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Tânia Maria Braga Garcia.
TBG – A questão central é entender quais são os objetivos que pretendemos atingir
ao escolher um ou outro material – e aqui destaco que os recursos didáticos estão
incluídos nessa definição que estamos usando, mais ampla, seguindo algumas
classificações elaboradas por espanhóis estudiosos do tema, como Artur Parcerisa
Aran. Neste sentido, penso que muitas vezes tratamos os materiais como artefatos
que poderiam ser usados para qualquer conteúdo ou disciplina, mas isso talvez seja
verdadeiro apenas em um pequeno número de situações. Como eles são
mediadores, cada conteúdo a ser ensinado e aprendido necessita um tipo específico
de material, que possa efetivamente contribuir para estabelecer algumas condições
favoráveis para o ensino e a aprendizagem. Há materiais que podem ser – e são –
usados em diferentes disciplinas, como os filmes, por exemplo, mas a forma como
o professor organiza o trabalho deve privilegiar a especificidade do conhecimento
que deseja ensinar, por exemplo o conhecimento artístico ou o histórico, para
lembrar duas disciplinas nas quais o uso desse material é altamente indicado.
TBG – Creio que a resposta anterior indica que todos eles podem ser utilizados,
mas não há uma forma única que se aplique a qualquer situação. Em cada
disciplina, os quadrinhos e a música podem servir para o desenvolvimento de
certas competências gerais, mas também para o aprendizado de outras específicas,
próprias do pensamento e da cognição de cada ciência que a escola deve ensinar.
Apenas para exemplificar essas possibilidades, referencio algumas dissertações
defendidas na Linha de Cultura, Escola e Ensino do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Paraná. Uma delas estudou a presença da
música caipira em aulas de história (Chaves, 2006), mostrando que, mesmo sem
apreciar este gênero, os jovens de ensino médio são capazes de compreender suas
características, trabalhar com as canções e reconhecê-las como parte da cultura
brasileira. Outra pesquisa examinou as relações entre os quadrinhos e o
conhecimento histórico dos alunos (Fronza, 2007), mostrando as possibilidades e
limites para o uso dessa linguagem no caso do ensino de história, e também
apontando os efeitos da intervenção do professor, especialmente ao confrontar os
quadrinhos com outras fontes. A terceira pesquisa procurou verificar que relações
ocorrem entre jovens alunos de periferia urbana com determinados conteúdos da
história a partir de um rap (Rosário, 2009), apontando como esse gênero musical,
que é significativo no contexto da cultura de alguns jovens, pode contribuir para o
estabelecimento de uma relação empática com o conhecimento histórico. Com
esses exemplos, portanto, quero reafirmar dois pontos: a especificidade no uso dos
materiais didáticos em cada disciplina escolar e a necessidade de ampliar as
pesquisas sobre as formas e os efeitos da presença de diferentes materiais nas
aulas.
TBG – As possibilidades são as mais diversas e, nesse tema, muitas pesquisas têm
sido desenvolvidas. Os novos recursos vão chegando, com diferentes ritmos, às
escolas de crianças e jovens, mas às escolas de adultos também. Em alguns casos,
eles já estão absolutamente incorporados ao cotidiano escolar, embora continuem
demandando debates e estudos específicos. Cito aqui, para exemplificar trabalhos
sobre esse tema, uma dissertação que examinou o uso de hipermídia no ensino de
física para a construção de aprendizagens significativas (Artuso, 2006), a partir de
pesquisa de campo na qual sites foram usados para o desenvolvimento de aulas
sobre gravitação universal para alunos do ensino médio. Outra pesquisa analisou a
presença das ferramentas de desenho digitais na construção do conhecimento dos
alunos em cursos de arquitetura e urbanismo (Ferraro, 2008), colocando em
debate, a partir dos resultados, as dificuldades apontadas por eles, especialmente
ligadas aos programas propriamente ditos, os quais não permitem um uso intuitivo
para a elaboração e desenvolvimentos das formas – uma necessidade da disciplina
de projetos. De forma semelhante a qualquer outro material didático, os recursos
tecnológicos constituem-se como uma mediação entre professores, alunos e um
conhecimento específico e, portanto, seu uso requer escolhas, definições,
adequações que se inserem no conjunto complexo das condições nas quais se
produz o ensino e a aprendizagem.