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RESENHA CRÍTICA

RATTO, Gianni. ​Antitratado de cenografia​: variações sobre o mesmo tema. São


Paulo: Editora SENAC, 2001. 2ºed. (pg 63 - 78)
Ratto abre esta parte de seu antitrado da cenografia com mais uma definição
acerca desta área. A cenografia é um produto que só pode ser usado uma vez, ele
afirma categoricamente. Para logo em seguida reafirmar a potência do espaço vazio
do palco, de um único elemento cenográfico nesse espaço e toda a potência
dramática, sempre trabalhando com o sentido do texto, que está imbuída nisso.
Segundo ele, a cenografia age como uma personagem silenciosa, polivalente
e polimórfica, cheia de mistérios, mas todavia inteligível.
Ele tece uma crítica dura ao ego dos diretores de sua época e prefere os
entender como intérpretes do autor do que como criadores. Para somente em
seguida discorrer sobre a violência dos tons das cores e as mudanças que a
descoberta da perspectiva pelas artes visuais traz as obras que ganham muito mais
dramaticidade. E não menos importante, sobre a disposição de vasos de bronze no
teatro em determinada época da história para criar um efeito acústico.
Voltando a discussão sobre a perspectiva e sua influência para a cenografia,
Ratto se apoia agora na construção dos edifícios teatrais. Por exemplo, durante a
renascença os palcos eram pensados e a cenografia era construída toda para que o
melhor ponto de vista de todos fosse o do príncipe.
Suas críticas ao teatro comercial são cada vez mais duras. Para ele, os
atrativos e mágicas a serviço de uma dramaturgia pobre e que não a integram são
apenas serviços prestados ao supermercado da diversão.
Ele coloca de maneira enfática e categórica, como uma “verdade indiscutível”,
que as mudanças e conquistas tecnológicas que ocorrem no teatro são sempre
consequência das propostas dramatúrgicas de um autor.
Por fim passando por influências das artes visuais na cenografia o autor
coloca esta última como uma arte plástica. Para ele sempre devemos observar as
estéticas, as referências históricas e os modos de fazer, as técnicas das artes
visuais como fundamentais para criação do cenógrafo, coisas que não andam
separadas. Entendendo é claro, a técnica sempre como um meio para um fim que é
a criação do artista.
Ele encerra este trecho com algumas definições de diferentes dicionários para
as palavras “cenografia” e “cenógrafo”. Concluindo que não há possibilidade de uma
definição clara e precisa da cenografia como ele propõe atualmente, como um
elemento significativo e interpretativo. Para tal entendimento, é necessário que quem
vá maneja-lo também possua um domínio da tecnologia.
As visões de Ratto estão muito voltadas ainda a uma supremacia do autor, a
uma visão de teatro dramático que embora não seja o clássico teatro ​all’italiana
ainda não incorpora a contemporaneidade ou a pós modernidade. Pelo menos não
diretamente. Isto também se relaciona com visões um pouco contraditórias sobre a
própria cenografia em pensamentos que vem e voltam e as vezes pouco se
relacionam, para quem lê. Muito curioso se torna pensar a prática da cenografia a
partir destas divagações que indicam um esboço de caminho em direção a algum
lugar onde este homem de teatro já foi.
Artur Ferreira da Silva.
24/07/2019

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