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Entrevista / Interview

Dos desafios para a psicologia histórico-cultural à


reflexão sobre a pesquisa nas ciências humanas:
entrevista com Pablo del Río

Teresa Cristina RegoI


Elizabeth dos Santos BragaI

Resumo

O texto apresenta reflexões instigantes de Pablo del Río Pereda,


renomado professor espanhol da Faculdade de Humanidades,
Comunicação e Documentação da Universidade Carlos III de Madri,
editor e revisor (em conjunto com Amelia Álvarez) da Coleção
Obras Escogidas, de Lev Semienovitch Vigotski, e presidente da
Fundación Infancia y Aprendizaje (FIA). Considerado um dos
principais responsáveis pela divulgação dos trabalhos de Vigotski
no mundo ocidental, Pablo del Río é muito respeitado no cenário
acadêmico internacional pelo fato de ser um profundo conhecedor
e intérprete da chamada psicologia histórico-cultural. Nessa
linha, tem desenvolvido e coordenado importantes projetos de
investigação em diversas universidades e instituições, como a
Universidade Complutense de Madri (Grupo GOMEL), a Universidade
de Salamanca (Centro Tecnológico de Diseño Cultural) e a própria
Fundación Infancia y Aprendizaje. Atualmente dirige o Laboratorio
de Investigación Cultural (LIC) e o Master Oficial Universitario en
Investigación Aplicada a Medios de Comunicación. A entrevista foi
realizada em agosto de 2012. Por um lado, o relato de Pablo del Río
expressa a solidez de sua formação, sua erudição e sua experiência
como investigador da psicologia; por outro, revela o perfil de um
intelectual inquieto e crítico, capaz de analisar com rigor e abertura
as vicissitudes de nosso tempo. Assim, as reflexões apresentadas
oferecem ricos subsídios para o debate acerca dos desafios atuais da
psicologia e das ciências humanas de modo geral.

Palavras-chave

Psicologia histórico-cultural – Vigotski – Ortodoxia marxista – Ciência


e produção de conhecimento na contemporaneidade – Neurogênese.
I- Universidade de São Paulo,
São Paulo, SP, Brasil.
Contatos: teresare@usp.br;
elizabeth.braga@usp.br

Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 2, p. 509-540, abr./jun. 2013. 511


Challenges to the historical-cultural psychology to
reflect on the research in the humanities: Interview with
Pablo del Río

Teresa Cristina RegoI


Elizabeth dos Santos BragaI

Abstract

The text presents compelling reflections of Pablo del Río Pereda,


a renowned Spanish professor of Facultad de Humanidades,
Comunicación y Documentación de la Universidad Carlos III de
Madri, editor and reviewer (along with Amelia Álvarez) of the
Collection Obras Escogidas by Lev Vygotsky Semienovitch, and
president of Fundación Infancia y Aprendizaje (FIA). Considered
one of the main scholars responsible for the dissemination of
Vygotsky’s work in the Western world, Pablo del Río is highly
respected in the international academic scene as an expert and
interpreter of the so-called cultural-historical psychology. Along
this line, he has developed and coordinated major research
projects at various universities and institutions, such as
Universidad Complutense de Madri (Grupo GOMEL), Universidad
de Salamanca (Centro Tecnológico de Diseño Cultural) and
Fundación Infancia y Aprendizaje itself. He directs Laboratorio
de Investigación Cultural (LIC) and Master Oficial Universitario en
Investigación Aplicada a Medios de Comunicación. The interview
was conducted in August 2012. On the one hand, Pablo del Río’s
account expresses his solid training, erudition and experience as a
psychology researcher. On the other hand, it reveals the profile of
a restless intellectual and critic, who is able to analyze with rigor
and openness the vicissitudes of our time. Thus, the reflections
presented here offer rich resources for the debate on the current
challenges for psychology and the humanities in general.

Keywords

Cultural-historical psychology – Vygotsky – Marxist orthodoxy – Science


and knowledge production in contemporaneity – Neurogenesis.

I- Universidade de São Paulo, São Paulo,


SP, Brazil.
Contacts: teresare@usp.br;
elizabeth.braga@usp.br

512 Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 2, p. 509-540, abr./jun. 2013.


Apresentação companheira de vida, estudo e trabalho – e com
outros notáveis colegas, publicando revistas
científicas, livros e ferramentas de diagnóstico e
reeducação, e iniciando um núcleo de investiga-
ção do desenvolvimento cultural (CIEDH: Centro
de Investigaciones sobre Educación y Desarrollo
Humano). Em 1993, a iniciativa transformou-
-se na Fundación Infancia y Aprendizaje (FIA),1
instituição responsável pela publicação de vá-
rios periódicos – como Infancia y Aprendizaje
e Cultura y Educación – e de importantes obras
de autores clássicos e contemporâneos. Essa fun-
dação, da qual Del Río é presidente, desenvolve
ações de investigação, produção e publicação
de conhecimento científico sobre o desenvolvi-
Nascido em 1944, na Espanha, Pablo del Río mento humano, com ênfase na cultura, na psi-
Pereda é professor da Faculdade de Humanidades, cologia e na educação. Atua, ainda, na formação
Comunicação e Documentação da Universidade profissional e universitária, na organização de
Carlos III de Madri desde 1995. Antes, lecionou congressos e seminários, bem como no apoio a
na Universidade de Salamanca, de 1993 a 1995, e sociedades científicas. Na FIA, ele mantém um
na Universidade Complutense de Madri, de 1976 programa denominado Futuros Humanos, que
a 1993. Nessa última, formou-se em Filosofia, se dedica à investigação sobre as mudanças do
Comunicação e Psicologia em 1976 e doutorou-se desenvolvimento infantil e humano nos contex-
em Psicologia em 1987. Leciona na graduação e tos culturais em transformação e sobre os novos
na pós-graduação em várias disciplinas relacio- problemas que acompanham essas mudanças.
nadas a comunicação, educação e psicologia, no O pesquisador foi um dos fundadores da
território interdisciplinar da psicologia cultural do Society for Sociocultural Research, organização
desenvolvimento humano. responsável pela divulgação e pela ampliação
Um dos principais estudiosos e divulga- dos estudos na perspectiva histórico-cultural,
dores da perspectiva histórico-cultural em psi- tendo atuado como membro da comissão or-
cologia, ele foi editor e revisor (juntamente com ganizadora dos congressos realizados em Madri
Amelia Álvarez) da Coleção Obras Escogidas, (1992), Genebra (1996) e Campinas (2000).
de Lev Semienovitch Vigotski, publicação que Posteriormente, tal organização fundiu-se à
garantiu a muitos pesquisadores latino-ameri- International Society for Cultural Research and
canos o contato com obras do autor traduzi- Activity Theory (ISCRAT), mais ligada às bases
das do russo para o espanhol. Seu empenho na epistemológicas e metodológicas da Teoria da
divulgação do pensamento científico histórico- Atividade, dando origem à International Society
-cultural vem de longa data e foi impulsionado, for Cultural and Activity Research (ISCAR).
de certo modo, por restrições e problemas exis- Ao longo dos anos dedicados à pesquisa,
tentes no contexto da pós-ditadura franquista, ele coordenou inúmeros projetos de investiga-
quando ele ainda era estudante de graduação. ção, cujos propósitos sempre estiveram pautados
Pablo del Río tem também um trabalho de nos seguintes objetivos: 1)��������������������
compreender a gêne-
destaque no campo editorial mais amplo, sendo se biocultural da mente humana; 2) perceber e
reconhecido no contexto europeu e norte-ame- ressaltar (pôr em evidência empírica e teórica) as
ricano. Em 1976, criou o grupo Aprendizaje, 1- O endereço eletrônico da Fundación Infancia y Aprendizaje é
mais uma vez junto com Amelia Álvarez – sua <http://www.fia.es>.

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mudanças evolutivas no fato humano que ocor- como um todo e pela busca do humano tanto
rem hoje e sua projeção para o futuro perante a no âmbito biológico, quanto no âmbito social.
ação científica e a influência de contextos e mar- Além disso, segundo o próprio autor, a orien-
cos de desenvolvimento evolutivo de crianças e tação de Zazzo levou-o a considerar desde os
jovens, a transformação (deterioração, dissolução problemas gerais do diagnóstico do desenvol-
e, às vezes, preservação) das culturas tradicionais vimento humano até a singularidade das pes-
e do tecido neuropsicológico externo, bem co- soas. Já sua vinculação com a escola históri-
mo a aparição de novas ecologias (físicas e do co-cultural foi sobretudo virtual e se deu por
imaginário) com a mudança dos entornos huma- meio de leituras, as quais tiveram início pela
nos; 3) compreender a arquitetura psíquica dis- obra de Luria. Simultaneamente, seu grupo leu
tribuída (interna-externa) das funções superiores e, em alguns casos, editou obras dos estudiosos
e desenvolver meios para seu diagnóstico (eco- soviéticos Luria, Leontiev, Elkonin, Galperin,
neuropsicologia) e para sua melhor construção Davidov, Zaporozhets e, principalmente, do
(desenho cultural e desenho educativo cultural).2 próprio Vigotski. Mais tarde, ele teve influência
A importância de tais projetos para os problemas da obra de autores como Heinz von Föerster,4
que se apresentam atualmente nos campos da Von Uexküll5 e Miguel de Unamuno.6 Faz ainda
psicologia e da educação pode ser sentida pelas referência a estudiosos inseridos na tradição da
temáticas abordadas, tais como: a dieta audio- teoria do drama e da emoção, como Calderón de
visual e seu papel na construção da realidade e la Barca7 e os místicos espanhóis.
do imáginário; a importância dos contextos de Sua identificação com o grande pensador
desenvolvimento e das atividades infantis para a e pesquisador russo, bem como sua trajetória
construção da atenção; os efeitos da dieta televi- profissional e acadêmica, levou-o a analisar a
siva sobre o desenvolvimento infantil e juvenil, obra de Vigotski em profundidade, além de con-
especialmente em relação a problemas de aten- tribuir para sua divulgação. Em vários de seus
ção; os meios de comunicação e a construção textos e na entrevista a seguir, ele examina a
de identidades culturais. Sua preocupação não é natureza inquietante de tal produção: destaca
apenas detectar problemas causados pelas con- um Vigotski mais ligado à arte – especialmente
dições atuais de produção, uso e recepção dos à poesia, à literatura, ao teatro – e um Vigotski
meios de comunicação, mas propor, nesse mes- mais racional, cientista. Nesse sentido, utiliza a
mo ambiente, um desenho estratégico de alter- metáfora platônica dos dois cavalos, um branco
nativas (DEL RÍO; ÁLVAREZ; DEL RÍO, 2004). e um negro, que convivem conflituosamente na
Segundo o autor, as direções e os objetivos das psicotecnia do intelecto e na psicotecnia do sen-
investigações, muitas delas em equipe, têm pas- timento, unindo-se na medida da possibilidade
sado por muitas dificuldades de financiamento, de sua breve vida na ideia do drama como mo-
mas os pesquisadores prosseguem com trabalhos delo geral da mente (ÁLVAREZ; DEL RÍO, 2007).
próprios e com orientações de teses de doutorado Ainda, Del Río descortina um Vigotski existen-
e demais pesquisas de alunos. cial, histórico e cultural, condenado à psicologia
Questionado sobre os autores e as es- 4 - Cientista austríaco-americano (1911-2002) cujos trabalhos combinavam
colas de pensamento que marcaram sua for- física e filosofia. Foi um dos arquitetos da biocibernética e um dos inspiradores
do pensamento complexo, teoria desenvolvida por Edgar Morin.
mação, Pablo del Río menciona René Zazzo,3 5 - Biólogo estoniano (1864-1944) que, da perspectiva da ecologia,
mestre que lhe apresentou a psicologia de Henri propôs o círculo funcional de interação entre organismo e meio, e a ideia
Wallon, marcada pela abordagem da pessoa de Umwelt ou mundo subjetivo da percepção dos animais em relação ao
seu meio ambiente.
6- Filósofo espanhol (1864-1936) que sugeriu um modelo narrativo da
2- Essas e outras informações sobre sua trajetória constantes neste texto vida humana: do ler-se e escrever-se como novela, como um instrumento
foram transmitidas pelo próprio autor, por e-mail. cultural para apropriar-se da própria vida em três níveis – novela pessoal,
3- Psicólogo francês (1910-1995) que atuou principalmente na área da novela nacional e novela universal.
psicologia da criança. 7- Dramaturgo e poeta espanhol (1600-1681).

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por ele iniciada, mas voluntariamente vinculado a qualquer custo, problemas esses que enfrenta-
à narrativa da humanidade, enfrentando grandes mos com dificuldade na academia. Além disso,
perguntas que seu tempo lhe impôs. ele é também um crítico da própria perspectiva
Além de aprofundar vários dos conceitos histórico-cultural, questionando aspectos como o
vigotskianos (e.g. DEL RÍO; ÁLVAREZ, 2007), o dogmatismo, a leitura marxista ortodoxa, a falta
autor propõe novas concepções e ideias tanto de protagonismo na visão de homem, a falta de
no âmbito da psicologia e da neuropsicologia, abertura a outras correntes e ciências e a exclu-
quanto no âmbito da educação. Suas interessan- sividade do pensamento de Vigostki, que não
tes questões sobre o cérebro externo e a neurogê- agradaria ao próprio autor.
nese (DEL RÍO, 1994, 2002) foram um dos tópicos O encontro foi realizado numa manhã de
examinados na entrevista. Sua abordagem da agosto de 2012 na Faculdade de Educação da
educação, extremamente importante para nossa Universidade de São Paulo (FEUSP), durante um
realidade,8 além de envolver problemas que nos intervalo entre as diversas atividades acadêmi-
afligem na atualidade – por exemplo, aqueles re- cas desenvolvidas por Pablo del Río no Brasil.
lacionados à atenção e aos maus usos dos meios Na ocasião, ele encerrava uma pequena jorna-
de comunicação (e.g. DEL RÍO, 2000; DEL RÍO; da de trabalhos na FEUSP,10 após participar de
DEL RÍO, 2008; DEL RÍO, 2010) –, discute temas atividades como professor visitante do Grupo
essenciais, como a validade das teorias psicoló- de Pesquisa Pensamento e Linguagem, sedia-
gicas da educação para todas as culturas e a pos- do na Faculdade de Educação da Universidade
sibilidade de explicar o particular e o universal Estadual de Campinas (Unicamp).11
(DEL RÍO, 2007a, 2007b). Sua ideia de educação Na entrevista, contamos com a presen-
como autoevolução é instigante e tem raízes em ça de duas doutorandas da USP, que posterior-
sua abordagem ecofuncionalista e em sua lei- mente se responsabilizaram, de modo primoro-
tura da obra de Vigotski a partir de influências so, pelo trabalho de transcrição e tradução do
do pensamento espinosano, baseado na ideia de material gravado: Ana Maria Tejada Mendoza
autodeterminação. Nesse sentido, o autor reflete e Ana Paula Carneiro Renesto, que fez também
sobre a possibilidade de outro desenho cultural9 uma primeira competente edição do texto. A
para as novas gerações, o que implica um novo elas fica registrado nosso agradecimento. A edi-
currículo, um novo programa educativo para os ção final, por nós elaborada, foi posteriormente
homens que desejamos formar e, consequente- lida e revista pelo entrevistado.
mente, um novo cérebro. Por último, agradecemos ao Prof. Pablo
A entrevista deixa entrever, ainda, um del Río a convivência breve, mas intensa. Foi
Pablo del Río crítico da psicologia e das ciên- muito bom conhecer mais de perto um homem
cias humanas em sua configuração atual, que simpático, dinâmico, corajoso, apaixonado pelo
apresenta problemas como a despersonalização, que faz e que nos coloca diante de perguntas
o reducionismo, a falta de diálogo entre linhas que infelizmente têm sido raras em nosso meio.
e áreas do conhecimento, o atrelamento à ló-
gica das ciências exatas e à ideologia, o secta-
rismo, o eficacismo e a lógica da produtividade 10 - A visita do Prof. Pablo del Río à FEUSP foi organizada pelos
professores Elizabeth Braga, Teresa Cristina Rego, Manoel Oriosvaldo de
8- As questões exploradas na entrevista acerca de suas ideias e de seu Moura e Marilene Proença. Consistiu em um encontro com grupos de
programa de pesquisa sobre educação serão tema de outra publicação. estudos e pesquisas e na palestra intitulada Difusão e atualidade do legado
9- Segundo o autor, trata-se de uma engenharia exploratória do humano de Lev S. Vigotski: contribuições de Pablo del Río – Educar para o futuro: o
sob a perspectiva de uma neuropsicologia cultural construtiva vigotskiana que fazer hoje com a mudança histórica?.
aplicada à implementação de tecnologias cognitivas e significativas para a 11- Agradecemos às professoras Ana Luiza Bustamante Smolka e Luci
mente das culturas e das pessoas. Banks-Leite a gentileza do convite ao compartilhamento da visita.

Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 2, p. 509-540, abr./jun. 2013. 515


Referências

ÁLVAREZ, Amelia; DEL RÍO, Pablo. Una introducción a las dos psicologías de Lev S. Vygotski. In: DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia
(Eds.). Escritos sobre arte y educación creativa de L. S. Vygotski. Madri: Fundación Infancia y Aprendizaje, 2007. p. 7-12.

DEL RÍO, Pablo. Extra-cortical connections: the sociocultural systems for conscious living. In: DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia;
WERTSCH, James V. (Eds.). Explorations in socio-cultural studies: literacy and other forms of mediated actions. Madri: Fundación
Infancia y Aprendizaje, 1994. p. 19-32.

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______. Educación y evolución humana: contribución al debate ¿Qué teorías necesitamos en educación? Cultura y Educación,
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______. Los efectos de la dieta televisiva y las trayectorias de desarrollo infantil. Algunas reflexiones a partir del Proyecto Pigmalión.
In: FERREIRA, Jorge (Org.). A intervenção psicológica em problemas de educação e de desenvolvimento humano. Lisboa:
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DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia. The zone of proximal development: inside and outside. In: DANIELS, Harry; COLE, Michael;
WERTSCH, James V. (Eds.). The Cambridge Companion to Vygotsky. Cambridge: Cambridge University Press, 2007, p. 276-303.

DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia; DEL RÍO, Miguel. Pigmalión: Informe sobre el impacto de la televisión en la infancia. Madri:
Fundación Infancia y Aprendizaje, 2004.

DEL RÍO, Pablo; DEL RÍO, Miguel. La construcción de la realidad por la infancia a través de su dieta televisiva. Comunicar, v. XVI,
n. 31, p. 99-108, 2008.

Teresa Cristina Rego é professora associada livre-docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

Elizabeth dos Santos Braga é professora doutora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

516 Entrevistadoras: Teresa Cristina REGO; Elizabeth dos Santos BRAGA. Dos desafios para a psicologia histórico-cultural à reflexão...
Queremos agradecer-lhe a disposição em nos explicativa objetiva – à expressiva denomi-
conceder esta entrevista. Para iniciar, gosta- nação que têm proposto alguns vigotskianos
ríamos de saber um pouco de suas análises (Luria, Sacks, Cole): ciência romântica.
sobre a vida e a obra de Vigotski e sobre a Acho que essa é uma pergunta que de-
relação entre elas. Em sua opinião, quais fo- veríamos fazer sobre todos os autores e também
ram as principais motivações que orientaram sobre nós mesmos. No caso de Vigotski, as co-
o programa de pesquisa de Vigotski? nexões entre a vida e a obra são muito especiais.
Em um artigo publicado na revista Estudos de
É difícil falar dos motivos de outra pes- Psicologia (DEL RÍO; ÁLVAREZ, 2007a), analisa-
soa, sobretudo de uma pessoa desaparecida e mos esse tema ao discutirmos o drama da psi-
que já faz parte da história. Sabemos, como des- cologia e a psicologia do drama na perspectiva
tacou Dobkin (1982),1 amigo de Vigotski, que vigotskiana. Lá destacamos que o notável em
um dos temas que mais o preocupava em sua Vigotski é que ele acaba elegendo o tema huma-
adolescência e que era debatido no círculo de no como objeto de sua vida, de sua investigação
estudo de jovens estudantes de que ele partici- e de sua ação, porque se trata de uma espécie
pava era o papel do indivíduo na história. É fá- de busca trágica. Ele é muito trágico e o trágico
cil, a partir desse dado, localizar duas vertentes exige-lhe coerência, de modo que daria no mes-
muito visíveis em sua obra: uma psicologia com mo o ponto de onde começasse. O final estava
forte orientação materialista e hegeliana, e ou- quase prescrito, porque ele não deixaria o pro-
tra com forte raiz literária e trágica. A primeira blema sem buscar suas últimas consequências.
trata de compreender e explicar a determinação Se compreendermos isso, então não pa-
histórica e sociocultural da conduta a partir da rece tão heterogênea ou irrelevante sua déca-
tradição social e coletiva do humano; a segunda da literária (1914-1924) prévia à psicológica
trata de compreender e explicar a determinação (1924-1934). Ele começa nas humanidades, vai
histórica e sociocultural da conduta pessoal a estudar Direito e ao final chega à psicologia
partir da tradição filosófica e moral da auto- porque tinha que chegar a ela. Insere-se na arte
determinação, no rastro de Espinosa, e de uma e na educação porque tem que dar aulas quan-
tradição dramática e trágica do humano que ele do acaba a ocupação alemã em Gomel e precisa
recebe a partir de sua herança literária. Vigotski ganhar a vida. Por ter tido uma formação muito
enfoca seu trabalho futuro numa psicologia que boa durante o ensino médio e o bacharelado,
vai ao encontro de ambos os protagonismos (o está quase condicionado a seguir essa carrei-
coletivo e o individual) e de ambos os deter- ra, como muitos estudiosos de sua época com
minismos (o material e o psíquico) da espécie boa formação. Tal como ocorre a tantos outros,
na filogênese e na história, e do indivíduo nu- Vigotski se converte em educador. Como todo
ma ontogênese voltada para o social e para o intelectual, ele sente paixão pela educação. Ele
humano geral, ainda que em uma história pro- realmente vive a educação.
tagonística pessoal. A intrínseca conexão entre Seu primeiro trabalho sobre arte (a res-
sua vida e sua obra é, então, radical. E monista: peito de Hamlet) é uma pista muito boa para
um mesmo Vigotski é quem procura ambas as entender sua relação vital com a psicologia.
coisas porque necessita de ambas. Poderíamos Hamlet o leva à psicologia porque o inicia no
conectar essa exigência que ele se impõe como trágico. Vigotski responde a Hamlet como a
cientista – a pertinência existencial e subjetiva uma revelação em forma dramática, no sentido
da ciência, além da capacidade epistêmica e que Tolkien (1993) atribui ao conceito de apli-
cabilidade na literatura, em relação a O Senhor
1 - As referências bibliográficas correspondentes às obras mencionadas
foram inseridas posteriormente pelo entrevistado, na ocasião de sua revisão dos Anéis. A obra épica ou trágica com aplica-
da versão final do texto. bilidade existencial funciona como uma visão,

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como uma revelação, como uma bússola para por meio da filosofia e da literatura; depois, por
orientar o caminho da tarefa vital. Uma obra meio da ciência, da psicologia, desenvolvendo-
literária é aplicável se ela resulta esclarecedora -a conjuntamente como uma busca pessoal e
e emocionalmente mobilizadora para entender como uma missão social e histórica.
a vida. Muitas obras na história, como a do pró- O compromisso social não pode separar-
prio Tolkien, teriam sido escritas com essa pre- -se do pessoal; sua vida não pode separar-se de
tensão de iluminação, com a intenção de que sua obra. O sentimento pessoal unido ao sen-
sua leitura servisse de orientação para a leitura tido profissional e social de sua missão pode
da atual realidade humana. Em O Senhor dos resumir-se num excerto destacado por Vigotski
Anéis, você vê o humano, o mal, o bem e a ba- em seu estudo sobre Hamlet: “O mundo está fo-
talha do humano. E, no final, a alegoria é muito ra de si. O tempo está fora dos eixos!... Oh sorte
sugestiva: são os menores, os mais simples, que maldita!... Que tenha nascido eu para pô-lo em
realmente permitem a epopeia. Então, Vigotski ordem!...”. A inquietação que encontra Vigotski
lê Hamlet dessa maneira, como uma iniciação é, ao mesmo tempo, existencial, científica e
ao trágico e como uma revelação de que sua epistêmica: nada menos do que a compreensão
própria vida estaria marcada por uma missão. do humano e do sentido de sua vida.
Não é que Vigotski se identifique com Vigotski encontra em Hamlet também
Hamlet; não é Hamlet o modelo, e sim o desafio outra coisa: o fato humano ainda é incognos-
que ele enfrenta. O fato de que, de repente, um jo- cível, é um grande desafio. E saber para onde
vem príncipe é chamado pela tragédia, pois assas- a humanidade vai é a grande incógnita da hu-
sinam seu pai, conduz-lhe a uma nova dimensão manidade consciente, aquela pequena parte da
existencial: é preciso despertar da vida intelectual humanidade que não pode viver sem se fazer
e de jovem aventureiro e enfrentar o fato de que tais perguntas. A maioria das pessoas decide
ele já não pode viver essa vida despreocupada. É não as fazer e viver o dia a dia, canalizando su-
preciso tomar decisões comprometidas. as funções superiores a uma consciência, diga-
Vigotski encontra em Hamlet a iniciação mos, prática, operatória. Aplicar as capacidades
ao trágico, o desafio de compreender a vida hu- da consciência a tempos e espaços mais am-
mana como algo visto a partir da consciência, plos leva-nos a formular essas perguntas que
que é a consciência da morte. Ele cita a frase se fazia Vigotski, e, ainda hoje, o empenho está
final de Hamlet: “Eu morro. O resto é silêncio”. condenado ao mistério, ao fato de que você não
O desafio do trágico não tem sido incorporado, vai resolvê-las, mas deve chegar aonde puder.
em geral, à ciência psicológica e ao estudo da É isso o que Vigotski faz a partir de Hamlet: de
consciência, pois se considera que a psicologia um lado, ele se depara com o mistério; de outro,
refere-se à vida e não à morte, ao cognoscível e impõe-se o desafio de aceitar a missão de orde-
não ao incognoscível que nos desafia como es- nar aquilo que conseguir a respeito do assunto.
pécie. Pelas mesmas razões, um fato histórico- Então, ele está condenado a essa psicologia.
-cultural tão notável como a conduta religiosa
também tem sido deixado fora da ciência (DEL Como Vigotski viveu seu próprio personagem?
RÍO; ÁLVAREZ, 2007b).
Boa parte dos problemas ideológicos Que influências nos levam a nos dedicar-
e políticos de Vigotski procedem desta dupla mos ao oficio de pensar, de investigar? Algumas
convicção, bastante espinosana, de combinar a vezes são diretas, e você conhece mestres. Nem
procura cética da ciência e a busca ineludível todo mundo tem a sorte de conhecer grandes
do sentido da existência. Ao longo de toda sua mestres pessoalmente, mas, de todo modo, vo-
vida ele tentará aprofundar o silêncio para o cê vai conhecê-los virtualmente, por meio de
qual aponta o final de Hamlet. Primeiro o fará um livro, por exemplo; vai captar a atitude, o

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ímpeto que há por trás da obra. E isso nos leva que estão na memória cultural ou na memória
a conhecer o conteúdo e a investigar mais. As a longo prazo cultural, que são parcial e even-
influências diretas são importantes, porém nem tualmente incorporadas à vida presente como
sempre são possíveis. Eu tive essa sorte quando memória viva, como memória de trabalho, mas
conheci René Zazzo. Por meio dos livros, po- que não se realizam, não se ativam sem uma
rém, meu acesso a grandes mestres se enrique- comunidade existencial de pessoas em cada
ceu. Eu pude receber também outras grandes momento histórico.
heranças intelectuais e humanas. Bom, se todo esse processo for olhado
Os livros são, enquanto livros, vigotskianamente, socioculturalmente, a ciên-
mediadores instrumentais; mas, enquanto obras cia é um sistema de conhecimentos, mas co-
de pessoas, são também mediadores sociais. nhecimentos de alguém: um sujeito distribuído
Durante sua vida, Vigotski esteve acompanhado que toda uma comunidade compartilha; uma
de dois livros que estavam com ele em todas cultura, uma humanidade. Você não pode, por-
as partes: Ética e Hamlet, os quais, por sua tanto, tirar a palavra sujeito da ciência, que é o
vez, configuravam a companhia de Espinosa que se tem feito. Ou seja, continua havendo na
e de Shakespeare. Assim, os livros não nos ciência um protagonismo, uma ação histórica,
aportam apenas num novo conhecimento, mas social, mas também pessoal. E, ao utilizar todo
também no sentido, no para quê humano desse esse tipo de disfarce e de ocultações no pro-
conhecimento. Em qualquer autor que lemos, cesso de comunicação e de produção científica,
capta-se sempre o personagem. É impossível acabamos por ignorar as grandes perguntas que
ocultar-se por trás do escrito, embora muitos intrigam o cientista, os grandes desafios do hu-
tentem fazê-lo. Como dizia Unamuno, existem mano. Em física, por exemplo, posso não me
pessoas que falam como livros, mas também fazer perguntas existenciais, mas ainda assim
livros que falam como pessoas. todos nos apaixonamos quando tentamos en-
Uma das coisas que a retórica científica tender o que acontece com o Big Bang. E agora,
nos ensina é a retórica da ocultação. A gente com a descoberta das subpartículas e tal, com
nunca deve falar “Penso”, mas sim “Poder-se-ia a aproximação de um entendimento da origem
pensar que”. E a gente nunca diz “Acontece tal do universo, todos vibramos com isso. E como
coisa”. Tudo se põe na voz passiva, tudo se diz não? Como não vibrar com nossa própria ori-
entre muitas aspas, o que é aceitável e positivo, gem, com nosso próprio destino? Essa redução
por um lado, porque demonstra a humildade e que os físicos não fizeram, tendo eles um objeto
o cuidado de saber até que ponto a gente pode mais inerte, nós, psicólogos, fazemos com um
afirmar coisas. Mas o lado negativo é a des- objeto tão mais vivo. Nós, que estamos diante
personalização da ciência, o que causou mui- de um sujeito com muito maior capacidade de
to dano e acabou por lhe tirar o impulso vital. liberdade, de pergunta existencial, temos um
Afinal, a memória da ciência é a memória dos exercício científico muito mais autolimitado.
cientistas, o pensamento da ciência é o pensa-
mento dos cientistas, o sentimento da ciência Isso nos remete a uma frase de Vigotski no
é o sentimento dos cientistas. E parece que a Manuscrito de 1929: “Pensa não o pensamen-
ciência existe sem sujeito e que não é nada mais to, pensa a pessoa”.
do que pensamento distribuído e compartilha-
do de sujeitos. Ou seja, se fizermos psicologia Sim, e o sujeito está sendo deixado de lado.
sobre a própria ciência, concluiremos que a ci-
ência não é outra coisa senão um complexo de A análise da trajetória intelectual e da obra
mediações distribuídas, localizadas na cultura, de Vigotski nos faz pensar no jogo dialéti-
em parte vivas e em parte herdadas; mediações co presente entre o protagonismo individual

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e os processos coletivos históricos. De fato, o Olhar para Vigotski a partir do modelo
homem faz a ciência, mas os avanços cientí- de uma história de individualidades leva a con-
ficos nunca estão totalmente divorciados das vertê-lo em gênio ou em herói. Vê-lo a partir do
descobertas ocorridas em seu contexto cultu- modelo de uma história das coletividades leva a
ral mais amplo (que resultam, por sua vez, do relativizar sua figura e a supor que, se ele não
empenho de um conjunto de esforços indivi- tivesse feito o que fez, algum outro cientista te-
duais). Todavia, é curioso observar que, tanto ria chegado às mesmas ideias sobre a mediação
na psicologia da época quanto na atual, há ou o desenvolvimento humano como desenvol-
uma espécie de endeusamento da figura de vimento cultural das funções superiores.
Vigotski. O próprio Luria, num texto autobio- Conforme apontaram Van der Veer e
gráfico, chama-o de gênio. E Vigotski tentou Valsiner (1991), para além dos méritos da pró-
sair desse papel em inúmeras ocasiões. Ele pria obra de Vigotski, é necessário considerar
dizia que o saber e o conhecimento estavam um conjunto de circunstâncias contextuais que
sempre relacionados a um tempo, a uma cul- explicariam a recuperação recente de sua figura
tura e a um lugar. Seria interessante se você e a personalização nele de toda uma corrente de
pudesse comentar essa questão. pensamento que teria uma base mais ampla, da
qual participariam vários outros autores cujas
Parece haver hoje um consenso na comu- figuras são hoje menos notórias. Isso é certo e
nidade acadêmica sobre a excelência intelectual devemos contemplá-lo a partir de uma visão da
de Vigotski. Já em vida os demais o reconhe- ciência como cultura e de uma visão da histó-
ciam, e ele provavelmente tinha consciência ria como história das mentalidades, como efei-
da singularidade de seu pensamento: exercia- to de processos distribuídos que configuram a
-o tratando de desenvolver uma liderança in- evolução histórica de cosmovisões, epistemo-
telectual para impulsionar a construção de um logias e arquiteturas mentais das comunidades
projeto em psicologia. Não me parece soberba, e das pessoas.
mas sim a aceitação de um desafio, de um papel Além disso, eu penso que, no caso de
histórico – ele se sentia chamado por um desti- Vigotski, há uma concorrência entre esses
no, tal como Hamlet. E como tinha tuberculose processos coletivos e culturais do pensamento
desde os 17 anos e sabia que ia morrer, Vigotski científico e um processo pessoal que dificilmen-
estava vacinado contra a presunção. Ele se sen- te teria acontecido em decorrência de apenas
tia provocado a conseguir, no tempo que tinha, uma dessas duas histórias (a individual ou a
o máximo avanço sobre esse grande desafio da coletiva). É uma lucidez intelectual e também
psicologia. existencial: a capacidade de combinar a deter-
minação racional e material da conduta com a
Um sentimento de urgência... autodeterminação psíquica, ou seja, a história
pessoal com a coletiva. Vigotski faz uma psico-
Sim. Esse problema da relação entre o logia com o que tenta também fazer na história.
agenciamento individual do gênio e o agencia- Não se trata de meramente desvelar a história
mento coletivo na história é um tema interes- passada da humanidade sob a perspectiva da
sante. Tanto as narrativas coletivistas quanto as ciência, mas de escrever, por meio da ciência, a
individualistas tendem a propor versões extre- história futura da humanidade. Em vez de supor
madas: por um lado, o indivíduo como único uma determinação única e material da histó-
sujeito da história, que é lida como uma sequên- ria passada e futura, ele assume a intervenção
cia de ações de individualidades extraordiná- combinada de mecanismos dramáticos de au-
rias; por outro, a história como fluxo de ações todeterminação dos comportamentos humanos.
coletivas determinadas por condições materiais. Por assim dizer, Vigotski integra as exigências

520 Entrevistadoras: Teresa Cristina REGO; Elizabeth dos Santos BRAGA. Dos desafios para a psicologia histórico-cultural à reflexão...
de Hegel e de Espinosa. Esse último tratava de físico e o dramático, o intelectual e o diretivo,
tomar distância do delírio ou da visão antro- a determinação material e a autodeterminação
pocêntrica do ser humano que se vê como ab- mediada ou poética. E essa unidade tende a
solutamente livre e independente da natureza, perder-se em muitas das análises de sua obra.
fazendo um chamado à objetivação de nossa Contemplar sua vida e sua obra juntas possibi-
determinação material, à racionalidade. É a esse lita não somente percebê-lo, mas também al-
chamado que atende o materialismo histórico ao cançar com maior precisão o coração teórico de
considerar o homem como objetivamente sujeito sua proposta.
à evolução da matéria. Mas a segunda preocupa- Conforme destacamos no artigo já men-
ção espinosana era a de explicar que, sendo isso cionado (DEL RÍO; ÁLVAREZ, 2007a), a partir
certo, o ser humano pode e deve alcançar deter- de uma dupla busca – científica, social e histó-
minado nível de consciência para poder autode- rica, mas também poética, pessoal e existencial
terminar-se, para poder afrontar materialmente –, Vigotski procura investir a ciência psicoló-
– mas com certa capacidade de ação consciente e gica de autodeterminação, talvez porque, pa-
voluntária – os condicionamentos de seu mundo ra estar em concordância com seu objeto (que
material. Vigotski postulou um modelo para unir é, ao mesmo tempo, sujeito), tal ciência deve
as exigências de explicação racional de Espinosa assumir a entidade não só de analista, mas de
e de Hegel à compreensão psíquica dos processos personagem, de consciência coletivamente au-
de transformação dramática da alma que procu- todeterminada. A ciência psicológica – leia-se:
rava Espinosa e que descrevia Aristóteles em seu os cientistas ou os psicólogos investigadores –
livro Poética. parece a Vigotski um relevante personagem do
Um elemento básico no modelo da me- drama histórico com o encargo maiêutico de
diação vigotskiana é a contribuição dos pro- desvelar a consciência, de esclarecer cientifica-
cessos sociais e instrumentais na construção mente o sentido da vida e de clarear os cami-
dos processos conscientes, contribuição que ele nhos para criar e desenvolver mais consciência,
recebe, em grande parte, da tradição do mate- do mesmo modo que a arte – leia-se: os artistas,
rialismo histórico. Mas existe outro elemento, os criadores – cumpriria seu propósito tentan-
que, como assinala Jean-Paul Bronckart (2004), do desvelar dramaticamente o sentido da vida e
leva-o a articular a exigência explicativa da criando um tipo de consciência, de operadores
ciência com a exigência compreensiva da her- culturais sobre ela.
menêutica. A análise dos processos psíquicos Embora a ciência tenda a ver seu proces-
subjetivos que permitem a ação dramática da so de busca como algo objetivo, como história
linguagem interior responde à segunda exigên- do conhecimento, excluindo-se dos processos
cia; a análise dos processos psíquicos objetivos narrativos de protagonismo humano, ela não
que permitem a ação material responde à pri- deixa de sucumbir à narrativa protagonizada
meira. Nesse sentido, Vigotski caracteriza as por heróis e mitos, tal como demonstrou Jaan
funções superiores por seu caráter voluntário Valsiner (1994). Ainda que, por meio de cate-
e determinado. Por isso, no estudo dessas fun- gorias muito absolutas e abstratas, julguemos
ções, ele aborda não apenas os aspectos inte- as épocas, as sociedades e o pensamento dis-
lectuais (hoje diríamos cognitivos), mas também tribuído, sempre são contingentes das culturas
os intencionais e voluntários. Luria investigará momentos em que as ações dos indivíduos –
esses processos diretivos em seus experimentos sobretudo as ações estratégicas e continuadas –
sobre a ação voluntária, adotando expressões têm um papel limitado, mas às vezes profundo
como função diretiva e função executiva. e disparador nos processos culturais. Penso que
Para mim, o traço mais característico do há desvios na história das ideias, bem como na
pensamento de Vigotski é a conexão entre o história material das culturas e das economias.

Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 2, p. 509-540, abr./jun. 2013. 521


Não creio em uma história pré-programada menos com arrogância e mais com um senti-
seguindo um plano científica e objetivamen- mento de extrema urgência.
te descrito, uma história com boa forma teó-
rica; tampouco creio que finalmente, ou total É curioso observar que, no projeto de Vigotski,
e pessoalmente, como acreditava a psicologia existia uma preocupação deliberada em inte-
e a filosofia idealista, nós fazemos a história. grar campos disciplinares, áreas e dimensões
É lógico que há condicionamentos históricos, humanas muito distintas e que tradicional-
mas há também opções e é necessário exercê- mente eram tratadas em separado. Você acha
-las livremente. Ao prover o pensamento social que essa era a base da nova psicologia que ele
distribuído de intencionalidades e modelos de objetivava construir?
pensamento e sentimento (de mediadores para
mudar os próprios processos sociais), a busca Sim. Não nos esqueçamos de que, apesar
por autodeterminação e intencionalidade indi- das raízes do drama e da raiz vital e existencial,
vidual teria um impacto real nos processos co- Vigotski era um intelectual e um racionalista,
letivos históricos. Dar-se-ia, assim, uma ponte uma pessoa que respondia muito ao que hoje
para articular os protagonismos pessoais aos chamaríamos de psicologia cognitiva. Ele era
coletivos e as transformações e asceses pessoais fundamentalmente um homem da razão e que
às transformações sociais. O protagonismo na buscava explicações sérias. Essa é uma contra-
história tem muito a ver com o fato de querer dição às vezes incômoda de aceitar em Vigotski,
exercê-lo. Como diria Roland Barthes (1986), porque não podemos tomar a lógica intelectual
“não vive tragicamente aquele a quem a vi- e científica do raciocínio e analisar seus siste-
da lhe manda tragédias, mas quem se atreve a mas apenas a partir daí, esquecendo todo o res-
vivê-las”. Ou seja, é preciso merecer a tragédia to. Também não podemos tomar o Vigotski da
e não apenas sofrê-la. Nesse sentido, Vigotski arte e rejeitar o Vigotski racional, pois Vigotski
abraçou a tragédia e o desafio de fazer uma psi- era extremamente racional. Tal tensão é muito
cologia histórica. Se não tivesse tido esse senti- interessante: ele é um homem capaz de ver uma
mento de responsabilidade histórica, provavel- coisa e a inversa ao mesmo tempo. E nem por
mente teria descoberto o processo da mediação, isso se desequilibra; ao contrário, apaixona-se.
mas não teria produzido essa psicologia. Não Eis uma característica importante: primeiro, de
teria tentado propor essa ideia como apoio para abertura, de capacidade de exploração; segundo,
reconfigurar a ação humana na história. da missão do humano como chamada de coerên-
Esse é um sentimento (o do fluxo co- cia, de que ele tem que chegar ao fundo da ques-
letivo despersonalizado da história) que está tão. Essa característica condena-o a fazer psi-
também muito dentro da perspectiva histórico- cologia e, ao mesmo tempo, leva-o, como bom
-cultural. Alguns pensam que há uma psico- materialista histórico, a aplicar sua psicologia ao
logia ortodoxa histórico-cultural, inclusive vi- futuro da história de sua própria sociedade.
gotskiana. Pessoalmente, não creio que exista Talvez isso seja ingênuo e arrogante,
uma linha única, prescrita, de desenvolvimento mas Vigotski acredita que a psicologia pode ilu-
do pensamento histórico e dos estados cultu- minar a humanidade em sua evolução, no que
rais, tampouco somente uma narrativa ou uma se aparta talvez da maioria dos marxistas com
escada. Esse é um pensamento profundamente quem conviveu em sua época, os quais pensam
antievolucionista. Isso não ocorre na biologia, que a economia ou o marxismo mais aplicado
então por que vai ocorrer na história? ideologicamente vão iluminar o caminho histó-
Nesse sentido, acredito que, sim, rico. Tal distinção profunda lhe trará problemas
Vigotski viveu seu personagem pensando que políticos, pois os psicólogos tratam de fazer psi-
suas ideias podiam ser decisivas, mas o fez cologias subordinadas ao marxismo econômico

522 Entrevistadoras: Teresa Cristina REGO; Elizabeth dos Santos BRAGA. Dos desafios para a psicologia histórico-cultural à reflexão...
(não me refiro ao marxismo como modelo geral covardia diante do desafio do trágico. Peço
da dialética histórica). E ele é marxista na dia- perdão pelo termo covardia: eu o estou utili-
lética histórica geral, mas não o é no sentido de zando epistemicamente sem pretender julgar
pensar que a psicologia deve subordinar-se à intenções; não quero aplicá-lo a pessoas, mas
economia. Esse é um debate muito grande. sim à posição perante a ciência. Adotar tal
posição não tem a ver com virtudes pessoais,
Sabemos que Vigotski teve que lutar contra as mas com a interiorização de uma maneira de
pressões da ortodoxia marxista. E atualmente? compreender a psicologia, maneira esta que,
Em sua opinião, essas pressões ficaram no creio, causa-nos danos.
passado ou ainda estão presentes hoje?
Vigotski foi um autor que o ajudou a se orientar
Creio que elas não ficaram no passado. Em no sentido das perguntas existenciais?
minha própria experiência, quando me encontrei
com o eurocomunismo na Europa, assim como É claro que a pessoa se orienta pelos
muitos profissionais e uma série de intelectuais, autores que lhe parecem abordar certas coisas
enfrentei a ortodoxia marxista. Sustentávamos com mais profundidade. E se me inspirei em
que a cultura e a psicologia não são redutíveis a Vigotski, Unamuno, Zazzo e outros, foi por esse
um modelo ideológico de marxismo. motivo. A pessoa se orienta pelos autores que
Vigotski pensava que a psicologia po- ela intui que não estão debruçados somente so-
deria nos iluminar. Talvez ela pudesse ilumi- bre o problema cognitivo, intelectual, mas tam-
nar-nos se estivesse mais preocupada com a bém sobre o problema que podemos denominar
pergunta existencial. Mas a psicologia se fez existencial, do ponto de vista da filosofia, ou
muito pouco existencial; vive na miragem simplesmente evolutivo ou evolucionista, do
dos botões, na miragem mecanicista segundo ponto de vista da biologia, das ciências da vida.
a qual cada coisa está em sua caixa e todas Trata-se de uma ciência não inerte que entende
as caixas estão ordenadas de modo que so- os grandes movimentos do cosmos, e nós esta-
mente temos que abri-las e desvelá-las aos mos envolvidos nesses movimentos.
poucos com a pesquisa, uma a uma, e tudo
já está escrito, já está assentado no genoma, Você falou agora de evolucionismo. Como
na física ou na química. Em outros termos, você vê o evolucionismo na obra de Vigotski?
as explicações racionais seguem por esse ca-
minho reducionista e as explicações existen- É difícil. Vigotski era uma pessoa que
ciais são esquecidas porque não se aceita a tinha muito apetite intelectual e, portanto, lia
pergunta, o desafio. A pergunta trágica não de tudo. Nota-se nele uma vasta diversidade
existe, não temos sentido. Somos mais um de fontes. Primeiro, ele tem uma grande for-
animal que vai morrer, e há o acaso e o caos mação com preceptores em sua casa, uma for-
como modelos inconscientes por trás disso, o mação literária humanista tradicional e uma
que no fundo significa que há uma renúncia a formação filosófica muito boa, muito hegelia-
entrar nos grandes problemas de investigação na. Mas, ao final, seu autor não vai ser um
da psicologia. E isso se converte quase num Hegel: é Espinosa. Portanto, há em Vigotski,
paradigma, pois a psicologia segue sendo es- de um lado, uma influência humanística que
crava da física e da química; pensa que não é muito grande: a arte, o drama, o teatro, a
deve sair daí para não deixar de ser científica. poesia. Mas há também outra forte influên-
Há ainda um grande complexo de inferiorida- cia filosófica, que em última instância seria
de das ciências humanas e, ao mesmo tempo, o materialismo histórico e o pensamento dia-
uma reação aexistencial, antiexistencial, de lético, a influência espinosana. E por que as

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separo? Porque Espinosa lhe permite vincular- Uma vantagem. Boa parte dos proble-
-se a parte do pensamento artístico, que seria mas que temos na psicologia em geral ou na
Calderón (autor ao qual ele chega por meio de perspectiva histórico-cultural com a obra de
Schopenhauer). Mas há, em Espinosa, o pro- Vigotski é que as pessoas se esquecem disso e
blema do determinismo e da autodetermina- estão lendo Vigotski de uma maneira um tan-
ção, que logicamente se conecta ao protago- to mentalista – o símbolo, o signo, a lingua-
nismo histórico, ou seja, à ideia de que “posso gem. É um erro ler a linguagem como se fosse
realmente fazer algo, sou alguém para decidir um mundo do pensamento que não tem nada
algo; sou livre primeiro; logo, se sou livre, a ver com a biologia. Às vezes leio artigos de
posso determinar minha vida e o curso da his- pessoas da Evolutionary Psychology atual que
tória”. Se analisarmos tal ideia, ela se relaciona trabalham mais com as funções naturais e en-
com o pensamento histórico de Hegel, de Marx contram uma conexão maior do pensamento e
e de Engels. Porém, a conexão buscada por da linguagem com a biologia do que aquela que
Vigotski não é aquela que em geral os marxis- muitos vigotskianos ou muitos histórico-cultu-
tas tradicionais vão estabelecer, mas sim uma rais encontram, o que é preocupante – não por
conexão muito mais íntima com o problema eles, mas por nós.
do determinismo.
Essas são as três influências mais co- Você afirma que o conceito de mediação tem
nhecidas e sempre digo que se esqueceram de relação com o pensamento ecofuncional e
outra, que fica muito evidente quando se lê O que Vigotski tem também uma vinculação
significado histórico da crise em Psicologia ou com o pensamento marxista, hegeliano e
O instrumento e o signo: a influência do pen- aristotélico. Então, ele tem essas duas raízes,
samento ecofuncional. Ou seja, Vigotski pos- tanto na biologia quanto na filosofia?
tula o problema da consciência e das funções
a partir do mundo animal. O animal está no Sim. Como todos nós, Vigotski é filho de
meio e é prisioneiro do presente. De que modo seu tempo e, portanto, das heranças intelectu-
ele se converte de prisioneiro do presente que ais. Tais heranças intelectuais sempre têm uma
vive uma vida concreta num ser livre, dotado parte positiva e uma limitada, porque nenhum
de consciência e que circula pelo passado, pelo pensamento consegue ser tão bom a ponto de
presente e pelo futuro? O que interfere e trans- abarcar o todo. Então, ele maneja as heranças
forma esse mundo? Claro, a origem básica da que lhe chegam e tem que combiná-las, enfren-
mediação está na biologia, no modelo ecofun- tá-las, resolvê-las. Mas o fato de que Vigotski
cional. E não se analisou suficientemente a seja russo, de que seus discípulos tenham de-
filiação que há entre Vigotski, a biologia e o senvolvido seu trabalho na União Soviética,
pensamento ecofuncional. condicionou muito a leitura que se fez dele. E
Mas ele tampouco vai seguir muito es- ele era prisioneiro disso, sim; aliás, voluntaria-
sa via. Ou seja, uma vez que desenvolveu seu mente prisioneiro, pois era um revolucionário
modelo, ele se preocupa mais com outro tipo convicto que acreditava no pensamento histó-
de coisas – a defectologia, o desenvolvimento rico e no pensamento dialético. Mas não acre-
infantil, as funções superiores, a neurologia – e ditava nisso completamente e não se deixava
volta ao drama. O modelo vigotskiano da me- arrastar pela regularidade marxista da linha
diação, porém, continua sendo forte, pois ele o única, da falta de protagonismo e de relevância
afiança muito bem na biologia. da vida individual e da liberdade. Uma pessoa
que pensa em Espinosa e em Calderón não pode
Em sua opinião, esse marco teórico tão forte na jamais aceitar a perda da liberdade, muito me-
biologia é uma limitação ou uma vantagem? nos da liberdade intelectual.

524 Entrevistadoras: Teresa Cristina REGO; Elizabeth dos Santos BRAGA. Dos desafios para a psicologia histórico-cultural à reflexão...
Seria interessante se você pudesse fazer uma teoria do cristal: minhas experiências em meu
reflexão sobre as leituras às vezes dogmáticas cérebro se estruturam sobre as redes neuronais
e ideológicas que são feitas do próprio legado que tenho, e as redes que se desenvolveram on-
vigotskiano ou daquilo que é, de certo modo, togeneticamente são distintas entre as pessoas.
legitimado pelo paradigma histórico-cultural. Portanto, meu cântaro é distinto do seu cânta-
Como se estabelece a relação entre ideologia ro. O fato de que as estruturas prévias condi-
e ciência? cionam é algo que precisamos levar em conta.
Às vezes, durante sua vida, a pessoa chega a
Para se fazer ciência é necessário libe- romper uma estrutura prévia e a reconstruí-la,
rar-se da ideologia. Lembro que quando René o que é muito difícil. O habitual é que a nova
Zazzo moderava as discussões no laboratório e, geração científica o faça: “Bom, estes fizeram
diante de um tema, alguém invocava um ar- isto, aplicando uma estrutura muito regular; é
gumento ideológico – ele era comunista e to- preciso rompê-la e criar outra mais potente”.
dos sabiam disso, o que gerava um pouco de Nós, vigotskianos, seguramente so-
cumplicidade por parte da esquerda e o recurso mos prisioneiros de muitas dessas estruturas.
à ideologia marxista como um argumento de Vigotski teria rejeitado profundamente que os
autoridade –, ele ficava frenético: “Estamos fa- psicólogos histórico-culturais fizessem uma
lando de ciência e aqui não se aceita nenhum psicologia somente vigotskiana e não seguissem
argumento que não se embase cientificamente”. as outras linhas da psicologia, porque ele dizia
O fato de que ser marxista o leve a ter que só há uma psicologia. Ou seja, se o mode-
uma maior preocupação com a justiça social, lo histórico-cultural ou da mediação é potente,
com a defesa de que um menino trabalhador terá que se integrar ao restante da psicologia, e
não receba um tratamento discriminatório em o restante da psicologia terá que reconhecê-lo e
seu desenvolvimento, é formidável. Mas, ao integrar-se a ele.
analisar as coisas cientificamente, você não po- Este é um problema-espelho: os cogni-
de invocar um argumento de autoridade pela tivistas pensam que dos vigotskianos não pode
ideologia. E isso está acontecendo porque se vir nada útil, então não os leem ou não sabem
está impondo uma leitura de Vigotski como lê-los. Estabelece-se uma dupla rejeição: quan-
se houvesse um único Vigotski legitimado por do você é rejeitado por uma pessoa, você a re-
uma ortodoxia científica materialista histórica, jeita também, e assim se produz um desconhe-
o que implica certo argumento de autoridade cimento cada vez maior. Isso está ocorrendo e
ideológico, um tribunal implícito (e não esque- é uma tragédia, porque a psicologia cognitiva
çamos que, na época, houve ditames explícitos tem muitas coisas positivas, mas eles não co-
e Vigotski foi censurado). Todos nós somos in- nhecem e não entendem, por exemplo, o mode-
clinados a este tipo de pensamento: deixar as lo das funções superiores.
ideias claras, encontrar um Vigotski mais orto-
doxo do que ele realmente foi. Isso é um equí- O que você diz aplica-se não apenas às di-
voco, pois Vigotski é muito contraditório em ferentes escolas e linhas internas da psico-
certos momentos. Ele próprio supera alguns de logia, mas também ao diálogo da psicologia
seus a prioris e outros não; e consegue romper com outras áreas do conhecimento. Isso era
com grande lucidez outros a prioris de seu tem- algo que Vigotski fazia e que nós ainda não
po, como a normalização das funções. De algu- sabemos fazer.
ma maneira, nós construímos sobre estruturas
cerebrais herdadas e, portanto, somos prisionei- Sim. Faustino Cordón, outro de meus
ros dessas estruturas. É o que Luria, em termos professores, era um biólogo ecofuncionalista.
de neurologia, chama de teoria do cântaro ou Não sou biólogo, mas aprendi muitíssimo num

Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 2, p. 509-540, abr./jun. 2013. 525


seminário com Cordón, que estava trabalhando direção adequada toda aquela que produz pa-
com a evolução do protoplasma e descobriu a tentes e artigos. Há um mecanismo de produ-
primeira enzima. Trata-se de algo que em mi- tividade segundo o qual qualquer corrida vale,
nha juventude fazia-se mais e que hoje se faz desde que se produza um objeto. Há hoje uma
cada vez menos. Conheço inúmeros psicólogos série de mitos e essa é uma das dificuldades da
que dizem: “Só trabalho com memória de pro- ciência, porque, se você está trabalhando com
posições ou com memória autobiográfica, e não uma questão profunda, não consegue investi-
me tirem daí”. São âmbitos muito reduzidos. E gá-la. O problema é que os processos de pensa-
Cordón dizia: “Só há uma ciência”. Ele é conhe- mento são a longo e médio prazo, enquanto os
cido porque trabalhou com o tétano e desen- sistemas de avaliação são a curto prazo. Então,
volveu medicamentos em laboratório. Ou seja, há um desajuste entre os mecanismos de medi-
ele trabalhou com processos muito básicos de da e os mecanismos do processo. O que se está
alimentação, enzimas e coisas assim. E dizia o fazendo é um reducionismo metodológico. Os
seguinte: “No fim, a alimentação me permitiu métodos de accountability contam muito mal,
entender a evolução das espécies. Há uma re- mas creem em seu aparato de contar, em sua
lação muito estreita entre o concreto e o mais regra de medir. Vivemos uma etapa da ciência
amplo. E se você não fizer todo esse caminho, muito penosa, muito supersticiosa: confundiu-
na realidade, nunca vai entender nem a alimen- -se o método com a metodologia, o construto
tação (que você estava vendo no nível do con- com a teoria, os fatos com os dados. Não temos
creto), nem o evolucionismo”. tempo de falar, nem mesmo entre os educadores
ou entre os psicólogos; falar com sociólogos e
De fato, esse não é um problema exclusivo da biólogos é mais difícil ainda. E isso empobreceu
psicologia: ele está posto nas ciências huma- muito a pesquisa.
nas de modo geral. Atualmente, há trabalhos No campo da perspectiva histórico-cul-
muito interessantes desenvolvidos, por exem- tural, a tradição da interdisciplinaridade tem ti-
plo, por geneticistas, sociólogos, antropólogos do também certa recorrência. Quando a Society
e historiadores que analisam questões pare- for Sociocultural Research se reuniu em Madri,
cidas com as que Vigotski estudava (como o em 1992 (depois em Genebra, em 1996, e em
protagonismo do sujeito, a não subserviência Campinas, em 2000), tentávamos provocar um
aos determinismos sociais, a relação dialéti- diálogo interdisciplinar e recuperar o pensa-
ca com a cultura, entre outros), que poderiam mento histórico-cultural nos desenvolvimentos
contribuir para avançar o debate. Muitos não alcançados nas distintas disciplinas e, muito
fazem esses elos e os poucos pesquisadores especialmente, nas distintas culturas, inclusive
que ousam fazê-los são quase sempre julga- nas distintas línguas. Havia uma orientação ex-
dos como insanos. Mas Vigotski, em seu tem- plicitamente aberta às outras correntes. A ideia
po, fazia isso com muita competência e cons- era difundir o pensamento histórico-cultural
tância. No mundo contemporâneo, quais são compartilhando-o com outras correntes, pers-
os entraves para que esse necessário diálogo pectivas e escolas. O enfoque estava em refa-
se concretize e para que outros avanços ocor- zer a agenda e ver quais seriam os problemas
ram no campo científico? do futuro. Existia, então, outra sociedade: a
ISCRAT (International Society for Cultural
O debate de que as ciências têm que se Research and Activity Theory), numa trajetória
abrir é muito difícil hoje, porque não temos mais ligada à continuidade do pensamento his-
tempo, estamos inseridos numa corrida de obs- tórico-cultural desenvolvido na antiga União
táculos. É mais importante ir depressa do que ir Soviética e na Europa. Ambas se fundiram na
na direção adequada, porque se entende que é ISCAR (International Society for Cultural and

526 Entrevistadoras: Teresa Cristina REGO; Elizabeth dos Santos BRAGA. Dos desafios para a psicologia histórico-cultural à reflexão...
Activity Research), o que exigiu um esforço de tradicionais do ecofuncionalismo e, por ou-
diálogo e convergência para que os objetivos de tro, ao estudo vigotskiano dos mecanismos de
continuidade e abertura confluíssem. mediação inseridos nas culturas. Acredito que
Embora minhas próprias circunstâncias Bronfenbrenner buscou fazer uma descrição
pessoais tenham condicionado minha atividade ordenada, categorial dos contextos de desen-
e me mantido um tanto afastado de congressos volvimento, o que em parte satisfaz os esforços
nos últimos anos, o que me impede de ter in- atuais da psicologia evolutiva, considerando-se
formação atualizada, preocupa-me que a orien- o que a palavra contexto – a mais usada – im-
tação intercultural e interlinguística – e, talvez, plica como condicionante do desenvolvimento
a interdisciplinar – tenha perdido vitalidade. infantil. Além disso, a expressão contextos de
Talvez nós, vigotskianos, tenhamos nos con- desenvolvimento denota um enfoque demasiado
vertido em mais uma área temática, em mais circunstancial, pois secundário. Nossa preocupa-
uma parcela autolimitada da comunidade cien- ção está dirigida a uma análise mais funcional
tífica, ficando também submersos, como todos, da cultura em que se desenvolve a criança, pois a
no processo de fragmentação, parcelamento e entendemos como submersa não apenas em um
subordinação da ciência. Talvez como efeito de contexto ou outro, mas numa rede extracortical
ainda nos centrarmos demasiado em um legado de funções compartidas e inseridas na cultura.
histórico, mais do que em suas insuficiências,
tenhamos caído nas limitações das parcelas dis- É muito interessante esse conceito e tam-
ciplinares convencionais e em sua incapacidade bém o modo como você vê a mudança, a
de afrontar os grandes problemas evolutivos e evolução sócio-histórica, a evolução em
epistemológicos das ciências humanas. aberto, a fragmentação... Enfim, sua abor-
Pessoalmente, preocupa-me que as co- dagem psicoecológica.
munidades de pesquisadores possam recolher
e reeditar hoje os desafios a que se propunha Para mim, os modelos de exossistema ou
Vigotski há quase um século: o que é a espécie macrossistema, ainda que aceitáveis em termos
humana e suas culturas?; de onde viemos?; e, de descrição abstrata, sempre me pareceram
sobretudo, para onde vamos, para onde pode- um tanto indefinidos na hora da intervenção,
mos ir? Como podem afrontar a ciência – toda quando você necessita fazer desenhos e atua-
a ciência, incluindo nela o legado vigotskiano ções sobre atividades e funções mais ligadas
– os desafios de investigação sobre nossa evo- aos instrumentos tradicionais do psicólogo
lução histórica como um processo aberto e, em (provas diagnósticas e ferramentas de mediação
parte, acessível às nossas capacidades de auto- para reeducação ou desenvolvimento). Algumas
determinação e desenho? vezes, conceitos válidos como categorias expli-
cativas ou compreensivas não resultam opera-
Vamos conversar um pouco sobre as implica- cionais, operativos, no diagnóstico ou no dese-
ções desse seu campo de pesquisa e estudo para nho. Isso acontece com o trio atividade, ação e
a educação? Foi você quem desenvolveu a no- operação, de Leontiev.
ção de marcos culturais de desenvolvimento? Quando ensino a atividade aos alunos,
utilizo Leontiev e o exemplo da escrita de uma
Desenvolvi essa noção com Amelia carta de amor. Nesse caso, pressionar uma tecla
Álvarez (1996). Embora tenhamos conhecido é a operação, escrever à máquina é a ação e
e trabalhado com Urie Bronfenbrenner, a ideia escrever uma carta de amor é a atividade. E eles
corresponde apenas parcialmente aos sistemas entendem perfeitamente o sistema de atividade.
postulados por ele. O conceito de marco é um O modelo de Leontiev é muito bonito, funcio-
pouco mais ligado, por um lado, aos modelos na muito bem quando você o explica. Quando

Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 2, p. 509-540, abr./jun. 2013. 527


tento vê-lo na vida cotidiana das crianças de posso, por exemplo, converter o objeto de aná-
pré-escola ou na vida dos indígenas, começo a lise, que é a atividade, em um objeto explicati-
ter problemas, porque ocorre com ele o mesmo vo da atividade. Ou seja, algo não pode ser meio
que acontece com os conceitos em geral: todo e fim ao mesmo tempo. O meio para explicar a
conceito pode ser atributo de outro conceito. atividade é a mediação. Logo, o princípio ex-
Por sua vez, todo atributo é um conceito e to- plicativo é a mediação e o objeto é a atividade.
do conceito pode ser atributo de um conceito. Leontiev caiu nisso por estar muito pressionado
Então, toda atividade pode ser ação de outra pelo contexto em que viveu.
atividade e toda operação pode ser atividade Penso que, para ser leal à perspectiva his-
por si mesma, pois, uma vez que transferi o sen- tórico-cultural, deve-se tratá-la de maneira não
tido e as emoções para determinada ação, essa ortodoxa, mas crítica, ou até mesmo rebelde. É
ação se constitui em atividade. Então, os mode- preciso libertar-se um pouco de determinadas
los são úteis para analisar e para compreender, constrições que a própria história da perspectiva
mas é preciso ter cuidado ao convertê-los em histórico-cultural criou. E a atividade continua
modelos teóricos universais. me parecendo um conceito-chave. Falo de ativi-
No debate soviético, eles estavam muito dade a partir do ecofuncionalismo, não a partir
pressionados pela necessidade de dispor de uma da teoria histórico-cultural. Por quê? Porque a
ortodoxia, de ter um modelo acertado, porque atividade já era um conceito central antes da te-
todos os modelos políticos têm a mania de clas- oria histórico-cultural, e continuará a sê-lo. Por
sificar o mundo entre bons e maus, entre o acei- isso, é importante evitar as palavras sagradas.
to e o não aceito, o que foi muito prejudicial, Preocupa-me que haja uma ortodoxia na
inclusive, ao próprio Leontiev. Leontiev é um perspectiva histórico-cultural e acho que esse é
grande psicólogo, uma pessoa muito inteligen- um problema que envolve a liberdade. Entre os
te, mas foi prisioneiro do fato de ter que pro- pesquisadores que se apoiam nesse paradigma,
porcionar referentes claros ao regime político, creio que exista uma linha mais aberta às demais
de ter que construir uma psicologia ortodoxa disciplinas e correntes da psicologia e outra que
aceita pelo regime. E isso sempre deforma as tenta trabalhar dentro de um modelo teórico
coisas. Agora estamos pesquisando as dietas perfeitamente definido, autossuficiente. É nesse
culturais, os imaginários e os meios de comuni- sentido que eu recordava os objetivos iniciais
cação, e não nos animamos a descrevê-los como da SSCR (Society for Sociocultural Research),
exossistemas, embora isso fosse o esperável, já de voltar às fontes, às grandes questões que se
que aplicamos a taxonomia de Bronfenbrenner. colocou Vigotski e que a humanidade – e a psi-
Nesse sentido, os modelos, sobretudo os hierár- cologia, como sua ciência assistente – tem hoje
quicos e classificatórios, são inicialmente muito proposto. Ou seja, quais são os problemas do
úteis e operam como muletas que me permitem humano que devemos continuar investigando
aproximar-me dos problemas, mas é preciso ter neste momento? De que modo? E quais são os
muito cuidado. Um papel permite embrulhar o problemas sociais e culturais que precisamos
presente, mas é necessário ver que ele não é a abordar? Acredito que esse poderia ser o futuro
estrutura: é o invólucro, algo que me possibilita do desenvolvimento de tal perspectiva.
manipular o presente. Nesse sentido, sou muito
cauteloso, por exemplo, com o tema da ativi- Você levantou a questão do sentido. Pensando
dade. A crítica que se fez a Leontiev foi possí- nas unidades de análise propostas por Vigotski
vel na Perestroika, quando já podia haver um para explicação do funcionamento psicológico
debate sobre o modelo ortodoxo de atividade, – ação mediada, palavra, significado, sentido
quando Jaroshevsky e outros postularam o que –, é possível olharmos a atividade do ponto de
é o quê no modelo dialético de análise. Eu não vista do sentido?

528 Entrevistadoras: Teresa Cristina REGO; Elizabeth dos Santos BRAGA. Dos desafios para a psicologia histórico-cultural à reflexão...
Sim. Acusaram-no de ser incoerente por- as quais lhe permitiam abordar o problema em
que não tinha a mesma unidade de análise, o camadas distintas de solução ou de aproxima-
mesmo objeto de análise. Mas todos nós temos ção: num momento, Vigotski desvela o papel
que ser livres, e ele também o era. Agora me da mediação, grosso modo, da arte; em outro,
interessa o sentido tal como começa a ser tra- leva em conta o signo, os operadores; depois,
tado por ele em Psicologia da arte; depois, ao os operadores já não são operadores artefato-
estudar o primeiro degrau da mediação semió- -objetais, mas operadores de significado – é o
tica, vem o signo, em exemplos como o osso, conceito; por fim, já não é o conceito que es-
as funções vestigiais, o anel trocado de mão ou tá em questão, mas de novo o sentido, agora
o lenço. Ao analisar a mediação semiótica no elaborado com base em conceitos e não mais
segundo degrau, ele trata do significado e logo no sentido inicial – o amor, a morte. É preciso
volta ao sentido, no fim do último capítulo de compreender, assim, o modo como Vigotski vai
Pensamento e linguagem. Na realidade, a todo descascando sua cebola. Ele escrevia certo por
momento é a mediação que está em pauta. O linhas tortas seu modelo de evolução cultural,
que acontece é que ele vai tratando níveis dis- de mediação, de construção desse sentido, des-
tintos de mediação. Quando Vigotski aborda o se mundo, desse drama na mente, e mostrava
significado, há uma passagem em que diz algo com que elementos o ia construindo. Às vezes,
assim: “No princípio me interessava o papel re- os elementos se sustentam; outras vezes, caem
ferencial, o que o signo substituía, a coisa; in- porque ele se equivocou, porque forçou algo.
teressava-me, portanto, o significado externo, Mas o modelo fica de pé: embora ele não o vis-
mas agora não me interessa. Ou seja, interessa- se bem, fez o caminho como pôde, tal como
-me o que gera na mente a visão da situação e a fazemos todos. Então, é muito importante cap-
postura ante a ação, as ideias, os sentimentos”. tar o sentido em Vigotski, mais do que o signi-
É o que ele denominava nível fásico perante ficado. Os debates de ortodoxia são debates de
o nível semântico. Com isso, volta ao sentido, significado? A convicção perante um modelo
mas não é o sentido presente no princípio de teórico é um problema de sentido, e é no nível
Psicologia da arte; dez anos depois, Vigotski do sentido que eu me considero vigotskiano.
tem uma arquitetura mediacional sobre a qual Não me considero vinculado a nenhuma das
sustentar o sentido. propostas específicas em termos de significado,
Akhutina e Luria postulam que, no fun- ou seja, não assinei uma ortodoxia ou um che-
do, ele não saiu nunca desse mesmo eixo da que em branco.
mediação, mas foi se fixando em aspectos dis-
tintos e tendo, portanto, que mudar o objeto de Além do dogmatismo, da falta de abertura
análise para trazer tal processo à luz. Ou seja, para o diálogo interdisciplinar, as condições
o objeto de análise consiste justamente em as- de pesquisa hoje não favorecem o desenvol-
pectos distintos da mediação. Na realidade, se vimento de pesquisas longitudinais (como os
temos sentido, signo, significado e sentido, não estudos sobre memória que Luria desenvolveu
há tanta mudança. Mas alguns dos debates têm acompanhando sujeitos ao longo de décadas),
sido muito escolásticos, supondo um único e não é? Será que os desafios impostos para a
atemporal legado vigotskiano – e não um pro- construção de programas de investigação que
cesso com diversas transformações – e preten- nos permitam estudar a condição humana são
dendo encontrar um modelo articulado comple- maiores nos dias atuais?
to e unívoco. Concordo com Akhutina e Luria
em que Vigotski foi coerente nessa transição. E Nesse sentido, quanto ao diálogo inter-
não é que ele estivesse fazendo coisas contra- disciplinar, ao diálogo dentro da própria pers-
ditórias entre si, mas sim coisas consecutivas, pectiva vigotskiana e à abertura da ciência,

Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 2, p. 509-540, abr./jun. 2013. 529


faz falta abrir muitas janelas, muitas portas. pouco nos dão dinheiro para isso. Ainda assim,
A etapa de divulgação já acabou e as pessoas aplicaram-nos a expectativa de curto prazo.
que se interessam pela perspectiva já têm tex- De fato, Luria fez investigações tremen-
tos e fóruns suficientes para se inteirarem. Mais damente importantes, durante muitos anos,
do que trabalhar com ideias prontas, o que nós sobre a mente de um mnemonista e também
procuramos é retomar os pontos de conflito do sobre um homem que perde a memória e tem
pensamento histórico-cultural, no qual há uma seu mundo destruído. Há uma obra de Umberto
promessa, mas também obstáculos, problemas. Eco (A misteriosa chama da Rainha Loana) em
Em outros termos, a perspectiva vigotskiana tem que o protagonista não sabe quem é e põe-se a
que se perder para se encontrar, tem que apren- ler os livros e gibis de sua infância para tentar
der a abrir a porta. Nesse sentido, o que vocês entender como se tornou ele próprio, fazendo
comentaram está correto, ou seja, há um medo o caminho de trás para frente. É um romance
excessivo de falar com os outros. É claro que isso maravilhoso, muito bem construído a partir de
também se deve aos preconceitos dos outros pa- algumas memórias autobiográficas e da cultura
ra falar conosco. Sempre houve preconceitos, e da época do autor. Eco faz um tipo de indaga-
todos teremos que fazer esforços. É preciso recu- ção literária, ao passo que Luria apresenta uma
perar a vitalidade dialética, a vitalidade cultural, indagação científica da cultura de toda uma
a vitalidade de um investigador com consciência época. Admiro muito os médicos, que acabam
histórica. E isso nos leva às investigações de lon- fazendo investigações maravilhosas, pois, se
go prazo. Todo o aparato de pesquisa acadêmica têm um paciente ao longo de 15 anos, têm uma
atual está fomentando investigações de curto e lealdade ao sujeito que, afinal, é uma lealda-
médio prazo e exigindo produtividade a curto de ao tema. Oliver Sacks também é um inves-
prazo. Isso é funesto. Pode até fazer certo senti- tigador de casos únicos e consegue chegar às
do em âmbitos nos quais a ciência é submetida profundidades. Isso se perdeu na investigação.
à tecnologia, como nos programas de desenvol- Preocupo-me muito com a construção do ima-
vimento de medicamentos ou de explicitação de ginário e das narrativas. Para estudá-los, é pre-
um gene, em que se trabalha com uma pauta ciso fazer investigações muito longas e massivas.
muito mais marcada pela produtividade indus- Hoje os pesquisadores sofrem uma grande pres-
trial. A ciência e a eficácia têm tempos distintos, são para realizarem projetos num curto espaço de
mas podemos entender. tempo, de preferência sobre temas em voga (que
Ora, em processos sociais que, por defi- geralmente oferecem mais possibilidade de finan-
nição, são de médio e longo prazo, a tecnologia ciamento para a pesquisa). Desse modo, muitos
tem que estar submetida à ciência. Por exemplo, acabam por ficar com uma pauta fragmentada e
a atuação histórico-cultural ou genético-cultu- reducionista, o que faz com que seja muito difícil
ral sobre as novas gerações é geracional. Então, seguir a pista das perguntas importantes.
estamos falando de ciclos médios de 10, 15, 20 Para contornar essa situação, o pesqui-
anos. A ontogênese de uma criança consiste em sador dedica-se a fazer investigações não ofi-
ciclos de 3, 5, 10 anos. Os processos de influên- ciais e usa o tempo de suas noites e de suas
cia cultural do que poderíamos chamar história férias. Tem que manter a continuidade apesar
natural da cultura, dos efeitos da televisão e da do sistema, porque ele perdeu o norte, está frag-
literatura na própria ciência, que também aplica mentado devido ao eficacismo e não sabe aon-
a análise de conteúdo para ver como as ideias de ir. Na Espanha, aumentamos a produtividade
científicas conseguem difundir-se ou não, são científica porque apareceram muito mais arti-
ciclos de médio e longo prazo. Nos processos gos indexados em revistas de alto impacto. Mas
sociais, temos a vantagem de que, como não será que isso realmente significa que estamos
há uma indústria, nada nos apressa. Mas tam- investigando mais, fazendo mais pesquisas e

530 Entrevistadoras: Teresa Cristina REGO; Elizabeth dos Santos BRAGA. Dos desafios para a psicologia histórico-cultural à reflexão...
descobrindo mais coisas? Num estudo realizado neuropsicologia, na perspectiva do modelo das
por Amelia Álvarez entre cientistas diretores e funções distribuídas no exterior da mente, re-
avaliadores de revistas científicas, vários deles jeitaram-no. Avaliaram-me três vezes seguidas.
assinalaram a existência de muito empirical Soube que, quando viu a rejeição e o projeto, o
stuff, isto é, de artigos que têm todas as medi- diretor da instituição de avaliação questionou:
ções do aparato de accountability, de produtivi- “Como puderam rejeitar isto?”. Pareceu-lhe
dade, mas não contribuíram com praticamente que a rejeição não era coerente; reenviou du-
nada para a investigação. E a grande maioria as vezes o projeto para outros dois avaliadores
dos trabalhos publicados é desse tipo. Os polí- e voltaram a rejeitá-lo. Claro, as correntes da
ticos têm a pretensão de medir imediatamente neuropsicologia espanhola são muito conven-
com instrumentos simples o que só é mensurá- cionais: não aceitam a neurogênese e não acei-
vel em um processo longo e com instrumentos tam a extracorticalidade.
complexos. Lembro-me de que, quando fiz par- Não é fácil viabilizar a pesquisa em neu-
te de comissões de investigação, as diretrizes ropsicologia sem recursos. Temas como a neu-
de avaliação de projetos e pesquisadores busca- rogênese, sobre o qual eu queria buscar evidên-
vam garantir que se descobrira algo inovador e cias empíricas, são muito difíceis de investigar
relevante, mas, ao mesmo tempo, assegurar-se se você não tem recursos e acesso a hospitais.
de que o investigador estava atualizado e segui- Também quando postulamos a construção ou
ra os autores que tivessem feito avanços mais a destruição cultural da atenção, rejeitaram
recentes no tema. Em última instância, o que o projeto novamente, argumentando: “Como
pedem é a garantia de que o trabalho avaliado nós vamos sustentar que a atenção não é um
tenha homologado perfeitamente o que já exis- processo inato? Não há evidências de que isso
te, de modo que não sai nada novo dali. suceda”. Não é verdade que não há evidências.
Todos os argumentos dos avaliadores eram per-
Sem dúvida, vivemos um momento muito feitamente discutíveis, pois as evidências acu-
sombrio, e todo esse contexto provavelmente mulam-se na outra direção. Contra-argumentei,
afetou sua produção. Você, que tem uma longa mas não financiaram o projeto.
e relevante carreira acadêmica, poderia nos Embora tenhamos conseguido homolo-
dizer qual é saída para esse estado de coisas – gar na Espanha certos procedimentos que são
se é que ela existe? saudáveis, sempre há sectarismos: um condu-
tista rejeita um freudiano, um freudiano rejeita
Não penso que minha carreira seja re- um condutista, um condutista e um freudiano
levante. Quero acreditar que minha busca e rejeitam um cognitivista, e vice-versa. No que
minhas intuições o são, mas minhas investi- podia e sabia, sempre que avaliei, tomei cuida-
gações empíricas têm sido muito afetadas por do para não me deixar influenciar pelo traba-
todo tipo de condicionantes. Muitos deles são lho realizado do ponto de vista de determinada
consequência de minhas próprias opções e li- orientação, mas devo dizer que, nas avaliações
mitações; outros talvez se devam às constrições de muitos colegas, eu via operarem posições
e deformações institucionais. Em geral, tenho epistêmicas, metodológicas e, inclusive, insti-
me afetado e sensibilizado ante a maquinaria tucionais e ideológicas. Quando alguém está
institucional, em grande parte responsabilidade trabalhando de maneira produtiva e legítima,
coletiva de nós mesmos, os próprios acadêmi- qualquer que seja a perspectiva, isso pesa mui-
cos. Por exemplo, quando comecei a investigar to. Ninguém está vacinado contra o sectarismo,
o cérebro externo – que é o que percebo como e a pretensão de que exista apenas uma régua
mais relevante de minha busca – e apresentei de medir é hoje tão perigosa quanto a ortodoxia
o projeto do que poderíamos denominar exo- marxista o foi com Vigotski. Neste momento,

Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 2, p. 509-540, abr./jun. 2013. 531


vivemos em um mundo democrático e livre. o desenvolvimento cerebral, cortical, produziu-
Mas será que há plena liberdade no ambiente -se uma estabilidade; nas contingências indi-
acadêmico? Não creio. Não conseguimos acabar viduais, produz-se deterioração neuronal, mas
com os preconceitos construídos historicamen- não um novo crescimento neuronal, ou seja, há
te e eles ainda continuarão nos acompanhando novas sinapses, mas não há neurogênese. E to-
por muitos anos. das as metáforas são do seguinte tipo: o cérebro
Nesse sentido, é preciso manter uma luta assemelha-se ao computador e, então, tem um
constante pela liberdade de investigar o que vo- hardware e um software. Tais a prioris geram
cê acredita que é preciso investigar. Continuei um pensamento que condiciona nossas ideias
interessado pela neurogênese e pelos proces- sobre o desenvolvimento. O próprio desen-
sos culturais de construção e desconstrução da volvimento da perspectiva histórico-cultural
atenção, fazendo o que pude. É evidente que me é prisioneiro da hipótese de não-neurogênese,
faltam meios, mas penso que seria pior aceitar o estabelecida na medicina, na neurologia e na
preço dos recursos condicionados. As atuais ge- psicologia desde a histologia de Cajal, desde os
rações de pesquisadores na Espanha enfrentam primeiros anos do século XX.
um cenário assim: vão saltando uma série de Em seus últimos escritos sobre a estrutu-
obstáculos e passando por uma série de estrei- ra cerebral, quando estava estudando medicina,
tamentos. Uma vez que você aceita esse jogo, Vigostki intui que há mudança cerebral. Ele não
está preso num caminho bem estreito. Uma par- apresenta a ideia explicitamente, pois não teve
te das novas gerações aceitou pagar o preço da tempo de fazer a segunda formulação depois do
carreira acadêmica e está muito constrangida modelo das funções superiores. Estas se cons-
por esse tipo de questões. É preciso recuperar troem culturalmente por meio da mediação, e
margens de liberdade. E às vezes paga-se um Vigotski cunhou dois conceitos para dar conta
preço para isso, que é o preço da luta, de ser disso, embora eles não expliquem de fato o pro-
discriminado e ter menos recursos. Mas o que cesso: a apropriação e a interiorização. Quando
você não pode é pagar o preço interno de re- uma operação externa – como a tábua de mul-
nunciar a seus temas, hipóteses e ideias. tiplicar, o olhar que trabalha com a imagem
ou o olhar externo – converte-se em operação
Para finalizar, gostaríamos que você falasse interior, há um processo de passagem. O termo
um pouco sobre seus estudos relacionados à russo para interiorização significa muitas coisas
neurogênese, tema extremamente interessante – interiorização, revolução, reconstrução –, mas
a que você se dedica há um bom tempo. sempre foi traduzido como internalização, o que
faz parecer que você leva para dentro aquilo que
De algum modo, todos nós somos ali- está fora. Trata-se de um conceito mais comple-
mentados e fortalecidos pelos a prioris da men- xo, mas, em todo caso, uma operação cíclica ex-
talidade e pelos paradigmas de nossa época, ao terna passa a ser interna. Será que, nesse proces-
mesmo tempo em que somos seus prisioneiros. so, alguma coisa acontece com o cérebro? Essa
A bênção e a maldição do homem chegam com é a pergunta que Vigotski se fez em seus dois
sua cultura; já a benção e a maldição do cien- últimos anos, quando teve o cérebro como tema
tífico vêm com os conhecimentos herdados por de estudo. E ele pensava que, se a teoria his-
ele. O papel da ciência é justamente receber a tórico-cultural não consegue demonstrar o que
herança, mas superar seus a prioris. Para supe- acontece no cérebro, ela é uma teoria mais de
rá-los, porém, é preciso partir deles. caráter mental. Daí resultou, portanto, o dualis-
O a priori que excluiu e deteve a hipótese mo, a separação entre pensamento e organismo.
da neurogênese é o de que o cérebro é um artefa- Ele não cunhou o conceito de neurogênese, mas
to, um órgão estável: na filogênese, alcançou-se começou a aproximar-se dele.

532 Entrevistadoras: Teresa Cristina REGO; Elizabeth dos Santos BRAGA. Dos desafios para a psicologia histórico-cultural à reflexão...
Daí também a explicação sobre cres- Os neurologistas e os biólogos estão fa-
cimento em camadas e sobre deteriorações, a zendo investigações sobre neurogênese. Bauer
qual se manteve em toda a neuropsicologia das e Altman demonstraram a neurogênese em
recuperações e foi desenvolvida pela escola de animais nos anos 1970, mas suas publicações
Luria: a hipótese de que a construção de no- não foram levadas a sério até os anos 1990.
vas camadas corticais tem uma lógica na cons- Nesse momento, Altman já é reconhecido co-
tituição das funções superiores de tal maneira mo uma figura histórica no desenvolvimento
que, se há lesões nas camadas profundas ou nas da neurologia. Aqui há duas coisas: a neuro-
externas, as consequências no desempenho da gênese é um mecanismo natural em animais
função superior serão distintas. Portanto, essa cujo cérebro está em mutação. Se unirmos isso
hipótese supõe que há neurogênese. E Luria aí ao que Bruner, baseado na investigação de De
mantém com Vigotski uma lealdade de autoria Vore sobre a prematuridade do parto huma-
sobre a hipótese do crescimento cerebral. Com no no processo filogenético ou aborto filoge-
base nisso, Luria e boa parte de seus colabora- nético, denomina hipótese da imaturidade, é
dores trabalham com a ideia de que as funções possível compreender que Vigotski tinha razão
superiores supõem um crescimento cerebral, a e que boa parte do crescimento cerebral de-
emergência de novas zonas corticais, algo que pois do parto é neurogenético, provocado pela
foi demonstrado. E, para eles, essas zonas não incorporação das funções superiores. Ou seja,
são caracterizadas por um localizacionismo tra- boa parte de nossa neurogênese não é fruto
dicional, mas sim por um desenvolvimento de de um sistema puramente natural, mas de um
mecanismos. Aquilo que nós chamamos de ope- sistema combinado de desenvolvimento bioló-
radores de mediação instrumental – o ábaco, por gico mediado pela cultura.
exemplo – na neuropsicologia de Luria converte- Nós distinguimos três sistemas de me-
-se em mecanismos neurológicos. Tais mecanis- mória; os dois primeiros são: o sistema gené-
mos têm localizações e podem ser rastreados em tico (genoma), que influi na conformação do
trabalhos da neurologia e da neuropsicologia, cérebro; e o sistema nervoso, por meio do qual
mas basicamente estão integrados em sistemas o cérebro incorpora conhecimento. Quando o
muito articulados. Isto Vigotski também já di- organismo morre, o conhecimento proporcio-
zia: as funções quase sempre reverberam em boa nado pelo segundo desses sistemas desaparece,
parte do cérebro, e não num lugar único. mas o do genoma continua. Assim, ambos os
Toda essa arquitetura do cérebro em que sistemas se complementam: um deles (o cére-
Vigotski avança leva, em Luria, à evidência da bro) é muito flexível e o outro é muito rígido;
neurogênese. Trata-se, porém, de pesquisas so- um é muito estável e o outro é muito instável.
viéticas que apenas se difundem no Ocidente. A Esses dois sistemas trabalham muito bem, mas
partir do que conheço da obra de Luria, tenho cer- Vigotski aponta a existência de um terceiro: a
teza da existência da neurogênese e de que essa cultura, que exerce mediações sociais e instru-
é a única via. As evidências sobre a neurogênese mentais. Realmente, do ponto de vista funcio-
vêm se acumulando nos últimos cinco anos. Há nal e psicológico, há funções que são exercidas
investigações sobre como aparecem novas zonas na cultura. E, se a neurogênese está certa, tal
corticais nos monges budistas depois de dez anos sistema incorpora-se ao segundo, atuando de
de meditação ou nos famosos taxistas de Londres fora e reestruturando o sistema cortical.
depois de anos exercendo a profissão. Essa notícia é tremendamente impor-
tante, pois supõe que o sistema de evolução
Podemos afirmar que a neurogênese está con- humano é constituído de três partes e que o
solidada como um campo de estudos? Como es- cérebro responde ativamente tanto aos reque-
tão as pesquisas mais recentes sobre o assunto? rimentos do genoma quanto aos da cultura (do

Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 2, p. 509-540, abr./jun. 2013. 533


culturoma, poderíamos dizer, para estabelecer linha em que estamos, sem os recursos neces-
uma equivalência terminológica). Não são três sários. Portanto, devo dizer que permanecemos
partes em paralelo, mas sim três partes que in- explorando o terreno, mais do que realizando
teratuam. A interação entre o segundo sistema um trabalho efetivo. Em todo caso, tentamos
e o primeiro é hoje um tema apaixonante e entender as funções distribuídas externamente
muito complexo com o qual a biologia ainda e realizar um diagnóstico delas, uma vez que
segue lutando. Investigações estão sendo feitas a investigação funcional tem se concentrado
e continuarão a ser durante muito tempo. Mas quase exclusivamente nas funções corticaliza-
as relações entre o segundo e o terceiro siste- das internamente. Nossa intenção, portanto, é
ma são as que abriram o caminho nos últimos objetivar as funções externalizadas e as inte-
cinco ou dez anos. rações entre as funções internas e as externas.
A neurogênese se converteu numa evi- Como se pode ver, a relação entre o es-
dência, não apenas para a escola de Luria, tudo da neuropsicologia externa e da neurop-
mas também para o Ocidente. Ainda assim, sicologia interna seria o desenvolvimento mais
à maioria das pessoas que trabalham com direto a ser implementado a partir da proposta
neurociência falta a chave da distinção entre teórica de Vigotski, tomada de maneira global.
função natural e função superior, bem como Trata-se de cartografar e articular, em cada
a chave da compreensão de como a neurogê- indivíduo e em cada cultura, os tecidos fun-
nese está relacionada com tal distinção e de cionais distribuídos externa e internamente.
que muitas das neurogêneses humanas (não Em ambos os casos, o processo é evolutivo:
todas, obviamente, porque continua havendo a cultura muda e o cérebro também. Por isso,
neurogêneses de funções naturais, por assim para nós, não haveria tanta distância entre a
dizer, de caráter animal – quando se ganha psicologia cultural, tal como é proposta por
uma perna, pode-se reconstruir o movimento) Cole, e a neuropsicologia, tal como foi pro-
são relativas a funções superiores, isto é, são posta por Luria em sua última obra de reflexão
neurogêneses culturalmente ativadas. Essa é a vital (1979).

534 Entrevistadoras: Teresa Cristina REGO; Elizabeth dos Santos BRAGA. Dos desafios para a psicologia histórico-cultural à reflexão...
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LURIA, Alexander Romanovich. The role of speech in the regulation of normal and abnormal behavior. Nova York: Leveright, 1961.

______. The making of mind. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1979.

SACHS, Oliver. Foreword. In: LURIA, Alexander Romanovich. The man with a shattered world. Cambridge, MA: Harvard University
Press, 1987. p. vii-xviii.

TOLKIEN, John Ronald Reuel. Foreword. In: ______. The lord of the rings. Nova York: Harper Collins, 1993.

UNAMUNO, Miguel de. Del sentimiento trágico de la vida. Madri: Aguilar, 1987.

VALSINER, Jaan. Reflexivity in context: narratives, hero-myths, and the making of histories in psychology. In: ROSA, Alberto;
VALSINER, Jaan (Eds.). Historical and theoretical discourse in social and cultural studies. Madri: Fundación Infancia y
Aprendizaje, 1994. p. 169-186.

VAN DER VEER, René; VALSINER, Jaan. Understanding Vygotski: a quest for synthesis. Cambridge; Oxford: Blackwell, 1991.

VIGOTSKI, Lev Semenovitch. El significado histórico de la crisis en psicología. In: ______. Obras Escogidas, v. I: problemas
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Distribuciones, 1991. p. 257-416.

______. El instrumento y el signo en el desarrollo del niño. Madri: Fundación Infancia y Aprendizaje, 2007a.

______. La tragedia de Hamlet, príncipe de Dinamarca, de W. Shakespeare. In: ______. La tragedia de Hamlet y psicología
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Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 2, p. 509-540, abr./jun. 2013. 535


Bibliografia selecionada

Esta bibliografia está organizada em quatro seções:

1. Ecopsicologia cultural (tema atual de pesquisa do autor);


2. Educação a partir da perspectiva histórico-cultural;
3. Problemas gerais (questões da psicologia cultural relativas a arte e drama, emoção, identidade,
meios de comunicação e efeitos da cultura);
4. Compilações, traduções e edições (da obra de Vigotski e de outros autores da perspectiva
histórico-cultural).

1. Ecopsicologia cultural

DEL RÍO, Pablo. La zona de desarrollo próximo y la zona sincrética de representación: el espacio instrumental de la mediación
social. Infancia y Aprendizaje, v. 51-52, p. 191-244, 1990.

______. Extra-cortical connections: the sociocultural systems for conscious living. In: DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia; WERTSCH,
James V. (Eds). Explorations in socio-cultural studies: literacy and other forms of mediated actions. Madri: Fundación Infancia
y Aprendizaje, 1994. v. 2, p. 19-32.

______. The external brain: eco-cultural roots of distancing and mediation. Culture & Psychology, v. 8, n. 2, p. 233-265, 2002.

DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia. Ulises vuelve a casa: retornando al espacio del problema en el estudio del desarrollo. Infancia
y Aprendizaje, n. 66, p. 21-45, 1994.

______. Tossing, praying and reasoning: the changing architectures of mind and agency. In: WERTSCH, James V.; DEL RÍO, Pablo;
ÁLVAREZ, Amelia (Eds.) Sociocultural studies of mind. Cambridge: Cambridge University Press, 1995. p. 215-247.

______. Ensalmos, rezos y silogismos: la cambiante arquitectura de los sistemas de conciencia. In: WERTSCH, James V.; DEL RÍO,
Pablo; ÁLVAREZ, Amelia (Eds.). La mente sociocultural. Madri: Fundación Infancia y Aprendizaje, 1997. p. 165-191.

______. Lançando, meditando e raciocinando: as arquitecturas variaveis da mente e da ação. In: WERTSCH, James V.; DEL RÍO,
Pablo; ÁLVAREZ, Amelia (Eds.). Estudos socioculturais da mente. Porto Alegre: ArtMed, 1998. p. 184-209.

______. La puesta en escena de la realidad cultural: una aproximación histórico-cultural al problema de la etnografía audiovisual.
Revista de Antropología Social, n. 8, p. 121-136, 1999.

______. Pray and the kingdom of heaven: psychological tools for directivity. In: VALSINER, Jaan; ROSA, Alberto (Eds.). The
Cambridge handbook of sociocultural psychology. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. p. 373-403.

______. The zone of proximal development: inside and outside. In: DANIELS, Harry; COLE, Michael; WERTSCH, James V. (Eds.).
The Cambridge companion to Vygotsky. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. p. 276-303.

Em preparação:

DEL RÍO, Pablo. Del espacio cultural al espacio mental: el proceso de construcción de los instrumentos mentales. Madri: FIA
(e-book).

______. La zona sincrética de representación: bases para una ecología psico-cultural. Madri: FIA (e-book).

DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia. Eco-mente: una introducción eco-histórico-cultural al hecho humano. Madri: FIA (e-book).

536 Entrevistadoras: Teresa Cristina REGO; Elizabeth dos Santos BRAGA. Dos desafios para a psicologia histórico-cultural à reflexão...
2. Educação a partir da perspectiva histórico-cultural

ÁLVAREZ, Amelia; DEL RÍO, Pablo. Actividad y lenguaje: el diseño cultural como marco para un programa de enseñanza del inglés
como lengua extranjera. Comunicación, Lenguaje y Educación, n. 7-8, p. 99-125, 1990.

______. Introducción: culturas, desarrollo humano y escuela. Hacia el diseño cultural de la educación. Cultura y Educación, v.
13, n. 1, p. 9-20, 2001.

DEL RÍO, Pablo. El desarrollo de las competencias espaciales y el proceso de construcción de los instrumentos mentales.
Tese (Doutorado) – Universidad Complutense, Madri, 1987. (E-book em preparação: Del espacio cultural al espacio mental: el
proceso de construcción de los instrumentos mentales. Madri: FIA.)

______. “Pásame la brújula!”: un ejemplo de metodología histórico-cultural en la enseñanza de las matemáticas. Comunicación,
Lenguaje y Educación, n. 11-12, p. 27-54, 1991.

______. De la discapacidad como problema a la discapacidad como solución: el largo camino del pensamiento defectológico
desde L. S. Vygotski. Cultura y Educación, n. 11-12, p. 35-58, 1998.

______. El cambio histórico-cultural y las identidades de género: los jóvenes españoles ante la diferencia de sexo. Cultura y
Educación, n. 14-15, p. 147-178, 1999.

______. El cambio cultural en el medio y en el mensaje. In: RAMOS, Joaquín (Coord.). Enseñar a escribir sin prisas... pero con
sentido. Sevilha: MECD, 2002. p. 20-47.

______. El arte es a la vida como el vino es a la uva: el papel del arte en la educación a la luz de la genética cultural. Cultura
y Educación, v. 16, n. 1-2, p. 43-64, 2004. (Reedição no prelo: ÁLVAREZ, Amelia; DEL RÍO, Pablo. Arte y educación: una
aproximación vygotskiana. In: ELICHIRY, Nora (Ed.). Artes y aprendizajes. Buenos Aires: Novedades Educativas.)

______. Las tecnologías que nos cambian: la educación de las nuevas generaciones ante los nuevos marcos de desarrollo,
los medios y las tecnologías. Conferência apresentada no II Congreso Iberoamericano de Educared. Buenos Aires, 2006.
Disponível em: <http://es.scribd.com/doc/69004253>. Acesso em: 5 abr. 2013.

______. Educación y evolución humana: contribución al debate ¿Qué teorías necesitamos en educación? Cultura y Educación,
v. 19, n. 3, p. 231-241, 2007.


______. La creación cultural y la educación como autoevolución: comentarios a las contribuciones al debate. Cultura y Educación,
v. 19, n. 3, p. 267-275, 2007.

DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia. The global curriculum: rethinking school from the perspective of education. Networks: An Online
Journal for Teacher Research, v. 7, n. 1, fev. 2004. Disponível em: <http://journals.library.wisc.edu/index.php/networks/article/
view/25/30>. Acesso em 5 abr. 2013.

______. La actividad como problema del desarrollo: algunos potenciales educativos del eco-funcionalismo y la psicología
histórico-cultural. Cultura y Educación, v. 23, n. 4, p. 601-619, 2011.

3. Problemas gerais

ÁLVAREZ, Amelia; DEL RÍO, Pablo. Cultural mind and cultural identity: projects for life in body and spirit. In: CHAIKLIN, Seth;
HEDEGAARD, Mariane; JUUL JENSEN, Uffe (Eds.). Activity theory and social practice: cultural historical approaches. Aarhus:
Aarhus University Press, 1999. p. 302-324. (Reimpressão: 2002.)

______. Una introducción a las dos psicologías de Lev S. Vygotski. In: DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia (Eds.). Escritos sobre
arte y educación creativa de L. S. Vygotski. Madri: Fundación Infancia y Aprendizaje, 2007. p. 7-12.

Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 2, p. 509-540, abr./jun. 2013. 537


DEL RÍO, Pablo. La discapacidad, único camino hacia el hecho humano: imágenes sociales y actitudes mentales ante la
discapacidad. In: CASADO, Demetrio et al. Discapacidad e información. Monografia 14/87. Madri: Real Patronato de Atención y
Prevención a Personas con Minusvalías, 1987. p. 91-114. (Reedições: 1990, 1992, 1999).

______. No me chilles que no te veo: atención y fragmentación audiovisual. Cultura y Educación, n. 20, p. 51-80, 2000.

______. Los efectos de la dieta televisiva y las trayectorias de desarrollo infantil. Algunas reflexiones a partir del Proyecto Pigmalión.
In: FERREIRA, Jorge (Org.). A intervenção psicológica em problemas de educação e de desenvolvimento humano. Lisboa:
Edições Universitárias Lusófonas, 2010. p. 175-197.

DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia. La representación de los conceptos sociales en los medios de comunicación. In: DEL RÍO, Pablo
et al. La representación de los problemas sociales en los medios de comunicación. Monografia 91. Madri: Real Patronato de
Atención y Prevención a Personas con Minusvalía, 1991. (Reedição: Los procesos de representación sobre problemas sociales en
los medios de comunicación. In: ÁLVAREZ, Amelia et al. Discapacidad y comunicación social: 4a edición corregida y aumentada
de Discapacidad e Información. Monografía 14/98. Madri: Real Patronato de Atención y Prevención a Personas con Minusvalía,
1999. p. 127-150.)

______. Psicología del desarrollo para el desarrollo de la psicología. Infancia y Aprendizaje, v. 25, n. 4, p. 441-468, 2002.

______. La psicología del arte en la psicología de Vygotski. In: VIGOTSKI, Lev S. La tragedia de Hamlet y psicología del arte.
Organização de Amelia Álvarez e Pablo Del Río. Madri: Fundación Infancia y Aprendizaje, 2007. p. 7-37.

DEL RÍO, Pablo, ÁLVAREZ, Amelia; DEL RÍO, Miguel. El efecto Pigmalión en televisión: orientaciones y propuestas sobre la influencia
de la televisión en la infancia. Red Digital, v. 4, 2003.

______. Pigmalión: Informe sobre el impacto de la televisión en la infancia. Madri: Fundación Infancia y Aprendizaje, 2004.

DEL RÍO, Pablo; DEL RÍO, Miguel. La construcción de la realidad por la infancia a través de su dieta televisiva. Comunicar, n. 31,
p. 99-108, 2008.

DEL RÍO, Pablo; FUERTES, Marta. ¡Cámara! ¡Acción! Un análisis de la confrontación de la tipología industrial y la tipología dramática
en el proceso de construcción de la realidad por el cine. Cultura y Educación, v. 16, n. 1-2, p. 203-222, 2004.

FUERTES, Marta; DEL RÍO, Pablo. El viento se llevó lo qué: un análisis de la creación cultural y la construcción narrativa en el cine.
Cultura y Educación, v. 16, n. 1-2, p. 181-201, 2004.

Sobre comunicação da ciência:

DEL RÍO, Pablo. Ciencia, comunicación y mercado: la condición mediática de la ciencia. Estudios de Psicología, v. 25, n. 3, p.
265-302, 2004.

______. La documentación como análisis de culturas vivas: un acercamiento histórico cultural al análisis de contenido. In: HILARIO,
Ana B. Ríos, MONTOYA, José A. Frías (Orgs.). Metodologías de investigación en información y documentación. Salamanca:
Ediciones Universidad Salamanca, 2004. p. 225-236.

DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia. Souvenirs du futur: l’héritage d’un Maître. Bulletin de Psychologie, v. 426, p. 561-564, 1996.

______. Algunas reflexiones sobre las influencias no objetivas en la historia de la ciencia. Anuario de Psicología, v. 33, n. 2, p.
321-324, 2002.

Em preparação:

DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia; DEL RÍO, Miguel. Informe Pigmalión II: La televisión y su impacto en el marco cultural de la
infancia española (agrupa informes sobre anteriores investigaciones del grupo e incluye dos capítulos con datos previos a este
proyecto).

538 Entrevistadoras: Teresa Cristina REGO; Elizabeth dos Santos BRAGA. Dos desafios para a psicologia histórico-cultural à reflexão...
DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia; DEL RÍO, Miguel. Informe Pigmalión III. Así es la vida: el imaginario publicitario. Madri:
Fundación Infancia y Aprendizaje.

4. Compilações, traduções e edições

DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia (Eds.). Escritos sobre arte y educación creativa de L. S. Vygotski. Madri: Fundación Infancia
y Aprendizaje, 2007.

DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia; WERTSCH, James V. (Eds.). Explorations in socio-cultural studies. Madri: Fundación Infancia
y Aprendizaje, 1994. 4 v.

VIGOTSKI, Lev S. Obras escogidas. Organização de Amelia Álvarez e Pablo del Río. Madri: Ministerio de Educación y Ciencia;
Visor Distribuciones, 1990 e ss.

______. El instrumento y el signo en el desarrollo del niño. Organização de Amelia Álvarez e Pablo del Río. Madri: Fundación
Infancia y Aprendizaje, 2007.

______. Ensaio sobre Hamlet y psicología del arte. Organização de Amelia Álvarez e Pablo del Río. Madri: Fundación Infancia
y Aprendizaje, 2007.

WERTSCH, James V.; DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia (Eds.). La mente sociocultural: aproximaciones teóricas y aplicadas.
Madri: Fundación Infancia y Aprendizaje, 1997.

______ (Eds.). Sociocultural studies of mind. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.

______ (Eds.). Estudos socioculturais da mente. Porto Alegre: ArtMed, 1998.

Números de revista editados sobre Vigotski e a investigação histórico-cultural:

ÁLVAREZ, Amelia; DEL RÍO, Pablo. El momento de Vygotski: el porqué de un homenaje. Dossier monográfico. Infancia y
Aprendizaje, v. 27-28, p. 1-6, 1984.

______. Una aportación española al programa de la psicología histórico-cultural del desarrollo y la educación. Infancia y
Aprendizaje, v. 51-52, p. 5-14, 1990.

DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia. Puntos de convergencia en la psicología histórico-cultural de lengua española. Infancia y
Aprendizaje, v. 51-52, p. 15-40, 1990.

DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia; LÓPEZ, Zoe. Arte y educación. Número monográfico. Cultura y Educación, v. 16, n. 1-2, p.
43-64, 2004.

Reflexão, comentário e autoria sobre a obra de Vigotski e outros autores da perspectiva histórico-cultural:

ÁLVAREZ, Amelia; DEL RÍO, Pablo. Una introducción a las dos psicologías de Lev S. Vygotski. In: DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia
(Eds.). Escritos sobre arte y educación creativa de L. S. Vygotski. Madri: Fundación Infancia y Aprendizaje, 2007. p. 7-12.

DEL RÍO, Pablo. La zona de desarrollo próximo y la zona sincrética de representación: el espacio instrumental de la mediación
social. Infancia y Aprendizaje, n. 51-52, p. 191-244, 1990. (e-book em preparação)

DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia. De la psicología del drama al drama de la psicología: la relación entre la vida y la obra de Lev S.
Vygotski. Estudios de Psicología, v. 28, n. 3, p. 303-331, 2007.

______. La psicología del arte en la psicología de Vygotski. In: VIGOTSKI, Lev S. La tragedia de Hamlet y psicología del arte.
Organização de Amelia Álvarez e Pablo del Río. Madri: Fundación Infancia y Aprendizaje, 2007. p. 7-37.

Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 2, p. 509-540, abr./jun. 2013. 539


DEL RÍO, Pablo; SERRÃO, Maria Isabel; ASHBAR, Flávia. Entrevista con Pablo del Río sobre Vygotski: su obra y su actualidad.
Psicologia Escolar e Educacional, v. 14, n. 1, p. 161-169, 2010.

______. Segunda parte de la entrevista con Pablo del Río Pereda sobre Vygotski: su obra y su actualidad. Psicologia Escolar e
Educacional, v. 14, n. 2, p. 363-372, 2010.


No prelo

DEL RÍO, Pablo. Los dos acercamientos de Vygotski a la mente humana: comentarios sobre la obra de las funciones superiores.
Madri: Fundación Infancia y Aprendizaje (e-book).

DEL RÍO, Pablo; ÁLVAREZ, Amelia. El desarrollo cultural y las funciones superiores: del pasado al futuro. In: SMOLKA, Ana L.
Bustamante; NOGUEIRA, Ana L. Horta (Orgs.). Estudos na perspectiva de Vigotski: gênese e emergência das funções
psicológicas. Campinas: Mercado de Letras, Série Desenvolvimento Humano e Práticas Culturais, 2013.

540 Entrevistadoras: Teresa Cristina REGO; Elizabeth dos Santos BRAGA. Dos desafios para a psicologia histórico-cultural à reflexão...

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