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Tópicos da apresentação do texto “Educação e liberdade em Hannah Arendt” de Vanessa Sievers de Almeida
- Refere-se à defesa da Hanna Arendt presente no texto “A crise na Educação” onde a essência da educação é a
natalidade, o fato de que seres nascem para o mundo (ARENDT, 1990, página 223).
1) Arendt considera que uma crise na educação é afinada à perda de respostas que antes eram dadas às
questões, como julgamentos diretos (nesse momento sugerir o argumento da teórica encontrado no
início do texto “Do conceito antigo ao moderno de História” onde a quebra das tradições representaria
uma perda do fio que orientava a ação humana: no passado, destaca-se que a imortalidade dos grandes
feitos é narrada após o sentido que produziu - pois se relaciona com o que permanece; na modernidade,
por sua vez, novos arranjos surgem relacionando ação à história, perigosa se numa atitude construtora
transforma as descontinuidades (ou o caráter imprevisível dos fenômenos históricos) em narrativas de
progressos - como se os seres humanos tivessem pleno conhecimento e compreensão sobre a totalidade
em movimento e os desdobramentos de suas ações nessa;
2) O desastre da crise na educação ocorre se as respostas dadas são preconceitos, esses que influenciam na
experiência com a realidade e na oportunidade dessa proporcionar reflexão (exemplo seria quando
trata-se da educação formal como responsável pela perda de valores da família ou da religião);
3) Hannah Arendt se refere à crise da educação na América como fenômeno particular capaz de assumir
forma política pela posição que possui de proeminência, esse destaque é resultado da pluralidade étnica
da sociedade americana e do continuum d a imigração que influenciam a consciência política e a
estrutura psíquica do país - é que a promessa americana de Novus Ordo Seclorum é o ideal nativo e
imigrante de eliminar a opressão e a pobreza contrastando com a regularidade de receber pobres e
escravizados do mundo (página 224);
4) Essa promessa é tarefa dos que vem, dos novos, instrumentalizados pela educação para política, bem
como a própria política é forma de educação (página 225) - A educação americana é considerada em
crise justo por ser avançada e mais moderna: os problemas educacionais da sociedades de massas se
mostram mais agudos e sujeitos à respostas inovadores da pedagogia;
5) Arendt considera que o esforço político de equiparar jovens e velhos, dotados e não-dotados, ou seja,
reduzir às hierarquias através do princípio de igualdade tem o custo de desautorizar mestres e limitar os
mais dotados... mas possui a vantagens humanas e educacionais, mas nem o ônus nem o bônus são
capazes de explicar o “fracasso” (página 229).
1) A existência de um mundo de crianças e sua sociedade que pode ser governada com autonomia, assim o
adulto apenas sugere o que é agradável: A criança no grupo responde a uma autoridade mais forte e
mais tirânica se fosse tomada individualmente com relação a uma autoridade única: assim a criança é
jogada a si mesma ou à tirania da maioria;
2) O imbricamento entre pragmatismo e psicologia tornaram a pedagogia proeminente nos assuntos de
ensino e aprendizagem, o professor não-autoritário não se vale mais da autoridade de saber e fazer mais;
3) A práxis entre ensino e aprendizagem se dilui no fazer. O mundo das crianças é limitado à passividade
dessa artificialidade em que o brincar é supervalorizado diante do trabalho.
Artigo: “Educação e liberdade em Hannah Arendt” de Vanessa Sievers de Almeida
- A natalidade:
1) O desafio da educação é a realização da liberdades, sua crise é reportada à ruptura com a tradição e
consequente perda da autoridade. A educação é aproximada da natalidade, em conformidade com seu
conceito de liberdade. Assim, os educadores possuem o papel de intermediar a relação entre o mundo
constituído e os novos que guardam a promessa de resguardar o espaço em que a liberdade se
manifeste, é nesse espaço político que as transformações são defendidas e, posteriormente, postas em
prática;
2) A realidade em que os novos são inseridos precisa ser apresentada e conhecida como condição para
ação transformadora. A relação entre liberdade e natalidade é destacada no trecho "Por constituírem um
initium, por serem recém-chegados e iniciadores em virtude do fato de terem nascido, os homens
tomam iniciativas, são impelidos a agir" (ARENDT, 1983, p. 190);
3) A educação precisa ser responsável pela intermediação entre o nascimento e as constantes renovações
ocasionadas pela liberdade. A ação que move o espaço público, justamente por ser livre, oferece o
perigo de destruir sua própria condição de liberdade. A educação precisa ser distinta da política por
relacionar seres que ainda não conhecem o mundo, mediante seres que trabalham e agem dotados de
responsabilidade, à condição da mundanidade: espaço entre as necessidades do ciclo biológico e a
liberdade em potência da condição humana.
- A educação:
1) A imprevisibilidade da história decorre justo da ação livre dos homens - tal ação confirma o
nascimento, ou seja, a potência da liberdade. A responsabilidade da educação consiste na introdução
dos novos num mundo que os antecede e sempre é mais velho do que eles, sua finalidade é a
contribuição para que os novos desenvolvam sua singularidade.
- Conservar o mundo:
1) O mundo é o espaço construído pelo trabalho, onde a fabricação assume um caráter quase
automatizado, e pelo exercício da ação política capaz de alterar processos;
2) As formas de convivência são resultado da ação instrumentalizada que está além das necessidades
básicas - tais necessidades vitais do ciclo biológico são satisfeitas mediante o labor; o trabalho seria a
atividade da fabricação, transformação do mundo natural em instrumentos ou objetos ideacionados;
3) O homo faber é aquele cultivado na sociedade moderna e suas obras; o ciclo de produção e consumo,
originariamente afinado com o ciclo biológico se automatiza em favor de outros propósitos além da
necessidade vital, cria e recria demandas culturais;
4) A condição humana propriamente é a pluralidade, a convivência entre iguais e singulares: atos e ação só
fazem sentido em comunidade - essa comunidade compatilha bens comuns. O exemplo dado pela autora
do artigo como bem comum é a linguagem que possui tanto aspectos formais quanto de uso cotidiano.
Enquanto o uso individual contribui para manutenção e renovação do código, a linguagem só faz
sentido no contexto de significados compartilhados. A comunicação, ou aplicação da linguagem no
mundo, é que permite que a realidade se afirme diante de participantes do discurso. O espaço em que os
discursos aparecem permite que nos separemos, mas não em isolamento, em singularidades. A realidade
é compartilhada no senso comum, no entendimento do mundo compartilhado. A subjetividade se torna
objetiva nesse mundo e a objetivação do mundo é responsabilidade de quem educa;
5) A forma como introduzimos os novos no mundo precisaria, portanto, precaver-se de que há uma
comunidade que precisa ser conservada. A continuidade consiste no compromisso de adequar o velho e
o novo, adultos e crianças, não levando em consideração apenas a preservação da vida e da arte de
viver, o que acontece na educação progressista, mas para recriar a partir do mundo que se encontra. De
Almeida cita Carvalho ao concluir que a “educação tem por tarefa familiarizar os novos com nossas
heranças históricas comuns: a literatura e as artes, as ciências, a filosofia, os valores e práticas sociais
para que saberes e práticas possam articular-se no cuidado futuro do mundo” (ALMEIDA, 2008,
página 470).
- Renovar o mundo:
“na medida em que ela [a criança] é nova, deve-se cuidar para que essa coisa nova chegue à fruição em relação ao
mundo como ele é” (ARENDT,1990, p. 239).
2) A Vanessa de Almeida traduz tais dimensões da educação como manutenção de um “espaço onde as
crianças e os jovens possam estabelecer relações — conhecer os outros e o mundo e se dar a conhecer
— sem ainda estar sob o peso da responsabilidade pelo mundo” (ALMEIDA, 2008, página 472).
1) A educação é para as crianças um espaço de convivência e apresentação do mundo maior que o núcleo
familiar. É o mundo em sua conexão com o passado que é mostrado. Politizar a educação seria como
querer controlar o futuro por meio da criança. A educação então tem a tarefa de preparar a criança para
assumir a responsabilidade sobre o futuro. Para esses “males” da ação, há o perdão e a punição. Não
são os atos que desculpamos, mas é possível perdoar (ou punir) os atores para permitir um novo
começo. A imprevisibilidade histórica é abrandada pelos acordos, contratos e leis. “Esses compromissos
não eliminam a incerteza do futuro, mas procuram mantê-la dentro de certos limites”. As crianças que
educamos, no entanto,ainda não assumem responsabilidade política e ainda não são totalmente
responsáveis pelos seus atos, e creio que é justamente nesse momento que liberdade e educação se
afastam, dando lugar ao papel da autoridade (ALMEIDA, 2008, páginas 477 e 478).
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA. Vanessa Sievers de. Educação e liberdade em Hannah Arendt. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.34,
n.3, p. 465-479, set./dez. 2008.
ARENDT, H. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1983.
ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo, Perspectiva, 1990.