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Adolescência terminável e interminável

Quando olhamos para trás, para os acontecimentos que nos marcaram ao longo da nossa
vida, quais são os que nos vêm à mente? O primeiro beijo? O falecimento de um
familiar querido? A nossa estreia, mais ou menos atribulada, na escola? O dia do nosso
casamento? O nascimento do nosso primeiro filho? As possibilidades são múltiplas.
Quantos destes acontecimentos marcantes tiveram lugar durante a adolescência?
Provavelmente apenas uma minoria deles.

Mas se reformularmos a questão e perguntarmos quantos deles marcaram o início ou o


fim de uma fase da nossa vida, provavelmente constataremos que muitos deles,
efectivamente, tiveram um impacto decisivo no nosso modo de vermos o mundo, de
interagirmos com os outros, enfim, no nosso posicionamento face a nós próprios e face
aos outros. Quero com esta discussão chamar a atenção para o facto de que
provavelmente a nossa vida é feita de fases, não necessariamente marcadas por aquilo
que se convencionou que fossem as ―fases normativas do desenvolvimento‖, como seja
a adolescência.

Um dos problemas é que uma vertente importante da Psicologia, a Psicologia do


Desenvolvimento, fez de sua tarefa a delimitação da sucessão de períodos,
marcadamente diferentes do ponto de vista qualitativo e quantitativo, que os seres
humanos atravessam ao longo da vida, no que respeita a diferentes dimensões do seu
funcionamento psicossocial.

São exemplos deste tipo de perspectiva a teoria do desenvolvimento psicossexual de


Freud, a teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg, a teoria do desenvolvimento
cognitivo de Piaget bem como a do desenvolvimento da personalidade de Erikson, só
para citar as mais conhecidas. De acordo com esta perspectiva, a transição de cada um
dos períodos para o seguinte estaria condicionado pelo cumprimento de determinadas
tarefas do período anterior, sem o que tal transição estará inviabilizada.

Do ponto de vista académico e enquanto auxiliar na leitura da realidade, as teorias


desenvolvimentais são extremamente úteis, no sentido em que nos permitem a
compreensão dos factores que, ao longo do desenvolvimento, são característicos da
maioria das pessoas. Podem assim, auxiliar-nos a perceber o que é de esperar que em
certos momentos da vida aconteça e também nos alertam para o facto de que existem
capacidades e funções que apenas se podem desenvolver após estarem concluídas as
anteriores que lhe servem de base. As teorias desenvolvimentais tornam-se obsoletas e
transformam-se em factores obstructores do pensamento, quando tomadas como
realidades por si, inalteráveis e condicionantes do nosso modo de olhar para a realidade.

Tomemos aqui, como exemplo estratégico, a adolescência. De acordo com as teorias


desenvolvimentais da personalidade, bem como do ponto e vista do senso comum, a
adolescência é o período cujo início é marcado pela puberdade e cujo final decorre da
completa autonomização do indivíduo do ponto de vista funcional, emocional e
económico. Esta delimitação seria simples, não fosse o facto de não ser eficaz.
Começamos logo por pôr em causa a ideia da puberdade como um acontecimento que
marca o início da adolescência. Se é verdade que todo o fogo de artifício hormonal da
puberdade é uma verdadeira revolução no processo de desenvolvimento, com marcadas
alterações do ponto de vista fisiológico, o certo é que muitas vezes, as mudanças ficam-
se mesmo por aí.

Mesmo que, na maioria dos casos, estas mudanças sejam acompanhadas por diferentes
formas de o indivíduo se relacionar com os outros, em particular com os pais e com a
família, de olhar para o mundo, nomeadamente pelo acesso ao raciocínio abstracto e de
um interesse crescente pela sexualidade, o certo é que nem em todos os casos isto
acontece e encontramos muitos ditos ―adolescentes‖ cujo funcionamento é francamente
infantil, por vezes até aos 16-18 anos, para não dizer mais tarde.

Ou seja, se a adolescência é mais do que um processo de alterações fisiológicas, mas


todo um conjunto de mudanças psicológicas, sociais, sexuais e emocionais, então não é
possível fixar o seu início no aparecimento da menarca nas raparigas ou das primeiras
ejaculações com espermatóides nos rapazes, uma vez que há outros factores a ter em
consideração. Só a título de exemplo, sabe-se que, ainda que nas raparigas a puberdade
surja em média dois anos antes dos rapazes, estes tendem a despertar para o prazer
sexual em média dois a três anos antes das raparigas (Knoth et al., 1988, cit. por
Baldwin & Baldwin, 1997), o que nos indica que algumas das alterações que tendemos
a considerar típicas da puberdade são na verdade condicionadas por outros factores
sociais e culturais que podem antecedê-la.

Se do ponto de vista do seu início é possível questionar a universalidade da


adolescência como decorrente da puberdade, no que respeita ao seu final a situação é
ainda mais complicada e torna-se quase impossível determinar com algum grau de
precisão o momento em que esta ―fase‖ termina. Como foi já referido, aponta-se a
autonomização a vários níveis como o indicador de que já se entrou no mundo dos
adultos.

Porém, o aumento do período de escolaridade que actualmente, se incluirmos mestrado


e, para os mais arrojados, doutoramento, pode chegar aos 30 anos de idade, acrescido
das dificuldades que muitos jovens adultos têm em encontrar um emprego minimamente
estável e que lhes proporcione um rendimento suficiente para se puderem mudar para
um espaço que seja seu, além do puro comodismo que é o de ter comida, cama e roupa
lavada em casa dos pais, estamos perante um arrastar da adolescência vida fora, ao
ponto de algumas pessoas com 40 e 50 anos poderem enquadrar-se no conceito mais
lato de adolescência!

Existe até quem fale da geração canguru, ou seja, aquela que vai permanecendo na
protecção e conforto da bolsa materna, diga-se de passagem muitas vezes com o
incentivo implícito ou explícito dos próprios pais, até bastante tarde, em particular se
comparado com o que acontecia em gerações anteriores.

Assim, acontecimentos que poderiam ser indicadores de uma maior autonomização das
figuras parentais e que se poderiam constituir como momentos-chave de entrada na vida
adulta (rituais de passagem, se se quiser), como é o caso da maioridade legal (e com ela
a possibilidade de votar e de tirar a carta), do cumprimento do serviço militar, do início
de uma vida profissional activa, ou até mesmo do ter filhos, acabam, nos dias de hoje
por não pôr um ponto final à adolescência.

Outros factores também põem em causa algumas das ideias que vigoram tanto no
discurso científico quanto no senso comum sobre a adolescência. Referimo-nos em
particular à ideia de que este é um período marcado pela instabilidade, pelos conflitos e
pelo sofrimento. Esta é uma herança que nos chega em grande parte de Stanley Hall
(1844-1924), psicólogo norte-americano que dedicou uma parte importante do seu
trabalho ao estudo da adolescência.

Ainda que, por esse mesmo motivo tenha tido fulcral importância no colocar o enfoque
sobre a mesma, a sua perspectiva sobre o adolescente não era das mais positivas. De
acordo com Hall, durante este período ocorre como que uma recapitulação das fases de
desenvolvimento da humanidade, começando com a barbárie, entre os 7 e os 13 anos,
em que o indivíduo não teria posse de funções mentais superiores tais como razão, a
moral ou o amor. O progresso ao longo do desenvolvimento permitiria ao indivíduo o
alcançar de estadios superiores do desenvolvimento humano. Assim, a adolescência
seria caracterizada pela instabilidade - sturm und drang (tensão e agitação) - devido ao
facto de recapitular um período histórico de transformações rápidas e caóticas ligadas ao
processo civilizacional (Sprinthall & Collins, 1988).

Apesar de muito criticadas na sua época e agora já ultrapassado muitas das suas ideias,
chega-nos como uma forte herança de Hall a ideia da adolescência como um momento
particularmente problemático do desenvolvimento. Porém, o que os estudos nos
demonstram, é que durante o período de vida que decorre aproximadamente entre os 10
e os 21 anos, apenas uma minoria (entre 10 e 20%) sofre de distúrbios psicológicos ou
desenvolvimentais graves. O consumo de drogas duras, por exemplo, apesar de chegar à
opinião pública com contornos de uma pandemia entre os jovens, ocorre apenas em
menos de 2% dos adolescentes portugueses (Matos et al, 2003). Da mesma forma,
problemáticas como sejam as relacionadas com o comportamento alimentar (anorexia e
bulimia), com a depressão e o suicídio, são característicos de apenas uma minoria dos
adolescentes.

O que, de resto, se verifica, é que o funcionamento típico durante a adolescência irá


também ser típico durante o resto do percurso de vida do indivíduo, ou seja e a título de
exemplo, a delinquência de um adolescente irá muito provavelmente ter continuidade na
vida adulta através dos mesmos comportamentos de desrespeito pela integridade e
propriedade de outros, da mesma forma que o adolescente que atravessa a transição para
a adultícia sem sobressaltos irá muito provavelmente ter uma entrada e continuidade na
vida adulta também pacífica.

Donde se depreende que o desenvolvimento psicossocial de cada pessoa é marcado mais


pelo progresso e continuidade do que pelos sobressaltos e por paragens mais ou menos
bruscas que possam ocorrer nesse processo. Sobressaltos, bem como acontecimentos
positivos, podem ser marcantes e afectar o modo habitual de funcionamento do
indivíduo, para bem ou para mal. Porém, como já referimos, estes acontecimentos não
são apenas conotados ao período da vida a que se convencionou chamar de
adolescência, mas a todo o nosso percurso desenvolvimental.

Quais é que são, então, as grandes conclusões que daqui podemos retirar? Uma delas
será que a ideia de crise desenvolvimental, ou seja, a conceptualização de momentos da
vida em que, tipicamente, todos os indivíduos passam por determinado tipo de
problemas (e aqui falamos de adolescência, mas também da meia-idade, da entrada para
a escola, entre outras) é altamente questionável. Ainda que Erikson, um dos pais deste
conceito, o tenha descrito como um momento de crescimento potencialmente positivo, o
certo é que com ele se presume sempre uma standardização no funcionamento
psicossocial dos seres humanos, o que os padroniza e lhes retira assim a sua
especificidade individual que os torna seres únicos e especiais.

Outra conclusão que daqui se pode retirar, refere-se em particular à adolescência e


prende-se ao facto de tanta atenção se dedicar a este período da vida dos indivíduos,
correndo-se o risco de efectivamente a problematizar - as realidades também se criam
através da veiculação e manutenção deste tipo de ideias. Deste modo, quando no título
desta apresentação se refere a terminabilidade da adolescência ou a ausência dela,
referimo-nos a duas questões diferentes, mas complementares - a da terminabilidade de
uma fase que, no sentido em que se encontra definida, cada vez mais se verifica estar a
arrastar vida fora, mas também nos referimos à terminabilidade de um conceito com
diversas limitações intrínsecas e que podem afectar a forma como os indivíduos a vivem
e também a forma como outros, técnicos em particular, lidam com ela do ponto de vista
conceptual e da intervenção.

Referências bibliográficas:

 Matos, M. E equipa do Projecto Aventura Social & Saúde (2003). A saúde dos
adolescentes portugueses (Quatro anos depois). Lisboa: Ed. FMH.

 Sprinthall, N.A. & Collins, W.A. (1999). Psicologia do adolescente. Uma abordagem
desenvolvimentalista. 2.ª Edição (Edição original de 1988). Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian.

Adolescentes e homossexualidade

A questão da homossexualidade não é nova mas foi


principalmente na última década que se verificou um crescente
interesse no seu estudo e análise. E não é por acaso que isso
acontece, nas sociedades ocidentais - e falamos apenas delas -
neste dado momento concreto. O emergir da discussão sobre
os direitos individuais e o maior respeito pelas determinações e
orientações de cada um, a introdução da questão "HIV", bem
como os dados científicos baseados na evidência, permitem debater este assunto com maior
lucidez, objectividade e sem tantos preconceitos como os que, nas sociedades ditas
"ocidentais", impediram durante muito tempo uma leitura imparcial e rigorosa da questão.

Como definir "homossexualidade"?

Provavelmente, cada Leitor terá a sua própria definição do que é a homossexualidade, se é


apenas dizer que uma pessoa do mesmo sexo é bonita ou interessante, ou assumir
publicamente a sua preferência por um companheiro do mesmo género. E aqui convém dizer
que falamos de ?género? e não de ?sexo?, que são coisas ligeiramente diferentes, dado que
têm a ver com o papel e a representação psicológica e social, e não exclusivamente com a
anatomia.

Em todo o caso, pode-se designar homossexualidade como a atracção sexual, emocional e


afectiva de pessoas de um género por pessoas do mesmo género, como parte de um
continuum da expressão sexual. Muitos adolescentes têm relações homossexuais como parte
da sua aprendizagem, experimentação e conhecimento do corpo. Por outro lado, muitos dos
homens e mulheres homossexuais tiveram as suas primeiras experiências durante a
adolescência, tendo sido no final desta que as suas determinações e opções se consolidaram.
De qualquer forma, este tipo de relações nesta idade não tem qualquer ?valor predictivo?.

Os porquês da discriminação

Se sempre existiu homossexualidade nas sociedades humanas, poder-se-á perguntar porquê a


reacção de rejeição tão veemente (em algumas sociedades, designadamente as ocidentais,
repito, dado que esta questão é pacífica em muitas regiões do mundo). Bom. Sem querer
esgotar o assunto, valerá a pena referir duas ou três coisas: por razões que a antropologia
facilmente explica, associadas ao desígnio de contribuir "a todo o custo" para a continuação da
espécie, esta forma de orientação sexual foi quase sempre reprimida ou pelo menos olhada de
esguelha - como, aliás, o era o facto de uma mulher não conseguir ter filhos, o que levava
inclusivamente a ser expulsa da tribo ou do clã.
Por outro lado, não se pode ignorar a contribuição decisiva de praticamente todas as religiões
e as condenações e culpabilizações inerentes a quem cometia esse "pecado". Finalmente,
como os homossexuais representam uma minoria, a maioria que, durante milénios, quis
equiparar a verdade universal às suas "verdades" próprias, exerceu essa ditadura que passava
pela humilhação e exclusão (e até erradicação) de quem fosse diferente. E ser diferente num
assunto "tabú" ainda é mais complicado e gera atitudes mais repulsivamente agressivas.

O mundo está (felizmente) a mudarBR>


Com o evoluir das sociedades, quando hoje em dia não ter filhos já não lança ninguém no
opróbrio, quando as liberdades, direitos e garantias individuais são promovidas e não apenas
as da comunidade como um todo, a questão da homossexualidade, tal como muitas outras,
tornou-se objecto de debate e de discussão. E se, por um lado, ainda se observam
frequentemente atitudes segregacionistas e de exclusão (algumas vezes de auto-exclusão), é
crescente a tolerância e mesmo a normalidade com que o assunto é felizmente encarado. Para
isso tem contribuído a afirmação pública de pessoas e individualidades de várias áreas da
ciência e da cultura relativamente ao facto de serem homossexuais. Há uns anos não se
admitiria que, por exemplo, um ministro de um governo fosse assumidamente "gay", o
admitisse publicamente e continuasse a ser ministro. Hoje já o é, em alguns países.

Não se trata portanto de dizer paternalisticamente que "o que cada um faz é da sua conta" e
que "temos que ser tolerantes", mas francamente, de muito mais: o de entender que a
sociedade é composta por indivíduos diferentes, na cor, no tamanho, nas capacidades, na
orientações sexuais e nas opções e estilos de vida. E se os determinantes dessas diferenças são
genéticos, ambientais ou um misto dos dois, dependerá muito do tema e do que a ciência
consegue (ou não) adiantar sobre o facto. E consegue muito pouco?

De facto, ainda há não mais do que vinte anos, a homossexualidade era definida como uma
"doença mental" por Academias de Psiquiatria tidas como cientificamente irreprováveis -
afinal provaram que não eram tão irreprováveis como isso? e o que é confrangedor é ver que,
ainda hoje, se assiste a classificações deste tipo.

A homossexualidade não é uma questão de escolha

Cada vez mais se entende que a homossexualidade, como uma das possíveis orientações
sexuais, não é uma questão de escolha, ou seja, não se escolhe ser homo, hetero ou bissexual.
É-se, apenas e tão só, embora permaneçam desconhecidos os determinantes dessa
orientação. O que já pertence ao capítulo das opções pessoais é a forma de comportamento e
os estilos de vida que as pessoas, homossexuais (ou não) adoptam, designadamente o tipo de
experimentação sexual e o viver (ou não) uma vida com relações homossexuais assumidas. Por
outro lado, é bom que fique claro que as experiências homossexuais, masculinas e femininas,
durante a adolescência, não são, para a larga maioria dos jovens, um factor predictivo da sua
orientação futura.
No que se refere à prevalência desta situação, embora alguns relatórios tenham indicado
estimativas, em adultos, de cerca de 4% para os homens e 2% para as mulheres, desconhece-
se a taxa na adolescência e estas prevalências variam enormemente de região para região e de
comunidade para comunidade, muito dependente do grau de aceitação social e até político.

As mesmas necessidades e padrões de desenvolvimento

Os adolescentes homossexuais partilham os mesmos padrões de desenvolvimento dos seus


congéneres heterossexuais, designadamente o estabelecimento de uma identidade sexual, a
decisão sobre os comportamentos, a gestão dos afectos, as opções relativas a ter ou não
relações, de que tipo e protegidas ou não, etc. Os riscos que correm, relativamente às doenças
de transmissão sexual, como a infecção a HIV ou outras, exigem as mesmas estratégias de
educação para a saúde. Assim, os cuidados antecipatórios que se debatem com qualquer
adolescente não devem excluir nenhum, independentemente das suas opções e orientações
que, como se afirmou, podem até não querer dizer coisa nenhuma em relação ao futuro. Por
outro lado, e como já referimos, sendo uma minoria na sociedade os homossexuais estão
sujeitos a uma pressão social e a um "empurramento para a clandestinidade" que pode trazer
um menor acesso aos serviços, um maior desconhecimento da informação credível e de rigor
e, também, um aumento dos problemas psicológicos e sociais, numa adolescência já pontuada
por dúvidas, angústias e "duelos" entre modelos de vida, de comportamentos, de relações e
de concepções de sociedade.
Problemas a vários níveis?

Os problemas psicossociais derivam fundamentalmente do fenómeno de exclusão, vergonha


(é preciso ver que ainda vivemos em sociedades onde os conceitos religiosos, mesmo nos não
praticantes e não crentes, tem um peso extraordinário em pequenas coisas do dia-a-dia,
mesmo que já não nas grandes decisões e opções), estigmatização social, hostilidade, etc.
Aliás, não é por acaso que o risco de suicídio é muito superior para os adolescentes
homossexuais, mesmo descontando outros factores do contexto social que possam também
ser geradores de situações depressivas.

Muitas vezes, o comportamento exibicionista, associado a uma vontade de afirmar que


"também se faz parte da sociedade", afasta e segrega mais as pessoas - mas é paralelo e "tão
sem graça" como o comportamento exibicionista de um par heterossexual.
É fundamental, assim, ter uma atitude de instilar segurança à medida que os adolescentes
formam a sua identidade sexual, sem rotulações precoces e imediatistas. Há uma evolução no
processo de orientação sexual e, tal como para os adolescentes heterossexuais, não podemos
confundir relações sexuais com sexualidade. A questão dos afectos é fundamental, dado que a
expressão desses mesmos afectos é socialmente mal vista e pode limitar os impulsos
amorosos que, se fosse o caso de um par heterossexual, até poderia ser motivo para uma
fotografia ou um cartaz socialmente e esteticamente (e politicamente) "correcto".

A família e a sociedade

Não é apenas a nível da sociedade que um adolescente homossexual encontra problemas, pelo
contrário. A nível da família e do grupo de amigos as atitudes hostis e de incompreensão, ou
de humilhação e até agressividade podem ser a regra. O desprezo a que podem ser votados
leva, muitas vezes, a sofrerem assédios, ataques e outros tipos de situações, desde
"partidinhas dos colegas" e brincadeiras de mau gosto até violência inter-pares. Por outro
lado, a estigmatização e os preconceitos podem impedir uma socialização completa, com
repercussões no desenvolvimento (a todos os níveis), na escolaridade e no sucesso educativo,
e na integração laboral, conduzindo a maior secretismo e exclusão. Não são raros os empregos
onde os homossexuais têm que esconder as suas opções afectivas mas, por outro lado,
"aguentar" todas as anedotas e piadas relativas às pessoas que se sentem atraídas por outra
do mesmo sexo. Todos estes factores levam a que os homossexuais, principalmente os
masculinos, sejam mais facilmente "conduzidos" para estilos de vida e opções de maior risco,
marginalização e, no fundo, menor realização pessoal, profissional e falhas no seu bem-estar.

Os pais, por outro lado, sentem-se quase sempre frustrados e muitos "nem querem ouvir falar
do assunto", fechando as portas ao diálogo e recusando aos filhos adolescentes direitos
fundamentais: o da partilha dos seus problemas e o de poderem assumir a sua orientação sem
serem por isso penalizados ou até mesmo expulsos do lar. É por isso que é necessário
desdramatizar o assunto e falar abertamente nele - afinal, há tão pouco tempo uma coisa tão
diferente e tão menor como uma criança ter piolhos era ainda escondida e geradora de
vergonha nas famílias?

Temos que evoluír para uma cidadania plena? É normal na adolescência haver uma certa
"ambiguidade" quanto à orientação sexual, resultante não apenas da necessidade de
experimentação e de condutas de ensaio, como das várias hipóteses afectivas que se colocam
a qualquer jovem. A amizade, por exemplo, pode ser confundida pelo próprio com amor,
sobretudo para quem nunca experimentou certas sensações e sentimentos. O que é
importante é que os jovens não se sintam culpabilizados ou pressionados, e que tenham
acesso às fontes de informação sobre sexualidade, relações sexuais, planeamento familiar,
doenças de transmissão sexual, ou seja, exactamente a mesma informação que todos os
outros jovens.

As sociedades estão sempre em evolução - veja-se a diversidade de culturas, hábitos e


conceitos que existem no mundo (como já afirmei, convém não reduzir o mundo ao que se faz
e vive nos países "ocidentais"). Cada sociedade define as suas regras, certas ou erradas,
conforme o sentir e o pulsar do momento. Com a rapidez da evolução tecnológica e da
comunicação, também os valores e regras se alteram com maior facilidade e em períodos de
tempo mais curtos. A discussão dos problemas, aberta e directa, como acontece nas
democracias, permite acabar com tabús e situações injustas e de segregação.
A homossexualidade é um dos assuntos que, certamente, sofrerá uma evolução nos tempos
mais próximos, no sentido de desdramatizar e de aceitar que nem todas as pessoas têm que
ter as mesmas opções, sejam elas determinadas por condicionantes genéticos, ambientais,
educativos, sociais ou quaisquer outros. Viver numa sociedade que aceita a diferença é uma
forma de promover a cidadania e os direitos individuais e colectivos.

Agradecimento: desejava agradecer à Associação ILGA, na pessoa do seu Presidente, José


Manuel Fernandes, a leitura crítica e reflexiva deste artigo.

Adolescentes, o Sexo e os Outros

Não é fácil ser-se adolescente. É um período de grandes mudanças


a vários níveis: familiares, sociais, emocionais, pessoais. É nesta
fase que, de certa forma, o adolescente se torna pessoa, procura
ganhar autonomia e tenta perceber qual a sua posição no mundo,
sendo necessário, muitas vezes, dar algum significado à sua própria existência. Daí que
esta seja também uma época de grandes ideais em que o adolescente é capaz de se
empenhar em causas de uma forma que dificilmente fará noutra altura da sua vida.

O corpo é o lugar de muitas destas mudanças. Este corpo vai progressivamente


adquirindo características de adulto e perdendo os traços de criança. Não é pouco
frequente a sensação de se estar a habitar um corpo estranho, como se um dia o
adolescente tivesse acordado e descoberto ter encarnado num invólucro desconhecido
que se controla com alguma dificuldade. Pior, este corpo parece ter vontade própria, e
quando menos se espera tem reacções estranhas: a cama aparece molhada de manhã,
quando se acorda; começa-se a sangrar dos sítios mais inesperados e sensações
estranhas surgem quando se fica excitado sexualmente.

É, desta forma, natural que o adolescente se sinta invadido por dúvidas. Elas estão
relacionadas com aquilo que se passa no seu corpo nesta fase, com estas transformações
e erupções que o deixam algo perplexo. É compreensível, assim, que ele procure
esclarecer estas dúvidas das formas que puder. É algo que lhe diz respeito, que o
perturba e espanta.

Esta necessidade do adolescente em esclarecer as suas dúvidas e os meios que ele


encontra para o fazer leva a que a sexualidade, nesta fase da vida se transforme numa
moeda de troca para com o mundo. Ou seja, ao ter que ir buscar a informação que não
tem, em algum local, o adolescente vai ter que entrar em diálogo e em interacção com o
seu meio. A sexualidade transforma-se, assim, num importante significante utilizado
pelo adolescente nas suas interacções com os outros.

Antes ainda de procurar a sua informação directamente naqueles que o rodeiam, o


adolescente vai procura-la nos meios que tem disponíveis ao seu alcance. Isto porque já
percebeu que a sexualidade não é uma temática acerca da qual se fale abertamente. Já
sabe que poderá ser repreendido se falar sobre o assunto ou, então, que irá provocar
constrangimento se o fizer. Assim, há que ter cautela e, primeiro, procurar pelos
próprios meios a informação desejada. E, actualmente, tal não apresenta qualquer
dificuldade.

É comum a discussão sobre questões ligadas à sexualidade nos meios de comunicação


social, nomeadamente em revistas dedicadas aos próprios adolescentes; a internet é um
meio que os jovens dominam e que permite o acesso a uma grande quantidade de
informação, entre a qual se encontra uma vasta quantidade de dados sobre sexo; várias
linhas telefónicas de ajuda existem sobre esta temática, nas quais os jovens, na
segurança proporcionada pelo anominato, podem colocar e esclarecer as suas angústias
mais intímas.

Em todos estes meios nos quais o adolescente procura informação, reina ainda o
silêncio na comunicação. Existe uma procura activa da informação, mas de forma
preferencialmente não interactiva, ou seja, de forma que não implique uma
comunicação com os outros sobre o interesse relativo ao sexo.

No entanto, esta fase informativa faz com que o adolescente tenha já muitos dados,
quando passa a uma outra fase – a fase da procura de informação junto dos outros. E
esta fase surge muito da necessidade de verificar se aquilo que ele sente e se aquilo por
que está a passar é unico, ou se existem outros que tenham a mesma experiência. Não
raras vezes o jovem se questiona sobre a normalidade dos seus sentimentos, já para não
falar das dúvidas sobre as formas do seu corpo.

O investimento de atenção e energia sobre o corpo, justifica-se pelos factores inerentes


ao seu próprio crescimento e também pelo facto de o corpo passar a ser, ele também, um
poderoso meio de comunicação. Meio de comunicar estados afectivos, meio de protestar
contra o sistema, contra os pais, contra a escola, mas também de demonstrar interesse,
disponibilidade ou indisponibilidade em relação aos outros. De chocar ou atrair. Assim,
se já de uma forma não verbal se torna possível interagir com os outros, a utilização da
palavra adquire um papel fundamental por permitir a troca de experiências e de
informações. Com os amigos, falar sobre sexualidade adquire a função de moeda de
troca.

Falar com os amigos e colegas é uma das formas mais habituais de aquisição de
informação sobre sexualidade junto dos jovens. E é possível perceber porquê. É através
dos amigos que o processo de socialização se efectua, nesta fase da vida. São os amigos
que vão ser investidos na proporção directa de que os pais vão ser desinvestidos. É com
eles que se cria uma intimidade emocional e afectiva que os torna confidentes dos
problemas e angústias. Tornam-se conselheiros por excelência nos momentos difíceis,
depositários dos sonhos e fantasias, dos projectos, bem como das ansiedades. Não é de
estranhar assim que, em diversos estudos efectuados que abordam esta questão, os
amigos surjam entre os principais meios de obtenção de informação em matéria de
sexualidade. Seguem-se alguns desses dados:

 54,1% dos homens e 32,8% das mulheres afirmam que os amigos influenciaram, até
um certo ponto, a sua visão da sexualidade (Vasconcelos, 1998).
 60,6% dos jovens do Concelho de Loures afirmam que os amigos constituiram fontes
de informação sobre sexualidade, percentagem esta bastante superior à dos que
afirmaram ter obtido esta informação junto dos pais (46,1%) ou de professores (15,5%)
(Machado Pais, 1996).
 55,2% dos jovens adultos afirmam ter obtido informação sobre os contraceptivos que
utilizam junto dos amigos, valor este mais uma vez superior ao relativo aos pais
(49,6%) ou aos professores (23,4%) (Nodin, 2001).

O facto de os jovens procurarem informação sobre sexualidade junto dos amigos tem as
suas vantagens e desvantagens. Por um lado, sabe-se que a influência dos amigos se
conta de entre as mais intensas neste periodo do desenvolvimento, acabando, por isso
por ser uma moeda valiosa . As desvantagens prendem-se com o facto de que muitas
vezes os conhecimentos que os jovens têm sobre sexualidade são incorrectos,
fundamentados em crenças deturpadas ou pura e simplesmente falsas.

Caso particular relativo à obtenção de informação junto dos pares é o do parceiro


sexual. Seria de esperar que se discutisse sobre sexualidade com a pessoa com quem se
tem relações sexuais. No entanto, os estudos efectuados e que abordam esta temática
demonstram o contrário. O que aponta no sentido de que, entre os casais de jovens, a
sexualidade é como que uma pedra preciosa . É preciosa porque se constitui como
objecto de troca física e emocional. No entanto, não se fala sobre ela, como se se tivesse
medo de a perder. É um objecto de troca essencialmente a um nível não verbal. Faz-se
mas não se discute aquilo que se faz. Como a prevenção ao nível da sexualidade implica
que os parceiros de uma relação sexual sejam capazes de discutir as questões básicas de
utilização do preservativo ou do método contraceptivo de sua eleição, esta dificuldade
dos jovens pode implicar sérios riscos para a sua saúde.

Também os pais jogam um papel importante nesta procura de informação dos jovens
sobre sexualidade. Relativamente a eles, pode-se dizer que são fontes de informação a
peso de ouro . E por diversos motivos. Para começar, é no contexto da família que os
jovens vão obter de tudo um pouco o essencial que lhes vai valer para a vida. O seu
equilibrio emocional, a sua personalidade, os seus valores, todos são fortemente
influenciados pela convivência e educação dos pais. Desta forma, também em matéria
de sexualidade, o básico vai ser obtido no contexto social que melhor conhecem, ou
seja, a família. Também aqui o não verbal tem um peso particularmente importante. É
mais por aquilo que se presencia e que se observa do comportamento e atitudes dos pais
que as crianças e os adolescentes vão construindo o seu próprio conceito de sexualidade.

Assim, mesmo nas famílias em que não se fala sobre este tema, as questões associadas
aos papéis de género, ou seja, as tarefas que são consideradas como sendo da
responsabilidade dos homens e das mulheres, a expressão dos afectos, de entre muitas
outras questões, são fornecidas logo com o leite materno. Daí que seja quase um lugar
comum dizer que a educação sexual se faz desde o berço e essencialmente pelos pais,
primeiros agentes no processo de transformar a criança em pessoa. O peso de ouro que
os pais adquirem neste processo advém exactamente desta sua função. Até porque não é
necessário que se fale sobre sexualidade em casa para que, logo à partida, os
adolescentes adquiriram toda uma postura face a estas questões que os vai acompanhar
durante toda a sua vida.

Isto não quer dizer que não seja necessário falar de sexualidade em casa. Tal é, não só
importante, como essencial para o à-vontade com que os jovens irão encarar a
sexualidade. Além de que lhes vai abrir as portas para que, de facto e de uma forma
activa, procurem informação junto dos pais quando de tal necessitarem. Esta é a forma
de os pais se transformarem, de facto, em pequenas grandes minas de ouro nas quais os
jovens podem adquirir preciosas informações que lhes são tão caras.

Por último, mas nem por isso menos importantes, vêm os professores. Qual é o preço da
informação que os professores podem dar sobre sexualidade? Qual o valor das suas
atitudes e posturas no decurso das suas aulas e fora delas? Há que não esquecer que uma
parte considerável do tempo dos jovens é passado em contextode sala de aula com os
seus professores e professoras. Assim, se é com os pais que o básico da personalidade e
capacidades dos jovens se vai formar, é com os professores que uma vasta quantidade
de informação pode ser colectada, consolidada e, desta forma, enriquecida a
personalidade dos adolescentes, também no que respeita à sexualidade.

Da mesma forma que com os pais, esta transmissão de conhecimentos e valores não
passa apenas por aquilo que se diz nas salas de aula, mas também por aquilo que se faz.
As atitudes, gestos e posturas dos professores são um veículo de valores, conceitos e
preconceitos sobre questões tão básicas como os papéis de género, o conservadorismo
ou o liberalismo na abordagem da sexualidade. Um exemplo clássico é o do
aparecimento da primeira menstruação a um arapariga na escola e da forma como a
instituião escolar lida com esta situação. É tratada como um acontecimento natural? Ou
como se de uma doença se tratasse? Como algo que deve ser comemorado? Ou ainda
como algo que deve ser mantido em segredo? Além disso, quem é que se encarrega de
falar com a rapariga sobre o sucedido? É o professor em cuja sala se deu a ocorrência,
ou é chamada uma professora de propósito para o efeito? A rapariga é enviada para o
gabinete de enfermagem e depois para casa?

Esta é uma sitação que faz parte do quotidiano da escola e, portanto faz parte do
quotidiano quer dos alunos quer dos professores. Lidar com estas questões é estar já a
fazer educação sexual. É também através da forma como o professor lida com estas
questões que um adolescente se poderá sentir mais confortável em procura-lo para pedir
ajuda para algum problema que tenha – por exemplo uma gravidez não desejada. Aqui
as coisas funcionam um pouco como um fundo de investimento. Se os professores têm a
disponibilidade e o à-vontade para abordar as questões da sexualidade na sala de aula,
então mais facilmente os alunos se lhes irão dirigir com dúvidas nesta área e os
procurarão se necessitarem.

Obviamente que nem sempre é fácil para os próprios professores falar sobre sexualidade
com os alunos, nas aulas ou fora delas. Muitos não tiveram a possibilidade de, ao longo
do seu próprio desenvolvimento, falar com alguém, pai, mãe, professor ou técnico,
sobre estas questões. Tão pouco tiveram formação adequada e específica sobre como
abordar a educação sexual em sala de aula. Isto deixa-os frequentemente numa posição
de insegurança face à abordagem destas questões, mesmo que para tal tenham
motivação .

É importante que o professor seja capaz de reconhecer que existem questões para as
quais não está qualificado para dar resposta. Situações em que não tem o troco
adequado para dar ao aluno que os procura. Isto não diminui o seu papel de educador
mas, pelo contrário, valoriza-o enquanto intermediário entre os problemas dos alunos e
os recursos que os poderão melhor ajudar.

De resto, a introdução da educação sexual nas escolas é uma realidade. De acordo com
as linhas orientadoras para a introdução da educação sexual em meio escolar (Ministério
da Educação et al., 2000), a sexualidade deverá ser abordada de forma transversal aos
currículos escolares. Ou seja, não irá haver uma nova disciplina específica de educação
sexual mas, em cada uma das disciplinas já existentes nos diferentes graus de ensino,
deverão ser abordadas questões relacionadas com a sexualidade articuladas,
obviamente, com os respectivos currículos.

Isto significa que, a curto prazo, a sexualidade será moeda de troca corrente entre
professores e alunos no contexto da escola. Até porque se privilegiam, para os
objectivos propostos, a utilização de metodologias dinâmicas e interactivas, e envolvem
assuntos sobre os quais é suposto que se debatam valores e posições pessoais, dos
alunos, bem como dos professores.

Os jovens de hoje em dia vão ter um privilégio que a grande maioria dos actuais adultos
e jovens adultos não teve durante o seu crescimento e percurso escolar que é o de terem
acesso a uma abordagem sistematizada da sexualidade no contexto da escola,
permitindo-lhes, assim, a possibilidade da integração de informações e valores ao longo
do seu desenvolvimento.

Este é um investimento que sendo feito hoje pode dar grandes lucros no futuro, ao
diminuir o desconhecimento, as falsas crenças, o conselho benevolente mas
tecnicamente incorrecto que, na verdade, só complica em vez de ajudar. Não irá,
certamente, resolver todos os problemas do mundo ou, à nossa escala, do país, mas
poderá, a seu tempo, diminuir alguns dos graves problemas de saúde que afectam os
nossos jovens, dos quais o VIH e a gravidez não planeada são apenas exemplos.
Moedas de troca, pedras preciosas, fundos de investimento e pesos de ouro, são valores
que continuarão, certamente, a fazer parte do quotidiano dos jovens. Preciosos já todos
eles são, cada um à sua maneira. Esperamos que, num futuro que começa agora, possam
passar a ser mais valorizados ainda.

Sentidos e Sensações

Amor - uma abordagem "científica"

Este artigo expressa as teorias apresentadas por vários autores. Como todas as teorias,
também estas são constestáveis.

APAIXONAR-SE

É frequente distinguir três fases no processo de enamoramento e em cada uma delas se


observa a intervenção de diferentes hormonas. Vejamos:

 Fase 1: Desejo
O desejo é "alimentado" pelas hormonas testosterona e estrogénio. A testosterona não
existe apenas nos homens e desempenha um papel importante no desejo sexual das
mulheres.
 Fase 2: Atracção
Esta é a fase mais "aguda", durante a qual as pessoas envolvidas parecem não ser
capazes de fazer mais nada além de suspirar pelo(a) eleito(a) do seu coração. Os casos
mais graves incluem perda de apetite e insónia.
Nesta fase há um grupo de neurotransmissores que desempenham um papel importante
para induzir o comportamento que a caracteriza. Entre estes estão:
- dopamina
(é também activada pela cocaína e pela nicotina)
- norepinefrina/adrenalina
(acelera o ritmo cardíaco e provoca sudação)
- serotonina
(a sua acção traduz-se em alterações do comportamento)

 Fase 3: Ligação afectiva


Ninguém aguenta ficar na fase 2 para sempre, pelo que a necessidade de estabelecer
uma ligação mais forte e assumir um compromisso surge naturalmente. Há duas
hormonas cuja presença marca esta fase:
- oxitocina
(é libertada durante o parto e está directamente implicada na produção de leite materno;
é também libertada por ambos os sexos durante o orgasmo e pensa-se que será de
alguma forma responsável pela ligação entre dois adultos que mantêm uma relação de
intimidade)
- vasopressina

ATRACÇÃO

Segundo alguns estudiosos, existem alguns factores que nos tornam mais ou menos
atraentes para o sexo oposto.

 Simetria perfeita
Pensa-se que, sem nos apercebermos, encaramos a assimetria do rosto como um indício
da existência de problemas genéticos no indivíduo em causa. Assim, muitos estudos
revelaram que os homens parecem sentir-se atraídos pelas mulheres com os rostos mais
simétricos. Nas mulheres essa preferência não é tão acentuada.

 A «mulher-ampulheta»
Os homens parecem apresentar uma preferência por mulheres com uma relação anca-
cintura de 0,7. Esta relação pode ser obtida graças à seguinte fórmula: medida da cintura
÷ medida da anca. Esta atracção não parece estar associada ao peso. Há quem estabeleça
uma ligação entre esta relação e a fertilidade da mulher.

E quem diz que os elementos de um casal são frequentemente bastante parecidos não
está assim tão errado, uma vez que (mais uma vez) há estudos que indicam que temos
tendência a procurar um parceiro que tenha algumas características em comum
connosco.

Andropausa
Durante a andropausa regista-se no homem uma descida nos níveis de testoterona
(hormona sexual masculina, segregada pelos testículos), à semelhança do que sucede
com a descida dos níveis de estrogénios (hormonas sexuais femininas produzidas nos
ovários) da mulher durante a menopausa.

No entanto, se na mulher este ciclo é marcado pelo fim da menstruação, no homem não
existe um marco claro que assinale a transição. As mudanças ao nível físico ocorrem
gradualmente e podem ser acompanhadas por mudanças na atitude e na disposição,
fadiga, bem como perda de energia, de desejo sexual e de agilidade física.

Com a diminuição da testosterona diminuem também as acções que a hormona exerce


sobre os tecidos do corpo, em especial nos órgão genitais e a nível cerebral, o que se
reflecte a nível psicológico e corporal. A acção da hormona influencia também a
densidade capilar, a massa gorda, as células sanguíneas e os ossos.

A investigação tem demonstrado que a diminuição da testosterona está relacionada com


problemas como as doenças do coração e a fragilidade dos ossos (a osteoporose, cujo
aparecimento também se realaciona com outros factores como a falta de actividade
física e o alcoolismo). Estas mudanças ocorrem numa fase da vida em que se
questionam as realizações pessoais, familiares, profissionais - e até o "sentido da vida" -
, pelo que é difícil avaliar se as mudanças que ocorrem estão relacionadas com a
andropausa ou com outas variáveis.

A diminuição da testosterona com a idade é , nos homens, parte do processo de


envelhecimento, pelo que existe alguma resistência em identificar a andropausa como
um período "real" ou uma condição específica.
A diminuição gradual de hormonas masculinas no homem faz com que alguns
especialistas prefiram a utilização da designação hipogonadismo de início tardio, uma
das mais usadas, a par com "andropausa".

Regra geral, os sintomas começam a surgir a partir dos quarenta anos, prolongando-se
nas décadas seguintes, embora seja difícil de estabelecer uma idade para o seu
aparecimento. Refira-se ainda que em cada indivíduo as mudanças podem ser
diferentes (muitos homens não admitem sequer que existem mudanças). Além de os
sintomas serem vagos e de diferirem de homem para homem, os testes que avaliam a
disponibilidade da testosterona são recentes, o que, no passado recente, contribuiu para
que este problema fosse pouco diagnosticado e tratado.

O nível de testosterona só é considerado baixo em relação à gama de valores normais


em cerca de 13% dos casos. No entanto, análises de sangue mais detalhadas e recentes
mostram que a disponibilidade da testosterona decresce em 74% dos casos. A terapia
passa por uma reposição dos níveis de testosterona.

A investigação tem vindo a relacionar a deficiência de testosterona com algumas outras


doenças, entre as quais a disfunção eréctil, a doença de Alzheimer e a síndroma
metabólica (que atinge sobre tudo os homens com mais de quarenta anos e está
relacionada com dietas hipercalóricas, obesidade e sedentarismo, caracterizando-se por
uma associação de factores de risco para, entre outros, as doenças cardiovasculares ou a
diabetes).
Os avanços nos meios de diagnóstico e o aumento da esperança média de vida têm
contribuído para uma nova abordagem desta fase tão importante na vida dos homens.

Assédio sexual

Olhares tão penetrantes que parecem despir, peça a peça, a roupa


que se veste, toques despropositados, bilhetinhos cheios de
segundas intenções e, em casos extremos, piropos que não deixam
nada à imaginação. É assim que se descrevem os muitos casos de
assédio sexual que, seguindo alguns testemunhos, ocorrem em vários locais de trabalho.

O assédio sexual não é uma brincadeira sem consequências e, muito menos, uma
tentativa de aproximação romântica. O assédio é, isso sim, uma forma de agressão que,
além de atentar contra a dignidade da pessoa a quem se dirige, também acaba por minar
a sua própria relação com a função que desempenha na empresa.

E, se reparaste bem, até agora falámos nas vítimas enquanto pessoas, sem definir o seu
género. Isto porque, apesar ser mais comum colocar as mulheres no papel de vítima de
agressão (talvez devido à subserviência que lhes foi atribuída ao longo da História), a
verdade é que também os homens passaram a ser alvo de assédio sexual.

Estranho, não é?... ―Como é que uma mulher consegue assediar sexualmente um
homem?‖. Bom, tens que perceber que ―assédio‖ não é sinónimo de agressão física
(apesar de ser essa a conotação mais forte), mas sim de uma questão de poder abusivo.

Existe um filme protagonizado por Demi Moore e Michael Douglas (Disclosure -


Revelação) no qual é transmitida a ideia de como é que um homem se pode tornar
vítima de assédio sexual por uma superior hierárquica.

A pior consequência de uma situação de assédio é a perda do emprego e da


credibilidade. Como poderás imaginar, alguém que não ―colabore‖ com o assediador
corre o risco de ver a sua posição na empresa ser posta em causa ou, pior, acabar por
perder o emprego.

Mas o facto é que, apesar da situação descrita, frequentemente as vítimas não chegam a
denunciar o assédio. Fazem-no porque temem ser completamente desacreditadas pelo
assediador e tornar-se alvo de chacota geral. Outros não o fazem por medo ou por não
saber o que fazer ou a quem recorrer nestas circunstâncias.

O facto é que é se torna difícil saber em que ponto é que um piropo (ou outra acção)
ultrapassa os limites legais.
No entanto, mesmo sem existir uma fronteira legal, a vítima de assédio não pode
simplesmente cruzar os braços e aceitar a sua (má) sorte de ―bom‖ grado. A partir do
momento em que não se denuncia um abuso destas proporções, passa-se a ser conivente
com uma situação que, como já dissemos, pode piorar e passar das palavras aos actos
(abuso físico).
Por isso, convém saberes que há atitudes a tomar caso esta situação de assédio se
verifique:

 Começar por deixar bem claro que esses avanços te são desagradáveis e que te
recusas a participar.

 Se mesmo assim o assédio persistir, tenta falar com amigos/familiares/colegas


sobre o assunto. Não é boa ideia guardares os teus sentimentos só para ti. E, caso
seja necessário mais tarde, terás alguém que te apoie.

 Arranja provas que não deixem dúvidas sobre o que se está a passar. Grava
conversas, guarda bilhetinhos ou e-mails comprometedores e, se conseguires,
arranja uma testemunha.

 Depois de reunires provas (isto é muito importante porque uma acusação de


assédio sexual não deve ser feita de ânimo leve), deves dirigir-te à entidade
patronal. O mais correcto será redigir uma denúncia escrita e enviá-la através de
carta registada com aviso de recepção.

 É importante apresentar queixa à CITE (Comissão para a Igualdade no Trabalho


e no Emprego).

 Informa o teu sindicato do que se está a passar para que te possa defender. Caso
não sejas sindicalizado(a) faz queixa ao Delegado do Ministério Público do
Tribunal do Trabalho ou da Comarca da tua residência.

 Para terminar, deves apresentar queixa na GNR, PSP ou na Polícia Judiciária da


tua área!

Como já percebeste, o assédio sexual é uma situação muito grave, por isso não deixes
que se prolongue. Mesmo que não se passe contigo, se tiveres conhecimento de alguém
que esteja a passar por esse problema, tenta ajudá-lo(a).

É preciso que haja uma mudança de mentalidades de forma a cimentar a igualdade e o


respeito no local de trabalho. Faz a tua parte!

Cancro do colo do útero

Breve estatística

Portugal é dos países da União Europeia o que regista a maior incidência de cancro de
colo do útero: cerca de 17 casos por cada 100 mil habitantes, com 900 novos casos por
ano.
Todos os anos morrem mais de 300 mulheres em Portugal com este tipo de cancro.
O que é

As infecções por Vírus do Papiloma Humano (VPH) são muito comuns - estima-se que
mais de 70% das pessoas com uma vida sexual activa contraiam pelo menos uma
infecção deste tipo. A esmagadora maioria das infecções é controlada pelo nosso
sistema imunitário e é quase inofensiva; mas cerca de 20% das infecções tornam-se
crónicas e podem estar na origem de um cancro, sobretudo se associadas a outros
factores, como os factores genéticos ou os adquiridos, como o tabagismo.

O VPH é um vírus do qual se conhecem, pelo menos, setenta tipos associados a


manifestações clínicas específicas, dos quais mais de vinte podem infectar o aparelho
genital. Os vírus do papiloma humano, podem ser de alto ou baixo risco, de acordo com
o seu potencial oncogénico (ou seja, a capacidade para dar origem a um tumor).

A infecção, que se transmite, habitualmente, por via sexual, frequentemente não


apresenta qualquer sintoma específico e pode desaparecer espontaneamente. Em alguns
casos, a infecção é persistente, sendo a principal causa de cancro do colo do útero. Está
também associada a outras formas de cancro, como o cancro do canal anal e do pénis.

Estima-se que mais de 99% de todos os casos de cancro do colo do útero estejam
associados à infecção por VPH, sendo os subtipos 16 e 18 responsáveis por cerca de
70% destes casos.

A vacina

A inclusão da vacina no Programa Nacional de Vacinação surge com a descoberta de


duas vacinas: uma contra os subtipos de VPH 6 e 11 e outra contra os subtipos 16 e 18.
A vacina visa prevenir o cancro do colo do útero e outras doenças provocadas pelo
VPH.

Em Outubro de 2008 a vacina começou a ser dada a raparigas com 13 anos de idade
(nascidas em 1995). Será realizada uma campanha de "repescagem", entre 2009 e 2011,
vacinando as raparigas que completem 17 anos no ano da campanha (ou seja
abrangendo as mulheres nascidas em 1992, 1993 e 1994).

No combate ao colo do útero aposta-se também na prevenção secundária, na fase adulta


da mulher, através do exame citológico do colo do útero.

Características da sexualidade na infância - considerações


gerais
Consideramos hoje a infância como o período que ocorre entre o nascimento e a puberdade
(10/12 anos). No entanto, nem sempre foi assim e, até ao século XVII, a infância não era
sequer reconhecida como um período individualizado da vida humana (Badinter, 1980; Ariès,
1988; Strecht, 2001). Sob esse enfoque, a criança era vista apenas como um pequeno adulto,
não recebendo educação específica e tendo que, precocemente, conviver com o trabalho e
corn as preocupações próprias dos adultos. Esses factos, ligados à sociogénese da infância,
aparecem com muita clareza através do estudo do vestuário infantil típico dessas épocas, bem
como na análise das expectativas acerca das crianças das diversas classes sociais.

A partir desse século, com o empobrecimento da nobreza e com a ascensão da burguesia,


ocorrem vários movimentos humanistas, passando a criança a ser exaltada pela sua pureza,
dentro de todo um contexto social de revalorização. Nessa época, compreendia-se a prática do
sexo como actividade pecaminosa e não merecedora de aceitação divina e social. As crianças,
por não terem os genitais externos ainda desenvolvidos e por se considerar que não
praticavam actividades ?sexuais?, estavam em estado de pureza, isentas, assim, de qualquer
?culpa?. Ainda sob esse ponto de vista, acreditava-se que essa ?inocência? era proveniente da
ignorância sobre as questões relacionadas com a sexualidade (Ariès, 1988; Pais, 1987).

A partir desses conceitos, foi valorizado um tipo de ?educação? que ao mesmo tempo
mantinha as crianças (e os adolescentes) sem informação e impunha-lhes um padrão que
reprimia determinadas expressões da sexualidade. Visando mantê-las afastadas da curiosidade
sobre os comportamentos sexuais. Os resquícios sociais de tais padrões educacionais
continuam, ainda hoje, em evidncia na angústia que a maioria dos adultos sofre face às
manifestações da sexualidade infantil (Ariès, 1988; Pais, 1987).
No entanto, ao longo do séc. XX assistiu-se a importantes mudanças no que se refere aos
padrões socialmente aceites para as diferentes expressões da sexualidade. Embora, de uma
maneira geral, exista, ainda, um duplo padrão relativamente aos dois sexos, a sexualidade tem
vindo, gradualmente, a ser melhor compreendida, deixando de ser, quase sempre, exercida
sem permissão social e usualmente condenada a clandestinidade (Lopez, 1999).

Grande parte desta mudança foi influenciada pelas ideias de Freud, ao afirmar a existência da
sexualidade na infância, correlacionando-a com as fases de desenvolvimento da criança. As
suas declarações foram muito contestadas pela sociedade da época, que relacionava ainda a
ausência de sexualidade a pureza e a inocência. Nessa concepção, era virtuoso todo aquele
que negasse a satisfação dos seus próprios desejos, especialmente quando a razão não os
autorizava. Freud ousou declarar que todos praticávamos sexo e que ele estava inserido na
natureza humana desde o nascimento, tratando a questão não como um ?pecado?, mas como
causa de sentimentos de culpa e, portanto, de algumas perturbações emocionais (Freud,
1905).

Hoje, admitimos que a sexualidade se manifesta desde o início da vida e que se desenvolve,
acompanhando o desenvolvimento geral do indivíduo e integrada no seu bem-estar
biopsicossocial (Lopez & Fuertes, 1999). Sabemos que, independentemente do ciclo de vida
em que estejamos, somos sexuados e temos manifestações e interesses sexuais. Sabemos,
igualmente, que a sexualidade muda ao longo da vida e que cada idade tem as suas
manifestações próprias, admitindo várias formas de expressão consoante os indivíduos (Félix.
1995).

Se a sexualidade infantil tem muitos aspectos semelhantes à dos adultos (procura de prazer e
de comunicação; conhecimento do seu corpo e do corpo dos outros), tem, no entanto,
características específicas, tais como:

1. Os órgãos genitais estão pouco desenvolvidos e os caracteres sexuais secundários iniciam o


seu desenvolvimento apenas no final da infância.
2. A quantidade de hormonas sexuais em circulação no sangue é também muito pequena, o
que vai interferir na pulsão sexual, que é diminuta.
3. Por razões hormonais, o prazer sexual é difuso.
4. Os estímulos externos não têm significado erótico. Na infância, a atracção por outras
pessoas é mais uma atracção afectiva que sexual.
5. A orientação do desejo (homossexual, heterossexual ou bissexual) não está consolidada;
esta acontecerá somente na adolescência.
6. É mais dificil às crianças fazer a distinção entre os desejos e sentimentos especificamente
sexuais e os desejos e sentimentos afectivos.

Por último, não será demais realçar que as actividades sexuais das crianças se baseiam em
motivações muito diferentes das dos adultos. O que, na maioria das vezes, as crianças desejam
é imitar os adultos, conhecer o seu corpo e o dos outros. Assim se explicam muitos dos jogos
de conteúdo sexual que se realizam na infância, quer seja o brincar ?aos médicos?, quer aos
?pais e mães?.
Na faixa etária entre os 2 e os 6 anos a actividade sexual é essencialmente lúdica, exploratória
e informativa e assenta no auto-erotismo.

Consulta de Ginecologia

A primeira consulta de Ginecologia deve acontecer no início da


adolescência, independentemente de a jovem em questão ter ou
não iniciado a sua vida sexual. O(A) ginecologista é um(a)
médico(a), um(a) profissional que é a fonte mais fidedigna de
informação correcta no que toca à sexualidade e à saúde reprodutiva. É a ele(a) que se
pode e deve fazer todas (mesmo todas) as perguntas, por mais embaraçosas, patetas ou
até escabrosas que elas nos pareçam. E é na posse de informação correcta que, sem
medos nem mitos, poderemos disfrutar de uma vida sexual plena (num contexto de
muito amor).

As consultas de Ginecologia existem nos Centros de Saúde, Hospitais e, claro, em


consultórios privados. Se não houver uma recomendação (a situação mais comum) por
parte de uma familiar ("eu vou ao da minha mãe") ou amiga, é sempre possível pedir o
conselho do Médico de Família. Ou, em alternativa, ir a uma consulta de Planeamento
Familiar.
Não existe uma "idade certa" para a primeira consulta - depende da maturidade
psicológica e física da jovem em questão. É desejável que a decisão de consultar o
ginecologista seja tomada em conjunto com um adulto (mãe, irmã, avó...) que a
acompanhará nessa consulta. É comum que a primeira consulta surja associada ao
aparecimento da primeira menstruação.
No entanto, se estes cenários "ideais" não se concretizarem, é inadiável uma ida ao
ginecologista após a primeira relação sexual.

O que acontece na consulta?

Na primeira consulta, em primeiro lugar, são feitas perguntas de rotina, para que o
médico conheça a história clínica da paciente. Perguntas como: quando surgiu a
primeira menstruação; se o ciclo menstrual é regular; se a menstruação é acompanhada
de dores mais ou menos fortes; se já teve relações sexuais; se utiliza algum método
contraceptivo; se já teve alguma gravidez, bem ou mal sucedida; se existe alguma
doença crónica na sua família, entre outras.

No caso de já ter iniciado a actividade sexual, além da habitual colpocitologia (o célebre


exame de Papanicolau), feita durante o exame ginecológico de rotina, pode ser feito um
rastreio mais fino às doenças sexualmente transmissíveis. É também esta a ocasião mais
indicada para uma conversa sem preconceitos sobre o método anticonceptivo mais
eficaz a utilizar para esta jovem, em particular.

Nas consultas de rotina faz-se o exame ginecológico. Atenção! O exame não dói!
Trata-se, afinal, de um exame ao corpo, neste caso, a uma parte específica. Um dos
aspectos mais importantes deste exame é que a mulher tenha confiança no seu
ginecologista e não lhe esconda nada do que sentiu ou está a sentir durante o exame. Se
for a primeira vez e se sentir mesmo insegura, a jovem pode pedir ao médico que lhe
explique o que vai fazer. Qualquer bom médico o fará sem problemas.

Para fazer o exame, a mulher fica deitada de costas na mesa ginecológica, com os pés
apoiados num suporte e as pernas afastadas.
Durante o exame o médico usa sobretudo as mãos (enluvadas), podendo recorrer a
alguns instrumentos, como o espéculo (para facilitar o acesso e visibilidade na zona
vaginal) ou a espátula (para retirar amostras citológicas). É também feito o toque bi-
manual, exame durante o qual o médico introduz dois dedos na vagina, ao mesmo
tempo que colca a mão sobre o abdómen, a fim de sentir os órgãos genitais (como o
útero) e sentir se há alguma alteração (de posição, por exemplo) significativa a
assinalar.

O exame termina, as amostras vão para o laboratório e, mais tarde, o ginecologista


analisará os resultados.

E, para finalizar, algumas ideias erradas que ainda existem na cabeça de muitas pessoas:

1. O exame ginecológico não dói.


2. O toque bi-manual não provoca perda de virgindade.
3. Os instrumentos utilizados, nomeadamente o espéculo, também não provocam a
ruptura do hímen, sobretudo porque o seu tamanho varia com as características
anatómicas da mulher.

Contracepção de emergência

O que é a contracepção de emergência?

Os contraceptivos de emergência são métodos para evitar uma


gravidez não desejada, depois de ter havido relações sexuais sem
protecção. Geralmente, é considerado necessário recorrer a este método quando:
 se rompe um preservativo durante a relação sexual;
 a mulher se esqueceu de tomar a pílula ou não a tomou da forma correcta e teve
relações sexuais;
 é um caso de violação;
 há situações - a analisar caso a caso - em que tenham ocorrido relações sexuais não
protegidas (por exemplo, um daqueles "arroubos" de paixão a que nenhum dos
envolvidos foi capaz de resistir e antes do qual ninguém parou para pensar).

Regra geral, não se trata de nada de especial; apenas uma pílula contraceptiva "normal",
com uma dosagem diferente da habitual. As pílulas de contracepção de emergência
devem ser tomadas o mais cedo possível (a primeira, o mais tardar, até 72 horas após o
acto sexual sem protecção).

O que fazer?

O mais indicado é que se dirija ao seu médico assistente, ao ginecologista ou à consulta


de Planeamento familiar do Centro de Saúde da sua área de residência. É importante
que a mulher fale com um médico antes de recorrer à contracepção de emergência pois,
apesar de esta ser uma opção simples e segura para a maioria das mulheres, existem
casos particulares em que este método não é aconselhado sem supervisão médica. É o
caso de mulheres que possam:
- não ter a certeza de ter ou não engravidado no último mês (atenção a sinais como
náuseas, aumento do volume das mamas, anormalidades no último período menstrual);
- ter cancro da mama;
- ter um tumor no sistema reprodutor;
- ter problemas cardíacos;
- ter coágulos nas pernas (varizes, p.e.) ou pulmões;
- ter doenças como diabetes, problemas de fígado, doenças de coração, doenças de rins,
fortes enxaquecas ou hipertensão;
- qualquer doença que possa constituir um risco para a sua saúde.

Como tomar?
A contracepção de emergência faz-se em duas etapas. A primeira toma deve ser feita o
mais cedo possível, até 72 horas após a relação sexual sem protecção. A segunda toma
deve ser feita 12 horas depois da primeira toma.
Meia-hora antes de cada toma, é aconselhável tomar um comprimido para o enjôo (para
prevenir eventuais vómitos).
A tabela seguinte, obtida a partir da página de Internet da Associação para o
Planeamento da Família (APF), revela a forma de aplicar este método recorrendo a
marcas presentes no mercado português. Note-se que já existe no nosso mercado uma
embalagem de quatro pílulas para contracepção de emergência, o Tetragynom).

Marca 1.ª Toma 2.ª Toma

Microginon 4 pílulas 3 pílulas

Neomonovar 4 pílulas 3 pílulas

Gynera 4 pílulas 3 pílulas

Minulet 4 pílulas 3 pílulas

Marvlon 4 pílulas 3 pílulas

Diane 35 3 pílulas 3 pílulas

Mercilon 5 pílulas 5 pílulas

Minigeste 5 pílulas 5 pílulas

ATENÇÃO!!!

A contracepção de emergência é uma "bomba hormonal", que actua activamente sobre o


sistema reprodutor da mulher, logo, este método não deve ser utilizado
repetidamente, sendo importante discutir com um técnico de saúde o tipo de
contracepção regular que se deseja escolher. Assim, três semanas depois da tomada das
pílulas, vá a uma consulta médica para escolher o novo método e excluir uma possível
falha da contracepção de emergência.

Se depois de recorrer a este método a mulher desejar ter relações sexuais, é muito
importante que utilize um método de barreira (preservativo ou outro) até ao
aparecimento do período menstrual.

Nota final:
O que torna este método pouco atraente (recordar que se trata de um método de
emergência):
 Não protege contra doenças sexualmente transmissíveis, o que inclui a SIDA, entre
outras.
 Tem que ser posto em prática muito rapidamente.
 Implica ter uma caixa de pílulas "sempre à mão".
 Pode provocar efeitos secundários (enjôo e vómitos, p.e.).

Para obter mais informação sobre este ou outros métodos contraceptivos, consultar:
Associação para o Planeamento da Família

Culto do Corpo

Se há uma coisa da qual pudemos ter certeza é o facto de nascermos e


morrermos seres sexuados. Pudemos nascer do sexo masculino ou do sexo feminino, até
pudemos nascer com um sexo que não desejamos. Mas nascemos com um sexo...somos seres
sexuados e toda a nossa vida e a maior parte dos nossos comportamentos irá ser condicionada
por essa constante.

Este corpo sexuado é o objecto mais privado que possuímos, sendo, simultaneamente, aquele
através do qual interagimos em sociedade. É através dele que sentimos e “infligimos” a
atracção física, e vivenciamos a beleza. É sem dúvida um objecto de culto, alvo de padrões
culturais de beleza que diferem de cultura para cultura de sexo para sexo e evoluem com o
passar dos anos e das modas. O corpo pode ser também um veículo de uma das nossas
melhores linguagens: a linguagem corporal. Os movimentos e as expressões possuem um
papel vital na manifestação de emoções e sentimentos como a paixão, o desejo ou o amor.

Quer queiramos quer não, a beleza individual, a imagem, o corpo, desempenham um papel
fundamental na escolha do parceiro. O ideal de beleza e o estatuto subjacente sobrepõe-se à
escolha de parceiro com fins reprodutivos. A ideia de beleza interior pode parecer um conceito
muito nobre, mas na realidade é em prol do aspecto físico que fazemos sacrifícios. Pensando
bem, não aproveitamos o nosso pouco tempo livre para lermos as últimas novidades literárias.
Não, vamos ao ginásio, fazemos exercício, aperfeiçoamos o corpo, melhoramos o nosso cartão
de visita.

Desde cedo aprendemos a olhá-lo e a compará-lo. Este é um ritual que começa logo na
infância quando descobrimos as diferenças entre “meninos e meninas”, mais tarde já durante
a adolescência iniciam-se as comparações entre os géneros. Entre grupos de rapazes e
raparigas gera-se um frenesim e uma competição pela presa do sexo oposto. As raparigas
anseiam pelo boom revolucionário de ancas e seios e exterminam pêlos voluntariosos os
rapazes contam pelos dedos das mãos os novos pêlos da face, exibem os músculos e medem o
pénis, consomem horas em frente a espelhos na esperança de parecer belos aos olhos de
quem se quer agradar.

Mais tarde fazem-se novos sacrifícios pela imagem, basta olhar para o comprimento (e
também para a largura) de saltos altos sobre os quais milhares de mulheres se equilibram das
9 às 17h ou a fileira de cremes e produtos de beleza, com que nos "besuntamos". A própria
força da gravidade é contrariada por wonder bras (aqueles soutiens que levantam os seios) ou
por wonder pants (roupa interior que tem o mesmo efeito, mas, neste caso no traseiro de
homens e de mulheres). Todas estas práticas retratam formas de estar e viver com o próprio
corpo, muitas delas apressando os anos, outras procurando retardá-los.

Um corpo bonito, uma boa forma física foram sempre sinónimos de uma maior receptividade
do sexo oposto por estarem associados a uma melhor performance sexual. Padronizou-se que
um corpo musculado, atlético era garantia de prazer. Em volta da sexualidade e do corpo
criaram-se inúmeros mitos, aliás, sendo ainda a sexualidade um assunto tabu que só em anos
mais recentes tem sido desmistificada. A Educação Sexual em meio escolar é popular entre os
mais novos, permitindo muitas vezes clarificar conhecimentos e eliminar tabus.
Todavia são ainda inúmeros os mitos erróneos que se espalham à velocidade da luz. Corpos
musculados podem ser sinónimo de prazer para uns, longe de o serem para outros, o sexy e o
sensual são conceitos muito pessoais, sentidos de diferentes e variados modos. Não são as
loiras que detém o poder da atracção sexual e as morenas o intelecto, de certo que não é o
tamanho dos seios ou o diâmetro das ancas que semeia desejo ou o tamanho do pénis que
assegura orgasmos. É a linguagem do corpo associada a uma boa dose de imaginação que nos
torna atraentes e sedutores.

Quando existe desconhecimento ou quando se instala a comparação e se desassocia a


linguagem do corpo de todos os sentimentos, implantam-se tabus e medos. O
desconhecimento do funcionamento do nosso corpo torna-nos intolerantes e competitivos. A
sexualidade deve ser vivida de modo tranquilo, concedendo-nos o tempo necessário,
respeitando o nosso tempo e respeitando o tempo dos outros. Aprendendo a viver com o
nosso corpo, os nossos defeitos e as nossas qualidades e tirar partido de todos eles.

Direitos Sexuais e reprodutivos no mundo contemporâneo

To be, or not to be: that is the question:


Whether 'tis nobler in the mind to suffer
The slings and arrows of outrageous fortune,
Or to take arms against a sea of troubles,
And by opposing end them?

W. Shakespeare "Othelo"

As palavras de Shakespeare na boca de Othelo tornaram-se clássicas e remetem-nos


para a sempre presente questão da existência humana, para as suas dúvidas e angústias,
as suas vississitudes e fragilidades. Quem nunca se terá, em algum momento da sua
existência, questionado sobre o sentido da sua vida, sobre se lhe fazia sentido continuar
a viver, sobre se existe algum propósito no facto de respirar, ter um coração que bate e,
acima de tudo, um cérebro que pensa e que é a sede de todas estas dúvidas…? De um
modo ou de outro, sabemos que é essa existência, é essa vida o que de mais precioso
temos e que tudo o resto é supérfluo, secundário, dispensável. Todos os bens materiais
do mundo não chegam para pagar uma vida humana que é, por definição, sem preço.

Se nem sempre este valor foi reconhecido como hoje, se ainda na actualidade em certos
contextos culturais e em certas circunstâncias peculiares (por exemplo, na guerra) a vida
humana pode ser posta em segundo plano em função de bens considerados maiores,
sejam eles materiais, espirituais ou outros, o certo é que o direito à vida, em termos da
política internacional como à luz das correntes ideológicas predominantes, é
considerado como o principal dos direitos humanos. Lê-se na carta internacional dos
direitos do Homem, logo no seu primeiro ponto que ―todos os Homens têm direito à
vida‖. Vejamos a lista completa destes direitos:
1 - O direito à vida.
2 - O direito à liberdade e segurança da pessoa.
3 - O direito à igualdade e o direito a estar livre de todas as formas de discriminação.
4 - O direito à privacidade.
5 - O direito à liberdade de pensamento.
6 - O direito à informação e à educação.
7 - O direito de escolher casar ou não e de constituir e planear família.
8 - O direito de decidir ter ou não os filhos e quando os ter.
9 - O direito aos cuidados e à protecção da saúde.
10 - O direito aos benefícios do progresso científico.
11 - O direito à liberdade de reunião e participação política.
12 - O direito a não ser submetido nem a tortura, nem a tratamento desumano ou
degradante.

Se a carta dos direitos humanos tem já vários anos de existência, em tempos mais
recentes surgiu a necessidade de salvaguardar outro tipo de direitos. Referimo-nos aos
direitos sexuais e reprodutivos que são o conjunto de princípios relacionados com a
sexualidade e com a saúde sexual e reprodutiva que todos os indivíduos deverão ter
garantidos. Não por acaso, quando se começou a pensar em criar esta lista, foi na
anterior, ou seja, na dos direitos humanos onde mais do que inspiração, se foi buscar o
mote para desenvolver um conjunto de princípios que se considera necessário
salvaguardar.

Deste modo, no que respeita ao referido direito à vida, ele foi utilizado para reforçar
algumas das questões que se têm colocado a este propósito no que se refere à questão do
género. Exemplos disso são que a vida de nenhuma mulher não deverá ser posta em
risco devido à gravidez, ou que a vida de nenhuma criança deverá ser posta em causa
devido ao seu género, masculino ou feminino. Sabemos que, ainda hoje existem
situações de grandes inequidades relacionadas com o facto de se nascer com um sexo
masculino ou feminino. Em alguns contextos culturais, ser-se mulher pode ser um factor
de risco. Mesmo em contextos considerados mais ―evoluídos‖, o género continua a ser
um factor de desigualdade, existindo contextos em que se proporcionam maiores
condições e possibilidades aos níveis familiares (saídas das raparigas à noite), sociais (o
que é permitido a uns e outros fazer em contextos sociais – para as mulheres certos
comportamentos podem fazer com que sejam vistas como ―mulheres mal
comportadas‖), profissionais (que profissões são mais acessíveis a indivíduos de que
género).

Por este motivo, um dos direitos consagrados pela legislação de diversos países é o da
não discriminação baseada do sexo. O que não significa necessariamente que esse
direito seja garantido a todas as pessoas. De resto, se optou por introduzir este direito
também na carta de direitos sexuais e reprodutivos, tal implica necessariamente que esse
é ainda um direito que não se encontra plenamente verificado por esse mundo fora.
Caso contrário não seria necessário salvaguardá-lo. Por outro lado, não será alheio a
este cuidado de quem elaborou a lista o facto de que a sexualidade é algo
intrinsecamente humano. Desde que nascemos que somos seres sexuados e sexuais.
Sexuados porque, como já foi reforçado, todos nascemos com um determinado sexo
biológico, que cria toda uma série de expectativas, ainda antes de se nascer, na fantasia
dos pais, potenciado pela tecnologia que permite que este tipo de informação esteja
disponível a partir dos cinco meses.

Somos também sexuais porque desde que nascemos que temos uma tendência natural
para gostar de experimentar o prazer. Além disso, o mundo da sexualidade não é
constituído apenas da dimensão física e muito menos genital do sexo, mas enriquecida
por toda uma dimensão imagética, fantasiada, vivida no âmbito do desejo e da atracção,
do sonho e da sedução, e tudo isto mesmo que nunca se chegue a concretizar o acto
sexual. É exactamente devido a toda esta dimensão da sexualidade que é importante
pensar sobre a questão dos direitos sexuais e reprodutivos.

Sendo uma questão que pode parecer relativamente teórica e pertencendo à esfera da
ideologia e eventualmente da política, ultrapassa em muito esta vertente e relaciona-se
com a vida de todos nós de uma forma muito próxima. No que respeita aos direitos
sexuais, como em relação aos direitos humanos, ou outros, temos sempre que ter em
consideração que os direitos de uns terminam quando se iniciam os de outros. Se na
actualidade é relativamente consensual o facto de que as pessoas têm relações sexuais
eminentemente e na grande maioria das vezes por prazer, será o prazer sexual um
direito de todos? A resposta aparentemente lógica a esta questão é que sim, ou seja,
todas as pessoas têm direito a ter prazer sexual. Mas e se a minha forma de ter prazer
interfere com o bem estar de outros, será que se mantém este direito? O exemplo talvez
mais actual desta questão é o da pedofilia. Um pedófilo é, por definição, um indivíduo
que se excita sexualmente e que tem desejo sexual por crianças e pré-adolescentes. A
sua forma preferêncial de ter prazer sexual é, assim, através das relações sexuais com
menores. Terá este indivíduo direito a concretizar as suas fantasias e desejos? De acordo
com muitos destes indivíduos, a resposta é que sim. De acordo com a maioria das
restantes pessoas e de acordo também com a legislação vigente ma maioria dos países, a
resposta consensual é que não. Neste caso em particular o direito que um indivíduo tem
em ter prazer não é superior à possibilidade de, através desse acto, ser posto em causa o
bem-estar e equilíbrio de uma criança.

Um outro exemplo, relacionado com situações que, à semelhança da pedofilia, não são
frequentes, mas que vão encontrando alguma expressão em alguns meios,
nomeadamente entre os mais jovens. Refiro-me ao sadomasoquismo, ou seja, a todas e
quaisquer práticas em que se utilize a indução de dor, humilhação e sofrimento sobre
outra pessoa ou sobre si próprio com o objectivo de obter gratificação sexual. Têm as
pessoas sadomasoquistas direito aos seus (des)prazeres? É legitimo provocar dor
noutras pessoas ou em si próprio para satisfazer as suas fantasias? Durante muito tempo
o sadismo e o masoquismo foram considerados como perturbações mentais, como
perversões do desejo e portanto como desvios do comportamento sexual considerado
―normal‖. Porém, o que é considerado normativo num dado momento deixa de o ser
num outro e é sempre importante que existam outros parâmetros que nos permitam
qualificar um dado comportamento ou preferência como ―anormal‖. Em relação à
pedofilia, já vimos que no momento actual se consideram os direitos da criança ao bem-
estar e à protecção como superiores aos desejos de outrém, fazendo com que o desejo do
pedófilo seja considerado perturbado. Em relação ao sadomasoquismo, a posição é um
pouco diferente, desde que seja praticado entre adultos que consintam em envolver-se
nesses comportamentos e também que não sejam motivo de preocupações e angústias
que interfiram com o bem-estar subjectivo do indivíduo. É certo que isto se passa ao
nível do que é actualmente mais consensual entre os profissionais da saúde mental, e
não propriamente ao nível do senso comum em que o olhar sobre este tipo de práticas é
ainda pesado.

Mas nem precisamos de recorrer a exemplos tão extremos para continuarmos a discutir
as questões dos direitos sexuais. Refiro-me à questão da livre associação amorosa, ou
seja, supostamente todos temos o direito de nos relacionarmos amorosa e sexualmente
com quem quisermos (e também com quem se queira relacionar connosco). O certo é
que se a pessoa com quem optamos por nos relacionar é do mesmo sexo, as coisas
mudam um pouco de contornos. Não é que seja proibido o relacionamento afectivo
entre pessoas do mesmo sexo (ainda que a não discriminação com base na orientação
sexual não esteja consagrada na lei), mas o certo é que o assumir publicamente de uma
relação homossexual não é livre de riscos, quanto mais não seja do olhar crítico,
chocado, divertido ou de desprezo dos outros. Mas, além disso, existe ainda o risco da
discriminação ao nível profissional ou social isto apesar de, na maioria dos casos e, pelo
menos entre nós, prevalecer a tradicional tolerância que, nunca deixo de reforçar, não é
sinónimo de uma verdadeira aceitação, mas antes uma solução de compromisso devida
aos laços afectivos que se tem em relação às pessoas em causa.

Outra área muito actual em que se colocam questões a propósito dos direitos sexuais e
reprodutivos é a relativa ao corpo e a quem tem a autoridade ou a liberdade para agir
sobre ele. Esta questão coloca-se, por exemplo, ao nível do transexualismo. Como é do
conhecimento comum, o transexualismo é uma condição em que existe uma não
coincidência entre o corpo biológico, muito em concreto entre os caracteres sexuais
(primários e secundários), e a identidade sexual, ou seja, a consciência internalizada de
que se é homem ou mulher. Assim, um indivíduo que tenha órgãos e características
sexuais femininas pode sentir-se, do ponto de vista psicológico, como um homem. O
que acontece é que, na maioria das vezes, essa pessoa vai ter o desejo de modificar o
seu corpo em função da sua vivência interna do mesmo, ou seja, vai desejar efectuar
uma mudança de sexo para se sentir bem consigo próprio. Se alguém decide fazer uma
operação plástica para modificar, por exemplo, um nariz que se considera
demasiadamente grande, recorre a um cirurgião desta especialidade, paga e fica com o
nariz desejado, no caso de uma operação de mudança de sexo, é necessário um sem
número de procedimentos, exames, avaliações, peritagens, para que se chegue à
conclusão de que esse indivíduo está em condições ou não de fazer essa operação. Só
para se ter uma ideia, é um processo que implica pelo menos 2 anos para estar
concluído, isto na melhor das hipóteses e apenas se os peritos, os homens da ciência,
decidirem que essa pessoa cumpre com os critérios pré-determinados para o efeito.

Podemos ainda dar um outro exemplo, talvez um pouco mais extremo, para esta questão
em particular. Refiro-me à Apotemnofilia, condição de quem tem fantasias sexuais
sobre ser amputado de um ou vários membros do corpo. Algumas destas pessoas
chegam ao ponto de quererem passar as suas fantasias à prática e de optarem por fazer
uma operação para que lhes sejam retiradas as pernas ou os braços, porque é assim que
se sentem bem consigo próprias. A questão é: deverá ser-lhes concedido este desejo?
Sabemos à partida que tal operação é irreversível e que irá implicar uma série de
limitações para a vida do indivíduo, por exemplo, dificuldades na obtenção de um
emprego, o que fará com que provavelmente tenha que viver da assistência social; terá
certamente que ter uma série de cuidados de saúde especiais que serão que serão
suportados pelo Estado. Terá essa pessoa direito de optar por si própria o que fazer em
relação ao seu corpo? Quem é que é ―dono‖ do seu corpo: o próprio, o Estado, os
técnicos de saúde?

O caso da Apotemnofilia pode servir-nos apenas como um exemplo – extremo talvez –


da forma como se salvaguardam ou não os direitos sexuais e reprodutivos dos cidadãos
e, mais do que isso, de quem os salvaguarda. Se alguns dos direitos mais básicos, como
os relativos ao género, são ainda sistematicamente postos em causa, quanto mais os
outros que podem ser considerados como ―luxos‖ ou extravaganças e, logo, como
secundários, já para não mencionar aqueles que, exercidos por outros, podem ir contra
as nossas convicções ideológicas ou religiosas, caso do aborto?

Há que não esquecer que qualquer direito implica também um dever, dever este que
implica a salvaguarda da integridade e bem-estar do outro. Direitos sexuais e
reprodutivos são também direitos humanos, ainda que não estejamos sensibilizados para
pensá-los enquanto tal. Está, porém, na altura de o fazer e tal é tarefa da
responsabilidade de todos nós, não só técnicos de saúde, como profissionais das áreas
sociais e humanas, politicos, teóricos, investigadores, homens, mulheres, cidadãos.

Doenças Sexualmente Transmissíveis

O que são Doenças Sexualmente Transmissíveis?

As Doenças Sexualmente Transmissível (conhecidas como DST)


transmitem-se através do contacto sexual, embora a relação sexual
não seja a única forma de transmissão, apenas a mais frequente. Durante muitos séculos
estas doenças foram designadas doenças venéreas, por estarem directamente ligadas ao
acto sexual e por ser Vénus o nome da deusa que, segundo os Romanos, "tutelava" as
questões amorosas.

Estas doenças contraem-se por contacto uma pessoa infectada, que pode ou não exibir
sinais exteriores da doença (trata-se de um portador, uma pessoa que está infectada,
transmite a doença mas não apresenta - ainda - os sintomas).
Por o ambiente que rodeia os órgãos sexuais ou ligados ao acto sexual (vagina, pénis,
ânus, boca) ser quente e húmido, ele constitui um habitat ideal para o desenvolvimento
dos microorganismos patogénicos que provocam a doença.
No entanto, algumas DST, como a sífilis, podem transmitir-se da mãe (que pode não
saber estar infectada) para a criança durante o parto, causando sérias lesões ou até a
morte do bebé.

Quais as Doenças Sexualmente Transmissíveis que existem?

Além da SIDA; as doenças sexualmente transmissíveis mais comuns são:

 Sífilis (conhecida em alguns meios como "cancro duro")


A sífilis é uma doença venérea que tem consequências em todo o organismo. Cerca de
três semanas após o contacto sexual com uma pessoa infectada, surge uma ferida não
dolorosa, localizada nos órgãos genitais, na boca ou no ânus, conforme o tipo da relação
sexual infectante. Simultaneamente há um aumento dos gânglios linfáticos na região
afectada, que se tornam duros e geralmente não dolorosos. Na mulher, esta ferida ou
ulceração pode localizar-se na vagina ou no colo do útero e, por isso, não é visível.
Algumas semanas depois, mesmo sem tratamento, as feridas cicatrizam, mas a infecção
continua no organismo. Semanas ou meses depois, aparecem manchas no corpo, que
atingem as palmas das mãos e plantas dos pés. As manchas não dão comichão e podem
ser acompanhadas de febre, mal estar, dor de garganta e rouquidão. Neste estado,
chamado período secundário sifilítico, os sintomas podem desaparecer sem tratamento,
permanecendo no entanto a infecção.
As grávidas infectadas podem transmitir a doença ao bebé.

 Gonorreia ou blenorragia (conhecida em alguns meios como "esquentamento")


A gonorreia é causada por uma bactéria chamada Neisseria gonorrhoeae, que pode
viver nas membranas mucosas que protegem a garganta, o colo do útero, a uretra ou o
ânus.
No homem, a doença surge normalmente três dias após a infecção. Os principais
sintomas são: ardor ao urinar, corrimento amarelado ou pus no canal urinário, por vezes
com cheiro fétido. Na mulher, a infecção localiza-se habitualmente no colo do útero e
pode não provocar sintomas.
Esta doença cura-se facilmente recorrendo ao tratamento correcto.

 Infecção por Chlamydia trachomatis


Esta infecção é semelhante à gonorreia. O local da infecção depende do tipo da relação
sexual que originou o contágio. No homem, aparece corrimento escasso, ardor mais ou
menos intenso ao urinar, sintomas estes mais frequentes de manhã. Na mulher, na maior
parte dos casos, a infecção não produz sintomas, podendo ocasionar corrimento ligeiro.
No entanto, se não for tratada a tempo, a infecção pode alastrar, ocasionando uma
inflamação nas trompas e nos ovários, que pode provocar infertilidade.
A infecção por clamídia cura-se facilmente recorrendo ao tratamento correcto.
 Herpes genital
Esta doença é provocada pelo vírus Herpes simplex. A doença manifesta-se pelo
aparecimento na área genital de pequenas manchas avermelhadas, que provocam
sensação de queimadura, sobre as quais surgem pequenas bolhas ou vesículas que ao
fim de alguns dias rompem, ocasionando feridas que se cobrem de crostas. Após cerca
de uma a duas semanas as lesões curam sem deixar cicatrizes.
O herpes genital é doença crónica recorrente, ou seja que evolui por surtos, sendo o
intervalo entre eles variável. Há medicamentos que tratam as lesões de herpes e
prolongam os intervalos livres de doença. Não há ainda nenhum medicamento que cure
definitivamente a infecção.
O herpes não é uma doença grave embora seja incómoda quando surge com intervalos
curtos. Enquanto existirem lesões na pele ou mucosa genital há perigo de contágio para
o(a) parceiro(a), pelo que a actividade sexual deve ser suspensa.
As mulheres grávida com história de Herpes Genital devem informar o seu médico
sobre a doença, para que sejam tomadas as medidas necessárias para que não haja
contágio do bébé durante o parto.

 Hepatite B
A hepatite B é uma infecção provocada por vírus e que ataca o fígado. Este vírus vive
no sangue, na saliva, no suor, no esperma e no corrimento vaginal. Muitos casos de
hepatite resultam da partilha de agulhas e seringas infectadas, mas a transmissão sexual
é também frequente. O risco de contrair hepatite B é oito vezes superior ao de contrair
SIDA.
A infecção pelo vírus da hepatite B pode não provocar qualquer queixa, ou apresentar
sintomas ligeiros como cansaço, náuseas e dores. Pode também dar origem a icterícia, o
que faz com que a parte branca dos olhos e a pele se tornem amarelos e a urina fique
muito escura.
A doença pode ser muito grave, até mortal. Algumas pessoas infectadas passam a ser
portadoras e transmissoras do vírus.
Existe vacina contra a hepatite B.

 Pediculose púbica (conhecida em alguns meios como "chatos")


Os piolhos do púbis são parasitas dos pêlos à volta da vulva, do pénis e do ânus. Podem
aparecer na roupa interior como pontos vermelhos ou acastanhados. O contágio pode
acontecer por contacto sexual ou através da roupa. Par os elimonar é aconselhável rapar
os pêlos do púbis pois tal torna mais fácil o controlo da doença, que deve ser tratada por
um médico especialista. A roupa interior e a roupa da cama deve ser lavada e fervida.

Sinais graves de alerta

A observação de qualquer alteração estranha nos órgãos sexuais justifica uma ida ao
médico.

No caso da mulher, é alarmante notar:


 Líquidos vaginais brancos e com mau cheiro.
 Comichão ou sensação de queimadura na vulva, na vagina ou no ânus.
 Sensação de ardor ao urinar.
 Lesões na pele e mucosas dos órgãos sexuais.
 Dor na parte inferior do abdómen, sobretudo quando esta se repete com frequência.

No caso do homem, há que tomar medidas quando notar:


 Corrimento, tipo pus, a sair do pénis.
 Lesões na pele e mucosas dos órgãos sexuais.
 Sensação de ardor ao urinar.

Após detectar estes sinais, a pessoa afectada deve alertar os parceiros sexuais, habituais
ou ocasionais, a fim de que também eles (mesmo que não apresentem sinais exteriores
de contaminação) procurem um médico.

É muito importante que as pessoas que apresentem estes sinais não se tratem sozinhas,
com cremes, comprimidos ou "receitas caseiras/tradicionais" mais ou menos infalíveis,
sem terem consultado um médico.

Doenças sexualmente transmissíves: sífilis

Um pouco de história

Os historiadores dividem-se quanto à origem da sífilis. Mas uma coisa é


certa: é uma doença que quando não diagnosticada e tratada pode levar à morte e que atinge
a humanidade há centenas (ou até milhares) de anos.

Ainda no que diz respeito à origem da doença, enquanto alguns afirmam que já o médico
grego Hipócrates (no séc. V a.C.) havia feito a sua descrição, outros dizem que foram os
tripulantes dos navios de Cristóvão Colombo que trouxeram consigo a doença no regresso do
continente americano.

O que é a sífilis e como se transmite?

A sífilis é uma doença sexualmente transmissível, resultante da infecção por uma bactéria cujo
nome científico é Treponema pallidum.
A forma mais frequente de transmitir/contrair a sífilis é através do contacto sexual (oral,
vaginal ou anal) com um parceiro infectado com a bactéria, uma vez que esta atravessa as
mucosas (como a que reveste a boca) mesmo que estas não tenham qualquer lesão/ferida.
Uma mulher grávida que esteja infectada pela bactéria que provoca a sífilis pode transmitir a
doença ao feto através da placenta. Se tal acontecer, a probabilidade de aborto ou de o
recém-nascido morrer após o parto é cerca de 25% destes casos. Se a sífilis (activa, nas
crianças nascidas nestas circunstâncias) não for diagnosticada a tempo, as crianças poderão
desenvolver lesões nos olhos, no cérebro e no coração.

Quais os sintomas?
O período de incubação, ou seja, o tempo que decorre entre o contágio e as primeiras
manifestações da doença varia entre duas e quatro semanas mas pode chegar às vinte e três
semanas.

Na sua fase inicial (sífilis primária) a doença causa o aparecimento de lesões (pequenas feridas
arredondadas com os bordos duros) relativamente indolores que geralmente se localizam nas
zonas genitais, mas que também podem aparecer noutros locais do corpo. Cerca de quatro a
seis semanas após o seu aparecimento estas lesões “curam-se”, mesmo sem tratamento.

Quando não é tratada e evolui “sem controlo” a sífilis é uma doença crónica, na qual os
períodos em que os sintomas se fazem sentir alternam com intervalos longos durante os quais
não se registam sintomas. Assim, a evolução desta doença é dividida em quatro períodos: a
sífilis primária (acima descrita), a sífilis secundária, a sífilis latente e a sífilis terciária. Com a
sífilis secundária aparecem sintomas semelhantes aos de uma gripe (dores de cabeça e de
garganta, febre baixa) associados a pequenas manchas rosadas na pele que aparecem
espalhadas pelo tronco, abdómen, zona genital, palmas das mãos e plantas dos pés. Mais uma
vez, os sintomas tendem a desaparecer sem intervenção após duas a seis semanas.

Quando a pessoa afectada atravessa estas fases sem consultar o médico, entra numa fase que
dura vários anos e durante a qual não tem sintomas.

Vários anos após a infecção, se o doente não foi tratado, entra-se na fase terciária da doença.
Aparecem tumores na pele e nos ossos, surgem problemas cardíacos, convulsões, paralisia,
alterações do comportamento e, finalmente, demência. A associação de todas estas lesões
pode levar à morte.

Como é feito o diagnóstico? E o tratamento?

O diagnóstico da sífilis pode fazer-se:


- através de análises sanguíneas;
- recolhendo e observando ao microscópio material colhido em lesões suspeitas da pele.

Numa fase inicial, o tratamento é fácil e eficaz e barato pois consiste na injecção de penicilina.
Nos doentes alérgicos à penicilina estão indicados antibióticos alternativos, mas que não são
tão eficazes.
Numa fase posterior o tratamento também é feito com penicilina, mas a sua duração é mais
prolongada e as lesões que foram aparecendo nos vários órgãos, podem não melhorar.

Como evitar a sífilis?

Usando o preservativo, que reduz substancialmente o risco de contágio, sempre que se tem
relações sexuais.
Educação Sexual nas Escolas

Introdução: Isabel Maria Cunha (1)

Os jovens "são apaixonados, irascíveis, e capazes de ser levados pelos impulsos,


sobretudo os impulsos sexuais... em relação aos quais não exercem nenhum
autocontrolo. Além disso são volúveis e instáveis nos seus desejos, os quais são tão
transitórios quanto veementes..."

Aristóteles

Neste número do Boletim resolvemos por em destaque o tema da Educação Sexual nas
Escolas, por considerarmos ser um assunto que está na ordem do dia e na preocupação
dos Professores, Pais e Escolas. Contudo, se dermos uma vista de olhos ao que já foi
escrito e dito em entrevistas, artigos de jornais, revistas, noticiários... tem-se a
impressão de que já foi tudo dito. Mas, qual ou quais as conclusões?

Se nós fossemos assexuados, produziríamos clones de nós próprios e seríamos


potencialmente imortais como o são, ainda hoje, muitos seres unicelulares. Mas a
evolução empurrou-nos para um destino em que a nossa sexualidade é a causa da nossa
grande diversidade e da nossa mortalidade. Pagamos caro a capacidade de produzirmos
seres diferentes de nós e entre si. Mas quanto ganhamos em afectividade!... A expressão
da nossa sexualidade é, afinal, uma forma de comunicação. Se fossemos assexuados, o
tão falado Amor de Mãe não existia, como não existiria o amor entre homem-mulher e
entre Pais e filhos. A nossa sexualidade é indutora de sentimentos de afecto, de paixão,
de amor, atingindo-se por vezes um grau de intimidade entre duas pessoas que se
conhecem e compreendem de tal modo que já não precisam de falar. Um simples olhar e
sabe-se o que o outro está a pensar e o que nos quer dizer... Uma intimidade onde o
silêncio fala e não é solidão. E é quando os corpos e as almas se encontram numa
relação sexual cheia de amor que ser sexuado é gratificante para o indivíduo. Mas, nos
dias de hoje, os corpos andam tão depressa que nem esperam pela alma.

Lembro-me do caso, verídico, de um rapaz que, tendo pedido namoro a uma colega, foi
confrontado no dia seguinte com a entrega de um calendário onde, segundo ela
informou, podia verificar os dias em que podiam ter relações sexuais e aquelas em que
as mesmas eram interditas. E... ele foi-se embora. Aquela moça não sabia que não há
nada mais excitante do que o jogo da sedução.

É triste ver os nossos jovens, alguns ainda tão novinhos, em práticas sexuais para as
quais não estão preparados nem física nem psicologicamente. Quantas relações antes de
tempo deixam marcas negativas para toda a vida. Quantos problemas físicos e
psicológicos resultantes de situações complicadas com as quais não se está preparado
para lidar.
Ouvimos os alunos a pedir com uma certa emotividade: Educação Sexual na Escola, já!
Mas que entendem eles por Educação Sexual? Quem a vai dar? Qual a preparação
desses professores (ou não vão ser professores?)? Quem e como avaliar os resultados
dessa educação?

Há anos que a Educação Sexual é obrigatória nas Escolas do Reino Unido, a partir dos
12 anos. Quais os resultados? A número 1 da Europa em adolescentes grávidas. O que
significa isto? Que lá a educação não foi bem orientada? Então, como fazer? O
Primeiro-Ministro Britânico, além de ter afirmado em recente entrevista que pretendia
tomar a profissão docente como a mais prestigiada na Grã-Bretanha, dizia também uns
meses antes que pretendia fomentar a virgindade entre os jovens do seu país. É por aí
que se deve ir?

Tantas interrogações e tão poucas certezas...


De todas as mudanças que se processam na adolescência, o aumento do impulso sexual,
acompanhado de sentimentos e ideias novas e muitas vezes estranhos, é dos mais
característicos. E, tanto para os rapazes como para as raparigas, uma das tarefas mais
difíceis de realizar, nessa altura, e a de lidarem com a sexualidade nascente e ajustarem-
na ao seu sentido de identidade e aos seus valores, sem conflitos ou ansiedades
excessivos. As mudanças físicas que vêem acontecer no seu corpo, as ideias novas que
lhes chegam a mente, os sentimentos e impulsos que experimentam, confundem-nos. Os
pais, os professores e os amigos podem ajudar ou dificultar o ajustamento a essas
mudanças e podem também influenciar no sentido de se tornarem motivo de orgulho ou
uma fonte de confusão e ansiedade. Os jovens querem e têm direito a receber
informação correcta sobre questões práticas como relações sexuais, concepção, gravidez
e controlo de natalidade mas, e talvez sobretudo, querem saber como integrar o sexo
com os outros valores e como se devem relacionar de forma mutuamente compensadora
e construtiva com indivíduos do seu próprio sexo e do sexo oposto. Muito
provavelmente, eles gostariam que os ajudassem a construir uma ética sexual pela qual
se norteassem, que tivesse por base os valores em que acreditam. Dar aos jovens uma
informação franca e adequada sobre o que e o desenvolvimento normal de um
adolescente e as possíveis variações que podem acontecer pode evitar muita angústia e
aflição desnecessárias.

E como é que a nossa Sociedade responde a tudo isto?


A sociedade actual, numa altura em que ela busca um equilíbrio que sente precário, dá-
lhe uma resposta incoerente, conflituosa e hipócrita, atirando-lhe aos olhos, filmes,
telenovelas, imagens (que podem ser vistas em qualquer escaparate de rua), livros e até
bandas desenhadas, que só usando de eufemismo se podem classificar de eróticas em
vez de pornográficas, ao mesmo tempo que lhes exige que se saibam comportar. Face
aos problemas que surgem de gravidez na adolescência propõe a despenalização do
aborto; face ao aumento de SIDA, coloca máquinas de preservativos nas escolas; face à
necessidade de uma educação para a sexualidade seria, objectiva, equilibrada,
promotora de uma consciência reflexiva que conduza a uma ética sexual baseada em
valores universalmente aceites de liberdade responsável, de responsabilidade
consciente, de respeito pelo outro e pela vida e de justiça individual e social, propõe
uma educação transversal, transdisciplinar, dada por quem a quiser dar, uma "educação
para os valores, sejam eles quais forem".

Só podemos concluir uma coisa: não são os jovens que andam desorientados. São os
adultos que não sabem que orientação lhes dar. E tudo isto se faz em nome de uma
liberdade que, analisada criticamente, defende interesses económicos que ninguém tem
a coragem de enfrentar. E os nossos jovens não deviam ser respeitados dando-lhes a
oportunidade de crescerem equilibradamente sem serem espicaçados para uma
sexualidade prematura que só aumenta as suas dificuldades? Depois... os professores
que os eduquem...

Muitos adultos na nossa sociedade ocidental permanecem contrários a programas de


Educação Sexual nas escolas. Uns porque acreditam que a Educação Sexual, mesmo
quando só iniciada na puberdade, é prematura para jovens menos maduros e pode leva-
los à promiscuidade. Outros porque acham que as informações sobre o sexo só devem
ser dadas pelos Pais na intimidade do Lar. Contudo, temos hoje nas escolas, pelo menos
teoricamente, todos os jovens com idades entre os 6 e os 15 anos. E todos sabemos que
muitos dos Pais não discutem questões relativas à sexualidade ou porque não sabem, ou
porque não têm tempo, ou porque não se sentem a vontade para o fazerem.

A educação da sexualidade faz parte da educação global do ser humano e, como tal,
deve ser tratada com o mesmo cuidado que qualquer aspecto da educação da nossa
juventude nos deve merecer. Mas, como deve ser feita? Na tentativa de procurarmos a
resposta que a nossa sociedade propõe, levamos até vós a legislação e extractos de
alguns artigos que recolhemos sobre esse tema. Tire depois as suas próprias conclusões.

Considerando útil a todos os professores o conhecimento da legislação que suporta a


Educação Sexual nas escolas passamos a transcrever os extractos mais significativos
da mesma.

- Lei n.° 120/99, de 11 de Agosto

Artigo 2.°

1- Nos estabelecimentos de Ensino Básico e Secundário será implementado um


programa para a promoção da saúde e da sexualidade humana, no qual será
proporcionada adequada informação sobre a sexualidade humana, o aparelho
reprodutivo e a fisiologia da reprodução, sida e outras doenças sexualmente
transmissíveis, os métodos contraceptivos e o planeamento da família, as relações
interpessoais, a partilha de responsabilidades e a igualdade entre os géneros.
2- Os conteúdos referidos no número anterior serão incluídos de forma harmonizada nas
diferentes disciplinas vocacionadas para a abordagem interdisciplinar desta matéria, no
sentido de promover condições para uma melhor saúde, particularmente pelo
desenvolvimento de uma atitude responsável quanto a sexualidade humana e uma futura
maternidade e paternidade conscientes.

3- A educação para a saúde sexual e reprodutiva deverá adequar-se aos diferentes níveis
etários, consideradas as suas especificidades biológicas, psicológicas e sociais, e
envolvendo os agentes educativos.

4- Na aplicação do estipulado nos números anteriores deverá existir uma colaboração


estreita com os serviços de saúde da respectiva área e os seus profissionais, bem como
com associações de estudantes e com as associações de pais e encarregados de
educação.

5- Nos planos de formação de docentes, nomeadamente os aprovados pelos centros de


formação de associações de escolas dos Ensinos Básico e Secundário, deverão constar
acções específicas sobre Educação Sexual e reprodutiva.

Artigo 3.°

(...)

2- Considerando a importância do uso do preservativo na prevenção de muitas doenças


sexualmente transmissíveis, nomeadamente a SIDA, será disponibilizado o acesso a
preservativos através de meios mecânicos, em todos os estabelecimentos do Ensino
Superior e nos estabelecimentos de Ensino Secundário, por decisão dos órgãos
directivos ouvidas as respectivas associações de pais e de alunos.

- Decreto-Lei n.º 259/2000, de 17 de Outubro

Artigo 1.°

1- A organização curricular dos Ensinos Básico e Secundário contempla


obrigatoriamente a abordagem da promoção da saúde sexual e da sexualidade humana,
quer numa perspectiva interdisciplinar, quer integrada em disciplinas curriculares cujos
programas incluem a temática.

2- O projecto educativo de cada escola (...) deve integrar estratégias de promoção da


saúde sexual (...) favorecendo a articulação escola-família, fomentar a participação da
comunidade escolar e dinamizar parcerias com entidades externas a escola,
nomeadamente com o centro de saúde da respectiva área (...)
3- O plano de trabalho de turma (...) deve ser harmonizado com os objectivos do
projecto educativo de escola e compreender uma abordagem interdisciplinar da
promoção da saúde sexual, por forma a garantir uma intervenção educativa integrada.

Artigo 3.°

1- A instalação de dispositivos mecânicos para acesso a preservativos em


estabelecimentos de Ensino Secundário (...) deve decorrer de um amplo consenso na
comunidade escolar, competindo aos respectivos órgãos de direcção executiva
desencadear o processo de audição das associações representativas dos pais e
encarregados de educação e dos alunos, fazendo incluir tal medida, se for caso disso,
nos planos anuais de actividades das suas escolas.

Artigo 5.°

1- Para efeitos do disposto no n.°5 do artigo 2.° da Lei n.° 120/99, de 11 de Agosto, os
serviços competentes do Ministério da Educação devem integrar nas suas prioridades a
concessão de apoios à realização de acções de formação contínua de professores no
domínio da promoção da saúde e da Educação Sexual.

Isto é o que a lei diz... Contudo, percorrendo a imprensa a que nos foi possível aceder,
encontramos as mais variadas opiniões sobre a Educação Sexual nas escolas, o que
indicia que o assunto é, no mínimo, polémico.

Em declarações ao Jornal de Notícias de 27.10.2000, Ana Benavente, Secretária de


Estado da Educação, confirma que "(...) todas as escolas terão de ter esta dimensão, mas
irão concretizá-la apenas da forma que forem capazes de o fazer. Não vai haver modelos
únicos a implementar da mesma forma em todas as escolas". A mesma fonte revela que
Ana Benavente "justifica a opção pelo tratamento interdisciplinar da Educação Sexual -
sem a criação de uma disciplina específica - com a necessidade de uma estratégia
flexível".

"Uma disciplina pressupõe um determinado conjunto de informações, a mudança de


comportamentos e, no final, a avaliação. Ora, a Educação Sexual prende-se com a vida
afectiva de todos e não é por se ensinar que se aprende", esclarece a Secretaria de
Estado.

Para Ana Benavente, "a escola esta disponível para dar o seu contributo, mas isso não
liberta a sociedade de intervir nessa área". (...) "Por outro lado, gostaríamos também que
as associações de estudantes tivessem um papel activo, organizando as iniciativas que
entenderem de forma a mobilizar os jovens nas escolas".

Mas, ainda segundo a Secretária de Estado, o ministério poderá não contar com as
gerações mais antigas de docentes, "menos abertas à discussão da sexualidade",
afirmando ainda que "haja professores com formação em Educação Sexual, mas que não
conseguem avançar com projectos nas escolas devido a essas tendências".

Entrevistado por Sérgio Vitorino, Duarte Vilar, da Associação para o Planeamento e


Família confiou ao Jornal de Noticias de 27.10.2000 as suas opiniões sobre este tema
reconhecendo que a "Educação Sexual não é uma panaceia mas e um contributo para
que os jovens possam tomar decisões conscientes quando precisarem de as tomar. (...) E
não há receita mágica para todas as escolas a não ser o envolvimento de toda a
comunidade educativa, incluindo os pais". Relativamente à legislação que suporta a
Educação Sexual em contexto escolar, Duarte Vilar acrescenta ainda que estamos
"perante uma boa lei, cujas reflexões técnicas resultam, aliás, de um longo processo de
debate e projectos experimentais da APF". Pretendendo desfazer equívocos, Duarte
Vilar esclarece que "não se pretende promover qualquer comportamento específico mas
dar às crianças e aos jovens instrumentos para escolhas responsáveis", advertindo,
contudo, para a necessidade de "avaliar daqui a uns tempos as dificuldades e eventuais
vazios legais".

Nesta altura, muitos professores questionarão, e legitimamente, as suas capacidades


para lidar com a Educação Sexual mas Duarte Vilar, relembrando que "nenhum
professor é obrigado a fazer Educação Sexual", tranquiliza os docentes os quais
"poderão contar com a ajuda dos técnicos", assegurando ainda que "a Educação Sexual
não e nada de especial e prepara-se como qualquer outra actividade pedagógica, com
objectivos e estratégias" e que o "a vontade para falar do tema aos jovens se ganha com
a prática".

A mesma fonte ouviu André Pires e Diana Dionísio, dois dos milhares de alunos do
Ensino Secundário que saíram à rua exigindo a Educação Sexual na escola. Sobre a
natureza da Educação Sexual, Diana Dionísio exige que "ela diga a verdade sobre a
diversidade das formas de viver a sexualidade e de relações afectivas e familiares, sem
preconceitos ou tabus. É que às vezes parece que ainda nos querem fazer acreditar na
cegonha". Quanto à aprendizagem normal dos jovens em matéria de sexualidade André
Pires acrescenta que os "rapazes só falam entre rapazes e as raparigas entre raparigas,
em contexto informal. As ideias erradas e as pressões para se assumirem determinados
papeis persistem, e os tabus e as vergonhas também".

A formação em Educação Sexual devera ser extensiva a todos os professores, como


reconhecem Diana e André. "Sem ela, a maioria dos docentes tenta fugir ao assunto",
afirma Diana. No que concerne à intervenção dos pais, estes jovens não concordam que
"uma minoria de pais possa vetar a existência de máquinas de preservativos nas
escolas". Para Diana, "se os alunos quisessem a interferência dos pais na matéria,
falariam com eles em casa sobre a sua sexualidade, mas muitos não encontram essa
liberdade".
No mesmo artigo desta fonte, João Cruz, da Confederação das Associações de Pais,
CONFAP, afirma a extrema utilidade da legislação que a confederação "só aceitou por
esta determinar que é a escola - toda a comunidade educativa, incluindo alunos e pais -
quem decide". João Cruz considera ainda que a Educação Sexual deve ser "voltada para
a questão dos afectos e para o envolvimento dos centros de saúde, que têm muito a
ensinar aos nossos jovens" sendo necessário "criar neles as condições para que façam
um atendimento eficaz aos jovens e que a aplicação da Lei seja avaliada dentro de dois
anos".

No Diário de Coimbra, de 10 de Novembro de 2000, o psiquiatra Daniel Sampaio


sustenta que "a eficácia dos programas de Educação Sexual vai depender da forte
ligação da escola à comunidade e do apoio dos pais". Para este psiquiatra, estas
realidades são pouco consistentes em Portugal atendendo a que "a ligação entre escolas
e comunidade é reduzida, a articulação com os centros de saúde é praticamente
inexistente, a saúde escolar tem pouca expressão e os professores e técnicos de saúde
pouco cooperam".

Daniel Sampaio acrescenta ainda que "a falta de formação dos professores, a dificuldade
em apresentar projectos originais relacionados com o contexto local e a insuficiência e
indefinição dos materiais de apoio poderão complicar esta missão. Daniel Sampaio
critica também as "orientações técnicas sobre Educação Sexual em meio escolar",
realçando "a sua falta de flexibilidade, utilização de expressões equívocas e opções
discutíveis e inexistência de definição de objectivos". E conclui, advertindo que é
"necessário agir com prudência", pois "um início errado pode lançar o descrédito sobre
o tema, comprometendo as acções futuras".

Numa perspectiva diferente, no Diário de Coimbra, de 10.11.2000, Rui Rosas da Silva


no seu artigo "Educação Sexual nas nossas escolas", considera que "o Ministério da
Educação e o Governo que o sustenta, partem da premissa dogmática de que é
inevitável que os jovens tenham relações sexuais". Dos riscos que tais relações
acarretam, "cabe ao Ministério da Educação protegê-las a partir das escolas, tentando,
no entanto, torná-las o mais prazenteiras possíveis: a sexualidade dos rapazes e das
raparigas, por força da natureza, é bom não esquecer, pode ser reprodutora", conclui Rui
Rosas da Silva. O mesmo autor continua referindo que "o Ministério não alerta os
alunos para viverem de acordo com qualquer critério de continência e, muito menos, de
castidade, como ultimamente tantas autoridades públicas o tem feito noutras terras bem
mais avançadas do que a nossa. Facilita-lhes a prática sexual, minorando-lhe ao máximo
os perigos da concepção. Para o efeito, explica-lhes nas aulas como se realiza a cópula
sem perigo de engravidar, e põe à disposição dos estudantes preservativos nas escolas, a
fim de que os actos que eles efectuem sejam, simultaneamente, inócuos, quer sob o
ponto de vista da higiene venérea, quer da fertilidade natural. (...)". Rui Rosas da Silva
questiona ainda a obrigatoriedade curricular da educação sexual, tal como a lei prevê,
porque "retira a uma boa parte dos pais Portugueses o direito de dizer não a um
Governo e a um Ministério que lhes impõem matérias atentatórias dos seus princípios
ético-educativos fundamentais".

Em entrevista ao Diário de Coimbra, de 22.10.2000, D. João Alves, Bispo de Coimbra,


defende "que a informação e educação acerca da sexualidade fazem-se melhor na
família, quando ela esta verdadeiramente preparada para esta sua importante missão"
pois aí "reinará um clima de confiança, de equilíbrio, da responsabilização de cada um,
em doação espontânea e feliz" que toma "fácil a formação progressiva conforme os
problemas vão aparecendo e a progressividade é regra de ouro a nunca desrespeitar".
Não desprezando a informação que - como adverte - "deve ser dada na altura própria e
pelo modo mais adequado", D. João Alves salienta que ao "falar-se de sexualidade, a
educação há-de levar a que ela seja a energia positiva e enriquecedora e não força
perturbadora e anuladora do verdadeiro desenvolvimento pessoal". Contudo, D. João
Alves acrescenta que "num clima de pansexualismo com reflexos graves sobre os
jovens " é "incontestável que muitas famílias não têm condições para fazer uma boa
formação de seus filhos e particularmente no campo da sexualidade".

Compreendendo o contexto em que emerge agora a promoção da Educação Sexual dos


adolescentes, até porque "os efeitos negativos estão aí à vista em tantos jovens", D. João
Alves acolhe a nova regulamentação com alguma preocupação "atendendo as
numerosas tendências e ideologias entre os professores, por vezes contraditórias;
atendendo à impreparação e à imaturidade de alguns professores; atendendo à fraca
ligação da escola à família, etc., etc." o que, segundo o bispo de Coimbra, "não facilitará
a formação de uma estrutura definida de pensamento e de critérios seguros de vida".
"Cresce por isso o valor das associações de pais em colaboração com as escolas de seus
filhos (...)" que poderão "prestar uma ajuda inestimável", sustenta D. João Alves, que
exorta a escola a desenvolver um grande esforço (...) para provocar essa ajuda e a
acolher, e para os pais saírem de uma atitude apática e de desinteresse por este
trabalho".

Estamos a iniciar um processo educativo inédito no nosso pais cuja importância parece
inquestionável mas convém não esquecer, como lembra Rui Rosas da Silva, que "toda a
Cândida inocuidade das iniciativas deste tipo, como se está a verificar em muitos países
onde ela se instalou, nem se tem mostrado inofensiva nem favorável a saúde publica".

In Boletim n.º 15 da Associação de Professores de Biologia e Geologia, de


Dezembro de 2000.

(1) Presidente da Direcção Nacional da APPBG e Directora do Boletim.

A Texto Editora agradece a gentil colaboração da Associação Portuguesa de Professores


de Biologia e Geologia.
Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia
Apartado 4106 - 3030 Coimbra
Telf. / Fax: 239 82 18 84

E-mail: info@appbg.rcts.pt
URL: http://www.appbg.rcts.pt

Entrada dos jovens no mundo dos adultos

Remontando à criação do homem, o processo ritual acompanha a


humanidade desde os seus primórdios. Reveladores dos valores
mais profundos das comunidades, os rituais adquirem uma
particular importância no debute no mundo adulto.

É um percurso individual, onde cabe o amor, a insegurança, a expectativa, a emoção e as


sensações físicas. A maturidade, tanto emocional como física, passa por várias fases e as
influências da família, dos amigos, companheiros e mesmo das mensagens implícitas ou
impostas pelos meios de comunicação e grupos sociais podem originar reacções muito
diferenciadas, o que poderá afectar a auto-estima do jovem.

A transição para a fase adulta e as mudanças consequentes, podem provocar tanto sensações
de felicidade, êxtase e orgulho, mas também, de ansiedade, tensão, confusão e mesmo de
algum desespero. É ainda uma fase de procura de informação fiável de busca de resposta para
muitas questões. Neste processo de maturação, é decisiva a liberdade de escolha, a
confidencialidade e o recurso a um apoio compreensivo.

No que diz respeito à questão da sexualidade, e apesar deste ser uma tema cuja importância
vai sofrendo alterações ao longo da vida, para o jovem é algo que quase se impõe,
independentemente da sua vontade. Mas é importante salientar que o jovem poderá não se
sentir ou não querer ser sempre sexualmente activo.

Na maioria da sociedades, é um momento marcante, para a rapariga, a chegada da primeira


menstruação. O seu comportamento poderá sofrer com as mudanças hormonais e as
adaptações do seu corpo, num primeiro embate com a entrada nas responsabilidades do
mundo adulto.

O ingresso neste mundo está intimamente ligada a ritos de iniciação, que se diferenciam entre
regiões do mesmo país ou entre países, mas constituem uma importante parte da cultura,
tendo lugar na puberdade e de formas separadas para rapazes e raparigas. Nestes momentos,
simplesmente traduzidos, por exemplo, numa conversa entre um dos pais e o filho(a), ou
adquirindo a dimensão uma cerimónia comunitária, pretende-se ensinar a lidar com a
sexualidade e outros aspectos da vida adulta, ajudando a compreender um conjunto de
mudanças ocorridas no corpo. Numa preparação para os desafios da vida em sociedade, os
ensinamentos são transmitidos, consoante a tradição ou a oportunidade, pelos pais, pela
família, por educadores, por pessoas mais velhas e de experiência reconhecida...

Um dos aspectos mais importantes do rito de iniciação, em algumas comunidades, é a


circuncisão dos rapazes; um procedimento que deverá ser executado em segurança numa
clínica com condições higiénicas e instrumentos esterilizados. É muito importante que os
praticantes estejam a par dos riscos para a saúde e da dor associada a este procedimento.

Mas a entrada no mundo dos adultos implica muitas outras dimensões e acarreta consigo um
primeiro contacto com algumas responsabilidades que farão parte da vida futura, mas que o
jovem poderá recear. A escolha de uma profissão, o sair de casa, encontrar uma habitação,
constituir família enfim, uma série de responsabilidades sociais, financeiras, de deveres e
direitos com que o jovem, gradual ou abruptamente, se vai confrontando.

Fases de solidão, acontecimentos decepcionantes e insucessos podem ser traumatizantes e é


essencial o devido acompanhamento da família, dos professores e companheiros.

O jovem prepara-se para dar entrada no mundo dos adultos, mas este é diferente do dos seus
pais. As influências são marcadas pela actualidade, as experiências têm uma outro contexto,
num crescimento marcado por uma dualidade entre dois percursos, social e individual, que se
acompanham, por vezes, em conflito, outras de forma mais harmoniosa.

Bibliografia
Federação Internacional para o Planeamento Familiar
BBC World Service

Escola e Educação Sexual

Comecemos por enquadrar a sexualidade. A sexualidade


tem uma vertente emocional, sendo um elemento
essencial na formação da identidade global, do auto-
conceito, da auto-estima e do bem-estar físico e
emocional de qualquer ser humano. É também uma
componente essencial do relacionamento com os outros,
nomeadamente no campo amoroso.

A sexualidade pode também estar associada a


acontecimentos com uma carga negativa: gravidez não desejada, transmissão de doenças
sexuais, episódios de violência e abuso.

A faceta mais marcante da sexualidade, no contexto escolar, é o facto de ser uma das
características humanas mais determinadas e moldadas pelo processo de socialização. O que
cada um de nós é, fantasia, deseja ou põe em prática a nível sexual é o resultado de uma
processo de interacção e aprendizagem contínuo, realizado num contexto formal (a escola ou
a religião, por exemplo) ou informal (os meios de comunicação social, são o exemplo por
excelência).

Uma vez que todas as sociedades procuram, formal ou informalmente, transmitir valores
fundamentais e normas de conduta no que à sexualidade toca, a Escola tem um papel a
desempenhar neste âmbito, enquanto espaço privilegiado de socialização para as crianças e os
jovens.

Voluntária ou involuntariamente, a Escola é um lugar onde se constroem saberes e que suscita


vivências ao nível afectivo-sexual (“faça as contas” à sua vida sentimental e veja se não é
verdade que conheceu a maior parte dos(as) seus (uas) namorados(as)… na Escola) e que não
se pode furtar a uma abordagem:
- formal;
- estruturada;
- intencional;
- adequada;
de um conjunto de questões relacionada com a sexualidade humana, a qual é comummente
designada Educação Sexual em contexto escolar.

Assim, cabe à Escola esforçar-se para:


- formar agentes educativos (professores, auxiliares de acção educativa, psicólogos,…) que
ajam de forma adequada e coerente face às dúvidas que lhes são colocadas;
- abordar de forma pedagógica os temas da sexualidade humana, privilegiando o espaço
turma;
- apoiar as famílias na Educação Sexual de crianças e jovens, envolvendo-as no processo de
ensino/aprendizagem e/ou em actividades específicas;
- estabelecer mecanismos de apoio individualizado e específico às crianças e jovens que dele
necessitem.
<
Para terminar, a Escola não deve deixar de lado a estratégia de formação pelos pares,
recorrendo a líderes de pares que, graças à sua capacidade de influenciar os outros jovens na
sua forma de pensar e agir, podem contribuir de forma significativa para a Educação Sexual,
nomeadamente no que diz respeito à prevenção de comportamentos de risco. Na programas
de educação pelos pares que são bem sucedidos pesam-se os seguintes aspectos:
- os jovens tendem a imitar amigos/colegas que tomam como modelo;
- é frequente que os jovens ouçam o que esses colegas carismáticos (líderes) lhes dizem;
- estes líderes de pares podem influenciar o comportamento dos restantes jovens de forma
positiva através do seu protagonismo e modo de agir;
- estes líderes de pares podem encorajar e apoiar os restantes, quer dentro quer fora da
Escola;
- estes líderes podem funcionar como auxiliares do professor em actividades na sala de aula,
ajudando colegas que trabalhem, por exemplo, em pequenos grupos.

É, porém, necessário frisar que em circunstância alguma deverão estes jovens assumir papéis
que cabem a profissionais e técnicos adultos.

Gravidez na adolescência

De acordo com os dados do Instituto Nacional de


Estatística, relativos ao Inquérito à Fecundidade e Família,
Portugal continua apresentar uma mais elevadas taxas de
gravidez na adolescência da Europa (6,8%, em 1997).

Em pleno século XXI, ainda há muitos jovens sem


informação no que diz respeito à sua própria sexualidade.
Mas, mais do que falta de informação, é o medo de assumir a vida sexual activa e a falta
de espaço para a discussão dos valores com os pais/adultos que, muitas vezes, acaba por
levar à gravidez indesejada.

No entanto, há também que considerar as gravidezes falsamente indesejadas, geradas


pela necessidade de afecto das raparigas ou para forçar o parceiro a assumir a relação.
Esta ocorrência culmina com as gravidezes que se dão para serem o pretexto de a
rapariga poder sair de casa, deixar o seu meio familiar, quase sempre desestruturado e
desequilibrado, movido pelo sonho de encetar uma vida nova com a esperança num
futuro feliz e harmonioso. Não é regra. Infelizmente esses sonhos quase nunca se
tornam realidade...

De acordo com estudo "Mães Adolescentes - Alguns Aspectos da sua Inserção Social",
realizado por Isabel Lereno, Carla Gomes e Paula Faria, em 1993, na Maternidade Júlio
Dinis (Porto), ?as conclusões apontam no sentido de as jovens que engravidam e
prosseguem com a gravidez até ao parto pertencerem a grupos sociais desfavorecidos e
com uma subcultura própria em que os padrões de comportamento e organização
familiar diferem da norma social estabelecida.?

A adolescência é (ou deveria ser) um período de descoberta do mundo, dos amigos, de


uma vida social mais ampla... Assim, a gravidez pode interromper, na adolescente
(falamos no feminino, porque normalmente é a rapariga que acaba por se privar das suas
actividades para cuidar da gestação e da criança), esse processo de desenvolvimento que
é próprio da idade.

Acrescem as responsabilidades e há que assumir o papel de adulta, já que se vê


"obrigada" a dedicar-se aos cuidados maternos. O prejuízo é duplo: nem é uma
adolescente plena, nem será inteiramente adulta!

Mas, ao contrário do que acontecia anteriormente, a informação está muito agora mais
disponível aos jovens. As delegações da APF - Associação para o Planeamento da
Família (por exemplo, através do projecto de Estudo, Prevenção, Apoio à Gravidez e
Maternidade na Adolescência ?Mamãs de Palmo e Meio?), os Centros de Saúde, as
diversas linhas de apoio e os programas de educação sexual nas escolas são alguns
exemplos da ajuda que os jovens podem encontrar.

A disponibilização de preservativos nas escolas, uma medida que tem gerado alguma
polémica, foi objecto de um estudo recente realizado nos E.U.A.. As conclusões da
pesquisa vêm revelar que esta disponibilização não contribui para o aumento da
actividade sexual entre os adolescentes. A medida tem um efeito positivo na protecção
dos que já iniciaram a vida sexual, nomeadamente ao nível da prevenção de doenças
sexualmente transmissíveis.

Salienta-se ainda que, tendo sempre em atenção o facto de os adolescentes serem um


grupo com uma vida sexual particularmente activa, e como medida de protecção para as
doenças sexualmente transmitidas ou para uma gravidez indesejada, a legislação
portuguesa estabelece que devem ser tomadas medidas para melhorar as condições de
acesso e atendimento dos jovens nos hospitais e centros de saúde.

Face à disponibilidade e facilidade de acesso à informação e à abertura que se verifica


na discussão de temas relacionados com a sexualidade, parece que o problema reside no
assumir de um atitude que faça a prática ser eficiente. Ou seja, a partir do momento que
os adolescentes têm acesso à informação, devem gerar uma atitude: a de a pôr em
prática.

Muitos ainda têm a ideia que com eles não acontece nada de mal. Esse tipo de coisas
acontece sempre aos outros. De facto, não é raro ouvir uma mãe adolescente afirmar que
"nunca pensei que isso pudesse acontecer comigo, embora soubesse que podia
engravidar".

E quando descobrem que estão grávidas, a maior parte das adolescentes passa por
momentos de grande angústia e tensão. Têm medo de contar ao namorado (se é que a
relação é estável), de contar aos pais, que os amigos descubram e as isolem. A opção,
para muitas, é o aborto, feito às escondidas, muitas vezes sem dizerem nada a ninguém.

Outras optam (seja por medo ou por falta de recursos financeiros, ou até mesmo pelas
suas convicções) por enfrentar tudo e todos e ir avante com a gravidez. Tanto umas
como outras acabam por marcar irremediavelmente as suas vidas: forçam-se
casamentos, interrompem-se planos de vida e as crianças, mesmo que sejam muito
amadas, são um imprevisto que fica para sempre. Muitas vezes, o medo da jovem pode
levá-la a esconder a gravidez até às últimas consequências. Nesse casos, a falta de uma
acompanhamento médico desde o início, pode trazer complicações, tanto para a mãe
como para a criança.

Para as que decidem ter o filho, a fantasia deixa de existir para dar lugar à realidade na
hora do parto. É um momento muito delicado que pode gerar medo, angústia e rejeição.

E, quando não há apoio da parte da família, companheiro e amigos, o futuro da


adolescente fica seriamente comprometido. Interrompem-se os estudos (muitas vezes
até definitivamente) e hipoteca-se a oportunidade de arranjar o emprego dos seus
sonhos...
Viver ao mesmo tempo a própria adolescência e ser pai também não é tarefa fácil. Da
mesma forma, o jovem adolescente que se torna pai vê-se envolvido na dupla tarefa de
lidar com as transformações da idade e as da paternidade, que requerem trabalho,
estudo, educação do filho e cuidados com a companheira, esposa ou "apenas" mãe do
seu filho.

A somar a isto, quando a relação não é estável ou foi apenas uma aventura, as relações
entre duas famílias que "não têm nada em comum excepto a criança" podem ser muito
tensas e até hostis... E quem sofre não é só a criança, são todos os envolvidos.

Quanto mais informação os adolescentes tiverem, quanto melhor a qualidade da mesma,


mais condições eles terão de fazer as escolhas correctas para não prejudicar a sua vida.

Mas dar apenas informações técnicas aos jovens não basta. É muito importante que os
jovens tenham espaço para fazerem perguntas, conversarem com amigos e parentes
mais velhos e aconselharem-se com um especialista quanto à escolha do melhor método
contraceptivo. É essencial que também sejam orientados em casa, na família, que falem
e sejam ouvidos, sem preconceitos ou julgamentos.
Lendas em torno da pílula

Esquecer-se de tomar a pílula

Se se esquecer de tomar a pílula, siga este procedimento:


 Se passaram menos de 12 horas desde a hora em que deveria ter tomado a pílula,
tome a pílula de que se esqueceu e tome a pílula seguinte na hora habitual. Não importa
se tomar duas pílulas no mesmo dia. E é tudo.
 Se já passaram mais de 12 horas desde a hora em que deveria ter tomado a pílula,
tome a pílula que ―falhou‖ assim que se apercebe do esquecimento e a próxima à hora
prevista. No entanto, deve utilizar outros métodos contraceptivos (como o preservativo
durante a semana seguinte).
 Se já passaram mais de 24 horas, então deve deitar fora a pílula que esqueceu e
também tomar precauções adicionais como, por exemplo, o uso do preservativo durante
os próximos sete dias.
 Se o esquecimento aconteceu quando já faltavam menos de sete pílulas para acabar a
carteira, não faça a pausa habitual dos sete dias e comece uma nova carteira assim que
terminar a actual.
Não se preocupe se nesse mês a menstruação não aparecer.

Nota: O risco de engravidar será maior quando as pílulas esquecidas são as do princípio
e do fim da carteira. O que não é ―desculpa‖ para ignorar descansadamente as pílulas
―do meio‖…

Fazer uma pausa e não tomar a pílula

Há alguns anos atrás recomendava-se um período de pausa na tomada da pílula, um


procedimento que visava minorar os eventuais efeitos secundários desta. O facto é que,
nessa altura, as doses de hormonas que a pílula continha eram relativamente elevadas e
não havia estudos (que actualmente já estão publicados) sobre os eventuais efeitos da
ingestão da pílula durante longos períodos de tempo.

Actualmente as pílulas têm uma dosagem muito mais baixa, pelo que não é
recomendado um período de pausa às mulheres que a tomam excepto, claro, se estas
quiserem engravidar ou houver alguma indicação específica por parte do médico
assistente.

Os antibióticos anulam o efeito da pílula?

Efectivamente alguns antibióticos reduzem a eficácia da pílula. Outros, com princípios


activos como a penicilina ou algumas tetraciclinas, por exemplo, em determinadas
circunstâncias, podem diminuir a eficácia da pílula.

Portanto, se tomar e pílula e lhe for receitado um antibiótico, fale com o médico sobre o
assunto. Com muitos antibióticos não é possível prever com certeza essa redução de
eficácia, pelo que será mais prudente recorrer também a outro método contraceptivo,
como o preservativo.
Este segundo método contraceptivo deverá ser mantido até uma semana após a ter
terminado a toma do medicamento. Não suspenda a toma da pílula.

Existem outros princípios activos que poderão diminuir a eficácia da pílula, pelo que, se
estiver a tomar a pílula, deverá perguntar ao seu médico assistente se os medicamentos
prescritos poderão reduzir o efeito da pílula.

A pílula engorda?

Não. Isso era antes. Ou seja, há alguns anos atrás, quando a pílula continha dosagens
relativamente elevadas de hormonas registaram-se aumentos de peso. Esse aumento
acontecia por duas razões: porque os estrogénios que compunham as pílulas combinadas
podem provocar retenção de água (resultando num aumento de peso) e porque os
progestagénios (outro componente da pílula) podem provocar um ligeiro aumento de
apetite.
Actualmente são receitadas pílulas de baixa dosagem que não têm esse efeito
secundário.

Masturbação

A masturbação é o acto de acariciar, tocar e estimular partes do


corpo, com o objectivo de proporcionar prazer. É um acto que
pode ser praticado isoladamente ou pelo casal, uma vez que é
considerada uma das melhores formas de auto-conhecimento
sexual.

Quem pratica a masturbação consegue, assim, saber e conhecer melhor as zonas do seu
corpo (erógenas) — para além das genitais —que lhe proporcionam maior prazer,
podendo contribuir para uma vida sexual mais gratificante. Para além do toque aquando
da masturbação, as fantasias sexuais individuais accionam a excitação e o prazer
momentâneo.

A masturbação pode ser praticada por pessoas de ambos os sexos e não acontece apenas
na adolescência. Faz parte da sexualidade humana, ao longo da vida, embora possa ser
mais frequente nesta fase, que está associada à descoberta do corpo.

Não existe nenhum estudo científico que demonstre que a masturbação causa problemas
de saúde ou alterações/reacções físicas, como o crescimento anormal de pêlos,
impotência, aparecimento de borbulhas, perda da virgindade, aumento de peso ou,
ainda, que cause infertilidade, entre outros.

As referências a estas alterações físicas hipoteticamente decorrentes da masturbação são


consideradas pela comunidade médica como sendo mitos sociais sustentados pela ideia
de que a actividade sexual do ser humano deve ter como objectivo final a reprodução,
em detrimento do prazer físico e psicológico. Mas os mitos não passam disso mesmo.

É importante esclarecer que a masturbação não faz mal à saúde. É uma simples e natural
prática sexual, em que se explora e descobre o próprio corpo em busca de prazer. Só
poderá ser considerada prejudicial quando altera a rotina diária do indivíduo, em que
este se refugia na masturbação, evitando sociabilizar, por pensar que é mais fácil e
simples do que procurar a companhia e o relacionamento com outras pessoas. Nesta
perspectiva, é importante gostarmos do que vemos quando nos olhamos ao espelho e a
masturbação faz parte dessa descoberta, de nós próprios e dos outros.
Segundo a Declaração dos Direitos Sexuais, ―a sexualidade é uma parte integral da
personalidade de todo o ser humano. O desenvolvimento total depende da satisfação de
necessidades humanas básicas, tais como desejo de contacto, intimidade, expressão
emocional, prazer, carinho e amor‖.

Menopausa

Caracterização
Trata-se de um fenómeno fisiológico, logo, absolutamente normal, mas que tem um grande
impacto na vida da mulher. As implicações decorrentes deste período da menopausa podem
ser maiores ou menores consoante a mulher, o seu prévio estilo de vida, os seus hábitos
desportivos, os seus comportamentos alimentares e sexuais, entre outros. A menopausa surge
por volta dos cinquenta anos de idade, mas este limite pode variar bastante de mulher para
mulher. É antecedida por uns anos ou meses (pró-menopatisa) caracterizados por
irregularidades menstruais devidas à falta de ovulações.

Com a redução progressiva do funcionamento das glândulas que são conhecidas como ovários,
deixa de haver produção das hormonas femininas, denominados estrogénios e deixa também
de se efectuar a libertação mensal de óvulos. Assim, o organismo feminino adapta-se a um
novo ambiente hormonal designado hipoestrogenismo que se caracteriza por uma descida
acentuada dos níveis de estrogénio no corpo. Importa referir que esta situação pode ocorrer
mesmo antes do período de menopausa, nos casos de aparecimento de doenças que também
acarretam o hipoestrogenismo. Se, na fase da menopausa, houver uma redução rápida e
intensa dos estrogénios, é natural que nestas mulheres com doenças haja uma exacerbação
dos sintomas da menopausa, que necessitarão de tratamento específico, para alívio dos seus
sintomas, ao contrário dos casos em que o hipoestrogenismo se vai instalando lenta e
progressivamente (e para o qual o respectivo tratamento só é feito nos casos em que os seus
médicos pretendem fazer a prevenção de doenças que surgirão anos mais tarde em
consequência do hipoestrogenismo).

Se há várias décadas, as mulheres tinham uma esperança média de vida não muito elevada,
com taxas de mortalidade acentuadas, a verdade é que, presentemente, se verifica a situação
inversa, ou seja, assiste-se ao envelhecimento global da população, encontrando-se uma
percentagem cada vez maior da população feminina em fase pós-menopausa. Actualmente,
pode dizer-se que as mulheres viverão cerca de um terço da sua vida em pós-menopausa. Esta
realidade faz toda a diferença, não apenas a nível fisiológico, onde os efeitos da privação das
hormonas sexuais femininas sobre vários órgãos se fará sentir concretamente, mas também a
nível psicológico, social e financeiro. A mulher deparar-se-á com novos problemas relativos a
estas áreas, nomeadamente os riscos aumentados de doença cardiovascular, doença óssea e
até doença psíquica. Como tal, afiguram-se de extrema importância todos os tratamentos de
correcta compensação hormonal que permitirão dar "mais anos às suas vidas e mais vida aos
seus anos".

Sintomas

Durante a fase pró-menopatisa os sintomas caracterizam-se por irregularidades menstruais


devidas à falta de ovulações. As menstruações abundantes podem traduzir a presença de
anomalias do útero e que constituem um risco para doenças graves se não forem corrigidas,
quer do útero quer da mama. Já na pós-menopausa surgem outros sintomas devido à falta de
hormonas femininas (por serem diferentes causam, por vezes, dificuldades de diagnóstico para
quem não esteja familiarizado com este problema). São frequentes os afrontamentos, os
calores súbitos, as dores de cabeça, as insónias, o humor depressivo, a irritabilidade, a secura
da vagina, as dificuldades sexuais, a incontinência urinária, o aumento de peso, a modificação
da pele e do cabelo, as dores ósseas e articulares. Há, ainda, tendência para o aumento de
pressão arterial, para a subida de colesterol e, por vezes, para o aparecimento de dores pré-
cordiais e alterações no electrocardiograma.

Sistematizando, são estes os sintomas e sinais mais comuns da menopausa:

- Paragem das menstruações


- Aumento de peso, modificação da pele e do cabelo, artralgias, dores ósseas
- Afrontamentos, calores súbitos, sudação, cefaleias (sintomas vasomotores)
- Humor depressivo, insónias, irritabilidade (sintomas psíquicos)
- Incontinência urinária, secura da vagina, dificuldades sexuais (sintomas urogenitais)
- Aumento da pressão arterial e do colesterol, pré-cordialgias, alterações no E.C.G. (sintomas
cardiovasculares)

Como tal, sempre que não haja contra-indicação, deverá proceder-se à substituição hormonal.
A partir da década de cinquenta, foi desenvolvida uma terapia de substituição hormonal (TSH),
usando apenas estrogénios, ou com progesterona, para colmatar os efeitos da menopausa. A
realização desta terapia, a longo prazo, tem sido associada ao aumento de incidência do
cancro do útero e à formação de coágulos nos vasos sanguíneos, mas formulações recentes,
que usam estrogénios naturais, não têm sido associadas a estes efeitos secundários. Sem uma
terapia de substituição hormonal existe um aumento do risco de aparecimento da
osteoporose (adelgaçamento e fragilização dos ossos), o que pode levar a fracturas ósseas,
muitas vezes fatais no caso de mulheres de idade avançada.

Alerta-se para o facto de nunca se dever iniciar um tratamento sem que se conheçam os
resultados de uma mamografia, de uma ecografia ginecológica, de análises bioquímicas, ou de
uma citologia cervico-vaginal (Papanicolau).

Eis uma lista de exames a efectuar antes de iniciar a Terapêutica Hormonal de Substituição:

- Exame ginecológico com citologia cervico-vaginal (Papanicolau)


- Mamografia
- Ecografia ginecológica
- Perfil lipídico
- Densitometria

De salientar que existem situações em que os tratamentos de substituição hormonal são


contra-indicados. É o caso da presença de cancro da mama e do útero (adenocarcinomas), dos
sangramentos vaginais de causa desconhecida, dos acidentes trombo-embólicos, em fase
aguda, das doenças graves do fígado, e dos nódulos da mama de natureza não esclarecida.

Tratamento
Cada caso tem de ser estudado criteriosamente, de modo a escolher-se o melhor tipo de
hormonas a utilizar, a dose recomendada e a melhor via da sua administração. Durante o
tratamento é indispensável verificar se se obtém a desejada eficácia clínica e se há
normalização dos factores de risco ósseo e cardiovascular. Por isso, nas mulheres que possuem
útero devem utilizar-se sempre as duas hormonas femininas: os estrogénios e a progesterona,
administrados em combinação diária ou sequencialmente (no primeiro caso, não surgem
sangramentos; no segundo, há "menstruações" mensais).
No caso das mulheres que já não possuem útero deverão utilizar-se apenas os estrogénios.
É necessário tomar o equivalente a 1 grama de cálcio por dia (contido em 1 litro de leite). É
altamente recomendada a prática de exercício físico regular bem como uma alimentação
equilibrada e com muitas fibras (vegetais, cereais). Saliente-se que o recurso a antidepressivos
e tranquilizantes é muito raro, ainda que pareça ser muito indicado o seu uso.

As interessadas poderão ter Consultas de Menopausa um pouco por todo o País,


nomeadamente:

- Hospital Garcia da Orta (Almada)


- Hospital Fernando Fonseca (Amadora)
- Hospital Distrito de Aveiro (Aveiro)
- Hospital Nossa Senhora do Rosário (Barreiro)
- Hospital de São Marcos (Braga)
- Hospital Distrito de Cascais (Cascais)
- Hospitais da Universidade de Coimbra (Coimbra)
- Maternidade Bissaya Barreto (Coimbra)
- Hospital do Espírito Santo (Évora)
- Hospital Distrital de Faro (Faro)
- Hospital da Senhora da Oliveira (Guimarães)
- Hospital Sousa Martins (Guarda)
- Hospital D. Estefânia (Lisboa)
- Hospital Egas Moniz (Lisboa)
- Hospital de Santa Maria (Lisboa)
- Hospital São Francisco Xavier (Lisboa)
- Maternidade Alfredo Costa (Lisboa)
- Hospital de Ponta Delgada (Ponta Delgada)
- Hospital Dr. José Maria Grande (Portalegre)
- Hospital Hospital de São João (Porto)
- Hospital do Terço (Porto)
- Hospital Geral de Santo António (Porto)
- Hospital P. Hispano (Porto)
- Maternidade Júlio Dinis (Porto)
- Hospital de Santo Tirso (Santo Tirso)
- Hospital de Vila Nova de Gaia (Vila Nova de Gaia)
- Hospital São Teotónio (Viseu)
Curiosidade
O Dia Mundial da Menopausa é assinalado a 18 de Outubro.

Bibliografia:
http://www.spmenopausa.pt/
www.universal.pt

Menstruação

O ciclo menstrual é definido como o tempo que decorre entre o


primeiro dia do fluxo sanguíneo até o primeiro dia do fluxo seguinte.

Em média este fluxo dura 28 dias, mas pode ser mais curto, de 25 ou 26 dias ou mais longo,
até aos 31 ou 32 dias.

O ciclo menstrual decorre em três fases e tem início com o aparecimento da menstruação. No
desenvolvimentos das raparigas o aparecimento da menstruação – ou menarca - é a
transformação fisiológica mais importante que ocorre na adolescência e que implica alterações
no sistema reprodutor feminino. Este sistema é constituído pelos ovários (que produzem os
óvulos), pelas vias genitais (que incluem as trompas, o útero e a vagina) e ainda pela vulva, que
é um órgão externo.

Até surgir o fluxo sanguíneo que caracteriza a menstruação decorre todo um processo que
vamos explicar a seguir.

A glândula da hipófise secreta as chamadas gonadotrofinas: a hormona foliculoestimulante


(FSH) e a hormona luteinizante (LH). Fruto da libertação da FSH, nos ovários, um dos folículos
vai crescer durante cerca de duas semanas - fase folicular - e quando chega à maturidade,
emerge na superfície do ovário e liberta o óvulo (célula sexual, ou gâmeta feminino) que desce
pelas trompas de Falópio (estruturas em forma de tubo, responsáveis pela condução das
células sexuais) – é a chamada ovulação.

A libertação das referidas hormonas é também responsável pelo aumento ao afluxo de sangue
no útero e do desenvolvimento do endométrio (uma camada espessa no útero e que em caso
de gravidez constitui uma fonte de alimento para o embrião).

A ovulação dá-se, assim, cerca do 14.º dia, dando origem à fase ovulatória.

Nesta altura o óvulo pode ser fecundado por um espermatozóide. Caso o óvulo não seja
fecundado (a fecundação daria origem a uma gravidez), continuará o seu trajecto descendente
pelo canal vaginal. O óvulo sobrevive durante um período de 24 horas no corpo da mulher,
enquanto que um espermatozóide pode sobreviver até 72 horas. Da fecundação do óvulo
resulta o ovo que se instala na parede uterina – ocorre a nidação.

Após a libertação do óvulo do folículo este transforma-se no chamado corpo amarelo, uma
massa sólida dessa cor que, depois de amadurecer e degenerar, será depois expelida aquando
da menstruação, fluxo sanguíneo, na fase luteínica.

A menstruação caracteriza-se assim como uma descamação do endométrio caso não tenha
ocorrido uma gravidez.

A chegada da menstruação indica pois que os órgãos sexuais já se encontram perfeitamente


desenvolvidos e que a partir desta altura, existe já a possibilidade teórica de gerar um filho. As
raparigas já nascem com todos os óvulos que terão durante toda a sua vida, que são, em cada
ovário, cerca de 250 000. Em cada ciclo menstrual ocorre a maturação de um desses ovúlos. Os
rapazes, por seu turno só começam a produzir espermatozóides durante a puberdade.

A menstruação, dura, em média, de 3 a 5 dias. Mas “o período” varia de mulher para mulher e
pode também variar na mesma mulher entre ciclos – neste caso diz-se que tem ciclos
irregulares. Durante a menstruação por vezes surgem sintomas de uma maior irratabilidade,
excitação, ou depressão, e ainda distúrbios digestivos e dores abdominais. Se o mau estar
menstrual é acentuado, pode ser o sinal de uma disfunção ovárica.

É normal a primeira menstruação surja durante a puberdade. Factores como o clima, a


constituição da jovem, o estado de saúde, o género de vida e a nutrição podem antecipar o
seu aparecimento.

É importante estar atenta a todos os sintomas e consultar regulamente um(a) ginecologista.

Novos métodos contraceptivos - anel vaginal

O anel vaginal contém uma combinação de hormonas semelhante à


da pílula convencional, entre as quais estrogénios. As hormonas
difundem-se através das paredes da vagina. O anel é flexível,
transparente e incolor, com cerca de cinco centímetros de
diâmetro, facilmente aplicável e que pode ser aplicado pela própria mulher (semelhante
à da colocação de um tampão).

Durante as três semanas (21 dias) em que deve estar aplicado, o anel confere uma
protecção eficaz. Na quarta semana ele é retirado e aparece a menstruação.
A colocação e retirada do anel é fácil, sobretudo porque não existe uma posição
obrigatória que condicione a sua eficácia. Para retirar o anel basta inserir um dedo na
vagina até o sentir e puxa-lo para fora, suavemente.

Segundo o presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, este sistema tem a


vantagem de diminuir os problemas hepáticos pois, por serem absorvidas através do
revestimento da vagina, as hormonas não passam pelo fígado. Os efeitos secundários
são os que são observados em mulheres que utilizam a pílula (embora alguns fabricantes
insistam em afirmar que com este método diminui a intensidade de efeitos como as
dores de cabeça e o aumento de peso).

Graças à sua forma (circular, com cerca de 5 centímetros de diâmetro) e flexibilidade, a


adaptação às paredes vaginais é boa, o que assegura que se mantém no local de forma
confortável, pois é sustentado pelos músculos da parte mais estreita da vagina.

Contrariamente ao que algumas pessoas possam pensar, e porque fica colocado na zona
mais profunda da vagina, o anel não interfere nem é "sentido" durante a relação sexual.

Como começar a utilizar o anel vaginal?


 Se não utilizou qualquer contraceptivo hormonal no mês anterior, considere o
primeiro dia da sua menstruação como o "dia 1" e coloque o seu primeiro anel vaginal.
Deve fazê-lo pelo menos antes do "dia 5", mas não mais tarde do que esse dia, mesmo
que a sua menstruação não tenha terminado. Durante este primeiro ciclo, use um
método contraceptivo adicional, como um preservativo ou um espermicida nos
primeiros sete dias de utilização do anel.
 Se tomava uma pílula hormonal combinada (pílula que contém um progestagénio e
um estrogénio), após a última toma da pílula pode inserir o anel vaginal durante os sete
dias seguintes. No máximo terá de inserir o anel até ao dia em que deveria retomar a
toma da pílula. Não necessita de associar um outro método contraceptivo.
 Se tomava uma pílula contendo apenas progestagénio, poderá colocar o anel vaginal
em qualquer altura. Não faça intervalo entre a sua última toma da pílula e o primeiro dia
de utilização do anel vaginal. Quando transita de um contraceptivo que contém apenas
progestagénio para o anel, deve associar outro método adicional de contracepção, como
o preservativo ou um espermicida, durante os primeiros sete dias de utilização do anel.
 Se tinha um implante subcutâneo, pode aplicar o anel vaginal no mesmo dia em que
retirar o implante. Se está a mudar de um contraceptivo injectável, deve colocar o anel
no dia em que deveria tomar a sua próxima injecção. Se usava um dispositivo intra-
uterino (DIU) poderá colocar o anel no dia em que o retirar.

A venda do anel vaginal só é feita com apresentação obrigatória de receita médica e,


pelo menos por enquanto, não é comparticipado.

Para obter informação mais detalhada sobre o anel vaginal, clicar aqui.

Quando alguém diz "não"...

Viver a sexualidade, partilhar a nossa intimidade com uma pessoa que


amamos é algo maravilhoso. É um acto de dádiva mútua, de partilha, no
qual nada é imposto.
O interesse sexual não desejado é uma forma de coacção à qual ninguém tem de ceder. Esta
coacção pode assumir a forma de observações grosseiras, contactos corporais não desejados,
chantagem ou promessas feitas para obter favores sexuais, entre outras acções. Se alguém
fizer ou disser algo que te faça sentir pouco à vontade, não tens que "aguentar" e muito
menos que ceder à pressão que sentes.

As pessoas que praticam acções que te deixam desconfortável (como tocar-te "sem querer"
num transporte público ou dar-te uma palmada no rabo quando te vêem porque te
"conhecem desde pequeno(a)") podem ser pessoas que conheces há muito tempo ou que são
mais velhas. E esse facto pode fazer-te duvidar, fazendo-te pensar se não será tudo imaginação
ou se estás a "ver maldade em tudo". Nestas situações, confia nas tuas sensações: tu melhor
que ninguém sabes se o teu espaço íntimo está a ser invadido.

Não deixes que o teu pensamento seja afectado por mitos. Para rebater alguns desses mitos,
eis algumas verdades.

1.
Quando uma rapariga (ou um rapaz) é vítima de violação, parte da culpa é da vítima. Ou
porque usava uma roupa provocante, ou porque "as pessoas decentes não vão para ali àquela
hora" ou porque podiam ter lutado mais...
Nada disso. Toda a violação é uma agressão. As vítimas não querem ser violadas e,
frequentemente, os violadores atacam pessoas que sabem ser mais fracas.

2.
Os violadores são desconhecidos que atacam as suas vítimas ao acaso.
Não é bem assim; em cerca de 80% dos casos de violação o violador conhece a vítima e vice-
versa. E acontece que a vítima não comunique a agressão por sentir "vergonha" face a um
agresso que conhece.

3.
A verdade é que nenhuma vítima sente prazer durante uma violação. A violação é uma
experiência humilhante e dolorosa.

Se conheceres alguém que esteja a ser alvo de abuso sexual dá-lhe apoio. Ajuda-o(a) a quebrar
a "lei do silêncio" e fá-lo(a) compreender que é possível sair do labirinto de vergonha e medo
em que se encontra.

Sexo e drogas - Tudo o que é bom é ilegal, imoral ou


faz mal à saúde?

Quando pensamos em tudo o que é ilegal, imoral ou que


faz mal à saúde, existem duas coisas que estarão
necessariamente nessa lista. São elas o sexo e as drogas.
Não que seja verdade que em todos os casos essa
associação seja verdade. Ora vejamos:

 Se o consumo de drogas actualmente já não é


considerado um crime, podendo, pelo contrário, levar a que o indivíduo seja
encaminhado para um tratamento, o mesmo já não se passa com o tráfico de substâncias
ilegais que é ainda e duramente punido por lei.
 Por sua vez, o sexo não é ilegal, ainda que durante muito tempo se tenha penalizado
todo e qualquer comportamento sexual que não fosse considerado adequado, sendo que
o que era considerado adequado seria apenas o coito que tivesse como objectivo a
reprodução – de resto, uma concepção bastante limitada da sexualidade humana!
Oscar Wilde, célebre escritor inglês do século XIX foi preso, por ter sido acusado do
crime de sodomia, uma vez que era homossexual. Porém, ainda hoje existem certas
actividades que são consideradas ilegais, como sejam todas aquelas que vão contra a
autodeterminação sexual do indivíduo. Exemplo disso é a pedofilia, além dos exemplos
óbvios da violação ou da lenificação (proxenetismo).

É claro que a actividade sexual dita ―normal‖ entre duas pessoas que a desejem e
consintam é legalissima, excepto nas situações em que ocorre em contextos
considerados menos apropriados, como sejam no meio da rua ou em qualquer outro
local público, como sejam uma discoteca ou um centro comercial.

Quando falamos do que é imoral ou não, referimo-nos a padrões, que são individuais e
subjectivos, mas também sociais e culturalmente determinados, do que é considerado
correcto ou incorrecto, bom ou mau, enfim, referimo-nos a padrões que implicam
sempre uma avaliação positiva ou negativa relativa a um dado objecto ou
acontecimento. No que respeita às drogas, assim como no que respeita à sexualidade, a
aplicação de critérios de moralidade vai depender de quem os está a utilizar e do
contexto histórico, social e cultural em que se encontra.

 Assim, de alguma forma o consumo de drogas sempre foi julgado por uma parte
importante da população de uma forma negativa. A imagem do consumidor de drogas
foi muitas vezes associada à de um indivíduo pérfido e perigoso e a droga considerada
como um cancro social, responsável por vários males. É claro que, para contrabalançar
esta posição, temos algumas outras pessoas, que certamente não serão em tão grande
número, que consideram a droga como algo de interessante e até divertido.
Provavelmente são mais os jovens que pensam desta forma, abertos que estão a novas
experiências e ávidos de sensações agradáveis e fáceis, mas não apenas os mais novos
advogam desta posição.

 No que respeita à posição moral sobre a sexualidade, esta obviamente que também
variou ao longo do tempo. Ao contrário do que se possa pensar, nem sempre existiu a
ideia de que a sexualidade era qualquer coisa negativa e em alguns contextos chegou, e
chega ainda nos dias de hoje, a ser considerada como algo de extremamente positivo,
uma forma superior de espiritualidade, como é o caso das correntes tântricas da religião
hindu (daí a questão do sexo tântrico), que deram origem à construcção de templos com
estátuas de casais a terem relações sexuais que podem ainda actualmente ser vistas em
certas zonas da Índia.

Mas também no ocidente se encontram alturas da História em que existia uma maior
abertura para com as questões da sexualidade, por exemplo durante o Renascimento, o
que permite, por exemplo, que Leonardo da Vinci realize os seus estudos sobre
reprodução e sobre anatomia sexual e que ele próprio e outros realizem algumas das
belíssimas obras de arte que todos já vimos e que retratam corpos perfeitos e
despudorados. Por outro lado, períodos como a Idade Média ou o século XIX, em que
predominou a corrente do Vitorianismo, verifica-se uma repressão explícita e por vezes
mesmo agressiva da sexualidade.
Na actualidade, vivemos num período de transição, em que assistimos a uma
progressiva abertura face à sexualidade mas em que, ao mesmo tempo, ainda existem
ecos de um passado que condenava a sexualidade e que a associava ao pecado e a tudo
aquilo que pode ser negativo no ser humano – visão esta radicalmente diferente da
hindu que já referimos.

Por último, resta-nos a questão de saber se sexo e drogas fazem mal à saúde. É uma
questão também ela controversa, mas em relação à qual temos já certas informações que
nos chegam da investigação científica e já não da subjectividade da moral ou da rigidez,
por vezes desadequada (em relação à diversidade de realidades com que tem de lidar),
da lei.

 Quando falamos dos efeitos das drogas para a saúde, temos de ter a consciência de
que estamos a referirmo-nos a muita coisa diferente. Ou seja, de todas as drogas que
existem, ou mesmo se nos ficarmos por aquelas que são mais comuns entre nós, existem
algumas que se sabe serem mais ou menos inócuas para a saúde, como é o caso da
heroína ou do cannabis, e outras que podem afectar a saúde de uma forma por vezes
grave, como é o caso do álcool, dos barbitúricos ou do ecstasy. Em relação a estas
últimas, sabemos que a sua toma pode ter efeitos por vezes graves sobre o organismo,
como é o caso de problemas cardíacos em consumidores de ecstasy, ou dos problemas
de fígado em alcoólicos, sendo que alguns destes efeitos são potencialmente
irreversíveis.

Conhecem-se, de resto, alguns casos de pessoas que morreram depois do consumo de


ecstasy, para não falar dos problemas de hepatites e cancro de consumidores habituais e
em excesso de álcool. No que respeita a muitas das outras drogas, e por estranho que
possa parecer, o facto é que muitas delas não têm um efeito directo negativo sobre a
saúde. Um indivíduo pode consumir heroína uma vida inteira sem que por isso chegue a
ter qualquer problema de saúde grave.

É por esse motivo que alguns defendem que se deve dar droga aos toxicodependentes,
porque essa seria uma maneira de evitar alguns dos problemas sociais e médicos que se
encontram associados à toxicodependência. Mas, por outro lado, há a ter em conta os
efeitos que a droga tem sobre a consciência e sobre o comportamento. O que acontece é
que muitos toxicodependentes, em particular de drogas duras, acabam por fazer coisas
que lhes afectam a saúde. Assim, ainda que não seja a droga em si a afectar a saúde
destes indivíduos de uma forma directa, eles acabam por ter muitos problemas de saúde
devido ao que fazem para arranjar droga (por exemplo, prostituir-se), ao que fazem
quando estão sob o efeito da droga (por exemplo, conduzir sob o efeito de álcool) ou
ainda ao que fazem por causa das consequências sociais da toxicodependência (por
exemplo, dormir na rua ou não ir ao médico quando se está doente).

Mesmo um simples charro pode afectar o que o indivíduo faz ou a forma como pensa e
levá-lo a fazer coisas que de outro modo não faria, como seja ter relações sexuais sem
preservativo ou qualquer coisa tão simples como seja atravessar a rua sem olhar para os
dois lados e, devido a isso, ser atropelado. Certamente que muitas mais coisas haveriam
a dizer sobre esta questão da relação entre a droga e a saúde, sendo que me limitei a
apontar alguns dos que me parecem mais importantes. Não queria deixar de referir,
porém que muitas vezes quando se consomem drogas está-se também a levar muitos
brindes.

O que eu quero dizer com isto é que uma das formas de aumentar o lucro que se tem
com a droga é misturando-lhe outras substâncias, os chamados produtos de corte, e que
esses sim podem ser prejudiciais para a saúde. Tal é o caso do gesso, do giz ou até do
amoníaco ou do cimento, que podem ser misturados na heroína ou na cocaína, muitas
vezes com efeitos fatais para quem os consome.
 No caso da sexualidade, o que se sabe sobre as suas relações com a saúde não é muito
mas, regra geral, o que se pode dizer é que o sexo faz bem à saúde! Desde o facto de
constituir uma forma de exercício físico moderado, passando pela possibilidade que
oferece de estimular a círculação sanguínea, sabe-se ainda que pode ser uma forma de
aliviar a tensão e até de atenuar a dor em pessoas que possuam problemas de dor
crónica. Falando em saúde num sentido lato, que inclui tanto a vertente física como a
emocional, a sexualidade acaba também e obviamente, por ter uma importância
determinante na manutenção da saúde mental, por exemplo, por possibilitar a
proximidade e a intimidade entre um indivíduo e o seu parceiro, aumentando a sua
satisfação e bem estar em relação à vida em geral, entre muitas outras coisas.

É claro que, no meio de todos estes aspectos mais positivos, não nos podemos esquecer
que existem aspectos da sexualidade e comportamentos sexuais que podem afectar de
uma forma negativa a saúde. Aliás, hoje em dia é muito fácil cair na tentação de apenas
abordar a sexualidade em relação ao que de mau ela pode trazer, o que se deve, em
grande medida ao aparecimento da SIDA em inícios dos anos 80, com todas as
complicações que veio a trazer em termos de saúde e em termos sociais. De resto, a não
utilização do preservativo, a possibilidade de engravidar num momento da vida em que
não se deseja que tal aconteça, uma interrupção da gravidez feita em condições pouco
adequadas, uma violação, uma doença sexualmente transmissível, são alguns exemplos
de situações em que saúde e sexualidade se intersectam da pior forma, com
consequências graves para o bem-estar do indivíduo e, consequentemente, para o
daqueles que o rodeiam.

Conclusões gerais

Direito, moral e saúde: três áreas que com alguma frequência são associadas a drogas e
ao sexo, ambas frequentemente consideradas polémicas. Desta nossa análise, um tanto
ou quanto superficial, relativamente às questões que se levantam a propósito da
toxicodependência e da sexualidade quando os parâmetros de leitura são estes três,
resta-nos tecer alguns comentários em jeito de conclusão:

 Consumo de substâncias e sexualidade desde sempre estiveram presentes na História


da humanidade. O que variou foi a forma como ambas foram encaradas, sendo que, em
alguns momentos, existiu uma maior abertura em relação às mesmas e noutros parece
que predomina a repressão.
Aparentemente, no momento actual existe uma maior abertura social em relação a estes
temas, abertura esta que é progressiva em relação à sexualidade, ainda que em relação
ao consumo de drogas o mesmo não seja tão obvio. De qualquer modo, é possível que
algo de semelhante possa estar a ocorrer, o que se pode verificar a propósito da recente
descriminalização do consumo de substâncias e de algumas medidas políticas
relacionadas com o incentivar do tratamento, como contraponto à defesa da punição do
consumidor.

 No imaginário popular, sexo e drogas sempre se encontraram de alguma forma


associadas, fazendo ambas parte do mesmo grupo de actividades mais ou menos ilícitas,
a que certos grupos marginais da sociedade dedicam uma parte considerável do seu
tempo, em vez de estarem a fazer algo de útil para a sociedade. Pelo facto de serem
actividades que implicam um abandono ao prazer e à vivência daquilo que é muitas
vezes considerado como oposto à ordem natural das coisas, acabam ambas por ser vistas
como ameaças à estabilidade e coesão da sociedade. Implícita a esta ideia está que, se
todos nos dedicassemos a consumir drogas e a praticar sexo, certamente que a sociedade
tal como a conhecemos deixaria de existir.

 Por último, há também que não esquecer que muitas pessoas procuram consumir
drogas por motivos sexuais. Ou seja, por vezes o motivo que leva algumas pessoas a
consumir drogas pode ser por quererem sentir-se mais descontraídas e, portanto, mais
capazes de travar novos conhecimentos. Outras tomam certas drogas porque acham que
vão ter mais prazer nas relações sexuais. Outras ainda, tomam-nas porque são muito
inibidos em relação ao sexo e por isso pensam que vão ser mais capazes de se envolver
em relações sexuais se consumirem a droga A ou B. Quase todas as drogas podem ser
utilizadas por estes motivos, ainda que algumas sejam mais associadas a esta questão,
como sejam o álcool, o cannabis ou o ecstasy.

Sem dúvida que, se a pessoa estiver um pouco desinibida, acaba por estar mais
disponível para um envolvimento sexual. Pode até acontecer que tenha certos
comportamentos e que se envolva com certas pessoas, o que não faria se estivesse no
seu estado ―normal‖. Porém, de investigações realizadas, sabemos que álcool e drogas
podem, pelo contrário, prejudicar a actividade sexual, por exemplo, dificultando a
erecção no homem e a lubrificação vaginal da mulher. No caso do ecstasy, então, a
perspectiva é ainda pior: apesar de as pessoas que consomem esta droga dizerem que se
sentem muito próximas das outras – é a chamada love drug – o facto é que sob, o seu
efeito, raramente se consegue ter relações sexuais.

O mesmo acontece com os consumidores de heroína que habitualmente perdem o


interesse sobre a sexualidade, uma vez que, de entre outros motivos, toda a sua vida
acaba por estar centrada em torno da droga, passando tudo o resto a ser secundário,
ainda que muitas vezes se prostituam para obter dinheiro para os seus consumos, pelo
que aí a sexualidade tem um papel instrumental – é utilizada em função de um outro fim
considerado mais importante.

Sexo e drogas, legais, ilegais, morais, imorais, bons e maus para a saúde. Como tudo na
vida, deverão ser utilizados com conta peso e medida. Mesmo em relação ao álcool,
existem médicos que aconselham que um copo de vez em quando faz bem à saúde. É
claro que o ideal é que as pessoas consigam evitar as drogas porque de facto podem, na
maioria das circunstâncias ser prejudiciais para si próprias e também para terceiros.
Em relação à sexualidade, já não se pede o mesmo... Pobres de nós se as relações
sexuais tivessem que ser evitadas por poderem fazer mal. Apesar de que, também em
relação à sexualidade, se tenha que ter certos cuidados e que também ela deva ser
utilizada com moderação e ponderação quanto baste, para que não chegue a ser ilegal,
imoral ou que faça mal à saúde...

Sexualidade

A sexualidade, nos seus diversos parâmetros

A sexualidade humana é uma das competências mais interessantes e alargadas das funções
vitais, pelo que não deve ser em nenhum caso resumida de uma maneira simplista a relações
sexuais e muito menos ao uso do preservativo, como às vezes acontece.

De facto, a sexualidade compreende várias vertentes - afectos, comunicação, companhia,


partilha (incluindo a do corpo e a da alma), reprodução, amizade e tantos outros aspectos. Não
estranha pois que, ao incluir áreas tão fundamentais, a sexualidade seja, paralelamente à
alimentação, um dos instintos mais básicos e determinantes da sobrevivência.

Não estranha também que o ser humano seja um ser dotado de uma sexualidade muito
evidente, que se manifesta desde o primeiro momento de vida, e é exercida até ao fim. Poderá
não ser expressa, evidentemente, do mesmo modo, da mesma maneira ou com os mesmos
ritmos, mas é do cruzamento das diversas curvas sinusóides das vertentes mencionadas acima
que se vai construindo os diversos equilíbrios, ao longo da vida, permitindo viver o conjunto da
sexualidade de uma maneira harmoniosa, tranquila e gratificante. Muitas vezes, infelizmente,
tal não acontece e, seja como for, a construção desse equilíbrio requer muita "maestria", já
que a instabilidade, as dúvidas e os conflitos internos e externos, os riscos e os perigos são
uma regra quase geral.

O namoro

O namoro é um dos pontos mais interessantes da vivência da sexualidade e pode (deve) ser
vivido em todas as idades. Se é, quanto a mim, ridícula a insistência actual de muitos adultos
em tentarem atribuir namorados e namoradas a meninos de 3 e de 4 anos (ou mesmo de 8 e
9), a palavra namorar é das mais expressivas e tem vários significados - de facto, (...)
"namorar" pode significar: acotiar, agradar, apaixonar, apetecer, arrulhar, atrair, azeitar,
cativar, catrapiscar, chamar, cobiçar, cortejar, derriçar, desejar, embelezar, enlevar, falar,
flertar, galantear, graxear, namoricar, prosear, rampanar, rascar, rentear, requebrar,
requestar, sapecar, seduzir, servir, simpatizar, tourear (in Enciclopédia ?Educar Adolescentes?
? Lexicultural).

Muitas noções poderíamos tirar destes sinónimos, alguns deles verdadeiramente inesperados,
mas uma coisa é certa: namorar implica desejo, atracção, cobiça, e todo o processo de
"conquista" ("catrapiscar"?!?) do ser amado, que passa por galantear, cativar ou até, segundo
o dicionário, por "dar graxa" (azeitar... graxear...)? e também exercer a arte da sedução, uma
das artes mais nobres e mais fascinantes (e também mais divertidas) de que o ser humano é
capaz. Já a expressão "tourear", confessamos que deverá sempre ser considerada como
estando por acaso, pois embora comum na "arte de namorar", não expressa geralmente
relações muito transparentes e honestas? mas enfim. Dicionário é dicionário?

Conquistar e ser conquistado - o jogo da sedução

Voltando atrás, há uns milhões de anos (dados surgidos no início de Dezembro de 2002
apontam já para 6 milhões de anos...), quando as raparigas atingiam a menarca e tinham pois a
sua primeira menstruação, ficavam capacitadas para ser mães. Os rapazes, por sua vez, ao
terem as primeiras ejaculações, eram potenciais pais. Mas se durante alguns milénios,
provavelmente, as relações reprodutivas terão sido (com o são ainda em alguns pontos do
Planeta) diferenciadas dos afectos, rapidamente as coisas começaram a evoluir no sentido da
monogamia (que, repetimos, não é "lei corrente" em muitos pontos e em muitas sociedades e
pessoas, sem que possamos fazer sobre isso quaisquer juízos de valor, éticos ou outros). O
sentimento de poder masculino, associado ao "ter" (ter "pilinha", leia-se), acasalou bem com o
sentimento de "não ter", com o complexo de castração das mulheres, com afinal o culto do
"ser" (e às vezes do "parecer"). Eles a quererem conquistar, elas a quererem deixar-se
conquistar. Estavam na mesa todos os ingredientes necessários ao jogo ? a um grande jogo.

Por outro lado, estando também na mesa responsabilidades grandes - como o de escolher o
pai ou a mãe dos filhos, o companheiro ou a companheira de uma vida e, tantas vezes, o
herdeiro ou herdeira de fortunas, bens, terras ou outras coisas semelhantes, bem como a
integração na família, no clã, na tribo ou na comunidade - a escolha prévia ao "acasalamento"
passou também a ser mais elaborada e a envolver muita outra coisa. Acresce que a chamada
"lei do mais forte", que através de várias formas afastava os potenciais concorrentes até deixar
o que, geralmente pela sua força física, se conseguia impor, perdeu muita da sua validade - a
astúcia, o poder de sedução, o charme (e tantas outras coisas) começaram a ganhar valor. Bem
como os verdadeiros afectos e sentimentos.

É assim que surge o namoro - uma fase que começa, muitas vezes, sem se saber muito bem
porquê e que evolui com diversos ritmos e desenlaces. De facto, não se sabe muito bem o que,
numa pessoa, atrai outra - provavelmente muitos factores, também eles valorizados conforme
a personalidade, as expectativas e os desejos e prioridades de cada um. As feromonas, espécie
de hormonas sentidas a larga distância pelo nariz, têm o condão de atrair - a ciência explica
isso. A beleza (e há tantos conceitos diferentes de beleza, de graça, de ser-se "giro" mesmo se
feio, etc, etc), a inteligência, a ternura, a simpatia, o humor, o feitio, a elegância (no corpo e na
maneira de ser), enfim, são alguns entre tantos e tantos ingredientes que provocam a atracção
e o desejo de conquistar o outro ou a outra.
Depois deste primeiro click, segue-se outra fase: a da confirmação da escolha, que terá que
passar por um melhor conhecimento dos pontos fracos e fortes da pessoa amada. Mas o pior é
que a paixão e o desejo de conquista, pela sua natureza "transitoriamente patológica", faz
muitas vezes (provavelmente sempre) perder a noção crítica e a lucidez - uma pessoa
apaixonada não tem os pés na Terra, para ela só o outro existe, e o mundo e as pessoas são
algo que perdeu totalmente a prioridade e o valor.

A procura das "certezas"

Outro aspecto importante no início do namoro é tentar ter a certeza, não apenas de que
aquela pessoa é a pessoa amada, como a de que as outras que ficaram de fora (mas perto) não
são também pessoas amadas, pois para quem começa a desenvolver sentimentos afectivos
que nunca experimentou (e se calhar ao longo de toda a vida isto acontece?), é por vezes difícil
ter essa certeza. Um dia parece ser aquela pessoa, mas no dia seguinte parece ser a outra. Só
que os compromissos que se assumem com uma, excluem à partida (pelo menos nas
sociedades ocidentais) compromissos de timbre igual com as outras.

Uma vez tida essa certeza - seja ela mais duradoura ou menos duradoura, mais firme ou
menos firme -, "as coisas começam a aquecer", pois o passo seguinte é ser correspondido.
"Apenas isso"? mas o "isso" é tanto e às vezes tão penoso!. A gestão desta fase é
tremendamente difícil e, em caso de um desenlace negativo, pode dar azo a grandes
traumatismos, sentimentos destrutivos da auto-estima e do auto-conceito, e regressões a
vários níveis, designadamente uma grande desconfiança e insegurança quanto à capacidade de
"conseguir" - o "desempenho" é um dos fantasmas que sempre acompanha os adolescentes,
nas suas relações amorosas.
Diga-se também, que tudo isto se passa, pelo menos ao princípio, em linguagem codificada -
corporal, falada ou outra -, mas codificada. Há quem avance logo com os termos e os
propósitos, sem estar com "rodriguinhos", mas é raro e ainda mal visto. O jogo da sedução é
um jogo de interpretações e de sugestões. E tantas vezes, sobretudo para quem é inexperiente
(como é o caso dos adolescentes) ou quem não tem grande jeito ou aptidões para estas coisas,
as sugestões podem ser mal interpretadas e as interpretações mal sugeridas. Se ela sorri para
mim, que fazer? Será que sorriu porque se lembrou de uma coisa engraçada? Será que sorriu
porque estava bem disposta? Será que sorriu porque teve um espasmo do músculo risorius?
Ou porque até achou piada ao que eu disse, mas não mais do que isso? Ou, pelo contrário, isso
e muito mais? Como saber? E se avanço, como quem fez a interpretação mais correcta (leia-se,
a que me convém), que fazer se ela diz para eu ir "dar uma curva", que estou a meter-me e
que vai chamar alguém e acusar-me de assédio? Ou que, simplesmente, estava a sorrir para o
parceiro do lado, eu é que deveria estar estrábico? mas pode ser, mesmo que numa ténue
hipótese, que me diga que, sim, que era para mim o olhar dela, porque também se sente
atraída.

É neste jogo de parada alta, de grandes inquietações e indefinições, de registos muito subtis e
indefinidos que os adolescentes têm que (sobre)viver. Mas é esse mesmo jogo, com todas as
vitórias e derrotas, penaltis e cartões amarelos, aplausos e vaias, que vai permitir um enfoque
mais certeiro e uma visão cada vez mais lúcida do que se quer, do que se pretende e,
sobretudo, do que é possível face ao que se desejaria se fossemos nós a formatar o mundo e
as pessoas. Mas se calhar, estaremos enganados - a realidade do século XXI não deixa aos
adolescentes a hipótese de perguntar, tímida e inocentemente, ruborizando-se só de pensar
nisso "então, qual é a tua música preferida?", mas sim, porventura, de modo directo e incisivo:
"então, qual é o teu preservativo preferido?". Mas isso não é namoro, pelo menos no sentido
de que estamos a falar. Pode ser uma atitude muito "pragmática" mas mais nada do que isso.

A fase da "manutenção"

Depois de começado o namoro, há uma fase de aprofundamento relacional e dos


conhecimentos. A descoberta do corpo da pessoa amada e das potencialidades do nosso
próprio corpo com a pessoa amada, o cotejar de pontos positivos e negativos, interesses e
desinteresses, defeitos e virtudes, contribui para a constante avaliação dos ganhos e perdas e
para a resposta à "velha questão": "valerá a pena?". Esta avaliação é tanto mais complicada
quanto é frequentemente pontuada, quer com os desafios externos, de outras pessoas que
também se perfilam no horizonte e que também querem entrar no jogo da conquista - pessoas
já conhecidas ou novas -, quer com os comentários dos "outros" (família, amigos, colegas).

E se, em alguns casos, mesmo com "acidentes de percurso", arrufos, amuos e zangas (mas com
o momento inesquecível e indescritível do "fazer as pazes"), as coisas evoluem na
tranquilidade e no sentido da estabilidade - pelo menos durante algum tempo -, noutros o
namoro acaba por ser uma fase de constantes altos e baixos, uma sinusóide que leva a um
grande sofrimento, conflitos e desânimos, os quais desvirtuam o verdadeira intenção do
namoro: o preparar uma solução estável com vista a um futuro comum.

Pais, família, amigos e companhia

Se o namoro é uma coisa para ser fruída a dois, com todo o encantamento que tem essa
relação privada e quase mística, não é menos verdade que vivemos em sociedade e que as
pessoas não são eremitas, mesmo quando parecem viver no nirvana ou no limbo. E quando
outros valores, para além dos afectos e do amor, entram em jogo - "mas de que família é que
ela é, afinal?", "vamos a ver a quem vão parar os nossos bens?", "não me parece que seja a
melhor pessoa para ser mãe dos nossos netos!", "ele tem cara de quem trabalha pouco e vai
querer explorar a nossa filha!" - e tantas outras coisas semelhantes -, o "caldo" corre mais risco
de "se entornar", surgindo provas de forças, desaguisados, incompreensões, mal-estares,
chegando muitas vezes ao ponto de pré-ruptura ou mesmo rupturas, o que só agrava ainda
mais as coisas.

Quantas vezes os pais (e os restantes adultos) confundem as escolhas do adolescente com as


suas próprias escolhas - não lhes é pedido que gostem da pessoa escolhida pelos filhos, mas
tão só que respeitem a sua escolha. E se existe algo que verdadeiramente incomoda os pais
relativamente à namorada ou namorado dos filhos, claro que têm o direito de expressar essas
dúvidas (sobretudo se se referirem a algum dado grave) mas com calma e sempre pensando
que, em caso de "esticarem a corda", o filho optará quase invariavelmente para o lado do seu
amor. O caso contrário pode acontecer: os pais simpatizarem tanto com a pessoa escolhida
pelos filhos que mesmo quando as coisas começam a esfriar e a seguir o rumo natural dos
acontecimentos (ou seja, encaminhando-se para um fim que convém não ser demasiadamente
agónico e prolongado) eles insistem no namoro e defendem-no com "unhas e dentes", mais do
que o próprio interessado.

Outro aspecto ainda, sobretudo no princípio do namoro, é a enorme susceptibilidade e


sensibilidade dos apaixonados - qualquer comentário menos positivo (mesmo que justo e
factualmente verdadeiro) pode causar um pé-de-vento de incompreensão. Não quer dizer que
os pais se calem, mas que tenham o bom senso de só dizer o que for estritamente necessário,
não se esquecendo que os apaixonados, por definição, vivem na estratosfera e não entendem
a linguagem dos terráqueos.

Ainda um conselho: não vale a pena dar demasiada importância aos namoros dos filhos,
sobretudo no início e quando são os primeiros. É terrível ver pais a darem um relevo a
namoricos que são quase "condutas experimentais", como se se tratasse já de uma coisa
definitiva, envolvendo os avós, os tios e sei lá mais quem. Até uma certa idade, esses
"namorados" deverão ser considerados como amigos e ficar por aí. Isso evita que haja
"hipertrofia" de coisas menores e que, se o namoro acabar, o acontecimento passe a ser um
autêntico "problema nacional". Deixa também aos adolescentes a margem de manobra
necessária para gerirem da melhor forma o namoro, nos vários aspectos relacionais, incluindo
poder pôr-lhe um fim, sem demasiada dor.

Este é uma vertente que os pais têm também que considerar: os receios, riscos, perigos e
realidade das doenças de transmissão sexual, da infecção pelo VIH, da gravidez, não devem
centralizar as suas preocupações e factores de interesse exclusivamente nessa área. A
sexualidade é um fenómeno plurifacetado e que têm a ver com afectos e sentimentos. As
relações sexuais são fundamentais nesse processo e é natural que, a páginas tantas (às vezes
no "prefácio", às vezes só no "epílogo"), o processo de descoberta do corpo e da alma acabe
por terminar nas relações sexuais. É bom os adolescentes estarem prevenidos e serem
conhecedores dos métodos anticonceptivos e preventivos das situações de perigo - mas
espera-se que os pais tenham tido, ao longo de toda a vida, uma acção pedagógica gradual que
evite ter que chamar os filhos, à última da hora e sobre os acontecimentos, para uma conversa
"sobre abelhas e flores".

O fim do namoro... ou não...

Os namoros podem ou não ter fim. Por vezes acabam por desistência de um ou dos dois
interessados. Com maior ou menor sofrimento, de uma ou de ambas as partes, mas sempre
com a necessidade de fazer um luto, porque o fim de uma relação, mesmo que por mútuo
acordo e/ou com sensação de alívio, é sempre uma perda e exige um período de reflexão e de
balanço. Não fazer esse luto é perigoso, porque ele virá, inexoravelmente, mais tarde,
podendo cair como uma assombração sobre uma relação posterior.

Outras vezes o namoro evolui para um relacionamento estável e permanente, com vivência
em comum, casamento ou seja a forma que for, filhos, etc. Mas mesmo nesses casos - ou até
sobretudo nesses casos -, é bom que o namoro continue. Sempre. Namorar é bom e é um
factor protector. Mesmo com filhos pequenos, mesmo com filhos menos pequenos. A relação
"horizontal" entre duas pessoas deve sempre manter-se e é independente dos outros
relacionamentos e afectos que possam existir. E não há idades fixas nem limitativas para
namorar? porque o namoro, no que tem de sonhador, de reconfortante, de bom, é necessário
e um bálsamo para qualquer idade.

Mário Cordeiro, autor deste artigo gentilmente cedido pela revista Adolescentes, é Professor
de Pediatria.

SIDA

Este texto foi construído a partir de um folheto elaborado pela


Associação Abraço. Poderás encontrar mais informação navegando na
página de Internet desta organização.

SIDA

Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA), é uma doença provocada por um vírus,


chamado VÍRUS da IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (VIH). Este vírus ataca o sistema imunitário,
isto é, o "arsenal de combate" de que o organismo se serve para defender das infecções.
Quando o sistema imunitário é atingido perde-se essa capacidade de defesa e aparecem
muitas infecções graves ou tumores, muitas vezes mortais. Estas infecções chamam-se
oportunistas porque aproveitam o enfraquecimento das defesas do organismo. Decerto, já
ouvi dizer que alguém morreu de SIDA. Isto não é inteiramente correcto. O que de facto causa
a morte são as infecções oportunistas ou tumores; a SIDA facilita o seu aparecimento.

O que é o vírus VIH?

Os médicos afirmam que a SIDA é causada por um vírus (Vírus da Imunodeficiência Humana -
VIH). O VIH é um vírus frágil que não sobrevive fora do organismo, a não ser em condições
excepcionais. Mas após entrar no organismo, pode aí permanecer "silencioso" ou "escondido"
durante meses ou até anos e, com maior ou menor velocidade, fazer grandes estragos no
sistema imunitário.

Por isso, é frequente que pessoas que parecem estar de boa saúde possam, sem o saber,
transmitir o vírus a outras. Os médicos ainda não têm certezas sobre a percentagem de
pessoas contaminadas com o vírus virão a desenvolver a doença a que chamamos SIDA.
Também ainda não se sabe quanto tempo pode passar desde o momento da contaminação até
ao aparecimento visível da doença.

Contudo, parece não haver dúvidas de que com o tratamento médico adequado, menos
pessoas contaminadas virão a desenvolver SIDA. Actualmente, julga-se que muitas pessoas
contaminadas pelo VIH podem viver com a doença durante muitos anos. Cada vez mais a
doença provocada pelo VIH é uma doença crónica, que pode ser controlada, tal como a
diabetes ou a hipertensão arterial.

O VIH transmite-se através de alguns líquidos orgânicos: o sangue, o esperma, as secreções


vaginais, o leite materno. Não há qualquer prova de que o vírus seja transmitido pela saliva,
lágrimas, suor. O VIH entra no organismo através das membranas mucosas (as paredes do
recto, as paredes da vagina ou interior da boca ou da garganta, por exemplo) ou por contacto
directo com o sangue. O vírus não atravessa a pele intacta; só o faz se houver uma ferida ou
corte que facilite a sua entrada (através do contacto com fluídos de uma pessoa infectada).

O vírus não se transmite pelo ar, através dos espirros ou da tosse. Por isso, não há perigo
nenhum no contacto social quotidiano com pessoas infectadas pelo VIH. "Seropositivo" para o
VIH não é a mesma coisa que SIDA, as pessoas com VIH não têm, automaticamente, SIDA.

VIH e sistema imunitário humano

O sistema imunitário humano tem como função reconhecer agentes agressores e defender o
organismo da sua acção. Os órgãos e células que o constituem asseguram essa protecção.
Entre as células do sistema imunitário, destacam-se os glóbulos brancos (também designados
linfócitos), que podem ser de tipos T e de tipo B.

Os linfócitos B fabricam substâncias – anticorpos - para combater os elementos invasores.


Existe mais de um género de linfócitos T; vamos referir os T4 (também conhecidos como
células CD4), o elemento vigilante que alerta o sistema imunitário para a necessidade de lutar
contra um "invasor"; e os T8, aqueles que destroem as células que estiverem infectadas pelo
"invasor".
Fazem também parte do sistema imunitário os macrófagos, as células que digerem as células
mortas e os "invasores".

Os glóbulos brancos são produzidos na medula óssea, um dos órgãos primários do sistema
imunitário, juntamente com o timo (que, como sabes, é uma glândula localizada na base do
pescoço, atrás do esterno). Os órgãos secundários são o baço, as amígdalas e os adenóides e o
sistema linfático.

A entrada do VIH no corpo e a sua multiplicação acelerada provocam uma diminuição do


número de linfócitos do tipo CD4, que são, precisamente, os que dão ordens aos outros
elementos do sistema imunitário para agir. Com o sistema imunitário enfraquecido, o
seropositivo fica mais vulnerável aos microorganismos causadores de infecções oportunistas,
que, geralmente, não conseguem atingir pessoas com um sistema de defesa "normal" (que
não está a ser atacado).

Os sintomas

Não existe um sintoma ou um conjunto de sintomas que possa levar qualquer profissional de
saúde a fazer um diagnóstico eficaz e imediato da SIDA em quem quer que seja. Os sintomas
que surgem associados à SIDA são os sintomas das infecções oportunistas cuja penetração no
corpo o vírus VHI facilita, ao destruir progressivamente o sistema imunitário. E uma vez que os
sintomas se podem reforçar mutuamente, mascarar ou misturar, o leque de sintomas pode ser
vastíssimo, embora existam alguns mais comuns (porque são também mais comuns as
infecções oportunistas que os provocam).

Assim, algumas pessoas contaminadas apresentam sintomas semelhantes aos de uma gripe
como febre, suores, dores de cabeça, de estômago, nos músculos e nas articulações, fadiga,
dificuldades em engolir, glândulas linfáticas inchadas e uma leve comichão. Segundo algumas
fontes ligadas à indústria farmacêutica, calcula-se que cerca de 50 por cento dos infectados
apresentem estes sintomas.

Algumas pessoas também perdem peso e outras, ocasionalmente, podem perder a mobilidade
dos braços e pernas, mas recuperam-na passado pouco tempo. A fase aguda da infecção com
VIH dura entre uma a três semanas. Todos recuperam desta fase, em resposta da reacção do
sistema imunitário, os sintomas desaparecem e observa-se uma redução do número de vírus
presentes no organismo.

Os seropositivos vivem um período em que não apresentam sintomas, embora o vírus esteja a
multiplicar-se no seu organismo o que pode prolongar-se por diversos anos. É neste período
que se encontram, actualmente, 70 a 80 por cento dos infectados em todo o mundo.

Prevenção

Sucintamente, eis algumas medidas que previnem a transmissão da SIDA: usar sempre
preservativo nas relações sexuais, não partilhar seringas e outros objectos cortantes (agulhas
de acupunctura, instrumentos para fazer tatuagens e piercings, de cabeleireiro, manicura).

Além dos preservativos comuns, vendidos em farmácias e supermercados, existem outros,


menos vulgares, que podem ser utilizados como protecção durante as mais diversas práticas
sexuais (nomeadamente sexo oral). É também preciso dar atenção à utilização de objectos; se
estes estiveram em contacto com sémen, fluidos vaginais e sangue infectados, podem
transmitir o vírus.

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