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Introdução à Fisiologia: meio interno e


homeostase

Este texto é uma introdução ao estudo da Fisiologia. Um tema que, certamente,


você deve se lembrar de suas aulas no colégio sobre coração, pulmões, estômago,
intestinos, rins, e todos os outros órgãos envolvidos nas funções dos sistemas
cardiovascular, respiratório, digestório, renal, e glândulas (figura 1).

Fig.1 Visão geral das principais estruturas que


compõem os sistemas de manutenção do corpo
humano.

O corpo humano é uma grande coleção de células. Para que todas essas células
sobrevivam, é preciso que estejam em um ambiente adequado cujo equilíbrio dinâmico se
chama homeostasia.
A fisiologia se preocupa em compreender a função de cada um dos órgãos e
sistemas do corpo, mas principalmente como eles trabalham de maneira integrada para
manter essa homeostasia do ambiente onde as células se encontram. Esta é uma das
características fundamentais dos organismos multicelulares: a sua capacidade de manter
um ambiente interno adequado para a sobrevivência das células e, por isso, para a sua
própria sobrevivência. Se voltarmos nossa atenção para os primórdios da vida no planeta
Terra, há alguns bilhões de anos, também os primeiros organismos, minúsculos seres
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unicelulares, viviam no ambiente liquido de um oceano primitivo rico em nutrientes, gases


e eletrólitos, importantes para a sua sobrevivência.
Por isso, uma maneira interessante de se entender a Homeostase é comparar o
que acontece no interior do corpo humano, e de todos os organismos multicelulares, com
o que acontece no interior de um aquário com peixes vivendo dentro dele. Dentro do
aquário, os peixes sobrevivem graças ao controle adequado no nível das diferentes
substâncias deste líquido que está a sua volta. As células vivas do corpo humano não
viveriam sem um ambiente líquido cujo nível das diferentes substâncias não fosse bem
controlados. Esse ambiente fisiológico denominado de meio interno poderia ser
entendido como um “aquário” porque mantém a vida das células dentro de um chamado
Líquido Extracelular (LEC).
Do LEC, as células podem obter todos os elementos necessários para sua
sobrevivência. Podem secretar para o meio interno produtos de seu metabolismo ou
substâncias, como os hormônios, que terão algum papel sobre outras células, ou
nutrientes em estoque, que serão disponibilizados quando não houver oferta de alimento
ao alcance do indivíduo. O meio interno do corpo humano mantém a vida das células e é
vedado por epitélios de revestimento, perfeito para a sobrevivência das células. A função
básica dos sistemas fisiológicos - cardiovascular, respiratório, digestório, e todos os
outros, é manter a qualidade desse meio interno composto por líquido extracelular onde
as células estão imersas (figura 2).

Fig. 2 À esquerda, observa-se um aquário de vidro vedado e cheio de líquido no seu


Fig.2interno
meio À esquerda, um aquário
com a presença de vidro
de peixes vedadoem
e vegetação e cheio de liquido
condições de vida.no seu meio
À direita,
interno com a presença de peixes e vegetação em condições de vida. À direita,
representação esquemática de um “aquário” fisiológico cheio de Líquido Extracelular
um “aquário fisiológico”, cheio de Líquido Extracelular (LEC) (meio
(LEC) no seu meio interno, onde vivem as células que compõem os órgãos dos interno).
sistemas cardiovascular, respiratório, digestório e renal.

O LEC que compõe o meio interno do corpo se diferencia do Líquido Intracelular


(LIC) que, como o próprio nome diz, é o liquido que se encontra no interior das células.
Mesmo que se encontre dentro do corpo humano e faça parte do organismo, o LIC não
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faz parte do meio interno. Considera-se como meio interno, ou LEC, o líquido que está
em torno (fora) das células, e LIC o líquido que está dentro das células (figura 3).

Fig. 3 O Líquido Intracelular (LIC) fica dentro da


célula, não faz parte do meio interno ou Líquido
Extracelular (LEC).

Existem diferentes compartimentos com líquidos em nosso organismo. O LEC,


ou meio interno, se encontra em dois deles: (1) dentro de vasos sanguíneos
(denominado de Plasma - onde estão imersas as células sanguíneas) e de vasos
linfáticos (denominado de Linfa); e (2) fora dos vasos, em torno das células dos
diferentes tecidos, denominado de Líquido Intersticial. Assim, o meio interno pode ser
encontrado dentro dos vasos (plasma e linfa) e fora dos vasos (líquido intersticial) (figura
4).

LIC Fig. 4 Componentes do Líquido


Extracelular (LEC): Líquido Intersticial
em volta das células; Plasma e Linfa
dentro dos vasos.

Importante: Não mencionamos o


LÍQUIDO TRANSCELULAR, como por
exemplo, o Humor Aquoso que se
localiza dentro do olho, dentre outros.

Os volumes de LEC e LIC dentro do corpo são diferentes (quadro 1), bem como as
composições das substâncias que os compõem. Por exemplo, citando-se concentrações
de íons, Sódio (Na+), Cloreto (Cl-) e Cálcio (Ca++) estão em maiores concentrações no
LEC, enquanto que as concentrações de Potássio (K+) são maiores no LIC, onde também
estão presentes ânions protéicos e fosfatos.
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Quanto do nosso corpo é


sólido e quanto é líquido?
Do total de 100% do nosso peso
corporal, 40% são sólidos e 60% são
líquidos.

Desses 60%, 40% se encontram


100% dentro das células (no LIC) e 20% se
encontram no meio interno (no LEC).

Quadro 1 Composição do peso corporal.

Como o LEC se mantém constante e adequado para as células?

É razoável imaginar que, depois de algum tempo, os nutrientes do meio interno


possam ir se esgotando e os resíduos celulares se acumulando, já que o nosso ambiente
interno tem dimensões limitadas e depende de uma permanente renovação.
Todavia, o LEC se mantém constante e adequado para a sobrevivência das
células no meio interno. Isso acontece pelo trabalho dos órgãos que compõem os
sistemas fisiológicos e que são especializados em captar, absorver, e também eliminar,
ou excretar, substâncias, permitindo seu trânsito entre o meio, ou ambiente externo, e o
meio interno do corpo. O Sistema Respiratório, o Sistema Renal e o Sistema Digestório se
desenvolveram em forma de tubos para perpassarem por diferentes regiões do corpo
como se fossem extensões do ambiente.
Pense com atenção sobre a estrutura anatômica funcional desses três sistemas
fisiológicos que mantêm os níveis adequados de água, gases, nutrientes e eletrólitos no
LEC. Cada um deles tem a responsabilidade de renovar diferentes elementos e, por isso,
poderíamos apelidá-los, didaticamente, de sistemas de tubulações de trocas ou
sistemas de troca (figura 5).

Fig. 5 Visão geral dos


sistemas de troca do corpo
humano.
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O Sistema Digestório, através de seu epitélio especializado, tem a função de


absorver para o meio interno os nutrientes e água, além de outros elementos químicos
que ingerimos toda vez que nos alimentamos, de maneira que fiquem à disposição das
células. Ele também elimina produtos do meio interno ou aqueles que nem chegaram a
ser absorvidos durante a digestão, expelindo-os pelas fezes (figura 6).

O Sistema Respiratório, através de seu epitélio especializado, tem a função de


captar e absorver o Oxigênio do ar ambiente pela respiração pulmonar e carreá-lo para o
meio interno, onde será utilizado pelas células para a produção de energia,
especificamente nas Mitocôndrias; e expelir o excesso de Gás Carbônico produzido
nessas células pelo processo de respiração celular (figura 7).

Sai CO2

CO2

Entra O2
O2

LEC

Fig. 7 Sistema Respiratório: representação esquemática da entrada de Oxigênio (O2) para o meio
interno e saída de Gás Carbônico (CO2) para o meio externo; à direita: representação anatômica.
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O Sistema Renal é constituído por uma coleção de pequenas tubulações


denominadas de Néfrons e, através do transporte de água, eletrólitos e outras
substâncias entre o meio interno e o meio externo, eles tem, além de outras funções, o
papel de manter os equilíbrios hidro-eletrolítico e ácido-básico do organismo. Assim, a
urina tem uma composição que reflete aquilo que o meio interno não necessita mais ou
não pode mais acumular (figura 8).

Fig. 8 Sistema Renal (ou urinário): representação esquemática; à direita: representação


anatômica.

O Sistema Cardiovascular, ou circulatório, tem função central na homeostase.


Entretanto diferente dos outros três sistemas já citados, é um dos compartimentos do
próprio meio interno (figura 9).

Fig. 9 Sistema Cardiovascular (circulatório): representação esquemática; à direita: representação


anatômica.
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Esse sistema se desenvolveu com o mesmo propósito de cooperar para a


manutenção do equilíbrio dinâmico do meio interno. Os vasos sanguíneos servem não
apenas para transporte, mas para receber e entregar todas as substâncias às diversas
regiões do corpo. O sistema vascular permite a captação das substâncias ao passar pelos
sistemas de troca, o seu transporte pelo corpo e a sua chegada nas células e vice-versa.
Também é capaz de captar os produtos dos metabolismos celulares, transportá-los e,
dependendo do produto, viabilizar seu acesso às outras células ou sua eliminação do
organismo pelos mesmos sistemas de troca.
Artérias e veias realizam o transporte dos elementos do meio interno entre
as diferentes regiões do corpo, mas não permitem a entrada ou saída desses
elementos para fora dos vasos. Os capilares são os responsáveis pela passagem entre o
compartimento do plasma e o LEC. Sua permeabilidade é garantida pelo fato de suas
paredes serem extremamente finas e muitas vezes fenestradas (figura 10).

LEC

Nutrientes
O2

Metabólitos
r
CO2
pila
Ca

Fig. 10 Representação
esquemática da relação
entre Capilar, Líquido
Extracelular (LEC) e
células.

Compreendidas as relações entre meio interno e externo, podemos ressaltar a


principal diferença entre glândulas Exócrinas e Endócrinas. Glândulas Exócrinas são
aquelas que secretam substâncias químicas para o ambiente externo e estão distribuídas
por todas as regiões dos epitélios de revestimento, tanto na superfície corporal externa
(ex.: glandulas sudoríparas), como também ao longo das membranas que revestem os
sistemas de troca (ex.: glandulas salivares). Glândulas Endócrinas são aquelas que
liberam seus hormônios diretamente no meio interno, o que permite medi-los na
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circulação sanguínea (figura 11). O sistema endócrino e o sistema nervoso constituem


os mais importantes mecanismos de controle do organismo.

Repetir o 2 Fig. 11
Representação esquematica
do aquario fisiologico com
glandulas exocrinas 1,2 e
(1) (3) endocrinas 3.
(2)
(2)

Fig. 11 Representação
esquemática das Glândulas
Exocrinas (1,2) e Endocrinas
(3).

Com essa introdução à Fisiologia, fica mais fácil entender, mesmo que de forma
simplificada, o papel dos sistemas fisiológicos em função da Homeostase do meio interno
e, conseqüentemente, da sobrevivência das células. Esta visão fornece informações para
se contextualizar e compreender com maiores detalhes os mecanismos específicos. Além
disso, ajuda a relacionar a função, ou seja, a fisiologia, com a anatomia das estruturas
corporais.

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