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REVISTA
,

ECLESIASTIC4
BRA·SILEIRA
VOL. 6 MARÇO 1946 FASC. 1

SUMARIO

V o 11 e r t, Pe. Cirilo, S. J., Matias José Scheeben e o


Renascimento da Teologia . . . �. . . . . . . . . . . . . . . l
G ó e s, Pe. Campos, O Novo Cardeal do Rio de janeiro. 37 .

R os s i, Pe. Agnelo, A Vitória do Catolicismo nos Estados


Unidos .. . . : .......................... "... 44
K 1 e i n, Frei Damião, O. F. M., O Sacrifício da Cruz. . . . 60
V i e i r a, Pe. Primo N. d.a Mota, Estudo Comparativo de
Duas Espiritualidades: S. Teresa 'de Lisieux e B.
Grignon de Montfort . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
· K e m p f, Frei Valter, O. F. M., Problemas Biblio1'ráficos
·

em Torno das Obras de Alexandre de Hales . . . . . . . 93



Brand ão, Mons. Ascânio, Os Papas, a Imprensa e ...
Nós . . . .. .
. . . . . .· . . . . . . . 105
.. . . . . . . . . . . . . . . . . .

K o s e r, Frei Constantino, O. F. M., As Proposições da


Encíclica "Mystici Corporis Christi" . . :,." . . . 115 . . . . ·. .

EDITÔRA VOZES LTDA., PETRÓPOLIS, ESTADO DO RIO

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Rev ista Eclesiást i c a B ras i l e i ra, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 37

fala não como um morto, mas como um vivo e um moderno; e


tem muito que nos dizer. E' possível afirmar - e alguma coisa
sobre isso foi de fato afirmada 62 - que os católicos prestariam
um ser viço inestimável à Igreja e a si próprios se fizessem do
Herrlicl1keiten der gottlicllen Oande e do Mysterien des Cllristen­
tums seus companheiros inseparáveis, e compenetrassem a sua
vida elas idéias contidas nesses livros incomparáveis.

•i2) Se h m a u s, Ern euerer, p. 54.

O Novo Cardeal do Rio de Janeiro.


Pelo Pe. C a m p o s O ó e s, Rio de Janeiro.

Cinquenta e dois anos são uma bela idade para um homem.


E quando este homem é um sacerdote, esta idade toma um as­
pecto verdadeiramente maravilhoso, porque significa toda uma
vida dedicada a uma causa espiritual, qual seja a de levar a
graça de Deus aos homens, distribuindo alegria aos que sofrem,
conforto aos oprimidos, coragem aos desesperançados, vida aos
moribundos de espírito, saúde aos enfermos de toda espécie.
Jaime Câmara é um filho do povo. Seus pais, de uma famí­
lia tradicional no Brasil, com traços de finura de inteligência e
rica de dotes de coração, eram pobres. O seu curso ele primeiras
letras e o de humanidades foram realizados em um ambiente de
idealismo, mas de dificuldades financeiras. Isto, em vez de ser
motivo ele a rrefecer-lhe os anseios ele alcançar uma cultura apri­
morada, foi, pelo cont rário, razão estimulante de fazê-lo sentir a
necessidade premente de conseguir o primado do espírito.
O Colégio dos Jesuítas, em Florianópolis, foi o centro onde
Jaime Câmara fêz o curso secundário, trazendo-lhe pelo resto da
vida este traço bem característico de disciplina, constância e co­
ragem, que os filhos de S. Inácio costumam deixar, bem visí­
veis, naqueles que foram seus alunos.
Da Capital ele Santa Catarina, o jovem estudante se trans­
porta para São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, onde inicia o
seu curso de Filosofia e Teologia para ordenar-se sacerdote a
1 ele janeiro de 1 920, na Capital catarinense.

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38 O ó e s, O Novo Cardeal do Rio de janeiro

Nomeado coadjutor de Tijucas, na Capital de seu Estado,


o Padre Jaime, desde cedo, apresenta uma nota que há de ser
marcante em toda a sua carreira eclesiástica - a catequese das
crianças. E' uma reprodução, bem viva e palpitante, cheia de gra­
ça e alegria, que passa e festeja a vida deste sacerdote, daquela
página do Evangelho em que vemos Jesus, de uma maneira
muito original e profundamente afetiva, chamar as crianças ao
reino de Deus: " Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas
é o reino dos Céus." Foi esta preocupação pela catequese das
crianças que não é outra coisa senão o desejo de incorporar os
homens ao que se chama em Teologia o Corpo Místico de Cristo,
que levou o Padre Jaime a se interessar vivamente pela fundação
de um Seminário na Arquidiocese de Florianópolis. Com dificul­
dades mil, mas superando-as, realiza a fundação de um Semi­
nário menor, bem modestamente, é verdade.
Dois anos depois, transporta este Seminário para uma loca­
lidade do interior - Azambuja, no Município de Brusque. Aí o
Padre Jaime encontra o campo de trabalho apostólico e inces­
santemente intensivo que o seu espírito dinâmico estava procuran­
do. A sua atuação à frente desse instituto de formação eclesiás­
tica apresentou um aspecto tão interessante, na aplicação exata
do pensamento da Igreja no que diz respeito à educação dos pa­
dres, que o Monsenhor Alberto Pequeno, um dos sacerdotes mais
respeitáveis e de maior prestígio que têm existido nesses últimos
anos no Brasil, visitando o Seminário de Azambuja, exprimiu a
ótima impressão que tivera, dizendo que o Padre Jaime era o
mais completo formador de sacerdotes em nosso País. Durante
as férias o Reitor, Padre Jaime, se preocupava em recrutar se­
minaristas e, com isto, ele conseguia duas coisas: primeiramente
conhecia o ambiente em que se formava o caráter da criança,
o próximo seminarista; e, em segundo lugar, tomava contacto
com a família do candidato, sendo esses dois dados pontos im­
portantes de que tirava orientações para direção espiritual e in­
telectual do rapaz, durante o curso no Seminário.
Ao lado do Seminário, o Padre Jaime construiu um Santuário
ele N. S. de Caravaggio, que se tornou um centro de grandes pe­
regrinações dos fiéis de todo o Estado de Santa Catarina.
Em 1 92 9 é nomeado Cônego do Cabido de Florianópolis,
para, nos últimos períodos de organização do Seminário de Azam­
buja, ser escolhido pelo Papa primeiro Bispo de Mossoró.

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}{evista Eclesiástica Brasilei ra, vol. 6, fase. 1 , março 1946 39

Sagrado a 2 de fevereiro de 1936, toma posse a 26 de abril deste


mesmo ano. Nessa ocasião, o País atravessava uma fase revolu­
cionária, e o Norte, sobretudo, estava em plena agitação de um
período de rebeldia. As salinas de Mossoró eram um dos focos
mais terríveis do movimento comunista, no norte do País. Havia
uma preocupação no estouro desse tumor que se precipitava, de
um a atitude diametralmente oposta ao Catolicismo. D. Jaime ti­
nha, então, diante de si um vasto programa a realizar - atrair
ovelhas desgarradas ao aprisco do Bom Pastor. Um dia, D. Jai­
me, simples sacerdote, reproduzira o Mestre chamando as crian­
ci nhas. Hoje, empunhando o báculo pastoral, o Bispo figurava
0 Bom Pastor, e deixava, na Catedral de Mossoró, as 99 ovelhas

já salvas, para ir às salinas, atrás do operariado que se afastara


da Igreja, que não amava mais o Cristo, que o desprezava mes­
mo, que o odiava até, precisamente porque não o conhecia. E D.
Jaime, manso, humilde e bom, trazia ao aprisco de Jesus as ove­
lhas que se desgarraram. Foi uma impressão profunda causada
no meio daquela gente que vivia longe de Cristo, ver um Bispo
entrar de prisões adentro para visitar presos, sem distinção de
côr política ou ideologia religiosa, aconselhando, confortando, in­
teressando-se junto às autoridades pelos prisioneiros, empreen­
dendo, nesta mesma ocasião, um grande trabalho de divulgação
da doutrina social da I greja, apontando remédios para os pro­
blemas de grande interesse do povo, assunto que preocupava
imensamente os responsáveis pela situação.
Desceu às salinas, conviveu com os operanos, integrou-se
nas suas lutas, defendeu os seus direitos, saturou-se do que se
pode chamar vida do povo, ele, um filho do povo, e após esse
trabalho tão consentâneo com o dever de um Bispo, tão próprio
para um sacerdote, tão necessário a um doutrinador católico mo­
derno, que deseja chamar à Igreja grandes correntes humanas,
D. Jaime funda um Círculo Operário, consegue o reconhecimento
dos "Sindicatos dos Salineiros", velha e grande aspiração destes,
não realizada até então, por suspeitas de Comunismo, organi­
zando, pouco depois, o "Instituto Diamantino Câmara", destinado
à assistência aos pobres da cidade.
D. Jaime inaugura o Seminário de Mossoró, constrói a re­
sidência episcopal, realiza a "Adoração Perpétua" na cidade, ao
mesmo tempo que aumentou o número de paróquias, duplicando­
as e provendo-as de párocos zelosos, de modo a atender satis-

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40 O ó e s, O Novo Cardeal do Rio ele janeiro

fatàriamente às crescentes necessidades espirituais do povo. Per­


correu três vezes toda a diocese em visita pastoral, tendo sempre
a preocupação, durante estas visitas, de trazer novos seminaris­
tas, quase todos eles filhos de operários. No interior da diocese
estabeleceu três institutos de assistência social, realizando um
grande Congresso Eucarístico na zona que fôra de conflagração
comunista, como coroamento de uma obra de pacificação. I ntro­
duziu na diocese casas de religiosos - franciscanos, padres dos
SS. Corações e duas congregações de religiosas. Participou do
Congresso Eucarístico realizado em Recife, representando sua
diocese, e tomou parte no Concílio Plenário Brasileiro, tendo sido
presidente da Comissão de Estudos dos Problemas Operários.
D. Jaime executou, em cinco anos, um verdadeiro programa
de homem saído do povo, que, como tal, conhecendo as necessi­
dades dos menos favorecidos, quer seja sob o ponto de vista
espiritual, quer sob o aspecto puramente material, tendo atingido
uma posição de relevo, acha-se com possibilidades de encami­
nhar pràticamente a solução dos problemas que sempre preocupa­
ram seu espírito, o espírito de um autêntico pastor de almas.
Com a sua promoção a Arcebispo de Belém do Pará, D. Jai­
me foi ocupar uma sede arquiepiscopal, detentora de uma tradi­
ção que se prende à própria história do Brasil. E' que foi Bispo
do Pará um dos vultos mais eminentes do episcopado brasileiro,
D. Macedo Costa, companheiro de D. Vital, ambos campeões da
fé católica no tempo do I mpério. Pode-se dizer que D. Macedo
Costa, com seu companheiro, Bispo de Olinda, D. Vital, iniciou
no Brasil uma legítima reação católica contra o confusionismo
cios princípios reinantes na época. E' que D. Macedo Costa com­
preendia o Catolicismo cumprido integralmente, vivido pelos pró­
prios católicos. Pois bem, D. Jaime foi para esse sólio arquiepis­
copal continuar esta tradição de luta pela I greja, de clareza de
doutrina, de posição definida, de vida de Cristo. Tomou posse a
1 de janeiro de 1 942 . A sua primeira preocupação à frente do
seu novo rebanho foi a organização do Seminário. Nota-se que
D. Jaime coloca em plano primordial a formação do clero. E'
que está certo ele de que sem padres não é possível a vida do
Evangelho. E procura então arregimentá-los, como necessidade
imprescindível para o governo da diocese. Dá-se nessa atitude
de D. Jaime uma reprodução daquele gesto de Jesus, mandando
que os seus discípulos pedissem a Deus que lhes enviasse ope-

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Revista Eclesiástica B r a si l e i r a , vol. 6, fase. 1 , m a rç o 1 946 41

rários para a messe do Senhor. E o Seminário d e Belém d o Pará


começa a sentir a mão do Arcebispo, com a reforma por que
ealizando-se a separação cio Seminário Maior, do Menor ,
p assa, r
sendo a quele tra ns ferido pará o Palácio Episcopal, onde melhor
se faria sentir a ação do pastor. A Obra das Vocações Sacerdo­
tais, como uma consequência lógica da premência de dar o maior
desenvolvimento ao Seminário, recebe de D. Jaime uma orientação
decisiva, ele tal sorte a se tornar uma realidade a existência per­
manente de vocações na Arquidiocese de Belém. D. Jaime per­
correu a sua Arquidiocese, conhecendo os seus diocesanos, sen­
tindo as suas tendências, envolvendo-se na atmosfera em que vi­
via seu povo, para l evar-lhe a sua palavra de pastor, de homem
de Deus, que, acima de tudo, põe o interesse do seu rebanho,
velando-o com suas orações, defendendo-o com sua palavra, orien­
tand o-o com seus conselhos, aproximando os homens do Senhor
jesus. Assim é que a Arquidiocese de Belém do Pará viu-se pal­
milhada pel o seu Arcebispo, que, sem temer os rigores de um
clima ingrato, cortava regiões longínquas e inóspitas, para l evar
a palavra do Evangelho às porções mais distantes do seu re­
banho.
O Arcebispo D. Jaime tomou parte em notável Congresso
Operário, realizado em Belém; organizou as solenidades de 1 .º
de maio de 1942, presidindo-as. Adquiriu sede p rópria para as
organizações operárias catól icas, aí instalando serviços sociais de
assistência ao povo, os quais têm prestado relevantes serviços à
população.
Por ocasião do Congresso Eucarístico realizado em Manaus ,
D. Jaime preparou uma peregrinação que, sendo inédita, foi um
acontecimento extraordinário na vida religiosa do extremo norte
do País. O Arcebispo de Belém contratou um navio, transformou-o
em t e m p lo ambulante e, nesse recinto de piedade, fêz uma via­
gem de dez dias com o SS. Sacramento exposto permanentemen­
te, tornando-se esse fato um motivo p sicológico para o grande
êxito do certame de fé a realizar-se na linda Capital do Amazo­
nas, concorrendo esse fato diretamente p ara que o povo amazo­
nense, empolgado pelo acontecimento, tomasse parte no Con­
gresso, não sómente com o sentimento de profundo respeito, mas,
sobretudo, movido de uma vibração cristã fora do comum.
Estava D. Jaime todo envol vido pelo seu programa de reali­
zações apostólicas na sua A rquidiocese de Belém do Pará, quan-

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42 Oóe s, O Novo C ardeal do Rio de janeiro

do recebe a sua transferência para o Rio de Janeiro, a 3 de


julho de 1943 . Tomou posse na nova sede a 1 5 de setembro do
mesmo ano. Em entrevista coletiva à imprensa, o novo Arcebispo
do Rio de Janeiro declara que as suas preocupações iniciais se­
riam formação de um clero numeroso, catequese intensiva em to­
dos os meios católicos e populares, e ação social. Lembrando ,
nessa ocasião, o Papa Leão XIII, dizia o Arcebispo D. Jaime:
" Prometo ir ao meio do povo sentir suas necessidades e lá pe r­
manecer para procurar resolvê-Ias." Aí está, na realidade, todo
um vasto programa de um Bispo que deseja resolver os graves
problemas encontrados no meio do seu povo. E o Arcebispo do
Rio de Janeiro não perdeu tempo em cumprir as suas palavras,
mas, pouco depois, empreendeu a construção do novo Seminário,
que terá capacidade para 1 50 alunos do curso superior e 250 do
cu rso de Humanidades. E muito de alegrar é saber-se que, ainda
este ano, o Seminário será inaugurado.
Por ocasião de suas bodas de prata, em 1 .0 de janeiro de
1 945, a população católica do Rio de Janeiro, correspondendo
aos planos de D. Jaime, ofereceu-lhe cinquenta bolsas para for­
mação de seminaristas pobres, no valor de Cr $1 .500.000,00. Isto
é uma prova de que o povo realmente compreendeu a vontade rea­
l izadora do seu Arcebispo.
A 15 de setembro ele 1 944, o Arcebispo D. Jaime funda a
Ação Social Arquidiocesana, seu departamento de ação social
com a finalidade imediata e precípua de articular todas as obras
sociais já existentes na Arquidiocese e estimular novos empreen­
dimentos nesse sentido, como, outro ssim, divulgar a doutrina so­
cial da Igreja, fazendo-a conhecida, sobretudo nos meios operá­
rios. A nova organização tornou-se elemento de ligação com to­
do s os meios leigos e oficiais de caráter econômico-social. Dentro
desta instituição criou a Comissão de Religiosas de Assistência
Social e Educacional, tendo já promovido, até agora, dois cursos
intensivos de dois meses para integrar as Instituições Católicas
desse serviço social e educacional nas necessidades do presente.
A A. S . A . fêz um levantamento de todas as· obras de assis­
tência, no Rio de Janeiro, uma estatística de média mensal dos
casos atendidos em toda a Arquidiocese, e chegou à conclusão
de que só no sector de saúde, em cada 30 dias, as obras católicas
atendem a 95 .000 casos. Está assim o Sr. Arcebispo tendo a

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1946 43

ver que o programa traçado para o seu Governo,


satisfação de
nessa sua Arquidiocese, vai sendo executado plenamente.
Trabalho importante e de suma relevância são as visitas
pastorais realizadas por D. Jaime, durante as quais, em cada
paróquia , ele se demora 1 O dias, convivendo com o vigário e com
0 povo, tomando conhecimento direto das necessidades deste,
preocupando-se dos problemas locais de cada paróquia, quer se­
jam estes de aspecto puramente religioso, quer se refiram a as­
suntos de ordem social e material. Quando as paróquias são si­
tuadas em zonas onde há morros, o Arcebispo dá uma demons­
tração clara, não por exibicionismo, mas, sim, por amor a seu
rebanho, do interesse e da preocupação que ele tem pelas classes
menos favorecidas. Assim é que, nesses dias, vemo-lo subir mor­
ros, ir às casas mais humildes tomar conhecimento das necessi­
dades que afligem aqueles lares pobres, empregando medidas
que mitiguem os sofrimentos daquela gente. Geralmente, de volta
dessas visitas, o Arcebispo traz uma lista de crianças a serem
colocadas em estabelecimentos de educação, ou nomes de adultos
que precisam de emprego em centros de trabalho.
D. Jaime tem mostrado um interesse particular pelo seu
clero. Está cuidando da fundação da "Casa do Padre" , com duas
finaliclacles: uma para que a instituição sirva de residência para
os sacerdotes que não têm casa própria, e outra para abrigar
os sacerdotes velhos e doentes. Este é, aliás, um problema
que, ele maneira geral, os católicos desconhecem. No entanto, é
uma triste realidade a vida p recária, difícil e atormentada que
levam os padres quando chegam à velhice. Não tendo podido
fazer fortuna, porque o ministério sacerdotal não dá para isto,
os padres, no inverno da vida, quando não encontram alguma
família amiga que os receba, vão terminar os seus dias na tristeza
de um abrigo de velhos. D. Jaime lançou as suas vistas para este
caso e está disposto a resolvê-lo. Preocupação particular tem o
Arcebispo D. Jaime pelo aprimoramento da vida litúrgica na sua
Arquidiocese, tendo sobre este assunto escrito uma carta pastoral
discorrendo acerca de música sacra, documento em que se en­
contram normas interessantíssimas para a vida cristã e litúrgica
dos fiéis. O Arcebispo tem sempre as suas vistas de tal forma
voltadas para seu rebanho que, por ocasião de suas bodas de
prata sacerdotais, querendo apresentar um motivo de edificação,
ofereceu ao povo desta Arquidiocese uma Pastoral sobre o sacer-

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44 O ó e s, O N ovo Cardeal do R i o de janeiro

clócio católico, criando, então, 25 novas paróquias que viessem


atender satisfatóriamente ao desenvolvimento sempre crescente do
serviço religioso, perfazendo a ereção dessas paróquias um nú­
mero de 30, pois 5 já haviam sido inauguradas pouco antes.
No momento, D. Jaime está preocupado com a fundação de
um grande diário de orientação católica, órgão que sirva de guia
não sómente para o povo desta cidade, mas para todos os bra­
sileiros.
D. Jaime foi elevado ao cardinalato, chamado assim a tomar
pélrte no mais alto Conselho da Igreja Católica, mas dá-nos a
satisfação de permanecer o mesmo catequista de Tijucas, o an­
tigo Reitor de Azambuja, o Bispo que apaziguou os comunistas
das salinas de Mossoró, o Arcebispo que encheu Belém do Pará
de uma auréola de simpatia e piedade, o homem simples e bom
que vela pelos pobres do morro e vai resolver a situação dos
padres velhos e doentes. D. Jaime é realmente um bom pastor.

A Vitória do Catolicismo nos Estados Unidos.


Pelo Pe. A g n e 1 o R o s s i , do Secretariado Nacional de D efesa da Fé
e V ice-Di retor das Faculdades Campinei ras, Campinas, S. Paulo.

Pensam al guns que a história do catolicismo nos Estados


Unidos apresenta estreitas semelhanças com o desenvolvimento
do protestantismo no Brasil. Assim como, em nossa Pátria, os
missionários católicos acompanharam, pari passu, o descobrimen­
to, a colonização, a formação da nacionalidade e lhes imprimiram
o sinete católico, surgindo somente depois o protestantismo, que
foi crescendo e tomou vulto . . . desta forma, julgam patrícios
nossos, sucedeu também nos Estados Unidos se trocarmos os
papéis . . . os católicos é que seriam os intrusos.
Nada menos acertado. Há, sem dúvida, certa analogia. As­
sim a situação e a psicologia de minoria, o problema de imi­
grantes de outra religião que a do País. Entretanto, na América
do Norte, os católicos não aparecem, à moda dos primeiros pro­
testantes no Brasil, como conquistadores. Ao contrário, a eles se
deve, em primeira plana, o início ela colonização de Maryland.
lv\ais tarde, províncias inteiras cio antigo México, incorporadas

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aos Estados Unidos, apresentam um contingente global de cató­


licos. E finalmente, a preponderância católica na hodierna vida
norte-americana é muito mais ponderável e sê-lo-á ainda mais,
num futuro bem próximo, do que a atuação protestante no Brasil.
Trançando as linhas gerais da história do catolicismo nos
Estados Unidos procuramos não estatuir generalizações. Esta
advertência nos faz R i c a r d o P a t t e e no seu magnífico livro
El Catolicismo en Estados Unidos (Editorial Jus, México, 1944,
pág. 541), o nosso guia neste modesto estudo, pois pretendemos
apenas apresentar uma síntese da aludida obra.
Os séculos XVI e XVI I conheceram as grandes empresas
colonizadoras espanholas, portuguesas, inglesas, francesas e ho­
landesas. Em terras setentrionais americanas constituíram-se, no
século XVI I , dois impérios rivais - um inglês e outro francês -
que formariam os Estados Unidos e o Canadá.
Após a guerra com a Espanha, no final do século XVI , mui­
tos ingleses empobrecidos almejavam encontrar, em outros hori­
zontes, uma melhoria econômica. Era natural que voltassem as
vistas para as novas terras da América, principalmente quando
o desejo de aí descobrir minas de ouro tornara-se uma obsessão
popular. Organizam-se companhias particulares, corporações vi­
sando esse objetivo. Uma delas, de Londres, chega às novas ter­
ras e funda Virgínia. Sua finalidade, mais que religiosa, como
geralmente se supõe, é predominantemente econômica. Posterior­
mente, sim, manifesta-se forte movimento puritano.
Maryland, entretanto, deve sua fundação a um motivo reli­
gioso. George Calvert, Lord Baltimore, católico convertido e por
isso mesmo expulso da Virgínia, obteve de Carlos I um território
na América, pensando fazer dele o refúgio para sua família e
seus correligionários perseguidos e atormentados na I nglaterra.
Vindo a falecer, seu filho Ceei! organizou a expedição com os
primeiros colonos, fundando, em 1634, o fortim de St. Marys.
Não obstante o intento de Ceei! Calvert de transformar a colônia
cm abrigo dos católicos, poucos foram os que aproveitaram esta
feliz oportunidade. E assim o número de protestantes que de­
mandavam à colônia foi crescendo constantemente, chegando logo
os católicos a formar uma minoria dentro de sua própria colônia.
Lord Calvert propôs, em 1649, a tolerância religiosa para todos
os habitantes de Maryland: a primeira experiência, no gênero,
e note-se, desde logo, proposta por católicos.

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46 R o s s i, A Vitória do Catolicismo nos Estados Un idos

Também Massachusetts teve uma origem religiosa, derivan­


do de esquerdistas puritanos, os peregrinos, que almejavam edi­
ficar um asilo, onde pudessem, pacificamente, adorar a Deus a
seu modo. Tais puritanos renegavam o anglicanismo, a religião
oficial da I nglaterra, taxando-o de catolicismo disfarçado, por
conservar influências "papistas" e "romanistas" . Sua preocupação,
no entanto, antes era moral que doutrinária, insurgindo-se contra
as diversões, <:orno também abolindo o clero e a hierarquia.
Pensilvânia, igualmente, por obra do aristocrata William
Penn, foi fundada como refúgio dos quáqueros, ao passo que
Nova Holanda (posteriormente Nova York) é fruto da expan­
são colonizadora holandesa.
Releva notar, como o faz P a t t e e, certas diferenças notá­
veis entre a obra colonial ela Espanha e da I nglaterra. A Coroa
espanhola preside à colonização, estabelece empresas, designa
seus mandatários, cria "pátrias" no Novo Mundo, isto é, liga-as
à "Madre Pátria" da qual formam parte, embora vivendo em pro­
víncias ultramarinas. A obra espanhola é uniforme e tem um
profundo sentido nacional: converter os índios, torná-los cristãos
e, desta forma, salvar suas almas. Por isso a Coroa de Castela
prestava especial atenção à incorporação das raças indígenas na
vida colonial.
I sto não ocorria na colonização inglesa. Suas colônias, pro­
fundamente diversas, não ostentam um plano unificador, e assim
Virgínia nada tem que ver com Massachusetts. Aos ingleses pou­
co interessava o índio e muito menos construir a vida colonial
sobre a base de mestiçagem. Sempre repugnou ao inglês a mes­
cla de sangue. Faltava, então, à I nglaterra uma verdadeira polí­
tica colonial . Só surge mais tarde, quando obtém domínio no Ca­
nadá. Em lugar de criar pátrias à sua imagem e semelhança, a
Inglaterra contribuiu para que o separatismo se manifestasse des­
de o início. Por isso também não podia esperar lealdade, devoção
dos colonos (exceção feita aos de Virgínia) à Coroa inglesa.
Nem se encontra um sentimento análogo ao de "hispanidad'',
ainda hoje borbulhante nos povos íbero-americanos.
A religião, não se deve esquecer, exerce, neste ponto, um
papel saliente. E' útil, por conseguinte, estudar o sentimento re­
ligioso da colonização inglesa.
Vimos que a religião desempenhou papel dominante, senão

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decisivo, na formação das comunidades inglesas na América do


Norte. Depois da I ndependência, porém, domina o laicismo.
Mas que religião influiu nos primórdios da Nação? P a t t e e,
contrà riamente ao que vulgarmente se supõe, prova não ter o
puritanismo presidido a formação dos Estados Unidos. Sua in­
fluência se restringe sómente a uma região e assim mesmo du­
rante algum tempo. O puritanismo procurava velar pela pureza
da doutrina e do clero, reservava para si o direito de protestar
contra tudo que considerava abuso dentro da Igreja. Começou a
desenvolver-se no reinado de Isabel e teve seus momentos de
glória e de triunfo com Cromwell. Desapareceu em 1660, com
a restauração monárquica.
Não. O protestantismo dominante estadunidense tem raízes
profundamente arraigadas no sub-solo espiritual da I nglaterra.
Procede do protestantismo dissidente inglês, herança espiritual
de Wycleff, anarquista em matéria religiosa, inimigo da organi­
zação e do clero, nacionalista ao extremo, antipapista ferrenho.
A marca desse protestantismo dissidente, que dominou nos Esta­
dos Unidos, é hoje conhecida com o nome de "congregaciona­
Iismo" . Tal característica distingue as seitas protestantes ameri­
canas - autonomia do grupo, independência de uma organiza­
ção central e de um clero hierárquico - das outras denominações
européias - com uma hierarquia e uma organização central.
Aliás Wycleff preparou terreno para o cisma de Henrique
VI I I . A animos iliiie latente de muitos ingleses contra Roma e o
nacionalismo &erbado abriram a estrada para o passo do mo­
narca, desejoso de passar a novas núpcias para satisfazer sua
paixão. Dissemos cisma de Henrique VI I I , porque de fato assim
o foi; sómente com Eduardo VI acrescentou-se a heresia ao
cisma.
Este protestantismo dissidente é anterior, na América, ao
puritanismo, mas frequentemente ambos aparecem confundidos,
sob o nome comum de puritanismo. Melhor fôra designá-lo, quan­
to ao aspecto de organização, com o termo congregacionalista.
A dissidência sofreu, no século XVI I I , influência dos deístas
ingleses (Hobbes, Locke, Adam Smith) e dos enciclopedistas
franceses. Foi o racionalismo, o indiferentismo religioso do sé­
culo XVI I I que produziu a chamada tolerância religiosa na Amé­
rica do Norte. Como figuras típicas desse indiferentismo pode­
mos citar Thomas Jefferson, Benjamim Franklin, Thomas Paine.

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48 R o,s s i, A Vitória do Catolicismo nos Es tados U nidos

Até agora não falamos em catolicismo: quando, como, onde


se introduziu?
Cristóvão Colombo, é certo, proclamou, numa ilha das Baha­
mas, que as novas terras eram da Coroa de Castela e colocou
o marco da Cruz numa praia do hemisfério ocidental. Mas tal ato
não teve influência nos Estados Unidos. Igualmente não mencio­
namos as missões espanholas e francesas em territórios, hoje
pertencentes aos Estados Unidos, visto como nos interessa, mais
que datas e fatos, a ação da mentalidade católica na vida da
Nação.
Efêmero e trágico o primeiro tentame de Sir Humphrey
Oilbert quando, em 1584, desembarcou 260 católicos ingleses na
inóspita costa de Maine. A colônia, pronto, pereceu e a maior
parte dos infelizes ingleses veio a naufragar, de regresso à sua
Pátria.
O estudo da fundação de N\aryland, como abrigo católico,
entretanto, constitui ponto de interesse, pois é uma verdadeira
exceção na história da colonização norte-americana, visto como
as outras colônias eram claramente inspiradas no protestantismo.
Marylancl, como já indicamos, se tornou uma colônia onde convi­
viam católicos e protestantes e é sua glória ter sido o berço da
tolerância religiosa, estabelecendo leis a esse respeito e executan­
do-as escrupulosamente.
Mas em 1649 Maryland foi gravemente ameaçada. Virgínia,
constantemente receosa dos católicos de Maryland, ao ter conhe­
cimento da decapitação ele Carlos I, pretextando uma deslealdade
de Maryland ao novo regime inglês, invadiu-lhe o território e cons­
tituiu uma junta governativa, da qual naturalmente ficaram ex­
cluídos os católicos. Foram abolidas as medidas de tolerância.
Muitos sacerdotes precisaram fugir. Mas o prestígio de Calvert
na Inglaterra era tal e tão grande era sua habilidade política que
conseguiu do mesmo Cromwell a restauração de seus direitos,
lesados pelos invasores.
Os anos verdadeiramente formativos do catolicismo estaduni­
dense começaram em meados do século XVIII, quando numero­
sos irlandeses, expulsos de sua ilha pela política de Cromwell,
buscaram as terras americanas. Mas mil eram os embaraços por
que passaram esses imigrantes católicos, num meio extremamente
hostil à sua religião, tanto que os católicos eram considerados
como elementos de todo indesejáveis.

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R evista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 49

Entrementes, a incorporação ao império britânico do Canadá,


de formação francesa, trouxe uma contribuição inestimável à evo­
lução da Grã-Bretanha e de suas colônias. Durante séculos, fôra
0 império britânico essencialmente comercial;depois da guerra
com a França, mercê de suas tremendas conquistas t�rritoriais,
tornou-se político. Ora, a I nglaterra queria ganhar a boa vontade
dos canadenses e isso não era possível sem respeitar a religião
católica, o que se fêz com a Ata de Quebec estatuindo, entre
outras coisas, o exercício livre da religião sob a supremacia do
rei e respeitando os dízimos e os bens dos sacerdotes.
Estas concessões desesperaram as colônias protestantes da
América. Taxaram de infame o procedimento da Coroa. Na Con­
venção de Filadélfia os americanos manifestaram seu despeito
quanto a essas concessões feitas aos recém-incorporados canaden­
ses, achando-as até perigosas à vida da colônia norte-americana
e não parece exagero sustentar que isto influiu também na revo:...
lução estadunidense. Outras medidas fiscais, como os impostos
excessivos que a Inglaterra impusera às colônias para se refazer
dos gastos da guerra dos sete anos, enfureceram as colônias.
Qualquer incidente desagradável era aproveitado para deitar le­
nha à fogueira da insurreição.
Quando irrompeu o movimento libertador, também o ele­
mento católico tomou nele parte. A influência católica é devida
à pessoa de Charles Carroll, primo de João Carroll (que seria
mais tarde o primeiro Bispo dos Estados Unidos), o primeiro
a firmar a declaração da I ndependência, o único católico dentre
os signatários, o mais rico dentre todos e o último sobrevivente
do grupo.
Os católicos seguiram Charles Carroll, pressentindo na I nde­
pendência também a defesa de seus próprios interesses, porque
de um lado parecia-lhes impossível que a Coroa inglesa lhes ou­
torgasse idênticas concessões às feitas aos canadenses, visto que
as circunstâncias eram totalmente diferentes, e de outra parte
julgavam possível, na nova situação, criar um ambiente mais fa­
vorável à convivência com os protestantes.
Deveras, a I ndependência teve ampla repercussão no campo
religioso.
A Igreja Anglicana (que nos Estados Unidos se apresentava
sob a forma de I greja Episcopal) perdeu sua posição de supe­
rioridade oficial e a maioria do clero anglicano regressou à I n-
4

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50 R o s si, A Vitória do Catolicismo nos Estados Unidos

glaterra. Por sua vez, a Igreja Metodista experimentou uma der­


rota espiritual e material porque o seu organizador, Wesley, fôra
inimigo acérrimo da Independência. I gualmente os cuáqueros per­
deram terreno, em vista de seu pacifismo e oposição a qualquer
guerra.
Nessa época da I ndependência campeia o racionalismo entre
o elemento culto. Para o generalíssimo Washington, por exem­
plo, o novo governo não é religioso nem irreligioso, mas arreligioso.
Age como se não lhe importasse a religião ou a espécie de reli­
gião, embora inúmeros atos atestem um reconhecimento da tra­
dição cristã do povo. Diga-se, em favor da verdade, que o governo
federal, como tal, não tomou medida alguma contra a I greja
Católica. Não assim os governos de muitos Estados, como Ca­
rolina do Sul, New Hampshire, em que além de estabelecerem
o protestantismo como religião do Estado, vedam aos de outra
religião o funcionalismo público.
No período da I ndependência, a I greja Católica nos Estados
Unidos estava nominalmente debaixo da jurisdição do Bispo de
Londres. Como as relações, no tempo da revolução, ficaram rom­
pidas, não se atraiu sobre a I greja Católica, consumada a I nde­
pendência, o mesmo desprestígio da I greja Anglicana. Nem tudo,
porém, corria em mar de rosas. Esboçava-se o fantasma de uma
organização nacional, caso Roma não fosse prudente na escolha
do chefe da I greja Católica nos Estados Unidos.
Afortunadamente, em 1 784, a nomeação recaía em John
Carroll, um nacional e não um estrangeiro, máxime um francês,
como se temia. Carroli fôra designado Prefeito Apostólico dos
Estados Unidos. Talvez se fosse imediatamente investido da digni­
dade episcopal, muitos veriam nesse ato de Roma uma intromis­
são indébita e uma ameaça à paz e à tranquilidade da Nação.
Lendo estas coisas, o leitor deve ter diante de si que estamos
no início da vida dos Estados Unidos, com mil e um preconceitos
contra os católicos. A carta de Carroll ao Cardeal Antonelli re­
lata não só a pobreza da I greja, como refere um certo espírito
de autonomia que se infiltrava no ânimo de católicos, influencia­
dos pelo protestantismo.
Cinco anos mais tarde, em 1789, Carroll é nomeado Bispo
de Baltimore. Sua diocese abrangia todo o País, da fronteira do
Canadá até Flórida, do Atlântico até Mississipi. A administração
do primeiro Bispo americano foi brilhante e fecunda. Chegou até,

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Revista Eclesiástica B rasileira, vol . 6, fase. 1 , março 1946 51

antecipando-se bastante aos tempos, a fundar, em 1791 , a· Uni­


versidade de Georgetown, que não deu resultado. Também os
católicos eram, na população, os mais humildes e deserdados
econômicamente.
Incalculável era a necessidade de padres. Vieram os france­
ses, mas não foram bem aceitos, apesar de serem de primeira
ordem. Não assim os irlandeses. Nesse tempo, deu-se a restau­
ração da Companhia de Jesus, a maior bênção para os Estados
Unidos. Igualmente aportaram às plagas norte-americanas agos­
tinianos, franciscanos, dominicanos e até trapistas.
Em 1808, Carroll é nomeado Arcebispo e são criadas as
dioceses de New York, Boston, Filadélfia. Convém reforçar o que
acima dissemos: os padres franceses salvaram a Igreja nestes
primeiros anos de sua estruturação nacional. Mas aos irlandeses
não parecia bem esta influência gálica. Temia-se uma predomi­
nância estrangeira. O movimento nacionalista chegou, entre 18 15
a 1820, ao extremo de se conchavar uma Igreja católica ameri­
cana, propondo-se mesmo que um certo Padre Carbry fosse à
Holanda receber a sagração de um bispo jansenista. Somente um
milagre conseguiu salvar a Igreja americana. A Santa Sé nomeou
dois irlandeses para as sedes de Virgínia e Carolina do Sul. Ha­
via, é verdade, ótimos padres franceses, mas os americanos não
queriam tê-los como chefes hierárquicos para não parecerem, por
esse motivo, estranhos em sua própria casa.
Intensifica-se, então, o que poderíamos denominar de "ame­
ricanização" da Igreja Católica que, sem subtrair um ápice se­
quer de sua doutrina, vai se amoldando admiràvelmente às cir­
cunstâncias de lugar, originando esse tipo característico do cato­
licismo norte-americano.
Segue-se, à Independência, a marcha para o Oeste: uma das
chaves da história norte-americana. A vida católica seguiu tal de­
senvolvimento, estabelecendo, graças ao clero imigrado da Fran­
ça, missões nos bosques e igrejas nas fronteiras.
Não vamos pormenorizar os processos deploráveis emprega­
dos para a anexação de territórios mexicanos aos Estados Uni­
dos, mas essa guerra granjeou popularidade na massa, pois mui­
tos sustentavam que a derrota do México, como povo católico,
redundaria em benefício da civilização. Para esses tais o México
significava a escória da humanidade: catolicismo, latinismo, indi­
genismo, confusão política, insuficiência administrativa. Não exa-
4*

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52 R o s s i, A Vitó r i a do Catolicismo nos Estados U nidos

geremos, porém, esse aspecto religioso da questão, existente mais


no subconsciente, que não foi ele determinante da anexação das
novas terras.
Entretanto, a incorporação de imensos territórios mexicanos
trazia algo de novo na vida dos Estados Unidos, possuindo ago­
ra, em seu seio, províncias inteiramente católicas, embora, seja
dito de passagem, não fosse muito lisonjeira a situação católica
nessas zonas.
A marcha para Oeste vem se juntar outro fulcro da fisiono­
mia social estadunidense: a imigração. Esta foi abundante e va­
riada: um verdadeiro mosaico imigratório, formado de povos e
raças diversas.
I nteressam diretamente nosso estudo apenas alguns desses
povos.
Os irlandeses do Sul, ao contrário dos do Norte, são católi­
cos convictos. Por motivos econômicos e devido à legislação in­
glesa hostil aos católicos, começa, em 1 820, a "invasão irlandesa",
elevando-se a 4.500.000 o número dos imigrantes. Em sua terra
eram camponeses, mas chegando na época da construção de es­
tradas de ferro para o Oeste, empregaram-se nesse serviço e pre­
feriram ficar nas cidades. Nova York, em 1 8 50, contava com
1 33 .000 irlandeses. Formavam os irlandeses bairros proletários
e, por vezes, mister é confessar, bairros turbulentos. Por isso mui­
tos norte-americanos começaram a identificar os católicos com
os irlandeses da mais baixa estirpe e situação.
De 1 880 em diante aumenta a imigração italiana, que se fixa
na cidade, constituindo bairros tipicamente italianos, como em
Nova York que, em 1 9 1 0, contava 544 .000 italianos. Enquanto
o italiano setentrional vai se assimilando com o povo, o meridio­
nal persiste num maior isolamento.
Desde o princípio deste século, notamos a imigração de
franco-canadenses católicos, em número de milhão e meio.
Completando a relação das principais levas imigratórias ca­
tólicas, refiramos os mexicanos. Sua sorte é por demais penosa
nos Estados Unidos: os mexicanos operários quase estão no
mesmo nível dos negros. Passam atualmente pela mesma etapa
de provação e pelas mesmas penúrias morais dos irlandeses, na
metade do século passado, dos italianos e dos escravos mais
tarde.
Já que tocamos numa chaga atual da vida estadunidense,

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1946 53

se rá bom recordar a "via crucis" da I grej a Católica nos Estados


U ni dos, para se avaliar melhor o heroísmo da gente católica e
em que altu ras andou a famigerada tolerância rel igiosa na Amé­
rica do Norte.
j ustamente os que buscavam paz e tranqui l idade contra a
intolerância anglicana, em Massachusetts e Virgínia, foram os
mais intolerantes para com quantos deles divergiam, retribuindo­
lhes com os piores castigos. N o século XV I I , as infrações reli­
giosas n a colôni a eram tidas como crimes civis. Além disso, inú­
meros são os preconceitos religiosos, uns atingindo a legislação
vexatória aos católicos e outros envolvendo a m assa popular. O
catól ico é tido como anti-americano, romanista, isto é, escravo
do poder soberano estrangeiro - a Santa Sé. As piores pechas
são assacadas ao celibato clerical e religioso.
E' neste ambiente de intolerânci a e incompreensão que o
catolicismo vingou, mas precisou de séculos para dissipar as ca­
lúnias e provar, com fatos bem patentes, sua leal dade à N ação
e sua missão pacífica e civilizadora.
N ão pense o leitor que essa i n tolerância é alguma velharia,
não. Para citar apenas um fato, recordemos a campanha p residen­
cial de Alfred Smith, em 1 928, há menos de 20 anos portanto.
Esse eminente catól ico que, por várias vezes, governara Nova
York, fôra apresentado como candidato à P residência por um
dos grandes partidos polí ticos. N unca se chegou numa campa­
nha p residencial, diz G ustavo Myers, a u m abismo tão degra­
dante de malevolência e perversidade. Tudo por causa de sua
religião católica apostólica romana, que ele honr adamente quis
conservar e que lhe granjeou m i l hões ele fol hetins imundos e a
derrota nas urnas.
Para o leitor ter uma idéia desse calvário da I grej a, passemos
ràpidamente em revista os diversos movimentos anticatólicos or­
ganizados nos Estados U n i dos.
O primei ro foi o " nativismo" ( "Native American Party" ) .
Apareceu depois ele 1 825, fazendo formal e sistemática oposição
a toda influência estrangei ra. Esta era a sua tese : os forasteiros,
acostumados a uma mental idade monárquica, dificilmente se
adaptam ao espírito democrático . E stabeleceu-se para a naturali­
zação a exigência de resi dir pelo menos 1 4 anos no País, prazo
que ficou reduzido para 5 anos, na presidência J efferson . D epois
de 1 84 1 o movimento adquire uma feição nitidamente anticatólica,

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54 R o s si, A Vitória do Cato i
l cismo nos Estados Unidos

ou mais própriamente anti-irlandesa, pois o aumento da imigra­


ção irlandesa aparecia a muitos como um complot "jesuítico­
papal". Redobrou a oposição aos católicos quando o Bispo
Hughes, em 1840, dirigiu às autoridades municipais de Nova
Yor,k uma petição no sentido de serem respeitados, nos textos
das escolas públicas, os sentimentos católicos, então vilmente
denegridos.
Quando o nativismo desapareceu como organização, seus
efeitos - as calúnias - permaneceram ainda no povo.
O segundo movimento foi efetuado por uma sociedade se­
creta, o "Grande Conselho dos Estados Unidos" ou "Know
Nothing", isto é, os que não sabiam nada, visto como seus mem­
bros negavam a existência da associação.
Esta organização nasceu com o intuito de "combater a in­
fluência oculta e mundial do Papado" e para isso propugnava
que todos os postos políticos, administrativos e de' confiança de­
viam ser confiados somente a protestantes. A sociedade atingiu
seu apogeu em 1854, quando conseguiu eleger 9 governadores
e 104 dentre os 234 membros da Câmara Nacional. Pereceu no
fragor do abolicionismo e da guerra de secessão.
Procurou reviver esse movimento, em 1887, a "American
Protective Association", distribuindo principalmente folhetos anti­
católicos, anti-romanistas. Vamos dar um exemplo. A A . P. A.
chegou a forjar e divulgar uma encíclica de Leão XIII, em que
exortava os fiéis a exterminar, no dia 31 de julho de 1893, festa
de S. Inácio, todos os hereges dentro da jurisdição dos Estados
Unidos. O pânico foi completo, ainda mais porque a imprensa
anticatólica deitava cotidianamente lenha na fogueira. Fantasiou­
se uma militarização dos católicos, um adextramento em armas,
etc. Chegado o dia, os protestantes conservaram-se em casa, de
vigília, rifle nas mãos, aguardando a hora "H" do extermínio.
Apesar de nada ter sucedido nesse dia e em todo o ano de 1893,
nem por isso amainou a propaganda da A. P . A. , em todos os
sectores anticatólicos. Finalmente a A. P . A. teve seu ocaso com
a eleição de William McKinley à Presidência, o qual contava nu­
merosos partidários católicos.
A Ku-Klux-Klan, todos estão lembrados, escreveu páginas
tenebrosas de terror nos Estados Unidos. Apareceu, em 1866, no
Estado de Tennessee. Depois da guerra de secessão, milhares de
emancipados, sedentos de justiça depois de muitas gerações de

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1946 55

escravidão, executavam represálias contra seus antigos senhores.


E ntão para apavorar os negros e garantir a superiorida de da
raça branca, surgiu a Ku-Klux-Klan, adotando seus adeptos um
traje talar branco e uma máscara.
Depois de um período de declínio, a Ku-Klux-Klan ressur­
ge, em 1 9 1 5, com um programa eminentemente anticatólico, guer­
reando embora também os j udeus, os negros e os estrangeiros.
Depois da conflagração mundial, a associação alcançou um mi­
lhão de aderentes. Já em 1 922 convertia-se em ameaça nacional .
Tais eram as depredações, os atropelos, os linchamentos, o re­
gime de terror que os cinco milhões de adeptos espalhavam pelo
País que a Ku-Kl ux-Klan se constituía quase um governo ab-
'
soluto dentro do Estado.
Não obstante o prestígio da Ku-Klux-Klan, em 1 925, com
oito milhões de sócios, começou a definhar sensivelmente quan­
do se imiscu i u em política, entrando em bancarrota, em 1 927 ,
para logo mais desaparecer como um a força vital.
Conquanto deixasse a arena mais este terrível adversário e,
para o substituir, não surgisse nenhuma outra organização, per­
sistem todavia os p reconceitos populares, como anotamos ao fa­
lar da candidatura Alfred Smith, em 1928.
Um parêntesis: estu dando a história do protestantismo no
B rasil não encontramos movimentos anti-protestantes comparáveis
a essas campan has sistemáticas e sectárias contra o catol icismo
nos Estados Unidos. E no entanto vivem os protestantes no B ra­
sil cantando a tolerância evangélica norte-americana e vergas­
tando a inquisitorial intolerância dos católicos no Brasil contra
os protestantes. Quanto pode a ignorância e o preconceito!
Agora, em fugaz resenha, os pontos essenciais da influência
católica na atual vida nacional norte-americana.
Enquanto no continente europeu o catolicismo é medular, nos
Estados Un idos está todavia num plano de luta, de penetração,
de avanço. Por isso os católicos norte-americanos não desfrutam
dum ambiente pacífico, onde possam exibir públic. a mente os sen­
timentos de sua fé, com p rocissões, festas externas, etc. Também
o protestantismo, evi tando exteriorizações da religião, influiu mui­
to para formar esse ambiente. E' natural, portanto, que o catoli­
cismo norte-americano, em consequência desse meio adverso ,
apresente notas características bem frisantes. Não que tenha sa-

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56 R o s s i, A V i tória do Catolicismo nos Estados U n i dos

crificado algo de essencial na sua doutrina, mas, para não pare­


cer estrangeiro, acentua estridentemente seu americanismo.
Nessa situação e nesse clima e porque os católicos são eco­
nômicam ente pouco favorecidos, ainda não se pode esperar dos
católicos n os Estados Unidos um grau desenvolvido de cultura.
Mas 0 progresso quantitativo é notável. A ascensão dos católicos
na América do Norte talvez se possa comparar à marcha do ope­
rariado em nossa Pátria. E ' um f ato diante do qual não pode
haver contestação.
Não se pense, entretanto, que os católicos norte-americanos
apenas pesem pelo número. Não. Seu trabalho educacional, por
exemplo, é extraordinário, miraculoso mesmo. Além de contribuir
com o imposto para as escolas públicas e leigas, os católicos
sustentam herõicamente, de seu próprio bolso, suas escolas pró­
prias: primárias, secundárias e superiores. E' um sacrifício pe­
noso, mas necessário e compensador.
Desde os albores da vida católica estadunidense, cuidou-se
com carinho da escola. Assim procederam os jesuítas e os outros
religiosos. E ' curioso advertir que a obra educacional se iniciou
com o ensino superior. De 1 789 a 1 8 43 fundam-se 10 Universi­
dades. Por que ? Procurava-se, antes de tudo, formar um clero
vigoroso e este ato feliz da H ierarquia foi de alcance extraordi­
nário e de repercussão abençoada na vida católica dos Estados
Unidos.
Atualmente cada paróquia procura manter sua escola pró­
pria. D a í o n úmero imenso de escolas paroquiais.
Em 1 940, os católicos possuíam 24 Universidades, 52 esco­
las superiores masculinas, 1 17 escolas superiores femininas, 2 . 1 05
escolas normais, 7 .944 escolas prim árias com um total de 2 . 600.000
alunos.
P orque os católicos são, na sua maioria, proletários, a ques­
tão soci al vem ocupando a atenção dos líderes católicos, com
efeitos benéficos pa ra todo o P a ís. E nesta cruzada de elevação
do proletari ado, merece especial destaque o apóstolo da doutrina
social, Mons. John A. Ryan.
O p roblema r u ral oferece aspectos impressionantes. 80%
dos católicos vivem nas cidades. Muitos observadores predizem
uma decadência do catolicismo norte-americano se não conseguir
que um maior número de fiéis se reintegrem na vida r u ral, onde
as famílias numerosas prevalecem. Enquanto a sociedade indus-

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Revista Eclesiástica B rasileira, vol. 6, fase. 1 , març o 1 946 57

triai é i n i m i ga da família, a vida agríco l a contribui para a esta­


bilidade, permanência e indissolubilidade dos l aços conj ugais.
Para a I grej a Católica, a vida rural n orte-americana oferece pre­
sen temente a ú n ica fonte de população. Pois cessou a i m igração,
ou ao menos não tem a mesma i n tensidade de h á 4 0 o u 50 anos
atrás. Por isso a população tem que se reproduzir em seu próprio
território e o ambiente mais favorável é, não resta a menor dú­
vida, a zona rural . Porque a vida rural está baseada essencial­
mente na fam í lia, como unidade fun damental . A fam í l i a representa
u m a pequena cooperativa, em que cada membro contribui para
o trabalho de conj unto. Ao passo que, n a zon a u rban a e i ndus­
trial, a unidade não é a fam í l i a mas o indivíduo. O u se quiserem,
a vida urbana gira em torno duma concepção mecanicista da
vida, enqu anto a rural é mais orgânica. A agricu ltura está ba­
seada em processos naturais, isto é, n ascimento, crescimento e
morte. O homem da ci dade, ao contrário, pensa em termos de
operações mais ou menos artificiais : comprar, vender, utilizar-se
d a máqu ina, negoci ar, etc.
Para resolver esses compl exos problemas fundou-se a Catlzolic
i?ural Life Conference, proficientemente dirigida pelos B i spos de
Kansas Ci ty, Peoria e por Mons. Ligutti que, há pouco tempo,
estiveram n o B rasil, onde a assistênci a religiosa ao homem do
camp o é um problema ainda a solucionar. Depende também muito
da proteção à zona ru ral por parte do Govern o . Para estudar
estes temas rurais católicos, encontra-se atualmente nos Estados
U n i dos, a convite da "Catholic Rural Life Conference" , um meu
contemporâneo do Pio-Brasileiro, o Pe. Heládio Correia Laurini,
da Arqui d iocese de São Paulo. E speramos que nos traga muita
co isa útil e aplicável ao nosso Brasi l , antes que sej a m u i to tarde.
A questão ru ral tem suas afinidades com o problema negro .
Não vamos entrar em pormenores da angustiosa e t rágica situa­
ção dos p retos nos Estados U nidos. A guerra de secessão pôs
termo à escravi dão, mas não consegu iu reabi l i tar o negro . Sobre
a raça negra, que hoj e atinge 1 3 .000 .000, pesa o açoi te do p re­
conceito e do ódio de côr, verdadeiro câncer n acion a l . Politica­
mente, significa uma porção con siderável de cidadãos ( 1 O % ) ,
excluídos de toda participação de seus próprios desti n o s . Social­
mente, é uma n ação dentro ele outra. Religiosamen te, o negro
tem sido e continua sendo terra de conquista para m u i tos. En­
quanto o catol icismo começa a i n f l u i r sobre essa massa, o pro-

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58 R o s s i, A Vitória do Catolicismo nos Estados Unidos

testantismo atinge apenas uma metade dela. Descuido da Igreja


Católica ? Absolutamente. D entre outras razões releva notar que
a escravidão se concentrava no Sul, onde as condições rurais a
favoreciam e os escravocratas eram quase todos protestantes. Ao
contrário, a Igrej a Católica se desenvolveu no Norte, na zona
urbana. Esta distância geográfica explica muita coisa. Mesmo
depois da abolição, até há pouco tempo, o negro tem sido fun­
damentalmente rural, ao passo que o católico é prevalentemente
urbano: eis aqui por que perdura a separação entre negros e
católicos . Além disso, não é segredo para ninguém o sistema de
segregação do negro, na maior parte dos Estados Unidos. O ne­
gro tem seu bairro, suas escolas, seus hotéis, seus cinemas, seus
clubes e naturalmente suas igrej as. Os negros religiosos, em sua
maioria, são batistas, mas evidentemente possuem templos pró­
p rios para os de sua côr.
Apesar dessas circunstâncias desfavoráveis, a Igrej a Católica
a tualmente conta com 300.000 negros. Não pode, entretanto, me­
l horar a humilhante posição do negro senão gradativamente, pois
n u m e rosos e intensam ente arraigados são os preconceitos popu­
lares neste gênero.
Apontamos ràpidamente al guns asp ectos da i nfluência cató­
l i ca nos Estados Unid os, mas seria falho este nosso escorço se
omi t í ssemos mencionar a ben emérita National Catlzolic Welfare
Conferenc e : o órgão católico, fundado em ,l 9 1 9 , que une, coor­
dena, organ i z a as m ú ltiplas a tividades católicas nos Estados Uni­
d os. S u a história é a crônica da Ação Social e Catól i ca em todo
o País. Em novemb ro de cad a ano reune-se o Episcopado Na­
cion al para discutir os p roblemas su rgidos e que requerem a de­
liberação e a ação de todos. N essa ocasião, escolhem-se pelo me­
nos dez entre os prelados para o corpo administrativo da or­
ganização.
Diversas são as secções da N . C . W . C . U m a trata dos imi­
grantes, outras do Ensino Religioso, da Ação Católica, da Dou­
tri na Social, da Vida Familiar, da Vida J urídica, do S erviço So­
cial, das Organizações Seculares.
Não há setor de atividade católica que não receba o bafejo,
a orientação, o estímulo, o a u x í lio da N . C . W . C .
Prodigiosa foi a sua ação, agora nesta ú l tima guerra. Den tre
os organismos criados en tão mencionamos o Comité dos Bispos
para a Emergên cia da Guerra e Obras de Socorro - Bisho p ' s

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Revista Eclesiástica B rasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1946 59

War Em ergency and Relief Committee - destinado a recolher


auxílios para as vítimas da guerra. A verba destinada ao Vati­
cano possibilitou fundos para o Serviço de Informações, da San­
ta Sé, que manteve a correspondência entre os prisioneiros de
guerra de ambos os lados com as suas famílias.
Fundou-se em março de 1943 o War Relief Services, desti­
nado a minorar a miséria e a auxiliar os povos europeus a fim
de que recobrem sua vida nacional. O Comité Católico pró Re­
fugiados prestou auxílio aos refugiados europeus nos Estados
Unidos.
Finalmente a National Catholic Community Service ocupa-se
dos homens e mulheres que prestam seus serviços nas forças ar­
madas e que, admirável pujança católica ! perfazem 40% dos
soldados norte-americanos.
Por estes í n d i ces, pe rc eb e- se fàci lmente que a I gr e ja Cató­
lica e st á b em o r ga ni zada nos Estados Unidos. Ela avançará rà­
piclam en t e para melhor posição no cenário n aci o nal, mo r m en te
a p ó s esta guerra, em que a p a r tic i paç ã o dos cató l icos foi bri­
l hante. Assim l o g r o u desfazer em grande par t e a pecha de estran­
geirismo e mostrou como os católicos são tão bons americanos
quanto os que m e l ho r o sã o .
Entretanto n ã o esqueçamos q u e os católicos são, n a sua
mai oria, menos favo recidos ec o n ô m i c a me nte. Assim mesmo rea­
lizam p rodígios n o setor educ a t ivo - em que c onq u i s t a ra m triun­
fos ex traordinários --, no ca m p o de assistência social, graças à
con t rib uição g e n ero s a dos f i é i s . E por falar n i sso, ne n h u m sa­
cerdote teme, n o p ú l p i to , insistir com o s cató li c os acerca do man­
dam ento e cl es i á st ic o da c ont r i b u iç ã o p ara a manutenção d o culto
e d as obras de assistência . C he ga mesmo tal ass un to a ser ma­
té r i a p r edi l eta para a l g u m as paróquias. Neste ponto os católicos
norte-americanos dem on s t ra m uma compr ee n são n ítida do seu
dever, o que não se encon tra ent re n ó s .
Resumindo quanto viemos dizendo, p od e r í a m os concl u i r com
G eorge S h uster. Assinala entre os p ri nci p a is atributos cio catoli­
cismo norte-ame ricano os s e gu in t e s : 1 ) o catol ic i smo c onseg uiu
iden tificar-se com a terr a , com o p a í s i n teiro, com su a mentali­
dade e seus sent i me n t os sem cai r em ci sm a o u perd e r um á p ice
de sua u n iversal i dade ; 2 ) o catolicismo n orte-americano f o rj o u de
milhões de imigrantes. e a v entu re i ros uma m assa humana orga­
nizada e imbuída de um e s p í r i to so l i d á r i o ; 3 ) ja m a i s o ca tol i -

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1.
60 R o s s i, A Vitória do Catolicismo nos Estados U n idos

cismo, desde a primitiva Maryland até os tempos atuais, abusou


de seu poder ou prestígio : nunca usou de influência que pudesse
ser reprovada pela maioria. Por isso sua incorporação na vida
nacional é positiva, persistente, embora não espal hafatosa, ruidosa.
Possam estas notas contribuir para uma maior compreensão
da heróica vitória do catolicismo norte-americano. Esse colossal
bloco não será o melhor intermediário para a política de boa vi­
zin hança entre os Estados U n i dos e a América Latin a ?

O Sacrifício da Cruz.
Análise Teológica.
Por Frei D a m i ã o K 1 e i n, O. F. M., Aracaj u , Sergipe.

O presente trabalho não visa expor todo o mistério d a cruz,


mas quer tão-somente analisar o que concerne ao caráter sacrifi­
cal da morte do Senhor, e precisar exatamente os elementos do
divino holocausto. Versarei, pois, as questões do pontífice, da
hóstia, das finalidades e da própria ação sacrifical, e por fim a
da unidade do mistério da cei a com aquele do Calvário.
1. O . Pontífice.
O concílio efesino declarou expressamente, no décimo ana­
tem atismo de Cirilo con tra Nestório, que o próprio Fillzo de Deus,
o Verbo divino, encarnado no homem jesus, foi na �ua natureza
humana constituído nosso pon tífice para se imolar por nós. 1
Nestório, que negava em Cristo a u n idade da pessoa, subtraía
à divina pessoa quanto no Salvador houvesse de hLtmano ; e o ser
pontífice é certamente um ministério humano. Sacerdotium et sa­
crificium lzu m ance conditio nis es t, escreve S. Ambrósio. 2 E o
apóstolo declara : "Todo o pontífice é tomado do meio dos ho­
mens, e constituído representante dos homens, nas sLtas rel ações
com Deus, a fim de oferecer oblações e sacrifícios pelos peca­
dos." 3 Sobretu do em Cristo o sacerdócio envolvi a a inCLtmbência
de se imolar na cruenta morte de cruz para dar à divina j ustiça

1 ) Cfr. Denz. 1 22.


2 ) De fide, 3, 1 1 .
3 ) Heb 5, 1 .

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 61

a plena satisfação pelos pecados d o mundo, e restitui r à huma­


nidade as graças da vida divina. Tal missão, certamente, não
cabia ao Verbo divino na sua divina natureza.
Por outro lado, porém, é igualmente certo que um puro ho­
mem, por mais j usto que fosse, não era capaz de exercer o en­
cargo de redentor, - nem para com Deus, porque a ofensa que
sofrera o Criador pelo pecado, em razão da infinita grandeza do
ofendido, imp licava alguma infinidade de mal ícia, e reclamava
para a sua digna reparação uma satisfação de infinito valor, que
nenhuma simples criatura podia dar '1 , nem para com os ho­
-

mens, porque o delito de Adão viciara a própria natureza da


raça, e nenhum indivíduo meramente humano podi a fazer a re­
paração que remediasse o dano do gênero todo. 6
A vista destes fatos é claro que da tese de Nestório resultava,
logicamente, a negação da redenção da humanidade. Sómente a
união pessoal de Deus e homem na i ndividualidade do Salvador
faculta alguma compreensão do dogma fundamental da santa fé.
Subsistindo no V erbo, simul tâneamente, as duas n aturezas, na
humana ele foi capaz de se imolar na cruz e dar a D eus a ne­
cessária satisfação que, em razão da divindade da pessoa do
pontífice, tem um valor rel igioso infinito, e nos valeu, abundan­
temente, o perdão dos pecados e a restituição das graças do Pai .
As Escritu ras, aliás, apóiam plenamente a tese do Efesino,
atribuindo a divina Paixão e os seus efeitos salutares ao Filho
de Deus em sentido próprio. S . Paulo, por ex. , escreve aos Gá­
latas : " Quando se completou o tempo, Deus enviou seu Filho,
feito da mulher, e submisso à lei, para que redimisse os que
estavam debaixo da lei, e tivéssemos nós a filiação" 6 ; - e mais :
"O que agora vivo na carne, vivo-o na fé do Filho de Deus que
me amou e se imolou a si mesmo por mim." 7 Sobretudo na Epís­
tol a aos Hebreus acentua-se fortemente a divindade do Filho, es­
plendor d a glória do Pai e imagem do seu ser e criador do uni­
verso, e que foi todavia o mesmo que fêz a purificação dos pe­
cados, e foi depois sentar-se à di reita da maj estade nas alturas. 8
- "Por sua morte deveu derrubar aquele que tinha o im p ério da
morte, quer dizer o demônio, e l ibertar os que, J? elo temor da
4 ) Cfr. S. Tomás, S. th. I I I , 1 , 2, ad 2.
5 ) Cfr. S. Tomás, l n I l i . Sent. d. 1 9, a. 5 , q . 3, sol. 2, a d 5 .
6 ) Gál 4, 4-5 .
7 ) Gál 2, 20.
8 ) H e b 1 , 1 -3.

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62 K 1 e i n, O Sacrifício da Cruz

morte, estavam suj eitos à servidão a vida toda." 9 " E' que,
-

uma vez consumado (pela morte) , fêz-se autor de salvação eter­


na para aqueles que lhe querem obedecer, proclamado que fôra
por Deus pontífice segundo a o rdem de Melquisedec. " 1 º " En­ -

trou no santuário com o seu próprio sangue uma vez para sem­
pre, porque alcançou uma redenção sempiterna." 11
S. Tomás i lustrou, preclaramente, o pensamento do dogm a
pela análise d o conceito d e mediador. 1 2 E' q u e a m issão d o pon­
tífice consiste, essencialmente, na mediação entre o criador e o
povo 1 3, porquanto tem de oferecer a Deus as preces e oblações
dos homens, e trazer-lhes, em recompensa, as divinas graças ; e
em particular o Redentor teve de mediar entre a divina j u stiça e

'Mtla
a humanidade, dando a Deus a j usta satisfação pelos pecados,
e impetrando para os prevaricadores o perdão. u Para tal
tarefa de mediador era forçoso que o pontífice estivesse
no meio entre os dois extremos, não se i dentificando nem com
um nem com o outro, - e comunicando, todavia, com ambos
para os unir, transmitindo a cada um deles o que era próprio do
outro. O ra, considerado Cristo n a sua divindade, é evi dente que
em nada distava de Deus, sendo com o Pai e o Espírito S anto
o mesmo D eus, e com a humanidade não comunicava em coisa
alguma que apresentasse ao Criador. Considerado, porém, so­
mente como homem, na, sua natureza humana nada se apartava
dos demais filhos de Adão, fora o pecado 1 6, e nada tinha de di­
vino que desse aos seus i rmãos. Mas unindo ele n a sua divina
pessoa as duas naturezas, estava realmente no meio entre os dois
extremos, distando de Deus por sua natureza humana, e não me­
nos dos homens por sua divindade, e comunicando todavia com
ambas as partes. D esde que foi Deus e homem na mesma indi­
vidualidade, pôde realmente tanto fazer por seus irmãos a ne­
cessária penitência em virtude da sua natureza humana, como
alcançar para eles as graças do Pai em virtude da sua digni­
dade divina.
Pois não é p ropriamente a natureza que age, e sim a pes-
soa por quem ela subsiste e é movida a operar, de modo que

º ) Heb 2, i4- 1 5.
10) H eb 5, 9- 1 0.
11) Heb 9, 1 2.
12 ) Cfr. l n I I I . Sent. d. 1 9 , a. 3, q. 3, sol. 2 ; S. th. I I I, 1 e 2.
1 3 ) Heb 5, 1 ; 1 Tim 2, 5-6.
14 ) Cfr. S. Tomás, S. th. I I I , 22, 1 . 1 5) Heb 4, 1 5.

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Revista Eclesiástica B rasileira, vol. 6, fase. t , março 1 946 63

as operações de qualquer agente pertencem, di retamente, à pes­


soa ou ao suposto, e só i n di retamente à natureza 1 6, ou em ter­
mos l ógicos, a pessoa é principium quod, e a natu reza principium
quo agendi. Assim em Cristo, desde que também a n atureza hu­
m ana subsiste no Verbo, " a operação do mistério da cruz cabe,
necessàriamente, ao V erbo, não em razão da natureza divina, in­
capaz de padecer, e sim em razão da sua natureza humana que
lhe serviu de instrumento" 1 7, e o próprio Filho de D eus, encar­
nado n o homem J esus, foi o verdadeiro pontífice do sacrifício
da redenção, unas et idem sacerdos et Deus, como diz o Aqu i­
n ate. 18
II. A Hóstia.
O sacrifício é um ato da virtude da religião, no qual o ho­
mem, por motivo de respeito e reverência, se oferece integral­
mente a Deus para o servi r imediatamente e adorar-lhe a imensa
grandeza em obediência e amor. E enquanto o sacrifício é exterior
e visível, todo esse oferecimento é feito em atos exteriores e sen­
síveis que exprimem di retamente e como que corporalizam os atos
interiores do espírito. Em consequênci a desta preclara definição
de S . Tomás, deve dizer-se que a verdadeira hóstia de qualquer
obl ação sacrifical i n terior é o próprio sacrificante, e sendo a
oblação exterior a expressão d ireta da i n terior, também no sa­
crifício visível a verdadeira hóstia é o homem, imolado direta­
mente, ou na sua própria individualidade visível, como Cristo o
fez na cruz, ou em símbolos de vítimas e outras oferendas m a­
teri ais, como se fazia nos s acrifícios mosaicos.
Deixo de parte as opiniões da maioria dos teólogos recentes
que, concordando com S. Tomás no tocante ao sacrifício interior,
comumente divergem dele quanto ao exterior, tomando-o por ato
imperado e indireto da virtude de rel igião, ao passo que o Aqui­
nate o considera como ato el ícito e direto da mesma virtude. 1 9
Segundo aqueles, pois, no rito levítico a hóstia visível foram os
próprios animais e os outros obj etos sacrificais que, sendo ofe­
re cidos a D eus na sua realidade obj etiva, constituiriam um sacri­
fício figurado, sinal indireto do interior e sua hóstia i nvisível . E
do mesmo modo querem no mistério da cruz construir alguma
16) Cfr. S. Tomás, S. th. 1 , 39 , 5, ad 1 .
1 7 ) S . T o m á s, S . th. I I I , 47, 1 2 ; cfr. idem i n 1 Tim 2, 5-6.
1 8) S. th. I I I , 22, 3, ad 1 .
1 9 ) Cfr. REB 1 942, pág. 40 ss.

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64 K1ei n, O Sacrifício da Cruz

coisa semelhan te, sem que até hoj e tenham conseguido demons­
trá-la cm termos claros e i nequ ívocos .
A hóstia visível do sacrifício do Calvário, pois, foi o próprio
Cristo, na sua individualidade humana. Ipse Clzristus inquantum
/zomo non solum fuit sacerdos sed etiam /zostia 2 0 , como dizem
também as Escrituras que " C risto nos amou e se entregou a si
mesmo por nós em oblação e hóstia ele grato odor." 2 1 E m lin­
guagem popular a mesma hóstia a i n d a pode ser especificada, to­
mando-se, por certa s i n é doque, a parte pelo todo. Assim as Es­
crituras falam d a oblação do corpo do Senlzor 22 , e atribuem a
redenção à efusão do seu sangue . 2 3 Tais locuções, sem dúvida,
são certas ; convém todavi a lembrar que denotam apenas uma
face d a hóstia obj etiva, e a sua parte material, que, por causa
d a sua corporeidade, não foi oferecida senão secundàriamente
com o espí rito e p o r meio dele. E' que ·a parte princ ipal da hós­
tia objetiva foi a alma de Cristo, a qual, no entanto, se sacrifi­
cou d iretamente n o seu corpo. Deus é esp í rito, e só o que é
espi ritual pode chegar-se a ele e servi-lo em atos esp i ri tuais.
Mas como o corpo com a alma constitui u m todo substancial, foi
com ela e por meio del a consagrado a Deus d i retamente, e ser­
viu-o d i reta, posto que secundàriamente, porquanto o serviço es­
piritual do sacrifício foi fei to elicitamente nas formas corporais.
Ainda a mesma hóstia pode ser considerada in actu secundo,
como dizem os escolásticos, quer dizer, na sua apl i cação ao ser­
viço sacrifica l . Neste sen tido a hóstia do m istério da cruz é a
mesma in d ividualidade humana de Cristo, entregue à morte em
perfeita obediência e adoração, inspi radas e santificadas pelo
infinito amor do coração do . Homem-Deus. E sses atos religiosos,
em si esp ir ituais, mas praticados d i reta e elicitamente n as formas
corporais d a paixão e morte do Senhor, constituem a parte formal
do div ino h olocausto. Porqua n to o serviço para que o Filho fora
envi ado cio céu, consistia propriamente em fazer-se ele salvador
do mundo como " servo do Senhor" , prestando ao Pai o que os
homens lhe haviam negado, a obediência, a adoração e o amor,
e de f ato deu-lhe tudo isso, "humilhan do-se e obedecendo até
a morte e morte de cru'z . " 2 4 O padecer e mo rrer, em si, perten-
20 ) S. T o m á s, S . th. I I I , 22, 3.
21 ) Ef 5, 2; cfr. Ef 5,. . 25 ; Gál 2, 20 ; Heb 7, 27 ; 9, 1 4. 25.
22 ) Heb 1 0, 1 0 ; cfr. Col 1 , 22.
23 ) Ef 1 , 7 ; Col 1 , 1 4. 20 ; Rom 3, 25 ; Heb 1 3, 1 2 ; 1 Ped 1 , 1 9.
24 ) F i l i p 2, 8.

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 65

eia à ordem física e m aterial ; o que lhe deu "a forma" , e com
isto a vida e a eficácia e o imenso mérito religioso que para
a humanidade valeu a reconciliação com D eus, foi aquel a parte
espiritual, a absoluta obediênci a e adoração, fundadas no im­
pulso do infinito amor de jesus.
Ili. As Finalidades.
Segundo as Escrituras Cristo imolou-se na cruz para tirar
os pecados do mundo, para reconciliar o Pai com os homens,
seus i rmãos, e libertar e santificar a humanidade.
Entretanto é forçoso notar-se que nestas intenções não se
resume a finalidade toda do divino mistério, nem lhe constituem
elas o obj etivo 1) rimário. Se na pregação apostól ica são mencio­
nadas em primeiro lugar ou quase unicamente, isto se compreen·­
dc fàci lmente à vista dos intentos práticos por que se guiavam
os autores. E' que as ditas finalidades, geralmente, calam mais
no espírito do povo que as outras de natureza mais abstrata, e
têm mais força para levar os homens à peni tência. Em li nguagem
teológica, porém, também na oblação da cru z devemos distinguir,
claramente, entre o fim obj etivo e direto e o subj etivo e indi reto.
Em qualquer sacrifício o oferente tem por fim o bjetivo e di­
reto adorar o Criador e consagrar-se-lhe ao serviço imediato, por­
que é, essencialmente, um ato da virtude da religião. Como tal
impl ica, obj etivamente, duas coisas, quer dizer, culto e servitude,
ambos praticados num mesmo ato. Enquanto ele diz respeito à
divina grandeza a que se deve reverência, é culto ; e enquanto
concerne à atitude do homem que, por sua condição natural, tem
a obrigação de homenagear o seu Criador, é servitude, - duas
faces essenciais do mesmo ato da rel igião. 2 5
Também o sacrifício do Senhor teve em prim eiro lugar, ou
objetiva e diretamen te, a finalidade de prestar ao Pai obediência
e adoração, e foi em si a suprema homenagem que alguma cria­
tura pode dar ao Criador. E' que por um l ado a obediência até
a morte da cruz representa o supremo grau de submissão e re­
verência que o homem pode mostrar a Deus ; e por outro l ado
ela lhe foi prestada com o máximo de amor de que é capaz o
coração de alguma criatura, porquanto essa criatura era ao mes­
mo tempo Deus. Pelo que o mistério da cruz foi direta e formal-
26 ) Cfr. S. T o m á s, S. th. I I , I I , 8 1 , 3, ad 2.
5

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66 K1ei n, O Sacrifício da Cruz

mente o exercício da mais santa adoração e da mais perfeita


obediência, o maior dos sacrifícios possíveis. 2 6
Com esta finalidade obj etiva, no entanto, unia-se a subjetiva
de reconciliar o Pai com a humanidade pecadora. A ofensa exige
reparação e satisfação. N ão que o ofendido sem elas não possa
perdoar a culpa ao ofensor penitente, e remitir-lhe a pena mere­
cida ; a generosidade não tem limites. Também em nosso caso,
não teria sido indigno de D eus, se quisesse, num excesso de bon­
dade, cancelar toda a pena e esquecer toda a culpa da humanida­
de ; pois que é absolutamente l ivre na concessão das suas graças.
D e fato, porém, exigiu plena reparação e inteira satisfação pelos
pecados, para deste modo mostrar ao homem todo o rigor de
sua j ustiça, e ainda mais, para l he p atentear na cruz o seu amor
e a sua misericórdia em toda a sua grandeza e empolgante imen­
sidade. 27 Pois, se a j ustiça venceu a generosidade, reclamando
inteira reparação dos pecados, o amor escolheu de tal modo o
meio de o fazer, que ainda veio a triunfar sobre a j ustiça. Por­
quanto fêz que o próprio Filho eterno, no tempo, se tornasse
filho do homem, e como servo, no cruento sacrifício da sua p ró­
pria humanidade, oferecesse ao Pai o bem infinito da sua obe­
diência e adoração em reparação das iniquidades dos seus i r­
mãos. 2 8
Nas Escritu ras, como ficou dito, fala-se quase exclusiva­
mente desta finalidade dep recativa e expiatória, e com boas ra­
zões, como também no Credo confessamos nós : qui propter nos
lwmines et propter nostram salutem descendit de ccelo . Entre­
tanto forçoso é notar-se que esse fim subj etivo, sendo o primei­
ro na ordem intencional, na ordem causal veio, necessàriamente,
em segundo lugar, porque não foi alcançado senão indiretamente,
por meio cio fim obj etivo do sacrifício. E' que o perdão dos
pecados e a santificação dos homens são, essencialmente, graças
sobren aturais ; pelo que não podem, de forma nenhuma, ser efeito
direto e formal de alguma ação humana, porquanto dependem
da l ivre vontade de Deus. O homem pode pedi-las humildemente,
e apresentar ao Criador algum motivo em atenção ao qual ele
queira ter a bondade de concedê-las. A esta lei transcendente
ficava suj eito também o próprio Cristo, porque foi na sua natu -
2 6 ) Cfr. S. T o m á s, S. th. I I I, 48, 3.
2 7 ) Cfr. Rom 3, 26.
28 ) Cfr. jo 3, 16 ss.

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1946 67

reza humana que se fêz nosso pontífice, e o seu ministério de


redentor, substancialmen te, não passa de ação humana. Ele veio
oferecer o sacrifício l atrêutico d a sua vida a serviço do Pai, e
pediu-lhe então que, em atenção a essa sua obediência e adora­
ção, se di gnasse aceitar-nos por seus filhos, e foi atendido. " O
fa to d e Cristo ter sofrido voluntàriamente foi u m bem tão grande
que em razão desse bem, encontrado n a natureza humana, Deus
se sen tiu movido a perdoar todos os deli tos do gênero humano
a todos os que se queiram unir com o Cristo imolado." 2 9
D a í resu l ta que n o sacrifício da cruz distinguimos, logica­
mente, dois atos : um latrêutico em que Cristo se consagrou ao
serviço do Pai em santa adoração e absoluta obediência, mere­
cendo para si mesmo a infinita benevolência dele ; e o utro depre­
cativo e expiatório em que ele se fêz nosso mediador, solicitando
para nós as graças do Pai em virtude dos merecimentos do seu
serviço latrêutico. Como o primeiro foi praticado por causa do
segu ndo, e este se apoiou naquele, pode dizer-se também corre­
tamen te, como fazem as Escritu ras, que o Filho de D eus morreu
n a c ru z por nossa causa, dando a sua vida em resgate por seus
i rmãos pecadores. Em li nguagem teológica, porém, diz-se acer­
tadamente que a morte do Senlzor na cruz visava, objetiva e dire­
tam ente, a glória do Pai, e foi, subjetiva e indiretamente, ofere­
cida para a salvação da humanidade; e que o preço que Cris­
-

to apresentou para n ossa redençiio, foi própria e formalmente o


bem espiritual dos infinitos méritos do seu sacrificio latrêutic o .
T a i s disti nções e dem a rcações lógicas são n ecessárias p a r a s e
entender corretamente o que segue adiante.
IV. A Ação Sacrifical.
No segundo capítulo lembrei a divergência que existe entre
S . Tomás ou os teólogos antigos e os recentes no tocante à com­
preensão da parte exterior do sacrifício visível e suas relações
com a párte i n terior e espi ritual. Tratando-se agora d e definir­
mos exatamente a ação sacrifical do m istério, necessàriamente to­
paremos com as consequências desse desacordo.
1 . O sacrifício da cruz tem a particularidade que o Senhor
ali escusou todos os símbolos e r i tos figurativos, e se imolou ao
Pai, di retamente, n a sua própria humanidade visível, consumando
o seu holocausto nos tormentos da sua própria morte. Ao ato

2 9 ) S. T o m á s, S. th. I l i, 49, 4.

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68 K 1 e i n, O Sacrifício da Cruz

rel igioso do oferecimento, em s i espiri tual e invisível, exerceu-o


e expressou-o d i reta e elicitamente na imolação exterior, subindo
para o altar d a cruz a fim d e morrer em obediência ao P a i . O
próprio morrer de jesus foi, diretamente, a oblação sacrifleal, o
serviço latrêutico e expiatório do Salvador.
A teologia recente, como acima notei , quer separar o ofere­
cimen to i nterior e espiritual d a ação sacrifical exterior e material,
e considera o que age visivelmente como figura de sacrifício, co­
mo puro s i na l i n d i reto ela oblação invisível, operada no í n timo
do coração. Assim a Paixão do Senhor seria, em si e diretamente,
nada mais que a violenta, embora vol untàriamente sofrida des­
truição da sua existência humana, e alcançaria o seu caráter re­
l i gioso in d i retamente, porquanto o voluntário sofrer seria "im­
perado" pela virtude d a religião, seria sinal i n d i reto e subj etivo
da obediência e adoração existentes, i nvisivelmente, no recôndito
d a sua alma. Segundo S . Tomás, porém, o S alvador p raticou
os atos religiosos, elicitamente, nos tormentos do seu corpo, e
estes foram, d i retamente, a exp ressão visível o u sensível dos
atos espi rituais do seu coração, e em s i mesmo s i n tetizara m e
corporalizaram a sua oblação espiritual. S ó esta compreensão do
Aquinate, a meu ver, respeita perfeitamente as leis d a lógica, que
não conhece fu nções corporais " imperadas" pelas faculdades es­
pirituais. 3 0 I gualmente quadra melhor à linguagem das Escritu­
ras que aos próprios atos corporais e sensíveis atribuem o caráter
rel i gioso e os efei tos d a redenção.
2 . O conceito do sacrif ício vis ível quer que a ação sacrifical
seja assinalada e expressa como tal também no exterior. O ra,
na Paixão cio Senhor vê-se antes que tudo o trabalho dos algozes
que m ataram o Cordeiro de Deus, o que certamente não foi n e­
nhuma ação sacrifical ; "non enim dicuntur occisores Clzristi lzos­
tiam Deo obtulisse, sed graviter deliquisse." 3 1 Mas se isto é cer­
to, o morrer de Jesus que é natu ralmente um sofrer, como é que
é bastante signifi cado como ação, e como ação sacrifical e ex­
pressão da v i rtude da rel i gião ? Requer-se eviden temente um a
nota especificativa que ponha em relevo tanto o agir de Cristo
como a sua sign ificação rel igiosa.
3 0 ) S. T o m á s, S. th. 1 , I I , 7 4 , 2, a d 3 : Membra corporis non sunt
pri ncipia actuum, sed solum organ a ; unde et comparantur ad animam
moventem sicut servus q u i agitur et non agit. Cfr. REB 1 942, 4 1 .
3 1 ) S . T o m á s, S . th. I I I , 22, 2, a d 2.

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Revista Eclesiástica B rasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1946 69

Os antigos apontavam, comumente, como tal nota a volunta­


rie dade do sofrer do Senhor, ou o fato de ele ter-se, por sua
p rópria vontade, entregado à morte como redentor. Passio Clzristi
fuit sacrificii oblatio, inquantum Christus propria v oluntate mortem
sustinuit ex caritate . 3 2 Posto que Jesus fosse morto pelos inimi­
gos, foi por sua própria vontade que se lhes deu nas mãos ; e
aguentou a morte, por ele mesmo querer, em obediência ao Pai.
A sua própria vontade foi a causa media ta ela sua Paixão ; e foi
o dito motivo de obediência e respeito que lhe imprimiu o cará­
ter de ato religioso.
Não satisfeito com esta solução, D e 1 a T a i 1 1 e insiste :
Requiritur (voluntarietas) involvens directionem doni in Deum, et
quidem ut falis manifestata externe 33 ; porque a voluntariedade
do morrer pode, de per si, ter vários motivos e finalidades. M u i to
bem ; mas os dois requisitos do autor são literalmente satisfeitos
na tese do Aquinate. O motivo di reto da vol untária Paixão do
Senhor foi a obediência aos desígnios do Pai ; e o indi reto a
von tade de reparar, por sua morte, os delitos cios seus irmãos,
em dando à divi na j ustiça a inteira satisfação que se exi gia. Tal
obj etivo, realizado na morte voluntária, envolvia perfeitamente a
entrega da oferenda a Deus, e marcava ótim amente a natureza
religiosa da Paixão do Salvador. E ele foi também como tal ma­
nifestado exteriormente . Porquanto mais de uma vez Cristo ca­
racterizou, de antemão, a sua morte como exp ressão de sua obe­
diência e seu amor 3 ·1 , e como entrega de sua vida em resgate
pelos homens 35, como oblação do seu corpo e sangue pela re­
missão dos pecados 36 e para dar a vida ao mundo. 3 7 Quando
pois veio a hora em que se deixou volu n tàriamente pregar na
cruz, em razão daquelas p redições a sua morte estava bem de­
finida e m arcada, também exteriormente, como ato direto de
oblação religiosa. Pois que o oferecimento, que em si é espiritual,
pode ser externado por vários modos, por palavras e ações. Se,
por exemplo, o deitar os pães da proposição no altar do san-

32 ) S. T o m á s, S. th. 111, 47, 4, ad 2; 22, 2, ad t ; cfr. B o n a -


v e n t u r a, l n I I I Sent. d. 1 6, a. t , q. 3 ; A u g u s t i n u s, De Trinitate;
4, 1 5- 1 7.
33 ) M a u r. d e 1 a T a i 1 1 e, Mysterium Fidei. De augustissimo cor-
poris et sanguinis Clzristi sacrificio et sacramento ; Parisiis 1 92 1 , 29.
34 ) jo 1 4, 30-3 1 .
35 ) Me 1 0, 45 ; Mt 20, 28.
36 ) Mt 26, 28.
3 7 ) jo 6, 5 1 .

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70 1. K1ei n, O Sacrifício da Cruz

tuário, sem mais nada, foi um ato bem expressivo de oblação,


o que ninguém contesta, também o voluntário derramamento do
sangue do Senhor na cruz que ele declarou ser seu altar, deve
satisfazer plenamente a todos os requisitos dum sinal di reto de
oblação e ação sacrifical .
D e 1 a T a i 1 1 e julgava derrui r tal argumento com a ob­
servação : Non eiusmodi enuntiationes as predições de Jesus
-

sobre o caráter sacrifical da sua morte faciebant ut esset sa­


-

crif icium, sed fiebant quia erat sacrificium. 8 Mas o mestre equi­
3
vocou-se, não vendo que no dito argumento não se tratava da
causa essendi, e sim da causa cognoscendi do sacrifício do Se­
nhor. Aquelas predições de Jesus, é certo, não faziam que a
morte de J esus fosse um sacrifício, pois que isto se fêz pela
voluntária entrega da sua humanidade ao serviço do Pai pela
salvação do mundo ; mas elas davam a conhecer a cruz como
altar, e o seu morrer como ato da virtude da rel igião. Manifes­
tavam que o Salvador na morte de fato se consagrava ao Pai
em obediência e adoração, e isto é que era preciso e bastante
para que a obl ação como tal fosse também exteriormente vis ível .
O dito teólogo acha necessário que a oblação do sacrifício
da cruz fosse feita sensibiliter, ritualiter, liturgice, que Cristo
num ato exterior se mostrasse como pontífice, e num rito sacri­
fical se assinalasse como vítima, e se consagrasse à morte. Sem
estas particularidades a morte de Jesus não seria sacrifício exte­
rior, e por conseguinte nem sacrifício algum. 39 E' claro que o
autor quer aplicar à cruz, com todo o rigor, o conceito de sacri­
fício, como o construíram os teólogos recentes. Para ele é essen­
cial um rito exterior com uma oblação ritual, uma figura visível
de sacrifício a simbol izar, indiretamen te, o grandioso ato latrêu­
tico e expiatório que o Salvador exerceria, espiritualmente, no
patíbulo.
Bem está de ver que tais coisas não se encontram na cru z .
A l i tudo é cruenta real idade, heróica obediência e santíssima ve­
neração na absoluta consagração de toda a individuali dade de
Jesus ao serviço do Pai para bem de seus i rmãos ; e tudo isto é
praticado, di retamente, nos tormentos da morte num impulso de
infinito amor do Homem-Deus. Ali se malogra, fatalmente, a de­
finição do sacrifício da teologia recente com a sua separação
3 8 ) L. e . 3 1 .
39) I b i d e m .

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , m a rço 1 946 71

do fato interior d a s u a figura exterior, e da reali dade espiritual­


reli giosa do seu sinal indireto e materia l . O próprio morrer de
jesus foi, em si mesmo, o maior feito religioso que se pode
imaginar, não por sua natureza f í sica, e sim, porque nele se rea­
lizou diretamente e s e corporal i zou diretamente o oferecimento
espiritual de toda a individualidade do Salvador. A própria mor­
te, v oluntàriamente sofrida, foi o serviço de adoração e expiação,
exigido pelo Pai, e p restado pelo Filho, m aterial em suas apa­
rências visíveis, e espiritual n a sua causa e sua final i dade invi­
síveis . O sinal visível, porém, e o seu conteúdo invisível, como
que sendo m atéria e forma, f izeram u m todo, uma ação divino­
humana, a verdadeira oblação do sacrifício l atrêutico e expiató­
rio do Salvador. o1 o
D e 1 a T a i 1 1 e, entretanto, em busca de sua oblação sen­
s ível, ritual e l i t ú rgica, entendeu enco ntrá-l a n a ceia d o Senhor.
N o cenáculo jesus teria feito a oblação sacerdotal da sua morte
n u m ato litúrgico e ritual, votando-se à morte n u m a figura de
morte, quer dizer nas espécies de pão e vinho, distintamente con­
sagradas. A cei a e a morte fariam uma mesma sacrificatura, uma
mesma ação sacrifical. N aquel a se teria feito -a oblação, e na cru z
a imolação ; mas aquela oblação, virtualmente continuada até a
morte, teria dado ao mo rrer de jesus o caráter de exterior e ver­
dadeiro sacrifício. A oblação da ceia e a imolação da cruz seriam
as partes constitutivas, como que a forma e a matéria do sacri­
Hcio do Senhor. u
Essas idéias não eram de todo novas, porquanto j á foram
pro postas, em substância, por D. A 1 e x a n d r e M a c d o n a 1 d,
Bispo de V itória, Colúmbia britânica 4 2 ; mas D e 1 a T a i 1 1 e
renovou-as com singular energia, pro c ur a n d o demonstrá-las por
meio de abundantes textos citados da Escritura, dos teólogos an­
tigos e das l i tu rgias. D e todos eles, no entanto, se segue cl ara­
mente apenas o fato de ter sido a ceia um verdadeiro sacrifício
e de existir entre ele e o sacrifício da cruz alguma u n idade rea l . ·1 ª

4 0 ) M a x t e n H o m p e 1, Das Opfer ais Selbsthingabe und seirze


ideale Verwirklichung im Opfer Christi, 1 920,
q u e aliás n ã o conseguiu
livrar-se do conceito recente do sacrifício ; conco rda que ele não q u adra
ao mistério da cruz, e lhe aplica as idéias dos antigos, sem as conhece r ;
págs. 1 1 2- 1 1 4.
4 1 ) L. e. 1 0 1 ss.
4 2 ) Cfr. L e p i n , L'idée du sacrifice de la Messe d' apres les téolo­
giens; Paris 1 926, 649.
4 3 ) Cfr. a critica de J o s é K r a m p, Theologische Revue, 1 922, 348.

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72 K 1 e i n, O Sacrifício da Cruz

Aqui não posso entrar em particularidades ; e bastarão duas


observações gerais. A singular construção visava tornar bem sa­
liente a unidade do sacrifício do Senhor, empenho certamente
digno de aplausos, contanto que respeitasse as leis da lógica. Po­
rém a tentativa de demonstrar que a ceia e a morte na cruz cons­
tituíam uma mesma ação sacrifical dum mesmo sacrifício, deve
frustrar-se em face das imutáveis normas do pensamento. Na
cruz o Tridentino assinala não sàmente uma real imolação como
ainda uma oblação cru enta ; e às avessas, na ceia observa-se a
par de uma oblação incruenta ainda uma imol ação sacramental­
representativa, ao menos no pensar dos teólogos recentes. Na
suposta única ação sacrifical, pois, teríamos duas oblações dife­
rentes e duas diferentes imolações, ou duas matérias e duas for­
mas da mesma entidade ; - uma tal monstruosidade não existe
na esfera elas real idades. 4 1
Também não é permitido declarar, simplesmente, a imolação
por elemento constitutivo m aterial da ação sacrifleal, e colocá-la
a par da oblação como outra parte constitutiva. Tal pressuposto
não tem p robabilidade alguma. Os antigos, certamente, não en­
contravam na imolação nenhuma parte constitutiva, mas tão-sà­
mente um sinal demonstrativo, em que se patentearia de algum
modo o fato ou também a finali dade do sacrifício. Quando com
S. Tomás se en tende o sacrifício exterior por exercício di reto do
interior em formas sensíveis, é evi dente que a imol ação não pas­
sa de um rito secundário, por não ter correlativo no interior. As­
sim na cruz a cruenta imolação cio Senhor aparece como visível
terminus ad quem da sua oblação, como forma concreta do ser­
viço de redentor, ao qual jesus se consagrava no seu ato oblatí­
cio, - é a expressão visível da própria oblação objetiva, e, làgi­
camente, com ela uma mesma ação. Considerada em si, é um
sinal subj etivo, demonstrativo de que o Salvador, na verdade,
prestou ao Pai o serviço de heróica obediência, e lhe ofereceu
o sacrifício de grato odor, portanto um sinal que faz ver pri­
mei ramente a finalidade obj etiva da oblação. A par disto aparece
nel a também a finalidade subj etiva de reparação e satisfação, por­
quanto a morte e o sangue derramado têm sido considerados

4 4 ) O mal não se desfaz com a declaração do autor que não afir­


mava a unidade in genere 11ei, e sim in genere signi, quer dizer, não a
unidade real, mas a lógica ou moral, como também a havia entre as
palavras da consagração e as espécies sacramentais. Nem a unidade mo­
ral comporta contradições.

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Revista Eclesiástica B rasilei ra, vol . 6, fase. 1 , m a rço 1 946 73

sempre e por toda a parte como símbolos de penas infligidas e m


desagravo de culpas e delitos.
V. Cruz e Cela : D u a s Oblações d o Mesmo Holocausto.
1 . A Epísto l a aos H ebreu s acentua o f ato q u e Cristo se imo­
lou só uma v ez p a r a tirar os pecados do m u n d o , e com u ma
oblação santificou todos o s que se q u e rem santificar. 4 õ E o após­
tolo f u n damentou a sua tese com duas observações : 1 ) que o
sacrifício de C risto foi feito, essencialmente, pela oblação d e seu
corpo e sangue na m orte cruenta d a c ru z ; e o homem m o rre s ó
u m a vez 4 6 ; e 2 ) q u e a s u a ú n i c a o b l a ç ã o alcançou, plenamente,
o obj etivo d a reden ç ã o ; porq u a n to C r i sto consegu i u uma reden­
ção sempiterna, entrando urna vez p a ra sempre com o próprio
sangue n o santuário d o céu 4 7 , onde está sentado à d i reita do
Pai ·1 8 , e vive sempre p a ra i n terceder p o r aqueles que lhe q uerem
obedecer. 4 9
A s d u a s consi derações são bem cl a ra s . A primeira salienta a
i m possibi l i d ade n atural d a iteração ; e a segu n d a a s u a desneces­
sidade em face d a abso l u t a suficiência d o sacrifício da cruz para
todos o s séculos.
2. Convém lembrar o que f i cou d i to acima, q u e Cristo subiu
para o patíbulo a f i m de redi m i r a h u m a n i d ade, e o consegu i u
p o r dois atos oblatícios, lógicamente distintos, posto q u e pratica­
dos n o mesmo ato real do seu mo rre r : a oblaçlio latrêutica · de
to d a a s u a i n divi d u a l i d ade, i m o l a d a e m obed iência e adoração,
- e a oblação deprecativa e expiatória d a mesma obra l atrêutica
a fav o r d a humanidade p ecadora. A p rimeira, r e almente, não
pode ser i terada sem se perder não sómente a u n i c i d a d e d a obl a­
ção como a i n d a a u n i cidade n u mérica do obj eto oferecido, por­
quanto este n a cruz envolvi a realidades que por s u a natureza
são singul ares e ú n icas ; o homem n ã o tem mais de uma vida,
e morre só u m a vez . Q u a n to à segu n d a oblação, n o e ntanto, é
de notar q u e o seu obj eto d ireto e formal, aquel a obra l atrêutica,
uma vez real i z a d a por Cristo, é uma entidade p u ramente espiri­
tual, um bem de incomensurável valor religioso, que pertence a
Cristo e seus i r m ã o s redimidos, e pode, d e per s i , ser apresentada
e oferec i d a a o P a i i teradas vezes para o honrar, e obter d a sua

4 6 ) Heb 9, 26 ss ; 1 0, 1 1 ss.
4 6 ) Heb 9, 26. 4 8 ) H e b 1 0, 1 3.
4 7 ) Heb 9, 1 2. 4 9) H eb 7, 25 ; 5, 9.

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74 K1ei n, O Sacrifício da Cruz

bondade todas as graças. Tais oblações repetidas constituiriam,


naturalmente, atos numericamente diferentes do ato oblatício de
Cristo na cruz ; mas quanto ao obj eto conservar-se-ia em todas
elas a identidade absoluta.
D isse " de per si" , porque aí vem a segunda das observações
da Epístola aos Hebreus. Qualquer i teração parece desnecessária,
ou até implicar alguma inj úria ao Salvador como se a sua obra
na cru z não fosse perfeita. E é sabido que a vulgar polêmica pro­
testante não cansa de repetir tais acusações contra o uso da
I grej a. Entretanto é bem fácil de compreender a necessária distin­
ção entre a redenção obj etiva e universal e a subj etiva e in­
dividual .
I nconcusso está o fato que no mistério da cruz Deus recon­
ciliou consigo o mundo todo, tanto que lhe não imputa mais os
pecados, e lhe concede em Cristo e por Cristo todos os bens do
seu amor. 6 0 Aceita uma vez a infinita homenagem que o Filho
lhe ofereceu a favor dos seus i rmãos, abriu as po rtas do céu, e
franqueou todas as graças d a sua misericórdia a todos os que
querem ser de Cristo . 51
Ficou, porém, esta cláusula : o querer ser de Cristo, o chegar­
se cada um a Deus por meio de Cristo, - ou ficou a necessidade
de se salvar cada um, subj etiva e individualmente, por Cristo .
Porquanto, se a redenção obj etiva e universal é devida exclusiva­
mente a misericórdia de Deus e ao infin ito amor de Jesus a seus
irmãos, a salvação subjetiva e individual não é feita sem a co­
operação do homem . Tal cooperação, porém, consiste no uso dos
meios que o Pai se dignou de estabelecer na obra redentora do
Filho, e que se resumem na "fé de Cristo" . I ncorporado em Cris­
to pela fé e pelo sacramento, cada um tem de fazer por si mesmo
em particular, o que o Redentor opero u por todos os homens em
comum. Deve oferecer ao Pai aquela infinita adoração que o Fi­
lho lhe deu na cruz, e em virtude dessa mesma divi na homenagem
adorar a infinita grandeza de Deus, e por meio dela expiar os
seus erros e deli tos, e agradecer à divina bondade as graças re­
cebi das como pedir-lhe os favores de que p recisa. E pode dizer­
se que todos os atos religiosos dos fiéis de Cristo, no fundo, im­
plicam tal oblação da obra latrêutica da c ruz, e sómente por ela
recebem a sua dignidade sobrenatural e a sua força salutar.
60) I I C o r 5 , 1 8-2 1 .
61 ) Heb 5, 9 ; 7, 25.

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Revista Eclesiástica B rasi leira, vol. 6, fase. 1 , m a rço 1 946 75

A mesma oblação pode ser feita também positiva e explic i­


ta mente, e i sto por dois modos : 1 ) espiritualmente, sem nada de
formas l i t ú rgicas, por meros atos d a i nteli gência e do afeto, em­
bora externados também por palavras ; - e 2) liturgicam ente ell}
ritos sacramentais de sacrifício exterior e visível . Convém notar
expressamente que em ambos os casos o objeto total do ofere­
cimento é toda a realidade obj etiva do sacrifício l atrêutico do Se­
nhor ; e pode especificar-se como objeto material, o corpo i m o ­
l ado e o sangue derramado, ou t o d a a humani dade obj etiva d e
J esus, sacrificada p a r a o P a i n o s tormentos da m orte ; e como
objeto formal, aquela infinita homenagem que ele p restou ao Pai
nos atos de obediência, adoração e amor.
3. E ' de crer que o Salvador, na sua vida mortal, não raras
vezes ofertou ao Pai, espiritualmente, a s u a m orte l atrêutica, m o r­
men te naquelas noites santas que passava com Deus em o rações
e súplicas p o r sua obra messiânica e a sua I grej a a nascer, em­
bora as Escrituras nada digam a respeito. Pois que é bem hu­
mano que nessas ocasiões ele apresentasse a D eus, em apoio às
suas p reces, aqui l o que u m dia havia de fazer para a glória dele
n o patíbulo. D o mesmo m o do como, repetidas vezes, recomendou
aos apóstolos que o rassem ao Pai " em seu nome" , quer dizer,
invocando em seu favor os méritos de Jesus, que culmi naram na­
quela homen agem latrêutica da sua morte.
E m forma l i t ú rgica, porém, J esus fêz tal oblação só u m a
vez , e f o i n aquela noite em q u e , pela derradei ra v e z , celebrou com
os doze a Páscoa, e depois da ceia instituiu o m istério da Euca­
ristia como sacrifício e sacramento, m u dando o pão e o vinho
n o seu corpo e sangue, em memória da sua paixão que havia de
suceder no dia segu inte. Segundo as declarações do Jridentino,
aquela instituição foi um verdadeiro sacrifício, e foi o mesmó
holocausto que se havia de fazer n a cruz, não obstante a dife­
rença no m o do cio ofereci mento . 5 2
4. Aqui não tenho de versar a primeira das teses tridentinas.
N o tocante à segunda pergun ta-se em que consiste ou como se
entende a proclamada identidade. N inguém, certamente, pensa em
alguma real antecipação da morte do Senhor, porque tal idéia
impl ica contradições, e porque n a ceia se trata tão-sómente de
uma memória da divin a paixão, e não da sua realidade. - M u i to s
62 ) D e n z. 938-4C.

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76 K 1 e i n, O Sacrifício da Cruz
1.

teólogos recentes, porém, afirmam alguma antecipação figurada


muna real figura da imolaçiio da cruz; e como tal lhes parece
a consagração distinta dos dois e lementos materia is, a qual, se­
parando sacramen talmente o corpo e o sangue, teria metido o
Senhor num estado de morte m ística ou sacramental, real me­
mória da sua morte real . E sobre tal figura da sua Pa ixão Jesus
teria oferecido ao Pai, intencionalmente, o seu verdadei ro holo­
causto do dia seguinte.
Essas interpretações porventura representam, realmente, a
solução do problema? Não posso crer. E' verdade que o conceito
do sacrifício visível como hoj e entre os teólogos é quase comum,
não adm i te outro caminho. Mas esse mesmo conceito parece-me
ele todo errado, como de fato diverge, essencialmente, do pensar
de S . Tomás 53, e não quadra de modo algum ao sacrifício da
cruz, como ficou dito acima. Sobretudo a sua aplicação ao sa­
crifício da cei a envolve gravíssimas dificu ldades, para não dizer
impossibi lidades . As razões são as seguintes :
a) A consagração não contém nada de ativa imolação, por­
que as duas i déias são diferentes de todo em todo. Porquanto
a imolação é u m a ação di retamente humana, e a consagração é
di retamente divina. Nesta a humani dade ele J esus servi u apenas
ele instru mento do Verbo, proferindo as palavras, quando a di­
vindade como causa di reta mudou os elementos no corpo e no
san gue de Cristo . As duas ações diferençam-se, portanto, essen­
cialmente, nas suas causas di retas, nos seus fins obj etivos como
nos seus efeitos formais, não ficando nenhuma real i dade em que
se pa reça uma com a ou tra .
Nem tampouco a consagração distinta dos dois elementos é
figura real de ativa imolaçâo, e não meteu a Jesus, nas espécies,
n u m estado de morte sacramental . Pois que é evidente que a ação
di retamente divina, qual é a consagração distinta, não pode visar
o fim obj etivo de ação di retamente humana . A causa d i reta não
pode, no mesmo ato, col imar dois fins obj etivos, tan to mais quan­
do a causa direta é Deus, e o segundo fim obj etivo é pu ramente
humano.
Nem tampouco eles se saem bem com a invocação da céle­
bre distinção · ex vi verborum e ex virtute concomitantice. Pois
di zem que a primei ra consagração, em virtude das palavras sa-

5 3 ) Cfr. REB 1 942, 41 , s.

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Revista Eclesiástica B rasilei ra, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 77

cramentais, fazia p resente, nas espécies do pão, tão-sómente o


corpo do Senhor, e a segunda igualmente apenas o sangue, nas
espécies do vinho, posto que por conco m i tância em ambos os
símbolos estivesse o Cristo todo. A dupla consagração, portanto,
figuraria uma real separação do corpo e do sangue do Senhor,
ou uma verdadeira imolação. 5·1
Esta argumentação, entretanto, envolve vários equ ívocos.
Pois que a tal figura seria puramente subj etiva, e nada real . Para
ser real deveria ser efeito, ao menos indi reto, da ação de con sa­
grar, o que não é possível, desde qu e el a é ação diretamente di­
vina, e qualquer imolaçã� pressupõe uma causa di retamente hu­
mana . A figura é subj etiva, porque a p rópria distinção em que
se baseia, é pu ramente racional 55 ; porquanto se fu nda no teor
material das palavras ela consagração, ao passo que elas, na ver­
dade, operam o que significam formalmente. N a ceia p roferidas
por Jesus significaram, formalmente, a real presença do seu ver­
dadeiro corpo n o símbolo do pão, e do verdadeiro sangue no
símbolo do vinho, mas tanto o corpo como o sangue nas dispo­
sições naturais em que eles estavam naquele momento, portanto
em estado vivo e passível, n a mesma real i dade como se apre­
sentavam exteriormente aos olhos dos apóstolos. As expressões
"o meu corpo" e "o meu sangue" são positivas e não excl usivas.
A consagração distinta serviu, real mente, ao simbolismo sacra­
mental, e não à realidade do sacrifício.
b ) A inda o o bjeto da oblação da ceia escusava qualquer
imolação ativa, porque o cordeiro estava já idealmente imolado,
desde o in ício do mundo 56, e para ser visívelmente oferecido es­
tava idealmente representado e corporal i z ado nos s í mbolos di re­
tos dos elementos m ateriais, os quais o Senhor ainda m u dou no
seu corpo e n o seu sangue para servirem de sacramento . E nestes
símbolos elo sacrifício de Melqui sedec ofereceu ele todo o con­
teúdo o bjetivo da oblação latrêutica da cruz, o seu verdadeiro
corpo e o seu verdadeiro sangue, j á sacrificados n a morte, com
o seu infini to valor religioso, do mesmo m o do como os oferecera,
sem as formas rituais, nas suas oblações puramente esp i ri tuais.
N a cruz a i m ol ação ativa fazia parte da oblação l:atrêutica, ato

54 ) D e n z. 876.
55) S. T o m á s, S. th. I I I , 76, 1 : Sola operatione animre discernun­
tur, quoe realiter sunt conj uncta.
5 6 ) Apoc 1 3, 8.

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78 K1ei n, O Sacriflcio da Cruz

propriíssimo do Senhor, e que visava, obj etivamente, só a glória


do Pai. Somente o segundo ato que pressupunlza logicamente a
imolação já feita, a subj etiva aplicação do mérito latrêutico foi
feita em favor da humanidade ; e sómente esta aplicação subj etiva
pode ser i_terada, como ficou demonstrado acima, e foi realmente
antecipada na ceia. O que o Senhor na cruz havia de fazer no
segundo ato por todos, o mesmo ele fêz antecipadamente na ceia
para os seus fins particulares, pressupondo portanto a oferenda
já imolada.
c) Até receio que com aquela real figura de imolação ativa
que os ditos teólogos pressupõem na ceia, venha a perigar seria­
mente a unicidade obj etiva do sacrifício do Senhor, proclamada
tanto na Epístola aos Hebreus como nas declarações do Triden­
tino. Pois, se a imolação é elemento constitutivo do sacrifício
visível, como eles entendem, e se ela na ceia é de todo em todo
diferente daquela que se observa na cruz, custa compreender co­
mo elas façam um mesmo sacrifício obj etivo . Admite o Tridentino
que o sacrifício eucarístico d a ceia se diference daquele do Cal­
vário 1zo modo do oferecimento. Porém, pressuposta aquela imo­
lação da cei a, acaso a diferença atinge tão-sómente as modali­
dades da oblação ?
Por estas razões que aqui não posso desenvolver mais, não
creio na ativa imolação sacramental do Senhor, ou na antecipa­
ção figurada da sua morte que os teólogos recentes pretendem
encontrar na consagração da ceia, tanto mais que a consagração
como ação di retamente divina não visava senão os fins sacra­
mentais da ceia. A açiio sacrifical de jesus na ceia consistiu, for­
malmente, na direta e positiva oblação da sua morte latrêutica,
idealmente já feita, e visivelmente representada nos elementos do
sacrifício de Melquisedec, símbolos diretos do corpo e do san­
gue do Senhor.
5. Depois destas sucintas exposições e demarcações teológi­
cas da natureza do sacrifício da ceia, 1,1ão será difícil definirmos
exatamente as suas relações lógicas com o mistério da cruz.
Os atos oblatícios de um e do outro são numeralmente dife­
rentes, como é eviden te ; e diferençam-se igualmente nas suas
modal idades. Porque na cruz a oblação foi feita, imediatamente,
nas realidades cruentas da morte visível, sem nada de ritos sim­
ból icos, ao passo que na ceia de Jesus se serviu, necessàriamente,
de símbolos para tornar visível a sua oferenda, o seu corpo e o

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Revista Eclesiástica Brasilei ra, vol. 6, fase. 1 , março 1946 79

seu sangue j á imolados, e representados nos sinais diretos de


pão e vinho.
Se assim as duas oblações, numeral e modalmente diferentes,
constituíam evidentemente dois sacrifícios individuais e subjeti­
vos, em ambos o sacrifício objetivo foi numeralmente um só. Em
ambos se ofereceu absolutamente a mesma oferenda, quer dizer,
o mesmo obj eto material, o Cristo-homem imol ado, e o mesmo
obj eto formal, a morte latrêutica do Senhor e o seu mérito reli­
gioso, para o mesmo fim de honrar a Deus, em nome da huma­
nidade pecadora, e de conseguir da sua misericórdia as divinas
graças. Foram duas oblações subj e tivas do mesmo holocausto
objetivo, das quais a primeira sobre o Calvário visava, em razão
da morte latrêutica de jesus, alcançar do Pai a reconciliação ob­
jetiva e universal do mundo, e a outra na ceia aplicava a mesma
homenagem infinita para fins individuais, pedindo o Senhor, pro­
vàvelmente, para os apóstolos as graças que necessitavam no dia
da Paixão do seu Mestre. 6 7
57) Cfr. Lc 22, 3 1 -32.

Estudo Comparativo de Duas Espiritualidades :


S. Teresa de Lisieux e B. Grignon de Montfort.
Pelo Pe. P r i m o N. d a M o t a V i e i r a,
Capelão da Assistência Vicentina, Santos.

Em cada época, conforme as necessidades, Deus suscita lu­


minares na sua Igrej a que, à semelhança daquela luz de que fala
o Evangelho, são "colocadas no candieiro para iluminar a todos
os que estão em casa." (Mt 5, 1 5. )
Quero aqui, particularmente, referir-me a dois santos, que
esparziram os clarões de sua espiritualidade por sobre os difíceis
tempos em que viveram, sem deixar, contudo, de ser-lhes a dou­
trina perpetuamente vital nos caminhos da ascética, porque pro­
fundamente bebida nas fontes genuínas do dogma católico. Falo
da doutrina do Bem-aventurado Montfort, e da espiritualidade
de S. Teresa do Menino Jesus.
Num tempo glacial de j ansenismo, em que Nossa Senhora

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80 V i r. i r a, Estudo Compa rativo de D u a s Espiritua l idades

era quase que olvidada na consideração dos mistérios de C risto,


máxime no d a E n carnação ; em que a I maculada Conceição e a
Assunção d a Vi rgem eram acremente contravertidas, Montfort
empunha o seu grande facho contra aqueles que no seu "Tratado"
vêm sob o s i n ete de devotos crí ticos e escrupulosos d a Mãe de
Deus, " q u e n a d a crêem e tudo criticam, e receiam ser demasia­
damente devotos d a V irgem S S . , p o r respeito a Jesus C r i s to . " 1
Assim foi Montfort .no seu tempo. E S . Teresinha ? O uça­
mos o que dela j á s e escreveu : " E m nossa época de i nsofrida re­
s istência, Deus nos deu esta santinha modelo de abandono ; em
nossa época d e dureza esta S anta ( model o ) d e ternu ra ; à nossa
�poca de orgulho esta S anta ( modelo) ele humildade." 2
E ' sob o olhar, agora, destas d u a s gran des almas, que p re­
tendo esboçar a doutrina da " Pequena Trilha" n u m a p rimeira
parte ; em o u tra, admirar a s í n tese doutrinal de Montfort, nela
descobrindo o s t raços da I nfância ; p a ra , n u m último capítulo,
apontar a p rática aclmi ràvel cio espírito ele Montfort n a Peque­
n i n a Vereda.
1. A Pequena Trilha.
Pio XI defi n i u o sentido desta espiritualidade : " Q u re q u i dem
i n eo posita est, u t q u i d q u i d natura puer habet et facit, id i p s u m
nos sentiamus agamusque e x disciplina virtuti s . " 3 Consiste em
fazer por virtude t u do o q u anto de bom e louvável a criança faz
por natureza. "Se resum i rmos a s qualidades d a infância, assevera
P e t i t o t, poderemos notar pri ncipalmente o conhecimento da
próp r ia fraqueza, a confiança nos pais, f é absoluta nas suas p a­
lavras, s implicidade espontânea q u e não s abe d i sfarçar a ver­
d a de, i n diferença pelos atrativos ela sensibilidade, enfim o des­
p rezo elas grandezas e bens d a terra . " ·1
Esta doutrina não é nova n a I grej a . Antes, é tão antiga
como o Evangel ho. Nosso Senhor d i z i a : " S inite parvulos et nolite
prohibere eos a d m e ven i re : talium est enim regn u m crelorum . "
( Mt 1 9, 1 4. ) "Amen dico vobis, nisi conversi fueritis, et efficia­
m ini sicut p arvul i non intrabitis in regnum crelorum . " ( Mt 1 8, 3 . )
N o sécu lo d e o u ro d a Patrística, S . Leão Magno p regava
ao povo o esp í rito d a infância, submetendo à fiel hermenêutica

1 ) Tratado d a V e r d a d e i r a D evoção, Ed. Vozes, 1 938, n . 1 04.


2 ) H istória de U m a A lma, edição bras. do Pe. L o e h u, 1 927, pág. 27.
ª ) H om í l i a d a canonização, 1 7-6-25.
4 ) Renascimento Espiritual, ed. port., 2 1 1 .

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as p alavras supra-mencionadas do Salvador. "Amat Ch ristus in­


fantiam, quam primum et anima suscepit et corpore. Amat Christus
infantiam, humilitatis magistram, innocentire regulam, mansuetu­
dinis formam . . . Non ergo ad ludicra infantice et imperfecta no­
bis primordia revertendum est, sed aliquid, quod etiam graves
annos deceat, inde sumendum est : ut velox sit commotionis trans­
itus, citus ad pacem recursus : nulla sit memoria offensionis, nul­
la cupiditas dignitatis, amor socire communionis, requalitas na-

turalis. '' 6
A Escola Beruliana do séc. XVI I , a cuj o espírito se filia
Orignion de Montfort, ensina com expressão parecida o que Te­
resinha ensina. O 1 i e r, contemplando espiritualmente a SS. Vir­
gem com o Menino Jesus nos braços, imaginou ouvi r da bondade
divina estas palavras : "Quero dar-te a graça da infância.'' 6
Pio IX, no século passado, dissera : "A minha única ambi­
ção é tornar-me criancinha nos braços de Deus.'' 7
Entanto, afirmamos com Pio X I I , o que o D ivino Mestre
ensinara, e os doutores e santos comentaram com palavras, teve
para S. Teresinha "uma aplicação literal, íntegra, de modo a
orientar toda a sua vida, que se alcandora, em curto tempo, pela
pequena Vereda, à maior e mais alta perfeição .'' 8 Ela foi, ape­
nas, o comentário vivo de uma doutrina j á conhecida. E' verdade.
Mas, chegando a uma alta santidade por sua "pequena via" , tor­
nou-se Modelo e Mestra de uma e s cola de espiritualidade, cuj a
divisa é esta : " Fazer as pequeninas coisas com uma grande
alma."
Na sua habitual singeleza de coração, ela confessa : "Quero
procurar o meio de chegar . ao céu por uma sendazinha direta,
por um atalho, por uma veredazinha inteiramente nova. Estamos
vivendo um século de grandes inventos ; já não custa galgar os
degraus de uma escadaria ; as casas abastadas têm lá ascensores
que a substituem vantaj osamente . . . Quisera eu também descobrir
um ascensor, que me levasse até Jesus, pois sou tão pequenina
que me falecem forças para vingar, até o topo, a escada íngreme
da perfeição. '' 9 Abre ela os Livros Santos e depara : "Todo aque­
le que é simples e pequenino, venha a mim. (Prov 9, 4. ) Hei de
6 ) Sermo 37 in Epiph., solemn. 7, cap. 3-4.
8) P. P a u 1 o L e e o u r i e u x, A Providência de Maria, 1 55.
7) H istória de Uma Alma, 30.
S) Discurso do Card. Pacel li .em Lisieux.
9 ) H ist. Alm. cap.
J)i.
6

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82 V i e i r a, Estudo Comparativo de Duas Espi ritualidades

trazer-vos ao colo, embalar-vos sobre os meus joelhos. Do mes­


mo modo que uma Mãe acaricia o seu filhinho, assim eu vos
consolarei. ( I s 66, 1 2. ) O ascensor, que me há de guiar aos céus,
são os vossos braços, ó Jesus ! Para isto, não é necessário que
cresça, devo antes ficar sempre tamanina e empenhar-me em o
ser mais." 1 0 "Jesus compraz-se em indigitar-me a única senda,
que leva a essa fornalha divina ; esta senda é o abandono e a
despreocupação da criançinha, que sem temor adormece entre
os braços de seu pai ." 1 1 "Jesus não exige de nós ações subli­
mes, mas apenas o abandono e o reconhecimento." 12 "Não pre­
cisa de nossos trabalhos, mas únicamente de nosso amor." 1 3 Per­
guntada sobre a veredazinha, que tencionava ensinar às almas,
disse, no Jeito de morte : "E' a senda da infância espiritual, o ca­
minho da confiança e entrega total de si mesmo a Deus." 1 4
Quais são, pois, as virtudes basilares desta forma especial
de vida interior ? - Podem compendiar-se em duas : a descon­
fiança de si próprio, e a confiança em Nosso Senhor. E, sobre­
pairando a tudo, uma simplicidade de coração, encantadoramen­
te infantil .
a ) Desconfiança de s i próprio. - "Permanecer criança é
reconhecer o próprio nada, tudo esperar de Deus, não se amofi­
nando com as próprias faltas ; pois, ainda que as crianças levem
tombos, são muito pequeninas para se machucarem ." 1 5
"Ma paix c'est de rester petite,
Ai nsi, quand je tombe en chemin,
je puis me relever bien vite,
Et jesus me prend par la mai n."
( Poesia : "Ma paix et ma joie" . )
"Até entre os pobres, uma vez que a criança é tamanina,
dá-se-lhe o de que há mister ; mas, quando se torna grande, o
pai deixa de cuidar dela, e diz-lhe : agora trabalha ! Podes bem
olhar por ti mesma ! Ah ! é para não ouvir tal, que jamais as­
pirei a crescer, sentindo-me incapaz de "ganhar a minha vida",
a vida eterna." 1 8
b) Confiança em jesus. - De outro lado, é uma confiança
·
intrépida em Nosso Senhor, um amor transbordante, que leva a
mil desej os de apostolado. "Sinto a vocação do guerreiro, do pa-
1 0) Hist. Alm. cap. I X . 12 ) H ist. Alm. cap. X I .
n) Hist. Alm. cap. X I . 1 3) H ist. Alm. cap. X I .
14) Hist. Alm. cap. X I I .
15) Conselhos de S. Teresinha : "Conseils" .
16 ) C onsei ls.

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dre, do apóstolo, do doutor e do mártir." 17 Depois de assim


falar, confessa : " as crianças não refletem no alcance de suas
palavras. " 1 8
"Le total abandon, voilà ma seule loi 1
Som meiller sur son Coeur, tout pres de son Visage,
Voilà mon ciel à moi l "
( " mon Ciel à moi" ) .
E ' o amor q u e a inspira :
"L'amour, qui ne craint pas, qui s'endort et s'oublie
Sus le Coeur de son Dieu, comme um petit enfant."
( A mes petits freres) .
c) Simplicidade de coração . - Tudo nela é simples. Admi­
ràvel mente simples. Em Teresinha, pondera o Cardeal B a u -
d r i 1 1 a r t, " a luci dez de espí rito é feita de candura de alma." 1 9
"A todos os êxtases, eu prefiro o sacrifício'', escrevera ela
à Madre I nês de Jesus. 20 Ama com predileção as penitências que
ficam na penumbra, e "a toda sorte de macerações" p refere o
"quebrantar a própria vontade, o represar uma palavra de ré­
plica, o prestar modestos serviços aos que a rodeiam, e mil ou­
tras coisitas deste gênero." 2 1
Em S . Teresa de Lisieux, o sacrifício vem sempre sob o véu
de um sorriso, e os esp inhos de dor fartamente encobertos de
rosas.
"Oh ! que la souffrance a des charmes
Quand on sait l a voiler des fleurs.
( "Ma paix et m a joie". )
"A sua santidade, anota P e t i t o t, para s e r mais emi nen­
temente con hecida, deveria ser menos amável ." 22
E Mons. L a v e i 1 1 e pondera : " Esta criança tão aproxima­
da ele nossas vidas ordinárias, achou meio, quase desde o berço,
de alçar ao mais alto valor sobrenatural os mais humildes gestos
da terra, e de oferecer a Jesus o amor de uma santa entre a sua
boneca, a sua gaiola de pássaros, o seu aquário de peixes ver­
mel hos, e sua rede de borboletas." 2 3
Podemos, em suma, resum i r-lhe toda a espiritual idade n a
síntese de P e t i t o t, O . P . , q u e nel a denota quatro caracteres
negativos e três antinomias positivas. C aracteres negativos : 1 )

17 ) H ist. d. Alm. cap. X I .


IS ) H ist. d. Alm. cap. X I .
1 º ) L a v e i 1 1 e, S . Teresa de Lisieux, ed. port., p refácio, XI.
20) Carta à Madre I nês, I I I .ª carta.
2 1 ) H ist. d. Alma cap. V I .
22 ) Renascimento Espiritual, 1 2 1 .
23) L a v e i 1 1 e, o. e., 370.

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84 V i e i r a, Estudo Comparativo de Duas Espi ritualidades

ausência de grandes mortificações fora da regra ; 2) ausência de


método rigoroso de meditação ; 3) ausência de graças extraordi­
nárias ; 4) ausência de grandes e múltiplas obras exteriores.
D epois de considerar detidamente, e de largamente exem­
plificar, o Pe. Petitot, em três outras partes do seu l ivro R enas­
cimento Espiritual, encara o que ele chama de três antinomias
positivas : 1 ) a simplicidade unida à prudência, do que resulta o
dom da sabedori a ; 2 ) a pequenez aliada à grandeza da alma,
do que resulta o dom da fortalez a ; 3) a alegri a vinculada ao so­
frimento, do que resulta o dom do amor.
E eis em toda a sua simplicidade a Pequena Trilha !

II. Montfort e a Infância Espiritual.

O Bem-aventurado tem com S . Teresinha uma afinidade es­


piri tual de doutrina : une-os o mesmo traço da I nfância Espiri­
tual . L h o u m e a u, no seu clássico estudo sobre o Tratado, sa­
lienta-o bem . 2 ·1
Todo o sistema doutrinal de Montfort cifra-se nesta verdade
fundamental : "Mari a que nos gera e nos educa para a vida da
graça. " 2 5 E' a V irgem Santíssima que nos forma e educa na
vida ela graça, do mesmo modo que a nossa mãe natural nos
forma na vida do corpo e nos educa na vida do espírito, n a vida
moral. Em Montfort, nota-o bem Lhoumeau, predomina a consi­
deração de Maria como Medianeira de todas as graças ; mas, a
função primordial desta mediação é a sua maternidade espiri­
tual, no seio da I grej a .
Eis como s o a a cítara ele seus versos :
" Cette bonne Mere et Maitresse
Me seco urt partout puissamment,
Et qlland j e tombe par faiblesse
Elle m e releve à l'i nstant."
(Apud Lholl meall, O . C . , Cap. "Enfance Spiritllelle" .)
Sistema espiritual de Montfort. - O Bem-aventu rado criou
uma verdadeira escola de santidade. Não foi ecletizante, que res­
pigasse em várias escolas princípios diversos sem um contributo
pessoal. Nem foi um paladino do inédito no terreno da Ascética,
porque neste terreno a originalidade é perigosa. Foi , contudo, um
espírito esclarecidamente sincrético. Aclarou pontos doutrinários
24 ) L h o li m e a li, La V i e Spir. à l'ecole do B. Grignion Montfort,
298.
2 6 ) L h o li m e a u , La Vie Spir., pág. 309.

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 85

hauridos na mariologia patrística, levando-os às últimas conse­


quências práticas, de um lado ; de outro, bebeu nas fontes do
Oratório o espírito de I nfância, a devoção ao Verbo vivendo no
seio de Maria. A tudo, porém, trouxe sua visão l arga, e no Tra­
tado há muita coisa de própria e exclusivamente seu ; assim : a
fórmula de sua Devoção : "Por Maria, com Maria, em Maria,
para Maria" ; - a significação moral atribu ída à história bíblica
de Rebeca ; - a explanação de Maria como a grande " Forma
Dei" , para plasmar os eleitos ; - os motivos e efeitos da Per­
feita Consagração à Virgem .
Propõe ele um fim no seu sistema ascético : a união com
Cristo Jesus, mas com Cristo vivendo em nós, segundo a grande
devoção de Olier. Apresenta processos especiais, práticas exte­
riores e interiores para tal união. Acima de tu do, porém, indigita
o meio soberano : - Nossa Senhora. "Para achar a graça de
Deus, é preciso ach ar Maria." 2 6 "O obj eto formal desta Devo­
ção, com efeito, é a Mediação e soberania de Maria : e seu ato
próprio é a consagração da Santa Escravidão. " 2 7
Trata-se de uma consagração total de sí mesmo à Vi rgem,
que equivale a uma renovação dos votos do batismo, pela re­
núncia expl ícita e consciente de "Satanás, suas pompas e suas
obras. " Nesta Devoção inclui-se um "ato de consagração total e
absoluta a Jesus por Maria, e um estado habitual de consagração,
que consiste numa disposição permanente, que nos faz agir e
viver habitualmente sob a dependência de Maria, para sermos
unidos a J esus." 2 s
Nesta Consagração rezamos : "Entrego-vos e consagro-vos,
na qualidade de escravo de amor, o meu corpo, a minha alma,
os meus bens interiores e exteriores, e mesmo os merecimentos
das minhas boas obras presentes, passadas e futuras, deixando­
vos inteiro e pleno direito de dispor de mim e de tudo o que me
pertence, sem exceção de coisa alguma, segundo o vosso agrado,
para a maior glória de Deus no tempo e na eternidade." 29
E' uma Escravidão de amor. Montfort distingue três espécies
de escravidão : "A primeira é a escravidão por natureza ; desta
forma, todos os homens, bons e maus são escravos de Deus. A

2 6 ) Segredo de Maria, Montfort, cap. I I I .


2 7 ) L h o u m e a u , o. e . , n o Prefácio.
2 8 ) Comentário de Lhomeau no Segredo de Maria, pág. 1 7.
29 ) Fórmula breve da Consagração.

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86 Vieir a, Estudo Comparativo de Duas Espiritualidades

segunda escravi dão é a de constrangimento ; os demônios e os


condenados são escravos de D eus, assim . A terceira é a escravi­
dão de amor e l ivre vontade : desta m aneira é que devemos nos
consagrar a D eu s por Maria." 3 0 Montfort, dizendo escravos de
Maria, distingue o escravo do servo. O escravo não reclama do
seu amo· ou ama o salário ; não é l ivre de deixar o seu senhor, e
tem que reconhecer no amo o direito sobre ele de vida e morte ;
o que não acontece com o servo.
Maria SS. torna-se, assim, absoluta soberana do valor sa­
tisfatório de nossas obras, valor que pode aplicar a outros, em
via a reparar a pena temporal do pecado ; e torna-se, ainda, fiel
tesou reira e depositária do valor meritório de nossos atos, valor
de si incomu n icável, que consiste num aumento pessoal de graça
e de gl ória.
Este é o sentido p rofundo do nosso amoroso ofertório à
V i rgem, pelas cadeias da Santa Escravidão.
Montfort preceitua práticas externas e internas d a V erda­
deira D evoção . Das externas, a p rincipal é a consagração reci­
tada aos pés d a V i rgem, preparada com trinta e um d i as de Me­
d itação sobre o conhecimento p róprio, e sobre o conhecimento de
J esus Cri sto e de Nossa Senhora . Deve renovar-se anu almente
com a mesma p reparação, e pode diàriamen te renovar-se com a
breve fórmu l a : "Totus tuus ego sum, o Maria ; et omnia mea
tua sunt."
Recitação do Magnificat, da Coroinha da Vi rgem, devoção
especial ao m istério da Anunciação no dia 24 de março, são ou­
tras tantas p ráticas externas.
D as internas, a principal é o cumprim ento habitual desta
d ivisa clássica : " Fazer tudo por Maria, com Mari a, em Maria ,
para Maria" : tudo por Maria, ou sej a, por sua mediação ; com
Maria , ou sej a i m i tando-a ; em Maria, ou s e j a radicado no seu
espírito e interior por uma conformidade de vistas ; para Maria,
ou sej a, em honra e glória de tão maternal Rainha.
O Bem-aven turado assinala, enfim, como prêmio e coroa
desta D evoção, o fato de "os servos de Maria alcançarem em
breve, com faci l i dade, segurança e perfeição a santidade que
Deus lhes pede no estado em que se acham . " 3 1 Com esta De-
3 0 ) Segredo de Maria, cap. V I .
3 1 ) Catecismo da Perfeita Devoção, comp. 1 942, pág. 2 1 .

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Revista Eclesiástica B rasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 87

voção conseguimos " achar a J esus Cristo perfeitamente, amá-lo


com ternura, servir-lhe com fidelidade. " 3 2
Tempo é d e agora contemplar n a fisionomia espiritual do
Beato os t raços característicos da I nfânci a : desconfiança de s i ;
confiança em Mari a ; e simpl icidade d e coração .
"Tendo dado a Maria em d epósito t u do o q u e possuía de
bom para que o comunique e guarde, tereis menos confiança em
vós mesmo e muita confiança nesta b endita Mãe e V irgem fiel
que é o vosso teso u ro . " 33
a) Desconfiança de si próprio . - Na senda da graça nós
temos um desenvolvimento orgân ico, m ercê d a vida sacramental
que nos beneficia d a " O ra tia Christi" . O batismo é uma aurora de
vida ; a crisma, um aumen to d e forças ; a Eucaristia, u m alimento
de santidade.
Mas, a p a r deste crescer sobrenatural, possu ímos em nós
a m i séria d a carne. E as fraquezas de uma i nfância natu ral se
reproduzem n a o rdem da graç a . E' então q u e nos cabe a exor­
tação d e S. Pedro : " Como crianças recém-nascidas, apetecei o
leite pu ro do espírito , q u e vos faça crescer para a salvação . "
( 1 Ped 2 , 2 . )
Montfort demonstra como a s ações boas, provenientes das
graças q u e D e u s pôs em nós, levam o cheiro estragado do nosso
m a u fundo i n terior. 3·1 "O pecado d e nosso primeiro pai corrom­
peu-nos, como fermen to azedo e corrompe a massa em que é
posto. " 3 õ O s pecados atuais, graves o u l eves, aumentaram a nos­
sa concupiscência. " Nosso quinhão é apenas o orgulho, a ceguei­
ra do espírito, o endu recimento do coração, a fraqueza e a in­
constância d a alma, as concupiscências, as paixões revoltadas
e as enferm idades do corp o . " 3 6 "Temos um tesouro que vale
mais q u e o céu e a terra em u m a alma fraca e vers á t i l , q u e um
nada perturba e abate. " 37
De tudo i sto resulta a n ecessidade de u m a Mãe Espi ritual,
n a prática das virtudes, e é então que avulta, n a pena do Beato,
o papel educador d a V irgem , com a história bíblica d e Rebeca . 3 8
E l a, a doce Rainha e Mãe a m a os seus prediletos 39, a m a-os com
ternu ra e com m a i s ternura d o que todas as mães conj untamen-
32 ) Tratado da Verdadeira Devoção, n. 62.
33) Tratado, n. 2 1 6.
34 ) Tratado, n. 78. 3 7 ) Tratado, n. 87 .
35) Tratado, n. 79. 3 8 ) Tratado, n. 1 83.
36) Tratado, n. 79 cap. 2 1 3. 39 ) Tratado, n. 20 1 .

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88 V i e i r a, Estudo Comparativo de D u as Espirituali dades

4
te 0 ; sustenta-os com Jesus, o Fruto da vida ; "Comei. o meu
Pão, que é Jesus" , diz Ela 4 1 ; condu-los conforme a vontade de
seu Filho 4 2 ; defende-os e protege-os "para que não sej am der­
rotados por seus i n imigos . " 43

b) Confiança em Maria. - "Estou convencido d e que uma


pessoa que aspi re ser devota e viver piedosamente em Jesus Cris­
to, e, pois, sof rer perseguições e levar todos os dias a sua Cruz,
nunca poderá levar grandes cruzes, ou não as car regará a bom
t ermo alegremente, sem uma terna devoção à SS. Vi rgem, que
é a confeiteira das cruzes . . . " 4 4
E' que Maria exerce sobre nós aquela maternidade espi ri­
tual, que é própria da sua Mediação universal. "Todos os elei­
tos, repete ele com S. Agostinho, na vida presente estão encer ra­
dos no seio da SS. Virgem, até que essa boa Mãe os dê à luz
da eternidade. " ·1 5
Confiança, pois, em Maria ! Montfort faz suas as expressões
de um santo: " Imperio Dei omnia subj i ciuntur et Vi rgo ; ecce im­
perio Virginis omnia subj iciuntur et Deus . " 4 6
Como corolário dessa conf iança terna, deve florescer no co­
ração consagrado o espír ito de dependência, próprio da I nfância,
em face da V i rgem-Mãe, para imitar de perto a submissão do
V erbo Encarnado nos trinta primei ros anos da sua vida na
terra. 4 7
c) Simplicidade do c o ração . - Os caracteres, que o Beato
aponta nesta D evoção são as co res vivas da simplicidade: é uma
devoç ão inte rior de coração ; terna " com grande si mplicidade, con­
fiança e ternura" ·1 8 ; santa nos seus efeitos ; constante, sem me­
lancolia, escr ú pulos e pusilanimidade ; desinteressada, "buscando
só a Deus e sua Santa Mãe. "
Para tanto é necessário viver o lema do Bem-aventurado :
" Por Maria, Com Maria, Em Maria, Para Maria." 4 9
Nossa Senhora torna-se, então, " um caminho fácil por cau­
sa da plenitude de graça e da unção do Espírito Santo, de que
está repleta ; indo por ela não nos fatigamos nem retrocedemos ;
torna-se um caminho curto, que nos l eva, dentro em pouco, a j e-

• 4 0 ) Tratado, n. 202. 4 1 ) Tratado, n . 208.


4 2 ) Tratado, n. 209. 4 3 ) Tratado, n. 2 1 0.
H ) Tratado, n. 1 54.
4 6 ) Segredo de Maria, cap. IV.
4 t5 ) Tratado da Verdadeira D evoção, Montfort, n. 75.
4 7 ) 1 0i d , n .
. 1 40. 4 8 ) l b id., n . 1 06 ss . 4 9 ) lbid., n. 258 ss.

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sus Cristo ; um caminho perfeito, onde não há lama, nem poei ra,
nem a menor mancha do pecado : finalmente, um caminho segu­
ro, que conduz a jesus Cristo e à vida eterna . . . " 5º
"Não há lugar, onde a criatura possa achar a Deus mais
perto de si, e mais à altura de sua fraqueza, do que em Maria ;
- foi por i sto que desceu em Maria. Ele é sempre o Pão dos
fortes e dos Anjos ; em Maria, é o Pão dos filhinhos. " 61
I li. S. Teresinha Praticou o Espírito da Verdadeira Devoção,
Dentro da Pequena Trilha.
A I nfância Espiritual em Montfort tem , como se viu, uma
formalidade marcantemente marial : Maria é aí u m elemento es­
senci al, intrínseco, indispensável , um constitutivo formal . Pode
haver o esp í rito de infância, sem esta acentuada dominante, m as
a forma de Montfort é a mais perfeita, como nota Lhoumeau .
N a Pequena Trilha há o mesmo espírito de infância, mas aí
S . Teresi nha fala di retamente do "Ascensor divino" - que são
os braços de j esus, que hão de guindá-la à perfeição.
Entanto, S. Teresa do Menino jesus possui u m precursor
em Grignion. A crer em C r a y o 1 5 ª, no Carmelo era m u i to co­
nhecida e acatada a espirituali dade de Montfort. Não sei, con­
tudo, se ela fêz a consagração, segundo o Tratado .
U m a coisa, porém , é certo. Se S . Teresinha, na sua auto­
biografi a, expondo o Segredo de sua escola esp i ritual, não fala
claramente e "ex professo" de uma Consagração à V irgem, no
estilo de Montfort, ensinou , contudo, pelo exemplo, o Es pí­
rito da Verdadeira Devoção, dentro da Pequena Trilha.
E' o que vamos, perfuntõri amente, demonstrar para colher­
mos esta conclusão : a Pequen a Via de S . Teresa de Lisieux pode
ser praticada, dentro do espírito da "Verdadeira D evoção" , de
Montfort.
Desde os albores da inocência, foi Teresinha uma violeta
predestinada de Maria. No l ar, a piedosa m ãe, para i nculcar-lhe,
mais tarde, a devoção à Virgem, apôs-lhe no batismo ao nome
de Francisca, o nome de Maria. Chamou-se Maria Francisca. 6 3
Aos cinco anos, festej ou ela, j á, o seu mês de maio. 64
D a sua primeira confissão guardou, com extremos de uma
50 ) lbi d . , n . 1 6 8. 6 1 ) Segredo de Ma ri a , cap. V.
62 ) Crayo 1, Segredo de uma Pequena Flor de Maria, pág. 54.
5S) H istória de Uma Alma, P refácio 1 pág. 1 7.
64 ) H istória de Uma Alma, cap. I I , pag. 65.

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90 V i e i r a, Estudo Comparativo de D u as Espiritualidades

relíquia, o que o s acerdote lhe segredara aos ouvidos, exortando­


lhe " com particular encarecimento a devoção à S S . V irgem ; e
prometi-lhe, afirma a Santa, redobrar a minha ternura filial para
aquela, que j á ocupava lugar de predileção e destaque no meu
coração. " 6 6
Quando esteve assediada por estranh a moléstia, que l h e i a
minando as forças, a estátua da Vi rgem, no s e u quarto de en­
ferma, animou-se para m i raculá-la com um "sorriso arrebatador." 5 6
A Primeira Comunhão fê-la em união com Nossa Senhora.
A tarde desse dia memorável, recitou Teresinha o "ato de consa­
gração à Nossa Senhora. "Ah ! foi com todas as veras do cora­
ção que me consagrei à V i rgem S S . , pedindo-lhe que vel asse por
m i m . " 67
Não é acaso ela u ma consagrada, no espírito do Beato
Grignion, ainda que a fórm u l a da consagração não fosse material­
men te a mesma do Tratado ? E Teresinha foi mais além n a sua
consagração marial da Primeira Comunhão. " Resolvi consagrar­
me muito particul armente à Vi rgem S S . , solicitando a minha a d­
missão entre as f i l h as de J\i\ari a" 68 cio Colégio das Beneditinas,
cm L isieux.
A sua vocação para o Carmelo defini u-se num sábado, quan­
do vencida a ú l t i m a oposição do seu tio Guerin. E ' n a festa ela
Anunciação de 1 888, que penetra os m u ro s do Carmelo ; e é n o
dia da Natividade de 1 890, que faz os votos de esposa de Cristo.
No Carmelo é solicitada, em nome el a obediência, a compor
a " H istória de Uma Alma" , o seu l ivro de m emórias. E' aos pés
ela Vi rgem , que vai a Santa pedir a bênção da inspi ração primei­
ra. "Antes de lançar mão ela pena, fui aj oelhar-me diante d a es­
tátua de Maria ; supliquei-a se digne guiar a minha mão, de
modo que não escreva uma linha sequer, que não sej a do seu
agrado . " 59 E ' , portanto, à Vi rgem que se deve a " H istória de
Uma Alma", e, concomi tantemente, a doutrina da Pequena Via,
aí claramente exposta pelas palavras e pelo exemplo.
No Carmelo, Teresa não se esquece j amais de Maria. Até
nas repreensões que tem a fazer às noviças, de quem é mestra,
6 6 ) I bid., pág. 67.
66) Ibid., cap. I I I , pág . 95.
55 78 ) I bid., cap. IV, pág. 1 07.
) I bid., pág. 1 1 8.
5 9 ) l bid., cap. 1, pág. 36.

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Revista Eclesiástica Brasi lei ra, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 91

r ecorre anteriormente à Nossa Senhora : " Dirij o u m olhar d'alma


para a Virgem SS., e jesus h á de sair sempre vitorioso. " 0 0 " N un­
ca faço a mínima observação, que não tenh a primeiro invocado
a Nossa Senhora." s1
P rofessava u m a devoção especial ao Ven. Teofân io Venard
por ser, como dizia, "um santo pequenino, que amava ternamente
a V i rgem I maculada." 0 2
Falou Teresin ha, naquela i n genuidade subl i m e : "Quanto
amor tenho à V irgem Maria ! Se fosse sacerdote com que entu­
si asmo h averia de falar del a ! Alguns a representam i nacessível ;
mais exatidão h averia em mostrá-la i m i tável . Antes é mais mãe
do que rainha ! Ouvi dizer que o seu brilho ofusca o de todos os
santos, como o sol, ao nascer, faz desaparecer as estrelas. Meu
Deus ! que modo de falar estranho ! U m a m ãe, a ecl i psar a glória
de seus filhos ! Eu cá estou que se d á precisamente o contrário ;
acho que h á de aumentar muitíssimo o esplen dor dos eleitos . . .
A V i r gem Maria . . . parece-me que a sua vida foi m u i to sim­
ples ! . . . " 6 3
"Po r vezes m e surpreendo a dizer para Nossa Senhora : Sa­
beis, minha Mãe querida, que m e considero mais fel i z que vós ?
E' que vos tenho p o r Mãe, e vós não tendes, como eu, p ara arnar­
vos uma San t íssima V i rgem ! " 0 ·1
" O ' Maria, se eu fosse a Rainha do céu, e vós fosseis Teresa,
eu quereria ser Teresa, para vos ver Rainha do céu ! " 65
E q u e dizer das suas l i n das p oesias ? Foi em Maria que
buscou o primeiro motivo poético na " Rose D ivine" , onde el a
cantou o m i stério da H óstia :
"O ten dre amour, i nsondable puissance !
Ma blanche H ostie est te l a i t virginal!"
E foi, também, Nossa Senhora a Musa Celeste do seu ú l ti­
mo canto, onde percorreu as passagens todas d a vida de Maria.
e onde louvou as palavras cio Magnificat, nestes termos :
"Tes paroles d'amour sont des mystiques roses
Qui doivent embaumer des siecles a veni r ! "
( Po u rq u o i j e t'ai me, ó Mari e . )
Sobretudo, u m traço de profunda semel hança espiritual u n e
S . Teresa do Menino J e s u s e o Bem-aven turado Orignion de
60 ) I �i d . , cap. X, p á g . 267.
n) lbid., cap. X I I , pág. 348.
62 ) I b i d . , cap. X I I , pág. 348. 6 4 ) Carta X I I I à Cetina.
6 3 ) Ibid., cap. X I I , pág. 335. 6 5 ) Pensées, pág. 224.

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92 V i e i r a, Estu do C o mp arat ivo de Duas E s piri t u a l i dad es

Montfort : ambos ensinam um método semelhante de bem comun­


gar, pela união íntima com Nossa Senhora. Comparemos as ex­
pressões de S. Teresinha com as do Bem-aventurado.
S . Teresinha, antes da comunhão, recolhe-se profundamente,
e une-se ao interior de Nossa Senhora, para dizer-lhe :
" Et j e suis ton enfant, o Mere chér ie,
Tes vertus, ton amou r ne sont-i ls pas à moi?
Aussi lorsq u ' e n mon coeur descend l a Bl anche Hostie,
jesus, ton doux Agneau, croit reposer en toi ! "
( P o u rquoi j e t'aime, ó Marie. )
N a ação de graças, "faço de conta, diz ela, que a minh'alma
é terreno devoluto, e peço à S S . V i rgem se digne remover dele
os entulhos, que são as i mperfeições ; rogo-lhe, em seguida, que
arme el a mesma um vasto pavilhão d igno do céu, e o guarneça
com seus adornos. Passo então a convidar todos os Anj os e San­
tos; que venham entoar cânticos de amor. P a rece-me que Jesus
se alegra de tão solene acolhimento, e tomo parte na sua alegria." 0 0
E Montfort não aconselha o m esmo ?
Antes da comunhão, convida-nos a dizer o " tatus tuus ego
sum", a Maria, e a pedir-lhe de emp réstimo o coração para aco­
lher o H óspede Eucarí stico, pois, "se ela quiser vir habitar em
vós, a fim de acolher o seu D ivino Filho, poderá fazê-lo pelo
dom ínio que exerce sobre os corações . . . " Assim é que Jesus
será bem recebido : " P rrebe mihi cor tuum, o Maria ! " 67
N a ação de graças, " conservar-vos-eis profundamente humi­
lhados em vosso coração na presença de Jesus residindo em Ma­
ri a ; ou fi xareis, como um escravo, à porta do Pal ácio do Rei,
onde este está falando com a Rainha ; e enquanto falam um com
outro, sem p recisarem de vós, i reis em espírito ao céu, e por toda
a terra, pedir às criaturas que venham agradecer, adorar, amar
a Jesus em Maria, em vosso lugar : Venite adoremus, venite ! " 68
Concluindo.
D este estudo comparativo florescem, pois, três conclusões :
a ) Em S . Teresa de Lisieux, em Orignion de Montfort do­
m in a o mesmo Espírito de Infância.
b) Em Montfort, porém, há uma formalidade diferencial: a
dependência filial em face da V irgem está na essência do aban­
dono" nas mãos de J esus.
6 6 ) H istória de Uma Alma, cap. VIII, pág. 209.
6 7 ) Tratado da Verdade i ra Devoção, n. 266.
6 8 ) Ibid., n. 27 1 .

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 93

c) S. Teresinlza, dentro da Pequena Vereda, p raticou e en­


sinou pelo exemplo o esplrito de Perfeita Consagração a Virgem,
como quer Montfort.
Agora, no adeus deste pobre ensaio, volvo o olhar súplice
para a Santa da " História de Uma Alma", e para o Beato "da
Verdadeira Devoção a Maria" , para pedir um breve perdão e
uma grande graça. Para pedir o perdão das lacunas neste tra­
balhinho, onde a preocupação de resumir, mais de uma vez, por
certo, desfavoreceu à exposição das idéias. Para implorar uma
graça, uma bênção de rosas místicas à Santa da Pequena Via,
e para suplicar ao Beato Montfort a realização perfeita n a minha
vida de clérigo e de consagrado daquela divisa tão teológica e
consoladora : "Ad jesum per Mariam !"

Problemas Bibliográficos em Torno das Obras


de Alexandre de Bales.
Por Frei V a l t e r K e m p f, O.F.M., Petrópolis, R.J.

O sétimo centenário da morte de Alexandre de Hales con­


vida a todos os amigos da Ordem Franciscana e da Escolástica
Medieval a focalizar a notável figura que foi, sem dúvida, o
Doctor I rrefragabilis.
Os resultados das pesquisas biográficas, não obstante a sen­
sível escassez de dados precisos, confirmam o influxo excepcio­
nal que Alexandre exerceu sobre o desenvolvimento da teologia
de então, especialmente sobre a incipiente geração científica da
novel Ordem dos Frades Menores.
Nesta perspectiva talvez pareça estranho se no presente
ensaio indagamos acêrca da autenticidade das obras do "Monar­
cha Theologorum", em vez de aprofundar-nos de logo no seu
conteúdo vasto e profundo. Acontece, porém, que reina grande
incerteza sobre o número das obras que têm a Alexandre como
autor imediato. Este problema bibliográfico, ainda não solucio­
nado de todo, não só j ustifica o nosso empreendimento, mas o
constitui como condição prévia indispensável de todas as inves­
tigações posteriores.

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94 K e m p f, As Obras de A lexandre de Hales

A maneira comum de se evidenciar a autenticidade de obras


antigas é consultar o testemunho histórico, que - quanto mais
se aproximar da data da redação e da pessoa do redator -
maior certeza oferecerá. Quanto a Alexandre de H ales não co­
nhecemos bibliógrafos contemporâneos que tivessem fornecido i n­
dicações detalhadas. Os escritores e historiadores dos séculos
segu intes certamente se excederam quando l he atribuíram um
número de obras demasiadamente alto. Assim Wadding 1 apre­
senta uma boa série de comentários escriturísticos, várias mono­
grafias de caráter histórico, e entre as obras que mais nos i nte­
ressam enumera Summa Tlzeologica, Summula Resolutionum,
Qurestiones in Sententiarum Libros quatuor, Summa Virtutum,
ln Metaplzysicam Aristotelis, para só citar as mais importantes.
Também João de la Haye 2 na "Vita R. P. Alexandri H alensis"
que faz preceder ao "Commentarium in Apocalypsim" - obra
aliás espúria -, ap resenta um elenco bibl iográfico não menos
extenso. Da mesma forma Du Boulay e Sbarálea 3 , fiados como
os antecedentes em testemunhas posteriores, - desde o fim do
sécu lo XIV até o século XV I - pecam por excesso . Notável nos
parece, além do mais, o equívoco destes autores, em atribu i r a
Alexandre de Hales não só a Summa Theologica, mas ainda um
comentário às sentenças. Entretanto, o Em . Cardeal Ehrle, S . J . ,
chamou a atenção sobre o fato curioso q u e a própria Suma, em
manuscritos antigos, ora aparece sob a epígrafe de " Summa" , ora
sob o título de " S criptum i n libros Sententiarum" . Daí se deduz,
como j ulgam os editores de Quaracchi " , o erro dos bibliógrafos
antigos que, baseados tmicamente em catálogos de bibliotecas,
enumeram entre as obras de Alexandre além da "Summa" ainda
um Comentário sobre as Sentenças de Pedro Lombardo .
Outros historiadores, entre eles Natális Alexander, Quétif,
Oudin, Brucker, . Daunon 5, parecem resvalar ao extremo oposto,
restringindo a autoria de Alexandre de H ales quase exclusiva­
mente à " Summa Theologica" .

1 ) W a d d i n g u s, O . F . M . , Scriptores Ordinis Fratrum Minorum,


8 ss.
2 ) A lexandri Halensis Commentarium in Apocalypsim. Proleg. s/p.
3 ) Cit. a p u d F e 1 d e r, O . F . M . Cap., Geschichte der Wissenschaft­
lichen Studien im Franziskanerorden bis um die Mitte des 13. jahrlzunderts,
1 89.
4) A lexandri Halensis Sum ma Theologica, ed. Quaracchi, t. I, p r o­
legomena, XXV.
5 ) F e 1 d e r, 1. e., 1 89.

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Revista Eclesiástica Brasi leira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 95

I sto opõe-se, evidentemente, ao testemunho fidedigno de Sa­


l imbene que logo após a morte de Alexandre esteve em Paris,
onde privava da intimidade de pessoas bem informadas. Diz ele
o seguinte : " . . . Magister Alexander ex ordine fratrum Mino­
rum, natione Anglicus et magister cathedratus P arisius, qui m ulta
opera scripsit . . . " 6 Disto se i nfere, com grande certeza, que Ale­
xandre escreveu mais de uma obra.
Ainda assim n ão deixa de ser verdade que a tradição histó­
rica, sustentável à luz da crítica, até hoj e só nos garante a au­
tenticidade da Suma e da "Expositio in Regulam" dos " Quatuor
Magistri" 7 , feita por ordem do Pe. Geral Haimo de Faversham
- entre 1 240 e 1 242 - por Alexandre de H ales, João de Ru­
pel la, Ricardo de Cornwal lis ( ? ) , e Roberto de Básti a. 8 A his­
tória crítico-literária, recentemente, acrescentou a este elenco re­
duzido uma série de "Qurestiones" avulsas, descobertas nos últi­
mos decênios. "Há - como diz F. P e 1 s t e r, S. J. - além do
Alexander editus ainda um Alexander reportatus, isto é, um bom
número de questões que, na sua grande maioria, não foram edi­
tadas por Alexandre de H ales, mas representam as cópias de
seus discípulos." 9 A existência de tais questões autênticas está
acima de qualquer dúvida ; incerta continua, por ora, a extensão
deste complexo. 1 o
A "Suma Teológica".
Sendo este o estado atual da bibliografia de Alexandre de
H ales restringiremos, daqui em diante, as nossas considerações
à "Summa Theologica" .
Antes do mais siga aqui um ligeiro esboço sobre a história
da obra principal do grande mestre. A primeira edição impressa ,
só parcial porque restrita ao terceiro l ivro, data de 1 475 e foi feita
em Veneza. Seguiram-se : em 1 48 1 /82 a edição completa de
Nuremberga, em 1 489 a de Pavia, em 1 5 1 5/ 1 6 a de Lião, em
1 575/76 a de Veneza e em 1 622 a última, de Colônia, a mais

&) Ibidem, 1 90.


7 ) W i l l i b r o r d L a m p e n, O . F . M . , in Lexikon fuer Tlz eol. u.
Kirclze, T. 1 . , col. 249.
ª) F e 1 d e r, 1. e., 2 1 3-21 4, 2 1 4 nota 1 .
º ) F. P e 1 s t e r, S. j., Literargeschichtliche P robleme i m Anschluss
an die Bonaventuraausgabe von Quaracchi ; in : Zsclzft. Katlz . Tlzeol. 1 924,
504.
1 0 ) F. P e 1 s t e r, S. j., Literargeschichtl iches zur Pariser theolo­
gischen Schule aus den jahren 1 230- 1 256 ; in : Sclzolastik, 1 930, 52.

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96 K e m p f, As Obras de Alexandre de Hales

conhecida. 1 1 Desde 1 902 os franciscanos de Quaracchi vêm pre­


parando u m a nova edição crítica, sobre a base de 1 6 1 textos
manuscritos, em grande parte do século X I I I . 0 i ntuito dos edi­
tores foi restituir a pureza original da obra pela comparação dos
textos diferentes. 12 Para a execução deste propósito adotaram
os seguintes princípios críticos :
1 ) Deixaram-se ele lado as edições impressas, por ser m a­
n ifesto não conterem elas o texto genuíno.
2 ) N ão se adotou uma família de códices como predomi­
nante, mas a restituição de cada passagem foi feita conforme
o melhor sentido e contexto .
3 ) P rocedeu-se a nova distribuição elas questões, sendo que
a antiga, aplicada nas edições impressas, não parecia correspon­
der às intenções do próprio autor.
4) Fêz-se maior explici tação das passagens escriturísticas
( citação do capítulo e do verso ) . 1 3
Como fruto deste imenso l abor saiu do prelo em 1 924 o pri­
meiro livro, e em 1 928/30 seguiram-se a primei ra, respectiva­
mente a segunda p arte do segundo l ivro. Desde então a publica­
ção parece suspensa, talvez por motivo da controvérsia que, mais
forte que nunca, surgiu depois do aparecimento do segundo li­
vro, controvérsia que gravi ta em torno da autenticidade da mes­
m a obra e veio a chamar-se P roblema da Suma.
O Problema da "Suma".
Já os historiadores antigos repararam num certo paralelis­
mo existente entre as Sumas de Alexandre de H ales e de S .
Tomás. Assim João d e la H aye enumera mais d e 7 0 pontos de
contacto entre o Doutor I rrefragável e o Angélico. N aturalmente,
franciscano não hesitou nenhum instante em afirmar peremptó­
riamente : H i sce i n locis Alexandrum secutus est Angelicus. 1-1
Para os tomistas a suposição de dependência da parte do Santo
Doutor era u m a idéia inconcebível . Portanto, os seus esforços se
concentraram sempre em demonstrar a posterioridade, e com isto
a inautenticidade da Suma de Alexandre de H ales. 1 5 Ainda há
11 )Summa e d . Quaracchi , T . 1 ., Prol. X I .
1 2 ) I bidem.
1 3) I bidem XXV I I I .
1 4 ) Vita R. P. Alex. H a l . i n Comment. in Apocalypsim s/p.
16 ) Ph. B o e h n e r, O . F . M . , (manuscrito conforme preleções no Saint
Bonaventu re Seminary, Saint Bonaventure, N . Y . - U.S.A. ) .

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poucos decênios o Pe. Mandonnet, O. P., p rocurou defender a


prioridade de S. Tom á s. 1 6 Com razão diz Pelster, S. j . : " O s
corifeus da Teologia Escolástica n ão p recisam recear t a l inves­
tigação (o autor refere-se aos estudos histórico-literários ) que
os coloca em meio da evolução teológica e os considera cons­
cientemente como elos de uma corrente ininterrupta. Certamente
este modo de consideração fá-los perder algo de sua origina­
lidade e novidade e dará talvez menos ensej o para exercícios
retóricos, embora bem intencionados." 1 7
Felizmente o p roblema da autentici dade em sua fase atual
não deriva tanto de p reconceitos de escolas teológicas, mas sim
de resultados indiscutíveis da investigação conforme os métodos
da história l iterária.
Costum a-se citar como testemunho mais importante da au­
tenticidade da Suma de Alexandre de H ales a Bula do Papa
Alexandre I V De Fontibus Paradisi Flumen Egrediens, datada
de 1255 ( 1256 ? ) e dirigida ao Ministro Provincial da França,
p rovàvelmente Oodofredo de Bria. 1 8 Todavia, é a própria Bula
pontifícia que nos induz a ventilar o p roblema da autenticidade.
I sto se infere do exame detido das passagens p rincipais :
1) " I dem frater (Alexander) . . . studia sua publicis utilita­
tibus commodavit, et laboriosi operis sanctum aggrediens p ropo­
situm super qucestionibus tlzeologicis utiliorem utique quam pro­
lixam molitus est Summam." Por conseguinte, o documento papal
nos atesta que Alexandre concebeu o plano geral de elaborar uma
Suma e que ele mesmo completou considerável parte del a. 1 9
2 ) A B u l a continua mais abaixo : " . . . non aliud nos pos­
sit rationabiliter offendere, quam quod Deo eiusdem fratris labo­
ribus fin em, antequam suscepti operis dictam perficeret, impo­
nente, et ad statutum repositre mercedis evocante denarium, per­
quo et pauca videntur et acl
! ectce pietatis imperf ectus est labor,
sacietatem animre insufficientia universa qure scripta sunt, nisi
destinatum, et ad quem animus l egentium pars supendit exhibita,
principii sui finem m oles tanti operis sortiatur . . . " Este tópico
diz claramente que Alexandre não conseguiu terminar a obra de-
1 6 ) B o e h n e r, manuscrito.
1 7 ) F. P e 1 s t e r, S. ]., Forschungen zur Quaestionenliteratu r in der
Zeit des A lexander von H ales, in Scholastik, 1 93 1 , 32 1 .
1 8) Summa, ed. Quaracchi, T. 1 . , Prol. V I I -V I I I ; e F e 1 d e r, 1. e.,
208-2 1 0.
1 9 ) B o e h n e r, manuscrito.
7

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98 K e m p f, As Obras de A lexandre de Hales

l i neada e insinua que outros deveriam completar o trabalho co­


meçado, o que se segue mai s explicitamente de outra passagem
no fim da B ul a :
3) "Quocirca discretioni ture in virtute obedientire districte
prrecipiendo mandamus quatenus considerans prudenter quod in­
decenter relinquitur, si negligenter omittitur, mutilam opus Dei,
quod nonnisi crelestis sapientia per ministerium servi sui tam
clare iam digestre ' partis iniit venustate, de consilio discretorum
fratrum studentium ad perfectionem eiusdem Summre necessarios
pro numero et idoneos pro merito convoces Parisius ex quibuslibet
administrationis ture locis O rdinis tui Fratres ut dilecto filio fratri
Guillelmo de Melitona, huic sollicitudini deputato, sedule assisten­
tes . . . exequantur . . " A frase final da carta pontifícia exprime
.

pois uma ordem do P apa, que manda completar a Suma inaca­


bada por teólogos franciscanos idôneos que deveriam assistir a
Guilherme de Meli tona, j á encarregado deste serviço anterior­
mente. 2 º
Maior dificuldade oferece, sem dúvida, o testemunho de Ro­
gério Bacon, estrênuo adversário de todos os professores da uni­
versidade de P a ris, aos quais repu tava demasiadamente conser­
vadores e arcaizantes em oposição à corrente p rogressista de
Oxford Resumimos aqui as passagens respectivas citadas do
. •

2
Opus minus por F e l d e r e B o e h n e r 1 :
" . . . /Ili qui lzas Summas fecerunt" ( B acon refere-se a Ale­
xandre e Alberto Magno ) " . . . Duos enim qui f ecerunt scripta
vidimus oculis nostris, et vidimus quod nunquam viderunt scien­
tias il ias quibus gloriantur nec audiverunt . . . " Nestas passagens
Bacon parece harmonizar com o testemunho de Alexandre IV.
No entanto j á v e m a discrepância : " . . . Ex s u o ingressu fratres
et alii exaltaverunt in crelum, et ei dederunt auctoritatem totiu s
studii et adscripserunt ei magnam Summam iliam, qure e s t plus
quam pondus unius equi , quam ipse n o n f ecit, s e d alii. E t tamen
propter reverentiam scripta (adscripta ?) fuit et vo catur Summa
fratris Alexandri. Et si eam fecisset vel magnam partem . " Hou­. .

ve críticos que taxaram esta negação explícita ( embora a última


frase pareça fazer concessões no sentido do testemunho papal)
de falsa, p roveniente do hipercriticismo de B acon. Mais avisado
2 0) B o e h n e r, passim.
2 1 ) R o g e r B a e o n, Opus mênus, ed. B rewer, 325-326 cit. apud
B o e h n e r e F e 1 d e r, 1. e., passim.

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 99

parece Boehner que aconselha o máximo cuidado quanto à ava­


liação deste testemunho. Podemos, sim, admitir que Bacon está
exagerando ; mas todo exagero supõe alguma coisa que pode ser
exagerada. Parece indiscutível que Rogério Bacon viu a Suma
i ncompleta quando esteve em Paris ( entre 1 245- 1 250/52 ? ) . 22
Por mais que se queiram atenuar as palavars dele, dever-se-á
todavia reter como certo que no tempo dele corriam rumores di­
zen do que a Suma não derivava só de Alexandre de Hales. 23
Quadra com esta hipótese o Codex Borghese 359 ( séc. X I I I )
d a Biblioteca Vaticana (manuscrito d a Summa Halensis) , que
tem a epígrafe : " Prima pars Summre qurestionum super senten­
tias editre a fratribus m inoribus. " 2 4 O mesmo parece estar indi­
cado por uma nota no Codex D . I I I 28 da Biblioteca Nacional
de Turim ( obra de Boaventura) : "Nota quod istre dure qurestio­
nes qure sequuntur scilicet de contritione et attritione et alia de
displicentia peccati sunt extractre de qurestionibus Guilelmi de
Melitona et d icitur quod Alexander compilavit, sed ipse quodam­
modo exceptando variavit." 2 5
Uma expl icação admissível deve fazer j u stiça a todos os
fatos que acabamos de expor. Não nos parece resolver as difi­
culdades a asserção de Felder que consi dera os j ulgamentos de
Bacon apenas como singularidade. Ele é de opinião que a Suma
não foi completada depois da morte de Alexandre, tamanho o
respeito que os frades . consagravam à obra do mestre faleci do.
Só por ordem pontifíci a Guilherme de Melitona teria elaborado
a "Summa V i rtutu m " , que porém nunca foi acrescentada à "Summa
Halensis" . Fel der que efetivamente nega a contribuição de Gui­
lherme, consegue assim explicar as afirmações de Bacon pelo fato
que este, errôneamente, pareci a supor a colaboração de outros. 2 6
A hipótese de Felder, certamente satisfatória para os tempos em
que escreveu seu belíssimo l ivro sobre a origem dos estudos
científicos na Ordem dos Frades Menores, hoj e em dia não é
mais sustentável, devido ao acúmulo de dados contrários, então
desconhecidos, e ao progresso das investigações da H istória Li ­
terária.
22) B o e h n e r, passim.
23 ) F. P e 1 s t e r, S. ]., I ntorno ali' origine e all'autenticità della "Sum­
ma" di A lessandro di H ales, in Civiltà Cattolica, 1 93 1 , vol. 1, 40.
2 4 ) I bi dem.
2 5) F . P e 1 s t e r, S. j., Literargesch. Probl. Bonaventuraausg. Z. Kath.
Tlzeol., 1 924, 502. 26) F e 1 d e r, 1. e., 1 93.
7*

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1 00 K e m p f , A s O bras d e Alexandre d e H a les

São precisamente os resultados obtidos pela H istória C ríti­


co-Literária que nos permitem entrever em l inhas gerais a solu­
ção do problema-bibliográfico d a S u m m a H alensis. Como pre­
cursor destes inquérito s podemos considerar o Pe. M i n ges,
O. F . M . , que em várias monografias procurou elucidar, por meio
de confrontos, a relação existente entre Alexandre de H ales e
os outros grandes escolásticos daquel a época. 27 A i n d a que nem
todas as suas conclusões possam ser mantidas hoj e em dia, -
por ex., prioridade de Alexandre de H ales às partes correspon­
dentes da " S u m m a de Anima" de João de Rupella, insusten tável
conforme novas i nvestigações de L o t t i n, O. S. B. 2 8 - cabe­
l he, contudo, o mérito de ter reconhecido como primeiro a es­
purieclade do " Tractatus de Corpore H umano" e do "Tractatus
de Coniu ncto H u mano" na primeira parte do segu ndo l ivro . 2 9
Estes estudos f i zeram maior progresso com a nova edição de
Quaracchi que, por se basear em manuscritos antiquíssimos, ofe­
rece a possibi l i d a de ele um j u l gamento mais obj etivo e certeiro.
Dentre todos os que s e dedicaram à questão da autenticidade
da Suma, destacaram-se sobretudo O e y e r 3 0 , L o t t i n, O. S. B . 3 1 ,
H e n q u i n e t, O . F . M . 32 e, como o m a i s i mportante, F .
P e 1 s t e r, S . J . 3 �
Como insinuam as testemunhas g raves q u e citamos acima,
a S u m a não foi completada por Alexandre de H ales. Daí o que
mais nos in teressa é saber se de fato houve acréscimos por mão
de out ros, ou se a Suma nos foi transm itida tal qual o Autor a
deixo u . Por conseguin te, o estudo do texto e do conteúdo d a
S u m a h á ele revel ar o u a homogeneidade da o b r a - nesse caso
seria difícil duvidar ela autenticidade do conj u n to, a não ser que
2 7 ) C f r . P . M i n g e s, O . F . M . , A b h aengigkeitsverhaeltnis zwischen
Alexander von H ales und Albert dem G rossen . Franz. Stud. 1 9 1 5, 200 ss. -
Abhaengigkeitsverhaeltnis zwischen der Summe A lexan ders v o n H a les u n d
d e s h l . Thomas von A q u i n . Fr. Stud. 1 9 1 6, 58 s s . - D i e psyc h ologische
Summe des j o h a n n e s von R u p e l l a und A le x a nder von H a les. Fr. Stud.
1 9 1 6, 365 ss.
2 8 ) Cit. apud P e 1 s t e r, l n to r n o a l l'origine, 4 1 6 not. 3.
2 9 ) M i n g e s, Abhaengigkeitsve rh. Alex. Hal und A l b . G ross. 2 1 9.
3 0 ) Z u r Frage n ac h der Echtheit d e r Summe des Alex. von H a les.
Fr. Stud. 1 929, 1 7 1 ss.
3 1 ) Alexandre de H alês et l a Summa d e anima d e jean d e Rochel le ;
in : Reclz erclzes Tlzéol. A ncien n e et Médievale, 2. 1 930, 396 ss.
3 2 ) Fr. M. H e n q u i n e t, O . F . M . , Ist d e r Traktat D e legibus et
p raeceptis in d e r Summa Alexan ders von H ales v o n j o h a n nes v o n Ru­
pella. Franz. Stud. 1 939, 1 -22 ; 234-258.
33) As d iversas monografias já citadas, sobretudo : Intorno a l l' o rigine.

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Revista Eclesiástica Brasi leira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 101

se admita uma remodelação completa por mão posterior o que


parece improvável - ou então maior ou menor cópia de partes
heterogêneas que denunciariam origem diferente. Como provou
P e 1 s t e r 3·1 , a Suma não é uma obra monol ítica, inteiramente
nova. Pois verificou-se que Alexandre se aproveitou de teses de
própria lavra já anteriormente elaboradas, como se pode deduzir
das questões avulsas descobertas recentemente. Logo, parece bem
j usta a segunda pergunta de Pelster : conseguiu o autor dar ele
mesmo os últimos retoques à obra ou deixou-a inacabada? A res­
posta não pode ser dada · sem distinções : H á partes em que os
retoques são visíveis, por ex., nas Qucestiones sobre a vida inte­
rior divina ; há outras que denunciam o contrário. Acresce que
a estrutura da obra acusa indubitàvelmente a ausência de uma
revisão e elaboração definitiva. O autor promete tratados que ao
depois não aparecem, insere outros não programados conforme
o esquema. 3 5 "Todas estas desigualdades e faltas de precisão,
cuj o número com um estudo mais acurado certamente ainda há
de aumentar, não só confi rmam a palavra ele Alexandre IV acer­
ca do "mutilum opus Dei", mas até demonstram que nem às par­
tes j á existentes o autor consegu iu dar a última demão." 36
Alexandre não só compilou trabalhos próprios anteriores,
mas transcreveu largamente trechos de seus antecessores. Visível
é o influxo ela "Summa ele Bono" de Filipe, o Chanceler, nas
questões sobre os anj os da guarda e os milagres e no tratado
sobre a syntheresis. 37 Outra fonte frequentemente usada são as
obras de Guilherme de Auxerre. 38 Empréstimos menores, embora
também frequentes, foram feitos das obras ele P repositino. 3 9 A
transcrição torna-se quase incompreensível no caso do tratado
dos milagres. Pois conhecemos o mesmo tratado cio próprio pu­
nho ele Alexandre, através de manuscritos encontrados recente­
mente. Como é possível pôr de lado as p róprias questões e co­
piar quase ao pé da letra as questões dos outros? 4 0
Naturalmente, estes fatos de per si ainda não depõem con­
tra a autenticidade da Suma. Alexandre bem poderia ter compi­
lado as questões estranhas, no afã de completar um manual de
3 4 ) P e 1 s t e r, l ntorno al l'origine, 45-46.
35 ) I bidem, 47.
36) I bidem.
87 ) Ibidem, 4 1 5.
3 8 ) I bidem. 39) Ibidem. 4 0 ) I bidem, 41 6.

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1 02 K e m p f, As Obras de Alexandre de Hales

estudos, talvez com a esperança e resolução de substituir opor­


tunamente estas questões por outras próprias.
Há, porém, outra categoria de questões que por critérios in­
ternos parecem indicar como data de sua redação o tempo depois
da morte de Alexandre. Entre as partes esp ú rias figuram os j á
mencion ados tratados "De Corpore H umano" e " D e Coniuncto
Humano" na primeira metade do segundo l ivro. 4 1 Os editores
de Quaracchi optaram pela genuinidade destas perícopes, embo­
ra faltassem em 6 manuscritos dos 39 encontrados e um sétimo
apresen tasse no i n ício do tratado em questão o acréscimo feito
por mão posterior : " Hic incipit additio fratris Guillelmi." Os
editores corroboram a sua opinião pelos segu intes argumentos : A
omissão dos tratados respectivos não se encontra em nen hum dos
manuscritos franceses ; a nota adicional n o manuscrito vienense
é de data muito posterior ; no mais os dois tratados são pre­
anunciados pelo esquema da Suma e ligados às partes an tece­
dentes por transições manifestas e ci tações de partes anteriores.
Além disso parece garan tida a autenticidade destes tratados pelo
testemunho do "Specul um N aturale" de Vicente de Beauvais que
a elas se refere como sendo de Alexandre de H ales. 4 2 Pelster
considera esta argumentação como insufici en te, porque não ex­
clui o trabalho de con tinuadores da Suma. O testemunho de Vi­
cen te, além de se tratar de um acréscimo posterior, talvez até por
mão de outros, só prova que naqueles tempos toda a obra an­
dava sob o nome de Sum a de Alexan dre ele H ales, o mesmo que
afirmou, já an tes, Rogério Bacon . 4 3
Ou tros argum en tos demonstram que a autenti cidade destes
tratados é nula : em primei ro lugar a terminologi a técn ica dife­
rente el a usada nas outras partes ; depois o conhecim ento visivel­
mente mais profundo de Aristóteles, em compara ção com o resto
da obra ; e enfim, o argumento mais convincen te, a evolução d a
argumentação em algumas questões que j á supõe os Comentários
de S . Boaven tura. o 11 Autor destes tratados, com o opina Pel ster,
foi talvez um j ovem mestre ela escola bonavent uriana que, se­
guindo geralmente o pensamento de seu mestre, reservou-se aqui
e acolá a liberdade de emitir uma opiniã o própria. ·1 5

4 1 ) Sttmma, ed. Quaracchi, Lib. I I ; nn. 427-523, págs. 50 1 -784.


4 2 ) Sttmma, ed. Quar., T. II ( I a . I l i . ) P roleg. XXV .
4 3 ) P e 1 s t e r, I ntorno, 4 1 7-420.
4 4 ) Ibidem, 42 1 -427 ; 4 5 ) I bidem, 428 ; 4 6 ) Boehner, manuscr.

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Revista Eclesiástica Brasilei ra, vol. 6, fase. 1 , março 1946 1 03

Nos últimos anos semelhante i nvestigação foi estendida a


outras partes da Suma e como resultado temos a l ista seguinte
de partes não autênticas 4 6 :
Parte: Autor: Autoridade :
Prooemium, art. 4 Odo Rigaldi Pelster, Scholastik, 11
( 1 936) , pág. 533 ss.
Livro 1 . nn. 34-49 ; 56- joão de Rupella Pelster, Scholastik, 6 ( 1 93 1 ) ,
7 1 ; 280-282 ; 295-332 ; pág. 335.
Livro 1 . nn. 495-5 1 8 ; Odo Rigaldi Pelster, ibid., pág. 337.
Livro I I . nn. 424-523 ; O. Melitona? Geyer, Pelster, Minges.
Na edição de Colônia :
Livro I I I . qq. 26-38 ; Rupella Henquinet, Franz. Stud. 26,
61 ; 1 939, págs. 1 -22 ; 234-
257.
Livro I I I . qq. 69 ; Rupella Pelster, Scholastik, 12
( 1 937, 546 nota ) .
Livro III. qq. de Rupella Pelster, ibid., pág. 53.
Christologia
Livro I V . O. Melitona Pelster, Gregorianum, 12
1 93 1 , pág. 435.
Por consegui n te, o primeiro l ivro é o que abriga maior có­
pia de material próprio de Alexandre de H ales. Como partes oriun­
das de João de Rupella consideram-se as seguintes perícopes :
Utru m Divina Essentia sit finita vel infinita ; D e immensitate Dei
quantum ad se et quoad locum ; D e exsistentia Dei in rebus ge­
neraliter ( n n . 34-39) ; De JEterni tate Dei ( n n . 56-7 1 ) ; De ope­
ratione D ivina (280-28 1 ) ; De Generatione Filii, De P rocessione
Sp. Sancti ; D e Ordine et JEqualitate Personarum ( n n . 295-3 32 ) .
Atribui-se a Odo Rigaldi o tratado final do I l ivro : D e notionibus
connotantibus effectuum i n creatura ( Tratado d a Missio, nn. 495-
5 1 8 ) . Também a primeira parte do II l ivro até a grande interpo­
l ação dos "Tractatus de Corpore Humano" e "Tractatus de Con­
i uncto Humano" parece constar de questões autênticas de Ale­
xandre. Qu anto ao I I I l ivro, a contribuição de Alexandre, ao que
parece, é insignificante ou até nula. O IV livro, acréscimo poste­
rior, é consi derado como proveniente de Guilherme de Melitona.
Sintetizando o que acabamos de expor, podemos estabelecer
o seguinte : Está acima de qualquer dúvida que a Suma como
obra completa foi concebida no pensamento de Alexandre de
Hales. Ele já tinha à sua disposição um acervo considerável de
questões, frutos de suas p releções sobre as sentenças. Várias des­
sas questões entraram na Suma, outras foram substituídas por
questões de João de Rupella e outros. Sobretudo João de Rupella
contribuiu com um grande n úmero de questões extraídas das

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1 04 K e m p f , As Obras d e A lexandre de H a les

suas próprias Sumas, elaboradas para combinar com a Suma de


seu mestre. Conexo íntimo parece existir entre os tratados sobre
a alma humana, virtudes e vícios, a lei, etc., d a Summa H alensis
e os tratados correspondentes das Sumas (De Anima, De Vitiis et
Virtutibus) de J o ão de Rupel l a . Há provàvelmente conexo seme­
l hante em outras p artes com as Sent e nças de R icardo de
Cornwal lis. A última metade da Prima Secundi e todo o quarto
livro foram acrescentados à obra incompleta por Guilherme de
Mel iton a ainda antes de 1 260, como pensa H e n q u i n e t, em
oposição a P e 1 s t e r que na determi n ação do autor e d a data
observa maior reserva. -11
Por conseguinte, " as partes compostas principalmente de m a­
terial de Alexandre de H ales, joão de R upell a e outros teólogos
consti tuem a Suma i ncompleta, isto é, o primeiro, o segundo ( ex­
cetuando o s dois tratados da 1 .n I l i ) e o terceiro l ivro. Foi pro­
vàvelmente esta a Suma que viu B acon e que tinha, como dizia,
"pondus unius equ i . " E st a S u m a i ncompleta pode ser chamada
" Summa Alexandri H alensis" no sentido de que Alexandre foi o
seu redator principal e contribui u com u m a grande parte das
questões e esboçou a obra toda. N ão podemos chamá-I a " Sum­
m a Alexandri H alensis" supondo que Alexandre tenha sido o pro­
prietário espi ritual ele todos os tratados, de todos os pensamentos
expressos. Mui pelo contrário a menor parte parece ter s i do es­
crita por ele mesmo. Desta maneira parece possível harmonizar
as afi rmações aparentemente contrárias de Roger B acon, dos an­
tigos frades e do Papa Alexandre IV. E ' , porém, de suma impor­
tância notar que pelo ano de 1 245 a maior parte d a obra estava
terminada e foi posta como base para o estudo teológico dos
franciscanos. Daí se i nfere que, de fato, não existe dependência
alguma n a Suma de Alexandre de H ales da Suma Teológica, o u
de ou tras obras de S . Tomás. 4 8 Por outra seria porém inteira­
mente descabido acusar o D outor Comum de plágio. O s pontos
ele contacto só dizem que S. Tomás reproduziu a opinião comum
de seu tempo, opinião esta em parte forj ada, ou pelo menos, do
melhor modo representada nas obras e n a doutrina do "Monar­
cha Theologorum" Alexandre de H ales.
A importância de Alexandre ele H ales e também a sua ori-
ginalidade - como se deduz dos fatos apresentados "con-
4 7 ) B o e h n e r ; P e 1 s t e r, l ntorno, 428.
4 8 ) B o e h n e r, cf. H e n q u i n e t, 1. e., 237 ss.

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Revista Eclesiástica Brasilei ra, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 05

siste principalmente n a sua capacidade de sistematizar o s ele­


mentos da tradição. " 4 9 Ademais, não devemos esquecer que Ale­
xandre se revela mestre da m atéria e a penetra com o seu espí­
rito. N ão foi um simples compilador, o que provam os altos elo­
gios que lhe teceram os contemporâneos, inclusive o próprio
Papa, e os pósteros. No máximo podemos chamá-lo de autor­
compilador, acentuando a primeira parte do binômio. Acrescentou­
se o epíteto de compi l ador, porque em sua obra as fontes "são
geralmente mais evi dentes do que em ou tros escolásticos. " 50
Esta expressão, como nota B o e h n e r, satisfaz também às exi­
gências da crítica moderna. 5 1

4 9 ) B o e h n e r, passim.
50) B o e h n e r, passim. 5 1 ) B o e h n e r, passim.

Os Papas , a Imprensa e. . . Nós !


Por Mons. A s e â n i o B r a a d ã o,
Capelão do I nstituto das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada,
São José dos Campos, Estado de S. Pauto.

O s leitores pacientes não estranhem volte eu ao mesmo as­


sunto já tratado em artigo anterior. ( V ide REB, set. 1 945, págs.
560-567 . ) Jul garam-me algo apaixon ado e a exagerar a magni­
tude e a importância do problema da imprensa. Recorro hoj e
aos documentos pontifícios e aos fatos.
Roma locuta . . . é o argumento con tra o qual não há mais
a rgumentos : fatos!
E verão os meus leitores que em face do grav1 ss1mo e u r­
gente problema da nossa imprensa, assumimos, nós sacerdotes, e
nós, antes dos leigos, graves e tremendas responsab i l idades dian­
te de Deus e das almas.
Compulsei algumas dezenas de documentos pontifícios e para
eles chamo a vossa atenção ; convido-vos à meditação.
A Igreja e a Imprensa.

A I grej a saudou a aparição da imprensa no mundo como um


dom do céu . " D ivino f avente numine inventa", escreveu Leão X o

no decreto " I n ter sollicitudines" . Gutenberg começa por imprimir

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1 06 B r a n d ã o, Os Papas, a I mprensa e. . . Nós !

o ma is santo dos l ivros : a B í b l i a . D iz em q u e com desconfiança,


m á vontade, e até como heresia, fôra recebi d o n a I grej a o i nvento
m aravilhoso d a i m p rensa .
N a d a m a i s falso q u e semel hante afirmação. " Do m d o céu " ,
e i s a express�o d e Leão X . N ão é realmente m ar avil h oso v e r as­
sim facilitada a rude tarefa d a difusão das i déias ? E a I g rej a,
semeadora das i déias sublimes do Evangelho de Cristo , Magistra
veritatis, Mestra d a Verdade, poderia deixar d e s e regozij a r ven­
do com o p rogresso, novos meios, mais ráp i dos e a d m i ráveis d a
p ro p a gação d a f é ? A i m p rensa recebeu sempre da I grej a a bênção
carinhosa dos seus P o n t ífices, e desde o seu a p a recimento n a
terra f o i , é , e será , u m d o s meios m a i s eficazes e p o derosos d a
propagação e defesa d a nossa f é .
U m d o m d o céu ! " D ivino f avente n u m i ne i nventa" , n a ex­
pressão d e Leã o X. Mas este dom se transforma logo em i nstru­
m e n to d o mal e do erro. E como tudo deste m u n d o , transto r n a d o
pelo pecado o r i g i n a l , se i n cl i n a m a i s p a r a o i n f e r n o q u e p a r a o
éé u . E ' a i m p re n s a então como a l ín g u a de Esopo : a melhor e a
p i o r coisa d o m u n do . . . S e n ã o n o s servimos del a como i n stru­
mento d o bem, será o i n s tr um ento do m a l .
" O s h o m e n s e s t ã o d o m i nados p o r u m a avidez i nsaci ável d e
ler' ' , escreveu L e ã o X I I I . O u l he s damos o que ler, isto é, saciamos
a s u a avidez d e leitura, o u f i cam o s a m a rcar passos sem l hes
t r a n s m i t i r nossas i d é i a s .
A i m p rensa é a grande potência, a maior potência dos Esta­
d os e do m u n d o contemporâneo. E i n f e l i z m en te, desgraçadamente,
q u ase semp re a serviço d o m a l e d a m e n t i ra ! Pobre i nvento de
G u temberg !
O s Escolásticos cost u m avam d i z e r : " T i m e lecto rem u n i u s l i ­
bri" - t e m e o leitor d e u m s ó l ivro. S i m , realmen te, é para se
tem e r o homem q u e assimilou b e m u m l ivro, mas é m ister distin­
guir, diz j u dicioso autor, se este livro é a B íbl i a o u a S u m a de
S. Tom á s . Não se há de temer assim a c u l tu ra d o leitor d e q u a l ­
quer l ivro . . .
D o j ornal p orém se h á de dizer exatamente : "Teme o l e i t o r
a s s í d u o de u m j ornal . " S e t e m e s a i dé i a d o j ornal, teme a i n d a
m a i s o l e i t o r q u e o tom a nas m ã o s t o d o s o s dias e o devora. O
cidad ã o m o derno vive o seu j ornal , encarna o pensamento d o seu
j ornal, fala, discute, forma opinião pelo jornal. A linguagem é
sempre a m esm a : " l i n o j ornal . . . o j o rnal disse . . . o j ornal é

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desta opinião." O j ornal, enfim, é hoj e o "Magister dixit" dos


peripatéticos de outrora.
P o demos descurar no combate pela causa de Cristo, da I gre­
j a e da verdade, o j ornal que forma opinião, isto é, forma leito­
res ? Que católi cos destemidos não formaria uma legião de D iários
católicos neste Brasil !
Referem os "Atos dos Apóstolos" que, quando S . Paulo falou
no Areopago, os atenienses, os forasteiros que por l á estavam,
quiseram ouvir o Apóstolo porque desej avam saber alguma novi­
dade, algo estranho e novo : "aliquid novi" . Esta curiosidade, este
espírito ático, ainda existe hoj e mais do que em tempo algum da
históri a. O cidadão moderno tem sêde de n ovidades : "aliquid novi" .
E é m ister, custe o que custar, dessedentá-lo.
E ' o que faz a imprensa. D á novidades ao povo . Boas ou
más, pouco importa. Notícias, i déias novas . E nem é preciso mais
i r procurá-las n o A reopago ou no Forum como o faziam os ro­
manos. As novidades chegam cada dia em casa e de portas aden­
tro, cômodamente assim il adas, p reparadas, agradáveis a cada pa­
l adar : - O j orn a l . S a í do do prelo, o j o rnal apresenta as idéias
e fatos do dia. E como quem bebe um copo de bom refresco, o
cidadão mata a sua sêde de " aliquid novi . . . " a sêde das novi­
dades. "Eu creio que, se hoj e voltasse S. Paulo ao mundo, não
pregaria mais n o Areopago ; seria j o rn alista", - disse Ketteler. E
p regaria a este mundo paganizado a novidade do Evangelho !
Em 6 de j aneiro de 1 926, por ocasião da leitura do Decreto
em que p roclamou a heroicidade das vi rtudes do Beato Antônio
Maria Cl aret, falou Pio X I aos peregrinos : " O Venerável Claret
é n m apóstolo moderno precisamente pelos m étodos adotados, mé­
todos q u e a antiguidade não conheceu e que n o entanto representa
uma parte tão importante e efetiva em nossa vida. Falamos da
i mprensa. D isseram que, se o Apóstolo S. Paulo vivesse em nos­
sos dias, se fari a j ornalista. Duvi doso é que esta palavra se ve­
rificasse ao pé da letra, m as s e realizaria no seu espírito. Não
há dúvida, S. Paulo que, não obstante as dificuldades m ateri ais,
l evou o Evangelho a uma grande parte do mundo pelas suas
epístolas, por seus escritos multipl icados maravil hosamente teria
se servido n a medida do · possível desta grande propagadora do
pensamento e da idéia que é a imprensa."
Meus i rmãos no S acerdócio, os tempos requerem almas de S .
Paulo, ardor apostól ico de S . Paulo. Não é menos rebel de e pa-

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1 08 B r a n d ã o, Os Papas, a Imprensa e . . . Nós !

gani zado o mundo de hoj e no qual se exerce o nosso ministério.


Compreendamos a nossa época. Limito-me a comentar o pensa­
mento dos Papas. Tanto clamei, angustiado : I m p rensa ! ! i mpren­
sa ! ! E não faltaram os que me acharam algo exagerado ! . . . Sou
j ornal ista. j u l gam-me suspeito quando escrevo da imprensa. Não
sou mais católico do que o Papa. E desej aria que os meus amigos
não o fossem menos. Quando Pio X I achava impossível a lingua­
gem humana traduzir a magnitude e a importância deste problema
da imprensa, por que o pobre rabiscador destas l i nhas h á de po­
der "exagerar" a importância do mesmo problema da impren s a ?
S i veritatem dica . . .

Pio XI, A Imprensa e a Ação Católica.

Na carta ao Cardeal Patriarca de Lisboa, de 1 0 de novembro


de 1 933, diz Pio X I : "Outra atividade a que a Ação Católica nes­
se país e em todos os países deve atender com especial cuidado,
é a d e fomentar, difund i r a boa imprensa e particul armente a im­
prensa diária, pois como esta é mais largamente difundida, se tor­
n a mais eficaz. Por boa imprensa entendemos não só a que não
se opõe aos princípios da fé e às regras da mqral, mas a que de­
fende tais regras e princípios. Não é necessário demonstrar qual
se.i a a eficácia educadora de tal imprensa, porque a experiência de
todos os dias o prova muito bem, como o prova de outro l ado o
mal i menso que vai semeando, especialmente entre a j uventude,
a má imprensa, muito mais difundida que a boa. Verifica-se nisto
também a pal avra de Cristo : " Fi l i i huj us sreculi prudentiores filiis
l ucis in generatione sua sunt." Pois bem, à má imprensa é abso­
l u tamente necessário opor a boa, apl icando também aqui o antigo
princípio : "Contraria contrariis curantu r . " Expri mimos n osso de­
sej o de que a boa imprensa se robusteça e se multiplique como
o exige a necessidade, sobretudo entre nas famílias cristãs aquele
d iário que se fêz o eco fiel dos ensinamentos da I grej a e destes
é um precioso auxiliar."
Conclu ímos destas palavras do Soberano Pontífice que o diá­
rio católico é necessário a um povo católico. E' o mais eficaz dos
meios para difusão dos ensinamentos da I grej a. Não nos podemos
contentar com os diários de boa orientação que não nos perse­
guem, mas precisamos de uma imprensa diária abertamente ca­
tólica, com a bandei ra católica e programa católico.
Está a í uma resposta aos que "prudentemente" não querem

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1046 1 09

melindar a imprensa neutra com a criação de u m diário católico


e j ulgam ser coisa de grande alcance obter que a imprensa neu­
tra não nos hosti l i ze !
Lamentamos o insucesso d e tantas obras da Ação Católica e,
por que não o dizer? a confusão. q u e se estabeleceu d i abolica­
mente n o campo desta obra tão u rgente, tão necessária entre nós.
julgo que, se a o i nvés de tantos planos e d i scussões em torno
d e organizações e definições, houvesse a Ação Catól ica Brasileira
dado solução eficaz e rápida ao primeiro e m a i s grave de nossos
p roblemas dep o i s do elas vocações sacerdotais, - ao problema ela
imprensa e el a i mprensa diária, não estaríamos a i n d a hoj e a b ra ­
ços com t a n t o s e t ã o intrincados casos, e a obra ele P i o X I teria
realizado n o B rasil o que desej ou a I g rej a de nós.
A i mprensa é uma obra da Ação Católica, disse o grande
P a p a . Falando aos j o rn a l istas catól icos, em 2 7 ele j unho de 1 929,
Pio XI disse : "Os j o rn al i stas elevem ter uma suficiente form ação,
a fim de que a imprensa sej a a pregoeira e intérprete fiel ela
Ação C atól ica, e não só u m grande auxílio, m a s que por conse­
quência necessária h á de ser das mais importantes ativi dades e
energias d a mesma Ação C atólica . " E então ? H á desculpas para
a nossa incúria em face d a imprensa ? "A Ação Católica, insiste
Pio X I , deverá ver na imprensa católica a grande voz, a grande
luz da qual tem necessidade ." Necessidade! Notaram bem ? N u m
p a í s onde a imprensa católica diária é pràticamente quase inexis­
tente, porque o que temos é u m a gota n o Oceano, há mais urgente
e n ecessária t arefa para a Ação Católica ?
N o último artigo ela R E B sobre nossa responsab i l idade sa­
cerdotal em face d a imprensa, l amentava que não tivéssemos d i á­
·
rios e perguntava se não podí amos ter o s D i ários Católicos As­
sociados. A idéia é de P i o XI. Um sonho ele P i o X I . Por ocasião
do Congresso de j ubileu ele "La Croix" e ele "La Bonne P resse"
f a l a r a o grande Pontífice : " N osso desej o, nosso sonho é que não
somente a F rança, mas cada país, grande ou pequeno, possa ter
o seu " L a Croix" e a sua " B onne P resse" e que todas estas La
Croix e todas estas Bonne P resse, possam formar uma Federa­
ção el a I mprensa católica, não apenas n o sentido dogmático m as
n o geográfico d a palavra. Queridos filhos. Que coisa magnífica
esta Federação ! Que poderoso instrumento para a glória de Deus ! "
U m sonho d e u m grande P apa ! Não o poderíamos realizar
no B rasi l ? U m a coordenação de esforços não nos daria uma ca-

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1 10 B r a n d ã o, Os P apas, a I m p rensa e . . . Nós !

d e i a de bons D iários do N or_te a o Sul do p a í s ? Porventura tão


minguada é a capacidade intelectual, moral e f inanceir a de nos­
sos católico s ? O u n ão s e compreende o valor e a necessidade d a
i mprensa ? Q u e h á ? Q u e m istério insondável é este d a ausência
quase total d e nossa imprensa cotidiana em nossas grandes ci­
dades ? D ificu l d a d e s ? Q !-lal a o b r a de aposto l a d o que não a s tem ?
A i m p rensa, m a i s do q u e outras o b ra s , - sej amos sincero s -
é u m a obra dificí l i m a . E ' u m probl em a d e vários problemas.
O j ornal católico não pode e não deve se orientar e a g i r
c o m o t a n t o s o utros aos q u a i s n u nca m i nguam recursos, porque
p a r a obtê-los usam p ro cessos rendosos q u e em consciênci a não
podemos empregar. O problema financeiro não é dos mais aus­
piciosos a u m a i mprensa honesta e de princípios. T o d avia, n o s
h avemos de acovardar a n t e dificu l dades ? D iz i a P i o X I n a car­
ta ao E piscopado polonês em 1 .0 d e n ovembro de 1 93 4 : " Estabe­
lecestes q u e o D iário Católico se difunda entre o povo. I s to nos
causou particu l a r satisfaçã o . Realmente, já vos decl aramos m u i tas
vezes, nada aparece nestes tempos tão apropriado para alimentar
e conso l i d ar a Ação Catól ica, nada tão d i retamente ú t i l para ins­
t ru i r e formar a s i n t e l i gências, especi almente a j uventude, com a
sã doutrina e os p recei tos cristãos, como a publ icação d e a l g u m
d i á r i o abertamente católico. S abemos q u antos obstácul o s é m ister
superar pel a s dificuldades cio s tempos atuais, mas u n i n d o o s es­
forços de todos o s bons, o Senhor dará também aquelas coisas
q u e são superiores à s forças humanas. Vamos suplicá-lo com ora­
ção constante e perseverante."
Ora, no dizer cio Santo P a d re, com união de esforços e a
oração, se torna possível esta coisa q u e por aqui achamos im­
possível : - o diário católico ! O ser difícil, nunca foi razão para
que se tornasse impossível uma obra ! ! !
Obra de Caridade Sacerdotal.

A i mprensa é u m a obra de caridade espi ritual, e das maio­


res. E todas as obras d e caridade são p rotegidas e revigoradas
por el a . Ante o fracasso d e tantas instituições de amparo e pro­
teção aos órfãos e aos pobrezinhos fundadas e sustentadas pelos
católicos e depois destru ídas e arruinadas pelas contínuas per­
s eguições religiosas da França nos dias d e triunfo d a franc-ma­
çona r i a perguntavam todos a causa misteridosa de tamanhas ca­
l a m i dades. Ketteler apontou- a : - a falta de uma grande impren-

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 111

sa. Se em vez de tantas i grej as e obras pias, se lembrassem eles


de uma imprensa à altura d a imprensa inimiga, teriam poupado
muitas h oras amargas à I grej a de França. P or falta d a grande
obra pia, a boa i mprensa, perecem todas as obras pias !
A maior obra pia hoj e é, sem dúvida, a boa imprensa. O
católico que isto não entende, como escreveu Ketteler, pode ser
bom, mas não está mais à altura do seu tempo . (E eu diria, o
padre que isto não entende . . . ) Salvar as almas, l evar o pão
d a verdade aos famintos ele Deus e da graça, é a obra suprema.
"O' - escreveu Hello - se pudéssemos ouvir os gem idos dos
infelizes que n ã o têm a verdade, cios que sofrem aquel a fome de
D eu s e cio Amor ! " Tantos l egados e esmol a s vultosas para obras
pias, hospitais, colégios, igrej as, associações, ninguém se lembra
da Boa I mprensa, do auxílio ao j ornal - u m legado à imprensa
catól ica. E por que ? Ninguém a j ulga obra pia, obra tão ne­
cessária e u rgente.
A boa imprens a é uma obra ele caridade, dizia Pio X I numa
alocução aos membros ela Associação d a Boa I m p rensa ele Milão
em 5 de setembro ele 1 92 3 . "Vossa caridade, diz o P apa, é uma
c ar i d ade verdadeira, sàbiamente realizada como o quer o E spírito
Santo, porque a própria caridade, embora sej a a rainha das vi r­
tudes, é governada pela p ru dênci a . E ste pensamento é de Man­
zoni, quando nos lembra o Cardeal Borromeu dando tesouros
p a ra enriquecer a s u a bibl ioteca de obras p reciosas, e aos que
duvidavam da oportuni dade das despesas feitas em prej u ízo das
obras de cari dade, o grande escritor perguntava se não era uma
grande cari dade procurar bons l ivro s . O Esp írito Santo disse :
Beati qui i n telligunt super egenu m et pauperem . H á tantas almas
n o mundo, pobres d a mais triste pobreza de sentimentos, pobres
até a i n digência . Vinde então em auxílio desta caridade i nte­
l i gente."
Longe de m i m o argumento de J u das em face de tantas obras
m aj estosas do culto, n a s quais nossos católicos gastam generosa­
mente alguns mil hões. N ão d i ri a : Ut quid perditio hrec ? Penso
todavia na grande obra de caridade espiritual tão n ecessária e
urgente da boa imprensa, vej o a ru í n a das almas e permitam-me
repetir a palavra de um Papa e de um Santo a caminho das hon­
ras dos Al tares, Pio X : " Em vão construi reis i grej as e edificareis
templos m aj estosos se não cuidais d a boa imprensa." Amanhã
estes templos e conventos e colégios e instituições de caridade po-

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1 12 B r a n d ã o, Os Papas, a Imprensa e . . . Nós !

derão ser arrasados se deixarmos o povo envenenado pela má


imprensa.
Sob este aspecto a imprensa é a principal, a primeira das
obras p i as, a primeira obra de caridade.
Dizia o célebre Windthorst, o herói das lutas pela causa da
I grej a na Alemanha : " Fazei o que quiserdes, edificai igrej as, fun­
dai conventos, formai círculos e Associações, tudo i sto não vos
dará o triunfo se vos esquecerdes do p rincipal - a imprensa ! "
Exemplo e Lição.

Em 1 908 o �rdoroso e talentoso prelado da Igrej a da Espa­


nha, D. Antol in Pelaez, em três obras magníficas : "Cruzada de
la buena P rensa" , " l mportancia de l a prensa", "Da fios dei libra",
anunciava para a sua terra dias m u ito amargos no futuro se os
católicos, ao invés de tantas pompas e gastos nos templos e con­
ventos, continu assem esquecidos de uma imprensa popular, diária
e a altura da imprensa neutra e in imiga. I sto em 1 908. Em 1 936
os fatos r�al izaram-se, cumpriram-se, e que realidade trágica !
O Pe. Ayala Alarcó, S. J . , i l u strado autor de " Formacion de
selectos" ( l ivro que desej o recomendar muito aos que lutam no
apostolado ) , faz uma análise da imprensa na Espanha nos dias
que precederam a revolução comunista. E conclui : Nesta hora
não há nada mais evidente e claro que esta verdade : A revolução
espanhola foi obra da imprensa de Madrid. Afirmar que a provo­
caram uns tantos pol íticos despei tados do antigo regime, seria
um pedantismo ingênuo. A verdadei ra causa eficiente daquela re­
volução vermelha foi a grande imprensa de Madri d : "El Sol " ,
" La Voz" , " E l H eraldo" , "EI Liberal " , " L a Libertad", "La Tier­
ra" . Para compreender a importância da influência desta imprensa,
bastaria considerar que durante o período pre-revolucionário as
ti ragens destes periódicos eram as seguintes :
" L a Voz" - 1 50.000 exemplares e deles 60.000
só em Ma dri d
" E I Sol" - 1 20.000
" L a Libertad" - 1 40.000
" E I Heraldo" 1 70.000
" E I Liberal" - 80.000
" L a Tierra" - 40.000

I sto é, diàriamente se difundiam pela Espanha 700.000 folhas


subversivas. Os católicos tinham alguns diários e entre eles "EI
Debate" , que foi i ncontestàvelmente o melhor diário da península

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Revista Eclesiástica Brasile i ra, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 13

i bérica. P ossuíam "A . B . C . " , " L a N acion" , " E I S i glo Futur o " ,
mas as tir agens de todos não alcançavam a terça parte d o s outro s .
E' de se estranhar que o povo espanhol, envenenado pela m á
imprensa, fosse vítima d a f ú r i a comunista n a m a i s sangrenta re­
volução civil e perseguição religiosa destes últimos tempos ? Quem
fêz a revolução, pergunta o P adre Alarcó ? A imprens a ! A impren­
sa e a imprensa !
Houvessem compreendido os católicos e o clero espanhol o
que há quase trinta anos antes lhes havia profetizado o grande
A rcebispo de Tarragona, D. Antolin Pelaez ! ! E nós, neste B rasil,
onde a imprensa católica diária é quase inexistente ?
Que zelo e dedicação por tantas obras d e p iedade e de ca­
ridade ! Que generosidade a dos nossos católicos para com todas
as I nstituições pias ! E se esquecem d a primeira e principal e mais
u rgente obra de caridade : - a imprensa !
Os comunistas o rganizaram-se ontem, e, prudentes como fi­
lhos das trevas, contam diários e multipl icam a propaganda do
l ivro e dos impressos de fácil divulgação com tal habilidade e ar­
dor ele fazer invej a ! E estamos alarmados com tal propagan­
d a ? ! . . . Respondemos à altura? H averá, meus veneráveis i rmãos
de S acerdócio, nesta hora trágica e decisiva da vida n acional al­
guma obra mais urgente que a da imprensa católica? Há maior
obra de caridade para as almas que perecem iludidas no erro e
no caminho da eterna condenaçã o ?
Lutar p e l a b o a imprensa é hoj e a grande o b r a de caridade
sacerdotai.
P i o X ao Brasil.
Pio X, em carta ao Episcopado brasileiro, escrevia : " N ã o
ignorais, caríssimos filhos e veneráveis i rmãos, a f o r ç a constru tiva
ou destruidora dbs j ornais e periódicos que por um preço ínfimo
entram f àcilmente em toda parte e difundem as opiniões de que
estão imbuídas. Bem vedes como os ímpios abusam deles. D ese­
j amos vivamente que vosso zelo pastoral se dedique a fornecer,
por uma excelente i mprensa, excelentes pastagens às vossas ove­
lhas. Não vos faltarão católicos eminentes em doutrina e virtude.
Confi ai-lhes a missão de escrever sob vossa inspiração, com pru ­
dência, com caridade e respeito pelas autoridades como convém
aos que defendem os di reitos da verdade e d a j u stiça. Publicar
8

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J 14 B r a n d ã o, Os Papas, a Imprensa e . . . Nós l

diários católicos ; e colocá-los não só em mãos das pessoas de


bem. N ão basta. E' m ister um esforço para difundi-los o mais
possível, principalmente entre os que estão envenenados pelos
maus jornais. E' preciso fazer com que esta arma moderna da
imprensa sirva ao bem."
Eis o texto no original : "Vos certo haud fugit, Dilecte Fili
Noster ac Venerabiles Fratres, quantam, sive in redificationem sive
in destructionem, vim exserant ephemerides adsimilesque ex inter­
vallo paginre, quc:e, quum minimi veneant, facile omnibus prresto
sunt, opiniones, quibus imbuuntur, longe lateque saturre : et ipsi
vos videtis quantum iisdem hodie abutuntur impii. Vestram igitur
pastoralem navitatem in hoc etiam versari cupimus diligentissi­
me, ut nempe in optimis commentariis optima gregibus vestris
paretis pascua. Non deerunt sane in vobis catholici viri doctrina
ac vi rtute prrestantes. His scribendi munus demandetis auspicio
vestro obeundum : prudentia vero, caritate et, iis qui prresunt, ob­
sequio, qure eos decent qui veri rectique j ura sanctissima tutanda
suscipiunt. Postquam vero catholica diaria in fucem prodierint,
ne bonorum tantum manibus terantu r ; sed adnitendum ut quam
latissime disseminentur, ad omnes p erventura, ad eos prresertim
quos christiana caritas e corruptis p ravarum ephemeridum fonti­
bus vu lt revocatos. Ita fiet profecto ut qurerentibus regnum Dei
et Justitiam eius, hrec etiam qure fert retas, typographicre artis
adiumenta cooperentur in bonum."
Peço o obséquio de uma atenção mais acurada às palavras
do Santo Pontífice : postquam vero catlzolica diaria i11 luce prod­
ierint . . .
. . . . Catholica diarial Quantos diários católicos possui o Brasil ?
Os católicos brasileiros atenderam ao apelo ardente de Pio X :

in /zoe versari cupimus diligentissime ? . . .

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1946 1 15

As Proposições da Encíclica "M ystici


Corporis Christi" .
( Conclusão. )

Por Frei C o n s t a n t i n o K o s e r, O. F. M.,


Lente de Teologia, Convento dos Franciscanos, Petrópolis, R. J. •

Pio X I I , na sua monumental Encíclica, pretende tratar de


dois temas principais, como anuncia no próprio título 1 e como
torna a dizer ao expor sua intenção de definir 2 : o Corpo Mís­
tico de Cristo em geral, e a união dos fiéis com Cristo em par­
tiettlar. Concl uímos a análise das páginas em que o Papa trata
cio primeiro tema, destacando nada menos que 1 2 1 proposições,
que parecem participar, em medi da mui diversa, da intenção de­
finitória. Entramos agora na análise das páginas dedicadas ao
segundo tema : a união dos fiéis com Cristo. Pio XII atribui não
pequena importância a este tema. Tamanha, que vê nas verdades
relativas um dos principais frutos das exposições feitas n a pri­
meira parte do corpo doutrinal da Encíclica. 3
Estas palavras, indicando o apreço em que deve ser tido o
segundo inciso principal, prenunciam também peculiar problema
de análise : as verdades do segundo tema em sua grande maioria
não passam de conclusões, explicitações, reflexos e repetições das
verdades expostas j á na enucleação do primeiro. Até aqui segui­
mos a norma de não dar número especial às repetições . Com tal
norma, porém , reduziríamos muito as exposições do segundo
tema. E' certo que nem tudo nestas páginas é repetição. Encon­
traremos verdades ainda não vistas neste documento . Todavia,
por si sós não j ustificariam tão grande empenho do sábio Pon­
tífice. D e resto, o novo contexto dá relevo a outros aspectos. E
esta di ferença pa�ceu ao Papa suficientemente considerável, para

.1 ) "Litterre Encyclicre . . . de Mystico jesu Christi Corpore deque


nostra cum Christo coniu nctione" (Revista Eclesiástica Brasileira, I I I ,
1 943, fase. 4 , pág. 1 027. Conti nuaremos citando esta edição d a Enclclica,
a mais acessível aos leitores. Continuamos também fazendo uso da se­
guinte abreviação : REB, segu ida do número da página, e após uma
vírgula o número da alínea. Por ex., a passagem presente : REB 1 027, 1 ) .
;; } " . . . per Encyclicas has Litteras doctrinam proponere de mystico
Jesu Christi Corpore deque fidelium in eodem Corpore cum divino Red­
emptore coniunctione" ( REB 1 029, 4 ) .
3 ) "Mystici Corporis Christi . . . e x ipsius Redemptoris labiis primitus
excepta doctrina, ex qua magna in sua luce ponitur beneficium . . . arctis­
simre coniunctionis nostrre cum tam excelso Capite . . . " (REB 1 027, 2 ) .
8*

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1 16 K o s e r, As Proposições da Enclclica "Myst i ci Corporis Christi"

j ustificar uma segunda parte doutrinal, nitidamente distinta da


primeira pela própria disposição da Encíclica, e indicada no
próprio título. Não lhe pareceu supérfluo, antes utilíssima empre­
sa, formular as verdades do Corpo Místico não só do ponto de
vista de Cristo, senão também dos membros. Por isto seria trair

as intenções do Pontífice, continuar a regra observada até cá, de
não destacar as repetições. Resolvemo-nos por conseguinte a nu­
merar as p roposições do segundo tem a como se não tivesse pre­
cedido o primeiro. As anotações sobre a certeza e " novidade"
de definição, qual ificação teológica, etc., porém, em grande parte
serão substituídas pela referência às proposições obtidas n a aná­
lise do primeiro, e pela verificação da i dentidade de teor das
·
p roposições em questão. Assim j ul gamos corresponder melhor à s
intenções e apreciações de Pio X I I , sem alongar demais esta
já longa análise.
1 2 1 ) "Nostra cum Clzristo in Ecclêsice Corpore coniunctio
arctissima est . . . et tam intima exhibetur, ut . . . divinu (s) Re­
demptor ( .) cum suo sociali Corpore unam dumtaxat consti­
. .

tu( at) mysticam personam, seu, ut Augustinus ait : Clzristum to­


tum. " · 1 Com esta p roposição Pio X I I começa a propor as doutri­
nas do Corpo Místico como elas devem ser formuladas, vistas
dos membros. O número 1 2 1 retoma, em nova perspectiva, os nú­
mero s 1 e 3 ; 82-84. Os dois superlativos são provados com nu­
merosas passagens d a Escritura e Tradição. Para o superlativo
"arctissima" servem d e prova as analogias usadas por Cristo e
por S . Paulo : a videira e os sarmentos 6, o matri mônio 6 , o cor­
po; 7 Para o segundo superlativo, " i n tima'", retoma-se a analogi a
da pessoa, vista nos números 82-84. Pio X I I cita ainda a pal avra
de Cristo, em que se compara esta união com a existente entre
as próprias Pessoas da SS. Trindade. 8 E' mais uma analogia,
explicitamente revelada, ou antes a união dos membros com Cris­
to no Corpo Mís tico é remota analogia para as relações intratri­
nitárias. Não cremos queira Pio X I I dar definição sobre isto. Toda
a estrutura desta alínea convence do contrário. As analogias es­
tão alinhadas - antes amontoadas - como expl icações e argu­
mentos dos dois superlativos, não como proposições.

4) REB 1 044, 4; remete a S. Agost. Enarr. in Psi. 1 7, 5 1 e 90, 1 1 ;


Migne P . L . XXXVI, 1 54 e XXXV l l , 1 1 59) .
5) jo 1 5, 1 -5.
6) Ef 5, 22-23.
7 ) Ef 4, 1 6. 8 ) jo 1 7, 2-23.

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Revista Eclesiástica Brasi leira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 17

1 22 ) "Nostra autenz quce in Christo est et cunz Clzristo com­


pages, primo loco ex eo constai, quod cum christiana respublica
ex Conditoris sui voluntate social e exsistat perf ectumque Corpus,
idcirco in ea copulatio insit oportet membrorunz omniwn ob eoru m
i n eundem finenz conspirationem ." 9 Os membros d o Corpo Místi­
co, pois, pelo fato mesmo de formarem corpo e sociedade, de­
vem estar conexos entre si. Os l aços aqui postos em foco pro­
vêm da tendência à mesma meta. Esta proposição é uma dedu­
ção da analogia do corpo moral, exposta em o número 1 08. Aí,
porém, Pio XII não chegou a definir explicitamente o teor do nú­
mero 1 22 . Dedu-lo, porém, ele mesmo, de definições j á feitas : a
I grej a é sociedade e corpo perfeito 1 0 , com posto de pessoas 1 1 ,
com unidade d e meta. 12 Tudo i sto, sem vínculos entre o s diver­
sos membros, seria inconcebível . O n úmero 1 22, pois, não é se­
não a explicitação de mais uma faceta do dogma fundamental
de toda esta doutrina : a unidade da I grej a . 1 3 A expl icitação con­
terá tanta " novidade" , que valha um dogma a mais? Quer-nos
parecer que não. Na "maior ex ratione" , formulada na frase sub­
sequente, o Pontífice substitui, ele mesmo, o termo "copula tio . . .
membrorum" pelo de "uni tas" , com o que ainda mais aproxima
o número 1 22 do número 3. Também a afirmação de a unidade
p rovir necessàriamente - "insit oportet" - do caráter social e
orgânico da I grej a, está expressa j á no número 3 .
Como "maior e x ratione" toma P i o X I I a proporção existente
necessàriamente entre a sublimidade da união e a elevação da
meta, bem como a fonte de energias. 1 4 A "Minor" - relativa à
elevação da meta - é repetição do número 1 07. A segunda "mi­
nor" - relativa à fonte de energia - é repetição dos números
86 e 98, em que, tratando-se de apropriação trinitária, estão in­
cluídas as alusões ao beneplácito do Padre Eterno e à "studiosa
voluntas" do Filho. Não julgamos, por isto, haver outra propo­
sição nestas duas al íneas 1 6 , além das que m arcamos com os nú­
meros 1 2 1 e 1 22 .
1 23 ) "Conspiratio ilia membrorum omnium extrinsecus etiam
ses e manifestet oportet . . . "
9 ) REB 1 044, 5.
IO ) Cfr. os números l ; 2 ; 3 ; 7 ; 8 ; 48 ss ; mais particularmente 82-84.
1 1 ) Cfr. o número 1 06.
12 ) Cfr. o número 1 07.
1 3) Cfr. o número 3.
14 ) REB 1 044, 5. 15) REB 1 044, 4-1 045, 1 .

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J 18 K o s e r, As Proposições da Enclclica "Mystici Corporis Christi"

1 24)" . . . cum per eiusdem fidei professionenz . . . "


1 25 )
" . . . tum per eorundem communionem sacro rum . . . "
1 26 )
" . . . per eiusdemque participationem sacrificii . . . "
1 27 )
" . . . tum denique per actuosam eorundem legum ob-
servantiam."
1 28) "ldque prceterea omniTzo necessarium est, ut in oculis
omnium conspicuum adsit supremum Caput, a quo mutua invicem
adiutrix onznium opera ad propositum assequendunz finem efficien­
ter dirigatur: /esu Christi dicimus ln terris Vicarium ."
1 29) "Quenzadmodum enim divinus Redenzptor Paraclitum
misit veritafis Spiritum, qui suas partes agens 1 6 , arcanam sumeret
Ecclesice gubernationem, lia Petro eiusque Successoribus man­
davit, ut suam in terris gerentes personam perspicibilem quoque
clzristiance reipublicce moderationem agerent." 1 7 Em os números
3 e 1 22 estão propostos o fato e a necessidade de unidade. Em
o número 4, como dedução do número 2, está proposto o fato da
11isibilidade da I grej a . Nestes números 1 23- 1 29, afinal, Pio X I I ,
j untando estas verdades, decl ara q u e ·a unidade ela mesma deve
ter manifestação visível, "quoniam . . . social e eiusmodi Christi
Corpus ex Conditoris sui voluntate adspectabile esse debet." 1 8
Não é um dogma a mais, senão apenas a explicitação mais por­
menorizada do número 4. As diversas partes desta explicitação,
além d isto, j á foram propostas neste documento. O número 1 23
equivale ao n úmero 4 e 5. O n úmero 1 23 acrescen ta que não se
trata duma visibilidade qualquer, mas que a própria unidade de­
finida nos números 3 e 1 22 deve ser visível . O número 1 24 é a
i nversão con traditória do número 26. A margem de novidade está
absorvida pelo número 1 23 . O número 1 25 está ampl amente por­
m enorizado na aferição da doutrina dos sacramentos com a do
Corpo Místico, feita nos números 1 4-22 . Tratando-se de sacra­
mentos, são sinais visíveis 1 9, vál idos 2 0 e obrigatórios 2 1 para
toda a I grej a, e portanto manifestações sobrenatura i s eficientís­
simas da unidade dos membros de Cristo. Quanto ao número
1 26 é certo que Pio X I I nesta Encíclica ainda não se referiu à
Missa ; todavi a o aspecto pecul iar desta proposição j á foi definido
em Trento : " . . . ut dilectre sponsre sure Ecclesire visibile sicut
humana natura exigit, relinqueret sacrificium . . . " 2 2 A manifesta-

1 6 ) Cfr. jo 1 4, 16 e 26. 1 7 ) REB 1 045, 2.


1 8 ) REB ibidem. 1 9 ) Denz. 876.
2 0 ) Denz. 844. 2 1 ) Denz. 847. 22 ) Cfr. Denz. 928.

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R evista Eclesiástica Brasilei ra, vol. 6, fase. 1, março 1 946 1 19

ção de unidade deste sacrifício também está definida em Tren­


to. 2 3 O número 1 27 está amplissimamente definido nas proposi­
ções do Tridentino, do Vaticano e desta mesma Encíclica sobre
os aspectos j urídicos da Igreja, sobre a existência de verdadeiras
leis, e de poderes j u risdicionais na j erarquia. O número 1 28 está
nos números 54-59, cotej ados com o número 26. O número 1 2 9
acrescenta algo a estas definições : os Papas, além de estarem
encarregados da direção da Igrej a espiritual, estão encarregados
de um modo peculiaríssimo de representar visivelmente a direção
visível que Cristo dispensara à Igrej a enquanto visivelmente se
demorou entre os homens. O Espírito Santo, princípio interno 2 4 ,
não é a manifestação visível cio vínculo j urídico com Cristo. Mes­
mo estes aspectos especiais, porém, já estão nas páginas ante­
riores desta Encíclica. 25
Nestas sete proposições 2 6 temos profunda, util íssima e bem
formulada doutrina sobre a manifestação visível da unidade do
Corpo Místico. Estes vários aspectos, não resta dúvida, merecem
ampla exposição. Não são, porém, outros tantos dogmas, mas
outros aspectos de dogmas já propostos.
1 30 ) "Iuridicis autem hisce vinculis, quce iam ratione sui
sufficiunt, ut cuiusvis alius, etsi supremre, humance so cietatis ne­
xus longe exsuperentur, alia necesse est accedat unitatis ratio
ob ires ilias virtutes, quibus nos inter et cum Deo ·arctissime co­
pulamur: christianam inquimus fidem, spem, caritatemque . " Não 27

se trata de argumento, nem de mera explicação, e muito menos


de "obiter dictum" . E' realmente uma proposição. Pormenoriza
o número 1 2 1 , em continua ção do número 1 22 . E' o aspecto mais
i nterno da unidade, proposto já nos números 94-98 quanto à
fonte da unidade, e em o número 99 quanto aos constituintes cria­
dos, genericamente. Pio XII retoma também os n úmeros 1 08-
1 1 0, frisando que a unidade do Corpo Místico não é só moral -
uma consequência da unidade de causa final -, mas que possui
realmente um constituinte entitativo. A parte do número 1 30, re­
lativa à fé, já está proposta nos números 5 e 79, conferindo-se
também a respectiva alínea expl icativa. 2 8 Da esperança e cari­
dade Pio XII ainda não falou explicitamente nesta Encícl ica. Mes-
23) Denz. 939.
24) Cfr. n ú mero 86.
25) Cfr. os n ú meros 47-49 ; 87-98.
26) Cfr. os n ú meros 1 23-1 29.
27 ) R E B 1 045, 3. 28 ) R E B 1 039, 3.

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1 20 K o s e r, As Proposições da Enclclica "Mystici Corporis Christi"

mo quanto à fé é novo neste documento dizer que é - não a


manifestada 2 0, mas a interna - um vínculo de estreitíssima união
dos membros entre si e com Deus. Não nos consta tenha sido
p roposta jamais explicitamente esta função das virtudes teologais
no Corpo Místico. A definição da função destas virtudes na jus­
tificação, porém, equivale ao teor deste número 1 30. 3 0 Pois a
j ustificação nada mais é que a insersão e conservação dum indi­
víduo no Corpo M ístico. O Corpo Místico, por sua vez, não é uma
entidade abstrata, mas formada destes e para estes indivíduos inse­
ridos em Cristo. 3 1 O número 1 30, pois, não apresenta novidade
defini tória p r o p ria m ente dita. Pio X I I apenas explicita o que es ­
tava implícito nas definições de Trento.
1 3 1 ) "Fide, quce una est, iam intime Deo obstringimur, ut
Deus in nobis maneai et nos in Deo." 3 2
1 32) "Nec minus . . . cum divino Capite nostro christiana
hac /ide copulamur. Nam quotquot credentes sumus, "lzaben­
tes . . . eundem Spiritum fidei" 33 eadem Clzristi luce collustra­
mur, eodem Clzristi pabulo enutrimur, eademque Clzristi auctori­
tate et magisterio regimur."
1 33) "Nec minus inter nos . . . christiana lzac /ide copula­
mur . . . (Nam) quodsi idem in omnibus fidei spiritus vixerit, om­
nes quoque eandem vitam "in /ide vivimus Filii Dei." 34
1 34) "Est C/zristus Caput nostrum vivida fide in no bis sus­
ceptus et lzabitans in cordibus nostris 35, sicut fidei nostrce est
auctor, ita erit et consummator." 36 Estas quatro proposições es­
pecificam o numero 1 30 na parte relativa à fé. Mostram como
a fé é causa da estreitíssima união com Deus, com Cristo en­
quanto Cabeça, com os membros do Corpo Místico, vivos na mes­
ma fé, tendo esta uma fé sua origem e consumação em Cristo.
Estes números talvez pudessem passar como explicações do nú­
mero 1 30. O "siquidem" com que Pio X I I abre a al ínea, abona­
ria este modo de ver. Não decorrem, todavia, de simples análise
lógica. São verdadeiros acréscimos ao número 1 30. O modo de
expor as verdades relativas à caridade 3 7 , além disto, convence
29) Número 1 24.
3 0 ) Cfr. Denz. 792a-843.
3 1 ) Cfr. os números 1 06- 1 07.
32) Proposição, que não está formulada nestes termos pela Encícli­
ca, que é porém o sentido das primeiras linhas da REB 1 045, 4; cfr.
]o 4, 1 5. 3 3 ) 2 Cor 4, 1 3. 3 4) Cfr. Gál 2, 20.
36 ) Cfr. Ef 3, 1 7. 3 6 ) Cfr. Heb 1 2, 2; REB 1 045, 4.
3 7 ) REB 1 045, 6- 1 046, 2 ; cfr. os números 1 3 8- 1 45.

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Revista Eclesiástica Brasi leira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 121

pelo " a pari" de que também estas proposiçõe s relativa s à fé 3 8


são ao menos p rovàvelmente propostas nesta Encíclica. Trata-se
de verdades explicitamente reveladas, como mostram as passa­
gens das Escrituras, citadas por Pio X I I . São pois indubitàvel­
mente "de fide divina", e "probabiliter definitre" pela Encíclica.
Esta qualificação, porém, não é nova. O número 1 3 1 foi definido
e devidamente expl icado em Trento. 3 9 O n úmero 1 32 contém di­
versas verdades, definidas separadamente nesta mesma Encíclica
ou antes dela. Que a fé nos une à I grej a, logo a Cristo-Cabeça,
é a inversão do número 26, e está também nas passagens supra­
citadas do Tridentino. Que Cristo é a fonte de toda luz e que nos
ilumina pela fé, está no número 79 e a respectiva alínea da En­
cíclica. ·1 0 O Capítulo " de fide'', definido no Vaticano 4 1, conquan­
to mire outro ponto, também contém esta verdade. O terceiro tó­
pico, de que nos nutrimos do mesmo alimento de Cristo e assim
a Ele nos unimos, refere-se à doutrina dos sacramentos, já pro­
posta nesta Encíclica em aferição ao Corpo Místico. 4 2 O quarto
tópico, referente à unidade de regime, autoridade e m agistério
de Cristo, forma parte importante desta Encíclica. 4 3 O número
1 32, pois, em seus quatro tópicos e subdivisões ulteriores, é re­
sumo de verdades já propostas na Encíclica. O número 1 33 não
passa de ilação direta dos números 1 3 1 - 1 32, e de toda a doutrina
da graça, proposta em Trento. N ão se o pode qualificar de defi­
nição nova. Mas frisa devidamente esta consequência óbvia da
doutrina católica : a relação de estreitíssima unidade dos membros
entre si, em consequência da mesma vida ele fé. Para o número
1 34 podemos indicar, nesta Encíclica, os números 29-3 1 ; 33 ;
38 e 79. As definições do Vaticano sobre a Revelação 44 e a
fé 45, bem como algumas definições de Trento 4 6 absorvem i ntei­
ramente o teor do número 1 34. Também neste grupo de propo­
sições 4 7 , pois, não encontramos definições novas.

3 8 ) Números 1 3 1 - 1 34.
39) Cfr. Denz. 798 ; 800 e 80 1 ; 803.
40 ) REB 1 039, 3.
41 ) Denz. 1 789- 1 794.
42) Cfr. os números 1 4-22 ; o número 1 25 referiu-se ao aspecto de
unidade externa.
43) Cfr. os números 42 ss.
44) Denz. 1 785 ss. 4 6 ) Denz. 1 789 ss.
46) Cfr. Denz. 792a ; 798 ; 799-801 .
47 ) Números 1 3 1 - 1 34.

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1 22 K o s e r, As P roposições da Encfclica "Mystici Corporis Christi"

1 35) "Sicut autem per fidem lzisce in terris Deo ut veritatis


fonti adlzceremus, ita eum per clzristiance spei virtutem appetimus
ut fontem beatitatis."
1 36) "Ob commune autem illud ccelestis Regni desiderium
(unum Corpus efficimur) . "
1 37 ) "Clzristus in nobis veluti spes glorice residet." 4 8 Para
estas p roposições temos a mesma probabilidade de definição que
para o s n ú m eros 1 3 1 - 1 34. S ã o também elas evidentemente "de
fide divina", porque explicitamente reveladas. 49 Pela E ncíclica
são ainda " p robabiliter definitre" . Esta q u alificação parece ser
n ova, pois n ã o nos consta tenha havido antes de P i o XII defini­
ção provável destas verdades : a definição essencial d a virtude
teologal infusa da esperança ; a u n idade resultante desta virtude ;
o seu elemento constituinte, Cristo em nós. O Tri dentino definiu,
apenas, que a esperança é complemento da fé, sem outra espe­
cificação. 50
t 38) "Caritas autem id efficit quasi ex constituta a Deo lege,
ut in nos amantes eum redanzantem descendere iubeat." 61
1 39 ) "Caritas igifttr onzni alia virtute arctius nos coniungit
cum Clzristo ."
1 40) "Caritatis ccelesti ardor e inflammati, tot Ecclesice filii
gm1isi sunt pro (Clzristo) contumeliam pati et ad supremum usque
viice lwlitum sanguinisque effttsionem, qucelibet, etsi maxime ar­
dua, obire atque evincere."
1 4 1 ) "Caritas ieiuna res est ac prorsus vana, si bonis ope­
ribus 110 11 panditur et quodammodo efficitur."
1 42 ) "Huic tamen erga Deum, erga Clzristum amori caritas
in proxinzos respondeat oportet."
1 43 ) "Si proximum non diligimus, Deum diligere non pos­
sumus.''
1 44) "/d etiam est affirmandum, eo magis nos {ore cum
De o, cum Clzristo coniunctos, quo magis futuri simus alter alte­
rius membra 6 2, pro invicem sollicita . . . " 53
1 45 ) " . . . sicut ex altera parte, eo magis nos fore inter nos
colzcerentes caritateque copulatos, quo flagrantiore amore ad

4 8 ) Cfr. Col 1 , 27 ; REB 1 045, 5.


4 9 ) O número 1 35 em Tit 2, 1 3 ; o número 1 36 em Ef 4, 4; o nú-
mero 1 37 em Col 1 , 27, como no-lo diz o próprio Papa.
60 ) Cfr. Denz. 798 ; 800.
6 1 ) Cfr. jo 1 4, 28.
52) Rom 1 2, 5. 53) 1 Cor 1 2, 25.

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1946 1 23

Deum divinumque Caput nostrum adstricti fuerimus." 5 4 Estas


oito proposições sobre a terceira das virtudes teologais, estão to­
das contidas explicitamente nas Escrituras, e são pois "de fide
divina". O número 1 38 está em jo 1 4, 28 como o próprio Papa
diz. O número 1 39 em 1 jo 4, 1 6, por exemplo. O número 1 40
em Rom 8, 4 1 ou 1 Cor 1 2 per totum, para citarmos só duas
passagens. O número 1 4 1 está em jo 1 5, 9- 1 0, segundo a indi­
cação da própria Encíclica. Mais explicitamente ainda está em 1
j o per totam . O número 1 42 foi revelado em Mt 22, 37-40 e 1
j o per totam . O número 1 43 tem seus fundamentos, como diz
a Encíclica, em 1 jo 4, 20-2 1 . O número 1 44 em jo 1 2, 34-35 ;
1 5, 1 2- 1 7 e 1 jo per totam . O número 1 45 decorre das mesmas
passagens do número 1 44.
O estarem estas proposições propostas "ex cathedra" nesta
Encícl ica, é no m í nimo fortemente provável. São especificações
do número 1 30, não, porém, especificações simplesmente expli­
cativas, mas um acréscimo de conteúdo . São "particularizações"
dum "universal", e não podem ser deduzidas por meio de recur­
sos puramen te lógicos. Resultam muito mais de revelação posi­
tiva que de especulação. A concatenação sistemática, na Encícli­
ca, as subordina ao número 1 30, não as reduz porém a argu­
mentos, meras explicações e muito menos a "obiter dictum". Fa­
zem parte, assim, das proposições com que Pio XII "ut universalis
Ecclesire Magister" quer "mentes veritatis luce collustrare" 5 5 ,
" ut . . . multiplicibus erroribus in hanc rem penitus claudatur adi­
tus." 5 6 Hesitamos na qual ificação, porque estas proposições estão
subordinadas ao número 1 30 na qualidade de especificações. Por
isto não afi rmamos simplesmente serem "ex cathedra" , mas dize­
mos apenas serem-no "probabil issime" .
Esta qualificação - "de fide divina et probabilissime defi­
nitre" - não é nova, e em muitos pontos já estava ul trapassada
antes da Encíclica. O número 1 38 está p roposto devidamente nas
definições rel ativas à oposição entre caridade e pecado. 57 E ' ,
pois, simplesmente dogma. O número 1 39 não é totalmente novo
nem mesmo na Encíclica 6 8 , e foi definido em Trento. 69 O nú-

54) REB 1 045, 6- 1 046, 2; o número 1 43 está na Encíclica "secun­


dum sensum", é o sentido de REB 1 046, 2, linhas 2-9.
65) REB 1 050, 3. 56) REB 1 029, 4. 57 ) Cfr. Denz. 1 98 ; 1 031 ss ; 1 070.
58) Cfr. os números 23-27 ; a vida cristã perfeita só existe onde h á
caridade, conquanto sem ela ainda haja certa vida.
59) Cfr. Denz. 798 ; 800; 821 .

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1 24 J< o s e r, As P roposições da Enciclica "Mystici Corporis Christi"

mero 1 40 continua o número 1 39 e poder i a ser contado como


um só com ele. P referimos dividir, porque os efeitos indicados
diferem muito do teor do n ú m ero 1 39, e sobretudo porque para
o número 1 40 não encontramos pronunciamentos do Magistério
antes da Encícl ica. Talvez se possa considerá-lo implicitamente
defi nido com o n ú m ero 1 39, m as seria definição muito impl ícita.
A qualificação de "probabi lissime definitum" para o número 1 40,
pois, é nova. O núm ero 1 4 1 , por sua vez, foi amplissi mamente
definido em Tren to . 60 O nú mero 1 42 tem precedentes em Den z .
1 1 60- 1 1 6 1 . O n ú mero 1 43 está implicitamente p roposto nas de­
finições aduzidas para o n ú mero 1 38 e 1 42 : se a caridade expele
o pecado e se o amor do próximo é obrigatório "sub gravi " ,
não pode ser haj a amor de Deus onde não houver amor do pró­
ximo. Não conhecemos, porém, u m pronunciamento explícito so­
bre o teor do número 1 43 fora d a Encíclica. Os núm eros 1 44 e
1 45 podem também ser considerados i mplicitamente definidos nos
n ú meros 1 38, 1 42 e 1 43, com os respectivos pronunciamentos an­
terio res à Encíclica. São, de resto, uma il ação direta das doutri­
nas fundamentais do Corpo M í stico. 6 1 Só n a suposição destas
verdades é a I grej a um Corpo ; sem elas não seria Cristo C abeça
ela I grej a. Fora d a Encíclica, porém, não encontramos u m a de­
finição expl ícita desta sobrenatural mutuidade do amor de Deus
e do próximo . E m explicidade as duas proposições são novas.
1 46 ) "Nos autem Unigenitus Dei Filius, iam ante mundi
exordium, ce terna infinitaque cognitione perpetuoque amare am­
plexus est."
1 47 ) "Quem quidem amarem, ut adspectabili ac miranda
prorsus ratione patefaceret, nostram sibi in hypostaticam unita­
tem adiunxit naturarn ."
1 48 ) "Euiusmodi v era amantissima cognitio, qua divinus
Redemptor a p ri m o lncarnationis sure momento nos prosecutus
est, studiosam quarnlibet humance mentis vim exsuperat."
1 49 ) " . . . quandoquide nz , per beatam iliam visionem, qua
vixdum in Deiparre sinu exceptus, fruebatur, omnia mystici Cor­
poris membra continenter perpetuoque sibi prcesentia habet, suo­
que complectitur salutifero amare."
1 50) "ln prcesepibus, in cruce, in sempiterna Patris gloria

6 0 ) Cfr. Denz. 800 ; 803-804 ; 806 ; 809-8 1 0 ; 834-836.


6 1 ) Cfr. particularmente os números 3 ; 6 ; 7 ; 64 ; 70 ; 94 ; 1 06.

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Revista Eclesiásfü:a B rasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1946 1 25

omnia Ecclesice membra Clzristus sibi conspecta sibique coniuncta


lzabet longe clarius, longeque amantius, quam mater f ilium suum
in gremio positum, quam quilibet semetipsum cognoscit ac dili­
git." 62 São verdades de conteúdo verdadeiramente arrebatador.
O s n ítmeros 1 48- 1 50 não tratam do conhecimento e do amor de
Cristo-D eus, m as de Cristo-Homem, e exprimem dum modo ini­
mitável a n itidez do conhecimento de Cristo, desde o primeiro
instante da conceição, bem como a intensidade i ncomensu rável
do amor, a cuj o serviço estava este conhecimento. V erdades,
que devem empolgar-nos e tornar p rofundamente felizes : somos
vistos e amados por Cristo de modo inenarrável, desde o pri­
meiro i nstante da existência da humanidade de Cristo, sem in­
terrupção por todas as etern idades sem fim. E' um pensamento
con solador pensar no conhecimento e amor eterno de Deus. Tal­
vez sej a mais comovente, e assim mais consolador pensar na ver­
dade da ciência e do amor de Cristo-Homem . N isto se manifesta
a sobreexcel ente caridade de Deus nosso P a i .
O saber e o a m o r de Deus, e portanto do Fil ho de Deus
com relação aos homens r, 3 está revelado em todas as páginas das
Escrituras, e sendo Deus eterno, não pode ter senão ciência e amor
eterno. E' das verdades de fé fundamentais, dogma própriamente
dito. O número 1 47 está revel ado em Jo 3 , 1 6 e foi defi nido no
S í mbolo Apostólico : "Qui propter nos homi nes . . . " E' ainda um
complemento do n úmero 74. A medida sobre-humana da ciência
de Cristo-Homem - teor do número 1 48 - temo-la definida nas
definições sobre a ciência de Cristo . 0·1 O mesmo vale dos núme­
ros 1 49 e 1 50. Conquanto as verdades deste grupo, pois, não
tenham ainda ocorrido na Encícl ica, dela não recebem nova qua­
lificação teológica.
A al ínea segu i n te 65 não contém p roposições. As verdades,
importantíssimas, além disso foram já propostas nas páginas
anteriores da Encíclica. 66 Temos nesta alínea nova formul ação
dos n úmeros 8 1 -98 e 1 2 1 . Porque pel a nova formulação se foca­
lizam novos aspectos, destacamos as segu i n tes p roposições :
1 5 1 ) "Ex eadem Spiritus C/zristi communicatione eff icitur,
ut cum omnia dona, v irtutes et clzarismata, quce in Capite excel-
62 ) R E B 1 046, 3-4.
6 3 ) Teor do nú mero 1 46.
M) Cfr. por ex. Denz. 248 ; 2032 ss ; 2 1 38.
6 5 ) R E B 1 046, 5.
6 6 ) Cfr. os n ú meros 8 1 -98.

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1 26 K o s e r, As P roposições da Encíclica "Mystici Corporis Christi"

lenter, uberrime efficienterque insunt, in omnia Ecclesice membra


deriventur, et in iis secundum locum quem in mystico /esu Christi
Corpore occupant, in dies perficiantur, Ecclesia v eluti plenitudo
constituatur et complementum Redemptoris."
1 52 ) " . . . Christus vero quoad omnia in Ecclesia quodam­
modo adimpleatur."
1 53 ) "Caput mysticum, quod Christus est, et Ecclesia, quce
hisce in terris v eluti alter Clzristus eius personam gerit, unum no­
l'Um lwm inem constitu (u)nt, quo in salutifero Crucis opere per­
petuando ceei um et terra iungantur: Christum dicimus Caput et
Corpus, Christum totu m . " u 7
Em segu ida o Pontífice faz um exame teológico-especu la­
tivo cio conceito de "i nabitação" de Deus, de Cristo, do Espírito
Santo, da S S . Trindade em nós pelo mistério do Corpo Místico.
Antes de tudo professa sua confiança na teologia e nos métodos
teológico-escolásticos. 6 8 Já no in ício da Encíclica se expressara
em termos semelhantes 6", e tornará ao mesmo tema l inhas abai­
xo. 7 0 Valiosíssimo testemunho da mais alta autoridade do Ma­
gistério Eclesiástico, tanto m ais val ioso, quanto a teologia con­
temporânea, em parte por causa dos intuicionismos das escolas fi­
losóficas, p roduziu verdadeira corrente de aversão à especulação.
O qne Pio X I I diz sobre o método teológico-especul ativo é aliás
o que foi defi nido pelo Concílio do Vaticano. 7 1 Sobre estes fun­
damentos ele metodologia geral, estriba Pio X I I alguns princípios
de apl icação ao assu nto de que trata, as apropriações trinitárias.
1 54) "Om n ( is) reiciendu (s est) mysticce coagmentationis
modu (s), quo christifideles, quavis ratione ita creaf.arum rerum
ordirzem prcetergrediarztur, atque in divina perperam invadant, ut
vel una sempitemi Numinis attributio de iisdem tamquam propria
prcedicari queat."
1 55 ) "Hisce in rebus omnia (sunt) habenda Sanctissimce
Trinitati communia, quatenus eadem Deum ui supremam efficien­
tem causam respiciant." 7 2 A intenção de propor estas duas ver­
dades está clarlssimamente expressa : "Verumtamen id omnibus
commune atque inconcussum esto, si a germana velint doctrina,
a rectoque Ecclesire magisterio non aberrare . . . " e "Ac prreterea
certissimum illud firma mente retineant, hisce in rebus . " 73 Com . .

6 7 ) REB 1 047, 1 . 68) REB 1 047, 2.


G 9 ) Cfr. REB 1 02.9, 3. 7 0 ) Cfr. REB 1 047, 3.
n) Cfr. Denz. 1 796. 72 ) REB 1 047, 2. 7 3 ) REB ibidem.

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 27

o número 1 54 Pio XI I fere mais uma vez o falso misticismo. 74


Já o ferira nesta Encíclica 76, fá-lo agora com maior explicidade
e quiçá com sinais mais evidentes de "ex cathedra" . Nesta al ínea
REB 1 047, 2 a proposição está como conclusão teol ógica. Na
realidade é mais, como se deduz das anotações aos números ci­
tados. E' de há muito " thesis de fide divino-cathol ica" . 76 Talvez,
porém, nunca tenha sido proposta tão explicitamente, e certa­
mente nunca o foi nesta formulação. A isto se reduz a novidade.
O número 1 55 menos novidade contém, que o número 1 54.
E' repetição do dogma antiquíssimo das apropri ações trinitárias. 77
1 56 ) "!-fac in causa de occulto agitur mysterio, quod in !zoe
terrestri exsilio, velamine quolibet detectum, o mnino introspici, lzu­
manaque lingua significari nunzquanz potes!." 78 Pio X I I coordena
esta p roposição com as precedentes, dando-lhe assim a mesma
certeza clefinitória : "Animadvertant quoque necesse est . . . " De­
fine, pois, que a inabi tação divina em nós é mistério inescrutável
enquanto peregrinarmos sobre a terra. A proposição já foi defi­
nida por Pio I X . 79 Não nos consta, porém, haj a revelação direta
desta verdade. Assim parece caber ao número 1 56 a qualificação
de "de fide eccl esiastica tantum" .
1 57 ) "/ nlwbitare quidem DiJJinre Personre dicuntur, quatenus
in creatis animantibus intellectu prreditis imperscrutabili modo
prresentes, ab iisdem per cognitionem et amorem attinguntur, qua­
dam tamen ratione omnem naturam transcendente, ac penitus in­
tima et singulari. " 8 0 Depois das teses de ordem geral, definidas
ou relembradas por Pio X I I na al ínea precedente, é grande a pro­
babi li dade de estar realmente proposta também esta. E' a razão
de ser das considerações anteri ores. Está apresentada como con­
clusão teológica. Não nos consta tenha havido definição seme­
lhante antes da Encíclica. 81 As definições havidas, de teor pró­
ximo a este número 1 57, referem-se à graça criada 8 2 , ou então
são negativas, coincidindo com o número 1 54. 83 Não encontramos

7 4 ) Cfr. REB 1 029, 2.


7 5 ) Cfr. os números 83-84 ; 86 ; 99.
76) Cfr. Denz. 5 1 0-5 1 3 ; 520-52 1 ; 1 926.
77 ) Cfr. Denz. 1 9 ; 77 ; 79 ; 254 ; 28 1 ; 284 ; 421 ; 428 ; 46 1 ; 703.
78) REB 1 047, 3.
79 ) Cfr. Denz. 1 669.
80 ) REB 1 047, 3.
8 1 ) No "Enchiridion Symbolorum" de . Denzinger falta até mesmo um
verbete relativo.
8 2) Cfr. as citadas nas anotações aos n úmeros 82-86 e 1 54.
83 ) Cfr. as citadas para este número.

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1 28 K o s e r, As Proposições da Enciclica "Mystici Corporis Christi"

um pronunciamento do Magistério Eclesiástico, que pudesse con­


tar ao menos como definição implícita desta verdade do nú­
mero 1 57 .
O considerarmos definido como "veritas catholica" este tópi­
co da Encíclica certamente provocará contradição. Trata-se duma
doutrina de S. Tomás, não partilhada nem mesmo por todos os
tomistas. E há, fora do tomismo, numerosas sentenças outras. Se­
ria realmente de estranhar, se Pio X I I decidisse tão sem aparato
controvérsia multissecular, contrariando os hábitos igualmente
multisseculares do Magistério Eclesiástico neste terreno. O Pontí­
fice infal ível, sem dúvida, não está suj eito a este costume. To­
davia esperar-se-ia, e com razão, uma ou outra palavra, que fi­
zesse ver a vontade de dirimir tal controvérsia. Nada disto, po­
rém, se encontra nes�e tópico da Encíclica.
Estas observações são convincentes e nos parecem ótimas.
Não eliminam, porém, o "ex cathedra" desta proposição. Cumpre,
todavia, discernir. Pio X I I formulou a proposição em frase po­
sitiva, sem nenhuma expressão negativa ou excl usiva. O número
1 57, por consegui nte, segundo as regras da lógica e hermenêu­
tica, deve ser interpretado no sentido de mínimo necessário para
a ortodoxia. As sentenças, que afi rmam mais, nem por isto estão
exclu ídas. E a sentença de S. Tomás, adotada por Pio X I I , quanto
nos consta é de fato a mínima entre todas as tradicionais. Todas
as outras afirmam mais, e nenhuma negará este m ínimo proposto
por Pio X I I . H á um caso de aspecto lógico paralelo no dogna
rel ativo ao motivo da Encarnação. O Símbolo Niceno-Constan­
tinopolitano define : "Qui propter nos homines . . . descendit de
crelis." Nem por isto é heresia afirmar que a glória de Deus é
motivo principal, primário superior à salvação dos homens. O
número 1 57, portanto, pode estar - e de fato nos parece estar
-- proposto, sem prej uízo de nenhuma das opiniões tradicionais
sobre este assunto.
1 58) "Hcec m ira coniunctio, quce suo nomine inhabitatio di­
citur, conditione tantum seu statu ab ea discrepai, qua ccelites
Deus beando complectitur." 8'1 Esta frase é de Leão X I I I 8 5 , es­
crita em Encíclica que não é "ex cathedra" . Aumentará Pio X I I
o grau d e qualificação teológica d a frase que cita, o u deixa-a no
estado em que Leão X I I I a pôs? Quer parecer-nos que o con-

8 4 ) REB 1 047, 3.
8 5) Divinum illud, A . S . S . XXIX, pág. 653.

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1946 1 29

texto da nossa Encíclica leva à conclusão de que Pio X I I não


cita para apoi ar-se em autoridade alheia, mas para assumi r a óti­
ma formulação e propô-la "ex cathedra" . A presente al ínea é
definitória, e este número 1 58 n ão descai do contexto. Todavia,
não ousamos afi rmar mais que grandíssima p robabilidade. O " de
fide divina" não padece dúvida, uma vez que o próprio Cristo
disse dos que comungam, possu írem eles j á no presente a vida
eterna. 8 6 Não nos & nsta tenha havido pronunciamento do Ma­
gistério sobre esta verdade. A qualificação desta tese " de fide di­
vina" como "probabilissime definita" é nova.
1 59) "Qua quidem visione, modo prorsus ineffabili fas erit
Pairem, Filium, Divinumque Spiritu m mentis oculis superno lumi­
ne auctis contemplari, divinarum Personarum processionibus ceter­
nis per cevum proxime adsistere, ac simillimo illi gaudio beari, quo
beata est sanctissima et indivisa Trinitas. " 87 Esta proposição, ex­
pondo pal avras de Cristo 88 , deve ser tida na conta de "de fide
divina" . Antes de Pio X I I , ao que nos consta, não houve p ropo­
sição deste teor. A de Bento X I I 8 9 refere-se só à essência divina.
Pelas censuras contra Rosmini-Serbati é certo que o céu n ão
é só visão de Deus como Criador, P rovi dente Governador do
m undo, Redentor e Santificador. 9 0 Pio X I I vai além, afirmando
visão da SS. Trindade, contempl ação das p rocessões e participa­
ção da felicidade divina enqu anto trinitária.
.
Quanto ao "ex cathedra " parece-nos não haver senão as dú­
vidas gerais, que expusemos nas anotações ao número 4 1 , e que
valem, "mutatis mutandis" , também aqui . No contexto a frase
não é argumento, nem "obiter dictum", nem ainda mera explica­
ção, exposição, in terpretação . E' realmente u m a proposição. Jul­
gamos dever qualificá-la como " de fide divina" e "probab i lissime
defini ta" . Esta qualificação é nova.
1 60) "Eucharistia eiusmodi coniunciio hac in mortali vita
v elut ad culmen adducitur." 9 1 Trata-se duma proposição formal
e defin i tória, pois Pio XII diz : "Qure autem hactenus de arctis­
sima hac mystici Jesu Christi Corporis cum Cap i te suo coniunctio-

8 6 ) Jo 6, 55.
87 ) R E B 1 047, 3-1 048, 1 .
8 8 ) "Hrec e s t autem v i t a reterna, u t cognoscant te s o l u m D e u m verum,
·
et quem misisti jesum Christum." jo 1 7, 3.
8 9 ) Constituição " B enedictus Deus", Denz. 530.
9 0 ) Cfr. Denz. 1 928 e 1 930.
01 ) REB 1 048, 2.
9

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1 30 · K o s e r, As P roposições da Encíclica "Mystici Corporis Christi"

ne proposuimus, imperfecta nobis viderentur, si heic pauca sal­


tem de sanctissima Eucharistia non adiiceremus . . . " Pelas indi­
cações da Encíclica não se pode decidir se é uma "thesis de fide
divino-catholica" . Todavia, sendo esta a verdade por assim dizer
principal da grande catequese eucarística de Nosso Senhor 9 2 , não
se pode deixar de considerar a proposição como dogma formal.
O número 1 9 já é parte desta proposição. O número 1 60,
porém, é mais em virtude dos termos superfa tivos nele emprega­
dos. Algo de semelhante já foi definido no Concílio de Florença. 93
No Decreto "De SS. Eucharistia" do Tridentino encontram-se es­
parsos todos os tópicos do número 1 60. 94 O que Pio X I I fêz, foi
formular e propor explicitamente. Nisto está a novidade do nú­
mero 1 60.
1 6 1 ) "Eucharisticum Sacrificium est peculiaris manifestatio
coagmentatlonis, qua inter nos et cum divino Capite nostro iun­
gimur."
1 62 ) "ln eo sacrorum administri non solum Servatoris nostri
vices gerunt, sed totius etiam mystici Corporis singulorumque
fidelium."
1 63 ) "ln eo christifideles ipsimet immaculatum Agnum, unius
sacerdotis voce ln altari prcesentem constitutum, communibus votis
precibusque consociati, per eiusdem sacerdotis manus Aeterno Pa­
tri porrigunt, gratissimam quidem laudis placationisque hostiam
pro totius Ecclesice necessitatibus."
1 64) "Et perinde ac divinus Redemptor, ln Cruce moriens,
semet ipsum, ut totius lzumani generis Caput, Aeterno Patri obtulit,
lia idem "ln hac oblatione mundd' 95 non modo semetipsum, ut
Ecclesice Caput, ccelesti Patri off ert, sed ln semet ipso mystica
etiam sua membra, quippe qui eadem omnia, debiliora quoque et
infirmiora, ln Carde suo amantissime includat."
1 65 ) "Eucharistice vero sacramentum, dum vivida et mira
prorsus unitatis Ecclesice imago exsistit - quandoquidem conse­
crandum panis ex multis granis oriens ln unum coalescit." 9 6
1 66 ) " . . . nobis ipsum supernce gratice auctorem impertit, ut
illum ex eo caritatis Spiritum hauriamus, quo non iam nostram,
sed Christi vitam vivere iubeamur, et ln omnibus socialis sul Cor-

92) Jo 6.
98) Cfr. Denz. 698.
94) Cfr. Denz. 875 ; 876 ; 882 ; 939.
96) Mal 1, 1 1.
96) Cfr. Didache IX, 4.

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Revista Eclesiástica Brasi leira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 131

poris membris Redemptorem ipsum diligamus." 9 7 Todas estas


proposições nada mais são que explicitações do número 1 60, e
poderiam mesmo ser consideradas seus argumentos. Pio X I I , po­
rém, formulou o número 1 60 mais ao modo de título para peque­
no tratado, que ao modo de tese a provar. Acresce a suprema atua­
li dade e oportunidade destes p ronunciamentos. Ninguém que te­
nha algum conhecimento da p rodução teológica de nossa época
sobre Missa e Comunhão, poderá deixar de perceber que Pio X I I
se pronuncia, nestas linhas, sobre os pontos m a i s e m foco . Tudo
isto faz com que pareça muitíssimo p rovável ter sido i n tenção do
Pontífice dar linhas diretivas seguras e fundamentos definitivos
a estes estudos pel a recordação e re-formulação de definições
antigas.
Estas proposições serão " de fide divina" ? Para o número
1 6 1 não conhecemos um texto escriturístico. As palavras da pro­
messa da Eucaristia se referem à Comunhão, não à Missa como
tal . 98 Na Tradição encontram-se, porém, argumentos suficientes
para provar o "de fide divina". O Concílio de Florença, definindo
esta verdade, cuidou de aj untar um argumento de Tradição sufi­
ciente. 99 O número 1 6 1 , portanto, é dogma, conquanto n ão o
sej a pela Encíclica de Pio XI I . Temos, j á neste número, ligeira
alusão ao sacerdócio universal em sentido próprio.
O número 1 62 - em que a referência ao sacerdócio univer­
sal em sentido próprio é mais nítida - no que concerne aos
sacerdotes j erárquicos e à I grej a é dogma definido em Trento. 1 0 0
O acréscimo "singulorumque fidelium" é novo, m as parece estar
definido implicitamente em Trento no tópico referente à I grej a
como tal . O mesmo vale das definições de Florença. 1 0 1 Segundo
a doutrina de Pio X I I sobre a relação entre I grej a e fiéis 1 0 2 , bas­
ta i l ação direta para inferir um tópico do outro.
O número 1 63 fere em cheio a questão do sacerdócio uni­
versal. Antes de tudo Pio XII frisa a diferença entre o sacerdócio
universal e o do sacramento da Ordem. 1 0 3 Em seguida atribui
aos fiéis todos em união e mediante o sacerdote ordenado, fun­
ção verdadeiramente sacerdotal : de oferecer o Cordeiro Imacula-

97 ) REB 1 048, 4. ss) jo 6, 56-59.


99 ) Cfr. Denz. 698.
1 0 0 ) Cfr. Denz. 938 ; 940 ; 949.
101 ) Cfr. Denz. 698.
10 2 ) Cfr. os números 106 e 1 07.
10 3) Cfr. Denz. 960; 966 ; 967.

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1 32 K o s e r, As Proposições da Encíclica "Mystici Corporis Christi"

do ao Pai Celeste. Nesta parte a proposição é nova. Se é " de


fide divina" sob este aspecto, depende em parte da solução que
se der ao problema de in terpretação das passagens de S. Pedro
e do Apocal ipse rel ativas ao sacerdócio universal. 1 04 I gual p ro­
blema existe em parte também para a Tradição. 1 0 5 O que não
impede que a tese do sacerdócio universal em sentido próprio
sej a verdadei ramente tradicion al, pois existe uma linha de Tra­
dição bem n í t i da, que o deriva não da u nção pós-batismal, mas
da incorporação em Cristo. Esta l i nh a foi aprovada por Pio XI. 1 0 6
Pio X I I envereda por este mesmo caminho, elevando a qualifica­
ção teológica a ao menos "probabiliter definitum" . Pela conexão
com a Tradição poderia ser "de fide divina" . O restante do nú­
mero 1 63 já é dogma desde Trento . 1 º 7 Novidade h á nesta p ro­
posição apenas quanto ao sacerdócio universal . E' interessante
observar ainda, que Pio X I I não toma posição n as controvérsias
sobre a essêncta do sacrifício.
O n úmero 1 64 frisa que os fiéis, todo o Corpo Místico, são
além de sacerdotes, ainda obl ação, e também isto em sentido
p róprio, como oferta-vítima da Missa. Esta verdade já fôra pro­
posta pelo Concílio de Florença, no " D ecretum pro Armenis" . 1 0 8
A proposição de Pio X I I é nova só n a formul ação. O mesmo vale
do número 1 65 . Também o número 1 66 estava definido antes
da Encíclica. 1 0 9 Todavia nunca se frisou tão expllcitamente este
efeito da Comunhão : de amarmos Cristo J esus "em todos os
membros de Seu Corpo" .
* * *

Até esta altura vai a exposição e proposição de doutri n a . Co­


meça agora o último inciso da parte doutrinal. Estas al íneas 1 1 0
são semelhantes, até certo ponto, aos cânones das definições con­
ciliares : um resumo incisivo dos erros, com expressão de formal
condenação. Todavia, estando este documento do Magistério Su­
p remo vazado nos moldes de Encíclica, notamos também nesta
parte certa brandura parenética. Pio X I I não se lim itou, além
disto, a dar um catálogo de erros anatematizados, mas entremeou
104 ) Cfr. P e n i d o, O Corpo Mlstico, Petrópolis, 1 944, págs. 255-257.
106 ) Cfr. P e n i d o, 1. c . , págs. 257-26 1 .
lOO ) Cfr. Miserentissi mus Redemptor, 1 928 e cfr. Penido, 1. c., pág.
26 1 -270.
10 7 ) Cfr. Denz. 938 ; 940 ; 950.
lOB) Cfr. Denz. 698.
1 09 ) Cfr. os diversos tópicos em Denz. 875 ; 876 ; 882.
110 ) R E B 1 048, 6- 1 050, 2.

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os anátemas com proposições afirmativas. H averá, pois, também


nesta parte, as mesmas dificul dades de análise formal, que vimos
experimentando desde o início.
1 67 ) "Non desuni, qui haud satis considerantes Paulum
Aposto/um translata tantummodo verborum significatione lzac in
re fuisse locutum, nec peculiares ac proprias corporis physici, mo­
ra/is, mystici significationes, ui omnino opor t et, distinguentes, per­
versum aliquod inducunt unitatis comnzentum ; quandoquidem divi­
num Redemptorem et Ecclesice membra in plzysicam unam perso­
nam coire et coalescere iubent, et dum hominibus divina attribuunt,
Christum Dominum erroribus humanceque in ma/um proclivitati
obnoxium faciunt." 1 1 1 Pio XII assinala como fonte do erro a falta
de critério teológico n a interpretação das analogias. Declara ain­
da que o erro contradiz ao Magistério, à Tradição e à Escritura.
Trata-se, pois, duma heresia. Não é, porém, um anátema a
mais. 11 2
1 68) "Nec minus a veritate aberrai periculosus eorum error,
qui ex arcana omnium nostrum cum Christo coniunctione insanum
quemdam, ut aiunt "quietismum" deducere conantur; quo quidem
spiritualis omnis Clzristianorum vila eorumque ad virtutem pro­
gressio Divini Spiritus actioni unice attribuuntur, ea nempe seclusa
ac posthabita, quce a nobis eidem prcestari debet, socia ac veluti
adiutrice opera." 1 1 3 Pio X I I declara explicitamente que a censura
deste erro é igual à irrogada ao erro p recedente, logo heresia.
Não se trata, porém, nem aqui, duma censura nova, apenas re­
novada. Este "quietismo" j á foi condenado nas p roposições cen­
suradas de Lutero. 1 1 1 O Tridentino pronunciou-se formalmen­
te. 1 1 5 As condenações dos erros de Molinas 1 1 6 e Quesnel 1 1 7 con­
tém superabundantemente este número 1 68. Novidade há tão­
sõmente em Pio XII anatematizar o erro quietista enquanto este
tenta estribar-se na doutrina do Corpo Místico.
1 69) "Nemo profecto infitiari potest Sanctum jesu Clzristi
Spiritum unum esse /ontem, ex quo superna omnis vis in Eccle­
siam in eiusque membra profluat." 1 1 8 E' repetição do número 86.
1 11 ) REB 1 048, 7.
11 2 ) Cfr. anotações aos n úmeros 83-84 ; 1 54.
1 1 3 ) REB 1 049, 1 .
IH ) Cfr. Denz. 746 ss ; 77 1 -772 ; 776.
11 5 ) Cfr. Denz. 769-798 ; 800 ; 803 ; 804 ; 806 ; 809-8 1 0 ; 8 1 4-8 1 7 ; 829-
836 ; 841 -842.
116 ) Cfr. Denz. 1 22 1 - 1 288.
11 7 ) Cfr. Denz. 1 35 1 - 1 45 1 . 11 8 ) REB 1 049, 1 .

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1 34 K o s e r, As Proposições da Encklica "Mystici Corporis Christi"

1 70) "Attamen, quod homines in sanctitatis operibus constan­


ter perseverent, quod in grafia in virtuteque alacri animo profi­
ciant, quod denique non modo ad christiance per/ectionis apicem
strenue contendant, sed ceteros quoque ad eam assequendam pro
v iribus excitent, hcec -o mnia ccelestis Spiritus operari non vult, nisi
iidem lzomines quotidiana actuosaque navitate suas partes
agant." 1 1 9 E' repetiç ã o dos números 64, 66-70, apropriados, po­
rém, ao Espírito Santo. Quanto ao caráter definitório o número
1 70 se avantaj a aos números supracitados, pois sua definição,
pela oposição contraditória ao número 1 68, está acima de qual­
quer dúvida. Os argumentos que Pio XII aduz em seguida 120 ,
evi denciam tratar-se duma verdade diretamente revelada. Logo
temos uma tese " de fide divino-catholica" . Todavia, não se trata
duma qualificação nova, como se col i ge das anotações feitas ao
n úmero 1 68. Pio X I I termina, declarando que do erro quietista
decorrem l amentabilíssimas consequências para a espiritualidade
dos fiéis. E continua estigmatizando, com a mesma censura, ou­
tro erro :
1 7 1 ) "Quod ex fais is etiam e o rum placitis evenit, qui asse­
v erarzt non tanti esse faciendam frequentem admissorum venia­
lium, ut aiunt, confessionem, cum prcestet potius gene ralis ilia
c onfessio, quam singulis diebus Sponsa Christi cum filiis suis sibi
in Domino coniunctis, per sacerdotes faciat ad a/tare Dei acces­
suros. " 121 Erro semel hante foi cometido j á por Lutero, e devi­
damente censu rado por Leão X . 1 2 2 O Tridentino propôs doutrina
contrária a este erro . 1 23 Pio VI censuro u como " temerário, per­
nicioso, etc . " , o ensinamento dos Pistorienses, que desaconselha­
vam a confissão f requente de pecados veniais. 1 2 4 Pio X I I coloca
o número 1 7 1 n a mesma linha do número 1 68, anatematizado co­
mo heresia. Por isto parece-nos j ustificado taxar de heresia o
erro censurado pelo número 1 7 1 , ao menos no que concerne ao
desabono da frequente confissão de pecados veniais.
Nesta mesma proposição Pio XII condena outro erro : o de
preterir a confissão sacramental de pecados veniais, preferindo
a confissão geral "litúrgica" , o "Confiteor" no princípio da Mis­
sa. Está aqui estigmatizado u m dos erros "liturgicistas" , que
119 ) REB 1 049, 1.
1 20 ) R E B 1 049, 1 , l i n h as 1 6 ss.
121 ) R EB 1 049, 2.
122) Cfr. Denz. 748.
123 ) . Cfr. Denz. 899. 1 2 4 ) Cfr. Denz. 1 539.

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Pio X I I prometera profligar. 1 2 6 Há de ser erro realmente come­


tido, em que pese aos que defendem o movimento litúrgico "per
fas et nefas", pois o Magistério Ecclesiástico não sói combater
quixotescamente moinhos de vento. N ão vale, porém, para este
tópico, o mesmo rigor de censura indicado para o primeiro tó­
pico. O erro parece ser particularmente frequente em seminários,
pois Pio XII termina a alínea : " l i igitur animadvertant, qui inter
iuvenis cleri ordines frequentioris confessionis restimationem mi­
nuant atque extenuent, rem se aggredi a Christi Spiritu alienam,
ac mystico Servatori s nostri Corpori funestissimam." 1 2 6
1 72 ) "Pluribus utique modis, iisque summopere laudandis . . .
hcec admissa expiari possunt." 1 2 7 E' o princípio correto, exacer­
bado pelos fautores do erro estigmatizado pelo número 1 7 1 . Pio
X I I diz que esta verdade é conhecida - " . . . ut probe nostis,
Venerabiles Fratres " . D e fato, já foi definida em Trento. 1 2 8 Entre
o s meios de que fala a proposição conta a Comunhão 1 29 , e cer­
tamente a confissão geral.
1 73 ) "Ad alacriorem cotidie per virtutis iter progressionem
faciendam maxime commendatum volumus pium illum, non sine
Spiritus Sancti instinctu ab Ecclesia inductum, crebre confessionis
usum . . . "
1 7 4) '� . . . quo recta sul ipsius cognitio augetur, christianai
crescit hum llitas, morum eradicatur pravitas, spirituali negligen­
tice torporique obsistitur, conscientia purificatur, roboratur volun­
tas, salutaris animoru m moderatio procuratur, atque ipsius sacra­
menti vi augetur grafia." 13 0 E m vista da censura de " temerário" ,
i rrogada ao erro do n úmero 1 7 1 por Pio V I 13 1 , estes dois nú­
meros 1 73- 1 74, enquanto contrários ao erro, deveriam ser quali­
ficados de " teologicamente certos" .
O número 1 73 j á teve definição implícita e m Trento . 13 2 Por
esta definição, e pelo visto nas anotações ao número 1 7 1 , a qua­
l ificação teológica também deve ser mais alta, devendo ser indi­
cada como "de fide divjno-catholica" . 133 Pelo ní1mero 17 4 Pio
XII acrescenta à definição de Trento ampl a pormenorização dos
salutares efeitos da Confissão frequente. Quererá estender a tanto
a sua intenção de definir? Em nenhum documento do Magistério,

126) Cfr. REB 1 029, 1 . 1 29) Cfr. Denz. 875.


126 ) REB 1 049, 2 . 130 ) REB 1 049, 2.
12 7 ) REB 1 049, 2 . 131 ) Cfr. Denz. 1 539.
128) Cfr. Denz. 899 . 13 2 ) Cfr. Denz. 899.
13 3 ) Cfr. também Penido, 1. e., pág. 1 20.

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1 36 K os e r, As P roposições da Encíclica "Mystici Corporis Christi"

até esta Encíclica, ao que nos consta, foi proposta tese de tal teor.
Não seria por i sto supérfluo insistir autori tàriamente sobre tão
preciosa doutrina. Pio X I I tira dos efeitos enumerados a conclusão
de que combater a Confissão f requente é "re ( s ) a Christi Spiritu
aliena ( . . . ) , ac mystico Servatoris nostri Corpori funestissi­
m a ( . . ) ." 1 34 Estas palavras parecem j ustificar dar ao n úmero
.

t 7 4 a qualificação de "probabilissime defini ta" . E parece-nos de­


ver ser qualificado como "probabilissime de fide catholica tan­
tum" , pois não conhecemos fundamentos de revelação direta. Tal­
vez se encontrem n a Tradição.
t 75) "Sunt prreterea nonnulli, qui precibus nostris omnem
veri nominis impetrandi vim denegant."
t 76) " . . . vel qui in hominum mentes insinuare conantur
supplicationes ad Deum privatim admotas parvi esse faciendas,
cum publicre potius, Ecclesire nomine adhibitre, reapse valeant,
quippe qure a mystico proficiscantur fesu Christi Corpore. " 1 3 5 O
erro condenado em o número t 75 é heresia, por contrariar d ire­
tamente a revelação. 1 36 Numa formul ação menos universal, o
erro j á foi cometido por Wicleff, e censurado pelo Concílio de
Constança. 13 7 Não é possível, porém, especificar a censura. 1 3 8
A utilidade das orações pelas almas foi definida em Trento. 139
Não nos consta, porém, tenh a havido antes de Pio XII uma de­
claração de teor tão universal e censura tão nitidamente deter­
minada.
O erro condenado pelo n úmero t 76 também é heresia, por
ser uma coarctação arb i trária das palavras de Cristo. 1 4 0 Não nos
consta tenha sido censurado " ex cathedra" antes desta Encíclica.
1 77 ) " . . . Divinus Redemptor non modo Ecclesiam s uam,
utpote Sponsam dilectissimam, sibi coniunctissimam habet, sed in
eadem singulorum quoque f idelium animos, quibuscum percupit,
postquam prresertim ad Eucharisticam mensam accesserint, quam
intime colloqui." 1 4 1 Seria argumento ou proposiçã o ? N ão preci­
samos demorar-nos na resposta, pois é resumo de tópicos já vis- •

tos nesta Encíclica. 1 4 2


1 a.i ) REB 1 049, 2. 135) R E B 1 049, 3 .
l 3 6 ) Cfr. p o r ex. Mt 7 , 7-1 1 ; Me 1 1 , 24 ; Lc 1 1 , 9-1 3.
1 3 7 ) Cfr. Denz. 599. 1 3 8 ) Cfr. D enz. 661 .
1 3 9 ) Cfr. Denz. 983 ; 998.
H O ) Cfr. Mt, Me e Lc citados supra.
1 n ) REB 1 049, 3.
142) Cfr. os n(1 meros 8-1 3 ; 1 9 ; 5 1 ; 75-76 ; 84-85 ; 95-97 ; 1 06- 1 1 0 ; 1 60-
1 61 j 1 66.

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 37

1 78 ) "Publica comprecatio, utpote ab ipsa Matre Ecclesia


procedens, ob Sponsce Christi dignitatem prce qualibet alia ex­
cellit. " Hs E' a verdade, em cuj a interpretação erram os que co­
metem a heresia condenada em o número 1 76. Pio X I I ampara a
verdade com sua autoridade suprema, delimitando-a devidamen­
te pelas verdades irmãs :
1 79) " . . . attamen preces omnes, vel privatissime pro/atee,
nec dignitate nec virtute carent, et ad totius etiam mystici Corpo­
ris utilitatem, nmltopere conferunt . . . "
1 80) " . . . in quo quidem nihil bene, nihil recte a singulis
membris perfici potest, quod per Sanctorum Communionem in uni­
versorum quoque salutem non redundet."
1 8 1 ) "Neque singuli homines prolzibentur, idcirco quod lzuius
Corporis sunt membra, quominus peculiares quoque grafias, vel
ad prcesentem vitam quod attinet, servata tamen divince volunta­
tis obtemperatione, sibimet ipsis petant."
1 82 ) "Ccelestium vero rerum meditationem quanti debeant
facere omnes, non solummodo Ecclesice documentis, sed omnium
etiam sanctitate prcestantium usu atque exemplo comprobatur." 144
A intenção definitória para estas proposições números 1 78- 1 82 é
tão evidente quanto para os números 1 72- 1 73. Serão " de fide
divina" ? O número 1 78 poderia ser deduz i do das palavras de
Cristo : " U bi enim sunt duo vel tres congregati i n nomine meo,
ibi sum i n medio eorum." 1-1 5 Certamente vale de modo especial
da I grej a, todavia não só da I grej a, e por isto só é fundamento
remoto, insuficiente para declarar o número 1 78 "de fide divina" .
Parece-nos dever ser tido n a conta de conclusão teológica. P ro­
posto "ex cathedra", é "de fide cathol ica" . Não nos consta tenh a
havi do definição deste teor antes da Encíclica.
·
O número 1 79, sendo a verdade contraditória do erro con­
denado em o número 1 76, é " de fide divino-catholica" , e defini­
ção proporcionalmente nova. O n úmero 1 80 não é senão o dogma
da Comunhão dos Santos. O número 1 8 1 define até que ponto
e em que sentido podem ser "particulares" as preces dos fiéis.
Está diretamente revelado, pois Cristo Jesus não apôs nenhuma
restrição ao convite e às promessas de oração impetratória. 1-1 s
Antes, Seu modo de falar exclui qualquer restrição. Não nos
1 4 3 ) REB 1 049, 3. 1 4 4 ) R E B 1 049, 3-1 050, 1 .
14 6 ) Mt 8, 20.
1 4 6 ) Cfr. Mt 7, 7-1 1 ; Me 1 1 , 24; Lc 1 1 , �-1 3.

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1 38 K o s e r, As Proposições da Encíclica "Mystici Corporis Christi"

consta duma definição desta verdade, anterior a Pio X I I . O nú­


mero 1 8 1 está corroborado com a repetição do teor dos números
1 06- 1 07 : "Manent enim iidem ( singuli fideles) sui iuris perso­
me, et singularibus obnoxii necessitatibus." 1 4 7
O número 1 82 se refere a determinada forma de oração par­
ticular, a meditação, salvaguardando o valor e a eficácia deste
modo de rezar. Não é definição nova, como se vê pelo próprio
teor da proposição. 1 4 8 Novidade há apenas nisto, de a oposição
à meditação provir - segundo se deduz do contexto - dos ar­
raiais "liturgicistas".
1 83) "Non desuni postremo, qui dicunt supplicationes nostras
non ad ipsam /esu Christi personam, sed ad Deum potius, vel ad
adernum Palrem per Clzristum esse dirigendas, cum Servator
noster, prout mystici sul Corporis Caput, "mediator Dei et homi­
num" 1 4 9 sollumodo sit habendus." 1 5º O erro condenado é heresia,
como contrário à passagem de S. João : "Si quid petieritis in no­
mine meo, hoc faciam." 1 51 Pio XII além disto o censura, porque
"menti Ecclesire adversatur Christianorumque consuetudini." m
I sto acrescenta à censura de heresia a censura acidental de "inj u­
riosa praxi et usui Ecclesire" e "inj uriosa Ecclesire." O erro con­
denado contraria ainda o dogma antiquíssimo, de que a humani­
dade de Cristo deve ser adorada diretamente. 1 6 3 Novidade houve
no erro apenas por estribar-se sofisticamente sobre o dogma da
mediação de Cristo, exagerando o " . . . per Dominum nostrum
Jesum Christum" das Epístolas de S . Paulo e da Liturgia. E' um
erro encontradiço em autores da ala extremista do movimento li­
túrgico. A novidade definitória do p ronunciamento de Pio XII está
nisto : Cristo, também como Cabeça do Corpo M ístiço, não pode
ser tido só na conta de Medianeiro .
1 84) "Christus . . . secundam utramque naturam simul, to­
tius Ecclesice est Caput." 1 64 Com esta proposição Pio X I I des­
trói os fundamentos da asserção herética de que Cristo, .s endo
Cabeça do Corpo Místico, só pode ser Medianeiro de nossas ora­
ções e não o Deus a quem as dirigimos, e dá uma explicação
profundíssima duma das definições principais desta Encíclica, a

14 7 ) REB 1 050, 1 .
1 48) Cfr. Denz. 1 238 ss.
149 ) 1 Tim 2, 5. 1 6 0 ) REB 1 050, 2.
1 51 ) jo 1 4, 1 4. 1 5 2 ) REB 1 050, 2.
163 ) Cfr. Denz. 1 20 ; 221 ; 224.
164 ) REB 1 050, 2.

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 39

de que Cristo é Cabeça do Corpo Místico. Uma explicação ex­


tensiva e não simplesmente explicativa. 1 6 5
Trata-se duma proposição formal, pois o Pontífice insiste :
" . . . u t proprie accurateque loquamur." 1 5 6 Nesta Encíclica tais
pal avras são demonstrativas da intenção de propor categórica­
mente, ou de repetir proposições, que o Pontífice considera do­
gmas. Reportando-se a S. Tomás 16 7, Pio X I I dá-nos o critério
legítimo da interpretação do "una simul" : tem para Cristo como
D eus o sentido das proposições números 77-8 1 e 86. O "Una si­
mul" não significa uma confusão ou fusão monofisítica das atri­
buições, mas uma atribuição mútua segundo as regras católicas
da comunicação de idiomas. H á funções que cabem a Cristo di­
retamente como homem, cabendo a Cristo-D eus di retamente, co­
mo Cabeça no Corpo Místico, só a função de ser fonte de vida
sobrenatural .
A aproximação deste número 1 84 aos números 77-8 1 e 86
é tão grande, que se reduz quase a repetição . Principalmente,
atendendo-se ao axioma das apropriações trinitárias. 1 6 8 Novidade
há na explicidade com que Pio X I I atribui a função de Cabeça
a ambas as naturezas em Cristo. Tomado na devida conta o
dogma Efesino, também esta novidade se reduz a muito pouco.
* * *

Com i sto term ina a parte dogmática da Encíclica. Até aqui


l eva Pio X I I sua intenção de definir. " Postquam - assim diz
ele logo em seguida - Venerabiles Fratres, in huius commenta­
tione mysterii, quod arcanam omnium nostrum amplectitur cum
Christo coniunctionem ut universalis Ecclesire Magister, mentes
veritatis luce col lustravimus, pastorali muneri nostro consentaneum
ducimus animis quoque stimulos adiicere ad mysticum eiusmodi
Corpus i ncensa ilia caritate adamandum, qure non modo cogita­
tione verbisque, sed dedita etiam opera p roferatur." 1 5 9 A parte
restante da Encíclica, portanto, é pastoral . I sto não exclui haj a
nela proposições "ex cathedra" . O modo de as encontrar e ava­
l iar, porém , deve ser inteiramente diverso do seguido na parte
doutrinal . Para cada qual das definições, que possivelmente exis­
tam na parte parenética desta Encíclica, o Papa deverá manifestar
sua intenção de definir, de acordo com as exigências estabelecidas
1 55 ) Cfr. o número 42.
1 5 6 ) REB 1 050, 2. 157 ) De Veritate, q. 29, a. 4 e.
1 5 8 ) Cfr. o número 1 55. 1 5 9 ) REB 1 050, 3.

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1 40 K o s e r, As P roposições da Encíclica " Mysti c i Corporis Christi"

pelo Código do Direito Canônico 1 60, depois das definições do


Concílio do Vaticano. 1 6 1 Parece que as condições do "ex cathe­
dra" se verificam para uma proposição, e só para uma :
1 85) "Non !icei corpore deformes, amentes, patriisque mor­
bis infectos, utpote m olestum societatis o nus vila interdum pri­
vari. " 1 6 2 Pio X I I condena a mencionada prática como contrária
à Lei divina e à n atural, e ainda aos sadios sentimentos de hu­
manidade. E trata-se duma condenação "ex cathedra", pois o
Pontífice diz falar como Mestre supremo da Igreja, e isto num
documento dirigido a toda a Igreja: " Quam quidem gravissimam
sententiam 1 63 Nos in prresens, pro altissimi conscientia officii,
quo obstringimur, i terandam putamus . . . " 1 6 4 Não negamos que
esta expressão pode ser interpretada corretamente também no
sentido de ofício de Pastor, mas nas culminâncias os ofícios de
Mestre e de P astor coincidem . E trata-se evidentemente de "res
fidei et morum", o que Pio X I I ainda decl ara expressamente na
frase que acabamos de citar. Afinal - a quarta e mais impor­
tante condição do "ex cathedra" - tenciona propor peremptària­
mente : " . . . pro altissimi conscientia officii quo obstringimur . . .
gravissimam sententiam Nos in prresens . . . iterandam putamus. " 1 6 5
E diz isto duma verdade, cuj a revelação explícita nas Escrituras
acaba de verificar. N ão pode, assim, padecer dúvida, que esta
sentença é condenada categoricamente como heresia, e que sua
contraditória é dogm a formal.
Será novidade ? Pio XII remete a um decreto do S . Ofício
de 2 de dezembro de 1 940. 1 6 6 Pio X I não se pronunciou sobre
este ponto, pelo menos nada parece ter definido. 1 6 7 O anátema
pronunciado por Pio X I I , pois, é novo .
eo n c 1u s ã o.

Chegados ao fim da exaustiva j ornada de análise formal da


Encíclica "Mystici Corporis Christi", resta fazer o bal anço das
conclusões obtidas. A quem analisa minuciosamente a Encíclica,
aparece uma surpreendente abundância de formulações preciosas
para a teologia. Poder-se-ia ter mesmo a impressão de a Ecle-
1 60 ) Cân on 1 322, § 3.
1 61 ) C fr. REB I V ( 1 944) , p á g . 61 2.
1 6 2 ) REB 1 051 , 3. 1 6 3 ) l Cor 1 2, 22-23.
)
1 6 ·1 REB 1 051 , 3. 1 6 5 ) REB ibidem.
)
1 66 A . A . S . 1 940, pág. 553.
1 67 ) O "silabo" contra o racismo, publicado em 1 938, não se refere
a este assunto.

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Revista Eclesiástica Brasilei ra, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 141

siologia estar pronta e m sua evolução dogmática subj etiva. Mas,


quanto mais detidamente se examina, tanto mais aparecem no­
vos horizontes, estupendamente vastos, para este sector da Dogmá­
tica. As proposições, embora numerosas e profundíssimas, vão se
assemelhando a ilhotas perdidas na vastidão dos mistérios da
I grej a. Certamente, muito se tem feito em Eclesiologia nos últi­
mos séculos, particularmente nos últimos decênios. Mas também
é certo que muito mais resta fazer.
Os estudos eclesiológicos, porém, com a presente Encíclica
obtiveram um ponto de apoio de firmeza absoluta e de riqueza
sobre-humana. Ninguém mais poderá tratar da teologia da Igre­
j a, sem referi r-se continuamente ao documento doutrinal de Pio
X I I . Esta Encíclica será um marco inconfundível na evolução sub­
j etiva dos dogmas eclesiológicos. O Papa, com mão de Mestre
dotado não só de extraordinária ciência, mas muito mais de au­
toridade divina, descreve o estado atual das investigações ecle­
.
siológicas, concernentes à Igrej a Militante, faz um balanço mi­
nucioso, realizando esta tarefa imensamente difícil, de aferir toda
a teologia com os pontos de vista eclesiológicos. Nem só des'c reve,
nem só expõe, nem só afere - Pio X I I faz mais, muito mais :
define peremptóriamente os pontos fun damentais, finalizando as­
sim, em alguns tópicos, litígios já seculares. D isto temos ao me­
nos certeza moral - muita certeza.
O grande número de proposições talvez cause estranheza. E'
certo, porém, que se pode dividir a Encíclica de muitos outros mo­
dos. Pode-se reduzir o número de proposições e pode-se aumen­
tá-lo também . Nosso fito foi não deixar dois pensamentos, duas
verdades numa proposição, a fim de assim pôr em evidência plena
a riqueza da Encíclica e facilitar a verificação de definições an­
tigas. Nem sempre dividimos o suficiente, como o leitor terá
verificado. Confessamos que tivemos certo receio - respeito hu­
mano talvez - de chegar a número muito alto. Esforçamo-nos,
porém, sinceramente de ficar numa linha média entre extremos,
e assim chegamos ao número enorme de 1 85 proposições. Temos
a certeza, de que os princípios de análise por nós empregados,
podem ser manej ados de modo muito diverso, e que critérios in­
dividuais influirão muitíssimo nos resultados obtidos.
O número de proposições poderia ser invocado como obj eção
contra o "ex cathedra" . Esta obj eção já nos foi feita .. Os Pontí­
fices não costumam ser tão pródigos em pronunciai11entos : pe-

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1 42 K o s e r , As Proposições da Enciclica "Mystic i Corporis Chr i st i "

remptórios. Mas basta cotej ar a presente Encíclica com os esque­


mas preparatórios do Concílio do Vaticano, para compreender que
a obj eção do número não vinga. Diante dos esquemas do Vati­
cano, o número de proposições da presente Encíclica se nos afi­
gura insignificante. Faça-se, além disto, a tentativa de reduzir a
proposições as definições do Tridentino. A obj eção do grande
número com isto torn a-se improcedente. De resto, o número de
definições realmente novas é bastante reduzi do, como se colige
das anotações respectivas, feitas j unto às proposições. A maior
parte das proposições ou são dogmas antigos, ou são de defini­
ção apenas mais ou menos provável.
Para facilitar ao leitor um bal anço das conclusões a que che­
gamos, aj untamos um quadro sinóptico das qualificações. Valem
para este quadro naturalmente os mesmos princípios, que nos
guiaram em toda esta análise formal, e que deixamos descritos
no princípio. 1 68 Do valor que se atribuir a estes princípios de­
pende o valor que se dará a toda análise e consequentemente a
este quadro sinóptico. Supomos também que o caráter definitório
da Encíclica sej a no mínimo moralmente certo . Julgamos, que os
argumentos respectivos j ustificam plenamente esta suposição. 1 6 9
Dogmas "novos" : 1 ) A Igreja é o Corpo Místico de Cristo;
1 53 ) Cristo-Cabeça e a Igreja-Corpo são um só "homem novo",
o "Cristo todo" . Estes dois números são duas formulações para
a mesma verdade, ambas dogmatizadas por Pio XII, se a Encí­
clica fôr "ex cathedra", como julgamos ter ao menos certeza
moral . S e esta nossa suposição fôr exata, ao menos estas duas
proposições passam a ser "de fide divino-catholica", dogmas
propriamente ditos. Alguma restrição se nos impõe, como ficou
dito nas respectivas anotações 1 7 º , quanto ao termo "místico" . Es­
tas duas proposições ocupam o máximo grau de certeza na En­
cíclica, pois são nada mais nada menos que a formulação do ti­
tulo, e portanto tem a seu favor a m anifestação mais direta e mais
categórica da intenção de Pio X I I . Menos certo é que pela En­
cíclica cheguem à mesma qualificação teológica máxima as se­
guintes verdades : 29) Cristo começou a edificação do Corpo
Místico com o inicio da vida pública; 30) Terminou esta edifi­
cação quando morreu glorificado na Cruz; 31 ) Promulgou a

168) Cfr. REB V ( 1 945) , pág. 67-72.


16 9 ) Cfr. REB IV ( 1 944) , págs. 608-61 8.
170) Cfr. REB V ( 1 945) , pág. 73.

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 43

Igreja no dia de Pentecostes; 82 ) Cristo e seu Corpo Místico


formam como que uma pessoa nova de Cristo. Est a propos ição,
muitíssimo próxima em sentido ao número 1 e 1 53, deve ser tida
por isto mesmo e pel a evidência com que Pio XII manifesta jun­
to del a a intenção de definir, na conta de certeza especialíssima,
igual aos números 1 e 1 53. 84) Cristo comunica à Igreja os seus
bens mais íntimos, de modo que ela se torna, interior e exterior­
mente, a Sua .perfeitíssima imagem. 1 54) Deve rejeitar-se o mais
leve resquício de atribuição unívoca de atributos divinos aos
membros do Corpo Místico. 1 78 ) O valor máximo da prece li­
túrgica. 1 79 ) O valor real das preces "particulares" . 1 8 1 ) A li­
cença de pedir graças particulares e favores até mesmo ter­
restres.
Verdade católica "nova'', isto é, verdade que pela Encíclica
chega à categoria de "de fide catholica tantum" : só o número
1 03 ) A Igreja, Corpo de Cristo, deve ser chamada Corpo Místi­
co. A expressão não foi diretamente revel ada, conquanto a sua
significação o sej a. Por isto em parte é " de fide divino-catholica'',
em parte " de fide catholica tantum", como ficou explicado. 1 7 1
Heresias "novas" : 8) O Corpo Místico se compõe só da
jerarquia, 9 ) ou só de "carismáticos" . 1 1 5 ) A Igreja é só "ju­
rídica'' e instituição puramente humana. 1 67 ) Cristo e a Igreja
perfazem uma só pessoa física. 1 7 2 1 68) Os membros não preci­
sam cooperar, mas devem conservar-se em inatividade - quie­
tismo - perfeita. 1 7 1 ) E' preciso desabonar a "confissão de
devoção". 1 73 1 75 ) As orações não possuem força de impetração.
1 76) As orações particulares devem ser desabonadas, encarecen­
do-se só as litúrgicas. 1 83 ) As orações não devem ser dirigidas
a Cristo, mas a Deus direta e exclusivamente, pois Cristo, co­
mo Cabeça do Corpo Místico, é só medianeiro. 1 85 ) Eutanásia.
Erro teológfoo "novo", isto é, erro contraditoriamente opos to
a verdade "de fide catholica t an t u m " : 1 7 1 ) A confissão "litúr­
gica'' vale mais que a "confissão de devoção" . 1 7 4
Grande probabilidade de definição como dogmas "novos",
i sto é, verdades que pela Encíclica atingem grande probabi lidade
de serem " de fide divino-catholica" 1 7 5 : 23 ; 32 ; 33 ; 34 ; 37 ; 38 ;

m ) Cfr. REB V ( 1 945) , pâgs. 73 e 798.


1 7 2 ) E' só uma parte do número 1 67.
173 ) E' só uma parte do número 1 7 1 .
174 ) E' o complemento d o número 1 7 1 .

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1 44 K o s e r, As P roposições da Encíc lica "Myst ici Corporis Ch risti"

40 ; 4 1 ; 42 ; 43 ; 44 ; 46 ; 67 ; 7 1 ; 76 ; 77 ; 78 ; 98 ; 1 02 ; 1 20 ; 1 35 ;
1 36 ; 1 37 ; 1 40 ; 1 58 ; 1 59 ; 1 62 ( em parte) ; 1 63 . 1 7 6
Grande pro babilidade de definição como v erdades católicas
"no vas", i sto é, verdades que pela Encíclica atingem grande pro­
babi l idade d e serem " de fide catholica tantum " : 1 0 ; 1 1 ; 1 2 ; 1 3 ;
38 1 7 7 ; 68 ; 69 ; 70 ; 1 04 ; 1 05 ; 1 06 ; 1 07 ; 1 1 3 ; 1 1 4 ; 1 57 ; 1 73 ;
1 74 .
Probabilidades menores d e definição : 1 4 ; 1 5 ; 1 6 ; 1 7 ; 1 8 ;
1 9 ; 2� ; 2 1 ; 2 2 ; 49 ; 50 ; 5 1 ; 52 ; 53 ; 55 ; 6 1 ; 64 ; 72 ; 85 ; 93 ;
94 ; 95 ; 96 ; 97 ; 1 1 o ; 1 1 1 ; 1 1 8 .
Dogmas d e definição antiga, repetidos n a Encíclica n a forma
de definição solene : 2 ; 3 ; 4 ; 6 ; 7 ; 24 ; 28 ; 35 ; 36 ; 39; 45 ; 47 ;
48 ; 54 ; 56 ; 57 ; 58 ; 60 ; 62 ; 63 ; 65 ; 66 ; 73 ; 74 ; 75 ; 7 9 ; 80 ;
8 1 ; 86 ; ; 8 9 ; 9 1 ; 92 ; 99 ; 1 00 ; 1 0 1 ; 1 07 178 ; 1 08 ; 1 09 ; 1 1 2 ; 1 1 7 ;
1 1 9 ; 1 26 ; 1 27 ; 1 30 ; 1 3 1 ; 1 32 ; 1 33 ; 134; 1 38 ; 1 39 ; 1 4 1 ; 1 46 ;
1 4 7 ; 1 48 ; 1 49 ; 1 50 ; 1 54 ; 1 55 ; 1 60 ; 1 6 1 ; 1 62 1 7 9 ; 1 63 18 º ; 1 64 ;
1 65 ; 1 66 ; 1 72 ; 1 80 .
Verdades católicas d e definição antiga, repetidas n a Encí­
clica na forma de proposição solen e : 25 ; 26 ; 27 ; 1 56 .
Heresias re-condenadas solenemente p e l a Encíclica : 5 ; 59 ;
83 ; 1 1 6 ; 1 67 .
Verdades, d e qualificação div ersa, propostas repetidas ve­
zes n a própria Encíclic a : 1 2 1 ; 1 22 ; 1 23 ; 1 24 ; 1 25 ; 127; 1 28 ;
1 29 ; 1 32 ; 1 33 ; 1 34 ; 139; 1 5 1 ; 1 52 ; 1 53 ; 1 69 ; 1 70 ; 1 77 ; 1 84.
Q ualificações m enores n ã o aumentadas : 87 ; 88 ; 90 ; 1 42 ;
1 43 ; 1 44 ; 1 45 ; 1 82 .
S abemos perfeitamente o q uanto é arriscada a empresa que
ora terminamos com esta arriscadíssi m a qual ificação de tantas
teses. M as confiamos n a compreensão dos l eitores e de que não
esquecerão as nossas repetidas ressalvas. Estamos a j u l gar a En­
cíclica apenas p o r e l a mesma, sem o auxílio de decla rações pon­
tifícias sobre a i n tenção com que foi publicado este documento,
176 ) P assamos a dar só os n ú meros, que o leitor fàcilmente poderá
conferir na REB. Das qual ificações mais imp ortantes supra qu isemos
dar além do n ú mero a i n d a o sentido da p roposição, para assim facilitar
o traba lho do leitor.
176 ) E' só u m a parte do n ú mero 1 63.
177 ) Os números e m grifo podem ser qual ificados de outra forma,
como se depreende f à c i l mente das an otações respectivas . .
17 8 ) E' só u m a parte do n ú mero 1 07.
17 9 ) E' só uma parte do n ú mero 1 62.
1 s o ) E' só uma parte do n ú mero 1 63.

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e sobretudo sem nenhum resquício de esquemas provisórios, con­


sultas, etc. S abem todos os teólogos quanto pode mudar por ve­
zes a feição dum pronunciamento da Santa Sé, quando estudado
e analisado com todos estes recursos que nos faltam. E mesmo
que tivéssemos todos estes recursos, ainda seria arriscado fazer
o que fizemos - conquanto sej a necessário. Por isto tornamos
a frisar : não estamos a propor algo de definitivo, para tanto não
temos autoridade. Estamos apenas propondo um esboço de aná­
lise formal da Encíclica, um esboço que precisa de complemento
e retificação.
A análise formal desta Encíclica reclama um enorme dis­
pêndio de energia. E sempre que nos entregamos a tais empresas
puramente formais, recuamos, e dificilmente nos convencemos de
que o dispêndio não é desperdício. No presente caso, porém, con­
vence-nos da oportunidade do dispêndio e j ustifica-o a tão ci­
tada palavra de S. Agostinho, magistral expressão do valor da
" Regul a Fidei", dos pronunciamentos do Magistério Eclesiástico :
"Evangelio non crederem, nisi m e catholicre Ecclesire commoveret
auctoritas."

CO M U N I CAÇÕ ES
Ainda a Nova Tradução Latina dos Salmos.
Escrevíamos no volume precedente desta Revista uma apresentação da
nova tradução latin a dos Salmos, promulgada pelo S. Padre em 24 de
março de 1 945 (ver Revista Eclesiástica Brasileira 5 ( 1 945) 525-55 1 ) .
Recebemos depois di retamente d e Roma u m exemplar d o novo Saltério,
segu ido meses depois por um exemplar da 2.0 edição do mesmo. Esta j á
n ã o foi impressa n a Tipografia Poliglota Vaticana, mas s i m n a "Scuola
Tipografica Pio X", que costuma imprimir as obras editadas pelo Ponti­
fício I n stituto Bíblico. A presente obra figura agora sob o n úmero 93 nos
"Scripta Pontificii l nstituti Biblici". Concorda ela qu ase intei ramente com
a edição p recedente n a disposição das páginas. Segu iu-se ainda o sistema
de transcrever as notas críticas hebraicas em caracteres lati nos, aj u ntan­
do-se, todavia, no fim do volume uma lista das transcrições (p. 3c1S ) . O
prefácio da 1 .ª edição foi reproduzido somente em parte (p. I l i ) , acres­
centando-se um prefácio à 2.º edição (p. I V ) , que deve despertar nosso
interesse.
10

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Notam os editores, primeiramente, que a presente edição, já por sair


Jogo depois da primeira, pouco difere dela, sendo plenamente i dêntica com
o texto editado há pouco pela Livraria Vaticana em forma de Saltério
Romano, aprovado pela Sagrada Congregação dos Ritos para a recitação
diária do Oficio divino. Devido à sua importância, citamos na íntegra as
palavras que seguem : Qui textus pattcissimis tantum lo eis ab illo distin­
guitur qtti in priore hujus opuscttli editione propositus est, sive quoad
m enda quredam vel qtw! minus concinne dici videbantur sunt correcta sive
quod pro vocabulis quibttsdam qme ad recitandas Preces Horarias parum
apta censentur, alia substituta sunt. Consta, pois, o f ato de que a pre­
sente 2.ª edição do Saltério novo difere em alguns lugares da t .• edição,
e que estas diversidades já foram oficial izadas pel a S. Sé com a aprova­
ção do Saltério Romano conforme o texto novo. Citam os editores algu­
mas dessas divergências em número de oito. Parece-nos útil examinar
brevemente estes poucos casos, para mostrar que se trata apenas de mu­
danças ligeiras, que não afetam nenhum dos princípios fun damentais da
nova versão.
Em três dos casos mencionados omitiu-se uma palavra. No SI 27, 9,
onde dizia a t .• ed. : Salvum fac populum tu um, Domine, et benedic lzere­
ditati fure, omitiu-se a palavra Domine. No SI 7 1 , 1 1 : Et adorabunt ettm
omnes reges terrre, omiti u-se terrre. Em 1 Sam 2, 1 0 (cântico de Ana)
j á não se diz com a 1 .ª ed. : Excelsus super eos i n crelis tona bit, mas
apenas : Excelsus in crelis tonabit. Os restantes casos contêm somente
mudanças de palavras ou ligeiros retoques. Assim foi restituído o euge,
euge no SI 39, 16 e 69, 4 (os editores i ndicam por engano o v. 1 1 ) , con­
servando-se o valz em 34, 2 1 . 25. Apesar do que dissemos sobre a ex­
pressão euge, euge ( i b. 537 nota 22) , não se pode negar que ela é certa­
mente mais agradável ao nosso ouvido do que o va/z, da t .• edição. Res­
tituiu-se, igualmente, no final do SI 7 1 o fiai, fiai antigo, substituído na
t .• ed. por amen, amen. E', ao que nos parece, questão apenas de con­
sequência, pois não havia sido mudada esta expressão no final dos outros
livros dos Salmos (SI 40, 1 4 ; 88, 53) , a não ser no SI 1 05, 48, que diz
agora : amen! allelttial No SI 1 07, 3, que rezava na t .• ed. : Evigila, anima
mea; evigilate, psalterium et cithara : expergiscar ad auroram, lê-se agora :
excitabo auroram, fazendo-se concordar esta passagem com o lugar pa­
ralelo do SI 56, 9, onde se encontra também a explicação desta expressão
singular : A deo mature stzrgam, ut cantil auroram excitare videar, ut ipsa
quoque laudet Deum (p. 1 05) . E', pois, outro caso de tradução consequente
e u niforme. O SI 1 29, 7 diz agora : Exspectet Israel Dominum, em lugar
de exspectat. Convém notar que examinamos aqui apenas as mudanças,
sem nos determos com os motivos das mesmas. O próprio fato, porém,
de os editores citarem apenas estas ligei ras modificações, mostra que
não existem mudanças de maior monta. Teria sido demasiado penoso
comparar na íntegra as duas edições do Saltério n ovo, para encontrar
porventura outras alterações. Conferimos, todavia, todos os lugares por
nós citados em nosso mencionado trabalho, verificando não ter sido mu­
dado nenhum deles, fora do já citado SI 34, 1 9, onde se restituiu o
euge, euge.
Para proveito daqueles que queiram servir-se da presente edição n a
recitação do Breviário Romano, marcaram-se agora com u m a cruzinha
(t) as divisões dos Salmos, correspondentes ao Saltério Romano. Editou­
se ainda para o mesmo fim separadamente um folheto de quatro páginas,.

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co nt endo as antífonas e a ordem dos Salmos n o B reviário Ro mano. Est e


folh eto vende-se à parte, mas não pudemos consultá-lo.
Além das poucas mudanças do texto, já examinadas, h ouve ainda
algumas correções nas notas exegéticas e críticas. Acrescenta ram-se, por
ex., n otas exegéticas nos Salmos 1 8, 5. 1 2 ; 2 1 , 1 2 ; 65, 1 7 ; 1 1 8, 1 33 ; au­
mentaram-se as notas dos Salmos 5, 4; 1 1 7, 1 0- 1 2. N otas criticas, confir­
mando apenas o texto da 1 .ª ed., aj untaram-se, por ex., em 4, 4 ; 8, 1 ;
1 7, 1 6 ; 2 1 , 3. 1 2 ; 59, 6 ; 65, 1 2. 1 7 ; 79, 5 ; 80, 1 ; 1 0 1 , 1 6 ; 1 02, 3 ; 1 07,
3; 1 1 7, 1 2 ; 1 1 8, 37. 97. 1 50 ; D t 32, 1 5 (cântico de Moisés) ; 1 Sam 2, 5
(cântico de A n a ) , enqua nto que no SI 1 29, 7 aj u ntou-se u m a nota crítica
para j ustificar a mudança da 2.ª edição, comentada mais acima. D evem­
se estas notas, como dizem os editores, a amigos e leitores benévolos.
A gradecendo a estes, pedem eles simultâneamente aos mesmos e a todos
aqueles que para o futuro se servirem deste livro, queiram comunicar o
que lhes parece dever ser mudado ou corrigido, tanto nas notas exegéticas
e críticas, quanto n a própri a versão dos Salmos. Para j ustificar este
apelo, dizem os editores o segu inte : Hanc enim ( i . é, Psalmorum traflsla­
tiotlem ) , etsi interim, post "typicam" quce dicitur editionem, firma et im­
mulata conservatur, tamefl, ubi opus erit, aliquantulum m utari posse spe­
ramus, cum quando nova hcec Psalmorum illferpretatio omflitwz usui prce­
scriberzda videbitur. Analisando estas palavras, delas hau rimos o seguinte :
t . A edição "típica" do Saltério Romano com o texto n ovo permanecerá
intacta ao menos até a introdução obrigatória do texto n ovo, esperada
como certa pelos editores. 2. Parece que também nas edições não prà­
priamente oficiais, como a presente, se conservará o texto novo imutável,
apesar das sugestões dos leitores. 3. Esperam os edito res, que, ao i ntro­
duzir-se obrigatàriamente o texto n ovo na recitação do B reviário, possa
esse texto ser reformado conforme as mudanças que até lá houverem
sido sugeridas, passando dai em diante a constitui r o texto oficial e ti­
pico. Se, pois, por u m lado os editores esperam que o texto n ovo ainda
sej a susceptlvel de mudanças até a sua i ntrodução obrigatória, podemos,
por outro lado, afirmar, com certa segurança, que esta certamente não
se dará, antes que a versão n ova não tenha sido examinada e apreciada
sob todos os aspectos, concedendo-se o tempo suficiente para propor e
acrescentar as mudanças, que se j ulgarem oportunas e necessárias. Só
então, ao que nos p arece, promulgar-se-á o texto definitivo e imutável,
que será prescrito obrigatàriamente. D ado, porém, o interesse que se vem
manifestando a respeito do Saltério novo, podemos ter como certo, que a
introdução do texto definitivo e imutável não se fará esperar por muito
tempo.
Considerando o que ficou exposto, poder-se-ia encarar com certa des­
confi ança a mudança do Saltério em geral. S u bsiste evidentemente o fato
de, após termos possuído du rante séculos u m texto ú nico e i mutável,
salvo poucas exceções (ver ib. 527 ) , termos, depois de promulgado o texto
n ovo, duas edições d iversas no curto espaço de um ano apenas. Isto po­
deria causar a impressão um tanto pungente de vermos diante de nós,
após a derrocada de princlpios mu ltisseculares, um contínuo vaivém
de textos n ovos, de Saltérios e Breviários n ovos, e outros aborrecimentos
mais. Parece-nos, todavia, infundada semelhante apreensão. Concentrada
a autoridade suprema em matéria litúrgica nas mãos d a S. Sé, e conhe­
cida a tenacidade da mesma em semelhante questão, é pouco provável que
se dêem n ovas mudanças, uma vez i ntroduzido obrigatoriamente o Saltério
novo. E' j ustamente para evitar semelhantes mudanças, que se concede
1 0*

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o tempo suficiente para se proporem sugestões e correções. Este mesmo


fato, portanto, só pode inspirar-nos a maior confiança, porque nos dá a
garantia de um texto perfeito e seguro dos Salmos, quando este fôr intro­
duzido oficialmente, isto é, quando o texto novo tiver sido universalmente
examinado e comprovado, não deixando mais margens a críticas posterio­
res. J á não teremos mais, então, uma obra de uns poucos professoTes do
I nstituto Bíblico, ainda que baseada nas pesquisas anteriores (ver ib. 535 ) ,
mas sim um texto também posteriormente comprovado p o r um sem número
de peritos em matéria bíblica, que certamente não dei xarão passar desaper­
cebido o convite a eles dirigido. Se o texto definitivo e imutável, ainda
por promulgar-se, apresentar mudanças consideráveis sobre o texto novo
j á publicado, só poderemos apreciar favoràvelmente este fato ; se, porém,
estas mudanças não se derem, significa isto que o texto atual já por
si era perfeito e acabado, não carecendo de melhoras notáveis. Em ambos
os casos teremos à disposição um Saltério i nteligível e perfeito.
Finalizando, podemos ainda afirmar conhecermos diversos sacerdotes
que já se servem na recitação do Breviário do texto novo dos Salmos, e
isto com o maior proveito espiritual, como nos asseguraram. Este fato
confirma as esperanças que induziram o S. Padre a proporcionar-nos
benignamente um texto novo dos Salmos ; confi rma igualmente as espe­
ranças de todos nós. D. J o ã o M e h l m a n n , O . S . B .

Quando e Por que Vieram os Franciscanos para Petrópolis.


A vinda dos Religiosos Franciscanos para Petrópolis foi devida à
zelosa in iciativa do Revmo. Monsenhor Dr. João Batista Ouidi, Auditor
da I nter-Nunciatura e, então, Encarregado dos Negócios da Santa Sé no
B rasil. E' que, residindo nesta cidade, notara com pesar quanto a falta
de Padres tornara difícil a manutenção regular do culto divino na I grej a
do Sagrado Coração de Jesus, construída com grande entusiasmo popular
em 1 874. A i rregularidade na celebração das Missas de preceito fôra de
ano em ano afastando da I grej a os fiéis, em especial os remanescentes
e descendentes dos colonizadores alemães, pois não encontravam mais
estes nesse templo, edificado sobretudo para o seu uso, sacerdotes que
lhes entendessem a língua e a falassem correntemente para ouvi-los em
confissão e pregar-lhes a doutrina cristã. Depois do Padre Esch, seu
primeiro capelão, que se t ra nsferira para a Matriz, por ter sido nomeado
Vigário da Paróqu ia, e acabara por voltar à Europa, em 1 888 ; e depois
do Padre João Fritzen, que morava fora ele Petrópolis, mas acedera em
vir, aos domingos e dias santos, celebrar ali as cerimônias religiosas
c usteando-lhe os fiéis as despesas do transporte, não tivera m mais os fre �
quentadores ela Igrej a do Sagrado Coração de Jesus sacerdote alemão que
lhes satisfizesse as necessidades espirituais e religiosas. Abnegados Pa­
dres, como o Revmo. Pe. Moreira, diretor de um colégio para meninos
n a Rua P iabanha ; o Revmo. Pe. Carlos Calleri, da Congregação da Mis�
são, sediada à Avenida Westphalia ; e o Revmo. Monsenhor Bacelar de
Castro Abreu Magalht\es, sacerdote português que havia muito residia na
cidade, na rua que hoje tem o seu nome, iam celebrar Missas e outras
cerimôn ias religiosas na I grej a, quando eram para isso convidados. Não
satisfazia� n, porém, à maioria dos seus frequentadores, por não falarem
na sua hngua.
Foi então que o benemérito Auditor da I nter-N unciatu ra, Monsenhor

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G ui di , que conhecia bem o alemão, penalizado com a situação daquele


ab a ndonado rebanho, tomou a si o encargo de pastoreá-lo, exercendo o
seu santo ministério na Igrej a do Sagrado Coração, pregando em alemão
aos fiéis congregados ali para as Missas de preceito, preparando crianças
para a Primeira Comunhão e l evando aos doentes os Sacramentos e· os
con solos da religião. Ele próprio, no entanto, reconheceu em breve que,
mes mo auxiliado por aqueles benévolos Padres, acima mencionados, não
poderia da r perfeita conta dos serviços que lhe seriam exigidos e, sobre­
tu do, não os poderia organizar e manter como o bem de todas aquelas
al mas requeria, pois a sua permanência em nossa cidade era precári a, po­
den do ser a qualquer momento removido para outro lugar, conforme as
conveniências da carreira diplomática a que pertencia.
Ocorreu-lhe, então, a idéia de promover a fu ndação em Petrópolis, j u nto
à I grej a do Sagrado Coração, de um convento da Ordem dos Frades Me­
nores. Na Eu ropa, ele tivera ocasião de conhecer de perto os franciscanos,
estudar-l hes a organização e verificar os incontáveis benefícios espirituais
que prestavam às popu lações em toda parte onde se estabeleciam. E como,
j ustamente, acabava de se instalar no Brasi l - na Baía e no Rio - um
ramo da P rovíncia Saxônia desses Reli giosos, pareceu-lhe que seria pos­
sível a transferência de alguns para Petrópolis. Resultaria isto em lucro
para todos. Os Frades recém-vindos encontrariam em Petrópolis um clima
su ave e sadio, adequado a facilitar-lhes a adaptação ao novo ambiente
em que vinham trabalhar. Os alemães católicos de Petrópolis teriam neles
pastores zelosos e rigorosamente ortodoxos que cuidariam com car i nho
de suas almas. A I grej a, por fim, para a qual trabalhava com dedicação,
teria assegurado o seu próspero desenvolvi mento neste privilegiado trecho
da Terra de Santa Cruz.
Os labores de Monsenhor Guidi neste sentido foram coroados de
êxito. No ano de 1 895 teve confirmação oficial de que o seu pedido fôra
atendido e recebeu a visita do Rev. Pe. Frei Amando Bahlmann, O . F . M . ,
acompanhado de um jovem leigo, j á postulante n a Ordem - o futuro
Frei I nácio H i nte - os quais demoraram-se por alguns dias nesta c i dade
e o ajudaram a dar os primeiros passos para a instalação do almejado
Convento. Esses passos consistiram no aluguel de uma modesta casa da
Rua Nunes Machado, nos fundos da I grej a, e no aparelhamento dela com
os móveis e utensílios indispensáveis à existência dos primeiros Frades.
Estes, porém, só puderam chegar a esta cidade no ano seguinte, no dia
1 6 de j aneiro de 1 896, sendo festivamente recebidos pelo ativo Auditor da
I nter-Nunciatura e tomando logo posse da casa que lhes fôra preparada.
Esses primeiros franciscanos de Petrópolis, cujos nomes devemos gu ardar
com especial carinho, foram Frei Ciríaco, o primeiro superior, Frei Zeno,
e o i rmão leigo Frei Mariano.
Não parou com isso o trabalho de Monsenhor Guidi. Empenhou-se
logo em promover a ereção de um Convento digno dos Religiosos que o
deveriam habitar e apto a receber maior n úmero deles. Encarregou-se de
angariar donativos para esse fim, valendo-se principalmente das boas rela­
ções que tinha com famíl ias abastadas de Petrópolis e do Rio ; contribuiu
ele próprio, do seu bolso, com elevada quantia ; e tomou a si a tediosa
tarefa de escriturar por seu punho todo o movimento ela receita e. das
despesas. Tanta energia pôs o apostólico sacerdote nessa empresa que,
no i n icio do ano imediato, no dia de Reis, o novo edificio estava em con­
dições de ser solenemente inaugu rado. E no dia seguinte abri ram-se, tam-

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bém festivamente, as aulas d a Escola Gratuita São josé, que começaram


a funcionar nas salas do andar térreo do convento.
já então haviam chegado a Petrópolis mais Franciscanos, seis clérigos,
que vinham conclu i r em P etrópolis seus c u rsos de Filosofi a e Teologia,
nessa Faculdade de estudos superiores da P rovíncia, que até hoje funciona
n o mesmo Convento. Monsenhor Guidi vinha aí com frequência entreter-se
com os seus f rades, animando-os e m seus labores e edificando-se com
seus exemplos de constante paciência, humildade, trabalho, amor a Deus
e i rreprimível bondade para com todos. Nas festas mais solenes gostava
de celebrar na I grej a do Sagrado Coração e de participar do frugal al­
moço dos Religiosos, que ele fazia discretamente reforçar com o que man­
dava da despensa da I nter-Nunciatura. E sua assídua presença n o templo
dos franciscanos conduzia também para ali, nos domingos e dias santos,
as famílias de mais destaque e os membros do Corpo Diplomático que,
então, residiam quase permanentemente em Petrópolis. Foi seu exemplo
que induziu os N úncios Apostólicos que sucederam a pontificar na I grej a
do Sagrado Coração de jesus por ocasião das grandes solenidades do
catolicismo.
Quando foi sagrado Bispo e nomeado N ímcio nas Filipinas, Monse­
n h o r Guidi teve de se afastar para sempre do seu querido Convento fran­
ciscano que com tão ardente zelo consegu ira fundar n as montanhas de
Petrópolis. A o partir confrangi a-o, por certo, a saudade daquele recanto
onde tão bem se amava a Deus. Não menos, contudo, haveria de alegrá-lo
a certeza de que não trabalhara em vão e que a sua fu ndação perduraria
pelos anos adiante para benefício continuo de inumeráveis gerações de
católicos.
De fato, a primitiva residência franciscana se transformara em obra
vasta e frutuosa, verdadeiro convento, a que se agregavam outras em­
presas, de análogo intuito espiritual e religioso. Além da Escola G ratuita
S . josé fu ndaram os religiosos a Ordem Terceira da Penitência, o Centro
Católico, o Grêmio juvenil, o Centro d a Boa I m prensa, o Apostolado da
O ração, a Associação de Nossa Senhora A u x i l i adora, a Pia União de
Santo A ntônio, a Conferência de S. V icente, a Congregação Mariana da
A n u nciação, as revistas Vozes de Petrópolis e E c o Seráfico, V o z de Santo
A n tônio, e Revista Eclesiástica Brasileira ; a oficina tipográfis;a que cres­
ceu e se desenvolveu na grande Editora Vozes Limitada ; a I grej a de
Santo A n tônio, n o A lto da Serra, mais tarde elevada a paróquia, assim
como a Escola Gratuita Santo Antônio e o A mbulatório Santo A ntônio,
entregues ambos estes institutos ao zeloso serviço das Religiosas Fran­
ciscanas d a Ordem Terceira Regu l a r, para as quais construíram modesta
Residência, na vizinhança daquela igrej a . Cuidam os Franciscanos dos
serviços do culto e m quase todos os estabelecimentos religiosos d a cidade
e das cercanias, como o Colégio de Santa Catarina, o H ospital de Santa
Teresa, Colégio N . S. de Sion, o Convento de Lou rdes, o Asilo Nossa
Senhora do Amparo, o Priorado d a V i rgem, a Congregação de S . Carlos,
o Asilo do Bom Pastor, o Recolhimento dos Desvali dos, a Obra do D i­
vino Espírito Santo, as igrej as do Rosário, de S. Tomás de A q u i no, do
B ingen, cio Meio e da R ai z d a Serra, e as capelas dos bai rros mais afas­
tados e pobres, como Quissamã e Carangola. A lém disso auxiliam, quando
pedidos, o trabalho dos V i gários das paróquias vizin h as ; pregam retiros
e missões na cidade e a l h u res ; ensin a m a doutrina cristã n a m a i o r parte
d � s escolas e colégios da cidade ; atendem aos doentes que os chamam, de
dia ou de n oite, para ouvi-los em confissão ou min istrar-lhes os últimos

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sacramentos ; e com frequência são convidados para acompanhar o s mor­


tos até a derradeira morada dos seus corpos e oferecer, em sufrágio de
suas almas, o Santo Sacrifício da Missa . . .
Na verdade, como na parábola evangélica, o grãozinho de mostarda,
plantado por Monsenhor Guidi, transformara-se em grande e frutuosa ár­
vore. P. A. O 1 i v e i r a.

Carta da Santa Sé ao Revmo. Mons. joaquim Nabuco.


Secreteria di Stato Di Sua Santitá. N. 1 1 0740.
Dai Vaticano, te 6 décembre 1 945.
Monseigneur,
Son Excellence M. Maurício Nabuco, votre frere, Ambassadeur du
Brésil pres te Saint-Siege, a remis au Saint-Pere les trois tomes de votre
"Pontificalis Romani Expositio j u ridico-practica", et Sa Sainteté a daigné
me confier te soin de vous remercier en Son Nom de ce filial hommage.
Ces importants volumes sont te fruit de longues et patientes recher­
ches, qui sont tout à l'honneur de leur auteur. Sa Sainteté Se plait à le
reconnaitre et à vous en féliciter. Elle voit aussi dans votre geste une
attestation de vos sentiments de vénération et de dévouement envers Sa
personne et envers le Siege Apostolique, à laquelle Elle est particuliere­
ment sensible.
En souhaitant paternellement que votre ouvrage trouve dans le public
auquel i l est destiné u n accueil qui réponde à votre attente, te Sai nt-Pere
vous envoie, comme témoignage de Sa bienveillance et gage de la conti­
nuation des divins secours sur vos travaux, la Bénédiction Apostolique.
Veu il lez agréer, Monseigneur, l'assurance de mes sentiments bien
dévouées em N. S.
( Ass. ) ]. B. Mo11ti11i.
Subst.

ASSU NTOS PASTORAIS


Missa d e Galo e m Igrejas Sucursais.
"No último número da nossa apreciada REB, à pág. 926, encontrei
uma resposta, sobre Missa de galo, que não parece exata. Como a REB
já adquiriu j unto do clero bastante autoridade, conviria que a citada
questão fosse estudada mais a fundo, para, no caso de não estar certa a
solução, fazer-se a necessária retificação. A minha dúvida baseia-se em
que o cânon 82 1 , § 2, só permite, à meia-noite, a missa paroquial (ou
conventual) exclui ndo, sem indu lto especial, qualquer outra missa na Ma­
triz ou em outra igreja (salva a permissão do § 3 ) . Em Vermeersch,
1 1 , n. 97, leio : " l n aliis autem ecclesiis, i. e . qure non sint parreciales vel
conventuales, nihil sine indu lto permittitur." Blat, Liber I l i , Pars 1, n.
1 3 1 , diz : "non autem a l ia ultra i l iam solam, vel in aliis ecclesiis oratoriis-

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1 52 Assuntos pastorais

que sine apostolico i n d u lto seu concessione." O fato de se tratar de uma


capela distante e de servir como m atriz aos habitantes da região, não
lhe dá o nome canônico nem os di reitos de igrej a paroqu ial. Será uma
i grej a subsi diária ou capelania, nos termos d a Declaração d a S. C. Con­
sistorial, de 1 de agôsto de 1 9 1 9, mas sem os di reitos de igrej a paroqu ial.
Penso, pois, que n e m mesmo o Ordinário poderá permitir a missa de
meia-noite nessas capelas. Muito estimaria q u e a REB me convencesse

!
de estar em erro ou retificasse o que foi dito no n úmero de dezembro."
(N. N .)
mamente gratos por comunicação tão sábia como caridosa, apres-
sam os a dar as necessárias explicações, i ndicando os motivos que nos
leva a escrever que em tais i grej as subsidiárias ou capelanias seria
lícito celebrar a m issa de galo, até sem autorização do Ordinário do
lugar.
Noções Preliminares.
Os canonistas, ao descreverem as igrej as segundo a s u a d i ferente
digni dade, qualidade e ofício, costumam colocar e m q uarto lugar as igrejas
curadas, que têm anexa a cura de almas. Tais igrej as são : i grej as paro­
q u iais, qu ase-paroquiais e sucursais (subsidiárias, capelanias) . Estas ú l­
timas, como j á indica o seu nome "sucursais", "subsidiárias", são igrejas
ajuntadas à paróqui a com o fim de melhor prover à necessidade e co­
modidade dos fiéis.
O modo ordinário, comum de socorrer os párocos sobrecarregados de
t rabalhos na cura de almas, consiste em dar-lhes u m o u mais v i gários
cooperadores. Sendo, porém, tal medida i nsuficiente por causa d a enor­
me distância da igrej a paroquial, ou por ser a igrej a paroquial muito
pequena em relação ao n úmero dos fiéis, então poderá o Ordinário reme­
diar tal necessidade segundo as normas do cân. 1 427, § 1 , dividindo a
paróqu i a e criando, ou u m a vicaria perpetua ou u m a nova paróquia.
"Possunt etiam Ordinarii ex iusta et canonica causa parcecias quaslibet,
i nvitis quoque earum rectoribus et sine populi consensu, d ividere , vicariam
perpetuam, vel novam parceci a m erige ntes, aut earum territorium d is­
membrare."
A ereção de tal "vicaria perpetua" dá-se, quando u m d i strito deter­
m i nado, separado da p a róquia, fica contudo i ncorporado à igrej a matriz
ou catedral o u outra pessoa moral q u e conserva a cura espiritual habitual
daquele território, mas a cura atual é exercida por u m sacerdote vigário,
"vicarius perpetuus" . Reiffenstuel, sob o regime d a antiga disciplina, ob­
serva que, às vezes, tal vigário perpétuo recebe não só a c u ra atual de u m
t a l território, mas também a habitual, devendo então aplicar "pro populo".
I sto foi confirmado pela S. C. do Concílio (20 mart. 1 932 ; A . A . S . X X I V,
436) , dizendo : " V icarius perpetuus a d applicationem pro populo tenetur,
si plena potestate parceciali sit prreditus."
A "Periodica" de 1 926 ( p ágs. 1 6- 1 7 ) o bserva que n a D iocese de
Pádua existem, além de 320 paróquias, 40 assim chamadas " C uratire",
das quais umas são apenas "vicarire parceciales" n o sentido do cân. 476,
§ 2, ( "vicarii cooperatores constitui possunt . . . por determinata parcecire
parte" ) , outras ao i nvés são i grej as curadas independentes, tendo estas
últimas grande semelhança com as "vicarire perpeture".
N a Bélgica e na França existem também, além dos párocos propria­
mente ditos, os assim chamados "Succursalistre", amovíveis per se, mas
que de resto têm todos os d ireitos de pároco, devendo aplicar também
"pro populo".

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Revista Eclesiástica Brasi lei ra, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 53

Também na Alemanha existem, como atestam H i 1 1 i n g e E i c h m a n 11


( L ehr bu clz eles Kirclzenreclzts, pág. 2 1 1 ) , "vicariatos paroq uiais" indepen­
dentes com todos os direitos e obri gações dum pároco, e outras depen­
dentes, cujos reitores têm o nome de "Expositi ", Capelães-Filiais ou
Locais.
Se nem desta maneira, escreve C o r o n a t a (lnst. ]. C. 1, n. 492) ,.
isto é, pela ereção de "Vicarire perpeture" ou criação de novas paróquias
possa ser provido convenientemente ao bem das almas, então podem
ser constituídas as igrejas su bsidiárias ou capelanias dentro do território
paroqu ial, em cuja dominação e dependência permanecem até que possam
ser elevadas à dignidade de paróquia. E' destas últi mas, j á mencionadas
também em parte nos textos acima, que fala a decisão da S. C. Consis­
torial de 1 de agôsto de 1 9 1 9, ad I l i (vide consu lta acima) : "Quod si
exiguus aut fluctuans numerus fidelium, vel absoluta congruc:e dotis ca­
rentia, creationem quarundam ecclesiarnm in parcecias minime suadcat ;
huj usmodi ecclesire ut su bsidiarice vel capellanice habeantur intra fines ali­
cuius parcecire, cujus i n ditione ac dependentia manebunt, donec parce­
cialitatem propriam asseq u i poteru nt."
Destas igrejas subsidiárias j á falara u m ano antes (vide causam
Wratislavien, 13 j u l i i 1 9 1 8 ; A . A . AS . XI, 46) o B ispo de Varsóvia, ex­
pondo o seguinte a S. Sé : " l n q u ibusdam dicecesis mere partibus, ubi
existunt parochire proprie sic dictre, ob necessitatem melius providendi
cur:.e animaru m, passim pro parochianis a sede parccciali remotioribus,
erectre sunt "Curatire" pro certo determinato district u, qui ex totali paro­
chire nexu non est pleno i u re separatus. Curatus vel Localista, qui ad
nutum Episcopi amovibi lis est, exercet curam primariam vi decreti ab
Ordinario ipsi da ti . . . in ali is ex his Curatiis districtus cu ratialis quoad
administrationem temporalium et iura temporal ibus adnexa, est omnino
separatus a districtu parceciali, in aliis non ita . . . " - Em ambos os ca­
sos, assim respondeu a S. Congregação, Curatus vel Localista, se bem
que naquele respectivo território faça em tudo as vezes do pároco, não
deixa de ser vigário cooperador segu ndo as normas do cân. 476, § 2 ; e
por isso não está obrigado a aplicar "pro popu lo".
Nada parece obstar, ensina ainda C o r o n a t a ( Ioc. cit. n. 307, pág.
369 ) que a tais igrejas subsidiárias ou capelanias sej a assi nado pelo Ordi­
nário u m determinado território e um reitor com as faculdades que o B is­
po lhe conceder. Contudo, permanecendo um tal território sob a domina­
ção e dependência da paróquia, também o pároco da igrej a matriz poderá
exercer nele vàlidamerzte a j urisdição. Aos reitores destas igrejas subsidiá­
rias, como também aos reitores de oratórios ou igrejas de l ugares isentos
em vi rtude do cân. 4611, § 2, poderá o Ordinário conceder, como parece,
u m a j u risdição semelhante à dos vigários cooperadores.
Temos assi m várias espécies de vicariatos paroquiais : vicariatos per­
pétuos, que podem ser independentes ou dependentes e constitu i r um
benefício ou não. O cânon 477, § 2 nos ensina que o vicariato paroqu ial
pode ser u m benefício ; e o cânon 1 4 1 2, n. 1 .0 declara que os vica riatos
paroquiais n ão-perpétuos, embora tenham certa semelhança com ti m bene­
ficio, no direito canônico não são considerados como tais. Temos outros
vicariatos paroquiais que têm certa semelhança com os "perpétuos", como
as "Cu ratire" n a Itália, os "Succursalistre" na França, Bélgica e Alema­
nha. E temos as igrej as chamadas simplesmente "subsidiárias" ou "cape­
lanias". Todas elas, porém, são igrej as cu radas, com cura de almas.
Tais igrej as subsidiárias ou capelanias existem por nosso Br a sil afora

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1 54 Assuntos pastorais

em grande n úmero, formando o centro de povoações enormes que de


per si já deviam ser paróquias propriamente tais, mas não podem ser
elevadas a tal dignidade, não tanto por falta de dote conven iente, mas
muito mais por falta de sacerdotes. Nas paróquias admin istradas por co·
munidades religiosas, e m uito em particu lar no interior do nosso país,
encontramos muitíssimas destas igrej as subsidiárias, administradas pelos
respectivos cooperadores, sem que estes morem habitualmente n o distrito
por eles admin istrado, pela simples razão de terem a seu cargo várias
destas igrej as subsidiári as.

Nossa Argum e11taçiio .


Dadas estas noções e explicações preliminares, propomos os argu­
mentos que nos levaram a escrever o que escrevemos.
Diz o cânon 45 1 , § 1 : " P aroclms est sacerdos vel person a moralis
cui parrecia collata est i n titulum cum c u ra animarum sub Ordinarii toei
auctoritate exercenda." Alguns autores (como B a r g i 1 1 i a t e W e r n z -
V i d a 1) acrescentam : "cum i u re et obligatione administrandi verbum
Dei et sacramenta fidelibus determinati territorii qui vicissim ab eodem
aliqu atenus sacra recipere tenentur." Estas palavras, n a opinião de C o -
r o n a t a, podem ser acrescentadas como explicatórias da definição dada
pelo Código.
e o r o n a t a ( Inst. J. e. 1 , n . 467, pág. 565) , i nterpretando o cânon
que acabamos de citar, fala sob a rubrica "parochis requiparati" de certos
sacerdotes que não são párocos em sentido estrito da palavra por lhes
faltar uma ou outra coisa que se requer para o ofício de pároco, mas
"parochis requ iparantur cum o mnibus iuribus et obligationibus parreciali­
bus et paroclzorum 11omi11 e in iure veniunt." Como tais enumera : os qu ase­
párocos, os vigários paroquiais com pleno poder paroqu ial (uti sunt : vi­
carius actual is, vicarius reconomus, vicarius adj utor) , os capelães m i lita­
res, os reitores de igrej as subsidiárias ou capelarzias, situadas nos confins
de alguma paróqu i a em cuj a dominação e dependência permanecem (e
cita a declaração da S. C. Consist. de 1 de agôsto de 1 9 1 9 ) , e enfim
os encarregados de territórios isentos. De todos estes, pois, ensi n a Co­
ronata que devem ser equiparados aos · párocos, que têm os di reitos e obri­
gações dos párocos e que vêm no Di reito sob o nome de pároco.
Temos ainda a n osso favor um a rgumento dado pela "Commissio
Codicis" : " U t ru m Ordinarius, attenta immemorabili consuetudine, possit
licentiam dare asservandi SSmam. Eucharistiam i n curatis ecclesiis, qua m­
vis non stricte parcccialibus, sed subsidiariis ? - R. Affi rmative (20 mart.
1 923) ."
A "Periodica" de 1 925, pág. 86 dá o segui n te c omentário : "Responsio
affirmativa, qu atenus supponit consuetudinem immemorabilem, ambigi n o n
poterat. Quid autem sine t a l i s consuetudinis subsidio? Nobis satis pro­
batu r sententia . "Monitore", ex mente Codicis, qui fortasse, in can. 1 256,
§ 1 sensu latiore et mimts teclmico vocem ecclesire quasi-parrecialis usurpat,
ecclesias. curatas etiam subsidiarias quasi-parrecialibus in casu assimilari
posse. Cu ratre enim ecclesire ere sunt qure reguntu r ab aliquo sacerdote
qui in iis curam animaru m prredicatione, administratione sacramentoru m,
excepto forse matrimonio, habitualiter exercet. Ecclesia hujusmodi, u t sup­
plens pro parte parochire ecclesiam parochialem, videtu r ut parrecialis pro
custodia SS. Eucharistire tractari posse."
B e s t e ( lntroductio in Codicem, e. 1 265) por sua vez declara : "Re­
sponsum ex commentario nostro in c. 2 1 6, § 1 sine n egotio i ntelligitur."

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Revista Eclesiástica Brasilei ra, vol. 6, fase. 1 , março 1 946
· 1 55

Ta mbém ele, portanto, considera as igrej as subsidiárias para o caso


como paroquiais.
E o Pe. V e r m e e r s e h (Epitome 1 1 , n. 588) escreve : "Ecclesire
stricte parreciali requiparari potest ecclesia curata subsidiaria", e acres­
centa que na antiga disciplina a guarda da SS. Eucaristia estava pre­
ceituada nas igrejas "quibus cura animarum cum provisione infirmorum
erat annexa." Por consegu inte, se em tais igrej as cu radas subsidiárias
reside um vigário cooperador, não somente pode, mas deve guardar nela
o SS. Sacramento, para que em caso de ser chamado a u m doente, não
tenha que viaj ar primeiro para buscar o SS. n a igrej a matriz. Os autores
acima citados têm toda a razão : no cânon 1 265 a palavra "quase-paro­
quial" está empregada em sentido menos técnico, em sentido largo e
abrange todas as igrej as curadas.
O próprio cânon 82 1 , § 2 é a nosso favor ; ele reza : " l n nocte Nati­
vitatis Domin i inchoari media nocte potest sola Missa conventualis vel
parrecialis, non autem alia sine apostolico indulto." Notem os leitores, o
Legislador não d iz neste texto, como costumam escrever muitos i nterpreta­
dores "in ecclesia parreciali . . . i nchoari . . . potest sola . . . Missa parc:e­
cialis." O Legislador não fala em "igrej a paroqu ial", fala s.im em Missa
conventual e paroquial, empregando estas palavras, a nosso ver, no sen­
tido de missa púb li c a, em oposição às missas privadas. Neste sentido es­
creve R e u s ( Curso de L it urgia, n. 26) : "Quanto ao lugar e à presença
do povo, as funções são públicas ou privadas. Chamam-se públicas, quan­
do se realizam em lugar público e na presença do povo ou de comun i­
dade. Neste sentido são missas públicas a missa conventual ( n a acepção
rigorosa do termo ) e a paroquial, dan do-se o nome de privada às outras."
No n ú mero 55 1 diz o mesmo autor : "Missa paro quial pode-se en­
tender em sentido lato e restrito. Em sentido lato é a que se diz com
assistência dos paroquianos aos domi ngos e festas. Pois o d. 3887 supõe
que há missa paroqu ial também sem aplicação pelo po vo. Em sentido
restrito significa a que se diz com aplicação pelo povo. Da missa paro­
quial em sentido lato dá o Dicionário Litú rgico ele Frei B a s í 1 i o R o -

w e r a seguinte descri ção : "Missa celebrada geralmente com maior so­


lenidade (aspe rges, prática, denunciação, canto) pelo vigário ou seu subs­
tituto, nos domi ngos e dias de guarda a uma hora e com o fim de os
,

fiéis poderem cumprir seu dever ele assisti r, nesses dias, à Santa Missa."
O ra, é com boas razões que j u lgamos que o Legislador no cân. 82 1 ,
§ 2 emprega o termo "missa paroquial" neste sentido lato e n ão em sen­
tido restrito : "favores sunt ampliandi" ; e a missa domin ical celebrada
em tais igrej as subsidiárias em bem do povo daquele distrito é e merece
ser chamada missa paroquial, missa pública. A esta conclusão também
chegamos, tomando em consideração a antiga disciplina, segundo a qual
"a missa solene na N atividade de Nosso Senhor podia ser celebrada, à
meia-noite, nas igrej as catedrais, paroquiais, como também nas igrejas
públicas e oratórios pú blicos, "sa lvo Episcopi contrario monito." ( Bened.
XIV, d. 2520. )
Difici lmente nos convenceremos que a Santa Igrej a, "benigna semper
m ater'' , tenha, pelo novo Código, restringido j ustamente o benefício da
Missa de galo com relação a estas igrejas cu radas chamadas de subsidiá­
rias, sobretudo por ter ela contemplado no § 3 do cân. 82 1 , com tanta
largueza e liberalidade, os oratórios de casas religiosas e pias. Acresce
que os Exmos. Srs. B ispos, em virtude das Faculdades Quinquenais, po­
dem ainda estender mais a concessão do § 3 deste câno n Pois assim .

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1 56 Assuntos pastorais

reza o nú mero 2 das faculdades, concedidas aos Srs. Bispos pela S.


Congr. dos Religiosos : "Permittendi celebrationem trium Missarum de ritu
i n nocte N ativitatis D . N . j . C. i n ecclesiis religiosorum non compreh ensis
in can. 821, § 2, cum facu ltate pro adstantibus ad S. Synaxim accedendi,
ita tamen u t dictre tres Missre ab uno eodemque sacerdote celebrentu r."
Por que o legislador, em todas estas concessões tão largas e generosas,
nunca fala das igrej as paroquiais subsidiárias? Não fala delas porque
já estão incluídas no § 2; e não, porque as qu isesse excluir do benefício
a todos os demais concedido.
Enfim, entre as faculdades concedidas ao Episcopado Brasileiro pela
S. Congr. dos Sacramentos, depois do Concílio Plenário, e já prorroga­
d as, o número primeiro reza assi m : "de permitir que nas igrej as paro­
quiais do seu território se possam celebrar três Missas imedi atamente
depois da meia-noite da Natividade do Senhor, com poder de administrar
a sagrada Comunhão aos fiéis, cautelosamente, porém, a fim de que tudo
se faça com a devida reverência." Ora, se neste texto se fala em "igrej as
paroqui ais", isto provém do requerimento feito pelos Padres Conci l iares ;
eles escolheram este termo, e não a S. Sé. Cremos, pois, piamente que
também nesta concessão estão inclu ídas as igrej as paroquiais subsidiá­
ri as, que, conforme ensinamos com C o r o n a t a (vide supra ) , ao menos
"in favorabi libus" têm os mesmos direitos e obrigações das igrej as pa­
roquiais.
Concluindo, tornamos a dizer que o cânon 82 1 , § 2 não fala de
i grej as paroquiais, e sim de Missa paro quial. E, por isso, as igrej as cu ra­
das subsi diárias não estão excluídas do benefício deste parágrafo, mas
nele estão i ncluídas. A Missa celebrada em tais igrej as subsidiárias, em
bem dos fiéis, é Missa pública, é Missa paroquial, ao menos em sentido
lato ; e isto basta. Não se requer, pois, nenhuma licença do Ordinário do
l u gar para que nessas igrej as se possa celebrar a Missa de galo ; porque
o próprio cânon já a concedeu. Claro está, logo que alguém nos con­
vencer de que esta nossa opinião é errônea, ou a própria S. Sé a declarar
como tal, não nos custará abandoná-la. Pe. P. M o n t e i r o.

Da Natureza dos Rendimentos de Estola.


"Constituem, no B rasil, bens beneficiais, os rendimentos de esto la, de
modo que o Vigário estej a obrigado a legá-los aos pobres ou às causas
pias? Discutindo o assunto com diversos colegas, não chegamos a u m
acordo, n e m obtivemos certeza sobre a natureza dos referidos bens. Que
me diz do decr. 476 do Cone. Plen. B rasil.?" ( N . N. Vigário.)
O assunto abordado nesta consulta é deveras i nteressante e m uito
i mportante. Pois se os rendimentos de estola fossem bens beneficiais, se­
riam, consequentemente, bens eclesiásticos e como tais suj eitos a certas
normas canônicas, entre as quais, pràticamente, sobressaem as concernen­
tes à administração, à prestação de contas e à disposição final, como
bem frisa o Rev. Sr. V i gário.
Procurando responder ao prezado consulente, j u l gamos imprescin dível
disti nguir os q u atro pontos segu intes : 1) A que espécie de bens perten­
cem, natura sua, os rendimentos de estola? I I ) Como se tornam bens be­
neficiais e, consequentemente, bens eclesiásticos? I I I ) Qual a natureza
dos rendimentos de estola no B rasi l ? IV) Qual a consequência prática
atinente ao uso e à disposição desses bens?

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Revista Eclesiástica B rasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 57

Ad /.- Para solucionar a primeira questão, basta en umerar, breve­


mente, as diversas espécies dos bens "Clericorum". Seguindo os canonistas
e moralistas, distinguimos : 1 ) bens patrimoniais, proven ientes de u m título
p rofano, por ex., herança ou doação ; 2 ) ber1s quase-patrimor1iais, frutos
de um título espi ritual r1ão beneficial, por ex., espórtulas de Missas, dis­
tribuições cotidia n as, etc. ; 3) ber1s parcimoniais, ou sej am os bens neces­
sários para a manutenção do befleficiado, descontados dos rendimentos
beneficiais ; 4) bens beneficiais, sinônimos de todos os rendimentos do
benefício, compreendendo tanto os bens necessários para o sustento ho­
nesto do beneficiado como os bens supérfluos.
A tendendo a esta · divisão, claro está que os rendimentos de estola
devem, adequadamente, figurar entre os bens quase-patrimoniais. O Vi­
gário, pois, os percebe em virtude do seu paroquiato ou sej a através do
seu ofício de pároco, ofício este que constitui o titulo espiritual para a
retribuição material. E' esta a interpretação de todos os que adotam a
divisão supra-referida. Por sua natureza os rendimentos de estol a seriam,
portanto, ber1s quase-patrimor1iais. No entretanto, essa sua natu reza não
é i mutável, pois o direito (cân. 1 4 1 0) conhece também rendimentos de
estola como dote do benefício. Disso informar-nos-á o segundo ponto.
A d li.- Diz o cân. 1 41 0 : "Dotem beneficii constituunt sive bona
quoru m p roprietas est penes ipsum ens j u ridicum, sive certre et debitre
prrestationes alicuius familire vel personre moralis, sive certre et volun­
tarire fidelium oblationes . . sive iura, u t dicitur, stolre i ntra f ines taxationis
.

dicccesanre vel legitimre consuetudinis . . . " Lendo esse dispositivo impõe­


se, antes de mais nada, a n ecessidade de advertir que os rendimentos
de estola não constituem sempre, nem precisam constitu ir, o dote do be­
n efício, pois segundo todos os canon istas a enumeração dos diversos
bens não deve ser tomada em sentido cumu lativo, mas em sentido disjun­
tivo ( cfr. CI. B o u u a e r t, Ma11. j. C., 1 1 1, n. 204) , isto é, qualquer es­
pécie dos bens mencionados no cân. 1 4 1 0 é suficiente para perfazer o
dote do benefício eclesiástico. Lógicamente segue-se do cânon citado
únicamente que os rendimentos de estola podem servi r de dote do benefício.
Por "iura stol<e" ( d i reitos de estola) entendem-se "tous les émoluments
a fférents à l 'exercice de la charge pastora le dans les l i mites fi xées par la
taxe cl iocésaine ou par une coutume légitime, c.-à-d. les émoluments dus
par les fideles au titu l a ire du bénéfice, en raison même de son titrc (et
non pas d'un travai ! déterminé, bien qu'à l'occasion ele son m i nistere ) ."
( C a n e e, Le Code d l droit canonique, 1 934, I I I , n . 1 1 1 , d, p. 1 86. ) A
expressão " rendimentos de estola" para significar "iura stolre" não é in­
teiramente correta, pois rendimentos são própriamente os frutos prove­
n i entes do dote beneficial, como vemos nos dizeres do cân. 1 4 1 0 : "si
omnes reditus beneficii choralibus distributionibus constent." Com relação
ao dote observamos que os direitos de estola não constituem, imediata­
men te, bens reais e sim sàmente "hona i n spe" ( cfr. D e 1 g a d o, De
Relationibus, n . 2 1 ) . O legislador, entretanto, consi dera-os perpetuamente li­
gados ao benefício, caso constituam o dote beneficial.
Considerando agora o quesito : Como os rendimentos de estola se
tornam bens beneficiais e, consequentemente, bens eclesiásticos?, temos
que responder : Pela ereção de um benefício eclesiástico, cujo dote é cons­
tituído pelos rendimentos de estola. E' o que V e r m e e r s e h (Ep., 1 1 , n .
798, p. 554) exprime assi m : "Oblationes ist& fideliu m e t i u ra stolre 1 1 0 11
semper consti tuunt dotem, sed tunc tantum q u ando i n erectionc ben c ficii
id est declaratum." Torna-se, portanto, i ndispensável uma declaração

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1 58 Assuntos pastorais

expressa e formal sobre a espécie de bens que i ntegrarão o dote, ou,


como diz D e M e e s t e r n. 1 394) : "positivam Prrelati definitionem re­
quiri, ut varia, hoc loco n umerata, dotem beneficii re vera constituant."
Para a ereção do beneficio eclesiástico, porém, requerem-se quatro
coisas essenciais ( cfr. cân. 1 409) : 1 ) Um oficio sacro ou eclesiástico, i m­
pondo certa obrigação e i nvolvendo algum poder ordinário (elemento
espi ritual ; 2) O direito de perceber o!ll rendim entos pro venientes do dote
anexo ao oficio (elemento temporal ) . Embora o direito estabeleça a ne­
cessidade do dote, é preciso fazer uma ressalva com referência às paró­
quias, como d i remos mais adiante (cân. 1 4 1 5, § 3 ) . 3) A ereção em pes­
soa jurídica, feita pela legítima autoridade eclesiástica. Essa ereção pres­
supõe um decreto formal (cân. 1 00, § 1 ) em virtude do qual a autoridade
competente declara a constituição do "ens j u ridicum", determinando, ao
mesmo tempo, a n atureza do ofício e do dote a cujos ren d imentos se
refere o direito do benefici ado (cfr. e o r o n a t a, 1 1 , n. 972, p. 357 ; cfr.
também o cân. 1 4 1 8 : " . . . describantur dos beneficii ac i u ra et onera
beneficiarii" . ) 4 ) A perpetuidade pelo menos objetiva, evitando que o
benefício pereça, caso fique vacante. Essa qualidade exige, outrossim,
que os direitos e as obrigações i nerentes ao benefício sej am definidos
de um modo estável.
Isto posto, a transformação dos rendimentos de estola, qualificados
de bens quase-patrimoni ais, de fato só se efetua mediante a ereção do
benefício real izada conforme os termos expostos. Se o Sr. Bispo, portanto,
valendo-se das atribuições que lhe confere o cân. 1 4 1 4, § 2, erigir, for­
malmente, o beneficio eclesi ástico ( paroqu ial) e declarar os rendimentos
de estola "dos benefici i", tornar-se-iam, automàticamente, bens beneficiais
e, consequentemente, bens eclesiásticos. Dizemos "bens eclesiásticos", por­
que o cân. 1 409 chama o benefício eclesiástico "ens j uridicum" o que
aqui é sinônimo de "persona moralis" . Segundo o cân. 1 497, § 1, porém :
"Bona temporalia, . . . qure vel ad Ecclesiam u niversam, . . . vel ad aliam
i n Ecclesia personam moralem pertineant, sunt bona ecclesiastica." Efeti­
vamente, o direito comum desconhece bens eclesiásticos não pertencentes
a uma pessoa moral na Igrej a. Será, por isso, desnecessário acrescentar
que, no nosso caso, a simples declaração, embora emanada da legítima
autoridade, sem a ereção formal do benefício, não muda a natureza dos
rendimentos de estola, pois onde não . há benefício, não há bens benefi­
ciais. Deduz-se daí, fàcilmente, o que devemos responder à terceira per­
gunta.
Ad III.
- Defendendo aqui principios j u rídicos uniformes em todo o
Orbe Católico, é claro que o nosso Brasil só faria uma exceção se a S.
Sé tivesse determinado algo contrário ao Código. D a nossa parte, entre­
tanto, ignoramos a existência de I ndultos ou disposições diferentes das
do direito comum. A despeito de casos particulares possíveis que infe­
lizmente não podemos verificar, os rendimentos de estola não constituem,
conforme o costume e uso vigentes no B rasil, o dote do benefício, pois
"não houve até agora, ao que sabemos, declaração alguma neste sentido."
( G i 1 1 e s, REB, I I I ( 1 943) , 373 . ) Nem obsta o fato que os nossos Vigá­
rios dispõem, exclusivamente, dos rendimentos de estola para manter a
vida, porque "ex solo facto quod habentur oblationes, vel j u ra stolre,
non l icet concludere ea sub dote beneficii comprehendi." ( Cfr. B o u -
u a e r t, I I I , n. 204.)
Mas, poderia alguém obj etar, os nossos Vigários possuem o mesmo
benefício eclesiástico que os Vigários em outras terras ! Essa objeção

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nos força a dar alguns esclarecimentos não diretamente ligados ao as­


sunto. E ncontramos nas paróquias, entre as pessoas morais possíveis :
1 ) a paróquia como tal ; 2) o benefício paroquial ; 3 ) a igrej a paroquial ;
4) a fábrica da i grej a paroquial, etc. Não obstante serem todas essas en­
tidades pessoas morais, não compete a nenhuma o caráter de beneficio,
exceto o benefício paroqu ial. Essa observação pode parecer estranha e
sem i mportância n a questão que discutimos. D e fato, porém, a paróquia
como tal é muitas vezes confundida com o benefício paroquial. Disso
j á se queixav a R o s s i (De Parcecia, Roma 1 923, p. 89, n . 1 09) , dizendo :
" Non sempre nella giu risprudenza se ebbero distinti i concetti "parrocchia­
beneficio parrochiale", cite anzi si usarano con moita facilità promis­
cuamente . . . " Perdoa-se, mais fàci lmente, essa confusão, quando se con­
sidera que o próprio Código emprega a palavra "parrecia" onde devia
usar do termo "benefici u m parreciale" (cfr. p. ex. os cc. 45 1 , § 1, 452,
454 , 1 4 1 5, § 3, 1 423, 1 425, 1 429, § 2, 2 1 47-2 1 67 ) . A distinção entre os
dois conceitos resu lta da sua definição. A despeito das opiniões divergen­
tes relativamente à defi n ição da paróquia como tal ( cfr. M i e h i e 1 s,
Princ. Gen. de person. in Eccl., p . 358 ) , aceitamos aquela que diz : " P a­
róquia como tal não é o território, nem os paroqu i a n os, mas a paróquia
n a quali dade de i nstituição eclesiástica." ( O i 1 1 e s, I I I ( 1 943) , p. 375 ;
cfr. H i 1 1 i n g , Afk[(R, CXV I X ( 1 937 ) , p . 1 46. ) Conforme o cân. 1 409,
por benefício p a roqu i a l entende-se o ofício do pároco e o direito anexo
a este ofício de perceber os frutos do dote benefici a l . Como já tivemos
ensej o de notar, são considerados elementos essenciais : o ofício sacro
e o d i reito de perceber os frutos. A fonte donde os frutos ou rendimentos
promanam seria, portanto, de i mportância secu ndária. Mas, determinando
o Código que os frutos p roven h a m do dote, estabelece, lógica e coerente­
mente, a n o rma : "Beneficia ne erigantur, nisi constet ea stabilem et con­
gruam dotem habere, ex qua reditus perpetuo percipiantur ad normam
can. 1 4 1 0"' (can. 1 4 1 5, § 1 ) . Exprimindo as palavras "ne erigantur" a ntes
uma proibição do que a n u lidade da ereção de u m benefício sem dote,
restava ao legislador a l i berdade de admitir benefícios sem dote estável
e côngruo. Foi o que fêz pelo cânon 1 4 1 5, § 3, cujo dispositivo reza as­
sim : " N o n p rohibetur tamen, ubi congrua dos constitui nequeat, parrecias
aut quasi-parrecias erigere, si prudenter prrevideat e a qme n ecessaria
sunt a l i u nde n o n defutura." Era essa aliás j á a doutri n a do direito an­
tigo, pois diz B o u i x (De paro clzo, pars II, cap. 2.º) : "De i u re autem
communi tenetur Episcopus quocumque modo nova erigatur parochia, pro­
videre de sufficienti dote a d honestam cu rati (et ecclesire ) sustentationem,
nisi tamen i d impossibile foret ob egestatem eorum omnium qui contribuere
tenentur, quo i n casu posset absque dieta dote parochia erigi."
Examinando de perto o cân. 1 4 1 5, § 3, não resta dúvida que a I grej a
relaxa, relativamente às paróqu ias, a exigência do dote de modo que,
como observa V e r m e e r s e h ( I I , n . 743, p. 523) : "Nunc valde amplum
dos i ntelligitur, ita ut nihil i n parreciis Statuum frederatorum A mericre
iam desideretur, quominus sint beneficia." Mas aqui su rge a questão se
o legislador dispensou por completo qualquer dote, ou somente o dote
cóngruo. Os canonistas se mostram bastante i n decisos quando se trata
de solucionar essa dificuldade. P rova isto entre outros C o r o n a t a, afir­
mando nos lnstit., I I , n. 972, p. 358 : " . . . non prohibetur tamen Ordina­
rius parreciam erigere etsi dos nulla habeatur" ; na pág. 361 acredita que,
conforme o cân. 1 4 1 5, § 3, "prudens prrevisio, quod non deficiant ea qure
necessaria sunt, sufficere statuitur a d dotem constituendam beneficii pa-

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1 60 Assu ntos pastorais

rcccialis" ; na pág. 366, fin almente, acrescenta : "Notandum tamen est Co­
d icem non abso lute a tola dote dispensare, quod naturre beneficiorum re­
p ugnare videret u r, sed solum a dote congrtta." Encontramos a mesma in­
decisão em mu itos outros autores que, sem interpretarem as palavras do
Código, empregam a expressão ambígua "deficiente congrua dote."
( C a p p e 1 1 o, l i , n . 867, p. 473 . ) E i e h m a n n ( I I , § 1 95, pp. 1 1 0/ 1 1 1 ) ,
porém, diz, claramente, que as paróquias podem, excepcionalmente, ser
e rigidas sem dote.
Essa questão seria, de per si, sem grande i nteresse para o nosso caso,
uma vez que o legislador n ão proibe a ereção de u m beneficio eclesiástico
por falta de qualquer dote, mas por falta do "dos congrtta", se soubésse­
mos se o Código considera ou não dote do benefício paroqu i al as coisas
que, segu ndo o prudente j u ízo do Ordinário, hão de garantir a subsis­
tência do benefício e do beneficiado. Dando o nosso parecer sobre esse
ponto, ju lgamos que o legislador não reputa dote do ' benefício paroquial
as coisas das quais fala o cân. 1 4 1 5, § 3. São essas as nossas razões :
1 ) Os elementos essenciais do benefício eclesiástico são constituídos pelo
ofício e o direito de perceber os frutos. Estes dois elementos encontram­
se também no benefício paroquial sem dote. 2) O Código exige que o
dote sej a fixo e determinado ; o cân. 1 4 1 5, § 3, porém, não refere nenhum
dote determinado e fixo, porquanto se ignora qual a espécie ou quais
as espécies de bens que o Bispo j u lgou suficientes para o sustento do
beneficiado e para as outra s obrigações i nerentes ao benefício. 3) O cân.
1 4 1 5, § 1 requer, como j á dissemos, "dos congrua" ; o § 3 do mesmo
dispositivo, entretanto, não o exige. Consequentemente, onde não pode
·ser cumprida a condição bem defin ida do dote côngru o, não mais inte­
ressa um dote qualquer. O legislador formu la a alternativa : ou dote
côngruo ou "necessaria . . . aliunde non defutura." Forçado pelas c i rcu ns­
tâncias de muitas Dioceses e países, nos quais ainda não existem meios
para constituir u m dote côngruo, o legislador, cedendo à "suprema lex,
salus anima rum " , concede para o benefício paroquial a exceção do cân.
1 4 1 5, § 3 (cfr. AAS, XI, 346) . Essas circu nstâncias existem ou existiram
também no Brasil por ocasião da ereção das paróquias. Admitimos, por
isso, como m u i to acertada a afirmação de O i 1 1 e s (REB, I I I ( 1 943 ) ,
372) : . . . n o Brasil qu ase todas a s paróquias são constituídas sem dote."
"

Onde não há dote "in re" ("bona quoru m proprietas est penes ipsum
ens j u ridicu m " ) nem dote constituído por bens "in spe" ( as demais es­
pécies enu meradas no cân. 1 4 1 0) , logicamente não pode h aver frutos
"ex dote" ; em outros termos, se não existem bens beneficiais, não pode
haver rendi mentos beneficiais. Apl icando isto ao nosso caso, afirmamos
que os rendimentos de estola no B rasil não têm o caráter de rendimentos
beneficiais, porque os direitos ele estola não foram declarados dote do
benefício paroqu i a l . Nem adianta alegar que um dos elementos essenciais
do benefício eclesiástico, isto é, o "ius percipiendi fructus" se refere, in­
clu bitàvelmente, também aos rendimentos de estola, pois isso não muda
a natureza dos mesmos, como vemos nos bene fícios com dote.
O próprio decr. 476 cio Cone. Plen. B rasil . , ao q u a l prestaremos aten­
ção especial no último ponto deste estudo, confirma essa conclusão, dis­
tingui ndo entre os párocos e os beneficiados. Se o Concílio considerasse
os párocos como beneficiados, não diri a : "Caveant parochi et benefi­
ciarii", mas " parochi et alii ( ceteri) beneficiarii." O referido decreto con­
serva a mesma distinção com referência aos rendimentos, dizendo : " reclitus
p arceciales vel benefici ales."

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Voltando agora à objeção supramencionada, admitimos, d e boa men­


te, que os nossos párocos têm u m beneficio eclesiástico, mas um benefício
s em dote determinado, donde possam perceber frutos. Conseq uentemente,
os rendimentos de estol a não podem ser considerados rendime ntos bene­
fi ciais no sentido estrito da palavra.
A d IV. - Estabelecida e provada assim, como cremos, a natureza
dos rendimentos de estola no Brasil, é fácil determinar o direito do pároco
rel ativo ao uso e à disposição desses bens. Sendo o proprietário dos bens
qu ase-patrimoniais o próprio pároco, segue-se que : " . . . de bonis quasi­
p atrimonialibus . . . l i bere disponere potest." ( C o r o n a t a, o. e., n. 1 0 1 7. )
Isso está fora d e dúvida. E', porém, mais i nteressante ainda que cano­
nistas de renome concedam a mesma l iberdade aos párocos-beneficiados,
caso o dote de seu benefício conste de rendimentos ( d i reitos) de estola.
Sintetizando a opinião destes autores, escreve C o r o n a t a (o. e., n .
1 0 1 7, n o t a 3 ) : "Censent tamen quidam auctores, u t Vermeersch, Epitome,
J l 5, n. 798, Clayes, Bouuaert-Simenon, 1 . e., n. 233, obligationem impen­
dendi in pias causas hona superflua non extendi ad casum quo ex e. 1 4 1 0
dos beneficii constituatur ex i u ribus stolre, ne conditio talis beneficiarii
peior evadat conditione aliorum beneficiariorum. lta etia De Meester, 1.
e., I I I , n . 1 424, pág. 348."
D i r-me-ão, entretanto, que contra esse digno parecer dos canonistas
está o dispositivo do decr. 476 do Cone. Plen. Brasil., ordenando : "Ca­
veant parochi et beneficiarii ne reditus parceciales vel beneficiales, qui
ad honestam sustentationem non sunt necessarii, et ad normam canonis
1 473 patrimonium sunt ecclesi arum aut pauperum, propinquis sine neces­
sitate, eoque minus inordinate Iargiantur." Francamente, desconhecemos
a oposição entre a doutrina canônica e o texto deste decreto, pois, como
h á pouco dissemos, o Concílio distingue entre os párocos e os beneficiados
e, coerentemente, entre rendimentos paroqu iais e beneficiais. Sob " redi­
tus parceciales" , - aliás u m termo ignorado pelo Código -, entendem-se,
sem dúvida, as prestações devidas ao pároco por ocasião do exercício
do culto divino e d a administração dos Sacramentos, em uma palavra,
os direitos de estola (cân. 463) ; chamamo-los bens quase-patrimoniais.
"Reditus beneficiales", ao contrário, são os rendimentos de um benefício
propriamente dito. A única dificu ldade possível n a interpretação do de­
creto, está na j usta e devida explicação da frase i n iciada pela partícul a
relativa " q u i " . Surge, pois, o quesito : A partícula " q u i " abrangerá tanto
os "reditus parceciales" , como os " reditus beneficiales" ? Respondemos :
sim e não. As primeiras palavras, "qui ad honestam sustentationem non
sunt necessaria", referem-se, provàvelmente, a ambas as espécies de
rendimentos. As palavras "et ad normam canonis 1 473 patrimonium sunt
ecclesiarum aut pauperum", porém, devem, como i ndicam as vírgulas e a
citação do cânon, ser restringidas ao cânon 1 473, rezando : " Etsi bene­
ficiarius alia hona non beneficialia habeat, l ibere uti frui potest fructibus
beneficialibus qui a eius honestam sustentationem sint necessari i ; obliga­
tione autem tenetur impendendi superfluos pro pauperibus aut piis cau­
sis . . . " Desde que o Concílio alega o referido dispositivo e este, exclusi­
vamente, fala do beneficiado quanto ao uso dos · bens beneficiais, vê-se cla­
ramente que o Concílio não quis atingir os párocos n ão-beneficiados nem
o uso dos bens n ão-beneficiais .
Segundo o que ficou exposto, podemos distinguir duas proposições
no decr. 476 : 1 ) Caveant parochi ne reditus parceciales, qui ad honestam
sustentationem non sunt necessarii, propinquis sine necessitate, eoque mi-
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1 62 Assuntos pastorais

nus inordinate largiantu r ; 2) Caveant beneficiarii ne reditus beneficiales,


qui ad honestam sustentationem non sunt necessarii, et ad normam ca­
nonis 1 473 patrimoni ú m sunt ecclesiarum aut pauperum, propinquis sine
necessitate, eoque minus inordinate largiantur." Um simples confronto dos
dois estatutos, manifesta a diferença entre o pároco e o beneficiado
com respeito aos referidos bens ; os rendimentos paroquiais, embora su­
pérfluos em si, podem ser distribuídos como o vigário o achar melhor ;
os bens beneficiais supérfluos, pelo contrário, constituem o patrimônio
das igrej as ou dos pobres. Não prescrevendo o direito comum nada con­
cernente ao uso e à disposição dos rendimentos paroquiais, tomamos a
prescrição do Concílio no sentido de uma grave exortação para os pá­
rocos não-benefici ados. O estatuto para os beneficiados, porém, importa
numa proibição formal, baseada no cân. 1 473.
Exigem ainda uma pequena explicação as palavras : "propinquis sine
necessitate, eoque minus inordinate largiantur." Os canonistas, falando
dos bens necessários que o beneficiado pode tomar para si, dizem : "Ad
honestam sustentationem pertinent non solum qure ad victum et vestitum
nec non ad habitationem ipsius beneficiarii necessaria sunt, sed etiam
hospitalitatem erga pauperes et amicos exercere, sua et suorum qui im­
pares sint debita solvere, consanguineis media ad litteras discendas sup­
peditare . . . " ( C o r o n a t a, o. c., n. 1 0 1 7. ) Concedendo-se tão ampla l i­
berdade ao beneficiado, "etsi . . . alia bona non benefici alia habeat" (cân.
1 473) , permitir-se-á ao simples pároco sem bens beneficiais que u ltrapasse
essas normas bastante vagas, traçadas para os beneficiados. Nem se con­
denará o vigário que fizer algo em seu favor e alguma coisa a mais para
os parentes, ou que tiver um cuidado razoável pelo futuro, principalmen­
te, quando não há quem lhe proporcione o sustento necessário na velhice.
Fazendo essa concessão, chamamos, ao mesmo tempo, a atenção dos
Srs. Vigários sobre o cân. 467, § 1 : "Debet parochus . . . pauperes ac mi­
seras paterna caritate complecti." O bom exemplo neste ponto é de maior
importância do que o dinheiro. Diz, acertadamente, C o r o n a t a : " . . . ex­
perientia enim constat nihil magis homines a religione avertere consuevisse
quam sacerdotem auri sacram famem."
A pobreza de algumas paróquias e as rendas instáveis de outras, como
inconveniências diversas solicitam dos párocos mais afortunados que dei­
xem uma parcela dos seus bens para dotar o respectivo benefício paroquial.
Frei F r a n c. X a v i e r, 0 . F . M . ( Baía. )

Missas não Celebradas.


Revmo. Pe. Diretor da REB. Fiado na proverbial atenção de V. Revma.
e na caridade dos consu ltores especialistas da REB, espero da caridade
de V. Revma. e do Consultor a quem uma resposta no próximo número
de Nossa Revista para a seguinte consulta :
Escrupulino, meu colega de sacerdócio, procurou-me, há dias, com a
consciência em estado de real ansiedade, para fazer-me uma embaraçosa
consulta. Feita a consu lta, não se l imitou a isso, mas desfiou longo
arrazoado de prós e contras. Fiquei indeciso. Levou-se o caso a uma
pessoa de experiência e saber ; e ela opinou que se consultasse um teó­
logo. A palavra do Colega Consultor da REB vai, pois, ser seguida
tuto pede. Vamos, então ao caso e ouçamos as dificuldades de u m colega
que está em situação angustiosa :

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 63

" N o s meus primeiros sete anos e meio de sacerdócio ( assim começou


a falar Escru pulino ) fui coadj utor seis meses e, nos sete anos, que se
segu i ram, fui Vigário na paróquia de H eresilândia. A falta de uma me­
l hor orientação sobre essas pequenas-grandes questões que aparecem fora
dos compêndios n a vida prática ; a vida agitada n aquela paróqu ia ; um
pouco ( ! ) por falta de ordem nos papéis e, afinal, diversas outras circuns­
tâncias contribuíram para que as minhas obrigações de Missas nos do­
mingos, Missas b i nadas, Missas pro populo, Missas nos dias santos e
nos dias de festas supressas fossem cumpridas sabe Deus como, pois ele
tudo o que foi realmente cumprido só tenho u m a vaga e caótica recordação.
"Pelo exame mais meticuloso que pude fazer (continuou Escru pu li no ) ,
pela revisão das anotações feitas à margem das páginas d e u m " Ordo"
de u m daqueles a nos, conjecturo ter celebrado todas as missas daqueles
anos, com exceções pro váveis, m as raras. Mas a dificu ldade está em que
não basta tê-las celebrado ; era preciso celebrá-las pro populo ou ad
interztionem Episcopi. E, além disso, se foram celebradas por i ntenções de
particu l a res, deveriam as espórtulas i ntegrais das mesmas ter sido reme­
tidas à Cúria Episcopal.
"Um cômputo feito do melhor modo possível, com os vagos dados da
memó ria, permite-me estabelecer o segu inte : N aqueles meus sete anos e
meio de coadj utor e de V i gário o n ú mero de missas, das quais não sei
se foram celebradas ad intentionem Episcopi o u pro populo, nem se as
respectivas espórtulas foram enviadas à Cúria, foi de mais ou menos
umas 1 00 missas por a n o ; o que, em todo aquele lapso de tempo, dará
um total de umas 750 m issas mais ou menos."
E Escrupul i n o, à medida que me crivava de pergu ntas, procu rava
j ustificar-se raciocinando do segu inte modo :
" 1 ) Perdura ainda a minha obrigação de celebrar aquelas missas?
Duvido que sim, porque a obrigação de celebrar imposta aos sacerdotes é
de algumas vezes n o ano ; e, se é verdade que o pároco deve celebrar
pro populo, creio que devo abater do total de 750 missas pelo menos as
missas b i nadas, que n ã o são de obrigação. Além disso, tenho quase cer­
teza de que só para pouquíssimas destas 750 missas recebi uma espórtula.
Para as outras tive u m a i ntenção virtual de celebrar pro populo ou ad
intentionem Episcopi durante todo esse tempo ; e assim j ulgo tê-las apli­
cado n a s ditas i ntenções.
º
"2) As que t iveram espórtulas, mas não remetidas à Cúria, como pos­
so hoj e calcular o seu n ú mero? Moralmente? E estou obrigado à resti­
tuição ; q uero dizer, a entregá-las à Cúria? Como fazê-lo? Porque mo­
ralmente é quase i mpossível calculá-las. E estarei obrigado à restituição,
quando não tenho culpa formal ? I sto não compreendo.
"3) Estaria eu em consciência obrigado a celebrar ou fazer celebrar
por outro sacerdote algumas daquelas missas? Como saber qu antas?
Acresce que hoje as espórtulas de missas manuais em nossa D iocese
receberam uma m aj o ração de 1 00 % e, se por um lado seria difícil en­
contrar quem recebesse pela taxa antiga, por outro lado passá-las adiante
com a taxa n ova não me será fácil.
"4) A obrigação que a I grej a i mpõe a nós Curas de almas é, n a
questão das missas, dobrada e sumamente onerosa, a tal ponto que,
além de celebrá-las pessoalmente, ainda temos que entregar a espórtul a
das mesmas. N esse caso, além de pagar a outro sacerdote, a i n d a teria
que pagar à Cúria? Então, com a maj o ração das taxas eu ficaria obri­
gado a pagar o quádruplo do que recebi in illo tempore . . . "
11•

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1 64 Assu n tos pastorais

Escrupulino, a uma pergunta minha, respondeu que foi ordenado em


fins de 1 936; e, querendo eu saber de quantas daquelas missas de obri­
gação recebera espórtulas, disse-me que calculava que do número de
750 teria recebido de umas 30 % , quando muito.
Aí vão as suas qu atro séries de perguntas. Esperamos que V. Revma.
nos atenda e lhe ficamos muito gratos em Nosso Senhor. (P. N.)

Observações ao Caso.
"Veritas liberabit nos" . - A promessa de quererem seguir tufo pede
a palavra do consultor mais do que nunca nos estimula a procu rarmos a
verdade ; e não queremos onerar a própria consciência por uma indu lgência
cu lposa para com o Escrupulino.
Em abono, pois, da verdade sej a dito antes de tudo de que as obri­
gações acerca das várias espécies de missas, como sej am : missas pro
populo, ad i n tentionem Episcopi, missas binadas, missas nos dias santos
ou de festas supressas, não são obrigações que aparecem apenas fora dos
compêndios teológicos na vida prática. São, pelo contrário, questões ven­
ti ladas e explicadas nos mais variados ramos da teologia : n a teologia
moral, no direito canônico e n a teologia pastoral. Admira, pois, que um
Padre, depois de ter feito os seus estudos no Seminário e depois de ser
aprovado para a cura de almas, possa viver em ignorância inculpável
com respeito a essas graves obrigações. O próprio Escru pulino, aliás, afir­
ma ter tido, durante todos aqueles sete anos, uma i ntenção virtual de
aplicar as respectivas missas aos domingos, etc., pro populo ou ad i nten­
tionem Episcopi, todas as vezes que não aceitou uma espórtula particular
para essas missas. Daqui parece resultar que Escrupulino não ignorava
essas obrigações impostas ao pastor de almas. Não cremos, portanto, que
ele possa afirmar ter procedido desta maneira sem culpa formal ; trata-se
de uma coisa que um Padre formado não pode ignorar. Se a ignorância
de Escrupulino foi gravemente culpável ou não, n ão compete a nós dizer.
Além disso, declara Escrupulino saber que os párocos devem cele­
brar pro populo. E é uma obrigação de justiça, oriunda de um quase­
contrato, sendo os Bispos obrigados a essas celebrações pro populo por
direito divino absoluto; os pá rocos, porém, e demais pastores de almas
por direito divino hipotético. Para utilidade dos leitores apraz-nos citar
aqui n a í ntegra u m texto da S. Congregação do Concílio (A . A . S . 1 9 1 9,
pág. 48) que espalha l uzes sobre esta obrigação dos pastores de almas :
" U n a est SS. Congregationum Romanarum et Doctorum sententia, obliga­
tionis Missam pro populo applicandi causam sitam esse omnino in pasto­
rali officio (cfr. S . C . C . in Caietan. 1 6 dec. 1 807 ; Romana, 9 j ul. 1 88 1
et plurima ibi allegata ) , h i n c passim i l l u d usurpatur quemquam hac lege
non teneri ratione beneficii sed off icii, non ratione bonorum seu redituum,
sed muneris. Quamobrem certum est hac lege obligari non solu m parochos,
sed etiam Vicarios etsi curam actualem tantum exercentes, vel etiam amo­
vibiles ad nutum, aut ad breve tempus deputatos, quamvis regularis sit
pan:ecia aut parochus, quam vis reditus nulli sint aut admodum tenues ut
ad congruam 11011 sufficiant ( Bened. X I V , Const. "Cum semper oblatas",
§ 4-5 ) . Unum igitur requiritur et sufficit ad hanc obligationem imponendam,
·
hoc est, quod quis sit proprius pastor determinati gregis, ita ut illi "cura
animarum commissa" stricto sensu, ad normam Cone. Trid., e. I , sess.
X X l l l , De ref., dici valeat. Videlicet secundum divinam Ecclesire institu­
tionem officium pastoris sua i ntegritate seu plenitudine, residet in solis
Episcopis : proin�eque soli . Episcopi iure divino absoluto tenentur ad

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Revista Eclesiástica B rasileira, vol. 6, fase. 1 , m a rço 1 946 1 65

5acr i ficium p r o populis offerendum : u nde ab ipsomet Apostolo ( H ebr., V ,


1 et V I I I , 3 ) o mnis pontifex, scilicet omnis princeps sacer dotum, non
om nis sacerdos nomi n atur . . . Ceteri autem q u i c u ram animarum habent,
prreter Episcopos, non habent velut proprium sibique inhrerens pastoris
of fici um e x divino i u re, sed i l l u d exercent ex ecclesiastica delegatione et
i nsti t utione, i ntra quosdam limites. Quamobrem q u u m de his, parochi s cete­
risq ue, dicitur incumbere illis onus ex divino pr(J!cepto applicandi missam pro
p op ulo, intelligendum est de i u re divino, non absoluto sed hypotlz etico
( cfr . etiam Bened. X I V , Const. " Cu m semper" , et Pii IX, "Amantissimi",
in q u i bus n o n dicitur absolute e x divino prrecepto mandari, sed de divino
prrecepto descendere) . H ypothesis autem est triplex, quod nempe : l .º Ec­
clesia commiserit aliqua ratione aliis ab Episcopis a n i m a ru m curam ; 2.º
Quod illis commiserit, n o n modo mere facu ltativo, sed q u o obligatio
induceretu r ; 3.0 Quod commiserit hanc animaru m curam sine ea limita­
tione, qure excludat obligationem Missam applicandi pro populo. Qure
tres hypotheses quum verificent u r dumtaxat ex ecclesiastico i u re et ordi­
natione, i n potestate est Ecclesire quemadmodu m ilias moderari vel au­
ferre, ita etiam super oneris seu o fficii consequenti applicatione dispen­
sare, aut eam temperare, quod reapse, u rgente rationabili causa facere
non recusat. H i n c etiam constat obligationem Missre pro populo, pari
quodam gressu procedere, cum ecclesiastici territorii i n distinctas p artes
distributione, per quam definite hypotheses indicatre a d effectum dedu­
cuntu r : quamobrem, quum Codex i u ris canonici, nuper eam quoque i ndi­
xerit divisionem, qua territorium vicari atus et p rrefecturre apostolicre i n
partes distribueretur, " q uasi-p a rrecias" appellandas ( e . 2 1 6, § 3 ) , conse­
ttuens fuit ad harum quoque peculiares rectores, seu quasi-parochos, obli­
gationem Missre pro populo applicandre, uno contextu cum p a rochis ( e .
466, § 1 ) , extendere, quamquam, p r o locorum rerumque adiu nctis, valde
temperatam. Notum siquidem est in disciplina canonica qure Codicem a n te­
cessit Missionarios omnes, quamquam a n i marum curam in certis aliquibus
locis assumerent (dummodo n o n gererent vices legitimoru m pastoru m in
paroch i i s canonice j a m e rectis) , semper simplices Verbi D ei pr(J!co nes,
nulloque modo paro clzos habitos esse ( S . C . P rop. Fid., 28 j a n . 1 778) a c
propterea non magis Missre pro p o p u l o applicandre obli gatos, quam sa­
cerdotes qui a b Episcopis exorati ad aliquam parreci a m derelictam ex cha­
ritate accederent, ut ibi sacramenta admin istrent ( ead. S . C . , 23 mart.
1 863, 18 aug. 1 866 ; 8 n ov. 1 882) . "
Também não é b e m exata a afirmação de Escru pulino de que a s
"missas b i n adas n ã o s ã o de obrigação." já os m oral istas dizem q u e o s
Srs. Bispos n ã o podem somente permitir a o s s e u s sacerdotes a binação,
mas até preceituá-la, quando, por ex., u m sacerdote governa duas paró­
quias, ou duas i grej as distantes ou mesmo, se todo o povo n u m a e mes­
ma igrej a n ã o pode assistir à ímica missa, como sempre acontece. E'
u m a consequência lógica do mím u s pastoral : os pastores de almas devem,
na medida do possível , facultar aos seus fiéis súditos a possibili dade de
cumpri r os seus deveres religiosos. Além disso, a S. Congregação do Con­
cílio ( 8 de maio de 1 920, A . A . S . 1 920, pág. 538 ) p rova claramente que
o s B i spos têm a autoridade de exigir elos seus sacerdotes não só a bi­
nação e m i ssas ad i ntentionem Episcopi em vez de aplicá-las pro populo,
mas até exigir a respectiva espórtu l a em favor do Seminário. D i z verbal­
mente o texto da decisão da S. Congregação acima mencionada : " . . . Epi­
scopus quidem ex se n o n h abet potestatem iliam obligationem applicationis
parochis aut sacerdotibus binantibus imponendi ; i clcirco i n clultum petiit

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1 66 Assu ntos pastorais

a S. Sede, qure utique, prouti in confesso est, pollet ilia potestate ; petiit
et obtinuit : accepta ta l i facultate, evidens est illa quoque potestas Episco­
pi. !taque nihil conficitur observando quod in indulto S. Congregatio seu
Apostolica Sedes (cfr. c. 7) verbis mere facultativis usa est : "facultatem
Ordinario concessit dispensandi sacerdotes curam animarum exercentes ab
obligatione litandi missam pro populo . . . u t sacrum applicare valeant
iuxta mentem Ordinarii ad eff ectum erogandi eleemosynam favore Semi­
narii" : ac etiam "facultatem indulget Ordinarii permittendi sacerdotibus
missam die festo iterantibus ut applicare valeant secundam missam iuxta
mentem ipsius Ordinarii, ad effectum erogandi eleemosynam favore Semi­
narii." Nam si Episcopus revera uti voluit concessa sibi facultate ad ef-
1 e e tum prrescriptum, omnia media ad i d contingendi, et idcirco etiam
potestatem o bligandi ad applicationem, tali i n du lto obtinuit. A l i u d plane
est qurerere annon opportunum sit nonnullas binatarum missarum appli­
cationes ab Ordinario arbitrio gratuito celebrantis permitti, ut nempe is
eas, n u l lo recepto stipendio, pro se suisque ac etiam pro aliis e x caritate
vel ex fidelitate applicare valeat, prout hortata est hrec S . C . in Nancyen .
et Tullen. 1 1 sept. 1 878 ; i n Vicarien., 5 mart. 1 887 ad 1 ; at de iure ordi­
nario ex parte Episcopi prrescribendi, vi indulti, applicationem de qua
agitur, minime videtur ambigendum. Minus quoque officit quod opponitur,
permissionem applicandi, in casu, non dari propter privatam sacerdotis
utilitatem, sed propter publicam causam. Nonne enim i n casu publica
causa, et quidem Supremre Auctoritati comperta ab Eaque approbata,
subest, nempe subveniendi Seminarii necessitatibus? H u j us imo publicre
causre utilitas, adeo peculiaris, i n casu, comperta est, ut ipsi cedere de­
buerit commu nis utilitas procurandi per missre consuetam applicationem,
populi salutem ; prout hrec, quod ex adverso recolitur, cessit anno 1 9 1 8
necessitati impetrandi finem atrocissime tunc srevientis belli." Concluindo
declara a S. Congregação do Concllio nesta sua decisão : "Ab ino bedien­
cice igitur nota nullo modo excusandi videntur hi sacerdotes, qui suum
j udicium i udicio Supremi Pastoris anteferentes, magis necessarium arbi­
trentur, quod i l le in prresenti postponendum esse iudicat." Podemos acres­
centar que as missas pro populo dispensadas, para serem celebradas a
favor do Seminário, revertem sempre em bem do mesmo povo, porque
servem para promover a formação de novos ministros do Senhor e pas­
tores do povo fiel. Em vista destas p alavras autoritativas da própria S.
Congregação, creio que Escrupulino não poderá sustentar a sua afirmação
de que as missas binadas não são de obrigação.
Quanto à espórtul a de tais missas, sej a dito mais uma vez, porque
já se tratou deste assunto em outros números desta Revista, pode o Ce­
lebrante reter o excesso da taxa diocesana, quando este moralmente pode
ser considerado como remuneração de um incômodo maior ou trabalho ou
também, se o tal excesso for dado em consideração do celebrante. Assim
declarou várias vezes a mesma S. Congregação do Concílio. Si rva de
exemplo a segu inte declaração ou solução da S. Congregação. O Bispo
de Paderborn propôs a S. Sé a segui nte resolução dada aos seus sacer­
dotes : "Si diebus festivis abrogatis exequire vel nuptire fiunt et parochus
Missam cantatam exequi a lem vel pro sponsis celebrare debet, stipendium
usitatum pro Missa privata tantum nobis tradendum est ; i n omnibus aliis
c asibus vero stipendium i ntegrum sive manu oblatum sive ex fundatione
statutum nobis transmittendum est. Aequum enim censeo, quod parochi,
qui i n festis abrogatis Missam exequialem aut nuptialem cum c antu cele­
·

b rare debent, stipendium pro Missa lecta tantum tradant, cum alias iura

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol . 6, fase. 1 , março 1 946 1 67

stolre ipsorum diminuerentur. l n omnibus autem aliis casibus parochi Mis­


sam cum cantu celebrare minime o bligati sunt et stipendia pro Missis
Iectis semper habent. Ne qureritandis Missis cum cantu species avaritire
i n sacrificii sanctissimi celebrationem irrepere videatur, ex re esse censui ,
quod parochi i ntegrum stipendium, sive manuale sive fundatum, favore
Collegii Leoni n i tradant. Porro parochi et alii sacerdotes, qui diebus do­
minicis et festivis duas Missas in commodum animarum celebrare debent,
nullum detrimentum patiuntur, si i ntegrum stipendium manuale vel fundatum
tradunt, qu ia congruo salario eorum alias sufficienter provisum est."
·
A S. Congregação respondeu aos 10 de novembro de 1 9 1 7 : "Nihil
refert, divesne a n pauper sit celebrans, et utrum ex beneficio ecclesiastico
satis habeat u nde vivat. Nam, uti docet Fagnanus in capite " Fraternita­
tum, de sepulturis", n. 83, "sacri canones i n assignatione stipendii non
considerant paupertatem, sed mercedem laboris, cum nemo militet propriis
stipendiis." E, concluindo, deu a S. Congregação esta resposta final :
"Decisionem Episcopi probari, n isi morali certitudine constet, e xcessum
communis eleemosynre oblatum fuisse intuitu personre vel ob maiorem
laborem aut i ncommodum ; uti resolutum fuit in "Lungdunen." coram H .
S . C . d i e 3 1 j anuarii 1 880."
Dizer que a obrigação imposta pela Igrej a aos Cu ras de almas, na
questão das missas, é "dobrada e sumamente onerosa'', não constitui
razão atenuante ; é antes uma murmuração contra as institu ições da Santa
Igrej a , que sabe perfeitamente o que pode e deve fazer. já citamos mais
acima a palavra do Papa Bento X I V, que disse que os pastores de almas
estão obrigados a celebrar pro populo, ratione officii, ratione muneris,
quam vis reditus nulli sint aut admodum tenues, ut ad congruam non suf­
ficiant."
Nossa Resposta.
Feitas estas observações sobre o caso proposto, a fim de pôr em
relevo a doutrina eclesiástica concernente a esta questão, vej amos agora
qual a resposta que podemos dar a Escru pulino.
Todos sabem que a questão que aqui nos ocupa é uma questão de
justiça, onde entram em j ogo os princípios que regem o sétimo manda­
mento : "res clamat ad dominum, ex re aliena non l icet ditescere", etc. ;
os princfPios sobre a restituição e sobre os possessores de boa ou má fé.
Escrupulino, com todos os esforços empregados nas suas argumentações,
a nosso ver, não conseguiu i nocentar-se de todo, de maneira que ficasse
livre de ulteriores obrigações com respeito àquelas missas talvez não
celebradas. Contudo, sej amos j ustos também nós : Escrupulino tem alguns
pontos a seu favo r : l .º Ele, parece, não agiu i ntei ramente de má fé ; a
sua negligência foi, certamente, culpável, mas talvez que não chegasse
a ser pecado grave. 2.0 Afirma ele de ter tido, durante todo aquele tempo,
a intenção virtual de celebrar pro populo ou ad intentionem Episcopi ; o
que, se for verdade, diminuirá provàvelmente muito o número de missas
não celebradas.
Por conseguinte, poderíamos talvez, argumentando com os princípios
do sétimo mandamento, dizer que urge a restituição "pro rata dubii."
Quer dizer, que ele deve enviar à Cúria, a favor do Seminário, tantas
espórtulas ( taxa antiga) de quantas se j ulga devedor "pro rata dubii" ;
e celebrar, da mesma maneira (pro rata dubi i ) , algumas missas pro
populo.
Entretanto, desconfiamos um tanto, se esta solução l ivrará o nosso
Escrupulino de todos os escrúpulos. Por isso apontamos outro caminho,

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1 68 Assuntos pastorais

mais segu ro ; recorra Escrupulino, exposto claramente o seu caso, ao


Exmo. Sr. Núncio Apostólico. Pois entre as faculdades concedidas aos
N ú ncios, I nternú ncios e Delegados Apostólicos, reza o n . 6: " l n du lgendi
ex causa paupertatis iis qui Missarum sive manualium sive fundatarum
applicationem omiserint, ut quod ad prreteritum tempus obligationem suam
paulatim adimplere valeant, ita nempe, ut faciant quantum possunt pro
i ntegra satisfactione oneris Missarum quo gravantur, celebrando vel per
se vel per alium singulis mensibus aliquem Missarum numerum, iuxta eorum
vires, de bono et requo a concedente et, i n casibus occultis, a confessario
determinandum. Moneantur autem prredictarum omissionum rei, si ita
faciendo ante completum huj usmodi satisfactionem obierint, nec habeant
quid pro eodem onere sive i n toto sive i n parte adimplendo relinquant,
Missas qure post eorum obitum celebrandre supererunt, ipsis, dum pie in
Christo decedunt, condonata fore cense_ri, defectum quemcunque tunc sup­
plente Sancta Sede thesauro Ecclesire. I tem concedendi, si in aliquo casu
ob peculiaria o mnino rerum adiuncta expediens in Domino videatur, ut ad
certum numerum iuxta vires petentis, Missre, quod a d prreteritum pariter
tempus, reducantur, dummodo non agatu r de recidivis, supplente pariter
Sanctitate Sua reliquarum Missarum defectum de Ecclesire thesauro."
E' verdade, esta faculdade concedida aos Srs. Núncios, l ntern úncios e
Delegados Apostólicos, só fala em missas fundadas e manuais ; c remos,
entretanto, que ela se estenda, e a fortiori, às p ro populo ou a d intentio­
nem Episcopi.
N a primeira parte da mencionada faculdade não se trata de u m a
remissão d a s respectivas missas ; todas as missas devem s e r celebradas.
Mas facultar-se-á ao réu que as celebre aos poucos, marcando-se para cada
mês u m certo número de missas, "ex requo et bono", de maneira que
o mesmo quase não sinta a sua obrigação como u m onus. Não basta,
entretanto, qualquer causa j usta para que os Delegados Pontifícios con­
cedam esta graça ; só a podem conceder por motivo de pobreza do réu,
"ex sola causa paupertatis." Em casos ocultos é o confessor que pode
determinar o n úmero de missas a serem celebradas cada mês, recorrendo
0 mesmo confessor, em nome do réu, " reticito eius nomine", ao Delegado

do Papa.
Caso tal sacerdote chegue a morrer antes de ter celebrado todas
aquelas missas, as restantes, - se o falecido n ão deixar bens com que
se possa satisfazer a obrigação toda ou em parte -, por esta mesma
benigna disposição da S . Sé, estão, ipso facto, perdoadas.
Em segundo lugar podem os Legados Pontifícios, em virtude desta
faculdade, reduzir as missas não celebradas a um certo número segundo
a posse do réu. Mas esta redução o Núncio só poderá fazer e m ci rcuns­
tâncias especiais, não bastando para isto como causa unicamente a po­
breza do orador. Tal caso se daria, por ex., se a inópia do réu fosse
tamanha que nem mesmo, celebrando pau latinamente as missas negligen­
ci adas, poderia cumprir bem a sua obrigação ; ou se um sacerdote, sem
culpa sua, tivesse perdido as espórtulas de missas ; ou, como talvez em
nosso caso, por não ter sido gravemente culpável a negligência de Escru­
pulino e sendo pobre ao mesmo tempo ; ou ainda porque n ão tem apenas
o nome de Escrupulino, mas é escrupuloso de fato, sendo as suas ansie­
dades mais imaginárias do que reais. Convém lembrar, enfim, que os S rs.
N úncios podem fazer uso desta faculdade só n a primeira vez e n ão em
favor de recidivos n a mesma negligência.

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 69

E' evidente que, em vez de se recorrer ao N úncio A postólico, pode-se


recorr er di retamente à S. Sé, pedindo redução ou remissão das missas
não r.elebradas. Fr. A 1 e i x o, O . F . M .

Clerici . . . Procurantes Abortum.


Com a santa liberdade de seu i rmão no Sacerdócio faço-lhe uma
co nsulta : Sou leitor e apreciador da REB e valho-me muito da solução
dos casos de consciência ou da moral dados por esta Revista. Desejo
uma exposição clara sobre o cânon 2350, que reza : " P rocu rantes abortum,
matre non excepta, incurrunt, effectu secuto, i n excommunicationem latre
sententire Ordinario reservatam : et si cleri sint prreterea deponantur."
(N. N.)
Placet, introductionis gratia, prremittere ac in memoriam revocare
verba Papre Pii XI ex encycl. "Casti connubii" qure ad rem spectant :
"Qure possit unquam causa valere ad u llo modo excusandam directam in­
nocentis necem? De hac en im hoc loco agitur. Sive ea matri infertur sive
prol i, contra Dei prreceptum est vocemque naturre : Non occides. Res enim
reque sacra utriusque vita, cuius opprimendre nulla esse u nquam poterit ne
publica! quidem auctoritati facultas. a) l neptissime autem hrec contra inno­
centes repetitur e iure gladii, quod i n solos reos valet ; b) neque ullum
viget hic cruentre defensionis ius contra i niustum aggressorem, nam quis
innocentem parvu lum i n iustum aggressorem vocet? ; e ) neque ullum adest
extremre neccessitatis ius quod vocant, quodque usque ad innocentis
directam occisionem pervenire possit."
Definitio abortus : "Abortus est eiectio viventis fretus immaturi ex
utero matris. Fretus dicitur immaturu s seu inviabilis a primo momento
conceptionis usque ad expletum sextum gestationis mensem, eo quod, si
intra illud temporis i ntervallum ex sinu matris expellatur, vívere nequit.
ldeo qurelibet actio, qua proles perdurante eo graviditatis termino eiicitur,
proprio nomine vocatur abortus, sive proles antea i n utero materno occi­
datur, sive vivus i n lucem editus postea moriatur. - N . B . ln explicanda
notione abortus jam nulla ratio habenda est theorire animationis, iuxta
quam, prout veteres putabant, fretus masculini censebantur anima rationali
informari et vivificari die quadragesimo ab instanti conceptionis, feminiei
vero die octogesimo post conceptionem ; nam hrec theori a, utpote a doctri­
na recentiorum physicorum et physiologorum aliena, hodie derelicta et
antiquata est neque amplius in iure attenditur.
Dicitur in definitione "fretus immaturi" ; etenim fretus post i ncreptum
septimum mensem prregnantire evadit et appellatur viabilis, etsi prrema­
turus, capax vivendi extra matrem, ac proinde, si inter septimum et nonum
mensem gestationis eius expulsio vel nativitas adducatur, eductio proprie
vocatu r "acceleratio partus" seu partus prrematuru s, non vero abortus.
Quare, quod sedulo notandum i n praxi, aliud i n iure est abortus, qui
pccnis canonicis coercetur, aliud partus acceleratio, qure sanctione non
punitur.
Procurantes abortum i ntelliguntur, qui directe i ntendunt abortum et
studiose seu de industria eum causare conantur, opere de se efficaci ad
i d prrestito. P rocurantes abortum igitur intelliguntur quotquot de industria
et ex directa intentione, seu ex mediis i n hunc finem ordinatis et consulto
adhibitis, sive per se sive per interpositam personam, abortum tamquam
effectum ab i psis volitum ambiunt et reipsa, effectu secuto, producunt.
Unde delicti procu rationis abortus rei exsistunt et consequenter prena ca-

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1 70 Assu ntos pastorais

nonis feriuntur omnes, qui sive mediate sive immediate, ex directa inten­
tione efficiunt, ut fcetus i nviabilis ex u tero materno edatur percussionibus,
venenis, medicamentis, oneribus et laboribus mulieri prregnanti i mpositis,
i n iectionibus subcutaneis pharmaci, punctione amnii, viribus vel radiis electri­
cis, consiliis, mandatis, vel aliis exquisitis rationibus et remediis.
"Procurantes" non sunt neque ideo subsunt censu rre, qui abortum
permittunt, etiam prrevidentes ex propria actione i llicita indirecte secutu­
rum. Igitur censura non contrahitur ex abortu voluntario indirecte et
in causa, quamvis e x illicita actione prodierit. Non contrahitur i n dubio
an causa efficax fuerit, sei. an effectum revera produxerit. l d valet etiam
i n casu quo causa fuerit qu idem vere efficax natura sua, sei. in se con­
siderata, at i n illo casu particulari ob specialem aliquam circumstantiam
talis non fuerit. (Vide C a p p e 1 1 o, De Censuris, n. 384. )
l psa mater non excipitur ab incu rrenda censura, ut dicitur in citato
canone ; attamen si mater ad procurandum sibi abortum i nducta fuerit
ex metu gravi, censuram non contrahit, quamvis a gravissimo peccato non
excusetur, uti clare eruitur ex can. 2229, § 3, n. 3, qui sic sonat : "Metus
gravis, si delictum vergat i n contemptum fidei aut ecclesi asticre auctoritatis
vel in publicum animarum damnum, a pcenis l atre sententire nullatenus
eximit." l n aliis ergo casibus metus gravis a pcenis latre sententire delin­
quentem eximit.
I dem valet et id disserte quoque asseritur in can. 2229, § 3, n. 1 , si
mater i d egerit cum ignorantia legis vel pceme, dummodo hrec ne fuerit
c rassa vel supina.
Qurestio quoad cooperatores, de quibus prresertim qurerit solutionem
consultor, solvenda est ex applicatione can. 2209 coll. can. 223 1 . Ait enim
can. 2209 i n tribus prioribus paragraphis : "Qui commun i delinquendi con­
silio simul physice concurrunt in delictum omnes eodem modo rei habentur,
nisi adj u ncta alicuius culpabilitatem augeant vel minuant. ln delicto quod
sua natura complicem postulat, unaquccque pars est eodem modo culpa­
bilis, n isi ex adj unctis aliud appareat. Non solum mandans qui est princi­
palis delicti auctor, sed etiam qui ad delicti consummationem inducunt
vel i n hanc quoquo modo concurrunt, non minorem, ceteris paribus, i m­
putabilitatem contrahunt, quam ipse delicti exsecutor, si delictunz sine
eorum opera comnzissunz 11011 f11isset." Et can. 223 1 prrescribit : "Si plures
ad delictum perpetrandum concu rrerint, licet unus tantum in lege nomi­
netur, ii quoque de quibus in can. 2209, §§ 1 -3, tenentur, n isi !ex aliud
expresse caverit, eadem prena . . . Quapropter omnes ex condicto seu ex
communi consi lio cooperantes necnon omnes opem ita fcrentes, ut sine
eorum concursu abo rtus non fuisset commissus, pcena afficiuntur qua
principales conrei, uti sunt abortum mandantes et consulentes ; item me­
diei, chiru rgi et obstetrices, utpote physice abortum perficientes ; item
pharmacopolre remedium i n hunc finem prreparantes vel vendentes, etc.
N . B . O. L o G r a s s o S . J . in solutione cuj usdam casus de abortu (P e­
riodica, 1 933, pg. 1 7 1 - 1 72) opinatu r : " H odie, perspecta facilitate itinerum,
facillime fuit mulieri obtinere sibi potionem abortivam, ita u t negatio
unius pharmacopolre (vel mediei ) exsecutionem delicti non impedivisset.
Quare ex can. 2209, § 4 delictum est ipsi minus imputabile ita u t censuram
contra delicti exsecutorem latam ipse effugiat."
Nutrices pharmacum abortivum ministrantes, n isi finem et indolem
medicamenti ignorent, a delicto et pcena eximi non possunt ; quodsi tan­
tummodo i nstrumenta chirurgica purgent, disponant ac porrigant, corpus
mulieris gravidre lavent et prreparent pro operatione, etc., eorum opera

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videt u r esse materialis cooperatio dumtaxat, qure, secluso prrevio con­


dicto, o b j u stam causam et p rresertim ad vitandum grave inco mmodum
'
ne e servitio d i mittantur, licita evadit i deoque a pcena vacua.
" Effectu secuto" ait canon. Necesse enim est, u t abortus tanqu am ef­
fectus i n se volitus seu terminus directe intentus, sive immediatus sive u l­
timus, ex medio adhibito fl u xerit et causatus fuerit ; conatus abortus et
abortus frustratus a d i n c u rrendam censuram non sufficiunt. V i de ad hoc
canonem 221 2, § 1 et 2 coll. 2228.
Quodsi quis, post positam abortus causam et antequam effectus se­
q u atur, doleat de actione abortiva, censura nihilominus ipso facto con­
summati delicti percellitur, nisi mature s u u m i n f l u x u m in abortum opere
complendum plene abstulerit ac retractaverit. S u nt tamen, q u i talem resi­
piscentem a censura eximant, si ante abortum secutum a peccato suo
sacramentaliter absolutus fuerit. Sic, v. gr. docet C a p p e 1 1 o (De Cen­
suris, n. 386) : "At q u i pcenitens factus actionis abortivre, antequam ef­
fectus sequatur, a bsolvitur, censuram n o n incu rrit. Ratio, q u i a censura
non contrahitur nisi effectu secuto ; tempore autem q u o effectus sequitur,
reus est j a m c u m Deo per sacramentu m , ideoque et cum Ecclesia plene
reconcil iatus." Quam sententiam, attento prrescripto can. 22 1 9, § 1 , practi­
ce loquendo tuto sequi licet.
Exco m m u n icatio hrec latre sententire Ordinario est reservata. l gitu r
q u i l ibet Ordinarius ad tramitem can. 2253, n . 3, prredictos pcenitentes
absolvere potest ; imo ex p rivilegio eadem potestate gaudent confessarii
regulares. N . B . Ordinari us, cui reservat u r censura, n o n est proprius, sed
Ordi narius simpliciter, seu quicunque h u j u s nomine in i u re venit.
" Clerici prreterea deponantur". l gitur clericus tanti criminis reus
subiicitur quoque pcenre depositionis, qure tamen est ferendre sententire.
I nsuper omnes, qui abortum procu raverunt, omnesque cooperantes
plectuntur irregularitate ex delicto vi can. 985, n. 4 . Quoad cooperatores
adnotat P . V e r m e e r s e h ( Tlz eol. Mor. I I , n . 626 ) : "Cooperatores esse
videntur coopera tores positivi tantu m (ex can. 223 1 ) , quamvis C e r a t o
( Censurre vigentes, 11 . 1 6 1 , pg. 229 ) etiam negativos comprehendat."
E x dictis pro praxi colligitur abortum n o n h aberi nec proinde Iocum
esse pceme i n hoc canone statutre i n sequentibus casibus : 1 ) S i quis fcetum
mortuum expellat ; 2 ) S i quis statim post congress u m semen eiiciat, q u i a
d e conceptione certo n o n constat ; imo idem dicendum si qu i s remedium
abortivum adhibuerit etiam longe ultra m ensem post habitam copulam
carnalem ob defect u m indicii u n d e certo sciri possit n u m fcetus fuerit
reapse conceptus ; 3 ) Si quis abortum 11011 directe procu raverit, sed propter
vim physicam m u lieri gestanti ex odio, i ra, zelotypia vel alia passione
i llatam, quia ipsu m abortum de industria n o n i ntendebat ncc volebat sed
indi recte tantum indu xit ; 4) Si infans jam vitalis i n si n u materno per
craniotomiam ( cephalotripsiam, embryotomiam, decollationem, exenteratio­
nem, vel alias operationes chirurgicas di recte occisivas fcetus) occidatur et
deinde extrahatur, quoniam eiusmodi interfectio fcetus viabilis, etsi abortui
seu eductioni fcetu s immaturi valde simi lis, proprie procuratio abortus d i c i
nequit, sed constituit ve r um homicidium et ide o, attento can. 22 1 9, § 3,
et firma i l liceitate actus, pcenis n o n abortus sed h o m icidii subiacet ; 5)
S i qu is, salvo meliori, fcet u m ectopicum extrahat i n casu prregnationis
extrauterinre, q u i a abortus est expulsio fcetus uterini. - Hrec dieta magna
ex parte inveniri possunt apud B e s t e, lntroductio ln Codicem .
Fr. A l e i x o, O . F . M .

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1 72 Assuntos pastorais

Partes Confessarii in Diiudicanda Virtute Necessaria


ad Sacros Ordines.
Nota : Em vez de responder por u m estudo próprio, para o que n o momento
nos falta o tempo necessário, a u m a consulta a nós feita sobre este assu nto, apra z-nos
satisfazer o desej o do consul ente e , como nos parece, plenamente por u m ar tigo pu­
b licado sobre a presente matéria n a " Perlodlca" de 1 928, pg. 231 , pelo c l . Pe.
V e rmee rsclt. - ( Fr . A 1 e i x o , O. F . M . )

Sicut de externis qualitatibus i udicat Episcopus, ita Confessarius de


internis pronuntiat. lta fere Card. G e n n a r i , i n "Monitore eccl." t. 24,
pg. 267, nota.
Definire tamen officium confessarii in ista sententia ferenda, est quid­
piam grav1ss1mum, lubricum et anceps, satis recens examini theologorum
propositum, nunc autem prene cotidie a confessario practice solvendum.
Gravissimum est, tum quia recta rei definitio magnopere i nterest ad
commune Ecclesire bonum, qure idoneis ministris extreme opus habet, tum
quia agitur tota prresens, immo quadantenus vita futura prenitentis suius
causa dirimitu r : statuitur enim quodnam vitre cu rriculum emetiendum sit a
persona qure confessario velut medico spiritu ali se committit.
Lubricum et anceps est, quia auctores probati, nec perfecte inter se
convenire videntur, nec sem per distincte de re scribunt ; prreterea quia
futuri liberre voluntatis actus coniciendi s � nt, et quia simul consideranda
et componenda sunt plura qure animum iudicis i n diversa i nclinant.
Et rece11s propositum. Namque de re silent classici isti scriptores
aurere retatis theologire moralis, qui suis operibus nobis tam utiliter adesse
solent. S. A lphonsus, L. 6, n. 64, refert se, antequam suam sententiam pro­
ferret, diu de re cum "quamplurimis Neapolitanre u rbis theologis'' , dis­
putasse ; neque ipse auctorem citat qui retate prrecesserit Natalem A lexa11-
drum ( 1 724) , ita ut qurestio de partibus confessa rii summum, srecu lo
XV I I I ca:pta sit exami nari.
Nunc et pame cotidie a confessariis solvendum. Estne enim, per to­
tum orbem, Seminarium, estne institutum religiosu m clericale in quo de
capessendo vel declinando sacerdotii honore nulla dubia exoriantur? -
Quare, distinctioni conceptuum et usus facilitati simul consu lere volentes,
utile duxi mus ut argumentum istud in panca contraheremus et synoptice
proponeremus.
l n quo negotio, ducem potissimum assumpsimus S. Doctorem Alphon­
sum. Versamur enim in qurestione i n qua illuminata et tam authentice com­
mendata cius prudentia partes prrecipuas agendas habet ; et ipse, loco ci­
ta to, nobis testatu r quanta cura et sollicitudine varias opiniones libraverit,
ut deveniret ad sententiam de qua cum ipso convenerunt multi theologi
quos consu ltum adhibuerat.
Eleganter hic D ' A n n i b a 1 e, 1 1 1 , 293 ( 1 9) relata controversia, con­
cludit : " a quo (S. Alphonso) recedere nefas duco."
Ad synopticam expositionem addemus qurestionem subsicivam, instar
complementi apti ad dissipanda obscura et saltem ambígua quorundam
scriptorum dieta.

Synoptica Propositio Rerum qua! Faciunt pro Susception e v el Contra


Susceptionem Ordinis Sacri.
N . B . Qure huc referu ntur esse pro ordination e vel contra eam, i. e.
favere susceptioni vel ei contraire, non ita accipienda sunt quasi siRgula
decretorium secundum se argumentum contineant. Contra susceptionem

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· Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 73

esse dicuntur quatenus saltem inclinent animum ad nega nd um ascensu m ;


dicu ntur esse pro susceptione, quatenus benigniorem responsionem suadeant.
Plura enim simul componenda sunt et ratio habenda cst experimenti de
quo in normis, n. e.
A. Contra susceptionem ordinis sacri :
1 . Peccatuni completum i n re venerea, si completum fuerit cum com­
piice, prresertim eiusdem sexus et quidem post 13 vel 14 retatis a n n u m ;
vel si nimiam propensionem ad vitium revelaverit. - Completum i ntelligas
hic etiam ex modo, i . e. non mere per tactus externos. Peccatum tale,
etiam sine lzabitu, susceptionem ordinis sacri serio impeditiorem efficit.
I I . Habitus pravus, qui existit, q u ando non raro peccatur ex pro­
p ensione.
Distinguitur habitus :
1 . Ex irztensitate : m ensilis, seu mi nus gravis ; semi-m ensilis, seu gra­
vis ; lzebdomadarius, seu valde gravis ; cotidianus vel fere t alis, seu gra­
vissimus.
Quo gravior fuerit, eo magis ordinationi obstat, vel diuturniorem pro­
bationem imponit.
2. Ex origine : nativus, propter qu asdam nervo rum affectiones ; acqui­
situs, ex causa extrinseca accidentali ( q u alis est malus socius ) , ex causa
intrinseca ( pigritia, m a li tia ) .
Peior est habitus n ativus e t i s qui e x causa intrinseca est acquisitus.
3. Ex tempore : prcesens vel prceteritus ; anterior proposito vitre sa­
cerdotalis, ingressu i n seminarium, ordine sacro iam suscepto, vel his
posterior.
P rresens maxime obstat ; peior est, q u i est vel fuit posterior propo­
sito vitre sacerdotalis, i ngressu in seminarium, ordine sacro iam suscepto.
4. Ex o biecto terminatur ad phantasias, a d aspectus, ad actiones vel
solitarias vel cum alia persona, sive alterius sive ej usdem sexus.
H i c attendendum est a d substitutiones. Deficiente vero suo obiecto,
fit ut n aturalis propensio a d alterum sexum terminetu r a d a l i a .
Pessimus e s t h a b i t u s inclinans ad actiones cum eodem s e x u qua tali,
et difficilius eradicatur.
Peior quam solitarius est vitium quo peccatur cum alia perso n a ; idque
etiam propter scandalum.
B. Pro susceptione sacri ordinis.
1. Amor viice sacerdotalis, q u i variat intensitate et puritate in motivis.
Motiva supernatural i a ! - Quo i ntensior et purior, eo magis f avet.
l i . Talenta, dotes subiecti, quibus utilior erit Ecclesire, religioni. -
Cave tamen a superbis et a periculo maioris scandali, si i n a ltiore loco
sunt corrupti.
I l i . Necessitas Ecclesice I aborantis penuria sacerdotum .
IV. Difficultas mutandi statum, periculum cujusdam notre, ex instante
ordin atione.
V . Conditio manentis in sceculo vel ad illud redeuntis : pericu l a fidei,
moribus.
VI. Experim entum servatce continentice, s ive simplex, sive auctum gra­
tia extraordinarire conversionis.
C. Normce practicce, quarum nu/la supplet iudicii maturitatem.
L Semper prolzibendus est immediato ascensu, qui in prcesenti laborat
maio habitu lzebdomadario, etiam solitario.
I I . Moraliter semper prolzibendus est immediato ascensu qui quolibet
ha bitu prcesenti i n fectus est, n isi extraordinaria fuerit eius conversio. Cfr.

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1 74 Assuntos pastorais

S. Alph. VI, 64. - Si habitus fuerit cum alia persona, semper prreterea
experimentum continentire imponendum est.
I l i . Dehortandus est ascensu :
a) qui habitudi nem habuerit peccandi cum alia persona.
b) qui laboraverit habitu hebdomadario etiam vitii solitarii (propter
periculum novre crisis ) .
c ) q u i nimis ad vitium propensus sit.
Nimia autem propensio a perito cognosci potest, et iam revelatur ipsis
med iis exfraordinariis quibus uti quis debet ad servandam castitatem (vio­
lenta non du rant) . Exceptio fortasse admitti potest, si cum extraordinaria
conversione experimentum prrevi um coniungatur.
N . B . ln his tribus casibus 1111/lus respectus habendus est conditionum
sub B. seu argumentoru m pro ordinatione.
IV. Etiam si extraordinaria fuerit gratia conversionis, semper su aden­
da est prrevia pro batio, qure gravitati habitus attemperata fuerit.
V. Hortandus non est is, cuius prrevidentur relapsus accidentales, i . e.
qui non iam ex habitu, sed ex causa accidentali manant.
VI. Ad prudentem confessarium spectat cognoscere an pcenitens vel
temporis experimento vel alia via sit convenienter probatus atque dispo­
situs.
V I I . ln casi bus minus perspicuis et quando rogatu r consilium con­
siliator elementa pro cum elementis contra, implorato lumine divino, per­
pendet. - N . B . Judiei um confessarii fere semper ad castitatem refertur.
De actione eorum qui externre seminarii gubernationi prreficiuntur
paucissima hrec subiungere liceat.
1 . Ad tri a vitia potissimum attendendum est : ad superbiam (qure
se prodat gravior et vix corrigibilis) , ad luxuriam, ad ebrietatem.
2. Qui i n primo anno seminarii, ubi multa nova media supernaturalia
prresto sunt, habitum non deposuerit, experientia teste, a fortiori i n se­
quentibus annis manet habitu ligatus ; quare dimittendus est.
3. Qui in feriis habitudi nem habuerit peccandi cum alia persona, ite­
rum, teste experientia, prohibendus est ab ascensu.

Qurestio Subsiciva.
H actenus definire conati sumus qurenam virtus in eo adesse debeat
qui sacros ordines suscipere voluerit. Atque, ut ex ipsis normis fac i le col­
ligitur, ut minimum requiritur habitualis status gratire, quem nullus pra­
vus habitus interrumpat, et securitas a casu qui palam sit scandalosus.
Iam qureritu r quonam fundamento niti debeat coniectura confessarii
de isto habitu et de ista secoritate. Sufficitne probabilis, an requ iritur
moraliter certa? Phisice enim certitudi nem haberi non poss� nimis liquet.
lamvero statuimus moralem certitudinem requiri, nec sufficere con­
iectu ram probabilem, nisi ea sit qure, quia u nice probabilis est, . ad mora­
lem certitudinem redigitur. - Quod tum ratione, tum auctoritate sic effici
posse arbitramur.
1 . Argumerztum rationis.
a) Estne fas ut cum dubia aptitudine aliquod officium ambias, ut
eius onera et obligationes suscipias? Quisnam id fas esse dixerit? Estne
istud fas, si via postea retrocedendi penitus sit interclusa? ld multo minus
fas esse omnes affirmabunt. - Estne istud fas, si periculum accedit gra­
vis detrimenti aliorum vel S ocietatis publicre? Ex periculo isto fortissimam
rationem prohibitionis manare nemo diffitebitur.

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 75

A c re vera, q u isnam existimaverit quempiam cum dubia scientia mu­


n us a dvocati, i u dicis, cum dubia peritia munus mediei honeste assumi vel
ex erc eri posse?
I a mvero dubia est idoneitas, s i rationes probabiles suadent virtutem
n on satis firmari, etiamsi rationes probabiles virtutis sufficientiam suadeant.
Hrec est vera positio Probabilismi : cum rationes probabiles suadent
n on haberi legem, !ex dubia est, etsi rationes probabiles stent pro lege.
Et talis !ex, utpote qure sit dubia, obligare negatur.
I gitur j uvenis sacros ordines honeste appettere non potest, quamdiu
non constet morali certitudine, pericu lum publici scandali vel pravre con­
suet udinis esse amotum.
b ) Probabil itas futurre castitatis est probab i litas non i ur i s sed facti.
Atqui "dicimus n umquam esse l icitum uti opinione probabili probabilitate
facti cum periculo damni alterius aut sui i psius, qu i a hujusmodi proba­
b ilitas minime aufert periculum damni" (S. Alph. I , 4 2 ) .
l n casu autem nostro, pericu lum damni tum p roprii tum alieni sub­
esse manifestum est.
2. A rgum ent1tm auctoritatis.
a) Pro nostra conclusione faciunt quotquot requ irunt in ordinando
sanctitatem seu probatam vi rtutem. l i dem enim, consequenter volunt ut
adesse cognoscatur, nec merc cernatur veri similis. Quare allegamu s : e.
Nemo, 1 2, D i stinct. 32 : " N emo ad Sacrum ordinem permittatur accedere,
nisi aut v irgo aut probatre castitatis exsistat."
S. T h o m a m, 2, 2, q. 1 89 art. 2 ad 6: "Ordines sacri prreexigunt
sanctitatem . . . unde pondus ordinum imponendum parietibus iam per
sanctitatem desiccatis."
Hrec - subiungit Ballerin i , IV, 23 1 , - v idetur communis doctrina.
Ceterum ipse S. Thomas, Ioquens de ordinante, hrec habet : "exigitur ut
secundam mensu ram ordinis vel officii iniungendi, diligenter cura appo­
natur u t habeatur certitudo de qualitate promovendorum" (Supp. q. 36
art. 4 ad 3 ) .
S a 1 m a n t i e e n s e s, t r . 8 " D e Ordine", e. 5 , n . 40, "u ltra ( absentiam
a peccato morta l i ) requiritur quod (ordinandus) sit honestis moribus
imbutus."
P i g h i , Theol. mor. IV, n . 449, Q. 3: "Primario immo essentialiter
est ( requisita ) sanctitas interna seu vera, tum positiva, tum prresertim
negativa, quo ipsius anima i mmunis sit nedum a peccato, sed et ab ha­
bitibus pravis."
b) Nec desunt testimonia magis directa et explicita.
V o i t, S . j . , "De Ordine" n . 1 0 1 3 : " Qurenam requ iritur sanctitas in
ordin ando subdiacono? - Ut vel a baptismo i nnocenter vixerit, vel pec­
cati maculas a notabi l i tempore per prenitentiam eluerit : ut solutus a vi­
tiosis habitibus et in virtutibus, prresertim in castitate radicatus, extra
morale periculum constitutus censeatur."
L e h m k u h 1, S . J . , II, 760 : "De divin a vocatione id imprimis noto,
debere positiva probatione constare de vitre probitate, tum Superiori, ut
ad ordines, maxime sacros, admittere possit, tum ipsi candidato, ut sacrum
ordinem suscipiat."
P r u e m m e r, O . P . , Theol. mor. l l l , 603 : "Omnes docent non suffi­
cere ut ordinandus post si nceram confessionem sit absolutus a gravibus
peccatis commissis, sed etiam ut per diuturnum exercitium virtutum, prre­
buerit moralem certitudinem de constanti vita virtuosa."
F r a s s i n e t t i, "Comp. della Teolog. morale", n . 470, nota 1 50 : " I I

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1 76 Assu ntos pastora i s

confessore dei ch ierico abituato n o n si !asei smuovere nê per promesse,


né per proteste, ne per lagrime e scongiuri dalla necessaria inflessibilità
di negargli l'assoluzione, se prima d ' u n a prova di stabile e sicuro ravve­
d imento pretende di passare ai subdiaconato."
D ' A n n i b a 1 e, "Summula", 1 1 1 , 293, nota 1 9, ut controversam q u idem
refert qurestionem utrum sine pr.:evio experimento clericus habituatus ad
ordines sacros admitti possit, nccne, sed S. Alphonso standum esse tenet :
"Sane is, l icet extra hunc casum l icite absolvi posset, i n prresens i n dignus
est qui hunc honorem s i b i sumat ; et merito dubitari debet, utrum a d hunc
honore m vocatus sit ; et ne, sacerdotio suscepto, i n gravius periculum
coniciatur."
A e r t n y s - D a m e n, C . SS . R . , Theol. mor. II, 586, sicut Marc­
Gesterman, doctri n a m S. Alphonsi repetit : "Tenetur antea per tempus
notabile, saltem per complures menses, pravum habitum emendasse."
B u 1 o t, S . j . , Theol. mor. 11, n . 1 30 hrec tradit de eo qui frequenter
labitur et velit i ngredi religionem clericalem et apostolicam : "Si carnis
lapsus oriantur ex í n dole vel pravo habitu, potius quam e x tentatione
externa vehementi, videtur omnino arcendus, utpote onus importabile ausu
temerario volens suscipere cum magno periculo scandali et religionis de­
trimento . "
F e r r e r e s, S . j . , Comp. Theol. I I , 8 7 6 (ed. 1 0 ) refert et seq u i vi­
detur placita S. Alph., Lehmkuh l , Aertnys, etc . , etsi in fine addat "contra
alios". l pse demum sic concludit : "Si quis exqui rat a no bis consilium
id nostru m erit, ut n o n au deat ad ordi nes sacros accedere nisi post longam
unius saltem anni probationem castitati s ; 2, s i de prrecepto sit sermo,
vix umquam prohibendum accessum ad sacros ordines ei qui per sex
m enses perfectam servaverit castitatem ; vix umquam concedendum, n isi
saltem post ires menses probationis ; minus vero difficilem poterit quis se
exhibere erga eos qui per quatuor vel quinque m enses illibatam serva­
verunt castitatem. Excipitur semper casus m i rre et extraord i narire con­
versionis."
Card. O e n n a r i "Monitore", t. 25, p. 74, necessitatem comparatre
certitudinis multis u rget.
C o r n e 1 i s s e, O . F . M . , Comp. Theol. I I I , n . 502, sententiam S.
Alphonsi refert, dein respondet cum Ballerini et Gen icot, et tandem hrec
profert : "N ihilominus in hypothesi (clerici habituati in peccatis luxurire
occultis) putamus aliquam obligationem ex lege naturre, abstinendi ab
ordine sacro, maxime a subdiaconatu recipiendo ( Nota P . Vermeersch :
"maxime a subdiaconatu", q u atenus tunc facilius receditur. Sed si post
subdiaconatum h abitus permanserit, magis u rgere nobis videtur ratio
non ascendendi ad ordines superiores qui ne ut subdiaconus q u i dem caste
vívere potuerit. l psum Cone. Trid. plus, e. 1 4 pro presbyteris, quam, e.
1 3 pro subdiaconis, exigit ) ; eam autem graviorem vel leviorem pro maiori
vel minori periculo quod, omn ibus consideratis, remanere creditur ne tali
prenitenti Ordo seu potius status suscipiendus vergat i n maiore m sui al io­
rumve perniciem."
N u m forte obicies Tridenti num, quod ss. X X l l I , e. 13 mere e xigere
videtur ut subdiaconi "sperent Deo auctore se conti nere posse " ? Sed
Conci lium ipsos n o n supponit vitiosos, c u m velit ut bonum testimonium
afferant et i n minoribus ordin ibus iam sint probati ; et ab ordinandis presby­
teris postulat u t sint "castis moribus conspicui" ( e . 1 4 ) . Quare ita locutum
esse videtur quia, cum nemo de perseverantia sua sit stricte certus, non

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , m a rço 1 946 1 77

po ssi mus nisi spem f u ndatam h abere, q u re n u l l o argume nto contrario i n­


f ir m etu r.
A nobis 11 0 11 d issentire, sed a d communem sententiam trahi posse ac
deb eri arbitra m u r auctores, ceteru m probatos, q u o ru m modus dicend i , pa­
rumper ambiguus, de mera probabi l itate acc i p i possit. - Sunt a uctores,
aiunt Piscetta-Oen naro ( Elementa theol. mor. IV, 1 80 ) qui clerico h a b i t u ato
ascensum permittunt "si modo probabiliter restim a t se in posterum caste
victurum , et confessarius n o n i udicat eum f a l l i . "
!ta c l a r i o r a v e r b a desi derantur a p u d B a 1 1 e r i n i - P a 1 m i e r i , I V ,
228-233, q u i scribit : " s i a l iter n e q u i t c r e d i probabiliter q u o d o r d i n atus sit
caste victu rus" ; N o 1 d i n , I I , 753, apud q u e m legim u s : " E x rei naturre
cl er icu s ad sacros ordines tuta conscientia accedere nequit, nisi ftmdatam
spem teneat se habitualiter saltem caste victurum esse prout in o r d i n a­
tione Deo promissurus est" ; O e n i e o t, I I , 26, " q u i t u r p i u m peccatoru m
consuetudine i rretitus maiorem ordinem suscipit, . . n o n lzabens pro babilem
.

tf!Stimationem quod, suscepto o rd i n e , peccata exte r n a gravia contra casti­


tatem lzabitualiter vitabit, peccat graviter. 1 t a c o m m u n issim a sententia" ;
T a n q u e r e y, Theol. m o r . et past. 1 , n . 1 1 6 1 " q u i peccata contra casti­
tatem vel alias virtutes "commiseru n t debent tamdiu probari q u a m d i u
necesse e s t u t f u n d at a s p e s h a b e a t u r eos i n eadem vitia n o n esse rela­
psu ros."
l d dolemus, quia perperam i ntellecti locum facile dant actionis n i m i s
ben igme, qure, i n hac re, u t nobis d i c e b a t P . L e h m k u h 1 , tergit crudeli­
tatem erga Eccles i a m et, n i mis srepe eti a m e rga minus dignos quos dein
sero prenite t se a d sacros ordines aspirasse.
Dolemus etiam non bene allegari Benedictum X I V , "De Synodo L.
XI, e . 2, n. 1 8, q u as i simpliciter scripserit " n u l l a m generalem regul a m tradi
posse" , cum Pontifex hrec non tradat n isi de eo qui " t a l i a contriti cordis
indicia prre se ferat, ut confessarius illius conversionem s i n ceram merito
existimare valeat atque confidere eum non amplius relapsu r u m esse i n an­
tiqua peccata quorum consuetudine involutus fuit."
A . V e r m e e r s e h, S . J.

Pequenos Casos Pastorais.


Pedra d'Ara. - Tendo e n c o n trado um caso curioso, sobre o qual não
me satisfizeram as respostas de alguns colegas, resolvi fazer a consulta
à nossa Revista Eclesiástica, porque a resposta, sendo publicada como
espero, servirá para q u antos lêem a revista. E i s o caso : Saindo do hos­
pital fui, a m a n d a d o médico, em refocilo, em uma faze n d a onde havia
uma capela de q u e m e u avô fora o encarregado. Celebrei diversos dias
sem examinar a pedra d'ara, mas u m d i a m e lembrei de o fazer, e , qual
a m i n h a s u r p resa ! a pedra n ã o tinha o sepulcro, n e m as relíq u i as conse­
quentemente. Estarei eu obrigado a repet i r as Missas celebradas nessas
condições? Depois desta p rova já encontrei mais três em idênticas c o ndi­
ções. A g u a rd o ansioso a resposta a m i n h a consulta. (N. N.)
Existem no Brasil Pedras d' A ra sem Relíquias? Nesta primeira
-

parte d a nossa resposta que remos e x a m i n a r, se existem de fato entre nós


aqui n o B rasil pedras d ' a r a sem sepulcro e sem relíquias. Todos conhece­
mos o p a rágrafo 4 d o cân. 1 1 98, que ass i m prescreve : "Tum in altari im­
mobili tum in petra sacra sit, ad n o r m a m legum liturgicaru m , sepulcru m
cont i n e n s reli q u i as Sanctorum , l a p i de clausum." Este sepu lcro deve ser
excavado na própria pedra e isto n o m e io d a mesma, n ã o sendo lícitas
12

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" Assu ntos pastorais
1 78

as pedras de parte a parte perfuradas, nem as que têm o sepulcro na


parte anterior ou frente da pedra, como antigamente às vezes se faziam.
Neste particular a pedra d'ara se diferencia bastante do altar imóvel ou
fixo, porque neste último, segundo o Pontifical Romano, o sepulcro po­
derá ser feito, ou : a ) na parte superior da mesa, isto é, no meio da mesa
lapídea ; b ) na parte anterior da base do altar (esteios do altar) ; c) na
parte posterior da base ; d ) na parte superior da base, no meio, servindo
então a própria mesa lap!dea como tampa.
A S. Congregação dos Ritos, referindo-se às pedras d'ara com o se­
pulcro na parte anterior, na frente da pedra, declarou em 4 de novembro
de 1 885 : "Quoad vero altaria, quoru m sepulcrum sive confessio non in
medio lapidis, sed in ej us fronte fuit effossum, ea non sunt admittenda,
utpote Pontificalis Romani prrescriptionibus haud conformia." - Dois
anos mais tarde, em 3 1 de março de 1 887, a mesma S. Congregação, pelo
decreto n . 357 1 , tolera o uso destas pedras d'ara com o sepulcro na frente
ou parte anterior. Mas a uma nova consulta : "quid judicandum de illis
Japidibus sacris, quorum sepulcrum non in medio, sed in fronte effosuum
fuit?" respondeu a S. Congregação dos Ritos ( 1 3 junii 1 899 ; d. 4032) :
"Dicti lapides in posteru m non sunt admittendi, quoad prreteritum vero,
cum commode fieri possit, iterum breviore formu la consecrentur." Por
consegu inte, embora a sua consagração não possa ser chamada inválida,
como deixam entrever claramente os dois decretos citados, devem ser
substituídas por outras.
Estas explicações foram feitas para induzir o consulente a examinar
mais uma vez as pedras d'ara que diz ter encontrado sem sepulcro e sem
relíqu ias, para ver se talvez têm o sepulcro na fronte ou parte anterior.
Dizem os autores que o sepulcro com relíquias nas pedras d'ara é
absolutamente necessário para que a sua consagração sej a válida. Apre­
sentam esta afirmação como uma conclusão do cân. 1 200, § 2, n. 2, que
assim reza : " . . . altare amittit consecrationem, si amoveantur reliquire
aut frangatur vel amoveatur sepulcri operculum, excepto casu . . . " C o -
r o n a t a, contudo, acrescenta (lnst. ]. C. I I, n. 778) : "Cfr. tamen O a s -
p a r r i De SS. Eucharistia, 324-325." Não temos em nossa biblioteca este
livro de Gasparri. Esse "tamen", porém, parece insinuar que Gasparri
admite exceções da regra geral, isto é, que a consagração duma pedra
d'ara sem sepulcro e sem relíquias, por concessão especial da I grej a,
tenha sido permitida em tempos passados. Opinamos assim, porque além
da afirmação do consulente de ter encontrado no Norte do nosso país
pedras d'ara sem sepulcro, ouvimos esta mesma afirmação de vários
Padres que trabalharam na nossa Baixada Fluminense e que encontraram
uma simples pedra marmórea sem sepulcro e sem relíquias.
N . B . Falando em pedras d' ara, convém lembrar ta m bém o cânon 823,
§ 2 : "Deficiente altari proprii ritus, sacerdoti fas est ri tu proprio celebrare
in altari consecrati alius ritus, non autem super Grcecorum antimensiis."
Este antimensium do rito grego é um pano de linho sagrado pelo Bispo,
com relíquias de mártires costuradas nos quatro cantos. Tal antimensium
é desdobrado sobre qualquer altar, ainda que não consagrado, e então
podem os sacerdotes daquele rito licitamente nele celebrar a Santa Mis­
sa. Ninguém contestará que seria muito mais cômodo levar consigo nas
viagens apostólicas, em vez da pesada pedra d'ara, um tal antimensium.
No entanto os sacerdotes do rito latino só o poderão usar com licença
especial da S. Sé, como, por ex., Bento XIV (Const. "lmpositi nobis" ) a
concedeu aos sacerdotes latinos que viviam na Rússia Polonesa.

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 79

Resposta à Pergunta do Consuf.en te. - " N u nq u a m l icet Missam ce­


Jebrare n i s i in altari, nec S . Sedis c o ncedere solet f ac ultatem celebrandi
s i n e altari saltem p o rtatitli." Estas p a l avr a s severas de Bento X I V, às
qua i s o s a u to res costum a m aju nt a r outras mais severas ainda, dizendo
qu e nem mesmo e m caso de u rgente n ecessidade será lícito celebrar a
Missa sem altar, sem p e d r a d'ara ; estas p a l avras severas, p a rece, p e r­
t u r b a r a m o r a c i o c í n i o calmo e p o n derado do consulente. E' q u e só assi m
se n o s t o r n a compreensível a s u a pergunta se está o b r i gado a repetir
as Missas celebra d a s n as condições acima i n d icadas. O consu lente esque­
ceu-se ele distin g u i r entre "non l icet celebrare" e " i nv a l i d e celebrat". Todos
os sacerdotes s a b e m q u e a ptesenç a dum a l t a r o u p e d r a cl'ara n ã o faz
p a rte dos requisitos necessár io s para a válida celebração d a Santa Missa.
Esta é v á l i d a e m q u alquer lugar q u e fosse celebrada.
N ã o é licito, s i m ; é pecado, é pecado gravíss i m o alguém celebrar
voluntàriamente, de p ropósito, sem a l t a r, sem p e d r a d'ara ; m a s a Missa
é válida. E , por isso, n ã o h á o b r igação d e repetir aquelas Missas.
Fr. A l e i x o, 0 . F . M .
Doentes e Jejum Eucarístico. - U m a j o v e m d e 2 8 anos d e idade e de
u m a p i e d ade sólida, mas doentia desde a sua infância, a r rasta-se às vezes
à i grej a para poder c o nfessar-se e c o m u n ga r. E m épocas passadas, i m pe­
dida p e l a doença d e s a i r, comu ngava em casa. Agora, a r r astando-se em­
bora a custo à i grej a p a ra c o m u n g a r, não pode f i c a r tanto tempo em
j ej um . Por isso, pergunto, se esta j ov e m d o e n t i a poderá v a l e r-se t a m bém
do p r i v i légio concedido pelo Código aos "decumbentibus a m ense" ? Quer
dizer, espec i f i c a n d o mais um p o u c o a s m in h a s dúvidas, pergunto : 1 ) As
facu l dades concedidas pela S . Sé a o Episcopado Brasileiro depois do
Concílio P l e n á r i o para um t r i ê n i o f o r a m elas já r e n ovadas e estão em
vigor? 2 ) Que se entende p o r "hospita l i z a dos" ? D ev e ser tom a d a esta
palavra em sentido restrito? 3) S e estas faculdades p e r mitem a o s sexa­
genários, às m u l h eres grávidas e l a ctantes a sagrada c o m u n hão d u a s
vezes n a semana, a conselho do confessor, mesmo q u a n d o tenh a m to­
mado algo "per m o d u m potus", n ão valerá esta graça também p a r a a
j ovem a c im a ? (N. N.)
Ad 1 um. : A resposta à p r i m e i r a pergunta encontrará o nosso con­
sulente na REB d e 1 944, pg. 1 69, o n d e s e lê a c o mu n i c ação feita p e l a
N u n c i atura a o E x o . S r . A rcebispo do R i o d e j a n e i r o : " É-me g r a t o co­
m u n i c a r a V. Excia. que o S. Padre houve por bem prorrogar a d trien­
nium o Rescrito d a S . Congregação dos Sacramentos n . 7 1 1 1 /39, datado
de 13 d e j an e i r o de 1 94 1 : " i n forma et t e r m i n i s p rrecedentis concessio­
nis." O Rescrito a q u i menc i o n a d o contém j u stamente a s faculdades p e l as
quais pergunta o consu lente.
A d 2um . : E ' o n ú me r o 8 das faculdades concedidas pela S . Congre­
gação dos Sacramentos ao E piscop ad o Brasileiro que trata d a segun d a
pergunta d o consul ente, r ez a n d o este m'1 mero assi m : " d e conceder a o s
enfermos hospitalizados, aos q u a i s n ão se p revê convalescença p a r a b reve,
que, mesmo a ntes d o fim do mês da hospitalização, a j u íz o d o confessor,
possam receber a S . Comunhão duas vezes p o r s e m a n a , e, se se tratar
de sacerdotes o u religiosos, mesmo cot i d i a n a m ente, sem g u a rdarem o j e­
jum, isto é, mesmo q u a n d o a ntes tenham tomado algum remédio o u algu­
ma coisa "per modum potus". D esej a saber o consulente, se a p a l av r a
"hospitalizados" d e v e s e r toma d a em s e n t i d o estrito o u n ã o . A n ó s p a ­
rece m a i s que evidente de q u e a p alavra "hospitalizados" não deve ser
1 2•

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1 80 Assu ntos pastorais

tomada em sentido estrito, como se somente os doentes recol hidos em


verdadei ro hospital fossem os únicos beneficiados pela presente con­
cessão ; devemos antes tomá-la - "quia favores sunt ampliandi" - em
sentido l ato. O mesmo nos ensina o sentido material da palavra "hos­
pital" que é, segundo o dicionário, um "edifício onde se recolhem e tra­
tam doentes" ; ou da palavra "hospitalização" que é e significa segundo
o mesmo dicionário "ato ou efeito de hospitalizar" ; hospitalizar, por
sua vez diz "converter ou meter em hospital." Ora, quando os doentes
são tratados em casa, o quarto onde estão torna-se para eles a enfer­
maria, o hospital ; estão hospitalizados. Acresce que os religiosos bene­
ficiados pela presente concessão, mais do que os leigos, quando doentes,
comumente são tratados na enfermaria da própria casa religiosa. E nin­
guém dirá que esses não pertencem aos "hospitalizados" . O mesmo,
como já disse, devemos afirmar de pessoas leigas doentes que se tratam
em casa.
A d 3um . : Nesta terceira pergunta o consulente institui uma compa­
ração entre sexagenários, mulheres grávidas e lactantes e a j ovem doentia
desde a infância, opinando que o favor das primeiras pessoas deveria
estender-se também a esta. Respondemos dizendo que esta j ovem doentia
está incluída j á no privilégio do cânon 858, § 2: " l nfirmi tamen qui iam
a mense decumbunt sine certa spe ut cito convalescant, de prudenti con­
fessarii consilio sanctissimam Eucharistiam sumere possunt semel aut bis
in hebdomada, etsi aliquam medicinam vel aliquid per modum potus antea
sumpserint." Ora, este texto j u rídico, segundo os i ntrepretadores do Có­
digo e taml:>ém os moralistas, não favorece apenas aos afetados de doen­
ças graves ' e perigosas, mas também aos que por causa da velhice, de­
bilidade ou outra qualquer enfermidade estão obrigados a guardar o lei­
to ; ainda mais, este privilégio também se estende, como aliás expressa­
mente o declarou a S. Congregação do Concilio com aprovação do Sumo
Pontífice aos 6 de março de 1 907, aos doentes que não podem ficar
deitados ou que por algumas horas durante o dia conseguem levantar-se
da cama. E C a p p e 1 1 o ( 1 , n. 506) continua, dizendo : "lndubitanter
putamus, hoc indultum ad eos etiam extendi, qui, e lectulo su rgentes,
propinquam ecclesiam adire possunt pro sacra communione recipienda,
modo adsint revera conditiones a legislatore expresse statutre ( i . e. a) jam
a mense decumbu nt ; b ) deest certa spes quod cito convalescant ; c ) quod
stent prudenti consí lio confessarii ; d ) quod solummodo aliquid sumpserint
per modum potus vel medicinre ) . Quibus positis, cessat periculum quod
infirmitatis prretextu lex j ej u n i i paulatim relaxetur. Et sic solvitu r diffi­
cultas, qure inducit nonnullos ad a l iter sentiendum, ex. gr. Monit. eccl.
Ratio est quia, l icet i ndultum sit strictre i nterpretationis, tamen clausu lam
restrictivam non continet, et ideo hrec non est pro libitu asserenda. l dque
conformius videtur legislatoris menti, qui i nfirmis graviter decumbentibus
optime consuluit, ut divinis epulis refiei valeant. Porro sive ipsi in tectulo
decumbant vel non, sive ad ecclesiam accedant vel minus, modo adsint
omnes conditiones memoratre simulque pericu lum i rreverentire et abusus
prrecave atur, n u l l a est ratio, cur sacra communione privandi censeantur."
A j ovem, pois, da qual trata o caso presente, está indubitàvelmente con­
templada pelo favor deste cân. 858, § 2 ; ela pode, embora indo à igrej a,
comungar duas vezes por semana, a conselho do confessor, tendo já to­
mado antes algo per modum potus vel m edicinre, e isto ainda no caso em
que pudesse muito bem comungar, guardando o jejum.
Fr. A l e i x o, 0 . F . M .

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 181

Certidão d e Batismo para Casamento. Quando não s e acha certi-


dão de batismo de u ma pessoa, para o casamento p or exemplo basta
então a afirmação de uma pessoa fidedigna ou é necessária a j � stifica­
ção, com licença do Ordinário, pedida c a d a vez? (N. N.)
Vejamos primeiro algumas leis eclesiásticas que dizem respeito a
esta consulta. P rescreve o decreto n . 296 do Cone. P l e n . Bras., dizendo
" Parochi matrimonio n e assistant, n isi a d normam can. 1 097 per legitinmnz
documentum conste t : a) de B aptismate ab utroque conjuge suscepto . " O
cânon 1 02 1 , porém, rez a ; "§ 1 . N isi baptismus c o l l atus fuerit i n ipso s u o
territ orio, p a r o c h u s e x i g a t baptismi testi m o n i u m a b utraque p arte, v e l a
parte tantum catholica, si agatu r de matrimo n i o contrahendo c u m d i spen­
s atione ab impedimento disparitatis cu ltus."
Destas duas leis d a I grej a j á segue que, tratando-se dos próprios
paroqui an os, o pároco não precisa exigir a certidão d o batismo, mas ele
mesmo pode certifica r-se do batismo conferido, consultando os l ivros pa­
roqu i a i s o u por outras provas equivalentes. S o b o regi m e d o d i reito
antigo também n este caso, quando se tratava dos próprios paroquia nos,
a certidão do batismo era necessária, porque os Srs. B ispos não davam
licença para fazer correr os proclamas sem tal documento autêntico. Se
cm alguma d i ocese o Ordinário a i n d a hoj e o exigir, é mister observar
esta lei particular.
N o s demais casos, porém, e m n ã o se tratando de p róprios paroquia­
nos, o pároco deve e x i g i r dos n ubentes a certidão do batismo ; e somente
quando é imposslvel obter tal documento autêntico, como, se p o r exem­
plo, o arqu ivo paroqu i a l tenh a sido destruído pelo fogo, �·· o u em
caso d e necessidade, pode e deve certificar-se de outro modo, se os n oivos
são batizados o u não. E esta certificação reveste várias formas segundo
os difere ntes casos :
Assim em perigo de m orte j á basta, segu n d o o cânon 1 0 1 9, § 2, a
afirmação j u ra d a dos contraentes "se baptizatos fuisse et n u l l o detineri
impedimento."
Fora do perigo d e morte v a l e o q u e d i z o c â n o n 779 : "Ad collatum
baptismi comprobandum, si n e m i n i fiat p rre i u d i c i u m , satis est testis omni
exeption e maior, vel ipsius baptizati i u s i u ra n d u m , si i pse in adu lta retate
baptis m u m receperit." "Testis omni exeptione m a i o r " , dizem os canonistas,
é uma pessoa d i g n a d e fé ( fidedign a ) . D izem mais que, não h avendo tal
pessoa que mereça fé, presume-se o batismo válido nos casos e m q u e
os respectivos pais e r a m tais q u e consideravam o batismo n ecessário
para os seus f i l hos, como a l i ás várias vezes expressamente declarou o
S. Ofíci o . Mas também nestes casos, considerando sobretudo a m á x i m a
necessidade do batismo, c o n v é m ter presente s e m p r e o c â n o n 732, § 2 :
"Si vero prudens d u b i u m exsistat n u m revera vel n u m valide collata
fuerint ( Sacrament a ) , sub conditione iteru m conferantur." Logo, havendo
u m n dúvida positiva, embora tênue, a respeito disto, faça-se o q u e o cân.

732 recomenda.
P a r a comprovar a admin istração do batismo, basta o testemunho de
u m a pessoa d i g n a de fé, "si n e m i n i f i a t p rre i u d i c i u m " . Ora, n a celebração
do matrimô n i o h averá t a l prej u ízo ; pois, caso u m a das pa rtes n ã o estej a
batizada, o matrimô n i o é nulo. P o r isso a q u i n ã o é suficiente a afirmação
de u m a só pessoa . D evem ser duas a o menos.
A " P astoral Coletiva" de 1 9 1 5 presc revi a n o n ú mero 378, § 5: "Quan­
do lhes for moralmente impossível a p resentar os documen tos, os nubentes
deverão pedir a necessár i a dispensa a o O r d i n á ri o , n a forma costu mada

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1 82 Assuntos pastorais

em cada diocese." A "Pastoral Coletiva", verdade é, não continua em


vigor após o Concílio Plenário, como código legislativo. Também é ver­
dade que a certidão de batismo e os demais documentos em si, para
que tenham valor j u rídico, não precisam ser reconhecidos pela Cúria d io­
cesana. Entretanto, quando devem ser pedidos de outra diocese em vir­
tude da I nstrução da S. Congr. dos Sacramentos de 4 de j ulho de 1 92 1
( A . A . S . X I I I , 348 ) , é mais seguro pedir e transmiti r tais documentos
por intermédio d a chancelaria episcopal. ( Cfr. REB, 1 944, fase. 3, pg.
685, n. 3. ) Concluindo, só podemos dizer que os vigários e sacerdotes
observem os costumes e ordenações particulares vigentes ou promulgados
a esse respeito em sua respectiva diocese. Pe. H. B o r g e s.

D a Cor dos Paramentos nas Missas para os D efu n tos - O sacerdote


.

está o brigado a celebrar com paramentos pretos, as Missas encomendadas


simplesmente para os defuntos? (N. N.) - A resposta a este quesito
ressalta do cân. 833 que diz : "Prresumitur oblatorem petiisse solam Mis­
sre applicationem ; si tamen oblator expresse aliquas circumstantias in
Missre celebratione servandas determinaverit, sacerdos, eleemosynam ac­
ceptans, eius voluntati stare debet." A simples encomenda de uma Missa
"na i ntenção do doador" exige, unicamente, a aplicação da Missa, isto é,
do fruto ministerial, não i mportan do, porém, na obrigação de observar
qualquer circunstância particular que o doador do estipêndio talvez de­
sej asse, mas que não externou. Os frutos ministeriais são os mesmos em
qualquer Missa, quer sej a celebrada como Missa do dia, votiva ou de
Requiem. Somente quando uma pessoa pedir, expressamente, que o Santo
Sacrifício sej a celebrado com paramentos pretos e o sacerdote aceitou
esta declaração ou exigência, está obrigado a observá-la. O sacerdote, no
entanto, não pode aceitar essa circunstância, se as leis litúrgicas a n ão
admitirem. Nos casos, portanto, em que nenhuma condição foi imposta,
o Padre tem plena liberdade de usar de qualquer formulário de Missa
permitido pelas rubricas. Se o Celebrante não aceita as Missas em própria
pessoa, como acontece nas portarias dos Conventos, convém que o en­
carregado tome, conscienciosamente, nota daquilo que se pede, em har­
monia com as prescrições litúrgicas, principalmente com referência às
Missas de 7.0 e 30.º dia. Frei F r a n c. X a v i e r, 0 . F . M .

O "Confiteor" n a Administração dos últimos Sacramentos. - Quan­


do o Padre n a visita a uma pessoa gravemente doente administra suces­
sivamente os três sacramentos da Confissão, Comunhão, Extrema-U nção
e dá a bênção Apostólica, será obrigado a repetir as cerimôn ias e as
o rações do Ritual que precedem cada ato sacramental ? Poderá, por ex.,
rezar o Confiteor só uma vez antes do Viático, dispensando-o n a Extrema­
Unção e na bênção Apostólica? (N. N.)
Segundo as rubricas do Ritual, o Padre, entrando no quarto onde
está o doente, diz : "Pax huic domui", etc., com a antífona "Asperges me'' ,
etc. ; ora, é evidente que esta saudação não precisa ser repetida cada
vez, quando sucessivamente se administram os três sacramentos. As de­
mais orações e cerimônias peculiares de cada sacramento, devem natural­
mente ser repetidas em circunstâncias ordinárias. Quanto à pergunta es­
pecificada, se basta ou não rezar só uma vez o Confiteor, o consulente
queira reler o que a REB publicou em 1 944, pg. 938, onde o casuísta já

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 83

tratou deste assunto, referindo uma decisão da S. Congr. do S. Ofício


de 1 de set. de 1 85 1 : "Si i mmineat necessitas conferendi unum post aliud
immediate, l icere semel i n casu ; secus repetatur." - Quer dizer, quando
o sacerdote administra os três sacramentos a u m doente sem i ntervalo
basta rezar só uma vez o Confiteor. Pe. P. M o n t e i r o '.

D O C U M E N TAÇÃO
Constitutio Apostolica de Duobus Episcopis qui Episcopati
Consecrationi Adsunt.
P I U S Episcopis, Servus Servorum Dei, ad perpetuam rei memoriam.
Episcopalis Consecrationis Ministru m esse Episcopum et ad huius Con­
secrationis validitatem unum solum sufficere Episcopum, qui cum debita
mentis i ntentione essentiales ritus perficiat, extra omne dubium est diutur­
naque praxi comprobatum. A priscis tamen Ecclesire temporibus plures
Episcopi h u iusmodi Consecrationi adstiterunt, ac nostra quoque retate
"Pontificalis Romani" auctoritate prrescribitur duo a li i Episcopi Consecra­
tioni adsint oportere, quamvis in peculiaribus rerum adiunctis a vetere
instituto dispensatio concedatu r, si Adsistentes haberi nequeant. Utrum
vero q u i adsunt Episcopi cooperatores et consecratores sint, a n testes
dumtaxat Consecrationis, non omnibus satis exploratum est eo vel magis
quod "Pontificalis Romani" Rubricre, ubi de precibus recitandis agunt,
srepe u num Consecratorem singulari n u mero innuu nt, et manifeste non
constat Rubricre prrescriptionem, qure i n itio prostat ante Examen E lecti
- adsistentes videlicet Episcopos submissa voce dicere debere qurecumque
dixerit Consecrator - ad u n iversum pertinere totius Consecrationis ritum.
Exinde factum est ut alicubi Episcopi adsistentes verbis "Pontificalis
Romani" i nhrerentes, prolatis verbis "Accipe Spiritum Sanctum" dum caput
Electi cum Consecratore tangunt, postea ea qure sequuntur non pronun­
tient ; a l icubi vero, ut i n U rbe, Episcopi non tantum prrefata verba, sed
submissa voce orationem quoque "Propitiare" cum sequenti Prrefatione,
quin etiam omnia et singula proferant qure Consecrator ab i n itio ad finem
usque sacri ritus recitat vel canit.
Quibus omnibus diligentissime perpensis, eo consílio permo ti ut Episco­
porum, qui in Consecratione E lecti ad Episcopatum adsunt, officio et mi­
nisterio provideatur et tam i n U rbe quam in ceteris terrarum orbis par­
tibus unus idemque semper agendi modus i n posterum hac i n re servetur,
de Apostolicre plenitudine potestatis ea qure sequuntur declaramus, decer­
nimus ac statu imus :
Licet ad Episcopalis Consecrationis validitatem unus tantu mmodo re­
quiratur Episcopus idemque sufficiat, cum essentiales ritus perficiat, ni­
hilominus duo Episcopi, qui ex vetere i nstituto, secundum "Pontificalis
Romani" prrescriptum, . adsunt Consecrationi, debent cum eodem Conse­
cratore, et ipsi Consecratores effecti proindeque Conconsecratores deinceps

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1 84 Documentação

vocandi, non sol um utraque ma nu caput Electi tangere, dicentes "Accipe


Spiritum Sanctum", sed, facta opportuno tempore mentis intentione con­
ferendi Episcopalem Consecrationem una simu l cum Episcopo Consecra­
tore, orationem quoque "Propitiare" recitare cum integra sequenti P rrefa­
tione, itemque, u niverso ritu perdurante, ea omnia subm issa voce legere
qure Consecrator legit vel canit, exceptis tamen precibus ad pontificalium
indumentorum benedictionem prrescriptis, qure i n ipso Consecrationis ritu
sunt imponenda.
Qure autem hisce litteris Nostris declaravimus, decrevimus, statuimus,
ea omnia rata firmaque permanere auctoritate Nostra iubemus, quibuslibet
minime obstantibus, peculiari etiam mentione dignis ; proi ndeque volumus
ac decernimus u t secundum data prrescripta "Ponti ficale Romanum" op :.
portune reformetur.
Nemini vero hanc paginam declarationis, decreti, statuti et voluntatis
Nostrre i nfringere vel ei contrahire liceat ; si quis autem i d ausu teme­
ra ri o attentari prresumpserit, indignatione omnipotentis Dei et Beatorum
Apostolorum Petri et Pauli se n overit incursuru m .
Datum Romre apud S. Petrum, anno Domi n i millesimo n ongentesimo
quadragesimo quarto, die trigesima N ovembris mensis, in festo S. Andrere
Apostoli, Pontificatus N ostri anno sexto. P I US PP. X I I . - (A AS, 2 1
d e maio d e 1 945, p . 1 3 1 - 1 32. )

Carta do Santo Padre a D. Bernardo Griffin, Arcebispo de


Westminster.
Sobre o Centenário da Conversão de Newman.

P I U S PP. X I I . - Venerabilis Frater, salutem et Apostolicam Bene­


dictionem. - Cum proxime exeat sreculum, ex quo J oannes Henricus
Newman Britannire totiusque Ecclesire decus, postquam per diuturnum
annoru m spatiu m catholicre assequendre veritati anxio sollicitoque deside­
rio velificatus est, libens tandem ac volens admonenti vocantique Deo
respondit, tu, u tpote Episcopalis cc:etus Anglire et Cambrire p rreses, ob­
servantissimas ad Nos dedisti litte ras, quibus ceteroru m etiam sacrorum
Antistitum nomine rogabas, ut renovandre huius memorire faustitatem una
vobiscum participaremus. Quod ut faciamus non modo paternus erga vos
animus Noster, non modo lretabilis res ipsa, sed rationes etiam postu lant ac
n ecessitudines, vestris a m aioribus traditre, qure Anglorum gentibus cum
Romanis Pontificibus iam antiquitus intercessere. Nostis enim inde ab Ec­
clesire originibus Decessores Nostros non ut externos cives, sed ut P atres
amantissi mos fu isse apud vos habitos ; ac supernre veritatis prrecones ex
hac Apostolica Sede identidem in insulas vestras fu isse missos, qui christia­
na prrecepta vel primitus i nveherent, vel, decursu temporis labefactata,
reviviscere i uberent et in pristinum redintegrari decus.
ln hoc autem viro prreclarissimo, cuius felicem ad christianam u11 ita­
tem reditum commemoraturi estis, id potissimum intenta consideratione
meditationeque Nobis videtur dignum, quod totam suam "vitam i mpendere
vero" ( l uvenal., Satir. I V , 91 ) , omnique n isu atque indefatigabi l i labore
illud assequi studuit ; et postquam catholicre doctrinre pu lchritudo appe­
tenti eius menti illustrius refulsit, 11on eum difficultates omne ge11us, 11011
pneiudicatre opinio11es rerumque iacturre, 11011 amicoru m denique i 11dig11a­
tio11es retardaru 11 t ac prrepedieru11t quominus adeptre veritati pe11itus adhre-

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resceret ; quin immo eam ita in posterum, immotus ac sibi sem per constans,
retinuit, ut prrecipuam totius sure vitre cu rsus normam redderet, ex eaque
summum animo gaudium hauriret. ld procul dubio, Venerabilis Frater, pe­
culiari qu adam ratione loanni Henrico Newman laudi est tribuendum ;
qu amvis nec pauca ncc lcvia sint cetera eius ornamenta, qure profecto
eius amplitudinem eiusque gloriam futurre usque retati commendant. Quodsi
·
"nullo . . . suavior animo cibus est, quam cogn itio veritatis" ( Lactant., De
falsa religione, 1, 1 ; Migne, PL, VI, e. 1 1 8) , at cum de vera religionis doctri­
na agitur, quacum sempiterna cui11sq11c nostrum salus arctissime coniu ngi­
t u r, tum dil igentíssima atque accrrima eius inquisitio ac pervestigatio huma­
me mentis magnitudinem nobil itatemque demonstrat, eiusque plena pos­
sessio ampliarem felicioremque animum efficit. H u ius igitur prreclari viri
commemoratio non modo iis util issimam fore reputamus, qui, in Catholicre
Ecclesire gremio commorantes, religiosre fru u ntur doctrinre integritate , sed
iis etiam - apud vos non paucis - qui supernre assequendre i ncor­
ruptreq ue veritatis studio acrius hodie sollicitantur atque impelluntur, qui­
que ad Principis Apostoloru m Sedem ad almamque Romam libera a prre­
iudicatis opinationibus mente respiciunt, in eadcmquc sacra christiame
religionis i ncunabula venerantur. Eos Nos omnes impensa caritate com­
plectimu r ; iisdemq ue crelestia illa precamur ominamurque a Oco solacia
et gaudia, quibus I oannes Henricus Newman, post tot labores, curas anxi­
tudinesque conquiescens, i n terrestri etiam hoc exsi lio feliciter tandem
recreatus lretatusque est.
l nterea vera proximis h isce cclebrationibus vestris uberes a Oco exo­
ptantes fructus, horum auspicem paternreque benevolentire Nostrre testem,
cum tibi, Venerabilis Frater, ceterisque u niversre Britannire A rchiepiscopis
et Episcopis, tum singulis gregibus unicuique demandatis, A postolicam
Benedictionem amantissime i n Domino impertimus.
Datum Romre, apud Sanctum Petru m, die X I I mensis Aprilis, anno
MDCCCCXXXXV, Pontificatus Nostri septimo. PIUS PP. X I I . - (AAS,
25 de julho de 1 945, p. 1 84- 1 86. )

Carta do Santo Padre ao Sr. Charles Flory, Presidente das


"Semanas Sociais" da França.
PI US PP. X I I . - Naus avons pris un tout particulier intérêt à l'ample
exposé, dont vous Naus avez fait te filial hommage, concernant les Se­
maines Sociales de France, qui, apres une tangue et doulou reuse paren­
these, s'apprêtent à renouer leurs méritantes t raditions. Et d'abord Naus
ne pouvions que compatir grandement au deu il qui vous a frappés, par
la tres doulou reuse perte du Président Eugene Duthoit. La disparition
de cc grand chrétien et de ce professeur émérite ne pouvait manquer
d'être vivement ressentie par l'Un iversité Catholique de Lille et par les
Semaines Sociales. Naus tenons à vous dire combien Naus y avons Nous­
même été sensible, ayant eu plus d'une occasion d'apprécier notamment te
profond esprit de foi et te sincere dévouement au Saint-Siege qui animaient
l'illustre disparu .
La Providence, en vous appelant à !ui succéder au lendemain d'un
cataclysme sans précédent, vous confie une haute et grave mission pour
le succes de laquelle Naus prions de tout cceur l'Esprit Saint de vous
guider et de vous inspirer.

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1 86 Documentação

C'est en effet à une entreprise ardue, à une profonde et solide re­


construction de la société, que l'institution des Semai nes Socia les va être
appelée à apporter sa précieuse collaboration. Cette i mmense tâche, sous
pcine de faillite, devra procéder selon une inspiration et u n plan qui se
réclament des i mprescriptibles enseignements de l'Evangile et des salutai­
res applications, que, par vocation divine, le magistere pontifical ne cesse
d'en faire aux diverses situations de temps et de lieux. Et c'est bien aussi
ce qu'entend exprimer, en raccourci, te sujet de vos prochaines assises
tou lousaines : "Transformations sociales et l ibération de l a personne."
Car i l n'est q u e trop vrai que, en France comme en tous autres pays,
les circonstances de l'apres-guerre font surgir, avec une rare acuité, des
besoins et des aspi rations pressantes, auxquels o n serait mal venu, d'ail­
leurs, de refuser toute légitimité.
Pour Notre part, Nous Nous som mes fait u n devoir, au fort même
des hostilités, d'averti r les peuples et leurs chefs qu'apres de pareils bou­
leversements, its auraient à édifier un ordre économique et social plus
adéquat à la fois aux tois divi nes et à la dignité humaine, u n issant les
postulats de ta vraie équ ité et les principes chrétiens dans une étroite i n­
t i mité, seule garante de salut, de bien et de paix pour tous. Complexes
et formidables problemes, que Nos radio-messages et Nos allocutions ont
abordés à mai ntes reprises, pour indiquer dans que! esprit et su ivant quelle
o rientation ils devront être résolus. Comment, en effet, apres de s i du res
années de sou f f rances, d'angoisscs et de m iseres, les hommes n'atten­
draient-ils pas à bon droit une profonde amélioration de leurs conditions
d'existence? De là, ces proj ets de réorgan isation du monde du travai ! , ces
perspectives de réformes de structure, ce développement des notions de
propriété et d'entreprise, parfois envisagés dans la précipitation passion née
et l a confusion doctri nale, mais q u ' i l faudra confronter avec les normes
i ndéclinables de l a raison et de la foi, telles que l'enseignement de I'Eglise
a mission de les dégager. C'est seulement a i nsi que l a personne humai­
ne, trop souvent opprimée, pourra recouvrer l a plén itude de sa dignité
dans l'accomplissement même de ses obligations, sans j amais pourtant se
départir du souverain souci de faire équitablement Ieur part à tous les
ayant-ctroits, ou q u ' i ls soient, et de respecter les exigences de la j ustice
en quelque camp qu'elles se t rouvent.
C'est donc, en derniere analyse, comme vous l'avez três bien inscrit
en tête de votre p rogramme, à l a l i bération de l a personne humaine , que
tout doit tendre et converger. C'est elle que Dieu a placée a u falte de
l'un ivers visible, l a faisant, en économie comme en politique, l a mesure de
toutes choses. Et l'on peut à cet égard appliquer três opportu nément ici
Ia parole de Saint Pau l : "Tout est à vous, mais vous êtes a u Christ, et
te Christ est à Dieu." ( 1 Cor 3, 23.)
Nous n e doutons pas que les Semaines Sociales de France, e n ce qui
les concerne, ne travaillent ainsi ardemment, mais en toute c i rconspection,
à l'avancement vers cette plus grande j ustice sociale, dont doivent avoir
faim et soif les vrais disciples du Christ. Devant les graves dangers que
font cou rir à la reconstruction du monde les prétentions athées et anti­
chrétiennes, Nous Nous plaisons à considérer en vous les hérauts et les
membres d'élite de cette Action catholique et sociale, d'ou sortiront Ies
bons a rchitects du nouvel édifice. Vous trouverez d'ailleu rs, dans l'illustre
métropole Ianguedocienne, pour inspirer et diriger vos travaux, un A rche­
vêque, dont te cceur aussi charitable que vaillant a porté, bien au-delà des
frontieres du d iocese, son renom de Chef et de Pasteu r. Nous n e Iaissons

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pas, quant à Nous, de prier le Pere des lumieres d'éclairer et de féconder


u n e entreprise si importante. Et pour mieux attirer sur la Semaine Sociale
de Toulouse les grâces d'En-Haut, Nous envoyons à tous, et d'abord au
vénéré Monseigneur Saliege, à son excellent Auxiliaire et aux membres de
la H iérarchie, q u i vous guideront dans vos labeurs, ainsi qu'à cette cou­
ronne de p rofesseurs et conférenciers distingués q u i s'empresseront auto u r
de le u r nouveau P résident, e n f i n à cette nombreuse et fervente phalange
d 'assistants et d'amis, la Bénédiction Apostolique.
Ou V atican, le 14 j u i llet 1 945. P I U S PP. X I I . (AAS, 25 de agôs­ -

to ele 1 945, p. 2 1 0-2 1 2. )

P E LAS REVISTAS
A Ação Católica e a Recristianização do Mundo Moderno.
Nos d i a s t r i stes que c o r r e m , é sobretudo à A. C. que pertence a m i ssão r e c r l s t i a n i ­
z a d o r a d o m u nd o e m b r u t e c i d o e devastado pelo f u r a c ã o d a g u e r r a e d e v a s t a d o p e l a
propaga n d a d e e r r o s f u n e stos e I d é i a s sub,· c r s l v a s . E l s o q u e d e m o n s t r a F r a u c 1 s c o
1 u á c i o P. d o s S a n t o s no seg u i nte b r i l h a n te a rtigo que t r a n s c reve m o s d e
" L u m e n " ( L i s b o a , dez . 1 945, p p . 738-747 ) .

Obrigatoriedade da A çcio Católica. Quer pelo valor doutrinal das


-

lições apresentadas, quer pelo m'.1 mero ele sacerdotes que nela tomaram
parte, a Reu n i ão anual dos Assistentes realizada e m setembro findo e m
Fátima foi u m acontecimento n otável n a h istória ela A ç ão Católica Por­
tuguesa. Mu ito concorreu para o bom êxito dos trabalhos realizados o
ambiente de franca e leal cama radagem que se estabeleceu entre todos
os sacerdotes presentes e sobretudo a atmosfera de intensa espiritualidade
que se respira naquele lugar bendito, santificado pela presença da Mãe
do Céu, e pelas preces, o rações e sacrifícios das multi dões de crentes.
F o i afirmada mais uma vez com clareza, vigor e precisão a obriga­
toriedade da Ação Católica, tanto para os sacerdotes, como para os lei­
gos, como claramente se deduz da aná lise dos deveres que estão ineren­
tes à nossa q ualidade de batizados e membros vivos do Corpo Mistico
de Cristo e dos n u me rosos documentos pontifícios que versam este as­
sunto momentoso. Obrigação tanto mais grave e u rgente, qu anto é certo
que a pavorosa desorientação que lavra nos espíritos e o neo-paga nismo
que se vai infiltrando nos costumes claramente demonstram que só pela
Ação Católica a I grej a poderá fazer face aos males tremendos que nos
assoberbam. N a Carta ao Cardeal Segura (6 de nov. de 1 929) lê-se : " Nós
vemos por um lado que a sociedade h u m a n a foi despoj ada do espírito
cristão e caiu n u m a vicia inteiramente pagã ; que num grande n úmero
de almas vacila a luz da fé católica, esfria o sentimento religioso e de­
finham m iseràvelmente, de dia para dia, a i ntegridade e a santidade dos
costumes. Além disso, penaliza-nos verificar que, em mui tos l ugares, o
clero não pode bastar às necessidades dos n ossos tempos, quer por ser
excessivamente restrito o n ú mero de sacerdotes, quer por lhe não ser
possível atingir certas classes de pessoas com as quais não podem esta r

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1 88 Pelas revistas

em contacto e que permanecem estranhas aos conceitos e preceitos do


Evangelho. E' por isso que na época se torna absolutamente necessário
que todos se.i am apóstolos ; é indispensável que os leigos católicos não
levem u m a vida ociosa ; mas que, u ni dos à H ierarquia eclesiástica e no
cumprimento das suas ordens, tomem parte neste santo combate, ofere­
cendo-lhe os seus ser\'iços, de maneira que, pelas suas orações, sacrifícios
e colaboração ativa, contribuam poderosamente para o au mento da fé e
para a reforma cristã dos costu mes. "
São i n úmeros os docu mentos pontifícios em que os dois ú ltimos Papas
insistem no dever e n a necessidade u rgente da atividade apostólica dos
leigos, associ ados ao apostolado oficial da I grej a pelo laço estreito do
mandato que a Hierarquia lhes confere, ao chamá-los à Ação Católica.
Embora este dever sej a objetivamente grave, como claramente se de­
preende da su a importftncia e da u rgência das recomendações dos Sobe­
ranos Pontífices, há que reconhecer que nos casos concretos a sua maior
ou menor gravidade, depende do grau de formação religiosa, dos meios
de ação de que cada um pode dispor para tornar mais eficaz o seu
trabalho e dos restantes fatores que aumentam ou diminuem a culpabi­
l idade, segundo os princípios gerais da Moral. E' todavia doloroso verifi­
car a tremenda facili dade com que sacerdotes dignos e zelosos e leigos
de boa formação moral se eximem ao cumprimento deste grave dever. A
j ulgar pelas aparências, seríamos levados a crer que m u itos ou não atri­
buem à palavra autorizada dos Pontífices Romanos o seu verdadeiro
valor preceptivo ou encaram levianamente obrigações graves de cuj a
existência j á não é lícito alegar desconhecimento ou ignorância.
Pelo fato de a Ação Católica ainda não encontrar nos tratados de
D ogma, nos compêndios de Moral e no Código de Direito Canônico o lu­
gar que lhe pertence, não se pode concl u i r que não exista a obrigação
de trabalhar neste importantíssimo setor do apostolado dos nossos dias.
As opi niões autorizadas dos tratadistas, e dos comentadores dos preceitos
morais e das regras do Direito não fu ndamentam, nem criam o dever,
mas apenas o definem e esclarecem.
Se Pio X I não hesitou em afirmar que não tinha sido sem uma certa
inspiração divina que tinha definido a Ação Católica, é lógico concluir
que as palavras do imortal Pontífice e do seu colaborador e atual Chefe
Supremo da I grej a gozam da mesma inspi ração, quando claramente defi­
nem e precisam o dever de trabalhar na Ação Católica. Desconhecer esta
obrigação ou, o que é mais grave ai nda, entravar com a incúria ou com
as criticas mordazes e demoli doras o desenvolvimento da Ação Católica
é atitude que não pode deixar de ser sintoma al armante de indisciplina
e manifesta rebel ião contra as graves determi nações dos legítimos Pas­
tores. O conhecido texto "Qui vos audit, m e a.udit, qui vos spernit, me
spernit" não admite exceção alguma, nem deixa campo l ivre para sub­
terfúgios ou evasivas.
j á é tempo de todos, sacerdotes e lei gos, se capacitarem de que o
movimento providencial da Ação Catól ica não é fruto do capricho deste
ou daquele, mas iniciativa da própria I grej a que nele deposita as suas
melhores esperan ças. As qualidades pessoais e os defeitos que caracterizam
este ou aquele di rigente ou assistente não constituem de forma alguma
motivo j usto para se trabalhar ou deixar de trabalhar neste valoroso
exérci to. A incompetência, a falta de tempo ou a humi ldade mal com­
preendida, sob cujos disfarces se oculta tantas vezes um orgulho des­
medido, também não escusam do cumprimento deste dever. Dentro do

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l imite mais o u menos restrito das suas poss i b i l id a des, todos têm u m a
tarefa a c u m p r i r dentro da Ação Católica. S e nem todos se podem
dedicar ao apostolado d a palavra e à atividade exterior das visi tas às
secções e da propaga n d a do i deal, o s meios mais eficazes do a posto lado
·- a oração, o bom exemplo, o sacrifício - são perfeitamente acessíveis
a todos. E nem se diga q u e cada u m isoladamente pode exercer estas
modalidades mais nobres do apostolado com m a i o r i n tensidade e eficácia
do q u e nos q u a d ros d a Ação Católica. Cada u m pode e deve coope rar
neste trabalho de evangelização onde e como a H ierarq u i a determ i n a e
não segun d o as p referências e os caprichos de cada u m .
O i n d ividualismo também logrou infi ltrar-se n o d o m í n i o religioso p a ra
a l i exercer a s u a ação demolidora. Foi-se o b l i terando pouco a pouco o
sentido do social e do coletivo. As devoçõezi n h as de c a ráter pa rticu lar
ocup a ra m o lugar primacial, relegando para um p l a n o secundário a o ração
oficial d a I grej a ; os cânticos p iedosos, t a n tas vezes de sabor profano,
fizeram perder o gosto e o interêsse pelo cântico l i t ú rgico ; as cape l i n has
fizeram esquecer a i g rej a paroq u i a l e o espírito estreito, acanhado e p a r­
ticularista de m u i tas paróqu i as e associações pias p a rece terem l i m itado
o horizonte, fazendo esquecer o c a ráter u niversa l el a I grej a e os i nte­
resses superiores d a Cristandade ; o piedosismo adocicado, melífluo e p o r
vezes p i e g a s s u p l a n t o u e exti n g u i u em mu itas consciências a piedade
sól i d a , consciente, viril e compreensiva. U rge reeducar o sent!mento reli­
gioso, arreigar convicções p ro f undas e acabar de vez com a assistência
pu ramente passiva à celebração dos divinos mistérios. E' necessário de­
mol i r a barreira que separa os leigos do altar e combater, por u m a
i n tensa propaganda doutri n a l e por u m a renovação d a vida l i t ú rgica,
a pavorosa i ncompreensão em q u e m u itos fiéis vivem relativamente às
mais s u b l i mes verdades da nossa fé e às mais eloquentes cerim ô n i as
do c u lto divino. As n ossas i grej as estão povoadas de católicos que as­
sistem à Missa dom i n i c a l levados por algumas c re nças, mais ou menos
vagas e i mprecisas, por hábito, p o r rotina, por convenções soci a i s -
em certos meios é de bom tom assist i r-se às Missas frequentadas pela
élite - mas n a s u a grande m a i o r i a desconhecem qu ase i ntei ramente o
valor, a f i n a l i dade, a eficácia do S a n to Sacrifício e o sign ificado das
suas cerimônias. E' já m u i to a p reciável o trabalho realizado nos d ife­
rentes organismos ele Ação Católica no sentido d a renovação do espírito
de fervor primitivo e n a reeducação do sentimento religioso dos nossos
cató l icos.
U rge também sobrepor a atividade apostó lica coletiva, organizada,
metód i c a e coerente à atividade individual dispersa, ocasi o n a l e esporá­
dica. E' i n dispensável i r demo l i n d o as igrej i nhas para que s u rj a mais
bela e esplendorosa a grande I g rej a q u e mergulha as suas raízes no
próprio Coração Divino para a l i haurir os preciosos fru tos de graça e
salvação q u e distrib u i pela pobre h u ma n i d ade.
" Neste mundo de esquecimento rápido em q u e vivemos, o bserva
Tristão de Ataíde, a voz de Roma cai sempre como uma a dvertência se­
ren a e a n tecipada. Ela acompan h a as necess i dades da hora que passa e
precede os fenômenos sociais. Atenta aos acontecimentos, mais que ou­
tra qualquer, fala aos homens como quem vive n o meio deles, mas
sempre trazendo o t i mbre de uma sabedo r i a q u e transcende as suas i n­
quietações." 1 I n felizmente, no meio católico n ã o se p resta muitas vezes
aos ensiname n tos pontifícios a atenção dócil, generosa e pronta que é
1 ) T r i s t ã o d e A t a 1 d e, Pela R eforma Social, pág. 74 .

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dever de consciência para todo o católico, digno deste nome. Mal vai
ao rebanho, quando as ovelhas já não conhecem e não seguem a voz
do Pastor !
De resto, o apostolado não é um luxo na vida cristã, porque é da
própria essência do cristianismo. O encargo da evangelização foi con­
fiado, não apenas aos apóstolos e aos seus sucessores, mas a toda a
comunidade cristã. O apostolado é uma empresa coletiva que solicita o
concu rso e a colaboração de todos.
"Dar, escreve Plínio Salgado, é traduzir em ato o verbo amar. O
espírito cristão revela-se, pois, em permanente ofertório." 2 A caridade,
virtude essencial do cristianismo, sem o zelo é um contrassenso, é luz
que não brilha, n ão irradia, não aquece, é fogo extinto e apagado, ou
quando muito escondido sob as cinzas do egoísmo e da inércia.
N os gloriosos tempos da Cristandade medieval o esforço coletivo
da grande família cristã foi solicitado para a conquista da Terra Santa,
combate ao in fiéis e construção das magníficas catedrais, verdadeiras jóias
de arte e preciosos monumentos de fé ; nos nossos dias a Igrej a pretende
levantar uma nova cruzada de piedade e de amor, de caridade e de zelo,
na qual todos têm obrigação estrita de tomar parte. A I grej a, adaptando­
se às exigências e necessidades u rgentes da nossa época, procura reinte­
grar no plano divino o mundo convulsionado e materialista em que vive­
mos. Sem o influxo sobrenatural da Graça a vida individual e social, a
própria natureza humana ficam diminu ídas e mutiladas. O que importa
acima de tudo é elevar a vida humana ao n ível da vida divina, inserindo
nas realidades efêmeras e contingentes a participação do eterno e do di­
vino que a Graça nos confere. Cristianizar é fazer viver a vida de
Cristo. O Dogma, a Moral e o Culto são os meios indispensáveis e es­
senciais para que o homem se possa elevar acima de si mesmo e entrar
em comunhão de vida com a própria Divindade.
"A Igrej a tem do homem um conceito pilosófico e teológico que não
muda e que é válido tanto para o homem contemporâneo de Cristo, como
para o homem moderno de nossos dias. Em qualquer latitude, em qualquer
civilização, em qualquer momento da história, o homem não pode fugir
a esses traços essenciais de sua figura, e será tanto mais perfeito quanto
mais dele se aproximar. O homem é um só, por toda a parte e em
todos os tempos." a E nesses traços essenciais que fazem parte da fisio­
nomia do homem bri lha o rosto divino do Mestre. Nas veias do cristão
circula o sangue humano, valorizado pelo influxo vital da Graça. O nosso
coração deveria vibrar em u n íssono com o Coração do mesmo Deus. Ora
assim como a glorificação do Pai e o resgate dos homens são a umca
preocupação de Cristo, assim também a flama do zelo, a ânsia do apos­
tolado fazem parte essencial da vida cristã.
"A I grej a, cônscia de que u rge criar as condições de nascença de
uma nova cristandade, de uma "cristandade modelo e guia para este
mundo profundamente enfermo" - convida-nos a tomar nela parte ativa.
No domínio da ação, militar apostólicamente nas suas fileiras é o pri­
meiro dos nossos deveres de católicos : Vivemos num tempo em que -
afirmou Pio XI - ninguém possui o direito de ser medíocre. Quand0>
a humanidade, mal liberta de uma sangueira imensa e esfacelada por
desvairos espirituais, culturais e políticos de toda a ordem, hesita no­
caminho a seguir, o dever de realizar a Ação Católica, não de qualquer
2) P 1 1 n 1 o S a 1 g a d o, A Aliança do Sim e do Nfio, pég. 161 .
3) T r 1 s t ã o d e A t a 1 d e, Idade, Sexo e Tempo, O• ed . , pég. 255.

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modo, mas e m íntima e an imosa cooperação com a H ierarquia, redobra


de vigor. Não o cumprir seri a, ao mesmo tempo, silenciar o imperativo
da nossa consciência religiosa e faltar ao chamamento do Papa." · I Oxalá
que assim o compreendam todos os católicos portu gueses !
Imensa Tarefa a Realizar. E este trabalho disciplin ado de coo rde­
-

n ação de esforços em torno daqueles que representam Cristo na terra


(:: tanto mais necessário e u rgente, quanto mais vasta e grandiosa é a
tarefa a realizar. Nota-se por toda a parte um grande anseio de recons­
trução e rej uvenescimento. Os povos, exaustos pelos esforços dispendidos
durante os longos anos da hecatombe pavorosa da guerra que ensan­
guentou o mundo, procuram ansiosamente uma nova organização que
lhes garanta tranqui li dade e bem-estar. Perpassa pelo mundo inteiro um
frêmito de nova vida, removem-se escombros, erguem-se ruínas ainda fu­
megantes, desenvolve-se por toda a p a r t e um esforço gigantesco em or­
dem ao estabelecimento de uma nova orgâ nica política, social e econô­
mica que evite a repetição da sangrenta tragédia e assegure maior grau
de bem-estar aos indivíduos e aos povos, sobretudo às classes mais
abandonadas. Gerado no cadinho doloroso da imensa soma de sofrimen­
tos provocados pela guerra vai-se erguendo lentamente um mundo novo
cujos contornos ainda são difíceis ele precisar. E este novo mundo não
pode ser aceite, nem rejeitado em bloco. H averá nele certamente muitos
desmandos a corrigir, muitos erros a combater, mu itos m ales a debelar,
mas haverá também um poderoso anseio de j ustiça e outros fatores a
aproveitar. Assim como não há homens tão arraigados ao mal, que se
possam considerar irremediàvelmente perdidos, enquanto lhe s restar um
sopro de vida, assim também não há épocas tão i rrel igiosas e satân icas,
que não sej am susceptíveis de ser influenciadas pela seiva vivificadora
do espírito cristão. Além disso, o tão apregoado mundo novo não pas­
sará de mais um ensaio i nfeliz, de mais uma tentativa inútil e até de
uma n ova desordem caótica, se não se basear no respeito dos direitos
sagrados de Deus e da pessoa humana. Uma nova ordem, implantada
pelo direito do mais forte e mantida pela força das armas, será neces­
sàri amente i nj usta e arbitrári a ; por isso será antes desordem, não será
paz, mas simples trégua, mais ou menos precária e efêmera, mantendo­
se apenas enquanto os vencidos cobram ânimo para reivindicarem os
seus d i reitos conculcados.
A espada destrói obstáculos, quebra grilhões, vence resistências, su­
prime barreiras, abre o caminho, mas a força, só por si, não apazigua,
nem constrói. No mundo novo só poderá h aver mais j ustiça nas relações
sociais e mais paz e harmon i a entre os indivíduos e as n ações, se o es­
pírito de caridade cristã i nformar a vida i ndividual e social, porque só
a caridade pode cicatrizar as feridas abertas pelo gládio, limar arestas
que produzirão atritos inevitáveis e criar uma melhor compreensão dos
i nteresses mútuos e das legítimas aspirações das classes e dos países,
vítimas de inj ustiças e opressões. Não será o predomín i o desta ou da­
quela i deologia e deste ou daquele regime que poderá salvar o mundo
de novas catástrofes, bem mais funestas e tremendas do que as prece­
dentes. A Europa só poderá encontrar um equillbrio estável, quando vol­
tar a ser i nformada pelo espírito cristão que presidiu ao seu n ascimento
e fez a sua grandeza e glória no passado. Pretender criar uma ordem
nova sem um espírito novo é alimentar a louca ambição de construir edi-
4 ) J . S. d a S 1 1 v a D 1 a s, O Crlstllo e o Homem de Açlio, edlt. das "Novi­
dades", 3 de out. de 1 0411.

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ficio vasto e im ponente sem a lice rces fi rmes e sólidos, porque o espírito
{: para os povos e para as civilizações o que a seiva é para a planta,
o que a coluna vertebral é para o o rgan ismo, o q u e o leme é para a
embarcação.
Sem u m certo número de c renças e convicções, comumente parti lha­
das, não há, nem pode haver orientação segura e firme n a gerência dos
negócios públicos, nem obediência pronta e fi rme da p arte dos súditos.
A mora l cristã que nos ensi n a o amor de Deus e do próximo, o sacrifício
pelo bem comum, o domínio das ambições desmedidas e a renúncia aos
prazeres e i n teresses i l íc i tos é a única garantia sólida e o ú n ico funda­
mento estável de uma verdadeira civilização.
Segu ndo u m p reconceito, muito em voga no nosso tempo, a q u i lata-se
o grau de civilização de u m povo pelo n ível de vida dos seus habitantes,
pelo desenvolvimento do seu comércio e da sua i ndústria, pela densidade
d a s u a população, apetrechamento e efetivos do seu exército e facilidade
dos seus meios de comunicação e de transporte. Há muito quem confunda
civilização e cultura com conforto e comodidade, quando é certo, como
os fatos bem recentes cla ramente o demonstraram, que a barbárie, refor­
çada com os req u i ntes de perversidade que o progresso lhe proporciona,
é de todas a mais c ru e l e a mais desu mana.
Perante a consciência cristã apresenta-se com toda a s u a d u reza
este trágico d ilema : o mundo de amanhã será vivificado pelo espírito
c r istão que fez a nossa grandeza no mundo n o passado e a quem deve­
mos tudo o que de bom e grande subsiste ainda o u retrocederemos nós
ao estado d e barbárie q u e precedeu a eclosão do cristianismo? Assisti­
remos nós à vitória definitiva da Cruz e dos ensinamentos salutares que
dela dimanam o u teremos nós a dura sorte de p resenciar o triunfo efê­
mero dos símbolos de destruição e de ódio? No mundo de amanhã serão
a j ustiça e o amor as bases de toda a o rdem social ou veremos nós a
humanidade esmagada pelo ódio e corrompida pelos vícios mais a bj etos?
São bem patentes os progressos d a indústria e d a técnica, mas há
j usto motivo p a ra recea r o regresso aos sentimentos vis e às práticas
ignomin iosas dos séculos de barbárie d a era pagã. Embora a G récia se
p udesse orgul h a r dos seus sábios e escu ltores, embora a Assír i a e a Ba­
bilônia, o Egito e a Pérsia e tantos outros países de remotas civilizações
se p u dessem vangloriar dos seus monumentos, embora Roma se sentisse
o rgulhosa das suas conqu istas e das suas artes, todos esses povos gemiam
sob o peso esmagador de dura escravidão e de cruel barbárie.
E ngan am-se redondamente todos aqueles que fazem consist i r o valor
dum povo ou o mérito duma nação nas suas proezas bélicas, nos monu­
mentos das suas cidades, n o progresso das suas i ndústrias ou no brilho
das suas artes. A nobreza dos sentimentos, a elevação das a l mas, a li­
berdade dos i n divíduos, a p u reza e a robustez das famíli as, a p roteção
da i nfância, a dignificação do trabalho, o respeito pela m u l he r são incon­
testàvelmente fatores de progresso de bem maior valia e eficácia do que
todos os mecan ismos ainda os mais aperfeiçoados e do que todos os triu nfos
de ordem material. Que importa que as grades sej am dou radas, se o es­
pírito permanece p reso ? Na civilização pagã a brancura n ívea dos már­
mores, o cintilar f u l g u rante do o u ro, a graça sutil das col u n atas, a impo­
nência maj estosa dos monumentos ocultavam a angústia das prisões, a
náusea das caravanas de escravos, a podridão dos costumes. A sociedade
de então ofereci a o aspecto de u m quadro de manchas escu ras e sombras
sinistras, embora cerrado por ti nia ·moldu ra luzente e artística.

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 93

Assim como não é a traça artística do edifício que diminui ou au­


menta o mérito dos seus habitantes, assim como não é o valor do frasco
qu e altera a qualidade do seu conteúdo, assim também não são os pro­
gressos de ordem material que asseguram por si só o bri lho duma ci­
vilização.
Nós hoj e gozamos de maior conforto e comodidade do que os nossos
antepassados, conseguimos subj ugar as forças da natu reza, colocando-as
ao nosso serviço, gozamos da eletricidade, do rádio, da telefonia sem fios,
m archamos a largos passos para a televisão. Mas, apesar de todas as
descobertas e aperfeiçoamentos, quantas incertezas e mal-estar, quantos
infortúnios e amarguras, quantas inj ustiças e opressões ! O homem ven­
ceu as forças da natureza, mas não soube vencer-se a si mesmo, n ão
soube disciplinar os seus apetites, regular as suas paixões, coordenar os
seus interesses com o bem-estar da coletividade.
O homem é um rei destronado que contempla com amargura as ruínas
acumuladas no seu reino. O homem de hoje é um industrial arruinado
que abriu falência e que assiste dolorido ao ruir estrondoso das suas lou­
cas empresas e dos seus castelos de vaidade e de ambição.
Se os fatores de ordem material e econômica exercem uma influência
considerável na vida individual e coletiva, é um erro tremendo atribui r-se­
lhes a primazia. Por mais elevado que sej a o grau de prosperidade e o
nível de vida de um povo, j amais poderá haver paz social estável e fe­
cunda sem o amor de Deus e do próximo, sem o respeito pelos direitos
de quem trabalha e pelas dores de quem sofre e sem a observância dos
preceitos de ordem moral que são o fundamento eterno de toda a civili­
zação digna deste nome.
Segundo a economia cristã o indivíduo existe para a sociedade, a
sociedade para a pessoa e a pessoa para Deus. Quebrar qualquer destes
elos, negar esta subordin ação essencial é su bverter toda a ordem social
e minar todos os alicerces da civilização. Nunca assumiu proporções tão
graves, como nos nossos dias, a luta entre a Igreja, empenhada em ar­
ticular toda a vida humana numa ordem de valores, baseada no predo­
mínio do sobrenatural e no respeito dos direitos de Deus, e as diferentes
modali dades de laicismo, empenhado em excluir o transcendente do hu­
mano e em emancipar a vida inteira e toda a o rganização política, social
e econômica da influência do divino.
A Economia política considera a produção, a permuta e o consumo
das mercadorias, domín io exclusivo das aspirações e i nteresses individuais,
cujo sentido mais alto se cifra no egoísmo do indivíduo, da classe ou
da nação, i ndependentemente ele todos os valores de ordem moral e reli­
giosa. O Estado converteu-se de instituição, fundada por Deus para faci­
litar a realização do destino sobrenatural do homem, em bem supremo e
absoluto com domínio total sobre os seus membros ou em simples confe­
deração de i nteresses, baseada num pacto, mais ou menos explícito, entre
os cidadãos e orientada para fins de ordem puramente terrena. Em mu itos
povos o clube, o cinema, o teatro, o desporto, o "dancing", a taberna
exerce m uma influência bem mais profunda e bem mais vasta do que
o templo, onde se realizam atos de culto, frequentados, em certos meios,
quase exclusivamente por crianças, mulheres devotas e velhos mais ou
me nos decrépitos. A mocidade, os chefes de família, os patrões, os ope­
rários, os i ntelectuais, as pessoas com responsabil idades na orientação
da vid a política e social vivem habitualmente à margem da influência
be néfica da I grej a .
13

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1 94 Pelas revistas

No mundo revolto em que vivemos ouve-se, repetido por milhares de


vozes, o grito monstruoso de Lúcifer : No n serviam ! Em revolta perma­
nente contra Deus a humanidade arrasta os pesados grilhões dos seus
vícios, abusos e desmandos. Ao orgulho da ciência sucedeu o deslumbra­
mento da técnica, à louca e excessiva confiança n a clarividência da pobre
razão humana sucedeu o diabólico predomínio da máqu ina. J á que as
ciências humanas não souberam resolver os graves p roblemas em que
estavam em j ogo os destinos dos i n d ivíduos e dos povos, subsiste em
m uitos espíritos a confiança cega na o n ipotência da técnica. Muitos crêem
que, graças ao · i ncremento da produç ão, surgirá para a humanidade a co­
biçada era de paz. Expulsa do p araíso, a humanidade conserva a nos­
talgia da vida edêni ca ; afastados de Deus, os homens vivem torturados
pela sêde do I n f i nito e d a Perfeição suprema. D a i as loucas esperanças
na criação de u m novo paralso terrestre que surj a ao império da varinha
de mágico condão d a ciência, da técnica o u d a política.
" O homem moderno supôs que melhor construiria, progrediria e avan­
çari a sobre uma série de negações acumuladas - triste monte de escom­
bros . . . Demoliu, contestou, fez da sua rebeldia sistemática o instrumento
da j ornada nova. E af i na l ? Quais os resultados? Quais os triunfos obti­
dos? Na z o n a das coisas materiais, algum caminho andou. Também o teria
a ndado, e com outra segu rança, se conservasse as antigas di retrizes. No
que se refere, porém, às coisas do Espírito, à clara noção do seu des­
tino - o malogro foi tremendo. Repudiadas as disciplinas tradicionais,
ficou i merso numa funda incerteza, espavorido ante a sua íntima anar­
quia, - j á proj etada fora dele, n os espetáculos trágicos do U niverso
em crise . . " ó
.

U rge erguer a catedral de uma n ova cristandade sobre as ru ínas·


acumuladas pelas absurdas apostasias, loucas revoltas e estu ltas i lusões
materialistas. Nas horas críticas da H istória a I grej a nunca faltou ao
cumprimento da nobilíssima missão que lhe foi confiada pelo seu divino
Fundador. Graças à ação reformadora dos seus santos e à atividade ope­
rosa e fecunda das ordens monásticas logrou cristianizar os povos bár­
baros e lançar os fun damentos sóli dos da cristandade medieva l ; pelas sá­
b ias, prudentes e oportu nas reformas do Concílio de Trento e pelo zelo
ardente e fecundo da Compa n h i a de Jesus pôde a I grej a fazer face à
tremenda convulsão, p rovocada pela Reforma ; nos nossos dias é sobre­
tudo à Ação Católica que pertence a missão recristianizadora do mundo
embrutecido e devastado pelo furacão da guerra e pela propaganda dos
erros funestos e das idéias subversivas.
Na Bélgica, na Espanha, na Itália, na própria França já se sente a
i nfluência poderosa exercida através da Ação Católica, única força moral
organizada capaz de conter as poderosíssimas forças do mal e de civilizar
as mu ltidões descristianizadas e ululantes.
" E u desej aria poder abrir o coração d a H istória, escreve o grande
Ernesto Hello, para lhe arrancar o segredo das catástrofes inexplicadas.
H á de fato catástrofes de tal modo estranhas, que se assemelham a um
silêncio horrível. D i r-se-ia o silêncio d a Palavra Eterna que se recusa a
dar vida às criaturas. D i r-se-ia o recuo do sol que se recusa a iluminar
o mundo. E' o triunfo da obscuridade, é o poder das trevas de que fala
a Escritura Sagrada. Quem sabe se estas catástrofes i n explicadas, se es­
tas interrupções n� luz histórica, quem sabe se estes silêncios terríveis,
contendo dilúvios de sangue e do fogo, não são o eco, o efeito, o reflexo
õ) J o ã o A m e a 1, Rumo da /uveatude, Lisboa, 1 942, p. 1 03.

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Revista Eclesiástica B rasi leira, vol . 6, fase. 1 , março 1 946 1 95

e o castigo do silêncio a que por vezes são condenados aqueles que pos­
su em o depósito da verdade e o encargo de a anunciar aos ho mens?" G
Ocultar a verdade, sobretudo em períodos graves como aquele que
estamos vivendo, é crime terrível que se expia du ramente. Não têm fal­
tado as su aves advertências, as reiteradas instâncias e os apelos impressio­
nantes dos Soberanos Pontífices, mas terá a voz do P astor Supremo en­
contrado n o meio católico a correspondência generosa, a submissão filial e
a docilidade pronta que seria legítimo esperar?
Não admira que o mundo paganizado não ouça a voz angustiada do
Chefe supremo da Cristandade, mas não será de estran h a r a apati a, o
comodismo, a inércia e preguiçosa i n diferença de tantos sacerdotes e lei­
gos? Será preciso o látego da perseguição para despertarem do sono
profundo em que tantos vivem? Não assu mi remos tremenda responsabi­
lidade, se não soubermos compreender e real izar a gravíssi ma missão
que nos incumbe n a hora decisiva que estamos vivendo?
A tarefa primordial da famí l i a cristã é a proclamação da Verdade
do Evangelho. Assim como Cristo veio dar testemunho do Pai e revelar­
nos as riquezas insondáveis, os teso u ros inexauríveis de c a ridade que a
essência divina encerra, assim também os cristãos devem dar testemunho
de Cristo, pela sua fé e pelas suas obras, e manifestar as verdades evan­
gélicas ao mundo desorientado dos n ossos dias.
Possuir a verdade e guardá-la ciosamente para uso próprio, sem
procurar difundi-la é enterrar o talento da fé e i n correr n a condenação,
reservada aos servos i núteis e p reguiçosos de que fala o Evangelho. Ver
a nudez dos nossos irmãos e não procurar revesti-la com o manto das
virtudes cristãs, ver as p risões lôbregas do pecado e não procu rar destruir
as suas algemas ignominiosas, ver as chagas p u rulentas dos vícios e não
procu rar cicatrizá-las com o óleo santo da caridade é crime que, n o dizer
do Evangelho, merece condenação.
"A I grej a é hoj e, todos o sentem, o maior fator de equ i líbrio do mun­
do agitado em que vivemos. Dentro do homem, como n o seio da socie­
dade, sua função é de restaurar em tudo a moral, que é a adequação do
homem às suas finalidades próprias ; a justiça, que rerpesenta exatamen­
te o equ i l íbrio nas relações entre os homens ; a caridade, que representa
mais que o equilíbrio, a e levação de tudo a Deus, que é o puro amor,
e afinal, o culto, adoração e louvor contínuos do Eterno." 7
Como observa Mons. de Solages, o que caracterizava a cristandade
medieval "não era a cristianização i n dividual, era a cristianização dos
quadros sociais : d a família, da profissão, d a cidade, das leis. Cristão ou
não i n d ividualmente, cada u m vivia então n u m meio cristão, fazia parte
duma sociedade e m que a atmosfera que respirava e as instituições
que o enquadravam eram cristãs. Só depois de longos séculos de p rogresso
através do mundo pagão, o Evangelho tinha conseguido tudo i nvadir e
impregnar." s D a í a necessidade u rgente do apostolado no próprio meio
social e m que cada u m vive, apostolado que visa não apenas à conquista
individual, mas sobretudo à conquista e cristianização do próprio meio.
Trata-se, portanto, de u m trabalho gigantesco de reconstrução, de "en­
carnação do espiritual na vida humana", como se lê na Nota oficiosa da
Assembléia dos Cardeais e B ispos de França realizada e m março de 1 945,
tarefa cuj a magnitude excede imensamente as possibilidades dos pequen os
.
6) E. r n e s t H e 1 1 o , Le Stecle, p . 1 93.
7) T r 1 s t ã o d e A t a 1 d e, Idade, Sexo e Tempo, li • e d . , pág. 264.
8) M o n s. d e S o 1 a g e s, L e pro bteme de l' Apostolat dans le Monde Moderne,
pág. 93.

1 3•

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1 96 Pelas revistas

grupos de fiéis isolados ou das obras de caráter particular, por mais


nobres que sej a m as intenções e por mais e levados que sej am os méritos
dos seus mentores e por mais generosos que sej am os esforços dos seus
membros. Requer-se um esforço coletivo, sob a orientação d i reta e ime­
d i ata d a H ierarquia.
Torna-se, portanto, bem claro e manifesto que só pelo desenvolvi­
mento d a Ação Católica a I grej a conseguirá cumprir a grave tarefa que
lhe incumbe no grave momento que estamos vivendo.
E' à I grej a q u e o mundo deve " a revolução que arrancou o homem
à escravidão esmagadora do Estado antigo e reivindicou os d i re itos i m­
p rescritíveis do espírito contra as exigências da força bruta." 9
" N o mundo medieval a I grej a de Cristo era como um castelo forte no
meio da planície. N o deserto e no caos a que fora o Mundo reduzido,
depois da queda das civilizações antigas e das incu rsões das h o rdas bár­
baras, - levantava-se a I grej a como o ú n ico refúgio de paz, de sereni­
dade, de ordem, para onde se voltavam os espíritos e de onde part iam os
laços que fazi a m de u m continente conflagrado o cenário da civilização
mais humana e homogênea, q u e j amais uniu entre s i os aventu rosos des­
t inos dos homens. " i o
N o l i m i a r da nova era, que j á vai sendo denominada era atômica, a
I grej a, graças aos esforços generosos e discipli nados da Ação Católica,
voltará a ser refúgio e abrigo da pobre humani dade, a quem o mundo
deverá mais uma vez a paz e a salvação.
9) M. d e 1 a B 1 g n e d e V 1 1 1 e n e u v e , Tralté Gén éral de l' Btat, t. 1,
pâg. 1 07 .
1 0 ) T r i s t ã o d e A t a 1 d e , Pela Reforma Social, pág. 23 1 .

Comemorações no Quarto Centenário do Concilio de Trento ( 1545-1945) .


No seguinte a rtigo, que transcrevemos de "B rotérla" ( Lisboa, dez. 1 945, p p . 562-
572 ) , o Rev. Pe. A n t õ n i o L e i t e, S. J . , chama a atenção para a I m por tância
que o Concilio de Trento teve para Portuga l , e sugere algumas Idéias sobre o
que se poderia tentar para c om em or a r dignamente o seu Centen á r i o .

No d i a 1 3 de dezembro de 1 545 faz, agora, precisamente quatro


-

séculos - abria-se, solenemente, em Trento, o que havia de ser o mais


importante concílio ecumênico até hoj e celebrado.
Não i ntentamos descrever, aqu i, mesmo resumidamente, as vicissitu­
des da sua abertura, das sessões, das d u as i nterru pções q u e padeceu, nem
do seu encerramento, q u ase dezoito anos depois, aos quatro de dezembro
de 1 563. Também não pretendemos refer i r-nos aos decretos dogmáticos e
disciplinares, emanados da augusta assembléia, nem sequer ao papel no­
tável que, sobretudo no terceiro período, nela desempenharam os repre­
sentantes de Portugal. O n osso i ntento, nestas páginas, é mu ito mais
modesto. Consiste, s implesmente, e m chamar a atenção, dum modo geral,
para a importância que para o n osso país revestiu o concílio, e sugerir
algumas i déias sobre o que talvez, com os recursos d i m i nutos, d e que
em Portugal podemos dispor, se poderia tentar para comemorar digna­
mente este centenário. A longa du ração do concílio - dezoito anos -
oferece-nos tempo suficiente para empreender os t rabalhos que seriam
p ara desej ar, dentro deste quarto centenário.
A importância do concílio para o nosso país é notável, sob muitos
aspectos. Nunca Portugal esteve tão brilhantemente representado num

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 1 97

c oncílio geral da Cristandade. 1 Sem exagero, podemos dizer que os nos­


sos prelados e teólogos, tanto pelo zelo da reforma eclesiá stica como
p ela ciência teológica e canônica, se colocaram num lugar digno, ao lado
das outras nações que mais se distinguiram no concilio. A sua atuação
é uma boa prova da altura que em Portugal tin ham atingi do, nesse
tempo, os estu dos sagrados. Que diferença, por exemplo, com a nossa
pobre e pouco brilhante representaçf10 no Concilio Vaticano !
Mas há outros aspectos da importância do concílio para o nosso
país que importa realçar. Primei ramente, o concílio definiu as principais
verdades de fé negadas pelos protestantes. Ainda que, à primeira vista,
este fato só parece ter importância no campo religioso, teve-a notável, no
terreno político. Estabeleceram-se com toda a clareza as verdades que
os fiéis deviam crer, fechan do-se assim a porta a discussões e contro­
vérsias, em que poderia n aufragar a fé de muitas pessoas que se dei­
xassem levar pelos sofismas dos reformadores.
Ora, - a experiência o mostrou -, estas lutas ideológicas degene­
raram depressa, nos países mais i nfectados pela heresia, em luta à mão
armada.
Todos os historiadores do Sacro-I mpério são concordes em conside­
rar, como o período mais triste da vida da Eu ropa Central, o das guer­
ras de religião que devastaram todas aquelas regiões, e retalharam a
unidade moral desses povos, u n idade que, até aos tempos modernos, se
não consegu iu restabelecer.
A I nglaterra também muito teve que sofrer com as lutas religiosas.
O seu poder político só começou a crescer, quando readquiriu a u nidade
moral, no reinado da sanguinária rainha I sabel, que eliminou pràtica­
mente o partido católico.
Em França, sabido é como as guerras de religião deblitaram a n ação,
a qual só pôde começar a sua brilhante ascensão, quando recuperou a
unidade moral com a vitória do partido católico, no tempo de Hen­
rique I V .
A própria Universidade de Paris, de t ã o gloriosas tradições, e onde
penetrara com tanto vigor o movimento renascentista, viu-se de repente
prostrada, e teve de ceder a primazia da cultura que mantivera durante
toda a Idade Média, às universidades dos outros países, em especial, às
da Península I bérica.
Pelo contrário, a Espanha e Portugal, em que uma política previdente
do poder civil e a ação, por vezes excessivamente rigorosa, da Inquisição,
defenderam, com energia, a unidade moral da nação, puderam consolidar
a magnífica obra de colonização que os descobrimentos lhes tinham pre­
parado.
Os impérios peninsul ares certamente não teriam podido resistir tanto
tempo aos embates das Potências do Norte, se não fosse, por um lado,
o estado de debilitamento em que estas tinham ficado por causa das
lutas religiosas, e, por outro, a magnífica unidade moral existente dentro
dos dois países i béricos. Combater pelo próprio império era, também,
combater pela religião. E não se pode negar o influxo que a di latação
d a fé e a sua defesa exerceram em toda a nossa prodigiosa atividade
descobridora e colonizadora.
1 ) Sobre a representação de Portugal n o s Con c í l i o s pode ver-se A . Per e i r a
de Figueiredo, Portugueses n o s Con clllos Gerais, Li s bo a, 1 787 ; e Novos retoques aos
Portugueses nos Conclllos G erais, Lisboa, 1 787 . F. d e A l m e i d a , História da Igreja em
Portugal; M. de Olive i r a , História Ecleslcísllca <le Portugal, nos l u g a r e s respectivos, etc.

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Nestas condições, é óbvio o grande influxo exercido pelo Concilio


Tridentino, para a consecução de semelhantes resultados. Condenando as
heresias protestantes e confirmando os católicos na fé, deu a estes o
ambiente de segu rança inabal ável, o sentimento de plenitude e de vitória
que havia de manifestar-se em inúmeros aspectos' da vida portuguesa.
Apontemos só alguns.
No campo teológico, produziu a magnífica floração científica, desen­
volvida ao redor das nossas Universidades de Coimbra e Évora, que en­
fileiravam, dignamente, ao lado das de Salamanca e Alcalá, as mais
celebradas de Espanha, e mesmo do mundo, n aquela época.
Nas letras, baste apontar o cristian ismo vitorioso, que transparece
nos Lusladas ou na prosa robusta de Seiscentos. Quem desconhece as
invectivas do nosso épico, no principio do Canto V I I , contra os alemães,
ingleses e franceses, em "feias guerras" ocupados,
Não contra superbíssimo Otomano
Mas por sair do jugo soberano (Lus. V I I , 9 ) ,
d a verdadeira Igrej a?
O ' míseros cristãos, pola ventura
Sois os dentes de Cadmo desparzidos,
Que uns aos outros se dão a morte dura
Sendo todos de um ventre produzidos ( Lus. V I I , 9 ) .
Entre vós nunca deixa a fera Alecto
De semear cizânias repugnantes ( Lus. V I I , 10) .
Mas entanto que cegos e sedentos
Andais de vosso sangue, ó gente insana,
Não faltaram cristãos atrevimentos
Nesta pequena casa lusitana ( Lus. V I I , 1 4 ) .
E ' inútil multiplicar exemplos destes sentimentos que afloram, cons­
tantemente, à pena de poetas e prosadores. Nas artes, patenteia-se a exu­
berância triunfal do barroco, em contraste com a estesi a gelada do Re­
nascimento puro, ou o frio academismo de Setecentos.
Nos ú ltimos anos, começou a desenhar-se um movimento de j ustiça
para com este estilo, também denominado jesuítico, que traduz bem a
mentalidade da época : triunfo da fé católica contra a heresia. 2 Que
significam, por exemplo, os magníficos tronos das nossas igrej as, senão
uma profissão de fé eloquente na presença real de jesus Cristo na Euca­
ristia, negada pelos protestantes?
Este estilo barroco, ornamental, difícil de compreender, por não pos­
suir a suavidade harmoniosa do românico, nem a elevação mística do
gótico, representa bem, repetimo-lo, o estado de espírito dominante, de
p rofunda exaltação religiosa, de sentimento de vitória.
Para tanto, deve ter contribuído, também, a definição tridentina do
dogma da nossa j ustificação pela graça, a qual extingue em nós total­
mente a culpa e não só a cobre com o manto de Cristo, como afi rmavam
os protestantes. O homem não é um mero autômato, que peca necessària­
mente, e também necessàriamente se salva ou se condena, como, no fim
de contas, afirmava o calvinismo. E' um ser livre - proclama o concílio
- dotado de plena responsabilidade, que deve cooperar com a graça de
Deus que nunca lhe é negada e com a qual sempre pode alcançar a

2) Sobre este particular, pode ver-se W. Welsbach, El barroco arte de la Contro­


Reforma, tr. de Enrlque Lafuente Ferranl, Madrid, 1 942, sob retudo os caps. 1 e li e
o ensaio prel i m i n a r do traduto r.

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vitó r ia. Como se enganam aqueles que reputam o catolicis mo vivido a '

fé rij a dos séculos X V I e X V I I , acabrunhadora e sombria ! . . .


Nem se diga que, não existindo em Portugal estas lutas religios as
'
n ão era fácil dar-se esta espécie de exaltação serena do espírito cristão
com tamanha influência na arte da época. Não nos esqueçamos que tod �
a t eologia,
· sobretudo então, era ordenada à refutação vitoriosa das here­
sias, a defender, com bases filosóficas e racionais, a verdade católica, de­
finida em Trento. Portanto, não podia deixar de i nfluir no ânimo do
clero, tanto secular como regular, que havia de ser, naturalmente, o prin­
cipal orientador da arte religiosa.
Os próprios leigos cu ltos - possuidores de muito maior instrução
re ligiosa do que hoj e -, apaixonavam-se por estas questões e não po­
diam deixar de respirar o sentimento de triunfo que dominava a c1encia
sagrada, e todo o movimento renovador, chamado vulgarmente de contra­
reforma. 3
E o povo, por meio da pregação, não podia deixar de participar deste
sentimento de reação contra o protestantismo, sentimento avivado pelas
lutas marítimas e, mais tarde, também terrestres, contra os hereges que
assa ltavam as nossas possessões ultramarinas.
Basta lembrar como muitas das nossas naus foram capturadas pelos
piratas calvinistas de La Rochelle, entre as quais merece especial menção
a nau Santiago, em que foram martirizados, j u nto das Canárias, 40 j e­
suítas portugueses, que iam a caminho do Brasil, capitaneados pelo B.
I nácio de Azevedo. E como não referir o célebre sermão do Pe. Antônio
Vieira contra as armas de Holanda?
Para a gênese deste genuíno espírito de contra-reforma, mais ainda
que os decretos dogmáticos do Concílio, devem ter influído as disposições
disciplinares da mesma augusta assembléia. E' sabido como, em conse­
quênci a de muitas causas, entre as quais se costumam salientar o grande
cisma do Ocidente e o espírito pagão do Renascimento, a disciplina ecle­
siástica e os bons costumes tinham decaído notàvelmente. A corrupção pe­
netrara, i nfelizmente, até aos mais elevados graus da j erarquia eclesiás­
tica, e muitos altos dignatários da Igrej a viviam mais como príncipes tem­
porais do que como ministros de Deus.
H avia Cardeais e B ispos que possuíam, simultâneamente, várias dio­
ceses e outros benefícios, de que, apenas, cuidavam de receber rendimen­
tos, deixando totalmente o governo nas mãos de subalternos. 4 O mesmo
sucedia com certos párocos das freguesias mais rendosas que se ausen­
tavam das suas paróquias, deixando a cura de almas entregue a algum
3 ) Boa prova de i n teresse que os leigos tomavam por estas matérias, m esmo
quando se debatiam só entre escolas católicas, encontramo-lo n a célebre controvérsia
De auxlllls, originada na teoria da chamada ciência m édia de Deus, defendida, pri­
m e i r a m e n t e , n a f i l os o f i a , por Pedro da Fonseca, S . j . , e aplicada, depois, à teologia
pelo seu confrade e professor de Évora, Luis de Moli n a . Hoje, custa-nos a crer como
estas disputas sobre u m assunto notàvelmente abstruso, - a conciliação da eficácia
da graça com a liberdade h u m a n a , - chegavam a apai xonar mesmo os leigos, sobre­
tudo e m Espanha, como no-lo atestam muitos documentos da época.
4 ) Um dos mais tristes exemplos deste abuso oferece-no-lo D . jorge Costa, o
celebre Cardeal de Alpedrlnha, falecido em 1 508, que, na sua longa vida de 1 02 anos,
foi acumu lando u m número e n o r m e d e cargos eclesiásticos. Segundo Mons. J . A . Fer­
reira, Fastos Episcopais d a Igreja Primacial de Braga, li ( B raga , 1 930 ) , pág. 362,
este Cardeal "foi s i m u ltâneamente Deão de Lisboa, de B raga, da Guarda, do Porto,
de Lamego, de Viseu, de Si lves e de B u rgos com o seu Chan trado ; teve sete Abadias
da O rdem ele S . Bento ; seis da O rdem de S . B e r n a rdo, e m que entrava Alcobaça ;
dez pri orados dos Cônegos Regrantes de S. Agostinho ; foi D. Prior de G u i marães e
Bisp o de Ceuta, Si lves, Porto ( j unto a Rom a ) , Viseu e Évora ; Arcebispo de L i sboa
e B raga, além de outros grossos benefl clos que possul a , fora deste p a i s . " Pouco antes
da. morte, renunciou a todos estes beneflclos, e m favor de parentes e amigos, o que
101 considerado u m grande ato de vi rtude !

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200 Pelas revistas

sacerdote, muitas vezes ignorante, que se contentasse com uma modesta


retribuição. A relaxação entrara, também, em muitos mosteiros, para o
que não contribuiu pouco o regi me das comendas.
N i nguém ignora como os protestantes, a começar pelo próprio Lutero,
exploraram este argumento da relaxação da disci plina ecelsiástica nos
seus ataques contra a I grej a. Os abusos eram grandes e i nveterados ; e
por isso, os esforços de alguns Papas, melhor intencionados, e de bas­
tantes prelados zelosos, malograram-se quase completamente. A glória
da verdadeira reforma estava reservada ao Concílio, e aos Papas e P re­
lados que souberam executar com mão firme as sábias medidas elabo­
radas em Trento.
Entre os decretos disciplinares mais i mportantes, citemos o da proi­
bição de acumular benefícios eclesiásticos (sobretudo dioceses e paró­
qu ias) , o da obrigação de residência, por parte dos beneficiados, proven­
do-se, assim, à melhor assistência religiosa e governo espiritual dos fiéis ;
a instituição dos seminários diocesanos que, por isso, se ficaram a cha­
mar conciliares, e os decretos sobre as ordenações, donde proveio uma no­
tável melhoria no recrutamento e formação do clero ; os i mportantíssimos
decretos sobre o matrimônio, em especial, o que prescrevia a forma so­
lene obrigatória para a validez, com o que ficavam desterrados os cha­
mados casamentos clandestinos, de tão funestos resultados para a mora­
l i dade pública ; a consequente organização dos cartórios paroquiais ; a re­
forma dos religiosos e a diminu ição das isenções do poder episcopal, etc.
Estes e outros decretos oportunos não foram, é certo, n a sua maioria,
integralmente cumpridos. Mas não é p reciso ser muito versado n a his­
tória eclesiástica e profana, para reconhecer os seus efeitos salutares. Quem
leu as deliciosas páginas de Fr. Luís de Sousa, n a Vida do A rcebispo,
pode fazer uma pálida idéia dos males existentes, e de eficazes que foram
as p rescrições tridentinas para os extirpar, sobretudo quando aplicadas
por homens da têmpera dum Venerável D . Frei Bartolomeu dos Mártires.
Foi, sem dúvida, esta notável contra-reforma, i nspirada em Trento,
que permitiu, por exemplo, a nossa magnífica expansão missionária. Só
com sacerdotes numerosos e dignos, só com Ordens religiosas revigora­
das pela reforma tridentina ou nascidas das novas necessidades, se pude­
ram enviar ao U ltramar nutridas expedições de missionários ou formar
ali os apóstolos realizadores de uma das obras mais gloriosas que exe­
cutou Portugal.
S ó este revigoramento da vida cristã, n a Metrópole e no U ltramar,
pôde preparar época tão brilhante, e uma cultura barroca tão genuin a­
mente católica e portuguesa, mas, infelizmente, tão pouco estudada e tão
mal interpretada pelos historiadores da nossa civilização.
As idéias, que muito sumàriamente ficam expostas, mostram, segun­
do c remos, a importância que, mesmo para a vida nacional e para a
nossa história profan a, desempenhou o Concílio de Trento. Maior foi,
ainda, o seu influxo no campo do direito pátrio. Pelo alvará de 1 2 de
setembro de 1 564, os decretos do concílio foram recebidos no reino, sem
restrição alguma, tanto n a parte dogmática como n a disciplinar. l nclufram­
se, até, aquelas matérias, mais civis que eclesiásticas, sobre as quais o
concílio legislara, mesmo que nisso houvesse prej uízo da j u risdição real,
como esclareceu a provisão de 1 9 de março de 1 569. 5 Ficou, assim,
o concílio convertido em lei do reino, com o que se derrogavam não
poucas leis ou costumes vigentes em Portugal. Baste lembrar o caso, j á
apontado, dos casamentos clandestinos, que as nossas leis reconheciam

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Revista Eclesiástica Brasilei ra, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 20 1

como váli dos, - pois, de fato o eram -, e aos quais se conferiallJ


d i reitos civis, mediante certas condições.
ju lgo, portanto, que se impõe uma celebração condigna deste quarto
centenário, mesmo fora dos meios eclesiásticos.
Assi m, o entenderam, por exemplo, em Espanha, onde vão tomando
q u ase foros ele nacionais as celebrações centen árias cio concilio, tal é o
i nteresse que por elas tomam mesmo as u n iversidades civis e outros cen­
tros de cultura. Lembremos, por exemplo, a publicação que está decidida
de u m Corpus Triden timzm Hispanicum, da iniciativa da U n iversi dade
Pontifícia de Comillas e da U niversidade Civil de Valhadol icle. G Os arti­
gos de revistas 7 , as monografias e ou tros estudos sobre assu ntos conci­
l i a res vão aparecendo, em grande n t'1mero. A semana teológica de Madrid,
em 1 944, teve por tema central a doutrina p re-tridentina da j ustificação,
para, depois, se estudarem melhor as decisões do Concílio sobre esta
matéria i mportantíssima. A de este ano, versou à roda das definições
tridentinas sobre a Eucaristia. Nos anos segu intes, continuar-se-ão a es­
tudar outros assu ntos relacionados com o Concílio. N a I tália, j á antes da
guerra, se iniciara movimento semelhante. Veio a lu me, até, u m a revista
"ll Concilio di Tren to" , publicada p recisamente nesta cidade e destinada
a impulsionar e coordenar o movimento. E outras nações não deixarão
de trabalhar neste sentido.
Em Portugal, felizmente, também se deu início ao movimento, ao me­
nos, por parte dos elementos eclesiásticos. Mons. j osé de Castro leva
adiantada a publicação do seu Portugal no Concílio de Trento, que deve
constar de 6 volumes. A revista Lumen consagrou, também, ao Concílio,
quase inteiramente, o n ú mero de N ovembro, consideràvelmente aumenta­
do. E é de esperar q u e outros trabalhos continuem a aparecer, não obs­
tante a pobreza de elementos de que podemos dispor. Falta-nos um cen­
tro de alta cultura eclesiástica que, naturalmente, estaria desti nado a
fomentar e orientar estes trabalhos. A sua fundação efetiva seria, sem
dúvida, a melhor comemoração do centenário do Concílio, para que a n ossa
cultura eclesiástica p u desse voltar a subir ao nível de que deu p rovas em
Trento.
Enumeremos, porém, só a título de exemplo, algumas outras obras
que, talvez, se p udessem realizar mais fàcilmente, com notável p roveito
para as ciências sagradas e para a história, tanto eclesiástica como p ro­
fana.
Os principais documentos referentes ao Concílio, já se encontram edi­
tados n o Corpo Diplomático e noutras pu blicações. Vários, dos existen­
tes e m Roma, figuram na magna edição dos D i ários, A tas, Cartas e ou­
tros documentos referentes ao Concílio, publicados pela Sociedade Goer­
resi ana s , ou no Portugal no Concílio de Trento, de Mons. j . de Castro.
5) A este propósito, escreve C â n d i d o M e n d e s de A l m e i d a , Direito Eclesiástico Bra­
sileiro, 1/1 p. CC C I X : " P o m b a l , na sua a p a i x o n a d a e a l elvosa Dedução Cronológica ,
ousa assegu r a r q u e o receb i m en t o d o C o n c i l i o d e T r e n t o , e m P o r t u g a l , f o r a o b r a dos
j c s u i t a s e , portanto, n u l o , e n esse pensa mento t ã o estól ido como a n á r q u i c o f o i a c o m ­
pan h a d o p e l o s s e u s seldes, e n t r e o s q u a i s forçoso é m e n c i o na r o c ô n ego Melo F r e i r e
e B o rges C a rn e i r o . " O I l u st r e j u r i sta c o n t i n u a , m os t r a n d o a s e m - r a z ã o desta alclvosl a .
G) C f . Mlscelanea Com i/las 4, 1 945, p â g . 3 1 .
7 ) A revista Razón y Fé, d e M a d r i d , c o n s a g r o u a o C o n c i l i o o s e u b e m e l a b o r a d o
n ú m e r o de j a n e i r o d e s t e a n o , e t e m a n u n c i a d a a p u b l i c a ç ã o de u m v o l u m e m a i s d e ­
senvo lvido s o b r e a m e s m a m a t é r i a . A l i s e pode v e r a n u m erosa b i b l i o g r a f i a t r i d c n t i n a
editada n e s tes ú l t i m o s a n os, n a n a ç ã o v i z i n h a . O m e s m o f i z e r a m o u p r o m e t e r a m f a ­
z e r t o d a s a s o u t r a s p u b l i ca ç õ e s e c l e s l â s t l c a s .
8 ) Con clllum Trldentlnum, Dlarlorum, A ctorum, Epfstu/arum N o v a Co/lectlo . E d .
S o c l e t a s O o c r rc s l a n a , F r i b u rg o de B r l sgóv l a , 1 90 1 s s . ( a i n d a c m c u r s o d e p u b l i cação ) .
N u m a o b r a desta m ag n i t u d e , n ã o obstante o c u i d a d o e p e r f e i ç ã o c o m q u e foi r e a l i ­
zada, é quase l m posslvel q u e n ã o escapem a l g u m a s p e q u e n a s i n ex a t i d õ e s . E n t r e ou-

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202 Pelas revistas

Creio, porém, que não seria difícil encontrar, ainda, o utros e lementos
i nteressantes, relativos a o Concilio, nos arquivos portugueses, em parti­
cular, nos antigos c artórios eclesiásticos, sobretudo, das dioceses que ti­
veram p relados, representantes destes o u teólogos, n a douta assembléio..
A i n d a n o Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências,
celebrado e m Córdova, e m outubro de 1 944, o d i retor d a Broféria, Rev.
D r. D o m i n gos Mau rício, se refer i u ao Diário que D . jorge d e Ataíde,
futu ro Bispo d e Viseu, compôs du rante a s u a estadia em Trento 9, e que,
oxalá, vej amos publicado m u ito brevemente.
Sobre a h istó r i a do Concílio, e, e m especial, d a i n tervenção que nela
tiveram os representantes de Portugal, está em publ icação o avultado
trabalho d e Mons. josé de Castro, a que já nos referimos. A i n d a que se
p udesse, talvez, desej a r q u e tivesse sido e l a b o rado com u m método mais
·
r i gorosamente científico, não há dúvida que é uma consagração digna
d a atividade notável dos po rtugueses, naquela i l ustre assembléia.
Semelha nte trabalho de conj u n to não i mpede q u e se possam e m p reen­
der estudos de c a ráter mais restrito. Não ficaria mal, q u e se elabo rassem
monografias sobre os p a d res e teólogos po rtugueses que mais se distin­
guiram em Trento, e que, a o menos os princi pais, recebessem a consagração
das terras e m q u e nasceram ou das dioceses que i lustraram.
A vida de D . Frei B a rtolomeu dos M á r t i res, por exemplo, está a pe­
d i r q u e u m novo Frei Luís d e Sousa, servin do-se dos documentos dos
·
arqu ivos, nos volte a traçar a b i ografia do Santo A rcebispo. E não seria
também, agora, a oportu n i dade de reeditar, a o menos as p r i n c i pa i s obras
t r a s d e m en o r I m po r t â n c i a , relativas a Portugal, queremos chamar a atenção para
uma d e m o n t a , aparecida n o vol. X I I I , I $ parte, editado p o r V . Schwe ltzer e H. J ed i n
( Fr i b u rgo, 1 938 ) . N a pág. 530-53 1 , apa rece u m d o c u m e n t o c o m o t l t n l o seguinte :
"Articuli Valen tlnac sedis vi caril n o mi11 c sacri co11 ciiii Tridentini patribus o blati " . Os
editores, em n o t a , a t r i b u e m - n o ao v i g á r i o g e r a l do Arcebispo de V a l e n ç a , em Espa­
nha, mas s u s p e i t a m que se trate d e algum r e l i g ioso d o m i n ic ano português, talvez por
o vere m estampado n a s Opera omnla d e D. Frei B a rto l o m e u dos Márti res, p u b l i cadas
por M. d ' l n gl mb e r t , v. li ( R o m a , 1 735 ) , p . 397 seg. Trata-se, p o r é m , do V i g á r i o Ge­
ral d e Valença d o Minho, no A rceb ispado de B ra g a . Quando, pela bula Inter Curas,
d e Leão X, foi d e f i n i t i v a m e n t e I n c o r p o r a d a na a r q u i d i o cese b racarense a c o m arca de
Valença, q u e p e r t e n c e r a ao B ispado d e Tuy, e depois, a o d e C e u t a , n atural m e n te por
consideração para com aquele t e r r i t ó r i o e por causa d a d i s c i p l i n a diversa, foi-lhe dado
um V i g á r i o Geral p r ó p r i o , que ficou sendo designado c o m o n o m e de V i g á r i o Ge ral
de V a l e n ç a . (Cf. j . A. F e r r ei r a , Fastos episcopais • . • de Braga li, 396-397 , etc. ) Q u e
a este Vigário Geral, e n ã o a o A r cebispado de V a l e n c i a , e m Esp a n h a , se deva m
a t r i b u i r os citados artigos, p r ova-o n ã o só o fato de v i r e m i n cl u i do s n as Obras
d o A rcebispo, - que, pelo m e n os, o s terá ap rovado, mas o p r ó p r i o conteúdo d o do­
cumento. Logo n o a r t . 1 , pede-se a c a n o n i z ação dos 4 B i spos de Braga , S . Pedro de
Rates ( e não Rotes, como lêem o s editores, e que não acertam a I d e n t i f i c á - l o , como
a o segu i n te ) , S . G e r a l d o , S . F r u t u o s o , S . M a r t i n h o de Dume e S . G o n ç a l o d e Ama­
rante ( o s editores lêem A m a rantha ) . S o b re a e x i stência l e n d á r i a d e S . Pedro d e R a tes,
e sobre a s vidas dos d e m a i s prelados b r a ca renses, cf. j. A. Ferrei r a , Fastos episco ­
pais . . . de Braga, 1 ( B ra g a , 1 927 ) , p. 1 3 ; 205-207 ; 1 06- 1 1 4 ; 62-72. No artigo seguinte,
pede-se q u e sej a m declarados dias santos, a s festividades de a l g u n s santos, m u l to
da d evoção dos portugueses, co m o S. Antôn i o . P o r se t r a t a r de u m d o c u m ento
p o r t u g u ê s , é evidente q u e a refo r m a dos mosteiros d e S. B e n t o , m e n c i o n a d a no a r t .
1 4 , se r e f e r e , n ã o à dos pertencentes à C o n g regação d e Valhadollde, c o m o conje­
turam o s editores, mas aos portugueses, c u j a casa p r i n cipal estava e m Tibães, a
dois passos de B raga. Os cônegos regra n tes de S. Agosti n h o , m e n c i o n ados n o mes­
mo a r tigo, são evid e n te m e n te os da Congregação de Santa C r u z de C o i m b ra , que
t a m b é m poss u i a m casas dentro d a arquid iocese de B ra g a . A refo r m a da O rdem
de S . Bento efetuou-se, r e a l m e n t e , pouco depois. Cfr. Fr. Luls de Sousa, Vida do
A rcebispo, 1. I l i c. X I I I ( Lisboa, 1 857 ) 1 p. 449-453 . S o b r e a r e f o r m a dos crúzlos,
c f r . F . d e A l m ei da , História da Igreja em Portugal, I l i 1, ( C o i m b r a , 1 9 1 2 , p . 35 1 -
352 ) . D a s pesquisas a q u e procedemos n o s A rq u ivos d a M i t r a e d o C a b i d o de
B r a ga , hoje no A rquivo distrital d a mesma cidade, não p u d e m o s c o n cl u i r com cer­
teza quem e r a o Vigário G e r a l de Valença do Minho n esta ocasião, e portanto ,
autor dos artigos r e f e r i d o s . Susp e i t a m o s q u e f o s s e A n t ô n i o Francisco Varejão, q u e ,
p ou co d e p o i s , aparecia c o m e s t e cargo n o S l nodo D i o cesano celebrado e ru B raga ,
no a n o de 1 564. C f r . j . A. Ferreira, Fastos, I l i , p. 34 .
9 ) S o b r e D . j o r g e de · A t a l d e , cfr. F o r t u n a t o de A l m e i d a , História d a Igreja
em Portugal, I l i , 2 ( C o i m bra, 1 9 1 5 ) , pp. 935- 93 7 .

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R evista Eclesiástica Brasilei ra, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 203

destes nossos teólogos e canonistas, q u e são q u ase desconhe cidos 11 0 es­


trangeiro, em parte p o r ser s umamente dificultoso encontrá-las, mes m o
e m b oas b i b l i otecas? Nem faltam, até, obras i n é ditas. 1 0 D e D. Frei B a r­
t olomeu dos Mártires existem, p o r exemplo, c a rtas e o ut ro s escritos q u e
n ã o figuram n a s s u a s o bras. 1 1
O q u e poderíamos chamar h i stór i a interna do Concílio, i sto é, a ela­
boração dos decretos doutrinais e d i sc i p l i nares, o s e u verdadeiro s i gn i f i­
cado e valor teológico o u c a n ô nico, a p a rte q u e neles tiveram o s vários
membros, em espec i a l , os portugueses, oferece também maté r i a a b u n d a n­
tíssi ma p a r a i nteressantes trabalhos, como os q u e estão a aparecer em
toda a p a rte.
Em P o rtugal, i nfelizmente, as b i b l iotecas, tanto p ú b licas, como p a rti­
c u l a res, co ntinuam, em geral, deficientemente a petrechadas para este gê­
nero de trabalhos. Mas, sem d úvi da, o que a i n d a h á d e i n é d ito ou n ã o
metodicamente o rganizado, e o q u e n o s referem as a t a s e o u t r o s d o ­
c umentos tridentinos, p o d e r i a c o n stit u i r assunto m u i t o ú t i l p a ra d isserta­
ções d e licenciatura e teses d e doutoramento para o s p o rtugueses q u e
t ê m d e i r lá f o r a a d q u i r i r u m a formação q u e n ão p o d e m rece b e r e m
Portugal.
N e stes trabalhos, poder-se-iam, evidentemente, a p roveitar n ã o s ó os
p a receres e votos e mitidos em T rento, como a s outras obras a n te r i o res
ou poster i o res a o Concílio. E' o q u e realizou, p o r exemplo, o atual P re­
lado d a B e i r a , D. Sebastião Resende, nos seus trabalhos : O Sacrifício da
klissa em D . Frei Gaspar do Casal 1 2 e Portugal e a dou trina dogmática
da Comunhão 1 s , o n d e exami n a a posição dos n ossos teólogos, na sessão
X X I do Concílio. M u itas o u t ras o b ra s deste gênero se poderiam empreen­
d e r, com relativa facilidade. 1 1
V i r i am, depois, naturalmente a propósito, monografias sobre os co­
mentadores, expositores e defensores d o Concílio, a começar por D iogo
Paiva d e A n d rade, q u e foi u m dos primeiros a defe n d e r a genuína doutrina
do Concílio contra as i nvectivas dos p rotestantes. 1 5
P o d e r-se-ia, a i n d a , empreen d e r outro gênero de trabalhos de mais
fác i l realização n o n osso país. J á a l u dimos às d i f i c u ldades, suscitadas
n a execução dos decretos d i sc i p l i na res d o Concilio e q u e se m a n i festaram,
não por p a rte d o p o d e r c i vi l , mas sobretudo entre o s eclesiásticos e leigos,
atin gidos pelas reformas tridentinas. Não e r a fácil a rr a n c a r, num mo­
mento, costumes i nveterados, destr u i r situações c r i adas, a n u l a r d i reitos
adq u i r i dos, etc.
Essas resistências m a n ifestaram-se, c l a r a mente, nos Concílios p rovi n­
cia is, cuj a reu n i ão se p rescrevera e m T rento para a m e l h o r execução dos
decretos c o n c i l i a res. Celebra ram-se, n a s q uatrn metrópoles d o reino -
1 0 ) D i sp e n s a m o- n o s de I n d i c a r , a q u i , as p r i n c i p a i s o b r a s d o s n ossos p a d r e s e
teólogos t r i d e n t l n o s , as q u a i s se p o d e m v e r p o r e x e m p l o n a Biblioteca L u s itana, de
B a rbosa M a c h a d o .
1 1 ) C o m o j á r e f e r i m o s , f o r a m e d i t a d a s p o r d' l11glbert, e m 2 v o l s . R o m a , 1 7 :H -
1 735. M o n s . J . A . Fe r r e i r a , Fast o s , I l i , p á g s . 7-62, c i ta v á r i a s ca rtas e o u t r os
escritos I n éd i t o s do A rcebisp o .
1 2 ) P o r t o , 1 94 1 .
1 3 ) P o r t o , 1 94 2 .
1 4 ) H á a n o s , assi s t i m o s , n a U n iversidade d e Lova l n a , à defesa <l e u m a t e s e
sob r e alguns p o n t o s d a eclesiologia d o n osso D i o g o Paiva d e Andrade, Irmão de
F r . T o m é d e J es u s . O x a l á q u e o seu a u t o r , o Rev. Dr. M a n u e l C a b r a l , n ã o d e ­
more mais a s u a p u b l l c a ç ã o . M e r e c i a m estudo s e m e l h a n t e , o u t r o s aspectos d a dou­
t r i n a deste nosso p a t r l c i o , q u e foi, s e m dúvida, um cios m e l h o res teólogos que apa­
re cera m e m T r e n t o .
1 5 ) P a iva d e A n d ra d e , D . , Defenslo Trldentlnae Fldel ( Ve n e z a , 1 562 ) , e Orto­
doxaru m qu aestlo n u m l/brl decem ( V e n e z a , 1 564 ) . A m b a s a s obras f o r a o1 reim­
press as várias vezes.

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204 Pelas revistas

Braga, Lisboa, Évora e Goa, - os dois primei ros, no ano de 1 566, e os


out ros, no segu inte. Vários se celebraram poste riormente, além de di­
versos sínodos di ocesanos.
Das dificuldades apresentadas no Concílio provi ncial de Braga, pre­
s i dido por D. Frei Bartolomeu dos Márti res, j á nos deu notícia o bene­
mérito Mons. J. A. Ferreira. 1 s Creio que um estudo mais desenvo lvido
deste e dos outros Concílios e sínodos, para não falar no modo como,
em geral, foi executado o Concílio, poderia ter grande interesse e impor­
tância. Talvez, de nenhuns outros documentos transpa reça melhor o estado
da sociedade portuguesa de então, assu nto pouco estudado. Os nossos
historiadores têm-se preocupado mais do aspecto político que das trans­
formações sociais, por que foi passando a nação.
Um outro ponto digno de estudo queremos mencionar. Dissemos como
o Concilio prescreveu a fu ndação dos Seminários diocesanos.
D. Frei Bartolomeu dos Márti res, ainda antes de sair de Trento, j á
se preocupava com a fu ndação d o Seminário de Braga 11, e a o regressar

à sua arquidiocese, foi um dos seus primei ros cuidados dar execução ao
decreto tridentino. Várias dificuldades retardaram a i n augu ração, até 1 572.
E', ainda assim, u m dos seminários mais antigos da Igrej a. A sua his­
tória, escreveu-a Mons. josé A. Ferreira. 1 s
Não poderiam imitar este exemplo, os outros seminários? 10 Seria uma
bela homenagem ao Concílio de Trento, e contribuiria, sem dúvida, para
mostrar, melhor, a importância que, para a vida nacional, tiveram e têm
estas casas de formação eclesiástica.
Escusado será continuar esta enumeração. Nem vale a pen a mencionar
outras comemorações menos du radou ras, como seriam artigos na imprensa
diária ou periódica, sessões nos institutos de formação eclesiástica ou
fora deles, que sem dúvida se efetuarão.
Uma das principais dificuldades para a realização de algumas obras,
que indicamos, e de outras, que podem surgir, é a do financiamento das
publicações ou das i nvestigações que cumpriria levar a cabo. E' de es­
perar que o Estado, por meio do I nstituto para a Alta Cultura, da Aca­
demia Portuguesa de H istória ou de outras instituições científicas, não
deixe de as auxiliar ou até promover, dada a i mportância que tais come­
morações revestem, como fica exposto nas páginas antecedentes. As re­
vistas e outras publicações científicas, tanto eclesiásticas como profanas,
por certo não se negarão a publicar trabalhos em conformidade com a
sua índole.
Se nos fosse perguntado qual, de entre as comemorações que su ge­
rimos e de outras que se poderiam apontar, merecia a prioridade, se não
de tempo, ao menos, de importância, julgamos que poderíamos responder,
sem hesitar, que a glorificação de D. Frei Bartolomeu dos Márti res que
era, então, a principal figura da I grej a em Portugal, e a que mais nos
hon rou em Trento.
16) Cfr. J . A . F e r r e i r a , Fastos Episcopais • • . de Braga I I I . 37-40.
1 7 ) J . A . Ferreira, História abreviada d o Seminário Conciliar d e Braga e das
Escolas eclesiásticas precedentes ( B raga, 1 937 ) , pág. 1 37 .
1 8) Obra mencionada n a nota precedente.
19\ Sobre o S e m i n á r i o do Porto, escreveu o seu i lustre Reitor, C ô n . Dr. Fer­
reira P i n t o , d o i s trabalhos : Memória da l'ztndaçao, Mudança e Restauraçtio do Semi­
nário Episcopal do Porto ( Po r t o . 1 9 1 5 ) , e o Seminário de Nossa Sen/10ra da Con­
celçtio da Diocese do Porto ( Porto, 1 933) . E m a i s alguma coisa há publicada
sobre outros s e m i n á r i o s .

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Revista Eclesiástica Brasileira, vo l . 6, fase. 1 , março 1 946 205

Esta homenagem poderia, talvez, constar :


1 ) Da edição completa dos seus escritos, quer impressos quer ma­
nus critos.
2) De uma biografia desenvolvida, em conformidade com os rigores
da moderna critica histórica.
3 ) De uma ou várias monografias sobre a atividade do Arcebispo no
Concílio, suas idéias teológicas e canônicas, manifestadas em Trento ou
nas suas obras.
4 ) Da divulgação das suas vi rtudes, por meio de biografias mais bre­
ves, folhetos, p regações, sessões de propaganda, etc., que fomentassem
a devoção ao Santo Arcebispo, entre o povo, e o levassem a impetrar
de Deus milagres, que pudessem servir para a sua glorificação suprema.
Que melhor fecho, para estas comemorações, se cm 1 963, ao cumpri­
rem-se quatro sécu los depois do encerramento do Concílio, pudéssemos
venerar, nos altares, como beato, ou até como santo, o que foi um dos
mais ilustres arcebispos de Braga e um dos mais p reclaros padres tri­
dentinos?

R e s u m o s.
I<onnersreuth, em 1 945.- Konnersreuth é a aldeia bávara, onde vive
estigmatizada Teresa Neumann. Como de costume, a igrej a ergue-se no
centro da povoação e sentimos pena ao ver que a aldeia foi bombar­
deada. Alguns dos destroços já estão reparados ; outros apresentam os
efeitos tremendos dos bombardeios. A igrej a e a escola escaparam ; a
casa do pároco não foi tão feliz. Ele ali está, a dar as boas vindas a u m
grupo de soldados da 7 9 . ª divisão, q u e vieram ver Teresa Neumann, e
que descrevem, por meio do seu capelão, R. P. Schenke, a visita que
fizeram até lá. Enquanto esperamos, o pároco fala sobre a sua paro­
quiana ; acerca da cura, em 1 926 ; do aparecimento gradual dos estigmas,
primeiro n as mãos, depois, nos pés, por fim no lado e n a cabeça. Os
soldados pergu ntam-lhe se podem tirar fotografias dela. E' claro que
podem ; dentro de pouco, vão-lhe poder falar.
Teresa está sentada n a sala de visitas. Tem 47 anos de idade. Diz­
nos que se sente feliz, quando algum sacerdote a visita. Vai buscar-me
uma cadeira, para eu me sentar. Tem o aspecto de outra qualquer cam­
ponesa bávara. Leva uma longa trança ; sapatos pretos usados ; um manto
branco cobre-lhe a cabeça, atado, como todos os mantos, abaixo do quei­
xo. Cada soldado, na sala, fixa-se no pequenino quadrado nas costas de
cada mão. Teresa fala com toda a naturalidade. Fala-nos, como nos fa­
laria a nossa mãe ou a nossa irmã. Diz-nos como se sente feliz com as
visitas de soldados em Konnersreuth ; já vieram mais de 4.000, desde
que os americanos chegaram. Diz-nos como se sentiram aterrados todos,
quando os bombardeiros voavam por cima da aldeia, e como pensaram
que iam todos morrer. Diz-nos como vê com gosto os soldados de cor, por­
que, na sua j uventude, pensara ser rel igiosa e partir para as missões. Deus
mandou-lhe a doença, porque era sua vontade que ela ficasse ali. Ao ver
soldados de cor, imagin a ver, em parte, realizado o seu desej o. Então,
avisa-nos que sobe à outra sala, a buscar imagens ; quer dar uma a cada
soldado. Com muito boa vontade, escreverá nela o seu autógrafo. Quando •

Teresa se demora n a outra sala, o pároco diz-nos como pode testi ficar
que ela, fora do Santíssimo Sacramento, não provou nem uma partícula
de alimento, nem uma gota de água, desde o ano de 1 927. Médicos, cató-

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206 Pelas revistas

Jicos e não-católicos, têm- n a examin ado, sem encontrarem o menor sinal


de fraude. Conta o pároco, também, como Teresa entra em êxtase u mas
trinta vezes por ano, na sexta-fei ra, e assiste à P a ixão de N osso Senhor,
desde a agonia do H oi:to.
Teresa volta com as i magens e distribui-as por todos os p resentes :
explica, então, que estas imagens lhe agradam muito e que se parecem
mu ito com N osso Senhor. O mesmo não se pode dizer de outras m uitas,
que não se lhe p a recem nada. Aponta para uma i magem, que está depen­
d u rada p o r cima da porta da sala de visitas. Foi pintada por u m religioso,
sob a sua d i reção ; mas não conseguiu a p a recença exata. Então, d i r ige-se
aos soldados p resentes, e recomenda-lhes que a acompanhem na sua de­
voção pela P a i xão de N osso Senhor. Pedimos-lhe, então, que encomende
nas suas orações u m sacerdote que, depois de uma operação, tem ido de
m a l para pior. P romete que há de reza r muito por esse "pobre, doentinho
sacerdote." A simpatia e o tom de voz i ndicam que ela con hece bem o que
é sofrer. A porta d a casa do pároco, m uitos soldados ti ram fotograf i as
em grupo, com Teresa n o meio. D espedimo-nos. O motorista ficara de
guarda n o caminhão ; não pudera estar com ela. E n tão, Teresa vem cum­
p r i me ntá-lo, e oferece-lhe uma i magem também. Recordando essa visita,
. t a lvez não tenhamos a im pressão de ter falado com u m a santa, porque
não nos pertence a nós determinar quem é o u não é santo. Mas temos
a certeza de ter falado com alguém que é simples, como é simples o Evan­
gelho e a quem Deus muito tem favorecido. - (Brotéria, dez. 1 945. )

CRÔNICA ECLESIÁSTICA
D O B R A S I L.
Os N ovos Cardeais Brasileiros.
N a sua mensagem de Natal, S u a Santidade P i o X I I a n unciou que
seria completado o número normal dos membros do Sacro Colégio, con­
ferindo a dignidade cardinalícia a 32 P relados e que o Consistório se rea­
lizaria em 1 8 de feverei ro para confirmação da escolha dos n ovos Car­
deais. Entrementes, o Consistório j á se realizou e os n ovos purpu rados
receberam das mãos do P a p a o chapéu cardinalício. Raras vezes o Sacro
Colégio, na s u a h istória m ultissecular, se tinha encontrado tão reduzido,
e as condições em que cessara a segunda guerra mundial, faziam p res­
sentir alguma novidade. Verificou-se u m a das p revisões : o n ú mero dos
Cardeais italianos ficou em menor proporção do que nos ú ltimos séculos
e as vagas foram preenchidas por P relados de todo o m u ndo, deste
modo : Itália 4, França 3, Espanha 3, H u ngria 1 , Holanda 1 , Chile 1 ,
Brasil 2, A rgenti n a 1 , Polônia 1 , Alemanha 3 , I nglaterra 1 , Canadá 1 ,
• Austrália 1 , Estados U n i dos 4 , Cuba 1 , Peru 1 , Armênia 1 e China 1 .
O B rasil j ubilou por ter sido contemplado pela designação pontifíc i a
c o m u m n ovo cardinalato, o de São Paulo, além do j á existente há várias
décadas n o Rio de janeiro, o primeiro da América do Sul. Foi recebida

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 207

com a maior satisfação por todos os brasilei ros, essa notícia de termos
dois Cardeais n o Sacro Colégio. D. J aime de Barros Câmara, atual Ar­
ce bispo Metropolitano do Rio de Janeiro, provido à púrpura cardinal ícia,
é uma figura de grande relevo da I grej a no Brasil, exatamen te pela sua
fecu nda e n obre atuação à frente de sua arquidiocese, assim como e m
Mossoró e Belém, onde esteve anteriormente. Relevantes têm sido també m
os serviços prestados à causa católica por D. Carlos Carmel o de V as­
concelos Mota, o p reclaro Arcebispo paulopol itano, que sustenta e desem­
penha com brilho as tradições de seus i lustres a ntecessores no sólio. A
elevação desses dois p relados brasilei ros ao cardinalato não só eviden­
ciou a distinção em que é tido o nosso país perante o Vaticano, como
também equivale a eloquente testemunho do elevado grau d e p restígio
da I grej a Católica no B rasi l. Aos dois neo-pu rpu rados apresentamos as
nossas mais cordiais homenagens.

S. Em. Cardeal Bento Aloisi Masella.


E ntre os P relados elevados no Consistório de 1 8 de feverei ro p. p.
à p ú rpura cardinalícia, encontra-se também o nome de D . Bento Aloisi
Masella, por q u ase 1 9 anos Núncio Apostólico n o Brasil. São do conhe­
cimento de todos, os i nestimáveis serviços prestados à frente da N u n c i a­
tura do Rio de Janeiro. Recebe, pois, agora pela distinção do Sumo
Pontífice o j usto prêmio às realizações com que, em sua longa carreira
de p relado e de d i plomata, vem contribuindo para a causa católica. D amos,
a segu i r, alguns traços b iográficos do novo purpu rado. D . Bento Aloisi
Masella nasceu n a cidade de Pontecorvo, Itália, a 29 de j unho de 1 879.
Fez os seus estudos no célebre Colégio Caprânica, em Roma, i n do depois
para a Academia Eclesiástica. Recebeu a sagrada ordem do presbiterato
em 3 de j unho de 1 902. Em 1 905 foi servir na Secretaria do Estado e em
princípios de 1 908 foi como secretário da Nunciatura para Lisboa, tend o
s i d o promovido a auditor em fevereiro de 1 9 1 4. Quando rebentou, e m
Portugal, a revolução de 1 9 1 0, estavam ausentes tanto o auditor como
o núncio Monsenhor Tonti. Desde aí até a chegada do novo n ú ncio, esteve
Monsenhor Masella encarregado da N unciatura, não tendo abandonado
o seu difícil posto um só momento. Depois desses anos de brilhante atua­
ção foi agraciado com a promoção merecida, sendo nomeado núncio a pos­
tólico no Chile, pelo Papa Bento XV, e eleito B ispo no dia 1 5 de dezem­
bro, sendo sagrado pelo Emo. Cardeal Oasparri, e m 21 de dezembro
de 1 9 1 9. D u rante sua permanência em Portugal também tiveram origem
as famosas aparições de Nossa Senhora de Fátima. A frente da N u n c i a­
tura n o Chi le, onde permaneceu de 1 920 a 1 927, realizou Monsenhor Bento
Aloisi Masella uma admi rável obra. Por ocasião de sua transferência
para o Rio de Janeiro, escrevia a i mprensa do país amigo : "Deus quis
conceder-nos a graça de enviar para o Chile como representante do Papa,
numa época bem difícil, u m prelado no qual se reun i a m e eram de toda
necessidade, um apurado tino d i plomático e uma ciência e prudência in­
vulgares para coadun a r o cuidado dos i nteresses religiosos com as exi­
gências da pol!tica em momentos tão espinhosos. E não deixou uma só
dificuldade sem solução e tudo isso, sem ter atraido sobre sua pessoa
a menor malquerença, sem que se tenha ouvido contra ele a mais leve
censura ou queixa, respeitado, querido por todos : pelo Governo d a Re­
pública ; pelo Episcopado ; pelos eclesiásticos do clero regular e secu lar
e por todos os católicos." Do Chile, p romovido a Arcebispo de Cesaréia
da Mau ritânia, S. Em. foi transferido para a Nunciatu ra de primeira

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208 Crônica eclesiástica

cl asse, no Bras i l , em 1 927. A sua criteriosa ação orientadora, ao seu


lúcido conselho, à sua perspicácia e senso prático, deve imenso a Igrej a
no Brasil. Obra de seu amor pelo Brasil é o grande Seminário Brasi leiro
em Roma, verdadeiro monu mento arquitetônico e centro de formação a
mais apurada e eficiente para os jovens que seguem a carreira do sacer­
dócio. Devido à sua tenacidade e larga visão, essa obra chegou a bom
termo, ficando como monu mento da cultu ra do B rasil em Roma. S. Em.
conhece perfeitamente o Brasil, pois o tem visitado de Norte a Sul. Em
1 942, por ocasião do IV Congresso Eucarístico Nacional, D. Bento Aloisi
Masella esteve em S . Pau lo, na alta qualidade de legado pontifício. Outra
sua notável real ização cm nosso país é a Obra da Propagação da Fé.
Foi ele o seu organizador e diretor, dan do-lhe o estatuto, dividindo as
zonas de trabalho em seis diversas regi ões, que igualmente constituem
um patrimônio dos seus serviços no setor missionário. Sobre o seu bri­
lhante trabalho, há pouco se fez ouvir uma voz autorizada, afirmando :
" N unca a nossa pátria teve outro emba ixador da Santa Sé que tão i n ten­
siva e extensivamente h aj a trabalhado para Deus, como o Exmo. Sr. D.
Bento Aloisi Masella, j u nto da Igrej a e do Estado. Além do grande nú­
mero de n ovas dioceses criadas em nossa terra, mais d a metade dos atuais
Bispos do Brasil têm sido eleitos sob os desvelados auspícios de S. Em.
que tem pessoalmente visitado os mais longínquos rincões do país."

Serviço Militar de Sacerdotes e Religiosos.


O P residente da República, usando da atribuição que lhe confere o
artigo 1 80 da Constituição, decreta : Art. l .º Todo o cidadão que estiver
matriculado em I nstitutos de ensino destinados a formação de sacerdotes
·ou ministros de qualquer religião ou de membros de Ordens religiosas
regulares, terá seu alistamento regu lado, do mesmo modo que os demais
cidadãos de sua classe, pelo Decreto-lei n• 7343, de fevereiro de 1 945. -

Art. 2• Aquele que for chamado a incorporar-se terá a incorporação adiada


de acordo com a letra ( b ) , do art. 1 07, da lei do Serviço Militar ( Decreto­
lei n .º 1 . 1 87 de 4 de abril de 1 939) e Aviso n.º 1 .952 de 5 de agôsto de
1 943. - Art. 3.º Aquele que conclu i r o cu rso e ingressar defin itivamente
no sacerdócio ou em uma Ordem religiosa, conforme notificação ex­
pressa do di retor do i nstituto à respectiva Circunscrição do Recrutamento,
será considerado reservista de tercei ra categoria e relacionado na reserva
do Serviço de Assistência Religiosa. - Art. 4.º Se por qualquer motivo
for o aluno desligado do i nstituto, ficará suj eito à incorporação com a
primeira classe a ser incorporada. - A rt. 5.º As providên cias para o al is­
tamento e a com unicação de desligamento competem, obrigatoriamente,
aos di retores dos i nstitutos interessados. - Art. 6.º O presente Decreto­
lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogando-se as disposi­
ções em contrário. Rio de Janeiro, 26 de novembro de 1 945, 1 24.º da
I ndependência e 57.º da República.

Assistência Religiosa nas Forças Armadas.


O Sr. Presidente da República, em 28 de janeiro de 1 946, assi nou o
seguinte Decreto-lei ( N .º 8.92 1 ) : "Considerando que a instrução religiosa
aprimora as energias morais e os bons costumes, contribu indo, por via
de consequência, para o fortalecimento da disciplina militar ; que a edu­
cação religiosa tem i negável. influência n a formação moral e cívica do
soldado, com favoráveis reflexos sobre o seu caráter e virtudes militares,

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6 , fase. l , março 1 946 209

convindo incentivá-la por todos os meios nas Forças Armadas ; que o Ser­
viço de Assistência Religiosa j u nto à Força Expedicionária Brasileira cum­
priu suas altas finalidades, j ustificando plenamente sua manutenção e de­
senvolvimento em tempo de paz, decreta : - Art. l .º Fica instituldo, em
caráter permane n te, nas Forças Armadas, o Serviço de Assistência Reli­
giosa ( S . A . R . ) criado pelo Decreto-lei n.º 6.535, de 26 de maio de 1 944.
- Art. 2.º São a t ribuições do Serviço de Assistência Religiosa : a) prestar
assistência religiosa nas guarn ições, unidades, navios, bases, hospitais e
outros estabelecimentos m i litares, dentro do espírito de liberdade religiosa
e das tradições nacionais ; b) cooperar n a formação moral dos alunos
dos i nstitutos militares de ensino, p restando assistência religiosa e auxi­
lia ndo a ministrar a instrução de Educação Moral e Cívica ; e) desem­
pen har, em cooperação com todos os escalãos de Coma ndo militar, os
enca rgos relacionados com a assistência espiritual, moral e social dos
militares e de suas famílias. - Art. 3.º O Serviço de Assistência Religiosa
constitui r-se-á de "Capelães Militares" , sacerdotes ou min istros religiosos,
pertencentes a qualquer religião ou culto que não atente contra a disci­
plina , a moral e as l e i s , desde que sej am p rofessados, no mínimo, por um
terço dos efetivos das unidades a serem contempladas. - Parágrafo ú n i­
co : Os Capelães Militares deverão ser brasileiros natos, no gozo dos
direi tos políticos. -- Art. 4.º Os Capelães Milita res serão nomeados e
exonerados por dec reto e o seu número será fixado nos quadros de efe­
tivos de cada Ministério, levando-se em conta as peculiaridades de o rga­
nização de cada urna das forças armadas. - Art. 5.º Os Capelães Mili­
tares perceber.fio, para sua manutenção pessoal, uma côngrua correspon­
dente aos vencimentos de l .º Tenente e farão jus às vantagens a estes
conferidas nos diferentes casos p revistos em lei. - Parágrafo ú n ico : Os
Capelães, enquanto incorporados, não poderão ser nomeados para qualquer
cargo civil ou religioso, estranho às suas atividades relacionadas com a
assistência aos militares e suas famílias. - Art. 6.º Os Capelães Militares
não terão postos ou gradu ações. Pertencerão ao círculo de oficiais, tendo
assento imediatamente após os oficiais superiores. - A rt. 7.º E' exten­
sivo aos Capelães, quando em campanha, embarcados ou no i nterior
dos quartéis, estabelecimentos e repa rtições o uso dos farda mentos cons­
tantes do plano de u niforme dos oficiais, com o distintivo de seu cu lto
e sem insígnias i ndicativas de posto. - Art. 8.º Os Ministros da Guerra,
Marinha e Aeronáutica provi denciarão, dentro de sessenta dias, a regu la­
mentação do presente Decreto-lei, que entrará em vigor na data de sua
publicação, revogadas as disposições em contrário . "

Frei Orlando, O. F . M . , P at ro n o d o Serviço d e Assistência Religiosa


do Exército.
O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o
artigo 74, letra a, da Constitu ição e considerando que o Capelão Mil itar,
Capitão Antônio A lvares da Silva, Frei O rlando, O . F . M . , tombado na
linha de frente, em Bombiana, Itália, a 20 de fevere i ro de 1 945, p restou
inestimáveis serviços à Força Exped icionária Brasileira, nas fileiras do
Regimento Ti radentes, onde a sua memória é j ustamente venerada ; con­
sidera ndo h aver ele demonstrado possuir peregrinas vi rtudes morais e cí­
vicas, que o recomendam, à posteridade, corno modelo do verdadeiro
sacerdote capelão militar ; resolve instituí-lo patrono do Serviço de As­
sistência Religiosa do Exército brasileiro, criado, em caráter permanente,
por Decreto-lei n.º 8.92 1 , de 28 de j aneiro de 1 946. Rio de janeiro, 28
14

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210 Crônica eclesiástica

de fevereiro de 1 946, 1 25.º d a I ndependência e 58.º d a República. Eurico


G. Dutra. P. Góes Mon teiro.

O Novo Bispo de Ribeirão Preto.


S u a Santidade o P a p a P i o X I I nomeou B ispo de Ribei rão P reto,
D. Manuel d a Si lveira d'Elboux, Bispo Titu l a r de B a rca. S. Excia. Revma.
é o 2.º Bispo da D iocese, e sucede a D. A lberto j osé Gonçalves, q ue
a fundou. S. Excia. Revma. foi Bispo A u x i l i a r do fundador d a D iocese
e com a morte deste, foi eleito pelo Cabido D iocesano V i gário Capitular
de Ribei rão Preto, c argo e m q u e o encontrou a nomeação d a Santa Sé.
D. Manuel da S i lveira D'Elboux goza em R i bei rão P reto d a mais alta
e carin hosa consideração. Enquanto Bispo A u x i l i a r e V i gário Capitular,
deu sobej as p rovas de uma atividade incansável. Fundou o Círculo
Operário Ribei ropretano que conta já com 2.000 sócios ; abriu o Semi­
nário D i ocesan o Maria I maculada ; reformou a I grej a de S. Benedito, desti­
n a ndo-a para futuro templo votivo de j esus Sacram entado, e i nú meras
outras o b ra s , além de, com a aqu isição do " Diário de Notícias'' , dotar
Ribeirão P reto de u m diário católico. A posse ci o novo A ntístite será
n o dia 28 deste mês, entrando n esse dia S . Excia. solenemente n a Ca­
tedral dessa cidade. O Exmo. Revmo. Sr. D . Manuel da Silveira D ' E lboux
descende de tradicional família católica, tendo i ngressado muito j ovem
na c arreira eclesiástica, e, tendo concluído seu c u rso e recebido as sagra­
das o rdens no Seminário P rovincial de São Paulo. Foi seu ordenando o
grande e saudoso D . D u a rte, q u e lhe conferiu o P resbiterato em 1 93 1 .
Pouco depois, foi designado p a r a Coadj utor da Paróquia de Santa Cecl­
lia. Neste ca rgo, escolheu-o a confiança do grande D . D u a rte, que o
nomeou seu secretá rio particu l a r. O tacto, a discrição e a piedade do
novo secretá rio lhe granjearam a amizade s i n ce ra e fervorosa de S. Excia.
Revma., que fez u m verdadecliro sacrifício, quando renunciou a seus ser­
viços, nomeando-o m i n istro do Seminário Central da I maculada Conceição
em 1 935. Ainda neste cargo, as raras q u a l idades de D. Manuel D ' Elboux
se fizeram de tal m a n e i ra sen t i r que foi em 1 936 p romovido a Vice­
Reitor do Seminário, e em 1 937 substitu i u o pranteado A rcebispo D. josé
Gaspar, no c a rgo de Reitor. Foi daí q u e o transferiu a Santa Sé para
amparar a gloriosa ancianidade do Exmo. e Revmo. D . A lberto josé
Gonçalves para quem o atual Bispo de Ribei rão P reto teve o desvelo de
um verdadei ro filho.

D O E S T R A N G E 1 R O.
Carta do Santo Padre Pio X I I ao Arcebispo de Trento.
P o r ocasião do q uarto centenário do Concílio de Trento, S u a Santi­
dade o P a p a P i o X I I d i rigiu um apelo ao m u n d o p a ra a u n ificação das
igrej as cristãs. O apelo feito na carta especial enviada ao A rcebispo de
Trento, Monsenhor Carlos Ferrari, é datado de 2 1 de novembro. A men­
sagem papal convidou todas as i grej as cristãs a u n i r-se sob a égide : "Para
a glória de Deus e salvação dos povos c ristãos". A carta começa com
as p a l avras latinas " Q u a rtum exactum srecu l u m " . O Papa recorda o fato
de q u e Paulo I I I convidou ao Concílio todos os q u e se haviam desviado
do caminho da verdade e da fé. P i o X I I expressa a sua a rdente esperança
de q u e este centenário servirá p a r a atualizar o desej o dos q u e ainda
estão separados da I grej a Católica Apostólica Romana, e u n i r-se a "Pedro

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 21 1

e seus sucessores" . A carta termina com a bênção apostólica aos que


participaram n a comemoração do Centenário do Concílio de Trento.

S eminário lnteramericano de Estudos Sociais.


O Rev. Fr. Luís de Zabala, O . F . M . , diretor do "Semanário Católico" de
H avana, dedica um extenso comentário ao 11 Seminário I nteramericano
de Estudos Sociais realizado nesta capital pela " National Catholic Welfare
Conference". Depois de prestar homenagem à "National Cathol i c \Velfare
Conference", essa magnífica criação do gênio norte-americano, o autor
prossegue : "Mais do que fixar conceitos e elaborar teorias, se pretendeu
historiar os trabalhos realizados no Continente· e prever os do futuro.
Deve-se aplaudir nas sessões de estudo esse repúdio ao empírico que as
caracterizou, assim como o empenho em se chegar às coisas concretas,
pois é realmente isso que está fazendo falta aos lati no-americanos. E'
necessário trabalhar com os fatos vivos, para consagrar-nos com ímpeto
apostólico à ação, a fim de orientar e guiar a massa pro letária que, no
atual tumulto de paixões, procura àvidamente a verdade que a resgate da
inj ustiça." Revendo o "desperta r da consciência social cristã", em todos
os países, acrescenta : "Temos o caso excepci.onal de Costa Rica, onde o
movimento social católico levanta seu perfil sereno e exemplar. E m pou­
cos anos a energia e clarividência do Arcebispo Mons. Tanabria e de seu
ativo colaborador Pe. Benjamim Munez realizaram o mi lagre de semear
por toda a nação Sindicatos denominados "Rerum Novaru m". "Este Se­
minário, adverte, tem que ter funda repercussão na campanha social cató­
lica." "Uma das preocupações preponderantes do católico deve ser a re­
constru ção da sociedade de acordo com os princípios ela I grej a. Não é
nenhum segredo que o sindicalismo cubano está controlado pelos comu­
nistas não porque a massa operária sej a comun ista, mas pela simples
razão que não há outros dirigentes. Esta é a tragédi a do trabalhador
cubano que pode derivar numa completa apostasia proletária." Advogando
a formação de dirigentes como "nossa mais i mportante tarefa n a ordem
soci al", conclui Frei Luís : "E' magnífico o trabalho de doutri n ação rea­
lizado pela Democracia Social Cristã, porém para aproveitar o esforço
dispendido em planos de mais amplas e ambiciosas dimensfies, é neces­
sário modificar sua estrutura e acolher em seu seio dirigentes de autên­
tica atuação popu lar. Achamos que a Ação Católica, magnífico caudal
huma no para a criação do jocismo, seria a melhor escola para formar
líderes operários católicos."

Universidade Católica na Afrlca do Sul.


Du rante a reunião da H ierarqu ia eclesiástica do Sul da Africa em
Roma, cidade do Vicariato de Basutolândia ( Áfric a do Sul) , foi inaugu­
rada a t . • U niversidade Católica para os i ndígenas da África com o nome
de "Universidade e Colégio Católico Pio X I I " . Seu primeiro Reitor é o
Bispo J. C. Bonhomme, O . M . 1 . , Vigário Apostólico de Basutolândia. En­
tre os convivas homenageados que assistiram à inauguração do estabele­
cimento, achava-se o supremo comandante dos Basutos. Para o futuro
se abrirá também um seminário, como parte da U n iversidade, destinado
à formação do clero i ndígena.

1 4*

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212 Crônica eclesiástica

Falta de Missionários.
O Vaticano comunica que o Papa já está preocupado com a grand e
falta de Padres que ameaça a Igrej a e as suas Missões. As melhores pre­
visões calculam que antes de 35 anos a Europa não poderá enviar muitos
Padres para as Missões ; ela que enviava 75% dos Missionários. Desde
que Hitler subiu ao poder, as vocações baixaram de 36% na Alemanha,
que antes fornecia 8% de todos os Missionários. O domínio nazista fe­
chou todos os Seminários e convocou 1 7.000 Padres e Seminaristas par a
a guerra. A Polônia, que enviava 6 % dos Missionários, viu cerca de li.000
dos seus Sacerdotes assassinados. O exército francês exigiu 2.000 Padres.
1 367 pereceram nos bombardeios da I tália. A Espanha ainda sofre a per da
dos seus 5.500 Padres vitimados pelo comunismo. Os olhos do Santo
Padre esperam auxílio da América, onde os Sacerdotes não foram dizi­
mados.

Carta do Ministro Geral dos franciscanos sobre a Custódia da Terra Santa.


O Ministro Geral dos Frades Menores, em 23 de novembro de 1 945,
enviou a seguinte carta aos Superiores Provinciais da sua Ordem : -
Mui l�evcrendo Padre. As graves preocupações que, nestes momentos di­
fíceis, nos causam a sorte de nossos l<eligiosos e o futuro de nossas
obras de Apostolado, em tantas partes do mundo, N os impelem a dirigir­
vos a Nossa palavra, em particular, pela primogênita nas nossas Missões :
A Custódia da Terra Santa. Nesta não devem somente salvar-se os tra­
balhadores evangélicos e as santas e l i ndas instituições, mas também
todo o santo património dos grandes santuários cristãos, para gua rdá-los
ou defendê-los na sua integridade ; patrimônio que nos foi confiado pela
disposição da Divina Providência e pela vontade dos Romanos Pontífices.
A próxima conferência da Paz nos dará ocasião oportuna de apresentar
aos dirigentes da sociedade a questão secu lar dos Lugares Santos, a f i m
de que cheguem a reconhecer os direitos das católicos sobre alguns san­
tuários, contestados e, em parte, usu rpados dos cristãos cismáticos orien­
tais. Para este fim deverá organizar-se, em todo o mundo, uma campan ha
com a finalidade de interessar o p úblico e, espec ialmente, os intelectuais,
por tal grave questão. Em tempo oportuno a Santa Sé não faltará de dar
os passos necessários ju nto aos governos que tomarão pa�te no Congresso
das Nações U nidas. Cumpre, porém, prepara r primeiro uma opinião fa­
vorável de idéias no meio do povo para que se possa destarte influir efi­
cazmente na opinião pública e na dos chefes das N ações. Natura l mente,
nós, franciscanos, devemos ser a alma e o centro propulsórios. Para este
fim j á damos disposições claras e particulares aos nossos Comissários
da Terra Santa. A vastidão e a importâ ncia da organização de uma tão
nobre cruzada, todavia, exige a cooperação de todos os nossos religiosos
em todos os lugares e requer que se leve aos homens de boa vontade a
questão dos Lugares Santos. Vossa Revma., portanto, não somente favo­
recerá a ação dos Comissários da Terra Santa no desenvolvimento ela sua
tarefa, mas i nformará, ainda, desta grande questão todos os religiosos de
sua venerável Província, para que, no âmbito do seu Apostolado, se tornem
zeladores desta causa. Esta questão dos Lugares Santos é atu almente a
questão principal da Ordem Franciscana, que, por isto, deve sentir-se an­
gustiada e obrigada cm vista da própria honra perante a Igrej a e a

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 213

humanidade. Tenha, logo, todo Franciscano pleno e claro conhecimento e


consciência deste dever e empregue a própria e melhor energia pelo triun­
fo ele nossos di reitos a respeito dos Santuários da Palestina. A tare fa,
pois, de toda a P rovíncia sej a esta de promover em nossas igrej as (e, se
fo r possível, também em outras) funções públicas : horas de adoração,
dias euca rísticos, etc . , para alcançar do Senhor a reivi ndicação dos Luga­
res Santos. Além disso, du rante tais funções ou em outras c i rcu nstâncias,
como em períodos de pregações, n ovenas quaresmais e festas litúrgicas,
fale-se ao povo do estado atual e dos nossos di reitos acerca dos vene­
randos Santuários cristãos. Temos a plena confiança, que, em seu c u i­
dado e zelo, esta P rovíncia, po l' Vós egregiamente governada, p restará
todo o seu apoio pelo bom êxito da c ruzada p roposta. Também poderá
tomar outras iniciativas particulares, conforme a atividade e as ci rcu ns­
tâncias o sugerirem. De tudo que se fizer para este nobre fim Vós nos
informareis, de modo que possamos seguir com ânimo vigilante os pro­
gressos di n ossa questão nas diversas P rovíncias da Ordem Seráfica.
Como penhor dos favores celestes e de Nossa benevolência, damos a Vós,
aos vossos religiosos e a todos que cooperam eficazmente para um feliz

resu ltado da nossa santa causa, de todo o coração, a bênção seráfica. -


De Vossa Paternidade mui Revela. obrmo. no Senhor Frei Valen tim Sclzaaf,
O . F . M . , Min istro Geral.

A Caridade d o Clero na Itália Devastada.


E' desoladora a situação em que a guerra deixou a nação italiana.
No mais agudo ela sua dor, teve a fel icidade de encontrar um compassivo
samaritano n o clero católico. Começou o Sumo Pontífice ; segu iram-no os
Cardeais, os Bispos, os sacerdotes. A Comissão Pontifícia de Assistência
conta com uns 284 centros, espalhados por todas as dioceses. No verão
de 1 945, tinham-se j á gastado mais de cinco mi lhões de li ras em subsídios
diferentes, e uns .90 milhões só em vestido. Por mês, os " refeitórios do
Papa", estabelecidos em 1 38 centros, espalhados por 22 p rovíncias, dis­
tribuem três milhões de refeições com um gasto mensal de 1 1 mi lhões de l i ­
ras. A secção "Reduci" atende a o s soldados ex-prisioneiros e aos operá­
rios que voltam para a pátria. Merece especial menção, neste ponto, a
obra do Cardeal de Milão. Logo que um destes i nfelizes chega à estação,
recebe 200 l i ras e aloj amento gratu ito por 24 horas, com uma refeição.
Note-se que, diàriamente, afluem mais de 1 .500 destes refugiados. Os
males são mu itos, mas a I grej a procura dar-lhes o remédio, se não total,
pelo menos, o que possa atenuar as terríveis provações da Itália atual..
(Brotéria, jan. 1 946. )

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214 Necrologia

N ECROLOG IA
D. frei Sebastião Tomãs, O. P.
Em 1 9 de dezembro de 1 945 faleceu na Capital de S. Paulo o Exmo.
e Revmo. Sr. D. Frei Sebastião Tomás, da Ordem dos Pregadores, Bispo
Titular de Platéia e P relado de Conceição do Araguaia. Ao cabo de rudes
e benfazej os trabalhos, Sua Excia. termina seus dias após carreira apos­

tólica das mais frutíferas e patrióticas. Nascido a 3 de abril de 1 873,


em França, cu rsou a Escola Apostólica de Mazeres, passando ao novicia­
do de S. Maximino, e, em 1 892, recebe o hábito domin icano, e conclu i os
estudos de fi losofia e teologia em jerusalém, sob a sábia e poderosa di­
reção do famoso exegeta Padre Lagrange. Designado o Brasil para cam­
po de apostolado, é ordenado a 6 de j a n e i ro de 1 899, em Campinas,
pelas mãos santas de D. joão Batista Correia Néri. I nicia o ministério
como pregador de reti ros, assume, após, a direção do "Correio Católico"
de Uberaba, e, em 1 9 1 2 é eleito Vigário Provincial de sua Ordem. Mercê
de seu indefesso labor e constante cleclicação, vi u-se elevado por Sua San­
tidade o Papa Bento XV, a 30 de junho ele 1 920, a Administrador Apos­
tólico ela Prelazia N u l l ius de Con ceição do Araguaia. O espírito heróico
deste missionário, os relevantes préstimos a serviço cio Brasi l, contam-se
por diversas novas tri bos evangelizadas, como a dos Cara j ás, dos Tapi­
rapés, Goroti rés, Djorés e Croti rés, as muitas i grej as e capelas, as es­
colas cri adas, a grande Catedral de Conceição e Colégio de Marabá, para
mais de t rezentos meninos e meninas, e até um campo de aviação, sen­
tinela ela civi lização ali postada pelo grande missionário. Pio XI o nomeou ,
a 1 8 de dezembro de 1 924, como prêmio de sua abnegação e l a rgas be­
nemerências, Bispo Titular de Platéia e P relado de Conceição cio Ara­
guaia, tendo recebido a sagração episcopal a 15 de novembro de 1 925,
na igrej a de Uberaba, das mãos de D. Domingos Carrerot. Esta a rese­
nha sumária de tão longa e fecunda existência, a serviço da I grej a Ca­
tólica, e dos nossos índios brasileiros, numa dupla afi rmação de catoli­
cismo e brasilidade.

Mons. josé Procópio de Magalhães.


Em 8 de j aneiro faleceu inesperadamente em Belo H orizonte, em casa
de seus parentes onde se encontrava em gozo de férias, o Revmo. Mons.
josé Procópio de Magalhães. O virtuoso extinto n asceu na vila de Nova
Lima, outrora Congonhas de Sabará, no Estado ele Minas Gerais, aos 8 ele
julho de 1 884. Fez os estudos primários com o professor Dinis cio Vale,
em sua terra natal, concluin do-os, depois, no Seminário de Mariana, onde
se matriculou aos 2 ele abril de 1 900. Nesse antigo e benemérito Semi­
nário, di rigido pelos Padres Lazaristas, estudou a fi losofia e a sagrada
teologia ensinadas pelos revmos. padres D u molard e Magat e a Teologia
Moral pelo padre Franceschi. Recebeu todas as sagradas ordens, incl usive
a do presbiterato, das mãos do virtuoso Arcebispo de Mariana, D. Sil­
vério Gomes Pimenta. Ordenado sacerdote aos 2 de abril de 1 907 foi
nomeado professor do Seminário, onde lecionou diversas discipli nas até
o dia em que partiu para a Ci dade Eterna a fim de doutora r-se em
Teologia Sagrada no Colégio Pio Latino-Americano. De volta de Roma
em 1 9 1 2, D. Si lvério provisionou-o como vigário de Sabará, onde perma-

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neceu até 1 9 1 4. Convidado pelo S r . D . D u a rte Leopoldo e S i lva par a


p rofesspr d o Seminário Prov i n c i a l d e S ã o P a u lo, a q u i c h ego u a 8 d e
ma i o d e 1 9 1 4. N a q u a l i d ad e de l e n t e d e filosofia, teologia e de d ireito
canônico, trabalhou i nc ansàvelmente, n a formação d e i números sem i n a­
r istas, h oj e a m a i o r i a do c l e ro p a u l ista n o . S e rviu à A r q u i diocese durante
30 a nos, com devoção e zelo i n igualáveis, como professor dedicado, exa­
minador consciencioso d o clero, c o n fessor d e religiosas, recapitulador dos
casos d e moral, c a n o n ista exímio. Era o conselheiro de i n ú meros sacer­
dotes q u e a e l e recorriam e m casos os mais difíceis, encontrando sempre
a solução providencial, acertada e p ru dente. Com o fale c i m ento d e Mons.
Procópio o S e m i n á r i o Central e a A r q u idiocese d e São Paulo perdem u m
dedicadíss i m o p ro fessor e v irtuoso sacerdote.

Cônego Manuel de Araújo Feitosa.


No d i a 28 de dezembro faleceu em Quixará ( Ceará ) o Cônego Ma­
nuel de A r a ú j o Feit o sa. Nascido na P a ró q u i a de A rn e i roz a 8 de de­
zembro d e 1 886, o Cônego Feitosa teve p o r gen itores o S r . Leonardo
A lves Feitosa e a S ra . D . Maria j a r d i l i n a A lves Feitosa. N o dia 25 d o
mesmo m ê s e a n o recebeu o santo b a t i s m o das mãos cio V i gá r i o P e .
A n tô n i o ela S i lva f�ego. N o a n o d e 1 900, começou s u a carre i ra de estu­
d a n te , e m C a n i n clé, com o s P a d res Franciscan os. S e n t i n do-se chamado
por D e u s para o estado sacerdota l, i ngressou n o Seminário de Fortaleza,
no ano ele 1 907, onde adquiriu o precioso cabedal d e ciência e v i rtudes
que o d istinguia, e donde saiu, a 30 de novembro ele 1 9 1 2, ordenado sa­
cerdote. D e fever e i ro a dezembro ele 1 9 1 3 exerceu o c argo ele coadj u tor ele
Massapê, regendo também, d e t o ele abril a 3 1 ele j u n h o d o mesmo a n o ,
i n te r i n amente, a F r e g u e s i a ele .Meru oca. D e 3 1 ele dezembro ele 1 9 1 3 a
1 !5 de j u n h o ele 1 9 1 6, paroquiou U r u b u retama, d a í s a i n do para Pedra
Branca, c u j o s dest i n os espi rituais govern o u de feve r e i ro a a b r i l de 1 9 1 7 .
Desse ú ltimo a n o data a s u a resi dência n o Crato. A q u i exerceu ele o m a i s
v a r i a d o l a b o r sacerdotal. L e n t e d o S e m i n á r i o e d o C o l é g i o D ioces a n o
( 1 6-5- 1 9 1 7 ) ; redator d"'A R e g i ã o " ( 1 9 1 7- 1 927 ) ; d i retor d o " B oletim D io­
cesa n o d o Crato" ( 1 924- 1 933) ; Secretário do Bispado ( 1 - 1 9 1 8-5- 1 936) ; len­
te d o Colégio S. Teresa ( 1 923- 1 93 6 ) ; d i retor cio mesmo Colégio ( 1 929-
1 936) . De 1 d e j aneiro a 1 5 d e feve reiro de 1 93 5 foi vigário i n t e r i n o de
joazeiro, a 27 ele n ovembro d e 1 936 foi nomeado vigário d e Cedro, s e n d o
e x o n e rado em j u n h o d e 1 94 1 . A 1 8 d e j u n h o ele 1 9,1 1 foi p ro v i s i o n a d o
pároco ele Q u i xará, ele q u e foi e mpossado n o d i a 22 d o mesmo m ê s . N o
a n o de 1 929 foi a g r a c i a d o pelo S r . A rcebispo P r i m a z , D . A u gusto Alvaro
da S i lva, com o títu lo d e Cônego honorário ela Catedral d a Baía. Vida
chei a a d o Cônego Manuel de A raúj o Feitosa ! Apesar de, havia anos,
estar com a saúde abalada, j amais suspendeu suas atividades sacerdotais
e a morte veio colhê-lo j u stamente n o desempe n h o das f u n ções paroqui ais,
no meio d o seu querido e b o m povo de Qui xará.

Pe. josé Ben.


A D iocese de Caxias ( Ri o G r a n d e do S u l ) acaba de sofrer grande
perda p ela morte d o Rev. Pe. josé B e n , vigário de G u a i c u rus ( e x Nova
Roma ) , ocorrida n o H ospital O i Oiorgi, em Bento G o n çalves, às 6 h o ras
da manhã d o dia 15 d e j an e i r o deste ano. N asceu o Pe. B e n e m 26 de
março d e 1 876, n a P rovíncia de Belluno, Itália, donde veio com a idade
de 12 a n os. Aos 18 a n o s, i ngressou n o Seminário e em 30 de novembro

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21 6 Necrologia

de 1 906, foi ordenado sacerdote por D. Cláudio josé G. Ponce de León.


Foi vigário de Pedras Brancas, Canguçu e Serrito. Em 1 9 1 3 obteve. trans­
ferência, da Diocese de Pelotas para a Arquidiocese de Porto Alegre,
onde foi nomeado vigário de Nova Roma, da qual tomou posse no dia
25 de j aneiro de 1 9 1 4 e cujos destinos regeu pelo espaço de 32 anos,
menos 1 0 dias. O Pe. Ben exerceu um apostolado altamente fecundo e
meritório. A paróquia de Guaicurus, u m a das mais piedosas e melhor
organizadas d a Diocese de Caxias, deve a esse i nfati gável sacerdote in­
gente soma de benefícios. Tudo que ali existe : igrej a matriz, casa canô­
nica, o Colégio Pio X, quase todas as propriedades da igrej a, são fruto
do seu esforço, sempre generosamente correspondido pelos seus paro­
quianos. Como a boa árvore não pode deixar de produ zir bons frutos,
a paróqui a de N ova Roma, a pri ncípio periclitante pelos dissídios internos
que a minavam, passou , sob a firme di reção do Pe. Ben, a consolidar-se,
estendeu as raízes, cobri u-se de flores e produziu abundantes frutos. A
vida religiosa n a paróq uia é intensa. Os bons costumes e as famflias
numerosas constituem nota característica e honrosa daquela população,
cm cujo seio será difícil encontrar quem não pratique fervorosamente
a Religião. As vocações religiosas ali su rgem em grande nítmero. Aos
I rmãos Ma ristas e das Escolas Cristãs e às I rmãs de S. josé já deu Nova
Homa muitos e ótimos elementos. Pe. Ben partiu para a eternidade com
a consolação de ver plenamente realizado o sublime ideal que se p ropu­

i;era : de deixar, ao morrer, pelo menos dois sacerdotes, para continuarem


a trabalhar, em seu lugar, n a vinha do Senhor. Os dois sacerdotes, filhos
do seu zelo, aí estão : o Sr. Bispo diocesano e o Pe. U lderico Dall'O. Mais
u m semi narista está c u rsando teologia e outros meni nos da paróq u i a se
acham matriculados no Seminário de Caxias. Além disso, contribu iu para
a formação de 5 sacerdotes, filhos de i rmãos e parentes, na Arquidiocese de
Porto Alegre. O Pe. Ben amou o seu povo. Sofreu com ele e soube de­
fendê-lo coraj osamente nas horas de provação por que teve que passa r.
E, por isso, os seus paroquianos lhe serão eternamente reconhecidos.

Pe. M aurício Garcia Souto.


Em Avaré, na m adru gada do dia 4 de agôsto, faleceu piedosamente
o Revmo. Sr. Pe. Mau rício Garcia Souto, confortado com os Santos Sa­
cramentos da I grej a. Natural de V i l agalijo, A rcebispado de Bu rgos (Es­
panh a ) , onde nascera aos 1 2 de setembro de 1 869, ingressou na O rdem
dos PP. Agosti nianos e ordenou-se em Manilla ( Filipinas) aos 1 8 de
março de 1 893. Vindo para o Brasil, exerceu o min istério por diversos
anos no Estado de Minas. l ncardinado na Diocese de Botucatu exerceu
o ministério p a roquial em P ratania, Salto Grande, Quatá, A raguaçu, Santa
Bárbara e Manduri. Nestes ítltimos anos, por motivo de saítde, achava-se
em Avaré, deixando de ser um operoso Vigário para auxili ar, na medida
que lhe permitiam as forças, ao Pároco. Em toda a parte onde exerceu
o seu min istério, deixa profu nda e grata recordação de Sace rdote exem­
plar, consagrado ao bem da Igreja.

Pe. joaquim Martins Castanheira.


No dia 22 de fevereiro, faleceu repentinamente, em São Paulo, o
Revmo. Pe. joaquim Martins Castanheira, que por diversos anos vinha
trabalhando como capelão da Casa da I n fância, na Freguesia do O'. O
finado sacerdote nasceu em Corgas, da freguesia de P reonça-a-Nova, em

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Revista Eclesiástica B rasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 217

Portugal, aos 2 1 d e maio d e 1 886. Cu rsou o s estudos eclesi ásticos n o


Sem inário Diocesano d e Portalegre, e aos 1 O d e novembro d e 1 909 foi
ordenado sacerdote em Coimbra, pelo Exmo. Sr. D . Manuel Correia de
Bastos P i n a . Em fevereiro de 1 9 1 4 veio exercer o m i n istério sacerdotal
no Estado d e Minas Gerais, ca rregando o m ú n u s de vigário da paróqu ia
de Santana de Tra í ras, durante vinte e três anos. Desde 28 de janeiro de
· 1 940, por provisão do sau doso A rcebispo D . josé Gaspar, foi nomeado
capelão da Casa da I nfância e ali, com gra n de zelo e devotamento, dedi­
cava-se à assistên cia da criança abandonada, naquela modelar instituição
mantida pela Liga das Senhoras Católicas, em Vila A l berti na, n a F re ­
guesia do O'.
Frei Jacinto M. Lacomme, O. P.

A 5 de j u l h o d e 1 945 falec e u e m França, n a cidade d e Biarritz, este ilus­


tre filho d e S . D o m i n gos, que de 1 895 a 1 9 1 2 exerceu em nosso pais o mais
útil apostolado. N ascera a 5 de maio d e 1 859 de uma família profu n d a­
mente católica. Fez os primei ro s estudos em Colégios da Compa n h i a de
jesus. Ainda muito moço entrou para a Ordem de S. D o m i n gos. Fez os
primeiros votos a 1 7 d e abril de 1 88 1 . Seus estudos superiores na Ordem
foram brilha ntes. Doutorou-se n a O rdem em Fil osofia e Teologia. J á n a­
quele tempo a todos e d i f i cava por sua piedade e seu amor às o bservân­
c i as religiosas. Não t a rdou em ser elei to, com dispensa d e i d ade, prior
do g ra n d e e antigo Convento d e S . Romão d e Toulouse. D a í em d iante
sempre ocupou ca rgos de confiança. Veio pa ra o Brasil em 1 895. Substituiu
no ca rgo de Vigário P rovi ncial o sau doso P a d re Lacoste, há pouco fa­
lecido, - c argo em que foi mantido até o seu regresso à t e r r a natal,
1 9 1 2. P restou neste posto os m e l h o res serviços. A sua atuação sobre a
obra dominicana, m issionária e apostó l i ca, em nosso país, foi p rofu n d a .
T i n h a desta obra uma compreensão elevada e generosa, a c u j a rea l ização
dedico u-se ardorosamente. A s suas i n iciativas foram felizes. Aceitou em
horas ele dificuldade a d i reção cio Sem i n á r i o diocesano, transferido ela
capital goiana para U beraba, q ue então pertencia àquela d iocese. Ad­
quiriu em 1 896 o " J o r n a l el e U beraba" que a Ordem manteve com o
nome ele "Correio Católico" e máxima utilidade para a causa de Deus,
até 1 9 1 1 . Fundou em 1 898, sob a forma de Rosário P erpétuo, a Obr a
do Rosário no Brasil e ao mesmo tempo o seu ó rgão "Mensage i ro do
Sant o Rosário , que até agora continua valentemente sua missão apostólica.
"

Foi Superior cio Convento de U beraba e nesta qualidade teve parte sa­
liente na constru ção do belo templo de São Domingos, cuj a primeira pe­
dra foi lançada em 1 899. Ainda assistiu à sua inauguração provisória, em
1 904. Como Vigário P rovincial visitou várias vezes e com amor, as Casas
do interior : Goiás, Porto Nacional e Conceição do A raguaia, posto avan­
çado de Missões. Fundou em 1 905 a Casa de Formosa que teve 32 ano s
de prosperidade, e evangelizou toda aquela vasta zona do hinterland brasi­
lei ro, criando escolas e elevando o n ível religioso, cultu ral e moral do
povo. Tinha grande amor à obra missionária do A raguaia, com planos
pessoais, como a criação de uma lancha-capela, " O Cristóforo", para a
visita dos povoados cristãos e das aldeias dos selvícolas, nas margens do
grande rio. Quis dar a esta obra caráter nacional e para isso publicou
artigos nos j ornais e brochu ras, angariando simpatias e recu rsos nos
centros mais importantes do país. Não consegui u realizar completamente
este plano por ter sido chamado a outras funções na França. Apesar de
resid i r habitualmente n o interior, desenvolveu variado e fecundo minis­
tério de pregação em diversos Estados, sobretudo no Rio, Baía, Belo

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218 Necrologia

Horizonte, São Paulo, Belém. Seus retiros nos Colégios, às Congregações


religiosas e ao Clero foram notados. Há pouco ainda os antigos se re­
cordavam deles com sau dades. Consegu iu no Clero e no laicato católico a
maior consideração. Por três vezes o sondaram para o episcopado, que
declinou sempre. julgava, por sua alta compreensão das necessidades da
Igrej a, ter chegado o momento de satisfazer os desej os de prelados i lus­
tres com fundações dominicanas nos grandes centros, principalmente no
Rio, - para a pregação doutrinal, realizando assim no Brasil o ideal
da Ordem. Tudo encaminhara a isso quando regressou ao centro da
Província . . . Aquela sua alta aspiração efetivou-se com imenso jú bilo
de sua alma dominicana, em 1 927- 1 928 com a fundação da Casa do Rio
e de modo mais completo em 1 938, em São Paulo, onde já existem o
Noviciado e os Estudos da Ordem. Depois de regressar para a Europa,
em 1 9 1 2, prestou serviços à Ordem como Mestre de Noviços.

Fr e i H e nriqu e Abbadie, O. P.
Faleceu no convento de Biarritz ( França ) , a 30 de agôsto de 1 945, na
festa de S. Rosa de Lima, o ex-missionário dominicano em terras de Goiás,
Frei Henrique Abbadie. Era francês, t e ndo nascido a 2 de abril de 1 875,
e feito profissão religiosa na Ordem Dominicana a 1 6 de setembro de
1 900. Pouco depois da sua ordenação sacerdotal, ainda no início deste
século, veio ao Brasi l. Em Uberaba, estudou com empenho a língua
portuguesa. Foi mu itos anos professor de várias matérias no Ginásio
Estadual da cidade de Goiás, sem deixar de lado as obrigações religiosas
e trabalhos apostó licos que eram muitos e penosos, no convento da velha
Capital. Transferido depois para Formosa, no mesmo Estado, foi profes­
sor na Escola Normal das I rmãs Domin icanas, continuando ainda, como
bom missionário, a viajar por montes e vales naquelas acidentadas regiões
do Planalto Central, e certamente com grandes sacri fícios, pois que sua
índole e sua saúde mal se acomodavam com tão penoso ministério.

Pe. Modesto Bestué, C. M. F.


Notícias vindas telegràficamente de Buenos Ai res comunicam a morte
imprevista do bondoso Pe. Modesto Bestué. Celebrando-se no dia 5 de
j aneiro p. p. o 50.º aniversário sacerdotal dum i rmão dele, sacerdote cla­
retiano, residente na Capital argentina, obteve a necessária licença dos
Superiores e para lá se dirigiu de avião nas vésperas da solenidade sa­
cerdotal, falecendo depois de delicada operação a que inesperadamente
teve de se submeter. Durante sua vida foi o Pe. Modesto piedoso reli­
gioso, incansável trabalhador, ativo e dedicado sacerdote. Em 1 903 rece­
bera a ordenação sacerdotal e em j unho de 1 908 chegava ao Brasil.
Ocupou cargos de confiança, sendo Superior de Porto Alegre, Conselheiro
Provincial, Superior e Vigário de Santos e Superior de Campinas. Perten­
cem-lhe de direito, quase na totalidade, obras de vulto como a remodela­
ção pictórica da igrej a do Rosário e a construção da igrej a de Santos,
angariando esmolas e sacrificando a saúde pelo soerguimento de templos
dignos da majestade divina e não se poupando a cansei ras para o bem
das almas.
Pe. Antônio Berenguer, C. M. F.
Em Campinas faleceu inesperadamente, no dia 1 0 de março, o Rev.
Pe. Antônio Berenguer, da Congregação Claretiana. Mal acabara de jan­
tar na véspera, o Pe. Antônio dirigira-se para o seu lugar de trabalho e

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , m a rço 1 946 219

sacrifício, que e r a o confessionário. S e m nada h aver sentido, foi atendendo


os penitentes, que eram principalmente crianças da i grej a do Rosá rio, de
Campi n as . Iam celebrar n o d i a seguinte a sua c o m u n h ã o mensal. U m a
criança foi o s e u último penitente. C o l h i d o por violento colapso cardíaco
acrescido d e outras complicações, reti ram-no sem sentidos do confessio­
nário. Atendido sem demora por c u i dadosos médicos, j u lgaram o caso
desesperador. Voltando a si, m e rcê dos a u xílios médicos, a inda pôde re­
ceber todos os S a n tos Sacramentos, vindo a falecer n a m a n h ã do domin­
go, minutos a n tes d a missa de comunhão geral das c r i an ças d o catecismo,
de que e r a d i retor. Pela sua alma 80 c r i a nças ofereceram a q u e l a comu­
n hão. Faleceu como "bonus miles Ch risti" , tra ba l h a n d o e fazendo o bem.
Con tava atu almente 64 a n os de idade. Nascera e m 1 882. Ordena ra-se sa­
cerdote a 28 de abril d e 1 907. E m nossa Pátria passara sua vida sa­
cerdotal. A Con gregação Claret i a n a depositara n e l e s u a confiança, ocupan­
do os c argos de Superior das Casas de Belo H o rizonte, Porto A legre,
Baía, São P a u lo , Campi nas, R i o de janeiro e Rio Claro. Fora também
Conselheiro P rovi ncial. A i n d a que atingido há vários anos pela doença,
haven d o sido mister l h e cortar u m a das pern as, e r a i n c a nsável traba­
lhador, c o n fessando, pregando e distribu i n d o a S:lgracla c o m u n h ã o .

Pe. Francisco Maria Richart.


Embora esperada, a morte do P a d re Francisco 11/laria R i c h a rt, causou
um profundo pesar n a Congregação dos P adres B a rn abitas. N ascido e m
G e n e b r a ( Su íç a ) , f i l h o ele pais franceses, entro u , a i n d a c r i a n ç a n a Escol a
Apostól i c a de O i e n ( França ) ; l a u reou-se, m a i s tarde, n a Sorbo nne e m
Paris e, aos 3 1 a n os, e m 1 903, desemba rcou n o B rasil para, c o m o utros
compan h e i ros, l a n ç a r as b ases da primei ra fundação dos P a d res B a rn a b i ­
t a s e m nossa t e r r a . Pernambuco, Caxias (Maran h ão ) , B e l é m ( P ar á ) , Ja­
carépaguá, foram os campos onde exerceu a su a atividade ele V igário.
A Congregação cios Padres B a rn a bitas, nele reconhecendo u m a i nteligê n c i a
su perior, c o n f i o u - l h e a n t e s o c a r g o de R e i t o r d o Colégio S . A ntôn i o M.
Zacaria e, depois, e l evou-o a P rovincial d a P rovínc i a dos mesmos P ad res
no Brasil. E m 1 929 o Núncio Apostólico n o meou-o A d m i n istrado r ela P re­
lazia d e N ossa Senhora do Rosário do G u a rpá ( Estado do P a rá ) , sendo
assim o fu ndador das Missões dos Barnabitas n o B rasil. Permaneceu neste
cargo até o ano d e 1 937, quando, fatigado pelos trabalhos missionários
e acabado pelas febres, teve que ret i ra r-se das Missões por e l e tão a m a­

das e tão carin hosame nte vigiadas. Recolhen do-se a o Externato S. A n tô n i o


M. Z a c a r i a , a í passou n o s i l ê n c i o e n o a postolado d o con fessionário os
últi mos tempos ele sua vida, v i n do a falecer a 1 6 de maio de 1 945. O
Revmo. P a d re Hichart n ascera a 6 de m a i o de 1 874. I n flamado no zel o
pela causa de Deus, a l i o u a ciência à pie da d e , tornando-se religioso
exempla r, educador experi mentado, e missionário i ntrépido, esµ a l h a n d o
e n t r e as a l m as o bom p e r f u m e de Cristo.

Pe. Luís Gonzaga Freire de Almeida.


Com apenas 29 anos de idade faleceu, aos 19 d e j an e i ro de 1 946 , o
Padre Luís Gonzaga F reire de A l meida. Saindo da Escola Apostólica de
jacarépaguá e ordenado Sacerdote e m Roma a 23 de dezembro de 1 939,
voltava para o Brasil a 6 de março de 1940. Dotado de rara inteligên c i a
e piedade a n gélica, a listou-se voluntàriamente entre os Padres Missioná rios
da P relazia de Nossa Senhora do Rosário do O u amá ( Estado do P a rá ) ,

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220 Necrologia

para lá partindo em j aneiro de 1 94 1 . Fixado em Bragança, diffcil será dizer


o bem por ele realizado em tão cu rto espaço de tempo. Trabalhou com
os missionários na construção do ediflcio da Escola Normal, onde foi, de
inicio, professor e, depois, apesar de sua pouca idade, Diretor. Ao ma­
gistério aliando o apostolado, percorreu , como Vigário de Bragança, os
sertões da sua enorme paróqui a . Mas tamanho trabal ho desfibrou-lhe o or­
ganismo. Enfermou em 1 945 e um ano depois entregava sua alma ao
Senhor, consolado pela sua ardente devoção à Vi rgem Santíssi ma. Seu
entusiasmo para as obras de Deus não sofreu esmorecimentos ; sua vida
religiosa foi um modelo ; sua morte, preciosa no conspecto do Senhor.

Pe. Carlos Maria Rossini.


Faleceu , na idade de 78 anos, o Barnabita Padre Carlos M. Rossini.
De origem italiana, emba rcou para o Brasil aos 35 anos, onde, dedican­
do-se ao apostolado e ao magistério, permaneceu até a morte. Nos seus
43 anos de atividade em nossa terra, consagrou gen erosamente as suas
energias nas paróquias de Bragança ( Pará ) , de N. S. ele Nazaré em
Belém (P ará ) , ele S. Cruz, de Guaratiba, depois no Colégio de S. Carlos
e m Valença ( Estado do Rio) e de S. Antônio M. Zacaria ( D istrito Fe­

dera l ) , onde faleceu aos 29 de março de 1 945. Religioso de uma regu­


l a ridade exemplar, não empreendeu grandes obras para as quais não es­
t ava feito, mas deixou o exemplo de uma vida silenciosa toda consagrada
à obediência, ao ensino, à oração e ao apostolado. Ao púlpito preferia o
confessionário e, às apa ratosas conferências, o humilde ti roclnio de pro­
fessor. Tinha, como sinal de predestinação, uma terna devoção a Maria
Santíssima e, como bom sacerdote, um amor profu ndo ao Sagrado Co­
ração de Jesus.
Pe. Francisco Burmann, P. S. M.
A 1 0 de dezembro, a P a róquia de Cadeado, Municlpio de ljuí, D iocese
de S . Maria, sofreu grande perda pela morte inesperada do piedoso Vi­
gário Pe. Francisco Burmann, P . S . M . O Pe. Francisco Burmann nasceu
em 1 868, na Renânia, Alemanh a. Depois de completar os seis anos de
escola elementar e feito o serviço militar, entrou na Congregação dos
Padres Palotinos para, como I rmão Missionário, dedicar-se ao serviço
de Deus na Colônia Imperial do Camerum, na Africa. Dotado de inteli­
gência e espírito sacerdotal, solicitou, mais tarde, admissão aos cursos
superiores de p reparação ao sacerdócio. I ndeferi do o pedido pelos su pe­
ri ores na Alemanha, dirigiu-se aos Padres da mesma Congregação na
Itália, onde lhe foi permitido cursar as aulas superiores, no Colégio de
Masio, no Piemonte. Graças à sua robustez, firme vontade e assídua apli­
cação consegu iu o grande desideratu m : ser ordenado em 1 905, n a Cate­
dral de Asti, no Piemonte. Em segu ida foi mandado pelos Superiores para
o Rio Grande do Sul, onde exerceu o sagrado ministério, com verdadeiro
zelo em diversas Paróqu ias. Em 1 907 trabalhou em Vale Vêneto, e, em
1 909, como Vigário de Nova Palma até 1 92 1 . Transitoriamente esteve
em Cerro Azul, passando depois a dirigir a Paróquia de Cadeado, até
1 0 de dezembro de 1 945. Sacerdote exemplar, dedicou toda a sua vida
sacerdotal ao bem das almas. Mostrou sempre grande predi leção pelas
vocações e, com zelo e carinho de pai, dedicou-se ao cultivo das mesmas.
Uma das grandes benemerências do Pe. Burmann diante de Deus e da
Diocese, é, sem dúvida, o de ter encaminhado tantos j ovens ao sacerdócio.

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, f a s e . 1 , março 1 946 22 1

APREC IAÇÕ ES
lntroductionls ln Sacros Utrlusque Testamentl Libros Compendlum, auctore
H i 1 d e b r a n d o H õ p f 1, 0 . S . B . V o l . 1 . lntrod11ctio generalis in Sa­
cram Script11ram. Ed. 4.• ex i ntegro retractata quam curavit P. Benno
Gut, O . S . B . , Romre 1 940, Ed. Comm. A . Arnodo, X X l l + 608 pp. -
Vol. l i . llltrod11cfio specialis in Vet11s Testam ent11m. Ed. 5.º ex integro
retractata quam cu raverunt Athanasius Miller et Adalbertus .lv\etzinger,
0 . S . B . , Romre 1 946, Ed. Comm. A . Arnodo, XXV l + 600 pp. - Vol.
I l i . llltrod11ctio specialis in No v11m Testamentum. Ed. 4." ex integro re­
tractata q u a m cu ravit P. Benno Gut, O . S . B . , Rom<e 1938, A . L . C . 1 . ,
X X I V + 570 pp.
Saiu em nova edição, preparada por con frades do Autor, o conhecido
"Compêndio de I ntrodução à Sagrada Escritura" do fa moso exegeta Be­
neditino D . H i ldebrando H õpfl, outrora professor n o I nstituto Pontifício
de S. Anselmo e m Roma e hoj e já falecido. A obra é de i n discutível valor
científico e de grande utilidade prática para a escola. Bem merece, por­
tanto, u m a l i geira referência nesta revista.
O primeiro volume abrange os segu intes tratados : D e inspiratione ;
De canon e ; H istoria textu s ; H ermeneutica biblica. O Pe. Gut fez bem
em reu n i r esta matéria, outrora distribuída em dois tomos, n u m só vo­
lume. A nova edição saiu n otàvelmente melhorada. A disposição das ma­
térias ganhou e m clareza pela n u m e ração seguida, pela acrescentação de
novos títulos, pelo emprego de tipos de d iferente tamanho e pelo uso
de abreviatu ras nas citações. U m índice completo dos autores e das ma­
térias facilita a consulta do l ivro. A bibliografia foi muito a u mentada,
abrangendo toda a,, literatura até 1 939 i nclusive. N a história do texto
foi acrescentada uma boa l ista dos papi ros mais importantes (p. 264 ss.,
305 ss. ) e das versões da Bíblia nas línguas modernas. E n t re as ú ltimas
faltam algumas traduções portuguesas mais recentes, como sej a m : Os
Santos Evangelhos e os Atos dos Apóstolos de Frei Damião Klein,
O . F . M . ( Bala 1 929) ; A Bíblia Sagrada, pelo Pe. Matos Soares ( Porto
1 933) ; O N ovo Testamento de Frei João José Pedreira de Castro, O . F . M .
( Petrópolis 1 939 ) .
O aparecimento d o segundo volume f o i retardado pela guerra. A bi­
bliografia está completa até 1 944 i nclusive (à pág. 483 está citado u m
l ivro de 1 945) . Muitos tratados foram completamente refu ndi dos e am­
pliados. O problema do Pentateuco teve u m acréscimo de 40 págin as, de
que a teor i a d e Wellhausen ocupa uma grande p a rte. "Cum theoria
\Vellhauseniana a multis criticis saltem q uoad principia fu n d a mentalia et
conclusiones generales admittatur, eam fusius exponere necesse est" (p.
40) . N a exposição dos livros do A ntigo Testamento, os editores salien­
taram a doutrina religiosa, como também o nexo íntimo existente en t re
os diversos livros com as idéias gerais do A ntigo Testa mento. Outras
questões d ifíceis foram novamente estudadas e expostas, algumas das
quais faltavam ainda n a quarta edição, como por exemplo : De c h rono­
logia Jdc. ( p. 1 4 1 ) ; Qurestiones criticre de Sam ( pp. 1 54- 1 57 ) ; C i r­
cumstantire historicre Esdr.-Neh. generales (pp. 1 82- 1 84 ) ; D e relatione
Tob a d l itteratu ram extra-bi blicam ( pp. 205-209 ) ; De variis generibus
Pss ( pp. 309-3 1 1 ) ; D e genere l itterario Ct ( pp. 344-345) ; De unitate Sap

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222 Apreciações

eiusque relatione ad philosophiam grrecam (pp. 363-366) . Muito bem es:­


crito está o capítulo "De Prophetis in genere", com ampla bibliograf i a
( pp. 384-407 ) . O Apêndice apresenta d o i s novos acréscimos : Tabella cluo­
nologica regum JEgyptiorum, e Tabella synchronistica temporis V. T. De
grande utilidade para os estudiosos são os lndices dos autores, das ma­
térias e das citações da Sagrada Escritura, os quais faltavam por completo
nas edições anteriores. O volume foi impresso na Tipografia Vaticana.
Os erros tipográficos são poucos (p. XXV I ) .
O terceiro volume saiu antes d a guerra e hoje está esgotado. O edi­
tor prometeu uma nova edição para breve, com ligeiras modificações e
bibliograf i a completa até os n ossos dias. Mu itas questões aparecem em
nova luz : De censu Quiri n i ( pp. 1 27- 1 35) ; De Lysania tetrarcha Abilenre
(pp. 1 35 ss. ) ; De duplici genealogia Christi (pp. 1 36- 1 44 ) . O problema
sinóptico é tratado nas págs. 1 46- 1 83 ; o Autor, "viam mediam tenens" ,
u n e a catequese oral com a dependência recíproca. No tratado sobre o
I V Evangelho o Autor discute magistralmente as questões mais difíceis :
sobre o presbítero João, sobre o Logos de P h ilo, sobre o caráter histórico
do Evangelho e a sua relação com os evangelhos sinópticos. Com a mesma
competência trata dos Atos dos Apóstolos e das Epístolas de S. Paulo :
da sua cronologia, da parusia nas epístolas aos Tessalonicenses, dos des­
tinatários da epístola aos Gálatas, da autenticidade dos capítu los 1 5 e 1 6
da Epístola aos Romanos e das epistolas pastorais. Quatro apêndices
completam o volume : Tabella chronologica antiqu issimoru m testium evan­
gel ioru m ; Fragmentum Mu ratorianu m ; Stemma familire H erodis ; Tabel la
synchron istica temporis N. T. Os índices faci litam a consulta do l ivro.
Recomendamos a obra monumental a todos que se interessam pelos
est udos escriturísticos, principalmente aos professores e alunos dos nos­
sos seminários. Frei Pancrácio Puetter, O . F . M .

Hechos de los Apostoles. Trad ucción directa dei original griego, notas y
comentarios por Mons. Dr. J u a n S t r a u b i n g e r, p rofessor de Sa­
gradas Escritu ras en el Semi nario Metropol itano de La Plata ( Rep. Ar­
gentina) , con reproducciones de "El Greco" . - Ediciones Aldu (Apos­
tolado Litu rgico dei Uru g u ay ) , Montevidéu, 1 945, v vol. br., ilustrado,
1 95 X 260 mm, 1 79 págs.
O Revmo. Monsenhor Straubinger está realizando na Argentina uma
obra excelente : a tradução, divulgação e explanação em língua castelhana
dos livros da Sagrada Escritura. Dele j á nos vieram uma tradução dos
Salmos, e uma edição nova da Bíblia. A presente obra é uma edição es­
peci al, feita no Uruguai, no livro dos Atos dos Apóstolos.
O que se tem a louvar nesta edição é, em primeiro lugar, o seu ar­
.
tístico acabamento. Desde a capa, o l ivro impressiona agradàvelmen te pela
sobriedade e harmonia das suas cores, linhas e letras. Vem impressa em
excelente papel, com tipos grandes e nítidos, margens largas, signos úteis
e elegantes. Além disso tem i ntercaladas em suas páginas numerosas
gravu ras que representam os lu gares principais em que lidara m os Após­
tolos, e as principais das quais e mais n umerosas são ótimas reproduções
de quadros de El Greco que retratam os protagonistas do l ivro.
Em segundo lugar, convém notar nesta edição a abundância e o
valor das notas que acompanham, em cada página, o texto, para seu
indispensável esclarecimento histórico ou doutrinário. De fato, poucos
livros escriturários necessitam mais do que este o auxílio prudente e
hábil do exegeta, pois seu perfeito entendimento requer o conhecimento,

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Revista Eclesiástica Brasilei ra, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 223

ao mesmo tempo, do que ensinam o Antigo e o Novo Testamentos. Nele


se multiplicam os pontos mal interpretados pelos heterodoxos, como por
exemplo os que respeitam à tradição primitiva da I grej a ou ao primeiro
uso dos Sacramentos. As notas do abalizado tradutor, cuj a competência é
indiscutida, apontam erros, sublinham verdades, derra mam plena luz sobre
a antigui dade e a u n idade das lições dogmáticas e l itt'1 rgicas da I grej a.
Demais disso, é para n otar nesta edição que essas n otas de Monse­
nhor Straubinger não visam excl usivamente a i n formação i ntelectual do
leitor, visam também a sua formação moral. D e acordo com o desej o de
Pio X I I , man ifestado em sua Encíclica " D ivino Afflante Spiritu", o Autor
propôs-se, especialmente, a promover e fac i l itar entre os seus leito res a
apl icação prática das palavras divinas à vida cotid iana ele cada um. A
Bíblia para os católicos não deve ser um l ivro para ser ú n icamente es­
tudado ou reverenciado, mas para ser, também e sobretudo, posto em
prática. A palavra de Deus é palavra de vida. A Sagrada Escritu ra, e
em particu lar o N ovo Testamento, deve ser o livro por excelência da
espiritualidade c ristã. E isto é que o aj udam a ser as n otas apostas por
Monsenhor Straubi nger a esta edição dos Atos dos Apóstolos.
Não será despropositado notar aqui outro motivo de interesse p a ra
a leitura deste l ivro. E' que estamos no tempo da Ação Católica e que
nenhum l ivro Sagrado é mais instrutivo a tal respeito do que este : em
suas páginas é que se encontram os primeiros exemplos do apostolado
leigo, narrando-se aí os feitos desses a u x i l i a res dos apóstolos que foram
Aquila, Priscila, Gaio, Apolo, Aristarco, Líd ia, e outros.
Este é, portanto, um livro de grande interesse e valor, tanto para
sacerdotes e religiosos, qu anto para simples leigos, pertencentes ou não
à Ação Católica. E sua magnifica a presentação tipográfica e litográfica
o torna muito próprio para ser dado de p resente a uma pessoa a quem
se desej e homenagear como católico. P . Regi11aldo Monteiro .

A Documented Hlstory of the Pranclscan Orde r, 1 1 82 - 1 5 1 7, by Very Rev.


R a p h a e 1 M. H u b e r, O . F. M. Conv., S. T. D . - The Newman
Book Shop, Washi ngton, 1 945, 1 vol. enc., 1 58 X 228 mm, XXX I V +
1 028 págs. $7.50.
O Autor dêste l ivro foi disclpulo do famoso Dr. Luís P astor, o gran­
de historiador dos P apas, cujo método e cuj a a rte de escrever H istór i a
ê l e assim i lou com vantagem. Demais, conforme relata, o s e u escrito resul­
tou do perseverante trabalho de trinta anos de estudos e pesquisas sôbre
o assunto especial que escolhera. E a vasta bibliografia citada nessas
pági nas testemu n h a com ênfase quanto foi atento o Autor em seu trabalho
e quanto merece a obra o título que lhe deu de " H istór i a Documentada".

Tudo isto faz com q u e êste l ivro se destaque, por seu excepcional valor,
da massa d a i mensa produção bibliográfica hodierna.
Naturalmente, pertencendo ao ramo Conventual da Ordem Francisca­
na, o Autor t rata de explicar com espec ia l cui dado a origem dêsse ramo e
j ustificar a mitigação da Regra obtida dos Papas pela alegação de que a
observâ ncia estrita só podia ser efetuada por um pequeno grupo de fra­
des, mas q u e o c rescimento constante da Ordem e a sua d ifusão pelo
mundo tornou isso i mpossível e necessitou a adoção de propriedades e o
uso corrente do dinheiro. Será i nteressante ver como, no volume que anun­
cia, de continuação do seu trabalho, explicará o Autor a formação do
terceiro ramo franciscano, o dos Capuch i nhos, cujo fundador teve em mira,

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224 Apreciações

exatamente, o retôrno à primitiva observância da Regra e do Testamento


de S. Francisco . . .
Esta situação peculiar do Autor e o ponto de vista que forçosamente
tomou, por pertencer ao ramo Conventual da Ordem dos Menores, obriga-o
em várias passagens da sua monumental obra, não a esquecer o seu papel
de historiador ou a omitir ou alterar fatos históricos, mas a acrescentar
ao seu principal labor um outro, não menos trabalhoso e porventura mais
ingrato, de advogado da preeminência do ramo minorita, a que pertence,
sôbre tôda a Ordem Franciscana. Êsse esfôrço é evidente a págs. 80 e
1 02, por exemplo, em que narra "a primeira i nterpretação da Regra pe­
los Papas", ou 262, em que descreve "o início da Reforma dos Observan­
tes" , ou, ainda, nas que constituem a "conclusão" do livro e resumem a
sistemática orientação do Autor. Por mais instante, porém, que sej a a ar­
gumentação do erudito Autor, não logra convencer-nos. O seu motivo prin­
cipal para j ustificar as atenu ações à Regra adotadas pelos Conventuais
com aprovação da Santa Sé, é que sendo S. Prancisco fundamentalmente
obediente aos Papas não quis j amais estabelecer uma Regra imutável,
mas de antemão submeteu-se a qualquer modificação que nela qu isessem
i ntroduzir os porvindou ros sucessores de S. Pedro. Argumento especioso,
contrariado explicitamente pelos claros dizeres do "Testamento" (a que
o Autor, naturalmente, nega fôrça de lei ) , e que, se põe fora de questão
a legalidade da existência dos Conventuais com os privi légios que lhes
foram assegurados pela Santa Sé, não infirma a tese dos Frades Menores
(sem mais) que se proclamam fiéis observadores da Regra franciscana e
aos quais i nequ ivocamente a Santa Sé conferiu, também, a sua aprovação,
como a conferiu igualmente, mais tarde, ao novo ramo da Ordem, o dos
Capuchinhos. Assim, ao contrário do que pretende esta belecer o Autor, nem
ju ridicamente, nem historicamente cabe aos Conventuais nenhuma situação
de preeminência no mtrndo franciscano. juridicamente o próprio Autor
acaba por reconhecê-lo, como não o poderia deixar de fazer, em face da
i nequívoca igualdade estabelecida pela Santa Sé, para os três ramos da
família franciscana. E historicamente, o que se conclui da singular posi­
ção dos Conventuais antes de 1 5 1 7, sôbre que tanto insiste o Autor, é
que, por deter a maior parte dos Conventos, a começar pelo de Assis, e,
sobretudo, por não ter havido oficialmente nenhuma cisão da Ordem co­
mo tal, era de entre êles ( não como Conventuais, mas como Franciscanos)
que se elegiam os Ministros Gerais da Ordem, ficando-lhes, portanto, su­
bordinados os vários movimentos reformistas sucessivamente operados
por franciscanos zelosos e insatisfeitos com o estado religioso oficial da
Ordem : Amadeítas, Recoletos, Descalços, Alcantarinos, etc., mas sem que
isto importasse em reconhecimento de direitos especiais ou de privilégios
aos frades Conventuais considerados como tais. O inverso, mesmo, é que
seria de concluir. Tanto que, quando a Santa Sé teve de se pronunciar,
provocada pela iniciativa de Frei Paulo de Trinei, não o fêz para con­
servar a situação existente, mas para alterá-la radicalmente, entregando
aos observantes o que de direito, embora não de fato, lhes pertencia : a
independência e a preeminência na organização e no govêrno da Ordem
dos Frades Menores, - a Ordem que S. francisco fundara, sem a adição
de qualquer outro nome . . . De resto era o que o bom senso pedia. Não
só porque êsses reformados e observantes constituíam número muitíssimo
maior do que os "Conventuais", que pretendiam governá-los ; como por­
que seria incongruente que ficassem como cabeças da Ordem e seus legí­
timos regedores aquêles frades, justamente, que, contra o parecer da maio-

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Revista Eclesiástica Brasilei ra, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 225

ria dos seus colegas, se h aviam afastado tanto, no modo de vestir e no


d e viver, das idéias do seráfico Patriarca . . .
O p resente volume abrange somente a história dos três primeiros
séculos da Ordem. Vai desde o nascimento do Fundador, em 1 1 82, até à
separação dos Conventuais dos Observantes, em 1 5 1 7. Está dividido em
três partes. A primeira, que chega até o ano de 1 368, n a rra a vida de
S. Francisco, a formação d a Regra, o desenvolvimento da Ordem sob a
regência dos primei ros sucessores do Santo, em especial de Elias de Cor­
tona e de S. Boaventura ; as controvérsias sôbre a pobreza e a observâ n­
cia da R egra, a aparição dos Espirituais, e a queda dos Fraticelli na
heresia. A segu nda parte trata especialmente d a origem e desenvolvimen­
to da Reforma dos Observantes, das tentativas de conci l i ação da tendência
que êles representavam com a dos Conventuais, e, enfim, a divisão ope­
rada defin itivamente entre os dois ramos e sancionada por Leão X, em
1 51 7. A tercei r a e última parte compreende vários estudos sôbre assuntos
particulares da H istória Franciscana, como a l iteratura sôbre S. Francisco
e as suas Ordens, as i nterpretaçôes da Regra, as Constituições, o feitio
e a côr do hábito de S. Francisco, a atividade missionária dos franciscanos,
a instrução dos frades, suas doutrinas teológicas, em especi a l a de Duns
Escoto, as devoções tanto litúrgicas como popu lares, criadas pelos fran­
ciscanos, e as obras sociais por êles realizadas através dos séculos. Qua­
tro índices, que se estendem por mais de oitenta páginas, completam o
volume e facilitam extremamente o seu estudo e utilização.
A obra está tôda e l a escrita de modo correntio e i n te ressante ; e al­
gumas de suas pági n as, sôbre S. Francisco, por exemplo, ou sôbre devo­
ções franciscanas, são excepcionalmente v ivas e cheias de comunicativo
entusiasmo. P. A. Oliveira.

Memorias dei Segundo Congreso N acional de Terciarios Franciscanos dei


Ecuador, celebrado e n comemoración dei Tercer Centenario de la m uerte
de la insigne Terciaria Franciscana Beata Maria n a de jesus, du rante
los dias 20-28 de mayo de 1 945. - Editorial "jodoco Ricke", Quito,
1 945, 1 vol. br., 1 95 X 285 mm, 240 págs., fartamente i lustrado.
E m obras do gênero desta h á sempre uma grande parte de mero en­
chimento e roti na : o palavrório oficial das aberturas e encerramentos de
sessão, os comunicados de adesão, de aplauso, o u de j ustificação de au­
sência, as l istas de delegados e de eleitos para a mesa e as comissões,
os programas das sole n i dades, as notícias de excursões e visitas . . . O
que sobra, feita esta cirandagem, é ainda, muitas vêzes, pouco substan­
cioso : regulamentos, noticiário das reu n i ões, enumeração das teses apre­
sentadas, texto ou súmula dos discu rsos e das teses aprovadas. Nesta
parte, contudo, é que se encontra - quando se encontra - o que, em
tais obras, tem real importância e merece ser preservado, destaca ndo­
se do aluvião de vão palavriado q u e o cerca.
Estão neste caso o regulamento e o temário do segundo congresso
de terciários franciscanos do Equador, ambos os quais poderão ser ap ro­
veitados com vantagem pelos organizadores de análogos congressos em
outras regiões do m u n do. D estacam-se, também, de entre outros, os dis­
cursos o u conferências pronunci ados pelo delegado da Fraternidade de
Cuenca, Rev. Cônego Manuel M. P a l acios B ravo sôbre o apostolado que
incumbe aos terceiros franciscanos n o mundo de hoje, dilacerado pelo
dilema : ou comunismo, o u catolicismo ; e pelo delegado da Fraternidade
de Quito e presidente dêste Congresso, o Dr. Júlio Tobar Donoso, sôbre
15

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226 A p reci ações

a padroeira do Congresso, a vene rável Maria n a de jesus, e sôbre o fe­


c u n díssimo apostolado que todo terciário franciscano pode e deve exer­
cer : o do bom exemplo na s u a v i d a profiss i o n a l . Merecem também espe­
c i a l menção as teses aprovadas pelo Con gresso e entre as q u a i s se dis­
t i n guem várias de c a ráter social e p rático, mostrando q u e espírito, nada
conve n c i o n a l , presi d i u a essa reunião nacional de terciários f r a nciscanos :
a 9.ª, por ex., s u gere q u e tôdas as Fratern i dades i n a u g u re m em suas
sedes c u rsos p ú blicos de doutrina social cristã baseados na exp l i c ação
das encíclicas pontifícias ; a 1 0." pro move a escol h a de u m a c o m i ssão
de terciários destinada a est u d a r a situação criada para os traba l h a dores
pela promu l gação recente do Código do Trabalho e apresentar ao Con­
g resso N a c i o n a l u m p l a n o de reformas que m e l h o r atenda aos i nterêsses
do operari a d o ; a 1 4. ª propõe a i n stituição pelas Fratern idades das Ca­
p i t a i s de P rovínci as, pelo m e n os, de escritórios de c o l ocação d e t raba­
l hadores i n d ustriais e domésticos ; a 1 7. n u rge os terciários a pro move­
rem, nas c i d ades e m que res i d a m , o descanso nos d o m i n gos e d i a s sa ntos
para todos os trabalhado res m a n u a i s ; a 1 9.ª aconse l h a-os, q u a n d o façam
parte de estabelecimentos i n dustriais, a se esforçarem por i n stit u i r com
seus colegas c a i xas de socorros mútuos e a n á l ogas, de acôrdo com as
n o rmas i n d i cadas pelos P apas.
Enfim, é de notar a o b r a q u e vem p u b l icada n as últimas páginas
clêste livro, por ter sido colocada e m primeiro lugar n o c o n c u rso j u lgado
nesse Con gresso, e que se i ntitu l a : V a ntagens do estabe lecimento de I r­
m a n dades da Ordem Terceira nas paróqu i as e posição delas em relação
à Ação Católica. B reve, c l a r a , bem f u ndamentada e bem escrita, essa
monografia dissipa n u merosos malentendidos a respeito da O rdem Ter­
c e i r a e mostra convi n cen temente q u a nto e l a é prestativa aos párocos e
q u a n t o convém a êstes promove r a s u a f u ndação e desenvolvimento que
em n ada contraria - a o contrário 1 - a f u n dação e desenvo lvimento das
associações espec iais d a Ação Católica.
P ág i n as dessa ordem é q u e resgatam e emprestam permanente valÕr
a obras coletivas do gênero desta q u e estamos notic i a n d o . P. A . Oliveira.

Olinda e suas Igrejas. Esb o ç o H istórico, por Frei B o n i f á c i o M u e 1 1 e r,


O . F . M . - Livraria P i o X I I , Recife, Pernambuco, 1 945, 1 79 págs., com
m u itas gravuras. C r $30,00.
" O l i n d a e Suas I g rej as" é o t í t u l o do l ivro m a i s novo que a Livra ria
Pio XII acaba d e d a r à p u b l i cidade. O l i n da, por ser uma ci dade velha, não
perdeu n e m p e rderá j a m a i s seus atrat ivos e seu i nteresse. H o uve quem
esc revesse : " T i re m d e O l i n d a o Carmo, a Misericórdia, São Franc isco, o
S e m i n á r i o e o A m p a ro, ( escapou- l h e o Moste i ro de São B e n to ) , e bem
pouco restará el e i n teress a n t e . " Sobre O l i n d a e suas i grej as h á muita
coisa espa l h a d a nas Ca rtas Régias, em m a n u scritos i n é d i tos, nos a rqu ivos
dos Conventos, esp e c i a l m e n te n o Mosteiro de S ão Bento ( comparado por
a l guém à Torre do Tombo de L i s b o a ) e do Cabido Metropo l i tano, nas
obras da época h o l andesa, nos Livros e Atas das I r m a n d ades, nas obras
c l ássicas dos dois contemporâneos j aboatão e Lou reto Couto, nos Dicio­
n á r i os de Ga lvão e Pereira da Costa, até aos tempos prese ntes em que
uma plêiade de homens de v a l o r fornecem suas v a l i osas contribuições à
Revista do I nstituto H istórico-Geográfi co-A rqueo l ó g i c o . Merece ser re­
gistado o esforço do e x-Vigário de O l i n da, Frei Bon ifácio que, com gosto
e zelo, reu n i u q u a nto podia encontrar de i n teresse h i stórico da s u a paró­
q u i a , i n c l usive diversos i n é d itos, que agora p u b l i c a sobre " O l i n d a e Suas

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Revista Eclesiástica B rasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 227

I grej as" . Submetendo seus manuscritos ao critério d e eclesi ásticos com­


petentes, encontrou apoio e aplauso. O Exmo. D . B o n i fácio jansen, Abade
d o Mosteiro d e São Bento d e Olinda, ficou cativo pelo modo como 0
Autor dividiu sua matéria e m 20 capítulos, abrangendo sempre u m a época
dete r m i n a d a ou encarando u m ponto d e vista q u e possa i n teressar os l ei­
to res. Seu confrade, Frei Odulfo, Lente de H istória Eclesiástica e m D ivi­
n ópolis (Minas) , com seu nome firmado entre o Clero brasileiro, escre­
veu-lhe : " Encontrei seu precioso m a nuscrito em c i m a da mesa. V o u d a r
m i n h a opinião : à encantadora cidade d e Olinda, bem como ao s e u Ex­
Vigário d e São Pedro Mártir os meus sinceros e efusivos parabéns pela
publicação d e u m trabalho tão interessante e bem feito. Certamente não
é u m trabalho completo, nem faltam alguns sen ões. Mas, não obstante,
o caro confrade escreveu um livro que merece os francos aplausos de to­
dos q u antos se interessam pela história d o Brasil, e d e O l i n d a-Pernam­
buco e m particular." O Censor A rq u idiocesano, Cônego A l f redo Xavier
Pedroza, dirigiu a o Autor u m a carta d a q u a l destac amos estes dizeres :
"Cada u m a daquelas igrejas é u m l ivro aberto ao nosso espírito e à nossa
inteligência d e c ristãos e de b rasilei ros. A i n d a bem que V. Revma. estudou
a sua história com carinho e no-las apresenta como devem ser vistas
o estimadas pelo povo pernambucano. E f o l go d e ver que nelas não en­
controu j i bóias, n e m frades b r i gões o u cobi çosos das suas riquezas, o u
surripiadores das s u a s pratari as, ou freiras fazedeiras d e d o c e s e outras
guloseimas. V . Revma. andou de a rc hote nas m ãos c o m ideal mais ele­
vado, com intu itos m a i s n obres, estudando a verdadeira h istór i a das nos­
sas velhas igrejas e o que elas representaram n a vici a a rtística e religiosa
ela tradicional cidade de Olinda. Faço votos para q u e o seu l ivro tenha
a aceitação q u e m e rece pela matéria d e q u e trata, para que, e m b reve
possa V. Revma . , a n i mado pelo seu êxito literário, dar novas edições, mais
perfeitas pelas observações d a c rítica j usta e imparcial dos c o mpetentes."
E m face d e tais a p reciações qu e m n ã o desej ará conhecer este livro? E
quem n ã o se lembrará de fazer dele presente a u m a pessoa a m i g a ? Basta
um ligeiro o l h a r para sua capa expressiva : a matriz d e São P ed ro por
entre c o l u n as torcidas de estilo colonial, sugere esta idéia : ótimo para
presente ! N. N.

Heroes of the C ros s An A merican Martyrology, by M a r i o n A . H a b i g,


.

O . F . M . , with a Foreword by Most Rev. J o h n M a r k O a n n o 1 1 ,


D . D . , D . C . L . , L L . D . , B ishop of Erie. - Revisecl Edition, Saint
Anthony Guild P ress, P aterson, N . J , 1 945, 1 vol. enc., 1 40 X 205 mm,
.

2 5 4 págs.
O A utor deste l ivro é um conhecido historiador americano, e ed i tor
da revista " Franciscan Studies" . Colaborador assíd u o das folhas america­
nas ortodoxas, tem também publicado opúsculos e livros sobre S a ntos
franciscanos. De entre as suas obras m a i o res destacamos especi a l mente
duas : u m a sobre o grande evangelizador d a região d o M ississi pi, o Pa­
dre Marquette, S . j . , cujo franciscanismo ele patentei a ; e outra sobre a
Ordem Terceira Franciscana, recentemente traduzida para o francês e
impressa n o Canadá sob o títu l o e x pressivo - " L e Tiers Ordre e n
Marche".
O presente livro apresenta os frutos das pesquisas históricas cio Au­
tor sobre os mártires dos Estados U n i dos. N a s u a presente forma consiste
na revisão e acabamento com m uitas n otas d e uma primitiva obra do
Autor, a q u e este acrescentou dez n ovos capítulos, resultado d e recentes
1 5*

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228 Apreciações

,pesquisas a que se entregou para se desincumbir da com1ssao que lhe


-coube, por delegação do Concilio Plenário Episcopal Norte-Americano,
reunido em 1 939, o qual, por iniciativa do ilustre Bispo Gannon, propôs
·O requerimento ao Santo Padre da reunião em um só dos processos de
.canonização de todos os missionários martirizados nos Estados Unidos .
.Um desses novos capítulos contém um completo martirológio norte-ame­
ricano.
Não só pelo valor histórico, também pelo seu valor literário este livro
:merece leitura. Encontram-se ali muitos nomes e fatos, ordinàriamente des­
conhecidos pelos historiadores, mesmo especialistas. Mas o que os torna
interessantes é serem narrados, mu itas vezes, com extraordinária vivaci­
dade, penetração psicológica, e conhecimento exato das condições da vida
e da prática da religião em seu país. Assim, por exemplo, são verdadei­
ramente inspi radoras de altos sentimentos as páginas que narram as
.d erradeiras horas de Frei Miguel de Aunon, ou as que registam as últi­
mas palavras de Frei Brás Rodrigues, as que descrevem o fim trágico
de Frei Leão e o holocausto recente de terciários franciscanos no
México.
Como escreveu o Exmo. Bispo Gannon no prefácio, é este um gran­
de livro, oportuno e precioso, que contribui consideràvclmente para com­
pletar a história da atividade e do idealismo americanos.
P. Regina/do Monteiro .

Confiança, pelo Pe. P a u 1 o d e J a e g h e r, S. J. - Editora Vozes Ltda.,


Petrópolis, 1 946, 2 vols. brs., 1 25 X 1 85 mm, 277 e 304 págs. Cr $30,00.
Esta obra, já muito conhecida e admirada, não precisa mais ele apre­
sentação nem de exame da sua doutrina. Que remos apenas nesta nota
bibliográfica registar o aparecimento da sua tradução para o nosso idio­
ma, feita com autorização e aplauso do Autor. Também achamos oportuno
notar que, pela sua doutrina, mais mística do que ascética, esta obra -
como as dos Padres Lal lemant, Grou e Caussade, por exemplo, todos
discípulos de S. I nácio, como o Autor desta - desmente aos que querem
ver nos escritores espirituais da "Companhia de Jesus" severos ascetas,
preocupados em ensi nar as almas o temor do pecado e o empenho na
aquisição das virtudes como ú nicos meios de salvação. E' natu ral que,
-dirigindo-se em regra aos católicos em geral, isto é, aos "principiantes'',
aos que apenas começam a trilhar o caminho da perfeição, os escritores
jesuítas tenham i nsistido na necessidade do conhecimento próprio e da
luta contra as tendências más da natureza, sempre vivas nos "súditos do
pecado" que todos somos. Mas não é menos certo que não desconhecem
nem esquecem, sobretudo quando se dirigem especialmente a religiosos,
a almas "adiantadas" no caminho da perfeição, outros métodos menos
restritos à luta contra o pecado, i nspirados de preferência pelo amor,
pela confiança, pelo abandono à vontade sapientíssima de Deus. Não é
isto, aliás, um privilégio dos Jesuítas. A Teologia Espiritual, hoje consti­
tuída, aprovada pela Igrej a e ensinada nos seminários, prevê o emprego
oportuno, consoante o adiantamento da alma, dos recu rsos da ascética
e dos da mística, tendo como regra, entretanto, que o princípio, a base, o
fundamento de toda vida espiritual progressiva deve estar na prática
adestrada cios elementares exercícios cio ascetismo. Nos escritos de S.
I nácio se encontram indicações para a prática dessas duas vias, bem
como para, normalmente, antepor a prática demorada e segura da ascese
.à experimentação voluntária da mística. No presente livro, destinado a

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Revista Eclesiástica B rasilei ra, vol. 6, fase. 1 , m arço 1 946 229'

estim u l a r as mais altas aspi rações das almas piedosas, o Autor não es­
quece essa prudente verdade e logo n o prefácio adverte que " n i n guém
pode p retender u m a vida de alta espiritu ali dade, u m a vida de união com
Cristo, se primei ramente não se houver e xercitado generosamente n a vida
p u rgativa, n a expiação dos p róprios pecados e na extirpação dos próprios
vícios, e se com corajosa perseverança não se houver entregue à aqui­
sição das vi rtudes, na v i a i l u m i natória. Querer estabelecer a abóbada
desse templo consagrado a Deus, que é a nossa vida espiritua l , sem haver
l a n çado p reviamente u m fundamento sólido e constru ído u m edifício bem
feito, seria loucura evidente." (P. 8.) E l e supõe, por conseguinte, que
esse alicerce, que essas p aredes fundamentais já estej am prontas ; seu
p ropósito é apenas rematar a obra, - ensinar às a l mas a união com
Deus e a identificação com Cristo por meio da confiança.
A obra é encabeçada p o r u m a citação de p a l avras de S. Teresa do
Menino Jesus, e term i n a por u m capítulo em que se a n a l is a o exemplo
extraordinário de absoluta confiança em Deus q u e nos proporcionou essa
extrao rdinária santa. S u a su bstância principal, n o entanto, é tirada dos
ensinamentos e dos exemplos de Jesus, que o Autor denom i n a : "o Doutor
da Confiança". N o primeiro volu me, depois de defi n i r a n atu reza, as van­
tagens e as va riedades da confiança, dedica-se a perscrutar as maravilhas
dessa virtude que nos ensina, especial mente n a Cruz, n a Eucaristia, e n a
a l m a que o a m a . O segundo v o l u m e trata sucessivamente d o s efeitos d a
confiança em diversas circunstâncias da nossa v i d a espiritu a l : no sofri­
mento, n a desolação, n as noites místicas, nas tentações, nas quedas, n a ve­
rificação d a nossa i mpotência, n o trabalho ela n ossa santificação. D o i s
capítulos estudam a c o n f i a n ç a em M a r i a . O ú ltimo, como j á dissemos,
a n a l isa a confiança e m S. Teresa do Menino Jesus.
A obra não está escrita em estil o didático, mas em estilo afetivo ;
e não consta de l i ções, mas de meditações. P resta-se assim a ser absor­
vida d i a p o r dia, em pequenas doses, q u e serão depois lentamente rumi­
nadas. O q u e é o melhor modo para se a p render bem, sobretudo em
assuntos espirituais. P . ]. Gomes Faria.

Tercera Orden Franciscana, pelo Revmo. Pe. Frei A n t ô n i o 1 g 1 e s i a s,


O . F . M . - Ediciones P a x et Bonum, Buenos A i res, 1 944, 1 opúsculo,
1 25 X 1 75 mm, 60 págs.
O Autor deste livrinho é atualmente o representante n a América do
Sul do Min istro Geral d a O rdem Franciscana. Reside n o P e ru , convento
"Los Descalzos", em Lima. Escreve com frequência nas Revistas francis­
canas q u e se p u blicam naquele país. Tem-se dedicado com especialidade
a difundir entre os católicos u m a devoção de espírito acentuadamente
francisca n o : o exercício da " V i a Sacra", e uma associação de caráter es­
sencialmente franciscano : a Ordem Terceira da Penitênci a.
O p resente opúscu l o tem p o r f i m explicar sumàri amente aos que
ainda a não con hecem, em q u e consiste essa tradicional, u n iversal e ma­
ravilhosa O rdem Terceira Franciscana. Depois de referir a origem histó­
r ica, a finalidade religiosa e a posição ela Ordem Terceira n a I grej a, de
acordo com o D i reito Canônico, expõe o Autor em que consiste a Regra
da Ordem, que espírito infunde nos que a p rofessam, como estes se hão
de aperfeiçoar nesse espírito, e como o hão de aplicar fielmente e m
todos os atos da s u a vida, e m especial pelo silencioso e humilde " aposto­
lado do bom exemplo", pelo qual derramam em todos os meios sociais
em que penetram "a paz e o bem" concretizados n a lei evangélica do

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230 Apreciações

amor a Deus e ao próximo, segundo o ensinamento prático de Nosso


Senhor jesus Cristo. A Ordem Terceira Franciscana é uma escola de
perfeição cristã aberta a todos os católicos, acesslvel a todos os fiéis de
boa vontade. Não é um meio de diferenciação, mas sim um meio de inte­
gração total no catolicismo. Não constitui uma hoste à part�. mas um
fragmento apenas do grande exército da catolicidade. Não está fora, mas
dentro da Igrej a, bem no coração dela. Porque ser franciscano, mesmo
da Ordem Terceira, como bem mostra o Revmo. Pe. lglesias, não é mais
do que ser católico fervoroso, integral e firmemente arra igado. O opúsculo
é completado pela transcrição completa da Regra da Ordem Terceira,
por uma breve explanação da sua estrutura jurídica, e pelo arrolamento
e explicação das indulgências e privilégios concedidos pela I grej a aos
terciários. P. A. Oliveira.

A Pregação da Palavra de Deus, pelo Padre A n t ô n i o d ' 'A 1 m e i d a


M o r a e s J ú n i o r, do Instituto de Direito Social de S. Paulo e Pá­
roco de Guaratinguetá. Vol. XIV da coleção "Sal Teme, Lux Mundi" .
- Editora Vozes Ltda., Petrópolis, 1 945, 1 vol. broch. 1 1 5 X 1 75 mm,
67 págs. Cr $5,00.
Autor de várias obras que interessam ao sacerdote no exercício da
sua missão pastoral, como "Capital e Trabalho", "A Doutrina de Freud",
"A Eloquência dos Tempos Novos", " 0 Padre Santificado", o Rev. Pe.
Moraes jú nior condensou neste opúscu lo o que é indispensável saber
sobre a predicação religiosa. Não pretendeu ensinar novidades ; contentou­
se com reunir o que de mais incisivo grandes doutores escreveram sobre
o assunto ; e repartiu a matéria em alguns capltulos bem discriminados
e sagazmente orientados, consoante sua própria experiência e saber. A
provocar a admiração dos seus colegas, preferiu merecer-lhes a gratidão
pelo serviço prestado.
Depois de caracterizar o ofício da pregação, considera o Autor : a
obrigação de pregar, as qualidades requeridas no pregador (e que são,
a seu ver, missão legítima, doutrina sã, bondade de vida, e amor ) , alguns
axiomas para os pregado res, conselhos para o preparo da pregação, mé­
todo prático de preparar os sermões, palavras de S. Afonso de Ligório
a esse respeito, e conclusão. Destacamos de entre os capítu los deste li­
vrinho, como mais interessante, o capítu lo IV : "Alguns axiomas para
os pregadores" ; - como mais prestimoso, o capítulo VI : "Do modo mais
útil de preparar a pregação" ; - e como mais memorável a conclusão,
em que se transcrevem as palavras de Vieira : "A sabedoria divi na em
pessoa, descendo do céu à terra a ser mestre dos homens, a nova cadeira
que insti tuiu nessa grande universidade do mundo e a ciência que pro­
fessou foi só ensinar a ser santos e nenhuma outra . . . " Neste livro se
adverte que essa é a formidável missão do pregador sacro, e se ensina
com despretensiosa habilidade a exercê-Ia com fé no auxílio dAquele q u e
tudo pode. P. C. Mendes.

Padre Landlm. Traços Biográficos, por Monsenhor j o s é L a n d i m, Pro­


fessor do Seminário de S. Pedro e Pároco de Nossa Senhora da Apre­
sentação de Natal, Rio Grande do Norte. - Natal, 1 945, 1 vol. broch .,
1 35 X 1 80 mm, 1 42 págs.
E' um livro bem escrito, em linguagem singela e clara, narrando a
vida pacífica e sem acidentes do Padre Euclides Landim, irmão do Autor.
Nas breves palavras do prólogo estão indicados o alcance, o significado

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Revista Eclesiástica B rasileira, vol. 6, fase. 1 , m a rç o 1 946 23 1

e os ·limite s desta obra. "Para a família e para os a m i gos do P a d re


L a n d i m este livro pode despertar interesse. E' bom recordar 0 q u e se
sabe acerca d o s q u e viveram a o nosso lado . . . [Mas ] q u e valor para
os estranho s podem ter estas páginas? Tudo a q u i é vulgar. N ada h á de
extraord i n á ri o . . . [ En t retanto ] podem o s estranhos descobrir u m exem­
p l o que os edifique, uma lição q u e os instrua, dentro destas páginas des­
pretensiosas que narram uma vida trivial e comum. E só assim este l ivro
terá valor para o s que, não tendo con hecido e m vida ao P adre L a n d i m
t e r ã o nestas p á g i n a s a e f í g i e ele seus méritos e de seu a m o r à re ligiã �
d e q u e foi digno Ministro, e à pátria de q u e f o i a rdo roso filho." Aos
sacerdotes agradará esta obra, co m o registo ela história ele u m de seus
p ares, e co mo atestado d a existência, quase sempre desconhecida, d e uma
dessas almas retas, p u ras e operosas q u e fazem pa rte do exército i n u me­
rável, embora dispers o e obscuro, dos soldados de Cristo. P. C. Nunes.

Cem Páginas de Santo Agostinho. Seleção e Prefácio d o Pe. M o r e i r a


d a s N e v e s. - Livrar i a Bertrand, Lisboa, 1 945, 1 vol. broch. , 1 20 X
1 90 m m , X X X I I + t oo págs.
E m breve prefácio o P e . Moreira das N eves resum e a biografia d o
g r a n d e B ispo de H ip o n a , m o s t r a a analogia e l o s e u t e m p o c o m o nosso,
i ndica a e l evação de pensamento do possante e operoso Doutor da I g rej a
e e n u mera-lhe as o b ras. Seguem-se as c e m p á g i n as de excerptos, esco­
l hidos e traduzidos de vários escritos do extraord i n á r i o S a nto. Embora
encontrem-se a l i m u itos pensamentos i nteressantes, l u m inosos ou profun­
dos, e sej a sempre ú t i l difundir o conhecime nto das obras d e u m dos
m a i s fecundos e vivos escritores da antiga I grej a , n ã o é possível d e i x a r
de sentir a desproporção q u e há entre e s t a exígua a m ostra e a formidável
qua ntidade dos escritos do Santo c a rtaginês. Como, n o enta nto, asseve ra
o prolóquio p o p u l a r que "pelo dedo s e conhece o gigante" , acreditemos
que p o r essa breve amostra possa reconhecer o leitor o merecimento ex­
traord i n á r i o - literário, f i l osófico e teológico - das obras ele S . A gos­
tinho, ou que, pelo m e nos, s i n t a o desej o de lê-las e a p reciá-las mais de
espaço. P. M . Pereira .

Cem Páginas de Hello. Tradução e Prefácio de T o m á s d e O �. m b o a .


- Livraria Bertrand, Lisboa, 1 945, 1 v o l . broch . , 1 20 X 1 90 m m , X V 1 +
1 03 págs.
Ernesto Hello foi um homem d e precária saúde física e de i n tenso
vigor i ntelectual. Morreu a 14 ele j u l h o d e 1 885, c o m 57 a nos de idade.
V i veu q uase sempre doente. P o r gosto e esti l o l iterá r i o , e r a romântico,
hugoano. P o r vocação mental e ra f i l ósofo, metafísico, teólogo, m ístico.
E m religião, católico. P assou a maior p a rte da s u a existê n c i a n a Bretanha,
quase sem relações c o m o s j o rn a i s e os escritores de Paris, dispensadores
da fama, naquela época. P o r isso tudo seu n o m e e r a q uase desconhecido
quando m orreu, e m 1 885, c o m 57 a n o s de idade, apesar de haver publi­
cado vários l ivros. O tempo, contudo, modificando os gostos d o públ ico,
e pondo e m moda a reprodução de obras do século passado, ofereceu a
H el l o ocasião de se tornar conhecido. Reeditaram-se e traduzi ram-se vá­
rios de seus livros, que são j u stamente apreciados, em especial nos
meios cató l i c os.
O seu modo d e pensar, mais i n tuitivo d o q u e lógico, o seu modo de
escrever, mais aforístico e metafórico d o que discursivo, o seu modo de
compor mais pela j u nção de f ragmentos soltos d o q u e pela coordenação

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232 Apreciações

de uma obra orgamca, o seu estilo de centelhas, prestam-se - melhor


do que os de S. Agostinho ou Batmes, por exemplo, que também figu ram
nesta coleção - ao propósito dos editores destas breves antologias de
grandes escritores católicos. Os pensamentos aí reu n idos no capítulo fi­
nal, assim como os trechos sobre "os princípios" , "gênio e talento", "ca­
ridade intelectual", "negação", "Rusbrock" , ou "horas de crise" são ca­
racterísticos de H ello. Nos seus l ivros o que se encontra é o que está
nessas cem páginas escolhidas. Com mais extensão, com maior variedade,
porventura, mas não com maior profundeza, nem com outra orientação.
Quem ter este livrinho, pode formar idéia adequada do que foi Hello como
escritor e como pensador. A revisão nem sempre foi satisfatória. A pág.
32, por exemplo, está duas vezes a palavra "grão'' , onde se deveria ler a
palavra "pão". P. M. Pereira.

Cem Páginas d e Batmes. Seleção e Prefácio de J. S. d a S i 1 v a D i a s.


- Livraria Bertrand, Lisboa, 1 945, 1 vol. broch., 1 20 X 1 90 mm,
XV I I I + 1 04 págs.
No dizer unânime dos entendidos, D. Jaime Luciano Balmes foi o
maior fi lósofo espanhol do século X I X. Ao contrário, porém, de S. Agos­
ti nho, de Hello, de Papini - que figu ram também nesta coleção - não
foi um a rtista da palavra. Escreveu com clar<:: z a, com vigor, com pene­
tração, mas sem beleza de estilo, e, às vezes, com evidente i n atenção li­
terária. Todavia, o que assim escreveu merece leitu ra e meditação, por­
que exprime, o que é raro em nossos tempos, o pensamento de u m es­
pírito sincero, de largo descortino, mu ito bem aparelhado e disciplinado,
senhor dos elementos da filosofia e capaz de ordená-los em uma síntese
complexa, lumi nosa e viva. O " Critério", a "Fi losofia Fundamental", e "O
Protestantismo Compa rado com o Catolicismo", são as obras mestras ele
Balmes. De todas se encontram excerptos nestas "Páginas", as quais po­
dem servir iltilmente de i ntrodução ou incentivo ao conheci mento mais
íntegro dos meritórios livros do vigoroso fi lósofo católico.
P. M. Pereira.

The Nationat Catholic Almanac, compiled by the Franciscan Clerics of


.
the Ho ty N ame College, Washington, D . C . , Publ ished with ecclesiastica l
approbation by St. Anthony's Guild, Paterson, N . ] . , 1 946, 1 vol.,
1 32 x 1 97 mm, 800 págs.
Este almanaque, já mu ito conhecido nos Estados Unidos e que com­
pleta este ano o seu quadragésimo an iversário, constitui uma substan­
ciosa enciclopédia católica. A lém das i nformações e curiosidades que se
encontram geralmente nas almanaques, ele apresenta na maior parte de
suas 800 compactas páginas dados importantes sobre o Santo Padre,
sobre o Colégio dos Cardeais, sobre as Congregações Romanas, sobre
a organização da I grej a e sobre toda a H ierarqu ia Eclesiástica. Vários
dicionários, listas e repertórios alfabéticos referentes a vários ramos do
catolicismo facilitam a eluci dação de questões, nomes ou aconteci mentos
especiais. Secções são dedicadas a assu ntos polfticos, l iterários, científi­
cos, históricos, sociológicos, econômicos, financistas, sempre do ponto
de vista católico. Liturgia, catequética, moral, dogmática e outros as­
pectos cio ensin amento católico são especialmente considerados. Uma
feição i nteressante deste almanaque é a catalogação cronológica dos prin­
cipais acontecimentos do ano anterior, referentes ao catolicismo, em todo
o mundo. Os acontecimentos de 1 945 ocupam neste exemplar mais de cem

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Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 233

páginas de duas colunas : páginas 673 a 784. Outra condensação muito


valiosa que se encontra de págs. 649 a 660 deste tomo, é a da história
da segunda guerra mundial, que durou de setembro de 1 939 a novembro
de 1 944. Este ano encontramos uma referência especial ao centenário,
que agora se completa, a 1 3 de maio, da proclamação pelo Sexto Concilio
P rovincial, reu nido em Baltimore, de Maria I maculada como Padroeira
da I grej a Católica dos Estados U n i dos. E para mostrar como os Revs.
Padres Franciscanos que editam este A l manaque o conservam escrupu lo­
samente em dia, basta observar que à pág. 75 desta edição já se en­
contra a lista dos Cardeais nomeados por S . S . Pio X I I em dezembro
de 1 945 e que acabam de tomar posse de seus cargos. P. R. Monteiro .

Castelo Interior ou Moradas, por S. T e r e s a d e J e s u s. - Tomo I V


d a s "Obras de S. Teresa de jesus", traduzido pelas Carmeli tas Des­
calças do Convento de S. Teresa do Rio de janeiro. - Editora V ozes
Ltda. , Petrópolis, R . j . , 1 945, 236 págs. Cr $20,00. Enc. Cr $25,00.
Disse o saudoso Cardeal Leme : " H oj e, mais do que nu nca, parece-me
proveitosa, necessária quase, a leitura das Obras d a grande Doutora do
Carmelo." E vão aparecendo um após outro os volumes, em excelente
tradução. Temos o prazer de anunciar aqui o aparecimento do IV vo­
lume, conforme indica a epígrafe. Sobre o empreendimento assim se
expressa o Hevmo. Pe. Si lvério, o sábio autor da Edição crítica das obras
de Santa Teresa de jesus : " . . . Vemos com complacênci a esta obra e
a i n d a mais nos comprazemos de que levem a feliz termo nossas I rmãs
de hábito no B rasil. Sempre havíamos lamentado de que nosso povo
i rmão, onde se conheceu a obra reformadora de Santa Teresa como na
Espan h a e onde floresceu em outros tempos a Descalcez Teresiana,
assi m de monjas como de religiosos, não só na Metrópole, senão nos seus
a ntigos domínios, não houvesse realizado maiores trabalhos para verter
em português obras de reputação u niversal. Neste ponto a l iteratura por­
tuguesa estava muito aquém da i nglesa, francesa, alemã e italiana. H oj e
fica libertada deste olvido o u atraso com a nova tradução q u e faz o
Brasil, conformando-se n i sto com todos os povos cu ltos, q u e contam a
Santa entre os escritores mais insignes que hon ram a h u m a n i dade. P o r
outra pa rte, a literatura mística e ascética é deficiente quando nela não
se encontra a autora das Moradas . . . " E' este j u stamente o volume
citado que agora sai à luz da publicidade. Que tenha, pois, ampla di­
vulgação ! C. de A .

Pio Décimo ( L' Anima d e Pio Décimo ) , pelo Bispo D . Frei V i t o r i n o


F a c c h i n e t t i , 0 . F . M . Tradução vernácu la de L . B . 0 . - 2." edi­
ção. 4 1 4 págs. Ed itora V ozes Ltda., Petrópolis, R . j . , 1 945. Broch.
Cr $28,00.
" Não se trata de um estudo biográfico, feito com os habituais métodos
cronológicos, da vida e dos empreendimentos do grande Pontífice, que
o povo venera e ama, e a I grej a se prepara para glorificar com hon ras
o f iciais. O meu i ntento ao escrever estas páginas é outro : retratar a alma
do caro Pontífice, analisando as várias atitudes do seu espírito e reu nindo
as m ú ltiplas manifestações sob determinados pontos de vista. Ou, com
a idéia de que talvez isto mais vos agradasse, esforcei-me por resu m i r
e m 1 2 q u adros, q u e eu queria que fossem verdadeiramente luminosos, as
mais fltlgidas i rradiações deste Sacerdote, deste Pai, deste Apóstolo que
a Providência do Senhor tirou da sombra da sua modesta origem, para

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234 Apreciações

colocar sobre o mais augusto trono da terra e sobre o mais alto fastígio
do mundo, escolhendo-o para Vigário de Cristo e sucessor de São Pedro.
E foi então, mais do que nunca, que o Papa Sarto, elevado a Mestre in­
falível dos indivíduos e dos povos, se manifestou como perfeito exemplar
de toda e qualquer virtude evangélica, e particularmente de uma fé
viva, luminosa e operosa. A sua morte de holocausto e sacrifício não foi
senão o princípio de uma nova vida, mesmo no parecer do povo cristão,
que envolveu o túmulo do Herói de um culto espontâneo de veneração e
amor. Procurar as razões do fenômeno é o fim principal deste meu es­
tudo. Este volume é destinado a todos os devotos, e a todos que simpatizam
'
com o amado Pontífice. Posso, portanto, afirmar que, quanto foi dito
nestas páginas, pode resistir a qualquer crítica, apesar de não ter que­
rido encher de referências ou de notas marginais de fácil erudição.
Além disso, devo declarar que os devotos do caro Pontífice aqui en­
contrarão não poucos episódios absolutamente inéditos, mas certamente
verdadeiros ; enquanto outros, repetidos em tantos livros e opúsculos
serão aqu i rej eitados, porque, pela crítica, se vê que foram inventados
por completo, ou ao menos não foram referidos na sua justa versão, mas
alterados por fantásticas invenções." (Do prefácio.) F. V. F.

O Ex-Bispo de Maura e o Bom Senso, pelo Padre F 1 o r ê n c i o D u b o i s


( Barnabita ) . - Editora Vozes Ltda., Petrópolis, R . J . , 1 945, Broch., 96
págs. Cr $7 ,00.
Em capítu los breves e i ncisivos, escri tos com a viveza e a lógica
que tanto caracterizam o renomado autor barnabita, está focalizado
nestas páginas o "caso" do triste "Luterozinho". Ficam assim os católicos
brasileiros orientados sobre o assunto para poderem responder com acer­
to aos néscios que os importu narem com suas insin uações ridícu li'l. E'
este o sumário do bem elaborado volumezinho : 1 . O ex-bispo de Maura .
2. Contra o erro e não contra o errante. 3. Presunção. 4. Igrej a B r a ­
sileira. 5. Católico Nacional. 6. O Papa fascista? 7. O fascismo d e D .
Carlos. 8. Contra o Papa. 9. Contra o Núncio. 1 0. Contra o suce,,sor.
1 1 . Contra o clero. 1 2. Ainda contra os pad res. 1 3. Contra o celibn to.
1 4. Contra o laço indissolúvel. 1 5. Contra o latim. 1 6. Contra a sorte.
1 7. As jóias do programa. 1 8. Contra a paz. 1 9. D. Carlos cont r:i D.
Carlos. f. D.

O Sacerdócio do Fiel na Santa Missa, pelo Pe. J u d e a u x, S. J. Tradu­


ção autorizada do Pe. M a t i a s N i j s t e r s, M . S . C . - 1 vol. 6fl
págs. 2.• edição. Editora Vozes Ltda., Petrópolis, R . J . , 1 945, Broch.
Cr $5,00.
Este precioso livrinho se dirige aos cristãos que precisam lembrar­
se do papel da santa missa na religião, e mais ainda do seu próprio papel
na santa missa. Estas páginas se destinam a todos aqueles que não
compreendem bastante até que ponto a santa missa deve ser o ato
princi p al da sua vida religiosa, que não assistem a ela senão quando
estritamente obrigados e acabam por assistir a ela como espectadores
embotados e às vezes impacientes diante de um ato litúrgico, cuj o sim­
bolismo não compreendem, cuja eficácia esquecem e ao qual, aliás, se
consideram estranhos. Que interesse pode despertar no fiel uma função
sacerdotal, onde só o padre exerce um papel? Este l ivrinho, porém, tem
o escopo de contribu ir para reavivar a fé, lembrando aos fiéis a i ro-

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Rev i sta Ecles iá st i ca B rasileira, vol. 6, fase. 1 , março 1 946 235

portância e o papel da santa m i ssa na rel i g i ão, e mais princ ipalme nte
a importânc i a do seu próprio papel na m i ssa. e. de A .

Recolhimento, por D . Frei H e n r i q u e O o 1 1 a n d T r i n d a d e , O . F. M.,


Bispo de Bonfim. - 1 vol. 224 págs. Editora Vozes Ltda., Petrópul is,
R . ] . , 1 945. Broch. Cr $ 1 2,00.
"Para que haj a verdadeira ação - diz o renomado a utor e Bispo
i ncansável - necessá rio é que ela se desenvolva e forme na verdadeira
contemplação. Para que a exterio rização seja proffcua, é preciso que
ela parta de uma i nteriorização muito séria. Para que a construção
não ru a vergonhosamente, é prec i so que a sustente o recolhimento do
al i cerce escondido. Recolh i mento não é fraqueza, é força . . . Ele é que
constró i esses ambientes maravilhosos de bondade, de força e de beleza,
onde as al mas se dilatam e se transformam, revestindo-se de claridades
novas." Sobre esta base D. Henr i que f i rma o precioso livro que oferece
aos leito res católicos. E' uma série de proveitosas leitu ras ascéticas de
4 a 5 pág i nas cada uma, tratando do recolhimento divino, do eucarís­
tico, do litíi rgico, do recolhimento ela natu reza, cio recolhimento no lar,
no claustro, no presbitér i o, etc. ; ao todo 1 8 capítulos. E tudo vazado
no carinhoso estilo que caracteriza o autor, tornando-o a admi ração de
todos. C. de A .

Formação do Caráter, pelo Padre N i v a 1 d o M o n t e . - 230 págs., Edi­


tora V ozes Ltda., Petrópolis, R . ] . , 1 945. Broch. Cr $ 1 4,00.
E' da mocidade que temos de cuidar, se qu isermos preparar dias me­
lhores para o mundo de amanhã. Isto é verdade sabida, mas, i nfelizmente,
pouco atendida. E daí as tristes consequências que notamos n a vida so­
c i al. A obra em epígrafe tem por final idade contribu ir para leyar a moci­
dade ao seu glorioso destino, preparando-lhe uma o rientação sad i a e
c ristã e plasmando-lhe o caráter nos ditames da fé íi n ica e verdadeira. O
autor, com o carinho e a competência que transluz das páginas deste pro­
ve i toso livro, que ora aparece no mercado literário, focalizou com viveza
o magno assu nto. D iz com j usteza o Revmo. Pe. Francisco N . G u rgel,
ao apresentar a obra, n a quali dade de censor diocesano : "O livro do Sr.
Padre N ivaldo Monte constitui literatura de primeira ordem, no que con­
cerne à formação das almas novas. Tem ele o condão de escrever com
simpl i cidade e tocar a alma da mocidade e o faz com uma elegâ ncia de
est i lo opulento e colorido, que agrada e sob remaneira edifica. Fala de
coração para coração. Formado n a escol a do Cônego Luís Monte, o con­
fidente que lhe foi i rmão e amigo, suas páginas são, em verdade, um
rico presente que, lembrando Tihamer Toth, o plasmador de caracteres
novos da H u ngria, vão ter a melhor aceitação por pa rte da mocidade
glor i osa de nossa terra, - por que não dizê-lo? - de todo Brasil.
Alegra-me declarar em tempo a perfeita consonância com a doutrina e
pedagogia da I grej a, cons i gnando aqu i a admi ração profu nda a que fa­
zem jus as reais qual i dades do autor." j. D.

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236 Bibliografia

B I B LIOGRAFIA
Esta secção regi stra a literatura, nas diversas Unguas, das ciências teológicas e
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Redator : Frei Thomaz B orgmeier, O. F. M . , Convento dos Franc isca nos,


Petrópolis, R. ] .

Diretor resp o nsáve l : Frei J o ã o d e Castro Abreu Magalhães, O . F. M .


C U M A P P R O B A T I O N E E C C L E S I A S T I C A
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Montréal, 1939. 126 pp. 1940, 181 PP . Br . Cr $18,00
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l'll:glise à la vie paroissiale. Mont­ - Retraite de huit j ours pour les
réal, 1942. 247 pp. Broch. Cr$ 18,00 Religteuses, 180 pp . Br . Cr $18,00
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Doce meditaciones en forma de bém eu ser p erfeito? Coleção Vo­
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Br . Cr $12,00 réal 1940, 1 1 1 pp. Br. Cr $18,00
Madaria, S. Jocano y, El espiritu de -- Comment Bien Prier. 154 pp.
S . Francisco de Sales, B. Aires Br. Cr$ 18,00
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Jesus. Põrto. 293 pp. - Meditac iones para Religios as Y
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Montréal . 240 pp . Br . Cr $25,00 - Maria em nossa História Divina .
Mortler, O. P., Antonln, De la j oie Trad. de Iná cio Martin s. União
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Sainte Thérêse de l'enfant Jésus. Br. Cr$ 15,00
Montréal, 1939. 120 pp. - Viver com Deus. União Gráfica ,
Broch. Cr$ 15,00 Lisboa, 2 ." ed. 1943 . 184 pp.

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Broch. Cr$ 35,00 o que nos dá. Pôrto. 80 pp.
Rodríguez, A . , S. J . , Ejercfcio de Broch. Cr $4,00
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Voie d'Amour . Montréal . 325 pp . Thibaut, R . , L'union à Dieu, Mont­
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catholique, Montréal 1944, 2 vols . práticas, Pôrto 1939, 2 vols . 644-
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de l'Elite cachéé. Montréal . Nonni. Trad. de Raul Machado.
Br . Cr $18,00 Livraria Apostolado da Imprensa,
Soeur de Ia Provldence, La Foi en Pôrto, 1945. 2 .a ed. 319 pp.
l'Amour de Dieu . Montréal . Br. Cr$ 15,00
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REVISTA BtBLICA
com Secção Litúrgica e Homilias para os domingos e festas
Diretor : Mons. Dr. J uan Straubinger, P rof . de Sa g r . Escritura no Seminário
de La Plata. órgão bimestral i lustrado, ú nico · e m seu gênero
na A mérica do Sul
A Revista tem por objeto : Fomentar a compreensão das Sa gra das
Escri turas ; promover os estudos exegéticos ; orientar para Cristo mediante
sua Palavra e a Lit u r gia da Igreja.
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Brasil - Cr $ 20,00 ; Colômbia - $ c o l . 2 ; Chile - $ c h i l . 25 ; Equador
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PARAGU A I : Professor O. Tabor, Méj ico 473, Assunción. - PERU : R. P.


J uan Le ugering, calle Marco n i , 1 80, Lima, Orrantia. - URUGUA I : Apos­
t o l a d o Litúrgico, Paisa n dú, 759, Montevfdéo.

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JOACHIM NABUCO
Sure Sanctitatis Prrelatus Domesticus

PONTIFICALIS ROMANI
EXPOSITIO JURIDICO-PRACTICA

Functiones Pontificales Extraordinarire


TOMU S 1. DE PERSONIS ( 5 1 1 pp. )
Prolegomena ad Romanum Pontificale
Sectio 1 . De Confi rmatione
Sectio l i . De Ordinibus Conferend i s
Sectio I I I . De Episcoporu m Consec ratione
Sectio I V . De Sacro Pallio
Sectio V . De Abbatum Benedictione
Sectio VI. De A bbatissre Benedictione
Sectio V I I . De Benedictione et Consecratione V i rginum'

TOMUS li. DE REBUS ( 328 pp. )


Sectio 1. De Benedictione et J mpositione Primarii Lapidis pro Ecclesia
fEdificanda
Sectio li. De Ecclesiarum et Altarium Consecratione
Sectio Ili. De Altarium Po rtatilium Consecratione
Sectio IV. De Solemni Cremeteriorum Benedictione
Sectio V. De Ecclesiarum seu Cremeterioru m Reconci l i atione
Sectio VI. D e Campanarum Consecratione
Sectio V I I . D e Sacra Supellecti l i Consecranda seu Benedicenda
Sectio V I I I . De Sacris l maginibus H onorandis
Sectio IX. Ritus Minores D iversi

TOMUS Ili. ORDINES SERVANDI. APPENDICES ( 45 1 pp. )


Sectio 1 . De Sacrorum Oleorum Benedictione
Sectio li. D e Conciliis Plenariis vel Provincialibus Celebrandis
Sectio I I I . D e Synodo Direcesan a Celebranda
Sectio I V . Ordo ad Visitandas Parrecias
Sectio V. D e Prrelatorum sive Leg_atorum Receptionibus
Sectio VI. De Sacramentis Ritualis Romani Ritu Pontificali Admin istrandis
Sectio VII. D e Benedictionibus Ritualis Romani Ritu Pontificali Admi­
nistrandis
Sectio V I I I . Functiones Pontificales q ure i n Pontificali sive Rituali De­
siderantu r

Pretium totius operis : Cr $240,00 ($1 2.00 U. S . )


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E O BOM SENSO
(VOL. V DA BIBLIOTECA APOLOGÉTICA)

S u m á r i o : 1. O ex-bispo de Maura. II. Contra o êrro e não contra o er­


rante. III. Presunção. IV. Igreja Brasileira. V. Católico Nacional. VI. O
Papa fascista? VII. O fascismo de D. Carlos. VIII. Contra o Papa. IX. Con­
tra o Núncio. X. Contra o sucessor. XI. Contra o clero. XII. Ainda con­
tra os padres. XIII. Contra o celibato. XIV. Contra o laço indissolúvel.
XV. Contra o latim. XVI. Contra a sorte. XVII. As jóias do programa.
XVIII. Contra a ·p az. XIX. D. Carlos contra D. Carlos.

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Publicação Periódica de Liturgia e Ciências Auxiliares
dirigida pelos R. P. Beneditinos de Buenos Aires
Diretor : R. P. André Azcárate O. S. B .
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Advento (fim de novembro ) . Quem assina depois dessa época
receberá os números atrasados.
2.º - Para a remessa de colaboração assim como para assi naturas
novas, renovação das mesmas, pedido de exemplares, dirigir a
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Obra de suma importância neste momento.

Ajuda a preparar as bases seguras da paz mundial.

Sua leitura não somente se impõe aos católicos, mas

a todos os publicistas, juristas e internacionalistas,

qualquer que sej a o credo que professem.

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