You are on page 1of 2

O continente africano não é um local que possua uma história que esteja

limitada a área no norte do continente, onde hoje se encontram Marrocos,


Tunísia, Argélia, Sudão e Egito, áreas que são apresentadas na historiografia
tradicional que, mesmo a luz de novas evidencias, ainda aparece em vários
livros e estudos históricos.

Heródoto, em 440 a.C, já mostrava que a área conhecida e os povos e


reinos que os gregos tinham contato dentro do continente africano era bem
extenso. Ele cita cerca de 16 povos, com seus costumes, vestuário, matrimonio
e alimentação, além de uma extensa descrição da fauna e flora dos locais onde
esses povos viviam, apesar que ele considerava que apenas dois povos, os
Líbios e os Etíopes, eram autóctones, sendo que as outras eram vindas de
outros locais. Essas relações entre os gregos e esses outros povos ocorriam
através do reino do Egito, por onde Heródoto viajou. Ele, inclusive considerava
que os egípcios eram um povo descendente dos líbios e, portanto,
praticamente servos desses.

É interessante notar que Diodoro Sículo, segundo o autor Mudimbe,


considerava que os etíopes eram o “os primeiros de todos os humanos” (II, ii,
1), sendo que eles eram considerados por Diodoro como os que primeiro
aprenderam a honrar os deuses e os que possuíam as oferendas que mais
agradavam os deuses, apesar que o texto das obras de Diodoro que versam
sobre África se foquem mais na figura do rei e dos sumo-sacerdotes,
mostrando um elitismo no enfoque de Diodoro.

Mudimbe nos descreve que o que mais impressionou os gregos e


romanos ao entrar em contato com os povos e reinos que existiam no
continente africano foi o fato que, em certas sociedades, homens e mulheres
exerciam papeis idênticos, inclusive nos momentos de batalhas e guerras, o
que pode ter dado origem a lenda das Amazonas, que se originou de uma
lenda dos Citas, povo que vivia no parte mais ao sul do império do Egito, e que
eram considerados como “Bárbaros” pelos gregos.

O autor trata ainda da teoria que foi criada por Martin Bernal, que foi
enunciada na sua obra Black Athena: The Afroasiatic Roots of Classical
Civilization, que afirma que a origem do povo e da Grécia não seria de povos
autóctones pré-helênicos falantes de línguas indo-europeias e sim pelos
Pelasgos (tribos pré-gregas) que foram colonizadas e “civilizadas” por colonos
egípcios e fenícios. Nessa obra, Martin Bernal mostra provas linguísticas e
arqueológicas que sustentam essa teoria, como o fato que certos nuances da
arte de vasos grega possui similaridades com artes em cerâmicas encontradas
em sítios arqueológicos de dentro do continente africano, e a proximidade
filosóficas e histórica com o Egito e Fenícia que a Grécia antiga possuía. O
autor V. Y Mudimbe nos escreve que Martin Bernal fez um grande trabalho
demostrando a possibilidade dessa origem, mas que deixou de lado muitas
contribuições de pesquisadores africanos, como Cheikh Anta Diop, físico
nuclear e egiptólogo senegalês que já vinha estudando as relações do Egito
Antigo com os povos da África meridional e a Grécia.

You might also like