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BELÉM-PA
2019
DIANA CRUZ RODRIGUES
BELÉM-PA
2019
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer
meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a
fonte.
CRB2/ 961
338.98115
R696e Rodrigues, Diana Cruz.
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________
Prof. Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho – Orientador.
Universidade da Amazônia – UNAMA.
_________________________________________
Profa. Dra. Luciana Rodrigues Ferreira – Examinadora Interna.
Universidade da Amazônia – UNAMA.
_________________________________________
Prof. Dr. Mauro Margalho Coutinho – Examinador Interno.
Universidade da Amazônia – UNAMA.
_________________________________________
Profa. Dra. Maria das Graças Ferraz Bezerra – Examinadora Externa.
Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG.
_________________________________________
Profa. Dra. Maria Caramez Carlotto – Examinadora Externa.
Universidade Federal do ABC - UFABC.
BELÉM-PA
2019
AGRADECIMENTOS
O objetivo desta tese é compreender como tem sido articulado e efetivado o enfrentamento
das desigualdades no processo da política de ciência, tecnologia e inovação (CT&I).
Problemas relacionados as desigualdades vêm sendo crescentemente debatidos na literatura
sobre política de CT&I em função dos impactos da aceleração da mudança tecnológica sobre
as assimetrias na distribuição de recursos e capacidades. Contudo, no processo da política de
CT&I, enfoques direcionados para o enfrentamento das desigualdades (distributivos) ainda
são marginais, sendo preponderante uma orientação de justiça social utilitarista-agregativa. A
abordagem analítica envolveu a mobilização teórica-metodológica do quadro de referência de
coalizão de defesa e da análise de discurso, de modo a propiciar o entendimento de como
diferentes enfoques discursivos orientam a articulação das políticas para enfrentamento das
desigualdades e, portanto, conformam ações a serem efetivadas. O recorte de análise partiu do
contorno da política estadual de CT&I no Pará, em um contexto subnacional e periférico, e
neste foram selecionados os casos da política de fomento a tecnologia assistiva (TA) e
tecnologia social (TS). Ambos os processos de política analisados foram finalisticamente
direcionados e a maioria dos projetos financiados alcançou o desenvolvimento de produtos
e/ou atividades disponibilizados para públicos-alvo, por canais de distribuição públicos (por
financiamento governamental ou por meios gratuitos). Enfoques alinhados com um discurso
de CT&I orientado para a sociedade tenderam a ter maior alcance para enfrentamento das
múltiplas dimensões de desigualdades. Porém, estes apresentaram dificuldades devido a maior
divergência com as práticas sociais institucionalizadas, especificamente tensões discursivas
nas práticas de desenvolvimento tecnológico e de política. Para além das disputas na agenda
entre as pautas tradicionalmente agregativas e distributivas, a emergência das pautas
distributivas na política, mesmo em posições marginais, resulta em desestabilização nos
discursos predominantes (C&T auto orientada e CT&I orientada para o mercado), os quais
tendem a se reorganizarem em enfoques discursivos responsivos a tais pautas, estabelecendo
posições reformistas que atuam em disputas discursivas dentro destas pautas, buscando uma
menor abrangência de mudanças nas práticas sociais em vigor.
This thesis aims to understand how the confrontation with inequalities in the science,
technology and innovation (ST&I) policy process has been articulated and effected. Problems
related to inequalities have been increasingly debated in the ST&I policy literature due to the
impacts of accelerating technological change on asymmetries in the distribution of resources
and capacities. However, in the ST&I policy process, approaches to coping with (distributive)
inequalities are still marginal, with a prevailing utilitarian-aggregative social justice
orientation. The analytical approach involved the theoretical-methodological mobilization of
the advocacy coalition framework and the discourse analysis, in order to provide an
understanding of how different discursive approaches guide the articulation of policies to
confront inequalities and, therefore, shape actions to be taken. The research design originated
from the state ST&I policy process in Pará, in a subnational and peripheral context. From this
policy framing, we selected the cases of assistive technology (AT) and social technology (ST)
fostering policy. Both policy processes which were analyzed were finalistically targeted and
most of the funded projects achieved the development of products and/or activities made
available to target audiences, through public distribution channels (by government funding or
by free means). Approaches aligned with a society-oriented ST&I discourse tended to be
broader in addressing multiple dimensions of inequality. However, they presented difficulties
due to greater divergence from institutionalized social practices, specifically discursive
tensions in the technological development and policy process practices. In addition to disputes
between traditionally aggregative and distributive agendas, the emergence of distributive
agendas in policy processes, even in marginal positions, results in destabilization in
mainstream discourses (self-oriented S&T and market-oriented ST&I), which tend to
reorganize themselves in discursive approaches responsive to such distributive agendas,
establishing reformist positions that act in discursive disputes within these agendas, seeking a
smaller range of changes in current social practices.
Keywords: Policy Analysis. Science, Technology and Innovation Public Policy. Inequality.
Assistive Technology. Social Technology.
LISTA DE FIGURAS
Tabela 1 - Dispêndios em C&T e P&D no Brasil, de 2002 a 2016 (em milhão de reais). 135
Tabela 2 - Quantidade de recursos humanos em CT&I no Brasil, de 2002 a 2016. 135
Tabela 3 - Projetos de P&D financiados por meio do FUNTEC do governo do Estado
do Pará, de 1997 a 2006. 140
Tabela 4 - Modalidades de Projetos de CT&I financiados por meio do FUNTEC do
governo do Estado do Pará, de 1995 a 2006 (em R$ 1,00). 140
Tabela 5 - Editais lançados pela FAPESPA com modalidade de fomento no formato de
bolsa ou auxílio, por categorias, no período de 2008 a 2011. 153
Tabela 6 - Editais lançados pela FAPESPA com modalidade de fomento no formato de
projeto, por categorias, no período de 2008 a 2011. 153
Tabela 7 - Previsão orçamentária e recursos financeiros aplicados em programas no
âmbito da CT&I do PPA 2012-2015 (em R$ 1.000,00). 165
Tabela 8 - Editais lançados pela FAPESPA com modalidade de fomento no formato de
bolsa ou auxílio, por categorias, no período de 2012 a 2015. 168
Tabela 9 - Editais lançados pela FAPESPA com modalidade de fomento no formato de
projeto, por categorias, no período de 2012 a 2015. 169
Tabela 10 - Metas por objetivo do programa temático de Ciência, Tecnologia e Inovação
do PPA 2016-2019 do Estado do Pará. 175
Tabela 11 - Recursos financeiros programados totais e aplicados nos anos de 2016 e
2017 por região de integração no programa de Ciência, Tecnologia e
Inovação do Pará (em R$ 1,00). 176
Tabela 12 - Editais lançados pela FAPESPA com modalidade de fomento no formato de
bolsa ou auxílio, por categorias, no período de 2016 a 2017. 182
Tabela 13 - Editais lançados pela FAPESPA com modalidade de fomento no formato de
projeto, por categorias, no período de 2016 a 2017. 183
Tabela 14 - Indicadores de C&T para Brasil, Região Norte e Pará, em 2014. 187
Tabela 15 - Distribuição percentual da população com pelo menos uma das deficiências
investigadas por Idade e Tipo de Deficiência no Brasil, censo 2010 (%). 217
Tabela 16 - Proporção da população com pelo menos uma das deficiências investigadas
por Região no Brasil, censo 2000 e 2010 (%). 218
Tabela 17 - Distribuição percentual da população de 15 anos ou mais de idade sem ou
com, pelo menos, uma deficiência investigada por nível de instrução no
Brasil, censo 2010 (%). 218
Tabela 18 - Distribuição percentual do nível de ocupação da população de 10 anos ou
mais de idade, por sexo e tipo de deficiência investigada no Brasil, censo
2010 (%). 219
Tabela 19 - Distribuição das instituições que compõem a Rede Nacional de Pesquisa e
Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva por região no Brasil. 227
Tabela 20 - Percentual de projetos de TA por tipo de desenvolvimento. 234
Tabela 21 - Distribuição de projetos de TA por estado e Distrito Federal no Brasil. 235
Tabela 22 - Projetos de tecnologia assistiva por tipo de participação específica do
público-alvo no âmbito da PNITA 2011-2013. 236
Tabela 23 - Resultados gerais de projetos de TA em termos de introdução no mercado
e/ou disponibilidade ao público-alvo. 238
Tabela 24 - Dificuldade(s) para desenvolvimento dos projetos de TA. 238
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
INTRODUÇÃO 24
8 CONCLUSÃO 383
8.1 Articulações no processo de política para enfoques de enfrentamento das
desigualdades: limitações e potencialidades para formação de coalizões de
defesa 384
8.1.1 O papel de atores em posições chaves: os empreendedores e os intermediários
de políticas (policy brokers) 384
8.1.2 Alinhamento e disseminação de crenças: desafios de estabilização de discurso
para coesão na coalizão de defesa 387
8.1.3 Mobilização e coordenação não-trivial de ações coletivas 389
8.1.4 Tensões e ambiguidades em coalizão de defesa nascente ou minoritária 391
8.1.5 Disputas discursivas: sobreposição dos desafios dos processos formativos e das 392
dificuldades da conformação discursiva no jogo da política
8.2 Outros apontamentos para estudos futuros 393
8.3 Considerações conclusivas 394
REFERÊNCIAS 397
INTRODUÇÃO
1
Catching up corresponde ao processo de emparelhamento ou alcance por seguidores de níveis de desempenho
de líderes, usualmente aplicado ao processo de convergência ou alcance em países em desenvolvimento ou
economias de industrialização tardia de níveis de desenvolvimento econômicos ou tecnológicos similares
àqueles de economias avançadas em países desenvolvidos (como alcance de níveis de renda, produtividade ou
acumulação tecnológica em setores industriais) (VIOTTI, 2008).
26
politics. Deste modo, entendemos que se torna essencial esclarecer as definições conceituais e
analíticas utilizadas em cada política pública para que possamos compreender a abrangência e
direção dos problemas sociais tratados e, por consequência, suas implicações em termos de
resultados a serem alcançados.
Diante do exposto, reconhecemos a relevância do debate sobre desigualdades na
política de CT&I, especificamente em relação a seus efeitos distributivos na sociedade.
Contudo, também assinalamos ser ainda uma temática negligenciada e em que encontramos
diferentes enfoques de discursos, seja sobre a abrangência das desigualdades reconhecidas,
seja sobre as formas propostas para seu enfrentamento. Por isso, ao buscarmos contribuir com
este tema, propomos analisar como vêm sendo articuladas abordagens para o enfrentamento
das desigualdades na política de CT&I e suas implicações quanto a abrangência e direções de
ação.
Este objetivo toma forma em nossa questão orientadora de pesquisa: como tem sido
articulado e efetivado o enfrentamento das desigualdades no processo da política de CT&I?
No âmbito desta pergunta geral, direcionamos três perguntas específicas e correlacionadas,
quais sejam: (i) como emergem e se articulam no processo da política da CT&I diferentes
enfoques para enfrentamento das desigualdades? (ii) qual abrangência destes enfoques e as
direções (e disputas) discursivas desenvolvidas para enfrentamento das desigualdades na
política de CT&I? (iii) em que medida se efetivam (resultados da política) no processo de
política os distintos enfoques para enfrentamento das desigualdades?
Formulado nosso conjunto norteador das questões de pesquisa, coube-nos definir uma
instância de aplicação. Ao considerar uma sensibilidade de pesquisa necessária às
especificidades do contexto de aplicação e, reconhecendo a forte heterogeneidade social e
territorial no Brasil, entendemos ser adequado a proposta de estudo do processo de política de
CT&I em nível subnacional, particularmente em situação periférica.
A priori, poderíamos conceber territórios periféricos como aqueles que reuniriam
circunstâncias mais acentuadas a instigar o enfrentamento das desigualdades, seja em termos
de condições desiguais em ativos de CT&I, seja no direcionamento da CT&I para superação
de condições sociais e econômicas precárias, assim, também propícios à análise da inter-
relação de demandas territoriais e sociais. No entanto, reconhecemos em outros estudos de
políticas no âmbito da descentralização e governos subnacionais, que a suposição de maior
sensibilidade a demandas locais, controle democrático e participação social em governos
locais tende a ingenuidade (ARRETCHE, 1996; NUNES, 1996; AFFONSO, 2000).
27
Arretche (1996) ressaltou que, apesar das instituições de âmbito local, ao serem
dotadas de poder efetivo, poderem incentivar à participação política e controle das ações de
governo por parte dos cidadãos ao estarem “mais próximas” destes, esta associação somente
se realiza uma vez que se construam e desenvolvam instituições políticas cuja natureza e
formas de funcionamento sejam compatíveis com tais princípios democráticos. Em sentido
similar, Nunes (1996) evidenciou que a proximidade do cidadão do poder descentralizado é
ambígua, pois, por um lado, reconhece factível que o poder descentralizado se torne
democratizado e sirva de palco à maior participação popular. Por outro lado, tal poder
também é identificado como possível lugar de reprodução de poder político de oligarquias
tradicionais locais que, ao procurar afirmar seus privilégios, perpetuam uma lógica de
desenvolvimento desigual e assimétrico (NUNES, 1996).
Desta forma, compreendemos que a análise de casos subnacionais na política de CT&I
auxilie a elucidar as dinâmicas que tais processos têm gerado neste domínio de política
específico (inclusive em termos de redução ou ampliação de desigualdades), particularmente
após ciclos de indução à descentralização promovidos pelo governo federal no país desde a
década de 1980. Além disso, a análise de casos subnacionais em territórios periféricos (o que
inclui também a característica de serem menos estudados na perspectiva agregativa da política
de CT&I) podem retratar circunstâncias diferenciadas ou acentuadas em relação à política de
CT&I nacional. Assim, consideramos que possa contribuir, de forma mais abstrata, para o
conhecimento de uma maior diversidade de processos desta política; e, de forma mais
aplicada, ao proporcionar conhecimentos seja para a busca de uma melhor coordenação
federativa desta política, seja constituir bases de conhecimentos endógenas a esses contextos
para discussão e construção local da política de CT&I que ilumine suas especificidades.
Neste cenário, movimentos de descentralização das políticas de CT&I no país
começaram a partir da década de 1980, sob indução do governo federal, sendo que a esfera
subnacional principal desta indução correspondeu aos governos estaduais. A descentralização
promoveu a institucionalização do processo de política na esfera estadual para CT&I na maior
parte dos estados em situação periférica do país, onde tal processo de construção institucional
não havia se constituído de forma endógena anteriormente. Contudo, as condições resultantes
desta descentralização, principalmente no que tange as capacidades institucionais,
administrativas e orçamentárias entre os estados, são muito desiguais (CGEE, 2010). Ao
considerar as desigualdades, seja de capacidades de CT&I, seja dos elementos constituintes de
processos de políticas estaduais no Brasil, reforçamos a compreensão que casos de pesquisa
no âmbito da política de CT&I em contexto subnacional, especificamente em estados
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periféricos, podem oferecer elementos distintivos para análise de como ocorre a articulação
sobre o enfrentamento das desigualdades e em que medida tem sido efetivado.
Entre os contextos de políticas estaduais no país, selecionamos especificamente o
estado do Pará, na região norte do Brasil. O estado do Pará em termos de indicadores
convencionais de CT&I (indicadores mantidos pelas agências de fomento nacional, como
aqueles apresentados na tabela 14) pode ser caracterizado em uma posição periférica
nacionalmente, por se manter recorrentemente abaixo da média do país. Por exemplo, em
2014, em termos de dados sobre recursos humanos em CT&I, o Pará tinha 2.653
pesquisadores doutores cadastrados em grupos de pesquisa, que representa 1,89% do total
nacional; 1.885 docentes de pós-graduação sctrito sensu, 2,21% do montante nacional; 157
bolsistas de produtividade em pesquisa, 1,11% do nacional; e 84 pessoas contratadas em
atividades internas de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) empresarial, 0,11% do nacional.
No entanto, estando em situação periférica, em geral, o estado do Pará também assume
posições na mediana desses indicadores no país (posições mais recorrentes estão entre a 12ª,
13ª e 14ª de 27 unidades federativas), representando, assim, uma composição intermediária de
constituição dos quadros institucionais científicos, que embora não atuem de forma central
nacionalmente, conseguem engrenar dinâmicas relativamente aderentes ao contexto científico
nacional. Neste sentido, no âmbito da região Norte, a qual reúne os menores indicadores de
CT&I nacionais, o Pará tende a situar-se de forma central, ao apresentar os maiores
indicadores científicos regionais. Ao comparar os mesmos indicadores anteriormente citados,
em 2014, para os três primeiros indicadores o Pará era o estado com maior quantidade destas
categorias de recursos humanos, detinha: 38,66% de pesquisadores doutores da região;
46,19% dos docentes de pós-graduação sctrito sensu; 62,57% dos bolsistas de produtividade
em pesquisa.
Deste modo, compreendemos que os atores políticos estaduais, particularmente
pesquisadores, tenham tanto uma ponderável participação nas relações intergovernamentais
do domínio da CT&I (que em condição periférica inclui a emulação de modelos institucionais
representativos da política nacional); quanto alcancem uma densidade de atuação no âmbito
estadual que permita interação e expressão política que conforme interesses e discursos a
partir de mescla das influências nacionais (e internacionais) e das experiências cognitivas do
cotidiano de práticas científicas locais com certa maturidade. Portanto, esta pesquisa se
configura enquanto a análise sobre como tem sido articulado e efetivado o enfrentamento das
desigualdades no processo da política de CT&I no âmbito do governo estadual do Pará, região
Norte do Brasil.
29
aspecto corresponde ao delineamento dos casos de processos de política para análise. Para
tanto, partimos de uma aproximação geral ao processo de política de CT&I no governo do
estado do Pará, apresentada no capítulo (3). Este delineamento inicial visou, por um lado,
proporcionar um panorama desta política, realçando seus principais direcionamentos de
agenda, proposições estratégicas e enfoque em termos de concepções sobre desenvolvimento
e justiça social. Por outro lado, procuramos distinguir os enfoques distributivos na agenda, no
que tange a identificação dos temas específicos de fomento dirigidos para enfrentamento das
desigualdades no processo da política. Essa caracterização de temas para enfrentamento das
desigualdades foram fundamentais para permitir o aprofundamento da pesquisa por meio da
delimitação dos casos específicos de análise, sendo selecionados os temas de tecnologia
assistiva e de tecnologia social.
Os capítulos quatro (4) e cinco (5) são dedicados às análises relacionadas à tecnologia
assistiva. No capítulo 4, abordamos a conformação de orientações discursivas no campo de
tecnologia assistiva, considerando suas interações e tensões com os discursos gerais da
política de CT&I. Assim como examinamos a conjuntura da política de fomento à tecnologia
assistiva nacional. Após esta contextualização ao tema de tecnologia assistiva, no capítulo 5,
fazemos a análise do processo de política estadual de fomento à tecnologia assistiva, com
vistas ao estudo da conformação de coalizão de defesa neste e de elucidação das principais
limitações e avanços quanto ao enfrentamento das desigualdades.
De forma similar, os capítulos seis (6) e sete (7) são dedicados à análise sobre
tecnologia social. No capítulo 6, focamos nas origens e orientações discursivas em torno da
temática de tecnologia social e um recorte de sua conjuntura na política nacional. No capítulo
7, apresentamos a análise sobre o processo de política estadual de fomento à tecnologia social,
examinando seus principais atores, estratégias de institucionalização e perspectivas em
relação a conformação de coalizões de defesa, com vistas a verificar limitações e avanços no
enfrentamento das desigualdades.
Por fim, na conclusão encerramos nossa análise ao propor alguns apontamentos sobre
as articulações das coalizões de defesa nos processos de política para enfrentamento das
desigualdades analisados e no bojo do quadro de referência teórico adotado. Especificamente
no que tange a discutir condições limitantes e potenciais para formação de coalizões de
defesa. Assim como, exploramos alguns outros apontamentos sobre limitações desta pesquisa
e sugestões para estudos futuros.
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Este tópico foi incluído na introdução para dar espaço a breves esclarecimentos sobre
a relação da pesquisadora com o campo de pesquisa escolhido, a política de CT&I. Além de
um momento de explanação aos leitores, constitui-se em um exercício de reflexão pessoal
sobre escolhas e interesses de atuação no campo, e por isso em sua redação tomo a primeira
pessoa do singular.
Embora me entenda no campo hoje enquanto preponderantemente vinculada com o
esforço de pesquisa, essa não foi a identificação predominante durante a maior parte de minha
trajetória profissional. Atuei por doze (12) anos no gerenciamento de projetos de pesquisa
(dois iniciais como bolsista em um projeto específico, e outros 10 em fundação de apoio de
uma universidade pública), sendo assim formada em meio a cultura universitária própria da
política científica e tecnológica, com seus mitos e dilemas.
Ao entrar no mestrado, meu interesse de pesquisa foi na direção de um tema
ascendente no campo: a inovação tecnológica como promessa de desenvolvimento,
particularmente para a Amazônia. Ao analisar a tentativa de constituição de uma rede de
inovação, baseada na parceria entre universidade, empresa de base tecnológica e
agroindústrias locais, houve avanços tecnológicos, esperanças, planos, ajustes técnicos,
investimentos e obstáculos observados. Mas, diante do fracasso da formação da rede, concluí
a dissertação com mais dúvidas e inquietudes sobre a temática do que corroborações. No
intervalo de alguns meses entre o mestrado e doutorado, voltei ao campo como practitioner,
trabalhando em um arranjo de núcleos de inovação tecnológica, período de rica experiência
(esforços, expectativas e projetos) também a nutrir minhas inquietações.
No doutorado, o meu foco converteu-se propriamente ao campo de política pública,
reforçado pela experiência ainda no mestrado de intercambio em outro programa de
administração pública e governo. Assim, me propus a olhar para política de CT&I na busca de
encontrar respostas as minhas inquietações, com o acréscimo da instigação de meu orientador
de incorporar uma discussão de governança à pesquisa. Apesar de partir de certa ingênua
desconfiança das políticas de CT&I (estariam estas equivocadas ou seriam insuficientes à
realização do potencial científico e tecnológico para desenvolvimento na região?), a
reflexividade da investigação sobre o processo de política na CT&I perante minhas vivências
tem sido uma trajetória desafiante e envolvente, marcante às escolhas de direção da pesquisa
aqui apresentada.
32
Entre os aspectos que podem ser evidenciados por mim, dois considero principais: o
primeiro é a escolha do tema de desigualdades, que de início capturou meu interesse por ter
uma presença recorrente em narrativas dos atores regionais, mas que ao me aventurar em
leituras mais profundadas desta temática, abriu as janelas para uma abrangência e
complexidade instigantes. De alguma forma associada a este aspecto, está a proposição do
estudo em âmbito subnacional, reconhecidas as heterogeneidades brasileiras, dar atenção
específica ao escopo do processo de política de CT&I em contextos locais e periféricos,
também pouco estudados no âmbito da pesquisa no país, como na Amazônia, adquiriu um
sentido próprio de oportunidade para construir conhecimento localmente contextualizado, em
que busquei dar lugar de escuta e diálogo com atores locais sobre suas crenças e dilemas, ao
mesmo tempo, em que deu lugar de fala e reflexão a esta pesquisadora local em formação.
De forma geral, meu interesse de pesquisa ainda parece ser o mesmo de buscar
compreender as relações entre a C&T e concepções de desenvolvimento na sociedade, mas
tem se desenvolvido em um caminho que veio a se concretizar na análise de ações e
experiências para o enfrentamento das desigualdades na política estadual de CT&I do Pará.
Na esteira desse interesse, está presente o desejo de dar visibilidade a uma perspectiva
distributiva na CT&I e na essencialidade de contribuir a um desenvolvimento social.
33
2
O chamado campo de "Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia" (ESCT), também conhecido como "Ciência,
Tecnologia e Sociedade" (CTS) se refere à reunião de múltiplas abordagens e metodologias das ciências sociais
(sociologia, antropologia, políticas públicas, entre outras), na perspectiva interdisciplinar, com enfoque nas
diversas interações entre ciências e tecnologias nas sociedades (PREMEBIDA, NEVES, ALMEIDA, 2011).
34
3
Frey (2000) ressalta a diferenciação de conceitos ou dimensões de política na literatura de análise de política,
que embora relacionados ao mesmo termo “política” em português, possuem termos específicos na língua
inglesa: “policy” enquanto a dimensão material da política, referente aos conteúdos concretos e configuração dos
programas políticos em resposta aos problemas da sociedade; “politics” como dimensão do processo político de
decisão, frequentemente de caráter conflituoso de exercício de poder; e “polity”, sendo a ordem juridicamente
delineada do sistema político do território, a que Souza (2006) irá denominar de sociedade política.
35
processo de construção de uma política pública (policy), desde a identificação dos problemas
a serem enfrentados, a formulação, a implementação e a avaliação desta política4. Uma vez
articulada uma política pública, esta pode moldar e produzir efeitos nos recursos (simbólicos
ou materiais) mobilizados neste próprio processo político.
Um dos delineamentos sobre análise de política pública mais referenciados é o
proposto por Dye (1992), cujo enfoque se baseia em três (3) aspectos chaves: o primeiro, é a
descrição do conteúdo da política (sob a questão orientadora “o que os governos fazem?”); o
segundo, a análise dos impactos de forças econômicas, sociais e políticas sobre a definição
deste conteúdo no contexto dos arranjos institucionais e processos políticos existentes
(“porque os governos fazem?”) e; o terceiro, a investigação das consequências destas políticas
na sociedade (“qual diferença isso faz?”).
Serafim e Dias (2012) acrescentam mais um aspecto aos três básicos formulados por
Dye (1992) que se refere à “como os governos fazem?”. Este se dirige para o processo
político em que as políticas públicas são conformadas. Dye (1992) define políticas públicas
como qualquer ação que o governo decide fazer ou não fazer. Desta forma abrangente, o autor
ressalta, como também observam Serafim e Dias (2012), que a análise das políticas públicas
deve abordar não somente o que o Estado realiza, enquanto sua dimensão mais visível, mas
também aquilo que deixa de realizar, ou seja, o que decide não fazer. A não-ação (ou a não-
decisão) pública é uma expressão de política e de exercício de poder de grupos interessados
em manter um status quo (BACHRACH; BARATZ, 1962; SERAFIM; DIAS, 2012).
Consideramos pertinente explicitar a não-ação enquanto parte do processo da política
pública. Isto porque o objetivo desta pesquisa é voltado a identificar e analisar políticas e
programas de enfrentamento das desigualdades em meio a um domínio de política pública
(CT&I), cuja lógica é preponderantemente agregativa. Assim, a não existência de programas e
ações para enfrentamento das desigualdades ou sua existência somente marginal também se
constitui em uma escolha de ação política a ser analisada.
Também realçamos outro traço da análise de políticas que se refere a, por um lado,
assumir caráter descritivo e explicativo da política pública, o qual acaba por se constituir em
campo científico e de produção de conhecimento sobre a temática; por outro lado, também
adotar caráter normativo para a política (DYE, 1992; SERAFIM; DIAS, 2012). Este caráter
4
Farah (2011) ressalta que a incorporação do campo da Administração Pública no movimento da análise de
política pública reflete uma inflexão da disciplina pelo reconhecimento do administrador público não mais como
executor “livre de valores” das políticas sancionadas, mas enquanto sujeito também participante de sua
formulação e de atuação decisiva (com poder) sobre sua efetividade, rompendo assim com a dissociação entre
Administração e Política inicialmente construída no campo.
36
normativo se expressa pelo exame da ação pública, como nos moldes do segundo e terceiro
aspecto proposto por Dye (1992), ao buscar discernir impactos (ou a falta deles) da política,
bem como propor recomendações diante destes.
Neste sentido, Singer (1990) retrata que a produção de conhecimento sobre um
processo de política pública pode influenciar tomadores de decisão sobre necessidade de
mudanças no conteúdo ou configuração do processo da política. Embora este processo de
influência seja complexo, pois é mediado por outros fatores (tais como interesses econômicos,
valores sociais e projetos políticos), o conhecimento gerado a partir da análise da política se
constitui como um subsídio potencial para uso por atores políticos no próprio processo da
política pública (SINGER, 1990). Desta forma, fica o reconhecimento da necessidade de
reflexividade dos analistas de política nestas atuações.
A partir destes apontamentos conceituais iniciais da análise de política, elucidamos
três (3) pontos básicos, mas relevantes em relação às pesquisas sobre políticas de
enfrentamento das desigualdades, que são: (1) o entrelaçamento entre a política pública e seu
processo político (policy e politics), que reconhece o exercício de poder na conformação de
decisões; (2) a abrangência da ação política de modo a incluir sua parte menos visível, a não-
ação e; (3) seu traço normativo5, como elemento relevante para habilitar a análise dos
conteúdos e formatos de políticas públicas associados a noções de justiça social, as quais se
relacionam conceitos de desigualdades e suas formas de enfrentamento.
5
Compreendemos que esse traço normativo é acentuado em estudos sobre a instância de avaliação de políticas
públicas (SCRIVEN, 1991; SPINK, 2001; DAHLER-LARSEN, 2012), contudo não pretendermos neste
momento aprofundar na literatura própria à avaliação de políticas, visto que esta é entendida aqui enquanto uma
instância específica do processo geral de política pública, nosso escopo principal no capítulo. Posteriormente
retomaremos a discussão de atributos normativos e de práticas sociais de avaliação de política de CT&I.
37
Deubel (2002) assinala três enfoques teóricos sobre a relação Estado e sociedade no
campo de políticas públicas:
- teorias centradas na sociedade: preceituam que são as relações de forças na sociedade
que definem as ações do Estado, minimizando o impacto de instituições e agentes públicos
estatais; entre estas estariam correntes teóricas distintas, como enfoques marxistas e
estruturalistas, pluralistas, elitistas e da escolha pública;
- teorias centradas no Estado: apresentam visão de certa independência deste em
relação à sociedade, ao dar ênfase ao papel dos agentes estatais, políticos e burocratas, na
seleção de demandas da sociedade e na provisão de serviços públicos, de modo a minimizar a
influência de atores no entorno social, como os enfoques decisionistas do modelo racional e
incremental;
- teorias intermediárias ou híbridas: de desenvolvimento mais recente, buscam explicar
a ação e políticas públicas ao considerar a interdependência de fatores externos ao Estado
(centrados na sociedade) e elementos internos ao Estado (centrados no Estado), de forma que
assumem uma perspectiva mais horizontal entre Estado e sociedade; entre as abordagens desta
corrente são citadas as neocorporativistas, neoinstitucionalistas e teorias de redes, como redes
de políticas, comunidades de políticas e coalizões de defesa.
O movimento analítico de enfoque híbrido demonstra a complexidade das relações
entre Estado e sociedade, o qual não pode, segundo Serafim e Dias (2012), ser traduzida de
modo unidirecional e linear, pois o Estado é tanto produto, quanto catalisador das relações
sociais. Esta é a perspectiva adotada nesta pesquisa, que entendemos conciliar-se com uma
compreensão de “autonomia relativa” do Estado, pela qual se reconhece um espaço e uma
capacidade específica de atuação estatal, sendo, porém, permeável a influências da sociedade
(SOUZA, 2006). Todavia, Souza (2006) lembra que a margem da “autonomia relativa” e o
grau de desenvolvimento das “capacidades” dependem de diversos fatores (políticos,
econômicos, culturais...) e mudam em diferentes momentos históricos de cada país.
Delineado o posicionamento sobre a relação entre Estado e sociedade, um segundo
movimento analítico refere-se, então, ao papel do Estado nas abordagens conceituais e
explicativas de políticas públicas. Para Farah (2011), embora a construção teórica sobre
políticas públicas tenha originalmente se concentrado em um lócus governamental, as
mudanças na relação entre Estado e sociedade, a partir das décadas de 1970 e 1980,
provocaram ampliação das abordagens de análise de políticas públicas para além do espaço do
Estado. Organizações não governamentais, movimentos da sociedade civis e entidades do
setor privado, passaram a ser inseridas no processo de formulação, implementação e avaliação
39
de políticas públicas (FARAH, 2011). O que para a autora concretizou no campo uma
redefinição da noção de "público", incluindo não somente ações no âmbito governamental,
mas em redes mais profusas de atores sociais e novas articulações intergovernamentais
(diferentes níveis de governos e relações supranacionais) na constituição de ações de interesse
público.
Melo (2002) corrobora com as análises sobre os deslocamentos analíticos no campo de
políticas a partir das mudanças na própria agenda pública. O autor realça esse deslocamento
da agenda pública no Brasil a partir da década de 1980, caracterizando-o como produto do
encontro do projeto reformista da redemocratização e ampliação de direitos aos cidadãos, e os
constrangimentos ao modus operandi do Estado pelo projeto neoliberal e do novo
gerencialismo público. Neste contexto houve a ascensão de questões como descentralização e
o papel de governos subnacionais, participação social, accountability e a redefinição do mix
governamental e privado na provisão de bens e serviços públicos (MELO, 2002; SOUZA,
2006).
Contudo, embora o deslocamento analítico e de agenda pública seja reconhecido,
Souza (2006) pondera que, apesar das limitações à estrutura do Estado e constrangimentos
existentes aos governos, estes continuam a tomar decisões sobre situações-problema a serem
priorizadas na agenda governamental e a desenhar ou modificar políticas para enfrentá-las. Ou
seja, mesmo que ocorra maior presença dos atores de instâncias da sociedade civil e
empresarial no processo de política pública, e que estes estejam responsáveis por parte das
ações públicas, o espaço e as capacidades das instâncias governamentais continuam relevantes
à análise de políticas públicas, e ainda preponderantes em diversos domínios de políticas.
Além desta ponderação, cabe nos reportarmos a Dagnino (2004) para assinalar que o
deslocamento da agenda pública e seu consequente movimento analítico não ocorrem alheios
a disputas próprias do jogo político (politics). Para a autora, o encontro dos dois projetos
políticos6 distintos em torno da mesma agenda pública resultou em uma confluência
perversa7, uma vez que, embora ambos defendessem como ponto focal o incentivo à
participação da sociedade civil nas ações públicas, apresentavam interesses políticos
contrapostos: por um lado, um projeto construído a partir da transição democrática, em que a
participação da sociedade civil nas decisões do Estado objetivava a ampliação de direitos
6
Dagnino (2004) designa de projeto político o conjunto de crenças, concepções de mundo, e representações da
sociedade, que orienta a ação política dos diferentes sujeitos.
7
Dagnino (2004) interpreta que esta confluência perversa foi construída por meio da opacidade das distinções
entre os projetos políticos, resultado de uma crise discursiva pelo uso do mesmo conjunto de termos (em
particular em sua análise os de “sociedade civil”, “cidadania” e “participação”) com sentidos deslocados ou
ressignificados, em torno do qual havia uma disputa político-cultural.
40
sociais; e, por outro lado, um projeto gerado a partir dos preceitos neoliberais do consenso de
Washington, cuja a participação da sociedade civil visava a transferência para esta de parte
das responsabilidades sociais do Estado, reduzindo seu papel de garantidor de direitos. Deste
modo, apesar de conformarem uma agenda pública com pauta à primeira vista similar, o
conteúdo e sentido das relações propositivas entre Estado e sociedade destes projetos políticos
eram conflitivos.
Diante destes movimentos, uma das consequências que podemos ressaltar para as
abordagens analíticas de políticas públicas foi uma abertura para contemplar arranjos com
maior diversidade de atores (incluindo organizações não-governamentais e empresariais), e
maior complexidade de interações e formas de disputas. Exemplo destes novos arranjos são
abordagens que utilizam conceitos de redes, comunidades e coalizões de políticas até
enfoques teóricos sobre situações de ações públicas não centrados no Estado, como o quadro
de referência de análise institucional e desenvolvimento de Elinor Ostrom (WEIBLE, 2017).
Além disso, de forma geral, Weible (2017) tem realçado o desenvolvimento de uma maior
variedade de abordagens analíticas em termos de priorização para o escrutínio de diferentes
atividades (agenda, formulação, implementação e avaliação), escopos (estabilidade e mudança
em política, inovação e difusão de políticas) ou elementos (instituições, ideias, eventos) do
processo de política.
Em termos conceituais, estes movimentos levaram a uma maior amplitude à
concepção do fenômeno da política pública. Weible (2017) define como decisões deliberadas
(de ações ou não-ações) de um governo ou de uma autoridade equivalente (comunidade,
associação, corporação...) na direção de objetivos específicos, que podem se concretizar de
forma explícita (por estatutos, leis regulações, programas de governo e decisões executivas) e
por meios implícitos (regras-em-uso e práticas sociais).
Por essa conceituação mais fluida de política pública proposta por Weible (2017),
entendemos que a diversidade e a complexidade com que os diferentes processos de política
pública podem se configurar nos diferentes contextos territoriais, sociais e políticos é
significativamente relevante para as análises. No entanto, tal diversidade não pode ser
assumida a priori para todos os processos de política sob análise, uma vez que a extensão e a
direção da possível diversidade das formas de interações, atores e eventos no processo
demandam a investigação empírica do fenômeno e contexto específico em estudo.
A complexidade dos processos de política pública empíricos e a variedade das
abordagens analíticas requerem sensibilidade do pesquisador em identificar as dimensões e a
extensão do processo de política pública focais em seu programa de pesquisa, com vistas a
41
8
O termo teoria será usado em sentido genérico para designar um escopo específico de pesquisa, com
pressupostos, conceitos, propostas de relações, hipóteses ou proposições causais (WEIBLE, 2017).
42
9
A noção de racionalidade dos atores neste parágrafo está em uma perspectiva geral e de múltiplas
possibilidades conceituais, entendida como o processo pelo qual se estabelece que um sujeito eleja objetivos e
meios de ação na sociedade, que pode em alguns enfoques teóricos tender um conceito de racionalidade mais
pura (que se opõe objetivamente a uma ideia de irracionalidade); e em outros enfoques teóricos ser adotada
enquanto conceito relativo, como o processo operado na consciência do sujeito de diversos modos (eletivo,
instrumental, ...), desenvolvido a partir de um contexto social, histórico e cultural específico, produzindo lógicas
de ação distintas (GOMES; MAGALHÃES, 2008).
43
Ao ter por referência esse conjunto diverso de enfoques teóricos, consideramos cinco
(5) características do desenho de pesquisa para escolha da abordagem a ser adotada.
(1) A primeira característica se refere ao espaço focal de ação pública. Uma vez que a
pesquisa se aplica ao domínio da CT&I, anteriormente já observamos que o principal espaço
de produção de políticas públicas de CT&I no Brasil é o governamental (DIAS, 2009), bem
como o principal responsável pelo fomento à C&T também são os órgãos e empresas estatais
(MCTIC, 2018a). Por isso nossa escolha segue uma abordagem que contempla a análise de
processos de política pública a partir da estrutura governamental do domínio da política
existente, enquanto lócus de interação entre os múltiplos atores políticos envolvidos, sendo
estes governamentais e não-governamentais.
(2) A segunda característica corresponde ao nível de análise da política. Ao
estabelecermos o foco sobre o processo da política pública de CT&I em nível subnacional,
especificamente na esfera estadual, o recorte da pesquisa reflete um nível meso de análise,
podendo abranger aportes teóricos com conceitos de subsistema, redes ou comunidades de
política.
(3) A terceira característica remete à definição da abrangência do processo de política
a ser analisado, com vistas a identificar a necessidade de um aporte a uma instância específica
(como de conformação da agenda) ou de enfoque mais extenso ou integral. O objetivo desta
pesquisa é analisar não somente como têm sido articuladas ações para o enfrentamento das
desigualdades na política de CT&I, mas também como têm sido efetivadas. Assim,
reportamos as observações de Bozeman e Sarewitz (2011) que valores públicos tendem a ser
articulados simbolicamente enquanto justificativas em instâncias de configuração da agenda e
formulação no domínio da C&T, contudo, tornam-se mais voláteis no processo de
implementação, pois tendem a perder espaço de atenção cognitiva dos pesquisadores e serem
deslocados frente a objetivos concorrentes, como aqueles de produtividade científica
estritamente concebidos nos indicadores institucionalizados (número de publicações, patentes,
licenciamentos de tecnologias, mestres e doutores formados, etc.). Deste modo,
compreendemos relevante que o escopo de análise permita uma visão integrada do processo
de política, tanto em suas instâncias de agenda e formulação, como de implementação e
avaliação.
(4) A quarta característica se relaciona às análises sobre a evolução da política de
CT&I em que foram enfatizados que a concepção e crenças sobre a C&T influencia a
orientação e instrumentos operados na política de CT&I, principalmente pela posição
preeminente ou mesmo dominante que pesquisadores tendem a ocupar no processo da
44
10
Livre tradução de Advocacy Coaliton Framework, sendo que o termo advocacy coalition identificamos
traduzido tanto por “coalizão de defesa” conforme em Souza (2006), Dias (2009), Souza e Secchi (2014),
Capella e Brasil (2015), e Vicente (2015), quanto por “coalizão que advoga” como em Dias (2009). Optamos
nesta tese pelo uso da tradução por "coalizão de defesa" por ser o mais frequentemente encontrado na literatura
do campo de políticas públicas no Brasil.
45
11
Conforme Ham e Hill (1993), a literatura de processos top-down para implementação de políticas preocupa-se
com os problemas relacionados à capacidade de intervenção do topo de um sistema político perante níveis locais
de execução por meio de ações de formulação e controle da política. As principais críticas deste modelo
baseiam-se na natureza ambígua do processo de política, cujos interesses contraditórios estão presentes dentro e
entre cada nível de ação, rompendo com uma visão implicitamente normativa e linear de uma direção do
processo de política de esferas centrais para locais. As abordagens chamadas bottom-up foram desenvolvidas
para enfocar a análise de políticas tomando como ponto de partida as ações dos atores locais e a natureza do
problema enfrentado (HAM; HILL, 1993; SOUZA, 2003). No entanto, as abordagens bottom-up também
enfrentam questionamentos, principalmente em condições de atuação de atores dominantes em níveis centrais ou
políticas verticalmente estruturadas (HAM; HILL, 1993; SOUZA, 2003).
46
12
Capella e Brasil (2015) indicam que o subsistema é uma unidade de análise de posição intermediária, como
redes e comunidades, situada entre uma visão macro de sistema (escopo de decisões de amplo impacto na
estrutura de poder no sistema político e na sociedade) e uma perspectiva micro (processos de decisões em escopo
mais delimitado, em níveis mais localizados e restrito número de participantes).
47
13
Tradução livre da expressão “puzzles of the policy process”.
48
mais abrangente (macro sistema) ressaltam que, uma vez que os problemas enfrentados pelas
políticas crescentemente expandem seus limites para além de concepções tradicionais, o
delineamento de subsistemas requer uma percepção das estruturas de poder e
interdependências14 entre distintos subsistemas, que podem influenciar no comportamento de
coalizões.
Neste sentido, a definição do escopo do subsistema, é tarefa fundamental para
aplicação da abordagem. Sabatier (1993) concebe subsistema de política como um conjunto
de atores que são envolvidos com um problema de política pública. Sabatier e Weible (2007)
propõem duas dimensões para auxiliar o delineamento de um subsistema e, portanto, para o
mapeamento de atores no âmbito decisório de um problema de política: dimensão funcional e
substantiva referente ao tema ou domínio setorial da política; neste âmbito, é preciso
direcionar atenção a sobreposições ou encadeamentos de possíveis intersetorialidades (e.g.
entre domínios de “ciência e tecnologia” e “educação”) e; dimensão territorial correspondente
a localizar as organizações e instituições políticas principais em foco, neste caso com cuidado
sobre aspectos intergovernamentais, observando encadeamentos entre diferentes níveis de
governo que atuam sobre a mesma temática e território.
Estas duas dimensões, substantiva e territorial, devem orientar a identificação dos
atores políticos em ação no subsistema. Cabe ressaltarmos que o quadro de referência de CD
não restringe o perfil dos atores políticos ao chamado “triângulo de ferro”, enquanto
legisladores, agentes do executivo e líderes dos grupos de interesses organizados. Ao
contrário, expande a visão para os diversos atores que se envolvem nas disputas no processo
da política, de modo tanto a incluir outros possíveis perfis como pesquisadores e consultores,
jornalistas e membros da mídia, e agentes do judiciário; quanto em considerar possíveis
formas de interação e conflito que se estabelecem (CAPELLA; BRASIL, 2015).
É preciso mencionar, conforme Schlarger (2007), que embora a unidade de análise
principal do enfoque seja o subsistema de política, que proporciona uma visão integral do
processo de política, a unidade de observação primária se refere aos atores políticos que tanto
delimitam o subsistema, quanto compõe as coalizões que nele interagem. E são as coalizões
de defesa, enquanto heurística15 agregadora da ação dos diversos atores no subsistema, o
14
Weible; Sabatier e McQueen (2009) observaram três (3) status de relações de interdependências entre
subsistemas: competitiva, simbiótica e independente.
15
Como cada subsistema pode ter centenas de atores políticos, a operacionalização da descrição e análise do
subsistema pela ação dos atores políticos no processo de política demandava alguma forma de simplificação, a
qual no quadro de referência foi operada pelo conceito de coalizão de defesa para agrupamento destes atores
(JENKINS-SMITH et al., 2017).
51
conceito principal que tem sido articulado nas aplicações da abordagem (SCHLAGER, 2007;
JENKINS-SMITH et al., 2017).
As coalizões de defesa são conceituadas como um conjunto de atores que
compartilham crenças essenciais no âmbito da política e coordenam suas ações de forma não
trivial, com o objetivo de influenciar o subsistema da política (SABATIER, 1993; JENKINS-
SMITH et al., 2017). A coalizão de defesa é um conceito básico para operacionalização do
quadro de referência de CD, sendo, segundo Sabatier (1993), alternativa de agregação de
atores em ação na política mais adequada para análises de longo prazo, em comparação com a
agregação convencional referente a afiliações de organizações e instituições formais. Para o
autor, organizações tendem a ser em grande número nas políticas, podem ter uma atuação
significativamente variável no longo do tempo (inclusive com extinção ou criação de novas),
e serem fragmentadas por nível governamental, o que as torna mais voláteis e de difícil
monitoramento no longo prazo. Além disso, o acompanhamento de atores políticos
individuais importantes no processo de política que se movimentam entre organizações torna-
se difícil, ao mesmo tempo em que uma única organização pode comportar atores individuais
com diferentes projetos políticos, não sendo recomendável assumir visão homogênea desta
em relação à política (SABATIER, 1993).
Por isso, Sabatier (1993) considera que as coalizões de defesa conferem uma forma de
agregação com um foco mais gerenciável à análise do processo de política, por atribuir um
sentido de unidade baseada no conjunto de crenças e valores que orientam as ações dos atores
perante à política. Assim, a coalizão de defesa agrega atores individuais de distintas
organizações e níveis governamentais que compartilham determinados objetivos e convicções
políticas. Ao identificar e mapear membros de uma coalizão e monitorar os recursos
mobilizados por essa, não se perde de vista a noção de vínculos desses indivíduos às
organizações e instituições relevantes na política.
Pelo conceito de coalizão acima indicado, duas características são realçadas em
relação a agregação de atores: o compartilhamento de crenças e a coordenação de ações.
Destas características, o sistema de crenças que se mantém como elemento teórico que
estrutura a composição da coalizão, estando o elemento de coordenação coletiva associado e
condicionado àquele (LEIFELD, 2013). Assim, em sentido similar, Jenkins-Smith et al.
(2014) indicavam que os principais pontos de investigação sobre coalizões visam examinar
sua formação e estabilidade ao longo do tempo, preponderantemente baseados no
compartilhamento de crenças, mas também contemplam outros fatores, como a forma pela
qual recursos são adquiridos, a existência de oponentes em comum entre membros, a adesão
52
16
Peräkylä (2005, p. 871) ao tratar de análises de textos e conversas direcionadas por um projeto democrático de
ciência comprometido com a justiça social destaca métodos de análise de narrativas, análise de discurso e análise
de conversação.
54
mudanças políticas de maior amplitude; bem como, o grau de abertura do sistema político e
intensidade de clivagens sociais neste.
A categoria corresponde a aspectos relativamente duradouros de um regime político e
institucional que afetam oportunidades de obtenção de recursos de poder pelos atores no
subsistema, criando maior facilidade ou dificuldade para atuação destes (SABATIER;
WEIBLE, 2007). A noção de consenso necessário para mudanças substantivas sugere que
quanto maior o grau de consenso requerido para a concretização de mudanças desejadas na
política, mais incentivos as coalizões de defesa terão para serem inclusivas a novos membros,
e buscarem compartilhamento de informação com oponentes, minimizando a percepção de
risco frente aos opositores (SABATIER; WEIBLE, 2007). O conceito de abertura do sistema
político envolve o número de instâncias de tomada de decisão a ser percorrida para uma
mudança substantiva, e, por fim, as clivagens sociais sobrepostas associam-se a distintas
facilidades de acesso dos diferentes atores sociais a tais instâncias (SABATIER; WEIBLE,
2007).
Cabe indicarmos que esta categoria intermediária foi acrescentada ao quadro de
referência originalmente proposto por Sabatier e Jenkins-Smith (1993), de forma a tornar a
abordagem mais sensível aos diferentes regimes e culturas políticos, em resposta às críticas de
que o quadro de referência inicial implicitamente se vinculava a prerrogativas do sistema
político norte-americano, onde as primeiras aplicações empíricas da abordagem foram
realizadas (SABATIER; WEIBLE, 2007).
A outra categoria intermediária é a de restrições e recursos de curto prazo dos atores,
que busca estabelecer como os eventos externos dinâmicos resultam em oportunidades
específicas de curto prazo para mudanças no subsistema da política, de acordo como forem
articuladas e aproveitadas pelas coalizões (JENKINS-SMITH et al., 2014).
Ao analisar as categorias da abordagem, Sabatier e Weible (2007) e Jenkins-Smith et
al. (2014) ressaltaram que esta tem passado por um aprofundamento e maior delineamento
das categorias e relações teóricas originais, inclusive com acréscimos (como é o caso de
estruturas de oportunidades de coalizões de longo prazo). Se, por um lado, ao abranger um
conjunto de múltiplas relações entre categorias relativamente amplas, tem implicado à
abordagem uma considerável complexidade teórica; por outro lado, proporciona uma
plataforma de desenvolvimento teórico que permite contribuições específicas em sua
construção coletiva.
Neste sentido, Jenkins-Smith et al., (2014) indicam que o quadro de referência tem
tendido crescentemente a receber contribuições específicas de pesquisas que enfocam um ou
56
poucas categorias teóricas ou de relações entre estas, em vez da aplicação do quadro integral.
Esta noção de plataforma, também concede flexibilidade para aplicação do quadro de
referência de CD em diferentes contextos empíricos.
Jenkins-Smith et al. (2017) elencam quatro (4) fatores analíticos enfatizados no quadro
de referência que influenciam em processos de aprendizados dos atores políticos: (1) atributos
do espaço de interação dos atores (características institucionais dos arranjos, grau de abertura
à participação, normas de conduta e regras de interação); (2) nível de conflito entre
coalizões18; (3) atributos de estímulo de aprendizado (tipos de informação, fontes de
credibilidade, experiências que os atores estão expostos) e; (4) atributos dos atores (crenças
extremas ou moderadas, recursos de acesso a informações, estratégias). Os autores também
realçam como agenda de pesquisa no quadro de referência o estudo do papel e características
de atores com atuações excepcionais ou em posições chaves na coalizão, como os
empreendedores de políticas e os intermediários de políticas (policy brokers) para a promoção
de aprendizados e mudanças nos processos de políticas.
Apresentada essa visão geral do quadro de referência de CD em termos de seus
pressupostos, categorias, conceitos e escopos principais de análise, na próxima seção, faremos
uma discussão sobre sua aplicação ao problema específico desta pesquisa de tese.
18
Jenkins-Smith et al. (2017) propõe que um nível de conflito intermediário seria o mais provável de favorecer
processos de aprendizados entre coalizões, uma vez que cria algum grau de demanda de informações (que um
nível baixo de conflito não tende a promover), porém sem elevada ameaça (característico de alto nível de
conflito), que propicia uma conduta suficientemente receptiva de atores de coalizões distintas a trocarem
informações.
60
desigualdades. Van Dijk (2001) argumenta que, embora ADC apresente múltiplas abordagens,
a reunião destas em uma perspectiva compartilhada tem como foco a análise de questões de
justiça social, com objetivos relacionados a explicar, expor e resistir às desigualdades sociais.
Magalhães, Martins e Resende (2017), corroboram com esta visão ao indicar que desde seu
desenvolvimento inicial, na década de 1980, a ADC tem se definido como um enfoque crítico
voltado ao estudo de problemas sociais, em particular em situações que práticas discursivas
desempenham papel relevante na produção, reprodução ou superação de desigualdades.
Entendemos também que a ADC se conforma a fundamentos do quadro de referência
de CD, seja em relação à centralidade deste ao enfoque cognitivo e ideacional, cujo exame
poderá ser orientado e operacionalizado pela análise de discursos (maior detalhamento na
próxima seção); seja pela perspectiva sobre processos de mudança na política, presente como
ponto de atenção na abordagem de CD, e que ao poder se configurar como possibilidades de
transformação social, também é preocupação norteadora na ADC.
Além desta integração ao quadro de referência da análise de discurso, outra distinção a
ser indicada é que nossa aplicação não tem como foco principal explicitamente testar
hipóteses específicas desenvolvidas no âmbito deste quadro de referência, principalmente
enquanto proposições teóricas gerais19 como formuladas em Sabatier e Jenkins-Smith (1993),
e revistas e ampliadas em outras publicações, como em Weible, Sabatier e McQueen (2009) e
em Jenkins-Smith et al. (2017). Nosso objetivo primário está em iluminar uma prática situada
de política para enfrentamento das desigualdades em CT&I e, assim, também servir como
instrumento para informar as coalizões de defesa, auxiliando no aprendizado do processo de
política. Contudo, considerações sobre contribuições teóricas no âmbito das discussões sobre
o quadro de referência advindas da análise do fenômeno empírico no que tange a categorias e
relações teóricas evidenciadas ou não no processo de política no contexto em estudo serão
realizadas em apontamentos na conclusão.
Este direcionamento atende a nossa compreensão e intenção de pesquisa de que seja
valorizado um enfoque finalístico sobre a necessidade de uma maior sensibilização na política
de CT&I para seus efeitos distributivos, ainda escassamente discutidos. Entendemos que, por
meio da articulação do quadro de referência de CD, seja possível propor a identificação de
diferentes articulações sobre enfrentamento das desigualdades no processo desta política
19
Cabe esclarecermos que estamos considerando uma diferenciação entre quadro de referência (framework),
teoria e modelo como proposto por Schlager (2007), seguindo a linha de proposição de Elinor Ostrom, para a
qual os quadros de referência provem plataformas com fundamentos para organização da pesquisa (um conjunto
de variáveis, seus conceitos e relações gerais entre estas) com uma linguagem metateórica (comum a diferentes
teorias), mas sem prover explicações ou predições específicas, estas seriam caracterizadas como teorias e
modelos teóricos, que podem ser desenvolvidas a partir destes quadros de referência.
63
estadual de CT&I, bem como, instigar maiores debates por parte das coalizões e atores
políticos, no sentido tanto de chamar atenção aos impactos, limites e potencialidades da
política, quanto sobre a necessidade e oportunidades de promover refinamentos dos modelos e
instrumentos conceituais, analíticos e metodológicos adotados em seus programas
governamentais.
20
Ragin (1992b) e Byrne (2009) reconhecem que o termo caso é um constructo metodológico básico nas
ciências sociais, por isso submetido a uma pluralidade de concepções usado em múltiplos métodos, com distintas
abordagens e foco. Na publicação de Ragin e Byrne (2009), um conjunto de métodos que usam alguma definição
64
que casing é o processo de constituir (delimitar e declarar) o caso de pesquisa, pelo “encaixe”
de ideias (categorias teóricas e abstratas) e evidências (dados empíricos e especificidades) do
fenômeno em análise. Desta concepção, Byrne (2009) direciona o conceito de casos enquanto
sistemas complexos delimitados de forma substantiva pela combinação de evidências
empíricas e categorias teóricas.
Uma característica central da proposta de casing de Ragin (1992a) é sua natureza de
processo, a qual implica no reconhecimento de constantes operações metodológicas pelo qual
este entrelaçamento teórico-empírico ocorre à medida que a pesquisa avança. Para o autor, o
casing pode ocorrer em quaisquer fases do processo de pesquisa, sendo mais comum no início
e no fim. Assim, o delineamento do caso geralmente é declarado no início da pesquisa de
forma a prover identidade teórica-empírica provisória ou tentativa, mas apresenta certa fluidez
no decorrer desta, podendo sofrer delimitações posteriores por acoplamentos e ajustes
sucessivos das ideias teóricas com os dados empíricos, até seu encerramento (RAGIN,
1992a). Nesta mesma perspectiva, Ragin (1992a) pondera que os casos são múltiplos na
maioria dos esforços de pesquisa, em virtude dos conceitos e dados empíricos poderem estar
ligados de muitas maneiras diferentes.
Pela aplicação do casing na pesquisa atual no delineamento de subsistema da política,
percebemos duas principais configurações, subsequentes e sobrepostas, de casos (e
subsistemas de políticas): um delineamento inicial geral que procurou delimitar o subsistema
da política estadual de CT&I no Pará e, a partir deste, a identificação e delineamento posterior
específico de subsistemas de política vinculados às temáticas para enfrentamento das
desigualdades selecionadas para estudo em maior profundidade.
A delimitação inicial do subsistema da política estadual de CT&I no Pará, seguiu
operacionalmente as dimensões propostas por Sabatier (1993), conforme segue: (i) dimensão
territorial teve como diretriz a noção convencional21 de unidade federativa, referente ao estado
do Pará e as respectivas organizações de políticas localizadas no âmbito de seu governo
de caso como critério central ao desenho da pesquisa são denominados de métodos baseados em caso ou
pesquisas orientadas por caso (case-based methods ou case-oriented research), em alternativa a pesquisas
orientadas por variáveis (variable-oriented research). Embora ambas as alternativas de métodos articulem casos
e variáveis, a diferença para estes autores está na primazia conferida a cada instância no delineamento da
pesquisa, ou seja, na pesquisa orientada por caso, a definição do caso (ao invés de relações causais entre
variáveis) é o ponto de partida prevalente para a concepção do desenho da pesquisa.
21
Uma vez que buscamos analisar o processo político em uma esfera subnacional, consideramos que adotar a
divisão convencionalizada na organização política de divisão das unidades federativas seja apropriado à
pesquisa, contudo, reconhecemos que é uma fronteira empírica instrumental em relação ao caso (RAGIN, 1992),
que não necessariamente corresponde a admitir que a atuação de coalizões nos processos de política ocorra
plenamente no território convencionalmente delimitado, uma vez que determinados dados ou eventos podem ter
ocorrência concentrada em partes do território, enquanto outros o extrapolam.
65
Nesse desenho, temos dois níveis de análise de casos para estudo, um referente a uma
análise de contextualização e caracterização do subsistema da política estadual de CT&I, que
será o enfoque desenvolvido no capítulo 3; e, outro relacionado a análise mais aprofundada
dos subsistemas de políticas para enfrentamento das desigualdades, sendo os casos
selecionados os do subsistema da política de tecnologia assistiva (enfoque do capítulo 4) e do
subsistema da política de tecnologia social (enfoque do capítulo 5), com vistas a permitir
compreender como essas temáticas têm sido articuladas e efetivadas. Neste nível mais
detalhado de análises em que centraremos na identificação de coalizões de defesa,
operacionalizada a partir da percepção de crenças essenciais da política entre os atores
políticos em atuação nessas temáticas, e as distintas formas de coordenação de suas ações
coletivas.
22
Conforme Chouliaraki e Fairclough (1999) práticas sociais se referem a formas e maneiras habituais, em
tempos e espaços particulares (contextualmente situadas), pelas quais pessoas aplicam recursos, materiais ou
simbólicos, para agirem, e interagirem, conjuntamente no mundo. De forma geral, para Dahler-Larsen (2012) a
concepção de ações humanas enquanto prática social implica em tomar sobre estas uma perspectiva analítica
social e historicamente contextualizada, enfatizando seus aspectos interacionais e potencialmente contestáveis.
69
Neste sentido, Fairclough (2001) define itens de exame para cada dimensão: (i)
análise do texto, denominada de dimensão descritiva, envolve o exame de itens de
vocabulário, gramática, coesão e estrutura textual; (ii) análise da prática discursiva, dimensão
analítica que busca vincular a análise de elementos textuais com um nível mais amplo de
práticas sociais dos atores, em termos da produção, distribuição e consumo dos textos em
análise. Seus itens de investigação contemplam a força dos enunciados constituídos, coerência
dos textos e intertextualidade e; (iii) análise da prática social, dimensão também analítica,
representa o lócus da interpretação de discursos que integra a análise das práticas discursivas
com práticas não discursivos de caráter econômico, político, cultural ou social, de acordo com
a orientação teórica social do pesquisador. Considerado o direcionamento da ADC para a
relação entre discurso e poder, Fairclough (2001) indica esta instância como correspondente à
reflexão dialética entre a prática social e estrutura social, recorrendo a itens de pesquisa de
ideologia23 e hegemonia24.
23
Fairclough (2001) adota o conceito de ideologia enquanto significações e construções da realidade (enquanto
mundo natural e de relações e identidades sociais) que são concebidas em múltiplas dimensões de formas e
sentidos das práticas discursivas e que contribuem para a produção, reprodução ou transformação de relações de
dominação.
24
Fairclough (2001, p. 122-123) indica que adota o conceito de hegemonia baseado em Gramsci em que
corresponde ao exercício de poder sobre uma sociedade que envolve tanto liderança quanto dominação de outras
forças sociais em domínios econômicos, políticos, ideológicos e culturais, porém somente é alcançado de forma
parcial e temporária, enquanto um equilíbrio instável. Neste cenário, os pontos de instabilidade do exercício de
poder representam os espaços de “lutas hegemônicas” para “construir, manter ou romper alianças e relações de
dominação/subordinação”.
70
Para Resende e Ramalho (2006) esta concepção de discurso enquanto prática social,
implica em considerá-lo como um modo de ação e representação historicamente situado, que
tanto é constituído socialmente como também é constitutivo de identidades sociais, relações
sociais e sistemas de conhecimento e crença. Portanto, todo texto (linguagem em uso) é visto
como produção social e historicamente situada que dizem respeito a nossas crenças, práticas,
ideologias, atividades, relações interpessoais e identidades. Essa concepção corresponde a
compreender que, por um lado, estruturas sociais organizam a produção discursiva nas
sociedades e, por outro, cada enunciado novo é uma ação individual sobre tais estruturas, que
pode tanto contribuir para a continuidade quanto para a transformação de formas recorrentes
de ação (RESENDE; RAMALHO, 2006).
Resende e Ramalho (2006) ainda ressaltaram que a vertente da ADC, em particular a
partir do trabalho de Chouliaraki e Fairclough (1999), reforçou a visão do discurso como um
momento constituinte das práticas sociais, que tem conduzido a uma menor centralidade da
análise no discurso em si, para uma abordagem mais interativa deste discurso nas práticas
sociais. Desta orientação analítica emerge a necessidade das análises dos textos serem
precedidas e integradas por análises das conjunturas sociais e políticas que os situem. Neste
sentido, realçamos duas diretrizes para pesquisa das autora, conforme expresso abaixo. A
primeira se refere a necessidade de considerar duas faces ou camadas de análise, uma
referente à conjuntura social sobre o problema em estudo e as práticas sociais específicas
relacionadas a este; e outra correspondente a análise textual, que poderiam envolver uma
diversidade de estratégias linguísticas quanto aos significados identitários, acionais ou
representacionais. A segunda se refere as práticas sociais apresentam quatro elementos ou
processos inter-relacionados que englobam o discurso (a expressão de processos de
significação ou proposição de significados sociais), a ação material, as relações sociais
(incluindo as interações e disputas de poder), e o fenômeno mental em indivíduos
(constituição e transformação de crenças, valores e desejos internos). Nesta concepção,
representada na figura 2, há uma descentralização da análise do discurso no âmbito da prática
social, e a explicitação de interações deste com outros elementos.
71
Neste capítulo, procuramos fazer uma revisão de literatura sobre política de CT&I
direcionada a compreender a conjuntura e as principais orientações discursivas deste domínio
de política. Nosso foco está em proporcionar uma conjuntura do processo da política, que em
termos gerais, ilumine alguns parâmetros relativamente estáveis do contexto no qual o
subsistema de política, a ser analisado, está situado e; em termos específicos componha uma
matriz de referência de suas orientações discursivas principais, com vistas a auxiliar-nos na
identificação de crenças dos atores no processo da política em análise nesta tese.
Do ponto de vista da análise de conjuntura para compreensão dos parâmetros
relativamente estáveis, enfocamos a identificação dos atributos básicos do domínio da política
(CT&I) e das percepções sobre a questão da desigualdade e desenvolvimento no âmbito das
relações entre CTS. Neste sentido, a nossa revisão de literatura buscou contemplar a trajetória
histórica de conformação de políticas, considerando seus principais atores políticos e
concepções e atributos sobre CTS e práticas do processo de política. Nossa ênfase sobre as
concepções e atributos da política parte da noção já exposta, qual seja, que a política pública é
constituída enquanto tradução negociada de enfoques conceituais e analíticas de seus atores
políticos.
Assim, a partir da nossa reconstituição desta trajetória do processo da política pela
revisão de literatura, também procuramos distinguir diferentes orientações discursivas deste,
ao discernir noções normativas e abordagens conceituais e analíticas para proposição de uma
matriz de referência de discursos, a qual entendemos que nos auxiliará na identificação de
crenças de atores políticos e seu compartilhamento em coalizões de defesa. Neste sentido,
buscamos abranger tanto aspectos considerados como de crenças auxiliares da política
(regras, instrumentos e práticas estabelecidos na definição de agenda, formulação,
implementação e avaliação no âmbito da política de CT&I); quanto aspectos relacionados às
crenças essenciais da política (concepção de C&T, de modelo de inovação, de quem produz
conhecimento e tecnologia na sociedade; de quem são os protagonistas legitimados e do
escopo de política priorizado), estendendo até a visão do papel da C&T em um projeto de
desenvolvimento da sociedade (interações entre C&T e desenvolvimento e o enfoque sobre
desigualdades).
Cabe indicarmos que, diversos foram os termos identificados em nossa revisão de
literatura para distinguir tais concepções e visões representacionais sobre atributos da política
74
27
A distinção entre pesquisa básica e pesquisa aplicada foi desenvolvida no âmbito da concepção da cadeia
linear de inovação, como etapas separadas tanto por uma dimensão temporal, quanto por uma dimensão espacial
(DIAS, 2005). A pesquisa básica seria uma etapa inicial, cujo objetivo é obter conhecimento sobre determinada
temática, sem considerações de uso ou aplicações especificas em termos de produtos ou processos, sendo
desenvolvida por universidades e institutos de pesquisa (NEAL; SMITH; MCCORMICK, 2008). A pesquisa
aplicada seria desenvolvida a partir da pesquisa básica (como etapa posterior) para atender alguma necessidade
reconhecida específica, sendo preponderantemente desenvolvida dentro de empresas e seus laboratórios (NEAL;
SMITH; MCCORMICK, 2008), principalmente no contexto de países de capitalismo central.
28
Embora Velho (2011) utilize em todo seu artigo o termo geral de política de CT&I para tratar da evolução
histórica do campo, nós adotaremos inicialmente o termo de política de C&T para o primeiro momento,
passando a explicitar CT&I, somente quando entendemos que ocorre a inserção de políticas específicas para
inovação neste domínio político.
77
29
Estas duas faces da política científica foram originalmente mencionadas em um relatório da OCDE para
aconselhamentos dos países membros sobre política pública de ciência e tecnologia de 1961 (KING, 1972).
78
30
Elzinga e Jamison (1995) ressaltam especificamente a proeminência do progresso técnico baseado em ciência,
e a globalização da produção do conhecimento com agendas de pesquisas orquestradas por corpos e
organizações internacionais.
79
Normas Descrição
Representa que o critério para avaliação de uma reivindicação científica não pode
relacionar-se à identidade de quem formula tal reivindicação, independente da origem
étnica, nacionalidade, religião ou classe (entre outras características pessoais). Esta
Universalismo norma supõe uma impessoalidade científica, sendo o conhecimento produzido verificado
somente por critérios de objetividade científica (normas cognitivas sobre regras de
evidências e estruturas teóricas de domínio de cientistas especialistas em temáticas). Um
exemplo de prática baseada nesta norma está nas avaliações por sistemas de peer review.
Reconhece que o conhecimento científico é coletivamente produzido, uma vez que todo o
desenvolvimento científico atual se baseia extensamente em resultados de diversas
pesquisas anteriores. Nesta perspectiva de construção coletiva, o conhecimento científico
Comunismo
é entendido como um bem comum, que deve ser amplamente publicizado para permitir o
acesso ao máximo de outros cientistas, os quais a partir deste poderão continuar
expandindo o conhecimento.
Refere-se a regra de conduta pela qual o cientista deve se eximir de seus interesses
Desinteresse pessoais ao desenvolver suas atividades científicas, uma vez que tais tipos de interesses
eram as causas fundamentais de comportamentos de fraudes.
supressão da subjetividade dentro dos limites de uma objetividade científica guiada por uma
lógica própria, autônoma dos processos sociais e conceitos valorativos (DAGNINO, 2008).
Relacionada ao conceito de neutralidade da ciência, estava a concepção de
determinismo tecnológico31, pelo qual a mudança tecnológica é considerada determinante da
mudança social, uma vez que o nível de desenvolvimento tecnológico estabelece os limites
potenciais do que uma sociedade pode produzir ou fazer (DAGNINO, 2008; AULER;
DELIZOICOV, 2001). Esta noção está associada a tese de que o progresso tecnológico
percorre um caminho linear progressivo, de forma que uma tecnologia apresenta uma
configuração de funcionamento e nível de eficiência ótimos definidos por características
internas, independente de influências e relações sociais a serem estabelecidas (AULER;
DELIZOICOV, 2001).
A visão da ciência como livre de valores, enquanto base de sua concepção, busca
desvincular a produção científica (e a tecnológica relacionada) dos seus contextos sociais,
políticos e econômicos, o que conduz a um movimento de “despolitização” da ciência e da
própria política de C&T, a qual pende a uma postura tecnocrática32 (DAGNINO, 2008;
ELZINGA; JAMISON, 1995). Estas crenças sobre o ethos da ciência e concepções
deterministas da tecnologia tiveram forte difusão não somente entre a comunidade de
pesquisa, como também influenciaram a concepção de ciência e de política de CT&I do senso
comum, legitimando socialmente a posição de cientistas e pesquisadores, enquanto grupo
dominante no domínio da política (DAGNINO, 2008).
A direção destas normas de funcionamento da ciência orientou as práticas de produção
e avaliação científicas e tecnológicas centradas nos próprios cientistas, enquanto únicos atores
da sociedade devidamente treinados e disciplinados àquelas (VELHO, 2011). Assim, Velho
(2011) indica que nesta concepção de política de C&T, o Estado era o principal financiador da
expansão do conhecimento científico, visto como bem comum, e delegava aos cientistas
(membros habilitados da sociedade) as funções de seleção de pesquisas (geralmente por meio
de conselhos científicos), produção, e avaliação, por meio de revisão de pares. Deste modo, a
autora assevera que a comunidade científica exercia grande poder na distribuição de recursos,
31
Contrapõe-se à noção de determinismo tecnológico tanto a visão de determinismo social, quanto a visão da
adequação sociotécnica, que serão posteriormente descritas.
32
Para Auler e Delizoicov (2001), a perspectiva tecnocrática de tomada de decisão está baseada em dois axiomas
do que denomina de cientificismo, o da superioridade teórica do conhecimento científico sobre outras formas de
conhecimentos para explicar a realidade, e o da superioridade prática do conhecimento científico para propor
soluções a problemas situados desde o campo técnico ao campo social e ético. Este tipo de concepção, portanto,
não admite a existência de ambiguidades e controvérsias (inclusive científicas) na resolução de problemas na
sociedade, bem como tal intolerância a ambiguidades reduz a propensão a práticas democratizantes ou
participativas na busca de soluções aos problemas sociais ou tecnológicos (AULER; DELIZOICOV, 2001).
81
partida para alcance do desenvolvimento social, em uma visão mecanicista e mediante uma
determinação praticamente automática (DIAS, 2005).
Decorrente do modelo linear, a racionalidade da política de C&T assume uma ênfase
na oferta de conhecimento científico, o qual ao seguir o fluxo linear seria, por suposto,
transferido a cada elemento até atingir os setores produtivos (racionalidade ofertista). Desta
forma, o escopo da política estava focado na política científica, e seus principais instrumentos
visavam o fortalecimento de capacidades de pesquisa, como fomento à infraestrutura,
formação de recursos humanos e projetos de pesquisa (DIAS, 2005, VELHO, 2011).
Nesse âmbito, ao considerar a combinação das concepções de neutralidade da ciência
e de determinismo tecnológico, características de uma abordagem positivista, assim como do
modelo linear de geração de inovação, o papel da C&T estava associado a um projeto de
desenvolvimento da sociedade para o qual proveria conhecimentos certificados e soluções
técnicas para problemas sociais e de intervenção por meio de políticas públicas (SALOMON,
1995). Essa concepção universalista e determinística de C&T era funcional dentro de um
modelo de desenvolvimento também difundido nos anos de 1950, que tem entre seus
proponentes Rostow33, para quem a trajetória de desenvolvimento econômico seria descrita
por uma trajetória única e linear composta por uma sequência de etapas históricas34, que seria
comum a todos os países (MACEDO, 2007). Macedo (2007) defende que este modelo de
desenvolvimento teve forte influência na política externa norte-americana no período da
Guerra Fria, em particular na promoção de intervenções modernizantes junto a países
periféricos (até então não industrializados), para as quais haveria uma condição vantajosa pela
disponibilidade de um acervo já acumulado de tecnologia, desenvolvido nos países
industriais.
Nesta concepção, a C&T permanece fundamentalmente direcionada a uma perspectiva
de desenvolvimento entendida enquanto produto imediato e automático do crescimento
econômico, proporcionado pela industrialização e produção em massa. Para Cozzens (2007),
tal visão conduziria a uma orientação de justiça social fortemente agregativa, que tendia a
negligenciar as consequências distribucionais nas políticas de C&T (e de outros domínios de
políticas). No âmbito de estudos e projetos de intervenções de desenvolvimento, a orientação
agregativa focava o alcance de altos níveis de crescimento econômico como a estratégia mais
33
Macedo (2007) faz uma revisão crítica da perspectiva de desenvolvimento econômico defendida por Rostow,
citando como sua principal obra o livro "As etapas do desenvolvimento econômico" de 1961.
34
Rostow propunha uma trajetória com cinco (5) etapas históricas dos países em direção à maturidade
econômica e tecnológica que contemplaria, partir de uma etapa inicial (1) de sociedade tradicional, a passagem
por fases de (2) precondições para o arranco (take-off), (3) o arranco, (4) a marcha para a maturidade, até alcance
da (5) era do consumo em massa (MACEDO, 2007).
83
adequada para o combate à pobreza absoluta, mesmo reconhecendo que o receituário de tal
estratégia poderia elevar níveis de desigualdade na sociedade, considerado, à época, um efeito
colateral que deveria ser tratado posteriormente (RAVALLION, 2005; 2014).
Especificamente no domínio da política de CT&I, a ausência de preocupação distribucional
reforçada pela noção da neutralidade da ciência conduzia à crença, mencionada por Cozzens
(2007), de que cabe a esta política produzir riqueza, e às demais políticas distribuí-la.
Cabe recordarmos, entretanto, que embora a política de C&T tivesse seu processo
decisório centrado em atores da comunidade científica, não implica afirmar que a C&T desse
período era efetivamente alheia à interferência social, ou seja, a interesses econômicos e
políticos de grupos sociais, que orbitavam em torno do sistema político ou aos quais os
próprios cientistas pertenciam (CARLOTTO, 2013). Carlotto (2013) exemplifica o próprio
sistema de financiamento público da ciência estabelecido como explicado por expectativas
políticas e econômicas predominantes na sociedade sobre resultados da C&T, como o foi
preponderante, por exemplo, na área de defesa dos EUA.
Na década de 1960 emergem questionamentos sobre algumas concepções chaves até
então utilizadas, como a de neutralidade da ciência e do determinismo tecnológico,
impulsionados tanto pela compreensão da construção social da ciência e das trajetórias
sociotécnicas, quanto pela percepção de consequências negativas imprevistas do
desenvolvimento tecnológico. Tais questionamentos sobre o conjunto de concepções
desenvolvidas, que entendemos como o discurso predominante da política de C&T até então,
introduzem um período que desestabilização deste e abertura para a constituição e disputas de
discursos alternativos.
Este período de acordo com a evolução histórica proposta por Velho (2011)
corresponde as décadas de 1960 e 1970 no contexto internacional da política de C&T. Embora
Velho (2011) apresente este período como um segundo paradigma (“ciência como solução e
causa de problemas”) no domínio da política, na perspectiva da constituição de disputas
discursivas, nós compreendemos que houve uma desestabilização na hegemonia do discurso
da ciência como motor do progresso, por críticas aos seus fundamentos, de modo que abriu-se
oportunidades para desenvolvimento de discursos alternativos até uma nova estabilização da
política em um novo discurso dominante.
84
Elzinga e Jamison (1995) ao fazer a análise da política de C&T pelas culturas políticas,
haviam identificado que o ambiente da política no período anterior tendia a uma
"despolitização" em função das concepções de neutralidade e valores tecnocratas associados a
cultura acadêmica prevalecente. Contudo, os autores também observaram, a partir da década
de 1960, um período intermitente de repolitização, com maior abertura a outras culturas no
domínio da política em nível internacional, em particular enfocando os EUA, Canadá e
Europa ocidental, destacaram a incidência da cultura burocrática, empresarial e de
movimentos sociais.
Este movimento de questionamento do discurso predominante até então é realçado por
Velho (2011), por um lado, enquanto relacionados à intensificação da degradação ambiental e
de seus efeitos na vida cotidiana das sociedades (poluição do ar, água e solo por substâncias
tóxicas), a permanente concentração de renda e movimentos de trabalhadores que perdiam
empregos pela intensificação tecnológica industrial. O que para a autora conduziu a uma
contestação da visão unicamente positiva dos impactos da C&T na sociedade e, portanto, da
legitimidade da suposta autonomia da ciência, de modo a propiciar um contexto de
problematização da relação entre C&T e sociedade e da necessidade de avaliação sobre o
conteúdo em si da ciência. Estes questionamentos, por outro lado, estabeleceram as bases para
emergência do campo de Estudos Sociais da C&T e contestações internas na comunidade
científica dos fundamentos de neutralidade e determinismo da C&T (VELHO, 2011).
Os estudos sobre a construção social da C&T, principalmente desenvolvidos a partir
de microanálises e com foco na conformação do conteúdo da ciência elaborado coletivamente
e negociado entre os cientistas, evidenciaram que os imperativos das relações sociais,
econômicas e políticas forjam o ambiente em que é gerado o conhecimento científico e
tecnológico, de modo que características fundamentais deste contexto social (incluindo
valores e interesses de grupos sociais dominantes) são internalizadas ao conhecimento, para
que este torne-se funcional àquele (DAGNINO, 2008).
Esta compreensão de construção social da C&T opunha-se tanto à concepção de
neutralidade da ciência, quanto também à noção de determinismo tecnológico, pois pressupõe
a tecnologia como um construto sociotécnico, o qual apresenta características de natureza
técnica consubstanciadas a condições sociais de seu desenvolvimento, como aspectos
econômicos, relações de poder, disponibilidade de recursos, regras institucionais, entre outros
(DAGNINO, 2008). Deste modo, o contexto da sociedade (econômico, social, político,
cultural, ambiental) em que uma tecnologia é desenvolvida influi no conteúdo tecnológico em
si projetado, e não somente em sua forma de uso. Nestas bases conceituais, há possibilidades
85
2.1.3 Ascensão das políticas de inovação e do discurso da C&T como fonte de estratégia
competitiva
primeira ministra Thatcher) e nos EUA (governo Reagan), o qual preconizava a redução da
estrutura do Estado e de seus gastos com bem-estar social; bem como a transposição de suas
práticas para uma lógica empresarial e de mercado, de origem em abordagens funcionalistas,
que enfatizava aspectos técnicos e obscurecia aspectos políticos da gestão.
Mediante difusão destes preceitos de reformas de Estado e na administração pública,
com forte presença de recomendações de organismos multilaterais internacionais nos moldes
do consenso de Washington, tornam-se recorrentes em diversos países ações de privatização,
desregulamentação econômica e financeira, e a redução de gastos estatais em funções de bem-
estar social como estratégia de controle fiscal, como condição para atrair e manter
investimentos estrangeiros diretos, por meio de elevados níveis de retorno do capital.
Em termos mais específicos da relação entre C&T e sociedade, destacamos que houve
no período um aumento de consenso em torno de que a inovação baseada no conhecimento
científico e tecnológico constituía fator crítico para a competitividade e o crescimento
econômico em mundo globalizado, com contínua difusão por agências internacionais,
destaque à OCDE, com a disseminação de ideias associadas à economia do conhecimento35
(CARLOTTO, 2013). Viotti (2008) identifica que a construção de um discurso da inovação
tecnológica como fator fundamental no desenvolvimento econômico e social, sobrepôs-se à
percepção da estreita ligação entre o conceito de inovação então formulado, com base na
perspectiva schumpeteriana, e a apropriação privada dos benefícios da C&T.
Esse movimento também aprofundou a desconstrução das noções mertonianas de
ciência e das especificidades desta como uma esfera social e cognitiva diferenciada
(CARLOTTO, 2013). Para Velho (2011), a concepção da ciência como socialmente
construída, cujo conteúdo em termos de foco, direção e uso são sujeitos à análise e avaliação,
se tornava cada vez mais aceita, e, embora com debates ainda controversos entre os cientistas,
avançou em constituir certo consenso entre analistas da política e da C&T, tomadores de
decisão, burocratas e políticos, inclusive porque sua abordagem conceitual e analítica tende a
atender melhor as posições argumentativas e interesses desses atores no processo de disputa
da política frente à comunidade científica.
35
Segundo Powell e Snellman (2004) a economia do conhecimento envolve setores de produção e serviços
baseados em atividades intensivas em conhecimento que contribuem para a aceleração do avanço científico e
tecnológico, bem como apresentam processos de obsolescência mais rápidos. Os autores reconhecem que o
termo engloba diferentes abordagens e focos de pesquisa, ressaltando três correntes: uma com foco em indústrias
intensivas em C&T, e o conhecimento enquanto fonte de inovação e produtividade; a segunda enfoca análises de
possíveis diferenciações econômicas em termos de novas formas e arranjos organizacionais e tipos de trabalhos
na economia conhecimento; e, por fim, a terceira linha concentra-se de forma mais estreita em uma orientação
gerencial sobre o papel do aprendizado e inovação contínua em empresas.
90
36
A OECD/OCDE foi uma das agências multilaterais que exerceu papel proeminente na ampla difusão entre
países desenvolvidos e em desenvolvimento do modelo analítico de sistemas de inovação como base para
proposição de políticas de inovações e indicadores a ela associados (GODIN, 2009; CARLOTTO, 2013).
91
(2007) distingue um aumento de discussões neste tópico reforçado por debates sobre justiça
ambiental, exclusão digital e aumento de desigualdades de rendas em países de
industrialização avançada, principalmente a partir de meados da década de 1990.
Sinalizações de uma ampliação de espaço alcançado por estas discussões, embora
ainda circunscrito, são encontradas no campo dos estudos sociais de C&T em edições
especiais sobre a temática como em “Science, Technology & Human Values” sobre tecnologia
e desigualdades (2003, v. 28, n. 1), na “Science and Public Policy” sobre ciência, política
pública e injustiça social (2007, v. 34, n. 2) e o uso do conhecimento para coesão e inclusão
social (2012, v. 39, n. 5), e em “Technological Forecasting & Social Change” sobre
consequências distribucionais de tecnologias emergentes (2012, v. 79, n. 2).
Da perspectiva do campo de estudos sobre desigualdade e pobreza, a aceleração das
mudanças tecnológicas e o crescente impacto destas nas direções da distribuição da renda e
riqueza nas sociedades têm levado às políticas científicas, tecnológicas e de inovação a se
tornarem eixos explicativos relevantes em pesquisas sobre desigualdades (ATKINSON, 2014;
AUTOR, 2014). De modo que, Atkinson (2014) propôs que as medidas em termos de
políticas públicas para enfrentamento de desigualdades e privações nas sociedades
contemporâneas não podem se restringir a setores de redistribuição fiscal e seguridade social,
mas devem envolver uma ação intersetorial, com destaque ao papel das políticas científicas.
Neste contexto, que observamos um novo momento de busca de maior politização da
política de CT&I no sentido proposto por Elzinga e Jamison (1995), ou seja, de emergência de
novas (e antigas) contestações ao discurso hegemônico e desenvolvimento de políticas e
discursos alternativos. Velho (2011) compreende movimentos de construção do que possa a
ser um novo paradigma para a política de CT&I, a partir de 2000, que denomina de “Ciência
para o Bem da Sociedade”, embora ainda em um estágio de desenvolvimento ainda
“especulativo” e “preliminar”.
Vasen (2016) propõe um olhar similar ao buscar analisar a possibilidade de estar
sendo desenvolvida uma inflexão pós-competitiva na política de CT&I. Seu exame da política
baseia-se na identificação de marcos teóricos e conceituais que estabelecem como prioridade
de atenção e ação finalística os objetivos sociais sobre os econômicos. Apesar do autor
concluir que ainda não se tenha alcançado um marco alternativo sistemático e coerente para a
política (o que em nossa perspectiva de disputas discursivas podemos traduzir enquanto
ascensão de um novo discurso a uma posição prevalente), é constatado um extenso
movimento de tomada de consciência das limitações das abordagens convencionais da política
de CT&I para direcionar questões de interesse social.
96
São sete (7) as construções discursivas e práticas destacadas, entre estas o ponto
comum é estarem orientadas a diretamente resolver problemas de cunho social, questionando,
em alguma medida, as formulações convencionais ainda predominantes na política de CT&I.
No entanto, como podemos ver, as abordagens assumem múltiplas concepções da interação da
C&T e sociedade, de enfoque de problemas priorizados (e consequentemente soluções), de
categorias de atores sociais postos como protagonistas, de desenho de políticas e mecanismos
de intervenção social, e de níveis e formatos de participação nestes. Por um lado, entendemos
que o próprio direcionamento de atenção às especificidades contextuais (de regiões, públicos
alvos e seus problemas e culturas distintos) mencionado na construção discursiva que
apresentamos conduz a uma certa multiplicidade de formatos de aplicações de políticas e
programas. Por outro lado, embora sejam abordagens mais sensíveis aos problemas sociais e
voltadas a propor soluções via atividades diretas de CT&I, o nível de aderência ou
compromisso destas às concepções normativas acima discutidas também variam.
Vasen (2016) defende que a maioria das abordagens adota uma tendência mais
reformista aos pressupostos convencionais, com exceção à proposta exposta de tecnologia
social que implica em maior mudança substantiva (maior ruptura discursiva) no processo de
política. Thomas, Juarez e Picabea (2015) também ressaltam que algumas abordagens que
examinam, como a grassroots e a inovação para a base da pirâmide, mantêm uma concepção
de interação entre C&T e sociedade quase que exclusivamente restrita às relações via
mercado. Bem como, não exploram as possibilidades de conexões entre conhecimentos tácitos
e tradicionais (enfatizados na grassroots) e conhecimentos científicos e tecnológicos
(fundamento da inovação tecnológica para base da pirâmide).
Compreendemos que as contestações em prol da necessidade da política de CT&I se
tornar orientada a objetivos sociais neste período causou uma desestabilização no discurso
dominante de promoção de competitividade e enfoque no desenvolvimento econômico, com
abertura a construções discursivas alternativas. Tal desestabilização faz com que os atores
políticos busquem construir concepções, desenhos e instrumentos de políticas que respondam
às contestações (ou a uma parte selecionada destas), mas estes o fazem a partir de seus
próprios sistemas de crenças (discursos de pertencimento). Ou seja, ao ter que responder às
contestações (diferenciadamente percebidas ou enfatizadas de acordo com o contexto do
processo de política), atores políticos ajustam (em menor ou maior grau) seus discursos para
incorporar soluções ou alternativas aos problemas apontados, no âmbito de um processo de
politics ou disputa discursiva.
105
38
Como mencionamos anteriormente, Dagnino (2004) expõe este tipo de disputa discursiva em torno do
significado e implicações da participação social nas políticas públicas, enquanto um confronto entre dois projetos
políticos distintos (um neoliberal e outro de ampliação de direitos sociais) no contexto brasileiro.
106
por não encontrarem correspondências às conjunturas e estruturas dos países centrais, onde
algumas das concepções revistas foram originalmente elaboradas.
Portanto, examinaremos o percurso de institucionalização e desenvolvimento da
política de CT&I nacional com foco em suas formações discursivas e, ao mesmo tempo,
perpassando suas principais características e eventos, de modo que também proporcione uma
base de contextualização para posteriormente (no capítulo 3) abordarmos o caso do processo
da política de CT&I no estado do Pará.
39
Atualmente Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
40
Atualmente Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
41
Dagnino (2007) define comunidade de pesquisa como o conjunto de profissionais que se dedicam ao ensino e
à pesquisa em universidades públicas, e aqueles que, ao terem sido ali socializados na cultura institucional das
práticas de pesquisa, atuam em institutos de pesquisa e agências de fomento.
108
Na virada das décadas de 1970 a 1980, em um contexto marcado pela crise econômica
e problemas fiscais no país, bem como da ascensão do pensamento neoliberal, ocorre
concomitante crise na política de C&T e, assim, a desestabilização do discurso até então
dominante. O período no Brasil foi caracterizado em termos econômicos pela hiperinflação e
pelas tentativas de seu controle, que somente se estabilizará a partir dos meados de 1990; e,
em termos políticos, pelo movimento de redemocratização que coexiste com a crise da dívida
e da reforma do Estado, orientada pelo consenso de Washington43, resultando no desmonte do
aparato institucional do Estado desenvolvimentista anterior.
42
Segundo Herrera (1995, p. 126) projeto nacional corresponderia ao “conjunto de objetivos, ao modelo de país,
a que aspiram os setores sociais que têm, direta ou indiretamente, o controle econômico e político da
comunidade” (tradução nossa).
43
Conjunto de recomendações direcionadas a partir da década de 1980 por organizações financeiras
internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial para os países em
111
desenvolvimento com foco na realização de reformas de orientação neoliberal, que visavam o controle fiscal e
redução da intervenção do Estado na economia, e a abertura de mercados (VIOTTI, 2008).
44
Na década de 1990, o estabelecimento e adesão do Brasil ao Acordo Comercial Relativo aos Aspectos dos
Direitos de Propriedade Intelectual (TRIPS), e a posterior consolidação da Organização Mundial do Comércio
(OMC), sucedeu o endurecimento de mecanismos de propriedade intelectual, até então difusos e de baixa
complexidade, e necessidade de adequação da legislação brasileira a tais normas internacionais, contempladas
nas seguintes leis nacionais: Propriedade Industrial (Lei n° 9.279/1996); Cultivares (Lei nº 9.456/97); Programas
de Computador (Lei n° 9.609/98); e Direitos Autorais (Lei n° 9.610/98) (VIOTTI, 2008).
112
45
Segundo Silva (2000), até 1985, somente quatro (4) estados brasileiros possuíam fundações de fomento à
C&T: São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Atualmente, conforme o Conselho Nacional
das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (CONFAP, 2018), todos os estados brasileiros possuem
fundações de fomento, com exceção de Roraima.
114
orientem a nova matriz cognitiva, com incisiva influência dos modelos internacionalmente
difundidos, em particular do Sistema Nacional de Inovação.
Na função regulatória da política, uma série de novas legislações emergiram
vinculadas à agenda, entre estas destaca-se a lei de incentivo à inovação (10.973/2004), a Lei
do Bem referente a concessões de incentivos fiscais (11.196/2005). A lei de incentivo à
inovação buscou estimular a relação entre instituições públicas de C&T e empresas,
assegurando um rol de formatos e conteúdos para estas parcerias, além de, como ressalta
Carlotto (2013) estabelecer que essas envolvam-se diretamente no processo de
comercialização de conhecimento, sobretudo por meio do patenteamento e do licenciamento
de novas tecnologias. Também procurou constituir mecanismos de estímulos à inovação
diretamente para as empresas, por meio destas legislações, como programas de renúncias
fiscais e de subvenção econômica do governo em projetos de P&D e inovação empresariais.
Em 2016, houve novo movimento regulatório de aprofundamento desta agenda, com as
aprovações da emenda constitucional n° 85 e da Lei nº 13.243/2016, denominada de novo
marco legal da CT&I.
Além das modificações legais, ainda no final do segundo (2º) governo de Fernando
Henrique Cardoso, havia se iniciado uma séria de discussões sobre o avanço de instrumentos
e medidas para promoção da inovação no âmbito da política científica e tecnológica, como
registrado no Livro Verde da CT&I (MCT, 2001) e no Livro Branco da CT&I (MCT, 2002),
respectivamente o documento concebido como base para debates da segunda (2ª) Conferência
Nacional de CT&I, e o outro sendo a expressão de seus resultados. Com o governo de Luís
Inácio Lula da Silva, há uma continuidade na concepção da política de CT&I, contudo esta
torna-se articulada de forma mais estruturada por meio da Política Industrial, Tecnológica e
de Comércio Exterior (PITCE) e do Plano de Ação do MCT 2004-2007.
A PITCE baseia-se na seleção de setores como opções estratégicas (semicondutores,
software, bens de capital e fármacos e medicamentos) e atividades portadoras de futuro
(biotecnologia, nanotecnologia, biomassa e energias renováveis). Ao analisar os setores
priorizados, Dias (2009) ressalva que estes têm uma relevância pequena na participação no
Produto Interno Bruto (PIB) e na geração de emprego do país (exceção ao setor de bens de
capital), e que não são necessariamente dinâmicos em termos de difusão de conhecimento em
um contexto periférico. Estes pontos levantam questionamentos sobre a eficácia da promoção
de desenvolvimento econômico e social nacional a partir das áreas estratégicas da PITCE,
associados também a negligência quanto a avaliação de seus resultados (diretos e indiretos)
em termos de estratégias de desenvolvimento mais amplas.
115
46
De acordo com a série de dados denominada de "Dispêndios públicos em pesquisa e desenvolvimento (P&D),
por objetivo socioeconômico", disponibilizada pelo MCTIC somente até 2013.
117
modelo do sistema nacional de inovação, bem como, de forma mais ampla, à constituição de
uma orientação que dirija atenção a grandes problemas sociais do país, principalmente
relacionado ao combate à pobreza, redução de desigualdades e das dinâmicas de exclusão
social. O esforço de articulação de política de CT&I voltado para a inclusão social que tenha
alcançado a agenda do processo de política no país (embora em posição marginal) com algum
destaque, principalmente na primeira década de 2000, refere-se ao movimento de elaboração
de uma política de C&T para desenvolvimento social, apoiado em proposições conceituais
sobre tecnologia social.
O tema da inclusão social entrou na agenda governamental da CT&I no início do
primeiro governo de Luís Inácio Lula da Silva (2003-2006), em que, entre as sinalizações
desta inserção no processo de política, podemos observar, conforme realçado por Fonseca
(2009) a criação, em 2003, no âmbito do MCT de uma Secretaria de C&T para Inclusão
Social (SECIS); em 2004, com o estabelecimento da Área de Tecnologia para
Desenvolvimento Social na agência de fomento federal Financiadora de Estudos e Projetos
(FINEP); e a institucionalização da Rede de Tecnologias Sociais (RTS), em 2005. Como
comentamos, apesar do tema ter se mantido marginal no processo de política (DIAS, 2009;
FONSECA, 2009), consideramos que a breve revisão de algumas das características na
trajetória da política seja útil para nossa compreensão de como discursos alternativos da
política tem conseguido se articular e quais suas dificuldades de materialização.
A novidade do tema de inclusão e desenvolvimento social na política explícita de
C&T, como apontado por Fonseca (2009), não se refere somente a temática em si, mas, ao
fato desta não ter emergido apenas no âmbito da própria política de C&T, mas em
movimentos de desenvolvimento de tecnologias com participação de setores da sociedade
civil, como organizações não-governamentais (ONG), por exemplo, Instituto de Tecnologia
Social (ITS), criado em 2000, e da Fundação do Banco do Brasil (FBB), que em 2001
instituiu o Prêmio “Tecnologias Sociais”. A busca de construção conjunta entre ONG e
organizações públicas de um entendimento comum de tecnologias sociais e da articulação de
uma política para sua promoção, resultou na criação da RTS, em 2005.
Fonseca (2009) ressaltou que a RTS, em 2008, estava composta por 640 organizações
de múltiplos setores, caracterizando um perfil de atores políticos diferenciado das categorias
tradicionais de C&T, e, assim, conferindo um caráter de inovação institucional no processo da
política. Contudo, Dias (2009) observa que a complexidade e diversidade das demandas de
ONG e movimentos sociais junto a SECIS se, por um lado, reflete em um caráter plural de
ações, por outro lado, cria um desequilíbrio entre os atores interessados em incidir sobre a
120
Quadro 5 – Programas por linha de ação da CT&I para desenvolvimento social no plano de Ação de
CT&I 2007-2010
Linha de Ação Programas
Apoio a Projetos e Eventos de Divulgação e de Educação Científica, Tecnológica e de
Inovação
Popularização da Apoio à Criação e ao Desenvolvimento de Centros e Museus de Ciência, Tecnologia e
CT&I e Melhoria Inovação
do Ensino de
Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas – OBMEP
Ciências
Conteúdos Digitais Multimídia para Educação Científica e Popularização da C,T&I na
Internet
Implementação e Modernização de Centros Vocacionais Tecnológicos
Programa Nacional de Inclusão Digital
Apoio à Pesquisa, Inovação e Extensão Tecnológica para o Desenvolvimento Social
Programa Comunitário de Tecnologia e Cidadania
Tecnologias para
Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Regional com Enfoque em
Desenvolvimento
Desenvolvimento Local e Arranjos Produtivos Locais
Social
Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento Aplicados à Segurança Alimentar e Nutricional
Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário e Agroindustrial para Inserção Social
Capacitação em CT&I para o Desenvolvimento Social (esta última não tinha previsão
orçamentário no plano).
Fonte: Adaptado pela autora a partir de MCT (2010b).
Neste sentido, Fonseca (2009) também defendeu que, embora o tema da inclusão
social tenha conseguido ser inserido no processo de política de CT&I, não causou um
desequilíbrio no balanço de forças entre os atores políticos existente. Por um lado, isso
possibilitou um nível de conflito ou rejeição menor à sua entrada na pauta, por outro lado, a
manteve em uma posição marginal no processo da política. O autor ressalta que, além da
121
restrição de recursos, o perfil dos dirigentes da SECIS era associado ao exercício de funções
político-eleitoral, sem vinculação prévia à comunidade de pesquisa (perfil profissional
tradicionalmente presente nos quadros do MCT), e a maior parte do orçamento executado pela
SECIS advinha de emendas parlamentares, e não da fonte do MCT (em 2008, 88% do
orçamento da SECIS teve origem em emendas parlamentares de bancadas, individuais e de
comissões). Esses aspectos levam Fonseca (2009) a argumentar que majoritariamente a
comunidade de pesquisa não expressava interesse significativo ao tema em pauta,
principalmente por estarem comprometidos com outras concepções e discursos da política de
CT&I.
Relacionada a esta articulação de concepções alternativas, um conceito chave de
construção no processo de política está sobre "tecnologia social". A definição assumida pela
RTS de tecnologia social foi que “compreende produtos, técnicas ou metodologias,
reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representam efetivas
soluções de transformação social” (RTS, 2005). Dias (2009) indica que na RTS, ao
contemplar um conjunto heterogêneo de atores, há uma diversificada percepção sobre o
próprio tema da Tecnologia Social. Fonseca (2009), por exemplo, exemplifica um ponto de
tensão entre diferentes atores sobre escala de alcance das experiências de tecnologias sociais e
as escalas dos problemas sociais brasileiros, em contexto de debate sobre as possibilidades e
condições de reaplicação das tecnologias. Mas, ao considerar valores e interesses comuns dos
atores da rede, estes havido se empenhado por atingir uma convergência mínima para a ação
no sentido de viabilizar a geração e a reaplicação de tecnologias.
Fonseca (2009) e Dias (2009) defendem que o enfoque tecnológico dirigido à inclusão
e desenvolvimento social precisava partir de uma compreensão de não-neutralidade científica
e não-determinismo tecnológico, assim, sendo fundamental que o desenvolvimento
tecnológico ocorra com a participação inclusiva dos usuários locais, de modo a incorporar
seus valores e condições locais do contexto de aplicação. Pontos conceituais convergentes aos
princípios associados a construção de discurso socialmente orientado de política de CT&I,
como vimos anteriormente. Desta forma, a tecnologia social se distinguiria das tecnologias
convencionais, caracterizadas pela desassociação entre espaço e momento de
desenvolvimento da solução, e as dimensões espaciais e temporais de sua difusão e utilização.
Neste caso, a própria reaplicação depende de um processo de avaliação e apropriação local da
solução proposta ao novo contexto local.
Mas, Dias (2009) adverte que a priorização de ações da política voltada à inclusão e
desenvolvimento social da SECIS tende a adotar uma postura mais conservadora em termos
122
Quadro 6 – Matriz de referência de discursos da política de CT&I a partir de uma visão de convergência internacional
Discurso da CT&I orientada para o Discurso da CT&I orientada para a
Componentes Discurso da C&T auto orientada
mercado sociedade
Ciência socialmente neutra de valores e Ciência socialmente construída, considerada Ciência socialmente construída, que valoriza
Concepção de ciência
interesses, sob orientação positivista uma forma de conhecimento superior conexões de diferentes formas de saberes
C&T propiciam industrialização e produção Inovação tecnológica gera desenvolvimento Contestação ao atributo da convergência em
Interação da ciência e em massa como fonte de crescimento econômico (via competitividade e agregação concepções de desenvolvimento e à ênfase
tecnologia e projeto de econômico necessário a estágios de de valor) que transborda benefícios sociais por econômica. Orientação ao desenvolvimento
desenvolvimento desenvolvimento em uma sequência linear e melhorias de emprego, qualificação social (múltiplas dimensões) a partir de uma
universal. profissional e novos produtos. construção endógena.
Prioridade de enfoque Crescimento econômico como solução ao Enfoques distributivos sensíveis a múltiplas
Orientação agregativa a partir da combinação
problema-solução sobre combate à pobreza nas etapas iniciais da clivagens sociais e efeitos cumulativos das
de concepções liberais e utilitaristas.
desigualdades sequência linear de desenvolvimento. dinâmicas de desigualdades existentes.
Escopo priorizado Foco na política científica Foco na política de inovação Foco finalístico no bem-estar social
Concepção de definição Agenda centrada na comunidade científica, Orientada pelo aporte do sistema nacional de Agenda localmente situada e abordagens
de agenda e formulação estratégias desenhadas no modelo big science inovação à agenda e estratégias industriais. participativas de formulação de alternativas
Concepção de
Top-down Top-down Bottom-up
implementação
contrário durante a primeira década de 2000 houve aumento de investimentos nesta direção.
Neste sentido, também consideramos que existiu espaço suficiente no processo da política
para que estes atores mantivessem outros aspectos de seu sistema de crenças menos alterado,
ou mesmo para que outros atores não alterassem seu sistema de crenças. Concebemos que
aspectos menos propícios a mudanças foram a concepção dos cientistas como protagonistas
tanto da produção de conhecimento e tecnologia na sociedade, quanto do processo da política,
em que permaneceram dominantes, por isso conservando a agenda científica e da política
CT&I autocentrada nas dinâmicas próprias desta categoria de ator político.
De outro modo, também observamos no país a existência e articulação de atores
políticos comprometidos com a construção de uma política de CT&I que direcione esforços
diretamente a soluções dos problemas sociais no país, filiando-se ao discurso da CT&I
orientada para a sociedade. Uma mobilização destes atores pode ser constatada em torno da
política da C&T para inclusão, especificamente relacionada a proposição de políticas de
tecnologia social.
Diante do exposto, a partir da revisão de literatura sobre concepções de políticas de
CT&I e da síntese que elaboramos, consideramos possível encontrar na análise de casos
empíricos de processos da política de CT&I no Brasil atores políticos mobilizados em
coalizões filiadas aos três (3) discursos descritos no quadro 6. Além desses, também
examinamos factível identificar atores políticos cuja orientação discursiva seja um amálgama
dos discursos da C&T auto orientada e da CT&I orientada para o mercado, dada a
incompletude das mudanças realizadas no processo da política para aderência mais integral a
este último discurso mencionado.
A partir desta matriz referencial de discursos, nos próximos capítulos adentraremos o
objeto empírico a ser analisado quanto as ações para enfrentamento das desigualdades no
âmbito do processo da política de CT&I no estado do Pará. Portanto, no capítulo três (3) a
seguir, faremos uma contextualização e caracterização do subsistema de política estadual de
CT&I do Pará, de forma a identificar concepções e ações relacionadas ao enfrentamento das
desigualdades, bem como compreender a abrangência e possíveis inter-relações destas ações
com as demais desenvolvidas no processo desta política pública.
127
abrangência das ações para enfrentamento das desigualdades no conjunto das ações e política
públicas, inclusive possibilitando a distinção de temáticas de ações para aprofundamento da
pesquisa nos capítulos seguintes.
Como indicamos, o enfoque neste capítulo está sobre a política de CT&I mais recente
no governo do Pará, a partir do PPA elaborado em 2008. Mas, a conformação de instituições
para C&T no estado tem uma trajetória anterior, que embora não seja nosso foco, entendemos
que precise ser, ao menos, brevemente contextualizada.
Conforme Nonato e Pereira (2013), o processo de construção social das atividades de
desenvolvimento científico na Amazônia Brasileira poderia ser dividido em quatro (4)
períodos47: o primeiro referente "expedições filosóficas e demarcatórias" realizadas na região
durante os séculos XVI, XVII e XVIII, composta seja por missionários, seja por cientistas,
principalmente naturalistas; o segundo correspondente as iniciativas inaugurais de
institucionalização por meio de museus e jardins botânicos na região no século XIX; o
terceiro concernente a criação das primeiras escolas técnicas, faculdades e institutos de
pesquisa de 1900 a 1950 e; o quarto pelo desenvolvimento de relativo alicerçamento
institucional, com a diversificação e descentralização das agendas de pesquisa, das ações
inter-relacionadas e de fontes de financiamento.
47
O CGEE (2010) ao analisar o processo de construção de políticas de fomento de CT&I no contexto
subnacional brasileiro também propõe uma periodização com uma divisão em cinco (5) fases, sendo que a
primeira que corresponde às iniciativas até a década de 1950, que é sintetizada enquanto uma fase de
desconcentração ou descentralização difusa. Apesar de concordarmos com o sentido amplo da noção de ações
difusas, consideramos a periodização proposta por Nonato e Pereira (2013) particularmente interessante por (1)
detalharem melhor as diferentes concepções e ações nos governos locais acerca do desenvolvimento científico
em um abrangente espaço de tempo (XVI ao XX), que não está em foco no estudo do CGEE; (2) partirem de
uma perspectiva do governo local para tratar iniciativas de C&T, ainda que influenciadas por governos centrais,
divergente de uma perspectiva mais centrada na coordenação do governo federal do estudo do CGEE; (3)
desenvolvem um resgate histórico de iniciativas específicas da região amazônica.
129
SANJAD, 2001). Deste modo, o jardim botânico paraense tornava-se o primeiro espaço
institucional dedicado à pesquisa científica e experimentação agrícola na região, funcionando
tanto para aclimatação de espécies exógenas, quanto para cultivo e envio de espécies
endógenas (SANJAD, 2001). Contudo, como identificado por Sanjad (2001), com o processo
de independência do Brasil, a concepção do projeto de jardins botânicos perde importância no
contexto que o desenvolvimento de projeto científico precisava ser vinculado a construção de
uma identidade nacional. Assim, embora mantido por mais algumas décadas por meio de
articulações locais no âmbito do governo provincial do Pará, a partir de 1840 o jardim
botânico paraense perdeu seu caráter experimental. A partir de então, uma perspectiva de
atuação mais abrangente, conformando-o como jardim público ao que este autor se referiu
enquanto a transformação de um “jardim do império” para se tornar um “jardim da cidade”,
sendo extinto definitivamente em 1873.
No entanto, em torno do jardim se reuniram vários intelectuais, auxiliando a constituir
o que Sanjad (2001) caracterizou como uma emergente “comunidade científica” que, por
meio do exercício de cargos políticos, avançaram em um processo de profissionalização
científica na província com o estabelecimento de um Liceu Paraense, em 1841, com a
proposta de criação de um museu de história natural e de uma biblioteca pública. Neste
sentido, em 1866, um grupo de intelectuais (várias destes professores no Liceu, naturalistas,
profissionais liberais e políticos) reuniram para formar a Associação Philomática do Pará,
com o objetivo de implantar um museu paraense nos moldes das organizações de história
natural europeias (NONATO; PEREIRA, 2013; SANJAD, 2001). Em 1871, a Biblioteca
Pública e o Museu Paraense foram instalados oficialmente com apoio do governo provincial,
funcionando no prédio do Liceu (NONATO; PEREIRA, 2013; SANJAD, 2001).
Na década de 1890, já no regime republicano, o primeiro governador do Pará (Lauro
Sodré) convidou o zoólogo suíço Emílio Augusto Goeldi para dirigir o Museu Paraense e o
reestruturou estabelecendo-o como Museu Paraense de História Natural e Etnografia
(NONATO; PEREIRA, 2013; SANJAD, 2006). Posteriormente, seu nome foi novamente
alterado para “Museu Paraense Emílio Goeldi” (MPEG) em 1900, por decisão do governador
Paes de Carvalho, em homenagem ao zoólogo que permaneceu no cargo de diretor até 1907.
Enquanto o período em que fluía grande volume de riqueza proporcionado pela economia da
borracha, o Museu teve sua "belle époque" para naturalistas e colecionadores. Entretanto, a
crise financeira no estado do Pará nas décadas seguintes colocou seu funcionamento em risco,
de modo que, em 1955, foi incorporado ao governo federal, vinculando-se ao recém-criado
CNPq, sob a tutela do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), sediado em
130
Manaus (NONATO; PEREIRA, 2013). Somente na década de 1980, o MPEG retomou sua
autonomia organizacional em relação ao INPA, vinculando-se diretamente ao CNPq, e na
década de 1990, integrando o MCT, como unidade de pesquisa (NONATO; PEREIRA, 2013;
FAULHABER, 2005).
48
A efetiva aproximação entre as atividades de pesquisa do MPEG e a problemática da borracha no Pará
apresenta algumas controvérsias, para Costa (2012) tal aproximação foi fortuita e tardia, Nonato e Pereira (2013)
corroboram que tal aproximação ocorreu já no início da queda do preço da borracha, por solicitação do governo,
mas ressaltam produções importantes do diretor à época, Jacques Huber, sobre a qualidade do látex e o cultivo
de seringueiras. Costa (2012) entende que esta falta de proximidade se relaciona a própria condição de
dominação mercantil em que se baseava o comércio de borracha na região amazônica: centralizada nas mãos de
aviadores que monopolizavam as operações comerciais e submetiam os atores da exploração extrativista, de
modo que, a disseminação de um cultivo ordenado da seringueira alteraria ou destruiria as relações sociais em
que se baseava seu processo de dominação econômica e política, desestimulando iniciativas de transformação
produtiva.
131
49
O estudo anteriormente citado do CGEE (2010) sobre o processo de construção de políticas de fomento de
CT&I no contexto subnacional brasileiro caracterizou as décadas de 1960 e 1970, enquanto um período de
centralização.
50
Consulta no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq (2019b).
132
CAPES51), tendo papel relevante na formação de quadros de pesquisa das demais que se
constituíram no estado.
Neste período, ao discutir a constituição de organizações e de agendas de pesquisa na
Amazônia, Faulhaber (2005) observou a construção da região enquanto “fronteira científica”,
entendida como unidade socioterritorial passível de ser incorporada a partir de diferentes
perspectivas. Desta maneira, a noção de fronteira assumia tanto caráter de “fronteira
internacional”, pelo interesse de pesquisa de diversas nações sobre a região e, principalmente,
a partir da década de 1970, com o acirramento das preocupações e debates ambientais
(FAULHABER, 2005; NONATO; PEREIRA, 2013). Quanto um caráter de “fronteira
econômica e social” ser incorporada dentro de projetos de expansão e integração nacionais,
particularmente marcada pelo desenvolvimentismo (FAULHABER, 2005).
Faulhaber (2005) ressaltava um fio condutor entre a significações de tais fronteiras
sobrepostas sobre a região, o projeto de Estado nacional e, a estratégia de intervenção por
meio da política científica e tecnológica em vigor. Ou seja, quais desafios de construção de
conhecimento e de representações sobre a natureza e ocupação humana eram direcionados.
Nonato e Pereira (2013) também observaram os movimentos políticos, econômicos e sociais
na constituição de agendas científicas na região, evidenciando duas direções principais. Por
um lado, a conformação de projetos de desenvolvimento por agroindústrias, madeireiras e
mineradoras que demandaram ordenamentos territoriais e competências científicas e
tecnológicas específicas e; por outro lado, relacionada também às consequências destes
projetos, a demanda pelo desenvolvimento de estudos e competências científicas sobre
impactos econômicos, sociais e ambientais destes empreendimentos, influenciados por foros
internacionais em que a problemática ambiental e o desenvolvimento econômico eram
debatidos como conferências das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano.
Tanto Nonato e Pereira (2013), como Costa (2012), salientam temáticas de referência
no desenvolvimento científico no estado em relação a agropecuária e manejo florestal, tendo
como um dos expoentes o CPATU/EMBRAPA e a geologia, geoquímica e geofísica, com
desenvolvimento significativo na Universidade Federal do Pará. Principalmente nas décadas
finais do século XX e início do XXI, o fortalecimento de agendas socioambiental e
biotecnológica enquanto estratégicas para gerar modelos de desenvolvimento fundamentados
em concepções de aproveitamento sustentável da biodiversidade e inclusão social de
populações tradicionais como amplamente discutido na 4ª Conferência Nacional de CT&I
51
Consulta ao Geocapes da CAPES (2019).
133
(BECKER, 2010; MCT; CGEE, 2010). Na próxima seção, tais temáticas também aparecem
evidenciadas no cenário de indicadores de CT&I no estado.
Desde o início da década de 1980, já havia articulação dirigida pelo CNPq para
descentralização de política de C&T no país pelo estímulo à constituição dos chamados
sistemas estaduais de C&T (SECT), conforme previsto no III Plano Básico de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PBDCT). Ainda em 1980, haviam sido realizados
dois encontros (um na região norte e outro na região nordeste) e diagnósticos preliminares da
função de C&T de nove (9) estados no Nordeste, norteando tais articulações no III PBDCT
(MARCELINO, 1985; CGEE, 2010). Conforme o CGEE (2010), dois anos após as ações
iniciais do CNPq era identificada a existência de 23 Secretarias Estaduais de C&T (SECT) e
de 18 planos estaduais de C&T.
A previsão de criação de órgãos, programas ou fundações estaduais voltadas à
promoção do desenvolvimento da C&T também era uma das linhas de articulação no III
PBDCT. Com a Constituição Federal (CF) de 1988, esse movimento foi fortalecido com a
introdução no artigo 218 (§5) da possibilidade dos estados criarem fundos de fomento à C&T,
pela vinculação de parcela das suas receitas orçamentárias às entidades públicas de fomento
ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica. Silva (2000) identificou 23 fundos estaduais
criados nestes moldes até 2000. Além disso, foi incluída no rol das competências comuns
entre União, estados, distrito federal e municípios, conforme art. 23 da CF, a de "proporcionar
os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência"52.
Faulhaber (2005) ressalta que tal movimento de regionalização era personalizado na
figura de Lynaldo Cavalcante de Albuquerque, presidente do CNPq à época, que havia sido
reitor da Universidade de Campina Grande. Os argumentos mobilizados para defesa da
regionalização abrangiam (ALBUQUERQUE, 2004; CGEE, 2010; MARCELINO, 1985) dois
pontos. O primeiro de dotar o Sistema Nacional de Desenvolvimento C&T (SNDCT) de
coordenação efetiva ao melhorar a geração de informações sobre as realidades regionais,
reconhecidamente desiguais no país, evitar duplicidade e pulverização de ações ao articular
atividades nacionais e estaduais e, obter apoio à execução da política nacional por ações
desdobradas no âmbito estadual, particularmente em estados que tais organizações e
52
Com a Emenda Constitucional nº 85 de 2015 esta competência foi ampliada para "proporcionar os meios de
acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação".
134
Tabela 1 - Dispêndios em C&T e P&D no Brasil, de 2002 a 2016 (em milhão de reais)
Recursos humanos em
2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
CT&I
Docentes em PPG stricto
79.113 40.725 47.571 53.706 60.038 71.507 85.449 95.182
sensu
Pesquisadores doutores
37.625 53.900 65.515 76.936 96.641 - 140.272 156.580
(DGP)
Pessoas ocupadas em P&D 2003 2005 2008 2011 2014
empresarial1 38.523 47.628 48.082 71.351 76.243
1
A periodicidade da PINTEC no decorrer do intervalo de tempo em pesquisa foi: 2003, 2005, 2008, 2011 e 2014,
por isso indicação de ano para os dados advindos desta pesquisa é diferenciada.
Fonte: Capes (2017), CNPq (2017) e IBGE (2017).
53
O índice de Theil é um método de medição de nível de desigualdade, reconhecido por responder com forte
sensibilidade aos princípios de transferência entre unidades em análise e permitir decomposição da medição de
desigualdade em termos inter e intragrupos (RODRIGUES; VASCONCELLOS SOBRINHO; FERREIRA,
2017). Quanto maior o índice, maior a desigualdade na distribuição do recurso em medição entre as unidades em
análise. Maior detalhamento sobre o método e resultados aplicados a outras categoriais de análise podem ser
consultados em Rodrigues, Vasconcellos Sobrinho e Ferreira (2017).
136
54
O CNPq atualmente mantém em sua estrutura organizacional uma coordenação-geral de cooperação nacional,
tendo uma coordenação específica para tratar dos programas em parcerias com os estados, a Coordenação de
Parcerias Estaduais (COPES).
138
Entre estas podemos citar a criação da chamada lei de incentivo à inovação (10.973/2004), a
Lei do Bem referente a concessões de incentivos fiscais (11.196/2005) e, mais recentemente,
a emenda constitucional n° 85, com o denominado novo marco legal da CT&I, Lei
13.243/2016. Tais legislações apresentam ênfases na introdução da agenda de políticas de
inovação tecnológica no domínio da política, movimento relacionado ao discurso em prol da
CT&I orientada para o mercado. Tais legislações federais tendem a ressoar em iniciativas
similares das legislações no âmbito estadual, uma vez que estados e municípios também
gozam de prerrogativas legais concorrentes sobre o sistema de ciência, tecnologia e inovação.
55
Em 2016, o capítulo IV e seus artigos foram alterados pela Emenda Constitucional estadual nº 69, que os
moldes da EC federal nº 85, que explicitou o termo inovação na identidade do campo da política, e operou
mudanças equivalentes da EC federal nos artigos da Constituição Estadual, assim como explicitou a Fundação
Amazônia de Amparo a Estudos de Ciência, Tecnologia e Inovação do Pará (que assume o papel de FAP
estadual) como responsável pela gestão dos recursos vinculado ao fomento a CT&I.
139
Tabela 3 - Projetos de P&D financiados por meio do FUNTEC do governo do estado do Pará, de 1997
a 2006
Tabela 4 - Modalidades de Projetos de CT&I financiados por meio do FUNTEC do governo do estado
do Pará, de 1995 a 2006 (em R$ 1,00)
Este PPA foi organizado em três (3) tipologias de programas: Programa Apoio
Administrativo, Apoio às Políticas Públicas e Serviços ao Estado e os Finalísticos. E foi
56
Lei nº 7.017/2007.
57
Lei complementar 061/2007, a qual revoga Lei Complementar nº 29/1995, que instituía o FUNTEC.
58
Em termos de organização territorial do estado, foi adotada a divisão do mesmo em 12 regiões de integração:
Araguaia, Baixo Amazonas, Carajás, Guamá, Lago de Tucuruí, Marajó, Metropolitana, Rio Caeté, Rio Capim,
Tapajós, Tocantins e Xingu.
142
expresso por três (3) macros objetivos de governo: "Qualidade de vida para todas e todos"
(abrangendo 83,16% dos programas); "Inovação para o desenvolvimento" (8,06% dos
programas) e; "Gestão participativa, descentralizada, de valorização e respeito aos servidores
públicos" (8,78% dos programas).
Apesar de certa centralidade discursiva em torno da temática de CT&I nas orientações
estratégicas do PPA e do potencial da política de CT&I enquanto política meio (science for
policy), ao examinarmos o PPA observamos que a temática ficou preponderantemente
concentrada em único programa denominado de "Ciência, Tecnologia e Inovação para o
Desenvolvimento" na modalidade de programas finalísticos, classificado no eixo de "Políticas
de Desenvolvimento Econômico", posteriormente renomeado para "Políticas de
Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente".
Cabe indicarmos ainda que, o único programa que explicitamente indicou buscar
integração com o programa de "CT&I para o desenvolvimento" ou o "Desenvolve Pará", que
tinha como objetivo "incrementar a competitividade sistêmica da economia, gerando emprego
e renda", do qual a SEDECT também era responsável no que tange a sua vertente de atuação
voltada ao desenvolvimento econômico, uma vez que havia herdado a maior parte das
competências da antiga Secretaria de Estado da Indústria, Comércio e Mineração. Estes dois
programas foram os únicos em que a SEDECT foi indicada entre seus órgãos executores.
Enquanto a FAPESPA, foi citada como órgão executor em três programas (CT&I para o
Desenvolvimento, Universidade Pública com Qualidade59, e Pará, Território da Juventude)
onde novamente verificamos a justaposição destes órgãos somente no programa CT&I para o
Desenvolvimento, reforçando a ponderá-lo como principal representativo da agenda de CT&I
estadual.
59
Este programa tem como objeto geral a ampliação e fortalecimento da UEPA e possui a elaboração de ações
bastante vinculada ao tema da educação superior. Embora consideramos que este tema tem claras interseções
com o da CT&I, o programa teve a finalidade específica de atender a uma instituição de educação superior em
particular, no que resultou em um desenho mais restrito das demandas desta universidade, inclusive para sua
equiparação frente às demais principais universidades e institutos de pesquisa no estado. Deste modo, além de ter
parte significativa de suas ações voltadas mais a agenda da educação, este programa não se configurou em um
espaço efetivo de representação ampla da comunidade de pesquisa no estado, nem de seus anseios gerais da
relação CTS. Cabe mencionarmos que em suas ações não são citados nenhum dos termos ciência, tecnologia ou
inovação, somente o de pesquisa, em sua integração com ensino e extensão. Assim, entendemos que o espaço
para uma agenda de CT&I estadual foi efetivamente representado no programa de Ciência, Tecnologia e
Inovação para o Desenvolvimento.
143
Quadro 7 – Ações do Programa Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento do PPA 2008-2011 do Governo do Estado do Pará
Valor
Ação Objetivo Produto Região de Integração %
previsto
Criar ambiente favorável à incorporação de tecnologia e inovação em
Implementação de Tecnologia de Baixo Amazonas, Carajás, Guamá,
processos e produtos, aumentando/proporcionando a criação de
Informação e Comunicação para o Usuário Atendido Lago de Tucuruí, Marajó,
vantagens competitivas nos planos regional, nacional e internacional e 133.988.392 39,2%
Desenvolvimento do Estado - (Un) Metropolitana, Rio Caeté, Rio
proporcionando uma ampla inclusão digital dos diversos setores
NAVEGAPARÁ Capim, Tapajós, Tocantins, Xingu
produtivos.
Implementação do Sistema Paraense de Sistema Baixo Amazonas, Carajás, Guamá,
Articular redes e instrumentos de inovação no âmbito estadual. 53.084.877 15,5%
Inovação – SIPI Implementado (Un) Metropolitana, Rio Caeté, Xingu
Criar instrumentos indutores de inovação voltados ao desenvolvimento Parque Tecnológico Baixo Amazonas, Carajás,
Implementação de Parques Tecnológicos 38.962.532 11,4%
regional integrado e sustentável Implementado (Un) Metropolitana
Fomento à Pesquisa Científica, Tecnológica
Baixo Amazonas, Carajás, Guamá,
e de Inovação em Áreas de Conhecimento Induzir a geração de conhecimento específico e de excelência para Projeto Apoiado
Marajó, Metropolitana, Rio Caeté, 35.799.249 10,5%
Estratégicas para o Desenvolvimento do aplicação no ambiente produtivo. (Un)
Tocantins, Xingu
Estado
Formação de Redes de Pesquisa em Ciência Apoiar a constituição de redes de pesquisa em torno de temas Rede de Pesquisa Baixo Amazonas, Carajás, Guamá,
25.329.292 7,4%
e Tecnologia prioritários para o desenvolvimento científico e tecnológico regional. Formada (Un) Metropolitana, Rio Caeté
Produzir conhecimento de excelência sobre a realidade regional,
Recurso Humano Baixo Amazonas, Carajás, Lago de
Formação e Fixação de Recursos Humanos possibilitando a formulação de soluções efetivas para os problemas 21.531.355 6,3%
Formado (Un) Tucuruí, Metropolitana, Rio Caeté
econômico-sociais.
Araguaia, Baixo Amazonas,
Apoio ao Desenvolvimento da Ciência,
Disseminar o conhecimento científico e tecnológico, identificando e Estudante Carajás, Guamá, Lago de Tucuruí,
Tecnologia e Inovação no Ensino 7.544.878 2,2%
formando novos talentos e criando estruturas para estimular a pesquisa. Beneficiado (Un) Metropolitana, Rio Caeté, Rio
Fundamental, Médio e Tecnológico
Capim, Tocantins
Fomento à Difusão da Ciência, Tecnologia e Socializar o conhecimento científico e tecnológico, criando e Evento Apoiado Baixo Amazonas, Carajás, Guamá,
6.950.639 2,0%
Inovação consolidando mecanismos de divulgação. (Un) Metropolitana, Rio Caeté
Possibilitar a mudança do perfil competitivo da base econômica
Indução à Inovação de Processos e Produtos Empresa Apoiada Baixo Amazonas, Carajás,
industrial, aperfeiçoando processos e produtos da indústria, através de 4.503.577 1,3%
em Empresas que atuam no Pará (Un) Metropolitana, Tocantins
especialistas que atuem diretamente ou em cooperação com empresas
Apoio à Implantação do Sistema Estadual de Sistema de
Aumentar densidade tecnológica e competitividade de produtos, Baixo Amazonas, Carajás,
Avaliação de Qualidade e Certificação de Certificação 2.680.590 0,8%
qualificando o consumo e gerando impacto positivo na economia. Metropolitana
Produtos Implantado (Un)
145
Valor
Ação Objetivo Produto Região de Integração %
previsto
Sistema de Gestão
Implantação do Sistema de Gestão de Criar instrumento de aprovação, gerenciamento e avaliação dos
de Projetos Metropolitana 2.150.797 0,6%
Projetos em Ciência, Tecnologia e Inovação projetos e bolsas apoiados pela Fundação
Implantado (Un)
Implementação de Mecanismos de
Induzir a integração da ciência, tecnologia e inovação potencializando Sistema Implantado Baixo Amazonas, Carajás,
Promoção da Ciência, Tecnologia e 2.112.460 0,6%
sua aplicação. (Un) Metropolitana
Inovação - CT&I
Implementação de Ações do Uso de Gás Gás Natural
Viabilizar o uso de gás natural no Estado do Pará Metropolitana 2.011.866 0,6%
Natural Distribuído (M3)
Viabilizar o funcionamento e às operações indispensáveis as Unidade
Implementação de Ações da GASPARÁ Metropolitana 1.609.495 0,5%
atividades. Implementada (Un)
Instrumento de Baixo Amazonas, Carajás, Guamá,
Divulgação de Informações sobre Ciência, Difundir a Produção em Ciência, Tecnologia e Inovação, reforçando a
Divulgação Lago de Tucuruí, Metropolitana, 1.258.869 0,4%
Tecnologia e Inovação cultura nessa temática.
Apoiado (Un) Rio Caeté, Tocantins, Xingu
Induzir a criação e fortalecimento de ambientes de inovação para Empresa Apoiada Baixo Amazonas, Carajás,
Apoio à Incubação de Empresas 1.129.755 0,3%
viabilizar empreendimentos competitivos. (Un) Metropolitana
Promover Intercâmbio de conhecimento com organismos
Cooperação Internacional em Ciência, Cooperação
internacionais, aperfeiçoando recursos humanos e Instituições de Metropolitana 702.298 0,2%
Tecnologia e Inovação Efetivada (Un)
ensino e pesquisa.
Baixo Amazonas, Carajás, Guamá,
Indução à Tecnologia Industrial Básica a Difundir a Tecnologia Industrial Básica (TIB) nas instituições de Instituição Atendida Lago de Tucuruí, Metropolitana,
532.603 0,2%
Processos Produtivos ensino e pesquisa, empresas e para os empreendedores em geral. (Un) Rio Caeté, Rio Capim, Tocantins,
Xingu
Fortalecer a economia a partir da atração de plantas industriais e do
Atração para o Estado de Empresas desenvolvimento de produtos inovadores em ambientes como: distritos Empresa Araguaia, Baixo Amazonas,
219.718 0,1%
Detentoras de Capacidade Inovativa e áreas industriais, parques de ciência e tecnologia e incubadoras de Implantada (Un) Carajás, Metropolitana, Tocantins
empresas.
Legenda: Un = Unidade.
Fonte: Adaptado pela autora a partir de PARÁ (2007a).
146
que, em 2006, somente 4 municípios no estado tinham conexão via fibra ótica, e, em 2010,
eram 52 municípios com acesso, 23 destes tendo como única opção de conectividade de banda
larga a oferecida pelo NavegaPará.
Contudo, embora tenha sido considerada bem-sucedida em termos de fornecer
alternativa tecnológica para acesso à internet, a implementação em termos de sustentabilidade
econômica e política das ações de inclusão social, via infocentros, e dos pontos vinculados a
prefeituras, será objeto de questionamento e nova conformação no próximo PPA.
A ação referente a implementação do SIPI foi a segunda maior em comprometimento
individual de valor. Compreendemos ser a mais significativa da concepção discursiva
empregada na política estadual CT&I, estando estreitamente integrada a diversas outras ações
do programa. Entre estas integrações, cita-se: a implementação dos parques tecnológicos;
indução à inovação em processos e produtos em empresas que atuam no Pará; apoio à
implantação do Sistema Estadual de Avaliação de Qualidade e Certificação de Produtos;
apoio à incubação de empresas; indução à tecnologia industrial básica (TIB) em processos
produtivo e; atração para o estado de empresas detentoras de capacidade inovativa. Assim,
esta ação é entendida como o nó central da formulação discursiva proposta na política
estadual de CT&I do período, inclusive enquanto teor da principal diretriz institucional com a
publicação do decreto nº 729, de 19 de dezembro de 2007, que dispunha sobre a instituição do
SIPI.
Esta concepção discursiva está vinculada ao discurso da CT&I orientada para o
mercado, tendo como inspiração a noção de sistema nacional de inovação, como vimos no
capítulo 2. Tal concepção pode ser exposta na finalidade do SIPI pelo decreto nº 729 em
"promover convergência de ações governamentais, empresariais, acadêmicas, de pesquisa
científica e tecnológica para, de forma cooperada, desenvolver a inovação no Estado do Pará",
com vistas a alcançar os seguintes objetivos:
60
Secretaria de Estado de Governo.
61
Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará.
62
Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Pará.
63
Federação das Indústrias do Estado do Pará.
64
Federação do Comércio do Estado do Pará.
65
Federação da Agricultura e Pecuária do Pará.
66
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Pará.
149
assinalarmos seus alcances registrados em dois relatórios localizados. Um que sintetiza sua
execução no período de 2008-2010 no governo de Ana Júlia Carepa do Partido dos
Trabalhadores (PT) data de março de 2011; outro referente ao ano somente de 2011, já no
governo de Simão Jatene do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Em termos de execução financeira, no período de 2008 a 2010, foram aplicados 51%
do total dos valores programados, perfazendo R$ 163,8 milhões nos três (3) anos, e em 2011
foi executado 29,6% do previsto naquele ano, correspondendo a R$ 30,5 milhões, totalizando,
assim, R$ 194,3 milhões.
Em relação a ação referente ao NavegaPará e o indicador de incremento da taxa de
inclusão digital no estado do Pará, tanto no relatório referente a avaliação de 2008 a 2010,
quanto ao de 2011, foram considerados como tendo superado as metas e parâmetros previstos.
Em relação a ação de Implementação do SIPI, esta é realçada no relatório de 2008-
2010, enquanto tendo sua meta física alcançada, com a implementação de sete (7) sistemas,
embora não sejam indicadas maiores informações neste relatório ou no seguinte de 2011.
Ação ressaltada nos dois relatórios foi a de Implementação de Parques Tecnológicos, com o
Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, sendo caracterizado em fase de consolidação e
operação.
Além dessas ações, que consideramos como as que tiverem maior expressão em
termos de política explícita, outras ações de fomento a C&T foram destacas diferentemente
nos relatórios. No relatório sobre 2008-2010, as ações de "Fomento à Pesquisa Científica,
Tecnológica e de Inovação em Áreas de Conhecimento Estratégicas para o Desenvolvimento
do Estado" e de "Formação de Redes de Pesquisa em Ciência e Tecnologia" foram realçadas
como tendo alcançado margens substanciais de execução nos dois primeiros anos, mas
perdido desempenho em 2010. No relatório sobre 2011, a ação de "Formação e Fixação de
Recursos Humanos" foi realçada como importante eixo de atuação via concessão de bolsas
pela FAPESPA.
Os três (3) demais indicadores previstos67 tiveram comportamentos distintos. (i) O
incremento do número de pedidos de patentes e afins teve medições negativas nos primeiros
anos (-71% e -30,8% respectivamente), não havendo registro de sua medição em 2010, e com
recuperação no último ano (16,7%). (ii) A taxa de aumento de bolsas para ciência e tecnologia
cresceu nos dois primeiros anos (394% e 30,35% respectivamente), não tendo registro em
67
Cabe indicarmos que os dois relatórios são gerais do PPA 2008-2011, e com informações bastante sucintas por
programa. No caso do programa de CT&I para o Desenvolvimento, este apresenta teor de ênfase descritiva das
ações e não são informados em relação aos indicadores registrados nenhuma indicação quanto a fonte de dados
ou métodos aplicados.
151
2010, caiu no último ano (-32,9%). (iii) A taxa do aumento de produção científica teria caído
em 2008 (-18,8%), crescido em 2009 (5,1%) e não houve registro de medição em 2010 e 2011.
Cabe lembrarmos que, a política de CT&I no âmbito do governo estadual teve sua
institucionalização prevista a partir do final da CE de 1989, sendo iniciada a partir da década
de 1990, porém em contextos não priorizados. Mesmo a criação da SEDECT e da FAPESPA
era recente em termos governamentais, de forma que não haviam sido constituídos
adequadamente quadros burocráticos com aprendizados da dinâmica da temática de CT&I que
subsidiassem a institucionalização de processos de avaliação internos, principalmente em
relação a indicadores de desempenho típicos da CT&I, atípicos para as demais políticas
públicas. Assim, entendemos que parte das dificuldades da falta de registro de avaliações e
medições de indicadores nos relatórios do PPA relacionam-se a essa situação em processo de
institucionalização da política estadual.
A FAPESPA, criada em julho de 2007, foi entidade governamental que passou a ser
responsável pela aplicação das "dotações e recursos consignados no orçamento do Estado, nos
termos do art. 291 da Constituição Estadual, equivalentes a 1% (um por cento) das receitas
correntes líquidas do Estado" (PARÁ, 2007c), substituindo, assim, o FUNTEC. Conforme seu
estatuto (decreto estadual nº 2.133/2010), a FAPESPA tem "por finalidade promover
atividades de fomento, apoio e incentivo à pesquisa científica, tecnológica e de inovação no
Estado do Pará". Ao seguir o padrão do CNPq e várias outras FAP no país, a FAPESPA tem
utilizado o formato de lançamento dos editais de chamadas públicas para selecionar projetos
para fomento, com a seleção e avaliação do mérito científico e técnico realizada por câmaras
de assessoramento científico, formadas por pesquisadores doutores.
Ainda em 2007, quatro (4) editais de fomento a CT&I foram lançados, alguns ainda
sob a nomenclatura do FUNTEC/SECTAM, mas executados pela FAPESPA posteriormente a
partir de sua estruturação. Esses editais foram típicos do fomento tradicional da política de
C&T, voltados ao apoio de formação de recursos humanos na área (ampliação da comunidade
de pesquisa estadual) e à pesquisa científica e tecnológica, sendo dois (2) editais de bolsas
(PIBIC Jr, e de mestrado e doutorado); e dois editais em parceria com o CNPq (“Jovens
Pesquisadores” e “Núcleos de Excelência/PRONEX"), referente a modelos de programas
institucionais induzidos por esta agência de fomento federal.
152
68
Dos 70 editais identificados no período no site da FAPESPA, excluímos do exame a ser discutido: 5 editais
lançados pelo CNPq/MCT, 2 editais lançados pela UEPA, 1 edital lançado pela VALE S.A., e 2 editais de
prêmios que, embora tenham registro de lançamento pela FAPESPA, no site desta fundação não localizamos
informações seja sobre o edital em si, seja sobre o resultado. Assim, resultando nos 60 editais a serem
examinados.
69
Programa de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas (RHAE).
153
Tabela 5 – Editais lançados pela FAPESPA com modalidade de fomento no formato de bolsa ou
auxílio, por categorias, no período de 2008 a 2011
Bolsas
Bolsas para Bolsas para Bolsas de Bolsas para Bolsas Auxílio a
para pós-
programas programas programas programa de para pós- participação
Ano Bolsas graduação
de iniciação de iniciação institucio- inclusão graduação em eventos
stricto
científica científica Jr nais digital lato sensu C&T
sensu
2008 6 3 1 1 0 0 0 1
2009 7 0 1 1 2 2 1 0
2010 10 2 1 1 5 1 0 0
2011 6 1 1 0 2 1 1 0
Total 29 6 4 3 9 4 2 1
*Dados extraídos de FAPESPA (2018).
Fonte: Elaborada pela autora (2019).
Tabela 6 – Editais lançados pela FAPESPA com modalidade de fomento no formato de projeto, por
categorias, no período de 2008 a 2011
Projetos Projetos
Projetos Projetos Projetos Projeto de
de P&D e Projetos para de
Nº de de de de publicações
Ano inovação popularização programas
editais pesquisa eventos inclusão tecno-
em de C&T de pós-
C&T C&T digital científica
empresas graduação
2008 13 4 2 1 2 1 2 1
2009 11 8 2 1 0 0 0 0
2010 5 2 0 1 1 1 0 0
2011 2 0 1 1 0 0 0 0
Total 31 14 5 4 3 2 2 1
*Dados extraídos de FAPESPA (2018).
Fonte: Elaborada pela autora (2019).
154
Quadro 8 – Linhas temáticas ou áreas de aplicação indicados como prioritários ou estratégicos em editais selecionados da Fapespa no período de 2007 a 2011
Editais nº 002/2007 Edital nº 014/2008 Edital nº 002/2011
"PRONEX" e nº 003/2007 "Redes Cooperativas de Edital nº 012/2009 "PRONEX" "PD&I em microempresas e
Editais
"Jovens Pesquisadores" Pesquisa em CT&I" (parceria com o CNPq) empresas de pequeno porte"
(parceria com o CNPq) (financiamento total próprio) (parceria com a FINEP)
– Agricultura e Agroindústria – Pesca e Aquicultura Linhas de apoio: Foco: – Agrobioindústria
– Biotecnologia – Tecnologia da Informação e – Agricultura, Pecuária e – Biotecnologia – Aproveitamento Econômico
– Energia Comunicação Agroindústria – Energia de Recursos Naturais;
– Pesca e Aquicultura – Engenharia Biológica – Biodiversidade e – Tecnologia da Informação e – Energia
– Tecnologia da Informação e – Energias Renováveis e Biotecnologia Comunicação – Tecnologia da Informação e
Comunicação Eficiência Energética – Energia – Pesca e Aquicultura Comunicação;
– Tecnologia Mineral e novos – Biomassa Florestal – Pesca e Aquicultura – Agricultura Tropical e – Tecnologia de Alimentos
materiais – Tecnologia da Informação e Produtos da Floresta. – Tecnologia Aplicada à Saúde
– Agropecuária Comunicação – Geologia e Pesquisa Mineral. – Turismo
Temas – Tecnologia da Madeira – Tecnologia Mineral e novos – Recursos Minerais e Novos – Verticalização Mineral
Priorizados – Transporte e Infraestrutura materiais materiais – Pesca e Aquicultura.
– Saneamento – Tecnologia da Madeira – Pesquisa Agropecuária
– Saúde – Transporte e Infraestrutura – Silvicultura
– Segurança Pública – Saneamento – Tecnologia de Redes de
– Educação – Saúde Comunicação
– Segurança Pública – Sistemas Embarcados
– Educação – Certificação e Qualidade de
– Recursos Florestais Software.
– Economia da Inovação
– Tecnologia do Alumínio
*
Para cada ano, identificamos os editais com definição de áreas ou linhas temáticas com maior destinação de recursos financeiros. No ano de 2010, prevaleceram editais
denominados de horizontais, ou seja, que não direcionam linhas temáticas específicas, houve somente dois editais com definição de linhas temáticas, mas ambos os editais
correspondiam ao atendimento integral de temas exclusivos, o de agricultura familiar (006/2010) e o de novas tecnologias aplicação a mineração (007/2010), de modo que
todas as suas linhas se referiam ao único tema principal. Por atender um único tema, optamos por não os incluir, fazendo menção sobre editais de temas exclusivos no texto
corrido do capítulo.
Fonte: Adaptado pela autora a partir de FAPESPA (2018).
156
Quadro 9 – Seleção de editais lançados pela FAPESPA identificados com menções explícitas a
temáticas voltadas a redução desigualdades, inclusão social ou atendimento específico de grupos
sociais vulneráveis, no período de 2008 a 2011
Nº Temáticas
total Redução de
Ano Agricultura Crianças e População Populações Inclusão
de desigualdade Idosos
editais familiar adolescentes feminina tradicionais digital
territorial
013/2008
2008 4 018/2008 004/2008 - - - -
022/2008
001/2009
013/2009 013/2009 008/2009
2009 5 013/2009 013/2009 013/2009
023/2019 023/2019 024/2009
023/2009
012/2010
2010 4 006/2010 004/2010 - - - -
008/2010
2011 1 - - - - - - 004/2011
Total 14 2 5 2 2 1 1 7
*Dados extraídos de FAPESPA (2018)
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
70
Lei ordinária do estado do Pará nº 7.570, de 22 de novembro de 2011.
71
Lei complementar do estado do Pará nº 82, de 9 de maio de 2012. Cabe mencionarmos que a fundação mudou
também de denominação para Fundação Amazônia Paraense de Amparo à Pesquisa, mantendo a sigla
FAPESPA.
158
72
Lei do estado do Pará nº 7.763/2013.
159
Quadro 10 – Ações do Programa Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável do PPA 2012-2015 do Governo do Estado do Pará
Valor
Nº Ação Objetivo Produto Região de Integração %
previsto1
Araguaia, Baixo Amazonas,
Carajás, Guamá, Lago de
Incentivo a Projetos de Pesquisa em Ciência e Fomentar o desenvolvimento de projetos de pesquisa Projeto de Pesquisa
1 Tucuruí, Marajó, 118.197.251 69,8%
Tecnologia em ciência, tecnologia e inovação Apoiado (Un)
Metropolitana, Rio Caeté, Rio
Capim, Tocantins, Xingu
Araguaia, Baixo Amazonas,
Possibilitar a geração de conhecimento significativo
Concessão de Bolsas para Pesquisa em Bolsa Concedida Carajás, Guamá, Marajó,
2 para o desenvolvimento da ciência tecnológica na 24.177.224 14,3%
Ciência e Tecnologia (Un) Metropolitana, Rio Caeté, Rio
região amazônica
Capim, Tocantins, Xingu
Expandir ambiente indutor e viabilizador de inovação Parque de Ciência e
Consolidação do Parque de Ciência e
3 voltado ao desenvolvimento sustentado da região Tecnologia Guamá Metropolitana 11.193.000 6,6%
Tecnologia Guamá
metropolitana de Belém. Consolidado (Prc)
Fomentar a criação de redes de pesquisa em áreas
Apoio ao Desenvolvimento de Redes de produtivas estratégicas que promovam o Rede de Pesquisa
4 Metropolitana 3.081.394 1,8%
Pesquisa em Áreas Produtivas Estratégicas desenvolvimento tecnológico e a verticalização das Apoiada (Un)
cadeias produtivas
Criar ambiente indutor e viabilizador de inovação para Parque de Ciência e
Implantação do Parque de Ciência e
5 o desenvolvimento sustentado da região oeste do Tecnologia Baixo Amazonas 2.970.000 1,8%
Tecnologia Tapajós
Estado Implantado (Prc)
Manutenção do Contrato de Gestão do Parque Assegurar o funcionamento do Parque de Ciência e Repasse Realizado
6 Metropolitana 2.820.000 1,7%
de Ciência e Tecnologia Guamá Tecnologia Guamá. (Un)
Araguaia, Baixo Amazonas,
Disseminação de Ciência, Tecnologia e Promover a divulgação, difusão e disseminação da Pesquisador Apoiado Carajás, Guamá, Lago de
7 2.086.600 1,2%
Inovação ciência, tecnologia e inovação. (Un) Tucuruí, Metropolitana, Rio
Caeté, Rio Capim, Xingu
Promover o fortalecimento de incubadoras de Baixo Amazonas, Carajás,
Apoio à Incubação de Empresas de Base Incubadora Apoiada
8 empresas voltadas ao desenvolvimento de Lago de Tucuruí, 1.403.104 0,8%
Tecnológica (Un)
empreendimentos inovadores de base tecnológica. Metropolitana, Rio Caeté
Criar ambiente indutor e viabilizador de inovação para Parque de Ciência e
Implantação do Parque de Ciência e
9 o desenvolvimento sustentado da região sudeste do Tecnologia Carajás 970.500 0,6%
Tecnologia Tocantins
Estado. Implantado (Prc)
161
Valor
Nº Ação Objetivo Produto Região de Integração %
previsto1
Implantação do Museu Interativo de Ciência e Elaboração do Plano Museológico para fins de Plano Museológico
10 Metropolitana 829.000 0,5%
Tecnologia implantação do Museu de Ciência e Tecnologia. Elaborado (Prc)
Incentivar a realização de serviços de propriedade
Indução à Aplicação da Tecnologia Industrial intelectual, metrologia, avaliação da conformidade, Serviço Realizado Marajó, Metropolitana, Rio
11 469.000 0,3%
Básica –TIB normalização e gestão tecnológica para agregação de (Un) Caeté, Tocantins, Xingu
valor a bens, serviços e processos.
Baixo Amazonas, Carajás,
Aplicação da Gestão do Conhecimento para Estimular a adoção de práticas de gestão do
12 Prática Adotada (Un) Lago de Tucuruí, 452.000 0,3%
Inovação conhecimento para viabilização da inovação
Metropolitana, Rio Caeté
Baixo Amazonas, Carajás,
Realização de atividades massificadoras, fixas e
Realização de Eventos para Popularização de Evento Realizado Guamá, Lago de Tucuruí,
13 itinerantes de popularização do conhecimento 392.500 0,2%
Ciência, Tecnologia e Inovação (Un) Metropolitana, Rio Caeté, Rio
científico e tecnológico, em âmbito estadual
Capim, Tocantins, Xingu
Sistema de Araguaia, Carajás, Guamá,
Identificação e Mapeamento de Competências Desenvolver o observatório estadual de Ciência,
14 Informação Metropolitana, Rio Caeté, 192.000 0,1%
em Ciência, Tecnologia e Inovação Tecnologia e Inovação
Implantado (Prc) Tocantins
Disseminar as tecnologias sociais identificadas junto
as comunidades, instituições de ensino, pesquisa e
Transferência de Tecnologias Sociais para o extensão, ONGs e empresas, garantindo sua Tecnologia Social Baixo Amazonas, Guamá, Rio
15 180.000 0,1%
Desenvolvimento reaplicação em benefício da melhoria da qualidade de Disseminada (Un) Capim
vida da população local/regional e indução da
capacidade de governança das comunidades.
Implantação de Centros de Estudos e Polo de
16 Desenvolvimento de Pesquisas Científicas e Incentivar a iniciação científica na educação básica Conhecimento Metropolitana 21.000 0,01%
Tecnológicas - Polos do Conhecimento Implantado (Un)
1
Em virtude do desenho de ações neste programa ter sido resultado de revisão do PPA em 2013 para os anos de 2014 e 2015, o valor previsto informado se refere ao
orçamento para estes dois anos somente.
Legenda: Un = Unidade; Prc = Percentual.
Fonte: Adaptado pela autora a partir de Pará (2013).
162
73
A menção que localizamos a ações de tecnologia social durante o período do PPA 2008-2011 se referiu a
registros sobre o início de execução em 2011 pela SECTI e FAPESPA em parceria com a UFPA, UFRA e
EMATER do projeto Ações de Tecnologia Social para Consolidação do Sistema Paraense de Inovação (SIPITS),
financiado pela FINEP no estado, conforme relatório institucional da FAPESPA 2011.
74
Decreto estadual nº 264/2011.
163
75
Neste plano diretor já foi mencionada a concepção de um Programa Paraense de Incentivo ao Uso Sustentável
da Biodiversidade (BIOPARÁ).
76
Decreto estadual nº 488/2012.
164
em ciência, tecnologia e inovação" (SECTI, 2011). A representação foi definida pelo decreto
estadual do CONCITI como composta: pelo poder público estadual por: SECTI, Assembleia
Legislativa do Pará (ALEPA), FAPESPA, Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e
Mineração (SEICOM), Federação das Associações de Municípios do Pará (FAMEP),
Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA), Secretaria de Estado da Agricultura
(SAGRI); pelas ICT no estado por: UEPA, UFPA, Universidade Federal Rural da Amazônia
(UFRA), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA), Universidade
Federal do Oeste do Pará (UFOPA), EMBRAPA, MPEG, IEC, CEPLAC, Sistema de
Proteção da Amazônia (SIPAM), uma associação científica, uma instituição privada de ensino
e pesquisa, e um instituto ou centro de pesquisa privado e; pelo setor empresarial por: FIEPA,
FAEPA, SEBRAE/PA, um representante de Parque de Ciência e Tecnologia 77 (PCT)
localizado no Estado do Pará, e uma empresa que investe em ciência, tecnologia e inovação.
No que tange ao poder pública estadual, verificamos que houve expansão da
representação anterior prevista ao Fórum Paraense de Inovação. Mas, esta seguiu direção para
aquelas secretarias associadas aos denominados setores produtivos (SEICOM, SAGRI), em
acordo a orientação discursiva predominante. Assim, não foi legitimada pela inclusão outras
secretarias cuja temática de atuação mantém intersetorialidade reconhecida e havia operado
parcerias no governo anterior (inclusive com cofinanciamento de ações/editais), como as
temáticas de educação e saúde (SEDUC e SESPA). A representação das ICT também
aumentou em um representante, mantendo-se, assim, como maioria no conselho, enquanto a
representação do setor empresarial teve seu quantitativo reduzido.
De forma similar ao PPA anterior, apesar da orientação discursiva da política explícita
está preponderantemente ancorada na CT&I orientada para o mercado, o desenho de seus
indicadores apresentou divergências. O indicador "grau de implantação e desempenho do
Sistema Paraense de Inovação" foi o único diretamente associado ao tema, apesar de
operacionalmente envolver medições de natureza distinta (implantação e desempenho). Os
três demais estão voltados à medição do atendimento finalístico da comunidade de pesquisa,
em particular o de "pesquisadores atendidos em ações de ciência, tecnologia e inovação" e
"pesquisadores atendidos em ações de disseminação de conhecimentos científicos". O
indicador referente ao "número de laboratórios cadastrados no sistema de informações em
77
O decreto nº 488/2012 estabelece que o representante do PCT estivesse caracterizado enquanto setor
empresarial, contudo entendemos que pertença a comunidade de pesquisa, visto que seu representante,
geralmente é seu diretor presidente, e que este cargo tem sido exercido por pesquisadores doutores, professores
licenciados da UFPA, portanto, membros da comunidade de pesquisa. Além disso, a própria concepção e
trajetória do PCT vincula-se a elaboração discursiva típica do neovinculacionismo na política de CT&I.
165
Dotação
Valor Atualizada no %
Ano Programa Liquidado
programado orçamento geral Execução
do estado
Ciência e tecnologia para o
2013 77.044,00 71.749,11 22.191,48 31
desenvolvimento sustentável
Disseminação de ciência, tecnologia
2013 2.732,15 1.306,29 734,24 56
e inovação
2013 Sistema paraense de inovação 18.476,15 22.887,06 7.672,44 34
Ciência, tecnologia e inovação para
2015 68.596 62.898 23.628 38
o desenvolvimento sustentável
Fonte: Adaptada pela autora a partir de Pará (2014; 2016).
Coerente com as previsões orçamentárias, as três (3) ações com maior nível de
investimentos executados em 2015, e que neste sentido, podem ser consideradas as ações
prioritárias, foram a de "incentivo a projetos de pesquisa em ciência e tecnologia" (R$ 8,578
milhões), "consolidação do PCT Guamá" (R$ 7,463 milhões) e "concessão de bolsas para
pesquisa em ciência e tecnologia" (R$ 5,633 milhões). Por outro lado, quatro ações foram
indicadas como não executadas durante o período do PPA, com atividades somente
preliminares realizadas, de modo que deveriam ser reprogramadas em próximo período:
implantação do PCT Tapajós (Santarém); implantação do PCT Tocantins (Marabá);
78
Relatórios disponíveis em SEPLAN (2019). Para o ano de 2012, somente o programa de disseminação de
CT&I constava nos volumes dos relatórios, por este ter uma representação parcial, correspondendo a menor parte
da previsão orçamentária, do que compôs o programa de CT&I para o Desenvolvimento Sustentável, optamos
por não apresentar este dado somente parcial de 2012. Os relatórios referentes a 2014 não estavam disponíveis.
166
Tabela 8 – Editais lançados pela FAPESPA com modalidade de fomento no formato de bolsa ou
auxílio, por categorias, no período de 2012 a 2015
aconteceu na modalidade de bolsas, não houve editais para fomento a projetos de inclusão
digital (NavegaPará) e de popularização de C&T nas escolas públicas.
Tabela 9 – Editais lançados pela FAPESPA com modalidade de fomento no formato de projeto, por
categorias, no período de 2012 a 2015
Projetos
Projetos Projetos de Projetos de Projeto de
Projetos Projetos de para Premiação de
Nº de de P&D e programas de publicações
Ano de eventos inclusão populari- destaque
editais pesquisa inovação em pós- tecno-
C&T digital zação de científico
C&T empresas graduação científica
C&T
2012 4 2 0 1 0 0 0 0 1
2013 9 8 0 1 0 0 0 0 0
2014 16 11 1 1 0 0 3 0 0
2015 2 1 0 1 0 0 0 0 0
Total 31 22 1 4 0 0 3 0 1
*Dados extraídos de FAPESPA (2018)
Fonte: Elaborada pela autora (2019).
Quadro 12 - Linhas temáticas ou áreas de aplicação direcionados em editais selecionados da FAPESPA no período de 2012 a 2015
Programa de Incentivo à Inovação
Programa de Apoio a Núcleos Conjunto de editais "Programa de
Conjunto de editais "Apoio ao em Microempresas e Empresas de
Emergentes - Auxílio à Pesquisa - Projetos
Editais Desenvolvimento de Rede de Pequeno Porte –
PRONEM/FAPESPA/CNPQ Temáticos"
Pesquisa" (2013) InovaPará/Tecnova
(edital 008/2013)1 (2014)
(edital 003/2014)
A TIC foi outro tema que se manteve em prioridade, com recortes no edital nº
003/2013 e nº 003/2014, contemplada em linhas de pesquisa no edital nº 008/2014 de
violência e segurança pública. Os temas de energia (particularmente no recorte de energias
alternativas e bioenergia) e mineração não foram contemplados nos editais de rede de
pesquisa em 2013, mas foram nos editais de 2014. Somente a temática de pesca e aquicultura
que teve seu espaço reduzido, principalmente no fomento voltado a pesquisa de C&T, estando
explicitado somente no edital nº 003/2014. Por fim, temas de saúde e segurança pública
mantiveram-se na agenda, com certa proeminência, e a questão da sustentabilidade foi tornada
mais explícita.
Em relação a identificação das temáticas especificamente relacionadas a questão de
desigualdades, inclusão social ou grupos sociais vulneráveis, conforme quadro 13,
encontramos 8 editais associados a estas temáticas, identificando 7 enfoques (inclusão digital,
redução de desigualdades territoriais, doenças negligenciadas, atendimento a agricultura
familiar, a população feminina, idosos e pessoas com deficiência). Assim, houve redução da
quantidade de editais em relação ao período anterior. No entanto, cabe indicarmos que, neste
período, foi lançado um edital PPSUS (011/2013), programa em que diversos recortes
populacionais específicos foram contemplados no período anterior, mas o texto deste edital
não estava disponível no site, de modo que não pudemos considerá-lo.
Quadro 13 – Seleção de editais lançados pela FAPESPA identificados com menções explícitas a
temáticas voltadas a redução desigualdades, inclusão social ou atendimento específico de grupos
sociais vulneráveis, no período de 2012 a 2015
Temáticas
Nº total Populaçõ Pessoas
de Agricul Redução de Crianças e Populaçã Doenças
Ano es Inclusão com
editais tura desigualdade adolescente o Idosos negligenc
tradicion digital deficiên
familiar territorial s feminina iadas
ais cias
2012 0 - - - - - - - - -
010/201
2013 2 - - - - 010/2013 - 009/2013 -
3
004/20 005/201
14 005/2014 4
2014 6 022/2014 - 008/2014 - - 006/2014
007/20 006/2014 006/201
14 4
2015 0 - - - - - - - - -
Total 8 2 1 0 1 3 0 1 3 1
*Dados extraídos de FAPESPA (2018)
Fonte: Elaborada pela autora (2019).
79
Inicialmente expressa enquanto educação técnica e tecnológica pela Lei estadual nº 8.096/2015,
posteriormente denominada de educação profissional e tecnológica pela Lei estadual nº 8.404/2016,
permanecendo esta até o final do referido mandato.
80
Lei complementar do estado do Pará nº 098/2015.
81
Lei estadual n° 8.335/2015.
173
O PPA ainda está em execução, tendo sofrido uma revisão em 2017 para o período de
2018 e 2019. Nosso exame, então, contemplará seu desenho geral e relatórios de avaliação
para os dois primeiros (2016 e 2017).
82
Reconhecemos que a PRODEPA está subordinada a SECTET na estrutura administrativa estadual, mas
entendemos que sua associação esteja estabelecida pela prestação de serviços na área de TIC, construída pela
implementação dos projetos estruturantes do Programa NavegaPará, enquanto que as ações de inclusão digital
ficavam a cargo da Secretaria responsável pela pasta de CT&I (SEDECT/SECTI). Por isso que compreendemos
que a responsabilidade das ações mencionadas estarem somente com a PRODEPA indica um afastamento da
agenda nuclear da CT&I, lembrando que, embora subordinada a SECTET, a PRODEPA não consta como
executora de nenhuma ação do programa temático de CT&I.
83
Somente duas ações foram previstas neste objetivo: Realização de Estudos, Formulação e Geração de
Informações Sociais, Econômicas e Ambientais (informado execução de 85 estudos em 2016 e 291 em 2017); e
Consolidação do Portal Paraense de Inovação, essa ação embora associada ao teor da política de CT&I foi
informada como não executada nos dois anos cobertos e não relacionada a metas do objetivo (elaborar e divulgar
939 estudos e pesquisas; consolidar o Sistema de Informação do Estado).
175
ações em Ciência e Tecnologia" entre as RI. Observamos que foi especificado quantitativos a
serem alcançados em cada RI, na busca de implementar a gestão regionalizada das políticas
no bojo do desenho elaborado para o PPA. Contudo, nos relatórios de avaliação anual
emitidos referentes ao período 2016 e 2017 (PARÁ, 2017; PARÁ, 2018) não houve indicação
de alcances quantitativos por RI para programa temático de CT&I, sendo feito somente um
relato de ações em andamento e editais de fomento lançados, não se atingindo um
monitoramento, ao menos em termos de informações públicas, efetivamente regionalizado do
planejamento.
Tabela 10 – Metas por objetivo do programa temático de Ciência, Tecnologia e Inovação do PPA
2016-2019 do estado do Pará
estado, em que também estão situadas as sedes das principais universidades e institutos de
pesquisa do estado. Ao examinarmos a execução financeira em 2016 e 2017, esta
concentração de acentuou ainda mais, ficando nesta região, na média, com 90% dos recursos
aplicados no programa. Cabe indicarmos que, a execução financeira total do programa em
2016 foi de R$ 24,237 milhões, representando 37,66% do valor anual orçado; e em 2017 de
R$ 29,326 milhões, representando 29,01% do valor orçado naquele ano.
Tabela 11 – Recursos financeiros programados totais e aplicados nos anos de 2016 e 2017 por região
de integração no programa de Ciência, Tecnologia e Inovação do Pará (em R$ 1,00)
Percentual do Percentual do
Valor total Percentual do
Região de integração valor aplicado em valor aplicado
programado valor total
20161 em 20172
Araguaia 2.026.361,00 0,9% - -
Entre as ações do ciclo anterior, três passaram a não estar mais explícitas no
planejamento atual, são as de "Identificação e Mapeamento de Competências em Ciência,
Tecnologia e Inovação", de "Realização de Eventos para Popularização de Ciência,
Tecnologia e Inovação" e de "Transferência de Tecnologias Sociais para o Desenvolvimento".
Especialmente no que tange a inexistência de menção explícita ou a ações dedicadas
exclusivamente a temas de popularização da CT&I, de tecnologia social ou de inclusão
digital, compreendemos que este programa apresentou um desenho de política explícita de
CT&I menos plural frente aos dois anteriores, sem que temáticas usualmente relacionadas à
inclusão social na C&T estivessem espaço de destaque.
Assim, apesar deste planejamento ter como mote em seu macro-objetivo a redução da
pobreza e da desigualdade social e regional, em termos de justiça social, a visão que
prevaleceu no programa de CT&I foi de concepção de natureza agregativa de geração de
benefícios a sociedade. Portanto, de efeitos sociais indiretos da CT&I por meio de
pressupostos processos de desenvolvimento econômico. Bem como, ainda que o modelo de
planejamento geral adotado tenha sido direcionado a regionalização e descentralização,
permaneceu uma acentuada concentração de execução de CT&I na região metropolitana da
capital nos dois anos averiguados.
De forma similar ao mandato de governo anterior, em 2015 houve a elaboração de
novo plano diretor para a área de CT&I. Com contornos de dar continuidade e fortalecer à
concepção estratégica do plano diretor anterior, este plano aborda, de forma geral, a
contribuição da CT&I a vocações econômicas do estado (citadas: agronegócio, logística,
agricultura familiar, energia, mineração, biodiversidade, florestal, turismo e gastronomia,
serviços ambientais/recursos hídricos, e pesca e aquicultura), dando certo destaque à
verticalização mineral, enquanto "permanente demanda da sociedade local", mas, mantém a
visão de ênfase estratégica à bioindústria, pois:
Quadro 14 – Ações do Programa Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento do PPA 2016-2019 do Pará
Nº Ação Região de Integração Produto/Unidade de Medida
1 Apoio à Implantação do Museu de Ciência de Belterra Baixo Amazonas Museu Implantado
Baixo Amazonas
Apoio à Implantação e Consolidação de Incubadora de Base Tecnológica e Carajás
2 Incubadora Criada
Gerencial Guajará
Lago de Tucuruí
Baixo Amazonas
Apoio ao Desenvolvimento de Rede e Projeto de Pesquisa em Cadeia
3 Carajás Projeto Apoiado
Produtiva Estratégica
Guajará
Apoio ao Processo de Acreditação de Laboratório Prestador de Serviço Carajás
4 Laboratório Acreditado
Tecnológico Guajará
Araguaia
Baixo Amazonas
Carajás
Guajará
Guamá
Lago de Tucuruí
5 Concessão de Bolsa de Pesquisa em Ciência e Tecnologia Bolsa Concedida
Marajó
Rio Caeté
Rio Capim
Tapajós
Tocantins
Xingu
6 Consolidação do Parque de Ciência e Tecnologia Guajará Parque de Ciência e Tecnologia Consolidado
Araguaia
Baixo Amazonas
Carajás
Guajará
Guamá
Lago de Tucuruí
7 Disseminação de Ciência, Tecnologia e Inovação Evento Apoiado
Marajó
Rio Caeté
Rio Capim
Tapajós
Tocantins
Xingu
179
Ilustra bem esse quadro o fato de o Estado do Pará ter aprovado junto à FINEP, em
2012, tão somente 4 projetos, dentre os 565 aprovados em todo o país. No ano anterior,
o Pará teve 7 projetos aprovados de um total de 413. Dos projetos contratados, apenas 4
estiveram voltados, direta ou indiretamente, para empresas. A quase nula participação
de empresas do Pará no Plano Inova Empresa, executado pelo BNDES e pela FINEP – e
que prevê recursos da ordem de R$ 32,9 bilhões para atividades intensivas em CT&I –,
é outro indicador alarmante das dificuldades estruturais presentes.
Tal constatação alerta à necessidade de o Sistema Paraense de Inovação ser fortalecido,
organizado e, ao mesmo tempo, direcionado para processos produtivos mais baseados
em conhecimento, em consonância com o potencial de geração de riquezas em âmbito
regional. (SECTET, 2015, p. 24).
Diante destes pontos, entendidos enquanto desafios para a política de CT&I, foram
propostas as duas diretrizes do plano diretor:
84
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará.
85
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia.
86
Secretaria Estadual de Desenvolvimento Agropecuário e de Pesca.
87
Secretaria de Estado de Turismo.
182
Nos dois primeiros anos deste período de PPA que estamos examinando (2016 e 2017)
identificamos 24 editais no website da FAPESPA em que esta participou como financiadora,
cofinanciadora ou gestora de recursos aplicados no âmbito da CT&I, tendo sido 11 em 2016 e
13 em 2017, conforme Apêndice C. Em termos do recorte de editais por modalidade de
fomento (bolsas na tabela 12 e projetos na tabela 13), observamos que houve menor
pluralidade dos tipos de bolsas e projetos financiados. Na modalidade de bolsas, prevaleceram
as de apoio a pós-graduação, e na modalidade de projetos predominou os de pesquisa
científica e tecnológica, categorias mais tradicionais de atendimento a comunidade de
pesquisa.
Tabela 12 – Editais lançados pela FAPESPA com modalidade de fomento no formato de bolsa ou
auxílio, por categorias, no período de 2016 a 2017
Por um lado, neste período não houve editais lançados em parcerias com as agências
de fomento nacionais (CNPq e CAPES). Esses editais em parcerias foram comuns nos
88
Primeiro contrato de gestão assinado em 2009.
89
Primeiro contrato de gestão assinado em 2017.
183
períodos anteriores, mas, nestes dois anos em análise, estas agências nacionais já contavam
com menor capacidade financeira, devido os cortes no orçamento de CT&I no governo
federal. Conforme relato de dirigente da política estadual de CT&I, houve dificuldades dessas
agências neste período em cumprir com os repasses de convênios firmados anteriormente90.
Por outro lado, os cinco (5) editais lançados em parceria de cofinanciamento no período foram
com agências internacionais, 4 com o Fundo Newton do Conselho Britânico, e um com
determinado conjunto de agências francesas. Os editais em conjunto com estas agências,
principalmente com o Fundo Newton (com formatos específicos) trouxeram maior
diversidade de modalidades de fomento no período, e foram estes, como trataremos a seguir,
que terão maior variedade de recorte a temáticas relacionadas a desigualdades sociais.
Apesar da política explícita, seja no PPA, seja no Plano Diretor, ter tido um
movimento de reafirmação na direção de um discurso CT&I orientada para o mercado, na
execução da política implícita de fomento da FAPESPA não houve editais efetivados para
P&D e inovação em empresas. Cabe lembrarmos que os editais deste tipo de fomento
lançados nos períodos anteriores haviam sido financiados por parceiros (FINEP e
SEBRAE/PA).
Tabela 13 – Editais lançados pela FAPESPA com modalidade de fomento no formato de projeto, por
categorias, no período de 2016 a 2017
90
Conforme entrevistada concedida por um dos dirigentes da política de CT&I: "Naquele momento também nós
nos deparamos com uma série de entraves (...) falta de repasse de recursos CNPq, CAPES, FINEP e aquilo ali
nos gerou diversos transtornos administrativos porque nós não conseguíamos pagar as pesquisas".
184
desenho dos editais InterPará 2016 e 2017 e as áreas priorizadas nos editais de bolsa de pós-
graduação. Cabe mencionarmos que, considerando a abordagem de planejamento aplicada no
PPA de estruturação a partir das RI, a FAPESPA lançou, neste período, editais que buscassem
seguir uma orientação a partir de vínculos territoriais, os denominados editais InterPará.
Assim, lançou editais voltados a projetos de redes de pesquisa cujas organizações líderes do
complexo de C&T tivessem que ser sediadas ou com unidades permanentes em cada região.
Quadro 16 – Seleção de editais lançados pela FAPESPA identificados com menções explícitas a
temáticas voltadas a redução desigualdades, inclusão social ou atendimento específico de grupos
sociais vulneráveis, no período de 2016 a 2017
Temáticas
Nº de Redução de Pessoas Acesso
Ano
editais Agricultura desigualdade Crianças e População Idosos Populações Inclusão com
Economia
equitativo
Doenças
familiar adolescentes feminina tradicionais digital inclusiva negligenciadas
territorial deficiências a água
001/2016, 001/2016, Newton
Newton
002/2016, 002/2016, Fund
2016 6 - - - - - - - Fund (Edital
003/2016, 003/2016, (Edital
2016-17)
004/2016 004/2016 2016-17)
007/2017, 007/2017,
008/2017, 008/2017, Confap -
2017 7 - - 012/2017 005/2017 - 012/2017 - -
009/2017, 009/2017, JPI/2017
010/2017 010/2017
Total 13 8 8 0 0 1 1 1 1 1 1
*Dados extraídos de FAPESPA (2018)
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
a FAPESPA lançou novo edital de fomento a tecnologia assistiva. Neste período, houve
número maior de enfoques, com algumas temáticas que não havia constado antes, as quais
emergiram por editais em cofinanciados por agências internacionais. Como já havíamos
observado anteriormente, em relação a composição de temas mais plurais de atendimento a
grupos vulneráveis por influência intergovernamental (caso do PPSUS), neste período,
novamente encontramos uma diversidade de temas relacionados a desigualdades sociais em
editais com influência de agências de fora do estado, neste caso, internacionais.
Na próxima seção, procuramos voltar nossa atenção especificamente a esses recortes
de fomento a temas relacionados ao enfrentamento de desigualdades na política estadual, com
vistas a discernir temas para aprofundamento da pesquisa.
Ao ter em perspectiva os três últimos programas de CT&I nos PPA do estado do Pará,
de modo geral, constatamos que a orientação explícita principal da política tem recebido um
sentido de continuidade em torno da concepção de sistema inovação, com orientação de
justiça social utilitarista-agregativa, com ênfase à dimensão econômica de intervenção da
CT&I para o desenvolvimento. Em termos da política implícita, a maior regularidade e
montante de fomento na agenda esteve associado às modalidades de reprodução, ampliação e
fortalecimento da comunidade de pesquisa, principalmente relacionadas concessão de bolsas e
apoio à pós-graduação stricto sensu e à pesquisa científica e tecnológica.
Em termos de escopo da política, enquanto explicitamente realça o papel da inovação
tecnológica (o que conduziria em si a políticas de ênfase à inovação), o faz vinculando esta à
noção de economia do conhecimento, ou seja, a ideia de processos inovativos que demandam
elevada intensidade de C&T. Desta forma, estabelecendo-se um discurso que, embora ressalte
a inovação, mantém esta atrelada ou necessariamente conexa (e, assim, de certa maneira
dependente) a processos de pesquisa científica e tecnológica91, própria do métier e interesse
91
Viotti (2015) destaca nos casos da Coreia do Sul e Taiwan como a produção de tecnologias ou inovações
seguiram trajetórias direcionadas ao aprendizado tecnológico ativo na indústria, a partir de uma apropriação
inicial de conhecimento por difusão tecnológica, construindo capacidades tecnológicas no nível das empresas.
Tal capacidade tecnológica na empresa é considerado elemento essencial ao processo de catching up, de modo
que o autor propõe que países retardatários ou periféricos no desenvolvimento industrial deveriam enfocar sua
política tecnológica primeiro no desenvolvimento de sistemas de aprendizagem ativa, e não de sistemas de
187
do ator principal da política, a comunidade de pesquisa. De modo que não identificamos pleno
abandono do modelo linear de inovação na política de CT&I, uma vez que a concepção de
inovação tecnológica estimulada é gerada majoritariamente (ou, por vezes, integralmente) por
atores da comunidade de pesquisa, reforçando na política implícita um escopo de política
científica, particularmente voltado a temas próprios da economia do conhecimento com
ressonância na comunidade de pesquisa local (como biotecnologia e TIC).
Para esclarecer esse contexto, entendemos que dois contornos precisam ser elucidados
no estado no que corresponde a assimetria, ou descolamento, entre o desenvolvimento
científico e os processos inovativos locais, retomando a origem do que Dagnino (2016) se
referiu como atipicidade periférica. O estado do Pará, ainda que não esteja entre os estados
com melhores indicadores científicos nacionais, em geral, apresenta indicadores próximos da
mediana do país e melhores entre os estados da região norte, conforme tabela 14.
inovação, uma vez que estes espelhados em países avançados industrialmente refletem um processo complexo de
ambientes institucionais e de capacidades inovativas já maduros.
188
realçada enquanto discurso na política explícita, este realce (a partir de um persistente modelo
linear de inovação implícito) tem como efeito legitimar o fomento público em C&T na
política implícita.
Nesse panorama geral, pontos principais da agenda estão no escopo do
desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnológicas em temas que gerariam agregação de
valor econômico em cadeias produtivas selecionadas como estratégicas. Cenário que
identificamos enquanto orientação econômica agregativa e de concepção de justiça social
utilitarista (COZZENS, 2007), cujo desenvolvimento social ocorreria por consequências dos
transbordamentos de efeitos positivos na economia (geração de empregos, aumento de
arrecadação governamental para inversão pública, melhoria de infraestrutura etc.). Esta visão
também distinguimos no trecho relatado de um dos dirigentes da política estadual
entrevistado.
93
Embora reconhecemos que algumas dessas temáticas podem se sobrepor (como a agricultura familiar e a
economia inclusiva), nossa intenção em dispô-las foi de encerrar uma classificação, mas de discernir a
abrangência de temas articulados com uma perspectiva distributiva na agenda estadual.
191
processo da política pública estadual de CT&I. Também, por meio de suas singularidades
inicialmente identificadas, proporciona diversidade analítica, seja em termos organizacionais
(uma vez que o tema de tecnologia assistiva esteve centrada no fomento via FAPESPA, e o de
tecnologia social em processos da SECTET), seja em termos das possíveis estratégias e
alcances da coordenação coletiva de coalizões de defesa.
Os próximos capítulos são dedicados a análise dos subsistemas de política específicos
a tecnologia assistiva (capítulos 4 e 5) e tecnologia social (capítulos 6 e 7). Para cada tema,
abordamos em um capítulo inicial às concepções discursivas e a conjuntura da política
nacional, enquanto uma aproximação e contextualização da temática. Em segundo capítulo, a
análise do subsistema de política estadual, com o mapeamento dos principais atores políticos
e exame de práticas sociais exercidas.
194
4.1.1 Breve histórico sobre a conformação de garantia de direitos para pessoas com
deficiência
94
Compreendemos a exclusão social, conforme Levitas et al. (2007), como um processo complexo e
multidimensional, que envolve a falta ou a negação de recursos, serviços, bens ou direitos que conduzem a
incapacidade de pessoas em participar de relações e atividades comuns, disponíveis para a maioria das pessoas
em uma sociedade, seja nos âmbitos econômicos, sociais, culturais ou políticos, que afeta tanto a qualidade de
vida da pessoa, individualmente, quanto a equidade e coesão da sociedade como um todo.
196
o passar do tempo, este tipo de organização foi se especializando para atender pessoas por
tipo de deficiência, como por exemplo, organizações especiais para pessoas cegas ou surdas,
de modo que outras formas de segregação institucional foram sendo praticadas (SASSAKI,
1997). Sassaki (2003) ainda menciona que o termo mais comum a designar estas pessoas era
de "inválidos", trazendo um sentido de pessoa socialmente inútil ou sem valor a agregar à
sociedade.
Contudo, Barnes (2012) realçou alguns fatores que motivaram mudança política para
expansão de serviços a este público, relacionado a um aumento da visibilidade e politização
do tema, principalmente nos EUA e em países europeus, perante o grande número de civis e
militares feridos durante a II Guerra que passavam a fazer parte deste grupo alvo da política,
pelas denúncias e mobilização sobre os extermínios das pessoas com deficiência, realizados
no regime nazista e pelo próprio crescimento da expectativa de vida das pessoas com
deficiência e dos idosos, que demandavam melhores condições de vida.
Emergiu, assim, a partir da década de 1950 e perdurando até a de 1980, conforme
Sassaki (1997), um segundo período de atendimento a pessoas com deficiência denominado
de reabilitação e integração social. Para o autor, esta modalidade de atendimento para
reabilitação ainda era realizada em organizações e hospitais especializados em uma
perspectiva assistencialista. A partir da década de 1960, houve grande crescimento destas
instituições especializadas, que passaram a contemplar diferentes espaços de formação e
ocupação para estas pessoas, como escolas especiais, centros de habilitação e reabilitação,
oficinas de trabalho, clubes e associações desportivas especiais (SASSAKI, 1997).
Dois princípios básicos foram desenvolvidos neste período. O primeiro, foi de busca
da "normalização", que procurava tornar disponível às pessoas com deficiência algumas
condições de vida análogas aos modelos construídos e acessíveis de modo geral na sociedade
(SASSAKI, 1997). Sassaki (1997) realça que ainda era evidente um sentido de segregação
neste preceito de normalização, ao se criar ambientes parecidos com aqueles vivenciados pela
população em geral, mas separados destes. Já na década de 1980, o autor indica a ascensão do
termo de "mainstreaming" no âmbito da educação especial, que correspondia a um avanço na
tentativa de integração, ao buscar introduzir alunos com deficiência em alguns serviços
educacionais regulares na comunidade. No entanto, de forma geral, nesta fase a noção de
reabilitação e integração ainda constituíam esforço unilateral da pessoa com deficiência em se
ajustar e se tornar mais aceitável aos moldes da sociedade existente, havendo pouca, ou
nenhuma exigência, para a sociedade quanto às modificações de espaços, objetos, práticas
sociais ou atitudes em favor desta integração (SASSAKI, 1997).
197
Neste período, Sassaki (2003) ainda ressalta grande diversidade e evolução nas
denominações usadas para caracterizar as pessoas com deficiência, desde "incapacitados" ou
"incapazes", preponderante entre 1920 e 1960, que reforçava a ideia do indivíduo como sem
capacidade, ou com capacidade residual enquanto sua principal característica; posteriormente,
torna-se mais comum termos como "deficiente" ou "excepcional", reiterando a noção de
pessoas que não conseguem fazer, ou viver, como a maioria da população; até que, na década
de 1980, surge denominações como de "pessoas deficientes", "pessoas portadoras de
deficiência", "pessoas com (ou portadoras) necessidades especiais", sendo notável nestes
termos a evidenciação de valor à "pessoa", como principal caracterização, e a deficiência
passa a ser um aspecto secundário.
Porém, os significados de "portador" e "especial" vieram a ser questionados pelos
movimentos de pessoas com deficiência. A ideia de "portador" estaria relacionada a algo não
permanente, ou que poderia ser deixado de carregar ou portar, que não reflete a experiência
das pessoas com deficiência para as quais a deficiência faz parte intrínseca de sua condição de
vida (SASSAKI, 2003). A noção de direitos, ou necessidade especiais, tem duplo
questionamento. No que tange a "direitos especiais", contradiz o foco de exigência dos
movimentos das pessoas com deficiência em torno da equiparação dos direitos e
oportunidades com as demais pessoas em sociedade, e não seu tratamento ou direitos
especiais; e em relação a "necessidades especiais", considerou-se que não agrega valor
diferenciado às pessoas com deficiência (SASSAKI, 2003). Assim, o atual termo em uso para
designação é o de "pessoa com deficiência", consagrado na Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência (CDPcD) da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2007.
Apesar das críticas ao período de reabilitação e primeiras tentativas de integração
social, o decorrer das década de 1960, 1970 e 1980, Sassaki (1997) e Garcia (2014)
registraram o surgimento dos movimentos de mobilização das pessoas com deficiência e seus
aliados (parentes, cuidadores, profissionais no campo), com a formação e articulação de
organizações em que as pessoas com deficiência tomaram o protagonismo das ações e
reinvindicações95, ampliando a conscientização e disseminação de informações sobre os
problemas, necessidades e potencialidades das pessoas com deficiência. Estas mobilizações
resultaram na aprovação de legislações específicas para assegurar os direitos destas pessoas,
inclusive em Constituições de países latino-americanos.
95
Bueno (2016) citou o lema “Nada sobre nós, sem nós”, elaborado no movimento social por direitos das
pessoas com deficiência na África do Sul, na década de 1980 no período do apartheid, como representativo da
militância por uma maior visibilidade, inclusão e empoderamento destas pessoas.
198
aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual
ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais
pessoas" (BRASIL, 2009, p. 2).
96
O Brasil ratificou esta Convenção, promulgada por meio do decreto nº 6.949/2009.
97
Apesar de poderem ter significados similares, autonomia e independência adquirem sentidos diferenciados nos
movimentos de pessoas com deficiência, conforme apontou Sassaki (1997): autonomia corresponde à condição
de maior ou menor domínio ou controle que a pessoa com deficiência exerce para frequentar diversos ambientes
físicos e sociais, com vistas a alcançar seus objetivos. Enquanto independência se refere à oportunidade e
199
b) A não-discriminação;
c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade;
d) O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como parte da
diversidade humana e da humanidade;
e) A igualdade de oportunidades;
f) A acessibilidade;
g) A igualdade entre o homem e a mulher;
h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência e pelo
direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade. (BRASIL, 2009, p. 2).
capacidade de tomar decisões que afetam sua própria vida, em termos de aspectos pessoais, sociais ou
econômicos, sem depender de outras pessoas como familiares ou profissionais especializados, ou seja, ter
oportunidade de exercer a autodeterminação.
200
98
Conforme a CDPcD (decreto nº 6.949/2009), com vistas a proporcionar acessibilidade, os Estados devem
"assegurar às pessoas com deficiência o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, ao meio
físico, ao transporte, à informação e comunicação, inclusive aos sistemas e tecnologias da informação e
comunicação, bem como a outros serviços e instalações abertos ao público ou de uso público, tanto na zona
urbana como na rural. Essas medidas, que incluirão a identificação e a eliminação de obstáculos e barreiras à
acessibilidade".
202
99
Garcia (2014) ainda ressalta um novo modelo em desenvolvimento denominado de "modelo da diversidade",
que a partir do modelo social estaria sendo elaborado no Movimento de Vida Independente da Espanha, o qual
recomenda que pessoas com deficiência não sejam mais percebidas como pessoas com incapacidades, mas
enquanto “pessoas com diversidade funcional”.
203
Como comenta Galvão Filho (2009), TA é uma expressão relativamente nova e sua
conceituação encontra-se em um processo de construção e sistematização, mas a utilização de
recursos a que nos referimos como de TA remonta aos primórdios da história, exemplificada
no uso de um pedaço de pau como uma bengala improvisada. Deste mesmo exemplo,
compreendemos que recursos de tecnologia podem incorporar substancial intensidade
tecnológica em seu desenvolvimento ou podem se constituir em objetos e práticas simples.
A primeira citação do termo de TA no âmbito de documentos de política oficial é
reconhecido à peça legislativa norte-americana American with Disabilities Act (ADA) de
1988100 (BERSCH, 2017; ITS, 2018). A motivação principal em torno da provisão de TA
enquanto política pública pode ser sintetizada na conhecida citação de Mary Pat Radabaugh
de que "Para americanos sem deficiências, a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para
americanos com deficiências, a tecnologia torna as coisas possíveis"101 (RADABAUGH, 1988
apud NATIONAL COUNCIL ON DISABILITY, 1993). Assim, a utilização de TA por
pessoas com deficiência foi reconhecida como uma necessidade essencial à realização de uma
vida digna dessas pessoas, inclusive em suas atividades cotidianas, sendo um meio de buscar
equiparar oportunidades e direitos fundamentais para estas na sociedade. Desta maneira, a
temática de TA surge na trajetória das políticas pelos direitos da pessoa com deficiência
enquanto um elemento necessário para sua qualidade de vida, autonomia e independência.
No ADA, TA é prevista e conceituada em termos de recurso de TA ("item, peça de
equipamento ou sistema de produto, independentemente se adquirido comercialmente de
fabricação padronizada, ou se modificado, ou se produzido de forma personalizada, usado
para aumentar, manter ou melhorar as capacidades funcionais de pessoas com deficiência") e
serviço de TA ("qualquer serviço que auxilie diretamente um indivíduo com deficiência na
seleção, aquisição ou uso de um dispositivo de TA").
Atualmente, a CDPcD da ONU estabelece como obrigação de todos os Estados Partes
realizar e promover a pesquisa, desenvolvimento, disponibilidade e emprego de TA
adequados a pessoas com deficiência para auxiliar nas diversas atividades, como na
mobilidade, habilitação e reabilitação, liberdade de expressão e acesso à informação,
participação na vida política e pública.
100
Registrado pela Public Law 100-407 de 19/08/1988 do Congresso dos EUA, cujo objetivo era estabelecer um
programa de provisão de tecnologia assistiva para pessoas com deficiência, entre outros propósitos.
101
Tradução livre da autora de For Americans without disabilities, technology makes things easier. For
Americans with disabilities, technology makes things possible.
204
102
Até a norma ISO 9999:2002 o termo utilizado era de “Ajudas Técnicas”, sendo que a partir da revisão da
norma publicada em 2007 passou-se a usar a expressão “Produto Assistivo”.
103
Livre tradução pela autora.
104
Na norma ISO 9999:2016, os produtos assistivos são classificados em 12 classes: Produtos assistivo para
medir, apoiar, treinar ou substituir funções do corpo; para educação e treinamento em habilidades; ligados ao
corpo para apoiar funções neuromusculoesqueléticas ou relacionadas ao movimento (órteses) e substituir
estruturas anatômicas (próteses); para atividades de autocuidado e participação no autocuidado; para atividades e
participação relacionadas com mobilidade pessoal e transporte; para atividades domésticas e participação na vida
doméstica; Móveis, acessórios e outros produtos de apoio para atividades de apoio em ambientes internos e
externos feitos pelo homem; para gestão de comunicação e informação; para o controle, transporte,
movimentação e manuseio de objetos e dispositivos; para controle, adaptação ou medição de elementos de
ambientes físicos; para atividades de trabalho e participação no emprego; para recreação e lazer.
206
105
De acordo com o decreto nº 5.296/2004, o CAT é responsável por: "I - estruturação das diretrizes da área de
conhecimento; II - estabelecimento das competências desta área; III - realização de estudos no intuito de
subsidiar a elaboração de normas a respeito de ajudas técnicas; IV - levantamento dos recursos humanos que
atualmente trabalham com o tema; e V - detecção dos centros regionais de referência em ajudas técnicas,
objetivando a formação de rede nacional integrada".
106
Ao ser conceituada enquanto uma área de conhecimento, o CAT (BRASIL, 2009) recomenda o uso da
expressão tecnologia assistiva no singular.
207
EUA, contudo não concluía pela padronização de determinada metodologia, uma vez
considerava que esta dependeria dos objetivos para as quais a classificação seria aplicada
(BRASIL, 2009). Em 2012, no âmbito do Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com
Deficiência (Plano Viver sem Limite), de forma a regulamentar a concessão de subvenção a
instituições financeiras para concessão de créditos para aquisição de bens e serviços de TA a
pessoas com deficiência, foi publicada a portaria interministerial MF/MCTI/SEDH nº
362/2012, a qual estabelece classificação para bens e serviços de TA no país em doze (12)
áreas macro107:
1. auxílios para a vida diária e a vida prática;
2. comunicação aumentativa e/ou alternativa (CAA);
3. recursos de acessibilidade ao computador;
4. sistemas de controle de ambiente;
5. projetos arquitetônicos para acessibilidade;
6. órteses e próteses;
7. adequação postural;
8. auxílios de mobilidade;
9. auxílios para qualificação da habilidade visual e recursos que ampliam a
informação a pessoas com baixa visão ou cegas;
10. auxílios para ampliação da habilidade auditiva e para autonomia na comunicação
de pessoas com déficit auditivo, surdez e surdo-cegueira;
11. adaptações em veículos e em ambientes de acesso ao veículo;
12. esporte e lazer.
Ainda no âmbito do CAT (BRASIL, 2009), são realçados dois princípios associados a
garantia de direitos das pessoas com deficiência e à TA, vinculados a acepção do modelo
social de deficiência, o do desenho universal e o da tecnologia social. O desenho universal é
um conceito que se relaciona a perspectiva da acessibilidade e da deficiência ao longo da vida
como uma condição universal, e prevê-se a incorporação de uma nova cultura de concepção
de produtos, ambientes, serviços e atividades que possam ser usados por todas as pessoas, ou
seja, que considere desde seu projeto a diversidade de condições humanas de modo a
promover a participação, utilização e acesso de toda a comunidade (GALVÃO FILHO, 2013).
107
Segundo Bersch (2017), a classificação utilizada na portaria interministerial nº 362/2012 foi desenvolvida
originalmente em 1998 por ela e José Tonolli com base no Programa de Certificação em Aplicações da
Tecnologia Assistiva da California State University Northridge.
208
Harke (2015), o mesmo produto pode ter níveis de usabilidade substancialmente distintos,
dependendo do usuário que o utilize, de seu objetivo e contexto de uso. Esta concepção foi a
incorporada para construção do conceito de usabilidade na norma ISO 9241:2011 enquanto "a
medida em que um produto pode ser usado por usuários específicos para atingir objetivos
especificados com eficácia, eficiência e satisfação em um contexto especificado de uso"
(BEVAN; CARTER; HARKE, 2015). Estes autores realçam que a usabilidade assume um
conceito abrangente que ao abordar os resultados da interação entre pessoa e produto (incluso
a noção de serviço, sistema e ambiente), vai além da análise do uso regular do produto, para
integrar também atividades relacionadas ao aprendizado de uso, proteção a erros,
acessibilidade e manutenção deste, enfatizando a experiência do usuário e um design centrado
no ser humano.
Esta ênfase na experiência do usuário e de design centrado no ser humano relaciona-se aos
processos interativos de design e, no caso de TA, ao grau de envolvimento e participação de
pessoas com deficiência no processo de design e desenvolvimento tecnológico. Esta concepção de
envolvimento das pessoas com deficiência no desenvolvimento da TA está na base da proposição
do CAT (BRASIL, 2009) de incluir a tecnologia social como princípio para esta área de
conhecimento. A comissão temática de conceituação e estudo de normas do CAT (BRASIL,
2009) explicita o conceito de tecnologia social proposto no âmbito do Instituto de Tecnologia
Social (ITS)108, e sugere que sua orientação conceitual auxilia a estabelecer um modelo de
desenvolvimento de soluções tecnológicas que valorize o conhecimento do usuário, pessoas
com deficiência, bem como suas demandas e seus contextos de uso, de modo a colaborar para
que este usuário efetivamente se aproprie e usufrua de uma TA que atenda sua necessidade e
expectativa.
Para Garcia (2014), a aplicação do conceito de tecnologia social no campo da
tecnologia assistiva implica na adoção de uma matriz epistemológica específica, que tenha
como ponto de partida: (1) a concepção de problemas e necessidades em perspectiva pelas
pessoas com deficiência, mobilidade reduzida e pessoas idosas; que (2) o desenvolvimento de
conhecimentos e aplicações se dê por meio da integração de saberes científicos e populares,
estabelecendo, assim, como modus operandi a participação enquanto orientação à democracia
e aos direitos de cidadania e; (3) que resulte em melhoria da qualidade de vida, via ampliação
108
O conceito de tecnologia social citado pelo CAT (BRASIL, 2009) é “um conjunto de técnicas e metodologias
transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela e que
representam soluções para inclusão social e melhoria das condições de vida”, o qual é a conceituação proposta e
mantida pelo ITS em suas atividades até hoje, conforme seu website (http://itsbrasil.org.br/conheca/tecnologia-
social/).
210
109
Exemplos deste atendimento precário relatado pela OMS (2018), refere-se a que a produção de próteses
auditivas atualmente atende a menos de 10% da necessidade global, sendo que menos de 3% das necessidades de
aparelhos auditivos são atendidas em países em desenvolvimento anualmente.
212
condições sociais. Por isso, o usuário (tendo em vista sua condição, necessidades, contexto de
uso e preferências), deve ser o condutor do processo de TA: da formulação de políticas, do
projeto de produtos ou serviço, do fornecimento, do treinamento, da entrega, do
monitoramento até a avaliação (MACLACHLAN; SCHERER, 2018).
Contudo, esta perspectiva sistêmica traz desafios substanciais aos atores políticos, dois
desses correspondem ao enfoque intersetorial e de ações ao longo prazo. MacLachlan e
Scherer (2018) destacam que responder às necessidades de TA das pessoas, particularmente
na perspectiva da deficiência ao longo da vida, não é um processo de etapa única. Tanto o
desenvolvimento em si de novas necessidades tecnológicas, ou de combinações destas,
demanda tempo e diferentes fases para sua provisão; quanto a participação inclusiva das
pessoas com deficiência nos distintos setores de vida pública e privada (inclusas as atividades
do próprio desenvolvimento da TA) requer tempo e mudanças mais amplas seja em termos de
acessibilidade nos variados ambientes físicos na sociedade, seja em termos de reconstrução de
visões e valores na sociedade sobre as condições, potencialidades e dificuldades sobre (e com)
estas pessoas (MACLACHLAN; SCHERER, 2018). Neste sentido, os autores argumentam a
necessidade de ruptura com os processos de discriminação e com os formatos de
institucionalização das pessoas com deficiência que mantêm limitações sociais.
No entanto, há algumas lacunas básicas identificadas no processo de política atual que
emperram processos mais amplos, ou mesmo eficazes, de mudanças. MacLachlan et al.
(2018) realçam três tipos de lacunas com base nos aprendizados da Política Africana sobre
Deficiência e Desenvolvimento: (1) pouco conhecimento dos formuladores e tomadores de
decisão em políticas sobre as concepções e instrumentos de políticas específicas para a
temática da deficiência; (2) pouco conhecimento dos representantes das pessoas com
deficiência sobre alternativas de políticas convencionalmente desenvolvidas em nível
internacional, e mesmo nos casos em que estes representantes foram consultados, raramente
os documentos finais de políticas e programas refletiam suas principais preocupações e; (3)
substancial ausência de monitoramento e avaliação dessas políticas e programas, de forma a
considerar preocupações dos diversos grupos de pessoas com deficiências.
Para MacLachlan et al. (2018) a rota crítica para superação destas dificuldades é a do
empoderamento das pessoas com deficiência para fortalecimento de sua atuação política e de
seus aliados, incluindo o estabelecimento institucional de mecanismos e instrumentos que
interponham sua participação no desenvolvimento, monitoramento e avaliação das políticas,
por meio de organizações da sociedade civil representativas. Para esses autores as
organizações da sociedade civil ao representar as pessoas com deficiência assumem papéis
214
termos de formatos de execução, de modo que as mesmas atividades possam ser feitas por
estratégias e organizações distintas com foco no atendimento dos direitos dos cidadãos.
Além da distribuição desigual territorial de serviços para TA, comumente concentrado
em regiões urbanas e de maior densidade demográfica, Durocher et al. (2017) analisa outras
condições desiguais de acesso a TA no Canadá, mencionando também a condição de
ocupação da pessoa com deficiência (sendo que pessoas com empregos formais e militares
tendem a ter maior acesso) e limitações caso a pessoa já receba outros benefícios
governamentais, comum entre idosos. MacLachlan et al. (2018) ressalta também a maior
dificuldade de meninas e mulheres terem acesso a TA, apontando que a superação de
condições de deficiência ocorre por uma realização progressiva ao longo do tempo e tende a
sofre uma "domesticação" pela presença de outras discriminações existentes na sociedade.
Mas, entre das múltiplas condições que resultam em um acesso desigual a TA por
quem precisa, a desigualdade de renda, por sua transversalidade, tende a ser a mais
direcionada em termos de políticas. Cabe mencionarmos que, mesmo quando há políticas
direcionadas ao estabelecimento de programas de empréstimos para aquisição de TA, em
países de alta renda, como o caso dos EUA, análises desses programas demonstravam que,
embora estejam fazendo a diferença para muitas pessoas na possibilidade de compra de
recursos de TA, aproximadamente metade das pessoas que se candidatam não eram aprovadas
para o empréstimo (WALLACE, 2003). Se, por um lado, diante da quantidade de pessoas não
atendidas pelo programa, Wallace (2003) sugere que o financiamento de empréstimos não
pode ser a única solução para as necessidades de provisão de TA às pessoas com deficiência.
Por outro lado, podemos conjecturar que o acesso universal, com a ampliação substancial de
atendimento à população que precisa utilizar recursos de TA, requer a necessidade de
desenvolvimento de tecnologias de baixo custo, como indicada por MacLachlan et al. (2018).
Isso em razão de que, como argumentam MacLachlan et al. (2018), a maior parte das
lacunas e críticas no âmbito da política de TA acima exposta são semelhantes em contextos de
países de alta, média e baixa renda, contudo nos países com menores rendas, há desafios
adicionais, pois, em geral, a indústria de TA, quando existente, tem uma produção limita; há
poucos profissionais adequadamente habilitados para prestação de serviços; e, os sistemas
para prestação de serviços são mal estruturados. O que resulta que o fornecimento de produtos
assistivos é inadequado em termos de variedade, e aqueles disponíveis, ou são inacessíveis
quanto ao preço para a maioria da população, ou são de baixa qualidade (mal ajustados e
ajustáveis, e inadequadamente explicados) (MACLACHLAN et al., 2018).
217
Conforme dados do censo de 2010 (SDH/PR, 2012), 45,6 milhões de pessoas no Brasil
declararam ter, pelo menos, um tipo de deficiência (visual, auditiva, motora ou
mental/intelectual) em diferentes níveis de severidade, que equivale a 23,9% da população
brasileira. Destes, 8,3% apresentavam, pelo menos, um tipo de deficiência severa, sendo
3,46% com deficiência visual severa; 1,12% com deficiência auditiva severa; 2,33% com
deficiência motora severa; e, 1,4% com deficiência mental ou intelectual (SDH/PR, 2012).
Essa parcela da população está distribuída entre diferentes características de idade,
sexo, região, entre outras. A maioria (25.800.681) são mulheres (26,5% da população
feminina) e 19.805.367 são de homens (21,2% da população masculina), estando 38.473.702
dessas pessoas vivendo em áreas urbanas enquanto 7.132.347 vivem em áreas rurais
(SDH/PR, 2012). Apresentamos alguns desses dados sobre a distribuição da população
brasileira com, pelo menos, uma deficiência investigada no censo de 2010, conforme as
tabelas 15, 16, 17 e 18, respectivamente referentes a proporção por idade e tipo de deficiência,
por região brasileira, por nível de instrução e por nível de ocupação.
Tabela 15 – Distribuição percentual da população com pelo menos uma das deficiências investigadas
por Idade e Tipo de Deficiência no Brasil, censo 2010 (%)
Deficiência Deficiência Mental ou
Faixa etária Deficiência Visual
Auditiva Motora Intelectual
0 a 14 anos 5,3 1,3 1,0 0,9
15 a 64 20,1 4,2 5,7 1,4
Acima de 65 anos 49,8 25,6 38,3 2,9
Fonte: SDH/PR (2012).
218
De forma geral, observamos que são as pessoas idosos que vivenciam a maior
proporção de deficiências, corroborando a noção da deficiência como uma questão enfrentada
no curso da vida. Na tabela 16, verificamos que houve um acréscimo relevante no número da
população com deficiência no país entre os censos de 2000 e 2010 em todas as regiões,
estando distribuído em proporção relativamente similar entre as regiões, mas sendo o
Nordeste a região com maior proporção.
Tabela 16 – Proporção da população com pelo menos uma das deficiências investigadas por
Região no Brasil, censo 2000 e 2010 (%)
Região 2000 2010
Norte 14,7 23,4
Nordeste 16,8 26,63
Sudeste 13,1 23,03
Sul 14,3 22,51
Centro Oeste 13,9 22,50
Total (Brasil) 14,5 23,92
Fonte: SDH/PR (2012).
Tabela 17 – Distribuição percentual da população de 15 anos ou mais de idade sem ou com, pelo
menos, uma deficiência investigada por nível de instrução no Brasil, censo 2010 (%)
Pessoas com ao menos Pessoas sem nenhuma
Nível de instrução
uma deficiência deficiência
Sem instrução e fundamental incompleto 61,1 38,2
Fundamental completo e médio incompleto 14,2 21
Médio completo e superior incompleto 17,7 29,7
Superior completo 6,7 10,4
Não determinado 0,4 0,7
Fonte: SDH/PR (2012).
Em relação a ocupação, em 2010, havia 44,07 milhões de pessoas com pelo menos
uma deficiência em idade ativa, mas somente 20,4 milhões estavam ocupadas, entre estas a
tabela 18 demonstra que os homens tendem a ter maior probabilidade de conseguir uma
219
ocupação em relação a mulheres, e os que apresentam algum tipo de deficiência visual são
aqueles com maior nível de ocupação entre os demais tipos de deficiência. Bueno (2016)
também indicou que o nível médio de renda da população de pessoas com deficiência varia
entre “mais de ½ a 1 salário mínimo” (maioria entre deficiência motora e mental / intelectual)
e “mais de 1 e 2 salários mínimos” (maioria entre deficiência visual e auditiva.
110
Como no art. 23 das competências comuns da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios versa
sobre a garantia do cuidado com a saúde e a proteção social; no art. 7 que trata sobre os direitos sociais há a
prerrogativa da inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, proibindo qualquer discriminação
no tocante a salário e critérios de admissão; no art. 203 em relação à assistência social, há previsão da habilitação
e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária, e a garantia de
benefício mensal àquelas pessoas com deficiência que não possuírem meios de prover à própria manutenção ou
de tê-la provida por sua família; no art. 208 da educação aborda o direito ao atendimento educacional
especializado, preferencialmente na rede regular de ensino; no art. 227 quanto à criação de programas de
prevenção e facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos
arquitetônicos; e no art. 244 quanto à garantia de acessibilidade nos logradouros, edifícios de uso público e
veículos de transporte coletivo.
220
Nesta seção, procuramos fazer uma breve contextualização de como a promoção à TA,
em termos de planejamento de política, programas e configuração de ações particularmente no
âmbito da política de CT&I recente, com vistas a alcançarmos um cenário de conjuntura para
as ações na política de CT&I no governo estadual do Pará.
Inovação e Extensão Tecnológica para o Desenvolvimento Social, que visava "contribuir para
a solução de problemas sociais com a utilização de ferramentas de TA, trabalho e renda,
habitação, saneamento ambiental, agricultura familiar, educação, esporte e lazer" (MCT,
2010), em que foi prevista meta relacionada ao apoio a 80 projetos de pesquisa e
desenvolvimento de TA.
No entanto, no relatório do plano elaborado pelo MCT (2010), não há menção ao
centro de referência em TA (cuja criação somente se concretizou em 2012 no âmbito do Plano
Viver Sem Limite). E, no programa de apoio à pesquisa, inovação e extensão tecnológica para
o desenvolvimento social há breve registro exemplificativo de projetos de inclusão social
relacionados a uma fábrica de cadeira de rodas e a um Centro de Terapia Celular para estudo e
tratamento de pacientes com necessidades especiais, mobilidade reduzida e idosos, sem fosse
explicitada a expressão TA. Cabe esclarecermos que no período a FINEP havia lançando um
único edital específico de TA em 2010.
Em relação as Conferencias Nacionais de CT&I, até os registros de síntese das
conclusões e recomendações da 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação
em 2005 (MCT; CGEE, 2006) os termos de TA ou ajuda técnica111 não tinham sido
assinalados, foi somente na 4ª Conferencia em 2010 (MCT/CGEE, 2010), que a TA surge
como temática explicitamente citada, novamente pela proposta de criação de um Centro
Nacional em TA, visando a implementação de projetos de acessibilidade em escolas, espaços
públicos e meios de comunicação (por este objetivo se percebe uma clara ampliação da
justificativa anteriormente enquadrada no PACTI) e pela proposição de criação de um fundo
setorial próprio para financiamento de atividades de inovação social, tecnologia social e
assistiva.
Na Estratégia Nacional de CT&I (ENCTI) 2012-2015, no âmbito do setor prioritário
da C,T&I para o Desenvolvimento Social, especificamente na linha das "Tecnologias para
Inclusão Social" há o que consideramos um avanço de agenda na advocacy para TA, uma vez
que se tem a proposição de um programa específico (e não mais ações avulsas) no
planejamento da pasta de CT&I, denominado de "Programa de inovação em tecnologia
assistiva". Este programa é relacionado explicitamente ao esforço intersetorial do Plano
Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (PNDPD) “Viver sem Limite", em que, por
um lado, a atuação do MCTI teria contribuído para que a temática de TA no âmbito das
garantias de direitos das pessoas com deficiência ganhasse relevância nacional; e, por outro
111
No sentido relacionado à tecnologia assistiva de recurso para apoio às pessoas com deficiência.
222
nível de diretoria na fusão dos ministérios da CT&I e das comunicações, com uma progressiva
desarticulação de várias temáticas sob sua atribuição.
Fonseca (2009) relata que a temática de TA estava na agenda da SECIS, e seu fomento
foi operacionalizado em parceria desta com o CNPq e FINEP, mas até o período de 2009
considerava que os recursos envolvidos apresentavam uma baixa disponibilidade para a
temática, com ações descontinuadas e sem a devida articulação. Para Fonseca (2013), com a
vinculação ao PNDPD e a uma estratégia alinhada a noção de inovação tecnológica
empresarial, a temática de TA passou a assumir um novo papel no âmbito da política CT&I
para desenvolvimento social, com um aumento do volume financeiro dedicado a temática e
um maior destaque a suas ações.
Fonseca (2013) entende que, embora a noção de exclusão social que estava base para
agregação de temáticas de política de CT&I para desenvolvimento social permitisse a
inserção de diferentes temas tecnológicos como de tecnologia social, tecnologia digital (TIC
para inclusão digital) e TA em seu eixo, a trajetória de ações de inclusão digital e da TA
tendiam a uma perpetuação da lógica de desenvolvimento tecnológico existente, focado em
modelos de produção e desenvolvimento de países de capitalismo avançado e com menor
participação da sociedade civil, em comparação com as experiências vigentes de tecnologia
social (FONSECA, 2013). A seguir, olhamos em maior detalhe as ações de fomento a TA no
PNDPD e do Centro de Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva (CNRTA).
4.2.2 Plano Nacional de Direitos da Pessoa com Deficiência "Viver sem Limites" e as
ações a partir do Centro de Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva
O PNDPD foi instituído em 2011 pelo Decreto nº 7.612 com o objetivo de "promover,
por meio da integração e articulação de políticas, programas e ações, o exercício pleno e
equitativo dos direitos das pessoas com deficiência, nos termos da CDPCD". Assim, o plano
abrange tanto uma concepção intersetorial, via programas e ações envolvendo vários
ministérios do governo federal, quanto sua execução também por meio de descentralização de
atividades, via colaboração com Estados, Distrito Federal, Municípios, e com a sociedade.
O PNDPD foi concebido a partir do modelo social de deficiência com forte
colaboração do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CONADE),
instância superior de deliberação colegiada, no âmbito da pasta ministerial dos Direitos
Humanos (decreto nº 3.298/1999), com constituição paritária de representantes por órgãos da
administração pública federal e da sociedade civil (SDH/PR, 2014). Para buscar dar conta da
224
112
Denominações de ministérios e órgãos conforme 2014.
113
Antes do PNDPD, a maior parte dos centros de reabilitação que existentes no Brasil pertencia à Rede Sarah
de Hospitais de Reabilitação e à Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). Os CER visam
congregar práticas para reabilitação de tipos de deficiência (física, visual, auditiva e intelectual), sendo há
estipulado três tipos de credenciamento referente à CER II, III e IV, cujos números que indicam a quantidade de
tipos de deficiência tratados.
225
(SDH/PR, 2014). O terceiro eixo de inclusão social, onde as pessoas com deficiência já eram
definidas como público prioritário do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), o eixo no
PNDPD buscou fortalecer as ações compreendendo alterações nas regras do benefício de
prestação continuada (BPC) e criação do BPC Trabalho; a criação de Centros-Dia de
Referência enquanto espaços voltados para o acolhimento de jovens e adultos com deficiência
dependentes de cuidados, durante o dia para permitir que seus familiares trabalhem ou
estudem nesse período; e, a implantação de Residências Inclusivas, enquanto serviço de
acolhimento integral (SDH/PR, 2014). E o quarto eixo de acessibilidade, que contemplou
ações na área habitacional (unidades adaptáveis no programa Minha Casa, Minha Visa) e de
financiamento de produtos de TA, via condições de crédito especiais com juros subsidiados, e
redução de alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidentes sobre este
tipo de produto utilizado por pessoas com deficiência (SDH/PR, 2014).
Seja amplitude ações, programas e políticas abrangidas no PNDPD, seja pelo volume
de recursos alocados, este plano tem sido considerado como a maior política pública de
atenção às pessoas com deficiência até então desenvolvida no governo federal (BERSH, 2017;
BUENO, 2016). Uma das diretrizes do plano, conforme lei, era a promoção do acesso, do
desenvolvimento e da inovação em TA. O campo de TA desenvolveu uma transversalidade
com os quatro (4) eixos do plano, como no apoio e prescrição às pessoas com deficiência para
as atividades de reabilitação, na provisão de recursos de TA para as salas de recursos
multifuncionais nas escolas ou para os centros-dia de referência, e como objeto de
financiamento para aquisição pessoal. E, no decorrer do PNDPD ganhou tal visibilidade que,
em documento da SDH/PR (2014) sobre o plano, as políticas de estruturação e
desenvolvimento de pesquisa e TA foram configuradas como um dos eixos deste.
Mecanismo de governança intersetorial governamental específico para as políticas de
TA previsto no PNDPD foi o Comitê Interministerial de Tecnologia Assistiva, sob a
coordenação do MCTI, contava com a participação da SDH/PR, do MF, do MPOG, do MEC,
do MS e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Este comitê tinha
a finalidade de "formular, articular e implementar políticas, programas e ações para o fomento
ao acesso, desenvolvimento e inovação em tecnologia assistiva" (art. 12 da lei 7.612/2011).
Entre as ações no âmbito do TA destacamos a criação do Centro de Nacional de
Referência em Tecnologia Assistiva (CNRTA) no CTI Renato Archer por meio da Portaria do
MCTI nº 139 de 2012. O centro que já havia sido inscrito em planejamento anterior do MCTI,
enquanto demanda do campo de TA, tornou-se o núcleo articulador das principais ações e
226
programas nesta temática. Bueno (2016) realça diversos estudos114 e ações estruturantes
realizados no processo de implantação do CNRTA que incluíam, via método de roadmapping
tecnológico, identificar e alinhar os principais stakeholders em TA no país para elaboração do
Plano de Implantação do CNRTA, considerando-se os alcances transversais da temática no
PNDPD, que contemplava ações junto ao MS, MEC, SDH e MF. Em conjunto com essa
estruturação e alinhamento com foco para atendimento das metas do PNDPD, o CNRTA
também buscou identificar, estimular e institucionalizar núcleos de pesquisa e
desenvolvimento TA no país que pudessem dar suporte as ações nacionalmente de políticas
públicas, e fortalecesse o campo de pesquisa e desenvolvimento em TA, por meio de ações
colaborativas e interativas.
Neste sentido, foi articulada a Rede Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento em
Tecnologia Assistiva (RNPDTA), institucionalizada pela Portaria do MCTI nº 1.230, de
3/12/2013, agregando 54 instituições de pesquisa ou ensino superior. Conforme site da
RNPDTA (CTI, 2019), há 84 núcleos de pesquisa e desenvolvimento de TA compondo a
rede, atuando em distintas áreas de conhecimentos. Muitos destes núcleos foram instaurados
ou apoiados a partir de editais específicos para TA lançados, em particular o edital nº 84/2013
MCTI/CNPq. Contudo, cabe ressaltarmos que a distribuição destas instituições e núcleos no
território nacional é bastante desigual, seja por instituições (tabela 19), seja por núcleos
(figura 5).
De acordo com Bueno (2016), o programa de inovação em TA, com o fomento de
editais específicos, e a atuação do CNRTA ao estruturar o campo e articular a RNPDTA
trouxe um foco maior à temática de TA na agenda de pesquisa, com a disseminação do
conceito e o incentivo à pesquisa, visto que os pesquisadores não concorriam tão fortemente
por financiamento nos editais específicos para desenvolver suas pesquisas. Contudo, o autor
também indicava que nem todos os núcleos já apresentavam produtos de TA desenvolvidos e
disponíveis, o que demonstra que estes possuíam diferentes estágios de maturidade de
pesquisa e desenvolvimento.
114
Conforme Bueno (2016), a partir de informações via entrevistas com pessoas do CTI Renato Archer, vários
estudos no processo de implantação do CNRTA e mesmo outros realizados anteriormente a sua criação sobre os
cenários de desenvolvimento de TA, que incluíram visitas a centros de referência em TA na Alemanha,
Argentina, Espanha, EUA, Canadá, Chile, Itália e Suécia, foram realizados pelo ITS, financiados pelo CNPq.
227
Figura 5 – Mapeamento dos núcleos que compõem a Rede Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento
em Tecnologia Assistiva no Brasil
Cabe notarmos que, embora o PNDPD tenha expandido políticas e programas por
diversos domínios de política pública (educação, saúde etc.), o processo de formulação,
228
115
Almeida (2015) indica que em 2007 e 2008 também foram lançados dois editais de subvenção econômica
voltados para fomento à inovação em empresas brasileiras que, embora contemplassem um objetivo geral que
englobava diversas temáticas, entre estas estava a de tecnologia assistiva referente ao desenvolvimento de
equipamentos ou dispositivos para facilitar a execução de atividades da vida diária e laborais de pessoas com
deficiência, de tecnologia assistiva. Também identificamos que, em 2015, foi lançada chamada pública
MCTI/SECIS/FINEP/FNDCT - Viver Sem Limite - 01/2015 para apoio a projetos de pesquisa, desenvolvimento
tecnológico e inovação para atendimento às diretrizes do Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência
- Viver sem Limite, na qual tecnologia assistiva era um dos temas contemplados.
229
Quadro 17 – Chamadas públicas lançadas pela FINEP específicas a temática de tecnologia assistiva até 2018
Proponente Projetos Valor
Ano Chamada pública & objetivo Linhas temáticas
elegível aprovados aprovado
MCT/FINEP/Ação Transversal – Tecnologias Assistivas – 09/2005: a) Saúde Universidade
Projetos de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias que b) Mobilidade ou Instituição
Sem
2005 reduzam ou eliminem as deficiências física, mental, visual e/ou c) Comunicação de Ensino 25
informação
auditiva ou as limitações decorrentes dessas a fim de colaborar para d) Habilitação para o trabalho Superior e/ou
a inclusão social das pessoas portadoras de deficiência e dos idosos. e) Execução de atividades básicas. de Pesquisa
MCT/FINEP - Ação Transversal - Tecnologia Assistiva – 01/2010: Linha Temática 1: Métodos, técnicas e dispositivos Instituição
Projetos de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias inovadoras relacionados a Comunicação Alternativa ou Aumentativa Científica e
para inclusão social, melhoria da qualidade de vida e da autonomia (CAA) e uso de Tecnologias de Informação e Tecnológica
2010 de pessoas com deficiências, diagnóstico precoce, tratamento, Comunicação por pessoas com comprometimentos na (ICT) pública 11 9.221.413,82
reabilitação e prevenção de deficiências física, auditiva, visual, comunicação. Linha Temática 2: Equipamentos e ou privada
intelectual e múltipla métodos para teste e diagnóstico precoce de deficiências sem fins
auditiva e visual e para reabilitação. lucrativos
MCTI/SECIS/FINEP/FNDCT – Cooperação Empresa-ICT – a) Deficiências Visuais
ICT, pública
Tecnologia Assistiva – 01/2011: Projetos cooperativos entre b) Deficiências Auditivas
ou privada
Empresas Brasileiras e Instituições Científicas e Tecnológicas - c) Deficiências Físicas
sem fins
ICT para o desenvolvimento tecnológico e a inovação de produtos d) Deficiências Múltiplas
lucrativos
2011 assistivos voltados para pessoas com deficiência, pessoas idosas e 8 12.263.567,81
(empresas
pessoas com mobilidade reduzida, a fim de contribuir para sua
enquadradas
inclusão social, autonomia e independência e também visando
como
melhorar a competitividade das empresas brasileiras que atuam
intervenientes)
neste setor.
MCTI/FINEP/FNDCT - Subvenção Econômica à Inovação - Modalidades definidas a seguir: atletismo; basquetebol
01/2012: Subvenção Econômica a empresas brasileiras para o em cadeira de rodas; bocha; ciclismo; esgrima em
desenvolvimento de produtos inovadores, específicos para o cadeira de rodas; futebol de cinco; futebol de sete;
Empresas
2012 treinamento e/ou a prática de esportes paraolímpicos, que envolvam goalball; halterofilismo; hipismo; judô; natação; remo; 2 3.900.575,14
Brasileiras
risco tecnológico associado a oportunidades de mercado, a fim de rugby em cadeira de rodas; tênis de mesa; tênis em
promover a inclusão social das pessoas com deficiência. cadeiras de rodas; tiro com arco; tiro esportivo; vela; e
voleibol sentado.
MCTI/SECIS/FINEP/FNDCT – Cooperação ICT-Empresa – Temas: Desenvolvimento tecnológico de produtos
TECNOLOGIA ASSISTIVA – 01/2013: Projetos cooperativos assistivos (substituição de importações; e solução
ICT e
entre Instituições de Pesquisa Científicas e Tecnológicas (ICT) e inovadora); Pesquisa e/ou desenvolvimento tecnológico
2013 Empresas 5 6.837.050,26
empresas brasileiras, visando o desenvolvimento de tecnologias de produtos inovadores, incluindo métodos e técnicas
Brasileiras
voltadas para pessoas com deficiência, idosas e com mobilidade (CAA; Sistemas de Controle de Ambiente; Adequação
reduzida. Postural; Adaptações em Veículos; Esporte e Lazer).
Fonte: Adaptado pela autora a partir de FINEP (2018).
230
116
Para Almeida (2015) impacto no mercado de TA foi caracterizado quando o produto ou serviço desenvolvido
nos projetos financiados estivessem disponíveis para comercialização no mercado ou uso pelas pessoas com
deficiência.
231
Quadro 18 – Chamadas públicas lançadas pelo CNPq específicas a temática de tecnologia assistiva,
até 2018
Proponente Projetos
Ano Chamada pública & objetivo Linhas temáticas
elegível aprovados
MCTI-SECIS/CNPq Nº 84/2013
– TECNOLOGIA ASSISTIVA
Doutor,
Projetos de pesquisa sobre
vinculado a
tecnologia assistiva, Os projetos deverão
instituição de
notadamente oriundos de estar caracterizados
ensino superior
Núcleos de Tecnologia como pesquisa científica 13 para
ou de pesquisa
Assistiva da Rede Nacional de e tecnológica e Núcleos
pública ou
Núcleos de Pesquisa, relacionar-se com a consolidados
privada sem fins
Desenvolvimento e Inovação em classificação de
lucrativos ou a 18 para
Tecnologia Assistiva, com a tecnologia assistiva
2013 empresa pública, Núcleos
finalidade precípua de estabelecida nas
que execute emergentes
desenvolvimento e entrega de diretrizes da ADA,
atividades de
produtos ou serviços adotado pelo CAT e 31 para
CT&I,
tecnológicos voltados ao aplicado na Portaria Núcleos
obrigatoriamente
atendimento das necessidades de Interministerial nascentes
coordenador de
pessoas com deficiência, MF/MCTI/SDH nº.
um núcleo de
incapacidades ou mobilidade 362/2012.
tecnologia
reduzida, visando sua
assistiva.
autonomia, independência,
qualidade de vida e inclusão
social
CNPq/MCTIC/SECIS Nº
20/2016 - TECNOLOGIA
ASSISTIVA Os projetos deverão
estar caracterizados
Projetos de pesquisa sobre
como pesquisa científica
tecnologia assistiva, oriundos de Doutor,
e tecnológica e
Núcleos de Tecnologia vinculado a
relacionar-se com a
Assistiva já constituídos, com a Instituição
classificação de
finalidade precípua de Científica, 34 projetos
tecnologia assistiva
2016 desenvolvimento e entrega de Tecnológica e de (resultado
estabelecida nas
produtos ou serviços Inovação (ICT) preliminar)
diretrizes da ADA,
tecnológicos voltados ao pública ou
adotado pelo CAT e
atendimento das necessidades de privada sem fins
aplicado na Portaria
pessoas com deficiência, lucrativos.
Interministerial
incapacidades ou mobilidade
MF/MCTI/SDH nº.
reduzida, visando sua
362/2012
autonomia, independência,
qualidade de vida e inclusão
social.
Fonte: Adaptado pela autora a partir de CNPq (2018).
232
Foram realizadas três (3) pesquisas nacionais sobre TA117 executadas pelo ITS,
referentes aos períodos de 2005-2006 (1ª), 2007-2008 (2ª) e 2011-2013 (3ª). As pesquisas
tiveram seu levantamento de dados e informações orientados a dois propósitos: (1) identificar
e caracterizar organizações e projetos de pesquisa e inovação desenvolvidos no campo da TA,
para compreender o potencial de contribuição em termos de produção de conhecimentos,
produtos e/ou serviços para a inclusão social de pessoas com deficiência; (2) abrangência e
característica de resultados alcançados apurados, com vistas a avaliar políticas públicas no
campo e oferecer feedback para a formulação e implementação destas (DELGADO GARCIA
et al., 2017).
117
As duas primeiras pesquisas foram realizadas sob a denominação "Pesquisa Nacional sobre Tecnologia
Assistiva" (PNTA), e no livro a terceira passou-se a adotar a denominação de "Pesquisa Nacional de Inovação
em Tecnologia Assistiva" (PNITA-III), renomeando no livro de 2017 correspondente a esta pesquisa (2011-
2013) as pesquisas anteriores para esta nomenclatura.
233
118
No livro referente ao relatório desta terceira pesquisa (DELGADO GARCIA et al., 2017) é recorrentemente
explicitado somente o termo "inovação", considerando uma "concepção ampla" que incluiu desde atividades de
pesquisa, desenvolvimento tecnológico de produtos, serviços e processos, até a introdução de resultados destes
no mercado. Porém, entendemos que essa concepção ampla pode conduzir a uma indistinção entre atividades da
política de CT&I que, embora inter-relacionadas, podem ser conceitualmente diferenciadas, como exposto, em
pesquisa (que potencialmente inclui o âmbito científica), desenvolvimento tecnológico (que potencialmente
inclui fase iniciais de design de protótipos e fases avançadas de escalonamento de processos) e inovação (que,
pela orientação do Manual de Oslo da OCDE consistiria na agregação destes avanços para efetiva
implementação ou introdução de produtos, serviços e processos no mercado). Assim, apesar do sentido amplo
aplicado contemplar perspectivas como do Manual de Oslo em que a inovação apresenta etapas científicas,
tecnológicas, organizacionais etc., compreendemos que a diferenciação entre ciência, tecnologia e inovação
sejam relevantes na análise da política de CT&I, uma vez que uma crítica existente nesta política é sua contínua
ênfase sobre o alcance de resultados científicos e acadêmicos, e menor efetividade de resultados em inovação.
Portanto, optamos por usar a expressão "CT&I", em vez de resumir esse universo de distintas atividades no
termo inovação.
234
Conforme a questão geral, a maior parte dos projetos de TA teve a participação regular
do público-alvo (50,8%), um percentual menor de projetos teve participação esporádica
(38,8%), e 10,4% dos projetos não contemplou participação. No entanto, ao discriminar as
formas de participação, o resultado da pesquisa (disposto na tabela 22) indica que 15,4% dos
projetos caracterização a participação do público-alvo enquanto unicamente como objeto de
estudo, o que, na realidade, descaracteriza uma participação efetiva deste público ao significar
236
um papel passivo. Portanto, a PNITA conclui que 20,7% dos projetos de TA no país não
contemplaram a participação de pessoas com deficiência em seu escopo.
O maior percentual de tipo de participação foi referente a fase de testes (38,5%), o que
representa uma capacidade de influência mais restrita dos usuários ao design, que seria uma
modalidade mais próxima a consulta), visto que as decisões de desenvolvimento foram
tomadas pelos pesquisadores ou especialistas, de modo que ao usuário cabe testar um modelo
já definido de produto, serviços e sistema, dentro de uma proposta cognitiva já modelada, bem
como a propensão a alterações no projeto por parte da equipe técnica tende a ser em menor
extensão, uma vez que o comprometimento cognitivo e pragmático de termos de escolhas
técnicas e de finalidade, de tempo e de dedicação já ser elevado, passando a serem entendidas
como ajustes e correções, dificilmente importando em modificações nucleares no design. Por
fim, a participação ativa, em condições mais horizontais de oportunidades de influência no
processo de decisão, ocorreu em somente 12,6% dos projetos, em que o público-alvo foi parte
da equipe técnica.
Como visto na seção anterior, a recomendação de participação ativa das pessoas com
deficiência de projetos de TA se relaciona tanto ao processo de empoderamento e
engajamento deste público, quanto a melhoria na assertividade das pesquisas e adequação do
design de produtos, serviços e métodos aos seus usuários, reduzindo o risco de abandono do
recurso. Desta maneira, Delgado Garcia et al. (2017) sugerem a necessidade de uma reflexão
sobre a efetividade desta participação nos projetos de TA no país, de modo a potencializar
essa participação seja na governança das políticas, seja no desenvolvimento das pesquisas e
projetos.
Zulian e Zanetti (2015) alertam que a preocupação nacional expressa no PNDPD na
direção de uma mudança no cenário de acesso a TA pelo usuário brasileiro tem como uma das
diretrizes basilar à participação dos usuários nas pesquisas e desenvolvimentos de TA, de
237
119
Possíveis relações entre discursos são também denominadas como interdiscursividade na ADC, que
representa uma forma de análise sobre as diferenças relações que um discurso pode estabelecer com outros,
como expressando um sentido de oposição, de superioridade/inferioridade (relações de concorrência), de
colaboração, de busca de legitimidade, entre outras.
240
um amplo conjunto de necessidades não atendidas e não atendíveis via condições de mercado
atual, para qual soluções tecnológicas alternativas e plurais são requeridas. Assim, são
enfatizadas soluções de baixa intensidade tecnológica e de baixo custo, cuja provisão possa
ser realizada de forma flexível por arranjos alternativos, envolvendo possíveis parcerias com
organizações da sociedade civil relacionadas a garantia de direitos das pessoas com
deficiência.
Assim, as pessoas com deficiência e suas organizações são reconhecidas não somente
enquanto suas necessidades ou demandas de consumo, mas enquanto potencialmente
provedoras de conhecimentos, de propostas de soluções e de execução de atendimentos, ao
menos parcialmente, a estas necessidades. Este status confere uma relação mais horizontal da
participação dessas pessoas e suas organizações junto a pesquisadores, formuladores de
políticas ou executivos de empresas para efetiva coprodução de TA, incluindo a conformação
de uma agenda política de desenvolvimento tecnológico e de provisão.
De forma propositiva, partindo do quadro 19 do Programa de Certificação em
Aplicações da Tecnologia Assistiva da California State University Northridge, sugerimos
uma terceira concepção para provisão e desenvolvimento de TA, resultante de um
alinhamento entre o modelo social de deficiência e o discurso da CT&I orientada para a
sociedade constante no quadro 20.
No entanto, ainda que propomos esses alinhamentos que, hipoteticamente, seriam mais
compatíveis entre as orientações discursivas sobre deficiência e sobre CT&I (modelo médico
e discurso da C&T auto orientada; e modelo social com os discursos da CT&I orientada para
o mercado, por um lado, e da CT&I orientada para a sociedade, por outro lado),
reconhecemos que na prática tal confluência de orientações tende a ser mais diversa. Isto é,
embora entendamos que esses acoplamentos discursivos sejam possíveis e construídos em
práticas de política e pesquisa de determinados atores do campo de TA, o que por si já
resultaria em disputas discursivas neste, em particular entre uma concepção tecnológica-
ecológica e uma socialmente orientada, compreendemos que outros movimentos mais
complexos também estejam em dinâmica.
A partir da perspectiva da política de CT&I nacional, concluímos que, apesar da
ascensão da agenda da inovação tecnológica no âmbito do discurso CT&I orientada para o
mercado e da inserção marginal do discurso da CT&I orientada para a sociedade, o discurso
da C&T auto orientada não foi preponderantemente superado. Este permanece ainda como
orientação discursiva de muitos atores, seja em sua forma mais tradicional, seja como um
amalgama deste discurso com o de inovação tecnológica em ascensão, como discutimos no
capítulo 2.
Características do cenário de desenvolvimento de projetos de TA no Brasil, como
vistas nas PNITA, Almeida (2015) e Zulian e Zanetti (2015) são indicações de algumas dessas
vinculações da política de CT&I a uma orientação ainda centrada nos atores acadêmicos e
científicos e suas organizações típicas, com pouca abertura para participação de outros atores,
mesmo aqueles diretamente interessados e afetados (pessoas com deficiência), em termos
tanto quantitativos de projetos, mas principalmente em termos qualitativo da possibilidade de
construção mais horizontal de conhecimento e produtos.
Entendemos que as principais condições de contradições nos discursos e práticas de
TA no país podem ocorrer quando pesquisadores com trajetórias científicas atreladas a um
discurso da C&T auto orientada (notadamente vinculado a neutralidade científica,
determinismo tecnológico e cientificismo) entram no campo de TA e buscam aderir às
orientações do modelo social de deficiência, predominante no campo discursivo dos
movimentos pró direitos das pessoas com deficiência. As tensões e atritos na conformação de
práticas e acomodações de crenças entre uma orientação científica e tecnológica centrada na
academia, por um lado; e uma orientação sobre deficiência centrada no protagonismo da
pessoa com deficiência, por outro lado, são diversas e muito provavelmente resultam na
246
possibilidade de contradições. Como, apesar da participação das pessoas com deficiência nos
projetos e do direcionamento ao desenvolvimento tecnológico economicamente viável serem
diretrizes explícitas do CNRTA e da RNPDTA, tal oportunidade de participação seja por estes
próprios atores indicada como pouco efetiva e não termos encontrados levantamento de dados
específicos sobre a questão da acessibilidade econômica dos produtos desenvolvidos.
Chama nossa atenção que muitos trabalhos acadêmicos e diretrizes políticas de TA
discutam os diferentes modelos de deficiência, como aqueles citados na seção anterior, que
procuram explicitar e refletir sobre as crenças sobre deficiência e suas repercussões em termos
de abrangência e alcances das ações políticas e de desenvolvimento de TA. Mas, são mais
raros os trabalhos que discutem explicitamente as crenças sobre o processo de CT&I e suas
diferentes repercussões nestas mesmas ações de política e desenvolvimento de TA, como a
questão da necessidade de mudança na matriz epistemológica citada por Garcia (2014).
Compreendemos que tem havido um esforço de reflexão sobre a questão da deficiência, mas
pouco esforço de autorreflexividade sobre a relação entre ciência, tecnologia e sociedade
(CTS) pelos pesquisadores do campo.
Ao lado disso, observamos que possivelmente relações interdiscursivas também têm
sido estabelecidas enquanto estratégias para alcançar maior espaço de agenda pelo campo de
TA na política de CT&I, considerando o movimento dialético entre natureza constituída e
constituinte dos discursos. Um exemplo deste movimento está na aproximação interdiscursiva
entre o discurso de defesa a TA e acessibilidade para pessoas com deficiência e o discurso
pró-inovação empresarial na constituição e emergência à agenda do Programa de Inovação em
TA no âmbito da ENCTI 2012-2015 e do PNDPD, como também observado por Fonseca
(2013). O discurso de defesa aos direitos das pessoas com deficiência no âmbito da política de
CT&I tem expressado trajetórias de aproximações, afastamentos e tensões entre tanto um
discurso da CT&I orientada para a sociedade (principalmente relacionado as suas interações e
recomendações associadas a tecnologia social e articulações no âmbito da SECIS); quanto o
discurso da CT&I orientada para o mercado, sendo que neste, por sua posição mais
privilegiada na política, tem articulado maior acesso a alocação de recursos, contudo também
com as repercussões de desenho de fomento e práticas próprias deste discurso.
247
5.1 ANTECEDENTES
120
Website do núcleo disponível em http://www.nedeta.com.br/.
121
Conforme se pode verificar em: http://lattes.cnpq.br/8839751954613395.
122
Conforme website do núcleo sua denominação é Núcleo Amazônico de Acessibilidade, Inclusão e Tecnologia
(https://nucleoacessar.ufra.edu.br/).
123
Conforme se pode verificar em: http://lattes.cnpq.br/0376285432699286.
250
124
Não conseguimos identificar um website do NTA/IFPA, mas o instituto possui uma resolução nº 509/2017
CONSUP que regulamenta atividades de NTA na organização, com a previsão de existência de um NTA em
cada campus.
125
Conforme se pode verificar em: http://lattes.cnpq.br/5515487263661636.
126
O programa "Ciência sem Barreira" estava associado à Diretoria do CentrAlCiência do IFPA.
251
127
Edital MCT/CNPq/MEC/SEB/CAPES Nº 51/2010 - Seleção pública de propostas para realização de Feiras de
Ciências e Mostras Científicas.
128
Conforme anotação em caderno de campo de entrevista (não gravada) realizada com a pesquisadora Ana
Irene Alves de Oliveira.
129
O NEDETA atualmente é vinculado a Unidade Ensino-Assistência de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
(UEAFTO), que é habilitada como CER II, compondo a rede de atendimento via SUS, desenvolvido a partir do
PNDPD (Viver sem limite) e do Plano Estadual Existir.
252
200.000,00. Já a terceira modalidade era para o projeto de ações de TA, pelo qual poderia ser
implementada e sistematizada metodologia ou estratégia de TA que contribuísse para
aprendizagem, autonomia e/ou inclusão social de pessoas com deficiência. Nesta modalidade,
o valor máximo de propostas era até R$ 100.000,00.
Cabe mencionarmos que, o desenho deste edital é bastante semelhante aos moldes do
edital nº 006/2012 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
(FAPEAM)130, lançado em conjunto a Secretaria de Estado de C&T e a Secretaria de Estado
dos Direitos da Pessoa com Deficiência também do Amazonas, no valor de R$ 2.500.000,00,
no âmbito do Programa Estadual de Atenção à Pessoa com Deficiência "Viver melhor",
versão estadual do PNDPD daquele estado.
As diferenças principais que observamos entre este edital da FAPEAM e o lançado
pela FAPESPA se refere, por um lado, à abertura para a modalidade de projetos de ações de
TA que não havia no da FAPEAM, estando este mais restrito a concepção do produto
assistiva. Por outro lado, a FAPESPA não mencionava que o edital nº 010/2013 era resultante
de alguma ação articulada de parceria com outras secretarias integrante do Plano Existir, o
que, ao menos textualmente, a FAPEAM explicitou.
Feitas essa descrição inicial, procuramos organizar características expressas
textualmente no edital nº 010/2013, seguindo componentes de análise similares aos
selecionados na composição dos discursos da política de CT&I no capítulo, com vistas a
identificar algumas orientações discursivas.
130
Até o lançamento do edital nº 010/2013 pela FAPESPA, o CNPq ainda não havia lançado edital específico
para TA, a FINEP havia lançado quatro (4) editais específicos, porém com desenhos bem distintos, o mais
próximo em termos de linha temática e objeto geral seria a chamada nº 01/2011 (projetos cooperativos entre
Empresas Brasileiras e Instituições Científicas e Tecnológicas - ICT para o desenvolvimento tecnológico e a
inovação de produtos assistivos).
254
No âmbito deste Edital serão apoiados projetos que se enquadrem preferencialmente nas
seguintes linhas temáticas, definidas consoante o tipo de deficiência classificada no
Decreto Nº 5.296 - de 2 de dezembro de 2004 e conforme as categorias da Convenção,
adotada pela ONU, sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
Promulgado pelo Decreto 6.949, de 25/8/09. (FAPESPA, 2013, p. 5).
estabelecidos." (FAPESPA, 2013, p. 1, grifo nosso). Quanto por ser o proponente que
assumirá as responsabilidades relacionadas à coordenação da proposta de projetos e ações a
serem realizadas com várias citações no decorrer do edital, como no item 17.1 "Do
coordenador da proposta aprovada (pesquisador/inventor)" (FAPESPA, 2013, p. 1, grifo
nosso).
Outros atores mencionados se referem a: (i) equipe da FAPESPA, como na citação
relacionada a ações de seleção e avaliação, como em "A equipe técnica da FAPESPA
procederá ao enquadramento das propostas" e "A avaliação dos relatórios, parcial e final,
apresentados pelo coordenador do projeto, será realizada pela área técnica da FAPESPA"
(FAPESPA, 2013, p. 11 e 15 respectivamente); (ii) outros membros da comunidade de
pesquisa citados enquanto papeis de "Comitê de Avaliação e Seleção" (formado por
pesquisadores) responsável pela "análise e julgamento de mérito e relevância das propostas",
"equipe do projeto" e "bolsistas" (FAPESPA, 2013, p. 11, 11, 3 e 14 respectivamente) e; (iii)
o mercado também é um termo explicitado no edital, e compreendemos que pode ser inserido
como um ator configurado na política ao assumir um papel de mediador ou condicionante
pelo qual os produtos assistivos desenvolvidos chegariam (ou não) ao acesso das pessoas com
deficiência. Nesta perspectiva, podemos mencionar as seguintes citações ao mercado no
edital.
No item 8 "Exigências Metodológicas por Modalidade":
f) O projeto deverá atender a uma das linhas temáticas deste Edital, conforme descrito
no subitem 7.2, bem como indicar explicitamente o produto assistivo objeto da
proposta e sua relevância para o mercado de Tecnologia Assistiva; (FAPESPA,
2013, p. 8, grifo nosso).
condições de mercado, projetar o produto para ser relevante ao mercado ou ter impacto neste,
tornam-se critérios explicitamente importantes. Não há menção ou recomendação quanto ao
desenvolvimento de projetos de produtos ou protótipos de baixo custo ou economicamente
acessíveis, ou viáveis, a maioria das pessoas com deficiência, mesmo que seja reconhecido na
literatura e no movimento de TA, como no âmbito do CNRTA, as falhas de mercado no
atendimento da maior parte das pessoas que precisam destas soluções, como discutido na
seção anterior.
As Pessoas com deficiência também são citadas no edital com um sentido finalístico
das ações, como em:
A não menção das pessoas com deficiência nessa condição de sujeito-ação conduz a
uma perspectiva destas enquanto beneficiárias passivas do desenvolvimento tecnológico.
Corrobora com este entendimento, a questão que não há menção, recomendação de critério ou
exigência no edital em relação à participação de pessoas com deficiência, ou de associações
que as representem em qualquer etapa de ação da política, seja de formulação ou
concordância com o projeto, seja em sua implementação ou participação da equipe técnica,
seja de sua avaliação. A existência de previsões similares habilitaria um mecanismo
institucional para inserção destas pessoas ou de suas associações para participar do processo
de desenvolvimento, monitoramento ou avaliação da política, como proposto por MacLachlan
et al. (2018).
Esta configuração da pessoa com deficiência somente enquanto finalidade da política,
mas não habilitado textualmente enquanto sujeito, acoplado a esta um sentido de beneficiária
passiva, pode caracterizar uma forma de contradição com que Garcia (2014) se preocupava.
Embora o edital, no que se refere a conceitualização de deficiência e TA, se reporte
intertextualmente a conteúdos de enfoque da deficiência segundo o modelo social ou
biopsicossocial (CAT e CDPcD), quando adentra para o modus operandi da pesquisa e
desenvolvimento tecnológico ou da política de CT&I repete-se uma "receita" geral dos atores
convencionais (pesquisadores, inventores, mercado e burocracia). Por consequência, perde-se
de vista a inclusão e participação da pessoa com deficiência quanto à tomada de decisões que
afetam diretamente sua vida, caso próprio do desenvolvimento de TA. A nosso ver, pelo
menos textualmente perante o edital, tende ao mercado (em vez das próprias pessoas com
deficiência ou suas associações representativas) assumir papel de sinalizador ou mediador da
potencial demanda de TA pelas pessoas com deficiência, que estariam no papel de
consumidores.
Entendemos que o escopo priorizado pelo edital também apresenta nuances entre um
enfoque centrado na inovação em produtos assistivos (típico do discurso da CT&I orientada
para o mercado) e um enfoque finalístico de bem-estar para as pessoas com deficiência (típico
da CT&I orientada para a sociedade). A inovação guiada pelo mercado se configura como a
sequência imediata e de caráter necessário ao desenvolvimento tecnológico das modalidades
de projeto de produto assistivo e protótipo do produto assistivo previstos no edital e
correspondentes a reserva de 2/3 da alocação de recursos.
8.2.1 Nesta modalidade, o resultado final dos projetos contratados deve apontar para a
factibilidade do protótipo de produto assistivo ou do produto assistivo de tal modo que
259
científica), havendo o risco, assim, que os "meios" tornem-se os "fins" de fato do fomento e
da política.
No âmbito deste tipo de disputa discursiva, que interpretamos as tensões e
contradições no desenvolvimento de TA expostas por Garcia (2014), pelo qual ressaltamos a
necessidade de uma postura de autorreflexividade da comunidade de pesquisa sobre o seu
fazer científico-tecnológico e político. Uma vez que essas tensões, contradições e disputas
discursivas refletidas no texto, nem sempre são reconhecidas e tornadas claras pelos
pesquisadores, atores políticos dominantes da política de CT&I, enquanto resultante de um
processo coletivo de representação de mundo destes, o que por sua parte, exigiria uma
reflexão quanto a conformação de crenças e práticas sobre CTS de cada pesquisador.
A partir desta perspectiva de múltiplas orientações discursivas interagindo no edital nº
010/2013, e dos possíveis desafios às práticas de pesquisa e desenvolvimento de TA
engendrados, nossa análise seguirá para verificar os projetos selecionados e implementados.
Deficiências Físicas;
Cysm: um aplicativo mobile que auxilia Projeto de Ciência da 11/04/2014 a
7 Pesquisador 22.956,30 Deficiências UFPA Belém4
pessoas com deficiência da fala produto assistivo computação 11/04/2015
Intelectuais
Deficiências
Voxlaps: um vocalizador aberto para Projeto de Ciência da 11/04/2014 a
13 Pesquisador 24.473,49 Intelectuais; UFPA Belém
plataformas móveis produto assistivo computação 11/04/2015
Deficiências Físicas
Quadro 22 – Informações sobre resultados dos projetos aprovados no edital nº 010/2013 da FAPESPA
Código TA foi Como foi pensada a
do Modalidade Aplicado a Tipo de produto Resultados identificados disponibilizada para disponibilização/acesso do público-alvo
projeto público-alvo? (independentemente de seu alcance)
Projeto de
Mobilidade Disponibilização do software gratuita via
1 produto Software Software desenvolvido até a fase de prototipagem. Não
urbana internet
assistivo
Software e acionador em uso em núcleo especializado
Software e
Projeto de Educação e em TA. Disseminação do software pelo período de 2 a Acesso via rotina de atendimento por núcleo
aparelho,
2 produto tratamento 3 anos em lojas virtuais gratuitamente. Sim especializado. E, disponibilização do
prótese/órtese e
assistivo terapêutico Disseminação do acionador de baixo custo via oficinas software gratuita via internet.
dispositivo
realizadas para construção na universidade.
Projeto de
ações de Impressão gráfica do livro para distribuição
3 Educação Livro Protótipo do livro elaborado para impressão. Não
tecnologia a escolas
assistiva
Disponibilização da especificação e do
Projeto de Aparelho, esquemático do hardware, bem como do
4 protótipos de calculadoras montados e testados, com
4 produto Educação prótese/órtese e Não código fonte usado na programação da
elaboração de proposta de aula para aplicação.
assistivo dispositivo calculadora em licenças que permitem
reutilização e melhoria dos mesmos.
Software e
Projeto de Reabilitação e Em torno de 100 luvas de baixo custo confeccionadas e Sim, no âmbito de A luva (órtese) poderia ser credenciada para
aparelho,
5 produto tratamento de software para aplicação em atendimentos a estudo clínico (40 concessão enquanto instrumento de
prótese/órtese e
assistivo terapêutico pacientes encaminhados. pacientes). reabilitação via atendimento do SUS.
dispositivo
Disponibilização para download para uso
Projeto de
Software estabilizado disponibilizado para especializado por pesquisadores e
6 produto Educação Software Não
pesquisadores para testes e pesquisas aplicadas. professores ou transferência para empresa
assistivo
para suporte e comercialização.
Projeto de Comunicação Software em uso em núcleo especializado em TA e
Disponibilização do software gratuita via
7 produto Aumentativa e Software disponibilizado gratuitamente em loja virtual (Play Sim
internet
assistivo Alternativa Store).
268
No que tange aos projetos de ações de TA, todos estavam voltados a ações inclusivas
em escolas públicas e envolveram a realização de oficinas de formação com professores,
sendo que 2 (67%) alcançaram o uso proposto no dia-a-dia das atividades de aprendizagem,
embora com enfoques distintos, pois um se referiu a escolas de educação especializada com
ampla extensão de intervenção, envolvendo o âmbito do projeto político-pedagógico, e outro
correspondia a atividade específica e transversal em escolas de ensino regular, com salas de
recursos multifuncionais, com o aprendizado dos professores para elaboração de comunicação
alternativa. O terceiro projeto, apesar de realizar oficina com professores, previra a entrega de
material didático (livro) para aplicação junto aos alunos, o que não ocorreu por limitações de
prazo do projeto.
Uma característica comum entre a maioria dos projetos é que estavam voltados para
produção de TA de baixo custo e/ou desenvolvimento aberto e disponibilização livre, neste
caso particularmente de softwares. Dos projetos executados, 7 explicitaram preocupação com
enfoque de baixo custo ou economicamente viável, e 13 previram como principal estratégia
de disseminação da TA para acesso do público-alvo a disponibilização aberta/gratuita ou via
serviços públicos. Chamamos atenção para isso, pois, como mencionamos anteriormente, no
edital não havia direcionamento explícito para abordagens de baixos custos e a disseminação
conjeturada na sequência de desenvolvimento seria via mercado.
Dos 11 pesquisadores responsáveis por projetos deste edital que conseguimos
contatos, somente 4 (3 responsáveis por software e 1 por dispositivo) citaram a possibilidade
de transferência tecnológica do produto desenvolvido/em desenvolvimento a empresas em
entrevista ou em relatório técnico, mas até o final de 2018 nenhum tinha efetivamente feito ou
recebido algum contato nesse sentido, nem demonstraram ter informações sobre
sustentabilidade financeira ou atratividade do negócio. Destes 4, 2 tiveram produtos com
algum alcance de uso de pessoas com deficiência, ambos por meio de atendimento da rede
pública e um adicionalmente por disponibilização gratuita de software.
Deste modo, entendemos que, embora não havia exigência dos projetos de produtos
assistivos proverem recursos prontos para uso, esse enfoque havia sido previsto e foi
alcançado pela maioria dos projetos. Da mesma forma, apesar de não haver direcionamento
via edital a questão da viabilidade econômica ou baixo custo dos recursos de TA para que
sejam acessíveis efetivamente ao público-alvo, houve considerável conscientização e
abordagem dos pesquisadores aprovados sobre este enfoque. Por fim, por mais que tenha sido
textualmente explicitado a difusão dos produtos voltados a comercialização via mercado no
edital, os canais efetivos para os produtos que alcançaram alguma medida de uso foram por
270
meio de sua inserção via atendimentos em serviços da rede pública ou via disponibilização
gratuita. Embora não se descarta a possibilidade de transferência ao mercado para
continuidade ou oferta efetiva de produtos desenvolvidos, não foram feitas articulações neste
sentido, nem pelos pesquisadores contatados, nem pela FAPESPA.
Fazemos essas observações no sentido de indicar que, por um lado, a maioria dos
pesquisadores aprovados já estava sensibilizada por questões relacionadas ao
desenvolvimento de TA, no que tange a relevância do fator custo e acesso viável; por outro
lado, os canais de disseminação mais acessados ou permito efetividade por estes
pesquisadores foram via rede de atendimento público ou a disponibilização gratuita via
internet, no caso de softwares. De modo que, compreendemos que a não explicitação do
requisito de ser economicamente viável e os critérios de direcionamento de disseminação via
mercado no edital não refletia uma posição ou prática dos atores locais do campo de TA com
projetos aprovados, e nem afetou consideravelmente o desenho dos projetos por estes
propostos. Conquanto, a possibilidade de explicitação de requisitos de viabilidade econômica
e previsão de múltiplos canais de disseminação, inclusive a rede pública governamental (que
se demonstrou a mais efetiva aos produtos e ações desenvolvidas), não deve ser descartada
enquanto potencial orientação e planejamento de propostas futuras destes e de novos atores no
campo, embora saibamos que a configuração discursiva do edital envolve tanto uma
necessidade de legitimidade frente ao perfil de editais existentes no campo de política, quanto
disputas entre orientações discursivas da política de CT&I, em geral.
2017 foi lançado um novo edital de fomento estadual, o qual ainda em dezembro de 2018 não
havia resultado aprovado.
Também observamos que, na submissão do projeto, houve certa busca de articulação
entre alguns proponentes, estando ao menos 7 atuando como membros de outros projetos
aprovados. Entendemos que isso indique também que já havia uma certa visibilidade de
pesquisadores que atuavam no campo localmente, com interesses e competências inter-
relacionados.
Dentre os projetos aprovados, a pesquisadora Ana Irene Alves de Oliveira,
coordenadora do NEDETA/UEPA, foi a que estava inscrita na equipe de maior número de
projeto (projeto 2, 12, 13 e 14), embora não tenha tido projeto aprovado enquanto proponente.
Sobre a articulação de projetos em torno do NEDETA/UEPA, identificamos dois projetos
cujos proponentes eram membros do núcleo (projetos 12 e 14), além destes outros três
coordenadores indicaram ter parcerias firmadas com o núcleo para desenvolvimento de seus
projetos (projetos 2, 7 e 13). Esses três projetos eram da área da ciência da
computação/sistemas de informação, e indicaram que a articulação com o NEDETA iniciou
desde a demanda para produto, incluindo o suporte da equipe de fisioterapeutas e terapeutas
ocupacionais do núcleo em todas as fases de desenvolvimento (definição de requisitos, testes
de conceito e testes de usabilidade com o público-alvo). Tal articulação, assim, propiciou
interdisciplinaridade na execução dos projetos e o NEDETA atuou como articulador e
mediador junto ao público-alvo de atendimento, crianças com deficiência.
272
Quadro 23 – Informações e vínculos institucionais e associações de coordenadores de projetos aprovados no edital nº 010/2013 da FAPESPA.
Código Experiência Inscrito na Parceria em C&T Interagiu com Experiência
Perfil do Instituição & Área do
do Grupos de pesquisa (DGP/CNPq) anterior ao equipe de para execução do outros projetos posterior em
coordenador Unidade conhecimento
projeto projeto em TA? outro projeto? projeto? do edital? TA?
Grupo de Pesquisa em Computação
UFPA
Aplicada do Campus Universitário de
Campus de
Ciência da Tucuruí-UFPA; Laboratório de
1 Pesquisador Castanhal - Não Não - Não Não
computação Engenharia de Software-UFPA;
Faculdade de
Laboratório de Desenvolvimento de
Computação
Sistemas-UFPA; Neuromatika-UFPA
CESUPA
Alzheimer Group - CESUPA; Inovação
Coordenação em Ciência da
2 Pesquisador tecnológica e Inclusão social - UEPA; Sim Não NEDETA/UEPA Não Sim
Sistemas de computação
Tecnologias sociais - CESUPA
Informação
Grupo de Estudos e Pesquisas em
Educação Especial na Amazônia-UEPA;
UEPA
Infância, Cultura e Educação-UEPA;
Centro de Ciências (sem Sim (sem (sem
3 Pesquisador Educação Núcleo de Estudos e Pesquisas em Direito -
Sociais e Educação informação) (projeto 9) informação) informação)
à Educação-Educação Especial-
(CCSE)
UFSCAR; Rede Educação Inclusiva na
Amazônia-UEPA
Grupo de Estudos em Cognição e
Educação Matemática - UEPA; Grupo de
UEPA Pesquisa em Educação Matemática-
Centro de Ciências Ciência da UEPA; Grupo de Pesquisa em Sim UFRJ
4 Pesquisador Não Não Sim
Sociais e Educação computação Tecnologias da Informação e (projeto 5) (DOSVOX)
(CCSE) Comunicação na Amazônia-IFAP; Grupo
de Pesquisas em Ensino da Matemática e
Tecnologias-UEPA
Lab. Estudo do
Ciências da Movimento Humano-
UFPA Estrutura, função e disfunções corticais-
Saúde - UFPA; UEAFTO-
Instituto de UFRJ; NEUROMATIKA-UFPA;
5 Pesquisador Fisioterapia e Não Não UEPA; URE Demétrio Não Sim
Ciências da Saúde Neuroplasticidade e Comportamento-
Terapia Medrado-SESPA; e
(ICS) UFPA; Parkinson Group–UFPA
Ocupacional Instituto do Cérebro-
UFRN
273
Quadro 24 – Grupos de pesquisa no estado do Pará no DGP/CNPq com linhas temáticas de tecnologia
assistiva e projetos do edital nº 010/2013 da FAPESPA com coordenadores associados
Projetos com
Grupo de pesquisa Líder Área predominante Instituição coordenadores
associados
LabVIS - Visualização,
Bianchi Serique Ciências Exatas e da
Interação e Sistemas UFPA Projeto 13
Meiguins Terra
Inteligentes
Wiviane Maria Torres
Alzheimer Group Ciências da Saúde CESUPA Projeto 2
de Matos Freitas
131
Busca realizada no DGP/CNPq pela expressão "assistiva" para consulta em "linha de pesquisa", com status
certificado (atualizado e não-atualizado), e filtro para região norte e UF Pará.
276
(Sobre ter tido oportunidade de ter interagido durante a execução do projeto com outras
equipes de projetos do edital) Não, não, diretamente não. Isso até é uma falha, né,
precisa ter essa comunicação e troca de experiência. Mas para te falar a verdade, a gente
nem sabe onde nem quais foram os projetos, a gente tem os nomes e a proposta que sai
o resultado final no diário do governo do estado. Mas a FAPESPA fez em 2015 ou
2014, não, em 2016, desculpa, um evento para reunir a apresentação destes projetos que
eles iam ser encaminhados para Feira de C&T, é... de Tecnologia Assistiva, que foi em
novembro de 2016, foram três eventos ao mesmo tempo, foi o fórum de tecnologia
assistiva e outros eventos ligados ao governo do estado, do Plano Existir (...) aí meio
que foi só esse contato. (entrevista com o pesquisador de projeto).
(Sobre ter tido oportunidade de ter interagido durante a execução do projeto com outras
equipes de projetos do edital) Não... Não interagimos com outras equipes. Porque
tinham equipes que trabalhavam com outra temática e eu não procurei saber. E, eu
também acho que eu falhei nessa parte de encontrar, de procurar... para verificar quem
estava trabalhando na mesma área que o meu problema. (entrevista com o pesquisador
de projeto).
(Sobre ter interagido durante a execução do projeto com outras equipes do edital) Não,
infelizmente, eu acho que isso teria sido uma boa ideia. Na realidade, só houve um
momento final que eu achei muito interessante dessa interação, que foi um seminário
onde todo mundo apresentou os protótipos e produtos. Seria interessante, até porque,
por exemplo, a gente tinha equipamento que os outros poderiam ter usado e talvez
resolvido o problema de uma forma mais fácil, os problemas que eles propuseram.
(entrevista com o pesquisador de projeto).
Mudou algumas coisas que nós tivemos que aprender, então, por exemplo, o que nós
aprendemos: Não dá para desenvolver o software da tua cabeça, então, o que que a
gente aprendeu, tu tens que ir lá primeiro, e eles tem que gerar a demanda do software.
277
Assim, não é a criança que tem que se adaptar ao software, o software já tem que nascer
adaptado a realidade deles. (entrevista com o pesquisador de projeto).
Quadro 25 – Elaborações sintéticas da concepção, desenvolvimento e avaliação de produtos e ações de tecnologia assistiva em relação a interação com
pessoas com deficiência (PcD) e outras organizações a estas associadas
Parcerias com
Código
Enfoque sobre a concepção e formulação de 1 1 organizações relacionadas
do Enfoque sobre desenvolvimento do projeto Enfoque sobre teste e avaliação
proposta do projeto1 ao atendimento ou
projeto
interação com PcD2
UT José Alvares de
Havia desenvolvido um software colaborativo, Foram feitos alguns testes de uso do aplicativo
Tiveram apoio da UT José Alvares de Azevedo Azevedo de Educação e
para qual propôs implementar uma solução em fase de protótipo com pessoas com
1 para articular voluntários com deficiência visual Reabilitação para Pessoas
assistiva para pessoas com deficiência visual deficiência visual voluntárias da UT José
para fornecer requisitos. com Deficiência Visual
aplicada a mesma plataforma. Alvares de Azevedo.
(SEDUC)
Os requisitos do software e do acionador e cada Os testes de usabilidade dos produtos foram O NEDETA mantém via
Por meio da interação com um núcleo etapa de desenvolvimento destes recursos foi dirigidos por profissionais de um núcleo UEAFTO atendimentos
especializado em TA recebeu a demanda para concebido e realizado em conjunto com os especializado em TA junto a crianças e terapêuticos regulares com
2
aperfeiçoamento de software em uso, mas profissionais de um núcleo especializado em TA adolescentes com deficiência atendidos neste, crianças e adolescentes
defasado. que apresentava uma rotina de atendimento a acompanhados pela equipe da área da com deficiências e suas
crianças e adolescentes com deficiência. computação. famílias.
Secretarias de Educação
3 (sem informações por entrevista) (sem informações por entrevista) (sem informações por entrevista) dos 4 municípios do
contexto do projeto
Durante a interação entre docentes em um curso
O desenvolvimento baseou-se na análise de
de especialização sobre educação inclusiva foi Não foi possível fazer testes de usabilidade com
modelos disponíveis de calculadoras falantes,
identificado a não existência de calculadoras pessoas com deficiência, em virtude da parceria
4 como do projeto DOSVOX da UFRJ e de -
falantes com função de fração, proposto o com a UT José Alvares de Azevedo não ter sido
calculadoras comerciais, acrescentando-se
desenvolvimento de protótipos que pudessem efetivada no período do projeto
funções com frações.
atender alunos cegos que na universidade.
O laboratório historicamente trabalhava com
O software e o circuito eletrônico para acoplar
pesquisas com pessoas acometidas por AVC, e O estudo clínico envolveu originalmente50
na luva foram desenvolvidos pelos integrantes Pacientes encaminhados
foi identificado em publicações científicas que pacientes (40 completaram os atendimentos),
da equipe do Instituto do Cérebro na UFRN, pela UEAFTO-UEPA e
5 atividades estressantes dificultavam a cuja triagem e encaminhamento foi feito pela
enquanto a confecção da luva foi feita pela URE Demétrio Medrado da
reabilitação, de modo que a gameficação com a UEAFTO-UEPA e URE Demétrio Medrado-
equipe do laboratório de neuroplasticidade da SESPA
dataglove era uma solução proposta, mas o SESPA.
UFPA.
dispositivo no país tinha custo muito elevado.
279
Parcerias com
Código
Enfoque sobre a concepção e formulação de 1 1 organizações relacionadas
do Enfoque sobre desenvolvimento do projeto Enfoque sobre teste e avaliação
proposta do projeto1 ao atendimento ou
projeto
interação com PcD2
Integra o INCT em Comportamento, Cognição e
Ensino e desde 2012 começou o Foi realizado teste com alunos de uma turma em
O software é desenvolvido por docentes e
desenvolvimento do software educacional, fase de alfabetização de uma escola pública
discentes da faculdade da ciência da Escola regular pública
6 objeto da proposta. O software é baseado na local, para avaliação de aprendizado em perfil
computação, com assessoria de equipe da municipal.
metodologia de ensino ALEPP com mecanismos geral, sem testes específicos a pessoas com
faculdade de psicologia.
deficiência.
de interação lúdica (jogo computacional).
O NEDETA mantém via
Os requisitos do software e cada funcionalidade
Por meio da interação com um núcleo Os testes de usabilidade dos produtos foram UEAFTO atendimentos
foram concebidos conjuntamente por membros
especializado em TA recebeu a demanda para dirigidos por profissionais de um núcleo terapêuticos regulares com
7 da computação e da equipe do núcleo
desenvolvimento de software de CAA para especializado em TA junto a crianças e crianças e adolescentes
especializado em TA (fonoaudiólogas e
dispositivos móveis. adolescentes com deficiência atendidos neste. com deficiências e suas
terapeutas ocupacionais).
famílias.
Escolas da Rede Pública do
8 (sem informações por entrevista) (sem informações por entrevista) (sem informações por entrevista) município de contexto do
projeto
Historicamente o grupo de pesquisa atuava com Realizada diagnose com a participação de As atividades pedagógicas e aplicação dos
educação, em geral, e havia indicadores de professores e alunos com deficiência das materiais foram direcionadas para que os alunos
pesquisas anteriores de problemas de escolas, seguida de uma formação a todos os surdos e com deficiência intelectual
SEDUC, por meio das duas
aprendizado no EJA com alunos com professores. Os professores que se interessaram expressassem suas vivencias, sendo estas os
9 escolas de educação
deficiência, entre estes que as escolas em participar do projeto como voluntários pontos de partidas para aprendizagem. A
especializada.
especializadas não tinham projeto político- passaram a integrar a equipe. A proposta avaliações do projeto nas escolas foram
pedagógico específico para EJA com pessoas político-pedagógico e os materiais didáticos realizadas pelos professores voluntários com
com deficiência. foram desenvolvidos de forma participativa. assessoria dos pesquisadores do projeto.
Há 20 anos já trabalhava com TA, em órteses e
próteses. De sua experiência, identificava que
Várias fases de modelagem foram desenvolvidas
não havia disponibilidade de próteses de baixo
para prótese mecânica funcional pelo A prótese elaborada especificamente no âmbito
custo para amputação parcial de mão, tanto no Não informado em
10 inventor/pesquisador. E elaborados modelos do projeto foi entregue a pessoa com deficiência
mercado particular, quanto via SUS (disponível relatório3.
finais da prótese para entrega a FAPESPA e para uso em atividades diárias.
somente luva estética), embora houvesse
pessoa com deficiência com tal condição.
potencial de funcionalidade pelo resto do coto
de amputação.
280
Parcerias com
Código
Enfoque sobre a concepção e formulação de 1 1 organizações relacionadas
do Enfoque sobre desenvolvimento do projeto Enfoque sobre teste e avaliação
proposta do projeto1 ao atendimento ou
projeto
interação com PcD2
Hospital Universitário
11 (sem informações por entrevista) (sem informações por entrevista) (sem informações por entrevista) Bettina Ferro de Souza–
UFPA
O software foi desenvolvido em parceria com a
Necessidade de atualização do software usado O NEDETA mantém via
equipe do CTI Renato Archer e CNRTA, no
para atendimento de crianças com deficiência, UEAFTO atendimentos
âmbito das experiências de atendimento do
pois apresentava limitações para algumas Teste de campo e de usabilidade foram terapêuticos regulares com
núcleo. Foram feitas pesquisas em softwares
12 versões do Windows, devido a atualização desta realizados no NEDETA com profissionais crianças e adolescentes
similares e ao longo do processo de
plataforma. Bem como o uso em tablets e especializados e crianças com deficiência. com deficiências e contato
desenvolvimento foram realizados testes de
dispositivos móveis também foi identificado constante com suas
campo com o público-alvo, sendo considerados
como um facilitador e atrativo com as crianças. famílias.
feedbacks e sugestões destes usuários.
Os testes de usabilidade foram dirigidos por
Por meio da interação com um núcleo
profissionais de núcleo especializado em TA NEDETA, Abrigo Especial
especializado em TA recebeu a demanda para
O software foi desenvolvido com a participação junto a crianças e adolescentes com deficiência, Calabriano Unidade de
desenvolvimento de um software vocalizador,
13 do núcleo especializado, considerando a acompanhados pela equipe da área da Referência Especializada
visto que não havia vocalizadores disponíveis
construção de requisitos e funcionalidades. computação. Também foram realizados testes de em Reabilitação Infantil
para língua portuguesa com funcionalidades
uso em duas outras organizações que atuavam (URE-REI) e ONG Saber
completas de baixo custo.
no atendimento do público-alvo.
O pesquisador identificou que, embora as
As ações envolveram a avaliação do perfil Secretaria Municipal de
crianças com paralisia cerebral conseguissem
comunicativo das crianças com paralisia Educação de Belém, por
usar pranchas e recursos de CAA durante os
cerebral no contexto do projeto; capacitação Avaliada a adesão dos professores em meio da Coordenação de
atendimentos, havia barreiras para que
para todos professores das escolas do projeto implementar o uso de CAA em atividades de Educação Especial e de 5
14 utilizassem esses recursos na família e na escola.
sobre CAA; e assessoria com oficinas para aula, recebendo feedback e prestando assessoria escolas da rede municipal
Pelo contexto de ações inclusivas nas escolas,
construção e implementação de recursos de a estes pelo período do projeto. de educação que tinham
propôs atuar na disseminação de CAA de baixo
comunicação alternativa de baixo busto para uso salas de recursos
custo, para melhorar a comunicação dessas
em sala de aula para estes professores. multifuncionais.
crianças e adolescente com os professores.
Não informado em
15 (sem informações por entrevista) (sem informações por entrevista) (sem informações por entrevista)
relatório.
1
Embora houvesse informações parciais destas temáticas em relatórios técnicos, optamos por não fazer elaborações daqueles projetos em que não conseguimos entrevistar os
coordenadores, uma vez que vários pontos de abordagens estavam somente parcialmente contemplados nos relatórios. 2Como havia no roteiro do relatório técnico uma
questão específica sobre parcerias no projeto, sendo expresso em relatórios por 13 dos 15 projetos (modelo de relatório repassado aos projetos contratados no perfil
pesquisador), optamos por considerar as informações dos relatórios, complementadas quando o caso pelas entrevistas. 3Apesar de não haver a indicação de parceria no
relatório técnico, conforme informação em entrevista, o inventor/pesquisador já mantinha atendimento junto a pessoas com deficiência física em sua universidade.
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
281
Consideramos, assim, que ter experiência de interação prévia com pessoas com
deficiência (público-alvo), em geral, permitiu maior assertividade às equipes dos projetos para
desenvolvimento de produtos e ações de TA, não somente quanto a concepção de produto ou
ação viáveis e acessíveis ao contexto local, mas em relação a constituição de canais de
interação em todas as etapas de desenvolvimento até a articulação de meios para acesso desta
parcela da população aos produtos e ações desenvolvidos.
Cabe, contudo, ponderarmos que nenhum dos pesquisadores relatou a identificação de
demanda para os projetos aprovados diretamente a partir de associações ou organizações da
sociedade civil representativas de pessoas com deficiência, todas as identificações de
problema e propostas de projeto surgiram a partir de ambientes acadêmicos (unidades ou
grupos de ensino, pesquisa e extensão), exceto a proposta de um inventor, que, no entanto,
também não relatou qualquer interação com pessoas com deficiência ou associação a estas
vinculadas.
Desta forma, compreendemos que, embora a interação com pessoas com deficiência
tenha se mostrado uma realidade para parte dos projetos aprovados, e que entendemos ter sido
elemento relevante a efetividade de acesso a estas pessoas, não foram relatados canais bem
articulados de interação entre os grupos de pesquisa e desenvolvimento de TA e as
associações representativas de pessoas com deficiência, pela qual pudesse estabelecer relações
explicitamente mais horizontais de definição de agenda de pesquisa e desenvolvimento entre
grupos acadêmicos e organizações da sociedade civil, e criar condições em que as pessoas
com deficiência pudessem exercitar um engajamento maior. Somente um coordenador de
projeto, relatou em entrevista, que ao fazerem contato com uma ONG de assistência social e
reabilitação para pessoas com deficiência para testes e acesso de uso do software
desenvolvido, posteriormente manteve interações para desenvolvimento de novas demandas a
partir desta.
(essa demanda) Ela surge de pesquisa, de conversa, então a gente criou um certo laço,
não só com o NEDETA, agora a gente já tem uma certa parceria com o próprio abrigo, a
gente conversa muito com as TO do abrigo, né. Da ONG Saber a gente não conseguiu
manter um laço forte assim, mas do Abrigo Calabriano a gente conseguiu, então vai
surgindo, né, a gente vê o que elas fazem e quais são as necessidades. (entrevista com
pesquisador de projeto).
embora a maioria valorizasse sua participação (ou melhor seria aplicar o termo consulta) para
levantamento de requisitos e de testes de usabilidade. Cabe ressalvarmos que vários projetos,
principalmente aqueles associados ao NEDETA tinham como público-alvo crianças e
adolescentes, o que reconhecemos como uma condição limitadora a sua consideração formal
como membro na equipe do projeto. Em todo caso, a participação ativa de pessoas com
deficiência nas equipes dos projetos ou com voz e engajamento mais horizontal em relação
aos pesquisadores ou especialistas no processo de desenvolvimento foi uma lacuna na
descrição da execução dos projetos.
Portanto, ao contrário da preocupação com o desenvolvimento de produtos e ações de
baixo custo ou economicamente viáveis, que, embora omisso no edital, encontramos elevada
sensibilização dos pesquisadores para este direcionamento. A questão da participação ativa e
direta de pessoas com deficiência, além de omissa no edital, também é uma prática de pouca
aderência nos relatos dos pesquisadores, seja em documentos formais como nas propostas e
relatórios, seja nas entrevistas. Este ponto da participação ativa, fundamental ao modelo social
de deficiência, é ao nosso ver uma expressão de incongruência observada nos projetos
aprovados e na própria orientação discursiva do edital com este modelo. Lembrando que o
edital não estabeleceu mecanismos de governança garantidores desta participação em nenhum
nível do fomento público, seja no âmbito dos projetos de desenvolvimento tecnológico, seja
no âmbito de política pública no domínio da CT&I.
Em conjunto com os desafios da interdisciplinaridade, a prática da participação de
outros atores sociais afetados nos/pelos projetos, para além dos pesquisadores e especialistas,
permanece como pouco efetivada no contexto da política de CT&I, que se mantém associada
a práticas centradas nos cientistas (típicas do discurso da C&T auto orientada) mesmo em
projetos comprometidos com a superação de assimetrias sociais e inclusão da pessoa com
deficiência de forma mais autônoma e independente na vida social.
No entanto, ainda neste tema ressaltamos que, ao nosso ver, dificuldade maior a tal
participação está no próprio processo de política pública de CT&I, visto que, apesar da crítica
a falta de participação efetiva de pessoas com deficiência nos projetos aprovados, estas foram,
em alguma medida, consultadas em fases de requisitos e, principalmente, de testes. Mas, se
passarmos à perspectiva ao processo decisório específico da política de CT&I, estas ou suas
associações representativas não tiveram oportunidade de participação direta. Uma vez que a
pauta emergente de TA entra no processo já bastante institucionalizado em termos de práticas
da política de CT&I, cuja visão dominante permanece sobre os atores da própria comunidade
pesquisa. Assim, perante esta visão, pesquisadores de TA são os atores vistos enquanto
283
público total, tem tido seu processo dominado pela comunidade pesquisa, principal ator
interessado, em particular, em sua faceta policy for science (DAGNINO, 2007; DIAS, 2009).
A terceira dificuldade está no próprio desafio da intersetorialidade. O PNDPD Viver
Sem Limite (bem como o Plano Existir) reconheceu que assegurar direitos a pessoas com
deficiência implicava em uma ação pública intersetorial, envolvendo pelo menos, os quatro
domínios âncoras: educação, saúde, assistência social e acessibilidade. No entanto, cada
domínio de política desenvolveu mecanismos de financiamentos, governança e relações
intergovernamentais, incluindo descentralização, próprios de suas trajetórias. Isso implica que
a inserção de recursos de TA na política de saúde seguirá passos e arranjos institucionais
distintos de sua inserção na política de educação e em outras políticas, conduzindo a uma
considerável complexidade de construção interinstitucional, dada a transversalidade da TA.
passado mais de um ano. Além disso, o valor investido/orçado nestes dois editais é
relativamente pequeno frente a outros investimentos realizados pela fundação.
O reconhecimento desta posição marginal é mencionado por um dirigente da política
de CT&I estadual ao indicar que a demanda pelo fomento a TA não chegou aos processos
decisórios por meio dos dirigentes das maiores instituições acadêmicas e de pesquisa local.
O que eu percebo nesse meu tempo de governo. Eu nunca vi nas reuniões nenhum
representante das instituições de ensino superior pautar como prioridade tecnologia
social ou tecnologia assistiva. Não é prioridade das instituições de ensino superior.
Então, editais, por exemplo, na área de tecnologias sociais ou tecnologias assistivas
decorrem muito da sensibilidade de quem está a frente do processo, e muitas vezes da
coragem de lançar um edital desses, porque quando você lança um edital para
tecnologias assistivas, ao mesmo tempo que uma parte da comunidade acadêmica
comemora, talvez a maior parte reclame. Então, há uma queixa que os recursos estão
indo para uma área, mas os recursos deveriam ir para outra área, porque outra área é
mais importante, porque se produz mais, porque existem pesquisadores de ponta em tais
lugares. (entrevista com dirigente da política de CT&I estadual).
Figura 6 – Rede de relações entre núcleos de tecnologia assistiva cadastrados na RNPDTA e unidades de vínculo de coordenadores de projetos do edital nº
010/2013 da FAPESPA
6.1.1 Tecnologia apropriada como uma proposta de primeira geração da C&T para
inclusão social
conhecimentos junto aos atores sociais locais (concebidos como usuários), que implicassem
em uma apropriação tecnológica que proporcionasse que fosse efetivamente adotada e,
engendrasse um processo autossustentado de desenvolvimento tal como ocorre na tecnologia
convencional (DAGNINO; BRANDÃO; NOVAES, 2004).
Neste ponto, uma contribuição crítica relevante, segundo Dagnino, Brandão e Novaes
(2004), corresponde ao aporte da teoria da inovação e seus questionamentos sobre o modelo
linear de inovação, pois passou a reconhecer a necessidade de interação dos atores sociais
alvos no processo de inovação. Diante disso, seria como pouco realista admitir que
pesquisadores e engenheiros (que compartilham valores e objetivos próprios de um cenário de
compromisso com uma intensidade tecnológica cada vez maior e critérios de eficiência e
qualidade de vida a partir da cultura dominante de países capitalistas centrais) pudessem
produzir tecnologia apropriada sem que considerassem procedimentos e critérios técnicos
profundamente enraizados em sua formação (que caracterizam as tecnologias convencionais),
com vistas a atingir uma assertividade de concepção tecnológica em múltiplos critérios
(científicos, técnicos, econômicos, sociais, culturais etc.) que atendesse as especificidades das
distintas comunidades focais (DAGNINO; BRANDÃO; NOVAES, 2004).
Por sua vez, apesar de voltada a objetivos de desenvolvimento e inclusão social, a
concepção de tecnologia apropriada assumia uma postura adaptativa da tecnologia
convencional, cujo enfoque tecnológico estava em questões centradas na noção de produto,
em detrimento de um olhar mais crítico ao processo, o que implicava em duas limitações:
articular dinâmicas de geração e difusão tecnológica semelhantes à concepção dominante da
tecnologia convencional, conduzindo a baixa assertividade às necessidades e condições das
comunidades alvos; e, subestimar processos locais necessários de adoção, apropriação e
difusão tecnológica, por certa expectativa que a transferência e o emprego da tecnologia
alternativa (enquanto produto) por si pudesse engendrar uma transformação social no contexto
em que esta opera (determinismo tecnológico) (DAGNINO; BRANDÃO; NOVAES, 2004).
Neste cenário, Thomas, Juarez e Picabea (2015) concluem que a implementação de
tecnologias apropriadas, que nas décadas de 1970 e 1980 se converteram em políticas
públicas e projetos de intervenção em vários países, inclusive fomentado por agências
internacionais, por vezes tendeu a, paradoxalmente, aprofundar diferenças sociais (que
pretendia superar ou, ao menos, reduzir) entre grupos dominantes e grupos precarizados, pela
tendência a imposição cognitiva e tecnológica daqueles sobre estes. A partir de 2000, emerge
uma nova onda de movimentos para promoção da inclusão social pela C&T, em que se situa a
TS.
299
demandas para este tipo de solução tecnológica em suas diversas políticas públicas sociais, e
participarem da construção destas soluções em conjunto com os atores a serem beneficiados.
Contudo, apesar de partirem do modelo interativo, há diferenças entre o processo de
inovação baseado na abordagem de sistemas de inovação, que caracterizaria os moldes da
tecnologia convencional atual (alinhado ao discurso da CT&I orientada para o mercado), e o
processo proposto de TS dentro deste marco analítico-conceitual, que estaria alinhado a um
discurso da CT&I orientada para a sociedade: o primeiro processo tem como lócus normativo
e instrumental as empresas, as quais assumem um papel de instância de provisão de
tecnologia baseado em critérios tecnocientíficos, financeiros, de produção e culturais
predominantes das elites em países centrais contemporâneos; o segundo processo, referente à
TS, ao voltar-se a grupos que sofrem exclusões sociais e ficam, portanto, à margem do
primeiro processo, compreende que a inclusão social requer a inserção destes grupos em todo
o processo de desenvolvimento, desde a identificação de prioridades de atendimentos
(necessidades prioritárias) e concepção de possíveis soluções.
Neste cenário, múltiplos lócus podem ser articulados ao processo inovativo de acordo
com a organização social do público-alvo, como, por exemplo, a própria comunidade, uma
associação de moradores ou um empreendimento solidário. O deslocamento do lócus
convencional (empresa com sua estrutura hierarquizada e ambiente de ênfase competitiva) de
produção tecnológica para loci alternativos implica também na diversidade e maior
horizontalidade entre atores sociais envolvidos (e seus valores e interesses) e entre
conhecimentos populares, tradicionais e científicos articulados.
Dinâmica similar também se aplica ao processo de difusão da inovação, Dagnino,
Brandão e Novaes (2004) indicam que, como o processo de difusão ou transferência de uma
tecnologia para outra empresa toma o contorno de um novo processo de inovação para a teoria
de inovação, o processo de disseminação de TS também adquire moldes correspondente,
sendo denominado no âmbito do movimento da RTS de reaplicação. Cada reaplicação de uma
TS é, portanto, como um processo de desenvolvimento tecnológico específico, que embora
tenha como ponto de partida a ideia da TS anteriormente concebida, combina-se com aspectos
próprios do contexto sociotécnico em que será disseminada, considerando-se o ambiente e as
relações entre os atores locais participantes (DAGNINO; BRANDÃO; NOVAES, 2004).
Neste sentido, um conceito relevante dentro deste marco de TS é o de adequação
sociotécnica. O conceito advém do entendimento da tecnologia como uma construção ou um
conjunto sociotécnico, negando, assim, as proposições de relações causais monodirecionais
entre mudança técnica e mudança social (determinismo tecnológico ou determinismo social),
301
A partir desta perspectiva da teoria crítica, Dagnino, Brandão e Novaes (2004) irão
defender que o marco analítico-conceitual de TS deve abrir a possibilidade de pensar as
escolhas tecnológicas entre os diferentes grupos sociais e submeter seu processo de
desenvolvimento e disseminação a controles mais democráticos. Neste aspecto, tanto é
aportado uma orientação à dimensão processual do desenvolvimento e disseminação
tecnológica, quanto à necessidade de participação do público a ser beneficiado nesta.
Nesta linha, Dagnino (2014) argumenta que o desenvolvimento de TS configura-se em
um processo de concepção coletiva que integra diferentes elementos: atores sociais (com
valores e interesses) e recursos (cognitivos, econômicos, políticos, ambientais etc.) com
características e competências distintas. A combinação desses elementos ao longo de um
período conduz a estabilização de arranjos híbridos em que elementos tecnológicos e sociais
(sociotécnicos) estão indissociavelmente misturados, formando um "tecido sem costura"
(DAGNINO, 2014).
Ao considerar esta acepção sociotécnica da tecnologia, a noção de adequação
sociotécnica insere-se no âmbito de TS com o objetivo de adequar a tecnologia convencional
(ou conceber alternativas a partir de conhecimentos sobre estas), aplicando critérios
suplementares referentes aos valores sociais, econômicos e políticos do público-alvo
beneficiário, de modo a conformar uma TS alinhada a estes últimos. Para Dagnino, Brandão e
Novaes (2004) essa combinação de critérios emergente conformaria o novo código
sociotécnico (alternativo ao código convencional) pelo qual a tecnologia convencional seria
desconstruída e reprojetada, resultando na TS.
Dagnino, Brandão e Novaes (2004) e, posteriormente, retomado Dagnino (2014),
propõe sete (7) diferentes modalidades em que esta adequação sociotécnica pode ocorrer, de
acordo com um sentido crescente de complexidade e adensamento de conhecimentos na
direção da mudança técnica que inicia no simples uso da tecnologia em contexto distinto,
passando pela apropriação tecnológica, pela revitalização ou reprojetamento de máquinas e
equipamentos, pelo ajuste de processo de trabalho, pela concepção de alternativas
tecnológicas, pela incorporação de conhecimento científico-tecnológico existente, e chegando
a incorporação de conhecimento científico-tecnológico novo.
Ao enfocar a adequação sociotécnica em empreendimentos de economia solidária e
autogestionários, Dagnino, Brandão e Novaes (2004) indicam que esta se caracterizaria pela a
aplicação de critérios suplementares aos técnico-econômicos usuais da tecnologia
convencional (projeto para empresas com organização hierárquica tradicional, de ênfase de
controle da gestão sobre trabalhadores e de circuitos competitivos de mercado) para
303
tais arranjos de apoio a P&D sejam do interesse de empresas locais, diante da estrutura de
mercado e da direção da política econômica, as respostas das empresas têm sido
extremamente tímidas a considerar dados da PINTEC e outros estudos citados como (Pereira,
2005; Velho, et. al., 2005).
Entendemos que esse argumento de Dagnino e Bagatolli (2009) se posiciona enquanto
abrir um questionamento em relação a exequibilidade da orientação discursiva da política de
CT&I, a favor de um escopo, por um lado, mais finalístico da política aos problemas sociais
locais e nacionais (afastando-se da ênfase a escopos "meio" excessivos da policy for science
do discurso da C&T auto orientada); por outro lado, mais plural em termos de públicos a
serem atendidos na agenda (afastando-se da ênfase a empresa como centralidade da política
no discurso da CT&I orientada para o mercado). O que, ao nosso ver, expõe incoerências
sobre a natureza predominantemente utilitarista e agregativa da concepção de justiça social na
política de CT&I enquanto estratégia de desestabilização das orientações discursivas
dominantes.
Assim, compreendemos que a partir do marco analítico-conceitual de TS estabelecido
há a proposição que o atendimento efetivo de grupos sociais vulneráveis ou em desvantagem
requer não somente o direcionamento de parte do esforço de CT&I para um determinado
público, que seria uma alteração somente parcialmente distributiva na agenda política. Mas,
há a necessidade de uma mudança qualitativa na forma de produzir e disseminar CT&I, ou
seja, na forma estabelecida das relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). Neste
sentido, ao contrário da concepção da tecnologia apropriada, este marco de TS assume uma
ruptura de práticas sociais dominantes (que incluí o corte discursivo) no campo de pesquisa e
da política.
Nesta perspectiva, Dagnino (2009) indicou, como uma segunda frente de ações para a
promoção de TS, atividades no que se refere ao aprofundamento dos estudos sociais na C&T
e na educação em CTS no campo da docência, pesquisa e extensão, inclusive por meio de
capacitações, como suporte a reorientação discursiva de membros da própria comunidade de
pesquisa. De modo a, para além do enfoque baseado na construção coletiva de conhecimento
(que em si abrange questões básicas, mas ainda relevantes sobre conceitos de neutralidade da
ciência e determinismo tecnológico), avançar em outras temáticas relacionadas a esta
reorientação, a partir de um novo marco de relações entre CTS, na direção de práticas de
interdisciplinaridade, de escopo sobre a relevância social da C&T, e de conexões entre
diferentes saberes e conhecimentos na sociedade.
306
Em relação aos atores responsáveis pela elaboração das políticas sociais, Dagnino e
Bagatolli (2009) direcionam a concepção de estratégias sobre a atuação intersetorial da CT&I,
em particular da TS, com vistas a fortalecer um sentido de science for policy para setores
como saúde, educação, meio ambiente, e assistência social para uma agenda dos grupos
sociais em desvantagem. Uma agenda intersetorial nesta direção ainda se mantém
praticamente latente no domínio da CT&I, como argumentado pelos autores, seja porque parte
substancial da agenda da CT&I responde a demandas da policy for science, seja porque outra
parte tem se dirigido a esforços de apoio à inovação tecnológica em foco em empresas,
mesmo na ausência de uma política industrial estruturada nesta direção e do estabelecimento
de práticas de intersetorialidade correspondentes.
A construção de práticas de intersetorialidade entre a política de CT&I e outras sociais
apresenta desafios de interação e convergência (SERAFIM, 2008). Tais desafios são tanto
relacionados a própria política de CT&I, pelo seu insulamento e pouco articulação com outros
atores sociais destas políticas fins, perante domínio interno de seu ator político principal
(comunidade de pesquisa), frente a que as ações acima comentadas buscam atuar. Quanto nas
políticas sociais fins, em que Dagnino e Bagatolli (2009), em consonância com Serafim
(2008) apontam haver grande escassez de pessoal qualificado para implementar ações na
direção de tal convergência, uma vez que suas concepções de CTS estão, em geral,
comprometidos com visões de neutralidade da ciência e determinismo tecnológico, e
conduzem a operacionalização de serviços a partir de concepções de tecnologias
convencionais.
Desta forma, o desenvolvimento e aplicação de TS, fundamentado neste marco
analítico-conceitual, como base para políticas de inclusão social requer a construção de
práticas de articulações intersetoriais entre a política de CT&I e políticas sociais, por si, não
estabelecidas no domínio até o momento. Bem como, a introdução de processos de
reorientação discursiva seja junto a comunidade de pesquisa, como ator predominante na
CT&I, seja de atores sociais nas políticas sociais (movimentos sociais, servidores públicos de
diversas formações profissionais, e sociedade em geral). Cabe mencionarmos que esta
reorientação envolve considerável complexidade, visto alcançar uma revisão de práticas
abrangentes na política (incluídos aspectos acessórios do sistema de crenças, como os
formatos e regras de instrumentos de seleção e implementação e processos de avalições), e no
campo de intervenção da pesquisa, como antes indicado.
Relacionada as implicações de tais visões abrangentes dos desafios para
implementação de TS enquanto soluções efetivas para inclusão social e políticas públicas,
307
Quadro 26 – Matriz de dimensões para análise de tecnologia social, conforme Dagnino (2014)
Conjunto Dimensões
Tipo de produto (bem/serviço e grupo social direcionado)
Descrição Sistema de propriedade dos meios de produção (privado, coletivo, público)
Características do processo de trabalho
Participação de pesquisadores no desenvolvimento
Grau de interação dos pesquisadores
Participação de usuários no desenvolvimento
Conhecimento
Grau de interação com conhecimentos tradicionais ou ancestrais
Balanço entre conhecimentos tradicionais e científicos
Dinâmica de aprendizado
Contribuição para cadeias produtivas (criar, adensar, complementar)
Sustentabilidade
Grau de integração/distância da economia formal
econômica
Potencialidade de conformação de um sistema sociotécnico autônomo
Sustentabilidade Modo como a TS afeta o meio ambiente (degrada, recupera, grau de intensidade)
ambiental Impactos...
Características da TS em relação a práticas culturais dos usuários/comunidade
Características da TS em relação a autogestão
Sustentabilidade Características da TS voltadas a potencializar a emancipação/empoderamento dos
cultural usuários
Características da TS em relação a questões de gênero, raça/cor, classe, idade,
deficiências...
Potencial para obter apoio e fomento (direto ou indireto) ao sistema tecnológico
Sustentabilidade
Grau de apoio de pesquisadores
política
Grau de apoio de outros segmentos e movimentos sociais
Existência de tecnologias alternativas para resolução do problema a que a TS se dispôs
Alternativas a abordar (seja de tecnologias convencionais ou outras TS)
tecnológicas Possibilidade de desconstrução da tecnologia convencional
Relação com modalidades de adequação sociotécnica (verificar referência)
Entorno sociotécnico em termos de limites econômico, político, gradiente tecnológico,
Entorno regulatório/mercado
sociotécnico Possibilidade de compatibilização entre vantagens cooperativas, necessidades e
demandas.
Elementos que explicam o sucesso (funcionamento) ou fracasso (não funcionamento)
Dinâmica da TS
sociotécnica Marco tecnológico (frame) em que se baseia a construção de problemas e soluções
Grupos sociais relevantes e modo de interação/participação no desenvolvimento da TS
Fonte: Adaptado pela autora a partir de Dagnino (2014).
310
de uma posição discursiva mais reformista, como sugerido por Vasen (2016) no que tange a
noção de inovação social.
Ao analisar a literatura sobre negócios sociais, Comini (2016) identificou três
perspectivas principais. Segundo a autora, a primeira de origem europeia se relaciona a uma
corrente da economia social e da dimensão coletiva que se centra em atividades de
organizações da sociedade civil em torno do associativismo e cooperativismo, em que
prevalece o termo empresa social.
A segunda perspectiva, de origem norte-americana, surge de um movimento de
criação de unidades ou expansão de organizações privadas que buscavam exercer atividades
de geração de renda, sob a lógica do mercado, para apoiar ações da organização da sociedade
civil. Conforme Rosolen, Tiscoski e Comini (2014), embora este fenômeno tenha surgido nos
EUA como uma alternativa de sustentabilidade financeira para ONG, de forma que não
dependessem somente de doações e subsídios governamentais, houve uma expansão do
modelo para organizações privadas com finalidades lucrativas, seja para embasar programas
de responsabilidade social corporativa, seja para constituir-se enquanto oportunidades
híbridas de geração de renda e negócios com impactos positivos socialmente132.
Por fim, a terceira perspectiva, emergiu em países ditos em desenvolvimento, em que
se enfatizam iniciativas de negócios sob a lógica do mercado (que entendemos advir já de
uma certa influência da perspectiva norte-americana), aplicadas ao objetivo de redução da
pobreza e exclusão social, com expressiva experiência de microcrédito do Grameen Bank em
Bangladesh (COMINI, 2016; YUNUS, MOINGEON; LEHMANN-ORTEGA, 2010).
Para Petrini, Scherer e Back (2016), a construção analítica-conceitual de modelos de
negócio voltados a alcançar impacto social, embora possam articular diferentes
nomenclaturas, relaciona-se a proposição básica de geração de valor social (relacionada a
superação de problemas sociais percebidos e atingir melhorias da qualidade de vida na
sociedade) a partir de estratégias e modelos de negócios privados, tendo como base transações
de mercado (geração de valor econômico), de modo a assegurar a viabilidade e
132
Embora reconhecemos que a perspectiva europeia de economia social seja relevante na discussão de origens
teóricas e de experiências práticas que conduziram à concepção conceitual e analítica que veio emergir no
empreendedorismo social e negócio social, entendemos que este campo específico de empreendedorismo e
negócio social tem tendido a uma trajetória mais próxima a que Comini (2016) identifica como a perspectiva
norte-americana, inclusive no desdobramento de desenvolvimento posterior em países em desenvolvimento, com
o foco estando mais sob modelos de negócios com base na lógica de mercado e a partir de conceitos de
empreendedorismo (que predomina sob cooperativismo) e inovação com influência de uma literatura
neoschumpeteriana e da economia da inovação. Diferentemente, iniciativas mais próximas da corrente de
associativismo e cooperativismo europeu no país tem adotado denominações relacionadas a empreendimentos
solidários (e não sociais) de forma a demarcar sua influência maior da economia solidária.
312
sustentabilidade financeira ao longo do tempo. Portanto, consoante a visão adota por Barki et
al. (2015), que apesar de haver diferenças de termos e considerações conceituais entre estes, a
noção em comum em torno de empreendedorismo e negócio sociais está na existência de
alcançar prioritariamente um propósito social, de modo financeiramente sustentável em
termos de transações de mercado.
Para Rosolen, Tiscoski e Comini (2014), empreendedorismo social baseia-se em
iniciativas que objetivam a geração de valor social (introdução de inovações de produtos,
serviços, processo ou método que gerem transformação social), por meio de atividades que
operam na lógica do mercado (geração de ganhos financeiros). Estas iniciativas podem
ocorrer no setor privado (organizações com finalidades lucrativas) ou terceiro setor
(organizações sem finalidade lucrativa), ou nas chamadas organizações híbridas (ROSOLEN;
TISCOSKI; COMINI, 2014).
Comini (2016) corrobora com a compreensão que empreendimentos sociais são
organizações formalmente constituídas que buscam solucionar problemas socioambientais a
partir de mecanismos e relações de mercado. A autora acrescenta que, em termos empíricos,
esses empreendimentos foram oriundos tanto de ONG que procuraram formas alternativas de
geração de receita, por meio da prestação de serviços ou comercialização de produtos; quanto
da atuação social de empresas, que promoveram programas ou criaram unidades de negócios
específicas para atender segmentos sociais em desvantagem ou em processos de exclusão. No
entanto, atualmente, com a disseminação conceitual destes novos modelos de negócio, são
identificados (e mesmo podemos entender fomentados) a concepção de novos negócios já
iniciados a partir desta demanda híbrida de atender a necessidades relevantes que parte da
população não tem acesso, por meio de mecanismos de mercado (COMINI, 2016).
O conceito de negócio social surge por Yunus, Moingeon e Lehmann-Ortega (2010)
como uma concepção de organização híbrida, que combina características de organizações
empresariais e organizações da sociedade civil. Conforme proposta destes autores um negócio
social teria a estrutura organizacional é basicamente de uma empresa com finalidade lucrativa
(maximização de "lucro financeiro"), porém seu objetivo principal com o lucro alcançado é a
sustentabilidade do objetivo social direcionado pela atividade, de modo que deve ser
constantemente reinvestido no negócio (maximização do "lucro social"), por meio de redução
de preço aos beneficiários, expansão do alcance do negócio ou melhoria deste, não havendo
distribuição de dividendos.
Contudo, esta restrição de distribuição de dividendos defendida por Yunus, Moingeon
e Lehmann-Ortega (2010) não é uma posição conceitual consensual na temática, e sim vista
313
como um dos contornos conceituais possíveis no campo (BARKI et al. 2015; PETRINI,
SCHERER; BACK, 2016). De modo que, o campo sobre negócios sociais (e negócios com
impacto social) se mantém mais fluído na direção abarcar modelos de negócios em um
continuum que abranja o que Comini (2016) denominou de lógicas com ênfase no mercado
(finalidade primária, cadeia de valor, estrutura de governança e sustentabilidade financeira
similares ou mais próximas ao funcionamento de uma empresa) até lógicas com ênfase no
social (similares ou mais próximas de organizações híbridas ou sem fins lucrativos).
Essa fluidez permite uma amplitude nos formatos organizacionais e modelos de
negócios concebidos como social ou de impacto social de maneira que envolvem desde
formatos empresariais, seja de empresas específicas a um determinado objetivo social, seja de
empresas tradicionais que criam unidade para atendimento de um segmento social, como
mencionam Petrini, Scherer e Back (2016), até formatos mais afins as organizações da
sociedade civil. Tal fluidez analítico-conceitual tem consequências em relação ao papel
desempenhado pelos beneficiários nos modelos de negócios e no desenho de atividades e
resultados realizados.
Ao olhar sobre a trajetória de emergência do campo de estudos sobre
empreendedorismo social e negócio social, Barki et al. (2015) traçam quatro principais temas
de debates. Os dois primeiros referem-se à conceituação e aos dilemas e acomodações quanto
à natureza híbrida de objetivos sociais e empresariais (lucrativos), sendo estes os mais
desenvolvidos nas pesquisas e publicações até então, alcançando certa maturidade (BARKI et
al., 2015). Os outros dois são temas indicados pelos autores enquanto prospectivos ao avanço
do campo, relacionados à inovação social e à avaliação do impacto social, que tem ganhado
centralidade nos debates, mas que ainda requerem amadurecimento conceitual e
metodológico.
A inovação social e o impacto social dos negócios sociais estão relacionados entre si, e
versam sobre questões relevantes no papel dos atores sociais (empreendedores, investidores e
beneficiários) na articulação do processo de ação e política pública, particularmente no que
tange aos seus papéis no desenvolvimento de conhecimento e tecnológico a solução de
problemas sociais, associado no âmbito da política de CT&I.
Como indicamos, nesta posição discursiva há uma inserção predominante do termo de
inovação social, a qual, por um lado, tem maior incidência na literatura internacional
(lembrando que o termo tecnologia social enquanto objeto de política de CT&I emerge no
Brasil); e, por outro lado, o termo inovação em si possui considerável proximidade teórica e
discursiva com a área de administração de empresas.
314
Entretanto, como Thomas, Juarez e Picabea (2015) apontaram este termo também
apresentava a maior diversidade de propostas de abordagens conceituais entre aquelas
concepções que buscavam dirigir um enfoque da CT&I à inclusão social. Assim,
corroborando, em certa medida, com a indicação de Barki et al. (2015) como a necessidade de
amadurecimento conceitual.
Comini (2016), reconhece que inovação social é um termo polissêmico, mas emprega
sua conceituação associada à criação de soluções novas (inovações) para necessidades sociais.
Em sentido similar a conceituação ampla adotada por Barki et al. (2015) que processos de
inovação social corresponde à implementação de novas ideias para desenvolver meios de
melhorar a sociedade. Há um entendimento comum entre estes autores que os negócios
sociais requerem inovações sociais, enquanto um tipo de inovação diferenciada da inovação
tecnológica tradicional aplicada aos negócios tradicionais ("não sociais"), todavia as
características específicas em que este processo de inovação social deve se constituir é
compreendida como um tema ainda a ser amadurecido, como destacado anteriormente.
Compreendemos que uma dificuldade desta definição do processo de inovação social
aplicável está na própria fluidez da conceituação de negócios sociais. Petrini, Scherer e Back
(2016) indicam que organizações que objetivam alcançar impacto social, ao solucionar
demandas associadas a problemas sociais, o podem fazer tanto pela oferta de produtos e
serviços que atendam a necessidades de populações carentes e a um preço acessível; quanto
ao incluir os indivíduos ou grupos em desvantagem nos processos em si de produção destas
soluções tecnológicas (PETRINI, SCHERER; BACK, 2016).
Essa amplitude de possibilidades de formas de atuação inclui, por exemplo, estratégias
relacionadas à inovação de produtos e serviços para a base da pirâmide (PRAHALAD;
HART, 2002; THOMAS; JUAREZ; PICABEA, 2015), mais associadas a um
desenvolvimento tecnológico convencional, no sentido de centrado nos mecanismos e
interações próprios da P&D empresarial e a expansão de negócios de grandes corporações a
populações de baixa renda, assim o beneficiário é predominantemente visto enquanto
consumidor a ser incluído133. Bem como, ações de fomento ao empreendedorismo em entre
membros de comunidades locais, nas quais estes serão os atores protagonistas do processo de
desenvolvimento de produtos e serviços134, havendo uma maior aproximação com orientações
de desenvolvimento tecnológico a partir da participação dos próprios beneficiários locais e de
seus saberes, como proposto no marco analítico-conceitual de TS a partir dos estudos CTS.
133
Este modelo de negócio social é o que Comini (2016) classificaria como de ênfase à lógica de mercado.
134
Este modelo de negócio social é o que Comini (2016) classificaria com de ênfase à lógica social.
315
Comini (2016) reconhece a existência desta diversidade nos negócios sociais e, mesmo
adotando um recorte de análise somente ao produto da inovação enquanto resultado
inovativo135 (não foram examinados como se desenvolveram os processos inovativos em si),
verificou consequências dos desenhos de negócios nos tipos de inovação e impactos sociais
gerados136. A autora examinou que negócios sociais classificados por ela como de ênfase à
lógica de mercado tenderam a apresentar mais inovações de produto (foco maior na ação de
consumo) e terem o impacto social direcionado em termos quantitativos (capacidade de ganho
de escala e replicabilidade). Enquanto que, negócios sociais classificados como de ênfase à
lógica social tenderam a apresentar mais inovações organizacionais (processos e metodologias
de trabalho e organização, que corresponde a preocupação com o orgware mencionado na
subseção anterior) e terem o impacto social direcionado em termos qualitativos
(multidimensionalidade na melhoria da qualidade de vida e empoderamento de determinada
comunidade ou grupo social carente).
A partir da caracterização de desenvolvimento tecnológico dos estudos CTS, podemos
considerar que os negócios sociais classificados com ênfase à lógica de mercado tendem a
desenvolver tecnologia em moldes mais convencionais, alterando-se o público-alvo, o que
estaria na concepção reformista de Vasen (2016). Portanto, também apresentam preocupações
de impacto social de ênfase quantitativa, uma vez que o enfoque do problema está centrado
em corrigir o não atendimento de parte da população, ou seja, uma mudança de foco sem
considerar a necessidade de uma mudança no modo como (qualitativa) as tecnologias vêm
sendo desenvolvidas (sem alterações substanciais no sistema tecnológico e suas práticas
predominantes).
De outra forma, aqueles negócios sociais classificados com ênfase à lógica social
tendem a reconhecer que a mudança de foco do desenvolvimento tecnológico (a partir da
concepção de tecnologia enquanto construto sociotécnico) implica necessariamente em
abranger uma mudança também no processo de desenvolvimento tecnológico, pela inclusão
social dos beneficiários incorporar-se desde o processo de concepção de soluções aos
problemas da sociedade que lhe afetam.
135
Comini (2016) adotou uma lente analítica voltada ao produto (resultado) da inovação, por meio da análise da
solução em termos de originalidade (solução nova para o usuário, contexto ou mercado); tipo da demanda social
não atendida; e, intencionalidade primordialmente social do inovador.
136
A noção de impacto social refere-se à geração de valor social, que Comini (2016) considerou estar presente
seja em termos de ampliação de capital físico (aumento de renda e acesso a bens e serviços), de capital humano
(educação e capacitações, promoção da cidadania e direitos humanos), e de capital social (redução dos custos de
transação em comunidades e aspectos tangíveis e intangíveis de um aumento de laços sociais e maior densidade
destes em uma sociedade).
316
Nesta perspectiva, entendemos que o enfoque de negócios sociais sobre uma ênfase
social de mudança no processo de desenvolvimento tecnológico aproxima-se da orientação
discursiva de TS a partir do marco analítico-conceitual dos avanços no campo de CTS
(subseção anterior). No entanto, o enfoque sobre uma ênfase de mercado para inovação em
produtos (como também o é da tecnologia apropriada) aproxima-se de uma orientação
reformista a partir do discurso da CT&I orientada para o mercado, em que o lócus da
inovação permanece centrada em um formato de uma organização empresarial ou próximo a
este (organizações híbridas).
A partir de um marco conceitual da noção de sistemas de inovação, também há a
presença de mecanismos fomentadores aos negócios sociais similares àquele como
abordagens relacionadas ao desenvolvimento de chamados ecossistema para negócios sociais
(BARKI et al. 2015; COMINI, 2016), contemplando incubadoras, aceleradoras, fundos de
investimos, apoio de agências governamentais e organizações de C&T para apoiar
empreendedores sociais.
Assim como, nesta posição discursiva emerge com maior preocupação com questões
relacionadas a valorização de um efeito escalável para o ganho de volume das soluções
tecnológicas (replicabilidade), como uma extensão de impactos sociais destas, divergindo (e
em certa medida pressionando) a posição sobre a reaplicabilidade, enquanto uma ação que
privilegia o caráter de adequação sociotécnica no contexto local de aplicação da solução.
As diferentes orientações discursivas que vimos nesta seção formam o que
consideramos um quadro propositivo das principais posições discursivas em disputa em torno
da política de TS sintetizadas no quadro 27. A lógica proposta segue a noção de que a
emergência da agenda de uma CT&I para inclusão social, particularmente em torno do
desenvolvimento de tecnologias para grupos sociais vulneráveis ou em desvantagens sociais,
mobilizou atores políticos de distintas afiliações discursivas, que buscam agir no processo de
política pública de forma mais coerente a sua orientação original.
317
Quadro 27 - Proposição de posições discursivas no processo da política de tecnologia social no domínio da CT&I
Empreendedorismo social e inovação social Tecnologia social
Componentes Tecnologia apropriada
a partir de mecanismos de mercado a partir dos avanços no campo CTS
Baseado no determinismo tecnológico, a Tecnologia, em geral, de baixo custo, que pode Tecnologia desenvolvida pela interação de
tecnologia apropriada é uma solução incorporar inovações incrementais ou disruptivas, conhecimentos com a comunidade ou grupo
Concepção de
tecnológica de baixo custo, simples e para desenvolvida com foco em segmentos sociais em social beneficiado, seja da concepção do
tecnologia
escala reduzida a partir de uma trajetória desvantagem não atendidos adequadamente pelo problema a ser enfrentado, seja da adequação
tecnológica madura. mercado. sociotécnica e reaplicação.
Modelo interativo focado na organização empresarial Modelo interativo focado na comunidade ou
Modelo de inovação Modelo linear
ou híbrida grupo social beneficiado
Principais produtores
Cientistas e diferentes atores sociais por meio de
de conhecimento e Cientistas Cientistas, engenheiros, empreendedores
redes interacionais e conexões de saberes
tecnologia
Empreendedor, cientistas e consultores especialistas,
Cientistas, governo ou agências de
Protagonistas da aceleradoras e incubadoras de negócios sociais, Comunidade, governo, ONG, incubadoras de
financiamento (internacionais, filantrópicas,
política governo, fundos de investimentos de impacto social ou empreendimentos solidários e populares
multilaterais)
empresas via ações de responsabilidade social
Falhas de mercado em relação a exacerbadas Processos de exclusão sociais são estruturais na
Devido a pobreza em determinados contextos, desigualdades econômicas e sociais existentes fazem sociedade, de modo que a inclusão social e
pessoas não tem acesso aos avanços de com que segmentos e grupos sociais em desvantagem produtiva efetiva deve perpassar a inclusão de
Enfoque do problema desenvolvimento tecnológico existentes, não sejam atendidos com produtos e serviços grupos sociais em desvantagem em processos
sendo necessária uma adaptação deste para adequados, sendo necessário direcionar esforços de democratizantes em múltiplas dimensões,
viabilidade de oferta soluções tecnológicas e de modelos de negócios para inclusive no desenvolvimento de soluções
atender estes públicos-alvo tecnológicas a problemas em que são afetados
Construção sociotécnica de soluções a partir do
Produção de tecnologia de baixo custo, em Inovação que promova solução a problemas sociais
contexto e conhecimento locais, que empodere
Enfoque de solução escala e simplicidade adequada para (geração de valor social) e que seja financeiramente
os membros da comunidade enquanto agente
atendimento de necessidades básicas sustentável (geração de valor econômico)
capazes de aperfeiçoar e reaplicar
Beneficiário enquanto receptor da
Visão do grupo-alvo Beneficiário enquanto consumidor Beneficiário enquanto produtor ou coprodutor
transferência tecnológica
Cooperativismo ou associativismo
Estratégia de Top-down via projetos de intervenção para Negócio social via organização empresarial ou híbrida
(empreendimento solidário com propriedade
implementação desenvolvimento (propriedade privada).
coletiva)
Disseminação
Transferência de tecnologia Escalonamento e replicabilidade Reaplicação e adequação sociotécnica
tecnológica
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
318
Assim, mesmo que, em geral, adotando explicitamente o termo TS, aqueles afiliados a
um discurso da C&T auto orientada tenderão a adotam orientações de práticas associadas à da
tecnologia apropriada; aqueles afiliados ao discurso da CT&I orientada para o mercado
tenderão a aderir a práticas de empreendedorismo e negócio social como orientação a
inovação social; e, aqueles afiliados ao discurso da CT&I orientada para a sociedade, tenderão
a assumir práticas vinculadas ao marco analítico-conceitual de TS a partir dos estudos CTS.
Estas diferentes orientações discursivas implicam em distintivas práticas de CT&I e de
política, que examinaremos mais especificamente no próximo capítulo em relação ao processo
de política estadual de TS no Pará. A seguir buscamos contextualizar algumas das iniciativas
de fomento a política de TS no governo federal.
Nas reuniões das regiões Nordeste e Norte, houve menções específicas ao termo de
tecnologia apropriada.
tecnologia social é ainda uma área desconhecida, e pouco valorizada dentro do atual
contexto de entendimento da C&T, principalmente porque exige organização da
sociedade civil, responsabilidade social da empresa e a municipalização da sociedade,
incluindo o poder público de diferentes níveis. (MCT; CGEE; ABC, 2002, p. 327).
Estimular os municípios a ter a variável C&T como questão importante no seu dia-a-
dia, enfatizando a parceria com universidades e centros de pesquisa para o
desenvolvimento de tecnologias sociais; (MCT; CGEE; ABC, 2002, p. 205).
Deste modo, podemos corroborar que o tema emerge de discussões de atores sociais
associados à ONG e aos governos locais, não comumente frequentes nos processos decisórios
da política de CT&I. Embora estes atores tivessem usado especificamente o termo de TS, nos
textos de apresentação do tópico na edição dos registros é retomada a expressão de tecnologia
apropriada, posicionando as ONG como elementos fundamentais de sua difusão. Bem como,
no texto da introdução ao volume sobre as plenárias é mencionada a expressão inovações
sociais (até então não utilizada), posicionando as ONG como fontes destas. Tais indicações
consideramos que contextualizam distintas significações que eram dadas a emergência da
temática de TS, a partir da leitura de outros atores da CT&I, como os redatores responsáveis
por estas partes.
Inovação não é uma atividade que tenha lugar apenas em empresas, estabelecidas ou
nascentes. O Terceiro Setor, como segmento organizado da sociedade para o
atendimento de demandas que nem o setor público nem o mercado suprem com
eficiência, é uma fonte de inovações sociais. É, também, exemplo claro da vontade de
traduzir C,T&I em soluções para os problemas da sociedade brasileira, bem como em
melhoria da qualidade de vida da população. Uma sessão da Conferência foi
especialmente dedicada a este tema, não apenas por sua relevância atual, mas,
igualmente, pela importância crescente que promete ter na estruturação da sociedade e
da democracia brasileiras. Inserir, cada vez mais, a discussão do papel e da relevância
da Ciência, Tecnologia e Inovação no Terceiro Setor nas preocupações da comunidade
científica e tecnológica é um desafio para a próxima década que a Conferência assinala
e essa Memória preserva. (MCT; CGEE; ABC, 2002, p. xvi).
Na 3ª CNCTI, em 2005, o contexto já era distinto, uma vez que já havia sido criada a
SECIS na estrutura do MCT e realizadas várias iniciativas com a temática de TS. Assim, a
temática de inclusão social foi foco de seminário temático preparatório, de apresentação de
palestras durante a conferência, e teve um capítulo específico dedicado a esta no documento
síntese das conclusões e recomendações (CGEE, 2005; MCT; CGEE, 2006).
321
difusão e a melhoria do ensino de ciências, universalizar o acesso aos bens gerados pela
ciência e pela tecnologia e, ao mesmo tempo, ampliar a capacidade local e regional de
difundir o progresso técnico, ampliando a competitividade econômica e melhorando a
qualidade de vida da população das áreas mais carentes do país (MCT; CGEE, 2006, p.
43).
Nesse contexto, cabe ressaltar a Rede de Tecnologia Social que, em 2005, contratou 21
projetos voltados para a incubação de empreendimentos solidários, dez projetos de
empreendimentos solidários agroalimentares e um projeto relativo à alimentação
escolar. (MCT; CGEE, 2006, p. 49).
Ampliação e fortalecimento das ações de divulgação das tecnologias sociais por meio
de publicações (artigos, cadernos de formação, revistas, livros digitais, entre outros),
espaços de intercâmbio (encontros, eventos, oficinas, visitas técnicas e redes sociais) e
espaços em canais de comunicação (audiovisual, mídia impressa, meio digital, página
na internet). (MCT; CGEE, 2010a, p 111, grifo nosso).
Esta linha de ação tinha oito (8) programas: (1) implementação e modernização de
Centros Vocacionais Tecnológicos; (2) programa nacional de inclusão digital; (3) apoio à
pesquisa, à inovação e à extensão tecnológica para o desenvolvimento social; (4) programa
Comunitário de Tecnologia e Cidadania; (5) CT&I para o desenvolvimento regional com
enfoque em desenvolvimento local (APL); (6) apoio à pesquisa e ao desenvolvimento
aplicados à segurança alimentar e nutricional; (7) pesquisa e desenvolvimento agropecuário e
agroindustrial para inserção social e; (8) capacitação em C,T&I para o Desenvolvimento
Social. Entre estas quatro direcionavam ações explícitas para desenvolvimento de TS (1, 3, 5
e 6), e uma para tecnologia apropriada (4).
Além desta linha de ação específica, o termo TS ainda é articulado em programas de
"Apoio a Projetos e Eventos de Divulgação e de Educação Científica, Tecnológica e de
Inovação" e "Apoio à Criação e ao Desenvolvimento de Centros e Museus de Ciência,
325
desenvolver "tecnologias sociais para a inclusão socioprodutiva com redução das assimetrias
regionais na produção e acesso a ciência, tecnologia e inovação".
Neste tema foram reunidas estratégias relacionadas as principais linhas de atuação da
antiga SECIS, e da pauta em construção do processo de CT&I para inclusão social, como
popularização da C&T, tecnologia assistiva, e a própria TS:
137
A busca no website da FINEP foi realizada na página "Chamadas Públicas" (link na página inicial), sendo
selecionada na caixa de seleção de tema a opção "Tecnologia Social", resultando em três editais encontrados
(FIP INOVA Empresas 2019; 008/2016 e 001/2009), contudo ao realizar a leitura, verificamos que somente um
(001/2009) correspondia à temática de TS. No website do CNPq, a busca foi realizada na página Chamadas
Públicas (na sequência de links da página inicial: Assuntos, Bolsas e Auxílios, Chamadas, Chamadas públicas),
327
Pelas características dos editais identificados observamos que somente dois foram
nomeadamente direcionados a TS enquanto campo específico de produção de C&T (001/2009
FINEP e 036/2018 CNPq), e os demais a temática de TS foi abordada enquanto base
processual para atendimento as finalidades de campos como de segurança alimentar e
nutricional, economia solidária e agricultura familiar. Mesmo no edital mais recente, que se
direcionou a temática de TS, enquanto campo, encontramos um enfoque de público-alvo
específico. Esta configuração da TS como elemento "meio", consideramos que se alinha ao
enfoque de processo sobre o desenvolvimento tecnológico e um foco finalístico a grupos
sociais em desvantagem associados ao discurso da CT&I orientada para a sociedade.
No entanto, cabe observamos que a RTS também foi importante espaço de articulação
e fomento de projetos de TS, contando com recursos, à época, de seus principais
mantenedores, entre eles empresas estatais como a Petrobras e o Banco do Brasil. Segundo
Dagnino, Brandão e Novaes (2004), em uma perspectiva de um prazo mais longo de
maturação, a RTS poderia se consolidar em um espaço privilegiado do processo de política de
TS, pois diferente dos arranjos institucionais tradicionais da CT&I (secretarias
governamentais, agências de fomento, fundação de amparo etc.), situados no âmbito
governamental e concebidos predominantemente segundo a lógica ofertista (própria do
modelo linear), a RTS ao reunir organizações da sociedade civil, pesquisadores, movimentos
sociais e empresas poderia se constituir em um mecanismo para interação direta e definição
de ações mais pontuais à inclusão social.
.
sendo usada a expressão de busca "tecnologia social", no período disponível (de 2006 a 2019), resultando em 10
editais encontrados (036/2018, 016/2016, 020/2016, 019/2014, 017/2014, 089/2013, 094/2013, 084/2013,
091/2013, 082/2013). Após o exame dos editais, foram identificados 5 em que a temática de TS era específica ou
relevante.
328
Quadro 28 – Chamadas públicas lançadas pela FINEP específicas a temática de tecnologia assistiva até 2018
Projetos
Ano Chamada pública & objetivo Linhas temáticas Proponente elegível
aprovados
MCT/FINEP/Ação Transversal - Tecnologias para o A) Desenvolvimento de Tecnologia Social em contextos produtivos de Entidade Estadual ou Distrital
2009 Desenvolvimento Social - 1/2009: projetos de empreendimentos econômicos solidários; responsável por CT&I, ICT e 13
tecnologias para o desenvolvimento social. B) Implantação de Centros de Inclusão Digital em territórios rurais. empresas públicas
MCTI/Ação Transversal–LEI/CNPq nº 82/2013 -
Mestre ou doutor, vinculado a
Segurança Alimentar e Nutricional no Âmbito da 1) Educação e sistemas sustentáveis e descentralizados de produção,
instituição de ensino superior, ou de
UNASUL e ÁFRICA: fomento a núcleos e grupos de processamento, distribuição e abastecimento de alimentos, considerando
pesquisa pública ou privada sem fins
2013 ensino, pesquisa, extensão em segurança alimentar e extração, pesca e aquicultura e tecnologias de base agroecológica; 25
lucrativos, ou a empresa pública de
nutricional; integração da investigação científica à 2) Educação e atenção nutricional articulado a ações de segurança alimentar
CT&I, ou rede federal/estadual de
política; formação de rede institucional que promova e nutricional para promoção da alimentação saudável.
educação profissional e tecnológica
intercâmbio de conhecimento e tecnologias.
Mestre com experiência em
economia solidária, desenvolvimento
MCTI/SECIS/MTE/SENAES/CNPq nº 89/2013: A: Apoio ao fortalecimento de incubadoras tecnológicas de economia
territorial, TS, geração de trabalho e
projetos de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e solidária.
2013 renda, vinculado a instituição de 86
extensão de incubadoras tecnológicas de B: Apoio à formação e institucionalização de novas incubadoras
ensino superior ou de pesquisa
empreendimentos econômicos solidários. tecnológicas de economia solidária.
pública ou privada sem fins
lucrativos, ou empresa pública
a) Organização para acesso aos mercados institucionais, como o PAA e
PNAE; b) Beneficiamento e agroindustrialização de produtos pelos grupos,
Doutor, vinculado a instituição de
MCTI/MDA-INCRA/CNPq n° 19/2014 - associações e cooperativas de jovens assentados, agricultores familiares e
ensino superior ou de pesquisa
Fortalecimento da Juventude Rural: projetos de comunidades tradicionais; c) Gestão administrativa; d) Agroecologia e
2014 pública ou privada sem fins 34
capacitação profissional e extensão tecnológica e sustentabilidade na produção agrícola, pecuária, atividades pluriativas e
lucrativos ou a empresa pública de
inovadora de jovens residentes em áreas rurais. manejo de recursos naturais; e) Comunicação, Projetos Artísticos e Culturais
CT&I
em comunidades; f) Uso de metodologias participativas aplicadas à pesquisa,
assistência técnica e extensão rural.
CNPq/MCTIC Nº 016/2016: projetos de pesquisa 1) Direito humano a alimentação adequada; 2) Antropologia da alimentação
científica e tecnológica em Segurança Alimentar e e cultura alimentar; 3) Políticas públicas, regulação, monitoramento e
Mestre ou doutor, vinculado a
Nutricional no Programa de Desenvolvimento de controle social; 4) Sistemas sustentáveis de produção de alimentos
2016 Instituição Científica, Tecnológica e 89
Estratégias de Caráter Socioeducativas e saudáveis; 5) Gestão pública da produção e o abastecimento alimentar; 6)
de Inovação
Sociotécnicas em Soberania e Segurança Alimentar e Educação alimentar e nutricional; 7) TS e inovação; 8) Qualidade nutricional
Nutricional para os países da UNASUL dos alimentos; 9) Controle e prevenção de agravos da má alimentação:
CNPq/MCTIC/MDS nº. 36/2018 - Tecnologia social: Geração de renda, inclusão no mundo do trabalho e autonomia econômica Mestre ou doutor, vinculado a
2018 projetos de desenvolvimento, reaplicação, das famílias inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Instituição Científica, Tecnológica e 62
aperfeiçoamento, e avaliação de TS Federal e deverão estar relacionados a um ou mais de um dos ODS de Inovação
Fonte: Adaptado pela autora a partir de CNPq (2019) e FINEP (2019).
329
Na ascensão à agenda de uma pauta de política de CT&I para inclusão social emergiu
a temática de TS que, distintamente para o contexto desta política, contou com a participação
e defesa de organizações da sociedade civil e governos locais. No entanto, a pauta de TS,
enquanto uma posição marginal, tem se estabelecido em uma trajetória que consideramos de
disputas explícitas e implícitas.
Devemos considerar que há uma disputa na agenda em si da política de CT&I entre
orientações agregativas de justiça social, seja relacionada a uma pauta de ênfase científica,
alinhada ao discurso da C&T auto orientada; seja associada a uma de ênfase à inovação e
legitimação de setores considerados a temas estratégicos tecnocientíficos, em alguma medida
alinhados ao discurso da CT&I orientada para o mercado, como vimos no capítulo 2. Nesta
agenda, a pauta de uma racionalidade distributiva de justiça social da CT&I para inclusão
social configura-se marginal, embora tenha calgado espaços.
Entretanto, neste espaço marginal da agenda emergem também disputas internas em
relação a orientação política (politics) da política pública (policy) de CT&I voltada à inclusão
social. Buscamos na primeira seção tratar de três principais orientações discursivas voltadas
ao atendimento de grupos sociais em processo de exclusão ou desvantagem social, desde as
orientações sobre tecnologias apropriadas (associadas a uma posição adaptada do discurso da
C&T auto orientada para combate à pobreza), a construção de um marco analítico-conceitual
de TS a partir dos avanços no campo de CTS (alinhada ao discurso da CT&I orientada para a
sociedade), e uma proposição de uma concepção de empreendedorismo social e inovação
social vinculada a implementação de negócios sociais via mecanismos de mercado (em
posição reformista do discurso da CT&I orientada para o mercado para enfrentamento da
pobreza e exclusão social).
Nos momentos iniciais em que políticas para fomento à inclusão social via CT&I
foram se institucionalizando no país, pudemos observar que ainda era considerável a presença
explícita de orientações relacionadas a tecnologias apropriadas. Porém, estas (ao menos
explicitamente) foram perdendo espaço, a ponto de nos últimos documentos e instrumentos de
planejamento do governo federal já não serem mais articuladas nomeadamente.
Mas, apesar do termo TS ter prevalecido na agenda, e se tornado de certo modo
emblemático de uma política de CT&I para grupos sociais em desvantagem socioeconômica,
entendemos que houve um deslocamento da disputa orientativa da política para aspectos
331
implícitos neste. Assim, à medida que programas de fomento e outros mecanismos de política
com foco no termo TS vão se tornando institucionalizados, atraem múltiplos atores com
diferentes orientações discursivas (crenças da política), seja pela visibilidade que adquirem
suas propostas, seja pelo interesse por oportunidades de financiamento público direcionado a
pesquisa, conformando um campo de disputa discursiva pelos significados e orientações de
práticas a serem vinculados a TS.
Esta disputa de significados engloba os atores sociais a serem legitimados e
valorizados no processo da política, o enfoque de problema a ser enfrentado, o processo de
desenvolvimento tecnológico e de disseminação tecnológica a ser adotado (como é a disputa
entre replicação e reaplicação), critérios de análise de impacto e transformação social, entre
outros.
De forma que, por um lado, se uma posição de CT&I orientada para a sociedade tenha
alcançado espaço (e recursos) na agenda com a proposição de TS; por outro lado, abertura na
agenda deste espaço implica em uma desestabilização dos discursos predominantes (que
perderam espaço), e, por conseguinte, parte dos atores por estes discursos orientados tendem a
articular uma reorganização destas orientações discursivas (o mais próximo possível das
concepções nucleares) para competir no espaço aberto na agenda.
Deste modo, a partir da revisão analítico-conceitual e dos apontamentos do contexto
da política de TS no cenário nacional, compreendemos que há (de modo sintético e
simplificado) três posições discursivas principais elencadas, bem como há camadas de
disputas discursivas sobrepostas: na agenda geral da política e na pauta específica de TS; no
enfoque finalístico (de atendimento a grupos sociais em algum processo de exclusão) e no
enfoque processual (da concepção de desenvolvimento de conhecimento e tecnologia).
No próximo capítulo, analisaremos a trajetória de política estadual de TS no Pará, no
qual buscaremos compreender como os atores locais no processo de política de TS articulam
ações para enfrentamento das desigualdades a partir das suas orientações discursivas e como
se conformam processos de disputas e aprendizados.
332
Por fim, a quarta seção, retoma o olhar do processo de política em perspectiva dos três
momentos verificados anteriormente para analisar as possíveis coalizões de defesa em
formação e atuação e articulação no subsistema da política. Nesta seção, ao procurarmos
entender de modo geral as articulações dos atores políticos e coalizões de defesa em torno da
temática de TS, também refletimos sobre a abrangência e direções das ações públicas
realizadas no que tange ao enfrentamento de desigualdades, tanto em relação a alcances
materiais, quanto às dimensões conceituais.
Ao seguir o percurso teórico e metodológico formulado no capítulo 1, para o caso em
estudo de TS, enfocamos procedimentos de coleta de dados que envolveram pesquisa
documental sobre projetos relacionados ao tema junto a SECTET, fundamentalmente, e, de
forma complementar foram empreendidas pesquisas em websites referenciados no decorrer do
texto. Bem como, realizamos entrevistas com atores políticos, abrangendo coordenadores e
pesquisadores de projetos financiados (7 entrevistados de 5 projetos), servidores públicos
atuantes atualmente ou anteriormente na SECTET (4 entrevistados), dois dirigentes e
integrante da governança da política estadual, além de dois outros pesquisadores atuantes no
campo de TS no estado. A descrição de procedimentos de coleta e geração de dados para
pesquisa está disponível no Apêndice D.
Embora houvesse este programa de tecnologias apropriadas tenha funcionado até 2003
no âmbito da secretaria responsável pela pasta de CT&I no governo estadual, e que a partir
deste ano ocorresse a emergência à agenda da temática de TS no governo federal, chama-nos
a atenção que a temática de TS somente alcance à agenda da política estadual de CT&I em
138
Anotação referente à entrevista realizada com ex-diretor da DTS/SECTI em 10/09/2018, áudio não gravado.
335
2011. Consideramos que a temática tenha tido dificuldade de chegar a agenda, mesmo no
período de institucionalização da SEDECT e FAPESPA (quando inclusive o governo estadual
estava sob mandato do PT que no âmbito federal havia criado e mantinha a SECIS), pela
ênfase da orientação agregativa-utilitarista que caracterizou esta política, cujo foco se
concentrou em estruturar mecanismos relacionado a abordagem de sistema de inovação.
A DTS foi implementada em 2012, tendo como primeiro diretor, o professor da UFPA
Eduardo Costa139. Posteriormente em 2013, assumiu Evandro Ladislau da Silva, servidor
público estadual que havia participado de projetos de execução descentralizada do Ministério
do Meio Ambiente (MMA) e do PPTA na SECTAM, que permaneceu no cargo até 2014. De
forma a contextualizar as principais atividades relacionadas a TS no período do mandato
governamental 2011-2014, apresentamos na figura 7 uma linha do tempo organizada a partir
das entrevistas realizadas e pesquisas documentais e em notícias no site da SECTET (2018).
Cabe indicarmos que, apesar de prevista no plano diretor elaborado em 2011, durante
o mando governamental de 2011 a 2014 não houve a formalização, via alteração na lei de
instituição da SECTI, desta diretoria, bem como, no PPA 2012-2015, a única ação relacionada
TS referia-se à transferência de TS, estando voltada a atividades de disseminação. Deste
modo, observamos que as principais ações desenvolvidas no período se relacionaram a
realização de eventos de difusão e de articulação entre atores. Os eventos mais relevantes
foram o I e II Fórum Paraense de Tecnologias Sociais (2013 e 2014) e o principal espaço de
articulação implementado foi RTS-PA.
Na próxima seção analisamos o documento de referência do I Fórum Paraense de
Tecnologias Sociais, especialmente o texto correspondente ao documento de constituição da
RTS-PA, enquanto representativo da concepção de TS e de estratégias para seu
desenvolvimento no processo de política estadual de CT&I.
139
Eduardo Costa ficou pouco tempo nesta diretoria, vindo depois a assumir o cargo de diretor-presidente da
FAPESPA, no período de 2015 a 2018.
336
Figura 7 – Linha do tempo das principais ações no processo de política estadual de tecnologia social
no Pará, de 2012 a 2014
2014
Elaboração de Plano de Ação para RTS-PA, com eixos prioritários: “Água e
Janeiro saneamento”, “Inclusão digital e desenvolvimento local” e “Geração de ocupação e
renda”
Março Mesa-redonda “Tecnologias Sociais: Agregando Valor ao Território”
Neste sentido, desde junho de 2013 foram realizadas reuniões e criado um grupo de
trabalho para elaboração de uma proposta de (re)estruturação da RTS-PA. Deste grupo de
trabalho participaram com maior frequência representantes da UFPA, UEPA, SECTI, e das
organizações Fórum das Ilhas, Poloprobio, Instituto Açaí (SECTI, 2013a). Ainda conforme o
relatório do evento e entrevistas com 2 participantes deste processo, proposta da RTS-PA
formulada, inclusive de seu modelo de governança, teve forte inspiração nas diretrizes e
formato da RTS nacional.
A RTS-PA era considerada "um dos instrumentos da Política Estadual de Tecnologias
Sociais" que representava "um colegiado consultivo, integrado por um conjunto de
instituições para coordenar, compartilhar e fomentar ações que contribuam com o
desenvolvimento, reaplicação e difusão de Tecnologias Sociais" (SECTI, 2013b, p. 3). Esta
configuração dada a RTS-PA a desenhava como principal instância de governança da política
de TS no governo estadual.
338
Na seção intitulada marco conceitual, foi realizada em breve revisão de literatura que
parte da origem conceitual de TS vinculada a de tecnologias apropriadas, passa por conceitos
de TS veiculados em publicações científicas e de organizações de referência nacional (FBB,
RTS e ITS), e, por fim, realça a relação de TS com temas como capital social, redes sociais e
o empoderamento da população. Vemos, assim, destacada uma considerável presença de
intertextualidade140 explícita (citações diversas de 11 publicações científicas e 4 obras de
organizações de referência nacional), que entendemos enquanto uma busca de disseminação
do posicionamento conceitual de TS (cujo termo é reconhecidamente polissêmico) a ser
adotado, mas principalmente de legitimação deste, via demonstração de sustentação científica
e de experiência nacionais de referência.
O conceito adotado na seção de constituição da RTS-PA foi o mesmo aplicado pela
FBB e RTS nacional:
Três características são realçadas por meio deste conceito, que apresentam relação
com uma orientação discursiva da CT&I orientada para a sociedade. A primeira é a
necessidade que o desenvolvimento ou reaplicação tecnológica seja realizada pela interação
140
De acordo com Resende e Ramalho (2006), intertextualidade é caracterizada como uma categoria de análise
de prática discursiva que se refere à cadeia dialógica textual estabelecida em um texto, ou seja, as conexões do
texto em análise com demais textos. Parte da noção que todo texto articula (responde, concorda, contradiz ou
silencia) diversas vozes, de modo que análise de intertextualidade se baseia em identificar as vozes incluídas e
excluídas em um texto, que podem ser estar em discurso direto (citação direta), discurso indireto (citação
indireta), pressuposta ou ausente (RESENDE; RAMALHO, 2006).
339
[...] a Tecnologia Social é um instrumento que pode aumentar o capital social, humano e
econômico de uma comunidade. Fortalecida e organizada, a população tem muito mais
chances de resolver os seus problemas. [...] Depois de organizada, a comunidade sente-
se mais capacitada a fiscalizar e cobrar o poder público – o que é fundamental para o
desenvolvimento (ANDI, FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL, PETROBRÁS, 2006,
p.56) (SECTI, 2013b, p. 10).
Modelo de Inovação
Escopo Priorizado
a interdiscursividade explícita que chama nossa atenção no texto, mas o extenso uso da
intertextualidade, com práticas discursivas típica da escrita científica, no documento da
política, principalmente na seção referente ao marco conceitual.
Compreendemos que parte do esforço de usos de citações de publicações científicas e
da contextualização conceitual embasada em exemplos nacional de referência no documento,
por um lado, corresponda a um enfoque relativamente recente e que contribui para um
discurso ainda em construção, o que demanda por si uma preocupação com a constituição e
disseminação de sua abordagem conceitual. Por outro lado, representa uma estratégia de
alcançar legitimidade em meio aos atores dominantes (cientistas) do processo de política e do
ambiente organizacional (Secretaria responsável pela pasta de CT&I) em que a DTS buscava
se institucionalizar. Neste contexto, é premente considerar que havia pouca difusão na agenda
estadual do tema de TS até então, e que sua orientação discursiva (particularmente em relação
a participação de pessoas de comunidades locais e população em geral no desenvolvimento
tecnológico e no processo decisório da política) divergiam das orientações discursivas em
predomínio no processo de política, o que reforça-se a necessidade de expedientes de
legitimação que corroborassem a institucionalização da política estadual de TS tal como se
propunha.
Durante este primeiro momento, como havíamos indicado as principais ações remetem
a eventos, seja os fóruns e mostras de TS, seja reuniões de articulação e construção conceitual
para institucionalização. Em termos de fomento a ações de desenvolvimento ou reaplicação de
TS os movimentos foram bastante restritos.
As únicas ações que envolveram repasses de recursos financeiros voltadas ao fomento
direto de projetos que, de alguma forma, na época foram relacionados ao tema de TS que
identificamos são referentes a duas iniciativas em 2012141. Uma corresponde a um convênio
(nº 013/2012) com a ONG Instituto de Desenvolvimento Econômico e Educacional Açaí
(Instituto Açaí) para desenvolvimento de projeto para aproveitamento de resíduos de pescado
em uma comunidade quilombola, no município de Salvaterra, no valor de R$ 12.646,00, que
foi basicamente aplicado para aquisição de equipamentos. Outra foi o apoio de 2.500,00 via
141
Estas iniciativas foram localizadas via pesquisa documental, pois não constavam na lista de projetos
fomentados como TS entregue pela CTDS/SECTI para pesquisa em 2018.
343
convênio 017/2012 para orientação técnica por um pesquisador quanto purificação da matéria
prima e tratamento dos resíduos em um projeto de fábrica de sabão de tucupi.
Os valores envolvidos foram baixos e a execução dos projetos não necessariamente
abrangeu a concepção de construção de conhecimento e tecnologia a partir dos saberes das
comunidades, mas nos processos administrativos correspondentes aos convênios a vinculação
com o tema de TS esteve relacionado pela geração de benefícios estar direcionado a
comunidades carentes. Exceto por estas duas iniciativas, não localizamos outros fomentos
neste período, de modo que compreendemos que houve uma ênfase dos atores envolvidos no
processo da política estadual de TS, principalmente entre 2013 e 2014, em promover
articulações com outros atores sociais, seja para disseminar a concepção de TS adotada, seja
para incentivar a formação de redes de relações entre possíveis financiadores (outros órgãos
governamentais, fundações e empresas) e agentes de comunidades e ONG.
Um servidor público que atuou na DTS comentou em entrevista sobre a restrição de
execução orçamentária e a estratégia concebida para disseminar a temática:
Na DTS, havia desafios. Um era que a diretoria não existia na lei da Secretaria, assim
não tinha um orçamento. Em geral, conseguia reunir um orçamento em torno de R$
90.000,00 anual em diversas atividades, e executar em média R$50.000,00. Não havia
priorização, havia mais intenção do que um plano de ação estabelecido. Assim, a
estratégia adotada foi a de criar uma estrutura de governança para a política de
tecnologias sociais, que abrangia a RTS-PA e os Fóruns de Tecnologias Sociais.
(anotações de campo de entrevista concedida por servidor público que atuava na política
de TS, não gravada, grifo nosso).
A inclusão de organizações civis com representação paritária era uma inovação e uma
distinção de outras conformações de governança constituídas na política estadual de CT&I,
como no próprio CONCITI, no qual não havia representação de organizações do movimento
social.
No decorrer do período, as diferenças entre a concepção discursiva de TS defendida
pela DTS/SECTI e pelo grupo de trabalho que auxiliava a constituição da RTS-PA e a
orientação discursiva majoritária da política estadual de CT&I tornaram-se mais discerníveis.
Essas diferenças foram vistas como uma dificuldade para institucionalização da política de TS
nos moldes concebidos por um dos ex-diretores da DTS.
Figura 8 – Linha do tempo das principais ações no processo de política estadual de tecnologia social
no Pará, de 2015 a 2017
2015
As atividades relacionadas a tecnologias sociais ficaram sob a responsabilidade
Janeiro
específica da Coordenação de Tecnologia para Desenvolvimento Social (CTDS).
Agosto Fomento direto pela SECTET ao projeto CELCOM - Telefonia Celular Comunitária
2016
Fomento direto da SECTET ao projeto Reator UASB unifamiliar destinado a
Junho
tratamento de esgoto em comunidades rurais
Agosto Retomada de reunião da RTS-PA para definição de novos rumos de atuação
Encontro da RTS-PA e palestra sobre a temática durante a VII Feira Estadual de
Outubro
Ciência, Tecnologia e Inovação
2017
Fomento direto da SECTET ao projeto Segurança Hídrica e Saneamento Básico
Julho
Descentralizado, por meio de Tecnologias Sociais na Região Insular de Belém
Resolução nº 003/2017 do CONSECTET sobre a Política Estadual de Tecnologias
Agosto
Sociais
Fomento direto da SECTET ao projeto Fortalecimento das Cadeias Produtivas da
Setembro
Biodiversidade no Município de Acará
Edital nº 006/2017 para a seleção de projetos de Tecnologias Sociais voltados à
Outubro
melhoria da qualidade de vida das populações vulneráveis
Fonte: Elaborada pela autora.
346
Como podemos observar, neste período foram financiados quatro (4) projetos
relacionados ao desenvolvimento de TS142, os quais examinaremos em maior detalhe nesta
seção.
142
Recebemos da CTDS uma listagem com seis (6) projetos apoiados, no entanto dois destes referiam-se a
investimentos de infraestrutura no município de Bragança para: (1) criação do Centro de Piscicultura do IFPA
por meio do convenio nº 003/2017, com aporte financeiro do tesouro estadual de R$919.008,88, cujo maior
montante era financiado pela FAPESPA (R$819.008,88); (2) implantação de um polo científico e tecnológico de
pesca e aquicultura da UFPA por meio do convenio nº 001/2017, com aporte do tesouro estadual de
R$1.342.582,07, cujo maior montante era financiado pela FAPESPA (R$1.142.582,07). Ao considerar estes
objetos mais associados (ao menos nesta fase de apoio representada nos convênios) à constituição de
infraestrutura, incluindo obras e instalações, em universidade e instituto de CT&I, e a manifestação de servidores
da Coordenadoria, não classificamos os mesmos enquanto projetos específicos para apoio, desenvolvimento ou
reaplicação de TS.
347
Quadro 29 – Informações gerais dos projetos fomentados no âmbito da política estadual de tecnologia social
Código
do Valor Instituição Município de Áreas do Aplicada ao
Título do projeto Modalidade Unidade Vigência
projeto contratado executora aplicação conhecimento setor/política
Otimização de critérios
Convenio de Universidade Instituto de Tecnologia (ITEC)
operacionais em reator Engenharia 28/06/2016
cooperação Federal do - Laboratório Multiusuário de
2 UASB unifamiliar 99.920,00 Belém Hidráulica e Saneamento a
técnica e Pará Tratabilidade de Águas
destinados a comunidades Saneamento 31/12/2019
financeira (UFPA) (LAMAG)
rurais
Campus de Castanhal -
Fortalecimento das Cadeias Convenio de Instituto Engenharia de
Mestrado Profissional em Acará - Economia 27/09/2017
Produtivas da cooperação Federal de Alimentos &
3 150.000,00 Desenvolvimento Rural e Comunidade de Boa Solidária & a
Biodiversidade no técnica e Educação Agricultura
Gestão de Empreendimento Vista Agricultura 27/09/2019
Município de Acará financeira (IFPA) familiar
Agroalimentares
Quando o projeto foi criado ele era puramente técnico, né, tanto que dá para ver nas
submissões que houve, para a SECTET, principalmente, que era bastante técnico. Só
que como é um projeto de tecnologia social, ele foi ganhando essas amizades da área da
antropologia e tal. Foi em 2016 que teve o IDDS, aí uma grande contribuição desse
pessoal mais de humanas para o projeto foi em 2016 quando teve o IDDS, que
aconteceu em Boa Vista do Acará. E aí, lá a gente conheceu o pessoal deles, e era um
pessoal ligado a tecnologia, mas com formações mais sociais, mas também ligadas a
tecnologia. E a gente foi aprendendo bastante com eles, e a gente viu que a
comunidade escolhida tinha que estar envolvida no processo, senão não ia dar
certo. O simples fato de chegar e instalar as coisas não ia ser benéfico, nem para
gente, nem para eles. (entrevista concedida por pesquisador de projeto, grifo nosso).
O que a gente tem dialogado, exatamente isso, quem tem que participar dos nossos
projetos são os comunitários, eles são os sujeitos principais. Porque a gente já teve
várias experiências que a gente levou tudo pronto e funcionou enquanto a gente estava
ali, quando a gente saí de cena, eles não participam. Por quê? Porque eles não se viram
na construção. Entendeu? Então, a gente tem trabalho o inverso, então a gente foi fazer
o pré-diagnóstico. (entrevista por pesquisador de projeto, grifo nosso).
Isso que é o legal da tecnologia social, que tem que ser pensado e construído junto
com a comunidade. Então, tem que ter uma amarração muito boa dessas três coisas, a
parte científica, ‘tá eu identifiquei que tem esse problema’. Quando eu comecei a falar
com a comunidade na questão da água, que eles tinham muito problema de diarreia, dor
de barriga, coceira. Quando eu cogitei que era a água, eles, 'professora, mas será? A
gente sempre usou essa água'. Então mostrei para eles ‘não, é, é isso, eu estou te
mostrando aqui que é isso, então vamos pensar como resolver?’. Aí me sentei, conversei
com eles que o recurso era para outra coisa, eu disse ‘olha, o recurso é para isso, mas o
que vocês acham da gente pegar um recurso’, eles aceitaram e aí a gente fez, e
concebemos a ideia com eles. Eu sempre falo que os nossos engenheiros estão lá na
ilha.
(...)
É fundamental, ou não existe coisa que funciona. É igual os sistemas que estão
implantados lá, né, vem um negócio caríssimo, de cima para baixo, e implantou
‘olha agora tu tens que usar isso’, e ninguém usa. E aí, você vê quanto dinheiro foi
jogado fora, e não resolve o problema. Esse é o problema de muita coisa que é feito
hoje. Porque existe uma separação, muitas vezes na academia o pessoal se acha 'não, eu
sou o dono do conhecimento, eu sei tudo', e não interage com as pessoas, não interage,
não sabe qual é a necessidade do outro lá. Porque uma coisa é eu estar aqui
pesquisando, eu acho que isso é importante, mas será que é importante para o cara lá, lá
na ilha. Será que, em vez de eu pensar, como eu inicialmente levei abelha, ainda as
abelhas estão lá, mas no final hoje o carro-chefe do nosso projeto não é mais abelha, é
água e saneamento. Porque mudou a nossa visão depois que a gente começou a estar
semanalmente com a comunidade. (entrevista por pesquisador de projeto, grifo
nosso).
Cabe indicarmos que esses projetos foram fomentados a partir de contatos específicos
entre membros dos projetos e da SECTET, não sendo originado de um edital de chamada
pública ou outro processo previamente estruturado de identificação ou seleção, funcionando
em um formato similar ao conhecido como "atendimento de balcão" no âmbito de política de
CT&I. Neste sentido, observamos que a concepção de interação com a comunidade não havia
sido um critério essencial para a seleção dos dois primeiros projetos em 2015 e 2016, vindo a
estar presente nos projetos de 2017.
350
Após ter uma visão inicial da caracterização dos projetos, nesta seção focamos a
compreensão das ações e resultados alcançados, considerando que nosso enfoque está na ideia
de resultados finalísticos dos objetos dos convênios, ou seja, o desenvolvimento de processos,
produtos, atividades ou sistemas de TS que afetem e melhorem diretamente a qualidade de
vida das pessoas, identificadas como público-alvo. Deste modo, outros resultados, como
aqueles relacionados a elaboração ou publicação de trabalhos científicos, ou ainda o
estabelecimento de grupos ou infraestrutura de pesquisa não serão objeto de nossa atenção.
Também é preciso ponderar que todos os quatro projetos ainda estão em vigência, não tendo
sido completamente concluídos.
No quadro 30, apresentamos alguns aspectos relacionados aos resultados pretendidos e
alcançados pelos projetos de TS financiados. Em termos de resultados previstos, observamos
que os dois primeiros projetos foram concentrados em prover uma solução tecnológica (1 e 2),
embora reconheçamos que esta solução pode envolver diferentes componentes; enquanto os
dois últimos envolveram desde o início a proposta de trabalho com duas ou mais TS (3 e 4).
351
Assim, nestes dois últimos projetos, vemos uma visão aderente à ideia de sistemas
tecnológicos sociais, com a adoção de soluções baseadas em TS para atendimento a diferentes
necessidades e em distintos setores da vida na comunidade, à medida que esta se apropria do
modo de desenvolvimento tecnológico proposto, como expresso no trecho abaixo.
São só essas duas (tecnologias sociais), exatamente, mas eu já pensei em levar outras,
assim, a questão que falta tempo para a gente fazer isso. Eu queria levar o fogão solar,
que é uma outra coisa muito legal, que aí você fica independente de comprar gás na
cidade. Produz menos poluente.
(...)
E o legal é que onde você implanta, quando as pessoas começam a ter essa outra visão,
fica mais fácil elas aceitarem do que você sempre começar uma coisa nova em outro
lugar. Então, quando eles já têm essa concepção de que coisas simples resolvem os
problemas, fica bem mais fácil de trabalhar com eles, essa sinergia (entre usos de
tecnologias sociais), ela flui melhor. (entrevista por pesquisador de projeto, grifo nosso).
Também verificamos que três projetos (1, 3 e 4) já têm tecnologias em uso nas
comunidades e com resultados e impactos acompanhados pelas equipes, de modo que as
soluções são desenvolvidas e/ou avaliadas em seu uso real. Exceção a esta dinâmica
corresponde ao projeto 2, cujo percurso metodológico adotou a aplicação de experimento fora
do contexto comunitário rural a que se propõe o uso, e, portanto, também sem interação e
avaliação de uso diretamente por e junto a este público-alvo específico.
Esse alcance de uso pela comunidade implica em duas questões em relação a
perspectiva finalística de uma política de CT&I. Primeiro, mesmo que em escala
relativamente reduzida (poucas comunidades), as ações de pesquisa e intervenção
conjuntamente realizadas promovem a construção de resultados de melhorias rapidamente
vivenciados por parte da sociedade. Assim, se alcança uma redução do tempo e do
distanciamento de espaço em que se dá a produção de conhecimento, o desenvolvimento
tecnológico e a aplicação destes na sociedade. O que caracterizamos enquanto um abandono
do modelo de inovação linear, em que tais tempo e espaços eram claramente diferenciados,
para adoção de um modelo interativo, voltado aos beneficiários diretos. Segundo é que a
adoção de um modelo interativo de inovação com a participação direta dos beneficiários tende
a promover maior assertividade na avaliação de uso das tecnologias, ou seja, menor rejeição
tecnológica do público-alvo ao produto ou processo após finalizado o projeto de
desenvolvimento tecnológico.
352
Quadro 30 – Informações sobre resultados e produtos dos projetos de tecnologia social fomentados
Disponível
Código do Aplicada ao
Resultado proposto Processo de execução em andamento para uso pelo Como foi proposto a disseminação ou reaplicação?
projeto setor/política
público-alvo?
A disseminação em comunidades de baixa renda tem
Sistemas de telefonia celular já
sido trabalhada por meio de subsídios governamentais
Instalação de sistema de instalados, treinamentos realizados no
(SECTET) ou de ações filantrópicas de empresas ou
telefonia celular comunitária formato de "caravanas", quando
1 Telecomunicações Sim ONG (Facebook; IEEE). Também indicada
em duas comunidades e também são realizadas reuniões com a
importância de ação no sentido de regular tipo de
treinamentos associação de moradores local sobre o
licenciamento específico para telefonia comunitária
projeto.
no Brasil
Avaliação e emissão de
Instalação de dois reatores para análise Disseminação via transferência ao setor empresarial
manual operacional de
e experimento dentro da cidade bem como o apoio ao acesso pela população-alvo por
funcionamento de reator
2 Saneamento universitária José da Silveira Neto da Não meio de órgãos governamentais tais como FUNASA e
UASB, com vistas a
UFPA, com controle e monitoramento afins, como alternativa para o equacionamento de
utilização unifamiliar em
pela equipe do projeto. déficit em políticas de esgotamento sanitário.
comunidades rurais.
São trabalhadas 3 estratégias de disseminação: uma é
Plano de organização para Foi realizado um pré-diagnóstico de
via fomento por órgãos públicos de projetos similares
cooperativa; proposta de demandas e potencialidades da
em outras comunidades; outra é disseminar
processo para certificação comunidade para definir as linhas de
experiências de sucesso, por exemplo, de Boa Vista
Economia orgânica participativa; ação. Cada linha de ação engloba a
do Acará, por meio de livro e outras formas de
Solidária & implementação de estratégia realização de cursos e atividades junto a
3 Sim publicação para incentivar e inspirar experiências
Agricultura de comercialização de comunidade para entrega dos produtos
similares em outras comunidades; e, há a ideia de
Familiar circuito curto e aplicativo; acordados. Exemplos são a organização
reaplicabilidade pelos beneficiários, que ao se
levantamento para produção de uma feira no porto local, cursos para
apropriarem do conhecimento e habilidade podem
e comercialização de plantas organização social da cooperativa e de
agir como agentes multiplicadores da TS em suas
medicinais produção de licor com frutos locais.
ações coletivas.
Os 15 sistemas de captação de água e
Sistema de captação de água
banheiros ecológicos ribeirinhos já
da chuva e banheiro Disseminações e reaplicações buscadas tanto pelo
foram instalados, tendo sido realizadas
ecológico ribeirinho estabelecimento de uma política pública baseada em
readaptações e melhorias nos modelos
4 Saneamento instalados em 15 casas, e Sim TS, quanto pelo financiamento de ONG e empresas
anteriormente desenvolvidos e
duas cartilhas de (Prêmio Santander Universidade Solidária, Prêmio
instalados na comunidade. Fase atual é
disseminação sobre as Samuel Benchimol, IDIS).
de monitoramento da qualidade de água
tecnologias sociais
e uso/efeitos das TS.
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
353
A cisterna, isso, uma reaplicação e uma readaptação do que tem em vários outros
lugares, aí a gente chegou em um sistema: ‘não, acho que este é o sistema ideal para a
nossa ilha’. E aí a gente já vai fazer uma outra readaptação. (entrevista por pesquisador
de projeto).
Aqui a gente trabalha muito o conceito de reaplicabilidade, então a gente trabalha com
um coletivo maior, na verdade, o espaço de trabalho nosso é a comunidade e o
empreendimento, que as vezes se confundem, as vezes não. Então, nesse sentido, a
gente consegue primeiro formar um quantitativo maior de pessoas, esse é o que a gente
sempre trabalha; e, o segundo é como a gente consegue criar capacidades técnicas na
comunidade que é a formação das pessoas para que eles sejam multiplicadores, que
eles consigam de certa forma quando a gente se retirar da comunidade, finalizar o
projeto, porque o projeto tem um tempo, que eles consigam desenvolver, e potencializar
para outras comunidades.
(...)
Tem duas formas de reaplicabilidade, pela instituição e pelo beneficiário, qual é o
que tem maior impacto? Pelo beneficiário, porque quando terminar o projeto, acabou,
eu só vou reaplicar se alguém alocar recurso, imagine porque que no Nordeste a história
das cisternas funcionou, porque foi através das dinâmicas coletivas que trabalhava, qual
é o método? Você tem aqui a metodologia, a forma de implantar ela é coletiva, então,
354
por exemplo, qual é a metodologia lá, quem é que implanta a tecnologia? As famílias.
Então se reúnem 10, 20 famílias, aí por exemplo, vai fazendo aqui, a minha família foi
beneficiada, agora eu tenho que beneficiar uma outra família, aí vai daqui duas famílias
aqui, e aí foi. A história da reaplicabilidade em essência é isso, é como a gente
consegue multiplicar as coisas a partir do beneficiário. (entrevista por pesquisador
de projeto, grifo nosso).
O primeiro a gente fez igual a ideia que eles tinham, que o banheiro tem que estar longe
da casa. Então, a gente fez essa ponte, ficava a uns três metros da casa. O morador,
quando ele fez, ele acoplou à casa, ele fez uma suíte na casa dele. Porque como ele
percebeu que não dava cheiro o banheiro, ele incorporou ele (banheiro) na casa. E
aí foi muito legal, foi uma surpresa muito boa, porque ele disse assim, em vez de eu ir lá
fora a noite, na chuva, pegar friagem, é muito melhor eu ter o banheiro na minha casa.
(...)
Quando a gente foi implantar agora as 15, a comunidade já fez outras adaptações, por
exemplo, aqui atrás para facilitar tirar o tambor, eles fizeram tipo uma janelinha, assim,
que abre com uma dobradiça, que aí facilita tirar o tambor.
(...)
E do primeiro para esse que a gente fez, que essa casinha que a gente fez e a gente viu
que ela ficou escura, não tinha janela. Aí, esse aqui, a gente já colocou uma telha
transparente no meio, então ele fica uma boa iluminação do sol. Então essa foi uma
outra adaptação que a gente fez agora quando a gente reaplicou.
(...)
Tem em um outro furo que a gente instalou agora, que a comunidade preferiu instalar
na escola, porque aí todo mundo vai lá buscar água, não está em uma casa, então todas
as pessoas que estão no entorno vão se beneficiar com o sistema. (entrevista por
pesquisador de projeto, grifo nosso).
A gente tem feito treinamento da comunidade (...) Hoje, eles já conseguem mexer,
aí, por exemplo, tem manutenção aqui que os meninos não precisam mais ir lá. É, eles
acompanham a gente de lá. Eles marcam um dia, a gente fala assim: ‘a gente vai ficar
on line aqui’, aí eles que ficam fazendo. (...) Houve muitos problemas que a gente
não precisou se deslocar, eles que conseguiram resolver. (entrevista por pesquisador
de projeto, grifo nosso).
Então o projeto começou em 2012, e aí, esse livro foi impresso depois que eu ganhei o
prêmio Samuel Benchimol, eu consegui recurso para trabalhar na comunidade, e aí que
eu continue algumas coisas: ver como é que era a pesca lá, se isso interferia na água,
então, a gente tem toda a caracterização da comunidade, perfil socioeconômico, as
análises da água que a gente fez antes, aí depois a gente entra com a água da chuva,
entra com o banheiro, e aí a gente desenrola todo esse nosso trabalho que a gente fez lá.
Aí vem plantas, a pesca artesanal, as abelhas que a gente levou, a inclusão social das
mulheres por meio da produção artesanal, a gente fez um levantamento do potencial
ecoturístico que eles falam, eles têm interesse, e educação ambiental, como a gente
trabalhou ela de forma formal na escola, e de forma informal com as pessoas.
(entrevista por pesquisador de projeto, grifo nosso).
Quadro 31 – Informações de vínculos institucionais, associações e parcerias nos projetos de tecnologia social fomentados
Tinha Compôs a Interagiram
Código Interação Indicações de
Áreas do Grupos de pesquisa - Aplicada ao experiência equipe de com outros
do Instituição Parcerias com a demandas em
conhecimento DGP/CNPq1 setor/política anterior com outro projetos do
projeto comunidade políticas
TS? 1 projeto? 1 edital?
Grupo de Monitoramento e
UFPA/ITEC – Lab. Diagnóstico de
de Processamento Equipamentos Elétricos de Regulamentação de
Rizomática,
de Sinais (LAPS) e Engenharia Potência-ELETRONORTE; licenciamento
Sim, na mesma PRODEPA,
1 Lab. de Sensores e Elétrica e de Núcleo de Energia, Telecomunicações Não Não Sim específico para
TS SIGHT/IEEE,
Sistemas Computação Sistemas e Comunicação- telefonia
Facebook.
Embarcados UFPA; Processamento de comunitária
(LASSE) Sinais-UFPA; Tecnologias
para Inclusão Digital-UFPA
Grupo de Estudos em
UFPA/ITEC – Lab.
Engenharia Gerenciamento de Águas e
Multiusuário de
2 Hidráulica e Reuso de Efluentes–UFPA; Saneamento - Não - - - -
Tratabilidade de
Saneamento Química Analítica e
Águas (LAMAG)
Ambiental–UFPA
Cooperativismo, Economia
Solidária e Disseminação ao
IFPA/Campus
Desenvolvimento Rural público-alvo de
Castanhal -
Sustentável da Amazônia– diversas políticas de
Mestrado Engenharia de Economia
IFPA; Núcleo de Estudos Sim, com TS apoio a agricultura
Profissional em Alimentos & Solidária &
3 em Educação e similares e Não - Não Sim familiar e apoio do
Desenvolvimento Agricultura Agricultura
Agroecologia na Amazônia- outras MAPA para
Rural e Gestão de familiar Familiar
IFPA; Tecnologia e certificação
Empreendimento
Processos de Biorrefinaria orgânica para a
Agroalimentares
de Produtos Florestais agricultura familiar
Amazônicos-UFPA
Ciências
UFRA/ISARH –
Biológicas - Núcleo de Pesquisa em EMBRAPA; Política pública para
Lab. de Sim, nas
4 Ecologia - Animais Não Ruminantes- Saneamento Não Santander; Não Sim saneamento
Hidrobiogeoquímica mesmas TS
Recursos UFRA BASA; IDIS descentralizado
(HBGQ)
hídricos
1
Essas informações são referentes aos coordenadores dos projetos junto a SECTET.
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
358
Só na feira de tecnologias que tem todo ano, a gente estava tudo no mesmo stand
(...). Bom, a gente estava lá sim, mas eu não consegui interagir muito com eles
porque foi muita correria, não tinha tempo. (...) Isso seria uma coisa legal, porque
isso era uma coisa que no projeto Santander Universidade Solidária a gente tinha. Qual
a ideia do Santander Universidade Solidária, então todos os que ganham recursos, são 8
projetos premiados, a gente se encontrava, na verdade, uma vez por ano, a gente ia para
São Paulo, eu, um aluno e a comunidade. Todo mundo se encontrava lá, a gente
discutia, via os problemas, e eles ajudavam, assim, muitas vezes a gente aprendia
com a dificuldade do outro. (entrevista por pesquisador de projeto, grifo nosso).
A SECTET sempre convida a gente para participar das feiras de C&T, de alguns
seminários, mas acho que nunca teve um contato direto no sentido de dizer ‘vamos
sentar aqui os gestores dos projetos e ver o que que um pode aproveitar do outro’.
(...) A gente sabe que lá no Acará mesmo tem outros projetos que a SECTET apoia,
acho que até do IFPA, mas a gente não sabe assim. (entrevista por pesquisador de
projeto, grifo nosso).
Quando a gente chegou lá em Boa Vista do Acará, a gente viu que já tinham outras
instituições lá dentro, fazendo outros trabalhos, a gente não conseguiu dialogar com
nenhuma delas, talvez por falta de agenda. Tem uma aluna nossa do mestrado que
trabalha acho que é numa ONG, e ela levantou essa possibilidade, e me colocaram,
inclusive, em um grupo de WhatsApp deste, mas não tem diálogo nenhum entre as
instituições. Então, eu falei para ela assim que eu achava interessante a gente sentar para
dizer o que cada um está fazendo para a gente não está fazendo a mesma coisa, ou ver o
está fazendo para dizer ‘ah legal, o que tu estás fazendo complementa o meu’, mas a
gente não conseguiu, não sei te dizer porquê. (...) E essa moça ficou de marcar uma
reunião desses grupos de comunidade para a gente se apresentar, ela disse que ia fazer
em outubro, novembro, mas não nos sentamos, não conseguimos. E isso eu acho que
não é um problema de Boa Vista do Acará não, as instituições, elas não estão
conversando. (entrevista por pesquisador de projeto, grifo nosso).
Desta forma, compreendemos que, embora estas equipes e grupos de pesquisa estejam
desenvolvendo projetos de TS no estado do Pará e, mesmo em concepções discursivas
próximas (casos dos projetos 1, 3 e 4), não há articulação interinstitucional ou ainda
mobilização de ações coletivas entre estes grupos de pesquisadores, seja no âmbito de
pesquisa sobre TS, seja no âmbito de defesa política da TS. Do ponto de vista da política
estadual de TS pela SECTET, havia neste momento maior incentivo a ideia de disseminação
de TS a um público difuso, em eventos nos moldes de popularização de C&T, do que no
estímulo para a articulação e construção da temática no âmbito da comunidade de pesquisa
local.
359
Quadro 32 – Grupos de pesquisa com sede no estado do Pará no DGP/CNPq com linhas temáticas
sobre tecnologia social1
Área
Grupo Linha de Pesquisa Instituição
Predominante
Economia, Desenvolvimento, Tecnologias da Informação
Ciências Sociais
Criminalidade, Estado, Políticas Públicas ligada ao desenvolvimento UFOPA
Aplicadas
e Geotecnologias. socioeconômico e
Ciências
Estudos Socioambientais Costeiros Tecnologia social UFPA
Humanas
Gestão Estratégica Inovação e Ecossistema de Negócios e Ciências Sociais
CESUPA
Sustentabilidade Infraestrutura Na Amazônia Aplicadas
Gestão Social e do Desenvolvimento Tecnologias Sociais e Ciências Sociais
UNAMA
Local Desenvolvimento Territorial Aplicadas
Grupo de estudo e pesquisa em Ciências Exatas
Tecnologias Sociais UFOPA
computação aplicada e da Terra
Biodiversidade e
Grupo de Estudos em Meio Ambiente e Ciências Exatas
Sustentabilidade da Amazônia IFPA
Segurança no Trabalho e da Terra
Ensino Profissionalizante
Grupo de Pesquisa em Educação, Ciências
Tecnologias Sociais UFPA
Tecnologias e Comunicação no Marajó Humanas
Meio Ambiente, Desenvolvimento Rural Inovações tecnológicas na Ciências
UFPA
e Inovação Tecnológica na Amazônia Amazônia Humanas
Tecnologias alternativas e de
Núcleo de Acesso e Transferência de Ciências
baixo para a secagem de UEPA
Tecnologias Sociais Agrárias
produtos agroflorestais
Núcleo de Pesquisas Aplicadas ao Educação e Estratégias Ciências Sociais
UEPA
Desenvolvimento Regional sustentáveis Aplicadas
Paideia - Grupo Amazônico de Estudos e Produção do conhecimento em
Ciências Sociais
Pesquisas de Serviço Social, Educação e Serviço Social nas áreas da UFPA
Aplicadas
Cultura Educação e da Cultura
Sustentabilidade Socioambiental na Antropologia Direito Inovação e Ciências
MPEG
Amazônia e Suas Múltiplas Faces Meio Ambiente na Amazônia Humanas
Tecnologias Sociais - Engenharias UFPA
Ciências Exatas
Tecnologias sociais - CESUPA
e da Terra
Trabalho, Tecnologia Social e Economia Solidária e Tecnologia Ciências Sociais
UFPA
Desenvolvimento da Amazônia Social Aplicadas
1
Busca exata realizada com expressão "tecnologia social" e "tecnologias sociais" nos campos de grupo, linha
temática e palavra-chave.
Fonte: CNPq (2019b).
É uma relação muito de pertencimento, também prejudica muito. ‘Ah, não posso
divulgar, publicizar muito o que eu faço, para as outras instituições também não
começarem a acessar’, ou seja, fazer aquilo que eu faço, também existe muito dentro
dessa lógica de proteção. (...) Por exemplo, eu faço parte de uma rede, que é a rede das
incubadores, quase a gente não reuni, quase a gente não troca conhecimento porque é
fechado. Infelizmente, a gente vive muito dentro dessa cultura da concorrência, então as
universidades e as instituições de ensino também, de certa forma, elas competem entre
si, há uma concorrência entre si. Aí, isso é difícil de quebrar, de mudar, fazer alteração.
Então, todos esses fatores, de certa forma, fragilizam todo esse debate teórico,
conceitual e prático da tecnologia social, mas que é necessário. (entrevista por
pesquisador de projeto).
Hoje a gente tem parceria com parceiros internacionais, um dos parceiros do Celcom é a
ONG do México, a Rizomática, e a gente aprende muito com eles. Eles são referência
na América Latina para redes comunitárias.
(...)
A gente aprende bastante com eles, eles também convidam a gente para participar
de muitos eventos, para a gente também ir aprendendo e ganhando essa
experiência de delegar pela causa, e aqui no Brasil nós somos os únicos que
trabalhamos nesse estilo de redes comunitárias licenciadas e usando telefonia celular,
porque tem outro caso das redes comunitárias que é só internet. (entrevista por
pesquisador de projeto, grifo nosso).
Quadro 33 – Elaboração sintética da concepção, desenvolvimento e avaliação de tecnologia social nos projetos apoiados pela SECTET, 2015-2017
Código do
Enfoque sobre formulação de proposta do projeto Enfoque sobre desenvolvimento do projeto Enfoque sobre avaliação
projeto
A solução tecnológica foi inicialmente concebida a partir da As instalações foram feitas com apoio da ONG Rizomática, e
identificação de uma solução não-fechada e de telefonia celular em tem funcionado, porém com alguns problemas relacionados a As instalações-pilotos são monitoradas,
um encontro científico. Dois trabalhos de estudantes foram condições climáticas, principalmente chuvas fortes na região. em geral, as quedas tendo sido
realizados sob orientação do coordenador do laboratório, um no Há visitas as comunidades com objetivo de realizar cursos na relacionadas a chuvas fortes. São
1
sentido de desenvolver uma 'base station' para criar um sistema área de internet e computação, em que a presença maior é de elaborados relatórios regulares para a
celular independente da rede comercial; outro referente a um estudo jovens; e de reunir com os representantes da associação de SECTET, e recebido retorno do fiscal
com um sistema piloto em uma comunidade. Nesse período, o moradores sobre o desenvolvimento do projeto e a do projeto.
convênio com a SECTET foi celebrado. manutenção do sistema.
Avaliação do protótipo a partir do
Proposta de experimento para avaliar os aspectos operacionais do Instalação de reatores para análise e experimento dentro da
monitoramento dos aspectos
reator UASB unifamiliar no que diz respeito a questões de eficiência cidade universitária José da Silveira Neto da UFPA, um no
operacionais dos reatores pela equipe
2 de tratamento e volume mínimo necessário de iodo no interior do Laboratório de Engenharia Sanitária e Ambiental e outro no
técnica. Avaliação pela fiscalização da
reator, bem como o tempo necessário para retirada do lodo de prédio de apoio da segurança, com controle e monitoramento
SECTET via visita técnica e emissão de
excesso (esvaziamento parcial do tanque) pela equipe do projeto.
laudos e notas técnicas.
A partir do diagnóstico realizado na comunidade, foram
A proposta em torno de convênio surgiu a partir de um problema definidas cinco linhas de atuação: (1) linha organizacional
Há processo de avaliação junto a
identificado na agricultura familiar, no nordeste paraense, no Pará, para elaboração do plano de gestão para cooperativa; (2) linha
comunidade, por exemplo por meio de
até mesmo do Brasil com o objetivo de fortalecer os processos para certificação orgânica participativa; (3) linha de
seminários e rodas de conversa; e há
3 produtivo e comerciais deste público. Uma vez celebrado o desenvolvimento de estratégias de comercialização de circuito
organização de relatórios para avaliação
convenio, foi realizada a etapa de pré-diagnóstico para direcionar as curto; (4) linha voltada a identificação e introdução uma lista
da SECTET, com levantamento de
ações específicas a serem desenvolvidas para as demandas e de plantas medicinais no processo de certificação e
indicadores e produtos desenvolvidos.
necessidades locais da comunidade. comercialização de circuito curto; (5) beneficiamento para
diversificação da produção local.
O projeto inicial para esta comunidade foi concebido para resolver Depois de instalados os sistemas de
um problema de degradação ambiental relacionado ao captação de água e banheiros,
desaparecimento de abelhas que afetava a produtividade de açaizais. Todas as ações são discutidas com a comunidade, e as TS retornaram à comunidade para verificar
Ao interagir com a comunidade identificou que o problema mais construídas por esta com a participação e orientação dos com os membros o que melhorou, se
grave nesta era relacionado a disponibilidade de água potável, pesquisadores, ocorrendo readaptações e melhorias a cada houve mudanças, se surgiu problema e
4 começando um diálogo com a comunidade para formulação de ciclo de implantação. Após as instalações dos 15 sistemas de se há melhorias identificadas para uma
proposta de atuação nesta linha. A partir desta interação, outras captação de água e dos banheiros ecológicos, estão sendo possível reinstalação. Essas avaliações
ações decorreram, como o caso do banheiro ecológico ribeirinho. realizados monitoramento da qualidade da água, e do material acrescentadas aos estudos da qualidade
Com a divulgação da cartilha elaborada sobre o banheiro ecológico gerado pela compostagem. de água e impactos da TS na
foi contatada pela SECTET para formulação de proposta ao comunidade comporá relatório a
convênio. SECTET.
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
363
(sobre o conceito de tecnologia social) Eu não tinha nem ideia, eu escutava lá longe
alguém falar disso, mas eu não tinha nem ideia, porque a minha área sempre foi muito
pesquisa de ecologia, então tecnologia era uma palavra que passava bem longe da
minha vida assim. E aí, quando eu comecei a trabalhar com isso, aí começou a cair,
não, mas o que eu estou fazendo é tecnologia social. Aí eu fui entender, depois que eu
estava fazendo aquilo, que eu fui entender que aquilo era uma tecnologia social.
(entrevista por pesquisador de projeto, grifo nosso).
Antes o projeto era somente de tecnologia de baixo custo, só por você conseguir
baixar o custo da tecnologia, você consegue entrar mais no mercado, teoricamente.
Com o tempo, como já tinha comentado, fomos ganhando novas amizades e o
projeto também foi mudando a cara, (...) o lado mais humanístico do projeto
ganhou bastante. (entrevista por pesquisador de projeto, grifo nosso).
A gente faz seminários, a gente faz reuniões de avaliação, a gente inclui eles na
execução dos projetos. Então quando a gente vai para a comunidade, tudo é feito com
eles, então a gente nunca chega lá dizendo o seguinte, olha, hoje vai ter o curso tal, se
364
preparem. Primeiro vai a equipe, senta com as lideranças, com as pessoas que estão na
linha de frente, vamos pensar em uma atividade formativa... Ali dentro da
universidade, por exemplo, quando a pessoa vai avaliar, vai avaliar qual é o
método, qual é a metodologia, não necessariamente ele está relacionando com o
conceito, com o impacto, com a interação com a comunidade, com os benefícios
que vai trazer, com o processo da reaplicabilidade, então tem todas essas variáveis
que precisam colocar em conta. E quem analisa a partir do conceito (de tecnologia
social) já vê tudo isso. (entrevista por pesquisador de projeto, grifo nosso).
Como a gente fez agora, depois que a gente instalou elas (tecnologias sociais) em
agosto, e agora, semana passada, que a gente foi lá no campo e conversou lá com eles.
O que melhorou? O que não melhorou? Mudou alguma coisa? Qual é o problema? Tipo
assim, se a gente fosse reinstalar, o que que a gente pode mudar? Então, o legal da
tecnologia social é isso que você sempre adapta ela, você cria um modelo, mas cada
lugar que você vai aplicar, você faz a sua readaptação. Então na tecnologia social
quem mais tem que ser escutado é a comunidade, porque ela é o termômetro que
vai dizer se aquilo funciona ou não. (entrevista por pesquisador de projeto, grifo
nosso).
Cada vez a academia está mais fechada, assim, 'não, eu só estou aqui para produzir
artigo, não sei o quê A1, Qualis não sei o quê, é isso que eu quero', e você esquece de
resolver os problemas. E aí, a gente está com problema de lixo, de saneamento, de tudo,
de tudo, porque não se resolve mais problemas." (entrevista por pesquisador de projeto).
A gente é uma força muita fraca, porque tecnologia social, o que que é? Porque todo
mundo pensa na tecnologia desenvolvimentista, vamos abrir estradas, vamos abrir
não sei o quê. Então, isso é algo assim, é uma briga muito grande. E assim, uma coisa
que eu converso muito com o (...), assim a gente tem de mostrar resultados e resultados
muitos bons para começar a convencer as pessoas. Por isso que a gente quer também
fazer o lançamento dessas cartilhas, o fechamento do projeto lá na ilha, levar o
secretário, para ver se a gente consegue embutir na cabeça deles a importância disso.
Porque eu sei, o (...) sabe, mas a maior parte das pessoas não quer isso aqui, acha que
isso aqui é voltar para trás, porque ‘ah, vou fazer aquela casinha, vou mexer com fezes
humanas?’ E assim é um pensamento muito retrógado, porque a gente está em um
período, um momento, que nosso planeta está quase entrando em colapso, contaminação
de água, degradação dos recursos, falta de insumos para agricultura, isso aqui é um
excelente fertilizante. (...) E a gente faz o quê? No nosso caso aqui, a gente joga tudo na
baía do Guajará e degrada o corpo hídrico. Então assim isso aqui (tecnologia social) é
uma coisa muito simples, muito barata e funciona muito bem, e não é uma coisa
retrógada, é pensar em um desenvolvimento que pense o futuro. (entrevista por
pesquisador de projeto, grifo nosso).
A partir deste reconhecimento explícito por membros dos projetos de que a TS é uma
temática marginal na política de CT&I, e que se apresenta em diversos pontos distintiva ou
contrapondo-se ao modus operandi tradicional de pesquisa, estes atores também discutem
desafios e estratégias para consolidação e ampliação do espaço de agenda da temática.
Em termos de estratégias para promoção da política de TS, dois pesquisadores
realçaram a necessidade de obter resultados diferenciados, bem como demonstrá-los de forma
também distintiva. Isso implica, em geral, em atender a duas perspectivas, por um lado,
levantar resultados a partir dos beneficiários e das comunidades, com foco em avaliações de
366
O que eu acho que vai dar vazão é se a gente entregar algo palpável para a SECTET.
Porque para a gente a simples feira já algo bem positivo para as comunidades, porque
eles conseguiram identificar que existe um potencial enorme que eles nunca
deslumbraram, nunca tiveram coragem de fazer. Porque a gente pensa em dois
públicos, os agricultores, para a gente isso minimamente já temos alcançado, e outro a
SECTET, mas porque para a SECTET? Porque a SECTET é que fomenta isso, e como
ela pode garantir nos anos seguintes projetos para outras comunidades, ou até para a
própria Boa Vista do Acará? Através de editais e até de políticas públicas para favorecer
a agricultura familiar. (entrevista por pesquisador de projeto, grifo nosso).
Essa era a ideia da SECTET com a gente de realmente mostrar que isso funciona,
então dar uma visibilidade e transformar isso em uma política pública. Então, esse
é o nosso sonho de levar isso para todo lugar assim. O tempo todo tem gente aqui
conversando comigo sobre isso. (...) A gente precisa de ajuda para transformar isso em
uma política pública. (...) Então, assim, eu acho que o nosso papel aqui é isso, a gente
está aqui como universidade para fazer a tecnologia social, sim, mas eu também tenho
que me certificar que ela funciona, que a água é potável, então eu tenho que fazer
análises, tenho que fazer adaptações. (entrevista por pesquisador de projeto, grifo
nosso).
Eu acho que tem duas formas, uma é uma avaliação mais quantitativa, isso é
necessário, quantitativo em termos de indicadores. Vamos pegar o exemplo de Boa
Vista, então o nosso projeto tem os possíveis indicadores, um indicador tem a ver com a
qualificação, a formação das pessoas, então quantas pessoas foram formadas, que cursos
foram. O segundo tem a ver com o contexto produtivo, então em termos de produção, o
que melhorou ali? Qual foi o impacto que gerou na questão da produção? Houve uma
mudança do adubo orgânico em termos percentuais de taxa? Melhoria da qualidade? Foi
possível dentro do período do projeto, um ano, dois anos, ter melhoria de qualidade de
vida? Como a gente pode ver? Pela renda, pelo acesso aos bens duráveis.
(...) Tem um outro lado que é como a gente consegue construir uma avaliação
subjetiva do processo. (...) Tem que ser dos dois (comunidade e pesquisadores), pode
ser inclusive dos três (comunidade, pesquisadores e Estado), por exemplo, do subjetivo,
o grupo que está lá conseguiu ampliar o conhecimento? (...) O tempo é uma variável
subjetiva da avaliação, porque o tempo do Estado é um, o nosso tempo é outro, e o
tempo do beneficiário é outro. Só um exemplo simbólico, por exemplo, essa variável
tempo, ela tem um limite da gente atuar. Por exemplo, a escolarização do beneficiário, o
entendimento dele do processo que não é quantificável, por exemplo, a gente formar
eles a fazerem um adubo orgânico. Não é possível mensurar isso em termos de
indicadores objetivos, (...) mas em termos subjetivos, isso em termos de impacto é
riquíssimo e a gente não consegue mensurar porque não tem espaço, a gente não
consegue mostrar na avaliação porque não tem espaço.
(...)
Na avaliação da feira, que eu te falei que a gente fez uma avaliação muito rápida do que
foi aquele ensaio daquela feira, tem as falas delas (...), por exemplo, ‘olha a gente viu
que é importante, que tem um potencial, a gente está muito feliz de estar aqui, a gente
conseguiu vender todos os produtos que a gente produziu, que a gente achava que não
tinha produção, que a gente não podia’. (entrevista por pesquisador de projeto, grifo
nosso).
367
muita coisa, mas é essa história, não gera renda. Mas, mostrar para elas que é
possível além de ser dona de casa, você gerar uma renda.
(...)
Isso tem agregado muito nas vidas deles, então, por exemplo, nas mulheres, isso tem
sido muito fortalecido, porque são pessoas que muitas vezes são sujeitos invisíveis,
elas fazem muito, mas não são valorizadas. Fazem muito, mas não tem renda.
Então, por exemplo, a participação das mulheres nas feiras, lá em Igarapé-Mirim a
história da extração da andiroba. Então, a gente tem acompanhado isso que muito
fortemente, a partir do gênero inclusive, isso tem se fortalecido muito a partir destes
projetos. (entrevista por pesquisador de projeto, grifo nosso).
A água e o saneamento, ele é o básico para a questão da inclusão social, e a gente tem
visto também, assim, uma coisa que eu acho legal das nossas tecnologias é a questão de
gênero. Porque, quem é que tem que prover água para o lar? É a mulher. Então,
geralmente é a mulher que tem que ir lá no rio pegar um balde d'água, levar nas
costas, tudo isso. E no momento que você tem um sistema desses dentro da sua casa,
você está ajudando na questão de melhorias das questões da mulher. E o banheiro
também, porque muitas vezes a mulher que é mais suscetível em determinados
períodos em ir para o mato, enfim, usar o mato como banheiro. Então, eu vejo que é
assim uma mudança muito grande na vida da mulher. E a mulher tem a questão, né, ela
tem que fazer muita coisa, tem que cuidar de filho, tem que fazer comida, e aí, ela tem
que ir lá no rio buscar água, ou ir lá no mato no banheiro, então isso facilita muito a
vida da mulher. E a questão que a mulher engravida, então no período de gestação
facilita muito a vida dela, se ela tem um sistema de captação de água da chuva e um
banheiro aqui acoplado na casa dela é outra coisa do que ela ir lá no mato, correr o
risco de ser picada por uma cobra, ou ir lá no rio pegar uma malária em função
dos vetores que existem no corpo hídrico. Então, eu acredito que as duas tecnologias
sociais que a gente vem trabalhando, servem muito, são tecnologias inclusivas, que
buscam essa questão de amenizar um pouco os problemas das desigualdades
sociais e para você melhorar um pouco essa questão de gênero, né, que você
valoriza mais a mulher pelos seus afazeres. (entrevista por pesquisador de projeto,
grifo nosso).
Eu acho interessante que lá na ilha tem uma casa, a casa do seu Zé Maria, lá na ilha não
tinha nenhum tipo de água, a gente instalou os primeiros sistemas. Aí depois disso, veio
um sistema instalado pelo INCRA, e depois veio um sistema instalado pela FUNASA.
Ambos os sistemas puxam água do rio e filtram, bombeiam e filtram. Só que você
imaginou filtrar água da baia do Guajará, cheio de sedimento e contaminante. Eu acho
interessante é o exemplo da casa dele, ele tem os três sistemas, você pergunta para
ele ‘qual a água que você bebe?’ ‘Só a água da chuva, porque as outras nenhuma
presta, nenhuma funciona’. E aí, a gente vê, o nosso sistema um custo muito baixo,
2 mil reais, do INCRA foi 24 mil reais e o outro foi 17 mil reais, e não resolve o
problema. (...) Na mesma casa, aí tu vês, assim, é uma coisa muito doida que um
recebe três sistemas, e o outro do lado não tem nenhum. Porque a gente continuou nas
mesmas casas e os sistemas foram implantados depois, e ninguém, tipo, os que estavam
implantando, ninguém disse ‘poxa, mas o que que é isso aqui?’, ‘quanto que custa
isso?’, ‘Isso funciona? (...) Enfim, está lá, o pessoal usa para lavar roupa, tomar banho,
para outros fins, mas para usar quando não tem água da chuva, que tem períodos que
passa um tempo sem chover, que nem a casa do seu Zé Maria, lá tem muita gente, mora
muita gente próxima, então a caixa d’água muitas vezes não dá o sistema dele, aí ele
tem que vir para Belém comprar água, mas ele não toma as outras águas dos outros
sistemas.
(...) Deixa eu mostrar que isso aqui (TS desenvolvida) funciona, e vou fazer isso. Eles
não fazem, eles não dão assistência, eles disseram que iam voltar para analisar a água,
mas até hoje nunca voltaram, porque eles iam fazer análise para dizer se a água prestava
ou não, como eles dizem, né, e até hoje eles não voltaram. (entrevista por pesquisador
de projeto, grifo nosso).
com os atores sociais a quem se destina, sendo estes entendidos como atores participantes do
processo de desenvolvimento tecnológico e da política, neste sentido, compreendendo ter um
modelo de inovação interativo. Exceção a esta concepção de modelo de inovação e interação
com o público-alvo foi o projeto 2, o qual a partir do projeto e relatórios entendemos que a
concepção de TS tende a estar mais vinculada ao critério de baixo custo para atendimento de
população vulnerável, mas mantendo um modelo de inovação linear, centrado nos atores da
comunidade de pesquisa.
Assim, embora neste período não tenha emergido um novo documento de diretrizes
norteadoras para a política de TS, observamos que a maioria dos projetos fomentados
apresentou concepções similares de TS e condizente a concepção prevista na RTS-PA, mesmo
esta sendo preterida nos processos decisórios da política, no decorrer de 2016 até sua total
suspensão de reuniões em 2016. Em todo caso, também já é possível ver uma certa variedade
discursiva de concepção de TS entre os projetos apoiados, notadamente o projeto 2 se
distinguiu dos demais. Contudo, em 2017, observamos a articulação de um novo documento
orientador para a política estadual de TS, a partir de uma estratégia distinta da anteriormente
concebida em torno da RTS-PA, e uma busca de institucionalização de uma nova
instrumentalização de fomento, como vemos na seção seguinte.
segunda forma, novamente toma um contorno mais fluído, com enfoque a melhoria de
qualidade de vida de usuários, ainda que não haja transformações nas relações sociais
vigentes.
TS, como vislumbrado na RTS-PA, mas estabelece a SECTET enquanto entidade central
responsável por "instituir os mecanismos de fomento às tecnologias sociais" (art. 5º), sendo
indicadas como organizações de operacionalização da política a FAPESPA e o PCT Guamá
(art. 4º). Assim, o processo de governança está assentado nas duas organizações centrais da
política estadual de CT&I (SECTET e FAPESPA) e OS associada.
Na resolução é previsto que mecanismos de fomento serão articulados ou promovidos
por "ações de integração entre governos, sociedade civil, comunidade acadêmica e empresas
com foco nas Tecnologias Sociais". Não há outra menção específica a participação de atores
de comunidades ou dos grupos sociais em desvantagem, usuários a quem as TS viriam ser
desenvolvidas, mas entendemos que estes estariam abrangidos pela "sociedade civil". Porém,
há de ponderarmos que as instâncias colegiadas existentes da política estadual de CT&I
(inclusive o próprio CONSECTET, instância na qual a resolução foi aprovada) tem sua
representação preponderantemente baseada em organizações do complexo de C&T, em menor
proporção órgãos governamentais (principalmente vinculados a política ao setor produtivo e
desenvolvimento econômico) e entidades empresariais.
Deste modo, apesar da resolução prever a integração da sociedade civil, que poderia
contemplar a representação dos públicos a quem as TS seriam destinadas, na prática, as
organizações e instância colegiada existentes não incluem representação destes atores sociais
em seus processos de governança. Logo, ao manter-se nas instâncias de representação
existentes, a possibilidade de atuação desses comunitários ou grupos em desvantagens como
atores políticos na política estadual de TS não é vislumbrada de forma efetiva. Sua efetividade
requereria a implementação de algum desenho de governança específico. Portanto, os atores
políticos conjecturados nas instâncias de governança a incidir sobre a política estadual de TS,
são os mesmos habilitados para a política de CT&I geral do estado, com predomínio da
comunidade de pesquisa.
projetos de TS, e, portanto, sem um instrumento de indução mais eficaz. A medida em que se
vislumbra a efetividade e regulamentação do fomento a TS, observamos tanto a ampliação de
interesse sobre a temática (foram 86 propostas submetidas ao edital nº 006/2017 de diversos
grupos de pesquisa e ONG); quanto um aumento da disputa discursiva em torno desta, uma
vez que a temática de desenvolver C&T para grupos sociais vulneráveis passa a ser capturada
e respondida a partir das diferentes orientações discursivas existentes. Desta ampliação de
interesse e de variedade de orientações discursivas em torno da temática de TS, entendemos
que resulta substancial interdiscursividade expressa na resolução nº 003/2017.
Contudo, tais disputas discursivas são necessariamente reconhecidas por todos os
atores no campo, e quando admitidas não são interpretadas da mesma forma. De acordo com
um integrante do CONSECTET, quando consultado sobre a mudança conceitual de TS nos
documentos da política estadual (mudança do conceito proposto na RTS-PA para o da
resolução), expressou o seguinte entendimento.
Obviamente que, eu diria assim, o voltado para a comunidade não exclui a possibilidade
de uma construção conjunta, e uma construção conjunta não pode significar, como era o
conceito anterior, não pode significar uma dependência dessa articulação prévia com a
comunidade, as duas coisas podem acontecer, a gente tem que dar abertura a isso, a
gente não pode ficar preso em voltado ou em conjunto, isso para mim é secundário, isso
não pode ser uma camisa de força. Então, digamos que isso tudo tem que ser
interpretado de uma maneira muito ampla, permitindo as várias. Obviamente, que para
você fazer uma ação na comunidade, voltada, você não pode chegar lá se introduzir sem
explicar o quê que está fazendo, vai ter que ter a participação dela, inevitavelmente, na
prática. E, certamente quando você diz em articulação com a comunidade, você não
pode partir da premissa que a comunidade tem condições de ela própria de desenvolver
tecnologia. Você tem que entrar em interlocução com ela. No primeiro caso, para você
adotar, você tem que ter a aquiescência dela, o aceite dela, e ela vai participar de alguma
maneira, lhe dando o espaço, dialogando e assim por diante, então ela está participando
de alguma maneira, na primeira. Na outra interpretação, você não pode fazer com que
um acadêmico que tenha uma grande ideia tenha que depender da comunidade para
poder tentar implementá-la, em termos de criação, porque senão você pode cair do outro
lado que é o populismo, ‘ah, não foi criado a partir da comunidade e tal’. A ciência, ela
independe da comunidade, mas ela tem que ser feita para comunidade, senão ela não
tem sentido social também. Então, eu diria que essa mudança aí não foi algo que foi
discutido, que foi debatido, é uma expressão, poderia ter ficado a primeira, entrou a
segunda, foi apenas uma redação de momento. Não houve nenhuma discussão filosófica
sobre isso. (entrevista concedida por integrante do CONSECTET).
Eu vi lá, a gente leu, eu li a resolução, né. É, mas é porque tem que a ver com o que tu
colocaste, esse retrocesso que a rede sofreu, principalmente nestes últimos anos, não
teve mais o espaço de debate. Uma coisa que eu ia propor era o seguinte, olha, em uma
possível reconstrução da rede e tal, que a gente consiga retornar e que os beneficiários
façam parte também, não são só as instituições de ciência e tecnologia. (entrevista
concedida por pesquisador de projeto).
Assim, para este ator político que atua com TS nos moldes mais associados a uma
concepção de CT&I orientada para a sociedade, a partir de um modelo interativo com a
participação ativa de beneficiários, há um reconhecimento de mudança conceitual. Mas, para
além da questão conceitual, demonstra-se significativo a necessidade de existência de uma
estrutura de governança em que estes beneficiários efetivamente participem do processo de
política estadual de TS.
De outro ponto de vista, partindo de um servidor público atuante na política de TS, a
mudança do conceito pode ter sido estratégica, com vistas a proporcionar uma melhor
condição de defesa da temática de TS frente a um novo cenário político.
Eu acho que o nosso conceito, ele acaba sendo propositalmente redundante, acho que é
uma estratégia, porque ele foi feito por várias mãos (...) Eu acho que é válido no sentido
do cenário político, no sentido do cenário de mudanças, você, às vezes, cometer certas
redundâncias, porque as TS são para as comunidades que não estão (...) para
comunidades que estão à margem da expansão do capital. (entrevista concedida por
servidor público atuante na política de TS).
comunidade de pesquisa e na estrutura da SECTET. Contudo, se, por um lado, esta ampliação
de atores implicou também em uma maior variedade de discursos em disputa, por outro lado,
não observamos um adensamento de grupos de atores (principalmente pesquisadores) em
torno de posicionamentos de defesas mais mobilizados coletivamente para construir canais de
influência na política. De modo que, a política estadual e TS tornou-se mais centrada no
próprio processo decisório da SECTET. Neste sentido, buscaremos na próxima seção fazer
uma discussão sobre as possibilidade e limites de formação e consolidação de coalizão(ões)
de defesa para a política de TS no domínio da CT&I.
Em termos dos projetos fomentados, identificamos que três destes apresentaram uma
concepção de TS similar, particularmente em relação a valorização da interação da
comunidade na pesquisa e do escopo finalístico ser voltado a uma agenda local e de
desenvolvimento social, estando mais próximos ao discurso da CT&I orientada para a
sociedade. E um projeto, que, embora tivesse voltado ao atendimento de populações carentes,
adotava uma visão associada a um modelo linear de inovação, cujo enfoque estava em uma
experimentação e centrada nas análises e desenvolvimentos da própria equipe científica, mais
próximo a concepção de tecnologia apropriada. Assim, apesar de haver uma ênfase a
concepção discursiva da CT&I orientada para a sociedade, emergiu certa variedade
discursiva.
Entendemos que, no âmbito dos projetos, a maioria proporcionou espaço para
participação dos atores sociais beneficiários, seja na construção de conhecimentos e
aprendizados sobre a tecnologia, seja na tomada de decisão sobre o projeto. No entanto, em
relação a governança da política estadual de TS, esta já se demonstrou mais centrada na
estrutura interna da SECTET, não havia um desenho que contemplasse a representação direta
dos beneficiários, cujos interesses tenderam a ser mediados pelos atores principais da política,
ou os pesquisadores, ou o corpo burocrático da CTDS, para chegar aos processos decisórios
da SECTET (particularmente no formato dos projetos de C&T fomentados).
Assim, este foi um momento em que se iniciou a implementação do fomento direto a
projetos, contudo sem uma concepção explícita de sua orientação discursiva, e emergindo
variações nesta pelas práticas nos projetos. O espaço anterior de articulação (RTS-PA) não
chegou a consolidar-se, sendo descontinuado, e não houve proposição (seja por parte dos
pesquisadores, seja por parte do governo/SECTET) de um espaço em substituição que
contemplasse o compartilhamento de conhecimentos e práticas, bem como a articulação
política entre os atores.
O terceiro, que se inicia em 2017, com a aprovação da resolução do CONSECTET nº
003/2017, buscou avançar na institucionalização do fomento a TS pela formalização de um
novo conjunto de diretrizes para a política estadual de TS explícita. Estas diretrizes se
apresentam com maior variedade discursiva em disputa sobre o conceito e práticas de C&T
aplicados a TS, em que posicionamentos discursivos de maior ruptura aos discursos
predominantes na política perdem espaço. Em termos da estrutura de tomada de decisão em
torno da política está é formalmente consolidada na centralidade da SECTET e suas
organizações associadas (FAPESPA e PCT Guamá).
380
8 CONCLUSÃO
O objetivo orientador desta pesquisa foi compreender como tem sido articulado e
efetivado o enfrentamento das desigualdades no processo da política de CT&I em um
contexto subnacional e periférico no Brasil. Para tanto, analisamos, no âmbito da política
estadual de CT&I do Pará, processos de política de fomento a TA e a TS a partir de um
percurso teórico-metodológico que teve por base o referencial de coalizão de defesa e a
análise de discurso.
A partir de um exame da conjuntura da política estadual de CT&I (capítulo 3), que
enfocou principalmente uma visão da agenda da política, corroboramos que, embora esta
agenda seja predominantemente orientada por uma noção de justiça social utilitarista-
agregativa, preocupações distributivas, com o enfrentamento das desigualdades, tem emergido
marginalmente, como iniciativas relacionadas à agricultura familiar, inclusão digital, redução
de assimetrias territoriais em ativos de CT&I e ampliação de autonomia a pessoas com
deficiência e mobilidade reduzida. Dentre essas iniciativas, selecionamos dois temas para
aprofundamento, de modo a constituírem os dois casos em análise neste trabalho, os
processos de política estadual de fomento a tecnologia assistiva (TA) e de tecnologia social
(TS).
Nos capítulos anteriores, particularmente nos capítulos 4 e 5 para TA e nos 6 e 7 para
TS, buscamos analisar intrinsecamente cada caso, em suas respectivas conjunturas e processos
de política. Nesta conclusão, procuramos fazer algumas discussões de análise inter casos e,
baseados nestes, assinalar alguns apontamentos na direção do referencial teórico adotado, bem
como na direção de contribuir com o fortalecimento destes processos de política no que tange
a oportunidades de aprendizados para seus defensores.
Assim, esta conclusão está dividida em duas seções. A primeira está voltada aos
apontamentos sobre a concepção de coalizão de defesa no bojo do quadro teórico adotado e
dos processos de política para enfrentamento das desigualdades analisados, com vistas a
identificar limitações e potencialidades para formação de coalizões de defesa. A segunda
seção remete outros apontamentos de estudos futuros.
384
143
Lembramos que, como proposto por Sabatier (1993), a existência de uma coalizão de defesa não pode ser
assumida a priore no processo de política, mas verificada em termos de suas condições essenciais, o
compartilhamento de um sistema de crenças entre atores políticos e a coordenação coletiva destes de uma forma
não-trivial.
386
acima mencionadas no caso de TA, porém não reconhecemos neste caso o exercício deste
papel.
Cabe consideramos que a chegada à agenda da temática de TS teve trajetória bastante
distinta daquela de TA. A estratégia adotada pela empreendedora da política de TA, dada a
marginalidade deste tema na agenda de CT&I, foi buscar apoio junto ao chefe do executivo
estadual (governador do estado), articulando interações na política de CT&I, mas também na
política de assistência social e de saúde (intersetorialidades no âmbito da TA). No entanto, a
ascensão do tema de TS na agenda de CT&I foi construída dentro da própria estrutura da
secretária de estado responsável por esta pasta (SECTI à época), tendo origem que
entendemos mais centrada ao processo decisório governamental da CT&I, e, portanto, mais
relativamente dependente deste.
O papel chave que compreendemos que foi e vem exercido a emergência e
manutenção da política estadual de TS é o de intermediário da política (policy brokers), ator
político em posição chave no processo decisório da política que media disputas entre grupos
de atores, com a preocupação principal de estabelecer um nível de compromisso razoável ao
desenvolvimento da política, com a redução de intensidade de conflitos (JENKINS-SMITH;
SABATIER, 1994).
Compreendemos que a criação da DTS e manutenção da CTDS, durante o período
estudado, reflete a disposição do dirigente estabelecer algum espaço na agenda, por mais que
marginal, à temática de inclusão e desenvolvimento social na CT&I. Contudo, observamos
que, apesar do intermediário da política compor papel relevante para a emergência e
manutenção da temática na agenda (assim, de certa forma operando um efeito similar ao papel
do empreendedor), este não cumpre função em relação à formação de coalizão de defesa,
como aquelas do empreendedor, uma vez que o intermediário não integra ou atua
efetivamente na temática em promoção.
Estes apontamentos, quanto às diferenças entre os papéis exercidos pelas distintas
posições chaves (empreendedores e intermediários de políticas), demonstram ter
rebatimentos, não somente nos processos de mudança da política pelas diferentes interações
destes com possíveis coalizões de defesa. Mas, porque estes papéis incidem em condições que
favorecem a própria formação ou não de coalizão de defesa no processo da política, direção
de pesquisa que consideramos possa contribuir para o quadro de referência de coalizão de
defesa.
Em termos de oportunidades para fortalecimento das temáticas para enfrentamento das
desigualdades na política de CT&I, MacLachlan et al. (2018) já indicavam a importância do
387
etc.) teriam maiores retornos aos esforços de mobilização. Estes são aspectos que
consideramos terem limitado o desenvolvimento de uma coalizão de defesa para TS no
âmbito estadual.
O lançamento regular de editais específicos, como o lançado em 2017 pela SECTET,
pode ter efeito indutor para a articulação dos atores locais, bem como outras iniciativas a
partir da estrutura da SECTET (como, por exemplo, havia sido a tentativa da RTS-PA).
Porém, estas induções, para terem efeitos de mobilização política, requerem maior
perenidade, além de que, consideramos que seja necessário, à formação de coalizão, o
engajamento dos atores locais em interações e formas de coordenações mais intensas.
Por isso, esta maior exposição às ambiguidades sugere duas dificuldades que exigem
maior esforço aos membros das coalizões nascentes. A primeira se refere a um esforço
constante de vigilância e alinhamento entre as práticas cotidianas realizadas e as práticas
alinhadas ao marco analítico-conceitual construído (sistema de crenças). A segunda é
conseguir construir e colocar práticas disruptivas em ação, ao mesmo tempo em que mantém
certo grau de execução e aderência a práticas sociais estabelecidas que sustente acesso a
recursos relevantes.
8.1.5 Disputas discursivas: sobreposição dos desafios dos processos formativos e das
dificuldades da conformação discursiva no jogo da política
Pelo que acompanhamos, uma vez que alguma temática distributiva emerge na
agenda, provoca desestabilização no discurso de ênfase agregativo predominante na política
de CT&I. Deste modo, ao mesmo tempo em que uma coalizão de defesa nascente desta
temática enfrenta desafios próprios do processo de formação, também tenderá a ser
confrontada com disputas discursivas por outra(s) coalizão(ões) alinhada(s) a discurso(s)
predominante(s) desestabilizado(s) (conflitos intercoalizões).
Nas análises de conjunturas de TA e TS vimos que uma estratégia de reestabilização
discursiva de coalizões pré-existentes se dá pela busca de captura do tema na agenda por meio
de uma (res)significação deste para o mais próximo possível de sua posição discursiva
original. Deste modo, a mesma temática tende a ter em disputa diferentes enfoques
propositivos de enfrentamento das desigualdades (conforme figura 9), que geram práticas com
contornos distintos.
As posições discursivas para enfrentamento das desigualdades, a partir dos discursos
com ênfase agregativa na política (C&T auto orientada e CT&I orientada para o mercado),
tendem a adotar contornos reformistas, como propõe Vasen (2016), que embora tragam um
enfoque de redução de assimetrias distribucionais entre diferentes grupos sociais, estas
posições tornam-se mais limitadas em relação a um direcionamento da redução das
assimetrias estruturais e de assimetrias representacionais na política de CT&I.
393
Figura 9 – Posições discursivas em temáticas para enfrentamento das desigualdades a partir das
orientações discursivas na política de CT&I
Para além dos apontamentos da seção anterior, mais relacionados aos aspectos de
discussão do quadro de referência de coalização de defesa adotado, nesta seção tratamos
394
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APÊNDICE A
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PERÍODO DE 2008 A 2011.
Parceiro
Valor total
Ano Edital-Nº Edital-Descrição Categoria de fomento financiador ou
previsto
Cofinanciador?
Bolsas para pós-graduação
2008 001/2008 CONCESSÃO DE BOLSAS DE MESTRADO E DE DOUTORADO 2.451.540,00 -
stricto sensu
Bolsas para programas de
2008 002/2008 PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC S/I S/I
iniciação científica
EDITAL UNIVERSAL - SELEÇÃO PÚBLICA DE PROJETOS DE PESQUISA
2008 003/2008 Projeto de pesquisa C&T 3.000.000,00 -
CIENTÍFICA, TECNOLÓGICA E INOVAÇÃO
2008 004/2008 PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO REGIONAL – DCR Projeto de pesquisa C&T S/I CNPq
2008 005/2008 APOIO À REALIZAÇÃO DE EVENTOS CIENTÍFICOS Projeto de eventos C&T 600.000,00 -
PROGRAMA DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA JÚNIOR NO ESTADO DO Bolsas para programas de
2008 006/2008 S/I CNPq, SEDUC/PA
PARÁ iniciação científica Jr
PROGRAMA DE APOIO A PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS CIENTÍFICOS E Auxílio a participação em
2008 007/2008 550.000,00 -
TECNOLÓGICOS eventos C&T
Projeto de P&D e inovação
2008 009/2008 PROGRAMA PARAENSE DE APOIO A PESQUISA NA EMPRESA 1.880.000,00 FINEP
em empresas
Projeto para popularização de
2008 010/2008 PROGRAMA PARÁ FAZ CIÊNCIA NA ESCOLA – PPCE 1.080.000,00 SEDUC/PA
C&T
INFOCENTROS NAVEGAPARÁ: AÇÕES COLABORATIVAS PARA CIDADANIA
2008 013/2008 Projeto de inclusão digital 600.000,00 -
DIGITAL – INFOCENTROS
REDES COOPERATIVAS DE PESQUISA CIENTÍFICA, TECNOLÓGICA E DE
2008 014/2008 INOVAÇÃO EM ÁREAS DE INTERESSE DO SISTEMA PARAENSE DE Projeto de pesquisa C&T 10.000.000,00 -
INOVAÇÃO (SIPI)
SELEÇÃO DE PROJETOS PARA APOIO A CONSOLIDAÇÃO DE PROGRAMAS Projeto de programas de pós-
2008 015/2008 1.000.000,00 -
DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU – POSGRAD FAPESPA graduação
PROGRAMA DE APOIO À PUBLICAÇÃO DE REVISTAS, LIVROS, PERIÓDICOS Projeto de publicações tecno-
2008 016/2008 500.000,00 -
E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA científica
APOIO A GRUPOS DE PESQUISA VINCULADOS A PROGRAMAS DE PÓS- Projeto de programas de pós-
2008 017/2008 2.000.000,00 -
GRADUAÇÃO DE INSTITUIÇÕES LOCALIZADAS NO ESTADO DO PARÁ graduação
PROGRAMA DE APOIO A PROJETOS DE PESQUISA E EXTENSÃO
2008 018/2008 Projeto de pesquisa C&T 1.200.000,00 -
TECNOLOGICA INOVADORA Á AGRICULTURA FAMILIAR
2008 019/2008 PROGRAMA DE DIFUSÃO TECNOLÓGICA ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS Projeto de P&D e inovação 600.000,00 SEBRAE/PA
415
Parceiro
Valor total
Ano Edital-Nº Edital-Descrição Categoria de fomento financiador ou
previsto
Cofinanciador?
(MPE) INSERIDAS EM ARRANJOS PRODUTIVOS NO ESTADO DO PARÁ em empresas
Bolsas para pós-graduação
2008 020/2008 CONCESSÃO DE BOLSAS DE MESTRADO E DE DOUTORADO 3.888.000,00 -
stricto sensu
CONCESSÃO DE BOLSAS DE MESTRADO E DE DOUTORADO PARA A CADEIA Bolsas para pós-graduação
2008 021/2008 3.888.000,00 VALE S.A.
DE NEGÓCIOS DA MINERAÇÃO NO ESTADO DO PARÁ stricto sensu
INFOCENTROS NAVEGAPARÁ: AÇÕES COLABORATIVAS PARA CIDADANIA
2008 022/2008 Projeto de inclusão digital 600.000,00 -
DIGITAL
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO
2009 001/2009 Projeto de pesquisa C&T 1.696.000,00 CNPq
REGIONAL – UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ – DCR
PROGRAMA DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA JÚNIOR NO ESTADO DO Bolsas para programas de
2009 007/2009 1.304.000,00 CNPq, SEDUC
PARÁ iniciação científica Jr
CONCESSÃO DE BOLSAS DE APOIO AOS INFOCENTROS DO PROGRAMA Bolsas para programa de
2009 008/2009 1.121.400,00 BASA
NAVEGAPARÁ inclusão digital
2009 009/2009 APOIO A REALIZAÇÃO DE EVENTOS CIENTÍFICOS Projeto de eventos C&T 150.000,00 -
Bolsas para programas de
2009 010/2009 PROGRAMA DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA - FAPESPA 612.000,00 -
iniciação científica
2009 011/2009 PROGRAMA PRIMEIROS PROJETOS - PPP - FAPESPA/CNPQ Projeto de pesquisa C&T 1.050.000,00 CNPq
PROGRAMA DE APOIO A NÚCLEOS DE EXCELÊNCIA
2009 012/2009 Projeto de pesquisa C&T 7.200.000,00 CNPq
PRONEX/FAPESPA/CNPQ
PESQUISA PARA O SUS: GESTÃO COMPARTILHADA EM SAÚDE PPSUS CNPq/DECIT/MS,
2009 013/2009 Projeto de pesquisa C&T 4.200.000,00
MS/CNPQ/FAPESPA/SESPA SESPA
PROGRAMA DE APOIO A NÚCLEOS DE EXCELÊNCIA
2009 014/2009 Projeto de pesquisa C&T 1.500.000,00 CNPq, SEMA
PRONEX/FAPESPA/CNPQ - MUDANÇAS CLIMÁTICAS
FAPEAM,
REDE AMAZÔNICA DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DE
2009 015/2009 Projeto de pesquisa C&T 6.300.000,00 FAPEMA,
BIOCOSMÉTICOS (REDEBIO)
FUNTAC, SECTO
CONCESSÃO DE TAXA DE BANCADA PARA MESTRADO E DOUTORADA NA
2009 018/2009 Projeto de pesquisa C&T 70.000,00 VALE S.A.
CADEIA DE NEGÓCIOS DA MINERAÇÃO NO ESTADO DO PARÁ
CONCESSÃO DE BOLSAS PARA PARTICIPAÇÃO EM CURSO DE Bolsas para pós-graduação
2009 019/2009 150.000,00 SEBRAE/PA
ESPECIALIZAÇÃO EM MASTER DESIGN lato sensu
SELEÇÃO DE TUTORES PARA O CURSO À DISTÂNCIA DE
Bolsas de programas
2009 020/2009 APERFEIÇOAMENTO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM ATENÇÃO PRIMÁRIA 336.000,00 S/I
institucionais
EM SAÚDE NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
SELEÇÃO DE FACILITADORES PARA O CURSO À DISTÂNCIA DE Bolsas de programas
2009 021/2009 871.200,00 S/I
APERFEIÇOAMENTO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM ATENÇÃO PRIMÁRIA institucionais
416
Parceiro
Valor total
Ano Edital-Nº Edital-Descrição Categoria de fomento financiador ou
previsto
Cofinanciador?
EM SAÚDE NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
APOIO A ELABORAÇÃO DE PLANO DE NEGÓCIOS PARA MPE COM PERFIL Projeto de P&D e inovação
2009 022/2009 200.000,00 SEBRAE/PA
INOVADOR PARA O PARQUE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO GUAMÁ em empresas
PROGRAMA PESQUISA PARA O SUS: GESTÃO COMPARTILHADA EM SAÚDE -
2009 023/2009 Projeto de pesquisa C&T 1.800.000 CNPq/DECIT/MS
PPSUS FAPESPA/SESPA/DECIT - MS/CNPQ
CONCESSÃO DE BOLSAS DE APOIO AOS INFOCENTROS DO PROGRAMA Bolsas para programa de
2009 024/2009 1.121.400,00 BASA
NAVEGAPARÁ inclusão digital
APOIO A ELABORAÇÃO DE PLANO DE NEGÓCIOS PARA MPE COM PERFIL Projeto de P&D e inovação
2009 025/2009 221.064,95 SEBRAE/PA
INOVADOR PARA O PARQUE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA GUAMÁ em empresas
Bolsas para pós-graduação
2010 001/2010 CONCESSÃO DE BOLSAS DE MESTRADO E DE DOUTORADO 3.888.000,00 -
stricto sensu
2010 002/2010 APOIO A REALIZAÇÃO DE EVENTOS CIENTÍFICOS Projeto de eventos C&T 400.000,00 -
Bolsas para programas de
2010 003/2010 PROGRAMA DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA 1.000.000.00 -
iniciação científica
2010 004/2010 PROGRAMA PARAENSE DE FIXAÇÃO DE DOUTORES (PPDOC) Projeto de pesquisa C&T 1.208.000,00 -
PROGRAMA DE CONCESSÃO DE BOLSAS PARA CAPACITAÇÃO CIENTÍFICA Bolsas de programas
2010 005/2010 1.200.000,00 CENSIPAM
E TECNOLÓGICA DO CENSIPAM institucionais
PROGRAMA DE APOIO A PROJETOS DE PESQUISA E EXTENSÃO
2010 006/2010 Projeto de pesquisa C&T 1.800.000,00 -
TECNOLÓGICA INOVADORA À AGRICULTURA FAMILIAR - PAAF
CONCESSÃO DE BOLSAS PARA O PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO, Bolsas para pós-graduação
2010 007/2010 528.000,00 VALE S.A.
CAPACITAÇÃO E DISSEMINAÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS stricto sensu
CONCESSÃO DE BOLSAS DE APOIO AOS INFOCENTROS DO PROGRAMA Bolsas para programa de
2010 008/2010 1.176.000,00 BASA
NAVEGAPARÁ inclusão digital
SELEÇÃO DE FACILITADORES PARA O CURSO À DISTÂNCIA DE
Bolsas de programas
2010 009/2010 APERFEIÇOAMENTO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM ATENÇÃO PRIMÁRIA 871.200,00 S/I
institucionais
EM SAÚDE NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
PROGRAMA DE CONCESSÃO DE BOLSAS PARA CAPACITAÇÃO CIENTÍFICA Bolsas de programas
2010 010/2010 358.062,36 CENSIPAM
E TECNOLÓGICA DO CENSIPAM NA ÁREA DE METEOROLOGIA institucionais
PROGRAMA DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA JÚNIOR PARA O
Bolsas para programas de
2010 011/2010 CENTRO DE CIÊNCIAS (PLANETÁRIO) DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO 120.000,00 UEPA
iniciação científica Jr
PARÁ
FAPESPA/SEDECT/SEDUC/PRODEPA/SECOM/FUNTELPA INFOCENTROS
2010 012/2010 NAVEGAPARÁ AÇÕES PARA CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA PÚBLICO DE Projeto de inclusão digital 600.000,00 -
COMUNICAÇÃO DE DADOS NO ESTADO DO PARÁ
2010 013/2010 PROGRAMA PARÁ FAZ CIÊNCIA NA ESCOLA – PPCE Projeto para popularização de 5.760.000,00 SEDUC
417
Parceiro
Valor total
Ano Edital-Nº Edital-Descrição Categoria de fomento financiador ou
previsto
Cofinanciador?
C&T
PROGRAMA DE CONCESSÃO DE BOLSAS PARA CAPACITAÇÃO CIENTÍFICA Bolsas de programas
2010 023/2010 144.097,32 CENSIPAM
E TECNOLÓGICA DO CENSIPAM NA ÁREA DE METEOROLOGIA institucionais
CONCESSÃO DE BOLSAS PARA CAPACITAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA Bolsas de programas
2010 024/2010 152.129,76 CENSIPAM
DO CENSIPAM institucionais
PROGRAMA DE CONCESSÃO DE BOLSAS PARA O DESENVOLVIMENTO Bolsas de programas
2011 001/2011 1.212.000,00 CEPLAC
CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DAS REGIÕES PRODUTORAS DE CACAU institucionais
APOIO À PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO EM
Projeto de P&D e inovação
2011 002/2011 MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE NA MODALIDADE 2.000.000,00 FINEP
em empresas
SUBVENÇÃO ECONÔMICA (PAPPE INTEGRAÇÃO)
BOLSAS DE APOIO AO PROJETO: “ESTUDO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, Bolsas de programas
2011 003/2011 2.017.839,60 IEC/MS
PESQUISA BIOMÉDICA, INOVAÇÃO E TECNOLOGIA” institucionais
CONCESSÃO DE BOLSAS DE MONITORIA PARA OS INFOCENTROS DO Bolsas para programa de
2011 004/2011 252.000,00 -
PROGRAMA NAVEGAPARÁ inclusão digital
Bolsas para pós-graduação
2011 005/2011 CONCESSÃO DE QUOTAS DE BOLSAS DE MESTRADO E DOUTORADO 3.744.000,00 -
stricto sensu
CONCESSÃO DE QUOTAS DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA- Bolsas para programas de
2011 006/2011 720.000,00 -
GRADUAÇÃO iniciação científica
APOIO À REALIZAÇÃO DE EVENTOS CIENTÍFICOS, TECNOLÓGICOS E DE
2011 007/2011 Projeto de eventos C&T 300.000,00 -
INOVAÇÃO
CONCESSÃO DE BOLSAS PARA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MASTER Bolsas para pós-graduação
2011 008/2011 175.500,00 SEBRAE/PA
DESIGN lato sensu
Fonte: Adaptado pela autora a partir de FAPESPA (2018).
418
APÊNDICE B
QUADRO DE EDITAIS LANÇADOS DIRETAMENTE PELA FAPESPA NO ÂMBITO DO FOMENTO ESTADUAL DE CT&I, NO
PERÍODO DE 2012 A 2015.
Parceiro
Valor total
Ano Edital-Nº Edital-Descrição Categoria de fomento financiador ou
previsto
Cofinanciador?
APOIO À REALIZAÇÃO DE EVENTOS CIENTÍFICOS, TECNOLÓGICOS E DE
2012 001/2012 Projetos de eventos C&T 500.000,00 -
INOVAÇÃO – FLUXO CONTÍNUO
CONCESSÃO DE QUOTAS DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA- Bolsas para programas de
2012 002/2012 1.080.000,00 -
GRADUAÇÃO (FLUXO CONTÍNUO) iniciação científica
PROGRAMA PESQUISA PARA O SUS: Gestão Compartilhada em Saúde DECIT/MS,
2012 003/2012 Projetos de pesquisa C&T S/I
FAPESPA/MS-DECIT/CNPq/SESPA - PPSUS - Rede 2011/PA CNPq, SESPA
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO
2012 004/2012 Projetos de pesquisa C&T 621.600,00 CNPq
REGIONAL
2012 006/2012 PRÊMIO PARAENSE DESTAQUE CIENTÍFICO Prêmio 40.000,00 -
PROGRAMA DE CONCESSÃO DE BOLSAS PARA O DESENVOLVIMENTO Bolsas de programas
2012 007/2012 764.400,00 CEPLAC
CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DAS REGIÕES PRODUTORAS DE CACAU institucionais
APOIO AO DESENVOLVIMENTO DE REDE DE PESQUISA EM SAÚDE -
2013 001/2013 Projetos de pesquisa C&T 1.000.000,00 SECTI
PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS
APOIO AO DESENVOLVIMENTO DE REDE DE PESQUISA EM
2013 002/2013 Projetos de pesquisa C&T 650.000,00 SECTI
FRUTICULTURA TROPICAL: MELHORAMENTO DA CADEIA DO AÇAÍ
APOIO AO DESENVOLVIMENTO DA REDE PARAENSE DE PESQUISA EM
2013 003/2013 Projetos de pesquisa C&T 650.000,00 SECTI
SOFTWARE
APOIO AO DESENVOLVIMENTO DE REDE DE PESQUISA EM
2013 004/2013 Projetos de pesquisa C&T 600.000,00 SECTI
FRUTICULTURA TROPICAL: MELHORAMENTO DA CADEIA DO CACAU
Bolsas para pós-graduação
2013 005/2013 CONCESSÃO DE QUOTAS DE BOLSAS DE MESTRADO E DOUTORADO 4.632.000,00 -
stricto sensu
APOIO À REALIZAÇÃO DE EVENTOS CIENTÍFICOS, TECNOLÓGICOS E DE
2013 006/2013 Projetos de eventos C&T 750.000,00 -
INOVAÇÃO
2013 007/2013 PROGRAMA PRIMEIROS PROJETOS - PPP - FAPESPA/CNPq Projetos de pesquisa C&T 2.100.000,00 CNPq
PROGRAMA DE APOIO A NÚCLEOS EMERGENTES -
2013 008/2013 Projetos de pesquisa C&T 3.177.000,00 CNPq
PRONEM/FAPESPA/CNPQ
CONCESSÃO DE BOLSAS DE MONITORIA PARA OS INFOCENTROS DO Bolsas para programa de
2013 009/2013 150.000,00 -
PROGRAMA NAVEGAPARÁ inclusão digital
2013 010/2013 TECNOLOGIAS ASSISTIVAS Projetos de pesquisa C&T 1.500.000,00 -
2013 011/2013 PROGRAMA PESQUISA PARA O SUS: GESTÃO COMPARTILHADA EM SAÚDE Projetos de pesquisa C&T S/I DECIT/MS,
419
Parceiro
Valor total
Ano Edital-Nº Edital-Descrição Categoria de fomento financiador ou
previsto
Cofinanciador?
FAPESPA/MS-DECIT/CNPQ/SESPA – PPSUS – 2013/PA CNPq, SESPA
CONCESSÃO DE QUOTAS DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA- Bolsas para programas de
2013 012/2013 1.440.000,00 -
GRADUAÇÃO iniciação científica
Bolsas para pós-graduação
2014 001/2014 CONCESSÃO DE QUOTAS DE BOLSAS DE MESTRADO E DOUTORADO 6.768.000,00 -
stricto sensu
CONCESSÃO DE QUOTAS DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA- Bolsas para programas de
2014 002/2014 1.920.000,00 -
GRADUAÇÃO iniciação científica
PROGRAMA DE INCENTIVO À INOVAÇÃO EM MICROEMPRESAS E Projetos de P&D e inovação
2014 003/2014 10.800.000,00 FINEP
EMPRESAS DE PEQUENO PORTE – INOVAPARÁ/TECNOVA em empresas
PROGRAMA DE AUXÍLIO À PESQUISA - PROJETOS TEMÁTICOS DA
2014 004/2014 Projetos de pesquisa C&T 1.800.000,00 -
FAPESPA: AGRICULTURA E PECUÁRIA FAMILIAR
PROGRAMA DE AUXÍLIO À PESQUISA - PROJETOS TEMÁTICOS DA
2014 005/2014 Projetos de pesquisa C&T 1.800.000,00 -
FAPESPA: SOCIEDADE E SUSTENTABILIDADE URBANA/RURAL
PROGRAMA DE AUXÍLIO À PESQUISA - PROJETOS TEMÁTICOS DA
2014 006/2014 Projetos de pesquisa C&T 2.250.000,00 -
FAPESPA: SAÚDE
PROGRAMA DE AUXÍLIO À PESQUISA - PROJETOS TEMÁTICOS DA
2014 007/2014 Projetos de pesquisa C&T 1.050.000,00 -
FAPESPA: MINERAÇÃO
PROGRAMA DE AUXÍLIO À PESQUISA - PROJETOS TEMÁTICOS DA
2014 008/2014 Projetos de pesquisa C&T 1.050.000,00 -
FAPESPA: VIOLÊNCIA E SEGURANÇA PÚBLICA
PROGRAMA DE AUXÍLIO À PESQUISA - PROJETOS TEMÁTICOS DA
2014 009/2014 Projetos de pesquisa C&T 1.050.000,00 -
FAPESPA: BIOENERGIA
APOIO À REALIZAÇÃO DE EVENTOS CIENTÍFICOS, TECNOLÓGICOS E DE
2014 010/2014 Projetos de eventos C&T 400.000,00 -
INOVAÇÃO
Projetos de programas de
2014 011/2014 APOIO A PROJETOS DINTER E MINTER 660.000,00 -
pós-graduação
APOIO À INFRAESTRUTURA DE PESQUISA COMPLEMENTAR AO Projetos de programas de
2014 012/2014 500.000,00 -
PROGRAMA DE PRÓ-EQUIPAMENTOS DA CAPES pós-graduação
TAXA DE BANCADA PARA BOLSISTAS DE PÓS-DOUTORADO DA CAPES Projetos de programas de
2014 013/2014 672.000,00 CAPES
NOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DAS IES DO PARÁ pós-graduação
Bolsas para pós-graduação
2014 014/2014 BOLSAS DE PÓS-DOUTORADO NO PAÍS E TAXAS DE BANCADA 792.000,00 CAPES
stricto sensu
BOLSAS DE PESQUISADOR VISITANTE SENIOR (PVS) E TAXAS DE Bolsas para pós-graduação
2014 015/2014 1.668.650,40 CAPES
BANCADA stricto sensu
2014 016/2014 APOIO A DOUTORES RECÉM-CONTRATADOS Projetos de pesquisa C&T 1.000.000,00 CAPES
2014 017/2014 CONCESSÃO DE QUOTAS DE BOLSAS DE MESTRADO E DOUTORADO Bolsas para pós-graduação 9.036.000,00 CAPES
420
Parceiro
Valor total
Ano Edital-Nº Edital-Descrição Categoria de fomento financiador ou
previsto
Cofinanciador?
ACADÊMICOS stricto sensu
Bolsas para pós-graduação
2014 018/2014 BOLSA DE DOUTORADO PARA DOCENTE E APOIO À MOBILIDADE 1.356.000,00 CAPES
stricto sensu
2014 019/2014 Programa de Infraestrutura para Jovens Pesquisadores (PPP) Projetos de pesquisa C&T 2.850.000,00 CNPq
2014 020/2014 Programa de Apoio a Núcleo Emergentes – PRONEM Projetos de pesquisa C&T 2.280.000,00 CNPq
2014 021/2014 Programa de Apoio a Núcleo de Excelência - PRONEX Projetos de pesquisa C&T 1.995.000,00 CNPq
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO
2014 022/2014 Projetos de pesquisa C&T 3.150.000,00 CNPq
REGIONAL – DCR
Programa de Concessão de Bolsas para o Desenvolvimento Científico e Tec. Das Bolsas de programas
2014 023/2014 825.189,00 CEPLAC
Regiões Produtoras de Cacau institucionais
CONCESSÃO DE QUOTAS DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – Bolsas para programas de
2015 001/2015 2.000.000,00 -
GRADUAÇÃO iniciação científica
APOIO À REALIZAÇÃO DE EVENTOS CIENTÍFICOS, TECNOLÓGICOS E DE
2015 002/2015 Projetos de eventos C&T 600.000,00 -
INOVAÇÃO
APOIO A PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS CIENTÍFICOS, TECNOLÓGICOS E DE Auxílio a participação em
2015 003/2015 400.000,00 -
INOVAÇÃO eventos C&T
Bolsas para pós-graduação
2015 004/2015 CONCESSÃO DE QUOTAS DE BOLSAS DE MESTRADO ACADÊMICO 2.700.000,00 CAPES
stricto sensu
BOLSAS DE PESQUISADOR VISITANTE SÊNIOR (PVS) E TAXAS DE Bolsas para pós-graduação
2015 005/2015 1.668.650,40 CAPES
BANCADA stricto sensu
2015 006/2015 APOIO A DOUTORES RECÉM-CONTRATADOS Projetos de pesquisa C&T 1.900.000,00 CAPES
Bolsas para pós-graduação
2015 007/2015 BOLSAS DE PÓS-DOUTORADO NO PAÍS E TAXAS DE BANCADA 792.000,00 CAPES
stricto sensu
Fonte: Adaptado pela autora a partir de FAPESPA (2018).
421
APÊNDICE C
QUADRO DE EDITAIS LANÇADOS DIRETAMENTE PELA FAPESPA NO ÂMBITO DO FOMENTO ESTADUAL DE CT&I, NO
PERÍODO DE 2016 A 2017.
Parceiro
Edital- Valor total
Ano Edital-Descrição Categoria de fomento financiador ou
Nº previsto
Cofinanciador?
Newton Fund/British
2016 - RESEARCHER LINKS WORKSHOPS CONFAP - EDITAL 2016-17 Projetos de eventos C&T £ 42,000
Council
Curso de curta duração de Newton Fund/British
2016 - RESEARCHER CONNECT CONFAP/FAPESP - EDITAL 2016-17 -
apoio a internacionalização Council
CONFAP/REINO UNIDO - CONCESSÃO DE BOLSAS DE ESTUDO, MOBILIDADE
Bolsa para pesquisador Newton Fund/British
2016 - DE PESQUISA E PRÊMIO JOVEM PESQUISADOR PARA PESQUISADORES DO Variável
visitante Council
REINO UNIDO NO BRASIL
APOIO AO DESENVOLVIMENTO DE REDES DE PESQUISA NA REGIÃO DE
2016 001/2016 Projetos de pesquisa C&T 1.500.000,00 -
INTEGRAÇÃO DO BAIXO AMAZONAS- INTERPARÁ I
APOIO AO DESENVOLVIMENTO DE REDES DE PESQUISA NA REGIÃO DE
2016 002/2016 Projetos de pesquisa C&T 1.500.000,00 -
INTEGRAÇÃO DO CARAJÁS/ARAGUAIA - INTERPARÁ II
APOIO AO DESENVOLVIMENTO DE REDES DE PESQUISA NA REGIÃO DE
2016 003/2016 Projetos de pesquisa C&T 1.000.000,00 -
INTEGRAÇÃO DO XINGU/TAPAJOS - INTERPARÁ III
APOIO AO DESENVOLVIMENTO DE REDES DE PESQUISA NA REGIÃO DE
2016 004/2016 Projetos de pesquisa C&T 1.000.000,00 -
INTEGRAÇÃO DO LAGO DE TUCURUÍ- INTERPARÁ IV
AUXÍLIO À PESQUISA E CONCESSÃO DE BOLSAS DE DOUTORADO Bolsas para pós-graduação
2016 005/2016 5.680.000,00 -
ACADÊMICO stricto sensu
AUXÍLIO À PESQUISA E CONCESSÃO DE BOLSAS DE MESTRADO Bolsas para pós-graduação
2016 006/2016 4.400.000,00 -
ACADÊMICO stricto sensu
Bolsas para programas de
2016 007/2016 CONCESSÃO DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA- GRADUAÇÃO 1.200.000,00 -
iniciação científica
APOIO À REALIZAÇÃO DE EVENTOS CIENTÍFICOS, TECNOLÓGICOS E DE
2016 008/2016 Projetos de eventos C&T 1.000.000,00 -
INOVAÇÃO
European
2017 - CONFAP-WATER JOINT PROGRAMMING INITIATIVE (JPI) – 2017 JOINT CALL Projetos de pesquisa C&T - Commission/Horizon
2020
Bolsas para pós-graduação
2017 001/2017 CONCESSÃO DE QUOTAS INSTITUCIONAIS DE BOLSAS DE DOUTORADO 5.280.000,00 -
stricto sensu
CONCESSÃO DE QUOTAS INSTITUCIONAIS DE BOLSAS DE MESTRADO Bolsas para pós-graduação
2017 002/2017 3.600.000,00 -
ACADÊMICO stricto sensu
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APÊNDICE D
DESCRIÇÃO DE PROCEDIMENTOS PARA COLETA E GERAÇÃO DE DADOS PARA
PESQUISA
Quadro D.1 – Descrição de tipos de documentos norteadores para composição de corpus ampliado
aplicado para exame de conjuntura da política estadual de CT&I no Pará.
Tipo de documento Descrição
A maior parte do acesso aos documentos norteados pelo quadro D.1 foi conseguido
por meio da internet, de sites dos órgãos públicos envolvidos, principalmente a Secretaria de
Estado responsável pela pasta de CT&I e a FAPESPA, conforme referências. Exceção
ocorreu no caso do acesso a processos internos destas duas organizações públicas referente a
propostas de fomento e temas relacionados, cujo acesso se deu pela visita para consulta física,
mediante autorização de seus dirigentes à solicitação formal encaminhada. Para a pesquisa de
conjuntura, foram consultados o arquivo de processos físicos da Diretoria Científica (DICET)
da FAPESPA (visitas de consulta a documentos realizadas de janeira a fevereiro de 2017; e,
de fevereiro a abril de 2018); o arquivo de controle eletrônico (planilha) e arquivo físico da
144
Corpus pode ser compreendido como uma coleção finita de materiais de uma mesma natureza, selecionados
de maneira proposital, de acordo com os objetivos de sua construção (BAUER; AART, 2002). A construção do
corpus de uma pesquisa corresponde à definição de critérios de escolha sistemática para guiar a coleta de dados
textuais para análise interpretativa, seguindo um enfoque de pesquisa qualitativo, com ênfase ao alcance de
variabilidade (BAUER; AART, 2002).
425
145
Nosso enfoque nesta seção é a descrição sobre a construção do corpus para análise das práticas sociais no
processo de política, tema central do capítulo 5. No entanto, cabe informarmos que concomitante a essa
construção também foi realizada uma revisão de literatura específica sobre a temática de TA, de modo a
constituir uma conjuntura sociopolítica pertinente às especificidades desta temática, conforme capítulo 4.
146
Para Fairclough (2001), a prática discursiva, como elemento da prática social, se manifesta em termos da
expressão da linguagem em sentido amplo (escrita ou falada), o que o autor denomina, genericamente, enquanto
textos. Fairclough (2005) argumenta que textos, portanto, são elementos linguísticos de eventos e práticas
sociais. E, como tais, os textos são, por um lado, produtos dessas práticas (objetos finalizados arquivados,
recuperados, classificados etc.); e, por outro lado, integram processos de constituição dessas práticas, por meio
de uma constante dinâmica de produção textual (processo social de criar, contestar ou corroborar significados,
conhecimentos, crenças, identidades, entre outros). É por esta concepção, que a construção de corpus textual
sobre o processo de política torna-se um modo relevante de operacionalizar a pesquisa, enquanto base para
análise discursiva.
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Quadro D.2 – Descrição da composição de corpus construído sobre a política estadual de fomento a
tecnologia assistiva no Pará.
Tipo Textos associados ao fomento de TA no processo de política de CT&I no Pará
Edital nº 010/2013
Resultado do edital nº 10/2013
Edital nº 012/2017
Processo interno da FAPESPA referente à tramitação e à seleção e avaliação do edital nº
010/2013
Corpus inicial 15 projetos aprovados no edital nº 010/2013
15 Processos internos da FAPESPA referentes a execução dos projetos aprovados no
edital nº 010/2013, contemplando a documentação correspondente a contratação de
Instrumento de Concessão e Aceitação de Apoio Financeiro a Projeto (ICAAF),
comunicações sobre a execução, prestação de contas, incluindo relatório técnico, parecer
de avaliação e laudo técnico (quando disponível)
Entrevistas realizadas com atores políticos selecionados relacionados ao processo de
política de fomento a TA.
Documentos disponibilizados por entrevistados, como relatórios de eventos e sobre
Ampliação de
núcleo de desenvolvimento de TA, livros
corpus
Textos em websites institucionais, núcleos e grupos de pesquisa sobre a temática de TA
no Pará, indicados ou relacionados as entrevistas realizadas, e softwares e materiais
disponíveis abertamente resultantes dos projetos executados.
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
147
Mapa preliminar é um levantamento de práticas discursivas passadas e atuais que sejam úteis ao escopo de
análise, conforme contexto da pesquisa (FLAIRCLOUGH, 2001). No caso em estudo, partimos do levantamento
documental do único processo de fomento a TA efetivado, como identificado na pesquisa de conjuntura.
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Quadro D.3 – Roteiro de entrevista semiestruturada sobre fomento a projetos de tecnologia assistiva
no âmbito do edital nº 010/2013 da FAPESPA.
Nº Questões norteadoras da entrevista
1 Como você e a equipe envolvida na execução do projeto conceberam o que é tecnologia assistiva?
2 Qual o problema específico que tecnologia desenvolvida pretendeu resolver?
Quem participou do desenvolvimento da tecnologia (somente a equipe prevista no projeto ou houve
3 outras pessoas)? E como estas pessoas geralmente atuaram e onde interagiram para o
desenvolvimento tecnológico proposto?
Como foi que se deu a concepção original (ideia conceitual) da tecnologia proposta? Houve
4
modificações nesta no decorrer do projeto?
Durante a execução do projeto, você teve contatos ou experiências de interações com outras equipes
5 que desenvolviam tecnologias assistivas no âmbito do edital 010/2013 da FAPESPA ou de projetos
de tecnologia assistivas fomentados por outras organizações públicas ou privadas?
Quando você e sua equipe propuseram o projeto ao edital nº 010/2013 da Fapespa já tinham
6
experiência anterior com o desenvolvimento de tecnologias/metodologias assistivas?
Você teve contatos com fiscais ou consultores responsáveis pela avaliação de seu projeto de
desenvolvimento tecnológico? Como você compreende que esta tecnologia deveria ser avaliada em
7
termos de alcance de suas finalidades ao final do projeto? Se possível, poderia sugerir até 3 critérios
que consideraria mais relevantes?
Esta tecnologia alcançou uso no público para o qual foi projetada?
Se sim, você consegue estimar um número médio de usuários (pessoas ou organizações) e quais
8
foram os principais canais de produção ou disseminação da tecnologia?
Se não, quais foram as principais dificuldades?
Você ou alguém de sua equipe encaminhou proposta ao edital nº 012/2017 da Fapespa ou para outros
9
editais de tecnologias assistivas posteriormente (neste último caso, poderia indicar o edital)?
Quais efeitos que você entende que esta tecnologia provocou em relação às condições de
10 desigualdades que o público-alvo do edital (pessoas com deficiências, idosos e com mobilidade
reduzida) enfrenta no estado do Pará?
11 Qual a contribuição do conhecimento científico no desenvolvimento desta tecnologia?
Qual a contribuição do conhecimento científico e tecnológico para o processo de desenvolvimento
12
local e do estado?
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
Quadro D.4 - Registro de status de entrevistas sobre a política estadual de fomento a tecnologia
assistiva.
Anotação de duração da
Identificação genérica do Status sobre realização de
Nº entrevista por áudio
ator político contatado entrevista
gravado
1 Pesquisador de projeto1 Entrevista realizada em 11/12/18 26 minutos
2 Pesquisador de projeto1 Entrevista realizada em 10/12/18 1 hora e 2 minutos
Entrevista não realizada
3 Pesquisador de projeto1 -
(contatos iniciais não respondidos)
1
4 Pesquisador de projeto Entrevista realizada em 10/12/18 50 minutos
5 Pesquisador de projeto1 Entrevista realizada em 12/12/18 40 minutos
6 Pesquisador de projeto1 Entrevista realizada em 11/12/18 56 minutos
7 Pesquisador de projeto1 Entrevista realizada em 07/12/18 39 minutos
Entrevista não realizada
8 Pesquisador de projeto1 -
(não houve disponibilidade)
1
9 Pesquisador de projeto Entrevista realizada em 06/12/18 1 hora
10 Pesquisador de projeto1 Entrevista realizada em 13/12/18 31 minutos
Entrevista não realizada
11 Pesquisador de projeto1 -
(contatos iniciais não respondidos)
12 Pesquisador de projeto1 Entrevista realizada em 10/12/18 56 minutos
13 Pesquisador de projeto1 Entrevista realizada em 13/12/18 55 minutos
14 Pesquisador de projeto1 Entrevista realizada em 14/12/18 56 minutos
Entrevista não realizada
15 Pesquisador de projeto1 -
(não houve disponibilidade)
Servidor público atuante no
16
processo de fomento a TA2
Servidor público atuante no
17
processo de fomento a TA2
Entrevista realizada em 28/12/20184 1 hora e 55 minutos
Servidor público atuante no
18 2
processo de fomento a TA
Servidor público atuante no
19
processo de fomento a TA2
Pesquisadora de referência na
20 Entrevista realizada em 08/01/2019 Não gravada
temática no estado3
3
21 Dirigente da política Entrevista realizada em 10/01/2019 44 minutos
22 Dirigente da política3 Entrevista realizada em 26/12/2018 43 minutos
1
Aplicado roteiro de entrevista conforme quadro D.3.
2
Aplicado roteiro de entrevista adaptado.
3
Realizada entrevista não-estruturada.
4
Entrevista realizada coletivamente com os quatro servidores por solicitação destes.
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
Quadro D.5 - Descrição da composição de corpus construído sobre a política estadual de tecnologia
social no Pará.
Tipo Textos associados ao fomento de TS no processo de política de CT&I no Pará
Conjunto de publicações em websites (principalmente da SECTET, AgênciaPará e da RTS-
PA) de notícias, informes e documentos relacionados a trajetória do processo de política
Corpus inicial estadual de TS (sintetizadas na linha de tempo)
Documento de constituição da RTS-Pará
Plano de ação da RTS-Pará (2014-2015)
Projetos e/ou relatórios do I, II e III Forúm Paraense de Tecnologias Sociais
Resolução nº 003/2017 CONSECTET
Edital nº 006/2017 SECTET
Resultado preliminar do edital nº 006/2017 SECTET
Relação de projetos apoiados
8 Processos internos da SECTET referentes a execução de convênios em temas afins a TS,
contemplando a documentação correspondente a celebração de convênios, comunicações
Ampliação de sobre a execução, relatórios técnicos e laudos técnicos
corpus Entrevistas realizadas com atores políticos selecionados relacionados ao processo de
política estadual de TS.
Documentos disponibilizados por entrevistados, como livros, planos e outros materiais
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
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Adotamos uma concepção de entrevista, conforme Fontana e Frey (2005), como um processo de interação
ativa entre duas ou mais pessoas que conduz a resultados contextualmente baseados e negociados. Em concepção
similar, Schwandt (2007) compreende que a entrevista como uma prática social em nossa sociedade
contemporânea, que sendo contextualmente situada, estabelece uma história que é mutuamente construída por
meio da colaboração entre o pesquisador (entrevistador) e o entrevistado, participante da pesquisa.
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