sem
fronteiras
transversalidades2019
fotografia sem fronteiras
transversalidades2019
Título Transversalidades 2019 – fotografia sem fronteiras
Júri do Concurso António Pedro Pita | Clara Moura | Jorge Pena | Lúcio Cunha | María Isabel Jimenez | Pedro Baltazar
Rui Jacinto | Santiago Santos | Susana Paiva | Valentín Cabero | Victorino García
Textos Ana Fani Alessandri Carlos | Angelo Serpa | José Alberto Rio Fernandes | José Aldemir de Oliveira | José Luís Zêzere
Luciano Lourenço | Maria Lucinda Fonseca | Roberto Verdum e Lucimar de Fátima dos Santos Vieira | Rui Jacinto
Concepção e desenho da exposição Ana Sofia Martins | Santiago Santos | João Pedro Cochofel
Catálogo:
ISBN 978-989-8676-21-4
transversalidades2019
O Centro de Estudos Ibéricos respeita os originais dos textos,
não se responsabilizando pelos conteúdos, forma e opiniões neles expressos.
A opção ou não pelas regras do Novo Acordo Ortográfico é da responsabilidade dos autores.
fotografia sem fronteiras
transversalidades2019
7 Imagem & território:
em demanda dos Rumores do Mundo
Rui Jacinto
prémios
tema 1 prémios
tema 3
Património natural, paisagens Cidade e processos de urbanização
e biodiversidade
64 prémio tema
24 prémio tema
71 menções honrosas
31 menções honrosas
prémios
tema 4
prémios tema 2 Cultura e sociedade:
Espaços rurais, agricultura diversidade cultural e inclusão social
e povoamento
80 prémio tema
48 prémio tema
87 menções honrosas
55 menções honrosas
índice
tema
1 tema
3
Património natural, paisagens Cidade e processos de urbanização
e biodiversidade
168 Urbano, Urbanização e Urbanidade
106 Riscos e Desastres em tempo
José Alberto Rio Fernandes
de Alterações Climáticas
José Luís Zêzere 176 Fotografias a concurso
315 comentários
índice
transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras 7
“A imagem empírica virtual vem de qualquer espaço e presença empírica e esgotar-se na evidência dessa
de qualquer tempo, inserindo-se em qualquer contexto, presença” (José Gil, 2018; Caos e ritmo. Relógio d’ Água,
dela emana o Presente único, que concentra todas Lisboa, pp. 410).
as dimensões do tempo (a arte contemporânea pode
utilizar toda a espécie de imagens da história da arte). A Geografias do olhar: as novas imagens de eféme-
desterritorialização das imagens permitiu esta abertura ras cartografias. Os amantes da fotografia gastam
indefinida da obra de arte contemporânea, e é a con- boa parte do tempo e investem o melhor do seu
dição para que se possa conectar com qualquer outra talento a procurar lugares e paisagens singulares,
sem criar um contexto novo definidor (um território). No físicas e humanas, para captarem imagens que
fundo, porque pode pertencer a um qualquer contexto, façam a diferença perante a vulgaridade das que
a imagem contemporânea é definitivamente sem con- constantemente atinge o nosso olhar. Em cada
texto, desterritorializada (como se vê bem, por exemplo, esquina deparamos com cenas elucidativas do
nos retratos fotográficos, ou na arquitectura – exemplos, modo como se está a (con)viver, produzir e comu-
a Casa da Música, do Porto, de Rem Koolhas ou o Museu nicar através da imagem, sobretudo quando se
Guggenheim, de Bilbao, de Frank Gerhy). generalizou o acesso de todos os estratos sociais
Uma especificidade dessa imagem é que não reenvia ao telemóvel. O uso intensivo e ostensivo deste
para nenhuma outra imagem nem para si própria, para recurso está a gerar tal nuvem de imagens banais
nenhum referente (como a imagem da arte moderna), que será longo o caminho a percorrer até superar
para nenhum sentido escondido, para nenhum invisível. esta verdadeira poluição visual em que nos deixa-
O seu sentido vai concentrar-se inteiramente na sua mos mergulhar.
8 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
A importância da imagem nas sociedades contem- alinhado com demais metamorfoses que atraves-
porâneas e a rápida mutabilidade do seu significado sam a sociedade. Nesta sociedade mediática e do
só tem paralelo na proliferação e popularidade espetáculo, o primado da imagem é uma compo-
alcançada pelas selfies. O poder que a imagem nente estruturante da nova cultura popular e de
encerra, patente nesta manifestação de narcisismo massas que está para além da técnica (fotográficas,
exacerbado, quiçá doentio, é utilizado para, através telemóvel, computador, etc.) e, mesmo, do modo
dela, se tentar projetar um perfil ou uma faceta que, como é usada para comunicar. As redes sociais
em muitos casos, é pura fake. Não é por acaso que (blogue, facebook, instagram, twitter, etc.) e as dife-
selfie já foi a palavra do ano, que se começa a discu- rentes plataformas, embora acelerem a circulação
tir a influência deste hábito na saúde, que a sua prá- de enorme quantidade de informação potenciou a
tica, em situações extremas, representa um risco imagem sobre o texto na razão inversa da qualidade
efetivo, mais nefasto que, por exemplo, os ataques e densidade dos respetivos conteúdos. Vai longe
de tubarões. Os jornais noticiaram, recentemente, a época dos fotógrafos ambulantes, “à la minuta”,
que entre outubro de 2011 e novembro de 2017, pelo almocreves que não deixaram qualquer rasto digital,
menos 259 pessoas morreram, em todo o mundo, parcimónia que não alimentou diários que cada um,
enquanto faziam selfies, balanço que é superior em hoje, escreve através de imagens reais e virtuais.
50 vítimas mortais aos ataques de tubarões. Esta sugestiva auto-geografia, mistura entre reali-
dade e ficção, tem uma manifesta carga simbólica:
O culto obsessivo da imagem, aprisionada e sub- georreferencia os lugares visitados, diz quando lá se
jugada às estratégias pessoais de autopromoção, esteve, mostra os gostos pessoas, dos gastronómi-
caminha a par das mudanças profundas e acele- cos e estéticos aos políticos e culturais, sem deixar
radas que se operam nas paisagens imagéticas de denunciar as causas que se abraçaram nem os
emergentes. O telemóvel, usado individualmente ou acontecimentos onde se participou. Esta forma de
em grupo, virou um divertimento a que se recorre em expressão não deixa de representar um micro-tra-
todos os contextos e ambientes, dos mais íntimos balho, fornecido a custo zero para quem aproveita
aos verdadeiramente públicos, para veicular a ideia, este manancial de informação em proveito próprio,
através de poses, ora esdrúxulas ora ousadas, dum utilizada para fins duvidosos, alimentando um negó-
quotidiano que transborda felicidade. Em tempo de cio gerador lucros astronómicos.
selfies a fotografia não concede espaço para existir
gente melancólica. A invenção dos bookings, sobre Quem no futuro recorrer a estas fontes para fazer a
as mais variadas temáticas, e as poses estudadas, cronica dos dias que correm irá deparar com uma
em sítios idílicos e lugares icónicos, ameaçam resu- caudalosa torrente de imagens consumida com
mir a viagem à sua própria imagem, ao ponto de ser, voracidade por ansiosas redes sociais. Esta enorme
para alguns turistas mais acidentais, a principal razão pegada imagética é o que fica do tempo que passa,
que os move a viajar e a optar por certos destinos. herança digital dum futuro incerto pelo risco de
ingovernabilidade. A desmesurada memória que se
A passagem da imagem fixa para a imagem em fica para a posteridade, porventura ingerível devido
movimento, da fotografia estática para o vídeo à sua dimensão, pode conhecer o mesmo destino
dinâmico, coloca a literacia imagética num patamar que o metafórico mapa, imaginado por Jorge Luís
transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras 9
Borges, construído na escala de 1 para 1, que aca- programas que se sucederam para tentar reverter
bou algures, sem glória nem proveito, moribundo, aquele estado de coisas.
pois “esse extenso Mapa era Inútil e não sem Im-
piedade o entregaram às Inclemências do Sol e dos O fotografo, ao enquadrar e selecionar o que
Invernos”. A fotografia, ao ceder à tentação de viver pretende captar, está a decidir o que fica dentro e
do aparato e da aparência, pode resvalar para os o que fica de fora do retrato. Este processo de ex-
antípodas das anteriores gerações analógicas que clusão, territorial, social ou de qualquer outro tipo,
privilegiavam o conteúdo em detrimento da forma. está na raiz do panorama visual que passa diante
Por tudo isto, a fotografia mostra-se mais vulnerável dos nossos olhos e nos leva a questionar onde está
e volátil, parecendo esgotar-se na espuma dos dias, a gente pobre e os lugares sombrios. Esta invisibili-
refém do tempo para se inscrever e do espaço para dade também oculta os novos emigrantes, mesmo
se imprimir, no papel ou na retina. os que têm emprego, nómadas que convivem com
toda a sorte de precaridade e divagam à mercê
de empregos voláteis. O novo precariado, que se
expandiu desmesuradamente e viu a sua fragilida-
“De tarde fui olhar a Cordilheira dos Andes que / se de aumentar com as crises mais recentes, já não
perdia nos longes da Bolívia / E veio uma iluminura vive em bairros de lata, anda disfarçado, dorme
em mim. / Foi a primeira iluminura. / Depois botei meu algures, porventura, num carro estacionado, na
primeiro verso: / Aquele morro bem que entorta a bunda cidade, ou contentorizado, no campo, ligado à
da paisagem. / Mostrei a obra para minha mãe. / A mãe internet, num gueto criado junto às estufas ou do
falou: / Agora você vai ter que assumir as suas / irrespon- agronegócios onde labuta, literalmente, pelo pão
sabilidades. / Eu assumi: entrei no mundo das imagens" de cada dia.
(Manoel de Barros).
Estes excluídos e olvidados, aqui ou em qualquer
Fotografia sem fronteiras: invisibilidade, exclusão, ponto da Europa ou do Mundo, são os menos
silêncio e poética do olhar. O tempo que corre não fotografados. Quando o apagamento não é total,
disfarça o inultrapassável paradoxo de estarmos as suas imagens não conseguem competir com as
perante um brutal aumento da produção de ima- idílicas paisagens naturais e humanas, limpas e mo-
gens enquanto permanecem visualmente excluídas dernas, cujo glamour faustoso e ostentatório preva-
extensas parcelas de território e grande quantidade lece, acabando por submergir o que é diferente do
de pessoas. Ao mantê-las invisíveis e esquecidas, padrão ou pretensamente mais arcaico. A inclusão
longe das câmaras e do radar dos principais meios através da imagem continua a ser uma aposta dum
de comunicação, o registo fotográfico apenas per- projeto cujos pressupostos evoluíram, sem deixar
petua as assimetrias já diagnosticadas em termos de assumir a ideia, porventura utópica, que todos
económicos e sociais. A forte dicotomia entre a nós somos fotógrafos. A importância documental
luz e a sombra assim refletida mostra o lado mais e pedagógica da fotografia, contudo, não pode
condenável dum ciclo vicioso que esteve na base alienar a sua dimensão estética como bem docu-
da miríade de discursos a favor da tão propalada menta, aliás, o presente catálogo. O valor artístico e
coesão, da vasta plêiade de politicas, estratégias e a poética intrínseca à fotografia acaba por, mesmo
10 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
nas situações mais duras e realísticas, suavizar a a hora. / Isso faz tempo. / Foi à beira de um rio.” Em
violência que grassa no mundo em que vivemos. outro poema, Fotografia documental, prossegue
a descrição dessas paisagens recorrendo a um
O poeta Manoel de Barros explicitou este conceito universo fantástico, imaginário tão fértil que o leva a
ao derramar um certo entendimento de poética do concluir que os nomes atribuídos pela geografia são
olhar em Ensaios fotográficos1. Começa por colocar redutores e empobrecerem as imagens captadas
em epigrafe, na primeira parte deste seu livro de pela observação: “O rio que fazia uma volta / atrás
poemas, uma pertinente advertência do escritor da nossa casa / era a imagem de um vidro mole...
argentino Jorge Luís Borges: “Imagens não passam / / Passou um homem e disse: / Essa volta que o
de incontinências do visual”. Em O Fotografo, poe- rio faz... / se chama enseada... / / Não era mais a
ma que se tornaria famoso, começa por explanar, imagem de uma cobra de vidro / que fazia uma
logo no primeiro verso, uma verdade tão verdadeira volta atrás da casa. / Era uma enseada. / Acho que o
quanto inquietante: “Difícil fotografar o silêncio”; nome empobreceu a imagem”.
de seguida, no segundo verso, propõe-se explicar
o entendimento que tem sobre esta matéria: “En- Resistir e pugnar pela coesão também pode passar
tretanto tentei. Eu conto”; no final do citado poema por fotografar os mais excluídos e invisíveis, sejam
conclui que “A foto saiu legal”. Para correr atrás pessoas ou territórios, subtrair ao esquecimento
do prejuízo e superar a dificuldade de fotografar quem permanece oculto sob o manto diáfano das
o silêncio recorreu à técnica comum a qualquer mais densas penumbras. Fotografar esses territó-
fotografo: “Preparei minha máquina”; na ânsia de rios e essas pessoas é, porventura, mais difícil que
fotografar o dito “silêncio” vai captando o que apa- fotografar o silêncio.
rece: fotografa “esse carregador”, “o perfume”, “a
existência dela” (da lesma), “o perdão, “o sobre” e “a
Nuvem de calça e o poeta”.
“Em última instância, o espaço regional é também uma
O seu jeito para esboçar a dita poética e “entrar no imagem. Entre os homens e o espaço em que vivem,
mundo das imagens” foi abordá-las pela dimensão uma das relações mais fundamentais é a da percep-
mais singela e intangível. A fórmula encontrada ção, do comportamento psicológico em relação a um
para “assumir as suas (ir)responsabilidades” nesta espaço vivido. (…) Os mecanismos da aculturação e da
matéria foi recorrer a uma literatura imagética e, alienação impõem aos homens uma certa imagem dos
com ela, costurar uma cartografia poética com que lugares onde vivem, do seu espaço, da sua região. E essa
desenhou verdadeiros mapas (in)visuais. Em Autor- imagem, aceite, recalcada ou recusada, constitui um
retrato, na segunda parte daqueles Ensaios, tem no elemento essencial das combinações regionais, o laço
topo do seu Album de família uma frase lapidar de psicológico do homem com o espaço” (A. Fremont, 1980
Clarice Lispector a abrir o poema: “Eu te invento, ó (1976), A região, espaço vivido. Almedina: 109).
realidade”. Nesta fotografia poética descreve a sua
mátria, dando cor e forma às paisagens matriciais Transversalidades: memória e reconstrução do
das suas longínquas origens pantaneiras: “Ao nas- património visual. A compreensão da nossa relação
cer eu não estava acordado, de forma que / não vi com o espaço vivido exige meios, instrumentos e
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nossa atenção, tornam as outras desinteressantes ou convincente, a razão de se conferir e guardar aquela
despercebidas, ou seja, paralelamente se estabelece um visão. Algumas imagens se impõem sobre outras e
campo de relativa invisibilidade. Assim, existem aquelas parecem legitimamente gozar do direito de ofuscar
imagens que, por conseguirem se extrair do fluxo da as demais”2.
continuidade, se singularizam; mais do que percebidas,
elas são individualizadas e recebidas com destaque” A imagem, seja fotografia, mapa, pintura ou outra,
(Paulo Cesar Costa Gomes). continua a ser uma ferramenta útil e imprescindível
para ler, interpretar e descodificar o mundo que nos
Rumores do mundo: o lugar do olhar e as (re)leitu- rodeia. Li algures que a “fotografia não desafiou a
ras do território. Os lugares e os territórios, sejam pintura porque imitava melhor a realidade, mas por-
cidades, regiões, países ou continentes, remetem que suscitou um efeito-de-real na percepção das
para uma determinada imagem que imediatamente imagens e das coisas que a pintura da época não
os identifica. Em função de quem a esboça e dos era capaz de produzir. Numa escala incomparavel-
fins em vista pode-se privilegiar mapa, no caso do mente mais vasta, a imagem virtual está hoje a pro-
geógrafo, o desenho, no do pintor, o livro se a repre- vocar o mesmo efeito - e também o efeito contrário,
sentação do mundo estiver a cargo do escritor. Faz perverso, de grandes fechamentos desrealizantes”.
mais de século e meio que se anda a escrever com a As imagens também viajam e se recriam quando se
luz, a captar e reproduzir fotografias, levando-nos a cruzam ou enxertam com outras para (re)criarem
concluir que “determinadas condições contribuem novas e inéditas conexões.
diretamente para que algumas imagens sejam
mais notadas, sejam privilegiadas em detrimento O catálogo é uma miscigenação, mistura fertilizada
de outras. Variados elementos são concebidos cujo resultado não é um labirinto desordenado de
e construídos para realçá-las. Isso significa que, imagens descontextualizadas, mas num produto
nessa competição entre imagens, desenvolvem-se novo mais complexo e rico de informação. O novo
verdadeiras estratégias para seduzir os olhares, significado que as imagens adquirirem permitem
para chamar a atenção, para despertar o interesse. uma leitura mais abrangente, que não é fragmenta-
Essas estratégias procuram primeiramente atrair, da apesar de terem sido retiradas do seu contexto.
mas logo depois buscam meios de fixar o foco Ao serem reinscritas num outro território, acabaram
sobre si. É preciso capturar o olhar e simultanea- reapropriadas como as citações, proporcionando
mente conservá-lo. Há muitas astúcias, das mais uma geografia imaginária aberta para novas leituras
sutis às mais evidentes, para justificar, de forma do mundo.
1 Manoel de Barros (2000), Ensaios fotográficos. Rio de Janeiro: Editora Record (In Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011).
2 Paulo Cesar Costa Gomes (2013), O lugar do olhar: elementos para uma geografia da visibilidade. Bertrand, Rio de Janeiro.
Suécia
Rússia
Inglaterra
Letónia
Alemanha
Lituânia Bielorrússia
Irlanda Polónia Ucrânia
Canadá Holanda
Republica Checa
Bélgica
Portugal
Cazaquistão
Áustria
França Sérvia Azerbaijão
Suíça Albânia
Geórgia Quirguistão
Grécia
Itália
Espanha Arménia
Turquia
Iraque
Japão
Síria China
Marrocos Tunísia
Chipre Palestina
Israel
Irão
Egito Jordânia
Qatar Paquistão
Argélia Líbia Bangladesh
Arábia Saudita
Taiwan
México
Vietname
Cuba Mauritânia Emiratos Árabes Unidos Índia Maymar
Filipinas
Iémen
Senegal Sudão
Moçambique
Madagáscar
Bolívia Brasil
Austrália
Chile
África do Sul
Argentina
melhor portfólio
Javier Arcenillas
Espanha, 1973, Professor.
A água do Lago Sevan sustenta a identidade de toda a comarca; as suas altas águas
povoam a Arménia numa das zonas estratégicas mais importantes da história. À sua volta,
Licenciado em Psicologia Evolutiva pela Universidade Complutense, é Professor de fotografia documental na Escola PICA.
Desenvolve ensaios humanitários onde os protagonistas estão integrados em sociedades que limitam e agreden toda a razão e
direito.
Ganhou importantes prémios Internacionais, como Arts Press Award, KODAK Joung Photographer, European Social Fund
Grant, Euro Press de Fujifilm, FotoPres, Luis Valtueña de Médicos del Mundo, Luis Ksado, UNICEF Prize, Sony World Photo-
graphy, POYI, POYI Latam, Fotoevidence, Photographer of the year in Moscow Photo Award 2014, Eugene Smith Grant 2013,
Getty Images Grant 2015, Lucas Dolega 2019 y World Press Photo 2018. Em 2013 entrou dentro no dicionário de fotógrafos
espanhóis.
As suas reportagens mais completas podem ver-se em Time, Spiegel, Stern, Lens, El Periodico de Guatemala, Sunday Times,
Soy502, El Pais, El Mundo, GEO o IL Magazine. Tem quatro livros publicados: “City Hope” sobre as ciudades satélite que
povoam os vertederos da América Latina; “Welcome” que conta a história dos refugiados Rohingya de Myanmar no acam-
pamento de Kutupalong; Sicarios sobre os assassinos assalariados na América Central; e UFOPRESENCES que é um livro de
paisagem sobre os territórios OVNI. Em 2016, La fabrica publica-lhe um Photobolsillo dentro da coleção Fotógrafos Espanhóis.
Atualmente trabalha novas vias paralelas ao jornalismo tradicional para divulgar os seus projetos.
melhor portfólio 17
prémio tema
Óscar Emilio
Espanha, 1968, Administrativo.
Simbologia poética dos riscos ambientais que o homem causa no mar. Mare evomit (O mar
vomita) simboliza a mensagem que nos reenvia o mar, o repúdio do mar à ação do homem.
Tem o Curso Avançado de Fotografia (Foto 2) (2013) e o Curso Anual de Fotografía da Escuela de Fotografía Blank Paper (2014).
Publicou na revista “godArtLab” (2017). Tem uma publicação e entrevista na revista “Cóctel Demente” (2016), na revista “Inspi-
red Eye” (2016) e uma publicação na Agência de Fotografía y Editora “Cuartoscuro” México (2016).
No âmbito dos Concursos: primeiro prémio do XX Concurso Estatal de Fotografía Legazpi Hiria 2019; primeiro prémio do Con-
curso de Fotografía “Paco Jarque 2018”, Junta Municipal de Ciutat Vella, Valencia; terceiro prémio do XXVI Certamen de Fo-
tografía de Siero; segundo prémio do IV Concurso de Fotografía Ateneo de Mairena del Aljarafe; primeiro prémio do Concurso
Internacional de Fotografía “El paisaje. Una llamada a la luz”, Ayuntamiento de Serón; segundo prémio do IX Concurso Estatal
de Fotografía “Vila de Sant Boi”; primeiro prémio do I Encuentro Fotográfico “Ciutat Vella” Valencia - Agrupación Fotográfica
Valenciana – Agfoval; primeiro prémio do I Rally Fotográfico “Miguel Hernández” Ayuntamiento de Orihuela; primeiro prémio do
II Concurso Internacional de Fotografía y Locura “Locografías”, Fundación Intras Valladolid.
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 25
Óscar Emilio, Espanha | Mare evomit I (El mar vomita) | Valencia (Espanha), 2017 (7)*
26 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Óscar Emilio, Espanha | Mare evomit II (El mar vomita) | Valencia (Espanha), 2017 (8)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 27
Óscar Emilio, Espanha | Mare evomit III (El mar vomita) | Valencia (Espanha), 2017 (9)*
28 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Óscar Emilio, Espanha | Mare evomit IV (El mar vomita) | Valencia (Espanha), 2017 (10)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 29
Óscar Emilio, Espanha | Mare evomit V (El mar vomita) | Valencia (Espanha), 2017 (11)*
30 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Óscar Emilio, Espanha | Mare evomit VI (El mar vomita) | Valencia (Espanha), 2017 (12)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 31
menção honrosa
Yuri Pritisk
Rússia, 1976, Engenheiro.
“Apócrifa”: trabalho literário criado na base de outro; ao contrário da sequela, onde se pode
descrita no trabalho original. Nesta série “Apócrifa” o autor usa as suas próprias imagens de
mundo imaginário.
Yuri Pritisk, nascido em 1976, é um fotógrafo da Federação Russa. Explora áreas como o retrato psicológico e a paisagem,
combinando estas direções. Integra ainda perspetivas como género e fotografia artística. A maioria das fotografias do autor
foram tiradas sem flash ou sistemas tradicionais de iluminação com luz artificial.
Geralmente são usados filtros óticos caseiros/manufaturados e técnicas e métodos de filmagem originais. Nas suas imagens,
o autor aborda temas da ecologia e da sociedade e apresenta subtextos dramáticos e históricos, temperando-os com sentido
e experiência multifacetados.
32 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Yuri Pritisk, Federação Russa | Barco, garota e lobo | Chuvashia (Federação Russa), 2017 (13)*
Deer | Chuvashia (Federação Russa), 2017 (14)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 33
Yuri Pritisk, Federação Russa | Coruja e Avião | Chuvashia (Federação Russa), 2017 (15)*
Celeiro, corça e casca | Chuvashia (Federação Russa), 2017 (16)*
34 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Yuri Pritisk, Federação Russa | Cegonhas | Chuvashia (Federação Russa), 2017 (17)*
Homem, wigwam e cavalo | Chuvashia (Federação Russa), 2017 (18)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 35
menção honrosa
Alteração climática e aquecimento global: a desflorestação das florestas tropicais está a eliminar
Alteração climática e aquecimento global: a des- Cheias e erosão do solo: A floresta tropical desenrola
florestação das florestas tropicais está a eliminar o um papel importante na dissipação de vários desas-
papel principal destas como segundo maior armazém tres, nomeadamente cheias e derramamentos de ter-
de carbono; elas ajudam a regular a temperatura do ras (Imagem 4: Dois orangotangos machos alimentan-
planeta, assim como os padrões climáticos (Imagem 1: do-se um ao outro na floresta profunda da Sumatra).
Wati e Pupikon acordando de uma sesta).
Perturbação / Interrupção do ciclo da água: Quanto
Destruição de um Ecossistema e Biodiversidade: a menor for o número de árvores na Terra, menor será a
desflorestação está a resultar na perda do habitat de quantidade de água no ar que será devolvida ao solo em
muitas e diferentes espécies animais e de plantas. Al- forma de chuva. Esta circunstância terá como conse-
gumas das espécies ameaçadas são os orangotangos, quência direta uma longa época seca (Imagem 5: Pu-
tigres, rinocerontes, elefantes de Bornéu, etc. (Ima- pikon aprendendo alguns movimentos da sua mãe Vati).
gem 2: Wati e Pupikon a jogar às apanhadas na região
de Bukit Lawang). Solução: É necessário criar áreas protegidas e, mais
importante ainda, a desflorestação que está em curso
Espécies Ameaçadas: A desflorestação está a em- tem de acabar. Temos de ajudar fazendo donativos ao
purrar estas espécies ameaçadas para fora do seu Greenpeace ou a The Forest Trust. São ONG extraor-
ecossistema, o que significa que elas terão poucas dinárias que tentam proteger o ambiente investigando
hipóteses de sobreviver fora do seu habitat natural quais as empresas que usam óleo de palma que vem de
(Imagem 3: Betut apreciando a luminosidade matinal áreas atingidas pela desflorestação, obrigando-as a pa-
na floresta da Sumatra). rar (Imagem 6: um orangotango pedindo fruta (e ajuda).
Nasceu em 1987, em Bilbao, região Basca de Espanha. Desde a adolescência interessa-se por arte, informática e tecnologia,
o que a levou a estudar Engenharia Informática na Universidade de Deusto e, mais tarde, completar a formação com Gestão
Industrial. Durante um programa de intercâmbio na Universidade de Richmond, nos EUA, em 2010, apaixonou-se por fotografia
e, desde essa altura, nunca viaja sem a sua DSLR.
Regressou dos EUA e foi para a Suíça em busca de oportunidades profissionais e para desenvolver a sua carreira na informá-
tica e no comércio eletrónico. Em 2019, durante alguns meses sabáticos, decidiu elevar a fotografia, participando em alguns
workshops profissionais no Ártico (fotografia de paisagem) e na Indonésia (fotografia de vida selvagem).
Atualmente, vive em Hong Kong, ambicionando continuar a melhorar as suas capacidades no que respeita à fotografia.
36 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Laura Arnejo Barrenengoa, Suíça | Our Forest for your Bread | Bukit Lawang (Indonésia), 2019 (19)*
Our Forest for your Ice-Cream | Bukit Lawang (Indonésia), 2019 (20)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 37
Laura Arnejo Barrenengoa, Suíça | Our Forest for your Margarine | Bukit Lawang (Indonésia), 2019 (21)*
Our Forest for your Pizza | Bukit Lawang (Indonésia), 2019 (22)*
38 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Laura Arnejo Barrenengoa, Suíça | Our Forest for your Soap | Bukit Lawang (Indonésia), 2019 (23)*
Please Help | Bukit Lawang (Indonésia), 2019 (24)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 39
menção honrosa
menção honrosa
Mina Yazdani Rade, Irão | Desert and human | Yazd (Irão), 2018 (31)*
Desert and human 2 | Yazd (Irão), 2019 (32)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 45
Mina Yazdani Rade, Irão | Desert and human 3 | Yazd (Irão), 2019 (33)*
Desert and human 4 | Yazd (Irão), 2019 (34)*
46 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Mina Yazdani Rade, Irão | Desert and human 5 | Yazd (Irão), 2019 (35)*
Desert and human 6 | Yazd (Irão), 2019 (36)*
espaços rurais, agricultura
e povoamento
prémios tema 2
48 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
prémio tema
Leyla Emektar
Turquia, 1972, Professora.
Formada pela Universidade Çukurova, Departamento de Arte da Faculdade de Belas Artes, iniciou a sua carreira como Profes-
sora de Artes Visuais. Continua a procurar emprego embora dê aulas a tempo parcial na Universidade Kocaeli, Departamento
de Fotografia da Faculdade de Belas Artes.
Recebeu o prémio de Xposure Sharjah International Phtography, na categoria de fotojornalismo, o prémio internacional de
fotografia Hamdan Bin Mohammed Bin Rashid Al Maktoum (HIPA) (2017 e 2018), na categoria de manipulação digital, o primeiro
prémio no Festival Internacional de Fotografia, realizado em Siena, e foi vencedora do prémio Alfred Fried Photography Award
(Áustria, 2016).
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 49
Leyla Emektar, Turquia | Olive oil soap | Balikesir (Turquia), 2016 (41)*
54 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
menção honrosa
Sujan Sarkar
India, 1985, Freelancer.
As fotos retratam a população das aldeias perto do Rio Teesta, em Mekhliganj (Estado de
Benguela Ocidental), na Índia, onde as cheias têm sido um fenómeno recorrente, causando
perdas quer de vidas, quer de propriedade pública, trazendo uma incalculável miséria às
Fotógrafo autodidata e professor, sendo a fotografia a sua paixão. Começou a carreira fotográfica em 2010, vencendo o FIAP
de prata em dois salões internacionais. Até agora ganhou mais de 50 prémios em salões nacionais e internacionais. Começou a
participar em concursos de fotografia e, em 2012, foi o Grand Winner de um concurso de fotografia organizado pelo Ministério
de Negócios Estrangeiros do Governo da Índia.
Até hoje, ganhou mais de 70 prémios em concursos de fotografia nacionais e internacionais, sendo os mais prestigiados:
National Geographic Moments Award (2013 e 2016); Sony WPO Award (2014); IREX Photo Competition (2014); Alfred Freid Nobel
Award (2014); Urban Photographer of the Year (2014 e 2015); Intrepid Travel Award (2015); Humanity Photo Award (2015; China);
ULI Northwest Essay Photo Contest (2015); CGAP Photo Contest (2015, 2016 e 2017); UNEP – Focus On Your World (2016; Coreia
do Sul); Co-Operative Photography Competition (2016; Singapura); KIA BUSAN International Architecture and URBAN Digital
Photo Competition (2016; Coreia do Sul); UNESCO, Delhi (2016); SONY Portrait Award (2018); o XPOSURE, SHARJAH (2018);
YOUMANITY (2018).
56 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Sujan Sarkar, Índia | Impact of climate change | West Bengal (Índia), 2015 (43)*
Impact of climate change | West Bengal (Índia), 2015 (44)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 57
Sujan Sarkar, Índia | Impact of climate change | West Bengal (Índia), 2015 (45)*
Impact of climate change | West Bengal (Índia), 2016 (46)*
58 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Sujan Sarkar, Índia | Impact of climate change | West Bengal (Índia), 2015 (47)*
Impact of climate change | West Bengal (Índia), 2015 (48)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 59
menção honrosa
Nas encostas planálticas da região de Sichuan, na China, a maioria dos camponeses usa
sua forma de sobreviver; a fé faz parte das suas vidas e está à sua volta.
Fotógrafo autodidata e professor, sendo a fotografia a sua paixão. Começou a carreira fotográfica em 2010, vencendo o FIAP
de prata em dois salões internacionais. Até agora ganhou mais de 50 prémios em salões nacionais e internacionais. Começou a
participar em concursos de fotografia e, em 2012, foi o Grand Winner de um concurso de fotografia organizado pelo Ministério
de Negócios Estrangeiros do Governo da Índia.
Até hoje, ganhou mais de 70 prémios em concursos de fotografia nacionais e internacionais, sendo os mais prestigiados:
National Geographic Moments Award (2013 e 2016); Sony WPO Award (2014); IREX Photo Competition (2014); Alfred Freid Nobel
Award (2014); Urban Photographer of the Year (2014 e 2015); Intrepid Travel Award (2015); Humanity Photo Award (2015; China);
ULI Northwest Essay Photo Contest (2015); CGAP Photo Contest (2015, 2016 e 2017); UNEP – Focus On Your World (2016; Coreia
do Sul); Co-Operative Photography Competition (2016; Singapura); KIA BUSAN International Architecture and URBAN Digital
Photo Competition (2016; Coreia do Sul); UNESCO, Delhi (2016); SONY Portrait Award (2018); o XPOSURE, SHARJAH (2018);
YOUMANITY (2018).
60 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Liak Song Teo, Malásia | Cable column | Sichuan (China), 2018 (49)*
House | Sichuan (China), 2018 (50)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 61
prémio tema
Cristian Ferrari
Brasil, 1977, Bancário.
Fotógrafo paulista começou aos 23 anos usando uma velha Pentax K-1000 encontrada no armário e tirava fotos por conta pró-
pria antes de qualquer curso, explorando e estudando em casa. Após esse início procurou aprimorar os conceitos práticos com
a ajuda de cursos que foram do básico até workshop’s com fotógrafos renomados sempre aprimorando o olhar e a técnica
fotográfica. Hoje no formato digital procura usar o mundo da pós-edição como agregador de conceitos fotográficos, sempre
mantendo a pureza e a poética da imagem.
Realizou a sua primeira exposição graças ao incentivo dado pelo SESI, em 2008. A mostra intitulada “Interior em P&B” mostrava
um pouco da vida longe das capitais. As suas viagens sempre foram as maiores fontes de inspiração e sua passagem por paí-
ses da América do Sul como Chile, Peru, Bolívia e Venezuela rederam imagens de culturas muito diferentes da nossa realidade
que se transformaram no ensaio “Filhos do Sol”, mostrando retratos de crianças desses países.
Tem em seu portfólio as séries: Terra Brasilis, que mostra a vida longe das grandes capitais; O homem e o Mar que trás um
olhar sobre a relação do ser humano e o mar; Filhos do Sol, retratos de crianças sul americanas e Arautos, sobre a vida dentro
de uma comunidade religiosa.
Tem vários cursos, desde o Básico em fotografia: Escola Arte São Paulo (2004) e A forma criativa na fotografia: SESC Conso-
lação SP (2013) à Inteligência Fotográfica: Foto Conceito (2016), além de prémios e exposições, destacando-se entre os mais
recentes: 3º Photo Nature Brasil (2019; Menção Honrosa); 7º Salão Nacional de Arte Fotográfica de São Caetano do Sul (2017);
Participação no Catálogo "Transversalidades – Fotografia sem Fronteiras (2016); Exposição 3º BIT! Festival de Fotografia da
Incubadora de Artistas (2016); Vencedor do 11º Salão Nacional de Fotografia Pérsio Galembeck (2014); Exposição itinerante no
SESI - Interior em P&B (2009).
tema 3 cidade e processos de urbanização 65
Cristian Ferrari, Brasil | Reflexos Noturnos 1 | São Paulo (Brasil), 2018 (55)*
66 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Cristian Ferrari, Brasil | Reflexos Noturnos 2 | São Paulo (Brasil), 2018 (56)*
tema 3 cidade e processos de urbanização 67
Cristian Ferrari, Brasil | Reflexos Noturnos 3 | São Paulo (Brasil), 2018 (57)*
68 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Cristian Ferrari, Brasil | Reflexos Noturnos 4 | São Paulo (Brasil), 2018 (58)*
tema 3 cidade e processos de urbanização 69
Cristian Ferrari, Brasil | Reflexos Noturnos 5 | São Paulo (Brasil), 2018 (59)*
70 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Cristian Ferrari, Brasil | Reflexos Noturnos 6 | São Paulo (Brasil), 2018 (60)*
tema 3 cidade e processos de urbanização 71
menção honrosa
Juan Sánchez
México, 1983, Artista Visual.
Juan “Oso” Sánchez, licenciado em Artes Visuais pela Escola Superior de Artes de Yucatán. O seu trabalho gira em torno do
urbanismo e os reptos e responsabilidades para com a cidade atual, mediante fotografia, pintura e instalação. A sua obra foi
apresentada no seu país em lugares como a Galería Luis Nishizawa, Museo de la Ciudad de Mérida, Museo del Juguete, Centro
Cultural Olimpo, Centro de Artes Visuales, Centro Cultural La Cúpula, Galería ESAY, entre outros.
Foi selecionado para se apresentar na XVIII Bienal de Fotografia do Centro de la Imagen, o certame de Artes Visuales Forcaz
Zona Sur, la Duodécima Bienal Puebla de los Ángeles; ganhou o 2º Lugar na XII Bienal de Pintura Joaquín Clausell organizada
pelo estado de Campeche. Foi Bolseiro do programa de Estímulo a la Creación y Desarrollo Artístico na categoria de Artes
Visuales: Instalación (2017).
72 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Juan Sánchez, México | Sous les pavés, la plage! 1 | Yucatan (México), 2018 (61)*
Sous les pavés, la plage! 2 | Yucatan (México), 2018 (62)*
tema 3 cidade e processos de urbanização 73
Juan Sánchez, México | Sous les pavés, la plage! 3 | Yucatan (México), 2018 (63)*
Sous les pavés, la plage! 4 | Yucatan (México), 2018 (64)*
74 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Juan Sánchez, México | Sous les pavés, la plage! 5 | Yucatan (México), 2018 (65)*
Sous les pavés, la plage! 6 | Yucatan (México), 2019 (66)*
tema 3 cidade e processos de urbanização 75
menção honrosa
Dez anos depois do início da crise económica, sobram as memórias da “bolha imobiliária”.
José Ramón Moreno é fotógrafo autodidata. Apresentou o seu trabalho em diversas exposições individuais e participou em
dezenas de exposições coletivas. O seu trabalho foi exibido a solo em Torrelavega Art Photo (2014), na Bienal de Fotografía de
Córdoba (2013) e no Museo de Arte Moderno de Tarragona (2011). Em mostras coletivas esteve na "Casa/Arte" (Espacio Foto
Gallery) em Madrid (2012), "Air-Port-Photo" da Sección Oficial de Photoespaña em Madrid (2012) e na XVI Bienal de Arte de
Cerveira em Vila Nova de Cerveira (Portugal, 2011).
Nos últimos anos recebeu mais de uma centena de prémios em certames de fotografia e artes plásticas de âmbito nacional
e internacional, como o Urban Photo Fest Competitio (Londres, 2013), Allan & Overy Award da Royal Photographic Society
(Londres, 2011), o 2º Prémio da Fundación Aena (Madrid, 2010), o 1º Prémio do Certame de Artes Plásticas da Universidad de
Castilla-La Mancha (Albacene, 2010), o 1º Prémio do Certame de Artes Plásticas de Amurrio (Álava, 2010) ou o Prémio Unión
Latina (Paris, 2008).
Como resultado, o seu trabalho forma parte de numerosas coleções institucionais e privadas de Espanha e da Europa.
76 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
J. Ramón Moreno, Espanha | Memories are made of this 1 | Zaragoza (Espanha), 2012 (67)*
Memories are made of this 2 | Zaragoza (Espanha), 2012 (68)*
tema 3 cidade e processos de urbanização 77
J. Ramón Moreno, Espanha | Memories are made of this 3 | Zaragoza (Espanha), 2012 (69)*
Memories are made of this 4 | Zaragoza (Espanha), 2012 (70)*
78 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
J. Ramón Moreno, Espanha | Memories are made of this 5 | Zaragoza (Espanha), 2012 (71)*
Memories are made of this 6 | Zaragoza (Espanha), 2012 (72)*
cultura e sociedade:
diversidade cultural e inclusão social
prémios tema 4
80 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
prémio tema
Miguel Roth
Argentina, 1985, Jornalista / Fotojornalista.
As meninas e meninos migrantes que chegaram ao «Campo de abrigo Rondon 3», em Boa
Vista, no Brasil, enganam o aborrecimento com o que encontram à mão. Com pedaços de
O número de venezuelanos fora do seu país superou ço de proteção, mas também — em muitas ocasiões
os três milhões em 2018. O Brasil é um dos países que — a única alternativa vital segura. Ao longo das rotas
maior número de migrantes recebeu e apesar de ter migratórias, a população em trânsito requer não ape-
criado programas como o “Operativo Acolhida”, não nas cuidados médicos, alimentos, apoio legal, refúgio
foi suficiente para dar resposta às necessidades bási- e proteção; mas, também, espaços de dispersão e
cas com que os migrantes chegam à povoação. recriação, como parte essencial para se aproximar de
uma vida digna longe de sua casa.
Por esse motivo, as famílias procuram alimentos
como podem: o jovem Rafael chega ao abrigo emo- Milhares de refugiados venezuelanos deslocam-se
cionado por ter conseguido pescar três peças que para as zonas de fronteira, reconfigurando o cenário
servirão para almoço e jantar do seu dia e de seus social, ao mesmo tempo que se criam novos desafios
pais. de inclusão social; trata-se de um fluxo migratório
sem precedentes. Entre os grupos mais vulneráveis
O caminho migratório é longo, extenuante e perigoso;
encontram-se as povoações indígenas, como o povo
milhares de meninas e meninos são vulneráveis ao
Warao. Um país, um idioma, uma cultura desconheci-
abuso, exploração, maus tratos e várias formas de
da, expõem ainda mais os migrantes. É por isso que é
violência.
indispensável trabalhar pela proteção, saúde e digni-
Os «campos de abrigo» representam não só um espa- dade de cada pessoa.
Durante os últimos anos realizou reportagens para agências e meios de comunicação internacionais; percorre a América Latina
com o foco posto nas problemáticas sociais e suas transformações. Também viajou ao Médio Oriente e foi um dos poucos jor-
nalistas de língua espanhola a ter acesso à Rojava (Kurdistán sírio), recém liberado do autodenominado Estado Islâmico, donde
documentou a vida de músicos e escritores que apostam pela reconstrução através da arte. «As sombras da compaixão», seu
primeiro livro de crónicas está em fase de edição final para publicação prévia.
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 81
Miguel Roth, Argentina | Remontar contra viento | Boa Vista (Brasil), 2018 (73)*
82 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Miguel Roth, Argentina | Gracias al río | Boa Vista (Brasil), 2018 (74)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 83
Miguel Roth, Argentina | Pasar el tiempo | Boa Vista (Brasil), 2018 (76)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 85
menção honrosa
Asghar Khamseh
Irão, 1963, Fotógrafo.
O Irão deve a popularidade das suas aldeias e regiões não apenas às suas
gentes. De acordo com estatísticas oficiais, a província North Khorasan, com 867.000
habitantes, tem 450 indivíduos com deficiência visual, dos quais 55 vivem no condado
de Esfarayen tornando conhecido o distrito rural de Daman Kuh, pelo elevado número de
pessoas invisuais.
Daman Kuh é um distrito rural (dehestan) no Central encontrar um gene-chave na cegueira congénita
District of Esfarayen County (North Khorasan Province, nas pessoas da região. A sua pesquisa provou que a
Iran). Chaharbourj é uma aldeia em Daman Kuh com doença não tem a ver com o clima, mas sim com uma
1999 habitantes, dos quais 35 são invisuais, o que predisposição genética. Apesar da vida saudável,
equivale a 1,75 % da população. As crianças nascidas muitos habitantes da aldeia são portadores do gene e
com a doença não têm qualquer deficiência, mas não assintomáticos da doença. Mas logo que duas pessoas
reagem à luminosidade e, gradualmente, os seus olhos com o gene recessivo se juntam, a probabilidade de
vão tornando-se nebulosos. terem um filho invisual dispara para 100%.
A população local culpa o clima pela deficiência visual Atualmente, embora esteja provada a predisposição
dos seus bebés, a qual pode ser verificada até no gado. genética existente nos habitantes da aldeia, a supers-
Com o intuito de descobrir a causa da alta incidência tição domina. Os casamentos consanguíneos são uma
de cegueira, vários grupos de pesquisa do Irão, do prática corrente na região, os quais se realizam sem se
Japão e do Reino Unido estudaram as pessoas da al- fazerem testes e consultas genéticos, fator responsá-
deia, mas em vão.Só em 2006, o Dr. Nour-Mohammad vel pela existência de crianças invisuais.
Qiasvand, da Universidade do Michigan, conseguiu
88 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
menção honrosa
Siavosh Ejlali
Irão, 1986, Engenheiro Industrial; Fotógrafo a tempo parcial.
Uma rapariga iraniana posa com roupas militares e abraça o livro “História do Irão”, em
memória das guerras enfrentadas ao longo da história que poderiam evitadas com o
O Irão sempre conviveu com cenários de guerra; a última ocorreu entre 1980 e 1988 contra
e livros de dois poetas iranianos famosos, Molana e Sadi, aclamados pelos temas místicos
Prémios: 11 títulos internacionais, incluindo 5 medalhas de ouro em concursos da FIAP. Distinções FIAP: AFIAP (Artista da FIAP)
Trabalha num projeto de livro orientado para o uso do livro de forma diferente e incomum, visando mostrar a sua importância,
assim como a da leitura. Existe um subgrupo no portfólio principal no qual usa uma mulher vestida com roupas militares, com
vista a transmitir o significado conjunto da beleza e da paz.
92 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
menção honrosa
Sanghamitra Sarkar
Índia, 1971, Médica.
começaram a tatuar os seus corpos e caras há mais de 100 anos com o nome de Lord
crianças nascidas na comunidade devem sejam tatuadas numa qualquer parte do corpo,
preferencialmente no peito, pelo menos uma vez, até aos dois anos de idade. Quase todos
os lares Ramnami têm uma cópia do épico Ramayana, um livro sobre a vida de Lord Ram,
assim como pequenas estátuas de divindades índias que são idolatradas diariamente.
96 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Sanghamitra Sarkar, Índia | Ramnami Community 1 | Please Select (US and CN Residents ONLY) (Índia), 2017 (91)*
Ramnami Community 2 | Raipur (Índia), 2017 (92)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 97
Sanghamitra Sarkar, Índia | Ramnami Community 3 | Please Select (US and CN Residents ONLY) (Índia), 2017 (93)*
Ramnami Community 4 | Please Select (US and CN Residents ONLY) (Índia), 2017 (94)*
98 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Sanghamitra Sarkar, Índia | Ramnami Community5 | Please Select (US and CN Residents ONLY) (Índia), 2017 (95)*
Ramnami Community 6 | Please Select (US and CN Residents ONLY) (Índia), 2017 (96)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 99
menção honrosa
mina de Cerro Rico, na Bolívia, não são algo fora do comum: as galerias
partidos.
Licenciado em Antropologia social e cultural pela Universidade Nacional de San Martín. Estética fotográfica com Juan Travnik.
Ensaio fotográfico (Martín Acosta, 2018). Fotojornalismo e redação (ARGRA Escuela, 2017). Oficina de iluminação fotográfica
(Silvio Zuccheri, 2017).
Concursos: Menção de Honrosa do concurso Transversalidades (Centro de Estudos Ibéricos; 2019); finalista do Concurso de
Fotografía Contemporánea de Latinoamérica "Luz del Norte" (2018); menção do júri - Concurso Nacional de Fotografía Fino-
chietto (2014).
Exposições coletivas: Del Bravo al Plata "Luz del Norte". Foto Museo Cuatro Caminos. México D.F. (2019); Concurso de Foto-
grafía Contemporánea Latinoamericana "Luz del Norte". Centro de las Artes. Monterrey, México. (2018); 5° Edición Muestra
Libre de Fotografía. Museo de la República. Rio de Janeiro, Brasil. (2018); Concurso Nacional de Fotografía Finochietto. Centro
Cultural Borges. Buenos Aires, Argentina (2014).
100 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
cultura e sociedade:
diversidade cultural e inclusão social
até à atualidade que respeitem, pelo menos, uma As causas dos desastres naturais
das seguintes condições: (i) relato de 10 ou mais
mortes; (ii) relato de 100 ou mais pessoas afetadas; As justificações que determinam o incremento do
(iii) pedido de assistência internacional; e (iv) decla- número de desastres naturais no decurso do século
ração de estado de emergência. De acordo com a XX e início do século XXI têm sido objeto de amplo
EM-DAT 6, registaram-se mais de 14.000 desastres debate 8, 9.
naturais no mundo, no período 1900-2017, sendo
que mais de 87% dos eventos ocorreram depois de No sentido de não enviesar a discussão, importa ter
1974. Para além disso, a média anual de desastres presente que o desastre não é a causa do problema
aumentou cerca de 6 vezes entre 1974 e o início do (i.e., o sismo, a cheia ou o furacão) mas antes a sua
século XXI, a que se seguiu um relativo decréscimo consequência, sendo que, tipicamente, a magnitu-
e estabilização em valores que se aproximam da de do desastre é tanto mais elevada quanto mais os
média impressionante de um desastre natural por seus efeitos excedem a capacidade da comunidade
dia. Neste último período os desastres naturais ou sociedade de recuperar com seus próprios
foram responsávteis por 3,4 milhões de mortos e recursos. Neste quadro fica clara a dificuldade
por prejuízos económicos superiores a 3,08 triliões que existe em associar, com critérios científicos, o
de dólares. incremento dos desastres naturais às alterações
climáticas, uma vez que estas se encontram do lado
Os desastres naturais ocorrem em todo o mundo, das causas dos problemas. As lições aprendidas da
independentemente do nível de desenvolvimento ocorrência de desastres no mundo mostram que,
de cada nação; porém, é a população dos países em muitas circunstâncias, os desastres represen-
menos preparados e economicamente mais tam manifestações de problemas de desenvolvi-
fragilizados que sofre os maiores impactos 7. São mento social e económico não resolvidos.
também os países mais pobres os que sentem
maior dificuldade em fazer face às consequências A sociedade contemporânea é muito consumidora
de médio e longo prazo que resultam da ocorrência de território e esse facto, associado ao incremento
dos fenómenos perigosos. Neste contexto, a ‘Geo- da população mundial, conduziu progressivamente
grafia dos desastres’ é bastante contrastada na es- à ocupação de terrenos naturalmente perigosos
cala mundial: mais de 75% das mortes provocadas (e.g. leitos de cheia, vertentes instáveis, zonas su-
por desastres naturais ocorrem na Ásia, surgindo a jeitas a erosão costeira), nomeadamente junto das
África e a América Latina nas posições imediatas. grandes aglomerações urbanas e nas áreas litorais.
Em contrapartida, é nos países ricos (e.g., Japão, Por outro lado, atividades antrópicas desajustadas
Estados Unidos da América, Itália) que se verificam (e.g. abertura de taludes em vertentes potencial-
as perdas económicas mais elevadas, em termos mente instáveis, impermeabilização de pequenas
absolutos. No entanto, de acordo com os dados bacias hidrográficas sujeitas a cheias rápidas)
do Banco Mundial, as perdas materiais devidas aos interferem com o funcionamento dos processos
desastres naturais nos países em desenvolvimento naturais, incrementando a sua magnitude e fre-
são 20 vezes superiores, em percentagem do PIB, quência de ocorrência. Neste contexto, o aumento
comparativamente aos países desenvolvidos. da exposição e, em alguns casos, da vulnerabili-
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 109
dade das populações, justifica o incremento dos nível do mar. Não se tratando de processos “novos”
desastres que decorrem dos fenómenos ligados na realidade nacional, a persistência e intensidade
à geodinâmica interna. No caso dos desastres de que os vai caracterizar coloca desafios originais,
origem climática e hidrológica, às razões anteriores pelo que é lícito falar em “riscos novos”.
acrescenta-se o provável aumento da frequência
e da magnitude dos eventos extremos, decorrente A redução da precipitação, associada ao incremen-
das alterações climáticas. to da irregularidade que sempre caracterizou a sua
distribuição interanual em Portugal, vai acentuar os
episódios de seca, que poderá vir a tornar-se quase
permanente. As consequências na agricultura e
Clima “novo”, Riscos “velhos” e pecuária serão as mais imediatas, mas o próprio
“novos”? fornecimento de água potável a algumas popula-
ções poderá vir a ser colocado em questão, caso
O discurso mainstream acerca da evolução do risco esta ameaça não seja enfrentada com medidas de
de desastre em contexto de alterações climáticas adaptação eficazes.
enfatiza a preocupação com o impacto dos fenó-
menos extremos, como deslizamentos de terrenos, O incremento das ondas de calor, traduzido no alar-
cheias e inundações ou tempestades oceânicas 9. gamento do período crítico a meses da Primavera
Não descurando a importância que estes processos e Outono, para além do Verão, tem consequências
naturais podem ter nos territórios, em termos de ao nível da saúde humana, tanto mais nefastas
perdas de vidas humanas e de prejuízos materiais, quanto mais se acentua o envelhecimento da po-
verifica-se que a ciência atual dispõe dos recursos pulação portuguesa. Num outro nível, as ondas de
necessários para sinalizar as áreas perigosas, com calor, mais intensas e prolongadas no tempo, têm
margens de incerteza controladas, de modo a que o potencial para gerar incêndios rurais/florestais
sua utilização possa ser fortemente regulada pelos eventualmente ainda mais devastadores do que os
instrumentos de gestão do território. No essencial, verificados em 2003, 2005 e 2017. Com efeito, essa
os fenómenos extremos de origem climática e será uma consequência praticamente inevitável,
hidrológica são os riscos “velhos” que sempre afe- se o País não for capaz de implementar uma trans-
taram os territórios, geralmente com impactos mais formação estrutural na maior parte dos territórios
ou menos limitados no tempo e no espaço, ainda rurais, com melhor gestão das áreas florestais e
que eventualmente num contexto mais desfavorá- substituição de espécies caracterizadas por eleva-
vel de frequência-magnitude. da inflamabilidade, nomeadamente nas envolventes
das áreas urbanas.
Mas as alterações climáticas acarretam outras mu-
danças, mais permanentes, que exigem medidas A subida do nível do mar, associada à falta de
de adaptação mais estruturadas e de médio e longo sedimentos arenosos e à ocupação desregrada de
termo 10, 11, 12
. No caso de Portugal, destacam-se a re- muitas zonas litorais com processos extensivos de
dução da precipitação anual, o aumento da duração impermeabilização, produz situações descontro-
e da magnitude das ondas de calor e a subida do ladas de erosão costeira e recuo da linha de costa.
110 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
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112 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
1 92.1.3.JPG Patricia Negreira, Argentina | Serie Glaciar III | El Calafate, Sur Argentino (Argentina), 2017 (1)*
2 87.1.3.jpg Rita Lourenço, Portugal | Gelo. Glaciar Perito Moreno | Parque Nacional Los Glaciares, Patagónia (Argentina), 2018 (2)*
3 118.1.5.jpg Ekaterina Boyko, Rússia | Bridge over river | Sakha Yakutia (Rússia), 2019 (3)*
4 88.1.5.JPG Ana Rita Matias, Portugal | Ekkert 05 | Vesturland (Islândia), 2018 (4)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 113
5 38.1.3.jpg Dmitry, Bielorrússia | Winter is coming | Gomel region (Bielorrússia), 2018 (5)*
6 38.1.1.jpg Dmitry, Bielorrússia | Island | Gomel region (Bielorrússia), 2015 (6)*
7 175.1.6.jpg Jorge Gonçalves Silva, Portugal | Shape in white_06 | Andorra (Andorra), 2018 (7)*
8 17.1.2.jpeg Evgeny, Rússia | Real geometry | Sochi (Rússia), 2016 (8)*
114 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
9 243.1.1.jpg Golenkov Sergey, Alemanha | Sem Título | Teneriffa (Espanha), 2019 (9)*
10 113.1.3.jpg Felipe Tomás Jiménez Ordóñez, Espanha | Los pulmones de la tierra III | Sella, Alicante (Espanha), 2017 (10)*
11 113.1.2.jpg Felipe Tomás Jiménez Ordóñez, Espanha | Los pulmones de la tierra II | Alhambra, Ciudad Real (Espanha), 2018 (11)*
12 97.1.1.jpg Vahan Amatunyan, Armênia | Light through darkness | Yerevan (Armênia), 2018 (12)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 115
13 116.1.6.jpg Julio, Espanha | Minas Cósmicas | Monte Neme (Espanha), 2018 (13)*
14 150.1.5.jpg Gonzalo Javier Santile, Argentina | Soldiers of thorns | Tafi del Valle Tucuman (Argentina), 2018 (14)*
15 50.1.3.jpg Anna, Rússia | Taurus land | Crimeia (Rússia), 2017 (15)*
116 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
16 98.1.6.JPG Zulay Andrea Martínez Martínez, Espanha | A praia é mágica | Alentejo (Portugal), 2018 (16)*
17 245.1.6.jpg Jan Walczewski, Polónia | Windy Day on the Beach | North Denmark (Dinamarca), 2018 (17)*
18 45.1.1.jpg Piotr Machowczyk, Irlanda | Silent Lake - Killarney National Park | Munster, Co. Kerry (Irlanda), 2019 (18)*
19 45.1.3.jpg Piotr Machowczyk, Irlanda | Fishing boats | Munster, Co. Kerry, Upper Lake, Killarney (Irlanda), 2019 (19)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 117
20 53.1.1.jpg Fernanda Carvalho, Portugal | Sem título | Furnas, Açores (Portugal), 2019 (20)*
21 53.1.4.jpg Fernanda Carvalho, Portugal | Sem título | Furnas, Açores (Portugal), 2019 (21)*
22 203.1.3.jpg Javier Yárnoz Sánchez, Espanha | Almadieros - Transporte de Madera nº 3 | Burgui, Navarra (Espanha), 2013 (22)*
23 64.1.2.jpg Gaston Rodriguez, França | The fishing of the day No. 2 | Acapulco (México), 2019 (23)*
118 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
28 246.1.5.jpg Maria Cristina Dias Pereira, Portugal | Casa do Guarda da CP | Guarda (Portugal), 2019 (28)*
29 246.1.4.jpg Maria Cristina Dias Pereira, Portugal | Apeadeiro | Guarda (Portugal), 2019 (29)*
30 49.1.2.JPG Pablo Alfredo De Luca, Brasil | O Mundo da lagoa Manguaba (2) | AL (Brasil), 2017 (30)*
31 49.1.3.JPG Pablo Alfredo De Luca, Brasil | O Mundo da lagoa Manguaba (3) | AL (Brasil), 2016 (31)*
120 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
32 94.1.4.jpeg Luís Miguel de Sampaio e Melo Reininho, Portugal | Alentejo | Aljustrel (Portugal), 2018 (32)*
33 94.1.6.jpeg Luís Miguel de Sampaio e Melo Reininho, Portugal | Alentejo | Aljustrel (Portugal), 2016 (33)*
34 234.1.1.jpg Vahid Hasanabbasi, Irão | Rhinos in the clay | Kerman Lut Desert (Irão), 2018 (34)*
35 75.1.6.jpg Phan Thj Khánh Nome, Vietname | Ru Cha Forest | Ru Cha, Hue (Vietname), 2018 (35)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 121
40 108.1.3.jpg Oleg Ivanov, Rússia | Symbol of faith | Near Pereslavl-Zalessky Town (Rússia), 2018 (40)*
41 232.1.2.jpg Alireza Biglari, Irão | Eternity | Firoz Koh (Irão), 2019 (41)*
42 214.1.2.jpg Mª Concepción Risco Otaolaurruchi, Espanha | Castillo de Loarre 2 | Loarre, Huesca (Espanha), 2015 (42)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 123
43 100.1.1.jpg Paulo Jorge da Silva Solipa, Portugal | Minas S. Domingos 1 | Minas de S. Domingos, Mértola (Portugal), 2017 (43)*
44 25.1.2.jpg Tiago Passão Salgueiro, Portugal | Reflexos marmóreos | Pardais, Vila Viçosa (Portugal), 2013 (44)*
45 100.1.6.jpg Paulo Jorge da Silva Solipa, Portugal | Minas S. Domingos 6 | Minas de S. Domingos, Mértola (Portugal), 2017 (45)*
46 25.1.1.jpg Tiago Passão Salgueiro, Portugal | Sinais dos tempos | Pardais, Vila Viçosa (Portugal), 2013 (46)*
124 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
47 185.1.1.jpg Sílvia Maria Tomás Gonçalves, Portugal | Ponte de Rio Mourinho, 20 anos depois | Garragem de Pego do Altar, Alcácer do Sal (Portugal), 2018 (47)*
48 185.1.6.jpg Sílvia Maria Tomás Gonçalves, Portugal | Jardim de meteoritos | Garragem de Pego do Altar, Alcácer do Sal (Portugal), 2018 (48)*
49 166.1.4.jpg Dmitriy Kochergin, Rússia | Fire victims #4 | South Ural (Rússia), 2018 (49)*
50 184.1.1.jpg Vasily Lakovlev, Rússia | Death of the Earth | Sverdlovsk Region (Rússia), 2018 (50)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 125
51 155.1.1.jpg Ritaban Ghosh, Índia | On the sinking island, digging and scavenging for tree trunks to use for firewood | Sagar Island (Índia), 2018 (51)*
52 155.1.2.jpg Ritaban Ghosh, Índia | Living here means fighting it out with nature in all its forms | Mounusni (Índia), 2018 (52)*
53 154.1.2.jpg Mohammad Moheimani, Irão | Flood | Golestan (Irão), 2019 (53)*
54 154.1.1.jpg Mohammad Moheimani, Irão | Flood | Golestan (Irão), 2019 (54)*
126 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
55 201.1.4.jpg Daniel Heilig, Alemanha | Solo Wanderer | Wahiba Sands Desert (Omã), 2019 (55)*
56 238.1.5.jpg Nastaran Alizadeh, Irão | Wind, Sand, Sky | Rig Jenn (Irão), 2018 (56)*
57 201.1.3.jpg Daniel Heilig, Alemanha | The Desert Nomad | Wahiba Sands Desert (Omã), 2019 (57)*
58 168.1.1.jpg Zaid Albhrawi, Jordânia | Standing in the salt | Al-Haram Al-Ibrahimi Street (Jordânia), 2019 (58)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 127
59 62.1.1.JPG Fidel Chambi Jalacori, Bolívia | Desolación | Uncia - Potosí (Bolívia), 2015 (59)*
60 222.1.1.JPG João Manuel dos Santos Delgado Nunes, Portugal | Religião e o Afeganistão | Vale de Wakhan (Tajiquistão/Afeganistão), 2018 (60)*
61 241.1.6.jpg Mohamed, Egito | Wadi hitan parke | Fayoum (Egito), 2019 (61)*
62 114.1.5.jpg Aleksandr, Rússia | Divnogorie | Voroneg (Rússia), 2017 (62)*
128 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
63 240.1.1.jpg Walid Ahmed, Egito | The sunrise on the lake | Lake Burullus (Egito), 2015 (63)*
64 59.1.2.JPG Martina Malesev, Serbia (ex Yugoslavia) | La casa de los pájaros (2) | Comunidad Valenciana (Espanha), 2015 (64)*
65 194.1.3.JPG Victor Hugo Romo Casillas, México | Pescador de ilusiones 3 | Lago de Chapala, Jalisco (México), 2017 (65)*
66 97.1.2.jpg Vahan Amatunyan, Armênia | Life is at your feet | Bali (Indonésia), 2018 (66)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 129
67 191.1.5.jpeg César Santiago Uribe Bustamante, México | Un pato cansado | Cascada La Paz (Costa Rica), 2019 (67)*
68 16.1.1.jpg Nuwair Alhajeri, UAE | 1 | Nuwair (UAE), 2019 (68)*
69 109.1.4.jpg Ismaeel, Irão | Nature | Irão (Irão), 2017 (69)*
70 187.1.5.jpg Ксения, Rússia | За секунду до... | РФ (Rússia), 2017 (70)*
130 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
71 2.1.6.jpg Marcos Rodríguez Pérez, Espanha | Maillo3 | Salamanca (Espanha), 2018 (71)*
72 46.1.5.jpg Saeed Ostadian, Irão | Autumn | Asalem road (Irão), 2014 (72)*
73 148.1.2.jpg Sergio Muñoz Manzano, Espanha | Into Wilderness | Asturias (Espanha), 2018 (73)*
74 169.1.3.jpg Makarov Andrey, Rússia | Даже под снегом, есть жизнь | Tulun, Irkutsk Region (Rússia), 2019 (74)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 131
75 171.1.6.jpg Luiz Rodolfo Simões Alves, Portugal | Hope | Serra do Açor, Pampilhosa da Serra (Portugal), 2017 (75)*
76 186.1.6.JPG Rui Nuno Cunha, Portugal | De montanha para montanha | Montanha Cablak (Timor-Leste), 2015 (76)*
77 19.1.1.jpg Ricardo Miguel Oliveira Pires de Sousa, Portugal | Por entre pedras | Açores, Ilha São Miguel (Portugal), 2018 (77)*
78 69.1.5.JPG Meyalli Mundo Lozano, México | Unión natural | Mazunte, Oaxaca (México), 2018 (78)*
132 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
A terra das águas. As várzeas do Solimões ainda vacas na maromba, e preparam as mudas, guardam
estão no ventre da mãe d’água que engole casas, a maniva para quando a água baixar e a terra sair
bichos, plantas, campos de bola e de gado. As fértil recomeçar a vida.
escolas estão fechadas, as festas rarearam, pois as
sedes como a terra estão em pousio. Não há barcos Diz-se amiúde que a Amazônia é um arsenal de pro-
nos portos, pois portos não há. A água que no início blemas e também de soluções e se configura como
de agosto ainda está grande, faz mudar as gentes uma das mais importantes regiões do planeta e por
que encaixotam os santos que os protegem e se isso deve ser protegida e preservada. Para quem?
vão para as periferias das cidades. Antes apenas os Em primeiro lugar, deveria ser para a humanidade
encantos que pululavam nas mentes ficavam debai- próxima, aquela que vive aqui.
xo d’água, agora é tudo.
Viaja-se o dia todo de Manaus até as cidades do
Passando no rio, à primeira visão, tudo é igual e médio Solimões numa lancha rápida e não se vê
vazio, é um mundão de água, a mata ao fundo e um nada que apoie essa gente, um barquinho sequer
céu limpo e azul que, no horizonte, abraça as águas fazendo atendimento médico, ajudando a passar
num contraste de cores. Aqui e acolá o barco para, a água. E assim tem sido nas repetidas cheias que
e a primeira visão se esvai, pois ainda há homens atingem a região com mais frequência desde 2009.
que ficam em suas casas penduradas em nada. De abril a setembro homens e mulheres que vivem
Num canteiro flutuante extenso - alguns medem da terra, água e floresta perdem seus meios de
mais de 50 metros de comprimento - plantam hor- vivência, a caça se vai para longe, o peixe se torna
taliças de onde tiram o sustento nestes tempos de raro e a terra desaparece. A vida de abundância
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade 133
torna-se de privação, são cinco longos meses co- chuvas, antes regavam as plantas, agora degradam
mendo o que a água deixou colher. o solo desprotegido por causa do desmatamento.
As abelhas e os besouros não polinizam as flores,
Ainda há quem se aproveite disso. Assim como há trabalho feito pelas mãos delicadas das mulheres
a indústria da seca no Nordeste, aqui se repete a em longas jornadas diárias, passando os dedos nas
indústria da enchente. Até os postes sabem que no flores de maracujá. As lagartas já não se transfor-
médio Solimões o rio seca até final de outubro ou mam em borboletas de todas as cores a enfeitar
início de novembro quando vem o repiquete, para os jardins, foram mortas por inseticidas que fazem
em seguida continuar secando e, no final de dezem- adoecer os homens. As sementes não são guar-
bro, iniciar a enchente que vai até meados de junho. dadas para o próximo plantio, são compradas em
Por que em todo ano há emergência? Será que não casas da agricultura na cidade e são cada vez mais
há técnicas que poderiam ajudar essa gente das caras. As histórias contadas pareciam tão reais,
várzeas a passar com menos sofrência o período hoje ainda são contadas, da “boca pra fora”, sem
das cheias? nenhum realismo, não assustam e não encantam os
meninos que se entretêm com seus brinquedos ele-
A ideia de que o homem é um intruso não se sus- trônicos. Rios e lagos já não comportam as cidades
tenta. Mesmo antes da chegada do colonizador as encantadas.
várzeas amazônicas já eram ocupadas e as práticas
das gentes criavam as condições alternativas de Do lugar, quase nada restou, especialmente na
vivência por meio de processos criativos e eficazes, alimentação, nas formas de trabalho e nas festas,
conciliando a ocupação da várzea com a da terra desde que o futuro foi embora. O quebra-jejum é
firme. Ao longo do tempo, quando a terra se torna café com leite em pó e pão com margarina, bem
mercadoria, essas práticas foram se perdendo, e diferente da primeira refeição de antes, com café
hoje as enchentes dos rios tornam-se transtornos. retirado de uns poucos pés cultivados ali mesmo ao
Portanto, intrusos não são homens e mulheres redor da casa, temperado com mel de cana, acom-
enquanto seres genéricos, mas quando inseridos panhado de leite de vaca, fruto da ordenha de umas
num sistema em que a terra e a natureza são ven- vaquinhas de curral que não eram muitas, mas o
didas e compradas, e um fenômeno natural como suficiente para fornecer o leite aos pequenos. O
a enchente torna-se meio para ganhar dinheiro, de café era acompanhado com biju, cara, batata doce
preferência com a miséria humana. ou macaxeira. Na merenda, um poncho de fruta,
às vezes plantada, às vezes coletada na mata, ou
mingau de carimã.
O velho e o lugar. O velho volta ao lugar. Aquela O almoço era quase sempre peixe fresco, pescado
casinha de madeira coberta de zinco ainda está lá, num lago ali próximo da casa. O lago está lá, os
o pé de coqueiro na frente também e, de tão velho, peixes, como eles dizem, “nem prá remédio”. As
vergou, mas não caiu. É um lugar perdido na curva vezes comia-se carne caçada no fundo do terreno,
do rio cuja correnteza já não fertiliza a terra como complementada com o leitão do chiqueiro e a gali-
antes de tão constante que são as enchentes. As nha do terreiro. Hoje o almoço é frango congelado
134 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
com macarrão, ou linguiça com arroz, o peixe está O barco. Durante o dia o horizonte é água barrenta,
escasso, e o que se pesca é tudo para vender. à noite as luzes são iguais. Num como noutro as
horas passam lentamente sem pressa de chegar.
As festas em que as moças deslizavam no salão Escuta-se o tempo que não corre e o vento que
com garbo e leveza ao som de conjuntos musicais, zumbe na sanefa. Há um emaranhado de redes em
varavam as noites até o raiar do dia. As damas deve- todos os lados. São homens e mulheres, velhos e
riam estar acompanhadas de seus maridos ou na- moços, gente do beiradão, de rostos queimados e
morados. Caso estivessem sozinhas e rejeitassem um olhar de intensa profundidade. Gente de longe,
um cavalheiro, geraria atrito. Os botequins vendiam aventureiro que vai conhecer ou se defender ga-
bebidas e comidas a noite toda. Hoje as festas do nhando algum trocado.
interior não mais existem, também se perderam
como as estórias e a fartura. De modo geral há precariedade no transporte fluvial
do Amazonas quanto à segurança, rapidez, higiene
O lugar está lá, mas o encanto acabou, e a vida e preço das passagens. Todavia é importante reco-
continuou devagar e com paciência, transformando nhecer que do meu tempo de menino para o nosso
velhas coisas e costumes em vida nova. Todos, ou agora as mudanças foram grandes para o bem e
quase, têm celular, há luz elétrica, escolas de ensino para o mal.
regular: do fundamental presencial ao ensino médio
a distância. Há posto médico, clube social que tam- Agora os donos dos barcos se organizam como em-
bém é de esportes, um posto de saúde, em quase presas e fazem pesados investimentos. Os barcos
todos os portos há um motorzinho de centro e o são de ferro, feitos a partir de projetos assinados
remo foi substituído “pela rabeta”. Todavia, conti- por engenheiros navais e, embora incipiente, já
nua-se a tomar água sem tratamento e o banheiro é existe preocupação com o ambiente, tratamento
fossa negra. Pode-se dizer que houve uma moder- de esgoto, reciclagem de lixo, se bem que este é
nização incompleta. descartado no último porto e vai para o lixão. Não
ser jogado no rio já é um avanço.
Assim é o lugar que, como aquele homem, enve-
lheceu. Mas a vida também continuou para ele e há A comida é farta e boa, embora nunca sirvam peixe.
de haver outro lugar pelos caminhos aonde vai. A A tripulação é sempre prestativa no atendimento
vida naquele lugar não é necessariamente melhor aos passageiros. Esses avanços nos barcos de linha
ou pior do que era antes, é apenas uma nova vida. de grandes percursos demarcam a melhoria do
A questão é que a vida não volta e os sonhos se transporte de passageiros, mas ainda há proble-
perderam naquele velho lugar que ele imagina ainda mas, dentre outros, o fato de os engenheiros navais
ser seu. que projetam os barcos e os que os constroem
terem faltado à aula sobre banheiros: estes são hor-
Não se sabe até quando, ele e o lugar. ríveis, pequenos, sem ventilação e escuros,
nia em tempos pretéritos. Louis Agassiz, geógrafo O barco para somente nas cidades e principais
suíço que por aqui navegou no século XIX, descreve vilas. Ao se aproximar do porto as pessoas que vão
que é impossível maior conforto e comodidade que desembarcar envolvem se numa intensa prepa-
se oferece ao viajante nos vapores do Amazonas. ração. Banham-se, perfumam-se, as mulheres se
São admiravelmente mantidos com asseio extremo. maquiam, colocam a melhor roupa e arrumam a
A mesa é perfeita, cuidadosamente servida e a co- criançada num burburinho de festa. O regozijo não é
mida excelente, se bem que pouco variada. menor entre os que esperam o barco no porto, pa-
recendo que toda a cidade está ali, todos a esperar
O barco descrito por Agassiz bem como o que via- todos. A chegada do barco é uma festa.
jamos recentemente talvez não sejam parâmetros,
mas lá como cá mostram que há sinais de moderni- Na volta ou na ida para Manaus, dependendo do
zação no transporte de passageiros na Amazônia. ponto de vista, o barco traz gente que se achega
De qualquer modo, antes como agora andar de logo cedo e vai embarcando no porto de cada ci-
barco de linha tem lá seus encantos. dade e das vilas maiores e vai armando suas redes.
Antigamente essa gente misturava suas redes
O barco navega e nos barrancos os pescadores com o produto do seu trabalho, frutas, verduras,
arrumam seus utensílios e de vez em quando reco- pequenos animais domésticos e da mata. Durante
lhem peixe das redes, enquanto meninos correm e anos assim aconteceu, pessoas que traziam seus
brincam e as mulheres em parelhas ou pequenos produtos e partiam para a cidade maior. Navegavam
grupos lavam roupa. A vida que se desenrola no bar- sem pressa com o tempo a medir as distâncias per-
co parece colidir com a tranquilidade daquelas pes- corridas, onde era difícil ver outra coisa que não fos-
soas guardadoras do rio e das matas amazônicas. se a linha do horizonte e água cravadas nas pupilas,
A fortuna estava na fartura da colheita e da coleta
Subir ou descer o rio, ir ou voltar faz grande dife- no fabrico bem sucedido.
rença. Ao subir pelo Solimões o barco leva gente
que vai chegando à noite e, embora só saia às sete Agora é só gente, não vem quase nada, um pouco
da manhã, as redes devem ser atadas desde cedo. de farinha e só.
O barco leva produtos manufaturados, mas leva
também frango congelado, ovos, banana e goma, Apesar das mudanças e das permanências, é no
ou melhor fécula para fazer a nossa tapioquinha convés dos barcos que cruzam esse mundão ama-
de cada dia que não é mais feita de goma, daquela zônico que a vida se desenrola com paciência, cor-
branquinha tirada do repouso do tucupi, agora é de rendo parada como a água do rio que vai passando
fécula produzida no Estado do Paraná. sem fim.
* Professor Titular da Universidade Federal do Amazonas; Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades na Amazônia (NEPECAB); Professor na
Pós-graduação Sociedade e Cultura na Amazônia e Geografia. Textos incluídos em Crónicas da minha (c)idade (Letra Capital, Rio de Janeiro,
2017).
espaços rurais, agricultura
e povoamento
tema 2
138 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Há muito que nos habituámos a associar o êxodo quais se praticava uma agricultura marginal, de
rural e o abandono da agricultura de muitas regiões subsistência ou de complementaridade, mas que
de Portugal, sobretudo do interior Norte e Centro, desempenhava um importante papel em termos de
considerando natural a atração dos centros urbanos paisagem, quebrando a continuidade da floresta,
e, por conseguinte, sem nada fazer para contrariar contribuindo assim para travar a progressão dos
essa tendência de concentração na sede do dis- incêndios florestais e para alimentar uma impres-
trito, do município ou da freguesia, uma vez que, sionante quantidade de múltiplos serviços que, em
do ponto de vista político, social e económico, só termos de ecossistema, não eram (e, muitos deles,
aparentava ter vantagens. continuam a não ser) contabilizados do ponto de
vista económico, porque a sua valoração não é dire-
Todavia, não foi necessário esperar muito tempo tamente quantificável e, por conseguinte, torna-se
para se perceber que as consequências do progres- difícil de valorizar economicamente, o que contribui
sivo e paulatino despovoamento desses territórios, para a não atribuição de valor a essa importante
iniciado em meados do século passado e estimu- componente de sustentação ambiental.
lado a partir do seu último quartel, tinham mais in-
convenientes do que vantagens, mesmo pensando Com efeito, embora a prestação desses serviços
apenas em termos meramente económicos. seja fundamental para o normal funcionamento dos
ecossistemas, ao não serem contabilizados, não
A consequência mais visível desse êxodo rural são valorizados. Este conjunto de serviços ecossis-
traduziu-se no declínio da agricultura e no posterior témicos inclui, entre outros, aqueles que costumam
abandono dos campos agrícolas, em muitos dos ser designados por:
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 139
serviços de provisão, tais como: o fornecimento sequências diretas nos incêndios de interface
de alimentos (frutos, raízes, animais, mel, vege- urbano-florestal;
tais), de água potável (de qualidade e em quan-
tidade), de matérias-primas para a construção transformação natural e progressiva, por aban-
e como combustível (madeira, biomassa, óleos dono dos campos de cultivo, de muitas áreas
de plantas) e de recursos genéticos vegetais ou agrícolas em espaços florestais, que consti-
medicinais; tuíam áreas-tampão ao avanço dos incêndios,
aumentando assim a continuidade horizontal da
serviços de regulação, seja: climática, do ciclo floresta e facilitando a progressão dos incên-
da água, do sequestro carbono, da captura de dios;
poluentes ou da melhoria da qualidade da água,
do ar e do solo; alteração das espécies florestais, primeiro
pela transformação de espaços incultos que,
serviços de suporte, como sejam: a formação progressivamente, foram sendo ocupados
do solo, a produção de oxigénio, a reciclagem de por mato e pinhal. Posteriormente, depois do
nutrientes ou a manutenção da biodiversidade; aumento dos grandes incêndios, pela paulatina
substituição da floresta de pinheiros e do que
serviços de cultura (ou culturais), designa- restava da floresta de espécies autóctones, tan-
damente os ligados ao turismo: ecoturismo, to em vertentes como ao longo dos pequenos
micoturismo, turismo rural e da natureza, mas vales e valeiros, e que também servia de travão
também os de recreio e lazer, de estética e de à progressão dos incêndios, em eucaliptais a
inspiração, ou ainda os do património natural e perder de vista, cuja continuidade horizontal
edificado, muitas vezes traduzidos em valores favorece a progressão dos incêndios.
educacionais e de herança cultural.
Com efeito, as difíceis condições de vida de muitos
Porque alguns destes serviços não foram devida- habitantes do interior, por falta de investimento
mente valorados, o êxodo rural foi maior do que do Estado, explicam o abandono da agricultura e
teria sido se tivesse sido feita essa valorização, pelo a procura de melhores condições de vida noutros
que ao compararmos a paisagem rural existente locais, o que conduziu ao despovoamento e, em
numa mesma área, em meados do século passado consequência, a alterações no processo de gestão
e na atualidade, encontramos contrastes enormes dos espaços florestais, dando origem a novas pai-
que, basicamente, se podem reduzir aos três se- sagens que, por falta de gestão, são muitas vezes
guintes aspetos: indefensáveis quando as chamas nelas penetram.
substancial redução ou mesmo eliminação da É óbvio que não seria possível manter o estilo de
área agrícola envolvente das aldeias e cresci- vida dos anos 50/60 do século passado, mas teria
mento da área urbana das vilas e cidades que sido possível reduzir substancialmente o êxodo rural
passou a invadir espaços florestais, muitos dos se tivessem sido dadas alternativas a uma parte
quais, anteriormente, eram agrícolas, com con- substancial dessa população.
140 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
ca chegou a ser executado, ao contrário de um ou- águas interiores, ou o recreio e o turismo, devida-
tro semelhante, implementado numa área contígua, mente enquadrado e com valorização da paisagem,
queimada pelo mesmo incêndio. Todavia, depois ou, ainda, o sequestro do carbono. Com efeito, a
disso, essas áreas, como muitas outras, não foram floresta de uso múltiplo parece-nos aquela que, em
geridas (ou não o foram convenientemente) e tive- termos de futuro, se tornará mais viável, se for de-
ram o mesmo destino: voltaram a ser percorridas senvolvida em unidades com dimensão suficiente
por grandes incêndios florestais, primeiro no ano de para serem autónomas e auto financiáveis, desde
2005 e depois, de novo, em 2017. Daí que elaborar que sejam geridas com uma dinâmica empresarial,
projetos seja relativamente fácil, tarefa que, por capaz de gerar riqueza.
vezes, até é atribuída a estudantes estagiários, do
mesmo modo que, existindo recursos financeiros, A quinta, diz respeito à “sensibilização dos proprie-
a sua execução não é complicada, uma vez que é tários florestais”. Se bem que nos últimos anos ela
necessário executá-la somente uma única vez e tenha melhorado um pouco, no que à prevenção diz
existem empresas disponíveis para o fazer. Daí que respeito, há todavia um longo caminho a percorrer e
o difícil, diria mesmo, o que tem sido quase impos- um grande trabalho de extensão florestal a realizar,
sível de realizar, é a sua manutenção, uma vez ela até que se consigam criar as ditas unidades flores-
implica não só recursos financeiros, mas também, tais de gestão rentável, capazes de assegurar ren-
e sobretudo, capacidade de gestão, persistência, dibilidade aos proprietários e, sobretudo, para que
trabalho continuado e quase sem visibilidade, ao possam passar a ter outras opções viáveis, além do
contrário do que sucede com as plantações ou com eucalipto.
o combate aos incêndios florestais. Ora, na nossa
opinião, o tipo de projeto preferencial para as unida- A sexta, trata da “afetação de meios técnicos e
des de gestão antes mencionadas deverá contem- humanos”. Se é verdade que houve um grande
plar o uso múltiplo da floresta, integrando floresta investimento em meios técnicos no que ao com-
de produção (de madeira, cortiça, biomassa para a bate aos incêndios florestais diz respeito, já a sua
energia, resinas naturais, frutos e sementes) com distribuição geográfica continua a suscitar-nos
floresta de proteção (da rede hidrográfica, ambien- algumas dúvidas, bem como a manutenção da
tal, microclimática, ou contra a erosão, as cheias e atual organização dos bombeiros que, claramente,
os incêndios florestais) e floresta de conservação é incapaz de, em primeiro lugar, evitar a ocorrên-
(de habitats classificados, de espécies protegidas cia de grandes incêndios florestais e, depois, de
da fauna e da flora, de geomonumentos), sempre dominar a progressão desses grandes incêndios.
que tal se justifique, por exemplo com a manuten- Com efeito, o problema não sendo da falta de meios
ção de galerias ripícolas junto a linhas de água, que operacionais, dirá respeito aos recursos humanos,
também podem servir como corredores ecológicos cuja formação, em muitos casos, até terá regredido
e de faixas naturais (aceiros verdes), para defesa face ao que acontecia há duas dezenas de anos.
da floresta. A floresta de uso múltiplo permite que, De facto, é fácil reconhecer que o atual modelo
além dos três tipos de floresta antes mencionados, de organização dos corpos de bombeiros não é o
se lhe associem outras atividades, como sejam a mais adequado ao sistema de proteção civil vigente
silvo-pastorícia, a apicultura, a caça e a pesca nas e, não tendo havido ainda coragem política para
142 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
resolver o problema, ele arrasta-se no tempo e não nutenção dos povoamentos”. Com efeito, depois de
ajuda a contribuir para a solução. Em contrapartida, ter ganho a confiança dos proprietários é importan-
quando pensamos na atribuição de meios técnicos te estabelecer com eles a programação e calenda-
e humanos à floresta, muito pouco ou quase nada rização das ações a desenvolver ao longo dos vários
se tem observado, além de uma ou outra ação anos, não só com vista à defesa da floresta contra
pontual. Atendendo à dimensão e potencialidades incêndios, mas também com vista a obter uma pro-
do território florestal, torna-se necessário criar dução rentável, de modo a permitir que a floresta
condições para intervir neste território, à chamada volte a gerar riqueza e em que os incêndios passem
escala da paisagem, que fazemos corresponder à a ser uma perturbação de reduzido significado.
das unidades de gestão rentável, para debelar o fla- Mas isso só poderá ser feito com as pessoas e, em
gelo dos grandes incêndios florestais. Como temos particular, com o envolvimento dos diretamente
afirmado, os incêndios florestais, embora sendo um interessados.
risco antrópico, não são um risco tecnológico, pelo
que a tecnologia representa um importante contri- Obviamente que esta sequência pode ser comple-
buto para a sua redução mas não é a solução, dado mentada com outras medidas, mas se algumas
que eles são um risco social e, por conseguinte, é destas já tivessem sido tomadas, certamente que
nas pessoas, sejam elas proprietários florestais, o panorama das florestas e dos incêndios florestais
incendiários ou bombeiros, técnicos florestais e de em Portugal seria bem diferente na atualidade.
proteção civil, políticos, investigadores, jornalistas e
comentadores, cidadãos, e necessariamente com Dito isto, cada vez me convenço mais de que,
as pessoas que se pode encontrar solução, tanto como dizia o Eng.º Moreira da Silva, “os incêndios
para os grandes incêndios como para a redução florestais são uma calamidade mas não são uma fa-
do número de ocorrências. E, para contactar com talidade”. De facto, somos nós, por incapacidade de
as pessoas, é fundamental percorrer o território, resolver o problema, que nos vamos acomodando
estabelecer contacto direto com elas, uma vez que à sua existência e os estamos a transformar numa
tem muito mais força do que a informação recebida fatalidade. Como escrevemos em 2013, alguns
através dos meios tecnológicos, por mais sofistica- de nós continuamos a pensar que “Os incêndios
dos e diretos que estes sejam. Este aspeto tem sido florestais em Portugal têm solução” (Grandes In-
descurado, mas qualquer solução terá dificuldade cêndios Florestais, Erosão, Degradação e Medidas
em ser implementada se não envolver os, já poucos, de Recuperação dos Solos, Universidade do Minho,
residentes nas áreas florestais. Guimarães, p. 131-140) mas para que tal aconteça,
todos teremos de concatenar esforços e trabalhar
A sétima e última correspondia ao “faseamento e nesse sentido, para evitar que sejam apenas alguns
calendarização das intervenções específicas em a remar contra a corrente da fatalidade!
cada área, com vista ao acompanhamento e à ma-
* Departamento de Geografia e Turismo, NICIF, CEGOT e RISCOS. Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra.
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 143
144 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
79 109.2.1.JPG Manuel Alberto Azevedo Gomes Novo, Portugal | Espigueiros I | Lindoso, Ponte da Barca (Portugal), 2018 (79)*
80 109.2.5.JPG Manuel Alberto Azevedo Gomes Novo, Portugal | Espigueiros V | Lindoso, Ponte da Barca (Portugal), 2018 (80)*
81 33.2.2.jpg Alexander Stepanenko, Rússia | Lived once_002 | Arkhangelsk region, Malye Ozerki village (Rússia), 2012 (81)*
82 43.2.2.jpg Lars Hauck, Alemanha | Safe from mice | Tscheljabinsk District (Rússia), 2014 (82)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 145
83 59.2.2.jpg Alexandre Delmar Coelho, Portugal | 2 | Lagoa, Macedo de Cavaleiros (Portugal), 2013 (83)*
84 121.2.3.jpg Abraham, Espanha | La casa de Dios | Charro Land, Salamanca (Espanha), 2019 (84)*
85 136.2.3.jpg Muhammad Tabish Parray, Índia | Family works together | Gurez Valley, Kashmir (Índia), 2015 (85)*
86 52.2.2.jpg Aldomaria Canalini, Itália | Plesetsk 2 | Oblast Arkangel (Rússia), 2018 (86)*
146 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
87 31.2.4.jpg Nuno André Ferreira, Portugal | Vindimas no Dão | Viseu (Portugal), 2015 (87)*
88 31.2.6.jpg Nuno André Ferreira, Portugal | Vindimas no Dão | Viseu (Portugal), 2019 (88)*
89 122.2.5.jpg Mario Matías Pereda Berga, Espanha | Historias del Cáucaso 05 | Ismailli Rayon (Azerbaijão), 2018 (89)*
90 122.2.6.jpg Mario Matías Pereda Berga, Espanha | Historias del Cáucaso 06 | Ismailli Rayon Ismailli Rayon (Azerbaijão), 2018 (90)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 147
91 70.2.1.jpg Kip Harris, Canadá | Cattle Feeding | Nagaur (Índia), 2014 (91)*
92 142.2.2.jpg Mário João G. Roque, Portugal | Gentes das Terras de Sicó | Casmilo Condeixa (Portugal), 2016 (92)*
93 128.2.6.jpg Verónica Menéndez Salinas Verónica Menéndez Salinas , Espanha | Trasquilada Tradicional 6 | Baleares (Espanha), 2018 (93)*
148 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
94 27.2.1.jpg Stefano Stranges, Itália | Drought in the rain season - A climatic change issue | Chilonga (Zimbábue), 2019 (94)*
95 27.2.5.jpg Stefano Stranges, Itália | Drought in the rain season - A climatic change issue | Chambuta (Zimbábue), 2019 (95)*
96 147.2.6.jpg Paula Hita, Espanha | Sem Título | Valencia (Espanha), 2019 (96)*
97 10.2.1.jpg Meysam Khaledian, Irão | Boatman | Khuzestan (Irão), 2018 (97)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 149
98 80.2.4.jpg Ricardo Alfredo Kleine Samson, Argentina | Los Valdez | Atreuco, Pcia. de Neuquén (Argentina), 2018 (98)*
99 40.2.5.JPG Mohamadreza Rezaeiasl, Irão | Pathway | Abyaneh village (Irão), 2009 (99)*
100 118.2.4.JPG Mahboubeh Dorraki, Espanha | Transporte peculiar | Elmina (Gana), 2017 (100)*
150 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
101 150.2.1.jpg Paulo Tavares, Portugal | Dependências | Distrito de Pitumarca (Peru), 2017 (101)*
102 32.2.4.jpg Mitra Manouchehrikia, Irão | A house in the light | Iran, Lorestan, Shabandar (Irão), 2019 (102)*
103 68.2.1.jpg Omid Farrokh, Irão | Zhyani la de 1 | Sardasht (Irão), 2015 (103)*
104 9.2.2.jpg Marina Shukurova, Rússia | Grandma Grunya’s Atlantis | Saratov region (Rússia), 2018 (104)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 151
105 140.2.1.jpg Javier García Galán, Espanha | Casa de campo | Sa Pa (Vietnam), 2017 (105)*
106 138.2.2.jpg Vitor Pina, Portugal | Pastor | Rihonor de Castilla (Espanha), 2017 (106)*
107 130.2.1.jpg Mohamadreza Zarrin, Irão | Farmer old man | Semnan (Irão), 2018 (107)*
108 95.2.3.jpg Ehsan Jazini, Irão | Products | Char Mahal-o-Bakhtiyari (Irão), 2018 (108)*
152 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
109 35.2.4.JPG Do Hieu Liem, Vietnam | White salt field | Bac Lieu (Vietnam), 2018 (109)*
110 77.2.2.JPG Miguel Augusto Meneses Mesquita, Portugal | Salina 2 | Ilha do Sal (Cabo Verde), 2010 (110)*
111 105.2.2.jpg Amitava Chandra, Índia | Boat Making (2) | West-Bengal (Índia), 2019 (111)*
112 41.2.4.jpg Cleidimar Isabel de Oliveira, Brasil | Pescadores 04 | Bahia (Brasil), 2017 (112)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 153
113 61.2.4.JPG José António Freitas Guimarães, Portugal | Onde está a rainha | Vizela (Portugal), 2019 (113)*
114 24.2.4.jpg Aleksandra, Rússia | Vibrations of life | Altai territory (Rússia), 2016 (114)*
115 126.2.3.jpg Omar Arnau Cerezo, Espanha | Caña de azucar | Cienfuegos (Cuba), 2015 (115)*
116 78.2.1.jpg Joana Soares, Portugal | Porta #1 | Galegos, Barcelos (Portugal), 2017 (116)*
154 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
117 58.2.4.jpg Rudolph Castro, México | Familia Choqque | Cusco (Perú), 2017 (117)*
118 45.2.4.jpg Susanne Radke, Áustria | 4field near Jesolo | Jesolo (Itália), 2017 (118)*
119 148.2.3.jpg Roberto Hernandez Yustos, Espanha | De vuelta a la tierra | Valdenebro de los Valles, Valladolid (Espanha), 2007 (119)*
120 1.2.3.jpg Aleksandr, Rússia | Holy Theotokos Kazan monastery in the village of Vinnovka | Samara (Rússia), 2018 (120)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 155
121 96.2.3.jpg Hadi Dehghanpour, Irão | Harvest Season | Torbat Heidariyeh (Irão), 2018 (121)*
122 127.2.4.jpg Azim Khan Ronnie, Bangladesh | Women in red chilies | Bogura (Bangladesh), 2019 (122)*
123 88.2.3.jpg Shafayet Hossain Apollo, Bangladesh | Seeding for Zoom Chaas (Cultivation) | Thanchi, Bandarban District (Bangladesh), 2013 (123)*
124 103.2.2.jpg Gabriel Mieles, Equador | The loading | Olmedo (Equador), 2012 (124)*
156 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
125 30.2.4.jpg Pei Chun Shih , Taiwan | Unmanned vegetable stall | British Columbia (Canadá), 2018 (125)*
126 133.2.5.jpg Mohamamd Hashinur Reza, Bangladesh | The face of farmer | Narail (Bangladesh), 2019 (126)*
127 82.2.1.jpg Pedro Miguel Lopes Vaz de Carvalho, Portugal | Tabaco | Açores (Portugal), 2017 (127)*
128 110.2.2.jpg Rocío García Risco, Espanha | Transporte peculiar | Elmina (Gana), 2017 (128)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 157
133 28.2.5.JPG Nafis Ameen, Bangladesh | Life of Haor_5 | Kishoreganj (Bangladesh), 2017 (133)*
134 73.2.4.jpg Larisa Siverina, Rússia | Private garden | Kurgan region, Feklino (Rússia), 2018 (134)*
135 76.2.6.jpg Javad Rezaei, Irão | Mother and Child | Khorasan Razavi Province (Irão), 2018 (135)*
136 67.2.5.jpg Vladimir Sevrinovsky, Rússia | Phone call | Dagestan (Rússia), 2018 (136)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 159
137 46.2.3.jpg João Vasco dos Santos Ribeiro, Portugal | Janela | Lobata (Portugal), 2018 (137)*
138 46.2.2.jpg João Vasco dos Santos Ribeiro, Portugal | A casa | Lobata (Portugal), 2018 (138)*
139 152.2.3.jpg Shapovalova Elena, Rússia | Sem Título | Tenerife (Espanha), 2016 (139)*
140 151.2.6.jpg José Manuel Pessoa Neto, Portugal | Tramagal - 6 | Tramagal (Portugal), 2017 (140)*
160 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Paisagens do Pampa
hibridismo natureza - sociedade
Roberto Verdum *
Lucimar de Fátima dos Santos Vieira **
Marcas das mãos humanas na história sos sentidos que elaboram a paisagem deixam de
das paisagens do Pampa considerar as circunstâncias dos detalhes de sua
conformação, desde os tempos pretéritos até nos-
Quando pedimos para as pessoas descreverem sos dias. Os mosaicos do conhecimento científico
a paisagem do Pampa, algumas referências se revelam que as suas origens são confundidas com
cristalizam como marcas desta paisagem: “um as do próprio planeta, há mais de 800 milhões de
relevo igual, uma monotonia geográfica, uma hori- anos atrás, ou seja, a paisagem do Pampa percor-
zontalidade em que se confundem a imensidão do reu uma trajetória nada monótona.
conjunto que une a superfície da terra e o céu, uma
silenciosa monotonia...”. Essa dinâmica ocorreu tanto na formação dos atri-
butos da natureza quanto na formação dos Estados
Sem desconsiderar estas marcas que revelam cer- Nacionais, enquanto territórios e identidades, tanto
tas circunstâncias em que os seres humanos cap- regional como nacional, além de ser um espaço de
taram, se apropriaram e forjaram ao longo de sua circulação, de produção e de habitat de pessoas
história o viver e o passar pelo Pampa, podemos e de seus bens, que se iniciou com as populações
considerar que essas marcas são generalizações pré-colombianas.
necessárias para nos situar na sua amplidão geo-
bio-histórica. As paisagens do Pampa, também denominada de
Província do Pampa, Pampa, Pampas, Campos
Quando descobrimos a sua temporalidade ao longo Pampeanos, Província dos Campos do Sul, entre
da escala geológica, nos damos conta que os nos- outras denominações 1 é uma área geográfica de
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 161
aproximadamente 700.000 km2, localizada em todo tros de adaptações biológicas, como se buscassem
o território da República do Uruguai, parte centro- recriar as condições de seus meios originais. Todas
-leste da República da Argentina e parte do Brasil essas dinâmicas, formas e estruturas vegetais se
(apenas 2,07%). Caracterizada pela quase ausência expandem por todo o Pampa, revelando que compor
de formações florestais, apenas com formações clima, relevo e solos em diversas escalas gera adap-
campestres, eventualmente cortados por matas tações e socializações entre plantas e animais que
galerias e modificadas, principalmente, pela varia- fogem a qualquer monotonia ao olhar observador, in-
ção dos solos, do relevo, da litologia e do clima. teressado em reconhecer esta diversidade. Ou seja,
reconhecer o diverso numa monotonia velada.
Atualmente, todo este mosaico é esculpido pelos
agentes intempéricos que não seguem qualquer O registro arqueológico 2, mais antigo no estado
regra de homogeneidade durante o ano e no passar do Rio Grande do Sul, mostra que os primeiros
deles. São chuvas torrenciais, secas, calores tórri- povoadores viveram na transição entre os períodos
dos e frios quase glaciais que geram a diversidade do Pleistoceno e do Holoceno, em uma paisagem
de materiais que formam os solos pedregosos, de planícies e planaltos, com ventos frios que so-
pouco profundos e húmicos de diversos matizes, pravam na direção sul-norte e pouca precipitação
de boa fertilidade natural, embasados por rochas pluvial, com verão temperado e inverno rigoroso,
ígneas, metamórficas e sedimentares. Sobre estes onde os campos predominavam sobre as florestas
solos, a diversidade biológica revela o predomínio e a fauna representada por animais de grande por-
dos campos herbáceos e arbustivos e matas ciliares te, adaptados ao clima.
que acompanham a drenagem como sendo den-
dritos que guardam no seu padrão a memória da As fronteiras paisagísticas que existiam entre os
erosão continua. grupos indígenas foram redefinidas a partir do sé-
culo XVI com a chegada dos espanhóis e portugue-
Os campos são diversos pelas suas composições ses. O território do Rio Grande do Sul, pertencia à
herbáceas e arbustivas e que ainda estão em pro- Coroa Espanhola. A historiografia explica que neste
cesso de descoberta. São diversas famílias, gêne- espaço habitavam os grupos indígenas: Jê, Guarani
ros e espécies vegetais que se associam e revelam e Pampeanos.
o caminhar silencioso das plantas segundo as
variações climáticas registradas na ocupação dos A conquista dos territórios indígenas ocorreu do
espaços mais diversos. Elas avançam e retrocedem século XVII até o século XX. A maioria dos povos
de seus refúgios de clímax tropicais e semiáridos indígenas foram dizimados pelo colonizador eu-
do cerrado da região centro-oeste no Brasil ou ropeu, ainda que, tenham ocorrido processos de
das estepes da região do Monte na Argentina, se mestiçagem biológica e cultural entre os mesmos.
adaptando e resistindo às novas condições de clima Atualmente, parte do território indígena tem sido
úmido e solos arenosos ou pedregosos do Pampa. restituído por intermédio de processos judiciais.
Segundo o Instituto Geográfico de Economia e
Assim, nos campos encontramos vegetais que são Estática (IBGE), no Censo Demográfico de 2010
relictos de climas do passado, mas também regis- consta 34.001 pessoas indígenas em todo o Estado,
162 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
sendo que dessas, apenas 18.616 residem em terras gua Jê. Como consequência, ocorreu o cercamento
indígenas. das terras e a dispensa de um grande contingente
de pessoas que viviam nos limites das propriedades
O Pampa, inseriu-se na economia colonial como (como posteiros, posseiros, agregados, ervateiros,
fornecedor de gado bovino, cavalar e muar, levado indígenas, africanos), levando à favelização nas
pelos tropeiros, para o abastecimento e transporte cidades e à dificuldade dos produtores pobres de
de mercadorias e de pessoas para a região mine- legitimarem suas terras.
radora do país. Na metade do século XVIII inicia-se
a colonização açoriana. Os açorianos receberam Assim, inicialmente, tivemos como características
as datas (¼ de légua quadrada – 272 hectares) para a estrutura fundiária baseada no latifúndio; a for-
desenvolverem a agricultura. Os produtos comer- mação das estâncias e das charqueadas; o uso e
ciais eram a carne, o linho e, principalmente o trigo. ocupação da terra predominantemente na pecuária
Como produtos de subsistência cultivavam arroz, com trabalho escravo; a pouca distribuição de
milho, batata, mandioca, frutas e outros legumes. renda; a pouca diversificação da matriz econômica;
a baixa densidade demográfica; uma classe hege-
Durante o século XVIII e no início do século XIX, a mônica e a formação de núcleos urbanos distantes
Capitania de Rio Grande de São Pedro (subordinada um dos outros. A estância significou a exploração
ao Rio de Janeiro) insere-se economicamente no da atividade econômica e da unidade produtiva,
mercado interno brasileiro, pela produção do trigo e além do núcleo de defesa e manifestação do poder
pela atividade pecuária. Neste período, a atividade e da riqueza.
de pecuária apresentou duas fases: preia do gado
selvagem e a produção do charque. Os produtos Até este período histórico, a paisagem e a identi-
pecuários corresponderam a 70% das exportações dade que deram origem aos habitantes do Pampa
da capitania, destacando-se o charque, o couro e podem ser consideradas como sendo basicamente
o gado em pé (cavalos, mulas e bovinos). As char- campestres. Desta forma, o desaparecimento
queadas foram estabelecidas no Pampa, entre as do campo nativo substituído por lavouras, princi-
lagunas dos Patos e Mirim, com destaque para Pe- palmente por monoculturas de grãos e arbórea,
lotas, pela sua localização estratégica, com a proxi- sobretudo a partir dos anos 1970, atuam também na
midade das vias de escoamento fluvial e marítimo. transformação de uma identidade.
No metade do século XIX foi promulgada a Lei de Atualmente, enquanto que sobre as coxilhas e os
Terras (1850), a qual previa, entre outras mudan- cerros o olhar reconhece estas rupturas históricas
ças: a proibição da doação de terras no Brasil, a que elaboram um mosaico heterogêneo sob forte
venda de terra aos colonizadores com proibição de influência da mecanização, nas amplas planícies
mão-de-obra escrava, a regulamentação fundiária aluviais a paisagem associada às extensas pro-
da posse e do uso da terra e, também, o início do duções de arroz irrigado, desde os anos de 1920,
processo de expansão em direção ao norte do reafirmam este cultivo como “natural” ao olhar do
Estado do Rio Grande do Sul, terras historicamente gaúcho e do viajante que vive e percorre as paisa-
ocupadas, pelos grupos indígenas falantes da lín- gens do Pampa.
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 163
Por outro lado, os campos herbáceos nativos e com Ao observar e fazer a leitura de uma paisagem,
atividade de pecuária, em torno de 40% do terri- fazemos um exercício de selecionar, organizar e
tório do Pampa, são considerados remanescentes formar imagens mentais para caracterizá-las fisio-
da paisagem original. Esta atividade econômica graficamente e morfologicamente, em relação ao
sobre o campo nativo, quando manejada de forma seu entorno e a sequência de seus componentes,
correta, é economicamente viável e sustentável em principalmente aqueles que conduzem para as lem-
relação à conservação da diversidade biológica, branças de experiências passadas. Essa leitura da
sobretudo, quando comparada com as intensas paisagem que fazemos é o resultado de uma edu-
transformações associadas aos cultivos que, na cação, de um contexto social, econômico, político e
atualidade, se encontram em fase de expansão e cultural das nossas vivências.
recriando uma nova paisagem pampeana.
Ao pesquisarmos o Pampa, foram identificadas 198
paisagens portadoras de belezas cênicas. A leitura
da paisagem foi associada, preferencialmente, aos
Belezas cênicas pampeanas: resgate elementos da natureza. As paisagens com elemen-
dos valores paisagísticos tos construídos pela(s) sociedade(s) humana(s),
como faróis, cercas, taipas, fazendas, estâncias,
A beleza cênica da paisagem é o espaço cênico de pontes e prédios, foram identificadas porque estas
sua observação, ou seja, é o cenário com proprieda- fazem parte da história e da identidade da cultura
des estéticas formais e estruturais marcadas pela gaúcha.
harmonia, proporção, luminosidade, textura, cor,
integridade e equilíbrio. A paisagem cênica caracte- Os fatores que mais contribuem para a qualidade
riza-se por gerar sentimentos ou sensações agradá- cênica da paisagem do Pampa foram a morfologia,
veis, como prazer, deleite, satisfação, tranquilidade a água, a vegetação, a cor, o fundo cênico e a rari-
e paz de espírito. dade. A morfologia suave das colinas; a morfologia
singular das Formações das Guaritas em Caçapava
As belezas cênicas das paisagens possuem im- do Sul; a morfologia das dunas na Planície Costeira;
portância social, cultural, histórica, econômica e a vegetação com sua diversidade de exemplares
ecológica. Assim, muitas vezes, ao lembrarmos do da vegetação num único espaço, pela raridade e
passado, fortalecemos o sentimento identitário, as pela importância ecológica; a água com predomínio
pessoas se conectam à natureza e ao universo; as tanto em movimento quanto em repouso (na con-
paisagens produzem qualidade de vida e bem-estar dição de refletir – como um espelho – o entorno);
social, relaxamento, paz interior e espiritual; estas a combinação de cores variadas e contrastantes
por serem reais, são independentes de qualquer entre a vegetação, as rochas e a água; o fundo cêni-
convenção, possuem valor intrínseco, seja finan- co, com a possibilidade de visualizar o horizonte ou
ceiro, seja utilitário; apresentam atributos raros, várias linhas, como por exemplo, a paisagem do alto
elementos singulares da natureza; são permeadas de um cerro ou de uma coxilha e a raridade de um
de cultura, contribuindo na reprodução social e no elemento identificado pelo conhecimento científico
modo de vida das comunidades. dos pesquisadores.
164 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Até hoje, admiramos as paisagens de acordo com valor paisagístico, de valor universal excepcional
os padrões do século XVIII, buscando essencial- (parâmetros estético, ecológico, histórico, cultural e
mente, as sensações que estas nos oferecem pela científico), tornem-se não somente um bem jurídico
sua beleza cênica, pela sublimidade, pelo pitoresco merecedor de proteção, principalmente aquelas
e de preferência na área rural, ou seja, uma busca consideradas portadoras de belezas cênicas, subli-
pelas paisagens que são dignas de serem repre- mes e pitorescas, mas como referências para gerar
sentadas em uma fotografia, uma imagem ou um uma matriz identitária às pessoas; não somente
desenho. Ainda hoje, se exibem estas paisagens transformadas em peças de museus, pois elas de-
em folhetos, fotos de calendário, cartões postais vem evoluir com a história e fazer parte das relações
nas lojas de souvenir, nas empresas de turismo e, sociais que as protegem e/ou as transformam.
atualmente, em folhetos publicitários para venda de
casas e apartamentos em condomínios fechados, Deste modo, ao entender as paisagens como polis-
onde se incorpora a concretude e o simbólico as- sêmicas, dinâmicas e complexas, ao compreender
sociado à beleza cênica das paisagens do Pampa, que a(s) sociedade(s) humana(s) procuram nas
como um atributo a mais no valor venal. paisagens uma experiência estética, ao constatar
que esta possui impressas as marcas, as emoções
Ao desejar uma qualidade de vida melhor, o ser hu- e as lembranças do passado, que se modificam
mano, também, deseja uma paisagem de qualidade conforme o local, a escala e o tempo de quem as
que se agrega, não só do ponto de vista estético, percebe; as paisagens também se tornam marcas
mas da variedade de interligações das diferentes das mãos humanas ao longo da história do Pampa,
formas de vida e de suas funcionalidades. Por ao resgatarmos os seus valores intrínsecos e as
isso, é importante que as paisagens, os sítios de suas belezas cênicas.
1 Pastizales Pampeanos, Pastizales del Río de la Plata, Província HEIDRICH, A. Além do latifúndio: geografia do interesse econômico
Bonariense, Pradera Papeana, Ecorregión de las Pampas. gaúcho. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2000.
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2 A arqueologia classifica essas populações de acordo com a cultura
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tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento 165
* Professor Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)/Brasil, Departamento de Geografia, PPG em Geografia e PPG em
Desenvolvimento Rural
** Professora Adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)/Brasil, Departamento Interdisciplinar.
cidade e processos de urbanização
tema 3
168 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
Neste caso, cidade, a civitas latina, liga-se a cidadão Por isso, urbano e cidade é coisa, lugar, gente, pai-
e cidadania, fazendo apelo a uma condição. Tem sagem, movimento, mas também forma de se viver
por complemento urbs, palavra que está na origem coletivamente, devendo em rigor considerar-se que
de urbano, urbanidade e urbanismo. Já os gregos, não há cidade quando não há cidadania, nem urba-
também na Antiguidade Clássica, referiam-se no se não há urbanidade.
a astri, se queriam expressar algo mais próximo
da dimensão física, e a polis (que dará origem às O conceito de urbano tem vindo a ganhar cada
palavras de política e polícia), se o objetivo era dar vez maior relevância relativamente ao de cidade,
conta da importância de uma ação coletiva que terá porque esta é vista, regra geral, como espaço
correspondência latina na urbs e no urbano, urbani- confinado (em associação à ideia de concentra-
dade e urbanismo. ção), logo, conceito menos adequado a incluir os
tema 3 cidade e processos de urbanização 169
efeitos duma urbanização que se expandiu por Média europeia, durante a Revolução Industrial, ou,
matos e campos e ganhou formas diversas. Mas, mais recentemente, com a vulgarização do avião.
além disso, melhoraram de tal forma os sistemas Este processo, de concentração de pessoas em
de acessibilidade e a mobilidade das pessoas que espaços restritos da superfície da Terra, a meu ver,
mesmo os conceitos que reconheciam situações marca o triunfo da polis, ou seja, da capacidade e
diversas à cidade clássica (do urbano concentrado), vontade de vivermos juntos, em razão das vanta-
como conurbação (desenvolvida pelo escocês gens que resultam da nossa aglomeração, o que é
Patrick Geddes), megalópole (do francês de origem explicável pela Economia e não tão facilmente por
ucraniana Jean Gottmann), ou área metropolitana outras disciplinas científicas relativamente aos gan-
(expressão vulgarizada pelo serviço de estatística hos sociais e culturais.
dos Estados Unidos) passaram a ser insuficientes.
Em consequência, multiplicam-se novos conceitos, Além da concentração de pessoas e atividades, o
face a realidades urbanas mais diversas que podem processo de urbanização, em segundo lugar, impli-
ser vistas a várias escalas e a partir dos diferentes ca a alteração das condições de vida face ao “mun-
modos como se desenvolvem os mosaicos da vida do rural”, incluindo a possibilidade de se ter acesso
das pessoas que as habitam, constituindo hoje mais mais fácil a um conjunto vasto de bens e serviços.
de metade do total mundial. Assim é, sobretudo, na América Latina, em África
e também na maioria dos países da Ásia, onde o
contraste rural-urbano está marcado quase sempre
por respostas desiguais nos cuidados de saúde,
2. no ensino, ou no acesso à cultura, entre outros que
Urbanização marcam a urbanidade dos lugares e dos residentes.
Todavia, sobretudo na Europa e América do Norte,
As palavras importam. Todavia, talvez mais ainda os é possível gozar de condição urbana em contexto
processos. rural, enquanto que em contrapartida, em boa parte
das cidades de países pobres, muitos dos residen-
Porque, perceber o mundo em que vivemos, implica tes não, ou, na expressão que Henri Lefebvre tornou
compreender o chamado processo de urbanização, célebre, não têm “direito à cidade”. Por isso se fala
nas suas três dimensões. A primeira é estatística: na urbanização dos campos (na Europa de Norte e
relaciona-se com o aumento do número de lugares Centro, por exemplo) e na ruralização das cidades
do mundo onde residem mais de 10.000 ou 1 milhão do Sul Global, seja porque entre campos de golfe
de habitantes. Nisto, a facilidade de transporte é e espaços naturais, longe da cidade mas a menos
crucial: na China fala-se já de regiões urbanas com de 1 hora de helicóptero, comboio ou automóvel,
mais de 100 milhões de habitantes, ligadas no seu é possível o acesso à Internet e a todos os luxos
interior por veículos sobre carril que não levam mais urbanos, seja porque, nalgumas grandes cidades,
de uma hora entre os extremos. O que pode ver designadamente entre as maiores e as que mais
visto também no tempo, já que uma maior facilida- crescem no mundo, como Lagos, Dacca, Djakarta,
de de ligação entre cidades vai corresponder à sua Mombai e tantas mais, há muitos que (sobre)vivem
multiplicação e crescimento, seja na Baixa Idade sem casa de banho, meio de transporte minima-
170 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
mente confortável e acessível, nem casa digna do dificultá-la se não tivermos atenção à forma como
nome, improvisando, quando podem, uma pequena cada uma das três caraterísticas do processo de
horta e a criação de animais. urbanização se revela de modo diverso nos vários
espaços do mundo e em cada lugar em concreto.
Por fim, além da dimensão estatística e de estilo Consequentemente, convém considerar a existên-
de vida, a urbanização associa-se também à trans- cia de situações híbridas, combinações diversas de
formação de incultos, matos, florestas e campos, “rurbanidade”, assim como vários tipos de urbano
em prédios, arruamentos e jardins. Esta dimensão e de rural, bem ainda cidades e campos muitos
física seria o resultado do aumento da população, diversos entre si. Todavia, as generalizações são
todavia, no seu crescimento, pode ser mais impor- importantes para se compreender melhor a com-
tante ainda a capacidade económica e o nível das plexidade, desde que tenhamos a consciência da
exigências de urbanidade, já que no mundo dito diversidade.
mais desenvolvido, para uma maioria, a construção
não corresponde já ao espaço mínimo de abrigo, Deve ter sido a pensar nisso que Leo van den Berg
registando-se elevados volumes de construção per e outros consideraram a existência de um ciclo de
capita, justificados com as exigências de conforto urbanização, subdividido em quatro fases.
e a diminuição do tamanho médio da família, pela
presença de elevado número de escolas, hospitais, A urbanização por concentração é a primeira fase e
sedes de empresas, bancos, estabelecimentos co- aquela a que mais facilmente associamos o que se
merciais, piscinas, parques urbanos e muito mais. passou na Europa durante a segunda metade do sé-
Por isso, não é apenas nos lugares cuja população culo XIX e início do século XX (com variações entre
aumenta que ocorre a urbanização física, aumen- países e regiões), quando, tal como há menos tem-
tando mesmo em lugares em perda populacional as po na China ou Vietname, o êxodo rural levou a um
manchas urbanas que se associam à concentração enorme crescimento da população e densificação
de pessoas e à alteração (e melhoria, no tempo) das das cidades pré-existentes, bem como à criação de
suas condições de vida. Tal contrasta com as cida- novas cidades, por vezes à volta duma fábrica, ou
des de elevadíssima densidade populacional ou nos conjunto de fábricas.
mais bairros dos que têm menos posses, porque
afinal a pobreza gera poupança, até no uso de solo Numa segunda fase, o desenvolvimento dos trans-
urbanizado. portes permitiu a descompressão. O automóvel, em
especial, a motorizada e o autocarro, favoreceram a
suburbanização, ou seja, a expansão do urbano para
lá da cidade compacta – que o comboio e autocarro
3. haviam antes realizado de forma incompleta –,
Ciclo de urbanização assim se criando novos subúrbios desqualificados
(no caso das grandes cidades latino-americanas
A simplificação do raciocínio pela perspetiva dual e africanas), áreas de vivendas de classe média
e oposta campo-cidade e rural-urbano, ajuda à espalhadas por largos quilómetros quadrados em
compreensão do território, mas também pode torno de cada uma das cidades (no caso da América
tema 3 cidade e processos de urbanização 171
do Norte), ou soluções híbridas e complexas, que tação – o “retorno” faz-se a par dum processo de
permitiram o aumento do número dos habitantes a filtragem. Por isso, a reurbanização aparece muitas
viver em espaço urbano (na Europa). vezes associada à gentrificação, ou seja, à chegada
de artistas, boémios e outros (ditos) gentrificadores
Esta tendência de aumento da população residente que se misturam com reformados e trabalhadores
em lugares mais afastados da cidade consolidada indiferenciados que ficaram no centro da cidade,
(canónica, chamou-lhe Nuno Portas) levou, a partir aos quais, tipicamente, se sucede uma população
de certa altura, a que se falasse mesmo em desur- com mais elevado poder de compra, a única capaz
banização, ou contraurbanização, com Anthony de competir com usos turísticos e outros, de natu-
Champion a falar do seu sucesso em vários países reza económica, que se instalam, todos contribuin-
europeus nos anos oitenta e Bernard Kaiser a do para que passe a ser impossível a permanência
anunciar até o renascimento dos campos. Contudo, de quem vive apenas do seu ordenado, a menos
ainda que estatisticamente fossem os espaços que tenha havido congelamento de rendas, ou
menos densos que registavam crescimento da outras medidas ativas de apoio aos residentes de
população, enquanto as cidades perdiam habitan- longa duração.
tes, não parece que esta fase se possa associar a
um regresso à natureza, muito menos a ganhos de
população ativa na agricultura. Com os sistemas de
comunicação a melhorar significativamente – mais 4.
ainda, depois, com a Internet – admite-se hoje que Metropolização
o que ocorreu foi que alguns novos habitantes de
lugares aparentemente longe da cidade estavam a À escala do mundo, algumas cidades, metrópoles,
sinalizar uma outra fase de suburbanização, agora ou regiões urbanas, afirmam-se como muito do que
mais condicionada pela qualidade ambiental e pela apenas uma cidade dum determinado país. A bolsa
conetividade, donde uma possibilidade de fixação a de Nova Iorque tem efeitos globais, podendo dizer-
maior distância quilométrica, mas não de distância- se o mesmo de Paris ou Milão para a moda. Além
tempo. desta especialização à escala global, ou de uma
determinada “região mundial”, verifica-se também o
O ciclo fecha com o “regresso à cidade”, numa aumento do relacionamento entre cidades, o que se
quarta fase, dita de reurbanização, o que se pode faz numa lógica quase paralela à das relações entre
associar ao aumento das pessoas a viver isolada- nações, por exemplo no modo como as notícias
mente (e em situações familiares mais instáveis), atravessam fronteiras a partir de poucos lugares, ou
à revalorização da história e da cultura da cidade como as grandes empresas se posicionam geogra-
antiga, assim como à existência de lugares relativa- ficamente no espaço mundial.
mente baratos, onde muitas vezes o setor público
acrescenta valor, após uma (mais ou menos) longa Este processo de concentração à escala global, dito
decadência. Por isso – e também pelo interesse do de metropolização, é associável ao processo de glo-
setor imobiliário em tirar partido de edifícios antigos balização, tendo como uma das causas a melhoria
e em consequência do elevado custo da reabili- das comunicações, a segmentação das cadeias de
172 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
urbana à população a viver em cidade, as estatís- faz-se um pouco por todo o lado, frequentemente
ticas recorrem à classificação de freguesias sede com recurso à figura do loteamento, dando lugar a
de concelho ou com uma determinada quantidade uma mancha urbana descontínua, com fragmentos
e densidade de pessoas, para concluir que cerca entre campos e mato. Só no princípio de século –
de ¾ dos portugueses são urbanos: a estimativa aquando do discurso do “país de tanga” – se viu que
de 2013, publicada em 2019, aponta para cerca de a oferta de imóveis era exagerada, verificando-se,
73% a residir em freguesias urbanas. Se adotarmos antes do que em Espanha, mas com mais esforço
as bases das Nações Unidos, o valor desce um na banca do que lá, o que chamei “duplo vazio”, ou
pouco, para 65%, todavia, o que mais se salienta é seja, a combinação de centros das cidades semia-
a progressão, já que, ainda em 1992, as Nações Uni- bandonados (designadamente em cidades de maior
das consideravam a população portuguesa como dimensão), com periferias onde se viam centenas
predominantemente rural. de andares à venda e imóveis cuja construção ficou
congelada mais duma década (como se verificou
em Valongo).
põe em causa a possibilidade de acesso à cidadania servem apenas para disfarçar inseguranças. Peço
por parte de alguns e até a condição urbana geral. também que me acompanhe na homenagem a
Peter Hall, esse profundo conhecedor das cidades
Destacaria, na agenda do século XXI, ainda, a se- com quem, entre tantos outros – com José Manuel
paração entre ricos e pobres, já que esta continua Pereira de Oliveira como o primeiro entre todos –
bem real nos nossos espaços urbanos (sobretudo aprendi a ver as cidades como lugares de esperan-
os de maior dimensão) aqui se acentuando a tra- ça, de mistura e diversidade, lugares e realidades
dução geográfica dum país onde as diferenças de sociais onde se promove bem-estar, qualidade
rendimento entre pessoas são das mais elevadas de vida e, sobretudo, a capacidade de construção
na Europa. Mas, além dum certo fechamento dos coletiva dum futuro melhor. Perdoe-me a nota me-
mais ricos e a exclusão dos mais pobres, com a nos positiva no final, para lembrar que, como entre
emergência de “no go zones”, há outros conflitos culturas e países se corre o permanente risco duma
que dificultam a urbanidade, como o que preocu- leitura de “nós” e os “outros” e, logo, de “nós contra
pantemente se vai estabelecendo entre população os outros”, também os espaços urbanos podem
residente e população flutuante, sobretudo em ser tomados como os nossos lugares (que não dos
cidades muito visitadas, mas onde o turista gera outros) e a minha cidade minha e não dos outros
pouca riqueza, ou naquelas onde a sua presença (sejam estes outros imigrantes, pobres, turistas,
provoca um aumento do preço do solo que expulsa mais velhos, mais novos, o que seja).
e não permite a fixação já não apenas dos mais frá-
geis, mas também da classe média. Por isso, se é bom gostarmos da nossa cidade –
afinal, ainda que todos vejamos a nossa cidade de
modo diverso, todos vemos as outras cidades to-
mando a nossa por referência! – é essencial sermos
Fecho cidadão do mundo. Se possível, procurando fazer
algo – muito pouco, já se sabe – para que o mundo
A terminar, peço ao leitor compreensão por texto (de todos), seja um pouco melhor.
tão livre e pessoal, onde as certezas, se existirem,
* Professor Catedrático na Faculdade de Letras da Universidade do Porto; Presidente da Direção da Associação Portuguesa de Geógrafos
(APG http://www.apgeo.pt/bienio-2016-2018).
176 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
141 106.3.5.jpg Beihua Guo, Estados Unidos | Folded | San Francisco (Estados Unidos), 2019 (141)*
142 45.3.2.jpg Oleksandr Kotenko, Ucrânia | Buildings in the fog | Kyiv (Ucrânia ), 2017 (142)*
143 29.3.5.jpg Ary Attab Filho, Brasil | Emaranhado Urbano | La Defense, Paris (França), 2017 143)*
144 26.3.6.jpg Ivo Tiago Azevedo Pires Cardoso, Portugal | City Square | Porto (Portugal), 2019 (144)*
tema 3 cidade e processos de urbanização 177
149 31.3.5.jpg Georgy Slavny, Rússia | WHSD | Saint Petersburg (Rússia), 2018 (149)*
150 103.3.3.jpg Rui Emanuel da Silva Correia, Portugal | Stolen Life | Porto (Portugal), 2018 (150)*
151 103.3.1.jpg Rui Emanuel da Silva Correia, Portugal | Dancing Silhouettes | Porto (Portugal), 2013 (151)*
152 102.3.2.JPG J. Paulo Sampaio Soares Coutinho, Portugal | Transformação 2 | Ermesinde (Portugal), 2019 (152)*
tema 3 cidade e processos de urbanização 179
153 75.3.6.jpg Sergei Koliaskin, Rússia | Emptiness | Chelyabinsk (Rússia), 2017 (153)*
154 84.3.3.jpg Maria Franco, Colômbia | Bridge Nameless 3 | Bogotá (Colômbia), 2018 (154)*
155 14.3.2.jpg Javad Babol Khani, Irão | Brighter than darkness | Mashhad City (Irão), 2017 (155)*
156 84.3.6.jpg Maria Franco, Colômbia | Bridge Nameless 6 | Bogotá (Colômbia), 2019 (156)*
180 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
157 1.3.4.jpg Sergey Semenov, Rússia | Waiter | Saint-Petersburg (Rússia), 2018 (157)*
158 1.3.5.jpg Sergey Semenov, Rússia | Lover | Saint-Petersburg (Rússia), 2018 (158)*
159 91.3.4.jpg Sandro Porto, Portugal | Sombra4 | Lisboa (Portugal), 2011 (159)*
160 91.3.2.jpg Sandro Porto, Portugal | Sombra2 | Lisboa (Portugal), 2011 (160)*
tema 3 cidade e processos de urbanização 181
161 99.3.4.jpg Desiree Costa Giusti, Brasil | O muro já não é vermelho | Havana (Cuba), 2013 (161)*
162 95.3.3.jpg Zohre, Irão | Intimate | Tehran (Irão), 2015 (162)*
163 95.3.6.jpg Zohre, Irão | Control | Tehran (Irão), 2015 (163)*
164 99.3.3.jpg Desiree Costa Giusti, Brasil | O muro já não é vermelho | Havana (Cuba), 2013 (164)*
182 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
165 114.3.4.jpg Reginaldo Luiz Cardoso, Brasil | A cidade redescoberta - IV | Belo Horizonte - Minas Gerais (Brasil), 2019 (165)*
166 74.3.4.jpg Hugo Jorge Pires Ferreira, Portugal | A cidade como galeria de arte - 4 | Aveiro (Portugal), 2019 (166)*
167 114.3.3.jpg Reginaldo Luiz Cardoso, Brasil | A cidade redescoberta - III | Belo Horizonte - Minas Gerais (Brasil), 2018 (167)*
168 107.3.3.jpg Ariel Silva, México | 03 Welcome to mi barrio - serie | Tuxtla Gutiérrez, Chiapas. (México), 2015 (168)*
tema 3 cidade e processos de urbanização 183
169 68.3.1.jpg Antonio Pérez, Espanha | 001 ¿Sinonimias de identidad y de paisaje urbano? | Tokio (Japão), 2018 (169)*
170 55.3.4.jpg Hryzunt Alexei, Belarus | Sem Título | Minsk (Belarus), 2019 (170)*
171 68.3.6.jpg Antonio Pérez, Espanha | 006 ¿Sinonimias de identidad y de paisaje urbano? | Tokio (Japão), 2018 (171)*
172 126.3.2.JPG Sérgio Currais, Portugal | Gente e a cidade 02 | Guarda (Portugal), 2012 (172)*
184 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
173 52.3.4.jpg Liz Stefhanie Cubillos Díaz, Colômbia | Terraza 4 | Bogotá D.C (Colômbia), 2017 (173)*
174 109.3.5.jpg Artem Tikhonkov, Ucrânia | Feeding | Europe (Ucrânia), 2018 (174)*
175 105.3.3.jpg João Antonio Benitz Rangel dos Santos, Brasil | Yellow Hats 3 | Minas Gerais (Brasil), 2018 (175)*
176 28.3.4.jpg Adrián André Vélez Moreno, Equador | Sincronicidad | Guayaquil (Equador), 2018 (176)*
tema 3 cidade e processos de urbanização 185
181 54.3.5.jpg Ramon Vellasco Neves, Brasil | Conexão Humana | Rio de Janeiro (Brasil), 2018 (181)*
182 58.3.2.jpg Sandeep Rasal, Índia | Lost is Transformation 02 | Lalbaugh / Mumbai (Índia), 2015 (182)*
183 64.3.1.jpg Francisco Serrano Muñoz, Espanha | El dia a dia | Toledo (Espanha), 2017 (183)*
tema 3 cidade e processos de urbanização 187
184 81.3.6.jpg Seyed Alireza Rajaei Shoshtari, Irão | Human and nature war | Iran (Irão), 2018 (184)*
185 78.3.2.jpg Jose Miguel Jiménez Arcos, Espanha | Postureo | Barcelona (Espanha), 2018 (185)*
186 92.3.6.jpg Hélder Santana, Brasil | Sem Título | Recife, Pernambuco (Brasil), 2019 (186)*
187 120.3.6.jpg Viktoriia Vorobiova, Ucrânia | Round dance of light | Europe (Ucrânia), 2012 (187)*
188 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
188 66.3.3.jpg Syed Mahabubul Kader, Bangladesh | Tomato seller | Dhaka (Bangladesh), 2019 (188)*
189 66.3.5.jpg Syed Mahabubul Kader, Bangladesh | Women seller | Dhaka (Bangladesh), 2019 189)*
190 111.3.2.jpg Surajit Roy Chowdhury, Índia | Vel Vel 1 | West Bengal (Índia), 2019 (190)*
191 112.3.3.jpg Nathalie Fixon, Espanha | What is left behind - Tales of a massified city | Barcelona (Espanha), 2018 (191)*
tema 3 cidade e processos de urbanização 189
192 100.3.6.jpg Mohammad Yousefi Manesh, Irão | Alexander’s Prison | Yazd (Irão), 2019 (192)*
193 60.3.4.jpg Mark Anthony Agtay, Emirados Árabes Unidos | The chandelier | Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), 2019 (193)*
194 90.3.4.jpg Erfan Rabiei Dastjerdi, Irão | Dishes | Ghazvin (Irão), 2016 (194)*
195 60.3.3.jpg Mark Anthony Agtay, Emirados Árabes Unidos | The Cleanliness | Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), 2019 (195)*
190 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
196 19.3.3.JPG Oswaldo Forte, Brasil | Aéreas de Belém | Belém (Brasil), 2018 (196)*
197 10.3.2.JPG Fereidoon , Irão | Ekbatan | Tehran (Irão), 2018 (197)*
198 62.3.3.jpg Nguyen Viet Thanh, Vietnam | The future far away | Hochiminh city (Vietnam), 2017 (198)*
199 41.3.5.jpg Johannes Christopher Gerard, Netherlands | Yerevan in March V | Yerevan (Arménia), 2018 (199)*
tema 3 cidade e processos de urbanização 191
200 2.3.1.jpg Sohrab Riazi, Irão | Industry Hurts | Sari / Mazandaran (Irão), 2019 (200)*
201 113.3.3.jpg Mohammad, Irão | New town | Alborz province (Irão), 2016 (201)*
202 119.3.2.JPG Hans Wagner, Alemanha | Birds | Munich (Alemanha), 2018 (202)*
203 43.3.3.JPG Chingiz Babayev, Azerbaijão | Dialogue | Baku (Azerbaijão), 2006 (203)*
192 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
204 115.3.6.jpg Masoud Shokrnia, Irão | Abandoned textile factory | Qaemshahr Town (Irão), 2017 (204)*
205 89.3.1.jpg Rayhan Ahmed, Bangladesh | Ijtema the second largest islamic congregation of World | Dhaka (Bangladesh), 2018-19 (205)*
206 42.3.3.jpg Sergio Yoldi Chaure, Espanha | In front of the entrance | Granada (Espanha), 2019 (206)*
207 108.3.5.jpg Hernan Jaramillo, Colômbia | Cienaga Grande 5 | Cienaga Grande (Colômbia), 2019 (207)*
tema 3 cidade e processos de urbanização 193
208 77.3.3.jpg Jonk, França | Abandoned Theater, Cuba | La Havana (Bélgica), 2015 (208)*
209 77.3.5.jpg Jonk, França | Abandoned Garage, Belgium | Namur (Espanha), 2015 (209)*
210 121.3.5.jpg Sidnei Marcondes, Brasil | Navegar em qual mar? | Belém/Pará (Brasil), 2019 (210)*
211 35.3.2.jpg Pedro Antunes da Costa, Portugal | 2. Cemitério de bicicletas públicas | Cantão (República Popular da China), 2017 (211)*
194 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
O olhar sobre a cidade evidencia a importância do dissociam na cidade. Deste modo as cidades se
espaço na realização da vida humana. Produzida no assemelham pela imposição da globalização e se
decurso da construção do processo civilizatório – diferenciam pela particularidade histórica.
como produto da constituição da humanidade do
homem – a cidade contempla um mundo objetivo
que só tem existência e sentido a partir e através
da ação da sociedade como sujeito da história. O que se pode ver, constatar,
Enquanto produto social, a cidade traz as marcas da cartografar...
construção passada, revelando uma multiplicidade
de tempos impressos na paisagem urbana recriada, No raciocínio, aqui desenvolvido, não existiria uma
constantemente, através da contradição entre a sociedade a-espacial o que é facilmente com-
eliminação substancial das marcas do passado provável pelo fato de que todos os momentos de
- pela criação de formas arquitetônicas, sempre nossa existência se realizam num espaço e tempo
novas - e a manutenção persistente dos lugares definidos pela e para a ação humana. Refiro-me aos
marcados fortemente pela história acumulada nas espaços-tempos específicos dedicados à vida pri-
camadas do espaço. Essa desigualdade de tempos vada, ao trabalho, à circulação, bem como aquele
de produção da cidade no momento presente apon- do lazer. O conjunto dessas ações, constitutivas da
ta a imposição do homogêneo definido no seio do vida cotidiana, se evidencia como prática criadora
processo da urbanização contemporânea aonde dando visibilidade as relações sociais na cidade.
se impõe em todos os lugares as mesmas formas. Os homens, no seu cotidiano percorrem a cidade
Moderno e o antigo passado/presente se associam/ marcada pelos espaços-tempos da vida urbana. No
tema 3 cidade e processos de urbanização 195
uso do espaço e na organização do tempo a cidade o espaço da vida privada sinaliza a importância do
se descortina como espaço apropriável pelo corpo. habitar. Neste contexto a relação com o mundo é
O citadino vive a cidade através do uso do espaço construída a partir de um ponto no qual o indivíduo
em suas relações mais finas: pelas constituição se reconhece e a partir de onde constrói uma teia
das relações de vizinhança, do ato rotineiro de ir as de relações com os lugares da cidade e com os ou-
compras, o caminhar, nos encontros espontâneos tros habitantes, na medida em que o tempo implica
nas ruas, nos jogos e brincadeiras nos parques e em duração e continuidade. É neste sentido que o
jardins, no percurso reconhecido de uma prática ato de habitar ganha importância. Nessa perspecti-
vivida em pequenos atos corriqueiros e, aparente- va, o modo de habitar se refere a um modo de apro-
mente, sem sentido que criam laços profundos de priação do espaço e do tempo, apresentando-se
identidade entre o habitante com o outro de suas como uma das dimensões da vida humana. Em sua
relações e entre o habitante e os lugares marcados centralidade, a cidade é o lugar de invenção e de
pela sua presença. Deste modo a cidade é um reunião de pessoas, de troca de informação, condi-
espaço real e concreto; é a extensão exterior ao ção em que o habitante toma consciência de uma
corpo, o que é exterior a nós, ao mesmo tempo, vida coletiva surgida das experiências cotidianas
revelando-se ao citadino como elementos de que guarda em si uma relação afetiva e simbólica,
suas referências, que não são específicas de uma onde se produz a identidade. A identidade forjada
função ou de uma forma, mas produzidos por um na prática socioespacial constituir-se em suporte
conjunto de sentidos, impressos pelo uso definido da memória, tornando-a ato presente na articula-
através das propriedades do tempo vivido. Isto é, ção espaço e tempo, pela mediação da experiência
como materialidade a cidade revela a condição vivida num determinado lugar. Nesse sentido a ci-
de existência do indivíduo através de seu corpo dade se revela, pela construção de uma identidade
que ocupa um lugar no espaço e de seus gestos que sustenta a memória ligando o tempo da ação
revelados nos modos de uso que ele faz da cidade ao lugar da ação; o uso e a um determinado ritmo
em sua simultaneidade. O corpo, em sua dimensão em sua indissociabilidade, através da memória.
espacial, ganha significado na cidade marcando o
ritmo da passagem do tempo e o cheio e o vazio, O passado deixou traços, inscrições, escritura do
deixando rastros. No entanto se a cidade, como tempo que é o tempo da atividade humana, impres-
produção social, é usufruída- acessada-vivida so na morfologia. Mas esse espaço é sempre hoje,
através do corpo, o desenho da cidade, o traçado como outrora, um espaço presente dado como um
das ruas e avenidas, o esboço da circulação viária, todo atual com suas ligações e conexões em ato
impedem e criam barreiras para o corpo. revelando as escalas do tempo. Como escreve Cal-
vino 1 “a cidade não conta o seu passado, ela o con-
No plano das formas da cidade se destacam os tém como nas linhas das mãos, inscritos nas ruas...”,
espaços públicos dos privados não apenas quanto por outro lado, “todas as futuras cidades estão
a sua forma, mas quanto ao seu uso. Os primeiros contidas dentro da outra, apertadas, exprimidas,
revelam a simultaneidade das atividades que mar- inseparáveis 2 ”, esse é o sentido da reprodução da
cam a história coletiva como pontos de reunião e de cidade como obra social, é esse o processo que a
encontros. São as praças e as ruas, por exemplo. Já morfologia e a memória revelam, apontando, neste
196 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
ato, as possibilidades com as quais os cidadãos se que traz consigo o efêmero, indica a reprodução
confrontam. Mais de que uma forma material, uma continuada de suas formas associadas à expansão
morfologia, a cidade revela o cidadão e a socieda- do tecido urbano que se desdobra em periferias
de urbana. E é, nessa relação, que o cidadão toma urbanas como o outro da centralidade. O cresci-
consciência de sua situação diante de espaços mais mento e expansão das cidades com a construção de
amplos, onde a apropriação revela, em sua profun- grandes condomínios residenciais de classe média
didade, a relação entre necessidade e desejo, o es- associados à construção de bairros espontâneos de
paço e o tempo; produção-apropriação-reprodução população de baixa renda são as formas reveladoras
em seu movimento, numa prática socioespacial que da desigualdade social marcada pela posse da pro-
é condição da existência humana (ligando o real e priedade da riqueza expressa na cidade. Esta situa-
o possível). Assim, no plano do cotidiano, a cidade ção dá visibilidade à segregação socioespacial. As
aparece através de seus usos definidos no seio das formas da segregação tem por conteúdo a proprie-
formas de acesso a cada lugar de realização da vida dade privada da riqueza presente nas sociedades
e que são diferentes no centro e na periferia das contemporâneas criando acessos diferenciados aos
grandes cidades. espaços-tempos de realização da vida. Esse proces-
so se traduz em imagens distorcidas exibidas pelas
diferenças marcada pelo tamanho das moradias,
O que há por traz das formas pela diferenciação do material da construção, pela
presença do verde, pela densidade da infraestrutu-
Na cidade, portanto, se lê a vida através do modo ra, etc. apontando a hierarquização socioespacial,
como o cidadão a usa enquanto realidade presente onde os espaços se reproduzem e se acessam pela
e imediata, em sua simultaneidade. Esta faceta é mediação do mercado imobiliário limitando as con-
produto de sua condição de centralidade. Centro dições e as possibilidade do uso do espaço pelos
da informação, reunião de todas as coisas que re- habitantes de baixa ou nenhuma renda.
ferenciam a vida urbana, a cidade guarda o sentido
da centralidade em contradição com a dispersão do O espaço tornado mercadoria e destinado à troca
tecido urbano pontuado por cheios e vazios. no mercado, se impõe a todos pela existência da
propriedade privada da riqueza sob a forma de
Por outro lado, as ações e atividades no cotidiano solo urbano afastando o cidadão das áreas valo-
apontam que a cidade é vivida em fragmentos rizadas pelo trabalho nela contido sob a forma de
aonde cada função tem seus lugares. Um certo infraestrutura urbana. Como consequência dessa
padrão homogêneo-diferencial se instaura entre o dinâmica da sociedade capitalista, a cidade vai se
aglomerado do comércio e serviços em contraste, reproduzindo afastando local de trabalho-local
com as áreas ocupadas pela moradia. Por todos os de moradia que no caso das grandes metrópoles
lados, no entanto, presencia-se os diferenciais de latino-americanas se faz com o aumento despro-
renda de onde deriva os acessos diferenciados aos porcional do tempo do deslocamento deteriorando
lugares da cidade. a vida. Os rostos marcados pelo cansaço nas longas
filas que se formam no início e final da jornada de
A paisagem urbana ao dar visibilidade ao inacabado trabalho, a condição do comercio informal, a mul-
tema 3 cidade e processos de urbanização 197
tiplicação dos sem-teto e dos pedintes nas ruas da e esvaziam as relações sociais de convivência e
cidade dos países periféricos apontam a redução solidariedade. Num confronto aberto as pessoas
do cidadão à mera sobrevivência num mundo de apropriam-se dos espaços públicos para reivindicar
privações. A cidade criada como obra civilizatória, o fim das condições que privam a realização da vida
contempla hoje a privação da vida. A cidade como em todos seus sentidos. Deste modo a cidade é
destino do homem é hoje o espaço do conflito também o lugar do sonho e do desejo de uma outra
aberto contra as condições que deterioram a vida vida numa cidade não-segregada.
1 Ítalo Calvino, Cidades invisíveis. São Paulo, Cia. das Letras, 1991, p. 14.
2 Idem, ibidem p. 15.
* Professora Titular em Geografia Humana, Departamento de Geografia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de
São Paulo – USP – Brasil.
cultura e sociedade:
diversidade cultural e inclusão social
tema 4
200 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
sejam voluntárias, na última década verificou-se Fora da Europa destacam-se, pela elevada propor-
um elevado crescimento das pessoas que estão em ção de imigrantes no total da população residente,
situação de deslocamento forçado por motivos de os países produtores de petróleo do Golfo Pérsi-
guerra, perseguição pessoal ou catástrofe natural. co, nomeadamente, os Emiratos Árabes Unidos
Segundo dados do Relatório da Agência da ONU (87,9%), o Qatar, (78,7%) e o Bahrein com 45,2%
para Refugiados (ACNUR), em 2018 estima-se que (United Nations, 2019 -a).
haveria no mundo 70,8 milhões de pessoas em
situação de deslocamento forçado, dos quais 25,9 A relevância crescente das migrações na dinâmica
milhões correspondem a refugiados, 3,5 milhões demográfica de um número cada vez maior de paí-
a requerentes de asilo e 41,3 milhões a deslocados ses e regiões tem sido acompanhada pela redução
internos. Cálculos efetuados pela Divisão de Popu- drástica das taxas de mortalidade infantil e pelo
lação das Nações Unidas (United Nations, 2019 - a) aumento da longevidade da população, graças aos
referem que, em 2019, mais de metade dos imigran- progressos observados nas ciências da saúde e na
tes internacionais (141 milhões) viviam na Europa e melhoria das condições de vida da população mun-
na América do Norte, mas desde a entrada no sécu- dial. Segundo estimativas da Divisão de População
lo XXI o seu peso relativo no total mundial diminuiu da Organização das Nações Unidas, a esperança
de 56,0% para 51,9%. Em contrapartida, no mesmo média de vida à nascença, entre 1950-55 e 2010-15
período, o stock de imigrantes na Ásia Ocidental, aumentou cerca de 24 anos para o conjunto da
África do Norte e África subsaariana, cresceu para população mundial, 23 anos para os homens e 24,8
mais do dobro: 33,5 milhões (19,3%) em 2000 e 72,2 anos para as mulheres, atingindo em 2010-15 um
milhões (26,6%) em 2019. valor médio de 68,5 anos para os homens e 73,3
anos para as mulheres. Paralelamente, o número
Os impactes das migrações na dinâmica demográ- médio de filhos por mulher em idade fértil evoluiu
fica das regiões de origem e destino dos migrantes de 4,97 em 1950-55, para 2,52 em 2010-15, atingindo
são muito diferentes, variando em função da em numerosos países do mundo desenvolvido, com
dimensão e características da população de cada destaque para a Europa e o Japão, valores muito
território e do volume e composição dos fluxos abaixo do necessário para assegurar a substituição
migratórios. A maior proporção de imigrantes na das gerações. Esta evolução da fecundidade e da
população total regista-se na Oceânia (21%) e na longevidade convergem na transformação da estru-
América do Norte (16%) e a menor na América Lati- tura etária da população no sentido da redução da
na e Caraíbas, na Ásia Central e do Sul e do Leste e proporção dos grupos etários mais jovens e do au-
Sueste, com a exceção de países como Singapura, mento dos mais idosos, pelo que na União Europeia,
cuja população imigrante corresponde a cerca de o saldo migratório constitui desde 1989, a principal
37,1% do total de habitantes do país. componente do crescimento efetivo da população.
Além disso, nos últimos vinte anos, sem os ganhos
Na Europa os imigrantes representam em média, de população provenientes da imigração, o número
11 % da população, mas há países em que corres- de residentes de alguns países europeus teria dimi-
pondem a proporções muito mais elevadas, nomea- nuído. Na América do Norte e na Oceânia, o saldo
damente no Luxemburgo (44,4%), Suíça (29,9%), migratório positivo contribuiu, respetivamente, para
Suécia (20,0%), Áustria (19,9%) e Alemanha (15,7%). 42% e 32% do crescimento demográfico observa-
202 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
do entre 2000 e 2015 (United Nations, 2016). Esta nas regiões mais desenvolvidas, assumem parti-
tendência geral tem sido acompanhada por um cular relevância, o aumento absoluto e relativo da
intenso êxodo rural, iniciado a partir de meados do população idosa e muito idosa (85 e mais anos) e a
século passado e, consequentemente, pela con- diminuição do número de jovens e da população em
centração da população nas áreas urbanas e pelo idade ativa, sobretudo nos países ricos.
progressivo declínio e envelhecimento demográfico
das áreas rurais mais remotas. No início de 2018 a população da UE – 28 com 65 e
mais anos de idade ascendia a 101, 1 milhões (cerca
Estudos prospetivos efetuados pela Divisão da de 20% do total) e segundo projeções do EUROS-
População das Nações Unidas indicam que as TAT, em 2050 atingirá 149,2 milhões (28,5%), dos
migrações vão continuar a ser o principal driver do quais 31,8 milhões com idade igual ou superior a 85
crescimento demográfico das regiões mais de- anos e mais de meio milhão de centenários (Stran-
senvolvidas, pelo que a imigração é imprescindível dell; Wolff, 2019).
para combater os riscos de declínio demográfico da
Europa e travar o ritmo do envelhecimento da popu- O envelhecimento demográfico da população dos
lação. Contudo, a partir de 2040 - 2050 não serão países mais desenvolvidos da Europa, América
suficientes para impedir a diminuição do número de do Norte, Ásia Oriental e Oceânia coloca desafios
habitantes dessas regiões (United Nations, 2017 - a). económicos e sociais importantes para o desenvol-
Além disso, nas próximas décadas, a imigração, só vimento sustentável das sociedades do futuro. Por
por si, não poderá inverter a tendência de aumento conseguinte, a antecipação destas tendências é
da proporção de pessoas idosas e muito idosas, na fundamental para a implementação de políticas que
medida em que o aumento da idade média da popu- permitam responder aos seus efeitos nos domínios
lação faz-se sentir em todo o mundo e decorre do do emprego, habitação, cuidados de saúde, prote-
alargamento da esperança média de vida à nascença ção social e outras formas de solidariedade social
e da redução da fecundidade. Mesmo tomando em (United Nations, 2017 - b). Os efeitos do envelheci-
conta que as famílias de imigrantes provenientes do mento demográfico no crescimento económico e
Terceiro Mundo têm um número médio de filhos por no desenvolvimento das sociedades do futuro são
mulher superior ao das sociedades de acolhimento, difíceis de antecipar. Por um lado, pode argumentar-
a experiência tem demonstrado que, com o tempo, se que o aumento da população idosa e muito idosa
as comunidades imigradas tendem a apresentar e a redução da oferta de mão-de-obra irão afetar
um comportamento reprodutivo próximo do padrão negativamente o crescimento económico, aumentar
dominante no país onde residem (Fonseca, 2003). os encargos sociais com a prestação de cuidados
de saúde e apoio social aos idosos, pondo em risco
Estas transformações demográficas têm implica- a sustentabilidade dos regimes de segurança social
ções enormes de natureza geográfica, económica, e das finanças públicas. Por outro, pode contrapor-
social e política. No plano estritamente demográfi- se que o envelhecimento da população pode consti-
co, além de mudanças nos padrões de distribuição tuir um estímulo ao crescimento económico, crian-
geográfica da população pelas diferentes regiões do oportunidades de emprego no desenvolvimento
do mundo, nomeadamente a diminuição da pro- de novos bens e serviços, como sejam habitação,
porção dos residentes na Europa e, de modo geral, transportes e serviços de saúde e de apoio para
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 203
A expansão urbana mundial e a concentração Li, Westlund e Liu (2019), propõem uma classi-
da população em áreas metropolitanas têm sido ficação das áreas rurais em quatro categorias
acompanhadas pelo despovoamento das áreas ru- fundamentais. A primeira corresponde a antigos
rais mais remotas. Este declínio é um processo lon- aglomerados rurais e pequenas cidades que, devido
go, que se desenvolveu a partir da Segunda Guerra ao efeito combinado do crescimento natural e de
Mundial, na América do Norte e na Europa, com a saldos migratórios positivos, se transformaram em
transformação sucessiva de economias e socie- áreas urbanas densamente povoadas. Como refere
dades tradicionais predominantemente agrícolas, Farrel, 2017, este processo de transição dos espa-
em sociedades urbano-industriais e mais tarde em ços rurais para áreas urbanas, há muito concluído
economias do conhecimento. nos países desenvolvidos, constitui uma forma de
urbanização importante nos países em desenvolvi-
Globalmente, a população residente em áreas mento que registam atualmente maiores taxas de
rurais tem crescido lentamente a partir de meados crescimento urbano. A segunda categoria é consti-
do século passado, cifrando-se em 2018, em cerca tuída pelos espaços rurais integrados nas grandes
de 3,4 mil milhões, mas é expectável que nos regiões urbano-metropolitanas. São territórios
próximos anos comece a declinar, estimando-se com densidades de ocupação ainda relativamente
que em 2050 não vá além de 3,1 mil milhões. Por baixas, com uma grande diversidade de atividades
conseguinte, o despovoamento de vastas áreas económicas e usos do solo e perfeitamente integra-
rurais é um fenómeno inevitável que se faz sentir dos nos mercados de emprego, habitação e lazeres
em todo o mundo, à medida que se difunde e das áreas metropolitanas. O terceiro grupo inclui
alastra a urbanização nos países em desenvolvi- os espaços de transição, na periferia das áreas me-
mento. Contudo, importa salientar que o declínio tropolitanas e grandes regiões urbanas do mundo
demográfico não é extensivo a todas as áreas desenvolvido, com possibilidades de aumentar a
rurais, verificando-se uma grande diversidade de sua interação com elas ou mesmo de serem nelas
situações onde se incluem desde territórios em integrados. Do quarto grupo fazem parte os espa-
despovoamento até áreas com dinâmicas demo- ços mais remotos, distantes da influência positiva
gráficas positivas. Estas diferenças correspondem das grandes cidades e regiões urbanas. São áreas
a distintos níveis de desenvolvimento e urbaniza- caraterizadas pelo predomínio das atividades
ção dos países e regiões do mundo e resultam de agrícolas e florestais, com fracas oportunidades de
um longo processo histórico marcado por grandes emprego e mobilidade social, muito fustigadas pela
mudanças nas relações entre espaços rurais e emigração ou êxodo rural da população mais jovem
urbanos. Além disso, os espaços rurais não corres- e por dificuldade de acesso a equipamentos e
pondem a uma entidade homogénea. Apresentam serviços básicos nos domínios da educação, saúde,
caraterísticas muito diversas em termos de clima, cultura e lazer. São estes territórios que constituem
recursos naturais, densidade e estrutura etária o mundo rural profundo, em que a tendência para o
da população, base económica, qualificação dos declínio ou mesmo despovoamento demográfico,
recursos humanos, dotação de infraestruturas e no quadro do modelo de crescimento económico
equipamentos, distância e acesso aos mercados, prevalecente na sociedade atual, se afigura inevi-
recursos, instituições e capital social das grandes tável. As políticas públicas poderão ter um papel
áreas metropolitanas. relevante na regulação das interações entre os
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 205
fatores endógenos e exógenos que conduziram à Espanha (7,9 ‰ e Grécia (8,1 ‰). O índice sintético
progressiva marginalização e periferização desses de fecundidade registou uma ligeira recuperação
territórios, mas a sua capacidade para inverter a sua relativamente a 2017 (1,41 e 1,38 respetivamente),
dinâmica demográfica negativa é muito limitada. mas desde 2001, permanece abaixo da média da
Deste modo, a aposta num modelo de desenvol- UE – 28. A esperança média de vida à nascença
vimento das áreas rurais baseado na canalização também tem vindo a aumentar sendo em 2017 de
de volumosos recursos financeiros para apoio à 78,4 anos para os homens e 84,6 para as mulheres,
agricultura, como é o caso da Política Agrícola Co- sendo ambos os valores ligeiramente superiores à
mum da União Europeia, tem sido pouco eficaz. Nas média da UE 28, respetivamente: 78,3 e 83,5.
economias globais baseadas no conhecimento e
na inovação, o desenvolvimento rural terá necessa- Em resultado do aumento da longevidade e da
riamente de assentar na diversificação da estrutura redução da natalidade, verificou-se em Portugal
socioeconómica, no aumento da produtividade o decréscimo da população jovem (0 a 14 anos de
da agricultura e na criação de serviços de apoio à idade) e da população em idade ativa (15 a 64 anos
população, tendo em vista a criação de emprego e de idade), em simultâneo com o aumento da idade
a melhoria dos rendimentos individuais e familiares mediana e da população idosa (65 e mais anos de
que permitam a manutenção da população e a ocu- idade). Entre 1970 e 2017, a proporção da popula-
pação do território. ção jovem diminuiu 14,8 pontos percentuais (p.p.),
passando de 28,7% do total da população em 1970
para 13,9% em 2017. Por sua vez, o peso relativo da
população idosa aumentou 11,9 p.p., passando de
O caso português 9,4% em 1970 para 21,3% em 2017. Esta tendência
coloca sérios desafios para o futuro do país, dado
Em Portugal a transição demográfica foi mais tardia que todos as projeções demográficas indicam que
do que na Europa do Norte, mas processou-se mui- o envelhecimento demográfico é inevitável.
to mais rapidamente do que nesses países. Em 1970
o índice sintético de fecundidade era ainda de 3,01, O declínio demográfico e o envelhecimento da po-
sendo que na mesma data países como a Suécia pulação não afetam da mesma forma todo o terri-
Dinamarca, Finlândia e Luxemburgo, registavam to- tório nacional, verificando-se grandes disparidades
dos valores inferiores ao necessário para assegurar regionais. O padrão de distribuição regional da
a substituição das gerações. Em 1990 a posição de população caracteriza-se pela litoralização, concen-
Portugal, bem como da Espanha, Grécia e Itália, re- tração da população nas áreas metropolitanas de
lativamente a este indicador inverteu-se, passando Lisboa e Porto e despovoamento de vastas áreas do
a incluir-se no grupo dos países com menor número interior do país. A tendência para a bipolarização da
de filhos por mulher em idade fértil (1,56, 1,36, 1,39 e rede urbana e o declínio demográfico de extensas
1,33 respetivamente). Esta tendência tem-se man- superfícies do Norte e Centro Interior e do Alentejo,
tido pelo que em 2018, segundo dados do EUROS- resultam de um duplo processo migratório que se
TAT, Portugal teve a quarta taxa de natalidade mais desenvolveu a partir de meados do século passado:
baixa entre os Estados-membros da União Europeia i) o êxodo rural, sobretudo para as áreas metropo-
(8,5 ‰), e apenas ultrapassada por Itália (7,3 ‰), litanas de Lisboa e do Porto, mas também para as
206 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
cidades de média dimensão, nomeadamente para de imigrantes (Malheiros e Esteves, 2013; Reis et al.,
as capitais de distrito; e a emigração, em particular 2010; Oliveira e Gomes, 2018).
para países da Europa Ocidental (Fonseca, 1990;
Gaspar, Abreu, Ferrão & Jensen-Butler, 1989; Fonse- O início do século XXI e sobretudo a emergência da
ca, Abreu e Esteves, 2017; Ferrão, 2018). Ou seja, crise económica e financeira de 2008 marcam o iní-
o êxodo rural e a emigração (principalmente da cio de uma nova fase das migrações internacionais
população mais jovem) despovoaram e envelhece- em Portugal, caraterizada pela diminuição da imi-
ram o interior do país, conduzindo ao progressivo gração, aumento da emigração e alteração dos per-
esvaziamento demográfico e ao agravamento do já fis da população estrangeira residente em Portugal,
fraco dinamismo económico de algumas regiões. com destaque para o crescimento do número de
Por outro lado, a deslocação da população para o li- estudantes internacionais, investigadores, profissio-
toral originou um rápido crescimento das principais nais altamente qualificados, trabalhadores indepen-
cidades aí localizadas e o aparecimento de novos dentes, investidores e reformados e a diminuição da
núcleos urbanos à volta de Lisboa e Porto. imigração laboral (Oliveira e Gomes, 2018). A retoma
do crescimento da economia portuguesa a partir
O crescimento da imigração, a partir de meados dos de 2014 refletiu-se no aumento continuado da imi-
anos oitenta e sobretudo na segunda metade da gração para Portugal a partir de 2016, atingindo-se
década de 1990 e início do novo milénio, reforçou a em 2018 o valor máximo do número de estrangeiros
concentração da população nas áreas metropolita- com autorização de residência no país registado
nas de Lisboa e Porto e no Algarve. Fonseca (2009) desde 1976. No que se refere à origem geográfica
refere que em 2006, os distritos de Lisboa, Setúbal, dos principais grupos de imigrantes, salienta-se o
Faro e Porto concentravam 75% do stock de imi- elevado crescimento da imigração de brasileiros e
grantes documentados registados em Portugal e de cidadãos da União Europeia, (nomeadamente
que no interior do país, a presença de estrangeiros franceses, italianos e britânicos), a retoma da
era ainda pouco expressiva, apesar de os imigrantes imigração dos PALOP e o aumento dos fluxos prove-
das vagas migratórias mais recentes, provenientes nientes da China e de outros países asiáticos (Índia,
da Europa de Leste e do Brasil, apresentarem Paquistão. Bangladesh, Nepal e Tailândia).
maior dispersão pelo território nacional do que os
originários dos Países Africanos de Língua Oficial O padrão de distribuição regional da população
Portuguesa (PALOP) ou de países asiáticos. No estrangeira em Portugal, permanece muito concen-
entanto, importa realçar que nos territórios de baixa trado nas áreas urbanas do litoral, sendo que em
densidade demográfica, mesmo números reduzi- 2018, 69% residiam nos distritos de Lisboa, Faro e
dos de imigrantes podem dar um contributo rele- Setúbal. Contudo, observa-se uma maior dispersão
vante para atenuar os efeitos do envelhecimento e pelo território nacional e o crescimento da presença
do declínio demográfico, visto que, em 2017, 41,7% de imigrantes em áreas rurais do Norte e Centro
dos estrangeiros com autorização de residência em Interior do país e do Alentejo, especialmente em
Portugal, tinham entre 20 e 39 anos de idade. Além Trás-os-Montes, Beira Baixa, Beiras e Serra da Es-
disso, o padrão de distribuição geográfica da popu- trela e Alentejo Litoral.
lação estrangeira tem sofrido alterações ao longo
do tempo e não é uniforme para todos os grupos A crescente atração de Portugal para profissionais
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 207
qualificados e reformados prende-se com várias or- por si só, resolver o problema do envelhecimento
dens de fatores que incluem a perceção de Portugal e do declínio demográfico do país, contribuindo
como país seguro, a qualidade de vida, vantagens apenas para uma parte da solução. A longo prazo,
fiscais para residentes não habituais e, no caso o dinamismo da economia nacional vai depender
particular do Reino Unido, também os efeitos do fundamentalmente dos ganhos de produtividade,
Brexit (SEF, 2019). A continuidade da imigração dado que a tendência para o aumento do envelhe-
laboral é imprescindível para satisfazer a procura de cimento demográfico não permite a manutenção
alguns segmentos do mercado de trabalho menos de um modelo de crescimento assente na utilização
atrativos para os trabalhadores nativos (construção, extensiva de mão-de-obra. Por conseguinte, vários
serviços pessoais e domésticos) e para responder a autores têm referido a impossibilidade de reverter
necessidades temporárias de mão-de-obra, em se- a tendência para a concentração da população nas
tores marcados por uma forte sazonalidade como a áreas urbanas mais dinâmicas e o despovoamento
agricultura e a hotelaria e restauração. dos espaços rurais mais remotos (Ferrão, 2018;
Fonseca, Abreu e Esteves, 2017). O progressivo e
Não sendo previsíveis grandes mudanças nas já longo processo de esvaziamento demográfico e
tendências de evolução das componentes do cres- económico dessas regiões, aliado ao encerramento
cimento natural da população portuguesa, mesmo de serviços públicos, como os tribunais, escolas,
num cenário de fraco crescimento do emprego, centros de saúde, hospitais, correios e repartições
será necessário recorrer à imigração, para suprir o de finanças, devido a limiares de população muito
défice de população em idade ativa e reduzir o risco baixos, reforça a marginalização desses territórios,
de declínio da população do País e o despovoamen- pelo que dificilmente serão atrativos para habitan-
to das áreas rurais mais remotas. Contudo, como já tes mais jovens.
se referiu anteriormente, a imigração não permitirá,
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* Centro de Estudos Geográficos, IGOT – Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, Universidade de Lisboa
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 209
210 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
212 31.4.1.jpg Berta Martirosyan, Arménia | Mirrored Parallels | Yerevan (Arménia), 2018 (212)*
213 31.4.6.jpg Berta Martirosyan, Arménia | Mirrored Parallels | Yerevan (Arménia), 2018 (213)*
214 20.4.3.JPG Marianna, Rússia | Escalator | Voronezh (Rússia), 2018 (214)*
215 185.4.5.jpg Eglys Bouza, Cuba | Better City | Centro Habana (Cuba), 2017 (215)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 211
216 101.4.2.jpg Boris Pocatko, Austrália | Sydney 2019 | NSW (Austrália), 2019 (216)*
217 73.4.6.jpg Thiago de Andrade Morandi, Brasil | FL074121 (6) | Havana (Cuba), 2018 (217)*
218 249.4.4.JPG Seyed Mohammad Sadegh Hosseini, Irão | Addicition | Shiraz (Irão), 2016 (218)*
219 178.4.5.jpg Richard Morgan, Reino Unido | Gods and Mortals 5 | London (Reino Unido), 2017 (219)*
212 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
220 63.4.1.jpg Monica Quinta, Brasil | Middle of nowhere | São Paulo (Brasil), 2017 (220)*
221 46.4.3.jpg Mohammad Rakibul Hasan, Bangladesh | How the other half sleeps | Dhaka (Bangladesh), 2018 (221)*
222 37.4.4.jpg Ivan Kuznetsov, Rússia | Underground | Budapest (Hungria), 2017 (222)*
223 113.4.4.jpg Pascal Moreaux, Bélgica | 4 | Coimbra (Portugal), 2015 (223)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 213
224 141.4.3.jpg Arlindo Pinto, Portugal | À procura de nada | Havana (Cuba), 2017 (224)*
225 236.4.4.jpg Paula Schrott, Espanha | Zapatero | Cuzco (Perú), 2017 (225)*
226 223.4.5.jpg Cristian Camilo Torres Holguín, Colômbia | Adriana Bravo Torres - Greis Briyith Paredes Bravo | Isla Fuerte, Cartagena (Colômbia), 2018 (226)*
214 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
227 200.4.1.jpg Viet Van Tran, Vietnam | Story of Chau 01 | Ho Chi Minh city (Vietnam), 2019 (227)*
228 311.4.3.jpg Annie Davarashvili, Geórgia | Soulmate | London (Inglaterra), 2017 (228)*
229 77.4.1.JPG Yassmin do Rosario Santos Forte, Moçambique | Arteinclusiva | Centro Cultural Franco Moçambicano (Moçambique), 2018 (229)*
230 74.4.1.jpg Peterson Azevedo Amorim, Brasil | A arte de lutar pela ancestralidade | Salvador, Bahia (Brasil), 2019 (230)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 215
231 47.4.2.JPG Nuno de Santos Loureiro, Portugal | Na Gala do Acordeão Algarvio | Algarve (Portugal), 2018 (231)*
232 7.4.5.jpg Behbood Mohajeri Jolandan, Irão | Rooster game5 | Talesh (Irão), 2018 (232)*
233 207.4.2.jpg Peng Yuan, China | Shadow puppetry school - 2 | Shandong (China), 2009 (233)*
234 34.4.3.jpg Amirhossein Ebrahimi Azar, Irão | Playing Dotar | Tehran (Irão), 2017 (234)*
216 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
235 105.4.2.jpg Ângelo Lucas, Portugal | Druso | Arredores de Beirute (Líbano), 2009 (235)*
236 39.4.4.jpg Sajed Haqshenas, Irão | The night of Tabriz Vadi Rahmat graveyard | Tabriz (Irão), 2018 (236)*
237 167.4.3.JPG Jacob de Jesus Garcia Maza, México | De la serie “Cielo Norte” | Chiapas (México), 2018 (237)*
238 144.4.5.jpeg Khadiza Akter Tanjila, Bangladesh | Restrictions | Sylhet (Bangladesh), 2019 (238)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 217
239 176.4.5.jpg Susana Girón, Espanha | 65 years old master athlete | Madrid (Espanha ), 2018 (239)*
240 176.4.1.jpg Susana Girón, Espanha | 91 years old master athlete | Madrid (Espanha ), 2018 (240)*
241 157.4.1.jpg Carlos Costa, Portugal | Room without view I | Vila Nova de Gaia (Portugal), 2018 (241)*
242 181.4.5.jpg Pouya, Irão | Mining victims in Iran | Iran (Irão), 2019 (242)*
218 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
243 129.4.3.jpg Md Rafayat Haque Khan, Bangladesh | The Magical Hands | Sylhet (Bangladesh), 2015 (243)*
244 129.4.5.jpg Md Rafayat Haque Khan, Bangladesh | The Magical Hands | Sylhet (Bangladesh), 2015 (244)*
245 210.4.1.JPG Malihe, Irão | Mazzari | Yazd (Irão), 2019 (245)*
246 126.4.3.jpg Guilherme Limas, Portugal | A Padaria | Provesende (Portugal), 2013 (246)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 219
247 155.4.4.jpg Ramazan, Turquia | Walnut crate masters_04 | (Turquia), 2018 (247)*
248 69.4.5.jpg Ramazan, Turquia | Master of wood | Kahramanmaras (Turquia), 2018 (248)*
249 298.4.5.jpg Armin Amirian, Irão | Depth | (Irão), 2016 (249)*
250 305.4.2.jpg Mohammadreza Fallah, Irão | A forgotten art in a forgotten country | Kashan (Irão), 2018 (250)*
220 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
251 136.4.4.jpg Zon Hisham Bin Zainal Abidin, Malásia | Series 4 - Mother Love | Royal Belum Rainforest, Perak (Malásia), 2018 (251)*
252 237.4.4.jpg Afshin Azarian, Irão | The first lessons | Dargh (Tajiquistão), 2016 (252)*
253 156.4.1.jpg Maria, Rússia | In nature | (Tanzânia), 2017 (253)*
254 45.4.6.jpg Carlos Pimentel, Portugal | Elina e Yassira | Inhambane (Moçambique), 2018 (254)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 221
255 307.4.2.jpg Ali Mohammadirad, Irão | Holiday | Shiraz (Irão), 2015 (255)*
256 100.4.4.jpg Dino Geromella, Espanha | Child labor remote rural Vietnam | Ha Giang (Vietnam), 2018 (256)*
257 254.4.1.jpg Mercedes Cotoli, Argentina | Bianca, de la serie Barrerito | Barrerito, Provincia de Misiones (Argentina), 2017 (257)*
258 183.4.4.jpg Brendon Gilford, Reino Unido | Sisterhood | State Bank Slum/Colony, Jaipur (Índia), 2019 (258)*
222 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
263 170.4.5.jpg Sudipto Das, Índia | Where Arts meet Life | Purulia, West Bengal (Índia), 2018 (263)*
264 170.4.6.jpg Sudipto Das, Índia | Where Arts meet Life | Purulia, West Bengal (Índia), 2019 (264)*
265 14.4. 1.jpg Pranab Basak, Índia | Colors of life | Purulia , West Bengal (Índia), 2017 (265)*
266 14.4.5.jpg Pranab Basak, Índia | Colors of life | Purulia , West Bengal (Índia), 2017 (266)*
224 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
267 109.4.6.jpg Jesús Javier Mancebo Calzada, Espanha | Grupos de niños y niñas Himbas | Región de Kaokoland (Namibia), 2017 (267)*
268 109.4.3.jpg Jesús Javier Mancebo Calzada, Espanha | Niño Himba cocinando | Región de Kaokoland (Namibia), 2017 (268)*
269 259.4.4.jpg Hugo Santarem Rodrigues, Brasil | Interior - Mursi | Tribo Mursi (Etiópia), 2018 (269)*
270 259.4.6.jpg Hugo Santarem Rodrigues, Brasil | Interior - Turkana | Tribo Turkana (Etiópia), 2018 (270)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 225
271 204.4.1.jpg Sanjay Das, Índia | Making Of Tusu | Purulia, West Bengal (Índia), 2019 (271)*
272 204.4.4.jpg Sanjay Das, Índia | Worshiping The Tusu | Purulia, West Bengal (Índia), 2019 (272)*
273 33.4.4.JPG AliAbdollahi, Irão | Wedding ceremony | Village Ghale Shir (Irão), 2015 (273)*
274 122.4.1.jpg Mithail Afrige Chowdhury, Bangladesh | Rakher Upobash - 1 | Narayangonj (Bangladesh), 2018 (274)*
226 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
275 198.4.4.jpg Érica Montilha, Brasil | Iluminai-vos | Marília/SP (Brasil), 2018 (275)*
276 194.4.4.jpg Seyed Mohammad Javad Sadri, Irão | Spiritual Lecture and Guidance | Mohamadsalehi Vilige (Irão), 2018 (276)*
277 251.4.3.jpg António Tedim, Portugal | Semana Santa de Bercianos de Aliste | Bercianos de Aliste, Castilla y León (Espanha), 2019 (277)*
278 287.4.5.jpg Javid Tafazoli, Irão | Mandaeans | Ahwaz (Irão), 2010 (278)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 227
279 184.4.3.jpg Sandipani Chattopadhyay, Índia | The Ramnami 3 | Chhattisgarh (Índia), 2018 (279)*
280 184.4.2.jpg Sandipani Chattopadhyay, Índia | The Ramnami 2 | Chhattisgarh (Índia), 2018 (280)*
281 120.4.6.jpg Jophel Botero Ybiosa, Filipinas | The Mud People Festival | Nueva Ecija, Central Luzon (Filipinas), 2018 (281)*
282 103.4.1.JPG Jian Luo, França | Tibetan Nuns - 1 | Tibet (China), 2018 (282)*
228 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
283 102.4.1.jpg René Arauxo, México | Festividades de San Lorenzo | Chiapas (México), 2018 (283)*
284 264.4.4.jpg Bahar Shaghayegh, Irão | Dance | Golestan province (Irão), 2016 (284)*
285 53.4.1.jpg Vladimir Safronov, Rússia | Entering Society | Hong Kong (China SAR), 2008 (285)*
286 60.4.2.jpg Rossifang, Taiwan | Pray to Buddha | Taichung (Taiwan), 2015 (286)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 229
287 137.4.3.JPG Rabin Chakrabarti, Índia | No sighting of light | Kolkata, West Bengal (Índia), 2019 (287)*
288 161.4.1.jpg Md Rafayat Haque Khan, Bangladesh | Tradtional Ratha Yatra Festival | Sylhet (Bangladesh), 2015 (288)*
289 131.4.1.jpg João Galamba, Portugal | Bee Matan I | Maubisse (Timor-Leste), 2018 (289)*
290 172.4.4.jpg Andrés Felipe Valenzuela Parra, Colômbia | Los Guardianes de Nazareth | Amazonas (Colômbia), 2018 (290)*
230 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
291 242.4.2.jpg Nuno Marques, Portugal | Entrudo_02 | Góis (Portugal), 2018 (291)*
292 158.4.1.jpg José Pedro F. Martins, Portugal | Caretos I | Lazarim, Aldeia da Anta (Portugal), 2019 (292)*
293 248.4.3.jpg Jose Vicente Lopez, Espanha | Luz Iberica 3 | Acehuche, Cáceres (Espanha), 2019 (293)*
294 280.4.5.jpg Pedro Miguel B. S. Carvalho, Portugal | Nova Geração de Caretos | Lazarim (Portugal), 2019 (294)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 231
295 108.4.6.jpg Rajesh Dhar, Índia | Fire godess | Tamilnadu (Índia), 2017 (295)*
296 108.4.5.jpg Rajesh Dhar, Índia | Godess and devil | Tamilnadu (Índia), 2017 (296)*
297 269.4.4.jpg Debasish Chakraborty , Índia | Bahurupi 004 | Índia (Índia), 2017 (297)*
298 274.4.3.JPG Fran Rebelatto, Brasil | Uma flor branca | Olinda/Nordeste (Brasil), 2019 (298)*
232 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
299 36.4.4.jpg Victoria Okuneva, Rússia | Home | Leningrad Oblast (Rússia), 2018 (299)*
300 235.4.6.jpg Javier García Risco, Espanha | Sonrisa | Trinidad (Cuba), 2016 (300)*
301 238.4.1.jpg Paweł Piotrowski, Polônia | Oleksandrivka Last Residents | Khmelnytskyi (Ucrânia), 2018 (301)*
302 300.4.1.jpg Jorge López Muñoz, Espanha | Retrato 1 | Valencia (Espanha), 2018 (302)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 233
303 29.4.1.jpg Mahdi Pourarab, Irão | Kurmanc womens | Esfarayen (Irão), 2018 (303)*
304 221.4.4.jpg Funda Zeynep Ayguler, Turquia | From the series ‘AYNI’ | Cusco Region, Ccochamocco (Peru), 2017 (304)*
305 258.4.6.jpg Paulo Rafael, Portugal | Saberes de Mestre III - O Orgulho (justificado) | Açores, Ilha do Pico (Portugal), 2018 (305)*
306 239.4.5.jpg Marco Antonio Barboza Garces , Colômbia | Fusion Food | Isla de Leon, Cartagena (Colômbia), 2018 (306)*
234 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
307 150.4.5.jpg Debdatta Chakraborty, Índia | The Legacy of Chhota Rail 5 | Madhya Pradesh (Índia), 2018 (307)*
308 150.4.3.jpg Debdatta Chakraborty, Índia | The Legacy of Chhota Rail 3 | Madhya Pradesh (Índia), 2018 (308)*
309 80.4.4.JPG Rayhan Ahmed, Bangladesh | Story of railway street | Dhaka (Bangladesh), 2019 (309)*
310 80.4.2.JPG Rayhan Ahmed, Bangladesh | A lazy travel to the destination and passengers suffering | Dhaka (Bangladesh), 2018 (310)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 235
311 313.4.1.jpg Luis Miguel Portela, Portugal | Haus Tambaran | Rio Sepik (Papua Nova Guiné), 2015 (311)*
312 154.4.2.JPG José Rosário, Portugal | Império Espírito Santo das Doze Ribeiras | Angra do Heroísmo, Açores (Portugal), 2018 (312)*
313 94.4.5.jpg Carlos González González, Espanha | La huella de Al-Ándalus_05 | Chefchaouen (Marrocos), 2015 (313)*
314 278.4.6.jpg Varun Gopal, Índia | Obscured by Clouds / Coming Back to Life | Kalga, Parvati valley, Himachal Pradesh (Índia), 2018 (314)*
236 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
315 140.4.5.jpg Arturo Lopez Illana, Espanha | Al limite 5 | Sumatra (Indonésia), 2016 (315)*
316 140.4.6.jpg Arturo Lopez Illana, Espanha | Al limite 6 | Sumatra (Indonésia), 2016 (316)*
317 89.4.1.JPG Deba Prasad Roy, Índia | Traditional Bull Race_Pacu Jawi_ Indonesia_01 | West Sumatra (Indonésia), 2018 (317)*
318 213.4.1.jpg Mohsen Kaboli, Irão | At Oglan | Golestan (Irão), 2019 (318)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 237
319 276.4.2.jpg Rui Jorge Pessoa Neto, Portugal | 02. Caminho de Superação - Sentido de Fé | Vilaboa (Espanha), 2019 (319)*
320 255.4.2.jpg Sujit Saha, Índia | Pilgrim’s Progress - 2 | Allahabad (Índia), 2019 (320)*
321 218.4.6.jpg Alden Globo, Qatar | Bountiful Catch | Bula, Camarines Sur (Filipinas), 2018 (321)*
322 165.4.6.jpg Aires Manuel dos Santos Fernandes, Brasil | Pode chegar, este é do rio! | Manaus, Amazonas, Amazônia (Brasil), 2019 (322)*
238 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
327 191.4.2.jpg Yuliya Efremova, Rússia | School | Vologodskaya oblast (Rússia), 2018 (327)*
328 88.4.5.jpg Mohammadreza Behmaram, Irão | Buy new year | Ahar-East Azarbaijan (Irão), 2019 (328)*
329 55.4.4.jpg Marjan KhorramGolkaran, Irão | Red Veil (From the Veil series) | Northern of Iran, Rasht (Irão), 2017 (329)*
330 171.4.4.jpg Antonio Jimenez, Espanha | Killing party 4 | Alcántara, Cáceres (Espanha), 2009 (330)*
240 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
331 86.4.4.jpg Didar Ali, Paquistão | Mountain Queens | Gulmit Gojal Valley (Paquistão), 2014 (331)*
332 197.4.1.jpg Aleksandr Koviazin, Rússia | At the well | Krasnodar region (Rússia), 2019 (332)*
333 241.4.3.jpg Sunayana Dhang, Índia | Wrestling 03 | Maharashtra (Índia), 2018 (333)*
334 279.4.5.jpg Saman Koosha, Irão | Sem título (334)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 241
335 309.4.4.jpg José Luís Rodrigues dos Santos, Portugal | Rostos da Rota da Seda - Entre o céu e a terra | Srinagar, Caxemira (Índia), 2017 (335)*
336 179.4.5.jpg Amdad Hossain, Bangladesh | A little rest | Chittagong (Bangladesh), 2018 (336)*
337 246.4.5.jpg Neda Keshavarz, Irão | Fishing | Sistan Baluchestan (Irão), 2018 (337)*
338 177.4.4.jpeg Faraz Ahanin, Irão | Bottle and goldfish | Gilan Province (Irão), 2015 (338)*
242 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
A “festa” é um fenômeno social, sujeito às transfor- ços mnêmicos duráveis. Memórias individual e cole-
mações e mudanças da sociedade. Concorda-se tiva fundem-se nas sociedades tradicionais através
com Corrêa (2005) que os estudos realizados sobre da festa e do culto. Assim, episódios significativos
esse fenômeno social permanecem reféns de uma do passado coletivo são rememorados, “permitindo
ótica durkeimiana, articulando uma estreita relação a cada indivíduo incorporar essas memórias à sua
entre o ritual e a festa e “não estabelecendo refle- própria experiência, e recordar-se delas, ao mesmo
xões inovadoras sobre o tema” (CORRÊA, 2005, p. tempo em que recorda seu próprio passado. Os dias
142). Em Durkheim, a festa proporciona a comuni- festivos se destinam a provocar conscientemente
cação entre os indivíduos, a partir da superação das essas rememorações” (ROUANET, 1987, p. 49).
distâncias sociais entre eles, suscitando um estado
de “efervescência psíquica”, para transmutá-los do O resgate da história oral dos bairros populares de
mundo ordinário do trabalho e reintegrá-los com Salvador, na Bahia, das diferentes visões de mundo
sua “natureza primordial”. A festa é, pois, um mo- e de “espaços vividos”, no âmbito das atividades
mento de ruptura e transgressão das normas coleti- do Grupo Espaço Livre de Pesquisa-Ação (DGEO/
vas, que na vida cotidiana identificam os indivíduos POSGEO/UFBA), mostra que são múltiplas as
como seres sociais (CORRÊA, op. cit.). representações desses espaços, entre os grupos/
agentes que compõem suas redes de relações
As festas e as tradições religiosas pertencem à sociais. Descobre-se que os bairros são culturas
esfera da experiência, constituindo-se das impres- transversais, que abarcam muitas e múltiplas sub-
sões que o psiquismo incorpora na memória, das culturas: “da pesca”, “do remo”, “jovem”, “negra”,
excitações que jamais se tornaram conscientes e “capoeirista”, “afro-brasileira” ou “bairrista”; o outro
que, transmitidas ao inconsciente, deixam nele tra- lado da moeda traz para dentro dos bairros o mun-
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 243
do e suas subculturas: “turística”, “patrimonialista” para a importância da questão étnica e para inú-
ou “conservacionista” (BRITO; SERPA, 2004). meras tentativas de afirmação de uma identidade
afro-brasileira. Na maioria das vezes, é no espaço
Nos bairros populares são os moradores os verda- das associações de moradores, das paróquias e
deiros agentes de transformação do espaço. Eles dos terreiros de candomblé.2, que essas subculturas
articulam-se em “rede”, de acordo com o tema encontram algum espaço de expressão. Ao mesmo
em foco: Temos que diferenciar, por exemplo, os tempo, muitas dessas manifestações vão desapa-
tópicos das etnias, nas diversas formas em que recendo, permanecendo vivas apenas na memória
podem se apresentar suas culturas e subculturas de alguns moradores (SERPA, 2004, 2005a, 2005b).
(VILLASANTE, 1996). Para os bairros com mais
chances de incorporação ao circuito turístico da Pode-se dizer, em certos casos, que o resgate de al-
cidade, as imagens hegemônicas, associadas ao gumas subculturas residuais (ou mesmo excluídas)
marketing turístico, vão, aos poucos, sobrepondo- e sua transformação em emergentes, vai aos pou-
se aos espaços de representação dos moradores e cos impregnando a vida dos bairros pesquisados,
contrapondo-se às suas práticas espaciais cotidia- reafirmando e transformando valores do passado
nas (LEFEBVRE, 2000). A incorporação dos bairros e deflagrando novos – ou renovados – processos
populares ao processo de produção capitalista vai identitários: No bairro do Curuzu, por exemplo, são
produzir mudanças evidentes, incluindo o desapa- notáveis os aspectos culturais que demonstram sua
recimento gradual da experiência, privando muitas forte ligação com as tradições afro-brasileiras. As
vezes também os moradores de sua história e da manifestações culturais “emergentes” (COSGROVE,
capacidade de integrar-se numa tradição (SERPA, 1998), relacionadas com a atuação de terreiros de
2004). Nesses casos, pode-se mesmo falar, como candomblé e do bloco afro Ilê Aiyê, tornam-se,
Benjamin (1996), em um “violento abalo da tradição”. gradativamente, hegemônicas no bairro. A emer-
gência do bloco Ilê Aiyê a partir do bairro do Curuzu,
Há um nítido deslocamento da esfera da expe- irradiando seu sucesso para a cidade e o Mundo,
riência para a esfera da vivência, transformando parece indicar a possibilidade de revalorização
determinadas práticas e manifestações culturais e da experiência para as manifestações culturais
tornando-as residuais no cotidiano de cada lugar. populares, no sentido indicado por Benjamin (1996),
No entanto, por trás das imagens hegemônicas, po- baseada numa filosofia do tribalismo e numa visão
de-se ainda pinçar, nos depoimentos dos morado- coletivista (SERPA, 2004).
res dos bairros de Salvador manifestações culturais
às vezes “esquecidas” pela mídia e pelo marketing Primeiro bloco afro da Bahia, o Ilê inicia sua história
turístico: a capoeira, as rendeiras, a costura arte- em 1º de novembro de 1974, no Curuzu. O objetivo
sanal, as festas de pescadores, o teatro popular, as da entidade é preservar, valorizar e expandir a
festas e palestras promovidas pelas associações cultura afro-brasileira. Desde que foi fundado,
de moradores, a pescaria, os costumes, os corais, vem homenageando os países, nações e culturas
os carnavais de bairro, os autos de natal, os blocos africanos, bem como lembrando e enaltecendo as
afro, os terreiros de candomblé, o maculelê , o Mo-
.1
revoltas dos escravos, visando ao fortalecimento da
vimento Negro Unificado, as danças afro. A questão identidade étnica e da autoestima do negro brasilei-
das subculturas aponta, nos bairros pesquisados, ro, tornando populares os temas da história africana
244 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
e vinculando-os com a história do negro no Brasil, além de outros projetos, como a cozinha do Ilê e o
buscando construir um passado comum, uma linha festival do Wa Jean.5. Já a Petrobras, tida à época
histórica da negritude. Seu movimento rítmico mu- como uma das maiores parceiras do Ilê, financiava
sical revolucionou o carnaval baiano. A partir desse os cursos profissionalizantes e apoiava os projetos
movimento, a musicalidade do carnaval da Bahia na área social. Outras parcerias, com o BNDES e a
ganha força com os ritmos oriundos da tradição Eletrobras (além da Petrobras), viabilizaram a cons-
africana, favorecendo o reconhecimento de uma trução da nova sede do bloco no Curuzu. O prédio
identidade baiana, marcadamente negra. tem oito andares, com cinco mil metros quadrados
de área construída, incluindo área de eventos para
O Ilê Aiyê foi fundado por jovens negros do Curuzu, quatro mil pessoas, estúdio, restaurante, escolas
com faixa etária de 17 a 19 anos. Esses jovens sempre formal, de dança, de percussão e profissionalizante,
buscaram formas de entretenimento no bairro, espaço para ensaio da Banda Erê e cozinha-escola
organizando passeios, grupos de samba, rezas de (JORNAL A TARDE, 22/2/2004, p.3).
Santo Antonio, carurus de São Cosme, times de
.3
futebol. Com três mil associados, o Ilê Aiyê é hoje um Raciocinando nos termos de Benjamin (op. cit.), ob-
patrimônio da cultura baiana, um marco no processo servamos que o “valor de exposição” das manifesta-
de reafricanização do Carnaval da Bahia. Nos ensaios ções afro-brasileiras, no caso do Ilê Aiyê, coloca em
da Banda Ilê Aiyê, composta por 150 integrantes, o risco seu “valor de culto” original e as possibilidades
público é formado por soteropolitanos, mas também de resgate da memória coletiva através da cultura.
por turistas. Esses últimos, principalmente no pe- O que significa, afinal, o impacto, na vida do bairro,
ríodo que antecede o carnaval, participam de forma de quatro mil visitantes nos ensaios do bloco? Não
efetiva destes eventos. Enquetes por nós realizadas estaríamos assistindo mais uma vez a um processo
junto ao público participante de um desses ensaios de superposição da vivência à experiência, detecta-
às vésperas da folia momesca comprovaram que do por Benjamin (op. cit.) na percepção do homem
mais de 50% do público presente eram turistas de moderno, quando da consolidação do capitalismo
São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, França, Itália nas grandes cidades? Afinal, a “retradicionalização”
e Argentina; dentre os soteropolitanos, a maioria das manifestações culturais nos bairros populares
provinha de outros bairros da cidade, com veículo de Salvador não estaria transformando cultura em
próprio. lazer e diversão, ao “devorar os objetos do mundo” e
transformá-los em “mercadorias”, como pressupõe
De acordo com alguns diretores e pessoas envolvi- Arendt (2002)?
das diretamente com a organização e manutenção
do Ilê, o bloco contava, na época de nossas pesqui- (...)
sas, com quatro patrocinadores ligados diretamen-
te às atividades sociais e culturais desenvolvidas: Ultimamente nos acostumamos ao discurso oficial
Petrobras S. A., Extra Supermercados, Brahma e de que Salvador deverá se tornar referência para
Claro Telefonia Celular. A Claro e a Brahma eram a festa de ano novo, para as feiras de artesanato
parceiras na organização do carnaval, o Extra, e gastronomia, e agora também para os festejos
além de também patrocinar o Carnaval, apoiava natalinos. A lógica do espetáculo vai se apropriando
a organização anual da Noite da Beleza Negra.4, da cultura local para vender a cidade aos turistas.
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social 245
Mas também para justificar parcerias público-priva- católicas; mas também de festas das religiões
do duvidosas, como a concessão de exclusividade afro-brasileiras, que permeiam e dão novos sen-
para a venda de uma marca de cerveja no Dois de tidos a manifestações religiosas sincréticas que
Fevereiro, substituindo as cores azul e branco de pontuam seu calendário religioso. A questão é se
Yemanjá pelo laranja da “marca exclusiva” na tradi-
.6
ainda nos reconhecemos nestas manifestações da
cional festa popular. O espetáculo adquire aqui ares religiosidade popular. Ou estamos naquela situação
de mercantilização explícita. do personagem do filme “O Show de Truman”, que
passou sua vida inteira em uma cidade que era, na
Não há dúvida de que a história da Cidade do São verdade, um estúdio gigantesco, iludido de que vivia
Salvador da Baía de Todos os Santos é uma história ali uma “vida real”?
de dias santos e procissões, de festas religiosas
1 Maculêlê: Misto de jogo e dança de Bastões, de Santo Amaro, no Alysson Massote (Org.). (Re) Conhecer Diferenças – Construir Resul-
Recôncavo Baiano. tados. Brasília: UNESCO, 2004. p. 154-161.
2 São poucos os levantamentos censitários sobre a presença desses CORRÊA, Aureanice de Mello. “Não acredito em deuses que não
terreiros de religião de matriz afro-brasileira em Salvador, mas um saibam dançar”: A festa do Candomblé, território encarnador da cul-
mapeamento realizado em 2007 pelo Centro de Estudos Afro-Orien- tura. In: ROSENDAHL, Zeny; CORRÊA, Roberto Lobato. Geografia:
tais da Universidade Federal da Bahia cadastrou 1.138 terreiros, dos Temas sobre cultura e espaço (Org.). Rio de Janeiro: EDUERJ, 2005.
quais cerca de 30% realizavam trabalhos de cunho sociocultural p. 141-171.
nas áreas onde estão/estavam inseridos, como creches, cursos, COSGROVE, Denis. A Geografia está em toda parte: Cultura e
palestras e distribuição de cestas básicas. Essas atividades podem Simbolismo nas paisagens Humanas. In: CÔRREA, Roberto Lobato;
ser, inclusive, motivo de articulação em rede dos templos religiosos, ROSENDAHL, Zeny (Org.). Paisagem, Tempo e Cultura. Rio de Janei-
para além dos limites dos bairros populares onde estão situados. ro: EDUERJ, 1998. p. 92-122.
3 Prato típico da culinária baiana preparado com quiabos e óleo de JORNAL A TARDE. Liderança com toques de ousadia. Caderno
dendê, trazido para o Brasil pelos africanos escravizados; é também Emprego & Mercado, p. 3, 22/02/2004.
uma comida ritual do candomblé.
LEFEBVRE, Henri. La production de l’espace, 4e édition. Paris: An-
4 Este evento é uma tentativa de mostrar que existe um padrão de
thropos, 2000.
beleza diferente dos padrões de beleza europeus. Em 2006, a Noite
da Beleza Negra elegeu a 27ª Deusa do Ébano do Ilê Aiyê (represen- ROUANET, Sérgio Paulo. Do Trauma à Atrofia da Experiência. In:
tante do bloco durante o carnaval da Bahia de 2006), Kátia Alves de Édipo e o Anjo: Itinerários Freudianos em Walter Benjamin. Rio de
Jesus, de 20 anos. O concurso de beleza aconteceu no Festival de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, 1987.
Verão de Salvador e contou com a participação de 15 jovens. SERPA, Angelo. Por uma Geografia das Representações Sociais.
5 O festival Wa Jean, que significa “vamos comer”, é um festival da OLAM – Ciência e Tecnologia, Rio Claro-SP, v. 5, n. 1, p. 220-232,
culinária africana e baiana. 20’05a.
6 Divindade das religiões de matriz africana no Brasil, associada ao SERPA, Angelo. Mergulhando num mar de relações: redes sociais
mar e às águas. como agentes de transformação em bairros populares. Geografia,
Rio Claro-SP, v. 30, n. 2, p. 211-222, 2005b.
SERPA, Angelo. Experiência e Vivência, Percepção e Cultura: Uma
Referências:
Abordagem Dialética das Manifestações Culturais em Bairros
ARENDT, Hannah. Entre o Passado e o Futuro, 5ª Edição, Coleção Populares de Salvador. Ra’e Ga – O Espaço Geográfico em Análise,
Debates/Política. São Paulo: Editora Perspectiva, 2002. Curitiba-PR, v. 8, n. 8, p. 19-32, 2004.
BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas I – Magia e Técnica, Arte e VILLASANTE, Tomás R. Metodologia dos Conjuntos de Ação. In: FIS-
Política / Ensaios sobre Literatura e História da Cultura, 7a edição. CHER, Tânia (org.). Gestão Contemporânea – Cidades Estratégicas
São Paulo: Editora Brasiliense, 1996. e Organizações Locais. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas
BRITO, Marcelo Sousa; SERPA, Angelo. Percepção e Cultura na Peri- Editora, 1996. p. 37-51.
feria de Salvador: O Bairro em Imagens, uma Experiência de Ensino, http://www.ileaiyeoficial.com/. Acessado em 05/11/2019.
Extensão e Pesquisa. In: CUNHA, Eleonora Schettini; CARVALHO;
* Professor titular de Geografia Humana da Universidade Federal da Bahia. Pesquisador com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq.
angserpa@ufba.br
rumores do mundo
pessoas,
lugares,
outros olhares
248 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
1 339 97.1.3.jpg Vahan Amatunyan, Arménia | A distant memory | Yerevan (Arménia), 2018 (339)*
2 340 150.1.6.jpg Gonzalo Javier Santile, Argentina | Thor | Las Grutas (Argentina), 2019 (340)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 249
3 341 116.1.2.jpg Julio, Espanha | Fuego e hielo | Lago Tasman (Nova Zelândia), 2018 (341)*
4 342 116.1.3.jpg Julio, Espanha | La Fotógrafa | Playa de Stokksnes (Islândia), 2018 (342)*
250 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
5 343 89.1.2.jpg José Carlos Nero, Portugal | Arrábida #2 | Parque Natural da Arrábida (Portugal), 2018 (343)*
6 344 45.1.6.jpg Piotr Machowczyk, Irlanda | Pin Island | Co. Galway (Irlanda), 2018 (344)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 251
7 345 108.1.2.jpg Oleg Ivanov, Rússia | Sunbeam quirks | Tso Moriri lake (Índia), 2012 (345)*
8 346 50.1.4.jpg Anna, Rússia | Taurus land | Crimea (Rússia), 2017 (346)*
252 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
9 347 87.1.1.jpg Rita Lourenço, Portugal | Cara norte. Glaciar Perito Moreno | Parque Nacional Los Glaciares, Patagónia (Argentina), 2018 (347)*
10 348 92.1.1.JPG Patricia Negreira, Argentina | Serie Glaciar I | Calafate Sur Argentino (Argentina), 2017 (348)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 253
11 349 118.1.4.jpg Ekaterina Boyko, Rússia | Fabulous beauty | Sakha Yakutia (Rússia), 2019 (349)*
254 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
12 350 238.1.3.jpg Nastaran Alizadeh, Irão | Wind, Sand, Sky | Rig Jenn (Irão), 2018 (350)*
13 351 62.1.2.JPG Fidel Chambi Jalacori, Bolívia | Cactus Andino | Comunidad Ocuri, Uncia-Potosí (Bolívia), 2015 (351)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 255
14 352 201.1.2.jpg Daniel Heilig, Alemanha | Haunted By Shadows | Desert of Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), 2017 (352)*
256 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
15 353 2.1.2.jpg Marcos Rodríguez Pérez, Espanha | Isla_Soto | Salamanca (Espanha), 2018 (353)*
16 354 2.1.4.jpg Marcos Rodríguez Pérez, Espanha | Maillo | Salamanca (Espanha), 2018 (354)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 257
17 355 147.1.1.jpg Manuel Prantl, Áustria | Seiser_alm | Southtyrol (Itália), 2018 (355)*
258 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
18 356 38.1.2.jpg Dmitry, Bielorrússia | Echo | Gomel region (Bielorrússia), 2019 (356)*
19 357 38.1.5.jpg Dmitry, Bielorrússia | October | Gomel region (Bielorrússia), 2015 (357)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 259
20 358 53.1.6.jpg Fernanda Carvalho, Portugal | Sem título | Furnas, Açores (Portugal), 2019 (358)*
260 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
21 359 94.1.3.jpeg Luís Miguel de Sampaio e Melo Reininho, Portugal | Alentejo | Aljustrel (Portugal), 2016 (359)*
22 360 46.1.1.jpg Saeed Ostadian, Irão | Plant Pests | Mazandarant (Irão), 2014 (360)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 261
23 361 221.4.1.jpg Funda Zeynep Ayguler, Turquia | From the series 'AYNI' | Cusco Region, Ccochamocco (Peru), 2017 (361)*
24 362 136.2.2.jpg Muhammad Tabish Parray, Índia | Stacked | Gurez Valley, Kashmir (Índia), 2015 (362)*
262 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
25 363 59.1.4.JPG Martina Malesev, Serbia (ex Yugoslavia) | La casa de los pájaros (4) | Comunidad Valenciana (Espanha ), 2015 (363)*
26 364 73.2.6.jpeg Larisa Siverina, Rússia | Old boat | Kurgan region, Feklino (Rússia), 2018 (364)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 263
27 365 108.3.2.jpg Hernan Jaramillo, Colômbia | Cienaga Grande 2 | Cienaga Grande (Colômbia), 2019 (365)*
28 366 108.3.3.jpg Hernan Jaramillo, Colômbia | Cienaga Grande 3 | Cienaga Grande (Colômbia), 2019 (366)*
29 367 108.3.4.jpg Hernan Jaramillo, Colômbia | Cienaga Grande 4 | Cienaga Grande (Colômbia), 2019 (367)*
264 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
30 368 184.1.2.jpg Vasily Lakovlev, Rússia | Death of the Earth | Sverdlovsk Region (Rússia), 2018 (368)*
31 369 184.1.3.jpg Vasily Lakovlev, Rússia | Death of the Earth | Sverdlovsk Region (Rússia), 2018 (369)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 265
32 370 154.1.3.jpg Mohammad Moheimani, Irão | Flood | Golestan (Irão), 2019 (370)*
33 371 154.1.6.jpg Mohammad Moheimani, Irão | Flood | Golestan (Irão), 2019 (371)*
266 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
34 372 81.3.3.jpg Seyed Alireza Rajaei Shoshtari, Irão | Building growth | (Irão), 2018 (372)*
35 373 81.3.2.jpg Seyed Alireza Rajaei Shoshtari, Irão | Choking in the city | (Irão), 2018 (373)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 267
36 374 113.3.2.jpg Mohammad, Irão | New town | Alborz province (Irão), 2016 (374)*
37 375 75.3.2.jpg Sergei Koliaskin, Rússia | Emptiness | Rússia, Chelyabinsk (Rússia), 2017 (375)*
268 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
40 378 100.3.2.jpg Mohammad Yousefi Manesh, Irão | Yazd 2 | Yazd (Irão), 2019 (378)*
270 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
41 379 19.3.2.jpg Oswaldo Forte, Brasil | Aéreas de Belém | Belém (Brasil), 2015 (379)*
42 380 123.3.2.jpg João Maia, Portugal | Flying | Londres (Reino Unido), 2019 (380)*
43 381 83.3.3.jpg Maria João Vale, Portugal | Trapézio | Toronto (Canadá), 2018 (381)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 271
44 382 27.3.2.jpg Dominic Vecchione, Estados Unidos | Transversalidades 2019 .2 | Connecticut (Estados Unidos), 2017 (382)*
272 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
48 386 29.3.6.jpg Ary Attab Filho, Brasil | Ondas | Milão (Itália), 2018 (386)*
274 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
49 387 45.3.1.jpg Oleksandr Kotenko, Ucrânia | Architectural ensemble | Kyiv (Ucrânia), 2017 (387)*
50 388 106.3.3.jpg Beihua Guo, Estados Unidos | Folded | Los Angeles (Estados Unidos), 2019 (388)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 275
53 391 35.3.1.jpg Pedro Antunes da Costa, Portugal | 1. Cenário de guerra | Cantão (República Popular da China), 2018 (391)*
54 392 41.3.6.jpg Johannes Christopher Gérard, Países Baixos | Yerevan in March VI | Yerevan (Arménia), 2018 (392)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 277
55 393 42.3.6.jpg Sergio Yoldi Chaure, Espanha | Stone structure | Granada (Espanha), 2019 (393)*
56 394 42.3.4.jpg Sergio Yoldi Chaure, Espanha | Stairway | Granada (Espanha), 2019 (394)*
278 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
57 395 141.4.4.jpg Arlindo Pinto, Portugal | À procura de nada | Havana, Cienfuegos (Cuba), 2017 (395)*
58 396 141.4.2.jpg Arlindo Pinto, Portugal | À procura de nada | Havana (Cuba), 2017 (396)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 279
59 397 114.3.6.jpg Reginaldo Luiz Cardoso, Brasil | A cidade redescoberta - VI | Belo Horizonte, Minas Gerais (Brasil), 2018 (397)*
60 398 54.3.3.jpg Ramon Vellasco Neves, Brasil | Conexão Humana | Rio de Janeiro (Brasil), 2018 (398)*
280 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
61 399 126.3.1.jpg Sérgio Currais, Portugal | Gente e a cidade 01 | Londres (Reino Unido), 2007 (399)*
62 400 120.3.1.jpg Viktoriia Vorobiova, Ucrânia | Looking glass | Europe (Ucrânia), 2011 (400)*
63 401 311.4.2.JPG Annie Davarashvili, Geórgia | Museum Stories | Paris (França), 2017 (401)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 281
64 402 68.3.4.jpg Antonio Pérez, Espanha | 004 ¿Sinonimias de identidad y de paisaje urbano? | Tokio (Japão), 2018 (402)*
65 403 178.4.1.jpg Richard Morgan, Reino Unido | Gods and Mortals 1 | Londres (Reino Unido), 2016 (403)*
66 404 112.3.4.jpg Nathalie Fixon, Espanha | Dividing line, christmas shoppers and activists - Tales of a massified city | Barcelona (Espanha), 2017 (404)*
282 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
67 405 109.3.3.jpg Artem Tikhonkov, Ucrânia | Sight | Europe (Ucrânia), 2019 (405)*
68 406 99.3.5.jpg Desiree Costa Giusti, Brasil | O muro já não é vermelho | Havana (Cuba), 2013 (406)*
69 407 99.3.1.jpg Desiree Costa Giusti, Brasil | O muro já não é vermelho | Havana (Cuba), 2013 (407)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 283
70 408 74.4.3.jpg Peterson Azevedo Amorim, Brasil | A arte de lutar pela ancestralidade | Salvador, Bahia (Brasil), 2019 (408)*
71 409 249.4.6.jpg Seyed Mohammad Sadegh Hosseini, Irão | Addiction | Shiraz (Irão), 2012 (409)*
72 410 46.4.1.jpg Mohammad Rakibul Hasan, Bangladesh | How the other half sleeps | Sylhet (Bangladesh), 2018 (410)*
284 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
73 411 80.4.3.JPG Rayhan Ahmed, Bangladesh | A very risky train journey | Dhaka (Bangladesh), 2019 (411)*
74 412 80.4.1.JPG Rayhan Ahmed, Bangladesh | A very risky travel to the destination | Dhaka (Bangladesh), 2018 (412)*
75 413 150.4.4.jpg Debdatta Chakraborty, Índia | The Legacy of Chhota Rail 4 | Madhya Pradesh (Índia), 2018 (413)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 285
76 414 66.3.1.jpg Syed Mahabubul Kader, Bangladesh | Narrow corridor | Dhaka (Bangladesh), 2019 (414)*
286 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
77 415 52.3.1.jpg Liz Stefhanie Cubillos Díaz, Colômbia | Terraza 1 | Bogotá D.C. (Colômbia), 2017 (415)*
78 416 74.3.3.jpg Hugo Jorge Pires Ferreira, Portugal | A cidade como galeria de arte - 3 | Águeda (Portugal), 2019 (416)*
79 417 110.2.6.jpg Rocío García Risco, Espanha | Descanso | Elmina (Gana), 2017 (417)*
80 418 105.3.1.jpg João Antonio Benitz Rangel dos Santos, Brasil | Yellow Hats 1 | Minas Gerais (Brasil), 2018 (418)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 287
81 419 62.3.2.jpg Nguyen Viet Thanh, Vietnam | Flood tide | HoChiMinh City (Vietnam), 2016 (419)*
82 420 52.2.4.jpg Aldomaria Canalini, Itália | Plesetsk 4 | Oblast Arkangel (Rússia), 2018 (420)*
288 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
83 421 68.2.2.jpg Omid Farrokh, Irão | Kwlerai tandwre | Sardasht (Irão), 2015 (421)*
84 422 96.2.6.jpg Hadi Dehghanpour, Irão | Harvest Season | Torbat Heidariyeh (Irão), 2018 (422)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 289
85 423 40.2.3.jpg Mohamadreza Rezaeiasl, Irão | Old Man Abyaneh | Abyaneh village (Irão), 2011 (423)*
86 424 238.4.2.jpg Paweł Piotrowski, Polônia | Oleksandrivka Last Residents | Khmelnytskyi (Ucrânia), 2018 (424)*
87 425 264.4.6.jpg Bahar Shaghayegh, Irão | Turkmen bride | Golestan province (Irão), 2017 (425)*
88 426 223.4.3.jpg Cristian Camilo Torres Holguín, Colômbia | Anarlidys Silgado Méndez | Isla Fuerte, Cartagena (Colômbia), 2018 (426)*
290 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
89 427 138.2.1.jpg Vitor Pina, Portugal | Rio de Onor ou Rihonor de Castilla | Rihonor de Castilla / Rio de Onor (Espanha / Portugal), 2017 (427)*
90 428 138.2.5.jpg Vitor Pina, Portugal | Conversas | Rio de Onor (Portugal), 2017 (428)*
91 429 122.2.2.jpg Mario Matías Pereda Berga, Espanha | Historias del Cáucaso 02 | Ismailli Rayon (Azerbaijão), 2018 (429)*
92 430 142.2.6.jpg Mário João G. Roque, Portugal | Gentes das Terras de Sicó | Chão Lameiro, Pombal (Portugal), 2019 (430)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 291
93 431 67.2.3.jpg Vladimir Sevrinovsky, Rússia | Bringing straw home | Dagestan (Rússia), 2018 (431)*
94 432 44.2.4.jpg Zahra Allami, Irão | Village women | Rasht, Rasht rod village (Irão), 2019 (432)*
292 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
95 433 309.4.6.jpg José Luís Rodrigues dos Santos, Portugal | Rostos da Rota da Seda - Heidi e Marco cazaques. | Yilin (China), 2018 (433)*
96 434 128.2.3.jpg Verónica Menéndez Salinas, Espanha | Trasquilada tradicional 3 | Baleares (Espanha), 2018 (434)*
97 435 132.2.5.jpg Ziba, Irão | Zan | Baneh (Irão), 2018 (435)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 293
98 436 28.2.6.JPG Nafis Ameen, Bangladesh | Life of Haor_6 | Kishoreganj (Bangladesh), 2017 (436)*
99 437 28.2.4.JPG Nafis Ameen, Bangladesh | Life of Haor_4 | Kishoreganj (Bangladesh), 2017 (437)*
100 438 70.2.4.jpg Kip Harris, Canadá | Herdsman | Nagaur (Índia), 2014 (438)*
294 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
101 439 58.2.2.jpg Rudolph Castro, México | Familia Choqque | Cusco (Perú), 2017 (439)*
102 440 130.2.4.jpg Mohamadreza Zarrin, Irão | Farmer old man | Semnan (Irão), 2007 (440)*
103 441 82.2.2.jpg Pedro Miguel Lopes Vaz de Carvalho, Portugal | Descascar | Açores (Portugal), 2017 (441)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 295
104 442 127.2.3.jpg Azim Khan Ronnie, Bangladesh | Harvesting red chilies | Bogura (Bangladesh), 2019 (442)*
105 443 127.2.2.jpg Azim Khan Ronnie, Bangladesh | Red chilies pickers | Bogura (Bangladesh), 2017 (443)*
106 444 127.2.1.jpg Azim Khan Ronnie, Bangladesh | Women collecting red chilies | Bogura (Bangladesh), 2017 (444)*
296 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
107 445 35.2.5.jpg Do Hieu Liem , Vietnam | Life together | Bac Lieu (Vietnam), 2018 (445)*
108 446 165.4.4.jpg Aires Manuel dos Santos Fernandes, Brasil | Mais um dia! | Macapá, Amapá, Amazônia (Brasil), 2014 (446)*
109 447 105.2.3.jpg Amitava Chandra, Índia | Boat Making (3) | West - Bengal (Índia), 2019 (447)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 297
110 448 75.1.4.jpg Phan Thj Khánh, Vietnam | Flower on the water | Thanh Hoa, Long An (Vietnam), 2018 (448)*
298 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
111 449 10.2.3.jpg Meysam Khaledian, Irão | Shepherd | Khuzestan (Irão), 2018 (449)*
112 450 239.4.1.jpg Marco Antonio Barboza Garces, Colômbia | Pirate | Isla de Leon, Cartagena (Colômbia), 2018 (450)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 299
113 451 41.2.1.jpg Cleidimar Isabel de Oliveira, Brasil | Pescadores 01 | Bahia (Brasil), 2017 (451)*
114 452 218.4.1.jpg Alden Globo, Qatar | Setting up | Bula, Camarines Sur (Filipinas), 2018 (452)*
300 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
115 453 305.4.3.jpg Mohammadreza Fallah, Irão | A forgotten art in a forgotten country | Kashan (Irão), 2018 (453)*
116 454 69.4.3.jpg Ramazan, Turquia | Blacksmith | Kahramanmaras (Turquia), 2018 (454)*
117 455 62.3.4.jpg Nguyen Viet Thanh, Vietnam | Inside the factory | Hung Yen (Vietnam), 2010 (455)*
118 456 155.4.3.jpg Ramazan, Turquia | Walnut crate masters_03 | (Turquia), 2018 (456)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 301
119 457 129.4.4.jpg Md Rafayat Haque Khan, Bangladesh | The magical hands | Sylhet (Bangladesh), 2015 (457)*
120 458 129.4.6.jpg Md Rafayat Haque Khan, Bangladesh | The magical hands | Sylhet (Bangladesh), 2015 (458)*
302 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
121 459 226.4.2.jpg Sergio Manzano, Espanha | El carretero de Escurial | Escurial de la Sierra, Salamanca (Espanha), 2019 (459)*
122 460 176.4.6.jpg Susana Girón, Espanha | 102 years old master athlete | Madrid (Espanha), 2018 (460)*
123 461 205.4.1.jpg Steffen Junghanß, Alemanha | Misha | Mejvrishkevi (Geórgia), 2018 (461)*
124 462 47.4.1.JPG Nuno de Santos Loureiro, Portugal | Na Gala do Acordeão Algarvio | Algarve (Portugal), 2018 (462)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 303
125 463 31.2.5.jpg Nuno André Ferreira, Portugal | Vindimas no Dão | Viseu (Portugal), 2018 (463)*
126 464 148.2.5.jpg Roberto Hernandez Yustos, Espanha | Sueño y realidad | Valdenebro de los Valles (Valladolid) (Espanha), 2009 (464)*
304 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
127 465 269.4.1.jpg Debasish Chakraborty, Índia | Bahurupi 001 | Índia (Índia), 2019 (465)*
128 466 269.4.5.jpg Debasish Chakraborty, Índia | Bahurupi 005 | Índia (Índia), 2018 (466)*
129 467 259.4.5.jpg Hugo Santarem Rodrigues, Brasil | Interior - Karo | Tribo Karo (Etiópia), 2018 (467)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 305
130 468 184.4.4.jpg Sandipani Chattopadhyay, Índia | The Ramnami 4 | Chhattisgarh (Índia), 2018 (468)*
131 469 184.4.6.jpg Sandipani Chattopadhyay, Índia | The Ramnami 6 | Chhattisgarh (Índia), 2018 (469)*
306 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
132 470 120.4.3.jpg Jophel Botero Ybiosa, Filipinas | Mud People Festival | Nueva Ecija (Filipinas), 2018 (470)*
133 471 172.4.5.jpg Andrés Felipe Valenzuela Parra, Colômbia | Los Guardianes de Nazareth | Amazonas (Colômbia), 2018 (471)*
134 472 313.4.4.jpg Luís Miguel Portela, Portugal | Wara Sepik | Rio Sepik (Papua Nova Guiné), 2015 (472)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 307
135 473 131.4.4.jpg João Galamba, Portugal | Bee Matan IV | Maubisse (Timor-Leste), 2018 (473)*
136 474 136.4.6.jpg Zon Hisham Bin Zainal Abidin, Malásia | Serie 6 - The Old Guard | Royal Belum Rainforest, Perak (Malásia), 2018 (474)*
308 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
137 475 204.4.5.jpg Sanjay Das, Índia | Dancing The River Bed | Purulia, West Bengal (Índia), 2019 (475)*
138 476 122.4.4.jpg Mithail Afrige Chowdhury, Bangladesh | Rakher Upobash - 4 | Dhaka (Bangladesh), 2018 (476)*
139 477 60.3.1.jpg Mark Anthony Agtay, Emirados Árabes Unidos | The Wall of Flowers | Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), 2019 (477)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 309
140 478 194.4.1.jpg Seyed Mohammad Javad Sadri, Irão | Move to the place of prayer | Mohamadsalehi vilige (Irão), 2018 (478)*
141 479 60.4.6.jpg Rossifang, Taiwan | Buddhist monks | Kaohsiung (Taiwan), 2014 (479)*
310 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
142 480 213.4.5.jpg Mohsen Kaboli, Irão | At oglan | Golestan (Irão), 2018 (480)*
143 481 140.4.1.jpg Arturo Lopez Illana , Espanha | Al Limite 1 | Sumatra (Indonésia ), 2016 (481)*
144 482 89.4.5.JPGDeba Prasad Roy, Índia | Traditional Bull Race Pacu Jawi Indonesia 05 | Village Lima Kaum, near city Bukittinggi, West Sumatra (Indonésia), 2018 (482)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 311
145 483 140.4.4.jpg Arturo Lopez Illana, Espanha | Al Limite 4 | Sumatra (Indonésia), 2016 (483)*
312 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
146 484 107.3.1.jpg Ariel Silva, México | 01 Welcome to mi barrio - serie | San Cristóbal de Las Casas, Chiapas (México), 2015 (484)*
147 485 170.4.1.jpg Sudipto Das, Índia | Where Arts meet Life | Purulia, West Bengal (Índia), 2018 (485)*
rumores do mundo pessoas, lugares, outros olhares 313
148 486 14.4.4.jpg Pranab Basak, Índia | Colors of life | Purulia, West Bengal (Índia), 2017 (486)*
149 487 14.4.3.jpg Pranab Basak, Índia | Colors of life | Purulia, West Bengal (Índia), 2017 (487)*
314 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
comentários
comentários 315
Portfólios premiados: rain. This circumstance will directly create long dry 51
Páginas 17 - 102 season. Most of the peasants on the plateau hills use lives-
Photo: Pupikon learning some moves from her mo- tock to support their livelihoods. Of course, there is
1-6 ther Wati. also a little farming to help.
El Agua del Lago Sevan sustenta la identidad de
24 52
toda la comarca sus altas aguas pueblan Armenia
en una de las zonas estratégicas más importantes Solution: new protected areas need to be created Believe, it is their will to survive, and even see.
de la historia. A su alrededor las batallas, los go- and, most importantly, the deforestation of cur-
rently protected areas must cease. We must help 53
biernos, las fronteras y el tiempo se han disputado
cada metro territorial de su extensa belleza. En la by donating to Greenpeace or The Forest Trust. House on the plateau hill.
cuna del cristianismo la atmosfera resplandece so- They are huge NGOs that try to protect our envi-
ronment by researching which companies use palm 54
bre los senderos que rodean su cristalina espesura.
oil that comes from areas suffering from deforesta- Faith is a part of their lives, around them.
7-12 tion, and push them to stop.
55
Simbología poética de los riesgos naturales que Photo: an Orangutan requesting some fruit (and
help). Reflexos noturnos da cidade.
causa el hombre en el mar. Mare evomit (El mar
vomita) simboliza el mensaje que nos reenvía el 56
25-30
mar, el repudio del mar a la acción del hombre. Flutuando com um laptop na noite da cidade.
Shadows and highlights.
13-18 57
31-36
Apocrypha - literary work, created on the basis of Lendo sobre a noite da cidade.
another. Unlike the sequel, which can continue the These pictures show the magnificence and wonder
narrative of the plot, the apocrypha represents a of the pure nature of the desert and the presence 58
new view of the world described in the original of man in it!
Livros sobre a noite da cidade.
work. In the series ‘Apocrypha’, the author uses his 37
own landscape images as a basis, supplementing 59
Young girl running on strawberry greenhouses.
them with details of the chimerical fantasies of the Reunião sobre a noite da cidade.
imaginary world. 38
60
19 Young girl collecting strawberries.
Parado sobre a noite da cidade.
Climate change and Global Warming: deforesta- 39
tion of rainforests is eliminating the main role of 61
Peasant woman extracting olives by size.
rainforests as the second largest carbon storage. Estructura del bar de un hotel en Mérida Yucatán,
Rainforests help to regulate the temperatures arou- 40 insertada en un jardín de cedros, camino a Tizimín
nd the world as well as the weather patterns. Peasant women making bread. Yucatán.
Photo: Wati and Pupikon waking up from a nap.
41 62
20 Peasant woman making arrangement to dry olive Monumento encontrado en una glorieta en la ciu-
Destruction of an Ecosystem and Biodiversity: de- oil soap. dad de Mérida, insertado en la ciénega de puerto
forestation is resulting in the habitat loss of many Progreso.
different species of animals and plants. Some of 42
63
the endangered species are: Orangutans, Tigers, Confuses wheat for drying.
Rhinoceros, Borneo Elephants, etc. Concha acústica del municipio de Hunucmá, en
Photo: Wati and Pupikon playing Hide & Seek in 43-48 Yucatan, colocada en la costa de la playa de Chi-
the region of Bukit Lawang. This photo story is based on the people, living in the cxulub.
villages near the Teesta river at Mekhliganj, India.
21 64
Floods have been recurrent phenomenon in these
Endangered Species: deforestation is pushing villages like many parts of India, causing loss of li- Estructura encontrada en el municipio de Telchac,
these endangered species out of their ecosystem, ves and public property and bringing untold misery insertada en un camino rural de la comisaría de San
meaning that they have low changes to survive out to the people, especially those in the rural areas. Ignacio.
of their original habitat. Floods have posed a challenge to the Government 65
Photo: Betut enjoying the morning light of Suma- as well as to the people due to its impact on the
Antigua tienda de venta de pollos rostizados en
tra’s forest. lives and health of the population and also on the
Mérida, insertada en el paisaje de una cantera a la
crop productivity. The impact of flood is complex
22 salida de la carretera a Campeche.
and far-reaching. Apart from health consequences,
Flooding and soil erosion. Rainforest plays an im- it damages properties and infrastructures, and thus 66
portant role to dispel the various disasters such as further creates barrier to access to health care and Monumento de una escuela religiosa, insertado en
floods and landslides. social services. un campo de henequén en la ciudad de Izamal.
Photo: Two male Orangutans feeding each other in
the deep forest of Sumatra. 49 67-72
The cable column on the plateau mountain does Un decenio después del inicio de la crisis económi-
23 not know how long it takes to build it. ca, la desmemoria nos ha llevado a coquetear de
Disruption of the water cycle .The less number of
50 nuevo con las burbujas inmobiliarias. El resultado
trees on earth, the less water content on the air
ya sabemos cuál será.
that will be returned to the ground in the form of House on the plateau hill.
316 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
36 46 55
Sem comentário. Pedreira em lavra suspensa. On top of Wahibi Sands desert dunes.
37 47 56
The series is dealing with the theme of man’s rela- Esta antiga Ponte, com cerca de 30 metros, foi After the Iranian Revolution, Haloxylon and Zy-
tionship to nature. construída há 200 anos e o seu regresso à luz gophyllum plants were planted to combat defo-
’Zdesj byl Vasya’ [Здесь был Вася] – directly trans- do dia atestava o pesadelo que a falta de chuva restation in the region. Although this project was
lating from Russian as ‘Here was Vasya’, is a phrase ( no final de 2017 e inícios de 2018 ) na bacia do stopped later, these plants are among a few spe-
seen scribbled, more commonly than not, on a sig- Sado, onde as albufeiras registavam uma média de cies which survived the harsh climate of the desert.
nificant piece of architecture, a monument or ano- 19,2% da sua capacidade.
ther example of public or private property and is 57
considered as malicious defacement and an act of 48 This picture was taken in the Wahiba Sands desert
vandalism. The name ‘Vasya’ here is used to repla- Como crateras de meteoritos, estes pequenos of Oman. The inspiration of the photo is quite easy
ce anybody’s name and is not directly connected to charcos, salpicam as fretadas e secas terras da bar- and remarkable as well. I actually wanted to shot
any person in particular. In almost every frame, the- ragem de Pego do Altar, durante a seca extrema, the beautiful landscape. It was sunset, so the du-
re is an object, big or small, which was ‘left behind’ que atingiu o Alentejo, no final do ano de 2017 e nes had a perfect shape with a beautifully golden
by a human being, intentionally or unintentionally, inícios de 2018. color. Suddenly, this man came into my picture and
and which becomes almost the integral part of the for a moment I was really annoyed he will destroy
49 the perfect surface of the dunes. In this sense, du-
landscape. That ‘vandalised’ part of the landscape,
which we hardly ever notice nowadays, is my at- In 2010, I visited the Muradymovo Gorge for the nes are merciless, as once you have footprints in
tempt for a broad interpretation of this phrase as first time. A couple of weeks before my arrival, it the sand, you need to wait a while, until the wind
a way to show a man’s destructive connection to suffered from a severe fire. As a result, the western fully recovered the original form. Instead of being
our environment. slope was almost completely burnt out. I returned annoyed, I tried to leverage him as an humanizing
there eight years later. The nature was able to reco- element and put him into the center of the image
38 ver itself. Young trees were growing up, and grass so the contrast of nature and man fully appears.
Gandoman is one of the pristine areas of Iran. was knee-deep. It would seem that nothing remin-
One place empty of human, wonderful and pristine. ded the once happened tragedy. But among the 58
We call him the lost paradise. greenery, throughout the plateau, the forest was Standing in the salt in the lowest places in the
dead. Trees which did not survive the fire gone by world.
39 were dried up and crooked as if reminding a dra-
Near to the Iraqi,Iranian border, they proudly rise matic human error. 59
and although it’s hot and sunny where the photo Una vivienda antigua abandonada, en un quebra-
was taken, the keep to have their own wether of 50 do de roca cerca de yacimientos de estaño.
ice and snow. Environmental disaster in Levikha Village, Sverdlo-
vsk region of Russia. 60
40 The legacy of industrial progress - Levikhinskiy Fotografia tirada de uma fortaleza do lado tajique.
Orthodox cross towering over Lake Pleshcheyevo in massive sulfide underground mine is located. Since
61
the vicinity of Pereslavl-Zalessky. 1997, the mine was in a deep crisis, production
Panorama of three frames. The original size is 9770 volumes were reduced, and the company’s debts The magic of sand.
x 3560. grew. In 2003, the mine was completely mothbal- 62
led and flooded. It was drained several times when
41 This place can tell and show that in all historical
copper prices went up, then drowned again. After
A river to eternity. epochs man, each of us, is part of the natural wor-
the sinking of the mine, acidic mine waters began
ld, and nature is the fundamental condition for the
to rise to the surface, creating an environmental
42 existence of human society.
disaster. Today, acid mine water is neutralized and
Castillo de Loarre. discharged into the pond sump, and go to the ri- 63
43 ver Tagil. The Ministry of natural resources several Sunrise on the lake of Alberus. One of the boats of
times announced a competition for the assessment the primitive fishermen.
Complexo mineiro instalado no século XIX para a
of environmental harm, but the period of imple-
exploração de uma mina de pirite cuprífera cujo
mentation and cost apparently did not suit anyone. 64
depósito havia sido explorado já em época roma-
na e pré romana. Os principais elementos extraí- These photos are created during my living in Spain
51
dos durante a exploração moderna, entre 1854 e in several visits to the Parc Natural de l’Albufera. I
Meditated over the last two years, this work pre- was impressed how nature by itself create those
1966, foram o cobre e o enxofre. Depois do encer- sents a portrait of five islands each in the Sundar-
ramento da mina o equipamento foi desmantelado curves, lines, shapes and reflections and how the
bans of India and Bangladesh, spanning the Gan- birds, whose house is this, are carefully isolated
e vendido, restando hoje a paisagem marcada pela ges and the Meghna.
actividade mineira e pela drenagem ácida. from humans.
52 65
44
The rising sea-level and disappearing islands have Aborda la relación poética del pescador con el
Zona de extração desactivada created a shared sense of disassociation, disloca- Lago de Chapala.
45 tion and alienation.
66
Lençol de água ácida. As plantas em redor podem 53, 54
tornar-se acumuladoras de metais. Se consumidas I captured it in Bali, while sunset on the beach.
The floods in the fields and lands of the Golestan
por animais ou por seres humanos há uma inges- province have caused a lot of damage to the peo- 67
tão de doses anormalmente elevadas de metais. ple in the new year. Un pato que vive cerca de la provincia de Alajuela.
comentários 319
opened, and made me discover one of the most diante telas, mesmo estando próximos um do ou- Nam), the only person in the family of four affec-
beautiful places I have never seen. It has been 20 tro. O ensaio busca mostrar um pouco da cultura ted by Agent Orange. Affected by dioxin poison,
years since he decided to live there, maintain the e historicidade de Cuba, assim como as recentes Chau’s limbs were atrophy, he had to move with 2
place, while letting Nature taking back. transformações que tem sofrido devido ao avan- knees, his hand could not grasp anything for too
ço da internet desde meados de 2015, quando o long. Chau’s parents could not afford to raise their
209 acesso às redes teve maior alcance à população. children, so they sent Chau at 6 months old came
I like the irony that comes out of this image: life to Hoa Binh village at Tu Du Hospital, Ho Chi Minh
can even come from an engine. 218 City.
Huda, the wife of a drug dealer in the village “san- At the age of 16, Chau decided to leave the villa-
210 ge siyah”. ge to live on his own even though there was no
As margens do Porto do Sal em Belém, estão sen- money. And Chau came to painting to overcome
do tomadas por entulho e lixos. As embarcações 219
the difficult situation. Chau’s hand was very weak
já não tem mais um local seguro para embarque e Sexualised images of femininity frame the rela- and can be injured at any time. Therefore, he often
desembarque, este é o reflexo de uma cidade que tionship between two males, father and son, each drew by mouth, although it was difficult at first.
não tem para onde crescer, e a população em bus- betraying their different generations by the things - Chau borrowed money to rent a small room and
ca de uma moradia estão aterrando as margens, a book and a phone - that they hold in their hands paint abstract and landscapes pictures with bri-
para construírem suas casas. to occupy their minds. ght colors. The money Chau earned from selling
Ao longo dos anos vários metros já foram aterra- paintings was enough for him to pay rent and buy
dos. 220
necessary items.
Nowhere to go, no options, no future.
211 Chau has exhibited paintings in several major cities
221 in Vietnam, Japan, France, and the United States.
Na China parece não haver grandes estudos de
In 21st Century, we are living in a busy pace. We Currently, Chau is focusing on improving English
mercado, eis aqui mais um exemplo: em um ano
don’t have time to look back who are sitting in a so that in November, 2019, he will go to the US
chegaram a existir 6 companhias diferentes de bi-
comfort zone and sleep in a beautiful soft bed of to study an art training program under a full scho-
cicletas públicas... é claro que depois parte delas
roses. Have we ever thought how the other half larship.
abriu falência em pouco mais que uma ano. Cente-
sleeps and lives under a drastic condition just be- Chau is the protagonist of the film ”Chau, beyond
nas de milhares delas chegam a formar montanhas
sides our multi-storied building? These forgotten the lines” by American director Courtney Marsh -
em várias localizações da metrópole.
people, forgotten faces we encounter every time in the film entered the top 5 nominations for ”Best
212, 213 a broad day light but we have nothing to do with short film Oscar” in 2016. He is a person Vietnam’s
Yerevan is a city full of architectural contrasts. them, as the government should take care of the- first disability was invited to participate in the 9th
Walking in the modern city center, you look arou- se street people. These people are not from Mars; session ”Convention on the Rights of Persons with
nd, and without even trying hard, you notice old they reside in the same cities where the other half, Disabilities” of the United Nations at New York in
buildings that lead you to hidden places. In front the rich, the financially solvent, at least whoever late June 2016. There, Chau had a solo exhibition
of a new modern business center you can find an have a place to sleep but these unfortunate people and successfully auctioning all 11 paintings he
old and demolished stone structure that was once don’t have place to sleep except the pavement of brought to New York.
a house or store dating more than a hundred years. the street under the open sky. 228
Using a mirror, I tried to show two different reali-
222 This photos series, combined under the name
ties within each other, two different “faces” of the
Hontalans (Hungarian homeless people) rest, sleep “Museums Stories” show the connection between
same city. There are very few old buildings that
and have their dinner in the underpass of Buda- cultural and society. An old study says, that an ave-
were reconstructed and have kept their integrity,
pest’s metro. rage time spent in a museum looking at art is 17
the other ones were destroyed or are in the process
seconds. 17 seconds of energy and information.
of being destroyed.
223 As an observer, I can tell, that in this intimate mo-
I can say the same things about historical monu-
Risky rest. ment, people are powerless against art and are ge-
ments that are in the worst possible deteriorating
tting emotionally naked.
condition and soon will be crushed to free the spa- 224
ce for the new “modern” buildings. 229
Díptico #1.
This is not only about the buildings, but about peo- É possível trabalharmos em conjunto (artistas com
ple living and working there, walking and thinking 225 deficiência e sem deficiência) TRANSMITIR AO
there in parallel realities. Retrato de una tienda de zapatos peruana en la MUNDO UMA MENSAGEM DE UNIDADE.
214 ciudad de Cuzco. Incluir a todos na dança, abranger cegos, curdos,
mudos, pessoas com deficiências motoras.
Graphics, geometry, people. 226 Integrar a pessoa com deficiência nas artes e uma
215 Por las tardes, el llegar de la escuela, Greis le ayu- forma de mostrar que cada um se pode exprimir
da a su madre Adriana a administrar la tienda “Mi independentemente da sua condição.
En un omnibus se puede leer algo contradictorio
Principio 2”, nombrada así por una primera tienda
respecto al deterioro en que se encuentra la ciu- 230
que hubo con este mismo nombre en otro lugar de
dad.
la isla. Esta tienda es la más alejada del casco ur- A capoeira foi inventada pelos negros vindos da
216 bano y esto favorece a que las personas que viven África para o Brasil no período da colonização Por-
City life. en el monte, es decir, en las zonas más alejadas tuguesa. Eles fingiam uma dança, mas na verdade
y rurales de la isla, encuentren en esta tienda la era uma luta de autodefesa contra os seus algo-
217 primera y más cercana opción para sus compras. zes. Muitos escravos utilizavam-se desta arte para
Uma cena cada vez mais recorrente em Cuba, mui- fugir de seus cativeiros em direção aos quilombos
227 da liberdade. Hoje a Bahia é um dos terrenos mais
tos vizinhos que antes ficavam nas portas de suas
casas conversando, hoje se ocupam em ficarem Le Minh Chau was born in 1991 in Dong Nai (Viet férteis para essa cultura ancestral.
324 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
231 se competitions, the categories to compete change only belong to sport values but to human values
Espectadora. every 5 years so that they are more balanced. Thus, too. Promoting what they do, on the one hand,
starting at the age of 35, categories are established will make people realize these inspiring activities,
232 up to sometimes reaching +100 years... and on the second hand will give more value to
One example of Annoying animal is the Rooster This list of portraits, from 35 to 102 years old, re- elders in society, a group of age, that tend to be
game, which is carried out illegally in the corners presents that transit of ages among veteran athle- undervalued.
of Iran. These creatures raise the roosters with a tes, men and women photographed after compe-
special obsession. They prepare them for war. The- ting during the last European and World Masters 241
se people, in addition to entertainment, use the Championships held in Madrid and Malaga respec- Fatinha é como a vizinhança a conhece e a sua his-
roosters for betting. tively during 2018. tória é cheia de emoções.
This project is a reflection on how we get older and Em criança aos poucos deixou de ver o arco-íris, a
233 how our physical and corporal attitude determines sua imagem preferida e que continua a aparecer
Shadow play is disappearing in China, the Chinese in some way how we face life. These dyptics show nas suas memórias.
government now attaches great importance to pro- us from where we came from and where we will Senhora de um sorriso rasgado e de uma bondade
tecting these cultural heritages. The school of Sha- go. 6 digital- daguerreotype portraits in dyptics of e fé sem fim, nunca baixou os braços, afirmando
dow play is located in Huadong village, Zaozhuang women and men, who, being proud athletes, pose que reaprendeu a viver na escuridão e sozinha,
city, China. In order not to let traditional skills disa- in front of the camera as they wish, showing us encontrando sempre uma luz interior forte, uma
ppear, Xing Ruyu and Xing Ruliang teach children how time and maturity shape our body and soul. espécie de guia.
cultural lessons while teaching shadow plays, most Any of them would be or could be any of the A casa tornou-se o seu porto seguro. Adora colocar
of these children were five to six years old at that others in the past or in the future, this is the key. flores nas jarras, fazem-lhe recordar o arco-íris...
time ,they were rural children in the mountains. I All of them are linked by their passion to Athletics, Tem na Nara uma fiel amiga, que adora estar no
like to take photos of them, but I always feel that they are just a group of people that run quite fast, seu colo e lhe faz companhia.
the photos taken directly cannot show the tradi- throw really far and jump incredibly high, but far Até ao ano 2010, a D. Fátima de 63 anos, era autó-
tion of shadow play, so I uploaded the photos to from that they are an example for society, where noma nas suas actividades de vida diária. No entan-
my mobile phone, and adjusted them to wet-plate values like effort, passion, determination or will not to, por precaução e para evitar eventuais acidentes,
photography with apple TINTYPE app to show the only belong to sport values but to human values familiares convenceram-na que tinha chegado a
traditional Chinese shadow play culture with tradi- too. Promoting what they do, on the one hand, altura de recorrer à ajuda de um Centro de Dia.
tional photography techniques. will make people realize these inspiring activities, Neste momento recebe a alimentação em casa e
and on the second hand will give more value to participa em diversas atividades lúdico-recreativas.
234
elders in society, a group of age, that tend to be
A Nan playing Dotar -traditional music instrument- 242
undervalued.
while singing Iranian folk songs. Mahmud Latifzadi, on August 1, 2001, is working
240 on a borderline between Iran and Iraq that sud-
235 denly goes to mine and loses one ear and one eye
Harald Alfred Aanerud, Norwegian 91 years old
Druso. Os drusos são um dos vários grupos étni- master Athlete portrayed after taking part on 60m and one ear.
cos e religiosos, que compõem o tabuleiro libanês, race competition at European Master Athletics In-
conhecido pela forma sustentada como todos as 243, 244
door Championship in Madrid (Spain). Every year,
etnias e religiões convivem e se organizam. thousands of Master athletes take part on official The onset of plastic and synthetic materials in daily
competitions around the world, getting to be one life has brought the sad demise of the once famous
236 pottery of Bangladesh. The earthen pottery, made
of the most crowded sporting events in the world.
A photo, for the most part, is the merereminiscen- with hands in the potter’s wheel once has reached
In these competitions, the categories to compete
ce of this mortal body to remain in this world and to its zenith, as an art form. Still it is an answer to
change every 5 years so that they are more balan-
in some instances, it could embellish the gravesto- the pollution caused by the plastic packaging ma-
ced. Thus, starting at the age of 35, categories are
nes of the dead, the images which are deftly car- terials. The finest artistry involved in creating the
established up to sometimes reaching +100 years
ved on these stones. potteries and earthen wares is a site to behold how
This list of portraits, from 35 to 102 years old, re-
presents that transit of ages among veteran athle- life is imparted to the clay collected from pond and
237
tes, men and women photographed after compe- water bodies or the silt of the rivers of Bangladesh.
Integrantes de la caravana migrante, mientras al- Formerly, potters used to be a distinctive communi-
gunos descansan otros piden raite a los transportes ting during the last European and World Masters
Championships held in Madrid and Malaga respec- ty in every village. But now very few people are still
de carga que pasan a su lado, esto para avanzar following the age old profession.
más rápido y llegar a su próxima parada; su desti- tively during 2018.
This project is a reflection on how we get older and The art involved very little or no equipment apart
no, los Estados Unidos. from the potter’s wheel. The bare hands of the ar-
how our physical and corporal attitude determines
238 in some way how we face life. These dyptics show tists were enough to infuse life in the clay.
Let Children win in their fields.If we build a restric- us from where we came from and where we will 245
ted area around them then they can’t do a easy go. 6 digital- daguerreotype portraits in dyptics of
Mazari means stroke Hanna. This job is about 700
work than a hard one. women and men, who, being proud athletes, pose
years old and it’s only in Yazd.
in front of the camera as they wish, showing us
239 Because of the contamination of the work space,
how time and maturity shape our body and soul.
the owners of these workshops are not working
Pilar Adan, Spanish 66 years old master Athlete Any of them would be or could be any of the
there and hired a number of young people to do
portrayed after taking part on Race walk compe- others in the past or in the future, this is the key.
this.
tition at European Master Athletics Indoor Cham- All of them are linked by their passion to Athletics,
Mahmoud is a 18 year old boy doing this with his
pionship in Madrid (Spain). Every year, thousands they are just a group of people that run quite fast,
friend. They do this to cover their living expenses.
of Master athletes take part on official competi- throw really far and jump incredibly high, but far
They are far from their home and family, and they
tions around the world, getting to be one of the from that they are an example for society, where
can meet their families every four months.
most crowded sporting events in the world. In the- values like effort, passion, determination or will not
comentários 325
246 fabric printing molds, dowry chests, mirrors, coffee tas crianças em África, Elina já tem a seu cargo
Fabrico tradicional do pão em forno de lenha. tables, tables, kitchen utensils, rahle, rosary, clogs, muitas tarefas domésticas. Cuidar do seu irmão
vase, vase, mouthpiece, pipe; architectural elemen- mais novo, cozinhar, fazer lume e ir buscar água à
247 ts such as mimber, door and window wings and fonte pública mais próxima.
The family has an important place in the history of musical instruments. A falta de saneamento básico coloca em risco a
Turks. Nomadic and settled order Among these, the dowry chest is the most com- saúde e a vida de 27 milhões de pessoas em paí-
Bride taking-giving traditions in their lives have mon. The dowry chest is one of the few cultural ses africanos. Moçambique é um dos países ainda
taken an important place throughout history. Fa- objects that have been invented by nomadic Turks muito afectado por esta realidade. A má nutrição,
ther of the bride because of their easy portability and good pre- água suja e falta de saneamento cria um círculo
The dowry she brought from her house was carried servation, and have maintained the function of vicioso do qual muitas crianças são vítimas neste
in bundle with nomadic culture. The settled life of today’s lifestyle although they have responded to país.
Turks their needs for years. It’s unthinkable for a girl to
With the passing of the bundles moved into the be a bride without a dowry chest. In fact, the word 255
crate and become an important visual item of our ı girl in the cradle, in the dowry chest ç indicates Game of war-hit Afghan children after immigration
homes that the dowry preparation started when the girl to Iran.
It has come. was born. For this reason, some provinces such as
256
Carved dowry chests produced in the province of Kahramanmaraş and Bartın came to the forefront
Kahramanmaras with engraving handwork and in the construction of the dowry chest and there- Young kid transporting big loads of plants on a
other materials differentiate from regions. Kahra- fore in the wood carving works. road in northern Vietnam. Child labor is very com-
manmaras Carved Dowry Chest is made of walnut There is a general consensus among carpenters mon in rural Asia.
tree. that people who deal with wood carving earn less. 257
The walnut tree is dried first so as not to be moist The reason for this is explained in a folk narrati-
”Barrerito” es una serie fotográfica en desarrollo
(wet). Kahramanmaraş Dowry Chest 4, 6 and 8 ve as follows: The carpenter who works until the
desde el 2011 que explora el vínculo infancia y
square and generally 100-52-63 (length-width-hei- evening puts the money he earns into the loinclo-
frontera. En una pequeña zona rural en Misiones,
ght) centimeters. th and keeps his way home. Hızır face across the
Argentina, a tres kilómetros de la frontera con Bra-
Kahramanmaras Carved Dowry Chest is made of road, “What’s in your lap,” he asks. The carpenter
sil, crecen un grupo de niños que no hablan es-
walnut tree. Walnut tree in desired sizes cutted and says “wood chips” (to hide the money he makes.
pañol ni tampoco portugués, sino una mezcla de
dried. This prevents the bending of the tree. Accor- Khidr him ”sawdust too, get less,” he says. Since
ambas: el portuñol. Con el juego como punto de
ding to the model to be cut tree. then, the carpenters have worked hard and believe
partida, me acerco a descubrir la singularidad de la
Carving is completely handcrafted. Nowadays pat- that they earn little money and that it is the car-
frontera, ese espacio en donde costumbres de dos
terns are drawn by machine and special hand penter that is responsible for it.
países se funden y los límites se disuelven en una
production with carving tools. Although the areas of application of wood carvings
nueva forma que sólo ellos comparten.
But nowadays, the widespread use of mechaniza- are changed, it is one of the handicrafts that have
tion in the construction of Carving Dowry Chest, survived due to its artistic aspect. 258
walnut
249 The children of India who live in poverty in one of
Tree difficult to find, due to changing cultural habi-
the poorest slum areas, where sanitation and hy-
ts in our country walnut chest interest In a world that just a fragile flower is able to crack
giene are non existent.
For reasons such as reduction, this craft is in dan- and explode a stone and burst out to the care of
ger of disappearing. the sun, breeze and rain, it is a sacred temple. We 259
From this series of photos Carved Dowry The spirit are not weaker than that little flower. We are great Franklin en la escuela.
of the construction of the masters and sacred; because we are an undeniable truth....
I tried to explain. When describing work environ- Ahmad Shamloo (The Iranian Contemporary Poet). 260
ments, black- There is still a long way to go; but if we keep the
250
I used a white technique. present trends in mind, it may not seem impossible
It is said that in the past weaving with knitting ma- to envisage unfettered and successful lives ahead
248 chines have been very hard and only young people for the little girls of Ladakh today... the kind of lives
Wood carving is a work of art that is carved on a could have done that. But now only old men are which lay beyond the wildest dreams of their illite-
tree which is easy to shape by carving a pattern doing this. rate mothers and grandmothers.
with the help of a metal tipped tool. In the past 251
neccar, who is dealing with wood carving, is called A mother tendering to her child in front of their 261
carpenter. small home. Almost every one of the about nine hundred fami-
It can be said that wood carving is about to deal lies in Mejvriskhevi is deeply rooted in this region
252
with the specific needs of human beings while for generations. Since the area of Sout Ossetia is
dealing with woodworking, but also with the de- Women in addition to other hard works ,used to occupied, it has become harder to stay in touch
sire to bring beauty. After the desired pattern is do embroidery in home. with the relatives who are living behind the bor-
drawn on the wooden plate, the other parts are derline.
253
engraved with various metal tools so that the pa- The picture is part of my series ”The Invisible Bor-
While traveling in Africa, I ended up in an african
ttern remains high. Thus, the pattern is clearly vi- der”.
village where I saw the life of local people, this life
sible. After the engraving process, the surface is Project Detail:
is very different from my usual, it is very beautiful
polished and finally varnished. At the foot of the Caucasus, only a few miles nor-
and colorful, people are different, they have their
Wood carving; Geometric shapes with writings, th of Stalin‘s hometown Gori, the small Georgian
own traditions and customs, they live poorly but
stylized plants and animal motifs are used as pa- village Mejvriskhevi can be found. Nowadays, it
they have open hearts.
tterns. can only be entered from the south. The reason for
At the beginning of the places where wood car- 254 this is the region behind: a territory called South
ving is still used today; daily use articles such as Ossetia which was the scene of a military conflict
Elina, uma menina de 9 anos de idade. Como mui-
326 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
between Russia and Georgia in August 2008. As a occasions during which the painting is done which dades do Vale Omo, onde se encontram algumas
result, South Ossetia, which according to interna- lead to their sense of geometric pattern, the inner das tribos mais antigas da África (as visitadas foram
tional law is part of Georgia, has become almost thought, the relationship with day-to-day activities Mursi, Nyangatom, Karo, Hamar) e também a re-
completely isolated from the rest of the country. and their enthusiasm. gião de Konso e Dorze. No Quênia foram visitadas
The Russian military is occupying this disputed ter- All the said tribal art forms of mud wall painting as comunidades Maasai, Turkana e Samburu. No
ritory until today. are struggling to maintain their identity due to the Brasil foram escolhidos locais que representam
The so-called Administrative Boundary Line which aggressive modernization. For the upliftment of regionalidade mas também tradições herdadas de
separates Georgia from South Ossetia cuts off Me- the poor villagers the Government is providing bri- matriz africana e europeia, que são a comunidade
jvriskhevi by east and north. Although you wou- ck made modern housing facilities with all modern quilombola Lagoa da Pedra, em Tocantins; os boia-
ldn’t find fencing and barbed wire here, you can amenities, which is pulling down the mud houses deiros que vivem na região de Gilbués, no interior
not pass the border from either side. The young even in the remote places resulting rapid extinction do Piauí; e os gaúchos do Rio Grande do Sul, no
people can barely remember a time before the of a primitive art. extremo sul do país, divisa com o Uruguai. Essas
separation, but like the older villagers, they know são comunidades que evidenciam não só diferen-
where not to go in order to avoid being caught 265, 266 tes influências migratórias, cada uma dentro do
by Russian soldiers who are monitoring the bor- Tribal wall painting is an age-old traditional culture. seu contexto histórico, mas também o caráter cul-
derline. Recent incidents prove this to be a serious The traditional art forms and types have evolved turalmente miscigenado do país e suas dimensões
threat. Due to that, Mejvriskhevi’s relationship to over time with changes in lifestyles, economic continentais, ligando-se direta e indiretamente ao
its former neighbors in the area now occupied, structures, and geographical areas.The autumn resultado do exame.
has almost completely ceased to exist. Keeping festivals worship the cattle god Pashupati. Tribal Por meio de técnicas tão modernas como um tes-
contact with relatives and maintaining friendships women decorate their huts using natural pigments te de DNA, voltamos a questões filosóficas como
has become extremely difficult and it seems me- mixed in mud. Artists use cloth swabs or chewed “de onde viemos?” e “o que nos une como raça
rely possible under these conditions. In spite of all twigs of the local sal tree.They maintain a vibrant humana?”. Levar esse processo de reflexão para o
that, life has to go on: children attend school and tradition of murals practised as a ritual art form. público é plantar uma mensagem de união, empa-
during the summer they spend their free time by Though these art forms show enormous skill— tia e respeito, algo tão caro a nós, especialmente
the river or on the grounds of the local sports field. conveying socioeconomic status, faith and rituals nos dias de hoje, com os recentes acontecimentos
You can see the elderly gathered by the roadside in the daily life of tribal communities—the artists no Brasil e no mundo. A temática da imigração não
exchanging stories, cowherds tend their livestock struggle to survive. só não envelheceu como, inclusive, talvez seja uma
and nearly every basement of the town is home to das grandes tônicas desta década.
267
the traditional Georgian winemaking.
Despite international efforts, an improvement of Cuando son niñas se peinan con dos trenzas que 271
the situation along the borderline is still not in dividen su cabeza. En el momento de convertirse Tusu is traditional harvest festival of tribal commu-
sight. But the people like here in Mejvriskhevi try en mujeres y buscar marido se hacen un peinado/ nity which begins on the last day of the Bengali
their best to pursue a normal life under unusual tocado realizado en pieles curtidas. Alguna pueden month of Aghrayan (mid-December) and the deity
circumstances. lucir en su cabello el ohumba, un ornamento muy ‘Tusu’ is worshipped as the goddess of crops. The
valioso para ellas que es una concha de mar. ‘Choudalas’, a cubiodal shaped wooden frames
262 decorated with colorful papers, dolls, flowers and
268
Estas fotografías se tomaron en el marco del other artifices has now become the symbol of Tusu
proyecto ”Intersecciones de la Memoria”, impul- Algunas ONG´s trabajan para que los niños sean and also provide economical base to many tribal
sado por el Instituto de las Identidades de la Dipu- escoralizados, pero no es fácil ya que su cultura people who made this and sell in the local market.
tación Provincial y la Universidad de Salamanca. En y constumbres le impiden entender la importancia In this picture a tribal woman is making Choudalas
“Intersecciones de la Memoria” se aúnan la con- de ir a la escuela at her home while her children playing nearby.
servación de la cultura, del patrimonio y de la tra- 269, 270
dición oral, con la documentación audiovisual de 272
O projeto “Interior” surgiu do desejo de conhecer Tusu is festival of tibal women and goddess tusu is
estas comarcas y del testimonio de sus habitantes
e registrar diversas tradições brasileiras preservadas also treated as the member of the family and the
más mayores.
pela distância em relação aos grandes centros. De- women folks worshipped goddess with folk son-
En la imagen, Agustín enseña una pieza de madera
pois de percorrer mais de 5 mil km entre Norte e gs all through the month. They do it in frolic way
a uno de los profesores participantes en el proyec-
Sul do país, Hugo Santarém, fotógrafo apaixonado often sitting mid way then standing and dancing.
to. La satisfacción por el trabajo bien hecho y el
por pessoas e histórias, uniu essa descoberta pelo Tusu songs are harvest folk songs with an inten-
disfrute del proceso creativo se ven reflejados en la
interior a uma grande vontade de conhecer suas tion to pray mother eart for god harvest. Here the
ilusión con la que el carretero recuerda todos sus
próprias origens – ou, no sentido lato da palavra, group of girls are worshipping the deity ‘Tusu’ at
proyectos. Al fin y al cabo, el producto final y su
sua própria interioridade. Motivado por esse desejo, their home with joy.
calidad es la mejor publicidad para él.
solicitou, para o presente projeto – uma extensão
263, 264 literal e metafórica do registro iniciado em “Interior” 273
In remote bordering tribal villages of Purulia about –, um exame de DNA a fim de mapear, junto a seus Marriage in Iran in the traditional way.
400 kms from the Kolkata city in India, the unbe- traços de brasilidade, sua ancestralidade global. O
projeto, com isso, busca atualmente estabelecer 274
lievable and outstanding creative paintings to de-
corate the mud-made-houses. Tribal wall painting uma travessia de fronteiras: desbravar o interior dos At every saturday and tuesday of the last fifteen
changes its discourse from time to time with the países indicados no resultado do exame – tarefa que days of kartik (a bengali month) , thousands hin-
changes of generations, which reflects the culture, constitui não só um paralelo de culturas e tradições du worshiper celebrate ‘ Rakher upobash’, a holy
sense of humor, the cleanliness of the villages, the com as do interior do Brasil, mas também com o festival of praying and fasting. It is also known as
environment, the peaceful ambiance of the surrou- indivíduo com quem se compartilha essa herança ‘kartik brata’. This celebration takes place at every
nding areas by which the people transformed into identitária. Como disse Mia Couto, “No fundo, não temple of loknath brammhachari throughout the
an identifiable unit. The murals and styles differ ac- estamos a viajar por lugares, mas sim, por pessoas”. world. But the biggest gathering takes place at the
cording to the individual tribal community and the Na Etiópia, foram priorizadas as tribos e comuni- premises of Sri Sri Loknath Brammhachari Ashram,
comentários 327
Baradi, Sonargaon. Loknath brammachari was a 282 (olhos de água) e por ali se fica o dia inteiro a can-
famous yogi. He was born in 1730 at undivided A maiden nun turns her head towards the camera tar, dançar, beber, fumar. Ainda que seja uma cele-
bengal and considered as a deity among his dis- in a pious group of prayers. Some children are sent bração comunitária e coletiva, não há uma ordem
ciples. Devotees from every corner of the country here at an early age to practice asceticism; they na cerimónia: os “babadook” (tambores) tocam
come to join this holy occasion every year . Some often face the conflict between the constraint of descompassados, e as pessoas dançam ao ritmo
even come from nepal and india. As the sun sets religion and the temptation of the modern society.. que o transe do “tua sabu” lhes impõe. É uma ce-
in the west, devotees start the ritual of ‘Rakher rimónia onde todos participam: crianças, homens,
upobash’ by illuminating the earthen candles and 283 mulheres, velhos. E é uma cerimónia feliz, que tei-
burning the incense. worshipers offer garlands of Las autoridades tradicionales de la comunidad de ma em contrastar com as condições em que vivem.
flower, fruits and foods to the deity and recite holy San Lorenzo Zinacantan reciben el respeto de la co- É a natureza humana a provar que consegue sor-
chants. They break their day long fast with the munidad durante los días de las fiestas patronales rir perante todas as adversidades e congratular-se
blessed food known as prasad. By perfoming this donde los danzantes realizan procesiones de flores com o mais básico dos bens: a água resultante da
sacred rituals, the devotees believe that no sinister y danzas por las calles de esta localidad ubicada época das chuvas.
forces can harm them and their loved ones will be en la región de Los Altos en el sureste de México.
saved from danger with the blessings of Loknath 290
brammhachari. 284 Algunos visten sus accesorios, arraigándose a la
Family turkmen dancing in front of the bride. tradición, a la cultura, a la pasión de su sangre in-
275 dígena. Los colores los hacen vivos y los conectan
Fiéis durante a Benção do Fogo Novo. 285 con la tierra... diferentes tonos que visten sus cuer-
A cerimônia faz parte das comemorações do Trí- 3 Buddhist monks left the monastery and entered pos representan las gamas del paisaje natural del
duo Pascal da Igreja católica. a big city. 3 different emotions: admiration, confu- que son dueños. Así, con plumajes, fibras, telas y
Durante a cerimônia o Círio Pascal é aceso no fogo sion and bore. otros materiales nos regalan un discurso ancestral
novo, trazendo o ano que estamos vivendo e duas de raíces amazónicas.
286
letras do alfabeto grego, ou seja, o Alfa e o Ôme-
ga. Cleaning the Buddha in the morning is a daily work 291
Todos os anos a Igreja Católica renova o Círio Pas- for monks. Entrudo das Aldeias do Xisto de Góis.
cal durante essa cerimônia. 287 292
276 Playing With Flower. ”Dê ao homem uma MÁSCARA e ele se tornará
In some cultures, including some parts of Iran, quem realmente é” (Oscar Wilde)
288
prayer is called “Rainfall” during a drought. Men Os caretos são especialmente diabólicas em Laza-
Devotees are subjugating together to celebrate rim. Sem exibir pinturas coloridas como se verifica
and women often move on foot in a place gathe-
the Ratha Yatra festival associated with Lord Ja- noutras zonas, as máscaras em geral exibem chi-
red in the desert. This place is usually sacred. They
gannath. That is dedicated to Lord Jagannath (Lord fres, que variam em tamanho mas chegam a ser
follow a cleric They do this. They ask God to rain
Krishna), his sister Goddess Subhadra and his elder longos e enormes. Para além desta particularidade
and bless.
brother Lord Balabhadra. It is also called Gundicha cornuda, que acentua de imediato o seu lado dia-
277 Yatra, Chariot Festival, Dasavatara and Navadina bólico, estas máscaras são especialmente expressi-
Sem comentário. Yatra. Hindu community with thousands of en- vas, com a madeira de amieiro esculpida em faces
thusiastic devotees taking part in colourful proces- que vão desde uma expressão bucólica ou cómica
278 sions.The festival programmes include processions, até um ar maligno e misterioso que inspira respeito
The Mandaeans are a religious sect of great an- discussion meetings. International Krishnabhab- e mesmo temor.
tiquity that still exists in limited numbers in the namrita Sangha,Sri Sri Radhagobinda Jew Mandir A juntar, os cajados de madeira destes caretos tam-
border territories of southern Iran and Iraq. Neither organize this festival. bém diferem especialmente de outros: a madeira
Christian, Moslem, Jewish nor Zoroasterism, the encontra-se espiralada e esculpida com curvas,
289
Mandaean religion contains a variety of ancient acentuando a aparência infernal destes Caretos de
elements that attest to their antiquity. “Bee Matan” significa “olhos d’água”. Uma vez
Lazarim. O seu guarda-roupa remete-nos para a
Their religion is a proto-religion in which they des- por ano, em dia a determinar pelos “Katuas” (os
natureza e a para a vida no campo, como criaturas
cended from Adam who was the first to receive homens mais velhos da comunidade), os habi-
saídas da própria paisagem e atmosfera em redor,
the religious instructions of the Mandaeans. Their tantes daquela aldeia reúnem-se para celebrar as
variando entre as habituais cores que são obser-
last great teacher and healer was John the Baptist. chuvas e o armazenamento de água daí resultante.
váveis noutras localidades e indumentárias mais
The origins of both the people and of the religion A celebração tem lugar, como se pode ver numa
características de Lazarim como trajes feitos à base
are one of the continuing mysteries of Mandaean das fotografias, junto de duas pequenas poças.
de palha, barbas de milho ou folhas.””
research. A cerimónia começa com o nascer do sol dentro
Em suma, um contributo para a candidatura dos
da “uma lulik” (casa sagrada, a qual poderá ser
caretos de Lazarim e suas máscaras a património
279 comunitária ou pertença de uma família), onde se
imaterial da humanidade.
Kanti bai with the name of her GOD Ram. vestem os tais (panos tradicionais timorenses) e os
“Liurai” (régulos dos pequenos reinos de Timor- 293
280 -Leste, que apesar de agora existir um formal po- Se trata de un reportaje con fotografías realizadas
Three Ramnami women are carrying their own cul- der político, se continuam a eleger informalmente en diferentes provincias de la Raya española y por-
ture inherited from their ancestors. Might be the e a exercer o seu poder) colocam os “Kaibauk” (co- tuguesa, y que tienen como vínculo La Mascara,
generation is seen. roas). Na “uma luluk” reza-se, canta-se e come-se un elemento de unión cultural entre los dos paí-
arroz, vegetais, e, por ser dia de festa, galinhas. O ses ibéricos. Todas las fotografías están realizadas
281 “tua sabu” (bebida tradicional, de elevado grau al- durante el año 2019, lo que significa que estas
A priest sanctified the devotees with holy water coólico, feita de seiva de palmeira) é partilhado en- tradiciones ancestrales siguen arraigadas en la
during the Mud People Festival on June 24, 2018 tre todos, em rituais repetidos. A meio da manhã, esencia ibérica.
in Nueva Ecija, Philippines. sai-se em procissão em direção aos “bee matan”
328 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
En la imagen varias Carantoñas, se llaman así estas 304 Now-a-days to celebrate the Eid festival launch
mascaras, recorren las calles de Acehuche (Cáce- Asunta, 13, she is responsible for preparing food journey is more popular and to preferable to all
res). every day while her mother and older sister working classes people.
on textile weaving. Every year as soon as the eid approaches launches
294 are seen overloaded in the terminal as the departs
Project Description: The Q’ero natives are a tribe
Jovens apostam e dinamizam tradição ancestral. live in one of the most remote places in the very the capital carrying the Eid home-goers.
high Peruvian Andes. Some anthropologists believe The overloaded launch on such Eid trip carrying
295, 296
that they are the direct descendants of the Inka. passangers beyond their capacities become risky
India is a land of cultural diversity and spirituality. during the time.But people ignore this fear.
When the Spanish arrived and killed the lnkar-
‘Dasara’ is an auspicious festival celebrated throu- To reach their destination they select this journey
ri, they went high into the remote mountains to
gh India in different languages, rituals and beliefs. without any hasitation.
hide and remain free. Because no one else could
The devotees use to dress like different Gods of The expectations of Eid home-goers is that they
chase them or survive long at that high altitude,
Hindu mythology. Huge spectators gather to expe- can reach their destination safely and thay can
they eventually were forgotten. Q’ero had almost
rience this festival. It is really spectacular in getting celebrate this festival with all of their nearest or
zero contact with the modern world and Catholic
in touch with the people of India and experience dearest persons. So, to share this happiness with
European culture for about 500 years. This is why
their cultures and rituals. all of his family members they go back their own
they are considered some of the most authentic
297 and traditional Andean wisdom keepers. native home.
One of the more striking aspects of their lives is the This image is such a glance of view of Eid home-
Portrait of one of the gajon Bahurupies.
way in which they interact with their geography. goers. Whose are take place in the open air on the
298 They live in balance and respect for all living things, wide roof of the launch.
O maracatu rural do nordeste é celebrado por dis- through ‘Ayni’ (reciprocity, mutualism). It is based Their expectation is only one is that, they will cele-
tintas gerações que carregam todos os anos uma on the idea of constantly exchanging energy and brate, share feeling of happiness and enjoy the Eid
flor branca na boca do Cabloco de lança. the more you connect with and give to the world with their family members together.
around you, the more you will receive. Within their When their expectation will fullfil, they will forget
299 nature-based wisdom traditions, Ayni is practiced all of pain of this journey. Sometimes to see the
Many people do not want to leave the places whe- with the spirit word and this puts one into right smile of dearest someone,we forget all the pain
re they were born and spent their lives. relationship and harmony with all living things, na- which we felt before.
ture and the environment. At the end of the discription we can say that reli-
300 gion is own bt Eid for all.
Retrato de una mujer cubana sentada al aire. 305 The enjoyment of Eid has no perticular religionand
Ter orgulho no trabalho feito. class. So, to reach the destination safely launch
301 journey has no alternative, with great concerned
Ludwinia Michalec (born 1949) resident from the 306 of passengers and monitoring of govt, this journey
dying village Oleksandrivka in the Khmelnytskyi Sem comentário. would be more happy,safe and enjoyable.
region in Ukraine. A representative of the Polish
307 311
minority, by Ukrainians called Masurians.
Series Description: Series of portraits of residents Daily school journey may sometimes be troubleso- Nas margens do Rio Sepik é possível recuar no tem-
from the dying village in the Khmelnytsky region me. po. Ainda hoje as suas populações mantêm tradi-
in Ukraine. A representatives of the Polish minority, ções ancestrais, cujo símbolo maior são as Haus
308
by Ukrainians called Masurians. They are strongly Tambaran, as casas dos espíritos, lugar central de
A young man enjoying the breeze sitting on the reunião dos homens da aldeia e onde é mantida a
attached to their origin, faith and traditions of their
coupling of two compartments of a running train. história e tradição da aldeia.
ancestors, despite the fact that the place where
they are living for generations formally not belong 309
to the territory of Poland since nearly 230 years. 312
Street photography is a genre of photography that Este Império, de forma retangular, com um piso,
They speak Polish in a unique for this region dia-
features subjects in candid está localizado no largo da igreja da freguesia de
lect. In 1900, the village of Oleksandrivka had over
situations within public places and does not neces- Doze Ribeiras, foi fundado em 1891 e inaugura-
700 inhabitants, today there live only 17 people.
sitate the presence of a street or even the urban do no ano de 1989. Inicialmente, era amovível,
All of them are old, young people has left village in
environment. construído em madeira, apenas para as festivida-
searching for better life conditions long time ago.
‘Street’ simply refers to a place where human acti- des anuais. Depois da construção em alvenaria, já
Today, many houses are empty or in ruin. Village is
vity can be seen, mudou de local duas vezes, em consequência do
away from the main roads, there is no store and
a place to observe and capture social interaction. Furação de 1893 e Sismo de 1980.
bread is brought in for the residents once a week.
The subject can even be absent of any people and A fachada principal, estruturada por duas janelas e
302 can be that of object or a uma porta, que é acessível por escadas gradea-
environment where an object projects a human das e pintadas com as mesmas cores do Império.
Retratos de niñas pertenecientes al proyecto de
character or an environment is decidedly human. O Império, profusamente decorado, também é
inclusión social a través del flamenco que se ha
Framing and timing are key aspects of the craft, acessível lateralmente, através de uma plataforma
llevado a cabo durante todo 2018 en el barrio del
with the aim of creating images at a decisive or inclinada, com gradeamento em ferro, facilitando
Cabanyal de Valencia y que ha permitido la forma-
poignant moment. Alternatively, a mobilidade.
ción gratuita continuada en baile flamenco, cajón
the street photographer may seek a more prosaic
y guitarra de 44 niños y niñas de etnia gitana. Una
depiction of the scene, as a form of social docu- 313
historia de sueños e ilusiones cumplidas.
mentary. Chefchaouen, municipio enclavado en la cordille-
303 ra del Rif, fue fundado en 1471 por el capitán na-
310
They are making local dishes. zarí Mulay Alí Ben-Rachid, en pleno cerco al reino
In all type of journeys waterways / launch journey de Granada. Tras su entrega, miles de andalusíes
is more easy,safe and comfortable.
comentários 329
379 the project refers to the urban matters and social 405
Cidade de Belém do Pará vista da Baía do Guajará. environment of the city, which are interpreted and Shot in the city bus window.
reflected metaphorically, offering a (re)cognizable
380 combination of signifiers with a particular significa- 406, 407
Avião na zona moderna de Londres, More London. tion. The work reflect the changes within the city, Partir é extirpar o sentimento, é deixar sangrar
surburbs dwellings, architectural samples from the tudo que não seja sangue de dentro de si mesmo.
381 Soviet time, unfinished projects during the Post-So- Para mim, a viagem a Cuba representou uma par-
Um edifício inserido numa figura geométrica. viet times, the destruction of the old city center by tida geográfica, em busca de outra cultura e novos
modern uncoordinated and corrupt city planning. ares, e, sobretudo, um parto de si mesma. Se arte
382
In most images citizens of Yerevan will not appear é compreendida também pelo sentimento, o que
Angle view looking up. in the settings. Subtopics with in the work where move o olhar, o que tem dentro desses artistas
383 identity, relations between humans and humans-en- da imagem que selecionam, direcionam a lente e
vironment , transition, boundaries, lost, loneliness, criam realidades ou fantasias estáticas, num misto
Graphics, geometry, people.
time and destruction in the context of Yerevan. de documento e ficção? Ir para Cuba, esse pais-
384 mistério, isolado política e economicamente – que
393, 394 em tempos de todomundosabetudo sempre temos
Rua Gonçalo Cristovão, 3 - Porto.
Durante un paseo por la Alhambra. opiniões disso e daquilo –, serviu para elucidar o
385 próprio mistério de sua concepção de fotografias.
395
Perforation & reflection looking up. Cada fotografia tem seu caráter documental, mas
Díptico nº 4. em minha cabeça, era como se cada imagem,
386 quando de sua realização, tivesse uma história a
396
A suavidade das ondas. parte; como se cada pessoa fotografada me con-
Díptico nº 2.
fessasse algo íntimo, do terreno do olhar, do ou-
387 tro em nós mesmos. Cuba, para mim, é cuba de
397
The new district of Kyiv near the Dnipro River, the histórias, da imaginação de tramas da vida, essa
O Centro da cidade de Belo Horizonte, estado de
habitat of the modern city dweller in Ukraine. mesma que a gente inventa e esclarece, e retorna
Minas Gerais, Brasil, está extremamente deterio-
pra onde veio, grão de areia no universo, indisso-
388 rado e decadente. A arte urbana é a tentativa de
lúvel mistério.
Layers of architecture. um Coletivo de artistas de chamar a atenção das
pessoas e das autoridades e iniciar um processo de 408
389 regeneração desse mesmo Centro.
A capoeira foi inventada pelos negros vindos da
Past and present (Ekbatan). E assim vão surgindo inúmeros painéis pintados em
África para o Brasil no período da colonização Por-
I’m gazing around in the city to see the houses, paredes cegas que vão embelezando e mudando
tuguesa. Eles fingiam uma dança, mas na verdade
walls, walls of pictures and trees in silence and a paisagem da cidade. Um novo belo horizonte.
era uma luta de autodefesa contra os seus algo-
stagnation, all around and passing through them. zes. Muitos escravos utilizavam-se desta arte para
398
All the places where the lack of interaction with fugir de seus cativeiros em direção aos quilombos
the human being has caused the environment Tênis presos no fio de luz.
da liberdade. Hoje a Bahia é um dos terrenos mais
around us to reflect the undeniable effects of this 399 férteis para essa cultura ancestral.
lack of interaction with the “absence of” and ”un-
O tocador de violino.
seen” of humans is completely tangible and by eli- 409
minating human subjects so that only The trace of 400 3 men and one lady are busy taking in drugs.
them is visible. The photograph was taken in Odessa, behind the
The forms and colors shown in these cool and 410
shop window.
empty spaces, and the connection between the In 21st Century, we are living in a busy pace. We
inanimate objects and the human subjects in the 401 don’t have time to look back who are sitting in a
pictures, connects me to the past and the present This photos series, combined under the name comfort zone and sleep in a beautiful soft bed of
more than anything else. “Museums Stories” show the connection between roses. Have we ever thought how the other half
cultural and society. An old study says, that an ave- sleeps and lives under a drastic condition just be-
390 sides our multi-storied building? These forgotten
rage time spent in a museum looking at art is 17
Fotografia Digital. seconds. 17 seconds of energy and information. people, forgotten faces we encounter every time in
Fragmentos urbanos de cenas cotidianas em Lisboa As an observer, I can tell, that in this intimate mo- a broad day light but we have nothing to do with
aos olhos da maioria passa despercebido, todavia ment, people are powerless against art and are ge- them, as the government should take care of the-
aos meus encantam. tting emotionally naked. se street people. These people are not from Mars;
they reside in the same cities where the other half,
391 402 the rich, the financially solvent, at least whoever
As favelas dão lugar aos arranha céus em mais um Sem comentário. have a place to sleep but these unfortunate people
novo bloco da cidade. Durante o longo processo don’t have place to sleep except the pavement of
de relocalização, os residentes que ainda moram 403 the street under the open sky.
no bairro têm as suas entradas e saídas controladas A street scene with two sets of eye contact: one
a fim de evitar “novos” inquilinos. from the fake glossy advertisement of the capita- 411
list facade, the other through the slit of the burqa, People availing very risky train journey and taking
392
behind the veil, staring out to question the camera. every space of it as seat.
The submited photos are part of my portfolio ‘Ye- They are returing home after the 2nd largest Mus-
revan in March’. The portfolio focus on the urba- 404 lim Congregation in Dhaka, Bangladesh.
nization of Yerevan with all of its significant chan- Different tribes in a populous city. Consumerism vs Bangladeshi Muslim devotees return home on
ges during the post-Soviet era. The content of action, who is winning?
332 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
overcrowded trains after attending the final day of vários tipos e estilos de arte que ficam disponíveis son frecuentes los terremotos, sus habitantes han
a three-day Islamic congregation on the banks of para todos apreciarem. No caso das cidades portu- desarrollado a lo largo de los siglos sofisticadas téc-
the River Turag in Tongi, near Dhaka, Bangladesh. guesas, nestas “galerias” ao ar livre tanto expõem nicas de construcción para hacerles frente. Su gran
The 1st phase of Biswa Ijtema ends today with artistas mais consagrados como Vhils, Bordalo II, eficacia ha permitido que se conservase la arquitec-
Akheri Munajat, or the Final Prayer, and Muslim Frederico Draw como outros menos consagrados. tura tradicional a lo largo de los años, convirtiendo
devotees from across the world participated in the Existem até já roteiros para visitar estes pontos de a este pueblo en una de las localidades más pinto-
second largest world congregation of Muslims. arte urbana nas cidades. Neste série de 6 imagens rescas de todo Azerbaiyán.
pretendo mostrar um pouco dessa realidade.
412 430
In all type of journeys waterways / launch journey 417 Regresso a casa.
is more easy,safe and comfortable. Mujer sentada descansando tomando el aire.
Now-a-days to celebrate the Eid festival launch 431
journey is more popular and to preferable to all 418 Locals still harvest the grass with a sickle and carry
classes people. Trabalhador da área elétrica. it home on their shoulders.
Every year as soon as the eid approaches launches
419 432
are seen overloaded in the terminal as the departs
the capital carrying the Eid home-goers. A family living at the center of flood tide area in A rural old woman is bringing firewood to home.
The overloaded launch on such Eid trip carrying Ho Chi Minh City.
433
passangers beyond their capacities become risky 420 O noroeste da China é habitado por várias tribos
during the time.But people ignore this fear.
Fruit shop. cazaques que ainda vivem da pastorícia. Apesar de
To reach their destination they select this journey
serem chineses no cartão de identificação, a sua
without any hasitation. 421 etnia e cultura é mais eslava ou mongol, com um
The expectations of Eid home-goers is that they Women in the village of Nastan cook local bread. estilo de vida muito próprio, tão visível nos seus
can reach their destination safely and thay can
costumes, língua ou mesmo fisionomia.
celebrate this festival with all of their nearest or 422
dearest persons, so, to share this happiness with Images of harvesting saffron from agricultural 434
all of his family members they go back their own fields. Este método tradicional de esquilada a tijera, crean-
native home. do además un dibujo simétrico va desapareciendo.
This image is such a glance of view of Eid home- 423
Ya son muy pocos los payéses o campesinos que
goers, whose are take place in the open air on the Old Man Abyaneh. lo realizan aquí en Mallorca. En las fotografías se
wide roof of the launch. muestran distintos momentos del proceso.
Their expectation is only one is that, they will cele- 424
brate, share feeling of happiness and enjoy the Eid Aniela Michalec (born 1945) resident from the 435
with their family members together. dying village Oleksandrivka in the Khmelnytskyi Kar.
When their expectation will fullfil, they will forget region in Ukraine. A representative of the Polish
all of pain of this journey, sometimes to see the minority, by Ukrainians called Masurians. 436, 437
smile of dearest someone,we forget all the pain Haor area of Kishoreganj, Bangladesh.
425
which we felt before.
At the end of the discription we can say that reli- The Turkmen bride and groom’s family are sitting 438
gion is own bt Eid for all. on the gift box and decorated with colorful fabrics Herdsman with one of the 10,000 livestock gathe-
The enjoyment of Eid has no perticular religionand behind them. These fabrics are in fact a symbol of red for the Nagaur Cattle Festival.
class so, to reach the destination safely launch jour- a culture.
439
ney has no alternative. With great concerned of
426 Una familia con siglos de tradición y dialogo con
passengers and monitoring of govt, this journey
would be more happy,safe and enjoyable. A pesar de que ya lleva 5 años, esta tienda aún no la tierra, conversan y cosechan las mas de 400 va-
tiene nombre. Está construida en madera y fue la riedades de papas en la comunidad de Huatata en
413 primera estructura para lo que ahora será su casa Cusco.
For the roof travelers, monsoon is a bit troubleso- construida en adobe y cemento.
440
me affair because rain often drenches them in the
427 This farmer leaves his house early in the morning
forest lands.
Rio de Onor ou Rihonor de Castilla, uma aldeia and takes care of his plants.
414 transfronteiriça, dividida pela fronteira administra- The products of this garden are consumed by your
A busy rail track inside a local market. this line is tiva que divide Portugal de Espanha. O mesmo lu- family and friends.
very risky for buyer and seller of the market. every- gar para dois povos, dois idiomas, duas legislações. He looks happy because he is entertaining and also
day 23 train pass this way. No entanto para quem lá vive apenas existe o povo offers healthy products to people around him.
de cima e o povo de baixo.
415 441
428 O ato tradicional de descascar das espigas do milho
Luisa recogiendo la ropa.
Um agricultor com o seu cavalo conversando com na freguesia da Maia na Ilha de São Miguel. As
416 uma senhora que varre a parte da rua em frente ilhas mais ocidentais da Europa.
As cidades estão a tornar-se cada vez mais em gale- à sua casa.
rias a céu aberto. Onde antes se via: edifícios devo- 442
429 Thousands of bright red chilli peppers are harves-
lutos, paredes vazias, muros velhos e maltratados
surgem agora explosões de cor e arte. A arte ur- Lahic es una pequeña localidad del Cáucaso Sur ted in the hot sun before being sorted ready to be
bana/street art está a tomar cada vez mais as cida- con más de 1500 años de historia. Situada a más delivered to spice companies in the Bogura, Ban-
des e os seus espaços vazios são enriquecidos com de 1200 metros de altitud, en una zona en la que gladesh. More than 2,000 people work in almost
comentários 333
100 chilli farms in Bogra in Bangladesh to supply phy, the Turks have been described as the best From this series of photos Carved Dowry The spirit
local spice companies with chillies for use in their functioning of the iron since ancient times. Blacks- of the construction of the masters.
recipes. Chilli peppers are a major part of the Ben- miths in Turkic epics, believing in the sanctity of the I tried to explain. When describing work environ-
gali cuisine popular in Bangladesh and are used as smiths, putting on the items such as knives, scis- ments, black. I used a white technique.
part of a combination of spices for various meat sors, etc., in a lot of places in Kahramanmaras and
dishes, including chicken and beef. in many places where Turks are living today, the 457, 458
name of many towns and villages as names of bla- The onset of plastic and synthetic materials in daily
443 cksmiths, blacksmiths etc. The importance of iron life has brought the sad demise of the once famous
Countless chilli peppers surround labourers in the and ironwork in Turkish culture and belief can be pottery of Bangladesh. The earthen pottery, made
Bogra district in the north of Bangladesh. More easily understood. The blacksmiths who are active with hands in the potter’s wheel once has reached
than 2,000 people work in almost 100 chilli farms in the Demirciler Bazaar in Kahramanmaras; me- to its zenith, as an art form. Still it is an answer to
in Bogura in Bangladesh to supply local spice com- tal parts such as hooks, chains, agricultural tools, the pollution caused by the plastic packaging ma-
panies with chillies for use in their recipes. Chilli iron and similar metal parts by bending, beating or terials. The finest artistry involved in creating the
peppers are a major part of the Bengali cuisine molding. Blacksmithing is a profession where many potteries and earthen wares is a site to behold how
popular in Bangladesh and are used as part of a hand tools are used in other traditional handicrafts life is imparted to the clay collected from pond and
combination of spices for various meat dishes, in- and industry. The only way that iron can be shaped water bodies or the silt of the rivers of Bangladesh.
cluding chicken and beef. with the desired hardness is through the smiths. Formerly, potters used to be a distinctive communi-
The iron pens used to shape the stone in stone ty in every village. But now very few people are still
444 following the age old profession.
processing, madraha, which is a hammer type,
Thousands of bright red chilli peppers are harves- and many other hand tools used in other traditio- The art involved very little or no equipment apart
ted in the hot sun before being sorted ready to nal handicrafts are specially made by blacksmiths. from the potter’s wheel. The bare hands of the ar-
be delivered to spice companies in the Bogura, Using tools such as hammers, anvil, clamps, and tists were enough to infuse life in the clay.
Bangladesh. A woman collecting red chilies as a cookers, the cast is shaped by the craftsmen who
day labor. 459
are shaping the iron and continuing this old profes-
sion in Kahramanmaras. Agustín Hernández Sánchez, hijo de Bienvenido y
445 el único de la saga de carreteros de Escurial que
Life together. 455 mantiene vivo el legado. En la actualidad tiene 91
Workers in the workshop make incense in Hung años.
446
Yen Province.
Idoso concluindo um dia de trabalho e pegando a 460
canoa com destino a sua casa. 456 Guiseppe Ottaviani, Italian 102 years old master
The family has an important place in the history of Athlete portrayed after taking part on long jump
447
Turks. Nomadic and settled order. competition at European Master Athletics Indoor
Outer-periphery are grooved with chisel to affix Championship in Madrid (Spain). Every year, thou-
Bride taking-giving traditions in their lives have
and accommodate more planks side by side under sands of Master athletes take part on official com-
taken an important place throughout history. Fa-
pressure. petitions around the world, getting to be one of
ther of the bride.
448 The dowry she brought from her house was carried the most crowded sporting events in the world.
in bundle with nomadic culture. The settled life of In these competitions, the categories to compete
The women went to pick flowers on the river. They
Turks. change every 5 years so that they are more balan-
are washing water lilies, bundling them into bun-
With the passing of the bundles moved into the ced. Thus, starting at the age of 35, categories are
dles and selling them to the market. This is a fun
crate and become an important visual item of our established up to sometimes reaching +100 years...
job.
homes. This list of portraits, from 35 to 102 years old, re-
449 It has come. presents that transit of ages among veteran athle-
Buffaloes have a lot of interest in Swimming. Their Carved dowry chests produced in the province of tes, men and women photographed after compe-
shepherds accompany them. Although they are Kahramanmaras with engraving handwork and ting during the last European and World Masters
very powerful. other materials differentiate from regions. Kahra- Championships held in Madrid and Malaga respec-
manmaras Carved Dowry Chest is made of walnut tively during 2018.
450 tree. This project is a reflection on how we get older and
Sem comentário. The walnut tree is dried first so as not to be moist how our physical and corporal attitude determines
(wet). Kahramanmaras Dowry Chest 4, 6 in some way how we face life. These dyptics show
451 and 8 square and generally 100-52-63 (length-wi- us from where we came from and where we will
Pescadores da ilha de Itaparica. dth-height) centimeters. go. 6 digital- daguerreotype portraits in dyptics of
Kahramanmaras Carved Dowry Chest is made of women and men, who, being proud athletes, pose
452 in front of the camera as they wish, showing us
walnut tree. Walnut tree in desired sizes cutted and
Early morning after the long walk going to the dried. This prevents the bending of the tree. Accor- how time and maturity shape our body and soul.
lake, the fisherman sets up the fishing net by cir- ding to the model to be cut tree. Any of them would be or could be any of the
cling it to the water to trap the fish inside. Carving is completely handcrafted. Nowadays pat- others in the past or in the future, this is the key.
terns are drawn by machine and special hand All of them are linked by their passion to Athletics,
453
production with carving tools. they are just a group of people that run quite fast,
Many people in Kashan were Sharbaf(=the one But nowadays, the widespread use of mechaniza- throw really far and jump incredibly high, but far
who weaves this kind of textile). Whereas the peo- tion in the construction of Carving Dowry Chest, from that they are an example for society, where
ple who are working in Kashan city now are less walnut tree difficult to find, due to changing cul- values like effort, passion, determination or will not
than 10. tural habits in our country walnut chest interest. only belong to sport values but to human values
For reasons such as reduction, this craft is in dan- too. Promoting what they do, on the one hand,
454
ger of disappearing. will make people realize these inspiring activities,
In ancient Chinese and Arab history and geogra-
334 transversalidades 2019 fotografia sem fronteiras
and on the second hand will give more value to 465 468
elders in society, a group of age, that tend to be Dancing, jumping, singing; changing roles, attitude Tattooed all over the face of Munni Ram.
undervalued. and acts at the drop of a hat... this is the stock-in-
trade of the bahurupis, the folk cosplayers of Bengal 469
461 Pray for Lord RAM is a daily activity, Ramnamis
who portray several hundred characters, most of
Misha has spent his entire life in the village toge- them mythological.Here is a portrait of little Krishna. don’t visit any temple they only pray the name of
ther with his brother Mito. This was only interrup- the God RAM.
ted by the time he served in the army when Geor- 466
gia was still a part of the Soviet Union. The picture Lord Krishna is preparing herself with the help 470
he is holding, shows himself during that period. of one neighbour lady before starting her jour- A devotee offered a prayer during the Mud People
The picture is part of my series “The Invisible Bor- ney. The young village girl taken her makeup as a Festival on June 24, 2018 in Nueva Ecija, Philippines.
der”. grown up male Lord Krishna.
Project Detail: 471
At the foot of the Caucasus, only a few miles nor- 467 Los más pequeños guardan en su esencia una bel-
th of Stalin‘s hometown Gori, the small Georgian O projeto “Interior” surgiu do desejo de conhecer leza muy propia y natural. En sus cuerpos adorna-
village Mejvriskhevi can be found. Nowadays, it e registrar diversas tradições brasileiras preservadas dos por ropajes coloridos se lee el paisaje mismo
can only be entered from the south. The reason for pela distância em relação aos grandes centros. De- y un camino recorrido por aves, felinos, reptiles e
this is the region behind: a territory called South pois de percorrer mais de 5 mil km entre Norte e insectos… un camino de flores, piedras, agua y
Ossetia which was the scene of a military conflict Sul do país, Hugo Santarém, fotógrafo apaixonado tierra. Su conexión con cada parte de la naturaleza
between Russia and Georgia in August 2008. As a por pessoas e histórias, uniu essa descoberta pelo que los rodea es un diálogo constante entre el ser
result, South Ossetia, which according to interna- interior a uma grande vontade de conhecer suas humano y los recursos de la tierra.. seres vivos, se-
tional law is part of Georgia, has become almost próprias origens – ou, no sentido lato da palavra, res muertos… formas que van de paso por la tierra,
completely isolated from the rest of the country. sua própria interioridade. Motivado por esse de- por el agua y por el aire. La naturaleza es lo que
The Russian military is occupying this disputed ter- sejo, solicitou, para o presente projeto – uma ex- tienen, la naturaleza es lo que pierden… su hogar,
ritory until today. tensão literal e metafórica do registro iniciado em su alimento, su realidad e, incluso, su muerte.
The so-called Administrative Boundary Line which “Interior” –, um exame de DNA a fim de mapear,
472
separates Georgia from South Ossetia cuts off Me- junto a seus traços de brasilidade, sua ancestralida-
jvriskhevi by east and north. Although you wou- de global. O projeto, com isso, busca atualmente Do Rio Sepik vem o sustento pela pesca e co-
ldn’t find fencing and barbed wire here, you can estabelecer uma travessia de fronteiras: desbravar mércio, sendo a canoa um dos mais importantes
not pass the border from either side. The young o interior dos países indicados no resultado do exa- pertences, pelo que são usados para honrar o seu
people can barely remember a time before the me – tarefa que constitui não só um paralelo de espírito, o do crocodilo.
separation, but like the older villagers, they know culturas e tradições com as do interior do Brasil, 473
where not to go in order to avoid being caught mas também com o indivíduo com quem se com-
“Bee Matan” significa “olhos d’água”. Uma vez
by Russian soldiers who are monitoring the bor- partilha essa herança identitária. Como disse Mia
por ano, em dia a determinar pelos “Katuas” (os
derline. Recent incidents prove this to be a serious Couto, “No fundo, não estamos a viajar por luga-
homens mais velhos da comunidade), os habi-
threat. Due to that, Mejvriskhevi’s relationship to res, mas sim, por pessoas”.
tantes daquela aldeia reúnem-se para celebrar as
its former neighbors in the area now occupied, Na Etiópia, foram priorizadas as tribos e comuni-
chuvas e o armazenamento de água daí resultante.
has almost completely ceased to exist. Keeping dades do Vale Omo, onde se encontram algumas
A celebração tem lugar, como se pode ver numa
contact with relatives and maintaining friendships das tribos mais antigas da África (as visitadas foram
das fotografias, junto de duas pequenas poças.
has become extremely difficult and it seems me- Mursi, Nyangatom, Karo, Hamar) e também a re-
A cerimónia começa com o nascer do sol dentro
rely possible under these conditions. In spite of all gião de Konso e Dorze. No Quênia foram visitadas
da “uma lulik” (casa sagrada, a qual poderá ser
that, life has to go on: children attend school and as comunidades Maasai, Turkana e Samburu. No
comunitária ou pertença de uma família), onde se
during the summer they spend their free time by Brasil foram escolhidos locais que representam
vestem os tais (panos tradicionais timorenses) e os
the river or on the grounds of the local sports field. regionalidade mas também tradições herdadas de
“Liurai” (régulos dos pequenos reinos de Timor-
You can see the elderly gathered by the roadside matriz africana e europeia, que são a comunidade
-Leste, que apesar de agora existir um formal po-
exchanging stories, cowherds tend their livestock quilombola Lagoa da Pedra, em Tocantins; os boia-
der político, se continuam a eleger informalmente
and nearly every basement of the town is home to deiros que vivem na região de Gilbués, no interior
e a exercer o seu poder) colocam os “Kaibauk” (co-
the traditional Georgian winemaking. do Piauí; e os gaúchos do Rio Grande do Sul, no
roas). Na “uma luluk” reza-se, canta-se e come-se
Despite international efforts, an improvement of extremo sul do país, divisa com o Uruguai. Essas
arroz, vegetais, e, por ser dia de festa, galinhas. O
the situation along the borderline is still not in são comunidades que evidenciam não só diferen-
“tua sabu” (bebida tradicional, de elevado grau al-
sight. But the people like here in Mejvriskhevi try tes influências migratórias, cada uma dentro do
coólico, feita de seiva de palmeira) é partilhado en-
their best to pursue a normal life under unusual seu contexto histórico, mas também o caráter cul-
tre todos, em rituais repetidos. A meio da manhã,
circumstances. turalmente miscigenado do país e suas dimensões
sai-se em procissão em direção aos “bee matan”
continentais, ligando-se direta e indiretamente ao
462 (olhos de água) e por ali se fica o dia inteiro a can-
resultado do exame.
Espectador. tar, dançar, beber, fumar. Ainda que seja uma cele-
Por meio de técnicas tão modernas como um tes-
bração comunitária e coletiva, não há uma ordem
te de DNA, voltamos a questões filosóficas como
463 na cerimónia: os “babadook” (tambores) tocam
“de onde viemos?” e “o que nos une como raça
Descanso dentro das pipas. descompassados, e as pessoas dançam ao ritmo
humana?”. Levar esse processo de reflexão para o
que o transe do “tua sabu” lhes impõe. É uma ce-
público é plantar uma mensagem de união, empa-
464 rimónia onde todos participam: crianças, homens,
tia e respeito, algo tão caro a nós, especialmente
Benjamín agotado por la dura jornada, cae rendido mulheres, velhos. E é uma cerimónia feliz, que tei-
nos dias de hoje, com os recentes acontecimentos
en el sillón. Es indiferente a las malas noticias, al ma em contrastar com as condições em que vivem.
no Brasil e no mundo. A temática da imigração não
fútbol y a la insinuante publicidad que nos bom- É a natureza humana a provar que consegue sor-
só não envelheceu como, inclusive, talvez seja uma
bardea a diario. rir perante todas as adversidades e congratular-se
das grandes tônicas desta década.
comentários 335
com o mais básico dos bens: a água resultante da 479 una suerte de museos privados y galerías públicas
época das chuvas. Before going to bed every night,the monks use creadas de cierta forma involuntaria en las que sus
wooden clocks to gather all the monks and nuns habitantes proyectan su fe, sus aficiones, sus gus-
474 tos y a sí mismos.
to pray for peace in the world.
An elderly Jahai during his daily inspection round
the village. 480 484
Turkmens are one of the tribes living in Iran, mostly In remote bordering tribal villages of Purulia about
475 400 kms from the Kolkata city in India, the unbe-
living in Golestan province.
On the last day of Makar Sankranti Girls are sin- The horse is an animal that is so valuable to Turk- lievable and outstanding creative paintings to de-
ging, dancing and enjoying the river bed with folk mens and that a Turkman is from a childhood with corate the mud-made-houses. Tribal wall painting
songs and tradisional dance, during Tusu festival. one of the earliest things hanging on horses. changes its discourse from time to time with the
Each year, more than twenty-five weeks of mat- changes of generations, which reflects the culture,
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ches are held in the form of spring, summer and sense of humor, the cleanliness of the villages, the
At every saturday and tuesday of the last fifteen environment, the peaceful ambiance of the surrou-
autumn courses in the cities of Gonbad and Qa-
days of kartik (a bengali month) , thousands hin- nding areas by which the people transformed into
qlah, and the people of Zia Di are going to see the
du worshiper celebrate ‘ Rakher upobash’, a holy an identifiable unit. The murals and styles differ ac-
tournament on their horse.
festival of praying and fasting. It is also known as cording to the individual tribal community and the
‘kartik brata’. This celebration takes place at every 481 occasions during which the painting is done which
temple of loknath brammhachari throughout the lead to their sense of geometric pattern, the inner
world. But the biggest gathering takes place at the El Pacu Jawi es una carrera tradicional que se thought, the relationship with day-to-day activities
premises of Sri Sri Loknath Brammhachari Ashram, celebra anualmente y que coincide con el fin and their enthusiasm.
Baradi, Sonargaon. Loknath brammachari was a de la temporada de cosecha. En estas carreras All the said tribal art forms of mud wall painting
famous yogi. He was born in 1730 at undivided se muestra la fuerza y salud de los animales, ya are struggling to maintain their identity due to the
bengal and considered as a deity among his dis- que el objetivo final es comerciar con las reses. aggressive modernization. For the upliftment of
ciples. Devotees from every corner of the country the poor villagers the Government is providing bri-
come to join this holy occasion every year . Some 482 ck made modern housing facilities with all modern
even come from nepal and india. As the sun sets Son varias las artimañas que utilizan los jinetes amenities, which is pulling down the mud houses
in the west, devotees start the ritual of ‘Rakher para conseguir el máximo rendimiento de las reses, even in the remote places resulting rapid extinction
upobash’ by illuminating the earthen candles and y una de ellas es morder la cola para que sean más of a primitive art.
burning the incense. worshipers offer garlands of veloces.
flower, fruits and foods to the deity and recite holy 485, 486
chants. They break their day long fast with the 483 Tribal wall painting is an age-old traditional culture.
blessed food known as prasad. By perfoming this Aquí en Chiapas, al sur mexicano, el barrio crece The traditional art forms and types have evolved
sacred rituals, the devotees believe that no sinister a imagen y semejanza de sus habitantes. En las over time with changes in lifestyles, economic
forces can harm them and their loved ones will be casas, las paredes se ocupan casi todas y casi por structures, and geographical areas.The autumn
saved from danger with the blessings of Loknath completo. Algunas, se vuelven espacios que pare- festivals worship the cattle god Pashupati. Tribal
brammhachari. cen museos habitables y funcionales para la vida. women decorate their huts using natural pigments
En las calles y los parques, el color y la creatividad mixed in mud. Artists use cloth swabs or chewed
477 se apodera de cada sitio al que forzosamente hay twigs of the local sal tree.They maintain a vibrant
One of the Unique Architecture Design that found que dotarle de personalidad y estilo. Se gasta mu- tradition of murals practised as a ritual art form.
inside the Grand Mosque. cha pintura y tiempo en la búsqueda de armonía Though these art forms show enormous skill—
en los colores y los tonos que usan, como si todo conveying socioeconomic status, faith and rituals
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estuviera premeditado u orquestado por un artis- in the daily life of tribal communities—the artists
In some cultures, including some parts of Iran, ta. Las casas y las calles del barrio, entonces, se struggle to survive.
prayer is called “Rainfall” during a drought. Men vuelven una especie de museos o galerías. En las
and women often move on foot in a place gathe- viviendas, colgar cosas de sus paredes se volvió una
red in the desert. This place is usually sacred. They afición o una necesidad. De acuerdo a lo que se
follow a cleric They do this. They ask God to rain ve, es mejor que no queden huecos. Se trata de
and bless.
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de Coimbra