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PESQUISAS EM
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
Maria Escolástica de Moura Santos
Francisco Antonio Machado Araujo
Organização
PERCURSOS DE
PESQUISAS EM
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
2019
Reitor
Prof. Dr. José Arimatéia Dantas Lopes
Vice-Reitora
Profª. Drª. Nadir do Nascimento Nogueira
Superintendente de Comunicação
Profª. Drª. Jacqueline Lima Dourado
1ª edição: 2019
Revisão
Francisco Antonio Machado Araujo
Editoração
Francisco Antonio Machado Araujo
Diagramação
Wellington Silva
Capa
Mediação Acadêmica
Editor
Ricardo Alaggio Ribeiro
19 módulos
Código de Catalogação Anglo-Americano (AACR2)
ISBN: 978-85-509-0447-4
CDD: 370.7
Bibliotecária Responsável:
Nayla Kedma de Carvalho Santos CRB 3ª Região/1188
SUMÁRIO
PREFÁCIO 7
PARTE I – História, Educação e Sociedade
PICOS E A CONSOLIDAÇÃO DE
SUA REDE ESCOLAR 79
Jane Bezerra de Sousa
BOLETIM INFORMATIVO: RECONSTITUIÇÃO DA
HISTÓRIA DO CENTRO DE TECNOLOGIA DA UFPI 97
A PARTIR DE ESCRITOS DE PROFESSORES
Magnaldo de Sá Cardoso
Maria do Amparo Borges Ferro
SOBRE A GÊNESE DA
PÓS-GRADUAÇÃO NO BRASIL 211
Francisco Antonio Machado Araujo
Maria Vilani Cosme de Carvalho
D
ebruçarmo-nos na pesquisa da história da
educação e seus fundamentos em nosso país,
o mesmo podendo ser dito a respeito do Piauí,
significa aceitar os desafios da empreitada e ter a sensibilidade
de perceber a existência de mecanismos de controle e
funcionamento que remontam à organização do sistema
colonizador da América portuguesa. Entre suas estratégias de
controle, destacaram-se os interditos às estruturas de ensino,
que atenderam ao entrelaçamento entre opções políticas e
convicções religiosas de seus dirigentes que, dentre as várias
estratégias de controle negociadas entre a Metrópole e a
Colônia, estabeleceu-se um eficiente aparato de restrição ao
acesso público às letras (SILVA, 2007).
1
Professor Associado do curso de História da Universidade Estadual
do Piauí e da Pós-graduação em História da Universidade Federal do
Piauí. e-mail: marcelo@ccm.uespi.br
PREFÁCIO
TRAJETÓRIAS DE PESQUISA: CONTRIBUIÇÕES PARA
7
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO PIAUÍ
Mesmo regiões marginais da empresa colonial portuguesa,
como as áreas de criatório, não escaparam aos mecanismos
de controle promovidos pela Coroa. Em áreas de criatório, a
exemplo das terras pertencentes hoje ao Piauí, que tiveram um
processo de colonização pautado na pecuária e delineado sob
a marca dos conflitos de terras entre sesmeiros e posseiros, o
desenvolvimento da instrução formal foi marcado pelo signo
da falta de recursos financeiros e pela carência de professores
habilitados para exercerem as atividades de ensino, freando,
portanto, a efetiva implantação de uma educação escolar.
Essa carência na instrução formal no Piauí, em seu
período colonial, pode encontrar explicação na dificuldade de
sua implementação por “ter a sociedade piauiense sido calcada,
essencialmente, na criação de gado vacum e no latifúndio. Isto
gerava fenômenos como o da rarefação da população, além
de uma não necessidade de educação escolar com relação às
atividades produtivas e a fixação do homem na região” (LOPES,
1996, p.43).
Nas regiões com uma economia baseada no criatório,
as experiências educacionais que floresceram se ligavam,
sobretudo, ao meio rural e a um saber prático, influenciando a
história político-social desses locais. Em meio a esse contexto, no
Piauí, no início da organização de suas estruturas e estratégias
de ensino, Alcebíades Costa Filho assevera que,
8
O diferenciado formato de reocupação do território,
associado ao reduzido número de estudos acerca das
sociedades estabelecidas na região, contribuiu para a formação
da concepção de que suas relações sociais seriam mais simples
e com pequena diferenciação entre os sujeitos (MARTINS,
2002) que, por sua vez, levou a simplificações acerca de suas
estratégias de ensino.
Desta feita, justifica-se relembrar que, a partir do final
do século XVII e ao longo do século XVIII, o Piauí apresentou
lenta transformação em sua estrutura econômica (MARTINS,
2002), o que influenciou na sua organização socioeducacional,
fazendo surgir uma sociedade que, em seu início, não tinha
como uma de suas prioridades a educação escolar, dadas
as próprias necessidades de produção e sobrevivência que
prescindiam de um saber formal. Assim, relacionar educação
formal e estruturas produtivas faz-se necessário em razão de
preconceitos constituídos por uma parcela da historiografia,
que tende a simplificar estruturas extremamente complexas e
que se refletiram também sobre as discussões de suas formas
de ensino.
Deve, então, o pesquisador da história da educação
estar atento a esses aspectos acerca do processo educacional
piauiense e, em suas análises, observar de forma mais detida
suas peculiaridades, como a colonização de seu território, que
possuía um modelo econômico próprio baseado na pecuária
extensiva; o aspecto retardatário de implantação do sistema
oficial de ensino em relação a outras regiões do Brasil, e a
convivência do sistema oficial com formas alternativas de
ensino. Desta maneira, compreender a importância e o caráter
diferenciado de sua organização social e espacial, bem como
compreender a constituição das formas de ensino formal
no Piauí, não pode ser dissociado do contexto histórico-
econômico dos mesmos nos séculos XVIII e XIX, pois o processo
PREFÁCIO
TRAJETÓRIAS DE PESQUISA: CONTRIBUIÇÕES PARA
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO PIAUÍ
de constituição e desenvolvimento da instrução formal esteve
diretamente vinculado a suas estruturas produtivas.
Ao se deter o olhar sobre as primeiras experiências de
ensino formal no Piauí, pode-se perceber que, diferentemente
do que se poderia esperar de uma região na qual o saber formal
ofertado em escolas não representava uma prioridade para a
maior parte da população, a documentação e a literatura sobre
o tema põem em destaque a preocupação governamental com
as chamadas Aulas Públicas2, algo que ganhou maior ressonância
a partir do início do século XIX.
As iniciativas desses governantes, no entanto, ficaram
restritas mais a discursos do que a ações, frequentemente
solicitando criação de escolas em suas falas, mas não oferecendo
solução ao problema (SOUSA NETO, 2015). As Cadeiras de
Instrução, quando criadas, não eram providas ou, se providas,
muitas vezes não funcionavam, resultado do modelo adotado
de Instrução Pública, inadequado aos interesses da maioria da
população, tendo se desenvolvido “de modo lento, insuficiente
para o atendimento da população e permeada de criações e
extinções de escolas, devido à própria organização da produção
e do trabalho e ao modo como este vai se povoando” (LOPES,
1996, p. 39).
Assim, no Piauí, e por todo o Brasil, frente à ineficiência
das ações públicas, surgiram paralelamente formas alternativas
de ensino, a exemplo das escolas familiares ou domésticas, modelo
que perdurou para além do período colonial, no qual o ensino
era ministrado no espaço doméstico por familiares letrados,
religiosos ou mestres contratados (VASCONCELOS, 2005).
Nessas escolas, ministravam-se aulas ligadas a um saber formal,
2
Após a expulsão dos Jesuítas, o termo Escola era utilizado com o mesmo
sentido de Cadeira ou Aula. Cada Aula, de responsabilidade de um
único professor, representava uma unidade escolar, uma Escola ou Aula
Pública.
10
mas também ligadas a um saber prático, focado na lida diária
da vida no campo, representando uma tentativa de preencher
o vazio deixado pela escola pública e responder às necessidades
locais.
Logo, ao se olhar de forma mais detida para a organização
da Instrução Pública no Piauí, percebe-se que, em seus
primeiros séculos, ela se caracterizou por sua condição precária,
inconstante e pelo reduzido alcance social, como resultado
de uma série de fatores que se interpenetraram, podendo ser
destacadas as distâncias entre escolas e alunos, distâncias
físicas e de interesses; a inadequação da estrutura do sistema
de ensino em relação à estrutura socioeconômica; a falta de
recursos a serem investidos e a carência de pessoal qualificado
e interessado no exercício do magistério (SOUSA NETO, 2013),
aspectos que reverberaram ao longo do tempo e que deixaram
marcas que se alongaram ao século XX, ampliando o desafio
aos que se dedicam ao estudo da história e dos fundamentos
da educação no Piauí.
A atenção a alguns desses aspectos se encontram em
destaque nas pesquisas que originaram a presente obra,
fazendo-nos perceber que o desafio de investigar a história da
educação e seus fundamentos tem, a cada dia, despertado a
atenção de um número crescente de pesquisadores, fenômeno
também percebido na historiografia piauiense, refletido no
forte crescimento de pesquisas sobre a temática e que encontra
na presente coletânea, Percursos de Pesquisas em História da
Educação, um importante esforço na divulgação destas.
Atento a diferentes temas, objetos e metodologias de
pesquisa, o livro se encontra estruturado em duas grandes
partes, cujos títulos são História, Educação e Sociedade, e História,
Memória e Educação Escolar, com o intuito de aproximar interesses
e metodologias afins e, assim, conferir uma maior articulação
entre as pesquisas apresentadas e os interesses dos leitores.
PREFÁCIO
TRAJETÓRIAS DE PESQUISA: CONTRIBUIÇÕES PARA
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO PIAUÍ
Em sua primeira parte, História, Educação e Sociedade,
encontramos a contribuição de Luís Távora Furtado Ribeiro,
intitulada História social e de uma personagem da educação na literatura
clássica e popular, que trata do nordeste brasileiro, especialmente
sobre o Ceará no tempo da severa seca de 1915, apresentando
uma sociedade e uma economia de subsistência sem geração
de excedente, devastada pela estiagem, tomando por livro base
para suas discussões “O Quinze”, de Rachel de Queiroz, de
1930.
Em seguida, encontramos o capítulo intitulado Educação,
história e memória cultural de Ilha grande do Piauí: o olhar do griô Zé
Santana (1970-2015), de autoria de José Marcelo Costa dos
Santos e Maria do Amparo Borges Ferro. Neste capítulo, os
autores se debruçam sobre a ação cultural de Raimundo José do
Nascimento, o griô Zé Santana, e sua influência na educação,
história e cultura do povo do município de Ilha Grande do
Piauí, no recorte de 1970 a 2015, analisando sua influência na
educação, história e cultura dos ilhagrandenses, investigando,
ainda, como se deu o seu processo de formação como um
educador cultural.
Maria Escolástica de Moura Santos e Mayara Macedo
Melo nos apresentam o capítulo Trabalho e educação da infância
pobre na proposta da FUNABEM (1964-1990): adaptação e reprodução
das desigualdades sociais. Neste, as autoras analisam as políticas
de educação para crianças pobres no período da Ditadura
Militar brasileira, a partir da revisão de literatura e de análise
documental que demonstram que a política nacional do bem-
estar do menor desdobra-se de forma gradual por meios de
duas linhas de ação, a primeira é a terapêutica, constituída de
um conjunto de ações interventivas destinadas a atender os
menores definidos como carentes e os de condutas antissociais e,
a segunda é a preventiva, composta por programas que visavam
atender as crianças e os adolescentes que se encontravam em
vias do processo de marginalização.
12
A segunda parte do livro, História, Memória e Educação
Escolar, inicia-se com o capítulo Picos e a consolidação de sua
rede escolar, de Jane Bezerra de Sousa. No capítulo, Jane
Bezerra analisa o processo de consolidação da rede escolar
da cidade de Picos-PI, ocorrido entre os anos de 1929 a 1949,
em que trata da estruturação da rede escolar picoense em
substituição ao ensino do mestre-escola na região que, para
a autora, manifesta-se pela implantação de escolas de ensino
regular, a exemplo do Grupo Escolar Coelho Rodrigues, Escola
Municipal Landri Sales, Instituto Monsenhor Hipólito e o
Ginásio Estadual Picoense. Em sua construção, para além do
processo de fundação destas instituições escolares, a autora
põe em evidência aspectos da cultura escolar, do cotidiano das
práticas pedagógicas adotadas e da participação da sociedade
na consolidação destas instituições educativas.
O capítulo Boletim informativo: reconstituição da história
do Centro de Tecnologia da UFPI através de escritos de professores,
de autoria de Magnaldo de Sá Cardoso e Maria do Amparo
Borges Ferro, dá sequência à obra. Neste estudo, os autores
apresentam a análise da primeira edição do Boletim Informativo
do Departamento de Estruturas do Centro de Tecnologia,
da Universidade Federal do Piauí, de junho de 1985, e suas
reverberações naquele Centro. Em sua escrita, os autores
procuram, a partir de pesquisa de natureza qualitativa, discutir
como a iniciativa de publicação do periódico influenciou na
formação continuada e na prática de ensino de seu corpo
docente.
Na sequência, encontramos o capítulo Escola Técnica Federal
do Piauí: um olhar sobre a formação dos professores, de Samara Maria
Viana da Silva Lacerda, que propõe analisar a formação de
professores na Educação Profissional no Piauí, oportunidade
que procura discutir a importância da formação de professores
para a educação profissional, adotando a metodologia da
História Oral como ferramenta de pesquisa.
PREFÁCIO
TRAJETÓRIAS DE PESQUISA: CONTRIBUIÇÕES PARA
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO PIAUÍ
Djane Oliveira de Brito nos traz como contribuição o
capítulo O Projeto Logos e a formação de professores leigos no Piauí
(1973-1993), estudo que problematiza o Projeto Logos no Piauí,
que se configurou como importante política pública para a
formação de professores leigos no Brasil, adotando para seu
estudo o recorte temporal de 1973 a 1993, anos do início e do
final de funcionamento do curso no Piauí.
Maria Dalva Fontenele Cerqueira nos contempla com
o capítulo A Cidade e as Letras: a modernização do Ensino Primário
em Parnaíba-PI nas primeiras décadas do Século XX, em que procura
discutir o processo de modernização da educação escolar,
significado por meio da construção do Grupo Escolar Miranda
Osório, na década de 1920, na cidade de Parnaíba-PI. Para a
autora, a construção do Grupo Escolar insere-se como parte
do processo de modernização escolar da cidade de Parnaíba,
que resultou na construção de uma rede de escolas públicas
municipais na cidade e na adoção de um programa escolar que
passou a ser modelo para as escolas estaduais.
Na sequência, temos o capítulo Tecendo histórias sobre a
formação de professores de matemática no Piauí: da FAFI à UFPI, de
Neuton Alves de Araújo e José Augusto Mendes Sobrinho.
Neste estudo, os autores dedicam-se a contextualizar aspectos
históricos da formação de professores de Matemática no estado
do Piauí, desde a criação da Faculdade Católica de Filosofia
do Piauí – FAFI, aos dias atuais, na Universidade Federal
do Piauí -UFPI. Como metodologia de pesquisa, adotam
a História Oral e a pesquisa bibliográfica, contribuindo,
assim, significativamente com a historiografia da Educação
Matemática no Brasil e no Piauí, bem como abordam a
implantação dos Cursos de Licenciatura no Piauí, tendo como
ponto de partida a criação da FAFI.
Por fim, encerrando a obra, temos o capítulo Percurso
histórico da pós-graduação no Brasil: uma análise dos Planos Nacionais
14
de Pós-Graduação, de autoria de Francisco Antonio Machado
Araújo e Maria Vilani Cosme de Carvalho, que discute a
institucionalização da Pós-graduação no Brasil, tomando
como referência os princípios, objetivos e diretrizes gerais
estabelecidos na legislação pelas agências reguladoras
durante as décadas de 1960 e 1970. Em sua construção, os
autores destacam que o delineamento da Pós-graduação no
Brasil foi definido por princípios, objetivos e diretrizes gerais
estabelecidos pelas agências reguladoras.
Esta obra coletiva significa, assim, um importante
esforço na direção da consolidação dos estudos em História
da Educação no Piauí, mas também o reconhecimento dos
permanentes desafios de pesquisa, seja pelas dificuldades
de acesso às fontes, seja pela infinitude de questionamentos
que lançamos aos objetos, o que torna ainda mais relevante
a construção da presente obra, fruto da energia e do labor
de pesquisadores mais jovens e pesquisadores experientes
oriundos de diferentes instituições. Dessa forma, lançam-se
olhares em diversas direções e focos, que resultam em uma
obra que enriquece nossa historiografia e servirá de referência
ao desenvolvimento de novas pesquisas.
Resta-nos, então, deixar o convite para que aproveitem a
leitura.
Referências
PREFÁCIO
TRAJETÓRIAS DE PESQUISA: CONTRIBUIÇÕES PARA
15
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO PIAUÍ
MARTINS, Agenor de Sousa [et al.]. Piauí: evolução, realidade
e desenvolvimento. Teresina: Fundação Cepro, 2002.
16
HISTÓRIA SOCIAL E DE UMA
PERSONAGEM DA EDUCAÇÃO NA
LITERATURA CLÁSSICA E POPULAR
E
sse artigo é um ensaio sobre história social e de
uma personagem da educação a partir de três
livros clássicos da literatura. Apresenta um recorte
temporal de aproximadamente um século, tratando de
acontecimentos trágicos motivados pela pavorosa seca de 1915
que atingiu o nordeste brasileiro, particularmente o Ceará. O
resgate se baseia no romance O Quinze de Rachel de Queiroz,
um clássico da literatura modernista no romance regionalista
brasileiro. Além dele, se orienta nos relatos também clássicos
em literatura popular de cordel se utilizando dos livros A
Seca do Ceará de Leandro Gomes de Barros e de outro livro
em forma de folheto intitulado O Quinze, releitura em versos
do livro de Rachel de Queiroz, escrita numa adaptação por
Stélio Torquato. A jovem professora Conceição, brevemente
biografada aqui, é apresentada por Rachel de Queiroz como
leitora voraz e que recentemente “rabiscara dois sonetos” e que
1
Conferir: Perfil Geossocioeconômico: um olha para as macrorregiões
de Planejamento do Estado do ceará/ Fortaleza: IPECE, 2014. Dados
mais atualilzados estão disponíveis em WWW.ipece.ce.gov.br
Referências
N
osso estudo contempla aspectos da educação,
história e memória cultural do povo de Ilha
Grande do Piauí, no seio da Ilha Grande de
Santa Isabel – a maior ilha do Delta do Rio Parnaíba, a partir do
fazer do griô1 Zé Santana que, dentre outras ações, se dedicou
a contar e cantar peculiaridades dessa comunidade em suas
produções ao longo de décadas.
O recorte temporal de 1970 a 2015 compreende o
período de participação de Zé Santana na cultura e educação
da cidade, por meio das suas atividades como líder de grupos
1
Nomeação dada ao indivíduo que desenvolve atividades na comunidade
em que vive, fazendo com que os habitantes o reconheçam como um
líder, um figura de expressão que representa e multiplica uma cultura
(PACHECO, 2006).
2
Assim denominadas as rodas de bumba-meu-boi da região.
38 José Marcelo Costa dos Santos • Maria do Amparo Borges Ferro
saberes, em diferentes perspectivas. Dessa forma, o trabalho
que propusemos se constitui na ótica de educação a partir de
ações voltadas à cultura, em diferentes possibilidades de ensino
e de aprendizagem.
40 José Marcelo Costa dos Santos • Maria do Amparo Borges Ferro
As representações do mundo social assim construídas,
embora aspirem à universalidade de um diagnóstico
fundado na razão, são sempre determinadas pelos
interesses de grupo que as forjam. Daí, para cada caso, o
necessário relacionamento dos discursos proferidos com a
posição de quem os utiliza (CHARTIER, 1990, p. 17).
42 José Marcelo Costa dos Santos • Maria do Amparo Borges Ferro
máquinas que constituem indícios ou a realização de teorias ou
de críticas dessas teorias, de problemáticas, etc.” (BORDIEU,
2007, p. 74). Nesse sentido, fazemos menção ao acervo escrito
de Zé Santana, que reflete o povo do Delta do Parnaíba – os
ribeirinhos ilhagrandenses, em letras e cantos, além do fato de
que esse griô ensinou diversas pessoas no campo da linguagem
e do artesanato.
No estado institucionalizado é conferido ao indivíduo o
capital cultural por meio da certificação, do diploma, como
o escolar, por exemplo, “que é, supostamente, a garantia –
propriedades inteiramente originais.” (BORDIEU, 2007, p. 74).
Nesse viés, Zé Santana também pode ser relacionado, uma vez
que frequentou a instituição escolar em diversos momentos
da sua vida, atividades que lhe conferiram os certificados de
Auxiliar de Enfermagem e de conclusão do Ensino Médio.
Ressaltamos ainda, que esse griô possui uma certificação
empírica, conferida a partir dos saberes, dos ofícios, das
habilidades das quais é detentor. Nas hierarquias sociais, o
agente é direcionado a noções de conduta e comportamento,
uma espécie de mapa mental daquilo que é regra e o que é
obstrução desta na convivência em sociedade. Ocorre que o
agente não se limita a seguir, à risca, esses direcionamentos,
caracterizando o que Bordieu (2003, p. 125) chamou de
habitus, ou seja, um conjunto de “disposições adquiridas pela
aprendizagem implícita ou explícita que funciona como um
sistema de esquemas geradores [...] de estratégias”.
Segundo o autor, esses esquemas podem corresponder
àquilo que o indivíduo expressa como interesse, embora não
tenham sido criadas, exatamente, para essa função. Nesse
ensejo, o habitus compreende a ação ou o conjunto de ações
do indivíduo, que lhe permite ser criativo, modificar, sair do
que foi estipulado, ainda que seja conhecedor e praticante das
atribuições sociais impostas pela sociedade dominante. Zé
44 José Marcelo Costa dos Santos • Maria do Amparo Borges Ferro
seleção do que é considerado importante. A memória
constrói, reconstrói, reelabora e ressignifica o passado
(FERRO, 2010, p.40).
46 José Marcelo Costa dos Santos • Maria do Amparo Borges Ferro
comunidade onde, na interação entre esses modos e jeitos,
seja possível a transmissão de tradições, o repasse de valores,
a linguagem, os costumes, possibilitando aos sujeitos que a
formam, criar, recriar, educar, transformar sua vida e a dos seus
pares.
Metodologia
48 José Marcelo Costa dos Santos • Maria do Amparo Borges Ferro
No Brasil, é possível encontrar diversas categorias de
griôs, principalmente nas comunidades rurais, onde circulam
os cantadores, os contadores de histórias, os poetas, os
apaziguadores de conflitos entre famílias, os conselheiros, os
artesãos, os mestres (representantes de uma cultura) do povo,
como é exemplo Zé Santana.
Esse griô, além de desenvolver práticas de oralidade,
também tem um acervo escrito, que organizamos em categorias
textuais, onde identificamos 108 textos, em diferentes gêneros:
poemas, letras de música, toadas, repentes, hinos e orações,
crônicas e lendas. Essas produções trazem em seu conteúdo
aspectos da história e da memória cultural do povo de Ilha
Grande do Piauí.
Nos versos “[...] A cultura da terra de Simplício Dias. /
No passado foi Testa Branca, / Foi Vila de São João. / Hoje é
cidade do turismo, / Parnaíba do meu coração.”, da letra da
música Clareou, Zé Santana aponta a formação de Parnaíba e,
portanto, a história da história do povoado Morros da Mariana
– gênese do município de Ilha Grande do Piauí.
Não é possível falar da origem desse lugar sem recorrer
à formação da cidade de Parnaíba, que foi fundada em 1762,
como o título de povoado “Testa Branca”, sendo uma pequena
formação composta por quatro fogos3, oito pessoas livres e
onze escravos, conforme postula Rego (2010, p 39):
3
Fogos eram formas de habitações onde residiam pessoas da mesma
família e até mesmo de famílias diferentes (REGO, 2010).
4
Denominação dada pelo fato da grande concentração de volumes de
sal trazidos para o porto por conta das charqueadas da Família Dias da
Silva.
50 José Marcelo Costa dos Santos • Maria do Amparo Borges Ferro
que se fixou em Morros da Mariana (1884), desenvolvendo
atividades voltadas ao plantio da cana-de-açúcar e à criação de
gado, o que resultou na construção de engenhos de cana, que
prosperaram e impulsionaram a economia local.
Em Lembranças dos Morros da Mariana, o griô Zé Santana
faz alusões aos festejos católicos característicos do período
evidenciado, descrevendo as noites em Morros da Mariana,
onde a população se reunia para apreciar (após as celebrações
religiosas) os eventos culturais, gastronômicos e sociais que
eram oferecidos como: barracas, parquinhos de diversão,
leilões, festas, etc.
Na música Uma casinha lá em cima do alto, Zé Santana
descreve as dificuldades da vida da maioria dos moradores
da região. O poema Ai, saudade exemplifica a rotina nas tardes
desses povoados: após chegarem da lida, os rapazes se reuniam
nas “baixas” (campos improvisados) para jogar futebol, muitas
vezes com bola feita de meia velha, cheia de retalhos. O poema
Emancipação de Ilha Grande foi criado na década de 1990 e faz
referência ao principal movimento sociopolítico da época: a
luta em prol da emancipação.
Nos textos: “Minha Cidade”, “Meu lugar”, “Coração
do Brasil”, “Boi de Ilha Grande”, “Lembranças do Boi”, o
griô apresenta as diversas tradições que formam a memória
cultural dos ilhagrandenses: a brincadeira de boi, a tradição
das pastorinhas, as quadrilhas caipiras, as regatas de canoas,
os tradicionais carnavais, etc.
Essas obras mostram como Ilha Grande do Piauí é um
delta dentro do grande Delta do Parnaíba. Um delta de riquezas
naturais e culturais, que brotam das mãos, da voz e do corpo de
cada ribeirinho que manifesta as tradições do seu lugar, como
forma de extensão da própria vida na vida da comunidade.
Assim se formaram as várias tradições desse lugar,
cantadas e poetizadas em algumas das obras do griô Zé Santana
52 José Marcelo Costa dos Santos • Maria do Amparo Borges Ferro
levado para todos, porque quando a gente lê, a gente se vê
dentro disso, é como se a gente fosse caminhando com ele,
eu fico emocionada de ver! (SANTOS, 2017, s/p.).
5
O poeta da brincadeira de boi, aquele que canta as toadas e produz os
repentes no grupo (ARAÚJO, 2017).
54 José Marcelo Costa dos Santos • Maria do Amparo Borges Ferro
orientação moral. Quando indagado sobre a identificação
de Zé Santana como possível educador cultural, ele salientou:
“Sim, pelo que ele tem feito aqui, nas coisas que ele produziu,
não só no boi, mas isso tudo que tem escrito, essas coisas são
importantes demais para Ilha Grande toda” (ARAÚJO, 2017,
s/p.).
Os depoimentos dos participantes confirmaram a
importância da ação de Zé Santana na educação e cultura de
Ilha Grande. Temos nesse griô, o que Pinheiro (2016) postula
em relação ao mestre-escola Miguel Guarani, ao relacioná-lo
com uma “biblioteca viva”. Zé Santana confirma a metáfora
da biblioteca, ou seja, é um “acervo vivo” de conhecimentos
acerca das tradições do seu lugar de origem, bem como dos
ofícios, saberes e do modo de vida do seu povo.
Desta feita, “Cantar a terra natal, dizer o seu
significado, emoldurá-la em versos, apontar seus encantos e
desencantos, imortalizar seu povo, dizer a cultura local com
suas particularidades, fez do poeta um retratista do tempo,
um desenhista da vida, um arquiteto das gentes” (PINHEIRO,
2016, p. 24). Se relacionarmos essa menção à ação do griô Zé
Santana, identificamos facilmente as molduras, as fotografias,
os desenhos, e os formatos da Ilha Grande do Piauí, nas letras
e nos cantos desse poeta da vida.
Nesse ensejo, e considerando: que educação, à luz de
Freire (1987), é um processo de transformação do homem, de
construção de cidadania e de reconhecimento de sua própria
identidade cultural; que educador é aquele que possibilita
aprendizado a partir de ações concretas, vivas (LUCKESI,
2005); e que a cultura pode transformar a natureza, o homem
em si mesmo e o outro (WERNECK, 2003), referenciamos
Zé Santana como um educador cultural, uma vez que este
desempenhou, e desempenha, atividades de formação cultural
humana, através de práticas que fomentam a construção da
Considerações finais
56 José Marcelo Costa dos Santos • Maria do Amparo Borges Ferro
Suas ações dentro da comunidade fizeram dele uma
espécie de “educador cultural”, uma vez que o seu fazer
possibilitou diferentes formas de aprendizado e de construção
de conhecimentos sobre a vida e a cultura no espaço da cidade
em questão, sendo um parceiro em potencial para as atividades
desenvolvidas nas escolas da região.
Compreendemos que a escola é um ambiente
multicultural, onde é possível desenvolver atividades que
potencializem o pertencimento da comunidade com a cultura
que desenvolve, no sentido de compartilhar as tradições que
lhes são intrínsecas, em um processo de interação e construção
coletiva.
Nesse ensejo, vemos em Zé Santana um agente de cultura,
realmente um educador cultural, que pode e deve ser inserido
nas práticas educativas, pois tem muito a contribuir, tanto
no que diz respeito ao material que já produziu em forma de
acervo, como pela experiência que possui no trato de práticas
de linguagem e do artesanato.
Esse griô não deve continuar sendo apenas um ex-amo de
boi que, esporadicamente, é procurado para compor músicas
ou animar eventos pontuais nas comunidades. Sua atuação e
sua relevante participação em prol da cultura do município o
licenciam a integrar, efetivamente, as práticas que envolvem
educação, arte, cultura e literatura, como por exemplo,
ministrando oficinas para crianças, adolescentes e jovens sobre
a confecção do boi; oficinas de produção de toadas e repentes;
conversas e rodas literárias sobre os gêneros que compreendem
seu acervo; parceria nas escolas para atividades em torno da
cultura; etc.
Dessa forma, essa pesquisa se constituiu como uma
oportunidade de se pensar a relação entre a educação e a
cultura de tradição viva na escola, no sentido de possibilitar
formas de fortalecimento dessas relações, trazendo a discussão
Referências
58 José Marcelo Costa dos Santos • Maria do Amparo Borges Ferro
COSTA, João da Cruz. Os Lucianos: uma descendência de dois
séculos disseminada por 16 Estados, com origem no Piauí.
Brasília: Valci Editora, 1996.
SANTOS, José Luiz dos. O que é Cultura. 14. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1994.
60 José Marcelo Costa dos Santos • Maria do Amparo Borges Ferro
TRABALHO E EDUCAÇÃO DA
INFÂNCIA POBRE NA PROPOSTA DA
FUNABEM (1964-1990): ADAPTAÇÃO E
REPRODUÇÃO DAS DESIGUALDADES
SOCIAIS
N
este trabalho apresentamos resultados parciais
de pesquisa, ainda em andamento, que busca
analisar as políticas de educação para crianças
pobres no período da Ditadura Militar brasileira. Está
fundamentado nos pressupostos do Materialismo Histórico
e Dialético e tem como objetivo analisar a relação trabalho e
educação na proposta da Fundação Nacional do Bem-Estar
do Menor – FUNABEM. Esta foi criada pela lei nº 4.513, de 1º
de dezembro de 1964 e se constituiu como a principal política
de atendimentos a crianças e adolescentes em situação de
desamparo e/ou em conflito com a lei até os anos 1990, quando
foi promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.
O estudo desenvolvido tem sido fundamental para
Considerações finais
Referências
______. Para uma ontologia do ser social. Livro II. 1 ed. São
Paulo: Boitempo, 2013.
T
odas as sociedades possuem a sua história, com a
cidade de Picos (PI) não seria diferente, ali também
existe na memória do povo e nos documentos
escritos, as marcas na cidade dos tempos passados, o cotidiano,
as emoções, a vida privada, histórias que perpassaram de “boca
em boca” e sobreviveram no tempo, mas que correm o risco de
se perderem, caso não sejam escritas ou registradas.
Picos (PI), localiza-se à margem direita do rio Guaribas,
estando rodeada de montes picosos, que lhe legaram o nome.
É o principal entroncamento rodoviário do Estado e o segundo
do Nordeste. Localiza-se a 306 km da Capital Teresina (PI). O
início do povoamento deu-se com a vinda de compradores de
cavalos, originados de Pernambuco e Bahia. O primeiro lugar a
ser devassado foi o atual município de Bocaina, em que Antonio
1
Este artigo é parte da dissertação de mestrado da autora, intitulada:
Picos e a consolidação de sua rede escolar : do Grupo Escolar ao
Ginásio Estadual.
Referências
Magnaldo de Sá Cardoso
Maria do Amparo Borges Ferro
Considerações iniciais
E
ste trabalho1 apresenta um estudo sobre a publicação
do Boletim Informativo do Departamento de
Estruturas e sua influência no processo político
de escolha de diretores para o Centro de Tecnologia (CT) da
Universidade Federal do Piauí (UFPI).
O Centro de Tecnologia foi implantado através da
Resolução nº 38 do Conselho Universitário, em 25 de agosto de
1
Texto oriundo da comunicação intitulada: Boletim informativo do
Departamento de Estruturas do Centro de Tecnologia da Ufpi: uma
estratégia de legitimação, apresentada na “III Jornadas de estúdio sobre
Prensa pedagógica de los professores. Su contribución al patrimonio
histórico educativo, celebradas em la Facultad de Educación de la
Universidad de Salamanca los días 18, 19 y 20 de octubre de 2018”.
2
A década dos anos de 1980 é marcada no cenário nacional pela
abertura política (1974 a 1988), com o retorno ao país de exilados
que foram expulsos, pelo então governo militar (1964 a 1985), a partir
do ano de 1964. Retornaram ao Brasil inúmeras personalidades
das mais diversas áreas do conhecimento, nomes como o do político
Leonel Brizola, o educador Paulo Freire, os músicos Chico Buarque de
Holanda, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, entre outros,
fizeram parte desse rol de notáveis brasileiros que tiveram devolvidos
seus direitos políticos.
3
A foto da capa do Boletim destaca a Ponte Metálica João Luiz Ferreira,
sobre o Rio Parnaíba, que liga as cidades de Teresina, Capital do
Estado do Piauí à vizinha cidade de Timon no Estado do Maranhão.
Esta ponte foi a primeira obra construída sobre o Rio Parnaíba ligando
os Estados do Piauí e Maranhão.
Considerações finais
Referências
A
Escola Técnica Federal do Piauí (ETFPI), lócus
desta pesquisa passou por algumas mudanças,
na sua denominação, no decorrer de sua
história. Quando fundada em 1910 foi denominada Instituto
de Educandos Artífices, logo após, Escola de Educandos
Artífices, depois recebeu o nome de Liceu de Artes e Ofícios,
Liceu Industrial do Piauí, Escola Industrial de Teresina, Escola
Industrial Federal, Escola Técnica Federal do Piauí, Centro
Federal de Educação Tecnológica do Piauí e por último Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí.
Desde a sua fundação, a Escola Técnica Federal do Piauí
oferece cursos profissionalizantes para a sociedade piauiense.
A princípio visava alcançar a camada menos favorecida da
sociedade através das oficinas de serraria, fundição, ferraria,
marcenaria e alfaiataria e cursos de Letras, Desenho e
Aperfeiçoamento.
1
O nome da entrevistada foi preservado, mantendo assim o sigilo da
entrevista.
Considerações finais
Referências
D
entre as políticas públicas voltadas para o campo
educacional no Brasil, verificamos algumas que
foram destinadas à formação de professores.
No início da década de 70, o governo brasileiro idealizou e
implementou o Projeto Logos, que foi planejado nacionalmente
– mas com organização, gerenciamento e execução distribuídos
entre os governos federal, estaduais e municipais – com a
finalidade de reduzir o elevado quantitativo de professores em
exercício no magistério sem a devida formação, os chamados
professores leigos.
Objetivamos, nesse sentido, apresentar o Projeto
Logos em suas duas fases: Logos I e Logos II, cujo período de
implantação e execução ocorreu no intervalo de 1973 a 2001.
Destacaremos, ainda, o contexto sócio-histórico no qual
o Projeto estava inserido, o público ao qual se destinava, a
legislação que o amparava, a técnica de ensino utilizada e os
1
Entendemos que a autora utiliza o termo “reciclar” muito mais por
uma questão terminológica da época, e que esta expressão assemelha-
se e tem sentido análogo ao que hoje denominamos de formação
contínua. Para Gondim (1982, p. 15), professores leigos são aqueles
“que não tem habilitação adequada para o magistério, além disso, em
geral, apresentam precário nível de formação geral, como primário
incompleto, primário completo, ginásio incompleto e, no melhor dos
casos, ginásio completo”.
2
Conforme Gondim (1982, p. 15): “Sua finalidade foi titular como
regente de ensino o professor com primário incompleto e preparar para
a função de supervisor do sistema educacional de ensino, o professor
egresso de escola normal de grau ginasial. [...] Este programa esteve em
vigor no Piauí, entre os anos de 1965 e 1970”.
3
De acordo com Gondim (1982, p. 16, apud SILVA, 1966, p. 1): “Ele
teve o objetivo de “preparar os ginasianos ou pessoas com curso
clássico, científico ou comercial para o exercício do magistério primário
no Estado, uma vez que é insuficiente o número de normalistas”
(SILVA, 1966, p. 1). O curso atingiu também professores leigos com
escolaridade de nível ginasial”.
4
Para Gondim (1982, p. 16 apud CASTELO BRANCO, 1979, s. p.):
“Seu objetivo original foi: “Complementar o Curso de Emergência para
legalizar a situação dos professores, dele egressos, com qualificação
incompleta” (CASTELO BRANCO, 1979, p. s/n.º). Atualmente, o curso
propõe-se “Habilitar professores leigos, em exercício nas Unidades
Escolares de 1º grau da rede oficial, a nível de 2º grau, para exercício de
magistério de 1º grau” (CASTELO BRANCO, 1979, p. s/n.º)”.
5
Conforme DSU/MEC (1974, p. 12): “Foram selecionados os Estados
do Piauí e da Paraíba não só por contarem com grande número de
professores não titulados como também por não disporem, a curto
prazo, de planos abrangentes para a qualificação ou habilitação dos
mesmos. Os Territórios Federais foram incluídos por constituírem
atribuições diretas do Governo Federal”. Ainda segundo DSU/MEC
(1974, p. 74): “O território federal do Amapá não participou do
Projeto, visto ter comunicado que possuía programa próprio para os
professores leigos”.
6
Conforme Rebêlo (2014, p. 39-42): “O Projeto Minerva foi criado
no Brasil no ano de 1970 pelo Serviço de Radiodifusão Educativa do
Ministério da Educação e Cultura. No período, as emissoras de rádio
eram obrigadas a destinar gratuitamente, cinco horas semanais de
sua programação, aos programas educativos em funcionamento no
país, e era exatamente este expediente que viabilizava a transmissão do
Minerva. Ao longo dos dias úteis da semana, os programas dispunham
diariamente de trinta minutos. [...] o governo organizou o ensino
em várias modalidades, dentre elas, o ensino supletivo e a distância
(Projeto Minerva), que correspondia ao ensino de 1º Grau aos jovens
e adultos que não haviam cursado a escolaridade obrigatória na idade
estabelecida. Deste modo, o ensino formal a distância, foi inicialmente,
operacionalizado pelo Projeto Minerva, que tinha como objetivo a
preparação dos alunos para os exames supletivos e, consequentemente,
a qualificação de mão de obra, a curto prazo, que viesse atender ao
processo de desenvolvimento do país.”.
7
Conforme o DSU/MEC (1975, p. 23), nesse período (1975 a 1979), 52
municípios piauienses foram contemplados com o Logos II, a saber:
São Pedro, Agricolândia, Água Branca, Monsenhor Gil, Barro Duro,
Teresina, José de Freitas, União, Beneditinos, Miguel Alves e Demerval
Lobão (núcleo em Teresina); Campo Maior, Barras, Castelo do Piauí,
Alto Longá e Altos (núcleo em Campo Maior); Piracuruca, Pedro II,
Batalha, Capitão de Campos e Piripiri (núcleo em Piracuruca); Picos,
Francinópolis, Fronteira, Paulistana, São Julião, Pio IX e Santa Cruz
(núcleo em Picos); Várzea Grande, São José do Peixe, São Francisco
do Piauí, Santo Inácio, Ipiranga, Simplício Mendes, Valença, Elesbão
Veloso, Oeiras (núcleo em Oeiras); Guadalupe, Marcos Parente, Nazaré
do Piauí, Manoel Emídio, Landri Sales, Regeneração, Amarante, São
Gonçalo e Floriano (núcleo de Floriano); Luiz Correia, Buriti do Lopes,
Esperantina, Luzilândia e Parnaíba (núcleo de Parnaíba).
8
Comunicação e Expressão (Língua Portuguesa, Literatura Brasileira,
Educação Artística); Estudos Sociais (Geografia, História, OSPB,
Moral e Cívica); Ciências (Matemática, Ciências Físicas e Biológicas,
Programa de Saúde) (BRASIL. DSU/MEC, 1975, p. 57).
9
História da Educação, Psicologia Educacional, Sociologia Educacional,
Est. Func. Ensino de 1º Grau, Org. do Trabalho Intel., Téc. Prep.
Mat. Didático, Didática Geral, Didática da Linguagem, Didática da
Matemática, Didática dos Est. Sociais, Didática de Ciên. Fís. e Biol.,
Didática da Educ. Artística, Didática de Educ. Física, Recreação e
Jogos, Técnicas de Estudo, Informações Pedagógicas, Currículos de 1º
Grau, Orientação Educacional (BRASIL. DSU/MEC, 1975, p. 57).
Considerações finais
Referências
N
a primeira metade do século XX, imbuída pelo
ideal republicano de ordem e progresso, os
parnaibanos adotaram medidas na cidade,
pautadas no ideal de modernidade, alinhados aos discursos
dos republicanos, que defendiam transformações no espaço
urbano, pelas quais passaram muitas cidades brasileiras nas
primeiras décadas do período republicano. Em Parnaíba, foram
realizadas transformações urbanas, como a remodelação no
espaço urbano, serviços públicos, a construção da Estrada de
Ferro Central do Piauí, pavimentação das ruas, eletricidade.
Além das transformações no espaço urbano, os parnaibanos
adotaram medidas que visavam à modernização da escola
pública.
Para conhecer as medidas modernizadoras adotadas
pelos parnaibanos, especialmente o grupo formado pelos
Educação e a modernidade
1
O edifício-escola é como Ester Buffa (2002) nomeia os edifícios
projetados especialmente para abrigar escolas primárias no Brasil.
2
Ademar Gonçalves Neves nasceu em Parnaíba (PI) no dia 09 de
novembro de 1883, filho do Major Felipe Gomes Neves, de ascendência
portuguesa, e de Maria Madalena Gonçalves, de tradicional família
parnaibana. Ademar fez seus estudos de primeiras letras em Parnaíba,
seguindo para São Luis (MA) de lá para Europa, onde se formou
em Contabilidade e Comércio. De volta à Parnaíba, assume a firma
comercial da família, tornando-se um dos grandes comerciantes da
cidade. Após a “revolução” de 1930, foi indicado pela Associação
Comercial de Parnaíba para assumir o Governo Municipal, cargo
que ocupou de 25 de fevereiro de 1931 a 25 de março de 1934. Para
maiores informações Cf. SILVA, Josenias dos Santos. Parnaíba e o
avesso da Belle Époque: cotidiano e pobreza (1930-1950). 2012. 120
f. Dissertação (Mestrado em História do Brasil) - Universidade Federal
do Piauí, Teresina, 2012.
3
Humberto de Campos Veras nasceu em Miritiba (MA) em 25 de outubro
de 1886, filho de Joaquim Gomes de farias Veras, pequeno comerciante
e Anna Theodolina de Campos Veras. Órfão de pai desde os seis anos
de idade, residiu durante algum tempo em São Luís (MA), indo em
1983 para Parnaíba (PI), onde morou até 1900. O autor aborda essa
estadia em Parnaíba em seu livro “Memórias”.
4
Cf. SILVA, Josenias dos Santos. Parnaíba e o avesso da Belle Époque:
cotidiano e pobreza (1930-1950). 121f. Dissertação (História do
Brasil). Universidade Federal do Piauí. Teresina – Piauí, 2012.
Referências
Q
uerer analisar e compreender a formação de
professores licenciados em Matemática se faz
necessário “[...] que nos reportemos ao caminho
percorrido pelo ensino da Matemática ao longo de sua história.
O modo de ser do professor, hoje, é resultado das influências
recebidas, de forma direta e indireta, desse processo histórico e
educacional” (DAMAZIO, 1996, p. 73). Dentro dessa realidade,
nosso estudo, tem como objetivo contextualizar aspectos
históricos da formação de professores de Matemática no estado
do Piauí desde a criação da Faculdade Católica de Filosofia do
Piauí (FAFI) à incorporação do Curso de Matemática dessa
Instituição de Ensino Superior (IES) à Universidade Federal do
Piauí (UFPI) aos dias atuais.
É oportuno, portanto, destacarmos que essa
reconstituição histórica é parte da pesquisa que desenvolvemos
1
A FAFI localizava-se na praça Saraiva, esquina das ruas Barroso e Olavo
Bilac, onde atualmente está sediado o Centro de Educação Aberta e a
Dist6ancia – CEAD/UFPI.
2
Os depoentes: Costa Filho e França não recordaram o nome da
professora que ministrou essa disciplina. .
3
Ex-professora do Colégio Diocesano e já falecida.
4
Também conhecida por Licenciatura Curta em Ciências.
5
Currículo do Curso de Graduação em Matemática nas modalidades
Licenciatura e Bacharelado.
Considerações Finais
A
gênese dos cursos de Pós-graduação no Brasil,
data de 1931 quando Francisco Campos, Ministro
dos Negócios da Educação e Saúde Pública,
propôs o Estatuto das Universidades Brasileiras (Decreto
19.851/1931), sob a orientação dos padrões europeus.
Nesse estatuto, que foi parte da reforma educacional
proposta por Getúlio Vargas, na qual pretendia um projeto de
modernização do país por meio da educação, a Pós-graduação
teve sua primeira tentativa de instalação. Nessa época, sua
forma de realização era definida pela orientação de um
professor catedrático na área e a defesa de tese se dava em um
tempo mínimo de dois anos.
Para Balbachevsky (2005, p. 278), nos anos 30 a Pós-
graduação tinha pouca dimensão no Brasil, eram escassos os
cursos, “[...] fora do mundo acadêmico, seus títulos eram pouco
conhecidos. Na maioria dos casos, a Pós-graduação era apenas
uma dentre muitas portas de entrada para a vida acadêmica”.
Luna (2011, p. 71) também explica que nesse período a Pós-
graduação no Brasil era caracterizada pela seguinte forma:
2
Para Rothen (2008, p. 454), em 1968, “[...] diante das reivindicações
do movimento estudantil, são instaladas, pelo governo militar,
sucessivamente, duas comissões para apresentarem propostas para
conter a onda de agitações e para formular um conjunto de soluções
realistas para a universidade brasileira: a Comissão Meira Mattos
e o Grupo de Trabalho da Reforma Universitária. Normalmente, a
instalação das duas comissões é compreendida como complementar.
Algumas considerações
230
Produtividade do CNPq (março/2009 a fevereiro/ 2015). Foi
Membro do Colegiado de Física, Coordenador do Programa
de Pós-Graduação em Educação, Vice-Diretor do CCE (2005
a março/2009) e Editor da Revista “Linguagem, Educação e
Sociedade” - veículo de divulgação científica do Programa de
Pós-Graduação em Educação da UFPI.
Magnaldo de Sá Cardoso
Graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal da
Bahia-UFBA (1975), especialista em Tecnologia Educacional
pela Universidade Federal do Piauí - UFPI (1995), especialista
em Administração de Recursos Humanos pela Associação de
Ensino Superior do Piauí- AESPI (2000), mestre em Educação
pela Universidade Federal do Piauí -UFPI (2005), doutorando
em Educação pela Universidade Federal do Piauí –UFPI (2019).
Docente fundador do Curso de Engenharia Civil- UFPI (1977),
docente fundador do Curso Arquitetura e Urbanismo – UFPI
(1993). Implantou o Curso de Engenharia Elétrica- UFPI e
Coordenador do Curso no período 2009 a 2011. Implantou o
Curso de Engenharia Elétrica do Centro Unificado de Ensino
Superior – CEUPI, sendo Coordenador do referido Curso de
232
2012 a 2018. Atualmente professor da Associação de Ensino
Superior do Piauí - AESPI.
234
como: os processos constitutivos da (trans)formação humana,
os processos de constituição da identidade do educador, os
processos de produção de significados e sentidos da profissão
docente, notadamente da formação e atividade docente, tendo
como fundamentação teórico-metodológica o Materialismo
Histórico Dialético e a Psicologia Sócio-Histórica.
236