos de todos os tipos, principalmente os alcoólicos.
Dionísio: Aparece muitas vezes como o Deus da embriaguez. Segundo as crenças gregas, ele
era o criador do vinho e suas Sacerdotisas, as Mênades, corriam e dançavam nuas pelos
bosques, atordoadas pelo efeito do vinho (tido como o próprio Deus), agitando tochas e
bastões de tirso nas mãos, em homenagem ao Deus.
Sileno: O tutor de Dionísio e o líder dos Sátiros. Muitas vezes representado como um Deus
careca e barrigudo. Está relacionado à fertilidade e ao êxtase, em todas as suas manifestações.
• Atrair felicidade.
Material necessário:
Procedimento:
Coloque a vela sobre o Altar. Trace o Círculo Mágico e então a acenda. Espalhe as folhas sobre
o Altar enquanto invoca o Deus com as seguintes palavras:
O Ancião
Dagda: O bom Deus dos celtas irlandeses. É o Deus que ocupa lugar preponderante entre os
Tuatha de Dannan. Seu título “Ollathir” significa “Pai de todos”.
Cronos: Deus grego do tempo e do destino dos homens. Ele castrou seu pai, Urano, e assumiu
o domínio do mundo. Para não perder seu trono engoliu todos os seus filhos, menos Zeus, que
mais tarde o suplantou e tornou-se o grande pai dos Deuses.
Teutates: O mais poderoso dos aspectos do Deus, entre os celtas, Teutates está associado às
guerras, mas aparece muitas vezes como um Deus da fertilidade e abundância. Era
considerado o Rei do Mundo.
Plutos: Deus grego das riquezas. Em uma de suas lendas ele aparece como um velho cego que
distribui riquezas e presentes de maneira aleatória e injusta.
• Transmutar energias.
• Transformar situações
• Afastar o azar.
• Revelar segredos.
• Necessitar de proteção.
Material necessário:
• Uma vela preta;
• Um cajado;
• Uma túnica preta com capuz.
Procedimento: Coloque a sua túnica, trace o Círculo Mágico e acenda a vela preta. Bata três
vezes no solo com o cajado, chamando o Deus Ancião:
Cubra a cabeça com o capuz e continue batendo no solo com o cajado. Feche os olhos e siga a
batida, indo em direção a uma caverna. Você chega à entrada e pede licença aos seres daquele
lugar para entrar.
A caverna é escura, mas à sua frente, lá no fundo, você pode ver um pequeno foco de luz. Siga
em direção à luz.
Lentamente você se aproxima da luz e percebe que ela provém de uma pequena fogueira que
está em uma ampla área, onde se encontra um Ancião, sentado em um trono. Ele carrega em
uma das mãos um cajado com muitos símbolos. Convida-o para sentar, apontando um
banquinho ao lado de Seu trono. Você senta e então Ele o abençoa com o cajado, tocando-o
em seu chacra do terceiro olho. Ao fazer isso, uma forte luz se espalha por toda a caverna. Esta
luz é forte e de poder regenerador, capaz de lhe dar acesso aos conhecimentos mais sagrados
do Universo, que só o Ancião pode lhe proporcionar.
Deixe-se ser invadido pela luz e pela força que o Ancião lhe transmite.
Ele lhe dá um dos símbolos que se encontra pendurado no seu cajado, dizendo que é um
presente dele para você. Guarde o símbolo e agradeça ao Ancião. Despeça-se, fazendo uma
inclinação de reverência com a cabeça e siga em direção à saída da caverna.
Nesse estágio da meditação, comece a bater novamente o seu cajado e deixe o som trazê-lo
de volta à realidade. Acalme a sua mente, centre-se e abra os olhos.
Mistérios Masculinos
Para os primitivos povos caçadores, os animais selvagens eram manifestações do
desconhecido. A fonte de perigo e sobrevivência foi associada psicologicamente à tarefa de
compartilhar o mundo silvestre com esses seres. Ocorreu uma identificação inconsciente, que
se manifestou nos míticos totens meio humanos, meio animais das antigas tribos. Os animais
tornaram-se tutores da humanidade. Através de imitações, as naturezas separadas de
humanos e animais foram derrubados e criou-se a União. O mesmo é verdade acerca das
posteriores comunidades agrícolas, as quais viram os ciclos de vida e morte dos humanos
refletidos nos ciclos das colheitas.
A Tradição Misteriosa Masculina pode ser dividida em até quatro categorias: o Caçador-
Guerreiro, o Sátiro, o Rei Divino-Deus Sacrificado e o Herói. Esses mistérios associados aos
homens resumem bem os aspectos da mentalidade e do comportamento masculinos. Assim,
podemos separar a maioria dos homens em uma ou mais das categorias acima. Como ocorre
com todas as generalizações (e estereótipos), esse aspecto comportamental ou de
mentalidade não se aplicam a todos os indivíduos.
Iniciações envolvendo teste de bravura, força física, resistência ou tolerância à dor eram
aspectos de iniciação nos antigos cultos masculinos. Eram traços essenciais para a sociedade
masculina. Principalmente em razão do fato de que a caça de animais era perigosa, os inimigos
eram comuns, as lutas inevitáveis e os ferimentos físicos esperados. Assim, no início da
puberdade, quando os hormônios magicamente transformam garotos em homens, tinha início
os primeiros ritos de masculinidade.
O primeiro passo nessa iniciação transformativa era encontrar-se com o Monstro (o que quer
que isso represente a uma certa comunidade). Há uma antiga lenda que envolve um clã cuja
aldeia estava sujeita aos horríveis sons de um monstro habitando nos bosques ao redor.
Somente os guerreiros/caçadores abandonavam a segurança da aldeia, e mesmo assim
armados até os dentes. Os restantes ouviam amedrontados os sons da incrível criatura. Os
homens geralmente voltavam trazendo descrições apavorantes desse perigoso monstro.
Quando um garoto atingia a puberdade, ele devia seguir os homens pelos bosques e encarar a
criatura. Durante a jornada, os homens gradualmente desapareciam entre as árvores sem
serem percebidos, até que o garoto ficasse na companhia de apenas deles, seu iniciador.
Quando se aproximavam do local de onde emanavam os sons, o garoto recebia uma lança; a
seguir o homem apanhava-o pelo braço e, bradando um grito de guerra, corria impelindo o
garoto rumo à clareira para atacar a criatura. No centro da clareira, um homem soprava um
enorme chifre de onde emanavam os horríveis urros do monstro. O garoto havia então
matado o monstro de sua infância e se tornara um homem.
Era prático dos Mistérios Masculinos criar histórias de bosques assombrados e monstros
terríveis. Serviam não só no exemplo acima, mas também para assegurar locais rituais
privativos. Isso foi particularmente importante durante a inquisição. O aldeão comum não
desejava ingressar em bosques onde forças sobrenaturais estivessem em ação.
O Caçador-Guerreiro
Os primeiros clãs humanos sobreviveram graças, em grande parte, aos caçadores e guerreiros
da tribo. Caçava-se o gamo, que fornecia alimento, agasalho e instrumentos confeccionados
com cifres e cascos. O alce se tornou um símbolo de provisões, e na sua natureza de líder e
protetor da manada, os caçadores primitivos identificaram algo do próprio clã. A rivalidade
entre os alces pelas fêmeas era, em muitos aspectos, simbólica das paixões com que os
próprios homens lutavam. Entre os gamos, o homem primitivo vislumbrou seus próprios
instintos sexuais e de liderança unidos no fervor da caçada (atualmente, diversos esportes
suprem essa importante função social nos homens). Ao observar os alces afastando os
predadores com golpes de suas galhadas, o homem aprendeu como utilizar a lança. Da íntima
relação entre o caçador e a caça, surgiu uma certa reverência e identidade espiritual. Os
homens foram provavelmente os primeiros a sigilar conceitos, o rastro de um animal passou a
simbolizar esse animal; ver esse símbolo significava a possibilidade de ver o próprio animal (o
protótipo da evocação). Ao reverter o processo, cria-se o símbolo e, portanto, cria-se a
possibilidade de ver o animal a ele associado. Dessa associação primitiva surgiu o pensamento
mágico, e vemos que os antigos entalhes e pinturas rupestres visavam evocar a presença de
vários animais de caça.
Em tempos remotos, o membro mais valente e mais forte do clã assumia uma posição elevada
no culto do caçador-guerreiro, assim como o grande alce entre seu harém de fêmeas. Esses
eram os atributos mais importantes para assegurar sucesso na caça e na luta. Trajando peles e
os chifres de sua presa, o poder primitivo passava e seu espírito e ele se tornavam o Mestre
dos Animais, Senhor da Floresta. Um dos mais interessantes aspectos dos Mistérios do
Caçador-Guerreiro concerne aos códigos de conduta formada numa sociedade basicamente
violenta. À medida que o homem se tornava menos bárbaro, estabelecia várias regras,
principalmente relacionadas às lutas. Incluem-se aqui regras acerca do tratamento dispensado
aos prisioneiros, quando um inimigo desarmado podia ou não ser morto, e assim por diante.
Tal código de honra pessoal tornou-se a pedra fundamental das sociedades masculinas.
Um homem que fosse respeitado por sua capacidade física e suas habilidades em combate
perderia rapidamente o respeito dos demais se demonstrasse falta de honra. Isso assinalou um
período no qual o homem interior era mias importante do que o exterior. Um exemplo
moderno seria o herói do esporte que demonstra pouco espírito esportivo em campo. A
verdadeira força de um homem não está em sua força física, mas em seu controle pessoal.
Saber quando não empregar seus atributos físicos (direta ou indiretamente) é a marca de um
homem de honra. Exemplos disso são a violência física e psicológica a crianças e mulheres.
Atualmente é comum ver os homens como um patriarcado maligno que nada mais fez além de
erradicar os antigos cultos da Deusa, e que continua a subjugar conscientemente as mulheres.
Contudo, isso não reflete a duradoura tradição dos Mistérios Masculinos, e os homens
geralmente demonstram um sacrifício impessoal por outros, especialmente os oprimidos e
todos aqueles que não são capazes de se defender. O melhor exemplo é o código de
cavalheirismo assumido por um cavaleiro. Apesar da opinião moderna de certos grupos
políticos, o verdadeiro homem não oprime ou abusa das mulheres. É, no entanto, natural aos
homens competir e manter papéis de liderança social, um fruto dos antigos impulsos que
originaram os primeiros cultos ao Caçador-Guerreiro.
O combate é uma experiência que, apesar não ser exclusiva ao homem, é vivida por uma
porcentagem muito maior de homens do que de mulheres. Na sociedade moderna, é um
período no qual os homens podem chorar e se abraçar sem a desaprovação social. No
combate, os homens voluntariamente sacrificam suas vidas pela de um amigo, na defesa de
usa nação ou de seus princípios e crenças. Essa é a verdadeira nobreza do homem, surgida de
seu eu interior em meio ao caos e o medo. Entretanto, também é verdade que na guerra são
cometidas atrocidades, e também isso tem origem na natureza humana. É importante
compreender que não se trata de comportamento instintivo; é a manifestação de ódio,
preconceito, frustração e vingança. Deve ser cuidada e cultivada, ao contrário dos traços
nobres que são inerentes a nossas almas.
Há uma certa especulação sobre os sentimentos de raiva e ressentimento com relação às
mulheres, que teriam surgido nas sociedades patriarcais durante a transição de caçador-
coletor para agrícola. Foram às mulheres que estabeleceram o mito do Deus Sacrificado
envolvendo os homens. As antigas formas divinas do Mestre dos Animais e Senhor da Floresta
deram lugar aos deuses com pés de bode e Senhores da Colheita. As mulheres mantiveram as
estruturas religiosas, organizando e dirigindo a vida doméstica das pessoas da aldeia, e os
homens começaram a trabalhar nos campos. Onde antes o homem era o grande caçador,
agora ele caminhava por entre canteiros, plantando sementes. Onde antes ele arremessava
sua lança contra a presa, agora rasgava a terra com seu cajado.
Em tempos remotos, as mulheres não associavam o prazer sexual de um homem num ritual a
algo negativo. Seu sêmen era mágico e gerava vida; portanto, era empregado como um dos
sagrados fluidos rituais e cerimoniais. Infelizmente, muitas pessoas hoje consideram um ritual
que inclua prazer sexual aos homens como algo perverso, manipulativo ou abusivo para as
mulheres. Essa repressão do poder dinâmico inerente aos homens criou uma fissura entre as
mentes consciente e inconsciente. Assim, a imagem de um sátiro simboliza o homem perdido
entre sua natureza elevada e inferior. Em alguns casos, isso pode se manifestar num homem
na forma de uma incapacidade de compreender seus próprios sentimentos, o que o leva a
buscar válvulas de escape físicas para manter ou descobrir seu senso de identidade.
Em tempos remotos, a lei “só os mais fortes sobrevivem” era uma realidade verdadeira e
comum. Hoje, graças à medicina moderna e à tecnologia, nossa sociedade mantém vivos
aqueles que a Natureza permitiria morrer. (Isso não é um julgamento, mas uma simples
observação).
Antes que os humanos aprendessem a cultivar plantações e a criar animais, a caça era
essencial para a vida. Sem caçadores capacitados, os clãs desapareceriam. A caça era uma
atividade perigosa, pois os humanos ainda não haviam se retirado da cadeia alimentar. As
armas primitivas exigiam que os caçadores se aproximassem muito da presa, e os ferimentos
pessoais eram corriqueiros. Muitos caçadores perderam a vida ou ficaram incapacitados como
resultado da caçada. Com o tempo, o caçador passou a guerreiro, arriscando sua vida pela
tribo. As necessidades da tribo fossem por alimento ou por defesa, exigiam o envio de melhor
caçador ou guerreiro existente na tribo.
Com o passar do tempo, esse conceito evoluiu com a consciência religiosa e espiritual da
humanidade. O conceito de Deidade, bem como seu papel na vida e na morte, tomaram forma
em meio a rituais e dogmas. Conseqüentemente, surgiu a idéia de enviar o melhor elemento
da tribo diretamente aos deuses para assegurar favores. Essa foi à origem do sacrifício humano
(acreditava-se que os que se apresentavam voluntariamente acabavam por se tornar eles
mesmos deuses).
As oferendas não eram novidade para nossos ancestrais; muitas vezes alimento e flores ou
caçaram depositados perante os deuses. Um semelhante era considerado a maior oferenda
que uma tribo poderia fazer. Entre as oferendas humanas, o sacrifício de um voluntário era a
possibilidade máxima. Certamente, acreditavam-se, os deuses garantiriam à tribo qualquer
coisa se alguém desejasse abrir mão de sua vida.
Em seu livro Western Inner Working (Weiser, 1983), William Gray aborda diversos aspectos
desse tema do Culto. Um deles está relacionado ver com linhagens sangüíneas. Ele escreve:
Algo os impelia a Deidades, não o medo, tampouco a busca por favores, mas eles sentiam um
grau de afinidade entre eles próprios e os invisíveis Imortais. De modo extremo, eles
percebiam que eram aparentados à distância desses Deuses, e queria fortalecer tal
relacionamento. Essa faceta em membros específicos da raça humana apresenta uma certa
prova de linhas genéticas que remontam ao “Antigo Sangue” que se originara de fora da
própria Terra.
Gray também demonstra como os reis e governantes acabaram por ser sacrificado (por serem
os “melhores” do clã) e como as linhagens sangüíneas eram importantes. Os regentes da
antiga Roma e do Egito eram considerados por seus povos os descendentes dos deuses, ou
eram eles mesmos deuses.
“O Culto ao Reinado” por Gray oferece um relato de como o sangue e a carne eram
distribuídos para o clã, e para a terra. Partes do corpo eram enterradas em campos cultivados
para assegurar a colheita. Pequenas porções do corpo e do sangue eram adicionadas ao
banquete sobre o qual Gray escreve:
Eles concediam ao finado líder o mais honroso sepultamento possível – em seus estômagos.
Esse tipo de mitologia também pode ser encontrado na mitologia cristã, onde o corpo de Jesus
é o centro do rito da comunhão. Após o fim de tais práticas, Gray nota que o costume
perdurou na forma de cremação em uma pira funerária.
No mito do Rei Divino/Deus Sacrificado, o sacrifício é apenas uma parte da história. Sacrificar é
enviar o que temos de melhor, mas e quanto a recuperá-los? Nos versos da Arte, temos uma
passagem onde se lê: “. e devemos encontrá-los, reconhecê-los, relembrá-los e amá-los
novamente”. Para tanto, foram criados rituais que ocasionassem o renascimento desses
Deuses Sacrificados onde às linhagens eram cuidadosamente estudadas. Donzelas especiais
eram preparadas para carregar o rebento, geralmente virgens artificialmente inseminadas
para que nenhum pai humano fosse conhecido.
Na antiga tradição, era através dessa conexão com o corpo e o sangue do Deus Sacrificado que
as pessoas se integravam com a Deidade. Esse é basicamente o conceito do rito cristão da
comunhão ou da Celebração da Eucaristia. Na “Última Ceia”, Jesus declara a seus seguidores
que o corpo e o vinho são seu corpo. A seguir, ele afirma que abrirá mão de sua vida por seu
povo, e pede-lhes que comam de sua carne e bebam do seu sangue (o pão e o vinho).
Acreditava-se que o sangue continha a essência da força vital. A morte do rei libertava o
sagrado espírito interior, e através da distribuição de sua carne e de seu sangue (às pessoas e a
terra), uniam-se a terra e o paraíso, e essa energia vital renovava o Reino. Resquícios dessa
prática ainda podem ser claramente observados na Antiga Religião, apesar de estarem velados
e altamente simbólicos.
O Rei Divino/Deus Sacrificado surgem em vários aspectos no desenrolar das eras. Sua imagem
se manifesta como o Jack-in-the-Green, o Hooded Man, O Green Man e o Hanged Man
(Enforcado) do tarô. Ele é o Senhor das Plantas, ele é a Colheita e, em seu lugar da Mãe Terra,
tampouco usurpa seu poder – ele é seu complemento e seu consorte.
A imagem do Green Man provavelmente simboliza da melhor forma possível o Rei Divino/Deus
Sacrificado. Ele é o espírito da Terra, manifesto em todas as formas vegetais. Ele é o poder
procriativo e a semente da vida. Sua face é oculta pela folhagem, mas ele está sempre atento.
O Green Man representa a relação do homem com a Natureza. O escritor William Anderson,
em seu livro The Green Man, diz:
Ele resume em sim mesmo a união que deve ser mantida entre a humanidade e a Natureza.
Ele é o próprio símbolo da esperança: afirma que a sabedoria do homem pode se aliar às
forças instintivas e emocionais da Natureza.
Ele é, com efeito, nossa ponte entre os Mundos. Ele está integrado ao Paraíso e a Terra, e
integrar-se a ele é integrar-se à Fonte de Todas as Coisas.
O Herói
A trilha do herói não é específica a um determinado sexo. A grande maioria dos mitos e lendas
remanescentes associados a heróis envolvem homens. É agora parte de nossa Consciência
Coletiva como cultura ocidental, e assim é aqui que abordamos os mistérios. Para onde
seguimos depois é por nossa conta. Na Antigüidade, o caminho do herói incluía mulheres;
resquícios de heroínas ainda existem em lendas como as de Perséfone e Deméter, Inanna, Ísis
e tantas outras. Seja um homem a arriscar sua vida em combate, ou uma mulher a fazê-lo no
parto, ambos são atos de bravura dignos do caminho do herói. O caminho do Herói é um de
auto-sacrifício pelo bem-estar dos demais.
O herói incorpora os elementos pelos quais a cultura que o criou aspira. O herói preserva o
que é nobre, inspirador e valioso para uma sociedade, tudo entrelaçado em contos de Busca,
desafio e determinação. Joseph Campbell chama a isso de o feito praticado por muitos.
Claramente, percebemos que esses feitos dos heróis de qualquer cultura não diferem dos de
outra. Nisso vemos que a natureza do Herói é, sem dúvida, universal na cultura humana.
Nos níveis externos, o Herói abandona a segurança de sua tribo ou aldeia e parte ao encontro
de um monstro ou para cumprir uma tarefa, em ambos os casos servindo aos interesses de sua
comunidade. Num nível interno, cada um de nós é um herói que deve deixar a segurança do
que aprendeu e aventurar-se na Busca por conhecimento. O herói deve deixar uma condição e
encarar um desafio, por meio do qual possa elevar sua própria consciência. Em algumas vezes,
isso é feito deliberadamente; noutras ocorre quase acidentalmente ou como uma reação
simples a uma determinada situação. De qualquer forma, são três os elementos do caminho
do herói: partida, realização e retorno.
Nas lendas celtas, o herói é geralmente atraído ao desconhecido por uma criatura qualquer
que posteriormente se transforma numa fada ou deusa. A aventura do herói se inicia nesse
ponto da história. Nas tradições do Egeu/Mediterrâneo, o herói geralmente parte numa Busca
pré-determinada com parâmetros definidos. À medida que a consciência espiritual e
intelectual da cultura amadurece, a aventura do herói se transforma com ela. A lenda do Rei
Arthur é um excelente exemplo de um mito que evoluiu com a consciência da cultura que o
formou. Os aspectos lunares anteriores podem ser posteriormente encontrados disfarçados no
simbolismo solar patriarcal.
O bem-estar do Rei dos Bosques foi em parte atribuídos a essa relação com Egeria. De acordo
com Frazer (em The Golden Bough), o riacho de Egeria brotava das raízes do Carvalho Sagrado
de Nemi. O carvalho era a madeira utilizada para aquecer a forja onde espadas eram
confeccionadas; o carvalho produz temperaturas mais elevadas que outras madeiras. Assim, o
espírito do Deus Carvalho passava às chamas e, por conseqüência, à espada empunhada pelo
Rei dos Bosques. Esse mito pode muito bem estar por trás da lenda celta do Rei Arthur e da
espada Excalibur. A espada mágica de Arthur fora incrustada na pedra de onde ele a retirou, e
a ele foi devolvida pela Senhora do Lago após ter partido num tolo desafio de combate. O
galho partido do Carvalho de Nemi foi um desafio de combate ao Guardião do Bosque. Era
parte da árvore enraizada na terra, plena com a água que brotava do riacho de Egeria. Não é
difícil perceber que a espada Excalibur sendo erguida do lago e o Galho de Carvalho que surge
da Árvore Sagrada do regato de Egeria são a mesma imagem.
Por vezes o herói é mais uma pessoa espiritual do que um aventureiro ou guerreiro. Ele (a)
ensina a transformação da consciência que é o verdadeiro objetivo da Busca do Herói. A Busca
em si representa as provações e descobertas necessárias para que se obtenha iluminação. Os
períodos negros de nossas vidas, representadas no simbolismo mítico pelo aprisionamento no
ventre da baleia, são períodos de provação pessoal. Na cerimônia de iniciação do primeiro
grau Wiccano, o iniciado deve encarar uma provação e que somente através do sofrimento ele
poderá obter o conhecimento e a iluminação.
A água representa a mente inconsciente, e a baleia representa o que se esconde pro trás. É
parte importante da Busca do Herói que este encare o monstro. Um elemento comum na
maioria dessas lendas é o que o monstro. Um elemento comum na maioria dessas lendas é o
que Campbell chama de auxílio sobrenatural. É aqui que o herói recebe algum tipo de arma
mística para enfrentar seus inimigos. Arthur retirando a espada Excalibur da pedra é um bom
exemplo. O monstro deve ser derrotado para que o herói cumpra sua Busca. Em outras
palavras, o herói deve derrotar o que criaturas como os dragões simbolizam (geralmente
medo, insegurança ou egoísmo). Uma vez que o dragão não mais bloqueia o caminho (ou
guarda o tesouro), o herói então pode prosseguir rumo a seu objetivo.
É dever do herói, tanto interna como externamente, compreender a relação pessoal com a
sociedade na qual vive. O herói deve também aprender a relacionar essa sociedade ao mundo
Natural no qual ela existe. Ademais, ele deve compreender a relação de tudo isso com o
Grande Cosmos. O herói deve começar sua busca por dentro e, assim na Terra como no Céu,
ele compreenderá o Macrocosmo através dos exemplos encontrados e solucionados no
Microcosmo. É disso que tratam os mitos de todas as épocas desde que os primeiros contos
bárdicos foram entoados.
(Retirado dos Livros Mistérios Wiccanos de Raven Grimassi e Wicca, A Religião da Deusa de
Claudiney Prieto).