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Resumo
Introdução
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Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
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Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
normalização sempre foi a meta, uma vez que a surdez era entendida como deficiência.
O fato emblemático da normalização na educação dos surdos foi o “Congresso de Milão”,
em 1880, no qual: “especialistas e educadores ouvintes empenharam-se não só em
defender o uso exclusivo da língua oral para o ensino de pessoas surdas como também a
implantação de meios para controlar e proibir a língua de sinais” (NASCIMENTO, 2002,
p. 51). E conseguiram. Por muitos anos a Língua de Sinais foi proibida nas escolas.
Entendida como doença, a surdez foi capturada como objeto da medicina, a qual
ditou, por um grande período histórico, as diretrizes educacionais. A surdez era
compreendida como um sofrimento, pois era considerada uma doença. Canguilhem assim
define a doença: “aquilo que perturba os homens no exercício normal de sua vida e em
suas ocupações e, sobretudo, como aquilo que os faz sofrer” (CANGUILHEM, 1995, p.
67).
Desvencilhar-se desta imagem de sofredor, de doente ou de alguém que necessita
de recuperação, e de que a surdez perturbava o exercício normal da vida, foi necessário
para a mudança na história. Constituir-se como um ser que se difere da maioria, por se
comunicar por uma língua viso-gestual e não como deficiente, foi a grande ruptura que
as resistências surdas produziram.
As resistências surdas possibilitaram que estes sujeitos se desfizessem da couraça
do título de doentes e, com isso, se formou um novo grupo social, a “comunidade surda”,
o qual entende sua surdez como uma inventividade. Sobre isso podemos refletir com
Canguilhem: “Na medida em que seres vivos se afastam do tipo específico serão eles
anormais que estão colocando em perigo a forma específica, ou serão inventores a
caminho de novas formas? Conforme formos fixistas ou transformistas consideraremos
de modo diferente um ser vivo portador de um caráter novo” (CANGUILHEM, 1995, p.
110).
Neste outro paradigma - fora da normalização - uma nova concepção de surdez se
organizou, acreditando que “não existe fato que seja normal ou patológico em si. A
anomalia e a mutação não são em si mesmas patológicas. Elas exprimem outras normas
de vida possíveis” (CANGUILHEM, 1995, p. 113).
Esta forma de entender a surdez tem sido nomeada de visão sócio-antropológica
da surdez, como define Skliar: "Os surdos formam uma comunidade linguística
minoritária caracterizada por compartilhar uma língua de sinais e valores culturais,
hábitos e modo de socialização próprios" (SKLIAR, 1997, p. 141).
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surdo é sujeito visual) e prática (experiência visual não é privilegiada na escola) pode ser
observada tanto na escola para ouvintes com alunos surdos incluídos como nas próprias
classes de surdos, seja com professores surdos ou ouvintes (LEBEDEFF, 2010, p. 176 -
177)".
Na atual pesquisa me propus a analisar estratégias de ensino e recursos didáticos
inseridos no conceito de Pedagogia Visual. Foram realizadas observações em situações
reais de sala de aula, em dois espaços educacionais - uma escola particular para surdos
em um município da Grande São Paulo (doravante Escola A) e em uma escola pública
municipal, pólo de educação bilíngue em uma cidade do interior do estado de São Paulo
(doravante Escola B). Nestas observações focalizamos as estratégias pedagógicas e
recursos didáticos utilizados pelos professores, pontuando qual o destaque dado à
visualidade neste contexto. Nestas salas de aula, os professores utilizam a LIBRAS
como língua de Instrução. Os alunos contam também com aulas com o professor surdo
de LIBRAS, modelo linguístico em sua Língua Materna. A Escola A tem outros
professores surdos que ministram aulas em turmas regulares e não somente a disciplina
de Libras.
Resultados:
As observações foram realizadas durante o segundo semestre de 2013, em sessões
semanais com duração de 3 horas. Na escola A foram realizadas duas observações em
cada sala do Ensino Fundamental I, de primeiro a quinto ano. Na Escola B foram
realizadas cinco observações na sala de aula bilíngue do Ensino Fundamental I, sala
multisseriada com alunos de 1°a 5° ano.
Em ambas escolas, as salas são equipadas com computador provido de internet e
projetor multimídia. Este recurso possibilita o uso de imagens e vídeos em qualquer
situação de ensino aprendizagem. Dispõem também de sinal luminoso para aviso do
intervalo e final da aula. Tal situação é prevista no Decreto 5626, que trata, em seu
capítulo IV, do uso e da difusão da libras e da língua portuguesa para o acesso das pessoas
surdas à educação. No artigo 14 deste capítulo, afirma a obrigatoriedade das escolas em:
"Disponibilizar equipamentos, acesso às novas tecnologias de informação e comunicação,
bem como recursos didáticos para apoiar a educação de alunos surdos ou com deficiência
auditiva" (BRASIL, 2005).
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representava com os braços estendidos que as dimensões diminuíam a cada novo território
descrito. Desta forma, demonstrava aos alunos que o mundo contém os continentes, estes,
os países e assim sucessivamente. No caderno, os alunos realizaram uma atividade
colando gravuras na sequência decrescente de inclusão e, posteriormente, realizaram a
mesma atividade com as palavras que representam os conceitos em português.
A aula de Matemática no quarto ano, materiais concretos foram utilizados para a
realização da operação de divisão. Diante do algoritmo de uma divisão (45 : 3 =), a
professora propôs que os alunos utilizassem 3 canetas de cores diferentes representando
o divisor e o material dourado representando o dividendo. (vide figura 3, em anexos).
Em seguida, os alunos distribuíam os elementos do material dourado igualmente
entre as canetas. A troca da barrinha de dezena por 10 unidades foi realizada de forma
espontânea, o que permitiu perceber que tal material já era usado em outras operações e
os alunos estavam familiarizados a ele. A realização deste tipo de operação foi realizada
em duplas de alunos, sendo que a compreensão da divisão foi se dando pela interação
entre os alunos e entre eles e o material, com a mediação da professora.
Confecção de cartazes e modelos com sucata foi utilizada na aula de Ciências do
5° ano para representar os componentes do sistema respiratório. Esta atividade foi
realizada em grupos pelos alunos. (vide figura 4, em anexos).
Foi possível observar que a representação do sistema respiratório por desenho ou
montagem teve para os alunos um efeito facilitador da compreensão e fixação de
conteúdo.
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sobrava, ficava sem par, o número total de alunos era ímpar. Na atividade de
sistematização do conteúdo no caderno, era solicitado que os alunos identificassem se o
numeral era ímpar ou par. Esta forma visual ilucidou o conceito e proporcionou a
compreensão da classificação numérica em pares e ímpares.
Nestes episódios pudemos observar o quanto as imagens são importantes na
constituição do pensamento científico do sujeito surdo, como afirmam Nery e Batista:
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O que pudemos concluir que o que torna um espaço educacional bilíngue não é
somente a utilização da Língua de Sinais, mas o fato de compreender a realidade do aluno
surdo e suas necessidades educacionais. Acredito que esta compreensão só ocorre nestes
espaços educacionais porque ambos incorporam professores surdos como atores do
processo ensino-aprendizagem. Sem a presença do professor surdo, a lógica do ensino se
manteria na perspectiva do ouvinte e se repetiriam as práticas logocêntricas, numa
tentativa de homogeneização e normalização do surdo ao padrão ouvinte.
Referências Bibliográficas
CAMPELLO, Ana Regina e Souza. Pedagogia Visual / Sinal na Educação dos Surdos. In
Estudos Surdos II / Ronice Müller de Quadros e Gladis Perlin (org.). Petrópolis, RJ:
Arara Azul, 2007.
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NERY, Clarisse Alabarce; BATISTA, Cecília Guarnieri. Imagens visuais como recursos
pedagógicos na educação de uma adolescente surda: um estudo de caso. Paidéia
(Ribeirão Preto), Ribeirão Preto , v. 14, n. 29, dez. 2004. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
863X2004000300005&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 21 abr. 2014.
ANEXOS:
GATO
htpp//libraseducadosurdos.blogspot.com
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caquis cesta
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