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Antecedentes históricos da seguridade social no mundo e no

Brasil
Rodrigo Guimarães Jardim
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197
No Brasil, a proteção social evoluiu de forma semelhante ao plano
internacional. Inicialmente foi privada e voluntária, passou para a formação dos
primeiros planos mutualistas e, posteriormente, para a intervenção cada vez
maior do Estado.
Resumo:A Seguridade Social não surgiu abruptamente, seja no mundo, seja no
Brasil. Ela originou-se na necessidade social de se estabelecer métodos de proteção
contra os variados riscos ao ser humano. A Seguridade Social, sob o enfoque mundial,
tem origem nos modelos Bismarckiano (1883) e Beveridgiano (1942). No Brasil, a
proteção social evoluiu de forma semelhante ao plano internacional. Inicialmente foi
privada e voluntária, passou para a formação dos primeiros planos mutualistas e,
posteriormente, para a intervenção cada vez maior do Estado. O marco normativo da
Seguridade Social brasileira foi a Lei Eloy Chaves, que criou nacionalmente as Caixas
de Aposentadorias e Pensões para os ferroviários, e atualmente é regida pelas Leis nº
8.080/90 e nº 8.213/91, que criaram, sob a égide da Constituição Federal de 1988, o
Sistema Único de Saúde (SUS) e o Plano de Benefícios da Previdência Social.

PALAVRAS-CHAVE: Seguridade Social. Direito Previdenciário. Modelo Bismarckiano.


Plano Beveridge. Lei Eloy Chaves.

I. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Seguridade Social não surgiu abruptamente, seja no mundo, seja no
Brasil. Ela originou-se na necessidade social de se estabelecer métodos de
proteção contra os variados riscos ao ser humano. Em verdade, a elaboração
de medidas para reduzir os efeitos das adversidades da vida, como fome,
doença, velhice, etc. pode ser considerada como parte da própria teoria
evolutiva de Darwin, na parte em que refere à capacidade de adaptação da
raça humana para sobreviver. Segundo Ibrahim, “não seria exagero rotular
esse comportamento de algo instintivo, já que até os animais têm hábito de
guardar alimentos para dias mais difíceis. O que talvez nos separe das demais
espécies é o grau de complexidade de nosso sistema protetivo”[1].

Este é o tema deste ensaio: os antecedentes históricos da Seguridade


Social no mundo e no Brasil.

II. ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA


SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO E NO BRASIL
Inicialmente, a proteção contra os riscos da vida era conferida pela
família. Contudo, antigamente o conceito de família era bem mais amplo [2]. Nos
dias de hoje, a reunião dos genitores e seus filhos sob a mesma moradia
representa a ideia clássica de família. Contudo, no Império Romano, a família,
normalmente sob o comando do homem mais velho que conservasse o vigor
físico, o pater familiae, consistia num aglomerado maior, reunindo avós, pais,
filhos, netos, sobrinhos, ou seja, além do vínculo sanguíneo em linha reta, uma
mesma família também reunia a linha colateral em vários feixes.

Aqueles que não eram abarcados pela proteção familiar e não tinham
condições de prover o próprio sustento dependiam da chamada ajuda aos
pobres e necessitados. Por bastante tempo a caridade praticada pelos mais
ricos tinha o efeito psicológico de diminuir-lhes a culpa pela exploração
realizada ao seu próprio semelhante, tanto a exploração dos escravos como a
exploração trabalhista sobre o homem livre. Dessa forma, a caridade seria a
efetiva garantia de acesso ao Reino de Deus[3].

Formalmente, “a notícia da preocupação do homem em relação ao


infortúnio é de 1344. Ocorre neste ano a celebração do primeiro contrato de
seguro marítimo, posteriormente surgindo a cobertura de riscos contra
incêndios”[4]. Vale ressaltar, no entanto, que a preocupação maior desses
seguros não era com as pessoas, mas, sim, com as cargas e bens materiais[5].

Segundo Martins, posteriormente vieram as confrarias ou guildas,


consistentes em associações com fins religiosos.
Essas sociedades normalmente vinculavam pessoas da mesma categoria ou
profissão, que tinham objetivos comuns. Os integrantes recolhiam valores
anuais, que poderiam ser utilizados em caso de velhice, doença e pobreza.
Saindo um pouco da realidade europeia, cabe destacar que o Império Inca,
ainda que em estado evolutivo menos avançado, já se preocupava com os
seus integrantes que não tinham capacidade de produção. Por essa razão,
havia o cultivo de terras com trabalho comum, cuja meta era atender as
necessidades alimentares dos anciãos, doentes e inválidos.[6]

Retornando à Europa, o ano de 1601 marcou o advento, na Inglaterra,


do Poor Relief Act (lei de amparo aos pobres), que instituiu a contribuição
obrigatória para fins sociais e consolidou outras leis sobre a assistência
pública. Essa lei concedia aos juízes da Comarca o poder de tributar, pois
autorizava que lançassem o imposto de caridade a ser pago por todos os
ocupantes e usuários de terras. O valor arrecadado era centralizado nas
paróquias e administrados pelos inspetores nomeados pelos juízes, cabendo a
elas - paróquias - o auxílio aos indigentes.[7]

Também tem inegável relevância o artigo 21 da Declaração dos


Direitos do Homem e do Cidadão, acrescentado pela Convenção Nacional
francesa de 1793. Dispôs o artigo 21 que “os auxílios públicos são uma dívida
sagrada. A sociedade deve a subsistência aos cidadãos infelizes, quer seja
procurando-lhes trabalho, quer seja assegurando os meios de existência
àqueles que são impossibilitados de trabalhar.[8]” Assim, verifica-se que a
proteção assistencial passou, progressivamente, a ser institucionalizada.
A gênese da proteção social conferida pelo Estado originou-se, então,
na Alemanha, com a aprovação, em 1883, do projeto do Chanceler Otto Von
Bismarck. A Lei do Seguro Social garantiu, inicialmente, o seguro-doença,
evoluindo para abrigar também o seguro contra acidentes de trabalho (1884) e
o seguro de invalidez e velhice (1889)[9]. O financiamento desses seguros era
tripartido, mediante prestações do empregado, do empregador e do Estado.

Depois da atuação do Chanceler Alemão para diminuir a tensão


existente entre as classes trabalhadoras, surge uma nova fase,
denominada constitucionalismo social, em que o tema sob análise começa a
ser positivado na própria Constituição dos países:

A primeira Constituição do mundo a incluir o seguro social em seu bojo foi


a do México, de 1917 (art. 123). Previa que os empresários eram responsáveis
pelos acidentes do trabalho e pelas moléstias profissionais dos trabalhadores,
em razão do exercício da profissão ou do trabalho que executarem; por
conseguinte, os patrões deverão pagar a indenização correspondente,
conforme a consequência decorrente seja morte, ou simplesmente a
incapacidade temporária ou permanente para o trabalho, de acordo com o que
as leis determinarem. Esta responsabilidade subsistirá ainda no caso de o
patrão contratar o trabalho por via de intermediário (XIV).
A Constituição Soviética de 1918 também tratava de direitos
previdenciários.

A Constituição de Weimar, de 11-8-1919, criou um sistema de seguros


sociais para poder, com o concurso dos interessados, atender à conservação
da saúde e da capacidade para o trabalho, à proteção, à maternidade e à
previsão das consequências econômicas da velhice, da enfermidade e das
vicissitudes da vida (art. 161). Determinou que ao Estado incumbe prover a
subsistência do cidadão alemão, caso não possa proporcionar-lhe a
oportunidade de ganhar a vida com um trabalho produtivo (art. 163).

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi criada em 1919. Tal


órgão passou a evidenciar a necessidade de um programa sobre previdência
social, aprovando-o em 1921. Várias convenções vieram a tratar da matéria,
como a de nº 12, sobre acidentes do trabalho na agricultura, de 1921; a
Convenção nº 17 (1927), sobre “indenização por acidente de trabalho”, e
outras.[10]

Após o modelo Bismarckiano, outros países aprovaram seus planos de


proteção social. A Dinamarca aprovou o direito à aposentadoria em 1891. Logo
depois, a Suécia desenvolveu o primeiro plano de pensão nacional universal.
Na América Latina, os sistemas mais antigos de seguro social foram criados na
Argentina, Chile e Uruguai, no começo da década de 1920. [11] Os Estados
Unidos da América, de Franklin Roosevelt, instituíram o New Deal, com a
doutrina do Wellfare State (Estado do bem-estar social), a partir de 1933, e
editaram o Social Security Act, em 1935. A Nova Zelândia instituiu, em 1938,
instituiu uma lei concedendo proteção a toda a população, implantando o
seguro social e extinguindo o seguro privado. A Carta do Atlântico previu a
previdência social como “um modo de viver livre do temor e da miséria”, em 14
de agosto de 1941.[12]

O ápice da evolução securitária deu-se a seguir, no ano de 1942, com


a divulgação, na Inglaterra, do famoso Relatório Beveridge, que previa uma
ação estatal concreta como garantidora do bem-estar social, estabelecendo a
responsabilidade do Estado, além do seguro social, na área da saúde e
assistência social. O Plano Beveridge foi elaborado por uma comissão
interministerial de seguro social e serviços afins, nomeada um ano antes, com
o escopo de estabelecer alternativas para a reconstrução da sociedade no
período pós-guerra. É considerado um marco da evolução securitária porque
se trata de um estudo amplo e minucioso de todo o universo do seguro social e
serviços conexos, tendo questionado a proteção somente aos empregados,
enquanto todos os trabalhadores estão sujeitos aos riscos sociais.[13]

O Plano Beveridge baseava-se numa proteção ampla e duradoura,


tanto que Lorde Beveridge afirmara que a segurança social deveria ser
prestada do berço ao túmulo (Social security from the cradle to the grave).
Segundo Martins,

o Plano Beveridge tinha por objetivos (a) unificar os seguros sociais


existentes; (b) estabelecer o princípio da universalidade, para que a proteção
se estendesse a todos os cidadãos e não apenas aos trabalhadores; (c)
igualdade de proteção; (d) tríplice forma de custeio, porém com predominância
do custeio estatal.” O Plano Beveridge tinha cinco pilares: (a) necessidade; (b)
doença; (c) ignorância; (d) carência (desamparo); (e) desemprego. Era
universal e uniforme. Visava ser aplicado a todas as pessoas e não apenas a
quem tivesse contrato de trabalho, pois o sistema de então não atingia quem
trabalhava por conta própria. (...) Tinha por objeto abolir o estado de
necessidade. Objetivava proporcionar garantia de renda às pessoas, atacando
a indigência. (...) Os princípios fundamentais do sistema eram: horizontalidade
das taxas de benefícios de subsistência, horizontalidade das taxas de
contribuição, unificação da responsabilidade administrativa, adequação dos
benefícios, racionalização e classificação.[14]
Com base no Relatório Beveridge, o governo inglês apresentou uma
proposta de reforma da Previdência Social, implantando-o no ano de 1946.

No Brasil, a proteção social evoluiu de forma semelhante ao plano


internacional. Inicialmente foi privada e voluntária, passou para a formação dos
primeiros planos mutualistas e, posteriormente, para a intervenção cada vez
maior do Estado.[15] No século XVI, decorrente da caridade imanente à fé cristão
e a atuação da Igreja Católica, o padre jesuíta José de Anchieta fundou a
Santa Casa de Misericórdia, cujo objetivo era prestar atendimento médico e
hospitalar aos necessitados[16].

Em 1795, foi criado o Plano de Benefícios dos Órfãos e Viúvas dos


Oficiais da Marinha. Esse talvez seja a primeira ideia de pensão por morte no
ordenamento jurídico brasileiro, na medida em que tinha por objetivo
estabelecer proteção aos citados dependentes dos oficiais da Marinha contra o
risco social morte. Em 1808, estabeleceu-se o montepio para a guarda pessoal
de Dom João VI e, em 1835, o Montepio Geral dos Servidores do Estado
(Mongeral).[17] Em 1º de outubro de 1821, Dom Pedro de Alcântra publicou
Decreto concedendo o direito à aposentadoria aos mestres e professores,
desde que completassem 30 (trinta) anos de serviço, bem como assegurou um
abono de ¼ dos ganhos para aqueles que continuassem trabalhando depois de
completarem o tempo para inativação[18].

Na Constituição Imperial de 1824, a referência mais próxima ao seguro


social foi feita pelo artigo 179, inciso XXXI, ao constituir os Socorros Públicos[19].
Depois da proliferação dos Socorros Públicos, instituiu-se, como já referido, o
Montepio Geral dos Servidores do Estado, no ano de 1835. Esse Montepio,
que previa um sistema mutualista de cobertura de riscos, foi a primeira
entidade privada a funcionar no país.[20]

Na vigência da Constituição Imperial, ainda, merecem destaque: a) o


Código Comercial (1850), que previa o direito de manutenção do salário por
três meses na hipótese de acidente imprevisto e inculpado; b) o Regulamento
nº 737 (1850), que igualmente garantia aos empregados acidentados os
salários por até três meses; c) o Decreto nº 2.711 (1860), que regulamentava o
custeio dos montepios e das sociedades de socorros mútuos; d) o Decreto nº
9.912-A (1888) e nº 9.212 (1889), que, respectivamente, concedeu aos
empregados dos Correios o direito à aposentadoria, ao conjugarem 60
(sessenta) anos de idade e 30 (trinta) anos de serviço e criou o montepio
obrigatório para os seus empregados dos Correios; e) o Decreto nº 221 (1890),
que instituiu o direito à aposentadoria para os empregados da Estrada de Ferro
Central do Brasil.[21]

A Constituição Federal de 1891 foi a primeira a referir expressamente o


termo “aposentadoria”, concedendo o direito à inativação somente aos
funcionários públicos, no caso de invalidez. As outras categorias de
trabalhadores não foram contempladas pela Constituição. Essa diferenciação
de tratamento entre funcionários públicos e privados merece registro. A
justificativa era a necessidade de conceder uma proteção aos militares porque
eram eles que defendiam as fronteiras territoriais e mantinham a ordem,
sacrificando-se pelo país. Essa argumentação é válida, mas é bom que se
diga: ao manter a ordem, o exército mantinha o regime monárquico e o próprio
imperador no poder. [22]

Na vigência da Constituição Federal de 1891, tem importância a edição


da Lei nº 217 (1892), que concedeu o direito à aposentadoria por invalidez e a
pensão por morte dos operários do Arsenal da marinha do Rio de Janeiro, da
Lei nº 3.724 (1919), que estabeleceu o seguro acidente e tornou obrigatório o
pagamento de indenização pelos empregadores e, principalmente, a Lei Eloy
Chaves (Decreto nº 4.682/1923).[23]

A Lei Eloy Chaves é considerada um marco na evolução da Seguridade


Social no Brasil, pois criou nacionalmente as Caixas de Aposentadorias e
Pensões para os ferroviários.[24] O custeio das Caixas, conforme previsão do
artigo 3º, era feito da seguinte forma:
a) uma contribuição mensal dos empregados, correspondente a 3%
dos respectivos vencimentos;

b) uma contribuição anual da empresa, correspondente a 1% da sua


renda bruta;

c) uma contribuição equivalente ao aumento de 1,5% sobre as tarifas


das estradas de ferro;

d) as importâncias das joias pagas pelos empregados na data da


criação da caixa e pelos admitidos posteriormente, equivalentes a um mês de
vencimentos e pagas em 24 prestações mensais;

e) as importâncias pagas pelos empregados correspondentes à


diferença do primeiro mês de vencimentos, quando promovidos ou aumentados
de ordenado, pagas também em 24 prestações mensais;

f) o importe das somas pagas a maior e não reclamadas pelo público,


dentro do prazo de um ano;

g) as multas que atingiam o público ou o pessoal;

h) as verbas sob rubrica de venda de papel velho e varreduras;

i) os donativos legados à caixa;

j) os juros dos fundos acumulados.[25]

Além da aposentadoria por invalidez, a Lei Eloy Chaves previa, no seu


artigo 12, a aposentadoria ordinária nas seguintes situações:

a) integral, ao empregado ou operário que tenha prestado, pelo menos,


30 (trinta) anos de serviço e tenha 50 (cinquenta) anos de idade;

b) com 25% de redução, ao empregado ou operário que, tendo


prestado 30 (trinta) anos de serviço, tenha menos de 50 (cinquenta) anos de
idade;

c) com tantos trinta avos quanto forem os anos de serviço, até o


máximo de 30 (trinta), ao empregado ou operário que, tendo 60 (sessenta) ou
mais anos de idade, tenha prestado 25 (vinte e cinco) ou mais, até 30 (trinta)
anos de serviço.[26]

Imperioso ressaltar que a Lei Eloy Chaves instituiu, no seu artigo 9º,
item 3º, a pensão por morte para os dependentes dos segurados. O benefício
seria extinto, nos termos do artigo 33, para a viúva, o viúvo ou pais, quando
contraíssem novas núpcias, para os filhos, ao completarem 18 (dezoito) anos,
para as filhas ou irmãs solteiras, ao contraírem matrimônio e, para todos, em
caso de vida desonesta ou vagabundagem.[27]
Com a edição da Lei Eloy Chaves, outras categorias mobilizaram na
busca pelos mesmos direitos, provocando uma extensão dessa medida
protetiva. São exemplos dessa situação a Lei nº 5.109 (1926), que estendeu a
incidência da Lei Eloy Chaves aos portuários e marítimos, e a Lei nº 5.485
(1928), referente ao pessoal das empresas de serviços telegráficos e
radiotelegráficos.[28]

Após publicação da Lei Eloy Chaves, o desenrolar da Seguridade


Social no Brasil passa pela Revolução de 1930, com o governo de Getúlio
Vargas. Este Presidente reformulou os regimes previdenciário e trabalhista. Na
esfera previdenciária, tem especial destaque a mudança da organização do
sistema de caixas de Aposentadoria e pensão para institutos de aposentadoria
e pensão. O primeiro a ser criado foi o Instituto de Aposentadoria e Pensão dos
Marítimos (Decreto nº 22.872/1933). Gize-se que “a unificação das caixas em
institutos também ampliou a intervenção estatal na área, pois o controle público
ficou finalmente consolidado, já que os institutos eram dotados de natureza
autárquica e subordinados diretamente à União, em especial ao Ministério do
Trabalho”[29].

A Constituição Federal de 1934, que empregou o termo “previdência”


dissociado do termo “social”, foi a primeira a estabelecer a forma tripartida de
custeio, mediante contribuições do empregado, do empregador e do Estado. A
Constituição Federal de 1937 não trouxe nenhuma inovação significativa,
senão o emprego da expressão “seguro social”. A Constituição Federal de
1946 foi a primeira a empregar o termo “previdência social” em substituição à
“seguro social”; também durante a sua vigência foi editada a Lei nº 3.807
(1960), que unificou a legislação securitária e foi apelidada de Lei Orgânica da
Previdência Social (LOPS). Em 1965 ocorreu um fato significativo, incluiu-se na
Constituição Federal de 1946 um parágrafo proibindo a prestação de benefício
sem a correspondente fonte de custeio.[30]

Finalmente, no ano de 1966, o Decreto nº 72 criou o Instituto Nacional


de Previdência Social (INPS), autarquia integrante da administração indireta da
União, com personalidade jurídica própria. Em 1977, a Lei nº 6.439 instituiu o
Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS), conservando
as competências previdenciárias do INPS, e criando, entre outros órgãos, o
Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). Em
1976, novamente a legislação esparsa, que havia surgido desde a LOPS de
1960, foi unificada pelo Decreto nº 77.077 na Consolidação das Leis da
Previdência Social (CLPS). A CLPS de 1976 foi substituída pela CLPS de
1984, aprovada pelo Decreto nº 89.312.[31]

Em 1988, sob inspiração do Wellfare State, foi publicada no Brasil uma


nova Constituição Federal. O novel texto constitucional trouxe um capítulo
abordando a Seguridade Social (artigos 194 a 204), que foi dividida em
Previdência Social, Assistência Social e Saúde. Num primeiro momento, o
custeio da Seguridade Social seria realizado por contribuições sociais do
empregador, dos trabalhadores e sobre as receitas dos concursos de
prognósticos. Com as emendas constitucionais que sobrevieram, o custeio foi
melhor especificado, passando a ser da seguinte forma:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de
forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das
seguintes contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma


da lei, incidentes sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de
1998)

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou


creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo
sem vínculo empregatício; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de
1998)

b) a receita ou o faturamento; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20,


de 1998)

c) o lucro; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não


incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime
geral de previdência social de que trata o art. 201; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

III - sobre a receita de concursos de prognósticos.

IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele


equiparar. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
A Constituição Federal de 1988 reclamou a alteração da legislação
ordinária. Dessa forma, em 1990, o SIMPAS, do qual faziam parte INPS e o
INAMPS, foi extinto. A Previdência Social foi assumida, então, pelo Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS), criado pela Lei nº 8.029, e o atendimento
médico hospitalar passou a ser realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS),
criado pela Lei nº 8.080. Por fim, a CLPS de 1984 foi revogada pela Lei nº
8.213 (1991), que dispôs sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social,
e pela Lei nº 8.212 (1991), que institui o Plano de Custeio , vigentes até hoje.

Em breves linhas, estes são os principais fatos e atos normativos que


demonstram a evolução da seguridade social no mundo e no Brasil.

III. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Diante de todo o exposto, possível concluir-se que a Seguridade Social,
sob o enfoque mundial, tem origem nos modelos Bismarckiano e Beveridgiano.
O modelo Bismarckiano foi inaugurado em 1883, com o seguro-doença,
evoluindo para abrigar também o seguro contra acidentes de trabalho (1884) e
o seguro de invalidez e velhice (1889). O Plano Beveridge (1942), por sua vez,
era universal e uniforme, tendo cinco pilares: necessidade, doença, ignorância,
carência (desamparo) e desemprego. Ele baseava-se numa proteção ampla e
duradoura, tanto que Lorde Beveridge afirmara que a segurança social deveria
ser prestada do berço ao túmulo (Social security from the cradle to the grave).

No Brasil, a proteção social evoluiu de forma semelhante ao plano


internacional. Inicialmente foi privada e voluntária, passou para a formação dos
primeiros planos mutualistas e, posteriormente, para a intervenção cada vez
maior do Estado. O marco normativo da Seguridade Social brasileira foi a Lei
Eloy Chaves, que criou nacionalmente as Caixas de Aposentadorias e Pensões
para os ferroviários, e atualmente é regida pelas Leis nº 8.080/90 e nº 8.213/91,
que criaram, sob a égide da Constituição Federal de 1988, o Sistema Único de
Saúde (SUS) e o Plano de Benefícios da Previdência Social.

NOTAS
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 15ª ed. Rio
[1]

de Janeiro: Impetus, 2010, p. 1.

[2] IBRAHIM, op. cit., p. 1.

[3] IBRAHIM, op. cit., p. 2.

MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. 30ª ed. São


[4]

Paulo: Atlas, 2010, p. 3.

[5] IBRAHIM, op. cit., p. 2.

[6] MARTINS, op. cit., p. 3-4.

[7] MARTINS, op. cit., p. 4.

FRANÇA. Declaração dos direito do homem e do cidadão alterada


[8]

pela Convenção Nacional de 1793. 1793. Disponível em <


http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/dec1793.htm>. Acesso em: 22 mar
2013.

[9] IBRAHIM, op. cit., p. 51.

[10] MARTINS, op. cit., p. 5.

[11] IBRAHIM, op. cit., p. 51.

[12] MARTINS, op. cit., p. 5.

[13] IBRAHIM, op. cit., p. 51-52.


[14] MARTINS, op. cit., p. 5-6.

[15] IBRAHIM, op. cit., p. 58.

[16]ALENCAR, Hermes Arrais. Benefícios previdenciários. 3ª


ed.rev.e.atual. São Paulo: Universitária de Direito, p. 30.

[17] IBRAHIM, op. cit., p. 58.

[18] MARTINS, op. cit., p. 6.

[19] ALENCAR, op. cit., p. 31.

[20] MARTINS, op. cit., p. 6.

[21] MARTINS, op. cit., p. 6-7.

[22] IBRAHIM, op. cit., p. 59.

[23] MARTINS, op. cit., p. 7.

[24] ALENCAR, op. cit., p. 30.

BRASIL. Decreto nº 4.682, de 24 de janeiro de 1923. Cria, em cada


[25]

uma das estradas de ferro existentes no país, uma caixa de aposentadoria e


pensões para os respectivos empregados. Disponível em
<http://www.camara.leg.br>. Acesso em: 28 mar 2013.

[26] BRASIL. Decreto nº 4.682, op. cit..

[27] BRASIL. Decreto nº 4.682, op. cit..

[28] IBRAHIM, op. cit., p. 61.

[29] IBRAHIM, op. cit., p. 62.

[30] IBRAHIM, op. cit., p. 63-64.

[31] IBRAHIM, op. cit., p. 64-66.

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