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José Luís Silva e Sara Eloy | Arquitetura flexível: movimento e sistemas cinéticos

Arquitetura flexível: movimento


e sistemas cinéticos1
Flexible architecture: movement and kinetic systems
José Luís Silva* e Sara Eloy**
*Licenciado em Ciências da Ar-
quitectura (ISCTE-IUL), aguar-
da prova pública de Mestrado
em Arquitetura, frequentou o
Laboratório de Tecnologias da
Arquitetura no último ano do
Mestrado como área de de-
senvolvimento da tese com o
tema “Arquitetura Flexível: Fle- Resumo Abstract
xibilidade, Movimento e Siste-
mas cinéticos”. Os temas so- No presente artigo aborda-se a arquitetura cinética In this paper we address kinetic architecture with
bre os quais tem desenvolvido tendo como objetivo focar os conceitos de varia- the goal of discussing the concepts of change,
investigação são: habitação, ção, adaptabilidade e transformação dos espa- adaptability and transformation of spaces depen-
flexibilidade, novos modos de ços em função das necessidades do utilizador, e ding on the user’s needs and the ability of archi-
vida, tecnologias digitais. a possibilidade da arquitetura responder a novos tecture to meet new functional programs. Recent
**Arquiteta (FA.UTL, 1998), programas funcionais. Analisam-se sistemas ciné- kinetic systems used in buildings are addressed
Doutora em Arquitetura (IST. ticos recentes, utilizados como parte integrante da and its role in architecture is discussed. The ar-
UTL, 2012) com a tese “A arquitetura, e discute-se o seu papel na arquitetura ticle also focuses on how these systems enable
transformation grammar- assim como a forma como estes permitem interli- flexibility and allow architecture to answer the
-based methodology for hou- 1.Este artigo foi publicado gar-se ao conceito de flexibilidade e responder às new changing needs of society. Some kinetic
sing rehabilitation”. Professora nas atas do 2º Seminário novas necessidades de uma sociedade em cons- systems to be implemented in buildings are pro-
Auxiliar no ISCTE-IUL, nas de Arquitetura, Urbanismo e tante mudança. São apresentadas propostas de posed which would respond to different goals
áreas de Projeto Assistido por Design da Academia de Es- carácter cinético para edifícios, com objetivos dis- and different forms of flexibility and allow different
Computador e Tecnologias da colas de Arquitetura e Urba- tintos e formas de flexibilidade variadas que possi- types of occupations.
Arquitetura. Investigadora na nismo de Língua Portuguesa bilitem diferentes ocupações dos espaços.
ADETTI-IUL, com enfoque nas – Os Palcos da Arquitetura., Key-words: flexibility, movement, functionality
áreas de gramáticas de forma, 5-7 Nov 2012, FAULT. Volu- Palavras-chave: flexibilidade, movimento, fun-
space syntax e CAD. me I, pp. 36-44 cionalidade

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Introdução

Atualmente têm surgido várias experimenta- falta de flexibilidade do espaço e necessita por isso
ções, académicas e práticas, em que se usam de uma forma de explorar a variabilidade no uso
elementos arquitetónicos cinéticos responsivos do seu espaço. Neste contexto social, acreditamos
que interagem com estímulos diversos, exterio- que a arquitetura, recorrendo-se de sistemas ciné-
res ou interiores. A ideia de movimento cinético ticos, poderá responder a determinadas premissas
do espaço é claramente associada às questões das novas mudanças e alterações na sociedade.
de flexibilidade e adaptabilidade.
Estes aspetos são o mote para este artigo que
Este artigo explora a utilização do movimento no se estrutura em três partes. Em primeiro lugar
espaço arquitetónico conseguido com base em aborda-se o tema da flexibilidade na habitação
sistemas cinéticos e o modo com este movimen- através de uma reflexão sobre a sociedade atual
to pode ser utilizado para variar e transformar os e as formas como a flexibilidade tem vindo a ser
espaços em função das necessidades momentâ- trabalhada em arquitetura.
neas do utilizador, permitindo a relação e a intera-
ção constante entre o edifício e o utilizador. Na segunda parte explora-se a cinética e defi-
nem-se sucintamente as características destes
Numa sociedade em permanente mudança a fle- sistemas, demonstrando as suas potencialida-
xibilidade é cada vez mais um aspeto ao qual a des. A título de exemplo mostram-se alguns tipos
arquitetura deve responder. A habitação, sendo o de estruturas cinéticas aplicadas em arquitetura.
reflexo imediato das alterações da sociedade atual, Por fim, o terceiro capítulo tem como objetivo
é uma das valências que mais se ressente com a aliar a questão da flexibilidade aos sistemas ci-

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néticos criando soluções cinéticas capazes de banas ditas civilizadas. O Homem que desde há
responder, em complemento com outras estraté- muito tempo é sedentário poderá ver esse estatu-
gias, às necessidades habitacionais. O desenvol- to alterado devido a uma sociedade em mudança
vimento destes sistemas tem como objetivo ex- e que é, cada vez mais, o resultado das mudanças
plorar a metamorfose e transformação constante tecnológicas, económicas, culturais e sociais.
do espaço, possibilitando diferentes disposições
e comportamentos de conforto. A partilha de informação e conhecimento intensi-
ficou-se de forma determinante com a evolução
Flexibilidade tecnológica. As tecnologias, principalmente sis-
temas como a internet, televisão e computador,
O tema da flexibilidade habitacional apenas tem desempenham um papel fundamental levando a
sentido quando analisado em conjunto com outros uma certa homogeneização de práticas e ativi-
fatores intrínsecos ao habitante e à sociedade onde dades que conduz à globalização. Contudo, esta
este se insere. As alterações sociais produzem mu- rede de informação faz com que existam mais ex-
danças nas necessidades individuais e familiares. pressões individuais, únicas e diversas que advêm
A necessidade de mobilidade e as constantes al- do conhecimento, da partilha e da ligação entre
terações pelas quais a nossa vida passa criam um lugares e culturas, criando necessidades, interes-
conjunto de mudanças nas necessidades e ativida- ses e características distintas em cada individuo.
des dos indivíduos, que são razões para a necessi-
dade de adaptabilidade e flexibilidade dos espaços Estes novos processos transformam também os
construídos, nomeadamente da habitação. parâmetros convencionais de trabalho, permitin-
do que este se desenvolva cada vez mais ligado
A evolução tecnológica, cultural e social cria no- ao domicílio, o chamado “tele-trabalho”.
vas mentalidades, novos modos de viver, que
transparecem para a habitação e para a forma Estas novas funções e realidades inseridas na
como as pessoas utilizam e vivem a cidade, po- sociedade e na habitação, apoiadas na tecnolo-
dendo existir entre as duas uma espécie de troca gia, podem conduzir a uma “cidade virtual” de fu-
de papéis ou funções. turo. Nesta cidade virtual a habitação permitirá a
realização de um conjunto de atividades que, até
Contexto social recentemente, se realizavam no exterior da mes-
ma. A casa pode ser agora entendida como um
Ao longo dos últimos tempos observou-se uma centro de operações a partir da qual se trabalha e
alteração dos padrões de vida das sociedades ur- se transaciona e adquire produtos e serviços, e a

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cidade física passa a ser secundária. As relações Frank Lyold Wright, influenciado pela arquitetu-
humanas também se alteram neste novo mundo ra japonesa, aplicou este sistema modular em
que proporciona ligações e interação entre indi- projetos, como as Usonian Houses. (KRONEN-
víduos, sem a presença física, através de p.e. re- BURG, 2007) Auguste Perret contribuiu também
des socias, chats ou mensagens. para a promoção da flexibilidade, ao projetar em
1903 os edifícios de habitação na Rue Franklin,
Num outro cenário, a habitação é apenas o local em Paris, que, sendo dos primeiros edifícios em
de recolhimento e o individuo realiza as suas ati- betão-armado, permitiu a adoção da planta ou li-
vidades no exterior da habitação. Este modo de vre (FRENCH, 2009). Le Corbusier, que teve con-
ver a habitação pode alterar o entendimento atual tacto com os conceitos de Perret (SHERWOOD,
dos usos da habitação, deixando esta de ser en- 1978), viria a apresentar as potencialidades da
carada como um local multifuncional onde tam- planta livre, expondo a estrutura de forma iso-
bém se desenvolve o lazer e as refeições, sendo lada, demonstrando a possibilidade do edifício
a cidade a desempenhar esses papéis. (PAIVA, poder ser definido no seu interior de diferentes
2002) formas, qualquer que lhe fosse o uso inerente.
(PAIVA, 2002) Rietveld, com a emblemática Casa
A falta de emprego e a permanente incerteza e Schröder em Utrecht, Mies van der Rohe e arqui-
a necessidade de mudança que dai advém veio tectos suecos como Habraken ou Hertzberger fo-
provocar outra grande mudança no modo como ram outros arquitetos percursores da promoção
o individuo vê a sua casa. da flexibilidade.

A evolução do contexto de flexibilidade Os anos 60 e 70 viriam a destacar-se por um


acentuado interesse e preocupação para com as
Uma visão sobre o conceito de flexibilidade pode necessidades dos homem e a sua relação com
ser iniciado com uma abordagem à arquitetura a habitação, discutindo-se a necessidade desta
tradicional japonesa. Segundo Paiva (2002) e Kro- permitir a possibilidade de flexibilidade e da par-
nenburg (2007), a construção japonesa de casas ticipação na modelação da habitação por parte
tradicionais são dos primeiros exemplos significa- do morador. (HAMDI, 1991) Nessa altura surgi-
tivos de flexibilidade em edifícios. A estratégia de ram grupos como os Archigram, que pretendiam
flexibilidade baseava-se na lógica de dividir a es- fornecer respostas ao contexto social, cultural e
trutura de modo a que divisórias verticais móveis económico da época, baseado numa visão futu-
se movimentassem livremente entre as esteiras rista ligada à era da máquina, do consumismo,
criando assim múltiplas disposições do espaço. da industrialização, da computação e das tec-

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nologias. (KRONENBURG, 2007) Os seus proje- formacional, responsivo ao ambiente ou mediador.


tos baseavam-se na ideia de que a cidade e os A exploração destas hipóteses tem como objetivo
edifícios se pudessem movimentar e transformar produzir uma arquitetura que se apoia no movi-
consoante necessidades ou vontades. mento e transformação e, desta forma, introduz um
conjunto de novas hipóteses que produzem novos
Entre a década de 80 e o final do século XX fo- sentimentos e novas formas de interação.
ram desenvolvidos inúmeros projetos remetendo
In http://www.infopedia.pt/
à flexibilidade potenciando distintas ocupações Tipologias cinéticas
no espaço interior das habitações. Estes proje-
tos contêm, por princípio, um espaço dedicado Os sistemas cinéticos podem ser classificados
a serviços (cozinha e instalação sanitária com em três tipologias de estruturas: embedded, de-
infra-estruturas de águas e esgotos) que é rígido ployable and dynamic (FOX, 2000), renomeadas
e instalado de forma fixa numa parede ou desen- por Marques (2010) como Integradas, Transpor-
volvido num núcleo interior de forma a libertar táveis e Independentes.
espaço na periferia e paredes ou painéis desli-
zantes ou amovíveis. As estruturas cinéticas integradas são sistemas
que estão inseridos e integrados num projeto de
Cinética arquitetura com uma localização fixa. A sua fun-
ção principal é controlar e adaptar a arquitetura
O termo cinético está intrinsecamente relaciona- como um todo em função de fatores ambientais
do com movimento ou “pôr em movimento” (do (p.e. vento e sol) ou humanos.
grego kinetikós, «que põe em movimento»)2.
Estruturas cinéticas transportáveis são estruturas
As estruturas cinéticas possuem a capacidade de com a possibilidade de serem construídas e des-
“ganharem vida” e movimento, através de proces- construídas, podendo estar localizados em diver-
sos como deslizar, dobrar e desdobrar, expandir ou sos locais de forma temporária. Estas estruturas
de transformar a dimensão e forma das estruturas. são geralmente aplicadas em exposições itineran-
Estes sistemas movimentam-se através de diversos tes, temporárias e auto-montagem de abrigos.
tipos de sistemas: mecânicos, pneumáticos, quími-
cos, magnéticos ou naturais. (FOX; KEMP, 2009) As estruturas cinéticas independentes são sistemas
cinéticos que constituem por si só um projeto de
Em arquitetura as estruturas cinéticas são concebi- arquitetura funcionando, no entanto, de forma inde-
2.In http://www.infopedia.pt/ das com diferentes propósitos como o estético, in- pendente em relação ao conjunto arquitetónico.

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Tipos de controlo cios expositivos, recintos desportivos ou ain-


da outros tipos de programa que necessitem
Os sistemas que permitem controlar o movimento de transformações ou adaptações ou ainda a
das estruturas cinéticas são, segundo Fox (2000): aspetos relacionados com fatores externos ao
i) controlo interno, o movimento faz-se estri- próprio edifício como p.e. o clima. (KRONEN-
tamente em função da capacidade de movi- BURG, 2007)
mento intrínseca à estrutura, limitado pelas
suas características mecânicas e construti- São vários os edifícios desportivos que possuem
vas; sistemas cinéticos, aplicados em coberturas.
ii) controlo direto, o movimento é acionado Exemplos disso são a Magic Box do Olympic
diretamente, de forma manual ou por siste- Tennis Center de Dominique Perrault, o novo es-
mas que a façam movimentar; tádio de Wembley de Foster + Partners e o Uni-
iii) controlo indireto, o movimento é acionado versity of Phoenix Stadium de Eisenman Archi-
indiretamente através de um sensor capaz tects e Uni-System.
de entender estímulos externos, fazendo a
estrutura reagir a estímulos; Para além de coberturas, as estruturas cinéticas
iv) controlo indireto responsivo, o movimento são também muitas vezes aplicadas em trans-
é controlado indiretamente mas assimilando formações mais operacionais, no que respeita
a informação de vários sensores e tomando à flexibilização, metamorfose e polivalência do
decisões otimizadas; espaço interior, tais como, bancadas retrácteis
v) controlo indireto responsivo ubíquo, o mo- ou outro tipo de estratégias que alterem o es-
vimento é controlado como no anterior mas paço físico.
com a particularidade de o fazer em rede;
vi) controlo indireto responsivo heurístico, o Exemplo disso é a Sliding House do atelier drmm (
movimento é controlado como no ponto iv) 1). Este edifício encontra-se separado em três espa-
mas a informação processada dá origem a ços: habitação, garagem e anexo. Sobre parte dele
aprendizagem que otimiza o movimento da existe uma espécie de segunda pele, constituída por
estrutura. paredes laterais e telhado, que se movimenta auto-
nomamente do conjunto através de motores elétri-
Casos de estudo cos. Esta pele cinética cria relações e comunicações
distintas entre os espaços, bem como garante me-
As estruturas cinéticas estão amplamente as- lhores condições de arrefecimento, aquecimento e
sociadas à polivalência dos espaços em edifí- insolação de acordo com as estações do ano.

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A fachada do parque de estacionamento do


Brisbane Airport do atelier UPA em colabora-
ção com Ned Kanh constitui uma superfície
capaz de reagir ao vento ( 2). Esta é formada
por pequenos painéis metálicos que oscilam
consoante o movimento gerado pelo vento,
criando diversificados padrões que revelam
uma imagem e interpretação muito próprias do
vento, permitindo o sombreamento e a ventila-
ção interior do edifício.

O sistema reconfigurável e responsivo elabora- Figura 3. (baixo) Reciprocal Space, Ruairi Glynn (fonte http://
www.ruairiglynn.co.uk/category/portfolio/)
do por Ruairi Glynn - Reciprocal Space - ( 3) tem
como objetivo demonstrar que os espaços inte- tantes e com o meio externo. A habitação pode
rativos devem provocar sentimentos e propor- assim tornar-se um “organismo vivo” que reaja
cionar experiências aos utilizadores, de forma a conforme os modos de viva, as necessidades,
criar desafios e, consequentemente, movimen- vontades ou hábitos do habitante, podendo reu-
tações recíprocas. nir essa informação e traduzi-la em transforma-
ções ou adaptações espaciais ou ambientais de
forma automática.

O estudo das questões levantadas neste arti-


go levou ao desenvolvimento de soluções que,
apoiadas em sistemas cinéticos, promovam a
flexibilidade espacial. As propostas apresenta-
das têm objetivos distintos e formas de flexibili-
dade variadas, possibilitando diferentes ocupa-
Figura 1. Sliding house, drmm, (fonte: http://drmm.co.uk/pro- Figura 2. (cima) Fachada Brisbane airport, UPA + Ned Kanh
ções dos espaços. O desenvolvimento destes
jects/sliding-house/) (fonte: http://www.uap.com.au/)
sistemas incide sobre as necessidades dos utili-
Propostas zadores, os diferentes modos de vida e a forma
como o edifício poderá reagir a fatores externos
O desenvolvimento tecnológico veio permitir que como a iluminação, a temperatura e a passagem
a habitação comunique e interaja com os habi- de pessoas e o ruído.

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Módulo 1 . Energético O processo pode operar por duas vias distintas:


1) funcionar no interior dos edifícios, estendendo-
Esta proposta baseia-se na criação de um módu- -se (diminuindo o volume do espaço utilizável) ou
lo que se insere nos edifícios e lhes dá uma forma contraindo-se (aumentando o volume do espaço
diferente com a intenção de reduzir o espaço que utilizável) (4 e 5); 2) ou de modo inverso, esten-
necessita de climatização e, simultaneamente, dendo-se para além dos limites da construção
permitindo uma flexibilização dos interiores. inicial (aumentando o espaço interior utilizável)
ou contraindo-se (mantendo o espaço utilizável).
A integração deste módulo num edifício permi- A disposição e extensão desses volumes para o
te uma espécie de existência e inexistência que, exterior dos edifícios relacionam-se ainda com
ativada, beneficia uma diminuição do volume de aproveitamentos solares.
espaço passível de ser aquecido / arrefecido per-
mitindo a redução do consumo energético. A utilização deste módulo dota ainda a constru-

Figura 4. Módulo 1 _ energético. Diferentes possibilidades de Figura 5. Módulo 1 _ energético. Diferentes possibilidades de
cheios/vazios em vários layouts. cheios/vazios num layout.

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ção de uma capacidade evolutiva e de metamor-


fose, útil principalmente quando inserida, p.e. em
espaços expositivos.

Na habitação, para além de permitir reduzir a área


ocupável (reduzindo a climatização), o módulo
poderá ser usado para subdividir espaços, con-
soante as necessidades programáticas do habi-
tante e ocupação no que concerne ao espaço
utilizado no momento, A habitação por assim ser
dotada de sensores capazes de identificar quais
as zonas que o morador está a utilizar, numa re-
lação ação / reação, que pode também informar
um controlo automatizado sobre as zonas a se-
rem aquecidas / arrefecidas.
Figura – Módulos 1 e 2. Protótipo de uma parte da estrutura cinética.
Figura 7. Módulos 1 e 2. Protótipo de uma parte da estrutura
Módulo 2 . Programático cinética. finais
Considerações

Este módulo tem como principal objetivo a altera- Considerações finais


Nota

ção do programa na habitação devido à alteração Este artigo foi publicado nas atas do 2º Seminário de Arquitetura, Urbanismo e Design da Academia de
Escolas de Arquitetura e Urbanismo de Língua Portuguesa – Os Palcos da Arquitetura., 5-7 Nov 2012,

das necessidades dos habitantes. Podemos inter- Os factos referidos ao longo deste artigo levam-
FAULT. Volume I, pp. 36-44

pretar este módulo como uma consequência do -nos a questionar se a arquitetura atual será ca-
“módulo 1 energético”, distinguindo-se deste pela paz de responder às novas circunstâncias de
capacidade de ser ocupado interiormente e (6 e7). uma sociedade em constante mudança e será a
A distensão do módulo gera um novo espaço no cinética uma ferramenta para essa adaptação.
interior de um outro espaço de maior dimensão
permitindo diferentes formas de o ocupar. Constatamos que os espaços habitacionais são
cada vez mais imprevisíveis e inexatos dada a
Esta capacidade de existência e ausência de um grande diversidade da sociedade, não podendo
espaço/compartimento, permite quer a existên- existir uma padronização das habitações. De fac-
Figura 6. Módulo 2 . programático. cia de um espaço amplo na habitação, quer a to cada individuo é um só, com conhecimentos
criação de um compartimento capaz p.e. de ofe- próprios, dinâmicas distintas, fazendo com que
recer um espaço de trabalho ou criar um quarto. cada habitação tenha funções específicas. A

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procura de sistemas flexíveis na habitação tem FRENCH, H. Vivienda colectiva paradigmática


sido constante mas tem falhado na aplicação dos del siglo XX: plantas, secciones y alzados. Barce-
conceitos à real construção de habitação. lona: Gustavo Gili, 2009.

Pode-se interpretar a arquitetura cinética como uma HAMDI, N. Housing without houses: participa-
extensão ou ferramenta da flexibilidade na arquite- tion, flexibility, enablement. Intermediate techno-
tura, na medida em que os sistemas cinéticos se logy. London: Publications, 1991.
podem relacionar com o movimento dos operadores
de flexibilidade permitindo que estes se movimen- KRONENBURG, R. Flexible: Architecture that
tem com base em diversas naturezas de fatores. responds to change. London: Laurence King Pu-
blishing, 2007.
Os sistemas cinéticos propostos pretendem con-
jugar a necessidade de flexibilização e adapta- MARQUES, L. Q. Arquitetura Cinética. Desenvol-
bilidade da habitação com as potencialidades vimento do protótipo de uma estrutura respon-
dos sistemas cinéticos nomeadamente o facto siva. Dissertação de mestrado em Arquitetura.
de estes responderem a estímulos externos sem Instituto Superior Técnico de Lisboa, 2010.
necessitarem de ação humana direta. Esta conju-
gação permite criar espaços mais adaptados às PAIVA, A.  Habitação flexível. Análise de concei-
reais necessidades e que otimizem simultanea- tos e soluções. Dissertação de mestrado em Ar-
mente os consumos energéticos. quitetura. Faculdade de Arquitetura da Universi-
dade Técnica de Lisboa, 2002.
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FOX, M. Sustainable Applications of Intelligent para uma arquitetura (i)material. Dissertação de
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London: Spon Press, 2003, pp.163-186.
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FOX, M.; KEMP, M. Interactive Architecture. New vimento e Sistemas cinéticos. Dissertação de mes-
York: Princeton Architectural Press, 2009. trado em Arquitetura. ISCTE-IUL, Lisboa, 2012.

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